Walter Mignolo

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Walter Mignolo A gnose e o imaginário do sistema mundial colonial/moderno” I • Weber é um analista do processo de racionalização do mundo moderno, mas ao mesmo tempo, constrói uma relação hierárquica da Europa com o resto do mundo por conta do valor da racionalização; - A racionalidade ocidental colocou a Europa no domínio do mundo. - Mas o mundo colonial sempre reivindicou um lugar próprio, uma centralidade, a partir de sua gnoseologia • Figuras como Tu Wei-ming e Vine Deloria tentam reivindicar um lugar de fala central a partir de suas heranças. - Essa é uma reivindicação que a direita e a esquerda causou muito incômodo. A esquerda marxista modernizante sempre achou reivindicações a partir da etnicidade uma reivindicação essencialista e que causava instabilidade na concepção de lutas de classe. - Wei-ming reivindica um lugar para o conceito de indivíduo que também existe na tradição confucionista. O indivíduo é um dos índices de modernidade que caracterizariam a superioridade da civilização ocidental. - Deloria fala do mundo do choque entre duas cosmovisões, que é a história dos indígenas norte- americanos (como de outros lugares das américas) que foram colocados do lado de fora da modernidade. Dois conceitos centrais: • Pensamento liminar: o que é pensamento liminar? Ou pensamento fronteiriço?

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Walter Mignolo

A gnose e o imaginrio do sistema mundial colonial/moderno

I

Weber um analista do processo de racionalizao do mundo moderno, mas ao mesmo tempo, constri uma relao hierrquica da Europa com o resto do mundo por conta do valor da racionalizao; A racionalidade ocidental colocou a Europa no domnio do mundo. Mas o mundo colonial sempre reivindicou um lugar prprio, uma centralidade, a partir de sua gnoseologia

Figuras como Tu Wei-ming e Vine Deloria tentam reivindicar um lugar de fala central a partir de suas heranas. Essa uma reivindicao que a direita e a esquerda causou muito incmodo. A esquerda marxista modernizante sempre achou reivindicaes a partir da etnicidade uma reivindicao essencialista e que causava instabilidade na concepo de lutas de classe. Wei-ming reivindica um lugar para o conceito de indivduo que tambm existe na tradio confucionista. O indivduo um dos ndices de modernidade que caracterizariam a superioridade da civilizao ocidental. Deloria fala do mundo do choque entre duas cosmovises, que a histria dos indgenas norte-americanos (como de outros lugares das amricas) que foram colocados do lado de fora da modernidade.

Dois conceitos centrais:

Pensamento liminar: o que pensamento liminar? Ou pensamento fronteirio? ex: O choque de cosmovises (se referindo a Deloria) vem sendo um fato dos ltimos quinhentos anos, e o choque ocorreu no sculo 16 como ocorre hoje. Contudo, nenhuma das cosmovises em choque permaneceu inalterada. p. 29 J no devemos conceber como homogneas a tica protestante ou a de Confcio, ou as as religies de ndios norte-americanos (...) A boa nova que temos outras escolhas, at a possibilidade de preferir pensar nas e partir das margens, de adotarmos o pensamento liminar como uma futura ruptura epistemolgica., p. 30

II

Epistemologia e hermenutica so as duas grandes formas do saber ocidental que se sobrepuseram sobre o outros. a epistemologia diz respeito ao conhecimento cientfico, a palavra da verdade. a hermenutica diz respeito a interpretao do sentido; o universo da epistemologia e da hermenutica se restringiu dominada por apenas 3 lnguas: ingls, francs, e alemo.

O uso do conceito de gnose, tal como redefinido por Mudimbe, se justifica para se diferenciar dessas duas formas excludentes:- A gnose diz respeito aos conhecimentos deixados do lado de fora da hermenutica, da cincia, da epistemologia. O conceito de gnose deve incluir a prpria episteme.A gnose liminar constri-se em dilogo com a epistemologia, a partir dos saberes que foram subalternizados nos processos imperiais e coloniais.

A gnoselogia liminar uma reflexo crtica sobre a produo do conhecimento, a partir tanto das margens internas do sistema mundial colonial/moderno (...) quanto das margens externas p. 34

Nossos objetivos no so a salvao, mas a descolonizao e a transformao da rigidez de fronteiras epistmicas e territoriais estabelecidas e controladas pela colonialidade do poder, durante o processo de construo sistema mundial colonial/moderno. p.

O objetivo desse marco de pensamento a descolonizao do conhecimento. O pensamento descolonial um pensamento construdo do ponto de vista subalterno para deslocar formas de conhecimento hegemnicos, p. 35. Pedagogias coloniais como as descrita por Darcy Ribeiro.

A questo da diferena colonial: o pensamento descolonial quer colocar em evidncia a diferena colonial, a diferena de valores que estrutura o mundo a partir do padro de poder colonial.

Uma diferena importante: Mignolo no est preocupado com as questes de mestiagem (mestizaje) racial. Nem com as demarcaes nacionais (Cuba, Brasil, Argentina), por isso no usa o termo transculturao para falar desse mundo de trocas entre Europa e Amrica.

Ele tambm no usa o conceito de cultura, porque em muitos aspectos o conceito de cultura reatualiza os mesmos problemas que temos com o usa do conceito de raa. (racismo cultural).

IIColonialidade do poder requer (Anibal Quijano):1. Classificao e hierarquizao do mundo racialmente2. Estruturas institucionais (universidades, Estado, igreja)3. Definio de espaos adequados;4. Perspectiva epistemolgica que d sentido a essa matriz de poder.

Ao invs de usar o conceito de mestiagem ou transculturao, ele prefere o conceito de semiose cultural, porque d sentido a forma como o signos so lidos nos processos de relao entre culturas diferentes. Esse conceito d conta das tenses e conflitos entre os projetos globais eurocntricos e as histrias locais.

V O objetivo do livro problematizar o imaginrio desse mundo eurocntrico, ou do sistema mundo colonial/moderno.

Imaginrio: Glissant: todas as formas pelais quais uma cultura concebe ou percebe o mundo. P. 48

geocultura moderna: Wallerstein: A configurao geopoltica do mundo corresponde a uma forma de pensamento. E ela tem origem na Revoluo Francesa.

H duas tradies crticas do colonialismo: a) crtica dos Estudos da Subalternidade; indiana, centrada nesse demarcao da modernidade como sendo o sculo 18.b) colonialidade do poder, que tem como demarcao

Exemplo de deslocamento de valores a partir de uma crtica colonial, da gnose colonial: A comemorao de 11 de outubro como o primeiro dia do fim da liberdade.

Mapas: 2 circuitos comerciais sculo 13 3 circuitos comerciais do sculo 15 4, 5, 6 H mudanas profundas nos sculos 19 e 20, mas continua uma diviso colonial. Mesmo um mapa do capitalismo comunismo mostra uma diviso clara entre sul e norte, que uma diviso baseada no padro de poder colonial.

VI Diferena de Mignolo para a Teoria da Dependncia ou CEPPAL: ele no pensa em termos de centro e periferia, mas de fronteiras externas internas.

Ele menciona a transformao de status, desde o momento em que a Espanha estava no centro, at o momento em que ele virou uma fronteira interna.

Nesse meio tempo a Russia virou tambm um centro.

VII

Para o Mignolo, a teoria descolonial ajudaria a entender como o ps-modernismo, a desconstruo, a teoria ps-colonial so limitadas para entender a diferena colonial.