Web viewespeciarias. do oriente (vendidas na Europa por preços até 6000% maiores). As...

4
Cursinho Triu – História / Professores: Léo e Julie Aula 9: Grandes Navegações e Primeiras Civilizações Americanas Dentre os muitos acontecimentos que se passaram na chamada Idade Moderna, talvez aquele que mais retome as novas inovações, modos de organização social e política e “florescimentos culturais” que estavam ocorrendo no período é o bloco de eventos intitulado de Grandes Navegações. Devemos enfatizar tal retomada, pois foi necessário um longo processo de mudanças para que essas sociedades europeias a partir do século XV apostassem em novas teorias do conhecimento (como a de que a terra é uma esfera, e não um plano) e se “convencessem” de que havia alguma possibilidade de ir além das águas já navegadas desde muito tempo. É nesse contexto de acúmulo de novas tecnologias e mão de obra qualificada, que os Estados Nacionais ibéricos, apoiados em uma sociedade caracterizada pelas rápidas transformações, o nascimento de uma crescente burguesia e inseridas nas tradições renascentistas irão realizar as expedições que culminarão no “descobrimento” (para quem?!) das Américas. No século XV Portugal se lançou ao mar em busca de novos territórios inaugurando o movimento chamado de Expansão Ultramarina. O que aos olhos contemporâneos (acostumados a mecanismos e instrumentos globalizantes e a um mundo globalizado) pode parecer um ímpeto natural – movido pela curiosidade de se saber o que há no além mar – exigiu a associação de múltiplos fatores, que, de certa forma, ajudam a explicar o famoso “pioneirismo português” no que é relativo a essa questão. A localização geográfica privilegiada – sem nenhum obstáculo natural que dificultasse as empreendidas marítimas; a centralização política – conquistada precocemente devido às Guerras de Reconquista e que coordenaram os diversos interesses sociais que estiveram na base dos empreendimentos náuticos portugueses; a necessidade de ampliar ganhos a partir de novas rotas comerciais impulsionadas pelo “renascimento comercial” e a dificuldade em se conseguir produtos comerciais no oriente (principalmente pelas rotas e caminhos controlados pelos árabes); e os avanços tecnológicos – que permitiram a construção de naus e caravelas e o desenvolvimento de cartas náuticas e instrumentos de navegação (que tornaram os planos de expansão possíveis na prática). A estratégia ultramarina inicial de Portugal foi a de circunavegar a costa africana para chegar ao oriente. Em um

Transcript of Web viewespeciarias. do oriente (vendidas na Europa por preços até 6000% maiores). As...

Page 1: Web viewespeciarias. do oriente (vendidas na Europa por preços até 6000% maiores). As investidas portuguesas só teriam alguma concorrência no final do século

Cursinho Triu – História / Professores: Léo e Julie Aula 9: Grandes Navegações e Primeiras Civilizações Americanas

Dentre os muitos acontecimentos que se passaram na chamada Idade Moderna, talvez aquele que mais retome as novas inovações, modos de organização social e política e “florescimentos culturais” que estavam ocorrendo no período é o bloco de eventos intitulado de Grandes Navegações. Devemos enfatizar tal retomada, pois foi necessário um longo processo de mudanças para que essas sociedades europeias a partir do século XV apostassem em novas teorias do conhecimento (como a de que a terra é uma esfera, e não um plano) e se “convencessem” de que havia alguma possibilidade de ir além das águas já navegadas desde muito tempo. É nesse contexto de acúmulo de novas tecnologias e mão de obra qualificada, que os Estados Nacionais ibéricos, apoiados em uma sociedade caracterizada pelas rápidas transformações, o nascimento de uma crescente burguesia e inseridas nas tradições renascentistas irão realizar as expedições que culminarão no “descobrimento” (para quem?!) das Américas.

No século XV Portugal se lançou ao mar em busca de novos territórios inaugurando o movimento chamado de Expansão Ultramarina. O que aos olhos contemporâneos (acostumados a mecanismos e instrumentos globalizantes e a um mundo globalizado) pode parecer um ímpeto natural – movido pela curiosidade de se saber o que há no além mar – exigiu a associação de múltiplos fatores, que, de certa forma, ajudam a explicar o famoso “pioneirismo português” no que é relativo a essa questão. A localização geográfica privilegiada – sem nenhum obstáculo natural que dificultasse as empreendidas marítimas; a centralização política – conquistada precocemente devido às Guerras de Reconquista e que coordenaram os diversos interesses sociais que estiveram na base dos empreendimentos náuticos portugueses; a necessidade de ampliar ganhos a partir de novas rotas comerciais – impulsionadas pelo “renascimento comercial” e a dificuldade em se conseguir produtos comerciais no oriente (principalmente pelas rotas e caminhos controlados pelos árabes); e os avanços tecnológicos – que permitiram a construção de naus e caravelas e o desenvolvimento de cartas náuticas e instrumentos de navegação (que tornaram os planos de expansão possíveis na prática).

A estratégia ultramarina inicial de Portugal foi a de circunavegar a costa africana para chegar ao oriente. Em um longo percurso, que durou 73 anos (1415-1488), os portugueses contornaram toda a costa da África estabelecendo feitorias (locais que serviam, a princípio, de apoio nas expedições portuguesas). Em 1488, Bartolomeu Dias atingiu o extremo sul africano e contornou o chamado Cabo das Tormentas, ou Cabo da Boa Esperança. Todavia, apenas dez anos depois, em 1498, o grande feito de chegar ao oriente foi conquistado com a chegada de Vasco da Gama a cidade de Calicute, na Índia. A partir desse marco se estabeleceu um intenso comércio de especiarias do oriente (vendidas na Europa por preços até 6000% maiores).

As investidas portuguesas só teriam alguma concorrência no final do século XV com as investidas espanholas que financiaram o projeto de Cristóvão Colombo. O plano de Colombo era chegar ao oriente navegando na direção Oestes – ainda que, a princípio, a ideia não inspirasse muito confiança, pois poucos eram os que acreditavam na esfericidade da terra na época. A viagem, marcada por muitas tensões e motins, acabou em 12 de outubro de 1492 quando Colombo desembarcou em solo americano, acreditando ter chegado a Cipando (Japão), quando na verdade teria chegado numa ilha no Caribe, nas Bahamas, que fora batizada de São Salvador.

Page 2: Web viewespeciarias. do oriente (vendidas na Europa por preços até 6000% maiores). As investidas portuguesas só teriam alguma concorrência no final do século

Apesar de tímida, a concorrência espanhola ameaçou a hegemonia expansionista portuguesa até que as duas “donas do mundo” moderno decidiram estabelecer um acordo para que as novas rotas comerciais e “novos mundos” continuassem submetidos às práticas exclusivistas europeias. Assim, em 7 de junho de 1494, foi assinado o Tratado de Tordesilhas, que destinou as terras localizadas a oeste do meridiano de Tordesilhas para a Espanha e as situadas a leste, a Portugal. Entretanto, somente no ano de 1500 a armada comandada por Pedro Álvares Cabral desembaraçaria na região da atual Bahia, denominada por eles de Monte Pascoal. Diante dessas datas pode-se pensar: teria sido o descobrimento do Brasil um fato casual, ou havia uma intencionalidade da coroa portuguesa na assinatura do Tratado de Tordesilhas por já conhecer o território que viria a ser o brasileiro?

Muito da hierarquização cultural que nos parece tão comum hoje (como, por exemplo, ao estabelecermos culturas “mais desenvolvidas” do que outras) é proveniente dos choques culturais dados com os “descobrimentos”. Antes de qualquer coisa, temos que pensar que haviam civilizações muito bem desenvolvidas e organizadas na América pré-colombiana que não sei encaixavam nos padrões sociais, políticos ou culturais europeus e, por esse motivo, foram subjulgadas e, muitas delas, exterminadas, pelo olhar colonizador. Na área do sul do México (Península de Iucatã) floresceu entre os séculos III e XII a civilização maia, organizada em múltiplas cidades marcadas pela intensa competição entre si nos campos comercial e militar. Os maias eram um povo agrícola, que cultivava principalmente o milho, e eram exímios matemáticos, arquitetos e astrônomos. Apesar de sua população ter chegado aos 2 milhões de habitantes, no século XVI (com a chegada dos espanhóis) essa civilização já estava decadente (alguns estudiosos indicam uma grande seca como motivo para seu declínio, enquanto outros apostam na teoria da decadência pela grandeza – culminando em disputas internas, guerras e reduzida mão de obra para praticar a agricultura).

Por outro lado, no momento da chegada dos espanhóis os Astecas estavam em seu apogeu, com cerca de 12 milhões de habitantes espalhados por uma área na porção central e sul do México. Em termos de organização política e social, eles eram caracterizados por um sistema político mais centralizado a partir de campanhas militares, que também dominaram grupos de populações vizinhas, expandindo o território asteca. A base de sua economia também era a agricultura, apesar de não terem desenvolvido a noção de propriedade individual da terra (ou seja, as áreas agrícolas cultiváveis eram coletivas), apesar de sua sociedade ser nitidamente hierárquica (existindo até a noção de “servo” a partir da venda de si mesmo ou de seus familiares). Apesar de seu poderio, não chegaram a dominar toda a mesoamérica, causando rivalidades intensas com outros povos indígenas – situação que será muito útil aos espanhóis em sua colonização.

Já na chamada América do Sul, mais especificamente na região da cordilheira dos Andes desenvolveu-se o império Inca, que em seu apogeu chegou a ter 15 milhões de habitantes (apesar de não passarem dos 100 mil em 1531, pouco antes da chegada dos colonizadores). Sua sociedade se mostrava muito estratificada, dirigida por uma elite de nobres, sacerdotes e funcionários do governo, que estavam abaixo apenas do imperador – considerado o filho do deus Sol. Nas camadas inferiores estavam os camponeses e, por último, os escravos (comumente prisioneiros de guerra). Apesar de se localizarem nos terrenos acidentados da cordilheira, os Incas conseguiram superar certas dificuldades e construir uma extensa rede de estradas e pontes, além de sistemas de terraças para melhor aproveitamento da agricultura.