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ISBN 978-85-7846-455-4 PROJETO DIDATIC: UMA EXPERIÊNCIA DE INCLUSÃO DIGITAL NO PATRONATO PENITENCIÁRIO DE LONDRINA-PR Ana Paula Marques Freitas Universidade Estadual de Londrina - UEL [email protected] Ariane Xavier de Oliveira Universidade Estadual de Londrina - UEL [email protected] Natalia Sotoriva Brust Universidade Estadual de Londrina [email protected] Diene Eire de Mello Univesidade Estadual de Londrina [email protected] Eixo 3: Educação e Tecnologia Resumo: O objetivo deste relato consiste em descrever e analisar as ações relativas à inclusão digital de pessoas que tiveram privação de liberdade, sobre o tema “Currículo profissional” no Patronato Penitenciário de Londrina-PR. Tal experiência foi desenvolvida pelo projeto pesquisa “DidaTIC” com a participação de 7 egressos do sistema prisional durante 5 encontros com a duração de 2 horas cada. Os dados foram alcançados por meio de 1) planejamento pedagógico; 2) um questionário contendo questões abertas e fechadas sobre aspectos pessoais, nível de escolarização e relacionamento com os artefatos digitais no cotidiano de cada egresso, e; 3) observações diretas na realidade. As ações pedagógicas visaram a elaboração de um currículo profissional por meio da 1651

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ISBN 978-85-7846-455-4

PROJETO DIDATIC: UMA EXPERIÊNCIA DE INCLUSÃO DIGITAL NO PATRONATO PENITENCIÁRIO DE LONDRINA-PR

Ana Paula Marques FreitasUniversidade Estadual de Londrina - UEL

[email protected] Xavier de Oliveira

Universidade Estadual de Londrina - [email protected]

Natalia Sotoriva BrustUniversidade Estadual de [email protected]

Diene Eire de MelloUnivesidade Estadual de Londrina

[email protected]

Eixo 3: Educação e Tecnologia

Resumo: O objetivo deste relato consiste em descrever e analisar as ações relativas à inclusão digital de pessoas que tiveram privação de liberdade, sobre o tema “Currículo profissional” no Patronato Penitenciário de Londrina-PR. Tal experiência foi desenvolvida pelo projeto pesquisa “DidaTIC” com a participação de 7 egressos do sistema prisional durante 5 encontros com a duração de 2 horas cada. Os dados foram alcançados por meio de 1) planejamento pedagógico; 2) um questionário contendo questões abertas e fechadas sobre aspectos pessoais, nível de escolarização e relacionamento com os artefatos digitais no cotidiano de cada egresso, e; 3) observações diretas na realidade. As ações pedagógicas visaram a elaboração de um currículo profissional por meio da ferramenta de edição de texto Word. Os resultados demonstraram a relevância da temática para a reinserção destas pessoas no mercado de trabalho. Constatou-se que sonhos foram roubados, delitos foram cometidos para uma vida digna. Retomada a liberdade, esses sujeitos gozam em tese de uma reeducação, pois mais uma vez são impedidos de desfrutar das oportunidades para uma vida digna: evasão dos cursos para sobreviver.

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Palavras-chave: Educação não formal, Inclusão Digital, Ressocialização.

Introdução

O presente trabalho busca apresentar uma experiência realizada

pelo projeto de pesquisa “DidaTIC: tecnologias, didática e aprendizagem”. Este

projeto pertence ao departamento de Educação da Universidade Estadual de

Londrina-PR e objetiva compreender como as tecnologias digitais podem alterar os

processos didáticos em sala de aula. O grupo de pesquisa DidaTIC é composto por

três professoras da Universidade, um estudante de Iniciação Científica Júnior, cinco

estudantes de graduação e uma estudante de pós-graduação. Quinzenalmente o

grupo reúne-se para investigar, discutir e produzir estudos no campo das tecnologias

digitais e didática.

O campo da experiência consistiu no Patronato Penitenciário de

Londrina -PR, durante o primeiro semestre de 2017. Esta instituição trata-se de um

órgão da Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SEJU),

vinculado e subordinado ao Departamento Penitenciário do Estado do Paraná

(DEPEN), denominando-se como uma unidade de execução penal voltada para o

atendimento de apenados e egressos de instituições prisionais do Estado. Entre as

atribuições deste espaço, busca-se a promoção da reintegração social, a garantia do

cumprimento de direitos e a criação de condições para impedir a reincidência e o

ciclo da violência (PARANÁ, 2017).

Para tanto, apresenta como política de atuação a partir da

criminalidade, ações de assistência jurídica, social, psicológica, pedagógica e

cultural, bem como o cumprimento da Prestação de Serviços à Comunidade (PSC),

ações estas ofertadas aos apenados e egressos que cumprem pena em regime

aberto, que visam a diminuição da reincidência criminal. Além disso, o Patronato

pauta-se em política ostensiva de apoio ao apenado, egressos e familiares. Tal

apoio, reúne uma vasta rede de programas nomeados como “Programas Pós-

Egressos”, que são direcionados pelos Patronatos do Estado. Por sua vez, o

trabalho realizado neste espaço, destaca sua relevância, à medida que o sujeito que

retorna para o convívio social após o cumprimento das penas na instituição, pode

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conhecer-se enquanto cidadão de direitos, deveres e valores, da mesma maneira

que reconhece as garantias constitucionais. Assim, para a sociedade, tal situação

também é relevante à medida que, os índices de reincidência criminal diminuem por

parte dos indivíduos que alcançam assistência e acompanhamento após o cárcere

em comparação aqueles que nada alcançam (PARANÁ, 2017).

À vista disso, ainda que o Patronato Penitenciário caracteriza-se

como um espaço de educação não formal e a especificidade o projeto DidaTIC

compreende a educação escolarizada, o grupo foi convidado pelas pedagogas da

instituição para desenvolver ações didático-pedagógicas relativas à inclusão digital

de egressos do sistema prisional em regime aberto, liberdade condicional e

liberdade vigiada em processo de ressocialização. Visto que a sociedade está em

constante transformação, mudanças culturais em diversos segmentos da vida

humana são impregnadas diariamente à medida que o homem busca satisfazer as

suas necessidades. No terreno das tecnologias digitais não é diferente. Em conjunto

ao ciberespaço, uma vasta variedade de artefatos e inovações digitais contribuem

com a transformação do modo como as pessoas constituem os seus cotidianos.

Assim, a apropriação do desenvolvimento cultural acumulado

historicamente é condição primordial para que o indivíduo desenvolva funções

especificamente humanas em conformidade com a realidade a qual pertence. De

acordo com Mello (2004) tratar de cultura é referir-se a toda produção humana

elaborada ao longo da história pela humanidade, que se dividem em dois grupos:

coisas materiais e coisas não materiais da cultura. Os materiais dizem respeito aos

objetos, as máquinas, instrumentos de trabalho. As coisas da cultura não materiais

agregam os hábitos, os costumes, a língua, as artes, os conhecimentos. Os seres

humanos se constituem assim, em conformidade a cultura acumulada que tem

acesso, internaliza e utiliza em seu grupo social.

Por conseguinte, abordar e desenvolver ações que incorporem a

temática inclusão digital para indivíduos privados de liberdade demonstra

significado, pois trata-se de possibilitar o desenvolvimento humano usurpado desses

sujeitos por alguma circunstância. Isso, pois, o que se buscou nesta experiência,

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perpassou ações pedagógicas meramente voltadas ao uso técnico de um artefato

digital. Mas, que apesar da realidade em que se encontram (de tentativa de

reinserção no mundo de trabalho) os envolvidos tivessem condições para considerar

a possibilidade de (continuar a) buscar também por conhecimento de caráter

científico (educação em âmbito escolar/acadêmico, por exemplo), visando, assim,

ampliar as oportunidades de melhoria nas condições de suas vidas. Assim,

buscamos neste relato de experiência descrever e analisar as ações relativas à

inclusão digital de pessoas que tiveram privação de liberdade sobre o tema

“Currículo profissional”.

“Currículo profissional”: o trabalho pedagógico de inclusão digital no Patronato Penitenciário.

O projeto DidaTIC se apóia na perspectiva dialética, que afirma que

a natureza e a sociedade estão em um constante movimento e não admite uma

postura estática e definitiva. Ao mesmo tempo que o mundo modela o ambiente, o

organismo, os fenômenos físicos, o ser humano, estes também moldam o mundo.

Sendo assim, podemos não apenas observá-lo, mas modificá-lo por meio das

nossas ideias e ações. Com base nesta concepção da realidade, pautamo-nos nos

princípios filosóficos marxistas do materialismo histórico-dialético, do qual prevê a

transformação da sociedade por meio do estudo científico da mesma. Para tanto, a

história tem papel fundamental à medida que retrata as transformações, mudanças e

contradições vigentes em cada época, e viabiliza a compreensão do real. Além

disso, apoiamo-nos nos pressupostos da Teoria Histórico-Cultural para situar os

artefatos culturais na relação com o meio social e o desenvolvimento humano.

Tais apontamentos de cunho filosófico, psicológico e metodológico

foram fundamentais para guiar as concepções e embasar as ações empreendidas

durante os meses de junho a julho do ano de 2017, no Patronato Penitenciário de

Londrina. Durante 5 encontros com a duração de 2 horas cada, perdurou no

transcorrer das ações pedagógicas vinculadas ao tema “Currículo profissional”, os

objetivos precípuos de: a) discutir a necessidade social de um currículo profissional;

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b) elaborar um currículo utilizando a ferramenta para edição de texto Word, e, c)

oportunizar futuramente a reinserção dos egressos no mercado de trabalho.

Como parte do atendimento e acompanhamento ofertado aos

egressos e apenados por tal instituição de execução penal, tem-se o envolvimento

das áreas jurídicas, sociais, psicológicas e pedagógicas (PARANÁ, 2017). De

acordo com Oliveira (2015), embora os demais atendimentos prestados não tenham

explicitamente o objetivo de educar, os serviços de assistência oportunizados em

diferentes áreas contribuem para a reeducação dos assistidos na sociedade. Assim,

por abranger especificamente atendimento pedagógico, o Patronato é caracterizado

como um espaço de educação não formal. A educação não formal, “[...] caracteriza-

se por ser uma maneira diferenciada de trabalhar com a educação paralelamente à

escola [...]”, que por vezes acaba “[...] complementando as lacunas deixadas pela

educação escolar” (SIMSON; PARK; FERNANDES, 2001, p. 9).

O Patronato apresenta entre suas atividades permanentes,

possibilidades de qualificação profissional para o mercado de trabalho, por meio de

reuniões com egressos e apenados desempregados, oferta de cursos

profissionalizantes entre outras alternativas propostas a partir do convênio com a

Secretaria de Estado do Emprego e Relações do Trabalho. Além disso, vagas de

emprego podem ser acessadas em terminal próprio na instituição em parceria com a

Secretaria de Estado do Emprego e Relações do Trabalho / Agência do

Trabalhador / SINE (Sistema Nacional de Empregos) e Carteira de Trabalho pode

ser expedida (PARANÁ, 2017). Mediante esta condição de preparo para a

reinserção desse público peculiar no mercado de trabalho, as intervenções

pedagógicas desenvolvidas com a temática em questão, é justificada.

Destarte, participaram da elaboração e acompanhamento das ações

didático-pedagógicas, duas professoras da Universidade e três estudantes da

graduação em Pedagogia em conjunto a uma estudante de pós-graduação. Já do

processo formativo, ao todo, participaram 7 egressos do sistema penitenciário,

sendo 5 do sexo masculino e 2 do sexo feminino. Os dados retratados neste relato,

foram alcançados por meio de diferentes fontes, a saber: 1) planejamento

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pedagógico da ação acerca do tema “Currículo Profissional”; 2) um questionário

contendo questões abertas e fechadas sobre aspectos pessoais, nível de

escolarização e relacionamento com os artefatos digitais no cotidiano de cada

egresso, e; 3) observações diretas na realidade a respeito do desempenho das

propostas.

Conforme salientado, as ações sobre o tema “Currículo profissional”

ocorreram em 5 encontros, a serem explorados na sequência. O primeiro encontro,

teve por objetivo inicial, conhecer um pouco sobre os participantes por meio de uma

dinâmica, onde poderiam expor sobre a história de vida, família, sonhos e sobre as

razões que levaram a frequência ao Patronato Penitenciário. No entanto, neste

primeiro encontro, os participantes chegaram em horários distintos. Assim, a

proposta inicial foi adaptada mediante a necessidade de envolvimento dos

participantes às intencionalidades pedagógicas. Devido a isso, foi apresentado o

computador, suas partes, suas funcionalidades e o seu uso social. Para alguns, este

foi o primeiro contato com o artefato. Para outros, foi uma oportunidade de relembrar

o uso técnico. Dificuldades para manusear/controlar o mouse, encontrar as letras no

teclado e empregar os símbolos, assim como criar, organizar pastas e minimizar,

maximizar e fechar páginas, foram reveladas com frequência.

Mediante o desconhecimento de alguns recursos do Windows e com

vistas a introdução do editor de texto Word, mediações foram estabelecidas para

que funções fossem compreendidas e realizadas de forma autônoma pelos

participantes. No caso específico do Word, embora alguns já tivessem acessado um

computador, poucos conheciam este editor de texto. Assim sendo, expôs-se uma

breve caracterização do editor abarcando seus principais usos, aplicabilidades e o

significado do uso técnico do mesmo para a elaboração de um currículo profissional.

Na sequência, possibilitou-se a prática de criação e composição de

um documento do word para exploração espontânea. Assim, percebeu-se como se

dava o contato dessas pessoas com a escrita em um teclado físico e

simultaneamente, apresentava-se as funcionalidades do word em conformidade com

o interesse e necessidade de aprendizagem de cada participante. Além disso,

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buscou-se viabilizar o sentido da apropriação de habilidades desenvolvidas pelo uso

da ferramenta a favor da formação humana e também da reinserção no mercado de

trabalho.

Após a exploração dos recursos do editor, foi solicitado aos

participantes que escrevessem um breve relato sobre a sua vida que demonstrasse

a história familiar, experiências profissionais e os objetivos e expectativas com

relação ao curso ministrado. Como o contato com o computador era inicial para

alguns, a prática de digitação consistiu em uma atividade nova que exigia maior

exercício de algumas funções psicológicas superiores, tais como a atenção à

localização das letras no teclado e memória para relembrar como ativar alguns

símbolos específicos de determinadas teclas. As pessoas que já possuíam contato

com a máquina tiveram uma maior facilidade para realizar a atividade, concluindo a

proposta no tempo disponibilizado.

As observações realizadas no primeiro encontro demonstraram que

seria necessário conduzir o planejamento das ações com uma mediação individual,

isto porque, constatou-se os diferentes níveis de domínio das técnicas tanto do

computador, quanto do word apresentados pelos egressos. Como o grupo para

mediação pedagógica era maior do que os participantes, o atendimento mais

individualizado tornou-se possível, cada professora sentou-se ao lado do

participante. Delineamos para os encontros subsequentes conteúdos que

abarcavam desde as funções básicas (ligar e desligar o computador, abrir o editor,

criar uma pasta, criar e salvar um documento de texto) à elementos integrantes de

um currículo profissional (função, normas de formatação, design) na qual seriam

explorados em conformidade com o nível de desenvolvimento de cada um e no

tempo em que necessitavam para desempenhar as propostas.

Isto posto, no segundo encontro foi dado continuidade a

apresentação da ferramenta word e a atividade do relato pessoal. Além disso,

introduziu-se para as pessoas que concluíram as atividades no encontro anterior, o

próximo passo: a função e relevância de um currículo na atualidade e os seus

elementos constituintes. Explanou-se que o currículo também pode ser chamado de

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Curriculum Vitae ou CV e tem por finalidade fornecer dados sobre o perfil da pessoa

para um empregador, assim, as informações devem ser resumidas e atualizadas em

uma linguagem formal, clara e impessoal. Em seguida, explorou-se a abertura de um

novo documento e a criação de um currículo.

A partir disso, informações e dados pessoais começaram ser

transcritos ao currículo, elegendo a necessidade de reconhecer, por meio de

questionamentos aos sujeitos, quais dados eram importantes e pertinentes ao

documento em elaboração. Neste processo de composição do currículo,

aprofundou-se o conhecimento dos recursos disponibilizados pela ferramenta word,

como fonte, tamanho, layout da página, bordas etc. Ainda neste encontro, explorou-

se a prática de criação de uma pasta para inserir o novo arquivo criado assim como

a transferência de um arquivo do computador para outro dispositivo, no caso, o

pendrive.

A diversidade de conhecimentos e práticas prévias do conteúdo de

um currículo, das técnicas do word e a chegada de mais participantes, reforçou a

necessidade de apoio individual. A exemplo, enquanto um participante estava

enfrentando suas dificuldades para digitação, o outro já estava iniciando o seu

currículo, e as pessoas que não tinham participado do primeiro encontro precisavam

que as atividades e objetivos fossem retomados.

Já no terceiro encontro, exploramos a autonomia dos egressos para

desligar o computador (pois quando chegavam as máquinas já estavam ligadas pela

pedagoga), ligar, abrir o documento word e dar continuidade às atividades, dentre

elas currículo, criação e abertura de pastas e por último, armazenamento no

pendrive.

Com o objetivo de ampliar as formas de futuro contato pelas

empresas empregadoras, o quarto encontro destinou-se para o conhecimento e

criação de uma conta de e-mail. No entanto, não foi possível o acesso à internet no

laboratório de informática do Patronato, a ser verificada possíveis conexões para o

último encontro. Neste encontro, apenas um egresso compareceu e deu-se

continuidade a composição do currículo com base nos certificados levado pelo

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egresso para complementação da experiência profissional e acadêmica. Aém disso

registrou-se uma foto do egresso para utilizá-la no currículo finalizado.

Por fim, no quinto encontro, a conexão à internet não estava

estabelecida e somente um participante compareceu. Como o participante possuía

um celular com acesso à dados móveis e uma conta do Google que permite o

acesso a um endereço de e-mail, utilizou-se o dispositivo para conhecer sobre as

funcionalidades deste meio de comunicação. Realizou-se uma simulação de contato

empresarial, na qual se conheceu os processos de recebimento, resposta e envio de

e-mails. O curso encerrou-se com uma confraternização e um breve relato de

agradecimento do participante pelas aprendizagens.

Portanto, com base nas fontes de informação adotadas nesta

experiência e na sequência de ações pedagógicas expostas, o próximo tópico

propõe-se a delinear uma análise dos dados alcançados.

Discussão e análise dos dados

De acordo com Oliveira (2015), o atendimento pedagógico aos

egressos do sistema prisional em liberdade condicional e no regime aberto no

Patronato Penitenciário de Londrina-PR ocorre por meio da pena de Prestação de

Serviço à Comunidade, Medida Educativa, Pena Pecuniária e/ou Cesta básica.

Assim, o trabalho do setor pedagógico reside no acompanhamento e oferta de

cursos de capacitação profissional, tendo sua participação condicionada à pena da

pessoa, com o propósito de reintegração social e profissional deste público. Neste

processo de reinserção é necessário que o docente, por meio de sua prática,

possibilite uma formação e/ou capacitação adequada para que possam inserir-se

com mais competência à sociedade. Neste sentido, Oliveira (2015, p.29) sublinha

que no caso específico do Patronato:

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O pedagogo é o articulador e o facilitador no processo de escolarização, formação profissional e empregabilidade. O setor pedagógico atende a todas as entrevistas iniciais, de forma individual, ou seja, a apresentação de cada egresso e assistido no Patronato, visando conhecer o grau de escolaridade e o histórico profissional de todos atendidos pela unidade.

Importante salientar o relevante papel da inclusão digital para

reinserção social, haja vista que o conhecimento de determinados artefatos digitais

na atualidade é indispensável para a capacitação e exercício profissional. Conforme

Lima (2005), os conhecimentos relativos ao uso das Tecnologias Digitais de

Informação e Comunicação (TDIC) são necessários, pois se tratam de ferramentas

imprescindíveis para o bom funcionamento do sistema produtivo e para o mundo

globalizado, gradativamente, este conhecimento é o princípio para a formação de

competências, capazes de gerar inovações e renda. Ou seja, apropriar-se de

conhecimentos, mesmo que básicos sobre o manuseio de aparelhos tecnológicos

para o cumprimento de determinadas funções no modo de produção vigente, pode

ser entendido como “critério” de inserção social.

Em contrapartida, o conhecimento adquirido não apenas servirá para

a formação profissional, como também atenderá o desenvolvimento econômico

objetivado na sociedade vigente na promoção de renda e mão de obra

especializada. Ademais, o acesso aos artefatos digitais compreende o acesso à

cultura humana, a produção material que deveria ser alcance de todos e não

privilégio de uma classe, como é possível perceber na atual organização social, o

privilégio de uns em detrimento de outros. De acordo com Leontiev (1978), ao se

apropriar de um instrumento humano, o homem incorpora as necessidades e

capacidades humanas ali objetivadas pelas gerações passadas. Assim, é possível

entender que os objeto humanos não são somente físicos, mas neles contém

atividade, isto é, experiência humana acumulada historicamente. A apropriação da

riqueza acumulada nos objetos compõe uma característica fundamental no processo

de humanização dos indivíduos. Nas palavras do autor:

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A aquisição do instrumento consiste, portanto, para o homem, em se apropriar das operações motoras que nele estão incorporadas. É a mesmo tempo um processo de formação activa de aptidões novas, de funções superiores, “psicomotoras” que “hominizam” a sua esfera motriz. (LEONTIEV, 1978, p. 269)

À vista disso, no contexto em questão, o uso pedagógico do

computador denota também um trabalho de formação humana para os egressos, ao

oportunizar mesmo que em um curto espaço de tempo, o acesso a um bem cultural

que possui potencial para propiciar o desenvolvimento cognitivo dos integrantes

deste processo de ressocialização.

No cenário do Patronato, Oliveira (2015) salienta o desafio para o

pedagogo atuar em uma unidade penal, pois é necessário que haja interação com

pessoas que foram excluídas socialmente, deste modo o educador deve lutar para

propor novos aprendizados para se reintegrarem novamente.

No curso, participaram 7 pessoas sendo 2 mulheres e 5 homens, na

faixa etária entre 27 a 38 anos. No decorrer das aulas, a participação diminuía

constantemente. Pode-se observar que as razões que levaram essas pessoas a

evasão consistiu na busca por uma fonte de renda (emprego) ou a realização de

alguma atividade autônoma, ambas com a finalidade maior de sobrevivência. Todos

participantes possuem filhos, logo, a ausência nos cursos vai além da própria

sobrevivência, abrange a vida de famílias.

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Além disso, outra razão reside nas dificuldades de aprendizagem,

por vezes, devido à falta de acesso à escola. Muitos deles podem ser considerados

analfabetos digitais por determinantes econômicos e sociais ao que diz respeito ao

manuseio de computadores e programas processadores de texto, como o Microsoft

Word, e as planilhas de cálculo, como o Excel. Os dados demonstraram que para o

público em questão o acesso às TDIC’s é restrito ao interesse apenas por redes

sociais, como o facebook e o whatsapp, favorecidos pelos celulares, artefato comum

a todos. Justifica-se também, esse desconhecimento digital, pelo fato de terem

abandonado a escola cedo e não terem realizados cursos profissionalizantes. Sobre

as razões que permeiam a evasão deste público nos cursos ofertados, Oliveira

(2015, p. 39) explica que:

São inúmeros os motivos dos quais esse abandono escolar ocorre, na maioria das vezes o mundo do trabalho impediu que estes alunos adentrassem ou permanecessem na escola. Muitos declaram que abandonam os estudos pela necessidade de trabalhar e ajudar no sustento da família, outros muitos afirmam ter dificuldades de aprendizagem, e por um descuido da escola e da família, essa dificuldade não foi trabalhada e desenvolvida, e por isso acabaram reprovando, a repetência é também um forte motivo de evasão nesta realidade.

A explicação de Oliveira (2015) é muito relevante, pois em contraste

a experiência vivenciada, foi possível perceber que esse abandono escolar teve

impacto direto na participação no curso e no comprometimento desses alunos para

reintegração social, pois a consequência desta evasão pode ser percebida em

alguns pela falta de interesse, em outros por dificuldade de aprendizagem e

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desestrutura familiar e em outros por desemprego. Embora a participação do curso

seja necessária para a redução de pena, esses empecilhos, já citados, fez com que

durante o curso ocorresse grande evasão, que na experiência em pauta, a principal

razão restringiu-se à necessidade de trabalho e busca do mesmo na garantia de

sobrevivência. Desta maneira, nos últimos encontros predominou a participação de

apenas um egresso.

Segundo Bonilla e Pretto (2011), compreendendo a realidade

individual é possível que o educador inicie um processo de reeducação e, através de

sua prática educativa, possibilitar sua transformação integral, assim preparando para

ser apto a retornar a sua vida social e reintegração profissional. Sendo assim, ao

percebermos que os alunos não estavam comparecendo, realizou-se contato

telefônico a cada encontro com os mesmos pela pedagoga do Patronato. Não

obtendo retorno dos contatos realizados foi comunicado às autoridades

competentes. Ao aluno que compareceu às aulas foi ressaltada a importância da

finalização do curso, pois não apenas ajudaria na redução da pena, como também

possibilitaria uma chance maior de reintegração profissional, seja através da

apresentação do currículo (que inclusive, ele aprendeu a fazer durante as aulas) e

da forma de se comportar durante as entrevistas de emprego, como também através

da criação e envios de emails.

Este processo de reinserção social não é fácil, há muitos

estereótipos que implicam nas entrevistas de emprego quando se tem antecedentes

criminais, tornando um grande empecilho para a contratação, e, muitas das vezes,

estas pessoas, por estarem desempregadas e não obtendo sucesso nas poucas

entrevistas de emprego que aparece, se sentem vulneráveis a voltar às práticas

ilícitas.

Entretanto, como a maioria dos alunos que iniciaram o curso não o

concluíram, não foi possível fazê-los entender da importância do conhecimento de

habilidades digitais na atualidade. Embora, na primeira aula realizou-se uma

dinâmica de grupo para compreender a realidade deles hoje e para mostrar a

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importância que o conhecimento do uso das tecnologias digitais e de que forma tais

saberes poderiam alterar a vida deles.

Considerações finais

O presente estudo teve como objetivo descrever e analisar as ações

relativas à inclusão digital de pessoas que tiveram privação de liberdade sobre o

tema “Currículo profissional”. Com base nos dados coletados, algumas

considerações são pertinentes.

A inclusão digital faz se necessária para o acompanhamento

individual e coletivo das demandas contemporâneas. Desta forma, é imprescindível

quebrar paradigmas para a abertura de aprendizagens técnicas e pedagógicas

envolvendo os artefatos digitais, em busca de tanto pela capacitação profissional

quanto pelo desenvolvimento de potencialidades, alcance de novas oportunidades e

vivências sociais.

A escola, em linhas gerais, deve promover acesso à educação a

quem dela precisar. Se tratando de pessoas que foram privadas de sua liberdade,

constatou-se que embora um dos papéis da escola na sociedade capitalista seja o

formação dos indivíduos para o mercado de trabalho, nem todos alcançam as

condições econômicas, sociais e psicológicas para usufruir do direito à educação.

Apoiamo-nos no estudo de Oliveira (2015) para conceber sobre o abandono escolar

tão presente na realidade das pessoas que desfrutam dos serviços prestados pelo

Patronato Penitenciário. Conforme a autora, o abandono escolar ocorre maiormente

pela necessidade de trabalho para sustento da família, na qual impediu o ingresso e

permanência na escola. Além disso, dificuldades de aprendizagem e falta de apoio

escolar e familiar, conduziram a reprovação, outro fator de evasão dos bancos

escolares.

Em vista dos apontamentos de Oliveira (2015), a realidade

enfrentada na oferta do curso de Currículo profissional, possibilitou constatar que a

maior razão de evasão escolar dos egressos coincide com a razão que leva os

mesmos a evadirem dos cursos que possuem a missão de oportunizar formação

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acadêmica e, sobretudo profissional que poderia contribuir para a ressocialização.

Mediante esta contradição, reitera-se a necessidade de projetos sociais e políticos

coerentes à realidade vigente, que de fato sejam convenientes para atender o

objetivo ofertado pelo setor pedagógico na instituição.

A experiência vivenciada demonstrou que, apesar destes projetos

não mostrarem ser totalmente suficientes para a ressocialização, são um dos

caminhos a serem seguidos e mantidos pelas autoridades competentes, porém, é

imprescindível um esforço coletivo entre sociedade, família e governo, para que

estas pessoas não continuem sendo marginalizadas por erros cometidos e excluídas

desse trabalho que visa a “ressocialização” quando as mesmas almejam alcançar

oportunidades, mas são impedidas pela necessidade de sobrevivência.

Portanto, apesar desta e outras iniciativas serem de grande valia,

elas não resolvem o problema da inserção, pois essas pessoas continuam

marginalizadas. As condições postas para o cumprimento das Medidas Educativas

voltadas à reinserção social, não estão coerentes com as necessidades econômicas

e sociais deste público. É preciso ações mais pontuais, de políticas públicas que

tenham apoio social, acadêmico, político, público e econômico, uma vez que a

dificuldade de capacitação e melhoria de vida de um egresso do sistema prisional é

duas vezes maior do que de uma pessoa sem antecedentes criminais. Trata-se de

pessoas que tiveram seus sonhos roubados, cometeram delitos para ter uma vida

mais digna, e que, retomada a liberdade necessitam de uma reeducação para

ingresso na sociedade, mas que, são impedidos novamente de desfrutar das

oportunidades de reinserção social para ter uma vida mais digna e, sobretudo

sobreviver.

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Referências

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