historiacrns.files.wordpress.com  · Web view2019. 5. 29. · diferença com relação a outras....

14
Documento Questão 1 Documento Questão 2 Como fabricar monstros Jornal “A criação de monstros para manipular uma população assustada não é nenhuma novidade. Ela se repete ao longo da história, com resultados tenebrosos, seguidamente sangrentos. Como muitos já lembraram, a Alemanha nazista atacou primeiro exposições de arte. Os nazistas criaram o que se chamou de 'arte degenerada' e destruíram uma parte do patrimônio cultural do mundo. E, mais tarde, assassinaram 6 milhões de judeus, ciganos, homossexuais e pessoas com algum tipo de deficiência. Dê um monstro a uma população com medo, para que ela o despedace, e você está livre para fazer o que quiser. Mas hoje há uma diferença com relação a outras experiências ocorridas na história: a internet. A disseminação do medo e do ódio é muito mais rápida e eficiente, assim como a fabricação de monstros para serem destroçados. Mas a internet é uma novidade também em outro sentido, que está sendo esquecido pelos linchadores: as imagens nela disseminadas estarão circulando no mundo para sempre. A história não conheceu a maioria dos rostos dos cidadãos comuns que tornaram o nazismo e o holocausto uma realidade possível, apenas para ficar no mesmo exemplo histórico. Eles se tornaram, para os

Transcript of historiacrns.files.wordpress.com  · Web view2019. 5. 29. · diferença com relação a outras....

Page 1: historiacrns.files.wordpress.com  · Web view2019. 5. 29. · diferença com relação a outras. experiências ocorridas na história: a internet. A disseminação do medo e do ódio

Documento Questão 1

Documento Questão 2

Como fabricar monstrosJornal “A criação de monstros para manipular uma população assustada não é nenhuma novidade. Ela se repete ao longo da história, com resultados tenebrosos, seguidamente sangrentos. Como muitos já lembraram, a Alemanha nazista atacou primeiro exposições de arte. Os nazistas criaram o que se chamou de 'arte degenerada' edestruíram uma parte do patrimônio cultural do mundo. E, mais tarde, assassinaram 6milhões de judeus, ciganos, homossexuais e pessoas com algum tipo de deficiência.Dê um monstro a uma população com medo, para que ela o despedace, e você está livre para fazer o que quiser. Mas hoje há uma

diferença com relação a outrasexperiências ocorridas na história: a internet. A disseminação do medo e do ódio é muito mais rápida e eficiente, assim como a fabricação de monstros para seremdestroçados.Mas a internet é uma novidade também em outro sentido, que está sendo esquecido pelos linchadores: as imagens nela disseminadas estarão circulando no mundo parasempre. A história não conheceu a maioria dos rostos dos cidadãos comuns que tornaram o nazismo e o holocausto uma realidade possível, apenas para ficar nomesmo exemplo histórico. Eles se tornaram, para os registros, o 'cidadão comum', o 'alemão médio' que compactuou com o inominável. Ou mesmo que aderiu a ele.

Aqueles que hoje chamam artistas de 'pedófilos' se esquecem de que sua imagem e suas palavras permanecerão para sempre nos arquivos do mundo.Hoje, no caso do Brasil e de outros países que vivem situação parecida, o 'cidadão comum' que aponta monstros com o rosto distorcido e estimula o ódio não é maisanônimo e apagável. Ele está identificado. Seus netos e bisnetos o reconhecerão nas imagens. Seu esgar de ódio permanecerá para a posteridade. (...)A fabricação de monstros é uma forma de controle de um grupo sobre todos os outros. A escolha do 'monstro' da vez é, portanto, uma escolha política. O que se cria hojeno Brasil é uma base eleitoral para 2018. Uma

Page 2: historiacrns.files.wordpress.com  · Web view2019. 5. 29. · diferença com relação a outras. experiências ocorridas na história: a internet. A disseminação do medo e do ódio

capaz de votar em alguém que controle o descontrole, alguém que 'bote ordem na casa'. Mas que bote ordem na casa sem mudar a ordem da casa. Este é o ponto. (...)A técnica é antiga e segue muito eficiente. Enquanto a turba grita diante de museus (museus!), às suas costas o butim segue sendo dividido entre poucos. Rastreia-sequalquer exposição cultural com potencial para factoides, o que é bem fácil, já que o nu faz parte da arte desde a pré-história, e alimenta-se o ódio e os odiadores com monstros fictícios

semana após semana. Aos poucos, a sensação de que o presente e o futuro estão ameaçados infiltra-se no cérebro de cada um E é um fato. O presente e o futuro estão ameaçados no Brasil porque há menos dinheiro para saúde e educação, porque a Amazônia está sendo roubada e porque direitos profundamente ligados àexistência de cada um estão sendo exterminados por um Congresso formado em grande parte por corruptos. Mas como isso está deslocado, parece que a ameaça está em outro lugar. Neste caso, na arte, nos

artistas, nos museus. Com o ódio deslocado para um monstro que não existe, homens que pregam e praticammonstruosidades aumentam suas chances de serem eleitos e reeleitos e as monstruosidades históricas seguem se perpetuando. É assim que se cria uma baseeleitoral que vota para botar ordem na casa, mas não para mudar a ordem da casa. É assim que oprimidos votam em opressores acreditando que se libertam. É assim que se faz uma democracia sem povo – uma impossibilidade lógica que se realizou no Brasil.”

Sobre este documentoOrigemEliane Brum. “Como fabricar monstros para garantir o poder em 2018”. In: El País, 31/10/2017.https://brasil.elpais.com/brasil/2 017/10/30/opinion/1509369732 _431246.htmlCréditos: Eliane Brum

Documento Questão 3 Sobre este documento

Sobre este documentoOrigem

Page 3: historiacrns.files.wordpress.com  · Web view2019. 5. 29. · diferença com relação a outras. experiências ocorridas na história: a internet. A disseminação do medo e do ódio

Raul Pederneiras. Scenas da vida carioca – Caricaturas de Raul (Segundo álbum). Rio de Janeiro, 1935, s/pag.Créditos: Raul Pederneiras

Documento Questão 4

Documento Questão 5

Palestra de Daniel Munduruku"Daniel Munduruku: (...) Antes de mais nada, gostaria de me apresentar, porque normalmente, quando olham para mim, é comum as pessoas me identificarem comum…Público: Índio!Daniel Munduruku: Como?Público: Índio!Daniel Munduruku: Com um cara bonito. [risadas]

Sim, e depois com um índio também, é verdade. E isso vem com uma imagem que foi sendo construída ao longo desses500 anos e que gerou na cabeça das pessoas uma visão estereotipada.Dizem que o Daniel parece com um índio: ele tem cara de índio, cabelo de índio, maçãs do rosto de índio, olhinho puxado de índio, e claro, corpo esbelto de

índio também [risadas do público], portanto, isso o torna um… índio. E as pessoasinsistem em me chamar dessa maneira. Pois bem, apesar de toda essa aparência, de tudo isso que me caracteriza como índio, queria dizer para vocês que eu não souíndio. E mais: não existem índios no Brasil. Tudo isso é uma bobagem. Se estiverem chocados, façam:

Page 4: historiacrns.files.wordpress.com  · Web view2019. 5. 29. · diferença com relação a outras. experiências ocorridas na história: a internet. A disseminação do medo e do ódio

'Oooooooh'. [risadas] (...)Público: Ooooooh!!Daniel Munduruku: E eu diria mais a vocês: não existem índios no Brasil.Público: Ooooooh!!Daniel Munduruku: Muito bem, vocês aprenderam rápido. [risadas no público]. Brincadeiras à parte, quando eu faço essa afirmação, as pessoas realmente ficamimpactadas, porque já está muito registrado na cabeça delas que, por causa da minha aparência, eu sou um índio. Mas não é assim que eu me vejo. E não é assim que eu vejo as populações ancestrais do Brasil. O que vocês estão vendo, na verdade, é uma imagem que foi sendo produzida ao longo do tempo. Resolveram nos batizar, oumelhor, nos apelidar, por essa palavrinha (...) É uma palavra que manifesta uma determinada postura das pessoas com relação à minha pessoa. Por isso eu digo queé um apelido que nos colocaram. Não sabiam como nos chamar e disseram que nós éramos os tais dos índios, porque erraram o caminho para chegar às Índias – essa conversa que todo mundo já conhece e que acabou determinando que os habitantesdessas terras se chamariam índios. Correto? E além de ser

uma história mal contada, a palavra índio não significa absolutamente nada. Se vocês tiverem curiosidade de olharnum dicionário depois, vão descobrir que a primeira entrada do Aurélio, por exemplo, diz o seguinte: 'É o elemento químico nº 49 da tabela periódica'. Fiquei tãofeliz quando soube disso... [risadas no público]Porque já era conhecido como preguiçoso, selvagem, canibal, atrasado... E agora, um elemento químico? Me senti orgulhoso, imagina. E essa palavra descritadessa maneira me suscitou outra questão: 'índio' não é radical de 'indígena'. Não sei se vocês sabiam, mas é só uma mera coincidência chamar alguém de índio ou indígena. A palavra 'índio' não tem significado específico em nenhum dicionário. Quando muitoa definição afirma assim: 'Relativo aos primeiros povos'. Ela também não diz quem nós somos. Mas, com o passar do tempo, foi revelando o que as pessoas pensavam a nosso respeito. Esse termo é um apelido. E vocês sabem que não existemapelidos positivos. Todo apelido é uma negação. (...) ao colocarmos um apelido em alguém, afirmamos o que a

gente acha do outro. E normalmente a gente acha que ooutro é uma coisa ruim. Seja pela condição social, seja pela cor da pele, pela opção sexual ou pelo que for. Sempre vamos jogar no outro a visão que temos dele. As crianças, com quem eu converso muito, são ótimas em colocar apelidos e vocêssabem disso. Os apelidos delas são muito certeiros porque elas sabemmachucar. E o apelido serve para isso, para machucar. Eu diria que, ao reforçar a palavra 'índio' nas pessoas, estamos nos reportando também àquilo que pensamosdesses grupos humanos a quem chamamos de índios. Quando ouvimos 'índio', normalmente temos duas posturas. A primeira postura é romântica, aquela ideiado bom selvagem de José de Alencar (...): 'Ah, o índio é bacaninha, vive lá no meio daflooresta, é o nosso passado, gente boa, gente de bem, olha lá, não tem ganância, vive uma vida social muito tranquila, nem bebe Coca- Cola...'. Esse é o sonho de consumode todo mundo, não é? Não a Coca- Cola, mas ser índio. E a escola reforça ou reforçou durante muito tempo essa visão (...) Mas a pergunta que não quer calar é: que

Page 5: historiacrns.files.wordpress.com  · Web view2019. 5. 29. · diferença com relação a outras. experiências ocorridas na história: a internet. A disseminação do medo e do ódio

índio é esse? Qual é o índio que a gente celebra no dia 19 de abril? É o índio do nosso imaginário. Não é um índio real. Esse índio, que foi sendo tramado dentro da nossaformação, não existe. E aí entra a minha afirmação: eu não sou e não existo. Porque esse índio é um ser que foi sendo plantado na nossa história, e nós fomos sendoobrigados a tratá-lo como ser folclórico (...). Provavelmente, a maioria de vocês já ouviu a afirmativa de que índio é preguiçoso, certo? 'Índio atrapalha o progresso, o desenvolvimento'. 'Índio tem muita terra, pra que tanta terra pra esses índios?'. 'Osíndios são todos fajutos, não contribuem para o Brasil crescer'. Certamente vocês já ouviram algumas dessas coisas, que, aliás, estão na mídia direto, não é? Esse éo outro olhar, que também mora dentro da gente. Inclusive quando dizemos assim: 'Ah, eu também sou índio, minha vó foi pega, ela era bugre legítima'. Já ouviramessa expressão? Isso mora dentro da gente (...) um pertencimento violento, inclusive. Quando as pessoas me chamam de índio, eu fico irritado. Não gosto, não. E não

gosto porque não me identifico com aquilo que falam a meu respeito.Essa palavra define o que eu não sou. (...) quero lhes dizer que índio eu não sou. Mas eu sou Munduruku. Ser Munduruku é diferente de ser índio. Ser Munduruku é diferente de ser Wapichana, Kaiapó, Xavante, brasileiro. É diferente. Ser Munduruku é ter umaancestralidade, uma leitura do mundo, um jeito de ser humano diferente dos outros povos. E é a partir desse lugar, do ser Munduruku, que eu falo para vocês.(...) Aliás, talvez a maioria de vocês nunca tenha ouvido falar de Munduruku, não é? A grande maioria nunca ouviu falar essa palavra. Mas certamente vocês já ouviram falar de índio, certo?Público: Sim.Daniel Munduruku: Por quê? Ao aprendermos essa palavra, nós não aprendemos a chamar os povos pelo nome. Então, ser Munduruku, nesse processo educativo, foi umacoisa diluída. E o povo Munduruku existe, viu? É um povo grande, com cerca de 15 mil pessoas. Nós estamos presentes em três estados brasileiros: no Pará, de onde eu souoriundo, com muito orgulho; no Amazonas, que foi onde o povo teve o primeiro contato com a

sociedade brasileira e, mais recentemente, um grupo pequeno migrou para o Mato Grosso. Além disso, tem Munduruku aqui em São Paulo, no caso, eu. [risos](...) As histórias indígenas, sobretudo, mas as histórias em geral, têm um componente que a ente esquece: normalmente elas são cíclicas ou circulares. O pensamento indígena é um pensamento circular. O que significa isso? Significa que a gente pensa em forma de espiral. Espiral é aquela mola que dá uma volta e se encontra novamente no mesmo ponto. A espiral como pensamento é essa volta ao passado necessária – é importante que a gente faça esse caminho de buscar no passado os sentidos da nossa existência para podermos dar valor ao momento em que a gente vive. O povo indígena não nega a sua memória, não nega a sua história.

O tempo inteiro ele busca no passado os sentidos para atualizar sua existência no presente. Então, quando pensamos nas populações indígenas vivendo nos dias de hoje, temos que considerar que elas estão fazendo uma atualização da própria história. Vocês sabem

Page 6: historiacrns.files.wordpress.com  · Web view2019. 5. 29. · diferença com relação a outras. experiências ocorridas na história: a internet. A disseminação do medo e do ódio

que a cultura é algo dinâmico. Não existe cultura parada no tempo. Aliás,existe sim, é a cultura morta (...) Porque a cultura, por si só, é muito dinâmica. Ela precisa se atualizar para ser, para continuar existindo. Quando pensamos a culturaindígena como uma cultura escrava do passado, congelamos essa cultura. Quando atrelamos o tal do índio a uma imagem do passado, não consideramos que a cultura semovimenta. E essa cultura precisa se movimentar para continuar a existir. Então, quando as populações indígenas dominam os mecanismos, os instrumentos quehoje a sociedade ocidental desenvolveu,

eles não fazem outra coisa a não ser atualizar a sua memória. Quando usamos a literatura como instrumento, o vídeo, o violão, que não é um instrumento tradicional indígena, mas que usamos com competênciapara sofisticar a nossa própria experiência de humanidade, estamos sendo muito maisinteligentes do que as pessoas pensam. Porque é muito interessante pensar que osindígenas se aproveitam mais do conhecimento ocidental do que o Ocidente se aproveita do conhecimento indígena. Ora, quem será mais inteligente nessa história? O indígena faz muito mais esforço para entender o Brasil, do que o Brasil para entender os indígenas. E nisso quem

perde é o próprio Brasil, porque cada vez mais os indígenas se articulam para dominar esses instrumentos a m de manter sua tradição. Falar em tradição faz parecer que perseguimos coisas do passado. Tradição é metodologia. Usamos a tradição como forma de manter nosso padrão educativo. Nós nos atualizamos, mas sem largar a tradição. Então, no fundo, quando falo para vocês, com um instrumento que não é meu, uma língua que não é minha, num lugar que não é meu, meu intuito é trazer a mensagem de um povo ancestral, um povo tradicional. Com isso eu atualizo a memória, não é? Quer dizer, é uma forma de se comunicar com a sociedade brasileira. (...)"

Sobre este documentoOrigem“O ato indígena de educar(se), uma conversa com Daniel Munduruku” - Palestra realizada em 5 de julho de 2016, dentro da ação de difusão da 32ª Bienal: Programa de Encontros no Masp. Disponível em: http://www.bienal.org.br/pos t/3364CréditosDaniel Munduruku

Documento Questão 6

Hannah ArendtTradução e Transcrição de trecho de filme"Hannah Arendt: Talvez, só porhoje, espero que me permitamfumar imediatamente. Quando aNew Yorker me enviou para cobriro julgamento de Adolf Eichmann,eu imaginei que o tribunal teriaapenas um propósito: cumprir as

exigências da justiça. Minha tarefanão foi fácil porque o tribunal quejulgava Eichmann via-se diante deum crime que inexistia nos códigospenais. E o réu era diferente detodos aqueles que antecederam ojulgamento de Nuremberg. Mesmoassim, cabia ao tribunal de nirEichmann como homem sendojulgado por seus atos. Não sejulgava um sistema. Não se julgava

Page 7: historiacrns.files.wordpress.com  · Web view2019. 5. 29. · diferença com relação a outras. experiências ocorridas na história: a internet. A disseminação do medo e do ódio

a História, nenhum 'ismo'. Nemmesmo o 'antissemitismo'. Massomente a pessoa. O problema comum criminoso nazista comoEichmann é que ele insistia emrenunciar a qualquer traço pessoal.Como se não tivesse sobradoninguém para ser punido ouperdoado. Repetidas vezes eleprotestava, rebatendo as acusaçõesda promotoria, dizendo que nãotinha feito nada por iniciativaprópria. Que ele não tiveraquaisquer intenções, boas ou más.Que ele apenas obedeceu ordens.Esta desculpa típica dos nazistastorna claro que o maior mal domundo é o mal perpetrado porninguém. Até mesmo os malescometidos por homens semqualquer motivo, sem convicção,sem razão maligna ou intençõesHannah Arendtexigências da justiça. Minha tarefanão foi fácil porque o tribunal quejulgava Eichmann via-se diante deum crime que inexistia nos códigospenais. E o réu era diferente detodos aqueles que antecederam ojulgamento de Nuremberg. Mesmoassim, cabia ao tribunal de nirEichmann como homem sendojulgado por seus atos. Não sejulgava um sistema. Não se julgavaa História, nenhum 'ismo'. Nemmesmo o 'antissemitismo'. Massomente a pessoa. O problema comum criminoso nazista comoEichmann é que ele insistia emrenunciar a qualquer traço pessoal.Como se não tivesse sobradoninguém para ser punido ouperdoado. Repetidas vezes eleprotestava, rebatendo as acusaçõesda promotoria, dizendo que nãotinha feito nada por iniciativaprópria. Que ele não tiveraquaisquer intenções, boas ou más.Que ele apenas obedeceu ordens.Esta desculpa típica dos nazistastorna claro que o maior mal domundo é o mal perpetrado porninguém. Até mesmo os malescometidos por homens sem

qualquer motivo, sem convicção,sem razão maligna ou intençõesdemoníacas. Mas seres humanosque se recusam a ser pessoas. E éeste fenômeno que eu chamei de 'abanalidade do mal'.Homem da plateia: SenhoraArendt, a senhora está evitando aparte mais importante dacontrovérsia. Disse que menosjudeus teriam morrido se seuslíderes não tivessem cooperado.Hannah Arendt: Essa questãosurgiu durante o julgamento. Eu arelatei e tive que esclarecer o papeldesses líderes judeus queparticiparam diretamente nasatividades de Eichmann.Homem na plateia: A Senhoraculpa o povo judeu por sua própriadestruição.Hannah Arendt: Eu nunca culpei opovo judeu! Resistência eraimpossível. Mas talvez haja algumacoisa entre a resistência e acooperação. E é só nesse sentidoque eu digo que talvez alguns doslíderes judeus poderiam ter agidode forma diferente. Éextremamente importante fazerseestas perguntas. Porque o papeldos líderes judeus fornece exemplomais chocante do ponto a quechegou o colapso moral causadopelos nazistas na respeitadasociedade europeia. E não só naAlemanha, mas em quase todos ospaíses. Não apenas dentre os queperseguiam, mas também entre asvítimas.Mulher na plateia: A perseguiçãovisava aos judeus. Por que descreveos crimes de Eichmann comocrimes contra a humanidade?Hannah Arendt: Porque os judeussão seres humanos. De saída, osnazistas o negavam como tal. Umcrime contra eles é, por definição,um crime contra a humanidade.Como todos sabem, eu sou judia. Eeu já fui acusada de não me aceitarcomo judia, de defender os nazistase desprezar meu próprio povo. Issonão é um argumento. É um

Page 8: historiacrns.files.wordpress.com  · Web view2019. 5. 29. · diferença com relação a outras. experiências ocorridas na história: a internet. A disseminação do medo e do ódio

assassinato de caráter! Nada do queescrevi foi em defesa de Eichmann.Tentei foi conciliar a chocantemediocridade desse homem comdemoníacas. Mas seres humanosque se recusam a ser pessoas. E éeste fenômeno que eu chamei de 'abanalidade do mal'.Homem da plateia: SenhoraArendt, a senhora está evitando aparte mais importante dacontrovérsia. Disse que menosjudeus teriam morrido se seuslíderes não tivessem cooperado.Hannah Arendt: Essa questãosurgiu durante o julgamento. Eu arelatei e tive que esclarecer o papeldesses líderes judeus queparticiparam diretamente nasatividades de Eichmann.Homem na plateia: A Senhoraculpa o povo judeu por sua própriadestruição.Hannah Arendt: Eu nunca culpei opovo judeu! Resistência eraimpossível. Mas talvez haja algumacoisa entre a resistência e acooperação. E é só nesse sentidoque eu digo que talvez alguns doslíderes judeus poderiam ter agidode forma diferente. Éextremamente importante fazerseestas perguntas. Porque o papeldos líderes judeus fornece exemplomais chocante do ponto a quechegou o colapso moral causadopelos nazistas na respeitadasociedade europeia. E não só naAlemanha, mas em quase todos ospaíses. Não apenas dentre os queperseguiam, mas também entre asvítimas.Mulher na plateia: A perseguiçãovisava aos judeus. Por que descreveos crimes de Eichmann comocrimes contra a humanidade?

Hannah Arendt: Porque os judeussão seres humanos. De saída, osnazistas o negavam como tal. Umcrime contra eles é, por de nição,um crime contra a humanidade.Como todos sabem, eu sou judia. Eeu já fui acusada de não me aceitarcomo judia, de defender os nazistase desprezar meu próprio povo. Issonão é um argumento. É umassassinato de caráter! Nada do queescrevi foi em defesa de Eichmann.Tentei foi conciliar a chocantemediocridade desse homem com

seus atos abomináveis. Tentarentender não é o mesmo queperdoar. Minha responsabilidade éentender. É a responsabilidade dequalquer um que ouse escreversobre essa questão. Desde Sócratese Platão, que geralmente sereferiam ao pensar como o diálogosilencioso travado consigo mesmo.Ao recusar-se a ser uma pessoa,Eichmann abdicou totalmente dacaracterística que mais de ne ohomem como tal: a de ser capaz depensar. Consequentemente, ele setornou incapaz de fazerjulgamentos morais. Essaincapacidade de pensar permitiuque muitos homens comunscometessem atos cruéis em umaescala monumental jamais vista. Éverdade. Tratei dessas questões deforma losó ca. A manifestação doato de pensar não é oconhecimento, mas a habilidade dedistinguir o bem do mal, o belo dofeio. E eu tenho esperança de que opensar dê força às pessoas paraevitar catástrofes naquelesmomentos raros, quando chega ahora da verdade. Obrigada."

OrigemTítulo original: Hannah Arendt Data de lançamento 5 de julho de 2013 (1h 53min)Direção: Margarethe von TrottaElenco: Barbara Sukowa, Axel Milberg, Janet McTeerGêneros: Biogra a, Drama Nacionalidades: Alemanha, FrançaProdução: Heimat lm GmbhRoteiro: Margarethe Von TrottaDistribuição: 254

Page 9: historiacrns.files.wordpress.com  · Web view2019. 5. 29. · diferença com relação a outras. experiências ocorridas na história: a internet. A disseminação do medo e do ódio

Idioma: Alemão e InglêsDisponivelem: https://www.youtube.com/w atch?v=LYGVAFKpvXMTrecho transcrito: 1:35:19 a 1:42:44. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=06jufTlnFbUCréditosProdução: Heimat lm Gmbh Roteiro: Margarethe Von Trotta Argumento: Hannah Arendt

JuramentoPanfleto"Art. 146 – O ato do juramento, queterá lugar na sala das sessões, emfrente ao retrato do ChefeNacional, e na presença de, pelomenos, dez Integralistas, realiza-seda seguinte forma: o ChefeProvincial, Municipal ou Distrital,ou a autoridade que o represente,mandará o novo Integralista erguero braço direito verticalmente epronunciar as seguintes palavras: -'Juro por Deus e pela minha honratrabalhar pela Ação IntegralistaBrasileira, executando, semdiscutir, as ordens do ChefeNacional e dos meus superiores' –A autoridade, então, dirá–'Integralistas! Mais um brasileiroentrou para as leiras dos‘Camisas-Verdes'.' 'Em nome doChefe Nacional eu o recebo econvido os presentes a saudá-lo,segundo o nosso rito. (Elevando a

voz): Ao nosso novo companheiro,- Anauê! Os presentesresponderão: - 'Anauê'.'§ 1º - O juramento acima só poderáser prestado na sede em que seinscrever o novo Integralista, salvocaso excepcional e com autorizaçãoda Che a Nacional.§ 2º - Os Integralistas queingressarem nas organizaçõesatléticas ou esportivas, ainda estãosujeitos ao juramento da S. N. E.Art. 147 – Estão dispensados doJuramento Integralista os militaresque ingressarem no Integralismo(Res. nº 100, de 25-6-1935). OChefe Nacional entende que anacionalidade estaria falida no diaem que um militar precisasserepetir um juramento que já fez deservir à Pátria e o Integralismo éconsiderado pelo Chefe como aúnica doutrina salvadora daNação."

Sobre este documentoOrigemPanfle “Protocolos e Rituais da Ação Integralista Brasileira”. 1937. PP. 41.Créditos: AIB