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NUNO FERRARI/A BOLA
Depósitos suspeitos a partir dos 5000 euros exigem a identifi cação do cliente para reforçar medidas contra branqueamento p22
À chegada a Lisboa, eurodeputado socialista Liêm Hoang Ngoc, reconhece limitações da fórmula acordada p16
Banco de Portugal aperta regras em depósitos a partirde 5000 euros
Eurodeputados em Lisboa para discutir contrapartidasde ajuda da troika
Destaque, 2 a 15 e Editorial
PUBLICIDADEPUBLICIDADE
Acompanhe a cobertura completa sobre Eusébio em www.publico.ptSEG 6 JAN 2014EDIÇÃO PORTO
Ano XXIV | n.º 8669 | 1,10€ | Directora: Bárbara Reis | Directores adjuntos: Nuno Pacheco, Miguel Gaspar, Pedro Sousa Carvalho | Directora executiva Online: Simone Duarte | Directora de Arte: Sónia Matos
ISNN:0872-1556
1942-2014EUSÉBIO
af CursosAnoLectivo12 JanelaPUBLICO 100x50.ai 1 9/6/12 3:13 PM
Novos Cursos Início em Janeiro
2 | DESTAQUE | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
EUSÉBIO (1942-2014) The king!! Grande perda para todos nos! O mais grande!!Luís FigoAntigo futebolista do Sporting e da selecção
Eusébio foi um King para todosO antigo jogador morreu na madrugada de ontem, vítima de uma paragem cardiorrespiratória. Tinha 71 anos e uma vida de futebolista que mereceu um elogio unânime
Eusébio morreu. A notícia cor-
reu veloz, logo pela manhã
de ontem, deixando todos os
que tomavam conhecimen-
to dela primeiro incrédulos,
depois chocados e a seguir
saudosos de uma fi gura que marcou
uma época do futebol em Portugal e
na Europa. Eusébio da Silva Ferreira,
antigo futebolista do Benfi ca e da se-
lecção portuguesa, morreu às 4h30
de domingo, em Lisboa, na sua ca-
sa, aos 71 anos, vítima de paragem
cardiorrespiratória.
Eusébio sentiu-se mal por volta
das 3h30 da manhã e foi chamado o
INEM, mas já foi demasiado tarde.
Nascido a 25 de Janeiro de 1942
na então Lourenço Marques, hoje
Maputo, Eusébio tornou-se o maior
símbolo do futebol português. Vin-
do de Moçambique, depois de ter
jogado no Sporting de Lourenço
Marques, chegou ao clube de Lis-
boa no Inverno de 1960.
Foi nessa década que o Pantera
Negra mais brilhou nos relvados, no
Benfi ca e ao serviço da selecção de
Portugal, no Mundial de 1966, onde
foi o melhor marcador.
Sete vezes melhor goleador do
campeonato português (1963-64,
64-65, 65-66, 66-67, 67-68, 69-70 e
72-73), duas vezes melhor marcador
europeu (1967-68 e 72-73), Eusébio
foi uma vez eleito melhor futebolis-
ta europeu, mas é considerado um
dos maiores futebolistas mundiais
de todos dos tempos.
Foi 11 vezes campeão nacional
pelo Benfi ca — alinhando em 294
jogos, nos quais marcou 316 golos
—, ganhou cinco taças de Portugal,
foi campeão europeu em 1961-62 e
fi nalista da Taça dos Campeões em
1962-63 e 67-68.
No total, foram 671 os golos que
marcou em jogos ofi ciais. Cometeu
a proeza de marcar 32 golos em 17
jogos consecutivos, tendo ainda con-
seguido marcar seis golos no mesmo
jogo em três ocasiões. O guarda-re-
des que mais golos seus sofreu foi
Américo, do FC Porto (17).
Jogou no Benfi ca até 1975, tendo
depois actuado ainda em clubes da
nos Estados Unidos, no México, no
Beira-Mar e no União de Tomar —
esta última uma breve experiência
que durou até Março de 1978, após
o que regressou aos EUA para tentar
uma efémera experiência no futebol
indoor.
Participou em 64 jogos da selec-
ção de Portugal, pela qual se estreou
em 8 de Outubro de 1961.
No Mundial de 1966, em Inglater-
ra, em que Portugal foi o terceiro
classifi cado, venceu o troféu desti-
nado ao melhor marcador da prova,
com nove golos, e foi considerado o
melhor jogador da competição.
Ficou célebre a sua actuação no
jogo com a Coreia do Norte, dos
quartos-de-final desse mundial,
em que marcou quatro golos, con-
tribuindo decisivamente para a vitó-
ria de Portugal por 5-3, depois de ter
estado a perder por 0-3. “Foi o meu
dia”, recordou mais tarde, quando,
no Mundial de 2010, na África do
Sul, a equipa portuguesa voltou a
defrontar a asiática.
Embaixador do futebol nacional
e uma referência no Benfi ca e na
selecção nacional, Eusébio mere-
ceu diversas distinções durante a
sua vida, tendo sido agraciado com
a Grã-Cruz Infante D. Henrique e a
Ordem de Mérito. A maior distinção,
contudo, é a deferência que merece
de todo um povo.
Funeral no Lumiar
Três dias de luto e um minuto de silêncio
Odia de hoje será marcado pelas cerimónias fúnebres e de homenagem a
Eusébio. O corpo do antigo futebolista permanecerá em câmara ardente no Estádio da Luz até às 13h30. A seguir, a urna dará uma volta ao Estádio da Luz, cumprindo um desejo do próprio Eusébio. O cortejo fúnebre segue depois, em cortejo, até à Câmara Municipal de Lisboa, cumprindo um
trajecto que inclui a passagem
pela Segunda Circular-Campo
Grande-Avenida da República-
Saldanha-Av. Fontes Pereira
de Melo-Marquês de
Pombal-Av. da Liberdade-
Restauradores-Rossio-Rua do
Ouro-Rua do Arsenal-Praça
do Município. Segue-se uma
missa, na Igreja do Seminário,
no Largo da Luz, prevista para
as 16h. O funeral decorrerá no
Cemitério do Lumiar, às 17h.
O Governo decretou, ainda durante o dia de ontem, três dias de luto nacional e determinou que a bandeira nacional seja colocada a meia haste, enquanto a Federação Portuguesa de Futebol estipulou que em todos os jogos de futebol sob a sua égide se cumpra um minuto de silêncio em memória de Eusébio.
Paulo Curado, Marco Vaza e João Manuel Rocha
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | DESTAQUE | 3
No convívio connosco na selecção portuguesa ele tinha sempre uma palavra de incentivo e de ensinamentoLuiz Felipe Scolari, ex-seleccionador dePortugal, actual seleccionador do Brasil
É, de facto, um dia bastante triste para Portugal, a perda de um grande símbolo, não só do futebol português mas do futebol mundialPedro Pauleta, ex-futebolista, actual director da Federação Portuguesa de Futebol
Sempre eterno Eusébio, descansa em pazCristiano Ronaldo
A memória de Armando
Mendinhas, 53 anos,
recua facilmente à
infância. Tinha seis anos
naquele 23 de Julho de
1966 que haveria de
fi car para a história do futebol.
Estava no Clube Recreativo Brites
de Almeida, em Aljubarrota,
agarrado aos matraquilhos,
enquanto os adultos, de olhos
colados ao ecrã da televisão a
preto e branco, vibravam com
o jogo entre Portugal e a Coreia
do Norte. “De repente, ouvi um
tumulto e quando olhei para a
televisão estava o Eusébio na
baliza dos coreanos, a pegar na
bola e correr para o meio do
campo.”
A imagem nunca mais lhe saiu
da cabeça. Nem essa, nem as
outras que foi guardando dos
jogos que viu na televisão, com
Eusébio aos comandos do Benfi ca,
ou das vezes que o cumprimentou
“em momentos simples”. Porque
Eusébio era assim. “Simples,
quase parecia ausente. É difícil de
explicar”, diz Armando, de olhos
lacrimejantes. Recorda “aquela
auréola de génio que ele tinha e
só conseguia mostrar através dos
pés”, mas custa-lhe falar. “Tudo
o que se disser agora sobre ele é
pouco, muito pouco.”
Como Armando, milhares de
pessoas passaram neste domingo
pela estátua de Eusébio junto ao
Estádio da Luz, em Lisboa. Ao
fi nal da tarde, o monumento em
bronze que perpetua a pose do
antigo internacional português
a rematar, estava vestida de
várias cores. Homens e mulheres,
crianças e idosos foram deixando
cachecóis do Benfi ca, mas
também cachecóis do Sporting e
do FC Porto e de outros clubes,
arrancando palmas à multidão,
silenciosa.
Aos pés do Pantera Negra,
alguém deixou a bandeira de
Moçambique, país natal do antigo
jogador. E muitas camisolas,
pequenas estátuas da águia
benfi quista, ramos de fl ores...
Num deles, uma mensagem salta
“Tudo o que se disser agora sobre ele é pouco, muito pouco”
à vista: “O Eusébio é de todos.” E
na cabeça do King, como também
lhe chamavam, os fãs colocaram
uma coroa.
Passava pouco das 17h30
quando a urna com o corpo do ex-
jogador passou pela multidão que
o esperava, apesar do frio, ora a
gritar pelo seu nome, ora a cantar
os hinos nacional e do Benfi ca.
Coberto com a bandeira do clube,
o caixão entrou em braços no átrio
envidraçado da entrada principal
do estádio, para ser velado pela
família e amigos. Entre eles, o
presidente do Benfi ca, Luís Filipe
Vieira, o vice-presidente do clube,
José Eduardo Moniz, o antigo
treinador do Benfi ca e actual
seleccionador de futebol da Grécia,
Fernando Santos, Toni, ex-jogador
e treinador dos “encarnados”, e
outros colegas de relvado como
José Augusto e Veloso.
Não faltaram personalidades
do mundo da música, como
Rui Veloso ou Luís Represas. O
primeiro-ministro, Passos Coelho,
esteve acompanhado do ministro
da Presidência, Luís Marques
Guedes. O líder socialista,
António José Seguro, também
foi apresentar as condolências à
família.
Os anónimos que quiseram vê-
lo mais de perto esperaram numa
fi la dentro do estádio, outros
preferiram fi car cá fora, junto aos
postes com as bandeiras a meia
haste ou encostados às barras de
protecção. Muitos estarão nesta
segunda-feira nas bancadas da Luz
para o último adeus ao King, às
13h30.
Filipe Ribeiro, de 27 anos, foi
um dos que prometeram não
arredar pé. Vestiu-se de preto e
vermelho, cachecol do clube ao
pescoço, mal soube da morte do
ídolo. “É como se fi zesse parte da
família.” A notícia inesperada foi
“um choque muito grande”, que
lhe amargou o espírito ainda em
êxtase pela vitória do Benfi ca no
jogo de sábado à noite, frente ao
Gil Vicente. “Espero que ele tenha
visto o jogo.”
Em casa, Filipe tem os jogos
do Pantera Negra gravados em
cassetes de vídeo e DVD, aos
quais vai juntar a Enciclopédia
do Eusébio, acabada de comprar.
Emociona-se quando fala do
dia em que encontrou o antigo
ReportagemMarisa Soares
jogador num restaurante em
Benfi ca. “Pedi-lhe um autógrafo,
todo a tremer, e ele convidou-me
para beber um copo.”
Para este sócio do Benfi ca,
“todas as homenagens são
poucas” perante a grandeza do
antigo capitão do Benfi ca. Mas
é unânime a ideia de que o King
foi justamente consagrado em
vida. “É um homem a que todo o
Portugal soube dar valor”, afi rma
Isabel Tavares, 54 anos, cabo-
verdiana a residir em Lisboa há
mais de 30 anos.
“O Benfi ca nunca o abandonou,
nunca o deixou sair desta
casa”, diz Jorge Fava, 37 anos,
benfi quista que um dia teve a
oportunidade de se sentar à
mesa com o King. Também ele
quis despedir-se do homem
“muito bom e humilde” que o
fi lho Simão, de oito anos, nunca
há-de conhecer pessoalmente.
Para a geração de Simão, o ídolo
será outro: Cristiano Ronaldo,
que todos os fãs ouvidos pelo
PÚBLICO apontam como o
sucessor de Eusébio na missão de
espalhar o nome de Portugal pelo
mundo.
NUNO FERREIRA SANTOS
Milhares de pessoas passaram no domingo pela estátua de Eusébio junto ao Estádio da Luz
AFP
io,
4 | DESTAQUE | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
EUSÉBIO (1942-2014) É uma perda para o país e para o mundo, porque o Eusébio não era só nosso, era do mundo inteiroRosa Mota,campeã olímpica da maratona em 1988
AFP
Eusébio nunca será suplente na equipa dos melhores de sempre
A chegada a Portugal, a afi rmação no Benfi ca e no futebol mundial, as peripécias de uma carreira ímpar. Um dos melhores jogadores de futebol do planeta de todos os tempos tem uma vida repleta de episódios que merecem ser lembrados
Humilde, mas sem falsas
modéstias. Quando Eusébio
chegou à “metrópole” e ao
Benfi ca campeão europeu
em 1961, sabia o que valia.
“Não me interessa se eles
são campeões europeus, vou entrar
nesta equipa.” Ele era um jovem
moçambicano acabado de chegar de
Lourenço Marques e já metia medo
aos consagrados Águas, Augusto
e Coluna, os “senhores”, como os
novatos da equipa lhes chamavam.
“Comentávamos entre nós: quem é
que vai sair? Porque o Eusébio era
um jogador de excepção”, diz José
Augusto. Alguém saiu e ele, Eusébio
da Silva Ferreira, entrou na equipa do
Benfi ca para se tornar uma lenda do
futebol mundial. O melhor jogador
português de todos os tempos que
brilhou numa altura em que o futebol
era diferente. Como Amália, o seu
nome é sinónimo dele próprio. Não
existirá mais nenhum Eusébio.
Eusébio, o King, Eusébio, o Pan-
tera Negra, Eusébio, a Pérola Ne-
gra. Ele só não gostava muito que
lhe chamassem Pantera Negra por
causa dos Black Panthers, o partido
activista negro dos EUA. Preferia que
lhe chamassem King, o Rei. Foi em
Wembley, esse mítico estádio que
iria marcar sua carreira, que Eusé-
bio passou a ser pantera. Foi na sua
segunda internacionalização pela se-
lecção portuguesa. Dos onze, apenas
um jogador tinha nascido em Portu-
gal continental (Cavém, algarvio) e
um nos Açores (Mário Lino). Havia
um jogador brasileiro (Lúcio), todos
os outros, incluindo o seleccionador
(Fernando Peyroteo), eram africanos.
O jogo era de qualifi cação para o
Mundial e a Inglaterra acabaria por
ganhar (2-0). Portugal mandou qua-
tro bolas ao poste, duas delas foram
remates de Eusébio. Foi o selecciona-
dor inglês Walter Winterbottom que
avisou o jogador que estava encar-
regado de o marcar: “Tem cuidado
com o Pantera Negra.” Mais tarde,
seria um jornalista inglês, Desmond
Hackett, a cunhar esse nome no Daily
Express após a fi nal de Amesterdão,
com o Real Madrid.
O jogo de Wembley foi a 25 de
Outubro de 1961. Menos de um ano
antes, em Dezembro de 1960 (15 ou
17, consoante as versões), chegava à
metrópole proveniente de Louren-
ço Marques “o disputadíssimo Eusé-
bio”, como escrevia o jornal A Bola
de 17 de Dezembro. “Faço qualquer
um dos postos do ataque menos o de
Marco Vaza
Eusébio, em França, no ano de 1973, quando ainda estava a jogar no Benfica
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | DESTAQUE | 5
Foi um grande futebolista, uma pessoa bem formada e fiquei sempre com a ideia de que era um homem muito modesto Mário Soares, ex-Presidente da República
Um grande símbolo do futebol e do desporto português, mas também do futebol mundial Paulo Bento,ex-futebolista, actual seleccionador de Portugal
Lamento a morte do meu irmão Eusébio. Ficámos amigos na Copa de 66 na Inglaterra. Que Deus o receba de braços abertosPelé
avançado centro”, contou ao jorna-
lista de A Bola Cruz dos Santos, que
era o único jornalista à sua espera
no Aeroporto da Portela. “Chegou
com um ar muito tímido. Fui com
um sobretudo quentinho que tinha
comprado em Edimburgo uns me-
ses antes e o Eusébio apareceu-me
com uma roupinha muito de Verão,
uma gravatinha, com um ar muito
modesto”, recorda o jornalista. É a
sua primeira fotografi a na metrópo-
le: Eusébio de fato e gravata, com
Cruz dos Santos ao lado, a tirar no-
tas num bloco. Eusébio embarcara
em Lourenço Marques com nome de
mulher: Ruth Malosso.
Tinha 18 anos, fama de prodígio,
pronto para conquistar o mundo.
Um mundo que seria dele pouco de-
pois. Basta dizer um número: 671,
o número total de golos que mar-
cou pelas selecções e clubes que
representou em jogos ofi ciais. Pelo
Benfi ca, foram 473, em 440 jogos
ofi ciais. Mais números: sete vezes
o melhor marcador do campeona-
to português, três vezes o melhor
marcador da Taça dos Campeões.
Cometeu a proeza de marcar 32 go-
los em 17 jogos consecutivos, tendo
ainda conseguido marcar seis golos
no mesmo jogo em três ocasiões. O
guarda-redes que mais golos seus
sofreu foi Américo, do FC Porto (17).
Dos craques do passado, talvez seja
Eusébio aquele que melhor se adap-
taria ao futebol de qualquer época,
mesmo ao mais calculista e táctico do
nosso presente, menos atacante e in-
génuo do que no tempo de Eusébio.
O seu poder físico, potência de rema-
te, técnica e capacidade goleadora
fariam dele uma estrela em qualquer
equipa de qualquer era. Apenas no
fi nal de carreira, com os joelhos em
más condições (só no joelho esquer-
do sofreu seis operações) é que saiu
de Portugal, onde era património de
Estado. Eusébio seria um Cristiano
Ronaldo apresentado no Santiago
Bernabéu perante dezenas de mi-
lhares de adeptos. Eusébio esteve lá
em 2009 para apresentar Ronaldo
ao Real Madrid, ao lado de Alfredo di
Stéfano, que sempre foi o seu gran-
de ídolo. As palavras de Don Alfre-
do, o argentino feito espanhol, não
podiam ser mais verdadeiras. “Isto
serias tu.”
Os primeiros anosEusébio da Silva Ferreira nasceu a 25
de Janeiro de 1942, o quarto fi lho de
Laurindo António da Silva Ferreira,
um angolano branco que trabalhava
nos caminhos-de-ferro de Moçambi-
que, e Elisa Anissabeni, uma mulher
moçambicana. Foi na Mafalala, bairro
pobre na periferia de Lourenço Mar-
ques (actual Maputo), que Eusébio
começou a dar uns pontapés em bo-
las de trapos sem ligar muito à escola.
“A minha mãe não gostava nada que
eu andasse enfronhado no futebol,
apertava comigo, que me importasse
com a escola e me deixasse dos pon-
tapés na bola, mas eu não sei explicar,
havia qualquer coisa que me puxava,
sentia um frenesim no corpo que só
se satisfazia com bola e mais bola. O
resultado disto era uns puxões de
orelhas bem grandes e, uma vez por
outra, umas sovas que não eram brin-
cadeira nenhuma”, recordava Eusé-
bio numa entrevista ao jornal A Bola.
No bairro onde viveram o poeta
Craveirinha e os antigos presidentes
de Moçambique Joaquim Chissano e
Samora Machel, Eusébio ganhava os
berlindes aos amigos apostando que
conseguia dar x toques seguidos nu-
ma bola. Entre os jogos de futebol na
rua e a presença intermitente na sala
de aula, Eusébio sofreu uma tragédia
precoce. Aos oito anos, fi cava órfão
de pai, vítima de tétano. “Segundo
a minha mãe, o meu pai era muito
bom jogador de futebol”, disse numa
entrevista. Ficava Dona Elisa, os qua-
tro rapazes ( Jaime, Alberto, Adelino
e Eusébio) e uma rapariga (Lucília).
Num segundo casamento, Elisa teria
mais três fi lhos (Gilberto, Inocência
e Fernando).
Foi na Mafalala que conheceu a sua
primeira equipa, Os Brasileiros, “um
clube de pés-descalços” em que os
jogadores adoptavam nomes dos cra-
ques brasileiros. Eusébio era Nené,
um médio da Portuguesa dos Des-
portos, um primo seu é que era Pelé,
ano e meio mais velho do que o mo-
çambicano. Em 1958, Eusébio tinha
16 anos e Pelé 17 quando o Brasil foi
campeão mundial na Suécia, a equi-
pa que também tinha Didi, Zagallo
e Garrincha. Todos tinham as suas
contrapartes no FC Os Brasileiros.
Mas onde Eusébio queria jogar
era no Desportivo de Lourenço Mar-
ques, fi lial do Benfi ca, clube do qual
o pai era adepto. No Desportivo não
o aceitaram porque era “franzino,
pequenino” – Eusébio contou que
esse treinador foi, depois, despedi-
do. Também no Ferroviário o recu-
saram. O mesmo erro não cometeu o
Sporting de Lourenço Marques, fi lial
moçambicana do Sporting Clube de
Portugal, que fi cou com ele de ime-
diato, depois de ter ido fazer testes
com um grupo de rapazes do bairro.
Mas Eusébio impôs uma condição:
ou fi cam todos, ou não fi ca nenhum.
Ficaram todos.
O Sporting Laurentino insistia, mas
Eusébio resistia, porque aquele não
era o seu clube, nem o do seu pai,
apesar das insistências de Hilário da
Conceição, seu vizinho na Mafalala e
futuro defesa esquerdo do Sporting
e da selecção portuguesa – Hilário,
dois anos mais velho do que Eusébio,
foi o primeiro jogador negro a jogar
no Sporting de Lourenço Marques e
iria para Lisboa primeiro do que o
Pantera Negra. Eusébio acabou por ir
contrariado para os “leões” de Lou-
renço Marques. “Ninguém do meu
bairro gostava do Sporting. Porque
era um clube da elite, um clube da
polícia, que não gostava de pessoas
de cor”, contou mais tarde. Começou
nos juniores, passou rapidamente
para os seniores e estreou-se contra
o “seu” Desportivo. Não queria jo-
gar, mas jogou. Marcou três golos e
chorou. Tinha 17 anos. O Sporting foi
campeão regional com 30 remates
certeiros de Eusébio, a quem o clube
tinha arranjado um emprego como
arquivador numa empresa que fabri-
cava peças para automóveis.
Eusébio era um fenómeno na coló-
nia e, na metrópole, já se ouvia falar
dele. Portugal era o sonho dos joga-
dores nas colónias portuguesas em
África e Eusébio não era excepção. E
era um sonho muito possível. África
era um grande fornecedor de jogado-
res para os clubes e selecção portu-
guesa. Os pretendentes eram muitos.
Sporting, Benfi ca, Belenenses e FC
Porto queriam Eusébio. Guttman já
tinha ouvido falar dele, através de
um brasileiro que o tinha visto jogar
em Lourenço Marques. Os clubes co-
meçaram a movimentar-se, mas foi
o Benfi ca quem chegou lá primeiro.
Ofereceu 110 contos a D. Elisa, que
deu a sua palavra de que o fi lho iria
jogar no Benfi ca de Lisboa.
O Sporting terá oferecido mais de-
pois, mas palavra dada era sagrada e
a mãe de Eusébio não voltou atrás.
Para além do mais, o Sporting queria
Eusébio à experiência. “Eu já estava
no Sporting e o presidente, sabendo
que eu era muito amigo do Eusébio,
chamou-me para lhe pedir para vir
fazer testes. Ele respondeu: ‘Estás a
ver o Seminário [peruano que jogou
no Sporting entre 1959 e 1961, conhe-
cido como “o expresso de Lima”]?
Eu dou-lhe avanço a marcar golos.
Querem experimentar o quê?”, re-
corda Hilário.
Tavares de Melo, talhante e repre-
sentante do Benfi ca em Lourenço
Marques, coordenou toda a opera-
ção. Depois de garantido o acordo
de Eusébio e de D. Elisa, o objecti-
vo era colocar o jogador na capital
NUNO FERRARI/A BOLA
DR
Coluna, Costa Pereira e Eusébio com a Taça dos Campeões em 1962
Eusébio após marcar o seu primeiro golo contra a Coreia do Norte
a CCopaus o
6 | DESTAQUE | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
EUSÉBIO (1942-2014) Foi um pedaço de um Portugal diferente, maior, sem fronteiras, multicultural. O seu trono não pode ser ocupado, porque o seu reinado não existe maisCarlos Queiroz, ex-seleccionador de Portugal
o mais depressa possível e sem que
os adversários soubessem. Fez Eusé-
bio embarcar com nome de mulher
e terá feito chegar um telegrama ao
Sporting lisboeta comunicando que
o jovem jogador iria de barco para a
capital. Por isso é que, quando Eu-
sébio aterrou às 23h30 no aeroporto
de Lisboa, apenas estavam lá repre-
sentantes do Benfi ca (e o jornalista
de A Bola) à espera dele. Do lado
“leonino” falou-se de rapto, Eusé-
bio sempre negou esta tese: “Eu só
assinei contrato com o Benfi ca. Só
quando aterrei aqui é que se come-
çaram a inventar raptos. O contrato
com o Benfi ca até dizia que, se não
me adaptasse em Lisboa, o clube po-
dia recuperar o dinheiro.”
A chegada ao Benfi caQuando Eusébio, menor de idade,
chegou a Lisboa, o Benfi ca já esta-
va nos quartos-de-fi nal da Taça dos
Campeões Europeus. “Não gosto de
jogar a avançado centro”, foram as
suas primeiras palavras, depois de
uma viagem de “Portugal para Portu-
gal”, como escrevia o jornal A Bola de
17 de Dezembro de 1960. Foi directo
para a Calçada do Tojal, em Benfi ca,
para viver no Lar do Jogador, onde
estavam alojados os futebolistas “en-
carnados” que eram solteiros e que
tinha hora de recolher obrigatório
para os seus hóspedes. José Torres,
dois anos mais velho, foi o seu anfi -
trião, eles que, pouco depois, fariam
uma dupla temível no ataque do Ben-
fi ca e da selecção nacional.
Mas Eusébio ainda não podia jogar,
apesar de impressionar nos treinos.
Bela Guttman, o treinador, chamou-
lhe o “menino de oiro” da primeira
vez que o viu. O processo de trans-
ferência de “Ruth” ainda não tinha
acabado. Eusébio tinha contrato as-
sinado com o Benfi ca, mas ainda não
tinha a carta de desobrigação que te-
ria de ser passada pelo Sporting de
Lourenço Marques, ainda empenha-
do na ida do jogador para os “leões”
de Lisboa. A batalha jurídica é longa.
Os dois lados esgrimem argumentos
e o tempo vai passando, sem que ha-
ja uma decisão defi nitiva. Na Taça
dos Campeões, o Benfi ca ultrapassa
o Aarhus, da Dinamarca, e o Rapid
de Viena, da Áustria, e com Eusébio
sempre integrado na comitiva.
A fi nal será contra o Barcelona,
em Berna, a 31 de Maio. O Benfi ca
manda Eusébio para um hotel em
Lagos, para o esconder dos jornalis-
tas e de outros pretendentes. A 12 de
Maio, cinco meses depois de sair de
Moçambique, o desfecho: Eusébio já
é jogador do Benfi ca, que paga por
ele 400 contos, mas não poderá de-
frontar a formação catalã devido aos
regulamentos da União Europeia de
Futebol (UEFA).
Ele não irá à Suíça, mas vai estar
no jogo de despedida do Benfi ca an-
tes da fi nal, na Luz, frente ao Atléti-
co, um futuro titular numa equipa
quase só de reservas. A 23 de Maio,
primeiro jogo pelo Benfi ca, primei-
ros golos, três, tal como a sua estreia
pelo Sporting de Lourenço Marques.
Minutos 11, 76 e 80, o do meio o pri-
meiro penálti que marcou. Os benfi -
quistas estavam lá para ver o “dispu-
tadíssimo”. “Quando entrei e se me
deparou uma multidão que gritava
o meu nome, num testemunho de
confi ança que nunca esqueci, fi quei
tonto. Ninguém imagina como esta-
va nervoso”, contou Eusébio na sua
biografi a.
A equipa seguiu para Berna e con-
quistou o primeiro dos seus dois tí-
tulos europeus, com uma vitória por
3-2 sobre o Barcelona. Eusébio fi cou
em Lisboa e, no dia seguinte à fi nal
europeia, fazia a sua estreia ofi cial
pelo Benfi ca, na segunda mão dos
oitavos-de-fi nal da Taça de Portugal
no Campo dos Arcos, frente ao Vitó-
ria de Setúbal. Eusébio seria titular e
marcaria o único golo “encarnado”
nesse jogo que os sadinos venceriam
por 4-1, anulando a desvantagem de
3-1. Nessa época, ainda houve tem-
po para se estrear no campeonato,
na Luz frente ao Belenenses, ao lado
dos senhores José Augusto e Coluna.
Eusébio marca o segundo de uma go-
leada por 4-0 e ganha o direito a ser
campeão.
O que Eusébio perdeu nesses pri-
meiros meses foi largamente com-
pensado na década e meia seguintes.
Com Eusébio na equipa, o Benfi ca foi
11 vezes campeão em 15 anos. O mo-
çambicano foi sete vezes o melhor
marcador do campeonato português,
duas vezes o melhor goleador da Eu-
ropa. Conquistou mais cinco taças
de Portugal e um título de campeão
europeu de clubes. Ao todo, foram 17
títulos pelo Benfi ca: 11 campeonatos,
cinco taças de Portugal e a Taça dos
Campeões. Foi ainda o primeiro por-
tuguês a ser considerado o melhor
jogador da Europa, em 1965. Depois
dele, só Figo, em 2000, e Cristiano
Ronaldo, em 2008.
Em 1961-62, a sua primeira época
“a sério”, Eusébio ainda não está en-
tre os cinco mais utilizados por Bela
Guttman, mas já é o melhor marca-
dor, com 29 golos em 31 jogos, mais
do que o consagrado José Águas
(26). O Benfi ca não seria campeão
(terceiro lugar, atrás de Sporting e
FC Porto), mas esta seria uma época
histórica, a do Benfi ca bicampeão eu-
ropeu, na fi nal de Amesterdão, frente
ao Real Madrid. Eusébio enfrentava o
seu ídolo de infância, Alfredo di Sté-
fano. Na primeira das quatro fi nais
que haveria de jogar na sua carreira,
Eusébio marcou dois golos (os dois
últimos e decisivos) naquele triun-
fo emocionante por 5-3, em que o
Benfi ca chegou a estar a perder por
2-0 e 3-2.
O jovem moçambicano de 20 anos
“destruía” a lenda hispano-argentina
merengue, 16 anos mais velha, mas
manteve a deferência para com
“don” Alfredo, como mantinha para
com os seus companheiros de equipa
mais velhos. “Tinha dito ao senhor
DR
Eusébio, em 1965, quando recebe a Bola de Ouro, troféu que distingue o melhor jogador da Europa. O internacional português recebeu ainda duas vezes a Bota de Ouro, atribuída ao melhor marcador europeu.
Eusébio e a sua mulher, Flora, à chegada ao aeroporto londrino de Heathrow, em 1971. Eusébio e Flora foram casados durante 49 anos e tiveram duas filhas.
DR
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | DESTAQUE | 7
Perdeu-se o melhor jogador que vi, de todos os tempos (...) Foi o melhor do mundo”Fernando Chalana,antigo jogador do Benfica e da selecção
Tristeza, mundo do futebol perde um astro e uma pessoa excepcional! Descanse em pazLuisão,capitão do Benfica
Eusébio é Portugal. Aquilo que Eusébio deixa torna-o imortalJosé Mourinho,Treinador de futebol
Coluna para pedir ao senhor Alfredo
di Stéfano para me dar a camisola. E
consegui. Ele sabia lá quem era o Eu-
sébio! Quando ganhámos, fui a correr
para junto dele. Ele deu-me a camiso-
la e fi cou com a minha. Nessa altura
roubaram-me o fi o da minha mãe,
os calções, mas consegui guardar a
camisola nas cuecas. Apareço numa
fotografi a com uma mão à frente: es-
tou a defender a camisola.”
O Mundial de InglaterraEusébio precisou apenas de nove
golos em cinco jogos pelo Benfi ca
para se estrear na selecção portu-
guesa, por quem haveria de dispu-
tar 64 jogos (41 golos). O adversário
era o fraco Luxembrugo e estava em
causa a qualifi cação para o Mundial
de 1962, no Chile. Peyroteo, antigo
avançado do Sporting e membro dos
famosos “cinco violinos”, estreava-
se como seleccionador. A equipa era
totalmente de Lisboa, um jogador do
Belenenses, cinco do Sporting e cin-
co do Benfi ca, Eusébio era um deles.
A 8 de Outubro de 1961, um do-
mingo, no Estádio Municipal do Lu-
xemburgo, o herói foi outro. Adol-
phe Schmit, médio que nunca foi
mais alto na sua carreira do que a
segunda divisão francesa, marcou
os três primeiros golos do jogo em 57
minutos. Portugal só reage aos 83’,
com o primeiro golo de Eusébio ao
serviço da selecção nacional, mas a
selecção do grão-ducado repõe as di-
ferenças no minuto seguinte. Yaúca,
o único do Belenenses, fi xou o resul-
tado em 4-2. A derrota humilhante e
inesperada afastou a selecção portu-
guesa do Mundial e o jogo seguinte,
em Wembley, frente à Inglaterra (o
tal em que Eusébio passou a ser o
Pantera Negra), seria para cumprir
calendário.
Três anos e meio depois, Portugal
iniciava nova campanha para o Mun-
dial de futebol, que seria em Ingla-
terra. Eusébio marcou sete golos na
qualifi cação, um deles deu uma vi-
tória surpreendente e dramática em
Bratislava frente à poderosa Checos-
lováquia, vice-campeã mundial. Pela
primeira vez a selecção portuguesa
chegava à fase fi nal de uma grande
competição internacional. Comanda-
dos por Manuel da Luz Afonso e Otto
Glória, os portugueses iam a Ingla-
terra com algum crédito. E com Eu-
sébio, considerado no ano anterior
como o melhor jogador europeu.
Eusébio fi cou com o número 13 e
a campanha com um triunfo em Old
Traff ord, o estádio do Manchester
United, sobre a Hungria por 3-1, o
único jogo do Mundial em que Eu-
sébio não marcou qualquer golo.
Depois, foi a história que bem se
conhece. De novo em Old Traff ord,
Eusébio marcou o golo do meio no
triunfo sobre a Bulgária. Seguia-se o
Brasil de Pelé, no Goodison Park em
Liverpool. Pelé fi cou a zeros, Eusé-
bio marcou dois e subiu ao trono de
rei do Mundial. Portugal derrotava o
campeão vigente e avançava para os
quartos-de-fi nal.
O jogo seria em Liverpool, o adver-
sário seria a Coreia do Norte, uma
equipa que também estava a ser uma
sensação, depois de ter deixado a Itá-
lia de fora. Os “baixinhos com as ca-
ras iguais” (o mais alto tinha 1,75m),
como disse um dia José Augusto, um
dos membros da equipa portuguesa,
começaram por surpreender os “ma-
griços” de forma bastante afi rmativa,
colocando-se a vencer por 3-0. Mas
Portugal tinha Eusébio, que, quase
sozinho, destruiu os asiáticos, mar-
cando quatro golos na partida dos
quartos-de-fi nal que terminaria em
5-3 para Portugal.
O golo que concretizou a reviravol-
ta, o do 4-3, ainda hoje é mostrado
nas escolas do Ajax de Amesterdão,
aquela cavalgada de Eusébio desde
o meio-campo até à área norte-core-
ana, onde só foi parado em penálti.
“A bola está meio metro à frente dos
meus pés. Parece que tenho cola. Eu
aumento a velocidade, meto as mu-
danças. Dei 17, 18 toques desde que
o Coluna me entrega a bola. Sofro
uma pancada à entrada da área, mas
continuo, porque nunca fui de me
atirar para o chão. Só que, depois,
chega outro que me dá uma sarra-
fada... Penálti!”, foi como Eusébio
descreveu o lance em entrevista ao
Expresso.
Na sua primeira presença em Mun-
diais (seria a única até ao México 86),
Portugal já estava entre as quatro me-
lhores. Seguia-se a anfi triã Inglater-
ra. O jogo era para ser em Liverpool,
de novo no estádio do Everton, mas,
com o acordo da Federação Portu-
guesa de Futebol, mudou-se para
Wembley e foi a selecção portuguesa
que teve de mudar de base. Segun-
do contou Eusébio, a federação não
era obrigada a aceitar a mudança,
mas deu o consentimento a troco de
compensação monetária. Mais uma
viagem depois do duro jogo com a
Coreia e as pernas dos portugueses
já não estavam tão frescas para evitar
o desaire por 2-1.
“A nossa federação vendeu-se e
pronto”, acusou Eusébio, que mar-
cou, de penálti, o golo português.
Sem poder discutir o título, os “ma-
griços” ganharam o jogo de conso-
moçávamos frango assado no Bon-
jardim e depois íamos ao cinema. E
andávamos sempre de metro ou de
eléctrico, porque era mais barato. As
pessoas paravam na rua só para nos
verem juntos. Para tirar a carta tive de
pedir autorização à minha mãe: ‘Mas
você vai tirar a carta porquê? Não há
aí machimbombo [autocarro]?’”
Cinco anos depois de chegar a Por-
tugal, Eusébio casou-se com a sua na-
morada, Flora (conheceram-se dois
anos antes), em 1965, no evento que
a revista Flama (que fez capa com
Flora vestida de noiva) descreveu
como “O remate fi nal é o amor”. Ti-
veram duas fi lhas, por esta ordem,
Sandra e Carla, respectivamente em
1966 e 1968. Foram fazendo vida em
Lisboa, apesar das muitas propostas
que Eusébio ia recebendo de grandes
clubes. Mas o regime não o deixava
sair. Salazar considerava-o patrimó-
nio de Estado e isso, como o próprio
admitiu várias vezes mais tarde, im-
pediu-o de ganhar muito dinheiro.
Eusébio fez o seu último jogo pelo
Benfi ca a 29 de Março de 1975. Foi no
Estádio da Luz, frente ao Oriental,
vitória por 4-0, nenhum dos golos
marcados por Eusébio. O último de
“encarnado” marcara-o uma semana
antes, no Bonfi m, ao Vitória de Setú-
bal. Nessa época, Eusébio fez apenas
13 jogos (dois golos), entre o campe-
onato e a Taça das Taças, a sua pior
época desde a primeira, a de 1960-61
(dois jogos), menos de um terço dos
jogos ofi ciais do Benfi ca.
Já depois da revolução de 25 de
Abril de 1974, o clube “encarnado”
deixou-o sair e Eusébio juntou-se a
uma das maiores colecções de cra-
ques da história do futebol, a North-
American Soccer League (NASL),
todos eles seduzidos pelos dólares
norte-americanos. Pelé, Franz Be-
ckenbauer, George Best, Johan Crui-
jff , Carlos Alberto, Teófi llo Cubillas,
Gordon Banks, Gerd Muller, Carlos
Alberto, Graeme Souness. Eusébio
não foi o único português nos EUA.
Acompanhou-o Simões, a quem sem-
pre chamou o seu “irmão branco”.
No país onde o futebol não é “foo-
tball”, mas sim “soccer”, a NASL
conseguiu impor, por alguns anos,
o futebol como desporto de massas,
assente no princípio de que grandes
estrelas dão grandes espectáculos e
que grandes espectáculos (isto é es-
pecialmente verdade na América)
atraem sempre muito público.
Eusébio era, de facto, uma estrela
global, mas não foi desta que conse-
guiu jogar na mesma equipa de Pe-
lé. Foram, novamente, adversários,
como tinha acontecido em outras
ocasiões. Pelé fi cou no Cosmos de
Nova Iorque, Eusébio foi para Bos-
ton, onde havia (e há) uma grande
comunidade portuguesa. “Os gran-
des jogadores não podiam jogar na
mesma equipa, era para ter ido para
o Cosmos, mas fui para Boston. Com
o mesmo contrato e a ganhar muito
bem. Tinha casa, motorista. Até nos
davam guarda-costas”, contou.
lação para o terceiro lugar, contra a
URSS, por 2-1. Um golo de Eusébio,
que foi o melhor marcador do tor-
neio, com nove golos. Duas imagens
fi caram deste Mundial de 66: Eusébio
a ir buscar a bola à baliza coreana,
um gesto simbólico para a reviravolta
que acabaria por acontecer; Eusébio
a chorar após a derrota com a Ingla-
terra, quando já nada havia a fazer.
Património de EstadoEusébio foi grande num tempo em
que o futebol era diferente. Em que o
futebol português era diferente. Em
tudo. Nas rivalidades, nos hábitos,
nos comportamentos. “Às segundas-
feiras juntávamo-nos todos – do Spor-
ting, do Benfi ca, do Belenenses –, al-
PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP
“Quando entrei e se me deparou uma multidão que gritava o meu nome, num testemunho de confiança que nunca esqueci, fiquei tonto. Ninguém imagina como estava nervoso”
c
al.io
ortal
8 | DESTAQUE | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
EUSÉBIO (1942-2014)
CRONOLOGIA DE UMA VIDA
25 de Janeiro de 1942
Nasce, no bairro da Mafalala, em Lourenço Marques (actual Maputo), Eusébio da Silva Ferreira, filho de Laurindo António da Silva Ferreira e Elisa Anissabeni.
1958Eusébio chega ao Sporting de Lourenço Marques. Estreou-se contra o Desportivo marcando três golos.
15 de Dez. de 1960As versões divergem (há quem diga que foi a 17 de Dezembro), mas foi a meio de Dezembro que Eusébio aterrou em Lisboa, com destino ao Benfica.
23 de Maio de 1961Estreia oficial de Eusébio pelo Benfica num jogo da Taça de Portugal frente ao V. Setúbal. Eusébio marca o único golo dos “encarnados”.
8 de Junho de 1961Primeiro jogo de Eusébio pelo Benfica no campeonato nacional. Frente ao Belenenses, Eusébio marcou um dos golos no triunfo “encarnado” por 4-0, sagrando-se campeão pela primeira vez pelo Benfica. Será o primeiro de 11 títulos conquistados na Luz.
8 de Outubro de 1961Eusébio estreia-se pela selecção portuguesa num jogo contra o Luxemburgo marcando um golo, mas Portugal perdeu por 4-2.
2 de Maio de 1962O Benfica conquista a sua segunda Taça dos Campeões Europeus, derrotando em Amesterdão o Real Madrid por 5-3. Eusébio marcou dois golos.
25 de Maio de 1963O Benfica é derrotado pelo AC Milan por 2-1 na final da Taça
dos Campeões Europeus em Wembley. Eusébio ainda marca o primeiro golo, mas um bis de Altafini dá o título aos italianos. Eusébio jogaria ainda em mais duas finais pelo Benfica, perdendo com o Inter de Milão em 1965 e com o Manchester United em 1968.
28 de Dez. de 1965Eusébio recebe a Bola de Ouro, prémio atribuído ao melhor futebolista europeu do ano pela revista France Football.
23 de Julho de 1966Eusébio marca quatro golos no triunfo da selecção portuguesa sobre a Coreia do Norte nos quartos-de-final do Mundial de 1966. Portugal acabaria por ficar em terceiro lugar e Eusébio foi o melhor marcador do torneio, com nove golos.
1968Eusébio termina a época com 43 golos, sendo o melhor marcador da Europa, e torna-se no primeiro jogador a conquistar a Bota de Ouro. Repetiu o feio em 1973, com 40 golos.
13 de Outubro de 1973Último jogo pela selecção portuguesa, frente à Bulgária, no Estádio da Luz, a contar para a fase de apuramento do Mundial de 1974. Não marcou qualquer golo e foi substituído por Jordão aos 28 minutos. Foram 64 jogos pela selecção portuguesa, com 41 golos marcados.
29 de Março de 1975Último jogo de Eusébio com a camisola do Benfica. Foi na Luz, frente ao Oriental e ficou em branco. Seis dias antes, no Bonfim, frente ao Vitória de Setúbal, havia marcado aquele que seria o seu último golo pelos “encarnados”.
5 de Janeiro de 2014 Eusébio morre na sua casa, em Lisboa. Tinha 71 anos. M.V.
Em 1975, nos Minutemen, onde es-
tavam muitos portugueses para além
dele (Simões, Jorge Calado, Fernando
Nélson e Manaca), Eusébio fez sete
jogos e marcou dois golos – o jogo de
estreia foi contra o Cosmos de Pelé.
Bem melhor foi o ano de 1976, ao
serviço dos Toronto Metro-Croatia,
em que Eusébio marcou 13 golos e
conduziu a formação canadiana ao
título da NASL. Na passagem pelo
continente americano, Eusébio es-
teve ainda no Monterrey, do México,
nos Las Vegas Quicksilvers e nos New
Jersey Americans.
Nos intervalos da aventura ameri-
cana, Eusébio regressava a Portugal,
não para descansar, mas para manter
a forma e ganhar mais alguns escu-
dos. Foi assim que jogou no Beira-
Mar os seus últimos minutos e mar-
cou os seus últimos golos na primeira
divisão portuguesa e foi assim que
andou pela segunda divisão a fazer
carrinhos pelo União de Tomar, o seu
último clube em Portugal. Eram con-
tratos de curta duração. Eusébio e Si-
mões, os irmãos, jogaram juntos até
ao fi m. Eusébio ainda teve a hipótese
de jogar no Sporting, por convite de
João Rocha, antes de ir para Aveiro.
No Beira-Mar, Eusébio teve o seu
último contacto com o principal esca-
lão do futebol português. Não com a
camisola encarnada do Benfi ca, mas
com o equipamento amarelo e negro
da equipa aveirense. Pagavam-lhe 50
contos por mês. Dois momentos são
importantes nesta breve passagem
por Aveiro. Quando defrontou o rival
Sporting e o seu clube do coração,
o Benfi ca. Foi contra os “leões” que
marcou, a 6 de Março de 1977, o seu
último golo na primeira divisão, con-
fi rmando o Sporting (a par do Bele-
nenses) como a maior “vítima” dos
seus remates certeiros, 24.
Dois meses antes, tinha defrontado
as “camisolas berrantes”, como lhes
chamava Luís Piçarra na canção que
serve como hino das “águias”. Tal
como acontecera 20 anos antes em
Lourenço Marques, Eusébio tinha de
jogar contra si próprio. A 5 de Janeiro
de 1977, Eusébio-Benfi ca, no Estádio
Mário Duarte, em Aveiro, a contar
para a 12.ª jornada do campeonato.
Eusébio não iria ser profi ssional. “Já
tinha avisado o treinador do Beira-
Mar, o Manuel de Oliveira, que não
ia rematar à baliza. Quinze minutos
antes do jogo, fui ao balneário do
Benfi ca e avisei para que não se pre-
ocupassem, pois não ia marcar golos.
[No jogo] não rematei, não marquei
faltas, nem grandes penalidades. An-
dava lá no campo só a passar a bola
aos outros.”
Com o jogo empatado 2-2, o Beira-
Mar benefi cia de um livre à entrada
da área que seria mesmo ao jeito
de Eusébio. Mas o Pantera Negra
recusou-se a marcar. Palavra a An-
tónio Sousa, futuro jogador do FC
Porto e do Sporting e internacional
português, então um jovem a dar os
primeiros passos no Beira-Mar: “O
sentimento dele era enorme e jogar
contra a equipa do coração e da vida
foi marcante para ele. Porventura o
mal-estar dele em relação ao próprio
jogo era porque ele gostava de ga-
nhar. O facto de o Eusébio não mar-
car um livre e dizer para eu marcar
é sinónimo disso.” Sousa atirou por
cima e o jogo acabou empatado.
Depois do Beira-Mar e de mais
uma temporada nos EUA, Eusébio
foi para o União de Tomar, da segun-
da divisão. Estreou-se com a camiso-
la vermelha e negra do União a 1 de
Dezembro de 1977, frente ao Estoril.
Em 12 jogos disputados pelo clube
ribatejano, marcou três golos, mas,
nesta fase, ele já não era um avança-
do. Andava mais pelo meio-campo,
tal como António Simões. “O nosso
estilo era diferente. Já não tínhamos
pernas para lá ir, fi cávamos mais no
meio-campo. Mas o Eusébio, nos li-
vres, era igual”, recorda Simões. Em
Tomar, até carrinhos fazia.
De Tomar para Buff alo. Buff alo é
relevante na vida de Eusébio? É e não
é. Em toda a sua carreira é apenas
uma nota de rodapé, mas é nesta ci-
dade do estado de Nova Iorque que
irá cumprir os seus últimos jogos. A
camisola dos Buff alo Stallions, equi-
pa da Liga indoor norte-americana,
será a sua última. Fica o registo do
rendimento de Eusébio, veterano
avançado de 38 anos e com os joelhos
em mau estado, em 1979-80, a sua úl-
tima época: cinco jogos e um golo.
Quando deixou de ser jogador, Eu-
sébio nunca quis ser treinador prin-
cipal. Foi fi cando pelo Benfi ca, como
adjunto, para ensinar uns truques a
diferentes gerações de futebolistas.
Por exemplo, como marcar golos es-
tando atrás da baliza, um truque que
tinha começado numa aposta com
Fernando Riera. Eusébio apostou
um fato com o treinador chileno em
como conseguia marcar três golos
em dez tentativas. O desfecho foi o
mesmo das vezes em que apostava
berlindes com os outros miúdos da
Mafalala. Ganhou.
A lenda foi-se mantendo intacta.
King em todo o mundo. Ninguém
melhor para servir de embaixador
do Benfi ca e de Portugal. Mas o ho-
mem passou um mau bocado nos úl-
timos anos de vida, uma decadência
natural da idade, mas acelerada por
alguns excessos. Os seus últimos tem-
pos foram uma constante de alertas
médicos e idas para o hospital, que
terminavam sempre com um sorri-
so e a garantia de que tudo estava
bem.
Quando fez 70 anos, numa festa
com centenas de convidados, Eusé-
bio já era um homem debilitado, de
poucas palavras. Mas fazia questão
de acompanhar a selecção para todo
o lado e estava lá, no Euro 2012, para
ver a sua contraparte do século XXI,
Cristiano Ronaldo, conduzir a equipa
portuguesa até às meias-fi nais — ao
contrário de Ronaldo, Eusébio nun-
ca foi capitão, apenas desempenhou
essa função episodicamente. Eusé-
bio sentiu-se mal após o jogo com
os checos e já não estava na Ucrânia
quando a selecção portuguesa foi
eliminada pela Espanha nas meias-
fi nais.
Ele era o homem que todos os
guarda-redes temiam, mas também
era aquele que cumprimentava os
guarda-redes que defendiam os seus
remates. Ele era o homem que gos-
tava de jazz e de caril de marisco,
que almoçava quase diariamente no
seu restaurante preferido desde que
chegou a Lisboa em 1960, a Adega
da Tia Matilde. Foi objecto de uma
banda desenhada, de músicas com
o seu nome no título e no refrão, de
uma longa-metragem, de inúmeras
homenagens e distinções, sempre
nas listas dos melhores de sempre.
Essa é uma equipa onde nunca será
suplente.
“Às segundas-feiras juntávamo-nos todos — do Sporting, do Benfica, do Belenenses —, almoçávamos frango assado no Bonjardim e depois íamos ao cinema. E andávamos sempre de metro ou de eléctrico, porque era mais barato”
A cobertura ao minuto das homenagens a Eusébio, fotogalerias e vídeos em www.publico.pt
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | DESTAQUE | 9
Os últimos anos de vida do
ex-internacional portu-
guês foram marcados por
vários problemas de saúde.
Eusébio sofria de ateroscle-
rose — espessamento e per-
da de elasticidade da parede arterial
— e tinha tendência para níveis eleva-
dos de colesterol. Apresentava ainda
sintomas de hipertensão. Maleitas
que obrigaram à sua hospitalização
em 2007, 2011 e 2012.
Em Abril de 2007, Eusébio este-
ve pela primeira vez internado no
Hospital da Luz, em Lisboa, onde
lhe foram diagnosticadas “lesões
A saúde que foi faltando a Eusébio nos seus últimos anos
Miguel Andradesignifi cativas nas artérias carótidas
internas”. Por outras palavras, “le-
sões obstrutivas das artérias que ir-
rigam o cérebro”, segundo explicou,
na altura, o cirurgião vascular que o
observou, Germano do Carmo.
Depois de alguns dias internado,
o Pantera Negra foi sujeito a uma
operação à artéria carótida esquer-
da, como prevenção de um eventual
acidente vascular cerebral (AVC). Os
médicos aconselharam Eusébio a al-
terar os hábitos de vida e Eusébio foi
claro quanto às mudanças. “Quem
é que não gosta de viver?”, questio-
nou, deixando a garantia de que iria
seguir as novas regras. “Vou ter de
cumprir as recomendações dos mé-
dicos”, disse na altura Eusébio.
No fi nal de Dezembro de 2011,
voltaram os problemas de saúde. O
ex-internacional português deu en-
trada nos cuidados intensivos com
uma pneumonia bilateral e perma-
neceu no Hospital da Luz, em Lisboa,
durante 13 dias, incluindo o Natal.
Saiu a 31 de Dezembro, mas, a 4 de
Janeiro de 2012, voltou a ser inter-
nado devido ao agravamento do seu
quadro clínico. O ex-futebolista sen-
tiu dores e problemas respiratórios.
O diagnóstico apontou para um caso
de cervicalgia aguda, isto é, uma le-
são muscular no pescoço. O caso
chegou a assustar o Pantera Negra,
mas as palavras tranquilizadoras do
médico acalmaram-no: “Perguntei
se era grave e o médico disse-me que
não, que tinha tratamento e que ia
sair do hospital como novo.”
Contudo, as complicações de saú-
de de Eusébio continuaram. Pela ter-
ceira vez em dois meses e meio, o
ex-jogador do Benfi ca era obrigado a
voltar ao mesmo hospital, agora por
causa de uma crise hipertensiva (ten-
são arterial elevada). Passados dois
dias, Eusébio voltava a sair da unida-
de hospitalar. A sua pressão arterial
regressara ao normal.
A 23 de Junho de 2012, o também
embaixador da selecção nacional,
que se encontrava com a equipa
no Europeu de Futebol, na Polónia
e Ucrânia, teve uma indisposição
quando estava no hotel, onde a co-
mitiva nacional estagiava, em Opale-
nica. Eusébio foi levado de urgência
para o hospital de Poznan, na Poló-
nia, mas teve de ser transportado de
avião para Lisboa, regressando ao
Hospital da Luz.
A indisposição sentida pelo Pante-
ra Negra na Polónia fi cou a dever-se
a um AVC. Só passados 14 dias teve
alta hospitalar, mas continuou a ter
assistência médica no domicílio por
vários dias.
Neste domingo, porém, aos 71
anos, Eusébio não resistiu a mais
uma traição do seu corpo e morreu
vítima de paragem cardiorrespirató-
ria. Eusébio estava em casa, sentiu-se
mal por volta das 3h30 da manhã e
foi chamado o INEM, mas foi impos-
sível mantê-lo vivo.
Foi uma figura que teve um prestígio internacional, quando ainda havia poucas que o tivessemJorge Sampaio,ex-Presidente da República
O futebol perdeu uma lenda. Mas o lugar de Eusébio entre os grandes nunca lhe será tiradoJoseph Blatter, presidente da FIFA
No campo, Eusébio era uma verdadeira lenda. Mas também fora dele, ele era um verdadeiro embaixador do futebol português a nível internacionalMichel Platini,presidente da UEFA
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EUSÉBIO (1942-2014) O futebol português está de luto, morreu um dos maiores símbolos da modalidadePinto da CostaPresidente do FC Porto
A imprensa desportiva
espanhola foi a que mais
relevo deu à notícia da
morte de Eusébio, nas
primeiras horas após a
notícia da sua morte.
Mas o desaparecimento do antigo
futebolista português é notícia um
pouco por toda a parte, sempre com
adjectivos elogiosos.
O diário desportivo espanhol Mar-
ca publicou com grande destaque no
seu site um conjunto de trabalhos
sobre Eusébio, que qualifi ca como
“mítico” e considera “um dos melho-
res jogadores de todos os tempos”,
conhecido “pela sua velocidade, a
sua técnica e o seu potente remate
com o pé direito”. Recorda o trajec-
to do atleta desde Moçambique e as
peripécias desde a sua ida para o
Benfi ca até à retirada dos relvados,
aos 36 anos.
A Marca republica a última entre-
vista que fez ao jogador, na qual se
declarava “madridista” e também
editou uma galeria de fotos de “Eu-
sébio, o orgulho de Portugal”. Deu
ainda voz a Di Stéfano, antiga glória
do Real Madrid, que se referiu ao
português como “o melhor jogador
de todos os tempos”. Noutro texto
recordou a forma como jogava: “O
Benfi ca de Bella Guttman [treinador
húngaro] e do grande Eusébio.” Des-
tacou igualmente a primeira reacção
de Cristiano Ronaldo à morte.
O As, também de Madrid, deu rele-
vo à notícia da morte do “lendário”
Eusébio, divulgou vídeos de jogadas
que protagonizou, dedicou uma fo-
togaleria ao jogador e, entre as re-
acções, destacou as de Cristiano Ro-
naldo e José Mourinho. Fez também
eco da reacção do Real Madrid, que
o considera “um dos maiores joga-
dores de todos os tempos”.
As publicações desportivas de Bar-
celona deram também destaque ao
desaparecimento do antigo futebo-
lista. O Mundo Deportivo dedicou-lhe
textos — “Eusébio, mais do que um
monumento” escreve, num deles,
o subdirector Francesc Aguilar —,
uma fotogaleria e divulgou reacções
à morte. O também catalão Sport de-
dicou vários textos ao “lendário fute-
bolista português Eusébio”
Nos jornais generalistas, o El País
deu importância à notícia referindo-
se, em título, a Eusébio como “ícone
do futebol português” e divulgando
reacções à morte, destacando a de
Ronaldo. O também generalista El
Mundo noticiou com relevo: “Morre
Eusébio, adeus à Pantera Negra” e
recorreu a uma fotogaleria.
No site da BBC, a morte de Eusé-
bio foi um dos assuntos em destaque
neste domingo. A estação recordou
que é considerado “um dos maiores
futebolistas de todos os tempos” e
O Presidente da República,
Aníbal Cavaco Silva, su-
blinhou ontem que a me-
lhor forma de homenage-
ar Eusébio “é seguir o seu
exemplo”, recordando a
forma como o antigo futebolista tra-
balhou e lutou para alcançar tantas
vitórias.
“Portugal perdeu hoje um dos
seus fi lhos mais queridos: Eusébio
da Silva Ferreira”, afi rmou o chefe
de Estado, numa declaração no Pa-
lácio de Belém, ao fi nal da manhã.
O Presidente da República louvou
o exemplo do ex-jogador enquan-
to desportista e ser humano, subli-
nhando a forma como ele trabalhou
e lutou para alcançar tantas vitó-
rias”.
Na declaração, Cavaco Silva re-
cordou a forma como ao longo da
sua vida Eusébio conquistou o ca-
rinho e a estima de todos, por ser
“um desportista de excepção, dos
melhores do mundo, que tantas
glórias trouxe a Portugal”. Entre as
várias condecorações com que foi
distinguido, Eusébio foi agraciado
com a Grã-Cruz Infante D. Henrique
e a Ordem de Mérito.
Já o primeiro-ministro marcou
ontem presença no velório, no Es-
tádio da Luz, onde, “em nome de
todos os portugueses”, fez questão
de homenagear o ex-desportista.
“Sabemos que foi um grande fute-
bolista, um dos melhores de sem-
pre, mas foi sobretudo um homem
que está associado à alma portu-
guesa”, declarou Pedro Passos Co-
elho à Benfi ca TV: “É importante
para Portugal, porque foi um em-
baixador grande de Portugal, mas
também um embaixador do fute-
bol e do desporto mundial. Todo o
mundo irá sentir esta perda. Todas
as pessoas, independentemente da
idade, recordarão o Eusébio como
desportista e pela qualidade huma-
na extraordinária.”
Luís Filipe Vieira expressou a sua
gratidão pelo contributo que Eusé-
bio deu ao Benfi ca logo de manhã,
através da rede social Facebook.
“Nunca estamos preparados para
perder aqueles que nos são mais
próximos, aqueles que, por tudo o
que fi zeram, por tudo o que alcan-
çaram, nos acostumamos a ver co-
mo imortais. Eusébio já tinha ganho
em vida a sua condição de mito e
por isso é que a notícia do seu desa-
parecimento mais choca, porque os
mitos nunca deviam partir”, escre-
veu o presidente “encarnado”.
Mais a norte, Pinto da Costa tam-
bém quis prestar a sua homenagem
ao ex-jogador. “O futebol portu-
guês está de luto, morreu um dos
maiores símbolos da modalidade.
O maior jogador português da sua
geração e sobretudo um grande ser
humano e um exemplo de fair play.
Evoco aqui a sua memória e trans-
mito as condolências à família. É
um dia triste para o futebol portu-
guês”, referiu o presidente portista,
numa nota publicada no site ofi cial
do clube.
Jorge Jesus lamentou igualmen-
te o desaparecimento “físico” da
antiga glória do clube da Luz, mas
lembrou que Eusébio estará sem-
pre vivo no coração dos benfi quis-
tas. “Eusébio foi um ídolo que criou
toda a grandiosidade desportiva do
Benfi ca. Transformou vários adep-
tos em benfi quistas, pela sua quali-
dade, como jogador e como pessoa.
Ele morreu fi sicamente, mas nunca
vai morrer no coração dos benfi -
quistas”, salientou o técnico, em
declarações à Benfi ca TV.
Cavaco Silva pede que se “siga o exemplo” ganhador de Eusébio
João Manuel Rocha
Mítico, lendário, ícone, ídolo, craque: os elogios da imprensa internacional
Não faltam adjectivos fora de portas para qualifi car o antigo futebolista do Benfi ca. A notícia do desaparecimento de Eusébio fez mossa um pouco pelo mundo inteiro
traçou o seu percurso. Também em
Inglaterra, onde Eusébio deixou mar-
ca no Mundial de 1966, ali realizado,
o Guardian refere-se à antiga glória
do Benfi ca como “a fi gura proemi-
nente do futebol português antes de
Cristiano Ronaldo”.
O desportivo francês L’Équipe, que
o classifi ca como “o maior jogador
português de todos os tempos”,
abriu a página principal do seu site
com uma fotogaleria de Eusébio, his-
toriou o seu percurso, o palmarés e
destacou as reacções do treinador Jo-
sé Mourinho e de Cristiano Ronaldo.
Ainda que com menos relevo, a mor-
te de Eusébio foi também notícia no
site dos diários generalistas Le Monde
ou Libération, que o classifi cam co-
mo “lenda do futebol português”. O
último dos jornais considera que “o
mundo está de luto”.
A imprensa generalista brasileira
também deu destaque à morte do
ex-jogador — “Ídolo”, no título do
Estado de São Paulo; “craque” na
expressão d’O Globo. Cavaco Silva
REUTERS
A morte de Eusébio foi notícia um pouco por todo o mundo
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EUSÉBIO (1942-2014) Deixou uma carreira brilhantíssima e na minha opinião foi o melhor jogador português de todos os temposJosé Augusto,Ex-jogador, companheiro no Benfica e na selecção
Como defendia o jornalista
da Emissora Nacional na
reportagem da recepção
portuguesa aos Magriços,
depois da brilhante prestação
em Inglaterra, a selecção
portuguesa pode não ter conseguido
vencer o Mundial de Futebol de 1966,
mas aquele terceiro lugar representou
o mesmo que trazer para casa o título
de campeão. E se alguém mereceu
que assim fosse, esse alguém, numa
equipa onde jogavam homens do
quilate de Mário Coluna, Hilário,
Torres ou José Augusto, foi obviamente
Eusébio, autor de sete dos nove golos
portugueses da fase de qualifi cação,
melhor marcador do Mundial, com
nove, e fi gura máxima do torneio.
Pouco depois de a selecção ser re-
cebida em êxtase pelos portugueses
que a haviam acompanhado pela rá-
dio e televisão, o Pantera Negra era
celebrado de uma forma moderna,
moderníssima, eléctrica, bluesy,
yé-yé. Os Sheiks de Carlos Mendes,
Paulo de Carvalho, Edmundo Silva
e Fernando Chaby, a banda pop de
maior sucesso à época, os Beatles por-
tugueses que haviam irrompido no
início do ano com Tell me bird e Mis-
sing you, lançavam Eusébio, canção
tributo à selecção e à sua maior fi gura.
“Foi uma proposta da [editora] Va-
lentim de Carvalho”, recorda Carlos
Mendes. “Tudo feito no estúdio, im-
provisado.” Guitarras e harmónica
unidas em rhythm & blues de batida
certeira e, enquanto o ritmo comanda
a acção, canta-se sobre a selecção que
“abriu o livro”, fala-se de “Eusébio e
companhia”, que “deram tratado e
do bom” com “futebol afi nadinho e
no tom”. São dois minutos de canção.
Uma celebração instantânea: “Como
o grupo estava bastante entrosado,
construíamos as letras e a música di-
rectamente no estúdio”, diz Carlos
Mendes.
Eis então Eusébio, futebolista
maior, imortalizado em canção pela
mais famosa banda rock portuguesa
da década de 1960. Com letra a acen-
tuar o que disse o repórter na repor-
tagem supracitada: “Só não fi cámos
com a taça/ mas fi ca tudo contente.”
Letra que diz algo mais: “Lá ninguém
nos conhecia nem dava nada pela
gente.” Carlos Mendes, sportinguis-
ta mas homem pouco fervoroso nas
questões do futebol, recorda como,
principalmente após o Mundial de
1966, Eusébio passou a ser o verda-
deiro embaixador português. “Teve
uma importância muito grande como
fenómeno, o que deu uma divulgação
muito grande do país pelo mundo.
Nessa altura ia muitas vezes ao estran-
geiro e sempre que se falava de Por-
tugal tinha como resposta: ‘Portugal?
Eusébio!’.”
Do jogador, recorda uma história
que corria os cafés e que dá conta da
dimensão heróica, mítica, do jogador
do Benfi ca. “Era uma força da natu-
reza. Dizia-se que, quando chutava a
bola, o fazia com uma força tal que
ela fi cava oval — apanhava-se isso nas
fotografi as a baixa velocidade. E es-
tamos a falar das bolas da época, pe-
sadíssimas, que se apanhassem com
água da chuva podiam fazer desmaiar
quem as cabeceasse. Não sei se era
verdade, mas era isso que se conta-
va nos cafés: ‘Imagina que ele tem
Sheiks e Portuguese Nuggets
Mário Lopes
Ele dançava no relvado e também inspirava música
um chuto tal que a bola fi ca oval.’”
A celebração musical de Eusébio
não se fi caria pelos Sheiks. Três anos
depois, o Conjunto sem Nome edita-
ria O joelho do Eusébio, marcha sam-
bada que faz força da fraqueza do Rei,
ou seja, as inúmeras lesões sofridas,
fruto das marcações impediosas num
futebol mais violento: “O joelho do
Eusébio fez o mundo estremecer/ Mas
o Eusébio, tem joelho ‘inda’ para dar
e vender” — e até “o menisco do Eusé-
bio” era, na canção do Conjunto sem
Nome, “o menisco da saúde”.
Mais à frente, os Salada de Frutas
incluiriam o King na letra do clássico
de 1981 Se cá nevasse... (“Se o Eusé-
bio ainda jogasse / Ai que fi ntas ele
faria um dia”), e duas décadas de-
pois, em 2007, quando foi editado o
segundo volume da série Portuguese
Nuggets, compilação dedicada à cena
rock’n’roll portuguesa da década de
1960, não só surgia no alinhamento
Eusébio, o dos Sheiks, como Eusébio,
ele mesmo, fi gurava na capa do LP
estilizado em colorido psicadélico.
Não demoraríamos a encontrá-lo no-
vamente em forma de música.
Em 2011, o guitarrista Rui Carva-
lho, que assina como Filho da Mãe
e cujo segundo álbum, Cabeça, foi
considerado pelo Ípsilon um dos
melhores álbuns de 2013, lançava
o seu disco de estreia, Palácio. Mú-
sica número 4: Eusébio no deserto.
Título que Rui Carvalho explica ra-
pidamente. “Quis refl ectir o que o
Eusébio tem do ser português.” Um
português atípico, porque nasceu em
Moçambique, “mas provavelmente
mais português que qualquer por-
tuguês de que me possa lembrar”.
A música refl ecte precisamente isso.
“Coloquei-o no deserto, um deserto
que será mais próximo do imaginário
cowboy. O tema é um blues acelerado,
mas tem ali umas fi ntas pelo meio e
qualquer coisa que o liga a Portugal.”.
O título chegou depois da música.
“Foi a forma que encontrei para a des-
crever. Ouvi-a e pensei: ‘Isto lembra-
me Eusébio no deserto.’” Faz sentido?
Claro que sim. Eusébio fi ca bem em
todo o lado. Senão, vejamos. Em 2007
surgiu do nada uma banda galesa de
vida breve. Editou nesse ano o álbum
Beth yw Hyn. O seu nome? Eusebio
(naturalmente).
Os Sheiks celebraram-no em yé-yé, o Conjunto sem Nome cantou-o, o guitarrista Filho da Mãe imaginou-o no deserto. Eusébio musical Q
uando me comecei a
interessar por futebol,
há 65 anos!, esse
desporto era muito
débil em Portugal. O fi m
da II Guerra Mundial
trouxera algumas novidades, uns
treinadores ingleses e austro-
húngaros, e o predomínio do
Sporting Clube de Portugal.
Mesmo os “cinco violinos” só
carburavam a quatro com o Jesus
Correia a dar umas “stickadas”
no hóquei em patins. O hóquei
da Linha do Estoril era então a
segunda circular do circuito dos
campeonatos, como hoje em dia
o topos do Estádio da Luz e do de
Alvalade. Era o tempo dos 10 a 0
e dos 9 a 1 nas balizas ou por lá
perto. Só a taça latina no Jamor
nos lavou algumas lágrimas.
Em 1954, o Sport Lisboa e
Benfi ca inaugurou o seu estádio,
então de Carnide, e contratou
o treinador brasileiro Otto
Glória, que introduziu algumas
novidades na organização do
futebol semiprofi ssional e reuniu
os jogadores numa residência
especialmente para forasteiros e
solteiros. Mesmo assim, até 1958,
o futebol praticado baseava-se
apenas numa fi gura táctica que
ocupava melhor o terreno a meio-
campo — o célebre losango! — e
no brotar de alguns jogadores
com talento individual e sentido
colectivo como o velho Francisco
Ferreira e Caiado. Depois a
chegada de alguns jogadores
oriundos de África: Costa Pereira,
José Águas, Santana, Mário Coluna,
morfologicamente muito distintos
dos jogadores metropolitanos,
mais habilidosos mas mais frágeis
no ombro a ombro.
Eusébio chegou no melhor
momento, ainda não tinha 20
anos. Dotado de uma planta
de atleta, senhor de refl exos
inatos e de uma velocidade
de excepção, ele aproveitará
tudo o que havia de melhor do
ambiente da residência para
jogadores, do amparo e conselho
de Mário Coluna e da chegada de
Bella Guttman, outro treinador
austríaco fugido à II Guerra
Mundial, e de tudo isso aproveitou
para a sua maturidade como
desportista de eleição. Quando o
vi jogar, em 1961, na Tapadinha
e no Restelo, ele já era um fora-
de-série, capaz de sprintar com
a bola dominada e a cabeça bem
erguida, capaz de fi ntar qualquer
adversário no um para um.
A grande dúvida que se coloca
para os que acreditam no ensino
é a de saber se há algum método,
algum treino, algum exercício
repetido, algum refl exo criado,
que transplante um atleta do seu
meio natural e faça dele um génio.
Professor universitário
Como se chega a Eusébio
OpiniãoJosé Medeiros Ferreira
ERIC GAILLARD /REUTERS
Numa exposição sobre futebol em Cannes, em 1999
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | DESTAQUE | 13
Era o maior símbolo do futebol português e também do Benfica. Vamos saber perpetuar a sua memóriaShéu Han, ex-futebolista, actualmentesecretário técnico do Benfica
É uma perda enorme.Sinto que também se foi embora um pouco de mimAntónio SimõesAntigo jogador do Benfica
Sem dúvida, Eusébio foi um dos melhores jogadores com os que tive o privilégio de jogar. Era um autêntico desportistaBobby Charlton, um dos jogadoresmíticos do futebol inglês
Tinha 18 anos quando aterrou
em Lisboa, a “metrópole”, a
capital do império português
a 15 de Dezembro de 1960.
Tinha viajado incógnito,
com nome de mulher, Ruth
Malosso. Vinha de Moçambique, de
Lourenço Marques, um jovem “de
aparência bastante robusta, com
costas largas, boa altura” chamado
Eusébio da Silva Ferreira. Ninguém
sabia o que ia dar, ninguém sabia que
aquele avançado africano iria ser um
dos melhores futebolistas do planeta.
O Benfi ca foi o seu clube de sempre,
onde conquistou as maiores glórias
e se tornou no “Pantera Negra”. Mas
não foi o único. Andou pela América
e acabou a jogar na segunda divisão
portuguesa, no União de Tomar.
O União Comércio e Indústria
de Tomar já tinha estado seis tem-
poradas na primeira divisão, entre
1968 e 1976, mas naquele ano, 1977,
estava no segundo escalão. Fernan-
do Mendes, na altura o presidente
do clube, queria mais sócios e mais
público nos jogos e avançou para a
contratação de duas estrelas do fu-
tebol português, Eusébio e António
Simões. “Eles andavam a fazer uns
contratos pela América e a ideia até
foi do Simões”, recorda ao PÚBLICO
o então presidente do clube.
Tal como Eusébio, António Simões
tinha 35 anos e estava longe dos tem-
pos de glória do Benfi ca, onde se co-
nheceram e brilharam. Nesta altura,
precisava de manter a forma para
aspirar aos dólares que pagavam do
outro lado do oceano Atlântico, na
liga norte-americana. “O campeona-
to dos EUA era de seis, sete meses e
tínhamos todo o interesse em não
parar”, refere Simões, que saiu do
Benfi ca em 1975, o mesmo ano de
Eusébio.
A ideia do presidente do União de
Tomar deu resultados imediatos. O
clube passou a ter mais gente no está-
dio e nos jogos fora. Eusébio estreou-
se com a camisola vermelha e negra
do União de Tomar a 1 de Dezembro
de 1977 frente ao Estoril, o primeiro
de 12 jogos pelo clube (três golos).
Eusébio já não tinha a potência de
outros tempos, aquele joelho esquer-
do muito massacrado já não deixa-
va e andava mais pelo meio-campo
em vez de ser um avançado explo-
sivo e veloz. “Até fazia carrinhos e
ia pelo chão”, recorda Mário Pinto,
um extremo de 18 anos em início de
carreira.
Eusébio e Simões não tinham de
treinar-se todos os dias no União.
Um, às vezes dois treinos por sema-
na. Recorda Mário Pinto que viu,
uma vez, Eusébio a dormir durante
uma palestra do treinador Vieirinha:
“Mas o treinador dizia: ‘Ele já sabe o
que vai fazer em campo’.” “Era um
fascínio para os miúdos do União de
Tomar conhecer o Eusébio e o Si-
mões, quanto mais jogar com eles”,
conta António Simões. “O nosso es-
tilo já era diferente. Já não tínhamos
pernas para lá ir, fi cávamos mais no
meio-campo. Mas o Eusébio, nos li-
vres, era igual. Mantinha essa capa-
cidade técnica, remates com força
e direcção.”
A breve passagem por Tomar
durou até Março de 1978. Depois
ainda voltou aos EUA, para tentar
uma experiência no futebol indo-
or, mas esta foi ainda mais efémera.
António Simões também voltou ao
continente americano nas mesmas
condições, acabando por fi car lá
mais algum tempo como treinador.
Fizeram quase o mesmo percurso
de vida desportiva. Começaram jo-
vens no Benfi ca, estiveram ambos na
selecção portuguesa que brilhou no
Mundial de 1966, saíram da Luz no
mesmo ano, foram atrás dos dólares
americanos e terminaram ao mesmo
tempo. “O nosso trajecto foi muito
igual”, sintetiza Simões. “Tínhamos
uma cumplicidade muito grande. A
mim chama-me o irmão branco e eu
chamo-lhe o meu irmão africano, que
será até ao resto da minha vida. Co-
mo homem, só não cresceu de uma
maneira. A sua vaidade não inchou.
E ainda bem.” Texto originalmente
publicado a 15 de Dezembro de 2010
Chegou incógnito e acabou a fazer “carrinhos” em Tomar
Marco Vaza
Eusébio com a camisola do União de Tomar, na fase final da sua carreira, onde fez 12 jogos e marcou 3 golos
“Quantas vezes Portugal chorou
contigo/ por achar que merecia
mais do que o destino lhe queria
dar?”
José Jorge Letria
Eusébio da Silva Ferreira
foi dos últimos grandes
jogadores a ter o seu
destino ligado a um clube
— o Benfi ca — e a uma
selecção — a nossa. O que
ajudou a mantê-lo vivo no coração
dos adeptos. E é justo realçar
a importância que Luís Filipe
Vieira deu ao valor simbólico,
mas também humano, de ter
Eusébio, mas também os outros
heróis de Berna e de Amesterdão,
como guardiões vivos dessa
memória — e, no caso de Eusébio,
como verdadeiro embaixador da
grandeza ecuménica do clube.
Ninguém se atreverá a dizer
qual foi o melhor jogador de
todos os tempos. Mesmo se há
muitos candidatos — e alguns
vivos: Ronaldo e Messi, pelo
menos —, a verdade é que Eusébio
fi gura no panteão dos raros que
merecem subir ao pódio e lá fi car
para sempre, ao lado de Pelé, Di
OBenfi ca veste de
vermelho e branco
porque essas são,
segundo os seus
fundadores, cores que
transmitem vivacidade
e alegria. Sim, o meu clube
Stefano, Puskas e Maradona.
Mas Eusébio era especial.
Por ele e pelo que representou.
Eusébio tinha qualidades inatas
para o futebol — os outros, é
certo, também —, mas tinha uma
espécie de pureza que nunca
perdeu: uma paixão infantil pelo
jogo que faz dele um caso raro
no futebol. Eusébio gostava de
marcar golos e de ganhar, como se
isso fosse uma obrigação que os
deuses lhe exigiam em troca de o
ter dotado de talentos invulgares.
Só via o golo à sua frente, corria
para a baliza adversária para ir
buscar a bola que tinha acabado
de fazer entrar, para que o jogo
recomeçasse sem demoras,
tinha fair play, chorava se perdia
injustamente, era massacrado mas
tem a alegria nos estatutos (e
isso envaidece-me). Há três ou
quatro anos, em Liverpool, o
estádio do Everton tinha um
aspecto bastante lúgubre. As
bancadas estavam cheias de
adeptos tristes, vestidos de
cores escuras, deprimidos
pelo clima da cidade em que
escolheram viver e pelo facto
de, uma semana antes, terem
perdido por 5 a 0 no Estádio
da Luz, o que mói ainda mais
do que a neblina. Antes de o
jogo começar, os altifalantes
do estádio anunciaram que o
não respondia, nunca perdeu essa
virgindade e essa vontade infantil
de ganhar, que fez com que,
durante uma década, o Benfi ca
parecesse o natural vencedor dos
jogos em que entrava.
Depois, ele foi, sem querer,
um símbolo para os portugueses
do seu tempo — e não só para os
benfi quistas. Numa época em
que o país estava mergulhado na
miséria e na opressão, em que
muitos portugueses tinham de
emigrar para terras distantes,
muitas vezes em condições
desumanas, em que se espalharam
pela Europa, mas também pelos
outros continentes, em que, para
muitos, ser português era sinal de
opróbio e mesmo de vergonha,
Eusébio resgatou o nosso orgulho
e devolveu-nos a dignidade.
Que ele desapareça do mundo
dos vivos numa altura em que
Portugal está a viver o impensável
— um regresso planeado a esses
tempos de miséria e de desprezo
— é um sinal do destino. Que ele
seja celebrado, agora, meio século
depois, como foi nesses tempos, é
um sinal de que o país se revê no
que ele representa — hoje, como
ontem, um Portugal capaz de se
suplantar, de vencer a adversidade
e a injustiça, de não se deixar
sacrifi car a um destino miserável,
como aquele a que nos querem
condenar. Até por isso, ele é
Portugal no seu melhor.
Cineasta
grande Eusébio iria ao centro
do relvado. E então, todos
aqueles desgraçados ingleses
se levantaram para aplaudir,
sorrindo. Foi a única alegria
que tiveram naquela noite,
em que acabariam por perder
outra vez, por 2 a 0. A camisola
do Benfi ca foi feita para ser
vestida por ele. Eusébio é
outra maneira de dizer alegria.
Eusébio é outra maneira de
dizer Benfi ca. Não conheço
façanhas maiores.
Humorista
Portugal no seu melhor
Outra maneira de dizer alegria
Opinião António-Pedro Vasconcelos
OpiniãoRicardo Araújo Pereira
Que ele desapareça do mundo dos vivos numa altura em que Portugal está a viver o impensável — um regresso planeado a esses tempos de miséria e de desprezo — é um sinal do destino
os queEra ummmmmmmmm
14 | DESTAQUE | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
26 de Julho de 1966:
Portugal perde contra
a Inglaterra nas meias-
fi nais do Mundial.
Recordo a imagem do
convulsivo choro de
menino de Eusébio, no fi nal do
jogo. Dois dias depois, a nossa
selecção vence a União Soviética
e alcança o 3.º lugar. Recordo
o penálti marcado por Eusébio
logo seguido de um abraço ao
então melhor guarda-redes do
mundo, Lev Yashin. A lágrima na
derrota e o abraço ao adversário
na vitória unidos no jogador
excepcional e no homem bom
que foi Eusébio.
Nestes dois aparentes
pormenores está, pois, uma
parte signifi cativa do que ele foi.
Não apenas o fabuloso jogador
que está entre os melhores de
sempre no mundo, mas também
a pessoa apaixonada por Portugal
e pelo Benfi ca, o desportista leal,
exemplar, simples, solidário, sem
tiques de vedetismo, acima e para
além da efemeridade de cada
momento.
Inigualável não apenas nos
seus quase incontáveis golos
e soberbas exibições, mas no
exemplo de trabalho, de dever,
de sacrifício, de abnegação, de
entrega, de autenticidade, de
companheirismo, até de utopia
e de sonho. E que sempre soube
adicionar à universidade que foi
a sua vida a universalidade do
consenso que foi capaz de gerar.
Num tempo em que a
globalização ainda não o era,
num tempo em que a informação
e a imagem se espalhavam à
velocidade da tartaruga quando
comparada com a alucinação e
a vertigem de agora, Eusébio foi
uma projecção de portugalidade
no mundo global, a par de Amália.
Como escreveu Torga “o universal
é o local sem paredes”. Eusébio
ultrapassou o mapa de Portugal e
derrubou todos os muros. Os de
cá e os de lá fora.
Para mim, Eusébio representa
uma certa expressão do desporto
que deixou de ser a norma. Onde
o que contava era tão-só o futebol
jogado. De paixão pura, sem
adiposidades. Sem mediatismos
bacocos feitos de lugares-comuns
e onde a iconografi a era a do
exemplo no trabalho e não a
da imagem no mercado. Num
tempo em que as vitórias não
eram apenas uma forma de
aumentar a retribuição, mas uma
compensação de quem sentia
devotadamente a camisola que
envergava.
Eusébio: um curto nome de
cinco vogais e duas consoantes
que se eternizou. Semanticamente
poderia estar num qualquer
“Dicionário de Língua Universal”,
porque intemporal e universal.
Ultrapassou a onomástica e a
geografi a. Pertence ao mundo e
OpiniãoAntónio Bagão Félix
tem signifi cado próprio.
O Benfi ca tinha 37 anos quando
Eusébio nasceu em Moçambique
e 57 anos quando se estreou no
clube. Não é possível calcular
quantos benfi quistas (ou simples
amantes do futebol) há hoje por
causa dele. Mas, certamente,
muitos.
A minha geração viu e viveu os
jogos de Eusébio. Na altura, sem
a profusão televisiva de hoje, mas
com o sabor que era ir ao Estádio
ou com a magia proporcionada
pelo relato radiofónico. Faz,
assim, parte do meu reduto
memorial. Que me ensinou
defi nitivamente que ser Benfi ca
é, ao mesmo tempo, afecto e
privilégio, coração e razão,
vitamina e analgésico, fermento e
adoçante.
Por tudo, um obrigado do
tamanho do universo a Eusébio!
Economista
DR
Devido à idade que tenho,
é evidente que nunca vi
Eusébio jogar em directo.
Porém, tive o ensejo de
o ver indeferidamente,
ao serviço do Benfi ca
e da selecção nacional, bem
como já o analisei com alguma
profundidade na minha actividade
profi ssional através das mais
variadas fontes impressas. Por
isso, tive oportunidade de o ver
brilhar na sua primeira época
de águia ao peito, em 1961/62 e,
entre outras competições, no
Mundial de 1966, que o consagrou
internacionalmente como
um dos melhores futebolistas
mundiais dessa década. Devo
dizer, dirigindo-me sobretudo às
gerações mais novas, que Eusébio
foi um extraordinário futebolista,
que jogaria em qualquer equipa
mundial e em qualquer tempo. A
sua capacidade de drible, a sua
velocidade, a sua intuição, enfi m,
a articulação do seu corpo com
o esférico em relação ao espaço,
dotavam-no de características
únicas no panorama do futebol
mundial. Eusébio era uma força
da natureza. Ao contrário de
muitos dos jogadores de hoje, que
são “fabricados” nas canteras,
nas academias e nas escolas de
futebol, de forma a atingirem
um nível muscular e atlético
“perfeito” que os capacitem a
atingir as performances desejadas,
Eusébio foi futebolisticamente
formado nos bairros de lata de
Moçambique, em terrenos baldios,
jogando muitas vezes com outros
objectos que improvisavam a
carência de uma bola de futebol. É
conveniente recordar que Eusébio
chega a Lisboa a 17 Dezembro
de 1960, com 18 anos, à beira de
completar 19, sem a mínima noção
do já exigente futebol europeu.
A única coisa que possuía era
uma habilidade em grande
medida inata para jogar futebol.
Aquilo que Eusébio trazia para o
futebol do Velho Continente era a
sabedoria intuitiva do seu corpo —
essa inteligência que não se mede
nos QI mas na movimentação e
na capacidade de improvisação
do seu corpo; essa inteligência
do organismo na sua totalidade,
feita do pulsar, das emoções e dos
sentimentos, vinda da sintonia
perfeita entre as estruturas
cerebrais não conscientes com o
corpo na sua unicidade. Nada em
Eusébio tinha sido transformado.
Tudo nele era talento em estado
puro. Era como se todas as suas
células respirassem futebol.
Um futebolista é muito mais
do que os números que atinge.
Eusébio não era só um goleador
como também um municiador
de golos para os seus colegas,
efectuando muitas e decisivas
assistências. Não era um ponta-de-
lança típico (ao contrário de Águas
ou Torres, por exemplo). Era um
vagabundo, que jogava atrás do
homem mais avançado, partindo
de trás em fulgurantes arrancadas,
criando desequilíbrios que não
raras vezes davam em golo.
Eusébio fora o menino de
Mafalala que conquistara o
mundo com uma bola nos pés. O
seu futebol, feito de improviso e
rebeldia, de malícia e da arte do
engano, pareciam falar da sua
meninice em Moçambique. Nunca
teve muito jeito com as palavras
e não se sentia à vontade em
frente às câmaras. Não precisava.
Comunicava com o corpo em
movimento nos estádios de
futebol, através das fi ntas, dos
golos, dos chutos fulminantes
e com o sorriso genuíno que
esboçava sempre que tinha uma
bola nos pés. Era um futebol,
simultaneamente, ingénuo porque
puro e inocente, retrato fi gurado
de Eusébio quando se apresentou
em Lisboa, mas de um rendimento
extraordinário, como nos mostram
os números que atingiu.
A partida de Eusébio inundou
de tristeza todos aqueles que
gostam de futebol. Não foi só
Portugal que perdeu um herói. Foi
o Planeta do Futebol que fi cou,
indubitavelmente mais pobre.
Historiador doutorando FCSH-UNL
O adeus do menino que conquistou o mundo
Eusébio sempre
OpiniãoRicardo Serrado
EUSÉBIO (1942-2014)
16 | PORTUGAL | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
“As contrapartidas às ajudas
da troika merecem discussão”,
afi rmou ontem, ao PÚBLICO,
o eurodeputado socialista
francês Liêm Hoang Ngoc, um
dos dois relatores da comissão
dos assuntos económicos do
Parlamento Europeu (PE)
que inicia hoje, em Lisboa, a
avaliação às políticas da Comissão
Europeia, Banco Central Europeu
e Fundo Monetário Internacional
aplicadas a Portugal, Grécia,
Irlanda e Chipre. Hoang
Ngoc reconhece as limitações
da fórmula acordada em
Estrasburgo, mas está convicto
de que, com a constituição de um
fundo monetário europeu, será
necessário um controlo político.
“Trata-se de um relatório da
iniciativa do PE, a comissão
de inquérito obrigaria os
responsáveis da troika a
prestar contas”, admite o
jovem eurodeputado. “Foi o
compromisso alcançado para
evitar que o relatório aparecesse
como acusação aos responsáveis
da troika”, sublinha: “Daí haver
dois relatores, um do PPE (Partido
Popular Europeu), o austríaco
Othmar Karas, outro socialista,
eu próprio, para fazermos um
relatório o mais consensual
possível.”
Este acordo tem virtudes e
pontos débeis. “É uma força,
porque as conclusões serão
votadas no Parlamento Europeu,
e uma fraqueza porque sempre
haverá a defesa da política da
troika”, reconhece. No entanto,
Hoang Ngoc aponta um ponto
fundamental. “A proposta do
relatório põe em evidência o
debate sobre os multiplicadores
que subestimaram o impacto
recessivo das medidas”, afi rma.
“O FMI queria mais reformas
das leis do trabalho, a Comissão
Europeia uma consolidação
orçamental rápida, fi zeram-se as
duas coisas, utilizaram-se os dois
travões ao mesmo tempo”, relata.
“É por isso que não arranca o
crescimento português e a dívida
aumenta”, analisa: “Mesmo
que Portugal saia este ano do
“Contrapartidas às ajudas da troika merecem discussão”, diz relator do PE
Liêm Hoang Ngoc Em Lisboa, os eurodeputados iniciam uma visita aos países sob intervenção. Um socialista reconhece que os socialistas da Grécia, Portugal e Irlanda participaram em políticas erradas
NUNO FERREIRA SANTOS
programa de ajustamento, o
problema da dívida continuará
porque as políticas de austeridade
mataram o crescimento.”
Outra questão, “o ponto fulcral do
relatório”, já está defi nida: “Com a
constituição do fundo monetário
europeu será necessário um
controlo político, do Parlamento,
aí o PPE e os socialistas estão de
acordo.” Destacando que esta
é a primeira conclusão prática,
retira uma ilação: “Este relatório
é a oportunidade de mostrar
aos cidadãos que o Parlamento
Europeu deve desempenhar um
papel-chave no futuro da Europa,
que os seus representantes
defendem mais democracia e
menos austeridade.”
Um discurso que não é imune às
eleições europeias de Maio, dois
meses após a comissão divulgar
as suas conclusões. “Na Grécia,
Portugal e Irlanda, os socialistas
participaram nas políticas da
troika. Se estas políticas não
foram as melhores, há que ter a
coragem política de o dizer, os
socialistas portugueses devem
dizer terem sido obrigados por
questões orçamentais, mas devem
salientar que é necessário mudar
de política”, sustenta.
O discurso do mea culpa,
reconhece, “é feito por todos
os partidos em Portugal, pelos
sindicatos e patronato”. Aquando
da sua última visita a Lisboa, há
nove meses, fi cou surpreendido
com a sintonia das centrais
sindicais e das associações
patronais. “Portugal jogou a ser
bom aluno da troika, graças a
isso vai sair do mecanismo de
assistência, mas os desequilíbrios
macroeconómicos e os problemas
continuam”, insiste.
“O FMI era a única instituição
que dispunha de fundos, e todos
os países com problemas eram
membros do Fundo”, destaca:
Pelo que, conclui, “é necessária
uma alteração dos tratados, mas
não de acordo com a fi losofi a
alemã.”
Hoje, a delegação do PE, que
integra os eurodeputados
portugueses Ana Gomes, Elisa
Ferreira, Diogo Feio, José Manuel
Fernandes e Marisa Matias, avista-
se com José Sócrates, com os seus
ex-ministros da Economia, Vieira
da Silva, e da Presidência, Silva
Pereira. Seguem-se a Comissão
Permanente de Concertação
Social, o governador do Banco
de Portugal e o vice-primeiro-
ministro Paulo Portas. Amanhã,
a delegação reúne-se com Maria
Luís Albuquerque, o secretário
de Estado Carlos Moedas e as
comissões parlamentares dos
Assuntos Europeus, Orçamento,
Finanças e Administração Pública,
bem como com a comissão ad
hoc de monitorização da ajuda
fi nanceira a Portugal.
Entrevista Nuno Ribeiro
“Não contesto o recurso à
troika porque, então, não havia
um mecanismo europeu de
estabilidade e recorrer ao Fundo
era necessário.”
Hoang Ngoc reconhece que as
divergências no Parlamento
Europeu surgirão sobre a validade
das políticas seguidas. E das
contrapartidas impostas. A este
propósito alerta: “No Conselho
Europeu de Dezembro, Angela
Merkel disse ser necessário
um novo tratado, novos
instrumentos, referindo que as
ajudas fi nanceiras têm como
contrapartidas a redução da
despesa pública e as alterações
das leis do trabalho, o que é
perigoso.” Para o eurodeputado
socialista, há outra alternativa: “O
funcionamento da zona euro não
se pode fazer sem um orçamento
europeu importante, fi nanciado
por impostos e euro-obrigações,
com harmonização fi scal e social.”
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | PORTUGAL | 17
MATOSINHOS
D. MARIA IRENE ROCHA GIL DA COSTA MATOS
DE MENESESFALECEU
Sua fi lha, irmã, sobrinhos e demais família participam o seu falecimento e que o funeral se realiza hoje, segunda-feira, pelas 14,45 horas da Capela da Santa Casa da Misericórdia de Ma-tosinhos, onde se encontra depositada, para a igreja paroquial, saindo, após exéquias, a sepultar, em jazigo de família, no 1.º Cemitério Municipal de Matosinhos.
A missa do 7.º dia, pelo seu eterno descanso, será cele-brada sexta-feira, dia 10, às 18,30 horas na Igreja paroquial de Matosinhos. Agradecem, desde já, a todos os que se dignarem assistir a estas cerimónias.
FUNERÁRIA DE MATOSINHOS - IRMÃOS TEIXEIRA LDA.
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Pela primeira vez desde que foi cria-
do em 2000, o Instituto Nacional de
Medicina Legal terá um juiz como
presidente. Francisco José Brízida
Martins, 55 anos, juiz do Tribunal
da Relação de Coimbra, foi o nome
escolhido pela ministra da Justiça,
Paula Teixeira da Cruz, para dirigir
o organismo, que está sem presiden-
te há mais de mês e meio.
O PÚBLICO tentou saber o motivo
do atraso na nomeação, tendo o Mi-
nistério da Justiça remetido explica-
Instituto de Medicina Legal vai ter pela primeira vez um juiz na presidência
ções para o início da semana. O nome
do futuro presidente ainda não foi
anunciado pela ministra, mas consta
de uma acta de uma reunião do Con-
selho Superior de Magistratura, a 19
de Novembro, disponível no site.
Nesse documento refere-se que foi
“apreciado o expediente (...) que so-
licita que Francisco José Brízida Mar-
tins seja designado, em regime de co-
missão de serviço, como presidente
do Conselho Directivo do Instituto
Nacional de Medicina Legal e Ciên-
cias Forenses I.P.”. E acrescenta-se:
“Foi deliberado – por unanimidade
– deferir o solicitado.”
Será a primeira vez que o organis-
mo não é dirigido por um especialista
em medicina legal, já que, até agora,
todos os anteriores presidentes eram
médicos e professores universitários
daquela especialidade.
Francisco José Brízida Martins
Justiça Mariana Oliveira
Organismo está sem presidente há mais de mês e meio. Novo líder é magistrado há 31 anos
nistério não sai ileso. Após quatro
anos a insistir com o ministério na
necessidade de um despacho con-
junto dos ministros da Justiça e das
Finanças a fi xar a remuneração dos
membros do conselho directivo, o
presidente e dois vogais do instituto
acabam por optar por receber o ven-
cimento do lugar de origem, tendo
neste caso direito a um acréscimo
de 35% sobre o salário-base, como
estava expressamente previsto na lei
orgânica do instituto em vigor nessa
altura.
Tanto a Inspecção-Geral dos Ser-
viços de Justiça como a Inspecção-
Geral das Finanças concordam que
a decisão “não merece qualquer
censura”. Porém, a secretaria geral
do ministério considera que a deli-
beração de Setembro de 2011 é “in-
válida”, porque havia necessidade de
despacho ministerial.
nasceu em Angola, em 1958, sendo
magistrado há mais de 31 anos. Além
das referências ligadas à judicatura, o
magistrado aparece na Internet como
tendo integrado durante vários anos
o Conselho de Justiça da Federação
Portuguesa de Columbofi lia, cargo
que já não exerce.
Designado, desde 2013, Instituto
Nacional de Medicina Legal e Ciên-
cias Forenses – responsável pelos
exames e perícias forenses pedidos
pelas autoridades judiciais –, está a
ser gerido pelos presidentes das três
delegações (Norte, Centro e Sul), que
integram a direcção, órgão que até
Novembro era encabeçada pelo cate-
drático da Faculdade de Medicina de
Coimbra Duarte Nuno Vieira.
Apesar de a ministra não o admitir
explicitamente, o afastamento deste
responsável parece estar associado a
uma polémica de que o próprio mi-
Breve
Tráfico de droga
Mais de 30 mil doses de cocaína apreendidasA PSP apreendeu no sábado 31.596 doses de cocaína, no Aeroporto de Lisboa. Um passageiro oriundo de Caracas, Venezuela, ocultava “na zona do abdómen, de forma dissimulada, um colete elástico” com a droga.O passageiro, um estudante de 23 anos, viajava ainda com quatro telemóveis e dinheiro em três moedas diferentes — euros, bolívares e moeda filipina —, que também foram apreendidos.
A prova dita de avaliação de conhecimentos e capacidades (PACC) que o MEC de Nuno Crato quer impor aos professores é reprovada pela comunidade académica e científica. A FENPROF solicitou a seis personalidades da Educação que, a propósito daquela prova, elaborassem um comentário/declaração. O resultado é inequívoco: a PACC foi reprovada!
��������������� ��������������������������������������������������������� ����������������������������������������������������������������������������� �����������������!������"����������-�����#���#������� ����������������������������$������� ������������$����������%�����������������&������������'António Sampaio da Nóvoa – Docente Universitário. Reitor da Universidade de Lisboa no período 2006 - 2013
���������������������������������- ������(��������������������������
�������)������������������������� ���������������������*��#�������������'����������� ������������������������$�������������#�������������������+�,������.���������������������������������� ����+'Ana Maria Bettencourt – Presidente do Conselho Nacional de Educação no período 2009 – 2013
�,����������������*������������������/�*�������#��������0������������������������������������������ �-����� �������������1�����������������������#���&����������������������������������������#����$������������'David Rodrigues – Presidente da Associação Pró-Inclusão
23�!,)4���������������"�����������������������$���������������-�������5"�))6�#������������ �0�����������������$���������� ����������������#��� ��������������787���%���!�������� �������������������������������������������������������������������������������1��������������������- ���������������#����������� ��������$���������������������������������������� �����������-�����'Carlos Chagas – Membro do CNE; Presidente da FENEI
�9���������������������#�����#���:���������:�����������������0������������������������������ �������������������������������&���-�����������������������������.��������������;��#������*����������������������0������� ������������ �������������#�����������-��������������������0������������#���������'Paulo Sucena – Membro do CNE; Secretário-geral da FENPROF no período 1995–2007
�/��1�;������ ����������.����������������������<���������������-�����������*.���������������=���������������������������������������:�#�����������������������*.���#��������������� ���������� ��*����������������#��������������������<������'Sérgio Niza – Pedagogo. Presidente do Movimento Escola Moderna
EDUCAÇÃO REPROVA A “PACC”!
Federação Nacional dos Professoreswww.fenprof.pt
18 | PORTUGAL | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
Seguradora paga crédito de doente oncológico com mais de 60 anos
Decisão do Supremo envolve crédito à habitação. Casal de Guimarães venceu disputa em tribunal, apesar de ter assinado apólice que previa perda de cobertura do risco de invalidez
JOSÉ FERNANDES
Quando os clientes não são esclarecidos, é justo onerar as seguradoras, argumentam os juízes
A seguradora Fidelidade foi obriga-
da, pelo Supremo Tribunal de Justi-
ça, a pagar o crédito à habitação de
um homem que contraiu uma doen-
ça oncológica aos 63 anos, apesar
de a apólice do seguro estabelecer
que perdia o direito a este tipo de
indemnização logo aos 60 anos.
Os juízes consideraram que o
cliente da Caixa Geral de Depósitos
(CGD) devia ter sido alertado pela
seguradora para o fi m da cobertura
do risco de invalidez.
“Num contexto económico-social
em que a maior parte dos portugue-
ses adquire habitação própria com
empréstimo bancário e paga, du-
rante uma parte substancial da sua
vida, prémios às companhias de se-
guros para garantia do risco de vida
ou invalidez, não pode afi rmar-se
ser um sacrifício excessivo onerá-
las com o pagamento das dívidas,
sobretudo se não esclareceram de-
vidamente o segurado acerca das
cláusulas particulares de exclusão
[da apólice]”, argumentam.
Doutra forma, acrescentam,
citando um acórdão já antigo, a
obrigatoriedade de contratar um
seguro de vida quando se contrai
um crédito à habitação mais não
seria do que “um simples artifício
destinado a obter mais uma pres-
tação a favor da seguradora, mui-
tas vezes ligada ao grupo de que o
banco faz parte”.
Era este o caso: quando mudou o
empréstimo que tinha no BPI para
a Caixa Geral de Depósitos, ainda
as contas se faziam em escudos em
vez de euros, Domingos Castelar
Oliveira, então já com 57 anos, e
a mulher assinaram novo seguro
de vida pela Fidelidade, do grupo
CGD. Da moradia onde residiam em
São Lourenço de Selho, uma fre-
guesia do concelho de Guimarães,
ainda lhes faltavam pagar 200 mil
euros. Não eram gente rica, diz o
seu advogado, Clementino Cunha:
tinham fi lhos e trabalhavam ambos
numa fábrica de confecções de que
eram proprietários.
As más notícias surgem seis anos
e uma semana depois, quando é
diagnosticado ao empresário, en-
tão com 63 anos, um problema do
foro oncológico. É considerado
portador de uma invalidez total e
permanente, com uma taxa de in-
capacidade permanente geral da
ordem dos 72%.
Quando tenta accionar o segu-
ro, a Fidelidade responde-lhe que
nada feito: a apólice que assinou
só cobre o risco de invalidez por
doença até aos 60 anos. Se não leu
as condições do contrato, deveria
ter lido.
O caso avança para o tribunal,
onde o advogado começa por pôr
em causa a lógica de uma apólice
que, nas suas condições especiais,
só extingue a cobertura de invali-
dez total e permanente por aciden-
te ou doença aos 65 anos, quando
nas condições particulares essa ida-
de é antecipada para os 60 no caso
de problemas de saúde.
E estas condições particulares
prevalecem sobre as especiais. “Mas
este seguro pode ser contratado
pelos clientes até aos 65 anos!!!”,
indigna-se Clementino Cunha.
A razão que é dada aos queixosos
pelos juízes de primeira instância,
perdem-na na segunda instância,
quando o Tribunal da Relação de
Guimarães acusa o casal de ter agi-
do de má-fé ao recorrer à justiça
para obter o pagamento do emprés-
timo pela seguradora.
Desta vez, os juízes argumentam
que Domingos Castelar Oliveira
nunca tinha posto o contrato em
causa até lhe surgirem problemas
de saúde, apesar de nessa altura
ter na sua posse, havia seis anos,
uma cópia do documento. “A vi-
timização é o instrumento usado
para atingir os seus objectivos”,
alega por seu turno o advogado da
companhia de seguros. “Dizem que
a lei protege as vítimas — mesmo
quando estas não sejam vítimas de
coisa alguma que não a sua ganân-
cia e avareza.”
O calvário judicial chegou ao fi m
no mês passado, quando o Supre-
mo decidiu que a Fidelidade vai ter
mesmo de pagar à Caixa Geral de
Depósitos os 153 mil euros que o
casal ainda deve ao banco, mais as
prestações que os dois habitantes
de Selho (São Lourenço) tiveram de
desembolsar desde que a doença
se declarou, em Agosto de 2007.
Porquê? Porque a seguradora não
conseguiu provar que cumpriu a
sua obrigação de informar devida-
mente os clientes daquilo que esta-
vam a assinar, nomeadamente das
chamadas “cláusulas perigosas para
os seus interesses”.
“A haver má-fé, seria da segura-
dora e não do segurado”, concluem
os magistrados. A Fidelidade de-
via ter alertado o segurado para o
fi m da cobertura do risco de inva-
lidez por doença quando este fez
60 anos, “para que o prémio fosse
proporcionalmente reduzido, co-
mo seria justo e exigível”.
O acórdão torna-se definitivo
amanhã, não tendo a seguradora
levantado até ao fi nal da semana
passada nenhuma objecção para
pôr em causa a deliberação dos juí-
zes. Contactada pelo PÚBLICO, que
tentou repetidamente, mas sem su-
cesso, falar com o casal, a Fidelida-
de diz apenas que “não deixará de
analisar a questão” e que “assumi-
rá as suas responsabilidades como
sempre faz”.
JustiçaAna Henriques
Quando o cliente é o elo mais fraco
A única liberdade é a de ler as muitas cláusulas
A decisão do Supremo Tribunal de Justiça baseia-se no entendimento de que em contratos de massas,
como é o caso, impostos por grandes organizações aos particulares, é legítimo que estes últimos se demitam do esforço de tentarem entender o conteúdo da papelada que lhes é dada para assinar, um esforço que sabem ser inglório.
“Não se preocupam com o conteúdo destas cláusulas, que conhecem mal ou de todo não conhecem, dada a complexidade das mesmas e
a perda de tempo que implica o seu estudo para um leigo, num contexto em que é inútil a sua negociação”, escrevem na sentença. “Pois o aderente não tem mais liberdade do que a de assinar ou não o contrato, não gozando qualquer liberdade de fixação do seu conteúdo.”
Daí que a lei proteja os particulares enquanto parte mais débil deste tipo de contrato. E que os tribunais “não possam deixar de exercer um efectivo e rigoroso controlo sobre as empresas, dado o enorme poder de que estas dispõem”.
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | PORTUGAL | 19
DANIEL ROCHA
Número de estrangeiros residentes em Portugal tem vindo a cair
O Alto Comissariado para a Imigração
e o Diálogo Intercultural (ACIDI) vai
assumir novas funções. Essa é, pelo
menos, a proposta que está pronta
para ser apreciada em Conselho de
Ministros. Se vingar, caberá a esse
instituto aliciar estrangeiros “de ele-
vado potencial” para Portugal.
Quem defende a ideia é Pedro
Lomba, secretário de Estado adjunto
do ministro adjunto e do Desenvol-
vimento Regional. Parece-lhe que o
país tem de se adaptar a uma nova
realidade migratória, que apresenta
forte caudal de saídas e fraco caudal
de entradas.
Segundo o Instituto Nacional de
Estatística (INE), em 2012 saíram 121
mil pessoas. Apesar de a emigração
ser hoje muito experimental, graças
à livre circulação no espaço comuni-
tário, desde o fi nal dos anos 1960 que
não saía tanta gente. O número de
estrangeiros residentes também tem
vindo a cair – 451 mil em 2009 para
414 mil em 2012, segundo o Serviço
de Estrangeiros de Fronteiras.
Lomba quer ACIDI a aliciar imigrantes “de elevado potencial”
O movimento faz-se, sobretudo,
do Sul para o centro e para o Norte
da Europa. Mas, como frisa Lomba, o
fl uxo migratório actual compreende
também profi ssionais que se deslo-
cam para países em desenvolvimento
ou que se servem da tecnologia para
trabalhar em qualquer parte, investi-
gadores e estudantes que trabalham
em rede e reformados ansiosos por
clima ameno.
Com um mercado laboral que já
pouco atrai trabalhadores em bus-
ca de melhores condições de vida,
ganha algum peso outro tipo de vis-
tos. Em 2012, mais de oito mil dos
12.528 emitidos foram atribuídos
por via do estudo, intercâmbio de
estudantes, estágio profi ssional ou
voluntariado.
Os fl uxos, resume Lomba, diver-
sifi caram-se. “Precisamos de políti-
cas mais integradas, que tenham em
vista os que saem e os que entram”,
diz. Na sua opinião, não é por ter um
número de saídas “preocupante que
o país pode abandonar a abertura
que tem tido em relação aos imi-
grantes”.
Os imigrantes, insiste, tendem a
arriscar mais. Imigrantes empreen-
dedores podem criar postos de tra-
balho e, com isso, fi xar quem pensar
partir ou resgatar quem já partiu. É
nessa lógica que acha que se impõe
“identifi car e captar imigração de
elevado potencial ou de grande va-
lor acrescentado”. Para isso, quer
transformar o ACIDI num organismo
“transversal” e “pró-activo”.
Este novo ACIDI teria de se relacio-
nar com a Agência para o Investimen-
to e Comércio Externo de Portugal,
a Direcção-Geral do Ensino Supe-
rior, a Direcção-Geral dos Assuntos
Consulares e das Comunidades Por-
tuguesas, o Instituto de Emprego e
Formação Profi ssional, o Turismo
de Portugal, o SEF. Nesta posição,
coordenaria políticas migratórias
que envolveriam a rede diplomáti-
ca e consular, a emissão de vistos, a
captação de estudantes, a fi xação de
reformados, a integração, apelando
à participação de fundações, asso-
ciações, universidades, empresas,
autarquias. O governante concretiza:
dedicar-se-ia à “análise de necessida-
des laborais a curto e médio-prazo”,
à “articulação destinada ao fi nancia-
mento ao empreendedorismo imi-
grante”, a trabalhar a “estratégia de
internacionalização do ensino supe-
rior” e as “vias verdes para obtenção
de vistos”, por exemplo.
Para lá de eventuais diferendos po-
líticos, há um obstáculo: o ACIDI é
um instituto público que faz parte da
administração indirecta do Estado,
dotado de autonomia administrativa,
muito focado na integração. Para as-
sumir o novo papel que Lomba lhe
quer conferir teria de ser integrado
na administração pública.
MigraçõesAna Cristina Pereira
Proposta de nova política migratória está pronta para ser discutida em Conselho de Ministros
Os fi lhos partem, os pais fi cam. Por
sentir que há cada vez mais pessoas
que têm familiares fora de Portugal e
que fi cam no país sem apoio, a Fun-
dação S. João de Deus criou um pro-
grama-piloto de ajuda a familiares de
emigrantes portugueses “com fraca
rede social de suporte ou em situa-
ção de isolamento social”, em espe-
cial idosos, com residência em Lis-
boa e Guarda. A iniciativa chama-se
“Somos por Si, Somos por Portugal”
e conta dar apoio a 120 pessoas.
A Fundação S. João de Deus, uma
instituição particular de solidarieda-
de social criada em 2006, vocacio-
nada para o auxílio aos doentes e a
pessoas com difi culdades económi-
cas, com sede em Lisboa, pretende
garantir o acompanhamento de fa-
miliares de emigrantes em pequenas
tarefas diárias, como limpar a louça,
estender a roupa, despejar o lixo, ler
o correio e jornais, ajudar no preen-
chimento do IRS ou acompanhar a
pessoa às compras e a consultas, à
farmácia.
Pensa-se que serão sobretudo ido-
sos a precisar de apoio, mas também
há casos de famílias em que um dos
cônjuges foi obrigado a emigrar e po-
derão dar apoio ao que fi ca, explica
a técnica responsável pelo progra-
ma, Susana Costa Pinto. O programa
ainda não arrancou. Até ao fi nal de
2014, está previsto o alargamento das
actividades para outras cidades.
A instituição apoia cerca de 30 pes-
Fundação lança programa para apoiar familiares de emigrantes
soas em Lisboa em situação de isola-
mento, acompanhando-as nas tarefas
diárias, mas também motivando-as
a sair de casa, explica o assessor de
comunicação da fundação, Samuel
Pimenta. Há também os que não
conseguem sair de casa; neste caso
fazem-lhes visitas periódicas.
A ideia é estender este apoio aos
familiares de pessoas que são for-
çadas a emigrar, “para deixar a fa-
mília sossegada”, depois de terem
constatado esta necessidade junto
de várias entidades no terreno, diz.
Susana Costa Pinto esclarece que a
fundação não faz apoio domiciliário,
não prestando cuidados de saúde e
de higiene; essas funções estão a car-
go de outras associações, a fundação
pretende “ser um agente facilitador
de comunicação”.
A fundação disponibiliza um nú-
mero de telefone, 217983400 e um
email somosporportugal@fundacao-
sjd.pt para os emigrantes que quei-
ram fazer um pedido de acompanha-
mento para os seu familiares; a ideia
é depois manter o emigrante infor-
mado sobre os contactos feitos com o
familiares. Os serviços da instituição,
instituída pela Ordem Hospitaleira de
S. João de Deus, são gratuitos.
Entre 100 a 120 mil portugueses
saíram do país em 2013, uma emi-
gração “bastante alta”, mas que se
manteve estável devido à falta de
emprego nos outros países, estimou
recentemente o secretário de Estado
das Comunidades Portuguesas, José
Cesário, citado pela Lusa.
Sem dados ofi ciais, o Governo ad-
mite que o número seja semelhante
ao do ano passado – cerca de 100
mil a 120 mil. Europa, em particular
a França, continua a ser o principal
destino, com Angola a atrair também
números semelhantes aos do ano
passado, na ordem dos 25 mil.
Apoios sociaisCatarina Gomes
O objectivo é dar apoio a cerca de 120 pessoas em Lisboa e na Guarda, cujos familiares deixaram o país
JOSÉ SARMENTO MATOS
Ajuda aos que ficam pode ser dada em pequenas tarefas diárias
20 | LOCAL | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
Centro da Memória Judaica do Porto chumba no QREN mas mantém a fé
Pároco da Vitória espera cativar judeus para a ideia da criação do centro interpretativo no Encontro Diálogo e Reconciliação que decorre no dia 14 nesta freguesia do centro histórico do Porto
BÁRBARA RAQUEL MOREIRA
O padre Agostinho Jardim Moreira
já imaginava que “só por milagre”
se conseguiria concluir o projecto
do Centro Interpretativo da Memó-
ria Judaica e Cristã-Nova do Porto a
tempo de ele benefi ciar dos fundos
europeus do Quadro de Referência
Estratégica Nacional (QREN). O pra-
zo era demasiado curto para cum-
prir os trâmites.
O velho edifício, virado para a Rua
de São Miguel, a mais importante
do tempo da Judiaria do Porto, foi
cedido à paróquia de Nossa Senhora
da Vitória pela autarquia em Julho
de 2013. “Conseguimos fazer o le-
vantamento e o projecto; o projecto
foi aprovado pela Sociedade de Re-
abilitação Urbana; apresentámos a
candidatura ao QREN, mas foi des-
classifi cada, por não estar amadu-
recida”, diz. “Não tinha ainda as
especialidades todas. Fez-se tudo
em cima do joelho.”
Uma nova candidatura está a
ser trabalhada a pensar no Quadro
Comunitário de Apoio 2014-2020,
que foi aprovado em Novembro pe-
lo Parlamento Europeu. Desta vez,
Jardim Moreira terá tempo para cui-
dar de cada pormenor. E parece-lhe
que não tem sentido avançar sem o
apoio dos judeus.
No próximo dia 14 de Janeiro, no
Palacete dos Viscondes de Balse-
mão, no Porto, o pároco da Vitória
e o líder da Rede de Judiarias de
Portugal deverão acolher os parti-
cipantes no Encontro Diálogo e Re-
conciliação, no qual, “pela primeira
vez”, a oração Shemá Israel, a base
das religiões monoteístas e abramis-
tas, será cantada a uma só voz por
“responsáveis da Igreja Católica, ra-
binos e dirigentes de comunidades
judaicas portuguesas e bispos das
igrejas anglicana e luterana”.
No encontro – organizado para
ser “um exemplo de diálogo inter-
religioso e de fomento da paz entre
os povos e as culturas do mundo”
–, Jardim Moreira discursará sobre
o projecto, orçado em 1,6 milhões
de euros. Está convencido da sua
importância. “No ano passado, re-
cebi mais de 300 judeus do Canadá,
dos EUA, do México, da Alemanha,
de Israel”, comenta. O interesse dos
turistas tinha um ponto muito espe-
grupo de judeus que o quer visitar.
Amiúde, perguntam a Jardim Mo-
reira por que se interessa tanto um
padre católico por este assunto. Na
linha de Kiko Argüello, um dos fun-
dadores do Caminho Neocatecume-
nal na Igreja Católica Apostólica Ro-
mana, responde que sem judaísmo
não haveria cristianismo. “Temos
uma história comum, embora essa
história tenha partes que não orgu-
lham ninguém”, reconhece.
Os primeiros reis de Portugal pro-
tegeram os judeus. Havendo mais
de dez, podia ser criada uma comu-
na e uma sinagoga. Em 1319, nova
etapa: qualquer comunidade com
mais de dez membros teria de viver
longe dos cristãos. Em 1477, quan-
do Dom Manuel subiu ao trono, já
em Espanha havia Inquisição. Soli-
citou regime semelhante. Publicou
o édito de expulsão dos judeus em
1493, mas o chamado Santo Ofício
foi estabelecido já no tempo de Dom
João III, em 1536.
Foi naquele contexto de segrega-
ção que nasceu a sinagoga da Rua
de São Miguel. Há, explicou aquan-
do da sua descoberta a historiadora
Elvira Mea, “garantia histórica” de
que existiu ainda no século XVI, ou
seja, após a expulsão dos judeus. No
livro Nomologia o Discursos Legales,
publicado em Amesterdão, em 1629,
Immanuel Aboab refere o bairro do
Olival, no qual havia uma sinagoga.
Em 2012, o ehal foi classifi cado
como monumento de interesse
público por Francisco José Viegas,
então secretário de Estado da Cul-
tura. Em Julho, Câmara do Porto e
Assembleia Municipal aprovaram
a cedência do imóvel devoluto, na
mesma rua, uns números abaixo,
para que ali nascesse um Centro In-
terpretativo da Memória Judaica e
Cristã-Nova do Porto.
ProjectoAna Cristina Pereira
cífi co. No número 9 da Rua de São
Miguel foi descoberto há 12 anos um
ehal, um nicho de pedra lavrada on-
de a comunidade judaica guardava
a Torá.
O edifício fora adquirido pelo Cen-
tro Social e Paroquial de Nossa Se-
nhora da Vitória em 1997 para fazer
um lar de idosos e um centro de dia.
Na primeira fase da obra, ao limpar
as paredes, depararam-se com um
muro falso. Retiradas as pequenas
pedras e as partes de barro, deram
com o que resta de um armário litúr-
gico no qual se presume que seriam
guardados os textos sagrados.
O nicho sobressai no refeitório
do lar e centro de dia. Dos azule-
jos que lhe cobriam o fundo e da
decoração envolvente subsistem
apenas alguns fragmentos. Era ali
que funcionava a sinagoga da Ju-
diaria do Olival. De vez em quan-
do, telefona algum guia de um
O ehal, nicho onde se guardava a Torá, foi encontrado atrás de um muro no edifício do Centro Social e Paroquial de Nossa Senhora da Vitória
“No ano passado, recebi mais de 300 judeus do Canadá, dos EUA, do México, da Alemanha, de Israel”, comenta o padre Agostinho Jardim Moreira.Estes visitantes querem ver o ehal descoberto há 12 anos
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | LOCAL | 21
A forte ondulação que ontem se fez
sentir na costa portuguesa impediu
que o paquete Funchal fundeasse
ao largo da praia da Rocha/Porti-
mão. O navio, com 400 passageiros
a bordo, andou mais de 24 horas a
tentar atracar no porto de Portimão,
uma espera que só terminou com a
chegada do rebocador, proveniente
de Setúbal, por volta das 18h. Isso
permitiu aos passageiros o regres-
so a casa.
Cerca das 6h30, disse Isilda Go-
mes, o navio tentou fundear ao lar-
go de Alvor. O objectivo seria fazer
o transporte dos passageiros para
terra num catamarã, mas a operação
não teve êxito. O Algarve, apesar de
ser uma região que se encontra na
rota turística dos grandes cruzeiros
marítimos, não possui um reboca-
dor, indispensável no apoio a este
tipo de operações, mesmo com bom
tempo.
“Inconcebível”, foi como a presi-
dente da Câmara de Portimão, Isilda
Martins, classifi cou a falta de condi-
ções de apoio a este segmento turís-
tico. Sempre que chega um navio de
grande porte a este porto, tem de ser
pedido a Sines um rebocador, levan-
do na viagem oito a dez horas.
O deputado Miguel Freitas, do PS,
disse ao PÚBLICO que vai “pedir ex-
plicações ao Governo” pelo facto de
a região não dispor de um rebocador
público, quando é conhecida a vul-
nerabilidade da região. “Passam pela
costa algarvia 150 navios de grande
porte por dia, 18 dos quais contendo
cargas perigosas, poluentes.” Em ca-
so de acidente, disse, “pode-se dar
uma catástrofe”. O que se passou
com o paquete Funchal, que fazia
um cruzeiro de sete dias – Lisboa,
Funchal, Marrocos, Lisboa – “veio
demonstrar que o Algarve tem de
possuir meios e capacidade de ges-
tão para garantir o desenvolvimento
dos portos de Faro e Portimão”.
Enquanto aguardava pelo reboca-
dor, que demorou 13 horas (saiu às
5h de Setúbal), o paquete Funchal
continuou a navegar entre Portimão
e Albufeira, procurando desta forma
suavizar o efeito da ondulação. O di-
rigente dos Ofi ciais Mar, Sousa Cou-
tinho, citado pela Lusa, disse que
“todos os passageiros encontram-
se bem e confortáveis”. Porém, não
deixou de apontar a necessidade de
o Algarve ter “sempre” um reboca-
dor. É uma região “abandonada em
termos de segurança marítima”.
Passageiros do Funchal regressaram a terra
NELSON GARRIDO
Ontem foi dia de limpeza geral nas freguesias mais afectadas pela tempestade de sábado
Subiu para 112 o número de habita-
ções danifi cadas pelo tornado que
na madrugada de sábado passou
por quatro freguesias do concelho
de Paredes, no distrito do Porto. E
o estado do tempo não tem ajudado
a reparar as coberturas que o ven-
to arrancou às casas e atirou para o
chão.
“Tem chovido muito”, diz o co-
mandante dos Bombeiros de Lorde-
lo, Pedro Alves, numa curta conversa
telefónica. E não são boas as notícias
que chegam de Lisboa. Para hoje, o
Instituto do Mar e da Atmosfera pre-
vê “céu geralmente muito nublado,
períodos de chuva nas regiões nor-
te e centro, estendendo-se gradual-
mente à região sul, e sendo por vezes
forte no Minho e Douro Litoral até ao
início da tarde”.
Quase todas as casas afectadas nas
freguesias de Duas Igrejas, Sobrosa,
Lordelo e Vilela perderam parte da
cobertura, algumas fi caram sem per-
sianas e com os vidros das janelas
partidos. Desde então, os morado-
res afl igem-se com as infi ltrações de
Número de casas danificadas pelo tornado subiu para 112
água, capazes de destruir roupas,
móveis e outros bens.
Mobilizou-se muita gente, apesar
do vento e da chuva. Afastaram o que
puderam para áreas cobertas ou ca-
sa de amigos ou familiares. Alguns
subiram aos telhados. Tentaram re-
por telhas ou pôr toldos e bandas
de plástico a tapar os buracos, que
deixavam entrar água.
“Há muito trabalho a fazer”, co-
mentava o comandante, ao anoite-
cer, depois de um dia inteiro passado
às voltas, a fazer o levantamento por-
menorizado da situação. Mesmo as-
sim, já muito fora feito, comentava,
por seu lado, a vereadora da Câmara
de Paredes Hermínia Moreira. Quem
ali tivesse estado no sábado já não
reconheceria alguns lugares. Os habi-
tantes tinham saído às ruas e fi zeram
muito trabalho de limpeza.
“As pessoas estão a reagir dentro
do possível”, notava Pedro Alves.
“Têm uma surpreendente capaci-
dade de se reerguer”, observava
também Hermínia Moreira. “O que
as pessoas podem fazer — sozinhas
ou com a ajuda de familiares ou ami-
gos — já estão a fazer, mas claro que
muitas precisam de ajuda.”
Ficaram desalojadas 56 pessoas.
Quase todas acabaram por ser acolhi-
das por familiares. Só duas pessoas,
idosas, sem retaguarda familiar, fi ca-
ram num lar gerido por uma institui-
ção particular de solidariedade social
local. Já usavam a valência de centro
de dia, passaram a pernoitar.
A autarquia estava a analisar ca-
da caso de forma pormenorizada.
Hoje, com a Segurança Social e as
juntas de freguesia, delineará acções
concretas.
Muitas das famílias afectadas já
enfrentavam antes dificuldades
económicas: algumas pessoas estão
desempregadas. “Esta é uma região
muito afectada pelo desemprego”,
sublinha ainda a vereadora. E é por
isso, também, que a câmara pediu
ao Governo que declarasse estado
de calamidade.
Duas fábricas foram parcialmente
destruídas pelo tornado. Uma delas
— a têxtil — emprega 58 pessoas. A
outra — de móveis — é mais pequena.
Uma e outra deverão retomar a acti-
vidade quanto antes. No município,
há ainda registo de vários mostruá-
rios de mobiliários estragados. Em
Vilela, a cobertura do pavilhão da
escola foi levada. Em Duas Igrejas,
o mesmo aconteceu à igreja.
O tornado arrancou dezenas de ár-
vores e tombou uns quantos postes.
Uma equipa da EDP encarregara-se
de repor o fornecimento de elec-
tricidade suspenso pelo temporal.
Domingo, já só 15 habitações perma-
neciam sem corrente: dez em Vile-
la e cinco em Duas Igrejas. “Estão
completamente danifi cadas”, diz.
Outras permaneciam às escuras,
apesar de já terem corrente. Havia
água na instalação, pelo que acender
uma lâmpada podia bastar para fazer
curto-circuito.
ParedesAna Cristina Pereira
Temporal de anteontem desalojou 56 pessoas, quase todas, entretanto, acolhidas por familiares ou amigos
Breves
Ponte de Lima
Viana do Castelo
GNR recuperou 152 aves exóticas furtadas
Bombeiros procuram canoísta no rio Âncora
A GNR anunciou ontem a recuperação, em Ponte de Lima, de 152 aves exóticas furtadas na última semana, avaliadas em mais de dez mil euros, tendo identificado o alegado autor do crime. A apreensão destas aves, agora divulgada, teve lugar durante uma operação na noite de sexta-feira, numa busca domiciliária na freguesia de Fornelos. Um morador, de 30 anos, foi “considerado suspeito” do furto, dias antes, nas freguesias de Chafé e Mazarefes, no concelho de Viana do Castelo. “Este, confrontado com a prova recolhida pelos investigadores, assumiu a autoria dos crimes e que as aves teriam como destino o mercado paralelo a preços mais reduzidos”, explicou a GNR.
Um homem de 33 anos estava a ser procurado, ontem, pelos Bombeiros Municipais de Viana do Castelo no rio Âncora, depois de os amigos com quem praticava canoagem terem reportado às autoridades que se estava a “afogar”. A informação foi confirmada por fonte da GNR, acrescentando que o homem estava a praticar canoagem naquele rio, na freguesia de Freixieiro de Soutelo, Viana do Castelo, quando, pelas 13h30, foi dado o alerta. As buscas, na zona da serra d’Arga, estiveram a cargo de mergulhadores e outros elementos dos Bombeiros Municipais de Viana do Castelo, apoiadas pela GNR e Polícia Marítima. Familiares do canoísta, natural de Riba d’Âncora, em Caminha, também estiveram no local.
Algarve Idálio Revez
22 | ECONOMIA | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
Depósitos suspeitos acima de 5000 euros obrigam a identifi car cliente
Banco de Portugal introduz novas regras no âmbito do combate europeu à lavagem de dinheiro e ao fi nanciamento do terrorismo. Transferências também serão mais acompanhadas pelos bancos
RUI GAUDÊNCIO
Bancos terão de ajustar os seus procedimentos e os sistemas de controlo internos
O Banco de Portugal, no quadro das
orientações internacionais, vai refor-
çar, a partir de Fevereiro, as medidas
destinadas a prevenir o branquea-
mento de capitais e o fi nanciamento
do terrorismo. Entre as novidades
está o facto de os bancos fi carem
obrigados a identifi car quem preten-
da depositar, numa conta que não é
a sua, um valor igual ou superior a
5000 euros, isto, se houver suspei-
tas de risco. As transferências bancá-
rias presenciais, por multibanco ou
Internet, a partir de 15.000 euros,
passam também a ser alvo de maior
vigilância.
Os novos requisitos do supervi-
sor, que entram em vigor a 16 de
Fevereiro, impõem também, mas
agora de modo automático, a iden-
tifi cação de todos os depositantes
(nome e dados do cartão de cida-
dão ou do passaporte) de numerá-
rio em contas de terceiros, desde
que a quantia seja igual ou superior
a 10.000 euros. O mesmo acontece
para os movimentos (em dinheiro)
suspeitos de valor igual ou acima
de 5000 euros.
Estas são algumas das medidas
que constam do aviso do Banco de
Portugal, de 19 de Dezembro, com
mais de 60 artigos, e que foi emiti-
do no quadro do combate europeu
ao branqueamento de capitais e fi -
nanciamento do terrorismo.
“As matérias mais reguladas no
documento, que é extenso e deta-
lhado, são os deveres de identifi ca-
ção, de diligência (análise das ope-
rações para apurar se tem traços
que a torne suspeita), de controlo
(criação de modelos de gestão de
risco e de um sistema de controlo
interno que garanta no sector uma
cultura de prevenção e de luta con-
tra esquemas ilícitos) e de formação
dos quadros bancários (para que
estejam aptos a intervir sempre
que for necessário)”, explicou ao
PÚBLICO Sofi a Leite Borges, espe-
cializada em direito fi nanceiro e
sócia da sociedade de advogados
Abranches Namora Lopes dos San-
tos & Associados (ANLS).
Para a advogada, que já produziu
matéria sobre o tema, o BdP veio
também clarifi car “a extensão e o
grau de responsabilidade dos ór-
ao procurador-geral da República e
à UIF quando têm suspeitas”.
Um dos movimentos bancários
classifi cado pelo BdP como gera-
dor de desconfi ança é o fracciona-
mento de depósitos em numerário
em conta titulada por terceiro, o
que pode ser lido como sendo um
sinal para evitar atingir os limites
recomendados pelo BdP, de 10.000
euros ou de 5000 euros (com sus-
peita de risco).
Outra regra incluída no aviso do
BdP prende-se com as transferên-
cias bancárias presenciais ou com
recurso a meios de comunicação
à distância (multibanco, Internet)
para montantes iguais ou acima
de 15.000 euros. Nestes casos, os
bancos devem identifi car o orde-
nante e o benefi ciário e verifi car
a veracidade dos dados pessoais.
O mesmo pode acontecer quando
o valor individual ou agregado da
transferência for igual ou ultrapas-
sar os 15.000 euros.
Para Sofi a Leite Borges, o aviso
do supervisor fi nanceiro, de 19 de
Dezembro, “vai implicar alterações
nas políticas, nos procedimentos e
nos sistemas de controlo internos
das instituições fi nanceiras”, não
só no que respeita “aos deveres de
identifi cação de clientes e de dili-
gência na análise de certas opera-
ções, relações de negócio, pessoas
politicamente expostas ou transac-
ções, ainda que ocasionais”, mas
também na maior aposta na forma-
ção dos bancários. Estes temas me-
recem, aliás, um tratamento por-
menorizado por parte do BdP, que
impõe também maiores exigências
nos procedimentos de identifi cação
do cliente na abertura de uma con-
ta bancária.
BancaCristina Ferreira
gãos de administração” das insti-
tuições que supervisiona, no que
respeita “à prevenção da utilização
do sistema fi nanceiro para branque-
amento de capitais e fi nanciamento
do terrorismo”.
Apesar de os bancos terem por
obrigação informar imediatamente
o procurador-geral da República e a
Unidade de Informação Financeira
Um dos movimentos classifi cados como suspeitos pelo Banco de Portugal é o fraccionamento de depósitos
(UIF) sobre qualquer movimento
duvidoso (independentemente da
quantia), o aviso do BdP é omisso
(ainda que a lei o permita desde
2008) na defi nição de regras pre-
cisas de dever de comunicação às
autoridades no caso de uma tran-
sacção de valor igual ou acima de
5000 euros levantar dúvidas.
“O BdP optou por seguir crité-
rios mais qualitativos, defi nindo
quais as operações que podem ser
classifi cadas de suspeitas, indepen-
dentemente do seu montante, em
vez de seguir critérios quantitativos
[fi xar um valor a partir do qual a
operação deve ser comunicada ao
Ministério Público], que são em ge-
ral cegos e que podem levar o in-
fractor a contornar a regra com de-
pósitos de menor valor”, explicou
Sofi a Leite Borges. Faz notar que
“os bancos já fazem a comunicação
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | ECONOMIA | 23
OXANA IANIN
O Ministério das Finanças comunicou o nome à CRESAP pouco antes do Natal
Ao fi m de seis meses sem preencher
o cargo, o Governo escolheu o novo
presidente da Parpública. A holding
que gere as participações do Esta-
do em empresas como a TAP e a
Águas de Portugal vai ser liderada
por Pedro Ferreira Pinto, que su-
cederá assim a Joaquim Pais Jorge.
O nome indicado pelo executivo já
recebeu luz verde da comissão de
recrutamento para a administração
pública.
A escolha partiu da secretária de
Estado do Tesouro, Isabel Castelo
Branco, que enviou o nome do can-
didato para a entidade presidida
por João Bilhim a 19 de Dezembro.
O parecer positivo da Comissão de
Recrutamento e Selecção para a Ad-
ministração Pública (CRESAP) foi
dado ainda antes do Natal, no dia
23, e publicado na passada sexta-
feira no site do organismo. O perfi l
de Pedro Ferreira Pinto foi conside-
rado adequado ao cargo pelo facto
de ter “uma experiência efectiva
na gestão de topo de situações de
elevada complexidade” e por de-
monstrar um “conhecimento da
problemática em causa”, lê-se no
documento.
Pedro Ferreira Pinto esteve, des-
de cedo, ligado ao sector da corre-
tagem e dos fundos de investimen-
to, tendo passado também pela Efa-
cec. Até 2009, foi administrador da
Selecta e da Lisbon Brokers, tendo
integrado nesse ano a empresa de
serviços de assessoria fi nanceira
ASK – Advisory Services Kapital. É,
desde Outubro de 2011, administra-
dor da Eaufresh, uma empresa de
aluguer de purifi cadores de água.
O novo presidente da Parpúbli-
ca, que não foi ainda ofi cialmente
nomeado pelo Governo, sucederá
no cargo a Joaquim Pais Jorge, que
cessou funções em Julho, depois de
nove meses na liderança da holding
estatal, para subir a secretário de
Estado do Tesouro.
Uma nomeação feita pela minis-
tra das Finanças, Maria Luís Albu-
querque, na sequência da demissão
do anterior titular da pasta, Vítor
Gaspar.
Desde então, a gestão da Parpú-
Governo escolhe presidente da Parpública ao fim de seis meses
blica estava a ser assegurada pelos
dois membros executivos do conse-
lho de administração, Carlos Durães
da Conceição e José Mendes de Bar-
ros. A holding fi cou sem presidente
nos últimos seis meses, apesar de
ter estado envolvida em dossiers
importantes como a privatização
dos CTT, que controlava a 100%. A
maioria do capital dos correios foi
dispersa em bolsa, permanecendo
30% nas mãos do Estado, embora a
intenção do Governo seja aliená-los
no médio prazo.
A saída do último presidente da
holding acabou por se revelar atri-
bulada, visto que deixou a Secre-
taria de Estado do Tesouro cerca
de um mês depois de ter assumido
funções. Pais Jorge demitiu-se do
cargo no início de Agosto por causa
da polémica dos swaps, já que, en-
quanto quadro do Citigroup, esteve
presente em reuniões com elemen-
tos do anterior executivo PS para
vender derivados de cobertura de
risco sobre a dívida pública.
Alguns destes contratos, subscri-
tos por empresas do Estado, foram
considerados especulativos, tendo
acumulado no conjunto perdas po-
tenciais superiores a 3000 milhões
de euros. Este caso levou, aliás, ao
afastamento de outros dois secre-
tários de Estado e de três gestores
públicos.
Pedro Ferreira Pinto iniciará o
mandato na Parpública num mo-
Empresas públicasRaquel Almeida Correia
Pedro Ferreira Pinto com luz verde para suceder a Pais Jorge, que foi secretário de Estado, mas se demitiu por causa dos swaps
mento de especial indefi nição. O
Governo tinha acordado com a troi-
ka a extinção da holding, visto que
iria perder progressivamente os ac-
tivos que geria com o cumprimento
do programa de privatizações. Des-
de 2012, deixou de ter na carteira
as participações do Estado na EDP
e na ANA, bem como 40% da REN
e 70% dos CTT. O emagrecimento
continuará, caso se cumpra a venda
da TAP, que fracassou no fi nal de
2012 com a rejeição da proposta de
Gérman Efromovich.
No entanto, e apesar de o executi-
vo se ter comprometido a apresen-
tar uma estratégia para a extinção
da Parpública, o grupo continua
sem um caminho defi nido. Estas
circunstâncias constam, aliás, no
parecer divulgado pela CRESAP. No
documento, lê-se que o novo pre-
sidente da holding realçou a “ne-
cessidade de clarifi cação estratégi-
ca da continuação ou extinção da
instituição”.
Apesar de ter fechado este capítu-
lo, o PÚBLICO sabe que o Governo
ainda não conseguiu resolver o pro-
blema da Metro de Lisboa/Carris,
que fi cou sem presidente em Junho
deste ano por causa da polémica
dos swaps. Desde que José Silva Ro-
drigues foi afastado do cargo, foram
já discutidos vários nomes para o
substituir, mas nenhum deles che-
gou à comissão de recrutamento
público.
Mesmo sem presidente, a Parpública esteve envolvida, no final do ano, na importante
privatização dos CTT, que acabou por render ao Estado 579 milhões de euros, através de uma operação em que foi colocada no mercado uma fatia de 70% do capital da empresa liderada por Francisco Lacerda.
Na oferta pública de venda, o público investiu um pouco mais de 115 milhões de euros para adquirir 21 milhões de acções. Já na parte reservada aos trabalhadores, as ordens atingiram cerca de 2,1 milhões de acções, gerando um encaixe de 10,8 milhões de euros.
A parte mais substancial da receita veio, no entanto, da venda directa aos investidores institucionais, que permitiu a entrada de 463,7 milhões de euros nos cofres do Estado, através da venda de um bloco global de 9,6 milhões de acções. A Parpública mantém 30% na empresa. J.M.R.
Encaixe de 579 milhões nos CTT
Breves
Turismo
Previsão
Gastronomia e vinhos promovem Alentejo no mercado inglês
Acções da Fiat podem duplicar de valorem dois anos
O produto “Gastronomia e Vinhos” vai ser a “âncora” para vender o Alentejo no mercado turístico inglês, este ano, com a agência regional de promoção externa a apresentar o destino como a “alma gastronómica” de Portugal. “A gastronomia e vinhos são um produto muito forte no Alentejo e acordámos com os operadores ingleses com os quais trabalhamos que, este ano, esse é o tema ‘âncora’ para esse mercado”, disse Vítor Silva, presidente da agência turística. O responsável pela Agência Regional de Promoção Turística do Alentejo (ARPTA), sediada em Grândola, realçou que esta já é uma área fulcral para “vender” o destino alentejano, mas, no mercado inglês, vai ser dada “ainda mais atenção” ao produto.
A cotação das acções da Fiat poderá duplicar nos próximos dois anos, na sequência do acordo que deu ao grupo italiano o controlo total da construtora norte-americana Chrysler. A estimativa foi avançada na edição de ontem da revista Barron’s. Na sexta-feira passada, os títulos da Fiat fecharam a perder 2,3%, para os 6,76 euros, na Bolsa de Milão. Depois de ter comprado os 41,% de capital que o fundo de saúde do sindicato dos trabalhadores do sector automóvel detinha na Chrysler, a Fiat tem caminho livre para avançar com uma fusão que irá gerar importantes sinergias, nomeadamente, através da centralização de competências e serviços. E terá acesso mais simplificado a financiamento.
24 | ECONOMIA | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
O Porto de Sines tomou,
decisivamente, um lugar de
destaque em tudo o que é
noticiário do país, e não há
responsável que a ele não se
refi ra, mesmo que por vezes não
saiba bem sobre o que discorre.
Tudo é amalgamado nessa
âncora da nossa esperança
e na evidência desse caso de
sucesso. Não importa distinguir
se falamos do Porto de Sines, da
APS — Administração do Porto
de Sines ou do Terminal de
Contentores de Sines (Terminal
XXI). Embora sejam realidades
diferentes, apenas resulta da
alusão feita, uma única palavra:
sucesso. E mais que isso, o rumo
que nos leva ao bom caminho da
afi rmação de Portugal no mundo.
Um Portugal que quer retornar
ao mar e nele vê o seu mais
importante desígnio.
Como sempre, os discursos
de circunstância são dominados
pela superfi cialidade, procurando
enquadrarem-se no que importa
dizer no momento. E o momento
agora é da grande oportunidade
criada pelo alargamento do canal
do Panamá, que irá provocar
um aumento quase exponencial
(o que se entende das palavras
dos governantes) da carga
contentorizada movimentada no
Terminal XXI. Quem nos dera,
assim o mundo não fosse redondo
e fosse estático nessa posição
geoestratégica e obrigasse os
navios e as suas cargas a passar
por este local e, mais do que isso,
a movimentarem essas cargas no
Terminal de Contentores de Sines.
Só que, sendo uma real
oportunidade, há muito trabalho
a fazer, desde logo melhorar a
competitividade associada a este
tráfego, que será essencialmente
de transhipment, permanecendo
atentos ao que se passa noutros
terminais congéneres já existentes
(Valência, Algeciras, Tânger,
Felixstowe) ou anunciados (Praia
da Vitória/Açores). Também de
águas profundas, capazes de
receber navios de última geração,
nomeadamente os chamados
Triple-E, com capacidade de
18.000 TEU.
Se é certo que Sines conta
com o maior operador mundial,
a PSA Corporation Ltd, como
concessionário, e é escalado
pelo segundo maior armador
mundial, a MSC — Mediterranean
Shipping Company, não será
de somenos recomendável que
consiga o concurso de outras
linhas de navegação numa
estratégia de oferta diversifi cada,
tão importante na formação
dos preços, numa economia
dinâmica e concorrencial. E
não esquecer a importância de
se valorizar noutros requisitos
de competitividade, que vão
muito além de ser “um porto
de águas profundas”, pois os
desenvolvimentos no tamanho
e capacidade parecem não
acompanhar a exigência de
maior calado dos navios. (É boa
nota, saber que este navio de
18.000 TEU necessita de uma
profundidade de 14,5m).
A propósito das expectativas
criadas pelo alargamento do
canal do Panamá, devemos
ter presente que o mesmo só
permitirá acolher navios porta-
contentores de capacidade
máxima até 12.000 TEU,
podendo acontecer que, fruto
do desenvolvimento da frota
mundial de contentores, cada
vez sejam mais os navios de
capacidade acima desta, que
escalarão Sines, no futuro.
Ou mesmo, verifi car outras
premissas associadas ao comércio
mundial e às suas tendências,
mesmo o benefício imediato que
terá nas trocas com economias
regionais americanas mas que
só a médio/longo prazo sejam
visíveis os benefícios trazidos
a Sines e a mercados mais
distantes, apoiados no chamado
round of the world. Rota, esta, à
volta do mundo feita com recurso
a grandes navios, carregados
como convém, pois resulta numa
grande preocupação os 30% de
custos associados a contentores
vazios, suportados pelas linhas
de navegação na sua conta de
exploração.
Não alinharei outras
preocupações associadas ao
tema, que poderiam ter que ver
com a emergência de outras
rotas marítimas possíveis para o
comércio entre a Ásia e a Europa,
e mesmo a América, com menos
dias de navegação e porventura
OpiniãoJosé António Contradanças
mais baratas (como por exemplo:
a Rota do Ártico), que poderiam,
igualmente, estar associadas
a outras alternativas que se
desenham (construção de um
canal interoceânico promovido
pelo governo das Honduras e
com fortes interesses por parte
da China), porque, embora com
este arrefecimento dos ânimos,
sou dos que acreditam na
importância de Sines e no papel
a desenvolver pelo seu terminal
de contentores, em benefício da
região e do país.
Num mundo que reclama
atenção permanente, tanto mais
no mundo dos negócios, acresce
uma grande vantagem que se
poderá associar ao Porto de
Sines em termos futuros. Falo do
crescente recurso ao gás natural
pela maioria das frotas. Ora tendo
em funcionamento um Terminal
de Gás Natural, será aconselhável
que se facilite o fornecimento
de bancas deste gás aos navios
que demandem o Porto de Sines.
Será, certamente, uma vantagem
preciosa.
Como disse, cada vez
menos gosto de discursos sem
substância e só por isso tentei
aclarar o assunto e balizá-lo
na realidade. Posto isto, acho
que é compaginável a alegria
sentida por haver alguma coisa
que funciona bem neste país. E
desde logo, seja-me permitido,
envaidecer-me (não fi cará mal o
termo) por me saber associado
a este projeto que se afi rmou e,
hoje, se revela de uma utilidade,
inquestionável, para o nosso país.
Já vai distante março de 1998,
em que fi z parte de uma missão
que se deslocou a Singapura e
sensibilizou a PSA a acreditar e a
investir em Sines. E também esse
lindo dia de junho de 1999 em que
coassinei o contrato que levaria
à concessão do Terminal XXI.
Pelo meio fi cará uma história por
contar. Mas valeu a pena!
O Porto de Sines,um sinal de futuro
DANIEL ROCHA
Há muito trabalho a fazer para aproveitar as oportunidades abertas pelo alargamento do canal do Panamá
(Ex-administrador da APS)
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | ECONOMIA | 25
A primeira semana completa de
2014 apresenta-se interessante
em termos de divulgação
de indicadores e ocorrência
de eventos económicos,
particularmente na Europa e nos
Estados Unidos. Do lado de cá do
Atlântico serão conhecidos, para
a União Europeia, e respectivos
países, o indicador de sentimento
económico da Comissão Europeia
e os indicadores de confi ança dos
diversos sectores de actividade
e das famílias, bem como o
sentimento dos empresários dos
serviços (PMI Services) da zona
euro e suas principais economias,
todos referentes a Dezembro.
Nesta última região serão
ainda divulgados, para além
dos números importantes
sobre as vendas a retalho, que
refl ectem o comportamento
das despesas das famílias
(Novembro), as primeiras
estimativas para a evolução dos
preços em Dezembro, variável
que recentemente tem vindo a
ser objecto de maior escrutínio
por parte do BCE e agentes
económicos, e os dados para a
taxa de desemprego (Novembro).
A atenção sobre os preços não
assenta nos receios permanentes
de várias décadas, da tradicional
aceleração do seu crescimento
(aumento da infl ação), mas,
precisamente, no seu contrário,
da verifi cação do abrandamento
continuado no ritmo de variação,
para um valor aquém do nível
desejável para a sua evolução, que
o BCE defi niu abaixo mas próximo
de 2%, em termos homólogos, no
médio prazo.
É esperada uma estabilização
do crescimento dos preços em
0,9%, após 0,7% em Outubro,
permanecendo ainda riscos
elevados sobre a capacidade de
aproximação à meta referida (2%)
num horizontal temporal de um a
dois anos.
Não obstante estes
constrangimentos, a confi rmação
no primeiro dia útil deste ano
de uma fi rme animação no
sentimento dos empresários da
indústria (PMI Manufacturing)
da zona euro, em particular
em Itália e Espanha (só a
França decepcionou) alimenta
a expectativa de que uma
recuperação mais fi rme da
actividade possa ocorrer nos
primeiros meses de 2014.
É dentro deste contexto que na
próxima quinta-feira se realiza
a primeira reunião do ano do
BCE, não sendo expectável que
o conselho de governadores
proceda a alterações de política
monetária, após a decisão
de baixar a principal taxa de
referência de 0,5% para 0,25%
em Novembro passado. No Reino
Unido também haverá lugar
à primeira reunião do ano do
comité de política monetária do
Banco de Inglaterra, não devendo
assistir-se a modifi cações na
política, mantendo-se a taxa de
referência (base rate) em 0,5%.
Nos Estados Unidos, após os
sinais positivos revelados pelos
últimos indicadores conhecidos
na parte fi nal de 2013 (produção
industrial, encomendas de
bens duradouros, revisão em
alta do crescimento do PIB do
3.º trimestre, confi ança dos
empresários da construção,
preços da habitação, vendas de
novas habitações, confi ança dos
consumidores), a divulgação do
ISM Manufacturing de Dezembro
(confi ança dos empresários
da indústria) no início de 2014
revelou-se igualmente promissora,
com a vertente das novas
encomendas dirigidas ao sector
a registar o valor mais elevado
desde Abril de 2010.
Foi seguramente também com
este enquadramento que Ben
Bernanke, provavelmente na
última intervenção pública como
presidente da Reserva Federal,
referiu, na sexta-feira passada
em Filadélfi a, que, embora
a recuperação da economia
norte-americana permaneça
claramente incompleta – a taxa
de desemprego ainda se encontra
em 7% da população activa –,
existem alguns motivos para um
optimismo cauteloso. A criação
líquida de emprego e a taxa de
desemprego serão conhecidas na
próxima sexta-feira, esperando-se
um número forte para a primeira.
Atenções da semana centradas em indicadores que podem confirmar a retoma económica
Pré-abertura Pedro Matos Branco
ES Research BES
O BCE e o Banco de Inglaterra não deverão mexer no nível de taxas de juro
RUI GAUDÊNCIO
Alberto João Jardim foi obrigado a abdicar do regime fiscal mais favorável na região
Os contribuintes madeirenses paga-
ram nos 11 primeiros meses de 2013
cerca de 188,9 milhões de euros de
IRS, ou seja, mais 26,2% do que em
idêntico período do ano anterior,
revela o Boletim de Execução Orça-
mental da Região Autónoma, publi-
cado no último dia de Dezembro.
A Madeira, em virtude do cumpri-
mento das obrigações impostas pelo
Programa de Ajustamento Económi-
co e Financeiro (PAEF) regional, em
matéria de fi scalidade, e das altera-
ções decorrentes do Orçamento do
Estado para 2013, registou uma evo-
lução evidenciada de mais 63,3% ao
nível da tributação directa. As recei-
tas provenientes dos impostos direc-
tos sobre os rendimentos de pessoas
singulares (IRS) atingiram os 188,9
milhões e as das pessoas colectivas
(IRC) 128 milhões, o que face ao ano
de 2012 traduzem acréscimos, res-
pectivamente, de 26,2% e 170,7%.
Para além da equiparação dos es-
calões de fi scalidade aos praticados
a nível nacional, o boletim salienta
ainda na tributação das pessoas co-
lectivas o efeito dos resultados deri-
Madeirenses pagaram mais 26,2% de IRS nos primeiros 11 meses de 2013
vados da autoliquidação do IRC 2012,
em que se verifi cou um aumento de
cerca de 100% nos contribuintes do
regime geral, assim como o efeito do
fi m do regime de isenção da Zona
Franca da Madeira. No ano passa-
do, o PAEF impôs a eliminação do
diferencial de -30% nos impostos
cobrados na região.
Em 30 de Novembro de 2013, o
saldo global consolidado dos orga-
nismos com enquadramento no pe-
rímetro da administração pública
regional da Madeira era defi citário
em 795,2 milhões de euros. O saldo
primário ascendeu a menos 735,3
milhões de euros e o saldo de capi-
tal foi defi citário em 790,3 milhões,
face a uma despesa efectiva de 1971,3
milhões e a uma despesa primária de
1911,3 milhões.
A despesa efectiva acumulada
do governo madeirense aumentou
110,1% entre os 11 meses de 2012 e
igual período do ano passado, apre-
sentando um grau de execução de
67,2%, mais 18,6 pontos percentuais
do que o executado até Novembro do
ano anterior.
O principal factor que infl uenciou
a evolução da despesa foi o pagamen-
to relativo a encargos de anos ante-
riores (983,6 milhões de euros), no
âmbito da utilização do empréstimo
bancário com o aval do Estado no
montante de 1100 milhões, não in-
cluídos nos 1500 milhões cedidos pe-
lo PAEF. Contribuíram também para
tal agravamento o acréscimo da des-
pesa (mais 17,1%) em parte justifi cado
pelos aumentos das remunerações
(mais 14,8%) a que está associada a
reposição dos subsídios de férias e
de Natal dos funcionários públicos
e o aumento da despesa com juros
e outros encargos (10,7%).
No que se refere à dívida não fi nan-
ceira, o último boletim de execução
orçamental, publicado mensalmente
pelo executivo madeirense de acor-
do com o PAEF, refere que o passivo
acumulado da administração pública
regional, reportado ao fi nal de No-
vembro de 2013, ascendia a 1601,6
milhões de euros, dos quais 68,9%
são respeitantes a obrigações do go-
verno e 28,2% do passivo dos servi-
ços e fundos autónomos (SFA).
Os pagamentos em atraso apura-
dos correspondem a 572,1 milhões,
sendo as parcelas mais relevantes
atribuídas ao governo (86%) e aos
SFA (6,45). A componente juros e
outros encargos representa 34,4%
do total do passivo e 15,2% dos pa-
gamentos em atraso.
Contas regionaisTolentino de Nóbrega
Administração regional apresentou saldo deficitário superior a 795 milhões
189As receitas alcançadas pela administração regionalem IRS até Novembro de 2013 ascenderam a 188,9 milhões de euros
26 | MUNDO | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
Al-Qaeda transforma confl ito sírio numa guerra de facto regional
A Al-Qaeda já se chamou muitas coi-
sas, já dissemos que era apenas um
rótulo, pronto a usar, uma ideia. Às
vezes, os nomes importam. Há uns
anos, a principal ameaça do jihadis-
mo internacional no Médio Oriente
vinha da autoproclamada Al-Qaeda
na Península Arábica, primeiro com
base na Arábia Saudita, depois no
Iémen. Agora, como os sírios bem
sabem, o rosto do terror chama-se
a si próprio Estado Islâmico no Ira-
que e no Levante (ISIS) e tem como
objectivo erguer um Estado regional,
o califado de que falava Bin Laden,
estendendo-se pelo menos das mar-
gens iraquianas do Eufrates à costa
mediterrânica do Líbano.
O Levante, termo com que os fran-
ceses designavam o Mediterrâneo
Oriental, é, na verdade, a Síria his-
tórica, e inclui ainda parte do Sul da
Turquia (Hatay), Jordânia, Palestina e
Israel — por vezes usa-se a expressão
como abrangendo também o Chipre
e zonas do Egipto. O ISIS controla
partes do Norte da Síria e tem lan-
çado ataques no Líbano e no Iraque.
Agora, assumiu o controlo de uma
cidade iraquiana inteira, Falluja, e de
partes de Ramadi, capital da provín-
cia de Anbar, no Ocidente do Iraque,
entre Bagdad e a fronteira síria.
Talvez se perceba melhor a partir
de agora o aviso, tantas vezes repe-
tido, de que a guerra na Síria não ti-
nha como não se tornar num confl ito
regional, com implicações bem para
lá das fronteiras do país que Bashar
al-Assad herdou do país, Hafez.
As revoltas árabes de 2011 aconte-
ceram porque tinham de acontecer,
não foram parte de uma conspiração
externa, como diz Assad. Mas aconte-
ceram num dado momento e contex-
to. No ano em que os Estados Unidos
acabaram de retirar do Iraque, num
momento em que Washington quis
deixar de se envolver tanto em confl i-
tos longínquos. Assad percebeu isso,
e os radicais estrangeiros que fi zeram
do Iraque ocupado o seu campo de
batalha contra os infi éis ocidentais e
seus aliados árabes também.
O cisma entre o islão sunita e xiita,
que o grupo fundado por Bin Laden
na fronteira entre o Paquistão e o
Afeganistão tanto explorou, só podia
agudizar-se. Se, no Iraque, Saddam
Hussein era o rosto de um regime
árabe sunita que discriminava a
maioria xiita da população, Assad
é um alauita (ramo do xiismo) que
governa um país de maioria sunita.
Assad jogou a carta do confl ito ét-
nico, quis pôr uns contra os outros,
os jihadistas agradeceram e aprovei-
taram. Entraram na Síria dizendo-se
prontos a morrer para derrotar um
regime infi el e aterrorizam toda uma
população, como já tinham feito em
partes da província iraquiana de An-
bar no tempo dos norte-americanos.
Os estrangeiros ainda lutaram ao la-
do dos rebeldes sírios — alguns ainda
lutam —, mas depressa se tornou ób-
vio para a oposição síria que vencer a
guerra do futuro do país passará tam-
bém por expulsar estes homens.
Na sexta-feira, foi anunciada uma
nova aliança, o Exército dos Mujahe-
din (como eram chamados os comba-
tentes que partiram para o Afeganis-
tão e lá combateram os soviéticos nos
anos 1980), que integra três grandes
grupos de rebeldes e conta com o
apoio da oposição política síria. O
seu objectivo é derrubar o ISIS, par-
ticularmente activo em duas provín-
cias do Norte, Idlib e Alepo.
Ajuda sem tropasEm reacção aos desenvolvimentos
no Iraque, os EUA reafi rmaram o seu
apoio ao Governo xiita de Nouri al-
Maliki, dizendo que nunca voltarão
a ter tropas ao terreno. Questionada
sobre se a força do ISIS não é uma
consequência do desinvestimento
norte-americano no Iraque após a re-
tirada, a porta-voz do Departamento
de Estado, Marie Harf, defendeu que
os EUA fazem o que podem. “Seja-
mos claros — são os terroristas que
estão por trás da violência.”
Nada aqui é simples, nem o apoio a
Maliki. A autoridade do Governo não
é reconhecida por todos os iraquia-
nos. Aliás, os últimos desenvolvimen-
tos foram desencadeados por uma
operação militar para desmantelar
acampamentos de protesto contra
Falluja, que o Governo de Nouri al-Maliki anunciou querer recuperar preparando uma grande ofensiva
Os radicais aproveitaram o vazio de poder e tomaram vastas zonas do Norte da Síria, de onde os rebeldes sírios os tentam expulsar. Agora, fazem o mesmo no Ocidente do Iraque
IraqueSofia Lorena
Kerry abre um bocadinho a porta Genebra 2 ao Irão
Os EUA sugeriram pela primeira vez que o Irão pode participar na conferência sobre a Síria marcada para
22 de Janeiro na Suíça. Conhecido como Genebra
2, o encontro vai acontecer em Montreux, e, espera-se, juntará representantes de Bashar al-Assad e da oposição. Teerão, explicou o secretário de Estado John Kerry, não terá direito a “convite formal de participação”, isso “é para os que apoiaram Genebra 1”, o acordo negociado em 2012, quando Kofi Annan era
o enviado internacional para a Síria. “Agora, podem contribuir a partir das margens? Há formas concebíveis para que façam valer o seu peso? Há formas de fazer acontecer isto”, disse o chefe da diplomacia de Barack Obama. Kerry explicou que haverá limites ao papel que o Irão poderá desempenhar caso não aceite que o objectivo da conferência é substituir Assad.
O regime sírio insiste numa participação iraniana, recusada pela Arábia Saudita e, até agora, vista com maus olhos
por Washington, apesar do acordo sobre o nuclear assinado em Novembro. Quem se opõe argumenta que os iranianos apoiam militarmente Assad, assim como o Hezbollah libanês que, por sua vez, combate ao lado do regime. É um facto, como também é verdade que Teerão é a capital com mais influência sobre Damasco.
Com ou sem Irão, é cedo para saber se Genebra 2 vai mesmo acontecer. Reunida em Istambul, a oposição reavalia a sua decisão inicial de participar no encontro.
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | MUNDO | 27
Maliki. A brutalidade da operação
terá levado parte da população de
Falluja, nomeadamente membros
de milícias formadas pelos EUA para
combater os radicais estrangeiros, a
lutar contra as forças ofi ciais, colo-
cando-se ao lado dos islamistas que
declararam a cidade seu território
depois das orações de sexta-feira.
O Governo diz que está a preparar
uma grande ofensiva para recupe-
rar Falluja. Mesmo que o consiga, do
ponto de vista militar, se puser em
marcha uma operação que não dis-
tinga os radicais dos civis arrisca-se a
enfurecer ainda mais a população.
Nas últimas semanas, o mesmo ISIS
reivindicou ataques no Líbano, in-
cluindo um atentado num bastião
dos xiitas do Hezbollah, aliados de
Assad, fi nanciados por Teerão.
A aliança xiita é esta, vai de Te-
erão a Beirute, passando por Bag-
dad e Damasco. Quem mais a teme
é a Arábia Saudita, que é por isso o
maior fi nanciador dos opositores de
Assad. Muito do que se tem passado
no Iraque e na Síria nos últimos tem-
pos é, na verdade, consequência de
uma guerra por procuração perma-
nente entre estes dois jogadores que
disputam a hegemonia regional.
“Penso que estamos a assistir a um
momento de viragem, e pode ser um
dos piores da história”, comentou
ao jornal The New York Times Elias
Khoury, romancista libanês que vi-
veu no seu país durante os 15 anos da
guerra civil. “O Ocidente não está lá,
e estamos nas mãos de dois poderes
regionais, os sauditas e os iranianos,
cada um fanático à sua maneira.”
SADAM EL-MEHMEDY/AFP
Dezenas de milhares de imigrantes
africanos manifestaram-se ontem
em Telavive e começaram um pro-
testo contra as medidas aprovadas
pelo Estado hebraico que permitem
a detenção durante um ano dos “in-
fi ltrados”, como são conhecidos os
imigrantes que chegam sem papéis
e pedem asilo, a maioria vindos do
Sudão e da Eritreia.
“Somos refugiados”, cantavam
os manifestantes, “Sim à liberdade,
não à prisão”. “Fugimos de perse-
guição, ditaduras, guerras civis e
genocídios”, disse Dawud, eritreu,
à AFP. “Em vez de nos considerar
refugiados, Israel trata-nos como
criminosos”, queixou-se.
A manifestação terá reunido cerca
de 20 mil pessoas. Ao contrário do
que tem acontecido em protestos
anteriores contra uma nova lei, esta
foi a primeira acção em que os mi-
grantes africanos apareceram em
grande número, nota a imprensa
israelita.
O Parlamento israelita aprovou em
Dezembro uma lei permitindo a de-
tenção, num chamado centro aber-
to, de imigrantes até um ano. Uma
lei anterior, prevendo a detenção até
três anos, foi em Setembro rejeitada
pelo Supremo Tribunal. Grupos de
defesa de direitos humanos dizem
que desde a aprovação da lei foram
detidos mais de 300 imigrantes.
Imigrantes fazem greve inédita em Israel contra nova lei
Estes fi cam em centros em zonas
remotas (no deserto do Negev). Po-
dem sair de dia, mas têm de respon-
der a chamadas três vezes por dia.
Estas obrigações, aliadas à falta de
transportes, faz com que não possam
procurar emprego ou trabalhar.
Mas trabalho não foi o que moveu
a maioria dos imigrantes que procu-
raram refúgio em Israel, quiseram
dizer os organizadores da greve que
deverá afectar restaurantes, cafés,
hotéis e empresas de limpeza que
empregam estes imigrantes. “Esta-
mos conscientes dos riscos de fazer
greve, podemos perder os nossos
empregos”, dizem os organizadores.
“Mas viemos para cá por causa do
perigo para as nossas vidas nos nos-
sos países de origem”, sublinham,
num comunicado citado pelo diário
Ha’aretz. “Como qualquer pessoa,
queremos ter um rendimento para
viver em dignidade, mas não foi o
trabalho que nos trouxe a Israel.”
As autoridades israelitas dizem o
contrário. Acrescentam que há 60
mil migrantes africanos em Israel, a
maioria chegada através da fronteira
com o Egipto, onde Israel completou
recentemente uma barreira.
Desde 2009, entre 17.194 pedidos
de refugiados, 26 foram aceites, e
entre os 1.133 pedidos para fi car em
Israel por razões humanitárias, 540
foram autorizados, segundo dados
apresentados na discussão da lei no
Knesset.
O Governo chama a estes imigran-
tes “infi ltrados” e o primeiro-minis-
tro, Benjamin Netanyahu, já disse
que a presença de muitos destes imi-
grantes é uma ameaça à sociedade
judaica, e o Governo tem ainda dado
incentivos monetários a imigrantes
que queiram regressar voluntaria-
mente aos seus países.
A manifestação terá reunido 20 mil pessoas
O QUE ELES DIZEM
Não estamos, obviamente, a contemplar um regresso. Ajudaremos as autoridades iraquianas no seu combate, mas é um combate que elas devem vencer sozinhas, e acredito que o vão conseguirJohn Kerry (na foto)Secretário de Estado dos Estados Unidos
Não vamos ceder enquanto não tivermos derrotado todos os terroristas e resgatado o nosso povo de Anbar
Nouri al-MalikiPrimeiro-ministro iraquiano
Os objectivos do ISIS ultrapassam muito o Iraque, mas o seu projecto transnacional de estabelecer um Estado islâmico em todo o Levante não se pode fazer sem assegurar o controlo sobre uma série de mini-Estados
Charles ListerAnalista da Brookings
Penso que estamos a assistir a uma viragem e pode ser uma das piores na nossa históriaElias KhouryRomancista libanês
8000iraquianos morreram em atentados em 2013, período em que o ISIS levou da Síria para o Iraque dezenas de bombistas suicidas por mês
170combatentes do ISIS foram mortos pelos rebeldes sírios nos últimos dias, incluindo três comandantes, um tchetcheno, um tunisino e um saudita
ImigraçãoMaria João Guimarães
Manifestação reuniu milhares de sem-papéis africanos no centro de Telavive. Lei permite detenção durante um ano
NIR ELIAS/REUTERS
28 | MUNDO | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
Aumentam as pressões para impe-
dir os espectáculos do controverso
humorista francês Dieudonné, acu-
sado de ofender os sobreviventes do
Holocausto com o gesto que popu-
larizou da quenelle, visto como uma
saudação nazi invertida. “Os nossos
antepassados bateram-se por valores
civilizacionais para que nós cedêsse-
mos perante criminosos?”, interro-
gou o presidente da Câmara de Paris,
o socialista Bertrand Delanoë, acu-
sando Dieudonné M’bala M’bala de
“fazer a apologia de crimes contra a
humanidade.”
A família de “caçadores de judeus”
Klarsfeld, “em nome dos fi lhos e fi -
lhas dos deportados judeus de Fran-
ça”, convocou uma manifestação na
quarta-feira na cidade de Nantes, pa-
ra exigir que o espectáculo Le Mur do
humorista seja proibido. “Quem vai
ver Dieudonné quer ouvir fazer pou-
co dos judeus. Ele congrega os anti-
semitas de todas as facções, sejam
eles islamistas, de extrema-esquerda
ou da extrema-direita”, afi rmou ao
Libération Arno Klarsfeld.
O ministro do Interior, Manuel
Valls, está desde a semana passada
a ponderar proibir os espectáculos
do humorista, após a abertura de um
inquérito judicial por “incitação ao
ódio racial”. Dieudonné, entretanto,
teve uma nova derrapagem verbal
contra o jornalista (judeu) da France
Inter Patrick Cohen: “Quando o ouço
falar, digo para mim próprio, ‘as câ-
maras de gás... é uma pena’.”
“Dieudonné é profundamente an-
tijudeu. Nos seus espectáculos, não
é apenas uma representação, é um
comício”, afi rmou o ministro Valls,
citado pelo Le Monde.
Mas o que o ateou a polémica em
torno de Dieudonné foi o gesto que
popularizou — a quenelle. O futebo-
lista Nicolas Anelka foi a personali-
dade mais conhecida a reproduzi-lo.
É um gesto anti-sistema, segundo o
humorista, ou anti-semita, segundo
o Governo francês e parte dos seus
seguidores, onde se incluem mem-
bros do partido de extrema-direita
Frente Nacional. O presidente da Li-
ga Internacional contra o Racismo e
o Anti-Semitismo, Alain Jakubowicz,
descreve-o como uma “saudação na-
zi invertida, o que signifi ca a sodomi-
zação das vítimas” do Holocausto.
Nos últimos anos, o humorista
aproximou-se de Jean-Marie Le Pen
líder da Frente Nacional, padrinho
do seu quarto fi lho.
Apelos à censura de humorista anti-semita
FrançaClara Barata
Breves
Viagem de aniversário
Sondagem
Papa Franciscovai à Terra Santade 24 a 26 de Maio
A maioria dos espanhóis querque o rei abdique
O Papa Francisco anunciou que visitará a Terra Santa de 24 a 26 de Maio, passando por Amã, Belém e Jerusalém. Esta viagem celebrará os 50 anos da histórica visita de Paulo VI, a primeira de um Papa à Terra Santa. Na Igreja do Santo Sepulcro, onde está, segundo a tradição cristã, o túmulo de Jesus Cristo em Jerusalém, será celebrado um encontro ecuménico “com todos os representantes das igrejas cristãs de Jerusalém e com o patriarca Bartolomeu de Constantinopla”, anunciou o Papa. Em Fevereiro de 2013, a Santa Sé usou, pela primeira vez, o termo Estado da Palestina, após o reconhecimento pela ONU de um novo estatuto para a Palestina (considerada Estado observador, embora não membro, das Nações Unidas).
Muito mais de metade dos espanhóis, 62%, querem que o seu rei abdique a favor do filho, o príncipe Felipe, diz uma sondagem publicada ontem pelo El Mundo, no dia em que o rei fez 76 anos. Juan Carlos está no trono há 38 anos e era respeitado pelo seu papel na transição democrática em Espanha, após a morte de Francisco Franco. No fim de 2013, apenas 41,3% dos espanhóis tinham uma opinião boa, ou muito boa do rei — há dois anos, 76% diziam isto. A maioria tem uma visão má, muito má ou normal deste reinado (56,2%). Os espanhóis mais jovens, que não têm a experiência de viver sob a ditadura de Franco, são os que mais estão a favor da abdicação. O príncipe Felipe tem uma imagem positiva para 66% dos espanhóis.
AFP
Foram incendiadas mais de 200 assembleias de voto
O boicote das eleições de ontem
e a violência associada deixou 18
mortos no Bangladesh, mais um
dia de confrontos e ataques no país
por causa de uma crise política que
não abranda. “Não quero saber das
eleições, só da minha segurança”,
diz uma habitante da capital.
A oposição apelou a um boicote à
votação e os seus apoiantes incen-
diaram mais de 200 assembleias de
voto em protesto por, pela primeira
vez desde 1991, não ser uma autori-
dade neutra e provisória a encarre-
gar-se da votação. O Governo alega
que já não há necessidade desta
passagem de testemunho na altura
das eleições e realizou a votação de
qualquer modo.
Medo da violência e protesto le-
varam a uma baixa participação. O
jornal britânico The Guardian con-
tactou várias assembleias de voto na
capital e concluiu que a participação
teria andado pelos 10%.
Em Dhaka, muitas pessoas já
não querem saber da votação, mas
Violência nas eleições mata 18 pessoas no Bangladesh
preocupam-se com a violência que
tem marcado o dia-a-dia da capital
no impasse entre os dois principais
partidos, liderados por duas mulhe-
res que têm alternado no poder nas
últimas duas décadas.
“Eu e muitos outros como eu já
não queremos saber das eleições”,
disse Nabila, estudante que mora na
capital, à emissora britânica BBC. “O
que me preocupa agora é a seguran-
ça da minha vida”, continuou.
Apesar da forte presença militar
nas ruas e das muitas restrições por
razões de segurança, continuava a
haver mortos — por tiros da polícia
leal ao Governo, por explosões de
cocktails Molotov atirados por opo-
sitores. “Tantas pessoas morreram,
muitas queimadas vivas dentro de
autocarros. Que tipo de pessoas
somos?”, insurgia-se Nabila. “Cada
vez que entro num autocarro tenho
medo de que seja incendiado. A ca-
da segundo estou preocupada que
alguém atire um cocktail Molotov”,
confessa a estudante. “Nunca tive
tanto medo na minha vida.”
Impasse vai continuarTudo isto por um impasse entre os
partidários da primeira-ministra
Sheikh Hasina e da líder do principal
partido da oposição, Khaleda Zia,
que diz estar sob prisão domiciliária
desde Dezembro, o que as autorida-
des negam.
De qualquer modo, há muitas dú-
vidas sobre as eleições, e Estados
Unidos e União Europeia nem se-
quer enviaram observadores.
“Por que falamos de eleições, se
há poucas pessoas nas mesas de
voto e os dois candidatos são do
mesmo partido?”, perguntou a um
repórter da agência francesa AFP o
comerciante Miyamat Ullah.
“As eleições não vão resolver
nada”, comentou Ataur Rahman,
professor de ciência política na
Universidade de Dhaka, à agência
britânica Reuters. “Tudo vai conti-
nuar exactamente na mesma por-
que ambas as líderes vão continuar
a evitar um diálogo com signifi cado,
e isso é a única coisa que pode fazer
acabar a crise.”
“É preciso acabar com as mortes
de civis inocentes”, diz a estudante
Nabila. “É isso que pedimos a todos
os partidos e responsáveis políticos
do Bangladesh. Eles não são donos
das nossas vidas. Já é altura de per-
ceberem isso.”
Mahmoud, da cidade de Sylhet,
no nordeste do país, disse à BBC que
em cinco horas e meia apenas três
pessoas votaram na sua assembleia.
Nem ele, nem ninguém da sua famí-
lia vai votar — admite que há parte
de medo, parte de protesto contra o
Governo, mas nenhum apoio à opo-
sição. “A maior parte das pessoas
não faz ideia do que vai acontecer
depois de hoje. Mas temos uma cer-
teza: vai fi car pior.”
Crise políticaMaria João Guimarães
Queimados vivos, espancados até à morte, atingidos por tiros da polícia, a votação deixou um rasto de mortos
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | CIÊNCIA | 29
SILVA KRAUSE E AMY BROCK
Terapia genética conseguiu travar cancro da mama em ratinhos
Canais mamários de ratinhos por onde passa o leite marcados por fluorescência
Uma equipa de investigadores da
Faculdade Médica de Harvard, em
Boston, silenciou a actividade de um
gene em células do tecido mamário
de ratinhos que é importante para o
desenvolvimento do cancro da ma-
ma. Estas células estavam a tornar-
se cancerosas, mas a terapia genéti-
ca conseguiu reverter o processo e
normalizá-las. Publicada na revista
Science Translational Medicine, a des-
coberta poderá vir a ser aplicada no
combate ao cancro da mama.
O trabalho, liderado por Donald
Ingber, centrou-se nas células dos
ductos mamários, os canais por onde
passa o leite. “Apesar de haver algu-
mas excepções, a maioria dos can-
cros da mama [cerca de 75%] aparece
nas células epiteliais dos ductos”, dis-
se o investigador ao PÚBLICO.
Muitas vezes, são detectadas lesões
nas células do epitélio dos ductos ma-
mários, que podem desenvolver-se
em cancros. Mas não se sabe quais as
lesões que efectivamente estão nes-
se caminho. Como a medicina ainda
não faz essa triagem, recorre-se a so-
luções drásticas como a radioterapia
ou mesmo a mastectomia, dois trata-
mentos violentos com efeitos secun-
dários a nível físico e psicológico.
Uma avaliação feita por especialis-
tas, publicada em 2007, sublinhou a
urgência de se “desenvolverem tera-
pias minimamente invasivas que pos-
sam ser direccionadas directamente
para o epitélio do ducto, de forma a
prevenir a progressão de lesões pré-
malignas sem produzir uma toxicida-
de sistémica”, lê-se no artigo.
Os investigadores escolheram
uma abordagem genética, através
da utilização do chamado “ARN de
interferência”. Esta técnica trava a
actividade genética nas células. A
informação contida nos genes, que
estão inseridos nas longas cadeias
de ADN, é o molde inicial para se
produzirem proteínas. Para isso, a
maquinaria celular começa por pas-
sar a informação do ADN para o ARN
— uma molécula que pode navegar
à vontade na célula — e, fi nalmen-
te, traduz a informação contida na
molécula de ARN nos aminoácidos
que formam as proteínas. O ARN de
interferência liga-se ao ARN trans-
crito a partir do ADN, impedindo-o
didato para ser silenciado pelo ARN
de interferência.
Primeiro, os cientistas experimen-
taram in vitro silenciar este gene, em
células cancerosas do epitélio dos
ductos de ratinhos. Ao contrário das
células saudáveis, que formavam tu-
bos, as células cancerosas aglomera-
vam-se numa massa desestruturada.
Mas, quando os cientistas aplicaram
o ARN de interferência, as células re-
verteram o processo canceroso e vol-
taram a ter um aspecto saudável.
Depois, a equipa fez o mesmo in
vivo, em ratinhos transgénicos, com
um outro gene responsável pelo can-
cro da mama. Para isso, injectou a
solução com o ARN de interferência
— que estava dentro de pequeníssi-
mas bolas ocas de gordura, criadas
por um dos membros da equipa —
através dos mamilos dos ratinhos.
O líquido entrou pelos ductos ma-
mários, fazendo o caminho inverso
do leite. O tratamento foi aplicado
durante o início do cancro, e a in-
cidência de tumores reduziu-se em
75%. Os cientistas verifi caram que as
células se multiplicaram menos.
Próximo passo: os coelhos Para perceber se a terapia atingia
outros tecidos, o que poderia com-
prometer um tratamento em huma-
nos, a equipa utilizou um marcador
fl uorescente ligado ao ARN de inter-
ferência para observar, por micros-
copia, o seu comportamento. “Não
vimos quaisquer sinais do ARN de
interferência em tecidos periféricos,
indicando que as moléculas são apa-
nhadas pelas glândulas mamárias e
não entram na corrente sanguínea”,
explicou ao PÚBLICO Amy Brock,
uma das autoras do estudo.
O próximo passo da equipa será
testar a terapia noutra cobaia cuja
anatomia dos ductos seja semelhante
à das mulheres — como os coelhos — e
procurar efeitos secundários da téc-
nica, para se poder passar aos ensaios
clínicos. É ainda preciso determinar
a dose que este tratamento requer
em humanos, explica-nos Donald In-
gber: “Mulheres com propensão para
esta doença terão provavelmente de
receber tratamentos de poucos em
poucos meses. O mesmo tratamen-
to poderá também ser administrado
em locais onde houve cirurgias de
remoção de tumores, para induzir
a reversão das células que fi caram
em tecido mais normal.”
Tratamento aplicado nos animais de laboratório reverteu progressão das células cancerosas do tecido mamário que estavam no estado inicial da doença. Cientistas querem tentar aplicar técnica a humanos
MedicinaNicolau Ferreira
assim de ser traduzido na proteína.
Outras equipas já tinham usado
com sucesso a técnica do ARN de in-
terferência na investigação do cancro
da mama. Mas uma barreira existente
era identifi car um gene fundamental
para desencadear o cancro.
Os investigadores foram à caça
desse gene. Através de um algorit-
mo, a equipa identifi cou ligações en-
tre genes mais activos nas células do
cancro da mama em ratinhos – ou se-
ja, produziram uma rede onde uma
ligação entre dois genes implica que
a actividade de um deles aumenta a
actividade do outro. Em cancros da
mama mais tardios, há uma grande
heterogeneidade nestas ligações ob-
servadas em ratinhos. Mas, segundo
a equipa, nos cancros da mama em
fases mais iniciais o conjunto de ge-
nes activos é mais semelhante.
Inicialmente, quando as futuras
células cancerosas já têm uma acti-
vidade genética própria, mas o seu
aspecto ainda é igual ao das células
saudáveis do epitélio dos ductos, os
cientistas descobriram que o gene
HoxA1 tinha uma actividade anormal
e parecia ser o mais importante.
O HoxA1 está activo durante o
desenvolvimento embrionário hu-
mano, mas está inactivo nas células
saudáveis do tecido mamário adulto.
Além disso, há vários estudos que in-
dicam que a sua actividade está as-
sociada ao aparecimento do cancro
da mama nas mulheres. Todas estas
provas tornaram-no num bom can-
30 | CULTURA | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
Quando, em 2010, Hans-Michael
Koetzle viu a exposição Batalha
de Sombras em Cuenca, Espanha,
fi cou de boca aberta. Andou
deslumbrado de um lado para o
outro numa sala da Casa Zavala
a perguntar “Quem são estes
fotógrafos?”, “De onde vieram?”.
A comissária Emília Tavares, do
Museu do Chiado, estava lá para
lhe responder. E disse-lhe que
eram portugueses e que tinham
fotografado sobretudo nos anos
1950 e 1960. Chamavam-se Gérard
Castello-Lopes, Victor Palla, Varela
Pécurto, Eduardo Harrington Sena,
Sena da Silva, Fernando Taborda...
Nesse dia, o jornalista e
investigador alemão especializado
em história e teoria da fotografi a
apaixonou-se por aquelas imagens
e fi cou com mais uma pergunta
na cabeça: “Terão sido feitas com
[câmaras] Leica?”. Umas sim,
outras não. Mas esse número
também não foi importante
quando, no fi nal do ano passado,
decidiu viajar para Portugal
à procura de mais fotografi as
daquele período para incluir na
grande exposição do jubileu da
Leica que está a preparar para
este ano. Em Lisboa, Koetzle, que
foi director da revista da Leica
durante anos e que tem vasta
obra publicada, confi rmou o seu
instinto quando viu directamente
as provas de alguns dos fotógrafos
de Batalha de Sombras. Escolheu
cerca de 30 imagens dos que
usavam câmaras Leica e descobriu,
maravilhado, o trabalho de um
amador muito dedicado à mítica
marca alemã, Jorge Silva Araújo, de
quem trazia apenas uma pista, um
artigo publicado na revista da Leica
nos anos 1950. Na comemoração
dos cem anos da invenção da
câmara que revolucionou a
fotografi a e a maneira como vemos
o mundo através dela, Portugal
será um dos países em grande
destaque.
Organizar uma exposição do jubileu da Leica — talvez a câmara fotográfi ca mais emblemática de todas — é um
enorme desafi o. Por onde começou?Pelo princípio, em 1914, ano em
que Oskar Barnack construiu a sua
primeira câmara. Percebemos que
a partir desta data o mundo da
fotografi a mudou. E perguntámo-
nos “por que não mostrar toda
a história da fotografi a do século
XX numa exposição? Por que não
tentar mostrar como o sistema
da Leica mudou a maneira como
vemos e compreendemos o
mundo?”. A coisa boa deste ponto
de partida é que é uma exposição
verdadeiramente internacional.
Imaginei como seria fantástico
emparelhar diferentes culturas,
diferentes abordagens, diferentes
gerações e momentos da história.
A Leica foi uma câmara sempre
voltada para captar a história,
as pessoas e a vida. Não é uma
câmara de estúdio. É para sair
à rua e captar a vida. E a ideia
é juntar tudo isto. Claro que fi z
uma lista daquilo que considero
interessante. E para lhe dar um
exemplo que consta nessa relação,
há vários fotógrafos portugueses.
Fiquei impressionado com uma
exposição que vi em Cuenca
[Batalha de Sombras, PHotoEspaña
2010]. Aquelas imagens foram
uma revelação para mim, fi quei
com um excelente catálogo
dessa exposição e fi quei sempre
a pensar: “Podem ser Leica.
Podem ser Leica”. Contactei a
curadora [Emília Tavares] e pedi-
lhe ajuda para confi rmar esse
pormenor. Ela acedeu e entre mais
de uma dezenas de fotógrafos
representados, pelo menos cinco
usaram leicas. Isto quer dizer que
vamos ter a fotografi a portuguesa
na exposição, particularmente
a dos anos 1950 e 1960 que
foram décadas muito fortes.
Hoje também é forte, mas fi quei
impressionado com a qualidade
do que foi feito naquelas duas
décadas.
Ficou assim tão surpreendido?Sim, fi quei espantado também
ao perceber como, no centro
da Europa, sabíamos tão pouco
deste nicho. Acho que a exposição
do jubileu da Leica será uma
extraordinária oportunidade
para dar a conhecer um grupo
de fotógrafos portugueses
com um enorme talento.
Haverá também espanhóis,
italianos... mas os portugueses
serão importantes dado o
desconhecimento quase total da
sua obra internacionalmente.
Não sabíamos nada sobre eles e
serão uma parte importante da
exposição que inaugurará em
Hamburgo. Já fi z parte da selecção
das imagens. Temos fotografi as
maravilhosas. E, com a ajuda da
Emília, descobrimos material novo
do fotógrafo Jorge Silva Araújo.
Abrimos envelopes que estavam
intocados e o que descobrimos é
muito bom. Ele era um mestre a
imprimir, as provas são incríveis
e apesar de ser amador via-se que
adorava o que fazia na fotografi a.
Verifi camos que estava muito bem
informado sobre os melhores
livros e revistas de fotografi a da
época e também quis deixar o seu
contributo.
E de que época são essas fotografi as?As melhores são dos anos 1950.
Também vimos imagens dos
anos 1960, mas as melhores são
dos anos 50. Também teremos
fotografi a contemporânea, com
fotografi as de Paulo Nozolino.
Que dimensão terá a exposição em termos de imagens?Teremos entre 400 a 500
fotografi as. Vamos começar
em 1914, porque Oskar Barnack
começou logo a fotografar
com a sua primeira câmara.
Hans-Michael Koetzle o comissário da exposição que em Outubro assinala os 100 anos do nascimento da Leica, em 1914, esteve em Portugal para escolher imagens. O Museu do Chiado tentará depois trazer a mostra para Portugal
Fotografi a portuguesa vai estar em grande no jubileu da Leica
A Leica foi uma câmara sempre voltada para captar a história, as pessoas e a vida
Atravessaremos todo o século e
haverá secções de países como
Portugal. Haverá cerca de 30
obras de fotógrafos portugueses.
Teremos cerca de cem autores
de todo o mundo. Mas não me
preocupei com proporções
geográfi cas.
Como será dividida?Por abordagens estéticas. Por
exemplo, depois da II Guerra
Mundial houve fotografi a
humanista em França, fotografi a
neo-realista na Itália, novo
subjectivismo na Alemanha e uma
fotografi a próxima da tradição
humanista francesa em Portugal. E
a mesma coisa em Espanha. Isto dá
uma mistura de diferentes estéticas
em geografi as diferentes. Teremos
obviamente o fotojornalismo antes
e depois da Guerra. O período
vanguardista. As agências de
fotografi a dos anos 1950. A cultura
dos fotolivros. A cor dos anos 1970
e 1980. A moda. E a fotografi a
contemporânea. São cerca de 14
“capítulos”, onde caberá também
o cinema.
Qual foi a principal revolução que a câmara Leica trouxe à fotografi a?Era pequena, muito mais pequena
do que as câmaras que existiam.
A maior parte dos fotojornalistas
usavam câmaras com negativos
de vidro. Depois de disparar
tinham de mudar o negativo — não
havia momento decisivo. A Leica
era rápida e tinha 36 imagens
disponíveis. Funcionava como uma
extensão dos braços e era possível
tê-la sempre à mão para disparar
a qualquer momento, um pouco à
semelhança do que se faz hoje com
os smartphones. A Leica não foi a
primeira a usar fi lme de 35mm.
Mas a grande diferença é que, pela
primeira vez, uma empresa foi
capaz de fazer uma câmara que era
um produto perfeito. A empresa
tinha uma grande experiência na
óptica porque nasceu da Leitz,
que fazia microscópios. O fabrico
destes instrumentos tinha de ser
muito, muito preciso. Um saber
que foi levado para esta pequena
câmara fotográfi ca, expoente
máximo da tecnologia. A lente
era perfeita, o negativo era maior,
as funcionalidades eram muito
EntrevistaSérgio B. Gomes
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | CULTURA | 31
precisas. Adaptava-se bem às
mãos, podia segurar-se sem se
tremer. E foi feita para capturar
distâncias curtas. Com a Leica,
toda a maneira de capturar o
mundo mudou. Os fotógrafos
tornaram-se mais rápidos, mais
próximos do sujeito e puderam
trabalhar em sequências de 36
elementos — se perdessem um
momento decisivo, podiam
rapidamente procurar outro, e
outro, e outro. Começou a ser
possível experimentar.
Quer dizer que a principal vantagem da Leica se “resumia” à efi cácia com que respondeu a uma cultura fotográfi ca que pedia outras ferramentas...Sim, era um objecto
extraordinariamente bem
desenhado. Quando se fala no
nascimento desta câmara é preciso
não esquecer que se vivia no tempo
da Bauhaus que se regia segundo
o princípio “menos é mais”. E foi
isso que Oskar Barnack fez. Ele
não era membro da Bauhaus, mas
tinha o espírito de fazer algo que
utilizasse o mínimo daquilo que
era necessário e nada mais. Este
espírito resultou num objecto tão
purista, tão bem desenhado que
fez com que durasse até hoje. A
Leica é como a Porsche — é sempre
a mesma, apenas com algumas
mudanças. Muitas vezes, a forma
de trabalhar com Leica fazia com
que as fotografi as não saíssem
perfeitas, fi cavam desfocadas.
Mas isso dava-lhes autenticidade,
dinâmica.
É o momento em que a fotografi a deixou de estar congelada?Completamente. Deixou de estar
congelada, deixou de ser apenas
encenada. Passou a haver vida
na fotografi a de uma forma mais
natural. Já havia fotógrafos a tentar
trazer esta nova forma de estar
na fotografi a e a Leica deu-lhes a
ferramenta perfeita. Trabalhava
bem, era silenciosa, não precisava
de fl ash. Foi importante para
fotografar em locais onde era
preciso ter estas armas — em
tribunais, em igrejas, em cafés e
bares nocturnos.
E a Leica tornou-se famosa imediatamente?Não. Em 1925 não houve grande
reacção. Nesse ano produziram-se
cerca de 1000 câmaras. O sucesso
veio em 1927/28. Pessoas como
Rodchenko, artistas da Bauhaus
começaram a usá-la. Gisele
Freund foi outra das famosas a
usá-la. Quando escapou aos nazis,
em 1933, foi para França, onde
trabalhou como fotógrafa. Há
uma história muito conhecida que
mostra como levou algum tempo
o reconhecimento. Freund teve
um trabalho que implicava fazer
fotografi as na Biblioteca Nacional
de França. Quando a conheceu o
director, este perguntou-lhe “O que
é isso?”. Ela: “É a minha câmara”.
Ele: “Não! Não! Precisamos de
alguém profi ssional!”. Ela foi a
uma feira da ladra, comprou uma
máquina de fole antiga com um
tripé e escondeu a Leica lá dentro.
Disseram-lhe então que com
aquela máquina já podia fotografar.
Freund tirou as fotografi as com a
Leica escondida.
É possível identifi car um “estilo Leica” na fotografi a?Sim.
Como?Para se fotografar com Leica é
preciso estar próximo do objecto.
Não são câmaras para captar a
grandes distâncias. Se se olhar para
uma imagem com Roleifl ex, por
exemplo, elas são muito compostas
a partir do centro, muito
simétricas. As primeiras imagens
do HCB feitas com uma câmara
6x6 são um pouco maçadoras.
Com a Leica há dinâmica, há
diferentes perspectivas. A
fotografi a na Leica é defi nida
pelos limites do fotograma. Tive
um experiência estranha há uns
tempos quando estava a folhear
uma revista Vu. Deparei-me com
uma fotografi a em dupla página
sobre a Guerra Civil de Espanha
e pensei : “É espantosa! Tem de
ser uma imagem feita com Leica.
Está tão perto, no chão, via-se uma
cabeça, um ombro”. Fui à procura
do crédito e não encontrei logo.
Mas depois lá o descobri: era uma
imagem do Henri Cartier-Bresson.
Quando fi z a pesquisa para esta
exposição vi uns dez mil fotolivros.
Sentava-me todas as noites e o
exercício principal era perceber
se aquelas fotografi as tinham sido
feitas com Leica. Na exposição
haverá muitos nomes que não são
nada familiares. Não haverá apenas
os “cartier-bressons”.
Encontrou algum trabalho desconhecido internacionalmente que o tenha deslumbrado particularmente?Sim, muitos. Em particular o
de um fotógrafo que se chama
Richard Fleishhut. Tirava
fotografi as em barcos a pessoas
famosas. Em Setembro de 1939,
Fleishhut estava no SS Columbus
perto do porto de Santa Cruz,
América Latina. A II Guerra
Mundial começou e os ingleses
fecharam o porto e a navegação no
Atlântico fi cou muito controlada.
O capitão tentou fugir durante
dois meses mas não conseguiu.
Até que os alemães decidiram
afundar o navio. Todas as pessoas
abandonaram o SS Columbus em
pequenos barcos e depois assistiu-
se a uma explosão. Ele fotografou
todos estes acontecimentos com
uma Leica, uma história impossível
de captar com um câmara de
negativos de vidro. Aqui temos
de tudo: a espera, o drama, o
movimento, a atrapalhação das
pessoas a entrarem nos barcos,
a explosão o barco a fundar. Esta
sequência é extraordinária e nós
vamos mostrá-la.
E o Silva Araújo? De que forma o surpreendeu?Sabe, no artigo que encontrei dele
numa revista da Leica dos anos 50,
não fi quei muito impressionado.
Era um Portugal muito cliché mas
quando peguei nos negativos e
nas provas... aí sim, fi quei muito
impressionado. Mas há outros
exemplos que ninguém conhece
fora de Portugal, como o de Victor
Palla. Como já disse, fi quei muito
impressionado com a exposição
de Cuenca e soube, desde aí, que
esse momento iria ser o início do
meu love aff air com a fotografi a
portuguesa. Foi por causa daquilo
que vi que decidi vir a Portugal.
Para uma exposição com esta
abrangência, não haveria muitos
comissários a viajar para um país
por causa de 30 fotografi as.
Pelos vistos, parece que valeu a pena a viagem.Absolutamente. Quando vi as
provas do Silva Araújo tive a
certeza de que a viagem valeu bem
a pena — é do melhor que existe.
E por isso pedi à Emília para fazer
alguma investigação para um texto
do catálogo. O trabalho de Silva
Araújo constará deste livro que
terá cerca de 400 páginas. Será
um livro de referência em relação
ao trabalho fotográfi co feito com
leicas.
A Leica conseguirá manter-se num mundo fotográfi co cada vez mais desmaterializado e digital?Desde que esteja empenhada na
fotografi a estaremos a salvo. Não
é produto de massas, mas tem a
procura sufi ciente para continuar a
manter este sistema vivo.
30O comissário já escolheu quase todas as imagens de fotógrafos portugueses que vai levar ao jubileu da Leica. Serão cerca de 30
CulturaVer entrevista na íntegra emwww.publico.pt
ENRIC VIVES-RUBIO
34 | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
SAIR
CINEMASPorto Medeia Cine Estúdio do Teatro Campo AlegreR. das Estrelas. T. 226063000Hiroshima, Meu Amor M12. - 18h30, 22h ZON Lusomundo Dolce Vita PortoR. dos Campeões Europeus, 28-198. T. 1699612 Anos Escravo 13h10, 16h20, 21h10, 00h20; A Propósito de Llewyn Davis M12. 21h20, 23h50; A Revolta dos Perus M6. 13h20, 16h10, 18h40 (V.Port.); Frozen: O Reino do Gelo M6. 13h10, 16h, 19h (V.Port.); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 22h30 (3D); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 12h50, 15h40, 18h35, 21h30, 00h25; Grudge Match - Ajuste de Contas M12. 13h, 15h50, 18h50, 21h40, 00h30; O Passado M12. 19h40; A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 13h50, 16h30, 22h50; A Última Paixão do Sr. Morgan M12. 14h, 16h45, 19h30, 22h20
Aveiro ZON Lusomundo Fórum AveiroR. Homem Cristo. T. 16996O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 13h30, 17h05, 21h; O Conselheiro M16. 21h40; A Revolta dos Perus M6. 13h50, 16h15, 18h50 (V.Port.); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 14h20, 17h15, 21h15; Frozen: O Reino do Gelo M6. 14h40, 17h25 (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 21h20; A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 13h, 15h50, 18h40, 21h30; 7 Pecados Rurais M16. 17h, 19h25, 21h50; O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. 14h10 (V.Port.); 12 Anos Escravo 14h30, 17h40, 21h10 ZON Lusomundo GlicíniasC. C. Glicínias - Aradas . T. 16996Horas M12. 13h45, 16h20, 18h55, 21h30; Pai Por Acaso M12. 21h50; A Revolta dos Perus M6. 14h10, 16h40, 19h10 (V.Port.); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 13h50, 17h25, 21h; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 14h20, 17h15, 21h15; Chovem Almôndegas 2 M6. 14h40 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 17h40, 21h40; Frozen: O Reino do Gelo M6. 14h, 17h (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 21h10; Grudge Match - Ajuste de Contas M12. 14h30, 17h35, 21h20
Barcelos Cinemax - BarcelosCampo 25 de Abril. T. 253826571A Revolta dos Perus M6. Sala 1 - 15h30 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 1 - 17h30, 21h45; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 2 - 15h30, 21h35
Braga Cinemax - BragaShoppingAv. Central 33. T. 2532080107 Pecados Rurais M16. Sala 1 - 15h, 23h55; A Revolta dos Perus M6. Sala 1 - 17h, 22h (V.Port.); O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. Sala 1 - 13h, 19h (V.Port.); Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 2 - 14h55, 17h05, 21h55 (V.Port.); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. Sala 3 - 14h45, 17h05, 21h45; A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 4 - 14h50, 17h05, 21h50; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 5 - 17h, 21h35; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 5 - 15h, 19h35 (V.Port.)
Teatro CircoAv. da Liberdade, 697. T. 253262403Hiroshima, Meu Amor M12. Sala 1 - 21h30 ZON Lusomundo Braga ParqueR. dos Congregados, S. Victor. T. 16996O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. 14h10 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 16h30, 19h10, 22h, 00h45; 7 Pecados Rurais M16. 14h, 16h20, 19h, 22h10, 00h40; 12 Anos Escravo 13h40, 17h, 21h, 00h05; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 13h10, 15h50, 18h50, 21h40, 00h35; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 13h20, 17h10, 20h50, 00h20; Frozen: O Reino do Gelo M6. 13h30, 16h10, 18h40 (V.Port.); Homefront - A Última Defesa M12. 21h50, 00h15; Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 21h10, 00h25; A Revolta dos Perus M6. 13h35, 16h, 18h30 (V.Port.); Chovem Almôndegas 2 M6. 13h25, 15h40 (V.Port.); Horas M12. 13h15, 15h45, 18h10, 21h30, 24h; Grudge Match - Ajuste de Contas M12. 18h20, 21h20, 00h30
Coimbra Teatro Académico de Gil VicenteUniv. de Coimbra, Av. Sá da Bandeira. T. 239855630Hiroshima, Meu Amor M12. Sala 1 - 21h30 ZON Lusomundo Dolce Vita CoimbraC. C. Dolce Vita, R. General Humberto Delgado, 207. T. 16996O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 13h50, 17h30, 21h, 00h20; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 13h30, 16h10, 18h50, 21h40, 00h25; Frozen: O Reino do Gelo M6. 14h, 16h30, 19h15 (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 22h20; A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 13h45, 16h25, 19h05, 21h50, 00h40; 12 Anos Escravo 14h30, 17h50, 21h30, 00h30; Mandela: Longo Caminho Para a Liberdade M12. 17h10, 20h50, 23h50; O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. 14h40 (V.Port.); Khumba M6. 13h40, 16h20, 18h30 (V.Port.); Tal Pai, Tal Filho M12. 21h15, 00h05; Horas M12. 14h20, 16h40, 19h, 21h20, 24h; 7 Pecados Rurais M16. 14h25, 17h, 19h30, 22h, 00h10; A Propósito de Llewyn Davis M12. 21h45, 00h35; A Revolta dos Perus M6. 14h10, 16h50, 19h10 (V.Port.) ZON Lusomundo Fórum CoimbraFórum Coimbra. T. 16996Chovem Almôndegas 2 M6. 14h, 16h20 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 18h40, 21h20, 24h; 7 Pecados Rurais M16. 14h35, 16h50, 19h, 21h40, 00h10; Grudge Match - Ajuste de Contas M12. 13h50, 16h30, 19h05, 21h45, 00h35; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 14h10, 17h40, 21h10, 00h30 (3D); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 13h40, 16h25, 19h10, 21h50, 00h40; Frozen: O Reino do Gelo M6. 13h30, 16h, 18h30 (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 21h, 00h05
Covilhã Cineplace - Serra ShoppingAvenida Europa, Lt 7 - Loja A102. Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 1 - 14h30, 16h40 (3D); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 1 - 18h50, 22h (3D); O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. Sala 2 - 13h10, 15h (3D); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. Sala 2 - 16h50, 19h20, 21h50 (3D); 12 Anos Escravo Sala 3 - 13h, 15h45, 18h30, 21h15; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 4 - 13h10, 15h20, 17h30; A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 4 - 19h40, 22h10
Em [email protected]@publico.pt
12 Anos EscravoDe Steve McQueen. Com Chiwetel Ejiofor, Michael K. Williams, Michael Fassbender. EUA/GB. 2013. 134m. Drama. M16. EUA, 1841. Solomon Northup,
um negro livre, vive em Nova
Iorque com a família. Um dia,
é raptado e feito escravo. Passa
a ser tratado por Platt, nome
que lhe dão para esconder a sua
condição de homem livre, e é
violentamente forçado a omitir
a sua identidade. É comprado
pelo dono de uma plantação no
Louisiana, onde passará 12 anos
até ser fi nalmente libertado.
A Última Paixão do Sr. MorganDe Sandra Nettelbeck. Com Clémence Poésy, Gillian Anderson, Michael Caine. EUA/BEL/ALE/FRA. 2013. 116m. Comédia Dramática. M12. Matthew Morgan é um norte-
americano em Paris. Viúvo, o
ex-professor de Filosofi a mede
os dias pela ausência do grande
amor da sua vida. Mas tudo
começa a mudar no dia em
que conhece a jovem Pauline
Laubie. Matthew vai desenvolver
com ela uma relação especial,
de ternura e partilha, que vai
levá-lo a abraçar um recomeço.
Afi nal, como costuma dizer, “há
uma fenda em tudo e é ela que
permite a entrada de luz“.
Grudge Match - Ajuste de ContasDe Peter Segal. Com Robert De Niro, Sylvester Stallone, Kim Basinger, Alan Arkin. EUA. 2013. 113m. Comédia. M12. Henry “Razor“ Sharp e Billy
“The Kid“ McDonnen, dois
“boxeurs“ de Pittsburgh, fi caram
na história do pugilismo pela sua
rivalidade lendária. Passados 30
anos, ambos se conformaram
à vida de reformados. Mas, um
dia, recebem uma proposta
inesperada: encontrarem-se para
um derradeiro duelo. O apelo
do ringue revela-se demasiado
forte e eles acabam por aceitar o
desafi o. Agora, só têm de se pôr
em forma...
HorasDe Eric Heisserer. Com Genesis Rodriguez, Paul Walker, Nick Gomez. EUA. 2013. 97m. Drama, Thriller. M12. Nova Orleães, 2005. Uma mulher
grávida dá entrada no hospital
para um parto prematuro.
Nolan, seu companheiro e
pai da criança, recebe uma
notícia devastadora: a mulher
não resistiu. Contudo, a fi lha
sobreviveu, embora esteja
dependente da incubadora
neonatal. No meio desta
tempestade de emoções, o
furacão Katrina chega à cidade.
Todos abandonam o hospital,
que não tarda a fi car isolado
pela subida das águas. Nolan
está sozinho com a fi lha e não
vislumbra socorro. E, quando a
energia falha, a vida da bebé fi ca
em perigo...
A Última Paixão do Sr. Morgan
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | 35
Figueira da Foz ZON Lusomundo Foz PlazaC. C. Foz Plaza, R. Condados. T. 169967 Pecados Rurais M16. 21h30; A Revolta dos Perus M6. 15h10, 17h50 (V.Port.); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 15h40, 18h30, 21h20; Frozen: O Reino do Gelo M6. 15h30, 18h (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 21h; 12 Anos Escravo 15h20, 18h10, 21h10; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 15h, 20h50; A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 18h20
Guarda Vivacine - GuardaC.C. Vivaci, Av. dos Bombeiros Voluntários Egitanienses, nº 5. T. 271212140Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 1 - 15h50, 18h30 (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. Sala 1 - 21h10; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 2 - 15h40, 18h (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 2 - 21h20; 12 Anos Escravo Sala 3 - 15h20, 18h10, 21h; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 4 - 15h10, 18h20, 21h30
Guimarães Castello Lopes - Espaço GuimarãesEspaço Guimarães - Loja 154, R. 25 de Abril, 1 - Silvares. T. 76078978912 Anos Escravo Sala 1 - 13h, 15h50, 18h40, 21h30; 7 Pecados Rurais M16. Sala 2 - 17h10, 19h10, 21h20; O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. Sala 2 - 13h10, 15h10 (V.Port.); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. Sala 3 - 13h30, 16h10, 18h50, 21h50; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 4 - 15h20, 18h30, 21h40; A Revolta dos Perus M6. Sala 5 - 13h20 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 5 - 16h, 18h20, 21h10 Castello Lopes - Guimarães ShoppingLugar das Lameiras T. 760789789Desafio do Ano M12. Sala 1 - 15h30, 18h10, 21h; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. Sala 2 - 18h20 (3D), 15h50, 21h40 (2D); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 3 - 21h10 (3D); Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 3 - 19h10 (V.Port./3D), 15h10, 17h10 (V.Port./2D); Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 4 - 15h, 17h15, 19h30, 21h50 (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. Sala 5 - 15h40, 18h30, 21h20; Grudge Match - Ajuste de Contas M12. Sala 6 - 16h, 18h40, 21h30
Maia Vivacine - MaiaCentro Comercial Vivaci, Estrada Real nº 95 - Moreia. T. 22947151812 Anos Escravo Sala 1 - 15h10, 18h10, 21h; Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. Sala 2 - 21h; A Revolta dos Perus M6. Sala 2 - 16h20, 18h50 (V.Port.); Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 3 - 16h10, 18h40 (V.Port.); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 3 - 20h50; 7 Pecados Rurais M16. Sala 4 - 21h30; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 4 - 16h05, 18h35 (V.Port.) ZON Lusomundo MaiaShoppingMaiaShopping, Lugar de Ardegaes. T. 16996Frozen: O Reino do Gelo M6. 15h40, 18h20 (V.Port.); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 20h50; 12 Anos Escravo 15h50, 21h20; 7 Pecados Rurais M16. 15h20, 18h30, 21h30; A Revolta dos Perus M6. 16h30, 19h (V.Port.); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 21h40; Chovem Almôndegas 2 M6. 16h, 18h40 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 21h20
Matosinhos ZON Lusomundo MarshoppingIKEA Matosinhos, Av. Óscar Lopes. T. 1699647 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 13h, 15h50, 18h40, 21h30, 00h20; Frozen: O Reino do Gelo M6. 13h10, 16h, 18h20 (V.Port.); Homefront - A Última Defesa M12. 21h10, 23h30; Horas M12. 12h30, 15h, 17h20, 19h40, 22h10, 00h30; 12 Anos Escravo 12h50, 15h40, 18h30, 21h20, 00h10; A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 13h20, 16h20, 19h, 21h50, 00h25; 7 Pecados Rurais M16. 22h20; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 13h40, 17h, 20h40, 00h05; A Revolta dos Perus M6. 10h40, 12h40, 15h20, 17h30, 19h50 (V.Port.) ZON Lusomundo NorteShoppingNorteShopping, R. Sara Afonso. T. 16996Mandela: Longo Caminho Para a Liberdade M12. 20h50, 23h50; Tal Pai, Tal Filho M12. 14h, 17h10; 12 Anos Escravo 13h50, 17h20, 21h10, 00h15; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 13h20, 17h (2D), 21h, 00h30 (3D); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 13h, 15h40, 18h30, 21h40, 00h25; Chovem Almôndegas 2 M6. 13h30, 15h50, 18h15 (V.Port.); Grudge Match - Ajuste de Contas M12. 21h25, 00h10; Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 17h50, 21h20, 00h35; A Revolta dos Perus M6. 13h10, 15h20 (V.Port.); 7 Pecados Rurais M16. 21h50, 00h05; Frozen: O Reino do Gelo M6. 13h40, 16h10, 18h40 (V.Port.); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 12h50, 15h30, 18h20 (2D), 21h30, 00h20 (3D)
Paços de Ferreira ZON Lusomundo Ferrara PlazaFerrara Plaza. T. 16996O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 20h50; Chovem Almôndegas 2 M6. 15h40, 18h30 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 21h50; Frozen: O Reino do Gelo M6. 15h10, 17h50 (V.Port.); 12 Anos Escravo 15h20, 18h10, 21h10; 7 Pecados Rurais M16. 15h50, 18h40, 21h40; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 15h30, 18h20, 21h30
Penafiel Cinemax - PenafielEd. Parque do Sameiro. T. 255214900A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 1 - 15h30, 21h45; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 2 - 15h30, 23h50 (V.Port.); O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. Sala 2 - 17h30 (V.Port./3D), 21h50 (V.Port./2D); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 3 - 15h30, 21h35; A Revolta dos Perus M6. Sala 3 - 18h20
Rio Tinto ZON Lusomundo Parque NascentePraceta Parque Nascente, nº 35. T. 16996O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 13h45, 17h10, 20h35, 24h; 7 Pecados Rurais M16. 15h10, 17h30, 19h50, 22h10, 00h35 ; Frozen: O Reino do Gelo M6. 13h10, 15h40, 18h20, 21h, 23h40 (V.Port.); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 13h, 15h50, 18h50, 21h40, 00h30; 12 Anos Escravo 12h45, 15h30, 18h35, 21h30, 00h25; Horas M12. 14h10, 16h30, 19h10, 21h50, 00h15; Grudge Match - Ajuste de Contas M12. 13h40, 16h20, 19h, 21h45, 00h20; Pai Por Acaso M12. 21h10, 23h45; A Revolta dos Perus M6. 14h, 16h15, 18h45 (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 12h50, 16h, 19h15, 22h30; Homefront - A Última Defesa M12.
16h40, 19h30, 22h, 00h40; O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. 14h30 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 15h20, 18h, 20h40, 23h30; Mandela: Longo Caminho Para a Liberdade M12. 20h50, 23h50; Chovem Almôndegas 2 M6. 13h50, 16h10, 18h30 (V.Port.)
São João da Madeira Cineplace - São João da MadeiraSão João da Madeira. 12 Anos Escravo Sala 1 - 13h, 15h45, 18h30, 21h10; 7 Pecados Rurais M16. Sala 2 - 18h50, 21h; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 2 - 14h30, 16h40; A Revolta dos Perus M6. Sala 3 - 16h50; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. Sala 3 - 14h20, 19h, 21h30 (3D); Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 4 - 13h50, 16h; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 4 - 18h10, 21h20 (2D); O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. Sala 5 - 12h50, 14h40, 16h30 (2D); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 5 - 18h20, 20h50
Viana do Castelo Cineplace - Estação VianaAvenida Conde Carreira -7 Pecados Rurais M16. Sala 1 - 19h50, 22h; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 1 - 13h, 15h10 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 1 - 17h20; 12 Anos Escravo Sala 2 - 13h, 15h50, 18h40, 21h30; O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. Sala 3 - 13h10, 15h (V.Port.); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. Sala 3 - 16h50, 19h20, 21h50 (3D); Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 4 - 13h50, 16h (V.Port./3D); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 4 - 18h10, 21h20 (3D)
Vila Nova de Gaia UCI ArrábidaArrábida Shopping. T. 707232221A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 1 - 21h50, 00h25; Grudge Match - Ajuste de Contas M12. Sala 1 - 13h50, 16h25, 19h; Gravidade M12. Sala 2 - 00h20 (3D); Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 2 - 21h45 (V.Port./3D); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 2 - 13h50 (2D), 14h15 (3D), 17h30 (2D), 17h50 (3D), 21h20 (2D), 21h30 (3D), 00h40 (2D), 00h50 (3D); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. Sala 2 - 14h, 16h35, 19h10; A Última Paixão do Sr. Morgan M12. Sala 3 - 13h55, 16h30, 19h05,
21h40, 00h15; Mandela: Longo Caminho Para a Liberdade M12. Sala 4 - 14h30, 17h50, 21h15, 00h20; O Passado M12. Sala 4 - 13h45, 16h25, 19h05, 21h55, 00h40; A Propósito de Llewyn Davis M12. Sala 6 - 18h30, 21h25, 00h10; Khumba M6. Sala 6 - 14h05 (V.Port./2D), 16h15 (V.Port./3D); A Vida de Adèle: Capítulos 1 e 2 M16. Sala 7 - 18h20; Temporário 12 M16. Sala 7 - 13h50, 16h05, 22h, 00h20; Pai Por Acaso M12. Sala 8 - 14h, 16h30, 19h, 21h30, 00h05; Horas M12. Sala 9 - 14h05, 16h35, 19h05, 21h50, 00h25; Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. Sala 10 - 14h05, 17h50, 21h20, 00h20; Last Vegas - Despedida de Arromba M12. Sala 11 - 21h15, 24h; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 11 - 14h20, 16h45 (V.Port/2D), 19h10 (V.Port./3D); 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. Sala 12 - 13h55, 00h35 (3D), 16h30, 19h15, 21h55 (2D); 7 Pecados Rurais M16. Sala 13 - 14h15, 16h40, 19h20, 21h50, 00h30; Malavita M12. Sala 14 - 18h45; Homefront - A Última Defesa M12. Sala 14 - 21h25, 00h10; A Revolta dos Perus M6. Sala 14 - 14h10, 16h35 (V.Port.); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 15 - 13h50, 21h10 (2D), 17h30, 00h30 (3D); Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 16 - 13h55, 16h35 (V.Port./2D), 19h05 (V.Port./3D); Grudge Match - Ajuste de Contas M12. Sala 16 - 21h40, 00h15; China - Um Toque de Pecado M16. Sala 17 - 18h45; Tal Pai, Tal Filho M12. Sala 17 - 16h10, 21h35, 00h15; Niko e o Pequeno Traquinas M6. Sala 17 - 14h10 (V.Port.); Casablanca M12. Sala 18 - 21h20, 24h; O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. Sala 18 - 14h30, 19h15 (V.Port./2D), 16h50 (V.Port./3D); Capitão Phillips M12. Sala 19 - 18h55; O Conselheiro M16. Sala 19 - 13h45, 16h20, 21h50, 00h25; 12 Anos Escravo Sala 20 - 13h40, 16h25, 19h15, 22h05, 00h50 ZON Lusomundo GaiaShoppingAv. Descobrimentos, 549. T. 16996Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 17h50, 20h; O Tempo dos Dinossauros: O Filme 3D M6. 15h10 (V.Port.); Pai Por Acaso M12. 21h50; Chovem Almôndegas 2 M6. 15h15, 17h35, 19h55 (V.Port.); 12 Anos Escravo 15h20, 18h15, 21h10; Frozen: O Reino do Gelo M6. 15h45, 18h30, 21h05 (V.Port.); O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 16h30, 20h45; Horas M12. 15h, 17h05, 19h30, 21h45; A Revolta dos Perus M6. 15h, 17h20, 19h40 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 21h55; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 16h, 18h45, 21h30; 7 Pecados Rurais M16. 15h05, 17h30, 19h50, 22h05
Vila Real ZON Lusomundo Dolce Vita DouroC. C. Dolce Vita Douro, Lj. 244 - Alameda Grasse. T. 1699612 Anos Escravo 12h40, 15h30, 18h30, 21h30; 7 Pecados Rurais M16. 13h10, 15h20, 17h50, 21h50; Grudge Match - Ajuste de Contas M12. 13h40, 16h20, 19h, 21h40; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 13h20, 17h, 20h40; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 13h, 15h50, 18h40, 21h20; Frozen: O Reino do Gelo M6. 13h30, 16h, 18h40 (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 21h10; A Revolta dos Perus M6. 12h50, 15h, 17h30 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 21h, 23h30
Viseu ZON Lusomundo Fórum ViseuFórum Viseu. T. 16996Mandela: Longo Caminho Para a Liberdade M12. 21h10; Chovem Almôndegas 2 M6. 13h50, 16h10, 18h30 (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 14h20, 17h, 21h20; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. 14h10, 17h35, 21h; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 14h30, 17h20, 21h30; Pai Por Acaso M12. 21h40; A Revolta dos Perus M6. 13h40, 15h50, 18h (V.Port.); 7 Pecados Rurais M16. 21h50; Frozen: O Reino do Gelo M6. 14h, 16h30, 19h (V.Port.) ZON Lusomundo Palácio do GeloPalácio do Gelo, Est. Nelas, Qt. Alagoa. T. 1699612 Anos Escravo 14h20, 17h20, 21h; Grudge Match - Ajuste de Contas M12. 13h45, 16h25, 19h05, 21h50; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. 14h30, 17h30, 21h20; A Revolta dos Perus M6. 14h10, 16h35, 19h (V.Port.); A Vida Secreta de Walter Mitty M12. 21h30; 7 Pecados Rurais M16. 14h, 16h15, 18h30, 21h40; Frozen: O Reino do Gelo M6. 13h30, 16h05, 18h40 (V.Port.); Os Jogos da Fome: Em Chamas M12. 21h10
ARTEPortoGaleria PresençaR. Miguel Bombarda, 570.T. 224005050 O Outro Nome das Coisas De Catarina Botelho. De 2/11 a 11/1. 2ª a 6ª das 10h às 12h30 e das 15h às 19h30. Sáb das 15h às 19h30. Fotografia. Museu de SerralvesRua Dom João de Castro, 210. T. 226156500 Artistas Brasileiros e Poesia Concreta De vários autores. De 15/11 a 4/3. 2ª a Sáb das 10h às 18h. Obra Gráfica. Na biblioteca do museu. Museu Nacional da ImprensaEstrada Nacional 108, 206. T. 225304966 25A/40ª De vários autores. De 28/4 a 31/5. Todos os dias das 15h às 20h. Obra Gráfica. Manoel de Oliveira - 105 Revistas De 11/12 a 10/3. Todos os dias das 15h às 20h. Documental. Memórias Vivas da Imprensa A partir de 1/1. Todos os dias das 15h às 20h. Documental. Exposição permanente. Sala Rodrigo Álvares. Miniaturas Tipográficas A partir de 15/11. 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, Sáb, Dom e feriados das 15h às 20h. Objectos. Exposição permanente. PortoCartoon: O Riso do Mundo A partir de 1/1. Todos os dias das 15h às 20h. Cartoon. Exposição permanente. Galeria da Caricatura.
AS ESTRELAS DO PÚBLICO
JorgeMourinha
Luís M. Oliveira
Vasco Câmara
12 Anos Escravo mmmmm mmmmm mmmmm
A Propósito de Llewyn Davis mmmmm mmmmm mmmmm
A Espuma dos Dias mmmmm – –Hiroxima Meu Amor mmmmm mmmmm mmmmm
Old Boy - Velho Amigo mmmmm mmmmm mmmmm
O Passado mmmmm – mmmmm
Tal Pai Tal Filho – mmmmm mmmmm
Temporário 12 mmmmm mmmmm –A Vida de Adèle, Capítulos 1 e 2 mmmmm mmmmm mmmmm
A Vida Secreta de Walter Mitty mmmmm mmmmm –a Mau mmmmm Medíocre mmmmm Razoável mmmmm Bom mmmmm Muito Bom mmmmm Excelente
O segundo encontro do ciclo Fernando Távora: Histórias de vida(s) reúne esta tarde, pelas 18h30, nas instalações da Fundação Instituto Arquitecto José Marques da Silva (palacete Lopes Martins, na Praça Marquês de Pombal), seis intervenientes que têm em comum o facto de terem entrevistado, em diferentes ocasiões, o arquitecto homenageado:
Cristina Antunes, Bernardo Pinto de Almeida, João Leal, Jorge Figueira, Manuel Graça Dias e Valdemar Cruz. A sessão, que se insere num programa da Faculdade de Arquitectura dedicado a Fernando Távora, tem entrada livre, mas o espaço é pequeno e convém reservar lugar através do telefone 22 5518557.
Sessão reúne entrevistadores de Távora
36 | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
SAIRAnadiaAliança Underground MuseumR. do Comércio, 444 - Aliança Vinhos de Portugal S.A. T. 234732045 Aliança Underground Museum A partir de 24/4. 2ª a Sáb (visitas às 10h30, 11h30, 14h30, 15h30 e 16h30). Arqueologia, Azulejo, Cerâmica, Outros.
BarcelosGaleria Municipal de Arte de BarcelosPraceta Doutor Francisco Sá Carneiro. T. 253809600 X Bienal de Pintura do Eixo Atlântico De Jorge Alexandre Carvalho Marques, Eugenia Cuéllar Barbeito, Juliana Ribeiro, Raúl Álvarez Jiménez, entre outros. De 18/12 a 26/1. 2ª a 6ª das 09h às 12h30 e das 14h às 18h. Sáb das 10h às 12h30 e das 14h às 18h. Pintura. Museu de OlariaRua Cónego Joaquim Gaiolas. T. 253824741 O Real e o Imaginário: Memória e Identidade no Figurado de Barcelos De 19/11 a 29/6. 2ª a 6ª das 10h às 18h. Sáb, Dom e feriados das 10h às 12h30 e das 14h às 18h. Documental, Objectos.
BragaEstação de Caminhos de Ferro de BragaLargo da Estação. T. 253273665 PortoCartoon: O Riso do Mundo A partir de 6/10. Todos os dias. Cartoon. Exposição permanente. Galeria Mário Sequeira - Parada de TibãesQuinta da Igreja T. 253602550 Nuvem para Meia Altura De José Bechara. De 23/11 a 23/1. 2ª a 6ª das 10h às 13h e das 15h às 19h. Instalação. O Corte De Isaque Pinheiro. De 12/10 a 12/1. 2ª a 6ª das 10h às 13h e das 15h às 19h. Fotografia, Escultura.
CaramuloMuseu do CaramuloRua Jean Lurçat, 42. T. 232861270 Estradas de Portugal - Um outro Olhar De 23/11 a 2/2. Todos os dias das 10h às 13h e das 14h às 17h. Fotografias. Rush De João Louro. De 6/9 a 26/1. Todos os dias das 10h às 13h e das 14h às 18h (Verão), das 10h às 13h e das 14h às 17h (Inverno). Outros.
CoimbraCasa Municipal da Cultura de CoimbraR. Pedro Monteiro T. 239702630 Máquinas Fotográficas A partir de 3/2. 2ª a 6ª das 09h às 19h30. Sáb das 13h30 às 19h. Documental, Objectos. Permanente. Galeria Pinho Dinis - Casa Municipal da CulturaR. Pedro Monteiro. T. 239702630 Nasceu, tem mais encanto! De Delfim Manuel. De 30/11 a 6/1. 2ª a 6ª das 09h às 19h30. Sáb das 11h às 13h e das 14h às 19h. Objectos. Galeria SeteAv. Dr. Elísio de Moura 53. T. 239702929 Arte de Bolso De vários autores. De 7/12 a 18/1. 2ª a Sáb das 15h às 20h. Pintura, Outros. Museu da FísicaLargo Marquês de Pombal T. 239410602 O Engenho e a Arte A partir de 2/12. 2ª a 6ª das 09h30 às 17h30. Exposição permanente.
Portugal dos PequenitosRossio de Santa Clara. T. 239801170 + de 300 Barbies A partir de 11/7. Todos os dias das 09h às 20h (de 1/6 a 15/9), das 10h às 19h (de 1/3 a 31/3 e 16/9 a 15/10), das 10h às 17h (de 1/1 a 28,29/2 e 16/10 a 31/12. Encerra 25 de Dezembro). Objectos.
Figueira da FozCentro de Artes e EspectáculosR. Abade Pedro. T. 233407200 Intemporalidades De Mimi Veríssimo, Armando Pedro, Ramiro Calouro. De 4/1 a 30/1. 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, Sáb, Dom e feriados das 10h às 19h. 6ª das 10h às 00h. Pintura. Interior De Cristina Troufa. De 14/12 a 16/2. 2ª a 5ª das 10h às 19h. 6ª das 10h às 00h. Sáb, Dom e feriados das 10h às 19h. Pintura, Instalação.
GuimarãesCentro Internacional das Artes José de Guimarães Avenida Conde Margaride T. 300400444 Flor na Pele De Sara Franqueira, Carlos Lobo, Filipe Silva. De 13/12 a 2/2. Todos os dias das 10h às 19h (última entrada às 18h30). Fotografia, Outros.
MaiaAeroporto Francisco Sá CarneiroPedras Rubras. T. 229432400 Viagens com Humor A partir de 3/4. Todos os dias (aberto 24h). Desenho, Pintura, Cartoon. No âmbito do Dia Mundial dos Museus de Cartoon. Na zona de Chegadas.
MatosinhosGaleria Municipal de MatosinhosAv. D. Afonso Henriques. T. 229389274 Por Dentro Por Fora De Vítor Ribeiro, Rui Matos. De 30/11 a 25/1. 2ª a 6ª das 09h às 12h30 e das 14h às 17h30. Sáb e feriados das 15h às 18h. Escultura.
Vila Nova de FamalicãoFundação Cupertino de MirandaPraça Dona Maria II. T. 252301650 Ainda Julio De 2/10 a 28/2. 2ª a 6ª das 10h às 12h30 e das 14h às 18h. Sáb e feriados das 14h às 18h. Pintura.
Vila RealMuseu de Arqueologia e Numismática de Vila RealRua do Rossio. T. 259320340 Arqueologia A partir de 24/9. Todos os dias das 10h às 12h e das 14h às 19h. Objectos, Outros. Exposição Permanente. Numismática A partir de 27/5. Todos os dias das 10h às 12h e das 14h às 19h. Numismática. Exposição Permanente.
FESTIVAIS BragançaTeatro Municipal de BragançaPraça Prof. Cavaleiro Ferreira. T. 273302744 FAN - Festival de Ano Novo 2014 De 4/1 a 25/1. Todos os dias.
FARMÁCIAS Por questões de ordem técnica não nos é possível fornecer os dados das farmácias. Logo que possível retomaremos a divulgação deste conteúdo
Ver Hiroxima, Meu Amorno centenário de DurasHiroxima, Meu Amor, de Alain Resnais. Porto. Teatro do Campo Alegre. Às 18h30 e 22h.
Hiroxima, Meu Amor
(1959), a primeira longa-
metragem de fi cção de
Alain Renais e um dos
fi lmes que lançou a
Nouvelle Vague, mostra
uma intensa conversa
entre dois amantes, uma
actriz francesa e um
homem japonês, que
estão a separar-se após
uma breve ligação. O
cenário é Hiroxima, a
mulher é interpretada por
Emmanuelle Riva – que
regressou recentemente
ao cinema com um notável
papel em Amor, de Michael
Haneke –, o homem é o
actor japonês Eiji Okada.
Não sabemos os nomes
das personagens, sempre
referidas como “ele” e “ela”.
Sabemos que ela teve como
amante um soldado alemão
e que, depois da guerra,
a puniram por isso,
cortando-lhe o cabelo.
E vemos as imagens das
mulheres de Hiroxima
que perderam o cabelo
por causa das radiações.
O argumento do fi lme
é de Marguerite Duras
(1914-1996), de quem se
comemora este ano o
centenário do nascimento.
Também por isso, é uma
coincidência feliz que o
fi lme seja hoje exibido em
três cidades portuguesas:
Braga, Porto e Coimbra,
respectivamente
no Theatro Circo (21h30),
no Teatro do Campo Alegre
(18h30 e 22h) – onde já
passou ontem e se manterá
até quarta-feira – e no
Teatro Académico de Gil
Vicente.
Cinema
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | 37
FICAROs mais vistos da TVSábado, 4
FONTE: CAEM
TVITVITVISICTVI
13,613,512,412,310,6
Aud.% Share
27,727,527,025,224,5
RTP1
2:
SICTVI
Cabo
16,1%%
2,117,9
21,5
29,0
Jornal das 8BelmonteDestinos CruzadosJornal da NoiteEspecial Secret Story 4
CINEMAFreelancers [Freelancers]TVC1, 18hMalo é um jovem com um passado
ligado à criminalidade que
decide mudar de vida e seguir os
passos do progenitor ao serviço
da polícia de Nova Iorque. Aí,
vai cruzar-se com Vito Sarcone,
um agente que foi, em tempos,
companheiro do seu pai, morto
15 anos antes no cumprimento do
dever. Quando Sarcone percebe
quem ele é, decide acolhê-lo
e juntá-lo ao seu leal grupo de
polícias corruptos. E é nesta
miríade de corrupção e violência
que o jovem vai querer descobrir
a verdade por detrás da morte do
pai...
Comboio Nocturno para Lisboa [Night Train to Lisbon]TVC2, 22hUma mulher prepara-se para se
atirar de uma ponte em Berna,
Suíça. Raimund Gregorius,
um professor de latim, grego e
hebraico, convence-a a não o
fazer. Subitamente, a mulher
desaparece, deixando o casaco
atrás de si. No bolso do casaco
ele encontra um livro de um
autor português e um bilhete de
comboio para Lisboa com data
desse mesmo dia. E é então que
aquele professor antiquado,
habituado a uma vida regrada
e monótona, toma uma decisão
inusitada: mete-se no comboio e
viaja para Lisboa, a cidade onde
terão lugar todas as revelações.
Realizado por Bille August.
RomaSanta – A Caça ao Lobisomem [Romasanta, la Caza de la Bestia]MOV, 2h05Galiza, 1850. Os bosques estão
infestados de lobos. As pessoas
desaparecem misteriosamente e
os seus cadáveres são encontrados
brutalmente mutilados. Os boatos
e as histórias sobre um lobisomem
correm entre os aldeões. Josefa e
Bárbara vivem no meio do bosque
e só se sentem seguras com a
chegada de Manuel Romasanta,
amante de Josefa e por quem
Bárbara está secretamente
apaixonada. Depois de Josefa
partir para a cidade, Bárbara e
Manuel envolvem-se. Mas Bárbara
começa a suspeitar que talvez
Manuel seja o lobisomem de
que todos falam, pois é o único
homem que não teme atravessar
os bosques.
INFANTIL
Wendell & VinnieNickelodeon, 21h101.ª temporada. Com trinta anos,
Vinnie é imaturo, enquanto
o doce Wendell é demasiado
maduro para a sua idade. Isto não
seria um problema se Wendell
não tivesse de ir viver com Vinnie
para Los Angeles (EUA). Com a
ajuda da sua irmã Wilma e da
recém-vizinha Taryn, Vinnie
tentará comportar-se como um
adulto responsável. De segunda a
sexta-feira.
SÉRIES
The Good WifeFOX Life, 22hEstreia da 4.ª temporada. Alicia
Florrick ( Julianna Margulies) é
uma esposa e mãe que reclama
o controlo da sua vida pessoal
e profi ssional depois de o seu
marido, Peter (Chris Noth) se
envolver num escândalo sexual e
de corrupção política.
Os SeguidoresFOX, 22h15Estreia da 1.ª temporada. O que
aconteceria se serial killers tivessem
forma de comunicar uns com os
outros? E se fossem capazes de
trabalhar juntos e formar alianças?
O antigo agente policial Ryan Hardy
(Kevin Bacon) trabalha em conjunto
com uma equipa do FBI de forma
a encontrar Carroll, um insensível
homicida que baseia os seus actos
nos romances de Edgar Allan Poe,
e em risco de criar uma espécie de
culto e rede de seguidores prontos
a responder a todas as suas ordens.
No LimiteFOX Life, 22h48Estreia da 1.ª temporada. Esta
é a versão americana da série
britânica. Aqui, Frank Gallagher
(William H. Macy) é um orgulhoso
trabalhador da classe baixa, pai
de seis inteligentes, espirituosos
e independentes jovens que, sem
ele, viveriam bem melhor. Na visão
sempre bêbada de Frank, ser pai
só atrapalha a sua vida de diversão
nos bares, deixando a árdua tarefa
gerir a casa e sustentar a família
para a sua fi lha mais velha, Fiona
(Emmy Rossum).
Rabbids: Invasão, Nickelodeon, 9h30
RTP16.30 Bom Dia Portugal 10.00 Praça da Alegria 12.15 Os Nossos Dias 13.00 Jornal da Tarde 14.15 Depois do Adeus 15.15 Portugal no Coração 18.00 Portugal em Directo 19.00 O Preço Certo 20.00 Telejornal 21.00 Bem-vindos a Beirais 22.00 Quem Quer Ser Milionário 23.00 5 Para a Meia-Noite 00.15 Diário do Vampiro 1.00 Filme: Arma Mortífera 2.45 Ler +, Ler Melhor 3.00 Éramos Seis
RTP27.00 Zig Zag 15.00 5 Minutos com um Cientista 15.05 Dois Homens e Meio 15.30 National Geographic - Os Animais Mais Estranhos do Mundo 16.25 Iniciativa 16.30 Sociedade Civil 18.00 A Fé dos Homens 18.30 Iniciativa 18.35 Ler +, Ler Melhor 18.45 Zig Zag 20.45 Ler +, Ler Melhor 20.55 5 Minutos com um Cientista 21.00 Meu Pai, Humberto Delgado - Documentário 21.54 A Hora da Sorte 22.00 24 Horas - Sumário - Directo 22.30 Agora (Diários) 22.34 Automobilismo: Rali Dakar 2014 22.40 O Mentalista 23.30 Viver é Fácil 00.00 Voo Directo - A Vida a 900 à Hora 00.55 Agora (Diários) - Repetição 1.10 Euronews
SIC6.00 SIC Notícias 07.00 Edição da Manhã 8.45 A Vida nas Cartas - O Dilema 10.00 Querida Júlia 13.00 Primeiro Jornal 14.30 Rosa Fogo 15.30 Boa Tarde 18.15 Senhora do Destino 19.00 Sangue Bom 20.00 Jornal da Noite 21.45 Sol de Inverno 22.45 Amor À Vida 00.00 A Guerreira 00.45 Contra-Ataque 1.45 Inesquecível
TVI 6.30 Diário da Manhã 10.15 Você na TV! 13.00 Jornal da Uma 14.30 A Outra 16.00 A Tarde é Sua 18.00 Doce Fugitiva 18.30 I Love It 19.30 Casa dos Segredos 4 - Desafio Final 20.00 Jornal das 8 21.30 Casa dos Segredos 4 - Desafio Final 22.15 Belmonte 23.15 Destinos Cruzados 00.15 Casa dos Segredos 4 - Desafio Final 1.45 Filme a definir 3.30 O Último Beijo
TVC1 10.45 007 - Skyfall 13.05 A Promoção 14.30 The Paperboy - Um Rapaz Do Sul 16.15 Criação 18.00 Freelancers 19.35 Pai Infernal 21.30 G.I. Joe: Retaliação 23.20 007 - Skyfall 1.45 A Promoção
FOX MOVIES11.55 A Última Legião 13.34 Van Helsing 15.42 Circo dos Horrores: O Assistente do Vampiro 17.27 A Câmara Encerrada 19.16 A Residência Espanhola 21.15 Romance Perigoso 23.14 A Última Caminhada 1.13 Super-Homem
HOLLYWOOD10.10 O Caminho do Poder 12.15 Terminal de Aeroporto 14.20 Uma Rapariga Cheia de Sonhos 16.05 Inferno Vermelho 17.50 Traidor 19.45 Step Up 2 21.30 O Patriota 00.20 A Esfera 2.35 É Coisa de Rapaz ou Rapariga?
AXN14.00 A Teoria do Big Bang 15.12 Traição 16.02 Luther 17.09 Crossing Lines 18.03 Mentes Criminosas 19.43 Investigação Criminal 21.25 Arrow 22.21 Traição 23.15 Inesquecível 00.11 Mentes Criminosas 1.45 A Teoria do Big Bang
AXN BLACK13.32 Jornalistas 14.31 Filme: Cypher 16.06 Filme: Autocarro 174 17.57 Sem Escrúpulos 18.53 The Killing: Crónica de um Assassinato 19.55 Torchwood 20.47 A Rainha das Sombras 21.35 Sangue Fresco 22.31 Filme: Autocarro 174 00.25 Sangue Fresco 1.21 A Rainha das Sombras
AXN WHITE13.59 Dois Homens e Meio 14.45 Doutora no Alabama 15.30 Filme: Hook 17.50 Hawthorne 18.37 Doutora no Alabama 19.24 Dois Homens e Meio 20.12 Regras do Jogo 21.00 Era Uma Vez 21.50 Filme: O Primeiro Cavaleiro 00.05 Era Uma Vez 00.52 Doutora no Alabama 1.39 Regras do Jogo
FOX 13.46 Os Simpson 14.44 C.S.I. 17.42 Hawai Força Especial 19.07 Casos Arquivados 20.37 Lei & Ordem: Intenções Criminosas 22.15 Os Seguidores 23.57 Spartacus: Sangue e Arena 1.28 C.S.I.
FOX LIFE 13.31 Body of Proof 14.15 Filme: Adopting Terror 15.40 Body of Proof 17.03 Amigos Coloridos 17.23 Foi Assim Que Aconteceu 18.06 Glee
18.48 No Meio do Nada 19.31 O Sexo e a Cidade 20.29 Filme: We Have Your Husband 22.00 The Good Wife 22.48 No Limite 23.48 Uma Família Muito Moderna 00.33 O Sexo e a Cidade
DISNEY15.40 Os Substitutos 16.05 Os Substitutos 16.30 Littlest Pet Shop 16.55 Phineas e Ferb 17.07 Phineas e Ferb 17.23 Phineas e Ferb 17.35 Boa Sorte, Charlie! 18.00 Austin & Ally 18.25 O Meu Cão Tem Um Blog 18.55 Shake It Up 19.20 Hannah Montana 19.43 Professor Young 20.05 Jessie 20.30 Violetta 21.25 Shake It Up 21.50 Phineas e Ferb
DISCOVERY16.10 Negócio Fechado 16.35 Jóias sobre Rodas 17.30 Top Gear 18.20 O Segredo das Coisas 18.45 O Segredo das Coisas 19.15 Desmontando a Cidade 20.05 A Febre do Ouro 21.00 Pesca Radical 22.00 Monstros do Rio 22.55 O Grande Azul 23.45 Negócio Fechado 00.10 Negócio Fechado 00.35 Fanáticos por Armas
HISTÓRIA 17.15 Invenções que Mudaram o Mundo: Década de 1900 18.05 Alienígenas: Misteriosos Locais 18.50 Pesca Selvagem: O Torneio de Okie 19.40 Alienígenas: Imperadores, Reis e Faraós 20.25 Caça Tesouros: O Bucha e o Estica 21.10 O Preço da História: A Farda Do Coronel Sanders 21.35 Restauradores: Máquina de Jogos 22.00 A Terra Assassina: O Raio Acerta Duas Vezes 22.50 Big History: Telemóvel 23.12 Big History: O Sol 23.35 O Preço da História: A Farda Do Coronel Sanders 23.57 Restauradores: Máquina de Jogos 00.20 A Terra Assassina: O Raio Acerta Duas Vezes 1.05 Big History: Telemóvel
ODISSEIA17.21 Elefantes, o Declínio dos Gigantes 18.23 O Milionário Secreto III: Marcus Lemonis 19.08 Livros, Jóias de Papel: Bíblias Antigas 19.38 Livros, Jóias de Papel: Obras-primas 20.09 Fora de Controlo 21.00 Desastres Domésticos: O Salto da Lebre 21.22 Desastres Domésticos: Terror nas Férias 21.44 1000 Formas de Morrer 22.04 1000 Formas de Morrer 23.25 Desastres Domésticos: O Salto da Lebre 23.47 Desastres Domésticos: Terror nas Férias 00.09 1000 Formas de Morrer
,30
40 | DESPORTO | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
Carlos Sousa surpreende na estreiae é o primeiro líder do Dakar
As expectativas de Carlos Sousa à
partida para a edição de 2014 do Rali
Dakar eram limitadas e passavam
por terminar entre os dez primeiros
da dura prova sul-americana, mas
o português fez ontem questão de
surpreender toda a concorrência, na
etapa de estreia, assumindo-se como
primeiro líder da classifi cação geral.
E não foi o único elemento nacional
em prova a brilhar nas quatro rodas:
no segundo lugar, a 11s de distância
do vencedor, terminou o argentino
Orlando Terranova, que tem Paulo
Fiuza como navegador. Nas motos,
Paulo Gonçalves liderou a comitiva
nacional, com um quinto lugar.
A participar no seu 15.º Dakar, o
piloto de Almada, ao serviço da mo-
desta equipa chinesa da Great Wall,
impôs-se nos 180km cronometrados
que abriram a competição, entre Ro-
sario e San Luis, na Argentina. No
último lugar do pódio acabou por
fi car um dos favoritos à vitória fi -
nal, Nasser Al-Attiyah, a 47 segundos
do português. Pior esteve o francês
Stéphane Peterhansel, que defende
o título — encerrou o dia na sexta
posição, a 4m21s do vencedor.
“Conseguimos um bom resultado,
mas foi muito duro. Não tínhamos
ar condicionado no carro e bloque-
aram todas as entradas de ventila-
ção. Por altura do quilómetro 50,
avariaram-se as saídas de ar do tur-
bo, de forma que o ar do motor nos
chegava directamente ao habitácu-
lo. Faziam uns 70 graus ali dentro
e tínhamos difi culdades inclusiva-
mente para respirar!”, contou Car-
los Sousa no fi nal ao site ofi cial da
prova: “Creio que pilotei tão depres-
sa porque queria acabar o quanto
antes com o martírio, mas também
porque tinha confi ança de que po-
díamos alcançar o objectivo.”
Nas duas rodas, os portugueses
em prova têm mais ambições, mas
estiveram discretos neste primeiro
dia. Numa etapa ganha pelo espa-
nhol Joan Barreda, Paulo Gonçalves,
actual campeão mundial de todo-
o-terreno, precisou de mais 2m25s
para encerrar a especial, garantindo
a quinta posição. O espanhol Marc
Coma e o francês Cyril Despres,
que têm dominado esta prova nos
últimos anos e voltam a partir co-
mo grandes candidatos ao título de
2014, encerraram o pódio.
“O Dakar ainda está a começar.
Esta primeira etapa foi de peque-
na dimensão, mas já exigiu elevado
nível de concentração. Acordámos
muito cedo, ainda estou em fase de
adaptação, mas consegui estar mui-
to concentrado e num bom nível ao
longo de todo o dia, não perdendo
muito tempo para os meus princi-
pais adversários que partiram nos
lugares da frente”, resumiu o piloto
de Esposende, citado pela sua asses-
soria de imprensa.
“A partir de amanhã [hoje] come-
ça o verdadeiro Dakar, etapa longa,
difícil, muito rápida e onde vamos
ter as primeiras dunas. Vou continu-
ar ao ataque para me manter na luta
pelos lugares do pódio”, prometeu
o piloto de 34 anos.
Ruben Faria, segundo classifi cado
na edição de 2013, não teve um ar-
ranque brilhante e não foi além do
12.º tempo, perdendo 5m11s para o
vencedor. O terceiro português aca-
bou por ser Mário Patrão, em 21.º,
mas a grande desilusão do dia foi
a prestação de Hélder Rodrigues,
que já conquistou dois terceiros lu-
gares nesta mítica prova. O cabeça-
de-cartaz da Honda foi 22.º, a 8m58s
de Barreda, seu companheiro de
equipa. Carlos Sousa enfrentou vários problemas mecânicos durante a etapa
Piloto de Almada sofreu, mas venceu primeira etapa da prova sul-americana. Paulo Gonçalves foi o melhor português nas duas rodas, na quinta posição
Todo-o-terrenoPaulo Curado
CLASSIFICAÇÃO1.ª ETAPA (ROSARIO-SAN LUIS)Motos1. Joan Barreda (Honda) 2h25m31s2. Marc Coma (KTM) a 37s3. Cyril Despres (Yamaha) 1m40s(...) 5. Paulo Gonçalves (Honda) 2m25s12. Ruben Faria (KTM) 5m11s21. Mário Patrão (Suzuki) 8m24s22. Ruben Faria (Honda) 8m58s49. Pedro Oliveira (SpeedBrain) 23m06s50. Victor Oliveira (Husqvarna) 23m17s52. P. Bianchi Prata (Husqvarna) 24m35s
Carros1. Carlos Sousa (Haval) 2h20m36s2. Orlando Terranova (Mini) a 11s3. Nasser Al-Attiyah (Mini) 47s(...)96. Francisco Pita (SMG) 1h02m28s
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | DESPORTO | 41
FRANCK FIFE/AFP
Ontem começou o Dakar, aquele
que se espera que seja o mais
duro alguma vez disputado na
América do Sul. As especiais
vão ser mais longas, com mais
quilómetros e mais horas a
guiar, o que se traduz em fadiga
acumulada, naquele que será
um dos maiores desafi os da
competição.
A primeira etapa começou
logo com uma ligação bastante
longa, de 629km, seguida de uma
especial de 180km. Por norma,
esta etapa foi um aquecimento
para o resto da prova, quando
existe sempre alguma ansiedade
entre os concorrentes. Com um
grau de difi culdade reduzido, este
percurso é parecido com as bajas
portuguesas, com um trajecto
bastante estreito e de muita
pilotagem. É preciso manter a
concentração para não cometer
erros no início, sobretudo no pó,
que é sempre um adversário neste
tipo de especiais.
Uma das grandes novidades
deste ano é o facto de as motas
e quads fazerem quase 40% da
prova por percursos diferentes
dos automóveis e dos camiões.
Na minha opinião, esta dinâmica
retira um pouco do carisma
da prova.
No entanto, em termos de
segurança é uma mais-valia,
já que as ultrapassagens entre
motas/quads e carros/camiões
são sempre dos momentos mais
difíceis e que, com muito pó,
reduzindo a visibilidade, se
tornam ainda mais complicados.
Inúmeros incidentes já
aconteceram e é sempre um
ponto sensível. A organização
terá de duplicar a “vigilância
e segurança”, com as duas
especiais, em vez de uma só.
Piloto de todo-o-terreno
Uma prova mais dura em perspectiva
Crónica Miguel Barbosa
TAÇA DE PORTUGALRESULTADOSOitavos-de-finalLeixões-Estoril 1-5Rio Ave-V. Setúbal 1-0FC Porto-Atlético 6-0Benfica-Gil Vicente 5-0P. Ferreira-Desp. Aves 1-2Marítimo-Penafiel 2-3Beira-Mar-Académica 0-1Sp. Braga-Arouca 2-0
Não fossem as duas grandes penali-
dades defendidas pelo guarda-redes
Ricardo e a Académica teria conheci-
do o mesmo desfecho que o Marítimo
e o Paços de Ferreira nos oitavos-de-
fi nal da Taça de Portugal. A equipa
de Coimbra impôs-se no terreno do
Beira-Mar (0-1), enquanto as duas
outras equipas da I Liga perderam
em casa com adversários do segundo
escalão profi ssional.
Em Aveiro, foi o golo de Magi-
que, apontado de cabeça aos 25’
após passe de Djavan, que ditou o
apuramento da Académica para os
quartos-de-fi nal. Isto porque Ricardo
conseguiu segurar a vantagem, nos
dois momentos de maior afl ição pa-
ra os visitantes: aos 63’, a remate de
Luiz Gustavo, e aos 82’, a remate de
André Nogueira. Duas grandes pena-
lidades travadas por um especialista
na matéria.
Destino oposto ao da Académica
teve o Marítimo, que se deixou sur-
preender na Madeira pelo Penafi el,
num jogo com cinco golos (2-3). Os
forasteiros até marcaram primeiro,
mas na própria baliza, por Fábio Er-
vões, aos 12’. Aos 25’, escolheram a
baliza correcta para voltarem a fac-
turar (golo de Gabi), repetindo a dose
aos 36’ (Aldair, com um remate de
longe) e aos 56’ (Rafael Lopes).
A perder por 1-3, Pedro Martins
lançou Nuno Rocha e Fidélis e os in-
sulares melhoraram. Aos 67’, Heldon
reduziu, mas o Marítimo já não foi
capaz de levar o jogo para o prolon-
gamento e fi cou fora da prova.
O mesmo aconteceu ao Paços de
Ferreira, que no Estádio Capital do
Móvel se viu “traído” por Jaime Poul-
sen (1-2). O avançado emprestado pe-
los pacenses ao Desportivo das Aves
apontou os dois golos do 12.º classifi -
cado da II Liga, aos 72’ e 83’, depois
de Bebé ter colocado a equipa da
casa em vantagem (43’). Prossegue,
assim, a maré negra de resultados do
Paços de Ferreira nesta temporada,
em que soma quatro vitórias, seis
empates e 16 derrotas.
Visitantes da II Liga batem Paços e Marítimo
Futebol
Pardo e Rafa mantêm o Sp. Braga vivo na Taça
Futebol
Minhotos venceram o Arouca por 2-0 e foram a última equipa a apurar-se para os quartos-de-final
Com golos de Pardo e Rafa e uma
exibição “cinzenta”, o Sporting de
Braga venceu ontem o Arouca (2-0)
e qualifi cou-se para os quartos-de
fi nal da Taça de Portugal. O triunfo
dos minhotos ajusta-se, porque fo-
ram globalmente a melhor equipa,
perante um Arouca frágil, que, ain-
da assim, chegou a assustar, quan-
do o resultado estava em 1-0, ten-
do enviado uma bola à barra, num
remate de Pintassilgo.
O jogo começou com uma home-
nagem a Eusébio: num minuto re-
pleto de palmas, passaram no ecrã
gigante do estádio imagens do cé-
lebre Portugal-Coreia do Norte do
Mundial de 1966, jogo memorável
em que o antigo internacional por-
tuguês marcou quatro golos na vi-
tória por 5-3.
Na estreia do avançado romeno
Raul Rusescu, emprestado pelos
espanhóis do Sevilha — o reforço
mostrou alguns bons pormenores,
mas denotou natural falta de entro-
samento com os colegas —, o Sp.
Braga abriu o marcador logo aos
cinco minutos, com Pardo a con-
cluir de primeira um cruzamento
da direita de Alan.
O Sp. Braga assinou depois dois
bons remates, primeiro por Rafa
(13’), depois por Aderlan Santos
(24’), este numa “bomba” de mui-
to longe, na conversão de um livre
directo, que passou a rasar o poste.
Mas seria o Arouca a desperdiçar
uma grande oportunidade para em-
patar, quando Pintassilgo rematou
ao lado, após assistência de Rober-
to (36’).
Pardo podia ter marcado tam-
bém o segundo dos bracarenses,
mas, depois de ter aproveitado um
disparate de Diego para se isolar
diante de Cássio, falhou a tentativa
de “chapéu” ao guarda-redes bra-
sileiro, que defendeu sem difi cul-
dade (41’).
Após o intervalo, Luiz Carlos
surgiu no lugar de Mauro no meio-
campo bracarense, mas foi o Arou-
ca a estar muito perto do empate
com um grande remate de Pintas-
silgo à barra (47’).
O Sp. Braga respondeu logo a
seguir com um cabeceamento de
Aderlan Santos, após canto de Alan,
que Cássio defendeu de forma apa-
ratosa (49’) e, pouco depois, o guar-
dião, que chegou a ter um acordo
com os minhotos no início da épo-
ca, voltou a negar o golo a Felipe
Pardo (54’).
O fulgor do Arouca durou muito
pouco tempo e o Sp. Braga assu-
miu o comando do jogo, sem, con-
tudo, imprimir grande velocidade.
Aos 73’, 19 depois de ter entrado,
Ceballos foi expulso por causa de
uma entrada violenta sobre Alan
e a tarefa de, pelo menos, chegar
ao empate tornou-se ainda mais
difícil, até porque, cinco minutos
depois, os minhotos fi zeram o se-
gundo golo e “mataram” o jogo.
Rafa só teve de encostar após uma
primeira defesa de Cássio a remate
de Pardo. Lusa
Pardo marcou um golo e desperdiçou outro
Sp. Braga 2Pardo 5’, Rafa 78’
Arouca 0
Estádio Municipal de BragaEspectadores cerca de 5.000
Sp. Braga Eduardo, Baiano, Santos, Sasso, Elderson, Custódio, Mauro (Luiz Carlos, 46’), Rafa a70’ (Salvador Agra, 89’), Alan (Vukcevic, 89’), Pardo a65’ e Rusescu a26’. Treinador Jesualdo Ferreira
Arouca Cássio, Ivan Balliu a66’, Nuno Coelho, Diego, Tinoco, Bruno Amaro a57’, David Simão a79’ (Soares, 83’), Pintassilgo a23’ (Lassad, 67’), André Claro (Ceballos, 56’ a73’), Roberto e Serginho a83’. Treinador Pedro Emanuel
Árbitro Jorge Sousa (AF Porto)
42 | DESPORTO | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
Primeiro os aplausos para Eusébio, depois as vaias para o Man. United
“Red devils”, que não vencem a Taça de Inglaterra desde 1994, foram eliminados à primeira oportunidade por um Swansea que nunca tinha ganho em Old Traff ord. Em Espanha, o Barça retomou a liderança
ANDREW YATES/AFP
O golo de Chicharito não foi suficiente para evitar a eliminação do Manchester United
A época de transição do Manches-
ter United teve um novo desenvol-
vimento negativo. Os “red devils”,
recordistas de vitórias na Taça de
Inglaterra, mas incapazes de a ven-
cerem desde 1994, não vão quebrar
o enguiço em 2014, depois de ontem
terem sido eliminados da prova pre-
cocemente, caindo perante o Swan-
sea City, em pleno Old Traff ord.
Antes do jogo, houve um minuto
de aplausos em homenagem a Eu-
sébio. No fi nal, destacaram-se as
vaias dos adeptos da casa dirigidas
à sua própria equipa. O clube visi-
tante ganhou, bem, por 1-2, com o
golo decisivo a surgir aos 90’, numa
altura em que o United jogava em
inferioridade numérica.
Habituado a ser uma fortaleza,
Old Traff ord, onde esteve uma ban-
deira portuguesa a meia haste, tem
sido nesta temporada um estádio
acessível para os visitantes. A época
ainda vai a meio, mas o United já
perdeu cinco vezes no seu recinto.
Fora da Taça à primeira oportunida-
de (nesta terceira ronda) e a 11 pon-
tos do líder Arsenal no campeona-
to, conservando, aparentemente,
poucas possibilidades de revalidar
o título, à equipa de David Moyes
deverá restar a Liga dos Campeões
(defronta o Olympiacos nos oitavos-
de-fi nal) e a Taça da Liga (meias-fi -
nais com o Sunderland) para salvar a
temporada, até porque o sucesso na
Supertaça de Inglaterra, em Agos-
to, não chega para tornar o saldo
favorável.
O Swansea, com Alex Ferguson
a assistir na bancada, adiantou-se
aos 12’ por Wayne Routledge, talvez
a grande fi gura do encontro, pois
também ofereceu a assistência pa-
ra o segundo golo da equipa galesa,
que venceu pela primeira vez na sua
história em Old Traff ord. Chichari-
to não demorou a empatar (16’),
mas para o United, que não pôde
contar com Rooney e Van Persie,
tudo se precipitou na parte fi nal do
jogo, quando o brasileiro Fabio foi
expulso aos 80’, devido a uma en-
trada mais dura sobre Canas, ape-
nas quatro minutos depois de ter
entrado para o lugar do lesionado
Rio Ferdinand.
A formação orientada por Michael
Futebol internacionalManuel Assunção
A Juventus derrotou ontem em casa a Roma, por 3-0, num jogo da 18.ª jornada que opôs os dois
primeiros do campeonato italiano. Foi apenas a primeira derrota da Roma na competição, mas o resultado deixou-a já a oito pontos do líder, que assim deu um importante passo para garantir o terceiro título consecutivo. A equipa de Turim subiu a sua pontuação para 49, enquanto a Roma se mantém com 41. O médio chileno Arturo Vidal abriu o activo aos 17 minutos, o defesa Leonardo Bonucci aumentou logo após o intervalo e o avançado montenegrino fixou o resultado aos 77’, de penálti. De Rossi (75’) e o brasileiro Leandro Castán (76’), ambos da Roma, foram expulsos, o segundo por cortar com a mão um lance de perigo na sua área.
Juve bate Roma e aumenta liderança
Laudrup aproveitou a vantagem nu-
mérica e fez o 1-2 em cima do tempo
regulamentar, com o avançado mar-
fi nense Wilfried Bony a marcar de
cabeça após centro de Routledge.
O Chelsea também avançou para
a quarta ronda, após vencer fora o
Derby County, do segundo escalão
inglês, por 0-2, com golos de Obi Mi-
kel e Oscar. O próximo adversário da
equipa de José Mourinho é o Stoke.
O Liverpool também assegurou,
sem surpresa, o apuramento, com
um triunfo caseiro pelos mesmos
números sobre o Oldham Athletic
(terceiro escalão). O espanhol Iago
Aspas e um autogolo de James Ta-
rkowski fi zeram funcionar o mar-
cador. Na ronda seguinte, os “reds”
enfrentarão o Bournemouth ou o
Burton Albion.
Surpreendente foi a goleada (5-
0) conseguida pelo Nottingham Fo-
rest, quinto classifi cado do Cham-
pionship, segundo escalão do fute-
bol inglês, frente ao West Ham da
I Divisão.
Sánchez ajuda BarçaO Barcelona defendeu com suces-
so a sua liderança no campeonato
espanhol, ao golear em casa o El-
che, por 4-0, num jogo em que bri-
lhou Alexis Sánchez, autor do seu
primeiro hat-trick com a camisola
blaugrana. O campeão espanhol so-
ma agora 49 pontos, os mesmos do
Atlético de Madrid, que na véspera
ganhou em Málaga (0-1). A equipa de
Gerardo Martino ocupa o primeiro
lugar, porque tem melhor diferença
de golos.
A igualdade de pontos poderá ser
desfeita na próxima ronda, a 19.ª do
campeonato, uma vez que os dois
líderes se vão defrontar em Madrid,
no Vicente Calderón.
O avançado chileno marcou aos 7,
63 e 69 minutos, enquanto Pedro,
que tinha apontado três na última
jornada ao Getafe, fez o outro golo
do Barcelona, aos 16’. Pedro somou
o 15.º golo na temporada, Sánchez
tem 11, todos na Liga. O Barcelona,
através de Xavi, ainda desperdiçou
uma grande penalidade.
O Real Madrid, terceiro classifi ca-
do, com 41 pontos, só joga hoje com
o Celta Vigo. Iker Casillas e Gareth
Bale estão de regresso à convoca-
tória, enquanto Fábio Coentrão,
Raphael Varane e Sami Khedira
continuam de fora, por lesão. An-
tes do jogo no Santiago Bernabéu,
realizar-se-á um minuto de silêncio
em homenagem a Eusébio.
CLASSIFICAÇÕES
ESPANHA
ITÁLIA
Jornada 18Málaga-Atlético de Madrid 0-1Valladolid-Betis 0-0Valência-Levante 2-0Almeria-Granada 3-0Sevilha-Getafe 3-0Barcelona-Elche 4-0Osasuna-Espanyol 1-0Real Sociedad-Athletic Bilbau 2-0Real Madrid-Celta de Vigo 18hRayo Vallecano-Villarreal 21h
Jornada 18Chievo-Cagliari 0-0Fiorentina-Livorno 1-0Juventus-Roma 3-0Nápoles-Sampdoria 11h30Parma-Torino 14hUdinese-Verona 14hCatânia-Bolonha 14hMilan-Atalanta 14hGénova-Sassuolo 14hLazio-Inter 17h30
J V E D M-S P
J V E D M-S P
Barcelona 18 16 1 1 53-12 49Atlético de Madrid 18 16 1 1 47-11 49Real Madrid 17 13 2 2 49-21 41Athletic Bilbau 18 10 3 5 26-23 33Real Sociedad 18 9 5 4 35-23 32Sevilha 18 8 5 5 35-29 29Villarreal 17 8 4 5 27-18 28Valência 18 7 2 9 25-29 23Getafe 18 7 2 9 20-30 23Espanyol 18 6 4 8 22-24 22Málaga 18 5 5 8 19-23 20Levante 18 5 5 8 17-27 20Granada 18 6 2 10 15-25 20Almería 18 5 4 9 20-32 19Osasuna 18 5 3 10 16-28 18Elche 18 4 5 9 17-27 17Celta de Vigo 17 4 4 9 21-27 16Valladolid 18 3 7 8 21-29 16Rayo Vallecano 17 4 1 12 16-40 13Betis 18 2 5 11 15-36 11
Juventus 18 16 1 1 42-11 49Roma 18 12 5 1 35-10 41Nápoles 17 11 3 3 36-20 36Fiorentina 18 11 3 4 34-20 36Inter Milão 17 8 7 2 37-21 31Verona 17 9 2 6 31-26 29Torino 17 6 7 4 30-24 25Cagliari 18 4 9 5 18-24 21Parma 17 4 8 5 23-25 20Lazio 17 5 5 7 22-26 20Génova 17 5 5 7 17-20 20Udinese 17 6 2 9 17-22 20AC Milan 17 4 7 6 25-26 19Sampdoria 17 4 6 7 19-25 18Atalanta 17 5 3 9 18-25 18Chievo 18 4 4 10 13-23 16Bolonha 17 3 6 8 17-31 15Sassuolo 17 3 5 9 17-36 14Livorno 18 3 4 11 16-30 13Catânia 17 2 4 11 10-32 10
Próxima jornada Livorno-Parma, Bolonha-Lazio, Torino-Fiorentina, Atalanta-Catânia, Cagliari-Juventus, Roma-Génova, Verona-Nápoles, Sassuolo-Milan, Sampdoria-Udinese, Inter-Chievo
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | DESPORTO | 43
Portugal foi uma das boas notícias
do Campeonato do Mundo de Volei-
bol de 2002, mas desde então não
teve mais oportunidade para sur-
preender na competição. Ontem,
fi cou afastado do Mundial 2014,
tal como aconteceu nas edições de
2006 e 2010. A selecção nacional
precisava de vencer a favorita e an-
fi triã Sérvia por 3-0, para garantir a
vitória no Grupo J de qualifi cação
europeia e o apuramento para a
fase fi nal, mas não conseguiu me-
lhor do que ganhar somente um set,
Portugal não conseguiu surpreender a Sérvia e falhou apuramento para o Mundial
perdendo pelos parciais de 22-25,
25-11, 25-19 e 25-21, em Nis.
Num pavilhão preenchido com
6500 espectadores, os homens li-
derados por Hugo Silva, seleccio-
nador que fez a estreia em jogos
ofi ciais, tiveram uma boa entrada
e ganharam o primeiro parcial, por
22-25, desfecho que ainda alimen-
tou esperanças.
No entanto, a Sérvia, medalha de
bronze no último Campeonato da
Europa, reagiu com autoridade e,
também benefi ciando das quebras
de concentração portuguesas, fe-
chou o segundo set com uma larga
vantagem depois de um arranque
em que desequilibrou claramente
as contas a seu favor. A vitória nes-
te parcial chegou para os sérvios
garantirem a quinta presença con-
secutiva no Mundial.
A Portugal restava-lhe agora ten-
tar vencer por 3-1, um resultado que
poderia eventualmente oferecer-
VoleibolManuel Assunção
Selecção portuguesa necessitava de vencer pela diferença máxima na última jornada da qualificação, mas perdeu
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Aleksandar Atanasijevic foi o
principal destaque da Sérvia, ao
conseguir 13 pontos.
Portugal terminou no terceiro
lugar, com três pontos. A Sérvia
somou nove e a Eslovénia seis. A
Macedónia, o único adversário que
a selecção portuguesa conseguiu
bater, não pontuou.
“Surpreendemos a Sérvia no
primeiro set, fomos consistentes
e jogámos bem. Depois disso, não
conseguimos manter o ritmo e essa
é a diferença entre nós e eles. Eles
podem jogar assim o tempo todo,
e nós ainda temos de melhorar
muito”, referiu João José, capitão
de Portugal.
A França, com sete pontos, foi
a selecção que se qualifi cou como
melhor segunda classifi cada. Além
da Sérvia, também se qualifi caram
como vencedores de grupos a Bél-
gica, a Bulgária, a Alemanha e a
Finlândia.
Portugal derrotou a Estónia, em
São João da Madeira, por 35-27, na
4.ª jornada do Grupo 5 de qualifi -
cação para os play-off s do Mundial
de Andebol de 2015.
A selecção nacional continua no
3.º lugar, mas agora em igualdade de
pontos com a Letónia, que perdeu
(21-23) em casa com a Bósnia-Herze-
govina, nação que está muito próxi-
ma de conquistar o grupo e fi car com
a vaga para a próxima ronda.
A selecção bósnia, com quatro
vitórias em quatro jogos, comanda
com oito pontos, mais quatro do
que Letónia e Portugal.
A vitória da Bósnia na Letónia foi
a pior notícia para a selecção na-
cional. Ao líder basta-lhe empatar
na próxima jornada, na recepção
à Estónia, para garantir de vez o
primeiro lugar.
Selecção venceu, mas Bósnia não “colaborou”
Andebollhe a qualifi cação, como o segundo
melhor dos cinco grupos, mas nem
a equipa lusa conseguiu chegar à vi-
tória, nem esse cenário, percebeu-
se depois, bastaria para cumprir o
apuramento pela via secundária.
A formação dos Balcãs, mesmo ro-
dando os seus jogadores, também
dominou os sets seguintes.
O oposto Hugo Gaspar, com 17
pontos (15 amealhados no ataque
e dois no bloco), foi o melhor con-
cretizador português, enquanto
João José terminou com 11, Alexan-
dre Ferreira com nove e Marcel Gil
com oito.
Hugo Gaspar terminou o encontro com 17 pontos, insuficientes para ajudar Portugal a vencer a Sérvia
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44 | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
ESPAÇOPÚBLICO
EDITORIAL
CARTAS À DIRECTORA
E Portugal perdeu mais um símbolo
Quando Amália morreu, a 6 de Outubro
de 1999, quase à beira de fechar
o século e um milénio, Portugal
via partir um símbolo. “Com ela”,
escreveu-se no PÚBLICO em editorial,
“morreu uma parte do país e do povo que
somos”. Mas também por causa dela, outra
parte desse país e desse povo continuou
viva, resistindo. Nesse dia, Eusébio disse:
“Ela é. foi, sem dúvida, a máxima fi gura da
música portuguesa. Quando a conheci pela
primeira vez fi quei satisfeito: olhava-a como
uma pessoa simples e modesta, como eu
também sou, e a minha vibração reforçou-se.
Já chorei, estou a chorar e ainda vou chorar.
Não acredito.” Agora que morre Eusébio,
muitos disseram e dizem ainda coisas
parecidas. A incredulidade, a sensação de
perda, o mito de traços humanos, tudo nele
Com Eusébio, como em 1999 com Amália, Portugal perdeu mais um símbolo da sua identidade
se conjugou para eternizar uma imagem em
que todos os portugueses, não só os adeptos
do futebol ou do Benfi ca (como também com
Amália não só os amantes do fado), de algum
modo se revêem. Como escreve nesta edição
António-Pedro Vasconcelos, Eusébio “foi,
sem querer, um símbolo para os portugueses
do seu tempo”, porque, num tempo em que
“ser português era sinal de opróbrio e de
vergonha, Eusébio resgatou o nosso orgulho
e devolveu-nos a dignidade”. E diz mais:
que ele tinha “qualidades inatas para o
futebol”, que “gostava de marcar golos e de
ganhar, como se isso fosse uma obrigação
que os deuses lhe exigiam em troca de o ter
dotado de talentos invulgares”. Talentos
esses que Bagão Félix (também num artigo
nesta edição) refere como “uma certa
expressão do desporto que deixou de ser
a norma. Onde o que contava era tão-só
o futebol jogado. De paixão pura, sem
adiposidades. Sem mediatismos bacocos
feitos de lugares-comuns”.
Mas Eusébio morreu e aqui estamos.
Outra vez, como sucedeu com Amália, a ver
desfi lar multidões que lhe querem prestar
homenagem, rever-se nele num momento
em que a dor da perda se mistura, sem tino,
às lembranças das vitórias, da simbologia
de raiz humana, à enorme arte que, como
em Amália, difi cilmente se explica, como
nota Medeiros Ferreira (pág. 12): “A grande
dúvida (...) é a de saber se há algum
método, algum treino, algum exercício
repetido, algum refl exo criado, que
transplante um atleta do seu meio e faça
dele um génio.” Não há. Como não houve,
ou haverá, muitos Eusébios ou Amálias.
Não por acaso, um poeta português,
Manuel Alegre, dedicou a Amália e
Eusébio poemas em que usou as palavras
“teorema” e “teoria”, talvez em busca do
inexplicável. Em Amália, notou “a música
a palavra o teorema/ a teoria que busca
o som e a forma”; em Eusébio, “Não era
só o instinto era ciência/ magia e teoria já
só prática. (...) Buscava o golo mais que
golo: só palavra. Abstracção. Ponto no
espaço. Teorema./ Despido do supérfl uo
rematava/ e então não era golo: era
poema”. Teoria feita sonho, o sonho feito
vitória. Há nisto, quando o derrotismo
não o reprime e cala, muito do espírito
português. Parte dele morre com Eusébio;
outra, também por causa de Eusébio,
há-de orgulhosamente resistir.
Estaleiros de Viana: de quem foi a culpa?A situação dos ENVC é complicada,
como se sabe. Compreendo a
angústia de quem lá trabalha,
mas também compreendo que
não se perpetue uma situação
de insolvência e incapacidade
comercial. Por isso pergunto:
alguém foi responsabilizado por
se ter construído um navio que
o governo dos Açores recusou,
por não cumprir os requisitos
convencionados? Quem teve o
desplante de querer entregar um
navio que não atingia a velocidade
contratada? Ficar com um navio
em seco e com o consequente
buraco nas contas é inadmissível.
Não me lembro de ver o nome de
quem eventualmente tenha sido
demitido — aliás, nunca poderia
ter sido uma só pessoa. Esta pura
demonstração de incompetência
e irresponsabilidade só reforça a
As cartas destinadas a esta secção
devem indicar o nome e a morada
do autor, bem como um número
telefónico de contacto. O PÚBLICO
reserva-se o direito de seleccionar
e eventualmente reduzir os textos
não solicitados e não prestará
informação postal sobre eles.
Email: [email protected]
Contactos do provedor do Leitor
Email: [email protected]
Telefone: 210 111 000
posição do Governo, que tem de
corrigir uma situação herdada
(mais uma), sabendo que sobre si
cairão todas as críticas dos líricos
do costume.
João M. Pereira dos Santos, Lisboa
Eusébio, sempre
Faleceu um homem simples
que fez de uma bola de futebol
mensagem de alegria e partilha de
emoções. A vergonhosa campanha
em afi rmar Cristiano Ronaldo
como o melhor marcador da
selecção portuguesa de futebol,
quando o Pantera Negra realizou
menos jogos, prova até onde vai
a fome de vaidade! Eusébio com
uma bola nos pés fez mais por
Portugal que muitos governantes
com uma caneta nas mãos. O
futebol é um jogo colectivo, em
que a entreajuda é fundamental.
O espírito solidário de um jogador
“dobrar” o companheiro que foi
ultrapassado é o que falta aos
portugueses. Eusébio de Portugal,
presente!
Ademar Costa, Póvoa de Varzim
Até sempre, Pantera!
A bola é redonda, donde redunda
no fi nal de mais uma bela jogada
mais um golo. O consolo é vê-la
ora repetida na televisão com todo
o merecimento.
Momento perene, solene e geral
reconhecimento, porque levaste
longe o nome do nosso país.
Quis a desdita fosse hoje a data
da tua partida.
Por tudo, esta anódina
Os artigos publicados nesta secção respeitam a norma ortográfica escolhida pelos autores
homenagem, e lembrança de que
só agem como tu os verdadeiros
seres humanos.
Unamos, então, nossas vozes
numa mensagem vera e sincera:
até sempre, Pantera!
José P. Costa, Lisboa
O PÚBLICO ERROU
Na última página da edição de
ontem foram repetidos, por
lapso, os resultados do sorteio do
Totoloto da passada quarta-feira.
Hoje, publicam-se (também na
última página) os resultados do
sorteio de sábado, com as nossas
desculpas aos leitores, pelo erro.
Na edição de sábado, por lapso
não imputável ao autor, saiu
duplicado o primeiro parágrafo no
texto de opinião “O Trabalho não
é uma mercadoria” (Pág. 45), de
João Fraga de Oliveira. As nossas
desculpas ao autor e aos leitores.
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | 45
Sobre os ideais marítimos de liberdade e governo limitado
Ano novo, vida nova, como
se costuma dizer. Ao cabo
de três anos como Cartas de
Varsóvia, estas crónicas passam
agora a Cartas do Atlântico.
Geografi camente, assinalam o
meu regresso a Lisboa, à beira-
mar plantada. Simbolicamente,
mantém o mesmo compromisso
com os ideais marítimos de
liberdade e governo limitado.
Foram estes mesmos ideais que
presidiram à libertação da Polónia, em
1989, depois de décadas de opressão pelo
comunismo continental. Durante três
anos em Varsóvia, pude testemunhar o
compromisso polaco para com a aliança
euro-atlântica, que ainda hoje é a âncora da
sua liberdade reconquistada.
Não terá sido por acaso, como também
se costuma dizer, que Winston Churchill e
Franklin Roosevelt escolheram o Atlântico
como sede de consagração da sua — então
célebre, hoje quase esquecida — Carta
do Atlântico. Os princípios enunciados
nessa Carta, em Agosto de 1941, estiveram
na origem da ONU e da NATO, em parte
também da Comunidade Europeia.
Mas talvez tenha sido Karl Popper quem
mais enfaticamente associou a ideia de
sociedade aberta às civilizações marítimas,
em particular a de Atenas do século V a.C.:
“Talvez a mais poderosa causa do
colapso da sociedade fechada tenha sido
o desenvolvimento das comunicações
marítimas e do comércio. O contacto
estreito com outras tribos desafi a o
sentimento de necessidade com que as
instituições tribais são percepcionadas;
e a troca, a iniciativa comercial e a
independência podem afi rmar-se, mesmo
numa sociedade em que o tribalismo ainda
prevalece. (...) Tornou-se claro [para os
inimigos da democracia em Atenas] que o
comércio de Atenas, o seu comercialismo
monetário, a sua política naval, e as suas
tendências democráticas eram parte de
um único movimento, e que era impossível
derrotar a democracia sem ir às raízes do
mal [do ponto de vista dos inimigos da
democracia] e destruir quer a política naval
quer o império.” (A Sociedade Aberta e os
Seus Inimigos, Edições 70, vol. I, p. 222).
Karl Popper considerava que a civilização
ocidental emergiu da transição das
velhas sociedades fechadas tribais para as
novas sociedades abertas. Para Popper,
a Guerra do Peloponeso entre Atenas
e Esparta exprimiu essencialmente o
confl ito entre uma sociedade aberta
emergente, a democrática Atenas, e uma
sociedade fechada, a Esparta colectivista.
Ele considerou que a II Guerra Mundial
foi uma reedição desse confl ito, tendo
o lugar de Atenas sido ocupado pelas
democracias ocidentais, e o lugar de
Esparta pelo nacional-socialismo alemão e o
comunismo soviético — cuja aliança de facto
desencadeou o início da guerra e a dupla
invasão da Polónia, em Setembro de 1939.
Este tema foi retomado por Peter
Padsfi eld numa monumental trilogia sobre
as potências marítimas. Em Maritime
Supremacy and the Opening of the Western
Mind (1999), cujo título faz uma clara
referência à ideia de Popper sobre a
abertura intelectual, Padfi eld descreve a
emergência da República holandesa como
potência marítima e comercial no século
XVII, bem como a sua gradual substituição
pela Inglaterra no século XVIII. O livro
seguinte, intitulado Maritime Power and
the Struggle for Freedom (2003), descreve
o confl ito entre a Inglaterra e as potências
terrestres espanhola e francesa, com a
ascendência britânica à supremacia naval
no século XIX. O terceiro volume, Maritime
Dominion (2008), prolonga a narrativa
até ao século XX, com os Estados Unidos
a sucederem a Inglaterra como potência
marítima dominante, e a Alemanha e a
Rússia a substituírem a Espanha e a França
como potências continentais.
Daniel Boorstin, o célebre historiador
que dirigiu a Biblioteca do Congresso em
Washington, prestou devida homenagem ao
papel pioneiro dos portugueses na abertura
da Europa a esse novo mundo marítimo:
“A nova era marítima [iniciada pelos
portugueses] levou o comércio e a
civilização da costa de um corpo fi nito, o
Mediterrâneo fechado, o “mar-no-meio-
da-terra, para a costa do Atlântico aberto
e dos oceanos sem fronteiras no mundo.”
(Os Descobridores,
Gradiva, p. 153).
Karl Popper, Peter
Padfi eld e Daniel
Boorstin associaram
as culturas
marítimas a valores
de liberdade,
comércio livre, livre
empreendimento,
Estado de direito
e governo
representativo ou
democrático, que
responde a um
Parlamento eleito
livremente.
Esta combinação
de “liberdade,
tolerância e
riqueza” tende a
libertar o génio
humano, sustentam
aqueles autores.
Em contraste,
as potências
continentais
tendem a valorizar
a rigidez, o
fechamento ao exterior e ao comércio,
a organização estatal centralizada e o
abafamento da sociedade civil.
Estas Cartas do Atlântico retomarão
aqueles velhos ideais marítimos, em
detrimento dos sonhos continentais de
organização centralizada.
Professor universitário, IEP-UCPEscreve à segunda-feira
Não terá sido por acaso que Winston Churchill e Franklin Roosevelt escolheram o Atlântico como sede de consagração da sua Carta do Atlântico
João Carlos EspadaCartas do Atlântico
Uma tragédia
Primeiro, não se acredita. Eusébio
morto? Como é que pode ser?
Depois acredita-se e amaldiçoa-
se o azar de Eusébio e da família
dele por ele ter morrido tão
cedo. Percebe-se que Eusébio já
era um imortal há muito tempo
e que, nesse sentido heróico,
continua tão vivo como antes.
Foi uma imortalidade que ele
criou, jogada a jogada, de jogo em jogo, ano
após ano, de golo em golo.
Mas Eusébio faz falta. Ele era um sábio
e um benfeitor, um monumento vivo que
falava com as pessoas e vivia como elas, no
meio da gente. Era a última grande fi gura
de Lisboa. Houve portugueses que nem
sempre trataram Eusébio com o respeito e a
gratidão que ele não só merecia como tinha
conquistado. Mas Eusébio era um senhor
na vida, como era a jogar. As grandes
qualidades dele como futebolista — a
inteligência, a imaginação, a solidariedade,
a elegância e a audácia — nunca mais se
juntaram num só jogador. Mas continuaram
sempre na pessoa de Eusébio, ao lado de
fraquezas que todos nós temos, provando
que ele era humano.
É uma grande tristeza Eusébio não
ter vivido mais anos de felicidade e de
exemplo. São muitas as pessoas, de todas as
idades e de todas as profi ssões, cujas vidas
vão piorar por Eusébio já cá não estar.
A morte de Eusébio é uma tragédia. As
tragédias choram-se. Não se celebram.
A imortalidade já era dele. Não serve de
consolação nenhuma. Era imortal e bem
vivo que te queríamos, querido Eusébio.
Obrigados por tudo o que nos deste, a
começar por ti.
Miguel Esteves CardosoAinda ontem
BARTOON LUÍS AFONSO
46 | PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014
Tito deixa-me sempre acabrunhado. Vem de fora, a mente fresca, não vê mais do que nós, mas a interpretação é diferente
Fogo preso
Numa semana, confessa Tito
Zagalo, tornei-me céptico da
recuperação, não da economia,
mas do país. Por causa de
dois discursos, o de Natal do
primeiro-ministro e o de Ano
Novo do Presidente. Soaram tão
a falso e tão pouco convictos que
me levaram a recuar do meu
inicial optimismo.
Para o primeiro-ministro (PM) tudo
corre pelo melhor, até o emprego, onde
da noite para o dia se criaram 120 mil
novos postos de trabalho, esquecendo os
100 mil que se perderam. O crescimento é
animador para o PM, embora no ano fi ndo
o país tenha regredido em perto de 1,5%.
O défi ce terá sido controlado com mais
uma cobrança excepcional de impostos
em dívida de 1,2 mil milhões de euros,
irrepetível nos tempos mais próximos
e incentivadora de menos receita fi scal
futura. (Que bom teria sido ter prolongado,
em Novembro, o período de perdão fi scal
por mais três meses em 2014! Teríamos
resolvido o problema dos 0,25 de défi ce
acrescido no ano que se inicia.) Adiante!
A dívida pública, soube-se agora, cresce
1,1% a cada redução do défi ce de um ponto.
Princípio de vasos comunicantes com
perdas por viscosidade. O PM ignorou os
professores a descredibilizarem o ministro,
este a descredibilizar os politécnicos
que tutela, universidades em perda de
oxigénio, investigadores, engenheiros,
economistas e gestores a emigrarem para
as Américas, Áfricas e Europas. Não julguei
que o país estivesse tão mal governado,
por gente tão incompetente, ignorante e
involuntariamente suicida, desabafa Tito
Zagalo em noite chuvosa de fi m de ano!
No meio de toda esta desgraça, temos a
Madeira a queimar centenas de milhares de
euros em oito minutos de fogo! Em nome
do marketing turístico.
Mas o pior foi o discurso do Presidente,
acrescenta Tito, quando esperava
energia crítica recebi complacência com
a mediocridade governativa; quando
esperava credibilidade para unir forças,
recebi propostas de consenso votadas à
rejeição liminar; quando esperava que o
Presidente se defendesse de complicações
supervenientes, vejo que ele se transmuta
em apostador de risco.
Tens de entender, meu caro Tito, que
o Presidente está prisioneiro de uma
má solução da crise Portas, no Verão
passado. Ao apostar em Passos perdeu o
apoio do PS. As suas súplicas ao consenso
embatem agora num muro. Apesar da fraca
memória, os portugueses não esqueceram
que o Presidente não apelou ao consenso
na crise que deu lugar à vinda da troika.
Pelo contrário, acirrou ânimos, referindo
então termos
chegado ao limite
dos sacrifícios
suportáveis. Os
sacrifícios ainda
haviam de ser
bem piores daí
para a frente.
Como quer agora
que o PS acorra
ao chamamento
para um consenso
onde seria
deglutido, quando
as perspectivas
eleitorais são as
inversas de então?
Não podemos
ignorar, Tito,
que os mercados
abriram em alta
no Ano Novo e se
reduziu a diferença
entre os juros da
dívida dos países
mais endividados
e os alemães. E até
admitiremos, como
plausível, uma
emissão de dívida a juros próximo dos 5%
ou menos, o que seria um bom sinal para o
fecho pacífi co do programa de intervenção.
Tal signifi caria termos batido no fundo
e estarmos a dar a volta, devidamente
almofadados com apoio dos nossos
aforradores e dos bancos, nesse encaixe.
Nem tudo são más notícias. Meu caro, há
momentos na vida política em que será
melhor para os países que os ministros não
apareçam nos ministérios, responde Tito.
Os automatismos não têm só consequências
funestas. O que não consigo vislumbrar
são sinais de reforma, apenas mais cortes
punitivos e mais impostos paralisantes.
Se os mecanismos que geram despesa
sem controlo, encostados ao Estado,
sentirem que as melhoras são estáveis, aí
disparam eles, de novo, forçando a despesa
pública. A reforma dos municípios fi cou
pelas freguesias; queremos regiões mas
é com distritos que organizamos a vida
política; poderíamos reduzir o número
de parlamentares, mas os partidos
minoritários fogem disso como o diabo da
cruz; deveríamos ter administração mais
bem treinada, reduzida e responsável,
mas desmantelámos o INA, aniquilámos
quantitativa e qualitativamente as chefi as,
como se tivessem lepra, e destruímos
institutos com vida responsável e autonomia
fi nanceira; tudo em nome de uma sanha
ignorante e radical de destruição do Estado.
Sem reformas entraremos em novo ciclo
de desperdício assim que folgarmos. E pela
frente temos meses de incerteza agravada
por eleições e suas campanhas.
Atenção, alerta Tito, o PS tem de mostrar
que pode ser um bom governo, não basta
Mas o pior foi o discurso do Presidente, acrescenta Tito, quando esperava energia crítica recebi complacência com a mediocridade governativag
fi car sentado, à espera da sua hora. A
aparência de cálculo leva a que o povo
ache que é manha e perca o entusiasmo!
O teu partido vai ter de galgar a tolerância
simpática e passar ao entusiasmo
contagiante. Se o virem apenas como o
menor dos males, muitos fi carão em casa
ou votarão irracionalmente, por rancor.
Os eleitores têm de ver o caminho à sua
frente, não basta que sintam o desagrado.
Não se ganham eleições sem uma forte
dose de ilusão, sejam amanhãs que cantam,
seja confi ança em governos alternativos.
No país onde vivo, os trajectos eleitorais
estão marcados por candidatos de que
ninguém mais voltou a falar. Ou por terem
falta de cabelo, ou por falta de altura, ou
por terem ido à guerra ou por não terem
ido à guerra, por muitas pequenas razões a
corrente eléctrica não passou e o voto fugiu
para o lado. Sabemos que um bom número
de eleitores vota com a mão por cima do
coração, com a carteira, entre o forro e
a entretela. Mas o conforto da carteira
depende da confi ança.
Tito deixa-me sempre acabrunhado. Vem
de fora, a mente fresca, não vê mais do que
nós, mas a interpretação é diferente. Não
poupa comentários agrestes, revelando
intolerância perante erros conhecidos.
Confesso-me sempre chocado com a sua
desarmante dialéctica. Partiu de novo para
ensinar na sua tranquila universidade, boas
instalações, parques frondosos, ambiente
de tolerância e de permanente estímulo.
Que inveja!
Deputado do PS ao Parlamento Europeu.Escreve à segunda-feira
NUNO FERREIRA SANTOS
António Correia de CamposTerra e Lua
PÚBLICO, SEG 6 JAN 2014 | 47
O regresso de D. Sebastião
Orçamentos autárquicos não poupam Cultura
“Sebastião morreu, já não
volta a nascer.” Assim
cantava a Filarmónica
Fraude, em 1969, no disco
que mais corajosamente
falou à minha geração da
guerra em África: Epopeia.
Há poucas semanas,
o ministro Paulo Portas,
com o rigor intelectual e a
envergadura cultural que lhe conhecemos,
comparou a chegada da troika ao nosso
país, a 1580, e a sua futura saída, a 1640.
Essa patriótica comparação, que por certo
o povo português de imediato apreendeu
e agradeceu aliviado, deixou-me a mim
estupefacto.
O senhor ministro que me perdoe, mas o
que eu tenho entendido da história pátria
dessa época nada tem a ver com a sua
infl amada comparação, e até a cobre de
algum patetismo e estonteado populismo.
Se olharmos para o período de 1580-1640 e
para o nosso triste presente, a comparação
que se impõe, com uma evidência terrífi ca,
é bem outra e exactamente o contrário
do que afi rma o ilustre ministro: a saída
da troika é que vai corresponder a 1580, e
quanto a 1640 resta-nos esperar que o que
nos espera não dure 60 anos!
Vejamos então: em 1578, um rei
fanático, acompanhado por um pequeno
círculo de aduladores interesseiros,
oportunistas e aventureiros, impôs a sua
indecente vontade e afundou o nosso
povo e o nosso país num longo período
de declínio, desânimo e desesperança.
Insensível a todos os conselhos e avisos
de desgraça, fundamentalista e obsessivo,
Praticamente sem excepção,
os orçamentos dos executivos
autárquicos para 2014 aprovados
antes do fi nal do ano sofreram
cortes signifi cativos e, de uma
forma ainda mais acentuada, na
área da Cultura. É sabido que,
quando se enfrenta uma crise
com esta magnitude, é preciso
reduzir despesas de forma
generalizada, mas também é indispensável
que se saiba hierarquizar a importância
daquilo que se corta.
Se um executivo autárquico está convicto
de que a actividade cultural pode contribuir
para criar mais emprego, para ajudar o
sector turístico e o da restauração e pode
ainda contribuir para atrair visitantes
nacionais e estrangeiros, deverá ser
cauteloso nos cortes, já que eles podem
afectar uma área de potencial estratégico.
Tenho presentes vários concelhos
portugueses que nos dois últimos anos
souberam utilizar a oferta cultural com
criatividade e inteligência, organizando
festivais e vários eventos originais que se
traduziram no encaixe de receitas nada
desprezíveis.
Trata-se de uma questão de opção e de
mentalidade que nos remete para uma
situação passada com Winston Churchill
durante a Segunda Guerra Mundial. Quando
deputados da oposição e alguma imprensa
o criticaram por, investindo na Cultura e
nas Artes, poder estar a afectar o esforço
de guerra, ele responder algo parecido com
isto: “Se não lutarmos por isto, lutamos
porquê?” Queria o grande estadista
enfatizar a ideia segundo a qual, ante a
barbárie em marcha, é preciso defender os
valores da cultura e da civilização, que são
também os da liberdade.
Para se defender a capacidade material
que o sector da Cultura tem de avançar com
iniciativas, é preciso ter coragem, sentido
estratégico e uma consistente visão cultural.
Dir-se-á que quando se fazem signifi cativos
cortes na Acção Social e na Educação não é
possível poupar a Cultura à lâmina aguçada
do emagrecimento orçamental. Mas a
verdade é que as bibliotecas da rede de
leitura pública não podem abdicar de fazer
as suas aquisições e que há muitas outras
rubricas do mesmo sector que não podem
fi car em estado de carência.
Basta pensar que, segundo estatísticas
muito recentes, os cinemas portugueses
perderam nove milhões de euros de receita
de bilheteira e cerca de 1,4 milhões de
espectadores comparativamente com os
valores apurados em 2012.
Isto signifi ca que há menos dinheiro para
se ir ao cinema, mas também que há menos
salas para se ver cinema em vários pontos
impreparado e incompetente, o obstinado
monarca precipitou o país e o seu povo
numa previsível hecatombe nacional, que
começou em 1580 e durou décadas.
Da mesma sorte, temos hoje um governo
também fundamentalista e obsessivo,
impreparado e incompetente, também
acompanhado por um círculo nacional e
estrangeiro de aduladores interesseiros,
oportunistas e aventureiros, e igualmente
insensível perante todos os conselhos
e avisos para a previsível hecatombe
nacional. Um governo que impõe aos
seus cidadãos uma semelhante vontade
indecente, que nos
vai mergulhar a
todos, de novo, num
longo período de
declínio, desânimo
e desesperança.
Um governo que,
como o rei doente e
fanático de ontem,
desaparecerá um
dia da face da terra
deixando atrás de si
um rasto duradouro
de pobreza,
desemprego e
infelicidade.
A única diferença
reside nas razões
publicamente
invocadas para o
desastre colectivo:
de acordo com
os poderosos e
os áulicos de ontem, o povo português,
pecador e libertino, foi castigado por Deus
com uma vergonhosa e terrível derrota
e com um longo calvário de sofrimento
e sacrifício, não tendo mais do que se
culpar a si próprio, de se arrepender e
de se corrigir. De acordo com os áulicos e
os poderosos de hoje, o povo português,
gastador e calaceiro, manhoso e piegas,
está a ser punido pelos Mercados com uma
implacável e letal austeridade e não tem
mais do que se culpar a si próprio, de se
arrepender e corrigir. Um povo desastrado
e infeliz, que Camões pintou, num retrato
perfeito e até hoje imperturbado, com os
tons sombrios de uma austera, apagada
e vil tristeza. O mesmo Camões que, em
carta a D. Francisco de Almeida, referindo-
se ao desastre de Alcácer-Quibir, à ruína
fi nanceira da Coroa portuguesa e à
independência nacional, se despediu com
estas palavras: “Enfi m acabarei a vida e
verão todos que fui tão afeiçoado à minha
Pátria que não só me contentei de morrer
nela, mas com ela.”
Valha-nos hoje, senhor ministro, para
nos animar, a sua impagável brejeirice
restauradora, bem mais divertida do que a
sua irrevogável consciência política.
Cineasta
do país e que este constitui um público
potencial para corresponder a outras formas
de oferta local, que também podem passar
pelo cinema. Toda esta situação deverá
ser vista de uma forma articulada e, de
preferência, estudada pelos organismos
estatais que dispõem de verbas para efectuar
estas análises e estudos comparativos.
De forma recorrente tenho referido o
exemplo da Irlanda, agora regressada aos
mercados, que acreditou no potencial
regenerador da Cultura, contribuindo desse
modo para que houvesse menos gente a
emigrar e muito mais gente, nacional e
estrangeira, a encher as salas de cinema,
os museus e as
galerias.
Em Portugal não
faltam imaginação
e criatividade para
se conceberem
programas
inovadores e
apelativos. O que
há, frequentemente,
é falta de vontade e
de coragem política.
E isso está patente
na asserção inicial:
o sector cultural
sofreu cortes
nos orçamentos
municipais para
2014 que podem
comprometer muito
boas ideias, iniciativas e projectos. É pena
que assim aconteça. Mas, também por isso,
é urgente rever as políticas de captação de
patrocínios e toda a lógica do mecenato,
sobretudo se lhes for demonstrado que
Portugal, apesar da dureza da crise, está na
moda, como milhares de turistas de estada
curta a demandarem o nosso país. Quem
não perceber esta nova realidade, terá
muita difi culdade em perceber as outras,
também por falta de perspectiva cultural.
E, já agora, tenha-se presente que a oferta
cultural deve sempre ser diversifi cada,
criativa e até surpreendente, não caindo
no seguidismo de assentar apenas em
quem está na moda, só porque aparece na
televisão e se pode gabar de boa imprensa.
Há outros mundos e propostas para além
desses. E só ganhará, a médio e longo
prazo, quem for criativo e corajoso. O
tempo nos dará razão.
Escritor, jornalista e presidente da Sociedade Portuguesa de Autores
Valha-nos hoje, senhor ministro, para nos animar, a sua impagável brejeirice restauradora
Só ganhará, a médio e longo prazo, quem for criativo e corajoso
NUNO FERREIRA SANTOS
Debate Cultura e autarquiasDebate Crise e GovernoJosé Jorge LetriaLuís Filipe Rocha
NUNO FERREIRA SANTOS
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ESCRITO NA PEDRA
“Todas as decepções são secundárias. O único mal irreparável é o desaparecimento físico de alguém a quem amamos” Romain Rolland (1866-1944), novelista e compositor francês
SEG 6 JAN 2014
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Pela primeira vez, um juiz, Francisco Brízida Martins, preside a este organismo p17
Fidelidade devia ter alertado para fi m da cobertura do risco de invalidez p18
Pedro Ferreira Pinto sucede a Joaquim Pais Jorge e tem luz verde da Cresap p23
Instituto de Medicina Legal presidido por um juiz
Seguradora paga crédito de doente com mais de 60 anos
Novo presidente da Parpública está escolhido
JokerTotoloto
44 99 319 428 744 59 2
5.000.000€11.200.000€1.º Prémio1.º Prémio
SOBE E DESCECarlos Costa
O Banco de Portugal impôs aos bancos novas regras que implicam,
por exemplo, que seja exigida identificação a alguém que faça um depósito superior a 5000 euros numa conta de terceiros, se a operação for considerada suspeita. Isso será exigido, de forma automática, a todos os depósitos superiores a 10.000 euros. A instituição liderada por Carlos Costa junta-se, assim, ao combate europeu à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo. (Pág. 22)
Fundação S. João de Deus
A Fundação S. João de Deus, presidida por Rui Ferreira Amaral (na foto),
lançou um programa-piloto para apoiar familiares de emigrantes
que ficam no país sem apoio. A iniciativa desta instituição deverá apoiar sobretudo idosos, com residência em
Lisboa e Guarda (por enquanto), numa altura em que tantos milhares fogem do país, muitas vezes deixando cá familiares que ficam sem apoios e em situação de isolamento.(Pág. 19)
John Kerry
Depois do acordo nuclear de Novembro, pela primeira vez os
EUA sugeriram que diplomatas do Irão podem participar nas conversações de paz na Síria, um encontro marcado para 22 de Janeiro na Suíça e que, se acontecer, deverá juntar representantes de Bashar al-Assad e da oposição. O secretário de Estado John Kerry sublinhou que Teerão teria de concordar que o objectivo da conferência era encontrar uma autoridade de transição se se conseguisse convencer Assad a sair do poder. Mas de qualquer forma abriu uma porta. (Pág. 26)
Sheikh Hasina
A oposição no Bangladesh apelou a um boicote às eleições
por não haver uma autoridade neutra a encarregar-se delas, mas o Governo da primeira-ministra Sheikh Hasina negou esse pedido, e realizou as eleições na mesma. Resultado: o dia de ontem ficou marcado por mais violência, tudo por causa de uma crise que o Governo parece não estar empenhado em resolver. (Pág. 28)
A voz poderosa exprimia sempre o
mesmo: o amor e a angústia e o sofri-
mento que o amor provoca. Era isso
que cantava Nelson Ned, o cantor que
morreu ontem no Hospital Regional
de Cotia, em São Paulo, onde entrara
no sábado com uma grave pneumo-
nia. Enfraquecido pelo AVC que so-
frera em 2003, morreu aos 66 anos
vítima, avança a Lusa, de um “choque
séptico, sepse, broncopneumonia e
acidente vascular cerebral”.
Amor, tudo amor, sempre amor.
Como em Tudo passará, o seu maior
êxito, a canção em que em 1969 foi
o rastilho para uma carreira que lhe
abriria as portas para o mundo. No
Brasil, onde nasceu em 1947, na cida-
de de Ubá, estado de Minas Gerais, o
seu imenso sucesso foi sempre acom-
panhado pela sua colocação na cate-
goria de cantor brega, ou seja, músico
pouco refi nado, próximo do universo
que, em Portugal, ganhou a designa-
ção “pimba” na década de 1990.
Não era visto assim noutras latitu-
des. Aquele que era conhecido como
Morreu Nelson Ned, o “Pequeno Gigante da Canção” brasileira
“Pequeno Gigante da Canção”, devi-
do à sua baixa estatura (tinha 1,12m
de altura), e que gravou também ex-
tensa discografi a em castelhano, foi
o primeiro latino-americano a ven-
der um milhão de discos nos Estados
Unidos, país onde actuou ao lado de
Tony Bennett ou Julio Iglesias em
salas míticas como a nova-iorquina
Madison Square Garden.
Há dois anos, em entrevista à Glo-
bo, afi rmava com convicção ter si-
do “um dos melhores cantores do
mundo”: “Fiz muito sucesso lá fora
numa época nada globalizada. Fui
o primeiro artista brasileiro a can-
tar no Canecão [mítica sala carioca]
sozinho.” Quanto à classifi cação de
cantor “brega”, recorreu ao exem-
plo da sua canção preferida, Tudo
passará, para a desvalorizar.
Primeiro de sete fi lhos de um ca-
sal de Ubá, Nelson Ned chegou ao
Rio de Janeiro aos 17 anos. O seu pri-
meiro trabalho na cidade seria na
linha de montagem de uma fábrica
de chocolates. Foi tentando a sua
sorte em clubes no Rio de Janeiro
e em São Paulo e, em 1960, editaria
a primeira canção, Eu sonhei que tu
estavas tão linda. Precisaria no en-
tanto de esperar nove anos até que
a sua carreira arrancasse verdadei-
ramente. Garantiram-no a presen-
ça regular num popular programa
da televisão brasileira, A Discoteca
do Chacrinha, e a edição da canção
que se tornou a sua assinatura, Tudo
passará. Seguir-se-iam mais de três
dezenas de discos e vendas de 45 mi-
lhões de cópias em todo o mundo.
Verdadeira superestrela na déca-
da de 1970, esbanjou a fortuna acu-
mulada em “muita cocaína, muito
champanhe, muita mulherada”, co-
mo contou em 2011 numa entrevista
à TV Record. A partir da década de
1990, quando se converteu à Igreja
Evangélica, deixou para trás êxitos
como Tamanho não é documento ou
Não tenho culpa de ser triste, para
se dedicar em exclusivo à música
cristã. Em 2003, o AVC que sofreu
deixou-o cego de um olho, atirou-o
para uma cadeira de rodas e impe-
diu-o de continuar a sua carreira.
MúsicaMário Lopes
O cantor de Tudo passará morreu ontem em São Paulo, vítima de grave pneumonia. Tinha 66 anos
Nelson Ned
Rui Tavares encontra-se de férias e regressa a este espaço a 15 de Janeiro
Spas com objectividade.Chegou o , o site com as experiênciase descontos que interessam.