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3 VULNERABILIDADES SÓCIOECONÔMICAS VULNERABILIDADES DA INFRAESTRUTURA DE DRENAGEM URBANA E OS EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO O SANEAMENTO AMBIENTAL FRENTE AOS CENÁRIOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: A APLICAÇÃO DO ESTADO DO CONHECIMENTO SOBRE A REALIDADE DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A SITUAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO FACE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS VULNERABILIDADES EM MATÉRIA DE SAÚDE PÚBLICA NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO NA PERSPECTIVA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

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3 VULNERABILIDADES SÓCIO‐ECONÔMICAS 

 

 

 

VULNERABILIDADES DA INFRAESTRUTURA DE DRENAGEM URBANA E OS EFEITOS DAS 

MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO  

 

O SANEAMENTO AMBIENTAL FRENTE AOS CENÁRIOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: A 

APLICAÇÃO DO ESTADO DO CONHECIMENTO SOBRE A REALIDADE DA REGIÃO 

METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO  

 

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A SITUAÇÃO DA REGIÃO 

METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO FACE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS  

 

VULNERABILIDADES EM MATÉRIA DE SAÚDE PÚBLICA NA REGIÃO METROPOLITANA DO 

RIO DE JANEIRO NA PERSPECTIVA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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VULNERABILIDADES  DA  INFRAESTRUTURA  DE  DRENAGEM  URBANA  E  OS  EFEITSO  DAS 

MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO 

Marcelo Gomes Miguez, Lázaro Costa Fernandes, José Paulo Soares de Azevedo e Luiz Paulo Canedo de Magalhães | Escola 

Politécnica – Universidade Federal do Rio de Janeiro 

 

Introdução 

O crescimento das cidades em países em desenvolvimento muitas vezes ocorre sem planejamento e 

controle,  dando  origem  a  uma  expansão  urbana  a  partir  do  centro  de  forma  desorganizada.  Os 

governos municipais podem não acompanhar tal movimentação de população com o provimento da 

infraestrutura necessária, acarretando problemas nos novos loteamentos e degradação do ambiente 

urbano. De uma forma geral, esta ocupação e uso do solo levam à proliferação de doenças; falta de 

infraestrutura de  transportes públicos; abastecimento d’água deficiente; drenagem urbana  incapaz 

de controlar cheias; esgotamento sanitário e  limpeza pública precários. Dentro deste quadro, esse 

estudo focalizará, em particular, a questão da drenagem urbana e suas inter‐relações com o espaço 

urbano. 

As enchentes são fenômenos de origem natural e de alta relevância ambiental. Grandes civilizações 

se  desenvolveram  as  margens  de  rios,  aproveitando  a  água  para  abastecimento,  condução  de 

rejeitos, defesa natural, fertilização de campos e transportes. Todavia, a ocupação urbana modifica 

as  parcelas  do  ciclo  hidrológico  e  essa  ação  se  faz  sentir  tanto mais  quanto maior  for  a  própria 

cidade.  A  urbanização  interfere  neste  processo  natural,  na  medida  em  que  provoca  o  seu 

agravamento e que sua ocorrência passa a constituir um risco para a própria população que ocupa a 

cidade, para suas benfeitorias e atividades econômicas. As  inundações em áreas urbanas consistem 

em  um  dos  mais  comuns,  graves  e  onerosos  problemas  com  que  as  cidades  precisam  lidar. 

Observando  os  registros  de  perdas  econômicas  decorrentes  de  inundações  e  outras  catástrofes 

climáticas  ao  longo  das  últimas  décadas,  nota‐se  claramente  uma  tendência  de  aumento  dos 

prejuízos associados a tais fenômenos.  

De  uma  forma  simples,  pode‐se  dizer  que  a  origem  das  cheias  está  relacionada  com  as  chuvas 

intensas. Quando  a  chuva  atinge  a  superfície,  uma parcela desta  precipitação  fica  retida  na  copa 

vegetal e em depressões do terreno; parte se evapora ou infiltra no solo, e; o volume d’água restante 

escoa sobre o terreno e em canais, fluindo em direção a áreas mais baixas e, em última instância, ao 

mar. A urbanização  impacta este processo através de diversas  formas, conforme  ilustra a  tabela 1, 

que resume as causas e efeitos do desenvolvimento de uma cidade. 

 

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Tabela 1: Impactos da Urbanização sobre as Inundações 

Causas  Efeitos 

Remoção da vegetação nativa  Aumento do escoamento superficial, pela menor 

retenção na copa de árvores e na vegetação, e aumento 

das vazões máximas; aumento da velocidade do 

escoamento que encontra menos obstáculos no caminho; 

aumento da vulnerabilidade do terreno aos processos 

erosivos, propiciando o assoreamento de canais e 

galerias, o que reduz a capacidade de descarga destes. 

Aumento do grau de 

impermeabilização do terreno 

Aumento do escoamento superficial, pela redução da 

infiltração, e  aumento das vazões máximas, diminuição 

de retenções superficiais, pela diminuição das 

irregularidades superficiais, o que propicia menos 

possibilidades de armazenamento, e aumento da 

velocidade de escoamento superficial. 

Implantação de rede de drenagem 

artificial 

Aumento significativo da velocidade do escoamento e 

dos picos de vazões de cheia. 

Ocupação de áreas ribeirinhas  Subtração do espaço natural de espalhamento das 

cheias; população exposta a inundações periódicas em 

áreas naturalmente alagáveis, ampliação das áreas 

alagáveis, com a incorporação de áreas originalmente 

não sujeitas ao processo natural de inundação, pela 

ocupação de espaço nas várzeas. 

Lançamentos de Resíduos Sólidos e 

Esgotos Sanitários 

Degradação da qualidade de água; doenças de veiculação 

hídrica; obstrução de bocas de lobo e galerias; 

assoreamento de canais. 

 

Atualmente,  uma  nova  preocupação  quanto  às  inundações  urbanas  vem  ganhando  destaque:  a 

possibilidade de agravamento deste fenômeno, em virtude de mudanças climáticas de escala global. 

A causa destas mudanças está associada ao aumento da emissão de gases estufa, principalmente de 

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dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4), observado desde a revolução industrial e, extremamente 

intensificada  ao  longo  do  século  XX.  Este  processo  vem  provocando  o  aumento  da  temperatura 

média na atmosfera e na superfície dos oceanos. Apesar de ainda haver muita  incerteza quanto às 

consequências do aquecimento global, existe um consenso entre os cientistas que haverá elevação 

do  nível  do  mar,  bem  como  mais  ocorrência  de  fenômenos  extremos,  tais  como  grandes 

tempestades  e  secas.  Os  fenômenos  extremos  poderão  se  tornar  cada  vez mais  imprevisíveis  e 

severos,  sobrecarregando  os  atuais  sistemas  de  drenagem,  uma  vez  que  maiores  precipitações 

aumentarão  as  vazões  geradas  pelo  ambiente  urbano  impermeabilizado.  Em  cidades  costeiras,  a 

elevação do nível médio do mar reflete‐se diretamente em uma restrição para a descarga do sistema 

de drenagem. 

Segundo o quarto relatório do  IPCC  (Intergovernmental Panel on Climate Change, 2007), o sistema 

climático  poderá  evoluir  para:  uma  temperatura  média  maior  em  relação  ao  clima  presente; 

precipitações mais  intensas,  apesar  da  redução  de  precipitação  em muitos  lugares  do  globo,  e; 

elevação do nível do mar, devido principalmente a derretimentos das geleiras e expansão das águas 

oceânicas. 

Por  conta das  incertezas, não há unanimidade quanto aos  cenários  futuros, nem mesmo entre os 

cientistas. Alguns consideram que nossa atmosfera pode não estar aquecendo, mas sim esfriando. 

Outros cientistas discutem se há realmente uma mudança do clima, ou se algum efeito cíclico não 

mapeado está ocorrendo. Assim, a questão ainda não está definida e  tornam‐se necessários mais 

estudos  para  avaliar  qual  a  real  situação  no  tocante  ao  futuro  do  clima  no  planeta.  Porém,  as 

perspectivas  de  mudança  climática,  ainda  que  não  confirmadas,  atuam  no  mesmo  sentido  de 

agravamento  das  inundações  urbanas  que  o  próprio  processo  de  urbanização. Nesse  contexto,  a 

discussão acerca dos efeitos possíveis de mudanças climáticas sobre o sistema de drenagem urbana 

auxilia na preparação das grandes cidades para enfrentar os desafios futuros. 

Neste texto, adotaremos a linha do IPCC, considerando as precipitações máximas futuras como mais 

intensas e o nível do mar mais elevado. Neste cenário, os governos municipais necessitam adequar o 

sistema de drenagem urbana para prevenir possíveis agravamentos de enchentes. 

O objetivo deste estudo é apresentar um diagnóstico das inundações urbanas no Município do Rio de 

Janeiro, mostrando alguns estudos de caso, e desenvolver um prognóstico baseado em cenários de 

elevação de nível do mar e aumento da intensidade de precipitações extremas, reunidos na Tabela 2. 

As avaliações realizadas neste estudo serão suportadas por ferramentas de modelagem matemática, 

com destaque para o uso do MODCEL (Miguez, 2001), um modelo hidrodinâmico capaz de realizar a 

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transformação de chuva em vazão e integrar toda a bacia hidrográfica, levando em conta elementos 

naturais, combinados com outros elementos da paisagem urbana. 

 

Tabela 2: Cenários simulados 

CENÁRIO  PRECIPITAÇÃO MÁXIMA  ALTURA DO NÍVEL DO MAR 

C  ATUAL  ATUAL 

F1  +10%  ATUAL 

F2  +10%  +0,5 m 

F3  +10%  +1,0 m 

F4  +10%  +1,5 m 

 

O  cenário C é o  cenário de  comparação, para  controle das  consequências  futuras: o modelo  será 

rodado  com  as  condições  de  precipitação  máxima  e  maré,  na  situação  atual,  sem  levar  em 

consideração  mudanças  do  clima.  O  cenário  F1  supõe  que  haverá  um  aumento  de  10%  nas 

precipitações  intensas, mas, sem elevação no nível do mar. Os cenários F2 a F5  levam em conta os 

dois fenômenos, sendo o último cenário o mais crítico para a drenagem da bacia. Estes valores são 

adotados como referência para esta publicação,  levando em conta as tendências mais recentes e a 

padronização  dos  mesmos  para  as  discussões  desenvolvidas  no  âmbito  mais  geral  do  projeto 

Megacidades. 

Considerando  a  extensão  da  área  do município  e  a  complexidade  de  análise  dos  problemas  de 

drenagem  urbana,  para  os  quais  não  existe  uma  solução‐padrão  a  ser  recomendada,  torna‐se 

necessária  a  análise  caso  a  caso  para  a  proposição  de  medidas  estruturais  e  não  estruturais 

recomendáveis para um dado sistema. É verdade que  recomendações genéricas podem  (e devem) 

ser seguidas, mas as soluções de projeto mudam de bacia para bacia, pela combinação dos efeitos do 

escoamento no espaço e no tempo. Pode‐se, por exemplo, trabalhar com medidas de armazenagem 

e  infiltração, em um contexto de resgate do comportamento hidrológico original, e de canalização, 

conforme  abordagem  tradicional  de  projeto.  Porém,  no  caso  dos  reservatórios,  por  exemplo,  a 

definição do volume, dos dispositivos de descarga e da localização desses reservatórios, no contexto 

de um projeto de controle de cheias, depende de cada bacia em estudo. Neste texto, a bacia do rio 

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Acari,  bem  como  a  bacia  do  rio  Joana  foram  selecionadas  para  a  realização  de  um  estudo mais 

detalhado, visando avaliar os impactos decorrentes dos cenários da Tabela 2 sobre as enchentes da 

região, de acordo com o enfoque proposto. 

Breve histórico de desenvolvimento urbano do rio de  janeiro diagnóstico preliminar da situação de 

cheias nas suas bacias 

A maior parte da ocupação urbana da cidade do Rio de Janeiro se concentra em planícies litorâneas 

situadas  entre  o  mar  e  a  montanha.  Esta  configuração  de  relevo  dá  origem  a  uma  enorme 

quantidade  de  micro  e  pequenas  bacias  hidrográficas,  sujeitas  a  enchentes  provocadas 

principalmente  por  chuvas  convectivas  (tempestades). Os  efeitos  orográficos,  presentes  na  bacia 

tendem a agravar estas precipitações intensas, com forte influência próximo às encostas.  

O processo de urbanização da  cidade do Rio de  Janeiro alterou de  forma  significativa a paisagem 

original desta região. O município do Rio de Janeiro conta atualmente com mais de 6,3 milhões de 

habitantes  (Censo  demográfico,  IBGE  –  2010).  Com  o  passar  do  tempo,  áreas  alagadiças  foram 

dessecadas,  lagoas  e  áreas  das  baías  de  Guanabara  e  Sepetiba  foram  aterradas  e  ocorreu  um 

aumento  significativo  do  grau  de  impermeabilização.  Acerca  de  tais  mudanças,  Leopold  (1965) 

mostra que a vazão de pico de cheia numa bacia urbanizada pode chegar a ser seis vezes maior do 

que o pico nesta mesma bacia em condições naturais. 

A Figura 1 ilustra algumas das alterações ocorridas na região do centro da cidade e imediações entre 

1567 e 1906, podendo destacar como fato mais marcante o aterro do Saco de São Diogo, que deu 

origem ao Canal do Mangue.  

Figura 1: Modificações da paisagem da região central da Cidade do Rio de Janeiro entre 1567 e 1906 (adaptado de Escola de Engenharia, 

1998). 

 

O  processo  histórico  de  desenvolvimento  da  cidade  pode  ser  identificado  como  o  primeiro  fator 

agravante  das  cheias  na  região,  ao  permitir  a  ocupação  de  áreas marginais  aos  cursos  d’água  e 

também daquelas situadas em cotas topográficas muito baixas. Os primeiros esforços de urbanização 

da cidade passaram pelo dessecamento de várias áreas de charcos e baixadas. O ciclo hidrológico 

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nessas  bacias  foi  significativamente  alterado,  prejudicando  sensivelmente  a  própria  população.  A 

urbanização, tanto a formal quanto a informal, agravou o processo de formação das cheias, que, por 

sua  vez,  afetaram  mais  fortemente  as  próprias  áreas  urbanizadas,  fechando  um  ciclo  que  se 

realimenta  até  hoje,  com  efeitos  negativos.  As  construções  e  os  arruamentos  aumentaram  a 

impermeabilização e, consequentemente, o escoamento superficial, muitas vezes sem  respeitarem 

as  faixas marginais da  calha  fluvial. A ocupação da planície de  inundação dos  rios por edificações 

agravou alagamentos e fez com que as mesmas sofressem grandes prejuízos, quando da ocorrência 

de precipitações mais intensas. Picos maiores e mais rápidos de cheias passaram a ocorrer, de forma 

generalizada, nas áreas mais baixas da cidade. 

O  processo  de  urbanização  da  cidade  do  Rio  de  Janeiro  também  não  foi  capaz  de  prevenir  a 

ocupação de  suas encostas. Atualmente, uma considerável área das encostas cariocas encontra‐se 

ocupada por comunidades carentes e/ou vegetação  rasteira, em  substituição à mata atlântica que 

ocupava  a maior  parte  desta  área  no  passado.  Com  isso,  a  precipitação  que  hoje  cai  sobre  as 

comunidades  desce  como  enxurrada  e  acumula‐se  nas  áreas mais  baixas  da  cidade,  que  sofrem 

duramente com esta nova configuração do uso e ocupação dos solos das encostas.   

A  construção  de  redes  de  drenagem  pluvial  e  retificações  dos  rios,  intervenções  amplamente 

adotadas  como  solução  tradicional  para  drenagem,  também  contribui  para  o  agravamento  das 

inundações  das  áreas mais  baixas,  pois  transfere  os  alagamentos  de montante  (rio  acima)  para 

jusante (rio abaixo). As práticas mais atuais adotadas no controle de cheias, porém, tendem a tentar 

retardar  ou  reduzir  os  escoamentos  gerados  na  bacia  através  de medidas  de  armazenamento  e 

infiltração.  

O acúmulo de  resíduos  sólidos no  rio, além do  lançamento de esgotos  sanitários  sem  tratamento, 

também contribui para o agravamento das cheias pois provoca o assoreamento das canalizações e a 

obstrução  dos  elementos  hidráulicos  que  fazem  parte  do  sistema  de  drenagem.  Esses  fatores  se 

destacam  em  processos  de  urbanização  descontrolada  e  são  responsáveis  por  uma  deterioração 

ambiental que se reflete diretamente na qualidade da água do rio, provocando a contaminação da 

população local com doenças de veiculação hídrica. 

A presença de singularidades, tais como vigas e pilares de pontes, constituem outro fator agravante 

das cheias que ocorrem no Município do Rio de Janeiro. Em determinadas áreas, muros de concreto 

funcionam  como  diques,  criando  uma  obstrução  ao  escoamento  das  cheias,  provocando  o 

alagamento de áreas no seu entorno e gerando remanso. Galerias irregulares, contrações de seção, 

pontes baixas e dutos atravessando os rios são outros exemplos de singularidades frequentes. 

 

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Drenagem urbana e prognóstico de cheias 

Os sistemas de drenagem urbana englobam dois subsistemas principais: a microdrenagem, composta 

pelos pavimentos das ruas, sarjetas, bocas de  lobo, galerias de águas pluviais e canais de pequenas 

dimensões;  e  a macrodrenagem,  constituída  por  canais  de maiores  dimensões,  que  recebem  as 

contribuições da microdrenagem e as  lançam no corpo  receptor. A microdrenagem  responde pela 

captação inicial, de caráter local e distribuído, enquanto a macrodrenagem funciona como elemento 

concentrador e principal condutor dos escoamentos na bacia. 

Além da microdrenagem e da macrodenagem, outras estruturas também fazem parte do sistema de 

drenagem.  Entre  estas  estão  reservatórios  de  amortecimento,  diques  de  proteção  e  estações  de 

bombeamento.  Todo  este  conjunto  é  projetado  para  trabalhar  de  forma  integrada,  captando, 

conduzindo,  eventualmente  armazenando  de  forma  temporária  e  descarregando  os  escoamentos 

gerados em uma área urbana. 

As  cheias  urbanas  estão  diretamente  associadas  à  falha  destes  subsistemas,  seja  por  erro  de 

concepção, por  falta de manutenção, por obsolescência ou pelo crescimento urbano desordenado. 

Além dos problemas mencionados, atualmente a questão das mudanças climáticas pode contribuir 

com possíveis falhas no sistema, seja com o agravamento dos eventos de chuva intensa, seja com a 

restrição imposta pela maré no exutório da bacia.  

O aumento da intensidade das chuvas extremas leva a uma demanda direta por maiores dimensões 

da rede de drenagem. O aumento do nível do mar, por sua vez, gera uma restrição de descarga na 

foz, afetando a capacidade de escoamento e fazendo o sistema de drenagem perder eficiência. Essas 

possibilidades combinadas trazem uma conotação ainda mais crítica para o problema, uma vez que 

geram um maior volume a ser escoado por um sistema com menor capacidade de descarga. Nessa 

situação, os efeitos gerados pela nova configuração dos eventos hidrológicos para o  futuro podem 

alterar  fortemente  a  abrangência  espacial  de  alagamentos,  fazendo‐os  chegar  a  locais  antes  não 

alagáveis, aumentando cotas de alagamento e tempos de permanência, tornando a população mais 

vulnerável e aumentando os prejuízos materiais e perdas de vidas. 

A seguir, são apresentados prognósticos elaborados para as bacias do rio Acari e Joana,  localizados 

na zona norte do Município do Rio de Janeiro. Tais bacias foram selecionadas, basicamente, por dois 

fatores: são áreas fortemente urbanizadas e sujeitas a alagamentos importantes na cidade do Rio de 

Janeiro e dispõem de uma base de modelagem computacional já desenvolvida, no âmbito de estudos 

específicos contratados anteriormente pela Subsecretaria de Águas Municipais do Rio de Janeiro. 

A  modelagem  matemática  representa  uma  importante  ferramenta  no  contexto  da  gestão  de 

sistemas de drenagem e avaliação de riscos de cheias. Modelos matemáticos são capazes de auxiliar 

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na  confecção  de  projetos  integrados  de  controle  de  enchentes,  na  avaliação  do  funcionamento 

sistêmico de intervenções em arranjos complementares, na caracterização de níveis de alagamento, 

áreas  de  influência  e  tempos  de  permanência  de  cheias,  informações  estas  fundamentais  para 

avaliação  das  perdas  provocadas  pelos  alagamentos.  A  modelagem  desenvolvida  para  a 

caracterização do comportamento das cheias na região de  interesse  foi elaborada considerando as 

seguintes premissas e particularidades: 

O uso dos modelos MODCEL (Miguez, 2001; Mascarenhas & Miguez, 2005), uma robusta ferramenta 

de  modelagem  hidráulica‐hidrológica  utilizada  para  a  análise  do  comportamento  da  bacia  e  de 

intervenções de controle de cheias que permite mapear manchas de  inundação para toda a região 

modelada, e o Sistema HIDRO‐FLU  (Magalhães et al., 2005), um  sistema que  integra e automatiza 

uma série de estudos hidrológicos aplicáveis a bacias de pequeno e médio porte, e;  

Precipitação com duração de 12 horas para a bacia do rio Acari e duração de 6 horas para a bacia do 

rio Joana, tempo de recorrência de 20 anos para as áreas internas ao modelo, e de 10 anos nas áreas 

pertencentes às condições de contorno representantes das bacias adjacentes, em ambas as bacias. 

Tais condições foram representadas por hidrogramas dos rios contribuintes (externos ao domínio de 

modelagem),  além  da  maré,  aplicada  como  cotagrama  na  célula  que  representa  a  Baía  de 

Guanabara; 

  

Prognóstico para a Bacia do Rio Acari 

A bacia do rio Acari possui uma área de drenagem de cerca de 107km², sendo composta por diversos 

bairros densamente povoados do Município do Rio de  Janeiro, dentre eles  Jardim América, Acari, 

Parque Colúmbia, Coelho Neto, Barros Filho e Pavuna. A região apresenta uma grande quantidade de 

pessoas carentes, bem como  serviços de  saneamento ambiental  inadequados ou  ineficientes, com 

diversas áreas de urbanização irregular. 

O rio Acari se encontra com o rio Pavuna para formar o rio São João de Meriti, que deságua na Baía 

de Guanabara.  Importantes  vias  de  tráfego  atravessam  a  bacia,  como,  por  exemplo,  as  avenidas 

Brasil e Martin Luther King; a rodovia Presidente Dutra e a linha Vermelha. Durante a ocorrência de 

grandes tempestades, observam‐se lâminas de alagamento variando entre 0,20m e 2,0m. A Figura 2 

mostra uma visão geral da bacia. 

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Figura 2: Bacia do rio Acari (Fonte: Google Maps, 2010). 

 

Utilizando o MODCEL para simular as lâminas de alagamento na bacia, para os 5 cenários avaliados, 

têm‐se os resultados ilustrados nas Figuras 3 a 7. 

 

Figura 3: Lâminas de alagamento para a bacia do rio Acari para o cenário C. 

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Figura 4: Lâminas de alagamento para a bacia do rio Acari para o cenário F1. 

 

 

Figura 5: Lâminas de alagamento para a bacia do rio Acari para o cenário F2. 

               

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Figura 6: Lâminas de alagamento para a bacia do rio Acari para o cenário F3. 

 

 

Figura 7: Lâminas de alagamento para a bacia do rio Acari para o cenário F4. 

 

Nas figuras 3 a 7, as diversas lâminas de alagamento são representadas em tons de cinza, conforme a 

legenda. 

Atualmente já existem pontos críticos de alagamento na bacia. No bairro Acari, a margem esquerda 

do rio apresenta alturas de alagamento superiores a 0,75 m. Próximo à Avenida Brasil, na altura de 

Barros  Filho e na  comunidade Parque Bela Vista, a  situação atual  também é  crítica. As alturas de 

alagamento são superiores a 1,00 m. 

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Como  pode  ser  visto  nas  Figuras  3  a  7,  com  os  aumentos  de  precipitação  e  de  nível  do  mar 

considerados nas  simulações,  a  região da  foz do  rio e  a margem direita na  altura do bairro Acari 

seriam os locais mais afetados. Na foz do rio Acari, locais hoje com altura de alagamento até 0,15 m, 

podem passar a ter alagamento de até 1,50 m no pior caso (cenário F4). Já no bairro Acari, a margem 

direita, que já registra alturas da ordem de 0,30 m, aparece no cenário F4 com cotas de até 1,00 m. 

As mudanças do cenário F2 e F3 são pequenas em relação ao F1. Todavia, o mesmo não ocorre na 

mudança do  cenário  F3 para o  F4, o que mostra  a  influência do nível médio do mar na  sua pior 

configuração, provocando um aumento da área  sujeita a alagamentos na bacia. Apesar do  rio em 

questão não desaguar diretamente na Baia da Guanabara, o nível médio do mar, com 1,50 m acima 

do  atual,  cria  uma  grande  restrição  aos  escoamentos  e  compromete  fortemente  o  sistema  de 

drenagem, favorecendo grandes extravasamentos da calha do rio. 

 

Prognóstico para a Bacia do Rio Joana 

A bacia do rio Joana possui uma área de drenagem de cerca de 11km²,  localizada na zona norte do 

município, assim como a bacia do rio Acari, mas difere da anterior por sua população de maior renda. 

Boa parte dos moradores da bacia é de classe média e  reside nos bairros do Grajaú, Andaraí, Vila 

Isabel, Tijuca e Maracanã.  

A bacia é densamente urbanizada, atravessada por  importantes vias de acesso a outras partes da 

cidade, notadamente ao centro do município e à região de Jacarepaguá. Próximo à sua foz, a rua São 

Francisco  Xavier  e  as  avenidas  Radial  Oeste  e  Maracanã  são  algumas  das  principais  vias  de 

escoamento do trânsito da zona norte para o centro e a zona sul. 

O rio Joana está totalmente canalizado, e segue boa parte de sua trajetória paralelo à rua Maxwell 

(indicada na  Figura 8 pelo  “A”),  seguindo em direção a Universidade do Estado do Rio de  Janeiro 

(UERJ)  e  o  Maracanã.  Na  sequência,  atravessa  a  Avenida  Radial  Oeste  até  confluir  para  o  rio 

Maracanã e desaguar no Canal do Mangue, para, por  fim, chegar à Baía de Guanabara. Faz parte, 

também, da bacia do Canal do Mangue, o rio Trapicheiro, que passa por baixo da Praça da Bandeira, 

um dos locais mais emblemáticos na cidade do Rio de Janeiro, em termos de alagamentos, por afetar 

seriamente a ligação viária entre as zonas sul, norte e o centro em eventos chuvosos mais severos. 

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Figura 8: Bacia do rio Joana (Fonte: Google Maps, 2010). 

 

Os  resultados do modelo MODCEL, em  termos de  lâminas de  alagamento na bacia, para os  cinco 

cenários avaliados são representados graficamente nas Figuras 9 a 13 utilizando escalas de tons de 

cinza. 

 

Figura 9: Lâminas de alagamento na bacia do rio Joana para o cenário C. 

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Figura 10: Lâminas de alagamento na bacia do rio Joana para o cenário F1. 

 

 

Figura 11: Lâminas de alagamento na bacia do rio Joana para o cenário F2. 

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Figura 12: Lâminas de alagamento na bacia do rio Joana para o cenário F3. 

 

 

Figura 13: Lâminas de alagamento na bacia do rio Joana para o cenário F4. 

 

No cenário C percebe‐se que a região do Andaraí e do Maracanã, próximo à  foz, são os  locais que 

apresentam maiores alagamentos, com valores superiores a 0,75 m. 

Pelos  resultados obtidos com o uso do MODCEL, as  lâminas de alagamento da bacia quase não se 

alteraram com as mudanças da precipitação e maré. Existem poucas diferenças quando  se analisa 

progressivamente os cenários do C ao F5. De  fato, é possível dizer que somente a precipitação  fez 

alguma diferença. As mudanças de maré parecem não ter afetado o escoamento da bacia. 

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Dois motivos podem explicar esta pequena alteração, mesmo com 1,50 m a mais no nível do mar: a 

distância da foz à Baia da Guanabara e a presença de grandes áreas alagadas junto à foz do rio, bem 

como da foz até o deságue na bacia, incluindo a região da Praça da Bandeira. Essas áreas funcionam 

(indesejavelmente) como reservatórios e permitem um grande armazenamento da água de chuva na 

forma de alagamentos. 

Analisando a cota de alagamento da Praça da Bandeira, obtida com o MODCEL  (Figura 14), com as 

condições modeladas para o cenário C, observa‐se que o alagamento máximo é da ordem de 1,20 m. 

Todavia, com os cenários futuros, ocorre um acréscimo de até 0,50 m. 

 

 

Figura 14: lâminas de alagamento (em metros) da Praça da Bandeira para os cenários modelados. 

 

Ações mitigadoras recomendáveis 

A compreensão da maneira como a urbanização interfere nas cheias é muito importante para que a 

gestão  de  sistemas  de  drenagem  e  o  controle  das  enchentes  urbanas  sejam  feitos  de  forma 

adequada. Rotineiramente, o controle de cheias urbanas passa pela adoção de medidas estruturais e 

medidas não estruturais: As estruturais modificam a paisagem da bacia,  introduzindo  intervenções 

dentro e  fora da  rede de drenagem; as medidas não‐estruturais buscam estabelecer condições de 

convívio harmonioso com a ocorrência de enchentes. Nas localidades onde a urbanização é intensa e 

problemas de cheia  já ocorrem, medidas estruturais são de extrema  importância para minimizar os 

impactos  de  enchentes  e  permitir  a  reordenação  dos  escoamentos  no  tempo  e  no  espaço.  Essas 

medidas  são mais eficazes para a  reversão de problemas  já  instalados, mas não  se pode deixa de 

planejar  a  médio  e  longo  prazo,  de  modo  a  garantir  condições  de  sustentação  das  soluções 

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estruturais  propostas. Neste  contexto,  as medidas  não  estruturais  desempenham  um  importante 

papel. 

Medidas  não  estruturais,  por  exemplo,  podem  estar  associadas  ao  zoneamento  de  cheias,  ao 

estabelecimento  de  limites  de  impermeabilização,  à  confecção  de  planos  diretores  de manejo  de 

águas  pluviais  e  a  ações  de  educação  ambiental.  A  questão  da  educação  ambiental  é  muito 

importante,  já que os moradores de bacias hidrográficas que sofrem cronicamente com eventos de 

cheia devem perceber como estão inseridos na problemática dos revezes hídricos que lhes atingem. 

Dessa  forma,  ações  de  conscientização  podem  reduzir  vulnerabilidades  e  ensinar  a  população  a 

proceder da forma adequada em face de tais situações, garantindo a evacuação no tempo certo, ou a 

preservação de bens, entre outras ações. 

A combinação de medidas estruturais e não estruturais, bem como a própria utilização de estruturas 

da  paisagem  urbana  com  funções  hidráulicas  em  um  contexto  de  planejamento  integrado  com  o 

crescimento urbano, permite uma composição capaz de fazer  frente à vulnerabilidade das cidades, 

de forma satisfatória, na questão do controle de cheias.  

Mesmo que não houvesse perspectivas de quaisquer mudanças climáticas, a incorporação de forma 

cada vez mais intensiva das medidas conjuntas estruturais e não‐estruturais cria possibilidades mais 

eficazes no enfrentamento e sustentação das soluções para os problemas das cheias urbanas. 

Dentro do conjunto de medidas estruturais, porém, existem dois grandes grupos de medidas, com 

objetivos e concepções distintas: a prática tradicional de drenagem, que visa medidas para aumentar 

a condutância das seções, destacando‐se a canalização; e a drenagem sustentável, que objetiva as 

medidas  alternativas  para  resgatar  a  capacidade  de  armazenagem  e  infiltração  da  bacia,  com 

atuações distribuídas no espaço. Trazem a opção de reservatórios e de medidas de infiltração.  

Ambos os conjuntos de medidas podem ser utilizados isoladamente ou combinados, dependendo da 

bacia em questão. No contexto da avaliação de uma proposta de controle de cheias, em presença da 

possibilidade de mudanças  climáticas, porém,  as medidas mais  sustentáveis  são mais  apropriadas 

para  fazer  frente  aos  novos  desafios. Uma  vez  que  a  proposição  de medidas  de  reservação  e  de 

infiltração diminui a dependência do sistema de drenagem em  relação às dimensões da  rede e da 

capacidade de descarga no exutório, passa‐se a  ter uma prevenção  contra os efeitos de possíveis 

mudanças  climáticas.  Essas medidas  distribuídas  focam  a  causa  do  processo,  ou  seja,  a  própria 

geração  de  escoamentos,  não  atuando  simplesmente  nos  escoamentos  que  já  chegaram  à  rede 

principal de drenagem. 

O agravamento do problema de cheias em áreas de cotas muito baixas e próximas ao mar, porém, 

poderia levar à necessidade de implantação de medidas mais drásticas, eventualmente se chegando 

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à proposição de polders, para a proteção das áreas urbanizadas. Esta solução, de caráter corretivo 

tradicional, combinaria a utilização de diques, controlando a saída da rede de drenagem para o mar 

através de comportas, gerando a necessidade de grandes áreas de armazenamento  temporário de 

volumes  de  água  e  agravando  o  risco  de  acidentes,  pela  possibilidade  de  ruptura  de  uma  destas 

estruturas. 

Dentre  as  medidas  não  estruturais,  por  sua  vez,  recomenda‐se,  como  ação  importante  na 

minimização dos impactos advindos de uma cheia, a adoção de um sistema de alerta e um plano de 

contingência,  no  caso  de  eventos  excepcionais.  Planos  de  contingência  deveriam  ser  gerados, 

também, no  caso da necessidade de  implantação de medidas  extremas,  como os polders  citados 

anteriormente, para atender a situações de falha estrutural ou acidentes. Destaca‐se, contudo, neste 

leque  de  ações  não  estruturais,  a  necessidade  de  confecção  de  um  plano  diretor  de  drenagem 

urbana,  considerando  cenários  futuros  que  abarquem  o  problema  das  mudanças  climáticas, 

permitindo  preparar  a  cidade  para  este  problema  e  buscando  soluções  que  visem  harmonizar  a 

interação com o meio ambiente de forma a racionalizar a ação do homem sobre a bacia urbana.  

A  implantação de  ações de  educação  ambiental, de  forma mais  intensiva, pode permitir que,  em 

bacias  hidrográficas  onde  o  processo  de  urbanização  ainda  se  inicia  (como  atuais  fronteiras  de 

expansão  demográfica)  haja  uma  redução  da  vulnerabilidade  aos  eventos  hídricos  extremos.  Os 

moradores  da  bacia  hidrográfica,  estando  cientes  de  seu  papel  nessa  problemática,  poderão  se 

organizar para mitigar os efeitos adversos. 

 

Sugestão de trabalho futuros 

Os  avanços nos estudos hidrológicos e hidráulicos  frente  às possíveis mudanças  climáticas devem 

persistir e evoluir. É sabido que a modelagem climática começa a caminhar no sentido da geração de 

cenários mais  regionais,  a  partir  dos  produtos  dos modelos  climáticos  globais  (GCMs). Modelos 

oceanográficos acoplados aos GCMs mostram  informações úteis a respeito de projeções futuras do 

comportamento do nível do mar. Tal esforço deve ser acompanhado de perto pelos estudiosos de 

recursos  hídricos  e  hidrologia  urbana.  Pesquisas  com  esforços  conjuntos  entre  meteorologistas, 

oceanógrafos,  engenheiros  civis  de  recursos  hídricos  e  urbanistas  devem  ser  conduzidas  com  a 

finalidade de auxiliar aos gestores públicos com seus conhecimentos técnico‐científicos. 

Uma  integração  entre  a modelagem meteorológica  e  hidrológica/hidráulica  pode  ser  importante 

ferramenta de alerta para possíveis eventos hídricos que venham castigar a região metropolitana do 

Rio de Janeiro, minimizando danos materiais e perdas de vidas humanas. 

 

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Considerações finais 

O  problema  de  cheias  urbanas  vem  se  tornando  cada  vez  mais  grave  e  esta  situação  está 

intimamente  relacionada  com  o  próprio  processo  de  crescimento  urbano.  A  possibilidade  de 

ocorrência de mudanças climática introduz um elemento adicional complicador, que tende a agravar 

ainda mais  a  situação. O  estudo  aqui desenvolvido  apresentou  algumas  simulações hidrológicas e 

hidrodinâmicas  para  cenários  de  mudanças  climáticas  em  bacias  hidrográficas  da  região 

metropolitana do Rio de Janeiro, com o objetivo de mostrar a criticidade do problema. Os cenários 

de simulação consideram um aumento da intensidade da precipitação, aliado a um aumento do nível 

médio dos mares. Dentre as bacias avaliadas, a bacia do  rio Acari sofre substancialmente com  tais 

condições, com redução de sua capacidade de descarga aliada ao maior volume de água entrando no 

sistema drenagem. A bacia do Rio  Joana apresentou prognósticos significativamente piores que os 

atuais apenas para o aumento da intensidade da chuva.  

Analisando as  consequências do processo de mudanças  climáticas  ‐ maiores  volumes gerados por 

chuvas mais intensas que as atuais, aportando em um sistema com menor capacidade de descarga ‐ 

verifica‐se a necessidade de ações  integradas e distribuídas na bacia, com o objetivo de controlar e 

minorar a geração de vazões, de modo a  tentar aproximar condições de escoamento das naturais, 

atuando nas causas do problema e preparando a bacia para a sustentabilidade da solução. 

Uma  combinação  de medidas  estruturais  com  não‐estruturais  tende  a  ser  positiva  e  de  extrema 

importância. Além da preparação física da bacia, para fazer frente aos desafios futuros, através das 

medidas estruturais, as medidas não‐estruturais criam condições para um convívio harmônico com 

as cheias. 

 

Agredecimentos 

Um obrigado especial ao graduando de engenharia civil da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 

Raphael  Barbosa  dos  Santos  pelo  valioso  auxílio  na  confecção  das  figuras,  além  de  sugestões  e 

apontamentos que muito contribuíram com o desenvolvimento do presente capítulo.  

 

Referências bibliográficas  

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