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Exercício Cármico
Karmic Relationships Volume II, Lecture VII
Rudolf Steiner GA 236
Palestra de 09/05/1924 Dornach
Tradução do inglês
Lafayette P. Duarte
Hoje vamos começar a considerar as atividades internas da alma, que podem
gradualmente conduzir uma pessoa a adquirir concepções e pensamentos sobre o carma.
Esses pensamentos e concepções são tais que podem, em última instância, permitir à
pessoa perceber, à luz do carma, as suas experiências que têm uma causa cármica.
Olhando ao redor de nosso meio, nós vemos no mundo físico apenas o que é
causado pela força física de uma forma física. E se nós vemos no mundo físico, alguma
coisa que não é causada por forças físicas, ainda assim só tomamos conhecimento dela
por meio externo, relacionado às substâncias físicas, através de objetos físicos de
percepção externa a nós mesmos. Claro que, quando, por exemplo, um homem faz algo
à partir de sua própria vontade, isso não é causado por forças físicas, por causas físicas,
pois em muitos aspectos, isso sai à partir de seu livre arbítrio. Todavia, tudo o que
percebemos exteriormente se esgota nos fenômenos físicos do mundo que observamos.
Assim sendo, em toda a esfera do que podemos observar, a conexão cármica de uma
experiência pela qual nós mesmos passamos não pode ser revelada a nós. Isso porque
todo o quadro dessa conexão cármica se encontra no mundo espiritual, está de fato
inscrito no mundo etérico, no que está subjacente ao mundo etérico como mundo astral,
ou como o mundo dos seres espirituais que habitam este mundo astral exterior. Nada de
tudo isso pode ser visto, enquanto nós direcionarmos nossos sentidos apenas para o
mundo físico.
Tudo o que percebemos no mundo físico nós o fazemos através de nossos
sentidos. Esses sentidos trabalham sem que tenhamos muita consciência deles. Por
exemplo, nossos olhos recebem as impressões da luz, da cor, à partir de suas próprias
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regras e fisiologia. Podemos, no máximo, e mesmo assim de forma até involuntária,
ajustar o nosso olhar para uma determinada direção. Podemos focar o olhar para uma
determinado objeto, ou podemos olhar para longe dele. Todavia, mesmo neste ato ainda
há muito de inconsciente, apesar de em todos estes eventos haver um fragmento de
consciência. E, acima de tudo, o que o olho deve fazer internamente, a fim de
efetivamente ver a cor, esta atividade maravilhosamente sábia interior, que é exercida
sempre que vemos alguma coisa, esta atividade nunca ocorreria para nós seres humanos
se necessitássemos realizá-la conscientemente. Isso estaria fora de questão. Tudo isso
deve acontecer inconscientemente, porque é uma atividade de extrema sabedoria que se
encontra além da capacidade de o homem poder de alguma forma ajudar nisso.
Para atingir um ponto de vista correto no que diz respeito aos conhecimentos
possuídos pelos seres humanos, temos que preencher os nossos pensamentos com toda a
sabedoria presente no mundo, a qual está muito além da capacidade do homem. Se um
homem pensa somente sobre o que ele pode conseguir por si mesmo, então ele bloqueia
todos os caminhos do conhecimento. O caminho para o conhecimento realmente
começa no ponto em que percebemos, com toda a humildade, tudo o que somos
incapazes de fazer, mas que deve, de qualquer maneira, ocorrer na existência cósmica.
O olho, o ouvido - sim, todos os outros órgãos dos sentidos - são, na realidade,
instrumentos tão profundamente sábios que os seres humanos terão de estuda-los ainda
por um longo tempo antes mesmo de terem um pequeno vislumbre de entendimento
sobre eles durante sua existência. Isso precisa ser completamente compreendido. A
observação do espiritual, no entanto, não pode se dar desta forma inconsciente com a
qual lidamos com nossos órgãos normais de sentido físico. Em épocas anteriores da
evolução humana isto era possível mesmo para a observação do espiritual. Havia uma
clarividência instintiva a qual desapareceu no curso da evolução da humanidade.
A partir de agora, o homem deve conscientemente adquirir uma atitude para com
o cosmos através da qual ele será capaz de ver o espiritual. E nós temos que ver por ela
o espiritual, se quisermos reconhecer as conexões cármicas de qualquer experiência que
possamos ter.
Atualmente, para a observação do carma é necessário que nós ao menos
comecemos por prestar atenção ao que pode acontecer dentro de nós mesmos para
desenvolvermos a capacidade de tal observação cármica. Nós, de nosso lado,
precisamos ajudar um pouco a fim de tornar estas observações conscientes. Temos que
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fazer mais, por exemplo, do que fazemos para os nossos olhos, para nos tornarmos
conscientes da cor.
Meus queridos amigos, o que devemos aprender antes de tudo se resume em
uma palavra: esperar. Temos de ser capazes de esperar para as experiências interiores.
Sobre o "ser capaz de esperar", eu já falei a respeito. Foi no ano de 1889 – eu
falei disso em “História de Minha Vida”, quando da construção espiritual interior da
obra de Goethe, "O Conto da Serpente Verde e da Linda Lilie" veio pela primeira vez
diante dos olhos da minha mente. E foi então que, pela primeira vez, a percepção que
esta obra era parte de uma conexão maior, mais ampla do que a que aparece no conto de
fadas, se apresentou para mim. Mas eu também sabia na época: eu não posso ainda fazer
desta conexão o que eu algum dia serei capaz de fazer com ela. E então o que o conto
de fadas me revelou naquela época simplesmente permaneceu deitado na alma.
Então, sete anos mais tarde, no ano de 1896, ela brotou novamente, mas ainda
não de modo que pudesse ser adequadamente lapidada e isso ocorreu novamente, ao
redor de 1903, sete anos depois. Mesmo então, embora viesse com melhor definição e
muitas conexões ela ainda não pode ser recebida na sua forma correta. Sete anos depois,
novamente, quando eu concebi o meu primeiro Drama de Mistério, “O Portal da
Iniciação”, só então o Conto de Fadas reapareceu transformado de tal maneira que
poderia ser moldado plasticamente.
Tais coisas, portanto, demandam uma espera real, um tempo para o seu
amadurecimento. Temos que pegar nossas próprias experiências e compará-las com o
que existe lá fora, no mundo. No momento em que apenas a semente de uma planta está
presente, nós obviamente não podemos ter a planta. As sementes devem ser levadas
para as condições adequadas para o crescimento, e temos de esperar até que a flor, e,
finalmente, a fruta, saia da semente. E assim precisa ocorrer com as experiências pelas
quais passamos. Nós não podemos nos deixar ser tocados fundo por uma experiência,
simplesmente porque ela aconteceu, e depois esquecê-la. A pessoa que só quer suas
experiências presentes no ato em que elas acontecem fazem muito pouco no sentido da
observação final do mundo espiritual. Temos de ser capazes de esperar. Devemos ser
capazes de deixar as experiências amadurecerem dentro da alma.
Agora existe a possibilidade de uma maturação relativamente rápida do insight
nas conexões cármicas se, por um tempo considerável, nós nos esforçamos
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pacientemente e, devido a esta atividade interna, formamos a imagem clara em nossa
consciência, de uma experiência que de outra forma simplesmente seguiria seu curso
externamente, sem ser devidamente compreendida, de modo que desaparece no decorrer
da vida. Afinal, este desaparecimento gradual é o que realmente acontece com os
acontecimentos da vida. Pois o que faz o homem com eventos e experiências que lhe
acontecem no decorrer do dia? Ele os experimenta, mas na realidade apenas metade
delas são observadas de fato. Você pode perceber como apenas metade das experiências
são observadas se você se sentar um dia no período da tarde ou à noite, e eu aconselho
vocês a fazerem isso e se perguntarem: “O que eu realmente experienciei nesta manhã,
às nove e meia?” E então tente trazer essa experiência em todos os seus detalhes ante de
sua alma, recordá-la como se estivesse realmente lá, digamos às sete e meia da noite,
como se você estivesse recriando-a espiritualmente diante de si mesmo. Você vai ver o
quanto você perceberá que está faltando, o quanto você falha em sua observação, e o
quanto isso é difícil. Se você pegar uma caneta ou lápis para escrever tudo, você logo
começará a morder a caneta ou o lápis, porque você não pode conseguir todos os
detalhes e, você vai quer morder o lápis até que eles surjam!
Sim, mas este é exatamente o ponto, tomar para si a tarefa de colocar diante da
mente, com toda a precisão, uma experiência que se teve, não no momento em que ele
está realmente acontecendo, mas depois. Ela deve ser colocada diante da alma como se
se estivesse elaborando uma pintura espiritual desta experiência já ocorrida. Se a
experiência foi uma do tipo em que alguém falou alguma coisa, isso deve ser feito de
forma real e muito objetiva: o tom da voz, a maneira pela qual as palavras foram usadas,
inteligentemente ou desordenadas - a imagem deve ser feita com força e vigor. Em
suma, nós tentamos fazer uma imagem precisa daquilo que experimentamos. Se
fizermos uma imagem de uma experiência destas ocorrida em um determinado dia, no
mesmo dia em que ela ocorreu, então, na noite do dia seguinte, quando durante o sono
ele estiver fora do corpo físico e do corpo etérico, o corpo astral se ocupa com esta
imagem. O corpo astral em si é, na realidade, o portador desta imagem, e dá forma a ela
quando ele se encontra fora dos corpos físico e etérico. O corpo astral leva esta imagem
com ele quando ele sai na primeira noite após a experiência ter sido revivida
conscientemente. Ele molda esta imagem ali, fora do corpo físico e etérico.
Este é o primeiro estágio (nós passaremos por todos os demais estágios de forma
bem detalhada à frente): o corpo astral durante o sono, quando fora do corpo físico e
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etérico, molda a imagem que fizemos da experiência. Onde ele faz isso? No éter
exterior. O corpo astral se encontra no mundo etérico exterior durante o sono, ele faz
isso no éter exterior.
Agora faça uma imagem para si mesmo do ser humano: seus corpos físico e
etérico permanecessem deitados na cama, e o corpo astral está fora. Vamos deixar de
lado o EU. Lá fora está o corpo astral, remodelando essa imagem da experiência que
recriamos conscientemente. Mas o corpo astral faz isso no éter exterior. Em
consequência disto acontece o seguinte, pense nisso: o corpo astral está lá fora, dando
forma a essa imagem. Tudo isso acontece no éter exterior que impregna, por assim
dizer, com sua própria substância o que foi formado como uma imagem no corpo astral.
Assim, o éter exterior faz com que a forma etérica (pontilhado (escuro) contorno) se
torne uma imagem que é clara e precisamente visualizada pelo olhar do espírito.
Na manhã seguinte você volta para os corpos físico e etérico e carrega para eles
o que se tornou substanciado pelo éter externo. Ou seja: o corpo astral durante o sono
modela a imagem da experiência fora do corpo físico e etérico. Então, o éter exterior
impregna a imagem com sua própria substância. Você pode imaginar que a imagem se
torna mais forte deste modo, e que então, quando o corpo astral volta pela manhã com
esta mais forte substancialidade, pode causar uma impressão sobre o corpo etérico do
ser humano. Com as forças que são derivadas do éter exterior, o corpo astral agora
estampa uma impressão no corpo etérico.
O segundo estágio é o seguinte: A imagem é impressa no corpo etérico pelo
corpo astral.
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Tivemos os eventos do primeiro dia e primeira noite. Agora chegamos ao
segundo dia. No segundo dia, enquanto você está acordado e ocupado com todos os
afazeres da sua vida em plena consciência, ali, debaixo da consciência, no inconsciente,
a imagem está descendo para o corpo etérico. E na noite seguinte, quando o corpo
etérico é imperturbado, quando o corpo astral saiu novamente, o corpo etérico elabora
essa imagem.
Assim, na segunda noite, a imagem é elaborada pelo próprio corpo etérico da
pessoa. Aí temos o segundo estágio: A imagem é impressa no corpo etérico pelo corpo
astral; e na noite seguinte, o corpo etérico elabora a imagem. Assim temos o segundo
dia e a segunda noite.
Agora, se você fizer isso, se você realmente não desistir de se ocupar com a
imagem que você formou no dia anterior - e você pode continuar a ocupar-se com ela
por uma razão que eu imediatamente mencionarei – se você não desdenhar e fizer isso,
então você vai perceber que você está vivendo esta imagem de uma maneira mais
avançada. O que significa continuar ocupando-se com a imagem? Se você realmente se
esforçar para moldar uma imagem como a descrita, vigorosamente, elaborando-a
plasticamente em todas as suas características, linhas fortes no primeiro dia depois de
viver a experiência, então você realmente exercita-se espiritualmente. Estas coisas
custam esforço espiritual. Não quero ser entendido como dando dica com o que vou
dizer – a companhia presente é sempre exceção nestes assuntos - mas, afinal de contas,
precisa ser dito que a maioria dos homens simplesmente não sabe o que significa
esforço ou exercício espiritual. Esforço espiritual, o esforço espiritual verdadeiro, só
acontece por meio da atividade da alma. Quando você permite que o mundo trabalhe
sobre você, e você deixa os pensamentos seguirem seu curso, sem tomá-los em suas
mãos, então não há esforço espiritual. Não devemos imaginar, quando alguma coisa nos
cansa, que nos exercitamos espiritualmente. Ficar cansado não significa que tenha
havido esforço espiritual. Podemos ficar cansados, por exemplo, ao fazer uma leitura.
Mas se nós não nos tornamos produtivos de alguma forma durante a leitura, se nós
simplesmente deixamos os pensamentos contidos no livro agirem sobre nós, então nós
não estamos nos esforçando. Pelo contrário, uma pessoa que realmente exercita-se
espiritualmente, que esforça-se à partir de atividade anímica interior, esta pessoa pode
então pegar um livro, até um livro muito interessante, e apenas adormecer seu esforço
espiritual da melhor maneira possível, na leitura do mesmo. Naturalmente, nós podemos
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dormir sobre um livro, se estamos cansados. Ficar cansado não é nenhum sinal de
esforço em termos espirituais.
Um sinal de esforço espiritual, no entanto, é este: que se sinta – o cérebro é
utilizado até esgotar-se. É exatamente como podemos sentir quando uma grande
demanda de esforço foi feita no músculo do braço ao levantar pesos. O pensamento
comum não faz este tipo de demanda forte de esforço sobre o cérebro. O processo
continua e você vai até notar que quando você experimentá-lo pela primeira vez, pela
segunda, terceira, pela décima vez, você até tem uma leve dor de cabeça. Não é que
você fique cansado ou caia no sono, pelo contrário, você não consegue dormir, você fica
com uma leve dor de cabeça pelo esforço. Só que você não deve considerar essa dor de
cabeça como algo maligno, pelo contrário, você deve interpretá-la como prova real de
que você tem exercitou sua cabeça.
Bem, o processo continua .. . ele fica com você até você ir dormir. Se você
realmente fez tudo o que sugerimos no dia anterior, então você vai acordar de manhã
com a seguinte sensação: "Há realmente algo em mim! Eu não sei bem o que é, mas há
algo em mim, e este algo quer alguma coisa de mim. Sim, afinal de contas, não é
indiferente o que eu fiz com essa imagem para mim mesmo ontem. Isso realmente
significa alguma coisa. A imagem mudou. Hoje ela está me trazendo sentimentos muito
diferentes daqueles que eu tive anteriormente. A imagem está me fazendo ter
sentimentos bem definidos."
Tudo isso fica com você durante o dia seguinte como a reminiscência da
experiência interior da imagem que você fez para si mesmo. E o que você sente, e não
pode se livrar do sentimento durante todo o dia - este é um testemunho do fato de que a
imagem está agora descendo para o corpo etérico, como já descrevi anteriormente, e que
o corpo etérico a está recebendo.
Agora, ao acordar na manhã do próximo dia, você provavelmente vai
experimentar - quando você deslizar-se para seu corpo após estes dois dias - que você
encontrará esta imagem ligeiramente alterada, ligeiramente transformada. Você vai
encontra-la novamente..., precisamente ao acordar do terceiro dia você a encontrará
novamente dentro de você. Ela parecerá para você como um sonho muito real. Mas terá
sofrido uma transformação. Ela se revestirá com múltiplas imagens até que se torne
diferente do que era. Ele vai assumir uma aparência como se seres espirituais agora
estivessem trazendo a vocês esta sua experiência. E você realmente recebe esta
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impressão: Sim, esta experiência que eu tive e que posteriormente eu transformei em
uma imagem, foi realmente trazida até mim. Se ocorrer desta experiência ter se passado
com outro ser humano, então, após isso tudo ter acontecido, temos a sensação de que na
verdade nós não somente tivemos a experiência através daquele ser humano, mas que
ela foi realmente trazida até nós. Outras forças, forças espirituais, estiveram em jogo.
Foram elas que a trouxeram para nós.
O dia seguinte chega. Neste dia seguinte a imagem é levada ainda mais para
baixo, é levada do corpo etérico para o corpo físico. O corpo etérico estampa a imagem
no corpo físico, nos processos do sistema nervoso e nos processos circulatórios. No
terceiro dia a imagem é estampada no corpo físico. Assim, o terceiro estágio é o
seguinte: A imagem é estampada no corpo físico pelo corpo etérico.
E agora vem a noite seguinte. Você se dedica ao longo do dia do dia aos afazeres
cotidianos que a vida lhe impõe e, por baixo de tudo isso um importante processo
ocorre: a imagem está sendo levada para o corpo físico. Tudo isso se passa no
subconsciente. Quando o sono da próxima noite chega, a imagem é elaborada no corpo
físico. Ela é espiritualizada no corpo físico. Em primeiro lugar, durante todo o dia a
imagem é trazida para os processos sanguíneos e nervosos, mas à noite é espiritualizada.
Aqueles que têm visão clarividente veem como essa imagem é agora elaborada pelo
corpo físico, mas espiritualmente ele aparece como uma imagem totalmente diferente.
Podemos dizer que o corpo físico é quem elabora a imagem durante a noite seguinte.
Primeiro dia e primeira noite:
Quando fora do corpo físico e corpo etérico, o corpo astral molda a
imagem da experiência. O éter exterior impregna a imagem com sua
própria substância.
Segundo dia e segunda noite
A imagem é estampada pelo corpo astral no corpo etérico. E o corpo
etérico a elabora durante o dia seguinte.
Terceiro dia e terceira noite:
A imagem é estampada pelo corpo etérico no corpo físico. E o corpo
físico a elabora durante a noite seguinte.
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Agora isso é algo sobre o qual você precisa fazer uma imagem mental
absolutamente correta. O corpo físico realmente trabalha esta imagem espiritualmente.
Ele espiritualiza a imagem. De maneira que, quando tudo isso realmente se passou,
realmente acontece - quando o ser humano está dormindo - que seu corpo físico trabalha
a imagem inteira, mas não de tal maneira que ela permaneça no corpo físico. Fora do
corpo físico é que surge a transformação, uma transformação grandiosamente ampliada
da imagem. E quando você se levanta na manhã seguinte, esta imagem está pairando por
lá, e na verdade você flutua nela, é como uma espécie de nuvem na qual você mesmo se
encontra. Com essa imagem que você acorda pela manhã.
Então este é o terceiro dia e a terceira noite. Com esta imagem, que está
totalmente transformada, você sai da cama no quarto dia. Você se levanta do sono,
envolvido por esta nuvem. E se você realmente moldou internamente a imagem com a
força necessária no primeiro dia, e se você prestou atenção ao que seus sentimentos e
sensações transmitiram a você no segundo dia, agora você vai perceber que a sua
vontade, seu querer, está contida na imagem como lhe aparece agora. A vontade, o
querer, está contida nela! Mas este querer não é capaz de expressar-se por si mesmo, é
como se estivesse acorrentado. Colocando em termos um tanto radicais, é realmente
como se alguém houvesse planejado, ao estilo de um corredor incrivelmente ousado,
realizar uma corrida para demonstrar sua habilidade: “eu vou correr, agora estou
correndo 10 km como nunca corri antes”. Eu faço uma imagem de mim já correndo, eu
tenho isso forte dentro de mim, é o meu querer... Mas, no momento exato em que desejo
iniciar, quando meu querer está mais forte, alguém me acorrenta ao solo, de maneira
que eu fico lá preso, rigidamente. Todo o meu querer foi liberado, mas eu não posso
atender esta minha vontade. Assim, aproximadamente, é o processo.
Quando esta experiência de sentir-se preso a um pelourinho se desenvolve - pois
trata-se da sensação de se estar preso a um pelourinho após a terceira noite - quando
você acordar novamente nela, sentindo-se como em um pelourinho por assim se dizer,
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com a sua vontade acorrentada por completo, então, se você conseguir prestar atenção a
isso, você perceberá que a vontade começa a transformar-se. Esta vontade, este querer
se transforma em uma visão. Em si mesma ela não pode fazer nada, mas ela nos conduz
a ver alguma coisa. Ela torna-se um olho da alma. E a imagem, com o qual se levantou
de seu sono, torna-se objetiva. O que ela mostra é o evento da vida terrena anterior, ou
de alguma vida terrena prévia, que tenha sido a causa da experiência que vivenciamos e
foi por nós moldada em uma imagem no primeiro dia. Por meio desta transformação
através do sentir e do querer, tem-se a imagem do evento causal ocorrido em uma
encarnação anterior.
Quando descrevemos estas coisas, elas parecem um pouco avassaladoras. Isto
não é de admirar, pois elas são totalmente não familiares para o ser humano da
atualidade. Todavia, elas não eram tão desconhecidas para os homens de épocas
culturais anteriores. Só que, segundo a opinião dos homens modernos que são
inteligentes, estes outros homens – e todo o seu modo de vida - eram estúpidos! No
entanto, os homens "estúpidos" das épocas culturais anteriores realmente tinham estas
experiências, só o homem moderno a tudo escurece pelo seu intelecto, o que o torna
inteligente, mas não exatamente sábio.
Como eu disse, estas coisas parecem um tanto tumultuadas quando alguém as
relata. Mas, afinal, se é obrigado a usar estas palavras; pois como estas coisas são
literalmente desconhecidas hoje em dia, elas não pareceriam tão impressionantes se
fossem redigidas mais suavemente. Elas devem parecer impressionantes. Mas toda a
experiência, do início ao fim, durante os três dias, como eu a descrevi a vocês, deve ter
seu curso em profunda intimidade, no repouso e na paz de espírito. Para as assim
chamadas experiências ocultas - e estas são de tal ordem – deve-se preservá-las e deixa-
las seguirem seu curso sem que se alardeie a seu respeito. Quando alguém começa a
alardeá-las, elas imediatamente param. Elas devem seguir o seu curso em repouso e
quietude interior. E o melhor é quando, enquanto estes processos estejam em curso,
ninguém saiba nada do que se passa dia após dia com as experiências consecutivas dos
três dias, que ninguém note nada, exceto a pessoa que os esteja carregando dentro de si.
Agora você não deve pensar que as coisas funcionam imediatamente, desde o
início. É claro que as pessoas ficam satisfeitas quando esses fenômenos são relatados.
Isto é bastante compreensível. . . e é bom. Como há muita coisa ainda para se aprender e
saber! E então, com uma determinação tremenda as pessoas iniciam a sua prática.
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Começam. . . e elas não têm êxito. Então elas acabam se desmotivando. Então, talvez,
elas tentem de novo, várias vezes. Mas continuam sem êxito. Todavia, de fato, se
alguém já experimentou cerca de 49 vezes, ou, digamos, alguém que tenha tentado cerca
de 69 vezes, então na 50a ou na 70ª vez ela obtém sucesso. Pois o que realmente
importa nestes casos é a aquisição de uma espécie de hábito de alma para a realização
destes exercícios. Para começar, é preciso que cada um encontre o seu próprio caminho
para essas coisas, é preciso adquirir hábitos da alma para com estes acontecimentos.
Isso é algo que certamente deve ser cuidadosamente observado pela Sociedade
Antroposófica, que, desde a fundação de Natal, pretende ser uma expressão completa do
Movimento Antroposófico.
Realmente uma grande transformação tem ocorrido no âmbito da Sociedade
Antroposófica. Alguém pode até se sentir com tonturas ao perceber a grande quantidade
de palestras e cursos que foram impressos. Mas, apesar disso, as pessoas vêm de novo e
de novo, pedindo uma coisa ou outra. Na maioria dos casos, isso não é de todo
necessário, pois, se tudo o que está contido nos materiais das palestras e cursos é
realmente trabalhado por cada um, então a maioria das perguntas encontra suas próprias
respostas de uma forma mais segura. É preciso ter paciência, realmente ter muita
paciência. Na realidade, há uma grande quantidade na literatura antroposófica que pode
trabalhar nas nossas almas. Devemos levar a sério, levar em nossos corações, tudo o que
tem de ser conquistado neste campo, e o tempo será adequadamente preenchido com
tudo o que precisa ser feito. Mas, por outro lado, em relação às muitas das coisas que as
pessoas querem saber, há que se salientar que as palestras e cursos existem e que foram
deixados lá, e depois de muita gente já ter tentado lidar com eles, as pessoas querem um
"novo" curso, elas só querem colocar os antigos de lado. Essas coisas estão intimamente
ligadas com o que tenho a dizer hoje.
Nós não percebemos internamente a continuidade do que está germinando e
amadurecendo em nossa alma se existe um desejo de se apressar as coisas, desta forma,
pulando de um tema novo para outro tema novo, o ponto essencial é que as coisas
precisam amadurecer dentro de nossas almas. Devemos nos acostumar ao trabalho
interior, ao trabalho ativo em nossa alma, ao trabalho no espírito. Isto é o que nos ajuda
a conseguir as coisas, como as que eu lhes expliquei hoje, esta prática, sozinha, vai nos
ajudar a ter, após o terceiro dia, a atitude interior da alma em relação a alguma
experiência que queremos ver através da luz do karma.
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Este deve ser sempre o modo de proceder, se quisermos aprender a conhecer o
espiritual. Para começar, devemos dizer a nós mesmos: pela primeira vez em que nos
aproximamos do espiritual de alguma forma em nosso pensamento, é apenas o início, é
impossível ter qualquer tipo de resultado imediato, é preciso sermos capazes de esperar .
Suponha que eu tenha uma experiência hoje que seja carmicamente causada em uma
encarnação anterior. Vou fazer um esboço esquemático:
Aqui estou eu, esta é a minha experiência, a experiência de hoje (direita). Esta
experiência é causada por uma personalidade completamente diferente no mesmo EU
numa vida terrestre anterior (esquerda). Lá está. Há muito tempo deixou de pertencer à
minha personalidade, mas é estampada no mundo etérico, ou no mundo astral, que fica
por trás do mundo etérico. Agora eu tenho que voltar, para refazer o caminho de trás
para frente.
Eu já disse que no início é como se alguns seres realmente estivessem trazendo a
experiência para mim. Isto é assim, no segundo dia. Mas depois do terceiro dia ela
aparece como se aqueles seres que trouxeram para mim, esses seres espirituais, se
retirassem, e eu tomo consciência dela como uma coisa minha, que eu mesmo, numa
encarnação anterior, deixei como causa. Porque isso não está mais no presente, porque
isso é algo que devo contemplar de uma vida terrestre anterior, parece-me ser presa,
acorrentada. Este estado de estar agrilhoado só cessa quando eu percebo a coisa em si,
quando eu tiver uma imagem do que foi que ocorreu na encarnação anterior, quando eu
olho para trás, para o evento do qual eu não perdi a atenção nos últimos três dias. Então
eu fico livre, conforme eu retorno, pois agora eu posso circular livremente com o efeito
daquilo que causei. Enquanto eu estou apenas na causa, não posso mover-me com a
causa. Então eu volto até a encarnação anterior, lá eu me torno como se fosse preso
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àquela causa e apenas quando eu entro diretamente na vida terrestre atual, é que a coisa
é resolvida.
Agora vamos dar um exemplo: suponha que alguém experimente em um
determinado momento em um determinado dia que um amigo lhe diz algo que não é
muito agradável, talvez ele não esperasse por isso. Esse amigo disse-lhe algo não muito
agradável. Ele agora pondera sobre o que ele experienciou ao ouvir o que o amigo disse.
Ele faz uma imagem vívida do que ele vivenciou, como ele ficou levemente chocado, e
como ele ficou aborrecido, talvez ele também tenha se magoado, ou coisa parecida. Este
é um trabalho interior e, como tal, deve ser trazido para a imagem. Agora ele deixa os
três dias se passarem. No segundo dia ele prossegue e diz para si mesmo: “Esta imagem
que eu fiz ontem teve um estranho efeito sobre mim. O dia inteiro eu tive dentro de mim
algo como um ácido, por assim dizer, algo que vem da imagem e me faz sentir
interiormente fora do lugar”. No final de todo o processo, após o terceiro dia, ele diz
para si mesmo: "Eu me levantei pela manhã e agora eu tenho o sentimento de que a
imagem está me acorrentando. Então, este evento da encarnação anterior aparece diante
de mim. Eu o vejo diante de mim. Então eu passo novamente a experiência que é ainda
muito fresca, que ainda está bastante presente. A sensação de aprisionamento cessa, e
digo a mim mesmo: 'Então, é assim que foi na vida terrena anterior! Isso é o que causou
este evento agora, este evento atual é o seu efeito. Com este efeito eu posso viver
novamente ... Agora a coisa está presente novamente.”
Isto deve ser praticado repetidas vezes, pois geralmente o segmento é quebrado
no primeiro dia, quando fazemos o primeiro esforço. E então, nada vem.
É particularmente favorável deixar as coisas correrem paralelas, de modo que
nós não paramos em um único evento, mas trazemos uma série de acontecimentos do
dia em forma de imagem, da maneira descrita. Você dirá: 'eu vou viver no dia seguinte
com a maior variedade de sentimentos." Mas isso é perfeitamente possível. Não é nada
prejudicial. Apenas tente fazer isso, as coisas vão muito bem juntas. "E eu devo ser
aprisionado assim tantas vezes após o terceiro dia?" Isso também não importa. Nada
disso importa. As coisas se ajustarão com o tempo. O que pertence a uma encarnação
anterior e surge numa posterior, vai encontrar seu caminho. Mas você não terá êxito no
início, não vai ter sucesso na primeira tentativa, as conexões se perdem. Temos de ter
paciência para tentar a coisa várias outras vezes. Então sentimos algo crescendo e se
tornando cada vez mais forte dentro de nossa alma. Então sentimos que algo desperta
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em nossa alma, e dizemos a nós mesmos: 'Até agora fui preenchido com sangue. Você
tem sentido dentro de você a pulsação do sangue e da respiração. Agora, há alguma
coisa a mais dentro de você, além do sangue. Você está preenchido com alguma coisa.
Você pode até ter a sensação de que você está internamente preenchido com algo
muito parecido como um metal que assumiu uma forma aérea. Você realmente sente
alguma coisa como metal dentro de você, você pode sentir isso em você. Não posso
descrever de maneira diferente, realmente é assim que você se sente. Você sente-se
impregnado de metal, em todo o seu corpo. Assim como se pode dizer de alguns tipos
de água que elas têm “gosto metálico", da mesma forma o corpo inteiro parece ter "este
gosto" como se fosse intimamente permeado por uma substância delicada que, na
realidade, é algo espiritual.
Você sente isso quando você chega a algo que estava, naturalmente, sempre em
você, mas para a qual só agora você começa a dar atenção. Então, quando você começa
a sentir isso, você novamente se encoraja. Pois, se os elos da sua história sempre estão
se perdendo e tudo está aí como sempre foi, se você quiser se apossar de uma ligação
cármica, mas os elos estão sempre se perdendo - você pode facilmente perder a
coragem. Mas quando você detectar dentro de si esta sensação de estar interiormente
preenchido, então você tem coragem de novo. E você diz para si mesmo: a percepção
virá na hora certa.
Mas, meus caros amigos, estas coisas devem ser experimentadas em total
quietude e calma. Aqueles que não podem experimentá-las calmamente, mas se excitam
e se emocionam, espalham uma névoa interna sobre o que realmente deveria acontecer,
e nada surge.
Há pessoas hoje em dia no mundo lá fora que conhecem a Antroposofia só por
ouvir dizer. Talvez elas não tenham lido nada sobre ela, ou apenas leram o que os
adversários têm escrito. É realmente muito engraçado hoje em dia. Muitos dos escritos
contrários à Antroposofia surgem como cogumelos surgem da terra, eles citam a
literatura, mas entre as referências que eles citam na literatura não há nenhum dos meus
livros, só os livros de adversários! Os autores admitem que eles realmente não têm se
aproximado das fontes originais, que eles conhecem apenas a literatura dos que são
contrários. Essas coisas existem hoje. E assim existem pessoas lá fora que dizem: "O
Antropósofos são loucos." Na realidade, o que alguém não pode sustentar de maneira
nenhuma para atingir de alguma forma o mundo espiritual é ser louco. Não se pode ser
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louco no menor dos graus se se espera chegar a qualquer coisa no mundo espiritual. Até
mesmo o mais ínfimo fragmento da loucura é um obstáculo para alcançar qualquer
coisa. Isso simplesmente deve ser evitado. Mesmo uma ligeira fantasia, um leve
capricho, devem ser evitados. Pois todo este envolvimento com os humores do dia, os
caprichos do dia, forma os obstáculos e deficiências no caminho para o progresso no
mundo espiritual. Se alguém deseja progredir no campo da Antroposofia, não há nada
alternativa para ele, além de ter uma cabeça absolutamente sã e um coração
absolutamente são. Com o sentimentalismo amoroso (Schwärmerei), que já é o começo
de loucura, não se pode conseguir nada.
Coisas como eu lhes disse hoje, por mais estranhas que possam parecer, devem
ser vividas à luz da clareza absoluta da mente, de um ressoar absoluto da mente e do
coração. Na verdade, não há nada que possa ajudar a salvar alguém do menor sinal de
loucura diária do que a Antroposofia. Toda a loucura deixaria de existir se as pessoas se
dedicassem à Antroposofia com intensidade real. Se alguém viesse a desejar
enlouquecer à partir da Antroposofia, esta seria certamente uma tentativa realizada pelos
meios inaquedequados!
Eu não digo isto para fazer uma piada, mas porque isto deve parte integrante do
humor e do teor do caminho antroposófico. Esta é a atitude que deve ser adotada para
esta questão, como acabei de explicar para vocês, meio na brincadeira, se queremos nos
aproximar da maneira certa, com a orientação correta, temos que ter a determinação de
sermos tão sãos quanto possível, então nos aproximamos no espírito certo. Isso é o
mínimo pelo que podemos nos esforçar, e, acima de tudo, nos esforçar em relação às
pequenas loucuras da vida.
Uma vez eu tive um amigo que era um professor de filosofia muito inteligente,
agora já falecido há bastante tempo, que costumava dizer em todas as ocasiões: "Todos
nós temos algum ponto ou outro em que estamos um pouco loucos!” Ele quis dizer que
todas as pessoas são um pouco loucas... mas ele era um homem muito inteligente. Eu
sempre acreditei que existe algo por trás destas palavras, que sua afirmação não era
totalmente sem fundamento! Ele não se tornou um Antropósofo.
Continuaremos, então, amanhã
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