Viver Sem Abrigo… Um retrato...

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1 Workshop Viver Sem Abrigo… Um retrato social…. Considerações ENQUADRAMENTO TEÓRICO a) “Todos têm direito a um nível de vida adequado que assegure a saúde e bem-estar para si e para a sua família, incluindo alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e serviços sociais” Assembleia Geral das Nações Unidas, Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948 b) “Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar” Constituição da República Portuguesa, 1976, artigo 65º c) Considera-se pessoa sem-abrigo aquela que, independentemente da sua nacionalidade, idade, sexo, condição sócio económica e condição de saúde física e mental se encontre: a. Sem teto, vivendo no espaço público, alojada em abrigo de emergência ou com paradeiro em local precário; ou b. Sem casa, encontrando-se em alojamento temporário destinado para o efeito” Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas Sem Abrigo, pp. 16 d) Na Europa, a situação de sem abrigo é medida de acordo com as condições de vida (…) Assim existem diversas categorias: a. Indivíduos que vivem sem qualquer abrigo são chamados sem teto; b. Os sem casa são aqueles que, apesar de não terem sitio para dormir, residem em abrigos ou instituições; c. O termo habitação insegura diz respeito a todos aqueles que se encontram em risco de perder a casa, devido a violência doméstica, despejo ou exclusão;

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Workshop Viver Sem Abrigo… Um retrato social….

Considerações

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

a) “Todos têm direito a um nível de vida adequado que assegure

a saúde e bem-estar para si e para a sua família, incluindo

alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e

serviços sociais”

Assembleia Geral das Nações Unidas, Declaração Universal

dos Direitos Humanos, 1948

b) “Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma

habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e

conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade

familiar”

Constituição da República Portuguesa, 1976, artigo 65º

c) “Considera-se pessoa sem-abrigo aquela que,

independentemente da sua nacionalidade, idade, sexo,

condição sócio económica e condição de saúde física e

mental se encontre:

a. Sem teto, vivendo no espaço público, alojada em

abrigo de emergência ou com paradeiro em local

precário; ou

b. Sem casa, encontrando-se em alojamento temporário

destinado para o efeito”

Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas Sem

Abrigo, pp. 16

d) “Na Europa, a situação de sem abrigo é medida de acordo

com as condições de vida (…) Assim existem diversas

categorias:

a. Indivíduos que vivem sem qualquer abrigo são

chamados sem teto;

b. Os sem casa são aqueles que, apesar de não terem

sitio para dormir, residem em abrigos ou instituições;

c. O termo habitação insegura diz respeito a todos

aqueles que se encontram em risco de perder a casa,

devido a violência doméstica, despejo ou exclusão;

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d. A classificação habitação imprópria refere-se a todos

os que se residem casas ocupadas ou acampamentos

ilegais.”

Ahmad Kavousian, Março 2012

e) O conceito desabrigo absoluto refere-se a pessoas que

vivem nas ruas sem um abrigo físico, enquanto o desabrigo

relativo diz respeito aqueles que vivem em espaços que não

correspondem às necessidades básicas de saúde e normas

de segurança.

A definição ampla de falta de moradia inclui aqueles que

vivem em habitações degradadas, ou em condições de

superlotação ou situação indesejável.

Por exemplo, se uma mulher vive com um homem abusivo,

para evitar estar nas ruas, pode ser enquadrada nesta

categoria.

Ahmad Kavousian, Março 2012

CARACTERIZAÇÃO – REALIDADE PORTUGUESA

(FONTE: JORNAL “ O PÚBLICO” DISPONÍVEL EM

WWW.PÚBLICO.PT; 28-03-2011 POR LUSA, CEDIDO POR CÂMARA

MUNICIPAL DE PENICHE)

a) População maioritariamente masculina (84%), com idade

entre os 30 e 49 anos (60%) e 1º ciclo do ensino básico

(54%)

b) Principais problemáticas:

a. Consumo de substâncias psicoativas (50,3%)

b. Doenças mentais (11,4%)

c. Doenças físicas (11,3%)

d. Falta de ocupação/ desemprego (16, 9%)

c) Naturalidade:

a. Portuguesa (68%)

b. Países Língua Oficial Portuguesa (15%)

c. Outras (11%)

d. Países de Leste (6%)

d) Recursos económicos:

a. Mendicidade

b. Apoios/Subsídios Institucionais (37%)

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c. Apoio de amigos e familiares (14%)

Situações de Sem Abrigo – ISS, 2004

Fonte: Sem-Abrigo - Tendências dos estudos a nível europeu e

balanço da situação em Portugal

CARACTERIZAÇÃO – CIDADE DE FARO

(Fonte: NPISA de Faro)

Maioritariamente do sexo masculino, solteiro, baixa escolaridade e

idade compreendida entre os 41 a 50 anos;

Maioria de nacionalidade portuguesa, não têm raízes locais (provêm

de outros distritos do país);

Atualmente fazem recurso a atividades de apoio ao estacionamento

de veículos e mendicidade;

Pernoita em casas abandonadas;

Motivações que deram origem à condição de sem-abrigo:

Alcoolismo/Toxicodependência; Desemprego; Problemas Financeiros;

Problemas Familiares;

A maior parte já solicitou apoio às instituições locais – em particular

ao nível financeiro, de ajuda alimentar e de apoio à reabilitação;

Parte importante revela ter tido problemas com a Justiça.

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PRINCIPAIS PROBLEMÁTICAS

(Fonte: NPISA de Faro)

Álcool – 19 casos

Financeira/Endividamento – 11 casos

Saúde física / Mental – 13 casos

Drogas – 19 casos

Rutura familiar / Conflito familiar – 16 casos

Total de casos de sem abrigo identificados pelo NPISA de Faro:

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WORKSHOP

VIVER SEM ABRIGO… UM RETRATO SOCIAL

VISITA À EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA DE AHMAD KAVOUSIAN – “ O CÉU

COMO LIMITE”, COM O TESTEMUNHO DO AUTOR DA EXPOSIÇÃO

Ahmad Kavousian nasceu no Irão em 1948. Em 1996 mudou-se para

Vancouver, no Canadá, onde viveu durante 14 anos. Encontra-se,

desde Abril de 2010, a residir em Lisboa.

Em 2009 recebeu o Prémio Internacional para Melhor Fotógrafo, da

International Network of Street Papers (INSP), pela foto

“Functionality”, publicada na Megaphone Magazine.

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O que sente um sem-abrigo?

A pobreza e a existência de pessoas sem-abrigo não é um fenómeno

recente: é fruto da relação injusta entre as várias classes sociais,

sendo presença constante no desenvolvimento da história da

humanidade.

Com a afirmação do capital enquanto elemento fundamental de troca

e garantia para um modo de vida confortável, a exploração de

humanos começou.

Enquanto muitas usufruem de um modo de vida decente num sítio

chamado casa, um número cada vez maior de pessoas não possui

acomodação e alguns não têm sequer abrigo. É inaceitável que após

um longo período de crescimento económico, o número de pessoas

sem-abrigo e marginalizadas no acesso ao trabalho e à sociedade

continue a crescer.

Os governos dos países desenvolvidos encontram-se comprometidos

em encontrar novos modos para erradicar todas as formas de

exclusão social e, em particular, reduzir o número de cidadão que se

encontram na condição de sem-abrigo.

O desafio é enorme e complexo. A maioria das vezes as pessoas

sem-abrigo necessitam do apoio de diversos serviços públicos:

perderam a casa, não conseguem encontrar trabalho, se calhar têm

um doença crónica ou foram vitimas de abuso e/ou violência.

A disponibilização de fundos para o apoio à habitação e aos sem-

abrigo não significa, necessariamente uma habitação estável, um

emprego ou o aumento da participação destes indivíduos na

comunidade, uma vez que na maioria dos casos, estas ações não

são dirigidas à raiz do problema.

Nos países do terceiro mundo, a pobreza e falta de habitação são

diferentes, visto que não têm origem no capitalismo clássico – na

maioria das situações acontecem devido a um infortúnio, como é o

caso dos desastres nacionais.

Tendo em conta o baixo nível de vida destas comunidades, o

problema dos sem-abrigo não pode ser considerado só por si um

drama, tornando-se complicado apontar os governos e o seu sistema

político como principal suspeito para esta tragédia humana.

As pessoas que vivem nos países pobres pensam que os países

ricos já resolveram os seus problemas sociais. Mas o oposto revela-

se mais real. De acordo com um estudo realizado pela Universidade

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de York, os sem-abrigo têm aumentado na Suécia, Canadá, Estados

Unidos, Polónia, Hungria e República Checa. O número mantém-se

estável na Austrália e, a Inglaterra e a Alemanha foram os únicos

países que, aparentemente, baixaram o número de sem-abrigo.

Todos os anos, nos Estados Unidos, registam-se 3.5 milhões de

novos casos de sem-abrigo. Destes, mais de um milhão são crianças,

sendo que todas as noites dormem nas ruas 300.000 crianças.

Na realidade muitos sem-abrigo são famílias com crianças. A maioria

destas famílias encontra-se nesta situação devido a uma série de

eventos inesperados e não planeados. Apesar de se pensar que o

problema dos sem-abrigo é principalmente a consequência de

eventos traumáticos ou deficiências físicas e mentais, nos Estados

Unidos da América, as causas deste problema são muito diversas.

Existem muitos fatores que forçam as pessoas a viver na rua. Saber

isto pode ajudar a acabar com os sem-abrigo na América. Na maioria

dos casos, os indivíduos tornam-se sem-abrigo devido a eventos

trágicos, como a perda de um ente querido, a perda de emprego,

violência doméstica, divórcio e desentendimentos familiares.

Depressões, doenças mentais e deficiências físicas também podem

ser causas para que fiquem sem abrigo.

Para as pessoas que vivem na pobreza, ou no limiar da pobreza, um

acontecimento que pode parecer banal para alguém com um

rendimento maior - a avaria do carro, a falta de seguro ou mesmo o

não pagamento de uma multa - pode ser suficiente para o colocar em

situação de sem abrigo.

Na Europa, a situação de Sem Abrigo é medida de acordo com as

condições de vida. Nem todos os indivíduos sem casa são

considerados sem abrigo. Assim, existem diversas categorias:

- Indivíduos que vivem sem qualquer abrigo, são chamados de sem

teto;

- Os sem casa são aqueles que, apesar de não terem sitio para

dormir, residem em abrigos ou instituições;

- O termo Habitação Insegura diz respeito a todos aqueles que se

encontram em risco de perder a casa, devido a violência doméstica,

despejo ou exclusão;

- As pessoas classificadas como Habitação imprópria são aqueles

que residem em casas ocupadas ou acampamentos ilegais.

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Ao classificar de forma diferente as várias situações de sem abrigo,

os governos e organizações conseguem uma intervenção mais

adequada à situação de sem abrigo, visto que a solução para o

problema difere consoante o nível de sem abrigo, e por isso é

importante compreender as causas para cada situação. Uma vez que

a Europa é um enorme continente com cidadãos de diferentes

nacionalidades, é importante analisar o problema a nível local.

Na Europa, as políticas de intervenção neste âmbito procuram atuar

em três áreas: Alojamento, Apoio e Prevenção das situações de sem

abrigo. A prevenção é o primeiro passo. O objetivo é prevenir e apoiar

aqueles que se encontram em habitação insegura, ou inadequada, e

prevenir a situação de sem abrigo. O apoio aos sem-abrigo inclui o

abrigo e cantinas sociais para os sem teto e sem casa. Finalmente, o

acolhimento pretende providenciar habitação temporária para

pessoas sem casa, bem como outras situações de emergência.

Vivemos num mundo...

… Em que os computadores decidem pelas pessoas;

… Onde podemos viajar online e virtualmente a partir do nosso

desktop;

… Onde braços robóticos viajam pelos corpos realizando cirurgias.

Deixamos o mundo real e entramos num mundo virtual e fantástico.

Uns conhecem este mundo através dos brinquedos virtuais e

tecnologias topo de gama, outros através das drogas.

A Comissão Europeia designou 2010 como o Ano Europeu do

Combate à Pobreza e Exclusão Social.

18 MILHÕES DE PESSOAS MORREM, TODOS OS DIAS, DE POBREZA

EXTREMA.

39.5 MILHÕES VIVEM COM SIDA.

MAIS DE 80% DA POPULAÇÃO MUNDIAL VIVE COM MENOS DE $10 POR DIA.

A POBREZA EXTREMA ENCONTRA-SE CONCENTRADA EM TERRITÓRIOS E

ESTADOS FRÁGEIS, SENDO ESTES AQUELES COM POUCOS RECURSOS E

POLÍTICAS PÚBLICAS. GERALMENTE, ESTES PAÍSES SÃO FONTES DE

GUERRA E TERRORISMO, REGISTANDO-SE UMA CRISE DE REFUGIADOS.

Realizam-se múltiplas conferências internacionais, promovidas pela

Comissão Europeia, OMS, Banco Mundial, Unicef, etc., onde se

reúnem especialistas conceituados, que ficam hospedados em hotéis

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de luxo, enquanto procuram encontrar o caminho mais económico

para solucionar esta tragédia humana.

As diversas medidas já existentes, como os programas de

alojamento, a criação de empregos em massa, a distribuição de

sopas e a criação e abrigos, bem como a distribuição de cobertores

como “kit de sobrevivência” NA MELHOR DAS HIPÓTESES SÃO SOLUÇÕES

QUE SÓ REMEDEIAM O PROBLEMA REAL…

Um dos principais objetivos do meu testemunho é dar aos sem-abrigo

uma face humana e respeito social, através da realização de fóruns

para educar a comunidade, para que lidem melhor e respeitem essas

pessoas.

Os sem-abrigo na América do Norte, e em alguns países europeus,

são financiados pela Segurança Social. O financiamento não é nada

de especial, somente o suficiente para sobreviverem.

Por outro lado, as pessoas que recebem estes apoios não

conseguem fazer face às despesas. O subsídio atribuído não dá para

pagar a renda, não dá para comprar roupa, nem pensar no telemóvel,

internet, gás, etc...

No Canadá, na segunda quarta-feira de cada mês, são entregues os

cheques da Segurança Social aos indivíduos carenciados. Na manhã

seguinte, as ambulâncias andam numa roda-viva, a recolher

cadáveres de sujeitos mortos por overdose, espalhados nos vários

becos sujos e fétidos.

Sim, este é o seu dinheiro de sangue e eles não podem obter a

verdade enquanto eles ganham este dinheiro fácil.

Apesar de estarem envoltos em trapos fétidos, da sua língua amarga

e rostos difíceis, os sem-abrigo não são tão maus como parecem e,

estão longe de serem criminosos. Muito têm uma alma delicada e

procuram amizade, respeito e amor. Como acontece com qualquer

ser humano, detestam ser incluídos em categorias como “limpo e

sujo” ou “ belo e monstro”.

Cada um deles tem muitos contos de fadas para contar, são falantes,

poetas, filósofos, sociólogos… são sonhadores! Nunca estarei farto

de passar tempo com os sem-abrigo.

Não nos podemos esquecer que muitos destes indivíduos vivem na

rua por escolha própria, principalmente por se revoltarem contra

aquilo que acreditam ser injusto. São pessoas que foram vítimas de

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algum tipo de injustiça ou de amargura na sua vida, que insiste em

fazê-los sentir e agir como um perdedor.

O conceito “desabrigo absoluto” refere-se a pessoas que vivem nas

ruas sem um abrigo físico, enquanto o “desabrigo relativo” diz

respeito àqueles que vivem em espaços que não correspondem às

necessidades básicas de saúde e normas de segurança.

A definição ampla da falta de moradia inclui aqueles que vivem em

habitações degradadas, ou em condições de superlotação ou

situação indesejável.

Por exemplo, se uma mulher vive com um homem abusivo, para

evitar estar nas ruas, pode ser enquadrada nesta categoria.

Ahmad Kavousian

2 de Março 2012

NÚCLEO DE PLANEAMENTO E INTEGRAÇÃO SEM ABRIGO DE FARO -

BREVE ENQUADRAMENTO: CONCEITOS DE SEM-ABRIGO E

CONTEXTUALIZAÇÃO

COMO SURGIU O NPISA?

População sem-abrigo identificada como prioritária na intervenção -

“Carta Social do Concelho de Faro 2008-2013” e no Diagnóstico

Social e no Plano de Desenvolvimento Social (2008-2013);

Desafio lançado pela Estratégia Nacional para a Integração de

pessoas sem-abrigo – ENPISA, grupo coordenado pelo Instituto de

Segurança Social, IP (ISS, I.P).

ENPISA:

A Estratégia corresponde a um conjunto de orientações gerais e

compromissos das diferentes entidades, cuja operacionalização deve

ser implementada a nível local, no âmbito das redes sociais locais,

com base em planos específicos e adequados às necessidades locais

identificadas.

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A FORMALIZAÇÃO DO NPISA

O Protocolo foi assinado no dia 14/12/2010 em sede de Plenário do

CLASF.

17 Parceiros sociais:

• Município de Faro

• Junta de Freguesia da Sé

• Junta de Freguesia de S. Pedro

• Polícia de Segurança Publica de Faro

• Serviços de Estrangeiros e Fronteiras

• Centro Distrital de Segurança Social de Faro

• Grupo de Ajuda a Toxicodependentes

• Movimento de Apoio à Problemática da Sida

• Santa Casa da Misericórdia de Faro

• Centro Paroquial de São Pedro

• Centro Paroquial de S. Luís

• Delegação Regional do Algarve do Instituto da

Droga e da Toxicodependência

• Hospital de Faro

• Centro de Saúde do Algarve I - Central

• Centro de Apoio aos Sem-Abrigo

• Cruz Vermelho Portuguesa – Delegação de Faro

• Rede Europeia Anti Pobreza

FUNCIONAMENTO

Reuniões: ultima quinta-feira de cada mês

Coordenação: Divisão de Ação Social - CMF

Sinalização: Preenchimento de uma ficha de sinalização

(facultada pela Estratégia Nacional)

Sistema de Informação: Base de dados e monitorização

mensal

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Metodologia de acompanhamento: Para cada pessoa

sinalizada em situação de Sem-Abrigo, é elaborado um Plano

Individual de Inserção, um dos parceiros do núcleo assume o

papel de Gestor de caso.

Gestor assume o papel de mediador e facilitador nos

processos de articulação com as diferentes

entidades/respostas. O Gestor é o técnico de

referência dos casos que acompanha.

No NPISA , são 5 os parceiros que são gestores de

processos:

- Câmara Municipal de Faro

- Centro Distrital de Segurança Social

- O Movimento de Apoio à Problemática da Sida

(Maps)

- Santa Casa da Misericórdia de Faro

- Centro de Apoio aos Sem-Abrigo (Casa)

CONTRIBUTOS E LIMITAÇÕES

ALGUMAS REFLEXÕES E PRINCÍPIOS:

- Resolução de conflitos e empowerment das atuações dos

envolvidos, através da transmissão de uma visão de

complementaridade das atuações e não de oposição ou

ameaça;

- Eliminação/Redução de justaposições e sobre-atuações,

assim como de hiatos de atenção (hipoatuação /

hiperatuação);

- Coordenação horizontal e vertical entre os diferentes agentes,

programas e iniciativas e fomento do interconhecimento

institucional;

- Delineação de critérios comuns e aprovados pelo grupo para

todas as intervenções.

LIMITAÇÕES

Rede de alojamento transitório lotada (atualmente designada

por centros de alojamento temporário e habitação assistida),

dificultando a criação de mecanismos que permitam a

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passagem de situações de alojamento de urgência a

processos de integração em alojamento assistido;

Problemáticas associadas registam taxas de sucesso

reduzidas;

Ausência de apoios financeiros a respostas sociais e serviços

no desenvolvimento de projetos de inclusão direcionados para

a problemática;

Numero reduzido de projetos de requalificação e integração

profissional, de inserção faseada, tendo em conta as

trajetórias individuais, abrangendo um leque diferenciado de

respostas.

EAPN, NÚCLEO DE FARO - RELATO DA EXPERIÊNCIA DO TRABALHO DE

PHOTOVOICE REALIZADO COM OS SEM-ABRIGO PELA NPISA DE FARO

O Photovoice é um método de intervenção social que utiliza a

fotografia e a voz como instrumento de empoderamento e auto

conhecimento.

O Photovoice pretende promover a participação e o exercício da

cidadania uma vez que através do relato de experiências, vivências,

necessidades e expetativas das pessoas.

Os principais objetivos deste inovador método de intervenção social

são:

Capacitar os indivíduos para a auto reflexão, quer individual,

quer coletiva (o contexto que o envolve);

Promover o diálogo crítico;

Projetar a visão da sua realidade e das suas experiências a

outros indivíduos

(Fonte:

http://sentidosdaeducacaosocial.blogspot.com/2010/05/photov

oice-um-novo-metodo-de-intervir.html)

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Com base na metodologia atrás descrita, a EAPN, no âmbito das

atividades do NPISA de Faro, desenvolveu um trabalho de

Photovoice com os sem-abrigo de Faro, contando com a estreita

colaboração das equipas de rua que apoiaram na identificação dos

participantes.

Apresenta-se assim algumas fotografias tiradas pelos participantes na

resposta à questão “ Como me vejo no mundo?”

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APRESENTAÇÃO DO MICROFILME “ESTOU PARA AQUI ASSIM”, VENCEDOR

DO PRÉMIO MICROFILMES PARA MACROCAUSAS E RELATO DO

REALIZADOR DIOGO PESSOA

O Microfilmes para Macrocausas, também designado de MMCausas

é uma iniciativa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, criada em

2010 e em parceria com o Clube Português de Artes e Ideias e o

Sapo.pt

É realizado anualmente e tem como principal objetivo mobilizar

jovens artistas para uma participação social e solidária, premiando

projetos artísticos na área do vídeo digital que tenham como temática

questões sociais pertinentes.

Em 2010 e, em consonância com a iniciativa europeia 2010 – Ano

Europeu do Combate à Pobreza e Exclusão Social, foi lançado o

desafio a jovens criadores, tendo por base esta temática.

Diogo Pessoa, jovem realizador e formador já sensibilizado para

estas questões sociais e envolvido em atividades de associações

juvenis e organizações não-governamentais, lançou-se neste desafio

e criou o MicroFilme “Estou para aqui assim…” com a colaboração da

produtora Maria do Mar Liz.

Segundo o realizador, “foi muito fácil criar este microfilme, uma vez

que a exclusão social está patente em algo que pode parecer tão

simples como a participação neste concurso”.

“Estou para aqui assim…”

http://blip.tv/artedigital/estou-para-aqui-assim-versao-extendida-

4621835

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APRESENTAÇÃO DAS CONCLUSÕES

No final da sessão o grupo reuniu-se e analisou três temas

relacionados com a problemática dos Sem-abrigo.

a) O Perfil dos Sem-abrigo

Apesar da realidade do Distrito de Faro indicar que grande parte dos

Sem-abrigo são dependentes de substâncias psicoativas, o grupo

concluiu que:

A crise económica e financeira coloca desafios à sociedade

portuguesa e a problemática dos sem-abrigo não se encontra

indiferente a esta questão;

São vários os fatores que colocam uma pessoa em situação

de Sem Abrigo:

o Eventos trágicos, como a perda de um ente querido,

o Desemprego,

o Ruturas familiares;

o Doenças;

o Violência doméstica;

o Consumo de drogas e álcool

Há várias categorias de pessoas Sem-abrigo:

o Sem Teto;

o Sem Casa;

o Habitação Insegura;

o Habitação indesejável

Muitos se abrigo são famílias que se encontram nesta

situação devido a acontecimentos imprevistos

“ Para as pessoas que vivem na pobreza, ou no limiar da pobreza,

um acontecimento que pode parecer banal para alguém com um

rendimento maior - a avaria do carro, a falta de seguro ou mesmo

o não pagamento de uma multa - pode ser suficiente para o

colocar em situação de sem abrigo.”

Ahmad Kavousian, 2012

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16

ESTIGMAS E ESTEREÓTIPOS

Através de um exercício muito simples que consistia em cada um

dos participantes indicar a primeira palavra que considera quando

pensa num sem-abrigo, percebe-se o os pré conceitos existentes

na sociedade em relação às pessoas sem-abrigo e o estigma que

acompanha todos os que se encontram nesta situação.

A (RE)INSERÇÃO SOCIAL DOS SEM ABRIGO

NOTAS FINAIS:

Poucas respostas existem no âmbito desta problemática e a (re)

inserção de qualquer individuo torna-se complicada quando este não

consegue satisfazer as necessidades básicas e sociais associadas ao

acesso a uma habitação condigna.

A sociedade civil, cada vez mais empenhada nos assuntos sociais e

compelida em colaborar com o Estado nestas questões, possui um

papel fundamental no combate à pobreza e exclusão social, não

devendo no entanto substituir o Estado na sua função social,

correndo-se o risco de promover uma desresponsabilização geral da

entidades públicas e de apoio aos cidadãos.

Cabe a todos os cidadãos contribuir para desmistificar os conceitos

negativos associados à pessoa sem-abrigo.

A reflexão sobre estas questões conduz inevitavelmente à

indignação….

Como podemos ficar indiferentes?

Como é possível que em sociedades modernas, com elevados níveis

de crescimento económico, tecnológico e científico, não haja resposta

para pessoas que ficam sem casa….

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COMO É QUE UMA SOCIEDADE QUE SE AUTO INTITULA DEMOCRÁTICA

PERMITE A EXISTÊNCIA DE DESIGUALDADES NO ACESSO AO PODER E AOS

RECURSOS ENTRE OS SEUS CIDADÃOS?

COMO PERMITIMOS A EXISTÊNCIA DE UMA SOCIEDADE TÃO INJUSTA?

COMO SE SENTE UM SEM ABRIGO?

Phillip Chuck responde:

Ele viveu mais de 14 anos nos becos de Vancouver.

Adormecia ao pôr-do-sol e acordava de madrugada, às cinco da

manhã. Dirigia-se ao MacDonald’s mais próximo, para um café barato

e para se aquecer um pouco.

Fez algum bom dinheiro nas ruas, desenvolveu uma doença mental e

acabou internando num hospital psiquiátrico, até ao fecho da

instituição.

Quando isso aconteceu, mudou-se para um hotel na baixa de

Eastside, onde foi esfaqueado no rosto. No seu prédio, existiam

vários traficantes de droga e prostitutas batiam-lhe à porta, para

utilizar o seu quarto duas horas em troca de alguma cocaína. Se não

fizesse o que lhe era pedido, iriam transformar a sua vida num

inferno.

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Acrescento alguns comentários feitos pelos moradores de rua,

acerca do desalojamento:

- Sem Abrigo significa ter dinheiro para bebidas alcoólicas, mas não

ter para um quarto.

- Sem Abrigo significa saber que tu podes ser despejado a qualquer

momento.

- Estar em constante mudança.

- O aumento da renda força-te a abandonar a casa.

- Quando sais da prisão, não sabes onde pertences.

- E Sem Abrigo é não saber para onde ir.

Eles são parte de nossa comunidade e devem ser respeitados.

Eles não vão ser desaparecer com a nossa ignorância.

São pessoas comuns e simples, como eu e tu, e merecem o

mesmo que nós, os mesmos direitos sociais básicos.

Vamos considerá-los como uma parte da nossa comunidade, sem

exclusão, vamos gastar um pouco de tempo ouvindo suas histórias,

ao mesmo tempo que partilhamos a nossa.

Vamos respeitá-los antes de esperar o respeito deles. Eles

poderiam ser qualquer um de nós, depois de perdermos os nossos

empregos e ficarmos desempregados durante um par de meses e

não sermos capazes de pagar a nossa renda, a dívida ao banco ou

quaisquer outras contas importantes.

Ahmad Kavousian, 2012