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como o tenente seixas salvou centenas de espanhóis PORTUGAL E A GUERRA CIVIL DE ESPANHA OS APOIOS DE SA�ZAR A FRANCO OS PORTUGUESES COMBATENTES E MORTOS DE AMBOS OS �DOS OS BANQUEIROS QUE FINANCIARAM O FUTURO DITADOR ESPANHOL A VIDA NA FRONTEIRA N.º 18 · DEZEMBRO 2012 CONTINENTE – 4,90 PERIODICIDADE TRIMESTRAL © Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1581558 - [email protected] - 81.193.146.172 (13-12-12 15:24)

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  • como o tenente seixas

    salvou centenas de espanhis

    PORTUGAL E A GUERRA CIVIL

    DE ESPANHAOS APOIOS DE SAZAR A FRANCO OS PORTUGUESES COMBATENTES E MORTOS DE AMBOS OS DOS OS BANQUEIROS QUE FINANCIARAM

    O FUTURO DITADOR ESPANHOL A VIDA NA FRONTEIRA

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  • Espanha || SUMRIO

    PORTUGAL E A GUERRA CIVIL DE ESPANHA

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    Publisher e Diretor: Pedro CamachoDiretores Adjuntos: urea Sampaio, Cludia Lobo e Rui Tavares GuedesDiretor de Arte: Vasco Ferreira; Editor Executivo Multimdia: Filipe LusGabinete Editorial: Jos Carlos de Vasconcelos (Coordenador), DanielRicardo (Editor Executivo) e Lus Almeida Martins (Projetos Especiais)

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    vDiretora: Cludia LoboEditor: Lus Almeida MartinsTextos: Bruno Rasco, Emlia Caetano, Filipe Lus, Francisco Galope, Joo Dias Miguel, Lus Almeida Martins, Maria Jos Oliveira, Patrcia Fonseca, Paulo Chitas, Ricardo Silva, Rita Montez, Rosa Ruela e Slvia Souto Cunha.Design: Nuno Ricardo Silva (editor), Fernando GarridoInfograa: lvaro Rosendo Assistentes Editoriais: Ana Paula Figueiredo, Soa Vicente e Teresa RodriguesFotograas: Biblioteca Nacional; Corbis; EFE/La Fototeca/ Atlantico Press (EFE/AP), Getty Images, Arquivo Dirio de Notcias; Coleo Ferreira da Cunha/Gesco; Arquivo Dirio de Lisboa; Arquivo Gesco; Jornal O Sculo/Arquivo Nacional Torre do Tombo (ANTT); Leemage; Magnum Photos; Jos Caria; Lara Jacinto/NFactos; Marcos Borga.Assistente de fotograa: Accio Madaleno e Fernando Negreira

    Este nmero foi posto venda a 12 de dezembro de 2012Fotos da capa: ANTT, Magnum e Arquivo DN

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    E ste nmero da VISO Histria de-dicado Guerra de Espanha de 1936- -1939 e s mltiplas ligaes de Portu-gal a esse grande conito que, de civil, cedo se transformaria em internacional, aten-dendo aos envolvimentos estrangeiros, quer de estados quer de cidados combatentes a ttulo individual. No houve no sculo XX nenhuma guerra ideologicamente to sentida como esta, visto ter-se travado entre a esquerda e a direita nos seus estados mais puros a democracia pro-gressista de um lado e o fascismo do outro.

    O Estado Novo de Salazar apoiou aberta-mente a fao rebelde que, sob a liderana do

    general Franco, lanou o golpe de certo modo falhado que redundaria na longa, destrutiva e mortfera contenda que marcaria a Espanha durante as dcadas seguintes. Os franquistas, com as ajudas decisivas da Alemanha de Hitler e da Itlia de Mussolini, haveriam de vencer, mas ao m de quase trs anos e custa de pelo menos meio milho de mortos.

    So as histrias do conito propriamente dito e do envolvimento portugus de Salazar e dos voluntrios, tanto Viriatos do bando nacionalista como democratas da fao republicana que nestas pginas se evoca, desvenda e aprofunda.

    O ABRAO DOS DITADORES Dez anos separam esta foto de 1949 do termo da Guerra Civil de Espanha. O Pacto Ibrico, entretanto assinado entre os dois Estados (ou melhor, entre os dois regimes) no fora porm suciente para vencer a tradicional animosidade, traduzida num viver de costas voltadas

    FOTO ANTT

    Imagens 4Cronologia Quatro anos no inferno 14Antecedentes: cem anos de confuso 18Cronologia: tempo de guerras e revolues 20

    Francisco Franco, o cuco da guerra civil 24Casas Viejas, um massacre premonitrio 29Um Camarate h 76 anos 30Mapa Espanha a ferro e fogo 32O atear das chamas 34Cronograma Os partidos e os lderes 38

    O enigma da morte de Garca Lorca 40O papel da Alemanha e da Itlia 42A Babel espanhola 46O desenrolar do conito 48Dolores Ibrruri, a mulher de negro 51

    Virgilio Pea Cordoba, um heri do sculo XX 54A cumplicidade de Salazar 56De costas voltadas 63

    A aventura dos Viriatos 64A rdio de Franco 69Os portugueses que lutaram pela Repblica 70Emdio Guerreiro, combatente da liberdade 73Refugiados, o caso singular de Barrancos 74Morte e esquecimento na raia 78Entrevista Quem tinha medo vivia mal 80Imprensa, o exrcito das letras 82Guernica, histria de um exlio 86Os escritores na linha da frente 90Reexos na literatura portuguesa 92Fotograa: Demasiado perto? 94Nmeros 98

    LINHA DIRETA

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  • v 4

    Olmpicos || AMESTERDO

    Extremadura, vero de 1936 A populao de um pueblo ouve, interessada, um discurso poltico. Na primeira fase da guerra, os nacionalistas avanavam por territrio da Repblica, numa marcha que seria travada em Madrid

    FOTO David Seymour/Magnum

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  • 5v

    Barcelona, 21 de julho de 1936 No quarto dia aps o pronunciamiento dos sublevados nacionalistas, com a cidade em fundo, a miliciana Marina Ginest, da Juventude Comunista Catal, posa para a objetiva no terrao do Hotel Coln, onde funcionava uma repartio de alistamento de voluntrios para combaterem os rebeldes. As mulheres desempenharam um importante papel na Guerra de Espanha, quer procurando o sustento das crianas e cuidando delas na retaguarda quer combatendo de armas na mo a ameaa do pesadelo fascista

    FOTO Juan Guzman/Efe-Fototeca

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  • v 6

    Olmpicos || AMESTERDO

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  • 7v

    Bilbau, maio de 1937 Perante o impasse na frente de Madrid, os nacionalistas escolheram como objetivo as Astrias, a Cantbria e o Pas Basco. A capital industrial basca resistiu o mais que pde at cair nas mos dos inssurretos. Antes, sofreu durante meses bombardeamentos areos que espalharam o medo nas ruas. A mulher e a criana que se veem nesta foto clebre protagonizam essa nova forma de inquietao

    FOTO Robert Capa/Magnum

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  • v 8

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  • 9v

    Teruel, 3 de janeiro de 1938 Foi em Arago que com maior intensidade sopraram os ventos da guerra. Face inexpugnabilidade de Madrid, os nacionalistas concentraram a maior parte dos seus esforos na tentativa de alcanar o Mediterrneo para cortar a Repblica ao meio. Na foto, combatentes republicanos montam guarda ao edicio do Governo Civil, que fora at horas antes o timo bastio da resistncia franquista

    FOTO Robert Capa/Magnum

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  • v 10

    Olmpicos || AMESTERDO

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  • 11v

    Santa Eullia Junto desta pequena localidade da provncia de Teruel travaram-se violentos combates, um pouco como em todo o Arago

    FOTO Robert Capa/Magnum

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  • v 12

    Olmpicos || AMESTERDO

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  • 13v

    Barcars, maro de 1939 Na iminncia da derrocada nal, uma interminvel coluna de refugiados republicanos, escoltada por um gendarme, caminha por uma praia do Roussillon com destino a um campo de internamento em territrio francs

    FOTO Robert Capa/Magnum

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  • QUATRO ANOS NO INFERNO

    Espanha || CRONOLOGIA

    v 14

    17 julho Ociais direitistas da guarnio do Protetorado Espanhol do Norte de frica (Marrocos Espanhol) pronunciam-se contra o Governo da Frente Popular.

    18 julho O levantamento estende-se Espanha. A data, designada por Alzamiento Na-cional, ser comemorada ocialmente durante as quatro dcadas da ditadura. A metade norte

    do pas adere sublevao, com exceo de Astrias, Cantbria, Pas Basco e Catalunha. Na Andaluzia, o general Queipo de Llano consegue, atravs de um golpe de audcia, apoderar-se de Sevilha, uma cidade tradicionalmente de esquerda; a

    seguir cairo Crdova e Granada.

    19 julho Franco, comandante militar das Canrias, emite um manifesto antigoverna-

    mental e parte num pequeno avio previa-mente fretado para Tetuo, no Marrocos Espanhol.

    20 julho O general Sanjurjo, exilado em Portugal, parte do Estoril noutro pequeno avio para chear a sublevao, mas morre na queda do aparelho na Quinta da Marinha. Franco ser o chefe do Alzamiento.

    22-25 julho Trava-se, a noroeste de Madrid, a Batalha das Serras, uma sucesso de combates que so o primeiro verdadeiro recontro da guerra civil. Franco solicita as ajudas da Ale-manha de Hitler e da Itlia de Mussolini para o transporte das suas tropas marroquinas para a Espanha. Chegam de Frana os primeiros avies e as primeiras armas para o Governo.

    30 julho Aterram no Marrocos espanhol os primeiros avies alemes e italianos.

    6 agosto Franco chega a Sevilha e inicia, com os seus mouros, a marcha para Madrid.

    14 agosto Os sublevados pretendem apode-rar-se de todos os territrios fronteirios com Portugal, onde contam com o apoio do Go-verno de Salazar; Badajoz cai nas suas mos, num banho de sangue a que assiste o jornalista Mrio Neves, do Dirio de Lisboa.

    15 agosto Por proposta britnica, a Inglater-ra e a Frana defendem numa declarao a no interveno no conito espanhol; todos os Estados europeus, exceto a Sua, subscre-vero nos dias seguintes o Pacto de No- -Interveno; a Itlia aderir a 21, a Alemanha a 24 e a URSS a 28; estes pases encontraro forma de contornar o assunto: a Guerra de Espanha no ser civil, mas internacional.

    3 setembro Os sublevados asseguram o con-trolo de Maiorca, a maior das ilhas Baleares.

    4 setembro Em Madrid, toma posse um novo Governo, cheado pelo socialista Largo Cabal-lero, um antigo operrio estucador.

    5 setembro Irn, no Pas Basco, importante ponto de passagem para Frana, cai nas mos dos franquistas.

    9 setembro Rene-se pela primeira vez o Comit de No Interveno, ou Comit de Londres.

    13 setembro A seguir a Irn, a vez de San Sebastin cair em poder dos rebeldes.

    21 setembro No mbito das discusses dos sublevados acerca do comando nico, Franco nomeado generalssimo pelos seus pares. A capital dos nacionalistas Burgos, mas Franco est a maior parte do tempo em Salamanca, sede do comando militar.

    29 setembro Termina o cerco governamental ao Alcazar de Toledo, onde 2 mil franquistas se tinham barricado com mulheres e crianas nos primeiros dias da guerra.

    1 outubro Franco elevado pelos seus pares dignidade de Chefe de Estado; porm, o Chefe de Estado ocial o Presidente da Repblica, Manuel Azaa, que se encontra em Madrid.

    7 outubro Os franquistas encetam nova marcha sobre Madrid, no intuito de tomar a capital e pr m guerra; mas a cidade

    resistir at ao m: de outubro a dezembro travar-se- nos seus arrabaldes a sucesso de combates que caria conhecida por Batalha de Madrid.

    7 outubro Um decreto governamental expropria as terras dos facciosos, designao atribuda pela Repblica aos apoiantes dos sublevados.

    12 outubro Chegam a Espanha, para apoiar a Repblica, conselheiros militares e arma-mento sovitico.

    23 outubro O Portugal de Salazar rompe relaes com a Repblica Espanhola, invocan-do como pretexto violaes da fronteira.

    24 outubro A Generalitat (governo autno-mo) da Catalunha publica um decreto relativo coletivizao de propriedades. No mesmo dia, os nacionalistas publicam por seu lado um decreto que ilegaliza qualquer atividade poltica e sindical na sua zona. o extremar dos campos ideolgicos.

    29 outubro Blindados russos, fornecidos com condutor, entram em combate pela primeira vez, na frente de Madrid.

    6 novembro O Governo legal muda-se para Valncia.

    7 novembro As Brigadas Internacionais ob-tm o batismo de fogo na frente de Madrid. A Alemanha reconhece a Junta de Burgos, o governo franquista.

    20 novembro Jos Antonio Primo de Rivera, o fundador da falange, executado pelos republicanos.

    1936

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  • 15v

    JANeiro-FEVereiro Prosseguem os comba-tes em torno de Madrid (Batalha da Estrada da Corunha, Batalha do Jarama).

    10 FEVereiro Os franquistas tomam Mlaga, bastio da resistncia republicana na Andaluzia.

    18-23 maro Os italianos so desfeiteados e recuam em desor-dem na Batalha de Guadalajara.

    30 maro Os franquistas, que j

    detm S. Sebastin e Irn, iniciam a campanha para a conquista do resto do Pas Basco. No dia

    seguinte bombar-deiam Durango.

    19 abril Um decreto naciona-lista institui como partido nico a Falange das JONS. O Comit de No Interveno pe em vigor o controlo naval.

    26 abril Avies da legio Condor alem bombardeiam Guernica, no Pas Basco, o que fornecer a Picasso o tema do seu famoso painel.

    2-6 maio H 400 mortos e mil feridos em motins em Barcelona.

    15 maio Cai o Governo de Largo Caballero e sucede-lhe o de Juan Negrn, um mdico so-cialista acusado por camaradas de partido de

    ser criptocomunista e reabilitado pelo PSOE j em 2009.

    29 maio A aviao republicana bombardeia o couraado de bolso Deutschland e outras unidades alems ancora-das no porto de Palma de Maiorca; em resposta, na-

    vios alemes bombardeiam dois dias depois o porto de

    Almeria.

    3 junho O general Mola, autor dos planos do Alzamiento e por isso apelidado de El Direc-tor, morre na queda do avio em que viajava da

    frente basca para Vitria; a semelhana com a morte

    de Sanjurjo lana suspeitas sobre Franco, cuja liderana passa a ser incontestada, mas nada se provar.

    19 junho Os franquistas tomam Bilbau.

    10 julho Depois da Alemanha e da Itlia, a Frana abandona o controlo.

    6-28 julho Os franquistas sustm a con-traofensiva republicana a oeste de Madrid

    conhecida por Batalha de Brunete.

    24 agosto Comea o cerco republicano de Belchite, localidade aragonesa que as autori-dades legais acabaro por recuperar.

    26 agosto Os franquistas tomam Santander, na Cantbria.

    20 outubro Os franquistas tomam Gijn, nas Astrias, e passam a controlar todo o Norte.

    31 outubro O Governo da Repblica trans-fere-se de Valncia para Barcelona.

    18 novembro A Inglaterra envia para Burgos um representante, sem o ttulo de embaixador.

    15 dezembro Principia a Batalha de Teruel, em Arago, localidade que acabar por ser recuperada pela Repblica ao m de trs semanas de duros combates.

    8 janeiro Nasce o futuro rei Juan Carlos, lho do conde de Barcelona e neto de Afonso XIII. Franco design-lo- herdeiro da coroa, depois de, em 1947, ter restaurado a monar-quia intitulando-se Regente.

    20 janeiro Barcelona bombardeada pelos italianos.

    1 maro Em Bur-gos, os nacionales formam o seu primeiro Governo no provisrio.

    6 maro O cruzador franquista Baleares afundado pela frota republicana na Batalha do Cabo de Palos, o maior recontro naval da guerra, travada ao largo de Mrcia.

    9 maro Os franquistas publicam o Foro do Trabalho (uma das oito Leis Fundamentais da ditadura) e lanam uma ofensiva militar em Arago.

    3 abril Os franquistas apoderam-se de Lrida, na Catalunha.

    15 abril As foras franquis-tas atingem o Mediterrneo em Viaroz, cortando a Repblica ao meio. Por essa altura, o Governo francs, cheado por douard

    1937 1938

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  • Espanha || CRONOLOGIA

    v 16

    14 janeiro Os nacionales tomam Tarragona. Face iminncia da vitria franquista, comea o grande xodo dos refugiados para Frana.

    26 janeiro Barcelona, a segunda cidade da Espanha, cai em poder dos sublevados. A Repblica ca limitada zona que vai do Levante (Valncia) a Madrid.

    2 fevereiro A Frana, por intermdio do seu

    embaixador, faz presso em vo sobre o Gover-no espanhol para que se renda aos sublevados.

    7 fevereiro O Presidente da Repblica, Manuel Azaa, opta por exilar-se em Frana, onde morrer no ano seguinte surpreendido pela ocupao nazi.

    9 fevereiro O Governo republicano rene- -se, j no exlio, na cidade francesa de Toulou-se, antes de se trasladar para Valence. A ilha de Minorca capitula perante os franquistas sem oferecer resistncia.

    14 fevereiro Cessa a resistncia republi-cana na Catalunha. A Sua o primeiro dos Estados neutrais a reconhecer Franco.

    27 fevereiro A Frana e a Inglaterra reconhecem, por sua vez, a Junta de Burgos (Governo de Franco).

    2 maro O marechal Ptain, heri da I Guerra Mundial

    e que depois chear o governo francs pr-nazi de Vichy, nomeado embaixa-dor da Frana na nova

    Espanha, apresenta as suas credenciais a Franco em

    Burgos.

    4 maro Numa guerra civil dentro da

    Daladier, reabre a fronteira com a Espanha, que estava encerrada. No mar, entre abril e junho 11, navios britnicos ao servio da Repblica so afundados em combates com unidades dos nacionales.

    12 maio O Governo portugus re-conhece ocialmente a franquista Junta de Burgos como Governo da Espanha; vem para Lisboa, como embaixador, Nicols Franco,

    irmo mais velho do generalssi-mo e apoiante do Alzamiento desde a

    primeira hora.

    19 maio Franco passa a ser capitn-general de los Ejrcitos de Tierra y Aire (Exrcito e Marinha).

    14 junho Os franquistas, que lanaram a ofensiva do Levante, tomam Castelln de la Plana, entre Tarragona e Valncia.

    5 julho O Comit de No Interveno acorda na retirada das foras voluntrias es-trangeiras, mas s as Brigadas Internacionais sero desativadas.

    25 julho Os franquistas conseguem atraves-sar o rio Ebro.

    30 outubro Principia uma grande con-traofensiva franquista na frente do Ebro. Entretanto, Franco zera j saber Frana e Inglaterra que permaneceria neutral em caso de guerra europeia.

    15 novembro A batalha do Ebro termina com o recuo das foras republicanas. Come-am a abandonar a Espanha os elementos das Brigadas Internacionais. Por esta altura decorrem os processos contra os trotskistas do POUM, abertos pelo Governo de Negrn, inuenciado pelo PCE.

    23 dezembro Os franquistas lanam uma ofensiva geral contra a Catalunha.

    guerra civil, o coronel Segismundo Casado encabea um golpe de Estado na Repblica

    destinado a acelerar a rendio e o m da guerra; os golpistas, que conseguem tomar o poder (Jun-

    ta Casado), tentaro negociar uma rendio honrosa, mas Franco apenas aceita a rendio incondicional.

    27 maro A Espanha franquista adere ao Pacto

    Antikomintern, o tratado assinado em 1936 entre a

    Alemanha nazi e o Japo militarista para que fossem tomadas medidas contra a URSS e a Internacional Comunista.

    28 maro Madrid acaba por se render.

    30 maro Os nacionalistas entram em Valncia e controlam toda a Espanha.

    1 abril Numa data que se presta a ironias, Franco publica o comunicado da vitria, A guerra acabou. O Presidente portugus, scar Carmona, felicita o generalssimo.

    4 abril Chegam a Madrid os primeiros 137 dos 300 camies de ajuda alimentar, conten-do cada um duas toneladas de vveres.

    14 abril O embaixador italiano em Lisboa sugere a Salazar que subscreva o Pacto Antikomintern, mas o ditador portugus recusa.

    19 maio Os vencedores organizam o Desle da Vitria, no centro de Madrid.

    Lus Almeida Martins

    1939

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  • v 18

    Espanha || ANTECEDENTES

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  • 19v

    AGuerra de Espanha come-ou em sentido estrito no dia 17 de julho de 1936, data da ecloso do movimiento nome pelo qual a ditadura franquista designou durante 40 anos o golpe militar contra a II Rep-blica e a Constituio de 1931. A data o-cialmente comemorada pelo regime sado do conito sempre foi, porm, 18 de julho, o dia em que Francisco Franco se pronun-ciou. Duas ilaes podem ser desde logo retiradas daqui: a necessidade de cultuar o general que se sobreps aos seus pares de conspirao e montou o cavalo do poder e ainda o facto de a longa conagrao de quase trs anos ter comeado por ser um pronunciamiento nos mesmos moldes das muitas intervenes militares que se sucediam desde h mais de um sculo. A histria da resistncia prolongada das autoridades constitucionais da Repblica e da maioria da populao a histria da Guerra de Espanha. Guerra civil? Costuma ser assim designada, mas ser mais correto retirarmos-lhe o adjetivo, pois o envolvi-mento internacional fez deste conito a verdadeira arena ideolgica do sculo XX e o laboratrio de ensaios para a Segunda Guerra Mundial, que viria logo a seguir.

    O Alzamiento (como os franquistas tam-bm chamaram ao pronunciamiento) teve como pretexto imediato o assassnio do lder monrquico Jos Calvo Sotelo, mas a sua origem profunda a srie de desequi-lbrios nacionais polticos, econmicos, sociais trazidos para a ordem do dia pela vitria da Frente Popular nas eleies de fevereiro de 1936. Para entendermos com um mnimo de rigor a guerra em todo o

    seu signicado necessrio recuar at uma poca fundamental na Histria da Europa e do mundo: a da Revoluo Francesa e da subsequente epopeia napolenica. O leitor est convidado a fazer essa viagem no tempo.

    AO SOM D A MARSELHESAA transio dos regimes de monarquia ab-soluta para o liberalismo teve de permeio, na Pennsula Ibrica, o episdio atribu-lado entre ns conhecido por Invases Francesas e em Espanha por Guerra da Independncia. Laboratrio de experin-cias polticas e cadinho de problemas de conscincia, esses anos que vo de 1807 a 1814 desembocariam em Portugal na implantao da monarquia constitucional, j na dcada de 1830, e na instalao da rotina do rotativismo partidrio, volta de 1850. Mais complexo, embora paralelo, foi contudo o caso espanhol.

    O equivalente em Espanha ao rei abso-luto D. Miguel Fernando VII. Afastado do trono por Napoleo, assistiu do seu exlio forado em Bayonne proclamao, em Cdis, da Constituio de 1812. Aqui so agrantes as semelhanas com o caso portugus, visto que os nossos revolucio-nrios de 1820 aproveitaram a ausncia da corte no Brasil (onde se refugiara em 1808 perante a ameaa do exrcito napolenico) para redigirem e proclamarem o primeiro texto constitucional portugus.

    Tal como D. Miguel, Fernando VII faria tbua rasa da lei fundamental. O seu gol-pe de 1814 e a interveno internacional que em 1823 o conrmou, colocaram a Espanha num lugar muito subalterno no concerto europeu das naes. Era a poca

    DOS DE MAYO O clebre quadro de Goya reconstitui os fuzilamentos de sublevados madrilenos pelas tropas napolenicas, em 1808

    Cem anos de confuso

    Para compreender bem a tragdia de 1936-1939 conveniente adquirir um bilhete de ida e volta na cpsula

    do tempo, at poca fundadora do nosso mundo por Lus Almeida Martins

    LEM

    AG

    E

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  • v 20

    em que, derrotado denitivamente Napo-leo em Waterloo (18 de junho de 1815), a santa aliana funcionava como polcia das relaes internacionais, restaurando inclusive a monarquia dos Bourbons em Frana. Estado predominantemente ru-ral, controlado pelos grandes interesses agrrios e pela igreja catlica, a Espanha, tal como Portugal, contrastava com os pases europeus transpirenaicos, que no obstante os retrocessos inerentes queda do sistema napolenico se indus-trializavam e criavam estruturas polti-cas representativas. Mesmo a Frana da Restaurao bourbnica j nada tinha que ver com a de Lus XVI: se o rei e a corte retomaram o o dos seus rituais, a estrutura administrativa cortara por completo com a tradio medieval e era doravante a da mquina estatal napo- lenica, consentnea com o novo dina-mismo social liderado pela empreendedo-ra classe burguesa. Em Espanha, porm, a inexistncia desta classe determinou que tudo permanecesse mais ou menos na mesma.

    Com Fernando VII principiou em Es-panha o longussimo perodo de guerras civis e de golpismos que teve o seu ltimo episdio j nos nossos dias, a 23 de feve-reiro de 1981, quando o general Tejero, frente de uma fora da Guarda Civil, irrompeu pelas Cortes e fez tremer o he-miciclo e o pas. Mais de um sculo e meio de conitos, de tenses, de interrogaes e de perplexidades sobre o pano de fundo de uma antiga potncia hegemnica relegada

    para a periferia da Europa por culpa de erros acumulados.

    GUERRAS CARLISTAS E I REPBLICALogo aps a morte do desptico soberano, ocorrida em 1833, deagrou a primeira das trs Guerras Carlistas, nome por que caram conhecidos os conitos que no sculo XIX opuseram os partidrios da evoluo aos da estagnao. O nome vem de Carlos, irmo de Fernando e tal como ele homem de tendncias absolutistas, que pretendeu apoderar-se do trono em preju-zo dos direitos sucessrios da sua sobrinha Isabel, na qual os liberais depositavam esperanas. H quem considere a guerra de 1936-1939 a quarta Guerra Carlista, e no errado pensar assim se atendermos a que os interesses em choque eram ainda os de 1833: a Espanha liberal e constitucional de um lado; a Espanha oligrquica apoiada na superstio do outro.Perdidas as vastssimas colnias america-nas, no conturbado perodo das Guerras Napolenicas e suas sequelas (poca em

    que tambm o enorme Brasil se separou de Portugal), eis a Espanha connada piel de toro ibrica e s suas mal admi-nistradas possesses de Cuba, Porto Rico e Filipinas. Com os recursos coloniais no havia pois que contar muito, razo por que se agudizaram os conitos internos, justi-cando a mxima em casa onde no h po todos ralham e ningum tem razo. T-la-iam uns mais do que outros, e esses eram os que preconizavam uma reforma total, mas nunca chegou a ser posta de p nesses anos de discrdia uma poltica desenvolvimentista assente na explorao ecaz da totalidade dos recursos nacionais. S em nais do sculo XIX as burguesias catal e basca conseguiram harmonizar o poderio de que iam dispondo com a sua representao num sistema poltico capaz de defender em conjunto os seus interesses e os dos grandes terratenentes castelhanos, estremenhos e andaluzes.

    Os assaltos ao poder partiam da reao, e no o contrrio, pois as instituies eram durante a maior parte do tempo represen-tativas, ainda que fosse praticado o voto censitrio (restringido a quem usufrus-se de uma determinada renda), e no o sufrgio universal. Eis pois os carlistas a tentarem em vo a sua sorte novamente em 1855-56 e em 1872-76.

    O liberalismo do Estado era, de qualquer modo, limitado, corrupto e improdutivo. O perodo que vai at 1868, data em que Isabel foi derrubada por um golpe, carac-teriza-se por uma grande tenso social no quadro da incipiente industrializa-

    Espanha || ANTECEDENTES

    Ficaram conhecidos por Guerras Carlistas os conitos que, no sculo XIX, opuseram os partidrios da evoluo aos da estagnao

    TEMPODE GUERRAS E REVOLUES

    1808-14 Guerra da Independncia: no quadro das Guerras Napolenicas, a Espanha, inicialmente aliada da Frana, resiste ocupao e, com a ajuda anglo-portuguesa, acaba por expulsar os invasores; mas as ideias novas criam razes

    1809-11 Sob a liderana de Simn Bolivar, a Bolvia e a Venezuela tornam-se independentes. Sensivelmente na mesma poca o mesmo se passa com o Mxico, a Argentina e quase todas as colnias espanholas da Amrica

    1812 Em Cdis, proclamada uma Constituio liberal

    1814 O rei absolutista Fernando VII recupera o trono

    As datas fundamentais do perodo entre as Guerras Napolenicas de 1811-14 e a Guerra Civil de 1936-39

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  • 21v

    o, pela quebra moral das instituies (a prpria rainha era conhecida pelo seu comportamento leviano, o que ne-nhuma importncia teria se isso no se reetisse na nomeao de favoritos para altos cargos), pelo grande peso poltico da oligarquia formada pela casta militar, os proprietrios rurais, os polticos cor-ruptos e a aristocracia decrpita, e ainda pelo importante papel desempenhado pela Igreja nas questes nacionais. Data do reinado de Isabel a criao da Guarda Civil, o corpo de polcia nacional que no seguimento sempre atuaria do lado dos poderosos contra os fracos.

    O golpe de 1868 desembocou na efme-ra I Repblica de 1873-74, depois do breve reinado de Amadeu I de Saboia. Tambm a, a inpcia governativa veio tona, pois os discursos inamados no parlamento nunca encontraram verdadeiro eco do pas real, manobrado pelos caciques. Tornou-se assim possvel o regresso da monarquia.

    A RESTAURAO E A ROTAOOs historiadores de esquerda no hesi-tam em classicar de farsa este perodo conhecido por Restaurao (subentenda-se monrquica) que se prolongaria at 1931, data da partida de Afonso XIII para o exlio e da proclamao da II Repblica. Abrange ele os reinados de Afonso XII (1875-85), e de seu lho, o 13 do nome, que teria de esperar at 1902 para ser considerado maior na verdade tinha 16 anos e assumir o poder at a exerci-do por sua me, a regente Maria Cristina

    de Habsburgo-Lorena. Farsa porqu? Em primeiro lugar, pelas prticas eleito-rais, que, diga-se, no diferiam do que se passava no nosso pas: os votos, de carter censitrio, compravam-se; em segundo lugar, pela sua atuao no campo colo-nial, que precipitou o pas para o desas-tre de 1898 a desequilibrada e suicida guerra contra os EUA de que resultaria a perda de Cuba, de Porto Rico e das Filipinas, que na prtica passaram para a dependncia de Washington. No primei-ro quartel do sculo XX as consequncias deste choque ainda mais agudizaram a situao interna espanhola, visto que o pas sentiu profundamente o complexo de, ao contrrio dos seus vizinhos (in-cluindo Portugal), no possuir colnias, isto numa poca em que a Europa dava cartas no mundo.

    Politicamente, a Restaurao caracte-rizou-se pela rotacin: tal como no rota-tivismo portugus seu contemporneo, dois partidos revezavam-se a curtos inter-valos no poder, de acordo com uma lgica eleitoral a diversos ttulos viciada. Esses partidos eram o Liberal, cuja primeira gura foi Prxedes Sagasta (1807-1903) e o Conservador, liderado por Cnovas del Castillo (1826-97). Do mesmo modo que no nosso pas no eram detetveis diferen-as sensveis entre progressistas e regene-radores, tambm em Espanha era difcil descortinar diferenas entre os liberais de Sagasta e os conservadores de Cnovas. Defendendo ambos os mesmos interesses, perpetuavam o status quo numa poca em

    que as movimentaes obreiristas ainda no faziam tremer o sistema.

    Isso comeou a ocorrer mais tarde, quando eclodiu em Barcelona um levan-tamento popular contra o embarque de soldados para a guerra de Marrocos, con-geminada na sequncia da Conveno de Algeciras de 1905, para dar ao exrcito espanhol uma espcie de compensao moral depois da derrota face aos EUA e, simultaneamente, salvar a face da pr-pria Espanha no concerto de uma Europa ento visceralmente belicista e imperia-lista. Este levantamento, duramente re-primido, cou conhecido por Semana Trgica. Era o estertor da rotacin, uma vez que o militarismo africanista, ainda que tivesse em vista o resgate da ima-gem moral da nao atravs da tentativa de criao de um um novo imprio do outro lado do estreito de Gibraltar, veio a traduzir-se numa dramtica sequncia de novas deterioraes da vida poltica, com o aparecimento de golpismos e fulanis-mos militares, a formao de juntas e, em ltima anlise, o agravamento das lutas sociais cujos intrpretes eram, de um lado, as associaes patronais e do outro a Unin General de Trabajadores (UGT) socialista e a Confederacin Nacional del Trabajo (CNT) anarquista.

    Ao contrrio de Portugal, a Espanha no participou na Grande Guerra de 1914-18. Para qu faz-lo, se no tinha uma secular aliana com a Inglaterra, nem vastas colnias a preservar? Na Ca-talunha soou entretanto o terceiro sinal

    1820-23 Trinio Liberal: um perodo de restaurao da Constituio de 1812 encerra-se com a interveno militar da Frana bourbnica, que se seguira queda de Napoleo

    1833 Pela morte de Fernando VII, sucede- -lhe a sua lha, Isabel II, uma criana de 3 anos; a regente a me, Maria Cristina de Bourbon (ou Borbn)

    1833-39 Primeira Guerra Carlista: os apoiantes do pretendente absolutista, infante Carlos, so derrotados pelos liberais da regente

    1846-49 Segunda Guerra Carlista: desfeiteada uma nova tentativa absolutista de tomada do poder

    1864-66 Guerra Hispano- -Peruana: aps uma sucesso de recontros navais no Pacco, a Espanha reconhece a independncia da antiga colnia

    1868-78Guerra dos Dez Anos: uma longa rebelio cubana reprimida a custo

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  • v 22

    de rebate para a Restaurao, quando as tendncias autonomistas passaram a alimentar atos de terrorismo anarquista e de contraterrorismo patronal. O clima era propcio ecloso dos nacionalismos, j que o Governo central, cego aos parti-cularismos dos tecidos geogrco e social, quase colocava o pas beira da fome, devido alta de preos motivada pelo esforo blico em Marrocos.

    Porque j no era apenas na Catalunha que os movimentos de descontentamento eclodiam. O triunfo da Revoluo Russa, em outubro de 1917, inamou no s o pro-letariado dos principais centros industriais (Catalunha, Pas Basco, Astrias), mas tambm os assalariados rurais da Anda-luzia. Estes ltimos, mal esclarecidos mas profundamente anticlericais, nada tinham a perder seno a sua magra jorna de umas trs pesetas dirias.

    Entretanto, em Marrocos ia-se distin-guindo nas campanhas militares um jovem ocial a quem foi entregue o comando da novel Legin, fundada em 1920 por Miln Astray. Aos 33 anos, o tal jovem ocial foi promovido a general e mais tarde daria muitssimo que falar. O seu nome? Fran-cisco Franco.

    O FASCISMO BATE PORTAEm Portugal, Sidnio Pais lanara em 1917 um balo de ensaio de regime musculado, e em 1922, na Itlia, Benito Mussolini inaugurara, com o seu Partido Fascista, a srie de ditaduras de direita da Europa de entre guerras, proclaman-

    do-se Duce (chefe). Estes regimes apre-sentavam-se como solues ecazes para a regenerao de pases dilacerados por permanentes lutas sociais e polticas, numa tica favorvel aos interesses pa-tronais. Militares espanhis comearam pois por essa altura a sonhar com um novo pronunciamiento.

    E o golpe, efetivamente, deu-se em 1923, ano em que Afonso XIII apadrinhou o Diretrio de altas patentes constitudo pelo general Primo de Rivera, pai de Jos Antnio, o futuro fundador (em 1933) do partido fascista Falange, o nico que mais tarde seria reconhecido pela ditadura fran-quista. Contudo, ainda que admirador do Duce italiano, Primo de Rivera pouco mais fez do que reproduzir em Espanha uma amostra plida de fascismo. Ao contrrio do seu modelo italiano, no inculcou na juventude qualquer ideologia, ainda que elitista, xenfoba ou racista, nem criou um partido de massas. A polcia poltica tra-balhava ativamente, mas era desajeitada e parecia vazada nos moldes das secretas que no sculo XVIII espiavam os passos dos estrangeirados. A oposio era por isso razoavelmente ativa e alargava-se ao prprio seio das Foras Armadas.

    A direita acabou assim por perder as esperanas que depositara na ditadura de Primo de Rivera. O general, andaluz de Jerez de la Frontera, era uma gura casti-a. Vivo desde 1908, procurava incgnito as companhias femininas e percorria de noite as calles madrilenas e os tablaos de amenco, envolto numa grande capa de

    recorte romntico. Abandonado pelos seus pares e por Afonso XIII, demitiu-se em 1930 e exilou-se amargamente em Pa-ris, onde morreu no ano seguinte, no ano-nimato de um pequeno hotel. evidente que o regime de Primo de Rivera inspirou os militares portugueses golpistas de 28 de maio de 1926, que passados dois anos chamariam Salazar para o Governo.

    II REPBLICA, UM 'PREC ESPANHOL'Depois da queda de Primo de Rivera foi a vez de o prprio rei partir para o exlio, embora sem abdicar. O conselho foi dado a Afonso XIII pelo general Jos Sanjurjo, comandante da Guarda Civil, que se de-clarara incapaz de garantir a segurana do trono. Corria o ano de 1931 e nas elei-es municipais marcadas para abril a m de mostrar uma certa abertura (no se efetuavam eleies h muito tempo), os partidos republicanos tinham obtido largas maiorias nas principais cidades. Nos crculos monrquicos gerou-se o pnico, o rei partiu e foi promulgada uma Consti-tuio republicana e democrtica.

    As diculdades com que deparou o novo regime a II Repblica so evidentes. A misria grassava nos meios camponeses e operrios, 8 milhes de pessoas (numa po-pulao de 24 milhes) viviam na penria, 2 milhes de camponeses no possuam terra, provncias quase inteiras eram pro-priedade de uma s famlia, 20 mil pessoas eram proprietrias do solo espanhol, o sa-lrio mdio dos trabalhadores era de uma a trs pesetas dirias quando o quilo de po

    1868 Uma revoluo popular e militar depe Isabel II, que se exila em Paris, e as Cortes votam pela criao de uma nova dinastia

    1870-73 O italiano Amadeu de Saboia rei de Espanha, mas acaba expulso do trono

    1872-76 Terceira Guerra Carlista: os rebeldes conservadores so derrotados pelas tropas ociais

    1873-74 A I Repblica proclamada e depois derrubada por um pronunciamento militar monrquico

    1874-1931 Restaurao: assim se designa o perodo de 57 anos assinalado pelo regresso dos Bourbons, sucedendo-se no trono Afonso XII (1874-85), Maria Cristina de ustria (1885-1902, como regente) e Afonso XIII (1902-1931)

    1879-80 Guerra Chiquita (Pequena): nova derrota dos independentistas cubanos

    Espanha || ANTECEDENTES

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  • 23v

    custava uma peseta, metade da populao era analfabeta, havia 31 mil padres, 20 mil frades e 60 mil freiras, as Foras Armadas contavam com 15 mil ociais e 800 deles tinham a patente de general.

    Aps a proclamao da Repblica, os partidos de esquerda foram o primeiros a ocupar o poder. A sua atuao poltica iniciou-se pela aplicao de uma reforma agrria circunscrita Andaluzia e de me-nor alcance do que a equivalente portu-guesa dos anos de 1970 e pela separao do Estado e da Igreja Catlica a m de anular a enorme inuncia dos meios re-ligiosos na poltica. Como natural, estas medidas suscitaram uma viva reao da direita, mesmo que republicana, apoiada em coro pelos ociais monrquicos e pe-los latifundirios. Vivia-se, como j vimos, a poca da ascenso dos fascismos (Hitler conseguiu o poder na Alemanha em 30 de janeiro de 1933) e dos mtodos de terror utilizados pelas suas tropas de choque. Surgiram assim em Espanha brigadas de assalto inspiradas nas SA e SS nazis: a j referida Falange de Jos Antonio, lho do antigo ditador, e as JONS (Jun-tas de Ofensiva Nacional-Sindicalistas), criadas j antes, em 1931, por Onesimo Redondo.

    Os atos de terrorismo desencadeados por estes ncleos e a propaganda conser-vadora determinaram uma involuo, e a direita venceu as eleies de novembro de 1933. Greves e confrontos com a Guarda Civil foram a consequncia imediata das medidas adotadas pelo novo Governo, que

    desfez a obra do anterior. Nas Astrias e na Catalunha os acontecimentos adquiriram dimenso revolucionria, com os mineiros a tomarem o poder em Oviedo e Gijn. Mas a represso no se fez tardar, saldan-do-se por 1 500 mortos, 3 mil feridos e 5 mil detidos. Niceto Alcal Zamora, que sucedera a Manuel Azaa na Presidncia da Repblica, distinguiu com o epteto de salvador da Nao o general de 42 anos que comandara a represso nas Astrias. O seu nome? Francisco Franco...

    Face ameaa de um golpe fascista, os partidos republicanos de esquerda uniram-se numa Frente Popular em que cabiam de centristas a anarcossindicalis-tas, passando por socialistas e comunistas. Uma outra coligao, a Frente Nacional, agrupava os conservadores.

    As eleies de fevereiro de 1936 foram disputadas entre estes dois blocos. Com 4 milhes de votos contra 3 milhes e meio, a Frente Popular venceu com maioria ab-soluta. A avalancha no tardou: os campo-neses ocuparam as terras incultas, liber-taram-se os mineiros, os salrios foram

    aumentados. No entanto, paralelamente foram cometidos excessos: pilhagem de duas centenas de igrejas e assalto a uma dezena de jornais de direita; greves selva-gens; assassnios polticos cometidos de ambos os lados 300 num s dia! Na ausncia de formao democrtica e de memria histrica, a violncia respondia violncia e o Governo era impotente.

    Dois generais direitistas Manuel Goded e Franco (outra vez ele) critica-ram o Executivo e foram afastados para postos de comando nos arquiplagos, o primeiro para as Baleares, o segun-do para as Canrias. Antes da partida prestaram juramento de delidade Repblica. De qualquer modo, a palavra de ordem nacionalista de Arriba Es-paa! comeou a circular em voz baixa nos quartis, encontrando maior eco nas guarnies de Burgos e do Marrocos Es-panhol. A gota de gua que fez extravasar a taa foi, como j se referiu, o assassnio em Madrid, em julho de 1936, do lder monrquico Jos Calvo Sotelo, excelente orador e idolatrado por largos setores da populao feminina. Trs semanas antes proferira no agitado Parlamento um discurso contundente que terminara com um apelo claro ao levantamento militar: Seria louco o militar que, face ao seu destino, no estivesse disposto a sublevar-se a favor de Espanha contra a anarquia. No decorrer da mesma interveno declarara-se abertamente fascista. Os dados estavam lanados e as chamas no tardariam a irromper.

    1898 Guerra Hispano- -Americana: no conito com os EUA a Espanha perde as ltimas colnias (Cuba, Porto Rico e Filipinas) e ca traumatizada no contexto da Europa colonialista

    1906 As tropas espanholas sofrem um duro revs em Melilla (Marrocos) e esse desaire reete-se internamente

    1909 Semana Trgica: a represso das movimentaes operrias de 26 de julho a 2 de agosto traduz-se por milhares de detenes arbitrrias, 2 mil processos judiciais, 175 penas de desterro, 59 de priso perptua e cinco condenaes morte, alm do encerramento dos sindicatos e do fecho das escolas laicas. Principia o longo envolvimento militar em Marrocos, onde o exrcito combate a rebelio do Rif

    1914-18 A Espanha permanece neutral na I Guerra Mundial

    1923-30 Ditadura de Primo de Rivera: o general (ao centro) governa sem parlamento com a cobertura do rei

    1931 Afonso XIII auto exila-se na sequncia dos resultados das eleies municipais e proclamada a II Repblica

    A gota de gua que fez extravasar a taa foi o assassnio poltico em Madrid, em julho de 1936, do lder monrquico Jos Calvo Sotelo

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  • v 24

    FRANCISCO FRANCO

    O CUCO DA GUERRA CIVILComo que um obscuro cadete sem carisma chega a

    generalssimo e caudilho? A incrvel histria de el Franquito, de 251. classicado da Academia de Infantaria de Toledo a primeiro general do seu curso. Quem era e o que movia

    o galego Francisco Franco y Bahamonde?por Filipe Lus

    C om 1,64m de altura, magro, de voz ninha e bigode incipiente, Francisco Paulino Hermenegildo Tedulo Franco y Bahamonde era um cadete improvvel, na gura e no porte, durante os trs anos de formao na Aca-demia de Infantaria de Toledo, Espanha. Vtima da praxe dos seus camaradas, que lhe chamavam Franquito cognome que viria baila nas sete dcadas seguintes, sempre que surgia a ocasio de o desme-recer no melhorou muito as expecta-tivas no nal do curso: dos 381 aspirantes que entraram com ele, 312 chegaram ao m. Mas a sua classicao quedou-se por um obscuro 251. lugar. A 13 de junho de 1912, o jovem alferes seria promovido a tenente. Mas essa foi a nica promoo da sua longa carreira que se deveu a me-ras razes de antiguidade. A partir da, a ascenso foi metrica: capito aos 21 anos, comandante de guarnio aos 23, general aos 32. Tudo por mrito. Franco, o Fran-quito, desprovido de carisma ou presena fsica, em quem comeava a despontar uma barriguinha comprometedora, era um dos mais brilhantes ociais da sua gerao e, depois de liderar as foras falangistas (de extrema direita) rumo vitria na Guerra Civil, seria um dos polticos mais marcan-tes do sculo XX e um dos ditadores mais duros e duradouros (38 anos frente da Espanha, com mo de ferro).

    Francisco Franco nasceu em 1892 na pequena cidade porturia galega de Ferrol. Provinha de uma fam-lia de militares da Armada. O av, Francisco, chegou a intendente or-denador da Marinha, uma patente equivalente a general de brigada no

    alinha na parada com uma espingarda a que cortam 15 centmetros de cano: a sua baixa estatura assim o determina. Este um dos poucos revezes militares daquele que ainda chamado, depreciativamente, Franquito mas que daqui a 20 anos ser o caudillo de Espanha. Acaba a Academia em 251 lugar mas ser o primeiro do seu curso a chegar a general

    O primeiro passo, como alferes, pedir a sua incorporao em Marrocos, lugar onde havia ao. Em 1912 j est em Melilla. Embora sexualmente recatado, Franco vive em Marrocos a sua primeira paixo-neta. O alvo das suas atenes Soa Su-biran, sobrinha do Alto Comissrio para o territrio, o general Lus Aizpuru. Embora rejeitado, Franco mostra-se insistente e antes de desistir inunda a cortejada com uma torrente de correspondncia amoro-sa. D mostras de algum sentido cnico e arranja um cavalo branco com que se passeia pelas encruzilhadas marroquinas. Em 1913, depois de vrias vitrias milita-res que lhe permitem estabilizar a regio, recebe a Cruz de Mrito Militar de 1. clas-se. Comea a despontar a aura do heri: em todas as campanhas futuras, mesmo j ocial superior, faz questo de liderar pessoalmente os seus homens na frente de combate. Chega a ser ferido com um tiro no abdmen e ca s portas da morte. Nessa altura j adorado pelos homens. Em 1914 distingue-se na batalha de Bani Salen e promovido a capito, por mritos de guerra. Tem 21 anos.

    Ganha a reputao de meticuloso. Per-corre a cavalo o terreno para aperfeioar

    Exrcito. E o pai, Nicols, foi intendente geral, tambm equivalente a general, tendo estado colocado em Cuba e nas Filipinas. Nicols casou com Maria Pilar Bahamon-de, mas, apesar dos cinco lhos, nunca se deram bem. Nicols Franco era um bon vivant e cultivava um estilo de vida disso-luto, o que traumatizou o jovem Francisco, muito ligado me. Talvez por isso, ter uma vida monstica: j ocial do Exrcito, Francisco era considerado um soldado asctico, sem medo, sem mulheres e sem massa. Nas Filipinas, Nicols teria tido uma relao com uma local, de que ter nascido um lho, Eugnio Franco Puey, que, em 1950, se ter revelado ao ditador espanhol como seu meio-irmo. Outra zona obscura da sua vida tem a ver com as eventuais origens judias da sua famlia. Tanto os apelidos Franco como Bahamon-de eram comuns em ramos judeus.

    O TERROR COMO ARMAEm 1907, com 15 anos, Franco faz o exame de acesso academia de Toledo. Franco

    1892 Nasce em Ferrol, Galiza

    1907 Ingressa na Academia Militar de Toledo

    1916 ferido na Batalha de El Biutz (Ceuta)

    1920 Integra e depois comanda a Legion

    1923 Casa com Carmen Polo

    1924 promovido a general. Nasce a lha Carmen (Nenuca)

    1934 Reprime a revoluo asturiana

    1936 Sucessivamente chefe do Estado Maior, comandante das Canrias e proclamado generalssimo

    1940 Encontra-se com Hitler em Hendaya (Frana)

    1955 A Espanha reconhecida pela ONU

    1969 Nomeia Juan Carlos seu sucessor

    1975 Morre a 25 de novembro

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    Caudilho e ditador. Antes de completar 50 anos, foi proclamado generalssimo. A guerra deixou--lhe marcas de envelhecimento precoce

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    os mapas. Bravo, mas no temerrio, es-tuda cuidadosamente cada recontro com o inimigo. Preenche o bocejo dos tempos mortos com a leitura compulsiva de trata-dos militares, memrias de generais e des-cries de batalhas. um militaro. Aos 23 anos, j famoso em Espanha, proposto pelo alto comissrio para as funes de comandante, a juntar mais alta condeco-rao de valor, a Grande Cruz Laureada de So Fernando. O Governo ope-se: Franco demasiado jovem. No lhe conheciam a bra: protesta energicamente e o caso pessoalmente exposto pelo alto comissrio ao rei Afonso XIII. O monarca concede na promoo, mas no na condecorao. Franco ca inconsolvel.

    Volta Pennsula e destacado para dirigir a guarnio de Oviedo. As Ast-rias ho de marcar-lhe o destino: anos mais tarde h de reprimir violentamente um levantamento de mineiros, que faz da regio uma espcie de balo de ensaio para a guerra civil (1936-39). Mas no antecipemos: a sua estrela, se brilhara em Marrocos, empalidece um pouco em Oviedo. Em frica, era um militar valoroso e convel. Nas Astrias, onde comanda ociais com o dobro da sua idade, um arrivista. Fecha-se sobre si mesmo, mas no deixa de frequentar a boa socieda-de. Enamora-se de Maria Carmen Polo, lha de uma famlia da alta burguesia

    endinheirada local. Volta a dar mostras da sua persistncia. Enfrenta a oposio do futuro sogro, que descona da vida atribulada de um militar em bolandas, e declara que casar a lha com Franco seria como cas-la com um toureiro. Mas el Comandante comparece piedosa e diariamente na missa das 7 da manh, onde sabe que pode avistar a amada.

    J noivo, parte em 1920 outra vez para Marrocos, onde estar na fundao da Legin por Miln Astray. Depois de vrios revezes dos espanhis e de importantes

    localidades perdidas para os rebeldes, Franco contra-ataca. O inimigo chaci-nado. Recupera Nador e Monte Arruit, importantes entrepostos perdidos para os homens do chefe rebelde Raisuli. No se ope s atrocidades cometidas pela Le-gin. A decapitao era comum. Franco descobria que esta sinistra notoriedade era tremendamente ecaz a aplacar a populao colonizada. Adotou um tom benvolo face aos excessos cometidos seus homens e, j na Guerra Civil, aprovaria mortes e mutilaes. Mais tarde, quando o ditador Primo de Rivera visitou Marrocos, em 1926, horrorizou-se, ao constatar que um batalho da Legin o esperava empu-nhando baionetas com crnios espetados. Franco, esse, voltara a Oviedo em 1923, para se casar com a rica herdeira dos Polo. A imprensa local rejubilava. E um jornal de Madrid, o Mundo Grco, titulou: La boda de un heroico caudillo. Foi a pri-meira vez que lho chamaram.

    O IRMO REVOLUCIONRIOFranco , desde 1928, comandante da Academia Militar de Saragoa, onde re-cebe a visita do general francs Maginot (o pai da linha defensiva forticada entre a Frana e a Alemanha), que h de dizer: A Academia de Saragoa a mais mo-derna do seu gnero em todo o mundo! Os panzers de Hitler ainda no haviam testado aquilo que Maginot entendia por

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    CONSAGRAO As hostes nacionalistas celebram o triunfo em Madrid, no nal da guerra. Franco inicia um consulado de quatro dcadas a liderar a Espanha

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    modernidade, mas Franco fazia o seu caminho ganhando tambm prestgio in-ternacional. Em dezembro, desenrola-se uma conspirao esquerdista, conhecida por levantamento de Jaca, contra o Governo de Barenguer (continuador da ditadura de Primo de Rivera) e o irmo de Franco, Ramn, est implicado. Agravam--se as divises na sociedade espanhola, que j vinham do sculo XIX, provocaro a guerra civil e persistiro at aos nossos dias: de um lado o radicalismo da esquerda anticlerical e as nacionalidades; do outro o extremismo de uma direita aristocrtica e padresca, profundamente reacionria e nacionalista. Essa linha separa tambm a famlia Franco, pelo menos nesta fase. Pro-eminente aviador, Ramn Franco exila-se, primeiro em Lisboa, depois em Paris.

    Mas o sangue galego de Franco trazia- -lhe ao de cima o apelo gregrio e o sentido de famlia. O cl Franco prosperaria du-rante o franquismo e mesmo o seu irmo politicamente tresmalhado, Ramn - que viria a ser recuperado para a causa nacio-nalista - estava acima de consideraes de ordem poltica. Ramn acabaria como tenente-coronel aviador nas foras falan-

    gistas, imposto por Franco, o que lhe cau-saria dissabores junto dos seus camaradas. Mas nessa altura ele j era generalssimo: os crticos foram afastados de cargos de poder mal a guerra terminou...

    A famlia de Franco decisiva no curso dos acontecimentos que mudaram a face de Espanha. As eleies de princpio de 1931 foraram ao exlio o rei Afonso III (av do atual D. Juan Carlos) e abriram caminho II Repblica. Esse foi o mesmo ano em que conheceu o jurista Ramn Serrano Suer, que se tornou seu cunhado ao casar com a irm mais nova de doa Carmen, e que seria um dos principais idelogos do franquismo. O padrinho do noivo foi Jos Antnio Primo de Rivera (lho do antigo ditador), fundador da Fa-lange fascista. E Franco foi o padrinho da noiva, tornando-se compadre de Primo de Rivera. Uma associao que fruticaria nos 40 anos seguintes.

    Em 1932, o general Sanjurjo - o mais eminente dos africanistas e impulsionador do golpe contra a Repblica, em 1936 - ensaiou um pronunciamiento, para o qual tentou aliciar Franco. O futuro caudillo achou que a operao estava a ser prepa-rada em cima do joelho e recusou. Sanjurjo que viria a ser preso no debute do golpe no evitou um remoque: Franquito um cuquito espera de encontrar um ni-nho. Voltava a malfadada alcunha, mas a fama de cuco faria o seu proveito: em 1936, os lderes naturais das hostes nacionalistas, Calvo Sotelo e o prprio Sanjurjo, morre-

    riam, abrindo caminho ao generalssimo para lhes ocupar o ninho. J o outro lder do pronunciamento, o general Emlio Mola, primeiro rebelde a sediar a revolta em Burgos, seria preterido, devido ao facto de os alemes, cuja ajuda era essencial, apenas conarem em Franco.

    ABORDAGEM A HITLEREm 1933, a direita regressou, inespera-damente, ao poder. O novo ministro da Guerra, Diego Hidalgo, no tardou a pedir a ajuda de Franco, como assessor, para enfrentar uma greve geral que colocou em p de guerra, de novo, os mineiros das Astrias. Temendo que os soldados se recusassem a disparar sobre trabalhado-res, por anidades de classe, mandou vir mercenrios das foras indgenas do Mar-rocos Espanhol e voltou a aplicar a receita que tanto sucesso lhe tinha garantido nas campanhas em frica. Esta uma guerra de fronteiras, disse a um jornalista, e as frentes so o socialismo, o comunismo e todos quanto atacam a civilizao para a substituir pela barbrie. Substituiu os comandantes que tinham dvidas sobre disparar contra civis e ordenou o bombar-deamento de bairros operrios das cidades mineiras. Alguns generais consideraram as ordens brutais. Mas este era j o Franco que todos os espanhis iriam conhecer.

    O regresso da esquerda (Frente Popular) nas eleies de fevereiro de 1936, exila-o como comandante geral nas Canrias. O novo Governo quere-o o mais longe pos-svel. Mas a conspirao j est no ar.

    Os cabecilhas do golpe de 17/18 de julho de 1936 receavam avanar sem Franco. A sua inuncia no Exrcito era enorme. E sem ele frente das experimentadas foras marroquinas, o golpe no teria possibilidades de xito. O prestigiado l-der monrquico Calvo Sotelo pergunta-va a Serrano Suer: E o teu cunhado? De que est espera? Por tanto hesitar, ga-nhou a alcunha de Miss Canrias 1936. E Sanjurjo assegurava que Franco nada fa-ria que o comprometesse: Estar sempre na sombra porque um cuco!

    O fator que o fez decidir-se foi o assas-snio brutal de Calvo Sotelo, na sequncia de um perodo de especial tenso entre conservadores e republicanos. Seguiu

    Para reprimir a revoluo que rebentara nas Astrias, em 1934, Franco chamou tropas recrutadas no Marrocos ocupado, porque temia que os soldados espanhis recusassem disparar sobre civis

    FASES DE UM PERCURSO Ainda jovem ocial, nas campanhas em Marrocos, que lhe deram aura de heri, e na Guerra Civil, j general. Na pgina ao lado, o clebre encontro com Hitler, em Hendaye, Frana, 1940

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    clandestinamente para Marrocos, onde assumiu o comando. Em precrias con-dies, organizou o transporte das suas tropas para bases seguras em Espanha. Ao mesmo tempo, utilizou os seus contactos internacionais em Marrocos, importantes homens de negcios alemes, liados no partido nazi, para pedir apoio a Hitler (ten-tou o mesmo com os ingleses). Na ptria, ociais rebeldes rejubilaram: Franquito est connosco! J ganhmos!

    A 27 de julho, Franco concede a sua primeira entrevista ao jornalista norte- -americano Jay Allen, em Tetuo, Marro-cos: No h acordos nem trguas. Estou a preparar o meu assalto a Madrid. Tomarei a capital. Salvarei a Espanha do marxis-mo, a qualquer preo. E quando Allen o interroga se, para isso, no hesitar em matar meia Espanha, Franco responde sorridente: Repito, a qualquer preo.

    Franco no perdera tempo. Dois dias antes desta entrevista, j trabalhavam na Alemanha emissrios seus, dois alemes com interesses em Marrocos e um ocial espanhol. O lder nazi abriu os cordes bolsa: enviava a Franco, no os dez avies pedidos, mas 20. Chamou-lhe Operao Fogo Mgico o que pode invocar os pas-sos heroicos de Siegfried, atravs das cha-mas, para libertar Brunilda, na Cano dos Nibelungos, de Richard Wagner...

    Quando, a 16 de agosto, Franco chegou segura Burgos, foi recebido em delrio. Um ms depois eleito comandante supremo. O resto foi a guerra. E a ditadura.

    PREPARANDO A SUCESSOEsta foi a receita com que se formou o mito. S presto contas perante Deus e perante a Histria, diria, numa espcie de pr-epito. Na campanha da guerra civil, Franco conduziu as suas tropas como em

    Marrocos. A implacabilidade e o terror era imagem de marca. A sua misso era a de impedir um regime marxista em Espanha e conseguiu-o, meio milho de mortos depois. Mas o seu desgnio ia mais longe: ao contrrio de Salazar, preparou labo-riosamente a sucesso. Como se v, numa fase prematura da sua ascenso ao poder absoluto, quando recusa a ajuda da famlia real durante a Guerra Civil: Para que no se diga do rei, quando recuperar o trono, que lutou por um dos lados e no repre-senta todos os espanhis. A demonstrar a sua capacidade de planeamento, que o distinguiu na guerra, fez aprovar em 1947 a lei de sucesso na chea do Estado. Ao contrrio ainda de Salazar, conduziu uma poltica de fomento industrial e de desenvolvimento das vias de comunicao que dotaram a Espanha de infraestruturas modernas.

    Todavia, nos anos subsequentes Guer-ra Civil liderou um Estado isolado, quase

    pria. A comunidade internacional e os vencedores da II Guerra Mundial no lhe perdoavam as atrocidades da Guerra Civil nem a associao com Hitler. Prudente no conito mundial, no deixara de chan-tagear as potncias ocidentais (recebeu milhes de libras esterlinas da Gr-Bre-tanha, por exemplo, com o beneplcito de Washington) leiloando o seu apoio aos beligerantes. S em 1955 a Espanha de Franco seria reconhecida pelas Naes Unidas.

    Fazendo de Espanha um Estado conser-vador, corporativo e catlico, aprofundou as divises na sociedade que s o gnio diplomtico de homens como Juan Car-los, Adolfo Suarez ou Santiago Carrillo puderam suavizar, evitando, na transio democrtica, nova guerra civil. Apesar de tudo, a sua aposta em Juan Carlos revela-ra-se unicadora da nao. No sem antes ter reprimido violentamente os naciona-lismos, proibido as lnguas nacionais e executado inmeros opositores. Apesar disso, morreu na cama, tranquilamente, num hospital de Madrid, em 1975, com 83 anos. E esse no foi o mais pequeno dos seus feitos.

    No h acordos nem trguas. Tomarei a capital e salvarei a Espanha do marxismo, a qualquer preo!

    PROPAGANDA O generalssimo era apresentado como o campeo mundial da luta contra o bolchevismo, nos campos de batalha

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    CASAS VIEJAS, UM MASSACRE PREMONITRIO

    A brutalidade da represso republicana aos anarquistas numa aldeia andaluza anunciou a condenao a prazo

    da democracia espanholapor Joo Dias Miguel

    Inconscientes de que a revoluo mar-cada para esses dias falhara, um grupo de camponeses da localidade de Casas Viejas, na Andaluzia, cortou os cabos de telefone e telgrafo, construiu trincheiras nas estradas e proclamou a Repblica Comunista Libertria. Estava-se a 11 de janeiro de 1933. Depois de passarem pela taberna de Jos Bancalero Mesa - que pelas 5 da manh j recebia os jornaleiros agr-colas que, num dia normal, se dirigiriam aos latifndios para trabalhar - o grupo, escolhido a dedo pela sua destreza com as escopetas, cercou o quartel local da Guarda Civil e matou dois dos trs militares que l se encontravam.

    Entre os camponeses revoltosos, liados no sindicato anarquista CNT, estavam dois lhos de Seisdedos (um velho lder anar-cossindicalista que nascera com um defeito congnito e que toda a vida limpara, revol-tado, as matas dos seoritos latifundirios a troco de um pouco de lenha para carvo), a sua neta Maria Silva Cruz, La Libertaria, e a sua amiga Manuela Lago.

    chegada de uma equipa da Guarda de Assalto liderada pelo capito Manuel Rojas, a revoluo desvaneceu-se. Muitos fugiram para os campos e s voltaram se-

    manas depois. Outros, como os familiares de Seisdedos, recolheram a suas casas. Foi um erro fatal: estes revoltosos, denunciados, foram por sua vez cercados pela Guarda, que, incapaz de faz-los sair, pegou fogo choza (pequena cabana) onde se encontravam. Duas pessoas entre elas Maria Silva Cruz sobreviveriam graas a uma fuga pelas traseiras. Ou-tras duas, entre elas Manuela Lago, tentariam o mesmo pela frente, j entre chamas, mas foram apanhadas pelos fuzis das foras da Repblica. Os ou-tros, vivos ou crivados de balas, acabariam queimados no interior.

    No rescaldo das operaes, as autori-dades prenderam e mataram quem quer que encontrassem na posse de uma arma. Horas depois, a praceta frente choza de Seisdedos seria palco de nova tragdia, quando o capito Rojas, um homem da direita conservadora, por ali passou com um grupo de prisioneiros e encontrou o pai de Manuela Lago a chorar a morte da lha. Os relatos divergem sobre exata-

    mente o que se passou quando Fernando Lago encontrou Manuel Rojas. Esta a minha lha; este era o meu irmo, acusou Fernando. O que se sabe que o capito foi o primeiro homem a disparar e que os seus correligionrios agiram quase por osmose. No nal, estavam no cho mais nove cad-veres, todos com um tiro na nuca. No total seriam contabilizados 26 mortos.

    A brutalidade dos acontecimentos de Casas Viejas seria aproveitada pela im-prensa de direita para descrever Manuel Azaa e a II Repblica como um Governo sem qualquer controlo sobre os aconteci-mentos e que no hesitava em instigar barbrie para atingir os seus ns. Nada de contemplaes nem prisioneiros: os tiros, barriga!, foi a clebre frase que Azaa nunca proferiu mas que os anarquistas ajudaram a difundir, fechando a tenaz

    poltica sobre o primeiro--ministro, que acabaria de por se demitir do cargo.

    Franco citava a peque-na aldeia andaluza hoje, curiosamente, capital do desemprego do mundo in-dustrializado como um dos exemplos da desordem reinante que o levaram a decidir-se pela sublevao. Maria da Cruz Silva viria a ser assassinada na cadeia pouco tempo depois de dar luz e a tornar-se um dos grandes mitos do anarquis-mo espanhol. Rojas seria

    condenado pela Repblica e posterior-mente libertado pelas tropas franquistas, a tempo de participar na represso dos republicanos de Granada.

    E os anodinamente chamados sucesos (acontecimentos) de Casas Viejas e no massacres; e no crimes viriam a dividir a historiograa espanhola e os espanhis at hoje. A brutalidade, a cegueira e o dio ideolgico que os caracterizaram foram ao mesmo tempo um catalisador e prenncio do que estava para vir

    CAPITO ROJAS Seria preso pela Repblica e libertado pelos falangistas

    TERROR No total, 26 pessoas morreram, nove com um tiro na nuca. Os acontecimentos de 1933 ainda hoje dividem os espanhis

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    UM CAMARATE H 76 ANOSAo partir do exlio portugus para chear a sublevao espanhola, o general Sanjurjo morreu na queda de um

    pequeno avio junto do Guinchopor Lus Almeida Martins

    N o dia 20 de julho de 1936 um estrondo fez-se ouvir para os la-dos da Quinta da Marinha, junto da povoao de Areia e da praia do Guincho. Seguiu-se uma irrupo de labaredas numa clareira do pinhal antes que a calma se zesse novamente sentir naquele tranquilo recanto do concelho portugus de Cascais. A queda de um pequeno avio ocorrncia em muitos

    O Puss-Moth sinistrado chegara recen-temente a Portugal e aterrara dois dias an-tes (na prpria data do pronunciamiento de Franco) no aerdromo de Santa Cruz, em Torres Vedras. Pilotava-o o monr-quico espanhol, de origem basca, Juan Antonio Ansaldo, de 35 anos, que exibia pergaminhos de nobreza. Com uma aura de loucura semelhante de praticamen-te todos os aviadores da poca, batera-se como piloto em Marrocos, na guerra do Rif. Membro da organizao integrista Accin Espaola, alinhara na conspirao antirrepublicana de 1932 e fora agora en-viado a Portugal pelo general Mola a m de transportar para Burgos o general exilado Jos Sanjurjo, de 64 anos, um navarro natural de Pamplona exilado no Estoril desde 1934, quando fora posto em liber-dade aps ter cumprido pena de priso por chea do tal golpe falhado contra a jovem II Repblica Espanhola, conhecido exatamente por Sanjurjada.

    Sanjurjo, um militar de extrema-direita que, como todos os da sua gerao, comba-tera na guerra Hispano-Americana de 1898 e nas prolongadas campanhas marroqui-nas (onde conquistara o epteto de Leo do Rif) mantinha excelentes relaes com a poderosa fao carlista dos monrquicos (os requets), dispunha da conana cega

    pontos semelhante que 44 anos depois vitimaria S Carneiro e Amaro da Costa acabava de se produzir. Os pontos co-muns entre o acidente do Puss-Moth do Guincho e o do Cessna de Camarate no cabem porm dentro dos limites estritos do martirolgio da aviao: ambos os apa-relhos transportavam lderes carismticos e os dois despenhamentos alteraram o curso imediato da Histria.

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    JOS SANJURJO O general gostava de passear pela praia do Estoril

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    de muitos ociais e era o chefe natural do Alzamiento. A sua postura fsica de mi-litaro e o seu comportamento truculento eram caractersticas tpicas dos generais do sculo XIX que frequentemente se pro-nunciavam contra as autoridades civis. Em 1923, quando era governador militar de Arago, contribura para a instalao da ditadura do general Primo de Rivera. Amigo do ditador, fora nomeado suces-sivamente comandante do regimento de Alhucemas, em 1925, e da Guarda Civil, em 1928. Entrara depois em conito com Afonso XIII, por ter abandonado Primo de Rivera. Homem de decises rpidas e de muitas contradies, quando a II Re-pblica foi implantada, em 1931, colocou a Guarda Civil ao servio do novo regime, contra o qual no entanto conspiraria volvi-dos alguns meses. Condenado morte, viu a pena comutada em priso perptua, da qual foi libertado ao m de escassos dois anos. Contando com a benvola compla-cncia do Governo de Salazar, habitava numa vivenda do Estoril, onde recebia muitos compatriotas conspiradores.

    O CURTO VOONo Estoril, Ansaldo dirigiu-se Vila Leo-cdia, a vivenda do general, onde se apre-sentou s ordens do Chefe de Estado.

    Deparou com umas quatro dezenas de pessoas ali reunidas numa sala, em volta de uma telefonia. Tentavam escutar, no meio das ruidosas descargas da eletricida-de esttica, as notcias contraditrias pro-venientes de Espanha e faziam profecias que na maior parte dos casos se revelariam frustradas. De repente comearam a en-toar em coro o hino monrquico e vieram

    as lgrimas aos olhos de muitos quando se soltaram vivas a Sanjurjo e Espanha. O piloto reiterou ao que vinha e zeram-se de imediato os ltimos preparativos para a partida do general conspirador.

    Nesses dias, o Governo de Madrid no cessara de apresentar enrgicos protestos junto do de Lisboa. Como se poderia ad-mitir que um piloto rebelde utilizasse um

    aerdromo portugus para levar a cabo uma ao conspirativa contra um Estado vizinho e historicamente prximo com o qual matinha relaes diplomticas nor-mais? O Puss-Moth acabou assim por ser desviado para um local mais discreto: a Quinta da Marinha, alis perto da casa de Sanjurjo. Dali, de uma curta pista de terra batida que pouco mais era do que uma cla-reira do pinhal, levantaria voo para Burgos, transportando o general inssurecto.

    hora aprazada cerca das 4 da tarde desse dia 20 de julho Ansaldo e San-jurjo subiram para bordo. O piloto cou preocupado ao ver que o seu passageiro le-vava para o aparelho diversas malas e cha-mou-lhe a ateno para o peso excessivo da bagagem. O Chefe de Estado virtual respondeu que no poderia prescindir da sua farda de gala e das condecoraes, com que tencionava apresentar-se logo aps o triunfo do golpe. Este excesso de carga ter dicultado a manobra de descolagem do avio, que roou com uma das rodas do trem de aterragem na copa de um pinheiro do m da pista e foi despenhar-se mais adiante, na povoao de Areia, embatendo num muro de pedra. Ansaldo foi ejetado e escapou com ferimentos ligeiros, mas Sanjurjo pereceu carbonizado. Passados 25 anos, em 20 de julho de 1961, militares espanhis inauguraram no local o pequeno e algo tosco monumento encimando por uma cruz, ainda hoje visvel, e em cuja pla-ca se l num castelhano com contaminao portuguesa: A la memria del Exmo. Sr. Capitn General Dom Jose Sanjurjo Sa-canells, marques del Rif, falecido en este lugar en 20 de Julio de 1936 en accidente de aviacion al empreder vuelo hacia Espaa para incorporar-se al glorioso Alzamien-to Nacional. Sus compaeros de armas. 20 de Julio de 1961.

    Apesar da consagrao da tese ocial do acidente, como no poderia deixar de ser murmurou-se na poca que a queda do avio se cara a dever a sabotagem dos republicanos, ou mesmo do general Franco o nmero dois da conspira-o, que assim se veria promovido, aos 44 anos, ao posto de comandante dos sublevados. Porm, nada se comprovou. Tambm aqui so notrias as semelhan-as com Camarate.

    POMPAS FNEBRES O enterro de Sanjurjo, no Estoril, e a trasladao dos restos mortais para Espanha, de comboio, depois da guerra

    Murmurou-se que a queda do avio se devera a sabotagem dos republicanos, ou mesmo de Franco, mas nada se comprovaria

    DESTROOS Os restos do aparelho sinistrado despertaram a natural curiosidade dos habitantes de Areia

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  • Espanha || O INCIO

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  • Os militares golpistas da extrema-direita no contaram com a resistncia governamental e

    popular, e o que era para ser um pronunciamiento iria transformar-se numa longa e dura guerra

    por Lus Almeida Martins

    O ATEAR DAS CHAMAS

    DUAS ESPANHAS Em cima: o quartel de Montaa, em Madrid, depois de ter sido tomado pelas milcias populares. Em baixo: manifestao de adeso ao Alzamiento na Plaza Mayor de Valladolid FO

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  • v 36

    Espanha || O INCIO

    Na sequncia dos contactos que datavam de h meses, um movimiento de ociais que conspiravam contra a Repblica partiu do Mar-rocos Espanhol no dia 17 de julho de 1936. No dia seguinte, 18, foi a vez de o nosso bem conhecido Francisco Fran-co se pronunciar nas Canrias, atravs de uma mensagem telefnica intercetada pelas autoridades em que felicitava os re-beldes e lanava um manifesto. Fora um primo seu, tambm militar em Las Palmas, que lhe levara a notcia, acordando-os s 3 da manh no quarto do Hotel Madrid, onde pernoitava com a mulher. O futuro caudillo no perdeu tempo. Vestiu-se, te-lefonou a referida mensagem, meteu-se no avio Dragon Rapid que tinha previamen-te alugado em Inglaterra e juntou-se aos amotinados, aps escala em Casablanca, onde passou a noite seguinte.

    Entretanto, do outro lado do Estreito de Gibraltar, em Sevilha, o general insur-reto Queipo de Llano tomava o poder por meio de um golpe de audcia. Tendo-se ali deslocado supostamente em misso de inspeo das Alfndegas, conseguiu, com um punhado de homens, aprisio-nar os principais ociais da guarnio e fazer ocupar todos os postos de coman-do. Mas Sevilha, como a generalidade da Andaluzia, uma terra de tradies revolucionrias semelhantes s do nosso Alentejo, pelo que os bairros populares no tardaram a rebelar-se. Em Cdis, Crdova, Granada, Mlaga, Algeciras e La Lnea foi proclamado o estado de guerra e em Huelva e Jan foras po-pulares leais Repblica tomavam conta da situao. Outros pontos da Andaluzia resistiram mais ou menos, consoante a atitude dos governadores civis e dos efe-tivos da Guarda de Assalto, a fora criada pela Repblica para contrabalanar o peso da conservadora Guarda Civil.

    L mais para norte, na noite de 18 para 19 pronunciavam-se algumas das prin-cipais guarnies militares de Castela e Arago. Burgos e Valladolid caram nas mos dos rebeldes. Em Saragoa, o general Cabanellas apoderou-se da cidade utili-zando um forte dispositivo de artilharia e fez prisioneiros centenas de polticos

    lona. Na capital, os sublevados adotavam uma ttica defensiva, aquartelando-se espera da atuao conjunta da quinta coluna de civis seus simpatizantes e dos militares insurretos que vinham de fora. Em Barcelona, a ofensiva contra a sede da Generalitat, o governo autonmico, falhou por completo perante a resistncia dos populares enquadrados pela CNT; os sediciosos no esperavam que os anar-cossindicalistas defendessem o Estado burgus...

    A 20, um novo Governo republicano, formado na vspera, decidiu aceder s reiteradas exigncias da rua e armar o

    e de sindicalistas. Em Pamplona, Mola tomou facilmente conta da situao graas ao concurso dos requets, os tradicionais carlistas navarros.

    Embora o feriado franquista tenha sido durante dcadas o 18 de julho, o dia decisivo do Alzamiento Nacional (a designao ocial atribuda pelo futu-ro regime) seria 19. Tropas marroquinas desembarcadas em Cdis apoderaram- -se da cidade e foram aerotransportadas para Sevilha, a m de reforar a posio conquistada horas antes por Queipo. Algeciras, La Lnea, Jerez de la Frontera e Crdova caram igualmente. Almeria e Mlaga continuaram porm a resistir e permaneceriam longo tempo sob o contro-lo das autoridades constitucionais.

    No mesmo dia 19, grandes manifesta-es populares coincidiam com movimen-taes militares em Madrid e em Barce-

    As zonas leais Repblica coincidiam mais ou menos com aquelas em que a Frente Popular triunfara nas eleies de fevereiro

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  • 37v

    Toledo permanecia em poder do Governo republicano, mas no quartel-fortaleza de Alczar encerraram-se 2 mil nacionalistas (incluindo civis, mulheres e crianas), que, sob o comando do coronel Moscard, decidiram resistir ao cerco.

    Os republicanos zeram refns a mulher e os lhos de Moscard, que se encontravam fora da cidade. Estabelecida ligao telefnica com a fortaleza, comunicaram a Moscard que matariam o seu lho Luis, de 17 anos, se o Alczar no se rendesse de imediato. Quando puseram pai e lho em contacto telefnico direto, Luis perguntou ao progenitor o que deveria fazer. Resposta de Moscard: Encomenda a tua alma a Deus e pede-lhe para te dar a coragem necessria. Que o teu ltimo grito seja: Viva a Espanha! Viva o Cristo-Rei!. O jovem foi mesmo fuzilado e o Alczar no se rendeu: a 27 de setembro foi libertado (na terminologia nacionalista) por uma coluna comandada por Yage, a quem Moscard se apresentou unindo os taces, fazendo a continncia e pronunciando a regimental frase En el Alczar sin noved, mi general.

    O episdio teve enorme repercusso internacional e serviu de propaganda causa nacionalista, mas deu tambm tempo aos republicanos para prepararem a defesa de Madrid.

    SIN NOVEDAD NO ALCZAR

    povo. Vagas de civis empunhando espin-gardas cercaram o quartel de Montaa, onde se tinham acantonado os rebeldes, e tomaram-no aps sangrento tiroteio. Ani-madas com esta vitria, colunas populares reconquistariam em seguida algumas ci-dades sublevadas, como Alcal de Henares (a terra de Cervantes), Guadalajara e at mesmo Toledo; nestes locais, militares sublevados entrincheiraram-se porm em quartis, dispostos a resistirem.

    No Norte basco e asturiano, os rebeldes no conseguiram apoderar-se das cidades, exceo de Oviedo. E mesmo esta, cora-o da regio mineira das Astrias, apenas

    caiu graas a um ardil: o coronel Aranda, ngindo lealdade Repblica, armou uma coluna de mineiros e enviou-a ao engano em socorro de Madrid, cuja situao pin-tara com cores sombrias.

    Quanto Galiza e ao Levante, aderiu cada uma sua causa: a primeira aos su-blevados, a segunda Repblica.

    AS DUAS ESPANHASTem vindo a ser comparada a diviso do territrio aps os trs ou quatro dias de pronunciamiento com a carta dos resultados eleitorais de fevereiro desse ano de 1936, aquando da vitria da Fren-te Popular. Efetivamente, as zonas is Repblica correspondiam em traos gerais quelas em que a Frente obtive-ra o maior nmero de votos: a regio de Madrid, a Andaluzia, a Catalunha, o Levante, as Astrias e o Pas Basco (ten-do estas duas arrastado consigo o Norte conservador da Cantbria, em torno de Santander). Mas esta lgica imediata admite excees devidas eccia das movimentaes conspirativas. Assim, para alm dos casos de Santander e de Sevilha, deparamos com a Extremadura revolucionria dividida ao meio, com a provncia de Badajoz el Repblica e a de Cceres insurreta. Casos mais sur-preendentes so porm os de Saragoa, cidade das greves e da sede da CNT, e as resistncias populares inteis de Sevilha, Crdova e Granada.

    ESPERANA E DESESPERO 1 No vero de 1936, camponeses da Extremadra saudam de punho erguido milicianos que partem para se juntarem aos defensores de Madrid; 2 O que resta de uma casa madrilena depois de um raide areo talo-alemo no inverno de 1936-37; 3 Milicianos em ao na Batalha do Ebro, em 1938

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  • v 38

    A diviso da Espanha era, assim, bas-tante equilibrada, quer em rea quer em nmero de habitantes e de quartis. Te-riam de ser elementos exteriores a desfazer esse equilbrio. O primeiro em data foi o experimentado e bem treinado exrcito espanhol de Marrocos, com os esquadres mouros e a Legin, um importante trun-fo dos sublevados quando deram o golpe; outro foi a passividade das democracias e o apoio efetivo da Alemanha nazi, da Itlia fascista e do Portugal de Salazar. Do lado republicano, a interveno exterior mais importante foi sem dvida a sovitica. Este quadro de envolvimentos exteriores caria no entanto seriamente mutilado se no se registasse o valioso contributo das Brigadas Internacionais. O chefe do movimento dos sublevados deveria ser o general Sanjurjo, mas a sua morte em solo portugus catapultaria Franco para a lide-rana. Todos estes temas, e outros que em seguida se aoram, tm desenvolvimentos prprios noutras pginas desta revista.

    As primeiras operaes militares pro-priamente ditas tiveram por cenrio a An-daluzia ocidenta