Vitor Carvalho

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Seis personagens e um avatar a procura de um autor

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Qualquer semelhança com “Seis personagens à procura de um autor”, famoso trabalho teatral de Luigi Pirandello será mera coincidência. Ou não? O leitor que julgue. Aqui se fala de Vitor Carvalho, 44 anos, filho de Roberto Otávio da Silva e Adair Carvalho Silva. Casado com Daniela, pai de Carolina, 17 anos. Tanto da parte do pai como da parte de sua mãe, Vitor é um atibaiano autêntico. Suas raízes remontam à época da passagem dos bandeirantes pela cidade, conforme provam e comprovam estudos realizados por parentes e pesquisadores sobre a árvore genealógica da família. “Tenho sangue até de índio, tudo misturado”, orgulha-se.

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Seis personagens e um avatara procura

de um autor

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Seis personagens e um avatara procura

de um autor

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Qualquer semelhança com “Seis personagens à procura de um autor”, famoso trabalho teatral de Luigi Pirandello será mera coincidência. Ou não? O leitor

que julgue. Aqui se fala de Vitor Carvalho, 44 anos, filho de Roberto Otávio da Silva e Adair Carvalho Silva. Casado com Daniela, pai de Carolina, 17 anos. Tanto da parte do pai como da parte de sua mãe, Vitor é um atibaiano autêntico. Suas raízes remontam à época da passagem dos bandeirantes pela cidade, conforme provam e comprovam estudos realizados por parentes e pesquisadores sobre a árvore genealógica da família. “Tenho sangue até de índio, tudo misturado”, orgulha-se.

O problema dos personagens procurando um autor co-meça agora: o autor deste texto não sabe se fala do Vitor fotógrafo, do Vitor publicitário, do Vitor artista plástico, do Vitor professor de artes, do Vitor cineasta, do Vitor em-preendedor, do Vitor ex-secretário da Cultura da cidade de Atibaia. Isso para não se falar no Oncle Dunha, como é chamado na França o seu alter ego Tio Dunha. É o perso-nagem que faz palhaçadas, que cria e apronta artisticamen-te, tudo aquilo que o Vitor gostaria de fazer, mas pensando bem, seria melhor que não fizesse. O Dunha faz. “O Dunha é um personagem que eu carrego desde os tempos de criança. Não, não vou contar como o apelido apareceu”, sorri e dis-farça, deixando no ar aquela curiosidade.

Vitor surgiu nas artes como fotografo aos 14 anos. “Fiz umas fotos em um trem abandonado e achei que estavam muito boas. Inscrevi em um concurso promovido por um município do ABC, nem lembro qual e ganhei o primeiro lu-gar. Com o prêmio comprei uma boa máquina fotográfica e

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todos os implementos para fotografia. E não parei mais.” Da fotografia passou para a publicidade. Já em São Paulo cur-sou a Faculdade de Belas Artes em São Paulo, e especializa-ção ainda na ECA e acabou de fazer sua dissertação de Mes-trado na UNICAMP. Nunca se esquecendo do Dunha, “que se transformou em um personagem que faz mais sucesso lá na França, por exemplo, do que aqui no Brasil.”

Vitor trabalhou na área pública de cultura nos últimos três governos de Atibaia. “Trabalhei muito no episódio da criação da primeira Secretaria de Cultura da cidade. Antes a Cultura era um departamento da Secretaria da Educação.” Ele faz questão de revelar que o principal do seu trabalho é fazer com que a arte se torne cada vez mais pública. “A arte tem que estar nas ruas ao alcance das pessoas. Por mim ela não deveria ficar restrita aos museus, galerias ou centros de convenções e afins.” E é a isso que ele vem se dedican-do, especialmente agora através da Incubadora de Artistas. “Como o nome diz, é onde buscamos promover ações que le-vem a arte para as ruas. Já tivemos mais de 140 projetos ins-critos atendendo a um edital que publicamos para escolher projetos de arte pública. Vamos selecionar dez deles para financiarmos. Tem projetos de grafite de rua, tem projetos de apresentação de teatro de rua, apresentação de música na rua, apresentação de danças na rua. O que se pretende mesmo, ainda uma vez, é levar a arte para a rua, tirá-la de seus vários segmentos clássicos e colocá-la ao alcance das pessoas onde elas estiverem. Gente que dificilmente iria ver essa arte no confinamento dos museus ou casas de arte.”

Vitor insiste em dizer que quando se leva um espetácu-lo de arte para uma praça pública do Jardim Imperial, por exemplo, “está se criando um público novo para a arte, na medida em que essas pessoas quase nunca ou dificilmente iriam a um centro de convenções, por exemplo, para assistir a esse espetáculo.”

E essa é a proposta da Incubadora de Artistas. “O artista

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plástico de hoje começa a fazer sucesso nas ruas para depois chegar às galerias. Isso já está acontecendo muito. O grafite nas ruas é um exemplo muito claro. É o trabalho do artista junto à comunidade, a população. Muitos desses artistas já vêm obtendo reconhecimen-to fora das ruas, seu ambiente de trabalho.” Vitor ad-mite que isso é coisa de longo prazo. “Não, não se trata de um trabalho para se ganhar muito dinheiro, ao con-trário, é um trabalho lento, que demora para se concre-tizar. Vale o desejo de fazer, o desejo de participar. Nós trabalhamos com a Lei de Incentivo Fiscal. Monta-se o projeto e se vai atrás de patrocínios. Não tem nada de dinheiro público, eu falo diretamente, claro, pois até o nome da lei já se explica, Incentivo Fiscal. As empresas participam com parte do dinheiro que seria usado no pagamento de impostos. Não tenho preconceito contra as verbas públicas, mas do nosso jeito vem a liberdade de desenvolver projetos sem nenhum tipo de censura. Quando se tem aporte de dinheiro público se fica preso a mil detalhes.”

Vitor conta que seu parceiro Igor Spacek é quem es-tava começando o projeto. “Eu me encantei, larguei o trabalho que estava fazendo em Bragança Paulista e vim correndo para me integrar no projeto da Incubadora.”

Falar dos prêmios que já ganhou, falar de todas as suas participações ou incursões no mundo das artes plásti-cas exigiria pelo menos mais meia página de jornal. E ainda ficaria muita coisa de fora. Como o Tio Dunha, por exemplo, o seu já conhecido e citado alter-ego. “Fui obrigado a criá-lo para não interferir no meu trabalho público. Ele usa uma camisa preta, chapéu, calça jeans e tem vida própria. Ele é engraçado, irônico, um tipo que fez muito sucesso. Passei a assinar todos os meus trabalhos como Tio Dunha. Dei sorte e deu certo. Meu trabalho saiu por aí e eu fui convidado a trabalhar na

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França, nos Estados Unidos, na Itália. O convidado nem era eu, era o Dunha.”

Então as coisas ficaram assim: o Vitor Carvalho é o foto-grafo, o professor, e o Tio Dunha é o artista que faz as brin-cadeiras. “Eu gosto de tudo o que faço. Mas tudo o que eu faço como Dunha é o que eu mais gosto de fazer. Interven-ções urbanas, performances, atividades que eu desenvolvo. O Tio Dunha passou a ser uma espécie de Avatar meu...”

Entre outros projetos a Incubadora dos Artistas realizou o primeiro festival brasileiro de nano-metragem reunindo filmes com até 45 segundos. “Isso mesmo, filmes com 45 segundos, incrível, não? Acabamos de realizar o segundo festival, no Cine Atibaia, com mais de 140 participantes, pessoas do Brasil inteiro. Teve até franceses participando. Eu tenho levado esses filmes para a França e o pessoal de lá delira. Imagine, filmes com 45 segundos. Tem gente que faz filme em até menos tempo, o que exige uma criatividade brutal. Esse festival de nano metragem já está no calendá-rio da cidade.”

Outro projeto fixo da Incubadora leva o nome de “Ocupa-Atibaia”. “Ele é realizado na rua. Aberto para o Brasil intei-ro exige apenas que as pessoas realizem o projeto aqui na cidade. Vale tudo. Teatro, apresentação musical, grafite. O primeiro “Ocupa-Atibaia”, no ano passado foi muito legal. Aquela coisa de se fazer na rua, abranger todo mundo.” O projeto foi realizado na Praça da Matriz. “E também fize-mos um projeto maravilhoso de fotografia em Caetetuba. O trabalho focalizou o pessoal da escola de samba do lixão, da reciclagem. Saíram fotos enormes e lindas. Isso foi feito no mês de janeiro do ano passado.”

No próximo mês de julho a Incubadora vai realizar o “Fes-tival Cobertor-de-orelha”. “É como se fosse um festival de inverno alternativo e nós esperamos contar com pessoas que tenham alguma proposta diferente. A cidade e o país estão cheios de bons artistas cujas obras não são comer-

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ciais. E eles não têm onde se apresentar. Eles vêm pra cá e mostram sua arte. Tivemos até a história de um participan-te que havia gravado um cd na Holanda, com uma tremen-da orquestra, com arranjos de pessoas de muita expressão artística. Não dava para lançar um projeto desses num bar-zinho ou coisa parecida. Ele nos procurou, fez questão de participar do nosso festival fez o maior sucesso. Foram de-zessete apresentações, dele e de outros participantes, tudo com casa cheia lá na Incubadora. Faltou lugar. A Incubadora tem espaço para até 50 pessoas assistirem aos espetáculos ou apresentações sentadas. De pé, cabem umas 99 pessoas, mas já chegamos a ter um público de quase duzentas pesso-as. Claro que todo mundo ficou espremido. Mas disseram que tinha valido a pena.”

A Incubadora de Artistas tem um calendário anual de exposições. A cada dois meses apresenta uma nova mos-tra sempre com artistas da cidade expondo suas obras. “O artista é a nossa meta, ele não tem custo nenhum, banca-mos tudo, oferecemos coquetéis, despesas de montagem. Afinal nós somos a Incubadora de Artistas. Hoje, aqui em Atibaia os artistas não têm onde mostrar sua arte. Então esse é um projeto que a gente gosta de fazer. O problema de espaço para o artista não acontece só aqui, mas no país inteiro, é quase impossível se dispor de um espaço de arte aberto, inclusive nos finais de semana. O bom, no nosso caso, é que estamos no coração da cidade, bem no largo da Matriz e aos poucos o trabalho vai aparecendo com maior vigor. Bom para os artistas. Já temos tido um volume de visitação bem maior até que o próprio museu da cidade.”

E o Vitor, empreendedor da Incubadora de Artistas fa-lou um pouquinho só dos seus sonhos. Foi apenas um dos seis personagens abordados por este autor. Quem quiser mais Vitor Carvalho pode procurar na internet. Ah! não se esqueça de procurar também o Mestre Dunha, o Ava-tar do Vitor. ■