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APRESENTAÇÃO Esta obra é fruto de pesquisa iniciado no segundo semestre de 1999, atendendo a um chamado de então Prefeito Municipal de Castelo, Paulo Lombra Galvão, que sentia a necessidade de resgatar a história do município de Castelo. Os trabalhos de pesquisasse estenderam até o primeiro semestre de 2002, quando atual administração, com o Prefeito Municipal, Abílio Corrêa de Lima, e sua equipe, imbuídos do mesmo propósito de resgatar nossa história, deu continuidade ao projeto já iniciado. Nossa pesquisa abrange um longo espaço de tempo, que vai da pré-história ao início do Século XX. E, ainda temos a pretensão de darmos continuidade e chegar aos dias de hoje. Nesta segunda futura fase, poderemos contar com alguns elementos que foram pouco ou nada utilizados na fase atual, como as entrevistas realizadas com pessoas que vivenciaram o que analisaremos, além de uma maior número de documentos históricos. Mas, é importante lembrar, que a falta desses documentos não comprometeram o resultado do presente trabalho, pois assuntos importantíssimos foram abordados através de muito esforço, dedicação e seriedade. Este trabalho vem preencher uma lacuna, até então latente em nosso município, que era a falta de informações sobre nossa história. não estamos, no entanto, desmerecendo tudo que já foi escrito anteriormente sobre o tema. O que queremos expressar a respeito do nosso estudo, é a facilidade de se

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APRESENTAÇÃO

Esta obra é fruto de pesquisa iniciado no segundo semestre de 1999,

atendendo a um chamado de então Prefeito Municipal de Castelo, Paulo Lombra

Galvão, que sentia a necessidade de resgatar a história do município de Castelo.

Os trabalhos de pesquisasse estenderam até o primeiro semestre de 2002,

quando atual administração, com o Prefeito Municipal, Abílio Corrêa de Lima, e sua

equipe, imbuídos do mesmo propósito de resgatar nossa história, deu continuidade

ao projeto já iniciado.

Nossa pesquisa abrange um longo espaço de tempo, que vai da pré-história

ao início do Século XX. E, ainda temos a pretensão de darmos continuidade e

chegar aos dias de hoje. Nesta segunda futura fase, poderemos contar com alguns

elementos que foram pouco ou nada utilizados na fase atual, como as entrevistas

realizadas com pessoas que vivenciaram o que analisaremos, além de uma maior

número de documentos históricos.

Mas, é importante lembrar, que a falta desses documentos não

comprometeram o resultado do presente trabalho, pois assuntos importantíssimos

foram abordados através de muito esforço, dedicação e seriedade.

Este trabalho vem preencher uma lacuna, até então latente em nosso

município, que era a falta de informações sobre nossa história. não estamos, no

entanto, desmerecendo tudo que já foi escrito anteriormente sobre o tema. O que

queremos expressar a respeito do nosso estudo, é a facilidade de se encontrar, em

um só livro e deforma cronológica, a história de Castelo, de sua pré-história até o

início do século XX.

A história é uma ciência que objetiva estudar o passado, posi através de

fundamentos do passado, é que podemos compreender o presente, que é nossa

maior preocupação. A compreensão sustentada em fundamentos históricos e de

maneira holística, proporciona um conhecimento alargado e bastante consistente.

Somente levantando fatos sobre a história de Castelo é que teremos

condições de analisarmos nossas problemáticas, para tentar solucioná-las.

O que será visto a seguir é o resultado de algumas viagens e de horas de

pesquisa grampando informações e formulando conceitos que possam ajudá-lo,

nosso caro leitor, a conhecer um pouco da história de nosso município.

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Esperamos que gostem de nosso trabalho. E, no mais, só podemos desejar

uma boa leitura a todos.

Os autores

PREFÁCIO

Ao Receber a “boneca” do livro de André Dell’Orto Casagrande e Maria

Helena Mion Barbieiro, sobre a história de Castelo, com o pedido de fazer o prefácio,

desanimei. Apesar de conhecer a inteligência de André e de Maria Helena, pensei

que iria enfrentar mais uma História contando onde o Imperador fez xixi, onde o

cavalo do marquês empacou ou a rua onde a duquesa quebrou o salto do sapato.

Para minha surprese – agradável surpresa – enfrento um livro diferente e novo, bem

pesquisado e bem escrito, em estilo simples e moderno, uma agradável surpresa –

repito – brotada e florescente na cidade de Castelo.

O pior é que eu não sei fazer prefácio, sei, e muito pelas pontas, fazer uns

poemas, uns romances e trechos da Histórias da minha cidade, Campos dos

Goytacazes, mas prefácio a coisa muda.

Pois bem, os dois jovens historiadores começam pelo começo, como se diz,

trazendo a História da bela cidade de Castelo, no Espírito Santo, mostrando como

os europeus chegaram ao Brasil, como alcançaram o interior capixaba, como

descobriram florestas, rios, bichos, soldados, riquezas minerais, montanhas ouriças

e colonizadores terríveis, que escravizaram índios e mataram de fome e chicote os

escravos negros. Tudo isso contaram os dois moços, num estilo simples e bonito,

enxuto, de tal forma que se chega ao final do livro rapidamente e com pena,

querendo ler mais sobre Castelo.

Osório Peixoto Silva

André e Maria Helena pesquisaram antigas igrejas, visitaram sítios históricos,

levaram velhos livros, andaram por toda a parte em busca de dados da História de

Castelo e aí está este livro lindo, cheio de fatos, documentos e lances que

atravessarão os tempos e permanecerão mostrando os primórdios de Castelo.

Graça Maria Moreira

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I – O PRIMEIROS HABITANTES DE NOSSA TERRA

1.1 – Pré-história em CasteloDe acordo com as pesquisas arqueológicas mais recentes, já sabemos que o

mais antigo homem da América viveu em solo brasileiro há cerca de 60 mil anos,

nas cavernas, onde hoje se encontra o Parque Nacional da Capivara, no Piauí,

administrado por órgãos como o Ibama e a Fundham (Fundação do Homem

Americano). Foi possível a comprovação de sua idade através do carbono 14.

Haviam encontrado no sul do continente inúmeros artefatos de pedra, de

ossos, pedaços de cristais de quartzo e de conchas, que datavam de mais de 8.000

mil anos a.C. em várias regiões como Minas Gerais e no Piauí.

Quanto mais a pesquisa se intensificava, mais remoto no tempo os achados

surgem.

No Espírito Sando, as pesquisas arqueológicas são liberadas pelo Museu

Histórico Nacional e pela Universidade Federal do Espírito Santo e muito já se

conseguiu detectar sobre a presença de grupos pré-históricos como os mais antigos,

que datam de 7,5 mil anos atrás, na região de Gironda, através de artefatos e

fósseis encontrados ao longo do Rio Fruteiras em Cachoeiro de Itapemirim.

O ambiente em que esses homens pré-históricos viviam era bastante hostil,

clima frio, vegetação rasteira, era o Período Terciário, 35 milhões a 7 mil anos a.C.,

tinham que disputar com animais gigantes que também buscavam sua

sobrevivência, como as preguiças que chegavam até a 6 metros.

Se compararmos ao primitivo, vemos uma desproporção muito grande. Esses

grupos humanos aqui encontrados apresentavam a altura entre 1,65 e 1,70 metros,

crânio arredondado e pouco pelo no corpo, andava nu e vivia da caça, da pesca e

da coleta de frutos, raízes, o que lhe dava a condição de nômade. Viviam em grupos

de mais ou menos 60 pessoas, não havia propriedade privada, sendo uma

sociedade igualitária. Usavam como instrumento de trabalho a pedra lascada e

depois polida, além de osso que também ajudava na manutenção da sua

sobrevivência. Eram hábeis caçadores e não desenvolviam nenhuma cultura a não

ser a língua em comum, provavelmente de origem asiática.

E é essas mesmas características e condições que viveram vários grupos

pré-históricos no sul do Espírito Santo.

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Aqui encontramos 2 formações geológicas, o complexo cristalino terciário que

forma o Forno Grande e toda a Serra Geral Brasileira e na região de Castelo e

Cachoeiro aparece a formação de afloramento calcário onde se encontram várias

grutas que serviam de habitações pré-históricas a grupos que aqui viveram.

Grande parte dessa história, em Castelo, tem como ponto de referência as

pesquisas científicas arqueológicas do professor Celso Perota, uma das maiores

autoridades em cultura indígena, que vêm desde muitos anos num trabalho

incansável de busca por fósseis e vestígios de passagem desses grupos humanos

no Espírito Santo e em especial, em Castelo.

O professor Celso Perota esteve em Castelo, em 1969 e com suas

observações e pesquisas, encontrou na Gruta do Limoeiro indícios as presença

desses grupos. Ali começou os primeiros trabalhos pela descoberta de vestígios e

fósseis. Em 1979 foram feitas escavações arqueológicas na área da entrada da

gruta sendo recolhidos uma série de elementos arqueológicos, como, pontas de

flechas, colares e a mais ou menos 60 a 80 cm do solo, oito sepultamentos em

posição fletida, tradição indígena comum nos sepultamentos, posição fetal, o

indivíduo enterrado era colocado na mesma posição que o feto no ventre da mãe.

Outra característica interessante e bastante peculiar dos índios da gruta do Limoeiro

é a utilização de ocre vermelho sobre o cadáver.

Através da radiometria obtida pelo carbono 14, comprovou-se que se tratava

de fósseis de 4,5 mil anos a.C.. Esses fósseis têm traços idênticos aos encontrados

em Gironda, de 7,5 mil anos a.C.. Encontra-se na entrada da gruta também, pedras

que apresentam áreas polidas, utilizadas ao longo do tempo pelos habitantes do

local para alisamento de instrumentos utilizados por esses grupos, como machados,

pontas de flechas e lanças.

Esses mesmos grupos que habitavam boa parte do sul do Estado, há

milênios, são os que antecedem geneticamente os índios puris-coroados que se

encontravam notadamente no Vale do Itapemirim e na região montanhosa dos

municípios de Castelo, Conceição de Castelo, Muniz Freire, Iúna, Alegre, Guaçuí e

toda a Serra do Caparaó.

Além da Gruta do Limoeiro, o professor Celso Perota também desenvolveu

escavações na Comunidade de Estrela do Norte, em Castelo, uma região de vales

com abundância no passado de peixes e animais para caça, local de uma antiga

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aldeia de puris-coroados que datam de mais ou menos 1200, 300 anos antes da

chegada dos portugueses ao Brasil.

Neste vale encontrou-se e ainda é possível encontrar cacos de cerâmica, que

era a tecnologia básica desses povos, utilizadas para guardar alimentos e água,

recipientes dos mais diversos tipos. Quando houve a construção da Igreja local é

que veio à tona toda essa riqueza arqueológicas, que além de restos de cerâmica,

também, colares de dentes de animais, como o de onça, troféu do caçador que

havia abatido aquela onça, como também algumas pontas de flechas danificadas

pelo uso, outras não, encontravam-se ainda intactas.

Outro local de pesquisas arqueológicas em Castelo, que também serviu da

habitação de tribos puris-coroadas, a mais de 1.000 anos atrás, foi no Vale da

Sombra da Tarde, nome bastante sugestivo, dado em função da presença de uma

grande pedra que se torna obstáculo à luz do sol, no vale, a partir das duas horas da

tarde. Próximo à pedra, na encosta da montanha, os puris-coroados fizeram os

enterramentos de seus mortos.

Como na Gruta do Limoeiro, neste vale também, os cadáveres eram

enterrados na posição fletida, sendo que nestes foram encontrados junto ao corpo

destes indivíduos, alguns pertences como machado de pedra polida, conchas que

serviriam para a alimentação do morto, principalmente os estropoqueiros, uma

lesma terrestre bastante apreciada pelos nativos.

Os puris-coroados foram os habitantes que os padres jesuítas encontraram

em suas incursões no interior da Capitania do Espírito Santo e que os aldearam em

missões tanto com fins religiosos quanto, posteriormente para o trabalho de

mineração.

Todos esses achados arqueológicos se encontram em local apropriado que

em Castelo se organize um espaço adequado para que eles possam voltar e serem

utilizados para o estudo e o turismo na região.

foto

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II – CONTEXTO EUROPEU À ÉPOCA DAS GRANDES DESOBERTAS

Para se entender a presença dos europeus na América, dos portugueses,

mais especificamente, no Brasil, é necessário entender o ambiente em que os

europeus viviam na época das grades navegações.

Os séculos XIV e XV foram marcados por profundas crises, principalmente

econômicas, o que levará os europeus à necessidade de encontrar caminhos para a

superação de seus problemas. Encontrar novas terras de onde pudessem extrair

metais preciosos, tão necessários ao mercantilismo que vigorava na época para o

fortalecimento político e econômico das recém-criadas monarquias europeias, era

uma forma de se resolver a situação vigente, além de ser também a saída para fugir

da concorrência e do protecionismo que mito dificultavam o comércio entre países

europeus. Todos queriam suas balanças comerciais favoráveis. Por isso, evitar a

saída de matéria-prima e a exportação de produtos já manufaturados era o lema da

época.

Como então resolver este impasse? Obviamente impondo o Pacto Colonial e

o monopólio comercia. Assim, a colônia seria responsável pela complementação da

economia da metrópole. Mas o que produzir nessas colônias? Matéria-prima,

produtos tropicais, mercadorias de alto valor econômico no mercado europeu?

E foi nesse ambiente que partiram as caravelas portuguesas em 1500,

compondo a maior frota jamais vista na época. O objetivo dessa expedição não era

somente confirmar a existência de novas terras, mas também tomas posse das

mesmas que já haviam sido determinadas a Portugal pelo Tratado de Tordesilhas,

em 1494, porém, um projeto para ser desenvolvido somente após a descoberta do

caminho para as Índias Orientais, o que ocorreu em 1498 com Vasco da Gama.

Agora bastava a Portugal somente vir tomar posse de sua terra.

Chegar ao Brasil não significou colonizá-lo. Ser uma colônia era obedecer a

objetivos bem definidos: ser uma fonte geradora de lucros e ser uma fonte de

complementos à economia da metrópole. E o tínhamos nesse momento para suprir

esses objetivos? Nada, pois pau-brasil era muito pouco, tanto que foi arrendado a

Fernando de Noronha.

O monopólio do comércio com as Índias Orientais era um negócio muito mais

rentável, e desviar nesse momento não seria inteligente.

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E assim ficamos: Brasil a ver portugueses que iam e vinham carregando

caravelas e mais caravelas da madeira tintória. E lá se foram basicamente trinta

anos da nossa história, período conhecido como Pré-Colonial.

Na terceira década do século XVI, Portugal sentiu necessidade de vir

colonizar sua terrinha. No aspecto político, para garantir sua posse sobre a terra, e

no aspecto econômico, as Índias já não representavam o que já haviam

representado um dia para os portugueses. Mas, surge aí um impasse, pois colonizar

requer que a colônia seja fonte de lucros, o que levou então os portugueses a

introduzirem aqui um produto alheio à nossa terra até então: a cana-de-açúcar,

produto valiosíssimo no comércio europeu. O sistema de Plantation (monocultura,

latifúndio, mão-de-obra escrava) seria implantado para maximizar os lucro. Isso tudo

para ser comercializado no mercado europeu, gerando muitas divisas aos

portugueses.

O Espírito Santo viveu de perto essa história com a montagem de vários

engenhos, claro que não tão rentáveis quando os de Pernambuco, “menina dos

olhos de Portugal”, nessa época.

No século XVI, habitado pelas tribos puris-coroados, Castelo, que é o objetivo

de nossa pesquisa, ficou alheio ao que acontecia no litoral.

“De fato, a colonização por meio da

agricultura tropical, como a inauguração

pioneiramente os portugueses, aparece

como a solução através da qual se tornou

possível valorizar economicamente as

terras descobertas, e dessa forma

garantir-lhes a posse (pelo povoamento).”NOVAIS, F. O Brasil nos Quadros do Antigo Sistema

Colonial. In.: MOTTA, I. O., 1969, p.48.

Mas nosso Castelo entra em cena no século XVII, quando os padres jesuítas

aqui estiveram e fundaram as missões. Mas, por que não no litoral como as outras;

Reritiba, por exemplo?

É para esta e para tantas outras perguntas que começaremos a traçar

algumas respostas, remontando assim a história de nossa cidade.

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III- DISCUTINDO O INÍCIO DO POVOAMENTO EM CASTELO

O nome de Castelo está associado a poder, luxo e riqueza, e foi justamente

em busca da riqueza mineral que se iniciou o povoamento da região do Castelo. Foi

a sede do ouro, que movia toda a Europa Mercantilista, que fez surdir o povoamento

de Montes Castello, no início do século XVII, por volta de 1625. Nunca é demais

lembrar a importância do ouro do período do Mercantilismo, pois era a partir dele

que se media a riqueza das nações. Sendo assim, todo o processo de colonização

tinha como objetivo principal a obtenção de ouro e prata para o enriquecimento das

metrópoles. E foi justamente a partir deste necessidade que Castelo surge no

cenário do mundo colonial.

Partindo da premissa de que a busca pelo metal precioso levou à formação

do povoamento de Castelo, cabe-nos então esclarecer o início desse processo de

exploração. As poucas pessoas que se preocuparam com esse assunto não são

unânimes em determinar o início dos trabalhos de garimpagem no rio Castelo e em

seus afluentes. Sintetizemos, pois, as duas versões existentes a respeito deste

assunto: a de Alberto Lamego, endossada por Tristão de Alencar Araripe, e a do

Major Gomes Neto, que se ocuparam do início dos trabalhos nas minas do Castello.

Segundo Tristão de Alencar Araripe, um dos pioneiros pesquisadores da

história de Castelo, Pedro Bueno Cacunda partiu de Taubaté em 1705 em busca de

ouro no interior de Minas Gerais, provavelmente em Ouro Preto e Mariana. Daí vai

para os sertões de Cataguases, onde fica sabendo da existência de ouro mais

próximo da costa. De posse dessa informação, ele desce e o rio Doce e chega ao

interior do Espírito Santo, onde se encontra com Domingos Luiz Cabral que afirma

existir cascalho de ouro abundante no rio Manhuaçu. Encorajado por essas notícias,

Pedro Bueno Cacunda se desloca para a região das serras do Castello, onde

encontra ouro nos ribeirões, iniciando assim o povoamento no lugar. Dessa forma,

Araripe acreditava que o início dos trabalhos de mineração e o consequente

povoamento de Castelo tiveram início no século XVIII, ou seja, a partir de 1705.

Em sua obra “A Terra Goytacá”, o renomado pesquisador da história de

Campos, Alberto Lamego, afirma que:

“Nada mais precisamos adiantar para

provar que Pedro Bueno Cacunda foi o

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descobridor das minas do Castello e

fundador dos primeiros arraiais ali

formados com os habitantes de Minas e

Bahia”.LAMEGO, Alberto. “A Terra Goytacá”. Livro 2, p.302.

Nesta mesma obra, o escritor campista rechaça de forma contundente a

hipótese de Gomes Neto, professor do Aldeamento Imperial Afonsino de 1848 a

1852, a respeito do início do povoamento das minas do Castello. E para nos mostrar

que os trabalhos de mineração e povoamento das minas do Castello foram mesmo

iniciadas por Bueno Cacunda, Lamego cita os roteiros de viagem e requerimento

enviados à Coroa por Cacunda, e que também foram apreciados pelo Conselho

Ultra-Marino. Lamego baseia-se também nas cartas dos Governadores da Bahia,

Ouvidor Geral do Rio de Janeiro e Espírito Santo, da Câmara de São Salvador, além

das informações da Casa da Moeda e, por último, nos decretos expedidos sobre o

assunto.

Gomes Neto não compartilha da hipótese defendida por Lamego e Araripe, e

afirma que os trabalhos de mineração e povoamento da região das minas do

Castello são bem anteriores à chegada de Pedro Bueno Cacunda. Segundo Gomes

Neto, os referidos trabalhos foram iniciados pelos jesuítas ainda no século XVI. Tal

historiador afirma que:

“O descobrimento de ouro na região de

Castelo foi pouco posterior a 1551, data

em que os jesuítas se estabeleceram na

região de Reritiba, hoje Anchieta. Foram

esses missionários, auxiliados pelos fiéis

e pelos índios, que lavraram com

intensidade e quase clandestinamente as

minas da Barra do Castelo, do Caxixe, do

Ribeirão e do Arraial Velho, até que os

índios Aimorés, desavendo-se com os

padres e colonos, obrigaram-nos a se

retirar do seu território.”

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Tirado de um artigo: “A Colonização do Município de

Castelo” de Tristão de Alencar Araripe, Revista Cultural

– UFES, Vitória, 1(2); 32-47, 1979.

Outra hipótese que se encontra no Dicionário Geográfico do Espírito Santo é

a de que os trabalhos de mineração iniciaram em 1723, em um afluente norte do rio

Itapemirim, chamado Castelo. Mas, vários documentos constatam a presença de

Pedro Bueno Cacunda bem ates disso na região das minas do Castello.

Essa polêmica histórica entre Lamego e Araripe contra Gomes Neto sobre o

início do trabalho de mineração e povoamento das minas do Castelo e a provável

mineração realizada pelos jesuítas (Inacianos) tem como pano de fundo o

julgamento histórico do papel desempenhado pelos jesuítas no Espírito Santo. Goes

Neto busca criticar esse trabalho afirmando que eles se desviaram de sua função de

catequizar os indígenas para enriquecer, explorando ouro e trabalho escravo dos

índios. Por outro lado, Lamego e Araripe buscam enaltecer este mesmo trabalho,

afirmando que os jesuítas nunca exploraram ouro nas minas do Castelo, e ao

contrário, foi através das mãos destes pioneiros (os jesuítas), principalemente

Anchieta, que os gentios e a capitania do Espírito Santo tiveram contato co a luz da

civilização.

Não acreditamos em trabalhos neutros, ou seja, quando alguém se propõe a

escrever alguma coisa, fatalmente estará inclinado à defesa ou à condenação de

uma ideia. Não queremos aqui ressuscitar a polêmica entre os prós e os contras

jesuítas, mas sim, escrever a história do munícipio de Castelo. A respeito do

trabalho dos jesuítas no Espírito Santo, veja algumas palavras do Padre Anchieta,

contidas no livro “O Povo Brasileiro” do antropólogo Darci Ribeiro, onde o jesuíta

louva o que considera heroicos feitos do bravo Governador Mem de Sá, frente aos

índios.

“Quem poderá contar os gestos heroicos

do chefe à frente dos soldados, na imensa

mata: cento e sessenta as aldeias

incendiadas, mil casas arruinadas pela

chama devoradora, assolado os campos,

com suas riquezas, passado tudo ao fio

da espada.”

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RIBEIRO, Darci. “O Povo Brasileiro”, p.50.

Como vivos, os jesuítas pareciam estar imbuídos de um espírito militar para

realizarem seus trabalhos aqui nos tópicos. Desta forma, ficamos à vontade, sem

correr o risco de manchar a história dos jesuítas no Espírito Santo, para elaborar a

hipótese que mais se aproxima da verdade (já que a falta de documentos

dificilmente nos possibilitará a construção de uma verdade sólida e inquestionável) a

respeito do início dos trabalhos e povoamento das minas do Castelo.

Iniciamos nossa definição negando a afirmação de Tristão de Alencar Araripe,

pois não foi Pedro Bueno Cacunda o pioneiro no povoamento da região das minas

de Castelo. Quem iniciou este povoamento foram os jesuítas, que em 1625

construíram uma igreja dedicada à Nossa Senhora do Amparo, na localidade

denominada Montes Castello. Esta igreja, em 1710, foi elevada à categoria de

Paróquia. Neste período, o Vale do Itapemirim, que posteriormente se tornou o pólo

de concentração populacional do Sul do Estado, ainda não tinha uma paróquia. A

Igreja dos Montes Castello foi construída posteriormente a de Orobó, dedicada à

Nossa Senhora do Bom Sucesso, que é de 1580, e a de Muribeca, que é de 1581 e

dedicada à Nossa Senhora das Neves. É importante lembrar que ambas foram

construídas por Anchieta.

Todas essas informações constam no livro Tombo de Itapemirim, que se

encontra na Matriz Nossa Senhora do Amparo. Por falta de documento, Araripe se

equivocou ao afirmar que o início do povoamento foi com Pedro Bueno Cacunda,

pois quando este aqui chegou, os jesuítas provavelmente ainda se encontravam

estabelecidos. Já Alberto Lamego faz menção em seu livro, sem citar data, de uma

população cristã distribuídas em quatro arraiais na região do Castelo, mas

posteriormente, nesta mesma obra, afirma que foi Pedro Bueno o primeiro a explorar

as minas do Castelo e também a formar os primeiros povoados. Desta forma, ele cai

no erro assim como Araripe, já que as missões jesuíticas dos Montes do Castello,

em 1625, contavam com cerca de 3.000 habitantes, uma população considerável

para a época.

Descartamos, através de documentos a que tivemos acesso, a hipótese de

povoação da região do Castelo defendida por Alberto Lamego e Tristão de Alencar

Araripe. Agora partiremos para a questão mais polêmica, que diz respeito ao início

dos trabalhos de mineração.

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Gomes Neto defende a ideia de que o descobrimento e a consequente

exploração do ouro, realizados pelos jesuítas, foi pouco posterior a 1551, e até a

presente data, não temos documento para provar tal afirmação, e dificilmente

teremos, o que nos faz buscar a proximidade da verdade histórica através de

indícios.

A busca pelo ouro foi o motor de todo o início da colonização europeias.

Sendo assim, é bem provável que aqui chegando, os jesuítas procurassem

informações com os índios a respeito da existência do cobiçado e precioso metal. E

este, por não darem o mesmo valor a tal metal, provavelmente, os conduziram até

ele. Ou será que foi uma simples coincidência os jesuítas terem fundado uma

importante missão, com cerca de 3.000 indígenas bem na região das minas do

Castelo, sem saber da existência do ouro que havia ali? Temos duas hipóteses para

acreditar: a primeira é a coincidência das ladeias da missão serem justamente no

local de existência posterior de ouro. A segunda é a de que os jesuítas realmente

exploraram o outro na região das minas de Castelo. Fica aqui, então, um desafio

para futuras pesquisas sobre o tema.

São fortes os indícios de que realmente os jesuítas exploraram o precioso

metal por aqui. Podemos enumerar alguns motivos para justificar tal afirmação.

Antes da presença do europeu, os índios eram os senhores de toda região; eles

tinham um profundo conhecimento da mesma, amparados em milhares de anos de

sua história. Esse conhecimento se estendia aos minerais e aos locais de sua

existência. Sendo os jesuítas possuidores de uma relação mais próxima com os

índios, as chances deles em relação aos Bandeirantes Paulistas de descobrirem

ouro em Castelo foram muito maiores. Outro fator que contribui para fortalecer os

indícios de que realmente os jesuítas exploraram ouro aqui, foram os motivos que

trouxeram Pedro Bueno Cacunda até a região das minas do Castelo. Alberto

Lamego fala sobre uma conversa de Bueno com Domingos Luiz Cabral que motivou

o Bandeirante Paulista, pois se tratava de existência de ouro no rio Mayguassú (hoje

Manhuaçu). Motivado por Cabral, Pedro Bueno iniciou uma viagem que termina nas

serras do Castelo. Essa informações são um tanto quanto vagas, o que abre espaço

para os indícios de que Pedro Bueno já sabia da existência das minas. Se já

circulava a notícia a ponto dos Bandeirantes ficarem sabendo, é porque já existia

mineração. Logo, esta era executada pelos jesuítas, ou a mando dos mesmos, visto

que eram eles que controlavam a região.

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Se houve mineração por parte dos jesuítas, esta, com certeza, foi de caráter

clandestino, pois não era esse o motivo oficial da presença deles no novo mundo.

Os jesuítas atravessaram o Atlântico para salvar, catequizar almas para o Senhor

Jesus Cristo através da conversão dos infiéis indígenas, e não para garimpar

riquezas mundanas. O provável desvio de função dos jesuítas foi clandestino, logo

se torna uma tarefa inútil buscar documentos que provem tal ação. Outra razão da

clandestinidade era evitar uma corrida nas regiões das minas, motivada pela cobiça

dos aventureiros. O poder dos jesuítas neste período era muito grande, podendo a

Ordem ser considerada um Estado dentro do próprio Estado. E, com tanto poder, os

Inacianos não iriam querer entregar nem o Estado, nem a aventureiros, as riquezas

que porventura descobrissem.

Em 1734, Pedro Bueno envia uma carta ao Rei pedindo auxílio em seus

trabalhos de mineração no Castelo. O Rei atende ao pedido ordenando que o Vice-

Rei, Conde de Sabugosa, o ajudasse. Mas este, a pedido dos jesuítas, não cumpriu

as ordens reais, frustrando assim, as aspirações do Bandeirante Paulista. Esta

intervenção pode claramente ser interpretada como uma vingança dos jesuítas por

terem perdido o domínio sobre as minas do Castelo.

Não é possível darmos definições totalmente precisas a respeito do assunto,

mas mesmo assim, buscaremos sintetizar o que defendemos. Existem provas

documentais (Livro Tombo da Paróquia de Itapemirim) de que o início do

povoamento na região das serras do Castelo foi o começo do século XVII. Este

povoamento pode ter sido iniciado antes, já que em 1625, as Missões de Montes

Castello já contavam, inclusive com igreja. Existem fortes indícios de que os

trabalhos de mineração tenham iniciado ao mesmo tempo do povoamento. Devido

às fortes evidências, passaremos a considerar, de agora em diante, que realmente

houve exploração de ouro por parte dos jesuítas na região das minas do Castelo.

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IV – OS GRUPOS HUMANOS QUE FIZERAM A NOSSA HISTÓRIA

4.1 – Por que os índios brigavam?A exploração do ouro nas serras do Castelo nunca foi uma atividade pacífica

e tranquila. Inúmeras lutas foram travadas entre europeus e índios, onde os últimos

quase sempre levaram vantagem. Esta afirmação torna a história de Castelo um

tanto quanto atípica, pois o que aconteceu em grande parte do Brasil foi justamente

o contrário, ou seja, os índios foram amplamente dominados pelos portugueses,

tiveram sua cultura destruídas, além de terem sido usados como escravos por eles.

É bem verdade que esta supremacia foi efêmera, pois não tardou a extinção dos

puris-coroados em nossa região. Contudo, não podemos deixar de registrar as

históricas vitórias dos puris-coroados contra invasores de suas terras que buscavam

delas tão somente a exploração das riquezas. Não foram poucas as vezes que os

exploradores de ouro tiveram que voltar para o litoral devido ao ataque dos índios.

Porém, o mais contundente se deu em 1765 quando os habitantes fugiram com

todos os paramentos da Igreja de Nossa Senhora do Amparo. O sino, a pia e a

própria imagem de Nossa Senhora que foram levados durante a fuga, acreditamos

que se encontram, ainda hoje, na paróquia de Itapemirim.

Ao dedicarmos uma parte de nossos estudos ao índio na história de Castelo,

enfrentamos uma certa dificuldades, pois tudo que encontramos sobre o tema é a

versão do vitorioso, do conquistador, mas faremos o possível para resgatar a

imagem do índio na história de Castelo de forma mais justa. Nossa história não

começa quando os primeiros jesuítas aqui chegaram para fundaram suas missões

nas serras do Castelo, mas sim milhares de anos antes, quando os primeiros índios

por aqui começaram a circular e a viver livremente. Desta forma é muito mais que

natural e compreensível a ação agressiva dos índios contra os portugueses, pois

estavam a defender milhares de anos de histórias vividas nesta região.

É bem provável que os brancos tenham chegado às minas do Castelo

trazidos pelos próprios índios, pois os milhares de anos aqui vividos lhes

proporcionaram um inigualável conhecimento da região, sabendo inclusive onde se

encontrava o ouro, o que não podiam imaginar os aborígenos, e o que

desencadearia a presença do branco em seu meio, ameaçando inclusive a sua

própria sobrevivência, ameaça essa que se confirmou posteriormente. Mais do que

uma batalha por pequenos pedaços de terra, ou pequenos desentendimentos entre

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índios e europeus por motivos fúteis, a luta entre ambos representava a disputa

entre dois mundos completamente opostos que não poderiam coexistir

fraternalmente, pois um sucumbiria, e outro resistiria. Sendo assim, prevaleceu o

europeu, e consequentemente o indígena sucumbiu. É justamente nestes dois

mundos antagônicos que iremos mergulhar a partir de agora.

O que os índios achavam dos brancos? O que os brancos achavam dos

índios? É em busca destas respostas que nos remeteremos aos opostos mundos

que fazem parte da história de Castelo. Não dispomos de muito material específico

sobre o assunto, então nos basearemos em fontes mais genéricas, mas estaremos

nos esforçando para que partindo do geral, possamos atingir o específico.

Mergulhemos no universo do índio:

“Para os índios que ali estavam nus na

praia, o mundo era um luxo de se viver,

tão rico de aves, de peixes, de raízes, de

frutas, de fibras, de sementes, que podia

dar a alegria de caçar, de pescar, de

plantar e colher a quanta gente aqui

viesse ter na sua concepção sábia e

singela, a vida era dádiva de deuses

bons, que lhes doaram esplêndidos

corpos, bons de andar, de correr, de

nadar, de dançar, de lutar... bocas

magníficas de degustar comidas doces e

amargo, salgados e azedos, tirando de

cada qual o gozo que podia dar. E,

sobretudo, sexos opostos e

complementares, feitos para a alegria e o

amor”.RIBEIRO, Darci. “O Povo Brasileiro”, os.44/45.

Ninguém melhor do que Darci Ribeiro para falar a respeito do índio brasileiro,

a quem dedicou boa parte de sua vida. Através desta pequena visão extraída da

obra acima citada, podemos ter a exta dimensão de como vivia e pensava o índio.

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Apesar da abordagem ser dirigida ao índio da costa, podemos entendê-la aos índios

do sertão. Não se trata aqui de santificar a imagem do índio, mas apenas a verdade

histórica e estabelecer um tratamento, mesmo que tardio, mas justo aos aborígenos.

Os índios não entendiam por que os brancos estavam afoitos e se prendiam

tanto com fazimentos para acumular e guardar, pois para os índios o prazeroso não

era juntar para si, mas sim realizar o intercâmbio, a troca, a permuta.

A visão do branco sobre o índio está descrita na grande maioria dos livros de

história que tratam deste período. Para o branco, o índio era preguiçoso, pois

trabalhava como ele e não tinha preocupação em acumular; era também um herege,

pois adorava a vários deuses e não apenas ao seu, que era verdadeiro; era

promíscuo, pois andava nu e tinha várias mulheres.

“Os recém-chegados eram gente prática,

experimentada, sofrida, cientes de suas

culpas oriundas do pecado de Adão,

predisposto à virtude com clara noção dos

horrores do pecado e da perdição eterna”.RIBEIRO, Darci. “O Povo Brasileiro”, p.45.

Os homens que aqui chegaram vindo da Europa, e também os bandeirantes e

aventureiros que exploravam ouro nas minas do Castelo, tinham como objetivo

principal o enriquecimento rápido; algumas tinham o objetivo de voltar, no caso dos

portugueses, pera a Europa onde poderiam viver confortavelmente o resto de suas

vidas.

Dois mundos, que além de diferentes eram opostos, só poderiam gerar o que

aconteceu: conflitos sangrentos. No caso específico das minas de Castelo, os índios

tiveram muito mais sorte do que os do litoral, pois esses foram logo massacrados ou

catequizados, (um ou outro para eles fazia pouca diferença, já que a catequese do

branco europeu os limitava no que tinham de melhor que era uma alma livre, feliz e

pura de culpa e de pecados). Já os nossos índios obtiveram alguns êxitos iniciais na

defesa de sua existência. Isso graças ao conhecimento de como viver e combater

nas selvas, e também ao pouco número e despreparo dos bandeirantes e

aventureiros do ouro. Quando lutavam e expulsavam os brancos das serras do ouro

para o litoral, os índios não estavam atrapalhando o progresso da região, mas sim

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tratando de manter vivo seu mundo (coisa que seria impossível com a presença dos

exploradores do ouro) e sua própria sobrevivência. Caso os índios não tivessem

apenas obtido pequenas vitórias, mas sim a vitória total, que seria a imposição aos

exploradores da época do seu tipo de vida, hoje, provavelmente, teríamos um

mundo mais fraterno socialmente e, com certeza, mais autêntico.

Não queremos emitir juízo de valor quanto a verdadeira intenção dos jesuítas

na catequese dos índios brasileiros, mas não podemos negar seu efeito devastador

sobre os mesmos, que lhes tirava a identidade, a beleza e os enchiam de pecado e

de culpa. Os jesuítas estavam imbuídos do espírito semelhante ao dos cruzados

europeus que partiam rumo à terra santa, no século XI, para combater e converter o

inimigo infiel.

As perspectivas dos índios eram mesmo sombrias, pois se escapassem das

missões teriam grandes chances de serem escravizados pelos homens brancos,

fossem eles capitães do mato, bandeirantes ou donos do engenho. Se para os

jesuítas, os índios deviam ser catequizados e evangelizados, mesmo que à força

para viverem como operários nas missões, para os desbravadores, eles não

passavam de mulas de cargas, e eram mais semelhantes a bicho do que a gente.

Em carta endereçada a El Rei, datada de 15 de julho de 1694, Domingos Jorge

Velho diz que “em vão trabalha quem os quer fazer anjos, antes de os fazer

homens”.

Este impasse sobre o que fazer com o índio ante os jesuítas e os homens

responsáveis pelo “progresso” da colônia gerou muitas brigas mediante a esta

trágica situação dos índios em quase toda a colônia. Podemos afirmar que os índios

das serras do Castelo foram extremamente valentes e corajosos, pois por várias

vezes, conseguiram expulsar tanto os jesuítas, como os mineradores de ouro.

Podemos concluir finalmente que não se tratavam de bons ou ruins, de

trabalhadores ou preguiçosos, de selvagens ou civilizações, de cristãos ou hereges,

mas sim de dois mundos opostos que se enfrentavam, cada qual com seus valores e

estilos de vida diferentes, ode acabou prevalecendo o europeu. Foi uma batalha

desigual, pois os europeus estavam em estágio de desenvolvimento, diferente dos

índios em vários aspectos, inclusive no de guerrear; sem falar na guerra

bacteriológica, onde uma simples gripe matava toda uma aldeia. Isto explica então

as lutas em que cada um defendia seus interesses: os brancos, a busca por riqueza

e glória através do ouro; os índios, a continuação da vida em harmonia com a

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natureza e consigo mesmo, além de uma sociedade muito mais justa, por ser bem

menos estratificada.

Agora podemos responder a pergunta título “Por que os índios brigavam?”. A

luta era pela sobrevivência, que por sinal, não aconteceu. O massacre dos índios foi

imprescindível para o surgimento do mundo tal como ele é hoje. A destruição de sua

forma harmônica de vida, não só nas minas do Castelo, mas em todo continente

americano, foi um pré-requisito ao parto da sociedade castelense, espírito-santense,

brasileira, enfim, no capitalismo mercantil.

Para sabermos com maiores informações sobre os índios que habitavam este

região, hoje município de Castelo, seria necessário e importante das continuidade às

pesquisas arqueológicas e antropológicas, o que com certeza, elucidaria muito sobre

a vida dos nosso primeiros habitantes. Não sendo isso possível a curto e médio

prazo, neste livro não teremos essas detalhadas informações. Mas, quem sabe

outras pessoas tenham oportunidade para realizarem as pesquisas de forma mais

aprofundada para conhecermos um pouco mais sobre nossa história. Certamente

seremos nós quem ganhará com isso.

Buscamos, então, retratar aqui as púnicas informações que temos sobre

nossos índios, transcritas do livro Tombo de Itapemirim. Lembramos que esta era a

visão dos jesuítas que aqui chegaram para a catequese dos nativos.

As missões de Montes Castello foram muito perseguidas pelos “bugres

botocudos, assim chamados por causa de seus adereços, madeiras enfiadas nos

lábios e orelhas”. (Livro Tombo)

Por mais que os jesuítas tentaram, não conseguiram a mansidão destes

nativos, que por várias vezes se revoltaram contra a presença de brancos na região,

que viram obrigados a fugir para o litoral.

“Os índios habitavam uma grade gruta de

vários compartimentos espaçosos onde

colocavam os cadáveres untados por tal

tinta que os tornavam ressequidos os

esqueletos e também uma fonte cujas

águas novas se conseguiam as curas.

Quando um bugre adoecia, aplicava-se

todas os remédios, e, mesmo assim, a

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doença permanecia, era conduzido à

fonte onde o pajé era consultado, e todo

um ritual de cura acontecia. Se o pajé

tiver bom agouro, o doente era lavado

com a água da fonte, mas, se o agouro

não era favorável ao mesmo ou se por

ocasião do conduzido enfermo

aparecesse no caminho o “anhangá” –

espírito mal de adoecia à noite – e o

“manhagiguará” - espírito mal que andava

de dia nas grunhas, o enfermo era sem

piedade atirado e abandonado à beira da

fonte e ali perecia”.Livro Tombo: Itapemirim

4.2 – Os JesuítasO Brasil é um país onde a religião da maioria da população é a Católica

Apostólica Romana. Como explicar, não só o catolicismo, mas o fervor religioso que

move o povo brasileiro espalhado pelo país afora? Afinal, antes dos portugueses,

nossa extensa terra era habitada pelos nativos, que eram adeptos de uma religião

que nada se assemelha à dos europeus; sua cultura era totalmente diferente

daquela que havia chagado à sua terra. O que aconteceu então? Como nos

tornamos cristãos?

A explicação fica simples se analisada no contexto da chagada dos europeus

ao Novo Mundo e dos portugueses ao Brasil.

a Igreja Católica absoluta desde o período medieval, Senhora das Almas e do

poderes políticos e econômicos, não se encontrará nesta mesma posição no período

em que as Grandes Navegações acontecem no final da Idade Média. Agora, os

interesses e as necessidades são outras. A expansão marítima vi acontecer

atendendo a uma conciliação de interesses dos mais diferentes grupos: burguesia,

nobreza, Estado e Igreja.

A presença da Igreja, desde que por aqui chegaram os primeiros

portugueses, ainda na Esquadra de Pedro Álvares Cabral, quando o escrivão Pero

Vaz de Caminha escreve ao rei sugerindo que:

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“O melhor fruto que nela (a nossa terra)

se pode fazer me parece que será salvar

esta gente e esta deve ser a principal

semente que Vossa Alteza em ela deve

lançar”

Aqui entra em cena a Cia de Jesus, idealizada e criada por Inácio de Loyola

em 1537. A Ordem seguia um estilo de vida semelhante ao existente no exército,

eram chamado, inclusive, de “Soldados de Cristo”.

“A Companhia de Jesus era uma força

vigilante, equiparada com uma couraça

“celestial” e asas “espirituais” para a

conquista das Almas perdidas para o

protestantismo e para a conquista das

Almas perdidas para o paganismo. A

Companhia, categórica na obediência que

devia ser geral ao Papa, foi a força

internacional da Igreja e desenvolveu uma

ação preponderante na extensão do

domínio católico, na instrução da

mocidade católica e em atrair a atenção e

a devoção dos reis e nobres, tão ativa no

campo de batalha europeu da fé católica

como na Missões do Norte da África, da

Ásia e da América”.GREEN, Ano: 201

Os jesuítas vieram para difundir a fé católica. Num momento em que a

Reforma Protestante trouxe a cisão da Igreja no Continente Europeu, era preciso

resgatar a importância de outrora, para isso a Igreja criou a Contra-Reforma

Católica. Segundo o professo Celso Perota, os jesuítas vieram para fundar um

República Jesuítica.

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Sem dúvida, os jesuítas tiveram uma participação muito ativa na história dos

países europeus à época da Contra-Reforma Católica em que a Igreja buscava, a

qualquer custo, evitar a expansão do movimento reformista protestante que

arrebatou da Igreja Católica muito mais que fiéis, arrebatou poder e importância

política, e paralelamente, poder econômico.

A presença dos jesuítas no Brasil atendeu, portanto, às necessidades da

Santa Sé, que na Europa, em função dos prejuízos religiosos, políticos e

econômicos que a Reforma Protestante acarretara no Continente, via necessária a

vinda para a Terra recém-descoberta. E a Igreja precisava não só deter a expansão

da Reforma, mas também se reestruturar. As novas terras poderiam suprir estas

necessidades.

Vir para o Brasil, dentro do contexto da Contra-Reforma, seria a saída para

impedir que os efeitos arrasadores da Reforma chegassem às Terras recém-

descobertas, para aumentar o número de fiéis católicos e para a reorganização

político-econômica.

Os jesuítas estiveram presentes desde o início da colonização. Sua chegada

aqui data do ano de 1549, ano de fundação do 1º Governo Geral do Brasil, a cargo

de Tomé de Souza, fundando missões e desenvolvendo o seu trabalho de

catequese, ao que avaliamos, acarretou um processo de aculturação profunda nos

grupos nativos que aqui viviam. A catequese se incumbiu de formar novos católicos.

O Deus que conta é o dos europeus, o caminho da Santidade só é conhecido por

eles, colonizadores desse mundo bárbaro.

Nas missões, o empenho não era somente com a educação dos nativos. Sua

organização era bastante original. Os padres iam entrando nas aldeias procurando

respeitar a organização tribal e, pouco a pouco, introduzindo os princípios religiosos

e os interesses econômicos.

O excedente de produção, que crescia com o estímulo dos sacerdotes e em

função de seus interesses, era apropriado pelas Ordens religiosas, que muitas

vezes, realizavam com o “mundo civilizado” um lucrativo comércio.

A ideologia, contudo, já havia sido incorporada à formação social do Brasil.

Assim como a Igreja precisava dos jesuítas aqui, o Estado também os queria, uma

vez que com seu trabalho junto aos nativos, havia uma facilitação da penetração

portuguesa na nova terra na formação do Império Colonizador. Para este propósito,

os jesuítas foram essenciais, sua importância foi de serem peças-chaves no

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contexto da expansão marítima e da colonização do Brasil. Seu poder de influência

junto ao poder político foi tão grade, que era a eles que recorriam muitas autoridades

coloniais, quando havia necessidade, e não ao Governador Geral, e muito menos,

ao Rei em Portugal.

Desde muito cedo, houve o contato dos padres também com os bandeirantes,

em expedições que levaram ao interior do território, a possibilidade de metais

preciosos. Mas, para que os jesuítas os acompanhavam? Atendiam, na realidade

aos interesses dos dois grupos: - dos bandeirantes, que viam na presença dos

padres em suas expedições uma forma dos nativos aceitarem a aproximação

“dessas gentes”, o que não necessariamente contribuiu para facilitar o encontro do

metal por parte dos nativos, que não o valorizaram. Se o resultado não foi logo

positivo, com certeza, estas expedições muito contribuíram para o conhecimento das

terras do interior, da fauna, da flora, permitindo a formação de novas expedições por

aqueles caminhos; - como os dos jesuítas, que buscavam almas para serem

catequizados e viam nessas buscas dos metais uma maneira de gente branca vir

para o Brasil, que sabemos, no início da colonização era muito escassa. Essa vinda

acarretaria a facilitação da cristianização junto aos nativos.

É claro que também havia possibilidade de encontrar metais. No livro de

Serafim Leite, sobre a História da Cia de Jesus no Brasil, o autor afirma que os

padres tinham o único interesse de achar almas e em algumas citações até coloca

que eles não iam às expedições com o objetivo de explorarem metais preciosos,

sendo, porém, tentados a isso.

Parece-nos muita coincidência que em Castelo, no séc. XVII, tenha havido a

presença dos padres fundando missões, onde exatamente se explorou ouro mais

tarde, no início do sec. XVIII.

Fica aqui também uma dúvida a respeito de sua montagem mais para o

interior, nas Serras do Castelo, quando aqui no Espírito Santo observarmos que as

missões foram montadas no litoral, como as de Reritiba, Orobó, Muribeca, conforme

nos mostra o mapa ao lado.

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foto

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4.2.1 – Os Jesuítas no Espírito SantoOs primeiros padres jesuítas (Padre Afonso Brás e o irmão Simão Gonçalves)

chegaram ao Espírito Santo em 1551 e já começaram a construção do Colégio

Santiago, hoje Palácio Anchieta, sede do Governo do Estado.

Os objetivos aqui eram os mesmos da Cia de Jesus no Brasil: através da

catequese do índio e da educação aos filhos dos colonos, aumentar o número de

fiéis católicos devido às perdas em função da Reforma Protestante, objetivo

primordial. Sendo assim, os padres iam ao interior do território capixaba e de lá

traziam os grupos indígenas paras as missões como as de Goarapari, Reritigba,

Reis Magos, Aldeia Nova, Caobá. Serafim Leite escreveu na história da Cia. De

Jesus no Brasil:

“algumas vezes, iam os padres em

pessoa ao sertão buscar os índios ou os

parentes dos que já viviam no ES, e iam a

mais de cem léguas por caminhos

ásperos...”, assim “(...) as aldeias do Es

formaram-se quase sempre a seguir a

alguma entrada ao sertão.”LEITE, Serafim Teixeira. “História da Companhia de

Jesus no Brasil”. Lisboa, 1938 – Tômo VI – Cap. I, II, III

É certo que além das obras de catequese, os padres desenvolveram também

atividades de organização e de produção econômica, como nas aldeias de Itapoca,

provavelmente em Cariacica, especializada na produção de farinha e de produção

de gado. A de Araçatiba, em Viana, onde havia a produção de cana-de-açúcar; a de

Carapina, que se destinava à produção de legumes.

Nas aldeias jesuíticas, além da produção religiosa e econômica, havia

também a arquitetônica, com construções de várias igrejas e residências, como a de

Nossa Senhora de Assunção, em Anchieta; a de Nossa Senhora da Conceição, em

Guarapari; a de Nossa Senhora da Ajuda, em Araçatiba – Viana; Igreja de São

Riago em Vitória.

Algumas dessas construções ainda resistem ao tempo, como a Igreja de

Nossa Senhora das Neves, em Presidente Kennedy, construída em 1650, com a

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ajuda dos índios botocudos, e também a Igreja de Nossa Senhora da Conceição,

construída no séc. XVI pelo poder de José de Anchieta, com a ajuda dos índios

tupis-guaranis, utilizando como material: pedras, blocos de recife, óleo de baleia e

argamassa de cal e mariscos. Em Guarapari, encontra-se a Igreja de Nossa

Senhora da Consolação, construída por Anchieta. Sua fachada é revestida de

conchas que remodelam as paredes. Em Viana, a Igreja de Nossa Senhora da

Ajuda, datada em 1570. Em Carapina, a Igreja de São João de Carapina. E, em

Nova Almeida, na Serra, Igreja e residência Reis Magos, erguida entre 1569 e 1589.

Em vários pontos do nosso litoral, em algumas cidades e construções, é

notória a importância dos jesuítas em nosso Estado.

No livro “Tombo de Itapemirim” (Comarca Eclesiástica de Itapemirim),

encontramos a descrição precisa das missões organizadas pelos jesuítas em

Castelo, na pag. 03 do referido livro, registrou-se com minúcias a presença dos

padres em nosso município.

A construção de uma Igreja dedicada à Nossa Senhora do Amparo, em

novembro de 1625, nos Monte do Castello, sugere-se, inclusive, que eles chegaram

aqui antes desta data, mas não temos documentos para comprovar o ano exato de

sua chegada.

Os jesuítas construíram aqui em nossa região a chamada “Missões de

Montes Castello”, que compreendia cinco missões:

1- Montes do Castello. (sede) – “Ignora-se sua posição por não haver

vestígio dela; ficava, porém, muito próxima à do Caxixe.

2- Caxixe ou Caxixa – à margem do rio Caxixe – um dos afluentes do

Castello.

3- Ribeirão – Á margem do Ribeirão – um dos afluentes do Castello.

4- Barra do rio Castelo – à foz do rio Castello – afluente do Itapemirim.

5- Salgado – À margem do Ribeirão – Salgado afluente do rio Itapemirim.”

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Planilha

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4.3 – Os MineradoresEm nosso trabalho buscamos a veracidade e a autenticidade da história de

Castelo, ou seja, queremos analisá-la dos mais diversos ângulos possível. Sendo,

assim, procuremos a seguir, traçar o perfil do homem branco, seja ele europeu, ou

mesmo brasileiro, que aqui se encontrava no início da mineração nas serras do

Castelo. Trataremos inicialmente dos europeus, mais precisamente dos

portugueses, e posteriormente, de seus descendentes nascidos aqui, a quem Darci

Ribeiro chama de “brasilíndios”.

O povoamento, propriamente dito, da Capitania do Espírito Santo aconteceu

na primeira metade do séc. XVI em 23/05/1535, com a criação das Capitanias

Hereditárias e consequente vinda de religiosos ( os jesuítas) e povoadores, que em

sua maioria, eram degredados.

Como sabemos, os registros mais antigos da presença de europeus na região

que compreende Castelo hoje, são de 1625, quando se fundaram três missões

jesuíticas. Tais missões eram formadas basicamente por Missionários Inacianos

oriundos da Europa, índios, e também por uma população de colonos. Mas, num

primeiro momento, trataremos do europeu.

Ao se lançar no mar bravio e ainda pouco conhecido, sujeito a todos os ricos

e problemas, o aventureiro europeu tinha um claro objetivo: o enriquecimento

através do descobrimento de metais preciosos. O português vinha de uma

sociedade estratificada, que já havia rompido com o mundo feudal europeu e se

constituído em Estado Nacional. Toda essa estratificação, tipicamente europeia,

contrastava drasticamente com o modo de vida tribal dos trópicos. As ações dos

portugueses haviam sido previamente planejadas, e o seu centro de decisão estava

milhares de quilômetros de distância, mais precisamente em Lisboa; tal situação

dava-lhes uma grande autonomia no Novo Mundo.

Os pilares básicos que sustentavam a ação dos portugueses no Novo Mundo

foram o Estado Nacional Mercantilista, com seu poder bélico em busca de lucro, e a

Guerra-Santa, promovida pela Igreja contra o índio infiel. Os europeus se

outorgaram a missão de expandir a cristandade, missão essa que não era apenas

dos missionários jesuítas, mas de todos que atravessavam o Atlântico rumo ao Novo

Mundo. Desta forma se legitimava as mais bizarras atitudes dos portugueses aqui,

pois tudo era com o propósito de conseguir mais almas para o Senhor.

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O outro pilar era de caráter mais econômico e racial do que o Estado

Nacional. Neste período, a Igreja concentrava em suas mãos o poder espiritual e

também o temporal. Desta forma, seu poderio pairava acima dos Estados Nacionais

Mercantilista. Tanto Portugal, como a Espanha, a mesmo a França, eram submissos

ao poder temporal ao Vaticano. Uma questão que incomodava Portugal, e

consequentemente seus aventureiros que aqui estiveram, era a disputa por colônias

entre Estados Nacionais Europeus, que viviam em eterno conflito na busca por

riquezas que as colônias pudessem oferecer. Rechaçar, as por eles consideradas

invasões dos estrangeiros, era também ema das funções dos aventureiros.

Os portugueses que atravessaram o Atlântico e chegaram até aqui também

estavam eufóricos e orgulhos com os avanços tecnológicos da sociedade europeia,

como o barco à vela, a bússola, o leme fixo e o astrolábio. Essas invenções

representavam a tecnologia de ponta da época, e estava a serviço do mercantilismo,

e foi através delas que eles conseguiram cruzar o Atlântico.

De forma bastante sucinta, este era o universo destes corajosos aventureiros

e gananciosos europeus que abandonaram a certeza de sua terra natal para se

lançarem rumo ao desconhecido através do mar, alimentando um febril sonho de

riqueza. Mas nem só de homens provenientes do Velho Continente foi que se

empreendeu a extração de ouro em nossa terras, pois os aqui nascidos tiveram uma

participação direta, e são eles nossos objetos de estudo a seguir.

Dentro da divisão de trabalho da época, a pior parte, com certeza, cabia aos

“brasilíndios” – ou mestiços. É provável que se tenha usado também a mão-de-obra

indígena. Quando delimitamos o início da mineração em Castelo, afirmamos ser

provável que os jesuítas exploraram ouro aqui a partir de 1625 utilizando-se da mão-

de-obra indígena.

Uma das características mais marcantes da colonização de exploração, como

foi o nosso caso, é a não presença de mulheres dentre os exploradores. Tal

características foi fundamente no processo de formação do povo brasileiro. Na

ausência de mulheres portugueses, os homens brancos buscavam a satisfação de

seus desejos sexuais com as índias, e destas relações surgiam os “brasilíndios” ou

mestiços. Para muitos pesquisadores foi aí o início da formação do povo brasileiro.

Os frutos destas inusitadas relações sofriam uma dupla rejeição de brancos e índios,

forçando assim a criação de uma identidade nova e inédita. Os portugueses não os

reconheciam como os filhos legítimos, aptos a dar continuidade à tradição ocidental

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europeia, que tanto primava pela filosofia e conhecimentos nos mais distintos

campos, sejam eles da Física, da Matemática, da Astronomia ou de outros. Esses

filhos ilegítimos não eram dignos de serem considerados europeus, já que seu

ventre materno era impuro e selvagem.

Por outro lado, os índios também não os reconheciam como sendo membros

de suas tribos, pois dentro da tradição indígena, a mulher ocupa um papel

coadjuvante na reprodução, atuando como simples depositária de esperma. Para

eles, o filho ou a filha é resultado da ação do pai. Assim sendo, os mestiços ou

“brasilíndios” eram considerados estranhos. Enquanto dois mundos distintos e

opostos se digladiavam para sobreviverem, um novo povo nascia, fruto da rejeição

que sofria dos dois lados, e teve que criar, a duras penas, sua própria identidade.

Essa inusitada situação chegou a despertar a preocupação dos jesuítas, que para

tentar impedir a “promiscuidade” dos homens brancos com as índias, mandaram

uma carta ao rei de Portugal solicitando o envio de mulheres brancas à colônia, mas

tal pedido não obteve êxito.

Castelo teve pioneirismo na interiorização, foi um processo único em termos

de fixação de população do Estado. Nossa minas presenciaram tal processo.

Quanto à existência das primeiras missões jesuíticas, elas se formavam de índios

(índias), jesuítas e colonos, que foram os ingredientes necessários para a formação

inicial do povo brasileiro. Com a chegada das Bandeiras, já no século XVIII, por volta

de 1705, com Pedro Bueno Cacunda, esse processo se acelerou devido ao aumento

do contingente populacional, e também graças à origem as Bandeiras, que eram de

São Paulo. Os Portugueses de Capitania de São Vicente foram os pioneiros na

gestação dos “brasilíndios” ou mestiços devido à pobreza e ao isolamento de sua

capitania, pois não havendo outra fonte de recurso econômico, eles recorreram às

Bandeiras, que tinham como propósito, além da busca de metais preciosos, o

aprisionamento, a escravidão e a comercialização dos indígenas. A presença dos

“brasilíndios” era fundamental nessa campanhas, pois devido a sua nobreza e busca

de autoafirmação, eles se tornaram o motor da conquista do interior do Brasil,

participando ativamente das atividades de mineração e captura de índios. É

importante destacar que a língua falada por índios, jesuítas, colonos europeus e

“brasilíndios” era o tupi-guarani, que foi o meio de comunicação usado em toa

colônia até meado do século XVIII.

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De forma sintética, e não incluindo os índios que já circulavam nesta região

há milhares de anos, podemos afirmar que os primeiros habitantes de Castelo foram

os jesuítas provenientes da Europa, de onde traziam um rígido de moral e valores.

E, através deste código, queriam julgar e condenar os índios, para aí sim catequizá-

los a ferro e a fogo, e transformá-los em cristãos. Havia também poucos

portugueses sonhadores que buscavam riqueza e glória na colônia para desfrutar na

metrópole, mas a maioria da população era formada por “brasilíndios” ou mestiços,

que sofriam uma dupla rejeição por parte dos brancos e índios, e que a partir da

estranheza que causavam em ambos, criaram sua própria identidade. E foram

justamente eles que efetuaram diretamente a lida com a mineração do ouro.

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V- A EXPLORAÇÃO DO OURO EM CASTELO

5.1 – A Mineração em siNesta parte do livro trataremos da mineração propriamente dita e de seus

desdobramentos em nosso município. O ouro descoberto em Castelo é, em sua

maioria, o de aluvião, que se encontra nos leitos dos rios misturados em suas areias.

Ele é arrecadado em pequenos fragmentos das rochas pela força das águas dos

rios, é a medida que vai descendo o leito, transforma-se em pequenos grãos, que

posteriormente viram pó. Este pó fica cada vez mais fino, na proporção da distância

de seus veeiros iniciais. Os veeiros auríferos encontram-se disseminados nos

granitos que constituem os maciços da Pedra Azul e Forno Grande. Portanto, nos

rios que nascem nesta região pode se encontrar ouro.

As inúmeras cachoeiras que existem, principalmente no rio Caxixe, além de

proporcionarem um exuberante espetáculo da natureza, facilitaram o trabalho de

garimpagem do precioso metal. Apesar de poucas, existem algumas planícies onde

o rio corre manso e aparentemente inofensivo, e é justamente nesses locais de água

tranquilas que o ouro (em pequenos grãos ou pó), fica depositado no fundo do rio.

Na localidade chamada Caxixe, hoje Fazenda Povoação, existe uma destas

pequenas planícies, onde segundo Gomes Neto, foi o primeiro local de extração de

ouro em Castelo. Em 1625 esta planície foi palco de uma das quatros missões

jesuíticas em nosso cidade. Outro local com características geográficas

semelhantes, é onde se localiza hoje a Fazenda do Centro; nos dois lugares o leito

do rio foi alterado para facilitar o trabalho de garimpagem do ouro, na época da

exploração.

Para proporcionar uma melhor compreensão do leitor, e até mesmo balizar

estudos posteriores, decidimos dividir a mineração de Castelo em três fase ou

períodos.

A primeira é a ais polêmica: segundo o Major Gomes Neto, teve início logo

após a fundação de Rerigtiba (hoje Anchieta) 1565; ele ainda afirma que esta

missão rinha por objetivo, além da catequese dos índios, proteger dos invasores as

minas do Castelo. Apesar de um tanto quanto pertinente, não temos provas

documentais a respeito da versão de Gomes Neto. Os documentos que

encontramos falam a respeito da existência de missões jesuíticas aqui somente 100

anos depois, a partir de 1625.

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A segunda fase ou período inicia-se em 1705, com a chegada do Bandeirante

Pedro Bueno Cacunda. Ao que tudo indica, esta foi a fase mais próspera e que

contou com a presença de um maior número de pessoas; finalizou-se com a

expulsão dos exploradores efetuada pelos índios.

A terceira fase é a ais recente, e compreende a retomada dos trabalhos de

mineração já no século XIX, no fim do período colonial e início do imperial. Os

trabalhos foram reativados após um longo período de abandono, quando os

botocudos reinaram soberanos.

Dedicaremos nosso trabalho a seguir à primeira fase da mineração tomando

como base os escritos de Gomes Neto, pois apesar de seus relatos não terem

respaldos documentais, algumas de suas afirmações estão de acordo com nossas

fontes.

5.1.1 – Primeira Fase – séc XVIISegundo Gomes Neto, logo após a fundação de Reritiba (1565), os

missionários jesuítas subiram o rio Benevente à procura de ouro e de selvagens.

Com a ajuda de índios catequizados, eles chegaram às minas do Castelo. Efetuada

a descoberta, iniciaram um processo de fortificação e defesa das minas para evitar a

presença dos farejadores de ouro, principalmente dos paulistas.

Ainda segundo Gomes Neto, os jesuítas fundaram pequenos arraiais para

protegerem as minas contra os invasores; o primeiro a ser criado foi o Batatal,

próximo às minas; depois o do Caxixe e o do Ribeirão do Meio. Eles permitiram

também que o moradores destes povoados faiscassem ouro, para depois venderem

aos próprios padres. Desta forma, os jesuítas transformaram os ingênuos habitantes

e defensores de suas minas, pois em caso de invasão, os habitantes rechaçariam o

inimigo. Tendo proteção em todas as barras dos rios que poderiam das acesso às

minas, os jesuítas podiam exercer com tranquilidade sua clandestina função de

mineradores. O ouro, resultado do trabalho da mineração dos jesuítas, ia

diretamente para a sede da Ordem dos Inacianos na Europa.

De fato, as missões citadas por Gomes Neto existiram, para tanto existem

provas documentais. A divergência acontece com elação à data, pois o que ele

afirma ter sido realizado no século XVI, por volta de 1565, o documento descreve

que foi no século posterior, ou seja, 1625. Tal divergência só pode ser esclarecida

comum minucioso trabalho arqueológico nos locais onde teriam sido construídas as

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missões ou povoados. O que não podemos negar é que nesta primeira fase, direta

ou indiretamente, os jesuítas exploraram ouro de forma clandestina, ou foi pura

coincidência o fato de os bandeirante “descobrirem” ouro posteriormente nos locais

onde existiam as missões jesuíticas?

Segundo o Livro Tombo de Itapemirim, as cinco aldeias que compunham as

Missões de Montes Castello, estavam assim distribuídas: a primeira era a dos

Montes Castello, e sua exata localização é desconhecida, pois não existem vestígios

aparentes de suas ruínas. Sabe-se, portanto, que ficava próxima à do Caxixe. A

outra aldeia era a do Caxixa ou Caxixe, que se localizava próximo à margem do rio

Caxixe, um dos afluentes do Castelo, e sua localização é onde se encontra a

Fazenda Povoação. A terceira é a do Ribeirão, localizada próximo à margem do

Ribeirão, também um do afluentes de Castelo. Essa região é conhecida hoje como

Planície da Prata, e compreende as localidade de Monte-Pio, Flores e Prata. A

quarta aldeia é a da Barra do Rio Castelo, que se localizava na foz do rio Castelo,

onde e hoje a localidade de Duas Barras. A quinta e última aldeia era a de Salgado,

que ficava às margens do ribeirão do mesmo nome, que era afluente do rio

Itapemirim.

fotoa localização da Missões de Montes Castello no mapa, não são precisas, uma

vez que, para tal afirmação serão necessárias pesquisas arqueológicas. As Missões

de Barra do Rio Castello e Salgado não constam no mapa por estarem fora dos

limites do atual município.

Nesta primeira fase foi construída pelos jesuítas a Igreja de Nossa Senhora

do Amparo, em 1625. Esta igreja foi elevada à categoria de Matriz, pois a região das

minas do Castello foi transformada em Freguesia sob a proteção de Nossa Senhora

do Amparo. Este fato ocorreu em 12 de novembro de 1710. Não se sabe com

exatidão a localização da centenária Paróquia, seguramente uma das mais antigas

do Sul do Estado, nem mesmo como era seu interior e seus aspectos externos. Tais

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revelações só poderão ser feitas a partir de u trabalho arqueológico de escavação.

Este trabalho é de grande importância para a elucidação de muitas interrogações

sobre a história, não só do município de Castelo, mas também do Estado do Espírito

Santo e do próprio Brasil.

A Missão de Montes Castello, erguida em novembro de 1625, contava com

3.000 índios distribuídos nas cincos aldeias já citadas que compunham a missão. Os

documentos se limitam à descrição da experiência da missão, bem como as aldeias

a eles pertencentes. Em nenhum momento é vinculado o tipo de atividade

econômica realizado, e nem se menciona a existência do poderoso metal no fundo

dos rios. Com certeza, a exploração do ouro foi realizada de maneira clandestina

pelos jesuítas, por três motivos. O primeiro é o fato da mineração não constar no rol

de atividades previstas aos jesuítas no Novo Mundo, e ainda mais, quem procurava

ouro era para se enriquecer, e o enriquecimento não era um meta a ser seguida por

aqueles que outrora haviam dedicado suas vidas à construção do Reino Celeste, e

não às coisas passageias e materiais deste mundo transitório. O segundo motivo

que fazia com que os Inacianos agissem na clandestinidade era do de burlar as leis

coloniais que previam uma grande carga tributária sobre a atividade de mineração.

Certamente, se a extração não fosse de maneira clandestina, parte do resultado do

trabalho pertenceria à Coroa Portuguesa. O terceiro motivo era o de evitar a invasão

das Minas, principalmente por Bandeirantes, que como já sabemos, perambulavam

pelos sertões à procura de índios e metais preciosos. Inclusive, esse foi um dos

motivos, segundo Gomes Neto, da criação dos povoamentos margeando o rio

Castelo visando proteger as Minas. Os jesuítas evitaram a presença dos

Bandeirantes por alguns anos e até décadas, mas não conseguiram ocultar por mais

tempo seu achado, já que no início do século XVIII, por volta de 1705, Pedro Bueno

Cacunda “descobre” o que tanto os jesuítas buscavam esconder. A partir daí,

entramos na Segunda fase da mineração em Castelo.

5.1.2 – Segunda Fase – séc. XVIIIA segunda fase começa com a presença dos bandeirantes, no nosso caso,

Pedro Bueno Cacunda. Esta fase apresenta uma subdivisão:

A- Pedro Bueno explorou ouro na região, de 1705, como temos registros aqui

de sua presença e vai até 1734, quando desanimado e sem recursos

abandonou as minas.

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B- Após 1734, quem assumiu a mineração em nossa região foram os

jesuítas, que por aqui ficaram até 1759, ano de sua expulsão não só do

Brasil, mas também de Portugal por decreto do Marquês de Pombal. Esta

fase foi monopolizada pelos padres, e parte da riqueza ia para os cofres

da Coroa ou da Companhia de Jesus.

C- Com a saída dos jesuítas, mineração continuou sendo prática entre os

mineradores que aqui ficaram, porém, foram expulsos por duas vezes

pelos índios. A primeira em 1754 e a definitiva em 1771.

A Segunda fase inicia-se com a chegada de Pedro Bueno Cacunda, o mais

importante bandeirante que andou por nossas terras. Em 1705, ele inicia sua

perseguição em busca de ouro pelo interior do Brasil, e chegando à Capitania do

Espírito Santo, adquire alguns terrenos e constrói casas para servirem de base às

futuras explorações. Neste período ele teve contato com o Governador do Rio de

Janeiro, Fernando Mathias de Mascarenhas, que o encorajou em sua missão,

afirmando que ele prestava um grande serviço à Coroa. Outro que encorajou Pedro

Bueno foi Domingos Luiz Cabral, que também era explorador de ouro e esteve

analisando as vertentes do rio “Mayguassú” – Manhuaçu (afluente do rio Doce e que

divide o Espírito Santo de Minas Gerais), e, além disso, o orientou em como chegar

às minas do Castelo.

Ao chegar às Minas do Castelo, Bueno se deparou com os jesuítas, que já

exerciam a clandestina atividade da mineração. Porém, não encontramos relatos a

respeito do encontro, mesmo porque, a grande maioria dos historiadores acreditava

na errada hipótese do pioneirismo de Cacunda. O que sabemos é que os jesuítas

eram os senhores da região, e se julgavam extremamente bem protegidos para

exercerem sua atividade clandestina. Para isso, é bem provável que dispunham de

meios (armas ou não) para repelis os invasores. Por outro lado, os bandeirantes,

caçadores profissionais de gente e riquezas, vinham dispostos a tudo para atingir

seus objetivos. Coragem, valentia e espírito de luta eram características que não

faltavam aos bandeirantes que viajavam pelos sertões em grupos de 20 a 30

pessoas entre índios, chefes das expedições e seus filhos. O resultado deste

provável confronto em que grupos distintos tinham o ouro como mesmo objetivo é

desconhecido. E não são poucas as chances de ter havido conflito.

Outro capítulo (este documentado) entre bandeirantes e jesuítas na luta pelo

ou das Minas de Castelo, deu-se no âmbito da influência de que ambos dispunham

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nos altos escalões da coroa. Diante das dificuldades proporcionadas pelos índios,

irregularidade do terreno e densidade da mata, Pedro Bueno escreve ao rei em

1734, pedindo ajuda para a continuação de sua empreitada mineradora.

Os pedidos de Bueno eram para serem retirados 60 índios das aldeias de

Reritiba, dos Reis Magos e de Santo Antônio da Vila de São Salvador, esta última

comandada pelos religiosos de Santo Antônio, e as demais pelos Inacianos. Seriam

retirados 20 índios de cada aldeias, e os mesmos prestariam serviço ao bandeirante

po 3 anos. Após este período, retornariam às suas aldeias (os sobreviventes, é

claro), onde seriam trocados por outros 20, e assim sucessivamente. Ele ainda pedia

ferramentas e arma própria para a utilização dos índios, além de pólvora e chumbo.

Por último, Cacunda incluía em seu pedido 80 homens sob as ordens das Capitanias

do Espírito Santo e Paraíba do Sul.

Os pedidos do bandeirante foram bem recebidos pela Coroa, através do

Conselho Ultramarino. Tanto é verdade, que em 26 de dezembro de 1735, foi

expedida a ordem ao Provedor da Fazenda da Bahia para que Pedro Bueno fosse

atendido em seus pedidos. O Conde de Sabugosa, segundo a ordem Real, ficou

encarregado de arregimentar junto aos jesuítas, os índios pedidos por Cacunda. Aí

entra a influência dos padres da Companhia de Jesus, que aliados ao poder de

convencimento que lhes era característico, convenceram o então Conde de

Sabugosa a desistir de cumprir a ordem. Sendo assim, o referido conde indefere o

pedido e lança na mesma petição um despacho que diz:

“A S. Majestade darei conta porque não

cumpro a portaria”LAMEGO, Alberto. “A Terra Goytacá”. Livro II, p.279

Desiludido, Pedro Bueno Cacunda retira-se para o rio Doce, região onde

existiam muitos índios que mataram escravos do bandeirante, impossibilitando o

mesmo de exercer a atividade de mineração.

A disputa entre os padres jesuítas e os bandeirantes não foi a única

característica deste período que convencionamos chamar de Segunda Fase da

Mineração das Minas de Castelo. Outra característica foi a ciência, por parte da

Coroa Portuguesa, da existência de ouro no interior da Capitania do Espírito Santo.

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Um importante bandeirante que passou rapidamente pela Minas do Castelo e

pelo interior da Capitania do Espírito Santo até o Cabo de São Tomé foi Manuel

Francisco dos Santos Soledade. Este português permaneceu, a partir de 1704, por

seis anos no interior do Brasil. Com suas bandeiras à procura de ouro, neste espaço

de tempo, percorreu três mil léguas. Ao retornar a Lisboa foi condecorado pelo rei

com o Hábito de Cristo, e nomeado em 18 de dezembro de 1730, como

Superintendente da conquista das minas do Brasil.

A Coroa Portuguesa teve uma política confusa com relação a exploração e à

descoberta de ouro na Capitania do Espírito Santo. Os portugueses temiam os

piratas, já que as minas se localizavam próximo da costa, facilitando assim a ação

de contrabando das demais nações europeias. Outra preocupação era o

desguarnecimento da costa, no caso de uma corrida de seus habitantes rumo ao

interior em busca de ouro. A primeira proibição para a descoberta e exploração do

ouro em nossa Capitania foi feita em 10 de novembro de 1710, pelo Governador

Capitão General do Estado do Brasil, D. Lourenço de Almada. A ordem proibia ainda

a construção de qualquer estrada para as Minas Gerais, pois era intenção da Coroa

transformar a Capitania do Espírito Santo em uma grande cerca verde e desabitada,

para proteger dos piratas estrangeiros, as Minas Gerais da Coroa Portuguesa. Esta

tática deixou profundas consequências negativas no futuro desenvolvimento do

Estado do Espírito Santo.

A pena prevista para quem desrespeitasse a proibição era o degredo dos

infratores para Angola. Mesmo assim, as explorações não pararam e eram

incentivadas pelo Intendente Geral do Rio de Janeiro. Este fato descontentava o

governo da Bahia, pois as minas não eram adjacentes ao governo do Rio de

Janeiro, e sim ao da Bahia. Apesar da insatisfação dos baianos, o ouro de Castelo ia

mesmo para o Rio de Janeiro, mais precisamente para a Casa da Moeda: de 1º de

agosto de 1751 até 14 de julho de 1759, deram entrada na referida casa 246

marcos, duas onças e uma oitava de 18 grãos, provenientes das Minas do Castelo.

Esta parte é a de um período restrito, e a que foi quintada, pois acreditamos que boa

parte foi extraída clandestinamente, graças às dificuldades de controle por parte da

Coroa. O ouro quintado na Casa da Moeda proveniente de Castelo, neste período,

equivale a aproximadamente 58 quilos. Anterior a esta data, mais precisamente a

1732, o Capital-Mor da Capitania do Espírito Santo, Silvestre Cirne da Veiga,

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mandou que se quintasse o ouro das Minas do Castelo, no entanto, não se tem

registro a respeito de tal atividade.

Após 125 anos da presença dos jesuítas nas Minas do Castelo e de

exploração de ouro na região, o Ouvidor-Mor do Espírito Santo nomeia Domingos

Corrêa da Silveira, em 1750, como Capitão de todo o distrito das Minas de Castelo.

Mas tal ato contou com o repúdio do governo baiano. A função a ser desempenhada

pelo ocupante do cargo recém-criado era de pôr fim às constantes desavenças e

brigas entre bandeirantes e índios que viviam e trabalhavam nas minas. Os

confrontos entre brancos e índios eram comuns e não terminaram com a criação do

posto de Capitão das Minas de Castelo.

Foi durante o período B da 2ª fase da mineração que ocorreu a expulsão dos

jesuítas do Brasil, e consequentemente de Castelo, resultado da política pombalina.

Os padres jesuítas tiveram que sair às pressas da colônia, acontecimento que gerou

algumas lendas que até hoje circulam entre habitantes de Castelo, mais

precisamente, nas regiões onde ficavam as minas. As lendas consistem

basicamente na existência de tesouros de ouro escondidos pelo interior do

município, além da existência e mapas para localizá-los. Assim, ligado o fato dos

jesuítas terem explorado ouro de forma clandestina, ao fato de terem sido expulsos

repentinamente do Brasil, fica a pergunta: o que foi feito com o ouro? Basta

adicionarmos um pouco de imaginação para darmos certo crédito à lenda, porém,

não é este o nosso objetivo no momento. Deixemos que os modernos caçadores de

tesouros se preocupem com isso.

A harmonia nunca foi uma característica presente no relacionamento entre

índios e garimpeiros. E foi justamente um enfrentamento entre eles que culminou

com a fuga dos brancos para o litoral, deixando os garimpos das serras do Castelo

abandonados. Por se tratar de um fato marcante, resolvemos utilizá-lo como o

marco final da Segunda Fase da mineração. Sabemos que eram dois mundos que

não tinham a mínima chance de coexistirem harmonicamente, por isso, buscaremos

relatar o resultado desta impossibilidade, que foi o confronto final entre eles. Aliás,

umas das características dos combates, além da aterrorizadora violência, era a

banalidade devido à frequência com que eles aconteciam.

A vida seguia sua normalidade, quando inesperadamente, um grupo de índios

dava o alarme em forma de gritos. Os habitantes do Arraial se agrupavam no centro,

e armados com trabucos e chuços enfrentavam os nativos, que disparavam suas

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flechas mortíferas por todos os lados. Os índios pareciam ser invisíveis, pois se

camuflavam muito bem no terreno devido ao seu grande conhecimento do local. Ao

fim da batalha, os corpos, dos até então inimigos, se misturavam pelo chão, e o fogo

ainda resistia em pequenos focos, após devorar algumas choças onde habitavam os

garimpeiros. A data exta da saída (ou fuga) dos mineradores das Minas do Castelo

rumo ao litoral não é precisa. Antônio Marins afirma em sua obra, “Minha Terra e

Meu Município”, que tal fato aconteceu entre 1779 e 1780; Tristão de Alencar

Araripe diz que o mesmo fato ocorreu, aproximadamente, em 1771.

Existe um lenda a respeito dos motivos que levaram os índios a lutarem até

conseguiram a expulsão dos mineradores. Ela conta que tudo ocorreu porque os

garimpeiros cortaram uma ponte de cipó sobre o rio Caxixe. Por essa ponte os

índios atravessavam. Com a derrubada da ponte, os mineradores pensavam em se

ver livres dos índios, mas ocorreu o contrário, pois estes tomaram o ato como ofensa

e intensificaram os ataques. Assim, não restou aos mineradores outra alternativa

senão a fuga. Após o ataque, alguns mineradores tentaram resistir, ficando nas

minas com o apoio de incursões vindas das Capitanias da Paraíba do Sul e de

Minas Gerais, mas em 1771, segundo Tristão de Alencar de Araripe, foram expulsos

e perseguidos pelos botocudos até a Vila de Itapemirim. Botocudos e Puris

passaram a reinar soberanos na rica região onde outrora, garimpeiros e jesuítas se

digladiavam em busca do rico metal. As lutas cada vez mais constates entre índios e

garimpeiros, a falta de recursos econômicos para investimento na mineração e a

falta de apoio efetivo (a não ser da Capitania do Rio de Janeiro, que não foi

suficiente) da Coroa para a exploração foram os motivos do declínio das minas das

serras do Castelo.

Esta fase foi, sem dúvida, a mais próspera história das Minas do Castelo,

sendo assim importantes falarmos um pouco mais sobre fatos que aconteceram e

que, de certa forma, marcaram o período.

Os jesuítas já haviam construído

uma igreja em 1625, mas Pedro Bueno

também se deu ao trabalho de mandar

construir uma na aldeia do Caxixe em

homenagem a Nossa Senhora da

Conceição.

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A nova igreja passou a ser a Matriz

da Freguesia em substituição a dos

jesuítas. Esta mudança acarretou também

a alteração do nome da Freguesia, que

passou a se chamar Freguesia de Nossa

Senhora da Conceição das Minas do

Castelo, em 1754.

Nesta época, existia um fluxo considerável de fiéis na região, visto que foi

necessária a construção de duas igrejas próximas. Em 1765, muitos destes

habitantes emigraram para o Porto do Caxangá, no Sítio Itapemirim, e o motivo da

saída, como sabemos, eram os confrontos com os índios.

Temerosos em relação ao futuro,

esses habitantes não só emigraram, como

levaram consigo as imagens e

paramentos das igrejas. O responsável

pelo translado foi o pároco Amaro da Silva

Carneiro. Foi levada a imagem de Nossa

Senhora do Amparo, a de São Benedito,

os sinos e a pia batismal.

Inicialmente, eles foram colocados em um oratório ereto, na casa de

Domingos de Souza Bueno Camargo. Posteriormente, foi edificada uma igreja no

local denominado Bello, hoje, Itapemirim, de propriedade de Baltazar Caetano

Carneiro, só para amparar a imagem.

Em março de 1769, esta igreja foi

declarada paroquia da Nova Freguesia de

Nossa Senhora do Amparo do Itapemirim,

atual Paróquia de Nossa Senhora do

Amparo.

Além das imagens que se tornaram

peregrinas, neste período, existia também

em Castelo, uma irmandade consagrada

a São Benedito. Este tipo de instituição

era característica comum nas regiões

auríferas. O Jornal “A Gazeta de

Continuação da

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foto

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Itapemirim” de 11 de março de 1883, traz

a seguinte notícia a respeito da

irmandade de São Benedito:

“A esse tempo já ali havia imagens no templo, entre essas, a de São

Benedito, que mais tarde teve criada a sua irmandade, inaugurada em 1756, no dia

26 de dezembro, em que se inscreveram 73 irmãos devotos, pretos e brancos, livres

e escravos, entre eles Cláudio Dias de Queiroz, preto forro, natural de Campos, que

veio morar e ser sepultado nesta vila em 1792”. Ainda sobre a irmandade, podemos

afirmar que foi aprovada pelo Bispo do Rio de Janeiro, Francisco Antônio do

Desterro, em 1764.

Os irmãos pagavam as suas joias com ouro em pó. Do seu patrimônio

constava a existência de terrenos, joias, ouro em pó, uma pequenas casa de telha e

animais. Mas, todo esse patrimônio se perdeu no tempo devido às constantes

batalhas com os índios. A imagem de São Benedito tinha m resplendor de prata com

o sinal do rei, mas devido as seguintes reformas pelas quais passou, tal sinal se

perdeu. O referido selo também tinha assinatura do Bispo do Rio de Janeiro, que fez

o reconhecimento oficial da irmandade. No período em que funcionou a irmandade,

o vigário das minas era o Reverendo Antônio Ramos de Macedo. O fato curioso a

respeito da irmandade á a convivência, a que tudo indica, igualitária entre brancos e

negros, escravos e livres, dentro da mesma instituição (MARINS, Antônio. Minha

Terra e meu Município. RJ. 1920.)

As vias de comunicação da época, na segunda fase da mineração em

Castelo, eram os rios. Por eles se chegavam às minas e se escova a produção.

Mesmo quando não davam condições de navegabilidade, seriam como ponto de

referência, já que os aventureiros seguiam margeando os rios em suas expedições

rumo ao interior. Dois foram os rios que deram acesso às nossa minas. Um deles foi

o Benevente, que tem sua foz em Anchieta, na antiga Rerigtiba. Muito

provavelmente, este foi o caminho utilizado pelos jesuítas exiliados pelos índios, pois

a nascente deste rios fica próximo à região das minas. Após subirem margeando o

rio, os jesuítas andavam um pouco mais, e através da orientação dos nativos,

chegaram ao local onde edificaram suas missões e exploraram ouro.

O outro rio é o Itapemirim, que tem o Rio Castelo como seu afluente, e

deságua em Marataízes. Vejamos o que diz um relatório da época, a respeito de tal

rio:

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“Da Barra até as minas do Castelo, se

gastam oito dias em canoas carregadas e

em canoas escoteiras este rio para o sul e

vai seguindo para o Castelo, chegando ao

lugar da Fruteira se divide o rio da

Fruteira para o norte, e se vai seguindo o

Castelo e chegando a Manga Larga

divide-se já como pouca água até chegar

ao Porto da Piedade, que é o porto das

minas do Castelo, daí para cima não há

mais navegação, por haver algumas

cachoeiras, sempre vai seguindo do

Castelo para cima, as cabeceiras dele se

gastam doze dias”.OLIVEIRA, José Teixeira Leite de História do Estado do

Espírito Santo, pág. 225.

Este relato a respeito do Rio Itapemirim e do Rio Castelo, de sua foz à

nascente, dá-nos a dimensão das dificuldades encontradas pelos exploradores de

ouro para chegaram aos locais de trabalho, que neste período levavam oito dias

pelas águas do rio. Os rios Itapemirim, Castelo e Benevente foram usados

basicamente para se chegar às minas e para escoar a produção, mas o rio onde se

encontrava o ouro era o Rio Caxixe e o do Ribeirão. É de se destacar a imensa

importância que o rio exerce neste período específico da história castelense, pois

era dele que se retirava e por ele que se transportava toda a riqueza.

Cabe-nos ainda algumas informações sobre o Rio Caxixe, que teve este

nome em homenagem ao último dos vigários da Freguesia de Santana das minas do

Castelo, na segunda metade do séc. XVIII, o Padre André de Souza Leite, que

também era conhecido coo Padre Doutor ou Padre Caxixe. O referido padre era de

Campos e detentor de muitos bens. Ele costumava vir à região para negociar ouro

em pó com os mineradores. Apesar de padre, ele também era um rico negociante e

profundo conhecedor mais cobiçado da terra, e daí é que vem o outro apelido, de

Padre Doutor. A presença de pessoas endinheiradas, como o Padre Caxixe e o

Major Antônio da Silva Povoas, foi muito importante para a dinamização da

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exploração do ouro nesta segunda fase da mineração em Castelo, pois sem o

investimento necessário, não se aumentaria a produção aurífera.

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Padre Caxixe não foi o único morador de Campos que se interessou pelas

riquezas das minas do Castelo. A cobiça foi tanta que se projetou a construção de

uma estrada ligando as minas a então capitania. Os oficiais da Câmara da Vila de

São Salvador enviaram, em 1757, um pedido à Coroa para se abrir uma estrada

daquela Vila até as minas do Castelo. Pediram também a criação de um posto de

intendente de ouro na mesma Vila de São Salvador. E, buscando conseguir a

liberação para a construção da estrada (neste período só podia construir qualquer

tipo de estrada com a autorização da Coroa), os habitante de São Salvador

argumentavam que a mesma lhes proporcionaria uma grande economia de tempo,

pois levaram quinze dias no transporte do ouro das minas até a Casa da Moeda, no

Rio de Janeiro; e segundo eles, com a nova estrada, o percurso até a Casa da

Moeda gastaria somente três dias.

Além dos problemas causados pela precariedade dos transportes e pela

geografia local, outro aspecto que dificultava o escoamento da produção era a

burocracia, que exigia que o ouro passasse para o Rio de Janeiro. Depois de

qintada a parte devida, o oro era enviado a Portugal.

O ouro retirado das minas descia pelo Rio Itapemirim em canoas, mas até a

foz eram doze cachoeiras, e em cada um delas a canoa tinha que ser descarregada

e tirada do rio com as mãos, causando assim muitos transtornos e dificuldades aos

navegantes. Mas, o rio não era o único problema, pois o ouro de Castelo tinha que

pegar guia em Vitória, para depois ser levado para quintar na Casa da Moeda do Rio

de Janeiro. O caminho até Vitória era deserto e perigoso, tendo o viajante que

atravessar nove rios até chegar ao destino. De posse da guia, o viajante retornava

pelo mesmo difícil caminho, passando posteriormente pela Vila se São Salvador até

chegar ao Rio de Janeiro. Com a nova estrada, o ouro sairia diretamente das minas

do Castelo para a Vila de São Salvador (hoje cidade de Campos) e seguiria viagem

para o Rio.

No período colonial, Portugal usava a política de impedir, a qualquer preço, o

desenvolvimento e a comunicação interna entre as províncias. Esta postura política

era um meio de impedir um desenvolvimento interno que os portugueses temiam

que chagassem à independência. Uma forma de impedir o desenvolvimento era uma

rigorosa fiscalização na construção de estradas, no interior da colônia. O pedido feito

pelos habitantes da Vila de São Salvador, em 1757, para a construção da estrada,

passou por toda a burocracia colonial, e foi finalmente apreciada pelo conselho

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ultramarino, que deu parecer favorável à construção, com apenas um voto contra, do

Dr. Alexandre Metello de Souza Menezes. A resolução real para a construção da

estrada foi dada em 27 de novembro de 1761 juntamente com uma carta topográfica

da região, onde constatava, além de outras coisas, a existência de seis aldeias

indígenas, as quais o rei mandava civiliza-la. Só em 20 de abril de 1763, ou seja,

seis anos após o envio da primeira carta, o Governador do Rio recebe a ordem real

para a construção da estrada. Mas, nesta época, as minas já estavam decadentes, o

que desmotivou por completo, a construção da tão sonhada estrada.

Por trás da construção da estrada, havia uma disputa entre a Capitania do

Espírito Santo e a Vila de São Salvador pelo ouro de Castelo. Geograficamente,

Castelo pertencia, e pertence, à Capitania do Espírito Santo, o que nos faz acreditar

que o ouro deveria passar primeiro por Vitória, mas por razões práticas e

econômicas, seria mais vantajoso para os exploradores e para a Vila de São

Salvador, a construção da estrada. Neste caso, quem sairia perdendo serio o

Espírito Santo. Em resumo, eram esses os cominhos para se chegaram às minas: o

Rio Benevente e o Itapemirim. Pela estrada projetada e não realizada pelos

moradores da Vila de São Salvador não trafegou outra coisa a não ser os sonhos de

seus idealizadores.

Para encerrar o relato sobre este período da história de Castelo, gostaríamos

de enfatizar, além do dia-a-dia dos habitantes, os aspectos gerais das minas.

Nenhum minerador pretendia viver eternamente por aqui, o que buscavam era

somente enriquecer e desfrutar do local em lugares que oferecessem melhores

condições, sendo assim, o arraial tinha características rudimentares e de caráter

provisório. A população crescia misturando os hábitos dos negros, dos índios e dos

portugueses na pequena clareira aberta, em meio à mata virgem. O poder da lei e

da autoridade estava distante, a ponto de prevalecer dentro do arraial, apenas a

autoridade dos padres, quando esta ainda prevalecia. As casa eram construídas de

forma a deixar um grande espaço no meio, que era utilizado comunitariamente como

praça. As características das construções era um tanto quanto semelhantes às dos

índios. Era utilizada a própria madeira da região, que servia de parede, e as cascas

e folhas serviam de teto. As casas eram construídas mantendo uma certa distância,

pois em caso de incêndio provocado pelos índios, não se destruiria toda a vila. O

arraial tinha um aspecto sombrio devido à qualidade e ordenação das habitações, e

também graças às árvores não derrubadas, que se espalhavam secas por toda

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parte. Esse aspecto sombrio dava lugar ao exótico, quando aos domingos, a

Bandeira Portuguesa tremulava em mastros fixados na porta das casas dos chefes

do garimpo.

O amanhecer trazia consigo uma considerável leva de cavadores de ouro

para o início das atividades, que só terminavam quando o sol se punha. Esses

cavadores eram homens rudes, barbas por fazer, que ao regressarem à Vila,

enchiam-lhe de vida, pelo fato da mesma passar o dia vazia, à espera dos

sonhadores habitantes. Assim era a vida nos Arraiais de Castelo, distante de tudo,

do poder real e eclesial, mas extremamente próxima do sonho do enriquecimento, e

por mais que a dura realidade lhe parecesse pesadelo, o sonho resistia.

O fim da Segunda Fase da Mineração em Castelo foi consequência da

derrota dos mineradores para o mundo tribal e comunitário dos índios. Os fatores

que levaram os índios à vitória inicial foram um melhor conhecimento do terreno, que

lhes possibilitava melhor locomoção durante as batalhas, e também melhor condição

de adaptação e sobrevivência na selva. Por parte dos mineradores, a derrota foi

resultado não só das melhores condições dos índios, mas também da falta de

recursos econômicos, que tornava tanto a mineração como a defesa das minas com

características totalmente arcaicas, e no caso específico da mineração, inviável

economicamente. As difíceis condições de transporte também contribuíam para o

fracasso da mineração. Por último, podemos apontar não só a falta de apoio da

Coroa, mas também a proibição das atividades de mineração em Castelo. A política

confusa em relação a Minas do Castelo, que ora proibia e ora legalizava a

exploração, fazia parte da estratégia portuguesa para o Brasil. Seguindo a mesma

estratégia, o Espírito Santo serviu de proteção, uma autêntica cerca verde, para

preservar as ricas minas de Minas Gerais.

Por volta de 1785, não existia mais nada da antiga Freguesia de Nossa

Senhora da Conceição das Minas de Castelo. Casas, igrejas, vila, fazenda, tudo fora

destruído pelos botocudos que voltaram a ser senhores soberanos de toda região,

como outrora. Mas no século posterior, as atividades de mineração voltaram a

serem efetuadas em nossa região; esta retomada dos trabalhos foi por nós

designada como a “ A Terceira Fase da Mineração”, que é justamente a que nos

dedicaremos a partir de agora.

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O mapa, copiado por Bueno Dias Fernandes, com algumas modificações da

“Geografia e História do Espírito Santo” de Miguel A. Kill, mostra as minas do

Castelo e sua proximidade com a região de Ouro Preto, Mariana em Minas Gerais.

5.1.3 – Terceira Fase – Séc XIXA terceira fase inicia-se com o que havia faltando na segunda, o apoio da

Coroa Portuguesa, pois agora o Espírito Santo já havia cumprido sua função de

proteger as ricas minas de Ouro Preto e de Diamantina. Com a decadência da

mineração em Minas Gerais, não fazia mais sentido manter o espírito isolado e

despovoado para proteger o que não mais existia. E foi justamente por isso, que em

4 de dezembro de 1816, através de Carta Régia, D. João VI ordenou ao então

governador da capitania do Espírito Santo, Francisco Alberto Rubim, que dividisse

os terrenos das antigas minas do Castelo e que desse reinício às explorações de

ouro.

Esta fase teve uma duração bastante curta, de 1816 a 1830. Neste período

houve exploração contínua, contando, inclusive, com a presença de mineradores

ingleses e alemães. As explorações não terminaram por inteiro em 1830, mas houve

uma considerável diminuição, acabando por se tornar uma atividade esporádica, que

chega até os nossos dias. Há registro de remessa de ouro de Castelo, enviada pela

província do Espírito Santo ao Governador Imperial, nos anos de 1820, 1824 e 1847.

Este envio foi a título de amostragem e foi efetuado pelo Coronel Julião Fernandes

Leão.

A presença real é uma característica que difere a terceira fase das duas

anteriores. O que se conseguia com a força física, na terceira fase passou a se

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conseguir com o uso de uma outra força – a política. Foi assim que no dia 1º de

outubro 1822 no linear de nossa “Independência”, o Tenente-Coronel de Milícias,

Ignácio Pereira Duarte Carneiro, recebeu, através do ministro do império, a

autorização para lavrar as minas de Sant’Ana do Castelo. O Tenente-Coronel genro

de Joaquim Marcellino da Silva Lima, o famoso e poderoso Barão de Itapemirim, que

comandava com pulso forte toda a política do sul do Espírito Santo. O grade poder

político conseguido através do poder econômico, da troca de favores e de

assistencialismo às véspera das eleições, comum na política do sul do Estado, tem

raízes profundas na nossa história. Vem do início do império a tradição de usar coisa

pública, como um bem privado em benefício de determinado grupo de amigos ou

parentes. Tornam-se cada vez mais comuns em nosso dia-a-dia, casos iguais ao do

Barão de Itapemirim, que conseguiu concessão das minas do Castelo para o seu

genro. O fato desta tradição vir de longa data, deve ser motivo de desânimo, mas

sim de força e impulso para que lutemos contra estes problemas que aumentam

cada vez mais a distância entre ricos e pobres.

Livre do julgo de servir cerca verde para proteger as minas de ouro de Minas

Gerias, inicia-se a tentativa de dinamizar economicamente o Espírito Santo. Um

passo importante neste sentido foi a criação da estrada do Rubim, que ligava Vitória

às jazidas auríferas de Minas Gerais. Esta estrada tem um percurso semelhante ao

da BR 262, e leva este nome por ter sido construída entre 14 de setembro de 1814 e

30 de agosto de 1816, período em que Francisco Alberto Rubim era governador do

Espírito Santo. O encarregado da construção foi o Tenente-Coronel Ignácio Pereira

Duarte Carneiro, o mesmo que tinha a concessão de explorar as minas do Castelo.

A estrada nova do Rubim, ou também estrada de São Pedro de Alcântara (os

dois referiam-se a mesma estrada), tinha início na baía de Vitória, no porto de

Itacibá e passava na fazenda Borba, hoje Viana. A referida fazenda pertencia a

mesma pessoa responsável pela construção da estrada, o Tenente Coronel Inácio

Pereira Duarte Carneiro. Através desta afirmação, percebe-se mais uma vez, a velha

mania de usar coisa pública em benefício particular. Da fazenda Borba, a estrada ia

até a divisa do Estado do Espírito Santo com Minas Gerais, no rio Pardo onde existia

um quartel com o marco divisório. A estrada terminava em Mariana, e em seu

percurso foram criados quartéis onde moravam colonos vindos de outra possessão

portuguesa, os Açores. A presença dos moradores nos quartéis era para proteger a

estrada e os viajantes dos ataques dos índios. Além de conservar a estrada, os

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colonos cultivavam lavouras. A distância que separava os quartéis era de três

quilômetros.

A estrada de Rubim deu um certo impulso na mineração em Castelo, pois ela

passava relativamente próximo às minas, mais precisamente onde hoje é Conceição

do Castelo, facilitando assim o escoamento de ouro para Vitória. Passavam por ela

também tropa com variados produtos que eram transportados para Vitória

provenientes das Minas Gerais. Mas, devido ao pouco fluxo de pessoas, cargas e

bois, a estrada foi sendo gradativamente abandonada, assim como seus quartéis de

manutenção e proteção.

Foi também no terceiro período da mineração em Castelo, mais precisamente

em 1820, que o então governador do Espírito Santo, Baltazar de Souza Botelho

Vasconcelos, enviou ao rei um pedido de regulamentação dos trabalhos das minas

e também de proteção dos índios, que a esta altura não ofereciam muita resistência

à presença do branco em seu antigo território. E foi justamente atendendo a este

pedido, em 1º de agosto de 1829, que o governo imperial criou, para efeito de lei, o

Aldeamento Imperial Afonsino, que ficou, como não poderia deixar de ser, a cargo

de Joaquim Marcelino da Silva Lima, o Barão de Itapemirim.

O Barão de Itapemirim só executou a missão a qual o governo imperial lhe

havia ordenado, em 1845. Após uma viagem à região das Minas Gerais, o Barão

passou pelas Minas do Castello, e encantado com a beleza da região. Decidiu enfim

cria o aldeamento para os índios Puris, que ficava localizado à margem do rio

Castelo. O responsável direto por sua fundação, designado pelo Barão, foi o

engenheiro Frederico Willmer, que foi sucedido pelo Frei Daniel de Napoli. Mas

tarde, os índios abandonaram o aldeamento, que estava sobre comando do Frei

Bento de Gênova. Deste momento em diante, o local foi se transformando em vila,

que contava em sua maioria, com a presença de brancos. Na segunda metade do

séc. XIX, uma lei provincial elava o antigo Aldeamento à categoria de freguesia com

a invocação de Nossa Senhora da Conceição do Castelo, atualmente denominada

apenas Conceição do Castelo.

Mais uma vez, as minas de ouro do Castelo são pauta do dia, no Império do

Brasil. Em 17 de dezembro de 1824, o então imperador D. Pedro I ordena, através

de decreto, a divisão das ricas terras das minas do Castelo, já que o genro do Barão

de Itapemirim, Inácio Pereira Duarte Carneiro, não havia feito uso da concessão que

lhe autorizava a mineração da área. Economicamente, Portugal e Brasil era

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extremamente dependentes da Inglaterra, no início do século XIX, e esta

dependência foi sentida e refletida aqui nas minas do Castelo. Em 1824, os

representantes de uma companhia inglesa, Georges Creyress Baumer e Eduard J.

Bridges, estiveram visitado as minas. Os responsáveis pelas minas receberam

ordens claras do Imperador para facilitar e auxiliar os estrangeiros em suas

“pesquisas”, colocando à disposição dos mesmos todas as riquezas das minas do

Castelo. Esta atitude é uma clara demonstração de submissão aos interesses

estrangeiros; submissão da qual ainda não estamos livres nos dias de hoje.

O local que hoje conhecemos como Fazenda do Centro, também foi palco de

mineração, como afirmamos anteriormente, graças às suas planícies em que o metal

se assentava no fundo do rio, que era até desviado para facilitar o trabalho de cata

do ouro. Mais do que lugar de mineração, a Fazendo do Centro foi o local onde se

iniciou a mudança da base econômica do futuro município de Castelo. Desiludidos

com o ouro, que se tornava cada vez mais escasso, os moradores da Fazenda do

Centro iam se dedicando gradativamente à agricultura. O Major Antônio Vieira

Machado da Cunha foi um dos primeiros donos da fazenda a empreender outras

atividades econômicas, que não fosse a mineração. A atividade econômica que

suplantou a mineração, inicialmente na Fazenda do Centro, e posteriormente no

município, foi a extração de madeira para a transformação das matas em lavouras

de café e pasto para gado.

A região, hoje Fazendo do Centro, havia sido abandonada pelo major Povoas,

“o velho”, provavelmente, desiludido com a escassez do ouro. Foi aí que o Major

Antônio Vieira Machado da Cunha tomou posse do local, dando-lhe a denominação

que ainda hoje pendura. O Major Vieira da Cunha chegou a Castelo em 1845 e

faleceu em 23 de julho de 1868, deixando como herdeiro da fazenda, um de seus

genros, o português Manoel Fernandes Moura.

O tal português era comerciante de

fumo, café, toucinho e queijos na Rua da

Candelária, no Rio de Janeiro; por ser

amigo de Vieira da Cunha veio a se casar

com uma de suas filhas, vindo a falecer

em uma viagem de Portugal para o Rio de

Janeiro. Este fenômeno de mudança do

ciclo econômico, do ouro para o café, não

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foi exclusivo da Fazenda do Centro,

ocorreu também em outras áreas de

mineração, como na Fazenda da Prata,

Limoeiro e Caxixe.

5.2 – As Consequências da Proibição da Mineração no Espírito Santo e em Castelo

Com o aumento da fama e da riqueza das “Gerais”, Portugal temia que

invasores estrangeiros fossem atraídos por elas e pelas Minas do Castelo, e assim

pudessem conquistar a cidade de Vitória e subir o rio Itapemirim, chegar ao Castelo

e depois às “Gerais”. Por esta razão, e também para impedir que o ouro fosse

contrabandeado pelo litoral da Capitania do Espírito Santo, Portugal não só as

explorações das Minas do Castelo e a descoberta de outras, mas também que a

Capitania mantivesse ou abrisse quaisquer comunicações com as Gerais. A

desobediência dessa ordem seria punida com o confisco dos bens e o degredo para

a África.

O 1º Ato de Proibição data de 10/11/1710. A alegação da Coroa para a

proibição se devia à proximidade da Costa, da falta de proteção contra piratas, do

pouco povoamento que nesta época ainda se encontrava no Espírito Santo, aliados

à mata tropical fechada. Nossa Capitania pouco se desenvolveu economicamente,

apesar dos vários engenhos de açúcar aqui montados. Vários fatores contribuíram

para nosso insucesso: ataque constantes dos índios, poucos recursos financeiros

dos colonos que aqui se instalaram, a distância do mercado europeu e, com certeza,

uma população em qualidade e quantidade bem inferior à da menina dos olhos da

Coroa Portuguesa nesta época, que era Pernambuco. Portanto, nossa colonização

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foi litorânea e escassa, o que vai gerar, no início do século XVIII, quando há as

primeiras descobertas de ouro em nosso interior, desconfianças por parte de

Portugal em permitir que o escoamento do ouro das “Gerais” passasse pelos portos

capixabas (Vitória).

Não basta a Portugal encontrar as minas de ouro no Brasil, mas também

assegurar seu controle e fiscalização rigorosa sobre elas. Afinal, nesta época,

Portugal se debatia numa economia decadente, e ainda mais, com o açúcar

brasileiro em baixa no mercado europeu, o ouro então seria a solução para todos os

males. Portugal não se permitiria o risco de ver o ouro passando por uma região de

tão poucos fortes militares, poucos habitantes, que não ofereceria o mínimo de

condições de segurança para passagem do mesmo.

A decisão da proibição foi, portanto, algo bem pensado, bem avaliado para

não haver possibilidade de erro. Como não havia garantia de proteção das jazidas,

foram proibidas construções de estradas ou navegação fluvial em direção ao interior.

As proibições impediram que, com a febre da procura do ouro e pedras

preciosas e com a abertura de caminhos para o sertão ou para as “Gerais”, mais

rapidamente tivesse sido desbravado e se expandido o território do Espírito Santo.

As minas “Gerais” tornaram-se território proibido aos capixabas. A capitania

funcionou como uma verdadeira Barreira Verde ao desvio do ouro, foi a fortaleza e a

proteção das “Gerais”.

Não é difícil avaliar os prejuízos de tal medida adotada e imposta aos

capixabas. Com certeza, o Espírito Santo perdeu muito, pois pela Carta de Doação

de 1534, de Vasco Fernandes Coutinho, totó o território que compreende as áreas

de exploração do ouro, na região das minas, pertencia à Capitania do Espírito Sato,

o que ficou confinado a praticamente 1/5 do que verdadeiramente lhe pertencia.

Mas, perdeu também em desenvolvimento, 300 anos de esquecimento, de

fechamento ao progresso. Quem levou a melhor foi o Rio de Janeiro, que se

desenvolveu em função do ouro que passou a circular por seus portos, em direção à

Europa, vindo inclusive a tornar-se a capital da colônia em 1763.

A capitania do Espírito Santo virou uma cortina intransponível para se aintir o

ouro.

As proibições no Espírito Santo provocaram, então, aprofundamento da

decadência da capitania, relegando a ela um abandono e um atraso correspondente

a 3 séculos, só vindo a modificar esta situação com a produção cafeeira. A nossa

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pobreza serviu à riqueza e ao desenvolvimento das outras regiões próximas às

minas.

Com relação a Castelo, a política da proibição modificou-se em vários rios

momentos, de proibidas e consentidas e até autorizadas pelas autoridades do

governo.

Mesmos assim, quem saiu ganhando com essa exploração do ouro em

Castelo, não foi Castelo, que com certeza não viu o metal servir ao seu

desenvolvimento e ao seu crescimento, pois não se tem, sequer, registros oculares

da sua presença aqui, como no caso das “Gerais”.

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VI – ORIGEM DO NOME CASTELO

Muitos se perguntam sobre a origem do nome de nosso município: Castelo. A

melhor e mais correta maneira de darmos uma resposta a esta indagação é

recorrendo à história. Mas, não buscamos uma verdade pronta e única que não

aceite questionamento. O que faremos aqui é relatar as versões que encontrarmos a

respeito do tema, e a partir daí acolheremos, ou mesmo criaremos, a mais plausível

e próxima da verdade histórica.

Recorreremos ao dicionário para buscar o significado da palavra Castelo.

“Castelo: casa senhorial fortificada,

residência senhorial ou real, fortaleza

medieval, parte mais elevada do convés

do navio”. ROCHA, Ruth. Mini dicionários – p. 127.

O nome Castelo não é de origem indígena, logo foi dado o referido nome às

minas por um europeu, provavelmente um português. Vamos tentar fazer uma breve

análise do imaginário do europeu desta época e identificar o significado da palavra

Castelo para ele. Castelo é uma palavra ligada essencialmente ao mundo medieval,

que a Europa acabava de sair no período em que aqui chegaram. Dava ideia de um

lugar grande, fortificado e protegido com poço, pontes móveis, torres e não

necessariamente com muito luxo. O nome Castelo está associado também a poder e

riqueza, pois era a residência do rei, símbolo de riqueza, mais basicamente de

poder. Alguma coisa na região das minas fez os primeiros habitantes lembrarem de

um castelo e batizarem a região com o mesmo nome. As denominações

encontradas foram: Montes do Castello, Nossa Senhora da Conceição das Minas do

Castelo, Serras do Castelo e Castelo. Nós nos dedicaremos a partir de agora, às

versões que encontramos a respeito do nome. Sabemos que elas estão diretamente

ligadas às diferentes hipóteses de chegada dos primeiros habitantes de nossa

região. Tristão de Alencar dá a seguinte versão para a origem do nome:

“Diz a lenda que um explorador, vindo da

costa, deparou a serrania com alta

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muralha, enquadrada, nos dois flancos

por dois altos picos (Pontões), como

legítimos torreões. Teve a impressão de

um castelo com muralhas a meias e torres

ou bastões. Daí a ideia de solar ou

fortificação medieval – o castelo”.ARARIPE, Tristão de Alencar. “O Ciclo do Ouro em

Castelo”. Pág. 32. Ver. Cut UFES – Vitória, 1974.

Esta versão parte do pressuposto

de que os primeiros habitantes que aqui

estiverem chegaram pelo rio Itapemirim,

segundo Tristão de Alencar Araripe, como

mostra o mapa ao lado.

A outra versão a que tivemos

contato, foi a do major Joaquim José

Gomes da Silva Neto, em seu trabalho

“Histórias das mais importantes minas de

ouro do Estado do Espírito Santo”.

Basicamente. Esta segunda versão diz que os jesuítas foram os que primeiro

chegaram, e também denominaram Monte do Castello a nossa região.

Gomes Neto diz que nos lugares

onde se encontrou ouro, ou seja,

Povoação e Fazenda do Centro, não se

verifica na cadeia de montanha que os

rodeia, nenhuma semelhança que faça

lembrar um castelo, logo, segundo ele,

não foi dali, onde os homens escavavam

e mudavam o curso do rio, que surgiu a

inspiração para o nome.

Para o major, esta inspiração surgiu quando os jesuítas partiram de Rerigtiba,

(hoje Anchieta) através do rio Benevente (conforme o segundo mapa),

embrenharam-se na mata e aqui chegaram. Segundo ele, foi em uma serra onde

nasce o rio Jucu, que fica no antigo caminho que ligava as minas ao mar, que surgiu

foto

foto

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a inspiração para os padres jesuítas. Perto desta serra, nasce também o rio Caxixe.

Esta serra destacava-se das serras adjacentes por sua imponência e altura. Tal

serra observada do sítio, perto do Arraial Velho, que pertenceu ao major Vieira, tinha

as seguintes características: muito elevada, com um corte no flanco a prumo como

uma espécie de parapeito, entre dois pontões a picos perto um do outro, sendo que

um era mais grosso do que o outro na base. Ainda deste sítio se avistava, à direita,

as serras de Guarapari e, à esquerda, os montes do Benevente. Esta informação

rochosa refletindo a luz do sol nascendo proporcionou aos jesuítas a imagem de um

castelo, onde o corte vertical da serra era a muralha e os dois pontões as torres.

Desta forma estava justificada, segundo ele, a origem do nome Castelo.

O documento mais antigo a que tivemos acesso a respeito da nossa história é

datado de 1625, e nele já figurava o nome Castello. Sendo assim, concluímos que

foram os jesuítas que nos batizaram, pois sendo eles os primeiros habitantes

europeus do lugar que, já em 1625 tinha este nome, ou seja, antes da chegada dos

Bandeirantes, não temos dúvidas sobre os autores do nome, pois eram eles os

únicos habitantes europeus de nossa região. Outro fato que não podemos negar é

que a inspiração para o batismo veio dos aspectos geográficos, ou seja, da cadeia

de montanhas ou de uma específica que nos rodeia.

A versão de Gomes Neto com relação ao autor do nome Castelo é mais

precisa, pois ele enfatiza que foram os jesuítas. Já Araripe menciona apenas que o

autor foi um determinado viajante, sem dar detalhes sobre ele mesmo porque

Araripe não comunga da versão sobre o pioneirismo dos jesuítas na exploração do

ouro em nossa região. Sendo assim, no que diz respeito ao criador do nome

Castelo, Gomes Neto tem razão. Com relação ao local que serviu de inspiração para

este nome também encontramos divergências; Araripe diz que foi próximo ao rio

Castelo, na região conhecida hoje como Pontões. Já Gomes Neto diz que o lugar,

apesar de distante, está ligado ao rio Caxixe.

Também neste aspecto a verão de Gomes Neto leva vantagem sobre a de

Araripe, pois em torno do rio Caxixe se concentrava um fluxo maior de pessoas,

nada mais natural, pois foi nele que se descobriu o ouro. Isso não significa dizer que

os primeiros habitantes desconhecessem o rio Castelo e consequentemente o local

que supostamente serviu de inspiração para o nome. Mas as possibilidade do local

ser o citado por Gomes Neto são maiores, pois além do rio Caxixe está mais ligado

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à mineração, o ponto descrito por ele fica mais próximo ao caminho percorrido pelos

jesuítas.

Trabalhar com essa possibilidades é um tanto quanto difícil, pois além das

documentações serem escassas, estamos lidando com algo extremamente

subjetivo, já que nos referimos aos prováveis locais que remeteram à imaginação de

nossos antepassados ao mundo medieval. A imaginação, como sabemos, não

segue nenhuma tipo de regra estabelecida e não tem modelo fixo, ela é

condicionada a cada tipo específico de indivíduo. Como mais um fator a dificultar a

precisão deste conceito, temos o fato de que a imaginação é necessariamente

movida pela emoção, que por sua vez, está diretamente condicionada a um

infindável número de acontecimentos não só do presente, mas também do passado.

Desafiados pelo intrigante e fascinante mundo da imaginação, optamos por

não criarmos nossa versão a respeito da origem do nome, mesmo porque ela não

passaria de uma nova imaginação, e o que é pior, revestida de um caráter imposto.

Pelo exposto, tudo nos leva a crer que o nome Castelo foi dado pelos padres

jesuítas, e a fonte de inspiração foram as montanhas da região. Mas não podemos

afirmar, quais, ou qual montanha fez os padres lembrarem da imagem de um

castelo, pois ela pode ter sido encontrada no caminho até chegarem aqui, ou mesmo

na região das minas. Para finalizar, é bom registrar que a primeira visão que os

jesuítas tiveram de nosso futuro município foi de cima para baixo, ou seja, eles

chegaram pelo alto, margeando o Benevente até atingirem a nascente do rio Caxixe,

e daí desceram para a região onde se encontrava o ouro.

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VII – O CAFÉ NO BRASIL

7.1 – Breve ComentárioO café foi introduzido no Brasil no início do séc. XVIII, vindo da Guiana

Francesa, pelas mãos do Sargento-mor Francisco Melo Palheta, encontrado pelo

Pará. Neste período, a importância do café foi pequena, pois era um produto para

consumo doméstico. O produto só ganhava contornos de produção visando o

mercado externo no séc. XIX, principalmente a partir de 1830, com o Brasil já

independente.

É importante ressaltar que o Brasil passou por problemas econômicos

seríssimos com a Balança Comercial constantemente deficitária, em função da

ausência de um produto que viesse levantar nossa economia. Foram crises como a

do açúcar em queda constante no mercado europeu desde fins do séc. XVII e a do

ouro em processo de esgotamento desde o final do séc. XVIII. Fazia-se, então,

urgente achar um novo produto que pudesse reerguer nossa economia, e é dentro

desse contexto que começa a se vislumbrar a comercialização, em primeiro

momento em pequena escala, mas que caminhando o séc. XIX a fora, se torna o

pilar de sustentação da economia brasileira. Cada vez mais, os mercados

americanos e europeus se expandiam. Tanto assim, que em meados, já deste séc. a

pauta de exportação registrava 60% das nossas exportações que se baseavam na

comercialização do café.

É importante ressaltar que a empresa cafeeira foi estruturada no mesmo

modelo da empresa açucareira, isto é, no Sistema Plantation, monocultura, mão-de-

obra escrava e os grandes latifundiários. Começando as produção em larga escala

no Rio de Janeiro, depois avançava para o oeste paulista (produção espetacular),

para Minas Gerais e para o Espírito Santo.

No Rio de Janeiro, o café se espalhou pela Floresta da Tijuca, Angra dos

Reis, Parati, Vale do Paraíba e outras cidades em grande zonas cafeeiras. Mas é

em São Paulo que o café encontrou o seu habitat mais propício. Solo fértil, terra

roxa, chuvas regulares e temperaturas adequadas, em regiões como Ubatuba,

Guaraguatatuba, São Sebastião, Campinas, Jundiaí, Limeira, Itu, Sorocaba, Ribeirão

Preto, onde atingiram produtividade máxima, é o que vai tornar São Paulo o mais

importante centro econômico do país.

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O café foi responsável por grandes transformações sociais, políticas e

econômicas no Brasil, alterando profundamente sua estrutura. As cidades

cresceram, alterou-se a vida social nos grande centros urbanos com construções e

hotéis, jardins públicos, teatros, cafés, ricos salões de baile, bondes puxados a

burros, iluminação das ruas com famosos lampiões a gás, bancos, ferrovias e

companhias de navegação.

O café reintegrou a economia brasileira aos mercados internacionais,

contribuiu decisivamente para as mudanças das relações assalariadas de produção

e possibilitou o acúmulo de capital, que disponível, foi sendo aplicado em sua

própria expansão e em alguns setores urbanos a indústria, a inversão de nossa

Balança Comercial que fecha o séc. XIX apresentado superávit. Realmente, o café

tornou-se o “produto rei” de nossa economia.

TABELA DE EXPORTAÇÕES DE CAFÉ DO BRASIL

PORCENTAGENS SOBRE O VALOR DA EXPORTAÇÃOProdutos 1821/30 1831/40 1841/50 1851/60 1861/70 1871/80 1881/90Café 18,4 43,8 41,4 48,8 45,5 56,6 61,5Açúcar 30,1 24,0 26,7 21,2 12,3 11,8 9,9Couros e peles 13,6 7,9 8,5 7,2 6,0 5,6 3,2Borracha - - - 2,3 3,1 5,5 8,0Algodão 20,6 10,8 7,5 6,2 18,3 9,5 4,2Fumo - - 1,8 2,6 3,0 3,4 2,7Cacau - - 1,0 1,0 0,9 1,2 1,6

Fonte: CANABRAVA, Alice. “A Grande Lavoura”. In. Sérgio Buarque de Holanda (dir.). “História Geral da

Civilização Brasileira”. São Paulo, Difel.

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VIII – O CAFÉ NO ES

8.1 – Breve ComentárioO Espírito Santo, desde a sua colonização, com Vasco Fernandes Coutinho,

desenvolveu uma economia baseada na agricultura, em especial a da cana e de

outros produtos utilizados na subsistência da população. Apesar das várias buscas

pelo metal, a capitania se mantinha com a agricultura.

Até meados do séc. XIX, era o açúcar, apesar da pouca produção, o produto

que sustentava a economia capixaba. O ouro, apesar das tentativas, era encontrado

em pequena escala, e foi ofuscado pelo ouro em grandes quantidades nas Minas

Gerias, o que contribuirá para praticamente o fechamento de nossa capitanias,

mediante a possibilidade do contrabando passando por aqui, região pouco povoada,

de poucas defesas, na chamada “Barreira Verde”. Isso contribuiu muito para que o

nosso desenvolvimento não acontecesse em função do ouro, muito pelo contrário,

nos legará um atraso de 300 anos. Assim sendo, nossa capitania vivia à mingua,

pouco povoada, sem algo que lhe desse novos ânimo para seu crescimento

econômico.

É dentro deste contexto de necessidade de recuperação da capitania, que me

1800 assume o governador Silva Pontes (Antônio Pires da Silva Pontes), e toma de

imediato algumas providências para que se alcançasse tal objetivo. Uma delas, e

importantíssima, foi a assinatura dos Autos de 1800, ficando definitivamente

demarcados os limites entre Minas Gerias e a capitania do Espírito Santo, o que vai

preservar o nosso território, já que os mineiros se expandiam em direção ao mar. A

assinatura deste Ato vai também contribuir para o incentivo à comunicação entre as

duas regiões, favorecendo o transporte pelo até então fechado Rio Doce, levando o

povoamento e colonização daquela região, contando com a presença da mão-de-

obra mineira, já que o ouro encontrava-se em decadência.

Apesar de todos os esforços, a capitania ainda carecia de uma nova dinâmica

na economia. Era preciso que se encontrassem caminhos que levassem ao nosso

real crescimento econômico. Mas o que tínhamos para isso? Terras pouco

povoadas, mata quase que recobrindo nossa extensão territorial, terras virgens,

devolutas, portanto, a nossa saída seria pela via agrícola, devido as nossas

possibilidades naturais. Paralelo a isso, o Vale do Paraíba, em grande escala, vinha

produzindo um produto, que apesar de ter entrado no Brasil no início do século

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XVIII, só no século seguinte, séc. XIX, começava a ter expressão na economia do

país, seguido por Minas Gerias e São Paulo. Os cariocas começaram a expandir sua

produção, fazendo das terras sul capixabas quase que uma extensão de suas terras,

seguidos pelos mineiros e depois pelos paulistas.

Existem indícios de que o café já era produzido em pequenas escalas em

nossa capitania em 1811, porém era um produto de pouca expressão. Primeiro

vinha o açúcar, que a partir de 1826 é superado pela farinha, exportada em larga

escala, vinda da região de São Mateus.

O café encontrou aqui, apesar de nosso território não apresentar as

condições adequadas para o seu plantio, como no oeste paulista, outros elementos

que foram fundamentais para sua produção, como as terras virgens para serem

desbravadas e o estímulo do mercado externo, onde o preço e a procura pelo

produto aumentavam ano após ano; o menos custo de implantação do produto se

comparado ao da cana, o que contribuiu para que os lavradores capixabas

abandonassem a sua produção, substituindo-a pela do café, surgindo assim “uma

verdadeira febre de plantar café” (BITTENCOURT, Gabriel. Notícias do ES – editora Cátedra –

pág. 48).

O período que se segue é de grandes possibilidades para a nossa província

(denominação dada às antigas capitanias, a partir da Independência 07.09.1822) e

para seus moradores. Em 1815, no Governo de Francisco Alberto Rubim,

exportamos nossas primeiras arrobas de café. Em 1852, o café já era o produto de

maior valor dentro de nossas exportações, levando nossa balança a apresentar seus

primeiros saldos positivos.

Começando pelas regiões do sul: Mimoso do Sul, Cachoeiro de Itapemirim,

Apiacá, Itarana, Muqui, Castelo, e indo em direção ao norte, o café foi trazendo

grandes transformações para nossa província.

O que antes era uma Província pobre, isolada e sem o menor atrativo para a

vinda de forasteiros, como observa Saint-Hilaire, agora não é mais uma realidade,

pois grandes contingentes de imigrantes internos e europeus vieram se estabelecer

em território capixaba, aumentando consideravelmente nosso número de habitantes,

que me 1824 era de 35.000 e passou, em 1900 a 209.783. o desenvolvimento do

setor de transportes, tanto rodoviário quanto fluvial (ponto fluvial de Cachoeiro de

Itapemirim), incrementa a desobstrução de rios, a construção e a ampliação do Porto

de Vitória, que passa a receber a presença constante de navios europeus, e da rede

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ferroviária, que chega à nossa Província já no final do Império, que de Cachoeiro de

Itapemirim ligava-se às regiões do interior, como Castelo e Alegre, além da criação

de inúmeras benfeitorias, como o Correio Geral (1884), a iluminação a gás, o

telégrafo elétrico, enfim, ares de crescimento e desenvolvimento.

No sul do ES prevalecera a grande propriedade com mão-de-obra escrava, e

que vai entrar em franca decadência a partir de 1888, com a assinatura da Lei

Áurea, tornando o trabalho nessas regiões mais ou menos desorganizado.

Exportação dos principais produtos pelos portos do Espírito Santo.

Produtos

Porto de Vitória Norte – Porto de São Mateus

SulPorto de Itapemirim

% % %1873/74 1883/84 1885/86 1873/74 1883/84 1885/86 1873/74 1883/84 1885/86

Café 37,6 30,7 29,3 4,3 6,1 5,2 58,1 63,2 65,86Açúcar 13,3 60,3 35,4 20,3 - 2,4 66,4 39,7 62,2Farinha 0,4 6,3 2,4 99,6 92,5 97,5 - 1,1 0,1Milho 96,4 99,4 4,6 1,8 0,3 49,8 1,8 0,3 45,8Madeira 0,1 0,1 74,8 0,6 0,2 0,4 99,3 99,7 24,8

Fonte: A Gazeta

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IX – A EXPLORAÇÃO DO CAFÉ EM CASTELO

9.1 – IntroduçãoTendo como principal referencial a questão econômica, e encerrando o ciclo

do ouro como principal produto da economia castelense temos agora o café, que

passa a ser o carro chefe de nossa economia.

Buscando levar o leitor a uma melhor compreensão a respeito do tema,

optamos por dividir em fases o estudo da exploração do café em Castelo. Esta

divisão é de caráter estritamente didático, e tem como objetivo proporcionar uma

melhor análise sobre o tema, pois quando os fatos aconteceram, não se adotava tal

divisão. Elegemos como marco divisório da produção cafeeira em Castelo a

alteração no tipo de mão-de-obra.

A primeira fase tem como característica principais a utilização da mão-de-obra

escrava, a grande quantidade de terra das fazendas, a produção para exportação, a

dificuldade para o transporte da produção e a grande concentração de poder nas

mãos dos fazendeiros. Esta fase tem início na primeira metade do século XIX,

quando os fazendeiros de regiões produtoras de café buscavam novas terras para

dar continuidade às suas atividades econômicas.

Antigos núcleos de mineração deram lugar a grandes fazendas de café, que

por precisarem de muita quantidade de terras, foram expandindo mata a dentro,

explorando as antigas fronteiras do período da mineração. Consideramos como fim

desta fase a abolição da escravidão, pois ocorre aí uma ruptura na questão de mão-

de-obra.

A segunda fase inicia-se com uma pseudo liberdade para os antigos escravos

e pelo sonho de construção de uma nova vida por parte dos imigrantes italianos,

longe da fome e penúria que viviam em seu país de origem. A presença de um

grande número de imigrantes italianos nas lavouras de nossa terra, no lugar dos

escravos é o que mais diferencia a segunda fase da primeira.

Contrariando a tendência nacional, que era o aumento da concentração de

terras nas mãos de poucos fazendeiros, em Castelo ocorre justamente o contrário,

ou seja, a pulverização da propriedade da terra. Esta característica da região na

questão da propriedade também não existia na fase anterior. As demais

características da primeira fase não sofrem muitas mudanças na segunda.

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Feita essa pequena exposição inicial, podemos nos ater, de agora em diante,

às questões que envolveriam a produção do café propriamente dita. Buscaremos

nos aprofundar, de forma rápida, nos temas que foram aqui citados, e também

abordar outros que julgamos de grande importância para a compreensão da história

de nosso município. Segundo a cronologia, abordaremos a primeira fase.

9.2 – Primeira Fase da Produção do Café em Castelo

9.2.1 – As Grandes Fazendas: migração interna.Como relatamos na parte que trata da mineração, a região onde hoje é

Castelo, ficou um determinado período praticamente desabitada. Este período vai

doo fim do séc. XVIII, por volta de 1785, até a retomada dos trabalhos de mineração

no início do século XIX. Veja o que diz o “Livro Tombo de Itapemirim”, a respeito

deste período:

“Foi assim extinta a Paróquia de N. S. do

Amparo dos Montes ou de N. S.

Conceição das Minas do Castelo, na qual

não existiam em 1785, nem aldeias, nem

casas, nem igrejas, nem fazendas, nem

sítios, porque os Botocudos, senhores da

localidade, tudo destruíram, restando

apenas vestígios da Aldeia do Caxixe na

atual Fazenda Povoação, pertencente a

Francisco Vieira D’Almeida Ramos”.

Após este período que relatamos, tem-se a retomada dos trabalhos de

mineração, já no séc. XIX. Mas onde entra o café nesta história? O café estava

sendo produzido em larga escala neste período, no Vale do Rio Paraíba. Pois bem,

tendo os mineradores se desiludindo com a cata do ouro, e observando que a terra

de nossa região era bem fértil e virgem, muitos deles, provavelmente, resolveram

mudar de atividades. O grande impulso à cultura do café na região do Castelo se dá

com a chegada dos ricos e capitalizados fazendeiros oriundos da região do Vale do

Rio Paraíba e também de Minas Gerais. Os poucos recursos utilizados na

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recuperação do solo e o tipo de agricultura que se praticava exigiam, cada vez mais,

novas áreas para plantação do café. E foi graças a esta necessidade que a região

onde hoje é Castelo se inseriu no cenário estadual e nacional da produção cafeeira.

O mesmo ocorria no Vale do Paraíba Fluminense, onde esse processo se agravou

de tal forma, que veio afetar não somente pequenos e médios lavradores, mas até

mesmo os grande proprietários. A Baronesa do Pati escrevia, em 1862, a respeito

de suas imensas propriedade herdadas do Barão do Pati dos Alferes:

“A absoluta falta de terra para novas

plantações de café não me permitiu

entender os cafezais.”ALMADA, Vilma Paraíso. “Escravismo e Transição”.

Editora Graal, 1ª edição – 1984. P.76

Os antigos locais que seduziam os aventureiros pelo brilho do precioso metal

passaram a atrair fazendeiros de café em busca de terras virgens e férteis para

exercerem suas atividades. As primeiras expedições que se dirigiram para a região

do Alto Itapemirim, (região onde se encontra Castelo hoje) em busca de terras férteis

e propícias à agricultura, e não mais para a mineração, aconteceram em 1822.

Os relatos desta expedição foram feitos por Francisco Lobato e Antônio

Marins em 1898. Segundo o referido relato, ela era composta por setenta e duas

pessoas, na maioria, índios mansos e escravos libertos. Havia também algumas

brancos, e entre eles o capitão-mor Manoel José Esteves de Lima, de origem

portuguesa, residente em Mariana, que liderava a expedição. O ponto de partida foi

a fazenda São Francisco da Anta em Minas Gerais, e após vencer todas os

obstáculos naturais, a expedição chega ao Alto Itapemirim.

Após a avaliação da área, o Major retorna a Mariana, mas para proteger as

terras das quais acabava de se apoderar, deixa algumas pessoas de sua confiança

nos sítios. Os responsáveis que aqui ficaram tinham à sua disposição escravos e

índios para desempenhar a missão de proteger a área e também desbravar as

matas. Mas, ao retornar em 1827, o Major encontra a maioria dos sítios

abandonados. Os únicos que estavam habitados eram o de Alegre, Veado e Flores,

este último, provavelmente, fica situado dentro dos atuais limites do município de

Castelo.

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Esta expedição, a que tudo indica, não teve nenhum resultado prático para a

história de Castelo, ou seja, a partir dela não se contribuiu nenhuma fazenda de

café. As primeiras fazendas de café das quais temos notícias em Castelo foram

construídas por volta de 1845, e seus primeiros empreendedores foram os irmãos

Vieira Machado da Cunha, provenientes da Província do Rio de Janeiro.

Essa gente vinha munida de grande estrutura para realizar a atividade

cafeeira, que contava basicamente com dinheiro e escravos. Esses pioneiros vinham

para morar na região, e não apenas para explorá-lo abandoná-lo em seguida. Esta

característica fez com que se desenvolvessem aqui uma atividade econômica

constante e duradora que chega ate os nossos dias. Entre os primeiros povoadores

estavam o Major da Guarda Nacional, Antônio Vieira Machado da Cunha, (Fazenda

do Centro) e seus irmãos, Joaquim Vieira Machado da Cunha (Fazenda da Prata),

Honório Vieira Machado da Cunha (Fazenda Fim do Mundo), Manoel Vieira

Machado da Cunha (Fazenda São Manoel). Ainda faziam parte da família as irmãs,

Lina Vieira Machado da Cunha, casado com José Vieira Machado da Cunha

(Fazenda Povoação) e Francisca Vieira Machado da Cunha, casada com João

Pinheiro de Souza (Fazenda Ante-Portão).

É importante lembras que além dos Vieira Machado da Cunha, esta

importante fase da história de Castelo foi composta por fazendeiros de Minas

Gerias, que através da estrada do Rubim, também migraram para cá pelos mesmos

motivos dos fluminenses: em busca de terras férteis e virgens.

Por muitos anos a comunicação entre as então capitanias do Espírito Santo e

de Minas Gerais foi proibida por motivos que já abordamos neste livro. Esta longa

prejudicial proibição para a vida econômica do Espírito Santo fez nascer a crença de

que o incremento econômico da Província estava vinculada à construção de

estradas ligando o Espírito Santo a Minas Gerias. Este sonho se tornou realidade no

início do século XIX com a conclusão da Estrada do Rubim, que leva este nome em

homenagem ao Governador do Espírito Santo na época, no término de sua

construção, Francisco Alberto Rubim.

Em termos econômicos, a tão sonhada estrada não teve o resultado

esperado. E, apesar de passar nos limites de onde depois veio a se tornar o

Município de Castelo, ela não foi a principal via de acesso para os imigrantes

fazendeiros, que em sua maioria, era proveniente do Rio de Janeiro. Nesta primeira

metade do século XIX, existia em Castelo um considerável número de habitantes

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nativos (os índios), e parte deles se encontrava no Aldeamento Imperial Afonsino, e

é justamente sobre o mesmo que dedicaremos as próximas linhas.

9.2.2 – O Aldeamento Imperial AfonsinoO enfrentamento entre brancos e índios foi uma das principais características

do período da mineração, e de certa forma, chega até ao café, mas com proporções

menores, já que os nativos se encontravam bastante debilitados, e nem de perto,

lembravam o poder de luta que tinham na época do ouro. A historiadora Gilda

Rocha, que se dedicou ao tema, afirma que o Aldeamento pouco se diferenciava de

um acampamento de escravos, pois os índios eram caçados como feras para terem

o “direito” de morarem no local.

O responsável não só pelo Aldeamento Imperial Afonsino, mas por todos os

índios alocados na Província, era o Barão de Itapemirim, que por diversas vezes

assumiu o posto de Presidente da Província. Seus relatórios sobre o Aldeamento

são extremamente apaixonados. Mas o que levaria um homem tão influente,

poderoso e certamente ocupado, a se preocupar com a sorte dos índios? O fato é

que nesta época os índios eram usados como soldados de milícia na construção de

estradas, além de mão-de-obra barata na agricultura. Outra grande utilidade dos

índios para os fazendeiros era na perseguição aos escravos rebeldes e fugitivos,

como ocorrera na importante Insurreição de Queimados (na Senha, no ES) no ano

de 1849. Sendo assim, os Aldeamentos funcionavam como estoques de mão-de-

obra indígena para servir ao branco.

Longe de ser um defensor da causa indígena, o Barão de Itapemirim estava

preocupado com o bom andamento do Aldeamento Imperial Afonsino para garantir a

mão-de-obra gratuita para os mais diversos tipos de empreitadas. Veremos agora

uma breve história sobre o Aldeamento.

Foi o Governador Balthazar de Souza Botelho e Vasconcelos que teve a

primeira iniciativa de cria um aldeamento para os índios Puris, no sul do Espírito

Santo. Ele baixou uma Portaria em 09 de outubro de 1821 determinando a criação

do mesmo. O ato do Governador não sensibilizou o Governo Geral, e a ideias da

criação do aldeamento não se materializou. Em 1831, outra tentativa frustrada de

criação de aldeamento partiu do Presidente da Província do Espírito Santo.

A ideia da construção do aldeamento passa a ser uma realidade em 1845,

quando o Presidente da Província, Herculano Ferreira Pena, recebe a autorização

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para construí-lo. Junto com a ordem de construção, vem o nome do futuro

aldeamento que se chamara “Imperial Afonsino” em homenagem ao Príncipe

Imperial Dom Afonso, que havia nascido em 23 de fevereiro de 1845. Como

afirmamos anteriormente, o responsável por todos os índios aldeados no Espírito

Santo era o senhor Joaquim Marcelino da Silva, o futuro Barão de Itapemirim, que

por sua vez, indicou o engenheiro Frederico Willmer como responsável direto pela

construção.

O engenheiro responsável não só coordenou a construção do aldeamento,

mas também foi o responsável por ele até setembro de 1847 quando chega o Frei

Daniel de Napoli. Com a chegada do sacerdote da Ordem dos Capuchinhos, o

engenheiro, até então responsável pela administração do aldeamento, transfere-se

para a Colônia de Santa Isabel. O sacerdote Capuchinho é o primeiro religioso a

administrar o aldeamento. Sua vinda se deu graças a pedidos do Governo

Provincial.

Frei Daniel presidiu o aldeamento por dois anos, e neste período coordenou a

construção de cabanas para os índios e iniciou a capela. No local eram criados

gados e porcos, além de dois lotes de besta e a ferramenta necessária ao seu

manuseio. Os índios fabricavam telhas, e além de cultivarem as roças, outros ainda

se especializaram em trabalhos fabris, como serrador, carpinteiro e pedreiro. As

índias aprendiam a lavar e a fira com algodão produzido no próprio aldeamento.

A Lei nº 6, de 26 de julho de 1847, cria uma Escola de Letras tendo como

professor o senhor Joaquim José Gomes da Silva Neto, que assume as atividades

em 23 de março de 1848. Ao que tudo indica, o aldeamento conta uma certa

organização neste período. Não se trata aqui de fazer uma apologia ao sistema de

aldeamento, pois como afirmamos anteriormente, seu principal objetivo era a

escravização dos índios. Parece-nos que neste período o aldeamento gozava de um

certo progresso, isto através da ótica dos brancos, o que pera os índios significava

exatamente o contrário, ou seja, a perda de sua identidade.

Existia uma divergência entre os missionários e os representantes do

Governo em relação aos índios. Os primeiros buscavam a conversão e a

catequização dos nativos. Já os homens que representavam o Governo e que eram

considerados os grande empreendedores da época, queriam mesmo era escraviza-

los para construir o progresso Revoltado com a escravização dos índios, e após um

desentendimento com o Barão de Itapemirim, Frei Daniel abandona o aldeamento.

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No dia 27 de maior de 1849 o Capuchinho dá entrada no hospício do Rio de Janeiro.

Após deixar o manicômio, vai para São José de Leonissa, e em 1855, transfere-se

para Sergipe. No ano de 1869, volta para sua terra natal e morre no ano seguinte.

Os homens de negócios da época, os empreendedores, vencem a queda de

braço com os religiosos, e de 1849 a 1855, o aldeamento fica sem nenhum

missionário. Mas os religiosos eram imprescindíveis ao bom andamento do

aldeamento, já que eles tinham um melhor relacionamento com os nativos. Sem a

presença dos religiosos, os índios podiam ser escravizados, mas o número dos que

permaneciam nos aldeamentos era cada vez menor devido aos maus tratos e aos

desgastantes trabalhos.

No período em que o aldeamento ficou sem missionários, a escola foi extinta

em 1852, e o professor foi para São Miguel, no distrito de Mangaraí, exercer sua

atividade. Nesta fase também, muitos índios voltaram para a mata, e as roças e

atividade outrora desempenhadas por ele foram paralisadas. Apesar das

divergências com relação ao tratamento dispensado aos índios pelos religiosos, o

governo local estava convencido de que sem padre o aldeamento não teria futuro.

Por isso mesmo, foram vários os pedidos do Governo Provincial para que o

aldeamento voltasse a ter um religioso à sua frente.

Os pedidos do Governo Provincial eram remetidos ao Ministério da Justiça do

Império, que encaminhava os mesmos ao Comissário Geral dos Capuchinhos, Frei

Fabiano de Scandiano. Neste período de seis anos, o aldeamento teve vários

diretores leigos, sendo esta série interrompida com a chegada do Frei Bento de

Gênova.

Apesar dos insistentes pedidos ao Governo Provincial, não foi através do

Comissário Geral que Frei Bento se deslocou para o aldeamento. A iniciativa partiu

do próprio padre, que enviou uma carta a Frei Fabiano de Scandiano (Comissário

Geral) pedindo ao mesmo que o nomeasse responsável pela aldeamento, em

janeiro de 1856. Frei Bento já se encontrava no local à espera da nomeação, que

ocorreu no dia 07 de janeiro do mesmo ano. No dia 29 de fevereiro, o então

Presidente da Província, Barão de Itapemirim, nomeara Frei Bento de Gênova como

Diretor do Aldeamento.

O tempo que Frei Bento ficou à frente do aldeamento foi curto, pois em

meados de 1857, o Barão de Itapemirim, Presidente da Província, demitiu-o do

cargo. Os motivos da demissão foram os mesmos que levaram Frei Daniel a

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abandonar os índios. No curto período em que esteve à frente do aldeamento, Frei

Bento iniciou a construção de alojamentos para os índios, casa para o diretor, além

de uma capela e um cemitério. Para alcançar o que ele escarava como

desenvolvimento econômico, mandou construir também um moinho, uma olaria e um

paiol para guardar os mantimentos.

Novamente o aldeamento retorna para as mãos de administração dores

leigos, que por não terem a capacidade dos religiosos para se relacionarem com os

nativos, acabavam por espantá-los. Em 22 de dezembro de 1858, existiam apenas

28 índios no aldeamento. Em 1861, o número era ainda menor, não passava de 18

índios, distribuídos em 04 arruinadas casas. A antiga casa do diretor e a capela

estavam abandonadas.

Em 1867, o Aldeamento deixa de ter uma certa autonomia e é anexado ao

distrito de Rio Pardo, que pertencia ao Município de Viana. Em 1867, o aldeamento

é anexado ao Município de Cachoeiro, e em 15 de novembro de 1871, passa a ser

considerado como Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Aldeamento

Imperial Afonsino, hoje município de Conceição do Castelo. As terras foram sendo

ocupadas por invasores, e os poucos índios que restavam, buscavam sua

sobrevivência cada vez mais mata adentro.

Na primeira metade do século XIX, era essa a realidade dos habitantes de

nosso futuro município. De um lado, os fazendeiros aventureiros de Mariana – Minas

Gerais, na pessoa do Major José Esteves de Lima, que junto com alguns seguidores

percorreu nossa região em busca de terra fértil para a prática da agricultura.

Posteriormente, vieram os fazendeiros do Vale do Paraíba com escravos e dinheiro,

e aqui se apossaram de grandes quantidades de terras para cultivar café. E por fim,

os índios que viviam dispersos nas matas ou no Aldeamento Imperial Afonsino, que

oscilava entre a administração violenta dos leigos e dos religiosos que os enchiam

de pecados e negavam-lhes o direito à liberdade de serem índios.

Mas o contingente populacional de maior importância neste período era, sem

dúvida, os escravos, pois seu trabalho sustentava toda a sociedade da época. Todo

tipo de trabalho ficava a cargo dos escravos. Compreendendo a importância do

trabalho escravo para a história do nosso município, dedicaremos uma parte do

nosso Livro ao tema da escravidão em Castelo e no sul do Estado.

Nesta fase da história ainda não tínhamos uma urbanização forte, isto implica

dizer que a sociedade não girava em torno da cidade, e sim das fazendas. Eram

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nelas que se concentrava o poder das decisões econômicas. Elas funcionavam

como organismos autônomos, e é justamente sobre elas que falaremos a partir de

agora.

9.2.3 – As grandes Fazendas de Café – a concentração do poder nas fazendasAs fazendas de Castelo eram realmente grandes, a média de tamanho era o

dobro das demais fazendas da região sudeste, e atingia 2.807 hectares. Dentro de

suas terras, os fazendeiros detinham um poder quase que ilimitado, eram senhores

da vida e da morte não só de seus escravos e empregados, mas também dos

membros de suas próprias famílias.

A grande concentração de poder nas mãos dos fazendeiros era um fenômeno

nacional, e não apenas local. A própria estrutura da sociedade dava suporte a este

poderio, que em Castelo, por condições que iremos abordar, era ainda maior.

As condições que garantiam maior poder aos fazendeiros eram o tamanho

das fazendas e a quase inexistência de meios de transporte e de comunicação com

os demais municípios e entre as próprias fazendas. O isolamento comprometia a

influência externa dos fazendeiros em relação a outros locais e até mesmo à

Província. Mas, com certeza, fortalecia seu poder interno, já que o isolamento dava-

lhes a certeza da não intromissão de nenhuns tipo de outra autoridade em seus

domínios.

As grandes fazendas se formaram em áreas desabitadas, salvo por alguns

índios, daí o motivo da imensa quantidade de terras. O tamanho, aliado ao

isolamento, fazia com que elas se tornassem praticamente auto-suficientes. Quase

tudo de que se necessitava era produzido na própria fazenda.

As fazendas eram o astro-rei, e em torno delas girava tudo que existia:

mascates, escravos, padres, professores, médicos, políticos, etc. Os fazendeiros

eram os donos da verdade. A lei existia para legitimar seus atos, pois a posse da

terra, o único meio de produção de época, garantia-lhes direitos e poder ilimitado.

9.2.3.1 – A Posse da TerraQuem detinha o poder de propriedade sobre a terra neste período era,

automaticamente, a pessoas mais poderosa da sociedade. Veremos agora como se

processava o direito de propriedade da terra, direito esse que era de uma ínfima

parcela da sociedade.

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O que predominava em nossa região eram as terras devolutas

(abandonadas). O Estado tinha o poder de vende-las aos interessados. Mas a venda

de terra pelo Estado a particulares no sul do Espírito Santo, mais precisamente em

Cachoeiro de Itapemirim, que incluía Castelo, só teve início depois de 1860. A

chegada dos primeiros fazendeiros em Castelo é anterior a esta data, e isto nos faz

acreditar que os primeiros proprietários de terra tiveram apenas o trabalho de ocupar

e cultivar a mesma sem comprá-la.

Depois de produtivas é que as fazendas eram legalizadas. As leis que

tratavam sobre a questão das terras beneficentes a formação da grande

propriedade, pois a terra era uma mercadoria, e como tal, deveria pertencer a quem

dispunha de recurso para adquiri-la. O avanço das grandes fazendas se dava em

detrimento dos pequenos proprietários, que sem recurso para investir na produção e

temerosos quanto às possíveis dívidas para com o Estado, referentes à legalização

de suas terras, acabavam cedendo à pressão dos grandes fazendeiros e vendendo

para eles suas propriedades.

Com a venda de terras devolutas, o Estado arrecadava recursos, por isso

mesmo ele incentivava as transações que tinham como objetivo também trazer mais

fazendeiros para nossa região. Como principal estratégia para atrair proprietários, o

Governo usava os baixos preços das terras, que eram os menores da Região

Sudeste. De 1863 a 1871, ele baixou o preço médio da braça quadrada de terra de 1

réis e 3/10 para 6/10 de réis.

Os fazendeiros chegavam, ocupavam a quantidade de terras que lhes

convinham, colocavam seus escravos para trabalhar, e só depois de anos

produzindo, eles regularizavam a situação de suas terras com o Estado, a preços

irrisórios. Os pequenos fazendeiros, que porventura estivessem utilizando-se de

terras devolutas entre as grande fazendas que interessassem aos grandes

proprietários, não tinham chances de permanecerem ali, pois sofriam todo tipo de

pressão para vende-las aos poderosos fazendeiros.

Analisamos, de forma genérica, como um pequeno grupo de grandes

fazendeiros controlavam a região que veio a se tornar o nosso Município. Vimos

também, de forma geral, como se constituiu uma sociedade de poucos privilégios e

extremamente excludentes. Agora iremos nos ater às questões mais específica dos

fazendeiros mais importantes.

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9.2.3.2 – As FazendasA primeira fazenda que iremos abordar é a Fim do Mundo, que conserva este

nome até hoje. O proprietário era o Sr. Honório Vieira Machado, um dos irmãos

Vieira Machado da Cunha, que foram os pioneiros na implantação das grandes

fazendas escravocratas em nosso município. O fazendeiro que era casado com

Clara Ramos do Prado Amaral faleceu no dia 19 de junho de 1864, deixando os

seguintes herdeiros: Pedro (14 anos), Ana (13 anos), Zulmira (11 anos), Engracia

(10 anos), Vantuil (9 anos), Izabel (8 anos), Honorio (6 anos), Adelina (4 anos),

Amassilia (2 anos), Júlia (1 ano) e Honório (2º).

A fazenda Fim do Mundo era extremamente grande e possuía quatro

sesmarias (uma sesmaria possuía em média 6.500 m² de terras), seus limites eram

às margens do Rio Castelo, ao sul, com Francisco Alves Carneiro, e ao norte, com

Lourenço Bernardo de Souza, que era filho do Barão de Guandu, dono da fazenda

Santa Helena. Do lado de cima, o limite eram as terras de Manoel Vieira Machado,

da fazenda São Manoel.

O produto cultivado para o mercado era o café. Quando o proprietário da

fazenda morreu ela possuía um total de 99 mil pés de café. Também faziam parte da

fazenda uma casa de centro, uma casa de sobrado, um armazém para guardar café,

uma casa de engenho de cana, um paiol para guardar milho, uma senzala de telhas

e um chiqueiro.

Entre os bens móveis da fazenda constavam camas, cadeiras, sofás, objetos

de uso doméstico, joias, piano, relógio de parede, lampião a querosene e ferro de

engomar. O valo dos bens móveis existentes na fazenda, em 1865 era de

14.004.450 mil réis.

Para ajudar na produção do café, existiam também na fazenda 8 bois, 10

garrotes, 7 vacas com crias, bestas e 6 animais de selas, além de uma balança de

60kg e várias enxadas. Mas, a principal ferramenta de trabalho do fazendeiro, eram

os escravos, que desempenhavam todo tipo de trabalho, desde as mais simples

atividades domésticas, até o árduo trabalho nas lavouras cafeeiras. O Sr. Honório

Vieira Machado possuía 58 escravos, sendo que 32 eram homens, 14 mulheres e 12

crianças.

Outra fazenda deste período, e também do mesmo proprietário da anterior,

era a de São Cristóvão, que se localizava onde hoje existe uma comunidade com o

mesmo nome. Seus limites eram a leste, com a Fazenda da Prata, pertencente a

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Joaquim Vieira Machado da Cunha (irmão de Honório Vieira Machado); a oeste, com

terceiros pertencentes ao Major Antônio Vieira da Cunha (irmão de Honório Vieira

Machado).

A fazenda São Cristóvão possuía 3 sesmarias, uma casa que funcionava

como sede e um rancho coberto de telhas. Ela também produzia café só que em

menor quantidade do que a do Fim do Mundo, pois possuía apenas 8 mil pés de

café, além de 6 alqueires de capoeirão.

A Fazenda do Centro foi uma das mais importantes de nosso município, pois

além de ter sido fundamental no período das grandes fazendas que estamos

estudando, também foi palco do período anterior, o da mineração, e também teve

participação imprescindível no período que analisaremos posteriormente, o da

agricultura familiar com os imigrantes italianos.

Na época da mineração, a referida fazenda pertencia ao velho Povoas, um

minerador e que com o fim das atividades de mineração na região, acabou

abandonando a fazenda. Por volta de 1845, o Major Antônio Vieira Machado da

Cunha, um dos pioneiros na produção de café em Castelo, funda a Fazenda do

Centro. O Major era casado com Maria Leopoldina, com quem teve apenas uma

filha, Ana.

A filha do Major casou-se com o português Manoel Fernandes de Moura, que

era comerciante na rua da Candelária no Rio de Janeiro. O Sr. Moura, como era

conhecido, herdou a fazenda com a morte do Major. Com a morte do Sr. Moura,

durante uma viagem da Europa para o Rio, a fazenda passou por algumas pessoas

e acabou sendo comprada pelos padres Agostinianos, mas essa transação já faz

arte da segunda fase do café em Castelo, que discutiremos mais adiante.

No período das grande fazendas, a do Centro foi a mais importante, não só

do que veio a se tornar o município de Castelo, mas de toda a região do sul do

Espírito Santo. Ela possuía, em 1870, 161 escravos e 242 mil pés de café. Seu

patrimônio total, incluindo pés de café, terras, instalações e equipamentos,

residência, pertences e animais atingia 245,303 mil réis.

Entre as benfeitorias existentes na maior fazenda da região sul estavam:

Engenho de Pilão, Engenho de Serra, Torno, Engenho de Mandioca, Engenho de

Pilar Arroz, Engenho de Cana, Enfermaria com varandas, Olarias, Telheiros,

Moinho, Curral, Lavador de Café, além de 39 senzalas, algumas com assoalhos.

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Estes objetos enumerados eram

utilizados para o trabalho, mas existiam

ainda os que eram para o lazer dos

proprietários, como por exemplo, piano de

cauda, casa de vivenda assombrada,

mobílias de jacarandá, joias e objetos de

ouro e prata.

A Fazenda do Centro limitava-se ao norte, com as vertentes dos rios Jucu e

Tapera e terras devolutas; ao sul, com as fazendas Criméia e São Cristóvão, além

de terras devolutas, que por sua vez, faziam limites com o núcleo colonial Rio Novo,

e também com as vertentes dos rios Prata, Fruteira, Rio Novo e Beneventes.

A leste, as terras da Fazenda do Centro limitavam-se com as vertentes dos

rios Jucu, Beneventes e São Cristóvão, e também com terras devolutas. A oeste, os

limites eram as fazendas Criméia, São Manoel, Povoação, Bella Aurora e Pindobas,

além do sítio Santa Izabel.

Temos ainda a Fazenda da Povoação, que assim como a do Centro, também

presenciou as duas importantes fases da história econômicas do nosso município, a

mineração, a produção de café nas grandes fazendas escravocratas e a agricultura

familiar com o imigrantes italianos. A Fazenda Povoação ficava na região onde é

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hoje a comunidade de Limoeiro e pertencia a José Vieira Machado, natural de São

João Del Rei, que era casado com Lina Ludgaria Vieira Souza, irmã de Antônio

Vieira Machado da Cunha, da Fazenda do Centro.

José Vieira Machado era Capitão reformado da Guarda Nacional e Cavaleiro

da Imperial Ordem de Cristo. O inventário de seus bens foi feito em 1871, após sua

morte. Além da viúva Lina, deixou como herdeiros: filhos, genro e noras. Rachel (30

anos), casada com Francisco Vieira de Almeida Ramos, Rita (28 anos), casada com

José Nunes de Almeida Ramos, Januária (27 anos), casada com Gabriel Ferreira

Pena, Conrado Vieira Machado (25 anos), Teodozia (22 anos), casada com o Major

Antônio Rodrigues da Cunha, Cezar Vieira Machado, (19 anos) solteiro, Maria Lina

(24 anos), solteira, Isabel (17 anos), casada com Bernardo de Almeida Ramos e

Josephina (13 anos), solteira.

O fazendeiro da Povoação tinha 9 filhos ao todo, e antes de morrer, deixou

um testamento o qual iremos citar seus pontos mais importantes. No testamento, ele

diz ser uma pessoas muito católica e temente a Deus, além de ser fiel à esposa e

aos preceitos da religião. Os testamenteiros são: Conrado Vieira Machado (filho),

Francisco de Almeida Ramos (genro), Rachel (filha), Gabriel Ferreira Pena (genro) e

Jenuária (filha).

José Vieira Machado, em seu testamento, deixou 500 mil réis de esmola para

a igreja que seria construída em Cachoeiro e 100 mil réis para os pobres. Deixou

também, para um tal Felício Carolina, o sítio de Santa Justa, no Córrego do

Remanso. Libertou os escravos pardos: Henrique, filho de Josephia, e Fernando,

filho de Micaela, que ganharam 10 alqueires de terras no Remanso, além de ter

libertado também os escravos crioulos: Anastácio e sua mulher Carolina.

Aos filhos: Rachel, Rita, Januária, Theodosia, Conrado e Isabel, que eram

emancipados, deixou por doação 7 contos e duzentos réis a cada um. A filha solteira

recebeu igual valor, porém, em bens.

A Fazenda Povoação possuía um total de terras de três sesmaria e meia. Os

limites eram a cabeceira do ribeirão, denominada povoação, bem como todas as

suas vertentes; do lado de baixo, com a Fazenda denominada Centro, na Cachoeira

do Veado. A fazenda possuía 161.000 pés de café, além de 5.000 pés de mandioca.

Toda essa plantação, assim como todo os outros tipos de trabalho, eram realizados

por 56 escravos, sendo 22 homens, 20 mulheres e 14 crianças.

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A Fazenda contava também com um rebanho de 14 bois, 10 novilhas, 7

vacas, 1 touro, 1 jumento, 13 bestas e 8 burros. Como bens de raiz, ou seja,

imóveis, a fazenda possuía 1 casa de vivenda, 1 engenho de pilões, 1 paiol de

telhas, q prensa de moer mandioca, 1 casa de senzala, 1 casa de estrebaria, 1 casa

e 1 paiol no sítio de Água Limpa, 1 serraria e seus pertences, 1 casa de tropa, 1

olaria e forno de telhas.

A Fazenda Povoação era famosa pelo se luxo e pelas festas que promovia.

Dentre os objetos de uso doméstico podemos citar alguns, como os castiçais e os

telhares de prata, os aparelhos de chá e jantar de louça, o relógio de ouro, e outro

de parede de caixa e também um piano. A casa também possuía cômodas de

vinhático, jacarandá, mesas para refeição, guarda-louça e várias cadeiras.

Os objetos para o trabalho doméstico eram uma máquina de costura, várias

facas de cabo de marfim, panelões de ferro, tachos e bacias de cobre.

Encontramos também a Fazenda Santa Helena que ainda conserva o mesmo

nome. Ela fica situada atualmente no município de Conceição do Castelo, que se

desmembrou do nosso, mas optamos por incluí-la neste estudo por acreditarmos

que a mesma teve uma contribuição importante na história de Castelo.

A Fazenda Santa Helena pertencia ao Sr. João Bernardo de Souza, tenente-

coronel da Guarda Nacional, que também detinha o título de Barão do Guandu. A

dita Fazenda era composta por outras fazendas, como a de Santa Tereza, São

Quirino, Nogueira, Ribeirão e Santa Maria, somando um total de 17.246.453 m².

Na lista de inventário de bens existentes na fazenda constam: paiol para

milho, engenho para beneficiar café movido à água, lavadouro de café, tulha para

café, moinho de fubá, engenho de serra, serva para engordar porco, galinheiro e

cerca de duzentos mil (200.000) pés de café. O rebanho da fazenda possuía 70

cabeças de gado, 4 animais de montaria e 18 bois de canga (usados para

transporte).

A casa da sede da Fazenda ainda se encontra de pé, servindo de morada aos

herdeiros do barão. Pelo seu tamanho e suntuosidade podemos imaginar o que de

fato foi a fazenda no passado. As janelas da casa são no estilo francês, com muitos

vidros; os móveis são austríacos; o teto é forrado com madeiras trabalhadas; a

varanda e a fachada são cobertas por telhas colonial-francesa. A todas essas

características, soma-se o fato dela estar localizada em um lugar alto,

proporcionando, através de suas janelas e varandas, um belíssimo visual da região.

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Dos herdeiros de João Bernardes de Souza, o Barão de Gandú, o que ficou

com a sede, com o casarão foi Marcelino Bernardes de Souza, fruto de uma relação

extraconjulgal com uma escrava. Marcelino Bernardes de Souza morava com a

família do pai, e segundo os sues descendentes, atuais moradores, era o preferido

do Barão. É este filho, bastardo, que comprou dos irmãos, que não tinham interesse

na fazenda, parte dela, a sede e alegou aos seus.

O que muito nos entristece é o péssimo estado em que se encontra o

casarão, não só pelo que representou em produtividade, mas também pelo destino

incomum que teve.

Também da família Vieira Machado, instalou-se em Castelo o tenente

Joaquim Vieira Machado da Cunha, irmão de Antônio e Honório Vieira Machado da

Cunha. Joaquim fundou a Fazenda da Prata, nome que persiste até hoje, próximo

ao ribeirão de mesmo nome, que era afluente do Ribeirão do Meio. A fazenda fazia

divisa com a Fazenda São Cristóvão, de seu irmão Honório, e com a Fazenda do

Centro, de seu irmão, Antônio.

Joaquim Vieira Machado da Cunha era casado com Ana Cunha e teve os

seguintes filhos: Maurício, Joaquim, Joaquina, Belizário, Lourenço, José, Francisco,

Lafayete e Maria. A Fazenda tinha como administrador José da Rosa Machado, que

posteriormente foi proprietário da Fazenda Boa Vista.

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Infelizmente não encontramos dados mais específicos sobre a Fazenda da

Prata em livros de cartório, mas o pouco que encontramos nos dá cota de que era

grande, assim como as demais fazendas da região. Não são poucas as historias que

ouvimos contar a respeito da forma como eram tratados os escravos e as escravas

desta fazenda, rendendo ao local o apelido de Fazenda do Suplício. Grande parte

das histórias contadas sobre os escravos não tem comprovação histórica. A única

construção do período que ainda está de pé é o cemitério com jazigo do fazendeiro

e sua esposa.

A Fazenda São Manoel também pertencia a um dos irmãos, Vieira Machado

da Cunha, Manoel Vieira Machado da Cunha, e se localizava próximo ao Vale do

Córrego de Boa Esperança, prologando-se até as matas, às margens do rio Castelo.

Segundo as poucas informações que conseguimos obter sobre a mesma, ela

possuía muitos escravos, casa e instalações majestosas.

Manoel Vieira Machado da Cunha era casado com Ana Rosa do Prado, filha

de uma família de Duas Barras. O casal teve os seguintes filhos: Lindalva,

Escolástica, Minerva, Mizael, Manoel, Alfeu, Pedro, Eliza, Ana e Maria. A dita

Fazenda mantém o mesmo nome até os dias de hoje.

Próximo à Fazenda São Manoel, foi fundada a Fazenda Ante-Portão, de

propriedade de João Pinheiro de Souza, casado com Francisca Vieira Machado de

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Souza, irmã dos Vieira Machado da Cunha. Ainda segundo informações, esta

Fazenda não tinha a mesma riqueza e opulência das outras regiões.

O casal proprietário da Fazenda Ante-Portão teve os seguintes filhos: João

Carlos, Adelaide, casada com Manoel Davel; Elisa, casada com Alfredo Magalhães;

Leonor, casada com Antônio da Silva Pinheiro; Carlos, casado com Lindalva;

Antenor, casado com Adelaide; Maria e Rosa, solteiras; e Virgínia, casada com

Camilo Homem de Azevedo (de Pindobas).

Por último, temos a fazenda Gabriel Vieira Machado, que apesar do mesmo

sobrenome, não era irmão dos demais. As fazendas de Gabriel chamavam-se

Universo e Conquista. Vejamos alguns dados sobres as mesmas.

Gabriel instalou-se em Castelo na mesma época dos demais fazendeiros, e

veio a falecer em 23/06/1871, deixando viúva a senhora Isabel de Sales Vieira e

órfãos dos filhos: Francisco de Sales Vieira Machado (9 anos), Isabel de Sales Vieira

(8 anos), Bernardo de Sales Vieira Machado (7 anos) e Lídia de Sales Vieira (3

anos).

As Fazendas Universo e Conquista tinha 40 mil pés de café e contavam com

19 escravos, sendo 9 mulheres e 10 homens. Para trabalhar na produção, Gabriel

Vieira Machado também contava com um rebanho de 2 bois, 3 vacas, 1 touro, 3

garrotes, 2 bestas, 2 cavalos, 6 porcos, um cachaço e 16 capados magros.

Em termos de ferramentas, as fazendas contavam com 9 foices, 2 machados,

ferramentas de ferrar, q serrote grande, 1 serrote de gurpião, ferramentas de

carpinteiro, 1 carro de boi em mau estado, 1 corrente para puxar madeira e 3 cangas

de boi. Possuíam também uma casa de moradia, paiol, tulha, senzala, moinho,

engenho de cana, casa para fornos, galinheiros, chiqueiro, cobertura para forno e

dois pastos cercados.

Com relação aos bens de utilidades domésticas, podemos dizer que não era

tão suntuosas, tomando como referência as demais fazendas. Elas possuíam

apenas 1 relógio de parede, uma abotoadeira de ouro, 1 cama, i oratório, 1

espingarda, 1 espada, mesas, bancos, tachos e bacias de cobre, além de um forno

de torrar.

As terras da Conquista, que não conseguimos encontrar o tamanho, foram

avaliadas, após a morte de Gabriel em 4.800.000 réis, e as da Fazenda Universo,

que também não encontramos o tamanho, foram avaliadas em 5.000.000 réis. As

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duas somavam um total de 9.800.000 réis. Só para o leitor ter uma ideias, a

Fazenda Povoação com três e meia sesmarias foi avaliada em 16.750.000 réis.

Para situar cronologicamente o leitor, é importante lembrar que o início da

construção das grades fazendas foi a partir de 1840, e o seu período de

prosperidade se estendeu até 1888, ano da abolição dos escravos. Não é demais

lembrar aqui, que estas datas têm como principal função situar historicamente o

leitor, e não criar datas estanques, com grandes rupturas.

Apesar das grandes extensões de terras e do poder dobre os que neles

habitavam, os fazendeiros não se permitiam muito luxo, ou seja, não gastavam seu

capital com aquilo que não estava diretamente ligado à produção cafeeira. Esta foi a

conclusão a que chegou Vilma Paraíso Almada em sua obra “Escravismo e

Transição”. Durante suas pesquisas, ela chegou aos seguintes números com

relação aos bens dos fazendeiros: na Fazenda Fim do Mundo, 82,3% dos bens do

fazendeiro eram em escravos e terras, e na Fazenda do Centro esse número era de

81,5%.

Após enumeras as características mais gerais, e também as mais específicas

sobre as fazendas, iremos analisar seu tipo de produção, pois a estrutura e a

organização das fazendas, que concentravam toda organização social da época,

estavam voltadas para produção, transporte e comercialização do café. Como nosso

enfoque sobre a história de Castelo parte do econômico, não poderíamos deixar de

analisar como estava organizado o Sistema de Plantation em nossa região.

9.2.4 – O Sistema PlantationO Sistema Plantation era usado nas colônias, e através dele, a metrópole

buscava se enriquecer. Nesta época, a partir de 1840, o Brasil já não era mais

colônia de Portugal, mas infelizmente nossa independência política não teve reflexos

na economia, que permaneceu com a mesma estrutura do período colonial. Sendo

assim, o Plantation imperou em Castelo, mesmo com o Brasil já independente. A

principal característica do Plantation era a utilização da mão-de-obra dos escravos,

pois todo e qualquer tipo de trabalho era feito por eles. Outra característica eram as

grandes extensões de terras para que pudesse ser cultivado um só produto, que

teria como endereço o mercado exterior.

Já que o destino da produção era o mercado externo, vejamos como se

processava o seu escoamento, pois sabemos que foi a partir de 1840 que se

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formaram nossas primeiras fazendas de café. Foi também neste período que

surgiram as primeiras casas comerciais localizadas na altura do rio (parte não

navegável em função das grande quantidade de pedras) que formaram a Vila de

São Pedro das Cachoeiras do Itapemirim atual município de Cachoeiro de

Itapemirim.

Não encontramos nada que falasse diretamente de como se transportava a

produção cafeeira das fazendas da região de Castelo, mas não é difícil refazer o

trajeto, já que dispomos de informações que nos podem auxiliar nesta tarefa. No

período do ouro, o transporte era feito através do Rio Castelo, passando pelo Rio

Itapemirim e daí se dirigindo a Vitória ou ao Rio.

O café, por ser um produto mais volumoso do que o ouro, apresentou mais

dificuldades para ser transportado. A primeira dificuldade por qual passou foi não

poder utilizar o Rio Castelo como meio de transporte, pois o volume da água deste

rio não era suficiente. Sendo assim, a produção seguia até a Vila de São Pedro das

Cachoeiras de Itapemirim no lombo de animais e em carros de boi. Esta versão se

confirma à medida que encontramos nos diversos inventários de bens das fazendas

pesquisadas um número razoável de animais de cargas, bem como as cangas,

juntas e carros de boi.na Vila, o café era colonizado e daí seguia em pequenos

barcos até o porto de Itapemirim. A Vila de São Pedro das Cachoeiras do Itapemirim

servia como entreposto comercial de toda a região, pois lá se concentrava um

considerável número de comerciantes oriundos de Portugal e do Rio de Janeiro, que

estabelecidos no Largo de São Pedro, negociavam fazendas, roupas feitas,

armarinhos, ferragens, calçados, louças, sal entre outras coisas.

O comércio varejista esbarrava em um grande obstáculo, que era a auto

insuficiência das fazendas que produziam praticamente tudo que era necessário

para viver naquela época. O que realmente impulsionava a Vila era a

comercialização e o transporte do café. Sua localização também era de importância

fundamental, já que a mesma ficava no centro de uma grande região produtora de

café, e ainda contava com um rio que dava condições de escoar o produto até o

Porto de Itapemirim.

A ligação fluvial não era a única da Vila com o Porto de Itapemirim, existia

também a terrestre, que inclusive era amais rápida, gastando a metade do tempo

que a fluvial. Apesar de rápido, o transporte terrestre em precárias estradas e em

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lombos de animais ficava impraticável no período de chuvas, e a quantidade

transportada por terra era muito inferior à transportada através do rio.

Foi em busca de rapidez e eficiência para o transporte fluvial, que o Capitão

Deslandes inaugurou, em 03 de abril de 1876, a linha de vapores para cargas e

passageiros, substituindo as antigas e lentas embarcações anterior que se

deslocavam ao sabor dos ventos e da força de seus condutores. As ferrovias, tão

comuns nas regiões produtoras de café de São Paulo e do Rio de Janeiro, só foram

implantadas em nossa região a partir de 1891, período em que as grande fazendas

já haviam iniciado seu processo de desintegração.

De forma geral, os meios de transporte eram muito precários no período

inicial das grandes fazendas, onde somente burros e bestas de cargas conseguiam

chegar a todo Espírito Santo. Existia somente a estrada geral que cortava a

Província de norte a sul pelo litoral, com entroncamento para as vilas do interior, o

caminho do Itapemirim às minas do Castelo, com 12 léguas, a estrada da Baía do

Espírito Santo a Viana, em antigas e abandonadas estradas que ligavam as remotas

fazendas jesuítas.

9.2.5 – Os EscravosDedicaremos uma parte deste trabalho ao estudo sobre a escravidão nas

fazendas de Castelo. Todo o sistema de produção, transporte e comercialização até

aqui descrito, só foi possível graças à utilização da mão-de-obra escrava. Eram o

suor, o sangue e a própria vida dos escravos que movimentavam toda essa cadeia

de produção.

Se existe uma etnia que deve se orgulhar de ter trabalhando pelo progresso e

desenvolvimento de nosso município em sua fase inicial, com certeza, é a negra,

pois foi através de seu trabalho, e em detrimento de sua liberdade e de todos os

demais direitos inerentes ao seu humano, que se construíram as grandes fazendas

que acabaram por dar origem à Vila, e posteriormente ao Município de Castelo.

Desde as primeiras derrubadas, com apenas foices e machados para se plantar o

café, passando-se pela plantação, cultivo , colheita e transporte do produto, nas

construções das casas, em sua manutenção, e também na abertura das estradas,

estava a mão-de-obra escrava.

O aumento da produção no sul da província se deu a partir de 1850, em

função da produção do café.

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Na freguesia de São Pedro do Cachoeiro, que incluía as terras do Castelo,

em 1872, metade da população era de escravos, todos de migração interna, já que o

tráfico de escravos direto da África foi proibido em 1850.

A escravidão se torna algo inexplicável e inaceitável aos nossos olhos hoje,

mas enquanto vigorou foi plenamente aceita e desfrutada pela maioria da população

livre. O escravo era considerado um objeto qualquer, uma ferramenta de trabalho.

Os escravos eram comprados e vendidos, ou seja, comercializados como animais

ou fazendas. Enquanto propriedade de seu senhor, o escravo existia para servir ao

mesmo. Seus sentimentos, sonhos e aspirações não eram levados em conta, e sua

vida estava nas mãos do seu senhor, que podia comercializá-lo, trocá-lo, enfim,

fazer o melhor que lhe fosse favorável.

Existia todo um aparato ideológico para que o absurdo da escravidão fosse

não só aceito, mas considerado como necessário e indispensável ao progresso não

só de nossa região, mas de todo o país. Este aparato atuava em duas frentes, uma

direcionada à população livre, e outra ao próprio escravo. Esta ideologia consistia

basicamente na superioridade do senhor e na submissão dos escravos.

Não era a cor da pele que justificava a escravidão, pois outras raças, como o

índio já haviam sido escravizadas no Brasil e provavelmente em Castelo. Sendo

assim, o que justificava a escravidão era a suposta inferioridade que era incutida na

cabeça dos escravos e propaganda por toda sociedade. Muitas vezes os escravos

acabavam por refletir o que a sociedade pensava sobre eles, e incorporavam a

equivocada inferioridade. E assim surge o preconceito racial no Brasil e em nossa

região, pois à medida que o próprio escravo assume a suposta inferioridade, a

sociedade livre, em geral, acredita na mesma.

Desta forma, o preconceito racial surge na necessidade de se justificar o

injustificável: a escravidão. Apesar desta macabra origem, ainda hoje encontramos

pessoas que defendem a superioridade da raça branca, fazendo eco às antigas

ideologias escravistas. É claro que só a ideologia não funcionava, e mesmo com

grande esforço da Igreja e da sociedade da época, aconteciam rebeliões e fugas de

escravos, entrando em cena o aparato repressivo do Estado com suas milícias e

também a segurança privada dos fazendeiros com jagunços e feitores.

Basicamente era essa a rotina dos escravos nas fazendas de café de castelo.

Às 5 horas já estavam todos de pé e prontos para tomar o café, que era um pedaço

de broa de milho regado a café. Antes de se dirigirem ao trabalho nas lavouras eram

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obrigados a rezar. Nesta oração matinal difundia-se, com certeza, a superioridade

da raça branca e a necessidade da submissão negra através do trabalho, para que

aquelas pobres almas obtivessem o paraíso após a morte. Terminada a oração, os

negros se dirigiam à lavoura, onde às 9 horas, recebiam o almoço em grandes

gamelas comunitárias.

Às doze horas era a vez do café com batata assada, banana, angu e café par

não engasgar. Às 16 horas, mais uma refeição, que servia como jantar, pois os

escravos só retornavam às suas senzalas ao anoitecer, quando recebiam a última

refeição do dia, que era broa de milho com café, ou às vezes, para variar, angu com

melado de cana. No período de frio, eles recebiam um pouco de aguardente para

esquentar, e os fumantes uma quantidade de fumo. Às 20 horas se recolhiam para

dormir, mas não sem antes fazer as orações e terem aulas de catecismo, para que

não esquecessem de sua inferioridade e necessidade de submissão para agradar a

Deus.

A organização econômica de Castelo, em cima da mão-de-obra escrava e

monocultura para exportação, inicia-se quando o sistema escravista começa a se

desestruturar em vários lugares do Brasil, a partir de 1850, por pressões internas e

externas, mais pelas últimas do que pelas primeiras. Desta forma, o período em que

foi utilizada a mão-de-obra escrava em nossa região foi curta, em comparação a

outras regiões. Buscaremos percorrer os caminhos trilhados pelos negros de nossa

região até a liberdade.

As relações sociais de trabalho em uma sociedade escravista não são nem

um pouco tranquilas. Eram comuns os confrontos entre escravos fugitivos e a

polícia. Tais confrontos geravam pânico na sociedade da época. Os quilombos, que

para os negros representavam a liberdade, para a população não escrava eram

motivo de preocupação. A única maneira de um escravo fugitivo sobreviver era ir

para os quilombos, pois em grupos eles desenvolviam os mecanismos de

sobrevivência, que muitas vezes infringiam às leis da época. Na ânsia de

sobrevivência, e ao mesmo tempo de vingança, os negros rebeldes promoviam

assaltos, assassinatos e sequestros que aterrorizavam as pessoas. Em uma

sociedade onde o simples fato de ser livre é uma infração às leis vigentes, fica difícil

de se estabelecer um juízo de valor.

Entre os abolicionistas de nossa região percebia-se um forte tendência

conservadora dos que acreditavam em uma liberdade lenta e gradual, condenando a

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liberdade por fugas dos escravos. Para esses senhores, o meio de conseguir a

liberdade era através das associações abolicionistas, onde se angariavam fundos

com a finalidade de comprar, junto aos donos dos escravos, as alforrias dos

mesmos. Uma grande incoerência, que explorava as raias do absurdo, pairava sobre

o movimento abolicionista, pois os mesmos que defendiam a liberdade, condenavam

as fugas dos negos e os quilombos.

Desta forma esses abolicionistas negavam aos negros o direito de serem

sujeitos de sua própria história. Indiferentes à ação dos abolicionistas, os negros

tinham seus próprios meios de lutar contra a escravidão, sendo os principais as

fugas, os suicídios, os abortos, os assassinatos de feitores e de senhores, o

desperdício e a lentidão na execução dos serviços. Não foram os anúncios

publicados em jornais da época, que ofereciam recompensa a quem desse o

paradeiro de escravos fujões. Este fato nos leva a crer que o número de escravos

fugitivos na região das grande fazendas de Castelo foi muito grande. Parece-nos

muito sugestivo, inclusive, em nosso município ter uma localidade denominada

Quilombo. Ora, o que era o quilombo senão o reduto desses escravos que

sonhavam com a liberdade? Provavelmente, só teremos comprovação desses fatos

com escavações arqueológicas na região. Mas, tudo leva-nos a crer que no passado

de escravidão em Castelo, onde hoje é “Quilombo”, tenha sido uma comunidade de

escravos fugitivos das grandes fazendas de café.

Robson Luís Machado Martins, em seu livro “Os Caminhos da Liberdade”,

onde enfoca a questão da escravidão na província do Espírito Santo de 1884 a

1888, afirma que foram dois os motivos que levaram os negros de nossa região à

liberdade. O primeiro foi a concessão, por parte dos fazendeiros, de um grande

número de cartas de alforria, às vésperas da abolição. E, o segundo motivo foram os

próprios negros, que atentos a tudo que se passava ao seu redor e percebendo a

fragilidade da estrutura escravista em sua fase final, promoviam fugas e distúrbios

para atingirem a liberdade.

Com concessão de cartas de alforria em massa, os fazendeiros buscavam

conquistar a simpatia e a gratidão dos escravos, para que os mesmos continuassem

em suas fazendas depois da abolição, que aconteceria em questão de dias. E, em

13 de maio de 1888, a tão sonhada liberdade chegou. As comemorações se

espalharam por todos os lados, e muitos temiam que o acontecimento fosse

desencadear o caos e o fim das atividades produtivas. Enfim, que havia construído

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toda a riqueza que existia em nossa região com o esforço de seu trabalho, é

colocado em liberdade, mas sem um mínimo de direito de desfrutar de toda riqueza

que construíra.

9.2.6 – A Decadência das Grandes Fazendasa abolição da escravidão representou o fim de uma era em nossa região. As

grandes fazendas produtores de café não resistiram ao duro golpe da abolição da

escravidão e iniciaram um processo de decadência, que no caso especifico da

região de Castelo, constituiu na divisão da terra, formando pequenas propriedades.

O problema da falta de mão-de-obra não foi o único responsável pelo fim da era das

grande fazendas em Castelo, a ele se juntaram outros, que acabaram de compor um

cenário totalmente desfavorável à existência das mesmas. Entre esses problemas

secundários, podemos enumerar alguns como, a dificuldade de transporte devido à

precariedade das estradas, a baixa produção da região sul, em termos de Brasil, o

grande número de terras hipotecadas no Banco do Brasil, e também o pouco

investimento em máquinas de beneficiamento da produção. Estes fatores eram

consequências da baixa produtividade e lucratividade de nossas fazendas, quando

comparadas às do Rio e de São Paulo.

A abolição da escravidão era algo esperado e inevitável, mas mesmo assim

nossos fazendeiros não se prepararam para a transição da mão-de-obra escrava

para a assalariada, mesmo porque eles não estavam capitalizados o suficiente para

tanto. Diante da natural aversão dos antigos escravos ao trabalho rural, a solução

para o problema da mão-de-obra foi a vinda dos imigrantes europeus, no caso

específico de Castelo, em sua grande maioria, os italianos.

Na tentativa de resistir a uma situação adversa e mediante ao processo

agonizante por qual passavam suas propriedade devido à carência de mão-de-obra,

os fazendeiros busca formar com os imigrantes recém-chegados ao velho mundo,

contratos de parcerias. Tais contratos não surtiam efeito por motivos óbvios, já que

era grande o número de terras devolutas, e o Estado as vendia por preços

convidativos ou simplesmente as cedia nos Núcleos coloniais, como o do Rio Novo.

Desta forma, os que atravessaram o Atlântico sonhado com uma nova vida, não se

sujeitaram ao trabalho de parceria por muito tempo, visto que com um pouco de

sacrifício podiam adquirir sua própria terra. A forma de lidar com a mão-de-obra que

os fazendeiros estavam acostumados, com certeza, acelerou o processo de

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independência dos imigrantes, pois por pior que fosse a vida que levavam na Itália,

ela não era igual ao tratamento recebido pelos escravos nas lavouras e senzalas, e

que por força do hábito, os fazendeiros dispensavam aos imigrantes.

Dedicaremos as próximas linhas à segunda fase da produção de café em

Castelo, contando agora com um fator novo, a presença do imigrante italiano, que

veio se juntar aos que aqui, durante séculos, construíram a história do que veio a se

tornar o município de Castelo. Buscaremos abordar os principais aspectos deste

período, cem como os desdobramentos dos acontecimentos que influenciam

diretamente o nosso presente.

9.3 – Segunda Fase da Produção do Café em Castelo

9.3.1 – Os Imigrantes: motivos da vindaExplicar o grande afluxo de pessoas no processo de migração requer

conhecer as causa que as levaram a tal atitude e as causas que levaram um país

estranho a recebe-las. Com certeza, a natureza sócio-político-econômico de tais

países é a resposta para tal indagação. A conjuntura da maneira como se processa

a saída e a entrada dessas pessoas, suas decepções, suas mágoas, suas

necessidades, seus sonhos, suas ilusões, tudo se mistura nessas situações.

Algo de mito forte estava acontecendo em alguns países europeus para que

populações estivessem abandonando suas práticas, em especial na Alemanha e na

Itália, esta última de maneira muito particular, pois apesar dos alemães terem vindo

primeiro, os italianos os superaram em quantidade. Houve várias migrações ao

longo do tempo, sendo estimuladas para o Brasil, forçadas, como a dos africanos,

na condição de escravos, ou livres, como as dos açorianos, suíços, alemães,

italianos, pomeranos e outros. O próprio governo português se incentivava como

incremento à nossa colonização. Vários sistemas foram criados para tal objetivo,

porém com muitos erros e fracassos.

Mas a migração ocorrida no final do séc. XIX superou as que já haviam

acontecidos.

Por que a Itália e a Alemanha? O que estava ocorrendo nestes países? O que

motivou as pessoas a abandonarem o que tinham, rumo a uma pátria estranha?

A resposta está na unificação tardia que se processou nesses países.

Passaram ao longo do tempo, divididos, com interesses particulares e externos para

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que assim continuassem. Mas os rumos da história na Europa acabariam por levar

esses povos de mesma cultura, ao objetivo de se constituírem em nações

autônomas. E, as ideias nacionalistas e liberais vão, e muito, contribuir para isso.

Tão longe a unificação ocorre, ocorre também a implantação do capitalismo

que impulsiona o aumento considerável da produção, sem a menor necessidade da

mão-de-obra. É esta sobra de população pobre e sem trabalho que leva à imigração.

O ato de migrar sempre esteve presente em toda história da humanidade,

desde os tempos mais remotos até os dias de hoje. O imigrante busca com seu ato

um lugar melhor para viver. E, alimentados por esse sonho, milhares de imigrantes

italianos atravessaram o oceano e vieram para o Espírito Santo construir uma nova

vida.

Analisaremos o fenômeno de imigração italiana sobre dois aspectos, pois

acreditamos que um fenômeno de tal magnitude, não se processa com um motivo

isolado. A imigração só se tornou realidade pela conjunção de alguns fatores: de um

lado, nossa pátria carente de mão-de-obra com a eminente e inevitável abolição dos

escravos, e do outro lado do Atlântico, mais precisamente na Itália, um número

crescente de pessoas que não eram absorvidas pela industrialização italiana.

O que faltava aqui, sobrava lá. Desta forma, a imigração era útil para os dois

países, sendo inclusive um ato estatal. Para o governo brasileiro era a possibilidade

de incrementar a produção agrícola e povoar as regiões desabitadas. Para a Itália

era uma das maneiras de manter o controle social, já que com a imigração diminuía-

se o número de habitantes mais miseráveis, e consequentemente abrandava as

pressões sociais por mudanças.

Vejamos agora, de forma separada, as duas questões. Primeiro, o crônico

problema da falta de mão-de-obra em nossa região, e posteriormente, o excedente

populacional não absorvido pela industrialização na Itália. Se “para um pé torto

sempre existe um sapato errado”, para o vazio populacional do sul do Espírito Santo,

existia o excedente populacional da Itália.

Como afirmamos anteriormente, o Espírito Santo funcionou durante um longo

período como barreira de proteção às minas de ouro das Gerais. Desta forma, ser

desabitado era uma necessidade. Mas, passado o período do ouro em Minas, nossa

Estado perde essa função, iniciando-se assim uma tentativa estatal de povoar o

Espírito Santo. O café era a principal atividade econômica, mas carecia de um

grande número de mão-de-obra escrava, que estava cada vez mais escassa. Em

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1850, em pleno início da produção de café em Castelo, é lançada a Lei Eusébio de

Queirós, que proíbe a importação da escravos.

Com o advento de tal Lei, resta aos fazendeiros locais a compra de escravos

somente de dentro do Brasil, de outras regiões outrora ricas e prósperas. A partir de

1850, ocorre uma elevação do preço dos escravos, graças à diminuição de seu

número. Assim, os problemas de mão-de-obra nascem junto com a própria cultura

cafeeira castelense. À medida que o capitalismo avançava, ficava evidente sua

incompatibilidade com a escravidão, e a necessidade do trabalho livre era cada vez

mais visível.

Se o capitalismo necessitava de trabalhadores livres para criar um mercado

interno de consumo, por que não libertar os escravos, para que eles fossem os

consumidores? Não é nossa intenção dar respostas a questões tão abrangentes,

mas acreditamos que os séculos de escravidão e suas terríveis consequências

seriam um grande empecilho para que o negro fosse transformado subitamente em

um livre consumidor, e de fato isso não ocorreu. A abolição não foi acompanhada

pela integração do negro à sociedade e ao mercado de trabalho, devido ao fato de

que permanecer nas fazendas, para os negros, era a continuidade da condição de

escravos, já que mesmo com a libertação, era assim que os fazendeiros os

enxergavam.

A opção encontrada para o crônico problema de mão-de-obra foi incentivar a

vinda de trabalhadores europeus, e neste período, os países que tinham uma

conjuntura interna que favorecia a emigração eram a Itália e a Alemanha. E é

justamente essa conjuntura que iremos analisar.

A Itália e a Alemanha foram os últimos países europeus a se unificarem, e

essa demora na solução dos problemas políticos trouxe implicações econômicas.

Faremos um breve relado sobre a Itália no fim do século XIX, período em que se

iniciou a imigração.

A Unificação da Itália ocorreu em 20 de setembro de 1870, portanto, a Itália,

dentro do conceito de Estado Moderno, é um país mais novo que o Brasil. No

período em que antecedeu a imigração, a Itália estava dividida em 7 reinos

independentes.

O sul, onde predominavam as invasões estrangeiras de muçulmanos,

alemães, franceses e espanhóis, era cobiçado devido a sua posição estratégica na

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rota comercial do Mediterrâneo. As seguintes invasões eram importantes fatores

que dificultavam a unificação.

A região central era dominada pela Igreja, que temerosa com uma possível

unificação que lhe confiscasse a autonomia, agia de forma a impedir a unificação.

Os papas buscavam enfraquecer qualquer tipo de Aliança entre as regiões italianas,

desta forma buscavam nunca ter que se submeter a um governo leigo central.

A região mais próspera era o norte, que por estar localizada mais ao centro

do continente europeu, fez valer sua vocação comercial. As cidades de Gênova e

Veneza, que desde as cruzadas, já estavam inseridas na rota comercial da Europa,

eram independentes economicamente, o suficiente para se manterem livres das

invasões estrangeiras.

O avanço do capitalismo exigia a formação de Estados nacionais com livre

circulação de dinheiro, pessoas e mercadorias, e as diferenças internas e o poder da

Igreja acabaram por se render a essa exigência. Coube ao Reino de Piemonte,

localizado ao norte da Itália, a tarefa da unificação, que se estendeu por 20 longos

anos de duras batalhas, até que em 20 de setembro de 1870, Vittório Emmanuel II

de Roma, proclama o Reino da Itália.

As bases para a formação do Estado italiano foram burguesas, e por isso, o

grosso da população era ignorada. As massas não figuravam nem mesmo no

conceito do povo, que para a recém-unificada Itália eram somente os burgueses, os

funcionários, os comerciantes e os advogados. Apesar de terem participado de

vários levantes no processo de unificação, os pobres da Itália não se beneficiaram

da mesma. A burguesia italiana lutava contra a Áustria e o Boursbons, mas o

restante da população, além de se libertar destes, queria se livrar também dos

patrões, e exigia terras e liberdade. A unificação italiana, portanto, atendeu apenas

aos burgueses.

Para os não-beneficiados pelo processo de unificação (os pobres) restou a

possibilidade de construir seus sonhos na América, pois a pátria pela qual lutaram

para unificar e arrancar das mãos dos estrangeiros, agora os estava expulsando. A

Itália recém-unificada continuou sendo um pais de poucos. A unificação não rompeu

as rígidas estruturas sociais excludentes, e foram justamente os excluídos no

processo de criação do país que engrossaram as filas de embarques nos portos,

rumo a um novo mundo, rumo a uma nova vida.

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Quando do início da vinda dos imigrantes, a Itália possuía 30 milhões de

habitantes, sendo que desse total, 21 milhões viviam no campo. Em uma pesquisa

agrária ordenada pelo Parlamento italiano concluiu-se que os italianos, em sua

maioria, levavam uma vida difícil, onde faltava de tudo: do alimento até o tratamento

médico. A miséria era tanta, que na tentativa de conseguir algum dinheiro, difundiu-

se entre eles o costume de vender as crianças. A malária matava 40.000 pessoas

por ano, e a cólera, entre 1884 e 1887, matou 55.000, sendo que esses altos índices

atingiam com mais frequência as crianças.

A Itália era um país excepcionalmente agrícola, e de uma agricultura

extremamente rudimentar. As práticas era as mesmas usadas no período do Império

Romano. Em um país extremamente populoso, com uma miséria crescente, a

possibilidade de emigrar para um lugar com terras abundantes e virgens era um

sonho. O medo do desconhecido e da possível falta de estrutura da nova terra era

insignificante diante dos fantasmas da fome e da miséria.

A busca da terra, e através dela, da dignidade social, foi o motivo da vinda

dos imigrantes para o Brasil, e mais especificadamente para nossa região do sul do

Espírito Santo. Mais de 100 anos se passaram, e ainda hoje, pessoas lutam por seu

pedaço de terra e pela dignidade que ele possa lhes proporcionar.

A imigração ajudou a preencher o vazio demográfico do Espírito Santo ao

mesmo tempo em que aliviou a pressão interna na Itália. Além disso, proporcionou

uma nova realidade para os imigrantes, que preferiam enfrentar todas as

dificuldades que passavam a continua vivendo sem nenhum tipo de perspectiva e na

mais absoluta miséria no velho continente.

9.3.2 – Núcleo Colonial CasteloApesar do nome, o referido núcleo colonial não tem nenhuma relação direta

com nosso município, nem tão pouco ficava nos limites de onde hoje é o município

de Castelo. Mas a abordagem de sua História se faz necessária, pois foi um dos

pioneiros no acolhimento aos imigrantes no sul do Estado, e de lá, muitos

imigrantes, posteriormente, se dirigiram a Castelo.

Antes de entrarmos direto na questão dos primeiros núcleos coloniais, é

necessário dedicarmos algumas linhas à viagem dos imigrantes. Atraídos pelas

propagandas que lhes garantiam terras e condições de produção, muitos italianos se

lançaram em cansativas viagens até o Espíritos Santo. As primeiras viagens

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chegavam a durar 4 semanas, quando os navios eram movidos à vela e também a

vapor. A partir de 1880, os navios movidos à hélice diminuíam essas viagens, que

passavam a durar entre 10 a 15 dias.

Durante as viagens, os homens jogavam baralho, e as mulheres faziam tricô.

Os alojamentos eram comunitários, chegando a ter 10 leitos por quarto. As refeições

iam piorando à medida que a viagem avançava. As ondas sacudiam o barco e

provocavam enjoo nos passageiros. As condições de higiene não eram das

melhores, e os sanitários eram poucos. Torna-se inevitável uma comparação com a

viagem que os negros faziam até chegarem a América, pois por piores que fossem

as condições que os imigrantes tinham, não chegavam nem aos pés, em termos de

dificuldades, das dos negros. As condições das viagens dos negros eram tão

terríveis e desumanas que mais da metade deles morriam durante o percurso até

chegarem à América.

Estabelecidas as condições das viagens, podemos nos ater à questão dos

núcleos coloniais propriamente ditos. Os primeiros núcleos coloniais ao Espírito

Santo foram as colônias de Santa Izabel, Santa Leopoldina e Rio Novo, sendo esta

última a que nos interessa. A colônia de Rio Novo foi fundada em 1854, e segundo

seu estatuto, chamava-se Associação Colonial do Rio Novo, mas seu sócio

majoritário e fundador, Caetano Dias da Silva, controlava toda a colônia. O major

português e ex-traficante de escravos, que com o fim da atividade que praticava,

resolveu mudar de ramo e investir nos imigrantes.

A Colônia Rio Novo difere-se das demais por se tratar de um investimento

inicial privado, enquanto que as outras eram de caráter estatal.

Enquanto os imigrantes tinham a posse total da terra nas colônias de Santa

Izabel e Santa Leopoldina, na de Rio Novo a posse era parcial, ficando o imigrante

ligado e dependente do grupo empresarial controlado pelo antigo traficante de

escravo, Major Caetano Dias da Silva. Os lotes que os imigrantes recebiam eram em

tamanho bastante reduzido, e muitas vezes em lugares pantanosos ou pedregosos.

Em 1871, no dia 7 de outubro o governo indeniza os antigos proprietários, e a

colônia Rio Novo passa para as mãos do Estado sobre o comando do engenheiro

Carlos Kraus.

Os primeiros imigrantes que lá chegaram foram os chineses. Os italianos só

chegaram em 1875, oriundos da Região do Trento. Em 1880, a Colônia Rio Novo é

emancipada, e os imigrante italianos que continuavam chegando, passaram a

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ocupar o recém-criado Núcleo Colonial Castelo. Estas experiências com o trabalho

dos imigrantes nos núcleos coloniais funcionaram concomitantemente com o

trabalho escravo, que era responsável pela maior parte da população. Com o fim da

escravidão em 1888, abriram-se vários postos de trabalho para os imigrantes, que

passaram a ter como opção de trabalho, além dos núcleos coloniais, as antigas

fazendas escravocratas.

O núcleo Colonial Castelo foi criado em 6 de março de 1880, às margens do

rio Benevente, ao norte da Colônia Rio Novo, e era dirigido por Joaquim Adolpho

Pinto Pacca, antigo diretor da Colônia Rio Novo. Logo em 1881, no dia 28 de maio, a

Colônia Castelo foi emancipada. Neste mesmo ano ela contava com 1.079

habitantes, que cultivavam 150.000 pés de café. A população, em 1888, já era de

2.388 habitantes, e estava dividida em seis seções: Cachoeirinha, Alexandrina,

Carolina, Maravilha e Iracema.

O Núcleo Colonial Castelo se transformou na Vila de Alfredo Chaves, e

posteriormente, em um município de mesmo nome. O conhecimento da história da

Colônia Rio Novo e do Núcleo Castelo é de grande importância para a compreensão

da história dos imigrantes italianos em Castelo, pois muitos destes imigrantes

partiram desses locais, após da Abolição da Escravidão, para trabalhar nas

fazendas de nosso município.

Nos núcleos coloniais, os imigrantes recebiam gratuitamente um pedaço de

terra, que mesmo a duas penas, lhe garantiam a sobrevivência e até mesmo o

acúmulo de capital. Mas por outro lado, existia a necessidade dos fazendeiros de

substituir a mão-de-obra escrava, e eles viam no imigrante a salvação para seus

problemas. Os recém-chegados imigrantes estavam em um dilema: sucumbir aos

interesses dos fazendeiros e trabalhar nas grandes fazendas, ou conquistar sua

liberdade e independência financeira trabalhando em sua própria propriedade?

Veremos agora quem ganhou essa queda de braço: os imigrantes ou os

fazendeiros.

9.3.3 – A Luta dos Imigrantes Contra os FazendeirosOs imigrantes que chegavam ao Espírito Santo tinham duas opções:

dirigirem-se aos núcleos coloniais, Castelo e Colônia Rio Novo, ou irem substituir o

trabalho dos escravos nas fazendas de café já estruturadas. A grande maioria das

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famílias optou pelos núcleos coloniais: outras, no entanto, vieram diretamente para

as fazendas de Castelo, subindo pelo rio Itapemirim, até chegarem ao destino.

Os fazendeiros de nossa região estavam acostumados a lidar com escravos,

e para com esses tinham um tratamento semelhante ao dispensado aos animais, e

esta realidade não mudaria de maneira rápida. Sendo assim, os imigrantes que se

dirigirem às fazendas não teriam tratamento muito diferente ao dispensado aos

escravos. Na verdade, os fazendeiros de nossa região não se prepararam para o fim

da escravidão, e perderam o bonde da história, ou seja, se adaptaram à nova

realidade, onde teriam que remunerar o que antes era de graça.

A ideia da substituição do trabalho pelos imigrantes europeus não era bem

aceita pelos fazendeiros, que achavam que os europeus, por serem provenientes de

onde eles consideravam uma civilização mais avançada, não se adaptaram ao

regime de trabalho duro. Os fazendeiros preferiam os chineses e africanos, por

considerarem os mesmos de raça inferior. Além disso, queriam que o Estado

importasse os trabalhadores, construíssem casa de detenção e um forte aparelho de

justiça para controlar os futuros trabalhadores. Todos os gastos do Estado neste

processo seriam reembolsados pelos fazendeiros, que por sua vez, descontariam os

valores dos imigrantes (africanos e chineses). Se esta proposta fosse aceita, os

imigrantes trabalhariam, no mínimo, 5 anos de graça para pagarem seus patrões. Na

prática, era a continuação da escravidão.

Com o fim da escravidão e a rejeição, por parte do Estado, da proposta de

imigração feita pelos fazendeiros, os mesmos não tiveram outra opção senão aceitar

os italianos que aqui já se encontravam para substituir os escravos. Mas era uma

relação que já havia nascido fadada ao fracasso por motivos óbvios, pois os dois

lados envolvidos na questão não iriam atender às expectativas uns dos outros; nem

os fazendeiros ficariam satisfeitos com o trabalho dos imigrantes (pois estavam

acostumados com o trabalho escravo), nem os imigrantes se satisfaziam com o

tratamento dispensado pelos fazendeiros.

A imensa maioria dos imigrantes preferiu o óbvio, que era trabalhar nas terras

doadas pelo governo, e muitos dos que preferiam o trabalho nas fazendas se

arrependeram posteriormente e se transferiram para os núcleos coloniais. A queda

da braço entre fazendeiros e imigrantes foi vencida pelos imigrantes por uma série

de razões. Umas dessas razões foi a fragilidade econômica e política por parte dos

fazendeiros que não tiveram seu projeto de importação de mão-de-obra aceito pelo

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governo. Um fator que contribuiu a favor dos imigrantes foi em relação às condições

dadas a eles nos núcleos coloniais, que se não eram melhores, eram, sem dúvida,

mais atraentes que as dos trabalhos nas antigas fazendas escravocratas, e até

mesmo que na antiga terra natal.

Mas os fazendeiros não perderam a batalha sem luta. Uma das poucas

tentativas no sentido de se adaptarem ao problemas da falta de mão-de-obra foi a

criação da colônia Rio Novo, em 1854. Com essa colônia de iniciativa privada

buscava-se atrair imigrantes, em especial chineses, que posteriormente, devido às

propositais más condições de sobrevivência nos pequenos lotes recebidos,

substituíram os escravos nas lavouras. Essa tentativa não obteve êxito, e poucos

chineses se deslocaram para a colônia Rio Novo. A referida colônia sé teve um

incremento populacional com a chegada dos italianos em 1875, mas aí já estava sob

controle do Estado, e as condições eram outras, bem melhores.

Com a derrota dos fazendeiros devido ao mau planejamento e a dificuldade

de se adaptarem ao novo tipo de mão-de-obra, as antigas e grandes fazendas de

café foram se desmembrando entre os herdeiros, que cada vez mais enfraquecidos,

acabavam por vende-las aos pedaços (lotes) aos italianos. As grandes fazendas vão

gradativamente se transformando em um mosaico de pequenas propriedades, quase

sempre nas mãos dos descendentes dos italianos.

Trabalhando por conta própria, os italianos conseguiram com muito esforço se

capitaliza, e à medida que a família crescia, ia adquirindo mais terras. É essa

trajetória que veremos agora.

9.3.4 – O Caminho dos Imigrantes até CasteloTudo era novidade para os italianos na nova terra: o clima, a geografia da

região, as diferentes raças (índios e negros), a floresta tropical, os animais, enfim,

tudo era diferente. Os imigrantes sofreram mudanças em todos os sentidos: no

econômico, pois agora eram donos de sua própria terra: no social, já que teriam que

aprender a conviver com raças totalmente diferentes, oriundas das mais distantes

partes do mundo: no geográfico devido às grandes distâncias a percorrer para

chegar aos centros urbanos, e naturalmente, no psicológico, diante de tantas

novidades.

Com tantas mudanças, como seria o dia-a-dia dos imigrantes nos núcleos

coloniais? O Império brasileiro oferecia ao imigrantes, além de terras, a passagem e

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a ajuda em dinheiro até a primeira colheita. Além de trabalharem em sua terra, os

imigrantes eram recrutados e remunerados para a abertura de estradas e outros

serviços. Nos núcleos coloniais, principalmente o Castelo, ainda criavam gado em

pequenas quantidades, que servia para o consumo da família e para o

abastecimento de um insipiente mercado local.

Cm muita dificuldade, pois não contavam com ferramentas apropriadas, os

imigrantes derrubavam as matas e iniciaram a formação de suas lavouras,

principalmente do café. Mas a fertilidade das terras recebidas no núcleo colonial

Castelo não era das melhores, ela era denominada pelos imigrantes de “La terra

magra”. A lavoura de café leva algum tempo para produzir, e ,na época, a demora

chegava a cinco dias, e neste período, os italianos trabalhavam nas grandes

fazendas de café da região em substituição aos escravos, fazendo assim uma

jornada dupla de trabalho.

E é através dessa dupla jornada que tiveram contato com as férteis terras das

fazendas de Castelo, onde também já haviam alguns compatriotas trabalhando

como meeiros para os fazendeiros. Mesmo sendo temporário, o trabalho dos

imigrantes deum uma sobrevida aos antigos fazendeiros escravocratas, as não por

muito tempo, pois logo que os italianos juntavam algum dinheiro, fosse ele no

trabalho de meeiro ou nos núcleos coloniais, eles abandonavam o trabalho nas

fazendas para adquirir sua propriedade.

A intenção dos italianos ao deixarem sua terra natal era a de serem

proprietários, esta meta foi alcançada, em parte, pelos que se dirigiam aos núcleos

coloniais. A realização só não foi total porque a terra sonhada deveria ser fértil, o

que era o caso do núcleo colonial Castelo. Após receberem o dinheiro da venda das

primeiras colheitas, muitos dos imigrantes do núcleo colonial Castelo, passaram

adquirir propriedade e a se transferirem para a região do futuro município de

Castelo.

O movimento interno de imigrantes em direção a Castelo foi favorecido por

alguns fatores como, a fertilidade do solo e os baixos preços das terras devido à

carência de mão-de-obra. Os descendentes dos grandes fazendeiros pioneiros no

cultivo de café em Castelo vendiam suas propriedades aos italianos e se transferiam

para as cidades maiores, ou até mesmo para o próprio centro do Distrito de Castelo,

para se dedicarem a outras atividades. Como exemplo, a família Vieira Machado da

Cunha, que parte da mesma se dirigiu à sede do distrito de Castelo, e os outros para

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o Rio de Janeiro; a família Bernardes de Suxa, proprietários da Fazenda Santa

Helena, que se dirigiram a Cachoeiro de Itapemirim. Os fazendeiros, ao contrário

dos italianos, não estavam acostumados a trabalhar na lavoura propriamente dita, e

não se sujeitariam a tanto, devido a sua formação. Esta situação fez com que eles

se afastassem cada vez mais das fazendas a partir da abolição da escravidão,

deixando as mesmas nas mãos de administradores, ou as vendendo aos imigrantes.

O Núcleo Colonial Castelo era formado por 6 seções, como já afirmamos

anteriormente. Os imigrantes que se dirigiram para Castelo era basicamente das

seções de Matilde e Carolina. Castelo não foi o único lugar que os imigrantes

escolheram para se reinstalar. De lá, partiram para vários locais ao sul do Estado,

um deles foi o núcleo de São Pedro de Venda Nova. O referido núcleo, atual

município de Venda Nova do Imigrante, ficava no local onde fora criado o

Aldeamento Imperial Afonsino, que com a expulsão dos índios, transformou nas

fazendas Pindobas, Providência, Lavrinha, Tapera e Bananeiras. Com o fim da

escravidão e a dificuldade de mão-de-obra todas estavam praticamente

abandonadas, o que facilitou sua compra pelos imigrantes.

No início deste capítulo, afirmamos que os imigrantes tinham dois caminhos a

seguir, o dos núcleos coloniais, ou o das grandes fazendas de café, para substituir o

trabalho escravo. Pois bem, mesmo trilhando caminhos diferentes, vários desses se

encontraram em Castelo. Os imigrantes nos núcleos coloniais pouco férteis e com a

família aumentando, assim que conseguiam acumular dinheiro, compravam pedaços

de fazendas, no que vaio a se tornar o município de Castelo. Os que optaram pelo

trabalho nas fazendas ao furor inicial dos fazendeiros, acostumados a lidar com

escravos, também conseguiram comprar seus pedaços de terras por aqui. O dito

furor inicial dos fazendeiros foi se abrandando com o tempo devido ao agravamento

da falta de mão-de-obra.

Os meeiros, como eram chamados os italianos que substituíam os escravos

nas lavouras de café de Castelo, trabalhavam para os fazendeiros, e em troca,

recebiam a metade de tudo que produziam. Com os altos preços do café, não

demorou muito para que eles acumulassem dinheiro suficiente para se tornarem

proprietários, dividindo cada vez mais as antigas fazendas escravocratas. Nos locais

onde outrora predominava o trabalho escravo que consumiam o sangue, o suor e a

própria vida dos negros, passava a reinar o trabalho livre e alegre, que reunia toda a

família italiana cada vez mais numerosa. Mas esta não era a única evolução em

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relação ao período escravocrata, ao meios de transportes para escoamento de uma

produção cada vez maior, também evoluíram.

9.3.5 – As Condições de TransporteCom a chegada dos imigrantes a Castelo e o incremento na produção,

ocorreu também uma melhora nas condições de transporte. Os meios utilizados no

período da escravidão ainda persistirem: as tropas e o fluvial. Mas o que trouxa uma

sensível evolução no transporte foi a chegada da ferrovia a nosso município.

O rio Castelo nunca serviu como meio de escoamento da produção de café,

apenas o Itapemirim, por um certo período, cumpriu esta função. Desta forma, este

tipo de transporte não esteve ligado a nosso município. Tanto no período de

escravidão, como dos imigrantes, a produção era transportada nos lombos dos

animais. Eram as tropas que carregavam toda a riqueza da época, tanto a que

descia a serra rumo a Cachoeiro e posteriormente ao Porto de Itapemirim, como as

que faziam o caminho inverso até chegar às humildes casas dos imigrantes para

lhes garantir a sobrevivência.

O que difere este tipo de transporte do tempo da escravidão para o dos

imigrantes é o surgimento da figura heroica do tropeiro. Dentro do modelo

escravocrata não havia espaço para o surgimento de heróis, já que o caráter

determinado trazia o surgimento de outros tipo de figuras, como a do capataz. No

período escravocrata, os que trabalhavam as tropas eram considerados por seus

donos, como os próprios animais que carreavam a carga; já no período dos

imigrantes, as pessoas que desempenhavam o mesmo tipo de função eram

consideradas heroínas. Esta comparação nos dá a exta dimensão de como o

mesmo tipo de transporte assume características totalmente diferentes, ao sabor do

tipo de trabalho que a envolve.

Vários são os fatores que dão ao tropeiro a imagem de herói. Dentre eles

podemos destacar o fato de serem elas, as tropas, o único meio de transporte

existente; outro fator é que eram os tropeiros que traziam as novidades; e a própria

ideia de viagem, para uma época de muitas dificuldades, já trazia em si uma forte

dose de heroísmo. Os tropeiros não era apenas o único meio de transporte, mas

também um dos únicos meios de comunicação entre os colonos isolados no interior

com a Vila de Castelo.

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As tropas eram formadas por lotes de burros ou mulas. Cada um era

composto por dez animais, que ficavam presos entre si e seguiam o animal

madrinha, que carregava o sino para que o barulho do mesmo orientasse os demais

animais a segui-lo. A figura do tropeiro era muito próximo à do negociador,

chegando por vezes a confundir-se, já que o transporte tinha sempre o mesmo

objetivo, a venda, o que acabava levando o tropeiro a se tornar também um bom

negociador.

Por uma pesquisa realizada pela aluna Polliana Careta Campanha, podemos

conhecer o panorama da vida levada pelos tropeiros. Relatamos a seguir, alguns

tropeiros entrevistados, bem como uma relação dos tropeiros do município de

Castelo, retirada dos arquivos da “Societá Italiana de Castelo”.

Nome: Laurindo Camporez

Família: Camporez

Quantos anos foi tropeiro?R: mais ou menos 25 anos.

Onde morava?R: Limoeiro.

Quantos lotes de burro você tinha?R: 2 lotes.

Como era a vida de tropeiro?R: Era muito difícil, era obrigado com sol ou chuva trabalhar.

Você gostava de trabalhar com tropas?R: Sim, gostava de andar a cavalo.

Quantas sacas de café você acostumava puxar durante o dia?R: mais ou menos 40 sacos por dia para entregar no comércio.

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Nome: Onório Dal-Cin

Família: Dal-Cin

Quantos anos foi tropeiro?R: mais ou menos 16 anos.

Onde morava?R: Córrego da Prata – Fazenda Boa Sorte.

Quantos lotes de burro você tinha?R: 1 lote.

Como era a vida de tropeiro?R: Boa, na época não achei difícil, hoje eu acho que era.

Você gostava de trabalhar com tropas?R: Não, Era obrigado para ganhar dinheiro e sair com a mercadoria.

Quantas sacas de café você acostumava puxar durante o dia?R: mais ou menos 30 a 60 sacos por dia.

Nome: João Cola

Família: Cola

Quantos anos foi tropeiro?R: mais ou menos 30 anos.

Onde morava?R: Pindobas.

Quantos lotes de burro você tinha?R: 2 lotes.

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Como era a vida de tropeiro?R: Dura. Não existia asfalto, era trilho, quando chovia, gastavam 3 horas de

Pindobas a Castelo.

Você gostava de trabalhar com tropas?R: Gostava. Era uma vida sacrificada, ficavam com as roupas seis dias,

dormiam no couro com chuva.

Quantas sacas de café você acostumava puxar durante o dia?R: mais ou menos 48 sacos.

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TROPEIROS HOMENAGEADOS PELA SOCIETÁ ITALIANA NO II ENCONTRO DA COLÔNIA ITALIANA EM CASTELO

Alcino Camporez

Alério Tomos

Alfredo Barbosa

Ângelo Revieiri

Antônio Catabriga

Antônio Estevão

Antônio Frade

Antônio Moreira

Antônio Reis

Antônio Rosa Rodrigues

Antônio Salvador

Antônio Zanúncio

Aristides Viano

Álvaro Cotta

Aristides Marassati

Argel Duarte

Avelino Perim

Belarmino Fazolo

Bernardo Junior

Carlos Cararo

Clóvis Mesquita

Comar Airis

Custódio Prudente

Daley Fazolo

Ezídio Camporez

Francisco Cardoso

Francisco Dorigo

Geraldo Andrião

Hermínio Davel

Íris Careta

Íris Fim

João Alves de Oliveira

João Angelino Comarela

João Cola

João Francischetto

João Perim

João Vieira

Joaquim Padovane

José Antônio Vitorazzi

Lacy Gomes

Laurindo Camporez

Laurindo Lovato

Leonildo Guizarde

Luis Fim

Newton Mesquita

Olívio Machado

Orlando Revieiri

Otacílio Francischetto

Otávio Perim

Ovídio Salvador

Pedro Cararo

Pedro Colodetti

Pedro Fazolo

Rafael Machado

Revenos Cota

Sebastião de Paula

Sólon Lopes

Valdemir Brambila

Valdir Calegari

Veilde Valentim Campanha

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Venâncio Passamani Vicente Perim

foto

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Mas a grande novidade da época em nosso município era, sem dúvida, os

trilhos que traziam a Maria Fumaça, apesar de que os trilhos não dispensavam os

trabalhos dos tropeiros, pois o trem só chegava até a sede de então Vila de Castelo,

e até lá, era no lombo dos animais que chegava o café.

Eram dois motivos principais para a construção de estrada de ferro no Espírito

Santo: um dos motivos era a tão sonhada ligação com Minas Gerais, e o outro era o

escoamento da produção de café da região sul do Estado, para o mar, e daí para o

mundo. Depois de vários projetos de construção que nunca se materializaram, em

1886, iniciavam-se as obras da construção da Estrada de Ferro Caravelas, a

primeira do Estado que ligava Cachoeiro-Alegre-Castelo. O concessionário era o

Capitão Deslandes, mas a obra foi executada com a administração do Visconde de

Matosinhos, cessionário do Capitão Deslandes.

A linha tronco ligava Cachoeiro a Alegre e tinha 49,5 km. Em Duas Barras foi

construída uma ponte com 77 metros de extensão para que os trilhos pudessem

chegar a Castelo. Ao todo, a ferrovia tinha 77 km, sendo o engenheiro responsável

pela obra, o alemão Hermann Schindler, que era auxiliado por outros engenheiros

brasileiros. Os primeiros trilhos do Espírito Santo partiram de Antuérpia no navio da

Companhia de Navegação Caravelas, de propriedade do mesmo dono da ferrovia,

Visconde de Matosinhos. Já em terras brasileiras, no porto da Barra, o material é

embarcado na prancha de nome Tarcília, que leva o mesmo ao porto João Marques,

em Cachoeiro, onde se inicia a construção da ferrovia.

Em 17 de setembro de 1887, os castelenses, assustados, presenciaram a

chegada da barulhenta e fumegante máquina que deslizava pelos trilhos, e que daí

em diante substituiria, em grande parte, o trabalho das tropas no transporte de café

até Cachoeiro. Este fato marcou a história do futuro município de Castelo, pois se

tratava da chegada da modernidade. Eram os castelenses tendo contato com um

dos meios de transportes mais modernos e eficientes da época. A viagem inaugural

contou com a presença do proprietário Visconde de Matosinhos, do presidente da

província Antônio Leite Ribeiro, do chefe de polícia e de muitas outras autoridades.

A imprensa da capital da província deu ampla cobertura ao evento e esteve presente

ao ato.

Castelo, Cachoeiro e Alegre foram os primeiros lugares da então província do

Espírito Santo a terem contato com a ferrovia. Este fato, por si só, dá-nos uma

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dimensão da importância econômica de nosso futuro município. Pelos antigos trilhos

da Estrada de Ferro Caravela, por muito tempo, passou toda a vida econômica de

Castelo, além dos sonhos e aspirações de seus habitantes. No início do séc. XX

Castelo recebeu uma nova leva de imigrantes, que vão residir na antiga Fazenda do

Centro, é este o tema que abordaremos agora.

9.3.6 – A Segunda Leva de ImigrantesA vinda desta segunda leva de imigrantes foi resultado da compra e da

posterior venda, em pequenos lotes, da Fazenda do Centro pelos padres

Agostinianos que se encontravam no ES, na Imperial Colônia de Rio Novo, a partir

de 1899. É comum ouvir pessoas se referirem a este ato como sendo a primeira

reforma agrária do Brasil, mas tal afirmativa não condiz com a realidade. Não

precisamos analisar o âmbito nacional, basta o estadual para comprovar o que

afirmamos.

O Núcleo Colonial Castelo e a colônia Rio Novo foram criados ainda no séc.

XIX, e neles os imigrantes recebiam gratuitamente seu pedaço de terra, ao passo

que na fazenda, os colonos compravam sua terra. Desta forma, a venda de

pequenos lotes da Fazenda do Centro aos colonos não pode ser considerada como

reforma agrária, e mesmo que assim fosse considerada, não seria a pioneira, pois já

havia acontecido uma distribuição de terras a imigrantes italianos em nosso Estado,

no século anterior.

Esta análise não diminui em nada o grande ato dos agostinianos, que bons

resultados trouxeram para o nosso município. No dia 20 de julho de 1909, uma

comissão formada por Antônio e João Bernabé, Francisco Salvador, José Caliman,

José Bernabé e o padre responsável por ela, Manoel Simon, estiveram na Fazenda

do Centro. O objetivo da visita era conhecer a propriedade e também as condições

para adquiri-la, já que a fazenda se encontrava parcialmente abandonada.

Em um trabalho de pesquisa realizado pelo Frei Sérgio Peres de Paula, em

abril de 1995, sobre os Agostinianos na Região de Castelo, encontramos

informações importantes para entendermos os motivos que levaram tal Ordem

Religiosa a adquirir a Fazenda do Centro.

Já no início se justifica o porquê da aquisição, com a seguinte citação:

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“A Fazenda do Centro, adquirida para

ajudar os imigrantes a se assentaram em

terras mais férteis e como ‘possível’

refúgio para abrigar estudantes espanhóis

Agostinianos Recoletos, devido a tensões

políticos na Península Ibérica, constituiu-

se não apenas em empreendimento social

de grande envergadura como também

tornou-se um Centro de irradiação do

Evangelho”.PAULA, Frei Sérgio Peres de. “Os Agostinianos

Recoletos na Região de Castelo” – 1995

É importante observar também que s diferenças entre o nativo e o colono

imigrante eram muito grandes, em especial no quesito religião. O imigrante

preocupava-se em manter suas crenças, sua fé ao catecismo, a Igreja, a missa, o

casamento no religioso, coisas que para o nativo eram um tanto quanto indiferentes.

E essas diferenças vão se acentuando cada vez mais com o crescimento do número

de imigrantes no Es. A partir do início do séc. XX percebem-se algumas mudanças

no povo capixaba, como por exemplo, o interesse crescente da população pela

religião. Percebe-se a força dos costumes e das tradições dos imigrantes, uma vez

que somavam mais de 50% da população do Estado.

A preocupação dos imigrantes em relação era tão grande, que houve

manifestações de desagrado por parte dos mesmo, exigindo nas fazendas: capela,

oratório, presença de padres e das condições a eles impostas, tais como, o

esgotamento das terras, a diminuição constante das colheitas.

“Insistentemente, os colonos pediam aos

seus pastores ajuda e uma solução para

os problemas que eles estavam

enfrentando, (...) os religiosos procuravam

ao menos direcioná-los para regiões e

pontos do Estado, onde os colonos

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pudessem viver reunidos e mantendo

seus costumes e sua piedade.”(Crônica de La Província de Santo Tomás de Villanueva,

Segunda década, p. 257, 655).

O que os Agostinianos poderiam fazer, em especial Frei Manuel Simón para

atender a tais súplicas? Procurar por locais, onde os colonos italianos pudessem se

instalar em novos terrenos mais ao interior, com terras mais férteis, sem perder seus

hábitos e fé.

“A aquisição das terras que se

encontravam à venda seria uma obra de

grande benfeitoria não só para a

Província, mas principalmente para os

colonos. Crendo nisto, Fr. Manuel Simón,

tendo conseguido a autorização para

adquirir a fazenda e dividi-la para os

colonos, empreendeu logo seu projeto.(id ibid)

Dentro desta proposta de aquisição de terras, os Agostinianos começam a

procurar por elas, chegando assim à Fazenda do Centro. Os antigos donos haviam a

colocado à venda pelo preço de 100 contos de réis. Para tal quantia, ficava inviável

a compra, a não ser que arrumassem sócios para tal empreendimento. Assim, a

sociedade foi feita entre a ordem dos Agostinianos, Fr. Manuel Simón Fr. Máximo

Tabuenco, com o Sr. Maximino Alves, espanhol, e o Sr. José Mariano Sobrinho,

brasileiro. No dia 20 de julho de 1909, os sócios foram visitar a propriedade. O

acordo entre eles era adquirir a fazenda para dividi-la em lotes de 10 alqueires, que

deveriam ser vendidos por 100 mil réis, com prazo de 10 anos para pagá-los sem

juros, sendo que o pagamento se iniciaria a partir de 5 anos. 58 famílias de colonos

que já residiam no local teriam a preferência.

A compra da terra e a passagem da Escritura deveriam acontecer em 21 de

novembro de 1909, porém o Sr. Maximini Alves se retirou do negócio, o que levou à

compra de apenas 1.542 alqueires. Não demorou muito para que o sonho da

compra da fazenda se tornasse realidade. Em 24 de novembro de 1909, padre

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Manoel Simón e ser sócio José Mariano adquiriram, em cartório, 1.216 alqueires de

Antônio Fernandes Moura e mais 326 alqueires de Joaquim Fernandes Moura, o

total de terras adquiridas foi de 1.542 alqueires, além de maquinários, casas de

benfeitorias existentes. O restante das terras foi adquirido até 07 de maio de 1910,

mediante empréstimo.

Fr. Manuel Simón sofreu muito para pagar os empréstimos feitos para adquirir

o restante das terras. Também o sócio, Sr. José Mariano Sobrinho, não cumpriu

seus compromissos, não havendo outra alternativa, senão desfazer a sociedade, o

que ocorreu em 27 de dezembro de 1912.

Como já afirmamos, a intenção de padre Simón, que representava a ordem

dos Agostinianos, era dividir toda a terra em lotes de 10 alqueires e vende-los em

condições favoráveis aos descendentes de italianos que viviam na região do Núcleo

Colonial Castelo. Neste período, o núcleo já se chamava Alfredo Chaves, e

pertencia a Anchieta, onde ele era pároco. Mas, na lista dos compradores dos lotes

da fazenda, nãos constam apenas pequenos lavradores descendentes de italianos

dispostos a trabalharem diretamente na terra. Entre os compradores estão, até

mesmo, parentes dos antigos donos da fazenda, como o senhor Manoel Moura

Júnior, também os Vivacqua e irmãos que já estavam estabelecidos em Castelo,

que, com certeza, não iriam lavrar diretamente a terra. Os Agostinianos não

venderam toda a propriedade, reservaram a parte central para suas atividades

religiosas e uma considerável quantidade de terra para garantir a subsistência da

ordem em Castelo.

Mas a grande singularidade nesta transação foi, sem dúvida, a cessão de

terras aos imigrantes ou aos descendentes, com boas condições de pagamento,

pois a terra só começava a ser paga depois das primeiras colheitas. Este ato dos

padres agostinianos gerou a vinda de uma nova leva de italianos e seus

descendentes provenientes de Alfredo Chaves, que atraídos pela fertilidade da terra

e pelas boas condições de pagamento, radicaram-se em terras castelenses.

A venda desses lotes veio ratificar a tendência do predomínio de pequena

propriedade, no embrionários do futuro município de Castelo com a vinda dos

imigrantes. Não podemos afirmar com exatidão, mas o loteamento da Fazenda do

Centro para cá mais de cinquenta famílias provenientes da pouco fértil região de

Alfredo Chaves. Este número de pessoas representou um grande incremento não só

populacional para a região, mas econômico, social, religioso e político.

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A Fazenda do Centro sempre mereceu lugar de destaque na história de

Castelo. Serviu de passagem para os índios nômades que andavam por nossa

região, foi palco da mineração, depois se transformou em uma das maiores

fazendas escravocratas do Espírito Santo e, finalmente, teve suas terras divididas

entre os imigrantes italianos e seus descendentes.

Na fase dos italianos, o incremento,

em todos os sentidos, foi tão notável que

se chegou a cogitar a extensão da

estrada de ferro de Castelo até a fazenda.

O projeto de construção não ficou no

papel, chegou a ser iniciado com a

construção do que seria a Estação

Ferroviária (o prédio ainda continua de pé

na fazenda), mas na crise no preço do

café frustrou sua continuação.

9.3.7 – As Bases do Município de CasteloDe uma forma bastante sucinta, podemos dizer que a história de Castelo teve

início ainda com os índios que vagavam livremente por nosso território. A chegada

dos europeus às nossa terras, em busca do ouro, gerou um confronto entre esses

seres de dois mundos completamente diferentes. Apesar da heroica resistência

inicial e de algumas vitórias, os índios acabaram sucumbindo ao poderio dos

brancos. Nos séculos XVII, XVIII e XIX, apesar de alguns intervalos e abandono na

região, o que movimentava a economia era a exploração do ouro de aluvião nas

águas do rio Caxixe.

O ouro foi substituído pelo café como produto principal da economia, na

segunda metade do séc. XIX, com a chegada dos fazendeiros provenientes da

região norte do Rio de Janeiro. Os Vieiras Machado da Cunha tomaram posse das

terras devolutas que hoje compõem nosso município e colocaram os escravos para

produzirem café. E, por aproximadamente cinquenta anos, Castelo viveu a

experiência do plantation, com a utilização da mão-de-obra escrava e produzindo

café para o mercado externo em grandes extensões de terra.

O eminente fim da escravidão gerou uma grande crise de falta de mão-de-

obra, pois Castelo, assim como toda a província do Espírito Santo, era carente de

foto

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habitantes. Éramos um grande vazio demográfico. Para preencher este grande

vazio, optou-se pela vinda dos italianos que sofriam em seu país com um problemas

inverso – o excesso de mão-de-obra e a falta de terra.

Tanta terra sobrando acabou por enfraquecer os fazendeiros da região, e com

a concessão de terras aos imigrantes, feita pelo governo, o processo de decadência

dos grandes fazendeiros se acelerou em Castelo.

O fim da escravidão desencadeou uma grande crise de mão-de-obra que

deixou os fazendeiros sem opção para tocar a produção. Esta realidade que

abaixava o preço da terra, associada a uma boa quantidade (para a época) de

imigrantes italianos, que gradativamente se capitalizava, seja como pequenos

proprietários nos núcleos coloniais, ou mesmo como meeiros dos fazendeiros em

Castelo, foi o fator que contribuiu para que nosso município se tornasse de um

pontentado de poucos donos, em um mosaico de pequenas propriedades, e

naturalmente, de muitos proprietários.

Apesar de principal, esse foi o único motivo que levou Castelo a se dividir em

pequenas propriedades. A natural divisão entre os herdeiros dos fazendeiros

também teve sua parcela de contribuição para a atual realidade econômica. O

exemplo da Fazenda do Centro, apesar de não ser como alguns pretensiosamente

afirmam, a primeira reforma agrária no Brasil, foi imprescindível para a formação

econômica atual de Castelo. A chegada da nova leva de imigrantes e de seus

descendentes para a fazenda, parcialmente dividida, trouxe energia nova, além de

ratificar a tendência de Castelo pela pequena propriedade agrícola.

Nosso trabalho sobre a história de Castelo se encerra aqui. Optamos por esse

corte historiográfico por acreditarmos que o séc. XX, em nosso município, merece

um tratamento especial em um só livro, por ter mais bibliografia sobre a época, e

também por poder utilizar como fonte de pesquisa a história oral. Outro motivo para

o corte foi a grande extensão de tempo que nossa pesquisa abordou, de

aproximadamente 7.000 anos a.C. até o início do séc. CC.

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A Crise da Mão-de-Obra

O fim da escravidão agravou ainda mais um antigo problema na região de

Castelo. Esse problema nasceu junto com as primeiras fazendas escravocratas,

estamos falando da falta de mão-de-obra.

Abordamos anteriormente este crônico problema, já que quando elas, as

fazendas começavam a funcionar, por volta de 1845, o tráfico de escravos direto da

África já havia sido suspenso. Desta forma os escravos daqui eram os comprados

principalmente das lavouras da cana-de-açúcar do nordeste do Brasil, o chamado

tráfico interno.

Com a proibição do trabalho escravo, esse flagelo que tanto manchou nossa

história, os fazendeiros tiveram que buscar soluções para continuar produzindo. Os

imigrantes europeus, e mesmo trabalhadores livres de outras regiões do país eram

as principais soluções a vista.

Os fazendeiros da região buscaram resolver seus problemas de forma

coletiva, pois tinham a plena certeza que juntos, em algum tipo de organização,

teriam melhores perspectivas de sucesso do que de maneira isolada, e foi dentro

deste espírito corporativo que em 15 de dezembro de 1888, foi criado o Clube da

Lavoura do Castello, seu estatuto foi publicado no jornal de circulação semanal, “o

Cachoeiro”, no dia 13 de janeiro de 1889.

A diretoria do Clube da Lavoura de Castello era composta por, Conrado Vieira

Machado (Presidente), Manoel José de Souza Braga (Vice-Presidente), Josino

Vieira Machado (1º Secretário), Carlos Augusto de Assumpção de Silva (2º

Secretário) e Agostinho Ferreira dos Santos (Tesoureiro).

Os principais objetivos do referido clube, segundo seu estatuto, eram: auxiliar

as medidas de utilidades para a lavoura; promover junto às autoridades civis e

eclesiásticas providência para o desenvolvimento local da agricultura; promover a

vinda de imigrantes, moralizados e laboriosos; fundar escola de letras diárias e

noturnas; auxiliar a polícia local na manutenção da ordem e da paz.

A julgar pelos objetivos estatuários, podemos afirmar que o clube estava

imbuído do propósito de desenvolver a atividade principal de seus sócios, a

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agricultura. É bem verdade que este desenvolvimento acabaria por acarretar

melhoras nos demais setores da sociedade, principalmente por que o trabalho não

era mais escravo.

O trabalho escravo era estéril, ou seja, não gerava salários para os

trabalhadores, sendo assim não promovia uma circulação maior de dinheiro em

todas as camadas da população, inviabilizando o avanço e o incremento do

comércio e das demais atividades econômicas. Já com o trabalho livre e assalariado

o dinheiro passa a circular nas mãos de mais pessoas, dando condições para um

maior desenvolvimento econômico da região.

Mas, voltando a questão do clube e seus objetivos estatuários, uma coisa nos

chamou a atenção, que era a preocupação com a segurança, que está caracterizada

em um dos objetivos do clube que era auxílio do mesmo a polícia local para a

manutenção da ordem e da paz.

Esta preocupação dos fazendeiros nos faz supor que o clima que percebeu a

abolição da escravidão, foi um tanto quanto conturbado, já que consta na lista de

objetivos do Clube da Lavoura, o auxílio à polícia para manter a ordem. Fica claro

também quem é que dava as ordens neste período, pois esse auxílio muito

provavelmente poderia ser usado como forma de influência, que facilmente poderia

ser usado em benefício dos poderosos fazendeiros.

O fato é que o clube cumpriu, não se sabe se a contento, com seu objetivo de

trazer imigrantes para substituir os negros na lida da lavoura. Só que a vinda dos

imigrantes, associados a outros fatores, desencadeou um processo de pulverização

das propriedades rurais, que acabou por eliminar a grande propriedade rural na

região de Castelo.

A crise da falta de mão-de-obra, potencializada com o fim da escravidão, e a

vinda da estrada de ferro, somente até então praça da estação, são os principais

motivos para o surgimento do início do processo de urbanização em Castelo. O local

de seu início foi justamente o fim da linha do trem no que veio a se chamar de

estação.

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Processo de Urbanização – Considerações Gerais

As cidades, tais como as conhecemos hoje, são fruto do capitalismo. O

mundo feudal era rural, mas com a ascensão do capitalismo as cidades passam a

roubar a cena, e vão tendo cada vez mais importância.

A história de Castelo não está desconectada da história da humanidade,

muito pelo contrário, ela faz parte deste grande cenário chamado história da

humanidade. Sendo assim, antes de entrarmos nas particularidades do processo de

urbanização de Castelo, é importante fazer algumas considerações gerais a respeito

de como se deu os processos de urbanização no decorrer da história.

É importante fazermos aqui uma definição a respeito de feudalismo,

mercantilismo e capitalismo, pois afirmamos anteriormente que as cidades são fruto

do capitalismo, então é pertinente falarmos sobre ele, e sobre o modo de produção

que o antecede, o feudalismo.

Karl Marx, na sua obra Miséria da Filosofia, afirma que: “as relações sociais

estão (...) ligadas às forças produtivas. Ao adquirir novas forças produtivas, os

homens mudam seu modo de produção, a maneira de ganhar a vida, mudam todas

as suas relações sociais (...)”.

Esta afirmação torna ainda mais imperativo a explanação sobre os tipos de

produção, que a humanidade passou, (feudalismo, capitalismo) para entendermos

as transformações por que passou a história de Castelo. Faremos as definições

clássicas sobre cada período e as respectivas comparações com a história de

Castelo, dentro da medida do possível.

O feudalismo tinha na servidão a sua forma de produção o servo não era

escravo, mas de serviço. Em troca dos serviços do servo o senhor feudal lhe

garantia segurança, proteção e o direito de usar parte da terra.

A base da economia no período feudal era a troca. Era pouca a circulação da

moeda, pois os feudais eram auto-suficientes. O que não produzia era trocado entre

eles.

No período feudal, os reis continuaram a existir, mas seu poder era quase

simbólico, e não ia além de seu feudo. Os proprietários das terras, os senhores

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feudais, eram soberanos em seus domínios.

De forma bastante sintética, podemos afirmar que as principais características

do feudalismo eram a não existência de um poder central, existindo em seu lugar o

poder dos senhores feudais. A circulação de moeda era pequena, o que prevalecia

era a troca de mercadoria. O mundo feudal foi necessariamente agrícola e rural.

Outro modo de produção importante, e que sua análise será útil para

compreendermos a história de Castelo, é o capitalismo, que no seu início precisou

da tutela do Rei/Estado para seu desenvolvimento, através da prática do

mercantilismo.

No mercantilismo, fase inicial do capitalismo, o estado, através da figura do rei

e em alguns casos de representantes da burguesia, passa a exercer um controle

sobre os cidadãos, o poder que estava descentralizado no feudalismo, passa a ser

centralizado no mercantilismo. É quando surgem os estados nacionais na Europa.

O comércio torna-se a atividade mais importante neste período, deixando a

agricultura em segundo plano. É neste período que acontece nas grandes

navegações e a inclusão de novos mercados com a América, África e Ásia,

incrementando de vez o comércio.

As moedas passam a circular com grande intensidade e a descoberta de ouro

e prata nas colônias intensificam ainda mais o mercantilismo.

O capitalismo que é definido por Karl Marx como o modo de produção onde o capital

é o principal meio de produção. Para Marx, o capital assume várias formas. De

dinheiro, de crédito com objetivo de comprar a força de trabalho e os materiais

necessários à produção.

No capitalismo, tudo é mercadoria, inclusive a força de trabalho a mão-de-

obra. No capitalismo, quem não tem os meios de produção (terra, máquinas,

fábricas) vende sua força de trabalho em troca de salário para os proprietários dos

meios de produção, os capitalistas.

Quando o homem, não proprietário dos meios de produção, sem outra opção,

passa a vender sua força de trabalho aos capitalistas. É o capitalismo. Essa divisão

social do trabalho separa os homens entre a burguesia (donos dos meios de

produção) e o proletariado (os que trocam seu trabalho por um salário, e não são

donos do que produzem).

Esses conceitos clássicos de modo de produção (feudalismo e capitalismo)

foram elaborados a partir da história e realidade da Europa, e nem sempre ocorreu

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aqui, no Brasil, da mesma forma que lá no velho continente.

Nem mesmo na Europa os modos de produção se sucederam de forma

contínua e linear. A história é permeada por idas e vindas, por avanços e

retrocessos, ou como alguns historiadores gostam de chamar, de permanências e

rupturas. Isso significa dizer que no final do feudalismo podemos encontrar

características do capitalismo. Portanto, essas definições servem para nos guiar nas

interpretações do passado.

Retornando ao nosso assunto principal, a história de Castelo, mais

precisamente o início do processo de urbanização, podemos afirmar que estávamos

vivendo o fim de um período exclusivamente rural, para entrarmos em um novo, que

trazia consigo, características, que são cada vez mais marcantes com o

desenvolvimento do comércio e de um efêmero núcleo populacional.

O fim da escravidão foi de fundamental importância, para a mudança de um

modo de vida essencialmente agrário para um também urbano. Nesse contexto,

então, o fim da escravidão representou uma ruptura, desestruturou todo o modo de

produção vigente, baseado na força de trabalho escravo.

Com o fim da escravidão começam a surgir meeiros, colonos e

posteriormente os pequenos proprietários, quase todos imigrantes que vão

incrementando o comércio local.

Feitas essas considerações gerais, podemos nos ater de agora em diante às

questões específicas do processo de urbanização de Castelo.

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Início do Processo de Urbanização de Castelo

Toda a história de Castelo até o fim do século XIX se desenrolava em

cenários totalmente agrícolas. A urbanização era um fenômeno totalmente

desconhecido por essas bandas.

As grandes fazendas eram núcleos totalmente fechados e auto-suficientes.

Dentro deles se encontrava tudo que se necessitava para a sobrevivência naquela

época.

É bem verdade que nem tudo se produzia nos núcleos, muitas coisas

chegavam de fora através dos caixeiros viajantes. O que é importante demonstrar ao

leitor, para que ele possa ter a exata compreensão deste período, é que as fazendas

nãos viviam em função de um núcleo urbano, como ocorre hoje, mesmo porque não

existia um muito próximo. O mais perto era o de Cachoeiro, que tinha uma distância

considerável para a época.

Podia-se até então viver uma vida inteira sem ter a necessidade de ir à

cidade.

Como e quando esse mundo começa a se desintegrar, abrindo espaço para o

surgimento de um núcleo urbano em Castelo? Esse fenômeno este diretamente

ligado a questão econômica. Para ser mais preciso um dos fatores que

desencadeou o início da urbanização em Castelo foi o transporte.

Outro fator que contribui para o início da formação do núcleo urbano de

Castelo foi a abolição da escravidão que agravou o problema da falta de mão-de-

obra. Sem gente suficiente para trabalhar nas lavouras de café ocorre um

enfraquecimento das atividades rurais. Este problema enfrentado pelos fazendeiros,

também é considerado um dos fatores que contribuíram favoravelmente para o

surgimento do núcleo urbano de Castelo.

Onde hoje é o perímetro urbano de Castelo era antes da chegada da estrada

de ferro, uma simples planície, pertencente a uma das grandes fazendas de Castelo,

a Fazenda do Centro. Mas a chegada dos trilhos iniciou um processo de

urbanização contínuo, irreversível que chega até nossos dias.

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Comungamos da teoria que a economia é um fator determinante na

organização da sociedade, e que através dela as demais coisas se organizam no

dia-a-dia e na história. E o processo de urbanização de Castelo não foge essa regra,

isso implica dizer que ele teve seu início impulsionado por fatores econômicos

específicos que foram o transporte da produção de mercadoria aqui produzida e

também as que chegavam oriundas das avarias partes do Brasil e até do mundo, e

também a crise de falta de mão-de-obra que enfraqueceu o meio rural.

Tínhamos a Fazenda do Centro como núcleo mais completo entre as grandes

fazendas. É bem provável que, se os trilhos da Estrada de Ferro Caravelas tivessem

chegado ate a sede da fazenda, como previsto, teria sido lá o local onde se

estabelecia a urbanização de Castelo.

Como os trilhos não subiram a serra, o processo desceu da Fazenda do

Centro e se instalou nas proximidades da estação, onde é hoje a Praça Três Irmãos.

Ali foi plantada a semente que germinou e deu origem ao núcleo urbano de Castelo.

E foi assim, embalado pelo som da maria fumaça (o símbolo do progresso da

época) que o fazendeiro Manoel Fernandes Moura transferiu sua casa de comércio

da Fazenda do Centro para as proximidades da estação. Este ato marcou o início de

nossa urbanização desencadeou um processo que gradativamente foi transferido

toda a estrutura das, até então autônomas e auto-suficiente, fazendas para o cada

vez mais crescente centro urbano que se formava em torno da estação.

Dada a importância desta transferência para a história de Castelo, iremos

reproduzir na íntegra o anúncio feito no jornal de publicação semanal da época “O

Cachoeirano”, de 30 de outubro de 1887, que circulava na região:

“Moura e Cia comunica aos seus

fregueses e amigos que em substituição a

sua casa comercial estabelecida na

Fazenda do Centro, abriram outra na

Estação do Castelo, onde encontraram

uma grande, bonito e variado sortimento

de todos os artigos e concernentes ao seu

ramo de negócio, que vendem por preço

muito reduzido. Esperam pois a

continuação de sua honrosa confiança e

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da proteção que lhes tem dispensado.

Estação do Castelo, 21/12/1887”

Consideramos este anuncio a “certidão de nascimento” do núcleo urbano de

Castelo. A chegada dos trilhos teve um significado muito importante para a região, a

ponto do maior fazendeiro e comerciante não hesitar em transferir sua casa

comercial ara junto da estação.

E esta transferência foi rápida, pois a inauguração da estrada de ferro foi em

17 de setembro de 1887, e já no dia 21 de outubro do mesmo ano, Manoel

Fernandes Moura anunciava que sua casa comercial funcionava no mesmo

endereço. Estar próximo da estação significa uma comodidade muito grande do

ponto de vista comercial, pois ele teria mais facilidade para embarcar os produtos da

região, principalmente o café, através da construção de um depósito na estação e

também no caso dos produtos que chegavam de todas as partes do mundo trazidos

pelo trem. Sua localização era privilegiada. Isso sem falar no fluxo de pessoas que

cada vez mais passava a usar o trem como meio de transporte.

O contato com a maria fumaça trouxe mudanças profundas para a vida por

aqui, a principal delas como destacamos foi o desencadeamento do processo de

urbanização de Castelo, pois pela primeira vez se forma um núcleo de povoamento,

não mais em função da extração mineral, como ocorreu na fase que

convencionamos chamar de período da mineração, ou mesmo em torno de

atividades agrícolas, como ocorreu no período das grandes fazendas.

Desta vez a formação deste novo núcleo populacional se dá em torno de

atividades com características mais ligadas à cidade como o comércio e o transporte

de mercadorias, as que eram produzidas e as que eram consumidas na região. Isso

não significa dizer que todas as tradições e atividades rurais foram paralisadas,

muito pelo contrário, até hoje a base da nossa economia é a agricultura.

O que diferencia este novo núcleo populacional é o seu cerne, o motivo de

sua origem até então inédito em Castelo. Enquanto os núcleos populacionais das

fazendas eram fechados em s, com pouco ou nenhum contato com o mundo

exterior, com o único objetivo de garantir a sobrevivência de seus habitantes, o que

surgia no entorno da estação do Castelo estava em sintonia com o que existia de

mais moderno em termos de transportes terrestre da época, que era o trem.

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O fluxo de mercadorias, ideias e pessoas passou a ser muito mais intenso no

novo povoado. Enquanto que os demais povoados da região viviam fechados em

seus pequenos mundos, o que se formava na estação estava de portas e janelas

abertas para o mundo através da estrada de ferro. Mas essa mudança foi lenta e

gradual. Muitos fazendeiros não se adaptaram rapidamente às mudanças.

Um exemplo claro da dificuldade de adaptação à nova e à polêmica gerada

em torno da construção de uma ponte, e também dos preços a serem pagos para o

embarque do café na estação.

Apesar da existência da estrada de ferro, muitos produtores preferiam

continuar transportando sua produção através das tropas. Os motivos alegados

eram os altos preços do frete e a não existência de uma ponte para se transpor o rio

Castelo e chegar à estação. Diziam os fazendeiros que a estrada de ferro foi

construída sem pernas, pois não existia acesso à estação pela falta de uma ponte.

O local onde deveria ser construída a ponte pertencia a Manoel Fernandes

Moura, desta forma a sua construção ficaria sob sua responsabilidade. O termos dos

demais fazendeiros era que após a construção ele cobrasse uma taxa para sua

utilização. O fato da não utilização da estrada de ferro pelos produtores de Castelo

chamou a atenção dos proprietários da concessão da estrada.

Através do jornal “O Cachoeirano”, que chegava todas às terças-feiras à

estação do Castelo, os concessionários da estrada cobravam dos produtores os

motivos pela não utilização de seus serviços. Através do mesmo veículo de

comunicação os produtores justificavam os motivos de continuarem a utilizar as

tropas para o transporte. Os motivos basicamente eram a não existência da ponte e

os preços do frete, que os produtores julgavam que deveria cair pela metade. A nota

respondendo os motivos da não utilização foi assinalada pelos seguintes produtores:

Francisco Antônio Moraes e filhos, Pedro Vieira da Cunha, Maurício Vieira Machado

da Cunha, Luiz Homem de Azevedo, Conrado V. Machado, Carlos Pinheiro de

Souza, Francisco Vieira de Almeida Ramos, Bernardo Vieira Machado, José Nunes

de Almeida Ramos, Januário Vieira Pena, Cesário Vieira Machado, Francisco de

Sales Vieira Machado, Pedro Francisco Moreira, Bernardo de Almeida Ramos, José

Alves de Souza Coutinho, Wantuil Vieira da Cunha, Antônio da Silva Pinheiro,

Agostinho Ayres da Silva, Antônio Gomes Ferreira, Honório Vieira Machado, Carlos

Silva, João Bernardo de Souza Júnior, Peregrino Gomes Vieira e companhia, Pedro

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Vieira Machado da Cunha, Adolpho Vieira da Cunha e Honório Vieira Machado da

Cunha.

Para buscar solucionar o impasse gerado pela insatisfação dos produtores, o

alto escalão da empresa da estrada de ferro se deslocou até Castelo para se reunir

com os produtores locais, e saber pessoalmente os motivos da insatisfação e

discutir as prováveis soluções.

Representando a concessionária da estrada estiveram presentes à reunião.

Visconde S. Salvador de Mattozinhos, presidente, Antônio Gonçalves, sócio da Casa

Comercial Moura e Cia, João Layola, da imprensa local e Rodolpho Henrique

Baptista, chefe de tráfego da estação.

Nesta reunião com os produtores locais ficou acertado que a construção da

ponte sobre o rio Castelo, ligando a fazenda até a estação, ficaria mesmo a cargo de

Manoel Fernandes Moura, mas que devido aos altos custos a companhia

proprietária da estrada de ferro arcaria com metade das despesas. Desta forma, o

acesso à ponte seria livre a todos os produtores e cidadãos da região.

Já com relação às tarifas cobradas, o presidente da companhia dizia não

depender dele, mas que faria o máximo possível para solucionar também esse

problema.

Esta reunião é uma prova de como que gradativamente a população ia se

acostumando com a nova realidade que se apresentava. A modernização no

transporte e o surgimento de um núcleo urbano. Um fato importante decidido nesta

reunião e que serviu para ajudar a consolidar o processo de urbanização foi a

construção da ponte sobre o rio Castelo.

A obra foi fundamental para a urbanização. Sua localização provável era perto

da atual “ponte da cadeia”, em frente onde hoje funciona a Delegacia de Polícia.

Com a ponte ligando as duas margens do rio Castelo teve aumentada a área

disponível para a expansão do núcleo urbano.

A relação de Manoel Fernandes Moura, dono da Fazenda do Centro e da

primeira casa comercial de Castelo, com os demais fazendeiros não era mais

amistosas. Acompanhando os jornais da época encontramos uma sequência de

cartas de leitores e mesmo matérias jornalísticas que demonstram conflitos de

interesses entre as partes.

O primeiro impasse foi a questão da ponte, como citamos anteriormente. Mas

eles não pararam por aí, tiveram outros. Os problemas se agravavam quando em 16

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de janeiro de 1889º senhor Antônio da Rosa Carvalho Machado inaugura a segunda

casa comercial do povoado, também na praça da estação, com 12 metros de frente.

A inauguração contou com a presença da banda de música da Estrela do

Norte, do vigário da freguesia, do gerente da casa comercial, Sr. José Xavier de

Lima e de aproximadamente duzentas pessoas que eram convidados em geral.

Passada a festa tiveram início os problemas.

O Sr. Manoel Fernandes Moura mandou instalar esteios na margem esquerda

da estação, dificultando o acesso do concorrente e seus fregueses à estação. O Sr.

Moura também usou de outros artifícios para impedir que seu concorrente

chegassem à estação, não só a de Castelo, como também a de Santo André, atual

Aracuí, como a construção de casas e valas, todas com intenção de dificultar a

passagem.

As atitudes de Manoel Fernandes Moura lhe renderam uma multa por não

cumprir as determinações da Câmara da Vila, de impedir o acesso dos moradores à

estrada de ferro e às estações.

Estes problemas fizeram com que o vigário Manoel Leite de S. Mello

retornasse a Castelo. Desta vez não apenas para benzer a casa comercial do Sr.

Antônio Rosa Carvalho Machado, mas também o caminho que ligava a casa

comercial a estação e que estava sendo bloqueado pelo Moura. Na ocasião, o

vigário faz um discurso conciliatório pregando a necessidade da paz e da harmonia

entre todos os moradores.

Apesar dos problemas, o processo de urbanização ia se consolidando aos

poucos, uma prova disto é o surgimento de novas casas comerciais. O próprio

Moura abriu uma filial perto da ponte ainda em 1888.

No dia 27 de agosto de 1889, mas no mês de fevereiro, Carlos Pinheiro de

Souza e Rocha Júnior também criam uma sociedade comercial com o nome de

“Antônio da Rocha Júnior”.

Também no ano de 1889, mas no mês de fevereiro, Carlos Pinheiro de Souza

e Carlos Augusto Assumpção Silva fundaram a “Sociedade Silva e Pinheiro” que

vendia fazendas, roupas feitas, chapéu, sal, molhados, louças, ferragens e

armarinhos.

Esta casa comercial não se localizava nos arredores da praça da estação do

Castelo, mas sim da Fazenda São Quirino e com uma filial no Aldeamento Imperial

Afonsino (atual cidade de Conceição do Castelo). Mas com certeza sua existência

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contribuiu para a consolidação do nosso processo de urbanização, já que eles

tinham a necessidade de usar a estação do Castelo para receber suas mercadorias

contribuindo assim para um maior fluxo de mercadorias e pessoas em nossa

estação.

Como podemos observar, tomando como base estes primeiros investimentos

comerciais, o surgimento do comércio foi obra dos antigos fazendeiros

escravocratas, que viram na atividade comercial uma nova modalidade de

investimento e de retorno. Desta forma, o comércio passa gradativamente a ocupar

espaço na vida de alguns fazendeiros, que se dedicam às duas atividades, a

agrícola produzindo café e a comercial que se desenvolvia às margens da estação.

Os anos finais que antecedem a Proclamação da República do Brasil em 15

de novembro de 1889 foram marcados por uma agitação no meio político. A ideia da

República para substituir a Monarquia do Rei a cada dia, e Castelo não ficou imune

ao crescimento desta ideia.

No jornal republicano “O Cachoeirano” de 18 de setembro de 1888 é

anunciada a criação do Partido Republicano no Castelo. Na ocasião foi publicado o

Manifesto Republicano, assinado por grande parte dos fazendeiros, e por alguns

comerciantes do então nascente núcleo urbano da estação do Castelo.

Paralelo à nova ideia da vida urbana gestava-se entre alguns habitantes

outras novidades que era a substituição da monarquia pela república. O sonho da

república vira realidade, mas acontecimentos políticos nesse período não mobilizava

a massa da população, que ficava indiferente ao que passava no meio político. Sua

preocupação principal era a sobrevivência.

Outro núcleo também surgiu ao longo da estrada de ferro. Trata-se do Distrito

Policial de Santo André, hoje Aracuí, criado em 26 de setembro de 1887. Seu limite

era ao norte com base do Caxixe, ao sul e oeste o Ribeirão de Boa Esperança e

Santa Rosa e a leste com o rio Castelo até sua foz.

Para este distrito foram nomeadas as seguintes autoridades: Camilo Homem

de Azevedo, Manoel Lopes de Souza, Antônio Cândido Neves dos Santos e Nicolau

Santiago Louzada, para os cargos de 1º, 2º e 3º suplentes. Este fato só vem reforçar

a importância fundamental da estrada de ferro para a formação dos núcleos

urbanos.

A criação do Distrito Policial de Santo André (26/09/1887) é anterior a

transferência da Casa do Comércio Moura e Cia da Fazenda do Centro para a

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estação do Castelo (30/10/1887), fato considerado por nós como marco inicial da

urbanização de Castelo.

Mesmo surgindo depois o fato do núcleo populacional da estação do Castelo

estar mais próximo geograficamente das grandes fazendas foi determinante para ele

se tornar maior e mais importante que o Distrito de Santo André. O núcleo

populacional que se formou no entorno da praça da estação que deu origem a atual

sede do município só foi transformado em distrito em 1891.

Uma amostra de que o processo de urbanização estava de fato se

consolidando eram os frequentes anúncios que o Sr. João da Cunha Coutinho fazia

no formal “Cachoeirano”, de vendas e arrendamentos de terrenos e casas

comerciais nas proximidades da ponte do Machado, como era conhecida a ponte

que existia nas proximidades de onde é hoje a ponte da cadeia.

A importância da estrada de ferro para o desenvolvimento da região de

Castelo é indiscutível. Podemos afirmar sem nenhum medo de errar que o

surgimento e o desenvolvimento do núcleo urbano que é Castelo se deu

basicamente por conta da estrada de ferro.

É bem verdade que esse não foi o único fator impulsionador do surgimento do

que veio a se chamar cidade de Castelo. Aliás, nenhum grande acontecimento

histórico pode ser explicado por um único fator, eles sempre são resultados da soma

de vários fatores. Mas o mais importante para nós nesse momento, para

proporcionarmos ao leitor uma boa compreensão de nossa história é a estrada de

ferro. Por isso, dedicaremos um capítulo de nosso livro a ela, a Estrada de Ferro

Caravelas.

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A Estrada de Ferro Caravelas

A Estrada de Ferro Caravelas, que ligava Cachoeiro à Alegre, com

entroncamento para Castelo, foi a primeira a ser construída no Espírito Santo. O fato

de que nossa região ser a pioneira nesta modalidade de transporte da a dimensão

da nossa importância econômica no final do século XIX.

Quinze anos. Foi o tempo necessário para a Estrada de Ferro Caravelas sair

do papel e virar realidade. Seu projeto de construção foi apresentado à Assembleia

Provincial por Basílio Daemom em 31 de outubro de 1872 e sua inauguração foi em

16 de setembro de 1887.

O projeto inicial previa que a estrada fosse até o Limoeiro, onde se

localizavam as grandes fazendas produtoras de café. Mas a parte que ligava a

estação do Castelo à Fazenda do Centro e ao Limoeiro não se concretizou, ficando

como ponto final da linha a praça da estação. Este inclusive foi o principal motivo

para que o início da urbanização se desse no entorno da praça.

Mas mesmo depois da inauguração os esforços para o prolongamento da

estrada até o Limoeiro continuaram. Tanto é verdade que o jornal semanário “O

Cachoeirano” publicou no dia 27 de julho de 1888 a notícia de que a Assembleia

Provincial iria discutir mais uma vez a questão da estrada de ferro do Limoeiro.

A discursão se dava em torno da viabilidade econômica de sua construção, e

também do compromisso ou não da Província na construção da mesma. A estrada

não chegou a ser construída, mas o prédio que serviria de estação na Fazenda do

Centro foi erguido e se encontra até hoje lá, a espera dos trilhos que nunca

chegaram.

A companhia responsável pela estrada de ferro, Companhia de Navegação e

Estrada de Ferro Espírito Santo – Caravelas, possuía três locomotivas. Baldwin de

27 toneladas, um carro de primeira classe, dois de segunda, dois mistos, dois de

correios e bagagens, dezoito vagões fechados e seis abertos. Uma era exclusiva

para o transporte de animais e seis de lastro. A estrada era de bitola larga.

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A primeira viagem de trem em solo espíritosantense foi para a Estação de

Pombal, em Alegre. O trem partiu às dez horas da manhã e retornou a Cachoeiro às

16 horas. Só no dia seguinte é que o trem chega à estação do Castelo.

No dia 17 de setembro de 1887 às sete horas da manhã a locomotiva com

seus 40 vagões partem com destino à estação do Castelo. A viagem da estação de

Cachoeiro que se localizava onde é hoje o gabinete do prefeito de Cachoeiro de

Itapemirim, durava 4 horas até a estação do Castelo, onde é hoje a Praça Três

Irmãos.

Aqui chegando as autoridades políticas, eclesiásticas, os responsáveis pela

estrada e os demais passageiros da viagem inaugural foram recebidos pela banda

de música do fazendeiro, proprietário da Fazenda do Centro, Manoel Fernandes

Moura, e pela população livre da época (nunca é demais lembrarmos que neste

período ainda vivíamos em um regime escravocrata) que se deslocou das fazendas

pelos trilhos, com uma rapidez estonteante para a época, e que carregava sozinho o

equivalente a várias juntas de boi.

Podemos considerar a chegada dos trilhos a Castelo como um dos fatos mais

importantes ocorridos na história do município. Foi um marco divisório em nossa

história, e que só vem reforçar a importância econômica das fazendas da região,

que com o suor, sangue, a própria vida dos escravos que eram privados do seu bem

maior, a liberdade, produziam café o suficiente para inserir nossa região entre as

mais importantes províncias do Espírito Santo.

A construção da estrada de ferro e montagem dos vagões e locomotivas ficou

sob responsabilidade do engenheiro Pedro Schere e também os empreiteiros

Figueiredo e Praxedes. As publicações da época na fizeram menção, mas nós, por

uma questão de senso de justiça e de reconhecimento e valorização, podemos

afirmar que os escravos tiveram participação na construção. E mais do que isso, que

foram fundamentais, pois nesta época nada em termos de trabalho era realizado

sem a presença da mão-de-obra escrava. Portanto, a base da origem do que hoje

consideramos o início de nosso progresso, foi também construída em cima da

destruição de um período importante de uma raça, a raça negra. O sangue e o suor

dos negros foram o principal combustível da construção do nosso progresso.

Os materiais para a construção da estrada de ferro foram importados da

Antuérpia, Bélgica, e chegaram ao porto de Cachoeiro que se chamava João

Marques e se localizava onde é hoje o Centro Operário e de Proteção Mútua,

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trazidos pelo vapor da Companhia de Navegação do Visconde de Matozinho, que

fazia regularmente o trajeto da foz do rio Itapemirim ao porto de Cachoeiro

transportando passageiros e mercadorias.

Acreditamos ter contribuído com essas análises para a elucidação de como

se deu o início do processo de urbanização de Castelo. Contudo é importante

também analisarmos dentro desse mesmo propósito, a respeito da Fazenda do

Centro.

Muito já falamos sobre ela, mas agora faremos uma abordagem em um

momento diferente, onde ela não é mais o centro das atividades políticas

econômicas e sociais.

Procuraremos retratar como a Fazenda do Centro, e através dela todo o meio

rural, reagiu ao fenômeno da urbanização. Esta análise é fundamental, pois Castelo

iniciou a construção de um núcleo urbano, mas jamais deixou de depender

economicamente da agricultura.

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Fazenda do Centro

Final do Século XIX e Início do Século XX

A história da Fazenda do Centro, por vezes se confunde com a própria

história de Castelo, ainda mais em se tratando dos períodos mais remotos. Como

fenômeno da urbanização ela vai gradativamente ficando em um plano mais

secundário, perdendo importância para o núcleo urbano que se formava no entorno

da estação.

Neste capítulo estaremos abordando a fazenda em um período específico, o

da morte de seu proprietário Manoel Fernandes Moura, em 1898 até a compra pela

ordem agostiniana, em 1909.

O Sr. Moura faleceu durante uma viagem para a Europa, deixando como

herdeiros Ansa Izabel Vieira Moura. Aí ocorre um fato no mínimo curioso, a herdeira

que residia no Rio de Janeiro, antiga Capital Federal, na Rua Senador Furtado, nº

12, não foi localizada e muito menos se preocupou em tomar posse de seus bens.

O cartório de Cachoeiro de Itapemirim enviou correspondência a herdeira

afirmando que ela tinha 8 dias pra comparecer a sede do município, no referido

cartório para assinar o termo de inventário, descrever os bens para serem avaliados

e pagos os impostos devidos. O não comparecimento no prazo descrito implicaria na

indicação de novo inventariante, ou seja, outro herdeiro.

Contam os registros, que foram 4 os herdeiros, sendo eles: Antônio

Fernandes Moura, Joaquim Fernandes Moura, José Vieira Ferraz e José Fernandes

Moura que residia em Portugal.

Como sabemos a falta de mão-de-obra era um problema crônico para os

fazendeiros neste período, e se agravou com o fim da escravidão. A tentativa da

vinda dos imigrantes italianos era uma das únicas opções, e assim também foi feito

na Fazenda do Centro.

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Ainda no período em que estava sobre a administração de Manoel F. Moura

chegara ao fazendeiro os primeiros imigrantes, mas ainda não em número suficiente

já que eles preferiam ficar nos núcleos coloniais onde recebiam terra do governo.

Do fim da escravidão até a compra de parte da fazenda pelos agostinianos

foram aproximadamente 20 anos; esse período foi marcado pelo abandono e pela

perda de importância econômica da Fazenda. A morte de seu proprietário e sua

divisão entre os herdeiros não alterou o quadro de decadência e abandono. Esse

quadro onde a Fazenda ficava sobre administração de feitores, principalmente após

a morte de Manoel F. Moura, só começa a mudar quando parte da Fazenda é

comprada pelos agostinianos.

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A Compra da Fazenda pelos Agostinianos

O ato de compra da Fazenda, foi antes de tudo uma transação comercial,

com todo os transtornos e características inerentes a mesma, como lucro, hipotecas,

financiamento, divida, etc. mas a frente nos ateremos aos números dos negócios,

agora, nos dedicaremos aos desdobramentos desta negociação que mudou a

estrutura fundiária de Castelo, introduzindo de vez a pequena propriedade no

município.

Em 1909 o Padre Manoel Simón de San José, ficou sabendo o interesse dos

então proprietários da Fazenda do Centro em vendê-la. Ao tomar conhecimento da

notícia, Frei Manoel vem a Castelo para conhecer a Fazenda.

Como se tratava de um grande negócio, ele busca alguns parceiros. A

intenção era comprar a Fazenda e repassá-la aos imigrantes italianos e seus

descendentes que residiam nos núcleos coloniais Alfredo Chaves, onde a terra não

era boa e não havia lugar para todos.

Os sócios escolhidos foram Maximiliano Alves e José Mariano Sobrinho,

sendo que o primeiro se dedicaria a criação de gado e o segundo a explorar o

comércio. Essa busca por sócio é mais uma prova da intenção dos compradores,

obteve ganho econômico com a transação. O agrimensor Herman Bello também

entraria de sócio, sua participação provavelmente seria prestando serviço de

medição das terras, já que esse serviço custava quase um terço do preço estimado

da Fazenda.

Mas a sociedade não durou muito tempo, logo em seu início antes mesmo de

começar as negociações com os proprietários, o Sr. Maximiliano Alves abandonou a

propriedade sem apresentar motivo aparente. Os outros sócios se dirigem a

Cachoeiro do Itapemirim para negociar com os donos da Fazenda.

Segundo consta nos registros do 1º Cartório de Imóveis de Cachoeiro de

Itapemirim, Frei Manoel Simon de San José e seu sócio José Mariano Sobrinho

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adquiriram dos herdeiros o total de 15421/2 alqueires, sendo 10171/2 na Fazenda do

Centro, 199 alqueires na Fazenda Criméia e 326 alqueires. (?)

Como forma de viabilizar a compra, os sócios resolveram hipotecar a

Fazenda junto ao banco.

Estava selada assim a transação de compra e venda que mudou a história de

Castelo. Este fato demonstrou toda a visão de negócio, coragem e idealismo de uma

importante figura da história de Castelo, estamos falando do Padre Frei Manoel

Simón.

Ele nasceu na Espanha, no ano de 1862, em 21 de maio de 1899 atravessou

o Atlântico e vem trabalhar no Espirito Santo, onde foi o primeiro Padre Agostiniano.

Em 14 de julho do mesmo ano é nomeado Pároco em Anchieta. A paróquia era

bastante extensa e abrangia todo o litoral sul e também o município de Alfredo

Chaves, onde estava localizado o núcleo colonial Castelo.

Frei Manoel faleceu em 1936, em Ribeirão Preto no interior de São Paulo, no

dia 19 de Julho. Durante o processo de compra da Fazenda que durou cerca de um

ano, Frei Manoel temeu que fosse destituído de sua função de sacerdote

administrador da paróquia de Guarapari, pelo Bispo Diocesano, sob a alegação de

que ele estava abandonando as questões religiosas e se dedicando somente a

Fazenda.

Para além das questões religiosas o fato é que Frei Manoel era homem de

grande visão. Pois além de ter feito um grande negócio do ponto de vista

econômico, resolveu o problema dos imigrantes e descendentes que viviam sem

terra, ou em algum lugar de pouca qualidade, e o que é mais importante,

impulsionou o processo de pulverização da propriedade rural em Castelo, que dura

até hoje.

Nos dedicaremos agora a análise das famílias que foram instaladas através

da compra, nas terras da Fazenda do Centro.

Para facilitar a compreensão do leitor, dividiremos a comercialização das

terras da Fazenda do Centro efetuada por Frei Manoel Simón em duas etapas. A

primeira foi feita aos colonos imigrantes e seus descendentes, algumas famílias das

quais já se encontravam na região e outras que vieram junto com o Frei Manoel, de

Alfredo Chaves. Vemos então dois tipos de negociação, a que assentou os colonos

de pequeno porte e a outra de maior porte.

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Nessa primeira fase, também encontramos registros de pagamentos

referentes a compra de terras na Fazenda, cujos valores nos fazem acreditar que o

volume de terra compradas eram bem superiores aos pequenos lotes vendidos aos

colonos.

Nas negociações de maiores valores, encontramos os registros de pagamento de:

01 – Denativos Domingos – 3.500 $000 (3 contos e quinhentos mil réis) –

25/05/1910;

02 – Denativos Domingos – 100 $000 (cem mil réis) – 30/06/1910;

03 – Manoel Moura Júnior – 1000 $000 (um conto de réis) – 17/08/1910;

04 – Giuseppina Ventorim – 500 $000 (quinhentos mil réis) – 15/10/1910;

05 – Vivácqua e Irmãos – 10.000 $000 (dez contos réis) – 01/02/1911;

A relação que segue se refere aos lotes de pequeno porte, e seus

proprietários e sua localização.

Na localidade de Corumbá:

Libardi Antônio Carlo – 05 lotes

Giovanni Bernabé – 01 lote

Amábile Mazzioli – 01 lote

Pedro Campo – 02 lotes

Fioravante Venturim – 02 lotes

Augusto Lachine – 02 lotes

Nicoli Antonio – 01 lote

Cerutti Giusseppe – 01 lote

Ângelo Vettorazi – 02 lotes

Dazzi Giusseppe – 01 lote

Rubim Pietro – 02 lotes

Facco Antônio – 01 lote

Alexandre Scandian – 01 lote

Giusseppe – 01 lote

Rubim Pietro Delazare – 01 lote

Venturim Ricardo – 03 lotes

Baldo Giusseppe – 06 lotes

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Na localidade do Caxixe

Vettorace Carlo e Irmãos – 07 lotes

Gulielmo Barrani – 01 lote

Salvador Giovanni – 01 lote

Salvador Francisco – 01 lote

D”Martin e Filhos – 04 lotes

Altoé Antônio e Filhos – 04 lotes

Caliman Giácomo – 01 lote

Caliman Pietro – 01 lote

Francischetto Alexandre – 01 lote

Fasolo Augusto – 01 lote

Cremasco Ângelo – 01 lote

Tossi Segundo – 02 lotes

Altoé José e Filhos – 03 lotes

Tossi Cirilo – 01 lote

Filhos de Cesconetti – 03 lotes

Camata Teodoro – 07 lotes

Brunoro Giovanni – 03 lotes

Monsueto – 07 lotes

Nicoli Caetano – 01 lote

Na localidade de São Luís

Bernabé Calixto e Irmãos – 04 lotes

Na localidade de Córrego da Telha

Salvador Francisco – 01 lote

Andreia Colodetti – 01 lote

Zoppe Ludovico – 01 lote

Nico Césare – 01 lote

Nicoli Caetano – 01 lote

Andreon Luigi – 02 lotes

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José Ribeiro d’Aquino – 01 lote

Na localidade de Vae e Vem

Caliman Michel – 04 lotes

Caliman Giusseppe – 02 lotes

Spadetto Filippo – 01 lote

Lubiana Luciano – 01 lote

Altoé Ticiano e Filhos – 02 lotes

Os mapas a seguir servirão para visualizar a divisão da Fazenda em lotes que

foram vendidos aos imigrantes e seus descendentes e diz respeito a 1ª fase.

Optamos por 1º colocar o mapa completo da Fazenda feito pelo agrimensor

Herman Bello e a seguir mapas divididos pelas comunidades que compunham a

Fazenda com o nome dos respectivos compradores.

Chegamos a esses nomes dos compradores e localização dos lotes, fazendo

um “cruzamento” de informações contidas nos documentos onde se fazia o controle

dos pagamentos pelos Agostinianos e o mapa.

Infelizmente, nem todos os lotes conseguimos identificar os seus

compradores.

Ao todo, as negociações de pequeno porte, somam 50 famílias em 6 localidades

num total de 115 lotes.

Entre a 1ª e a 2ª fase da venda das terras da Fazenda, em 1912, aconteceu a

dissolução da sociedade entre Frei Manoel Simón e José Mariano Sobrinho, ficando

a cargo de Frei Manuel Simón, toda a responsabilidade hipotecária da terra, assim

como também de pagar todas as dívidas relativas que cabe a Fazenda e inclusive a

que cabe a Joaquim Vieira Moura.

Em contrapartida, José Mariano Sobrinho e sua esposa Dona Leopoldina

Maria Amiga ficam com 620 alqueires de terro em matas. O restante das terras

continuou propriedade dos Agostinianos e dos imigrantes que foram adquirindo lotes

da Fazenda.

Na 2ª fase da comercialização das terras da Fazenda, já devidamente registrada em

cartório, ocorre a partir de 1932.

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A 1ª transação foi em 06/07/1932, onde vendeu a Achildo Lubiana, Etore

Lubiana, Attilio Lubiana, Adelino Lubiana, Pedro Lubiana e Emilio Lubiana, 3

alqueires de terrenos em capoeiras, próximo ao córrego da povoação.

A 2ª transação se deu em 27/03/1933, quando vendeu para João, Agostinho,

Ricardo, Luís e Virgílio da Família Altoé, 20 alqueires de terrenos em matas, no lugar

denominado Alto Caxixe.

Em 03/09/1934, Frei Manoel Simón vendeu a Carlos Sasso, 30 alqueires de

terrenos em mata, no lugar denominado Rancho.

Em 13/04/1936, as terras são comercializadas com João Sasso 1º, meio

alqueire em mata, no lugar denominado Corumbá.

Em 08/05/1936, Frei Manuel vende a Augusto Fasollo, 3 alqueires em mata

que confrontava com a propriedade de Francisco Piassi.

Em 15/02/1937, vende para João Jusson, Fernando Jusson, Ângelo Jusson e

Brás Jusson 17 alqueires de terreno, que confrontava com a Cia Territorial Castelo e

com Augusto Fasolo e Segundo Tosi.

Em 15/02/1937, vende a João Berleze 13 alqueires e meio de terrenos que

confrontava com Giocindo Lourencini e Egydio e Arthur Casagrande, e também com

a sociedade de colonização e instrução.

Em 12/03/1937, Frei Manuel vende a Andrea Tedesco, 23 alqueires de terras

em mata, situadas no Alto Caxixe, que confrontava com os irmãos Jusson, Antonio

Jusson e Francisco Piassi e irmãos Tosi.

No mesmo dia, negociou também com Domingos e Angélica Grassi, que foi

representado por seu pai Virgílio Grassi, por se tratarem de menos de 5 alqueires de

terras em mata, no Alto Caxixe, que confrontava com Raphael Zardo.

Consta no registro do cartório, ainda, vendeu em 04/05/1937, a Atílio Rigo, 6

alqueires de terreno em mata, no Alto Caxixe, confrontando com irmãos Tosi,

Raphael Zardo, Andrea Tedesco e Antônio Jusson.

Esses foram os registros encontrados em cartório (Cachoeiro de Itapemirim),

que convencionamos chamar de 2ª fase das vendas das terras da Fazenda do

Centro. Ao todo foram 12 transações de venda efetuadas por Frei Manuel Simón, na

década de 30 do século XX, totalizando 137 alqueires de terras.

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