Vinhos - Nº 302

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Interior Norte BRANCOS E TINTOS DA RAIA N o 302 | JANEIRO 2015 | 4,00 (Cont.)| 600 AKZ (Angola)| Revista Mensal | www.revistadevinhos.pt MAPA O país da vinha QUINTA DA PELLADA Reviver o passado com Álvaro de Castro LISBOA Pelas quintas de Alenquer * para portugal continental .00 * 6 por apenas (PORTUGAL) Grand’Arte Touriga Nacional 2012 BRANCOS E TINTOS DA RAIA

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A Revista de Vinhos é uma publicação mensal de referência no segmento de vinhos e gastronomia. Com 25 anos de edição mensal contínua, é o meio com maior notoriedade do mercado, influenciando o comportamento de muitas dezenas de milhares de consumidores. O foco editorial da revista são as provas de vinhos, visitas a produtores e regiões vinícolas em Portugal e no estrangeiro, entrevistas, colunas de opinião, avaliações de harmonização vínico-gastronómica, enoturismo, entre outros.

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Interior Norte

BRANCOS E TINTOS DA RAIA

No 302 | JANEIRO 2015 | €4,00 (Cont.) | 600 AKZ (Angola) | Revista Mensal | www.revistadevinhos.pt

MAPAO país da vinha

QUINTA DA PELLADA Reviver o passado com Álvaro de Castro

LISBOAPelas quintas de Alenquer

* para portugal continental

€ .00*6por

apenas

(PORTUGAL)Grand’Arte Touriga

Nacional 2012

BRANCOS E TINTOS DA RAIA

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sumárioJaneiro 2015

PÁG 8 Novidades PÁG 18 Correio do Leitor PÁG 94 Crónica O Fundo do Copo, de Luis Antunes PÁG 96 Crónica Temperanças, por Fernando Melo PÁG 98 Lançamento Esporão PÁG 100 Lançamento Alves de Sousa PÁG 102 Lançamento D. Francisca

secÇões 100

20 Périplo pelas quintas de Alenquer

Zona agrícola de excelência referenciada há muitos séculos, Alenquer tem no vinho um dos seus produtos mais emblemáticos. Aqui encontramos um mosaico de solos, microclimas e fi losofi as de produção.

30 Pedra Cancela, a nova estrela do Dão

Teoria e prática. Conhecimento académico e sabedoria empírica. Diz-se que é do equilíbrio destas duas abordagens que nascem os grandes vinhos. Poucos o conseguem. João Paulo Gouveia é um deles.

36 O mapa do país da vinhaQuais são os municípios portugueses com mais vinha? E onde é que ela ocupa maior percentagem do território? Os números do IVV permitem traçar um mapa da vinha em Portugal. Com sinal mais verde a Norte e Oeste.

42 Painel descobre tintos e brancos do Norte interior

Por terras raianas encontramos muito do que era o Portugal vínico de antigamente. Mas há um sector a mexer. Entre as tradições e a modernidade, os tintos e brancos do Norte interior têm muito para dar.

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52 Quinta da Pellada: as histórias de Álvaro de Castro

Reviver o passado com Álvaro de Castro na Quinta da Pellada é viajar por tempos de experimentação e caos criativo, mas também de convicções fortes. Que fi zeram destes vinhos uma referência no Dão.

58 Uma volta ao mundo dos vinhos com pouco álcool

São Verdes e Vinhos Leves de Portugal, brancos mas também tintos de Itália, França, Espanha, Alemanha, Austrália. Num cenário geral de subida da graduação, há vinhos leves que continuam a dar cartas.

64 Enoturismo: as muitas faces da Quinta do Casal Branco

Uma casa fi dalga e uma aldeia agrícola. O vinho e os cavalos. Histórias de caçadas e um surpreendente pombal. Às portas de Almeirim, a Quinta do Casal Branco oferece uma paleta de experiências para todos os gostos.

70 Avenue, um restaurante bem diferente

É preciso subir escadas para lá chegar, mas esta distância da rua confere ao Avenue uma atmosfera muito especial. Elegância, tranquilidade e boa comida em pleno coração de Lisboa.

78 Vinhos para acompanhar o bolo-rei

O bolo-rei tem tradição, mas está constantemente a renovar-se. Iguaria diversifi cada, com infi nitas variações sobre um tema-base, encontra parceiros vínicos que vão do espumante aos generosos, passando pelos colheita tardia.

84 Entrevistas mundanas com algumas dicas

Recolher respostas de quem sabe é sempre uma experiência enriquecedora. Desta vez, em jeito de serviço público, fi cam algumas dicas preciosas. Já experimentou fazer um churrasco com brasas de pipas velhas?

secÇões

PÁG 104 Lançamento Foz Torto PÁG 106 Lançamento Vale DiVino PÁG 108 Lançamento Casa da Passarella PÁG 110 Lançamento Quinta do Pôpa PÁG 112 Lançamento h’OUR PÁG 116 Notícias

janeiro 2015

sumário

2 R E V I S T A D E V I N H O S J A N E I R O 2 0 1 5

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Pelo 18º ano consecutivo a Revista de Vinhos vai premiar os melhores vinhos nacionais, bem como empresas, entidades e profi ssionais ligados às áreas dos vinhos e gastronomia que mais se destacaram no último ano.

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DIA 13 DE FEVEREIRO 2015DIA 13 DE FEVEREIRO 2015

Prémios Especiais• Produtor Revelação • Produtor • Empresa • Empresa de Vinhos Generosos • Viticultura • Enólogo • Enólogo de Vinhos Generosos • Organização Vitivinícola • Adega Cooperativa

• Enoturismo • Garrafeira • Wine Bar • Loja Gourmet • Restaurante • Restaurante Cozinha Tradicional Portuguesa • Prémio Gastronomia David Lopes Ramos • Prémio Identidade

e Carácter • Senhor do Vinho (Prémio de Carreira) • Campanha Publicitária

Melhores Vinhos• Prémios de Excelência • Os Melhores de Portugal • As Boas Compras

CATEGORIAS A PREMIARCATEGORIAS A PREMIAR

OS

MELHORES DO ANO 2014

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C

D I R E C Ç Ã O E D I T O R I A LDirector – Luís Ramos Lopes ([email protected]) 234 738 248 — R. prof. Bento Lopes, 76 Apartado 93 • 3781-908 SangalhosDirector de Área de Negócios – João Geirinhas ([email protected]) 215 918 129Redactores – 215 918 127António Falcão ([email protected])Luís Francisco ([email protected])João Paulo Martins ([email protected]),João Afonso ([email protected]), Luís Antunes ([email protected])Nuno Oliveira Garcia ([email protected])Secretária de Redacção – Sandra Gonçalves ([email protected]) Colaboraram nesta edição Fernando Melo e Raul Riba D’AveFotógrafos – Ricardo Palma Veiga e Anabela Trindade

Rua da Fraternidade Operária, 6, 2794-024– CarnaxideEmail: [email protected]. 215 918 132 Fax 215 918 150

D I R E C Ç Ã O D E P A G I N A Ç Ã O E P R O D U Ç Ã ODirector – Ramiro Agapito ([email protected]) Assistente – Inês Pereira Paginação – Sofi a Duarte, Pedro Martins e Paulo Franco Digitalização e tratamento de imagem – Diogo Sargento, Frederico Queirós e Pedro Figueiredo

D I R E C Ç Ã O D E C I R C U L A Ç Ã O Director – Bruno Ventura ([email protected])Linha de Apoio ao Ponto de Venda Tel. 707 200 229

A S S I N A T U R A SCoordenador – Mário Vidal ([email protected]) [email protected].: 215 918 088

D I R E C Ç Ã O C O M E R C I A L E P U B L I C I D A D EDirector de Publicidade – Fernando Gomes ([email protected]) 215 918 130

D E L E G A Ç Ã O S U LResponsável – Ana Sampaio ([email protected]) 215 918 131

D E L E G A Ç Ã O N O R T EResponsável – Maria do Céu Pinto ([email protected]) 226 057 580 ou 917 563 824Rua Tenente Valadim, 181, 4100-479 Porto

D I R E C Ç Ã O D E M A R K E T I N G E E V E N T O SDirectora – Dina Nascimento ([email protected])Gestora de Produto – Teresa Neves([email protected]) Assistente – Dulce Almeida ([email protected])

Gestora de Eventos – Dulce Bandeira([email protected]) Assistente de Eventos – Rita Pereira ([email protected] )

D I R E C Ç Ã O - G E R A LNuno Santiago ([email protected])

D I R E C Ç Ã O F I N A N C E I R AAna Ruivo ([email protected])

P R O P R I E T Á R I O E E D I T O R : Masemba, Lda, Rua da Fraternidade Operária, nº6, 2794-024 Carnaxide,

NIF/NIPC: 510647421 – CRC CascaisImpressão: Lisgráfi caDistribuição: Urbanos Press Depósito legal: 80300/9Nº de registo ERC: 114309

Considero-me afortunado por ter a oportunidade de visitar com alguma regularidade estes dois paí-ses extraordinários, na dimensão geográfi ca, nos recursos naturais, no impacto das suas paisagens, na força das suas culturas. Na vertente económica, Angola e Brasil são parceiros estratégicos para Portugal e naturalmente o vinho não constitui excepção. Angola é o principal país importador de vinho português. O Brasil, se excluirmos o Vinho do Porto, apresenta-se no terceiro lugar, em valor, já que é dos que consome vinhos com preço médio mais elevado.Angolanos e brasileiros encaram o vinho de forma distinta. Pela minha experiência no local, se tivesse que defi nir em meia dúzia de palavras a “atitude ví-nica” destes dois países, eu di-ria que em Angola existe uma cultura de vinho, por oposição ao Brasil onde prevalece uma cultura de cerveja. Deixem-me explicar melhor esta afi rmação. Apesar de a “classe média” estar a crescer, o tecido socioeconó-mico destes países é extremado. Acontece que, em Angola, o vinho é uma bebida transversal a todos os estratos sociais. É uma bebida de con-vívio, uma bebida social, e rico ou pobre, todos bebem vinho. Quem tem dinheiro bebe as marcas mais caras, quem não tem bebe vinho barato exportado a granel. No Brasil, pelo contrário, a bebida unifi cadora da estrutura social é a cerveja, consumida por todos. Mas só os mais favoreci-

dos, das chamadas classes A e B+, bebem vinho. Cultura e conhecimento são coisas diferentes. O conhecimento e o interesse pelo mundo do vinho é bem maior no Brasil do que em Angola. O angolano bebe o vinho que pode comprar, barato ou caro, e liga-se a determinadas marcas que lhe dão confi ança. A elite brasileira que bebe vinho tem sempre vontade de experimentar, ligando-se mais à origem e menos à marca. Em Angola, ainda que os mais abastados comprem alguns vinhos franceses (sobretudo champanhe) a imagem do vinho português é muito sólida, sendo sinónimo de qualidade superior. No Brasil, o vinho de Portugal é muito considerado, mas não

mais do que os vinhos chilenos, argentinos ou italianos, sendo a relação qualidade/preço decisiva no acto de compra. E os brasilei-ros verdadeiramente ricos bebem sobretudo as marcas de topo de Bordéus e Borgonha. Mas também há elementos de “união vínica” entre Angola e Brasil. O desinteresse pelos vi-

nhos brancos num clima tropical é um deles. Outro, será o apreço por vinhos tintos encorpados, com madeira evidente e álcool elevado. Outro ainda, o prazer de beber à mesa, entre amigos, acompanhando comida.Tão diferentes e tão semelhantes, Angola e Brasil, são países fascinantes em muitíssimos aspectos e a sua tão particular relação com o vinho é apenas um deles.

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editorialLuís Ramos Lopes

Angolanos e brasileiros encaram o

vinho de forma distinta.

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Angola e Brasil estão no “Top 5” dos países mais atractivos para a exportação de vinhos portugueses. Apesar de partilharem a mesma língua e o gosto pelo vinho, angolanos e brasileiros possuem no entanto padrões e comportamentos de consumo bem distintos.

Angola e Brasil, tão diferentes, tão iguais

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Seja responsável. Beba com moderação.

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página. Os assinantes da Revista de Vinhos podem trocar directamente o vale pela compra da garrafa nos pontos de venda habituais.

100% Touriga Nacional, da região de Alenquer, teve um estágio de 6 meses em barricas novas

de carvalho francês. Apresenta um perfi l muito aromático, com apontamentos de frutos

silvestres bem conjugados com as clássicas notas fl orais da casta e com leves sugestões tostadas.

Mostra um bom volume de boca, num perfi l suave e elegante, com fi nal equilibrado e com

a fruta sempre presente.

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17,5 €33Quinta dos Carvalhais

Branco EspecialDão branco s/ data

Sogrape Vinhos

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novidades

À mesa: branco de Inverno, exigente na temperatura de serviço (à volta de 12º), pode acompanhar queijos de pasta mole ou peixes bem temperados.

HHá vários anos que a quinta dos Carvalhais encetou a produção e comercialização de vinhos brancos com mais estágio de barrica do que o habitual, sendo vendidos mais tarde e com a designação de Colheita Seleccionada. Quando surgiram, esses brancos marcaram a diferença porque recordavam, sobretudo aos mais velhos, os antigos brancos do Dão que evoluíam bem e apresentavam, com a idade, cores douradas e aromas resinosos. Com os novos tempos e as novas modas esses brancos antigos passaram a ter vida difícil e em boa hora os Carvalhais reeditaram esses brancos que, diga-se, tiveram sucesso aqui e lá fora, mesmo na exigente restauração dos 3 estrelas Michelin. Com este Branco Especial, a Sogrape dá aqui um passo em frente, subindo um patamar no nível da originalidade. Não se trata já de um branco envelhecido, trata-se de um lote de vinhos de vários anos e que, por isso, não apresenta data de colheita. Se era de originalidade que

se andava à procura, não é preciso vasculhar mais. Este branco resulta de um lote de vinhos seleccionados por Manuel Vieira e Beatriz Cabral de Almeida, a partir das colheitas de 2004, 05 e 06 estagiados em barricas usadas. Esse estágio permitiu a aquisição de características que só o tempo pode conferir. Por isso há que fugir da comparação com brancos jovens. Este é outro registo. Que se saúda e aplaude, pela qualidade mas também pela ousadia. Foi engarrafado em Dezembro 2013 e dele apenas se fi zeram 3 000 garrafas.

Amarelo dourado na cor, aroma muito rico e complexo, com notas de resinas e mel, de compotas e leve nota de pólvora. Na boca é volumoso, surpreende pela excelente acidez que sustenta a estrutura e lhe confere uma enorme aptidão gastronómica.(14,5%) JPM

para a

mesa

O conceito de vinho à antiga é difícil de defi nir e não carrega consigo qualquer carga especialmente positiva. No entanto, quando o trabalho de casa é bem feito e com mão de mestre, o resultado pode ser sublime. “À antiga” saía bem por acaso, aqui sai bem porque nada foi deixado ao acaso.

Um Dão moderno “à antiga”

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16 €7,40Sou do AltoBeira Interior Espumante Bruto branco 2012Coop. Agr. Beira SerraO fruto é de maçã ácida, ananás, tangerina, atraente e directo, bom nervo aromático que se repete na boca acompanhado por acidez viva, penetrante, bem acompanhada pela doçura de fruto. Fácil e equilibrado. (12%) JA

16 €7PassaDouro tinto 2012Quinta do PassadouroMédia concentração, aroma muito vivo, muito limpo, com frescura de fruta e boas notas fl orais, tudo apetecível para consumo imediato. Polido e muito agradável na boca, acidez perfeita, conjunto de boa aptidão gastronómica. (14%) JPM

16,5 €8,50Casa Santos Lima Reg. Lisboa Reserva branco 2013Casa Santos LimaEncruzado, Viosinho e Chardonnay. Tostados e fumados na frente, depois boa fruta cítrica com uma ponta tropical, ainda minerais. Muito boa presença na boca, herbáceo rugoso a dar uma prova muito sedutora. (13%) LA

17,5 €16Quinta da BacalhôaReg. Península de Setúbal Cabernet Sauvignon tinto 2012BacalhôaO mais clássico Cabernet de Portugal mantém o perfi l da marca: perfumado e elegante, com fruta de muito boa qualidade, apontamentos vegetais próprios da casta, leves fumados e especiarias, taninos sólidos, muita garra e presença. (14,5%) LL

17,5 €35Herdade dos GrousReg. Alentejano Reserva tinto 2011Herdade dos GrousCom Touriga Nacional, Alicante Bouschet e Tinta Miúda, está um vinho cheio de raça, com sugestões de amoras maduras, ervas do campo, especiarias. Taninos vigorosos arredondados pela barrica, muito sabor e presença. (14%) LL

17,5 €18,95Domingos Soares Franco Colecção PrivadaMoscatel de Setúbal 2004José Maria da FonsecaRealmente perfumado nas notas de laranja, leve fl oral anisado, balsâmico, vivo, na boca está todo redondo, com meio corpo, todo em elegância com doçura mediana, longo e harmonioso fi nal. (17,5%) JA

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selecção

do mês

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novidades

Apara

a cave

O L.B.V. é uma das categorias especiais de Vinho do Porto que mais tem interessado os produtores e que mais alegrias traz aos consumidores. Excelente qualidade a um preço conveniente fazem do L.B.V. um caso muito sério. Como este Passadouro confi rma.

16,5 €22Passadouro

Porto L.B.V. tinto 2010Quinta do Passadouro

O quase vintage do Passadouro

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A quinta do Passadouro fi ca no Cima Corgo, num local recôndito, longe dos olhares do passante. Quem vai para lá é porque vai para lá, não está de passagem. Aqui, um belga, entretanto falecido, apaixonou-se pelo Vinho do Porto e começou a fazer vinhos em associação com a Niepoort. Mudaram-se os tempos, a Niepoort saiu do projecto e hoje as herdeiras fi zeram uma associação com Jorge Borges, da Wine & Soul, que assegura também a enologia dos vinhos. Além do Porto, a quinta produz vinhos DOC e azeites. Os L.B.V.’s do Passadouro seguem, segundo afi rma Jorge, a ideia tradicional que é serem produzidos nos anos em que não se declara vintage. Quer isto dizer que, enquanto outras empresas têm os dois tipos bem separados, aqui, também devido à pequena dimensão da propriedade, quando há vintage não há L.B.V. e vice-versa. Temos assim na garrafa um “potencial” vintage que, pelo facto de não ter sido declarado como tal, é deixado em tonel mais

dois anos e então engarrafado, sem fi ltração prévia. Feito em lagar com pisa, resulta de uvas das vinhas mais velhas, com as castas misturadas. Tudo clássico, tudo com o carácter que um bom L.B.V. deve ter. E isso também quer dizer que ele tanto pode ser consumido agora, como pode ser deixado em cave para consumo futuro. E há que não esquecer: um bom L.B.V. continua, passados 20 anos, a dar muito prazer a beber. É caso para perguntar: qual é a pressa?

Austero nos frutos negros, boas notas de chocolate amargo, ainda fechado e sério. Fruto em passa e compotas na boca, doce, macio, perfi l de boa estrutura, a pedir também a guarda porque irá abrir no futuro. (19,5%) JPM

À mesa: perfeito para acompanhar queijos secos, o vinho requer decantação tanto mais cuidada quantos mais anos passar em cave.

ais tem ores.

caso

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ESPUMANTES15 €9,79Basta!Espumante Brut rosé s/ dataWine With SpiritSalmonado na cor, aroma fi no, com notas de groselha e framboesa, tudo delicado e a mostrar bolha fi na e boa acidez. A doçura residual aconselha-o sobretudo para aperitivo, mesmo sem qualquer acompanhamento. (11,5%) JPM

15 €8,90Casa Santa EuláliaVinho Verde Espumante brancoMaria Teresa LeandroFruta cítrica, tostados, notas de amêndoa verde, herbáceos, pimenta. Espumoso na boca, com mousse volumosa, agridoce contido, fi nal a maçã reineta, com acidez fi rme. (12%) LA

15,5 €9,60Casa Santa EuláliaVinho Verde Espumante roséMaria Teresa LeandroCor de rosa brilhante. Floral, com frutos vermelhos, notas de rebuçado, vegetal seco. Cremoso e vivo na boca, com doçura controlada, muito equilibrado, suave e luminoso. (11%) LA

DOURO17,5 €25Duas Quintas Douro Reserva tinto 2012Adriano Ramos PintoUm novo estilo deste vinho clássico, com muitas notas fl orais, frutos do bosque, afável, mineral, focado. Muito equilibrado na boca, com acidez e taninos integrados, macio, polido, muito bom comprimento fi nal. (14%) LA

17 €11LoboseiroDouro Reserva tinto 2011DLL Douro Lácrima LusaBonita combinação de tostados, especiarias e fruta preta, ainda minerais, ervas do bosque. Muito bem na boca, com corpo médio, muita frescura e elegância, taninos fi rmes, fi nal austero, contido. (14%) LA

16,5 €15MuxagatDouro tinto 2012Muxagat WinesFruto silvestre e algum alicorado num fundo vegetal de esteva que traz frescura e amplitude ao tinto de taninos afi rmativos, polidos q.b., com corpo mediano, todo em elegância genuinidade e equilíbrio. (14%) JA

16,5 €12,50PassadouroDouro tinto 2012Quinta do PassadouroMuito equilíbrio aromático, com nuances fl orais (de Touriga) que lhe dão frescura, ao lado de frutos maduros e alguns químicos. Boa acidez, ponderada, taninos discretos, corpo maleável a dar prova saborosa. (14,5%) JPM

17,5 €20PassadouroDouro Touriga Nacional tinto 2012Quinta do PassadouroBoas notas fl orais de violetas e bergamota, aqui muito bem casadas quer com a fruta quer com a barrica. Resulta fresco e atractivo. Muito elegante na boca, taninos muito fi nos, grande equilíbrio de conjunto. (14%) JPM

16,5 €12,50Quinta das BrôlhasDouro Reserva tinto 2012Macário de Castro Pereira CoutinhoMuito atractivo no aroma, com apontamentos de bagas silvestres maduras, um leve toque vegetal. Profundo e rico na boca, mas ao mesmo tempo austero e seco, é um vinho sólido, sem artifícios, com muito carácter Douro. (14%) LL

15,5 €11,99Quinta de PorraisDouro Reserva branco 2011Soc. Agr. Quinta de PorraisMuitas notas tostadas e abaunilhadas, evolução aromática notória, resinas, notas minerais, pouca fruta amarela. Mais expressivo na boca, encorpado e volumoso, com acidez moderada e suaves amargos fi nais. Para o queijo. (13%) LA

15 €4,45PorraisDouro tinto 2012Soc. Agr. Quinta de PorraisNotas fumadas, fruta do bosque intensa, notas minerais, especiarias. Corpo médio, redondo, ligeiros amargos, taninos integrados, um pouco herbáceos, acidez fi rme, termina focado, com doçura frutada. (14%) LA

BAIRRADA14,5 €1,99CantanhedeBeira Atlântico branco 2013Adega Coop. CantanhedeAroma discreto mas muito limpo e fresco, notas limonadas. Na boca revela-se um vinho simples mas atractivo, citrino, alegre, bem composto. Tudo isto por um preço imbatível. (11,5%) LL

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novidades

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15 €2,99Marquês de Marialva Bairrada rosé 2013Adega Coop. CantanhedeFeito exclusivamente com Baga, tem uma cor aberta e aroma exuberante, com muitas notas fl orais e de framboesas. Bom volume de boca, suave, com fresca acidez a dar frescura ao fi nal. (12%) LL

16,5 €12Marquês de MarialvaBairrada Arinto Grande Reserva branco 2012Adega Coop. CantanhedeNotas tostadas de barrica em primeiro plano, a fruta surge depois, lembrando laranja madura, casca de limão. Sente-se bem a casta, o vinho é cremoso, expressivo, vibrante, com leve amargo vegetal no fi nal longo. (13,5%) LL

15,5 €5,95OrtigãoBeira Atlântico tinto 2010Quinta do OrtigãoA casta Baga mostra-se aqui invulgarmente domada e polida, com boa presença de fruta, (amoras, frutos silvestres), num registo fresco e atraente. Corpo médio envolvendo os taninos suaves, tudo equilibrado e bem composto. (13,5%) LL

16 €8Pinho LeãoBairrada Reserva tinto 2011Casa Agr. A.Santos LopesCom Baga e Touriga Nacional é um vinho de cor escura, fechado e profundo, aroma de bagas silvestres bem maduras, um toque vegetal. Denso, com taninos vigorosos, leves amargos vegetais no fi nal persistente, seco e austero. (14%) LL

LISBOA 16 €4DoryReg. Lisboa tinto 2012Adega MãeSyrah e Aragonez. Média concentração, aroma austero com notas de balsâmicas, boa barrica e um perfi l fechado a pedir calma no consumo. O diálogo entre as castas está aqui a funcionar muito bem. Atractivo. (13,5%) JPM

16 €7Adega MãeReg. Lisboa Merlot tinto 2012Adega MãeAroma muito fi el à casta, com notas de fruta madura, de leve chocolate, carne fresca, tudo bem embrulhado. Muito elegante na boca, a excessiva graduação não é evidente, o vinho mostra-se muito bem. (15%) JPM

16,5 €7Adega MãeReg. Lisboa Cabernet Sauvignon tinto 2012Adega MãeBoa expressão aromática da casta, com abundantes e sugestivas notas apimentadas, com especiarias, tudo bem composto. Boa textura de boca, taninos muito fi nos, muito atractiva a elegância de conjunto. (14%) JPM

16 €15Ninfa EscolhaReg. Tejo Sauvignon Blanc branco 2013João M. BarbosaNariz exuberante, notas citricas e um bom bocado de novo-mundo - maracujá e relva cortada - num perfi l moderno, atraente e fresco. Na boca marca pela acidez, fruta tropical fresca (água de ananás), bom volume, alguma complexidade, fi nal com sabor. Um vinho alegre e muito vivo. (13,5%) NOG 16,5 €16Têmpera by José Bento dos SantosRegional Lisboa tinto 2011José Bento dos SantosMédia concentração, aroma muito fi no e requintado, com notas fumadas da barrica e um estilo de fruta madura. Textura polida, taninos fi nos e bem integrados, muito boa harmonia de conjunto. (13,5%) JPM

16,5 €15Ninfa EscolhaReg. Tejo tinto 2011João M. BarbosaTouriga Nacional, Alfrocheiro e Aragonez. Nariz muito maduro, com fruto em camadas (negro, azul) na frente. Notas da barrica depois, ligeiro funcho e eucalipto num fundo vegetal. Prova de boca generosa, meio-corpo, mais uma vez centrado no fruto muito maduro com qualidade, acidez qb, fi nal com sabor cálido. Um tinto capitoso e vinoso a pedir copos largos. (14%) NOG

17,5 €48Syrah 24 by José Bento dos Santos Limited EditionRegional Lisboa tinto 2011José Bento dos SantosAroma de requinte, marcado por notas vegetais e alguns frutos maduros, gerando aqui um tinto complexo, muito rico e refi nado. Muito elegante na boca, sedoso mas afi rmativo, taninos requintados. Conjunto notável. (14%) JPM

15,5 €3,50Palha CanasReg Lisboa tinto 2010Casa Santos Lima Mistura de castas nacionais, com uma toada de fruta do bosque madura, terra seca e especiarias. Corpo médio, muita frescura, taninos domados, um estilo clássico, focado e sereno. (13,5%) LA

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16 €8Quinta do Espírito SantoReg. Lisboa Reserva tinto 2010Casa Santos LimaAlegre, com fruta vermelha, notas mentoladas, uma ponta química a dar seriedade. Corpo robusto, bem texturado, ligeira rugosidade herbácea, compensada por doçura bem controlada. Termina picante e especiado. (15%) LA

TEJO14,5 €3,50BadulaReg. Tejo tinto 2012Quinta da BadulaNotas de lenho ou pau misturado com fruto maduro, algum peso aromático, boca limpa com taninos um pouco severos e amargos, corpo mediano, alguma doçura de fruto, tudo correcto mas sem grande apuro. (13,5%) JA

15,5 €5,50BadulaReg. Tejo Col. Selec. tinto 2012Quinta da BadulaAroma com alguma elegância na tosta e baunilha o fruto é fresco e tem alguma fi nura, corpo mediano na boca, alguma desenvoltura, taninos com secura q.b., tudo focado na barrica e fruto, fi nal seco. (14%) JA

16 €9BadulaReg. Tejo Reserva tinto 2011Quinta da BadulaAroma com algum cacau e tabaco, fruto sóbrio, leve vegetal, num conjunto com alguma harmonia, que se repete na boca, taninos polidos, bastante fruto, barrica integrada no conjunto, fi nal longo e guloso. (14%) JA

15 €9Quinto ElementoReg. Tejo Arinto Reserva branco 2013Quinta do ArrobeLado citrino evidente, com abundantes notas de vegetal verde, maçã ácida e folha de limoeiro. Austero na boca, leve nota de pólvora, um perfi l de leve evolução. Branco de Inverno, com volume e boa acidez. (13%) JPM

15,5 €9Quinto ElementoReg. Tejo Syrah Reserva tinto 2012Quinta do ArrobeForte aroma a frutos vermelhos, leves balsâmicos e estilo acessível, directo e com muita frescura. Muito bem proporcionado na boca, leve no corpo, fresco na fruta e na acidez. A dar boa prova desde já. (13%) JPM

16 €12Quinto ElementoReg. Tejo Cabernet Sauvignon Reserva tinto 2012Quinta do ArrobeSão boas as notas de grafi te, de apara-lápis e pimento verde, marcam o vinho sem marcarem demasiado a prova. É um Cabernet elegante, macio de taninos e fresco de acidez, sucesso garantido. A beber já. (13%) JPM

15 €4,49Meet & MeatReg. Tejo tinto 2013Wine With SpiritLote de três castas, aqui em bom diálogo, aroma mostra alguma exuberância – fruto maduro e notas fl orais – resultando muito atractivo. Envolvente e fácil na boca, seguramente muito gastronómico. (13%) JPM

15 €4,49Bread & CheeseReg. Tejo tinto 2013Wine With SpiritAlgumas notas químicas no aroma, conferindo alguma austeridade ao vinho. Há boas notas fl orais que surgem sobretudo na boca, o vinho está envolvente e será muito boa companhia à mesa, fazendo jus ao nome. (13%) JPM

PENÍNSULA DE SETÚBAL15 €2,25Fernão PóReg. Pen. Setúbal branco 2013Freitas e PalhoçaVerdelho e Viosinho. Boa tonalidade citrina, aroma fresco e frutado, com leve sensação mineral. Corpo ligeiro e acidez marcante fazem dele um branco para peixes delicados e marisco. A beber enquanto jovem. (12,5%) JPM

14 €2,30Fernão PóReg. Pen. Setúbal tinto 2013Freitas e PalhoçaMuito aberto na cor, aroma a desprender algumas notas de groselha e morango, apontamentos vegetais. Muito ligeiro na boca, a pedir pratos muito leves, podendo mesmo substituir o branco como vinho do quotidiano. (13,5%) JPM

14,5 €4Fernão Pó MonocastaReg. Pen. Setúbal Syrah tinto 2013Freitas e PalhoçaMédia concentração, aroma com frutos negros e leve nota de pimenta preta. Macio e fácil na boca, boa acidez, taninos macios, tudo apontando para consumo imediato. Tem carácter gastronómico. (14%) JPM

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novidades

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15 €4Fernão Pó TricastaReg. Pen. Setúbal Merlot/Touriga/Tannat tinto 2013Freitas e PalhoçaAustero no aroma, abundantes notas vegetais e algum metálico, muito leve presença de notas fl orais. Macio e envolvente, boa acidez, polido nos taninos e muito atractivo, será tinto de sucesso garantido. (14%) JPM

14,5 €4Fernão Pó DuocastaReg. Pen. Setúbal Castelão/Cabernet tinto 2013Freitas e PalhoçaDiscreta presença do Cabernet, na sua vertente de pimento verde, sente-se um tinto afável, directo, com alguma fruta madura mas pouco falador. Mais aberto na boca, macio e fácil, muito polivalente. (14%) JPM

16 €20Família Horácio Simões Vinhas VelhasPalmela Grande Reserva Boal branco 2013Horácio dos Reis SimõesCarregado na cor, aroma de fruta madura, com leve nota de mel, alperce em compota e tosta de barrica. Gordo e untuoso na boca, demasiado marcado pela madeira, a boa acidez permite boa prova. Branco de Inverno. (13%) JPM

ALENTEJO14,5 €2,15Monte BaixoReg. Alentejano rosé 2013LogoWines para MakroCor salmão com tons acastanhados, leve notas de frutos vermelhos e galho seco, discreto mas ponderado. Macio na boca, presença evidente de açúcar residual, estilo polivalente com acidez correcta. (12,5%) JPM

15,5 €9Monte BaixoReg. Alentejano Grande Reserva tinto 2010LogoWines para MakroAroma austero, frutos negros e algum fl oral, leve nota animal. Bom volume de boca, taninos muito polidos e boa acidez permitem uma boa prova, o tinto mostra clara polivalência para pratos de carne. (14%) JPM

15 €4,49Feijoada & CoReg. Alentejano tinto 2012Wine With SpiritAroma fortemente marcado pelas notas de vegetal seco, algum couro, barro molhado, bom perfi l regional. Médio corpo, boa acidez e boa estrutura alcoólica, mostra-se apto a consumo imediato, com sucesso. (14%) JPM

15,5 €9,99Carpe Noctem Limited EditionReg. Alentejano tinto 2012Wine With SpiritAroma discreto, pouco falador, com fruta madura guardada, notas de violetas e boas notas vegetais. Macio, envolvente e elegante na boca, é tinto assertivo que se mostra bem e pode até durar em cave. (14%) JPM

16 €12Solar dos LobosReg. Alentejano Reserva tinto 2012Silveira e OutroAroma ainda muito jovem, mostrando frutos silvestres, pimenta, notas tostadas e abaunilhadas. Na boca tem corpo médio, rugoso, acidez viva, bem integrada, taninos fi nos, fi nal bem focado, com presença. (14%) LA

17 €29MalhadinhaReg. Alentejano tinto 2012Herdade da Malhadinha NovaMuito elegante no aroma, conjugando fruta madura com apontamentos fl orais, leves notas de tosta. Na boca de textura cremosa surpreende pela frescura ácida, resultando muito fi no e persistente. (14,5%) LL

17 €11,99Tiago Cabaço Vinhas VelhasReg. Alentejano branco 2013Tiago Cabaço WinesMuito fi no de aroma, notas citrinas delicadas, fl ores do campo, apontamentos de sílex. Na boca surge um atractivo amargo vegetal, acompanhado de sugestões fumadas, num conjunto cremoso, muito elegante e longo. Pode crescer na garrafa. (13%) LL

16 €3,99.ComReg. Alentejano branco 2013Tiago Cabaço Wines Antão Vaz, Verdelho e Viognier, começa a ser uma fórmula de sucesso no Alentejo. Este é um bom exemplo, um vinho bastante frutado, com frutos tropicais, fl ores secas, limão maduro, minerais, elegante, fi rme e cheio de sabor. (13%) LL

16,5 €7,69Dom RafaelAlentejo tinto 2011Vinhos da Cavaca DouradaMostra muito carácter alentejano, num estilo austero e seco, com notas vegetais, bagas maceradas, leves amargos. Encorpado, com taninos fi rmes e fresca acidez, um vinho sério, sem fantasias, muito consistente. (13,5%) LL

15 5 €999

s

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16 €9,99 PoliphoniaReg. Alentejano Reserva branco 2013GranacerMuitas notas de madeira doce, frutos amarelos confi tados, pêssego, baunilha. Na boca permanece o estilo, untuoso e cheio, com muita concentração equilibrada por acidez viva, fi nal seco. Um branco de Inverno. (13,5%) JPM

17,5 €50MR PremiumReg. Alentejano tinto 2012Monte da RavasqueiraRevela belos apontamentos tostados que não escondem a fruta de qualidade, acompanhada de notas de alcatrão, terra, vegetais secos. Complexo e profundo, com taninos redondos e maduros e a boa acidez que é “marca” da casa. Elegante mas fi rme e assertivo. (14%) LL

17 €12,25Folha do MeioReg. Alentejano Reserva tinto 2010Terrenus VeritaeFruto bem maduro, alguma confeitaria marcada na tosta, um certo lado terroso a dar carácter, boca com tanino bem estruturado, secura elegante, muito fruto, bom ataque e presença, termina longo e largo. (14,5%) JA

15,5 €11Herdade da AjudaReg. Alentejano Reserva tinto 2011Herdade da Ajuda NovaUm tinto balsâmico com notas de fruto vermelho e alguma resina com toque ligeiro de verniz a puxar pelo conjunto, na boca tem corpo mediano com taninos afoitos, fruto e alguma madeira ainda em luta, fi nal seco. (14%) JA

ALGARVE14,5 €1,99ImprevistoAlgarve tinto 2009Convento do ParaísoTem uma cor aberta e aroma discreto, embora bem limpo e afi nado. Mais expressivo de boca, mais jovem do que seria de supor, com notas de cereja madura, num registo leve e suave. Um tinto simples mas muito correcto. (13%) LL

15,5 €7,95EuphoriaReg. Algarve tinto 2012Convento do ParaísoOriundo da zona de Silves, mostra uma fruta madura bem atractiva, notas de ameixa preta, compota de amoras, um toque fumado de madeira. Muito suave e redondo, forma um conjunto saboroso e prazenteiro. (13,5%) LL

16 €14,95Convento do ParaísoAlgarve tinto 2012Convento do ParaísoÉ feito de Sousão e Cabernet Sauvignon, uma aliança improvável mas que resulta muito bem, num vinho com boas notas de vegetal maduro, compotas de bagas silvestres, taninos sedosos e fi nal fresco e longo. (14%) LL

16,5 €20MalacaReg. Algarve Reserva branco 2013Soc. Agr. Quinta da MalacaFeito com a casta Crato plantada em terrenos arenosos, fermentado em barrica, é um vinho muito original, com fruta madura misturada com notas de mel e especiarias, um toque fl oral. Encorpado, cremoso, com frescas notas de laranja no fi nal persistente. (13,5%) LL

SEM DOC/IGP16 €9,90LudaresVinho tinto 2010ValadinhosLote de três castas da região do Dão. Austero nos aromas, alguns químicos, vegetal e leve nota de chocolate negro. De perfi l resinoso, seguramente muito gastronómico, é tinto difícil que pode melhorar em garrafa. (14,5%) JPM

MOSCATEL DE SETÚBAL17 €19,90Domingos Soares Franco Colecção PrivadaMoscatel Roxo de Setúbal 2005José Maria da FonsecaAroma austero com notas resinosas, leve fumado, compotas, algum fi go e uva passa, na boca mostra uma textura glicérica, alguma substância, doçura moderada fi nal longo com toque espirituoso. (17,5%) JA

VINHO DO PORTO17 €40Quinta da GaivosaPorto Vintage 2012Domingos Alves de SousaMuito fruto de cereja e amora com leve toque de esteva, perfi l aberto, directo e frontal, leve mineral de xisto, na boca tem corpo mediano, taninos poderosos, violetas com algum chocolate, fi nal longo macio e suave. (19,5%) JA

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Todos os meses escolhemos um mail enviado pelos leitores, que é eleito como “mail do mês”. O autor receberá na morada que indicar, uma garrafa do vinho Hexagon Vinho Regional Península de Setúbal 2008, em caixa individual, oferta da casa José Maria da Fonseca.

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correio do leitorEste é um espaço dedicado aos leitores, às suas dúvidas, às suas opiniões. Dúvidas e questões concretas serão respondidas pelos membros da redacção. Se pretender deixar apenas uma opinião sobre um vinho, uma região, o mercado, ou sobre aquilo que escrevemos, faça-o igualmente. Escreva-nos

Recebi de presente natalício uma série de garrafas de Vinho do Porto, que juntei à minha pequena colecção de vinhos tintos. Confesso que tenho pouca experiência no que toca a Vinhos do Porto e fi quei na dúvida sobre a melhor forma de os guardar, se ao alto ou ao baixo, como faço com os tintos. Podem-me ajudar?

João Carlos Barradas Muñoz, Elvas

A resposta é simples: todos os vinhos com rolha clássica (a que exige o saca-rolhas para extracção) devem ser guardados em posição deitada. Estamos a falar, nomeadamente, dos Vintage e dos LBV (Late Bottled

Vintage) não fi ltrados. Estes últimos, note, são uma minoria no conjunto dos LBVs e têm muitas vezes a menção “Unfi ltered”.Todos os vinhos do Porto Tawny, envelhecidos em madeira, sejam eles tawnies velhos (10, 20, 30 anos, etc) ou datados com ano de colheita, fi cam na vertical. O mesmo deve acontecer com os ruby Vinho do Porto sem designação especial, Ruby Reserva, LBVs fi ltrados, etc . Quase sem excepção, estes vinhos possuem a rolha chamada bar top, com o topo em plástico; estas rolhas extraem-se com a mão.Já agora, para os Moscatéis, Madeiras e outros licorosos, não há também qualquer problema em mantê-los na vertical. (AF)

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esta garrafaganhe

carta

premiada

VINHO DO PORTO GUARDADO AO ALTO OU AO BAIXO?

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AAlenquer fi ca apenas 36 quilómetros a Noroeste de Lisboa. A vila que dá nome à sub-região está assente em terrenos que marcam a transição entre as superfícies dobradas e erodidas do Jurássico e do Paleogénico e a planície aluvial do Tejo.E muito do segredo vitícola da região assenta nesta realidade.

O TERROIR

O aspecto ondulado que mais caracteriza o Alenquer de hoje for-ma-se como referi, e segundo o geógrafo Orlando Ribeiro, entre o Jurássico e o Paleogénico no início da orogenia Alpina. Movi-mentos tectónicos de compressão levaram ao surgimento de do-bras e relevos da região, de onde sobressai a Serra de Montejunto, parte do Maciço Calcário Estremenho. As subidas e descidas do nível do mar, a erosão fl uvial e eólica e o basculamento da penín-sula a Sudoeste no Pliocénico, com a consequente pré-formação da actual rede hidrográfi ca, fi zeram o resto da moldura ondulada da Estremadura, hoje chamada Lisboa quando falamos de vinho.Os solos de origem calcária, maioritariamente cretácica (100 mi-lhões de anos de deposição, segundo a geógrafa Raquel Soeiro Bri-to), são muito variados; aluvionares recentes (nas baixas), argilo--calcários e margosos de várias origens e texturas (nas encostas), e arenosos; sendo que estes últimos surgem muitas vezes e curio-samente no topo das elevações, provando a submersão marinha durante o Miocénico.Dois outros factores completam o segredo da vinha de Alenquer: a maior ou menor proximidade do Montejunto – quanto mais perto menos amplitude térmica e mais vento, quanto mais afastado maior amplitude térmica e menos vento; e a orografi a que determina ex-posições, declives, mas também temperaturas médias e protecção ou exposição a ventos, neste imenso carrossel estremenho. É um puzzle no qual a vinha de um modo geral se dá muito bem.

Famosa pelas quintas abastadas que a enriquecem, Alenquer sempre forneceu a capital com a sua agricultura. O vinho era e é uma das principais actividades económicas. Nos últimos 30 anos tudo mudou, mas a essência produtiva, imposta pelo solo e pelo clima, mantém todas as características.

TEXTO João Afonso * FOTOS Ricardo Palma Veiga

As Quintas

de Alenquer

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Foi pela linda paisagem ondulada e meândrica, com vias de comu-nicação sinuosas (que lembram o serpentear das estradas de mon-tanha), que nos passeamos em busca de seis quintas, todas muito próximas em distância mas muito afastadas em fi losofi as de pro-dução; provando-se como tal a enorme versatilidade da rica região de Alenquer.

O NOVO ALENQUER

“Alenquer era uma boa região de brancos mas de tintos nem por isso” – lembrou José Neiva, sentado num belo sofá junto à lareira da grande casa familiar na Quinta de Porto Franco, à saída da al-deia de Atalaia. “Foi necessário esperar pela revolução vitícola, pela chegada de novas plantas e castas e também por alguma alte-ração climática para os tintos passarem a ser também referência de qualidade”, continuou. E ainda hoje para este produtor é o vale quente que sai do Sobral de Monte Agraço, passa por Santana da Carnota, espreita do lado de lá da colina a zona de Pancas e termina no Carregado, que é o segredo do negócio do seu vinho. Da Quinta de Porto Franco para

a Quinta da Ribeirinha no Carregado – ambas propriedades da fa-mília de José Neiva – vão entre 3 a 4 semanas de diferença na ma-turação. Sendo que é obviamente no Carregado que as uvas se co-meçam “a rir” mais cedo. E com esta observação José Neiva, uma das grandes fi guras do vinho português, resumiu toda a região de Alenquer.Há outros (vizinhos muito próximos) que não pensam bem assim. Mas já lá vamos. Por agora continuamos com aqueles para quem o terroir é um conceito absolutamente secundário. Ou, pelo menos, foi isso que me pareceu entender.

ENTRE OS MAIORES

A DFJ de José Neiva é das maiores empresas nesta região, dedica-da principalmente à exportação de vinho engarrafado, certifi cado e com marca. São 97% da produção dirigida aos mercados exter-nos. Faz vinhos de 400 hectares de vinha e anda pelos 4 milhões de garrafas. É um “barco” que consegue manter a navegar e não procura aumentar o lastro ou capacidade de carga. É o que dá e mais nada.Já o mesmo não podemos dizer do seu “discípulo”, se assim lhe posso chamar, José Luís Oliveira e Silva, da Casa Santos Lima. Des-de que deixou a banca e se dedicou à lavoura da vinha, sob os con-selhos de José Neiva, nunca mais parou de crescer.Hoje anda pelos 12 milhões de garrafas, quase totalmente expor-tadas para mais de 45 países. Duas adegas nesta região, uma delas novinha em folha para 4 milhões de litros, uma terceira adega no Algarve, onde vai lançar este ano os primeiros vinhos, outra ade-ga nos Vinhos Verdes e ainda outra no Baixo Alentejo, onde vini-fi cou 300 toneladas de uva para começar.Aqui, na Quinta da Boavista, encontramos o caos mais organizado que se possa imaginar. Mais de 200 hectares de vinha e outro tan-to de alugadas ou contratadas, mais de 50 castas dispersas pelas mais variadas exposições, ou seja todas as castas nacionais e in-ternacionais mais utilizadas para a produção de vinho, vinifi cadas em separado. Aqui não há preconceitos nem fundamentalismos e de tudo se faz, desde o vinho mais simples, bom e barato, aos Premium que desde há alguns anos começam a marcar pontos nas tabelas da imprensa especializada. A questão terroir não se coloca. Plantam-se videiras um pouco por todo o lado (com critério, claro está!) e depois na adega a diversi-

Os solos calcários, a serra de Montejunto e a orografi a ondulada fazem os vinhos de Alenquer

Quinta de Porto Franco, da família de José Neiva Correia

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dade de lotes é tal que se faz vinho por medida para dezenas de mer-cados internacionais. Espectacular! Uma autêntica “mina de vinho”!

O RHÔNE EM ALENQUER

Logo ao lado, um dos produtores que mais revolucionou Alenquer nos últimos anos com a introdução da casta Syrah e do conceito de terroir na sua Quinta do Monte d’Oiro. Toda a quinta subdividida em talhões, onde, depois de alguns anos de vindima e ajuste de castas, a Syrah ocupa a esmagadora área dos 20 hectares de vinha. As companheiras são Touriga Nacional, um pouco de Tinta Roriz e Viognier, Marsanne e Arinto para os brancos. Aqui conhece-se perfeitamente o potencial de cada canto de vinha. Uns talhões pro-duzem topo, outros só às vezes e outros nunca. Tudo defi nido ao pormenor mesmo na questão nos trabalhos vitícolas em verde para cada parcela etc. etc. Claro que o consultor enológico é francês (Gregory Viennois), as-sim como todo o conceito de produção. E assim, no “Alto Alen-quer”, já perto da fronteira oeste da região, na freguesia da Vento-sa, no fi m do coração das “Quintas de Alenquer”, produzem-se tintos intensos e robustos como nunca se tinham produzido até José Bento dos Santos ter chegado, estudado e por fi m concluído que podia ter neste seu cantinho português o seu amado Rhône. Foi, sem qualquer dúvida, o pioneiro da Syrah que, hoje, todos desejam cada vez mais que se nacionalize.Outro amante das castas do Rhône é o vizinho António Cardoso Pinto, da Quinta do Pinto. Quem me recebeu foi sua fi lha, Rita.

Admirável dinâmica de discurso ... e simpatia (sem desprimor para todos os restantes anfi triões). E contou... Venderam terra no Norte e compraram terra no Sul. Encontraram a Quinta do Anjo depois de muitas visitas à região saloia. Já tinha uma vinha plan-tada nos fi nais de 1970 por Luís Carvalho, com Tinta Miúda, Cas-telão e Touriga Nacional. Ainda se avaliou a possibilidade de cul-tivar pomares, mas os estudos apontaram todos para a vinha. Rita recorda uma frase do seu pai: “Se a conclusão apontasse para kiwis, Rita, eram kiwis que íamos produzir.” Uma perspectiva clara e ob-jectiva de como fazer agricultura. A marca “Quinta do Pinto” não vem do nome de família mas sim porque na zona se usava dizer que o vinho da Quinta do Anjo valia mais um “pinto” (moeda de ouro cunhada no reinado de João V) e como a família é Cardoso Pinto lá fi cou “Quinta do Pinto”, marca secundada por uma outra de homenagem à avó de Rita, de nome Vinhas do Lasso (há ainda uma terceira marca, Terras do Anjo). Porque aqui o Rhône também tem uma palavra a dizer, principal-mente nos brancos, com as castas Marsanne, Roussanne e Viog-nier. As preferidas de Rita são Arinto e Fernão Pires, ainda que o Viog-nier se porte também muito bem. Das tintas, a Touriga Nacional é muito perfumada e a Syrah tem sem dúvida o seu “pé” bem por-tuguês na Quinta do Pinto. Quanto à tradicional Tinta Miúda, Rita gosta da casta mas é tão aneira que faz desanimar. Correu bem logo no primeiro ano (2003), mas depois só voltou em 2011 e 2013. “Os caseiros, que fi caram dos antigos proprietários é que gostam mui-

José Bento do Santos é o produtor que mais revolucionou Alenquer, com a introdução da casta Syrah e o conceito de terroir

Francisco Bento dos Santos é um apaixonado do “terroir” da sua Quinta do Monte d’Oiro

Na Quinta da Boavista, com o enólogo Diogo Sepúlveda

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to dela, dizem que faz o vinho dos intigos” – disse Rita, sorrindo. O tinto de 2013 que provei da barrica estava ao nível de outros im-pressionantes tintos de outras castas na crista da onda, como a Syrah ou a Alicante Bouschet. São 65 hectares de vinha com 24 diferentes castas entre nacionais e internacionais e todo projecto tem o sentido de tecto familiar – pais, três fi lhos e sete netos que já têm o nome gravado nas cubas de cimento da antiga e bem recuperada adega.

OUTRAS ENCANTADORAS QUINTAS

A Chocapalha. a quinta que João Portugal Ramos queria gerir de-pois de terminar o ISA, acabou por ser comprada em hasta públi-ca em 1987 por Alice e Paulo Tavares da Silva, país de Sandra, a enóloga/modelo bem conhecida de todos nós. Foi com ela que fa-lei sobre a quinta e sobre o projecto do pai...Paulo sempre gostou do campo e da agricultura e, uma vez retira-do da Marinha, e na impossibilidade de fi car com a quinta de fa-mília de Alcochete, comprou Chocapalha. Também aqui ouvimos o mesmo que na Casa Santos Lima: “Temos todas as exposições e perfi s de solo muito diferenciados apesar de ser tudo calcário.” Num total de 80 hectares existem 45 de vinha, dos quais 11 são de castas brancas (Arinto, Viosinho, Verdelho, Chardonnay e Sau-vignon Blanc), todas viradas a Norte. Depois há Touriga Nacional, cujo melhor vinho vem de uma parcela também voltada a Norte, a Tinta Roriz, Syrah e Castelão, do qual Sandra tem vindo a aprender a gostar, “pela frescura e pelo fruto sempre mais leve”. O tempo vai mudando as castas e os gostos, concluo. Há também um pouco de Cabernet Sauvignon. Andam pelas 120.000 garrafas e o principal mercado é hoje o por-tuguês, com 30%, ainda que a exportação leve, como na maioria das quintas visitadas, a maior fatia.De realçar a bonomia e imensa hospitalidade da família, o encan-to da casa de habitação datada do século XVIII e uma impressio-

nante e nova adega totalmente integrada na paisagem e que vem dar à Quinta de Chocapalha uma possibilidade alargada na pro-dução. E se os últimos são os primeiros, a Sociedade Agrícola da Labru-geira não podia ser melhor exemplo. Foi a primeira a ser visitada e guardei-a para o fi m porque este vinho fazia parte das minhas me-mórias de jovem “wine freak”, quando Raul Martins, nos fi nais dos anos 1980, fi lho do construtor e presidente do Benfi ca Fernando Martins, levava garrafas com um rótulo que apresentava a casa da família que visitei agora na Labrugeira, para o Clube de Ténis das Olaias onde na época eu praticava com afi nco a modalidade.Fui recebido pelo responsável da exploração vitícola, ou melhor, pelo homem que revolucionou a actividade vitícola da descendên-cia de Fernando Martins: Bernardo Nobre, casado com uma das suas netas, e que no fi nal da década de 1990 meteu mãos à obra e reestruturou as vinhas que davam o vinho que eu conheci faz mui-tos anos. Era feito das castas que então se usavam na região e que não eram grande negócio, segundo palavras do próprio Fernando Martins, que nunca concordou que se apostasse num negócio que nunca lhe tinha dado grande rendimento. Bernardo Nobre, gestor de formação, provou o contrário. Algum (o essencial) investimento na adega de 1930 e a reestruturação de 15 hectares dispersos por várias parcelas (uma delas a mais antiga, denominada Vale das Areias, junto ao Montejunto) com as castas Castelão, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Syrah nos tintos e Fernão Pires e Sauvignon Blanc nos brancos. Em 2003 iniciam a produ-ção e hoje saem cerca de 50.000 garrafas de Vale das Areias, em grande parte absorvidas pela cadeia de hotéis Altis (Bernardo as-segura também a direcção do Altis Park) e as restantes distribuídas pelo mercado nacional e internacional. No concurso da Vinipor-tugal de 2013 o Vale das Areias Syrah 2010 foi considerado o ven-cedor absoluto do concurso. Afi nal o vinho sempre é negócio, di-ria Fernando Martins!

Rita Cardoso Pinto e o seu enólogo, João Correia, fazem os vinhos da Quinta do Pinto

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UM RESUMO DE ALENQUER

Alenquer, sendo de todas as sub-regiões de Lisboa a menos atlân-tica, também não foge à infl uência marítima. Apesar de todos con-cordarem com as vantagens deste microclima, com poucas am-plitudes térmicas, bastante vento, maturações lentas e contínuas e vinhos muito frescos, os que compram uva ou vinho vêm fazê-lo mais para o lado do Carregado, ou seja, quanto mais afastado do Montejunto mais maduro é o vinho. Contudo a Syrah e outras cas-tas eventualmente bem adaptadas a este terroir, vieram provar que mesmo na freguesia de Ventosa se podem fazer tintos totalmente maduros e opulentos. E assim a Syrah e a Touriga Nacional, já para não falar na Caladoc, a casta favorita de José Neiva, e na Alicante Bouschet e Tinta Roriz (entre outras), tornaram-se as grandes protagonistas deste novo Alenquer. Contudo, este ano, o melhor vinho do mundo para o mercado da Finlândia foi o Quinta das Setencostas 2010 da Casa Santos Lima, feito com Tinta Miúda, Camarate, Preto Martinho, Touriga Nacio-

nal. Todas castas nacionais e três delas do emparcelamento regio-nal antigo – o tal da má fama.Tudo é possível neste Alenquer de hoje. Basta querer fazer que até excelentes Tintas Miúdas hão-de sair…E a sair, para já, está muito vinho. A região é essencialmente ex-portadora e, segundo os dados de Vasco Avillez, o presidente re-centemente reeleito da CVR Lisboa, nos últimos quatro anos a venda de selos tem aumentado 12% ao ano, passando dos 18 mi-lhões para 25 milhões de selos. A região de Lisboa vai de vento em popa e só nos últimos quatro anos abriram cinco grandes adegas novas na região, duas delas em Alenquer.

Tudo é possível no Alenquer de hoje. Basta querer fazer que até excelentes

Tintas Miúdas hão-de sair...

A familia Tavares da Silva e as belas vistas que se desfrutam da encantadora Quinta de Chocapalha

Bernardo Nobre, o homem que responde pelos vinhos Vale de Areias e pelo sucesso da hotelaria familiar

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16,5 €16Quinta do PintoReg. Lisboa Grande Escolha branco 2012Quinta do PintoAlgum fruto cítrico num todo nervoso com base acídula, aroma bonito e penetrante, na boca o corpo está bem forrado por um acidez viva e bem integrada, bom fruto, leve mineral, todo em elegância e frescura. (13%)

15,5 €6Vinhas do LassoReg. Lisboa Col. Selec. Branco 2013Quinta do PintoPerfi l maduro, português, fruto de polpa branca, algum calor casado com intensa frescura, tudo redondo, sem grande complexidade mas sufi cientemente objectivo, claro o discurso gostoso das castas Arinto e Fernão Pires. (14%)

17 €20Chocapalha Vinha MãeReg. Lisboa tinto 2011Casa Agrícola das MimosasCacau, especiarias, leve couro ou marroquinaria, bonito e sofi sticado aroma, seguindo por um boca pujante, fresca, com corpo bem nutrido no sentido positivo do termo, taninos de qualidade, muito especiaria, fi nal longo. (14,5%)

17,5 €25Ch by ChocapalhaReg. Lisboa Touriga Nacional tinto 2011Casa Agrícola das MimosasBastante fl oral com fruto cheio de amoras e cerejas, alguma confeitaria da barrica de alta qualidade, todo redondo, guloso e fresco a um tempo, tosta e especiaria e tanino saboroso dominam o fi nal longo. (14,5%)

16,5 €9Quinta do Monte d’Oiro LybraReg. Lisboa Syrah tinto 2010José Bento dos SantosNotas vegetais com muita especiaria, fruto mediano, leve cacau, intensidade de prova mediana, mas muito afi rmativo com taninos bem especiados, cheio de garra tânica e com algum músculo. Final fi no e fácil. (13%)

17,5 €29Quinta do Monte d’Oiro Reg. Lisboa Reserva tinto 2010José Bento dos SantosA barrica está bem integrada na fruta bem madura, algum bolo inglês, leve azeitona seca, muito corpo, taninos excelentes, tudo maduro e estimulante, cheio de vida com fi nal longo, todo especiaria e chocolate preto. (13,5%)

15,5 €3,6Vale das AreiasReg. LisboaSoc. Agr. da LabrugeiraUm branco afável, fresco, balsâmico com notas de pirazinas, aipo, algum gengibre e bastante fruto cítrico com leve tropical, boca de textura crocante, corpo mediano com perfi l alegre e tentador. (13%)

15 €4Vale das AreiasReg. Lisboa tinto 2012Soc. Agr. da LabrugeiraUm tinto suave e delicado com corpo mediano, tanino bem polido, fruto de cereja com alguma ameixa e muito ligeira tosta, vinho fácil de beber e de gostar simplesmente. (14%)

17 €34,50FrancosReg. Lisboa Reserva tinto 2011DFJAlgum couro a dominar o fruto sóbrio negro, alguma substância com barrica ligeira bem integrada, na boca tem muito carácter, tanino fi rme e polido com alguma elegância, bom fruto leve fruto em passa fi nal longo. (13,5%)

16 €8,5Casa Santos LimaReg. Reserva branco 2012Casa Santos LimaAlgum amanteigado com leve tostado gere o fruto maduro e elegante, pouco complicado mas muito objectivo, na boca é gordo, glicérico, amplo sem ser pesado, todo em elegância e pragmatismo de estilo. (13%)

16,5 €16OpacoReg. Lisboa tinto 2011Casa Santos LimaCru é a palavra que surge no primeiro aroma, paprika, fruto negro silvestre, leve couro, fruto de cereja, leve tosta, boca poderosa, com laivos amargos a casar muito bem a corpulência e generosidade de fruto. (14%)

em

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Pedra Cancela é uma marca relativamente recente no mercado nacional mas, pelo que tem feito desde a sua fundação, já levantou muitos sobrolhos. Estava na altura de conhecer

a história por trás da marca e as narrativas em que repousam estes vinhos do Dão.

Por trás da

Pedra Cancela

TEXTO António Falcão * NOTAS DE PROVA João Paulo Martins * FOTOS Ricardo Palma Veiga

NNa altura das vindimas de 2014, quando todo o Dão (ou quase) se debatia exasperadamente com excesso de água e uvas diluí-das e/ou podres, as parcelas de João Paulo Gouveia estavam praticamente todas vindimadas. Pessoal tão descansado exis-tia apenas, do nosso conhecimento, em explorações do Baixo Alentejo, em excesso de 300 quilómetros ao sul de Viseu! E, eventualmente, em algumas explorações pontuais das regiões mais secas de Portugal. Tal precocidade deve ter dado muito que falar, até porque um ano destes há algum tempo que não acontecia no Dão (como o fatídico 2002, por exemplo). Como foi isto possível?

A IMPORTÂNCIA DO SABER FAZER

O segredo está numa conjugação formidável: o conhecimento científi co com a prática empírica. Confuso pela simplicidade? Não fi caria se tivesse passado um dia na companhia do nosso protagonista, João Paulo Gouveia, em visita às suas vinhas do Dão. Nunca se consegue olhar da mesma maneira para uma videira. O conhecimento da fi siologia da videira é aqui profun-do e, acima de tudo, cimentado pela experiência científi ca. Os resultados estão lá para o provar: as suas decisões na con-dução da vinha valeram-lhe ter conseguido vindimar em 2014 antes de toda a gente e assim ter salvado uma colheita que se adivinhava, na melhor das hipóteses, como sofrível. João Pau-lo Gouveia explica-nos que foi uma mistura de factores: desde logo a exposição sul-nascente das parcelas, com maior expo-sição solar. Depois uma gestão cuidada da parte vegetal, com os cachos bem arejados e as folhas a bem expostas, deixadas a produzir para as uvas. E depois um cuidado especial em não deixar a vinha produzir demais, o que até nem é difícil porque a maior parte das videiras estão implantadas em solos graníti-cos, com pouca fertilidade. O arrelvamento entre as linhas – competindo com as videiras – e a monda de cachos no pintor fazem o resto: “Quase metade vai para o chão”, assegura o nos-so anfi trião.

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A vinha da Quinta da Pedra Cancela, com os seus muros de pedra. Na página anterior, uma máquina artesanal, concebida e construída em casa, para colar rótulos nas garrafas.

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Dito desta maneira parece fácil, mas não é. Porque conjugar todos estes factores – e os muitos sub-factores associados – e tomar as decisões acertadas no tempo correcto é tarefa para especialistas. E infelizmente vemos ainda muitos erros a serem cometidos por esse país fora… com resultados tão mais fatí-dicos quanto mais difíceis forem os anos.

HOMEM DOS SETE OFÍCIOS

Para além de produtor de vinhos, João Paulo Gouveia é um ho-mem de muitas ocupações: professor de viticultura, sócio e vi-ticólogo da Vines & Wines (um potentado no Dão no que toca a consultoria de enologia e viticultura) e vereador da Câmara Municipal de Viseu. No mundo do vinho, João Paulo é espe-cialmente respeitado pelos seus conhecimentos de viticultura. Desde cedo começou a calcorrear as vinhas com o pai, João Coelho Gouveia, infelizmente já falecido. O pai possuía uma loja de agroquímicos e produtos agrícolas em Oliveira de Bar-reiros (São João de Lourosa), uma meia dúzia de quilómetros a sul de Viseu, mas nunca deixou de tratar das suas vinhas, as-

sim como de mais algumas que arrendava a vizinhos. Até 1999, João Coelho Gouveia produzia uvas que entregava em Silguei-ros, na adega cooperativa. Ao mesmo tempo fazia algum vinho que vendia, a granel, para outros produtores, especialmente na Bairrada.Com o fi lho João Paulo saído da faculdade de Vila Real (UTAD), primeiro, e de Montpellier, a seguir, a história desta família vinícola tomou um novo rumo. No ano seguinte nasce uma nova adega, mesmo ao lado da loja, devidamente equipada.João Paulo conseguiu assim harmonizar duas coisas boas: ex-periência de campo desde pequeno e o conhecimento que ad-vém do estudo e investigação intensivo, em ambiente univer-sitário. Quando chegou à altura de tomar conta das vinhas paternas, João Paulo levava já um grande avanço em relação a muitos produtores. Uma década depois, tinha desenvolvido o negócio a novas alturas.

VINHAS NO GRANITO

As vinhas estão na sub-região de Silgueiros, que alguns con-sideram – não sem alguma polémica – ser a melhor do Dão. Seja como for, João Paulo escolheu a dedo as parcelas que foi adquirindo e arrendando: nada foi deixado ao acaso. Ao todo, o técnico produtor de vinhos gere já uma substancial área de vinha, que supera os 50 hectares. Não as visitamos todas, mas apenas as mais emblemáticas. Uma delas é a quinta da Pedra Cancela, localizada não longe da ade-

Em 2014, João Paulo Gouveia foi dos únicos a conseguir vindimar antes das chuvas

Na adega: João Paulo Gouveia, um dos mais versáteis técnicos nacionais e que se sente tão à vontade na adega como na vinha.

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UMA ADEGA MODERNA

As uvas são aqui todas colhidas à mão, para caixas perfuradas, chegando assim à adega nas melhores condições. Os vinhos de topo são vinifi cados em adega própria, mesmo ao lado da loja, e apenas com uvas da família. Falamos em 80.000 garrafas, mais coisa menos coisa.Dentro da adega vê-se que não há lugar a improvisações: tem, por exemplo, lagares robotizados, dos primeiros a serem ins-talados em Portugal. A concepção teve, aliás, a ajuda de João Paulo Gouveia. De resto, a adega tem frio por todo o lado e está devidamente climatizada, incluindo protecção térmica no te-lhado contra os verões mais rigorosos, que por aqui também vão acontecendo. Algumas barricas topo de gama tinham aca-bado de chegar e, para nossa surpresa, João Paulo atira-nos: “Cada uma custa quase um milhar de euros!” Muita gente per-gunta: que diferença faz? “São muito caras mas para o nosso Touriga Nacional é o melhor que existe”, considera o técnico. A adega tem ainda um laboratório muito bem equipado, que funciona para a Vines & Wines.

ga, nas cercanias do rio Dão. Uma grande parte da vinha tem vindo a ser restruturada mas existe uma parcela com videiras com largas décadas de idade. Vinha cuidada, com paredes de granito a sustentar patamares. Os remanescentes da vinha aca-bam por voltar à terra um ano depois de terem sido submetidos a compostagem. Com alguma correcção necessária, claro. João Paulo fala-nos dos pormenores que fazem a diferença. Um deles é a preparação da terra para a vinha: é fundamental sur-ribar até à rocha-mãe granítica, para que a planta possa levar para lá as raízes, que formarão depois uma espécie de cabelei-ra por cima da pedra, onde irá ter água e nutrientes. Outro se-gredo é a preparação da vinha: com o aperto do compasso nos anos 80, muitos viticultores mantiveram tudo igual. Ora, diz--nos João Paulo, teria sido necessário elevar a parte vegetal da planta, para evitar sombreamentos e garantir maturações mais precoces: com novos compassos, mais apertados, e tudo o res-to igual, as uvas não amadureciam. Especialmente a Touriga Nacional. Por isso, diz o técnico, “os viticultores começaram a desistir da Touriga Nacional, quando o problema da casta es-tava na má condução”: “Uma planta mal conduzida produz fru-tos abaixo da sua capacidade”, explica. E, acreditem, se alguém percebe de Touriga, é este homem…Numa das parcelas João Paulo Gouveia está ainda a fazer expe-riências com castas antigas do Dão. O objectivo é o de avaliar as suas potencialidades para fazer vinhos de qualidade e, quem sabe, estabelecerem a diferença.

É profundo o conhecimento da videira, aqui cimentado pela experimentação científi ca

Lagares e barricas: a adega tem tudo o que é necessário para fazer grandes vinhos, incluindo lagares robotizados e barricas de grande qualidade.

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16,5 €9,98Pedra CancelaDão Malvasia Fina/Encruzado Reserva branco 2013João Paulo Gouveia VinhosNotas de fruta verde, maçã e ameixa branca, registo com alguma austeridade, evidenciando também notas minerais. Volumoso mas sustentado por perfeita acidez, muito polido e gastronómico. (13,5%) JPM

17 €9,98Pedra CancelaDão Malvasia Fina/Encruzado branco 2012João Paulo Gouveia VinhosProvado em magnum. Acentuou-se o lado da fruta madura, leve presença de frutos secos e leve tosta, tudo muito bem proporcionado. Muito redondo e com acidez ainda vibrante, continua a dar excelente prova. (14%) JPM

17 €40Pedra Cancela SignaturaDão branco 2012João Paulo Gouveia VinhosNasce em vinha com 40 anos. Dourado na cor, aroma com forte presença das notas da barrica nova, sugestões de amêndoas e fruta madura (alperce). Boca volumosa, acidez de grande fi nura, texturado e saboroso. (14%) JPM

17 €19,90Pedra CancelaDão Touriga Nacional tinto 2012João Paulo Gouveia VinhosAroma fl oral, notas frescas de violetas e frutos vermelhos vivos, elegante na boca, taninos fi nos embrulham o conjunto, acidez perfeita a conferir frescura e a acentuar o lado gastronómico do vinho. (14%) JPM

17,5 €40Pedra Cancela SignaturaDão tinto 2012João Paulo Gouveia VinhosFruta madura, notas vegetais, leves balsâmicos, registo sério e sisudo. Boa textura de boca, taninos fi nos asseguram-lhe longevidade, a alegria da fruta torna a prova muito agradável e a barrica está no ponto. (14%) JPM

Os restantes vinhos são vinifi cados em Nelas, na antiga coo-perativa, cujas instalações foram adquiridas pela Lusovini, as-sociação de que João Paulo Gouveia faz parte. É aqui que nasce o Pedra Cancela Selecção do Enólogo e o Eco Friendly. De res-to é aqui que todo o vinho é engarrafado. Os lotes são feitos em conjunto com os colegas enólogos da Vines & Wines, Carlos Silva e Miguel Oliveira, e com os colegas da Lusovini, Casimi-ro Alves e Carlos Moura. No entanto, João Paulo tem as suas preferências: “Nunca ex-traio os meus vinhos. Privilegio a elegância em detrimento da extracção”, diz-nos ele. A gama actual de vinhos compreende os Pedra Cancela varietais e bivarietais e os topo-de-gama Sig-natura. Não são vinhos baratos e são lançados cedo para o mer-cado, uma quase inevitabilidade nos tempos que correm. O que é uma pena, porque todos eles melhoram com a idade, incluin-do os brancos…

INVESTIR NO ENOTURISMO

Dos seus planos para os próximos tempos, João Paulo Gouveia pensa dinamizar o espaço da adega com um enoturismo que possa realizar, em boas condições, provas e refeições no seu espaço. Os planos estão avançados, incluindo um telheiro e um pequeno parque de estacionamento em frente ao edifício. A sala de refeições já existe e consegue acomodar 40 pessoas mas funciona apenas com marcações. Quando for criada a Rota de Vinhos do Dão, de que João Paulo Gouveia é um dos maiores impulsionadores, a operação deverá levar um impulso.A viticultura do Dão (e do resto do país, aliás) deve muito ao ím-peto investigador deste técnico, que acumula muitas outras fun-ções. João Paulo Gouveia quer ainda, nos tempos mais próximos, defender o doutoramento no Instituto Superior de Agronomia. “Faço regularmente dias de trabalho de 12 horas, ou mais”, con-sidera ele. Um abrandamento estará para breve, até porque a família – mulher e duas fi lhas – também o exige. Mas mesmo após a desaceleração parece claro que uma coisa não irá faltar a este polivalente técnico: a capacidade para investigar e com-preender cada vez melhor a sua planta de eleição, a videira.

João Paulo Gouveia privilegia os vinhos elegantes, pouco extraídos

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Portugal, 2014. Todo o território está coberto de vinhas. Todo? Não! Dois municípios resistem ainda e contrariam a tendência. No país do mundo com maior percentagem da sua área ocupada

por vinha, Amadora e Barreiro são as excepções. No outro extremo da escala, Mesão Frio, Peso da Régua e Santa Marta de Penaguião dedicam mais de um terço da sua superfície à viticultura.

O PAÍS DA VINHA SÓ TEM DUAS CLAREIRAS

TEXTO Luís Francisco * FOTOS Ricardo Palma Veiga

QUADRO 1 Municípios com maior área de vinha (em ha)Palmela 6.025Alijó 5.612Torres Vedras 5.126V. N. Foz Côa 4.983Alenquer 4.886Valpaços 4.440Pinhel 4.256Chaves 3.529Peso da Régua 3.460Reguengos de Monsaraz 3.428Cantanhede 3.232Almeirim 3.054Sabrosa 2.846Viseu 2.734Mirandela 2.661Anadia 2.603Mogadouro 2.541Fig. de Castelo Rodrigo 2.433St. Marta de Penaguião 2.403Santarém 2.313Lamego 2.297Carrazeda de Ansiães 2.127Redondo 2.219Vidigueira 2.100Tondela 2.057Évora 2.057

QUADRO 2 Maior percentagem de vinha no território do concelhoMesão Frio 36,77%Peso da Régua 36,46%Santa Marta de Penaguião 34,68%S. João da Pesqueira 22,87%Alijó 19,87%Alpiarça 19,07%Alenquer 16,06%Lamego 16,00%Armamar 14,94%Almeirim 13,75%Tabuaço 13,67%Arruda dos Vinhos 13,62%Borba 13,39%Palmela 12,96%Torres Vedras 12,59%V. N. Foz Côa 12,51%Nelas 12,18%Anadia 12,02%Mealhada 11,71%Felgueiras 11,60%Mêda 11,30%Bombarral 10,53%Penalva do Castelo 10,00%

QUADRO 3 Menor percentagem de vinha no território do concelhoÍlhavo 0,09%S. Brás de Alportel 0,08%Cascais 0,07%Odivelas 0,07%Porto 0,07%Odemira 0,06%Constância 0,05%Mértola 0,05%Ponte de Sôr 0,05%Seixal 0,05%Sines 0,05%Vila Nova de Paiva 0,05%Pampilhosa da Serra 0,04%Terras de Bouro 0,04%Alcoutim 0,03%Castro Verde 0,03%Lisboa 0,02%Marinha Grande 0,02%Ourique 0,02%Vila do Bispo 0,02%Barrancos 0,006%Almodôvar 0,003%Paredes de Coura 0,003%Monchique 0,0003%Amadora 0,00%Barreiro 0,00%

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A

PERCENTAGEM DE VINHA NO TERRITÓRIO POR MUNICÍPIO

A estatística diz-nos que, em três concelhos do território continental português, se estivermos parados num metro quadrado livre, a probabili-dade de o próximo passo nos colocar junto a uma videira é de 50 por cento. Estatisticamente, isto é verdade nos três municípios portugueses com mais área dedicada à vinha, cultura agrícola que, em qualquer destes casos, ocupa mais de um ter-ço do seu território. Mesão Frio (36,77 por cento), Peso da Régua (36,46 por cento) e Santa Marta de Penaguião (34,68 por cento) são os expoentes máximos de um país desenhado a regiões vitivi-nícolas e onde só se encontram dois municípios sem qualquer vinha declarada.Os dados a nível mundial colocam Portugal na li-derança em termos de área de vinha face à super-fície total do país. A média nacional é de 2,59 por cento, ligeiramente à frente da Itália (2,55%) e já seguida a alguma distância pela Espanha (2.01%) e pela França (1,45%). Os países europeus domi-nam esta tabela, pela importância histórica do universo do vinho e pela relativa pequenez da sua dimensão. Um grande produtor mundial como a Argentina, por exemplo, tem apenas 0,08 por cento do seu território ocupado por vinhas.Quanto aos números relativos ao território do continente recentemente compilados pelo Insti-

FARO

BEJA

ÉVORA

SETÚBAL

PORTALEGRE

CASTELO BRANCO

GUARDA

VISEUAVEIRO

PORTO

VIANA DOCASTELO

BRAGANÇA

VILA REAL

BRAGABRAGA

COIMBRACOIMBRA

LISBOA

SANTARÉMSANTARÉM

LEIRIA

Mais de 10%

Entre 5 e 10%

Entre 2 e 5%

Entre 1 e 2%

Entre 0,1 e 1%

Menos de 0,1%

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análise

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Os concelhos da Amadora e Barreiro são os únicos ausentes da tabela. Isto signifi ca que neles não há qualquer vinha registada

tuto da Vinha e do Vinho (IVV), e a que a Revista de Vinhos teve acesso, eles mostram um país coberto de vinhas, apenas com duas clareiras e algumas zonas escassamente povoadas. Os concelhos da Amadora e Barreiro são os únicos ausentes da tabela. Isto signifi ca que neles não há qualquer vinha registada.É difícil imaginar este zero absoluto num país como Portugal. Mas estes casos nem sequer são muito difíceis de entender. Num am-biente superpovoado (a Amadora é o concelho com maior densi-dade populacional do país, com mais de 7.360 habitantes por qui-lómetro quadrado e o Barreiro tem 2.164 hab/km2) e quase completamente urbanizado ou industrializado, não espanta que a agricultura, em geral, e a viticultura, em particular, não tenham ex-pressão nos concelhos que rodeiam Lisboa. Embora escapando ao estigma do “zero”, há outros municípios por-tugueses onde encontrar uma vinha pode revelar-se tarefa hercú-lea. Há 75 concelhos com menos de 0,5 por cento de área coberta por vinha e em 26 deles essa percentagem baixa para aquém dos 0,1 por cento. Em grandes cidades como o Porto (três hectares; 0,07%) ou Lisboa (dois hectares; 0,02%) as vinhas são uma visão rara, mas há terras onde se tornam verdadeiras miragens (ver qua-dro 3). Em Barrancos só há um hectare de vinha declarada (0,006% do território), Almodôvar tem dois, mas num território maior (0,003%), e Paredes de Coura não chega ao meio hectare de vinha (0,003% da área do concelho). Ainda assim, não chegam ao extremo de Mon-chique, que bate toda a gente com um registo de somente 0,1 ha (0,0003%), ou seja, uma área do tamanho de um campo de futebol de praia…

Douro: em alguns municípios da região, a vinha cobre um terço do território

DOC Carcavelos: a pressão urbanística quase varreu as vinhas do mapa

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Para quem não quiser encontrar vinha pelo caminho, o roteiro ideal é ligar o Atlântico ao Guadiana através dos concelhos que fazem a transição entre o Baixo Alentejo e o Algarve. Uma alternativa urba-na, mas igualmente escassa em vinha, é dar um passeio pela Região Metropolitana de Lisboa.

TERRAS DE UVA

No extremo oposto destes números, há municípios onde a vinha domina a paisagem. Em 23 deles, a percentagem do território de-dicado à viticultura ultrapassa os 10 por cento (ver quadro 2), com especial destaque para o vale do Douro (nove municípios) e a zona a Norte de Lisboa (quatro). Um caso notável é Palmela (12,96%), coração de uma região, a Península de Setúbal, com grande produ-

ção, mas onde as vinhas palmelenses só encontram alguma solida-riedade no Montijo (3,32% da área do município) e em Setúbal (2,72%). Mais de dois terços (68,9 por cento) dos 8.740 hectares de produ-ção da região demarcada fi cam em Palmela, que é, aliás, o municí-pio com maior área absoluta de vinha em todo o país (ver quadro 1), numa lista em que podemos encontrar 26 concelhos com mais de 2.000 hectares ocupados pela viticultura. Mais uma vez, o inte-rior Norte (Trás-os-Montes e Douro) exibe a maior extensão de vinha, destacando-se outras três áreas de vinhedos: o Alentejo jun-to a Évora, a diagonal Cantanhede-Viseu (passando por Anadia e Tondela) e a área de Lisboa/Vale do Tejo.Mas os números de Palmela não são os únicos a merecerem um olhar mais atento. Municípios como Sintra, Cascais e Oeiras, todos nos arredores de Lisboa, exibem números muito baixos de ocupa-ção vitícola e isso não será de estranhar, dada a sua densidade po-pulacional e perfi l urbano. Espantoso é que estes concelhos são sede de duas Denominações de Origem Controlada: Colares, no primeiro; e Carcavelos, nos outros dois. São as duas DOC mais pe-quenas do país e percebe-se porquê…A toponímia traz-nos outras curiosidades. É que, se Arruda dos Vinhos, na região de Lisboa, faz jus ao seu nome, com 1.062 ha de vinha e 13,62 por cento do território dedicado à viticultura, já o mesmo não se pode dizer de Figueiró dos Vinhos, nas Beiras (189 ha, 1,09%)… Vinhais, em Trás-os-Montes, supera estes números, com 959 ha e 1,38% da área do concelho coberta de vinhedos. Por seu turno, a recém-escolhida Capital Europeia do Vinho 2015, Re-guengos de Monsaraz, apresenta pergaminhos à altura: 3.428 ha de vinha (10º lugar nacional em termos absolutos), que representam 7,39% do território (ainda assim, apenas 35º nesta tabela).Quanto às capitais de distrito, Viseu (2.734 hectares) é a quem tem mais área em termos absolutos, seguida de Santarém (2.313 ha) e Évora (2.057 ha), enquanto a maior percentagem de vinha no ter-ritório cabe a Vila Real (6,76 por cento), à frente de Viseu (5,39) e Coimbra (4,84). Lisboa e Porto ocupam as últimas posições em qualquer dos critérios.

Reguengos de Monsaraz, Capital Europeia do Vinho 2015, tem 3428 ha de vinha (7,39% do território)

Palmela: o município é um mar de vinhas

Recordista: Portugal é o país do mundo com maior percentagem de vinha no seu território

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painel de prova

Longe das luzes da ribalta, por vezes esquecidos pelos consumidores, discretos mas com atributos de peso, os vinhos do Portugal raiano demoram a chegar às mesas.

Dos consumidores, dos importadores, dos opinion makers. Estes vinhos têm, na sua maioria, personalidade própria, preços competitivos e uma valia evidente. Mas ainda

há muito trabalho pela frente para dar consistência à oferta e estimular a procura.

TEXTO João Paulo Martins * FOTOS Ricardo Palma Veiga

Por terras raianas, os vinhos do interior

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AAgora viajamos pelo frio, pelos ambientes agrestes, pelas pai-sagens marcadas pela dureza. Andamos pelas terras do gado ovino, pelas serras em que se ouvem os latidos dos cães pasto-res, os sinos das igrejas e os badalos do gado. Terras de queijo, terras de azeite, terras de vinho. Mas também terras de emi-gração, terras de gente marcada pelo tempo, aldeias vazias de jovens, com imenso passado e pouco futuro.Por aqui, por terras raianas, encontramos muito do que era o Portugal antigo, se estivermos apenas a falar de vinhas e vinhos. São as castas de outrora, são as vinhas velhas de castas mistu-radas, são as adegas com tecnologia desadequada às necessi-dades de hoje, são as limitações técnicas que derivam da falta de quase tudo, desde técnicos a promoção. Mas também são terras vivas, onde encontramos muito do nosso património que devemos preservar e um saber que merece ser escutado e, quem sabe, replicado.Quando falamos de interior estamos, naturalmente, a falar da Beira Interior, região que unifi cou três sub-zonas que em tem-pos existiram – Cova da Beira, Castelo Rodrigo e Pinhel; mas também falamos, por proximidade geográfi ca, de Távora-Va-

rosa e de Trás-os-Montes. As distâncias são grandes (de Cas-telo Branco a Chaves ou Mirandela são muitos quilómetros) e as diferenças são muitas. Neste conjunto de três regiões com Denominação de Origem, Távora-Varosa faz a fi gura de paren-te pobre, porque tem poucos operadores (o que se notou nes-te painel) e porque, no capítulo dos brancos e tintos tranquilos, tem poucos argumentos. Mas Távora é terra apta para espumantes e, neste assunto, não tem concorrência nas outras regiões. Aos dois gigantes (Murga-nheira e Raposeira) há ainda que juntar a Cooperativa do Távora (marca Terras do Demo), cujo espumante tem vindo a crescer enormemente, em número de garrafas e em reconhecimento público. Foi a primeira DOC de espumantes em Portugal (desde 1989) e conta cerca de 3100 ha de vinhas dispersas por 1700 agri-cultores que produzem uva para espumantizar. Percebe-se tam-bém que, além das castas tradicionais da região, tenham sido autorizadas algumas francesas, reconhecidamente aptas para este tipo de vinho, como o Pinot Noir e o Chardonnay. A altitude média, na casa dos 550 metros, geradora de vinhos base de ele-vada acidez, e os invernos muito frios, são dois dos factores que

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painel de prova

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originam vinhos de grande delicadeza e enorme longevidade. Mais do que pelos brancos ou tintos tranquilos, foi pelos espu-mantes que Távora-Varosa ganhou, de pleno mérito, o lugar que ocupa no panteão nacional dos vinhos.

OS TRADICIONAIS E OS NOVOS OPERADORESA Beira Interior tem sempre trunfos importantes para apre-sentar: os solos (sobretudo graníticos), a altitude média (que gera noites frescas de Verão e consequente frescura dos vinhos) e algumas castas que por ali reinam e que noutros locais ou são mal-amadas ou inexistentes. Refi ro-me à Síria (brancos) e ao Rufete (tintos). A primeira é também conhecida por Roupeiro no Alentejo e a segunda por Tinta Pinheira no Dão. A região é também grande produtora de mosto, que alimenta a produção nacional de rosé. A bem dizer, são 16.000 ha de vinhedos, com cerca de 3000 reestruturados nos últimos 10 anos, sobretudo na região de Pinhel. Rodolfo Queirós, da CVR da Beira Interior confi rma que é sobretudo o Rufete a casta substituída, “porque tem pou-ca cor e parece que hoje todos apostam sobretudo nos vinhos mais corados, nomeadamente nas cooperativas que recebem uvas dos lavradores”. Como se esperaria, entraram em força a Touriga Nacional, a Touriga Franca e a Tinta Roriz. As exporta-ções contemplam cerca de 21% da produção, no entanto, se olharmos para os quantitativos, vemos que há muito caminho para andar, já que estamos a falar, em 2013, de 620.000 garra-fas apenas. O consumo interno também tem crescido sensi-velmente (+16,3% em 2013), atingindo cerca de 3,15 milhões de garrafas. As cinco cooperativas da região são responsáveis por 30% das vendas.A novidade na região centra-se sobretudo em novos operado-res que vieram dar uma lufada de ar fresco à produção, casos de Rui Madeira (vinhos Beyra) ou Anselmo Mendes (vinhos “dois ponto cinco”), e alguns produtores-engarrafadores que têm mostrado um trabalho de muita qualidade, como as quin-tas dos Termos, dos Currais ou do Cardo, por exemplo. Tam-bém nos vinhos de agricultura biológica a região tem dado pas-sos: são já 600 ha em produção biológica e 4000 em protecção integrada. A Beira Interior, justamente reconhecida como pro-dutora de bons brancos, tem ainda muito que caminhar por-que, a ver pelas colheitas mais antigas enviadas para prova, há que repensar a estratégia. O consumidor até pode não ter razão em preferir apenas as colheitas de 2013 mas isso tem de ser muito bem explicado e os vinhos anteriores têm de mostrar que ganham com o tempo em garrafa. Sem essa comunicação é tudo mais difícil.

A DIVERSIDADE TRANSMONTANATrás-os-Montes não é uma região. São três sub-regiões – Cha-ves, Valpaços e Planalto Mirandês – que, na opinião dos locais, correspondem a três mundos diferentes: na altitude, no clima e nos solos. E isto, curiosamente, apesar das castas serem as mesmas nas três zonas. Estamos em terras de Trincadeira, lo-calmente conhecida por Tinta Amarela, que se comporta de maneira diferente nas zonas altas e graníticas de Chaves, nos terrenos xistosos de Valpaços e nas terras altas, secas e de ca-lhau rolado do planalto mirandês. Recordando as palavras de João Nicolau de Almeida enquanto foi o enólogo responsável pelos vinhos de Valle Pradinhos, estamos numa “terra aben-çoada, onde tudo nasce e medra com imensa qualidade, dos produtos da horta, ao azeite e ao vinho”.

Se quisermos identifi car o traço mais marcante de toda esta zona transmontana, ele é, sem dúvida, a diversidade. Esse as-pecto é salientado quer por Francisco Pavão, presidente da CVR de Trás-os-Montes, quer por Francisco Batista, enólogo que dá apoio a vários projectos na zona. Mas, se além daquele, ain-da quiséssemos encontrar um outro traço identifi cador, então poderíamos falar no enorme património genético que aqui se encontra; há muitas vinhas antigas, com as castas de sempre, há áreas de alguma dimensão com vinhas que nem aramadas são (como é caso da vinha que está na origem do tinto Palácio dos Távoras, com 14 ha), vinhas que poucos ou nenhuns trata-mentos têm ao longo do ano – “passa o tractor uma vez por ano para lavrar e é tudo”, diz Francisco Batista. “As virtudes das vinhas velhas”, continua o enólogo, “é que não estão minimamente preocupadas com as variações anuais; a pro-dução é mais consistente. Já fi zemos quatro vindimas nesta vinha velha e este ano também correu muito bem porque vindimámos tudo antes da chuva”, acrescentou. Mas, confessa, “nem tudo são boas notícias; no caso dos brancos há falta de boas adegas, bons técnicos, faltam investimentos. Aqui estamos ainda muito atra-sados e é difícil dizer que se vê a luz ao fundo do túnel”, concluiu. Francisco Pavão também acentua este lado carente em termos técnicos mas não deixa de salientar que “é positivo que as re-conversões que têm vindo a ser feitas – cerca de 1000 ha – têm apostado nas castas tradicionais, como o Bastardo e a Trinca-deira, mantendo assim a diversidade da região. E o facto de haver cada vez mais produtores-engarrafadores traz algum ânimo”. Ânimo nos tintos, seguramente; mas, no que toca a brancos, também aqui muito há a fazer para materializar o ine-gável potencial da região. Até porque os preços são, regra geral, muito competitivos.

A Revista de Vinhos agradece ao Restaurante Trás D’Orelha (estrada nacional 9 Casal Sant’Anna nº17, Benfi ca 2560-121, Ponte de Rol; tel.261326018) as facilidades concedidas na realização da produção fotográfi ca que acompanha este artigo.

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16,5 €9Almeida GarrettBeira Interior Reserva branco 2010SABENotas de vegetal verde, couve verde no aroma, maçã verde, perfi l austero e reservado. Na boca confi rma o perfi l sério, é um branco muito gastronómico, misterioso, pouco falador, apesar do tempo de vida que leva. Final longo e macio. (13%)

16,5 €10Quinta de ArcossóTrás-os-Montes Reserva branco 2012Quinta de ArcossóUm pouco carregado na cor, fruta madura muito evidente no aroma, leve nota de compota, alperce e alguma resina. Bom volume de boca, acidez coberta e bem envolvida, estilo sério, com aromas especiados. Branco de Inverno. (13,5%)

(Beira Interior) Almeida Garrett Reserva 2010(Trás-os-Montes) Quinta de Arcossó Reserva 2012

(Trás-os-Montes) Encostas de Sonim 2013(Beira Interior) Quinta dos Currais 2013

(Beira Interior) Quinta dos Termos Reserva 2013

(Beira Interior) Casas do Côro 2013(Beira Interior) Dois Ponto Cinco Síria 2012

(Beira Interior) Fora de Jogo 2011(Beira Interior) Adega do Alto Tejo 2012

(Beira Interior) Quinta do Cardo 2013

(Távora-Varosa) Murganheira 2013(Beira Interior) Monte Serrano Síria e Fontecal Reserva 2013

(Beira Interior) Pinhel Grande Escolha Síria 2013(Beira Interior) Quinta Vale do Ruivo 2011

(Trás-os-Montes) Qta. das Corriças Colh. Selecc. 2013(Reg. Transmontano) Quinta do Sobreiró de Cima Reserva 2011

(Távora-Varosa) Terras do Demo Superior 2012

(Reg. Transmontano) Casal d’Ermeiro 2012(Beira Interior) 7 Capelas 2013

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Classifi cação da provaVINHOS BRANCOS

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15,5 €5,10Dois Ponto CincoBeira Interior Síria branco 20122.5 Vinhos de BelmonteAroma um pouco reduzido acentua-lhe o lado mais mineral e de pólvora, a fruta queda-se escondida e resulta algo misterioso. Mais expressivo na boca, a acidez está bem integrada, vai dar boa prova à mesa. (14%)

15,5 €3,25Fora de JogoBeira Interior branco 2011Coop. Agríc. Beira SerraFruta madura, com leve evolução (natural, dada a data da colheita), sentem-se notas amanteigadas e muitos fumados na boca, estilo muito gastronómico, gordo e cheio. Seguramente para queijos de pasta mole. Evite guardar mais. (13,5%)

15,5 €5Adega do Alto TejoBeira Interior branco 2012Adega do Alto TejoLevemente reduzido no aroma, resultando pouco falador. Nota cítrica, discreto, acidez amarga que lhe dá tom austero mas acentua o lado gastronómico, leve nota de toranja. Tem carácter, é afi rmativo e muito capaz para a mesa. (13%)

15,5 €3,99Quinta do CardoBeira Interior branco 2013Comp. das QuintasCítrico nas notas do nariz, vegetal verde evidente, há aqui uma boa austeridade ao lado de notas de ananás e algum herbáceo. Boa acidez, médio corpo na boca, um vinho com bom fi nal e aptidão gastronómica. (13%)

16 €5Encostas de SonimTrás-os-Montes branco 2013Soc. Agríc. Enc SonimNotas verdes citrinas destacam-se no aroma e algumas sugestões de ananás, ao lado de leve nota mineral. Muito bem na boca, acidez bem integrada, cremoso, boa textura, cheio sem pesar. Um branco surpreendente e atractivo. (13%)

16 €4Quinta dos CurraisBeira Interior branco 2013Quinta dos CurraisFruto austero no aroma, ainda um pouco escondido, algum verdor com qualidade, fruto cítrico, leve vegetal. Na boca tem uma acidez bem integrada, é branco com garra. O conjunto mostra uma muito boa proporção entre os elementos. (14%)

16 €6,50Quinta dos TermosBeira Interior Reserva branco 2013Quinta dos TermosFruta madura discreta, leves notas doces com um fundo cítrico de tangerina marcam a prova aromática. Corpo médio mas com boa presença, acidez correcta e bem integrada, o equilíbrio de prova é muito bem conseguido. (13,5%)

15,5 €3,99Casas do CôroBeira Interior branco 2013Rui Madeira VinhosFruta com algum rebuçado, a expressão aromática é franca e efi caz, com uma acidez bem desenhada que lhe confere muita frescura, há um bom equilíbrio de conjunto, com um perfi l afável e directo. Não requer guarda em cave. (12%)

FICHA DE PROVATipo de Vinho: brancos do interiorAno de Colheita: váriosTipo de Prova: cegaRegiões de origem: Beira Interior, Távora-Varosa, Trás-os-Montes Painel de Provadores: redacção da Revista de VinhosCondições de prova: vinhos servidos a 12o

Número de amostras com rolha: 2Retirados por defi ciência das duas amostras: 2

Classifi cação Qualitativa

19-20 Grande vinho de classe mundial, impressiona extraordinariamente os sentidos

17,5-18,5 Excelente, de grande categoria e potencial.

16-17 Muito bom, com personalidade e complexidade

14-15,5 Bom, sólido e bem feito, bebe-se com prazer

12-13,5 Médio, honesto, simples, correcto, sem grandes pretensões

10-11,5 Abaixo da média, sem defeitos graves mas também sem virtudes.

Menos de 10 Negativo, defeituoso

ou desiquilibrado

Indicação de consumo

beberguardar

beber ou guardar

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14,5 €9,90Quinta do Sobreiró de CimaReg. Transmontano Reserva branco 2011Quinta do Sobreiró de CimaFruta amarela bem madura, leve evolução, acidez marcante a que falta mais estrutura para equilibrar. É um branco correcto mas que já deveria ter sido consumido. Assim, evite guardar mais tempo. (13,5%)

14,5 €4,50Terras do Demo SuperiorTávora-Varosa branco 2012Coop. Agríc. do TávoraCor citrina, leve nota de palha seca, maçã e pêra rocha. Aroma resulta franco, directo e capaz. Acidez elevada, um branco ríspido, austero e pouco falador, com um perfi l gastronómico, mas difícil. Poderá evoluir em cave (12%)

14 €4Casal d’ErmeiroReg. Transmontano branco 2012Lurdes GonçalvesCarregado na cor, provadas duas garrafas, claramente evoluído, nota-se algum cansaço. Na boca tem volume, textura, fruto seco. Para o Inverno, sobretudo a acompanhar queijos. (13,5%)

14 €47 CapelasBeira Interior branco 2013Soc. Agro-Pecuária BaraçasAroma (precocemente) evoluído com algumas notas resinosas, mel e fruto em passa. A mesma sensação na boca, tem volume, a acidez é boa mas precisa de consumo imediato. (13,5%)

15 €2,80MurganheiraTávora-Varosa branco 2013Soc. Agríc. e Com. do VarosaAlgumas notas minerais, leve nota de pólvora, fruta madura mas escondida no aroma. Leve nota frutada e vegetal verde na boca, acidez presente mas bem inserida, estilo acessível e gastronómico. Um branco para consumo em novo. (13%)

15 €5,88Monte SerranoBeira Interior Síria e Fontecal Reserva branco 2013Adega da CovilhãFruta cítrica no aroma, mostra um bom perfi l aromático, com nervo e alguma especiaria. Acidez fi rme e bem integrada, o conjunto resulta bem seco e com algum carácter, seguramente capaz de boa prova à mesa. (13,5%)

15 €3PinhelBeira Interior Grande Escolha Síria branco 2013Adega Coop. PinhelCitrino ligeiro no aroma, leve fl oral a lembrar jasmim, fruta ligeira mas agradável, na boca faz lembrar moscatel, está macio e elegante, fácil de gostar. É um branco acessível e seguramente muito consensual. (13%)

15 €6Quinta Vale do RuivoBeira Interior branco 2011José Madeira AfonsoLeve redução no aroma, fruta tropical madura, leve apimentado. O aroma resulta assim austero e pouco exuberante. Boa prova de boca, aqui mais dialogante, acidez fi rme, que confere um perfi l seco e sólido. Pode ainda durar em cave. (13,5%)

14,5 €3,90Quinta das CorriçasTrás-os-Montes Colh. Selecc. branco 2013Soc. Agríc. Qta. das CorriçasLeves notas de maçã, um toque um pouco “embrulhado” no aroma. Correcto na boca, com acidez viva, num estilo acessível. É um branco correcto mas a que falta uma centelha de brilho. (13%)

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17 €28Quinta de Arcossó Superior Bago a BagoTrás-os-Montes tinto 2011Quinta de ArcossóAroma austero de frutos negros, algum vegetal seco, leve nota de chocolate. Sente-se um tinto concentrado com muito para dar. Tem estrutura e garra, rico até numa certa rugosidade que lhe dá bastante carácter. (14,5%)

17 €30Palácio dos TávorasTrás-os-Montes Grande Reserva tinto 2011Essência do DouroConcentrado nas notas de frutos negros, conjunto muito rico, algum fl oral aqui a dar alegria ao vinho, taninos rugosos, acidez viva, fruta a surgir com tosta de barrica também presente. Um tinto com muito futuro pela frente. (14%)

17 €19,90Quinta do CardoBeira Interior Grande Escolha tinto 2011Companhia das QuintasConcentrado na cor, aroma de rosas e violetas, sobressai o lado fl oral do vinho, fruta em segundo plano. Bom volume de boca, tem estrutura e boa acidez, ambiente polido e rico no conjunto. (14%)

17 €28 Vinhas Antigas da Beira Anterior by Rui MadeiraBeira Interior tinto 2011Rui MadeiraAroma harmonioso, com fruta madura e algum fl oral bem conseguido, austero, com uma certa tonalidade química. Boca com notas vegetais, taninos bastante sólidos, boa acidez, fi nal seco. Conjunto com muita personalidade. (14,5%)

16,5 €11Casas AltasBeira Interior Garrafeira tinto 2009José Madeira AfonsoNotas vegetais e algum fl oral no aroma que se mostra concentrado e fechado, leves apontamentos químicos. Bem na boca, elegante, com taninos fi nos, focado na fruta negra, acidez bem proporcionada. (14%)

FICHA DE PROVATipo de Vinho: tintos do interiorAno de Colheita: váriosTipo de Prova: cegaRegiões de origem: Beira Interior, Távora-Varosa, Trás-os-Montes

Painel de Provadores: redacção da Revista de VinhosCondições de prova: vinhos servidos a 17o

Número de amostras com rolha: 2Retirados por defi ciência das duas amostras: 2

VINHOS TINTOS(Trás-os-Montes) Palácio dos Távoras Grande Reserva

2011(Trás-os-Montes) Quinta de Arcossó Superior Bago a

Bago 2011(Beira Interior) Quinta do Cardo Grande Escolha 2011(Beira Interior) Vinhas Antigas da Beira Anterior by Rui

Madeira 17

(Beira Interior) Casas Altas Garrafeira 2009

(Beira Interior) Adega do Alto Tejo Reserva 2010(Trás-os-Montes) Casal da Fradissa 2011(Beira Interior) Colheita do Sócio Touriga Nacional e Syrah

Garrafeira 2011(Beira Interior) Dois Ponto Cinco Vinhas Velhas Rufete 2011(Trás-os-Montes) Encostas de Sonim Vinhas Velhas

Reserva 2010 (Beira Interior) Fundanus Prestige Aragonez/Jaen 2011

(Beira Interior) Quinta dos Termos A Surpresa de Virgílio Loureiro Escolha 2011

(Beira Interior) Talabara Premium Edition 2011(Reg. Transmontano) Valle Pradinhos 2009

(Beira Interior) Almeida Garrett Reserva 2009(Trás-os-Montes) Casal d’Ermeiro Reserva 2011 (Beira Interior) Casas do Côro Reserva 2011(Beira Interior) Fora de Jogo 2011(Távora-Varosa) Murganheira Reserva 2011(Trás-os-Montes) Quinta das Corriças Reserva 2011 (Reg. Terras da Beira) Raya 2010(Távora-Varosa) Terras do Demo Touriga Franca 2008(Beira Interior) Varanda do Castelo Reserva 2011

(Beira Interior) Entre Vinhas Touriga Nacional Reserva 2012

(Beira Interior) Quinta da Caldeirinha Três Castas 2009

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Classifi cação da prova

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16 €8,99Fundanus PrestigeBeira Interior Aragonez/Jaen tinto 2011Adega Coop. FundãoAromas balsâmicos no nariz, leve mentolado, fruta madura escondida mas atractiva, faz o conjunto resultar bem. Polido na boca, macio nos taninos, todo ele muito gastronómico. Final fresco. (14,5%)

16 €30Quinta dos Termos A Surpresa de Virgílio LoureiroBeira Interior Escolha tinto 2011Quinta dos TermosFeito com a casta Baga. Média concentração, a aposta vai para a elegância, o vinho tem boa fruta e um estilo acessível, com taninos muito fi nos e textura macia. A casta não é evidente mas o conjunto funciona bem. (14%)

16 €25Talabara Premium EditionBeira Interior tinto 2011Quinta dos CurraisAroma com foco na fruta negra, leve percepção de madeira, mostra uma boa elegância. Na boca, ao lado de algum fl oral, há taninos bastante sólidos e um pouco duros, precisa por isso de comida por perto para brilhar. (15,5%)

16 €9,25Valle PradinhosRegional Transmontano tinto 2009Maria Antónia Pinto AzevedoMédia concentração, bom perfume de fruta madura com elegância, boca com bom equilíbrio entre fruta e taninos, com um estilo acessível, polido e muito composto, é tinto de sucesso garantido. (14%)

15,5 €10Almeida GarrettBeira Interior Reserva tinto 2009SABEPredominam as notas vegetais, o estilo é jovem e bem equilibrado no aroma. Bem também na boca, bom equilíbrio entre taninos e acidez, o tinto funciona bem e mostra boa aptidão gastronómica. (13,5%)

16 €9,50Adega do Alto TejoBeira Interior Reserva tinto 2010Adega do Alto TejoBom aroma de frutos pretos (amoras e ameixas pretas), atractivo e químico, polido na boca, taninos bem cobertos, acidez viva e textura sedosa, funciona muito bem como conjunto, para agora e para o futuro. (14,5%)

16 €5Casal da FradissaTrás-os-Montes tinto 2011Biossemente Soc. Agríc. Aroma muito agradável, com alguns mentolados a darem alegria ao vinho, fresco e de boca acidez, leves fl orais e uma estrutura em boa harmonia originam prova muito estimulante. (14%)

16 €8,58Colheita do Sócio Beira Interior Touriga Nacional e Syrah Garrafeira tinto 2011Adega da CovilhãBem no aroma, aqui com fruta madura, com boa expressão, alguma percepção de madeira mas sem excessos. Elegante na boca, com taninos polidos e acidez viva, a dar frescura ao conjunto. (14,5%)

16 €8,50Dois Ponto Cinco Vinhas VelhasBeira Interior Rufete tinto 20112.5 Vinhos de BelmonteMuito bem no aroma, com frutos vermelhos, com percepção de madeira, a formar conjunto atractivo; boca com sugestões de baunilha, macio, fácil de gostar, um bom tinto de Rufete, agradável desde já. (14%)

16 €10Encostas de Sonim Vinhas VelhasTrás-os-Montes Reserva tinto 2010 Hélder Correia MartinsMuito concentrado na cor, notas mentoladas e ricas no aroma, muito extraído. Sem preocupações de elegância, é tinto cheio, taninoso com muito potencial de vida em cave. A acompanhar (de perto) a evolução. (14,5%)

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15,5 €6Casal d’ErmeiroTrás-os-Montes Reserva tinto 2011 Lurdes GonçalvesAroma com notas fl orais, resulta fresco, polido na fruta. Alguns fumados na boca ao lado de taninos rugosos que lhe dão um estilo difícil mas gastronómico. Vale a pena acompanhar a evolução em cave. (15%)

15,5 €12RayaRegional Terras da Beira tinto 2010Horta de GonçalparesNotas de fruta preta, algumas sugestões de resina e na boca sente-se bem a presença da madeira, com bom volume, alguma austeridade e com estrutura capaz de proporcionar boa prova. (14,5%)

15,5 €5Terras do DemoTávora- Varosa Touriga Franca tinto 2008Coop. Agríc. TávoraComplexo e concentrado, notas de frutos negros, algum cacau, leve balsâmico. Boa estrutura de boca, há uma boa harmonia de conjunto, leve rugosidade que lhe fi ca bem. Está muito interessante. (13,5%)

15,5 €3Varanda do CasteloBeira Interior Reserva tinto 2011Adega Coop. PinhelBoa harmonia entre aroma e sabor, com alguma predominância das notas fl orais, com taninos polidos e bom equilíbrio da madeira. O conjunto resulta assim polido e composto, capaz para prova imediata. (14,5%)

15 €7,05Entre Vinhas Beira Interior Touriga Nacional Reserva tinto 2012Soc. Agro-Pecuária BaraçasA casta não é desde logo evidente no aroma, com muitas nuances vegetais, um toque de verniz. A boca confi rma o estilo, é um tinto equilibrado, correcto e bem composto. (15%)

15 €14,95Quinta da Caldeirinha Três CastasBeira Interior tinto 2009Aida AlmofalaAroma com notas de fruto maduro e algum couro. Macio na boca, com boa ligação fruta/acidez, alguma secura de taninos no fi nal. Funciona bem como conjunto, a beber desde já. (13%)

15,5 €14,99Casas do CôroBeira Interior Reserva tinto 2011Beyra - Vinhos de AltitudeBom fruto no aroma, polido, notas de ameixas pretas, tudo expressivo e directo. Rijo na boca, taninos muito fi rmes obrigam a algum cuidado na ligação com a comida. Deve também guardar parte do lote. (14,5%)

15,5 €4,90Fora de JogoBeira Interior tinto 2011Coop. Agríc. Beira SerraMostra aromas de madeira verde (que se repetem na boca), a fruta está escondida. Elegante e com taninos polidos, temos tinto acessível no estilo mas falta mais casamento entre a fruta e a madeira. (14,5%)

15,5 €6,80MurganheiraTávora- Varosa Reserva tinto 2011Soc. Agr. Com. VarosaConcentrado no aroma, algum químico e leve compota, algumas notas metálicas, para já pouco falador. Boca com taninos rugosos, tem peso e impacto de conjunto. Siga a evolução em cave. (14%)

15 €9Quinta das CorriçasTrás-os-Montes Reserva tinto 2011 Soc. Agríc. Quinta das CorriçasBom aroma, com leves notas de baunilha e especiaria, fresco e agradável, o vinho resulta atractivo. Boa prova de boca, macio, leve evolução, taninos rugosos, pedindo prato de sabor intenso (14%)

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A história começa em 1975, ganha balanço em 1989 e ainda está a ser escrita. E reescrita, porque Álvaro de Castro era um homem de convicções fortes

mas algo caótico na sua metodologia de trabalho. Hoje, os vinhos Quinta da Pellada são uma referência do Dão e uma peça fundamental

da história recente do sector em Portugal.

REVIVER O PASSADO

COM ÁLVARO DE CASTRO

QUINTA DA PELLADA

TEXTO Luis Antunes * FOTOS Ricardo Palma Veiga

AÁlvaro Manuel de Albuquerque Figueiredo e Castro foi cha-mado, há anos, o Tio do Novo Dão, por ser “demasiado novo para ser o avô e demasiado irrequieto para ser o pai”. Álvaro é engenheiro civil de formação, tendo completado o cur-so, que aliás nunca exerceu, nos anos de 1975. Segundo ele mesmo, era mau aluno, mas tinha uma certa facilidade com a matemática. Por esses anos esteve no Brasil (“Refugiado?” perguntavam-lhe. “Bastante!” respondia a rir, como hoje ainda lembra a rir histórias dessa altura) e fez várias coi-sas. Em 1975 mudou-se para Pinhanços, para tomar conta das propriedades da família. Até 1989 as uvas eram vendi-das e foi nesse ano que começou a aventura de engarrafar os vinhos das suas quintas, Saes e Pellada. Nascia então um dos mais icónicos vinhos da revolução tranquila dos vinhos portugueses, e um representante maior da região do Dão.Durante vários anos os vinhos ostentavam contrarrótulos algo avulsos, corrigidos à mão, aproveitados de uns anos para outros, com contradições com o que vinha nos ró-tulos, na lei, nas análises. O apreciador destes vinhos se-guia este enredo como quem segue uma telenovela. Era o carvalho Limousin (“Eu não percebia nada daquilo, sabia lá que era para Cognac”), a Touriga Nacional (“Com mais

algumas castas misturadas, era o que estava na vinha”), as vinhas com 20 anos (“Eram novas, acabadas de plantar”), os estágios prolongados, os diferentes engarrafamentos (“Lembro-me bem deste vinho, deixei-o mais tempo em barrica, ou seria o outro?”). Mas, no meio deste enredo complexo e por vezes caótico, havia rigor, dedicação, vontade de explorar, de experimen-tar, o que conduziu a uma aprendizagem, tudo a contribuir para um conjunto de convicções fortes. Assim, nos últimos anos nota-se uma convergência para um estilo e uma iden-tidade que sempre estiveram subjacentes, mas que agora se consubstanciam numa grande coerência. As vinhas estão a ser reformuladas, em especial com alguma reenxertia, e principalmente com mudanças drásticas na condução das videiras, eliminando de vez a Royal e passando para Guyout uni ou bilateral, de acordo com o que se encontra em cada cepa. Segundo Álvaro, é melhor para a videira, para a vi-nha, para a qualidade dos vinhos. O esforço de passar cepas tão velhas para outra condução inclui serrar velhos caules, por vezes com arames lá dentro, e só se justifi ca pelas tais convicções de quem dedica a sua vida a passar um legado. A vinha irá perdurar.

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Outra mudança recente nos vinhos da Quinta da Pellada é o engarrafamento mais tardio. As inúmeras experiências ao longo dos anos mostraram que essa é uma melhor solução para os melhores vinhos e a sua evolução em garrafa. Tudo junto, e isso constata agora Álvaro, é o modo de fazer mais “à antiga,” ou, melhor ainda, “à antiga, mas bem”. Já quando às castas, parece ter passado a febre da Touriga Nacional, ou Tourigo, como na casa ainda gostam de dizer. Aqui no Dão o Tourigo sempre foi “mais uma” casta, nobre sem dúvida, mas apenas mais uma. Se em alguns vinhos de topo entrava com mais percentagem, no Quinta da Pella-da a distribuição sempre se fez com Jaen, Tinta Roriz, Al-frocheiro e “outras”. Ou seja, o que estava na vinha. Com os anos, percebeu-se melhor que o Quinta da Pellada viria sempre dos mesmos sítios, lugares que ainda hoje visita-mos no velho jipe Toyota e que Álvaro nos diz que não en-tende: “Aqui, deste sítio, vem sempre o Carrossel. Agora, porque é que as uvas daqui são diferentes e dão um vinho diferente? Isso não sei.” Entre os vinhos da casa, contam-se os topos de gama Pape e Carrossel, experiências antigas como os varietais, incluin-do os míticos Baga de 2000 e 2005, e ainda experiências mais recentes como o Tounot, o Jaen de cápsula amarela, o Marosca ou o Pelludo. Mas para este “Grandes Marcas” foi preciso fi ltrar, ou seja, escolher um critério. Para mim, o

Deste sítio vem sempre o Carrossel. Agora, porque é que as uvas daqui são diferentes, não sei

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critério era evidente: escolher o Quinta da Pellada tout court. O vinho da casa, o grande vinho ano-sim ano-também. Ál-varo explica-me que quer fazer vinhos mais digestos, mais “vins de soif”, vinhos de que apeteça beber um copo, não provar ou debicar. O seu legado será esse, preparar as suas vinhas e defender para a sua adega um estilo de vinhos mais parecidos com o que encontrou na região quando a ela chegou. Na região, não em sua casa. Os vinhos que encontrou na cave tinham uma contribuição grande do Centro de Estudos de Nelas, por via da amizade do engenheiro Alberto Cardoso de Vilhena (o primeiro director da instituição) com o pai de Álvaro. Para Álvaro, estes eram os vinhos normais, só com os anos se apercebeu que estava ali algo de especial. O próprio Ma-galhães Coelho, o primeiro enólogo da Pellada, tinha sido discípulo de Alberto Vilhena, e ajudou a perpetuar este es-tilo. Hoje a enologia está a cargo da sua fi lha Maria “Pimen-ta” e de Luís Lopes. Só na altura de fazer os lotes fi nais têm a ajuda de Ataíde Semedo, uma pessoa “de fora” em quem Álvaro confi a.Para esta vertical os vinhos foram escolhidos entre os que ainda estão ao dispor, eliminando alguns de que Álvaro não gosta. Aqui, tudo é sempre pessoal. A discussão é feita tanto sobre os vinhos e a sua lavra, como sobre os cães (o labrador Figo, um gigante, a também labrador Cuca, o basset-hound

17 Quinta da Pellada Dão tinto 1992Álvaro CastroCor carmim, ainda muito concentrada. Notas de evolução, barro e pinhal, ervas aromáticas, especiarias, chocolate. Muito boa acidez, corpo médio, boa textura, cheio e intenso, com taninos muito discretos e fi nal longo. (12,8%)

17 Quinta da Pellada Dão Reserva tinto 1992Álvaro CastroCarmim acastanhado, algo transparente. Nariz opulento e cheio, mas complexo e delicado, com bolo inglês, caixa de charutos, chocolate de leite, muito intrigante e completo. Corpo ligeiro mas lustroso, acidez impecável, taninos discretos, fi nal alegre, vivo. (12%)

16,5 Quinta da Pellada Dão Touriga Nacional tinto 1995Álvaro CastroLote com 40% de Alfrocheiro, estágio em carvalho Limousin. Chocolate, fruta vermelha confi tada, especiarias, uma nota química. Corpo médio, muita garra na acidez e taninos ainda fi rmes, fi nal muito longo, saboroso. (12%) 18,5 Quinta da Pellada Dão Touriga Nacional tinto 1996Álvaro Castro40% de Alfrocheiro. Cor ainda muito jovem, bem concentrado. Nariz completo, explosivo, achocolatado, com muita fruta, tenso e dinâmico, com especiarias, bosque. Encorpado e muito texturado, com acidez e taninos muito integrados, fi nal fi rme, cheio de garra. (12%)

16,5 Quinta da Pellada Dão Tinta Roriz tinto 1996Álvaro CastroCom Touriga Nacional. Escuro e concentrado, com tons torrados, café, fruta vermelha muito madura e densa, chocolate e cacau, mato seco. Encorpado, com taninos rugosos, acidez viva, ligeira doçura bem integrada, fi nal longo. (12%) 16,5 Quinta da Pellada Dão Tinta Roriz tinto 1998Álvaro Castro100% Tinta Roriz de uma vinha nova. Muito completo, com terra húmida, frutos vermelhos, especiarias, muito focado e ainda jovem. Corpo médio, taninos um pouco secos, acidez integrada, muito fi rme, fi nal um pouco amargo. Para comida a sério. (12,9%)

18,5 Quinta da Pellada Estágio ProlongadoDão tinto 2000Álvaro CastroTouriga Nacional e Tinta Roriz, estágio em carvalho Allier. Concentrado, opaco, ainda jovem. Continua o blockbuster que sempre foi. Fruta vermelha muito madura, notas de pinhal, terra, chocolate, um assombro. Volumoso e encorpado, com acidez refrescante e fi nal de grande porte. (13%)

17,5 Quinta da Pellada Dão tinto 2001Álvaro CastroChocolate, tostados, fruta algo estufada, terra húmida, especiarias, boa complexidade. Elegante e muito polido, com textura aveludada, acidez no ponto, taninos fi nos e fi rmes, fi nal muito harmonioso e com bom comprimento. (13%)

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grandes marcas

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18 Quinta da Pellada Dão tinto 2002Álvaro CastroConcentrado e opaco, ainda jovem. Nariz com café e chocolate, e uma fruta vermelha muito pura e franca. Depois notas de especiarias, couro. Muito texturado e harmonioso na boca, taninos fi rmes, a dar suporte e garra, acidez fresca, muito longo. (13%)

18 Quinta da Pellada Dão tinto 2003Álvaro CastroFruta preta, muito madura, notas de chocolate e mato seco, muito concentrado e imponente. Encorpado e muito texturado, com acidez refrescante, taninos fi rmes, rugoso e sério, com fi nal sereno, mas muito longo. (13%)

18,5 Quinta da Pellada Dão tinto 2005Álvaro CastroCor jovem e concentrada. Nariz fl oral, com frutos do bosque, notas fumadas, especiarias, a revelar a predominância da Touriga Nacional. Encorpado, sério, com patine lustrosa, taninos e acidez harmoniosos, fi nal muito longo, sereno e austero. (13%)

17 Quinta da Pellada Dão Reserva tinto 2006Álvaro CastroUma nota química, frutas pretas e vermelhas, mato seco, caruma, muito complexo e tenso. Corpo médio, rugoso, muito vigor e juventude, acidez integrada, taninos fi rmes, fi nal muito apelativo, longo e sério. (13%)

18,5 Quinta da Pellada Dão tinto 2007Álvaro CastroFruta preta e vermelha, notas fumadas e tostadas, especiarias, mato seco e um nada de compota suave. Muito elegante e ao mesmo tempo generoso. Encorpado, texturado, com acidez e taninos muito bem integrados, fi nal preciso, longo, compacto. (13%)

19 Quinta da Pellada Dão tinto 2008Álvaro CastroMistura de fruta vermelha, um pouco de preta, e notas de café, tosta da barrica, especiarias, madeiras exóticas. Muito complexo, rico e elegante. Perfeito na boca, com equilíbrio preciso entre as componentes, taninos invisíveis, acidez no ponto, textura acetinada, fi nal longo, focado, sereno. (13%)

17,5 €29Quinta da Pellada Dão tinto 2010Álvaro CastroAroma muito fl oral, com rosas e violetas, bem integradas na fruta do bosque e suaves tostados. Sério na boca, com corpo médio, taninos fi rmes, acidez bem integrada, termina fresco, alegre e muito jovem. (13%)

18 €29Quinta da Pellada Dão tinto 2011Álvaro CastroTostados, terra húmida, fruta violeta, madeiras exóticas e especiarias doces. Corpo médio, com alguma secura a vir na frente, depois a acidez gulosa e os taninos fi rmes suportam a prova de boca, até ao fi nal longo e vibrante. (13%)

Tobias e o pastor da Serra, o Leão, que está preso durante o dia porque morde – “Mas não aos clientes, não sei como é que ele faz para saber” – mas é solto durante a noite “por-que tem havido uns assaltos e o Figo mete-se na casota às 5h da tarde e só sai na manhã seguinte”, os amores do gato, o dia-a-dia do burro Carriço, oferecido por Jorge Serôdio Borges, ou os bifes que um visitante brasileiro mais esqui-sito fez ele mesmo e “realmente fi caram melhores”.Os vinhos mostraram-se magnífi cos, de princípio a fi m, anos mais maduros, mais frescos, feitos mais assim ou mais assado. Álvaro confessou-me que aproveitou para fazer o trabalho de casa, e foi ler as suas notas e compará-las com os contra-rótulos. Constatou, com alguma surpresa e evi-dente satisfação, que “não havia tantas mentiras como isso”. Houve a fase dos 12%, depois as dos 13%, pelo meio alguns anos com umas décimas a apimentar o grau.Houve o primeiro rótulo, preto, depois os rótulos cremes clássicos da casa, com cápsulas bordeaux, depois a fase das garrafas pesadonas, de cápsulas vermelho-vivo, e depois a fase actual, de rótulos algo reformulados e cápsulas pre-tas. As garrafas têm encolhido, para bem do planeta. Estou convencido de que uma prova destas é um raro momento de homenagem a um produtor de eleição, esperando que seja útil para quem tem destas garrafas em casa, ou quem as encontrar ainda pelas garrafeiras, esta agradável e pon-derada revisão da matéria dada.

Uma prova destas é um raro momento de homenagem a um produtor de eleição

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mercado

Os vinhos estão hoje mais alcoólicos do que há 25-30 anos. No entanto, existem regiões por esse mundo fora que continuam a produzir vinhos com baixos teores alcoólicos e

de qualidade boa a excelente. São vinhos que podem ser doces, secos ou quase secos. Vamos concentrar-nos apenas nos vinhos secos ou quase secos, ou seja, naqueles que a grande parte

dos consumidores beberia acompanhando um prato principal numa refeição.

Os vinhos não se TEXTO Raul Riba D’Ave * FOTOS Ricardo Palma Veiga e D.R.

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De Portugal à Austrália, passando pela Itália, França ou Alema-nha, é possível beber excelentes vinhos que não ultrapassem os 12º álcool/volume. Podem ser brancos ou tintos (e mesmo rosés), mas é mais fácil que sejam brancos. Os tintos, devido ao fato de precisarem de maceração pelicular para ganharem a sua cor, podem também por esta via ganhar sabores verdes/adstringentes, se as uvas não estiverem perfeitamente madu-ras. São, por isso, menos conhecidos os vinhos tintos de baixa graduação alcoólica.

Neste artigo fi cam algumas sugestões de regiões onde se con-tinuam a produzir vinhos brancos, tintos ou rosés, com baixa graduação alcoólica (brancos até 11,5% e tintos até 12%). Os exemplos dados têm por base o estilo “clássico”, ou seja, o es-tilo mais comum em cada uma das regiões sugeridas. Existem, como todos sabemos, produtores que se desviam do estilo clás-sico da sua região e, por isso, não têm âmbito neste artigo, pois geralmente são estilos mais intensos e mais alcoólicos. Aqui fi cam as sugestões:

VINHO VERDE Norte de PortugalNesta popular região, os vinhos sempre foram magros em álcool e corpo, exceção feita aos vinhos de Monção e Melgaço, da casta Alvarinho, sempre mais “potentes”. As características da região (precipitação abundante e temperaturas moderadas pelo Atlânti-co) e o tipo de condução usada (bordaduras, latadas, enforcado, arjões, etc.), que privilegiava o crescimento vegetativo em vez da maturação da fruta, eram uma parte importante da explicação para o estilo de vinho alcançado. A restante parte da explicação tem a ver com o facto de a vindima, por tradição, ser feita antes do equi-nócio de Outono (21 Setembro), para evitar as chuvas caracterís-ticas desta altura. Com o passar dos tempos mudaram-se os tipos de condução, pas-sando a usar-se a condução em espaldeira (condução em linha) e colhendo-se a uva apenas quando a maturação está perfeita ou quase perfeita, mesmo que isso seja arriscar passar as chuvas do equinócio. Isto fez melhorar, e muito, a qualidade dos vinhos ver-des, tendo aumentado também o grau. No entanto, a grande maio-ria dos vinhos desta região continuam a ser de graduação alcoóli-ca baixa e muito clássicos no estilo. Por essa mesma razão, por este seu ponto de diferença, não param de crescer em exportações.

medem aos graus

TIPO DE VINHO Brancos, rosés e tintos. Castas variadas

ESTILO clássico (dos brancos e rosés)

Secos ou quase secos (adamados), corpo ligeiro, mais ou menos frutados, dependendo das castas usadas, algum gás carbónico e álcool entre os 9% e os 11%.

ESTILO clássico(dos tintos)

Predomina a casta Vinhão. São vinhos de muita cor, corpo médio, geralmente sem qualquer estágio em madeira, podendo parecer agressivos para quem prova pela primeira vez. Podem ter gás. Não costumam superar os 12%.

SUGESTÃO

QUINTA DA LIXA LOUREIRO 2013 11% álcool; PVP: 3,30€ CASA DO VALLE COLHEITA ROSÉ 2013 11% álcool; PVP: 4,75€DOM DIOGO VINHÃO 2013; 12% álcool; PVP: 5,50€

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mercado

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TXAKOLI Norte de EspanhaEste vinho ancestral – e que esteve perto da extinção – vive um ressurgimento interessante, muito por causa da atual procura do mercado por vinhos frescos e ligeiros, de baixa graduação. A qua-se totalidade do vinho produzido nas Denominações de Origem do Txakoli (são três) é branco, completamente seco, muito vivo (acidez alta), corpo ligeiro e que pode ter algum gás carbónico (apesar dos exemplos mais modernos não o apresentarem). Estas regiões estão sobretudo perto da costa atlântica do País Bas-co, recebendo uma pluviosidade muito abundante, de até 1600mm (bem superior à da região dos Vinhos Verdes), e as temperaturas máximas médias anuais são bastante baixas, dada a forte infl uên-cia reguladora do Atlântico. As castas usadas para os brancos con-tam-se pelos dedos, sendo interessante notar que, para além das castas locais, sempre se usou a Petit Manseng, a Gros Manseng e a Folle Blanche, castas francesas de regiões frias.

TIPO DE VINHO

Brancos e rosés (tintos, muito raros). Castas brancas: Vital, Seara Nova, Moscatel Graúdo, Fernão Pires, Malvasia, Rabo Ovelha, Viosinho. Castas tintas: Castelão, Camarate, Aragonez

ESTILO clássico(dos brancos e rosés)

Secos, mas a maioria é algo adamado (a legislação não impõe limite de açúcar residual). Vinhos simples, fáceis de beber, corpo ligeiro, álcool entre os 9% e os 10%, acidez refrescante. Geralmente têm ligeiro gás. Alguns brancos são bastante frutados, dado o uso da casta Moscatel.

SUGESTÃO

ADEGA COOP. DA VERMELHA MUNDUS ROSÉ LEVE 2013 9,5% álcool; PVP: menos de 2,00€ COMP. AGRÍC. DO SANGUINHAL SÔTTAL BRANCO LEVE 2013 9,5% álcool; PVP: 2,60€

VINHO LEVE Região de Lisboa e Região do Tejo, PortugalDepois de acesa discussão para se generalizar o uso do termo “Vi-nho Leve” a todas as regiões produtoras portuguesas, acabou-se por manter o seu uso restringido às regiões de Lisboa e do Tejo. Este vinho, tradicionalmente produzido em localidades junto ao mar, tais como Torres Vedras, Óbidos, São Mamede, entre outras, é um vinho maioritariamente branco, apesar de existirem também rosés e tintos (mas ninguém está a produzir tinto atualmente). Por lei, não pode exceder os 10% de álcool.Estas regiões costeiras caracterizam-se pela particularidade de terem uma pluviosidade alta (mas não excessiva) e uma tempera-tura média durante a temporada de crescimento bastante mode-rada, fazendo com que as maturações sejam lentas e não excessi-vas. Mas os dois fatores decisivos para a produção deste vinho são, sobretudo, os rendimentos de produção elevados (o que diminui a concentração dos mostos) e uma teimosa neblina matinal que estaciona nestas regiões e tende a não se dissipar antes do meio--dia (diminuindo drasticamente a incidência solar nas horas de pico). O resultado são vinhos fáceis, simples, mas agradáveis e re-frescantes. O ano passado representaram qualquer coisa como 2,7 milhões de litros e podem ter um futuro promissor se o número de produtores continuar a aumentar (são atualmente cerca de 16).

TIPO DE VINHO Brancos, rosés e tintos (mas mais de 95% é branco). Castas variadas

ESTILO clássico(dos brancos )

Côr muito pálida, bastante neutral no nariz. Completamente seco, de corpo ligeiro e acidez vibrante. Fruta cítrica e do tipo maçãs verdes, com uma certa mineralidade e salinidade. Eventual gás carbónico. Álcool entre os 9,5% e os 11,5% (alguns vinhos provenientes de vinhas plantadas mais no interior e em encostas podem atingir 13,5% álcool).

SUGESTÃONada como visitar a região e apreciar este vinho com as “tapas” locais

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MOSEL Sul da AlemanhaBastante conhecida pelos seus fabulosos vinhos brancos doces da casta Riesling, o Mosel (antigamente denominada Mosel-Saar--Rüwer) é também uma região de fabulosos vinhos brancos secos. Na Alemanha, um vinho de estilo “seco” não ultrapassa as 9gr/litro de açúcar residual e é referido nos rótulos como “trocken” ou, no caso de o vinho ser de um produtor associado da VDP e provenien-te de vinhedos da mais alta qualidade, então será rotulado como “Grosse Gewachs”.O clima continental frio, aliado a uma pluviosidade algo elevada e temperaturas médias no Verão não muito altas, fazem com que não seja fácil amadurecer as uvas. A exceção são os vinhedos em en-costa, perto do rio para aproveitar o refl exo do sol, virados a sul e com pouco ou nada de solo de superfície. Aqui, a maturação pode ser elevada, mas, mesmo assim, apenas com uma vindima mais tardia (ou com podridão nobre) se conseguirá superar os 12%. Na grande maioria dos outros lugares mais planos, os vinhos secos da casta Riesling, casta branca dominante na região, não ultrapassam os 11% a 11,5% de álcool.

TIPO DE VINHOBrancos da casta Riesling (também há tintos, sobretudo da casta Pinot Noir, mas representam uma ínfi ma percentagem)

ESTILO clássico

Pálidos, tons esverdeados. Secos a quase secos, muito frescos e minerais, corpo ligeiro a médio (quando têm mais maturação e provêm de vinhedos em encosta). Graduação pode variar, mas nos melhores exemplos clássicos será entre os 11% e os 11,5%

SUGESTÃOS.A. PRÜM SOLITAR RIESLING TROCKEN 2011. 11% Álcool. PVP 28€ (Magnum)

CÔTEAUX CHAMPENOIS Norte de FrançaNos nossos dias, os tintos de baixa graduação são difíceis de en-contrar. No entanto, na região de Champagne, conhecida pelo seu clima marginal (já muito a norte e portanto muito difícil de ama-durecer as uvas), fazem-se vinhos tintos muito bons com a casta Pinot Noir e ao estilo dos que se fazem na Borgonha. Nos rótulos levam a denominação de origem “Côteaux Champenois”, já que a denominação “Champagne” é só para espumantes. O único problema destes tintos é que os melhores têm preços mui-to altos (entre os 50€ e os 100€) e, mesmo os mais acessíveis, es-tão longe de serem baratos, dado o preço da uva na região (acima dos 6€/kg!).

TIPO DE VINHO Tintos da casta Pinot Noir

ESTILO clássico

Cor rubi brilhante de profundidade média. Nariz de cerejas, morangos e, nos melhores exemplos, mina de lápis. Têm corpo médio, textura suave, quase aveludada nos melhores vinhos. Muito frescos na acidez, mas sem arestas. Vinhos de fi nal longo e que podem evoluir bem na garrafa. Os melhores não estão longe da qualidade dos Grand Cru da Borgonha.

SUGESTÃOEGLY-OURIET AMBONNAY ROUGE, CUVÉE DES GRANDS CÔTÉS, VIEILLES VIGNES 2011Preço : cerca de 100€ ; 12% alc./vol.

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mercado

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HUNTER VALLEYNew South Wales, AustráliaA apenas 160 km de Sydney, esta é uma região onde não lembraria a ninguém plantar vinha: clima subtropical, elevada pluviosidade (ain-da por cima totalmente concentrada na tem-porada de crescimento) e céu constantemen-te enevoado. Contudo, o Hunter Valley é uma das mais antigas regiões vitivinícolas da Aus-trália e muito…única. O seu solo de origem vulcânica (basalto) produz um dos mais fa-bulosos vinhos a partir da casta Sémillon. A ajudar estão dois fatores importantes. O pri-meiro é a dissipação da intensa luminosidade operada pelas nuvens constantemente pre-sentes. O segundo é a vindima ser proposita-damente feita mais cedo. O vinho resultante, quando novo, é muito incisivo e ácido, verde e cristalino, mas com o tempo em garrafa de-senvolve apetecíveis aromas melados, de tor-rada, frutos tropicais, sempre acompanhados por uma incrível acidez e mineralidade. Um vinho notável que tem a capacidade de evoluir positivamente na garrafa por décadas!

CLARE VALLEY E EDEN VALLEYSouth Australia, AustráliaEstas duas regiões fi cam muito próximas da região de Barossa, um vale quente e com es-cassa pluviosidade, que faz os Shiraz mais fa-mosos da Austrália. No entanto, tanto em Eden como em Clare Valley, a casta que predomina é a Riesling, a qual funciona bem porque as vinhas nestas duas regiões estão implantadas em altitude (500-600m), resultando em vi-nhos com imensa frescura, uma característi-ca nota de lima verde, que depois de tempo em garrafa desenvolve aromas torrados. São vinhos extremamente minerais e com gran-de capacidade de guarda.

TIPO DE VINHO Brancos da casta Sémillon

ESTILO clássico

Cor pálida esverdeada quando novos, mas desenvolvendo um certo amarelo dourado a partir dos 7-8 anos. Deve beber-se sempre com alguma evolução em garrafa (entre 5 a 10 anos) para poder apreciar os fabulosos aromas de mel, torrada e cera, sempre acompanhados por uma acidez crocante e refrescante. Os exemplos clássicos não têm qualquer infl uência de madeira nova. Álcool típico entre 10,0% e 11,5%.

SUGESTÃO

MCWILLIAMS MOUNT PLEASANT ELIZABETH SEMILLON 2012 (mas há colheitas mais antigas e que estão mais prontas). 11% álcool. PVP (em Inglaterra): 12€ (uma pechincha para a qualidade!).

TIPO DE VINHO Brancos da casta Riesling

ESTILO clássico

Cristalinos com tons esverdeados, só começando a ganhar alguns dourados ao fi m de 5-6 anos. Aromaticamente pronunciados, com notas de lima e um fl oral refrescante. Completamente secos, de corpo ligeiro, muito vibrantes, com fi nal mineral.

SUGESTÃOPETER LEHMAN PORTRAIT EDEN VALLEY RIESLING 201111% álcool; PVP: 13€

VALPOLICELLAVeneto (Verona), ItáliaO Veneto é uma região parecida com a região dos Vinhos Verdes, com paisagens muito ver-des devido ao seu clima moderado e pluvio-sidade elevada. Nesta região fazem-se inú-meros tipos de vinhos, mas há uma região demarcada que é responsável por vinhos tin-tos leves, simples e frutados e de baixa gra-duação alcoólica: a região demarcada de Val-policella. Esta DOC fi ca a norte de Verona e a leste do lago Garda, sendo um autêntico “lago” de vi-nho tinto (apenas superada em quantidade pela DOC Chianti). Para acompanhar refei-ções à base de pratos italianos descompro-metidos, não há melhor!

TIPO DE VINHO

Tintos das castas Corvina, Rondinella e Molinara

ESTILO clássico

Cor rubi de pouca profundidade, com toques azulados. Aromas de cereja ácida. Na boca é de corpo ligeiro a médio, quase sempre sem madeira, fácil e de textura suave. Predomina a fruta vermelha, a qual está bem amparada por uma acidez fi rme.

SUGESTÃOMONTE TONDO “SAN PIETRO” 201212% álcool; PVP:13,50€

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enoturismo

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DOIS MUNDOS

à beira da estradaQuem chega pode mergulhar no sereno bulício de uma unidade rural ou deixar-se perder por bucólicos carreiros no bosque, rumo a uma casa de sonho. Na Quinta do

Casal Branco, na lezíria do Tejo, cortando a linha recta do horizonte com rasgos verticais, há dois mundos para descobrir. A aldeia e a mansão senhorial, universos paralelos

com uma história comum que mergulha nos tempos de opulência das caçadas reais.

TEXTO Luís Francisco * FOTOS Ricardo Palma Veiga

QUINTA DO CASAL BRANCO

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HHá aqui uma ditadura das linhas rectas. A horizontal da paisa-gem, para começar. Mas a planura da lezíria do Tejo é cortada por traços verticais que lhe dão outra dimensão. Uma enorme chaminé de tijolo, aqui, marcando o cenário das construções desenhadas a régua e esquadro, a adega, os armazéns, as an-tigas casinhas dos funcionários alinhadas em singelas fi leiras de paredes brancas e telhados vermelhos. Para lá de outra rec-ta, a da estrada nacional, enfrentamos os caminhos sombrea-dos a árvores centenárias que nos levam ao palacete senhorial, o encanto suave de uma casinha de bonecas banhada pelo sol de Inverno. E, depois, há as diagonais: o carreiro coberto de fo-lhas que nos leva ao imponente pombal, visão surpreendente que nos leva a viajar no tempo.É assim na Quinta do Casal Branco, em Benfi ca do Ribatejo, ali a dois passos de Almeirim. De um lado da estrada, a elegância e a subtileza de uma atmosfera fi dalga; do outro, a actividade tranquila de uma aldeia agrícola. Em comum, a história e as histórias que fazem desta quinta um lugar tão especial. Um lo-cal onde reis caçavam com pompa e circunstância; onde cam-poneses viviam de e para a terra; onde a tradição e o progresso construíram um caminho comum.Hoje, a Quinta do Casal Branco é uma propriedade com 1100 hectares, 140 dos quais dedicados à vinha. Foram-se as pom-pas do tempo em que estas terras eram coutada de caça da rea-leza, impôs-se a vocação agrícola. Mas os sinais do passado são

bem evidentes. A começar pelo pombal… Dizer que esta im-ponente torre de tijolo foi o único edifício da quinta a resistir ao terramoto de 1755 é só o ínicio da conversa. Porque a sua súbita aparição no meio das árvores atira-nos de imediato para outro imaginário: o das fortalezas bizantinas, belas e intimidantes no seu rendilhado de tijolo. É como se viajássemos no espaço en-quanto damos um salto no tempo.Um pombal destas dimensões (a torre ergue-se a mais de dez metros de altura, com uma silhueta que afunila rumo aos céus) e com este grau de sofi sticação (nos seus tempos áureos, culminava numa cúpula amovível em madeira) dá-nos uma boa dimensão da importância cinegética da propriedade. Era preciso “cultivar” pombos, para que os falcões e respectivos falcoeiros tivessem presas em abundância. Uma caçada real era uma celebração de fausto e elegância, uma extensão das mordomias da corte para campo aberto, uma verdadeira romaria que envolvia centenas de pessoas. Nada podia ser deixado ao acaso, meses e meses de trabalho e anónima dedicação justifi cados ocasionalmente por algumas horas de fi dalga fruição.Os tempos mudaram e os costumes também. Mas o velho pom-bal continua ali, belo e soberbo por fora, hipnotizante por den-tro no labirinto de alvéolos que mudam de cor e de alinhamento conforme alteramos o ângulo do olhar. Há muito para ver nesta quinta, mas, só por si, a surpreendente descoberta de um edifí-cio como este já justifi cou a deslocação… e melhor fi cará quan-

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enoturismo

Nas traseiras da casa começa o reino do rio, que tantas vezes inunda a lezíria

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do for restaurado. Por enquanto, o edifício, cópia dos grandes pombais italianos, aguarda classifi cação por parte das entida-des competentes.

O TEJO E OS CAVALOS

Dos tempos de outrora sobrou outra tradição: a da arte eques-tre. A coudelaria acolhe cerca de quatro dezenas de cavalos, na sua maioria puro-sangue Lusitano, e alguns deles podem ser montados pelos visitantes, para excursões mais alongadas na propriedade ou uns meros passos nos terreiros da casa. Em qualquer dos casos, uma experiência que se recomenda. O edifício da coudelaria fi ca fora do espaço ajardinado da bela mansão, elegante e irresistível na simplicidade das suas linhas, também ela defi nida pelos traçados rectilíneos e rigorosas si-metrias característicos da era pombalina. A casa continua a ser habitada pelos proprietários, pelo que não é visitável, mas po-de-se apreciar de fora a sua beleza e conhecer a capela, um sur-preendente (por ser mais largo do que fundo) espaço rectan-gular que aos sábados é aberto à comunidade para oração. Com marcação prévia, e para grupos até 8 pessoas, também se pode planear uma prova de vinhos na biblioteca.Nas traseiras da casa, que está rodeada de jardins em todas as outras frentes, o terreiro enquadrado por árvores de grande porte converge para um portão. Para lá deste ponto, começa o reino do rio, que tantas vezes inunda a lezíria, ao ponto de a transformar num extenso lago de águas tranquilas que se en-costa mansamente às portas do perímetro urbanizado (e mais vezes o faria, não fosse a presença da vala de Almeirim, cons-

Pombal: a imponência exterior e a subtileza interior cativam o olhar

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truída para minorar os efeitos dos humores do Tejo, que se alinha à distância). Lateralmente, o muro do portão fi ca limitado por algumas cons-truções rústicas. De um lado, instalações para os cavalos e uma casinha que pode ser alugada para pernoitar na quinta. Do outro, sobranceira a um relvado de generosas dimensões está a Casa do Baile, ou da “Alegria”, como lhe chamavam os trabalhadores da propriedade. Era aqui que, no dia de Natal, os fi dalgos pro-prietários serviam eles próprios o almoço aos funcionários. E, claro, como o próprio nome indica, também era sob este tecto que se desenrolavam as celebrações dançantes dos dias especiais.Eram tempos de universos mais pequenos. Nascia-se e cres-cia-se dentro da propriedade, por ali se faziam casamentos e se construíam famílias. Ainda hoje podemos encontrar fun-cionários da quinta que nasceram nas casas que se alinham do outro lado da estrada. Uma delas serviu, durante décadas, como escola. A aldeia vivia fechada sobre si mesma, de portas aber-tas para quem chegava, mas auto-sufi ciente nas suas rotinas e produções. As vidas da plebe e da fi dalguia estavam bem deli-mitadas por espaços e convenções. E aqui, à beira da EN 114, essa fronteira é óbvia.

REFEIÇÃO JUNTO À LAREIRA

A faixa de alcatrão cruzada por carros e camiões que aproveitam o bom piso e o traçado rectilíneo para acelerar em velocidade de cruzeiro tem os seus prós e os seus contras. Corta, eviden-temente, a visita em duas (e exige muita atenção ao atravessar, devido ao intenso – e veloz – tráfego rodoviário). Mas propor-ciona também uma facilidade de acesso que foi sempre funda-mental no desenvolvimento da actividade económica da quinta. Nos dias que correm, essa função produtiva passa também pelo enoturismo (cerca de 7000 visitas anuais, um número expli-cado pela relevância da casa, pela sua presença em roteiros e pela capacidade para fornecer uma diversifi cado leque de ex-

Tradição: os cavalos são parte incontornável da imagem de marca da quinta e uma herança bem viva dos tempos das caçadas reais

CLASSIFICAÇÃOOriginalidade (máx. 2): 1,5Atendimento (máx. 2): 2Prova de vinhos (máx. 4): 3Venda directa (máx. 4): 3,5Arquitectura (máx. 3): 3Ligação à cultura (máx. 3): 2,5Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2Classifi cação: 17,5

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periências a quem a visita, mas também pela presença de boa sinalização junto à estrada, atraindo visitantes por impulso).Atravessemos então a estrada de volta ao mundo da aldeia agrí-cola. No alto da enorme chaminé de tijolo, memória evidente dos anos em que esta foi a primeira adega a vapor no Ribatejo, as incontornáveis cegonhas dominam a paisagem. Lá dentro, os sinais desta era industrial são ainda mais evidentes, começando na sala da caldeira (uma antiga destilaria), onde uma enorme cal-deira a vapor e respectivas tubagens servem de cenário para re-feições especiais e eventos. Num dos topos do vasto (e alto – o que é uma regra geral nesta quinta) espaço, um varandim de madei-ra concede a este salão uma vaga atmosfera de palácio medieval.O restauro deste espaço, levado a cabo em 2004, preservou os sinais dos tempos em que o vapor movia o mundo e o mesmo

aconteceu no edifício contíguo, o da adega (a primeira datava de 1817, numa altura em que ainda não existia a actual casa da família), onde, a par dos lagares, marcam presença os tubos e a enorme roda do motor que assegurava a força-motriz do con-junto. Ao fundo da adega alinham-se algumas barricas, do outro lado três carros de cavalos, aqui colocados em jeito de exposição.Retornamos sobre os nossos passos para a zona da recepção, onde o balcão da loja ocupa um dos extremos. Bem arrumado, com muita luz e expositores elegantes de onde espreitam os vi-nhos da casa e não só. Azeite, compotas, enchidos, queijos… de fazer água na boca. E, assim sendo, nada melhor do que confi rmar a boa decisão matinal de reservar mesa no pequeno bar-refeitório da casa, onde uma acolhedora lareira nos recebe para uma muito desejada refeição, lado a lado com alguns dos funcionários da quinta.Cá fora, a esplanada aguarda dias menos frios. Fica a promessa de um passeio pelas vinhas numa próxima ocasião. E um dese-jo secreto de conhecer estas margens pouco frequentadas do Tejo. Há sempre mais qualquer coisa para descobrir na Quin-ta do Casal Branco.

enoturismo

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Espaços: esplanada e pátio, sala de refeições, loja e recepção, apartamento para alugar

QUINTA DO CASAL BRANCOMorada: EN 118, km 69 2080-362 BENFICA DO RIBATEJOTel: 243 592 412Fax: 243 593 078E-mail: [email protected]: www.casalbranco.com

A quinta está aberta sete dias por semana, das 10h às 18h, excepto nos dias de Natal, Ano Novo e Páscoa. As visitas com percurso completo e prova de vinhos comentada (três referências, com petisco a acompanhar) carecem de marcação prévia e têm um cus-to a partir dos 8 euros por pessoa. Visitantes sem marcação serão recebidos conforme a disponibilidade do pessoal para visita à ade-ga e prova de vinhos informal sem qualquer pagamento. É possível marcar refeições para grupos pequenos (até 8 pessoas) no interior da casa (sujeita à disponibilidade de um membro da família que fará de anfi trião), com preços sob consulta. No bar, servem-se almoços de segunda a sexta-feira, median-te marcação no próprio dia. A ementa é fi xa e o custo por pessoa ronda os 10 euros. As aulas de equitação têm um custo variável a partir dos 50 euros por hora e a diária do apartamento T2 fi ca por 60 euros, com pequeno-almoço.

No bar, uma acolhedora lareira acolhe-nos para uma muito desejada refeição

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restaurante

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PAIRANDO SOBRE A AVENIDAAvenue é um primeiro andar sobre a Liberdade. De princípio conotado com uma loja de roupa, um conceito diferente e esquisito, autonomizou-se, mudou de mãos, amadureceu. Marlene Vieira está na casa há três anos, mas desde Janeiro de 2014 o novo proprietário, Aguinaldo Silva, orientou o projecto para um nível com muito mais ambição. Marlene faz agora uma cozinha mais ousada, complexa, pessoal.

TEXTO Luis Antunes * FOTOS Ricardo Palma Veiga

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restaurante

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Marlene Vieira tem apenas 34 anos e é natural da Maia. Filha de uma cozinheira de um restaurante que aliás recomenda (Albergaria Machado, em Nogueira, Maia), desde cedo escolheu uma carreira na cozinha, com estudos na Escola de Hotelaria de Santa Maria da Feira. Trabalhou depois em alguns restaurantes, incluindo uma estadia de dois anos em Nova Iorque. Chefi ou o restaurante do Hotel Westin, em Torres Vedras. A fama havia de chegar mais tarde, quando a sua carreira de formadora na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa transbordou para a televisão, onde é uma das caras do concurso Aca-demia de Chefes. Entretanto, fundou o restaurante Avenue, onde fez durante algum tempo uma cozinha de petiscos tradicionais. Quando Aguinaldo Silva, o famoso autor de telenovelas, comprou o Avenue, a chefe Marlene manteve-se à frente dos fogões, mas com mais liberdade para deixar voar a sua cozinha. O Avenue é um espaço sui generis, já que fi ca num primeiro andar envidraçado a dar para a Avenida da Liberdade. Olhando de frente as copas das samambaias até nos esquecemos das décadas que a Avenida da Liberdade vai demorar a recuperar dos atentados arquitectónicos que sofreu. A verdade é que, daqui de cima, a cidade parece confor-tavelmente longe e tentadoramente perto, suavemente atarefada e elegantemente pacata. A falta de uma porta para a rua que não inclua umas escadas pode assim ser transformada numa mais-valia, desde que os comensais saibam da existência do sítio e ao que vão. Parece ser isso o que acontece, já que uma visita numa quarta-feira ao almoço encontrou uma casa movimentada, sempre uma boa notícia. Vamos então aos pratos.

Marlene Vieira tem apMarlene Vieira tem apuma cozinheira de um uma cozinheira de um Machado, em NogueiraMachado, em Nogueiracozinha, com estudos ncozinha, com estudos nTrabalhou depois em aTrabalhou depois em adois anos em Nova Ioris anos em Nova Iorem Torres Vedras. A faTorres Vedras. A fa

i d f di d f d

AVENUEMorada: Avenida da Liberdade, 129B, 1245-145 LisboaTelefone: 216 017 127URL: www.avenue.ptFecho: Sábados ao almoço e DomingosHorário: 12h30-15h e 19h30-23hEstacionamento: próximo, pagoChefe de cozinha: Marlene VieiraEscanção chefe: consultoria de Manuel MoreiraPreço médio sem vinho: 50€BYOB: 7€ por garrafa

Marlene Vieira: a jovem e mediática chefe de cozinha está num grande momento da sua carreira.

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restaurante

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Fugi do tentador menu executivo (20€ por couvert, entrada, prato principal e sobremesa) e escolhi um menu clássico (69€), embora ligeiramente alterado num ou noutro prato. Para começar serviram azeite virgem e manteiga dos Açores com fl or de sal por cima. Não era a magnífi ca Rainha do Pico, que se pode encomendar no Espaço Açores (Rua de São Julião, 58, tel: 218 880 070). Para a imersão total, uma selecção de excelentes pães feitos na casa: Mafra, estaladiço e de miolo denso, perfeito; sementes; um brioche morno e um mini-bolo do caco de interior fumegante e fantástico sabor e textura. Um regalo!Chegaram os amuse-bouches: uma tostinha com tártaro de salmão, uma tempura de borragem com maionese de coentrada e um talo de cenoura desidratado e frito. A tempura saiu mal, com excesso de peso na massa e sem a leveza devida. Já a cenoura impressionava pela intensidade de sabor que oferecia.

ENTRADAS

Veio então uma entrada de pipis de pato, com mousse de foie gras com gelatina de vinho Madeira, moelas de pato, fatias de marmelo cru e um molho de pés de pato e vinho Madeira. As fatias de brioche tostado que acompanhavam ajudavam a enriquecer a mousse, talvez o ponto fraco do prato. O marmelo cru é uma excelente e original descoberta, contribuindo com a sua acidez para o equilíbrio fi nal. A seguir um prato cintilante: carabineiro do Algarve sobre brûlée de aipo e amêndoas com aneto, e dressing de tomate e sucos do carabineiro. O ponto de cozedura do carabineiro era exemplar, ligeiramente abaixo do al dente, ou seja, um pouquinho de nada à espanhola, a deixar a carne

só um tudo-nada farinhenta. O brûlée oferecia doçura, suave riqueza e textura estaladiça do açúcar queimado. O molho tinha frescura, acidez, salgado e iodado. Toda a combinação exibia complexidade, jogo de texturas, elegância, domínio das técnicas, ousadia da multiplicidade de texturas e sabores. Talvez eu optasse por tostar ou fritar ligeiramente as amêndoas, que no fi nal fi cavam um pouco demasiado presentes, mas isto é um pormenor ínfi mo num grande, grande prato.A seguir, muita criatividade na carbonara de aipo, cogumelos, presunto e trufa. Fios de raiz de aipo muito pouco cozinhados, a fazer de esparguete, presunto de bolota fatiado à máquina e ligeiramente seco, lascas de parmigiano reggiano, fatias fi nas de cogumelos crus, e ainda de trufas pretas, tudo envolvido pelo molho baboso de ovos da carbonara. Um prazer encontrar também aqui um dinâmico jogo de texturas, com os sabores a corresponder. A pungência herbácea do aipo, ajudada pela acidez do parmigiano, dava frescura ao prato e puxava para baixo a sua exuberante riqueza, enfatizada pelas trufas, presunto e ovo.

PRINCIPAIS

O primeiro prato principal foi o salmonete nas rochas, com migas com tinta de choco, salada de algas e ar de lúcia-lima. O salmonete estava fresquíssimo e confeccionado no ponto, um prazer. Mas as migas com tinta de choco resultavam algo feias, a salada de algas estava simples e insípida, e o pior era um cheiro forte da manteiga com os fígados do peixe. Para afi nar, mas o peixe, que é o principal, está já perfeito. Veio então o veado com chip de topinambur, ruibardo e puré de beterraba. Não sou muito adepto da carne de veado, muitas vezes

No Avenue o ambiente é sofi sticado, elegante e cosmopolita.

A criatividade complementada com bom senso é a pedra de toque das propostas culinárias.

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restaurante

adocicada e com uma textura pouco estruturada, quase farinhenta. Esta estava perfeita! Um naco do lombo muito bem tostado, com o interior rosado e sumarento, por cima fl or de sal, sobre um molho muito saboroso dos seus sucos, e ao lado os acompanhamentos mag-nífi cos, a dar notas pungentes, ácidas, terrosas. Confecção clássica, que brilha pela harmonia e complementaridade das componentes. Delicioso.

SOBREMESA

A sobremesa era um quadro de Outono, todo em tons de castanhos. Parfait de chocolate, gelado de praliné, fudge de caramelo com fl or de sal, mousse de chocolate desidratada e ainda marrom glacé. Algumas das componentes são difíceis de compreender, como a mousse de chocolate desidratada. Mousse signifi ca espuma, e a sua textura cre-mosa (mousseux) vem da incorporação de ar, algo que a desidratação destrói. O resultado, diga-se, bastante visual, é uma bolachinha casta-nha seca e insípida. O parfait e gelado estavam muito bons, e o fudge de caramelo excelente, com a fl or de sal a dar uma chispa adicional de prazer pecaminoso. Mas o conjunto da sobremesa resulta pueril, simples, com poucas dimensões.

SERVIÇO E AMBIENTE

Com excepção de algum mobiliário a mais em alguns recantos da sala, todo o ambiente do Avenue é de extrema elegância e requinte. O acolhimento é exemplar, bem como o serviço de sala e de vinhos,

a cargo da WineService4You, a empresa de consultoria e serviços de Manuel Moreira. A lista de vinhos é bastante variada sem ser demasiado extensa e tanto contém clássicos como consegue fugir da banalidade. A informação sobre os vinhos é correcta, mas nem sempre uniforme. Há vinhos com mais informação do que outros, e por vezes faz falta o nome do produtor. É de louvar a presença signifi cativa de vinhos com idade, bem como a qualidade das escolhas a copo. Os vinhos generosos precisariam de um pouco mais de variedade.Refl ectindo e fechando: se a porta desse para a rua, este restaurante seria um caso muito sério em Lisboa. Com competência, ambição e rigor, um ambiente refi nado e um acolhimento caloroso e profi ssional, mas acima de tudo com a cozinha esclarecida da chefe Marlene Vieira. Jovem e mediática, a chefe de cozinha consegue já apresentar uma carta muito bem fundada em sabores de inspiração portuguesa, com apontamentos cosmopolitas, usando a criatividade em doses contidas e com muito bom senso. Pairar sobre o bulício da baixa lisboeta pode ser um refrigério, numa Avenida da Liberdade que cada vez mais se afi rma como o eixo central de uma nova Lisboa, elegante e moderna.

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Localização exemplar, em plena Av. Liberdade, fugindo do bulício.

Cozinha rigorosa, criativa, pessoal.

Pormenores de pratos a afi nar.

Com uma porta para a rua, este seria um restaurante de grande glamour.

AVENUE

O restaurante Avenue é uma das mesas mais excitantes da capital neste momento

Equipa: Mário Cruz, Marlene Vieira, Giscard Muller, Raquel Romão, Pedro Araújo e Vítor Pereira

Chocolate, cogumelos e castanhas

Carbonara de aipo, presunto, cogumelos, trufa, folhas

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harmonias

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Os Reis Magos têm ainda pendentes vários processos de averiguação histórica e talvez por isso pertencem mais ao

imaginário popular do que ao processo da Natividade e Epifania do calendário católico. Certo é que alguns dos seus sinais

sensíveis se tornaram indispensáveis. O bolo-rei é um deles. Tradição antiga, coisa sempre moderna.

TEXTO Fernando Melo * FOTOS Ricardo Palma Veiga

A doce e

gloriosa coroa

Graças ao génio de artífi ces da nossa pastelaria, como Francisco Gomes, Joaquim Sousa, Francisco Siopa, Rui Costa, António Melgão e outros, estamos a viver momen-tos dourados, em que tudo tem uma causa e pode me-lhorar-se. O assunto do bolo-rei, disponível e funda-mental em todo o país, não escapou aos especialistas, que se têm debruçado sobre o tradicional e festivaleiro produto. Acrescentaram-lhe conhecimento, fi gurações, sabores e vocações que nem mesmo no fausto de Luís XIV de França – de onde será originário – alguém ousou sequer imaginar. Antes disso, não se conhece ligação pasteleira ao para-digma misterioso dos magos do Oriente que vindos de longe foram coroar o menino. Na corte francesa, a sim-bólica era de interpretação simples. Coroa, jóias e ador-nos, evocados através da massa brioche disposta e cozi-da no formato adequado, frutas cristalizadadas e secas apostas e um véu de açúcar por cima. Bolo dos reis, por-tanto.A delícia de Paris chegou a Lisboa na segunda metade do séc. XIX, e pode ter tido berço luso na Confeitaria Na-cional, com as difi culdades usuais de confi rmação que sempre temos em tudo o que é patrimonial na nossa mesa. A República cerceou-lhe a carreira em toda a par-te, impondo-lhe termo na sequência da Revolução Fran-cesa. Por cá, também andámos confusos nos 15 anos se-guintes a 5 de Outubro de 1910, mais obstinados com a redução do símbolo do que com a preservação do bom e útil bolo-rei, de sempre cândida mensagem.

Não lamentemos demasiado, porque se estamos a falar dele, e se os nossos pasteleiros se ocupam do seu apri-moramento, é porque não só sobreviveu como venceu. Bolo-rei de chocolate, bolo-rei com gila, bolo-rei com doce de ovos, bolo-rei escangalhado, enriquecem com outros ainda o magro palmarés de há vinte anos, quando para além do standard havia apenas o bolo-rainha, feito sem frutos cristalizados – só tinha frutos secos.A discussão sobre o bolo-rei ideal não tem fi m, cada um gosta do seu e difi cilmente abdica, mesmo que seja só para uma prova pontual. É por isso que se fi xa uma pastelaria e não se abandona mais, a partir do momento em que en-contrámos o nosso favorito. Só isso justifi ca as fi las inter-mináveis à porta de algumas casas, esperando paciente-mente a vez. Situação normal sempre que toca ao docinho do coração, nem tudo tem de ter uma explicação.Tínhamos em Portugal antigamente a fava e o brinde, que acidentalmente se descobria em momentos dife-rentes do desbaste do bolo, em princípio por pessoas diferentes. A fava penhorava quem desse com ela, for-çando a “vítima” a comprar outro bolo-rei, o próximo. O brinde era uma pequena recompensa, normalmente uma fi gurinha em porcelana ou uma medalha sem valor comercial, que se associava à abundância do período en-tre o Natal e os Reis. Oferecer, dar, é o mote. As exigências modernas de higiene e segurança alimen-tar impuseram o abandono da introdução de corpos es-tranhos na massa crua do bolo-rei, pelos riscos reais e evidentes para a saúde. Foi-se um pequeno divertimen-

GGraças ao géGraças ao géFrancisco GoFrancisco GoCosta, AntónAntóntos douradostos douradolhorar-se. Olhorar-se

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harmonias

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to, fi cou a fava, que já ninguém leva a peito no campo das obrigações. O tempo é mesmo apenas de fruição, já nin-guém tem de “pagar a fava”. Há por isso que aproveitar, sem perder mais tempo.

CAMINHOS DE HARMONIZAÇÃO

A massa de base de um bolo-rei é em termos estritos a de um pão, mais ou menos próximo do brioche. Não coze nunca demasiado, o que o faz fi car com uma humidade residual bastante elevada. É adocicado na boca, e tudo o que nele se encontra tende a acrescentar a essa nota. Os desafi os principais quanto à harmonização com vi-nhos começam na compacidade da massa, variável, como sabemos de casa para casa. Tem a ver com a forma como levedou e subiu na preparação. Uma massa mais fofa adquiriu mais ar no processo e por isso pede um vinho

mais ligeiro, fresco, do que os bolos baixos e concentrados. Nestes pouco mais há a fazer do que compensar com um licor. Segue-se a cozedura do bolo, aspecto ligado sobretudo às gemas do prepa-rado original e que é sempre um de-safi o grande para a confrontação ví-nica. O elevado índice de ferro contido na gema litiga fortemente com os taninos do vinho, amargando, quan-do não mesmo azedando. A solução é evitar o choque frontal e trabalhar com vinhos cuja elegância e acidez fi xa per-mitam resolver as coisas mais nuclea-res. É por isso que se utiliza muitas vezes um vinho espumante. Segue-se a parafernália de frutos cris-talizados, que povoam o interior da massa e que, diga-se, afastam muita gente do bolo-rei. A fruta confi tada é boa amiga do vinho e na verdade sur-ge quase sempre nos tintos, doces ou não. Por aqui estamos a pisar chão seguro, mas mesmo assim devemos procurar pontes que consigam abar-car o bolo no seu todo, não apenas al-guns detalhes. Têm aqui lugar os li-corosos não muito velhos, colheitas tardias ou até mesmo os portos bran-cos secos, categoria injustamente re-legada para segundo plano. Quando passamos para o bolo-rainha, a tónica recai nos frutos secos torra-dos e logo somos levados para o pa-trimónio do Porto tawny ou, em casos especiais, Vinho da Madeira. A envol-

vência é grande e a combinação é das mais sedutoras que se consegue em combinações de vinho com comida; pa-recem feitos um para o outro. As variantes mais recentes do bolo-rei, como é o caso da chila e do doce de ovos merecem atenção porque estão a encontrar adeptos. Afi nal, ninguém diz não a adoçar a boca e sempre é uma forma de variar. Nestes casos, é nos recheios que nos devemos concentrar e em princípio não será preciso ir até ao vinho tinto velho – ideal, por exemplo, para trouxas de ovos –, já que a massa do bolo sempre tem os seus imperativos. O corte da acidez de um Madeira pode ser instrumental para penetrar no com-plexo sólido, com a frescura que se lhe reconhece. Em casos especiais, o colheita tardia também pode funcio-nar bem. Há, como sempre, que experimentar, através de provas e contraprovas. Mas essa é a parte mais fácil!

Quando passamos para o bolo-rainha, entramos no território do Porto tawny ou, em casos especiais, Madeira

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harmonias

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Vértice Douro Espumante rosé 2012O espumante rosé é aposta segura no en-contro tanto com a doçaria como com co-mida forte em gemas. Possuidor de uma aci-dez pronunciada, acompanhada do gás das suas bolhinhas, consegue entrar facil-mente no bolo-rei.

Andresen Porto White 10 anosEncontra bom parceiro na massa brioche do bolo-rei “standard” e é uma categoria de vinho do Porto que geralmen-te é competente a acompanhar a nossa doçaria. Urge por isso redescobri-la.

Graham’s Porto 10 anosA entrada directa no património dos frutos secos torrados trans-forma o conjunto num candidato natural a melhor harmonização com o chamado bolo--rainha. A sua abran-gência vai mais além, funcionando bem com todas as outras varian-tes.

Alambre Moscatel de Setúbal 10 anosHarmoniza na plenitu-de o património clássi-co da fruta cristalizada presente no bolo-rei, com a vantagem adi-cional de acompanhar os “novos formatos”, de chocolate, com chila ou doce de ovos.

Blandy’s Alvada 5 Years OldO vinho da Madeira é o mais universal dos vi-nhos portugueses de sobremesa. Forte em doçura, mais forte ain-da em acidez, resolve bem todos os pontos de açúcar e as gemas presentes na nossa doçaria. Com o bolo-rei há uma envolvência que preserva sabores e aromas.

Casal Sta. Maria Reg. Lisboa Colheita Tardia branco 2011Este colheita tardia de características muito especiais gosta de de-safi os diferentes para mostrar a sua raça. No bolo-rei escolhe a fruta cristalizada para depois envolver o componen-te brioche, quase crian-do uma nova sobreme-sa na boca.

* Vinhos para o Bolo-Rei

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entrevistas mundanas

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Sabia que os grelhados em brasas de velhas pipas ganham um sabor especial? Qual foi o melhor vinho feito em Portugal nos últimos 40 anos? E alguma vez ouviu uma moda alentejana cuja letra é a receita da açorda? Pois. Luis Antunes perguntou, os entrevistados responderam e todos nós aprendemos.

* TEXTO Luis Antunes

José Neiva CorreiaNasceu na Quinta de Porto Franco, Alenquer, em 1949. Fez a formação de Engenheiro Técnico Agrário na hoje Escola Superior Agrária de Santarém e estagiou no Centro Nacional de Estudos Vitivinícolas, em Dois Portos. Em 1974 começou a trabalhar na Adega Cooperativa de Torres Vedras, convidado por Octávio Pato. Fez ainda aperfeiçoamentos em França e na Alemanha. Teve intensa actividade como consultor nas décadas de 80 e 90, e fundou a DFJ em 1998, da qual desde 2005 é o único proprietário. Recebeu o prémio Senhor do Vinho da Revista de Vinhos em 2014, ano em que completou 40 anos de carreira.

Qual foi o primeiro vinho mesmo bom que provou, e o que o fez decidir pela carreira em enologia? Entrei na Enologia através da investigação - “Caracterização enológica da região do Oeste”. A região do Oeste entretanto mudou o nome para Estre-madura e recentemente para Lisboa. Porém, foi o convite de Oc-távio Pato que me fez entrar na Enologia de forma profi ssional em 2 de Maio de 1974.

Dos seus estudos e viagens no estrangeiro, conte-nos dos vinhos que mais o impressionaram. Algum teve infl uência nas suas opções enológicas? Em todas as minhas viagens guar-do tempo para provar o que fazem os meus colegas. Já provei mui-tos vinhos excelentes e cada vez menos péssimos. Dos excelentes, alguns fazem-me sonhar no prazer que me dariam com a família e com amigos. São esses que me fazem falar com o seu enólogo. Estou sempre a aprender e a surpreender-me.

Inox, cimento, barricas, tonéis, o que prefere para estagiar os seus vinhos? Alguma vez irá recuperar o parque de tonéis gigantes da Quinta da Fonte Bela? Para usar ou para museu?

Evitava os tonéis devido à difi culdade em fazer uma correcta e efi caz assepsia. Excepto se trabalhasse com brancos estagiados ou vinhos generosos. Os tonéis gigantes da Quinta da Fonte Bela são peças de museu.

Qual a sua praia preferida? E o pôr-do-sol mais deslum-brante? S. Martinho do Porto. Praia do Espelho, próximo de Porto Seguro.

Escolha uma personagem de banda desenhada. E uma sua aventura que gostasse de viver. Qualquer aventura do Marsu-pilami.

Proíba um programa de televisão. E passe um outro para o horário nobre. Recuperava o “Se bem me Lembro”, do Vito-rino Nemésio, e acabava ou reduzia todos os programas com co-mentadores apenas de futebol.

Que número calça? Qual a sua cor favorita para sapatos? Calço 43. Castanho. Escolha um outro país para viver. Chile Qual foi o melhor vinho feito em Portugal nestes 40 anos?

Sem pudores! Mateus rosé. Que nome nunca daria a um fi lho? Álvaro ou Mário. Qual o melhor momento de uma tourada? A pega.

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Emílio Santos OliveiraMestre Emílio, nasceu em 1951, em Grijó, Vila Nova de Gaia. Estudou em Grijó até à quarta classe. Com 9 anos e meio saiu para a J. Aguiar, em Grijó, onde aprendeu o ofício de tanoeiro. Trabalhava para a Graham’s e outras casas. Em 1986 mudou-se para a Graham’s, para liderar a equipa de tanoeiros, cargo que mantém até hoje.

Qual o tamanho ideal para um casco de Vinho do Porto? Há muitos formatos: oitavos de pipa são 68-70 litros, os quartos de pipa são 138-140, a meia pipa 268-270 litros, a pipa 528-530. Os cascos vão de 610 a mais de 700 litros. Há depois bombos, que são tonéis curtos, mais redondos, com 700-800 litros, e piparões de 800 e tal litros. Os tonéis são redondos e vão de 3-4 pipas até 200 mil litros. Os balseiros têm as aduelas na vertical e começam nos 5000 litros até 400 pipas, mas há maiores. Na nossa adega o mais frequente é cascaria em carvalho. As pipas eram usadas para exportação. Eram 500 litros, o excesso apareceu para não prejudicar o comprador.

Há muitas madeiras exóticas nos cascos antigos? Qual gosta mais de trabalhar? Para exportação usavam-se pipas em cas-tanho, o carvalho é mais caro. Havia mogno, acácia, vinhático, mas para o Vinho do Porto usamos carvalho.

Quantos anos demora um casco novo a estar feito? Avinhar um casco demora cerca de 10, 20 anos ou mais, depende do vinho. O vinho faz a vasilha e a vasilha faz o vinho.

Qual o casco mais antigo que já trabalhou? E o maior? Na sua vida quantas pipas já renovou? Lá na adega estão marca-dos, o mais antigo é de 1907. Os maiores são os balseiros de 400 e tal pipas, que estão no Douro, na Quinta de Santa Maria, na Régua. Quantas é impossível dizer, são muitos milhares.

Com que idade começou a aprender o ofício? Nove anos e meio. Diziam-me: “Quando vires um homem de camisa bran-ca ou de fato, foge.” Só com 14 anos fui devidamente inscrito.

Há futuro para a profi ssão de tanoeiro? Por que é que os

jovens não se interessam por aprender? Futuro há. Ainda há homens de 30 e tal, 40 anos. Os jovens não querem vir porque é pesado, sujo, e muitas tanoarias fecharam. Há uns anos no Douro fi zeram um curso de formação, apareceram mais mulheres do que homens, mas depois fugiram todas. Para aprender é preciso ter gosto pela arte.

Nos cascos fi ca sempre um fundinho de vinho? Prova-o? Conte--nos do melhor vinho que já provou. Por acaso esta semana es-tivemos a tirar dois tampos, e havia lá um fundinho. Dantes, quando chegava uma vasilha à ofi cina, os velhotes punham logo lá debaixo uma folha (uma espécie de regador) a apanhar os restos. Juntavam aquilo num garrafão, punham até água, o vinho assentava e lá se be-bia um copito. Às nove horas passava uma pessoa com uma folha e distribuía uns copos de vinho, de mesa e do Porto. Antigamente o vinho era pouco e mais resguardado. Hoje as pessoas já não ligam tanto. Antes era quase como uma conquista. Aqui na Symington há grandes vinhos, o Ne Oublie e outros, nisso temos muita sorte.

O que gosta de fazer nas horas vagas? Andar no quintal, cultivar pimentos e tomates. Andar ao ar livre. Alivia o stress.

Costuma fazer brasas com madeira de velhas pipas? O que mais gosta de grelhar? Isso mesmo, para assar é uma maravilha, até parece que os grelhados ganham mais sabor. Umas sardinhas ou carapaus. Antigamente era na tanoaria que fazíamos isso.

Se pudesse mudar a sua ofi cina de sítio, onde gostava de tra-balhar? Da janela o que se vê? Punha-a à beira-rio, onde toda a gente nos pudesse ver a trabalhar.

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entrevistas mundanas

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António Zambujo Nasceu em Beja em 1975 e cresceu a ouvir o cante alentejano. Entre as suas influências de sempre estão a harmonia das vozes, a cadência das frases e o tempo de cada andamento. Começou a estudar clarinete com 8 anos e apaixonou-se pelo fado ainda em pequeno. Aos 16 anos ganhou um concurso de fado. Mudou-se para Lisboa, tocou no Clube de Fado, em Alfama, e integrou o musical “Amália” durante 4 anos. Editou o seu primeiro disco em 2002. Seguiram-se mais discos, vários prémios e concertos em Portugal e muitos outros países. No fim de 2014 lançou o seu sexto álbum de estúdio, “Rua da Emenda”.

Quantas horas por ano passa à mesa? E num palco? E em estúdio? E em viagem? Algumas. Menos. Muito menos. De-masiadas...

Diga-nos um prato alentejano que não suporte. E outro que seja irresistível? Pezinhos de coentrada. Açorda.

Qual a percentagem de vezes em que bebe vinho em copos com jeito, e em copos sem jeito. Ainda vale a pena tentar in-sistir no uso de bons copos ou no fi m de contas tanto faz? Beber vinhos em maus copos incomoda-me muito. Copos de plástico então, é inaceitável.

Prefere tintos, brancos, abafados, espuman-tes? Escolha um seu preferido em cada ca-tegoria. Prefi ro tintos e não bebo espu-mantes.

Tem alguma dedicação aos vinhos alentejanos ou vai espalhando as suas escolhas? Revele-nos a distribuição da sua garrafeira. Entram estran-geiros? Gosto muito dos vinhos da minha terra, mas prefi ro os do Douro. Quer do Douro português, quer do Dou-ro espanhol. Também já bebi bons vinhos franceses, argentinos, chilenos, austra-lianos, americanos.

Qual o melhor cozinheiro que co-nhece? E qual o melhor restaurante

onde já comeu? De um e outro diga-nos um prato memorável. O melhor cozinheiro que conheço é a chefe Adelaide, da Tas-

quinha da Adelaide, em Lisboa, no bairro de campo de Ourique. E o melhor prato que ela faz é uma paleta de cordeiro no forno, com batata a murro e grelos salteados. Dá-me vontade de chorar só de pensar.

Gosta de cozinhar? Qual a sua especialidade? Eu sou um bom garfo mas infelizmente não sei cozinhar.

Qual a sua canção mais gastronómica? Escolha um vinho para beber com ela. Cada coisa no seu sítio. Enquanto se can-

ta não se bebe. Só depois. Com que enólogo ou enóloga gostaria de cantar

um dueto? Só faria um dueto com um enólogo numa adega.

Escolha uma erva aromática. Tem canção? Há sabores para as canções? Hortelã da ribeira é a minha erva aromática preferida, mas gosto muito de todas. No cancioneiro tradicio-nal alentejano há muitas modas dedicadas às ervas, até há uma que é a receita da açorda.

A vida de músico é boémia? Liga-se ao que se come e ao que se bebe? Ou vai-se an-dando ao sabor da estrada? Onde me sin-to melhor é sentado à mesa com amigos. Mas gosto de comer e beber bem. Procuro ser o mais

epicurista possível. Tento conhecer.

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José Bento dos Santosa palavra do gourmet

Será que a gastronomia portuguesa tem um potencial efectivo que lhe augura um futuro brilhante? E por que razão demora a sua afi rmação internacional?

Pairando sobre

a Gastronomia (I)

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Chicago, Outubro de 2014. A Academia Internacional de Gas-tronomia entrega o seu mais importante galardão “Grand Prix de l’Art de la Cuisine” ao Chefe Grant Achatz (ver Revis-ta de Vinhos Agosto e Setembro 2014) e cabe à Academia Portuguesa, como proponente, fazer o discurso de circuns-tância. O tema é obviamente, “Arte”, e parece fatal relacionar a arte fractal e os seus algoritmos, com Pollock, a matemáti-ca pura e o “happening” da construção da sobremesa com que terminam as refeições no Alínea.A curiosidade do tema permite, depois do jantar, fi car à con-versa. Fala-se de muita coisa e, de entre elas, o Chef Grant Achatz lança uma ideia-desafi o: que tal fazer um dos progra-mas temáticos no seu restaurante NEXT sobre a cozinha de Portugal? Refere o seu conhecimento e encanto pela catapla-na (adorou o livro que lhe tinha sido oferecido “Cataplana Experience”), fala do seu amigo George Mendes (Aldea, NY, que acaba de publicar um maravilhoso livro de culinária in-titulado “My Portugal”), na possibilidade de convidar algum Chef português que seria o “realizador” deste guião, entu-siasma-se e já menciona que gostaria de visitar Portugal.No regresso, naturalmente maravilhado com a ideia, tenho a oportunidade de a transmitir e contagiar a vários amigos, alguns dos quais responsáveis e interventores. Que se aper-cebem de imediato das potencialidades que uma realização deste tipo traria para o nosso país: a cozinha portuguesa re-presentada ao mais alto nível num restaurante tão mediático como o NEXT, que comunica não só nos EUA mas para todo o mundo.

ARQUITETURA, MÚSICA, CULTURAOuço falar na rádio um emigrante português radicado em Chicago, referindo-se à região como se fosse “o nosso Alen-

tejo”, onde há tempo e calma para fazer tudo, em contraste com o bulício e o stress de Nova Iorque.É essa capacidade de “ser dono do tempo”, qualidade cada vez mais rara, quanto todos sujeitos a essa impiedosa variável tempo tão escassa, que se sente em Chicago, que me permi-tiu programar a audição de uma superior interpretação da 5ª Sinfonia de Mahler pela Orquestra Sinfónica de Chicago di-rigida por Jaop Van Zweden. Sempre recordarei para mim próprio a minha mais gratifi cante intervenção “gastronómi-co-musical”, quando, a convite do Banco Santander, tive a oportunidade única de apresentar na Casa da Música, no Porto, uma intervenção sobre a dita sinfonia, onde foi pos-sível embeber a audiência nos meandros da partitura através de diversas degustações culinárias adequadas, cada uma, a cada um dos cinco andamentos que a compõem. Escutar de novo esta sublime partitura foi comovente. Para mim.Anunciado no Symphony Center de Chicago estava uma con-ferência de uma grande fi gura universitária e musical sobre Arte, a que me propus assistir. Surpreendeu-me (será que é mesmo surpreendente?) que o orador tenha referido que “o que faz fl orescer a Arte nos EUA é a ausência de subsídios”. Os artistas, sejam eles músicos, autores de teatro, poetas, pintores ou arquitectos, têm de conceber as suas obras para um público que as aprecie. Porque, se não, é a “imposição” da arte e… referindo expressamente que a generalidade da política cultural praticada na Europa é totalmente diferen-ciada porque a subsidiação faz parte dessa política.O tema é aliciante e seguramente provocaria um debate aceso com defensores e detractores da política cultural, hábitos, formas, uma discussão rica e talvez infi ndável, cujas várias experiências em vários locais e em diversos contextos, per-mitem ir aquilatando da bondade de uma ou de outras soluções.

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a palavra do gourmet

Proponho que levantemos vôo e pairemos, lá do alto, sobre o tema: a gastronomia portuguesa

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tas culinários. A História pôs-nos em contacto com povos de culinárias evoluídas que, como os romanos ou os árabes, nos deixaram heranças de receituário e técnicas culinárias fabu-losas. Acresce o nosso papel nos Descobrimentos, onde inun-dámos a Europa de novos produtos (não só as especiarias mas muitos outros que modernizaram toda a culinária europeia). Levámos café e cana-de-açúcar para o Brasil, levámos para lá o arroz e trouxemos o feijão.Tivemos cultores da grande cozinha que deixaram marcas notáveis, como Vincent la Chapelle, cozinheiro francês de alto gabarito que foi cozinheiro do rei D. João V, Domingos Rodrigues e, depois, mais recentemente, João da Mata, João Ribeiro e todos os outros até à actualidade que tão bem sou-beram preservar e desenvolver este património inestimável. Fomos abençoados com uma cozinha popular que foi capaz de criar uma matriz de gosto português e uma burguesia de-dicada ao serviço da mesa que soube apresentar, compor e elevar essa matriz a pratos de antologia.Os nossos escritores sempre dedicaram nos seus escritos louvores a tão excelsa culinária.Com todo este acervo de dotes magnífi cos a nossa Culinária nunca se conseguiu impor além-fronteiras, não é conhecida nem reconhecida pelos estrangeiros, excepto pelos que nos visitam e que têm a oportunidade de a experimentar, que-dando-se então defi nitivamente encantados.

O DEBATE E A GASTRONOMIASe o debate não for preconceituoso, se os envolvidos não se fecharem nas suas ideias como tabernáculos, se o objectivo não for apenas debater, mas tentar chegar a algumas conclu-sões, talvez seja então possível reconhecer que todos os par-ticipantes têm o seu quinhão de razão e que as soluções a apontar poderão variar caso a caso, no tempo, no modo e no espaço, tendo em conta as circunstâncias, as difi culdades inoxeráveis dos meios de fi nanciamento, as prioridades (que envolvem também as prioridades dos outros sectores) e po-der-se-ia imaginar que com este desenvolver de discussão inteligente, se chegaria a resultados efectivos.Mas, perguntará o meu caro leitor, que tem isto tudo a ver com a gastronomia, nomeadamente a portuguesa?Proponho então que levantemos voo e pairemos sobre o tema em causa, a gastronomia portuguesa. Tal como as aves que cortam os horizontes e não se apercebem que o solo está pejado de cercas, de muros, de divisórias que nos obstacu-lizam a marcha a pé, olhemos por de cima para a nossa rea-lidade gastronómica, sem preconceitos, sem barreiras, sem “parti pris”.A Natureza dotou-nos de uma imensa diversidade de solos e de climas, proporcionando-nos produtos culinários de al-tíssima e até única qualidade, em grande número e capazes de gerar paletas de gostos e sabores aos mais exigentes artis-

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cozinheiros, dos amadores aos profi ssionais do sector, mas também todas liminarmente condenadas ao fracasso, por-que até hoje não produziram o resultado almejado: o reco-nhecimento do valor da nossa gastronomia.A questão, como a Fénix, morre e volta a nascer e nasce em muitos locais e conduzida por muitas entidades ofi ciais e pri-vadas dedicadas, mas carece sempre de um desígnio comum, de uma coordenação que obedeça a um plano ou a uma es-tratégia (oh, como este país é tão fraco a planear!).E voltamos sempre à discussão estéril, de apontar as causas e as razões às culpas dos “outros”, ao gosto opinativo incon-sequente, à dialéctica incorrigível dos que se gostam mais de se ouvir a si próprios do que em fazer e actuar em defi nitivo.Por isso tudo, a questão do NEXT, do tema da cozinha portu-guesa a ser apresentada num restaurante tão mediático, po-derá constituir um notável contributo para a divulgação da nossa gastronomia.

PORQUE TARDA O RECONHECIMENTO?Somos um país pequeno e pobre, mas rico, muito rico em detalhes, um deles a nossa Culinária. E como é possível que países como a Dinamarca (e os outros países nórdicos), des-pidos de um qualquer sentido de gosto, com falta de produ-tos de gabarito palático, estejam hoje alcandorados a estrelas mundiais da gastronomia, dando origem a um número inu-sitado de visitas exclusivamente para praticar turismo culi-nário, em detrimento do nosso Portugal, com todas as con-dições potenciais para ocupar tal lugar?A chave só pode estar no desconhecimento. Nunca soubemos (ou fomos capazes, ou tivemos meios para isso…) divulgar esta nossa magnífi ca culinária de sabores humanos profun-dos e ricos, inesquecíveis desde a primeira degustação. Todas as tentativas (e as que tenho acompanhado e participado ao longo de todos estes anos foram muitas), todas elas prenhes de boas intenções, todas elas com participação generalizada e entusiástica de gente de todos os sectores, dos políticos aos

a palavra do gourmet

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“Bon Apetit Lisboéte”O Chef Walter Blazevic é um francês alsaciano que recolhe em si o conjunto de qualidades que é capaz de promover uma refeição a um momento de prazer sublime. Na sua carreira passou por casas tão importantes quanto os restaurantes Tour d’Europe (Mulhouse), Hotel Euler (Bâle), Carlton (Cannes), Les Roches (Lavandou), Hotel Palace (Lausanne), L’Ermitage (Clarens) e, já em Portugal, fez jus aos seus fogões nos restaurantes La Provence (Portimão) e O Barco (Óbidos).Abriu fi nalmente em Lisboa, na Calçada Marquês de Abrantes, no 94, em Lisboa

(antigo Alma), o seu restaurante, o sonho da sua vida: o LISBOÉTE, onde a sua paixão por cozinhar legumes é demonstrada à evidência pela apresentação de acompanhamentos distintos, altamente saborosos e que coadjuvam entradas, peixes e carnes de requintado gosto. Eis uma cozinha exemplar, moderna quanto baste para nos surpreender, mas com um compromisso com a tradição que nos faz sentir pungentemente felizes.A ementa foi, sente-se, criteriosamente elaborada e, ao lê-la, apetece revisitar o

restaurante pela salivação conseguida pela sua leitura.Uma curiosidade para os amantes da linguística gastronómica: o menu está escrito em três línguas, a francesa de veia original onde é conseguida uma poesia quase “cantabille” para as criações apresentadas, o português naturalmente, numa “tradução” onde se percebe a difi culdade natural para atingir o desiderato anterior e também o inglês obviamente técnico e descritivo.E o cardápio termina com um bem promissor “Bon Apétit”!

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Entrada: Entrada - Maguro Tataki Netta Style (Atum

brazeado em laminas com ponzu e alho tempera)

Prato Principal - Izakaya 31 unidades (9 sashimi variados,

16 sushi variado e 3 tapas japonesas)

Sobremesa - Trilogia de Panacota Japonesa

A M80 E A REVISTA DE VINHOS CONVIDAM UM RESTAURANTE E UM CONCEITUADO CHEFE PARA CRIAR UM MENU INSPIRADO NUM TEMA MUSICAL

Este mês, o chefe inspirou-se em:

Chef Will Araújo

MENU RESTAURANTE QUARENTA E 4

FAÇA JÁ A SUA RESERVA!Morada: Rua Roberto Ivens, 44 • 4450-246 Matosinhos

Reservas: +351 229 363 706

Mail: [email protected]

Site: www.quarentae4.comInformações: www.m80.clix.pt Preço por pessoa: €32,5 (bebidas não incluídas)

Menu disponível no restaurante Quarenta e 4 até ao dia 15 de Fevereiro de 2015Horário: Segunda a Sábado: 20h00 às 24h00

HOLDING BACK THE YEARSSIMPLY RED

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A SEGUNDA BATIDA DO CARTEIRO

Luís Antunes é professor universitário e redactor da Revista de Vinhos

Foi o tempo em que o nosso próprio isolamento geográfi co e depois político impediram que os Cabernets deste mundo nos invadissem, e que uma viticultura científi ca tivesse es-colhido meia dúzia de castas, de preferência uma por local, de forma a “optimizar” o que quer se pensasse que era o me-lhor para aquela região, aquele clima, aquela gastronomia, e em última instância, aqueles bebedores. Essa viticultura mo-derna, junto com a enologia moderna, acabaram por chegar. Mas quando chegaram já havia tanto peso da nossa tradição secular que não foi tão fácil assim impor regras descobertas noutros e para outros sítios. Mas, como muitos se lembrarão, ainda se receou a invasão do Cabernet. A convicção de que o nosso vinho era o melhor do mundo deve fundar-se nessa pré-história e muito deverá à ignorância pura: claro que era o melhor vinho; pois se ninguém provava outros…

Mas a era moderna veio, e o mundo acelerou-se. Quando as nossas castas começam a brilhar em vinhos estremes e em lotes, e se começa a redesenhar o mapa do vinho nacional, já havia no sector quem conseguisse apreciar o que se estava a passar e a vislumbrar o futuro. A partir da segunda metade do século XX, muitas experiências se fi zeram, muitas vinhas fo-ram plantadas, reestruturadas, centrou-se a produção não na quantidade, mas na qualidade. E, em muitas regiões, começou a procura de uma identidade, já que a diferenciação, subita-mente apreciada por um mercado internacional que descobria os vinhos portugueses, era garantida sem esforço, pelo tal peso da pré-história e pela inércia natural do sector agrícola. Os vinhos que então se criaram e desenvolveram, principalmen-te a partir do princípio dos anos 90, traziam uma tradição me-lhorada pelos conhecimentos técnicos. A imprensa interna-cional sempre apoiou este surgimento. Mesmo o Vinho do Porto, que sempre tinha estado em posição internacional de grande prestígio, teve um forte empurrão com a descoberta de novos mercados, como o americano e o português.

Mas pela viragem do milénio, de repente parecia que o mun-do se tornava mais difícil para os vinhos portugueses. Uma certa facilidade em vender vinhos caros em Portugal tinha feito com que alguns produtores dependessem em exclusi-vidade do mercado nacional. O vinho português, de tantas vezes ser chamado “next big thing” começava a não ser no-vidade para ninguém, e faltavam os vinhos de gama média que conseguissem estar presentes com vendas de monta. As vendas dos vinhos de topo raras vezes ultrapassavam os pou-cos milhares de garrafas, naturalmente destinadas a apre-ciadores. Outros países modernizavam também os seus vi-nhos e apareciam com propostas exóticas, disputando o terreno da “novidade.” Então veio a crise, e todo o sector se mobilizou para a expor-tação. Algumas colheitas de bom nível ajudaram a suportar

este movimento. A imprensa internacional voltou a olhar para os vinhos portugueses, e descobriu que já não estavam só no terreno da curiosidade. As castas portuguesas, com no-mes difíceis e impronunciáveis, já tinham sido tantas vezes faladas que já não eram desconhecidas. O conceito de lote, tão central no vinho português, também já estava divulgado e aceite. Nos píncaros deste movimento, a recente lista Top 100 da “Wine Spectator”, com 3 vinhos portugueses nos pri-meiros 4 lugares, mas também excelentes notas a começar a aproximar-se da perfeição em revistas infl uentes como a “Wine Advocate” ou a “Wine&Spirits”. Entramos em 2015 com os olhos do mundo postos em nós. O carteiro, que já ti-nha batido à porta há anos, com o livro de Jancis Robinson, e o primeiro lugar ex-aequo do Taylor e Fonseca de 1994, aca-ba de bater pela segunda vez. Estamos prontos! É altura de colher os frutos de tantos anos de investimento. Com rigor, qualidade, identidade, presença, agressividade, confi ança. Há muito que dizemos que o vinho português está melhor que nunca, e em todas as gamas de preços. Vamos a eles!

Houve um longo período de pré-história no qual os vinhos portugueses construíram a sua identidade. Mas parece que chegou fi nalmente o Eldorado para o sector.

o fundo do copoLuís Antunes

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A convicção de que o nosso vinho era o melhor do mundo deve fundar-se nessa pré-história e muito deverá à ignorância pura

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temperançasFernando Melo

A ELABORAÇÃO DOS ACASOS

Fernando Melo é professor universitário e jornalista de vinhos e comida

Quando tudo parece acidental, há uma ordem maior que a um tempo nos confronta com o inteiramente novo e nos faz sentir que o esperávamos há muito. O processo criativo há-de estar sempre na berlinda e serão sempre uns a tirar outros das suas zonas de conforto.

Confi o nos criadores silenciosos e aprendi a só deles esperar ex-pressão verdadeira de vida, normalmente construída de acasos. O poeta uruguaio Horacio Ferrer, naturalizado argentino e autor de alguns dos mais belos tangos de sempre, acaba de subir à ba-laustrada defi nitiva do edifício maior da vida. Não sei o sufi cien-te para o afi rmar com a convicção necessária, mas posso dizer que foi dos poetas que mais palavras criou para conseguir dizer o que tinha na alma. Há um tango maravilhoso, “Balada para um louco”, em que o postulado é quase perfeito. Antes do esclarecimento que o levou a perceber que era poeta, ofi ciava como secretário na universi-dade em Montevideu. Impressionou-o muito um poeta que circulava na boémia de então e vendia por tostões ou trocava por uma bebida os seus poemas. Confessa mais tarde que houve uma frase que lhe fi cou na memória: “Os meus versos são maus mas são meus.” Escreveria mais tarde sobre o seu constrangimento:

“Eu nem sequer tinha versos meus.” A entrega vocacional cedo o força a corrigir a sua trajectória, exigindo-lhe em pouco tem-po um livro de poemas que chegou às mãos de Astor Piazzolla, que se rendeu ao colorido e, ao mesmo tempo, rigor dos seus versos. É preciso ter em mente que havia um grande senhor das letras, Jorge Luís Borges, que, merecendo embora a admiração do genial músico, não colheu a mesma empatia. Piazzolla foi taxativo na premência da partida de Ferrer para a Argentina: “Quero que tra-balhes comigo porque a minha música é igual aos teus versos.” Nascia nesse instante uma grande dupla, que viria a criar mais de 40 tangos, todos memoráveis. Ferrer, só por ele, compôs mais de duzentos. Os acasos exigem pessoas sensíveis para os identifi car devidamente e a intuição precede a razão.

MESTRES E APRENDIZESO convite de Piazolla carece sobretudo de tolerância em relação ao que escrevo; posso estar a ser omisso em detalhes cruciais. Mas goza do ingrediente crucial que me serve aqui: o segredo. “Vem trabalhar comigo” é uma frase relativamente vulgar, de que con-tudo é preciso intuir o sentido cósmico; aquele que é capaz de alterar toda uma vida. Há um modo maior na música das palavras que saem de quem nos desafi a e nas quais percebemos caminho de forma irredutível. É imanente, o processo que liga duas pessoas dessa forma. O mestre desafi a, o desafi ado passa a aprendiz e o fenómeno dá-se quando menos se espera. Talvez por se tratar de um produto fortemente normativo, o vinho do Porto vive desse passar de testemunho e ao mesmo tempo da responsabilidade grave de continuar o trabalho dos antigos. É uma espécie de osmose familiar; corredores tangenciais que par-tilham um fi o entre si, permitindo a passagem de para outro. Não

há discursos, há partilha. Depois, é todo o um desenrolar de me-mórias, programas e casos particulares que sai mal é estimulado, como tantas vezes em tertúlia acontece. Cada casa tem o seu percurso identitário, que não é apenas de sangue; a coluna vai engrossando à medida que novos membros vão alinhando com a espinha dorsal e acrescentando com o seu talento ao património já consolidado. Não se deve nem pode es-perar grande reconhecimento, menos ainda prémios; as coisas em família são assim mesmo. Entre cozinheiros ainda é pior. Não temos muitos exemplos por cá; ainda não. Temos restaurantes tradicionais que têm passado o fogo à geração seguinte, mas o conhecimento não está estrutu-rado a ponto de conseguir defi nir uma escola. Anne-Sophie Pic, três estrelas em França, acaba de reforçar a importância de per-

“Vem trabalhar comigo” é uma frase relativamente vulgar, de que contudo é preciso intuir o sentido cósmico; aquele que é capaz de alterar toda uma vida.

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manecer perto do edifício das memórias, quando afi rma em en-trevista que a cultura do gosto faz parte da sua história; os Pic não se sentavam à mesa apenas para se alimentar, o prazer era mais importante.Já vão em mais de cem anos de estrelas Michelin e Anne-Sophie só quer ouvir falar de simplicidade e plenitude dos sentidos. De talento inegável, foi provavelmente a exposição continuada aos princípios liminares da sua família que fez com que chegasse onde nenhum dos seus antepassados chegou. No entanto, é a primeira a dizer que tiveram importância crucial os que a precederam; e que foram os seus mestres. A beleza de permanecer, em todo o seu esplendor.É centenário o utensílio utilizado para cortar as fi nas lâminas das cristas da Casa Lapão, em Vila Real, legado depositado na família Cramez por mão própria. Qualquer coisa ia nas almas de Mique-lina Cramez e Francisco Delfi m quando Delfi na, amiga do casal, achou que deveriam ser eles os fi éis depositários das receitas e alfaias originais, utilizados há muito tempo no convento de San-ta Clara de Vila Real. Foi a irmã desta amiga especial que provocou a avalanche que fez com que Delfi m deixasse a profi ssão de pintor da construção civil. Artur Cramez, actual proprietário, tem com as suas fi lhas Álea Zita e Rosa Maria assegurado a continuidade da casa, assegurando a liderança. Mais um caso de convite familiar sistematicamente renovado para a geração seguinte e que pode funcionar ou não.Sei que qualquer um dos casos que aqui evoquei é tudo menos silencioso. Alguns são até muito barulhentos, com quotidianos violentos, a ponto de fazer perder o norte e esquecer as motivações originais. Mas há um silêncio que facilmente adivinhamos, aque-le em que de repente tudo se alinha e gera uma nova ordem das coisas. Um copo de vinho do Porto de antologia, servido no acon-chego dos amigos. Um prato que nos faz disparar os sentidos, por ter história e por ter sido feito por mãos sábias, de um talento de que nem o próprio se dá conta e ainda bem. Uma qualquer espe-cialidade que tendo atravessado gerações se imagina diferente e em simultâneo a mesma de sempre. Então, em todos os casos vemos sorrisos e percebemos que está tudo certo.O primeiro tango de Horacio Ferrer foi musicado por Astor Pia-zzolla e chamava-se “Grela”, que em vernáculo local quer dizer prostituta e que o poeta considerava “a proletária do amor”. O gigantismo de alma, ligado à perfeição musical. De novo as pala-vras de PIazzolla: “A minha música é igual aos teus versos.” Dis-creto e irrecusável. O que todos gostávamos de ouvir.

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Por ocasião do lançamento do mais recente Private Selection branco do Esporão, a empresa deu a oportunidade a alguns jornalistas de poderem confi rmar a longevidade dos seus vinhos alentejanos, não só dos Garrafeira (também denominados Private Selection) mas também dos Reserva da casa.

Confi rmar signifi ca voltar a fi rmar, corroborar, consta-tar algo já conhecido. E foi isso que fi zeram aqueles que provaram alguns Reserva e Private Selection do Esporão para mais uma vez conluirem que estes vinhos alente-janos conseguem e sabem envelhecer em garrafa. No âmbito da apresentação do novo Private Selection bran-co – na colheita de 2013, a mais fresca de sempre, e uma das melhores edições – provaram-se também as versões de 2011 e 2012, a revelarem consistência e boa evolução, com destaque para o fantástico volume de boca do 2011. Ainda no capítulo dos brancos, provou-se o Reserva 2013, já notado em edição anterior da revista e que se mostrou, novamente, muito elegante na vertente vegetal e com enorme equilíbrio. Nos tintos provaram-se os Private

Selection de 2009 e de 2011 (não se produziu em 2010), com este último a impor-se como um dos melhores nectáres produzidos pelo Esporão, como de resto o painel de topos de gama do Alentejo o confi rmou (na edição de Dezembro de 2014) com a atribuição da nota mais elevada em ex-aequo.A ocasião foi assim festiva, com o lançamento de uma grande edição de Private Selection branco e com a opor-tunidade de provar outros belos vinhos da casa. Opor-tunidade também para João Roquette e Luís Patrão ates-tarem que uma nova adega estará pronta para receber a próxima colheita e que parte da colheita de 2014 já foi nela vinifi cada. Tratar-se-à de uma adega para topos de gama, substituindo, assim, a velhinha Adega de Lagares

TEXTO Nuno Oliveira Garcia * NOTAS DE PROVA João Paulo Martins * FOTOS Ricardo Palma Veiga

ESPORÃO

lançamento*

PRIVATE SELECTION BRANCO 2013

Sustentabilidade: João Roquette (administrador) e Luís Patrão (enólogo) enfatizam as preocupações ambientais do Esporão

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construída nos anos 90 do século passado quando já existiam topos de gama na casa mas não nas quantidades que hoje se produzem (considerando aqui as gama Re-serva, monovarietais e, claro, Private Selection-Garra-feira).João Roquette dissertou ainda sobre as preocupações ambientais presentes na construção da nova adega – a preservação do ambiente tem sido um mote muito visí-vel da empresa –, que tem lagares de mármore e, entre outros aspectos, um revestimento externo tradicional recorrendo a madeira coberta de cal no exterior e preen-chida por argila, uma solução natural, não dispendiosa, e que garante um isolamento térmico efi caz que ao mes-mo tempo permite as paredes respirarem.

17,5 €20Esporão Private SelectionAlentejo branco 2013EsporãoBons vegetais no aroma, fruta verde, madeira discreta, citrinos discretos mas presentes. Fino e elegante. Acidez ponderada mas presente, perfi l de bom porte, macio, boa proporção do conjunto. Resulta de grande nível (14%)

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O Abandonado nasceu no meio de difi culdades, mas atingiu o sucesso. Parece o argumento de uma novela, mas é a história de um vinho. O quinto episódio,

com a colheita de 2011, traz-nos todo o esplendor de um ano mítico

Tudo neste vinho é excepcional. A começar, claro, pela sua história e pelo local onde nasce. Em menos de uma década, o Abandonado, o tinto que Domingos Alves de Sousa e o seu fi lho Tiago resgataram do esquecimento, transformou-se numa das mais icónicas marcas por-tuguesas. Por causa das suas qualidades sensoriais, certamente, mas também porque tem uma grande história. E não há melhor do que um vinho com história.Esta do Abandonado é uma verdadeira saga e conheceu em Dezembro o seu quinto episódio. Depois da estreia com a colheita de 2004, a que se seguiram novas edições em 2005, 2007 e 2009, foi agora apresen-tada em Lisboa a colheita de 2011, um ano que antecipa imediatamen-te qualquer coisa de marcante quando se fala do Douro. E o mínimo que se pode dizer é que este novo Abandonado se mostra à altura dos pergaminhos dos seus antecessores, expressando toda a grandiosi-dade de um ano excepcional e refi nando a elegância e a força que são a marca distintiva do seu terroir. Esta identidade muito própria fi cou bem patente no já tradicional encontro anual que a família Alves de Sousa promove com a impren-sa especializada. Porque o Abandonado 2011 foi provado no fi nal de

uma sessão vertical que passou por todas as colheitas anteriores. E se Tiago Alves de Sousa começa por confi denciar que “o Abandonado 2004 talvez precise ainda de mais 10 anos para chegar à sua plenitude”, a verdade é que acaba por confessar de seguida que já são poucas as garrafas que restam…Isto porque a chegada do topo de gama da Quinta da Gaivosa ao mer-cado teve contornos de cometa: o vinho apareceu, brilhou intensa-mente e foi-se. Felizmente para os enófi los, este é um cometa que regressa regularmente… No ano de estreia, foi saudado pela impren-sa nacional e estrangeira, que viu ali um dos expoentes máximos da vitivinicultura portuguesa. E esse sucesso retumbante signifi cou o início de uma história, onde antes estava apenas previsto um epílogo.“Quando decidimos fazer a vindima da vinha do Abandonado em 2004, não era para nascer um vinho, era para recolher informação sobre o que havia no terreno, com vista à replantação da vinha”, assu-me Tiago Alves de Sousa. Antes, o seu pai tinha recordado detalhes sobre o “abandono” a que estava sujeita esta pequena parcela “pen-durada” nas encostas mais altas (450m) da Quinta da Gaivosa, em vertiginosas vertentes com mais de 30 graus de inclinação.

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TEXTO Luís Francisco * NOTAS DE PROVA João Paulo Martins * FOTOS Ricardo Palma Veiga

Continua a saga do Abandonado

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18 €85AbandonadoDouro tinto 2011Domingos Alves de SousaMuito jovem, boa fruta madura e notas de erva seca, resinoso, tenso. Na boca há taninos fi nos, uma boa integração da barrica e a acidez está perfeita, texturado e volumoso, um tinto em crescimento, mais acessível que em anteriores edições. (15%)

Preparada à mão há muitas décadas, a vinha tinha sido vítima da erosão em várias zonas, abrindo falhas por força das cepas que não resistiram ao passar dos anos. Todas as tentativas de replantação redundavam em fracasso – as plantas jovens não conseguiam agarrar--se ao xisto quase nu, que em algumas zonas afl ora directamente à superfície. A vinha do Abandonado parecia condenada.E então veio a tal vindima separada de 2004. E o que dali saiu foi um vinho com uma personalidade única. Como num argumento de fi lme, o herói salva-se quando tudo parecia perdido… “Não é pôr violinos a tocar, é mesmo a história real”, brinca Tiago. E o resto foi sempre em crescendo. Hoje, quando falamos de vinho, Abandonado é sinó-nimo de carácter e excelência. Uma ideia que sai reforçada pelo facto de só ser produzido em anos muito bons.Privilegiados aqueles a quem é proporcionada a experiência de viajar por uma década de Abandonado! Começamos pela elegância da edi-ção de 2004, somos subjugados pela potência da colheita de 2005, experimentamos o equilíbrio de 2005, levitamos com o saboroso 2009. E, no fi m, encontramos a harmonia suprema do 2011. Variações sobre uma linha comum de excelência. “O mundo é feito de mudan-ça. A nossa mudança é em continuidade”, sentencia Domingos Alves de Sousa. Feito com Tinta Amarela, Touriga Franca, Touriga Nacional, Sousão e outras 20 castas autóctones existentes na velha vinha do Abando-nado (mais de 80 anos), este vinho estagiou durante 19 meses em barricas novas de carvalho francês e português. Dizem-nos que ainda faltarão uns anos até o vinho atingir a sua plenitude. Será. Mas vão ter de esconder as cerca de 4000 garrafas num buraco muito fundo, para ninguém lhes deitar a mão…

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Apesar de o nome sugerir algo de mais pomposo, a Francisca é “apenas” a fi lha do dono da quinta e é, para já, a única a dar nome a um vinho da casa. No futuro haverá mais mas, por enquanto, estamos no reinado da Dona Francisca.

O homem foi à vinha, olhou a vista do Douro que lá de cima se conseguia abranger e ouviu uma voz atrás de si que lhe disse: compra! Há vozes irre-sistíveis, e esta terá sido uma delas. António Ferreira, após 30 anos ligado à produção de cer-vejas, resolveu assim mudar a agulha da sua vida e adquiriu uma propriedade de 5 ha, entre a Ré-gua e o Pinhão, com a cumplicidade da “voz” – no caso, a sua mulher, Joana Queiroz Ribeiro. Ali, entre Folgosa e Armamar, encontrou algo com a dimensão que pretendia: 2,5 ha de vinha velha (cerca de 50 anos), implantada em solo xistoso com as castas misturadas mas onde o produtor entendeu por bem salientar a presen-ça da Touriga Nacional e Tinta Francisca. Corria o ano de 2008 e a primeira produção foi em 2010, de que resultaram 4600 garrafas, feitas com o apoio técnico de Jean-Huges Gros, enólogo e

produtor do Douro. A colheita agora apresenta-da é a de 2011 e pensa-se que com a de 2012 se atingirão as 10.000 garrafas.Até 2012 o vinho foi feito em lagares na Quinta da Casa Amarela, de cujos proprietários são ami-gos (e o enólogo é o mesmo), usando-se barricas novas e de 2º ano para estagiar o vinho. Na co-lheita de 2012 o vinho passou a ser feito na quin-ta do Convento S. Pedro das Águias. Para o futu-ro próximo é provável que se pense em fazer um branco e na colheita de 2012 ponderam também a hipótese de tentar fazer um Grande Reserva.António Ferreira afi rmou-se adepto de tintos que sejam sobretudo elegantes, com boa acidez que lhes dê frescura e que tornem a prova e o consumo muito agradáveis. Com esta primeira colheita, agora trazida a público, o objectivo foi plenamente conseguido.

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TEXTO E NOTAS DE PROVA João Paulo Martins * FOTOS Ricardo Palma Veiga

16,5 €18,50Dona Francisca Vinhas VelhasDouro tinto 2011Qta. D. FranciscaBom equilíbrio aromático, com fruta viva, com a barrica muito bem integrada, acentuando aqui o lado fresco, ajudado depois por uma acidez que lhe confere elegância. Final macio e longo, muito gastronómico. (14%)

DONA FRANCISCAa jovem duriense

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É um projecto relativamente novo no Douro mas está a criar raízes. A recente mostra das novas colheitas em Lisboa foi aproveitada para a revisão das anteriores edições. Como

que a dizer-nos que o modelo está encontrado. Os Tavares da Silva estão de parabéns.

Ele Abílio, ela Sandra. Ambos Tavares da Silva. Mas apenas por ironia do destino, já que, até onde a genealogia permite descortinar, não são familiares um do outro. Ele arrancou de Lisboa com a famí-lia e deixou-se cativar pelo Douro, comprou vinha que recuperou, arranjou armazém no Pinhão para vinifi car e fez uma horta da qual não se cansa de falar. A ver pelas fotos que mostrou em power-point percebe-se porquê; o Douro é surpreendente para quem é hortelão; por ali quase tudo se dá bem e, em muitos casos, muitíssimo bem, o que faz as delícias de qualquer apreciador de bons produtor hor-tícolas. Ela, Sandra, enóloga na região, aceitou este projecto e este-ve também presente nesta sessão em Lisboa, que teve lugar no restaurante Horta dos Brunos.A horta está a funcionar em pleno, as obras na adega do Pinhão estão em fase fi nal mas as instalações de enoturismo na vinha (onde existe apenas uma ruína – recuperável, portanto) é que vão demorar, uma vez que o projecto ainda está a ser submetido a “aturado perío-

do de refl exão” – para usar conceito muito em voga há uns anos – por parte das autoridades na matéria, que até agora não encontraram registo da existência da tal ruína. Paciência precisa-se, e muita!Este novo branco de vinhas velhas fermenta em barrica (20% nova), apontando assim para um modelo que terá menor presença da madeira nova; fi ca aí em estágio 5 meses com battonage. Fizeram-se 1100 garrafas. O tinto de 2012, tem origem nas vinhas novas, acres-cidas de 20% de vinha velha. Fizeram-se 4300 garrafas. Estagiou 18 meses em barrica usada. Do tinto Vinhas Velhas tinto foram feitas 3000 garrafas. Teve um estágio de 18 meses em barrica (20% nova).O momento da apresentação foi aproveitado para uma re-prova das colheitas anteriores (a primeira foi 2010), que se mostraram em excelente forma. Caso tenha ainda em casa algumas destas colheitas, não tenha pressa que elas vão continuar a dar-lhe bons momentos vínicos. Os Tavares da Silva vieram (para o Douro) para fi car!

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TEXTO E NOTAS DE PROVA João Paulo Martins * FOTOS Anabela Trindade

Foz Torto apresenta novidades

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17 €20Foz Torto Vinhas VelhasDouro branco 2013Abílio Tavares da SilvaAromaticamente austero, algumas notas de pólvora mas também tosta e fruta verde. Fino e afi rmativo. Muito boa acidez, bem integrada com a barrica. Leve mineralidade, muito boa fi nura com fi nal longo. (12,5%)

17 €12Foz Torto Douro tinto 2012Abílio Tavares da SilvaCor concentrada, aroma de frutos negros, sério, austero e com toques balsâmicos. Fruta madura na boca, na fronteira da doçura, vivo e com boa acidez. Mais maduro que o 2011, vivo e gastronómico. (14,5%)

17,5 €30Foz Torto Vinhas VelhasDouro tinto 2012Abílio Tavares da SilvaMuito fi no e com excelente fruta, traços minerais muito evidentes e algum vegetal seco. Grande harmonia na boca, macio e com textura sedosa, mostra uma grande elegância e um fi nal requintado e prolongado. (14,5%)

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A outrora menos badalada região do Dão não pára de surpreender com novos lançamentos. Desta feita é a Vale DiVino, marca da empresa Herança Lunar, que surge com três referências – rosé, branco e tinto –, com preços de combate .

A região do Dão está a mexer como talvez nunca antes tenha mexido. A cada ano que passa novos investi-mentos são feitos e novos produtores surgem no mercado. Um dos mais recentes é o projecto Vale Divino, que tem em Paulo Matos o centro vital. O engenheiro Informático de profi ssão, que alimentou secreta-mente a paixão de um dia vir a estar ligado à actividade de produção de vinho, juntou-se em 2011 a outros sócios (primeiro a João Pedrosa e ao fi nlandês Sampo Kellomaki, que entretanto abandonou o projecto, e, mais recentemente, a José Rodrigues e António Bilrero). Como tantos outros começos, este está ligado à família – Paulo Matos herdou vinhas no Dão numa encos-ta não muito longe da serra do Cara-mulo e virou costas a quase tudo para delas cuidar. Inclusivamente deixou a sua anterior profi ssão e um lugar de destaque numa empresa de capi-tais angolanos, razão pela qual co-nhece bem esse mercado e tem nes-se factor uma mais-valia para este seu novel negócio do vinho. Aliás, nos dias de hoje, a empresa assinala

já a distribuição dos vinhos em res-taurantes em Portugal, tendo inicia-do experiências precisamente em Angola, mas também na Dinamarca e na Alemanha. A estratégia da em-presa assenta, assim, ainda numa aposta forte na internacionalização e, além dos países já referenciados, em mercados como o norte-ameri-cano, asiático e Centro/Norte da Europa. Outro interveniente é Nuno Cancela de Abreu, com quem foi estabelecida uma parceria estratégica de prestação de serviços de vinifi cação na sua ade-ga, em Mortágua, e apoio técnico na componente de enologia, sendo com a colheita de 2012 iniciada a produção dos vinhos ValeDiVino. A apresentação dos vinhos – um branco, um rosé e um tinto – decor-reu no restaurante Le Jardin, em Lisboa, ao Príncipe Real. A refeição demonstrou segurança na confecção, nomeadamente no que diz respeito a um prato de bacalhau que esteve muito interessante, e que por mo-mentos compensou as elevadas tem-peraturas a que os vinhos foram servidos.

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TEXTO E NOTAS DE PROVA Nuno de Oliveira Garcia

* FOTOS Cortesia do produtor

14,5 € 3,70Vale DiVinoDão Rosé 2012Herança LunarTouriga Nacional, Alfrocheiro e Tinta Roriz. Nariz com um primeiro impacto a drops fl ocos de neve, cereja doce e frutos encarnados exuberantes. Prova de boca com doçura, mas viva e com sabor, terminando agradável. Um rosé de Verão à beira da piscina. (13%)

15,5 € 3,90Vale DiVinoDão branco 2012Herança LunarEncruzado, Malvasia-Fina, Cerceal-Branco e Bical. Bem no aroma, combina componente fl oral com ligeiro mineral numa dialéctica constante em toda a prova. Na boca tem bom corpo, mantém o equilibro acima referido, e termina num perfi l sério e elegante. Óptimo preço. (13%)

15 € 4Vale DiVinoDão tinto 2013Herança LunarTouriga Nacional, Alfrocheiro, Jaen e Tinta Roriz. Aroma muito exuberante, fruto maduro, chocolate, especiados também, mas a precisar de mais alguma frescura e nervo. Prova de boca macia, com sabor, meio-corpo, bastante consensual e pensado para consumo imediato (13,5%)

Vale DiVinouma nova marca do Dão

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A Casa da Passarella é já um dos produtores de referência do Dão. Para isso muito vale o trabalho de recuperação das vinhas mais antigas, próprias ou alugadas, trabalho esse que

contribuiu também para a preservação da diversidade genética, tão importante hoje, como se sabe. Preservar e inovar podem parecer conceitos antagónicos. Mas não são.

Nome clássico do Dão, desde sempre associado a vinhos grandiosos que fi zeram a cobiça de produtores fora da região, a Passarella aí está de novo a mostrar os novos vinhos. Noutros tempos, não só as Caves S. João (da Bairrada) aqui se abasteciam, como também a casa José Maria da Fonse-ca (Setúbal) comprava nesta quinta vinho feito para os seus célebres garrafeiras, neste caso, o Garrafeira P. A ambos não terá escapado a enorme qualidade destes vi-nhos, oriundos de vinhas velhas e, em alguns casos, pro-venientes de castas que entretanto tinham caído em desu-so. Uma delas, branca, de seu nome Uva-Cão (ou também conhecida por Cachorrinho), era especial e desconcertan-te: por um lado, era muito desinteressante do ponto de vista aromático – demasiado neutra para poder ser atrac-

tiva –; mas possuidora de uma acidez que, em linguagem comum, se diria “de partir os dentes”. Ora, dizia quem sabia da matéria, neste caso o engenheiro Alberto Vilhena, do Centro de Estudos de Nelas, que a longevidade dos brancos se media pela percentagem de Uva-Cão que o lote incluía. Os brancos antigos do Dão duravam muito? Pois, entre outras, esta será uma das razões.Paulo Nunes, enólogo, explicou a metodologia que estão a seguir para conseguir a conservação do património vi-tícola da quinta: “A viticultura tem vindo a ser trabalhada desde 2008, existiam sete parcelas de castas misturadas e uma delas, a mais velha (2 ha), de onde têm origem as uvas que entram no nosso Vinhas Velhas, esteve para ser arrancada; ali encontrámos muita Baga e Rufete e resol-

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TEXTO E NOTAS DE PROVA João Paulo Martins * FOTOS Ricardo Palma Veiga

VINHOS NOVOS, VINHAS VELHAS

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17,5 €35Villa OliveiraDão branco 2012O Abrigo da PassarellaEncruzado. Bela intensidade aromática, fl ores brancas, muito mineral, barrica no ponto, nota a mel, mantém o perfi l borgonhês. Prova de boca com potência, larga e muito saborosa, talvez mais fresco e tenso que a edição de 2011 mantendo a precisão. Final imponente que crescerá com estágio em garrafa (13%) NOG

15,5 €3,99Casa da Passarella A DescobertaDão tinto 2011O Abrigo da PassarelaMédia concentração, directo na fruta, madura mas com boa expressão vegetal. Redondo e com boa acidez, temos aqui quatro castas em diálogo, permitindo uma prova bem agradável. Excelente preço. (14%)

16,5 €12Casa da Passarella EnxertiaDão Alfrocheiro tinto 2011O Abrigo da PassarelaMuito expressivo no aroma, muito fi el à casta, notas químicas e de farmácia. Grande prova de boca, fresco e muito elegante, com volume e uma estrutura delicada mas tensa. Longevidade assegurada. (13,5%)

16,5 €12 Casa da Passarella AbanicoDão Reserva tinto 2011O Abrigo da PassarelaTrês castas, com a Touriga Nacional a representar 50%. Boas notas fl orais, há um ambiente de frescura aromática que é notável, bom equilíbrio de boca, dominando a elegância sobre a potência. Prova muito acessível. (14%)

16,5 €16Casa da Passarella O Enólogo Vinhas VelhasDão tinto 2011O Abrigo da PassarelaProvém de uma parcela que esteve para ser arrancada. Aqui domina a elegância em todos os itens de prova. Consegue uma regularidade de estilo ano após ano, domina a fi nura e classe de conjunto. Um Dão de referência. (14%)

17 €35 Villa OliveiraDão Touriga Nacional tinto 2010O Abrigo da PassarelaComplexo e rico, notas de chá e bergamota, elegante na boca, sugestões citrinas conferem distinção ao vinho, acidez perfeita e notável proporção de conjunto. Um Dão original e com carácter. (14%)

vemos não só preservar a vinha como replicá-la na par-cela do lado. Actualmente trabalhamos com quatro par-celas centenárias, arrendadas.” Foi mantida também a marca mais antiga da casa – Villa Oliveira –, que terá nascido em 1863 e renasceu com a colheita de 2011. Por aqui procura-se manter um certo estilo de brancos “à antiga”, ou seja, com alguma curti-menta (presença de películas durante a fermentação), estágios em barrica usada e em cimento. O tinto Casa da Passarella Vinhas Centenárias 2011 só estará no mercado dentro de vários meses e dele apenas se fi zeram 1000 litros; inclui 10% de uvas brancas. A apresentação das novas colheitas decorreu no restau-rante Claro, do chefe Vítor Claro, em Paço d’Arcos.

Por aqui procura-se manter um certo estilo de brancos “à antiga”

Paulo Nunes, enólogo (à esquerda), e Miguel Pereira, do departamento comercial, foram os anfi triões do lançamento

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Sendo recente, o projecto duriense Quinta do Pôpa já não constitui novidade para o consumidor atento e exigente. Demos nota aos novos vinhos e ao enoturismo na edição de Dezembro do ano passado, cabe agora destacar o lançamento da cereja no cimo do bolo. Ou seja, do topo de gama do produtor.

Em prova encontrava-se o Homenagem da colheita 2009 que, como o nome indica, trata-se de um vinho, tinto nes-te caso, que é um tributo. Não é caso para menos, consubs-tanciando a comemoração dos fi lho e netos à memória de Francisco Ferreira – o avô Pôpa –, que sempre trabalhou na vinha com a ilusão de um dia vir a ser proprietário de uma terra no Douro. O Pôpa (o nome da quinta já constitui, em si, uma homenagem) não chegou a ser proprietário, mas o fi lho José Ferreira, emigrado em França, em conjunto com os netos Vanessa e Stephane, adquiriram no início do novo milénio parte da então denominada Quinta do Vidiedo na margem esquerda do Douro entre a Régua e Pinhão (na outra margem, quase defronte, encontram-se a Quinta Nova e a Quinta do Crasto).Se é verdade que o Vinhas Velhas de 2009 da mesma casa já se situava num nível alto de qualidade e preço, pretende--se com o agora lançado Homenagem, da mesma colheita, confi rmar a aptidão da Quinta do Pôpa para grandes vinhos. E se o Vinhas Velhas é, como o nome sugere, produzido apenas com recurso às vinhas mais antigas da quinta (todas com mais de 60 anos), este Homenagem incorporou tam-

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TEXTO E NOTAS DE PROVA Nuno Oliveira Garcia

* FOTOS Ricardo Palma Veiga

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17 €29HomenagemDouro Tinto 2009Quinta do Pôpa40% de vinha velha com castas misturadas, Tinta Roriz e Touriga Nacional. Aroma sério, contido, perfi l tenso, fruta negra fi na e ligeiro vegetal seco, urze e esteva. Prova de boca com fruta em contenção, fresca considerando o ano, meio-corpo, taninos secos. Bom equilíbrio de conjunto, gastronómico e com grande perspectiva de evolução. (13,5%)

HOMENAGEM 2009 um topo de gama com emoção

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bém alguma vinha mais recente que, não sendo propria-mente velha, se mostrou capaz de produzir uvas (Tinta Roriz e Touriga Nacional) de máxima qualidade. Como é sabido, o ano de 2009 foi quente, mas a exposição das vinhas predominantemente a norte permitiu um vinho seco, quase duro até, e com um grau alcoólico muitíssimo equilibrado (coisa rara no Douro, apesar de alguma melho-ria geral nos últimos anos). A fi losofi a por detrás deste Homenagem foi ter o melhor vinho possível a partir das melhores uvas da quinta, um vinho com perfi l sério e de guarda, sem exuberâncias de fruta ou de madeira (a maio-ria do vinho estagiou em barricas de segundo e terceiro anos), e que o bairradino Luís Pato – que coordena a eno-logia do projecto com o duriense Francisco Montenegro – apelidou de estilo ‘Douro antigo’.A apresentação decorreu no restaurante A Travessa, uma das mesas na capital onde sabe sempre bem regressar. Os muitos e variados pratinhos no início da refeição foram acompanhados pelos Pôpa branco e tinto, de 2013 e 2012 respectivamente, cujas notas de prova se encontram nas Novidades da edição de Dezembro do ano passado da nos-sa revista. Já o Homenagem 2009 foi um par à altura da empada de caça (um dos ex-libris do restaurante de Viviane Durieu e António Moita) apesar de tudo indicar que daqui a uns anos o vinho esteja ainda melhor. Provado lado a lado com o tinto Vinhas Velhas do mesmo ano, revelou-se dife-rente no perfi l, menos concentrado mas com maior equi-libro; à mesa foi claramente o vencedor.

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São parceiros, marido e mulher, Joana Pratas e João Carvalho. Parceiros nos vinhos e nos azeites com a marca h’OUR e responsáveis pelo crescimento da empresa, com o recém-chegado António Maria, que, por enquanto, não bebe vinho. Mas quem começa no biberão não se sabe onde pode chegar…

Começaram há pouco mais de um ano e focaram-se desde o início nos produtos do Douro, vinhos e azeites. Produtos de quinta, apontando claramente para um segmento médio/alto, uma vez que os preços prati-cados também o sugerem. Tudo começou com um branco, um tinto e um azeite. Passou um ano e é acrescentado agora um tinto de Touriga Nacio-nal, fi cando, segundo Joana Pratas, a promessa de um Reserva só em 2016. A empresa – Parceiros Na Criação – tem assento no Douro, para onde Joana foi viver e onde João Nápoles de Carvalho tinha ligações familiares (Quinta do Monte Travesso). As produções pequenas – 6000 garrafas – afastam estes produtos das grandes superfícies e por isso é bem mais provável que sejam encontrados em garrafeiras e (pouco, seguramente) em alguns países para onde, segundo a nota de imprensa distribuída, já estão a exportar, como a Suíça e a Alemanha.A apresentação decorreu em Lisboa e o momento foi aproveitado para revisitar algumas colheitas já apresentadas anteriormente, como o bran-co 2013 e o azeite do mesmo ano.

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TEXTO E NOTAS DE PROVA João Paulo Martins

* FOTOS Cortesia do produtor

PARCEIROS não param de crescer

16,5 €9,90H’OurDouro tinto 2011Parceiros na CriaçãoOpaco, presença de frutos negros, notas balsâmicas e apimentadas, alguns químicos, tudo escuro e reservado. Macio, envolvente mas austero, taninos fi nos e boa acidez. Precisa de tempo. Muito tempo. (14,5%)

17 €15,5H’OurDouro Touriga Nacional tinto 2012Parceiros na CriaçãoMuito fl oral e atractivo no aroma, madeira (nova) bem integrada mas ainda muito presente. Envolvente na prova de boca, textura sedosa, frescura evidente, atractivo e a mostrar boa elegância de conjunto. (13,5%)

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QUINTA DA FATA (DÃO)

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GUIA DE COMPRAS DOS VINHOS PORTUGUESESMasemba/Revista de VinhosPreço: 8 euros

Mais uma edição do guia de compras de vinhos da Revista de Vinhos. Tal como nos anos anteriores, esta obra é uma compilação exaustiva (com algumas re-avaliações) de todas as notas de prova publicadas ao longo de 12 meses na Revista de Vinhos. No total estamos a falar de cerca de dois milhares de notas de prova. E, tal como nos outros anos, a grande diferença em relação a todos os outros está no facto deste guia incluir os preços de todos os vinhos. Os vinhos encontram-se agrupados por regiões e – dentro destas – pela ordem alfabética dos seus produtores. Dispõe ainda de um índice remissivo por marca de vinhos e de uma breve introdução sobre cada região.A edição já está à venda em muitas livrarias e quiosques, mas, na edição de Fevereiro, a dos Melhores do Ano, a Revista de Vinhos fará uma promoção do guia juntamente com a revista por apenas 9€.

CADA GARRAFA CONTA UMA HISTÓRIAAutor: Ana Sofi a FonsecaEsfera dos Livros, Lisboa 2014Preço: 16 euros

As histórias contadas neste livro viram a luz do dia nas páginas do Diário Económico, onde a autora as foi publicando semanalmente. Depois, quando se decidiu que valeria a pena juntá-las em livro, houve trabalho de revisão e de actualização dos dados. O resultado é um belo livro, que se lê de um ápice, quer todo de uma vez quer aos poucos, como se de um bom vinho se tratasse, e que merecesse prova demorada. Histórias de vinhos e de pessoas, das gentes e das terras que geraram gentes e vinho. Essa eterna interacção entre a paisagem e o homem, ente a vontade e o desejo e entre o vinho e o prazer dele, estão presentes neste livro. A Ana Sofi a tem um olhar atento e perscrutador, que parece ler o que à vista não salta e tem, depois, a grande capacidade de escrever muito bem o que viu, sentiu e gostou. Assim, a leitura é ainda mais agradável. Há sempre uma tonalidade poética que perpassa pela descrição de paisagens e acontecimentos e o livro ganha com isso. Diz a autora, e bem, que muitas outras histórias haveria para contar, muitas outras poderiam ser as personagens. Ainda bem que assim é. Quem sabe, isso não será motivo de novo livro? Uns estão mais preocupados com as podas e os acertos da prensa, outros, como a Ana, nem querem saber do que aí se trata. Tudo o que lhe interessa está ao lado, longe das questões técnicas mas perto das pessoas. A ler e a reler. (JPM)

GUIA DE ENOTURISMO

Autor: Maria João de AlmeidaEditor: Zestbooks, Lisboa 2014Preço: 20 euros

Este guia, vocacionado para andar sempre no carro e aí ser o verdadeiro apoio para quem viaja, é um roteiro de algumas casas de enoturismo espalhadas pelo país. A primeira impressão, logo ao pegar no livro, é excelente, porque todo o design gráfi co do livro é um verdadeiro achado. O look antigo, a cor do papel, a forma como foram impressas as fotos, as aguarelas que serpenteiam as páginas, as gravuras antigas que o povoam, tudo isso faz do livro um objecto muito apetecível e é uma mais-valia evidente para a edição.O assunto exige, por parte da autora, selecção e critérios de escolha, uma vez que o livro não é, nem pretendeu ser, exaustivo. Por isso Maria João escolheu os que gostou mais, os que visitou e lhe deixaram marca mais forte na memória. A divisão é por regiões e, nos enoturismos seleccionados, a autora procura enquadrar o vinho, ora na paisagem, ora nas gentes, nas castas ou nos processos de produção. Em cada um há uma história diferente e o livro ganha com isso. Há depois informação extra, como sejam locais de pernoita na região, restaurantes na zona e vinhos a provar. Para quem gosta de turismo vinícola (e há cada vez mais interessados), o guia passa por ser indispensável. Estas são as escolhas da autora. Subjectivas como é natural, feitas com isenção e com muito trabalho pelo meio. Tudo isso merece aplauso. (JPM)

Bons livros para ler em 2015O fi nal do ano de 2014 fi ca marcado pelo lançamento de um conjunto muito interessante de livros à volta do tema do vinho e das gentes que o fazem. Cada um à sua maneira, são o testemunho de um sector que continua a crescer e a afi rmar-se, a nível interno e aos olhos do mundo. E são também – e funda-mentalmente – belas sugestões de leitura para o ano que agora começa.

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VINHOS DE PORTUGAL 2015

Autor: João Paulo MartinsEditora: Ofi cina do LivroPreço: 15 euros

Já aí está a 21a edição do mais popular guia de vinhos português. Da autoria de João Paulo Martins, o Vinhos de Portugal 2015 continua a ser o mais completo guia dos vinhos portugueses, não só na avaliação como nos rankings (produtores e vinhos) e nas dicas que oferece ao enófi lo. A grande novidade este ano é a inclusão de mais categorias na secção “os melhores do ano”, como por exemplo, os rosés, colheitas tardias e espumantes. Destaque ainda para um capítulo especial, com os melhores vinhos até 4 euros, com 84 páginas. De resto, o

comprador pode contar com 683 páginas de conteúdos, na sua maior parte classifi cações e notas de prova de vinhos. Serão mais de 2.000 os vinhos provados por este crítico e a única crítica que aqui podemos fazer é a não indicação do preço dos vinhos. Para facilitar a sua escolha, o livro inclui um guia de bolso destacável com uma selecção rápida de alguns vinhos. Uma obra fundamental na prateleira de qualquer enófi lo. (AF)

O ADMIRÁVEL MUNDO DO VINHOAutor: António dos Santos MotaEditor: Chiado Editora, Lisboa 2014Preço: €12

Editar um livro quando se está preste a fazer 90 anos “é obra”. Mas foi exactamente isso que fez António dos Santos Mota, um dos jornalistas portugueses mais antigos em actividade. Com uma actividade profi ssional que abrange décadas, Santos Mota sempre teve um carinho especial pelo mundo do vinho. Não espanta assim que no seu percurso profi ssional tenha passado por esta própria revista e pela direcção da revista “Escanção”. Foi sobretudo nestes dois órgãos de comunicação social que conseguiu aprofundar os seus conhecimentos vínicos e, ao mesmo tempo, colecionar um sem-número de histórias. E é exactamente esta colecção que serve de

base ao livro que aqui apresentamos. Escrita de uma forma coloquial, a obra de 277 páginas abarca história e estórias do vinho em Portugal, retratadas muitas vezes em primeira mão. Dotado de prodigiosa memória, Santos Mota escreve sobretudo dos grandes protagonistas que fi zeram (e ainda fazem) a história do vinho em Portugal, do Algarve a Trás-os-Montes. A leitura é fl uída e fácil e, nas alturas em que poderia falhar a recolecção dos pormenores, o autor socorre-se de textos já escritos na altura. Uma obra fundamental para melhor se perceber a evolução do vinho de qualidade nos últimos 30 ou 40 anos. (AF)

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O tinto Vineaticu Reserva 2011, da Quinta da Nespereira, Dão, e o Porto Marks & Spencer Royal Palace Colheita Single Harvest 200, produzido pela Taylor’s, conquistaram medalhas de ouro na primeira tranche do concurso International Wine Challenge (IWC), cujos resultados acabam de ser divulgados. A juntar a estas duas medalhas de ouro os representan-tes portugueses alcançaram ainda outros 72 troféus (32 medalhas de prata e 40 de bronze), bem como 48 menções honrosas.

Com mais de 13.000 vinhos pro-vados nesta fase da competição, o IWC já distribuiu 100 medalhas de ouro, com domínio esmagador dos contingentes australiano (27) e francês (26). As outras nações dis-

tinguidas ao mais alto ní-vel foram a Nova Zelândia (11 medalhas de ouro), Itália (8), África do Sul e Espanha (ambas com 6),

Áustria e Inglaterra (com 3), Alemanha, Argentina e Portugal (todos com 2), Bul-gária, Chile, EUA e Turquia (1 cada).A segunda tranche de 2015 deste concurso irá realizar-se mais para o fi m do ano.

Duas medalhas de ouro para Portugal no IWC

Um júri especializado elegeu, de entre os mais de 1.500 vinhos disponíveis na gama da Alko (o retalhista monopólio de bebidas alcoólicas na Finlândia), os melhores vinhos tinto e branco

de 2014. O Quinta das Setencostas 2010, da Casa Santos Lima, foi

considerado o melhor vinho tinto do ano na Finlândia. Este vinho é vendido abaixo de 10€. O prémio de melhor branco foi atribuído ao “Domaine Laroche Chablis 1er Cru Les Vaudevey 2011” vendido a 27,90€.2014 foi um ano em grande para este vinho: do seu currículo constam 3 medalhas de ouro ganhas no “Challenge Interna-tional du Vin 2014”, “Austrian Wine Challenge 2014” e “Pro-dexpo Wine Competition 2014”.

LEILÃO DE MOSCATEL DE SETÚBAL

1911 RENDEU 50 MIL EUROS

O lançamento em Leilão do Moscatel de Setúbal Superior 1911, da José Maria da Fonseca, que decorreu em Dezembro, rendeu cerca de 50 mil euros. No total foram vendidas 100 garrafas de 500ml das 180 unidades produzidas. Os 35 lotes foram ainda complementados com outros vinhos da empresa. Cerca de 100 pessoas – entre especialistas do sector, apreciadores e outros investidores – fi zeram as suas licitações. O lançamento de Moscatéis de Setúbal raros em leilão retoma uma tradição da empresa que fazia estes Leilões nos anos 50 e 60. Os mais recentes realizaram-se em 2011 e 2008.

QUINTA DAS SETENCOSTAS

CONSIDERADO VINHO DO ANO

NA FINLÂNDIA

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A distribuidora de vinhos Cave Lusa, em Viseu, abriu a sua garrafeira premium, que pretende ser uma referência nacional. A aposta vai para um portefólio equilibrado de

vinhos e espirituosas de gama superior. Com mais de um milhar de referências, a Cave Lusa Premium disponi-biliza cerca de 150 referências de gins, a par de vodkas, tequilas , whiskies, conhaques e aguardentes velhas. No sector dos vinhos, destacam-se os do Dão e do Douro, mas estão representadas todas as regiões vínicas do país, para além de cervejas premium e acessórios ligados ao vinho. O espaço inclui uma sala de provas e lounge com serviço de vinho a copo de marcas topo de gama onde é possível saborear, por exemplo, um copo de Barca Velha, Château Pétrus, reserva velha Ferreirinha ou Pêra Manca.A Cave Lusa Premium está também aberta aos produ-tores da região vínica do Dão para aí realizarem provas dos seus vinhos, ao estilo de “sala de visitas para os mesmos”, referiu Rui Parente, promotor do projeto. A garrafeira organizará também provas de produtores de todo o país. A empresa que espera faturar este ano mais de 3,5 milhões de euros.

Viseu ganha garrafeira que serve Barca Velha a copo

CONCEITO “ADEGA DO BAIRRO” ABRE EM LISBOAÁFRICA DO SUL: O MELHOR

VINHO É PORTUGUÊSA Ofi cina do Vinho (OV) é uma nova loja recentemente aberta no Bairro de Campo de Ourique, na Rua Correia Teles, em Lisboa, que traz à memória a venda de vinho e azeite a granel, além dos enchidos, dos queijos, entre outros produtos.Este projeto, da Empresa Wine Line, nasceu do empenho de três sócios com uma paixão em comum – o vinho. A Ofi cina do Vinho traz o conceito de "Adega do Bairro", em que o cliente escolhe e engarrafa o vinho num recipiente à esco-lha (que pode ser reenchido mais tarde).Os vinhos como todos os outros produtos a granel presentes na loja, encontram-se no regime “escolha, sirva-se e leve para casa”, sendo rotativos, consoante a oferta dos produtores.A nova loja oferece também no

formato granel, tomate seco, azei-tonas, pickles, diversos tipos de sal, além de pão do dia (desde o Alentejano, de Mafra, broas de di-ferentes tipos, entre outros) e uma variedade de enchidos, queijos, enlatados, compotas, marmela-das e vinagres, todos oriundos de pequenos produtores.A Ofi cina do Vinho propõe-se ainda desenvolver eventos gastronómicos e de degustação, abertos ao bairro, enquanto conceito de adega.

Chama-se Astronauta Touriga Nacional 2012, é da região de Lisboa e foi eleito o melhor na prova RECM Best Value que contou com a presença de quase todos os vinhos disponíveis no mercado sul--africano. Este vinho foi produzido pela parceria Aníbal Coutinho com a Vidigal Wines. A distinção ocorreu num espaço temporal em que a Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa investia neste país, organizando uma viagem com vários agentes económicos. “A África do Sul é um país produtor de vinhos, por isso é um mercado que aprecia muito o vinho, sendo por isso os produtos portugueses bastante apetecíveis”, explica Vasco d’Avillez, presidente da CVR Lisboa. Esta viagem, que contou com a realização de provas, jantares vínicos, contatos com importadores e lí-deres de opinião, como o embaixador e a cônsul de Portugal, enquadra-se na estratégia de investimento dos Vinhos de Lisboa para o triénio 2014 - 2016, que inclui a entrada em novos mercados.

Portugal Wine Room abre nova loja. O Portugal Wine Room inaugurou uma nova Loja/Wine Bar na Rua dos Fanqueiros 182, em Lisboa. A nova loja está aberta todos os dias das 11h00 às 22h00.

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