VOX CONCORDIANA 22 Liderança Cristã

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SUPLEMENTO TEOLÓGICO

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IGREJA LUTERANA

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  • SUPLEMENTO TEOLGICO

  • YOX CONCORDIANA SUPLEMENTO TEOLGICO

    Editado pela faculdade da Escola Superior de Teo-logia do Instituto Concrdia de So Paulo

    Editor: Paulo W. Buss Diretor responsvel: Dr. Rudi Zimmer

    Faculdade: Dr. Rudi Zimmer, diretor; Ari Lange, vice-diretor; Paulo F. Flor; Paulo W. Buss; Raul Blum; Paulo M. Nerbas; Ern W. Seibert; Deomar Roos; Ari Gueths.

    Os artigos assinados so da responsabilidade de seus autores, no refletindo necessariamente a po-sio da faculdade como um todo. Devem ser enca-rados mais como ensaios para reflexo do que posi-cionamentos definitivos sobre os temas abordados.

    Endereo para correspondncia:

    Instituto Concrdia de So Paulo Rua Raul dos Santos Machado, 25 Jardim Helga Campo limpo 05.794 - So Paulo - SP

  • Palavra ao Leitor O ano de 1986 foi muito significativo para a

    histria do Instituto Concrdia de So Paulo em diversas reas. Entre os acontecimentos que marca-ram o ano destacam-se em primeiro lugar as forma-turas. Formaram-se as primeiras turmas de alunos dos cursos de Magistrio, Diaconia e Teologia. Esses jovens foram colocados disposio da igreja onde, com a graa de Deus, podero servir em seu reino com os conhecimentos, habilidades e atitudes que aqui adquiriram e/ou aperfeioaram.

    Nem todos os que desejam trabalhar no reino de Deus tem a possibilidade de realizar cursos com vrios anos de durao. Muitos deles, porm, sen-tem a necessidade de um melhor preparo e aperfei-oamento. Visando ir ao encontro dessas pessoas o Diretrio Acadmico Concrdia (DAC) do ICSP

    decidiu promover a primeira "Semana do Leigo". Esse encontro de estudos, realizado no incio do ms de junho, procurou levar a reflexo teolgica para junto do trabalho do povo de Deus nas con-gregaes. (O termo "leigo", no caso, foi entendido no sentido amplo de "povo de Deus" e no apenas com referncia aos homens da igreja). Para esse primeiro encontro foi escolhido o tema da Liderana Crist um tema relevante e atual visto enfocar uma das grandes preocupaes da IELB.

    O presente nmero do Suplemento Teolgico quer levar os estudos apresentados na Semana do Leigo para um pblico maior. nosso desejo e esperana que seu estudo em particular e em grupos traga bnos para a igreja de Cristo.

    PWB

    Liderana Crist Introduo:

    Vivemos na era dos grandes planejamentos. Dia e noite pessoas esto prostradas sobre computado-res, planejando novas mquinas e desenvolvendo novos projetos.

    E o que faz a Igreja Crist? Cristo confiou a ela a mais importante de todas as tarefas: "Pregar o evangelho a toda a criatura" (Mc 16.15). Um trabalho que traz frutos para a eternidade (1 Co 15.58). Para a realizao desta obra, Deus mantm o mundo. E todo o verdadeiro cristo vive para a misso. "Pois o nosso viver Cristo" (Fp 1.2.). E o apstolo Paulo recomenda: "Tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ao, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graas a Deus Pai" (Cl 3.17).

    Sem dvida alguma, esta importante obra tam-bm precisa ser cuidadosamente planejada. Ao planejarmos este trabalho, no estamos progra-mando a ao do Esprito Santo. A misso de Deus. O Esprito Santo livre em sua ao, e age "quando e onde lhe aprouver" (1 Co 12.13). No somos ns que nos valemos do Esprito Santo. Pelo contrrio, somos instrumentos do Esprito Santo neste trabalho (Cat. Maior, 2a. parte, 53, FC, p. 454). Mas Deus gera seus filhos por Palavra e Sacramentos (Rm 10.17; Tt 3.5; Jo 1.13; Ef 2.5; At 4.47). Proclamar a palavra e administrar os sacramentos a tarefa que Deus conferiu sua

    igreja. E esta tarefa deve ser planejada. Quando, por isso, falamos em planejamento nos referimos ao cuidadoso cumprimento de nossa ao, como instrumentos de Deus Esprito Santo. Cabe-nos cumprir nossa tarefa de proclamar a palavra de Deus a todas as naes e para tanto engajar todas as foras e dons que Deus concedeu sua igreja. Foi isso que os homens santos de Deus fizeram em todos os tempos. Lembremos Josu, que recebeu de Deus a ordem de conquistar a terra de Cana. Deus disse a Josu que ele deveria ser forte e corajoso. Observe com que cuidado Josu planejou todas suas guerras. Planejou com muita orao, firmado na ordem e promessa de Deus (Js 7). Veja como o bom pastor zela por seu rebanho a ponto de notar a ausncia de uma ovelha (Lc 15).

    Em si, toda a ao obedece a um planejamento, mesmo sendo este emprico. Por isso diz um dita-do: Mesmo no planejando, estamos planejando o fracasso. nosso dever ser diligentes (Pv 21.5; 1 Tm 4.15).

    No planejar, cumpre compreender bem nosso propsito na misso, analisar a situao existente (diagnose), fixar os objetivos, elaborar um plano de ao e avaliar os resultados.

    Para este planejamento e execuo Deus usa as pessoas, ns, os cristos. Dentre todos que devem agir, so necessrias pessoas que lideram, orientam e dimencionam as diversas tarefas. No exemplo

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  • citado, encontramos Josu, que era um do povo, mas que recebeu a incumbncia de lder. Assim Deus tambm escolhe lderes hoje, diversos lderes, cada qual no seu setor e no seu lugar para alcanar os objetivos da igreja, para que a tarefa da igreja seja feita e os propsitos alcanados.

    Propsito: Qual a tarefa da igreja? A pergunta pode parecer

    primria. Mas sempre houve e h ainda dvidas a respeito. preciso lembrar que a tarefa da igreja no reformar o mundo, lutar por uma melhor justia social, por melhor forma de governo, lutar pela preservao do meio-ambiente, ou por mais moralidade. A tarefa da igreja chamar ao arre-pendimento e proclamar remisso de pecados pela graa que h em Cristo (Lc 24.47).Ou, resumindo, fazer discpulos (Mt 28.28-20; Mc 16.15, 16; At 1.8). E isto feito somente pela pregao da palavra de Deus. Cabe igreja zelar para que a palavra de Deus cresa (At 12.24; 19, 20; 2 Co 5.19; Cl 3.15-16). Do ofcio das chaves emana todo o poder para este trabalho.

    Em segundo lugar cumpre lembrar que nossa tarefa no consiste simplesmente em proclamar a palavra de Deus em determinado lugar, mas alcan-ar todas as naes com a pregao do evangelho. Isso uma tarefa enorme. Para poder alcanar este objetivo precisamos reunir nossas foras com nossos irmos na f em nvel local, distrital e nacio-nal.

    Em terceiro lugar no queremos perder de vista o propsito principal da congregao: fazer disc-pulos. Portanto, no s semear a palavra. Nossa tarefa inclui as etapas de semear, cultivar, colher e usar o fruto colhido. Isto , queremos semear a palavra de Deus para que o Esprito Santo possa operar a f (Mc. 16.15). Queremos cultivar a jovem planta da f para que possa crescer (Mt 28.20; Cl 3.15). Queremos colher esta planta para a comunho dos irmos, na congregao (At 2.41-47; Hb 10.25). Queremos treinar os discpulos para o desempenho de sua misso como sacerdotes de Deus (Ef 4.12; 1 Pe 2.8). Frequentemente executamos somente algumas funes e desleixa-mos outras. Por isso o trabalho no progride. nossa incumbncia organizar o trabalho cuidadosa-mente para que as quatro etapas sejam executadas, e todas as foras que Cristo concedeu sua igreja sejam engajadas na misso da igreja.

    Anlise da Situao: A anlise da situao compreende os seguintes

    passos: O olhar para trs, o olhar para a situao atual e confrontar a situao com o propsito da igreja. Para isso so necessrios dados estatsticos.

    Estes dados devero ser analisados para compreen-dermos como temos cumprido nossa misso at o presente momento.

    Convoque para isso suas lideranas: a diretoria da congregao, diretorias dos departamentos, lderes da congregao (ex-presidentes) e faa com eles uma avaliao da situao. Uma boa anlise (diagnose) fundamental para um bom plane-jamento.

    Objetivos: Clarificados os desafios e as oportunidades,

    formule sua filosofia de ao. Mesmo sendo o propsito da igreja crist um s, cada congregao tem seu desafios prprios e suas oportunidades especiais e peculiares. Da a necessidade de desen-volver sua filosofia prpria de ao. Isto , deter-minar os objetivos e coloc-los em ordem de priori-dades.

    Os objetivos precisam ser formulados com clare-za. Descreva-os como resultados finais da ao. Os objetivos devem ser mensurveis, ousados (firma-dos na ordem e promessa de Deus, conforme a f), realistas e limitados no tempo. Os objetivos devem refletir os propsitos da congregao.

    Plano de Ao: Clarificados os objetivos e ordenados em sua

    ordem de prioridades, comea a parte mais difcil do planejamento. O planejar pelo fixar de etapas e metas, como alcanar os alvos, objetivos estabeleci-dos. Nesta tarefa sero analisadas as perguntas: O que deve ser feito? Como isso deve ser feito? Quem deve fazer o qu? Em que espao de tempo cada tarefa dever ser feita?

    a) O que deve ser feito? preciso descrever com clareza a ao a ser desenvolvida;

    b) Como isso deve ser feito? Que material necessrio, que recursos so necessrios? Em quantas etapas o trabalho dever ser dividido?

    c) Quem deve fazer o qu? Quantas pessoas so necessrias para fazer a tarefa. Esta tarefa merece cuidado especial no planejamento. Cada nova tarefa precisa de novos lderes. Empilhar projetos nos mesmos lderes conduz ao fracasso.

    d) Em que espao de tempo cada tarefa dever ser feita? Cronograma.

    Assim devemos planejar cada rea de ao da congregao. Cada setor da congregao deveria ser cuidadosamente planejado, tambm a participa-o da congregao em mbito distrital e nacional.

    Fixados os diferentes planos, eles devero ser cuidadosamente coordenados. A fim de evitar que um plano venha a prejudicar ou esvaziar projetos em andamento. Por exemplo, programas de con-gregaes versus programas distritais.

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  • Avaliao: Muitos tm medo da avaliao, mas ela neces-

    sria. O objetivo da avaliao notar o que Deus est fazendo e detectar nossas falhas e os empeci-lhos. A fim de podermos aperfeioar e melhorar nosso trabalho, nosso planejamento. Algumas perguntas podero ajudar: 1) O que foi planejado? 2) Como isso deveria ser executado? 3) Quem faria o que no trabalho? 4) O que foi feito? 5) O que no foi executado e porque no? 6) Quais foram os empecilhos? 7) Como as coisas podero ser melhoradas? 8) Que providncias devero ser tomadas?

    Cumpre lembrar que a avaliao do trabalho de uma congregao feita de forma diferente da avaliao do trabalho de uma firma. Na avaliao do trabalho de uma congregao nos interessa em primeiro lugar se os servos foram fiis palavra de Deus (1 Co 4.2). Nos interessa, portanto, mais como o trabalho foi feito, do que os resultados numricos do trabalho. O que no nos leva a descuidar os resultados numricos.

    A Necessidade de Lideranas: Em todas as atividades e empreendimentos so

    necessrios lderes. Na prtica, no existe progres-so nem grandes realizaes sem grandes lderes. Grandes lideranas conseguiram transformar situa-es adversas em grandes realizaes. Uma boa liderana transforma uma pequena organizao, um pas insignificante em grandes empresas e pases de respeito. Boas lideranas sempre encontram tempo necessrio para transformar objetivos modestos em superaes e altas conquistas.

    Algumas colocaes sobre a necessidade de liderana:

    Um grupo sem liderana um grupo insegu-ro. O grupo sem liderana caminha sem rumo.

    Uma liderana negativa destri, desvia dos objetivos e confunde.

    Liderana slida, leal e forte uma das necessidades mais desesperadas no pas e no mundo de hoje.

    No apenas o pas e o mundo chamam por lderes ntegros, mas tambm a igreja necessita desesperadamente de lderes bons e fortes.

    O autodidatismo em liderana no mais suficiente. Hoje so investidas grandes somas na formao de lideranas. Isto no significa que se despreza a experincia e a prtica.

    A igreja Crist tambm necessita de lideran-as. A necessidade maior porque os objetivos e valores so eternos, consequentemente mais eleva-dos.

    preciso que o lder coloque o bem da organizao acima das necessidades individuais.

    Melhor treinar dez pessoas para o trabalho, do que trabalhar por dez.

    O que Liderana: Um lder no diz: eu mesmo fao tudo, assim

    tenho certeza que ser bem feito Liderana verdadeira uma qualidade

    encontrada em poucas pessoas. Devem ser aprovei-tados os reais lderes.

    BUTLER, diretor da Universidade de Columbia, diz:

    "H 3 espcies de pessoas no mundo - aqueles que no sabem o que acontece, aqueles que obser-vam o que acontece e aqueles que fazem as coisas acontecer".

    Uma caracterstica comum a todos os lderes a habilidade de fazer as coisas acontecer ("Quem sabe faz a hora, no espera acontecer"). Eles agem para ajudar outros a atuar envolvendo-os para que cada um dos liderados se sinta muito encorajado e estimulado a ponto de ajudar na realizao usando seu inteiro potencial, contribuindo significativa-mente para que os objetivos sejam alcanados.

    Ao a chave da liderana. O lder geralmente um bom executivo, mas

    o bom executivo no necessariamente um bom lder, pois lhe pode faltar capacidade de motivao a outros.

    No se deve confundir a liderana com posio social, status, conhecimento e magnetismo pessoal.

    Liderana exercida em cada palavra e ao para influenciar em direo do fim desejado.

    Homens de f tm sido sempre homens de ao ou, ao de liderana requer f.

    O fato de reconhecer que Cristo motiva lde-res para ao, no significa que o ser humano boneco passivo. Paulo admite que Deus age nele (1 Co 5.6), mas ele nunca abdicou da atividade para conseguir resultados. No fim da vida pode dizer: "Combati o bom combate" (2 Tm 4.7).

    Alguns Princpios de Liderana, para Alcanar Resultados:

    O lder deve agir de forma a alcanar resultados. Para que isto acontea, dever observar certos princpios:

    1. Determine seus objetivos - Escreva-os, preci-sos, breves e claros.

    2. Planeje as atividades necessrias Ordene seus objetivos: gerais, especficos, a longo, mdio e curto prazo. Questione cada um ( necessrio? importante? por qu?) .

    3. Organize o seu programa Lembre que as coisas urgentes no so necessariamente importan-tes. Eisenhower: "O importante raramente

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  • urgente, o urgente raramente importante". Ordem de prioridade.

    4. Prepare um cronograma. E siga-o! 5. Estabelea pontos de controle Quando

    revisar. Ajustamentos necessrios. 6. Torne claro as responsabilidades de cada um -

    Autoridade, delegao, relacionamento, coordena-o e controle.

    7. Mantenha canais de comunicao - Superio-res e subordinados, todos informados. Racionalize e torne os canais fceis.

    8. Desenvolva cooperao - o sucesso depende do trabalho conjunto do grupo.

    9. Resolva os problemas - O grupo pensando, multiplica o pensamento

    Atritos so entrave. a) Identifique o problema - Aparncias

    enganam. b) Desenvolva possveis solues, selecione a

    melhor. c) Determine um plano de ao e o execute. d) Verifique os resultados.

    10. D credito a quem de direito. O reconheci mento de fundamental importncia.

    A BBLIA E A LIDERANA CRIST

    Liderana crist representa ao. tambm instrumento para os guias espirituais (clrigos). Se a liderana e suas tcnicas podem ser usadas para propsitos do mundo, a igreja pode usar os mesmos instrumentos para a glria de Deus.

    Onde vamos procurar os instrumentos para liderana na Igreja? suficiente emprest-los do mundo secular e de sua literatura? Se as Escrituras Sagradas so a norma de f e de vida para cada cristo individualmente e para o conjunto, ou seja para a Igreja, tambm a liderana crist deve buscar na Palavra de Deus suas normas e orientao. Deus sempre usou lderes no trabalho do seu Reino no mundo. Ler x 18.25.

    Seguiremos o roteiro proposto por Ted W. Engstrom, no seu livro The Making of a Chistian Leader, onde ele prope o estudo do assunto divi-dido em: I. O ANTIGO TESTAMENTO E A LIDERANA, II. CRISTO E LIDERANA NOS EVANGELHOS e III. AS EPSTOLAS E LIDE-RANA.

    I. O ANTIGO TESTAMENTO E A LIDERANA

    Deus Escolhe Lderes A Bblia est cheia de exemplos como Deus usa

    lderes. verdade que muitas vezes falharam em alguns pontos. Eles, porm aprenderam com os erros arrependendo-se e sendo usados, depois, mais intensamente.

    Vejamos alguns exemplos: Jos aps sua venda pra o Egito pelos

    irmos, tornou-se lder do povo. Administrou as fartas colheitas. Teve que usar todas as tcnicas, pois os homens com quem trabalhou provavelmente pouco cooperavam. Cf. Gn 41.14-57. Deus no lhe deu solues prontas mas usou suas aptides.

    O povo de Deus precisa ser guiado. Na figura do Pastor, to usada, mostrado como o "lder" indica o caminho.

    Ex 18.13-17 - Conselhos de Jetro a Moiss. I Cr 24. A ordem do Sacerdcio em vrios

    escales. 1 Tm 3.4-5. Como o marido cabea do lar.

    Assim na igreja. Obs.:

    O lder no deve se sentir prepotente ao exigir cumprimento. ordem divina. Outro exemplo: Pais tm problemas hoje por acharem no ser humano mandar. No se deve confundir igualdade diante de Deus com a ordem hierrquica e organizacional. Deus adverte contra isto (cf. Rm 13.1 e Lc 7.6-9).

    A autoridade carrega consigo grande respon-sabilidade. A autoridade ordenada por Deus para ser usada para os objetivos seus. Dever haver sensibilidade para os que mandam como para os que servem.

    A natureza da autoridade pode ser mais completa do que se pensa geralmente. A autoridade depende da atitude com que recebida pela pessoa que a exerce.

    MOISS, um lder - x 18.13-27 Anotamos algumas idias e princpios de admi-

    nistrao sugeridas no texto: V.13 - Observao e inspeo pessoal. V.14 - Questionamento - uma finalidade. V. 15 - Resolver conflitos - correo. V.16 Julgamento. Constatao sem vacila-

    o. Concluso V. 18 Avaliao. Do efeito sobre o lder e o

    povo. V.19 Coao, aconselhamento, representa-

    o, esclarecimento de procedimentos. V.20,21 Ensinamento, demonstrao, atri-

    buio especfica, delegao, seleo, estabeleci-mento de qualificaes, determinao de responsa-bilidades, ordem hierrquica.

    V.22 Especificao do controle, julgamento, avaliao, limite de deciso e administrao por excesso.

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  • V.23 Apresentao dos benefcios. V.24 Anotaes, implementaes e execuo

    do plano. V.25 - Escolha, seleo, atribuio especfica de

    responsabilidades. V. 26 Julgamento e avaliao. Ficou claro que Moiss recebeu uma boa orien-

    tao e encorajamento para a grande tarefa para a qual tinha recebido incumbncia. Em muitas oportunidades demonstrou grandes qualidades de liderana. Sua misso especfica comeou somente quando j tinha 80 anos de idade. O povo no entendeu logo a sua misso para qual Deus o chamou (cf. At 7.23-27).

    Mais tarde, no deserto, Moiss teve a atitude correta, quando soube que era tempo de treinar outros para liderana. Soube que no entraria na terra prometida. No se lastimou, nem se consumiu em auto-piedade. Estava mais preocupado em dirigir corretamente e preparar a liderana futura.

    No Novo Testamento encontramos detalhes que nos oferecem melhor compreenso sobre as qualida-des que Moiss possua.Vejamos Hebreus, cap.11: v.24 - F; v.25 - integridade; v.26 - Viso; v.27 -Deciso; v.28 - Obedincia (Tambm necessria para um lder); v.29 - responsabilidade.

    DAVI - um forte lder espiritual. Davi, o 2o. rei de Israel, lutava contra Saul, o

    primeiro rei. Enquanto Davi era nobre, generoso e admirado, Saul foi ignbil e no tinha a maioria das qualidades que se espera de um lder.

    Davi chegou ao trono aproximadamente 1.000 a.c. e reinou por ca. 40 anos. Conduziu muitas conquistas e guerras, lanou os fundamentos para o grande imprio salomnico. Iniciou um perodo de esplendor e poder para a nao israelense. O suces-so de Davi era baseado na bno de Deus. As razes para o seu sucesso no so difceis de encon-trar.

    Quando Davi foi apresentado aos ancios, eles reconheceram suas qualidades e fortes traos de liderana (2 Sm 5.1-3). Foi ele o real poder no governo de Saul, que passou a ser mera figura decorativa. O motivo de os representantes das tribos o escolherem para seu rei foi o fato de reconhecerem que ele foi escolhido de Deus.

    Lderes cristos servem melhor quando esto convencidos que foram escolhidos por Deus.

    Como lder, Davi tinha qualidades que atraam outros. Os ancios vieram a ele (2 Sm 5.1-3), no foi ele que se imps. Mostrou servio anteriormen-te: valentes conquistas e sbia administrao.

    Vejamos os segredos do sucesso de Davi: 1. 2 Sm 5.11 - Sbia diplomacia distinguia o seu reinado. Sabia aplacar inimigos, vencer amigos.

    Era amoroso. Fez amigos verdadeiros. 2. 2 Sm 5.12 - Reconheceu a bno de Deus. No

    creditou a si o sucesso e a prosperidade. Reco-nheceu em Israel o Povo de Deus. A diferena do lder cristo: Atribui a Deus os sucessos e realizaes.

    3. Davi procurou a bno do Senhor continua-mente (2 Sm 6.12, 15). Sabia da absoluta neces-sidade desta bno.

    4. Como lder, Davi no se envergonhou em sacri-ficar a Deus (2 Sm 6.13). Tambm no se esqueceu de agradecer ao Senhor (2 Sm 6.14). O resultado foi que o povo trouxe de volta a arca do Senhor. Davi ilustra claramente que o lder cristo tam-

    bm deve estar disposto a usar meios espirituais e estimular seus colegas e liderados. Deus abenoa quem nele confia.

    NEEMIAS - Um lder de lderes Um exemplo de liderana forte Neemias, que

    juntamente com Esdras e Zorobabel, foi instru-mento na reconstruo de Jerusalm e seus muros. Falou sobre organizao. Tinha muitas qualidades de excelente liderana. Seu carter era irrepreens-vel. Demonstrou grande coragem, mesmo diante de muita oposio. Tinha grande considerao por seu povo, demonstrou, por seu tato, imparcialidade e carter e deciso. Alm disto, ele no rejeitou a responsabilidade que lhe foi dada.

    Neemias tinha grande habilidade de encorajar seus conterrneos e, ento, expressar apreo quando agiam. Ele tratava os problemas prontamente, antes de se tornar severo.

    Sua habilidade de organizao, acompanhada pela estratgia e planos detalhados, so exemplos para todo o futuro lder. A leitura completa do livro de Neemias importante para descobrir princpios de liderana e administrao.

    II. CRISTO E LIDERANA NOS EVANGELHOS

    Qualquer estudo sobre liderana crist incom-pleto sem o estudo da vida de Cristo. essencial reconhecer o conceito por Jesus emitido sobre liderana: "O Filho do Homem no veio para ser servido, mas para servir", ou ainda "Estou entre vs como um que serve" (Mc 10.45 e Lc 22.27).

    Se Cristo usou tanto do seu tempo com seus discpulos, certamente quis instru-los com o exemplo de sua vida tambm. Ele veio servir, assim os discpulos tambm deveriam proceder. Este era o seu mtodo de liderana. Ele mesmo deu sua vida, que culminou com sua morte na cruz. O AT profetizou que o Messias seria um "servo sofredor". Seu servir no degenerou. Era humilde, mas

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  • manteve a dignidade. Voluntariamente lavou os ps dos discpulos.

    Sua vida perfeita, sem pecado, terminou no sacrif-cio pela causa proposta no Calvrio. Jesus ensinou o tempo todo que a grandeza no est na posio social, mas na capacidade de servir. Ele tornou claro que a verdadeira liderana est baseada no amor que deve produzir frutos no servir.

    Observando mais de perto, vamos descobrir que seu ministrio estava baseado no ensinar. Dizem os evangelhos em vrios lugares que Ele ensinava como quem tem autoridade. Os letrados da sinago-ga se admiraram de seus ensinamentos, mesmo que discordassem. Ele sabia que para perpetuar a verdade, teria que ensinar. Por isto treinou seus discpulos.

    CRISTO E A AMBIO

    O apstolo Pedro nos conclama a "crescer na graa, no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo".

    No mundo as pessoas tm muita ambio pes-soal de controlar outros, ter poder, ser inescrupu-losos no "fazer dinheiro" e de dominar sobre os outros. Mas Cristo transmitiu aos discpulos um conceito diferente de ambio e grandeza. "Mas Jesus, chamando-os para junto de si... quem quiser ser o primeiro entre vs, ser o servo de todos" (Mc 10.42-44).

    A ambio crist deve estar vestida de humilda-de. No o nmero de servos que nos servem que conta, mas o nmero de pessoas quem ns servi-mos. Verdadeira grandeza, verdadeira liderana est no nosso servio aos outros.

    O QUE LIDERANA NO

    Liderana bblica, em termos da vida de Cristo, vista tambm claramente quando consideramos o lado negativo da questo.

    Lc 22 uma passagem que proporciona alguns valiosos princpios para ajudar-nos a analisar a vi-so do Senhor sobre liderana. A passagem, nos versculos 24 a 27 contm estes princpios. Mas o contexto importante. Jesus havia institudo a Santa Ceia, o grande ministrio do Deus encarnando. inacreditvel que aquilo que est descrito nestes versculos pudesse ter acontecido neste contexto.

    1.A liderana no NT no jogo poltico de poder. A Escritura recorda a disputa dos discpulos logo aps terem participado da Ceia do Senhor. O jogo do poder poltico na igreja mesmo mais repreensvel do que no mundo. Infelizmente este jogo tem se multiplicado na igreja nestes 2.000 anos.

    2. Liderana no NT no atitude autoritria. Lc 22.25 mostra a reao do Senhor aos argumen-tos de seus discpulos. Este tipo de disputa para os "reis da terra", que buscam honras. Liderana no exerce sua autoridade e poder para subjugar os liderados.

    Lc 22.26: "Mas vs no sois assim". diferente com os discpulos de Cristo que devem liderar o trabalho do Reino de Deus. 3. Liderana no NT no controle cultural. Uma

    das palavras mais lindas e significativas no traba-lho da igreja dicono. Significa "servio" e precisamente o que Cristo fez por seus discpu-los naquele cenculo. Segue-se a pergunta ret-rica e a resposta: "Sou eu quem serve..."

    CONCLUSO: A liderana no Novo Testamento no brilhantis-mo, relaes pblicas e plataforma pessoal mas humilde servio para o grupo. O trabalho de Deus deve ser desenvolvido por poder espiritual. Paulo aponta para isto em 1 Co 1.26-31. Alguns lderes servem a Palavra e outros servem as mesas, mas todos SERVEM (At 6.1-7).

    O LADO POSITIVO

    Kenneth O. Gangel no seu livro Competent to Lead, sugere 4 itens positivos da liderana crist. 1. A liderana de nosso Senhor focaliza o indivi-

    dual. Sua conversa pessoal com Pedro um exemplo (cf. Jo 21).

    2. A liderana do Senhor focaliza as escrituras. O tratamento das verdades absolutas de Deus no ficaram diludas com filosofia relativista. Coloca o AT em alta estima: "Ouvistes o que foi dito..." (Mt 5.21-48).

    3. A liderana do Senhor focaliza a si mesmo (Jo 14.9).

    4. A liderana do Senhor focaliza o propsito. Cristo estabeleceu claramente objetivos para o seu ministrio no mundo.

    III. AS EPISTOLAS E LIDERANA

    interessante notar que Cristo no revelou uma completa estrutura ordenada de igreja pronta, quando entregou as chaves do Reino dos Cus aos discpulos e Igreja. A estrutura da igreja no NT desdobrou-se conforme as lideranas de homens comprometidos com a causa.

    As Epstolas nos fornecem mais material para o estudo da liderana no N.T. Atos dos Apstolos narrativa histrica. As epstolas, especialmente as de Paulo e de Pedro, que aparentemente foram

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  • comissionadas pelo Esprito de Deus para organi-zar igrejas (congregaes) locais, apresentam o plano de Deus e padres para o funcionamento destas igrejas. 1 Ts 2 nos servir de modelo.

    LIDERANA DA IGREJA NO N. T. EDUCA-O

    Em 1 Ts 2.7, 8 Paulo usa a palavra "dceis" para marcar a relao pessoal na liderana (epioi). Em 2 Tm 2.24 Paulo emprega a palavra que foi traduzida por "brando" para descrever "o servo do Senhor".

    O mundo indentifica maculinidade como vigoro-so e rgido, mas Deus define como "brandura". Entende o mundo a liderana como manipulao de adultos, mas Deus a entende como orientao a crianas. Um lder qual um pai que orienta seus filhos pela exortao e pelo encorajamento.

    LIDERANA NO N T. EXEMPLO

    O duro trabalho de Paulo apresentado em 1 Ts 2.9. Durante o dia e a noite, com grande esforo ele trabalhou entre os convertidos. Sua vida foi um exemplo de santidade, justia e correo diante de Deus.

    Em 1 Ts 2.5, 6 Paulo assegura aos Tessalonicen-ses que seus lderes eram "homens", no uma esp-cie de super-homens, gigantes eclesisticos.

    LIDERANA NO NT. PATERNAL

    O que faz um pai? Segundo Ef. 6.4 ele res-ponsvel pela criao dos filhos.

    Em 1 Ts 2.11, 12 so usadas as palavras "exor-tamos" e "consolamos". Estas duas palavras no original so muitas vezes usadas juntas por Paulo. A primeira usada para o ministrio divino, mas a segunda sempre uma palavra humana. O "conso-lar", que tambm significa "encorajar", nunca usado diretamente para o consolo de Deus, mas , forma de descrever a maneira que Deus usa pessoas para ministrar a outros na comunho de f. Um pai tambm "exorta" seus filhos. A palavra tambm tem a idia de admoestao ou testemunho da verdade de forma que se conduzam em padres aceitveis a Deus.

    Primeiramente apresentamos o padro positivo de Cristo no treinamento de liderana. Agora mencionamos o exemplo de Paulo. O desenvolvi-mento da igreja no N.T. estava na multiplicao daquelas poucas pessoas de Atos 1. Muitos lderes da igreja foram treinados pessoalmente por Paulo. Ele foi de fato o "projeto piloto": Timteo, Silas, Tito, Epafrodito, os ancios de feso e muitos

    outros. Existem congregaes hoje que se parecem com

    as lideranas exercidas no mundo, condenadas pelo Senhor em Lc 22. H, sem dvida diferena entre uma e outra liderana.

    ANCIOS, PRESBTEROS, BISPOS E DICO-NOS

    Uma das passagens chaves para a qualificao de lderes Tm. 3.1-10.

    Parece evidente que os lderes na igreja do N.T. eram escolhidos geralmente entre os "ancios', os mais idosos (cf Tt 1.5). Em At 14.23 nos dito que na primeira viagem missionria Paulo e Barnab escolheram"presbteros". Dentre estes "presbteros" e "ancios" emergiam lderes especiais, que se tornaram conhecidos por "bispos". Estes assumiam uma funo toda especial.

    A instituio dos "ANCIOS" tem uma longa histria que precede, inclusive, a constituio da igreja no N.T. Temos a palavra "presbtero" do grego. Em Nm 11.16 registrada a escolha de setenta ancios para ajudar Moiss na administra-o do povo.

    Estes ancios existiam antes que fossem escolhi-dos para a tarefa especial. Neste tempo cada sina-goga tinha seus ancios que eram reconhecidos como guias espirituais na comunidade. Na forma-o de uma sinagoga eram necessrios dez homens. Estes, normalmente, eram fortes lderes comunit-rios.

    Os ancios ou "presbteros" eram respeitados, figuras paternas, usados pelo Senhor para dar orientao igreja.

    O segundo termo usado em 1 Tm 3 "eps-kopos", de onde vem a palavra "episcopado". Esta palavra pode ser traduzida como "supervisor" ou "superintendente". Este conceito tambm tem uma longa histria. Na Septuaginta esta palavra encontrada diversas vezes. Em 2 Cr. 34.17 h uma descrio dos homens que "dirigem a obra e dos que executam". No N.T. seria uma pessoa que tem superviso de uma igreja ou um grupo de igrejas (congregaes).

    SEPARADO PARA...

    Antes de estudar as qualificaes, deve-se notar que os lderes no N.T. eram formalmente "separa-dos" para os seus ofcios (At 13.2). Eles eram ordenados (Tt 1.5). Tinham que se submeter a testes para provar a si mesmos (1 Tm 3.10). Geral-mente eram pagos por seus servios (Tm 5.18). Eram sujeitos a censura (1 Tm 5.19-22).

    Paulo observava suas tarefas no apenas na

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  • igreja, mas tambm em outras reas. Afirma que se eles falhassem nestas, haveria grande probabilidade de falharem tambm naquelas. A primeira tarefa foi a de ser ancio em sua prpria casa. Pois quem no tinha condies de instruir sua prpria casa, no seria apto de treinar a igreja. O segundo critrio era o de responsabilidade de bispo no mundo. Ele devia ter "bons testemunhos dos de fora" (l Tm 3.7). Ver Tb. At 6.3. Este era o teste real.

    Pouca coisa tem machucado mais a igreja do que lderes que falharam nas suas obrigaes so-ciais.

    Paulo aponta outras qualificaes importantes em I Tm 3.1ss. Vejamos as qualidades: 1. irrepre-ensvel (que no deixa margem para ser atacado), 2. Esposo de uma s mulher, 3.Temperante... (at v. 13)

    PEDRO TAMBM FALA SOBRE LIDERANA

    Pedro fala sobre o assunto de liderana crist em sua primeira Epstola (1 Pe 5.1-7). Quando escreveu esta carta ele era uma figura proeminente na primitiva igreja. Alm de estar ligado muito a Jesus, ele era honrado e respeitado por causa de seu papel vital na formao da 1 igreja em Jerusalm. Foi ele quem pregou aquele sermo relatado em Atos dos apstolos, cap. 2.

    importante observar seus conselhos. Poucas passagens mostram o significado da liderana crist mais claramente que em 1 Pe 5. Seu escrito comea endereando suas palavras aos colegas presbteros. Ele relaciona os perigos e privilgios da liderana.

    Primeiro, Pedro diz que os lderes devem cuidar do rebanho. Eles devem ser motivados de maneira apropriada no por coero, mas espontanea-mente. Eles aceitaro suas responsabilidades, no como profissionais, mas com real compaixo pelos outros.

    Em segundo lugar, Pedro ressalta o honroso chamado de liderana. O interesse do lder no deve ser a procura de vergonhoso proveito prprio. As decises em seu trabalho no devem ser afeta-das por interesse de ganho pessoal. Alm disto, um lder no deve ser ditatorial nem tirano. Sua maior preocupao deve ser a de se tornar um exemplo digno para o seu rebanho. Suas aes no so dirigidas pelo amor ao poder ou autoridade. Humildade, diz Pedro, deve ser evidente em seu relacionamento com os outros. "Cngi-vos todos de humildade", conclu o texto (v. 5).

    Formalmente, os verdadeiros lderes cristos no se revoltaro contra as ms experincias da vida, mas aceitaro a mo de Deus sobre suas vidas. Tero presente que Deus os est moldando para serem mais parecidos com seu Filho, mesmo que seja pela tribulao. Pelo sofrimento Deus pode colocar uma pessoa no devido lugar, bem como restaurar algum que confiava em sua prpria carne.

    CONCLUSO Deus quer usar todas as nossas capacidades para

    a construo do seu reino. Toda a liderana visa tornar mais eficiente o trabalho da igreja no sentido de alcanar os objetivos da prpria igreja: A SALVAO DAS PESSOAS. Cada um de ns tem algumas capacidades para liderar algum setor de trabalho da Igreja, sempre visando o bem daqueles que nos cercam. Se a igreja no consegue realizar melhor as suas tarefas porque ns no colocamos a seu servio todas as nossas capacidades de servir.

    Importante para sermos melhores servos de Cristo nos adestrarmos sempre melhor. Aprender tcnicas de liderana e administrao so muito importantes. Mais importante, porm, o uso constante de sua Palavra e dos sacramentos. Estes meios da graa aumentaro a f. A f, por sua vez, vai nos fazer agir. No deixemos para depois, argumentando que ainda no estamos suficiente-mente preparados. Enquanto nos preparamos melhor, simultaneamente devemos agir. O agir e o aprimorar so constantes e simultneos na vida do cristo.

    Quando sentires que, vez por outra fracassaste, no desanima. Os grandes lderes da Bblia e na histria da Igreja tambm tiveram suas fraquezas e fracassos. Mesmo os que citamos como exemplo. Davi, Moiss, Pedro e outros, tambm tiveram seus erros e fracassos. Importante comear j, e, se fracassaste, busca o perdo com arrependimento, recomeando novamente.

    No h tempo a perder. "Vai alta a noite e vem chegando o dia". Tu s importante no trabalho da Igreja. Neste pouco tempo de graa que nos resta, h muito que fazer. Busca em Deus a fora e capacidade que necessitas. "O amor de Cristo nos constrange".

    Rev. Werner N. Sonntag Diretor do Colgio "Concrdia" de Porto

    Alegre e presidente da ANEL (Associao Nacional dos Educadores Luteranos)

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  • Desenvolvendo a Capacidade de Liderar

    Liderana assunto de extrema atualidade no apenas na igreja crist. Grandes empresas estudam este assunto para aumentar sua produtividade, eficincia e lucros. O mundo da poltica estuda este assunto com enorme interesse. Compreender a liderana e saber exerc-la fundamental tanto para aqueles que querem um bom governo como para aqueles que tem interesses dos mais variados para chegarem ou manterem-se no poder. Liderana assunto importante para os que lutam por educa-o, por cultura, por sade, e assim por diante.

    Reconhecer a importncia da liderana em todos estes campos pode nos dar a viso da amplitude do tema. No entanto, no apenas por isto que ela nos preocupa. Na igreja fundamental que a liderana seja bem exercida. Neste estudo pretendemos abordar este tema da seguinte maneira: primeiro, queremos rapidamente relembrar o que igreja e qual a sua razo de existir. Em seguida, vamos recordar a doutrina do sacerdcio universal dos crentes e a organizao da igreja. A partir desta fundamentao vamos propor um correto exerccio de liderana e maneiras de produzir efetivo crescimento tanto na liderana como atravs da liderana.

    CAPTULO I

    A IGREJA

    A igreja crist vive em dias de crise de identida-de. Pode-se observar esta crise nas declaraes desencontradas dos lderes eclesisticos quando eles falam sobre o que a igreja e qual sua funo. Parece que vo longe os tempos em que, como dizia Lutero nos artigos de Esmalcalde, uma crian-a de sete anos sabia o que igreja. Na realidade, no h problema nem nas crianas de hoje, nem na definio de igreja. que, por vezes, se complica o simples. Lutero ensinou que igreja "os santos crentes e os cordeirinhos que ouvem a voz de seu pastor"1 (Jo 10.3).

    A Confisso de Augsburgo, por sua vez, define igreja de forma bem semelhante. Diz o artigo VII da Confisso: "Ensina-se tambm que sempre haver e permanecer uma nica santa igreja crist, que a congregao de todos os crentes, entre os quais o evangelho pregado puramente e os santos

    sacramentos so administrados de acordo com o evangelho."2

    O que deve ficar claro no conceito de igreja que quando se trata de definir a mesma, est se falan-do do povo de Deus. Igreja so todos aqueles que crem no Salvador Jesus Cristo e que ouvem a sua voz. Igreja no so somente os pastores, ou somente os leigos, ou somente um grupo de pessoas. Igreja todo o povo de Deus. E, para se ter a igreja, necessrio ter a palavra de Deus e os santos sacramentos. No se tem igreja pelo fato de haver um aglomerado humano, ou haver uma organizao de grupo, os estatutos registrados em repartio pblica. Tem-se igreja quando Deus a cria atravs de sua santa palavra e dos seus sacramentos.

    CAPTULO II

    O SACERDCIO UNIVERSAL E O MINISTRIO

    Muita confuso e at mesmo desestmulo para o trabalho j causou a m compreenso de duas doutrinas: a do sacerdcio universal de todos os crentes e do ministrio eclesistico. Entende-se por sacerdcio universal de todos os crentes o fato que todos os cristos, pelo batismo, recebem o Esprito Santo e so constitudos sacerdotes diante de Deus (1 Pe 2.5,9; Ap 1.6;5.10;Rm 12.1).3 Esta doutrina ensina que todos os cristos so convocados por Deus a apresentarem a si mesmos como sacrifcio vivo pela expanso do reino de Cristo, todos os cristos tem o direito de chegarem a Deus em ora-o, e tem o privilgio de agir no reino de Deus.

    A doutrina do ministrio eclesistico, ou do ofcio da pregao, distinta do sacerdcio univer-sal dos crentes e no tem propriamente a sua ori-gem na mesma. O ministrio eclesistico tem sua origem na instituio divina. Deus quer que o evangelho seja pregado para que as pessoas che-guem verdadeira f em Jesus Cristo e por Cristo tenham a salvao eterna. O ministrio eclesistico um ministrio especfico, dado por Deus igreja, que tem como finalidade pregar publicamente o evangelho. O ministrio eclesistico no est em oposio ao sacerdcio universal, antes, pelo con-trrio, fortalece o sacerdcio universal, pois o alimenta com a energia de Deus, palavra e sacra-mentos. Conferir CA V, 1-3; CA XIV; CA XXVIII,

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  • 5, 8; Ap XIII, 12; Tr 31, 67-72. Havendo compreenso correta destas duas dou-

    trinas, amplia-se o campo de trabalho e de ao para o povo de Deus na igreja. O pastor no aquele que deve fazer todo o trabalho, nem deve ser aquele que priva o povo de Deus para que este povo, por amor a Deus, pratique toda sorte de boas obras por Deus ordenadas.4 Neste imenso campo de trabalho que se abre na igreja h inmeras oportunidades para o exerccio de uma sadia liderana. E a igreja ir funcionar como descreve o apstolo Paulo em Efsios 4.15-16: "Mas, seguindo a verdade em amor, cresamos em tudo naquele que o cabea, Cristo, de quem todo corpo, bem ajustado e consolidado, pelo auxlio de toda junta, segundo ajusta cooperao de cada parte, efetua o seu prprio aumento para a edificao de si mesmo em amor."

    CAPITULO III A

    ORGANIZAO DA IGREJA

    Quando estamos preocupados em desenvolver a capacidade de liderana crist, um pressuposto bsico sabermos o que estamos liderando e onde pretendemos chegar. De uma forma geral muito fcil responder esta pergunta: Estamos liderando o trabalho da igreja e pretendemos chegar vida eterna com Deus no cu. Mas esta resposta, embora no esteja errada, no resolve a situao. Ser mais especfico pode nos ajudar a compreendermos melhor a nossa misso e desafio.

    O grande objetivo de Deus para com o ser humano cado em pecado salv-lo mediante a f Jesus Cristo (Jo 3.16). Isto deve ficar bem claro diante de nossos olhos: Deus quer salvar as pessoas atravs de seu Filho Jesus Cristo. Este o ensino da Escritura Sagrada e o que os luteranos confessam. Deus concede remisso dos pecados aos homens por graa, por causa de Cristo, mediante a f. Esta f operada pelo Esprito Santo atravs da pregao da palavra e da administrao dos sacra-mentos. Esta f produz bons frutos e boas obras. E a grande misso da igreja pregar o evangelho puramente e administrar os sacramentos de acordo com o evangelho (CA IV, V, VI, VII).

    A Bblia Sagrada esmiua este grande objetivo da igreja de forma tal que pode se subdivid-lo em cinco objetivos mais especficos. O evangelho pregado (testemunho), criando o povo de Deus que ouve a voz do seu Pastor e o serve (culto). Este povo aprende a palavra do Senhor (ensino), congregado pelo Esprito Santo (comunho) e pratica toda sorte de boas obras por ele ordenadas (servio social). O evangelho o motor de todo o

    processo, que contnuo. A igreja constantemente testemunha, ensina, cultua, vive em comunho e serve ao prximo. Para no termos uma imagem distorcida dos objetivos da igreja no devemos divid-la em compartimentos estanques, mas procurar v-la como um organismo. Assim, no servio social o evangelismo e todos os outros objetivos devem estar presentes.

    Este trabalho da igreja, que visa atingir os objetivos propostos por Deus em sua palavra, desenvolvido por pessoas. Deus equipa seus filhos que nele confiam, tanto do sacerdcio universal como do ministrio eclesistico, com toda sorte de capacidades espirituais, habilidades e recursos necessrios para que desenvolvam o trabalho por ele designado. Neste trabalho participa todo o povo de Deus e Deus concede o equipamento necessrio para que o mesmo acontea. Diz o Dr. Guido Merkens em seu livro Organized for Action (Organizados para agir): "Pelo Batismo ns somos feitos "acionistas" da morte de Cristo e, mais do que isto, "acionistas" de sua vida. Pertencer igreja, tomar parte na responsabilidade deste trabalho, no opcional para os cristos; parte de sua vocao e vida."5

    Baseados na doutrina do sacerdcio universal dos crentes e visando os objetivos que Deus prope para a sua igreja, deveramos lutar para que todo o povo de Cristo fosse engajado neste trabalho. A nossa liderana deveria ser no sentido de envolver todo o povo de Deus na misso que ele concedeu sua igreja, e no no sentido de fazer o trabalho pelo povo de Deus, de tal sorte que ele no se sinta motivado a agir (IPe 4.10; 2 Co 3.2; Ap 1.5,6;1 Pe 2.5).

    Talvez a esteja um dos pontos falhos no exerc- cio da liderana que estamos desempenhando dentro da igreja. Nem sempre estamos empenha dos em envolver todo o povo de Deus no trabalho, e, alm disto, nem sempre temos clareza sobre qual seja a nossa misso neste mundo.

    H ainda outro fator que merece ser considera do. Muitas vezes percebe-se entre os cristos uma grande insatisfao pelo desempenho da igreja. Queixam-se os cristos que a igreja no faz nada, que o seu ensino e sua vida esto dissociados, que as decises so de uma minoria e nem sempre em conformidade com a vontade do povo de Deus. Esta insatisfao pode ter muitas causas e estas causas podem mudar de situao para situao. No entanto, vale a pena refletirmos sobre as seguintes consideraes do Dr. Merkens sobre o assunto:

    Hoje costumamos dizer: "Impresso sem ex-presso causa represso." Esta mxima da psico-logia pode ser muito bem aplicada ao povo cristo das congregaes crists. Ns ensinamos que eles so sacerdotes reais do Rei ressuscitado;

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  • agora devemos permitir que vivam como prncipes e princesas no Reino. Ns pregamos que eles possuem todos os dons espirituais do Deus Trino; agora devemos conduzi-los a usarem estes dons, ou eles duvidaro de nossas palavras, julgando-as insinceras, ou perdero seus dons por falta de uso. Ns falamos das fantsticas oportunidades e desafios de nosso tempo para ganhar e salvar almas; mas se no os engajarmos e treinarmos para realizar este traba-lho, ns damos a entender que eles no so o "tipo" necessrio para executar o programa de nosso Senhor. Em resumo, eles se tornam cris-tos "reprimidos".6

    CAPITULO IV

    COMO ESTAMOS ORGANIZADOS

    No captulo anterior vimos qual o objetivo de Deus para a sua igreja neste mundo e salientamos que toda a igreja deveria se movimentar em torno deste objetivo. A igreja no apenas deveria conhe-cer este objetivo, mas efetivamente se engajar no trabalho para alcan-lo.

    O fato de a igreja se compor de seres humanos, faz com que ela necessite se organizar. A igreja se apresenta ao mundo como uma organizao com uma estrutura mais ou menos definida. A igreja apresenta programas, promove encontros, faz construes, tem finanas, realiza servios. Tudo isto requer organizao, liderana. Mesmo sendo o trabalho da igreja um trabalho essencialmente espiritual, este trabalho se expressa e toma forma atravs de instituies terrenas, concretas.

    Examinando o quadro bblico, vemos diversas formas de estrutura que a igreja naquele perodo assumiu. No entanto, em nenhum momento na Bblia, h alguma determinao na forma como a igreja deve se estruturar. A exigncia bblica que a igreja tenha em seu meio e difunda a Palavra e os sacramentos. H, portanto, uma liberdade na forma como a igreja pode se organizar. Esta liberdade, no entanto, no deve ser usada para dar viso ao descaso e falta de ao. Ela deve ser utilizada para que a organizao sirva com maior eficincia os objetivos por Deus propostos.

    Em xodo captulo 18 nos descrita uma experincia de boa organizao. Moiss estava liderando o povo de Israel e a tarefa era tremenda. Ele no conseguia atender os problemas de todos como gostaria e sabia de sua responsabilidade. A o sogro de Moiss, Jetro, lhe d bons conselhos sobre liderana e organizao. E isto ele faz porque reconhece que era dever de Moiss, diante de Deus, atender bem o povo. Administrar realmente

    tem a ver com Deus. Liderar, administrar, organi-zar uma tarefa responsvel que deve ser assumida diante de Deus.

    O Dr. Waldo Werning reproduz em seu livro The Radical Nature of Church (A Natureza Radical da Igreja) dois grficos que ajudam visualizar a situao de liderana de Moiss antes e depois do conselho sbio dado pelo seu sogro.7

    Olhando para muitas congregaes temos um quadro semelhante. Se perguntamos quem res-ponsvel pelo evangelismo, pela comunho, pelo ensino, pelo servio social, pela adorao, a primei-ra resposta que vir mente de muitos "o pastor". Em outras situaes, se perguntamos quem responsvel pelas ofertas da congregao, a respos-ta ser "o tesoureiro". H ainda outras situaes em que se perguntarmos quem responsvel pelo dirigir das reunies da comunidade, quem res-ponsvel pelo conserto do telhado da igreja, quem responsvel pela limpeza do ptio da igreja e assim por diante, a resposta ser "o presidente".

    Talvez a resida um problema em nossa maneira de nos organizarmos. Quando uma congregao se organiza, ela se preocupa em ter em seu meio o ministrio da palavra, e de preencher os requisitos necessrios para poder registrar seus estatutos na repartio pblica competente. Diante desta preo-cupao inicial, convoca-se uma assemblia geral de membros votantes, e escolhe-se uma diretoria que ir representar oficialmente e administrar os negcios da congregao, e se chama um pastor para pregar a palavra e administrar os sacramentos,

    Enquanto este procedimento em forma de organizao demonstra preocupao em atender as necessidades bsicas de administrao e em alcan-ar o grande objetivo de pregar a palavra e admi-nistrar os sacramentos, no se v, por outro lado, nenhuma preocupao em atender os objetivos especficos de evangelismo, educao, adorao, servio social e comunho. Esta falta de clareza nos objetivos especficos faz com que ou no se organize quase nada, ou com que se mantenha uma organizao que tem muito pouco ou nada a ver com o grande objetivo (palavra e sacramentos). Isto se manifesta em muitas congregaes de forma bastante estranha. No h ningum que se preocupe com evangelismo, ao social e assim por diante, mas h boa organizao de festanas, excurses, bares e assim por diante. Em questes de equipamentos pode-se verificar o mesmo fenmeno. Muitas congregaes tm melhores instalaes para realizarem festas que para realizarem cultos. No salo de cultos no entra a metade do nmero de membros batizados, mas no salo de festas entram todos e mais alguns convidados. H congregaes que no tem nenhum folheto evangelstico para oferecer aos seus visitantes e tem muito

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  • pouco material didtico para ser usado na instruo de seus membros; e estas mesmas congregaes tm todo o equipamento necessrio para servir um delicioso ch ou para preparar um suculento assa-do.

    Esta distncia entre os objetivos que a igreja recebeu da parte de Deus e a organizao para o trabalho tem implicaes muito srias no exerccio da liderana. A liderana no sabe exatamente qual sua funo e, tambm por isto, na boa vontade de fazer alguma coisa, lidera um trabalho que no tendo clareza de objetivos, alcana os resultados mais diferentes e, por vezes, at inesperados. Alguns lderes, na tentativa de alcanar comunho e confraternizao crist organizam uma festa, mas por no terem bem clareza do que pretendem alcanar, alcanam brigas e confuso. Muitos membros de diretoria depois de passarem um ano ou mais, por no saberem bem em que direo estavam trabalhando, juntaram mgoas suficientes para no quererem nunca mais participar da lide-rana de uma congregao.

    Alm da falta de clareza de objetivos, nota-se, no exerccio da liderana em nossas congregaes, uma nfase muito grande em questes administra-tivas e pouca nfase na liderana de assuntos como educao, evangelismo, e assim por diante. Isto faz com que haja concentrao de funes na mo de poucos e excesso de organizao sem tarefa na mo de muitos. Explicamos: na maioria da direto-rias existem cargos como vice-presidente, vice-se-cretrio, vice-tesoureiro, revisores, cujo trabalho maior que fazem ao longo de toda uma gesto participar das reunies da diretoria. Por outro lado, quase todo o trabalho na rea de evangelismo e ensino feito pelo pastor e uns poucos professores de escola dominical.

    A constatao de problemas como falta de clareza de objetivos e organizao deficiente, nos leva a considerar como deveramos desenvolver a liderana de forma mais apropriada.

    CAPTULO V

    LIDERANA VISANDO OBJETIVOS

    A proposta que fazemos neste trabalho que a congregao crist se organize tendo em vista os seus objetivos. Isto modifica alguns conceitos que tradicionalmente so empregados para organizao de congregao. Colocando em primeiro lugar os objetivos da congregao, no se ir procurar pessoas para simplesmente preencher os cargos de uma diretoria, mas se ir procurar dons e qualificar estes dons para o desempenho de tarefas que iro atingir os objetivos. O lder no ir se compreender

    como algum que, enfim, precisa fazer o servio, mas ir perceber que ele um instrumento nas mos de Deus para que os objetivos de Deus para o seu povo sejam alcanados.

    Dentro deste enfoque a congregao ir procurar em seu meio lderes que tenham capacidades ou caractersticas especiais para o exerccio da lideran-a visando os objetivos que ela reconhece atravs do estudo da palavra de Deus.

    Existem caractersticas gerais necessrias para quem ir ocupar cargos de liderana. No livro Como se forma um Lder Cristo, de autoria de Ted Engstrom, o autor considera as seguintes perguntas como reveladoras do potencial de liderana de uma pessoa:

    1. Poder ele aprender a desempenhar as tarefas que lhe foram atribudas?

    2. Estar ele em harmonia com os ideais do grupo?

    3. Ser ele compatvel com os membros do grupo?

    4. Conseguir ele "dizer" s pessoas o que devem fazer e como devem faz-lo?

    5. Aceitar ordens sem ressentimento ou resis-tncia?

    6. Ser organizado? 7. Sentir a responsabilidade?8 No livro Grupos de Reflexin, so citadas as

    seguintes caractersticas do lder: 1. Deve ter conscincia de sua responsabilidade. 2. Convico profunda dos princpios que

    sustenta. 3. Conhecimento do grupo e seu meio ambien-

    te. 4. Capacidade para detectar as aspiraes do

    grupo. 5. Interesse e compromisso com o grupo. 6. Desejo de superao constante. 7. Mente razovel e aberta. 8. Esprito democrtico. 9. Estabilidade emocional.

    10. Imparcialidade. 11. Ser animador.9 Engstrom ainda lembra que o lder deve ter

    carter ntegro e personalidade equilibrada. O car-ter tem a ver com decises ticas e a personalidade com o relacionamento social.10

    Alm destas caractersticas gerais que o lder deve ter para desenvolver a liderana em qualquer setor da congregao crist, existem qualidades especiais ou dons especiais requeridos para tarefas especficas como o louvor, o ensino, o testemunho.

    importante lembrar que estas caractersticas no esto prontas, acabadas, na pessoa do lder. Liderana um aprendizado. Um aprendizado constante. importante investir muito tempo para

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  • desenvolver estas capacidades. Por isto que se fala em desenvolver a capacidade de liderar. Este desen-volvimento se consegue gradualmente e deve ser trabalhado.

    CAPTULO VI

    O CRESCIMENTO NA CAPACIDADE DE LIDERAR

    "O declnio de qualquer organizao comea quando se despreza a necessidade de elevar o nvel de preparao dos seus membros."11 Esta afirmao de Engstrom perfeitamente vlida para a igreja crist em geral, e para as congregaes crists em particular. A congregao crist no deveria se contentar com o mnimo de instruo de seus membros e o mnimo de preparo de seus lderes. A preocupao com a melhora do preparo dos membros em geral e dos lderes em particular deveria ser constante. E como fazer este preparo, como desenvolver a capacidade de liderar?

    Antes de mais nada, este assunto deveria ser ponto de preocupao para a congregao crist. Devemos chamar a ateno da congregao para a necessidade de formao de lderes. Conscientes desta necessidade de lderes bem preparados para dirigirem a congregao em direo aos seus objeti-vos, a congregao pode tomar iniciativas bem concretas.

    Na instruo de confirmados pode-se educar os jovens no apenas a conhecerem a s doutrina, mas a praticarem a mesma engajando-os na adorao, no testemunho, na comunho, no servio social. Na instruo de adultos, alm do ensino doutrinrio, oferecer oportunidades e treinar os que esto sendo instrudos para colocarem em prtica a f que Deus lhes concedeu.

    Para treinar os lderes que j assumiram e esto em postos de liderana, a congregao pode promover encontros onde estuda os objetivos da congregao e onde treina os mesmos a realizar as suas tarefas. Estes encontros podem ser a nvel de congregao, parquia ou distrito.

    Como a liderana enfrenta muitas dificuldades e tentaes, importante um trabalho sistemtico no sentido de fortalecer a f dos lderes atravs do estudo da palavra e do estmulo participao dos mesmos na Santa Ceia. Nas reunies de diretorias e comisses importante haver estudo da palavra de Deus e este estudo deve ser relevante situao por eles vivida.

    Na procura de novas lideranas a congregao pode investir em aperfeioamento de pessoal, encaminhando seus membros para cursos de profes-

    sores, diconos e pastores. Pode tambm contratar pessoas que executem atividades especiais (secreta-ria, por exemplo), para liberar o pastor para tarefas em que ele tem melhor preparo. A busca de novas lideranas no deve ser descuidada. Existem formas de treinar novas lideranas. Engstrom cita cinco mtodos de instruo anotados por Ordway em seu livro The Art of Discipleship (A Arte do Discipulado). So os seguintes:

    1. Experincia numa situao de liderana sob alguma superviso;

    2. Progresso de pequenas situaes de lideran-a para outras maiores;

    3. Cursos de prtica e de estudo de aprendiza-gem;

    4. Conferncias de estudo de mtodos por grupos de lderes;

    5. Conferncias pessoais e sistemticas do ins-trutor com o lder 12

    No ser difcil imaginar formas de adaptar estas idias para as nossas congregaes. Quando algum est se destacando na atividade da congregao e mostra sinais de capacidade de liderana, a congregao pode investir nesta pessoa preparan-do-a para gradativamente ocupar cargos cada vez mais importantes dentro da congregao.

    Talvez algumas adaptaes na organizao de nossas congregaes se faam necessrias visando atingir melhor os objetivos da congregao e o desenvolvimento da capacidade de liderana. Via de regra nossas congregaes se organizam para atingir a todos os membros na rea de adorao (cultos). Tambm atingem parte dos membros na educao sistemtica e continuada (crianas na escola dominical e confirmandos; instruo de adultos para ingresso na igreja). Alm disto, muitas congregaes se organizam para atingir os demais membros, ou por faixas etrias, ou por distino de sexos (juventude, senhoras e leigos). Existem outras formas que podem ser to ou mais eficazes para atingir a totalidade dos membros da congregao. Uma organizar a congregao em torno de seus objetivos. Ter comisses ou departamentos encarregados de envolver toda a congregao em torno de evangelismo, servio social, educao, comunho e adorao. Outra organizar os membros da congregao de tal forma que se atinjam as vocaes presentes entre eles. Preparar lideranas que possam ajudar aquelas pessoas que so pais a serem pais cristos. Preparar lideranas que ajudem aqueles que so empregados a serem empregados cristos. Preparar lideranas que ajudemos patres a serem patres cristos. E assim por diante, conforme nos citado nas epstolas (Ef 5 e 6; Rm 12-14; Cl 3; 1 Tm 5-6).

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  • CONCLUSO

    Sendo a atividade de liderana na congregao crist uma atividade que sempre precisa se renovar e que precisa estar atenta s transformaes cons-tantes pelas quais passa o mundo, importa que haja uma preocupao maior neste sentido e que algo seja constantemente feito para que os objetivos que Deus colocou sejam alcanados. Que Deus conceda sabedoria sua igreja neste sentido.

    Prof. Ern W. Seibert Professor de Teologia Prtica na E.S.

    de Teologia - ICSP.

    NOTAS

    1 Os Artigos de Esmalcalde, III, XII, 2 - Livro de Concrdia, (So Leopoldo, Porto Alegre: Editora Sinodal, Editora Concrdia, 1980), p. 338.

    2 Confisso de Augsburgo, VII, 1 (Traduo do

    texto alemo) - Livro de Concrdia, p. 31 3 The Ministry, A Report of the Comission on

    Theology and Church Relations of The Lutheran Church - Missouri Synod, (1981), p.25

    4Confisso de Augsburgo, VI, 1. sGuido Merkens, Organized for Action, (St.

    Louis: Concrdia Publishing House, 1959), p. 1. 6 Idem, ibidem, p. 3. 7Waldo Werning, The Radical Nature of Chris-

    tianity, (Special Pre-publication Edition, 1975), pp. 76-77

    8Ted W. Engstrom, Como se Forma um Lder Cristo, (Queluz: Nleo - Centro de Publicaes Crists, Ltda., 1984), p. 140.

    9 Armnio Pineros, Editor, Grupos de Refle-xin, (Bogot: Fondo Educativo del Comit Luterano de Literatura Zona Norte, 1980), p. 15.

    10 Engstrom, in op. cit., p. 139. 11 Idem, ibidem, p. 139. 12 Idem, ibidem, p. 143.

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  • Liderana, Planejamento, Execuo

    No estudo "Desenvolvendo a capacidade de liderar" tentamos dar uma boa fundamentao para o exerccio da liderana e indicamos que a liderana deveria estar voltada para os objetivos a serem alcanados. Uma liderana voltada para os objeti-vos a serem alcanados uma liderana que sabe o que quer e que pode desenvolver suas capacidades envolvendo novas lideranas no trabalho.

    CAPITULO I

    PLANEJAMENTO

    Planejamento um aspecto do trabalho da igreja que fica, por vezes, em segundo plano. Pensa-se que, pela urgncia do trabalho a ser feito, planeja-mento uma perda de tempo e de energia no muito justificvel. At mesmo textos bblicos so citados para provar que o planejamento no apenas desnecessrio, mas at errado (Mt 6.34). No entanto existem textos bblicos que mostram necessidade do planejamento (Lc 14.28-32).

    H um ditado na rea do planejamento que diz que se no feito o planejamento para vencer, j est feito o planejamento do insucesso.

    O primeiro passo na rea do planejamento o estabelecimento de objetivos. J vimos no trabalho acima citado que os objetivos gerais para o traba-lho da igreja crist esto estabelecidos por Deus em sua palavra. Teramos como objetivos gerais pregar a palavra e administrar os sacramentos. Estes objetivos se manifestariam na atividade da igreja no testemunho, ensino, adorao, servio social e comunho. Graficamente poderamos assim dispor os objetivos gerais. Pregar a palavra e administrar os sacramentos

    Testemunho Pregar a palavra Ensino

    e administrar Adorao os sacramentos Servio Social

    Comunho

    Quando se planeja a atividade de uma congrega-o e mesmo de um departamento dentro de uma congregao, tendo em vista os objetivos gerais, devemos estabelecer os objetivos especficos. Os objetivos especficos visam os objetivos gerais. De

    preferncia os objetivos especficos devem ser mensurveis.

    Vamos exemplificar. Uma congregao tem em vista o objetivo geral de pregar a palavra atravs do testemunho. Ela quer atingir os no cristos, com a pregao do evangelho de Jesus Cristo. Diante deste objetivo geral ela se prope objetivos espec-ficos, como distribuir 2000 folhetos, ou ento, visitar todas as 500 residncias de uma determinada vila. No bom um objetivo que no seja mensurvel, como, por exemplo, pregar a palavra de Deus para muitas pessoas, ou, distribuir alguns folhetos. Um objetivo desta natureza dificilmente pode ser avalidado.

    Uma vez estabelecidos os objetivos especficos, es-tabelecem-se os passos a serem dados para que estes sejam alcanados. Os passos so as metas. Neste ponto do planejamento necessrio prever que recursos humanos e que recursos materiais sero necessrios. Vamos continuar desenvolvendo o exemplo do testemunho para as 500 residncias de uma determinada vila. Na rea dos recursos humanos, h necessidade de preparar, digamos, 20 duplas de visitadores, as quais iro visitar respecti-vamente, 25 residncias. Alm de recrutar estas 50 pessoas, necessrio organizar um pequeno curso de preparao, que precisa ser administrado por algum. preciso, tambm, que haja pessoas preparadas pra receberem estas pessoas na igreja e que dem orientao para aqueles que desejarem. Alm destes recursos humanos, necessrio prever os recursos materiais. So necessrios folhetos missionrios, local de encontro para os cursos de preparao, material de instruo para seguimento dos que manifestarem interesse pela Palavra de Deus, local de cultos apropriado, oramento.

    Conhecidas as metas e os recursos humanos e materiais necessrios, preciso cronometrar as metas e estabelecer o nome dos responsveis por todos os passos a serem percorridos. Voltamos ao exemplo que estamos desenvolvendo.

    1. Escolha e compra do material evangelstico. Responsvel: ______________ Precisa ser feito at: _____________

    2. Organizao e execuo do curso de prepara o para os visitantes. Estabelecimento dos temas a serem estudados. Convite do palestrante (s). Prepa- rao do local do curso (cadeiras, recurso didti- cos, alimentao).

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  • Responsvel: ______________ Precisa ser feito at:_________________

    3. Recrutamento dos visitadores. Responsvel: _____________ Precisa ser feito at: __________

    4. Organizao da visitao (diviso geogrfica, estabelecimento das duplas). Responsvel: ______ ________ Precisa ser feito at: ______________

    5. Visitao. Responsvel: _____________ . Ser feito at: ______________

    6. Avaliao. Responsvel: ______________ . Ser feito em: _____________ .

    Estes passos devem ser claros na mente do lder quando planeja um trabalho. Este planejamento pode ser feito em grupo. Neste caso, o lder deve ter em mente clareza quanto ao processo do plane-jamento deixando o grupo estabelecer as metas e o desenvolvimento das mesmas.

    Quanto s metas, devemos lembrar que algumas necessitam um processo de planejamento comple-to, em virtude de sua complexidade.

    CAPITULO II

    ORGANIZAO

    Planejar ainda no a mesma coisa que organi-zar. Cabe ao lder, depois do planejamento feito, organizar. Organizar significa criar condies para que o planejamento feito possa ser executado. preciso dispor os recursos materiais, determinar os responsveis, treinar os responsveis em suas tare-fas. Delegar responsabilidades.

    Sobre a delegao de responsabilidades, lembra-mos que o lder sempre permanece como o ltimo responsvel sobre todo o trabalho, mesmo sobre o que ele delegou. Por outro lado, o lder deve confiar nas pessoas a quem delega responsabilidades e deve dar-lhes autonomia suficiente para poderem realizar o que lhes pedido. Deve tambm, ao delegar responsabilidade, dizer o que ser considerado como um bom desempenho. A a

    pessoa que recebe a tarefa saber como agir para ter um desempenho satisfatrio.

    Ao longo da organizao podero ser necess-rios reajustes no planejamento.

    CAPITULO III

    EXECUO

    "Planeja o teu trabalho e trabalha o teu plano." Esta mxima deve nortear o lder neste ponto de seu trabalho. Planejar no a mesma coisa que fazer. A energia no deve ser toda gasta apenas no planejamento. A execuo ir dizer se houve ou no houve bom planejamento.

    Na execuo importante que se cumpram os passos pr - determinados, que haja boa superviso em todo o processo, e que se faam os reajustes que se mostrarem necessrios. Ao final da execuo deve haver uma avaliao do trabalho feito, que servir para estabelecer novos objetivos, que daro incio a um novo processo de planejamento, organizao e execuo.

    CONCLUSO

    medida que a igreja ouvir a Palavra do Senhor, ela ir aprender de Deus os propsitos que ele tem para ela. Sabendo destes propsitos, a igreja ir se organizar de tal forma que os atinja. Sabendo se organizar, sabendo planejar, e executar, haver trabalho para todo o corpo de Cristo. Os lderes certamente iro desempenhar um papel importantssimo neste processo. Que saibam de suas responsabilidades, das dificuldades, das alegrias, e que saibam tambm que no Senhor o seu trabalho no ser em vo.

    Prof. Ern W. Seibert Professor de Teologia Prtica da

    E.S. de Teologia-ICSP

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  • Liderana na Congregao Crist

    1. Introduo

    0 tema desta palestra por demais abrangente e corre o risco de repetir muitas das coisas que j foram bordadas nesta 1 Semana do Leigo. Foi-nos dito que deveramos falar sobre como fazer com que a estrutura existente na congregao (diretoria, comisses, departamentos) tenha condies de funcionar melhor. No deveremos nos preocupar em como modific-la, mas em como fazer com que ela sirva melhor aos seus objetivos.

    Essencial para que os diversos grupos funcio-nem melhor um bom planejamento. Mas como este aspecto j foi estudado, iremos abordar aqui aquilo que mais se faz em diretorias, comisses e departamentos, ou seja reunies. Falaremos tambm sobre o papel de servo que o lder deve desempenhar nestas reunies.

    2. A Liderana nas reunies da igreja

    Muitas vezes voc j deve ter ficado cansado de ir a reunies. Tambm j deve ter dito: " tudo uma perda de tempo!" mesmo assim, o que mais se faz na igreja so reunies reunies de todas as espcies. Elas no precisam ser necessariamente cansativas e voc pode fazer muita coisa para que elas se tornem mais produtivas. Alm de todo um planejamento sobre o objetivo, os programas e o melhor mtodo para realizar suas reunies, existem alguns aspectos que merecem a sua ateno. Eles precisam ser observados para que a sua liderana torne as reunies mais gratificantes.

    2.1 Contedo

    Toda a reunio tem uma srie de contedos que so abordados. A agenda determinada pela pr-pria natureza da reunio e pelas necessidades da congregao. Normalmente, voc tem condies de auxiliar na elaborao desta agenda que trata, em resumo, de manter a igreja em andamento e expan-so.

    Mas toda a reunio tem sempre um aspecto objetivo e outro subjetivo em andamento. O seu contedo inclui todos os assuntos que so aborda-dos e todos os sentimentos que so expressos ou

    experimentados durante o desenrolar da reunio. Precisamos nos preocupar tanto com as idias, como com estes sentimentos. E para este segundo aspecto que quero chamar a sua ateno.

    A reunio deve servir aos interesses da igreja como instituio, mas tambm deve servir aos seus interesses como corpo de Cristo. Se voc cr que o objetivo principal da igreja reconciliar os homens com o seu Deus e tambm com os seus semelhan-tes, os sentimentos expressos devem ser uma preocupao constante nas reunies que voc assis-tir. Normalmente, nossas reunies no deixam de iniciar com uma meditao sobre a Palavra de Deus, porm tambm devemos poder constatar nelas a f crist em ao.

    Richard Niebuhr afirma em um dos seus escritos que o contedo principal de qualquer reunio na igreja deveria ser Lc 10.27: "Amars o Senhor teu Deus de todo o teu entendimento; e amars o teu prximo como a ti mesmo." Em outras palavras, a reunio deve servir para aumentar o nosso amor a Deus e ao prximo. Na reunio, deve ser praticado o ministrio da reconciliao.

    Normalmente, nos preocupamos muito com vencer a agenda e prestamos pouca ateno aos sentimentos que tambm esto presentes durante o encontro. O resultado disto que colocamos em perigo nossas decises e enfraquecemos a comu-nho crist que existe em nosso meio. Quando voc sai de alguma reunio com raiva ou ressentimento, sinal de que pouca ateno foi prestada a este segundo aspecto do contedo do encontro. Se voc comear a dar ateno a ele, provavelmente ter reunies um pouco mais longas, pois o dilogo que fatalmente surgir tomar um bom tempo da sua agenda. Porm vale a pena gastar este tempo. A reunio se tornar bem mais produtiva e ser mais fcil implementar as suas resolues.

    2.2 Dinmica

    Durante a reunio, voc deve procurar observar como o grupo est trabalhando em sua agenda. A maneira como ns tratamos dos assuntos abordados em reunio e a maneira como ns nos comportamos com relao aos demais participantes da reunio devem ser uma expresso de nossa f e amor cristos. Ns falamos muito a respeito de

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  • amor, mas nem sempre o praticamos. Por isto, voc precisa se preocupar com a manuteno da comunho entre os participantes do encontro. Se no conseguirmos amar o irmo que est sentado ao nosso lado, no teremos condies de amar a Deus (1 Jo 4.20).

    No transcorrer da reunio, tente concentrar sua ateno na maneira como as pessoas esto se rela-cionando. Veja se elas esto se comunicando bem. Diferenas de opinio so coisas normais e no prejudicam o trabalho. Elas podem ser at benfi-cas, pois foram os participantes a revisar seus procedimentos e procurar solues. O que atrapalha a reunio a falta de amor, pois esta resulta numa hostilidade nociva. Ela tambm gera suspeita, o isolamento e muitos problemas mais.

    Por isto, voc deve procurar uma maneira de manter uma boa comunicao em andamento durante a reunio. Creio que s a experincia lhe mostrar o melhor caminho a seguir em cada situa-o, porm existem alguns sintomas que devem merecer a sua ateno para no impedirem o bom andamento dos trabalhos da reunio. Eles so a existncia de uma pessoa ou de um pequeno grupo que:

    a. tenta bloquear o andamento da reunio usando argumentos irrelevantes, ignorando o que os outros dizem, rejeitando sumariamen- te as sugestes de outros, fazendo ameaas, no querendo ceder em suas posies;

    b. tenta dominar a discusso (isto sempre acaba provocando atitudes que prejudicam a reu- nio como, por exemplo, a agresso dos demais participantes ou a sua submisso);

    c. retrae-se e permanece em silncio ou ento comea uma conversa colateral que nada tem a ver com a reunio.

    Nestes casos, bom deixar a agenda um pouco de lado e discutir francamente este tipo de procedi-mento. Para o bem de todos, mostre a estas pessoas que o seu modo de agir conflita com seus princpios cristos.

    2.3 Responsabilidade

    Responsabilidade a marca de uma pessoa madura. tambm a marca que caracteriza uma reunio produtiva. A doutrina do sacerdcio uni-versal dos crentes exige muita responsabilidade da nossa parte, pois cada um de ns deve ministrar ao seu prximo. Tambm em nossas reunies todos devem participar responsavelmente, procurando se desincumbir de seu ministrio para com os irmos.

    De quem a culpa quando as coisas vo mal numa reunio? De todos os seus participantes. O

    sucesso de qualquer reunio depende de todos os seus membros.

    Quando s o lder responsvel pela reunio, as pessoas que participam normalmente desenvolvem um grande sentimento de dependncia e no conseguem superar este problema. Tornam-se agressivas e rebeldes. No querem participar das decises. Nesta situao, o lder a autoridade, s ele fala e a reunio no se torna nada produtiva, pois todos comeam se comportar como filhos rebeldes. Quando ningum responsvel pela reunio, surge a anarquia e no se consegue fazer quase nada. O ideal quando todos os participantes da reunio assumem responsabilidade por ela. Nesta situao, h confiana mtua e boa comunicao entre as pessoas. Todos do a sua colaborao. Todos se sentem na obrigao de agir. a democracia em ao. Quando isto acontece, torna-se fcil colocar o amor cristo em prtica.

    Poderamos at dizer que a grande tarefa de um lder libertar os participantes da reunio de uma dependncia emocional da sua pessoa, deixando que eles encontrem o seu prprio rumo e assumam a responsabilidade pelo que est acontecendo no grupo. Faa um pequeno teste para ver como anda a responsabilidade dos participantes das suas reu-nies. Quando o lder est ausente:

    a reunio cancelada porque nada pode ser feito sem ele?

    algum faz uma orao no incio e no final da reunio?

    o grupo tem coragem de fazer uma resoluo final sobre alguma matria? Perguntas como estas o auxiliaro a identificar os rumos que voc precisa seguir em sua liderana. Divida responsabilidades.

    2.4 Avaliao

    Toda reunio avaliada de uma forma ou de outra. Infelizmente a maior parte destas avaliaes feita no carro quando se est voltando para casa, ou no caf da manh quando se comenta o que aconteceu na noite anterior. Estas avaliaes parti-culares no auxiliam em nada. Voc pode perceber o resultado delas pelas aes das pessoas que parti-ciparam, mas isto no ir melhorar o andamento de suas reunies. Quando as pessoas deixam de vir, deixam de fazer o que deveriam ter feito, ou formam uma "panelinha" para melhorar as coisas, voc j sabe qual foi o resultado da avaliao.

    Para ser proveitosa, a avaliao deve ser feita durante a reunio. Deve fazer parte integrante da agenda desta. preciso parar para falar sobre o que estamos fazendo e sobre como o estamos fazendo.

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  • No existe um mtodo nico ou mais apropriado de avaliao. O importante que voc a faa de alguma maneira, conversando sobre o que est acontecendo, distribuindo um questionrio com perguntas especficas para ser preenchido e discuti-do na prpria reunio, ou solicitando que lhe sejam entregues comentrios e sugestes escritas numa outra oportunidade. Use sua imaginao para desenvolver as melhoras maneiras de avaliar as suas reunies. Pea, por exemplo, que os participantes dem notas para a maneira como lder se portou, a qualidade da comunicao que houve durante a reunio, a maneira como os sentimentos foram expressos, a responsabilidade dos participantes, a liberdade de expresso, o clima do encontro, a produtividade da reunio. Pea que escrevam sobre o que mais gostaram, o que atrapalhou o bom andamento dos trabalhos, algumas sugestes que gostariam de dar para melhorar a reunio. Depois estude estas avaliaes em conjunto com o grupo e faa os ajustes necessrios em sua programao. Quando voc solicitar avaliaes, tambm precisar estar disposto a ser flexvel e mudar os seus proce-dimentos. a partir da que voc conseguir desenvolver programaes relevantes para o seu grupo.

    Ao se promover uma avaliao, invariavelmente vai haver divergncia de opinies. Mas isto no chega a ser um problema. um desafio para que se encontrem novos caminhos. Voc pode ter certeza de que a avaliao sempre ajudar a se fazer um planejamento mais adequado para a sua situao e isto aumentar a produtividade da reunio.

    3. O lder um servo

    Estar numa posio de liderana na congregao implica em fazer tudo aquilo que for necessrio para que o grupo que voc lidera funcione a contento. No importa se este grupo uma comis-so, um departamento, ou a prpria congregao. A liderana uma funo essencial e deve ser exercida de acordo com as necessidades do grupo e com os princpios teolgicos que norteiam sua vida.

    Se voc estudar a Bblia procurando saber como deve ser o lder, voc invariavelmente encontrar a comparao do lder com um servo. Veja o que Jesus afirma em Mt 20.25-28:. "Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. No assim entre vs; pelo contrrio, quem quiser tor-nar-se grande entre vs, ser esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vs, ser vosso servo; tal como o Filho do homem, que no veio

    para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos." Repare que Jesus descreve dois tipos de liderana que esto em conflito: no estado, se exerce autoridade; na igreja, se serve. Analise tambm os seguintes textos bblicos: Lc 22.24-27; Gl 5.13-15; 1 Pe 2.16; 1 Pe 4.8-11; Fp 2.5-1l; Jo l3.8ss.

    Mesmo conhecendo estas afirmaes bblicas, quando em posio de liderana, muitas vezes nos esquecemos de agir como um servo. O lder servo "se esvazia" em favor dos outros, seguindo o exemplo de Cristo. Seu objetivo principal no a promoo ou o bem-estar pessoais, mas a edifica-o do corpo de Cristo.

    Quando o lder servo est dirigindo uma reu-nio,

    ele no se considera superior aos outros, mas no nvel dos demais;

    ele no manda na reunio, mas d o bom exemplo e faz;

    ele divide responsabilidades, pois quer que os demais tambm tenham a oportunidade de servir, exercitando os seus dons; temporaria-mente, ele providencia tudo que o grupo necessita para funcionar, mas, quando outros esto em condies de assumir certas tarefas, ele os incentiva para que o faam;

    ele procura atender as necessidades das pessoas e reparte com elas todo o conheci-mento que tem para o bom andamento das atividades da reunio;

    ele encoraja a avaliao, mesmo que tenha que ouvir coisas desagradveis;

    ele honesto e digno de confiana; ele pratica o que fala.

    Mesmo quando o lder servo no est presidindo uma reunio,

    ele responsvel e no deixa de prestar a sua colaborao;

    ele leva em considerao as idias e os senti-mentos dos demais participantes;

    ele est disposto a mudar as suas atitudes e procedimentos quando necessrio;

    ele faz tudo o que for necessrio para que a reunio alcance os seus objetivos e consiga realizar as tarefas a que se prope.

    Em resumo, ele serve at o limite das suas poten-cialidades no importando se ele est no comando da reunio ou no. Ele sempre usa os seus dons para a edificao do corpo de Cristo. Seu mtodo de liderana dar o exemplo, e pelo seu exemplo, inspirar outros a imitarem cada vez melhor o modelo de servio com que Cristo nos serviu.

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  • 4. Concluso BIBLIOGRAFIA

    Liderar nunca ser fcil. Exige uma avaliao constante do que est acontecendo e uma procura constante por novas solues. Um lder acomodado acaba deixando de ter condies de liderar. Por isto espero que estes aspectos que analisamos neste momento tenham aberto seus horizontes para novos campos a explorar em sua tarefa de liderar. Preocupe-se com eles. Estou certo de que, agindo desta maneira, voc ir se renovar e conseguir dar uma nova vida s estruturas existentes em sua congregao.

    - Anderson, Philip A. Church Meetings That Matter. Boston: United Church Press, 1971. Reid, Clyde. Groups alive - Church Alive. New York:Harper & Row, Publishers, 1969. Richards, Lawrence O. Teologia da Educao Crist. Traduo de Hans Udo Fuchs. So Paulo: Sociedade Religiosa Edies Vida Nova, 1980. Zuck, Roy B. e Gene A. Getz, editores. Adult Education In the Church Chicago: Moody Press, 1972.

    Alguns Problemas de Liderana para Voc Discutir

    1. O pastor da congregao era muito bem dotado. Frequentemente era convidado para dar palestras e para colaborar em algum trabalho especial a nvel nacional. Isto interferia em seu ministrio na congregao local e ainda causava conflitos pessoais, pois suas atividades externas desviavam sua ateno do que acontecia na congre-gao. Depois de analisar a questo e orar muito, a Diretoria sentiu que no deveria limitar a atuao do seu pastor na igreja em geral. Resolveu liber-lo durante 3 meses do ano. Neste tempo, ele estaria livre para trabalhar em outros setores e a congrega-o seria coordenada pelos lderes durante a ausn-cia do pastor. Os prprios membros dirigiriam os cultos e as demais atividades da congregao.

    No domingo seguinte, o presidente informou a congregao sobre a deciso tomada e convocou uma assemblia. Antes desta, um outro lder da congregao falou sobre as razes que levaram quela deciso, a necessidade de que cada membro aceite responsabilidades no servio, e a expectativa com que a diretoria olhava para o futuro. Os membros da congregao foram divididos geogra-ficamente e cada membro da diretoria discutiu com os membros da sua regio sobre a deciso, para ouvir idias e colher impresses, pedindo suges-tes, conselhos ou advertncias em relao sada do pastor.

    a. Como estes lderes lideraram? b. Como a tomada de deciso esteve em

    harmonia com o conceito do servo que d o exemplo em vez de exigir?

    c. Que problemas em potencial voc v amea- aram este tipo de tomada de deciso ... especial- mente quando se trata de um assunto crtico como este?

    d. Que valor tiveram as discusses em grupo? e. O que voc acha que os lderes da igreja

    deveriam fazer daquele momento em diante para preparar a congregao para o perodo da sada do pastor?

    2. Voc acaba de ser eleito para integrar a Comisso de Mordomia da sua congregao. Antes mesmo da primeira reunio, o pastor d a voc uma folha mimeografada que contm o programa de mordomia para 87. Ele diz: "Espero que voc me apie para fazer com que este programa funcione". Existem coisas naquele programa com as quais voc no concorda. Como voc deve agir?

    3. Um membro deixou um legado de 20 mil cruzados para a congregao. Na diretoria, ningum sabe como aplicar aquele dinheiro. Querem fazer com ele alguma coisa especial. Os leigos gostariam de reformar o templo. As senhoras sugerem comprar bancos novos para o templo. Um terceiro grupo de membros acha que se deve comprar um rgo e material didtico para a Escola Dominical. Ningum se entende. O que voc sugere para resolver este conflito?

    Prof. Ari Gueths Professor de Teologia Prtica da

    E.S. de Teologia - ICSP

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  • Problemas Enfrentados na Liderana

    1. Introduo

    Problemas que no faltam! Todos ns, lderes, temos nossas dificuldades pessoais no desempenho de nossas funes. Estamos aqui procurando resol-ver estas dificuldades e nos equipar para o servio do reino de Deus. J aprendemos muito nesta 1a. Semana do Leigo e, agora, parece que viro novas respostas para as nossas questes. Afinal, queremos falar a respeito de "diagnose e solues" de pro-blemas.

    Acontece que todos os problemas que envolvem liderana so, por natureza, extremamente nume-rosos, complexos e tm muito a ver com a situao individual de cada caso. difcil generalizar. difcil encontrar bibliografia especfica para as diversas dificuldades que enfrentamos em nossas congregaes. Muita coisa do que diremos aqui parte de minhas reflexes pessoais sobre o assunto. Portanto, no so solues definitivas que iremos encontrar. So apenas subsdios para que voc reflita tambm sobre o assunto e d sua contribui-o pessoal para a soluo dos problemas aborda-dos. Por outro lado, pode ser que voc nem con-corde que os problemas que iremos analisar sejam prioritrios. As suas dificuldades podem ser outras. Mas no deixe de levantar as questes com as quais voc veio para este encontro. O grupo sempre pode nos auxiliar a encontrar novos caminhos.

    2. Problemas na rea de Nossa Compreenso Teolgica

    Uma das coisas das quais nos orgulhamos, como luteranos que somos, da teologia que herdamos da Reforma. H boas razes para nos orgulharmos. Nossa teologia a correta interpretao da palavra de Deus. Mas h dificuldades para levarmos nossa compreenso teolgica s bases da igreja. Da decorrem alguns de nossos problemas.

    2.1 Pouca motivao para o trabalho do reino de Deus

    Analisando nossas estatsticas, vemos que existe pouco envolvimento de nossos membros com a

    palavra e os sacramentos. Infelizmente a IELB calcula a mdia da contribuio anual por comun-gante, mas no nos fornece, a nvel nacional, dados sobre a freqncia mdia em cultos e celebraes da Santa Ceia. Por isto, preciso trabalhar com os dados que conheo referentes ao distrito a que perteno. O que vemos, so congregaes antigas em que a mdia de freqncia nos cultos gira em torno de 30% dos membros batizados e congrega-es novas em que esta mdia est por volta de 50%. Na celebrao da Santa Ceia, os ndices caem um pouco. Nas congregaes antigas uma mdia de 25% dos comungantes participa da Santa Ceia quando ela oferecida e, nas novas, 45% dos comungantes. Talvez na IELB, como um todo, os nveis nem sejam to altos. Se analisarmos o nme-ro de participantes nos estudos bblicos, sejam eles dados em pequenos grupos durante a semana ou em departamentos, a situao continua difcil. Uma boa parte dos nossos membros acha que o estudo da Bblia suprfluo. J aprenderam o suficiente na instruo de confirmandos!

    Da constatao destes fatos surge a pergunta: ser que estamos bem alimentados em nossa vida espiritual? Creio que uma boa parte da nossa lide-rana est. Resta o desafio de envolvermos todos os membros da congregao num processo de fortalecimento da sua f. Tudo deve ser feito para que possamos compreender mais e melhor a pala-vra de Deus. A partir da, muita coisa ir mudar em nossas congregaes. Diz o apstolo: "Toda a Escritura inspirada por Deus e til para o ensino, para a repreenso, para a correo, para a educao na justia, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra" (2 Tm 3.16).

    Por falta de um maior desenvolvimento em nossa vida espiritual, temos nossas prioridades pessoais e congregacionais desordenadas. Acaba-mos gastando tempo e energias com aquilo que no essencial para a nossa misso. E, por no conhecermos melhor a graa de Deus, no nos sentimos motivados para o trabalho do seu reino.

    2.2 Conceito deficiente de "igreja" e "minist-rio"

    Para designar a igreja, o Novo Testamento

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  • emprega o termo ekklesia com o sentido literal de "os que foram chamados" (Rm 9.24-26). O chamado de Deus que rene as pessoas em igreja onde quer que elas se encontrem. O que as caracte-riza sua f comum em Cristo como o seu Salva-dor. A igreja a agncia atravs da qual o chamado de Deus deve ser estendido a todos os povos (Mt 28.19-20). Os integrantes da igreja se edificam mutualmente e se equipam para realizar a grande obra de evangelizao.

    Uma das figuras que o Novo Testamento usa para descrever a igreja a do corpo de Cristo (Rm 12.5; 1 Co 12; Ef 1.22-23; Cl 1.18). O corpo de Cristo composto por indivduos que, por causa da ao do Esprito Santo, esto ligados a Cristo pela f. Mas estes indivduos tambm esto ligados uns aos outros como membros deste corpo. O objetivo de cada um empregar os seus dons