Vitamina B6 (relatório)
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Mestrado em Ciências do Consumo e Nutrição (FCUP/FCNAUP) ‐ Introdução às Ciências do Consumo e Nutrição Cláudio Carvalho ‐ n.º 200500442; Leandra Neto ‐ n.º 200902679; Mariana Pereira ‐ n.º 200804679 Porto, 6 Dezembro de 2013
Vitamina B6
Conceptualização: definição e funções
A vitamina B6 é uma vitamina hidrossolúvel pertencente ao grupo das vitaminas do
complexo B, cuja principal função é funcionar como cofator em diversas reações enzimáticas.
Esta vitamina, descoberta em 1934 por Szent-Gyordy, inclui seis formas ativas, apesar da
cummente referida ser a piridoxina e até se confundir a forma com o descritor genérico. Assim,
enquanto o metabólito ácido 4-piridóxico é biologicamente inativo, as seis formas ativas, são: o
álcool piridoxina (i.e. piridoxol), o aldeído piridoxal, a amina piridoxamina e as respetivas formas
fosfatadas, isto é piridoxina-5-fosfato, piridoxal-5-fosfato e, finalmente, a piridoxamina-5-fosfato
(vd. anexo n.º 1) (1, 2). Estas formas ativas são interconvertíveis e têm iguais níveis de atividade
biológica, sendo que os primeiros três compostos supra referidos têm «atividade vitamínica
somente diferenciada pelo grupo funcional na posição quatro»(3). Em geral, a sua absorção
ocorre no intestino delgado por difusão simples, sendo posteriormente transportada para o
fígado onde sofre um conjunto de alterações estruturais até se transformar em piridoxal-5-
fosfato, a forma mais ativa conhecida(4). Estes derivados estão envolvidos num vasto conjunto
de processos bioquímicos, nomeadamente o metabolismo de aminoácidos, glicose e lípidos,
síntese de neurotransmissores como serotonina, dopamina, epinefrina, norepinefrina e GABA,
síntese de histamina, síntese e regulação de hemoglobina e expressão genética(1). O
envolvimento desta vitamina em processos metabólicos tão diversos demonstra a importância
de uma dieta alimentar com valores equilibrados de vitamina B6.
Fontes alimentares
A vitamina B6 nas suas formas mais diversas está amplamente distribuída na natureza,
embora poucos sejam os alimentos ricos nesta vitamina, uma vez que a confeção e o
processamento de alimentos têm como consequência a sua perda(5). As principais fontes
alimentares são os cereais (principalmente flocos de milho), arroz doce, alho em pó, fígado de
vaca entre outros. Na tabela no anexo n.º 2 (retirada do site da INSA – Instituto Nacional de
Saúde Doutor Ricardo Jorge) pode consultar-se mais especificamente as dosagens respetivas
a cada alimento.
Recomendações
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As recomendações do Food Nutrition Board do Institute of Medicine (FNB:IOM)(6, 7)
estão sumariadas na tabela do anexo n.º 3, devendo-se atentar que a recomendação diária
para adultos ronda os 1,3 e 1,7 miligramas diárias e o nível limite de ingestão diária está
definido em 100 miligramas. No período da gravidez e da lactação, recomenda-se um
acréscimo do consumo para suprir as necessidades do feto ou do recém-nascido,
respetivamente. Não obstante o exposto, importa atentar que a função principal da vitamina B6
está associada ao metabolismo de aminoácidos, pelo que o consumo proteico tem efeitos nas
necessidades de vitamina B6(1). Como demonstra Bender DA (1), pessoas com dietas
deficitárias em vitamina B6 tendem a ter um metabolismo atípico dos aminoácidos triptofano e
metionina e, concomitantemente, os níveis de vitamina B6 presentes na corrente sanguínea
decrescem mais rapidamente, quando os níveis diários de ingestão proteica são elevados (i.e.
entre 80 e 60 gramas por dia) relativamente a níveis mais baixos (i.e. entre 30 e 50 gramas
diárias). Assim, segundo o mesmo autor, as recomendações dietárias, para um adulto, rondam
15-16 microgramas (ou 0,015-0,016 miligramas) de vitamina B6 por grama de proteína
consumida diariamente.
Deficiências
Na generalidade da população, a deficiência em vitamina B6 não é comum,
considerando que a presença da mesma é comum na maior parte dos alimentos. Quando esta
deficiência se verifica, constata-se habitualmente também uma deficiência das demais
vitaminas do complexo-B e tal deficiência pode manifestar-se com maior probabilidade em
indivíduos mais vulneráveis, nomeadamente idosos ou recém-nascidos, relativamente aos
restantes grupos de indivíduos(8). Como referido anteriormente, uma deficiência moderada de
vitamina B6 está associada a um metabolismo atípico de determinados aminoácidos e,
experimentalmente, em animais, uma deficiência de consumo induz um aumento da
sensibilidade dos tecidos-alvo para a ação de hormonas esteroides, o que pode promover o
desenvolvimento de cancro mamário ou da próstata. Existe também uma relação entre o
prognóstico do primeiro tipo de cancro em humanos e o parco consumo do micronutriente,
ainda que segundo Spinneker A, Sola R (8) faltem dados conclusivos. Os mesmos autores
apontam para a existência de uma associação entre o consumo de vitamina B6 e outros tipos
de problemas de saúde, nomeadamente: (i) outros tipos de cancro (colorretal, pancreático,
gástrico, oral, pulmão e da faringe); (ii) ao nível do sistema imunitário; (iii) anemia refratária; e,
ainda, (iv) problemas cognitivos (e.g. neuropatias). Consequentemente, a suplementação, por
via oral, em vitamina B6 (habitualmente, aproximadamente 50 miligramas diárias(8)) pode ser
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útil no tratamento destes tipos de cancro(1). No sentido preventivo, recomendam-se as doses
diárias indicadas na secção anterior.
Toxicidade
A vitamina B6, sendo uma vitamina hidrossolúvel é rapidamente metabolizada e
excretada em caso de excesso, pelo que tem parca toxicidade. Foi estabelecido, como
podemos observar pela tabela no anexo n.º 3 que o nível máximo de ingestão diária foi definido
em 100 mg, ou seja foi considerado um fator de segurança de 5, porque «a dose mais baixa a
que foi verificada toxicidade (neuropatia sensorial) foi no nível de 500 mg diárias»(8).
Aplicação clínica
O piridoxal-5-fosfato é uma coenzima essencial na ativação do aminoácido glicina
durante a fase inicial de formação do grupo heme. Assim, a ingestão de suplementos à base
desta molécula produz efeitos terapêuticos em pacientes com doenças relacionadas com
hemácias, nomeadamente anemias sideroblásticas(9) e anemias falciformes(10). A ingestão de
piridoxina durante 12 semanas é também recomendada em doentes com Síndrome do Túnel
Cárpico pois ajuda a reduzir a sintomatologia e a deficiência em piridoxal-5-fosfato associada à
doença (11, 12). Dado que esta enzima é um co-fator na síntese dos neurotransmissores que
controlam comportamentos como depressão, perceção da dor e ansiedade, por exemplo a
serotonina e o GABA, a toma diária de vitamina B6 é também aconselhada de modo a reduzir
os sintomas de ansiedade, mastodinia e dismenorreia em mulheres com Síndrome Pré-
Menstrual(12). Os profissionais de saúde sugerem também a toma de piridoxina juntamente com
outras vitaminas, no tratamento de doenças cardiovasculares relacionadas com o aumento dos
níveis de homocisteína(13). Finalmente, alguns médicos recomendam a ingestão de pequenas
doses de vitamina B6 em mulheres grávidas de forma a reduzir os enjoos matinais
característicos dos primeiros meses de gravidez(14).
Investigação atual
Já alguns estudos foram publicados sobre as potencialidades da vitamina B6 em
diferentes doenças. Mais recentemente, os seus efeitos benéficos (incluindo os seus
metabólitos) em doenças cardíacas neste caso, atenuando arritmias provocadas pelo enfarte
do miocárdio(15). Noutro estudo observou-se que o metabolismo da vitamina B6 pode ser usado
como fator de prognóstico de cancro em pacientes afetados por carcinoma do pulmão, pois
verificou-se que pacientes com cancro manifestam, muitas vezes níveis baixos em circulação
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de vitamina B6 comparando com indivíduos saudáveis, e que elevadas quantidades de
vitamina B6, assim como um consumo intenso desta vitamina correlaciona-se com uma
redução da incidência de distintas neoplasias(16).
Referências
1. Bender DA. Vitamin B6. In: Gibney MJ, Lanham-New SA, Cassidy A, Vorster HH, editores. Introduction to Human Nutrition. 2nd ed.: Wiley-Blackwell; 2009. p. 162-67. 2. Oka T. Vitamin B6 [English Abstract; ; Review]. Nihon Rinsho. 1999; 57(10):2199-204. 3. Andriguetto JM. Nutrição animal: bases e fundamentos. 4ª ed. São Paulo: Nobel; 2002. 4. Merrill AH, Henderson JM. Vitamin B6 metabolism by human liver [Article]. Ann NY Acad Sci. 1990; 585:110-17. 5. (US) IoM. Institute of Medicine (US) Standing Committee on the Scientific Evaluation of Dietary Reference Intakes and its Panel on Folate, Other B Vitamins, and Choline. Dietary Reference Intakes for Thiamin, Riboflavin, Niacin, Vitamin B6, Folate, Vitamin B12, Pantothenic Acid, Biotin, and Choline. . National Academies Press (US); 1998. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK114313/. 6. Food and Nutrition Board IoM, National Academies. Dietary Reference Intakes (DRIs): Recommended Dietary Allowances and Adequate Intakes. Institute of Medicine, National Academies. Disponível em: http://www.iom.edu/Activities/Nutrition/SummaryDRIs/~/media/Files/Activity%20Files/Nutrition/DRIs/New%20Material/2_%20RDA%20and%20AI%20Values_Vitamin%20and%20Elements.pdf. 7. Food and Nutrition Board IoM, National Academies. Dietary Reference Intakes (DRIs): Tolerable Upper Intake Levels. Institute of Medicine, National Academies. Disponível em: http://iom.edu/Activities/Nutrition/SummaryDRIs/~/media/Files/Activity%20Files/Nutrition/DRIs/ULs%20for%20Vitamins%20and%20Elements.pdf. 8. Spinneker A, Sola R, Lemmen V, Castillo MJ, Pietrzik K, Gonzalez-Gross M. Vitamin B6 status, deficiency and its consequences--an overview. Nutr Hosp. 2007; 22(1):7-24. 9. Mason DY, Emerson PM. Primary acquired sideroblastic anemia - response to treatment with pyridoxal-5-phosphate [Article]. Br Med J. 1973; 1(5850):389-90. 10. Natta CL, Reynolds RD. Apparent vitamin B6 deficiency in sickle cell anemia [Article]. Am J Clin Nutr. 1984; 40(2):235-39. 11. Aufiero E, Stitik TP, Foye PM, Chen BQ. Pyridoxine hydrochloride treatment of carpal tunnel syndrome: A review [Review]. Nutr Rev. 2004; 62(3):96-104. 12. Bender DA. Non-nutritional uses of vitamin B(6) [Review]. Br J Nutr. 1999; 81(1):7-20. 13. Conri C, Constans J, Parrot F, Skopinski S, Cipriano C. Homocysteinemia: role in vascular disease [Article]. Presse Med. 2000; 29(13):737-41. 14. Matthews A, Dowswell T, Haas DM, Doyle M, O'Mathuna DP. Interventions for nausea and vomiting in early pregnancy [Review]. Cochrane Database Syst Rev. 2010(9):93. 15. Dhalla Naranjan S, Takeda S, Elimban V. Mechanisms of the beneficial effects of vitamin B6 and pyridoxal 5-phosphate on cardiac performance in ischemic heart disease. Clinical Chemistry and Laboratory Medicine. 2013. [citado em: 2013-12-02t20:13:09.811-05:00]. 535. Disponível em: http://www.degruyter.com/view/j/cclm.2013.51.issue-3/cclm-2012-0553/cclm-2012-0553.xml. 16. Galluzzi L, Vacchelli E, Michels J, Garcia P, Kepp O, Senovilla L, et al. Effects of vitamin B6 metabolism on oncogenesis, tumor progression and therapeutic responses. Oncogene. 2013; 32(42):4995-5004.
5
Anexos
Anexo 1
Adaptado de Bender (2009)
Anexo 2
6
Anexo 3
Faixa Etária e Sexo
Ingestão Diária Recomendada
(RDA)
(FNB:IOM) [mg/dia]
Nível máximo de ingestão
diária (UL)
(FNB:IOM) [mg/dia]
0-6 meses 0,1 N/A
6-12 meses 0,3 N/A
1-3 anos 0,5 30
4-8 anos 0,6 40
9-18 anos (sexo
masc.) 1,0 - 1,3 60 - 80
9-18 anos (sexo fem.) 1,0 - 1,2 60 - 80
19-70 (sexo masc.) 1,3 - 1,7 100
19-70 (sexo fem.) 1,3 - 1,5 100
>70 anos (sexo
masc.) 1,7 100
>70 anos (sexo fem.) 1,5 100
Durante a gravidez 1,9 80 – 100
Durante a lactação 2,0 80 - 100