Vínculos No Ciberespaço

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Revista FAMECOS Porto Alegre nº 39 agosto de 2009 quadrimestral 91 CULTURA NO CIBERESPAÇO No final do século 19, a aparência de estar sem (do grego: ann) desejo ou apetite (orexis) serviu para nomear o que ocorria nos quadros de emagrecimento auto-induzidos, sobretudo de mulheres (dez a trinta anos) 1 . Chamou-se, então, de anorexia. A partir de 1970, observa-se que ela tem outro aspecto notável: está freqüentemente associa- da à bulimia, um quadro caracterizado por hiperfagia contumaz seguida da tentativa de neutralizar seus efei- tos mediante vômitos, purgantes, laxantes, etc 2 (Busse, 2004, pp. 33-34). Atualmente, ambas são médica e psiquiatricamente classificadas como desordens ou transtornos mentais. A anorexia inclui itens como: “medo intenso da obesida- de”, “perda de 25% ou mais do peso esperado”, “distúr- bio da imagem corporal”, e “ausência de doenças físi- cas” (Busse, 2004, p. 40). A bulimia compartilha vários desses itens, mas se distingue pelo consumo de grandes quantidades de comida em curto período de tempo (Bus- se, 2004, p. 44). Esta é, em linhas gerais, a classificação tomada como referência por teóricos, jornalistas e articulistas, que ten- dem a associar a atual manifestação da anorexia/buli- mia a um imperativo de beleza física inerente a nosso mundo capitalista, competitivo e global. São muitos li- vros, notícias e reportagens sobre: a magreza das mode- los de moda, a morte de algumas delas, a proibição legal de desfilarem aquém de certo peso, a tristeza dos pais, a impotência em lidar com o fato, a responsabilidade soci- al envolvida em seu tratamento[...] Interessa-nos considerar a anorexia e a bulimia como fenômenos vinculares difundidos pelas redes sociais da internet 3 : suas manifestações, efeitos e direções. Isto com o objetivo de trazer contribuições ao entendimento dos modos de construção dos vínculos que se disponibiliza- ram amplamente a partir da década de 1990 e que não eram claramente visíveis antes por lhes faltar dispositi- vos técnicos de difusão adequados. A hipótese inicial é: vários aspectos dessa nova rede sociotecnológica serão melhor apreendidos se aplicar- mos à nossa metodologia alguns conceitos psicanalíti- cos que vêm sendo aperfeiçoados nos últimos anos. As- sim procedendo, espera-se destacar bases mais adequadas para a compreensão dos vínculos em geral e dos desdobramentos exemplares que tomam em websi- tes sobre anorexia-bulimia. De início, vejamos uma des- crição do campo da pesquisa. Pró-ana/mia: comunidades Protegidas pelo anonimato da rede, as seguidoras da Ana e da Mia (apelidos carinhosos dados, respectiva- mente, à anorexia e à bulimia) encontraram em blogs, Vínculos no ciberespaço: websites pró-anorexia e bulimia* Vanessa Alkmin Reis Mestre em Comunicação e Sociedade pela UFJF/MG/BR [email protected] RESUMO Análise de alguns modos de expressão dos aconteci- mentos comunicacionais disponibilizados pelas redes sociais da internet. Mediante a aplicação de conceitos psicanalíticos, espera-se destacar bases mais claras para a compreensão dos vínculos em geral e dos desdobra- mentos exemplares que tomam em websites pró anore- xia-bulimia. PALAVRAS-CHAVE teorias da comunicação pro-anorexia psicanálise ABSTRACT Analysis of some ways of expression of the communicational events available in the social nets of the internet. Using psycho- analytical concepts, this paper intends to provide a clearer basis to a general comprehension of the human bonds and their exemplary unfolding in web sites pro anorexia and pro buli- mia. KEY WORDS communication theories pro-anorexia psychoanalysis Potiguara Mendes da Silveira Jr. Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFJF/MG/BR [email protected]

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Vínculos no ciberespaço

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  • Revista FAMECOS Porto Alegre n 39 agosto de 2009 quadrimestral 91

    CULTURA NO CIBERESPAO

    No final do sculo 19, a aparncia de estar sem (do grego:ann) desejo ou apetite (orexis) serviu para nomear o queocorria nos quadros de emagrecimento auto-induzidos,sobretudo de mulheres (dez a trinta anos)1. Chamou-se,ento, de anorexia. A partir de 1970, observa-se que elatem outro aspecto notvel: est freqentemente associa-da bulimia, um quadro caracterizado por hiperfagiacontumaz seguida da tentativa de neutralizar seus efei-tos mediante vmitos, purgantes, laxantes, etc2 (Busse,2004, pp. 33-34).

    Atualmente, ambas so mdica e psiquiatricamenteclassificadas como desordens ou transtornos mentais. Aanorexia inclui itens como: medo intenso da obesida-de, perda de 25% ou mais do peso esperado, distr-bio da imagem corporal, e ausncia de doenas fsi-cas (Busse, 2004, p. 40). A bulimia compartilha vriosdesses itens, mas se distingue pelo consumo de grandesquantidades de comida em curto perodo de tempo (Bus-se, 2004, p. 44).

    Esta , em linhas gerais, a classificao tomada comoreferncia por tericos, jornalistas e articulistas, que ten-dem a associar a atual manifestao da anorexia/buli-mia a um imperativo de beleza fsica inerente a nossomundo capitalista, competitivo e global. So muitos li-vros, notcias e reportagens sobre: a magreza das mode-los de moda, a morte de algumas delas, a proibio legalde desfilarem aqum de certo peso, a tristeza dos pais, aimpotncia em lidar com o fato, a responsabilidade soci-al envolvida em seu tratamento[...]

    Interessa-nos considerar a anorexia e a bulimia comofenmenos vinculares difundidos pelas redes sociais dainternet3: suas manifestaes, efeitos e direes. Isto como objetivo de trazer contribuies ao entendimento dosmodos de construo dos vnculos que se disponibiliza-ram amplamente a partir da dcada de 1990 e que noeram claramente visveis antes por lhes faltar dispositi-vos tcnicos de difuso adequados.

    A hiptese inicial : vrios aspectos dessa nova redesociotecnolgica sero melhor apreendidos se aplicar-mos nossa metodologia alguns conceitos psicanalti-cos que vm sendo aperfeioados nos ltimos anos. As-sim procedendo, espera-se destacar bases maisadequadas para a compreenso dos vnculos em geral edos desdobramentos exemplares que tomam em websi-tes sobre anorexia-bulimia. De incio, vejamos uma des-crio do campo da pesquisa.

    Pr-ana/mia: comunidadesProtegidas pelo anonimato da rede, as seguidoras daAna e da Mia (apelidos carinhosos dados, respectiva-mente, anorexia e bulimia) encontraram em blogs,

    Vnculos no ciberespao: websites pr-anorexiae bulimia*

    Vanessa Alkmin ReisMestre em Comunicao e Sociedade pela UFJF/MG/[email protected]

    RESUMOAnlise de alguns modos de expresso dos aconteci-mentos comunicacionais disponibilizados pelas redessociais da internet. Mediante a aplicao de conceitospsicanalticos, espera-se destacar bases mais claras paraa compreenso dos vnculos em geral e dos desdobra-mentos exemplares que tomam em websites pr anore-xia-bulimia.

    PALAVRAS-CHAVEteorias da comunicaopro-anorexiapsicanlise

    ABSTRACT

    Analysis of some ways of expression of the communicationalevents available in the social nets of the internet. Using psycho-analytical concepts, this paper intends to provide a clearerbasis to a general comprehension of the human bonds and theirexemplary unfolding in web sites pro anorexia and pro buli-mia.

    KEY WORDS

    communication theoriespro-anorexiapsychoanalysis

    Potiguara Mendes da Silveira Jr.Professor do Programa de Ps-Graduao em Comunicao da UFJF/MG/[email protected]

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    fruns e sites de relacionamento lugares para falar sobreuma parte de suas vidas que, em geral, no pode serabertamente expressa: a especificidade de sua relaocom a alimentao e a imagem corporal.

    Em 2000, surge um movimento pr-anorexia e pr-bulimia na internet. Inicialmente difundido nos EstadosUnidos e Inglaterra, no demora a chegar a outros pa-ses. No Brasil, os blogs pr-ana/mia apareceram em2002. Dois anos mais tarde, com a criao e populariza-o do site de relacionamentos Orkut, criam-se comuni-dades virtuais para reunir tanto as anas e mias que estoem tratamento, quanto as que querem permanecer nes-tas condies.

    ThinspirationsO movimento chega a sites de compartilhamento de v-deos, como o Youtube, no qual uma busca simples pelastags pro ana mia apresenta cerca de 600 resultados.Misturam-se reportagens de TV referentes ao tema, vde-os caseiros com opinies individuais e tentativas deconscientizao e alerta para seus perigos. A maioria seencaixa no que chamam de thinspirations: inspiraesmagras. So montagens feitas a partir de fotos e vdeos,geralmente combinados com uma msica de fundo, re-tratando mulheres extremamente delgadas. Grande par-te das imagens de modelos e atrizes famosas. H tam-bm thinspirations baseadas em fotos de pessoas reais,que parecem funcionar como prova de que, medianteesses comportamentos alimentares, garotas comuns po-dem chegar cada vez mais perto do que consideramperfeio.

    Supomos ser possvel identificar um perfil padro. Amaioria dos sites composta de mulheres, o que reflete aprpria estatstica sobre os pacientes em tratamento portranstornos alimentares: apenas 10% so do sexo mas-culino. Esta maior incidncia , alm de fatores sociol-gicos e psicolgicos, atribuda a fatores hormonais ebioqumicos, como a propenso feminina a distrbiosdo metabolismo da serotonina.

    So, sobretudo, jovens entre 13 e 17 anos. Como, es-sencialmente, as usurias se apresentam com perfil fal-so para no serem facilmente identificadas, tomamoscomo base a idade que informam. Indcios de adolescn-cia podem ser detectados na escrita tipicamente inter-ntica, com diminutivos, abreviaes, letras repetidas,etc. Com frequncia, aparecem nos perfis fotografias dedolos teen, particularmente os que j tiveram algumhistrico de ana e mia, como a cantora Anah, do grupoRBD, e a atriz Nicole Richie.

    Muitas afirmam que a sociedade lhes impe que sejammagras, que vem dia aps dia que s as magras conse-guem popularidade, respeito, sucesso amoroso e aceita-o. Como exemplo, estampam imagens de atrizes e mo-delos donas de corpos e, consequentemente, de modosde vida perfeitos. Embora possam variar, dependendoda nacionalidade da blogueira, Angelina Jolie e VictoriaBeckham so praticamente unanimidades. Os homens

    tambm tm seus musos: famosos magros como Dani-el de Oliveira (especialmente na interpretao de Cazu-za, no filme homnimo) e Daniel Radcliffe, intrprete dobruxo Harry Potter no cinema. Popular tambm a tatu-agem de Angelina Jolie com os dizeres latinos quod menutrit, me destruit em portugus, o que me alimenta medestri. Vrias garotas relatam o desejo de se tatuar amesma frase, algumas realmente o fizeram.

    Juntamente com as fotografias, os lemas compemparte importante das inspiraes de magreza postadasna rede. Frases como se saboroso, est tentando tematar, um minuto na sua boca, a vida toda no seuquadril e um corpo imperfeito reflete uma pessoa im-perfeita mostram a insatisfao com seus corpos e abusca incessante pelo que podem se tornar seguindotais indicaes. Estas frases viram ttulos de blogs, posts,comunidades, e so mescladas a fotografias de pessoasmagras em vdeos motivacionais compartilhados online.

    Sociedade secreta: rede de apoio mtuoO mundo virtual pr-ana e mia assume um carter desociedade secreta, com algumas prticas seguidas comafinco quase religioso. Nas comunidades do Orkut, porexemplo, so comuns as temporadas de no food (NF) elow food (LF) coletivos, em que as garotas organizamuma rede de apoio mtuo durante o tempo de restrioalimentar. Como o processo ocorre s escondidas dafamlia e amigos, a dicas para camuflar essas prticas um dos tpicos mais acessados. Sugestes como levar oaparelho de som para o banheiro ou ligar o chuveiropara abafar o som dos vmitos geram um clima de com-preenso, conforto e aceitao que geralmente no sen-tido no convvio social.

    Alguns textos so repassados na internet como lite-ratura do movimento. Um dos mais difundidos acarta de uma suposta anorxica hospitalizada, que ilus-tra o desejo da magreza ltima4. Muito populares tam-bm so a Carta da Ana5 e a Carta da Mia6, repetidas emquase todas as comunidades observadas. Funcionamcomo uma espcie de carta de apresentao, mostran-do, principalmente s iniciantes, os benefda anorexia eda bulimia, mostrando os benefas, masam de ouvir:frases como cios da prtica NF/LF. At um objeto deidentificao foi criado para que se reconheam. Para asanas, pulseiras vermelhas, para as mias, roxas.

    Padro: magreza extrema (e morte)O padro de magreza extrema considerado o ideal,embora reconheam que desagrada a muitos. As opini-es de familiares, amigos e parceiros amorosos de que jestariam magras demais so consideradas meras tenta-tivas de demov-las de seus objetivos. Frases como noimporta o que falem, vou atingir minha meta, nuncase est magra demais etc., e incentivos para deixar osossinhos aparecerem so comuns e funcionam comocombustvel para uma luta incessante contra a comida.

    O desejo de pesar por volta de 35 quilos e a insatisfa-

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    o em no conseguir so marcas constantes em seusperfis. Por mais baixo que seja uma vez atingido o peso,nova meta estabelecida e a busca continua. Sintomascomo fraqueza, tontura e desmaios so valorizados comoindcios de vitria. A comunidade Estar fraca ser forte,por exemplo, rene 260 membros com a seguinte descri-o: Depois de dias de LF, ou (principalmente) NF, bateaquela tontura, voc perde o equilbrio, a vista escurece,d uma fraqueza... S mostra o quanto voc foi forte porter agentado at ali!

    A morte, que acomete cerca de 10% dos diagnostica-dos, em geral considerada uma conseqncia indeseja-da, mas no um empecilho. Pessoas como a modelo AnaCarolina Reston, falecida em 2006 com peso corporal de40 quilos, so reverenciadas como mrtires da causa.Os tpicos de discusso demonstram que a maioria de-las tem conscincia de que o mesmo pode lhes acontecer,mas a declarao mais freqente a da disposio paramorrer lutando.

    O movimento fundamentalSe para morrer lutando, temos a, no mnimo, umponto discordante da impresso dos mdicos de que asanorxicas esto sem desejo. Assim sendo, para almda referncia negativa ao apetite, abordar afirmativa-mente esta disposio de luta pode se mostrar produtivopara nossa anlise.

    Tomaremos, ento, o conceito de pulso de morte (To-destrieb), que exprime um movimento que Freud (1920)descobre estar necessariamente presente no psiquismo.Ele o qualifica como de morte por constatar que, inevi-tavelmente, se dirige sua prpria extino enquantomovimento, e o ope a uma pulso de vida. Hoje, maisavanados nos estudos do conceito e seus desdobra-mentos, podemos reforar algo que Freud indica, masno desenvolve7. A saber, que esta segunda pulso, naverdade, apenas efeito da pulso de morte, pois a vidapode ser considerada mera resistncia ao movimento deextino expresso no conceito nico de Pulso, agorano apenas circunscrito ao psiquismo, mas fundamen-talmente estendido a tudo que h.

    Esta ampliao do alcance do conceito reafirma que adireo pulsional se refere a uma experincia traumti-ca8, inarredvel e irredutvel para tudo (homem e cos-mo), e destaca que, essencialmente, s h mesmo movi-mento para a extino, para no mais haver, e no parahaver (Magno, 1986, pp. 61-75). Supomos que sua apli-cao possa dar um sentido mais claro s intencionali-dades adscritas aos vnculos, sobretudo por retirar ametodologia de anlise da nodulao conceitual do ser,da verdade e do sujeito, que tem norteado a maioria dasabordagens dos estudos da comunicao. So aborda-gens devedoras de prticas interpretativas de linhagemfilosfica9, as quais, por mais refinadas que sejam, notm como se dirigir a acontecimentos como o das anas emias sem o contraponto, implcito ou explcito, de umavontade vitalista tida como fundamental, verdadeira,

    saudvel e, no fim, objetivvel como normal.A tentativa considerar os fatos no interpretativa-

    mente, j que a atual transfuso informacional e a oni-presente comunicao mediada por computadores tmevidenciado que, no fim das contas, qualquer interpreta-o no passa de ser mais uma entre outras, e s pode sertomada como referncia para a anlise em funo deconjunes interesseiras das foras da situao estabe-lecida. Alguns autores querem ver nesta transfuso umniilismo ou a expresso de um difuso e cnico ambienteps-moderno planetariamente instalado. De nossa par-te, parece mais preciso avanar na suposio de que osacontecimentos contemporneos j explicitaram bastanteo vigor generalizado de um relativismo que a todo omomento, para bem ou para mal, denuncia contedosideolgicos e coloca em questo qualquer referncia her-menutica que se queira hegemnica.

    De partida, ento, colocamos algumas perguntas paraestudo: o que anas e mias buscariam expressar ao seconectarem em rede? Sua expresso visaria interagircom outros usurios e construir identidade social10?Criar espaos de organizao social e de constitui-o do self11? Nossa tentativa de respostas pois, certa-mente, no h a resposta toma o aspecto pulsionalcomo referncia para acompanhar este modo de produ-o e difuso vincular comunicacional, portanto cada vez mais presente nas redes sociais da internet.Considerando-a uma produo que diz respeito ao hu-mano12 como experincia prpria e legtima, cabe-nosentender seus nveis e as conseqncias de seu enreda-mento sociotecnolgico. Continuemos a descrio docampo da pesquisa.

    Especializao e disperso da ana e miaAs primeiras comunidades virtuais, bem como os pri-meiros blogs e fruns eram, em sua maioria, descritosapenas como pr-ana e pr-mia. A comunidade Ana eMia por regio, por exemplo, cujo objetivo aproximarpessoas por critrios geogrficos, tem hoje 1.662 mem-bros13. J a NF e LF, destinada organizao e ao suportede temporadas de jejum coletivo total ou parcial, umadas que tm vida mais longa, com incio em 31 de janeirode 2006 e quase 2.500 participantes. Alm disso, vriossubgrupos tm sido criados para dar conta de aspectosmais especficos do assunto e/ou das diversas interse-es com outros temas.

    A comunidade Meninos anorxicos, com 138 mem-bros, surgiu para discutir as especificidades do sexomasculino. No grupo Anas/mias e fumantes, com 196participantes, h discusses sobre os efeitos do cigarro.No grupo Annas Veggies, 61 pessoas falam sobre receitasvegetarianas de baixas calorias. No Vdeos pr ana/mia,324 participantes trocam dicas de vdeos motivacionais.

    Em Msicas Anna/mia, 219 membros conversam so-bre msicas que tratam do tema. Diversas bandas, sobre-tudo de lngua inglesa, vm compondo, gravando e ven-dendo msicas, embora a maioria no se defina como

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    pr-ana. Em seu blog14, a cantora norte-americana JillSobule manifesta surpresa ao digitar seu nome em umaferramenta de busca na Internet e obter entre os resulta-dos diversos sites ana e mia. O fato se deve a duas desuas msicas, Supermodel e Lucy at the Gym, citadas comothinspiration nessas pginas. A primeira, da trilhasonora do filme As patricinhas de Beverly Hills (Clueless,1995), expressa o desejo de se tornar modelo e ser inveja-da em versos como eu sou jovem e sou legal e soubonita/eu serei uma supermodelo / eu no comi ontem/eu no vou comer hoje/eu no vou comer amanh/euserei uma supermodelo. A segunda, conta a histria deLucy, garota que no come e no sai da academia deginstica, mesmo com os ossos despontando por baixodas roupas esportivas. Na ltima estrofe, ela no apare-ce mais na academia, o que leva a crer que teria morridoe ido para um cu onde todos so bonitos e magros.

    Em um frum sobre letras de msicas15, usurios dis-cutem sobre a faixa Me and Mia, da banda norte-america-na Ted Leo and the Pharmacists. Com o refro vocacredita em algo belo?/ Ento se levante e seja isso, acano trata de diversos pontos comuns rotina ana emia: busca do autocontrole, insatisfao com a prpriaimagem e aspecto franzino do corpo submetido a dietasrestritivas. Como podemos ver em outras comunidadesdo tipo, h algo quase mstico na luta para atingir oideal. Na msica citada, temos versos como ns conti-nuamos, como se estivssemos numa misso/os lti-mos de uma grande tradio [...] doente pela minhadependncia/combatendo a comida para alcanar atranscendncia. Mostra-se tambm certa obstinao emsumir: Ser que ningum aqui vai te deixar desapare-cer?/nem os mdicos, nem sua me e seu pai/mas s eu,a Mia e a Ana/sabemos o quo duro voc tenta.

    Observa-se nesta crescente especializao e conse-qente disperso o reflexo das tendncias da culturacontempornea: a customizao de produtos, servios eexperincias, projetada para atender a demandas cadavez mais individualizadas; e a hiperconexo dos temasdisponibilizados na rede, pois, uma vez postados, for-mam ns aptos a conectar quaisquer outros, a permane-cer enquanto durar o interesse dos envolvidos, e a per-manentemente criar novas conexes.

    A impossvel sadaPara finalizar a exposio dos conceitos que orientamnossa anlise, temos que o movimento pulsional no seexprime claramente da uma das declaradas dificulda-des de Freud em demonstr-lo , mas sua vigncia podeser inferida da resistncia a ele. Resistncia esta, alis,que caracteriza tudo que h e tudo que se arrola comovida, como bis (filosfico ou biolgico).

    Entenderemos melhor se acrescentarmos que este mo-vimento, a cada vez que atinge o ponto mximo de apro-ximao de sua extino, que seu objetivo ltimo, de-para-se com a impossibilidade de realiz-lo em presena,pois se o fizesse extinguir-se-ia enquanto movimento.

    Ento, em funo desta impossibilidade definitiva desumir, s lhe resta recompor-se e retornar (entre as-pas, pois no saiu, no h um fora) ao que h. Coloca-se, assim, para o caso do humano, uma verdadeira con-denao: existir numa imanncia que no cessa derequerer uma transcendncia que se revela sem trans-cendente, puro vazio. A permanente referncia a estasituao sem sada pode ser detectada no decorrer dahistria em depoimentos de poetas16 e msticos17, eminvenes cientficas e artsticas, em experincias com drogasalucingenas, em ideias como a de eterno retorno, etc.

    Observe-se tambm que, no ponto mximo de aproxi-mao da extino que o movimento pode atingir, inevi-tavelmente ocorre uma suspenso, ainda que por umtimo, do carter opositivo que qualifica as formaesque esto em jogo nas situaes do mundo. Trata-se deuma indiferenciao dos sentidos das formaes, a qualindiferenciao vista justamente como o processo quepossibilita transformar e as ultrapassar nossas limita-es, isto , a criao das prteses que caracterizamnosso modo de existir. Vimos, ento: o conceito de pul-so; a impossibilidade de atingir seu objetivo de extin-o absoluta; o processo de indiferenciao e conse-quente criao; e a idia de que as formaes que existemso resistncias ao movimento pulsional. Note-se quepensar que tudo que h so formaes18 implica tambmconsiderar o recalque que sustenta a existncia de qual-quer formao. Recalque este que jamais definitivo,mas que, momentaneamente19, busca excluir a manifes-tao de formaes opostas s que esto em vigor e,junto, paralisar o processo de indiferenciao e transfor-mao. Portanto, toda formao sempre se apresentacomo um recalque no campo das possibilidades de ma-nifestao. Por isso, as rebelies (sociais, cientficas ououtras) que acompanhamos no decorrer da histria, po-dem instaurar novas formaes, mas no tm como evi-tar que, uma vez hegemnicas, estas se tornem recalcan-tes de outras tidas como ameaa sua configurao.

    Vnculos relativos e vnculo absolutoRetomemos a expresso quod me nutrit, me destruit (o queme alimenta me destri), adotado pelas anas. Se inver-termos seus termos, verificaremos que o que busca afir-mar no desfaz o sentido de impossibilidade comum atodos, anorxicos ou no, que aquele direcionado prpria extino. Se pensarmos o que me desnutre, meconstri lema que continua compatvel com a causadas anas , torna-se clara sua impossibilidade, pois,desnutrindo totalmente o corpo, s se construiria o si-multneo definhar da instncia que deseja desnutrir-se.Isto significa a realizao do objetivo de extino? No,pois se mantm o sentido fundamental ao movimentopresente em qualquer formao, j que, como dito noitem anterior, impossvel realizar-se a extino absolu-ta estando presente a esta extino. Vemos, ento que, nocaso, o alegado objetivo de perfeio corporal s seriaobtenvel em sua no-consecuo postergada.

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    Mas podemos visualizar a uma boa expresso tantoda inevitvel condenao a existir sem sada da existn-cia, quanto do fato de que dentro desta condenao quese produzem e se transformam nossos vnculos. Se con-siderarmos que tudo que se manifesta fora vinculaoe que somos seres essencialmente vinculares, como su-pe outro conceito freudiano importante, o de transfe-rncia (bertragung), ser possvel estabelecer uma gra-dao geral para os vnculos20. Consideraremos relativosos vnculos presentes nas rotinas do mundo (amor/dio, por exemplo) por serem demasiado dependentesde nossas formaes biolgicas e culturais, as quais, pormais sofisticadas que sejam, so reativas a qualquertentativa de modificao de sua configurao.

    Concebe-se, entretanto, um tipo de vnculo que no relativo, o vnculo absoluto, no qual ocorre a suspensodas oposies, ou seja, a possibilidade de indiferencia-o, mencionada acima, que os humanos portam comodistino para com os demais vivos (Magno, 1993, p. 9).Todos, ento, se vinculam absolutamente a essa possibi-lidade de indiferenciao, e no entre si. Neste vnculo, areferncia diretamente ao sentido do movimento pulsi-onal e qualquer contedo se relativiza necessariamente,pois a nica diferena que importa aquela intranspo-nvel entre a existncia de tudo e a no-existncia desada, embora esta seja sempre requisitada. a enormemassa dos recalques que caracteriza o cotidiano dosvnculos relativos que impede nossa referncia indife-renciante de ser operativa com mais freqncia, e, por-tanto, impede que a fora de (re)presso desses vnculossobre nossa existncia seja relativizada pelo vigor dovnculo absoluto.

    No trecho de msica mencionada no item 3 Serque ningum aqui vai te deixar desaparecer? , pode-mos, ento, constatar uma boa percepo do fato de quea vincularidade ao movimento para a extino e im-possibilidade de realiz-lo jamais desaparecer e pres-sionar sempre por menor que seja o peso corporal atin-gido, pois a nada que exista dada a possibilidade deno ter aparecido, ou seja, de no ter existido vincu-larmente. Esta constatao nos possibilita detectar nossites ana e mia, alm da expresso de algo problemticopara os envolvidos, um modo de expor que somos todosabsolutamente vinculados ao prprio fato de sermosvinculares (Magno, 1993, p. 42). Isto, para alm dasaparncias e contedos que os vnculos tomam em suasmanifestaes no mundo.

    Transformao dos vnculos no ciberespaoPodemos agora ensaiar algumas respostas s perguntasdo final do item 2. Efetivamente, a conexo em redessociais na internet tem propiciado a expresso de vonta-des vinculares existentes desde sempre, mas sem antesdispor dos canais adequados especificidade de suasdemandas. O anonimato uma das caractersticasfacilitadoras desta expresso mas s anonimato emrelao aos papis sociais ou selfs restritos que a cultura

    define de sada como desejveis a cada um. No poss-vel supor que anas e mias ignorem que seus websites,alm dos adeptos, tambm sero visitados por aqueles aquem apontam como responsveis pelas no-realiza-es de suas metas. Dar dicas pblicas de como disfar-ar o rudo dos vmitos no banheiro, por exemplo, nodeixa de ser um modo de anunciar a pais e outros o quelhes est acontecendo.

    Um efeito importante desta veiculao , pois, trans-formar o modo de tratar o acontecimento, tanto da partedos que o vivem quanto dos que convivem com ele, emesmo dos que pensam sobre ele. Uma vez em rede, ejusto por isto, o prprio acontecimento passa a no maisse qualificar apenas pelas caractersticas anteriores sua veiculao: todos, queiram ou no, passam a estarconcernidos e novos passos se disponibilizam para aconsiderao dos fatos. Isto no significa que sejam ne-cessariamente passos mais adequados, e sim que a ques-to se reconfigura e, portanto, tambm se torna dispo-nvel proposio de aes mais compreensivas (nosentido de includentes) em relao ao que est em jogona situao.

    Outro aspecto a ser considerado que a interconecti-vidade, para alm do interagir com outros usurios, atodo momento prope ultrapassamentos da configura-o atual do que se veicula. Isto no implica obrigatoria-mente a tentativa de constituio de algum self (nooesta, alis, demasiado presa idia de sujeito criticadano item 2). Ao contrrio, as possibilidades de construir eassumir avatares e nicknames em diversos ambientes desocializao mediados por computador propiciam maisa disponibilizao para a experincia de todos os selfs21,quaisquer que sejam, e permitem condensaes e deslo-camentos de personagens, cronologias e acontecimen-tos tidos por impossveis ou perigosos fora do ciberespa-o o qual, por sua estrutura em multiconexo, no temcomo impedir a vigncia do que Freud chamou de psi-cose controlada em relao ao que ocorre nos sonhos22.Alis, esta vigncia na estrutura do ciberespao queleva autores como Steven Johnson (2005) a afirmar que,na prtica de videogames, ocorre uma ampliao dainteligncia.

    Admitindo-se, ento, que sites ana e mia se constitu-em como redes sociais (Recuero, 2005), nem por isso preciso entend-los como comunidades (virtuais ououtras), mesmo que este termo seja usual na web. Aindicao ao longo deste artigo , ao contrrio, a de umtipo de socialidade capaz de incluir a referncia vincu-lao absoluta, a qual escapa a abordagens de tipo soci-olgico que operam com a noo de comunidade. Medi-ante esta referncia possvel acompanhar o movimentode forar, por mais estranho que parea (negar-se a co-mer, por exemplo), sobre dada vinculao restrita de-mais para incluir a presso de elementos que, emboraanteriormente excludos, no cessam de reivindicar seudireito expresso23. O sentido deste forar, de indife-renciar o carter relativo dos vnculos, suscitando ao

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    mximo a expresso de todos os contedos envolvidos(manifestos ou recalcados) para que, de novo, se confi-gurem nos jogos das formaes. Uma vez que este empu-xo diferena / indiferena / nova diferena visto comoincessante e indestrutvel, justifica-se pensar uma possi-bilidade vincular apta a acolh-lo como operativo emtodas as suas instncias.

    Ao se expressarem em ambientes multiacessveis, anas,mias ou outros envolvidos no podem mais conter osreviramentos inerentes e inevitveis ao desenrolar dequalquer manifestao neste ambiente. No caso em estu-do, queira-se ou no, evidencia-se o carter relativo dosvnculos propostos de incio (suporte a anorexia e buli-mia como estilo de vida, por exemplo) justo por sedemonstrarem relativos demais s posies daquelescontrrios ao que propem (os comedores de acarcitados em Recuero, 2005, p. 7). desta ordem de eviden-ciao que pode surgir a chance de in-diferenciaoentre (a) anas/mias, que se colocam de um lado, e (b)comedores, de outro e ocorrer algum apontamentopara a vinculao absoluta, j que todos, quaisquer quesejam seus estilos de vida, se movimentam no inexo-rvel empuxo de sair de uma existncia sem possibilida-de de sada. As conseqncias polticas deste modo deabordagem so inmeras, pois indiferena na acepoque empregamos no desprezo ou descaso, e sim plenointeresse por todas as manifestaes ampliando-se,assim, infinitamente o campo das possibilidades de co-municao e interveno.nFAMECOS

    NOTAS* Apresentado no VI Encontro Regional de Comunica-

    o, da Faculdade de Comunicao/UFJF, 07 no-vembro 2008, e no I Colquio em Imagem e Sociabili-dade, da Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas/ UFMG, 13 novembro 2008.

    1 Quadros descritos pelos mdicos desde os anos 1690.

    2 Quadro este descrito desde 500 a.C.

    3 Como se l numa comunidade do Orkut: sou umapro ana mia tenho isso admiro nunca vou deixar deser poq isso e um estilo d vida n uma doena comoos otros que nao entendem julgam. quero ter amigasanas e mias para trocamos ideias dicas por so queme entende tudo.

    4 Por exemplo:http://belezademorrer.googlepages.com/sitesquein-centivam, acessado em 15 out 2008.

    5 Cf.: http://tudosobreanaemia.blogspot.com/2008/05/carta-da-anacompleta.html, acessado em 15 out 2008.

    6 Cf.: http://ana_mia_forever.nireblog.com/post/2008/01/21/carta-da-mia, acessado em 15out 2008.

    7 Ambas as pulses seriam conservadoras (...) vistoque estariam se esforando para restabelecer um es-tado de coisas que foi perturbado pelo surgimento davida. O surgimento da vida seria, ento, a causa dacontinuao da vida e tambm, ao mesmo tempo, doesforo no sentido da morte. E a prpria vida seriauma conciliao entre essas duas tendncias (Freud,1923,p. 56).

    8 Experincia de existir e de ser impossvel negar estaexistncia.

    9 Linhagem cuja descrio pode ser acompanhada,por exemplo, em (Badiou, 1989,p. 12).

    10 Modos que definem os focos dos sites de redes soci-ais (Recuero, 2008, p.38).

    11 Expresses utilizadas por Motardo e Passerino(2006) referentes aos blogs como espaos de sociali-zao mediados por computador.

    12 Mantemos o termo humano com a ressalva de quese tornou problemtico diante das atuais questesligadas ao ps-humano, ao ps-orgnico, aosciborgues, entre outras (Kurzweil, 2005), que, paraalm do humanismo, ou do antropos, incluem oque diz respeito a seres resultantes da fuso dasinteligncias biolgica e no biolgica, i.e., da combi-nao das sutilezas da inteligncia humana com avelocidade e a habilidade das mquinas emcompar-tilhar conhecimento.

    13 Observao realizada em 30 jun 2008.

    14 http://new.music.yahoo.com/blogs/jill_sobule/716/pro-anorexia-songs-lucy-at-the-gym-and-super-model

    15 http://www.songmeanings.net

    16 Diz Samuel Beckett (1957): Voc est na Terra; noh cura para isso (apud Phillips, 2008). Diz tambmPhilip Roth nas ltimas linhas de Homem Comum(Everyman): Ele perdeu a conscincia, sentindo-selonge de estar derrubado, de estar condenado, ansio-so para realizar-se mais uma vez, e no entanto nuncamais despertou. Parada cardaca. Deixou de ser, li-bertou-se do ser sem sequer se dar conta disso [Hewas no more, freed from being, entering into nowherewithout even knowing it]. Tal como ele temia desde oincio (2006, p. 131).

    17 Santa Teresa: Do desgosto que lhe inspiram as coi-sas do mundo, nasce na alma um desejo de sair dele.Seu nico alvio o pensamento de que Deus a querviva neste desterro (1577, p. 112).

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    Vnculos no ciberespao: websites pr-anorexia e bulimia 91 97

    18 Para um aprofundamento do conceito, cf. (Medeiros,2008, p. 4): Por formao entende-se toda e qualquerforma, ordenao, articulao ou estrutura que h,das partculas e anti-partculas a uma ordenaosimblica (humana) qualquer, do cdigo gentico edos ecossistemas vivos a todo tipo de tcnica, lngua,conhecimento ou arte. Ou ainda, toda e qualquerforma comparecente como matria, vida ou artefato,para usar os termos das teorias da complexidade eda auto-organizao [...]

    19 O que pode significar milnios, dado o investimentonecessrio sua suspenso. Por exemplo, suspen-so do imperativo recalcante da lei da gravidadecom a teoria da relatividade, ou dos dois mil anos dedominncia do cristianismo no Ocidente com a difu-so da tecnologia e seus efeitos sobre o entendimentodos processos biolgicos e mentais[...]

    20 A teoria dos vnculos j foi exposta em Vnculoabsoluto & vnculos relativos: comunicao e psica-nlise (Silveira Jr., 2006, pp. 49-64).

    21 inevitvel aqui a referncia heteronmia de Fer-nando Pessoa, sobretudo por tomar o prprio Fer-nando Pessoa como heternimo (Silveira Jr., 2006,pp.102, 119-132).

    22 Isto se deve ao fato de o acesso motilidade no estardisponvel no sonho. Por analogia, a seguinte cita-o pode ser um bom indicativo quanto ao que ocorrena rede: Na vida de viglia, o material suprimido damente impedido de encontrar expresso e isoladoda percepo interna devido ao fato de as contradi-es nele presentes serem eliminadas um dos ladossendo abandonado em favor do outro , mas, duran-te a noite, sob a influncia de um impulso formaode compromissos isto , formao de vnculos , esse material suprimido encontra meios de forarseu caminho at a conscincia (Freud,1900, p. 646).

    23 Movimento este denominado retorno do recalcadopor Freud.

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