Volta ilhafloripadupla2010 runstreaming e remix de relatos

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Brayner Ireno - @braynerUltra [email protected] - @BraynerUltra Luciano Sauer - #ultraSauer [email protected] - @lucianosSauer Florianópolis, 24 de Abril de 2010 15ª Volta Ilha de Floripa Florianópolis, 24 de Abril de 2010 RunStreaming e remix de relatos da Dupla MevilelaInsanos Escrito de forma colaborativa por @Braynerultra (Brayner Ireno) e ultraSauer (@LucianoSauer ) Treinos, preparação, runStreaming e pré prova Volta Ilha de Floripa, uma das provas mais belas e duras do Brasil? Sim, a Volta à Ilha de Florianópolis reúne tudo o que um corredor movido a desafios “insanos” procura, pois além de bela a ilha nos oferece a oportunidade de testar nossa resistência física, mental e a vontade de vencer. Dura? Sim. Com muito barro, areia fofa, subidas insanas, descidas mais ainda, terrenos pedregosos, dunas, maré alta, chuva e também o frio. Brayner relata que a prova de 2010 vai ficar marcada em sua memória, pois teve o prazer e o privilégio de participar na categoria duplas com o amigo Luciano Sauer (Mevilela Insanos e a seguir citado como ultraSauer), diz ainda: “Luciano é um Ultra Maratonista movido a desafios que está constantemente superando seus próprios limites. Luciano relata que o objetivo de superar os 150km ao lado de Brayner Ireno (a seguir @BraynerUltra) expandiu as fronteiras da amizade dos dois e diz: “Hoje somos praticamente irmãos! O que fizemos neste final de semana chuvoso ficará marcado em nossas pernas e em nossas mentes pelo resto de nossas vidas.O desafio de superar 150 km correndo em dupla necessitou mais do que dedicação, foram necessários aproximadamente quatro meses de treinamento específicos para chegarem bem condicionados à largada do desafio. ultraSauer diz: “Em dezembro comecei os treinos específicos para a prova, estava com sobrepeso, e isto prejudicou muito o recomeço dos treinamento fortes, pois com 93kg minhas passadas estavam comprometidas”. ultraSauer entrou em uma dieta que incluiu diversas restrições (excluiu bebidas alcóolicas, doces, frituras e qualquer tipo de fast-food) à sua alimentação e conseguiu largar para o desafio com 85kg. Se por um lado, ultraSauer estava com sobrepeso, por outro @BraynerUltra necessitou submeter-se à uma cirurgia em Dezembro/2009, @Braynerultra diz: “Durante a preparação tive de submeter-me a uma cirurgia que me deixou afastado dos treinos durante mais de um mês. Confesso que cheguei a pensar em desistir, mas algo mais forte do que eu, não permitiu que eu tomasse esta decisão. Fui em frente...”. Os treinamentos foram coordenados pelo treinador Emerson Vilela (Assessoria esportiva Mevilela). ultraSauer e @BraynerUltra são unanimês em dizer que o treinador é daqueles que gosta de cobrar e de ver a cada semana a evolução dos seus alunos, e com esta dupla ele pôde ver a evolução aparecendo dia após dia. A coordenação da parte nutricional ficou sob responsabilidade de Gabriela Motta, que é especialista em nutrição esportiva e de esportes de endurance, que com muita competência planejou a dieta alimentar semanal, pré-prova, prova e do pós-prova. 15º Volta Ilha Floripa - Dupla MevilelaInsanos

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Brayner Ireno - @braynerUltra

[email protected] - @BraynerUltra

Luciano Sauer - #ultraSauer

[email protected] - @lucianosSauer

Florianópolis, 24 de Abril de 2010

15ª Volta Ilha de Floripa – Florianópolis, 24 de Abril de 2010

RunStreaming e remix de relatos da Dupla MevilelaInsanos Escrito de forma colaborativa por @Braynerultra (Brayner Ireno) e ultraSauer (@LucianoSauer)

Treinos, preparação, runStreaming e pré prova Volta Ilha de Floripa, uma das provas mais belas e duras do Brasil? Sim, a Volta à Ilha de Florianópolis reúne tudo o que um corredor movido a desafios “insanos” procura, pois além de bela a ilha nos oferece a oportunidade de testar nossa resistência física, mental e a vontade de vencer. Dura? Sim. Com muito barro, areia fofa, subidas insanas, descidas mais ainda, terrenos pedregosos, dunas, maré alta, chuva e também o frio. Brayner relata que a prova de 2010 vai ficar marcada em sua memória, pois teve o prazer e o privilégio de participar na categoria duplas com o amigo Luciano Sauer (Mevilela Insanos e a seguir citado como ultraSauer), diz ainda: “Luciano é um Ultra Maratonista movido a desafios que está constantemente superando seus próprios limites”. Luciano relata que o objetivo de superar os 150km ao lado de Brayner Ireno (a seguir @BraynerUltra) expandiu as fronteiras da amizade dos dois e diz: “Hoje somos praticamente irmãos! O que fizemos neste final de semana chuvoso ficará marcado em nossas pernas e em nossas mentes pelo resto de nossas vidas.” O desafio de superar 150 km correndo em dupla necessitou mais do que dedicação, foram necessários aproximadamente quatro meses de treinamento específicos para chegarem bem condicionados à largada do desafio. ultraSauer diz: “Em dezembro comecei os treinos específicos para a prova, estava com sobrepeso, e isto prejudicou muito o recomeço dos treinamento fortes, pois com 93kg minhas passadas estavam comprometidas”. ultraSauer entrou em uma dieta que incluiu diversas restrições (excluiu bebidas alcóolicas, doces, frituras e qualquer tipo de fast-food) à sua alimentação e conseguiu largar para o desafio com 85kg. Se por um lado, ultraSauer estava com sobrepeso, por outro @BraynerUltra necessitou submeter-se à uma cirurgia em Dezembro/2009, @Braynerultra diz: “Durante a preparação tive de submeter-me a uma cirurgia que me deixou afastado dos treinos durante mais de um mês. Confesso que cheguei a pensar em desistir, mas algo mais forte do que eu, não permitiu que eu tomasse esta decisão. Fui em frente...”. Os treinamentos foram coordenados pelo treinador Emerson Vilela (Assessoria esportiva Mevilela). ultraSauer e @BraynerUltra são unanimês em dizer que o treinador é daqueles que gosta de cobrar e de ver a cada semana a evolução dos seus alunos, e com esta dupla ele pôde ver a evolução aparecendo dia após dia. A coordenação da parte nutricional ficou sob responsabilidade de Gabriela Motta, que é especialista em nutrição esportiva e de esportes de endurance, que com muita competência planejou a dieta alimentar semanal, pré-prova, prova e do pós-prova.

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Durante os meses de treinamento, relatam que sempre estiveram à prova: “dias com muito sol, outros chuva, um com tempestade, alguns com a presença do frio, treinos com vento contra e a favor também, montanhas, muitas montanhas e trilhas, treinos em meio ao trânsito com poluição e ainda com um ritmo de trabalho acelerado”, diz Brayner. Estes e outros ingredientes foram acompanhando a preparação da dupla, e uma pergunta sempre vinha à mente quando estavam no meio destas condições: “Desistir? Nunca!!!”, reforça Brayner. Para tentar aliviar o volume intenso de treinos e todos os problemas, Luciano começou a compartilhar pelo twitter os seus treinos, a alimentação, a contagem regressiva para a largada e relata: “Já utilizava o twitter a quase uma anos e sempre vi que havia oportunidade de compartilhar nosso treinamento, nossa meta e em troca, talves pudéssemos ter mais pessoas engajadas e nos impulssionando para alcançarmos tal objetivo. E isto aconteceu! Principalmente por conta dos amigos do TwittersRun. E com isto, acabamos por inventar o que se chamou de runStreaming”. O runStreaming, relata Luciano: “tem como objetivo compartilhar os sentimentos dos próprios corredores quando estão em ação. O compartilhamento de informações ocorre através da utilização de celulares e netboks utilizando o twitter para microblog, email para “flickar”, qik para o Video Streaming e tudo isto sendo postado em realtime no facebook”. Parece que a dupla realmente gosta de desafio, como se a empreitada de correr 150km não fosse grande o suficiente, ainda inventaram e realizaram o primeiro runStreaming do Brasil, quiçá mundial.

Manhã da prova Às 3hs20min do dia 24 de Abril de 2010, pelo menos dois despertadores tocaram em Floripa. Os Insanos estavam em pé. Lá fora a chuva continuava, chovia a mais de dois dias. Mais uma vez eles teriam a chuva como companheira. Dizem que ultramaratonistas simpatizam com desafios extremos e às 4hs35min, com frio, chuva e noite fechada, estavam alinhados para a largada. Depois de mais de 120 dias de preparação estavam a 10min da largada, ultraSauer descrevo alguns sentimentos que pairavam no ar: “emoção, vribração e adrenalina à flor da pele, alegria e euforia, amizade e companheirismo, união e harmonia de pensamentos e de ações”. Então às 04:45 da manhã foi dada a largada para a corrida e para a realização de um sonho coletivo: Correr a Ilha da Magia inteira em dupla! Aproximadamente trinta duplas largaram com a esperança e a vontade de completar a corrida dentro do seu um tempo planejado. A Dupla MevilelaInsanos programou concluir a prova em menos de 14hs. Deste ponto em diante, os dois corredores irão relatar os acontecimentos da prova:

Suor, garra, determinação, persistência e dor em quase 16hs de corrida!

Corredor: ultraSauer – Trechos: Largada até PC4 – Total KMs: 19,8km – Correr em: 1h34min Adrenalina a mil. Corpo aquecido. Temperatura fria. Escuridão à beiramar. Este foi o meu cenário na largada dos trinta corredores que iriam percorrer o(s) primeiro(s) trecho(s). Quando o tiro foi dado, rapidamente já estávamos à beiramar e uns 10 corredores partiram muito rápido. Larguei com um ritmo de 4min15seg/km e mesmo assim os ponteiros avançavam muito rápido e começavam a se distânciar. Reduzi o ritmo para 4min30seg/km e mantive, meu corpo estava descansado e respondia bem, embora não tenha conseguido dormir, avancei e era necessária muita atenção, pois estava muito escuro, com o terreno irregular, sem problemas segui em frente. Depois de uns 15km cheguei a um calçadão à beiramar, não lembro a praia, e meu treinador gritou do carro de apoio “Vai pangaré!” e eu fui... depois de umas cinco passadas gritei “VamoQVamo” e parti para completar este primeiro percurso com o tempo de 1h32:18 - 4min39seg/km. Entreguei a pulseira (bastão) para o guerreiro e fui direto para o carro. No carro bebi isotônico e mantivemos o foco de avançar para o PC7. Paramos no PC5 e esperamos o guerreiro passar, fizemos um BigFive (tocar a mão com os cinco dedos) e fomos para o PC7. Corredor: @BraynerUltra – Trechos: PC4 ao PC7 – Total KMs: 17km – Correr em: 1h20min No PC4 ocorreu a nossa primeira transição, bem em frente a uma linda igreja para abençoar o dia de festa que estava apenas começando. Trecho relativamente fácil, onde a maior dificuldade ficou para o final no forte de São José realizado em meio a uma trilha de lama e pedras a beira mar. Neste trecho pude presenciar

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alguns acidentes nas pedras escorregadias e, neste ponto eu me incluo também, pois escorreguei feio e bati o joelho na pedra. Nada grave, apenas alguns arranhões e muita lama na roupa. Objetivo atingido! Trecho concluído em 1h 20min. Feita a transição fui para a recuperação. Seguimos para o PC9 na Praia Brava e tive aproximadamente uma hora e meia para me alimentar e receber massagem. Para a massagem e monitoramento do percurso contamos o apoio da professora Ana Paula (treinadora da Mevilela) e na parte da alimentação minha esposa Nilda nos ajudou durante todo o dia de prova. Corredor: ultraSauer – Trechos: PC7 ao PC10 – Total KMs: 17,2km – Correr em: 1h27min Por volta das 7hs40min recebi o bastão com o objetivo de percorrer 17,2kms por praias e trilhas e por fim havia uma subida insana – Morro para chegar à praia Brava. Notei que o @BraynerUltra estava bem e não apresentava cansaço. Larguei com ritmo programado e segui pela praia de Jurerê e em seguida Canasvieiras, entre uma e outra, pedras para pular e o mar à molhar os tênis, com os tênis encharcados segui em frente e um longo trecho de asfalto, minha hidratação estava perfeita e não estava com fome. O batimento estava acelerado com 180bmp, mas estava bem... Cheguei ao pé da “piramba” e “sentei o sarrafo”, subi em marcha lenta, mas subi correndo! Entreguei a pulseira para o guerreiro e seguimos para o carro. Consegui fechar quase com o tempo previsto em 1h30min. Em 20 minutos estávamos já no PC 13 onde tomei um banho revigorante, me alimentei, recebi massagem e tomei liquidos para repor a hidratação. Minha mente só pensava no próxima perna (22km praticamente em dunas e areia fofa, com subidas fortes), mas foquei na recuperação e deram resultados ótimos! Corredor: @BraynerUltra – Trechos: P10 ao PC13 – Total KMs: 16,6km – Correr em: 1h27min Até, aproximadamente, a metade da prova conseguimos seguir com sucesso dentro do tempo planejado. Porém, a parte mais difícil da prova ainda estava por vir! Meu segundo trecho começou em um “morro bravo”! O temido morro da praia brava impôs sua majestade e quando eu pensava que a subida seria complicada, eis que na descida sou surpreendido por uma antiga lesão que tive no joelho, agravada pela pancada que dei na pedra na trilha do forte de São José. Não estava acreditando que logo nesta prova eu voltaria a sofrer com o joelho novamente! Mas foi o que aconteceu! Continuei firme neste trecho, passando num ritmo forte pela praia dos ingleses chegando próximo ao tempo previsto (1h 33min) no santinho para que meu amigo iniciasse um dos trechos mais complicados da prova que passaria por dunas, muita areia fofa na praia além de estrada com fortes subidas. Corredor: ultraSauer – Trechos: PC13 ao PC16 – Total KMs: 22km – Correr em: 2h01min Depois de 1h40min peguei a pulseira e logo cai em uma subida não muito íngreme, mas extensa. Mais um quilometro e entrei em uma trilha que levava até às dunas de Santinho/Moçambique. As dunas estavam com a areia muito fofa. Ritmo cardiaco acelerado e de velocidade reduzido. Segui por 2 quilometros e logo cheguei à estrada de terra que levaria até Moçambique. Muito longa a estrada com altos e baixos. Corria bem, com pace adequado 5min30seg/km até que cheguei à praia de Moçambique, ao avistar o PC14 vi que a areia estava muito fofa e quase náo consegui correr, disse que iria dobrar e a galera que estava aguardando seus corredores gritaram “UHUHUHUUUU, vai lá!”. Passei o PC14 e em alguns segundos já estava no meio do pior trecho que fiz no desafio, praia de tombo, 4,5km de areia MUITO, MUITO fofa, maré alta e não consegui manter o ritmo. Meu ritmo foi para 10min/km. Parecia uma eternidade vencar cada 10 metros. Mas segui em frente, contudo, acabei tomando muita água o que me prejudicaria para completar os últimos 8km até a Joaquina. Terminei a praia! Agradeci a Deus por me dar forças e energia para conseguir correr em tal condições. Segui por uma estrada e em dois minutos estava no PC15. Cheguei gritando: “Socorro, Socorro, preciso de água, alguém me consegue água, por favor!”. Em questão de dois minutos já estava com a minha mochila de hidratação cheia e pronto para seguir. Todos deram incentivo e segui meu caminho! Tinha pela frente muito asfalto e três subidas, sendo duas quase impossíveis de correr! Cheguei à primeira subida e caminhei com ritmo acelerado. Mais alguns quilometros e cheguei à segunda. Nesta eu já não tinha mais forças! Estava começando a sentir cãimbras nas duas panturrilhas, no quadríceps e estava subindo para a virilha, mas como que um desejo atendido, encontrei uma equipe no pé da subida com um Gatorade (não faço propaganda, mas realmente esta bebida me salvou) na mão, tomei quase todo, segui em frente, inacreditavelmente as cãimbras foram embora de imediato! Subi trotando leve e caminhando! Cheguei ao topo, e lá estava uma menina (da mesma equipe que me ajudou antes da subida) com um isotônico de uva muito gelado! Abri tomei uns goles e segui para a descida. Ainda tinha a última subida, para chegar à Joaquina, com a lombar doendo muito (por conta da praia de tombo, imaginem uma perna correndo um degrau abaixo e a outra um acima) decidi caminhar grande parte. Caminhei, cheguei ao topo e desci correndo forte. Conclui o percurso em 2hs20min – 19min a mais do que o previsto. Cheguei muito abatido para a troca,

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mas sabia que mais de 80% do meu desafio estava concluído. Havia um chuveiro no quiosque da praia, fui direto para ele! Banho revigorante, troquei de roupa, comi bolo, tomei refrigerante, comi mix de cereais e de carro seguimos para o PC19 – O do “Morro Maldito”! Corredor: @BraynerUltra – Trechos: P16 ao PC19 – Total KMs: 21,2km – Correr em: 1h56min Enquanto o ultraSauer tentava vencer seu maior desafio na prova, eu o esperava na praia da Joaquina. Me alimentando e recebendo massagem para aliviar dores intensas na panturrilha e na planta do pé esquerdo. O joelho enviava sinais claros para que eu parasse imediatamente, caso contrário o preço pela insistência seria alto. Gelo nele! Com grande luta e persistência ultraSauer chega abatido, mas de cabeça erguida, feliz por concluir mais uma etapa do desafio. Um pouco antes, o grande Ultra Maratonista Valmir Nunes sai em disparada a um ritmo de 4min30seg/km pela praia da Joaquina. Está ai um desafio! Seguir os passos do Ultra Valmir! Claro, quase impossível para um simples ultra iniciante! Mas segui firme até pouco mais da metade do trecho de 8km. Daí em diante meu joelho “travou” de vez! Conseguia a muito custo caminhar sem o tênis, apenas com minha meia, pois além da dor no joelho, tive um corte na lateral dos dois pés o que dificultava qualquer movimento. Olhava para o mar revolto com uma maré que dificultava ainda mais a tarefa de passar pela praia com areia fofa e bem ondulada. Meu ultra desafio estava se tornando um ultra pesadelo! Dores generalizadas tomaram conta de mim. Sem contar as inúmeras equipes nos ultrapassando neste ponto. Grande parte delas da categoria duplas. Isso me deixou ainda mais abatido, pois sabia que até ali estávamos pelo menos entre os 10 primeiros da categoria. Dobrei o trecho seguinte e fui em frente! Mais uma praia com sobe e desce de muita areia fofa. Quem conhece a praia do Campeche sabe o que estou falando! Foram mais 5km de muito sofrimento. Ao final deste trecho, minhas reservas de energia chegaram ao fim. Tinha apenas água em minha mochila de hidratação. Precisava urgente comer e beber algo para me regenerar novamente! Graças a Deus uma das equipes da Mevilela (equipe com 12 atletas) estava aguardando seu atleta neste trecho. Me lembro bem que minha amiga Tatiana Yamamoto me recebeu e muito preocupada com meu estado físico perguntou o que eu estava precisando. Tive forças para pedir um lanche e isotônico! Fui prontamente atendido e com forças e energia revigorada por toda a equipe que ali estava junto com nosso treinador Emerson Vilela. Ainda consegui enviar uma mensagem para meu amigo avisando que apesar da demora eu iria concluir o trecho e fazer a transição no pé do morro do sertão para ele. Revigorado, porém ainda com muita dor no joelho segui pela estrada paralela à praia da armação até o pântano do sul. No caminho ainda tive a assistência de outro grande amigo Fábio Yonashiro que forneceu uma pomada que até agora eu não sei o nome, rsrs, mas que ajudou a amenizar a dor. Enfim, cheguei! Para um trecho de 21km previsto para concluir em 1 hora e 56min, conclui em 3hs31min. Enquanto o ultraSauer partia para o morro, eu iniciei minha recuperação. Eu teria aproximadamente 2hs30min para estar pronto para os dois últimos trechos. Além do tradicional gelo e massagem, ainda inclui no cardápio uns 30min de sono. Revigorante, mas não o suficiente para resolver minha lesão. Já estávamos no limite para concluir a prova! Eram 19 horas, ainda restavam 13km e deveríamos concluir até as 20hs e 15min, caso contrário seriamos desclassificados. Corredor: ultraSauer – Trechos: P19 ao PC21 – Total KMs: 22,8km – Correr em: 2hs09 Chegamos ao PC sabendo que iríamos aguardar o guerreiro por um bom tempo, pois ele estava com o joelho doendo. Por volta das 14hs10min horário previsto para o guerreiro chegar recebi uma chamada no celular de um número que não conhecia, atendi, era o guerreiro pedindo ajuda! Eu sem armas e forças não pude ajudar! Tinha pela frente o morro maldito e correria o seguinte para tentar aliviar o @BraynerUltra, com isto completaria 81,8km do desafio. Tentando lançar energia e força para o guerreiro pelo celular, incentivei que viesse sem pressa e que buscasse forças! Vai GUERREIRO! Enquanto ele enfrentava um batalha épica, eu o aguardava sabendo que não estava bem. Por outro lado, consegui descansar um pouco mais, no carro, recebi mais massagens, alimentei-me bem, e cochilei um pouco. Ao sair do carro senti minha musculatura dolorida, mas já haviam sinais de melhoria. Fomos para o PC19 e aguardamos nosso guerreiro por ainda mais uns 35 minutos. Chovia um pouco, o dia estava sendo começando a ser trocado pela noite e avistamos o guerreiro a um quilometro de distância. Mancava muito. Corpo curvado. Ao se aproximar, vi seu olhar firme e com a expressão de vitória. Abraçamo-nos, disse para o guerreiro descansar! Parti! Olhei para o céu cinzento. Estava com receio do desafio que teria pela frente. Fechei os olhos e visualizei o PC21! Pedi ajuda a Deus e ataquei o tal “morro maldito”. Minha musculatura estava respondendo muito bem. Parti na praia com ritmo de 4min50seg/km. Em pouco tempo cheguei à estrada de chão que levaria até o pé do morro. A chuva em vai e vem baixou a temperatura e o corpo começou a esquentar depois do terceiro quilometro. Minha mente com foco na chegada, mas minhas pernas sofrendo com subidas de mais 30º graus de inclinação, meus tênis sem aderência alguma por conta das montanhas de barro e lama, dores multiplas e generalizadas, e vem à minha mente a seguinte afirmação: “O PC está fechado. Não poderá seguir” (Havia um horário limite, na qual todos

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tinham de passar pelo PC, caso contrário estariam desclassificados). Não ouvirei isto! Segui, corri, caminhei e lutei. Quase escalei, cai. Cai e levantei. Levantei e escorreguei. Escorreguei e virei lama. Da lama me livrava enquanto descia de modo insano uma descida igualmente insana. Os quadriceps estavam bem, mas um unha do pé gritava de dor, por si só! Não parei. Pensei, adeus unha! Digeri o morro! O morro que em 2008 acabou comigo estava para trás, arrepiado fiquei. Orgulhoso e vitorioso me senti. Mais cinco quilometros na estrada de asfalto e chegaria ao PC20. Corri o mais rápido que pude, estava tentando manter 6min30seg/km. Resisti às dores e segui. Em alguns minutos estava no PC20. Noite fechada, fria e chuvosa. Ao invés de “O PC está fechado” ouvi do grande público que lá estava: “Vai lá LU! Guerreiro!”, ouvi muitas, mas muitas palmas. Levantei os dois braços em sinal de vitória, murmurei “Obrigado...”, a organização perguntou: “Vai dobrar?”, gritei “Vou dobrar!”. Os corredores ali presentes não paravam de gritar palavras e frases de incentivo. Revigorado parti para mais quase oito quilometros. Parti arrepiado e com o fôlego renovado. Dentro da base aérea corri, corri e corri. Nunca chegava o PC21. Corri. O corpo já havia passado do limite a bastante tempo. Força sobrenatural me alçava à frente, passada a passada. E assim, depois de 40min (2hs33min desde o começo do trecho) abracei @BraynerUltra, passei o bastão, minhas lágrimas secas não caiam, mas minha alma alcançara extremo prazer que não consigo descrever. Em segundos a dor deu lugar à euforia, à alegria, à felicidade. O sentido de dever cumprido fazia parte de mim. E desta forma, meu corpo e talvez a minha alma, foram lavados literalmente por litros de água gelada! Troquei a roupa e foquei meu pensamento no meu herói – O Guerreiro. Corredor: @BraynerUltra – Trechos: P21 à Chegada – Total KMs: 13,4km – Correr em: 1h11 Recebemos a noticia pela organização da prova que o ultraSauer estava chegando e estava bem. Foi o que aconteceu recebi na última transição a missão de concluir a prova. Normalmente treze quilometros eu faria tranquilo em aproximadamente 51min. Porém, além de dor por todo o corpo, o frio havia aumentado e a chuva também. Consegui trotar a maior parte do tempo, porém infelizmente tive que intercalar com caminhada forte. Isto acabou diminuindo o ritmo, isto é, não conseguiria fechar a prova dentro do tempo estabelecido. Mas, segui em frente, pois sabia que muitos amigos estavam torcendo por nós! Precisávamos completar o percurso, independente do tempo! Há aproximadamente um quilometro e meio da linha de chegada, embaixo da ponte de Florianópolis, pude ouvir os fogos da organização da prova indicando que a prova estava encerrada! Aproximadamente 20 min depois, avistei minha querida esposa Nilda, nossa amiga Ana Paula, nosso treinador Emerson, entre outros amigos de equipe que me esperavam embaixo de uma tempestade. E assim, mesmo após terem praticamente desmontado toda a estrutura da chegada, cruzamos a linha (trecho 1h37min) e concluímos um ciclo em nossas vidas. Ali estava nosso troféu! O orgulho e a honra de ter participado, encarado e superado este Ultra Desafio que poucos ousam desafiar! Aliás, acreditei ser perfeita para este momento a frase do grande ciclista Lance Armstrong "A dor é temporária. Ela pode durar um minuto, ou uma hora, ou um dia, ou um ano, mas finalmente ela acabará e alguma outra coisa tomará o seu lugar. Se eu paro, no entanto, ela dura para sempre."

Números do desafio

Corredor KMs Tempo Previsto Tempo Realizado

ultraSauer 19,80 01:34:16 01:32:18

BraynerUltra 17,00 01:20:45 01:20:13

ultraSauer 17,20 01:27:26 01:30:00

BraynerUltra 16,60 01:27:55 01:33:07

ultraSauer 22,00 02:01:00 02:20:05

BraynerUltra 21,20 01:56:36 03:31:18

ultraSauer 22,80 02:09:06 02:33:20

BraynerUltra 13,40 01:11:28 01:37:44

13:08:32 15:58:05

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150KM foram

percorridos.4 meses de

treinamento específico

400 carboidratos

em gel

250 cápsulas de

SAL

187 litros água Corremos 2650K em treinos

3 pares de tênis por atleta

9,3kg de suplemento

Endurox

252.900 calorias

foram queimadas

8 camisetas 16 meias

8 bermudas 4 bonés

Quase 7hs correndo no treino

Treinos de até 70K em um dia

Pós prova e adiante... Após este grandedesafio que a dupla completou em quase 16hs de corrida ficam algumas perguntas: E agora? O que irão fazer? Quais os próximos desafios? ultraSauer responde rapidamente: “Boa pergunta. Tenho ainda grandes desafios nos próximos 45 dias. No próximo domingo correrei a Maratona de São Paulo, no dia 23/5 correrei a Maratona de Porto Alegre e em 29/05 correrei a ultraMaratona de Bertioga a Maresias – 75km na categoria Solo. Para o segundo semestre, ainda estou buscando apoio para correr um prova de 24hs e iniciar os treinamentos específicos para correr a BR217 Trio que ocorrerá em Fev/2011“. @BraynerUltra diz: “Opa. Ultra nunca para, sempre temos novas metas. As minha principal vai ser cuidar do meu joelho para poder correr em 29/05 a ultraMaratona de Bertioga a Maresias – 75km na categoria Solo. Assim como o ultraSauer estou em busca de apoio para correr um prova de 24hs e iniciar a preparação para a BR217 Trio“.

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