Vitória (ES), domingo, 7 de março de 2004 - P O L Í C I...
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Vitória (ES), domingo, 7 de março de 2004 - 33
A GAZETAP O L Í C I A
O
Casos mais polêmicos
JUIZ TEVE ATUAÇÃO MARCANTECORONEL FERREIRA - O coronelWalter Gomes Ferreira, que es-tava preso desde 21 de outubrode 2002, foi transferido para opresídio da ‘Papudinha’, no Acre,por determinação de AlexandreMartins, no dia 11 de dezembrode 2002, sob umforte esquema desegurança. Ferrei-ra é investigadocomo mandantedo crime, segundoa Secretaria deSe g u r a n ç a .
CENTRAIS TELE-F Ô N I C A S - E magosto e setem-bro de 2002, eleassinou manda-dos de busca paraa apreensão de centrais clandes-tinas de telefone, que eram usa-das por presidiários.
SAÍDAS IRREGULARES DE PRE-SOS - Os diretores da ColôniaPenal e do Instituto de Readap-tação Social (IRS) foram exone-rados depois que AlexandreMartins apontou irregularidadesnos dois presídios.
MISSÃO ESPECIAL - Em agostode 2002, foi designado, juntocom Carlos Eduardo Ribeiro Le-mos, para acompanhar os traba-lhos da missão especial de com-bate ao crime organizado.
MANDADOS SEMCUMPRIMENTO -Em julho de 2002,entregou ao entãosecretário execu-tivo do Ministérioda Justiça, CelsoCompilongo, umarelação com osnomes das 1.164pessoas que esta-vam com manda-dos de prisão de-cretados, e quenão tinham sido
cumpridos até aquela época.
CARGA PESADA - Em outubro de2001, Alexandre Martins conde-nou o escrivão aposentado daPolícia Civil, Jefferson ForatiniPeixoto de Lima, Cleveland Mo-reira Júnior, a mulher dele, GeillaCoelho de Rodrigues Moreira, e omotorista Jarbas de AlmeidaBonfim, por roubo de cargas.
Ato ecumênico e diversashomenagens marcam o dia 24
Ricardo Medeiros
Anônimos No dia da morte do magistrado, dezenas de pessoas foram até aRua Natal, onde o juiz Alexandre Martins foi baleado, e colocaram flores
O Fórum Reage EspíritoSanto vai fazer uma manifes-tação no dia 24 de março,com concentração a partirdas 8 horas, em frente à aca-demia onde o juiz AlexandreMartins de Castro Filho foiassassinado, na Rua Natal, emItapoã, Vila Velha.
Segundo uma das coorde-nadoras do Fórum Reage Es-pírito Santo, Marta Falqueto,o fórum pretende celebrarum ato ecumênico para mar-car a data e cobrar das auto-ridades de Segurança Públicacomo está o andamento dasinvestigações sobre o mandoda execução do magistrado.
A intenção é provocar aparticipação popular no atoecumênico. No dia da mortedo juiz Alexandre Martins,muitas pessoas foram até arua e depositaram flores.
Estarão presentes váriasinstituições ligadas ao fórum,como a Ordem dos Advoga-dos do Brasil, seccional Espí-rito Santo (OAB-ES), CentralÚnica dos Trabalhadores(CUT-ES), sindicatos, Conse-lho das Igrejas Cristãs (Co-nic), Associação das Mães eFamiliares das Vítimas daViolência no Espírito Santo,entre outras instituições.
Outra homenagem previs-ta será na Assembléia Legis-lativa, com a entrega da co-
menda “Alexandre Martinsde Castro Filho”, para pes-soas que se destacaram nocombate ao crime organizadono Estado. A data da entregaainda será definida.
Palestras e debates fazemparte da programação de al-gumas faculdades da GrandeVitória. A Faculdade de Direi-to de Vitória (FDV) vai fazerum dia de debates, com pales-
tras e mesa redonda no dia 24de março. Entre os assuntosem debate, o andamento doinquérito que apura o mandoe o do processo contra os sus-peitos da execução.
A Universidade de VilaVelha (UVV) fará um ciclode debates, na segunda quin-zena deste mês, com o tema“Violência, Impunidade eCorrupção Pública”.
P rofissionalate n c i o s oe acessível
Se a morte do juiz Alexan-dre Martins abalou autorida-des, também emocionou eentristeceu pessoas que tive-ram pouco contato com omagistrado e que hoje guar-dam lembranças de um pro-fissional atencioso e gentil.
Uma delas foi a dona-de-casa E.S.S., 54 anos, mãe deum adolescente preso por en-volvimento com drogas. Elarecordou como conheceuAlexandre Martins: “Eu esta-va com meu menino no fó-rum, conversando com umaassistente social e perguntan-do a ela onde eu poderia en-contrar um lugar e tratar domeu filho. Ele ouviu a con-versa e me chamou”, disse.
“Fiquei impressionadacom o modo dele agir, a gentenão espera que um juiz crimi-nal dê conselhos e ele me deu.Depois, me pediu para con-versar a sós com meu menino,que ficou impressionado comele também. Daquele dia emdiante, o menino mudou mui-to e quando Alexandre mor-reu, para mim foi uma perdapessoal”, concluiu.
Já para Ilza Ferreira, 50anos, que teve um familiardetido, o que mais a impres-sionou na atuação do juiz foia simplicidade: “Eu precisavafalar com o juiz. Telefonei pa-ra ele, que me atendeu namesma hora. Foi muito edu-cado, gentil, ele foi muito di-ferente do que eu pensavaque um juiz fosse. E ele tinhapalavra, porque na data emque me prometeu que faria,ele cumpriu”, disse.
Para autoridades esta-duais, o assassinato do ma-gistrado foi considerado umagrande perda: “Na manhã dodia 24 de março de 2003, vivio momento mais difícil doGoverno até agora”, disse ogovernador Paulo Hartung.
“O assassinato foi umatentativa de intimidar as for-ças que desenvolviam, e de-senvolvem, o trabalho de fa-xina ética das instituiçõespúblicas do Estado, pois viti-mou um dos mais aguerridose brilhantes combatentes dodesmando, da violência e docrime em nossa terra. Nãoobtiveram êxito. A faxinacontinua e o exemplo decompetência e determinaçãodo doutor Alexandre restoucomo um farol para nossaslutas diárias por um EspíritoSanto renovado”, concluiu.
Como foi o crime
EXECUÇÃO EM VILA VELHA24/03/2003 - O juiz AlexandreMartins de Castro Filho foi mortoa tiros na manhã de 24 de marçodo ano passado, quando chegavaem sua caminhonete a uma aca-demia de ginástica em Itapoã, Vi-la Velha, às 7h45.
CHAMADO E TIROS - O juiz es-tava descendo do carro quandofoi abordado por Giliarde e ‘Lum-brigão’. Segundo o inquérito, osdois teriam chamado o juiz pelonome. Quando ele se virou na di-reção dos dois, foi atingido comum tiro no peito e no ombro.
REAÇÃO - Mesmo ferido, Alexan-dre Martins conseguiu sacar suapistola .40 e efetuar alguns dis-paros sem direção. Ele acaboucaindo no asfalto. Nesse momen-to, ‘Lumbrigão’ teria se aproxi-mado e atirado na cabeça e noombro do juiz
FUGA - Os dois réus, então, ten-taram fugir em uma moto, mas omotor apresentou um defeito eela teve que ser empurrada por‘Lumbrigão’ e Giliarde. O juiz che-
gou a ser socorrido, no própriocarro, e levado para o pronto-so-corro do Hospital Santa Mônica,em Itaparica, onde morreu.
PRISÕES - No mesmo dia do as-sassinato do magistrado, os sus-peitos de participação na execu-ção começaram a ser presos pe-las polícias Civil e Militar. Os pri-meiros detidos foram os sargen-tos Valêncio e Ranilson. Ainda nodia 24 de março, foram presos‘Yoxito’, Giliarde e ‘Pardal’.
20/04/2003 - ‘Lumbrigão’ é lo-calizado e preso, durante umaoperação das polícias Civil e Mi-litar, no morro de Itararé, em Vi-tória. Em depoimento informal,ele admitiu o crime de mando,mas depois voltou atrás e disseque a morte do juiz foi latrocínio(assalto com morte).
04/12/2003 - O juiz CarlosEduardo Ribeiro Lemos pronunciaos réus para irem a julgamentopopular, mas a defesa recorreu. Orecurso ainda será analisado peloTribunal de Justiça (TJES).
Pai vai criar instituto
Gildo Loyola
Ca r i n h o O advogado Alexandre Martins de Castro afirma que acomoção da população o ajudou a enfrentar a morte do filho
O advogado Alexandre Martins de Castro quercontinuar o trabalho do filho no combate ao crimee pretende chegar ao Tribunal de Justiça do Estado
SANDRESA CA RVA L H O
advogado Alexandre Martins de Castro, paido juiz assassinado, pretende criar no Espí-rito Santo, ainda este ano, o Instituto de Es-
tudos Criminais “Alexandre Martins de Castro Fi-lho”, para estudos sobre a criminalidade e o im-pacto da violência na sociedade, “como forma deretribuir o carinho e o respeito que a população doEspírito Santo dedicou ao meu filho”, revelou.
A GAZETA – Que perfil o sr. traçariado seu filho?
ALEXANDRE MARTINS DE CASTRO – Ale-xandre, como filho, sempre foi exemplar. Nuncame deu trabalho, pelo contrário, sempre foi umgrande amigo, muito dócil e carinhoso. Como pro-fissional, eu confesso que ele me surpreendeu,porque muito rapidamente se tornou um grandeprofessor. Depois, um grande jurista e um excep-cional juiz. A atuação dele como juiz, ao mesmotempo que me encantava, me espantava. Eu nãoesperava que ele tivesse uma performance dessanatureza, porque ele era ainda muito novo.
O sr. se preocupou com a fama de Estadoviolento quando o dr. Alexandre decidiu ser juizno Espírito Santo?
Na verdade, fui eu quem disse que ele deveriafazer concurso para cá. Eu providenciei a inscri-ção dele e ele veio.
Em algum momento a fama de estado perigosofez com que houvesse a possibilidade demudança de Estado?
De forma alguma, eu não tive essa preocu-pação. É claro que, quando eu sugeri que elefizesse o concurso aqui, eu não esperava quetivesse a atuação que teve. Quando ele come-çou a ter uma atuação extremamente forte, eu
o alertei várias vezes. Alexandre sabia que es-tava em um caminho perigoso, e que a partir decerto momento estava correndo risco, mas na-da o faria parar. No fundo, eu acho que ele ti-nha plena consciência do risco que corria, masnão admitia que fosse acontecer isso.
Como o sr. soube do crime?Eu estava dando aula e recebi um telefonema
para entrar em contato com o Espírito Santo, queele tinha sofrido um atentado. Liguei para cá, e aspessoas apenas me falavam que eu deveria vir. Na-quele momento, achei que poderia ter ocorrido al-go grave. No caminho para o aeroporto, um mo-torista de táxi perguntou para onde eu estava indo.Quando falei que era Vitória, ele comentou: ma-taram um juiz lá. Nesse exato momento, tive aconsciência que tinha sido ele. Mas assim mesmoficou uma esperança de que pudesse não ter sidoisso. Mas quando desci do avião, a primeira pessoaque veio falar comigo foi um policial federal, quetrabalha no aeroporto, e ele me deu os pêsames.Neste exato momento, eu soube.
Como o sr. viu a reação da população doEstado à morte do dr. Alexandre?
Eu não acreditava, e tenho certeza de que eletambém não sabia, que uma reação dessas pudesseacontecer, com tal dimensão. Foi algo que me sur-preendeu e me confortou muito.
O que o sr. aprendeu com seu filho?Ele deu uma lição a todos nós, de que um ideal
deve ser cumprido. Se eu puder, eu quero conti-nuar o trabalho que ele começou a desenvolver emprol do Judiciário. Com a capacidade que ele ti-nha, ele chegaria certamente ao Tribunal de Jus-tiça. Se um dia puder chegar lá, vou trabalhar ins-pirado no modelo de trabalho dele.
CRIME INSOLÚVEL?
Direitos Humanos teme impunidade“Entendemos que o crime cometido contra o juiz Alexandre
Martins de Castro Filho entrou para a galeria do crimesinsolúveis, e que a investigação está na mesma regra doscrimes insolúveis, que perduraram no Espírito Santos nosúltimos 20 anos”. A reação foi do presidente do Movimentodos Direitos Humanos no Espírito Santo, Isaías Santana daRocha, ao comentar as investigações sobre o mando daexecução do juiz Alexandre Martins. Ele afirmou acreditar quedificilmente a sociedade terá uma resposta sobre o mando damorte do magistrado. “Para nossa grande decepção, pois asinstituições ligadas aos direitos humanos acreditavam que seum dia o crime organizado alcançasse o Poder Judiciário, essasituação iria mudar, mas na prática nada mudou”, acrescentouSantana. Segundo o presidente, o fato dos executoresconfessos e supostos intermediários da morte do magistradoestarem presos, não é uma resposta suficiente à sociedade.Segundo o secretário de Segurança, Rodney Miranda, não sepode falar que o mando do crime vai ficar impune. “Ainvestigação do mando é muito complexa, na medida emmuitas pessoas podem estar direta ou indiretamenteinteressadas na morte do juiz”, finalizou.