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Resumo estendido Articulação entre trabalho e família em quatro regiões metropolitanas As atividades domésticas e as de cuidados, ou seja, o trabalho reprodutivo ainda é marcado por sua invisibilidade (BORIS, 2014; APTER, 1985; OAKLEY, 1974). Essa condição é sustentada pela permanência de uma noção naturalizada de gênero, que assume ser feminina responsabilidade pelos cuidados com a casa e os demais membros familiares (BORIS, 2014; NEVES, 2013; BRUSCHINI, 2007 e 2009; SORJ, FONTES, MACHADO, 2007; BRUSCHINI, LOMBARDI, 2001; OLIVEIRA, BILAC, MUSZKAT, 2000, OLIVEIRA, 1981). O contingente crescente da mão de obra feminina e da importância do rendimento do trabalho das mulheres para as famílias, principalmente das que são cônjuges, têm propiciado questionamentos e rupturas com relação à visão que congela no tempo o modelo assimétrico e complementar de homem provedor e mulher cuidadora, assim como da posição das mulheres na sociedade (BRUSCHINI 2007; SORJ, 2004). Contudo, as expectativas de que a independência da mulher por meio do trabalho remunerado auxiliasse na promoção de uma igualdade de gênero não têm se concretizado. Acumulam-se evidências apontando para a permanência de uma desigual divisão sexual do trabalho, que ainda onera fortemente as mulheres (OLIVEIRA, MARCONDES, 2015; SORJ, 2014; WAJNMAN, 2012; GUEDES, 2010; SORJ, FONTES, MACHADO, 2007; BRUSCHINI, 2007; OLIVEIRA, 2007; OLIVEIRA e MARCONDES, 2004; HIRATA, 2004; BRUSCHINI, LOMBARDI, 2001; OLIVEIRA, 1981; BILAC, 1978). 1

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Resumo estendidoArticulação entre trabalho e família em quatro regiões metropolitanas

As atividades domésticas e as de cuidados, ou seja, o trabalho reprodutivo ainda é

marcado por sua invisibilidade (BORIS, 2014; APTER, 1985; OAKLEY, 1974). Essa

condição é sustentada pela permanência de uma noção naturalizada de gênero, que assume ser

feminina responsabilidade pelos cuidados com a casa e os demais membros familiares

(BORIS, 2014; NEVES, 2013; BRUSCHINI, 2007 e 2009; SORJ, FONTES, MACHADO,

2007; BRUSCHINI, LOMBARDI, 2001; OLIVEIRA, BILAC, MUSZKAT, 2000,

OLIVEIRA, 1981).

O contingente crescente da mão de obra feminina e da importância do rendimento do

trabalho das mulheres para as famílias, principalmente das que são cônjuges, têm propiciado

questionamentos e rupturas com relação à visão que congela no tempo o modelo assimétrico e

complementar de homem provedor e mulher cuidadora, assim como da posição das mulheres

na sociedade (BRUSCHINI 2007; SORJ, 2004). Contudo, as expectativas de que a

independência da mulher por meio do trabalho remunerado auxiliasse na promoção de uma

igualdade de gênero não têm se concretizado. Acumulam-se evidências apontando para a

permanência de uma desigual divisão sexual do trabalho, que ainda onera fortemente as

mulheres (OLIVEIRA, MARCONDES, 2015; SORJ, 2014; WAJNMAN, 2012; GUEDES,

2010; SORJ, FONTES, MACHADO, 2007; BRUSCHINI, 2007; OLIVEIRA, 2007;

OLIVEIRA e MARCONDES, 2004; HIRATA, 2004; BRUSCHINI, LOMBARDI, 2001;

OLIVEIRA, 1981; BILAC, 1978).

Este artigo tem por objetivo refletir mais uma vez sobre as relações casa e trabalho por

meio da avaliação comparativa dos tempos dispendidos com o trabalho no espaço doméstico-

familiar com trabalho remunerado fora de casa. São consideradas mulheres de 16 a 59 anos

residentes em quatro regiões metropolitanas brasileiras: Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e

Curitiba. As informações exploradas são provenientes da série da PNAD dos anos de 2002 e

2012.

As condições de inserção da mão de obra feminina

Nas quatro regiões metropolitanas (RMs) analisadas, enquanto a taxa de participação da

população de 16 a 59 anos masculina pouco se altera entre os dois anos destacados, as taxas

femininas apresentam incremento relativo em todas as RMs, particularmente nas RMs de 1

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Curitiba (aumento de 4,6 p.p.) e São Paulo (2,7 p.p.). As mulheres com filhos aparecem como

grande responsável pelo crescimento da mão de obra feminina disponível no mercado nesse

decênio. (Tabela 1)

Tabela 1 - Condição de participação e desocupação da população de 16 a 59 anos de idade. Regiões Metropolitanas selecionadas, 2002 e 2012.

Região Metropolitana

Taxas de participação (%) Taxas de desocupação (%)

Homens Mulheres Mulheres com filhos

Mulheres sem filhos Homens Mulheres Mulheres

com filhosMulheres sem filhos

2002Salvador 88,0 71,1 70,3 72,6 15,3 23,3 20,6 28,3Rio de Janeiro 86,4 60,7 57,4 67,9 9,4 15,7 13,2 20,1São Paulo 89,6 66,6 60,9 78,3 10,6 15,9 14,9 17,5Curitiba 90,6 67,3 63,0 77,0 7,5 9,7 8,8 11,4

2012Salvador 88,2 71,6 71,2 72,4 8,8 15,8 14,5 18,3

Rio de Janeiro 84,8 62,4 61,8 63,9 4,4 8,7 8,2 9,8

São Paulo 89,0 69,3 64,8 77,6 5,3 7,5 6,9 8,5

Curitiba 89,9 71,9 69,3 77,1 4,0 5,9 4,3 9,0 Fonte: IBGE, PNAD 2002 e 2012.

Observa-se na Tabela 1 que a participação das mulheres mães aumentou 6,3 p.p. em

Curitiba, 4,4 p.p no Rio de Janeiro e 3,9 p.p. em São Paulo, praticamente não se alterando em

Salvador. A diferença entre a participação das que tem filhos e as que não têm filhos se

reduziu. A maior diferença entre as taxas de mães e não mães é observada na RM de São

Paulo: em 2012 foi de 13 p.p. a mais para as mulheres sem filhos. O segundo maior

diferencial nesse mesmo ano foi o da Grande Curitiba (8 p.p.). Embora a oferta de mão de

obra feminina, particularmente daquelas que são mães, tenha aumentado em todas as áreas

metropolitanas, em São Paulo e Curitiba ainda se mantém uma diferença nada desprezível

entre a participação das mães e daquelas que não têm filhos. Em parte essa diferença pode

estar relacionada a própria composição etária desses segmentos femininos.

Interessante destacar os indicadores da Grande Rio de Janeiro1. Esta RM apresenta as

menores taxas de participação para ambos os sexos em ambos os momentos do tempo.

(Tabela 1)

A Tabela 1 também mostra que entre os anos destacados há uma redução da desocupação

masculina e feminina em todas as áreas. A Grande Curitiba destaca-se pelo fato de mesmo em

2002 apresentar taxas de desocupação bem menores do que as demais RMs. Entre as

mulheres, Salvador, que possui nos dois anos a proporção mais elevada de desempregadas, é a

única que manteve essa taxa em dois dígitos. A condição de desemprego é relativamente

1 Outras informações mais detalhadas sobre a inserção feminina no mercado de trabalho nas principais regiões metropolitanas brasileiras ver Oliveira e Marcondes (2015).

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maior entre as mulheres sem filhos, tendo a diferença em relação a taxa de desocupação das

mulheres com filhos diminuído para todas as RMs. Em 2012, as maiores diferenças entre as

com filhos e sem filhos foram observadas nas RMs de Curitiba (4,8 p.p.) e de Salvador (3,9

p.p.).

Dois pontos são importantes para pensarmos essas diferenças na desocupação feminina. O

primeiro é a suposição plausível que diante das responsabilidades familiares, as mulheres que

são mães tendam em maiores proporções a aceitar empregos com menor proteção social,

jornada e/ou remuneração. Outro ponto diz respeito à composição etária desses segmentos

femininos. Entre as mulheres sem filhos, as mais jovens têm um grande peso relativo e trata-

se de uma geração que vem “adiando” a sua entrada no mercado de trabalho em função da

maior permanência no sistema de ensino. Ao mesmo tempo, historicamente também são os

segmentos mais jovens que sempre encontram maiores dificuldades de inserção (1º emprego).

As adversidades e precarização que caracterizaram a estrutura dos mercados metropolitanos

pós década de 1990 teriam influenciado estratégias familiares que, diante do aumento do

desemprego juvenil e das perdas salariais e de postos de ocupação masculina, tornou essencial

o trabalho das mulheres cônjuges para a manutenção ou melhoria das condições de renda

familiar (MONTALI, 2012; MONTALLI, 2006; BORGES, 2006).

A jornada de trabalho feminina das mulheres ocupadas também se modificou no período

em destaque. Entre as mulheres ocupadas e que não tinham filhos, observa-se que a proporção

daquelas em empregos com jornadas de 40-44 horas teve aumentos expressivos em todas as

regiões metropolitanas. (Gráfico 1)

Gráfico 1 - Distribuição (%) da população feminina de 16 a 59 anos, ocupada, sem filhos, segundo jornada de trabalho. Regiões Metropolitanas selecionadas, 2002 e 2012.

2002 2012 2002 2012 2002 2012 2002 2012Salvador Rio de Janeiro São Paulo Curitiba

0.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

70.0

80.0

Até 20h 40-44h

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Fonte: IBGE, PNAD 2002 e 2012.

Embora se observe o mesmo comportamento entre as mulheres ocupadas que são mães,

em todas as RMs cerca de 1/3 desse segmento de mulheres trabalham em empregos com

menos de 40 horas semanais. (Gráfico 2) O que pode significar maiores chances de que

grande parte delas estejam exercendo trabalhos informais, em condições mais precárias e de

menor remuneração.

Gráfico 2 - Distribuição (%) da população feminina de 16 a 59 anos, ocupada, com filhos segundo jornada de trabalho. Regiões Metropolitanas selecionadas, 2002 e 2012.

2002 2012 2002 2012 2002 2012 2002 2012Salvador Rio de Janeiro São Paulo Curitiba

0.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

70.0

80.0

Até 20h 40-44hFonte: IBGE, PNAD 2002 e 2012.

Apesar dos indicadores de inserção feminina mostrarem avanços expressivos, ainda

aponta para a existência de constrangimentos que dificultariam a devida colocação e

permanência no mercado de trabalho das mulheres que possuem filhos.

As condições em que se articulam a vida familiar e a laboral feminina é o ponto

central dessa questão.

O tempo dedicado à casa e à família

Nos dois períodos destacados, enquanto pouco mais da metade da população

masculina de 16 a 59 anos declarou realizar algum tipo de atividade doméstica, entre as

mulheres essa declaração foi afirmativa em torno de 90%, ou seja, praticamente quase toda a

população feminina dessa faixa etária. Entre as RMs, a Grande Rio de Janeiro se destaca pela

menor proporção de declaração para ambos os sexos. Entre os homens, por exemplo, a

diferença em relação as demais RMs é bem significativa. No Gráfico 3 abaixo, observa-se

que apenas pouco mais de 1/3 dos homens de 16 a 59 anos na Grande Rio de Janeiro declarou 4

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realizar algum tipo de tarefa doméstica, enquanto nas demais RMs analisadas, essa proporção

ultrapassa os 50%.

Gráfico 3 - Proporção da população de 16 a 59 anos de idade que declarou ter realizado algum afazer doméstico na semana de referência por sexo. Regiões Metropolitanas

selecionadas, 2002 e 2012.

Salvador Rio de Janeiro São Paulo Curitiba0.0%

10.0%

20.0%

30.0%

40.0%

50.0%

60.0%

70.0%

80.0%

90.0%

100.0%

2002 Homens 2012 Homens 2002 Mulheres 2012 Mulheres

Fonte: IBGE, PNAD 2002 e 2012.

De 2002 para 2012 observa-se alguns decréscimos nas horas médias dedicadas aos

afazeres domésticos tanto entre as mulheres quanto entre os homens. Entretanto, continua a

ser uma responsabilidade muito mais presente no cotidiano feminino do que no masculino.

Tabela 2 - Horas médias dispendidas com afazeres domésticos na população ocupada de 16 a 59 anos, por sexo, status reprodutivo das mulheres e jornada de trabalho. Regiões

Metropolitanas selecionadas, 2002 e 2012.

RM2002 2012

Homens Mulheres sem filhos

Mulheres com filhos Homens Mulheres

sem filhosMulheres com filhos

Até 20 horasSalvador 10,9 16,7 31,0 11,4 18,0 27,9Rio de Janeiro 11,3 16,7 30,2 11,9 16,2 25,7São Paulo 11,6 19,6 34,4 9,7 16,6 25,6Curitiba 11,2 20,0 36,8 7,9 12,2 31,440-44 horasSalvador 9,9 13,1 19,3 10,0 15,8 20,0Rio de Janeiro 10,3 16,2 20,8 9,9 13,9 19,2São Paulo 8,7 13,6 22,0 9,6 12,7 18,1Curitiba 7,4 12,8 19,9 8,4 12,1 18,7

Fonte: IBGE, PNAD 2002 e 2012.

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Ao observar as horas médias gastas com tarefas domésticas de homens e mulheres

segundo a sua jornada de trabalho fora de casa, nota-se que entre os homens esse é um fator

que praticamente não exerce qualquer influência. As horas médias dispendidas por aqueles

que trabalham em jornadas de até 20 horas são um pouco mais levadas (varia de 1 a 3 horas a

mais, em média). Entre as mulheres, destacadamente aquelas com filhos, a influência da

jornada de trabalho na média de horas gastas com as tarefas domésticas é mais evidente. Em

2002, essa diferença ficava em torno de 11 horas, em média. Diferenças que caem em 2012

para cerca de 7 horas em média. (Tabela 2)

Quadro1 - Tempo médio gasto com afazeres domésticos pelas mulheres de 16 a 59 anos ocupadas segundo características. Regiões Metropolitanas selecionadas, 2002 e 2012.

Salvador Rio de Janeiro São Paulo Curitiba

2002 2012 2002 2012 2002 2012 2002 2012

Condição no domicílio

Pessoa de referência 20,5 21,0 20,5 20,2 21,8 18,5 20,2 18,4

Cônjuge 25,2 23,9 24,6 21,4 25,3 19,2 24,1 21,4Filha 13,9 13,8 15,5 13,8 13,0 11,8 13,3 11,5Outra parente 15,9 15,1 17,9 15,6 18,2 14,8 15,1 11,9

Filhos residentes

Sim 23,6 22,5 23,9 21,3 25,1 19,5 23,9 21,2Não 20,5 20,8 21,6 21,3 20,8 19,5 22,7 18,5

Companheiro residente

Sim 25,0 23,7 24,3 21,3 25,2 19,2 24,4 21,3Não 19,4 19,8 20,9 19,8 21,2 18,1 18,1 17,0

Outras Mulheres de

10+ residentes

Nenhuma 23,4 22,5 23,4 21,1 24,4 18,7 23,3 20,3Uma 19,0 18,4 20,3 18,1 19,7 16,1 17,2 15,5

Duas ou mais 17,4 15,8 17,8 15,8 15,8 14,1 19,1 16,6

Fonte: IBGE, PNAD 2002 e 2012.

O Quadro 1 é bem revelador a respeito do quanto as responsabilidades doméstico-

familiares são atribuídas e assumidas pelas que são esposas e mães. Em todas as RMs a

mulher que trabalha fora de casa e é responsável pelo domicílio ou é, principalmente, cônjuge,

gasta em média 10 horas a mais de sua semana realizando tarefas domésticas do que aquelas

que são filhas ou outras parentes residentes no domicílio. Ter filhos que residem no domicílio

aumenta de 1 a 3 horas em média, uma diferença que diminui em 2012 para quase todas as

RMs. A Grande Curitiba aparece como exceção. Ser cônjuge ou pessoa responsável com

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companheiro residindo no domicílio significa para as mulheres ocupadas de 16 a 59 anos,

gastar algumas horas a mais em média com afazeres domésticos. O que diminui as horas

médias com tarefas domésticas para esse segmento feminino é a presença de outras mulheres

no domicílio. Nos domicílios em que há uma mulher de 10 anos ou mais além da entrevistada

o tempo dedicado às tarefas domesticas reduz-se em cerca de até 3 horas, em média. A

redução da carga da mulher chefe ou cônjuge de fato se reduz na medida em que aumenta o

número de personagens femininos que colaboram nestas tarefas. Quando há duas ou mais, a

redução é de até 6 horas em média, no ano de 2012. (Quadro 1)

O aprofundamento dessa análise encontra-se em andamento com a aplicação de um

modelo de regressão que nos permite melhor apreciação da intensidade dessas associações.

Considerações finais

À despeito das importantes transformações demográficas, culturais e sociais em curso no

país desde meados do século XX ainda há a persistência de alguns aspectos que reiteram

desigualdades de gênero em relação às responsabilidades domésticas e de cuidados. Os

resultados reiteram achados de outras pesquisas que apontam que a inserção laboral feminina

não tem amenizado a responsabilidade das mulheres no mundo doméstico, refletindo uma

condição de sobrecarga com a adição de uma segunda jornada de trabalho. Esse contexto de

conjugação trabalho e responsabilidades familiares dá margem a desdobramentos

diferenciados, dependendo do pertencimento socioeconômico, de cor/raça, geração e a região

em que residem as mulheres. Os dados apresentados mostram claramente o peso dessas

responsabilidades nas horas dispendidas pelas mulheres que são mães e esposas/companheiras

e que a amenização da carga com a vida doméstica não tem se dado através da divisão com o

marido/companheiro, mas pelo compartilhamento dessas tarefas com outras mulheres no

domicílio. A persistência deste quadro revela a manutenção das práticas sociais que reservam

às mulheres ou homens, o papel que se espera que exerçam socialmente dentro de suas

famílias: a mulher na esfera reprodutiva e do homem com o papel de provedor.

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