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NUNO FERRARI/A BOLA Depósitos suspeitos a partir dos 5000 euros exigem a identificação do cliente para reforçar medidas contra branqueamento p22 À chegada a Lisboa, eurodeputado socialista Liêm Hoang Ngoc, reconhece limitações da fórmula acordada p16 Banco de Portugal aperta regras em depósitos a partir de 5000 euros Eurodeputados em Lisboa para discutir contrapartidas de ajuda da troika Destaque, 2 a 15 e Editorial PUBLICIDADE PUBLICIDADE Acompanhe a cobertura completa sobre Eusébio em www.publico.pt SEG 6 JAN 2014 EDIÇÃO PORTO Ano XXIV | n.º 8669 | 1,10€ | Directora: Bárbara Reis | Directores adjuntos: Nuno Pacheco, Miguel Gaspar, Pedro Sousa Carvalho | Directora executiva Online: Simone Duarte | Directora de Arte: Sónia Matos ISNN:0872-1556 1942-2014 EUSÉBIO Novos Cursos Início em Janeiro

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NUNO FERRARI/A BOLA

Depósitos suspeitos a partir dos 5000 euros exigem a identifi cação do cliente para reforçar medidas contra branqueamento p22

À chegada a Lisboa, eurodeputado socialista Liêm Hoang Ngoc, reconhece limitações da fórmula acordada p16

Banco de Portugal aperta regras em depósitos a partirde 5000 euros

Eurodeputados em Lisboa para discutir contrapartidasde ajuda da troika

Destaque, 2 a 15 e Editorial

PUBLICIDADEPUBLICIDADE

Acompanhe a cobertura completa sobre Eusébio em www.publico.ptSEG 6 JAN 2014EDIÇÃO PORTO

Ano XXIV | n.º 8669 | 1,10€ | Directora: Bárbara Reis | Directores adjuntos: Nuno Pacheco, Miguel Gaspar, Pedro Sousa Carvalho | Directora executiva Online: Simone Duarte | Directora de Arte: Sónia Matos

ISNN:0872-1556

1942-2014EUSÉBIO

af CursosAnoLectivo12 JanelaPUBLICO 100x50.ai 1 9/6/12 3:13 PM

Novos Cursos Início em Janeiro

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2 | DESTAQUE | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

EUSÉBIO (1942-2014) The king!! Grande perda para todos nos! O mais grande!!Luís FigoAntigo futebolista do Sporting e da selecção

Eusébio foi um King para todosO antigo jogador morreu na madrugada de ontem, vítima de uma paragem cardiorrespiratória. Tinha 71 anos e uma vida de futebolista que mereceu um elogio unânime

Eusébio morreu. A notícia cor-

reu veloz, logo pela manhã

de ontem, deixando todos os

que tomavam conhecimen-

to dela primeiro incrédulos,

depois chocados e a seguir

saudosos de uma fi gura que marcou

uma época do futebol em Portugal e

na Europa. Eusébio da Silva Ferreira,

antigo futebolista do Benfi ca e da se-

lecção portuguesa, morreu às 4h30

de domingo, em Lisboa, na sua ca-

sa, aos 71 anos, vítima de paragem

cardiorrespiratória.

Eusébio sentiu-se mal por volta

das 3h30 da manhã e foi chamado o

INEM, mas já foi demasiado tarde.

Nascido a 25 de Janeiro de 1942

na então Lourenço Marques, hoje

Maputo, Eusébio tornou-se o maior

símbolo do futebol português. Vin-

do de Moçambique, depois de ter

jogado no Sporting de Lourenço

Marques, chegou ao clube de Lis-

boa no Inverno de 1960.

Foi nessa década que o Pantera

Negra mais brilhou nos relvados, no

Benfi ca e ao serviço da selecção de

Portugal, no Mundial de 1966, onde

foi o melhor marcador.

Sete vezes melhor goleador do

campeonato português (1963-64,

64-65, 65-66, 66-67, 67-68, 69-70 e

72-73), duas vezes melhor marcador

europeu (1967-68 e 72-73), Eusébio

foi uma vez eleito melhor futebolis-

ta europeu, mas é considerado um

dos maiores futebolistas mundiais

de todos dos tempos.

Foi 11 vezes campeão nacional

pelo Benfi ca — alinhando em 294

jogos, nos quais marcou 316 golos

—, ganhou cinco taças de Portugal,

foi campeão europeu em 1961-62 e

fi nalista da Taça dos Campeões em

1962-63 e 67-68.

No total, foram 671 os golos que

marcou em jogos ofi ciais. Cometeu

a proeza de marcar 32 golos em 17

jogos consecutivos, tendo ainda con-

seguido marcar seis golos no mesmo

jogo em três ocasiões. O guarda-re-

des que mais golos seus sofreu foi

Américo, do FC Porto (17).

Jogou no Benfi ca até 1975, tendo

depois actuado ainda em clubes da

nos Estados Unidos, no México, no

Beira-Mar e no União de Tomar —

esta última uma breve experiência

que durou até Março de 1978, após

o que regressou aos EUA para tentar

uma efémera experiência no futebol

indoor.

Participou em 64 jogos da selec-

ção de Portugal, pela qual se estreou

em 8 de Outubro de 1961.

No Mundial de 1966, em Inglater-

ra, em que Portugal foi o terceiro

classifi cado, venceu o troféu desti-

nado ao melhor marcador da prova,

com nove golos, e foi considerado o

melhor jogador da competição.

Ficou célebre a sua actuação no

jogo com a Coreia do Norte, dos

quartos-de-final desse mundial,

em que marcou quatro golos, con-

tribuindo decisivamente para a vitó-

ria de Portugal por 5-3, depois de ter

estado a perder por 0-3. “Foi o meu

dia”, recordou mais tarde, quando,

no Mundial de 2010, na África do

Sul, a equipa portuguesa voltou a

defrontar a asiática.

Embaixador do futebol nacional

e uma referência no Benfi ca e na

selecção nacional, Eusébio mere-

ceu diversas distinções durante a

sua vida, tendo sido agraciado com

a Grã-Cruz Infante D. Henrique e a

Ordem de Mérito. A maior distinção,

contudo, é a deferência que merece

de todo um povo.

Funeral no Lumiar

Três dias de luto e um minuto de silêncio

Odia de hoje será marcado pelas cerimónias fúnebres e de homenagem a

Eusébio. O corpo do antigo futebolista permanecerá em câmara ardente no Estádio da Luz até às 13h30. A seguir, a urna dará uma volta ao Estádio da Luz, cumprindo um desejo do próprio Eusébio. O cortejo fúnebre segue depois, em cortejo, até à Câmara Municipal de Lisboa, cumprindo um

trajecto que inclui a passagem

pela Segunda Circular-Campo

Grande-Avenida da República-

Saldanha-Av. Fontes Pereira

de Melo-Marquês de

Pombal-Av. da Liberdade-

Restauradores-Rossio-Rua do

Ouro-Rua do Arsenal-Praça

do Município. Segue-se uma

missa, na Igreja do Seminário,

no Largo da Luz, prevista para

as 16h. O funeral decorrerá no

Cemitério do Lumiar, às 17h.

O Governo decretou, ainda durante o dia de ontem, três dias de luto nacional e determinou que a bandeira nacional seja colocada a meia haste, enquanto a Federação Portuguesa de Futebol estipulou que em todos os jogos de futebol sob a sua égide se cumpra um minuto de silêncio em memória de Eusébio.

Paulo Curado, Marco Vaza e João Manuel Rocha

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PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | DESTAQUE | 3

No convívio connosco na selecção portuguesa ele tinha sempre uma palavra de incentivo e de ensinamentoLuiz Felipe Scolari, ex-seleccionador dePortugal, actual seleccionador do Brasil

É, de facto, um dia bastante triste para Portugal, a perda de um grande símbolo, não só do futebol português mas do futebol mundialPedro Pauleta, ex-futebolista, actual director da Federação Portuguesa de Futebol

Sempre eterno Eusébio, descansa em pazCristiano Ronaldo

A memória de Armando

Mendinhas, 53 anos,

recua facilmente à

infância. Tinha seis anos

naquele 23 de Julho de

1966 que haveria de

fi car para a história do futebol.

Estava no Clube Recreativo Brites

de Almeida, em Aljubarrota,

agarrado aos matraquilhos,

enquanto os adultos, de olhos

colados ao ecrã da televisão a

preto e branco, vibravam com

o jogo entre Portugal e a Coreia

do Norte. “De repente, ouvi um

tumulto e quando olhei para a

televisão estava o Eusébio na

baliza dos coreanos, a pegar na

bola e correr para o meio do

campo.”

A imagem nunca mais lhe saiu

da cabeça. Nem essa, nem as

outras que foi guardando dos

jogos que viu na televisão, com

Eusébio aos comandos do Benfi ca,

ou das vezes que o cumprimentou

“em momentos simples”. Porque

Eusébio era assim. “Simples,

quase parecia ausente. É difícil de

explicar”, diz Armando, de olhos

lacrimejantes. Recorda “aquela

auréola de génio que ele tinha e

só conseguia mostrar através dos

pés”, mas custa-lhe falar. “Tudo

o que se disser agora sobre ele é

pouco, muito pouco.”

Como Armando, milhares de

pessoas passaram neste domingo

pela estátua de Eusébio junto ao

Estádio da Luz, em Lisboa. Ao

fi nal da tarde, o monumento em

bronze que perpetua a pose do

antigo internacional português

a rematar, estava vestida de

várias cores. Homens e mulheres,

crianças e idosos foram deixando

cachecóis do Benfi ca, mas

também cachecóis do Sporting e

do FC Porto e de outros clubes,

arrancando palmas à multidão,

silenciosa.

Aos pés do Pantera Negra,

alguém deixou a bandeira de

Moçambique, país natal do antigo

jogador. E muitas camisolas,

pequenas estátuas da águia

benfi quista, ramos de fl ores...

Num deles, uma mensagem salta

“Tudo o que se disser agora sobre ele é pouco, muito pouco”

à vista: “O Eusébio é de todos.” E

na cabeça do King, como também

lhe chamavam, os fãs colocaram

uma coroa.

Passava pouco das 17h30

quando a urna com o corpo do ex-

jogador passou pela multidão que

o esperava, apesar do frio, ora a

gritar pelo seu nome, ora a cantar

os hinos nacional e do Benfi ca.

Coberto com a bandeira do clube,

o caixão entrou em braços no átrio

envidraçado da entrada principal

do estádio, para ser velado pela

família e amigos. Entre eles, o

presidente do Benfi ca, Luís Filipe

Vieira, o vice-presidente do clube,

José Eduardo Moniz, o antigo

treinador do Benfi ca e actual

seleccionador de futebol da Grécia,

Fernando Santos, Toni, ex-jogador

e treinador dos “encarnados”, e

outros colegas de relvado como

José Augusto e Veloso.

Não faltaram personalidades

do mundo da música, como

Rui Veloso ou Luís Represas. O

primeiro-ministro, Passos Coelho,

esteve acompanhado do ministro

da Presidência, Luís Marques

Guedes. O líder socialista,

António José Seguro, também

foi apresentar as condolências à

família.

Os anónimos que quiseram vê-

lo mais de perto esperaram numa

fi la dentro do estádio, outros

preferiram fi car cá fora, junto aos

postes com as bandeiras a meia

haste ou encostados às barras de

protecção. Muitos estarão nesta

segunda-feira nas bancadas da Luz

para o último adeus ao King, às

13h30.

Filipe Ribeiro, de 27 anos, foi

um dos que prometeram não

arredar pé. Vestiu-se de preto e

vermelho, cachecol do clube ao

pescoço, mal soube da morte do

ídolo. “É como se fi zesse parte da

família.” A notícia inesperada foi

“um choque muito grande”, que

lhe amargou o espírito ainda em

êxtase pela vitória do Benfi ca no

jogo de sábado à noite, frente ao

Gil Vicente. “Espero que ele tenha

visto o jogo.”

Em casa, Filipe tem os jogos

do Pantera Negra gravados em

cassetes de vídeo e DVD, aos

quais vai juntar a Enciclopédia

do Eusébio, acabada de comprar.

Emociona-se quando fala do

dia em que encontrou o antigo

ReportagemMarisa Soares

jogador num restaurante em

Benfi ca. “Pedi-lhe um autógrafo,

todo a tremer, e ele convidou-me

para beber um copo.”

Para este sócio do Benfi ca,

“todas as homenagens são

poucas” perante a grandeza do

antigo capitão do Benfi ca. Mas

é unânime a ideia de que o King

foi justamente consagrado em

vida. “É um homem a que todo o

Portugal soube dar valor”, afi rma

Isabel Tavares, 54 anos, cabo-

verdiana a residir em Lisboa há

mais de 30 anos.

“O Benfi ca nunca o abandonou,

nunca o deixou sair desta

casa”, diz Jorge Fava, 37 anos,

benfi quista que um dia teve a

oportunidade de se sentar à

mesa com o King. Também ele

quis despedir-se do homem

“muito bom e humilde” que o

fi lho Simão, de oito anos, nunca

há-de conhecer pessoalmente.

Para a geração de Simão, o ídolo

será outro: Cristiano Ronaldo,

que todos os fãs ouvidos pelo

PÚBLICO apontam como o

sucessor de Eusébio na missão de

espalhar o nome de Portugal pelo

mundo.

NUNO FERREIRA SANTOS

Milhares de pessoas passaram no domingo pela estátua de Eusébio junto ao Estádio da Luz

AFP

io,

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4 | DESTAQUE | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

EUSÉBIO (1942-2014) É uma perda para o país e para o mundo, porque o Eusébio não era só nosso, era do mundo inteiroRosa Mota,campeã olímpica da maratona em 1988

AFP

Eusébio nunca será suplente na equipa dos melhores de sempre

A chegada a Portugal, a afi rmação no Benfi ca e no futebol mundial, as peripécias de uma carreira ímpar. Um dos melhores jogadores de futebol do planeta de todos os tempos tem uma vida repleta de episódios que merecem ser lembrados

Humilde, mas sem falsas

modéstias. Quando Eusébio

chegou à “metrópole” e ao

Benfi ca campeão europeu

em 1961, sabia o que valia.

“Não me interessa se eles

são campeões europeus, vou entrar

nesta equipa.” Ele era um jovem

moçambicano acabado de chegar de

Lourenço Marques e já metia medo

aos consagrados Águas, Augusto

e Coluna, os “senhores”, como os

novatos da equipa lhes chamavam.

“Comentávamos entre nós: quem é

que vai sair? Porque o Eusébio era

um jogador de excepção”, diz José

Augusto. Alguém saiu e ele, Eusébio

da Silva Ferreira, entrou na equipa do

Benfi ca para se tornar uma lenda do

futebol mundial. O melhor jogador

português de todos os tempos que

brilhou numa altura em que o futebol

era diferente. Como Amália, o seu

nome é sinónimo dele próprio. Não

existirá mais nenhum Eusébio.

Eusébio, o King, Eusébio, o Pan-

tera Negra, Eusébio, a Pérola Ne-

gra. Ele só não gostava muito que

lhe chamassem Pantera Negra por

causa dos Black Panthers, o partido

activista negro dos EUA. Preferia que

lhe chamassem King, o Rei. Foi em

Wembley, esse mítico estádio que

iria marcar sua carreira, que Eusé-

bio passou a ser pantera. Foi na sua

segunda internacionalização pela se-

lecção portuguesa. Dos onze, apenas

um jogador tinha nascido em Portu-

gal continental (Cavém, algarvio) e

um nos Açores (Mário Lino). Havia

um jogador brasileiro (Lúcio), todos

os outros, incluindo o seleccionador

(Fernando Peyroteo), eram africanos.

O jogo era de qualifi cação para o

Mundial e a Inglaterra acabaria por

ganhar (2-0). Portugal mandou qua-

tro bolas ao poste, duas delas foram

remates de Eusébio. Foi o selecciona-

dor inglês Walter Winterbottom que

avisou o jogador que estava encar-

regado de o marcar: “Tem cuidado

com o Pantera Negra.” Mais tarde,

seria um jornalista inglês, Desmond

Hackett, a cunhar esse nome no Daily

Express após a fi nal de Amesterdão,

com o Real Madrid.

O jogo de Wembley foi a 25 de

Outubro de 1961. Menos de um ano

antes, em Dezembro de 1960 (15 ou

17, consoante as versões), chegava à

metrópole proveniente de Louren-

ço Marques “o disputadíssimo Eusé-

bio”, como escrevia o jornal A Bola

de 17 de Dezembro. “Faço qualquer

um dos postos do ataque menos o de

Marco Vaza

Eusébio, em França, no ano de 1973, quando ainda estava a jogar no Benfica

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PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | DESTAQUE | 5

Foi um grande futebolista, uma pessoa bem formada e fiquei sempre com a ideia de que era um homem muito modesto Mário Soares, ex-Presidente da República

Um grande símbolo do futebol e do desporto português, mas também do futebol mundial Paulo Bento,ex-futebolista, actual seleccionador de Portugal

Lamento a morte do meu irmão Eusébio. Ficámos amigos na Copa de 66 na Inglaterra. Que Deus o receba de braços abertosPelé

avançado centro”, contou ao jorna-

lista de A Bola Cruz dos Santos, que

era o único jornalista à sua espera

no Aeroporto da Portela. “Chegou

com um ar muito tímido. Fui com

um sobretudo quentinho que tinha

comprado em Edimburgo uns me-

ses antes e o Eusébio apareceu-me

com uma roupinha muito de Verão,

uma gravatinha, com um ar muito

modesto”, recorda o jornalista. É a

sua primeira fotografi a na metrópo-

le: Eusébio de fato e gravata, com

Cruz dos Santos ao lado, a tirar no-

tas num bloco. Eusébio embarcara

em Lourenço Marques com nome de

mulher: Ruth Malosso.

Tinha 18 anos, fama de prodígio,

pronto para conquistar o mundo.

Um mundo que seria dele pouco de-

pois. Basta dizer um número: 671,

o número total de golos que mar-

cou pelas selecções e clubes que

representou em jogos ofi ciais. Pelo

Benfi ca, foram 473, em 440 jogos

ofi ciais. Mais números: sete vezes

o melhor marcador do campeona-

to português, três vezes o melhor

marcador da Taça dos Campeões.

Cometeu a proeza de marcar 32 go-

los em 17 jogos consecutivos, tendo

ainda conseguido marcar seis golos

no mesmo jogo em três ocasiões. O

guarda-redes que mais golos seus

sofreu foi Américo, do FC Porto (17).

Dos craques do passado, talvez seja

Eusébio aquele que melhor se adap-

taria ao futebol de qualquer época,

mesmo ao mais calculista e táctico do

nosso presente, menos atacante e in-

génuo do que no tempo de Eusébio.

O seu poder físico, potência de rema-

te, técnica e capacidade goleadora

fariam dele uma estrela em qualquer

equipa de qualquer era. Apenas no

fi nal de carreira, com os joelhos em

más condições (só no joelho esquer-

do sofreu seis operações) é que saiu

de Portugal, onde era património de

Estado. Eusébio seria um Cristiano

Ronaldo apresentado no Santiago

Bernabéu perante dezenas de mi-

lhares de adeptos. Eusébio esteve lá

em 2009 para apresentar Ronaldo

ao Real Madrid, ao lado de Alfredo di

Stéfano, que sempre foi o seu gran-

de ídolo. As palavras de Don Alfre-

do, o argentino feito espanhol, não

podiam ser mais verdadeiras. “Isto

serias tu.”

Os primeiros anosEusébio da Silva Ferreira nasceu a 25

de Janeiro de 1942, o quarto fi lho de

Laurindo António da Silva Ferreira,

um angolano branco que trabalhava

nos caminhos-de-ferro de Moçambi-

que, e Elisa Anissabeni, uma mulher

moçambicana. Foi na Mafalala, bairro

pobre na periferia de Lourenço Mar-

ques (actual Maputo), que Eusébio

começou a dar uns pontapés em bo-

las de trapos sem ligar muito à escola.

“A minha mãe não gostava nada que

eu andasse enfronhado no futebol,

apertava comigo, que me importasse

com a escola e me deixasse dos pon-

tapés na bola, mas eu não sei explicar,

havia qualquer coisa que me puxava,

sentia um frenesim no corpo que só

se satisfazia com bola e mais bola. O

resultado disto era uns puxões de

orelhas bem grandes e, uma vez por

outra, umas sovas que não eram brin-

cadeira nenhuma”, recordava Eusé-

bio numa entrevista ao jornal A Bola.

No bairro onde viveram o poeta

Craveirinha e os antigos presidentes

de Moçambique Joaquim Chissano e

Samora Machel, Eusébio ganhava os

berlindes aos amigos apostando que

conseguia dar x toques seguidos nu-

ma bola. Entre os jogos de futebol na

rua e a presença intermitente na sala

de aula, Eusébio sofreu uma tragédia

precoce. Aos oito anos, fi cava órfão

de pai, vítima de tétano. “Segundo

a minha mãe, o meu pai era muito

bom jogador de futebol”, disse numa

entrevista. Ficava Dona Elisa, os qua-

tro rapazes ( Jaime, Alberto, Adelino

e Eusébio) e uma rapariga (Lucília).

Num segundo casamento, Elisa teria

mais três fi lhos (Gilberto, Inocência

e Fernando).

Foi na Mafalala que conheceu a sua

primeira equipa, Os Brasileiros, “um

clube de pés-descalços” em que os

jogadores adoptavam nomes dos cra-

ques brasileiros. Eusébio era Nené,

um médio da Portuguesa dos Des-

portos, um primo seu é que era Pelé,

ano e meio mais velho do que o mo-

çambicano. Em 1958, Eusébio tinha

16 anos e Pelé 17 quando o Brasil foi

campeão mundial na Suécia, a equi-

pa que também tinha Didi, Zagallo

e Garrincha. Todos tinham as suas

contrapartes no FC Os Brasileiros.

Mas onde Eusébio queria jogar

era no Desportivo de Lourenço Mar-

ques, fi lial do Benfi ca, clube do qual

o pai era adepto. No Desportivo não

o aceitaram porque era “franzino,

pequenino” – Eusébio contou que

esse treinador foi, depois, despedi-

do. Também no Ferroviário o recu-

saram. O mesmo erro não cometeu o

Sporting de Lourenço Marques, fi lial

moçambicana do Sporting Clube de

Portugal, que fi cou com ele de ime-

diato, depois de ter ido fazer testes

com um grupo de rapazes do bairro.

Mas Eusébio impôs uma condição:

ou fi cam todos, ou não fi ca nenhum.

Ficaram todos.

O Sporting Laurentino insistia, mas

Eusébio resistia, porque aquele não

era o seu clube, nem o do seu pai,

apesar das insistências de Hilário da

Conceição, seu vizinho na Mafalala e

futuro defesa esquerdo do Sporting

e da selecção portuguesa – Hilário,

dois anos mais velho do que Eusébio,

foi o primeiro jogador negro a jogar

no Sporting de Lourenço Marques e

iria para Lisboa primeiro do que o

Pantera Negra. Eusébio acabou por ir

contrariado para os “leões” de Lou-

renço Marques. “Ninguém do meu

bairro gostava do Sporting. Porque

era um clube da elite, um clube da

polícia, que não gostava de pessoas

de cor”, contou mais tarde. Começou

nos juniores, passou rapidamente

para os seniores e estreou-se contra

o “seu” Desportivo. Não queria jo-

gar, mas jogou. Marcou três golos e

chorou. Tinha 17 anos. O Sporting foi

campeão regional com 30 remates

certeiros de Eusébio, a quem o clube

tinha arranjado um emprego como

arquivador numa empresa que fabri-

cava peças para automóveis.

Eusébio era um fenómeno na coló-

nia e, na metrópole, já se ouvia falar

dele. Portugal era o sonho dos joga-

dores nas colónias portuguesas em

África e Eusébio não era excepção. E

era um sonho muito possível. África

era um grande fornecedor de jogado-

res para os clubes e selecção portu-

guesa. Os pretendentes eram muitos.

Sporting, Benfi ca, Belenenses e FC

Porto queriam Eusébio. Guttman já

tinha ouvido falar dele, através de

um brasileiro que o tinha visto jogar

em Lourenço Marques. Os clubes co-

meçaram a movimentar-se, mas foi

o Benfi ca quem chegou lá primeiro.

Ofereceu 110 contos a D. Elisa, que

deu a sua palavra de que o fi lho iria

jogar no Benfi ca de Lisboa.

O Sporting terá oferecido mais de-

pois, mas palavra dada era sagrada e

a mãe de Eusébio não voltou atrás.

Para além do mais, o Sporting queria

Eusébio à experiência. “Eu já estava

no Sporting e o presidente, sabendo

que eu era muito amigo do Eusébio,

chamou-me para lhe pedir para vir

fazer testes. Ele respondeu: ‘Estás a

ver o Seminário [peruano que jogou

no Sporting entre 1959 e 1961, conhe-

cido como “o expresso de Lima”]?

Eu dou-lhe avanço a marcar golos.

Querem experimentar o quê?”, re-

corda Hilário.

Tavares de Melo, talhante e repre-

sentante do Benfi ca em Lourenço

Marques, coordenou toda a opera-

ção. Depois de garantido o acordo

de Eusébio e de D. Elisa, o objecti-

vo era colocar o jogador na capital

NUNO FERRARI/A BOLA

DR

Coluna, Costa Pereira e Eusébio com a Taça dos Campeões em 1962

Eusébio após marcar o seu primeiro golo contra a Coreia do Norte

a CCopaus o

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6 | DESTAQUE | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

EUSÉBIO (1942-2014) Foi um pedaço de um Portugal diferente, maior, sem fronteiras, multicultural. O seu trono não pode ser ocupado, porque o seu reinado não existe maisCarlos Queiroz, ex-seleccionador de Portugal

o mais depressa possível e sem que

os adversários soubessem. Fez Eusé-

bio embarcar com nome de mulher

e terá feito chegar um telegrama ao

Sporting lisboeta comunicando que

o jovem jogador iria de barco para a

capital. Por isso é que, quando Eu-

sébio aterrou às 23h30 no aeroporto

de Lisboa, apenas estavam lá repre-

sentantes do Benfi ca (e o jornalista

de A Bola) à espera dele. Do lado

“leonino” falou-se de rapto, Eusé-

bio sempre negou esta tese: “Eu só

assinei contrato com o Benfi ca. Só

quando aterrei aqui é que se come-

çaram a inventar raptos. O contrato

com o Benfi ca até dizia que, se não

me adaptasse em Lisboa, o clube po-

dia recuperar o dinheiro.”

A chegada ao Benfi caQuando Eusébio, menor de idade,

chegou a Lisboa, o Benfi ca já esta-

va nos quartos-de-fi nal da Taça dos

Campeões Europeus. “Não gosto de

jogar a avançado centro”, foram as

suas primeiras palavras, depois de

uma viagem de “Portugal para Portu-

gal”, como escrevia o jornal A Bola de

17 de Dezembro de 1960. Foi directo

para a Calçada do Tojal, em Benfi ca,

para viver no Lar do Jogador, onde

estavam alojados os futebolistas “en-

carnados” que eram solteiros e que

tinha hora de recolher obrigatório

para os seus hóspedes. José Torres,

dois anos mais velho, foi o seu anfi -

trião, eles que, pouco depois, fariam

uma dupla temível no ataque do Ben-

fi ca e da selecção nacional.

Mas Eusébio ainda não podia jogar,

apesar de impressionar nos treinos.

Bela Guttman, o treinador, chamou-

lhe o “menino de oiro” da primeira

vez que o viu. O processo de trans-

ferência de “Ruth” ainda não tinha

acabado. Eusébio tinha contrato as-

sinado com o Benfi ca, mas ainda não

tinha a carta de desobrigação que te-

ria de ser passada pelo Sporting de

Lourenço Marques, ainda empenha-

do na ida do jogador para os “leões”

de Lisboa. A batalha jurídica é longa.

Os dois lados esgrimem argumentos

e o tempo vai passando, sem que ha-

ja uma decisão defi nitiva. Na Taça

dos Campeões, o Benfi ca ultrapassa

o Aarhus, da Dinamarca, e o Rapid

de Viena, da Áustria, e com Eusébio

sempre integrado na comitiva.

A fi nal será contra o Barcelona,

em Berna, a 31 de Maio. O Benfi ca

manda Eusébio para um hotel em

Lagos, para o esconder dos jornalis-

tas e de outros pretendentes. A 12 de

Maio, cinco meses depois de sair de

Moçambique, o desfecho: Eusébio já

é jogador do Benfi ca, que paga por

ele 400 contos, mas não poderá de-

frontar a formação catalã devido aos

regulamentos da União Europeia de

Futebol (UEFA).

Ele não irá à Suíça, mas vai estar

no jogo de despedida do Benfi ca an-

tes da fi nal, na Luz, frente ao Atléti-

co, um futuro titular numa equipa

quase só de reservas. A 23 de Maio,

primeiro jogo pelo Benfi ca, primei-

ros golos, três, tal como a sua estreia

pelo Sporting de Lourenço Marques.

Minutos 11, 76 e 80, o do meio o pri-

meiro penálti que marcou. Os benfi -

quistas estavam lá para ver o “dispu-

tadíssimo”. “Quando entrei e se me

deparou uma multidão que gritava

o meu nome, num testemunho de

confi ança que nunca esqueci, fi quei

tonto. Ninguém imagina como esta-

va nervoso”, contou Eusébio na sua

biografi a.

A equipa seguiu para Berna e con-

quistou o primeiro dos seus dois tí-

tulos europeus, com uma vitória por

3-2 sobre o Barcelona. Eusébio fi cou

em Lisboa e, no dia seguinte à fi nal

europeia, fazia a sua estreia ofi cial

pelo Benfi ca, na segunda mão dos

oitavos-de-fi nal da Taça de Portugal

no Campo dos Arcos, frente ao Vitó-

ria de Setúbal. Eusébio seria titular e

marcaria o único golo “encarnado”

nesse jogo que os sadinos venceriam

por 4-1, anulando a desvantagem de

3-1. Nessa época, ainda houve tem-

po para se estrear no campeonato,

na Luz frente ao Belenenses, ao lado

dos senhores José Augusto e Coluna.

Eusébio marca o segundo de uma go-

leada por 4-0 e ganha o direito a ser

campeão.

O que Eusébio perdeu nesses pri-

meiros meses foi largamente com-

pensado na década e meia seguintes.

Com Eusébio na equipa, o Benfi ca foi

11 vezes campeão em 15 anos. O mo-

çambicano foi sete vezes o melhor

marcador do campeonato português,

duas vezes o melhor goleador da Eu-

ropa. Conquistou mais cinco taças

de Portugal e um título de campeão

europeu de clubes. Ao todo, foram 17

títulos pelo Benfi ca: 11 campeonatos,

cinco taças de Portugal e a Taça dos

Campeões. Foi ainda o primeiro por-

tuguês a ser considerado o melhor

jogador da Europa, em 1965. Depois

dele, só Figo, em 2000, e Cristiano

Ronaldo, em 2008.

Em 1961-62, a sua primeira época

“a sério”, Eusébio ainda não está en-

tre os cinco mais utilizados por Bela

Guttman, mas já é o melhor marca-

dor, com 29 golos em 31 jogos, mais

do que o consagrado José Águas

(26). O Benfi ca não seria campeão

(terceiro lugar, atrás de Sporting e

FC Porto), mas esta seria uma época

histórica, a do Benfi ca bicampeão eu-

ropeu, na fi nal de Amesterdão, frente

ao Real Madrid. Eusébio enfrentava o

seu ídolo de infância, Alfredo di Sté-

fano. Na primeira das quatro fi nais

que haveria de jogar na sua carreira,

Eusébio marcou dois golos (os dois

últimos e decisivos) naquele triun-

fo emocionante por 5-3, em que o

Benfi ca chegou a estar a perder por

2-0 e 3-2.

O jovem moçambicano de 20 anos

“destruía” a lenda hispano-argentina

merengue, 16 anos mais velha, mas

manteve a deferência para com

“don” Alfredo, como mantinha para

com os seus companheiros de equipa

mais velhos. “Tinha dito ao senhor

DR

Eusébio, em 1965, quando recebe a Bola de Ouro, troféu que distingue o melhor jogador da Europa. O internacional português recebeu ainda duas vezes a Bota de Ouro, atribuída ao melhor marcador europeu.

Eusébio e a sua mulher, Flora, à chegada ao aeroporto londrino de Heathrow, em 1971. Eusébio e Flora foram casados durante 49 anos e tiveram duas filhas.

DR

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PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | DESTAQUE | 7

Perdeu-se o melhor jogador que vi, de todos os tempos (...) Foi o melhor do mundo”Fernando Chalana,antigo jogador do Benfica e da selecção

Tristeza, mundo do futebol perde um astro e uma pessoa excepcional! Descanse em pazLuisão,capitão do Benfica

Eusébio é Portugal. Aquilo que Eusébio deixa torna-o imortalJosé Mourinho,Treinador de futebol

Coluna para pedir ao senhor Alfredo

di Stéfano para me dar a camisola. E

consegui. Ele sabia lá quem era o Eu-

sébio! Quando ganhámos, fui a correr

para junto dele. Ele deu-me a camiso-

la e fi cou com a minha. Nessa altura

roubaram-me o fi o da minha mãe,

os calções, mas consegui guardar a

camisola nas cuecas. Apareço numa

fotografi a com uma mão à frente: es-

tou a defender a camisola.”

O Mundial de InglaterraEusébio precisou apenas de nove

golos em cinco jogos pelo Benfi ca

para se estrear na selecção portu-

guesa, por quem haveria de dispu-

tar 64 jogos (41 golos). O adversário

era o fraco Luxembrugo e estava em

causa a qualifi cação para o Mundial

de 1962, no Chile. Peyroteo, antigo

avançado do Sporting e membro dos

famosos “cinco violinos”, estreava-

se como seleccionador. A equipa era

totalmente de Lisboa, um jogador do

Belenenses, cinco do Sporting e cin-

co do Benfi ca, Eusébio era um deles.

A 8 de Outubro de 1961, um do-

mingo, no Estádio Municipal do Lu-

xemburgo, o herói foi outro. Adol-

phe Schmit, médio que nunca foi

mais alto na sua carreira do que a

segunda divisão francesa, marcou

os três primeiros golos do jogo em 57

minutos. Portugal só reage aos 83’,

com o primeiro golo de Eusébio ao

serviço da selecção nacional, mas a

selecção do grão-ducado repõe as di-

ferenças no minuto seguinte. Yaúca,

o único do Belenenses, fi xou o resul-

tado em 4-2. A derrota humilhante e

inesperada afastou a selecção portu-

guesa do Mundial e o jogo seguinte,

em Wembley, frente à Inglaterra (o

tal em que Eusébio passou a ser o

Pantera Negra), seria para cumprir

calendário.

Três anos e meio depois, Portugal

iniciava nova campanha para o Mun-

dial de futebol, que seria em Ingla-

terra. Eusébio marcou sete golos na

qualifi cação, um deles deu uma vi-

tória surpreendente e dramática em

Bratislava frente à poderosa Checos-

lováquia, vice-campeã mundial. Pela

primeira vez a selecção portuguesa

chegava à fase fi nal de uma grande

competição internacional. Comanda-

dos por Manuel da Luz Afonso e Otto

Glória, os portugueses iam a Ingla-

terra com algum crédito. E com Eu-

sébio, considerado no ano anterior

como o melhor jogador europeu.

Eusébio fi cou com o número 13 e

a campanha com um triunfo em Old

Traff ord, o estádio do Manchester

United, sobre a Hungria por 3-1, o

único jogo do Mundial em que Eu-

sébio não marcou qualquer golo.

Depois, foi a história que bem se

conhece. De novo em Old Traff ord,

Eusébio marcou o golo do meio no

triunfo sobre a Bulgária. Seguia-se o

Brasil de Pelé, no Goodison Park em

Liverpool. Pelé fi cou a zeros, Eusé-

bio marcou dois e subiu ao trono de

rei do Mundial. Portugal derrotava o

campeão vigente e avançava para os

quartos-de-fi nal.

O jogo seria em Liverpool, o adver-

sário seria a Coreia do Norte, uma

equipa que também estava a ser uma

sensação, depois de ter deixado a Itá-

lia de fora. Os “baixinhos com as ca-

ras iguais” (o mais alto tinha 1,75m),

como disse um dia José Augusto, um

dos membros da equipa portuguesa,

começaram por surpreender os “ma-

griços” de forma bastante afi rmativa,

colocando-se a vencer por 3-0. Mas

Portugal tinha Eusébio, que, quase

sozinho, destruiu os asiáticos, mar-

cando quatro golos na partida dos

quartos-de-fi nal que terminaria em

5-3 para Portugal.

O golo que concretizou a reviravol-

ta, o do 4-3, ainda hoje é mostrado

nas escolas do Ajax de Amesterdão,

aquela cavalgada de Eusébio desde

o meio-campo até à área norte-core-

ana, onde só foi parado em penálti.

“A bola está meio metro à frente dos

meus pés. Parece que tenho cola. Eu

aumento a velocidade, meto as mu-

danças. Dei 17, 18 toques desde que

o Coluna me entrega a bola. Sofro

uma pancada à entrada da área, mas

continuo, porque nunca fui de me

atirar para o chão. Só que, depois,

chega outro que me dá uma sarra-

fada... Penálti!”, foi como Eusébio

descreveu o lance em entrevista ao

Expresso.

Na sua primeira presença em Mun-

diais (seria a única até ao México 86),

Portugal já estava entre as quatro me-

lhores. Seguia-se a anfi triã Inglater-

ra. O jogo era para ser em Liverpool,

de novo no estádio do Everton, mas,

com o acordo da Federação Portu-

guesa de Futebol, mudou-se para

Wembley e foi a selecção portuguesa

que teve de mudar de base. Segun-

do contou Eusébio, a federação não

era obrigada a aceitar a mudança,

mas deu o consentimento a troco de

compensação monetária. Mais uma

viagem depois do duro jogo com a

Coreia e as pernas dos portugueses

já não estavam tão frescas para evitar

o desaire por 2-1.

“A nossa federação vendeu-se e

pronto”, acusou Eusébio, que mar-

cou, de penálti, o golo português.

Sem poder discutir o título, os “ma-

griços” ganharam o jogo de conso-

moçávamos frango assado no Bon-

jardim e depois íamos ao cinema. E

andávamos sempre de metro ou de

eléctrico, porque era mais barato. As

pessoas paravam na rua só para nos

verem juntos. Para tirar a carta tive de

pedir autorização à minha mãe: ‘Mas

você vai tirar a carta porquê? Não há

aí machimbombo [autocarro]?’”

Cinco anos depois de chegar a Por-

tugal, Eusébio casou-se com a sua na-

morada, Flora (conheceram-se dois

anos antes), em 1965, no evento que

a revista Flama (que fez capa com

Flora vestida de noiva) descreveu

como “O remate fi nal é o amor”. Ti-

veram duas fi lhas, por esta ordem,

Sandra e Carla, respectivamente em

1966 e 1968. Foram fazendo vida em

Lisboa, apesar das muitas propostas

que Eusébio ia recebendo de grandes

clubes. Mas o regime não o deixava

sair. Salazar considerava-o patrimó-

nio de Estado e isso, como o próprio

admitiu várias vezes mais tarde, im-

pediu-o de ganhar muito dinheiro.

Eusébio fez o seu último jogo pelo

Benfi ca a 29 de Março de 1975. Foi no

Estádio da Luz, frente ao Oriental,

vitória por 4-0, nenhum dos golos

marcados por Eusébio. O último de

“encarnado” marcara-o uma semana

antes, no Bonfi m, ao Vitória de Setú-

bal. Nessa época, Eusébio fez apenas

13 jogos (dois golos), entre o campe-

onato e a Taça das Taças, a sua pior

época desde a primeira, a de 1960-61

(dois jogos), menos de um terço dos

jogos ofi ciais do Benfi ca.

Já depois da revolução de 25 de

Abril de 1974, o clube “encarnado”

deixou-o sair e Eusébio juntou-se a

uma das maiores colecções de cra-

ques da história do futebol, a North-

American Soccer League (NASL),

todos eles seduzidos pelos dólares

norte-americanos. Pelé, Franz Be-

ckenbauer, George Best, Johan Crui-

jff , Carlos Alberto, Teófi llo Cubillas,

Gordon Banks, Gerd Muller, Carlos

Alberto, Graeme Souness. Eusébio

não foi o único português nos EUA.

Acompanhou-o Simões, a quem sem-

pre chamou o seu “irmão branco”.

No país onde o futebol não é “foo-

tball”, mas sim “soccer”, a NASL

conseguiu impor, por alguns anos,

o futebol como desporto de massas,

assente no princípio de que grandes

estrelas dão grandes espectáculos e

que grandes espectáculos (isto é es-

pecialmente verdade na América)

atraem sempre muito público.

Eusébio era, de facto, uma estrela

global, mas não foi desta que conse-

guiu jogar na mesma equipa de Pe-

lé. Foram, novamente, adversários,

como tinha acontecido em outras

ocasiões. Pelé fi cou no Cosmos de

Nova Iorque, Eusébio foi para Bos-

ton, onde havia (e há) uma grande

comunidade portuguesa. “Os gran-

des jogadores não podiam jogar na

mesma equipa, era para ter ido para

o Cosmos, mas fui para Boston. Com

o mesmo contrato e a ganhar muito

bem. Tinha casa, motorista. Até nos

davam guarda-costas”, contou.

lação para o terceiro lugar, contra a

URSS, por 2-1. Um golo de Eusébio,

que foi o melhor marcador do tor-

neio, com nove golos. Duas imagens

fi caram deste Mundial de 66: Eusébio

a ir buscar a bola à baliza coreana,

um gesto simbólico para a reviravolta

que acabaria por acontecer; Eusébio

a chorar após a derrota com a Ingla-

terra, quando já nada havia a fazer.

Património de EstadoEusébio foi grande num tempo em

que o futebol era diferente. Em que o

futebol português era diferente. Em

tudo. Nas rivalidades, nos hábitos,

nos comportamentos. “Às segundas-

feiras juntávamo-nos todos – do Spor-

ting, do Benfi ca, do Belenenses –, al-

PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP

“Quando entrei e se me deparou uma multidão que gritava o meu nome, num testemunho de confiança que nunca esqueci, fiquei tonto. Ninguém imagina como estava nervoso”

c

al.io

ortal

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8 | DESTAQUE | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

EUSÉBIO (1942-2014)

CRONOLOGIA DE UMA VIDA

25 de Janeiro de 1942

Nasce, no bairro da Mafalala, em Lourenço Marques (actual Maputo), Eusébio da Silva Ferreira, filho de Laurindo António da Silva Ferreira e Elisa Anissabeni.

1958Eusébio chega ao Sporting de Lourenço Marques. Estreou-se contra o Desportivo marcando três golos.

15 de Dez. de 1960As versões divergem (há quem diga que foi a 17 de Dezembro), mas foi a meio de Dezembro que Eusébio aterrou em Lisboa, com destino ao Benfica.

23 de Maio de 1961Estreia oficial de Eusébio pelo Benfica num jogo da Taça de Portugal frente ao V. Setúbal. Eusébio marca o único golo dos “encarnados”.

8 de Junho de 1961Primeiro jogo de Eusébio pelo Benfica no campeonato nacional. Frente ao Belenenses, Eusébio marcou um dos golos no triunfo “encarnado” por 4-0, sagrando-se campeão pela primeira vez pelo Benfica. Será o primeiro de 11 títulos conquistados na Luz.

8 de Outubro de 1961Eusébio estreia-se pela selecção portuguesa num jogo contra o Luxemburgo marcando um golo, mas Portugal perdeu por 4-2.

2 de Maio de 1962O Benfica conquista a sua segunda Taça dos Campeões Europeus, derrotando em Amesterdão o Real Madrid por 5-3. Eusébio marcou dois golos.

25 de Maio de 1963O Benfica é derrotado pelo AC Milan por 2-1 na final da Taça

dos Campeões Europeus em Wembley. Eusébio ainda marca o primeiro golo, mas um bis de Altafini dá o título aos italianos. Eusébio jogaria ainda em mais duas finais pelo Benfica, perdendo com o Inter de Milão em 1965 e com o Manchester United em 1968.

28 de Dez. de 1965Eusébio recebe a Bola de Ouro, prémio atribuído ao melhor futebolista europeu do ano pela revista France Football.

23 de Julho de 1966Eusébio marca quatro golos no triunfo da selecção portuguesa sobre a Coreia do Norte nos quartos-de-final do Mundial de 1966. Portugal acabaria por ficar em terceiro lugar e Eusébio foi o melhor marcador do torneio, com nove golos.

1968Eusébio termina a época com 43 golos, sendo o melhor marcador da Europa, e torna-se no primeiro jogador a conquistar a Bota de Ouro. Repetiu o feio em 1973, com 40 golos.

13 de Outubro de 1973Último jogo pela selecção portuguesa, frente à Bulgária, no Estádio da Luz, a contar para a fase de apuramento do Mundial de 1974. Não marcou qualquer golo e foi substituído por Jordão aos 28 minutos. Foram 64 jogos pela selecção portuguesa, com 41 golos marcados.

29 de Março de 1975Último jogo de Eusébio com a camisola do Benfica. Foi na Luz, frente ao Oriental e ficou em branco. Seis dias antes, no Bonfim, frente ao Vitória de Setúbal, havia marcado aquele que seria o seu último golo pelos “encarnados”.

5 de Janeiro de 2014 Eusébio morre na sua casa, em Lisboa. Tinha 71 anos. M.V.

Em 1975, nos Minutemen, onde es-

tavam muitos portugueses para além

dele (Simões, Jorge Calado, Fernando

Nélson e Manaca), Eusébio fez sete

jogos e marcou dois golos – o jogo de

estreia foi contra o Cosmos de Pelé.

Bem melhor foi o ano de 1976, ao

serviço dos Toronto Metro-Croatia,

em que Eusébio marcou 13 golos e

conduziu a formação canadiana ao

título da NASL. Na passagem pelo

continente americano, Eusébio es-

teve ainda no Monterrey, do México,

nos Las Vegas Quicksilvers e nos New

Jersey Americans.

Nos intervalos da aventura ameri-

cana, Eusébio regressava a Portugal,

não para descansar, mas para manter

a forma e ganhar mais alguns escu-

dos. Foi assim que jogou no Beira-

Mar os seus últimos minutos e mar-

cou os seus últimos golos na primeira

divisão portuguesa e foi assim que

andou pela segunda divisão a fazer

carrinhos pelo União de Tomar, o seu

último clube em Portugal. Eram con-

tratos de curta duração. Eusébio e Si-

mões, os irmãos, jogaram juntos até

ao fi m. Eusébio ainda teve a hipótese

de jogar no Sporting, por convite de

João Rocha, antes de ir para Aveiro.

No Beira-Mar, Eusébio teve o seu

último contacto com o principal esca-

lão do futebol português. Não com a

camisola encarnada do Benfi ca, mas

com o equipamento amarelo e negro

da equipa aveirense. Pagavam-lhe 50

contos por mês. Dois momentos são

importantes nesta breve passagem

por Aveiro. Quando defrontou o rival

Sporting e o seu clube do coração,

o Benfi ca. Foi contra os “leões” que

marcou, a 6 de Março de 1977, o seu

último golo na primeira divisão, con-

fi rmando o Sporting (a par do Bele-

nenses) como a maior “vítima” dos

seus remates certeiros, 24.

Dois meses antes, tinha defrontado

as “camisolas berrantes”, como lhes

chamava Luís Piçarra na canção que

serve como hino das “águias”. Tal

como acontecera 20 anos antes em

Lourenço Marques, Eusébio tinha de

jogar contra si próprio. A 5 de Janeiro

de 1977, Eusébio-Benfi ca, no Estádio

Mário Duarte, em Aveiro, a contar

para a 12.ª jornada do campeonato.

Eusébio não iria ser profi ssional. “Já

tinha avisado o treinador do Beira-

Mar, o Manuel de Oliveira, que não

ia rematar à baliza. Quinze minutos

antes do jogo, fui ao balneário do

Benfi ca e avisei para que não se pre-

ocupassem, pois não ia marcar golos.

[No jogo] não rematei, não marquei

faltas, nem grandes penalidades. An-

dava lá no campo só a passar a bola

aos outros.”

Com o jogo empatado 2-2, o Beira-

Mar benefi cia de um livre à entrada

da área que seria mesmo ao jeito

de Eusébio. Mas o Pantera Negra

recusou-se a marcar. Palavra a An-

tónio Sousa, futuro jogador do FC

Porto e do Sporting e internacional

português, então um jovem a dar os

primeiros passos no Beira-Mar: “O

sentimento dele era enorme e jogar

contra a equipa do coração e da vida

foi marcante para ele. Porventura o

mal-estar dele em relação ao próprio

jogo era porque ele gostava de ga-

nhar. O facto de o Eusébio não mar-

car um livre e dizer para eu marcar

é sinónimo disso.” Sousa atirou por

cima e o jogo acabou empatado.

Depois do Beira-Mar e de mais

uma temporada nos EUA, Eusébio

foi para o União de Tomar, da segun-

da divisão. Estreou-se com a camiso-

la vermelha e negra do União a 1 de

Dezembro de 1977, frente ao Estoril.

Em 12 jogos disputados pelo clube

ribatejano, marcou três golos, mas,

nesta fase, ele já não era um avança-

do. Andava mais pelo meio-campo,

tal como António Simões. “O nosso

estilo era diferente. Já não tínhamos

pernas para lá ir, fi cávamos mais no

meio-campo. Mas o Eusébio, nos li-

vres, era igual”, recorda Simões. Em

Tomar, até carrinhos fazia.

De Tomar para Buff alo. Buff alo é

relevante na vida de Eusébio? É e não

é. Em toda a sua carreira é apenas

uma nota de rodapé, mas é nesta ci-

dade do estado de Nova Iorque que

irá cumprir os seus últimos jogos. A

camisola dos Buff alo Stallions, equi-

pa da Liga indoor norte-americana,

será a sua última. Fica o registo do

rendimento de Eusébio, veterano

avançado de 38 anos e com os joelhos

em mau estado, em 1979-80, a sua úl-

tima época: cinco jogos e um golo.

Quando deixou de ser jogador, Eu-

sébio nunca quis ser treinador prin-

cipal. Foi fi cando pelo Benfi ca, como

adjunto, para ensinar uns truques a

diferentes gerações de futebolistas.

Por exemplo, como marcar golos es-

tando atrás da baliza, um truque que

tinha começado numa aposta com

Fernando Riera. Eusébio apostou

um fato com o treinador chileno em

como conseguia marcar três golos

em dez tentativas. O desfecho foi o

mesmo das vezes em que apostava

berlindes com os outros miúdos da

Mafalala. Ganhou.

A lenda foi-se mantendo intacta.

King em todo o mundo. Ninguém

melhor para servir de embaixador

do Benfi ca e de Portugal. Mas o ho-

mem passou um mau bocado nos úl-

timos anos de vida, uma decadência

natural da idade, mas acelerada por

alguns excessos. Os seus últimos tem-

pos foram uma constante de alertas

médicos e idas para o hospital, que

terminavam sempre com um sorri-

so e a garantia de que tudo estava

bem.

Quando fez 70 anos, numa festa

com centenas de convidados, Eusé-

bio já era um homem debilitado, de

poucas palavras. Mas fazia questão

de acompanhar a selecção para todo

o lado e estava lá, no Euro 2012, para

ver a sua contraparte do século XXI,

Cristiano Ronaldo, conduzir a equipa

portuguesa até às meias-fi nais — ao

contrário de Ronaldo, Eusébio nun-

ca foi capitão, apenas desempenhou

essa função episodicamente. Eusé-

bio sentiu-se mal após o jogo com

os checos e já não estava na Ucrânia

quando a selecção portuguesa foi

eliminada pela Espanha nas meias-

fi nais.

Ele era o homem que todos os

guarda-redes temiam, mas também

era aquele que cumprimentava os

guarda-redes que defendiam os seus

remates. Ele era o homem que gos-

tava de jazz e de caril de marisco,

que almoçava quase diariamente no

seu restaurante preferido desde que

chegou a Lisboa em 1960, a Adega

da Tia Matilde. Foi objecto de uma

banda desenhada, de músicas com

o seu nome no título e no refrão, de

uma longa-metragem, de inúmeras

homenagens e distinções, sempre

nas listas dos melhores de sempre.

Essa é uma equipa onde nunca será

suplente.

“Às segundas-feiras juntávamo-nos todos — do Sporting, do Benfica, do Belenenses —, almoçávamos frango assado no Bonjardim e depois íamos ao cinema. E andávamos sempre de metro ou de eléctrico, porque era mais barato”

A cobertura ao minuto das homenagens a Eusébio, fotogalerias e vídeos em www.publico.pt

Page 9: Web20140106 publico porto

PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | DESTAQUE | 9

Os últimos anos de vida do

ex-internacional portu-

guês foram marcados por

vários problemas de saúde.

Eusébio sofria de ateroscle-

rose — espessamento e per-

da de elasticidade da parede arterial

— e tinha tendência para níveis eleva-

dos de colesterol. Apresentava ainda

sintomas de hipertensão. Maleitas

que obrigaram à sua hospitalização

em 2007, 2011 e 2012.

Em Abril de 2007, Eusébio este-

ve pela primeira vez internado no

Hospital da Luz, em Lisboa, onde

lhe foram diagnosticadas “lesões

A saúde que foi faltando a Eusébio nos seus últimos anos

Miguel Andradesignifi cativas nas artérias carótidas

internas”. Por outras palavras, “le-

sões obstrutivas das artérias que ir-

rigam o cérebro”, segundo explicou,

na altura, o cirurgião vascular que o

observou, Germano do Carmo.

Depois de alguns dias internado,

o Pantera Negra foi sujeito a uma

operação à artéria carótida esquer-

da, como prevenção de um eventual

acidente vascular cerebral (AVC). Os

médicos aconselharam Eusébio a al-

terar os hábitos de vida e Eusébio foi

claro quanto às mudanças. “Quem

é que não gosta de viver?”, questio-

nou, deixando a garantia de que iria

seguir as novas regras. “Vou ter de

cumprir as recomendações dos mé-

dicos”, disse na altura Eusébio.

No fi nal de Dezembro de 2011,

voltaram os problemas de saúde. O

ex-internacional português deu en-

trada nos cuidados intensivos com

uma pneumonia bilateral e perma-

neceu no Hospital da Luz, em Lisboa,

durante 13 dias, incluindo o Natal.

Saiu a 31 de Dezembro, mas, a 4 de

Janeiro de 2012, voltou a ser inter-

nado devido ao agravamento do seu

quadro clínico. O ex-futebolista sen-

tiu dores e problemas respiratórios.

O diagnóstico apontou para um caso

de cervicalgia aguda, isto é, uma le-

são muscular no pescoço. O caso

chegou a assustar o Pantera Negra,

mas as palavras tranquilizadoras do

médico acalmaram-no: “Perguntei

se era grave e o médico disse-me que

não, que tinha tratamento e que ia

sair do hospital como novo.”

Contudo, as complicações de saú-

de de Eusébio continuaram. Pela ter-

ceira vez em dois meses e meio, o

ex-jogador do Benfi ca era obrigado a

voltar ao mesmo hospital, agora por

causa de uma crise hipertensiva (ten-

são arterial elevada). Passados dois

dias, Eusébio voltava a sair da unida-

de hospitalar. A sua pressão arterial

regressara ao normal.

A 23 de Junho de 2012, o também

embaixador da selecção nacional,

que se encontrava com a equipa

no Europeu de Futebol, na Polónia

e Ucrânia, teve uma indisposição

quando estava no hotel, onde a co-

mitiva nacional estagiava, em Opale-

nica. Eusébio foi levado de urgência

para o hospital de Poznan, na Poló-

nia, mas teve de ser transportado de

avião para Lisboa, regressando ao

Hospital da Luz.

A indisposição sentida pelo Pante-

ra Negra na Polónia fi cou a dever-se

a um AVC. Só passados 14 dias teve

alta hospitalar, mas continuou a ter

assistência médica no domicílio por

vários dias.

Neste domingo, porém, aos 71

anos, Eusébio não resistiu a mais

uma traição do seu corpo e morreu

vítima de paragem cardiorrespirató-

ria. Eusébio estava em casa, sentiu-se

mal por volta das 3h30 da manhã e

foi chamado o INEM, mas foi impos-

sível mantê-lo vivo.

Foi uma figura que teve um prestígio internacional, quando ainda havia poucas que o tivessemJorge Sampaio,ex-Presidente da República

O futebol perdeu uma lenda. Mas o lugar de Eusébio entre os grandes nunca lhe será tiradoJoseph Blatter, presidente da FIFA

No campo, Eusébio era uma verdadeira lenda. Mas também fora dele, ele era um verdadeiro embaixador do futebol português a nível internacionalMichel Platini,presidente da UEFA

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10 | DESTAQUE | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

EUSÉBIO (1942-2014) O futebol português está de luto, morreu um dos maiores símbolos da modalidadePinto da CostaPresidente do FC Porto

A imprensa desportiva

espanhola foi a que mais

relevo deu à notícia da

morte de Eusébio, nas

primeiras horas após a

notícia da sua morte.

Mas o desaparecimento do antigo

futebolista português é notícia um

pouco por toda a parte, sempre com

adjectivos elogiosos.

O diário desportivo espanhol Mar-

ca publicou com grande destaque no

seu site um conjunto de trabalhos

sobre Eusébio, que qualifi ca como

“mítico” e considera “um dos melho-

res jogadores de todos os tempos”,

conhecido “pela sua velocidade, a

sua técnica e o seu potente remate

com o pé direito”. Recorda o trajec-

to do atleta desde Moçambique e as

peripécias desde a sua ida para o

Benfi ca até à retirada dos relvados,

aos 36 anos.

A Marca republica a última entre-

vista que fez ao jogador, na qual se

declarava “madridista” e também

editou uma galeria de fotos de “Eu-

sébio, o orgulho de Portugal”. Deu

ainda voz a Di Stéfano, antiga glória

do Real Madrid, que se referiu ao

português como “o melhor jogador

de todos os tempos”. Noutro texto

recordou a forma como jogava: “O

Benfi ca de Bella Guttman [treinador

húngaro] e do grande Eusébio.” Des-

tacou igualmente a primeira reacção

de Cristiano Ronaldo à morte.

O As, também de Madrid, deu rele-

vo à notícia da morte do “lendário”

Eusébio, divulgou vídeos de jogadas

que protagonizou, dedicou uma fo-

togaleria ao jogador e, entre as re-

acções, destacou as de Cristiano Ro-

naldo e José Mourinho. Fez também

eco da reacção do Real Madrid, que

o considera “um dos maiores joga-

dores de todos os tempos”.

As publicações desportivas de Bar-

celona deram também destaque ao

desaparecimento do antigo futebo-

lista. O Mundo Deportivo dedicou-lhe

textos — “Eusébio, mais do que um

monumento” escreve, num deles,

o subdirector Francesc Aguilar —,

uma fotogaleria e divulgou reacções

à morte. O também catalão Sport de-

dicou vários textos ao “lendário fute-

bolista português Eusébio”

Nos jornais generalistas, o El País

deu importância à notícia referindo-

se, em título, a Eusébio como “ícone

do futebol português” e divulgando

reacções à morte, destacando a de

Ronaldo. O também generalista El

Mundo noticiou com relevo: “Morre

Eusébio, adeus à Pantera Negra” e

recorreu a uma fotogaleria.

No site da BBC, a morte de Eusé-

bio foi um dos assuntos em destaque

neste domingo. A estação recordou

que é considerado “um dos maiores

futebolistas de todos os tempos” e

O Presidente da República,

Aníbal Cavaco Silva, su-

blinhou ontem que a me-

lhor forma de homenage-

ar Eusébio “é seguir o seu

exemplo”, recordando a

forma como o antigo futebolista tra-

balhou e lutou para alcançar tantas

vitórias.

“Portugal perdeu hoje um dos

seus fi lhos mais queridos: Eusébio

da Silva Ferreira”, afi rmou o chefe

de Estado, numa declaração no Pa-

lácio de Belém, ao fi nal da manhã.

O Presidente da República louvou

o exemplo do ex-jogador enquan-

to desportista e ser humano, subli-

nhando a forma como ele trabalhou

e lutou para alcançar tantas vitó-

rias”.

Na declaração, Cavaco Silva re-

cordou a forma como ao longo da

sua vida Eusébio conquistou o ca-

rinho e a estima de todos, por ser

“um desportista de excepção, dos

melhores do mundo, que tantas

glórias trouxe a Portugal”. Entre as

várias condecorações com que foi

distinguido, Eusébio foi agraciado

com a Grã-Cruz Infante D. Henrique

e a Ordem de Mérito.

Já o primeiro-ministro marcou

ontem presença no velório, no Es-

tádio da Luz, onde, “em nome de

todos os portugueses”, fez questão

de homenagear o ex-desportista.

“Sabemos que foi um grande fute-

bolista, um dos melhores de sem-

pre, mas foi sobretudo um homem

que está associado à alma portu-

guesa”, declarou Pedro Passos Co-

elho à Benfi ca TV: “É importante

para Portugal, porque foi um em-

baixador grande de Portugal, mas

também um embaixador do fute-

bol e do desporto mundial. Todo o

mundo irá sentir esta perda. Todas

as pessoas, independentemente da

idade, recordarão o Eusébio como

desportista e pela qualidade huma-

na extraordinária.”

Luís Filipe Vieira expressou a sua

gratidão pelo contributo que Eusé-

bio deu ao Benfi ca logo de manhã,

através da rede social Facebook.

“Nunca estamos preparados para

perder aqueles que nos são mais

próximos, aqueles que, por tudo o

que fi zeram, por tudo o que alcan-

çaram, nos acostumamos a ver co-

mo imortais. Eusébio já tinha ganho

em vida a sua condição de mito e

por isso é que a notícia do seu desa-

parecimento mais choca, porque os

mitos nunca deviam partir”, escre-

veu o presidente “encarnado”.

Mais a norte, Pinto da Costa tam-

bém quis prestar a sua homenagem

ao ex-jogador. “O futebol portu-

guês está de luto, morreu um dos

maiores símbolos da modalidade.

O maior jogador português da sua

geração e sobretudo um grande ser

humano e um exemplo de fair play.

Evoco aqui a sua memória e trans-

mito as condolências à família. É

um dia triste para o futebol portu-

guês”, referiu o presidente portista,

numa nota publicada no site ofi cial

do clube.

Jorge Jesus lamentou igualmen-

te o desaparecimento “físico” da

antiga glória do clube da Luz, mas

lembrou que Eusébio estará sem-

pre vivo no coração dos benfi quis-

tas. “Eusébio foi um ídolo que criou

toda a grandiosidade desportiva do

Benfi ca. Transformou vários adep-

tos em benfi quistas, pela sua quali-

dade, como jogador e como pessoa.

Ele morreu fi sicamente, mas nunca

vai morrer no coração dos benfi -

quistas”, salientou o técnico, em

declarações à Benfi ca TV.

Cavaco Silva pede que se “siga o exemplo” ganhador de Eusébio

João Manuel Rocha

Mítico, lendário, ícone, ídolo, craque: os elogios da imprensa internacional

Não faltam adjectivos fora de portas para qualifi car o antigo futebolista do Benfi ca. A notícia do desaparecimento de Eusébio fez mossa um pouco pelo mundo inteiro

traçou o seu percurso. Também em

Inglaterra, onde Eusébio deixou mar-

ca no Mundial de 1966, ali realizado,

o Guardian refere-se à antiga glória

do Benfi ca como “a fi gura proemi-

nente do futebol português antes de

Cristiano Ronaldo”.

O desportivo francês L’Équipe, que

o classifi ca como “o maior jogador

português de todos os tempos”,

abriu a página principal do seu site

com uma fotogaleria de Eusébio, his-

toriou o seu percurso, o palmarés e

destacou as reacções do treinador Jo-

sé Mourinho e de Cristiano Ronaldo.

Ainda que com menos relevo, a mor-

te de Eusébio foi também notícia no

site dos diários generalistas Le Monde

ou Libération, que o classifi cam co-

mo “lenda do futebol português”. O

último dos jornais considera que “o

mundo está de luto”.

A imprensa generalista brasileira

também deu destaque à morte do

ex-jogador — “Ídolo”, no título do

Estado de São Paulo; “craque” na

expressão d’O Globo. Cavaco Silva

REUTERS

A morte de Eusébio foi notícia um pouco por todo o mundo

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12 | DESTAQUE | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

EUSÉBIO (1942-2014) Deixou uma carreira brilhantíssima e na minha opinião foi o melhor jogador português de todos os temposJosé Augusto,Ex-jogador, companheiro no Benfica e na selecção

Como defendia o jornalista

da Emissora Nacional na

reportagem da recepção

portuguesa aos Magriços,

depois da brilhante prestação

em Inglaterra, a selecção

portuguesa pode não ter conseguido

vencer o Mundial de Futebol de 1966,

mas aquele terceiro lugar representou

o mesmo que trazer para casa o título

de campeão. E se alguém mereceu

que assim fosse, esse alguém, numa

equipa onde jogavam homens do

quilate de Mário Coluna, Hilário,

Torres ou José Augusto, foi obviamente

Eusébio, autor de sete dos nove golos

portugueses da fase de qualifi cação,

melhor marcador do Mundial, com

nove, e fi gura máxima do torneio.

Pouco depois de a selecção ser re-

cebida em êxtase pelos portugueses

que a haviam acompanhado pela rá-

dio e televisão, o Pantera Negra era

celebrado de uma forma moderna,

moderníssima, eléctrica, bluesy,

yé-yé. Os Sheiks de Carlos Mendes,

Paulo de Carvalho, Edmundo Silva

e Fernando Chaby, a banda pop de

maior sucesso à época, os Beatles por-

tugueses que haviam irrompido no

início do ano com Tell me bird e Mis-

sing you, lançavam Eusébio, canção

tributo à selecção e à sua maior fi gura.

“Foi uma proposta da [editora] Va-

lentim de Carvalho”, recorda Carlos

Mendes. “Tudo feito no estúdio, im-

provisado.” Guitarras e harmónica

unidas em rhythm & blues de batida

certeira e, enquanto o ritmo comanda

a acção, canta-se sobre a selecção que

“abriu o livro”, fala-se de “Eusébio e

companhia”, que “deram tratado e

do bom” com “futebol afi nadinho e

no tom”. São dois minutos de canção.

Uma celebração instantânea: “Como

o grupo estava bastante entrosado,

construíamos as letras e a música di-

rectamente no estúdio”, diz Carlos

Mendes.

Eis então Eusébio, futebolista

maior, imortalizado em canção pela

mais famosa banda rock portuguesa

da década de 1960. Com letra a acen-

tuar o que disse o repórter na repor-

tagem supracitada: “Só não fi cámos

com a taça/ mas fi ca tudo contente.”

Letra que diz algo mais: “Lá ninguém

nos conhecia nem dava nada pela

gente.” Carlos Mendes, sportinguis-

ta mas homem pouco fervoroso nas

questões do futebol, recorda como,

principalmente após o Mundial de

1966, Eusébio passou a ser o verda-

deiro embaixador português. “Teve

uma importância muito grande como

fenómeno, o que deu uma divulgação

muito grande do país pelo mundo.

Nessa altura ia muitas vezes ao estran-

geiro e sempre que se falava de Por-

tugal tinha como resposta: ‘Portugal?

Eusébio!’.”

Do jogador, recorda uma história

que corria os cafés e que dá conta da

dimensão heróica, mítica, do jogador

do Benfi ca. “Era uma força da natu-

reza. Dizia-se que, quando chutava a

bola, o fazia com uma força tal que

ela fi cava oval — apanhava-se isso nas

fotografi as a baixa velocidade. E es-

tamos a falar das bolas da época, pe-

sadíssimas, que se apanhassem com

água da chuva podiam fazer desmaiar

quem as cabeceasse. Não sei se era

verdade, mas era isso que se conta-

va nos cafés: ‘Imagina que ele tem

Sheiks e Portuguese Nuggets

Mário Lopes

Ele dançava no relvado e também inspirava música

um chuto tal que a bola fi ca oval.’”

A celebração musical de Eusébio

não se fi caria pelos Sheiks. Três anos

depois, o Conjunto sem Nome edita-

ria O joelho do Eusébio, marcha sam-

bada que faz força da fraqueza do Rei,

ou seja, as inúmeras lesões sofridas,

fruto das marcações impediosas num

futebol mais violento: “O joelho do

Eusébio fez o mundo estremecer/ Mas

o Eusébio, tem joelho ‘inda’ para dar

e vender” — e até “o menisco do Eusé-

bio” era, na canção do Conjunto sem

Nome, “o menisco da saúde”.

Mais à frente, os Salada de Frutas

incluiriam o King na letra do clássico

de 1981 Se cá nevasse... (“Se o Eusé-

bio ainda jogasse / Ai que fi ntas ele

faria um dia”), e duas décadas de-

pois, em 2007, quando foi editado o

segundo volume da série Portuguese

Nuggets, compilação dedicada à cena

rock’n’roll portuguesa da década de

1960, não só surgia no alinhamento

Eusébio, o dos Sheiks, como Eusébio,

ele mesmo, fi gurava na capa do LP

estilizado em colorido psicadélico.

Não demoraríamos a encontrá-lo no-

vamente em forma de música.

Em 2011, o guitarrista Rui Carva-

lho, que assina como Filho da Mãe

e cujo segundo álbum, Cabeça, foi

considerado pelo Ípsilon um dos

melhores álbuns de 2013, lançava

o seu disco de estreia, Palácio. Mú-

sica número 4: Eusébio no deserto.

Título que Rui Carvalho explica ra-

pidamente. “Quis refl ectir o que o

Eusébio tem do ser português.” Um

português atípico, porque nasceu em

Moçambique, “mas provavelmente

mais português que qualquer por-

tuguês de que me possa lembrar”.

A música refl ecte precisamente isso.

“Coloquei-o no deserto, um deserto

que será mais próximo do imaginário

cowboy. O tema é um blues acelerado,

mas tem ali umas fi ntas pelo meio e

qualquer coisa que o liga a Portugal.”.

O título chegou depois da música.

“Foi a forma que encontrei para a des-

crever. Ouvi-a e pensei: ‘Isto lembra-

me Eusébio no deserto.’” Faz sentido?

Claro que sim. Eusébio fi ca bem em

todo o lado. Senão, vejamos. Em 2007

surgiu do nada uma banda galesa de

vida breve. Editou nesse ano o álbum

Beth yw Hyn. O seu nome? Eusebio

(naturalmente).

Os Sheiks celebraram-no em yé-yé, o Conjunto sem Nome cantou-o, o guitarrista Filho da Mãe imaginou-o no deserto. Eusébio musical Q

uando me comecei a

interessar por futebol,

há 65 anos!, esse

desporto era muito

débil em Portugal. O fi m

da II Guerra Mundial

trouxera algumas novidades, uns

treinadores ingleses e austro-

húngaros, e o predomínio do

Sporting Clube de Portugal.

Mesmo os “cinco violinos” só

carburavam a quatro com o Jesus

Correia a dar umas “stickadas”

no hóquei em patins. O hóquei

da Linha do Estoril era então a

segunda circular do circuito dos

campeonatos, como hoje em dia

o topos do Estádio da Luz e do de

Alvalade. Era o tempo dos 10 a 0

e dos 9 a 1 nas balizas ou por lá

perto. Só a taça latina no Jamor

nos lavou algumas lágrimas.

Em 1954, o Sport Lisboa e

Benfi ca inaugurou o seu estádio,

então de Carnide, e contratou

o treinador brasileiro Otto

Glória, que introduziu algumas

novidades na organização do

futebol semiprofi ssional e reuniu

os jogadores numa residência

especialmente para forasteiros e

solteiros. Mesmo assim, até 1958,

o futebol praticado baseava-se

apenas numa fi gura táctica que

ocupava melhor o terreno a meio-

campo — o célebre losango! — e

no brotar de alguns jogadores

com talento individual e sentido

colectivo como o velho Francisco

Ferreira e Caiado. Depois a

chegada de alguns jogadores

oriundos de África: Costa Pereira,

José Águas, Santana, Mário Coluna,

morfologicamente muito distintos

dos jogadores metropolitanos,

mais habilidosos mas mais frágeis

no ombro a ombro.

Eusébio chegou no melhor

momento, ainda não tinha 20

anos. Dotado de uma planta

de atleta, senhor de refl exos

inatos e de uma velocidade

de excepção, ele aproveitará

tudo o que havia de melhor do

ambiente da residência para

jogadores, do amparo e conselho

de Mário Coluna e da chegada de

Bella Guttman, outro treinador

austríaco fugido à II Guerra

Mundial, e de tudo isso aproveitou

para a sua maturidade como

desportista de eleição. Quando o

vi jogar, em 1961, na Tapadinha

e no Restelo, ele já era um fora-

de-série, capaz de sprintar com

a bola dominada e a cabeça bem

erguida, capaz de fi ntar qualquer

adversário no um para um.

A grande dúvida que se coloca

para os que acreditam no ensino

é a de saber se há algum método,

algum treino, algum exercício

repetido, algum refl exo criado,

que transplante um atleta do seu

meio natural e faça dele um génio.

Professor universitário

Como se chega a Eusébio

OpiniãoJosé Medeiros Ferreira

ERIC GAILLARD /REUTERS

Numa exposição sobre futebol em Cannes, em 1999

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PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | DESTAQUE | 13

Era o maior símbolo do futebol português e também do Benfica. Vamos saber perpetuar a sua memóriaShéu Han, ex-futebolista, actualmentesecretário técnico do Benfica

É uma perda enorme.Sinto que também se foi embora um pouco de mimAntónio SimõesAntigo jogador do Benfica

Sem dúvida, Eusébio foi um dos melhores jogadores com os que tive o privilégio de jogar. Era um autêntico desportistaBobby Charlton, um dos jogadoresmíticos do futebol inglês

Tinha 18 anos quando aterrou

em Lisboa, a “metrópole”, a

capital do império português

a 15 de Dezembro de 1960.

Tinha viajado incógnito,

com nome de mulher, Ruth

Malosso. Vinha de Moçambique, de

Lourenço Marques, um jovem “de

aparência bastante robusta, com

costas largas, boa altura” chamado

Eusébio da Silva Ferreira. Ninguém

sabia o que ia dar, ninguém sabia que

aquele avançado africano iria ser um

dos melhores futebolistas do planeta.

O Benfi ca foi o seu clube de sempre,

onde conquistou as maiores glórias

e se tornou no “Pantera Negra”. Mas

não foi o único. Andou pela América

e acabou a jogar na segunda divisão

portuguesa, no União de Tomar.

O União Comércio e Indústria

de Tomar já tinha estado seis tem-

poradas na primeira divisão, entre

1968 e 1976, mas naquele ano, 1977,

estava no segundo escalão. Fernan-

do Mendes, na altura o presidente

do clube, queria mais sócios e mais

público nos jogos e avançou para a

contratação de duas estrelas do fu-

tebol português, Eusébio e António

Simões. “Eles andavam a fazer uns

contratos pela América e a ideia até

foi do Simões”, recorda ao PÚBLICO

o então presidente do clube.

Tal como Eusébio, António Simões

tinha 35 anos e estava longe dos tem-

pos de glória do Benfi ca, onde se co-

nheceram e brilharam. Nesta altura,

precisava de manter a forma para

aspirar aos dólares que pagavam do

outro lado do oceano Atlântico, na

liga norte-americana. “O campeona-

to dos EUA era de seis, sete meses e

tínhamos todo o interesse em não

parar”, refere Simões, que saiu do

Benfi ca em 1975, o mesmo ano de

Eusébio.

A ideia do presidente do União de

Tomar deu resultados imediatos. O

clube passou a ter mais gente no está-

dio e nos jogos fora. Eusébio estreou-

se com a camisola vermelha e negra

do União de Tomar a 1 de Dezembro

de 1977 frente ao Estoril, o primeiro

de 12 jogos pelo clube (três golos).

Eusébio já não tinha a potência de

outros tempos, aquele joelho esquer-

do muito massacrado já não deixa-

va e andava mais pelo meio-campo

em vez de ser um avançado explo-

sivo e veloz. “Até fazia carrinhos e

ia pelo chão”, recorda Mário Pinto,

um extremo de 18 anos em início de

carreira.

Eusébio e Simões não tinham de

treinar-se todos os dias no União.

Um, às vezes dois treinos por sema-

na. Recorda Mário Pinto que viu,

uma vez, Eusébio a dormir durante

uma palestra do treinador Vieirinha:

“Mas o treinador dizia: ‘Ele já sabe o

que vai fazer em campo’.” “Era um

fascínio para os miúdos do União de

Tomar conhecer o Eusébio e o Si-

mões, quanto mais jogar com eles”,

conta António Simões. “O nosso es-

tilo já era diferente. Já não tínhamos

pernas para lá ir, fi cávamos mais no

meio-campo. Mas o Eusébio, nos li-

vres, era igual. Mantinha essa capa-

cidade técnica, remates com força

e direcção.”

A breve passagem por Tomar

durou até Março de 1978. Depois

ainda voltou aos EUA, para tentar

uma experiência no futebol indo-

or, mas esta foi ainda mais efémera.

António Simões também voltou ao

continente americano nas mesmas

condições, acabando por fi car lá

mais algum tempo como treinador.

Fizeram quase o mesmo percurso

de vida desportiva. Começaram jo-

vens no Benfi ca, estiveram ambos na

selecção portuguesa que brilhou no

Mundial de 1966, saíram da Luz no

mesmo ano, foram atrás dos dólares

americanos e terminaram ao mesmo

tempo. “O nosso trajecto foi muito

igual”, sintetiza Simões. “Tínhamos

uma cumplicidade muito grande. A

mim chama-me o irmão branco e eu

chamo-lhe o meu irmão africano, que

será até ao resto da minha vida. Co-

mo homem, só não cresceu de uma

maneira. A sua vaidade não inchou.

E ainda bem.” Texto originalmente

publicado a 15 de Dezembro de 2010

Chegou incógnito e acabou a fazer “carrinhos” em Tomar

Marco Vaza

Eusébio com a camisola do União de Tomar, na fase final da sua carreira, onde fez 12 jogos e marcou 3 golos

“Quantas vezes Portugal chorou

contigo/ por achar que merecia

mais do que o destino lhe queria

dar?”

José Jorge Letria

Eusébio da Silva Ferreira

foi dos últimos grandes

jogadores a ter o seu

destino ligado a um clube

— o Benfi ca — e a uma

selecção — a nossa. O que

ajudou a mantê-lo vivo no coração

dos adeptos. E é justo realçar

a importância que Luís Filipe

Vieira deu ao valor simbólico,

mas também humano, de ter

Eusébio, mas também os outros

heróis de Berna e de Amesterdão,

como guardiões vivos dessa

memória — e, no caso de Eusébio,

como verdadeiro embaixador da

grandeza ecuménica do clube.

Ninguém se atreverá a dizer

qual foi o melhor jogador de

todos os tempos. Mesmo se há

muitos candidatos — e alguns

vivos: Ronaldo e Messi, pelo

menos —, a verdade é que Eusébio

fi gura no panteão dos raros que

merecem subir ao pódio e lá fi car

para sempre, ao lado de Pelé, Di

OBenfi ca veste de

vermelho e branco

porque essas são,

segundo os seus

fundadores, cores que

transmitem vivacidade

e alegria. Sim, o meu clube

Stefano, Puskas e Maradona.

Mas Eusébio era especial.

Por ele e pelo que representou.

Eusébio tinha qualidades inatas

para o futebol — os outros, é

certo, também —, mas tinha uma

espécie de pureza que nunca

perdeu: uma paixão infantil pelo

jogo que faz dele um caso raro

no futebol. Eusébio gostava de

marcar golos e de ganhar, como se

isso fosse uma obrigação que os

deuses lhe exigiam em troca de o

ter dotado de talentos invulgares.

Só via o golo à sua frente, corria

para a baliza adversária para ir

buscar a bola que tinha acabado

de fazer entrar, para que o jogo

recomeçasse sem demoras,

tinha fair play, chorava se perdia

injustamente, era massacrado mas

tem a alegria nos estatutos (e

isso envaidece-me). Há três ou

quatro anos, em Liverpool, o

estádio do Everton tinha um

aspecto bastante lúgubre. As

bancadas estavam cheias de

adeptos tristes, vestidos de

cores escuras, deprimidos

pelo clima da cidade em que

escolheram viver e pelo facto

de, uma semana antes, terem

perdido por 5 a 0 no Estádio

da Luz, o que mói ainda mais

do que a neblina. Antes de o

jogo começar, os altifalantes

do estádio anunciaram que o

não respondia, nunca perdeu essa

virgindade e essa vontade infantil

de ganhar, que fez com que,

durante uma década, o Benfi ca

parecesse o natural vencedor dos

jogos em que entrava.

Depois, ele foi, sem querer,

um símbolo para os portugueses

do seu tempo — e não só para os

benfi quistas. Numa época em

que o país estava mergulhado na

miséria e na opressão, em que

muitos portugueses tinham de

emigrar para terras distantes,

muitas vezes em condições

desumanas, em que se espalharam

pela Europa, mas também pelos

outros continentes, em que, para

muitos, ser português era sinal de

opróbio e mesmo de vergonha,

Eusébio resgatou o nosso orgulho

e devolveu-nos a dignidade.

Que ele desapareça do mundo

dos vivos numa altura em que

Portugal está a viver o impensável

— um regresso planeado a esses

tempos de miséria e de desprezo

— é um sinal do destino. Que ele

seja celebrado, agora, meio século

depois, como foi nesses tempos, é

um sinal de que o país se revê no

que ele representa — hoje, como

ontem, um Portugal capaz de se

suplantar, de vencer a adversidade

e a injustiça, de não se deixar

sacrifi car a um destino miserável,

como aquele a que nos querem

condenar. Até por isso, ele é

Portugal no seu melhor.

Cineasta

grande Eusébio iria ao centro

do relvado. E então, todos

aqueles desgraçados ingleses

se levantaram para aplaudir,

sorrindo. Foi a única alegria

que tiveram naquela noite,

em que acabariam por perder

outra vez, por 2 a 0. A camisola

do Benfi ca foi feita para ser

vestida por ele. Eusébio é

outra maneira de dizer alegria.

Eusébio é outra maneira de

dizer Benfi ca. Não conheço

façanhas maiores.

Humorista

Portugal no seu melhor

Outra maneira de dizer alegria

Opinião António-Pedro Vasconcelos

OpiniãoRicardo Araújo Pereira

Que ele desapareça do mundo dos vivos numa altura em que Portugal está a viver o impensável — um regresso planeado a esses tempos de miséria e de desprezo — é um sinal do destino

os queEra ummmmmmmmm

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14 | DESTAQUE | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

26 de Julho de 1966:

Portugal perde contra

a Inglaterra nas meias-

fi nais do Mundial.

Recordo a imagem do

convulsivo choro de

menino de Eusébio, no fi nal do

jogo. Dois dias depois, a nossa

selecção vence a União Soviética

e alcança o 3.º lugar. Recordo

o penálti marcado por Eusébio

logo seguido de um abraço ao

então melhor guarda-redes do

mundo, Lev Yashin. A lágrima na

derrota e o abraço ao adversário

na vitória unidos no jogador

excepcional e no homem bom

que foi Eusébio.

Nestes dois aparentes

pormenores está, pois, uma

parte signifi cativa do que ele foi.

Não apenas o fabuloso jogador

que está entre os melhores de

sempre no mundo, mas também

a pessoa apaixonada por Portugal

e pelo Benfi ca, o desportista leal,

exemplar, simples, solidário, sem

tiques de vedetismo, acima e para

além da efemeridade de cada

momento.

Inigualável não apenas nos

seus quase incontáveis golos

e soberbas exibições, mas no

exemplo de trabalho, de dever,

de sacrifício, de abnegação, de

entrega, de autenticidade, de

companheirismo, até de utopia

e de sonho. E que sempre soube

adicionar à universidade que foi

a sua vida a universalidade do

consenso que foi capaz de gerar.

Num tempo em que a

globalização ainda não o era,

num tempo em que a informação

e a imagem se espalhavam à

velocidade da tartaruga quando

comparada com a alucinação e

a vertigem de agora, Eusébio foi

uma projecção de portugalidade

no mundo global, a par de Amália.

Como escreveu Torga “o universal

é o local sem paredes”. Eusébio

ultrapassou o mapa de Portugal e

derrubou todos os muros. Os de

cá e os de lá fora.

Para mim, Eusébio representa

uma certa expressão do desporto

que deixou de ser a norma. Onde

o que contava era tão-só o futebol

jogado. De paixão pura, sem

adiposidades. Sem mediatismos

bacocos feitos de lugares-comuns

e onde a iconografi a era a do

exemplo no trabalho e não a

da imagem no mercado. Num

tempo em que as vitórias não

eram apenas uma forma de

aumentar a retribuição, mas uma

compensação de quem sentia

devotadamente a camisola que

envergava.

Eusébio: um curto nome de

cinco vogais e duas consoantes

que se eternizou. Semanticamente

poderia estar num qualquer

“Dicionário de Língua Universal”,

porque intemporal e universal.

Ultrapassou a onomástica e a

geografi a. Pertence ao mundo e

OpiniãoAntónio Bagão Félix

tem signifi cado próprio.

O Benfi ca tinha 37 anos quando

Eusébio nasceu em Moçambique

e 57 anos quando se estreou no

clube. Não é possível calcular

quantos benfi quistas (ou simples

amantes do futebol) há hoje por

causa dele. Mas, certamente,

muitos.

A minha geração viu e viveu os

jogos de Eusébio. Na altura, sem

a profusão televisiva de hoje, mas

com o sabor que era ir ao Estádio

ou com a magia proporcionada

pelo relato radiofónico. Faz,

assim, parte do meu reduto

memorial. Que me ensinou

defi nitivamente que ser Benfi ca

é, ao mesmo tempo, afecto e

privilégio, coração e razão,

vitamina e analgésico, fermento e

adoçante.

Por tudo, um obrigado do

tamanho do universo a Eusébio!

Economista

DR

Devido à idade que tenho,

é evidente que nunca vi

Eusébio jogar em directo.

Porém, tive o ensejo de

o ver indeferidamente,

ao serviço do Benfi ca

e da selecção nacional, bem

como já o analisei com alguma

profundidade na minha actividade

profi ssional através das mais

variadas fontes impressas. Por

isso, tive oportunidade de o ver

brilhar na sua primeira época

de águia ao peito, em 1961/62 e,

entre outras competições, no

Mundial de 1966, que o consagrou

internacionalmente como

um dos melhores futebolistas

mundiais dessa década. Devo

dizer, dirigindo-me sobretudo às

gerações mais novas, que Eusébio

foi um extraordinário futebolista,

que jogaria em qualquer equipa

mundial e em qualquer tempo. A

sua capacidade de drible, a sua

velocidade, a sua intuição, enfi m,

a articulação do seu corpo com

o esférico em relação ao espaço,

dotavam-no de características

únicas no panorama do futebol

mundial. Eusébio era uma força

da natureza. Ao contrário de

muitos dos jogadores de hoje, que

são “fabricados” nas canteras,

nas academias e nas escolas de

futebol, de forma a atingirem

um nível muscular e atlético

“perfeito” que os capacitem a

atingir as performances desejadas,

Eusébio foi futebolisticamente

formado nos bairros de lata de

Moçambique, em terrenos baldios,

jogando muitas vezes com outros

objectos que improvisavam a

carência de uma bola de futebol. É

conveniente recordar que Eusébio

chega a Lisboa a 17 Dezembro

de 1960, com 18 anos, à beira de

completar 19, sem a mínima noção

do já exigente futebol europeu.

A única coisa que possuía era

uma habilidade em grande

medida inata para jogar futebol.

Aquilo que Eusébio trazia para o

futebol do Velho Continente era a

sabedoria intuitiva do seu corpo —

essa inteligência que não se mede

nos QI mas na movimentação e

na capacidade de improvisação

do seu corpo; essa inteligência

do organismo na sua totalidade,

feita do pulsar, das emoções e dos

sentimentos, vinda da sintonia

perfeita entre as estruturas

cerebrais não conscientes com o

corpo na sua unicidade. Nada em

Eusébio tinha sido transformado.

Tudo nele era talento em estado

puro. Era como se todas as suas

células respirassem futebol.

Um futebolista é muito mais

do que os números que atinge.

Eusébio não era só um goleador

como também um municiador

de golos para os seus colegas,

efectuando muitas e decisivas

assistências. Não era um ponta-de-

lança típico (ao contrário de Águas

ou Torres, por exemplo). Era um

vagabundo, que jogava atrás do

homem mais avançado, partindo

de trás em fulgurantes arrancadas,

criando desequilíbrios que não

raras vezes davam em golo.

Eusébio fora o menino de

Mafalala que conquistara o

mundo com uma bola nos pés. O

seu futebol, feito de improviso e

rebeldia, de malícia e da arte do

engano, pareciam falar da sua

meninice em Moçambique. Nunca

teve muito jeito com as palavras

e não se sentia à vontade em

frente às câmaras. Não precisava.

Comunicava com o corpo em

movimento nos estádios de

futebol, através das fi ntas, dos

golos, dos chutos fulminantes

e com o sorriso genuíno que

esboçava sempre que tinha uma

bola nos pés. Era um futebol,

simultaneamente, ingénuo porque

puro e inocente, retrato fi gurado

de Eusébio quando se apresentou

em Lisboa, mas de um rendimento

extraordinário, como nos mostram

os números que atingiu.

A partida de Eusébio inundou

de tristeza todos aqueles que

gostam de futebol. Não foi só

Portugal que perdeu um herói. Foi

o Planeta do Futebol que fi cou,

indubitavelmente mais pobre.

Historiador doutorando FCSH-UNL

O adeus do menino que conquistou o mundo

Eusébio sempre

OpiniãoRicardo Serrado

EUSÉBIO (1942-2014)

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16 | PORTUGAL | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

“As contrapartidas às ajudas

da troika merecem discussão”,

afi rmou ontem, ao PÚBLICO,

o eurodeputado socialista

francês Liêm Hoang Ngoc, um

dos dois relatores da comissão

dos assuntos económicos do

Parlamento Europeu (PE)

que inicia hoje, em Lisboa, a

avaliação às políticas da Comissão

Europeia, Banco Central Europeu

e Fundo Monetário Internacional

aplicadas a Portugal, Grécia,

Irlanda e Chipre. Hoang

Ngoc reconhece as limitações

da fórmula acordada em

Estrasburgo, mas está convicto

de que, com a constituição de um

fundo monetário europeu, será

necessário um controlo político.

“Trata-se de um relatório da

iniciativa do PE, a comissão

de inquérito obrigaria os

responsáveis da troika a

prestar contas”, admite o

jovem eurodeputado. “Foi o

compromisso alcançado para

evitar que o relatório aparecesse

como acusação aos responsáveis

da troika”, sublinha: “Daí haver

dois relatores, um do PPE (Partido

Popular Europeu), o austríaco

Othmar Karas, outro socialista,

eu próprio, para fazermos um

relatório o mais consensual

possível.”

Este acordo tem virtudes e

pontos débeis. “É uma força,

porque as conclusões serão

votadas no Parlamento Europeu,

e uma fraqueza porque sempre

haverá a defesa da política da

troika”, reconhece. No entanto,

Hoang Ngoc aponta um ponto

fundamental. “A proposta do

relatório põe em evidência o

debate sobre os multiplicadores

que subestimaram o impacto

recessivo das medidas”, afi rma.

“O FMI queria mais reformas

das leis do trabalho, a Comissão

Europeia uma consolidação

orçamental rápida, fi zeram-se as

duas coisas, utilizaram-se os dois

travões ao mesmo tempo”, relata.

“É por isso que não arranca o

crescimento português e a dívida

aumenta”, analisa: “Mesmo

que Portugal saia este ano do

“Contrapartidas às ajudas da troika merecem discussão”, diz relator do PE

Liêm Hoang Ngoc Em Lisboa, os eurodeputados iniciam uma visita aos países sob intervenção. Um socialista reconhece que os socialistas da Grécia, Portugal e Irlanda participaram em políticas erradas

NUNO FERREIRA SANTOS

programa de ajustamento, o

problema da dívida continuará

porque as políticas de austeridade

mataram o crescimento.”

Outra questão, “o ponto fulcral do

relatório”, já está defi nida: “Com a

constituição do fundo monetário

europeu será necessário um

controlo político, do Parlamento,

aí o PPE e os socialistas estão de

acordo.” Destacando que esta

é a primeira conclusão prática,

retira uma ilação: “Este relatório

é a oportunidade de mostrar

aos cidadãos que o Parlamento

Europeu deve desempenhar um

papel-chave no futuro da Europa,

que os seus representantes

defendem mais democracia e

menos austeridade.”

Um discurso que não é imune às

eleições europeias de Maio, dois

meses após a comissão divulgar

as suas conclusões. “Na Grécia,

Portugal e Irlanda, os socialistas

participaram nas políticas da

troika. Se estas políticas não

foram as melhores, há que ter a

coragem política de o dizer, os

socialistas portugueses devem

dizer terem sido obrigados por

questões orçamentais, mas devem

salientar que é necessário mudar

de política”, sustenta.

O discurso do mea culpa,

reconhece, “é feito por todos

os partidos em Portugal, pelos

sindicatos e patronato”. Aquando

da sua última visita a Lisboa, há

nove meses, fi cou surpreendido

com a sintonia das centrais

sindicais e das associações

patronais. “Portugal jogou a ser

bom aluno da troika, graças a

isso vai sair do mecanismo de

assistência, mas os desequilíbrios

macroeconómicos e os problemas

continuam”, insiste.

“O FMI era a única instituição

que dispunha de fundos, e todos

os países com problemas eram

membros do Fundo”, destaca:

Pelo que, conclui, “é necessária

uma alteração dos tratados, mas

não de acordo com a fi losofi a

alemã.”

Hoje, a delegação do PE, que

integra os eurodeputados

portugueses Ana Gomes, Elisa

Ferreira, Diogo Feio, José Manuel

Fernandes e Marisa Matias, avista-

se com José Sócrates, com os seus

ex-ministros da Economia, Vieira

da Silva, e da Presidência, Silva

Pereira. Seguem-se a Comissão

Permanente de Concertação

Social, o governador do Banco

de Portugal e o vice-primeiro-

ministro Paulo Portas. Amanhã,

a delegação reúne-se com Maria

Luís Albuquerque, o secretário

de Estado Carlos Moedas e as

comissões parlamentares dos

Assuntos Europeus, Orçamento,

Finanças e Administração Pública,

bem como com a comissão ad

hoc de monitorização da ajuda

fi nanceira a Portugal.

Entrevista Nuno Ribeiro

“Não contesto o recurso à

troika porque, então, não havia

um mecanismo europeu de

estabilidade e recorrer ao Fundo

era necessário.”

Hoang Ngoc reconhece que as

divergências no Parlamento

Europeu surgirão sobre a validade

das políticas seguidas. E das

contrapartidas impostas. A este

propósito alerta: “No Conselho

Europeu de Dezembro, Angela

Merkel disse ser necessário

um novo tratado, novos

instrumentos, referindo que as

ajudas fi nanceiras têm como

contrapartidas a redução da

despesa pública e as alterações

das leis do trabalho, o que é

perigoso.” Para o eurodeputado

socialista, há outra alternativa: “O

funcionamento da zona euro não

se pode fazer sem um orçamento

europeu importante, fi nanciado

por impostos e euro-obrigações,

com harmonização fi scal e social.”

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PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | PORTUGAL | 17

MATOSINHOS

D. MARIA IRENE ROCHA GIL DA COSTA MATOS

DE MENESESFALECEU

Sua fi lha, irmã, sobrinhos e demais família participam o seu falecimento e que o funeral se realiza hoje, segunda-feira, pelas 14,45 horas da Capela da Santa Casa da Misericórdia de Ma-tosinhos, onde se encontra depositada, para a igreja paroquial, saindo, após exéquias, a sepultar, em jazigo de família, no 1.º Cemitério Municipal de Matosinhos.

A missa do 7.º dia, pelo seu eterno descanso, será cele-brada sexta-feira, dia 10, às 18,30 horas na Igreja paroquial de Matosinhos. Agradecem, desde já, a todos os que se dignarem assistir a estas cerimónias.

FUNERÁRIA DE MATOSINHOS - IRMÃOS TEIXEIRA LDA.

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Pela primeira vez desde que foi cria-

do em 2000, o Instituto Nacional de

Medicina Legal terá um juiz como

presidente. Francisco José Brízida

Martins, 55 anos, juiz do Tribunal

da Relação de Coimbra, foi o nome

escolhido pela ministra da Justiça,

Paula Teixeira da Cruz, para dirigir

o organismo, que está sem presiden-

te há mais de mês e meio.

O PÚBLICO tentou saber o motivo

do atraso na nomeação, tendo o Mi-

nistério da Justiça remetido explica-

Instituto de Medicina Legal vai ter pela primeira vez um juiz na presidência

ções para o início da semana. O nome

do futuro presidente ainda não foi

anunciado pela ministra, mas consta

de uma acta de uma reunião do Con-

selho Superior de Magistratura, a 19

de Novembro, disponível no site.

Nesse documento refere-se que foi

“apreciado o expediente (...) que so-

licita que Francisco José Brízida Mar-

tins seja designado, em regime de co-

missão de serviço, como presidente

do Conselho Directivo do Instituto

Nacional de Medicina Legal e Ciên-

cias Forenses I.P.”. E acrescenta-se:

“Foi deliberado – por unanimidade

– deferir o solicitado.”

Será a primeira vez que o organis-

mo não é dirigido por um especialista

em medicina legal, já que, até agora,

todos os anteriores presidentes eram

médicos e professores universitários

daquela especialidade.

Francisco José Brízida Martins

Justiça Mariana Oliveira

Organismo está sem presidente há mais de mês e meio. Novo líder é magistrado há 31 anos

nistério não sai ileso. Após quatro

anos a insistir com o ministério na

necessidade de um despacho con-

junto dos ministros da Justiça e das

Finanças a fi xar a remuneração dos

membros do conselho directivo, o

presidente e dois vogais do instituto

acabam por optar por receber o ven-

cimento do lugar de origem, tendo

neste caso direito a um acréscimo

de 35% sobre o salário-base, como

estava expressamente previsto na lei

orgânica do instituto em vigor nessa

altura.

Tanto a Inspecção-Geral dos Ser-

viços de Justiça como a Inspecção-

Geral das Finanças concordam que

a decisão “não merece qualquer

censura”. Porém, a secretaria geral

do ministério considera que a deli-

beração de Setembro de 2011 é “in-

válida”, porque havia necessidade de

despacho ministerial.

nasceu em Angola, em 1958, sendo

magistrado há mais de 31 anos. Além

das referências ligadas à judicatura, o

magistrado aparece na Internet como

tendo integrado durante vários anos

o Conselho de Justiça da Federação

Portuguesa de Columbofi lia, cargo

que já não exerce.

Designado, desde 2013, Instituto

Nacional de Medicina Legal e Ciên-

cias Forenses – responsável pelos

exames e perícias forenses pedidos

pelas autoridades judiciais –, está a

ser gerido pelos presidentes das três

delegações (Norte, Centro e Sul), que

integram a direcção, órgão que até

Novembro era encabeçada pelo cate-

drático da Faculdade de Medicina de

Coimbra Duarte Nuno Vieira.

Apesar de a ministra não o admitir

explicitamente, o afastamento deste

responsável parece estar associado a

uma polémica de que o próprio mi-

Breve

Tráfico de droga

Mais de 30 mil doses de cocaína apreendidasA PSP apreendeu no sábado 31.596 doses de cocaína, no Aeroporto de Lisboa. Um passageiro oriundo de Caracas, Venezuela, ocultava “na zona do abdómen, de forma dissimulada, um colete elástico” com a droga.O passageiro, um estudante de 23 anos, viajava ainda com quatro telemóveis e dinheiro em três moedas diferentes — euros, bolívares e moeda filipina —, que também foram apreendidos.

A prova dita de avaliação de conhecimentos e capacidades (PACC) que o MEC de Nuno Crato quer impor aos professores é reprovada pela comunidade académica e científica. A FENPROF solicitou a seis personalidades da Educação que, a propósito daquela prova, elaborassem um comentário/declaração. O resultado é inequívoco: a PACC foi reprovada!

��������������� ��������������������������������������������������������� ����������������������������������������������������������������������������� �����������������!������"����������-�����#���#������� ����������������������������$������� ������������$����������%�����������������&������������'António Sampaio da Nóvoa – Docente Universitário. Reitor da Universidade de Lisboa no período 2006 - 2013

���������������������������������- ������(��������������������������

�������)������������������������� ���������������������*��#�������������'����������� ������������������������$�������������#�������������������+�,������.���������������������������������� ����+'Ana Maria Bettencourt – Presidente do Conselho Nacional de Educação no período 2009 – 2013

�,����������������*������������������/�*�������#��������0������������������������������������������ �-����� �������������1�����������������������#���&����������������������������������������#����$������������'David Rodrigues – Presidente da Associação Pró-Inclusão

23�!,)4���������������"�����������������������$���������������-�������5"�))6�#������������ �0�����������������$���������� ����������������#��� ��������������787���%���!�������� �������������������������������������������������������������������������������1��������������������- ���������������#����������� ��������$���������������������������������������� �����������-�����'Carlos Chagas – Membro do CNE; Presidente da FENEI

�9���������������������#�����#���:���������:�����������������0������������������������������ �������������������������������&���-�����������������������������.��������������;��#������*����������������������0������� ������������ �������������#�����������-��������������������0������������#���������'Paulo Sucena – Membro do CNE; Secretário-geral da FENPROF no período 1995–2007

�/��1�;������ ����������.����������������������<���������������-�����������*.���������������=���������������������������������������:�#�����������������������*.���#��������������� ���������� ��*����������������#��������������������<������'Sérgio Niza – Pedagogo. Presidente do Movimento Escola Moderna

EDUCAÇÃO REPROVA A “PACC”!

Federação Nacional dos Professoreswww.fenprof.pt

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18 | PORTUGAL | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

Seguradora paga crédito de doente oncológico com mais de 60 anos

Decisão do Supremo envolve crédito à habitação. Casal de Guimarães venceu disputa em tribunal, apesar de ter assinado apólice que previa perda de cobertura do risco de invalidez

JOSÉ FERNANDES

Quando os clientes não são esclarecidos, é justo onerar as seguradoras, argumentam os juízes

A seguradora Fidelidade foi obriga-

da, pelo Supremo Tribunal de Justi-

ça, a pagar o crédito à habitação de

um homem que contraiu uma doen-

ça oncológica aos 63 anos, apesar

de a apólice do seguro estabelecer

que perdia o direito a este tipo de

indemnização logo aos 60 anos.

Os juízes consideraram que o

cliente da Caixa Geral de Depósitos

(CGD) devia ter sido alertado pela

seguradora para o fi m da cobertura

do risco de invalidez.

“Num contexto económico-social

em que a maior parte dos portugue-

ses adquire habitação própria com

empréstimo bancário e paga, du-

rante uma parte substancial da sua

vida, prémios às companhias de se-

guros para garantia do risco de vida

ou invalidez, não pode afi rmar-se

ser um sacrifício excessivo onerá-

las com o pagamento das dívidas,

sobretudo se não esclareceram de-

vidamente o segurado acerca das

cláusulas particulares de exclusão

[da apólice]”, argumentam.

Doutra forma, acrescentam,

citando um acórdão já antigo, a

obrigatoriedade de contratar um

seguro de vida quando se contrai

um crédito à habitação mais não

seria do que “um simples artifício

destinado a obter mais uma pres-

tação a favor da seguradora, mui-

tas vezes ligada ao grupo de que o

banco faz parte”.

Era este o caso: quando mudou o

empréstimo que tinha no BPI para

a Caixa Geral de Depósitos, ainda

as contas se faziam em escudos em

vez de euros, Domingos Castelar

Oliveira, então já com 57 anos, e

a mulher assinaram novo seguro

de vida pela Fidelidade, do grupo

CGD. Da moradia onde residiam em

São Lourenço de Selho, uma fre-

guesia do concelho de Guimarães,

ainda lhes faltavam pagar 200 mil

euros. Não eram gente rica, diz o

seu advogado, Clementino Cunha:

tinham fi lhos e trabalhavam ambos

numa fábrica de confecções de que

eram proprietários.

As más notícias surgem seis anos

e uma semana depois, quando é

diagnosticado ao empresário, en-

tão com 63 anos, um problema do

foro oncológico. É considerado

portador de uma invalidez total e

permanente, com uma taxa de in-

capacidade permanente geral da

ordem dos 72%.

Quando tenta accionar o segu-

ro, a Fidelidade responde-lhe que

nada feito: a apólice que assinou

só cobre o risco de invalidez por

doença até aos 60 anos. Se não leu

as condições do contrato, deveria

ter lido.

O caso avança para o tribunal,

onde o advogado começa por pôr

em causa a lógica de uma apólice

que, nas suas condições especiais,

só extingue a cobertura de invali-

dez total e permanente por aciden-

te ou doença aos 65 anos, quando

nas condições particulares essa ida-

de é antecipada para os 60 no caso

de problemas de saúde.

E estas condições particulares

prevalecem sobre as especiais. “Mas

este seguro pode ser contratado

pelos clientes até aos 65 anos!!!”,

indigna-se Clementino Cunha.

A razão que é dada aos queixosos

pelos juízes de primeira instância,

perdem-na na segunda instância,

quando o Tribunal da Relação de

Guimarães acusa o casal de ter agi-

do de má-fé ao recorrer à justiça

para obter o pagamento do emprés-

timo pela seguradora.

Desta vez, os juízes argumentam

que Domingos Castelar Oliveira

nunca tinha posto o contrato em

causa até lhe surgirem problemas

de saúde, apesar de nessa altura

ter na sua posse, havia seis anos,

uma cópia do documento. “A vi-

timização é o instrumento usado

para atingir os seus objectivos”,

alega por seu turno o advogado da

companhia de seguros. “Dizem que

a lei protege as vítimas — mesmo

quando estas não sejam vítimas de

coisa alguma que não a sua ganân-

cia e avareza.”

O calvário judicial chegou ao fi m

no mês passado, quando o Supre-

mo decidiu que a Fidelidade vai ter

mesmo de pagar à Caixa Geral de

Depósitos os 153 mil euros que o

casal ainda deve ao banco, mais as

prestações que os dois habitantes

de Selho (São Lourenço) tiveram de

desembolsar desde que a doença

se declarou, em Agosto de 2007.

Porquê? Porque a seguradora não

conseguiu provar que cumpriu a

sua obrigação de informar devida-

mente os clientes daquilo que esta-

vam a assinar, nomeadamente das

chamadas “cláusulas perigosas para

os seus interesses”.

“A haver má-fé, seria da segura-

dora e não do segurado”, concluem

os magistrados. A Fidelidade de-

via ter alertado o segurado para o

fi m da cobertura do risco de inva-

lidez por doença quando este fez

60 anos, “para que o prémio fosse

proporcionalmente reduzido, co-

mo seria justo e exigível”.

O acórdão torna-se definitivo

amanhã, não tendo a seguradora

levantado até ao fi nal da semana

passada nenhuma objecção para

pôr em causa a deliberação dos juí-

zes. Contactada pelo PÚBLICO, que

tentou repetidamente, mas sem su-

cesso, falar com o casal, a Fidelida-

de diz apenas que “não deixará de

analisar a questão” e que “assumi-

rá as suas responsabilidades como

sempre faz”.

JustiçaAna Henriques

Quando o cliente é o elo mais fraco

A única liberdade é a de ler as muitas cláusulas

A decisão do Supremo Tribunal de Justiça baseia-se no entendimento de que em contratos de massas,

como é o caso, impostos por grandes organizações aos particulares, é legítimo que estes últimos se demitam do esforço de tentarem entender o conteúdo da papelada que lhes é dada para assinar, um esforço que sabem ser inglório.

“Não se preocupam com o conteúdo destas cláusulas, que conhecem mal ou de todo não conhecem, dada a complexidade das mesmas e

a perda de tempo que implica o seu estudo para um leigo, num contexto em que é inútil a sua negociação”, escrevem na sentença. “Pois o aderente não tem mais liberdade do que a de assinar ou não o contrato, não gozando qualquer liberdade de fixação do seu conteúdo.”

Daí que a lei proteja os particulares enquanto parte mais débil deste tipo de contrato. E que os tribunais “não possam deixar de exercer um efectivo e rigoroso controlo sobre as empresas, dado o enorme poder de que estas dispõem”.

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PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | PORTUGAL | 19

DANIEL ROCHA

Número de estrangeiros residentes em Portugal tem vindo a cair

O Alto Comissariado para a Imigração

e o Diálogo Intercultural (ACIDI) vai

assumir novas funções. Essa é, pelo

menos, a proposta que está pronta

para ser apreciada em Conselho de

Ministros. Se vingar, caberá a esse

instituto aliciar estrangeiros “de ele-

vado potencial” para Portugal.

Quem defende a ideia é Pedro

Lomba, secretário de Estado adjunto

do ministro adjunto e do Desenvol-

vimento Regional. Parece-lhe que o

país tem de se adaptar a uma nova

realidade migratória, que apresenta

forte caudal de saídas e fraco caudal

de entradas.

Segundo o Instituto Nacional de

Estatística (INE), em 2012 saíram 121

mil pessoas. Apesar de a emigração

ser hoje muito experimental, graças

à livre circulação no espaço comuni-

tário, desde o fi nal dos anos 1960 que

não saía tanta gente. O número de

estrangeiros residentes também tem

vindo a cair – 451 mil em 2009 para

414 mil em 2012, segundo o Serviço

de Estrangeiros de Fronteiras.

Lomba quer ACIDI a aliciar imigrantes “de elevado potencial”

O movimento faz-se, sobretudo,

do Sul para o centro e para o Norte

da Europa. Mas, como frisa Lomba, o

fl uxo migratório actual compreende

também profi ssionais que se deslo-

cam para países em desenvolvimento

ou que se servem da tecnologia para

trabalhar em qualquer parte, investi-

gadores e estudantes que trabalham

em rede e reformados ansiosos por

clima ameno.

Com um mercado laboral que já

pouco atrai trabalhadores em bus-

ca de melhores condições de vida,

ganha algum peso outro tipo de vis-

tos. Em 2012, mais de oito mil dos

12.528 emitidos foram atribuídos

por via do estudo, intercâmbio de

estudantes, estágio profi ssional ou

voluntariado.

Os fl uxos, resume Lomba, diver-

sifi caram-se. “Precisamos de políti-

cas mais integradas, que tenham em

vista os que saem e os que entram”,

diz. Na sua opinião, não é por ter um

número de saídas “preocupante que

o país pode abandonar a abertura

que tem tido em relação aos imi-

grantes”.

Os imigrantes, insiste, tendem a

arriscar mais. Imigrantes empreen-

dedores podem criar postos de tra-

balho e, com isso, fi xar quem pensar

partir ou resgatar quem já partiu. É

nessa lógica que acha que se impõe

“identifi car e captar imigração de

elevado potencial ou de grande va-

lor acrescentado”. Para isso, quer

transformar o ACIDI num organismo

“transversal” e “pró-activo”.

Este novo ACIDI teria de se relacio-

nar com a Agência para o Investimen-

to e Comércio Externo de Portugal,

a Direcção-Geral do Ensino Supe-

rior, a Direcção-Geral dos Assuntos

Consulares e das Comunidades Por-

tuguesas, o Instituto de Emprego e

Formação Profi ssional, o Turismo

de Portugal, o SEF. Nesta posição,

coordenaria políticas migratórias

que envolveriam a rede diplomáti-

ca e consular, a emissão de vistos, a

captação de estudantes, a fi xação de

reformados, a integração, apelando

à participação de fundações, asso-

ciações, universidades, empresas,

autarquias. O governante concretiza:

dedicar-se-ia à “análise de necessida-

des laborais a curto e médio-prazo”,

à “articulação destinada ao fi nancia-

mento ao empreendedorismo imi-

grante”, a trabalhar a “estratégia de

internacionalização do ensino supe-

rior” e as “vias verdes para obtenção

de vistos”, por exemplo.

Para lá de eventuais diferendos po-

líticos, há um obstáculo: o ACIDI é

um instituto público que faz parte da

administração indirecta do Estado,

dotado de autonomia administrativa,

muito focado na integração. Para as-

sumir o novo papel que Lomba lhe

quer conferir teria de ser integrado

na administração pública.

MigraçõesAna Cristina Pereira

Proposta de nova política migratória está pronta para ser discutida em Conselho de Ministros

Os fi lhos partem, os pais fi cam. Por

sentir que há cada vez mais pessoas

que têm familiares fora de Portugal e

que fi cam no país sem apoio, a Fun-

dação S. João de Deus criou um pro-

grama-piloto de ajuda a familiares de

emigrantes portugueses “com fraca

rede social de suporte ou em situa-

ção de isolamento social”, em espe-

cial idosos, com residência em Lis-

boa e Guarda. A iniciativa chama-se

“Somos por Si, Somos por Portugal”

e conta dar apoio a 120 pessoas.

A Fundação S. João de Deus, uma

instituição particular de solidarieda-

de social criada em 2006, vocacio-

nada para o auxílio aos doentes e a

pessoas com difi culdades económi-

cas, com sede em Lisboa, pretende

garantir o acompanhamento de fa-

miliares de emigrantes em pequenas

tarefas diárias, como limpar a louça,

estender a roupa, despejar o lixo, ler

o correio e jornais, ajudar no preen-

chimento do IRS ou acompanhar a

pessoa às compras e a consultas, à

farmácia.

Pensa-se que serão sobretudo ido-

sos a precisar de apoio, mas também

há casos de famílias em que um dos

cônjuges foi obrigado a emigrar e po-

derão dar apoio ao que fi ca, explica

a técnica responsável pelo progra-

ma, Susana Costa Pinto. O programa

ainda não arrancou. Até ao fi nal de

2014, está previsto o alargamento das

actividades para outras cidades.

A instituição apoia cerca de 30 pes-

Fundação lança programa para apoiar familiares de emigrantes

soas em Lisboa em situação de isola-

mento, acompanhando-as nas tarefas

diárias, mas também motivando-as

a sair de casa, explica o assessor de

comunicação da fundação, Samuel

Pimenta. Há também os que não

conseguem sair de casa; neste caso

fazem-lhes visitas periódicas.

A ideia é estender este apoio aos

familiares de pessoas que são for-

çadas a emigrar, “para deixar a fa-

mília sossegada”, depois de terem

constatado esta necessidade junto

de várias entidades no terreno, diz.

Susana Costa Pinto esclarece que a

fundação não faz apoio domiciliário,

não prestando cuidados de saúde e

de higiene; essas funções estão a car-

go de outras associações, a fundação

pretende “ser um agente facilitador

de comunicação”.

A fundação disponibiliza um nú-

mero de telefone, 217983400 e um

email somosporportugal@fundacao-

sjd.pt para os emigrantes que quei-

ram fazer um pedido de acompanha-

mento para os seu familiares; a ideia

é depois manter o emigrante infor-

mado sobre os contactos feitos com o

familiares. Os serviços da instituição,

instituída pela Ordem Hospitaleira de

S. João de Deus, são gratuitos.

Entre 100 a 120 mil portugueses

saíram do país em 2013, uma emi-

gração “bastante alta”, mas que se

manteve estável devido à falta de

emprego nos outros países, estimou

recentemente o secretário de Estado

das Comunidades Portuguesas, José

Cesário, citado pela Lusa.

Sem dados ofi ciais, o Governo ad-

mite que o número seja semelhante

ao do ano passado – cerca de 100

mil a 120 mil. Europa, em particular

a França, continua a ser o principal

destino, com Angola a atrair também

números semelhantes aos do ano

passado, na ordem dos 25 mil.

Apoios sociaisCatarina Gomes

O objectivo é dar apoio a cerca de 120 pessoas em Lisboa e na Guarda, cujos familiares deixaram o país

JOSÉ SARMENTO MATOS

Ajuda aos que ficam pode ser dada em pequenas tarefas diárias

Page 18: Web20140106 publico porto

20 | LOCAL | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

Centro da Memória Judaica do Porto chumba no QREN mas mantém a fé

Pároco da Vitória espera cativar judeus para a ideia da criação do centro interpretativo no Encontro Diálogo e Reconciliação que decorre no dia 14 nesta freguesia do centro histórico do Porto

BÁRBARA RAQUEL MOREIRA

O padre Agostinho Jardim Moreira

já imaginava que “só por milagre”

se conseguiria concluir o projecto

do Centro Interpretativo da Memó-

ria Judaica e Cristã-Nova do Porto a

tempo de ele benefi ciar dos fundos

europeus do Quadro de Referência

Estratégica Nacional (QREN). O pra-

zo era demasiado curto para cum-

prir os trâmites.

O velho edifício, virado para a Rua

de São Miguel, a mais importante

do tempo da Judiaria do Porto, foi

cedido à paróquia de Nossa Senhora

da Vitória pela autarquia em Julho

de 2013. “Conseguimos fazer o le-

vantamento e o projecto; o projecto

foi aprovado pela Sociedade de Re-

abilitação Urbana; apresentámos a

candidatura ao QREN, mas foi des-

classifi cada, por não estar amadu-

recida”, diz. “Não tinha ainda as

especialidades todas. Fez-se tudo

em cima do joelho.”

Uma nova candidatura está a

ser trabalhada a pensar no Quadro

Comunitário de Apoio 2014-2020,

que foi aprovado em Novembro pe-

lo Parlamento Europeu. Desta vez,

Jardim Moreira terá tempo para cui-

dar de cada pormenor. E parece-lhe

que não tem sentido avançar sem o

apoio dos judeus.

No próximo dia 14 de Janeiro, no

Palacete dos Viscondes de Balse-

mão, no Porto, o pároco da Vitória

e o líder da Rede de Judiarias de

Portugal deverão acolher os parti-

cipantes no Encontro Diálogo e Re-

conciliação, no qual, “pela primeira

vez”, a oração Shemá Israel, a base

das religiões monoteístas e abramis-

tas, será cantada a uma só voz por

“responsáveis da Igreja Católica, ra-

binos e dirigentes de comunidades

judaicas portuguesas e bispos das

igrejas anglicana e luterana”.

No encontro – organizado para

ser “um exemplo de diálogo inter-

religioso e de fomento da paz entre

os povos e as culturas do mundo”

–, Jardim Moreira discursará sobre

o projecto, orçado em 1,6 milhões

de euros. Está convencido da sua

importância. “No ano passado, re-

cebi mais de 300 judeus do Canadá,

dos EUA, do México, da Alemanha,

de Israel”, comenta. O interesse dos

turistas tinha um ponto muito espe-

grupo de judeus que o quer visitar.

Amiúde, perguntam a Jardim Mo-

reira por que se interessa tanto um

padre católico por este assunto. Na

linha de Kiko Argüello, um dos fun-

dadores do Caminho Neocatecume-

nal na Igreja Católica Apostólica Ro-

mana, responde que sem judaísmo

não haveria cristianismo. “Temos

uma história comum, embora essa

história tenha partes que não orgu-

lham ninguém”, reconhece.

Os primeiros reis de Portugal pro-

tegeram os judeus. Havendo mais

de dez, podia ser criada uma comu-

na e uma sinagoga. Em 1319, nova

etapa: qualquer comunidade com

mais de dez membros teria de viver

longe dos cristãos. Em 1477, quan-

do Dom Manuel subiu ao trono, já

em Espanha havia Inquisição. Soli-

citou regime semelhante. Publicou

o édito de expulsão dos judeus em

1493, mas o chamado Santo Ofício

foi estabelecido já no tempo de Dom

João III, em 1536.

Foi naquele contexto de segrega-

ção que nasceu a sinagoga da Rua

de São Miguel. Há, explicou aquan-

do da sua descoberta a historiadora

Elvira Mea, “garantia histórica” de

que existiu ainda no século XVI, ou

seja, após a expulsão dos judeus. No

livro Nomologia o Discursos Legales,

publicado em Amesterdão, em 1629,

Immanuel Aboab refere o bairro do

Olival, no qual havia uma sinagoga.

Em 2012, o ehal foi classifi cado

como monumento de interesse

público por Francisco José Viegas,

então secretário de Estado da Cul-

tura. Em Julho, Câmara do Porto e

Assembleia Municipal aprovaram

a cedência do imóvel devoluto, na

mesma rua, uns números abaixo,

para que ali nascesse um Centro In-

terpretativo da Memória Judaica e

Cristã-Nova do Porto.

ProjectoAna Cristina Pereira

cífi co. No número 9 da Rua de São

Miguel foi descoberto há 12 anos um

ehal, um nicho de pedra lavrada on-

de a comunidade judaica guardava

a Torá.

O edifício fora adquirido pelo Cen-

tro Social e Paroquial de Nossa Se-

nhora da Vitória em 1997 para fazer

um lar de idosos e um centro de dia.

Na primeira fase da obra, ao limpar

as paredes, depararam-se com um

muro falso. Retiradas as pequenas

pedras e as partes de barro, deram

com o que resta de um armário litúr-

gico no qual se presume que seriam

guardados os textos sagrados.

O nicho sobressai no refeitório

do lar e centro de dia. Dos azule-

jos que lhe cobriam o fundo e da

decoração envolvente subsistem

apenas alguns fragmentos. Era ali

que funcionava a sinagoga da Ju-

diaria do Olival. De vez em quan-

do, telefona algum guia de um

O ehal, nicho onde se guardava a Torá, foi encontrado atrás de um muro no edifício do Centro Social e Paroquial de Nossa Senhora da Vitória

“No ano passado, recebi mais de 300 judeus do Canadá, dos EUA, do México, da Alemanha, de Israel”, comenta o padre Agostinho Jardim Moreira.Estes visitantes querem ver o ehal descoberto há 12 anos

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PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | LOCAL | 21

A forte ondulação que ontem se fez

sentir na costa portuguesa impediu

que o paquete Funchal fundeasse

ao largo da praia da Rocha/Porti-

mão. O navio, com 400 passageiros

a bordo, andou mais de 24 horas a

tentar atracar no porto de Portimão,

uma espera que só terminou com a

chegada do rebocador, proveniente

de Setúbal, por volta das 18h. Isso

permitiu aos passageiros o regres-

so a casa.

Cerca das 6h30, disse Isilda Go-

mes, o navio tentou fundear ao lar-

go de Alvor. O objectivo seria fazer

o transporte dos passageiros para

terra num catamarã, mas a operação

não teve êxito. O Algarve, apesar de

ser uma região que se encontra na

rota turística dos grandes cruzeiros

marítimos, não possui um reboca-

dor, indispensável no apoio a este

tipo de operações, mesmo com bom

tempo.

“Inconcebível”, foi como a presi-

dente da Câmara de Portimão, Isilda

Martins, classifi cou a falta de condi-

ções de apoio a este segmento turís-

tico. Sempre que chega um navio de

grande porte a este porto, tem de ser

pedido a Sines um rebocador, levan-

do na viagem oito a dez horas.

O deputado Miguel Freitas, do PS,

disse ao PÚBLICO que vai “pedir ex-

plicações ao Governo” pelo facto de

a região não dispor de um rebocador

público, quando é conhecida a vul-

nerabilidade da região. “Passam pela

costa algarvia 150 navios de grande

porte por dia, 18 dos quais contendo

cargas perigosas, poluentes.” Em ca-

so de acidente, disse, “pode-se dar

uma catástrofe”. O que se passou

com o paquete Funchal, que fazia

um cruzeiro de sete dias – Lisboa,

Funchal, Marrocos, Lisboa – “veio

demonstrar que o Algarve tem de

possuir meios e capacidade de ges-

tão para garantir o desenvolvimento

dos portos de Faro e Portimão”.

Enquanto aguardava pelo reboca-

dor, que demorou 13 horas (saiu às

5h de Setúbal), o paquete Funchal

continuou a navegar entre Portimão

e Albufeira, procurando desta forma

suavizar o efeito da ondulação. O di-

rigente dos Ofi ciais Mar, Sousa Cou-

tinho, citado pela Lusa, disse que

“todos os passageiros encontram-

se bem e confortáveis”. Porém, não

deixou de apontar a necessidade de

o Algarve ter “sempre” um reboca-

dor. É uma região “abandonada em

termos de segurança marítima”.

Passageiros do Funchal regressaram a terra

NELSON GARRIDO

Ontem foi dia de limpeza geral nas freguesias mais afectadas pela tempestade de sábado

Subiu para 112 o número de habita-

ções danifi cadas pelo tornado que

na madrugada de sábado passou

por quatro freguesias do concelho

de Paredes, no distrito do Porto. E

o estado do tempo não tem ajudado

a reparar as coberturas que o ven-

to arrancou às casas e atirou para o

chão.

“Tem chovido muito”, diz o co-

mandante dos Bombeiros de Lorde-

lo, Pedro Alves, numa curta conversa

telefónica. E não são boas as notícias

que chegam de Lisboa. Para hoje, o

Instituto do Mar e da Atmosfera pre-

vê “céu geralmente muito nublado,

períodos de chuva nas regiões nor-

te e centro, estendendo-se gradual-

mente à região sul, e sendo por vezes

forte no Minho e Douro Litoral até ao

início da tarde”.

Quase todas as casas afectadas nas

freguesias de Duas Igrejas, Sobrosa,

Lordelo e Vilela perderam parte da

cobertura, algumas fi caram sem per-

sianas e com os vidros das janelas

partidos. Desde então, os morado-

res afl igem-se com as infi ltrações de

Número de casas danificadas pelo tornado subiu para 112

água, capazes de destruir roupas,

móveis e outros bens.

Mobilizou-se muita gente, apesar

do vento e da chuva. Afastaram o que

puderam para áreas cobertas ou ca-

sa de amigos ou familiares. Alguns

subiram aos telhados. Tentaram re-

por telhas ou pôr toldos e bandas

de plástico a tapar os buracos, que

deixavam entrar água.

“Há muito trabalho a fazer”, co-

mentava o comandante, ao anoite-

cer, depois de um dia inteiro passado

às voltas, a fazer o levantamento por-

menorizado da situação. Mesmo as-

sim, já muito fora feito, comentava,

por seu lado, a vereadora da Câmara

de Paredes Hermínia Moreira. Quem

ali tivesse estado no sábado já não

reconheceria alguns lugares. Os habi-

tantes tinham saído às ruas e fi zeram

muito trabalho de limpeza.

“As pessoas estão a reagir dentro

do possível”, notava Pedro Alves.

“Têm uma surpreendente capaci-

dade de se reerguer”, observava

também Hermínia Moreira. “O que

as pessoas podem fazer — sozinhas

ou com a ajuda de familiares ou ami-

gos — já estão a fazer, mas claro que

muitas precisam de ajuda.”

Ficaram desalojadas 56 pessoas.

Quase todas acabaram por ser acolhi-

das por familiares. Só duas pessoas,

idosas, sem retaguarda familiar, fi ca-

ram num lar gerido por uma institui-

ção particular de solidariedade social

local. Já usavam a valência de centro

de dia, passaram a pernoitar.

A autarquia estava a analisar ca-

da caso de forma pormenorizada.

Hoje, com a Segurança Social e as

juntas de freguesia, delineará acções

concretas.

Muitas das famílias afectadas já

enfrentavam antes dificuldades

económicas: algumas pessoas estão

desempregadas. “Esta é uma região

muito afectada pelo desemprego”,

sublinha ainda a vereadora. E é por

isso, também, que a câmara pediu

ao Governo que declarasse estado

de calamidade.

Duas fábricas foram parcialmente

destruídas pelo tornado. Uma delas

— a têxtil — emprega 58 pessoas. A

outra — de móveis — é mais pequena.

Uma e outra deverão retomar a acti-

vidade quanto antes. No município,

há ainda registo de vários mostruá-

rios de mobiliários estragados. Em

Vilela, a cobertura do pavilhão da

escola foi levada. Em Duas Igrejas,

o mesmo aconteceu à igreja.

O tornado arrancou dezenas de ár-

vores e tombou uns quantos postes.

Uma equipa da EDP encarregara-se

de repor o fornecimento de elec-

tricidade suspenso pelo temporal.

Domingo, já só 15 habitações perma-

neciam sem corrente: dez em Vile-

la e cinco em Duas Igrejas. “Estão

completamente danifi cadas”, diz.

Outras permaneciam às escuras,

apesar de já terem corrente. Havia

água na instalação, pelo que acender

uma lâmpada podia bastar para fazer

curto-circuito.

ParedesAna Cristina Pereira

Temporal de anteontem desalojou 56 pessoas, quase todas, entretanto, acolhidas por familiares ou amigos

Breves

Ponte de Lima

Viana do Castelo

GNR recuperou 152 aves exóticas furtadas

Bombeiros procuram canoísta no rio Âncora

A GNR anunciou ontem a recuperação, em Ponte de Lima, de 152 aves exóticas furtadas na última semana, avaliadas em mais de dez mil euros, tendo identificado o alegado autor do crime. A apreensão destas aves, agora divulgada, teve lugar durante uma operação na noite de sexta-feira, numa busca domiciliária na freguesia de Fornelos. Um morador, de 30 anos, foi “considerado suspeito” do furto, dias antes, nas freguesias de Chafé e Mazarefes, no concelho de Viana do Castelo. “Este, confrontado com a prova recolhida pelos investigadores, assumiu a autoria dos crimes e que as aves teriam como destino o mercado paralelo a preços mais reduzidos”, explicou a GNR.

Um homem de 33 anos estava a ser procurado, ontem, pelos Bombeiros Municipais de Viana do Castelo no rio Âncora, depois de os amigos com quem praticava canoagem terem reportado às autoridades que se estava a “afogar”. A informação foi confirmada por fonte da GNR, acrescentando que o homem estava a praticar canoagem naquele rio, na freguesia de Freixieiro de Soutelo, Viana do Castelo, quando, pelas 13h30, foi dado o alerta. As buscas, na zona da serra d’Arga, estiveram a cargo de mergulhadores e outros elementos dos Bombeiros Municipais de Viana do Castelo, apoiadas pela GNR e Polícia Marítima. Familiares do canoísta, natural de Riba d’Âncora, em Caminha, também estiveram no local.

Algarve Idálio Revez

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22 | ECONOMIA | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

Depósitos suspeitos acima de 5000 euros obrigam a identifi car cliente

Banco de Portugal introduz novas regras no âmbito do combate europeu à lavagem de dinheiro e ao fi nanciamento do terrorismo. Transferências também serão mais acompanhadas pelos bancos

RUI GAUDÊNCIO

Bancos terão de ajustar os seus procedimentos e os sistemas de controlo internos

O Banco de Portugal, no quadro das

orientações internacionais, vai refor-

çar, a partir de Fevereiro, as medidas

destinadas a prevenir o branquea-

mento de capitais e o fi nanciamento

do terrorismo. Entre as novidades

está o facto de os bancos fi carem

obrigados a identifi car quem preten-

da depositar, numa conta que não é

a sua, um valor igual ou superior a

5000 euros, isto, se houver suspei-

tas de risco. As transferências bancá-

rias presenciais, por multibanco ou

Internet, a partir de 15.000 euros,

passam também a ser alvo de maior

vigilância.

Os novos requisitos do supervi-

sor, que entram em vigor a 16 de

Fevereiro, impõem também, mas

agora de modo automático, a iden-

tifi cação de todos os depositantes

(nome e dados do cartão de cida-

dão ou do passaporte) de numerá-

rio em contas de terceiros, desde

que a quantia seja igual ou superior

a 10.000 euros. O mesmo acontece

para os movimentos (em dinheiro)

suspeitos de valor igual ou acima

de 5000 euros.

Estas são algumas das medidas

que constam do aviso do Banco de

Portugal, de 19 de Dezembro, com

mais de 60 artigos, e que foi emiti-

do no quadro do combate europeu

ao branqueamento de capitais e fi -

nanciamento do terrorismo.

“As matérias mais reguladas no

documento, que é extenso e deta-

lhado, são os deveres de identifi ca-

ção, de diligência (análise das ope-

rações para apurar se tem traços

que a torne suspeita), de controlo

(criação de modelos de gestão de

risco e de um sistema de controlo

interno que garanta no sector uma

cultura de prevenção e de luta con-

tra esquemas ilícitos) e de formação

dos quadros bancários (para que

estejam aptos a intervir sempre

que for necessário)”, explicou ao

PÚBLICO Sofi a Leite Borges, espe-

cializada em direito fi nanceiro e

sócia da sociedade de advogados

Abranches Namora Lopes dos San-

tos & Associados (ANLS).

Para a advogada, que já produziu

matéria sobre o tema, o BdP veio

também clarifi car “a extensão e o

grau de responsabilidade dos ór-

ao procurador-geral da República e

à UIF quando têm suspeitas”.

Um dos movimentos bancários

classifi cado pelo BdP como gera-

dor de desconfi ança é o fracciona-

mento de depósitos em numerário

em conta titulada por terceiro, o

que pode ser lido como sendo um

sinal para evitar atingir os limites

recomendados pelo BdP, de 10.000

euros ou de 5000 euros (com sus-

peita de risco).

Outra regra incluída no aviso do

BdP prende-se com as transferên-

cias bancárias presenciais ou com

recurso a meios de comunicação

à distância (multibanco, Internet)

para montantes iguais ou acima

de 15.000 euros. Nestes casos, os

bancos devem identifi car o orde-

nante e o benefi ciário e verifi car

a veracidade dos dados pessoais.

O mesmo pode acontecer quando

o valor individual ou agregado da

transferência for igual ou ultrapas-

sar os 15.000 euros.

Para Sofi a Leite Borges, o aviso

do supervisor fi nanceiro, de 19 de

Dezembro, “vai implicar alterações

nas políticas, nos procedimentos e

nos sistemas de controlo internos

das instituições fi nanceiras”, não

só no que respeita “aos deveres de

identifi cação de clientes e de dili-

gência na análise de certas opera-

ções, relações de negócio, pessoas

politicamente expostas ou transac-

ções, ainda que ocasionais”, mas

também na maior aposta na forma-

ção dos bancários. Estes temas me-

recem, aliás, um tratamento por-

menorizado por parte do BdP, que

impõe também maiores exigências

nos procedimentos de identifi cação

do cliente na abertura de uma con-

ta bancária.

BancaCristina Ferreira

gãos de administração” das insti-

tuições que supervisiona, no que

respeita “à prevenção da utilização

do sistema fi nanceiro para branque-

amento de capitais e fi nanciamento

do terrorismo”.

Apesar de os bancos terem por

obrigação informar imediatamente

o procurador-geral da República e a

Unidade de Informação Financeira

Um dos movimentos classifi cados como suspeitos pelo Banco de Portugal é o fraccionamento de depósitos

(UIF) sobre qualquer movimento

duvidoso (independentemente da

quantia), o aviso do BdP é omisso

(ainda que a lei o permita desde

2008) na defi nição de regras pre-

cisas de dever de comunicação às

autoridades no caso de uma tran-

sacção de valor igual ou acima de

5000 euros levantar dúvidas.

“O BdP optou por seguir crité-

rios mais qualitativos, defi nindo

quais as operações que podem ser

classifi cadas de suspeitas, indepen-

dentemente do seu montante, em

vez de seguir critérios quantitativos

[fi xar um valor a partir do qual a

operação deve ser comunicada ao

Ministério Público], que são em ge-

ral cegos e que podem levar o in-

fractor a contornar a regra com de-

pósitos de menor valor”, explicou

Sofi a Leite Borges. Faz notar que

“os bancos já fazem a comunicação

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PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | ECONOMIA | 23

OXANA IANIN

O Ministério das Finanças comunicou o nome à CRESAP pouco antes do Natal

Ao fi m de seis meses sem preencher

o cargo, o Governo escolheu o novo

presidente da Parpública. A holding

que gere as participações do Esta-

do em empresas como a TAP e a

Águas de Portugal vai ser liderada

por Pedro Ferreira Pinto, que su-

cederá assim a Joaquim Pais Jorge.

O nome indicado pelo executivo já

recebeu luz verde da comissão de

recrutamento para a administração

pública.

A escolha partiu da secretária de

Estado do Tesouro, Isabel Castelo

Branco, que enviou o nome do can-

didato para a entidade presidida

por João Bilhim a 19 de Dezembro.

O parecer positivo da Comissão de

Recrutamento e Selecção para a Ad-

ministração Pública (CRESAP) foi

dado ainda antes do Natal, no dia

23, e publicado na passada sexta-

feira no site do organismo. O perfi l

de Pedro Ferreira Pinto foi conside-

rado adequado ao cargo pelo facto

de ter “uma experiência efectiva

na gestão de topo de situações de

elevada complexidade” e por de-

monstrar um “conhecimento da

problemática em causa”, lê-se no

documento.

Pedro Ferreira Pinto esteve, des-

de cedo, ligado ao sector da corre-

tagem e dos fundos de investimen-

to, tendo passado também pela Efa-

cec. Até 2009, foi administrador da

Selecta e da Lisbon Brokers, tendo

integrado nesse ano a empresa de

serviços de assessoria fi nanceira

ASK – Advisory Services Kapital. É,

desde Outubro de 2011, administra-

dor da Eaufresh, uma empresa de

aluguer de purifi cadores de água.

O novo presidente da Parpúbli-

ca, que não foi ainda ofi cialmente

nomeado pelo Governo, sucederá

no cargo a Joaquim Pais Jorge, que

cessou funções em Julho, depois de

nove meses na liderança da holding

estatal, para subir a secretário de

Estado do Tesouro.

Uma nomeação feita pela minis-

tra das Finanças, Maria Luís Albu-

querque, na sequência da demissão

do anterior titular da pasta, Vítor

Gaspar.

Desde então, a gestão da Parpú-

Governo escolhe presidente da Parpública ao fim de seis meses

blica estava a ser assegurada pelos

dois membros executivos do conse-

lho de administração, Carlos Durães

da Conceição e José Mendes de Bar-

ros. A holding fi cou sem presidente

nos últimos seis meses, apesar de

ter estado envolvida em dossiers

importantes como a privatização

dos CTT, que controlava a 100%. A

maioria do capital dos correios foi

dispersa em bolsa, permanecendo

30% nas mãos do Estado, embora a

intenção do Governo seja aliená-los

no médio prazo.

A saída do último presidente da

holding acabou por se revelar atri-

bulada, visto que deixou a Secre-

taria de Estado do Tesouro cerca

de um mês depois de ter assumido

funções. Pais Jorge demitiu-se do

cargo no início de Agosto por causa

da polémica dos swaps, já que, en-

quanto quadro do Citigroup, esteve

presente em reuniões com elemen-

tos do anterior executivo PS para

vender derivados de cobertura de

risco sobre a dívida pública.

Alguns destes contratos, subscri-

tos por empresas do Estado, foram

considerados especulativos, tendo

acumulado no conjunto perdas po-

tenciais superiores a 3000 milhões

de euros. Este caso levou, aliás, ao

afastamento de outros dois secre-

tários de Estado e de três gestores

públicos.

Pedro Ferreira Pinto iniciará o

mandato na Parpública num mo-

Empresas públicasRaquel Almeida Correia

Pedro Ferreira Pinto com luz verde para suceder a Pais Jorge, que foi secretário de Estado, mas se demitiu por causa dos swaps

mento de especial indefi nição. O

Governo tinha acordado com a troi-

ka a extinção da holding, visto que

iria perder progressivamente os ac-

tivos que geria com o cumprimento

do programa de privatizações. Des-

de 2012, deixou de ter na carteira

as participações do Estado na EDP

e na ANA, bem como 40% da REN

e 70% dos CTT. O emagrecimento

continuará, caso se cumpra a venda

da TAP, que fracassou no fi nal de

2012 com a rejeição da proposta de

Gérman Efromovich.

No entanto, e apesar de o executi-

vo se ter comprometido a apresen-

tar uma estratégia para a extinção

da Parpública, o grupo continua

sem um caminho defi nido. Estas

circunstâncias constam, aliás, no

parecer divulgado pela CRESAP. No

documento, lê-se que o novo pre-

sidente da holding realçou a “ne-

cessidade de clarifi cação estratégi-

ca da continuação ou extinção da

instituição”.

Apesar de ter fechado este capítu-

lo, o PÚBLICO sabe que o Governo

ainda não conseguiu resolver o pro-

blema da Metro de Lisboa/Carris,

que fi cou sem presidente em Junho

deste ano por causa da polémica

dos swaps. Desde que José Silva Ro-

drigues foi afastado do cargo, foram

já discutidos vários nomes para o

substituir, mas nenhum deles che-

gou à comissão de recrutamento

público.

Mesmo sem presidente, a Parpública esteve envolvida, no final do ano, na importante

privatização dos CTT, que acabou por render ao Estado 579 milhões de euros, através de uma operação em que foi colocada no mercado uma fatia de 70% do capital da empresa liderada por Francisco Lacerda.

Na oferta pública de venda, o público investiu um pouco mais de 115 milhões de euros para adquirir 21 milhões de acções. Já na parte reservada aos trabalhadores, as ordens atingiram cerca de 2,1 milhões de acções, gerando um encaixe de 10,8 milhões de euros.

A parte mais substancial da receita veio, no entanto, da venda directa aos investidores institucionais, que permitiu a entrada de 463,7 milhões de euros nos cofres do Estado, através da venda de um bloco global de 9,6 milhões de acções. A Parpública mantém 30% na empresa. J.M.R.

Encaixe de 579 milhões nos CTT

Breves

Turismo

Previsão

Gastronomia e vinhos promovem Alentejo no mercado inglês

Acções da Fiat podem duplicar de valorem dois anos

O produto “Gastronomia e Vinhos” vai ser a “âncora” para vender o Alentejo no mercado turístico inglês, este ano, com a agência regional de promoção externa a apresentar o destino como a “alma gastronómica” de Portugal. “A gastronomia e vinhos são um produto muito forte no Alentejo e acordámos com os operadores ingleses com os quais trabalhamos que, este ano, esse é o tema ‘âncora’ para esse mercado”, disse Vítor Silva, presidente da agência turística. O responsável pela Agência Regional de Promoção Turística do Alentejo (ARPTA), sediada em Grândola, realçou que esta já é uma área fulcral para “vender” o destino alentejano, mas, no mercado inglês, vai ser dada “ainda mais atenção” ao produto.

A cotação das acções da Fiat poderá duplicar nos próximos dois anos, na sequência do acordo que deu ao grupo italiano o controlo total da construtora norte-americana Chrysler. A estimativa foi avançada na edição de ontem da revista Barron’s. Na sexta-feira passada, os títulos da Fiat fecharam a perder 2,3%, para os 6,76 euros, na Bolsa de Milão. Depois de ter comprado os 41,% de capital que o fundo de saúde do sindicato dos trabalhadores do sector automóvel detinha na Chrysler, a Fiat tem caminho livre para avançar com uma fusão que irá gerar importantes sinergias, nomeadamente, através da centralização de competências e serviços. E terá acesso mais simplificado a financiamento.

Page 22: Web20140106 publico porto

24 | ECONOMIA | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

O Porto de Sines tomou,

decisivamente, um lugar de

destaque em tudo o que é

noticiário do país, e não há

responsável que a ele não se

refi ra, mesmo que por vezes não

saiba bem sobre o que discorre.

Tudo é amalgamado nessa

âncora da nossa esperança

e na evidência desse caso de

sucesso. Não importa distinguir

se falamos do Porto de Sines, da

APS — Administração do Porto

de Sines ou do Terminal de

Contentores de Sines (Terminal

XXI). Embora sejam realidades

diferentes, apenas resulta da

alusão feita, uma única palavra:

sucesso. E mais que isso, o rumo

que nos leva ao bom caminho da

afi rmação de Portugal no mundo.

Um Portugal que quer retornar

ao mar e nele vê o seu mais

importante desígnio.

Como sempre, os discursos

de circunstância são dominados

pela superfi cialidade, procurando

enquadrarem-se no que importa

dizer no momento. E o momento

agora é da grande oportunidade

criada pelo alargamento do canal

do Panamá, que irá provocar

um aumento quase exponencial

(o que se entende das palavras

dos governantes) da carga

contentorizada movimentada no

Terminal XXI. Quem nos dera,

assim o mundo não fosse redondo

e fosse estático nessa posição

geoestratégica e obrigasse os

navios e as suas cargas a passar

por este local e, mais do que isso,

a movimentarem essas cargas no

Terminal de Contentores de Sines.

Só que, sendo uma real

oportunidade, há muito trabalho

a fazer, desde logo melhorar a

competitividade associada a este

tráfego, que será essencialmente

de transhipment, permanecendo

atentos ao que se passa noutros

terminais congéneres já existentes

(Valência, Algeciras, Tânger,

Felixstowe) ou anunciados (Praia

da Vitória/Açores). Também de

águas profundas, capazes de

receber navios de última geração,

nomeadamente os chamados

Triple-E, com capacidade de

18.000 TEU.

Se é certo que Sines conta

com o maior operador mundial,

a PSA Corporation Ltd, como

concessionário, e é escalado

pelo segundo maior armador

mundial, a MSC — Mediterranean

Shipping Company, não será

de somenos recomendável que

consiga o concurso de outras

linhas de navegação numa

estratégia de oferta diversifi cada,

tão importante na formação

dos preços, numa economia

dinâmica e concorrencial. E

não esquecer a importância de

se valorizar noutros requisitos

de competitividade, que vão

muito além de ser “um porto

de águas profundas”, pois os

desenvolvimentos no tamanho

e capacidade parecem não

acompanhar a exigência de

maior calado dos navios. (É boa

nota, saber que este navio de

18.000 TEU necessita de uma

profundidade de 14,5m).

A propósito das expectativas

criadas pelo alargamento do

canal do Panamá, devemos

ter presente que o mesmo só

permitirá acolher navios porta-

contentores de capacidade

máxima até 12.000 TEU,

podendo acontecer que, fruto

do desenvolvimento da frota

mundial de contentores, cada

vez sejam mais os navios de

capacidade acima desta, que

escalarão Sines, no futuro.

Ou mesmo, verifi car outras

premissas associadas ao comércio

mundial e às suas tendências,

mesmo o benefício imediato que

terá nas trocas com economias

regionais americanas mas que

só a médio/longo prazo sejam

visíveis os benefícios trazidos

a Sines e a mercados mais

distantes, apoiados no chamado

round of the world. Rota, esta, à

volta do mundo feita com recurso

a grandes navios, carregados

como convém, pois resulta numa

grande preocupação os 30% de

custos associados a contentores

vazios, suportados pelas linhas

de navegação na sua conta de

exploração.

Não alinharei outras

preocupações associadas ao

tema, que poderiam ter que ver

com a emergência de outras

rotas marítimas possíveis para o

comércio entre a Ásia e a Europa,

e mesmo a América, com menos

dias de navegação e porventura

OpiniãoJosé António Contradanças

mais baratas (como por exemplo:

a Rota do Ártico), que poderiam,

igualmente, estar associadas

a outras alternativas que se

desenham (construção de um

canal interoceânico promovido

pelo governo das Honduras e

com fortes interesses por parte

da China), porque, embora com

este arrefecimento dos ânimos,

sou dos que acreditam na

importância de Sines e no papel

a desenvolver pelo seu terminal

de contentores, em benefício da

região e do país.

Num mundo que reclama

atenção permanente, tanto mais

no mundo dos negócios, acresce

uma grande vantagem que se

poderá associar ao Porto de

Sines em termos futuros. Falo do

crescente recurso ao gás natural

pela maioria das frotas. Ora tendo

em funcionamento um Terminal

de Gás Natural, será aconselhável

que se facilite o fornecimento

de bancas deste gás aos navios

que demandem o Porto de Sines.

Será, certamente, uma vantagem

preciosa.

Como disse, cada vez

menos gosto de discursos sem

substância e só por isso tentei

aclarar o assunto e balizá-lo

na realidade. Posto isto, acho

que é compaginável a alegria

sentida por haver alguma coisa

que funciona bem neste país. E

desde logo, seja-me permitido,

envaidecer-me (não fi cará mal o

termo) por me saber associado

a este projeto que se afi rmou e,

hoje, se revela de uma utilidade,

inquestionável, para o nosso país.

Já vai distante março de 1998,

em que fi z parte de uma missão

que se deslocou a Singapura e

sensibilizou a PSA a acreditar e a

investir em Sines. E também esse

lindo dia de junho de 1999 em que

coassinei o contrato que levaria

à concessão do Terminal XXI.

Pelo meio fi cará uma história por

contar. Mas valeu a pena!

O Porto de Sines,um sinal de futuro

DANIEL ROCHA

Há muito trabalho a fazer para aproveitar as oportunidades abertas pelo alargamento do canal do Panamá

(Ex-administrador da APS)

Page 23: Web20140106 publico porto

PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | ECONOMIA | 25

A primeira semana completa de

2014 apresenta-se interessante

em termos de divulgação

de indicadores e ocorrência

de eventos económicos,

particularmente na Europa e nos

Estados Unidos. Do lado de cá do

Atlântico serão conhecidos, para

a União Europeia, e respectivos

países, o indicador de sentimento

económico da Comissão Europeia

e os indicadores de confi ança dos

diversos sectores de actividade

e das famílias, bem como o

sentimento dos empresários dos

serviços (PMI Services) da zona

euro e suas principais economias,

todos referentes a Dezembro.

Nesta última região serão

ainda divulgados, para além

dos números importantes

sobre as vendas a retalho, que

refl ectem o comportamento

das despesas das famílias

(Novembro), as primeiras

estimativas para a evolução dos

preços em Dezembro, variável

que recentemente tem vindo a

ser objecto de maior escrutínio

por parte do BCE e agentes

económicos, e os dados para a

taxa de desemprego (Novembro).

A atenção sobre os preços não

assenta nos receios permanentes

de várias décadas, da tradicional

aceleração do seu crescimento

(aumento da infl ação), mas,

precisamente, no seu contrário,

da verifi cação do abrandamento

continuado no ritmo de variação,

para um valor aquém do nível

desejável para a sua evolução, que

o BCE defi niu abaixo mas próximo

de 2%, em termos homólogos, no

médio prazo.

É esperada uma estabilização

do crescimento dos preços em

0,9%, após 0,7% em Outubro,

permanecendo ainda riscos

elevados sobre a capacidade de

aproximação à meta referida (2%)

num horizontal temporal de um a

dois anos.

Não obstante estes

constrangimentos, a confi rmação

no primeiro dia útil deste ano

de uma fi rme animação no

sentimento dos empresários da

indústria (PMI Manufacturing)

da zona euro, em particular

em Itália e Espanha (só a

França decepcionou) alimenta

a expectativa de que uma

recuperação mais fi rme da

actividade possa ocorrer nos

primeiros meses de 2014.

É dentro deste contexto que na

próxima quinta-feira se realiza

a primeira reunião do ano do

BCE, não sendo expectável que

o conselho de governadores

proceda a alterações de política

monetária, após a decisão

de baixar a principal taxa de

referência de 0,5% para 0,25%

em Novembro passado. No Reino

Unido também haverá lugar

à primeira reunião do ano do

comité de política monetária do

Banco de Inglaterra, não devendo

assistir-se a modifi cações na

política, mantendo-se a taxa de

referência (base rate) em 0,5%.

Nos Estados Unidos, após os

sinais positivos revelados pelos

últimos indicadores conhecidos

na parte fi nal de 2013 (produção

industrial, encomendas de

bens duradouros, revisão em

alta do crescimento do PIB do

3.º trimestre, confi ança dos

empresários da construção,

preços da habitação, vendas de

novas habitações, confi ança dos

consumidores), a divulgação do

ISM Manufacturing de Dezembro

(confi ança dos empresários

da indústria) no início de 2014

revelou-se igualmente promissora,

com a vertente das novas

encomendas dirigidas ao sector

a registar o valor mais elevado

desde Abril de 2010.

Foi seguramente também com

este enquadramento que Ben

Bernanke, provavelmente na

última intervenção pública como

presidente da Reserva Federal,

referiu, na sexta-feira passada

em Filadélfi a, que, embora

a recuperação da economia

norte-americana permaneça

claramente incompleta – a taxa

de desemprego ainda se encontra

em 7% da população activa –,

existem alguns motivos para um

optimismo cauteloso. A criação

líquida de emprego e a taxa de

desemprego serão conhecidas na

próxima sexta-feira, esperando-se

um número forte para a primeira.

Atenções da semana centradas em indicadores que podem confirmar a retoma económica

Pré-abertura Pedro Matos Branco

ES Research BES

O BCE e o Banco de Inglaterra não deverão mexer no nível de taxas de juro

RUI GAUDÊNCIO

Alberto João Jardim foi obrigado a abdicar do regime fiscal mais favorável na região

Os contribuintes madeirenses paga-

ram nos 11 primeiros meses de 2013

cerca de 188,9 milhões de euros de

IRS, ou seja, mais 26,2% do que em

idêntico período do ano anterior,

revela o Boletim de Execução Orça-

mental da Região Autónoma, publi-

cado no último dia de Dezembro.

A Madeira, em virtude do cumpri-

mento das obrigações impostas pelo

Programa de Ajustamento Económi-

co e Financeiro (PAEF) regional, em

matéria de fi scalidade, e das altera-

ções decorrentes do Orçamento do

Estado para 2013, registou uma evo-

lução evidenciada de mais 63,3% ao

nível da tributação directa. As recei-

tas provenientes dos impostos direc-

tos sobre os rendimentos de pessoas

singulares (IRS) atingiram os 188,9

milhões e as das pessoas colectivas

(IRC) 128 milhões, o que face ao ano

de 2012 traduzem acréscimos, res-

pectivamente, de 26,2% e 170,7%.

Para além da equiparação dos es-

calões de fi scalidade aos praticados

a nível nacional, o boletim salienta

ainda na tributação das pessoas co-

lectivas o efeito dos resultados deri-

Madeirenses pagaram mais 26,2% de IRS nos primeiros 11 meses de 2013

vados da autoliquidação do IRC 2012,

em que se verifi cou um aumento de

cerca de 100% nos contribuintes do

regime geral, assim como o efeito do

fi m do regime de isenção da Zona

Franca da Madeira. No ano passa-

do, o PAEF impôs a eliminação do

diferencial de -30% nos impostos

cobrados na região.

Em 30 de Novembro de 2013, o

saldo global consolidado dos orga-

nismos com enquadramento no pe-

rímetro da administração pública

regional da Madeira era defi citário

em 795,2 milhões de euros. O saldo

primário ascendeu a menos 735,3

milhões de euros e o saldo de capi-

tal foi defi citário em 790,3 milhões,

face a uma despesa efectiva de 1971,3

milhões e a uma despesa primária de

1911,3 milhões.

A despesa efectiva acumulada

do governo madeirense aumentou

110,1% entre os 11 meses de 2012 e

igual período do ano passado, apre-

sentando um grau de execução de

67,2%, mais 18,6 pontos percentuais

do que o executado até Novembro do

ano anterior.

O principal factor que infl uenciou

a evolução da despesa foi o pagamen-

to relativo a encargos de anos ante-

riores (983,6 milhões de euros), no

âmbito da utilização do empréstimo

bancário com o aval do Estado no

montante de 1100 milhões, não in-

cluídos nos 1500 milhões cedidos pe-

lo PAEF. Contribuíram também para

tal agravamento o acréscimo da des-

pesa (mais 17,1%) em parte justifi cado

pelos aumentos das remunerações

(mais 14,8%) a que está associada a

reposição dos subsídios de férias e

de Natal dos funcionários públicos

e o aumento da despesa com juros

e outros encargos (10,7%).

No que se refere à dívida não fi nan-

ceira, o último boletim de execução

orçamental, publicado mensalmente

pelo executivo madeirense de acor-

do com o PAEF, refere que o passivo

acumulado da administração pública

regional, reportado ao fi nal de No-

vembro de 2013, ascendia a 1601,6

milhões de euros, dos quais 68,9%

são respeitantes a obrigações do go-

verno e 28,2% do passivo dos servi-

ços e fundos autónomos (SFA).

Os pagamentos em atraso apura-

dos correspondem a 572,1 milhões,

sendo as parcelas mais relevantes

atribuídas ao governo (86%) e aos

SFA (6,45). A componente juros e

outros encargos representa 34,4%

do total do passivo e 15,2% dos pa-

gamentos em atraso.

Contas regionaisTolentino de Nóbrega

Administração regional apresentou saldo deficitário superior a 795 milhões

189As receitas alcançadas pela administração regionalem IRS até Novembro de 2013 ascenderam a 188,9 milhões de euros

Page 24: Web20140106 publico porto

26 | MUNDO | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

Al-Qaeda transforma confl ito sírio numa guerra de facto regional

A Al-Qaeda já se chamou muitas coi-

sas, já dissemos que era apenas um

rótulo, pronto a usar, uma ideia. Às

vezes, os nomes importam. Há uns

anos, a principal ameaça do jihadis-

mo internacional no Médio Oriente

vinha da autoproclamada Al-Qaeda

na Península Arábica, primeiro com

base na Arábia Saudita, depois no

Iémen. Agora, como os sírios bem

sabem, o rosto do terror chama-se

a si próprio Estado Islâmico no Ira-

que e no Levante (ISIS) e tem como

objectivo erguer um Estado regional,

o califado de que falava Bin Laden,

estendendo-se pelo menos das mar-

gens iraquianas do Eufrates à costa

mediterrânica do Líbano.

O Levante, termo com que os fran-

ceses designavam o Mediterrâneo

Oriental, é, na verdade, a Síria his-

tórica, e inclui ainda parte do Sul da

Turquia (Hatay), Jordânia, Palestina e

Israel — por vezes usa-se a expressão

como abrangendo também o Chipre

e zonas do Egipto. O ISIS controla

partes do Norte da Síria e tem lan-

çado ataques no Líbano e no Iraque.

Agora, assumiu o controlo de uma

cidade iraquiana inteira, Falluja, e de

partes de Ramadi, capital da provín-

cia de Anbar, no Ocidente do Iraque,

entre Bagdad e a fronteira síria.

Talvez se perceba melhor a partir

de agora o aviso, tantas vezes repe-

tido, de que a guerra na Síria não ti-

nha como não se tornar num confl ito

regional, com implicações bem para

lá das fronteiras do país que Bashar

al-Assad herdou do país, Hafez.

As revoltas árabes de 2011 aconte-

ceram porque tinham de acontecer,

não foram parte de uma conspiração

externa, como diz Assad. Mas aconte-

ceram num dado momento e contex-

to. No ano em que os Estados Unidos

acabaram de retirar do Iraque, num

momento em que Washington quis

deixar de se envolver tanto em confl i-

tos longínquos. Assad percebeu isso,

e os radicais estrangeiros que fi zeram

do Iraque ocupado o seu campo de

batalha contra os infi éis ocidentais e

seus aliados árabes também.

O cisma entre o islão sunita e xiita,

que o grupo fundado por Bin Laden

na fronteira entre o Paquistão e o

Afeganistão tanto explorou, só podia

agudizar-se. Se, no Iraque, Saddam

Hussein era o rosto de um regime

árabe sunita que discriminava a

maioria xiita da população, Assad

é um alauita (ramo do xiismo) que

governa um país de maioria sunita.

Assad jogou a carta do confl ito ét-

nico, quis pôr uns contra os outros,

os jihadistas agradeceram e aprovei-

taram. Entraram na Síria dizendo-se

prontos a morrer para derrotar um

regime infi el e aterrorizam toda uma

população, como já tinham feito em

partes da província iraquiana de An-

bar no tempo dos norte-americanos.

Os estrangeiros ainda lutaram ao la-

do dos rebeldes sírios — alguns ainda

lutam —, mas depressa se tornou ób-

vio para a oposição síria que vencer a

guerra do futuro do país passará tam-

bém por expulsar estes homens.

Na sexta-feira, foi anunciada uma

nova aliança, o Exército dos Mujahe-

din (como eram chamados os comba-

tentes que partiram para o Afeganis-

tão e lá combateram os soviéticos nos

anos 1980), que integra três grandes

grupos de rebeldes e conta com o

apoio da oposição política síria. O

seu objectivo é derrubar o ISIS, par-

ticularmente activo em duas provín-

cias do Norte, Idlib e Alepo.

Ajuda sem tropasEm reacção aos desenvolvimentos

no Iraque, os EUA reafi rmaram o seu

apoio ao Governo xiita de Nouri al-

Maliki, dizendo que nunca voltarão

a ter tropas ao terreno. Questionada

sobre se a força do ISIS não é uma

consequência do desinvestimento

norte-americano no Iraque após a re-

tirada, a porta-voz do Departamento

de Estado, Marie Harf, defendeu que

os EUA fazem o que podem. “Seja-

mos claros — são os terroristas que

estão por trás da violência.”

Nada aqui é simples, nem o apoio a

Maliki. A autoridade do Governo não

é reconhecida por todos os iraquia-

nos. Aliás, os últimos desenvolvimen-

tos foram desencadeados por uma

operação militar para desmantelar

acampamentos de protesto contra

Falluja, que o Governo de Nouri al-Maliki anunciou querer recuperar preparando uma grande ofensiva

Os radicais aproveitaram o vazio de poder e tomaram vastas zonas do Norte da Síria, de onde os rebeldes sírios os tentam expulsar. Agora, fazem o mesmo no Ocidente do Iraque

IraqueSofia Lorena

Kerry abre um bocadinho a porta Genebra 2 ao Irão

Os EUA sugeriram pela primeira vez que o Irão pode participar na conferência sobre a Síria marcada para

22 de Janeiro na Suíça. Conhecido como Genebra

2, o encontro vai acontecer em Montreux, e, espera-se, juntará representantes de Bashar al-Assad e da oposição. Teerão, explicou o secretário de Estado John Kerry, não terá direito a “convite formal de participação”, isso “é para os que apoiaram Genebra 1”, o acordo negociado em 2012, quando Kofi Annan era

o enviado internacional para a Síria. “Agora, podem contribuir a partir das margens? Há formas concebíveis para que façam valer o seu peso? Há formas de fazer acontecer isto”, disse o chefe da diplomacia de Barack Obama. Kerry explicou que haverá limites ao papel que o Irão poderá desempenhar caso não aceite que o objectivo da conferência é substituir Assad.

O regime sírio insiste numa participação iraniana, recusada pela Arábia Saudita e, até agora, vista com maus olhos

por Washington, apesar do acordo sobre o nuclear assinado em Novembro. Quem se opõe argumenta que os iranianos apoiam militarmente Assad, assim como o Hezbollah libanês que, por sua vez, combate ao lado do regime. É um facto, como também é verdade que Teerão é a capital com mais influência sobre Damasco.

Com ou sem Irão, é cedo para saber se Genebra 2 vai mesmo acontecer. Reunida em Istambul, a oposição reavalia a sua decisão inicial de participar no encontro.

Page 25: Web20140106 publico porto

PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | MUNDO | 27

Maliki. A brutalidade da operação

terá levado parte da população de

Falluja, nomeadamente membros

de milícias formadas pelos EUA para

combater os radicais estrangeiros, a

lutar contra as forças ofi ciais, colo-

cando-se ao lado dos islamistas que

declararam a cidade seu território

depois das orações de sexta-feira.

O Governo diz que está a preparar

uma grande ofensiva para recupe-

rar Falluja. Mesmo que o consiga, do

ponto de vista militar, se puser em

marcha uma operação que não dis-

tinga os radicais dos civis arrisca-se a

enfurecer ainda mais a população.

Nas últimas semanas, o mesmo ISIS

reivindicou ataques no Líbano, in-

cluindo um atentado num bastião

dos xiitas do Hezbollah, aliados de

Assad, fi nanciados por Teerão.

A aliança xiita é esta, vai de Te-

erão a Beirute, passando por Bag-

dad e Damasco. Quem mais a teme

é a Arábia Saudita, que é por isso o

maior fi nanciador dos opositores de

Assad. Muito do que se tem passado

no Iraque e na Síria nos últimos tem-

pos é, na verdade, consequência de

uma guerra por procuração perma-

nente entre estes dois jogadores que

disputam a hegemonia regional.

“Penso que estamos a assistir a um

momento de viragem, e pode ser um

dos piores da história”, comentou

ao jornal The New York Times Elias

Khoury, romancista libanês que vi-

veu no seu país durante os 15 anos da

guerra civil. “O Ocidente não está lá,

e estamos nas mãos de dois poderes

regionais, os sauditas e os iranianos,

cada um fanático à sua maneira.”

SADAM EL-MEHMEDY/AFP

Dezenas de milhares de imigrantes

africanos manifestaram-se ontem

em Telavive e começaram um pro-

testo contra as medidas aprovadas

pelo Estado hebraico que permitem

a detenção durante um ano dos “in-

fi ltrados”, como são conhecidos os

imigrantes que chegam sem papéis

e pedem asilo, a maioria vindos do

Sudão e da Eritreia.

“Somos refugiados”, cantavam

os manifestantes, “Sim à liberdade,

não à prisão”. “Fugimos de perse-

guição, ditaduras, guerras civis e

genocídios”, disse Dawud, eritreu,

à AFP. “Em vez de nos considerar

refugiados, Israel trata-nos como

criminosos”, queixou-se.

A manifestação terá reunido cerca

de 20 mil pessoas. Ao contrário do

que tem acontecido em protestos

anteriores contra uma nova lei, esta

foi a primeira acção em que os mi-

grantes africanos apareceram em

grande número, nota a imprensa

israelita.

O Parlamento israelita aprovou em

Dezembro uma lei permitindo a de-

tenção, num chamado centro aber-

to, de imigrantes até um ano. Uma

lei anterior, prevendo a detenção até

três anos, foi em Setembro rejeitada

pelo Supremo Tribunal. Grupos de

defesa de direitos humanos dizem

que desde a aprovação da lei foram

detidos mais de 300 imigrantes.

Imigrantes fazem greve inédita em Israel contra nova lei

Estes fi cam em centros em zonas

remotas (no deserto do Negev). Po-

dem sair de dia, mas têm de respon-

der a chamadas três vezes por dia.

Estas obrigações, aliadas à falta de

transportes, faz com que não possam

procurar emprego ou trabalhar.

Mas trabalho não foi o que moveu

a maioria dos imigrantes que procu-

raram refúgio em Israel, quiseram

dizer os organizadores da greve que

deverá afectar restaurantes, cafés,

hotéis e empresas de limpeza que

empregam estes imigrantes. “Esta-

mos conscientes dos riscos de fazer

greve, podemos perder os nossos

empregos”, dizem os organizadores.

“Mas viemos para cá por causa do

perigo para as nossas vidas nos nos-

sos países de origem”, sublinham,

num comunicado citado pelo diário

Ha’aretz. “Como qualquer pessoa,

queremos ter um rendimento para

viver em dignidade, mas não foi o

trabalho que nos trouxe a Israel.”

As autoridades israelitas dizem o

contrário. Acrescentam que há 60

mil migrantes africanos em Israel, a

maioria chegada através da fronteira

com o Egipto, onde Israel completou

recentemente uma barreira.

Desde 2009, entre 17.194 pedidos

de refugiados, 26 foram aceites, e

entre os 1.133 pedidos para fi car em

Israel por razões humanitárias, 540

foram autorizados, segundo dados

apresentados na discussão da lei no

Knesset.

O Governo chama a estes imigran-

tes “infi ltrados” e o primeiro-minis-

tro, Benjamin Netanyahu, já disse

que a presença de muitos destes imi-

grantes é uma ameaça à sociedade

judaica, e o Governo tem ainda dado

incentivos monetários a imigrantes

que queiram regressar voluntaria-

mente aos seus países.

A manifestação terá reunido 20 mil pessoas

O QUE ELES DIZEM

Não estamos, obviamente, a contemplar um regresso. Ajudaremos as autoridades iraquianas no seu combate, mas é um combate que elas devem vencer sozinhas, e acredito que o vão conseguirJohn Kerry (na foto)Secretário de Estado dos Estados Unidos

Não vamos ceder enquanto não tivermos derrotado todos os terroristas e resgatado o nosso povo de Anbar

Nouri al-MalikiPrimeiro-ministro iraquiano

Os objectivos do ISIS ultrapassam muito o Iraque, mas o seu projecto transnacional de estabelecer um Estado islâmico em todo o Levante não se pode fazer sem assegurar o controlo sobre uma série de mini-Estados

Charles ListerAnalista da Brookings

Penso que estamos a assistir a uma viragem e pode ser uma das piores na nossa históriaElias KhouryRomancista libanês

8000iraquianos morreram em atentados em 2013, período em que o ISIS levou da Síria para o Iraque dezenas de bombistas suicidas por mês

170combatentes do ISIS foram mortos pelos rebeldes sírios nos últimos dias, incluindo três comandantes, um tchetcheno, um tunisino e um saudita

ImigraçãoMaria João Guimarães

Manifestação reuniu milhares de sem-papéis africanos no centro de Telavive. Lei permite detenção durante um ano

NIR ELIAS/REUTERS

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28 | MUNDO | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

Aumentam as pressões para impe-

dir os espectáculos do controverso

humorista francês Dieudonné, acu-

sado de ofender os sobreviventes do

Holocausto com o gesto que popu-

larizou da quenelle, visto como uma

saudação nazi invertida. “Os nossos

antepassados bateram-se por valores

civilizacionais para que nós cedêsse-

mos perante criminosos?”, interro-

gou o presidente da Câmara de Paris,

o socialista Bertrand Delanoë, acu-

sando Dieudonné M’bala M’bala de

“fazer a apologia de crimes contra a

humanidade.”

A família de “caçadores de judeus”

Klarsfeld, “em nome dos fi lhos e fi -

lhas dos deportados judeus de Fran-

ça”, convocou uma manifestação na

quarta-feira na cidade de Nantes, pa-

ra exigir que o espectáculo Le Mur do

humorista seja proibido. “Quem vai

ver Dieudonné quer ouvir fazer pou-

co dos judeus. Ele congrega os anti-

semitas de todas as facções, sejam

eles islamistas, de extrema-esquerda

ou da extrema-direita”, afi rmou ao

Libération Arno Klarsfeld.

O ministro do Interior, Manuel

Valls, está desde a semana passada

a ponderar proibir os espectáculos

do humorista, após a abertura de um

inquérito judicial por “incitação ao

ódio racial”. Dieudonné, entretanto,

teve uma nova derrapagem verbal

contra o jornalista (judeu) da France

Inter Patrick Cohen: “Quando o ouço

falar, digo para mim próprio, ‘as câ-

maras de gás... é uma pena’.”

“Dieudonné é profundamente an-

tijudeu. Nos seus espectáculos, não

é apenas uma representação, é um

comício”, afi rmou o ministro Valls,

citado pelo Le Monde.

Mas o que o ateou a polémica em

torno de Dieudonné foi o gesto que

popularizou — a quenelle. O futebo-

lista Nicolas Anelka foi a personali-

dade mais conhecida a reproduzi-lo.

É um gesto anti-sistema, segundo o

humorista, ou anti-semita, segundo

o Governo francês e parte dos seus

seguidores, onde se incluem mem-

bros do partido de extrema-direita

Frente Nacional. O presidente da Li-

ga Internacional contra o Racismo e

o Anti-Semitismo, Alain Jakubowicz,

descreve-o como uma “saudação na-

zi invertida, o que signifi ca a sodomi-

zação das vítimas” do Holocausto.

Nos últimos anos, o humorista

aproximou-se de Jean-Marie Le Pen

líder da Frente Nacional, padrinho

do seu quarto fi lho.

Apelos à censura de humorista anti-semita

FrançaClara Barata

Breves

Viagem de aniversário

Sondagem

Papa Franciscovai à Terra Santade 24 a 26 de Maio

A maioria dos espanhóis querque o rei abdique

O Papa Francisco anunciou que visitará a Terra Santa de 24 a 26 de Maio, passando por Amã, Belém e Jerusalém. Esta viagem celebrará os 50 anos da histórica visita de Paulo VI, a primeira de um Papa à Terra Santa. Na Igreja do Santo Sepulcro, onde está, segundo a tradição cristã, o túmulo de Jesus Cristo em Jerusalém, será celebrado um encontro ecuménico “com todos os representantes das igrejas cristãs de Jerusalém e com o patriarca Bartolomeu de Constantinopla”, anunciou o Papa. Em Fevereiro de 2013, a Santa Sé usou, pela primeira vez, o termo Estado da Palestina, após o reconhecimento pela ONU de um novo estatuto para a Palestina (considerada Estado observador, embora não membro, das Nações Unidas).

Muito mais de metade dos espanhóis, 62%, querem que o seu rei abdique a favor do filho, o príncipe Felipe, diz uma sondagem publicada ontem pelo El Mundo, no dia em que o rei fez 76 anos. Juan Carlos está no trono há 38 anos e era respeitado pelo seu papel na transição democrática em Espanha, após a morte de Francisco Franco. No fim de 2013, apenas 41,3% dos espanhóis tinham uma opinião boa, ou muito boa do rei — há dois anos, 76% diziam isto. A maioria tem uma visão má, muito má ou normal deste reinado (56,2%). Os espanhóis mais jovens, que não têm a experiência de viver sob a ditadura de Franco, são os que mais estão a favor da abdicação. O príncipe Felipe tem uma imagem positiva para 66% dos espanhóis.

AFP

Foram incendiadas mais de 200 assembleias de voto

O boicote das eleições de ontem

e a violência associada deixou 18

mortos no Bangladesh, mais um

dia de confrontos e ataques no país

por causa de uma crise política que

não abranda. “Não quero saber das

eleições, só da minha segurança”,

diz uma habitante da capital.

A oposição apelou a um boicote à

votação e os seus apoiantes incen-

diaram mais de 200 assembleias de

voto em protesto por, pela primeira

vez desde 1991, não ser uma autori-

dade neutra e provisória a encarre-

gar-se da votação. O Governo alega

que já não há necessidade desta

passagem de testemunho na altura

das eleições e realizou a votação de

qualquer modo.

Medo da violência e protesto le-

varam a uma baixa participação. O

jornal britânico The Guardian con-

tactou várias assembleias de voto na

capital e concluiu que a participação

teria andado pelos 10%.

Em Dhaka, muitas pessoas já

não querem saber da votação, mas

Violência nas eleições mata 18 pessoas no Bangladesh

preocupam-se com a violência que

tem marcado o dia-a-dia da capital

no impasse entre os dois principais

partidos, liderados por duas mulhe-

res que têm alternado no poder nas

últimas duas décadas.

“Eu e muitos outros como eu já

não queremos saber das eleições”,

disse Nabila, estudante que mora na

capital, à emissora britânica BBC. “O

que me preocupa agora é a seguran-

ça da minha vida”, continuou.

Apesar da forte presença militar

nas ruas e das muitas restrições por

razões de segurança, continuava a

haver mortos — por tiros da polícia

leal ao Governo, por explosões de

cocktails Molotov atirados por opo-

sitores. “Tantas pessoas morreram,

muitas queimadas vivas dentro de

autocarros. Que tipo de pessoas

somos?”, insurgia-se Nabila. “Cada

vez que entro num autocarro tenho

medo de que seja incendiado. A ca-

da segundo estou preocupada que

alguém atire um cocktail Molotov”,

confessa a estudante. “Nunca tive

tanto medo na minha vida.”

Impasse vai continuarTudo isto por um impasse entre os

partidários da primeira-ministra

Sheikh Hasina e da líder do principal

partido da oposição, Khaleda Zia,

que diz estar sob prisão domiciliária

desde Dezembro, o que as autorida-

des negam.

De qualquer modo, há muitas dú-

vidas sobre as eleições, e Estados

Unidos e União Europeia nem se-

quer enviaram observadores.

“Por que falamos de eleições, se

há poucas pessoas nas mesas de

voto e os dois candidatos são do

mesmo partido?”, perguntou a um

repórter da agência francesa AFP o

comerciante Miyamat Ullah.

“As eleições não vão resolver

nada”, comentou Ataur Rahman,

professor de ciência política na

Universidade de Dhaka, à agência

britânica Reuters. “Tudo vai conti-

nuar exactamente na mesma por-

que ambas as líderes vão continuar

a evitar um diálogo com signifi cado,

e isso é a única coisa que pode fazer

acabar a crise.”

“É preciso acabar com as mortes

de civis inocentes”, diz a estudante

Nabila. “É isso que pedimos a todos

os partidos e responsáveis políticos

do Bangladesh. Eles não são donos

das nossas vidas. Já é altura de per-

ceberem isso.”

Mahmoud, da cidade de Sylhet,

no nordeste do país, disse à BBC que

em cinco horas e meia apenas três

pessoas votaram na sua assembleia.

Nem ele, nem ninguém da sua famí-

lia vai votar — admite que há parte

de medo, parte de protesto contra o

Governo, mas nenhum apoio à opo-

sição. “A maior parte das pessoas

não faz ideia do que vai acontecer

depois de hoje. Mas temos uma cer-

teza: vai fi car pior.”

Crise políticaMaria João Guimarães

Queimados vivos, espancados até à morte, atingidos por tiros da polícia, a votação deixou um rasto de mortos

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PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | CIÊNCIA | 29

SILVA KRAUSE E AMY BROCK

Terapia genética conseguiu travar cancro da mama em ratinhos

Canais mamários de ratinhos por onde passa o leite marcados por fluorescência

Uma equipa de investigadores da

Faculdade Médica de Harvard, em

Boston, silenciou a actividade de um

gene em células do tecido mamário

de ratinhos que é importante para o

desenvolvimento do cancro da ma-

ma. Estas células estavam a tornar-

se cancerosas, mas a terapia genéti-

ca conseguiu reverter o processo e

normalizá-las. Publicada na revista

Science Translational Medicine, a des-

coberta poderá vir a ser aplicada no

combate ao cancro da mama.

O trabalho, liderado por Donald

Ingber, centrou-se nas células dos

ductos mamários, os canais por onde

passa o leite. “Apesar de haver algu-

mas excepções, a maioria dos can-

cros da mama [cerca de 75%] aparece

nas células epiteliais dos ductos”, dis-

se o investigador ao PÚBLICO.

Muitas vezes, são detectadas lesões

nas células do epitélio dos ductos ma-

mários, que podem desenvolver-se

em cancros. Mas não se sabe quais as

lesões que efectivamente estão nes-

se caminho. Como a medicina ainda

não faz essa triagem, recorre-se a so-

luções drásticas como a radioterapia

ou mesmo a mastectomia, dois trata-

mentos violentos com efeitos secun-

dários a nível físico e psicológico.

Uma avaliação feita por especialis-

tas, publicada em 2007, sublinhou a

urgência de se “desenvolverem tera-

pias minimamente invasivas que pos-

sam ser direccionadas directamente

para o epitélio do ducto, de forma a

prevenir a progressão de lesões pré-

malignas sem produzir uma toxicida-

de sistémica”, lê-se no artigo.

Os investigadores escolheram

uma abordagem genética, através

da utilização do chamado “ARN de

interferência”. Esta técnica trava a

actividade genética nas células. A

informação contida nos genes, que

estão inseridos nas longas cadeias

de ADN, é o molde inicial para se

produzirem proteínas. Para isso, a

maquinaria celular começa por pas-

sar a informação do ADN para o ARN

— uma molécula que pode navegar

à vontade na célula — e, fi nalmen-

te, traduz a informação contida na

molécula de ARN nos aminoácidos

que formam as proteínas. O ARN de

interferência liga-se ao ARN trans-

crito a partir do ADN, impedindo-o

didato para ser silenciado pelo ARN

de interferência.

Primeiro, os cientistas experimen-

taram in vitro silenciar este gene, em

células cancerosas do epitélio dos

ductos de ratinhos. Ao contrário das

células saudáveis, que formavam tu-

bos, as células cancerosas aglomera-

vam-se numa massa desestruturada.

Mas, quando os cientistas aplicaram

o ARN de interferência, as células re-

verteram o processo canceroso e vol-

taram a ter um aspecto saudável.

Depois, a equipa fez o mesmo in

vivo, em ratinhos transgénicos, com

um outro gene responsável pelo can-

cro da mama. Para isso, injectou a

solução com o ARN de interferência

— que estava dentro de pequeníssi-

mas bolas ocas de gordura, criadas

por um dos membros da equipa —

através dos mamilos dos ratinhos.

O líquido entrou pelos ductos ma-

mários, fazendo o caminho inverso

do leite. O tratamento foi aplicado

durante o início do cancro, e a in-

cidência de tumores reduziu-se em

75%. Os cientistas verifi caram que as

células se multiplicaram menos.

Próximo passo: os coelhos Para perceber se a terapia atingia

outros tecidos, o que poderia com-

prometer um tratamento em huma-

nos, a equipa utilizou um marcador

fl uorescente ligado ao ARN de inter-

ferência para observar, por micros-

copia, o seu comportamento. “Não

vimos quaisquer sinais do ARN de

interferência em tecidos periféricos,

indicando que as moléculas são apa-

nhadas pelas glândulas mamárias e

não entram na corrente sanguínea”,

explicou ao PÚBLICO Amy Brock,

uma das autoras do estudo.

O próximo passo da equipa será

testar a terapia noutra cobaia cuja

anatomia dos ductos seja semelhante

à das mulheres — como os coelhos — e

procurar efeitos secundários da téc-

nica, para se poder passar aos ensaios

clínicos. É ainda preciso determinar

a dose que este tratamento requer

em humanos, explica-nos Donald In-

gber: “Mulheres com propensão para

esta doença terão provavelmente de

receber tratamentos de poucos em

poucos meses. O mesmo tratamen-

to poderá também ser administrado

em locais onde houve cirurgias de

remoção de tumores, para induzir

a reversão das células que fi caram

em tecido mais normal.”

Tratamento aplicado nos animais de laboratório reverteu progressão das células cancerosas do tecido mamário que estavam no estado inicial da doença. Cientistas querem tentar aplicar técnica a humanos

MedicinaNicolau Ferreira

assim de ser traduzido na proteína.

Outras equipas já tinham usado

com sucesso a técnica do ARN de in-

terferência na investigação do cancro

da mama. Mas uma barreira existente

era identifi car um gene fundamental

para desencadear o cancro.

Os investigadores foram à caça

desse gene. Através de um algorit-

mo, a equipa identifi cou ligações en-

tre genes mais activos nas células do

cancro da mama em ratinhos – ou se-

ja, produziram uma rede onde uma

ligação entre dois genes implica que

a actividade de um deles aumenta a

actividade do outro. Em cancros da

mama mais tardios, há uma grande

heterogeneidade nestas ligações ob-

servadas em ratinhos. Mas, segundo

a equipa, nos cancros da mama em

fases mais iniciais o conjunto de ge-

nes activos é mais semelhante.

Inicialmente, quando as futuras

células cancerosas já têm uma acti-

vidade genética própria, mas o seu

aspecto ainda é igual ao das células

saudáveis do epitélio dos ductos, os

cientistas descobriram que o gene

HoxA1 tinha uma actividade anormal

e parecia ser o mais importante.

O HoxA1 está activo durante o

desenvolvimento embrionário hu-

mano, mas está inactivo nas células

saudáveis do tecido mamário adulto.

Além disso, há vários estudos que in-

dicam que a sua actividade está as-

sociada ao aparecimento do cancro

da mama nas mulheres. Todas estas

provas tornaram-no num bom can-

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30 | CULTURA | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

Quando, em 2010, Hans-Michael

Koetzle viu a exposição Batalha

de Sombras em Cuenca, Espanha,

fi cou de boca aberta. Andou

deslumbrado de um lado para o

outro numa sala da Casa Zavala

a perguntar “Quem são estes

fotógrafos?”, “De onde vieram?”.

A comissária Emília Tavares, do

Museu do Chiado, estava lá para

lhe responder. E disse-lhe que

eram portugueses e que tinham

fotografado sobretudo nos anos

1950 e 1960. Chamavam-se Gérard

Castello-Lopes, Victor Palla, Varela

Pécurto, Eduardo Harrington Sena,

Sena da Silva, Fernando Taborda...

Nesse dia, o jornalista e

investigador alemão especializado

em história e teoria da fotografi a

apaixonou-se por aquelas imagens

e fi cou com mais uma pergunta

na cabeça: “Terão sido feitas com

[câmaras] Leica?”. Umas sim,

outras não. Mas esse número

também não foi importante

quando, no fi nal do ano passado,

decidiu viajar para Portugal

à procura de mais fotografi as

daquele período para incluir na

grande exposição do jubileu da

Leica que está a preparar para

este ano. Em Lisboa, Koetzle, que

foi director da revista da Leica

durante anos e que tem vasta

obra publicada, confi rmou o seu

instinto quando viu directamente

as provas de alguns dos fotógrafos

de Batalha de Sombras. Escolheu

cerca de 30 imagens dos que

usavam câmaras Leica e descobriu,

maravilhado, o trabalho de um

amador muito dedicado à mítica

marca alemã, Jorge Silva Araújo, de

quem trazia apenas uma pista, um

artigo publicado na revista da Leica

nos anos 1950. Na comemoração

dos cem anos da invenção da

câmara que revolucionou a

fotografi a e a maneira como vemos

o mundo através dela, Portugal

será um dos países em grande

destaque.

Organizar uma exposição do jubileu da Leica — talvez a câmara fotográfi ca mais emblemática de todas — é um

enorme desafi o. Por onde começou?Pelo princípio, em 1914, ano em

que Oskar Barnack construiu a sua

primeira câmara. Percebemos que

a partir desta data o mundo da

fotografi a mudou. E perguntámo-

nos “por que não mostrar toda

a história da fotografi a do século

XX numa exposição? Por que não

tentar mostrar como o sistema

da Leica mudou a maneira como

vemos e compreendemos o

mundo?”. A coisa boa deste ponto

de partida é que é uma exposição

verdadeiramente internacional.

Imaginei como seria fantástico

emparelhar diferentes culturas,

diferentes abordagens, diferentes

gerações e momentos da história.

A Leica foi uma câmara sempre

voltada para captar a história,

as pessoas e a vida. Não é uma

câmara de estúdio. É para sair

à rua e captar a vida. E a ideia

é juntar tudo isto. Claro que fi z

uma lista daquilo que considero

interessante. E para lhe dar um

exemplo que consta nessa relação,

há vários fotógrafos portugueses.

Fiquei impressionado com uma

exposição que vi em Cuenca

[Batalha de Sombras, PHotoEspaña

2010]. Aquelas imagens foram

uma revelação para mim, fi quei

com um excelente catálogo

dessa exposição e fi quei sempre

a pensar: “Podem ser Leica.

Podem ser Leica”. Contactei a

curadora [Emília Tavares] e pedi-

lhe ajuda para confi rmar esse

pormenor. Ela acedeu e entre mais

de uma dezenas de fotógrafos

representados, pelo menos cinco

usaram leicas. Isto quer dizer que

vamos ter a fotografi a portuguesa

na exposição, particularmente

a dos anos 1950 e 1960 que

foram décadas muito fortes.

Hoje também é forte, mas fi quei

impressionado com a qualidade

do que foi feito naquelas duas

décadas.

Ficou assim tão surpreendido?Sim, fi quei espantado também

ao perceber como, no centro

da Europa, sabíamos tão pouco

deste nicho. Acho que a exposição

do jubileu da Leica será uma

extraordinária oportunidade

para dar a conhecer um grupo

de fotógrafos portugueses

com um enorme talento.

Haverá também espanhóis,

italianos... mas os portugueses

serão importantes dado o

desconhecimento quase total da

sua obra internacionalmente.

Não sabíamos nada sobre eles e

serão uma parte importante da

exposição que inaugurará em

Hamburgo. Já fi z parte da selecção

das imagens. Temos fotografi as

maravilhosas. E, com a ajuda da

Emília, descobrimos material novo

do fotógrafo Jorge Silva Araújo.

Abrimos envelopes que estavam

intocados e o que descobrimos é

muito bom. Ele era um mestre a

imprimir, as provas são incríveis

e apesar de ser amador via-se que

adorava o que fazia na fotografi a.

Verifi camos que estava muito bem

informado sobre os melhores

livros e revistas de fotografi a da

época e também quis deixar o seu

contributo.

E de que época são essas fotografi as?As melhores são dos anos 1950.

Também vimos imagens dos

anos 1960, mas as melhores são

dos anos 50. Também teremos

fotografi a contemporânea, com

fotografi as de Paulo Nozolino.

Que dimensão terá a exposição em termos de imagens?Teremos entre 400 a 500

fotografi as. Vamos começar

em 1914, porque Oskar Barnack

começou logo a fotografar

com a sua primeira câmara.

Hans-Michael Koetzle o comissário da exposição que em Outubro assinala os 100 anos do nascimento da Leica, em 1914, esteve em Portugal para escolher imagens. O Museu do Chiado tentará depois trazer a mostra para Portugal

Fotografi a portuguesa vai estar em grande no jubileu da Leica

A Leica foi uma câmara sempre voltada para captar a história, as pessoas e a vida

Atravessaremos todo o século e

haverá secções de países como

Portugal. Haverá cerca de 30

obras de fotógrafos portugueses.

Teremos cerca de cem autores

de todo o mundo. Mas não me

preocupei com proporções

geográfi cas.

Como será dividida?Por abordagens estéticas. Por

exemplo, depois da II Guerra

Mundial houve fotografi a

humanista em França, fotografi a

neo-realista na Itália, novo

subjectivismo na Alemanha e uma

fotografi a próxima da tradição

humanista francesa em Portugal. E

a mesma coisa em Espanha. Isto dá

uma mistura de diferentes estéticas

em geografi as diferentes. Teremos

obviamente o fotojornalismo antes

e depois da Guerra. O período

vanguardista. As agências de

fotografi a dos anos 1950. A cultura

dos fotolivros. A cor dos anos 1970

e 1980. A moda. E a fotografi a

contemporânea. São cerca de 14

“capítulos”, onde caberá também

o cinema.

Qual foi a principal revolução que a câmara Leica trouxe à fotografi a?Era pequena, muito mais pequena

do que as câmaras que existiam.

A maior parte dos fotojornalistas

usavam câmaras com negativos

de vidro. Depois de disparar

tinham de mudar o negativo — não

havia momento decisivo. A Leica

era rápida e tinha 36 imagens

disponíveis. Funcionava como uma

extensão dos braços e era possível

tê-la sempre à mão para disparar

a qualquer momento, um pouco à

semelhança do que se faz hoje com

os smartphones. A Leica não foi a

primeira a usar fi lme de 35mm.

Mas a grande diferença é que, pela

primeira vez, uma empresa foi

capaz de fazer uma câmara que era

um produto perfeito. A empresa

tinha uma grande experiência na

óptica porque nasceu da Leitz,

que fazia microscópios. O fabrico

destes instrumentos tinha de ser

muito, muito preciso. Um saber

que foi levado para esta pequena

câmara fotográfi ca, expoente

máximo da tecnologia. A lente

era perfeita, o negativo era maior,

as funcionalidades eram muito

EntrevistaSérgio B. Gomes

Page 29: Web20140106 publico porto

PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | CULTURA | 31

precisas. Adaptava-se bem às

mãos, podia segurar-se sem se

tremer. E foi feita para capturar

distâncias curtas. Com a Leica,

toda a maneira de capturar o

mundo mudou. Os fotógrafos

tornaram-se mais rápidos, mais

próximos do sujeito e puderam

trabalhar em sequências de 36

elementos — se perdessem um

momento decisivo, podiam

rapidamente procurar outro, e

outro, e outro. Começou a ser

possível experimentar.

Quer dizer que a principal vantagem da Leica se “resumia” à efi cácia com que respondeu a uma cultura fotográfi ca que pedia outras ferramentas...Sim, era um objecto

extraordinariamente bem

desenhado. Quando se fala no

nascimento desta câmara é preciso

não esquecer que se vivia no tempo

da Bauhaus que se regia segundo

o princípio “menos é mais”. E foi

isso que Oskar Barnack fez. Ele

não era membro da Bauhaus, mas

tinha o espírito de fazer algo que

utilizasse o mínimo daquilo que

era necessário e nada mais. Este

espírito resultou num objecto tão

purista, tão bem desenhado que

fez com que durasse até hoje. A

Leica é como a Porsche — é sempre

a mesma, apenas com algumas

mudanças. Muitas vezes, a forma

de trabalhar com Leica fazia com

que as fotografi as não saíssem

perfeitas, fi cavam desfocadas.

Mas isso dava-lhes autenticidade,

dinâmica.

É o momento em que a fotografi a deixou de estar congelada?Completamente. Deixou de estar

congelada, deixou de ser apenas

encenada. Passou a haver vida

na fotografi a de uma forma mais

natural. Já havia fotógrafos a tentar

trazer esta nova forma de estar

na fotografi a e a Leica deu-lhes a

ferramenta perfeita. Trabalhava

bem, era silenciosa, não precisava

de fl ash. Foi importante para

fotografar em locais onde era

preciso ter estas armas — em

tribunais, em igrejas, em cafés e

bares nocturnos.

E a Leica tornou-se famosa imediatamente?Não. Em 1925 não houve grande

reacção. Nesse ano produziram-se

cerca de 1000 câmaras. O sucesso

veio em 1927/28. Pessoas como

Rodchenko, artistas da Bauhaus

começaram a usá-la. Gisele

Freund foi outra das famosas a

usá-la. Quando escapou aos nazis,

em 1933, foi para França, onde

trabalhou como fotógrafa. Há

uma história muito conhecida que

mostra como levou algum tempo

o reconhecimento. Freund teve

um trabalho que implicava fazer

fotografi as na Biblioteca Nacional

de França. Quando a conheceu o

director, este perguntou-lhe “O que

é isso?”. Ela: “É a minha câmara”.

Ele: “Não! Não! Precisamos de

alguém profi ssional!”. Ela foi a

uma feira da ladra, comprou uma

máquina de fole antiga com um

tripé e escondeu a Leica lá dentro.

Disseram-lhe então que com

aquela máquina já podia fotografar.

Freund tirou as fotografi as com a

Leica escondida.

É possível identifi car um “estilo Leica” na fotografi a?Sim.

Como?Para se fotografar com Leica é

preciso estar próximo do objecto.

Não são câmaras para captar a

grandes distâncias. Se se olhar para

uma imagem com Roleifl ex, por

exemplo, elas são muito compostas

a partir do centro, muito

simétricas. As primeiras imagens

do HCB feitas com uma câmara

6x6 são um pouco maçadoras.

Com a Leica há dinâmica, há

diferentes perspectivas. A

fotografi a na Leica é defi nida

pelos limites do fotograma. Tive

um experiência estranha há uns

tempos quando estava a folhear

uma revista Vu. Deparei-me com

uma fotografi a em dupla página

sobre a Guerra Civil de Espanha

e pensei : “É espantosa! Tem de

ser uma imagem feita com Leica.

Está tão perto, no chão, via-se uma

cabeça, um ombro”. Fui à procura

do crédito e não encontrei logo.

Mas depois lá o descobri: era uma

imagem do Henri Cartier-Bresson.

Quando fi z a pesquisa para esta

exposição vi uns dez mil fotolivros.

Sentava-me todas as noites e o

exercício principal era perceber

se aquelas fotografi as tinham sido

feitas com Leica. Na exposição

haverá muitos nomes que não são

nada familiares. Não haverá apenas

os “cartier-bressons”.

Encontrou algum trabalho desconhecido internacionalmente que o tenha deslumbrado particularmente?Sim, muitos. Em particular o

de um fotógrafo que se chama

Richard Fleishhut. Tirava

fotografi as em barcos a pessoas

famosas. Em Setembro de 1939,

Fleishhut estava no SS Columbus

perto do porto de Santa Cruz,

América Latina. A II Guerra

Mundial começou e os ingleses

fecharam o porto e a navegação no

Atlântico fi cou muito controlada.

O capitão tentou fugir durante

dois meses mas não conseguiu.

Até que os alemães decidiram

afundar o navio. Todas as pessoas

abandonaram o SS Columbus em

pequenos barcos e depois assistiu-

se a uma explosão. Ele fotografou

todos estes acontecimentos com

uma Leica, uma história impossível

de captar com um câmara de

negativos de vidro. Aqui temos

de tudo: a espera, o drama, o

movimento, a atrapalhação das

pessoas a entrarem nos barcos,

a explosão o barco a fundar. Esta

sequência é extraordinária e nós

vamos mostrá-la.

E o Silva Araújo? De que forma o surpreendeu?Sabe, no artigo que encontrei dele

numa revista da Leica dos anos 50,

não fi quei muito impressionado.

Era um Portugal muito cliché mas

quando peguei nos negativos e

nas provas... aí sim, fi quei muito

impressionado. Mas há outros

exemplos que ninguém conhece

fora de Portugal, como o de Victor

Palla. Como já disse, fi quei muito

impressionado com a exposição

de Cuenca e soube, desde aí, que

esse momento iria ser o início do

meu love aff air com a fotografi a

portuguesa. Foi por causa daquilo

que vi que decidi vir a Portugal.

Para uma exposição com esta

abrangência, não haveria muitos

comissários a viajar para um país

por causa de 30 fotografi as.

Pelos vistos, parece que valeu a pena a viagem.Absolutamente. Quando vi as

provas do Silva Araújo tive a

certeza de que a viagem valeu bem

a pena — é do melhor que existe.

E por isso pedi à Emília para fazer

alguma investigação para um texto

do catálogo. O trabalho de Silva

Araújo constará deste livro que

terá cerca de 400 páginas. Será

um livro de referência em relação

ao trabalho fotográfi co feito com

leicas.

A Leica conseguirá manter-se num mundo fotográfi co cada vez mais desmaterializado e digital?Desde que esteja empenhada na

fotografi a estaremos a salvo. Não

é produto de massas, mas tem a

procura sufi ciente para continuar a

manter este sistema vivo.

30O comissário já escolheu quase todas as imagens de fotógrafos portugueses que vai levar ao jubileu da Leica. Serão cerca de 30

CulturaVer entrevista na íntegra emwww.publico.pt

ENRIC VIVES-RUBIO

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34 | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

SAIR

CINEMASPorto Medeia Cine Estúdio do Teatro Campo AlegreR. das Estrelas. T. 226063000Hiroshima, Meu Amor M12. - 18h30, 22h ZON Lusomundo Dolce Vita PortoR. dos Campeões Europeus, 28-198. T. 1699612 Anos Escravo 13h10, 16h20, 21h10, 00h20; A Propósito de Llewyn Davis M12. 21h20, 23h50; A Revolta dos Perus M6. 13h20, 16h10, 18h40 (V.Port.); Frozen: O Reino do Gelo M6. 13h10, 16h, 19h (V.Port.); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 22h30 (3D); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 12h50, 15h40, 18h35, 21h30, 00h25; Grudge Match - Ajuste de Contas M12. 13h, 15h50, 18h50, 21h40, 00h30; O Passado M12. 19h40; A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 13h50, 16h30, 22h50; A Última Paixão do Sr. Morgan M12. 14h, 16h45, 19h30, 22h20

Aveiro ZON Lusomundo Fórum AveiroR. Homem Cristo. T. 16996O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 13h30, 17h05, 21h; O Conselheiro M16. 21h40; A Revolta dos Perus M6. 13h50, 16h15, 18h50 (V.Port.); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 14h20, 17h15, 21h15; Frozen: O Reino do Gelo M6. 14h40, 17h25 (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 21h20; A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 13h, 15h50, 18h40, 21h30; 7 Pecados Rurais M16. 17h, 19h25, 21h50; O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. 14h10 (V.Port.); 12 Anos Escravo 14h30, 17h40, 21h10 ZON Lusomundo GlicíniasC. C. Glicínias - Aradas . T. 16996Horas M12. 13h45, 16h20, 18h55, 21h30; Pai Por Acaso M12. 21h50; A Revolta dos Perus M6. 14h10, 16h40, 19h10 (V.Port.); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 13h50, 17h25, 21h; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 14h20, 17h15, 21h15; Chovem Almôndegas 2 M6. 14h40 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 17h40, 21h40; Frozen: O Reino do Gelo M6. 14h, 17h (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 21h10; Grudge Match - Ajuste de Contas M12. 14h30, 17h35, 21h20

Barcelos Cinemax - BarcelosCampo 25 de Abril. T. 253826571A Revolta dos Perus M6. Sala 1 - 15h30 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 1 - 17h30, 21h45; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 2 - 15h30, 21h35

Braga Cinemax - BragaShoppingAv. Central 33. T. 2532080107 Pecados Rurais M16. Sala 1 - 15h, 23h55; A Revolta dos Perus M6. Sala 1 - 17h, 22h (V.Port.); O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. Sala 1 - 13h, 19h (V.Port.); Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 2 - 14h55, 17h05, 21h55 (V.Port.); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. Sala 3 - 14h45, 17h05, 21h45; A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 4 - 14h50, 17h05, 21h50; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 5 - 17h, 21h35; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 5 - 15h, 19h35 (V.Port.)

Teatro CircoAv. da Liberdade, 697. T. 253262403Hiroshima, Meu Amor M12. Sala 1 - 21h30 ZON Lusomundo Braga ParqueR. dos Congregados, S. Victor. T. 16996O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. 14h10 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 16h30, 19h10, 22h, 00h45; 7 Pecados Rurais M16. 14h, 16h20, 19h, 22h10, 00h40; 12 Anos Escravo 13h40, 17h, 21h, 00h05; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 13h10, 15h50, 18h50, 21h40, 00h35; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 13h20, 17h10, 20h50, 00h20; Frozen: O Reino do Gelo M6. 13h30, 16h10, 18h40 (V.Port.); Homefront - A Última Defesa M12. 21h50, 00h15; Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 21h10, 00h25; A Revolta dos Perus M6. 13h35, 16h, 18h30 (V.Port.); Chovem Almôndegas 2 M6. 13h25, 15h40 (V.Port.); Horas M12. 13h15, 15h45, 18h10, 21h30, 24h; Grudge Match - Ajuste de Contas M12. 18h20, 21h20, 00h30

Coimbra Teatro Académico de Gil VicenteUniv. de Coimbra, Av. Sá da Bandeira. T. 239855630Hiroshima, Meu Amor M12. Sala 1 - 21h30 ZON Lusomundo Dolce Vita CoimbraC. C. Dolce Vita, R. General Humberto Delgado, 207. T. 16996O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 13h50, 17h30, 21h, 00h20; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 13h30, 16h10, 18h50, 21h40, 00h25; Frozen: O Reino do Gelo M6. 14h, 16h30, 19h15 (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 22h20; A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 13h45, 16h25, 19h05, 21h50, 00h40; 12 Anos Escravo 14h30, 17h50, 21h30, 00h30; Mandela: Longo Caminho Para a Liberdade M12. 17h10, 20h50, 23h50; O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. 14h40 (V.Port.); Khumba M6. 13h40, 16h20, 18h30 (V.Port.); Tal Pai, Tal Filho M12. 21h15, 00h05; Horas M12. 14h20, 16h40, 19h, 21h20, 24h; 7 Pecados Rurais M16. 14h25, 17h, 19h30, 22h, 00h10; A Propósito de Llewyn Davis M12. 21h45, 00h35; A Revolta dos Perus M6. 14h10, 16h50, 19h10 (V.Port.) ZON Lusomundo Fórum CoimbraFórum Coimbra. T. 16996Chovem Almôndegas 2 M6. 14h, 16h20 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 18h40, 21h20, 24h; 7 Pecados Rurais M16. 14h35, 16h50, 19h, 21h40, 00h10; Grudge Match - Ajuste de Contas M12. 13h50, 16h30, 19h05, 21h45, 00h35; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 14h10, 17h40, 21h10, 00h30 (3D); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 13h40, 16h25, 19h10, 21h50, 00h40; Frozen: O Reino do Gelo M6. 13h30, 16h, 18h30 (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 21h, 00h05

Covilhã Cineplace - Serra ShoppingAvenida Europa, Lt 7 - Loja A102. Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 1 - 14h30, 16h40 (3D); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 1 - 18h50, 22h (3D); O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. Sala 2 - 13h10, 15h (3D); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. Sala 2 - 16h50, 19h20, 21h50 (3D); 12 Anos Escravo Sala 3 - 13h, 15h45, 18h30, 21h15; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 4 - 13h10, 15h20, 17h30; A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 4 - 19h40, 22h10

Em [email protected]@publico.pt

12 Anos EscravoDe Steve McQueen. Com Chiwetel Ejiofor, Michael K. Williams, Michael Fassbender. EUA/GB. 2013. 134m. Drama. M16. EUA, 1841. Solomon Northup,

um negro livre, vive em Nova

Iorque com a família. Um dia,

é raptado e feito escravo. Passa

a ser tratado por Platt, nome

que lhe dão para esconder a sua

condição de homem livre, e é

violentamente forçado a omitir

a sua identidade. É comprado

pelo dono de uma plantação no

Louisiana, onde passará 12 anos

até ser fi nalmente libertado.

A Última Paixão do Sr. MorganDe Sandra Nettelbeck. Com Clémence Poésy, Gillian Anderson, Michael Caine. EUA/BEL/ALE/FRA. 2013. 116m. Comédia Dramática. M12. Matthew Morgan é um norte-

americano em Paris. Viúvo, o

ex-professor de Filosofi a mede

os dias pela ausência do grande

amor da sua vida. Mas tudo

começa a mudar no dia em

que conhece a jovem Pauline

Laubie. Matthew vai desenvolver

com ela uma relação especial,

de ternura e partilha, que vai

levá-lo a abraçar um recomeço.

Afi nal, como costuma dizer, “há

uma fenda em tudo e é ela que

permite a entrada de luz“.

Grudge Match - Ajuste de ContasDe Peter Segal. Com Robert De Niro, Sylvester Stallone, Kim Basinger, Alan Arkin. EUA. 2013. 113m. Comédia. M12. Henry “Razor“ Sharp e Billy

“The Kid“ McDonnen, dois

“boxeurs“ de Pittsburgh, fi caram

na história do pugilismo pela sua

rivalidade lendária. Passados 30

anos, ambos se conformaram

à vida de reformados. Mas, um

dia, recebem uma proposta

inesperada: encontrarem-se para

um derradeiro duelo. O apelo

do ringue revela-se demasiado

forte e eles acabam por aceitar o

desafi o. Agora, só têm de se pôr

em forma...

HorasDe Eric Heisserer. Com Genesis Rodriguez, Paul Walker, Nick Gomez. EUA. 2013. 97m. Drama, Thriller. M12. Nova Orleães, 2005. Uma mulher

grávida dá entrada no hospital

para um parto prematuro.

Nolan, seu companheiro e

pai da criança, recebe uma

notícia devastadora: a mulher

não resistiu. Contudo, a fi lha

sobreviveu, embora esteja

dependente da incubadora

neonatal. No meio desta

tempestade de emoções, o

furacão Katrina chega à cidade.

Todos abandonam o hospital,

que não tarda a fi car isolado

pela subida das águas. Nolan

está sozinho com a fi lha e não

vislumbra socorro. E, quando a

energia falha, a vida da bebé fi ca

em perigo...

A Última Paixão do Sr. Morgan

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PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | 35

Figueira da Foz ZON Lusomundo Foz PlazaC. C. Foz Plaza, R. Condados. T. 169967 Pecados Rurais M16. 21h30; A Revolta dos Perus M6. 15h10, 17h50 (V.Port.); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 15h40, 18h30, 21h20; Frozen: O Reino do Gelo M6. 15h30, 18h (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 21h; 12 Anos Escravo 15h20, 18h10, 21h10; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 15h, 20h50; A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 18h20

Guarda Vivacine - GuardaC.C. Vivaci, Av. dos Bombeiros Voluntários Egitanienses, nº 5. T. 271212140Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 1 - 15h50, 18h30 (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. Sala 1 - 21h10; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 2 - 15h40, 18h (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 2 - 21h20; 12 Anos Escravo Sala 3 - 15h20, 18h10, 21h; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 4 - 15h10, 18h20, 21h30

Guimarães Castello Lopes - Espaço GuimarãesEspaço Guimarães - Loja 154, R. 25 de Abril, 1 - Silvares. T. 76078978912 Anos Escravo Sala 1 - 13h, 15h50, 18h40, 21h30; 7 Pecados Rurais M16. Sala 2 - 17h10, 19h10, 21h20; O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. Sala 2 - 13h10, 15h10 (V.Port.); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. Sala 3 - 13h30, 16h10, 18h50, 21h50; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 4 - 15h20, 18h30, 21h40; A Revolta dos Perus M6. Sala 5 - 13h20 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 5 - 16h, 18h20, 21h10 Castello Lopes - Guimarães ShoppingLugar das Lameiras T. 760789789Desafio do Ano M12. Sala 1 - 15h30, 18h10, 21h; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. Sala 2 - 18h20 (3D), 15h50, 21h40 (2D); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 3 - 21h10 (3D); Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 3 - 19h10 (V.Port./3D), 15h10, 17h10 (V.Port./2D); Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 4 - 15h, 17h15, 19h30, 21h50 (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. Sala 5 - 15h40, 18h30, 21h20; Grudge Match - Ajuste de Contas M12. Sala 6 - 16h, 18h40, 21h30

Maia Vivacine - MaiaCentro Comercial Vivaci, Estrada Real nº 95 - Moreia. T. 22947151812 Anos Escravo Sala 1 - 15h10, 18h10, 21h; Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. Sala 2 - 21h; A Revolta dos Perus M6. Sala 2 - 16h20, 18h50 (V.Port.); Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 3 - 16h10, 18h40 (V.Port.); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 3 - 20h50; 7 Pecados Rurais M16. Sala 4 - 21h30; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 4 - 16h05, 18h35 (V.Port.) ZON Lusomundo MaiaShoppingMaiaShopping, Lugar de Ardegaes. T. 16996Frozen: O Reino do Gelo M6. 15h40, 18h20 (V.Port.); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 20h50; 12 Anos Escravo 15h50, 21h20; 7 Pecados Rurais M16. 15h20, 18h30, 21h30; A Revolta dos Perus M6. 16h30, 19h (V.Port.); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 21h40; Chovem Almôndegas 2 M6. 16h, 18h40 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 21h20

Matosinhos ZON Lusomundo MarshoppingIKEA Matosinhos, Av. Óscar Lopes. T. 1699647 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 13h, 15h50, 18h40, 21h30, 00h20; Frozen: O Reino do Gelo M6. 13h10, 16h, 18h20 (V.Port.); Homefront - A Última Defesa M12. 21h10, 23h30; Horas M12. 12h30, 15h, 17h20, 19h40, 22h10, 00h30; 12 Anos Escravo 12h50, 15h40, 18h30, 21h20, 00h10; A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 13h20, 16h20, 19h, 21h50, 00h25; 7 Pecados Rurais M16. 22h20; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 13h40, 17h, 20h40, 00h05; A Revolta dos Perus M6. 10h40, 12h40, 15h20, 17h30, 19h50 (V.Port.) ZON Lusomundo NorteShoppingNorteShopping, R. Sara Afonso. T. 16996Mandela: Longo Caminho Para a Liberdade M12. 20h50, 23h50; Tal Pai, Tal Filho M12. 14h, 17h10; 12 Anos Escravo 13h50, 17h20, 21h10, 00h15; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 13h20, 17h (2D), 21h, 00h30 (3D); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 13h, 15h40, 18h30, 21h40, 00h25; Chovem Almôndegas 2 M6. 13h30, 15h50, 18h15 (V.Port.); Grudge Match - Ajuste de Contas M12. 21h25, 00h10; Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 17h50, 21h20, 00h35; A Revolta dos Perus M6. 13h10, 15h20 (V.Port.); 7 Pecados Rurais M16. 21h50, 00h05; Frozen: O Reino do Gelo M6. 13h40, 16h10, 18h40 (V.Port.); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 12h50, 15h30, 18h20 (2D), 21h30, 00h20 (3D)

Paços de Ferreira ZON Lusomundo Ferrara PlazaFerrara Plaza. T. 16996O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 20h50; Chovem Almôndegas 2 M6. 15h40, 18h30 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 21h50; Frozen: O Reino do Gelo M6. 15h10, 17h50 (V.Port.); 12 Anos Escravo 15h20, 18h10, 21h10; 7 Pecados Rurais M16. 15h50, 18h40, 21h40; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 15h30, 18h20, 21h30

Penafiel Cinemax - PenafielEd. Parque do Sameiro. T. 255214900A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 1 - 15h30, 21h45; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 2 - 15h30, 23h50 (V.Port.); O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. Sala 2 - 17h30 (V.Port./3D), 21h50 (V.Port./2D); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 3 - 15h30, 21h35; A Revolta dos Perus M6. Sala 3 - 18h20

Rio Tinto ZON Lusomundo Parque NascentePraceta Parque Nascente, nº 35. T. 16996O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 13h45, 17h10, 20h35, 24h; 7 Pecados Rurais M16. 15h10, 17h30, 19h50, 22h10, 00h35 ; Frozen: O Reino do Gelo M6. 13h10, 15h40, 18h20, 21h, 23h40 (V.Port.); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 13h, 15h50, 18h50, 21h40, 00h30; 12 Anos Escravo 12h45, 15h30, 18h35, 21h30, 00h25; Horas M12. 14h10, 16h30, 19h10, 21h50, 00h15; Grudge Match - Ajuste de Contas M12. 13h40, 16h20, 19h, 21h45, 00h20; Pai Por Acaso M12. 21h10, 23h45; A Revolta dos Perus M6. 14h, 16h15, 18h45 (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 12h50, 16h, 19h15, 22h30; Homefront - A Última Defesa M12.

16h40, 19h30, 22h, 00h40; O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. 14h30 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 15h20, 18h, 20h40, 23h30; Mandela: Longo Caminho Para a Liberdade M12. 20h50, 23h50; Chovem Almôndegas 2 M6. 13h50, 16h10, 18h30 (V.Port.)

São João da Madeira Cineplace - São João da MadeiraSão João da Madeira. 12 Anos Escravo Sala 1 - 13h, 15h45, 18h30, 21h10; 7 Pecados Rurais M16. Sala 2 - 18h50, 21h; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 2 - 14h30, 16h40; A Revolta dos Perus M6. Sala 3 - 16h50; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. Sala 3 - 14h20, 19h, 21h30 (3D); Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 4 - 13h50, 16h; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 4 - 18h10, 21h20 (2D); O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. Sala 5 - 12h50, 14h40, 16h30 (2D); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 5 - 18h20, 20h50

Viana do Castelo Cineplace - Estação VianaAvenida Conde Carreira -7 Pecados Rurais M16. Sala 1 - 19h50, 22h; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 1 - 13h, 15h10 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 1 - 17h20; 12 Anos Escravo Sala 2 - 13h, 15h50, 18h40, 21h30; O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. Sala 3 - 13h10, 15h (V.Port.); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. Sala 3 - 16h50, 19h20, 21h50 (3D); Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 4 - 13h50, 16h (V.Port./3D); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 4 - 18h10, 21h20 (3D)

Vila Nova de Gaia UCI ArrábidaArrábida Shopping. T. 707232221A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 1 - 21h50, 00h25; Grudge Match - Ajuste de Contas M12. Sala 1 - 13h50, 16h25, 19h; Gravidade M12. Sala 2 - 00h20 (3D); Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 2 - 21h45 (V.Port./3D); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 2 - 13h50 (2D), 14h15 (3D), 17h30 (2D), 17h50 (3D), 21h20 (2D), 21h30 (3D), 00h40 (2D), 00h50 (3D); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 2 - 14h, 16h35, 19h10; A Última Paixão do Sr. Morgan M12. Sala 3 - 13h55, 16h30, 19h05,

21h40, 00h15; Mandela: Longo Caminho Para a Liberdade M12. Sala 4 - 14h30, 17h50, 21h15, 00h20; O Passado M12. Sala 4 - 13h45, 16h25, 19h05, 21h55, 00h40; A Propósito de Llewyn Davis M12. Sala 6 - 18h30, 21h25, 00h10; Khumba M6. Sala 6 - 14h05 (V.Port./2D), 16h15 (V.Port./3D); A Vida de Adèle: Capítulos 1 e 2 M16. Sala 7 - 18h20; Temporário 12 M16. Sala 7 - 13h50, 16h05, 22h, 00h20; Pai Por Acaso M12. Sala 8 - 14h, 16h30, 19h, 21h30, 00h05; Horas M12. Sala 9 - 14h05, 16h35, 19h05, 21h50, 00h25; Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. Sala 10 - 14h05, 17h50, 21h20, 00h20; Last Vegas - Despedida de Arromba M12. Sala 11 - 21h15, 24h; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 11 - 14h20, 16h45 (V.Port/2D), 19h10 (V.Port./3D); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. Sala 12 - 13h55, 00h35 (3D), 16h30, 19h15, 21h55 (2D); 7 Pecados Rurais M16. Sala 13 - 14h15, 16h40, 19h20, 21h50, 00h30; Malavita M12. Sala 14 - 18h45; Homefront - A Última Defesa M12. Sala 14 - 21h25, 00h10; A Revolta dos Perus M6. Sala 14 - 14h10, 16h35 (V.Port.); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 15 - 13h50, 21h10 (2D), 17h30, 00h30 (3D); Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 16 - 13h55, 16h35 (V.Port./2D), 19h05 (V.Port./3D); Grudge Match - Ajuste de Contas M12. Sala 16 - 21h40, 00h15; China - Um Toque de Pecado M16. Sala 17 - 18h45; Tal Pai, Tal Filho M12. Sala 17 - 16h10, 21h35, 00h15; Niko e o Pequeno Traquinas M6. Sala 17 - 14h10 (V.Port.); Casablanca M12. Sala 18 - 21h20, 24h; O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. Sala 18 - 14h30, 19h15 (V.Port./2D), 16h50 (V.Port./3D); Capitão Phillips M12. Sala 19 - 18h55; O Conselheiro M16. Sala 19 - 13h45, 16h20, 21h50, 00h25; 12 Anos Escravo Sala 20 - 13h40, 16h25, 19h15, 22h05, 00h50 ZON Lusomundo GaiaShoppingAv. Descobrimentos, 549. T. 16996Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 17h50, 20h; O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. 15h10 (V.Port.); Pai Por Acaso M12. 21h50; Chovem Almôndegas 2 M6. 15h15, 17h35, 19h55 (V.Port.); 12 Anos Escravo 15h20, 18h15, 21h10; Frozen: O Reino do Gelo M6. 15h45, 18h30, 21h05 (V.Port.); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 16h30, 20h45; Horas M12. 15h, 17h05, 19h30, 21h45; A Revolta dos Perus M6. 15h, 17h20, 19h40 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 21h55; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 16h, 18h45, 21h30; 7 Pecados Rurais M16. 15h05, 17h30, 19h50, 22h05

Vila Real ZON Lusomundo Dolce Vita DouroC. C. Dolce Vita Douro, Lj. 244 - Alameda Grasse. T. 1699612 Anos Escravo 12h40, 15h30, 18h30, 21h30; 7 Pecados Rurais M16. 13h10, 15h20, 17h50, 21h50; Grudge Match - Ajuste de Contas M12. 13h40, 16h20, 19h, 21h40; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 13h20, 17h, 20h40; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 13h, 15h50, 18h40, 21h20; Frozen: O Reino do Gelo M6. 13h30, 16h, 18h40 (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 21h10; A Revolta dos Perus M6. 12h50, 15h, 17h30 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 21h, 23h30

Viseu ZON Lusomundo Fórum ViseuFórum Viseu. T. 16996Mandela: Longo Caminho Para a Liberdade M12. 21h10; Chovem Almôndegas 2 M6. 13h50, 16h10, 18h30 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 14h20, 17h, 21h20; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 14h10, 17h35, 21h; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 14h30, 17h20, 21h30; Pai Por Acaso M12. 21h40; A Revolta dos Perus M6. 13h40, 15h50, 18h (V.Port.); 7 Pecados Rurais M16. 21h50; Frozen: O Reino do Gelo M6. 14h, 16h30, 19h (V.Port.) ZON Lusomundo Palácio do GeloPalácio do Gelo, Est. Nelas, Qt. Alagoa. T. 1699612 Anos Escravo 14h20, 17h20, 21h; Grudge Match - Ajuste de Contas M12. 13h45, 16h25, 19h05, 21h50; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 14h30, 17h30, 21h20; A Revolta dos Perus M6. 14h10, 16h35, 19h (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 21h30; 7 Pecados Rurais M16. 14h, 16h15, 18h30, 21h40; Frozen: O Reino do Gelo M6. 13h30, 16h05, 18h40 (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 21h10

ARTEPortoGaleria PresençaR. Miguel Bombarda, 570.T. 224005050 O Outro Nome das Coisas De Catarina Botelho. De 2/11 a 11/1. 2ª a 6ª das 10h às 12h30 e das 15h às 19h30. Sáb das 15h às 19h30. Fotografia. Museu de SerralvesRua Dom João de Castro, 210. T. 226156500 Artistas Brasileiros e Poesia Concreta De vários autores. De 15/11 a 4/3. 2ª a Sáb das 10h às 18h. Obra Gráfica. Na biblioteca do museu. Museu Nacional da ImprensaEstrada Nacional 108, 206. T. 225304966 25A/40ª De vários autores. De 28/4 a 31/5. Todos os dias das 15h às 20h. Obra Gráfica. Manoel de Oliveira - 105 Revistas De 11/12 a 10/3. Todos os dias das 15h às 20h. Documental. Memórias Vivas da Imprensa A partir de 1/1. Todos os dias das 15h às 20h. Documental. Exposição permanente. Sala Rodrigo Álvares. Miniaturas Tipográficas A partir de 15/11. 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, Sáb, Dom e feriados das 15h às 20h. Objectos. Exposição permanente. PortoCartoon: O Riso do Mundo A partir de 1/1. Todos os dias das 15h às 20h. Cartoon. Exposição permanente. Galeria da Caricatura.

AS ESTRELAS DO PÚBLICO

JorgeMourinha

Luís M. Oliveira

Vasco Câmara

12 Anos Escravo mmmmm mmmmm mmmmm

A Propósito de Llewyn Davis mmmmm mmmmm mmmmm

A Espuma dos Dias mmmmm – –Hiroxima Meu Amor mmmmm mmmmm mmmmm

Old Boy - Velho Amigo mmmmm mmmmm mmmmm

O Passado mmmmm – mmmmm

Tal Pai Tal Filho – mmmmm mmmmm

Temporário 12 mmmmm mmmmm –A Vida de Adèle, Capítulos 1 e 2 mmmmm mmmmm mmmmm

A Vida Secreta de Walter Mitty mmmmm mmmmm –a Mau mmmmm Medíocre mmmmm Razoável mmmmm Bom mmmmm Muito Bom mmmmm Excelente

O segundo encontro do ciclo Fernando Távora: Histórias de vida(s) reúne esta tarde, pelas 18h30, nas instalações da Fundação Instituto Arquitecto José Marques da Silva (palacete Lopes Martins, na Praça Marquês de Pombal), seis intervenientes que têm em comum o facto de terem entrevistado, em diferentes ocasiões, o arquitecto homenageado:

Cristina Antunes, Bernardo Pinto de Almeida, João Leal, Jorge Figueira, Manuel Graça Dias e Valdemar Cruz. A sessão, que se insere num programa da Faculdade de Arquitectura dedicado a Fernando Távora, tem entrada livre, mas o espaço é pequeno e convém reservar lugar através do telefone 22 5518557.

Sessão reúne entrevistadores de Távora

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36 | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

SAIRAnadiaAliança Underground MuseumR. do Comércio, 444 - Aliança Vinhos de Portugal S.A. T. 234732045 Aliança Underground Museum A partir de 24/4. 2ª a Sáb (visitas às 10h30, 11h30, 14h30, 15h30 e 16h30). Arqueologia, Azulejo, Cerâmica, Outros.

BarcelosGaleria Municipal de Arte de BarcelosPraceta Doutor Francisco Sá Carneiro. T. 253809600 X Bienal de Pintura do Eixo Atlântico De Jorge Alexandre Carvalho Marques, Eugenia Cuéllar Barbeito, Juliana Ribeiro, Raúl Álvarez Jiménez, entre outros. De 18/12 a 26/1. 2ª a 6ª das 09h às 12h30 e das 14h às 18h. Sáb das 10h às 12h30 e das 14h às 18h. Pintura. Museu de OlariaRua Cónego Joaquim Gaiolas. T. 253824741 O Real e o Imaginário: Memória e Identidade no Figurado de Barcelos De 19/11 a 29/6. 2ª a 6ª das 10h às 18h. Sáb, Dom e feriados das 10h às 12h30 e das 14h às 18h. Documental, Objectos.

BragaEstação de Caminhos de Ferro de BragaLargo da Estação. T. 253273665 PortoCartoon: O Riso do Mundo A partir de 6/10. Todos os dias. Cartoon. Exposição permanente. Galeria Mário Sequeira - Parada de TibãesQuinta da Igreja T. 253602550 Nuvem para Meia Altura De José Bechara. De 23/11 a 23/1. 2ª a 6ª das 10h às 13h e das 15h às 19h. Instalação. O Corte De Isaque Pinheiro. De 12/10 a 12/1. 2ª a 6ª das 10h às 13h e das 15h às 19h. Fotografia, Escultura.

CaramuloMuseu do CaramuloRua Jean Lurçat, 42. T. 232861270 Estradas de Portugal - Um outro Olhar De 23/11 a 2/2. Todos os dias das 10h às 13h e das 14h às 17h. Fotografias. Rush De João Louro. De 6/9 a 26/1. Todos os dias das 10h às 13h e das 14h às 18h (Verão), das 10h às 13h e das 14h às 17h (Inverno). Outros.

CoimbraCasa Municipal da Cultura de CoimbraR. Pedro Monteiro T. 239702630 Máquinas Fotográficas A partir de 3/2. 2ª a 6ª das 09h às 19h30. Sáb das 13h30 às 19h. Documental, Objectos. Permanente. Galeria Pinho Dinis - Casa Municipal da CulturaR. Pedro Monteiro. T. 239702630 Nasceu, tem mais encanto! De Delfim Manuel. De 30/11 a 6/1. 2ª a 6ª das 09h às 19h30. Sáb das 11h às 13h e das 14h às 19h. Objectos. Galeria SeteAv. Dr. Elísio de Moura 53. T. 239702929 Arte de Bolso De vários autores. De 7/12 a 18/1. 2ª a Sáb das 15h às 20h. Pintura, Outros. Museu da FísicaLargo Marquês de Pombal T. 239410602 O Engenho e a Arte A partir de 2/12. 2ª a 6ª das 09h30 às 17h30. Exposição permanente.

Portugal dos PequenitosRossio de Santa Clara. T. 239801170 + de 300 Barbies A partir de 11/7. Todos os dias das 09h às 20h (de 1/6 a 15/9), das 10h às 19h (de 1/3 a 31/3 e 16/9 a 15/10), das 10h às 17h (de 1/1 a 28,29/2 e 16/10 a 31/12. Encerra 25 de Dezembro). Objectos.

Figueira da FozCentro de Artes e EspectáculosR. Abade Pedro. T. 233407200 Intemporalidades De Mimi Veríssimo, Armando Pedro, Ramiro Calouro. De 4/1 a 30/1. 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, Sáb, Dom e feriados das 10h às 19h. 6ª das 10h às 00h. Pintura. Interior De Cristina Troufa. De 14/12 a 16/2. 2ª a 5ª das 10h às 19h. 6ª das 10h às 00h. Sáb, Dom e feriados das 10h às 19h. Pintura, Instalação.

GuimarãesCentro Internacional das Artes José de Guimarães Avenida Conde Margaride T. 300400444 Flor na Pele De Sara Franqueira, Carlos Lobo, Filipe Silva. De 13/12 a 2/2. Todos os dias das 10h às 19h (última entrada às 18h30). Fotografia, Outros.

MaiaAeroporto Francisco Sá CarneiroPedras Rubras. T. 229432400 Viagens com Humor A partir de 3/4. Todos os dias (aberto 24h). Desenho, Pintura, Cartoon. No âmbito do Dia Mundial dos Museus de Cartoon. Na zona de Chegadas.

MatosinhosGaleria Municipal de MatosinhosAv. D. Afonso Henriques. T. 229389274 Por Dentro Por Fora De Vítor Ribeiro, Rui Matos. De 30/11 a 25/1. 2ª a 6ª das 09h às 12h30 e das 14h às 17h30. Sáb e feriados das 15h às 18h. Escultura.

Vila Nova de FamalicãoFundação Cupertino de MirandaPraça Dona Maria II. T. 252301650 Ainda Julio De 2/10 a 28/2. 2ª a 6ª das 10h às 12h30 e das 14h às 18h. Sáb e feriados das 14h às 18h. Pintura.

Vila RealMuseu de Arqueologia e Numismática de Vila RealRua do Rossio. T. 259320340 Arqueologia A partir de 24/9. Todos os dias das 10h às 12h e das 14h às 19h. Objectos, Outros. Exposição Permanente. Numismática A partir de 27/5. Todos os dias das 10h às 12h e das 14h às 19h. Numismática. Exposição Permanente.

FESTIVAIS BragançaTeatro Municipal de BragançaPraça Prof. Cavaleiro Ferreira. T. 273302744 FAN - Festival de Ano Novo 2014 De 4/1 a 25/1. Todos os dias.

FARMÁCIAS Por questões de ordem técnica não nos é possível fornecer os dados das farmácias. Logo que possível retomaremos a divulgação deste conteúdo

Ver Hiroxima, Meu Amorno centenário de DurasHiroxima, Meu Amor, de Alain Resnais. Porto. Teatro do Campo Alegre. Às 18h30 e 22h.

Hiroxima, Meu Amor

(1959), a primeira longa-

metragem de fi cção de

Alain Renais e um dos

fi lmes que lançou a

Nouvelle Vague, mostra

uma intensa conversa

entre dois amantes, uma

actriz francesa e um

homem japonês, que

estão a separar-se após

uma breve ligação. O

cenário é Hiroxima, a

mulher é interpretada por

Emmanuelle Riva – que

regressou recentemente

ao cinema com um notável

papel em Amor, de Michael

Haneke –, o homem é o

actor japonês Eiji Okada.

Não sabemos os nomes

das personagens, sempre

referidas como “ele” e “ela”.

Sabemos que ela teve como

amante um soldado alemão

e que, depois da guerra,

a puniram por isso,

cortando-lhe o cabelo.

E vemos as imagens das

mulheres de Hiroxima

que perderam o cabelo

por causa das radiações.

O argumento do fi lme

é de Marguerite Duras

(1914-1996), de quem se

comemora este ano o

centenário do nascimento.

Também por isso, é uma

coincidência feliz que o

fi lme seja hoje exibido em

três cidades portuguesas:

Braga, Porto e Coimbra,

respectivamente

no Theatro Circo (21h30),

no Teatro do Campo Alegre

(18h30 e 22h) – onde já

passou ontem e se manterá

até quarta-feira – e no

Teatro Académico de Gil

Vicente.

Cinema

Page 33: Web20140106 publico porto

PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | 37

[email protected]

FICAROs mais vistos da TVSábado, 4

FONTE: CAEM

TVITVITVISICTVI

13,613,512,412,310,6

Aud.% Share

27,727,527,025,224,5

RTP1

2:

SICTVI

Cabo

16,1%%

2,117,9

21,5

29,0

Jornal das 8BelmonteDestinos CruzadosJornal da NoiteEspecial Secret Story 4

CINEMAFreelancers [Freelancers]TVC1, 18hMalo é um jovem com um passado

ligado à criminalidade que

decide mudar de vida e seguir os

passos do progenitor ao serviço

da polícia de Nova Iorque. Aí,

vai cruzar-se com Vito Sarcone,

um agente que foi, em tempos,

companheiro do seu pai, morto

15 anos antes no cumprimento do

dever. Quando Sarcone percebe

quem ele é, decide acolhê-lo

e juntá-lo ao seu leal grupo de

polícias corruptos. E é nesta

miríade de corrupção e violência

que o jovem vai querer descobrir

a verdade por detrás da morte do

pai...

Comboio Nocturno para Lisboa [Night Train to Lisbon]TVC2, 22hUma mulher prepara-se para se

atirar de uma ponte em Berna,

Suíça. Raimund Gregorius,

um professor de latim, grego e

hebraico, convence-a a não o

fazer. Subitamente, a mulher

desaparece, deixando o casaco

atrás de si. No bolso do casaco

ele encontra um livro de um

autor português e um bilhete de

comboio para Lisboa com data

desse mesmo dia. E é então que

aquele professor antiquado,

habituado a uma vida regrada

e monótona, toma uma decisão

inusitada: mete-se no comboio e

viaja para Lisboa, a cidade onde

terão lugar todas as revelações.

Realizado por Bille August.

RomaSanta – A Caça ao Lobisomem [Romasanta, la Caza de la Bestia]MOV, 2h05Galiza, 1850. Os bosques estão

infestados de lobos. As pessoas

desaparecem misteriosamente e

os seus cadáveres são encontrados

brutalmente mutilados. Os boatos

e as histórias sobre um lobisomem

correm entre os aldeões. Josefa e

Bárbara vivem no meio do bosque

e só se sentem seguras com a

chegada de Manuel Romasanta,

amante de Josefa e por quem

Bárbara está secretamente

apaixonada. Depois de Josefa

partir para a cidade, Bárbara e

Manuel envolvem-se. Mas Bárbara

começa a suspeitar que talvez

Manuel seja o lobisomem de

que todos falam, pois é o único

homem que não teme atravessar

os bosques.

INFANTIL

Wendell & VinnieNickelodeon, 21h101.ª temporada. Com trinta anos,

Vinnie é imaturo, enquanto

o doce Wendell é demasiado

maduro para a sua idade. Isto não

seria um problema se Wendell

não tivesse de ir viver com Vinnie

para Los Angeles (EUA). Com a

ajuda da sua irmã Wilma e da

recém-vizinha Taryn, Vinnie

tentará comportar-se como um

adulto responsável. De segunda a

sexta-feira.

SÉRIES

The Good WifeFOX Life, 22hEstreia da 4.ª temporada. Alicia

Florrick ( Julianna Margulies) é

uma esposa e mãe que reclama

o controlo da sua vida pessoal

e profi ssional depois de o seu

marido, Peter (Chris Noth) se

envolver num escândalo sexual e

de corrupção política.

Os SeguidoresFOX, 22h15Estreia da 1.ª temporada. O que

aconteceria se serial killers tivessem

forma de comunicar uns com os

outros? E se fossem capazes de

trabalhar juntos e formar alianças?

O antigo agente policial Ryan Hardy

(Kevin Bacon) trabalha em conjunto

com uma equipa do FBI de forma

a encontrar Carroll, um insensível

homicida que baseia os seus actos

nos romances de Edgar Allan Poe,

e em risco de criar uma espécie de

culto e rede de seguidores prontos

a responder a todas as suas ordens.

No LimiteFOX Life, 22h48Estreia da 1.ª temporada. Esta

é a versão americana da série

britânica. Aqui, Frank Gallagher

(William H. Macy) é um orgulhoso

trabalhador da classe baixa, pai

de seis inteligentes, espirituosos

e independentes jovens que, sem

ele, viveriam bem melhor. Na visão

sempre bêbada de Frank, ser pai

só atrapalha a sua vida de diversão

nos bares, deixando a árdua tarefa

gerir a casa e sustentar a família

para a sua fi lha mais velha, Fiona

(Emmy Rossum).

Rabbids: Invasão, Nickelodeon, 9h30

RTP16.30 Bom Dia Portugal 10.00 Praça da Alegria 12.15 Os Nossos Dias 13.00 Jornal da Tarde 14.15 Depois do Adeus 15.15 Portugal no Coração 18.00 Portugal em Directo 19.00 O Preço Certo 20.00 Telejornal 21.00 Bem-vindos a Beirais 22.00 Quem Quer Ser Milionário 23.00 5 Para a Meia-Noite 00.15 Diário do Vampiro 1.00 Filme: Arma Mortífera 2.45 Ler +, Ler Melhor 3.00 Éramos Seis

RTP27.00 Zig Zag 15.00 5 Minutos com um Cientista 15.05 Dois Homens e Meio 15.30 National Geographic - Os Animais Mais Estranhos do Mundo 16.25 Iniciativa 16.30 Sociedade Civil 18.00 A Fé dos Homens 18.30 Iniciativa 18.35 Ler +, Ler Melhor 18.45 Zig Zag 20.45 Ler +, Ler Melhor 20.55 5 Minutos com um Cientista 21.00 Meu Pai, Humberto Delgado - Documentário 21.54 A Hora da Sorte 22.00 24 Horas - Sumário - Directo 22.30 Agora (Diários) 22.34 Automobilismo: Rali Dakar 2014 22.40 O Mentalista 23.30 Viver é Fácil 00.00 Voo Directo - A Vida a 900 à Hora 00.55 Agora (Diários) - Repetição 1.10 Euronews

SIC6.00 SIC Notícias 07.00 Edição da Manhã 8.45 A Vida nas Cartas - O Dilema 10.00 Querida Júlia 13.00 Primeiro Jornal 14.30 Rosa Fogo 15.30 Boa Tarde 18.15 Senhora do Destino 19.00 Sangue Bom 20.00 Jornal da Noite 21.45 Sol de Inverno 22.45 Amor À Vida 00.00 A Guerreira 00.45 Contra-Ataque 1.45 Inesquecível

TVI 6.30 Diário da Manhã 10.15 Você na TV! 13.00 Jornal da Uma 14.30 A Outra 16.00 A Tarde é Sua 18.00 Doce Fugitiva 18.30 I Love It 19.30 Casa dos Segredos 4 - Desafio Final 20.00 Jornal das 8 21.30 Casa dos Segredos 4 - Desafio Final 22.15 Belmonte 23.15 Destinos Cruzados 00.15 Casa dos Segredos 4 - Desafio Final 1.45 Filme a definir 3.30 O Último Beijo

TVC1 10.45 007 - Skyfall 13.05 A Promoção 14.30 The Paperboy - Um Rapaz Do Sul 16.15 Criação 18.00 Freelancers 19.35 Pai Infernal 21.30 G.I. Joe: Retaliação 23.20 007 - Skyfall 1.45 A Promoção

FOX MOVIES11.55 A Última Legião 13.34 Van Helsing 15.42 Circo dos Horrores: O Assistente do Vampiro 17.27 A Câmara Encerrada 19.16 A Residência Espanhola 21.15 Romance Perigoso 23.14 A Última Caminhada 1.13 Super-Homem

HOLLYWOOD10.10 O Caminho do Poder 12.15 Terminal de Aeroporto 14.20 Uma Rapariga Cheia de Sonhos 16.05 Inferno Vermelho 17.50 Traidor 19.45 Step Up 2 21.30 O Patriota 00.20 A Esfera 2.35 É Coisa de Rapaz ou Rapariga?

AXN14.00 A Teoria do Big Bang 15.12 Traição 16.02 Luther 17.09 Crossing Lines 18.03 Mentes Criminosas 19.43 Investigação Criminal 21.25 Arrow 22.21 Traição 23.15 Inesquecível 00.11 Mentes Criminosas 1.45 A Teoria do Big Bang

AXN BLACK13.32 Jornalistas 14.31 Filme: Cypher 16.06 Filme: Autocarro 174 17.57 Sem Escrúpulos 18.53 The Killing: Crónica de um Assassinato 19.55 Torchwood 20.47 A Rainha das Sombras 21.35 Sangue Fresco 22.31 Filme: Autocarro 174 00.25 Sangue Fresco 1.21 A Rainha das Sombras

AXN WHITE13.59 Dois Homens e Meio 14.45 Doutora no Alabama 15.30 Filme: Hook 17.50 Hawthorne 18.37 Doutora no Alabama 19.24 Dois Homens e Meio 20.12 Regras do Jogo 21.00 Era Uma Vez 21.50 Filme: O Primeiro Cavaleiro 00.05 Era Uma Vez 00.52 Doutora no Alabama 1.39 Regras do Jogo

FOX 13.46 Os Simpson 14.44 C.S.I. 17.42 Hawai Força Especial 19.07 Casos Arquivados 20.37 Lei & Ordem: Intenções Criminosas 22.15 Os Seguidores 23.57 Spartacus: Sangue e Arena 1.28 C.S.I.

FOX LIFE 13.31 Body of Proof 14.15 Filme: Adopting Terror 15.40 Body of Proof 17.03 Amigos Coloridos 17.23 Foi Assim Que Aconteceu 18.06 Glee

18.48 No Meio do Nada 19.31 O Sexo e a Cidade 20.29 Filme: We Have Your Husband 22.00 The Good Wife 22.48 No Limite 23.48 Uma Família Muito Moderna 00.33 O Sexo e a Cidade

DISNEY15.40 Os Substitutos 16.05 Os Substitutos 16.30 Littlest Pet Shop 16.55 Phineas e Ferb 17.07 Phineas e Ferb 17.23 Phineas e Ferb 17.35 Boa Sorte, Charlie! 18.00 Austin & Ally 18.25 O Meu Cão Tem Um Blog 18.55 Shake It Up 19.20 Hannah Montana 19.43 Professor Young 20.05 Jessie 20.30 Violetta 21.25 Shake It Up 21.50 Phineas e Ferb

DISCOVERY16.10 Negócio Fechado 16.35 Jóias sobre Rodas 17.30 Top Gear 18.20 O Segredo das Coisas 18.45 O Segredo das Coisas 19.15 Desmontando a Cidade 20.05 A Febre do Ouro 21.00 Pesca Radical 22.00 Monstros do Rio 22.55 O Grande Azul 23.45 Negócio Fechado 00.10 Negócio Fechado 00.35 Fanáticos por Armas

HISTÓRIA 17.15 Invenções que Mudaram o Mundo: Década de 1900 18.05 Alienígenas: Misteriosos Locais 18.50 Pesca Selvagem: O Torneio de Okie 19.40 Alienígenas: Imperadores, Reis e Faraós 20.25 Caça Tesouros: O Bucha e o Estica 21.10 O Preço da História: A Farda Do Coronel Sanders 21.35 Restauradores: Máquina de Jogos 22.00 A Terra Assassina: O Raio Acerta Duas Vezes 22.50 Big History: Telemóvel 23.12 Big History: O Sol 23.35 O Preço da História: A Farda Do Coronel Sanders 23.57 Restauradores: Máquina de Jogos 00.20 A Terra Assassina: O Raio Acerta Duas Vezes 1.05 Big History: Telemóvel

ODISSEIA17.21 Elefantes, o Declínio dos Gigantes 18.23 O Milionário Secreto III: Marcus Lemonis 19.08 Livros, Jóias de Papel: Bíblias Antigas 19.38 Livros, Jóias de Papel: Obras-primas 20.09 Fora de Controlo 21.00 Desastres Domésticos: O Salto da Lebre 21.22 Desastres Domésticos: Terror nas Férias 21.44 1000 Formas de Morrer 22.04 1000 Formas de Morrer 23.25 Desastres Domésticos: O Salto da Lebre 23.47 Desastres Domésticos: Terror nas Férias 00.09 1000 Formas de Morrer

,30

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40 | DESPORTO | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

Carlos Sousa surpreende na estreiae é o primeiro líder do Dakar

As expectativas de Carlos Sousa à

partida para a edição de 2014 do Rali

Dakar eram limitadas e passavam

por terminar entre os dez primeiros

da dura prova sul-americana, mas

o português fez ontem questão de

surpreender toda a concorrência, na

etapa de estreia, assumindo-se como

primeiro líder da classifi cação geral.

E não foi o único elemento nacional

em prova a brilhar nas quatro rodas:

no segundo lugar, a 11s de distância

do vencedor, terminou o argentino

Orlando Terranova, que tem Paulo

Fiuza como navegador. Nas motos,

Paulo Gonçalves liderou a comitiva

nacional, com um quinto lugar.

A participar no seu 15.º Dakar, o

piloto de Almada, ao serviço da mo-

desta equipa chinesa da Great Wall,

impôs-se nos 180km cronometrados

que abriram a competição, entre Ro-

sario e San Luis, na Argentina. No

último lugar do pódio acabou por

fi car um dos favoritos à vitória fi -

nal, Nasser Al-Attiyah, a 47 segundos

do português. Pior esteve o francês

Stéphane Peterhansel, que defende

o título — encerrou o dia na sexta

posição, a 4m21s do vencedor.

“Conseguimos um bom resultado,

mas foi muito duro. Não tínhamos

ar condicionado no carro e bloque-

aram todas as entradas de ventila-

ção. Por altura do quilómetro 50,

avariaram-se as saídas de ar do tur-

bo, de forma que o ar do motor nos

chegava directamente ao habitácu-

lo. Faziam uns 70 graus ali dentro

e tínhamos difi culdades inclusiva-

mente para respirar!”, contou Car-

los Sousa no fi nal ao site ofi cial da

prova: “Creio que pilotei tão depres-

sa porque queria acabar o quanto

antes com o martírio, mas também

porque tinha confi ança de que po-

díamos alcançar o objectivo.”

Nas duas rodas, os portugueses

em prova têm mais ambições, mas

estiveram discretos neste primeiro

dia. Numa etapa ganha pelo espa-

nhol Joan Barreda, Paulo Gonçalves,

actual campeão mundial de todo-

o-terreno, precisou de mais 2m25s

para encerrar a especial, garantindo

a quinta posição. O espanhol Marc

Coma e o francês Cyril Despres,

que têm dominado esta prova nos

últimos anos e voltam a partir co-

mo grandes candidatos ao título de

2014, encerraram o pódio.

“O Dakar ainda está a começar.

Esta primeira etapa foi de peque-

na dimensão, mas já exigiu elevado

nível de concentração. Acordámos

muito cedo, ainda estou em fase de

adaptação, mas consegui estar mui-

to concentrado e num bom nível ao

longo de todo o dia, não perdendo

muito tempo para os meus princi-

pais adversários que partiram nos

lugares da frente”, resumiu o piloto

de Esposende, citado pela sua asses-

soria de imprensa.

“A partir de amanhã [hoje] come-

ça o verdadeiro Dakar, etapa longa,

difícil, muito rápida e onde vamos

ter as primeiras dunas. Vou continu-

ar ao ataque para me manter na luta

pelos lugares do pódio”, prometeu

o piloto de 34 anos.

Ruben Faria, segundo classifi cado

na edição de 2013, não teve um ar-

ranque brilhante e não foi além do

12.º tempo, perdendo 5m11s para o

vencedor. O terceiro português aca-

bou por ser Mário Patrão, em 21.º,

mas a grande desilusão do dia foi

a prestação de Hélder Rodrigues,

que já conquistou dois terceiros lu-

gares nesta mítica prova. O cabeça-

de-cartaz da Honda foi 22.º, a 8m58s

de Barreda, seu companheiro de

equipa. Carlos Sousa enfrentou vários problemas mecânicos durante a etapa

Piloto de Almada sofreu, mas venceu primeira etapa da prova sul-americana. Paulo Gonçalves foi o melhor português nas duas rodas, na quinta posição

Todo-o-terrenoPaulo Curado

CLASSIFICAÇÃO1.ª ETAPA (ROSARIO-SAN LUIS)Motos1. Joan Barreda (Honda) 2h25m31s2. Marc Coma (KTM) a 37s3. Cyril Despres (Yamaha) 1m40s(...) 5. Paulo Gonçalves (Honda) 2m25s12. Ruben Faria (KTM) 5m11s21. Mário Patrão (Suzuki) 8m24s22. Ruben Faria (Honda) 8m58s49. Pedro Oliveira (SpeedBrain) 23m06s50. Victor Oliveira (Husqvarna) 23m17s52. P. Bianchi Prata (Husqvarna) 24m35s

Carros1. Carlos Sousa (Haval) 2h20m36s2. Orlando Terranova (Mini) a 11s3. Nasser Al-Attiyah (Mini) 47s(...)96. Francisco Pita (SMG) 1h02m28s

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PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | DESPORTO | 41

FRANCK FIFE/AFP

Ontem começou o Dakar, aquele

que se espera que seja o mais

duro alguma vez disputado na

América do Sul. As especiais

vão ser mais longas, com mais

quilómetros e mais horas a

guiar, o que se traduz em fadiga

acumulada, naquele que será

um dos maiores desafi os da

competição.

A primeira etapa começou

logo com uma ligação bastante

longa, de 629km, seguida de uma

especial de 180km. Por norma,

esta etapa foi um aquecimento

para o resto da prova, quando

existe sempre alguma ansiedade

entre os concorrentes. Com um

grau de difi culdade reduzido, este

percurso é parecido com as bajas

portuguesas, com um trajecto

bastante estreito e de muita

pilotagem. É preciso manter a

concentração para não cometer

erros no início, sobretudo no pó,

que é sempre um adversário neste

tipo de especiais.

Uma das grandes novidades

deste ano é o facto de as motas

e quads fazerem quase 40% da

prova por percursos diferentes

dos automóveis e dos camiões.

Na minha opinião, esta dinâmica

retira um pouco do carisma

da prova.

No entanto, em termos de

segurança é uma mais-valia,

já que as ultrapassagens entre

motas/quads e carros/camiões

são sempre dos momentos mais

difíceis e que, com muito pó,

reduzindo a visibilidade, se

tornam ainda mais complicados.

Inúmeros incidentes já

aconteceram e é sempre um

ponto sensível. A organização

terá de duplicar a “vigilância

e segurança”, com as duas

especiais, em vez de uma só.

Piloto de todo-o-terreno

Uma prova mais dura em perspectiva

Crónica Miguel Barbosa

TAÇA DE PORTUGALRESULTADOSOitavos-de-finalLeixões-Estoril 1-5Rio Ave-V. Setúbal 1-0FC Porto-Atlético 6-0Benfica-Gil Vicente 5-0P. Ferreira-Desp. Aves 1-2Marítimo-Penafiel 2-3Beira-Mar-Académica 0-1Sp. Braga-Arouca 2-0

Não fossem as duas grandes penali-

dades defendidas pelo guarda-redes

Ricardo e a Académica teria conheci-

do o mesmo desfecho que o Marítimo

e o Paços de Ferreira nos oitavos-de-

fi nal da Taça de Portugal. A equipa

de Coimbra impôs-se no terreno do

Beira-Mar (0-1), enquanto as duas

outras equipas da I Liga perderam

em casa com adversários do segundo

escalão profi ssional.

Em Aveiro, foi o golo de Magi-

que, apontado de cabeça aos 25’

após passe de Djavan, que ditou o

apuramento da Académica para os

quartos-de-fi nal. Isto porque Ricardo

conseguiu segurar a vantagem, nos

dois momentos de maior afl ição pa-

ra os visitantes: aos 63’, a remate de

Luiz Gustavo, e aos 82’, a remate de

André Nogueira. Duas grandes pena-

lidades travadas por um especialista

na matéria.

Destino oposto ao da Académica

teve o Marítimo, que se deixou sur-

preender na Madeira pelo Penafi el,

num jogo com cinco golos (2-3). Os

forasteiros até marcaram primeiro,

mas na própria baliza, por Fábio Er-

vões, aos 12’. Aos 25’, escolheram a

baliza correcta para voltarem a fac-

turar (golo de Gabi), repetindo a dose

aos 36’ (Aldair, com um remate de

longe) e aos 56’ (Rafael Lopes).

A perder por 1-3, Pedro Martins

lançou Nuno Rocha e Fidélis e os in-

sulares melhoraram. Aos 67’, Heldon

reduziu, mas o Marítimo já não foi

capaz de levar o jogo para o prolon-

gamento e fi cou fora da prova.

O mesmo aconteceu ao Paços de

Ferreira, que no Estádio Capital do

Móvel se viu “traído” por Jaime Poul-

sen (1-2). O avançado emprestado pe-

los pacenses ao Desportivo das Aves

apontou os dois golos do 12.º classifi -

cado da II Liga, aos 72’ e 83’, depois

de Bebé ter colocado a equipa da

casa em vantagem (43’). Prossegue,

assim, a maré negra de resultados do

Paços de Ferreira nesta temporada,

em que soma quatro vitórias, seis

empates e 16 derrotas.

Visitantes da II Liga batem Paços e Marítimo

Futebol

Pardo e Rafa mantêm o Sp. Braga vivo na Taça

Futebol

Minhotos venceram o Arouca por 2-0 e foram a última equipa a apurar-se para os quartos-de-final

Com golos de Pardo e Rafa e uma

exibição “cinzenta”, o Sporting de

Braga venceu ontem o Arouca (2-0)

e qualifi cou-se para os quartos-de

fi nal da Taça de Portugal. O triunfo

dos minhotos ajusta-se, porque fo-

ram globalmente a melhor equipa,

perante um Arouca frágil, que, ain-

da assim, chegou a assustar, quan-

do o resultado estava em 1-0, ten-

do enviado uma bola à barra, num

remate de Pintassilgo.

O jogo começou com uma home-

nagem a Eusébio: num minuto re-

pleto de palmas, passaram no ecrã

gigante do estádio imagens do cé-

lebre Portugal-Coreia do Norte do

Mundial de 1966, jogo memorável

em que o antigo internacional por-

tuguês marcou quatro golos na vi-

tória por 5-3.

Na estreia do avançado romeno

Raul Rusescu, emprestado pelos

espanhóis do Sevilha — o reforço

mostrou alguns bons pormenores,

mas denotou natural falta de entro-

samento com os colegas —, o Sp.

Braga abriu o marcador logo aos

cinco minutos, com Pardo a con-

cluir de primeira um cruzamento

da direita de Alan.

O Sp. Braga assinou depois dois

bons remates, primeiro por Rafa

(13’), depois por Aderlan Santos

(24’), este numa “bomba” de mui-

to longe, na conversão de um livre

directo, que passou a rasar o poste.

Mas seria o Arouca a desperdiçar

uma grande oportunidade para em-

patar, quando Pintassilgo rematou

ao lado, após assistência de Rober-

to (36’).

Pardo podia ter marcado tam-

bém o segundo dos bracarenses,

mas, depois de ter aproveitado um

disparate de Diego para se isolar

diante de Cássio, falhou a tentativa

de “chapéu” ao guarda-redes bra-

sileiro, que defendeu sem difi cul-

dade (41’).

Após o intervalo, Luiz Carlos

surgiu no lugar de Mauro no meio-

campo bracarense, mas foi o Arou-

ca a estar muito perto do empate

com um grande remate de Pintas-

silgo à barra (47’).

O Sp. Braga respondeu logo a

seguir com um cabeceamento de

Aderlan Santos, após canto de Alan,

que Cássio defendeu de forma apa-

ratosa (49’) e, pouco depois, o guar-

dião, que chegou a ter um acordo

com os minhotos no início da épo-

ca, voltou a negar o golo a Felipe

Pardo (54’).

O fulgor do Arouca durou muito

pouco tempo e o Sp. Braga assu-

miu o comando do jogo, sem, con-

tudo, imprimir grande velocidade.

Aos 73’, 19 depois de ter entrado,

Ceballos foi expulso por causa de

uma entrada violenta sobre Alan

e a tarefa de, pelo menos, chegar

ao empate tornou-se ainda mais

difícil, até porque, cinco minutos

depois, os minhotos fi zeram o se-

gundo golo e “mataram” o jogo.

Rafa só teve de encostar após uma

primeira defesa de Cássio a remate

de Pardo. Lusa

Pardo marcou um golo e desperdiçou outro

Sp. Braga 2Pardo 5’, Rafa 78’

Arouca 0

Estádio Municipal de BragaEspectadores cerca de 5.000

Sp. Braga Eduardo, Baiano, Santos, Sasso, Elderson, Custódio, Mauro (Luiz Carlos, 46’), Rafa a70’ (Salvador Agra, 89’), Alan (Vukcevic, 89’), Pardo a65’ e Rusescu a26’. Treinador Jesualdo Ferreira

Arouca Cássio, Ivan Balliu a66’, Nuno Coelho, Diego, Tinoco, Bruno Amaro a57’, David Simão a79’ (Soares, 83’), Pintassilgo a23’ (Lassad, 67’), André Claro (Ceballos, 56’ a73’), Roberto e Serginho a83’. Treinador Pedro Emanuel

Árbitro Jorge Sousa (AF Porto)

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42 | DESPORTO | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

Primeiro os aplausos para Eusébio, depois as vaias para o Man. United

“Red devils”, que não vencem a Taça de Inglaterra desde 1994, foram eliminados à primeira oportunidade por um Swansea que nunca tinha ganho em Old Traff ord. Em Espanha, o Barça retomou a liderança

ANDREW YATES/AFP

O golo de Chicharito não foi suficiente para evitar a eliminação do Manchester United

A época de transição do Manches-

ter United teve um novo desenvol-

vimento negativo. Os “red devils”,

recordistas de vitórias na Taça de

Inglaterra, mas incapazes de a ven-

cerem desde 1994, não vão quebrar

o enguiço em 2014, depois de ontem

terem sido eliminados da prova pre-

cocemente, caindo perante o Swan-

sea City, em pleno Old Traff ord.

Antes do jogo, houve um minuto

de aplausos em homenagem a Eu-

sébio. No fi nal, destacaram-se as

vaias dos adeptos da casa dirigidas

à sua própria equipa. O clube visi-

tante ganhou, bem, por 1-2, com o

golo decisivo a surgir aos 90’, numa

altura em que o United jogava em

inferioridade numérica.

Habituado a ser uma fortaleza,

Old Traff ord, onde esteve uma ban-

deira portuguesa a meia haste, tem

sido nesta temporada um estádio

acessível para os visitantes. A época

ainda vai a meio, mas o United já

perdeu cinco vezes no seu recinto.

Fora da Taça à primeira oportunida-

de (nesta terceira ronda) e a 11 pon-

tos do líder Arsenal no campeona-

to, conservando, aparentemente,

poucas possibilidades de revalidar

o título, à equipa de David Moyes

deverá restar a Liga dos Campeões

(defronta o Olympiacos nos oitavos-

de-fi nal) e a Taça da Liga (meias-fi -

nais com o Sunderland) para salvar a

temporada, até porque o sucesso na

Supertaça de Inglaterra, em Agos-

to, não chega para tornar o saldo

favorável.

O Swansea, com Alex Ferguson

a assistir na bancada, adiantou-se

aos 12’ por Wayne Routledge, talvez

a grande fi gura do encontro, pois

também ofereceu a assistência pa-

ra o segundo golo da equipa galesa,

que venceu pela primeira vez na sua

história em Old Traff ord. Chichari-

to não demorou a empatar (16’),

mas para o United, que não pôde

contar com Rooney e Van Persie,

tudo se precipitou na parte fi nal do

jogo, quando o brasileiro Fabio foi

expulso aos 80’, devido a uma en-

trada mais dura sobre Canas, ape-

nas quatro minutos depois de ter

entrado para o lugar do lesionado

Rio Ferdinand.

A formação orientada por Michael

Futebol internacionalManuel Assunção

A Juventus derrotou ontem em casa a Roma, por 3-0, num jogo da 18.ª jornada que opôs os dois

primeiros do campeonato italiano. Foi apenas a primeira derrota da Roma na competição, mas o resultado deixou-a já a oito pontos do líder, que assim deu um importante passo para garantir o terceiro título consecutivo. A equipa de Turim subiu a sua pontuação para 49, enquanto a Roma se mantém com 41. O médio chileno Arturo Vidal abriu o activo aos 17 minutos, o defesa Leonardo Bonucci aumentou logo após o intervalo e o avançado montenegrino fixou o resultado aos 77’, de penálti. De Rossi (75’) e o brasileiro Leandro Castán (76’), ambos da Roma, foram expulsos, o segundo por cortar com a mão um lance de perigo na sua área.

Juve bate Roma e aumenta liderança

Laudrup aproveitou a vantagem nu-

mérica e fez o 1-2 em cima do tempo

regulamentar, com o avançado mar-

fi nense Wilfried Bony a marcar de

cabeça após centro de Routledge.

O Chelsea também avançou para

a quarta ronda, após vencer fora o

Derby County, do segundo escalão

inglês, por 0-2, com golos de Obi Mi-

kel e Oscar. O próximo adversário da

equipa de José Mourinho é o Stoke.

O Liverpool também assegurou,

sem surpresa, o apuramento, com

um triunfo caseiro pelos mesmos

números sobre o Oldham Athletic

(terceiro escalão). O espanhol Iago

Aspas e um autogolo de James Ta-

rkowski fi zeram funcionar o mar-

cador. Na ronda seguinte, os “reds”

enfrentarão o Bournemouth ou o

Burton Albion.

Surpreendente foi a goleada (5-

0) conseguida pelo Nottingham Fo-

rest, quinto classifi cado do Cham-

pionship, segundo escalão do fute-

bol inglês, frente ao West Ham da

I Divisão.

Sánchez ajuda BarçaO Barcelona defendeu com suces-

so a sua liderança no campeonato

espanhol, ao golear em casa o El-

che, por 4-0, num jogo em que bri-

lhou Alexis Sánchez, autor do seu

primeiro hat-trick com a camisola

blaugrana. O campeão espanhol so-

ma agora 49 pontos, os mesmos do

Atlético de Madrid, que na véspera

ganhou em Málaga (0-1). A equipa de

Gerardo Martino ocupa o primeiro

lugar, porque tem melhor diferença

de golos.

A igualdade de pontos poderá ser

desfeita na próxima ronda, a 19.ª do

campeonato, uma vez que os dois

líderes se vão defrontar em Madrid,

no Vicente Calderón.

O avançado chileno marcou aos 7,

63 e 69 minutos, enquanto Pedro,

que tinha apontado três na última

jornada ao Getafe, fez o outro golo

do Barcelona, aos 16’. Pedro somou

o 15.º golo na temporada, Sánchez

tem 11, todos na Liga. O Barcelona,

através de Xavi, ainda desperdiçou

uma grande penalidade.

O Real Madrid, terceiro classifi ca-

do, com 41 pontos, só joga hoje com

o Celta Vigo. Iker Casillas e Gareth

Bale estão de regresso à convoca-

tória, enquanto Fábio Coentrão,

Raphael Varane e Sami Khedira

continuam de fora, por lesão. An-

tes do jogo no Santiago Bernabéu,

realizar-se-á um minuto de silêncio

em homenagem a Eusébio.

CLASSIFICAÇÕES

ESPANHA

ITÁLIA

Jornada 18Málaga-Atlético de Madrid 0-1Valladolid-Betis 0-0Valência-Levante 2-0Almeria-Granada 3-0Sevilha-Getafe 3-0Barcelona-Elche 4-0Osasuna-Espanyol 1-0Real Sociedad-Athletic Bilbau 2-0Real Madrid-Celta de Vigo 18hRayo Vallecano-Villarreal 21h

Jornada 18Chievo-Cagliari 0-0Fiorentina-Livorno 1-0Juventus-Roma 3-0Nápoles-Sampdoria 11h30Parma-Torino 14hUdinese-Verona 14hCatânia-Bolonha 14hMilan-Atalanta 14hGénova-Sassuolo 14hLazio-Inter 17h30

J V E D M-S P

J V E D M-S P

Barcelona 18 16 1 1 53-12 49Atlético de Madrid 18 16 1 1 47-11 49Real Madrid 17 13 2 2 49-21 41Athletic Bilbau 18 10 3 5 26-23 33Real Sociedad 18 9 5 4 35-23 32Sevilha 18 8 5 5 35-29 29Villarreal 17 8 4 5 27-18 28Valência 18 7 2 9 25-29 23Getafe 18 7 2 9 20-30 23Espanyol 18 6 4 8 22-24 22Málaga 18 5 5 8 19-23 20Levante 18 5 5 8 17-27 20Granada 18 6 2 10 15-25 20Almería 18 5 4 9 20-32 19Osasuna 18 5 3 10 16-28 18Elche 18 4 5 9 17-27 17Celta de Vigo 17 4 4 9 21-27 16Valladolid 18 3 7 8 21-29 16Rayo Vallecano 17 4 1 12 16-40 13Betis 18 2 5 11 15-36 11

Juventus 18 16 1 1 42-11 49Roma 18 12 5 1 35-10 41Nápoles 17 11 3 3 36-20 36Fiorentina 18 11 3 4 34-20 36Inter Milão 17 8 7 2 37-21 31Verona 17 9 2 6 31-26 29Torino 17 6 7 4 30-24 25Cagliari 18 4 9 5 18-24 21Parma 17 4 8 5 23-25 20Lazio 17 5 5 7 22-26 20Génova 17 5 5 7 17-20 20Udinese 17 6 2 9 17-22 20AC Milan 17 4 7 6 25-26 19Sampdoria 17 4 6 7 19-25 18Atalanta 17 5 3 9 18-25 18Chievo 18 4 4 10 13-23 16Bolonha 17 3 6 8 17-31 15Sassuolo 17 3 5 9 17-36 14Livorno 18 3 4 11 16-30 13Catânia 17 2 4 11 10-32 10

Próxima jornada Livorno-Parma, Bolonha-Lazio, Torino-Fiorentina, Atalanta-Catânia, Cagliari-Juventus, Roma-Génova, Verona-Nápoles, Sassuolo-Milan, Sampdoria-Udinese, Inter-Chievo

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PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | DESPORTO | 43

Portugal foi uma das boas notícias

do Campeonato do Mundo de Volei-

bol de 2002, mas desde então não

teve mais oportunidade para sur-

preender na competição. Ontem,

fi cou afastado do Mundial 2014,

tal como aconteceu nas edições de

2006 e 2010. A selecção nacional

precisava de vencer a favorita e an-

fi triã Sérvia por 3-0, para garantir a

vitória no Grupo J de qualifi cação

europeia e o apuramento para a

fase fi nal, mas não conseguiu me-

lhor do que ganhar somente um set,

Portugal não conseguiu surpreender a Sérvia e falhou apuramento para o Mundial

perdendo pelos parciais de 22-25,

25-11, 25-19 e 25-21, em Nis.

Num pavilhão preenchido com

6500 espectadores, os homens li-

derados por Hugo Silva, seleccio-

nador que fez a estreia em jogos

ofi ciais, tiveram uma boa entrada

e ganharam o primeiro parcial, por

22-25, desfecho que ainda alimen-

tou esperanças.

No entanto, a Sérvia, medalha de

bronze no último Campeonato da

Europa, reagiu com autoridade e,

também benefi ciando das quebras

de concentração portuguesas, fe-

chou o segundo set com uma larga

vantagem depois de um arranque

em que desequilibrou claramente

as contas a seu favor. A vitória nes-

te parcial chegou para os sérvios

garantirem a quinta presença con-

secutiva no Mundial.

A Portugal restava-lhe agora ten-

tar vencer por 3-1, um resultado que

poderia eventualmente oferecer-

VoleibolManuel Assunção

Selecção portuguesa necessitava de vencer pela diferença máxima na última jornada da qualificação, mas perdeu

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Aleksandar Atanasijevic foi o

principal destaque da Sérvia, ao

conseguir 13 pontos.

Portugal terminou no terceiro

lugar, com três pontos. A Sérvia

somou nove e a Eslovénia seis. A

Macedónia, o único adversário que

a selecção portuguesa conseguiu

bater, não pontuou.

“Surpreendemos a Sérvia no

primeiro set, fomos consistentes

e jogámos bem. Depois disso, não

conseguimos manter o ritmo e essa

é a diferença entre nós e eles. Eles

podem jogar assim o tempo todo,

e nós ainda temos de melhorar

muito”, referiu João José, capitão

de Portugal.

A França, com sete pontos, foi

a selecção que se qualifi cou como

melhor segunda classifi cada. Além

da Sérvia, também se qualifi caram

como vencedores de grupos a Bél-

gica, a Bulgária, a Alemanha e a

Finlândia.

Portugal derrotou a Estónia, em

São João da Madeira, por 35-27, na

4.ª jornada do Grupo 5 de qualifi -

cação para os play-off s do Mundial

de Andebol de 2015.

A selecção nacional continua no

3.º lugar, mas agora em igualdade de

pontos com a Letónia, que perdeu

(21-23) em casa com a Bósnia-Herze-

govina, nação que está muito próxi-

ma de conquistar o grupo e fi car com

a vaga para a próxima ronda.

A selecção bósnia, com quatro

vitórias em quatro jogos, comanda

com oito pontos, mais quatro do

que Letónia e Portugal.

A vitória da Bósnia na Letónia foi

a pior notícia para a selecção na-

cional. Ao líder basta-lhe empatar

na próxima jornada, na recepção

à Estónia, para garantir de vez o

primeiro lugar.

Selecção venceu, mas Bósnia não “colaborou”

Andebollhe a qualifi cação, como o segundo

melhor dos cinco grupos, mas nem

a equipa lusa conseguiu chegar à vi-

tória, nem esse cenário, percebeu-

se depois, bastaria para cumprir o

apuramento pela via secundária.

A formação dos Balcãs, mesmo ro-

dando os seus jogadores, também

dominou os sets seguintes.

O oposto Hugo Gaspar, com 17

pontos (15 amealhados no ataque

e dois no bloco), foi o melhor con-

cretizador português, enquanto

João José terminou com 11, Alexan-

dre Ferreira com nove e Marcel Gil

com oito.

Hugo Gaspar terminou o encontro com 17 pontos, insuficientes para ajudar Portugal a vencer a Sérvia

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Page 38: Web20140106 publico porto

44 | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

ESPAÇOPÚBLICO

EDITORIAL

CARTAS À DIRECTORA

E Portugal perdeu mais um símbolo

Quando Amália morreu, a 6 de Outubro

de 1999, quase à beira de fechar

o século e um milénio, Portugal

via partir um símbolo. “Com ela”,

escreveu-se no PÚBLICO em editorial,

“morreu uma parte do país e do povo que

somos”. Mas também por causa dela, outra

parte desse país e desse povo continuou

viva, resistindo. Nesse dia, Eusébio disse:

“Ela é. foi, sem dúvida, a máxima fi gura da

música portuguesa. Quando a conheci pela

primeira vez fi quei satisfeito: olhava-a como

uma pessoa simples e modesta, como eu

também sou, e a minha vibração reforçou-se.

Já chorei, estou a chorar e ainda vou chorar.

Não acredito.” Agora que morre Eusébio,

muitos disseram e dizem ainda coisas

parecidas. A incredulidade, a sensação de

perda, o mito de traços humanos, tudo nele

Com Eusébio, como em 1999 com Amália, Portugal perdeu mais um símbolo da sua identidade

se conjugou para eternizar uma imagem em

que todos os portugueses, não só os adeptos

do futebol ou do Benfi ca (como também com

Amália não só os amantes do fado), de algum

modo se revêem. Como escreve nesta edição

António-Pedro Vasconcelos, Eusébio “foi,

sem querer, um símbolo para os portugueses

do seu tempo”, porque, num tempo em que

“ser português era sinal de opróbrio e de

vergonha, Eusébio resgatou o nosso orgulho

e devolveu-nos a dignidade”. E diz mais:

que ele tinha “qualidades inatas para o

futebol”, que “gostava de marcar golos e de

ganhar, como se isso fosse uma obrigação

que os deuses lhe exigiam em troca de o ter

dotado de talentos invulgares”. Talentos

esses que Bagão Félix (também num artigo

nesta edição) refere como “uma certa

expressão do desporto que deixou de ser

a norma. Onde o que contava era tão-só

o futebol jogado. De paixão pura, sem

adiposidades. Sem mediatismos bacocos

feitos de lugares-comuns”.

Mas Eusébio morreu e aqui estamos.

Outra vez, como sucedeu com Amália, a ver

desfi lar multidões que lhe querem prestar

homenagem, rever-se nele num momento

em que a dor da perda se mistura, sem tino,

às lembranças das vitórias, da simbologia

de raiz humana, à enorme arte que, como

em Amália, difi cilmente se explica, como

nota Medeiros Ferreira (pág. 12): “A grande

dúvida (...) é a de saber se há algum

método, algum treino, algum exercício

repetido, algum refl exo criado, que

transplante um atleta do seu meio e faça

dele um génio.” Não há. Como não houve,

ou haverá, muitos Eusébios ou Amálias.

Não por acaso, um poeta português,

Manuel Alegre, dedicou a Amália e

Eusébio poemas em que usou as palavras

“teorema” e “teoria”, talvez em busca do

inexplicável. Em Amália, notou “a música

a palavra o teorema/ a teoria que busca

o som e a forma”; em Eusébio, “Não era

só o instinto era ciência/ magia e teoria já

só prática. (...) Buscava o golo mais que

golo: só palavra. Abstracção. Ponto no

espaço. Teorema./ Despido do supérfl uo

rematava/ e então não era golo: era

poema”. Teoria feita sonho, o sonho feito

vitória. Há nisto, quando o derrotismo

não o reprime e cala, muito do espírito

português. Parte dele morre com Eusébio;

outra, também por causa de Eusébio,

há-de orgulhosamente resistir.

Estaleiros de Viana: de quem foi a culpa?A situação dos ENVC é complicada,

como se sabe. Compreendo a

angústia de quem lá trabalha,

mas também compreendo que

não se perpetue uma situação

de insolvência e incapacidade

comercial. Por isso pergunto:

alguém foi responsabilizado por

se ter construído um navio que

o governo dos Açores recusou,

por não cumprir os requisitos

convencionados? Quem teve o

desplante de querer entregar um

navio que não atingia a velocidade

contratada? Ficar com um navio

em seco e com o consequente

buraco nas contas é inadmissível.

Não me lembro de ver o nome de

quem eventualmente tenha sido

demitido — aliás, nunca poderia

ter sido uma só pessoa. Esta pura

demonstração de incompetência

e irresponsabilidade só reforça a

As cartas destinadas a esta secção

devem indicar o nome e a morada

do autor, bem como um número

telefónico de contacto. O PÚBLICO

reserva-se o direito de seleccionar

e eventualmente reduzir os textos

não solicitados e não prestará

informação postal sobre eles.

Email: [email protected]

Contactos do provedor do Leitor

Email: [email protected]

Telefone: 210 111 000

posição do Governo, que tem de

corrigir uma situação herdada

(mais uma), sabendo que sobre si

cairão todas as críticas dos líricos

do costume.

João M. Pereira dos Santos, Lisboa

Eusébio, sempre

Faleceu um homem simples

que fez de uma bola de futebol

mensagem de alegria e partilha de

emoções. A vergonhosa campanha

em afi rmar Cristiano Ronaldo

como o melhor marcador da

selecção portuguesa de futebol,

quando o Pantera Negra realizou

menos jogos, prova até onde vai

a fome de vaidade! Eusébio com

uma bola nos pés fez mais por

Portugal que muitos governantes

com uma caneta nas mãos. O

futebol é um jogo colectivo, em

que a entreajuda é fundamental.

O espírito solidário de um jogador

“dobrar” o companheiro que foi

ultrapassado é o que falta aos

portugueses. Eusébio de Portugal,

presente!

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

Até sempre, Pantera!

A bola é redonda, donde redunda

no fi nal de mais uma bela jogada

mais um golo. O consolo é vê-la

ora repetida na televisão com todo

o merecimento.

Momento perene, solene e geral

reconhecimento, porque levaste

longe o nome do nosso país.

Quis a desdita fosse hoje a data

da tua partida.

Por tudo, esta anódina

Os artigos publicados nesta secção respeitam a norma ortográfica escolhida pelos autores

homenagem, e lembrança de que

só agem como tu os verdadeiros

seres humanos.

Unamos, então, nossas vozes

numa mensagem vera e sincera:

até sempre, Pantera!

José P. Costa, Lisboa

O PÚBLICO ERROU

Na última página da edição de

ontem foram repetidos, por

lapso, os resultados do sorteio do

Totoloto da passada quarta-feira.

Hoje, publicam-se (também na

última página) os resultados do

sorteio de sábado, com as nossas

desculpas aos leitores, pelo erro.

Na edição de sábado, por lapso

não imputável ao autor, saiu

duplicado o primeiro parágrafo no

texto de opinião “O Trabalho não

é uma mercadoria” (Pág. 45), de

João Fraga de Oliveira. As nossas

desculpas ao autor e aos leitores.

Page 39: Web20140106 publico porto

PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | 45

Sobre os ideais marítimos de liberdade e governo limitado

Ano novo, vida nova, como

se costuma dizer. Ao cabo

de três anos como Cartas de

Varsóvia, estas crónicas passam

agora a Cartas do Atlântico.

Geografi camente, assinalam o

meu regresso a Lisboa, à beira-

mar plantada. Simbolicamente,

mantém o mesmo compromisso

com os ideais marítimos de

liberdade e governo limitado.

Foram estes mesmos ideais que

presidiram à libertação da Polónia, em

1989, depois de décadas de opressão pelo

comunismo continental. Durante três

anos em Varsóvia, pude testemunhar o

compromisso polaco para com a aliança

euro-atlântica, que ainda hoje é a âncora da

sua liberdade reconquistada.

Não terá sido por acaso, como também

se costuma dizer, que Winston Churchill e

Franklin Roosevelt escolheram o Atlântico

como sede de consagração da sua — então

célebre, hoje quase esquecida — Carta

do Atlântico. Os princípios enunciados

nessa Carta, em Agosto de 1941, estiveram

na origem da ONU e da NATO, em parte

também da Comunidade Europeia.

Mas talvez tenha sido Karl Popper quem

mais enfaticamente associou a ideia de

sociedade aberta às civilizações marítimas,

em particular a de Atenas do século V a.C.:

“Talvez a mais poderosa causa do

colapso da sociedade fechada tenha sido

o desenvolvimento das comunicações

marítimas e do comércio. O contacto

estreito com outras tribos desafi a o

sentimento de necessidade com que as

instituições tribais são percepcionadas;

e a troca, a iniciativa comercial e a

independência podem afi rmar-se, mesmo

numa sociedade em que o tribalismo ainda

prevalece. (...) Tornou-se claro [para os

inimigos da democracia em Atenas] que o

comércio de Atenas, o seu comercialismo

monetário, a sua política naval, e as suas

tendências democráticas eram parte de

um único movimento, e que era impossível

derrotar a democracia sem ir às raízes do

mal [do ponto de vista dos inimigos da

democracia] e destruir quer a política naval

quer o império.” (A Sociedade Aberta e os

Seus Inimigos, Edições 70, vol. I, p. 222).

Karl Popper considerava que a civilização

ocidental emergiu da transição das

velhas sociedades fechadas tribais para as

novas sociedades abertas. Para Popper,

a Guerra do Peloponeso entre Atenas

e Esparta exprimiu essencialmente o

confl ito entre uma sociedade aberta

emergente, a democrática Atenas, e uma

sociedade fechada, a Esparta colectivista.

Ele considerou que a II Guerra Mundial

foi uma reedição desse confl ito, tendo

o lugar de Atenas sido ocupado pelas

democracias ocidentais, e o lugar de

Esparta pelo nacional-socialismo alemão e o

comunismo soviético — cuja aliança de facto

desencadeou o início da guerra e a dupla

invasão da Polónia, em Setembro de 1939.

Este tema foi retomado por Peter

Padsfi eld numa monumental trilogia sobre

as potências marítimas. Em Maritime

Supremacy and the Opening of the Western

Mind (1999), cujo título faz uma clara

referência à ideia de Popper sobre a

abertura intelectual, Padfi eld descreve a

emergência da República holandesa como

potência marítima e comercial no século

XVII, bem como a sua gradual substituição

pela Inglaterra no século XVIII. O livro

seguinte, intitulado Maritime Power and

the Struggle for Freedom (2003), descreve

o confl ito entre a Inglaterra e as potências

terrestres espanhola e francesa, com a

ascendência britânica à supremacia naval

no século XIX. O terceiro volume, Maritime

Dominion (2008), prolonga a narrativa

até ao século XX, com os Estados Unidos

a sucederem a Inglaterra como potência

marítima dominante, e a Alemanha e a

Rússia a substituírem a Espanha e a França

como potências continentais.

Daniel Boorstin, o célebre historiador

que dirigiu a Biblioteca do Congresso em

Washington, prestou devida homenagem ao

papel pioneiro dos portugueses na abertura

da Europa a esse novo mundo marítimo:

“A nova era marítima [iniciada pelos

portugueses] levou o comércio e a

civilização da costa de um corpo fi nito, o

Mediterrâneo fechado, o “mar-no-meio-

da-terra, para a costa do Atlântico aberto

e dos oceanos sem fronteiras no mundo.”

(Os Descobridores,

Gradiva, p. 153).

Karl Popper, Peter

Padfi eld e Daniel

Boorstin associaram

as culturas

marítimas a valores

de liberdade,

comércio livre, livre

empreendimento,

Estado de direito

e governo

representativo ou

democrático, que

responde a um

Parlamento eleito

livremente.

Esta combinação

de “liberdade,

tolerância e

riqueza” tende a

libertar o génio

humano, sustentam

aqueles autores.

Em contraste,

as potências

continentais

tendem a valorizar

a rigidez, o

fechamento ao exterior e ao comércio,

a organização estatal centralizada e o

abafamento da sociedade civil.

Estas Cartas do Atlântico retomarão

aqueles velhos ideais marítimos, em

detrimento dos sonhos continentais de

organização centralizada.

Professor universitário, IEP-UCPEscreve à segunda-feira

Não terá sido por acaso que Winston Churchill e Franklin Roosevelt escolheram o Atlântico como sede de consagração da sua Carta do Atlântico

João Carlos EspadaCartas do Atlântico

Uma tragédia

Primeiro, não se acredita. Eusébio

morto? Como é que pode ser?

Depois acredita-se e amaldiçoa-

se o azar de Eusébio e da família

dele por ele ter morrido tão

cedo. Percebe-se que Eusébio já

era um imortal há muito tempo

e que, nesse sentido heróico,

continua tão vivo como antes.

Foi uma imortalidade que ele

criou, jogada a jogada, de jogo em jogo, ano

após ano, de golo em golo.

Mas Eusébio faz falta. Ele era um sábio

e um benfeitor, um monumento vivo que

falava com as pessoas e vivia como elas, no

meio da gente. Era a última grande fi gura

de Lisboa. Houve portugueses que nem

sempre trataram Eusébio com o respeito e a

gratidão que ele não só merecia como tinha

conquistado. Mas Eusébio era um senhor

na vida, como era a jogar. As grandes

qualidades dele como futebolista — a

inteligência, a imaginação, a solidariedade,

a elegância e a audácia — nunca mais se

juntaram num só jogador. Mas continuaram

sempre na pessoa de Eusébio, ao lado de

fraquezas que todos nós temos, provando

que ele era humano.

É uma grande tristeza Eusébio não

ter vivido mais anos de felicidade e de

exemplo. São muitas as pessoas, de todas as

idades e de todas as profi ssões, cujas vidas

vão piorar por Eusébio já cá não estar.

A morte de Eusébio é uma tragédia. As

tragédias choram-se. Não se celebram.

A imortalidade já era dele. Não serve de

consolação nenhuma. Era imortal e bem

vivo que te queríamos, querido Eusébio.

Obrigados por tudo o que nos deste, a

começar por ti.

Miguel Esteves CardosoAinda ontem

BARTOON LUÍS AFONSO

Page 40: Web20140106 publico porto

46 | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014

Tito deixa-me sempre acabrunhado. Vem de fora, a mente fresca, não vê mais do que nós, mas a interpretação é diferente

Fogo preso

Numa semana, confessa Tito

Zagalo, tornei-me céptico da

recuperação, não da economia,

mas do país. Por causa de

dois discursos, o de Natal do

primeiro-ministro e o de Ano

Novo do Presidente. Soaram tão

a falso e tão pouco convictos que

me levaram a recuar do meu

inicial optimismo.

Para o primeiro-ministro (PM) tudo

corre pelo melhor, até o emprego, onde

da noite para o dia se criaram 120 mil

novos postos de trabalho, esquecendo os

100 mil que se perderam. O crescimento é

animador para o PM, embora no ano fi ndo

o país tenha regredido em perto de 1,5%.

O défi ce terá sido controlado com mais

uma cobrança excepcional de impostos

em dívida de 1,2 mil milhões de euros,

irrepetível nos tempos mais próximos

e incentivadora de menos receita fi scal

futura. (Que bom teria sido ter prolongado,

em Novembro, o período de perdão fi scal

por mais três meses em 2014! Teríamos

resolvido o problema dos 0,25 de défi ce

acrescido no ano que se inicia.) Adiante!

A dívida pública, soube-se agora, cresce

1,1% a cada redução do défi ce de um ponto.

Princípio de vasos comunicantes com

perdas por viscosidade. O PM ignorou os

professores a descredibilizarem o ministro,

este a descredibilizar os politécnicos

que tutela, universidades em perda de

oxigénio, investigadores, engenheiros,

economistas e gestores a emigrarem para

as Américas, Áfricas e Europas. Não julguei

que o país estivesse tão mal governado,

por gente tão incompetente, ignorante e

involuntariamente suicida, desabafa Tito

Zagalo em noite chuvosa de fi m de ano!

No meio de toda esta desgraça, temos a

Madeira a queimar centenas de milhares de

euros em oito minutos de fogo! Em nome

do marketing turístico.

Mas o pior foi o discurso do Presidente,

acrescenta Tito, quando esperava

energia crítica recebi complacência com

a mediocridade governativa; quando

esperava credibilidade para unir forças,

recebi propostas de consenso votadas à

rejeição liminar; quando esperava que o

Presidente se defendesse de complicações

supervenientes, vejo que ele se transmuta

em apostador de risco.

Tens de entender, meu caro Tito, que

o Presidente está prisioneiro de uma

má solução da crise Portas, no Verão

passado. Ao apostar em Passos perdeu o

apoio do PS. As suas súplicas ao consenso

embatem agora num muro. Apesar da fraca

memória, os portugueses não esqueceram

que o Presidente não apelou ao consenso

na crise que deu lugar à vinda da troika.

Pelo contrário, acirrou ânimos, referindo

então termos

chegado ao limite

dos sacrifícios

suportáveis. Os

sacrifícios ainda

haviam de ser

bem piores daí

para a frente.

Como quer agora

que o PS acorra

ao chamamento

para um consenso

onde seria

deglutido, quando

as perspectivas

eleitorais são as

inversas de então?

Não podemos

ignorar, Tito,

que os mercados

abriram em alta

no Ano Novo e se

reduziu a diferença

entre os juros da

dívida dos países

mais endividados

e os alemães. E até

admitiremos, como

plausível, uma

emissão de dívida a juros próximo dos 5%

ou menos, o que seria um bom sinal para o

fecho pacífi co do programa de intervenção.

Tal signifi caria termos batido no fundo

e estarmos a dar a volta, devidamente

almofadados com apoio dos nossos

aforradores e dos bancos, nesse encaixe.

Nem tudo são más notícias. Meu caro, há

momentos na vida política em que será

melhor para os países que os ministros não

apareçam nos ministérios, responde Tito.

Os automatismos não têm só consequências

funestas. O que não consigo vislumbrar

são sinais de reforma, apenas mais cortes

punitivos e mais impostos paralisantes.

Se os mecanismos que geram despesa

sem controlo, encostados ao Estado,

sentirem que as melhoras são estáveis, aí

disparam eles, de novo, forçando a despesa

pública. A reforma dos municípios fi cou

pelas freguesias; queremos regiões mas

é com distritos que organizamos a vida

política; poderíamos reduzir o número

de parlamentares, mas os partidos

minoritários fogem disso como o diabo da

cruz; deveríamos ter administração mais

bem treinada, reduzida e responsável,

mas desmantelámos o INA, aniquilámos

quantitativa e qualitativamente as chefi as,

como se tivessem lepra, e destruímos

institutos com vida responsável e autonomia

fi nanceira; tudo em nome de uma sanha

ignorante e radical de destruição do Estado.

Sem reformas entraremos em novo ciclo

de desperdício assim que folgarmos. E pela

frente temos meses de incerteza agravada

por eleições e suas campanhas.

Atenção, alerta Tito, o PS tem de mostrar

que pode ser um bom governo, não basta

Mas o pior foi o discurso do Presidente, acrescenta Tito, quando esperava energia crítica recebi complacência com a mediocridade governativag

fi car sentado, à espera da sua hora. A

aparência de cálculo leva a que o povo

ache que é manha e perca o entusiasmo!

O teu partido vai ter de galgar a tolerância

simpática e passar ao entusiasmo

contagiante. Se o virem apenas como o

menor dos males, muitos fi carão em casa

ou votarão irracionalmente, por rancor.

Os eleitores têm de ver o caminho à sua

frente, não basta que sintam o desagrado.

Não se ganham eleições sem uma forte

dose de ilusão, sejam amanhãs que cantam,

seja confi ança em governos alternativos.

No país onde vivo, os trajectos eleitorais

estão marcados por candidatos de que

ninguém mais voltou a falar. Ou por terem

falta de cabelo, ou por falta de altura, ou

por terem ido à guerra ou por não terem

ido à guerra, por muitas pequenas razões a

corrente eléctrica não passou e o voto fugiu

para o lado. Sabemos que um bom número

de eleitores vota com a mão por cima do

coração, com a carteira, entre o forro e

a entretela. Mas o conforto da carteira

depende da confi ança.

Tito deixa-me sempre acabrunhado. Vem

de fora, a mente fresca, não vê mais do que

nós, mas a interpretação é diferente. Não

poupa comentários agrestes, revelando

intolerância perante erros conhecidos.

Confesso-me sempre chocado com a sua

desarmante dialéctica. Partiu de novo para

ensinar na sua tranquila universidade, boas

instalações, parques frondosos, ambiente

de tolerância e de permanente estímulo.

Que inveja!

Deputado do PS ao Parlamento Europeu.Escreve à segunda-feira

NUNO FERREIRA SANTOS

António Correia de CamposTerra e Lua

Page 41: Web20140106 publico porto

PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | 47

O regresso de D. Sebastião

Orçamentos autárquicos não poupam Cultura

“Sebastião morreu, já não

volta a nascer.” Assim

cantava a Filarmónica

Fraude, em 1969, no disco

que mais corajosamente

falou à minha geração da

guerra em África: Epopeia.

Há poucas semanas,

o ministro Paulo Portas,

com o rigor intelectual e a

envergadura cultural que lhe conhecemos,

comparou a chegada da troika ao nosso

país, a 1580, e a sua futura saída, a 1640.

Essa patriótica comparação, que por certo

o povo português de imediato apreendeu

e agradeceu aliviado, deixou-me a mim

estupefacto.

O senhor ministro que me perdoe, mas o

que eu tenho entendido da história pátria

dessa época nada tem a ver com a sua

infl amada comparação, e até a cobre de

algum patetismo e estonteado populismo.

Se olharmos para o período de 1580-1640 e

para o nosso triste presente, a comparação

que se impõe, com uma evidência terrífi ca,

é bem outra e exactamente o contrário

do que afi rma o ilustre ministro: a saída

da troika é que vai corresponder a 1580, e

quanto a 1640 resta-nos esperar que o que

nos espera não dure 60 anos!

Vejamos então: em 1578, um rei

fanático, acompanhado por um pequeno

círculo de aduladores interesseiros,

oportunistas e aventureiros, impôs a sua

indecente vontade e afundou o nosso

povo e o nosso país num longo período

de declínio, desânimo e desesperança.

Insensível a todos os conselhos e avisos

de desgraça, fundamentalista e obsessivo,

Praticamente sem excepção,

os orçamentos dos executivos

autárquicos para 2014 aprovados

antes do fi nal do ano sofreram

cortes signifi cativos e, de uma

forma ainda mais acentuada, na

área da Cultura. É sabido que,

quando se enfrenta uma crise

com esta magnitude, é preciso

reduzir despesas de forma

generalizada, mas também é indispensável

que se saiba hierarquizar a importância

daquilo que se corta.

Se um executivo autárquico está convicto

de que a actividade cultural pode contribuir

para criar mais emprego, para ajudar o

sector turístico e o da restauração e pode

ainda contribuir para atrair visitantes

nacionais e estrangeiros, deverá ser

cauteloso nos cortes, já que eles podem

afectar uma área de potencial estratégico.

Tenho presentes vários concelhos

portugueses que nos dois últimos anos

souberam utilizar a oferta cultural com

criatividade e inteligência, organizando

festivais e vários eventos originais que se

traduziram no encaixe de receitas nada

desprezíveis.

Trata-se de uma questão de opção e de

mentalidade que nos remete para uma

situação passada com Winston Churchill

durante a Segunda Guerra Mundial. Quando

deputados da oposição e alguma imprensa

o criticaram por, investindo na Cultura e

nas Artes, poder estar a afectar o esforço

de guerra, ele responder algo parecido com

isto: “Se não lutarmos por isto, lutamos

porquê?” Queria o grande estadista

enfatizar a ideia segundo a qual, ante a

barbárie em marcha, é preciso defender os

valores da cultura e da civilização, que são

também os da liberdade.

Para se defender a capacidade material

que o sector da Cultura tem de avançar com

iniciativas, é preciso ter coragem, sentido

estratégico e uma consistente visão cultural.

Dir-se-á que quando se fazem signifi cativos

cortes na Acção Social e na Educação não é

possível poupar a Cultura à lâmina aguçada

do emagrecimento orçamental. Mas a

verdade é que as bibliotecas da rede de

leitura pública não podem abdicar de fazer

as suas aquisições e que há muitas outras

rubricas do mesmo sector que não podem

fi car em estado de carência.

Basta pensar que, segundo estatísticas

muito recentes, os cinemas portugueses

perderam nove milhões de euros de receita

de bilheteira e cerca de 1,4 milhões de

espectadores comparativamente com os

valores apurados em 2012.

Isto signifi ca que há menos dinheiro para

se ir ao cinema, mas também que há menos

salas para se ver cinema em vários pontos

impreparado e incompetente, o obstinado

monarca precipitou o país e o seu povo

numa previsível hecatombe nacional, que

começou em 1580 e durou décadas.

Da mesma sorte, temos hoje um governo

também fundamentalista e obsessivo,

impreparado e incompetente, também

acompanhado por um círculo nacional e

estrangeiro de aduladores interesseiros,

oportunistas e aventureiros, e igualmente

insensível perante todos os conselhos

e avisos para a previsível hecatombe

nacional. Um governo que impõe aos

seus cidadãos uma semelhante vontade

indecente, que nos

vai mergulhar a

todos, de novo, num

longo período de

declínio, desânimo

e desesperança.

Um governo que,

como o rei doente e

fanático de ontem,

desaparecerá um

dia da face da terra

deixando atrás de si

um rasto duradouro

de pobreza,

desemprego e

infelicidade.

A única diferença

reside nas razões

publicamente

invocadas para o

desastre colectivo:

de acordo com

os poderosos e

os áulicos de ontem, o povo português,

pecador e libertino, foi castigado por Deus

com uma vergonhosa e terrível derrota

e com um longo calvário de sofrimento

e sacrifício, não tendo mais do que se

culpar a si próprio, de se arrepender e

de se corrigir. De acordo com os áulicos e

os poderosos de hoje, o povo português,

gastador e calaceiro, manhoso e piegas,

está a ser punido pelos Mercados com uma

implacável e letal austeridade e não tem

mais do que se culpar a si próprio, de se

arrepender e corrigir. Um povo desastrado

e infeliz, que Camões pintou, num retrato

perfeito e até hoje imperturbado, com os

tons sombrios de uma austera, apagada

e vil tristeza. O mesmo Camões que, em

carta a D. Francisco de Almeida, referindo-

se ao desastre de Alcácer-Quibir, à ruína

fi nanceira da Coroa portuguesa e à

independência nacional, se despediu com

estas palavras: “Enfi m acabarei a vida e

verão todos que fui tão afeiçoado à minha

Pátria que não só me contentei de morrer

nela, mas com ela.”

Valha-nos hoje, senhor ministro, para

nos animar, a sua impagável brejeirice

restauradora, bem mais divertida do que a

sua irrevogável consciência política.

Cineasta

do país e que este constitui um público

potencial para corresponder a outras formas

de oferta local, que também podem passar

pelo cinema. Toda esta situação deverá

ser vista de uma forma articulada e, de

preferência, estudada pelos organismos

estatais que dispõem de verbas para efectuar

estas análises e estudos comparativos.

De forma recorrente tenho referido o

exemplo da Irlanda, agora regressada aos

mercados, que acreditou no potencial

regenerador da Cultura, contribuindo desse

modo para que houvesse menos gente a

emigrar e muito mais gente, nacional e

estrangeira, a encher as salas de cinema,

os museus e as

galerias.

Em Portugal não

faltam imaginação

e criatividade para

se conceberem

programas

inovadores e

apelativos. O que

há, frequentemente,

é falta de vontade e

de coragem política.

E isso está patente

na asserção inicial:

o sector cultural

sofreu cortes

nos orçamentos

municipais para

2014 que podem

comprometer muito

boas ideias, iniciativas e projectos. É pena

que assim aconteça. Mas, também por isso,

é urgente rever as políticas de captação de

patrocínios e toda a lógica do mecenato,

sobretudo se lhes for demonstrado que

Portugal, apesar da dureza da crise, está na

moda, como milhares de turistas de estada

curta a demandarem o nosso país. Quem

não perceber esta nova realidade, terá

muita difi culdade em perceber as outras,

também por falta de perspectiva cultural.

E, já agora, tenha-se presente que a oferta

cultural deve sempre ser diversifi cada,

criativa e até surpreendente, não caindo

no seguidismo de assentar apenas em

quem está na moda, só porque aparece na

televisão e se pode gabar de boa imprensa.

Há outros mundos e propostas para além

desses. E só ganhará, a médio e longo

prazo, quem for criativo e corajoso. O

tempo nos dará razão.

Escritor, jornalista e presidente da Sociedade Portuguesa de Autores

Valha-nos hoje, senhor ministro, para nos animar, a sua impagável brejeirice restauradora

Só ganhará, a médio e longo prazo, quem for criativo e corajoso

NUNO FERREIRA SANTOS

Debate Cultura e autarquiasDebate Crise e GovernoJosé Jorge LetriaLuís Filipe Rocha

NUNO FERREIRA SANTOS

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ESCRITO NA PEDRA

“Todas as decepções são secundárias. O único mal irreparável é o desaparecimento físico de alguém a quem amamos” Romain Rolland (1866-1944), novelista e compositor francês

SEG 6 JAN 2014

Contribuinte n.º 502265094 | Depósito legal n.º 45458/91 | Registo ERC n.º 114410 | Conselho de Administração - Presidente: Ângelo Paupério Vogais: António Lobo Xavier, Cláudia Azevedo, Cristina Soares, Pedro Nunes Pedro E-mail [email protected] Lisboa Edifício Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte, 1350-352 Lisboa; Telef.:210111000 (PPCA); Fax: Dir. Empresa 210111015; Dir. Editorial 210111006; Redacção 210111008; Publicidade 210111013/210111014 Porto Praça do Coronel Pacheco, nº 2, 4050-453 Porto; Telef: 226151000 (PPCA) / 226103214; Fax: Redacção 226151099 / 226102213; Publicidade, Distribuição 226151011 Madeira Telef.: 934250100; Fax: 707100049 Proprietário PÚBLICO, Comunicação Social, SA. Sede: Lugar do Espido, Via Norte, Maia. Capital Social €50.000,00. Detentor de 100% de capital: Sonaecom, SGPS, S.A. Impressão Unipress, Travessa de Anselmo Braancamp, 220, 4410-350 Arcozelo, Valadares; Telef.: 227537030; Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA, Estrada Consiglieri Pedroso, 90, Queluz de Baixo, 2730-053 Barcarena. Telf.: 214345400 Distribuição Logista Portugal – Distribuição de Publicações, SA; Lisboa: Telef.: 219267800, Fax: 219267866; Porto: Telef.: 227169600/1; Fax: 227162123; Algarve: Telef.: 289363380; Fax: 289363388; Coimbra: Telef.: 239980350; Fax: 239983605. Assinaturas 808200095 Tiragem média total de Dezembro 37.425 exemplares Membro da APCT – Associação Portuguesa do Controlo de Tiragem

Pela primeira vez, um juiz, Francisco Brízida Martins, preside a este organismo p17

Fidelidade devia ter alertado para fi m da cobertura do risco de invalidez p18

Pedro Ferreira Pinto sucede a Joaquim Pais Jorge e tem luz verde da Cresap p23

Instituto de Medicina Legal presidido por um juiz

Seguradora paga crédito de doente com mais de 60 anos

Novo presidente da Parpública está escolhido

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SOBE E DESCECarlos Costa

O Banco de Portugal impôs aos bancos novas regras que implicam,

por exemplo, que seja exigida identificação a alguém que faça um depósito superior a 5000 euros numa conta de terceiros, se a operação for considerada suspeita. Isso será exigido, de forma automática, a todos os depósitos superiores a 10.000 euros. A instituição liderada por Carlos Costa junta-se, assim, ao combate europeu à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo. (Pág. 22)

Fundação S. João de Deus

A Fundação S. João de Deus, presidida por Rui Ferreira Amaral (na foto),

lançou um programa-piloto para apoiar familiares de emigrantes

que ficam no país sem apoio. A iniciativa desta instituição deverá apoiar sobretudo idosos, com residência em

Lisboa e Guarda (por enquanto), numa altura em que tantos milhares fogem do país, muitas vezes deixando cá familiares que ficam sem apoios e em situação de isolamento.(Pág. 19)

John Kerry

Depois do acordo nuclear de Novembro, pela primeira vez os

EUA sugeriram que diplomatas do Irão podem participar nas conversações de paz na Síria, um encontro marcado para 22 de Janeiro na Suíça e que, se acontecer, deverá juntar representantes de Bashar al-Assad e da oposição. O secretário de Estado John Kerry sublinhou que Teerão teria de concordar que o objectivo da conferência era encontrar uma autoridade de transição se se conseguisse convencer Assad a sair do poder. Mas de qualquer forma abriu uma porta. (Pág. 26)

Sheikh Hasina

A oposição no Bangladesh apelou a um boicote às eleições

por não haver uma autoridade neutra a encarregar-se delas, mas o Governo da primeira-ministra Sheikh Hasina negou esse pedido, e realizou as eleições na mesma. Resultado: o dia de ontem ficou marcado por mais violência, tudo por causa de uma crise que o Governo parece não estar empenhado em resolver. (Pág. 28)

A voz poderosa exprimia sempre o

mesmo: o amor e a angústia e o sofri-

mento que o amor provoca. Era isso

que cantava Nelson Ned, o cantor que

morreu ontem no Hospital Regional

de Cotia, em São Paulo, onde entrara

no sábado com uma grave pneumo-

nia. Enfraquecido pelo AVC que so-

frera em 2003, morreu aos 66 anos

vítima, avança a Lusa, de um “choque

séptico, sepse, broncopneumonia e

acidente vascular cerebral”.

Amor, tudo amor, sempre amor.

Como em Tudo passará, o seu maior

êxito, a canção em que em 1969 foi

o rastilho para uma carreira que lhe

abriria as portas para o mundo. No

Brasil, onde nasceu em 1947, na cida-

de de Ubá, estado de Minas Gerais, o

seu imenso sucesso foi sempre acom-

panhado pela sua colocação na cate-

goria de cantor brega, ou seja, músico

pouco refi nado, próximo do universo

que, em Portugal, ganhou a designa-

ção “pimba” na década de 1990.

Não era visto assim noutras latitu-

des. Aquele que era conhecido como

Morreu Nelson Ned, o “Pequeno Gigante da Canção” brasileira

“Pequeno Gigante da Canção”, devi-

do à sua baixa estatura (tinha 1,12m

de altura), e que gravou também ex-

tensa discografi a em castelhano, foi

o primeiro latino-americano a ven-

der um milhão de discos nos Estados

Unidos, país onde actuou ao lado de

Tony Bennett ou Julio Iglesias em

salas míticas como a nova-iorquina

Madison Square Garden.

Há dois anos, em entrevista à Glo-

bo, afi rmava com convicção ter si-

do “um dos melhores cantores do

mundo”: “Fiz muito sucesso lá fora

numa época nada globalizada. Fui

o primeiro artista brasileiro a can-

tar no Canecão [mítica sala carioca]

sozinho.” Quanto à classifi cação de

cantor “brega”, recorreu ao exem-

plo da sua canção preferida, Tudo

passará, para a desvalorizar.

Primeiro de sete fi lhos de um ca-

sal de Ubá, Nelson Ned chegou ao

Rio de Janeiro aos 17 anos. O seu pri-

meiro trabalho na cidade seria na

linha de montagem de uma fábrica

de chocolates. Foi tentando a sua

sorte em clubes no Rio de Janeiro

e em São Paulo e, em 1960, editaria

a primeira canção, Eu sonhei que tu

estavas tão linda. Precisaria no en-

tanto de esperar nove anos até que

a sua carreira arrancasse verdadei-

ramente. Garantiram-no a presen-

ça regular num popular programa

da televisão brasileira, A Discoteca

do Chacrinha, e a edição da canção

que se tornou a sua assinatura, Tudo

passará. Seguir-se-iam mais de três

dezenas de discos e vendas de 45 mi-

lhões de cópias em todo o mundo.

Verdadeira superestrela na déca-

da de 1970, esbanjou a fortuna acu-

mulada em “muita cocaína, muito

champanhe, muita mulherada”, co-

mo contou em 2011 numa entrevista

à TV Record. A partir da década de

1990, quando se converteu à Igreja

Evangélica, deixou para trás êxitos

como Tamanho não é documento ou

Não tenho culpa de ser triste, para

se dedicar em exclusivo à música

cristã. Em 2003, o AVC que sofreu

deixou-o cego de um olho, atirou-o

para uma cadeira de rodas e impe-

diu-o de continuar a sua carreira.

MúsicaMário Lopes

O cantor de Tudo passará morreu ontem em São Paulo, vítima de grave pneumonia. Tinha 66 anos

Nelson Ned

Rui Tavares encontra-se de férias e regressa a este espaço a 15 de Janeiro

Spas com objectividade.Chegou o , o site com as experiênciase descontos que interessam.