Você sabe (mesmo) Ler- - Ana González.pdf

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  • Voc sabe ler? Voc sabe MESMO ler? Pode parecer um absurdo, mas o fato de voc reconhecer estas frases e apreender seu sentido, no significa necessariamente que saiba qual o mecanismo utilizado neste processo de leitura. Com objetividade profunda e uma desconcertante simplicidade, Ana passa por cima das obviedades rasas e nos revela um impressionante modo de enxergar uma atividade que praticamos todos os dias, de forma quase que automtica. Ana Gonzlez, alicerada por anos de trabalho prtico com alunos de todos os graus de escolaridade, refreia esse automtico e nos revela um mundo genuinamente insuspeitado. Para mim foi assim e imagino que tenha sido tambm para cada um dos alunos que passaram pelas aulas transformadas aqui em livro: impossvel considerar o ato de Leitura como fazamos anteriormente. Tornou-se mais rico. Mais amplo. Voc saber do que estou falando. Mesmo.

  • Chegamaispertoecontemplaaspalavras.Cadauma

    temmilfacessecretassobafaceneutraetepergunta,seminteressepelaresposta,

    pobreouterrvel,quelhederes:Trouxesteachave?

    CarlosDrummonddeAndrade

  • Prefcio

    Nosculopassado,oschamadosrecursosdisposiodasociedadeeram:capital,trabalho,maquinrioeterra.Atualmente, todos esses recursos foram superados por ura outro: oconhecimento. Vivemos na era do conhecimento. Os especialistas dizemque ele a principal moeda ou recurso do nosso sculo. Por outro lado,airmamquealeituraaprincipalfontedisponvelparaaaquisiodesseconhecimento.Sendo verdade o que est escrito acima, os cursos e textos escritos pelaProfa. Ana Gonzlez realmente fazem a diferena. No so um meromodismo. verdade quemuitos leitores esto resignados com o padro de leituraem que se encontram, no acreditando na possibilidade de melhoria.Outros esto descrentes dessa possibilidade em razo das promessasmirabolantesdelivrosecursosdeleiturarpida.Melhorarorendimentonas leiturasumdesejode todos,principalmentedoscandidatosqueenfrentamamaratonadosconcursos.Halgumtempoatrs, tiveaoportunidadedeparticipardeumseminriode Tcnicas de Leitura Analtica, tambm li com muita ateno esteoriginal.Acreditoquehojepraticoumaleituramaisanaltica,comumgraumais elevado de compreenso e at mesmo com um aumento navelocidade.Alm do profundo conhecimento e paixo pelas tcnicas de leitura, AnaGonzlez,bacharelemestre,trazumabagagemdeconhecimentoinvejvelna Lngua Portuguesa. Para o domnio da leitura necessrio tambm odomnio do idioma e, portanto, o trabalho desta autora leva uma enormevantagem.Esteolivroquefaltavanaslivrariasequedeagoraemdiantepoderserolivrodecabeceiradosbonsleitores.Finalmente, o ttulo que ele apresenta interessante e provocativo.Realmenteestaumaperguntadesafiadora:Vocsabe(mesmo)ler?LuizMonteiroAuditorFiscaldaReceitaFederaldoBrasilCoordenadorPedaggicodoPr-Concurso

  • CartaaoLeitor

    QualIoga,qualnada!Amelhorginsticarespiratria

    queexistealeitura,emvozalta,dosLusadas.

    MrioQuintana

    Sabemosmesmo ler? Contamos com recursos eicientes? Estas perguntasnem sempre so objeto de nossa relexo, at o momento em queprecisamosdessahabilidade.Eoqueocorrequandoelachamadaaagir?Nessemomento,podemosnosveremapurose, ento,podemoschegarconcluso de que a qualidade de nossa leitura talvez esteja longe demerecerelogios.Podemos argumentar como defesa, que ela nem sempre necessria nodiaadia.Porque,emmeiosrotinasdirias,nospreocuparmosaindacomquestesnourgentes?Tambm nos lembramos de que o diagnstico da competncia da leituranas instituies escolares brasileiras nos tem colocado a par de umasituao dicil de ser resolvida em curto prazo.Muitos so os problemasnessa rea educacional e muitas so tambm as suas alternativas deresoluo,sejanareapoltica,sejanacultural,namaioriadasvezesforadenossacompetnciaindividual.Bem...Porquemepreocuparcomisso?Porm,hmomentosemtemosqueler.Elerbem.Pois,foiemsaladeaulaquepudeobservaressanecessidadedeperto,nosidos de 2001, quando sa em busca de bibliograia na rea. Tenhoprocurado compor, desde ento, um exerccio docente que possa juntarelementos da farta teoria disponvel sobre o assunto a muitos exercciosprticos com a inteno de oferecer s pessoas um modelo eiciente deleitura. A ampliao de seus conceitos a respeito dessa experincia consequnciadiretae,talvez,inevitvel.Importantedizerquearefernciabibliogrica bsica para o desenvolvimento desta metodologia ngelaKleimandaUnicamp e do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), cujoslivrossocitadosnofinaldestelivro.A experincia anterior que tive de magistrio no ensino mdio, durante

  • duasdcadas, juntou-sedosltimosseteanos,nocursosuperioredeoutroscursosforadoensinoregular.Asdiiculdadeseaconissodeumainsatisfao nessa rea so muito mais comuns do que se poderiaimaginar.Ao longo desse perodo, pude veriicar que a necessidade de uma boaleiturahojeumproblemarealerequisitoessencialdemuitasatividadesprofissionaiseacadmicas.Algumas observaes dessa experincia docente compblicos diferentes,emcursosregularesedeoutrasnaturezas,servemnestemomentoparaacompreensodepeculiaridadesdessaexperinciatoparticular.Estametodologia foi desenvolvida inicialmente em sala de aula de cursosuniversitriosregulares:Pedagogia,ComunicaoSocial,AdministraodeEmpresaseTecnologiadeProcessamentodeDados 1.Osexercciosnestescursos tinhampor intenodesenvolverhabilidadesde leitura e, a partirdelas,umaproduodetextotambmmaisqualiicada.Acresa-seaessesprimeirosobjetivos,uraoutro:possibilitaraosalunoscompetnciasdeboaleitura para acompanhar as diferentes disciplinas, fazendo-os aptos afuncionar o mais prximo possvel do que se espera de um alunouniversitrio.Pude tambm aplic-la em um grupo2 que lida com alunos de escolasregulares que exigiu demim ateno a outros aspectos da questo. Estegrupo desenvolve um trabalho voluntrio com um pblico infantil eadolescente com graves problemas de compreenso. Seus participantesprecisavam conhecer o processo de leitura e se desenvolver como bonsleitores. Sendo voluntrios transformados em professores seriam assimmelhores mobilizadores dos trabalhos e modelos de leitura para seusalunos. Quem sabe, agentes divulgadores da leitura nessas comunidadesdeseutrabalho?Umoutro grupo de Terceira Idade 3 realizou as atividades sempre com apresenadogostopela culturae lazer, comumaboadosede liberdadeegrandecriatividade.Estesdoisltimosgruposcitadosdespertaramnecessidadesdeadaptaodametodologiaasuasnecessidades,enriquecendoassimminharelexoarespeitodela.Dediferentenatureza,porm,aexperinciadetrabalhocomcandidatosa uma vaga em concurso pblico4. Na verdade, essa prtica tem meproporcionadodestrezanaaplicaodomtodo.Otempoparaarealizaodas oicinas muito exguo e a necessidade dos indivduos, que no tm

  • tempo para questes tericas, muito grande. Acrescente-se a essequadro que os grupos costumam se apresentar muito heterogneosquantoaognero,idade,classesocialeformaoescolareintelectual.Trabalhar com todos esses grupos, em que os participantes, alm deobjetivos diferentes, apresentavam um peril diferenciado meproporcionou um reinamento da metodologia. Tambm me vi diante deuma pergunta essencial: como conduzi-los leitura? Entenda-se: comoconduzi-los a esse tipo especico de leitura e, ao mesmo tempo, comoampliarseuconceitodessaatividade.Cheguei assim a um ponto chave: em quemundos vivem os leitores? Deque realidades partilham? A escolha dos textos foi determinada a partirdessesuniversosreferentesacadaumdessescursos,porquesomenteumaleituramotivadapode realmente ser eiciente. Acreditei que somente uma escolhaadequadade textos poderia induzi-los a umapostura capaz de despert-los para a ateno nas questes mais tcnicas que existem atrs do atoconscientedeler.E, apesar de to variadas situaes didticas, pude constatar que asnecessidadesdetodososgruposeramdenaturezasemelhante:problemasde compreenso, de ateno e de ixao de contedos. As mesmasreclamaesserepetiamemtodasassituaes.E todos tambm tiveramuma reao semelhante trocadeexperincias,que,inesperadamente,mostrou-sesempremuitopositiva.Percebiqueestatroca de informaes almde fortalecer emotivar todos osmeus alunos,tambmampliouacompreensodouniversodaleitura.O fato que por ser uma habilidade teoricamente conquistada, no agradvel perceber-se com diiculdades, sensao muitas vezes tornadaumverdadeiropeso.Portanto, se voc estudante universitrio, deseja prestar um concursopblico, est elaborando um trabalho acadmico ou simplesmente querapreendermaisdostextosquel,saibaqueeste livrosedirigeavoc.Sevoc,simplesmente,querlermelhor,sejabem-vindoaestaspginas!A inteno que esta competncia - com suas delicadezas - sejacompreendida em suas possibilidades e, principalmente, desenvolvida.Quandoomaterialaserlidoeestudadoseavolumaemumavastacoleode ttulos, devemosnos colocar algumasperguntas. Comque recursos euposso contar? Sei como age o leitor crtico? Que caractersticas devo terparametornarumdeles?Felizmente, h abordagens atuais do assunto que possibilitam o

  • desenvolvimentodeumaeficincialedora.A partir de algumas delas e de minha experincia em sala de aula,desenvolviestetrabalho.Descobritambmque,porincrvelqueparea,oatodelerevolui.Nateoriaenaprtica.Naprimeirapartedestelivro,vocencontrarindicaesdepreparoparaa leitura e ver que ela uma atividade que requer ateno desde omomentoanteriorasuaefetivao.Nasegundaparte,serotempodeconhecerospassosdoseucontatocomo texto e de saber algumas informaes a respeito dele, tais como seusnveiseestruturas.Paralelamente,seroapresentadosrecursosparaquevoctenhaumaadequadaposturadeanlise,reflexoecrtica.Asbasestericassomencionadasnasrefernciasbibliogricas.Elastmafunodeemprestaraestetextoconsistnciatcnica,masserotratadasde acordo com a importncia que apresentam a voc e ao pblico destetexto, leigo e distante das questes tericas especicas s letras. Ovocabulrio tcnico ser diludo na inteno de no se incorrer emexcessosterminolgicos.Naterceiraparte,comoumaextensonatural, indicamosduastcnicasdeestudo,naintenodemelhorarsuaorganizaopessoaleamemorizaodoscontedos:afolhaderegistroeodiriodebordo.Por im, saiba qual a natureza dos textos com que lidamos neste livro.Ainda que possa servir tambm para os textos literrios e outros domundo contemporneo, esta metodologia aplicada apenas a textosinformativos,svezesdecarterdissertativo.Ouseja,aqueletipodetextopresenteprincipalmentenosmomentosdepesquisaedeestudo.Serbompoderexplorlosemtodaasuaextensoeinfinitaspossibilidades.Aorganizaodestetextotemcomoobjetivoprincipalproporcionaravocinstrumentos para tornar essa experincia eminentemente cognitiva eintelectualmaisprodutiva nas situaes em que ela se faa necessria, solucionando asnecessidadesbsicasdetodooleitor.Mas, como um segundo objetivo, talvez um desejo, gostaria que a leituradeste livrosigniicasse tambmadescobertadeummundodedetalhesesutilezas.Hnomundodostextos,emmeiospalavras,arevelaodeumaestticaespecial,bemdeacordocomacomplexidadedoatodaleitura.Umterrenosutil de percepes delicadas, no qual se mesclam relevos construdospelos mltiplos signiicados de palavras e pelas surpresas de seusencontros nas frases, intertextualidades, caminhos transversais. Tudo

  • repletodepossibilidadesedeaberturas.Emclimadequasemistrio.Ouseja,caroleitor,ocaminhoparaaboaleiturapodeser,almdoqueseimaginainicialmente,surpreendente.Umaexperinciamuitopeculiar.Cada um de ns tem uma histria de leitura que est sempre viva namemria.Esserepertriohistricofazdaleituraumaatividadepropensaasubjetivas caractersticas. Por isso, os tpicos aqui tratados devem serentendidos e adaptados a cada caso individual, pois as solues sosempre muito particulares. Da, sermos observadores de nossasdiiculdadesevisarmossempreoaperfeioamentodenossashabilidades.Vocconhecequaissoassuas?Estemsuasmosaadministraodetodooprocesso.Podemoscomear?Mosobra!

    1CursosdoCentroUniversitrioSalesiano(UNISAL),campusSoPaulo.www.unisal.com.br.2ACL, instituio que desenvolve um trabalho de voluntariado em escola do Jabaquara e outras.www.acl.org.br.3GrupodoCentroUniversitrioSalesiano(UNISAL)campusSoPaulo.4Pr-concurso,cursopreparatrioparaconcursospblicos.www.proconcurso.com.br.

  • ParteI

    Meusfilhosterocomputadores,sim,masantesterolivros.Semlivros,semleitura,osnossosfilhossero

    incapazesdeescrever-inclusiveasuaprpriahistria.BillGates

    1.Leitura,questodequalidade

    Preparar-separaatividadesdepesquisaedeestudosigniicadepararmoscomhorasehorasfrenteamuitoslivros,apostilasetextosdeinternet.Omaterial a ser lido parece no ter im. Signiica tambm ter que ler ememorizaremumtempoescassoumagrandequantidadedeinformaesdas muitas disciplinas de acordo com os editais e ementas, alm dabibliografiaindicadaparaanliseemcadaumadassituaespossveis.Da leitura de todo essematerial depende a vaga desejada, o diploma oucertiicado, algo enim que tem um valor muito especial. Aparentementeuma tarefa simples, uma competncia garantida. No foi na infncia queaprendemosaler?Comumente,aleiturapercebidadentrodavidadiriaeatnassituaesescolares,comoalgojresolvido.Pareceattarefapoucorelevante,dentrodoquadrodemuitasoutraspreocupaes.Masdaqualidadeda leituraque depende o desempenho nos concursos, provas e diplomaes.Depende dela a boa compreenso dos textos e a incorporao doscontedos. Depende dela nossa capacidade para atingir os objetivospropostos.Complexaedecartermental,aleituraexigemuitoscuidadosparaserdeboaqualidade,exignciafundamentalparaqueatarefanosejaemvo. experincia muito familiar a todos ns voltar e voltar de novo aopargrafo anterior, trabalho de Ssifo sempre incompleto, tendo aimpressodequenogravamosnada."Disperso,denovo?Serquesomentecomigoqueissoacontece?",voctambm j deve ter se perguntado com certo constrangimento,

  • desconcertado.Aprenderaconcentrar-seimportanteparateromelhoraproveitamentopossvel. Observe nos prximos captulos a descrio de alguns cuidadosiniciaisquepodemajudaramanteraateno.Vamosl?

    2.Ocenrioexterno

    Reclamaes habituais falam de diiculdades de concentrao e denecessidade de tcnicas de memorizao. Nada mais justo para pessoasqueprecisamlermuitoempoucotempo.Porm, nem sempre h preocupao com o preparo da leitura. Voc jpensou em cuidar disso? Na verdade, pequenos cuidados na rotina daleitura podem cooperar para a concentrao o que, por sua vez, poderajudarnamemorizao.Vrios aspectos concorrem nesse sentido, desde o arranjo do espao e apostura sicaadequadaataboa iluminao, aindaque tudo issopareaestranhoprimeiravista.Por exemplo, para um corpo cansado, um relaxamento de dez ou quinzeminutos antes de se sentar para estudar pode fazer muita diferena. Anegociao com a famlia a respeito de silncio ou privacidade tambmimportantepara compor o quadro apropriado ao estudo. Uma cadeira adequada e apostura correta da coluna tambm podem propiciar a ativao de umamelhor oxigenao cerebral. Uma boa iluminao para proteger a sadedos olhos tambm importante. Ter o material de estudo organizado -canetas, lpis,borrachaepapel -evitasua faltanomomentooportunodaanotao.Ler com fundomusical tambmnoumaboa ideia,poispodesignificaradivisodasenergiasdisponveisentreduastarefas.Essa preparao, como um pequeno ritual, pode auxiliar a apreensocognitiva. O estado de ateno necessrio boa leitura depende de umacontinncia corporal adequada e de um ambiente propcio, iluminadoadequadamenteesilencioso.Construaumcenrioquecolaboreparaoestadodeatenonecessrioaotrabalhomental.Todosesseselementosdevemserlevadosmuitoemcontasetemosintenesdeestudooudepesquisa,situaesemqueoleitornopoderprescindirdeles.

  • Naverdade,lerumarevistaoujornalnasaladeesperadeumconsultriodentrio ou mdico, distraidamente, no requer estas delicadezas, no mesmo?

    3.Outrocenrio,o

    interno

    Naverdade,aleituracomea"dentro".Almdocenrioexternohurainterno,quetambmnecessitadeatenoequeumpoucomaisdifcildeserpercebido.Essadificuldadeaconteceporqueosesquemasemocionaisnemsempresoobservados,emboranosacompanhemtodootempo.Cansaofsico?Estressedesexta-feira?Brigaemrelacionamento?Sabeaquelaansiedade?Aquelapreocupaocomacontaquetemqueserpaga?Orecebimentodedinheiroquenoaconteceu?Taispreocupaes,emoescotidianas,devemserneutralizadasparaqueaaodesentar-separaaleituranosejaintil.Lercomcansao,comsono,comfrio,corafome,comdor,noajudaacompreenderotexto.Administraressasvariaesdeveseruratrabalhorealizadocomobjetividadeepodegerardiferenas.Minimizarossintomasfundamentalemalgumasfasesdavida.Eafinaldecontas,humestressebvionomomentodefinalizarumcursoounodesejodemudanaprofissional.Exercciosderespiraoepequenosalongamentospodemserpositivosnaconstruodacontinnciacorporalnecessriaaotrabalhocognitivo,porquepodemsereficientesparaaneutralizaodocampoemocional.Vocdeveobservaraafetaodocampodeatenoprovenientesdetaisvariaesfsicasouemocionais,externaseinternas.Cuidardessesaspectosnemsemprenospareceimportante,mas,naverdade,asemoespodemserbastanteperturbadorasdaordemnecessria.Vocestconfortvel,emumlugaragradvel?Sente-sebeminternamente?Entovamosadiante?

    4.Quandocomeaaleitura?

    Ledoenganopensarmosquealeituracomeaquandofocalizamososolhos

  • nas palavras de uma pgina qualquer. Ela inicia antes e ultrapassa omomentodesuarealizao.Comoeporqueissoocorre?O bom leitor, em geral, tem um desejo a ser cumprido, sabe o que vaiprocurar. Tem um objetivo determinado. J escolheu o texto e sabe paraque vai l-lo. Estabelece previamente uma expectativa em relao aocontedoescolhido.Aolongodaleitura,seeleestiverrealmenteenvolvido,saberdiscriminarsehouveumafrustraodeexpectativasouasuaefetivao.Porexemplo,seescolherumtextodedeterminadoassuntoparaestudar,apartir dessa escolha j tenho uma srie de elementos inferidos. Nomeupensamentojseconstroemreferncias.Minhaleiturajcomeou.Identiicara intencionalidadeda leituradedeterminadotexto,ouseja, terclarososobjetivosdessatarefaelevantadasalgumashiptesesdeleitura,soimportantespassosparaqueoleitortenhaantecipadaacompreensodas ideias que ele espera encontrar. Essa postura consciente prepara aleituraemotivaaatenodoleitor.Poroutro lado, os resultadosdessa atividade continuamapso tempodesua execuo. O texto permanece arquivado, podemos dizer, em nossorepertriomental.As informaes, que so acrescentadas a cada nova leitura, icamdisponveis no campo da memria e podem ser usadas na formao darede de ideias que compe nosso arquivo pessoal. Quando so bemapreendidas tais informaes se organizam em campos, em relao anossos interessescognitivos.assimquese formanossoconhecimento,apartir das leituras que fazemos e dessa elaborao das informaes emredes.De maneira dinmica, espelhando o desenho de sinapses cerebrais seconectando, os dados coletados em cada nova leitura se ligaro a outros.Assim,vamosaumentandoaquantidadedenossasinformaesarespeitodosvriosassuntosdenossapreferncia.Umcaptulode livroouumareportagem jornalsticapode fazerdiferenaem nossa histria de leitores. Observe como voc tem alimentado seurepertriodeideias,comotemsidoaconstruodesuahistriadeleitura.Todosos textos sodiferenciais importantes.E aqualidadedaapreensodessescontedosmaisdoquetudo.Ecomose fazessaapreensodecontedosdo texto?Comcerteza, ela sefaz de maneira muito mais elaborada do que parece primeira vista. Epartedeumaespciedelicadadedilogo.Querver?

  • 5.Umdilogopoucoconvencional

    Vocagora,sabendooquevaiprocuraretendo-sepreparadoadequadamenteparaatarefa,estemcondiesdeestabelecerumdilogocomotexto.

    A mais importante chave de um leitor consciente e bem formado apercepodequesuatarefadeinterlocuo.Aestagrandemagiapelaqualossigniicadossoapreendidos:lercomosehouvesseumaespciedeconversainternacomoobjeto.Poressacaracterstica,oatodeleituraumatarefaativa,emquevocsecoloca empostura de contato comum texto que, por sua vez, expressa aintencionalidade de um autor. Esse autor est como que escondido atrsdas palavras que escolheu para expressar suas ideias. Ele tem umaintenoquedirigeessaescolha.Poiscomessealgumqueseexpressouequepermaneceimplcitoquevocvaitravarcontato.Talcontato,porsuavez,deveserneutroeausentedenossosparticularespensamentos. Pois, quem disse que vamos leitura sem nossa cargaemocional e intelectual? Tambm temos intenes de leitura que muitasvezes se misturam a nossos pensamentos e emoes. Essa intromissoocorrefrequentementeenosernuncatotalmenteanulada.Assim,muitocomumqueosindivduosinterpretemasideiasdeumtextomisturando-as s suas prprias opinies. Juntamente com as crenas eemoes, tais opinies so elementos que se incluem no momento daleiturade formadelicadae intensa.Servemdepanode fundoparanossaleituraemuitasvezesconfundemepervertemnossacompreensodoqueestsendolido.A discriminao entre umas e outras de fundamental importncia paraquea leiturasejaneutrae,apartirda,crticaerelexiva.Esserepertriopessoaldeveserpercebidoecolocadoemadequadaperspectiva,paraqueno atrapalhe a compreenso do texto.Mas, ele no pode ser totalmenteanulado.Sair desse estado de nimo opinativo e procurar uma visomais clara ecrticaotrabalhoaserfeito.Nessecaso,devemosretomarocaminhodaspalavras. nelas que est o sentido que se busca. a partir delas que

  • podemossepararoquedoautoreoquenosso.Asideiasestovinculadasinexoravelmente(numtextoescrito)spalavrasescolhidas pelo autor. Ficar pertinho delas, bom palpite. Elas formamblocos,quesejuntamemfrases,queporsuavez, formampargrafosqueorganizamos captulosetc.Tudoorquestradopela intenodoautor,queao escrever, tambm j conversava com seu possvel leitor. essainterlocuo comaspalavras, arranjadasemuma teia lingustica, a chaveparaaleituradequalidade.Tem sido interessante detectar que as pessoas tm pouca habilidade deobservao das palavras e da pontuao, para lembrar neste momentoapenasdoisdoselementos formadoresdaredeverbaldos textos.comose fosse possvel as ideias chegarem a ns pormeiosmgicos, vindas dapginaescritadiretamenteparaocentrodenossacabea.Brincadeirasparte,nemsempresepercebequeasideiassoexpressasatravs de ummovimento dinmico das palavras em seu jogo lingustico,construindoo corpodo texto.Aesse corpod-seonomede textualidade,formada por palavras, organizadas por certas regras e convenes, emfrasesepargrafos. necessrio que se desenvolva a observao dessa materialidadelingusticadotexto.Essemateriallingusticotilporserdoadordepistaspara o leitor. E com esse corpo verbal que voc deve elaborar seudilogo,quedevesercuidadoso,vistoquenesseobjetoqueseencontramasmarcas das intenes do autor. Taismarcas so recursos importantespara que se evite a interferncia do repertrio das nossas ideias. Comovoc pode perceber, o relacionamento de um leitor e seu objeto, o texto,tambmapresentaquestesquerequeremcuidadosdelicados.Todorelacionamentoassim,nomesmo?Abaixo descrevo como um mesmo texto foi elaborado em duas oicinas,com resultados de leitura diferentes, pela natureza dos grupos, sem queissoconfigureinadequaonainterpretaodotexto.Otextoabaixotranscritodeumjornaldiriodeveiculaonacional:"No Brasil no conhecem nossa realidade", diz Daniel, 19, soldadoisraelensenofront

    ColaboraoparaaFolha,emAvivim(fronteiraIsrael-Lbano)

    So garotos de 18 a 21 anos, com sonhos de viajar pelomundo e de voltar

  • paraa casadame, encontraranamoradae sairpara sedivertir.Humasemana esto acampados em barracas verdes, dormindo pouco, em mdiaquatro horas por noite, e comendo raes militares. E disparando comartilharia pesada contra o sul do Lbano. Sabem que suas bombas podematingircivis."Estou defendendo o meu pas. claro que me sinto mal se ouo quemorreram civis do outro lado.Mas acho que eles no ligammuito se estomirandoosKatyushascontraasnossascidades",dizumdeles,emrefernciaaosfoguetesusadospeloHizbollah. preciso fazer a mesma pergunta quatro vezes at que o jovem soldadooua. "Sabe como , uma semana disparando, com todo este barulho... ",explica,antesderetirarostampesdeouvido,quepoucoajudamaaliviarosestrondos.Quandoumjornalistachegaperto,osrapazesserenem,curiosos.Elestmaguerra nos rostos, uma expresso de preocupao que some quando aindasurgemsorrisos juvenis.Estocercadospormontesdemuniesebarracasmilitares.Sopurosuor,fedema35C.Mas querem mostrar que so meninos, e um deles comea a cantar umamsica.Algunsacompanhamebatempalmas,outrossobservam.A conversa variade futebolapoltica eamortede civis.Daniel, de19anos,um rapaz gorducho de pelemorena, quer saber o que achamda guerra noBrasil, mas logo diz: "Acho que no Brasil no conhecem a nossa realidadeaqui".Outro, que est nos ltimos trs meses de serviomilitar, diz que no ligaparaoquemundopensa."S me importa a situao dos cidados de Israel neste momento. Se noestivssemosaqui,osterroristasestariamnonossolugar",opina.Oscanhesdeartilhariaestoposicionadosemumcampoagrcolanonortede Israel. proibido divulgar a localizao exata. "Somos umalvo esttico",analisaumoficial.Os meninos so alvos estticos e sabem que podem matar civis, tema quevoltasempre."Noqueropensarnisso,mesintomal",dizoutrosoldado.Nenhum deles diz ter medo. Todos repetem que esto prontos a lutar atquando for necessrio, mesmo sentindo falta da me, da cama e danamorada,emnomedadefesadopas.Massabemqueestofazendoguerradeverdade,eomedoserevelaemsuasfaces.

    M.G.(FolhadeS.Paulo.22/07/2006)

  • Aleituraseguiu,nosdoiscasos,opadrocomumenteutilizadonasoicinas,iniciandoporumaprimeira leituraemsilncio, seguidapelaexposiodeideiasgeraisporpartedogrupo.As primeiras ideias apresentadas nos dois exerccios de formaassistemticaforam:oterrorismo,aguerraeajuventude,osofrimentodosjovens.A diferena entre os dois grupos aconteceu na segunda leitura, a cadapargrafooufraselidosediscutidos.Oprimeirogrupomostrou-sesensvelsquestesda guerra, dos lados envolvidos, levantouopinies a respeitodamotivaoedeaspectospolticos,desuavalidadeoujustia.Estegrupoicoumaisatentoquestodaguerraedesuascircunstncias.Osegundogrupotambmlevantouessaquesto,maspermaneceumaisintensamentena discusso de aspectos menos politicamente ideolgicos. Surgiu ahiptesedeeleserpotico,humanistaeatilosico,levando-seemcontaos possveis nveis de sensibilidade do jornalista. O texto elaborado e aperspectivadojornalistafoiaquestoquepreocupoupormaistempoestegrupo.Qualfoialeituracorreta?possveldiscriminarocorreto?Acompreensoeamobilizaodorepertriodos leitoresnoseguemregras.Nestecaso,elaestevedentrodeumespectropossvel,desenhadopelocorpodeideiasdo texto. Ocorreu uma mobilizao de emoes que seguiu o carter decadagrupoequenoimpediuaconstruodeseuadequadosentido.Asreaesdespertadassopeculiaresacadagrupoouacadaleitor.Ficaaexperincia registrada de que h um limite bsico para a compreenso,mas h vazamento de crenas e opinies, mesmo que tenhamos muitocuidadoparaissonoocorrer.

  • ParteII

    Aleituradeumbomlivroumdilogoincessante:olivrofalaeaalmaresponde.

    AndrMaurois

    6.Otexto,enfim!

    Temos, portanto, dois elementos fundamentais para o estabelecimentodaequaoda leitura:voc, leitor,emdilogocomumtexto. Jconcordamosque uma antecipada preparao ser adequada para uma postura ativanessainterlocuo.Mas,vocsabeoqueumtexto?Paraumaposturaoperativasertilquevoc conte com algumas informaes a respeito desse objeto com o qualvocvaientraremcontato.No faz parte de nossos objetivos nos alongarmos emmeio bibliograiadisponvel a respeito de texto. Mas, alguns aspectos tericos seroabordados,namedidaemqueissosefizernecessrio,paraquevoctenhamaisdesenvolturanessaao.Cabe aqui uma comparao cora o processo da fotograia. Imagine quepara a pessoa interessada em tirar fotos, o conhecimento da tcnica defotografar no essencial, mas, com certeza, trar qualidade ao produtoinal. Se ela tiver informaes sobre luminosidade adequada, perspectivavisual correta e conhecimento da aparelhagem tcnica, conseguirmelhores fotos.Ento,prepare-separa lidarcomalgunsaspectostcnicosda textualidade. Com essas informaes sua leitura ser mais eiciente,com certeza. E esse terreno no nem to rido, nem to desprovido degraa,comopodeparecer.Recentemente, muitos estudos tm diversiicado e ampliado asperspectivas atravs das quais o texto concebido. Inicialmente, pode-sesupor que ele no apenas um conjunto de frases.Mas, essa conceponofazjusaoquedefatoele.As frases que o compem esto ligadas por um centro organizador. Seusignificadodependedeumtodomaior,comoqualelasserelacionameque

  • o motivo pelo qual surgiram. A inteno de um autor comanda arealizao desse todo maior. Ao escrev-las, ele tinha um contexto dereferncia, que essa inteno essencial, do qual no se distanciou, sobpena de deixar seu trabalho sem signiicado. Ao compor os dados quetinhaemmenteemtornodeumaorganizao,eledesenhouumaunidadetextualelingustica.isso:otextoapresentaumaunidadeque,antesdetudo,desentido,emrelao a uma inteno comunicativa. A esse respeito, IngedoreKochnosdiz:"Otextomuitomaisqueasimplessomadasfrases(epalavras)queocompem: a diferena entre frase e texto no meramente de ordemquantitativa;,sim,deordemqualitativa".(1993,p.14).Podemosentenderqueaqualidadeaqueelaserefere,temavercomumsentido de ligao entre as partes que o constituem e que lhe doconsistncia. Essa conexo necessria para formar uma unidadeorganizadaouumsistema.Temtambmrelaocomalgunscritriosqueotornam vivel e que so responsveis pelos signiicados que se querapresentar.A respeito de como essa ordem qualitativa se organiza, ela continua:"Assim,passou-seapesquisaroque faz comqueum texto sejaum texto,isto , quais os elementos ou fatores responsveis pela textualidade".(KOCH,1993,p.14).Tais fatores tornam o texto passvel de leitura, porque servem para aorganizao desse sistema e da ordem de seus signiicados. Abordareiadianteoutrosaspectosqueseroteisavoc.

  • Neste momento, podemos seguir com a observao do ttulo. Como? Ottulo?

    7.Quemselembradottulo?

    Nemnosdamoscontadesuapresena,passandoele,ento,despercebido.Prontamentenosencaminhamosaotextopropriamentedito,poiselequeimporta.Certo?Errado.Ottulo,emprincpio,jencaminhaoleitorparaoscontedosqueeledeve encontrarno texto. Pode ser bvioque ele anuncieoquevai sedesenrolar.Talobviedade,entretanto,podeserargumentoquejustiica,-desconcerto-anossadistrao.Comumente no lhe damos importncia como um daqueles ndices queantecipamcompreenso,sejapelamobilizaodoconhecimentoprviodoleitor, pela inferncia de signiicados ou ainda pela possibilidade deformulaodehiptesesdeleitura,queauxiliamoleitornessacaminhada.H ttulos muito explcitos, que so bons indicadores dos contedos, eoutros menos explcitos, que exigem do leitor uma percepo maiselaboradadesuarelaocomoconjuntodotexto.Estesltimossomenosfrequentesnostextosquehabitualmentefazempartedomaterialdidticodisponvelparaconcurseirosoupesquisadoresemgeral.Devemos t-lo sempre em mente quando lemos. como um farol, umdirecionamento comqueo autorpresenteiao leitor.Os autores emgeral,tomam cuidado ao escolh-los. Seria bom que voc pudesse tambm sercuidadosoemnoesquec-lodurantesualeitura.E para exempliicao da importncia do ttulo, apresento dois textos emque os ttulos representam funes diferentes. O primeiro, logo abaixo, umacartadeleitoremjornaldirio:PerigodeDengueNodia30/janeiroprotocolei cartaao InstitutoHortoFlorestal, reclamandodocrregoquehdentrodaciclovia,por temeraproliferaodomosquito

  • da dengue,mas a carta foi recebida por d. Ana Lcia Cervante, diretora doparque,somentenodia8defevereiro.D.AnaLciainformoutermarcadooservio de limpeza para a semana seguinte. No dia 17 vieram algunsroadoresparafazeroservio,massroaramapartereclamada,semirato inal, e alm disso no recolheram o mato, que deixaram cado sobre ocrrego, fazendo com que a gua icasse ainda mais parada. Liguei parareclamar,earesponsabilidadequeobtive foiqueelesnada tmarespondersobre o crrego, que responsabilidadeda Sabesp. Pergunto: o que que aSabesp tema ver comum crrego cuja nascente est dentro da ciclovia doinstituto? E por que a Sabesp teria de limpar o mato arrecadado peloinstituto?Teremosdeesperarpormaisdeumms,atqueaSabespvenhaalimparoserviomalfeitodoinstituto?E,seminhafamliavieraterdengue,aquemdevo processar? Sabesp ou InstitutoHorto Florestal?Deixo claro queno pedi nenhum favor, s solicitei um servio que da responsabilidadedeles, epedialgoparaprotegeraminha famliaeacomunidadeondemorodo mosquito da dengue. Tudo isso um grande descaso para com apopulaoeumdesleixoenormeparacomumparquequepoderia sermaistil ao povo. E isso sem contar que o governo faz campanha para quecuidemosdenossacasa,masnocuidadoquedesuaresponsabilidade!

    SandraR.DestroDesontinieCludioDesontini-BairrodoCocho(OEstadodeS.Paulo,marode2002)

    O ttulo Perigo de Dengue expressa o cerne da questo debatida. Osdetalhesdadospelotextoarespeitodadiiculdadederespostacarta,asintervenes precrias das autoridades e a indignao dos autores, soaspectoscomplementaresaoncleo.Para explorar a funo que um ttulo pode exercer, podemos veriicar oimpactoqueoutrosttulosnessetextopoderiamternoleitor.Porexemplo,Indignao do cidado ou Irresponsabilidade das autoridades, imprimir iauma foramaior parte inal da carta, em que as perguntas ampliam odebateemrelaoaquestesdecidadania.Porsuavez,ottuloTentativafrustradadariaumaatenosemoesdosautoresdacarta.Poderamos encontrar outras hipteses de titulao. Podemos perceberatravs deste exerccio que uns mais do que outros podem expressar arelaodoautorcomoseuleitor,induzidooudirigidoporessettuloparaasintenespelasquaisotextofoiescrito.Podemos perceber, ento, que o ttulo escolhido pelo jornal enfatiza o

  • motivo em torno do qual a argumentao da carta se desenvolveu. Comcerteza,comneutralidade,posicionaoleitorparaoquevememseguida.Osegundotextoumeditorialderevista:Aimagemumaarma

    OjornalistaeescritorLuigiBarzini,autordoclssicoOsItalianos,diziaqueaItlia dos anos 60 apresentava omesmo nvel de desenvolvimento social daInglaterrade1920. O autor imputava essa defasagem de quarenta anosno apenas scondieseconmicas,masprincipalmenteaofatodenaItliadosanos60asociedadesercondescendenteepromscuacomosmafiosos.Os relatos sobre o enterro do bicheiroWaldemir Paes Garcia, o "Maninho",fuzilado presumivelmente por rivais na semana passada no Rio de Janeiro,soumatristeevidnciadeque,usando-seamesmamedidadeBarzini,partedo Brasil vive ainda imersa no gangsterismo tpico das grandes cidadesamericanasdasprimeirasdcadasdosculopassado.Como outros grandes bandidos, Maninho, dono de milhares de pontos dejogos de azar ilegais, passava a vida emmeio sociedade distinta doRio deJaneiro.Foienterradocomoviveu,cercadodegentefamosa.Osjogadoresdefutebol Romrio, tetracampeo do mundo, e Edmundo, ambos hoje noFluminense,foramprestarltimashomenagensaoamigo.Tambmesteveaolado do caixo o ex-jogador Renato Gacho. Um surdo tocado por umritmista da Escola de Samba do Salgueiro conferiu a devida solenidade spompasfnebres.O Brasil e o Rio de Janeiro, em especial, no podero estabilizar-se comosociedadesmodernas,produtivasejustasenquantohouvercondescendnciaepromiscuidade com criminosos. Jogadores de futebol, artistas e outrascelebridades tm a maior poro de responsabilidade em sinalizar aintolerncia da sociedade com osmalfeitores. Nos Estados Unidos, desde osanos50,aJustiapunecommaiorvigorostransgressoresclebres.Chama-seisso de "efeito demonstrao". Uma violao da lei que daria a uma pessoaannima apenas uma multa ou advertncia pode resultar em cadeia paraoutrafamosa.FoiassimcomacantoradejazzBillieHoliday,condenadanosanos 50 por porte de drogas. Foi assim recentemente com a empresria eapresentadoradetelevisoMarthaStewart,que,acusadademanipulaonomercadodeaes,vaicumprirpenadecincomeses.Alio?Aimagemumaarma.Omelhorafazerus-laparaobem.

  • (Cartaaoleitor.Veja,6/10/2004)

    O ttulo faz meno a uma questo de comunicao cultural (a imagem),que subentende signiicados sociais, abrindoespao tambmparao temadaviolncia.Apalavraarmasugerefortementeessetema(armadefogo).Fcil,quasenecessrio,paraoleitoresperarqueotextolheindiqueessesassuntos. Mais uma vez, ele vai ter que ler e usar suas estratgias deleitura para atualizar passo a passo suas hipteses em relao ao que otextolheapresenta.Oleitornovaiterdadospararatiicarsuahiptesedeleituraemrelaoaottulo,aindaquandoestivernoprimeiropargrafo,emquedirigidoaumacomparaoentreasculturasitalianaeinglesa.Nosegundo,oleitorcomeaaperceberasrelaesentretaisculturaseabrasileira,mas, ainda no tem condies de construir o sentido do ttulo,quepermanecedentrodelecomoumaperguntaaserresolvida.No terceiro pargrafo h um relato em que se juntam pessoas de ummundodecriminalidadeeoutrasfamosasepresentesnamdia,noBrasil.No quarto, faz-se uma relexo a respeito da situao brasileira eamericanaemrelaoimpunidadeesuasconsequncias.Somentenesteltimopargrafo, icaexplicitadaa intenodo ttulo,maisespeciicamente nas ltimas linhas do texto em que ele literalmenteretomado. E de forma criativa e original. No o que se espera, pois, asugestodeviolnciaapareceassociadaquestodacomunicao.Assim,a relao estabelecida no a que estmais ligada ao senso comum. Ouseja,umttuloqueestabeleceumjogocomaexpectativadoleitor,quebrando-a,depoisdeaument-lacomSuspense,quaseumdesafio.Issotudotornaaleituramaisinteressante.Issotudoapartirdeumjogodepalavrasnottulodotexto.

    8.Avizinhanaamiga

    No captulo 6, a respeito das primeiras informaes sobre texto, vocsoubeque ele umaunidade comumcentroorganizador.Todas as suas

  • partesdevemconversarentresicomoocorrecomossistemasdequalquernatureza.dessaintegraoquenasceoseusentido.Porm, ainda que sua organizao interna lhe fornea uma integridadesigniicativa,elenoestisoladoemsimesmo.Eletambmfazpartedeumtodomaiorquepodeserchamadocontexto.Na verdade, a palavra contexto requer um pouco de nossa ateno porpropiciarumadiversidadedesignificados.Enquanto alguns tericos a utilizam para identiicar elementosextralingusticos, outros a empregam com o sentido prioritariamentelingustico. o carter lexvel das palavras, aspecto interessante de suanatureza prdiga, que explica essa variedade de possibilidades deemprego da palavra contexto. E as teorias correm atrs dessaflexibilidade...Ensatrsdasteorias...Assim, podemos identiicar vrios nveis de contexto. O primeiro, muitoamplo,externoaotexto.Deondeelefoiextrado?Qualafonte?Assim,humadiferena seele tiver sido retiradodeumcaptulode livroou se fazpartedeumjornal.Talfontenostrazinformaesquenopodemosdesprezar.Asintenesdecadatextosoadequadasacadauma delas. O texto jornalstico tem um carter fortemente informativoenquanto a natureza das informaes do livro, talvez tenhamum carterdemaior permanncia e uma linguagemmais formal. Observar os dadosdessa origem dos textos aceitar informantes iniciais, amigas da boacompreensoquedesejamoster.Por outro lado, ainda dentro desta concepo de elementosextralingusticos,podemosentendertambmquequalquertextofazpartede um quadro mais amplo de informaes, que se constitui como umrepertrioculturaldasociedadeetambmpessoaldoleitor.Se nossa base contextual de informaes a respeito de determinadoassuntoforpequena,poderemosteralgumadiiculdade,antecipadamenteesperada,paraaconstruodosentido.Nessecaso,seradequadodispordemais tempoparaa leitura,diferentementedoquepodeocorrercasooassuntonossejafamiliar.Portanto,acompreensodasideiasdedeterminadotextoserfacilitadaoudiicultada de acordo com o nosso repertrio contextual, uma segundapossibilidade dessa compreenso de natureza extralingustica. Apercepodoquadrodessasrefernciasexternas(fonteequadroculturalde informaes), a que denominamos vizinhana amiga aspectoimportanteparaaboaleitura.Por ltimo, temos o nvel lingustico propriamente dito, a terceira

  • concepodecontexto,formadoporaspectosformaiseinternosaotexto.DeacordocomPlatoeFiorin, contexto "umaunidade lingusticamaiorondeseencaixaumaunidade lingusticamenor.Assim,a fraseencaixa-senocontextodopargrafo,opargrafoencaixa-senocontextodocaptulo,ocaptuloencaixa-senocontextodaobratoda".(2000,p.12).Essasrelaesconferemorganizaoeordemaotexto.Elacentralizatodasaspartesemcrculosquevodapalavraaosblocosdepalavras,frase,edaaotextocomoumtodo,quefunciona,ento,comoumaunidademaior,refernciaepertinncia.DucroteTodorov(2001,p.297),empalavrasqueelucidamestaquesto,dizem que as situaes, a partir das quais os textos so concretizados,incluemoambientesicoesocialemqueelessedo,questesdeimagem,identidade e representaes de cada umdos interlocutores e tambmosacontecimentos anteriores, e principalmente aspectos do momento dacomunicao.Ouseja,os textossecompemdemuitascircunstnciasquefalamdens,fazendoressoarsignificadossemquenosdemoscontadisso.Para o leitor, importante conhecer essa representao mltipla que otextonosoferece,parapoderavaliaroqueeledizdeformamaiscompleta.Voc comear a observar os textos de forma diferente depois dessasinformaes.DucroteTodorovaindadizemnasequnciadacitaoque,apesardessapossibilidade, deve-se reservar o nome de contexto para os aspectosestritamentelingusticosdotexto.(2001,p.297).Ouseja,desconsiderandoosaspectosanteriormentecitados,osautorespreferemautilizaodessetermoemrelaoapenasaosnveisdalinguagem.Outros autores concordam e discordam dessa posio. Como em outrassituaes, surge a natureza lexvel das palavras e problemas naterminologiatcnica.s vezes, h diiculdades de demarcar limites s aberturas conquistadaspelas palavras. Elas apresentam empregos variados no senso comum etambm nos contextos tericos a que se referem. dicil circunscreverdentro de linhas diferentes a respeito de um mesmo tpico, um sensocomumparaosigniicadodealgumaspalavras.Delicadezasprpriasaseureino.Encontramos, frequentes vezes, tais sutilezas nos textos, em situaes deleitura. Devemos contar com essa abertura signiicativa e que no deverepresentar obstculo, mas convite a uma leitura mais abrangente einteressante.Em relao palavra conte xto pudemos observar grande variao de

  • signiicados. Preferimos em relao a ela, aceitar todas essas refernciascitadascomovizinhanasamigasenoinimigastarefadoleitor.Observeessasquestesnoexemploquesegue:Ovrusde'GuerradosMundos'FantasiaFuturistadeByronHaskinantecipa"IndependenceDay"NomesmopacotequepsBarbarellanas locadorase lojasespecializadasdeDVD, h outro famoso ilme de ico cientica saindo em disco digital.Guerra dosMundos baseia-se no livro deH. G.Wells que est na origemdatransmissoradiofnicaqueprovocoupnicodosEUA,noimdosanos30,eserviu de passaporte para Orson Welles tomar de assalto Hollywood erevolucionarocinemacomCidadoKane.GuerradosMundosde1953. Ganhou o Oscar de efeitos e eles continuam eicientes, embora umtanto primitivos em relao ao que se faz hoje no cinema norte-americano.ProduzidoporGeorgePaledirigidoporByronHaskin,GuerradosMundos mostra o que ocorre quando os marcianos invadem a Terra. Naverdade, os vermelhos do espao servem de metfora para os outrosvermelhosqueosEUAenfrentavamaquimesmo:oscomunistas.Ainal,havia,napoca,umaguerranaCoria eomacarthismo fazia estragosno cinemadeHollywood.Nesse quadro, Guerra dosMundos muito discutido por suadefesa da guerra bacteriolgica. Anos mais tarde, foi essa mesma soluo,transposta para a informtica, que Roland Emmerich adotou emIndependenceDay.Olanamentotrazcomoextrasotrailerdecinema.

    (OEstadodeSoPaulo,l/03/2002).

    O objetivo bsico do texto informar a respeito do lanamento do ilmeGuerradosMundosemformadeDVD.Porm,seuautormesclaumasriede outras informaes, que so referncias importantes para os cinilos,tais comoos dados a respeito deBarbarella,OrsonWelles e seuCidadoKaneeIndependenceDay.Sevocnodaturmadosaicionadosdocinemapodernoacompanharesse texto da mesma maneira que algum desse grupo. Ou seja, essecontextoextralingustico representaumdiferenciala ser levadoemcontapor voc.Damesma forma, a sutil ironiado ttulo (O vrus de 'Guerra dosMundos')tambmpoderpassardespercebidapelos leitores,assimcomo

  • aextenso simblicado sentidodo subttulo (Fantasia Futurista deByronHaskinantecipa"IndependenceDay").Identiicar essa vizinhana amiga (ou inimiga) pode signiicar, em ltimocaso, um alvio para voc: eu no sou da turma do cinema. Essepensamento poder livr-lo de alguma culpa por no ter bemcompreendidootexto.Discriminar o que contexto em casos assim to importante como osconceitos que sero elaborados nos prximos captulos. So eles:linguagem, discurso e gneros textuais. Todos esses conceitos podemcolaborar para que sua leitura seja de qualidade. Eles nos ajudam aentender o que texto, aquele lugar em que as palavras se colocamdesenhandoasideias.Ecomeocomestasquestes:Voc jseperguntouoquea linguagem?J pensou como surgiram os textos com que lidamos? Como eles tm seconfigurado?

    9.Alinguagemeos

    discursosOs textos esto no meio de ns, o tempo todo na experincia cotidiana.Almdaquelesqueestudamos,deparamoscommuitosoutrospermeandoas circunstncias sociais: o receiturio mdico, a receita culinria, amensagemdeinternet,orelatrio dodepartamentoeoartigo jornalstico,porexemplo.Voc talveznunca tenha seperguntado como seorganiza essemundodetextos. De onde eles vm? Quem os inventa? Para responder essasquestes temos que passar por outras que so essenciais nessa rea.Precisamos saber tambm o que linguagem e discurso, visto que ostextossecompemapartirdaprimeiraesoportadoresdosegundo.A linguagem, que uma capacidade humana por excelncia, tem sidopercebidadevriasmaneirasao longodo tempo: comorepresentaoou"espelho"domundoedopensamento,comoinstrumentoou"ferramenta"de comunicao, e, de acordo com as ltimas teorias lingusticas, como aformaeo"lugar"deaoouinterao(KOCH,1995,p.9).Esta ltima compreenso nos diz de uma linguagem, que expresso de

  • dilogo. E ela se exerce entre dois interlocutores na ao da vida, emsituao de cotidiano. Por exemplo, ao comprar jornal, ao conversar portelefone,aoescreverumemailutilizamosdelasemnosdarmoscontadisso.Essa linguagemverbal, to naturalmente elaborada nas situaes dirias,nos acompanhadesdeonascimento.Uma crianade trs ouquatro anossabedizer"Ocarrinhocaiunocho."Elanoterdvidasnacolocaodaspalavras.Nemtitubearpensandose"Choocarrinhonocaiu".Veriicamos que, desde muito pequena, ela conhece como empregar aspalavrasnumacertaordemequeessesaberincluiumnveldegramticada lngua.Elauma"competncia lingustica internalizada"aquesedonomede implcita, "porque o falante no tem conscincia dela, apesar deela estar em sua "mente" e permitir que ele utilize a lnguaautomaticamente." (TRAVAGLIA, 2003, p.33). Ou seja, trata-se dagramtica que adquirimos juntamente com a aprendizagem da fala naprimeira infncia e cujo desenvolvimento para conhecimento das muitaspotencialidadesdalnguanormalmentefeitonaescolaridadeformal.Paranoscomunicarmosadequadamentenobasta sabermosagramticadesseconhecimentoespontneoquetemosdanossalngua.Avidasocialede comunicao exige de ns, alm do desenvolvimento de capacidadeslingusticas,outrasdenaturezaextralingustica.Assim,temostambmqueperceberquemonossointerlocutor,entendera situao em que estamos agindo dentro de um determinado contextopara que a linguagem verbal exera a sua funo. Por exemplo, aoescrever um relatrio para determinado setor da empresa em quetrabalhamos, utilizaremos um nvel de linguagem diferente daquele doemail para os amigos convidando para um churrasco comemorativo deaniversrio.Essa adaptao de nvel lingustico ser realizada mais ou menosnaturalmente, mais ou menos conscientemente. Ela leva em conta osaspectoscontextuaisdacomunicaoentreespecficosinterlocutores.Essa atividade do nosso dia-a-dia, por outro lado, produz textos queexpressammaneiras de pensar, sentidos, ideologias. A essa qualidade dacomunicaopormeiodostextos,ostericoschamamdiscurso.De acordo com a profa. Helena Brando no sitewww.museudalinguaportuguesa.org.br, sabemos que "no h discursoneutro, tododiscursoproduz sentidosque expressamasposies sociais,culturais, ideolgicasdossujeitosda linguagem".Issoocorreporquetodossomos seres determinados histrica e geograicamente, pertencentes a

  • determinada comunidadee, por isso,portadoresde crenas, valores edeuma ideologia do grupo a que pertencemos. Voc pode perceber como importanteconheceresseaspectodostextos,vistoqueelessoportadoresdascrenasdeseusautores.E, ento, voc deve se perguntar: como identiicar quais so os sentidosdessa ideologia prprios ao autor do texto? So perceptveis de formaclara?Sodiludos?Apartirda,qualdeveseraminhaposturadeleitoraointeragircomostextos?H presena de ideologia independentemente de que tipo eles sejam.Podemosatsuporqueos textosdenaturezadidticasejam isentosdela.Isso asseguraria uma inteno de neutralidade do autor. Porm, no oque ocorre. A ideologia do autor obrigatoriamente includa at em umtextoorganizadocomintenesdidticasexplcitas.Ao selecionar a bibliograia de referncia e as opinies de autoresdisponveis na rea, ao dimensionar a perspectiva do tema, ao dividir osassuntosnoscaptulos,enim,todaescolhaparaaorganizaodeumtextoevidencia uma postura ideolgica, ainda que ela possa ser sutilmentedisposta, numadjetivo ou advrbio junto ao verbo. Emum texto editorialjornalsticoouumapeadepropaganda,porexemplo,podemosencontrarporvezesdeclaradas intenes ideolgicas. Outras vezes, elas so neutralizadas ouminimizadas.Portanto, voc deve estar consciente para a observao desses detalhes,vistoqueestosemprepresentes,aindaquesvezespoucoexplcitos.Sualeitura deve tentar perceber tais sutilezas. Pelo menos, saber que elesexistemtornaaleituramenosinocente.Naverdade,nopodemoslersemessaperspectivadecrtica.Alinguagemescritacheiadesigniicados,comovocpodeperceber,esoaspalavrasque a compemque expressam tais ideologias. Voc deve identiicar taismeandrosdesignificados.Umleitoreficientecapaz.Mas,aindaficaumaperguntasemresposta.Comosurgemostextos?

    10.Omundodostextos

    Os textos, portanto, carregam discursos tpicos a seus produtores e socondicionados a fatores histricos e sociais. So, por isso, to variados

  • quanto so essas condies culturais em que so gerados. Socaractersticosdetodaasociedadeletradacomoanossaemqueostextossemultiplicam.Elesformamummundoemquetodasaspessoasprecisamsabercomotransitar.Evocsabecomoessamultiplicidadedetextoscriadaouinventada?Ela proveniente de necessidades cotidianas, de organizao dos espaossociais, de comunicao de informaes de cunho prtico, burocrtico oulegal. A crescente complexidade de nossa sociedade talvez seja uma dasrazesparaexplicaramultiplicaode tiposde textoquepermeiamosvariados campossociais,desdeanossacasaatosespaospblicos.E j sabemos que o discurso, por sua vez, se apresenta na forma dessestextos. Ele a se concretiza, de forma implcita. Diz Fiorin a esse respeito:"enquanto o discurso pertence exclusivamente ao plano do contedo, otextofazpartedonveldamanifestao".(2000,p.38).Poucomaisfrente,no mesmo livro, ele continua: "O texto / ... / individual, enquanto odiscursosocial."(2000,p.41).Nas esferas de atividades sociais, encontramos variados discursos, comopor exemplo, o religioso, o domstico, o legal. Assim, de cada um delesconhecemos textos, como por exemplo, a Bblia, o Alcoro, a orao e osermo do padre. E em casa, temos o oramento do eletricista, a lista decompras, a receita culinria e o bilhete para o ilho. Voc j teve,possivelmente, que escrever um requerimento ou um relatrio, que sotextos de cunho legal. Percebemos que os primeiros apresentam umaelaboraomaissofisticada,enquantoosreferentesaoambientedomsticosecaracterizamporinformalidadeeespontaneidade.Oslegaissoformasixadas por regras que podem mudar com o tempo, mas com menosflexibilidade.Todos esses textos, por apresentarem inalidades especicas decomunicao, devem estar dentro do conhecimento das pessoas queparticipamdasociedade,sobpenadeelasnoseincluremnasatividadessociaise legais.O trnsitonosespaossociaiseculturaisvaipermitindoeat exigindo que tais textos surjam, visto que eles tm uma funoorganizadoranessesespaos.Nodecorrer do tempo, eles se transformamde acordo comasmudanasnasociedade.Assim,umdiscursodeumpadrenosdiasdehojeapresentacaractersticasdiferentesdaquelasdeumsculoatrs.Otexto jornalsticotambmtemsofridoadaptaesdesdequea internetsurgiuna sociedadecontempornea,passandopormudanasemsua funode informante.O

  • curriculumvitae temsetransformadodeacordocomasnecessidadesdasempresaseasformasqueoempregotemtomadonacontemporaneidade.Ento,todasessasmudanasaconteceramporrazesespontneas,vindasdesituaessociaiseculturais,sempreaserviodeboacomunicao.Almdessesaspectosquerelacionamaformadostextoscomasociedade,podemos observar tambm outros de natureza interna. Ou seja, na suacomposio h aspectos dignos de nota. Assim, dentro das possibilidadesde sua composio podemos identiicar algumas categorias fundamentaisque esto presentes na base de todos eles. Entre elas temos: a descrio(em que a enumerao de tpicos se d sem progresso temporal), anarrao (emqueaconteceumaprogresso temporal)eaargumentao."Eadissertao?",vocpoderiaperguntar.Quemnose lembradeladostempos de escola? Ela ocorre quando h relexo a respeito de algumassunto.Resumindo,oimportanteparaoleitorperceberquealinguagemproduztextosdevariadas formas.Osdidticos, emgeral, soelaboradosapartirdeumasequncialgicaqueservedelinhamestraparaoautoretambmpara o leitor. Os textos informativos de que tratamos podem apresentarnarrao,descrioeargumentao.Amisturadessesrecursospossvele o leitor deve saber qual sua funo dentro do texto, ou seja, por quemotivooautorosincluiuemcadasituao.Em qualquer veculo de comunicao, voc encontrar marcas dessesgneros textuais, escritos com inalidades peculiares. O texto legal nuncaserconfundidocomosqueapresentam informaes.Os textosbuscadosem livros sero identiicados de acordo comos captulos, j que seguiroumaordemestabelecidaporseuautor.A identiicaodessas formasde textos antecipa a compreensodo leitoreiciente. Sem os gneros do discurso no nos comunicaramos, disseBakhtin.Elessoinstrumentosdemediaoedecomunicao.Portanto, saiba comque tipo de texto voc vai lidar. Seu dilogo com ele,assim,serfacilitado.Podemosseguirnaexploraodonossoobjeto,otexto.Oqueconseguimosatagora?

    11.Novospatamares

  • Estivemos percorrendo conceitos bsicos. Temos alguns passosconquistadose,nestepedaodocaminho,vocsabedaimportnciade:

    ter claras as intenesde sua leitura, os objetivosparaosquais elavaiserempreendida;preparar-seadequadamenteparaessatarefa;identiicar a fonte, o ttulo e o papel do contexto, antecipandoinformaesarespeitodocontedo;conhecerumpoucomaisosgnerostextuaisdentrodeummundodelinguagemedediscursos,queindicamafunoparaaqualostextosforamescritos;saberquecomesseobjetoquevaidialogar.

    So esses passos iniciais que podem transformar a leitura distrada emumaatividadeconsciente.Comessesrecursos,vocdeixadeserumleitoringnuo e est mais perto de uma participao ativa, em uma conversacomotextoemseusoperandocriticamente.Sopreparatriosparaatingiroutrosnveisdeleitura.Podemos,ento,aprofundarapesquisadeoutrosaspectosdotexto?

    12.Outrosnveis

    Seria bom se pudssemos ter, aps a primeira leitura de um texto, umanoo clara de seu contedo junto capacidade de fazer uma sntese desuas ideias. Porm, isso nem sempre possvel. Reclamao muitofrequente entre os leitores a urgncia de entendimento do texto. Comorapidamente ter a compreensode suas ideias?Porquenemsempreelaocorreprimeiraleitura.Naverdade,oqueacontece?Voc j entende que leitura algo mais do que mera decodiicao delinguagem. Deve imaginar, portanto, que h outros aspectos em jogoimpedindoumaprestezadecompreensoemalgunscasos.Nasquestesde leitura,apressa,comodizoditadopopular, inimigadaperfeio. No d para ler com ansiedade ou urgncia. Ou por cima.Passando os olhos. Dependendo dos objetivos da leitura, essa pressapodercausarerrofatal.O fator tempo necessrio para que nossa capacidade de apreensocognitivaelaboreadequadamenteoquedeveserdigerido,assimilado.

  • A primeira leitura de um texto de contato. Uma segunda leitura, comcerteza,reafirmar(ouno)algumasdenossasideiasarespeitodeleenosdarumanoomaisacertadadeseucontedo,commenosperigosdesubjetividade e mais segurana. Entre a primeira e a segunda h umassentamento cognitivo, um amadurecimento do texto, que ser mais oumenos necessrio de acordo com a natureza do contedo. Um tempo dedigesto.Essa passagem da primeira para uma segunda leitura colabora para apassagemanveismaisprofundosdotexto.Vriasleituraspodemnosdar,poucoapouco,umacompreensocadavezmaisesquemticadas ideiasdeumtexto.Vamos juntandoas informaesna tentativa de apreenso das ideias. Vamos saindo da camada maissupericial em direo aos esquemasmentais que possivelmente o autortinhaaoconceberseutexto.Fazemosocaminhoinversoaodele.Tentamosdescobrir a escadaque eleutilizou, a estrutura sobre a qual ele teceu aspalavras,enquantoquensprocuramosdesvestirtalescadadorecheiodepalavrasemdireoestruturadebase.Nessabusca,vamosadentrandoemoutrosnveis,emoutrascamadas.Essapassagemparaoutrosnveissecaracterizaporsaltosdeabstrao.Claro, que dependendo de variados fatores, h textos que demandammaior tempo para sua compreenso. Mais leituras, mais tempo deamadurecimento. Mais tempo para digesto. Eles podem ser maisimpermeveis compreenso e, portanto, realmente mais diceis, ousimplesmente esto fora do nosso repertrio habitual. Disciplinasdesconhecidas necessitam de mais tempo de elaborao. Assuntos arespeito dos quais j tivemos oportunidade de colher informaes,demandaromenoresforomental.Muitas vezes temos uma sensao de incapacidade, ao no conseguirmosentender as ideias principais de um texto, ou o sentimento de que nocaptamososeumotivomaisprofundo.Vocjdevetertidoessasensao.E, saiba, nem sempre esse sentimento de impotncia justo, pois hinmerosaspectosquepoderiamjustificaressasituao.Muitos textossomesmomaisdiceis, svezesdeestilo complexoouatprolixo.Mesmoqueo leitor tenhaumaperspectivadessaspossibilidades,talvezpelahistriaprecriadaleituraquetemosdesenvolvidonoBrasil,oquesepercebeemgeralumaposturapoucocrtica,eupoderiadizerathumilde. Ele no se permite uma avaliao crtica em relao aos textosescritos,nolevantaparasimesmoessahiptesedecrtica,nosedessaliberdade por sentir talvez que no possua recursos para justiicar sua

  • avaliao.Por isso, fazemos verdadeira justia quando aceitamos tais sensaesmenosagradveisenosposicionamoscomrealidadenaadministraodasnossas diiculdades. Em cada passo de nossa experincia de leitura,procuremosnosaperfeioarparasermosleitorescrticosereflexivos.Comumadisposioassimpositiva,podemosentolevaracaboatarefadeentendercomofuncionaapassagemdeumaleiturasupericialparaoutrademaiorprofundidadedecompreenso.

    13.Ascamadasdotexto,umacerta

    geologia

    H,portanto,diferentesnveisnaestruturadeumtexto.Comonumrelevogeogrfico.Umadisposioemcamadas,umacertageologia,umrelevoqueaspalavrasvodesenhandonobrancodapgina.Oqueumapginaembranco,senoumvazioimensurvel?Aspalavrassearriscamnele.Comelas,essevaziodeixadeexistir.Temos,ento,altosebaixos,reentrnciasealturas.Aspalavrasvodispondosignificadosesinaisdepontuaoque,aoler,vamosorganizandomentalmente.Paravocmelhoraproveitarossinaisdessageografia,precisaperceberossinaisqueaconstituem,comoumaespciededadosdetopografia.Naverdade,hmuitosnveisnesserelevoentreosquaisnsandamosenosperdemossenosoubermosnosguiarporentreaspalavras,pontuao,frasesepargrafos.Oleitoratentonodeveseperdernoprimeiroplanoebuscasempreatingiroutrosmaisprofundos,vistoquenelesseinstalaasntesedotexto.ngelaKleiman(2000)indicadoisplanosnostextos:osuperficialeoprofundo.Segundoela,noprimeiroplano,odaestruturasuperficial,afloramossignificadosmaisconcretosediversificados.nestenvelqueencontramosasinformaesquerecheiamotextoaserviodamaiscompletamaneiradecomunicaroscontedos.Nosegundoplano,odaestruturaprofunda,ocorremossignificadosmaisabstratosemaissimples,queresumemasideiasdoautor.Aidentificaodessadiferenadenveissefazsvezesmaisfacilmente,

  • outras,nemtanto.Emgeral,aprticadeduasleiturasdeummesmotextomostracomoessesdoisplanosfuncionam,comojvimos.Depoisdeumprimeirocontatocomotexto,nemsempreconseguimosapreendersuasideiasdeformacompleta.osegundoquevainosdarcomseguranaasequnciadasideias.Apassagemdeumaooutrosignificaumesforodeabstrao,necessrioparaapercepodasideiasimportantesdotexto.

    Essaumadasmaioresdificuldadesdosleitores.Eaqueotreinodevesermaisintenso:tentardescobrircomochegarcadavezmaisrapidamenteaessenvelprofundo.elequenosofereceoscontedosdemaneirasimplificada,oquesignificamuitoparafacilitarnossamemorizao,noscasosemqueoobjetivooestudo.Dentreumagamaenormedepossibilidades,humatcnicaquenofalha:lerpelasegunda,terceira,quartavezatqueseatinjaaordenaodasideias.Elapossivelmentejhaviasidoanunciadanottuloenasindicaesdecontexto.Paraquefiquemaisclaraessadivisodidticaentreplanosdotexto,retomoosexemplosdocaptulo7.ACartadoLeitor,dojornaldirio,passoupelolongocaminhofeitopelosautoresatqueareclamaodequeelatratafosseatendida:adificuldadederespostacarta,asintervenesprecriasdasautoridadeseaindignaodosautores.Adescriodessatrajetriajseinscrevenosegundoplanodeelaboraodasideiasdotexto,porserresumidora.Mas,aindasetratadeumaenumerao,dedadosdiversificadosquecompemumquadroconcreto.Sefizermosmaisumesforodesntese,atingiremosumoutronveldemaisabstraoesimplificao.Teremoschegadoaoobjetivo,aomotivo,queconduziuseusautoresescritadacarta:aindignaoperanteairresponsabilidadedopoderestatalemquestodesadepblica.Nosegundoexemplo,oeditorialdarevistasemanal,oncleodotextorelaciona-sequestodaimportnciadaimagemcomoarmadeconstruodevaloresculturaispositivosounegativos.Mas,atchegaraessepatamardecompreensosintticadasideias,temosquecaminharpelasrieintermediriademuitasinformaes,depequenosfechamentosoupequenasconclusesataltima,maisabstrataesimplificadadetodas.

    No,nodifcil,acredite.Talvezfalte-lhefamiliaridadecomessetrabalhoemquealeiturasurgecomumnovoconceito.Elanormalmentevistacomotarefaaquenoseatrelaesforo.Mas,sedesejamosterqualidadeeprecisamosmudarcertoshbitos,otreinoinicialnecessrio.Essabuscadefechamentospelasideiasdeumtextorequertreinode

  • leitura,atenoememria.Aabstraoofrutodesejado,muitovalorizado.Lertarefaquequeimaglicose.Eaindahoutrosrecursosteisparaoaprofundamentodaleituraqueserodescritosaseguir.

    14.Estratgiasparaatravessia

    Dentreoutrosrecursospara fazera travessiadesserelevo,paraabordarostextoseconseguiratingirsuascamadasmaisprofundasdesigniicados,as ideias principais que o compem, dispomos de estratgias que so dedoistipos(KLEIMAN,2000).O primeiro deles apresenta instrumentos que voc j deve terdesenvolvido, no contato com os textos nas variadas situaes sociais, ouforamaprendidosaolongodesuaprticaescolar.Dessa forma, fazer resumo, sublinhar partes dos textos, o exerccio dedividir em partes, ou at, fazer parfrase so tarefas utilitriasimportantes.Essaestratgiadeleiturachama-semetacognitivaeconstadeoperaes regulares que desenvolvemos para abordar o texto. Voc temcontrole consciente delas. Servem para avaliarmos constantemente acompreenso,paradeterminarmosobjetivosparaaleituraeorganizarmosnosso movimento em relao ao texto. Tais aspectos nos capacitam ocontrolequesedeveexercernoatodeleitura.Vocjdeveterelaboradoalgumas,inventadooutrasaolongodasuahistriadeleitor.Por sua vez, as estratgias cognitivas so operaes inconscientes dasquais no conhecemos o funcionamento. No podemos control-lasconscientemente. J fazem parte de nossos recursos e, na verdade, soprovenientes da poca de nossa alfabetizao e juntam-se gramticaimplcita,adquiridacomafala.nessafasedeaprendizagemdefalaedeprimeirasletrasquesefundamasrazesdenossapercepolingustica.Eseelanofoimuitoadequada,percebemososefeitosdesua faltaquandoprecisamoslermuitoouredigirtextos.Mas, h possibilidade de se rever essa competncia, com treino einformaes, em outros momentos da vida. Este pode ser um objetivoindiretodenossotrabalhocomleituradequalidade.

  • Tambmfazempartedaconstruodessacompetncialingusticaanossahistria de leitura, o quanto lemos, as caractersticas da cultura nosambientesfamiliares,sociaiseproissionaisquetemosfrequentado.Todasessas experincias podero concorrer positivamente ou no para nossahabilidadedeleituraatual.Podemterfuncionadopositivamenteenquantopossibilitamaalimentaodenosso repertriode ideias.Tambmpodemter nos emprestado modelos lingusticos que so aprendidos e, assim,emprestamcorponossapercepodelinguagemescrita.Vocdeveterpercebidoque,dessaforma,estamosnosaproximandocadavez mais dos aspectos lingusticos do texto. inevitvel alcanar essedestino medida que aprofundamos nossa anlise em busca doselementosformadoresdoleitoreficiente.Nesse sentido, observe o que Evanildo Bechara (2003, p.694) aconselha:"No levar em considerao o que o autor quis dizer,mas sim o que eledisse; escreveu". Ou seja, o leitor deve entrar da maneira correta nosnveis textuais tentando no ultrapassar o limite possvel do que estexpresso, visto que no raro subentendermos ideias ou interferirmoscom nossas crenas e pensamentos na inteleco do texto. Vamospercebendo que realmente o texto no formado de ideias, mas depalavrasquecarregamideias.precisoficarpertinhodelas.Por isso,casosepercebaqueasheranasescolaresesociaistenhamsidoprecrias, no tendo contribudo para o desenvolvimento de nossacapacidade ledora, no devemos desanimar. Na falta dessa experinciaqueenriquecedora, seesse foro seu caso, vocdeve insistirnaprticadeleituraedeobservaodostextoscomqueentraemcontato.Todaleituradebonstextospodeajudarnodesenvolvimentodapercepolingusticaseoleitortiveressaconscincia.Aospoucos,vocsevertendoprefernciapor textosdeboaqualidade.Odesejodemelhorias, tpicodanaturezahumana,tambmfuncionanousodalinguagem.Aatenoquedamosaonvellingusticoconcorreparaodesenvolvimentodenossagramticaimplcita,porfavorecerocontatocommodelosdetextoedelinguagemverbalescrita.Odesenvolvimentodetalcompetnciapodevirdaescolaedoensinode lnguaportuguesa.Mas,pode tambmvirdenossaobservaoenquantolemos,emqualquermomentodenossavida.Ecomoissoacontece?Comorealizarumaleituraatentaaonvellingusticodotexto?

  • 15.Osblocosdepalavras

    Aolermos,aspalavrasvosendoestocadasemumamemriadetrabalho,com o movimento dos olhos que as organizam. Elas vo formando ummaterial signiicativo que ser reconhecido em blocos, segundo a nossacapacidade lingustica. D-se o nome de fatiamento a esse arranjo depalavrasemblocos.Vocselembradasnoessintticasdesujeito,predicadoecomplementosdiretoeindiretoetc?dessenveldaestruturadalnguaqueessearranjotrata. Tais noes gramaticais referem-se a blocos de palavras, tambmchamadasunidadessintticas.Podeacontecerquenoreconheamoscomfacilidadeessenvellingusticoqueformaotexto.Podemosterperdidoasnoesgramaticaisaqueeleserefere e isso no tem muita importncia neste momento. O pior notermosmaisanoodequeosblocosdepalavrasreletemaconcatenaodas ideias de seu autor e a expresso da carga semntica de seupensamento.Parafraseando o prof. Othon M Garcia, devemos ensinar a lnguaportuguesabuscandoacorreoe,principalmente,porqueassimseensinaa pensar, j que ela serve coordenao e expresso das ideias, quefazemnossacomunicao(2003,p.6).Temosnosesquecidodequesaberusara lnguaportuguesa tambm(eprincipalmente)saberexpressaropensamento.O arranjo verbal de um texto, portanto, formado por palavras que sejuntamdeacordocomasestruturaslingusticasdalnguaportuguesaedeacordocomaorganizaodopensamento,comafundamentalintenodeboa comunicao. Podemos identiic-las, independentemente dos nomesgramaticaisqueelaspossuem.Paralerbemnonecessriooconhecimentoescolardagramtica,jqueaexperinciadeleiturafundamentalmentecognitiva.Irgramticaparatirardvidaserelembraralgunstpicos,comoasconjunes(verdadeirasrainhasdasfrases)ouaspreposies(importanteselementosde ligao),porexemplo,podeserdegrandevalia,masnoindispensvel.Semdeixardereconhecero imensovalordosconhecimentosgramaticais,tentamos abrir novas possibilidades de contato do leitor com a lnguaportuguesa,paraalmdostraumasescolares.

  • Assim, por ser eminentemente cognitiva, a tarefa de identiicao dessefatiamento sinttico (blocosdepalavras)deve sebasearna compreensodasideiasque,emprincpio,elecarrega.Nomomentodaleitura,osblocosdepalavrasselecionadospeloleitorcomo movimento dos olhos (que no linear e recebe o nome de sacdico,percorrendogruposdepalavras),svezes,podemcoincidircomoquesedenomina sintagma, de acordo com as teorias lingusticas atuais. Digomuitas vezes e no sempre, porque o leitor pode se dar liberdade naconstruodosentidodotextoeelaborarestratgiasdeseparaodessesblocosdeformapessoal.Observe a sequncia dos sintagmas na frase que segue: (sintagmanominal) A menina do vizinho (sintagma verbal) est falando bobagens(sintagma adjetivo) muito cheia de si (sintagma adverbial) bemcontrariamenteopinio(sintagmaprepositivo)detodos.Vocencontrarinformaes adicionais a esse respeito no sitewww.museudalinguaportuguesa.org.br,emtextodaprof.HelenaBrando,deondeoexemploacimafoitirado.Como voc pode perceber, esse arranjo das palavras em blocosgramaticais,segueumaordemque,antesdesergramatical,lgica.Semateoriagramatical,voccapazdeidentific-lo.Devemos ter um plano de trabalho para apreender esse corpo do texto,formado por esses sintagmas ou unidades sintticas que expressam asideias.umcorpode texto,umaespciederede lingusticaconigurandoossignificados.Certa vez, em uma oicina de leitura, uma participante encontrou umaexpressofelizparaessetipodeabordagem.Eladissequelerosblocosdepalavras era "como ler empedaos"para amarrar a ideia. Issomesmo: aideiaamarradaporumconjuntodepalavras.Jrecebivriospedidosdeoutrosparticipantesparadaresquemasparaoacesso a esse nvel dos textos. Infelizmente no h modelos ou receitasprontas. No h regras a priori estabelecidas. O leitor ter queacompanharo luxodopensamentodoautorenquanto seexpressapelaspalavras arrumadas em blocos e prestar ateno s pistas que ele lheoferece,enquantoconstriotexto.Assim,encontraremosaestruturadopensamentodoautor,deacordocomsuas intenes, expressas pelas palavras que ele escolheu e arranjou deformabastanteintencionaleespecica.Mas,essenoopontodepartidaparanossainterlocuocomasintenesdoautor.Noseesqueadequequando comeamos a leitura de um texto, j contamos com muitas

  • informaesarespeitodelas.Se voc sente falta de um modelo de leitura, saiba transformar essadiiculdadeemumdesaio.Desaiopositivo.Descobriramaneiracomoosblocosdepalavraseorganizamnaestruturadafrase,parece-semuitocomumjogo.Imagine que a hierarquia sinttica, ou seja, as dependncias entre aspalavras sodeordem lgica emuitomais aparentesdoquevocpensa.Na verdade, nossa observao em relao a esse aspecto da lngua podeestaraindapoucodesperta.Agoraquevocjpossuiumanoodoqueumtextoedecomoasideiasnele se constroem, est pronto para entrar nesse campo lingustico comoseentraemumgame.Comcuriosidade infantil.Aalegriadasdescobertaschegaraospoucos,namedidaemquevocpuderperceberosucessodaqualidadedesualeitura.Oexemploaseguirtemporintenomostrar,naprtica,aidentiicaodeblocos de palavras e a relao que eles estabelecem entre si na frase. Otextoumapequenanotciadejornal:Maro um ms especial para os meteorologistas. Comemorase hoje, noBrasil, o dia do meteorologista. O dia 23 uma data internacional, o DiaMundial da Meteorologia. A baixa umidade do ar e o calor intenso podemincomodar.Quemjenjooudocalorvaireclamardotempoatoimdoms.Aproveite as condies de pouca nebulosidade para apreciar o eclipse totallunarqueacontecenestanoite.

    (OEstadodeS.Paulo,3/03/2007,cadernoMetrpole)

    Antesde lero texto, voc j se informoue sabeque se tratadeum textojornalsticodo cadernodenotcias, com informaesda cidade,de tempo,trnsito etc. Embora no haja ttulo, tais informaes antecipam acompreenso: informao de interesse cotidiano, relacionada meteorologia.Apalavramaro, sozinha,umbloco importanteevem juntoaumverboquevaiindicarconceituao(verboser).Vocesperaoconceitoarespeitodomscitado,oqueseocorrenoblocodepalavrasquevem logodepoisdoverbo:ummsespecialparaosmeteorologistas.

  • A frase seguinte (Comemora-se hoje, no Brasil, o dia do meteorologista.)apresenta quatro blocos de palavras (e quatro ideias): uma ao(comemorar) e um tempo (hoje), um local (Brasil) e o complemento daao(oquesecomemora).A prxima frase (O dia 23 uma data internacional, o Dia Mundial daMeteorologia.) nos oferece outra conceituao e como ela repete aestruturasintticadaprimeira, identiicamosmais facilmenteoconceitoeoquesequerexpressar (umadatadecunho internacional, relacionadadata nacional). A citao da data internacional realizada em um blocoseparadoporvrgula,cujafunodeseparaoseevidenciaenosauxilia.Na frase seguinte (A baixa umidade do ar e o calor intenso podemincomodar.), identiicamos dois blocos. O primeiro formado por outrosdoisblocosunidospelaconjunocoordenativaaditivae (Abaixaumidadedo ar e o calor intenso), e o segundo pelo sintagma verbal (podemincomodar).Apenltima(Quem j enjoou do calor vai reclamar do tempo at o im doms.)formadaportrsblocos:aprimeira(quemjenjooudocalor)indicauma identidadedequemvai se airmaralgo, a segundadiz a reclamaopossvel(vaireclamardotempo) eoltimoofereceumanotaotemporal(atofimdoms).O verbo (aproveite) que inicia a ltima frase (Aproveite as condies depouca nebulosidade para apreciar o eclipse total lunar que acontece nestanoite.) nos promete algo: as condies de pouca nebulosidade. E h aindicaodeumainalidade(outrobloco)queseseguepreposiopara:paraapreciaroeclipsetotallunar. Aexpressodotempodoacontecimentocompletaopensamento;queacontecenestanoite.Essa no a nica maneira de se perceber a distribuio das palavrasnessas frases. H outras possveis dependendo do leitor, que realizar avisualizaodaspalavras,deacordocomseus recursos lingusticosequeserovlidosnamedidaemquepuderemapontarossentidosprpriosaotexto.Acompanharapontuaopodeserdegrandeutilidade, jquesuafunoprimordial indicar as unidades para o processamento da compreensodo texto. Os sinais de pontuao fragmentam o texto de forma visual,organizando-os em unidades que facilitam nosso trabalho de leitura, noporque representem paradas respiratrias (o que pode ser apenas umacoincidncia),masporqueconcorremparaaexpressodeumraciocnioaserexpresso.Voc costuma observar o uso dos pontos inais e das vrgulas? A

  • organizao visual da pgina feita por esses sinais (vrgulas, pontos,travesso, ponto-e-vrgula) se estabelece de acordo com as conexescognitivasoudiscursivasdoautor.Organize-sedentrodessaordemeprocurelevantar,ento,ossigniicadossemnticos que so a parte relevante do trabalho de compreenso detexto. Assim, voc caminha da percepo dos blocos de palavras (nvelsinttico) que constituem o texto at a construo do seu sentido (nvelsemntico).Dessa forma, talvez se torne mais simples discriminar entre as ideiasprincipais e as acessrias. A inteno que todo leitor desenvolva umrepertriode recursospara saber caminhardentrodo texto e fazer essadistino entre os blocos que so mais ou menos relevantes dentro dotexto.Esteaspectopodevirdeencontrocomumanecessidadeimportante:a identiicao das ideias principais. Essa uma das reclamaes maisfrequentesentreosleitores.Embora no tenhamos regras para isso, visto que a lngua escritaapresenta uma ininita possibilidade de textos, voc poder perceber emuma frase longa que os verbos sero, por exemplo, palavras importantespara delimitar os blocos que a constituem. E que as vrgulas servem, emgrande parte, para intercalar expresses acessrias aos sentidosprincipais.Segue abaixo um texto de jornal de veiculao nacional que poderexempliicaressasintercalaeseseparaes,cujovalorsemnticooquenosinteressa:Oque levaumcompositorpopularconsagrado,umaglriadaMPB,aescreverromances?Para responder a essa pergunta, convm lembrarmos algumascaractersticas da personalidade de Chico Buarque de Holanda. Primeiro, aforte presena de um pai que, alm de ser um historiador notvel, era umino crtico literrio. Depois, o fato de Chico ter se dado conta de que suagenial produo musical no bastava para dizer tudo que ele tinha a nosdizer.NosepodedizerqueoqueoChiconosdiznosromancesnotemnadaavercom o que ele passa aos seus ouvintes atravs das suas canes. No recm-lanado Budapeste, por exemplo, eu, pessoalmente, vejo um clima de bem-humoradaresignaodopersonagemcomsuaslimitaes,umclimaquemeparecequeencontrei,emalgunsmomentos,nasuaobramusical.Umacoisa,

  • porm, so as imagens sugestivas das canes; outra a complexaconstruodeumromance./.../Aico,svezes,possibilitaumapercepomais aguda das questes em que estamos todos tropeando. No caso desteromance mais recente de Chico Buarque, temos um rico material pararepensarmos, sorrindo, o problema da nossa identidade: quem somos ns,afinal?

    (LeandroKonder,JornaldoBrasil,18/10/2003).

    Observe que os sublinhados marcam blocos separados por vrgulas querepresentam gramaticalmente funes bastante diferentes. Mesmo nosendo os responsveis pelas ideias principais, visto que a maioria delestem signiicados que so acessrios, eles surgem com clareza nomeio dotextoe,assim,facilitamotrabalhodoleitor.Desenvolva sempre essa observao da demarcao dos blocos depalavras, que seguem a ordem estipulada palas ideias do autor. A partirdessa ordenao, voc encontrar a construo dos signiicados. Apercepo desse material lingustico e dos mecanismos de agrupamentodas palavras nessas unidades sintticas o fator que conduz o leitor interpretaosemntica.Prudentemente,nosedistanciedaspalavras.Nesse processo de leitura interviro a memria, a inferncia e outrasfunes superiores do psiquismo. Como j lhe disse, a leitura requer densesforoequeimadeglicose.Mas,valeapena.Entrenessegame.

    16.Coesoecoerncia

    Neste captulo, voc ter um pouco mais de informao a respeito domaterial lingusticodeque formadoo texto.nelequese inscrevemaspistas de que o autor se utiliza para estabelecer comunicao com seuspossveisleitores,buscandoparaissoclarezaeobjetividadenasuaexpresso.Taispistassoelementosquelheconferemsentidodeorganizao.H muitos fatores que participam dessa organizao textual e que lhegarantemumacertaordem,texturaoutextualidade.Entreoutros,citamos

  • acoesoeacoerncia.Voc,emgeraledeformanoconsciente,enquantorealiza a sua compreenso, identiica tais fatores. Voc simplesmente vaiperceberqueotexto(ouno)coerentee/oucoeso.Hmarcas lingusticas que so colocadas intencionalmenteparaproduzirtais efeitos, cuja identiicao poder ser efetuada pela observao doleitorquandoelepassardaleituraquechamamossimplesparaaquelaqueidentificaonvellingusticoetextual:aleituraanalticaecrtica.Assim, um texto coeso apresenta frases e pargrafos encadeadoslinguisticamenteemrelaoaosentidoquedesenvolvem.Acoesoocorreno nvel linear de expresso de um texto, em um nvel lingustico egramatical, com a funo de estabelecer a relao entre as partes que ocompem.H uma srie de recursos que tm essa funo, entre as frases epargrafos, tais como os pronomes, palavras denotativas e palavrassinnimas dentro de um texto. Asmaneiras de se expressar vo criandoessesmecanismosderelaoentreaspartesdeumtexto.Emboraocorramaisnonvel supericial, omecanismode coeso tambmse liga de alguma maneira ao nvel semntico. Selecionamos algunsexemplosdeelementosdecoesonotextoabaixo:Produzido por George Pal e dirigido por ByronHaskin, Guerra dosMundosmostraoqueocorrequandoosmarcianos invademaTerra.Naverdade,osvermelhos do espao servem de metfora para os outros vermelhos que osEUA enfrentavam aquimesmo: os comunistas. Ainal, havia, na poca, umaguerranaCoriaeomacarthismofaziamestragosnocinemadeHollywood.Nessequadro,GuerradosMundosmuitodiscutidoporsuadefesadaguerrabacteriolgica. Anosmais tarde, foi essamesma soluo, transposta para ainformtica, que Roland Emmerich adotou em Independence Day. Olanamentotrazcomoextrasotrailerdecinema. (OEstadodeSoPaulo,l/03/2002)."Os vermelhos do espao" uma expresso que retoma (elemento decoeso) o bloco "os marcianos". Outras expresses so retomadas damesmamaneira.Assim,"nessequadro"e"essamesmasoluo"tambmsereferem a expresses anteriores. "Na verdade" e "ainal" encaminham opensamentodoautor,ratificandosuasafirmaes.Taismarcasoupistasindicamaoleitorocaminhodopensamentodoautoremrelaoasuasintenes.Sevocestiveratentoperceberessessinaise sentir estar em dilogo com ele. Outros termos das oraes comopronomes,advrbios,preposieseconjunespodemassumirestepapel

  • deelementoscoesivos.A coerncia, por sua vez, trata da forma como a argumentao foiconstruda. no nvel dos sentidos, no nvel mais profundo, que taisaspectosdecoerncia semanifestam.Simplesmente reconhecemosseumtextocoerenteouno.Porexemplo: a airmaoqueummeninodenoveanos salvoua irmdequinze, ao lev-la ao hospital depois de sofrer graves queimaduras nacozinha, no convence. Como isso ocorreu?De que forma a criana pdelevar a irm? incoerente e contraditria esta informao. E ele no coerente ou incoerente em si, mas sempre em relao a um leitor numadeterminada situao. Se a linguagemo lugardeuma interao, paradeterminados interlocutoresqueo textodever fazer sentido.Voc, comointerlocutor,teraexperinciadesentirotextocoerenteouincoerente.Essa experincia se d pelo sentido apreendido no conjunto do texto, emnvelno linear,no lingustico.onveldos conceitos cognitivosemqueh uma recorrncia de ideias que o constri. Elas vo analogicamenteconigurando as linhas de coerncia do texto, de acordo com o que sepretendedizer.So as repeties relacionadas aos ncleos de ideias ou temas queasseguramacoernciasemnticaao texto.umadascondiesparasuacoerncia. Um argumento fora do padro que nele se desenvolve serincoerente.Porsuanaturezaincoerente,elesaltaraosolhosdoleitor.Abaixo segue o texto de uma questo de prova de concurso pblico, emquepodemosobservaraquestodacoerncia:Controladoria-Geral da Unio - ESAF. 03/2004 Analista de Finanas eControle9. Em relao ao texto, assinale a opo incorreta.Os gregos no possuamtextos sagrados nem castas sacerdotais. Graas literatura de Homero,produzida oito sculos antes de Cristo, os gregos se apropriaram de umaferramenta epistemolgica que, ainda hoje, nos d a impresso de que elesinturamtodososconhecimentosqueacinciamodernaviriaadescobrir.Oque seria de nossa cultura sem amatemtica de Pitgoras, a geometria deEuclides,ailosoiadeScrates,PlatoeAristteles?OqueseriadateoriadeFreudsemoteatrodeSfocles,Eurpidesesquilo?Oshebreus imprimiramaotempo,graasaospersas,umcarterhistricoeumanaturezadivina.Eproduziramumaliteraturamonumental-aBblia-,que inspira trs grandes religies: o judasmo, o cristianismo e o islamismo.

  • Tira-seolivrodessastradiesreligiosaseelasperdemtodaaidentidadeeopropsito.(FreiBetto)Oprimeiro pargrafo nos fala da literatura como fundamental na culturagrega e da contribuio dos conhecimentos gregos para a pocacontempornea. O segundo cita os hebreus e a Bblia como textoimportante para a identidade de trs tradies religiosas. O que liga taispargrafos?Qualaideiaqueosliga,proporcionandoaoconjuntodotextocoerncia? Ser a referncia literria se interpretarmos, ento, a Bbliacomo texto literrio? Talvez a ligao entre eles estivesse mais clara setivssemos mais pargrafos que pudessem nos dar outras referncias arespeito do assunto. Porm, da maneira como foi apresentado nestaquesto,otextotempoucaconsistnciatextual.Apresentadvidasquantoasuacoerncia.Percebemosqueacoesoeacoernciasofatoresdeordenaocapazesde nos indicar se o autor pde tornar seu texto adequado e eiciente emrelaoaseusobjetivos.Umtextonecessitadacooperaodessesdiversosnveisderesoluoparaque ele no parea uma colcha de retalhos, mas sim um sistemaorganizado,instrumentodeintermediaosocial.Voc e eu saberemos compor melhor nossa funo como leitores setivermos a percepo dessa construo de nveis, de signiicados e derelevosqueconfiguramarededepalavrasnotexto.

  • ParteIII

    FlordoLcio,Sambdromo,

    Lusamricalatimemp,OquequerOquepodeestalngua?

    CaetanoVeloso

    17.Exemplodeleitura

    Nesteexercciode leitura,comdois textosabaixo transcritos, indicaremosalgunsdospassosnecessriosparaumaleituraeficiente.Preparado?O primeiro desses passos identiicar que se trata de dois editoriais derevista, o que antecipa dados importantes para a compreenso. A partirda,podemoscomporhiptesesdeleitura.Ouseja,vocesperaencontraradescriodasmatriasdonmeroda revistaemquestoe, talvez, algumdadodalinhaeditorialoudafilosofiadarevista.E, ainda sepreparandoparaodilogocomo texto,quea chavemestrada leitura, a pergunta que segue : de que revistas? Uma revistainformativa semanaldegrandeveiculaoeoutrade cunho comercialdeartigos de papelaria em geral. So, com certeza, diferentes embora demesmognerotextual.Mas, de que natureza sero as diferenas? Como elas compem o seucorpodepalavras?Comoaresoluodosobjetivosparaosquais foramcompostas?Sermaissimplesresponderaestasperguntasdepoisdaleituradasduasedeumacomparaoentreelas.Vamos?Oprimeirotextodarevistadeveiculaosemanal:

    CartaaoLeitorAoencerrar-seadcadade70,VEJAapresenta,nestaedioespecialde200pginas,umgrandemuraldoque foramosltimosdezanos -noBrasil,no

  • cenrio internacional, na economia, nas artes, na cincia e tecnologia, nocomportamento social. Sob a coordenao da editoraDorrit Harazim, umaequipede jornalistasdeVEJA, especialmentedestacadaparaa tarefa, estevedurante trsmeses envolvida na pesquisa, redao da edio deste balano,num trabalho exaustivo mas de resultado compensador. E assim comoencerramos o ano de 1969 com a edio especial sobre a dcada de 60,fechamos 1979 com este "Os Anos 70"- sendo que, no espao entre as duasedies,VEJAcompletousuaimplantaodeinitivanaimprensabrasileira.Ademonstrao mais simples e eloquente disso a tiragem de 370000exemplaresquearevistaatingenapresenteedio.Em"OsAnos70"VEJAnopretendeufazerhistrianemescreverumtratadode sociologia ou cincia poltica, mesmo porque este no o trabalho dejornalistas; tambm no houve a pretenso de apresentar tudo o queaconteceuentrejaneirode1970edezembrode1979.Oobjetivofoi levarao leitorumarelexosobreoque os anos 70 signiicaram - que mudanas trouxeram em relao aopassado, que perspectivas abriram em relao ao futuro, que ensinamentospodem ter deixado. Nesta dimenso, mais importante que relacionarepisdiosmostraroquequeremdizersuasomaesuacombinao.Todas as dcadas, ao terminarem, deixamummundodiferente daquele queexistia em seu incio - e as pginas seguintesmostram, por exemplo, que oBrasilde1979,daaberturapolticaedanegociao,poucotemavercomoBrasilditatorialde1970,assimcomoomundodopetrleobaratodocomeoda dcada pouco tem a ver com o mundo de hoje, onde o cartel dosprodutores controla no apenas os suprimentos mundiais mas tambm oprprio luxo de capital atravs do planeta. O im da dcada faz tambmpensarsobreofuturoesobrequetipodevidaestaremosvivendonosanos80.Noocasodesedesesperar,mastambmparecenohavermuitasrazesparaotimismo-osanospelafrenteprometemserdiceiseamargos,eseronecessriasmuitaforaeserenidadeparafazeratravessiaat1989.

    J.R.G.(RevistaVEJA.Dezembrode1979,p.9)Percebemos no primeiro perodo, do primeiro pargrafo que "Vejaapresenta /... / um grande mural do que foram os ltimos dez anos". E mintercalaesno inciodoperodoenomeiodele, separadasporvrgulas,apresentam-se uma circunstncia temporal ("Ao encerrar-se a dcada de70"),aidentiicaodaedio("nestaedioespecialde200pginas")eporum travesso, uma enumerao dos aspectos descritos nesse mural e a

  • localizao geogrica ("no Brasil, no cenrio internacional, na economia,nasartes,nacinciaetecnologia,nocomportamentosocial").Nosegundoperodo,segue-seaideiacentral:"umaequipedejornalistasdeVEJA/.../esteve/.../envolvidanapesquisa,redaodaediodestebalano"e,emintercalaes,a indicaodosresponsveispelapesquisaeredao("Sob a coordenao da editora Dorrit Harazim", "especialmente destacadaparaa tarefa"), o tempo ("durante trsmeses"), e a natureza do trabalho("numtrabalhoexaustivomasderesultadocompensador").Nasduasltimas frases, o texto fazumacomparaoentre as ediesdeinaldasdcadasde60e70,oquejustiicaaedioatual("Eassimcomoencerramos o ano de 1969 com a edio especial sobre a dcada de 60,fechamos 1979 com este "Os Anos 70""). Ele tambm nos d a notcia daimplantao da revista na imprensa brasileira com o nmero deexemplares ("sendo que, no espao entre as duas edies, VEJA completousua implantao deinitiva na imprensa brasileira.", "a tiragem de 370.000exemplares").No segundo pargrafo, temos a negao do que no sepretendecomessaedio:"VEJAnopretendeufazerhistrianemescreverum tratado de sociologia ou cincia poltica", "tambm no houve apretenso de apresentar tudo o que aconteceu entre janeiro de 1970 edezembrode1979". prudente comear comodescartedehiptesesquepoderiam ser levantadas por expectativas de leitura, de acordo com apropostadapublicao:"AoAnos70".Talatitudedoautordemonstraumaestratgia cautelar interessante. E tambm antecipa para o leitor aairmao dos objetivos que devero ser apontados a seguir. O leitoresperapeloquevemdepoisdisso:arelexoarespeitodosigniicadodosacontecimentosdadcada("Oobjetivofoilevaraoleitorumarelexosobreoqueosanos70significaram.").Noltimo,noprimeiroperodo,otextosugerea importnciadadimensotemporaldadcadaque, por suavez, d embasamentopara as relexes("Todasasdcadas,aoterminarem,deixamummundodiferentedaquelequeexistiaemseuincio").Observaroinciodeumadcada,ade70,fazpensaraanteriorenquantooseuinalabreespaoparasuposiesemrelaoaofuturo,ade80:"Oimdadcadafaztambmpensarsobreofuturoesobrequetipodevidaestaremosvivendonosanos80.".Nosdoisltimosperodos,o texto sugereprofeticamenteas surpresasdaprxima dcada e a postura que se deve tomar em relao a elas. Areferncia comparativa entre o incio da dcada de 70 e o seu inal, comcerteza,justificaarelevnciadapublicao.Vamosaosegundotexto,oeditorialdarevistacomercial:

  • Editorial"Cadaqucomseusaraqu"

    Todos ns, ocidentais, j viramos o pescoo para apreciar uma tatuagembem-feita, principalmente se ela ornar as costas ou a barriga de uma belajovem. J nem ligamosmais para cabelos tingidos de rosa, violeta ou verde-ctrico oupara o "festival de silicone", que invadiu os sales e passarelas dosamba, em todo o Brasil, durante o ltimo carnaval. Agora, daria paraimaginar nosso prprio espanto se um dia cruzssemos nas ruas com uma"mulhergirafa"ouquemsabeumachinesaadulta,cujosapatonoalcanaonmero 32? Para os orientais ou mesmo moradores de alguns pasesafricanos, esse tipo de adorno ou costume confere um determinado padrode beleza. Muitas vezes, e em muitos lugares, os rituais tinham um cunhoreligioso e acabaram com o tempo incorporados ao dia-a-dia desta oudaquela sociedade. deste tema que tratamos na matria "Vai de gosto!"destaediodemaro,dedicadamulher.Entrevistamostambmasambistadona IvoneLara,que "antes tardedoquenunca"despontouparao cenriomusical-equandoofeznoperdeuamajestade;emulheresque,apsos50anos, descobriram o glamour das passarelas damoda. Falamos tambm denegcios,comoavisitadopresidentemundialdaOkislojasdaKalunga,das10 milhes de impressoras fabricadas pela HP e do patrocnio da FrmulaTruck,modalidadedecorridaquerenecaminhesdetodasasmarcas.Comestreianestedia11demaro,o circuito tempelaprimeiravezopatrocniodaKalunga,emparceriacomaSamsung.Boaleituraatodos!

    RevistaKalungademaro-2007(n194)Sabemos tratar-sederevistacomercialdedistribuiogratuitae,apartirdessa informao, podemos nos perguntar de que tipo ser a elaboraodotextoedafunodognerotextual.Sersemelhanteaodarevistaqueteminteressescomerciais?Serdiferente?O ttulo ("Cada