“Você sempre vai se lembrar do lugar que se criou, das suas raízes”

2
“Você sempre vai se lembrar do lugar que se criou, das suas raízes” Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 9 • nº1913 Março/2015 Várzea Nova A vida de seu Biu nunca foi fácil. Natural do Estado de Pernambuco, veio para o município de Várzea Nova, na Bahia, ainda pequeno com seu avô (que o criou como pai), por volta dos 2 anos. E na comunidade Salinas morou até os 20 anos. Após se casar com dona Mariazinha Pereira de Souza, Severino Henrique de Souza (nome de batismo), diante da falta de opção para ganhar a vida na região, resolve se mudar para o sudeste, mas precisamente para o Paraná, onde viveu por 35 anos. Recorda atentamente seu Biu: “Com tantas dificuldades, naquela época não tinha forma de viver aqui, então tive que ir embora. Lá no Paraná tive meus 3 filhos e uma neta, todos já criados e com famílias. E ganhei a vida trabalhando como trabalhador avulso, de certa forma trabalhava ligado à agricultura, recebendo os produtos e passando para o governo, era milho, feijão, soja, essas coisas assim. Aí quando me aposentei, a vontade pediu para voltar pra as raízes, porque a gente nunca esquece o lugar que se criou. Logo minha esposa é natural daqui e sua mãe precisava dos seus cuidados, aí voltamos há uns 4 anos”.

Transcript of “Você sempre vai se lembrar do lugar que se criou, das suas raízes”

“Você sempre vai se lembrar do lugar que se criou, das suas raízes”

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 9 • nº1913 Março/2015

Várzea Nova

A vida de seu Biu nunca foi fácil. Natural do Estado de Pernambuco, veio para o município de Várzea Nova, na Bahia, ainda pequeno com seu avô (que o criou como pai), por volta dos 2 anos. E na comunidade Salinas morou até os 20 anos. Após se casar com dona Mariazinha Pereira de Souza, Severino Henrique de Souza (nome de batismo), diante da falta de opção para ganhar a vida na região, resolve se mudar para o sudeste, mas precisamente para o Paraná, onde viveu por 35 anos.

Recorda atentamente seu Biu: “Com tantas dificuldades, naquela época não tinha forma de viver aqui, então tive que ir embora. Lá no Paraná tive meus 3 filhos e uma neta, todos já criados e com famílias. E ganhei a vida trabalhando como trabalhador avulso, de certa forma trabalhava ligado à agricultura, recebendo os produtos e passando para o governo, era milho, feijão, soja, essas coisas assim. Aí quando me aposentei, a vontade pediu para voltar pra as raízes, porque a gente nunca esquece o lugar que se criou. Logo minha esposa é natural daqui e sua mãe precisava dos seus cuidados, aí voltamos há uns 4 anos”.

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

Com um pedaço de terra herdado de seu pai, Seu Biu voltou a trabalhar na lida da roça e assim foi aumentando sua propriedade e transformando em um lugar diverso e bonito para se viver. “Naquela época, o incentivo do governo era de desmatar, queimar, de destruir tudo, foi o que meu pai fez. Hoje, as coisas estão mudando, com esses projetos de cisternas, os cursos, esses meninos que visita aqui e nos orienta. Eu mesmo fico triste quando perco algum curso, porque sei que vou deixar de aprender muita coisa.” Para seu Biu, que conquistou uma cisterna-calçadão, incentivos e possibilidades agora não faltam para ter uma vida boa no campo, “basta ter coragem e força de vontade”. É com um imenso orgulho que seu Biu mostra o que já consegue produzir e criar na sua propriedade, dizendo ser o início de tudo ainda. “A gente já tem muito em uma terra onde nada era produzido há 4 anos, mas falta muita coisa que quero ter aqui, porque o prazer maior é tá aqui nessa tranquilidade que a gente nunca ia ter lá no Paraná. Aqui tem bananeira, tem um pomar de maracujá, tem o aipim, a melancia, abobóra, o feijão de corda, tem a plantação de palma para as cabras que crio, ainda as galinhas para abate e tem também o criatório de peixe. E outras coisinhas que no próximo ano já vou ter, como o mamão, o limão”. Aqui é tudo para nós comer, o que sobra damos aos vizinhos, parentes, quem chegar por aqui”.

Realização Apoio

“Ainda bem que tenho um braço direito pra dá contar de tanta coisa, que é minha esposa, me ajuda a cuidar de tudo, limpar, plantar, colher”. Dona Mariazinha diz gostar demais dessa vida na roça. “É bom a gente comer do que plantamos, aí faço de tudo um pouco aqui, e ainda tomo contar da minha mãe. É uma luta, mas até que é boa, a gente movimenta o corpo, evita adoecer”. “É mesmo uma benção morar nessa tranquilidade”, diz seu Biu, enquanto conta o tanto de cultivos que pretende ter, entre eles, as hortaliças estão em primeiro lugar. “Já comecei a fazer os canteiros, vamos ter nossa salada daqui do quintal”, expressa com alegria seu Biu.