Viver Sem Abrigo… Um retrato...
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Workshop Viver Sem Abrigo… Um retrato social….
Considerações
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
a) “Todos têm direito a um nível de vida adequado que assegure
a saúde e bem-estar para si e para a sua família, incluindo
alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e
serviços sociais”
Assembleia Geral das Nações Unidas, Declaração Universal
dos Direitos Humanos, 1948
b) “Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma
habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e
conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade
familiar”
Constituição da República Portuguesa, 1976, artigo 65º
c) “Considera-se pessoa sem-abrigo aquela que,
independentemente da sua nacionalidade, idade, sexo,
condição sócio económica e condição de saúde física e
mental se encontre:
a. Sem teto, vivendo no espaço público, alojada em
abrigo de emergência ou com paradeiro em local
precário; ou
b. Sem casa, encontrando-se em alojamento temporário
destinado para o efeito”
Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas Sem
Abrigo, pp. 16
d) “Na Europa, a situação de sem abrigo é medida de acordo
com as condições de vida (…) Assim existem diversas
categorias:
a. Indivíduos que vivem sem qualquer abrigo são
chamados sem teto;
b. Os sem casa são aqueles que, apesar de não terem
sitio para dormir, residem em abrigos ou instituições;
c. O termo habitação insegura diz respeito a todos
aqueles que se encontram em risco de perder a casa,
devido a violência doméstica, despejo ou exclusão;
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d. A classificação habitação imprópria refere-se a todos
os que se residem casas ocupadas ou acampamentos
ilegais.”
Ahmad Kavousian, Março 2012
e) O conceito desabrigo absoluto refere-se a pessoas que
vivem nas ruas sem um abrigo físico, enquanto o desabrigo
relativo diz respeito aqueles que vivem em espaços que não
correspondem às necessidades básicas de saúde e normas
de segurança.
A definição ampla de falta de moradia inclui aqueles que
vivem em habitações degradadas, ou em condições de
superlotação ou situação indesejável.
Por exemplo, se uma mulher vive com um homem abusivo,
para evitar estar nas ruas, pode ser enquadrada nesta
categoria.
Ahmad Kavousian, Março 2012
CARACTERIZAÇÃO – REALIDADE PORTUGUESA
(FONTE: JORNAL “ O PÚBLICO” DISPONÍVEL EM
WWW.PÚBLICO.PT; 28-03-2011 POR LUSA, CEDIDO POR CÂMARA
MUNICIPAL DE PENICHE)
a) População maioritariamente masculina (84%), com idade
entre os 30 e 49 anos (60%) e 1º ciclo do ensino básico
(54%)
b) Principais problemáticas:
a. Consumo de substâncias psicoativas (50,3%)
b. Doenças mentais (11,4%)
c. Doenças físicas (11,3%)
d. Falta de ocupação/ desemprego (16, 9%)
c) Naturalidade:
a. Portuguesa (68%)
b. Países Língua Oficial Portuguesa (15%)
c. Outras (11%)
d. Países de Leste (6%)
d) Recursos económicos:
a. Mendicidade
b. Apoios/Subsídios Institucionais (37%)
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c. Apoio de amigos e familiares (14%)
Situações de Sem Abrigo – ISS, 2004
Fonte: Sem-Abrigo - Tendências dos estudos a nível europeu e
balanço da situação em Portugal
CARACTERIZAÇÃO – CIDADE DE FARO
(Fonte: NPISA de Faro)
Maioritariamente do sexo masculino, solteiro, baixa escolaridade e
idade compreendida entre os 41 a 50 anos;
Maioria de nacionalidade portuguesa, não têm raízes locais (provêm
de outros distritos do país);
Atualmente fazem recurso a atividades de apoio ao estacionamento
de veículos e mendicidade;
Pernoita em casas abandonadas;
Motivações que deram origem à condição de sem-abrigo:
Alcoolismo/Toxicodependência; Desemprego; Problemas Financeiros;
Problemas Familiares;
A maior parte já solicitou apoio às instituições locais – em particular
ao nível financeiro, de ajuda alimentar e de apoio à reabilitação;
Parte importante revela ter tido problemas com a Justiça.
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PRINCIPAIS PROBLEMÁTICAS
(Fonte: NPISA de Faro)
Álcool – 19 casos
Financeira/Endividamento – 11 casos
Saúde física / Mental – 13 casos
Drogas – 19 casos
Rutura familiar / Conflito familiar – 16 casos
Total de casos de sem abrigo identificados pelo NPISA de Faro:
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WORKSHOP
VIVER SEM ABRIGO… UM RETRATO SOCIAL
VISITA À EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA DE AHMAD KAVOUSIAN – “ O CÉU
COMO LIMITE”, COM O TESTEMUNHO DO AUTOR DA EXPOSIÇÃO
Ahmad Kavousian nasceu no Irão em 1948. Em 1996 mudou-se para
Vancouver, no Canadá, onde viveu durante 14 anos. Encontra-se,
desde Abril de 2010, a residir em Lisboa.
Em 2009 recebeu o Prémio Internacional para Melhor Fotógrafo, da
International Network of Street Papers (INSP), pela foto
“Functionality”, publicada na Megaphone Magazine.
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O que sente um sem-abrigo?
A pobreza e a existência de pessoas sem-abrigo não é um fenómeno
recente: é fruto da relação injusta entre as várias classes sociais,
sendo presença constante no desenvolvimento da história da
humanidade.
Com a afirmação do capital enquanto elemento fundamental de troca
e garantia para um modo de vida confortável, a exploração de
humanos começou.
Enquanto muitas usufruem de um modo de vida decente num sítio
chamado casa, um número cada vez maior de pessoas não possui
acomodação e alguns não têm sequer abrigo. É inaceitável que após
um longo período de crescimento económico, o número de pessoas
sem-abrigo e marginalizadas no acesso ao trabalho e à sociedade
continue a crescer.
Os governos dos países desenvolvidos encontram-se comprometidos
em encontrar novos modos para erradicar todas as formas de
exclusão social e, em particular, reduzir o número de cidadão que se
encontram na condição de sem-abrigo.
O desafio é enorme e complexo. A maioria das vezes as pessoas
sem-abrigo necessitam do apoio de diversos serviços públicos:
perderam a casa, não conseguem encontrar trabalho, se calhar têm
um doença crónica ou foram vitimas de abuso e/ou violência.
A disponibilização de fundos para o apoio à habitação e aos sem-
abrigo não significa, necessariamente uma habitação estável, um
emprego ou o aumento da participação destes indivíduos na
comunidade, uma vez que na maioria dos casos, estas ações não
são dirigidas à raiz do problema.
Nos países do terceiro mundo, a pobreza e falta de habitação são
diferentes, visto que não têm origem no capitalismo clássico – na
maioria das situações acontecem devido a um infortúnio, como é o
caso dos desastres nacionais.
Tendo em conta o baixo nível de vida destas comunidades, o
problema dos sem-abrigo não pode ser considerado só por si um
drama, tornando-se complicado apontar os governos e o seu sistema
político como principal suspeito para esta tragédia humana.
As pessoas que vivem nos países pobres pensam que os países
ricos já resolveram os seus problemas sociais. Mas o oposto revela-
se mais real. De acordo com um estudo realizado pela Universidade
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de York, os sem-abrigo têm aumentado na Suécia, Canadá, Estados
Unidos, Polónia, Hungria e República Checa. O número mantém-se
estável na Austrália e, a Inglaterra e a Alemanha foram os únicos
países que, aparentemente, baixaram o número de sem-abrigo.
Todos os anos, nos Estados Unidos, registam-se 3.5 milhões de
novos casos de sem-abrigo. Destes, mais de um milhão são crianças,
sendo que todas as noites dormem nas ruas 300.000 crianças.
Na realidade muitos sem-abrigo são famílias com crianças. A maioria
destas famílias encontra-se nesta situação devido a uma série de
eventos inesperados e não planeados. Apesar de se pensar que o
problema dos sem-abrigo é principalmente a consequência de
eventos traumáticos ou deficiências físicas e mentais, nos Estados
Unidos da América, as causas deste problema são muito diversas.
Existem muitos fatores que forçam as pessoas a viver na rua. Saber
isto pode ajudar a acabar com os sem-abrigo na América. Na maioria
dos casos, os indivíduos tornam-se sem-abrigo devido a eventos
trágicos, como a perda de um ente querido, a perda de emprego,
violência doméstica, divórcio e desentendimentos familiares.
Depressões, doenças mentais e deficiências físicas também podem
ser causas para que fiquem sem abrigo.
Para as pessoas que vivem na pobreza, ou no limiar da pobreza, um
acontecimento que pode parecer banal para alguém com um
rendimento maior - a avaria do carro, a falta de seguro ou mesmo o
não pagamento de uma multa - pode ser suficiente para o colocar em
situação de sem abrigo.
Na Europa, a situação de Sem Abrigo é medida de acordo com as
condições de vida. Nem todos os indivíduos sem casa são
considerados sem abrigo. Assim, existem diversas categorias:
- Indivíduos que vivem sem qualquer abrigo, são chamados de sem
teto;
- Os sem casa são aqueles que, apesar de não terem sitio para
dormir, residem em abrigos ou instituições;
- O termo Habitação Insegura diz respeito a todos aqueles que se
encontram em risco de perder a casa, devido a violência doméstica,
despejo ou exclusão;
- As pessoas classificadas como Habitação imprópria são aqueles
que residem em casas ocupadas ou acampamentos ilegais.
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Ao classificar de forma diferente as várias situações de sem abrigo,
os governos e organizações conseguem uma intervenção mais
adequada à situação de sem abrigo, visto que a solução para o
problema difere consoante o nível de sem abrigo, e por isso é
importante compreender as causas para cada situação. Uma vez que
a Europa é um enorme continente com cidadãos de diferentes
nacionalidades, é importante analisar o problema a nível local.
Na Europa, as políticas de intervenção neste âmbito procuram atuar
em três áreas: Alojamento, Apoio e Prevenção das situações de sem
abrigo. A prevenção é o primeiro passo. O objetivo é prevenir e apoiar
aqueles que se encontram em habitação insegura, ou inadequada, e
prevenir a situação de sem abrigo. O apoio aos sem-abrigo inclui o
abrigo e cantinas sociais para os sem teto e sem casa. Finalmente, o
acolhimento pretende providenciar habitação temporária para
pessoas sem casa, bem como outras situações de emergência.
Vivemos num mundo...
… Em que os computadores decidem pelas pessoas;
… Onde podemos viajar online e virtualmente a partir do nosso
desktop;
… Onde braços robóticos viajam pelos corpos realizando cirurgias.
Deixamos o mundo real e entramos num mundo virtual e fantástico.
Uns conhecem este mundo através dos brinquedos virtuais e
tecnologias topo de gama, outros através das drogas.
A Comissão Europeia designou 2010 como o Ano Europeu do
Combate à Pobreza e Exclusão Social.
18 MILHÕES DE PESSOAS MORREM, TODOS OS DIAS, DE POBREZA
EXTREMA.
39.5 MILHÕES VIVEM COM SIDA.
MAIS DE 80% DA POPULAÇÃO MUNDIAL VIVE COM MENOS DE $10 POR DIA.
A POBREZA EXTREMA ENCONTRA-SE CONCENTRADA EM TERRITÓRIOS E
ESTADOS FRÁGEIS, SENDO ESTES AQUELES COM POUCOS RECURSOS E
POLÍTICAS PÚBLICAS. GERALMENTE, ESTES PAÍSES SÃO FONTES DE
GUERRA E TERRORISMO, REGISTANDO-SE UMA CRISE DE REFUGIADOS.
Realizam-se múltiplas conferências internacionais, promovidas pela
Comissão Europeia, OMS, Banco Mundial, Unicef, etc., onde se
reúnem especialistas conceituados, que ficam hospedados em hotéis
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de luxo, enquanto procuram encontrar o caminho mais económico
para solucionar esta tragédia humana.
As diversas medidas já existentes, como os programas de
alojamento, a criação de empregos em massa, a distribuição de
sopas e a criação e abrigos, bem como a distribuição de cobertores
como “kit de sobrevivência” NA MELHOR DAS HIPÓTESES SÃO SOLUÇÕES
QUE SÓ REMEDEIAM O PROBLEMA REAL…
Um dos principais objetivos do meu testemunho é dar aos sem-abrigo
uma face humana e respeito social, através da realização de fóruns
para educar a comunidade, para que lidem melhor e respeitem essas
pessoas.
Os sem-abrigo na América do Norte, e em alguns países europeus,
são financiados pela Segurança Social. O financiamento não é nada
de especial, somente o suficiente para sobreviverem.
Por outro lado, as pessoas que recebem estes apoios não
conseguem fazer face às despesas. O subsídio atribuído não dá para
pagar a renda, não dá para comprar roupa, nem pensar no telemóvel,
internet, gás, etc...
No Canadá, na segunda quarta-feira de cada mês, são entregues os
cheques da Segurança Social aos indivíduos carenciados. Na manhã
seguinte, as ambulâncias andam numa roda-viva, a recolher
cadáveres de sujeitos mortos por overdose, espalhados nos vários
becos sujos e fétidos.
Sim, este é o seu dinheiro de sangue e eles não podem obter a
verdade enquanto eles ganham este dinheiro fácil.
Apesar de estarem envoltos em trapos fétidos, da sua língua amarga
e rostos difíceis, os sem-abrigo não são tão maus como parecem e,
estão longe de serem criminosos. Muito têm uma alma delicada e
procuram amizade, respeito e amor. Como acontece com qualquer
ser humano, detestam ser incluídos em categorias como “limpo e
sujo” ou “ belo e monstro”.
Cada um deles tem muitos contos de fadas para contar, são falantes,
poetas, filósofos, sociólogos… são sonhadores! Nunca estarei farto
de passar tempo com os sem-abrigo.
Não nos podemos esquecer que muitos destes indivíduos vivem na
rua por escolha própria, principalmente por se revoltarem contra
aquilo que acreditam ser injusto. São pessoas que foram vítimas de
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algum tipo de injustiça ou de amargura na sua vida, que insiste em
fazê-los sentir e agir como um perdedor.
O conceito “desabrigo absoluto” refere-se a pessoas que vivem nas
ruas sem um abrigo físico, enquanto o “desabrigo relativo” diz
respeito àqueles que vivem em espaços que não correspondem às
necessidades básicas de saúde e normas de segurança.
A definição ampla da falta de moradia inclui aqueles que vivem em
habitações degradadas, ou em condições de superlotação ou
situação indesejável.
Por exemplo, se uma mulher vive com um homem abusivo, para
evitar estar nas ruas, pode ser enquadrada nesta categoria.
Ahmad Kavousian
2 de Março 2012
NÚCLEO DE PLANEAMENTO E INTEGRAÇÃO SEM ABRIGO DE FARO -
BREVE ENQUADRAMENTO: CONCEITOS DE SEM-ABRIGO E
CONTEXTUALIZAÇÃO
COMO SURGIU O NPISA?
População sem-abrigo identificada como prioritária na intervenção -
“Carta Social do Concelho de Faro 2008-2013” e no Diagnóstico
Social e no Plano de Desenvolvimento Social (2008-2013);
Desafio lançado pela Estratégia Nacional para a Integração de
pessoas sem-abrigo – ENPISA, grupo coordenado pelo Instituto de
Segurança Social, IP (ISS, I.P).
ENPISA:
A Estratégia corresponde a um conjunto de orientações gerais e
compromissos das diferentes entidades, cuja operacionalização deve
ser implementada a nível local, no âmbito das redes sociais locais,
com base em planos específicos e adequados às necessidades locais
identificadas.
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A FORMALIZAÇÃO DO NPISA
O Protocolo foi assinado no dia 14/12/2010 em sede de Plenário do
CLASF.
17 Parceiros sociais:
• Município de Faro
• Junta de Freguesia da Sé
• Junta de Freguesia de S. Pedro
• Polícia de Segurança Publica de Faro
• Serviços de Estrangeiros e Fronteiras
• Centro Distrital de Segurança Social de Faro
• Grupo de Ajuda a Toxicodependentes
• Movimento de Apoio à Problemática da Sida
• Santa Casa da Misericórdia de Faro
• Centro Paroquial de São Pedro
• Centro Paroquial de S. Luís
• Delegação Regional do Algarve do Instituto da
Droga e da Toxicodependência
• Hospital de Faro
• Centro de Saúde do Algarve I - Central
• Centro de Apoio aos Sem-Abrigo
• Cruz Vermelho Portuguesa – Delegação de Faro
• Rede Europeia Anti Pobreza
FUNCIONAMENTO
Reuniões: ultima quinta-feira de cada mês
Coordenação: Divisão de Ação Social - CMF
Sinalização: Preenchimento de uma ficha de sinalização
(facultada pela Estratégia Nacional)
Sistema de Informação: Base de dados e monitorização
mensal
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Metodologia de acompanhamento: Para cada pessoa
sinalizada em situação de Sem-Abrigo, é elaborado um Plano
Individual de Inserção, um dos parceiros do núcleo assume o
papel de Gestor de caso.
Gestor assume o papel de mediador e facilitador nos
processos de articulação com as diferentes
entidades/respostas. O Gestor é o técnico de
referência dos casos que acompanha.
No NPISA , são 5 os parceiros que são gestores de
processos:
- Câmara Municipal de Faro
- Centro Distrital de Segurança Social
- O Movimento de Apoio à Problemática da Sida
(Maps)
- Santa Casa da Misericórdia de Faro
- Centro de Apoio aos Sem-Abrigo (Casa)
CONTRIBUTOS E LIMITAÇÕES
ALGUMAS REFLEXÕES E PRINCÍPIOS:
- Resolução de conflitos e empowerment das atuações dos
envolvidos, através da transmissão de uma visão de
complementaridade das atuações e não de oposição ou
ameaça;
- Eliminação/Redução de justaposições e sobre-atuações,
assim como de hiatos de atenção (hipoatuação /
hiperatuação);
- Coordenação horizontal e vertical entre os diferentes agentes,
programas e iniciativas e fomento do interconhecimento
institucional;
- Delineação de critérios comuns e aprovados pelo grupo para
todas as intervenções.
LIMITAÇÕES
Rede de alojamento transitório lotada (atualmente designada
por centros de alojamento temporário e habitação assistida),
dificultando a criação de mecanismos que permitam a
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passagem de situações de alojamento de urgência a
processos de integração em alojamento assistido;
Problemáticas associadas registam taxas de sucesso
reduzidas;
Ausência de apoios financeiros a respostas sociais e serviços
no desenvolvimento de projetos de inclusão direcionados para
a problemática;
Numero reduzido de projetos de requalificação e integração
profissional, de inserção faseada, tendo em conta as
trajetórias individuais, abrangendo um leque diferenciado de
respostas.
EAPN, NÚCLEO DE FARO - RELATO DA EXPERIÊNCIA DO TRABALHO DE
PHOTOVOICE REALIZADO COM OS SEM-ABRIGO PELA NPISA DE FARO
O Photovoice é um método de intervenção social que utiliza a
fotografia e a voz como instrumento de empoderamento e auto
conhecimento.
O Photovoice pretende promover a participação e o exercício da
cidadania uma vez que através do relato de experiências, vivências,
necessidades e expetativas das pessoas.
Os principais objetivos deste inovador método de intervenção social
são:
Capacitar os indivíduos para a auto reflexão, quer individual,
quer coletiva (o contexto que o envolve);
Promover o diálogo crítico;
Projetar a visão da sua realidade e das suas experiências a
outros indivíduos
(Fonte:
http://sentidosdaeducacaosocial.blogspot.com/2010/05/photov
oice-um-novo-metodo-de-intervir.html)
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Com base na metodologia atrás descrita, a EAPN, no âmbito das
atividades do NPISA de Faro, desenvolveu um trabalho de
Photovoice com os sem-abrigo de Faro, contando com a estreita
colaboração das equipas de rua que apoiaram na identificação dos
participantes.
Apresenta-se assim algumas fotografias tiradas pelos participantes na
resposta à questão “ Como me vejo no mundo?”
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APRESENTAÇÃO DO MICROFILME “ESTOU PARA AQUI ASSIM”, VENCEDOR
DO PRÉMIO MICROFILMES PARA MACROCAUSAS E RELATO DO
REALIZADOR DIOGO PESSOA
O Microfilmes para Macrocausas, também designado de MMCausas
é uma iniciativa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, criada em
2010 e em parceria com o Clube Português de Artes e Ideias e o
Sapo.pt
É realizado anualmente e tem como principal objetivo mobilizar
jovens artistas para uma participação social e solidária, premiando
projetos artísticos na área do vídeo digital que tenham como temática
questões sociais pertinentes.
Em 2010 e, em consonância com a iniciativa europeia 2010 – Ano
Europeu do Combate à Pobreza e Exclusão Social, foi lançado o
desafio a jovens criadores, tendo por base esta temática.
Diogo Pessoa, jovem realizador e formador já sensibilizado para
estas questões sociais e envolvido em atividades de associações
juvenis e organizações não-governamentais, lançou-se neste desafio
e criou o MicroFilme “Estou para aqui assim…” com a colaboração da
produtora Maria do Mar Liz.
Segundo o realizador, “foi muito fácil criar este microfilme, uma vez
que a exclusão social está patente em algo que pode parecer tão
simples como a participação neste concurso”.
“Estou para aqui assim…”
http://blip.tv/artedigital/estou-para-aqui-assim-versao-extendida-
4621835
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APRESENTAÇÃO DAS CONCLUSÕES
No final da sessão o grupo reuniu-se e analisou três temas
relacionados com a problemática dos Sem-abrigo.
a) O Perfil dos Sem-abrigo
Apesar da realidade do Distrito de Faro indicar que grande parte dos
Sem-abrigo são dependentes de substâncias psicoativas, o grupo
concluiu que:
A crise económica e financeira coloca desafios à sociedade
portuguesa e a problemática dos sem-abrigo não se encontra
indiferente a esta questão;
São vários os fatores que colocam uma pessoa em situação
de Sem Abrigo:
o Eventos trágicos, como a perda de um ente querido,
o Desemprego,
o Ruturas familiares;
o Doenças;
o Violência doméstica;
o Consumo de drogas e álcool
Há várias categorias de pessoas Sem-abrigo:
o Sem Teto;
o Sem Casa;
o Habitação Insegura;
o Habitação indesejável
Muitos se abrigo são famílias que se encontram nesta
situação devido a acontecimentos imprevistos
“ Para as pessoas que vivem na pobreza, ou no limiar da pobreza,
um acontecimento que pode parecer banal para alguém com um
rendimento maior - a avaria do carro, a falta de seguro ou mesmo
o não pagamento de uma multa - pode ser suficiente para o
colocar em situação de sem abrigo.”
Ahmad Kavousian, 2012
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ESTIGMAS E ESTEREÓTIPOS
Através de um exercício muito simples que consistia em cada um
dos participantes indicar a primeira palavra que considera quando
pensa num sem-abrigo, percebe-se o os pré conceitos existentes
na sociedade em relação às pessoas sem-abrigo e o estigma que
acompanha todos os que se encontram nesta situação.
A (RE)INSERÇÃO SOCIAL DOS SEM ABRIGO
NOTAS FINAIS:
Poucas respostas existem no âmbito desta problemática e a (re)
inserção de qualquer individuo torna-se complicada quando este não
consegue satisfazer as necessidades básicas e sociais associadas ao
acesso a uma habitação condigna.
A sociedade civil, cada vez mais empenhada nos assuntos sociais e
compelida em colaborar com o Estado nestas questões, possui um
papel fundamental no combate à pobreza e exclusão social, não
devendo no entanto substituir o Estado na sua função social,
correndo-se o risco de promover uma desresponsabilização geral da
entidades públicas e de apoio aos cidadãos.
Cabe a todos os cidadãos contribuir para desmistificar os conceitos
negativos associados à pessoa sem-abrigo.
A reflexão sobre estas questões conduz inevitavelmente à
indignação….
Como podemos ficar indiferentes?
Como é possível que em sociedades modernas, com elevados níveis
de crescimento económico, tecnológico e científico, não haja resposta
para pessoas que ficam sem casa….
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COMO É QUE UMA SOCIEDADE QUE SE AUTO INTITULA DEMOCRÁTICA
PERMITE A EXISTÊNCIA DE DESIGUALDADES NO ACESSO AO PODER E AOS
RECURSOS ENTRE OS SEUS CIDADÃOS?
COMO PERMITIMOS A EXISTÊNCIA DE UMA SOCIEDADE TÃO INJUSTA?
COMO SE SENTE UM SEM ABRIGO?
Phillip Chuck responde:
Ele viveu mais de 14 anos nos becos de Vancouver.
Adormecia ao pôr-do-sol e acordava de madrugada, às cinco da
manhã. Dirigia-se ao MacDonald’s mais próximo, para um café barato
e para se aquecer um pouco.
Fez algum bom dinheiro nas ruas, desenvolveu uma doença mental e
acabou internando num hospital psiquiátrico, até ao fecho da
instituição.
Quando isso aconteceu, mudou-se para um hotel na baixa de
Eastside, onde foi esfaqueado no rosto. No seu prédio, existiam
vários traficantes de droga e prostitutas batiam-lhe à porta, para
utilizar o seu quarto duas horas em troca de alguma cocaína. Se não
fizesse o que lhe era pedido, iriam transformar a sua vida num
inferno.
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Acrescento alguns comentários feitos pelos moradores de rua,
acerca do desalojamento:
- Sem Abrigo significa ter dinheiro para bebidas alcoólicas, mas não
ter para um quarto.
- Sem Abrigo significa saber que tu podes ser despejado a qualquer
momento.
- Estar em constante mudança.
- O aumento da renda força-te a abandonar a casa.
- Quando sais da prisão, não sabes onde pertences.
- E Sem Abrigo é não saber para onde ir.
Eles são parte de nossa comunidade e devem ser respeitados.
Eles não vão ser desaparecer com a nossa ignorância.
São pessoas comuns e simples, como eu e tu, e merecem o
mesmo que nós, os mesmos direitos sociais básicos.
Vamos considerá-los como uma parte da nossa comunidade, sem
exclusão, vamos gastar um pouco de tempo ouvindo suas histórias,
ao mesmo tempo que partilhamos a nossa.
Vamos respeitá-los antes de esperar o respeito deles. Eles
poderiam ser qualquer um de nós, depois de perdermos os nossos
empregos e ficarmos desempregados durante um par de meses e
não sermos capazes de pagar a nossa renda, a dívida ao banco ou
quaisquer outras contas importantes.
Ahmad Kavousian, 2012