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Universidade de São Paulo Ana Elisa Inácio Flora Fernandes Julia Failde Larissa Dianes Raian Bueno Raphael Bassanello A subjetividade das cores

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Universidade de São PauloAna Elisa Inácio

Flora Fernandes

Julia Failde

Larissa Dianes

Raian Bueno

Raphael Bassanello

A subjetividade das cores

São Paulo2018

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Resumo: O presente trabalho sugere a introdução de uma ferramenta didática aplicada ao

ensino de neurofisiologia do sistema visual. O instrumento didático em questão, tem como objetivo fazer os alunos conceber ativa e imageticamente o que gera (percepção) e o que influencia (refração e absorção das luzes) a visão humana das cores. A importância dessa estratégia é que ela trabalha a habilidade de reconhecer a subjetividade fisiológica, circunstancial e ambiental da formação das imagens coloridas. A utilização das cores foi o método encontrado para chamar atenção dos estudantes para as diferenças de percepção entre eles mesmos.

Introdução:Os sentidos são nossa conexão com o mundo externo. Através deles

percebemos o ambiente e os seres que nos cercam, suas formas, locais, cores, sons, cheiros, texturas, sabores. São eles: a visão, o tato, o paladar, o olfato e a audição.

A sensação começa quando estímulos sensoriais de naturezas diversas entram em contato com nosso corpo e nossos receptores. Estes “sensores” ficam alocados ao longo de nossas estruturas e transformam esses sinais específicos em uma informação elétrica.

A percepção de um estímulo é influenciada pelas nossa expectativa, atenção e pelos estímulos de outras naturezas. Uma confluência de estímulos pode gerar uma resposta fisiológica de ação. O entendimento do ambiente ao redor depende também de como nossa maquinaria fisiológica recebe e transforma o estímulo em sinal elétrico e mais ainda, como nosso cérebro interpreta essa informação. Portanto, apesar dos estímulos ambientais parecerem os mesmos para todos nós, a percepção individual deles pode variar muito.

O que chega até o sistema nervoso é uma parte da realidade que se tornou relevante ao longo da evolução.  Fatores como a sobrevivência, a melhoria nas prospecções para reprodução e estabilidade são influentes para a definição de como esses estímulos foram sendo delimitados. Outros aspectos envolvidos na percepção envolvem atenção e expectativa. Se tratando do ser humano, as vivências psicossociais dos indivíduos os direcionam a esperarem determinados aspectos em certos fenômenos naturais. Um vaso de cor azul que é colocado em um local sombreado passa a ser enxergado de forma mais escura. (KINOSHITA, S., YOSHIOKA, S., & MIYAZAKI, J. 2008) Isso ocorre não por uma mudança na sua cor, mas por uma expectativa gerada que é embasada pela modificação da luz e formação de sombra, causando uma sensação de escurecimento devido a localização espacial do objeto. A atenção, por outro lado, diz respeito a um conjunto de estímulos que, após determinado período de tempo se tornam triviais e passam a ficar em segundo plano, o que leva a uma habituação e eventualmente diminuição de intensidade sensitiva com relação a aquele estímulo.

O estímulo que gera a visão é a luz, portanto, ondas eletromagnéticas. Existem ondas com comprimento de grandeza 10ˆ8m até 10ˆ-16.A O espectro de luz visível para o ser humano geralmente estende-se de 400-700nm (MARIEB, E. N, HOENH K.. 2009 ), ordem de 10ˆ-6 a 10ˆ-7, no qual o maior comprimento de onda representa a cor vermelha e a menor, a cor violeta.

Apesar de que existe uma tendência para os humanos terem uma visão antropocêntrica da visão ao supor que desenvolvemos o sistema visual "melhor", especialmente em termos de discriminação de cores (Bowmaker. 2008), alguns animais podem enxergar espectros maiores de luz e/ou outros comprimentos de onda. As abelhas possuem fotorreceptores que distingue facilmente radiação ultravioleta (350nm) das cores visíveis (HILLS,R.  et all. 2012).

As semelhanças e diferenças das cores são fundamentadas muito na composição biológica do ser que as percebe, como nas propriedades físicas dos objetos vistos, que permitem a ocorrência dos seus fenômenos ondulatórios (Hardin,

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C. L.. 1988) Para compreendermos as cores, portanto, precisamos entender sobre esse estímulo, uma vez que há muitos estudos físicos que estudam seu comportamento como sua refração e reflexão.

A abstração necessária para entendermos o sistema visual, faz com que esse sistema seja muito complexo e as discussões acerca dele estejam em várias áreas do conhecimento, como filosofia, antropologia e física.

Assim, um desafio educacional no ensino de fisiologia e comunicação é fazer os alunos saírem de seus próprios campos de visão e entenderem a gama e diversidade das percepções pessoa-a-pessoa, situação-a-situação.

Nós quisemos desenvolver uma ferramenta que introduza aos alunos que estão iniciando os estudos de fisiologia, comunicação e integração, do 9 ano (Currículo do estado de São Paulo. 2012)  a entender como as percepções visuais são subjetivas e que as cores podem ser percebidas de maneira diferente a depender de vários fatores que envolvem o estímulo e a pessoa que o recebe. Principalmente queremos mostrar que a imagem do mundo que temos é o resultado somente da nossa própria e subjetiva percepção dele, e portanto, não retrata fielmente a “realidade”. Esse não é um objetivo encontrado no currículo básico estadual, porém julgamos de alta relevância, porque para nós a introdução da fisiologia da comunicação e integração deve ser calcada na relatividade dos fatores.

Com isso buscamos fomentar o debate ético-social sobre o respeito e empatia com as diferenças, e incentivar a capacidade de compreender, após a atividade, discussões do cotidiano que envolvam a subjetividade das percepções.

Visão

A terra não tem cor se as radiações de diferentes comprimentos não puderem ser absorvidas seletivamente pelos neurônios especializados da visão humana (Lent, R..2010). Os olhos são nossa maquinaria para este estímulo,  sua composição e funcionamento influenciam em grande parte nossas percepções visuais.

Dependendo do sistema visual do ser vivo e dos seus fotorreceptores (receptores especializados em estímulos eletromagnéticos), os órgãos sensoriais irão captar diferentes espectros de ondas luminosas.

Nos vertebrados as células fotorreceptoras se localizam na retina do olho. Elas são ciliadas e subdividem-se em duas categorias: cones e bastonetes (MOYES, C. D.; SCHULTE, P. M., 2010). Os cones em nossas retinas, responsáveis pela percepção de cores, são divididos em três tipos. A relação entre padrões de estimulação dos três tipos de receptores e experiências de cores consequentes é muito complexa. (SMITH, P.. MCCULLOCH, G. 1987)

A visão do cone é tipicamente discriminativa e de alta acuidade, mas não é estritamente correto descrever os cones como “visão preto e branca", se com isso queremos dizer que elas estão totalmente excluídas dos processos de visão de cores. (HARDWIN, 1988) Bastões e cones são distribuídos de maneira diferente em nossos cones de retina espremidos na fóvea, a densidade do cone cai rapidamente fora da fóvea e a densidade dos bastonetes aumenta (HARDWIN, 1988)

Evolutivamente cada espécie obteve maior sucesso de acordo com a forma que certos estímulos foram interpretados e recebidos pelo seu sistema nervoso. Abelhas, por exemplo, conseguem enxergar as cores em média muito mais rapidamente do que humanos (5 vezes mais) e dessa forma, mesmo em florestas onde aparentemente a cor verde é a predominante, é possível para esses insetos que as cores de pequenas flores sejam identificadas, parceiros e até mesmo potenciais predadores.  Além disso, outros espectros de luz existem ademais daqueles que nosso olho capta (as cores da luz visível). Uma flor azul além de emitir esse comprimento de onda que é captado pelos receptores do olho humano, simultaneamente pode emitir cores fluorescentes não visíveis que estão no espectro dos raios ultravioletas. Entretanto, outro inseto que não possui a mesma história

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evolutiva pela qual humanos e mamíferos passaram (incluindo diferentes pressões seletivas que desencadearam na seleção de uma percepção voltada para o espectro dos raios de luz visível) pode perfeitamente receber esse estímulo e ver de fato essas cores fluorescentes.

Sistema Visual

A visão é o sentido que lida com os estímulos luminosos e o órgão responsável por esse sistema sensorial é o olho. Esse órgão é opticamente equivalente a uma câmera fotográfica comum. Possui um sistema de lentes, um sistema de abertura variável e uma retina equivalente ao filme (Guyton, A.; Hall, J., 2011). A luz, passa pela córnea, camada anterior do bulbo ocular, que é responsável por compor a primeira interface de refração do olho, formada entre porção anterior da córnea e meio de propagação anterior (Ar, água e outros). A córnea também compõe a segunda interface refrativa, entre a superfície posterior da córnea e o humor aquoso (líquido situado na cavidade criada entre a córnea e o cristalino) (Guyton, A.; Hall, J., 2011). Após passar pela córnea e humor aquoso ser refratada, a luz irá incidir contra a íris. A íris tem como principal função controlar a quantidade de luz que entra no olho, diminuindo e aumentando o tamanho da cavidade em seu centro, chamada de pupila. A íris é, também, correspondente a parte colorida dos olhos (Tortora, G.; Derrickson, B., 2016). Após a íris, há uma estrutura que corresponde a segunda lente do olho e faz parte das duas últimas interfaces refrativas, o cristalino. (Guyton, A.; Hall, J., 2011) Já refratada pelo cristalino a luz agora se encontra em um novo meio, o humor vítreo, substância gelatinosa que preenche o interior do bulbo ocular.

A retina é o principal componente do olho. Ela é responsável pela captação do estímulo luminoso e a transformação do estimo em das ondas eletromagnéticas em informação elétrica. A retina e disposta em 9 camadas, a camada externa da retina é conhecida como camada pigmentar, as demais camadas acomodam os outros 3 tipos de neurônios da retina, os receptores, as células bipolares e as células ganglionares (Guyton, A.; Hall, J., 2011). A luz precisa, então, percorrer todas as camadas da retina para ser captada pelos receptores, cones e bastonetes. Na parte posterior da retina, alinhada com a pupila, existe uma região de enorme acuidade visual, chamada fóvea. Nessa região, existe uma concentração muito grande de cones, e cada um desses cones se ligando a uma única célula ganglionar. Outro fator importante é o deslocamento lateral dos vasos sanguíneos e das camadas não sensitivas da retina, o que faz com que a luz chegue nos cones sem impedimento (Machado, A., 2006). Cones e Bastonetes são as células receptoras dos estimulo luminosos nos humanos. Os cones são células de alta luminosidade e são as células que reconhecem a frequências das ondas eletromagnéticas e sendo assim, diferencia as cores. Os bastonetes conseguem reconhecer a intensidade luminosa e são melhores para baixas luminosidades (Guyton, A.; Hall, J., 2011). O número de bastonetes na espécie humana é 20 vezes maior que o número de cones. Apesar disso, disposição desses receptores na retina não é uniforme. Como já dito, a região da fóvea é composta majoritariamente por cones. O número de cones diminui continuamente em direção a periferia e o número de bastonetes aumenta. Outra diferença é na quantidade e no tamanho dos campos receptivos. Nas partes periféricas vários bastonetes fazem sinapse com uma única célula bipolar, enquanto diversas células bipolares fazem sinapse com uma célula ganglionar. Nessas regiões uma fibra do nervo óptico pode estar relacionada com até 100 receptores. Já na fóvea, o número de cones, células bipolares e células ganglionares é praticamente igual. Toda a informação captada pelos receptores é transferida para a porção do córtex visual (Machado, A., 2006)

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Cores

A cor que um corpo apresenta depende da luz monocromática ou policromática que nele incide e da luz que ele reflete difusamente (FERRARO et al., 2012). Entretanto, a atribuição de cores à objetos (ou pseudo-objetos, como arco-íris) revela-se uma questão muito mais complicada, devido aos laços-físicos e características específicas do material, que transformam a luz. Um objeto acaba por ter uma cor de transmissão, uma cor de reflexão, uma cor de interferência, etc. (HARDWIN, 1988).

Para começar com um exame superficial das complexidades: dois objetos podem refletir um determinado comprimento de onda da luz exatamente da mesma maneira, mas transmiti-lo diferentemente, porque um absorve a luz incidente sobre a qual o outro permite uma passagem relativamente livre. O espectro da luz refletida ou transmitida dependerá, além disso, do ângulo entre a luz incidente, a superfície do objeto e o instrumento de detecção. (HARDWIN, 1988)

Um corpo que absorve todas as cores e não reflete nenhuma é denominado corpo negro. Já um corpo que, iluminado com luz branca, reflete difusamente todas as cores e não absorve nenhuma apresenta-se branco (FERRARO et al., 2012). Todavia, diversos objetos ocupam uma posição intermediária no quesito absorção/reflexão da luz, e portanto são interpretados pelo sistema visual como cores diversas. Por exemplo, se um corpo absorve todos os comprimentos de onda, menos o correspondente à cor azul, que é refletido, então o objeto será visto como azul.

Devido à ocorrência, na espécie humana, de três tipos de fotorreceptores do tipo cone os quais apresentam, cada um, maior intensidade de resposta a comprimentos de onda diferentes - correspondentes às cores vermelho, verde e azul -, nossa visão a cores acaba por se basear na associação entre essas três cores, chamadas primárias aditivas. Quando dois feixes de luz dessas cores são sobrepostos, cores secundárias são percebidas pelo sistema visual. Já quando há sobreposição de pelo menos duas cores secundárias ou das três primárias, forma-se a cor branca. A ausência de luz é interpretada pelo sistema nervoso como preto

(MÁRQUEZ et al., 2015).Detalhadamente, a sobreposição de feixes vermelho e verde resulta na cor

amarela. Verde e azul resultam em ciano, e vermelho e azul em magenta. Ainda outras nuances de cores podem ser interpretadas como resultado das diferentes proporções de misturas das luzes de cor primária e secundária (MÁRQUEZ et al., 2015).

Assim, a atribuição de cores a objetos (ou a pseudo-objetos, como arco-íris) com base em seus próprios laços físicos que transformam a luz, revela-se uma questão muito complicada. Um objeto acaba por ter uma cor de transmissão, uma cor de reflexão, uma cor de interferência, etc. (HARDWIN, 1988)

Ferramenta

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A ferramenta para mostrar essas diferentes visões é imagética, de modo que eles atinjam ativamente os objetivos propostos, fortalecendo a ideia de flipped classroom, e tenham uma percepção visual da subjetividade desse sentido.

Criamos uma caixa de luzes, parecida com um lambe-lambe, aberta de um lado. Se trata de uma câmara escura com as paredes pretas (exceto por uma parede que seria o funda da imagem) e com uma flor de plástico dentro. As luzes irão variar de cor, alternando entre vermelho, azul e verde, fazendo mudar a cor da flor e do fundo.  No fundo haverão desenhos em três cores, que irão refletir a luz ou absorvê-la gerando um efeito de desaparecimento e aparecimento das ilustrações.

Materiais e métodos

Esse projeto visava, portanto, trazer aos alunos uma ferramenta que

demonstrasse a subjetividade do percepto, mostrando que nosso entendimento de realidade pode se alterar drasticamente através da variação de diversos fatores, como a mudança de luz, por exemplo. Para isso, construímos um recurso exclusivamente visual, embora a mesma proposta pudesse ser desenvolvida também a partir dos demais sentidos.

O uso de materiais simples e baratos foi pensado para que a ferramenta pudesse ser facilmente construída por outros professores e educadores interessados em reproduzir essa atividade.

caixa de papelão preta(~30cmx20cmx20xcm)

lâmpada LED rgb(~R$15,00)

rolo defita isolante(~R$10,00)

flores artificiaiscoloridas(~R$12,00)

canetas coloridas(~R$10,00) papel sulfite

Assim, a partir de uma caixa de papelão média, a qual foi pintada por completo de preto, construíu-se um ambiente escuro isolado, como uma câmara; então, realizado um corte circular na face superior da caixa, a lâmpada é encaixada de modo que apenas o bulbo fique para dentro. As cores usadas para compor as partes do trabalho - tanto o LED rgb (r: red, g: green, b: blue), como as tintas usadas para pintar

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os desenhos -  foram essencialmente o vermelho, verde e azul, visando a teoria tricromática de Young-Helmholtz.

A partir dessa estrutura básica, criamos um cenário com flores artificiais coloridas (vermelha, amarela e branca) e duas borboletas pintadas de canetinha colorida e recortadas de papel sulfite, uma azul, outra vermelha, coladas na face do fundo. A fita isolante deve ser usada para cobrir todas as arestas e na fixação da base da lâmpada no orifício da caixa, garantindo que não haja penetração de luz branca do ambiente externo. Os objetos são dispostos pela caixa de modo que sejam mais uniformemente atingidos pela luz, para que a demonstração seja mais visualmente impactante.

Figura 1: Caixa da Percepção sob luz branca. A visão humana normal (selvagem) vê as borboletas azul e vermelha e o trio de flores: branca, vermelha e amarela.

Figura 2: Caixa da Percepção sob luz vermelha. A visão humana normal (selvagem) vê apenas a borboleta vermelha, enquanto a azul torna-se escura; as flores são percebidas todas em vermelho, embora numa variação de tons mais claros ou escuros.

Anexo 1: Estratégia didática

A Caixa da Percepção foi criada principalmente para o uso didático em sala de aula. A aplicação sugerida é em uma aula introdutória às aulas de neurofisiologia, que anteceda-as imediatamente. A presente sequência didática é uma sugestão para o

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ótimo aproveitamento da dinâmica escolar com o uso da ferramenta desenvolvida. Essa estratégia não recebeu avaliação qualitativa ou quantitativa, porém sugere-se ao final dela momentos de avaliação de conteúdo prévio e há uma sugestão de autoavaliação do conteúdo ministrado.

O professor deve confeccionar a caixa com os materiais dentro e fora que julgar mais atrativos aos alunos. As cores escolhidas para usar nos desenhos e esculturas que estarão no interior da ferramenta devem ser escolhidas de acordo com as cores das luzes.

Utilizaremos uma caixa protótipo que já foi montada e testada (foto) para ilustrar a dinâmica. A nossa caixa contém: 1 borboleta desenhada em papel sulfite e pintada com canetinha azul, 1 borboleta desenhada em papel sulfite e pintada com canetinha vermelha, 1 flor de plástico branca, outra vermelha, outra amarela.

Preparação:

1 semana antes da aula:

De acordo com o procedimento metodológico citado na parte Materiais e Métodos, o professor deve confeccionar a caixa em casa.

No dia da aula:

O professor deve guardar a caixa até que se inicie a dinâmica, certificando-se de que as luzes funcionam perfeitamente e de que os alunos não a vejam funcionando. Levar a caixa, panos escuros para auxiliar a conferir um bom ambiente pra sala e uma lousa ou cartolina com o esquema do Painel de Experiências (se houver mais de uma sala pode usar o mesmo para todas, aumentando o tamanho da cartolina).

Na aula:

Começar a aula escrevendo na lousa o tema da aula: ‘fisiologia e perceção, será que todos percebem os estímulos da mesma maneira?’ e algumas questões “o que é percepção?”, “qual a diferença entre a realidade e a percepção dela?” ou “a nossa percepção é a realidade?”. A ideia aqui é dar curiosidade aos alunos e instigá-los pro resto da aula que irá iniciar. As luzes da sala serão apagadas e as cortinas, se possível, fechadas, a fim de escurecer o ambiente e otimizar a experiência. A caixa deve estar sobre uma mesa que tenha tomada equivalente a da lâmpada e próxima e cadeira e virar a abertura da caixa para a parede, de modo que só quem sente na cadeira veja o interior da ferramenta.

Sequência didática (1 aula- 40’ + 10’ organização):

Início (10’):

Divide-se a turma em grupos, sempre formados por uma mesma quantidade de meninos e meninas, para que eles se dividam entre as atividades: olhar a caixa e preencher o formulário de conhecimentos prévios sobre neurofisiologia e troquem após certo tempo.

1. Olhando a caixa:O grupo deve se organizar em ordem, mas somente um olha a caixa de cada vez. O procedimento do aluno deverá ser: olhar a caixa através da viseira e com o tecido em

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cima da cabeça cobrindo qualquer fonte de luz que atinja o objeto; anotar em um papel quantas flores e borboletas ele vê e de que cor (somente se conseguir diferir do fundo); guardar as informações até a próxima etapa da atividade. O professor deve selecionar apenas uma cor de luz (que não seja branco ou amarelo-ambiente) para cada aluno. Não precisa manter a ordem das cores, mas o ideal é que haja o mesmo número de alunos vendo sob cada luz da lâmpada.  São esperadas diferenças de percepção, inclusive dentro das crianças que viram a ferramenta iluminada com as mesmas cores.

2.    Formulário:

Imprimir o formulário juntando a imagem do mapa conceitual (com os conceitos de ligação em branco) com as seguintes instruções:

Sondagem de conteúdos prévios: Completar os números 1, 2 e 3 do mapa conceitual com o conceito da alternativa: 1- a) é, b) não é; 2- a) não depende b) depende; 3-a) depende, b) não depende

Aplicar as instruções para todos sobre o formulário. Informar que estarão fazendo um documento cujo intuito é entender a bagagem de conhecimento deles, por isso precisa ser feito individualmente e sem consulta e que não valerá nota quantitativa, haverá um feedback para eles, na própria aula. Então, deixar os papéis com os formulários

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disponíveis para que eles peguem, sentem, preencham sozinhos e entreguem novamente.

Discussão (20’):

Os alunos são separados pelas cores das luzes que viram (só os professores sabem que eles viram em luzes diferentes) e dentro desses pequenos grupos eles devem conversar sobre as percepções que tiveram, organizando no painel de experiências os dados levantados, da forma mais simples possível (exemplo abaixo).

Painel de experiências

Sexo de nascimento

Flores (quantidade e cores)

Borboletas (quantidade e cores)

Menino 3 vermelhas 1 vermelha

Menina 1 verde 1 amarela 1 verde

… … …

O professor então, mostra a caixa para a sala inteira e a ilumina com a luz branca, revelando as cores ‘originais’ dos objetos dentro dela. A partir dos dados do painel (de todos os grupos) e dos objetos iluminados pela luz ambiente, ele(a) encaminha a discussão para os fatores que podem afetar a percepção, perguntando para os alunos porque eles acham que o painel de experiências foi tão diverso e retomando as informações do formulário. O feedback do formulário é feito oralmente, construído pelos próprios alunos com o encaminhamento do professor para o aspecto essencial. O maior ensinamento que deverá ser dado é que a realidade é fruto da nossa percepção, e está composta por vários aspectos, e portanto, subjetiva. Não existe uma só cor, porque nossa percepção não é objetiva.

Finalização (10’):

Como é possível que objetos que possuem determinada cor quando expostos à luz branca mudam completamente quando recebem luzes diferentes? Dessa maneira, se inicia o primeiro tópico da atividade. A professora então vai à lousa e inicia uma pequena aula expositiva sobre os diferentes comprimentos de onda e sobre como os objetos agem quando expostos a eles. Existe a possibilidade de uma atividade prática rápida, utilizando a lâmpada da ferramenta iluminando objetos da sala para reforçar a explicação didática.

Uma vez que os alunos receberam a explicação sobre a formação das cores, chega o momento para a discussão sobre as diferenças de percepção com a iluminação igual.

Por quê será que existem diferenças na percepção da cor dos objetos pelas pessoas quando eles são iluminados pela mesma cor?

A partir dessa etapa, se inicia o tema de fisiologia do 9º ano do ensino fundamental.

Funcionamento do sistema visual humano Percepção como uma combinação entre estímulo + sistema sensorial +

interpretação por parte do sistema nervoso Nuances e mudanças em como cada pessoa interpreta cada estímulo

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Ressaltar que diferentes organismos possuem diferentes células receptoras, o que torna a interpretação do mundo diferente para cada um desses organismos

Anexo 2:

Porque o azul é tão raro em seres na natureza? Como a física influencia na percepção de cores e não somente a pigmentação (fator químico).

Borboletas do gênero Morpho (Morpho cypris; Morpho didius), são comumente identificadas devido a sua bela e marcante coloração azul nas asas. Por algum período tentou-se sintetizar o pigmento que lhe conferia tal aspecto, entretanto, como é verificado ao longo dos animais, a cor azul não é de fácil sintetização pela natureza. Normalmente a pigmentação de borboletas é dada pela sua alimentação, sendo que posteriormente a intensidade é medida de acordo com as moléculas orgânicas que são produzidas com base nessa dieta. Outros animais, como o flamingo também apresentam esse comportamento: a coloração rosada de suas penas é obtida através dos carotenoides presentes nos caranguejos de sua dieta. Com as borboletas azuis o processo é dado de outra forma. Ao se observar as asas dessas borboletas em microscópio de varredura é visto que existem ultraestruturas em formato de escama que se sobrepõe e causam um efeito físico às ondas de luz que chegam até as asas. A luz de diferentes comprimentos de onda, ao chegarem nessas estruturas são desviadas e acabam por se anularem ao entrarem em choque com os outros comprimentos de onda (de luz) que também estão chegando. Entretanto, o comprimento de onda referente a cor azul é exatamente do tamanho das cavidades entre as escamas da ultra estrutura das asas e por isso passa ileso, tornando-se visível. Basicamente, diz-se que as asas de borboleta possuem filtros microscópicos de luz que produzem índices de refração exatos para deixarem a luz azul escapar. Um experimento para demonstrar como esse filtro age é colocar álcool nas asas. O espaço das estruturas que até então era ocupado pelo ar agora é ocupado pelo álcool, e temporariamente a cor azul desaparece até que o álcool evapore novamente e o ar retome o lugar nos espaços entre escamas. Outros exemplos de coloração azul que são relacionados a estrutura microscópica são: o olho humano na cor azul, pena de pavão, pena de gaio-azul.

Referências:

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FERRARO, Nicolau et al. Física. 1. Ed. São Paulo: Moderna, 2012 Lent, Roberto. Cem bilhões de neurônios? Conceitos fundamentais da

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