Voe23 decoracao

3
DECORAÇÃO maio de 2010 00 maio de 2010 Com características que valorizam a tradição e o respeito ao meio ambiente, a madeira de demolição ganha cada vez mais destaque Texto MARCELLE SOUZA Durabilidade e conforto 00 esultado da demolição de casas e do reaproveitamento de móveis antigos de boa qualidade, a madeira de demolição virou sinônimo de aconchego e tem se tornado objeto de desejo de arquitetos, designers, decoradores e, claro, de seus clientes. Além da sofis- ticação, o material tem apelo ecológico e reflete preocupação com a susten- tabilidade. Com características singulares e com marcas que refletem sua his- tória ao longo dos tempos, esse tipo de madeira hoje pode ser encontrada com diversas possibilidades de acabamento e usada tanto como revestimen- to de pisos e paredes quanto na fabricação de mobiliários e objetos. Geralmente retirada de janelas, assoalhos, portas e da estrutura geral de uma casa, como de paredes e telhados, essa madeira tem a vantagem de ter passado pela estufa natural dos anos, que reduzem as chances de as tábuas se retraírem. A desvantagem, porém, é que, como a peça precisa ser restaura- da e trabalhada, seu valor costuma ser mais alto. Cedro, ipê, jacarandá, peroba-do-campo, peroba-rosa, canela-preta e pinho-de-riga estão entre os tipos de madeira de demolição mais encontra- dos. Seu aspecto rústico e envelhecido é outra característica que agrada os profissionais. “É legal pensar que a madeira de uma fazenda, rústica e tradicio- nal, pode estar anos depois em um projeto de releitura mais moderna”, afirma o arquiteto Luciano Dalla Marta, que costuma utilizar, sempre que possível, a madeira de demolição em seus projetos. R Acima, deque do apartamento assinado por Luciano Dalla Marta. Abaixo, mesa de madeira de demolição da loja Raízes Design. Na página ao lado, casa projetada por David Guerra em Minas Gerais

Transcript of Voe23 decoracao

Page 1: Voe23 decoracao

DECORAÇÃO

maio de 2010 00maio de 2010

Com características que valorizam a tradição

e o respeito ao meio ambiente, a madeira de

demolição ganha cada vez mais destaque

Texto MARCELLE SOUZA

Durabilidade e conforto

00

esultado da demolição de casas

e do reaproveitamento de móveis antigos de boa qualidade, a madeira de

de molição virou sinônimo de aconchego e tem se tornado objeto de desejo

de arquitetos, designers, decoradores e, claro, de seus clientes. Além da sofis-

ticação, o material tem apelo ecológico e reflete preocupação com a susten-

tabilidade.Com características singulares e com marcas que refletem sua his-

tória ao longo dos tempos, esse tipo de ma deira hoje pode ser encontrada

com diversas possibilidades de acabamento e usada tanto como revestimen-

to de pisos e paredes quanto na fabricação de mobiliários e objetos.

Geralmente retirada de janelas, assoalhos, portas e da estrutura geral de

uma casa, como de paredes e telhados, essa madeira tem a vantagem de ter

passado pela estufa natural dos anos, que reduzem as chances de as tábuas

se retraírem. A desvantagem, porém, é que, como a peça precisa ser restaura-

da e trabalhada, seu valor costuma ser mais alto.

Cedro, ipê, jacarandá, peroba-do-cam po, peroba-rosa, canela-preta e

pinho-de-riga estão entre os tipos de madeira de demolição mais encontra-

dos. Seu aspecto rústico e envelhecido é outra característica que agrada os

profissionais. “É legal pensar que a madeira de uma fazenda, rústica e tradicio-

nal, pode estar anos depois em um projeto de releitura mais moderna”, afirma

o arquiteto Luciano Dalla Marta, que costuma utilizar, sempre que possível, a

madeira de demolição em seus projetos.

R

Acima, deque do apartamento assinado por Luciano Dalla Marta.

Abaixo, mesa de madeira de demolição da loja Raízes Design. Na

página ao lado, casa projetada por David Guerra em Minas Gerais

Page 2: Voe23 decoracao

Ecologia e responsabilidade

Há 16 anos no mercado, a empresária Luciene de Oliveira Gomes Calvo,

dona da madeireira Tradição Mineira, em Belo Horizonte, viu na madeira de de -

mo lição uma oportunidade de crescimento. “Quando começamos, poucas pes-

soas conheciam esse tipo de madeira, e a demanda vinha de um apelo pela tra-

dição do mobiliário mineiro”, conta a proprietária da madeireira, que hoje ex -

porta para diversos estados do país.

Lá, as peças são retiradas de casas antigas, separadas de acordo com o

tamanho e a espessura, lavadas e, em seguida, submetidas a um tratamento

para imunização contra cupins. Como parte do processo de tratamento dessa

madeira, ferragens e pregos também precisam ser removidos.

Cynthia Marzola, dona da loja Raízes Design, em São Paulo, destaca que

uma das principais qualidades dessa madeira são as várias opções de texturas

e cores, que agradam aos clientes. Elas podem ir das lisas, conhecidas como

maquinadas, até as rústicas, e das claras às mais escuras.

Entre as mais disputadas no mercado estão a peroba-rosa e a peroba-do-

campo, que têm beleza e durabilidade reconhecidas. “Acho que é mais uma

questão estética, porque a maioria das peças de demolição é muito nobre”,

explica Luciene. Para a empresária, o crescimento de clientes interessados

nesse tipo de material está relacionado à busca de produtos diferenciados, à

facilidade de manutenção e à preocupação ecológica.

Decoração de interiores

Ideal para aquecer e trazer conforto aos ambientes, a madeira de demo-

lição deixou de ser vedete de fazendas e casas de campo para conquistar lugar

em espaços urbanos. Sendo assim, objetos de metal, vidro e de cores claras têm

sido combinados nos ambientes para quebrar a natureza rústica do material e

deixar os projetos mais modernos.

Projetado pelo arquiteto Luciano Dalla Marta, o apartamento de um

casal, no bairro dos Jardins, em São Paulo, recebeu madeira de demolição em

vários espaços. Na sala de jantar e na cozinha, o material foi equilibrado com o

uso de tecidos finos e espelhos. A sala de estar ganhou objetos étnicos e piso

de cimento queimado. A varanda recebeu um deque de demolição, ideal para

relaxar e receber amigos.

Para Luciano Dalla Marta, a utilização de peças de demolição indica uma

tendência em buscar, cada vez mais, que as casas sejam sinônimo de conforto.

Segundo o arquiteto, em grandes centros urbanos as famílias desejam espaços

para descansar e não mais “cenários para serem exibidos”.

00maio de 2010

DECORAÇÃO

Abaixo, sala de jantar projetada por Luciano Dalla Marta

(acima). Na página ao lado (embaixo), varanda e loja de

roupas idelizados pelo arquiteto, e móveis da Raízes Design

Versátil, a madeira de demolição pode ser equilibrada com cores claras e objetos de metal e vidro

Page 3: Voe23 decoracao

DECORAÇÃO

Em Belo Horizonte, o arquiteto David Guerra é um dos expoentes do uso

de madeira de demolição na decoração de interiores. Responsável por projetos

que exploram as várias possibilidades desse material, Guerra utiliza-o tanto no

revestimento de forros, pisos e painéis, como em móveis que exploram as for-

mas singulares de cada peça. “É um produto nobre, bonito, resistente, que res-

salta o toque e ainda traz características como desgaste de tempo, marcas de

pregos e parafusos, pintura antiga, entre outras”, define a arquiteta Gisella

Lobato, que assina vários projetos ao lado de Guerra.

Em ambientes de uma casa de campo, por exemplo, ele esbanja conforto

em inserções de madeira de demolição em espaços que ficaram ainda mais

acolhedores, como o home office, a sala de estar, de jantar e as áreas externas.

Design sustentável

Influenciado pelo pai, que transmitiu ao filho seu gosto pela madeira,

o designer Rodrigo Calixto montou em 2003 a Oficina Ethos, no Rio de Ja -

neiro. Desde então, o espaço se tornou seu ateliê e também oferece um pe -

queno showroom aberto para clientes. Formado em design de produtos, Ca -

lixto trabalha com madeiras certificadas e de demolição, abusando das to -

nalidades naturais do material. “Vivemos em um país tropical; aqui te mos

madeira roxa, avermelhada e preta, por exemplo. Acho que precisamos res-

peitar essas diferenças e harmonizá-las”, afirma. Para Calixto, mais im -

portante do que o design das peças é a importância do envolvimento na

montagem de cada uma delas. “Acho que é um trabalho de estudo, de

obser vação da madeira”, ex pli ca.

Já na loja Raízes Design, de São Paulo, os objetos decorativos feitos com

madeira de demolição aliam um estilo contemporâneo e exclusivo. Em busca

de peças que valorizam o respeito ao meio ambiente, a empresária Cynthia

Marzola também comercializa peças feitas com madeira de reflorestamento

(produzida e extraída de forma sustentável). Para ela, os profissionais que relu-

tarem em usar materiais ecologicamente corretos em seus projetos poderão

ficar “fora do mercado nos próximos anos”. Exagero ou não, o uso cada vez

maior da madeira de demolição indica o esforço de designers, arquitetos e cli -

entes para aliar bom gosto e respeito ao meio ambiente.

maio de 2010 00

Acima, o arquiteto David Guerra: madeira de demolição em

projeto de casa de campo (na página ao lado). Abaixo, o

designer Rodrigo Calixto e seu painel de madeira (à esquerda)

Serviço:Ofina Ethos: www.oficinaethos.com.br • Raízes Design: www.raizesdesign.com.br • Tradição Mineira: www.tradimineira.com.br

• Luciano Dalla Marta: 11 3063-5720 • David Guerra: 31 3296-9810

A madeira de demolição é cada vez mais usada em projetos de interiores e objetos