"Vou brincar descontraído" lá no céu

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B.2 DIÁRIOcapital PORTO VELHO-RO . TERÇA-FEIRA, 1 DE MARÇO DE 2011 Chegou a banda a banda, a Banda do Vai Quem Quer Já tentei brincar organizado/Isto nunca deu pé Nós não temos preconceito/Na brincadeira entra quem quiser “Vou brincar descontraído” lá no céu HOMENAGEM. Porto Velho perde o seu ícone do carnaval. Manelão morre deixando milhares de admiradores A quatro dias do sábado de carnaval, a Banda do Vai Quem Quer, um dos maiores blocos de rua da região Nor- te, perde seu líder. Manoel da Costa Mendonça, o Ma- nelão, 61 anos, faleceu on- tem, às 12h. A paralisação das funções vitais aconteceu em decorrência das três pa- radas cardíacas sofridas na noite do último sábado e durante a madrugada de do- mingo, quando foi internado na UTI do Pronto-Socorro João Paulo II, em Porto Ve- lho. Manelão não conseguiu reagir aos medicamentos e procedimentos tomados pe- los médicos, que já afirma- vam em boletim, divulgado às 16h de domingo, que o estado do general da banda era “gravíssimo”. O líder, considerado figu- ra querida e respeitada na Capital, pelo papel que de- sempenhou em prol do car- naval, se despede na semana da saída da Banda, em meio aos preparativos da festa de 2011. Em nota oficial, o gover- no do Estado, por meio da Secretaria de Cultura, Es- porte e Lazer (Secel), pres- tou condolências aos fami- liares e amigos de Manelão, “um dos principais represen- tantes da cultura popular no Estado de Rondônia.” LARISSA TEZZARI [email protected] @larissatezzari EMOÇÃO O velório teve início às 17h de ontem, no Mercado Cultural de Porto Velho. O local parece ter sido escolhi- do estrategicamente: o palco de rodas de samba, boêmia e da cultura local recebeu fa- miliares e amigos para pres- tarem a última homenagem ao líder da Banda. Logo que chegou ao Mer- cado, Cecília Andrade, filha de Manelão atendeu aos jornalis- tas. Afirmou que o momento era de mostrar o quanto o pai era especial e de homenageá- lo de todas as maneiras pos- síveis. “Até agora estou sendo forte, tentando me controlar, mas sei que na hora da despe- dida final vai ser difícil conter a emoção”. O enterro do general será amanhã, às 16h. O cortejo sairá do Mercado Cultural, acompanhado de uma ban- da que tocará as marchinhas tradicionais do carnaval. Para Cecília, a despedida “será do jeito que ele queria: a alegria vai prevalecer”. Como em todos os anos, e conforme a letra do “hino” do bloco, a Banda do Vai Quem Quer vai iniciar o carnaval no sábado, sim. E quem afirma é a filha de Manelão, Cecília Andrade. “Em nenhum mo- mento foi cogitada a hipótese da Banda não sair. Meu pai não iria querer isso. Tenho certeza que essa é a vontade dele”, afirma Cecília, a quem o General entregou a função de comandar a banda a partir desse ano, o primeiro que não estaria diretamente à frente de seu projeto. Todos os amigos também são unânimes em dizer que nunca existiu a possibilidade da Banda não sair. “Nós va- mos tocar esse bloco pra fren- te porque ele ensinou a Ceiça. Vai ser normal. Ela sabe que pode contar com os amigos pra tudo. A população pode ficar tranqüila porque a Ban- da já faz parte da nossa tradi- ção e vai sair”, certifica Mário Bravo. Parte da estrutura do bloco já está confirmada: serão três trios elétricos, um carro de som, 400 cordeiros, com cerca de dois mil metros de corda. Os ensaios foram suspen- sos hoje, mas serão retomados a partir de amanhã, às 20h, na rua Raimundo Cantuária com Miguel Chaquian. A tradicional Banda do Vai Quem Quer desfila há 31 anos, sempre arrastando fo- liões e garantindo a diversão da população. No próximo sábado, a concentração será ao meio-dia, na Praça das Caixas D’água e o bloco inicia seu percurso ao som da banda Duo Pirarublue, às 18h. NO SÁBADO DE CARNAVAL TEM BANDA A despedida inesperada se tornou um encontro de par- ceiros de Manelão. Amigos reunidos lembrando histórias da trajetória de vida, muitas delas em nada relacionadas ao carnaval. Cléverson Santana, conhe- cido como Buchada, conheceu Manelão aos 8 anos de idade, quando iniciou, ainda criança, sua participação no “Pobres do Caiari”, bloco que teve o general como presidente. Buchada faz questão de lem- brar da figura de um homem que há anos pensa e trabalha pela inclusão social em Porto Velho. “As pessoas conheciam o Manelão sério, da banda, mas quase ninguém conhecia o lado humano, que ajudava as pessoas. A gente tá perden- do um homem que lutava pela cultura e pelo desenvolvimen- to de Porto Velho”. O agitador cul- tural Carlinhos Maracanã afirma que todos sabiam que as condições de saúde de Ma- nelão não eram boas. “90% das veias dele esta- vam bloqueadas. Ele era sedentá- rio, fumava e sa- bia que era sério”, afirma. Maracanã conta que os ami- gos receberam no domingo a notícia de que se o general sobrevi- vesse, teria sequelas graves como consequência. “É impos- sível imaginar ele, com aquela vitalidade, andando em uma cadeira de rodas. Ele nunca aceitaria. Seria pior”. Para o agi- tador, o que con- forta os amigos é saber que Mane- lão viveu intensa- mente a vida. “Ele merece o descan- so”, conclui. Dentre os ami- gos presentes, Mário Bravo era um dos mais emo- cionados. Com 56 anos, o Marinho, como é chamado pelos companhei- ros, afirma estar com Mane- lão desde o segundo ano em que a bloco desfilou. O com- panheiro de 30 anos do gene- ral da Banda diz ter inúmeras histórias que serão lembradas sempre. Marinho esteve com Ma- nelão na noite de sábado, mi- nutos antes do general passar mal. “Me emociona lembrar que eu fui o último amigo a ver ele vivo. A dor que eu sinto é como se tivesse perdi- do um pai”, finaliza Marinho, com os olhos marejados, ten- tando controlar o choro. Para Sílvio Santos, o Zé Ka- traca, Manelão era o “melhor amigo”, o companheiro com quem não tinha segredo. Em sua coluna, no caderno de Cul- tura do Diário da Amazônia, Zé se despede: “tenho a dizer apenas uma coisa: estou mor- rendo de saudades de você”. AMIGOS RELEMBRAM O ‘GENERAL DA BANDA’ Tenho a dizer apenas uma coisa: estou morrendo de saudades de você. ZÉKATRACA, COLUNISTA ELIÊNIO NASCIMENTO Manelão com as filhas e o presidente da Iaripuna na noite do lançamento da camiseta 2011 Mário, Marinho Carlinhos, Maracanã Silvio Santos, ZéKatraca Cléverson, Buchada Velório de Manelão começou às 17h, no reduto do samba porto-velhense: o Mercado Cultural RONI CARVALHO Hoje estou realizado/Na Banda do Vai Quem Quer FOTOS RONI CARVALHO

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Morre Manelão, ícone do carnaval de Porto Velho e criador da Banda do Vai Quem Quer.

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B.2 DIÁRIOcapitalPorto Velho-ro . teRça-feIRa, 1 De maRçO De 2011

Chegou a banda a banda, a Banda do

Vai Quem Quer

Já tentei brincar organizado/Isto nunca deu pé

Nós não temos preconceito/Na

brincadeira entra quem quiser

“Vou brincar descontraído” lá no céu

HOMENAGEM. Porto Velho perde o seu ícone do carnaval. Manelão morre deixando milhares de admiradores

A quatro dias do sábado de carnaval, a Banda do Vai Quem Quer, um dos maiores blocos de rua da região Nor-te, perde seu líder. Manoel da Costa Mendonça, o Ma-nelão, 61 anos, faleceu on-tem, às 12h. A paralisação das funções vitais aconteceu em decorrência das três pa-radas cardíacas sofridas na noite do último sábado e durante a madrugada de do-mingo, quando foi internado na UTI do Pronto-Socorro João Paulo II, em Porto Ve-lho. Manelão não conseguiu reagir aos medicamentos e procedimentos tomados pe-los médicos, que já afirma-vam em boletim, divulgado às 16h de domingo, que o estado do general da banda era “gravíssimo”.

O líder, considerado figu-ra querida e respeitada na Capital, pelo papel que de-sempenhou em prol do car-naval, se despede na semana da saída da Banda, em meio aos preparativos da festa de 2011.

Em nota oficial, o gover-no do Estado, por meio da Secretaria de Cultura, Es-porte e Lazer (Secel), pres-tou condolências aos fami-liares e amigos de Manelão, “um dos principais represen-tantes da cultura popular no Estado de Rondônia.”

LARISSA TEZZARI [email protected] @larissatezzari

EMOçãO

O velório teve início às 17h de ontem, no Mercado Cultural de Porto Velho. O local parece ter sido escolhi-do estrategicamente: o palco de rodas de samba, boêmia e da cultura local recebeu fa-miliares e amigos para pres-tarem a última homenagem

ao líder da Banda.Logo que chegou ao Mer-

cado, Cecília Andrade, filha de Manelão atendeu aos jornalis-tas. Afirmou que o momento era de mostrar o quanto o pai era especial e de homenageá-lo de todas as maneiras pos-síveis. “Até agora estou sendo forte, tentando me controlar, mas sei que na hora da despe-

dida final vai ser difícil conter a emoção”.

O enterro do general será amanhã, às 16h. O cortejo sairá do Mercado Cultural, acompanhado de uma ban-da que tocará as marchinhas tradicionais do carnaval. Para Cecília, a despedida “será do jeito que ele queria: a alegria vai prevalecer”.

Como em todos os anos, e conforme a letra do “hino” do bloco, a Banda do Vai Quem Quer vai iniciar o carnaval no sábado, sim. E quem afirma é a filha de Manelão, Cecília Andrade. “Em nenhum mo-mento foi cogitada a hipótese da Banda não sair. Meu pai não iria querer isso. Tenho certeza que essa é a vontade dele”, afirma Cecília, a quem o General entregou a função de comandar a banda a partir desse ano, o primeiro que não estaria diretamente à frente de seu projeto.

Todos os amigos também são unânimes em dizer que nunca existiu a possibilidade da Banda não sair. “Nós va-mos tocar esse bloco pra fren-te porque ele ensinou a Ceiça. Vai ser normal. Ela sabe que pode contar com os amigos pra tudo. A população pode ficar tranqüila porque a Ban-da já faz parte da nossa tradi-ção e vai sair”, certifica Mário Bravo.

Parte da estrutura do bloco já está confirmada: serão três trios elétricos, um carro de som, 400 cordeiros, com cerca de dois mil metros de corda.

Os ensaios foram suspen-sos hoje, mas serão retomados a partir de amanhã, às 20h, na rua Raimundo Cantuária com Miguel Chaquian.

A tradicional Banda do Vai Quem Quer desfila há 31 anos, sempre arrastando fo-liões e garantindo a diversão da população. No próximo sábado, a concentração será ao meio-dia, na Praça das Caixas D’água e o bloco inicia seu percurso ao som da banda Duo Pirarublue, às 18h.

NO sábAdO dE cArNAvAl tEM bANdA

A despedida inesperada se tornou um encontro de par-ceiros de Manelão. Amigos reunidos lembrando histórias da trajetória de vida, muitas delas em nada relacionadas ao carnaval.

Cléverson Santana, conhe-cido como Buchada, conheceu Manelão aos 8 anos de idade, quando iniciou, ainda criança, sua participação no “Pobres do Caiari”, bloco que teve o general como presidente. Buchada faz questão de lem-brar da figura de um homem que há anos pensa e trabalha pela inclusão social em Porto Velho. “As pessoas conheciam o Manelão sério, da banda, mas quase ninguém conhecia o lado humano, que ajudava as pessoas. A gente tá perden-

do um homem que lutava pela cultura e pelo desenvolvimen-to de Porto Velho”.

O agitador cul-tural Carlinhos Maracanã afirma que todos sabiam que as condições de saúde de Ma-nelão não eram boas. “90% das veias dele esta-vam bloqueadas. Ele era sedentá-rio, fumava e sa-bia que era sério”, afirma. Maracanã conta que os ami-gos receberam no domingo a notícia de que se o general sobrevi-vesse, teria sequelas graves como consequência. “É impos-

sível imaginar ele, com aquela vitalidade, andando em uma cadeira de rodas. Ele nunca

aceitaria. Seria pior”. Para o agi-tador, o que con-forta os amigos é saber que Mane-lão viveu intensa-mente a vida. “Ele merece o descan-so”, conclui.

Dentre os ami-gos presentes, Mário Bravo era um dos mais emo-cionados. Com 56 anos, o Marinho, como é chamado pelos companhei-

ros, afirma estar com Mane-lão desde o segundo ano em que a bloco desfilou. O com-

panheiro de 30 anos do gene-ral da Banda diz ter inúmeras histórias que serão lembradas sempre.

Marinho esteve com Ma-nelão na noite de sábado, mi-nutos antes do general passar mal. “Me emociona lembrar que eu fui o último amigo a ver ele vivo. A dor que eu sinto é como se tivesse perdi-do um pai”, finaliza Marinho, com os olhos marejados, ten-tando controlar o choro.

Para Sílvio Santos, o Zé Ka-traca, Manelão era o “melhor amigo”, o companheiro com quem não tinha segredo. Em sua coluna, no caderno de Cul-tura do Diário da Amazônia, Zé se despede: “tenho a dizer apenas uma coisa: estou mor-rendo de saudades de você”.

AMiGOs rElEMbrAM O ‘GENErAl dA bANdA’

Tenho a dizer apenas uma coisa: estou morrendo de

saudades de você.

Zékatraca, Colunista

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Manelão com as filhas e o presidente da iaripuna na noite do lançamento da camiseta 2011

Mário, Marinho

carlinhos, Maracanã silvio santos, ZéKatraca

cléverson, buchada

velório de Manelão

começou às 17h, no reduto

do samba porto-velhense:

o Mercado cultural

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Hoje estou realizado/Na Banda

do Vai Quem Quer

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