VOCAÇÃO PARA A SALVAÇÃO, MINISTÉRIO E TRABALHO NA COSMOVISÃO DE CALVINO.
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VOCAÇÃO PARA A SALVAÇÃO, MINISTÉRIO
E TRABALHO NA COSMOVISÃO DE CALVINO.
Por Jailson Santos
Artigo
Vocação para a salvação, ministério e trabalho na cosmovisão Calvino.
Jailson Santos - www.JAILSONIPB.blogspot.com
1
INTRODUÇÃO
Você sabe para que foi criado e qual é sua vocação?
A palavra vocação é tão usada, quanto mal interpretada. No que diz respeito à
vocação para salvação há os que acreditam que ela é fruto do assentimento do ser
humano e que ele por si só pode achega-se a Deus. No que se refere ao chamado
para o ministério, há os que se autor intitulam pastores, apóstolos e profetas sem
nenhuma convicção interna e externa, do chamado divino. E por fim há os que
pensam que pelo fato de desempenharem um serviço secular não foram chamados
para cumprir sua missão entre os homens.
Entretanto Deus não nos criou por acaso, nós não existimos apenas por
existir. Há um propósito de Deus para nossa passagem pela terra. Primeiro Ele nos
chamou eficazmente e irresistivelmente para fazermos parte de seu povo eleito em
Cristo. Segundo ele vocaciona a todos os eleitos. Não podemos pensar que os
chamados são apenas pastores ou missionários. Todos os crentes são chamados
para servirem ao senhor com os seus dons e talentos, nos diversos mistérios da
igreja, e, nas diversas profissões seculares. Tanto um pastor como, um médico pode
servir a Deus através de suas profissões, mesmo que distintas. 1
O objetivo deste trabalho é analisar e esclarecer ainda que resumidamente, a
vocação, dentro de uma cosmovisão calvinista, tendo como base “As Institutas da
Religião Cristã” de João Calvino e o seu pensamento interpretado por Biéler no livro
“O pensamento Econômico e Social de Calvino”.
1 Ver também: LENZ, Kléos M. Vocação - Perspectivas Bíblicas e Teológicas. Viçosa, MG. Ed. Ultimato. 1999.
p. 17 – 22.
Vocação para a salvação, ministério e trabalho na cosmovisão Calvino.
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1. Vocação geral e a especial
Há duas espécies distintas da vocação: A Geral ou universal e vocação
particular. 2 A primeira diz respeito à vocação exterior de Deus que é chamado de
todos os seres humanos, através da pregação do evangelho. Esta vocação é ouvida
audivelmente tanto pelos eleitos como pelos não-eleitos. A segunda diz respeito ao
chamado especial dos eleitos, e ela se refere ao poder criador de Deus pelo qual
somos conduzidos à vida espiritual de forma irresistível. 3 Sobre isso Calvino diz:
“Ora, há a vocação universal, pela qual, mediante a pregação externa da
Palavra, Deus convida a si a todos igualmente, ainda aqueles aos quais a propõe
como aroma de morte [2Co 2.16] e matéria da mais grave condenação. A outra é a
vocação especial, da qual digna ordinária e somente aos fiéis, enquanto pela
iluminação interior de seu Espírito faz com que a Palavra pregada se lhes assente no
coração”. 4
Aqui nos ateremos à especial ou eficaz. A vocação especial ou eficaz refere-
se ao chamado de Deus que por seu soberano poder e motivado unicamente por sua
graça, chama aqueles que são seus, e, isso faz não segundo nossas obras, mas
segundo seu próprio propósito e graça que nos deu em Cristo Jesus antes da
fundação do mundo. E segundo Calvino “O Fundamento de nossa vocação é a
eleição divina gratuita pela qual fomos ordenados para a vida antes que fôssemos
nascidos. [e que] Desse fato depende nossa vocação, nossa fé, a concretização de
nossa salvação”. 5 E ainda que nessa vocação “nada dever-se buscar, exceto a
graciosa misericórdia de Deus”. 6
A vocação eficaz é a obra secreta da vivificação ou regeneração realizada na
alma dos eleitos pela operação imediata e sobrenatural do Espírito Santo. Ela pela
graça efetua uma mudança da disposição, inclinação e desejo da alma. Segundo
2 CALVINO, As Institutas – edição Clássica, Vol III, p.436.
3 Ver também: SPROUL, R.C. Verdades Essenciais da Fé Cristã. Editora Cultura Cristã.
4 CALVINO, As Institutas – edição Clássica, Vol III, p.436.
5 CALVINO, Gálatas, Gl 4.9, p. 128.
6 CALVINO, As Institutas – edição Clássica, Vol III, p.428.
Vocação para a salvação, ministério e trabalho na cosmovisão Calvino.
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Calvino o fato da própria dispensação da vocação eficaz ser resultado da pregação
da Palavra e da iluminação do Espírito Santo é uma evidencia de que ela é uma obra
da graça divina. 7
Antes da vocação eficaz e interior de Deus ser recebida, nenhuma pessoa tem
inclinação para aproximar-se dele. Todo aquele que é efetivamente chamado tem
uma nova disposição para com Deus e reponde com fé. Para Calvino essa eleição
não depende nenhum assentimento humano. 8
Portanto essa vocação se dá por meio de Cristo que foi o nosso Profeta,
Sacerdote e Rei, e que fez satisfação por aqueles a quem representava, tanto por
sua obediência quanto por seu auto-sacrifício, cumprindo perfeitamente todas as
exigências da justiça divina sobre aqueles a quem representa. Por essa razão nossa
confiança e certeza da Salvação não habitam em nós mesmos, mas na pessoa de
Cristo. Sobre nossa segurança em Cristo, Calvino diz que: “Se buscamos a salvação,
a vida e a imortalidade do reino celeste, então há de se buscar também refúgio não
em outro, quando somente ele é a fonte da vida, a âncora da salvação, o herdeiro do
reino dos céus”. 9
2. Vocação para o ministério.
Deus por sua livre graça, além de nós chama para fazermos parte de sua
família e sermos o povo eleito de seu rebanho, nos chama de igual modo para um
ministério especifico na sua Igreja. Calvino diz que:
“Aqueles que presidem ao governo da Igreja, segundo a instituição de Cristo, são
chamados por Paulo [Ef 4.11], primeiro apóstolos; em seguida, profetas; terceiro
evangelistas; quarto pastores; finalmente, mestres; dos quais apenas os dois últimos
7 CALVINO, As Institutas – edição Clássica, Vol III, p.429.
8 Ibid p.430.
Ver também Confissão de Fé de Westminster Comentada por A.A. Hodge, p.231. 9 CALVINO, As Institutas – edição Clássica, Vol III, p.432.
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têm função ordinária na Igreja, os outros três o Senhor suscitou no início de seu reino,
e às vezes ainda suscita, conforme convém à necessidade dos tempos”. 10
Todos os que estão na obra do Senhor têm que definirem se realmente foram
chamados por Deus, para serem pastores de um rebanho, mestres no ensino, servos
a disposição, ou se o Senhor o quer em outro ministério. Todavia ninguém deve
assumir qualquer oficio sem que seja chamado pelo SENHOR. Esse fator será
decisivo para uma profunda auto-realização. Segundo Calvino “para que alguém seja
considerado verdadeiro ministro da Igreja, primeiro importa que tenha sido
devidamente chamado [Hb. 5. 4]; então, que responda ao chamado, isto é,
empreenda e desempenhe as funções a si conferidas”. 11
No dizer de Calvino há um duplo chamado ministerial: a vocação interior e a
exterior. A interior é de fato “bom testemunho de nosso coração, de que recebamos o
ofício outorgado não por ambição, nem por avareza, nem por qualquer outra cobiça,
mas por sincero temor de Deus e zelo pela edificação da Igreja”. 12 Esse chamado é
provem de Deus e somente dEle e nunca dos homens.
A vocação exterior é a que diz respeito à ordem publica da igreja. Essa diz
respeito à eleição de Presbíteros, diáconos e outros ministérios, de modo que, após
serem chamados por Deus, são confirmados através da eleição da igreja. Para
Calvino “só devem ser eleitos os que professam a sã doutrina e vivem vida santa,
que não foram manchados por nenhum vício notório que os faça desprezíveis e seja
causa de afronta para o ministério”. 13
Esse chamado dos ministros deve por sua vez ser pelos presbitérios, no caso
de pastores, presbíteros no caso dos ministros da igreja, com a direta aprovação da
igreja. Calvino afirma que: “segundo a Palavra de Deus, este é o legítimo chamado
de um ministro, quando aqueles que são vistos como idôneos sejam constituídos
com o consenso e aprovação do povo; mas a eleição deve ser presidida por outros
10
CALVINO, As Institutas – edição Clássica, Vol. IV, p. 48. 11
Ibid Vol. IV, p. 52. 12
Ibid Vol. IV, p. 52 13
Ibid Vol. IV, p. 53
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5
pastores, para que a multidão não incorra em alguma falta, quer por leviandade, quer
por maus desígnios, quer por distúrbios da ordem”. 14
Finalmente os chamados pelo Senhor, confirmados pela igreja, são
empossados no ministério através da imposição de mãos. No caso dos presbíteros
pelos presbíteros, e os pastores pelos demais ministros. Porém só se deve participar
deste rito de ordenação ministros que já foram ordenados.
3. Vocação para o trabalho e profissão secular.
Um dos maiores legados do Calvinismo à cultura ocidental é uma nova atitude
em relação ao trabalho. Para Calvino o trabalho do homem é uma vocação de Deus.
E está longe de ser meramente um meio inevitável e um tanto tedioso de se obter as
necessidades básicas da existência, é das mais louváveis atividades humanas, pois,
o trabalho é uma “bênção de Deus”, e verdadeiramente respeitado e importante ante
seus olhos. 15
Ser “chamado” por Deus não implica em se afastar do mundo, mas exige
engajamento crítico em cada esfera da vida secular. O trabalho é entendido, assim,
como uma atividade profundamente espiritual, um labor socialmente benéfico. A
transformação do status do trabalho de uma atividade desagradável e degradante a
ser evitada, se possível, para um meio honrado e glorioso de afirmar a Deus e ao
mundo que ele criou, é, pois, uma das mais importantes contribuições do Calvinismo
à cultura ocidental. 16
Segundo Calvino em criando o homem, Deus o chama a trabalhar. E que O
trabalho é um dos elementos da vocação humana, e, que cada um é chamado para
um trabalho especifico e que deve desempenhá-lo com todo o entusiasmo e
satisfação. 17 E ele acrescenta dizendo: “Criados foram os homens para fazem algo e
14
CALVINO, As Institutas – edição Clássica, Vol. IV, p. 56. 15
BIÉLER, André. O Pensamento Econômico e Social de Calvino. Trad. Luz, Waldyr Carvalho. São Paulo:
Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 520.
Ver também: CALVINO, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo, Novo Século, 2000, p. 77. 16
Ver também: SANTOS, Gilson. Breve reflexão acerca da ética do trabalho na Cosmovisão Reformada.
Disponível em: <http://www.gilsonsantos.com.br/htm/post-053.htm>, acessado dia 20/05/2008. 17
BIÉLER, André. O Pensamento Econômico e Social de Calvino. Trad. Luz, Waldyr Carvalho. São Paulo:
Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 527.
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[...] Deus a cada um propicia algum encargo e exercício para que não fiquem
ociosos”. 18
Sendo assim para compreender a vontade de Deus é preciso primeiramente
escolher uma profissão em função do serviço a prestar e não do ganho a obter. A
vocação profissional deve ser espiritual e com o propósito de servir ao próximo. Para
Calvino o uso da arte e da profissão redunde no proveito comum de todos. 19
Por fim Todos somos vocacionados ao trabalho. As Escrituras nos ensinam
que Deus nos criou para o trabalho e que ele faz parte do propósito de Deus para
nós. Sabemos que no cumprimento de nossa vocação estamos servindo
primeiramente a Deus. Por isso devemos responder ao chamado de Deus e o
fazermos unicamente para sua glória. O Apostolo Paulo nos ensina que: "E tudo o
que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus,
dando por ele graças a Deus...”. (Cl. 3.17,22-4.10)
Honremos, pois ao SENHOR com as obras de nossas mãos.
18
CALVINO apud BIÉLER, André. O Pensamento Econômico e Social de Calvino. Trad. Luz, Waldyr
Carvalho. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 527. 19
Ibid p. 529
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7
CONCLUSÃO
Deus criou o homem a sua imagem e semelhança, para que ele pudesse
conhecê-lo e vivesse para o louvor da sua glória. Essa é a verdade de nosso
catecismo quando diz que “o fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e
gozá-lo para sempre”. 20 A queda do homem o tornou depravado e deformou a
“imago Dei” presente no homem.
Porém, Deus por seu soberano poder e motivado unicamente por sua graça,
antes da fundação do mundo, chamou aqueles que são seus para adoção de filhos,
e para fazerem parte da sua família. Esta vocação eficaz é limitada somente aos
eleitos.
Além de chamar eficazmente para a vida eterna Deus também nos chama
para o ministério, e na cosmovisão calvinista todos fomos vocacionados por Deus
para um ministério especifico. Somos chamados para servir a Deus e a sua igreja
com os nossos dons e talentos e devemos obedecer ao seu chamado e servi-lo, com
o único propósito de glorificar o seu nome.
E uma vez salvos e inseridos na família de Deus ele nos chama para cumprir
o seu mandato cultural. 21 Somos chamados para cuidar do mundo que vivemos e
uns dos outros. Na visão calvinista o trabalho é bênção de Deus e a vocação
profissional deve ter uma motivação espiritual e com o propósito de servir ao
próximo. Por essa razão o eleito deve ser ético, e justo no seu trabalho secular,
refletindo a imagem do criador em suas vida.
Esta verdade está presente nas “As Institutas da Religião Cristã” de João
Calvino e é interpretada por Biéler em “O pensamento Econômico e Social de
Calvino”, onde podemos encontra um resumo do que Calvino, a vocação de Deus
para o homem.
20
ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER. Símbolos de fé: contendo a Confissão de Fé,
Catecismo Maior e Breve. São Paulo: Cultura Cristã, 2005. 1ª pergunta. 21
BIÉLER, André. O Pensamento Econômico e Social de Calvino. Trad. Luz, Waldyr
Carvalho. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 565.
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Jailson Santos - Missionário Presbiteriano formado no Instituto Bíblico Eduardo Lane (IBEL), Casado com Denise Ávila. Atualmente estudando no Seminário Teológico "Rev. José Manuel da Conceição" em São Paulo - SP. E trabalhando como seminarista na Igreja Evangélica Suíça de São Paulo. Contato: [email protected]