Voz das Misericórdias

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VOZDAS MISERICÓRDIAS director: Paulo Moreira | ano: XXVIII | maio 2012 | publicação mensal União das Misericórdias Portuguesas Em Ação Fafe Misericórdia da diáspora portuguesa Pág. 12 Pág. 11 Em Foco Valpaços Autossuficiência que vem da terra Terceira Idade Pág. 14 Chaves Idosos mostram que o amor não envelhece Qualidade 8 Fundão 18 Entrevista 24 UMP promove programa de certificação 15 anos a formar talentos Vítor Melícias em conversa com o VM Santas Casas decisivas nos cuidados continuados A Misericórdia da Amadora inaugurou a sua unidade de cuidados continuados. Com capacidade para 30 pessoas em internamentos de média duração, a unidade já está com lotação esgotada. Presente naquela cerimónia, o ministro da Saúde, Paulo Macedo, garantiu a ma- nutenção da rede nacional de cuidados continuados, na qual as Misericórdias têm tido um “papel ativo e decisivo”. Naquele mesmo dia começavam a ser regularizadas as dívidas do Ministério da Saúde às Santas Casas. O ministro da Solidariedade e da Segurança Social, Pedro Mota Soares, também marcou presença na inauguração. Saúde, 16 Ministro da Saúde garantiu a manutenção da rede nacional de cuidados continuados O governo lançou o Programa de Emergência Alimentar e as Misericórdias responderam ao desafio. Dezenas já estão a apoiar pessoas que neste momento não conseguem sequer assegurar as refeições. O VM foi conhecer as realidades da Santa Casa do Montijo e de Amarante. Destaque, 4 e 5 Emergência Alimentar Santas Casas já servem refeições Debates na Calheta Em ação Santa Casa da Calheta, na Madeira, promove debates no âmbito do Dia da Misericórdia 10

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Jornal Voz das Misericórdias edição de maio de 2012

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Page 1: Voz das Misericórdias

VOZDASMISERICÓRDIASdirector: Paulo Moreira | ano: XXVIII | maio 2012 | publicação mensal

União das Misericórdias Portuguesas

Em Ação

FafeMisericórdia da diáspora portuguesa

Pág. 12 Pág. 11Em Foco

ValpaçosAutossuficiência que vem da terra

Terceira Idade Pág. 14

ChavesIdosos mostram que o amor não envelhece

Qualidade 8 Fundão 18 Entrevista 24

UMP promoveprograma de certificação

15 anos a formartalentos

Vítor Melíciasem conversacom o VM

Santas Casas decisivas nos cuidados continuadosA Misericórdia da Amadora inaugurou a sua unidade de cuidados continuados. Com capacidade para 30 pessoas em internamentos de média duração, a unidade já está com lotação esgotada. Presente naquela cerimónia, o ministro da Saúde, Paulo Macedo, garantiu a ma-nutenção da rede nacional de cuidados continuados, na qual as Misericórdias têm tido um “papel ativo e decisivo”. Naquele mesmo dia começavam a ser

regularizadas as dívidas do Ministério da Saúde às Santas Casas. O ministro da Solidariedade e da Segurança Social, Pedro Mota Soares, também marcou presença na inauguração. Saúde, 16

Ministro da Saúde garantiu a manutenção da rede nacional de cuidados continuados

O governo lançou o Programa de Emergência Alimentar e as Misericórdias responderam ao desafio. Dezenas já estão a apoiar pessoas que neste momento

não conseguem sequer assegurar as refeições. O VM foi conhecer as realidades da Santa Casa do Montijo e de Amarante. Destaque, 4 e 5

Emergência Alimentar Santas Casas já servem refeições

Debates na CalhetaEm ação Santa Casa da Calheta, na Madeira, promove debates no âmbito do Dia da Misericórdia 10

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O NúmerO

O CasO

A FrAse

ESPAço SénIor

pAnORAMAwww.ump.pt2 vm maio 2012

MêS De MAIO, MêS De MArIA

Não há entre nós quem nunca tenha recorrido ou implorado a proteção da Virgem nos momentos de aflição. É comum usarmos expressões como: “Valha-me Nossa Senhora!” ou “Mãe do Céu, valei-me!”, sempre que nos sentimos desamparados

Mês de Maio, mês de Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe.

Creio que não há entre nós quem nunca tenha recorrido ou implorado a proteção da Virgem

nos momentos de aflição.É comum usarmos expressões como:

“Valha-me nossa Senhora!” ou “Mãe do Céu, valei-me!”, sempre que nos sentimos desamparados, desprotegidos ou necessitados de conforto.

Mas é comovente ver a fé com que um elevado número de peregrinos acorreu ao Santuário de Fátima no passado dia 13.

Quantos, com tão grandes dificuldades, vêm de longe, implorar a proteção e pedir alívio para os seus males e das suas famílias.

Que a todos, por intercessão de Maria, Deus conceda a Sua bênção.

Entretanto, na Academia, os preparativos para o final do ano, bem como para as inscrições do próximo, estão em curso.

para este efeito, realizou-se uma reunião do Conselho Diretivo que decorreu com muito espírito de cooperação por parte dos professores que nela participaram em grande número. na reunião se debateu a introdução das novas tecnologias nas inscrições, o que constitui uma mais-valia para a Academia.

Durante este mês, esteve patente uma interessante exposição de iluminuras, na UMp, na Rua de Entrecampos.

O passeio já anunciado a Alcobaça, foi muito bom e do agrado de todos os que nele participaram.

O Grupo Cantares tem agendadas duas atuações: a Algés e ao Alto do Duque.

O Grupo Coral prepara, entretanto, a sua atuação na paróquia de Fátima, bem como a da Festa do final do ano letivo.

Todas estas atividades nos proporcionam energia e boa disposição, duas das principais valências da nossa Academia.

Como já vem acontecendo há cerca de dez anos, a Santa Casa da Misericórdia de Torres Novasacolheu, no passado dia 11 de Maio, um grupo de 95 peregrinos, vindos de Alcácer do Sal comdestino à Fátima para as celebrações do 13 de Maio.

peregrinos em Torres novas

95

pedro moTa soares

Ministro da solidariedade e

segurança social

“As instituições sociais conseguem prestar um apoio

de qualidade inquestionável no

combate à exclusão social e são

particularmente importantes na dinamização da

economia.”

A Descermais casais

desempregados

em abril deste ano, o número de casais em que ambos estão registados

como desempregados foi de 7.877, ou seja, mais

70,6% do que em abril do ano passado e mais 4,3%

do que em março.

A subirBom país

para mães

Portugal está no 15º lugar no índice dos melhores países para se ser mãe,

de acordo com o relatório anual da organização Save The Children. O

país desceu um lugar em relação a 2011.

a FOTOGraFIa

VAlongo Lucho gonzaLez visiTa idosos e criançasLucho Gonzalez, atleta do Futebol Clube do Porto (FCP), fez recentemente uma visita de cortesia à Santa Casa da Misericórdia de Valongo. O futebolista esteve no lar de idosos e no Centro de Acolhimento Mãe d’Água. Segundo o provedor Albino Poças, “foram umas horas de imensa alegria e confraternização, tendo o atleta Lucho, que veio acompanhado da sua companheira, aproveitando para distribuir dezenas de autógrafos e manifestar toda a sua enorme simpatia”. A visita do futebolista do FCP teve lugar a 30 de Abril.

Homenageado foi provedor de 1966 a 2002

reDonDo homenagemao anTigoprovedor

A Santa Casa da Misericórdia de redondo prestou uma homenagem ao antigo provedor. José Manuel Barahona Mira da Silva também acompanhou a criação da União das Misericórdias Portuguesas (UMP). A homenagem foi a 5 de Maio e contou com a presença do presidente emé-rito da UMP, padre Vítor Melícias.

em causa estava o meritório de-sempenho de funções exercidas nos órgãos sociais da instituição. Ao longo de quarenta e nove anos, José Manuel Barahona Mira da Silva ocupou os cargos de secretário da Mesa Admi-nistrativa (1963-1965), de provedor (1966-2002) e de presidente da Mesa da Assembleia Geral (2003-2011).

O programa da homenagem começou na igreja da Santa Casa,

com uma missa celebrada pelo pároco António Sanches. No final da eucaristia, o antigo provedor foi convidado a descerrar o seu retrato, que irá integrar a galeria dos beneméritos e provedores da Misericórdia de redondo.

De seguida, teve lugar uma sessão solene, no edifício da As-sembleia Municipal de redondo, em que os oradores traçaram a biografia, desde os bancos do Liceu e elogiaram a figura e a obra do

homenageado.Visivelmente grato, o antigo

provedor encerrou a sessão afirman-do: “Não sendo homem de muitas emoções, sentia-se comovido e agradecia a homenagem prestada”.

Para o atual provedor da Mise-ricórdia do redondo, João Azaruja, “não se tratou de uma homenagem de circunstância, mas de um convic-to reconhecimento público do que é ser exemplo da missão das Mise-ricórdia ao longo de meio século.”

Maria Deolinda Gonçalves Academia de Culturae Cooperação da [email protected]

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ON-LINe

oPInIão

sLIDesHOW

www.ump.pt maio 2012 vm 3

Carlos Andrade Membro do Secretariado Nacional da UMP

CerTIFICAçãO DA qUALIDADe

A nossa escolha pelo EQUASS, em alternativa à opção que o Estado fez, implica um sistema de reconhecimento a nível europeu, garantia e certificação da qualidade dirigido às organizações que atuam no âmbito dos serviços sociais

Nos últimos quatro anos, tem vindo a União das Misericórdias portuguesas (UMp) a analisar e pronunciar-se sobre a implementação e a certificação da qualidade nas respostas sociais das Misericórdias, tendo tomado a iniciativa de avançar com o referido processo através do EQUASS- European Quality

in Social Services, uma vez que não foi possível articular de forma concertada com a filosofia adotada pelo governo ao nível dos modelos de avaliação da qualidade.

A principal razão pela recusa em adotar os manuais de qualidade apresentados pelo Instituto da Segurança Social (ISS) prende-se com o facto de estes não respeitarem as características individuais e sócio geográficas de cada Misericórdia, o que por sua vez atenta contra a sua identidade e cultura organizacional, pondo em causa a sua visão e, logo, comprometendo a sua missão.

A nossa escolha pelo EQUASS, em alternativa à opção que o Estado fez, implica um sistema de reconhecimento a nível europeu, garantia e certificação da qualidade dirigido às organizações que atuam no âmbito dos serviços sociais, aplicando-se a todas as respostas sociais alvo de intervenção das Misericórdias.

A implementação e certificação da qualidade deverá ser um processo faseado, tendo em conta o atual contexto socioeconómico e as consequentes dificuldades das Misericórdias. por isso, a UMp realizou diligências, junto do pOpH, para a abertura de candidaturas que ajudassem a minorar o esforço financeiro das Misericórdias neste processo, situação que ainda não foi decidida, nem se prevê que o seja brevemente.

não obstante, não podemos deixar de reiterar que, apesar da importância reconhecida da implementação e certificação da qualidade, é obviamente voluntária a sua adesão, pelo que às Misericórdias que entendam avançar com o processo a expensas próprias ou com suporte de outros financiamentos, sugerimos que contactem o Gabinete de Cooperação Estratégica de Acão Social (GCEAS) da UMp.

As Misericórdias, com mais de 500 anos de vida, são obviamente um exemplo de qualidade de serviço. Esta capacidade de ter uma leitura, atualizada ao seu tempo, sobre a qualidade que imprimem nas suas ações obriga as Misericórdias de hoje, uma vez mais, a adaptarem-se ao seu tempo e olharem para estes processos como fundamentais para garantir o futuro.

A Misericórdia de Vila Viçosa organi-zou, a 11 de Maio, os primeiros “Jogos do Idoso”. O evento visava estimular a socia-lização e diminuir a ociosidade, facilitando a integração dos idosos na comunidade e melhorando a sua qualidade de vida. A iniciativa reuniu cerca de uma centena de seniores e contou com dinâmicas de grupo, jogos de mesa, jogos tradicionais e atividades de expressão física, terminando com uma simbólica largada de balões.

VilA ViçosA Jogos esTimuLamsociaLização

A Santa Casa da Misericórdia de re-sende inaugurou, a 19 de Maio, uma nova estrutura para acolhimento de idosos. O edifício custou cerca de um milhão e 500 mil euros, suportados na totalidade pela Misericórdia. Com 8 residências individu-ais e 11 de casal, o novo equipamento está preparado para receber pessoas a partir dos 65 anos. No mesmo dia, foi homena-geado o provedor, José Dias Gabriel, cujo nome foi dado ao edifício.

resenDenova esTruTurapara idosos

O Centro de Apoio a Deficientes de Santo estêvão, resposta social da UMP, está a apostar na melhoria competências dos seus colaboradores. em parceria com o IeFP, 54 colaboradores frequentaram um curso sobre “Prevenção e Primeiros Socor-ros” e está a realizar-se a segunda edição do curso “Comunicação Interpessoal e Assertividade”. “Prevenção de lesões no trabalho” e “Pedagogia da Interdependên-cia” são formações que já decorreram.

FormAçãomeLhorar compeTênciasTécnicas e pessoais

Hábitos saudáveis contribuem para uma maior qualidade de vida e conse-quente longevidade. este foi o mote para o Dia do Movimento, que aconteceu a 5 de Maio no Pavilhão dos Desportos na Ana-dia. A Misericórdia de Sangalhos marcou presença no evento com a participação de utentes de todas as idades. A atividade visava também celebrar o “Ano europeu do envelhecimento Ativo e Solidariedade entre Gerações”.

sAngAlhossoLidariedade e saúde enTre gerações

A Santa Casa de reguengos de Monsaraz já tem a funcionar o serviço de teleassistência para os idosos das respostas sociais de apoio domiciliário (simples e integrado). em conjunto com a União das Misericórdias Portuguesas e a Portugal Telecom, foram instalados cinco equipamentos numa primeira fase, estando já prevista a montagem de mais equipamentos para apoio de pessoas em situação de isolamento.

reguengos De monsArAz com TeLeassisTência

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DESTAQUEwww.ump.pt4 vm maio 2012

Servir refeições para quemperdeu tudo

misericórdia do montijo integrou recentemente a rede solidária de cantinas sociais. Desde o primeiro dia de maio que da cozinha central da instituição saem mais 80 refeições

Têm em média 40 anos. O trabalho foi garante de uma boa vida, em que nada faltava lá em casa, até que o desemprego bateu-lhes à porta. O que dantes era tranquilidade e segu-rança é hoje memória. O presente é de privações que vão da entrega da casa ao banco à falta de comida em casa. Por isso procuram a Santa Casa da Misericórdia do Montijo, que in-tegrou recentemente a rede solidária de cantinas sociais no âmbito do Programa de emergência Alimentar (PeA) lançado pelo governo. Desde o primeiro dia de Maio que da cozinha central da instituição saem mais 80 refeições para os beneficiários desta medida governamental contra a fome.

Nos primeiros dias havia uma placa a indicar o local para onde se deveriam dirigir os beneficiários do Programa de emergência Alimentar na Misericórdia do Montijo. Mas quase 20 dias depois, a placa já está guardada: todos já conhecem bem o espaço.

Pela hora do almoço e ao fim da tar-de, cerca de 45 pessoas dirigem-se às instalações da Santa Casa. A ementa é variada. As refeições distribuídas são as mesmas que são servidas aos utentes da instituição, com exceção de um único beneficiário: um bebé de seis meses. Para ele, as cozinheiras preparam uma refeição diferente e adequada às necessidades da tenra idade e o pai vai ligeiramente mais cedo buscar os alimentos. Sopa, um segundo prato de carne ou peixe com acompanhamento e fruta compõem a refeição fornecida.

O protocolo assinado com a Se-gurança Social prevê um máximo de 80 refeições, mas se mais apoios houvesse, mais pessoas lá iriam. A responsável por este projeto naquela Misericórdia, Carmen Fevereiro, contou ao VM que todos os dias aparecem novas pessoas interessa-das. Neste momento já são 20 em lista de espera. Para aquela respon-sável, o facto de haver tantas famí-lias necessitadas justifica o estreito

cruzamento de dados com outras instituições. Através do CLAS são referenciados os casos mais graves, mas para assegurar que a refeição é entregue a quem mais precisa, os dados são atualizados quase que diariamente. O desemprego dá acesso ao Programa de emergência Alimen-tar, mas a partir de um certo valor o subsídio de desemprego inviabiliza o acesso a este apoio. em jeito de exemplo, Carmen Fevereiro contou que a situação da maior parte das famílias é de tal maneira grave que são negadas refeições a pessoas com rendimentos mensais na ordem dos 30 euros. A larga maioria dos atuais beneficiários tem rendimento zero.

Mas antes deste programa a Mi-sericórdia do Montijo já tinha a fun-cionar uma cantina social que serve diariamente refeições para 40 pessoas. Contudo, refere a responsável, são públicos completamente diferentes, pelo que a instituição fornece as refeições em espaços diferentes. Os utentes da cantina social são pesso-

Bethania Pagin as referenciadas com problemas de pobreza prolongada, exclusão social, toxicodependência etc.

Os beneficiários deste novo progra-ma são pessoas que até muito pouco tempo atrás tinham uma boa vida e procurar ajuda alimentar através da Misericórdia é um gesto de desespero. Segundo Carmen Fevereiro, embora nem sempre seja possível fornecer refeições por causa do limite imposto pela Segurança Social, todos os que ali vão são encaminhados para outras enti-dades que também estão a trabalhar no sentido de apoiar esses “novos pobres”. A vergonha é mesmo muita, continuou, e por isso é tão importante a questão da confidencialidade dos dados.

De acordo com o protocolo com a Segurança Social, as instituições que integram a rede solidária de can-tinas sociais podem cobrar até no máximo um euro por refeição, mas a Misericórdia do Montijo não está a pedir qualquer valor aos que lá vão buscar alimentos. De acordo com o provedor, João Gaspar, a Santa Casa

“As refeições distribu-ídas são as mesmas que são servidas aos utentes da instituição, com exceção de um único beneficiário: um bebé de seis me-ses.

Instituições da rede solidária de cantinas podem cobrar até um euro por refeição, mas a Misericórdia do Montijo não está a pedir qualquer valor

Page 5: Voz das Misericórdias

www.ump.pt maio 2012 vm 5

noVAS oPorTunIDADES EM LAMEGoSão 22 os colaboradores da Misericórdia de Lamego em processo de reconhecimento, validação e certificação de competências no âmbito do programa Novas Oportunidades. O processo deverá estar concluído em Julho.

Montijo serve 80 refeições por dia

já andava há algum tempo a estudar a possibilidade de servir refeições, mas a necessidade de manter em ordem as contas era uma preocupação. “Sem apoios não teríamos condições”, afir-mou. Cada refeição, continuou aquele responsável, custa cerca de 2,5 euros para a instituição.

Atualmente a Santa Casa do Mon-tijo apoia 68 idosos em lar, 40 em centro de dia e outros 120 em apoio domiciliário. em creche e pré-escolar são 200 as crianças. Para todas essas pessoas, a Misericórdia prepara cerca de 700 refeições diárias. Para o efeito, foi construída há uns anos uma cozi-nha central – com 11 colaboradores - que serve todos os equipamentos. Na mesma altura foi também criada uma lavandaria central onde é tratada toda a roupa dos utentes da instituição.

recorde-se que o Programa de emergência Alimentar foi lançado pelo governo no distrito de Setúbal. Além do Montijo, também as Santas Casas de Almada e Barreiro estão a fornecer refeições.

Uma luz ao fundo do túnelna misericórdia de Amarante muitas pessoas encontraram a “luz ao fundo do túnel”. são beneficiários da cantina social e dos cabazes alimentares

Vera Campos

Uma refeição quente. Uma sopa. Um cabaz de bens alimentares essenciais. Uma palavra amiga. Um apoio que não se esquece. Na Santa Casa da Misericórdia de Amarante, homens, mulheres e crianças encontraram a “luz ao fundo do túnel”. São benefici-ários da cantina social e dos cabazes

que a instituição providencia para famílias em situação de carência económica e social.

“Tinha tudo e hoje não tenho nada. Nunca imaginei ter de pedir para comer. Tive tudo para ser um senhor, mas as drogas cruzaram a minha vida”. As palavras saem a custo. Os olhos baixam para esconder a tristeza. A vida destes homens nem sempre foi cinzenta. Tiveram bons empregos. estudaram em bons colégios. Chefiaram a cozinha de grandes hotéis. Mas, por doença ou desemprego, viram o seu mundo desmoronar. Os lares não resistiram. A solidão passou a ser companhia diária.

Cumprindo algumas das suas obras, a Misericórdia de Amarante dá

de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede, dá bons conselhos a quem os pede, corrige os que erram e consola os tristes.

Atualmente, e enquanto é aguar-dado o encaminhamento de mais beneficiários por parte da Segurança Social, a Santa Casa de Amarante está a servir refeições, em cantina social, a cinco homens. No futuro, o provedor, José Augusto Silveira, espera que este número poderá aumentar para o má-ximo das 80 refeições diárias.

Será suficiente? “Por agora é o que temos”, explica ao Voz das Mise-ricórdias o provedor. Mas, sublinha: “Nunca deixaremos ninguém ir em-bora com fome”.

TestemunhosBeneficiários da cantina social

em processo de divórcio, vive en-tre quatro paredes. Das três televisões que já teve, hoje não há uma única em casa. se lhe saísse o euromilhões, distribuía-o por quem o está ajudar. não joga, porque não tem dinheiro. “Durante o mês de Fevereiro, comia sopa ao meio-dia e à noite. A santa casa salvou-me da fome.”

Foi dos primeiros a usufruir da cantina social, já lá vão dois anos. reformado por invalidez, vive sozinho. cozinheiro durante 35 anos, hoje recebe uma refeição diária na santa casa de Amarante. “bolachas, leite e pão foram o meu alimento durante muito tempo”.

Desempregado desde Abril, pai de duas gémeas, vive atualmente sozinho. Aguarda atribuição do rendimento mínimo de inserção. Ao fim de semana conta com o apoio de uma tia. “Assim que arranjar trabalho, deixo de procurar a santa casa de Amarante para dar lugar a outros”.

Teve o mundo a seus pés. Fre-quentou bons colégios. Pertencia à classe média alta. os pais, os pilares que tinha, partiram cedo. Perdeu-se no mundo das drogas. está abstinente há oito anos. “A minha filha é a minha razão de viver, a única coisa que me faz sorrir”.

Carlos Gonçalves 53 anos

nelson Correia53 anos

Pedro Pereira 34 anos

Ernesto ricardo Costa 38 anos

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DESTAQUEwww.ump.pt6 vm maio 2012

A assinatura dos atuais protocolos com as instituições sociais vai permitir o alargamento da rede de cantinas sociais em todo o país, garantindo o acesso a refeições diárias gratuitas e o anonimato das pessoas que a elas recorrerem. As cantinas funcionarão num regime preferencial de take away, permitindo que as refeições possam ser consumidas nas próprias habitações das pessoas.

O provedor de Amarante lamenta, no entanto, que a distância de algumas freguesias ao centro não permita a quem precisa beneficiar do serviço. “São distâncias longas, lugares com fraca ou inexistente cobertura de rede de transportes, pelo que para alguns é impossível”. O provedor já interpelou a Segurança Social para a possibilidade de comparticipar na deslocação da refeição ao domicílio mas, por agora, “não há verba”.

Todos os 18 concelhos do distrito do Porto contam com pelo menos uma entidade do setor solidário que vai desenvolver o programa de apoio ali-mentar numa lógica de proximidade, territorialização e eficácia da interven-ção social dirigida, prioritariamente, aos grupos sociais mais vulneráveis.

As 26 entidades que assinaram os respetivos protocolos foram seleciona-

das consensualmente entre os serviços do Centro Distrital da Segurança Social do Porto e a CDAAPAC (Comissão Distrital de Acompanhamento e Ava-liação dos Protocolos e Acordos de Cooperação).

Além da Misericórdia de Ama-rante, a rede de cantinas sociais no distrito do Porto conta também com as seguintes Santas Casas: Porto, Vila Nova de Gaia, Trofa, Santo Tirso, Maia, Lousada, Paços de Ferreira, Penafiel, Póvoa de Varzim, Vila do Conde, Mar-co de Canavezes, Baião e Felgueiras.

Um cabaz, um abraçoSão mães e na Santa Casa da Mi-

sericórdia de Amarante encontraram uma mão amiga que lhes estende um cabaz de bens alimentares. Com a mercearia levam duas doses de pala-vras reconfortantes, duas embalagens de confiança, um litro de otimismo, um quilo de autoestima, um cabaz a transbordar carinho. Pela família, mas principalmente pelos filhos, procuraram na Misericórdia de Ama-rante a ajuda que lhes tem faltado. O desemprego continua, à semelhança dos beneficiários da cantina social, a ser o principal motivo de carência. Às dificuldades económicas, somam-se

problemas de foro psicológico que, nem sempre, são acompanhados na altura certa. “Lidamos com casos de depressão, de baixa autoestima, de violência doméstica. encaminhamos as situações e, depois, muitas vezes, uma palavra faz mais do que uma caixa de antidepressivos”, conta Isabel Costa, diretora técnica da instituição.

Mensalmente, várias famílias visitam a instituição e levam o arroz, o óleo, as massas e farinhas, o açúcar, o leite, a fruta e os iogurtes reforçados para os lares com crianças. A cada trinta dias a família é avaliada pela instituição, um processo que permite detetar quaisquer alterações às con-dições socioeconómicas do agregado. “Temos de ser muito rigorosos nos apoios. Podemos cancelar a atribui-ção de um cabaz, como reforçá-lo ou interrompê-lo temporariamente se a situação o justificar”, explica a diretora técnica. No futuro terão toda a rede ligada à Segurança Social, o que irá permitir conhecer mais ao pormenor a situação de cada beneficiário.

Dezenas de Santas Casas estão a servir refeições no âmbito do Progra-ma de emergência Alimentar.

Ver texto de opinião na página 22

TestemunhosBeneficiários do cabaz

grávida do terceiro filho, tem em casa um ‘marido herói’. uma grave depressão pós-parto impediu-a de ser mãe a 100 por cento. “A santa casa foi uma luz de ajuda”.

Vítima de violência doméstica, deixou a casa apenas com a roupa que trazia no corpo e no colo trouxe a filha de cinco anos. “A minha filha é a minha razão de viver. Tenho de lutar pelo seu futuro”.

Tem vivido experiências de traba-lho temporário no estrangeiro. casada, com dois filhos, tem contado com o apoio dos pais. Ambos desempre-gados, “gostava de trabalhar na área administrativa”.

Elisa oliveira 28 anos

Paula Costa38 anos

Carla Coelho 30 anos

Page 7: Voz das Misericórdias

Apostar nos Jogos Sa

nta Casa

é acreditar nas boas causa

s.

Nos Jogos Santa Casa trabalhamos para ajudar a construir futuros.

Queremos por isso agradecer-lhe o contributo que dá às boas causas

sempre que aposta nos jogos sociais, ajudando-nos a levar

diariamente a esperança àqueles que mais precisam.

Apostar nos Jogos Santa Casa também é apoiar Boas Causas.

C

M

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CM

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259x351_JSC.pdf 1 1/16/12 10:16 AM

Page 8: Voz das Misericórdias

EM AçãOwww.ump.pt8 vm maio 2012

UMP promove programacertificação de qualidade

umP está a promover um programa de certificação de qualidade nas santas casas. As sessões de esclarecimento sobre esta iniciativa reuniram mais de 300 pessoas

A União das Misericórdias Portuguesas (UMP) está a promover um programa de certificação de qualidade nas San-tas Casas. As sessões de esclarecimen-to sobre esta iniciativa tiveram lugar em Lisboa, Viseu e Vila do Conde e reuniram mais de 300 pessoas.

“Ganhamos capacidades, trans-parência e um maior entrosamento com a comunidade”. Foi assim que o responsável pelo projeto, o membro do Secretariado Nacional da UMP que coordena a área de ação social, Carlos Andrade, resumiu as vantagens da certificação de qualidade durante a reunião em Lisboa, na sede da União.

O modelo a ser utilizado é do

eqUASS (european quality Assuran-ce for Social Services), utilizado pelo governo há uns anos no âmbito do Programa Arquimedes que visava cer-tificar equipamentos sociais de apoio a pessoas portadoras de deficiência e de reabilitação. Ainda segundo Carlos Andrade, com o apoio da Associação Portuguesa para a qualidade, foi possível encontrar um conjunto de indicadores que satisfizessem a UMP, mas também a eqUASS.

em causa estava uma reivindica-ção antiga da UMP: os manuais de certificação de qualidade do Instituto de Segurança Social (ISS). Ainda de acordo com Carlos Andrade, os manu-ais do ISS exigem mais das instituições do que o acordado em sede de proto-

colo de cooperação com o Ministério da Solidariedade e Segurança Social.

A qualidade, neste momento, não tem caráter obrigatório para as institui-ções, mas mesmo assim a utilização dos manuais do ISS continuam a ser alvo da atenção dos inspetores da Segurança Social. A maior parte das inspeções, continuou aquele responsável, apre-senta no relatório final uma menção à inconformidade em relação aos manuais de qualidade do ISS. Ao mais alto nível governamental, referiu Carlos Andrade, a posição da UMP é aceite. “Do ministério aos centros distritais a referência aos manuais nas inspeções é desadequada”.

Para a União das Misericórdias Portuguesas, os manuais do Instituto da Segurança Social não são comple-tamente adequados às especificidades

das Misericórdias. em jeito de exemplo, destacou a utilização da lógica dos clientes presente naqueles documentos da Segurança Social. “Somos irmãos em Cristo. esta é a lógica do serviço nas Santas Casas”. Por isso, a UMP tem vindo há uns anos a estudar o dossiê da certificação da qualidade e é assim que surge a utilização da norma eqUASS.

Para apoiar as Misericórdias neste projeto, esteve em aberto a possibilida-de de financiamento a 50 instituições no âmbito do Programa Operacional Potencial Humano (POPH). O eventu-al apoio ainda não está completamen-te descartado, mas por enquanto não há qualquer previsão sobre esta linha de apoio. O coordenador responsável por este programa na UMP é o diretor do Ceforcórdia, Mariano Cabaço, mas as certificações serão promovidas por duas entidades externas (ver caixas).

Além das sessões de esclareci-mento que tiveram lugar em Lisboa, Viseu e Vila do Conde, está marcada outra reunião, no dia 21 de Junho em Viana do Alentejo.

Bethania Pagin

Para a uMP, os manuais do Instituto da Segurança Social não são completamente adequados às especificidades das Misericórdias

Primeira sessão teve lugar em Lisboa

este programa de certificação da qualidade nas misericórdias vai contar com a partici-pação de duas entidades externas: sinase e a aFid/plataforma social. ambas têm experiência no trabalho junto de instituições de solidariedade social. o processo de cer-tificação pode durar até 12 meses para o nível i (ver caixa ao lado) e tem durabilidade de dois anos. internamento, este programa vai contar com a participação de mariano cabaço, mas também dos colaboradores do gabinete de ação social da união das misericórdias portuguesas: nádia marques e márcio Borges.

a certificação da Qualidade dos serviços sociais (eQuass assurance – o nível 1 do sistema) corresponde a um sistema de garantia e controlo da qualidade que permite às organizações encetarem um processo de certificação externo, de re-conhecimento a nível europeu, através do qual atestam a qual idade dos seus serviços junto de utentes e partes inte-ressadas. em portugal, a representação do eQuass é assegurada pela apQ (as-sociação portuguesa para a Qualidade), que apoiou a união das misericórdias portuguesas ao longo deste projeto.

Experiência no setor social

APQ representaEQuASS no país

Page 9: Voz das Misericórdias

www.ump.pt maio 2012 vm 9

Por uMA DoCE CAuSAA Santa Casa da Misericórdia de Torres Novas marcou presença nas “Noites do Castelo”, evento organizado pela autarquia, com a sua “barraquinha” de venda de bolos.

Paços de Ferreiracelebra 100 anossanta casa da misericórdia de Paços de Ferreira assinalou um século de existência. A cerimónia foi presidida pelo bispo do Porto, D. manuel clemente

A Santa Casa da Misericórdia de Paços de Ferreira assinalou, no passado dia 28 de Abril, um século de existência. A cerimónia foi presidida pelo bispo do Porto, D. Manuel Clemente, que apelou ao diálogo entre estado e instituições da Igreja.

realçando o papel que as Miseri-córdias desempenham há 500 anos, D. Manuel Clemente aproveitou para apelar para que estado e a instituições da Igreja concentrem esforços e per-maneçam de mãos dadas para poder responder às situações de carência mais prementes.

O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Paços de Ferreira, Augusto Bismarck, salientou ao Voz das Misericórdias que, apesar das difi-culdades financeiras que a instituição atravessa, o objetivo principal conti-

orçado em cerca de 540 mil euros deve-rá arrancar até ao final do ano.

Augusto Bismark reconhece que os tempos que se avizinham não são fáceis, mas, mantém esperança num futuro mais risonho. “As Misericórdias são uma das poucas saídas para evitar o isolamento dos idosos e por isso é necessário dar-lhes atividade para se manterem bem física e mentalmente”, ressalva.

Além do bispo do Porto, diversas personalidades se associaram à come-moração do centenário da Misericórdia de Paços de Ferreira. entre eles, Manuel de Lemos, presidente do Secretariado Nacional da União das Misericórdias. Durante a cerimónia, o responsável voltou a salientar o esforço que o es-tado deve fazer, cumprindo com o estipulado, para que as respostas sociais possam continuar a ser dadas com eficácia e prontidão pelas Santas Casas.

A representante da Segurança Social do Norte, Ana Cristina Ve-nâncio, e o presidente da câmara municipal, Pedro Pinto, também marcaram presença. O autarca referiu que “uma casa com 100 anos constitui um património de todos e uma peça de arquitetura espiritual da cidade”.

Santa Casa pacense presta apoio a cerca

de 52 idosos

Evento reuniu 150 pessoas

Paulo Sérgio Gonçalves

Adeus emFigueira de Castelo RodrigoFaleceu o provedor da santa casa da misericórdia de Figueira de castelo rodrigo. Fernando carrilho martins tinha 77 anos e era provedor desde 1974

Faleceu recentemente o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Figueira de Castelo rodrigo. Fernando Carrilho Martins tinha 77 anos e as cerimónias de exéquias tiveram lugar a 21 de Maio.

Fernando Carrilho Martins era mem-bro de uma família numerosa (12 ir-mãos) e os pais viveram exclusivamente da lavoura. em Outubro de 1960, iniciou funções docentes como professor de Matemática no Liceu da Covilhã.

em finais de 1982, foi eleito pre-sidente da Câmara Municipal, cargo que exerceu durante dois mandatos. A partir do início de 1982 e até finais de 1990, foi Presidente da Assembleia dos Bombeiros Voluntários de Figueira de Castelo rodrigo.

em Junho de 1974, foi eleito pro-vedor da Santa Casa de Figueira de Castelo rodrigo, tendo desempenhado essa função até a data do seu fale-cimento. quando assumiu o cargo, recebeu da anterior gestão, o edifício do Hospital e uma Misericórdia sem outros recursos e com as contas em valores negativos bastante significati-vos para a altura. em Agosto de 1976, deu-se a nacionalização dos hospitais concelhios. Perante a possibilidade de extinção da Santa Casa, Fernando Carrilho Martins deu seguimento à criação de estruturas de apoio à terceira idade e à infância.

As cerimónias de exéquias tiveram lugar em Coimbra a 21 de Maio. À família e aos amigos, apresentamos os nossos mais sentidos pêsames.

nua a ser “dar conforto e qualidade de vida aos utentes”.

Atualmente, a instituição pacense presta apoio a cerca de 52 utentes em lar e oito em apoio domiciliário. Para angariar receitas que possam suportar nesta altura as despesas, a Misericórdia está a efetuar a recuperação dos pisos inferior e superior do antigo edifício do hospital – onde já funciona uma clínica com diversos serviços -, alargando para nove quartos com mais 14 camas. Na

forja está ainda, a construção de uma ala no atual edifício do lar, que terá capacidade para mais 15 camas.

Brevemente, vão iniciar-se também as obras de recuperação do Villa Maria – edifício também conhecido como Casa da Coquêda. Com financiamento de fundos comunitários, o equipamento, continuou o provedor, vai ter, além de 14 camas, “uma sala multiusos, uma capela e sala de reuniões com cerca de 50 lugares sentados”. este equipamento

Caminhada pela família em Vila Nova de Famalicão

misericórdia de Famalicão promoveu a ii caminhada – Dia da Família. o evento organizado pelo lar s. João de Deus teve lugar a 12 de maio e reuniu 150 pessoas

A Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Famalicão promoveu a II Caminhada – Dia da Família. O evento organizado, pelo Lar Jorge reis, teve lugar a 12 de Maio e reuniu cerca de 150 pessoas. A iniciativa superou as expectativas da organização.

Segundo comunicado da institui-ção, “a atividade, que teve início no ano passado, surgiu da necessidade de tornar mais abrangente o programa de atividades da Festa da Família, procu-rando através de práticas saudáveis, alargar à comunidade as vivências institucionais da Misericórdia de Vila Nova de Famalicão e particularmente do Lar Jorge reis, estrutura residencial para idosos”.

“No Ano europeu do envelheci-mento Ativo e da Solidariedade entre

Gerações consideramos que estas iniciativas se impõem cada vez mais como promotoras de saúde física, mas especialmente como momentos de convívio intergeracional. Aliás, este é um dos nossos principais obje-tivos, materializado no momento em que os residentes do Lar Jorge reis acolhem os caminheiros aquando da chegada num agradável momento de familiaridade.”

Ainda no âmbito do Dia da Famí-lia, a equipa do Lar São João de Deus organizou uma tarde convívio entre utentes, seus familiares e funcionários. A capela do acolheu a todos que deci-diram juntar-se à festa e assistirem a uma missa. De seguida os convidados foram encaminhados a visitar uma exposição com trabalhos realizados pelos utentes no âmbito das atividades de trabalhos manuais e ainda houve espaço para um espetáculo de varie-dades. Um lanche convívio encerrou o programa da festa.

Fernando Carrilho Martins

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EM AçãO

10 vm maio 2012

RECEITAS nAS MISERICÓRDIAS

Torta de Bacalhaude Santo Estêvão

INGREDIENTES MODO DE PREPARAçãO:

250g de bacalhau1 cebola picada3 dentes de alho picados5 ovos l de leite6 colheres mal cheias de farinha1 chávena de café mal cheia de azeite fervidosalsa picada

coze-se o bacalhau, desfia-se e pica-se na máquina.Põe-se numa taça a cebola, o alho e as gemas e bate-se bem. mistura-se o baca-lhau e o azeite. A seguir a farinha, o leite, a salsa e as claras batidas em castelo.Vai ao forno a cozer em tabuleiro untado com o azeite e polvilhado de farinha.Depois de cozido, desenforma-se sobre um pano, e recheia-se com maionese, picles e azeitonas picadinhas. enrola-se e enfeita-se com maionese e azeitonas.serve-se fria.Acreditem que é maravilhosa esta torta!

PREçO: DIFICUDADE:

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Calheta debate papel da Misericórdia

A santa casa da calheta organizou um ciclo de conferências, no âmbito das celebrações do Dia da misericórdia, celebrado a 30 de maio

A Santa Casa da Misericórdia da Ca-lheta está a organizar um ciclo de con-ferências, no âmbito das celebrações da 23.ª edição do Dia da Misericórdia, que se assinala a 30 de Maio.

As conferências acontecem em to-das as quartas-feiras deste mês, pelas 19 horas (exceto na última, dia 30). São quatro encontros que trazem para debate temas como a solidariedade e o voluntariado, o envelhecimento, a ação da Misericórdia e a família.

De acordo com Cecília Cachucho, provedora da Santa Casa da Mise-ricórdia da Calheta, esta iniciativa visa promover o aprofundamento da cultura de misericórdia e passar uma mensagem de solidariedade.

Por esse motivo, a organização escolheu para a abertura do ciclo de conferências o tema: “Da solidarieda-de ao voluntariado”. O orador convi-dado foi o padre José Maia, presidente da Direcção do Colégio Internato dos Carvalhos e antigo presidente da CNIS - Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade.

A segunda conferência, no dia 9, abordou a questão do “envelhecer com Coração, Alegria e Serenidade”. Dois enfermeiros especializados em

esta receita foi enviada pelo Centro de Apoio a Deficientes Profundos Santo estêvão, um equipamento da União das Misericórdias Portuguesas em Viseu.

geriatria, Fátima Mendes e José Ma-nuel Freitas, falaram sobre a impor-tância de saber envelhecer.

A conferência teve uma grande adesão da população em geral, sendo notória a presença de muitos jovens que quiseram conhecer as problemá-ticas do envelhecimento e saber o que pode ser feito para que se possa viver com maior conforto e envelhecer com alegria e serenidade.

esta é uma área particularmente importante para a Santa Casa da Mi-sericórdia, uma vez que a instituição está vocacionada, especialmente, para o apoio aos mais velhos.

Neste sentido, Cecília Cachucho explicou que, além do planeamento das atividades do quotidiano, são prestados diariamente cuidados bá-sicos aos utentes, acompanhamento médico, de enfermagem, de nutricio-nista e de psicomotricista. O acom-panhamento espiritual é também fundamental, realizando-se missa semanal nos lares, tendo o capelão a “preocupação” de chegar mais cedo, a fim de ouvir os idosos em confissão ou simples conversa.

O trabalho da Santa Casa da Mise-ricórdia é, contudo, bem mais vasto. e foi precisamente isso que o juiz Ferrei-ra Neto disse, na terceira conferência, no dia 16, subordinada ao tema “A Acção da Misericórdia”.

Ferreira Neto, que é voluntário e presidente da Mesa da Assembleia Geral desta Misericórdia, deu o seu testemu-nho, incidindo as suas palavras sobre a importância da instituição. O juiz refletiu ainda sobre o que significa a misericórdia

hoje, respondendo assim ao tema de fundo do ciclo de conferências.

A quarta conferência, realizada no dia 23, abordou o tema “A família e desafios: presente e futuro”. A oradora foi a escritora Graça Alves, que trouxe para debate a importância das famílias se manterem ligadas aos seus idosos institucionalizados.

Aproveitando o tema de debate, Cecília Cachucho disse que a Santa Casa vai empenhar-se em sensibilizar as famílias a visitarem mais os seus idosos. A provedora considera que é necessário reeducar os valores das famílias. “Temos de ir passando no quotidiano aqueles valores que são intrínsecos à solidariedade”, advogou.

A Santa Casa da Misericórdia da Calheta tem dois lares - Lar da Nossa Senhora da estrela, com 58 utentes, e Lar da Nossa Senhora da Conceição, com 26 utentes -, um centro de conví-vio (frequentado por cem utentes, por mês) e dá apoio ao domicílio a cerca de 250 pessoas. A instituição dá ainda apoio ao Centro Social do Pinheiro e é parceira na unidade local da rede regional de cuidados continuados.

A sustentabilidade da instituição é assegurada pela comparticipação da Segurança Social, resultante de acordos de cooperação, pelas reformas dos utentes, pelas comparticipações das fa-mílias e pelos donativos de benfeitores, para além de outras receitas próprias da instituição. Trabalham nesta Mise-ricórdia cerca de 120 funcionários e colaboradores, contando ainda com o trabalho voluntário dos elementos que compõem os corpos sociais.

Calheta organizou quatro conferências

Alberto Pita

NOTa De reDaçãO:

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InFânCIA CArEnCIADA EM PorTuGALMais de 27% das crianças portuguesas vivem em situação de carência económica. Os dados são de 2009 e foram recentemente apresentados pela Unicef. O relatório ainda não inclui os efeitos da crise

Fafe celebra 150 anos com noite de galaFoi numa noite de gala que se encerrou o ciclo de comemorações dos 150 anos da santa casa de misericórdia de Fafe, no último dia 25 de maio

Foi numa noite de gala que se encerrou o ciclo de comemorações dos 150 anos da Santa Casa de Misericórdia de Fafe, no último dia 25 de Maio. O Teatro-Ci-nema de Fafe acolheu o lançamento da mais recente obra do historiador Daniel Bastos, que compilou no seu livro a his-tória completa da Misericórdia, desde a sua fundação até aos dias atuais. Antes, porém, duas performances executadas pelas crianças da Misericórdia emocio-naram a repleta plateia.

A cerimónia foi o ponto alto do calendário de atividades iniciadas no último dia 23 de Março, data precisa em que se registou os 150 anos da fundação da Misericórdia. Com o “levantar do pano” foi, pela primeira vez, apresenta-do publicamente o hino da instituição, num coro constituído pelas crianças do jardim-de-infância e salas de estudo da Misericórdia e funcionários da institui-ção, dirigidos pelo professor Martinho Fernandes e acompanhados ao piano por Simão Neto. “Vem e traz uma flor” é um dos versos marcantes do hino, cuja letra foi composta por uma idosa residente nos lares da Misericórdia de Fafe, Dona Laura ramos Silva, infelizmente, já falecida, e também recordada naquela data. A segunda exibição da noite trouxe um pequeno recital de ballet, dirigido pela professora Alexandra Fonseca, onde participaram as crianças e uma bailari-na a representar uma fada-madrinha que acolhe e protege, metáfora ideal para as funções desempenhadas pelas Misericórdias.

enquanto o palco era preparado para dar lugar à mesa de honra, inú-meros exemplares do livro de Daniel Bastos, “A Santa Casa da Misericórdia de Fafe, 150 anos ao serviço da Comu-nidade”, eram folheados pela plateia.

Nas intervenções que se seguiram, o presidente da Assembleia Geral (AG) da Santa Casa, Artur Marques Mendes, destacou o seu sentimento de sorte e orgulho pela honra de estar à frente da AG num momento tão singular da sua história. O presidente do Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas, Manuel de Lemos, dirigiu também os seus parabéns à Santa Casa, sublinhando o papel cada vez mais importante que as Misericórdias desem-

Alexandre rocha

penham na primeira linha de combate ao estado de necessidade que assola um cada vez maior número de famílias por todo o país. Os nomes de algumas personagens particularmente especiais à Misericórdia de Fafe foram relembra-dos pela provedora, Maria ribeiro João, sendo evocados nomes como o cónego Leite de Araújo, importante provedor da instituição nos anos 60.

As curiosidades históricas deste longo percurso de século e meio da foram introduzidas por Beatriz Trinda-de, ao destacar o facto do surgimento da Misericórdia de Fafe dever-se à diáspora portuguesa, mais especial-mente aos compatriotas emigrados no Brasil no século XIX. responsável pelo prefácio da obra, a professora catedrática e diretora do Centro de estudos das Migrações e das relações Interculturais da Universidade Aberta de Portugal classifica-a como um “va-lioso contributo para o conhecimento da instituição, da cidade e do próprio fenómeno migratório português”. A co-munidade emigrante fafense era de tal forma numerosa que se pôde cunhar a expressão “Fafe, cidade de brasilei-ros”, sendo hoje ainda identificável o inconfundível estilo arquitetónico que empreenderam nas suas “casas

de brasileiros”, caracterizadas pelas ricas fachadas revestidas de azulejos.

Daniel Basto confidenciou como a sua obra foi sendo construída através da consulta exaustiva das inúmeras fontes históricas, livros, documentos de arquivos, jornais da terra, fotografias, que, ao longo de meses de trabalho culminaram no extenso volume, rico em números, estatísticas e ilustrações recolhidas durante este período. No seu

discurso o autor sintetizou esta história, explicando como foi no rio de Janeiro que o comerciante José Florêncio So-ares criou a comissão de subscritores fundadores. estas vontades vindas do além-mar, em sintonia com o espírito voluntarioso inerente às Misericórdias, resultaram no lançamento da pedra fundamental do Hospital de São José, em 6 de Janeiro de 1859, obras que seriam inauguradas quatro anos mais

tarde, a 19 de Março de 1863. Outra interessante curiosidade histórica é o facto do edifício em si ser uma cópia fiel do hospital da Beneficência Portuguesa erigido no tradicional bairro carioca da Glória, no rio de Janeiro. Num passado mais recente, o 25 de Abril trouxe tempos mais tumultuosos para a Misericórdia, que viu o seu hospital nacionalizado. Mas foi na dificuldade que a instituição viu a oportunidade de reinventar-se, virando-se para a criação de inúmeros outros serviços para a população, como os infantários, centros de dia, entre outras valências.

Atualmente a Misericórdia de Fafe atende a mais de 500 crianças nos seus infantários e ATL, presta assistência a quase 300 idosos, entre os institucio-nalizados e o seu apoio domiciliário, além de estender os seus cuidados a 40 deficientes. Para manter esta “máqui-na” em funcionamento, a Misericórdia emprega 215 trabalhadores, em conso-nância com a linha de pensamento de Manuel de Lemos, que vê o papel das Misericórdias a nível nacional como uma instituição que está na linha de frente no cuidado aos que mais necessitam, mas também como um organismo que é uma importante fonte geradora de empregos e dinamizador das economias locais.

se vens connosco morarvem e traz uma florse tu souberes respeitar,Também recebes amor!deixa a tristeza lá foraesvazia o coraçãocomeça de novo agora,põe de parte a solidão.não queres voltar a sofrer?deixa ’amargura pra tráspara que possas vivero teu futuro em paz.aqui encontras carinho,Que lá fora ninguém te deu.vem, viver neste cantinho,Que te vais sentir no céu.

sempre de anjos rodeados,Que não nos deixam sofrer.nos nossos Jardins de infância,aprendemos a viver.encontras a porta aberta,não tenhas medo de entrar.Temos tudo à hora certapara o nosso bem- estar!é fácil a adaptação,Basta apenas ter juízo.se tiveres educação,vens viver num paraíso!na misericórdia de Fafeconvivemos com alegriaé Fafe a nossa cidadenossa linda freguesia!

Hino da Santa Casa de Fafe

Hino foi apresentado pelas crianças

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EM FOCOwww.ump.pt12 vm maio 2012

Autossuficiência que vem da terra

Vinhos, produtos hortícolas e enchidos são a aposta da santa casa de Valpaços para garantir a subsistência dos seus utentes e angariar receitas com a sua comercialização

O vinho repousa nas cubas ou entre as paredes envidraçadas das garrafas. Fora da adega, são filas de cepas a perder de vista e uma ala de estufas destinadas à horticultura. Já o poeta transmontano, Miguel Torga, registava que “desde que o mundo é mundo que toda a gente ali governa a vida na lavoura que a terra permite”.

A atividade agrícola na Santa

Patrícia PosseCasa da Misericórdia de Valpaços intensificou-se em 2005, com a che-gada de Luís Sousa, vice-provedor e responsável pela produção agrícola. “Deixou de ser uma atividade de subsistência para ser uma atividade lucrativa e a pensar que, no futuro, as coisas venham a melhorar”, refere. A aposta começa agora a direcionar-se para a plantação de árvores de frutas e, mais tarde, poderá passar também pela produção de ovos. A maioria

das terras foi doada pelos utentes institucionalizados nos lares.

É na comercialização dos vinhos que a Santa Casa granjeia maiores rendimen-tos que são, posteriormente, aplicados para dar resposta às necessidades das diferentes respostas sociais. Luís Sousa adverte que as vinhas envolvem “despe-sas bastante grandes” e prefere sublinhar que a “mais-valia está na inserção das pessoas, o que acaba por ser também uma obra de misericórdia”.

Os quatro hectares pejados de videiras na quinta Nossa Senhora do Carmo, juntamente com duas vinhas em Fornos do Pinhal, rendem uma pro-dução anual que ronda os 20 mil litros de vinho tinto e branco. A vindima, essa, pode demorar entre dois a três dias, contando com a força braçal de, pelo menos, uma dezena de pessoas.

O primeiro vinho rotulado data de 2005, mas já anteriormente se produzia vinho a granel. “este ano,

vamos aparecer no mercado com um vinho DOC [Denominação de Origem Controlada] chamado «Copofonia». Trata-se de um lote de 1300 garrafas”, revela o vice-provedor. Para já, «Formi-gueira», «Toca da Lebre» e «Sexta-Feira 13» são os vinhos em circulação. O primeiro foi o único vinho submetido até à data a um concurso, tendo arre-cadado a medalha de prata.

Além do consumo doméstico (nomeadamente para a confeção dos

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Autossuficiência que vem da terra

Vinhos, produtos hortícolas e enchidos são a aposta da santa casa de Valpaços para garantir a subsistência dos seus utentes e angariar receitas com a sua comercialização

enchidos), os vinhos são absorvidos pelo mercado regional, embora haja “um foco bastante forte de comercia-lização no Minho”. “estamos a vender para a Misericórdia de Valongo e estou apostado em divulgá-los nas Miseri-córdias todas”, garante Luís Sousa. O “Sexta-Feira 13” está associado a Montalegre, zona para onde também é escoado em “bastante” quantidade. O preço das bag-in-boxes está fixado nos cinco euros, já os vinhos regionais

e de mesa oscilam entre 1.65 e 1.80 euros. “estamos apostados em produ-zir vinho, pensando que o mercado nos poderá dar essa preferência dada a afinidade que temos ao social. A pessoa que está a comprar uma garrafa de vinho de qualidade está a colaborar connosco, está a ajudar”, salienta.

Hortícolas só para consumoA Santa Casa de Valpaços já con-

seguiu alcançar a autossuficiência na

parte hortícola, à exceção da cebola que exige um aumento de produção já este ano. “É tudo consumido in-ternamente e aquilo que produzimos acaba por ficar mais barato do que se fôssemos comprar no mercado, associado ainda a uma qualidade in extremis”, realça o vice-provedor.

Além da dúzia de túneis de estu-fas, a instituição dispõe ainda de um prédio com um hectare, adquirido recentemente.

De inverno, a jornada de trabalho arranca às 8h e finda às 17h, enquanto no período de verão começa às 6h e termina às 12h30. “Temos que fazer todos os dias, mas as estufas são o que dá mais trabalho. Tem de se andar sempre em cima e mal se tira uma cultura é preciso plantar logo outra”, esclarece o encarregado do pessoal e responsável pela produção vitícola, Daniel Batista. A Santa Casa de Val-paços emprega quatro trabalhadores que se ocupam das terras e recruta alguma mão-de-obra sazonal.

De março de 2011 a março deste ano, produziram-se 10 400 kg de couve penca, 9 200 kg de cebolas, 4 000 kg de tomate (volume que este ano deve crescer para os 12 mil), 1 700 kg de feijão, 1 500 kg de alface, 800 kg de espinafres, 680 kg de courgettes, 580 kg de alho francês, 570 kg de brócolos, 440 kg de pimentos, 320 kg de pepinos, 200 kg couve-flor, 120 kg de favas, entre outras culturas.

Se por um lado, a produção benefi-cia de condições naturais privilegiadas (microclima e solos férteis), por outro, os responsáveis da Santa Casa não descuram as escolhas técnicas. “Se temos as estufas, é para dar rentabi-lidade. Fazemos correção intensiva para evitar a acidez dos terrenos. Para que a cultura que vem a seguir vingue e consigamos produções rentáveis é preciso ter os solos tratados e prepara-dos. Temos tido grande êxito”, admite Luís Sousa.

Outras Santas Casas também estão a apostar na produção de bens para gerar mais-valias.

Ver texto ao lado

Fumeiro de qualidadeValpaços investe naconfeção de fumeiro.‘compramos porcos em Agosto ou setembro eacabamos de os criar. Assim,temos qualidade da carne’

A Santa Casa de Valpaços investe ainda na confeção do tradicional fumeiro de Trás-os-Montes. “Compra-mos porcos em agosto ou setembro e acabamos de os criar. Assim, temos qualidade da carne. Só no ano passa-do, a adquirimos onze porcos”, revela Luís Sousa. A matança ocorre entre os meses de dezembro e janeiro.

O tempero das carnes tem a par-ticularidade de utilizar o vinho pro-duzido pela instituição. Depois, é das mãos das empregadas da cozinha que nascem alheiras, linguiças, bocheiras e salpicões. Os presuntos vão a salgar

Patrícia Posse

durante um mês e, depois, são pen-durados para secar.

“Intensificamos um pouco mais a produção de enchidos, porque o co-mércio tem-se desenvolvido”, justifica o vice-provedor. Além do consumo do-méstico, os enchidos são vendidos nos mercados regionais e procurados por “gente conhecida que está em Lisboa”.

Sem manobras de promoção, a Santa Casa não tem dificuldades em conquistar a clientela pelos sabores mais genuínos. “As pessoas é que vêm ao nosso encontro e dizem que os enchidos são excelentes”, destaca. Contudo, a instituição não produz “conforme as solicitações” e por isso é que “muita gente fica sem o nosso fumeiro”.

Mais Santas Casas apostam na produção de bens para gerar mais--valias. Nesta rubrica, já falamos sobre Macedo de Cavaleiros, Vila do Conde, Vila Verde, ribeira de Grande e Vimeiro e continuaremos a falar sobre o assunto na edição de Junho.

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www.ump.pt14 vm maio 2012

TERCEIRA IDADE

O dia 11 de maio será sempre recorda-do com especial carinho por Ângelo e Carminda, pois foi nessa data que contraíram matrimónio no Lar de Santa Isabel, equipamento da Santa Casa da Misericórdia de Chaves em Vilar de Nantes.

“Não estou nada nervosa. Sou uma rapariga muito calma”, assegurava a noiva, enquanto lhe retocavam a maquilhagem. Nascida em Chaves, Carminda Cunha, de 79 anos, não imaginava casar “com esta idade” e pela terceira vez. “Pensava mais no caixão, mas depois pensei que ainda é muito cedo para morrer. Agora, vamos é pensar em gozar a vida”, confidenciou.

rodeada por flashes e câmaras de televisão, Carminda mostrava-se alegre e bem-disposta, ainda que nenhum dos seus descendentes tenha comparecido.

Um romance que ‘saiu a sério’Às portas de completarem 80 anos, dois idosos da santa casa de chaves decidiram casar, provando que “o amor não envelhece, morre criança”

Patrícia Posse

ângelo e Carminda têm ambos 79 anos

Iluminuras têm 18 alunos

“Tenho três filhas, que estão emigradas nos estados Unidos, e dois rapazes. Os meus filhos não querem vir, não vêm. estou muito feliz por ver tantas flores e tanta gente desconhecida.”

De flor na lapela do fato cinzento e olhar vivo, Ângelo Guerra, 79 anos, esperava pela amada num dos corre-dores do lar. Sem sinais de nervosismo, o septuagenário desvendou as razões do coração: “gostei dela porque vi que era uma mulher que, mais ou menos, me servia. Foi ter comigo muitas vezes, cozinhou e limpou-me a casa. ela é divertida e tem uma simpatia de um raio”, acrescentou. Aos olhos da noiva, Ângelo é tido como “muito bom rapaz”, mas “o dinheiro é o melhor amigo dele”.

Uma questão de respeitoO namoro começou antes das vin-

dimas de 2009, depois de Carminda se ter deslocado a Vila Meã da raia (Cha-

ves), aldeia onde Ângelo Guerra vivia. Foi Palmira Alves, 55 anos, quem os apresentou. “quando vinha visitar o meu marido ao lar, a dona Carminda dizia-me que precisava de arranjar um companheiro e perguntou-se se não lhe arranjava um senhor na minha terra. Um dia, foi comigo para conhecer o senhor Ângelo.” Os dois conversaram e “lá se entenderam”. “ela disse-me que tinha gostado muito dele e disse «Deus queira que dê para bem»”, revelou Palmira.

Viúvo há cerca de três anos e sem filhos, Ângelo Guerra vivia sozinho e “gostava de uma companhia”. “Nessa altura, foi amor logo à primeira vista”, recordou. A sabedoria popular senten-cia que “a distância das moradias não desune o amor dos corações” e, por isso, durante três anos, as visitas de Carminda tornaram-se assíduas. “ela ia num táxi, que eu pagava, e depois

estava 15 ou 20 dias comigo e vinha outra vez para aqui [lar].”Por fim, a vontade de casar tornou-se unânime. “Namorámos bastante tem-po e decidi casar porque não queria ser amigada. Ficava mal dizerem: «é amante». Assim, «é uma senhora casada». É mais bonito”, explica Car-minda. A primeira a saber do enlace foi Palmira, mas recebeu a notícia com alguma surpresa. “Pensava que era a rir, afinal, saiu a sério. Os dois são livres, fazem bem.” Ao pedido de casamento sucedeu-se a mudança de Ângelo para o lar de Santa Isabel.De braços entrelaçados, o casal atra-vessou o refeitório e seguiu, em pas-sadas tranquilas, para a sala onde teve lugar a cerimónia. De frente para o conservador do registo Civil e perante os olhares dos outros idosos, Ângelo e Carminda professaram os votos e trocaram as alianças douradas.

Exposição de iluminurasna sededa UniãoAcademia de cultura da união das misericórdias Portuguesas promoveu uma exposição com trabalhos de uma das suas 70 disciplinas: iluminuras

A Academia de Cultura e Coopera-ção promoveu no início do mês de Maio uma exposição com trabalhos de uma disciplina inédita entre as universidades seniores: iluminuras. Durante uma semana, os trabalhos puderam ser vistos na sede da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) em Lisboa.

O professor é o também presidente do conselho de gestão da Academia, Luís Aires. em conversa com o Voz das Misericórdias, aquele responsável contou que as iluminuras ganharam força entre os séculos XII e XIII. A sua principal característica era a cumplici-dade entre texto e imagem, de modo a que os que não sabiam ler conseguis-sem compreender a mensagem. em Portugal, o principal impulsionador das iluminuras foi D. Manuel.

As iluminuras estavam ligadas às questões religiosas, cartografias, heráldicas, códices, livros de horas etc. Os originais eram realizados em pele, normalmente por monges copistas. As famílias nobres encomendavam muitos trabalhos e a cor azul era a mais desejada por causa da dificulda-de em obter. O azul era normalmente extraído de insetos ou de pedras raras, provenientes de países longínquos.

A disciplina de iluminuras na aca-demia da UMP conta com 18 alunos. Ao todo, são 500 alunos a frequentar aulas proferidas por um grupo de 70 professores voluntários. O número de alunos diminuiu, contou Luís Aires. “A crise não ajuda”.

Bethania Pagin

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SAúDEwww.ump.pt16 vm maio 2012

continuar a trabalhar na área da saú-de. Atualmente, para além da UCC, a Santa Casa da Amadora conta ainda com um centro de fisioterapia e uma clínica médica. Com 19 especialida-des, a cada dez consultas privadas, os médicos dão uma de cariz social.

A presidir aquela sessão, o mi-nistro da Saúde afirmou que a rede de cuidados continuados é para con-tinuar. Apesar de haver um plano de implementação com duração e dez anos, Paulo Macedo referiu que o crescimento da rNCCI vai depender das possibilidades do governo neste

momento de crise agravada. À mar-gem da cerimónia de inauguração, o ministro destacou também a neces-sidade de investimentos na região de Lisboa e Vale do Tejo, que, neste momento, é onde se regista o menor

Ministro destacou necessidade de investimentos na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde se regista o menor número de camas

Misericórdia da Amadora foi pioneira nos cuidados

continuados

Santas Casas decisivas na rede de continuados

ministro garantiu manutenção dos cuidados continuados e destacou papel ativo e decisivo das misericórdias na rede

A Santa Casa da Misericórdia da Amadora inaugurou recentemente a sua unidade de cuidados continua-dos (UCC). Com capacidade para 30 pessoas em internamentos de média duração, a unidade já está com lotação esgotada. Presente naquela cerimónia, o ministro da Saúde, Paulo Macedo, garantiu a manutenção da rede nacio-nal de cuidados continuados, na qual as Misericórdias têm tido um “papel ativo e decisivo”. Naquele mesmo

Bethania Pagin

dia começavam a ser regularizadas as dívidas do Ministério da Saúde às Santas Casas. Foi a 17 de Maio e também esteve presente o ministro da Solidariedade e Segurança Social, Pedro Mota Soares.

O dia tem sabor a regresso, afir-mou a provedora daquela instituição, Cristina Farinha. A Santa Casa da Amadora integrou a experiência-piloto que deu origem à rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (rNCCI). Na altura, ali funcionava uma unidade de cuidados paliativos. Daí que, continuou a responsável, a Misericórdia espera um dia poder ver algumas camas convertidas em paliativos de modo a aproveitar o conhecimento adquirido ao longo do projeto experimental.

Apesar de “a sustentabilidade ser uma preocupação diária”, a instituição assinou acordos e já está a receber 30 pessoas na nova unidade. Mateus Tavares e ricardo Campos, respetiva-mente o primeiro e o último a darem entrada naquela UCC, representam, para Cristina Farinha, o estímulo para

número de camas.A inauguração da UCC da Miseri-

córdia da Amadora contou ainda com a presença do presidente da União das Misericórdias Portuguesas, Manuel de Lemos, do presidente da Câmara Mu-nicipal da Amadora, Joaquim raposo, entre muitos outros representantes de entidades parceiras da Santa Casa anfitriã. A sessão solene foi encerrada pelos alunos da escola Luís Madureira e da creche da Misericórdia no bairro Cova da Moura. Os pequeninos canta-ram o hino da instituição para dezenas de convidados.

A dívida do Ministério da Saúde às Misericórdias chegou a alcançar o montante de 39 milhões de euros. Os atrasos vinham desde Maio de 2011, mas neste momento, sabe-se que a maior parte das Administrações regionais de Saúde já regularizou a situação junto das Santas Casas. Os atrasos referentes a 2011 equivalem a 20 milhões de euros.

recorde-se que recentemente também integraram a rNCCI as Santas Casas de Coruche e Alhos Vedros.

NÚMerOS

30CamasA unidade de média duração da santa casa da misericórdia da Amadora tem capacidade para 30 camas e já tem a lotação completamente esgotada

30Empregoso funcionamento da unidade de cuida-dos continuados da misericórdia da Ama-dora gerou a criação de 30 novos postos de trabalho naquele concelho.

476ColaboradoresAtualmente, a santa casa da misericórdia da Amadora emprega cerca de 474 pes-soas. A instituição está a completar 25 anos de existência em 2012.

135CamasAs unidades das misericórdias da Ama-dora, de coruche e de Alhos vedros equi-valem a um aumento de 135 camas na região de lisboa e Vale do Tejo.

39MilhõesA dívida do ministério da saúde às miseri-córdias chegou a alcançar o montante de 39 milhões de euros. os atrasos referen-tes apenas ao ano de 2011 equivalem a 20 milhões de euros.

1320VagasA região de lisboa e Vale do Tejo tem, neste momento, cerca de 1350 camas na rede nacional de cuidados continu-ados integrados.

50Por centoA participação das misericórdias na rede nacional de cuidados continuados inte-grados equivale a cerca de 50 por cento do total de camas disponíveis.

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EDUCAçãOwww.ump.pt18 vm maio 2012

de braços abertos” recorda João Correia, hoje diretor da academia. A partir daí, o projeto rapidamente passou à prática. “Logo nesse ano apresentámos uma candidatura para que a escola pudesse ter paralelismo pedagógico, o que só foi aceite no ano seguinte”. A 6 de Dezem-bro de 1996 chegou do Ministério da educação (Me) a autorização provisória de funcionamento.

Para além da dança, a academia começou, logo de início, com o ensino da música: piano, guitarra, acordeão, flauta transversal, violino e viola de arco foram os primeiros cursos instru-mentais, a que hoje se juntam os de violoncelo, contrabaixo, saxofone, cla-rinete, trompa, trompete e percussão.

em 1996 a AMDF começou a ministrar o ensino articulado, e hoje tem protocolos com todos os agrupa-

Há 15 anos a formar talentosAo longo de 15 anos passaram mais de 2000 alunos pela Academia de música e Dança da misericórdia do Fundão. entre nacionais e internacionais, já são 150 os prémios conquistados

quando há 17 anos foi proposta a criação de uma escola de dança à Santa Casa da Misericórdia do Fundão, estavam todos longe de imaginar o alcance que o projeto ganharia, apesar de ousadia ser o lema que sempre se adequou a esta escola.“Somos ousados desde o início, ima-gine o que é dois anos depois de criarmos a academia avançarmos com um concurso de piano que hoje é reconhecido nacional e internacio-nalmente”, adianta Olga Silva, que faz parte do grupo de professores fundadores da Academia de Música e Dança do Fundão (AMDF).

O objetivo inicial era criar uma escola de dança de referência na região. “Apresentámos a ideia que foi acolhida

Paula Brito Batista mentos de escolas dos concelhos do Fundão e Penamacor.

em 2002 surge o pólo de Penamacor por iniciativa da câmara municipal e do Instituto Politécnico de Castelo Branco “fomos contactados para estabelecer-mos uma parceria com essas duas instituições, mostrámos total disponi-bilidade, pedimos autorização ao Me e hoje estamos em Penamacor com novas instalações, 60 alunos, e já começámos a receber alunos de espanha”.

em 2004 chega a autorização defi-nitiva de funcionamento da academia, e três anos depois é-lhe conferida autonomia pedagógica que “é o maior reconhecimento que uma escola pode ter”, esclarece João Correia.

Outro dos reconhecimentos que a AMDF tem tido é a quantidade de prémios que os alunos têm obtido

-graduações, mestrados, doutoramen-tos, nos eUA, Áustria ou Inglaterra” recorda João Correia.

Pedro rufino, professor de guitarra na AMDF, recorda aquele que é um dos seus alunos mais reconhecidos. “O Francisco Franco, que hoje anda pelo mundo a ganhar concursos, é um dos grandes guitarristas da atualidade”.

As instalações são o principal problema que enfrenta a Academia, por isso quando questionado sobre a prenda que gostaria de receber neste décimo quinto aniversário, o diretor pedagógico, Carlos Branco, não hesi-tou em responder: “Uma escola inte-grada de ensino artístico com espaço próprio, ou seja, uma escola onde os alunos possam ter todas as discipli-nas no mesmo espaço. O que temos atualmente é uma escola de ensino

Misericórdia do Fundão ensina música e dança

nos diversos concursos nacionais e internacionais em que participam. “Neste momento já ultrapassamos os 150 prémios, o que em 15 anos dá uma média de dez prémios por ano”, acrescenta João Correia.

Mariana Godinho estuda piano na Academia desde os sete anos e desde os nove que participa em concursos nacionais e internacionais. “Já fui a es-panha, Paris, Hungria e já ganhei alguns prémios”, sublinha com entusiasmo. Frequenta o 12º ano e quer continuar os estudos nesta área. “Já concorri à Universidade de Aveiro”, acrescentou.

Ao longo destes 15 anos passaram mais de 2000 alunos pela Academia, e desses “pelo menos uma centena seguiu essa via o que é muito bom, temos vários que estão no estrangeiro a trabalhar ou a estudar, a tirar pós-

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Leia, assine e divulgue

Correio do leitor

VOZDASMISERICÓRDIAS

VOZDASMISERICÓRDIAS

articulado em que os alunos têm as disciplinas artísticas na academia e o resto nas respetivas escolas”.

O projeto para a criação de novas instalações chegou a ser elaborado mas perante o atual contexto eco-nómico que o país vive “parece-me impensável”, sublinha o provedor da Santa Casa da Misericórdia do Fundão.

A Academia vai ter no entanto uma prenda de aniversário que “não sendo a que gostaríamos, vem mini-mizar o problema das instalações”. A Misericórdia do Fundão adaptou um dos seus mais emblemáticos edifícios às necessidades da Academia. “As obras estão prontas e no próximo ano letivo os alunos poderão usufruir das novas instalações, que têm um peque-no auditório e um conjunto de salas adaptadas às aulas de instrumento”.

Outra das dificuldades com que se depara o projeto é a alteração das regras de financiamento. “Desde há um ano e meio que o estado acabou com o contra-to de patrocínio e o financiamento tem sido feito através do POPH (Programa Operacional de Potencial Humano), o que, desde logo, nos traz dificuldades acrescidas que se traduzem no atraso dos pagamentos e na dificuldade de enquadramento de algumas despesas”.

Apesar de pouco usual, este equi-pamento da Santa Casa do Fundão tem um grande peso na vida da instituição. “São mais de 530 alunos e 39 professo-res”, mas do ponto de vista financeiro, a Academia “é autossuficiente e é financeiramente equilibrada”.

Para além da vertente educativa e cultural, o provedor da Misericórdia fundanense destaca a vertente social da Academia na medida em que procura “que seja uma mais-valia nas respostas sociais da instituição. A Academia proporciona música e dança às crianças que frequentam o ATL e jardim-de-infância”.

Os 15 anos da Academia estão a ser comemorados desde o início do ano letivo com um vasto programa de iniciativas designado “15 anos – 15 atos”, cujo ponto alto ocorreu no último fim-de-semana de Maio com três dias de intensa atividade musical no Fundão, nos quais foi possível as-sistir a variados concertos em diversos locais da cidade.

A formação de público tem sido outra das conquistas da academia nes-tes 15 anos e são os próprios alunos que o notam, como refere Mariana Godinho: “Culturalmente as pessoas já aderem muito mais, gostam de ouvir e isso nota-se nos concertos”.

Olga Silva recorda outra das gran-des conquistas desta escola: “Se ti-vermos como missão criar gosto na juventude pelas artes, que tenham uma opinião crítica e oiçam outro tipo de música para além do habitual, então já valeu a pena”.

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ESTAnTEwww.ump.pt

LISTA DE LIVroS

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CONTOS DA PáSCOAJoão césar das neveslucerna/Principia, Fevereiro de 2012

“Querem saber como este livro nasceu? não vos vou contar a história banal em que estou em casa ou no autocarro a pensar, e depois no computador a escrever. […] Querem mesmo saber como este livro realmente nasceu? Tudo começou com Deus. como podia começar de outra ma-neira? Deus, que tem uma imaginação in-finita, inesgotável, incompreensível. Deus, que é a origem criadora de tudo o que existe. Deus, que cria sempre, em cada um dos instantes de uma eternidade que não tem tempo. Falar de tudo é falar de Deus. se querem saber como este livro nasceu, temos de falar de Deus. Deus escreve continuamente pequenos artigos […]. Depois, toma cada uma dessas gemas e parte-a delicadamente em pedaços mais pequenos. cada ensaio fica assim dividido em componentes semiocultas, separadas mas agrupadas, à espera. À espera no meio do tumulto da vida, no rumor do campo e da cidade. Foi assim que nasceu este livro.” É assim o prefácio de “contos de Páscoa”, de João césar das neves. uma edição da lucerna.

GUIA DAS ONGD 2012váriosPlataforma das ongD, março de 2012

o guia das ongD 2012 apresenta as 67 organizações não governamentais para o Desenvolvimento (ongD) portu-guesas associadas da Plataforma, ofere-cendo uma contextualização sobre estas organizações, nomeadamente sobre as suas áreas de trabalho, os países em que atuam, entre outras. nele são também apresentados a história e o trabalho da Plataforma Portuguesa das ongD.o guia pretende ser uma referência do trabalho das ongD portuguesas, princi-palmente numa época em que se verifica um contexto nacional de grandes dificul-dades e desafios para todos os agentes que intervêm nas áreas da cooperação para o Desenvolvimento, educação para o Desenvolvimento e Ajuda humanitária de emergência. As ongD têm sofrido com a constante indefinição da política pública de coo-peração e com a incoerência das me-didas tomadas perante a estratégia de 2005 que alegadamente está em vigor. recorde-se que a união das misericórdias Portuguesas é uma das organizações que integra a Plataforma das ongD.

CRISTO REI: ESPIRITUAlIDADE E HISTóRIAmaria João da câmaralucerna, maio de 2009

A história de um monumento

o cinquentenário do cristo rei é o motor deste livro. Abordando o ambiente que se vivia em Portugal, foi dado enfoque à situação da igreja

A comemoração do cinquentenário do monumento a Cristo rei é o mo-tor deste livro. referência turística, imagem repetida vezes sem conta em postais, pagelas e filmes, ícone de Lisboa e de Almada, este Cristo olha para a cidade “do lado de lá do rio” e abre os seus braços há 50 anos. “Cristo rei: espiritualidade e história” é uma edição Lucerna/Principia.

Segundo a autora, na introdução ao trabalho, o monumento a Cristo rei, se é um ícone turístico, representa muito mais do que isso: é um monu-

mento à Paz, é um Santuário. O facto de Portugal ter sido poupado à guerra de 1939-1945 é passível de preito e agradecimento. Se esta obra nasceu da ideia do Patriarca de Lisboa num sentido de reparação, foi-lhe depois acrescentado este sentido de dever de agradecimento pela paz numa época em que a europa e o mundo viveram uma guerra devastadora e fizeram – após o conflito – o gigantesco esforço da reconstrução.

Abordando o ambiente que se vi-via em Portugal, Maria João da Câma-ra refere ainda que foi dado enfoque à situação da Igreja, começando por dar uma panorâmica geral das relações entre a Igreja e o estado. Mas a edição aborda também aspetos como a ideia da construção, a conceção do projeto, a angariação de fundos, a propaganda e a divulgação da obra.

Com prefácio de D. José Policarpo.

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VMEDITorIAL

Paulo Moreira [email protected]

oPInIão

CorrEIo VM

VOZ ATIVA

União das Misericórdias Portuguesas

www.ump.pt22 vm maio 2012

DAr De COMer e De BeBer

Dar de comer a quem tem fome e dar de beber a quem tem sede são duas das 14 obras de misericórdia. Desde sempre, as Santas Casas foram cumprindo estas e as restantes 12 obras, à medida das suas possibilidades e das carências das populações

A difícil situação social do país levou o governo a lançar o programa de Emergência Alimentar, que teve uma larga adesão entre as Misericórdias. De facto, nos

últimos meses, constatámos em inúmeras Misericórdias um aumento exponencial do número de pessoas e famílias que procuram as nossas instituições em busca de apoio para alimentação quotidiana. São geralmente cidadãos na casa dos 40 anos, que ainda há pouco tempo estavam inseridos no mercado de trabalho e tinham uma vida estruturada. Convivem mal com a nova situação, tentam muitas vezes esconder a sua nova realidade, que só envergonhadamente assumem. precisam que lhes matem a fome e a sede e que os ajudem a recuperar alguma auto estima e esperança. Temos que ter para eles respostas mais ágeis, flexíveis e desburocratizadas. podemos ir mais longe no apoio a este grupo, criando, por exemplo, um cabaz alimentar para entregar a famílias que não possam deslocar-se aos refeitórios do pEA, como já faz a Misericórdia de Amarante, e desenvolver um programa de hortas sociais prioritariamente destinado a famílias em situação de carência financeira.

As experiências que existem até ao momento mostram uma grande adesão às hortas sociais e muitas Santas Casas poderão por em marcha projetos semelhantes, possibilitando alguma segurança alimentar às famílias, ajudando também à melhoria da auto estima desses agregados familiares, que têm assim uma ocupação de que retiram resultados palpáveis e úteis.

pode ser apenas o princípio. A existência de uma rede de hortas sociais pode levar-nos a sonhar com a criação de pontos de venda de produtos hortícolas e outros, criando uma verdadeira rede alternativa que possibilite um futuro melhor para inúmeras famílias que neste momento não veem, nem sentem nenhuma saída para as suas vidas.

VOZ DASMISERICÓRDIAS

Órgão noticiosodas Misericórdias em Portugal e no mundo

Propriedade: união das misericórdias PortuguesasContribuinte: 501 295 097 Redacção e Administração: rua de entrecampos, 9, 1000-151 lisboaTels: 218 110 540218 103 016 Fax: 218 110 545 e-mail: [email protected] Tiragem do n.º anterior:13.550 ex.Registo: 110636Depósito legal n.º: 55200/92Assinatura Anual:Misericórdias normal - €20benemérita – €30Outros: normal - €10benemérita – €20Fundador:Dr. manuel Ferreira da silvaDiretor: Paulo moreiraEditor: bethania PaginDesign e Composição: mário henriques Publicidade:Paulo lemosColaboradores: Alberto PitaAlexandre rochaPatrícia PossePaula brito batistaPaulo sérgio gonçalvesVera camposAssinantes: sofia oliveiraImpressão: Diário do minho– rua de santamargarida, 4 A4710-306 braga Tel.: 253 609 460

Refletir sobre 40 anos de coeducação

embora possa passar despercebido, a 28 de Novembro deste ano, ocor-re o 40º aniversário do Decreto–Lei nº 482 do Ministério da educação Nacional presidido por José Veiga Simão que determinou “(…) para vigorar a partir do ano letivo de 1973-74, o restabelecimento da Coeducação no ensino primário e a sua instituição no ciclo preparató-rio do ensino secundário”. A maior parte das pessoas, incluí-dos os professores, estão convenci-das que a mudança na organização escolar se deveu ao 25 de Abril,

Também não é verdade: existem muitos edifícios do mesmo género pelo país apenas com uma sala. Como recordo no meu livro “entre o Tabu e o Sucesso. O caso da edu-cação Diferenciada por Género”, a coeducação sempre foi alternativa, por razões económicas, quando os alunos eram poucos quer no ensi-no primário, quer no secundário. Aliás, apenas em algumas capitais de distrito havia liceus femininos e masculinos. Por exemplo, em Famalicão, onde vivo, o Liceu Camilo Castelo Branco era misto. Outros, como o Liceu de V.N. Gaia ou o Alberto Sampaio, em Braga, optavam por turmas diferenciadas,

mas, e apesar de os efeitos do citado decreto se terem feito sentir após a revolução, de facto, não foi assim. Também pensam, numa visão simplista, que antes, a educa-ção sempre tinha sido diferenciada por género e que, depois, deixou de o ser. Aqueles que andam pelos 50 anos ou mais, recordam talvez os seus anos nalguma escola primária das que foram construídas na dé-cada de 40 a 50 do século passado, no âmbito dos Centenários da Fundação de Portugal e da restau-ração, normalmente um edifício gémeo com entradas separadas por sexos e um longo e alto muro de granito que dividia os recreios.

da Segurança Social que permitem ir mais além no combate à fome que não é exclusiva de lugar algum. A interação com as IPSS que cobrem o território nacional, o aproveitamento de todos os circuitos dos serviços do apoio domiciliário e alguma autono-mia dos responsáveis da Ação Social Local da Segurança Social tornariam esta medida mais solidária.

Afinal, todos estamos imbuídos da vontade de não permitir que al-guém saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz.

No âmbito da convenção da rede Solidária de Cantinas Sociais foi criado o PeA (Programa de emergência Ali-mentar), cujo Protocolo de Cooperação foi já assinado com um grande número de Misericórdias e que vem ao encontro do definido no Protocolo de Cooperação para 2011-2012, assinado com as enti-dades representativas do setor social.

Vem este programa dar a possi-bilidade das IPSS garantirem a um maior número de pessoas e/ou famí-lias que mais necessitem o acesso a refeições diárias gratuitas em todo o território continental.

Sabendo, embora, que as IPSS e muito principalmente as Misericór-dias já há muito respondem a esta necessidade é de reconhecer que se torna imprescindível mais este apoio, neste momento difícil para muitas famílias e de asfixia financeira de muitas Instituições.

Abrangendo de uma forma mais intensiva as necessidades das pessoas nos grandes centros urbanos, diga-se, muitos carenciados ficam afastados deste serviço por residirem no inte-rior, muito longe do local onde pode-riam usufruir dessa mesma refeição.

Para responder a este desiderato mais uma vez as IPSS e em especial as Misericórdias permanecem atentas e atuantes recorrendo à distribuição de cabazes com produtos alimenta-res que, no caso da Misericórdia de Amarante, é superior ao número de refeições distribuídas.

Há estruturas no terreno no âmbi-to dos serviços dos Centros Distritais

“não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz”Madre Teresa de Calcutá

José Augusto Silveira Provedor da Misericórdia de Amarante

MAIS SOLIDArIeDADe CONTrA A FOMe

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rEFLEXão

E o que mais apreciaríeis – perguntei – que vos enviássemos de Portugal? resposta: livros, cartazes e lembranças do povo português para fazermos da nossa torre-farol um museu de coisas portuguesas. Era Portugal vivo na memória de japoneses.

quando em 1993 me foi dada a honro-sa oportunidade de participar ativa e interventivamente em três congressos internacionais a propósito da presença e acção de Portugal no Oriente, quan-do se celebravam 400 anos sobre a fundação da primeira Diocese criada no Japão FUNAI-OITA;

Mercê de um denso trabalho de estudo que me tinha sido confiado, para e a pedido do então Instituto Cultural de Macau, a propósito da re-ferida efeméride, e a que dei por título “O Sol que veio do Ocidente”; foi-me dada a feliz oportunidade de intervir nesses três congressos a propósito da efeméride em celebração e em três Uni-versidades: Lisboa, Colónia e Tóquio.

No caso do Japão, já referi em notas anteriores, a propósito da feliz e generosa recuperação e revitaliza-ção da Misericórdia de Macau, não posso deixar de dar mais um passo que também foi para mim da mais emocionante e significativa comoção.

Tendo-se programado no comple-xo geral do Congresso de Tóquio uma longa e interessantíssima viagem de turismo e cultura pelo Japão, fomos parar a uma aldeia, lá muito no inte-rior de uma densa floresta de bambus, mas na encosta de umas arribas entre rochas, a “YOKOSeUrA”, onde fomos recebidos pelo chefe da aldeia, com o seu povo com bandeirinhas à portu-guesa e, no mais acolhedor e familiar dos ambientes, como também sem qualquer complexo cerimonial.

Chamou-me a atenção uma torre de madeira, sobranceira a uma ense-

ada por onde podiam acostar lorchas e pequenos barcos, mas com bandeira portuguesa no topo.

Perguntei: “porquê a bandeira por-tuguesa?” Guardo e registo a resposta tal como a ouvi, e ainda sinto o seu eco com alguma emoção: “quando, no tem-po das perseguições que fizeram tantos mártires no Japão, muitos dos quais foram missionários portugueses, e obri-garam tantos japoneses cristãos a fugir, grande parte deles foram acolhidos em Macau; e cordialmente, familiarmente. e lá se fixaram e mereceram fazer his-tória, que ainda hoje é lembrada em significativos monumentos como são as ruínas da nobre Igreja de S. Paulo, onde muitos foram sepultados. Pois, agora que se avizinha o regresso – devolução de Macau à China, não se sabe como é que os portugueses vão ser aceites e tratados. Por isso, tomei – e à minha pessoal responsabilidade, mas de acor-

do com a minha aldeia, lembrado como foram recebidos em Macau os nossos antepassados, fugidos à perseguição por serem portugueses e…cristãos - a iniciativa de oferecer ao Leal Senado de Macau um espaço na nossa aldeia; para que lhes possa ser de refúgio, se precisarem; e por ser para eles o local mais discreto e menos distante para se sentirem acolhidos como se fossem família.”

quem, português de alma e san-gue, não se emocionaria perante um gesto desta grandeza de generosidade? e à distância já de alguns séculos!

Há memórias que não morrem, e o tempo, como a História, é que ressuscitam com elas, como foi o caso de YOKOSeUrA.

e o que mais apreciaríeis – pergun-tei – que vos enviássemos de Portugal?

resposta: livros, cartazes e lem-branças do povo português para fazer-

mos da nossa torre-farol um museu de coisas portuguesas.

era Portugal vivo na memória de Japoneses.

Lembro ainda a memória dos qua-tro jovens príncipes cristãos do Japão, levados pelo Padre Alexandre Valig-nano, Visitador do Vaticano, para se informar como era verdade o progresso da evangelização de S. Francisco Xavier e seus padres, para que merecesse criar--se já em tão pouco tempo a primeira diocese do Japão. e assim foi.

e num próximo parque-jardim entre rochedos ao pé da torre, tinha o regedor feito construir um pequeno monumento lembrando o globo ter-restre, com a indicação das viagens que fizeram do Japão a Portugal, e no regresso de Portugal ao Japão, os quatro jovens príncipes cristãos japoneses, a demonstrar em Portugal e ao Vaticano como era verdade real que o Japão já merecia ter um Bispo. e… surpresa das surpresas: fui mais tarde encontrar numa das salas da Biblioteca do Vaticano um majestoso painel figurativo, representando o cortejo de recepção que o Papa de então ordenou como deveriam ser acolhidos os príncipes-primícia da Igreja no Japão.

Coisas da História!Coisas do Coração!Coisas e casos onde Portugal tam-

bém entra!Tudo é para nosso orgulho e sa-

tisfação!Sempre valeu a pena ser como

fomos, e fazer o que fizemos.

Manuel Ferreira da Silva Historiador e fundador do VM

NA MeMÓrIA DOS JAPONeSeS I

como se fez, até bastante tarde, com a educação Física e os Trabalhos Manuais. Daí que o decreto fale de “restabelecimento” da coeducação e não de introdução da mesma, tendo em conta que sempre existiu, dependendo das condições demo-gráficas. Passados 40 anos, vale a pena recor-dar e refletir sobre os argumentos e fatores dessa mudança de organiza-ção escolar: a) A experiência “francamente po-sitiva” nas escolas onde tinha sido praticada a Coeducação, por força das circunstâncias ou por experiên-cia pedagógica, e a de outros países onde se estava a generalizar com

resultados satisfatórios;b) A Igualdade: “A evolução social tende a situar homens e mulheres lado a lado com equivalência de direitos e deveres, na família, no trabalho e em geral na vida quoti-diana”;c) A Socialização: “Convém pois que as crianças se habituem, desde os primeiros anos de escolaridade, a uma situação (…) em que rapazes e raparigas cresçam numa sã convi-vência”, o que leva a esperar “um maior equilíbrio para personalidade de cada indivíduo e uma melhor preparação para assumir o seu futu-ro papel na sociedade”;e) A esperança de que a Coeduca-

ção “ (…) valorizará o clima moral da escola,” e de que supusesse “uma maior aproximação entre mestres e alunos, bem como entre a escola e a família”; f) “quando se verifiquem disparida-des entre as linhas de crescimento psicológico dos dois sexos, um atento ensino individualizado será necessário e suficiente (…)” e com “(…) novas técnicas pedagógicas onde tenham lugar a participação ativa, o espírito criador e a atitude de colaboração” (Ministério da educação Nacional, 1972). É certo que a Coeducação genera-lizada constituiu um instrumento de Igualdade, sobretudo no que

se refere ao acesso das raparigas à escolaridade, mas será que os objetivos de Veiga Simão foram atingidos? Não é verdade que as raparigas continuam a não ter acesso aos mesmos postos e salários que os seus colegas? Porque será que os rapazes apresentam maiores índices de abandono e insucesso em todos os países da OCDe? respeita--se ou tem-se em conta o ritmo de crescimento psicológico e diferente modo de aceder à aprendizagem dos dois sexos? O clima moral da escola melhorou, de facto?estas são perguntas em que valeria a pena refletir ao fim destes 40 anos. Não talvez com o objetivo

de pôr em causa o status quo, mas para aprender e aprofundar na expe-riência e argumentos ideológicos, psicológicos, axiológicos, logístico/económicos, pedagógicos e institu-cionais brandidos pelos partidários de cada um dos modelos, assim como nas conceções da sociedade e de género subjacentes a estas opções educativas.

Maria Amélia FreitasMestre em Ciências da Educação

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Vítor Melícias

A presença em países da diáspo-ra portuguesa é inegável. Em que medida as Misericórdias poderão ter contribuído para a dissemina-ção da cultura portuguesa?De facto, muito para além das Misericór-dias de tradição italiana, as de padrão português ou leonoriano, isto é, as que se estabeleceram segundo o modelo de D. Leonor sob inequívoca influência italiana através do Cardeal de Alpedrinha, mar-caram e marcam presença determinante não apenas nas diásporas portuguesas mas em todo o mundo lusófono. Aliás, penso mesmo que elas constituem uma das mais válidas e perenes manifestações da cultura lusófona assente nos valores do humanismo universalista e solidário.

Nesse sentido, não só contribuíram para disseminação dos valores básicos da cultura portuguesa, mas podem con-tribuir e muito para a consolidação dos ideais e das solidariedades da lusofonia. Lusofonia sem sentido de misericórdia e sem Misericórdias não é verdadeira lusofonia.

Em Setembro deste ano, Portu-gal vai ser o anfitrião de mais um congresso internacional das Santas Casas. o que podemos esperar deste encontro?que ele seja, como em tantas outras ocasiões, um encontro de gente solidá-ria realmente movida pela solidarieda-de. Solidariedade criativa e proactiva. Solidariedade entre pessoas, entre povos e entre instituições. Surgidas em tempos que eram simultaneamente de expansão económica e de profunda crise social, as Misericórdias de Portu-gal e do Mundo devem aparecer neste congresso como voz da consciência coletiva em favor dos que, por mor da crise ou com o argumento nela, são as reais vítimas de um sistema sem coração, sem preocupação primeira pelas pessoas e, portanto, sem mise-ricórdia. Devem, por isso mesmo e em obediência à sua identidade e vocação originária, aparecer em congresso internacional unidas, fortes e determi-nadas, sem medos nem preconceitos, a propor e dispor-se a praticar, contra toda a crise e em superação desta crise, toda as obra de misericórdia. Um dos aspetos mais graves da atual crise é ela ser, antes de mais, uma crise de valores e, designadamente, do essencial valor da solidariedade. Possa este congresso ser, pelo menos, um pequeno contribu-to para a cultura da solidariedade e da, como disse, sua mais nobre expressão, que é a misericórdia.

As Misericórdias constituem um movimento presente em diversos países. Qual é, na sua opinião, o aspeto mais relevante dessa presença no mundo?Uma vez que a pergunta é formulada dessa maneira, direi que o que me parece mais relevante é o facto de as Misericórdias conservarem a sua vocação original e selo identitário do seu ADN, isto é, o serem instituições da sociedade civil, formas de participa-ção e direto envolvimento de cidadãos motivados por um humanismo, cristão e fraternista, de carácter universal e orientação universalista, ou seja, de envolverem todos os que o desejam em favor de todos os que necessitam. esta é, a meu ver, a marca essencial das associações ou irmandades de Misericórdia que, tal como em Florença em Maio de 1244 ou em Lisboa em 15 de Agosto de 1498, continua a definir o ideário e a praxis das que se vão criando ou reatualizando em Paris, no Luxemburgo, em Brasília ou em Menongue de Angola, no Maputo ou mesmo em Timor. No atual mundo em globalização pluripolar, é indispensável uma solidariedade localizada e com rosto humano. Ora as Misericórdias são isso mesmo. e essa é a sua força maior e incontornável contributo para a sociedade do futuro.

Seria um exagero afirmar que as Misericórdias foram percur-soras naquilo que hoje chama-mos de globalização?De modo algum. A sua vocação ori-ginária de prática de todas as obras de misericórdia em relação e todo e qualquer necessitado, e em todos os tempos e lugares, é bem a expressão do sentido global e globalizador da humanidade: todos os homens são

irmãos. Mais, quando em necessidade são os primeiros de todos os irmãos, como diria S. Francisco de Assis, cujo ideário, aliás, teve influência determinante na fundação e expansão das Misericórdias. Seguramente que a mística franciscana de fraternidade universal, que o credenciado historia-dor Jaime Cortesão identifica com a mística dos Descobrimentos, é aquela mesma mística de misericórdia, que os frades de S. Francisco embarcavam nas naus e caravelas da 1ª globalização nesse grande encontro de Povos e de Culturas, que deu novos mundos ao mundo e de um extremo ao outro enxameou de Santas Casas ou Casa de Misericórdia as novas terras em

favor das novas gentes que nelas se encontravam. Nas Ilhas oceânicas apenas descobertas e povoadas como no Norte de África, tal como no Brasil e em Macau ou na China e Japão ou ain-da em Malaca e na famosa Goa, cuja Santa Casa maravilhava S. Francisco Xavier, as Misericórdias foram desde logo, ao lado da incipiente globaliza-ção do comércio e da implantação da fé, a grande expressão de globaliza-ção da solidariedade. Pena é que na nova globalização de hoje se esteja a mundializar a finança e o comércio e se desleixe aquela que deveria ser a vertente essencial, a mundialização da solidariedade e da sua mais nobre expressão que é a misericórdia.

Misericórdias foram a grande expressão de globalização da solidariedade

Entrevista Vítor Melícias, Presidente Honorário da uMP

Vila Nova de FamalicãoCaminhada pela família

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Santo estêvãoTorta de bacalhau do centro da UMP

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