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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP WEMYLLA DE JESUS ALMEIDA LÍNGUA PORTUGUESA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: Sintaxe do Advérbio em uma perspectiva historiográfica MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA São Paulo 2014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

WEMYLLA DE JESUS ALMEIDA

LÍNGUA PORTUGUESA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: Sintaxe do

Advérbio em uma perspectiva historiográfica

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

São Paulo 2014

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WEMYLLA DE JESUS ALMEIDA

LÍNGUA PORTUGUESA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: Sintaxe do

Advérbio em uma perspectiva historiográfica

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como

exigência parcial para obtenção do título de MESTRE

em Língua Portuguesa, sob orientação da Prof.ª Dr.ª

Neusa Maria Oliveira Barbosa Bastos.

São Paulo 2014

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ERRATA

ALMEIDA, W. J. LÍNGUA PORTUGUESA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: Sintaxe do Advérbio em uma perspectiva historiográfica. São Paulo: PUC/SP, 2015. Dissertação de Mestrado.

Folha Linha Onde se lê Leia-se 4 25ª As queridas professoras

doutoras

Às queridas professoras

doutoras

5 10ª vocabulário técnico,

passando à análise

vocabulário técnico

8 5ª no ensino da Língua

Portuguesa

do ensino da Língua

Portuguesa

8 8ª e, o da adequação e o da adequação

9

2ª por meio da Historiografia

Linguística, que juntamente

com a escola, possa

por meio da Historiografia

Linguística, para que

juntamente com a escola,

possa

12 1ª a diferença entre História e

Historiografia

a diferença entre História,

Historiografia e

Historiografia Linguística

12 10ª Historiografia tem como

objetivo principal o registro

escrito desses fatos

Historiografia tem como

objetivo principal o registro

desses fatos

13 26ª durante o final o final da

década de 70

durante o final da década

de 70

26 1ª aconteceu por meio do

grande apoio da camada do

café

aconteceu por meio do

grande apoio da classe

menos favorecida

26 7ª o monárquico D. Pedro II o monarca D. Pedro II

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29 4ª há palavras que sozinhas

não tem um significado

há palavras que sozinhas

não têm um significado

37 3ª por meio do tempo através do tempo

37 23ª Em virtude isso Em virtude disso

38 3ª ideias de darwinistas ideias darwinistas

41 7ª Desse modo o que era Desse modo, o que era

46 1ª as linguagem e sociedade linguagem e sociedade

55 16ª Língua, Linguagem e

Gramática

Concepções de Língua,

Linguagem e Gramática

57 4ª usá-las para usá-las

59 1ª o autor inclui a sintaxe na

parte figurada

o autor inclui a parte

figurada na sintaxe

59 6ª do termo “espécie” dos termos “seres de

espécie ou natureza”

59 10ª é apresentada a palavra

“espécie”

são apresentadas as

palavras “seres de espécie

ou natureza”

59 16ª análise dos aspectos análise das concepções

77 12ª três aspectos de análise Quatro aspectos de análise

83 4ª dos verbos transitivos direto dos verbos transitivos

diretos

88 10ª cento e nove anos separam

esses estudiosos

cento e onze anos

separam esses estudiosos

90 32ª apresenta nformações apresenta informações

108 1ª a Linguística tem contribuído a Historiografia Linguística

tem contribuído

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BANCA EXAMINADORA

_________________________

_________________________

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DEDICATÓRIA

A Deus;

Ao meu esposo Elismarques;

Aos meus pais Lourival e Orismar;

Ao meu irmão Wenneson.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, autor da minha história, por me dar o conhecimento necessário para eu

alcançar mais um sonho acadêmico;

Ao meu amado esposo Elismarques, pelo amor e apoio incondicionais, por

compreender a minha ausência em momentos tão importantes de nossas vidas e

pelas palavras motivadoras, que foram fundamentais à conclusão deste mestrado;

Ao meu pai Lourival e à minha mãe Orismar, pelo imensurável amor, apoio, incentivo

e por me ensinarem, desde a infância, a relevância dos estudos;

Ao meu irmão Wenneson, pelo amor fraternal e apoio;

À queridíssima orientadora Dr.ª Neusa Bastos, pela grande orientação e incentivo,

fazendo-me sentir uma pesquisadora ativa no grupo de pesquisa Historiografia da

Língua Portuguesa do IP-PUC/SP, e aumentando, em mim, o anseio de prosseguir,

incansavelmente, nessa área do Saber, além disso, sou grata pela amizade valiosa,

paciência e pelas palavras sábias e motivadoras, que foram essenciais, também, ao

meu amadurecimento e crescimento pessoal;

À amiga-mãe Sônia, pela amizade peculiar, como também pelo apoio e troca de

conhecimento, que foram primordiais ao meu ingresso no mestrado;

Às amigas-irmãs Sueila, Francisca e Mônica, pela rica amizade e apoio;

À amada amiga Anna, pela imensurável amizade, hospitalidade, incentivo e pela

tradução do livro em francês;

À amada secretária e amiga Lourdes, pela preciosa amizade, incentivo e presteza;

À querida amiga Jaqueline, pela grande amizade e apoio;

Ao grande amigo Victor, pela amizade e apoio;

Às queridas professoras e amigas Cleude e Izabel, pelas aulas cativantes de Língua

Portuguesa no Ensino Fundamental que me despertaram a paixão por Letras;

As queridas professoras doutoras Sônia Nogueira e Nancy Casagrande, por

aceitarem o convite de participar da minha banca de mestrado e pelas fundamentais

considerações feitas no exame de qualificação;

A todos os professores doutores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

especialmente, à Dieli Palma, pelas aulas inspiradoras que contribuíram muito para

o meu conhecimento linguístico e gramatical;

A todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para a concretização desta

pesquisa.

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RESUMO

Esta pesquisa reflete sobre o processo de ensino da sintaxe da Língua Portuguesa,

em especial, da Função do Advérbio, no Brasil, na segunda metade do século XIX.

Buscamos traçar o percurso historiográfico no ensino, tomando como corpus a obra

de estudo Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz da Silva

Brandão (1888). Nessa perspectiva, o embasamento teórico do nosso trabalho é o

da Historiografia Linguística (HL), especificamente, com Koerner (1996), partindo

dos seus três princípios: contextualização, que traça o clima de opinião, o espírito de

época, imanência, que estabelece um quadro geral da teoria e da terminologia

usada nas obras e, adequação, que introduz aproximações modernas do

vocabulário técnico, passando à análise. Assim sendo, para a adequação, utilizamos

a obra de estudo Novas lições de análise sintática, de Adriano da Gama Kury

(1999), a fim de contribuir com o desenvolvimento do ensino de Língua Portuguesa

no Ensino Fundamental. Dessa forma, os nossos principais objetivos consistem em

explicar como seu deu o estudo da sintaxe, sobretudo, da Função do Advérbio, para

o processo de implementação da Língua Portuguesa, na segunda metade do século

XIX, nos estudos de gramática de Thomaz da Silva Brandão (1888) e de Adriano da

Gama Kury (1999), do século XX, além disso, explicitar o processo de implantação

de uma política linguística em uma abordagem historiográfica. Como resultado de

nossa pesquisa, constamos que as obras analisadas contribuíram muito para a

implementação da sintaxe do advérbio da Língua Portuguesa, uma vez que há

lacunas no ensino da Função do Advérbio que precisam ser preenchidas.

PALAVRAS-CHAVE: Língua Portuguesa, Sintaxe do Advérbio, Historiografia

Linguística, Ensino.

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ABSTRACT

This research reflects on the syntax of the teaching process of the Portuguese

language, in particular, the adverb function in Brazil in the second half of the

nineteenth century. We seek to trace the historiographical paths in learning, taking as

corpus Syntax study work and construction of the Portuguese Language, Thomaz da

Silva Brandão (1888). In this perspective, the theoretical foundation of our work is the

Historiography Language (HL), specifically, Koerner (1996), based on its three

principles: context, mapping the climate of opinion, the spirit of the time, immanence

establishing an overview of the theory and terminology used in the works and,

fitness, introducing modern approaches of technical vocabulary, from the analysis.

Therefore, for the adjustment, use the work of New study lessons of syntactic

analysis, Adriano da Gama Kury (1999) in order to contribute to the development of

the Portuguese language teaching in elementary school. Thus, our main objectives

are to explain how his gave the study of syntax, especially, the adverb function to the

implementation process of the Portuguese language in the second half of the

nineteenth century, in Thomaz grammar studies da Silva Brandão (1888) and

Adriano da Gama Kury (1999), the twentieth century also explain the deployment

process of a language policy in a historiographical approach. As a result of our

research, we also noticed that the works analyzed contributed greatly to the

implementation of the syntax of the words of the Portuguese language, since there

are gaps in the teaching of adverb function that need to be filled.

KEYWORDS: Portuguese Language, Adverb Syntax, Linguistic Historiography,

Teaching.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................08

1. CONCEITOS BASILARES HISTORIOGRÁFICOS...............................................12

1.1 Considerações Iniciais.......................................................................................12

1.2 História e Historiografia...............................................................................................12

1.3 Historiografia Linguística..................................................................................13

2 ASPECTOS EDUCACIONAIS E LINGUÍSTICOS NO BRASIL, NA SEGUNDA

METADE DO SÉCULO XIX E XX..................................................................................22

2.1 Considerações Iniciais.......................................................................................22

2.2 Século XIX: aspectos educacionais, políticos e linguísticos no Brasil........22

2.2.1 Aspectos educacionais e políticos................................................................22

2.2.2 Aspectos linguísticos.....................................................................................28

2.2.2.1 Sintaxe nos séculos XVI, XVII e XVIII..........................................................28

2.2.2.2 Sintaxe no século XIX..................................................................................36

2.3 Século XX: aspectos educacionais, políticos e linguísticos no Brasil.........42

2.3.1 Aspectos educacionais e políticos................................................................42

2.3.2 Aspectos linguísticos.....................................................................................45

3. ANÁLISE DAS OBRAS.........................................................................................51

3.1 Syntaxe e Construcção da Lingua Portuguesa, de Thomaz da Silva Brandão

(1888).........................................................................................................................51

3.1.1 Primeiro aspecto: Prefácio.............................................................................53

3.1.2 Segundo aspecto: Concepções de Língua, Linguagem e Gramática........55

3.1.3 Terceiro aspecto: Organização......................................................................59

3.1.4 Quarto aspecto: Função do advérbio............................................................63

3.2 Adequação..........................................................................................................78

3.2.1 Primeiro aspecto: Prefácio.............................................................................81

3.2.2 Segundo aspecto: Concepções de Língua, Linguagem e Gramática........83

3.2.3 Terceiro aspecto: Organização......................................................................85

3.2.4 Quarto aspecto: Função do advérbio............................................................96

CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................104

REFERÊNCIAS........................................................................................................109

ANEXOS..................................................................................................................112

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa surgiu da necessidade de fazer uma reflexão sobre o ensino de

Língua Portuguesa, no Brasil, na segunda metade do século XIX. Para tanto,

tomamos como corpus a obra de estudos Syntaxe e construcção da Lingua

Portugueza, de Thomaz da Silva Brandão (1888), traçando o percurso historiográfico

no ensino da Língua Portuguesa. Embasamos nosso estudo em Historiografia

Linguística, seguindo, particularmente, os três princípios de Koerner (1996): o da

contextualização, que trata do clima de opinião da época, o da imanência, que

estabelece um conhecimento tanto histórico quanto crítico do trabalho em estudo, e,

o da adequação, que traz uma aproximação do vocábulo técnico das obras

selecionadas. Assim sendo, para a adequação, adotaremos a obra de estudo Novas

Lições de Análise Sintática1, de Adriano da Gama Kury (1999), em virtude de

contribuir com o ensino de Língua Portuguesa.

Convém ressaltar que, nas análises das obras, buscaremos verificar o estudo

da sintaxe da segunda metade do século XIX na obra de Brandão (1888), em

especial, a Função do Advérbio, considerando suas abordagens e concepções sobre

esse assunto, a metodologia aplicada, bem como seu interesse em produzir a obra.

Dessa maneira, faremos a Adequação com a obra de Kury (1999), da segunda

metade do século XX. Por conseguinte, o percurso historiográfico linguístico do

Brasil ajuda-nos a definir o problema desta pesquisa: como seu deu o estudo da

sintaxe, sobretudo, da Função do Advérbio, para o processo de implementação da

Língua Portuguesa, na segunda metade do século XIX, nos estudos de gramática de

Thomaz da Silva Brandão (1888) e de Adriano da Gama Kury (1999), do século XX?

Apontamos que há escassez de material em estudo de sintaxe, com

perspectiva historiográfica, e isso nos direcionou à escolha do corpus. Esta pesquisa

pretende contribuir, além de suscitar reflexões, com o ensino de sintaxe da Língua

Portuguesa no Brasil.

Diante disso, temos observado, por meio do nosso estudo, inúmeras críticas

sobre o estudo da sintaxe da Língua Portuguesa, pois existem algumas lacunas a

serem preenchidas, todavia pouco se tem feito para resolver a situação.

1 A obra Novas Lições de Análise Sintática utilizada por nós é a 8ª edição, de 1999, mas a 1ª edição

se deu em 1985. (Cf. ANEXOS 12 e 13, pp.124-125).

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A presente pesquisa permite levar novos conhecimentos gramaticais à sala

de aula, por meio da Historiografia Linguística, que, juntamente com a escola, possa

realizar um trabalho de troca de conhecimento. Possibilitando, assim, ao professor e

ao aluno, um aprofundamento no ensino da sintaxe da Língua Portuguesa, a fim de

formar profissionais mais críticos na construção do conhecimento Linguístico.

Partindo da necessidade de aprofundar estudos de sintaxe da Língua

Portuguesa, centramos nossa pesquisa na obra Syntaxe e construcção da Lingua

Portugueza, de Thomaz da Silva Brandão (1888). Este estudo justifica-se na medida

em que a discussão teórica acerca de estudos da sintaxe se faz relevante na área

de estudos de Língua Portuguesa.

Assim sendo, o objetivo geral do nosso trabalho é explicar como seu deu o

estudo da sintaxe, sobretudo, da Função do Advérbio, para o processo de

implementação da Língua Portuguesa, na segunda metade do século XIX, nos

estudos de gramática de Thomaz da Silva Brandão (1888) e de Adriano da Gama

Kury (1999), do século XX, além disso, explicitar o processo de implantação de uma

política linguística em uma abordagem historiográfica.

Os objetivos específicos tratam de:

Pesquisar acerca do processo de implementação da sintaxe da

segunda metade do século XIX, e identificando o que contribuiu para o

processo de implementação do estudo da função sintática do Advérbio da

Língua Portuguesa;

Verificar, na história, o estudo da sintaxe da Língua Portuguesa,

sobretudo, da Função do Advérbio, por meio dos aspectos políticos,

filosóficos, econômicos, sociais, intelectuais e culturais;

Apresentar discussões teóricas sobre a sintaxe da Língua Portuguesa,

especificamente, da Função do Advérbio;

Analisar os documentos representativos do século XIX, de Thomaz da

Silva Brandão (1888) e, do século XX, de Adriano da Gama Kury (1999),

com o intuito de fazer aproximações modernas do vocabulário técnico,

estabelecendo um entendimento tanto histórico, quanto crítico do texto

trabalhado.

Elencamos, desse modo, quatro aspectos de análise das obras, em virtude de

se tratar de um trabalho qualitativo, como forma de reconstruir como a prática do

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ensino de Língua Portuguesa ocorreu no período elegido pelos documentos. O

primeiro aspecto trata do Prefácio; o segundo, das concepções de Língua,

Linguagem e Gramática, o terceiro, da Organização das Obras, e o quarto, da

Função do Advérbio. Tais aspectos possibilitam a identificação dos momentos de

continuidade e descontinuidade do modelo de gramática greco-latino.

As obras apresentam traços relevantes no Prefácio e, além disso, os

conceitos de Língua, Linguagem e Gramática são o estofo para se entender essas

obras. Quanto à organização, identificamos o conteúdo proposto pelos autores que

conseguiam, por meio da linearidade, explicá-lo. Por último, a análise da Função do

Advérbio, uma das partes que merece destaque pelos estudiosos da segunda

metade dos séculos XIX e XX, devido à preocupação de se discutir a sintaxe da

Língua Portuguesa, visto que propiciará uma relação maior entre os envolvidos no

ensino.

Apresentaremos teorias historiográficas, incluindo conceitos ligados à

História, Historiografia e Historiografia Linguística, os quais fundamentaram a análise

do corpus escolhido. Porquanto, faremos aproximação com o século XX por meio da

obra Novas Lições de Análise Sintática, de Adriano da Gama Kury (1999), com o

intuito de verificar como se deu o processo de implementação do ensino da sintaxe

da Língua Portuguesa do século XIX.

Os quatro capítulos deste trabalho estão organizados da seguinte forma:

No primeiro, abordamos os conceitos basilares da historiografia,

apresentando a diferença entre História, Historiografia e Historiografia

Linguística, trazendo as discussões da HL.

No segundo, descrevemos o contexto educacional e linguístico no

Brasil, na segunda metade dos séculos XIX e XX, levando em

consideração o espírito de opinião dessa época. Assim, traçamos os

principais fatores educacionais que ocorreram com a sociedade

brasileira. Enfatizamos, também, o fio condutor de teorias e correntes

filosóficas que norteou o processo de ensino-aprendizagem da Língua

Portuguesa. Além disso, visamos expor as teorias linguísticas que

predominaram nesses períodos, uma vez que tais questões linguísticas

influenciaram a elaboração do corpus selecionado;

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No terceiro, apresentamos o princípio da Imanência que se esforça

para estabelecer um entendimento tanto histórico quanto crítico da

obra selecionada, assim como o princípio de Adequação que faz

aproximações modernas do vocabulário técnico do trabalho em estudo.

Diante disso, passamos à análise baseada nos quatro aspectos

elegidos (Prefácio; Concepções de Língua, Linguagem e Gramática;

Organização das Obras e Função do Advérbio), tendo como corpus a

obra de estudo Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza, de

Thomaz da Silva Brandão (1888), do século XIX. Além disso, ao

princípio da adequação, usamos a obra Novas Lições de Análise

Sintática, de Adriano da Gama Kury (1999), em uma perspectiva

historiográfica.

Na conclusão, retomamos a pesquisa e apresentamos os resultados

obtidos no decorrer do estudo por meio da análise das obras.

Para finalizar, indicamos as referências bibliográficas e anexos que se

referem às Capas, assim como os Sumários e Índices das obras

analisadas.

A seguir, apresentamos o primeiro capítulo que discorre sobre as relações

entre História, Historiografia e Historiografia Linguística.

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1 CONCEITOS BASILARES HISTORIOGRÁFICOS

1.1 Considerações iniciais

Este capítulo apresenta a diferença entre História e Historiografia, traçando

seus conceitos e objetivos, como também definindo o campo de estudo. O segundo

item trata da Historiografia Linguística, em que fundamentamos a teoria desta

pesquisa.

1.2 História e Historiografia

História e Historiografia estabelecem relações entre si, porém não podem ser

confundidas, uma vez que têm conceitos distintos.

Com relação à história, conceitua Le Goff (2003, p.29) que “[...] a história

define-se em relação a uma realidade que não é observada e nem construída, mas

sim indagada e testemunhada”. Em virtude disso, a história, como toda Ciência,

deve explicar e generalizar o fato ocorrido.

Ressalta-se que a história é a narração dos acontecimentos no decorrer do

tempo, entrelaçando o presente com o passado; o homem é o seu objeto de estudo.

Enfatiza-se que, enquanto a história narra, apenas, os fatos ocorridos, a

Historiografia tem como objetivo principal o registro escrito desses fatos sem a

preocupação de indagá-los.

A Historiografia, por sua vez, nasceu na França, e está, intrinsecamente,

ligada à história. Faz-se necessário salientar a contribuição significativa de Lucien

Febvre e Marc Bloch à historiografia “[...] no início do século XX, com a fundação da

revista Annales, cujo objetivo maior era o de promover um novo tipo de história e,

certamente, de historiografia”, afirmam Bastos; Palma (2004, p.16). Nessa

perspectiva, acrescentam Fávero; Molina (2006, p.19) que essa nova história

“esforça-se em aproximar a História de outras disciplinas, debruçando-se menos nas

narrativas dos acontecimentos e mais na análise de suas estruturas”, de tal modo

que “defende uma história total, ou seja, capaz de estudar, simultaneamente, o

econômico, o social e o cultural”.

Em consequência disso, percebe-se a interdisciplinaridade presente na

Historiografia, de tal maneira que há necessidade de “amplitude de abrangência e

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profundidade de aprendizado, exigindo um conhecimento quase enciclopédico, por

parte do pesquisador, dada a natureza quase interdisciplinar dessa atividade”, afirma

Koerner (1996, p.12, grifo nosso). Dessa forma, a Historiografia está vinculada a

outras disciplinas, a fim de registrar a plenitude dos feitos humanos, a saber:

Sociologia, Psicologia, Economia, Linguística, Geografia, dentre outras.

Finalizados os conceitos de História e de Historiografia, trataremos da

Historiografia Linguística, em que focamos o nosso trabalho.

1.3 Historiografia Linguística

A Historiografia Linguística (HL) começou na Europa, nos anos 70, e está

ligada aos estudos históricos e, de acordo Bastos; Palma (2004, p.10), “[...] é o

modo de escrever a história do saber linguístico, tendo como objetivo

descrever/explicar como se desenvolveu tal saber em um determinado contexto”.

Dessa maneira, diz Altman (1999, p.22) que a HL descreve e explica “a história das

ciências da linguagem”. Nesse sentido, a HL vai além de analisar um escrito

acabado em um determinado tempo, de tal modo que examina as circunstâncias de

produção e percepção do conhecimento que se constrói acerca da linguagem e das

línguas.

A HL tem sido alvo de muitos pesquisadores que pretenderam resgatar os

fatos mais relevantes do passado linguístico. Já no início dos anos de 1970, diz

Koerner (1996, p.12) que vários estudiosos com interesse na história da linguística,

como uma especialidade acadêmica, “esforçaram-se em propor orientações para a

condução adequada da pesquisa historiográfica (Hymes 1974; Simone 1975;

Koerner 1976)”. Esse interesse teve um impacto considerado no debate por meio do

livro de Kuhn (1962), tal discussão focalizou até que ponto a morfologia das

revoluções científicas de Kuhn forneceriam uma direção favorável ao historiador da

linguística, porém essa discussão parece ter diminuído pelo possível trabalho de

Percival (1976) durante o final o final da década de 70, uma vez que este era

contrário à busca de paradigmas em linguística sem oferecer qualquer caminho

alternativo.

Nos anos de 1980, afirma Koerner (1996, p.13) que os estudiosos assistiram

a uma “variedade de estudos oferecendo linhas opcionais de conduta historiográfica,

entrando no debate sobre a abordagem apropriada à história da lingüística (Bahner

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1981; Bokadorova 1986; Christmann 1987)”, porém, nos anos 90, não havia sido

“estabelecida uma base comum, a respeito de como se proceder relativamente à

historiografia lingüística e há indicações de que o debate continuará por algum

tempo”. Com efeito, algumas das propostas levantadas por muitos autores, fora da

linguística e de sua história, são analisadas antes que uma variedade de

considerações seja apresentada, de tal maneira que uma pesquisa na história das

ciências da linguagem deveria ser realizada, como também deveriam ser

apresentados seus desenvolvimentos no campo.

A HL, fora do Brasil, tem seu campo definido há mais de três décadas,

todavia, no país, a sua institucionalização ocorre em reuniões da Associação

Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística – ANPOLL, e, como

disciplina, surge em 1994, no programa de Pós-Graduação em Linguística da

Universidade de São Paulo, conforme Altman (1998, p.21). Sendo assim, temos a

contribuição significativa de vários pesquisadores, como a Prof.ª Dr.ª Maria Cristina

Salles Altman, da USP, a grande precursora da HL; a Prof.ª Dr.ª Neusa Maria

Oliveira Barbosa Bastos, líder do Grupo de Pesquisa de Historiografia da Língua

Portuguesa (GPeHLP – IP-PUC – SP) e o Prof. Dr. Ronaldo de Oliveira Batista, da

UPM.

A atividade de escrever a história da língua, segundo Altman (1999, p.29),

presume, pois:

a tarefa de reconstrução dos “fatos” a partir dos quais o historiógrafo constrói seu sistema de referências, mas pressupõe também a tarefa de selecionar e interpretar como os problemas linguísticos se constituíram, se formularam e reformularam através do tempo. (ALTMAN, 1999, p.29).

Dessa forma, se pressupõe que uma atividade baseada em princípios,

rigorosamente bem definidos, não pode ser comparada, apenas, à própria

linguística, mas também aos questionamentos e polêmicas levantados através do

tempo. Com efeito, explicita Altman (1999, p.29) que o trabalho do historiógrafo das

ciências da linguagem não deve focalizar apenas a “dimensão interna” – cognitiva do

desenvolvimento da disciplina –, mas também a “dimensão externa” que leva em

consideração o contexto social em que o estudo se desenvolveu. Temos, dessa

forma, de acordo com Bastos; Batista (2012, p.5), uma Historiografia ligada ao

estudo interpretativo do aspecto interno a respeito dos estudos da linguagem e seu

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desenvolvimento no estudo da história, fazendo, assim, relação com o aspecto

externo.

Assim, segundo Bastos; Batista (2012, p.2), a reconstrução historiográfica

deve estar:

acompanhada de argumentos que recuperem práticas de tratamento linguístico, sempre tendo em vista a observação analítica, e não apenas registros que fazem paráfrases de outras obras, e, assim, não vão além de recontar o que um autor fez, deixando de lado a contribuição essencial da historiografia: um olhar interpretativo que procura entender as razões de determinado trabalho apresentar as características que o definem. (BASTOS; BATISTA, 2012, p.2).

Tal perspectiva ressalta a necessidade de que a HL não é somente análise de

documentos linguísticos, mas leva em conta a “análise, explicação e hierarquização

de dados, fatos, teorias e métodos que constituem os estudos sobre linguagem ao

longo do tempo”, afirmam Bastos; Batista (2012, p.2).

Quanto à definição de campo, segundo Swiggers (2010, p.2), a HL “faz

perguntas linguisticamente relevantes sobre as práticas historicamente relacionadas

à linguagem”, instaurando-se a HL como “o estudo interdisciplinar do curso evolutivo

do conhecimento linguístico”. Isso ocorre, porque a HL engloba a descrição e a

explicação, considerando os fatores intradisciplinares e extradisciplinares, “de como

o conhecimento linguístico, ou mais genericamente, o know-how linguístico foi obtido

e implementado”, esclarece o autor.

Vale enfatizar, também, o objeto de estudo da HL, afirma Swiggers (1983, p.

61) que:

se caracteriza como uma disciplina científica que tem por objetivo estruturar seu objeto de estudo (que são as teorias e práticas de análise lingüísticas) numa série de relações sistemáticas, levando também em conta observações derivadas das abordagens da metodologia da lingüística e da história das ideias. Conforme a essa definição do estatuto e do objeto, há a reflexão a respeito da natureza desse objeto e da constituição dessa historiografia como uma metaciência, isto é, como um posicionamento que interpreta práticas de uma ciência ou área de saber. (SWIGGERS, 1983, p.61, trad. nossa).

Sendo assim, o objeto de estudo da HL são as teorias e práticas de análise

linguísticas. Nesse sentido, afirma Altman (1999, p.22) que a HL tem como objeto “a

história dos processos de produção e de recepção das ideias linguísticas e das

práticas delas decorrentes”, uma vez que “geraram novas ideias e novas práticas,

em um processo de continuidade e descontinuidade, de avanços e de retomadas,

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inerentes à busca de conhecimento”. Dessa maneira, acrescentam Bastos; Palma

(2004, p.18-19) que:

[...] É fato importante ressaltarmos que correspondências, cartas, rascunhos ou qualquer documento pessoal produzido por uma comunidade científica será objeto da HL, constituindo-se como fonte primária de pesquisa. É nesse aspecto que se evidencia a importância do estudo historiográfico, pois, para reconstruir as práticas lingüísticas passadas, é preciso explorar a dimensão pessoal. (BASTOS; PALMA, 2004, pp.18-19).

Nessa perspectiva, podemos mencionar que qualquer documento escrito

pode se tornar objeto de estudo da HL, uma vez que a concepção da HL não

considera importante, apenas, o enfoque científico, mas também o aspecto social.

Com base nisso, além de mencionar o objeto de estudo da HL, convém

destacar a tarefa do historiógrafo, que tem início com a discussão de Koerner (1996,

p.47), por meio de seu campo de investigação, cujos vieses deveriam consistir em:

[...] favorecer o restabelecimento dos fatos mais importantes do nosso passado linguístico ‘sine ira et Studio’e explicar, tanto quanto possível, as razões da mudança de orientação e de ênfase e a possível descontinuidade que delas se pode observar, sua prática requer, ainda, capacidade de síntese, isto é, a faculdade de destilar o essencial da massa dos fatos empíricos coligidos a partir de fontes primárias. (KOERNER, 1996, p.47).

Diante disso, o historiógrafo precisa restabelecer os fatos mais relevantes do

passado linguístico, bem como dar ênfase às possíveis descontinuidades a partir

das fontes primárias. Por meio desses fatos, constituem-se princípios que norteiam o

historiador, contribuindo, assim, para a instauração da HL como disciplina. Nesse

aspecto, temos adotado os três princípios de Koerner (1996): Contextualização,

Imanência e Adequação. Desse modo, saímos do fator histórico linguístico,

centrando-nos no princípio científico, assim sendo, a HL passa a ser vista como uma

disciplina.

O princípio da contextualização, afirma Koerner (1996, p.60):

O primeiro princípio para a apresentação de teorias lingüísticas propostas em períodos mais antigos diz respeito ao estabelecimento do “clima de opinião” geral do período em que as teorias se desenvolveram. As idéias lingüísticas nunca se desenvolveram independentemente de outras correntes intelectuais do período; o “espírito de época” [zeitgeist] sempre deixou suas marcas no pensamento lingüístico. (KOERNER, 1996, p.60).

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A partir dessa afirmação, o primeiro princípio trata do clima de opinião,

traçando o contexto dos escritos dos documentos, uma vez que aborda os aspectos

intelectuais, socioeconômicos, políticos e culturais, levando em conta o clima de

intelectualidade da época.

No que se refere ao princípio de Imanência, diz Koerner (1996, p.60) que:

É desnecessário dizer que o historiógrafo deve afastar-se tanto quanto possível de sua formação lingüística que lhe são contemporâneos, o quadro geral da teoria sob investigação, assim como a terminologia usada no texto, devem ser definidos internamente, e não em referência à doutrina lingüística moderna. (KOERNER, 1996, p.60).

Esse princípio esforça-se em estabelecer um entendimento tanto histórico

quanto crítico, se necessário filológico, do texto em apreciação. Assim sendo, o

princípio da imanência refere-se, pois, “[...] ao esforço do historiógrafo de entender o

texto lingüístico produzido nos séculos enfocados de forma completa, histórica e

criticamente, e filologicamente se possível”, explicam Bastos; Palma (2004, p.11).

Nesse sentido, afirma Koerner (2014, p.59) que “o quadro geral da teoria a ser

investigada, assim como a terminologia usada no texto, devem ser definidos

internamente e não em referência à doutrina linguística moderna”.

Segundo o autor, só depois de serem seguidos, rigorosamente, os dois

princípios, de modo que a manifestação linguística tenha sido compreendida no seu

contexto histórico original, “o historiógrafo pode aventurar-se a introduzir

aproximações modernas do vocabulário técnico e do quadro conceptual apresentado

na obra em questão”.

Sobre o princípio da adequação, por sua vez, afirma Koerner (1996, p.60)

que:

[...] pode o historiógrafo aventurar-se a introduzir, ainda que muito cuidadosamente e colocando seu procedimento de forma explícita, aproximações modernas do vocabulário técnico em um quadro conceptual de trabalho que permita uma melhor apreciação de um determinado trabalho, conceito, ou teoria. (KOERNER, 1996, p.60).

A partir dessa afirmação, o princípio da adequação faz aproximações

modernas do vocabulário técnico do trabalho em estudo, mas é preciso que o

historiógrafo da linguística alerte o leitor sobre as aproximações terminológicas,

sendo assim, explícito naquilo que está fazendo.

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Em face aos princípios, Koerner (2014, pp.57-58) faz menção a respeito da

metalinguagem, que é “a linguagem empregue para descrever ideias do passado

sobre a linguagem” e adverte que:

Nenhum escritor consegue escapar à questão ao discutir teorias de períodos passados, na medida em que deve tentar, ao mesmo tempo, torná-las acessíveis ao leitor do presente, ao passo que tenta não distorcer a intenção e significado originais. A menos que o único objetivo do historiógrafo seja antiquário, isto é, ver conceitos desenvolvidos há muitos anos apenas nos próprios termos utilizados, será tentado a usar um vocabulário técnico moderno na sua análise. Este procedimento ‘modernizante’, porém, tem levado a inúmeras e sérias distorções na história da linguística, e qualquer historiógrafo perspicaz deve perceber as armadilhas e voltar-se para este problema potencial do uso da ‘metalinguagem’. (KOERNER, 2014, pp.57-58).

Essa advertência é de suma importância ao historiógrafo que precisa tomar

cuidado quando discutir teorias do passado, uma vez que deve torná-las

compreendidas ao leitor moderno, pois a falta de cuidado pode distorcer os

significados originais, causando, assim, um grande problema, por consequência do

mau uso da metalinguagem. Para solucionar tal problema, o autor sugere a adoção

dos três princípios.

Nesse sentido, segundo Bastos; Palma (2004, p.12), acrescenta-se que, além

dos princípios de Koerner (1996), outro ponto metodológico utilizado é a questão das

fontes que podem ser primárias e secundárias. As primárias são os documentos

originais, “para delas extrair elementos que nos permitiram dar, seguramente, os

passos investigativos”. Em relação às fontes primárias, esclarece Koerner (1996,

p.47) que há necessidade de se respeitar:

[...] a faculdade de destilar o essencial da massa dos fatos empíricos coligidos a partir de fontes primárias. Em outras palavras e para usar uma distinção contemporânea, a historiografia da lingüística tem que ser ‘teoricamente orientada’ [theory oriented] e ‘não orientada para os dados’ [data oriented], embora não haja dúvida de que muita leitura das fontes originais ainda tenha que ser feita, a fim de estabelecer adequadamente os fatos básicos no desenvolvimento da disciplina. (KOERNER, 1996, p.47).

Nesse aspecto, o historiógrafo precisa fazer uma síntese das fontes primárias,

extraindo, assim, a essência da quantidade dos fatos empíricos que, aos poucos,

pode ser agregada das fontes originais (primárias). Depois desse processo, fazemos

uso das fontes secundárias, “aquelas que (às vezes escassas) permitiram verificar o

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que já fora estudado sobre os documentos que tínhamos em mãos”, afirmam

Bastos; Palma (2004, p.12).

É de grande importância ressaltar, também, que fundamentamos a nossa

pesquisa nos passos investigativos de Swiggers (1983), que “abrangem quatro

momentos: seleção, ordenação, reconstrução e interpretação”. No primeiro passo,

será feita a seleção dos documentos gramaticais a serem estudados , elegendo,

assim, os mais relevantes para o estudo da sintaxe da Língua Portuguesa,

sobretudo, da Função do Advérbio, na segunda metade do século XIX e na primeira

metade do século XX. No segundo, usaremos um critério abrangente no estudo da

sintaxe nos dois períodos abordados, para estabelecer um percurso dos estudos de

gramática da Língua Portuguesa, em uma perspectiva historiográfica, enfocando as

implicações socioculturais em uma ordem cronológica. Dando continuidade,

buscaremos reconstruir o conhecimento linguístico dos recortes temporais

selecionados e, por fim, interpretar, criticamente, cada material escolhido, a partir do

clima de opinião de épocas delineadas.

Na busca de seus próprios caminhos, de acordo com De Clerq & Swiggers

(1991), o historiógrafo requer cinco tipos de motivações que seriam fundamentais ao

longo da história da HL, a saber: 1. como sujeito enciclopédico, como “ramo” de uma

enciclopédia do saber; 2. como ilustração do progresso de conhecimentos; 3. como

objetivo de defender, difundir ou promover um modelo linguístico particular em

detrimento de outros; 4. como descrição e explicação de conteúdos de doutrina,

inserida em um contexto histórico e científico e, por último, 5. como testemunha

exterior sobre uma realidade social, “colorida” pelas concepções e práticas

linguísticas. Assim sendo, centramos a nossa pesquisa nesse último tipo de

motivação.

Diante de tais motivações, relatam Bastos; Palma (2004, p.23) que “cabe-nos

refletir acerca delas a fim de buscar um método historiográfico capaz de debruçar-se

sobre o estatuto científico da HL, bem como sobre a prática historiográfica”. Diante

disso, segundo De Clerq & Swiggers (1991), ao historiógrafo, “cabe a tarefa de

transcender na prática, nas reflexões e nas situações linguísticas”.

Vistas tais motivações, cabe-nos mencionar o método da HL, quando afirma

Koerner (2014, p.47) que:

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[...] em última análise, os historiadores da ciência da lingüística terão que desenvolver o seu próprio quadro de trabalho, tanto o metodológico, quanto o filosófico. Para isto, um conhecimento meticuloso da teoria e da prática em outros campos revelam-se verdadeiramente muito úteis, mesmo se o resultado for negativo, isto é, se o historiador da lingüística descobrir se este ou aquele campo de investigação histórica tem de fato pouco a oferecer em matéria de método historiográfico. (KOERNER, 1996, p. 56-57).

Diante disso, pode-se concluir que não existe, ainda, um método constituído

totalmente, por isso, cabe ao historiógrafo buscar o seu próprio caminho, de modo a

levar em conta o conhecimento minucioso da teoria e da prática de outras disciplinas

ao desenvolvimento da HL.

A respeito da HL não ter, ainda, um método constituído, convém destacar que

essa questão está amadurecendo, prova disso, tem aumentado o número de

pesquisadores que começam a se interessar pelo método da HL, mas, “enquanto

isso não acontece, é legítimo que o historiógrafo procure diretrizes e modelos a

imitar para além do seu próprio campo”, afirma Koerner (2014, p.46).

Swiggers (2005, pp.8-10), portanto, apresenta-nos alguns métodos que

podem ser seguidos, por meio de três níveis: heurístico, interpretativo e

reconstrutivo-sistemático. O primeiro refere-se às fontes valiosas, que são chamadas

de marginais e que ilumina as questões ideológicas de um autor; são de caráter

informal, podendo ser escritas (cartas, manuscritos de comitês científicos ou

qualquer documento escrito) ou orais (entrevistas, aulas, dentre outras formas). O

segundo está relacionado ao olhar interpretativo do historiógrafo para com as fontes

trabalhadas. Quanto a isso, afirma o autor que, para a metodologia heurística e

interpretativa, é importante estudar a terminologia utilizada nas fontes, pois, no nível

interpretativo, por exemplo, faz-se necessário considerar o respeito para com o

significado original encontrado nos documentos, para, depois, fazer a reconstrução

sistemática dirigida aos leitores modernos, chegando, assim, ao terceiro nível de

reconstrutiva-sistemática. Nesse último nível, enfatiza-se a necessidade de

categorização, de maneira que o historiador não pode encontrar a sua tarefa

historiográfica sem recorrer às categorias.

Portanto, a Historiografia Linguística torna-se fundamental à nossa pesquisa,

uma vez que levamos em consideração o percurso histórico no que diz respeito ao

ensino da sintaxe da Língua Portuguesa, sobretudo, da Função do Advérbio. Para

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tanto, estando explícita a base teórica desta pesquisa, abordaremos as questões

educacionais, para entendermos o espírito de época no Brasil.

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2 ASPECTOS EDUCACIONAIS E LINGUÍSTICOS NO BRASIL, NA SEGUNDA

METADE DOS SÉCULOS XIX E XX

2.1 Considerações Iniciais

Este capítulo apresenta o princípio da contextualização que trata do clima de

opinião das épocas, traçando o contexto educacional, político e linguístico dos

séculos XIX e XX. Assim, levamos em conta esse contexto para que possamos

entender a contribuição dessas correntes à elaboração das obras Syntaxe e

construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz da Silva Brandão (1888), e Novas

Lições de Análise Sintática, de Adriano da Gama Kury (1984).

Na linguística, abordamos diversos autores, tais como: do século XIX, Franz

Bopp, irmãos Grimm, Max Müller , Shleicher, Von Humboldt; do século XX,

Saussure, Chomsky, Roman Jakobson, Bakhtin, dentre outros. Assim sendo, esses

estudiosos não podem ser desprezados pelos pesquisadores, sobretudo, pelo

historiógrafo, uma vez que suas teorias se tornaram fundamentais ao estudo da

língua.

2.2 Século XIX: aspectos educacionais, políticos e linguísticos no Brasil

2.2.1 Aspectos educacionais e políticos

A segunda metade do século XIX foi um período de grandes mudanças

políticas, educacionais, socioeconômicas, culturais e filosóficas. Esta última foi de

suma importância, uma vez que o Positivismo influenciou muito a sociedade da

época, tendo como seus principais idealizadores Augusto Conte e John Stuart Mill.

Desses, destaca-se Augusto Conte, considerado o criador da corrente filosófica

positivista.

Segundo Valentim (2010, p.4), o positivismo surgiu na França, no começo do

século XIX, e ganhou mais força na Europa, na segunda metade do século XIX e

início do século XX, período em que chegou ao Brasil. O método geral do

Positivismo de Augusto Comte baseia-se na observação geral dos fenômenos, de tal

maneira que se opõe ao racionalismo e ao idealismo ou a qualquer aspecto

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teológico ou metafísico. Nessa perspectiva, substitui a teologia e metafísica pelo

culto à ciência; o mundo espiritual, pelo mundo humano; o espírito, pela matéria.

Diante disso, essa corrente filosófica defende a ideia de que o conhecimento

científico é o único considerado verdadeiro, desprezando, assim, qualquer

conhecimento ligado às crenças ou supertições.

Convém enfatizar que Comte, em sua obra Apelo aos conservadores (1855),

definiu a palavra "positivo" com sete acepções: real, útil, certo, preciso, relativo,

orgânico e simpático. Dessas palavras, ressalta-se “orgânico” que apresenta a

predominância do Evolucionismo na segunda metade do século XIX, sobretudo, na

Gramática Portugueza, de Júlio Ribeiro (1881), seguidor das ideias de Darwin

(Naturalismo). Prova disso, Ribeiro considera a língua um ser vivo – um organismo

que nasce, cresce e morre – . Dessa maneira, faz uso dos métodos de estudos das

ciências naturais, uma vez que o autor se utiliza do aspecto evolucionista do ser.

Com efeito, destacamos Júlio Ribeiro, porque o mesmo teve forte influência nas

gramáticas da segunda metade do século XIX, especificamente, na obra de estudo

gramatical de Brandão (1888), corpus da nossa pesquisa.

Faz-se necessário mencionar o período racionalista (de 1802 a 1881) e o

científico (de 1881 a 1941). O primeiro sofreu forte influência da Gramática de Port-

Royal (1660) sobre o pensamento linguístico, sendo, ainda, muito predominante no

século XIX. Quanto a isso, afirma Cavaliere (2002, p.110) que:

O período racionalista deixou marcas profundas do ensino no português do século XIX, constituindo sem dúvida, o primeiro modelo de produção gramatical que perdurou por mais de uma geração dos estudiosos da língua vernácula. A principal crítica que se lhe impõe, decerto, reside na pouca ou mesmo nenhuma importância que então se dedicava ao estudo do português brasileiro, de tal sorte que nossas gramáticas mais se resumiam a copiar regras e dispositivos dos compêndios congêneres lusitanos. (CAVALIERE, 2002, p.110).

Sendo assim, o ensino de língua portuguesa sofreu grandes marcas do

período racionalista, que levava em conta a língua vernácula, porém os estudos de

gramática da segunda metade do século XIX, tendo como grande precursor Júlio

Ribeiro, vieram da forte oposição à Gramática Filosófica, cujos estudos históricos e

descrição da língua vernácula quase não eram levados em conta.

Quanto ao Positivismo no Brasil, de acordo com Valentim (2010, p.14), é

importante salientar, também, a sua grande ascendência, tendo como representação

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máxima o emprego da frase positivista “Ordem e Progresso”: “o amor por princípio, a

ordem por base, o progresso por fim", em plena bandeira brasileira. Além disso, teve

influência na literatura, por meio de escritores naturalistas, sobretudo, Raul Pompeia

e Aluísio de Azevedo. Salienta-se, também, o coronel Benjamin Constant, professor

de matemática da Escola Militar do Rio de Janeiro, o mais influente positivista

brasileiro. Outros positivistas foram importantes para o Brasil, tais como: Nísia

Floresta Augusta (a primeira feminista brasileira e discípula direta de Auguste

Comte), Miguel Lemos, Euclides da Cunha, Luís Pereira Barreto, o marechal

Cândido Rondon, Júlio de Castilhos, dentre outros.

A partir da segunda metade do século XIX, as ideias de Augusto Comte

permearam o pensamento de muitos políticos, militares, mestres, escritores, poetas,

professores e alunos. Em vista disso, essa corrente estimulou inúmeros movimentos,

especificamente, os de caráter republicano e abolicionista, opondo-se à monarquia e

ao escravismo dominante no Brasil e à Proclamação da República, ocorrida por

meio de um golpe militar.

Em relação à economia brasileira, por volta de 1850, o Império já tinha

condições de solidificar-se por meio do domínio da monarquia sobre os senhores

que estavam ligados à atividade de exportações. Quanto à melhoria do país na

economia, ressalta Ribeiro (2000, p.64) que:

Comparando-se as porcentagens referentes a 1839-44 e 1870-75, nota-se o crescimento de 1,0% para 3,5% da importação do carvão, que de 17º lugar passa a 8º, e de 0,2% para 2,9% da importação de máquinas, que passa de 25º para 11º lugar [...]. (RIBEIRO, 2000, p.64).

Nessa perspectiva, percebemos certo crescimento significativo nas atividades

industriais. Esse crescimento vai influenciar outros aspectos, especialmente, o

intelectual, esclarece Reis Filho (1974, p.1):

A consolidação desse desenvolvimento econômico manifesta-se de imediato com o contato mais intenso com a Europa, fonte fornecedora não só de novos maquinários e instrumentos, que importávamos, mas também das novas idéias que passaram a circular ao acanhado meio intelectual dos meados do século XIX brasileiro. (REIS FILHO, 1974, p.1).

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Esse desenvolvimento acelerado se deu pelo processo de modernização da

sociedade. Dessa forma, além de ter um crescimento econômico, surgia, também, o

consumo das “novas ideias”, quando começou o Positivismo no Brasil.

Com base nisso, segundo Reis Filho (1974, p.1), em 1868, ocorreu o

manifesto liberal, início de um enorme movimento que vai marcar o final e o início da

República. Partindo disso, liberais e cientistas começaram a estabelecer pontos

comuns, a saber: separação da Igreja do Estado; abolição dos privilégios

aristocráticos e da escravidão; liberdade à mulher para exercer seu papel de esposa

e mãe; crença na educação e instituição do casamento e registro civil. Enfatiza-se

que essa tal modernização se deu pela mudança da base da sociedade exportadora

brasileira de rural-agrícola para urbano-comercial.

Em virtude desse desenvolvimento econômico, ocorreu a organização da

escola, que não se deu, apenas, pelas críticas dadas à sua ineficácia, mas também

pela decretação de reforma. Prova disso é a reforma de Leôncio de Carvalho em 19

de abril de 1879, não obstante, alguns de seus princípios ficaram dependendo da

aprovação do Legislativo, que acabaram não acontecendo, mesmo assim, poucos

foram aprovados, afirma Ribeiro (2000, p.67) que dentre eles estão:

a) Liberdade de ensino, isto é, a possibilidade de todos os que se sentissem capacitados esporem suas idéias segundo o método que lhes parecesse mais adequado. b) O exercício do magistério era incompatível com o de cargos públicos e administrativos. c) Liberdade de frequência, ou seja, dar liberdade para os alunos dos cursos secundário e superior estudarem como e com quem entendessem. À escola caberia, especificamente, ser severa nos exames. Isto implicava, também, a organização do curso por matéria e não mais por anos, possibilitando ao aluno escolher as matérias e o tempo para cumprir toda a série estimulada. (RIBEIRO, 2000, p.67).

Como consequência disso, a Reforma Leôncio de Carvalho foi de suma

importância para o desenvolvimento educacional, pois começava a liberdade no

ensino, de modo que todos podiam ter acesso à escola. Assim, no final do século

XIX, houve “o aparecimento do ensino feminino em nível secundário, como resultado

da iniciativa particular”, de acordo com Ribeiro (2000, p.67).

Segundo Ribeiro (2000, pp.71-70), o crescimento da classe média e sua

participação nas questões públicas (por meio dos serviços intelectuais, religiosos e

militares no Estado) influenciaram a proclamação da República em 1889. Isso

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aconteceu por meio do grande apoio da camada do café e com a omissão da grande

parte da população. É por esse motivo que se instalou a organização escolar da

Primeira República, pela Constituição em 1891. Porquanto, apesar do crescimento e

descontentamento da classe média, essa classe não tinha força suficiente para

modificar o regime político, e isso explica o porquê do regime não se tornar um setor

relevante à população no final do século XIX.

Em relação à política, o monárquico D. Pedro II não correspondia mais aos

desejos da sociedade, a qual exigia mais liberdade econômica, menos autoritarismo

e mais democracia. Assim sendo, no dia 15 de Novembro de 1889 na capital Rio de

Janeiro, o Marechal Deodoro da Fonseca liderou um golpe militar que derrubou o

reinado de D. Pedro II, e instaurou a República Federativa e presidencialista no

Brasil. Nesse mesmo dia, foi criado o governo provisório, em que o próprio Marechal

assumiu a presidência, tendo como Vice-presidente Floriano Peixoto, que depois se

tornou presidente quando Marechal renunciou o cargo em 1891.

Com base nisso, existiram várias divergências no governo, sendo marcadas,

até 1894, como o período da “Crise da República”. Nesse sentindo, diz Ribeiro

(2000, p.72) que “o Governo de Floriano Peixoto (1891-1984), que passa para a

História como o “Marechal de Ferro”, retrata esta situação”. Porquanto, aconteceu,

nesse período, uma tentativa de mudança na área econômica e na escolar.

Tendo em vista esses fatos, em 1891, devido à falta de domínio e interesse

dos fatores internos (senhores agrícolas) e externos (burguesia), o incentivo das

atividades voltadas ao mercado nacional chega ao fracasso. Assim sendo, surge a

primeira tentativa de solucionar esse problema, afirma Prado Júnior (1969, p.218):

Sob a ação deste jorro emissor, não tardará que da citada ativação dos negócios se passe rapidamente para a especulação pura. Começam a surgir em grande número novas empresas de toda ordem e finalidade. Eram bancos, firmas comerciais, companhias industriais, de estrada de ferro, toda sorte de negócios possíveis e impossíveis. (PRADO JÚNIOR, 1969, p.218).

A partir dessa afirmação, surgiram muitas empresas em diversas áreas,

consequentemente, foi a primeira tentativa de fazer do governo um instrumento de

diversificação das atividades econômicas, mesmo que em grande parte frustrada.

Convém mencionar, também, a influência positivista à educação nacional,

devido às transformações políticas. Em vista disso, o positivismo tentava fixar ideias

por meio da educação escolarizada, que foi decretada em 1890 e colocada com a

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Reforma Benjamim Constant (1891). Em relação à Reforma, explica Ribeiro (2000,

p.73) que “tinha como objetivo orientar a liberdade e laicidade do ensino e a

gratuidade da escola primária”, em vista disso, apresenta-se:

REFORMA BENJAMIM CONSTANT (1891)

1) Escola Primária

Duas Categorias Faixa Etária

1º GRAU 7 a 13 anos

2º GRAU 13 a 15 anos

2) Escola Secundária durava sete anos

3) Nível Superior chamado de Politécnico – atingiu o ensino de Direito, Medicina e Militar

4) Exame de Madureza – verificava se o aluno tinha a capacidade intelectual necessária ao término do curso

Com base nesse quadro, a escola primária era organizada em duas

categorias: a de 1º grau (para crianças de 7 a 13 anos) e a de 2º grau (para crianças

de 13 a 15 anos). Além disso, foi criado o exame de madureza que verificava se o

aluno tinha a capacidade intelectual necessária ao término do curso, de tal forma

que, a partir do 3º ano, se introduzia tempo para a revisão de matemática e, no 7º

ano, se dedicaria a maior parte do tempo para tal finalidade.

Outro objetivo educacional, de acordo com Ribeiro (2000, p.73), era romper

com a tradição humanista clássica que prevalecia no ensino brasileiro. Diante disso,

a predominância literária deveria ser substituída pela científica (matemática,

astronomia, física, química, biologia, sociologia e moral), de acordo com a

ordenação positivista.

Destaca-se que essa decisão foi alvo de grandes críticas, desse modo, foram

acrescentadas matérias científicas às tradicionais, formando o ensino enciclopédico.

Em virtude disso, em 1893, ocorreu uma modificação que visava uma proporção

mais justa na distribuição das matérias do Ginásio Nacional, com o aumento da

matéria Literária.

Diante do exposto, o Brasil passou por grandes transformações políticas,

socioeconômicas e filosóficas na segunda metade do século XIX. Com base nisso,

esses fatores influenciaram a educação brasileira por meio de Leis e Reformas,

algumas tiveram suas eficácias, outras, não. Quanto ao estudo gramatical da Língua

Portuguesa no Brasil, sobretudo, da sintaxe, percebemos a predominância e

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28

contribuição da corrente positivista, sendo de suma relevância aos gramáticos desse

período.

2.2.2 Aspectos linguísticos

2.2.2.1 Sintaxe nos séculos XVI, XVII E XVIII

Faz-se necessário destacar o percurso da sintaxe desde a origem até a sua

predominância nos séculos XVI, XVII e XVIII para que, dessa forma, possamos

entender melhor a sintaxe do século XIX, em que baseamos a nossa pesquisa.

Segundo Chevalier (1968, p.27), a história da sintaxe começa seus primeiros

estudos por meio da Gramática de Priscien, no ocidente, século V, baseado na

filosofia, destacando, assim, Aristóteles e Platão. Prova disso, Priscien cita, em sua

gramática, exemplos consagrados dos livros de lógica de Platão. Com efeito, um dos

primeiros tratados, que deve reter Priscien e seus contemporâneos, está relacionado

à gramática bilíngue, destinada a jogar um ponto entre latim e grego, sendo assim,

explicita o autor que:

Um dos primeiros tratados relevantes que deve reter Priscien e seus contemporâneos é esse que diz respeito a uma gramática bilíngue, destinada a jogar um ponto entre latim e grego: Já Macrobe segue P. Courcelle, quem tinha tentado pelo modelo de Apollonyus Dyscole escrever um tratado de gramática comparada greco-latina [...]. Julien, Consul e Patrice influenciam a grammairien latin da Constantinopla, de Prinscien, uma gramática que resume e adapta ao latim os ensinamentos das gramáticas gregas [...], Priscien não pretende nada mais do que colocar em latim seus preceitos, é o que há de indispensável dentro das artes dos gramáticos latinos. (CHEVALIER, 1968, p.27, trad. nossa).

Nesse sentido, Priscien insere os ensinamentos das gramáticas gregas no

latim, com o intuito de transformar seus conceitos em latim.

Quanto à noção de oração perfeita, de acordo com Chevalier (1968, p.29,

trad. nossa), Priscien diz que a ordem dos elementos é um dos pontos

determinantes da sintaxe, uma vez que o sentido e a ordem das palavras na oração

precisam estar ligados para que não resultem em muitos equívocos – noção lógica –

, porém, adverte “que, para as formas de estudo da sintaxe, é necessário fazer um

apêndice da morfologia”, afirma o autor. Diante disso, é necessário compreender

que a caminhada do presente gramático é fundada na noção formal e analógica.

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Com base nisso, acrescenta Chevalier (1968, p.30) que:

[...] para Priscien, dentro da estruturação da frase, as palavras não têm o

mesmo valor de um ponto de vista sintático: mesmo que as vogais possam

ser pronunciadas separadamente, as consoantes não podem ser separadas

das suas vogais, assim, há palavras que nós podemos empregar sozinhas,

como os nomes, os imperativos, os advérbios; e outras que têm

necessidades de outras partes da oração, e sozinhas não podem ter um

sentido perfeito, tendo, assim, necessidade de serem completadas, como as

preposições e suas conjunções. O seu significado varia de acordo com a

essência das palavras que a acompanham, elas não são significantes;

ainda não têm o mesmo significado de acordo com o acusativo e o ablativo.

(CHEVALIER, 1968, p.30, trad. nossa).

Desse modo, Priscien, por um lado, considera certas palavras (nomes,

verbos, advérbios) independentes na oração, de tal modo que tem um sentido

completo. Por outro lado, há palavras que sozinhas não tem um significado, uma vez

que dependem de outras para que haja sentido na oração.

Segundo Kristeva (1969, p.207), os princípios do século XVI são marcados

por algumas obras gramáticas, tais como: “Vives (1492-1540), discípulo de Erasmo,

De disciplinis libri XII; Despautère, Syntaxis (1513); Erasmo, De octo orationis

partium Constructione (1521)”. Diante disso, a língua francesa torna-se objeto

privilegiado dos gramáticos. Salienta-se que as gramáticas desse período eram

empiristas, e tinham como principal aspecto: a morfologia. Dessa forma, os

gramáticos estudavam os termos da proposição (nome, verbo...). Com efeito,

observa Chevalier (1968, p.371) que as palavras eram estudadas em situação, de tal

modo que a gramática acabou estabelecendo as coordenadas formais dessa

situação. Nesse sentido, a ordem das palavras, como também “as relações de

recção (termo regido, termo rector, recção única, recção dupla etc)” favoreceram as

estruturas frásticas, preocupando-se, dessa forma, com as relações lógicas.

Enfatiza-se, também, Scaliger, que marca profundamente a segunda metade

do século XVI, por meio de sua obra Causis lingue latinae (1540). A presente obra

diz respeito à língua latina apenas, mas acaba ultrapassando a sua época, “e

escreve-se entre os mais belos exemplos de rigor linguístico do seu tempo”, afirma

Kristeva (1969, p.209).

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Conforme Chevalier (1968, p.178), Scaliger defende a culta gramática

renascentista, o autor afirma que a gramática é a ciência falada de acordo com o

uso. Nessa perspectiva, acrescenta Kristeva (1969, p.210) que:

Scaliger também insiste no facto de que ainda que o gramático dê importância ao significado [significatum] que é uma espécie de forma [forma], não o faz por sua própria conta, mas para transmitir o resultado àquele cujo ofício é procurar a verdade. Trata-se efectivamente do lógico e do filosófico, e compreende-se que, para Scaliger como para toda a tradição gramatical, o estudo da língua não é um fim em si, e não tem autonomia, mas faz parte de uma teoria do conhecimento à qual está subordinado. (KRISTEVA, 1969, p.2010).

Todavia, Scaliger tenta limitar o campo da gramática ao tratá-la como ciência,

desprezando, totalmente, o fato de ser considerada arte. Sendo assim, o autor

insere a gramática na ciência lógica, eliminando, assim, a ciência de juízo.

Consoante, é construída uma gramática normativa, a qual apresenta duas partes: a

morfologia (dos elementos componentes) e a sintaxe (da sua organização).

Conforme Chevalier (1968, p.179), há três tipos de explicações [rationes] na

gramática de Scaliger: a primeira diz respeito à forma, a segunda, à significação, e a

terceira, à construção.

Scaliger divide os elementos linguísticos em categorias: 1. Os que compõem

a palavra; 2. A unidade discursiva, que é superior à palavra, frase e os seus

subconjuntos, para diferenciar no interior da unidade superior (nomes e verbos).

Nesse aspecto, Scaliger desconsidera as partes do discurso, e as diferencia

conforme o seu alcance lógico (chamado universal). Além disso, afirma que a

gramática não pode, como muitos autores fazem, ser reduzida a quatro partes: letra,

sílaba, palavra, oração, explica Chevalier (1968, p.179). Essas concepções de

Scaliger acerca da gramática foram significativas, porque abriram espaço ao estudo

sintático subjacente à morfologia.

A gramática francesa é marcada, também, pelas obras de Meigret, Estienne,

Cauchie, Pillot, Garnier, até chegar a Ramus, com a produção de Dialectique (1556)

e Gramere (1562), que trouxeram grandiosas teorias ao estudo da linguagem.

Na análise gramatical, Ramus apresenta os princípios formais e as distinções

formais nas partes do discurso, acreditando que, “além das marcas morfológicas, é a

ordem que define os termos”; e isso mostra que o “Francês tem uma certa ordem na

sua oração, que nunca se pode mudar”. Assim, “depois das marcas morfológicas e a

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da ordem, é a preposição que se torna objecto de estudo como elemento sintáctico

importante”, esclarece Kristeva (1969, p.218). Quanto à gramática de Ramus,

adverte Kristeva (1969, p.219) que:

É evidente que a gramática de Ramus, ganhando um avanço considerável de ordenação e de rigor lógico, de sistematização e de formalização, pára no limiar da análise sintáctica por não poder definir as relações que funcionam entre as marcas formais e que dispõem o enunciado numa ordem estrita. (KRISTEVA, 1969, p.219, grifo nosso).

Nesse sentido, acrescenta Chevalier (1968, p.305) que a gramática de Ramus

foi a primeira tentativa de uma gramática formal, mas por conta de não prosseguir na

análise sintática definindo as relações que funcionassem nas marcas formais e por

restringir a ordem do enunciado, acabou fracassando.

Depois das obras de Scaliger e Ramus, os estudiosos da língua, do final do

século XVI até o início do século XVII, deram prioridade ao aspecto pedagógico que

não trouxe nenhuma teoria nova, mas foi importante, porque simplificaram as regras

da língua para que os alunos a compreendessem melhor. Segundo Kristeva (1969,

p.223), um ponto positivo é que o número das línguas ensinadas aumentou, e isso

tornou as gramáticas polilinguísticas. Com efeito, as línguas inglesa, francesa,

alemã, italiano foram confrontadas, tornando os quadros aplicados pelo latim com

menos credibilidade.

Ora, mesmo com as limitações das gramáticas formais do renascimento,

século XVI, sobretudo, de Scaliger e de Ramus, podemos concluir que foram de

suma importância ao estudo da linguagem, uma vez que seus princípios

beneficiaram a gramática de Port-Royal no século XVII, que partiu do aspecto da

morfologia para a sintaxe.

No século XVII, prevalecia, na França, a perfeição dos falares clássicos por

meio da regularização e sistematização da língua. Consequentemente, a arte do

bem falar torna-se assunto principal desse período, e as pessoas da corte

aprendiam por meio da obra Remarques sur de la langue française (1647), de

Vaugelas, quem seguia Scaliger. Desse modo, o objetivo primordial das obras dessa

época era “adaptar as propriedades de uma língua moderna, o francês, à velha

máquina latina, baseada no par nome-verbo: é preciso inserir nela os artigos, as

preposições, os auxiliares, etc”, assim, é demonstrada que “uma expressão com

preposição em francês é igual a uma expressão com genitivo ou dativo em latim”, diz

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Kristeva (1969, p.224). Faz-se necessário mencionar que Vaugelas faz observações

importantes quando discorre sobre a expressão nominativa, genitiva, bem como

sobre existência da ablativa em suas análises gramaticais.

A gramática formal do século XVI tinha comprovado que as construções

linguísticas latinas eram lógicas, naturais. Nesse aspecto, os estudos da língua

moderna só tinham que dar continuidade a essas concepções gramaticais. Com

base nisso, surge a gramática de Port-Royal (1660), de Lancelot e Anauld,

fundamentada em Descartes, para solucionar as limitações dos estudos acerca da

língua do século XVI.

Quanto à gramática de Port-Royal, acrescenta Kristeva que (1969, p.226):

À primeira vista, a gramática de Port-Royal não se distingue sensivelmente das que a precederam, as gramáticas formais do Renascimento, excepto sem dúvida pela sua clareza e pela sua concisão. Com efeito, encontramos nela as mesmas correspondências entre os casos latinos e as construções da língua francesa. Ora, há duas inovações metodológicas fundamentais que renovam completamente a visão da língua proposta pelos Solitários de Port-Royal. (KRISTEVA, 1969, p.226).

Diante disso, a Grammaire générale de Port-Royal definia um espaço comum

a todas as línguas por meio da ciência do raciocínio, mas não previa a ciência da

língua como objeto específico, e sim geral. Por conseguinte, esse método favoreceu

o surgimento de um enfoque científico da linguagem. Convém destacar, também,

que a língua não é uma justaposição de termos, mas um organismo.

Na Grammaire génerale, vale destacar, também, as declarações de F. Brunot

(apud CHEVALIER, 1968, p.483, trad. nossa) ao afirmar que “a gramática de Port-

Royal marca, portanto, um marco na história da língua francesa, porque dela

Arnauld aplica, em primeiro lugar, à nossa língua, o método filosófico”. Dessa

maneira, Chevalier (1968, p.483) confirma com o autor ao dizer que:

F. Brunot tem razão de dizer que a Grammaire générale apresenta a história da língua. Essas Gramáticas em francês certamente não perderam um século; trabalhos como os de Ramus que são um peso considerável foram escritas em francês, mas esta é a primeira vez que um livro de doutrina abraçando as línguas conhecidas foi escrito na nossa língua [...]. (CHEVALIER, 1968, p.483, trad. nossa).

Assim, percebe-se o avanço que a gramática de Port-Royal trouxe ao ensino

de sua época, influenciando bastante os estudiosos da linguagem.

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Deve-se enfatizar a sintaxe na Grammaire générale, de Port-Royal, adverte

Kristeva (1969, p.233) que:

A lógica aristotélica propunha uma hierarquia das partes do discurso em que o nome e o verbo tinham posições iguais. Ora, seguindo a criação do juízo e do raciocínio, a Grammaire générale conseguiu distinguir por um lado as partes do discurso que são os signos dos «objectos do nosso pensamento» (a conceber): nome, artigo, pronome, particípio, preposição, advérbio; e por outro lado «a forma ou a matéria do nosso pensamento»: verbo, conjunção, interjeição. As partes do discurso são portanto encaradas como se participassem numa operação, num processo. É assim que desde as primeiras páginas, e contrariamente ao que se afirmou, a Grammaire anuncia o seu projecto de elaborar uma construcção: sobre um fundo lógico orientado para a descrição do sistema de sentindo que (para o Renascimento) subtende a reunião arbitrária das palavras, os Solitários servem-se da alavanca do signo para proporem uma sintaxe. (KRISTEVA, 1969, pp.233-234).

Diante disso, ocorre o avanço do estudo sintático por meio dessa gramática.

A sintaxe lógica abre espaço a uma sintaxe linguística, uma vez que a proposição se

torna base da reflexão gramatical, e os termos já não são mais estudados

isoladamente, forma-se um estudo complexo na relação nome/verbo que passa para

sujeito/predicado: um de quem se afirma ou se nega (sujeito); o outro, que se afirma

ou se nega (atributo ou predicado).

Em relação à concepção lógica da Grammaire génerale, de Port-Royal, diz

Kristeva (1969, p.237) que:

Os quadros do raciocínio linguístico alargam-se primeiro para além dos termos para encontrarem a proposição; depois os segmentos analisados tornam-se maiores do que a simples proposição, e a análise ocupa-se das relações interfrásticas; por fim a noção de complementaridade dos termos parece acrescentar-se à de subordinação, de tal modo que a linguagem já não é uma oratio, conjunto formal de termos, mas um sistema cujo núcleo principal é a proposição subtendida pela afirmação de um juízo. (1969, p.237).

Por meio da complexidade lógica dos termos de Port-Royal, a sua gramática

foi culminante para o estudo da linguagem, que será aperfeiçoado no século XVIII.

Conforme Kristeva (1969, p.241-242), o século XVIII foi influenciado pela

concepção racionalista tratada pelos Solitários de Port-Royal e os seus sucessores:

a linguagem apresentada como diversos idiomas que têm regras lógicas,

constituindo, dessa forma, a natureza humana. Assim, o número das línguas

ensinadas nas escolas aumenta bastante, e isso favorece os estudos

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epistemológicos. Como consequência disso, os gramáticos e filósofos propiciaram

os esclarecimentos das particularidades de cada objeto (língua), distanciando-o

cada vez mais do latim – da dependência lógica –, mas não desprezando o aspecto

universal, que passou a ser chamado de lógico para natural, o que ocasionou uma

descrição sintática das relações frásticas e interfrásticas – a gramática Enciclopédia

–, que foi a primeira a explicar, com clareza, o esforço de se fazer uma sintaxe

comum a todos os gramáticos desse período.

É preciso salientar que o estudo da linguagem do século XVIII não foge do

espírito de classificação e de sistematização que perpetuava nas ciências da época

que tinham como modelo a seguir a geometria. Prova disso, é o fato de que todas as

ciências, inclusive a gramática, “são susceptíveis de uma demonstração tão evidente

como a da geometria”, afirma Buffier (apud KRISTEVA, 1969, p.245).

Destaca-se, também, James Harris, que publicou a obra Hermes or a

Philosophical Inquiry concerning Universal Grammar (1751), em que abordou os

princípios universais e racionais da gramática geral, que era acessível a todas as

línguas. Nesse sentido, a linguagem surge como estudo mecânico, de forma que as

regras podiam ser estudadas como qualquer outro objeto físico, causando

aproximações e tipologias que favoreceram o comparatismo do século XIX. Convém

mencionar o ilustre William Jones (1746-1794), que “inaugura sem dúvida de uma

forma decisiva a futura linguística comparada quando descobre as correspondências

entre o sâncrito, o persa, o grego, o latim, o gótico e o céltico”, declara Kristeva

(1969, p.246, grifo nosso).

Além desses autores, enfatiza-se Locke (1632-1704), gramático que se

destaca pela teoria do signo ao afirmar que as palavras “são signos das ideias que

também se encontram nos outros homens com quem se fala” (apud KRISTEVA,

1969, p.246). Quanto aos estudos gramaticais de Locke, acrescenta Kristeva (1969,

p.247) que o autor:

supõe a relação arbitrária entre aquilo a que se chamará «referente» e aquilo a que se chamará «significante-significado»: «As palavras significam apenas as ideias particulares dos homens, e isto por uma instituição totalmente arbitrária». (ensaio sobre o entendimento humano, livro III: As palavras). Note-se que, embora Locke considere as palavras como signos e estude a sua diversidade (termos gerais, nomes de ideias simples, nomes de ideias mistas, etc.), não se detém nelas, mas considera o conjunto do discurso como uma construção, e estuda o papel das partículas, por exemplo, para ligarem as ideias entre si, para mostrarem a sua relação, para servirem de signos de uma «acção do espírito». (KRISTEVA, 1969, p.247).

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Essa concepção do funcionamento da linguagem de Locke trouxe grandes

contribuições à gramática, pois conseguiu construir um enfoque sintático da língua.

Convém enfatizar, também, Diderot (1713-1784), que influenciou as obras dos

gramáticos da Enciclopédia. Com base nisso, explicita Chevalier (1968, p.650) que:

A tentativa de formalizar a gramática atribuída aos princípios gerais será o trabalho de muitos gramáticos, escrevendo em um período de intensa atividade intelectual, por volta de 1750, atividade que marcará pela publicação de novos métodos quanto ao ensino do latim, como os de Pluche ou Chompre, e os métodos de funcionamento e Fremy, um dos mais fiéis seguidores de Du Marsais; atividade que, no Plano de teoria, giram em torno da Enciclopédia. [...] E depois da morte de Du Marsais em 1756, [...] sucedem: Douchet e Beauzée. (CHEVALIER, 1968, p.650, trad. nossa).

Em relação aos estudos desses gramáticos, explicita Kristeva (1969, p.262)

que a “ideia dominante é indubitavelmente a da língua natural: cada língua possui

uma ordem natural, ardo naturalis, quando se aproxima dos modelos do

pensamento”.

Kristeva (1969, p.262-263) faz considerações relevantes sobre Du Marsais ao

dizer que:

Du Mursais vai servir-se da admirável síntese do abade Girard que conseguiu juntar Port-Royal aos gramáticos formalistas para destacar uma análise das funções e das formas que as exprimem. [...] A inovação de Girard consiste na introdução de um maior rigor lógico para apreciar o conteúdo do termo complemento e para estabelecer a diferença entre concordância e regime. [...] A gramática ocupa-se «da disposição das palavras no discurso», e a sintaxe vai abordar as leis constantes dessa disposição, sem se fechar nos quadros estreitos da afirmação lógica, mas encarando qualquer enunciado afirmativo ou negativo tal como a enunciação de «certos pontos de vista do espírito». (KRISTEVA, 1969, p.263).

Diante disso, enfatiza-se que a natureza do complemento tornou-se a base da

sintaxe. Isso se deu por meio da distinção identidade/determinação: a primeira

ocorre pela relação do nome e do adjetivo; a segunda, pela relação de determinação

que regula a construção das palavras.

Outros aspectos gramaticais que também merecem ser mencionados são as

abordagens acerca da sintaxe e a da construção apresentados na gramática de

Beauzée. Quanto a isso, explica Chevalier (1968, p.672-673) que:

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Ele irá incluir os elementos do Voux à oração, apresentando os diversos tipos de Proposição: «simples, compostas, complexas e incomplexas», nas proposições aborda as: necessárias e acidentais para explicar os complementos », [..] também trata do atributo. [...] Ele apresenta a diferença entre Sintaxe e construção. A sintaxe preocupa-se com as «relações das palavras na oração, submetendo às relações de concordância a partir do princípio de identidade, e dos princípios de determinação» [...]. Quanto à Construção, ela: investiga os modos das palavras na proposição; a construção pode ser analógica ou inversa: a construção analógica possui modos fixos que devem ser ordenados; são as ordens diretas das palavras que regem a análise da oração. Já a construção inversa ocorre de dois tipos: de um modo geral, que é decorrente da análise da proposição, de um modo particular, que depende somente do uso particular de cada língua. (CHEVALIER, 1968, p.672-673, trad. nossa).

Diante disso, Beauzée, baseado em Voix, trata da sintaxe e da construção.

Por um lado, a sintaxe estuda as diversas partes da proposição. Por outro lado, a

construção preocupa-se com os diversos modos (a ordem) em que as palavras são

colocadas na proposição para torná-la mais clara. Esses modos dependerão das

particularidades de cada língua.

Diante do exposto, é inquestionável a contribuição dos estudos gramaticais

dos séculos XVI, XVII e XVIII ao estudo da sintaxe, especificamente, da gramática

de Port-Royal, a qual partiu da morfologia para a sintaxe, rompendo com análise das

palavras isoladas na proposição, cujas relações nome/verbo passaram para

sujeito/sintaxe. Sem dúvidas, este foi um grande avanço sintático em pleno século

XVII que influenciou os séculos vindouros, sobretudo, o XIX.

2.2.2.2 Sintaxe no século XIX

A palavra linguística “começou a ser utilizada em meados do século XIX para

enfatizar a diferença entre uma abordagem mais inovadora do estudo da língua, que

estava se desenvolvendo na época”, afirma Weedwood (2002, p.9). Além disso, a

Linguística é a área do estudo científico que estuda a língua(gem), tornando-se

abrangente por “incluir todos os tipos de exame dos fenômenos da linguagem,

inclusive os estudos gramaticais tradicionais e a filologia”, diz Weedwood (2002,

p.10).

Diante disso, destaca-se a diferença entre o filólogo e o linguista. O primeiro,

por um lado, se preocupa, especificamente, com o crescimento histórico das línguas,

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pelas manifestações feitas por meio de textos escritos. O linguista, por outro lado,

mesmo que venha a se interessar por textos escritos e pelo desenvolvimento da

língua por meio do tempo, dá prioridade às línguas faladas (oralidade) e estuda seus

problemas em um determinado período de tempo.

É de suma importância salientar que poucas sociedades se preocuparam com

a investigação linguística, embora, as culturas chinesa, mesopotâmica e árabe

tenham se preocupado com a gramática, todavia seus estudos estiveram muito

aprofundados nos seus próprios idiomas, de tal modo que a Europa os desconheceu

durante muito tempo. Destaca-se que os interesses linguísticos dos chineses

elevam-se há mais de 2.000 anos, ressaltando a fonética, a ortografia e a

lexicografia, particularmente, ligados ao estudo da lógica. Nesse sentido, é que a

tradição gramatical não ocidental da Índia torna-se mais original, independente e

relevante, considerada a mais remonta aproximadamente 2.500 anos, baseada na

gramática de Panini, século V a.C, que estudava o sânscrito, língua sagrada da

Índia.

Nessa perspectiva, foram três as formas principais de impacto da língua

sânscrita à ciência linguística moderna: a primeira deu-se pela eclosão incontida da

gramática comparativa indo-europeia, lançando as bases a todo edifício da filologia

comparativa e da linguística histórica do século XIX. A segunda, porque a doutrina

gramatical da Índia não desempenhou papel algum influente, diz Weedwood (2000,

p.14), pois “[...] os estudiosos do século XIX, porém, reconheceram que a tradição

fonética da Índia antiga era amplamente superior ao conhecimento ocidental neste

campo”. Em virtude isso, tiveram, no Ocidente, decorrências relevantes ao

desenvolvimento da ciência fonética, e, por último, existe uma descrição da

gramática sânscrita nas regras (sutras) de Panini.

De acordo com Kristeva (1969, p.271), o fim do século XVIII foi marcante pela

mudança ocorrida na ideologia, tal como na filosofia e nas ciências que serão

desenvolvidas no século XIX, de maneira que, “à descrição dos mecanismos

(incluindo o da língua) e à sistematização dos tipos (incluindo os das diversas

línguas), sucede-se a concepção evolucionista, histórica”. Assim, o historicismo será

a questão essencial do século XIX.

Para entendermos melhor a predominância evolucionista (histórica) na

linguística do século XIX, convém citar Schleicher (botânico e grande admirador de

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Darwin), que publicou, em 1863, a obra “Die darwinische Theorie und die

Sprachwissenschaft e, em 1865, Ueber die Bedeutung der Sprache für die

Natürgeschichte des Menschen”. O admirador das ideias de darwinistas destacou-

se, na história da linguística, pelo seu trabalho ao estudar a evolução das línguas.

Em relação a isso, explica Kristeva (1969, p.291) que Scheleicher:

Propõe uma forma hipotética de uma língua indo-europeia que estaria na origem de todas as outras. As línguas procederiam assim uma das outras segundo uma árvore genealógica; teoria sedutora, que foi geralmente admitida, antes de ser refutada e substituída pela de Johann Schmidt que propôs um outro esquema , o esquema dito das «ondas linguísticas». É neste último esquema que se vai basear na dialectologia indo-europeia. (KRISTEVA, 1969, p.291).

No entanto, Schleicher acreditava de fato que existia a língua indo-europeia

primitiva. Para chegar a essa conclusão, o autor baseou-se nas ideias evolucionistas

de Darwin, demonstrando, assim, que a evolução da linguagem apresentava dois

estágios: 1. ascedente (pré-histórico), que conduz às línguas flexionais, e o 2.

descendente (decadente ou histórico), caracterizado pela desagregação do sistema

flexional. Diante dessas informações, para Schleicher, o sânscrito já não é a primeira

língua, como pensado no início da época comparatista. Este pensamento linguístico

de Schleicher que tratava a língua como organismo fez dele um dos pioneiros da

linguística geral que se sucedeu à linguística histórica. O linguista alemão queria

chamar esta disciplina de Glottik, com o intuito de fundar as leis análogas em leis

biológicas. No entanto, acrescenta Kristeva (1969, p.293) que:

[...] este positivismo, transposto mecanicamente das ciências naturais para a ciência da significação, só podia ser idealista, pois não tinha em conta a especificidade do objecto estudado: a língua como sistema de significação e como produto social. Aliás encontrou imediatamente o seu complemento, aparentemente oposto mas profundamente necessário, o seu correlato ideológico para o domínio do estudo da sociedade, no hegelianismo que se apresenta como consciência histórica da expansão do modo de produção burguês. (KRISTEVA, 1969, p.293).

Diante disso, o final do século XIX teve forte predominância do pensamento

positivista por meio do Cours de philosophie positive (1830-1842), de Auguste

Comte (1789-1857). Nesse período, o desenvolvimento da ciência não contribuiu

com as investigações linguísticas apenas (distanciando-se da gramática filosófica

geral), mas também com o surgimento de uma linguística, verdadeiramente,

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autônoma, baseada na gramática e na filologia. Enfatiza-se, de acordo com Kristeva

(1969, p.295), que “o momento marcante desta mutação do historicismo para

positivismo foi, como o assinalou Meillet, o trabalho dos neogramáticos Brugmann

(1849-1919) e Osthoff (1847-1907)”.

No que se refere à Linguística Histórica, afirmam Mussalim; Bentes (2011,

p.77), que esta “estuda os processos de mudança das Línguas no tempo”. Nesse

sentido, “os estudos históricos, principalmente os desenvolvidos a partir do século

XIX com o latim, o grego e o sânscrito, são tão importantes em linguística, que a

própria disciplina, a Linguística, afirmou-se como ciência a partir deles”.

Convém mencionar que a Linguística começou a ser considerada uma

disciplina diferente dos estudos de linguagem dominantes do século XIX na

perspectiva pós-saussuriana – a filologia comparativa e a histórica –, diz Weedwood

(2002, p.18). Dessa maneira, a Linguística estuda a linguagem em todos os seus

aspectos, sendo assim, a história da linguística deve fazer abordagens passadas do

estudo da linguagem, em quaisquer métodos usados e resultados adquiridos. Vale

lembrar o surgimento de uma nova disciplina – a epistemologia histórica – que

estuda as diferentes maneiras de pensamento que distinguem diferentes povos e

épocas. Essa disciplina tem contribuído bastante para a história da Linguística, uma

vez que historiadores têm dado, cada vez mais, importância ao estudo do passado.

A Linguística iluminava os grandes estudiosos do século XIX, em especial,

Franz Bopp, irmãos Grimm e Max Müller. Desse modo, começou a ser entendida

como ciência, pois seus fatos poderiam ser descritos, analisados e comprovados.

Desde então, foi inquestionável seu imenso crescimento, aprimorada na estrutura de

Saussure, acrescentam Fávero; Molina (2006, p. 17) que o “elemento facilitador

desse rápido caminhar repousa num constante jogo de oposições: é no momento de

crise, de contradição, de clivagem, que se fazem as mudanças”. Por isso, “o

comparativismo surgiu em oposição às teorias especulativas; o estruturalismo, ao

comparativismo; a gerativo-transformacional, ao estruturalismo; e contra os estudos

circunscritos no limite da frase vieram as teorias do texto”.

É necessário destacar que a Linguística e a História têm caminhos paralelos,

porém Fávero; Molina (2006, p.18) esclarecem o fato “de a História sempre ter se

valido da linguagem para registrar suas mudanças e desenvolvimentos”, todavia

acrescentam que “os estudos da linguagem até o século XIX pouco se serviram da

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História”. Dessa maneira, com o surgimento dos estudos histórico-comparativos, em

pleno século XIX, a Linguística começou a ser compreendida como ciência. Com

base nisso, de um modo geral, considera-se o método comparativo um efeito de

suma importância, afirma Weedwood (2002, p.103) que:

[...] resultou num conjunto de princípios pelos quais as línguas poderiam ser sistematicamente comparadas no tocante a seus sistemas fonéticos, estrutura gramatical e vocabulário, de modo a demonstrar que eram “genealogicamente” aparentadas. (WEEDWOOD, 2002, p. 103).

Nessa perspectiva, genealogicamente, o italiano, o francês, o português se

originaram do latim, de tal forma o latim, o sânscrito, o grego e as outras línguas

célticas, eslavas e várias outras da Ásia e da Europa – conhecidas como indo-

europeu ou protoindo-europeu – se originaram de alguma língua mais antiga ainda.

Consequentemente, a genealogia linguística indo-européia foi apresentada, pela

primeira vez, pelos filólogos comparativistas no século XIX.

Com base nisso, de acordo com Mussalim; Bentes (2011, p.80), é ressaltada

a relevância dos “estudos comparativos com as línguas indo-européias, nos séculos

XVIII e XIX”. Em vista disso, contribuíram de forma fundamental “para o nascimento

e progresso da lingüística Histórica e para o próprio estabelecimento da Lingüística

como ciência”.

Segundo Weewood (2002, pp. 107-108), faz-se necessário mencionar o

erudito e diplomata alemão Wilhelm Von Humboldt (1767-1835), um dos linguísticas

que mais marcou todo o século XIX. Ressalta-se que seus interesses linguísticos

não eram, especificamente, históricos, baseado no filósofo alemão Johann Gottfried

(1744-1803), tornando-se contrário da grande parte de seus contemporâneos.

Diante disso, Von Humboldt deu ênfase aos estudos ligados às línguas

nacionais – característica normal do movimento romântico –. Destacou-se pela

teoria Humboldt da forma externa e interna. A primeira está relacionada aos sons

(matéria bruta), em que as diversificadas línguas são moldadas. A segunda é que

diferencia uma língua da outra por meio da estrutura de gramática, que era atribuída

sobre os sons. Essa abordagem da estrutura da língua prevaleceu, em meados do

século XIX, nos estudos linguísticos, e, mais que isso, a diferença da forma interna e

externa pode ser percebida em Ferdinand Saussure (1857-1913). Porquanto, essa

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concepção só foi entendida no século XX, por meio do linguista americano Noam

Chomsky, como noções básicas da gramática gerativa.

No século XIX, houve mudanças na fonética, sintática e semântica, dessas,

interessa-nos a sintaxe, em que propiciamos a nossa pesquisa. A língua pode

perder uma distinção gramatical em sua forma verbal, apresentando o presente e o

passado do modo subjuntivo, explica Weedwood (2002, p. 113):

[...] no português popular do Brasil, o presente do indicativo substituindo o subjuntivo (“você quer que eu faço isso?”), ao passo que em Portugal o futuro do pretérito é muitas vezes expresso pelo imperfeito do indicativo (“eu gostava de morar aqui”, no lugar de gostaria), fenômeno que também acontece no Brasil (“se eu tivesse dinheiro, comprava um carro novo”)”. (WEEDWOOD, 2002, p. 113).

Desse modo o que era apresentado por meio de um elemento gramatical

pode ser apresentado por outro. Já nas línguas indo-europeias mais antigas, a

função sintática dos nomes e dos sintagmas nominais em uma oração ocorria,

particularmente, por meio das terminações de caso, assim como a antiga forma

latina: ROSA, ROSAM, ROSAE, ROSIS, ROSARUM...). Essas funções sintáticas

são mostradas, na maioria das modernas línguas indo-europeias, por meio da ordem

das palavras na frase e pelo uso de preposições (Por exemplo: ROSA vem do latim

ROSAE).

Diante do exposto, grande parte das várias modificações sintáticas é imposta

na ação da analogia. Sobre a analogia, conceitua Crystal (2008, p.27):

Termo usado em LINGÜÍSTICA HISTÓRICA e COMPARADA e em AQUISIÇÃO da linguagem com referência a um processo de regularização que afeta as formas excepcionais da GRAMÁTICA de uma língua. As formas verbais irregulares do português, por exemplo, são tratadas, nos primeiros ENUNCIADOS infantis, com base nos paradigmas da conjunção verbal regular, como eu fazi, ele cabeu: as crianças produzem tais formas “em analogia com” os padrões regulares. [...] Os processos de “criação analógica” constituem uma das principais tendências da história das línguas, como foi o caso dos VERBOS que tinham passado irregular no inglês antigo e vieram a se tornar regulares modernamente (Ex.: help – helped). (CRYSTAL, 2008, p.27).

Assim, quando Weedwood (2002, pp.113-114) discorre das modificações

sintáticas baseadas na ação da analogia, a autora diz que são transformações

sintáticas que aconteceram em uma língua, deixando sua estrutura profunda sem

nenhuma alteração e destinando-se a mudar os modos (seja, morfologicamente,

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pela frase, preposição, verbos auxiliares, dentre outros), sem modificar as próprias

funções e distinções.

2.3 Século XX: aspectos educacionais, políticos e linguísticos no Brasil

2.3.1 Aspectos educacionais e políticos

Refletir acerca da sintaxe da Língua Portuguesa na segunda metade do

século XX leva-nos a considerar os fatores políticos, educacionais e filosóficos que

influenciaram bastante o ensino de Língua Portuguesa desse período.

Conforme Ribeiro (2000, pp.197-198), na passagem do século XIX para o

século XX, encontramos o fenômeno de urbanização, que se dá no final do século

XIX, formando, assim, uma nação “para assumir as responsabilidades dos aspectos

internos das atividades de comercialização das mercadorias produzidas para o

mercado externo”. Nesse sentido, a partir das primeiras décadas do século XX,

começa-se a desenvolver, também, uma sociedade com “base industrial, para

substituir as importações de produtos simples a serem comercializados

internamente”.

Esse processo de urbanização que teve início no final do século XIX foi muito

pertinente à nação brasileira, porque trouxe transformações econômicas que

provocaram “o aparecimento de “novas” forças sociais, como a fração “moderna” da

classe dominante proprietária de terra – os “barões do café” – também chamada de

burguesia agrária e urbana”, como também “a ampliação e a diversificação dos

setores médios”, esclarece Ribeiro (2000, p.198). Diante disso, essas “novas” forças

causaram mudanças à política, de tal modo que houve alteração do regime

monárquico de governo, para o republicano. Nesse sentindo, o crescimento

econômico do país – que teve grande contribuição por meio da urbanização, cujos

trabalhadores mudaram de categoria rural para urbana –, influenciou, também, a

questão educacional, defendo, assim, um ideário de exercício, de modo que a

alfabetização e a escolarização regular passaram a ser dever do estado.

Quanto ao ensino, acrescentam Palma; Turazza (2014, p.122) que:

Em 1942, o ministro Gustavo Capanema reformou o ensino através da promulgação de decretos-Leis – Leis Orgânicas do Ensino. A composição

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do ensino passou a ser: cinco anos de Curso Primário, quatro de Curso Ginásio e três de Colegial, este último podendo ser na modalidade clássico ou científico. O Ensino Colegial perdeu o seu caráter propedêutico, de preparatório para o Ensino Superior e passou a preocupar-se mais com a formação geral. (PALMA; TURAZZA, 2014, p.122).

Em virtude disso, segundo Piletti (1997, p.52), foi implantada a Lei Orgânica

do Ensino Industrial, como também o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

(SENAI). Dessa maneira, de acordo com Palma; Turazza (2014, pp.122-123), a

Portaria Ministerial de 11 de Junho de 1942 abordou os Programas do Ensino

Secundário, visando, assim, “as finalidades e os objetivos de cada série e os

conteúdos do ensino de gramática, leitura, exercícios e livros”. As leis aprovadas

eram centradas na capital (Rio de Janeiro), pela Portaria n.º 966, de 2 de outubro de

1951, de tal modo que os programas dos cursos Ginasial e Colegial, feitos pela

Congregação do Colégio Pedro II, “expedindo os planos mínimos de

desenvolvimento do Ensino Secundário e respectivas instruções metodológicas”.

É nesse período de pressões políticas e sociais que acontecem mudanças

significativas na educação brasileira. Assim, afirmam Henriques; Simões (2005,

p.130) que, a partir de 1964, poucos recursos eram oferecidos à pesquisa. Além

disso, era um período de mudanças nas escolas, uma vez que se iniciava o

processo de democratização, possibilitando o ensino às classes mais pobres. Com

efeito, a escola precisava atender a variante popular, tendo, dessa maneira, outra

forma de ensino gramatical, pois a gramática normativa já não atendia mais o novo

público. Surgia, então, a preocupação dos pesquisadores para com os “problemas

pedalingüísticos”, com o intuito de solucioná-los, fosse “voltada para o

funcionamento sincrônico e descritivo da modalidade oral da língua”, fosse “voltada

para a teoria da gramática gerativa que se apresentava como revoluncionária”, ou

“para a lingüística aplicada buscando uma “ponte” entre a teoria lingüística e sua

aplicação no ensino de língua”.

Considerando as alterações ocorridas na educação, é preciso destacar que,

em 1961 apenas, a palavra “currículo” surge em documentos oficiais (Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 4024/61). Diante disso, explicitam

Henriques; Simões (2005, p.130) que o “artigo 64 prevê a possibilidade de escolas

organizadas com modelo pedagógico diferente do estabelecido pela própria

legislação”. Lamentavelmente, estes resultados não atingiram as expectativas da

educação que, por volta de 1934, deveria ser para todos, diz Piletti (1997, p.211)

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que continua analfabetos 25, 94% da população (com a idade de 15 anos ou mais).

Como forma de solucionar o problema, o governo propunha outra reforma, criando

em 1996, sem que haja discussão na sociedade, a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB) – Lei 5692/71) – tendo como objetivos a realização do

ensino de 1º e 2º graus, como também a preparação para trabalho e para o

exercício consciente da cidadania. Em relação à LDB, esclarecem Cavalcanti;

Bortoni-Ricardo (2007, p.240) que:

[...] aprovada em 1996, estabeleceu que o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, que hoje em dia vem sendo ampliado de 8 para 9 anos nos sistemas estaduais de ensino, visa a desenvolver a capacidade de aprender por meio do pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo, o que significa introduzir o educando na cultura de letramento, à qual têm acesso, historicamente, parcelas restritas da população brasileira. (CAVALCANTI; BORTONI-RICARDO, 2007, p.240).

Nesse sentido, segundo Cavalcanti; Bortoni-Ricardo (2007, p.240), convém

salientar a tabela de analfabetismo no ano de 1998:

TABELA2

Diante da tabela, percebe-se que caiu muito a taxa de analfabetismo de 15

anos ou mais da década de 1930 à década de 1990.

De acordo com Henriques; Simões (2005, p.130), na década de 1970 e nos

primeiros anos da de 1980, houve uma lacuna em relação ao ensino de gramática,

isso por causa da LDB (particularmente dos dois momentos ocorridos em 1961 e em

1934, como mostrado anteriormente), de todo o processo histórico, das novas

ideologias do governo militar, bem como da questão linguística, fator fundamental

2 Fonte: IBGE – PNAD’s (Cf. CAVALCANTI; BORTONI-RICARDO, 2007, p.240).

Ano Faixa etária de anos

15

a

19

20

a

24

25

a

29

30 a

39

40 a

49

50 ou mais

4,8 6,2 7,7 10,1 14,0 29,8

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para que houvesse mudança no ensino de Língua Portuguesa. Nesse sentido, a

língua começou a ser um instrumento ao desenvolvimento social, sendo sua

denominação mudada para “Comunicação e Expressão nas séries iniciais do 1º

grau, Comunicação em Língua Portuguesa, nas séries finais do 1º grau”, afirma

Soares (apud Henriques; Simões, 2005, p.131). Salienta-se, também, a influência

dos meios eletrônicos de comunicação ao ensino da língua, sobretudo, do hiato, em

que o ensino de gramática é reduzido, privilegiando, assim, o texto das práticas

sociais, o texto não-verbal e a linguagem oral. Em relação à década de 1970,

acrescenta Valente (2007, p.60) que esse período:

[...] promoveu a chamada democratização do ensino público nacional, cujas condições de aprendizagem se mostraram quase que assustadoras para os docentes. Desde a ignorância das regras básicas de trato social até uma prática linguageira muito distante do uso dito culto, caracterizam a nova clientela. A formação complexa do alunado tornou-se um problema na prática didática, pois os oriundos da antiga classe média (que dominava o uso culto da língua e tinha acesso à leitura) permaneceram e tinham de dividir o espaço escolar com as classes populares. (VALENTE, 2007, p.60).

Diante disso, faz-se necessário destacar que uma escola, mesmo treinada

para trabalhar com a norma culta da língua, não sabia como lidar com a variação

dialetal do grande número de alunos na escola pública. Nessa perspectiva, a década

de 80 foi o período em que se abriu espaço para a democratização, de tal modo que

a sociedade espera discutir sobre diversos setores sociais, especificamente, a

educação. Quanto ao ensino de Língua Portuguesa, as pesquisas linguísticas

começam a repercutir na disciplina, prevalecendo, dessa maneira, os estudos de

descrição da língua portuguesa – a Sociolinguística –, que mostrou as diferentes

variantes linguísticas. Como consequência disso, os estudos de Descrição da língua

Portuguesa trouxeram novas concepções de gramática confrontando à prescrição,

além disso, a Linguística textual tratou da necessidade de abranger o estudo de

gramática do texto, afirmam Henriques; Simões (2005, pp.131-132).

2.3.2 Aspectos linguísticos

A Linguística do século XX focou a relação entre linguagem e sociedade, de

tal maneira que teve um papel decisivo, uma vez que ambas estão entrelaçadas.

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Diante disso, as linguagem e sociedade não podem ser desconsideradas reflexões

acerca do fenômeno linguístico.

Segundo Mussalim; Bentes (2011, p.23), a relação linguagem-sociedade

encarrega-se “de excluir toda consideração de natureza social, histórica e cultural na

observação, descrição, análise e interpretação do fenômeno linguístico”, referindo-se

“à constituição da tradição estruturalista, iniciada por Saussure em seu Curso de

Lingüística geral, em 1916, quem define a língua, por oposição à fala, como objeto

central da Lingüística”.

Ao conceituar a língua, Saussure3 (2012, p.41) afirma que:

[...] não se confunde com a linguagem; é somente uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade de indivíduos. (SAUSSURE, 2012, p.41).

É necessário perceber que, para Saussure, a língua é um produto social, que

é adotado pelos indivíduos no convívio social. Por conseguinte, não se pode

confundi-la com a linguagem. Por um lado, esta é a faculdade, dada pela natureza,

que possibilita ao homem constituir uma língua e, por outro lado, a língua é um

produto social da faculdade da linguagem.

Convém enfatizar que Saussure (2012, pp.55-56) destaca o aspecto formal e

estrutural do fenômeno linguístico, mesmo reconhecendo que há relações entre a

língua e a história política. De acordo com ele, “o estudo dos fenômenos linguísticos

é muito frutuoso; mas é falso dizer que, sem eles, não seria possível conhecer o

organismo linguístico interno”. Desse modo, o autor privilegia a linguística interna,

uma vez que, com esta:

[...] as coisas se passam de modo diferente: ela não admite uma disposição qualquer; a língua é um sistema que conhece somente sua ordem própria. Uma comparação com o jogo xadrez fará compreendê-lo melhor. Nesse jogo, é relativamente fácil distinguir o externo do interno; o fato de ele ter passado da Pérsia para a Europa é de ordem externa, interno, ao contrário, é tudo quanto concerne ao sistema e às regras. (SAUSSURE, 2012, pp.55-56).

3 A 1ª edição deu-se em 1916, mas a utilizada por nós foi a 28ª edição, de 2012.

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Por meio do jogo de xadrez de Saussure, são apresentadas, de modo claro,

as diferenças entre a linguística interna e externa. Foi essa dicotomia que dividiu o

campo dos estudos linguísticos atuais, “em que orientações formais se opõem a

orientações contextuais, sendo que estas últimas estão fragmentadas sob o rótulo

das muitas interdisciplinas: Sociolingüística, Etnolingüística, Psicolingüística etc”,

explicitam Mussalim; Bentes (2011, p. 24).

Vale ressaltar, segundo Maingueneau (1997, p.48), que, na concepção

estruturalista da linguagem, cujo representante mais forte é Saussure, a língua é

vista como um sistema que precisa preservar a identidade de suas unidades, tendo

como principal função comunicar informações do modo mais reduzido.

Salienta-se a língua como sistema de signos, abordada por Saussure (2012,

p.107). O signo linguístico é definido como uma unidade psíquica de duas faces: o

significante (imagem acústica) e o significado (conceito).

O linguista abordou a diferença entre linguística sincrônica e diacrônica no

seu Curso, e sustentou que “a linguística sincrônica devia lidar com a estrutura do

sistema de uma língua num ponto específico”; enquanto isso, “a linguística

diacrônica devia se preocupar com o desenvolvimento histórico de elementos

isolados – devia ser atomística”, esclarece Weedwood (2002, p.128). Com efeito,

essa teoria foi rejeitada por muitos estudiosos que começaram a empregar o estudo

diacrônico das línguas ao estruturalismo.

Saussure (2012, pp.171-172) criou, também, a palavra sintagma que:

[...] se compõe sempre de duas ou mais unidades” consecutivas (por exemplo: re-ler, contra todos; a vida humana; Deus é bom; se fizer bom tempo, sairemos etc.). Colocado num sintagma, um termo só adquire seu valor porque se opõe ao que precede ou ao que o segue, ou a ambos. (SAUSSURE, 2012, pp.171-172).

Sendo assim, entende-se por sintagma o conjunto de palavras; as unidades

complexas.

Diante das teorias de Saussure, Maingueneau (1997, p.50) assevera que o

estruturalismo linguístico sofreu muitas críticas por ter definido a língua como

sistema de diferenças entre signos, uma vez que “reduziu a diversidade das

propriedades das línguas naturais e, na ausência de uma teoria da frase, não foi

capaz de elaborar uma verdadeira sintaxe”, pois, a língua estudada por si mesma,

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não levando em conta qualquer outra consideração além das relações entre

unidades, é excluir do campo da linguística o sujeito da enunciação e do contexto.

Diante disso, era preciso “abster-se de tratar um grande número de fenômenos

linguísticos que se destacavam presentemente no domínio da enunciação e, mais

amplamente, da pragmática”. Foi, especificamente, a teoria generativa do linguista

americano Chomsky que trouxe uma nova concepção da linguística, tendo em vista

ultrapassar os limites do estruturalismo.

Na teoria generativa de Chomsky (1957), a dicotomia língua/fala de Saussure

foi substituída pela competência/performance de Chomsky. Segundo Kristeva (1969,

p.353-354), a teoria do linguista americano foi apresentada por meio do seu livro

Syntactic Strutures que revolucionou a linguística do século XX, propondo uma

abordagem original da geração das estruturas sintáticas. Como prova disso,

Chomsky propõe, no lugar do enfoque analítico das estruturas, uma descrição

sintética que “já não se trata de decompor a frase em componentes imediatos, mas

de seguir o processo de síntese que leva esses componentes a uma estrutura

sintagmática, ou que transforma essa estrutura numa outra”.

Nesse contexto, conforme Weewood (2002, p.144), vale esclarecer que

muitos linguistas da segunda metade do século XX rejeitaram a estrutura abstrata da

língua tratada por Saussure (por usar a langue) e por Chomsky (por usar a

competência), uma vez que, para estes, o objeto da linguística é determinado como

elemento abstrato, universalista, sistêmico, formal. Como consequência disso, os

críticos se dedicaram à perspectiva funcionalista e às questões pragmáticas do uso

dos falantes da língua, utilizando-a como uma atividade social ligada aos aspectos

ideológicos.

O estruturalismo linguístico, conforme Maingueneau (1997, p.50), sofreu

diversas críticas. Dentre elas, por ter definido a língua como sistema de diferenças

entre signos que, na falta de uma teoria de frase, não conseguiu criar uma sintaxe

verdadeira. Assim, estudar a língua em si mesma, sem levar em conta os outros

aspectos, além das relações entre as unidades, significa eliminar o sujeito da

enunciação e o contexto do campo linguístico. Diante disso, surge um campo mais

abrangente: o da pragmática.

Sobre a pragmática, conceitua Maingueneau (1997, p.56) que “diz respeito ao

conjunto das ciências humanas. Mais do que uma doutrina, ela define-se por uma

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certa maneira de aprender a comunicação verbal, ou mesmo a comunicação”. Além

disso, o autor apresenta, em matéria de reflexão sobre a linguagem, as diversas

correntes, destacando as principais, a saber: a) as problemáticas da enunciação; b)

a teoria dos atos da linguagem; c) o implícito; d) a argumentação da linguística.

Nesse sentindo, há, também, as correntes interacionistas, ligadas às questões

pragmáticas, que são: a) a interação verbal; b) o verbal e o não-verbal; c) a

dimensão psicossocióloga.

Dessa forma, ligada, na maioria das vezes, às correntes interacionistas,

surgiu a análise do discurso (AD) nos finais dos anos 60. Por se tratar de um campo

ativo, com inúmeras problemáticas, a AD é alvo de muitas discussões até hoje.

Partindo dessa perspectiva, vale ressaltar, de acordo com Mussalim; Bentes

(2011, p.166), que, nos de 1970, predominava o “padrão” da Gramática

Transformacional, em que não se abordava a sintaxe de uma língua “fora de seus

parâmetros de investigação, ainda que para muitos pesquisadores chamava a

atenção o enfoque excessivamente formalista dessa tendência. Como resultado, a

desvalorização da teoria gerativa por aspectos discursivos foi, aos poucos,

provocando diversas tendências, como: a Sociolinguística, a Linguística Textual, a

Análise do Discurso, a Análise da Conversação, a Semântica, a Psicolinguística,

dentre outras. Com efeito, todas essas disciplinas são alvos de grandes estudos

revolucionários a serem desenvolvidos no futuro.

Além dessas disciplinas, a teoria funcionalista é, também, uma das

tendências da desvalorização da teoria gerativa, mas, ao contrário das outras, não é

tão atual assim, uma vez que o enfoque funcional é uma ostentação do enfoque

formal de Saussure (estruturalismo). Segundo Mussalim; Bentes (2011, pp.166-167),

o funcionalismo pode ser visto, também, na Escola Linguística de Praga desde o seu

início nos anos 20 até hoje, tendo Roman Jakobson, como principal pesquisador

desse período e pioneiro da teoria funcionalista, que ampliou o entendimento de

função da linguagem (limitada à teoria estruturalista apenas) a outras que

consideram “os participantes da interação, como a emotiva, a conativa e a fática, e

outros fatores da comunicação, como a mensagem (função poética) e o próprio

código (função metalinguística)”.

Além dos linguistas apresentados, não poderíamos deixar de citar o russo

Mikhail Bakhtin (1895-1975). Segundo Weedwood (2002, p.148-149), Bakhtin teve

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muitas obras publicadas em nome de amigos devido a questões políticas, dentre

essas obras, o livro Marxismo e filosofia da linguagem, que foi publicado na Rússia,

em 1929, com o nome de V. Voloshinov; tendo sua obra desconhecida pelos

estudiosos ocidentais durante muitas décadas. Por conseguinte, apareceram as

primeiras traduções europeias na década de 1970, desde então, as teorias de

Bakhtin são conhecidas até os dias de hoje e seu reconhecimento é inquestionável.

Dentre uma de suas principais contribuições ao conhecimento linguístico moderno,

destaca-se a sua crítica às duas grandes concepções de língua e linguagem, de tal

modo que sempre dominaram os estudos filológicos, gramaticais e linguísticos

desde o seu período. Tais concepções se relacionam com o que chamamos, hoje,

de tendências universal e particular do enfoque dos fenômenos linguísticos.

Bakhtin, assim como os outros linguistas, teve forte influência ao campo da

Linguística. O estudioso russo criticou a concepção da língua como um sistema

homogêneo e, ao contrário disso, aplicou um entendimento mais complexo da língua

que não seja capaz de desconsiderar os fatores do enunciado linguístico, de modo

que o pesquisador não se limite às partes tradicionais da gramática: fonologia,

morfologia, sintaxe e semântica.

Terminados, por fim, os aspectos educacionais, políticos e linguísticos,

faremos a análise das obras de Brandão e Kury, pois a nossa pesquisa está voltada

à compreensão do ensino de Língua Portuguesa do final do século XIX, sobretudo, à

sintaxe, tomando como corpus a obra Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza,

de Thomas da Silva Brandão (1888). Assim sendo, para a adequação, utilizaremos a

obra de estudo Novas lições de análise sintática, de Adriano da Gama Kury (1999),

a fim de contribuir para o ensino de Língua Portuguesa no Brasil.

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3. ANÁLISE DAS OBRAS

Este capítulo apresenta o estudo da sintaxe da Língua Portuguesa,

especificamente, da Função do Advérbio, nos finais dos séculos XIX e XX, a partir

da obra de estudo Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza4, de Thomaz da

Silva Brandão, publicada em 1888, e da obra Novas Lições de Análise Sintática 5, de

Adriano da Gama Kury (1999). Esta pesquisa mostra a relevância e as influências

das presentes obras ao ensino de sintaxe da Língua Portuguesa no Brasil.

Convém ressaltar que enfatizamos dois dos princípios de Koerner (1996)

neste capítulo, o da Imanência, que implica o estudo da obra por si mesma,

estabelecendo um entendimento histórico, crítico e filológico. Privilegiamos, também,

o princípio da Adequação, que fará aproximações modernas do vocabulário técnico

da obra em estudo, tomando como parâmetro a obra Novas Lições de Análise

Sintática, publicada em 1999, de Adriano da Gama Kury.

Dessa maneira, consideramos quatro aspectos para a análise das obras, a

saber: o primeiro aborda o Prefácio; o segundo, as concepções de Língua,

Linguagem e Gramática; o terceiro, a Organização da Obra e, o quarto, a Função

do Advérbio.

Assim sendo, apresentaremos a análise da obra de estudo da Gramática

Syntaxe e Construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz da Silva Brandão (1888).

3.1 Syntaxe e Construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz da Silva Brandão

(1888)

A obra de estudo Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz

da Silva Brandão, foi publicada pela editora Typ. De Antonio José Gomes Brandão

em 1888, e contém 319 páginas.

Além da obra Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza (1888), Brandão

publicou outras, tais como:

4 (Cf. ANEXO 1, p.113).

5 (Cf. ANEXO 12, p.124).

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1. Em 1889, a Revista escolar, anno I, nº. 3 e 4.

2. Em 1896, a Revista da Faculdade Livre de Direito do Estado de Minas

Gerais, pela editora Typographya do Fórum Ouro Preto.

3. Em 1932, Marília de Dirceu, pela editora Typographya Guimarães, Belo

Horizonte.

Convém ressaltar que, no Brasil, a ortografia do século XIX era mista, pois

não existia uma ortografia oficial nesse período. Sendo assim, Nogueira (2005,

p.121) explica que era notável “a propagação de ortografias pessoais,

idiossincráticas, que resultaram no denominado sistema usual, de caráter habitual”,

além disso, a autora acrescenta que “essa grafia predominava tanto nas publicações

oficiais e na imprensa, quanto nas páginas dos compêndios em geral”, contribuindo,

assim, para “um período de grafia mista com predominância da vertente

etimológica”, esclarece Cavaliere (2000, p.197). Diante disso, a obra Syntaxe e

construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz da Silva Brandão (1888), apresenta

uma ortografia mista, pelo fato de não existir, naquela época, uma oficialização da

escrita, por isso, ora a palavra é escrita com uma letra, ora com outra, como

mostram os exemplos:

(BRANDÃO, 1888, p.102).

(BRANDÃO, 1888, p.109).

(BRANDÃO, 1888, p.84).

(BRANDÃO, 1888, p.89).

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Assim, temos a palavra Brasil ora escrita com s, ora escrita com z, e a palavra

época escrita, às vezes, com h, outras vezes, sem h. Esses são, apenas, alguns dos

vários exemplos da obra de Brandão (1888) que comprovam a predominância da

ortografia mista nas obras do século XIX.

3.1.1 Primeiro aspecto: Prefácio

O autor apresenta a Advertência e a Introdução em sua obra. Dessa maneira,

a obra Syntaxe e Construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz da Silva Brandão,

apresenta, na Advertencia, a constatação da necessidade de estudos acerca da

sintaxe da Língua Portuguesa, diz Brandão (1888, p.VI):

(BRANDÃO, 1888, p.VI).

Com base nisso, a obra de estudo de Brandão (1888) torna-se relevante uma

vez que pretende preecher a lacuna do ensino de Língua Portuguesa no Brasil, que

foi abandonado pelos estudiosos da época.

A obra Syntaxe e Construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz da Silva

Brandão (1888), inicia a Introducção abordando a syntaxe e construcção, dois

aspectos necessários à análise da expressão culta da língua. Desse modo,

esclarece Brandão (1888, p. VII):

(BRANDÃO, 1888, p.VII).

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Diante disso, o autor considera a sintaxe e a construção relevantes ao seu

trabalho, tendo em vista que essas duas divisões serão necessárias para o

entendimento gramatical. Além disso, Brandão (1888), também, acrescenta que

adotará outros assuntos que achar necessários.

Quanto à sintaxe, explica Brandão (1888, p. VII) que:

(BRANDÃO, 1888, p.VII).

É preciso salientar que o autor conceitua período como carateres diferentes

na formação das proposições. Por isso, estas tornaram-se estudo da sintaxe,

classificando-as de acordo com a função que exercem quanto ao modo de expressar

os pensamentos.

Em relação à construção, Brandão (1888, p. VII) afirma:

(BRANDÃO, 1888, p.VII).

Nesse sentido, a construção, por um lado, se importa com o sentido das

palavras na proposição, enquanto a sintaxe, por outro lado, se preocupa com o

papel que cada uma exerce na proposição.

Quanto à sintaxe, complementa Brandão (1888, p.VII) que ela é “de regencia

ou de concordancia”, isso é determinado por meio da relação em que as palavras

têm entre si. Sendo assim, a sintaxe de regência ensina a agrupar corretamente os

complementos exigidos nas palavras pelo sentido e a empregar as preposições que

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devem ligar os complementos aos antecedentes, de acordo com as relações que as

preposições exprimem. Além disso, a sintaxe de concordância ensina a formar a

concordância de gênero e número dos substantivos com as desinências dos

adjetivos e pronomes, assim como ajustar as flexões dos verbos ao número e

pessoa dos seus sujeitos.

É pertinente enfatizar que Brandão (1888, p.VIII) faz uso da sintaxe regular e

irregular, porque a proposição podia expressar ou ocultar todas as suas partes. A

sintaxe regular é quando a regência e a concordância se fazem sem ser necessário

subentender as palavras. A sintaxe irregular ou figurada, ao contrário, acontece

mentalmente.

No último parágrafo da Introducção, Brandão (1888, p.VIII) critica os autores

modernos por não fazerem uso da sintaxe figurada, pertencente à teoria do estilo.

Dessa maneira, Brandão, a considera relevante ao seu estudo, em virtude de não

tratar, apenas, da locução correta, mas também, da ornada, uma vez que esse

conhecimento é fundamental à análise da linguagem. Porquanto, terminada a

análise do primeiro aspecto, apresentaremos o segundo aspecto: Língua,

Linguagem e Gramática.

3.1.2 Segundo aspecto: Concepções de Língua, Linguagem e Gramática

Brandão apresenta, na advertência de sua obra, a necessidade de se

preencher a lacuna existente no estudo da língua pátria, partindo das regras da

sintaxe e da construção. Dessa maneira, o autor valoriza a língua pátria em seus

estudos, tendo em vista que “para a expressão correcta e analyse do pensamento

têm todas as línguas cultas uma syntaxe e construcção”, afirma Brandão (1888,

p.VII).

Ao conceituar o aspecto da construção, explicita Brandão (1888, p.VII) que “a

contrucção investiga os diversos modos de collocar as palavras, determinados pela

indole da lingua, e os vários meios de tornar a phrase clara, harmonica e concisa”.

Diante disso, o autor esclarece que, na construção, os diversos modos de colocar a

palavra serão determinados pela índole (tendência) particular de cada língua que se

divide em construção direta, inversa e interpolada. Dessa forma, afirma Brandão

(1888, p.225-226) que, na francesa, predomina a direta; na portuguesa, a inversa,

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na latina, a interpolada, e, em uma mesma língua, deve ocorrer uma das três

formas, de acordo com o estilo trabalhado, o assunto abordado, bem como o jeito de

escrever de cada autor.

No apêndice, o autor começa tratando das virtudes das palavras, que são

três: propriedade, conveniência e pureza. Destas, interessa-nos a pureza, pois

Brandão (1888, p.284) diz que “chamam-se puras as palavras da propria lingua,

auctorisadas pelo uso dos que bem falam, e empregadas em accepção vernácula”.

Nesta citação, ocorre a valorização da língua pátria, que teve forte influência nas

gramáticas do século XIX.

Sobre os conceitos de língua, convém enfatizar que Brandão (1888) dá

ênfase à língua escrita apenas. Fator este que predominava nos estudos da época,

pois a ênfase à língua oral deu-se a partir do século XX.

Quanto à linguagem, esta é apresentada, pela primeira vez, quando o autor

apresenta a parte figurada na Introdução de sua obra, explica Brandão (1888, p.VIII)

que:

(BRANDÃO, 1888, p. VIII).

Consequentemente, esta ideia é ressaltada quando Brandão (1888, p.308)

discorre sobre as figuras de palavras no apêndice de sua obra. É importante

destacar que o autor opta por não chamar “figuras de linguagem”, mas ao conceituar

a prosopopeia, ele faz uso do termo “linguagem”, como é mostrado no exemplo

abaixo:

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(BRANDÃO, 1888, p. 308).

Nesse contexto, a linguagem também é citada pelo autor ao discorrer da

construção interpolada entre a proposição apositiva e seu antecedente, dentre os

vários exemplos das interpolações, exemplifica Brandão (1888, p.244) que costuma

usá-las para:

(BRANDÃO, 1888, p. VIII).

Neste caso, a linguagem está relacionada à capacidade da pessoa expressar

o seu sentimento, que pode ser demonstrado por meio de imagens, que estão nos

pensamentos, para serem exprimidas com o calor da paixão.

Ora, diante das considerações do autor, percebemos, mais uma vez, a

linguagem tratada como expressão de sentimento. Sendo assim, para Brandão

(1888), a linguagem é capacidade natural que os indivíduos têm para transmitirem

suas emoções, pensamentos.

Além dessas considerações acerca da linguagem, o autor apresenta também

os vícios de linguagem, esclarece Brandão (1888, p.309) que:

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(BRANDÃO, 1888, p309).

Esta explicação não se distancia das outras mostradas pelo autor, uma vez

que entende como linguagem a forma natural de os indivíduos se expressarem. Os

vícios de linguagem comprovam a forma espontânea (sem pensar) de comunicação.

Quanto ao aspecto da gramática, convém salientar que a obra de Brandão

(1888) não é uma gramática, mas uma obra de estudo gramatical. Dessa maneira,

Brandão (1888, p.VII) afirma que:

(BRANDÃO, 1888, p.VII).

Desse modo, a sua obra é dividida em duas partes: Sintaxe e Construção. A

primeira, por um lado, estuda as muitas partes que formam a proposição, a função

que cada uma exerce dentro da oração, como também as suas relações de

dependência e concordância, podendo, assim, constituir “um todo” chamado de

período. A segunda, por outro lado, preocupa-se em investigar as diversas maneiras

de as palavras serem colocadas com o intuito de tornarem as palavras mais claras e

harmônicas, mas isso dependerá das particularidades de cada língua.

Quanto à divisão de sua obra, Brandão (1888, p.VIII) afirma que:

(BRANDÃO, 1888, p.VIII).

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Desse modo, o autor inclui a sintaxe na parte figurada, uma vez que a

considera indispensável à análise da linguagem. Isso acontece pelo fato de que a

figura preocupa-se com o adorno da frase.

A segunda parte do apêndice que trata das virtudes e das suas diversas

espécies merece destaque, porque, ao conceituar diversas palavras, o autor faz uso

do termo “espécie”, como afirma Brandão (1888, p.293):

(BRANDÃO, 1888, p.293).

Além dessa afirmação, Brandão (1888, p.303) declara que “há diversas

especies de synedoche”, que é o “tropo que dá a entender mais ou menos do que as

palavras significam no seu sentido próprio”. Assim, nestas e em muitas outras

ocasiões, é apresentada a palavra “espécie”. Fato este relevante, uma vez que as

gramáticas do século XIX tiveram forte influência do Positivismo, particularmente,

das ideias darwinistas sobre diversos gramáticos da época. Destes, salienta-se

Ribeiro, que considera a língua um ser vivo – um organismo que nasce, cresce e

morre –, utilizando, assim, os métodos de estudos das ciências naturais: do aspecto

evolucionista do ser.

Portanto, terminamos a análise dos aspectos de língua, linguagem e

gramática na obra de Brandão, mantendo-nos fiéis aos conceitos tratados pelo

autor. Assim, passaremos ao terceiro aspecto: Organização da Obra.

3.1.3 Terceiro aspecto: Organização da Obra

A obra analisada, neste trabalho, tem forma singular na organização dos

conteúdos apresentados. Cabe esclarecer que elaboramos uma apresentação

diversificada do Índice da obra Syntaxe e Construcção da Lingua Portugueza, de

Thomaz da Silva Brandão (1888), com o intuito de termos objetividade no estudo,

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tendo o cuidado necessário para mantermos o conteúdo. O original encontra-se nos

ANEXOS 3 a 9 (pp.115-121).

A organização da obra de Brandão (1888):

INDICE

INTRODUCÇÃO Noções preliminares

PARTE PRIMEIRA CAPITULO I

Das proposições e suas partes essenciaes CAPITULO II

Da natureza do sujeito, do attributo e da proposição

CAPITULO III Dos complementos

CAPITULO IV Das relações das preposições

CAPITULO V Da concordancia das palavras

CAPITULO VI Da fórma activa e passiva da proposição

CAPITULO VII Do período

CAPITULO VIII

Da classificação das proposições CAPITULO IX

Das transformações das proposições CAPITULO X

Do emprego dos modos e tempos dos verbos CAPITULO XI

Da coordenação das proposições e dos membros do periodo

CAPITULO XII Da separação das partes do discurso

CAPITULO XIII Do uso syntactico de algumas palavras

PARTE SEGUNDA Preliminares

CAPITULO I Da construcção directa

CAPITULO II Da construcção inversa

CAPITULO III Da construcção interpolada

CAPITULO IV Da collocação dos complementos e proposições appositivas

CAPITULO V Das figuras de palavras

APPENDICE I

Das virtudes das palavras

II

Do estylo e das suas diversas especies

A obra contém 319 páginas, o índice é dividido em duas partes e apêndice. A

primeira contém XIII capítulos, apresentando as proposições e suas partes

essenciais sujeito e verbo, os complementos, a concordância das palavras, do

verbo, do período e a coordenação das proposições. A segunda parte aborda a

construção direta, a construção inversa, a construção interpolada, a colocação dos

complementos e preposições apositivas e as figuras de palavras. Por fim, o

apêndice que mostra as virtudes das palavras, o estilo e as suas diversas espécies.

O primeiro capítulo aborda a proposição e suas partes essenciais e Brandão

(1888, p.2,4) as divide em três: o sujeito, o verbo ou nexo e atributo. Dessa maneira,

conceitua sujeito como “aquilo de que se affirma ou nega alguma cousa”. Por sua

vez, em relação ao verbo, afirma o autor que é “a palavra que com variações de

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modos, tempos, números e pessoas liga um attributo ao sujeito ou exprime a

existência, uma acção, estado ou relação que lhe é atribuída ou negada”. Além

disso, diz que o atributo é “a palavra ou palavras que exprimem a cousa attribuida ou

negada ao sujeito”.

No que diz respeito aos Complementos, Brandão (1888, p.18) refere-se a um

apelativo, adjetivo qualificativo, verbo, particípio ou advérbio. Em virtude disso,

afirma que palavra a que se refere o complemento chama-se antecedente, porque

“coloca-se ordinariamente antes d’elle”.

Quanto aos modos verbais, de acordo com Brandão (1888, p.112-118), são

divididos em cinco, a saber: indicativo, subjuntivo, condicional, imperativo e infinitivo.

A segunda parte do livro diz respeito à construção, uma vez que a primeira

trabalhou a sintaxe, estudando, assim, a proposição sob vários aspectos, das

diferentes colocações e das partes do período. Sobre a construção, Brandão explica

(1888, p.225):

(BRANDÃO, 1888, p.225).

Assim, a construção é a parte da gramática que se preocupa com a clareza e

harmonia das palavras e proposições, de tal maneira que uma suceda à outra para

não ocorrer falta de sentido. Por conseguinte, o autor mostra que, além do domínio

gramatical, é preciso harmonizar as palavras e proposições para que haja sentido no

período.

A construção divide-se em direta, inversa e interpolada. De acordo com

Brandão (1888, p.225-226), cada uma predomina conforme as particularidades de

cada língua. Sendo assim, a construção direta predomina na francesa; a inversa, na

portuguesa e a interpolada, na latina.

Em relação à construção direta, define Brandão (1888, p.226):

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(BRANDÃO, 1888, p.226).

Em virtude disso, o autor denomina direta a construção quando ocorre a

subordinação nas palavras e proposições, de tal forma que essas dependem uma da

outra.

Quanto à construção inversa, Brandão (1888, p.230-231) diz:

(BRANDÃO, 1888, p.230-231).

A partir dessa afirmação, Brandão (1888, p.230-231) define que a construção

inversa ocorre quando as palavras ou proposições não seguem uma ordem direta,

podendo o sujeito vir depois do verbo e as proposições subordinadas antes

daquelas de que dependem.

No que diz respeito à construção interpolada, explica Brandão (1888, p.240)

que acontece “quando se separam, ficando outras em meio, palavras que têm entre

si relação intima e necessária”. Destaca-se que essa construção acontece mais na

língua latina.

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Vale enfatizar que Brandão (1888, p.267) trata da elipse ao dizer que “é a

suppressão de uma ou mais palavras que se subentendem facilmente pelo sentido”.

Desse modo, acontece a elipse do sujeito, do verbo, do advérbio e do relativo.

Sendo assim, o autor termina a sua obra com o Apêndice, apresentando o

estilo e as suas diversas espécies, os vícios de linguagem e as figuras de

linguagem. Além disso, mostra os conceitos de algumas palavras.

Portanto, podemos constatar a relevância da obra de Brandão ao estudo

sintático da Língua Portuguesa, tanto à sua época, quanto à época vindoura. Assim

sendo, abordaremos o quarto aspecto em que focalizamos a nossa pesquisa:

Função do advérbio.

3.1.4 Quarto aspecto: Função do advérbio

Este aspecto trabalha a Função do Advérbio de acordo com Brandão (1888),

em sua obra “Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza”. Em virtude disso,

ressaltaremos a contribuição do seu estudo, do século XIX, para o ensino de Língua

Portuguesa.

Brandão (1888. p.15) cita a Função do advérbio na obra Syntaxe e

Construcção da Lingua Portugueza quando discorre sobre proposição, pois quanto à

natureza de suas partes essenciais, diz que são divididas em “proposição complexa

e incomplexa”. Acrescenta que a proposição complexa “[...] é a que tem o sujeito ou

attributo acompanhado de acessório, ou verbo modificado por complemento.” Em

relação à proposição incomplexa, explica ser “[..] aquella cujas partes essenciaes

não têm modificação alguma”. É nesse sentido que o autor apresenta o advérbio à

proposição, diz Brandão (1888, p.16):

(BRANDÃO, 1888, p.16).

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Em vista disso, a proposição torna-se complexa quando tem um advérbio,

desde que esse modifique o seu verbo ou atributo. Diante do conceito de advérbio

apresentado pelo autor, vale mencionar, também, um fato bastante significativo a

esta pesquisa quando Brandão afirma que os advérbios equivalem a complementos.

Quanto ao complemento, conceitua Brandão (1888, p.18) que pode “referir-se

a um appellativo, adjectivo qualificativo, verbo, participio ou adverbio, a palavra a

que se refere o complemento chama-se antecedente, porque colloca-se

ordinariamente antes d’elle”. Acrescenta, também, que o “complemento divide-se em

necessario e accidental”. Nesse aspecto, de acordo com o autor, o complemento é

necessário, porque é exigido pela significação do verbo, uma vez que o verbo

precisa do complemento para dar sentido à proposição. Por sua vez, o complemento

é acidental porque não é exigido pela significação do verbo, de modo que a

proposição, sem o complemento, tem sentido completo.

Diante dos conceitos de complemento, o autor apresenta-nos os diversos

tipos de Complementos Necessários e de Complementos Acidentais. Para que haja

uma melhor explicação, como também organização, começaremos pelos

Necessários, que são: Complemento Necessário do Apelativo, Complemento

Necessário do Adjetivo Qualificativo, Complemento Necessário do Verbo Relativo,

Complemento Necessário do Verbo de Ação Transitiva, Complementos Necessários

do Verbo Relativo de Ação Transitiva, Complemento Necessário dos Particípios e

Complemento Necessário do Advérbio. Desses, não abordaremos o Complemento

Necessário do Adjetivo Qualificativo, o Complemento Necessário do Verbo de Ação

Transitiva, os Complementos Necessários do Verbo Relativo de Ação Transitiva e o

Complemento Necessário dos Particípios, uma vez que não há nenhuma relação

deles com o Advérbio, todavia iremos mencionar todos os casos do advérbio como

complemento.

Sobre o Complemento Necessário do Apelativo, conceitua Brandão (1888,

pp.18-19) que “variadissimas são as relações em que o complemento necessario

póde estar para com o appellativo, e, por isso, differentes as preposições

empregagas em sua ligação”, e exemplifica: «O seu ingresso na academia realisou-

se com a maior selemnidade». Assim, na academia é o complemento do substantivo

ingresso, que exprime uma circunstância de lugar (onde).

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Em relação ao Complemento Necessário do Verbo Relativo, explicita Brandão

(1888, p.22) “exprime relações differentes, e é acompanhado de diversas

preposições, sendo as mais frequentes a, de e para”.

Seguido da preposição a, ocorre quando os verbos têm significações que

encerram ideia de obediência, direção a um termo. Ex.: Os soldados obedecem às

ordens do general. Salienta-se que, nesse caso, não temos o advérbio como

complemento, mas o mencionamos para compreendermos melhor os casos das três

preposições.

Acompanhado pela preposição de, quando se tem por antecedente algum

verbo que exprima ideia de dependência, necessidade, procedência. Ex.: O mostro

saiu do rio.

Por último, regido pela preposição para, que acontece quando o verbo tem

significação que apresentem uma ideia de préstimo para algum fim, direção para

algum termo. Ex.: Vieram para o Brasil.

Brandão (1888, p.31) trata, também, do Complemento Necessário do

Advérbio que ocorre de duas formas. A primeira acontece quando afirma que “os

adverbios formados de adjectivos qualificativos ou participios passivos e o sufixo

mente, costumam empregar-se com os mesmos que estes”. A outra forma ocorre

com os advérbios aquém, além, atrás, diante, debaixo, dentro, fora, perto, longe,

antes, depois, mais e menos. Em virtude disso, o autor faz considerações relevantes

aos advérbios, partindo de dois exemplos: “Nada lucraram relativamente ao capital

empregado” e “Não tomava resolução alguma independentemente de seus aios”.

Com base nisso, Brandão (1888, p.31) explica que, “no primeiro exemplo, o

adverbio relativamente tem um complemento regido da preposição a, porque o

adjectivo relativo, de que é formado, pede também um complemento acompanhado

da mesma preposição”. No segundo exemplo, diz que “o adverbio

independentemente está empregado com um complemento precedido da preposição

de, porque o adjectivo independente é usado também com um complemento regido

de de”. Diante disso, o autor chega à conclusão de que os advérbios terminados em

mente exigem a preposição, os outros citados anteriormente, também, exigem

preposição, porém se encontram ocultas em grande parte.

Diante dessas concepções de Brandão, informações inovadoras nos são

apresentadas, pois esses complementos se tornam significativos à proposição,

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como por exemplo, na frase Vieram “para o Brasil”, a parte entre aspas, segundo o

autor, é necessária para a compreensão da proposição, isso se dá pelo fato de esse

complemento ter relação com o verbo, por isso, chamado de Complemento

Necessário do Verbo Relativo. Assim, Brandão (1888, p.22) faz uma abordagem

relevante quanto à Função do Advérbio, pois o considera Complemento Necessário

do Verbo Relativo.

Agora, trataremos dos Complementos Acidentais, são eles: Complemento

Acidental do Apelativo e Complemento Acidental do Adjetivo Qualificativo, Verbo e

Particípio Passivo.

O Complemento Acidental do Apelativo, conforme Brandão (1888, p.19),

exprime:

(BRANDÃO, 1888, p.19).

Quando apresenta ideia de posse, matéria, qualidade, fim ou objeto, é regido

pela preposição de. Ex.: Deu-lhe um anel de ouro. O complemento de ouro

representa a matéria de que é feito o anel.

Acompanhado pela preposição sem, ocorre a ideia de carência ou falta. Ex.:

O exército sem união é despojo. O complemento sem união significa a falta do

exército.

Regido pela preposição com, exprime a ideia de junção ou companhia. Ex.:

Traze-me uma caneta com pena. Aqui, o complemento com pena refere-se a uma

junção da caneta.

Exige-se a preposição em quando se denota estado ou modo. Ex.: Do alto do

monte descortinava-se uma casa em ruínas. O complemento em ruínas indica o

estado/modo em que a casa se encontra.

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Quando indica circulação, é acompanhado das locuções prepositivas ao redor

de, em torno de. Ex.: Fizemos um passeio ao redor da praia. O complemento ao

redor da praia indica a circulação feita pelo passeio.

Algumas observações são feitas por Brandão (1888, p.20) acerca do

Complemento Acidental do Apelativo, dentre elas: 1. É possível converter, em

muitos casos, o referido complemento em adjetivo qualificativo ou particípio. Ex.:

anel de ouro ou áureo; exército sem união ou desunido; casa em ruína, ruinosa ou

arruinada. Assim, esses complementos que são advérbios, segundo o autor, podem

ser tornar em adjetivo ou particípio (verbo). 2. O Apelativo pode ter um

Complemento Acidental e outro Necessário. Ex.: a inclinação de Pedro às armas. O

complemento de Pedro seria o Acidental, às armas, o Necessário. 3. A um nome

próprio, une-se, às vezes, um complemento acompanhado da preposição com

representando companhia. Ex.: Paulo com seu companheiro. Nesse caso, a

preposição com pode se tornar na conjunção e, como: Paulo e seu companheiro.

Ressalta-se, também, o Complemento Acidental do Adjetivo Qualificativo,

Verbo e Particípio Passivo, afirma e exemplifica Brandão (1888, p.32) que:

(BRANDÃO, 1888, p.32)

Nesse exemplo, o adjetivo falto, além de ter o Complemento Necessário “de

recurso”, tem o Acidental, “em quadra tão escassa”, que significa circunstância de

tempo; o verbo “realisar”, além de ter o Complemento Necessário “aquelle projecto”,

tem o Acidental, “segundo seu desejo”, que apresenta circunstância de modo, e o

particípio passivo “estudado”, além do Complemento Necessário submetido depois

dele, tem o Acidental, “durante tantos annos”, que exprime circunstância de espaço,

de tempo. Quanto a isso, assevera Brandão (1888, p.32) o fato de que:

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(BRANDÃO, 1888, p.32).

Dessas circunstâncias, as mais usadas são as de tempo e lugar, pois o fato

ocorre no tempo e no espaço, depois, seguem as outras: de causa, meio,

instrumento, matéria, origem, preço, medida, companhia, oposição, ordem, exclusão

e substituição. Salienta-se, como apresentaremos a seguir, que cada circunstância

pode ter preposições diferentes.

A circunstância de tempo pode ser: em que, durante o qual, desde que,

depois do qual. A circunstância de tempo em que é acompanhada pelas preposições

a, de, entre, para, por, sob, sobre. Exemplifica Brandão (1888, p.33):

(BRANDÃO, 1888, p.33).

Por meio dos exemplos, percebe-se que, para a circunstância de tempo, há

várias preposições. Brandão (1888, p.34) destaca, também, o espaço de tempo que

há entre duas épocas ou acontecimentos que podem ser regidos por dois nomes: o

primeiro, pela preposição de, e o segundo, pela preposição a e, às vezes, pela para.

Ex.: “De D. João I a D. Manoel, o Venturoso, os portuguezes fizeram grandes

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descobertas”. Além disso, pode-se usar a preposição entre ou desde antes do

primeiro nome, e a preposição até, antes do segundo. Ex.: “entre D. João I e D.

Manoel ou desde D. João I até D. Manoel”.

A circunstância de lugar pode ser onde, d’onde, por onde, aonde e para onde.

Conforme Brandão (1888, p.35), os exemplos são:

(BRANDÃO, 1888, p.35).

Por meio da citação do autor, destaca-se que, no lugar de ante, sob e sobre,

são empregadas, também, as locuções prepositivas “deante, embaixo de ou debaixo

de e em cima de”.

A circunstância de causa, segundo Brandão (1888, p.37), pode ser precedida

pelas preposições de e por. Exemplos: “«De bruteza e preguiça, padecem andarem

vestidos geralmente de pelles por cortir»/«Condemnados por culpas».

A circunstância de fim é acompanhada pelas preposições a, em, para ou por.

Exemplifica Brandão (1888, p.37):

(BRANDÃO, 1888, p.37).

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Esses exemplos apresentam a importância das preposições, para os

complementos adverbiais, na proposição.

A circunstância de modo, segundo Brandão (1888, pp.37-38), é seguida de a,

com, de, em, por, segundo ou conforme. Exemplos:

(BRANDÃO, 1888, pp.37-38).

Como exemplificado, essa circunstância é precedida ou não pela preposição

e diz como algo acontece, aconteceu ou acontecerá.

A circunstância de meio é regida pelas preposições a, com, de e por ou per.

Como apresenta Brandão (1888, p.38):

(BRANDÃO, 1888, p.38).

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Essa circunstância mostra-nos o meio em que algo ocorre, ocorreu ou ocorrerá.

A circunstância de instrumento é acompanhada pelas preposições a e com.

Exemplifica Brandão (1888, p.39):

(BRANDÃO, 1888, p.39).

Conforme abordado, essa circunstância tem, apenas, dois tipos de preposição

para apresentar o instrumento utilizado na ação praticada.

A circunstância de matéria, de acordo com Brandão (1888, p.39), é regida

pelas preposições com e de. Exemplos: “«Construiu com pedras as paredes do

edificio» / «Fez imagem de ouro»”. O autor, portanto, faz uma advertência quanto

aos tipos de preposição, pois, se a matéria for virtual, as preposições podem ser de,

em e sobre, exemplifica:

(BRANDÃO, 1888, p.39).

Tendo vista a preposição sobre, o autor destaca que pode ser substituída

pelas locuções a respeito de e acerca de.

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A circunstância de origem é precedida pela preposição de. Exemplifica

Brandão (1888, p.40): “«Contente com a pena que de tão bellos olhos procedia»”.

Essa circunstância mostra-nos de onde veio alguma coisa.

A circunstância de distância e espaço são acompanhadas pelas preposições

a, de e por. Exemplifica Brandão (1888, p.40):

(BRANDÃO, 1888, p.40).

Essa circunstância mostra-nos a distância e o espaço em que ocorreram os

fatos mencionados.

A circunstância de preço, conforme Brandão (1888, p.40), é regida pelas

preposições a e por. Exemplos:

(BRANDÃO, 1888, p.40).

Essa circunstância apresenta-nos o modo como foi pago alguma coisa, e é

seguida por poucas preposições.

A circunstância de medida é precedida pelas preposições a e de. Conforme

exemplifica Brandão (1888, p.41): “«A dividiram entre si às barcas»/«O qual idolo é

de oitenta palmos»”. Assim, o Complemento circunstancial “às barcas” mostra-nos a

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medida em que algo foi medido, como também o de oitenta palmos, a medida do

ídolo.

A circunstância de companhia é regida pela preposição com. Exemplifica

Brandão (1888, p.41): “«O tal negocio foi tão quente que entraram os mouros com

elles dentro d’agua»”. O complemento circunstancial com elles apresenta-nos a

companhia dos mouros para O tal negocio.

A circunstância de oposição é acompanhada pelas preposições a, contra, em,

por e sobre. Exemplifica Brandão (1888, p.41):

(BRANDÃO, 1888, p.41).

Esse Complemento Circunstancial apresenta-nos a oposição de algo ou

alguém para com outro elemento mencionado na proposição.

A circunstância de ordem, de acordo com Brandão (1888, p.42), é precedida

pelas locuções prepositivas “antes de, adeante de, atraz de, depois de e apóz”.

Exemplos:

(BRANDÃO, 1888, p.42).

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Esses exemplos apresentam-nos a ordem em que determinado alguém ou

algo é colocado na proposição.

A circunstância de exclusão, segundo Brandão (1888, p.42), é precedida por

“sem, à excepção de e afóra”. Exemplos:

(BRANDÃO, 1888, p.42).

O Complemento Circunstancial de exclusão mostra-nos a exclusão de alguém

ou de algo.

E, por último, a circunstância de substituição que é acompanhada pela

preposição por. Exemplifica Brandão (1888, p.42): “«Por armas têm adargas e

terçados»”. Nesse caso, o Complemento Circunstancial substitui um objeto pelo

outro.

Vale mencionar que todas as circunstâncias apresentadas são tipos de

Advérbio chamado pelo autor de Complemento Acidental Circunstancial.

Denominados, assim, porque, ao contrário do Complemento Necessário, não é

significativo para o entendimento da proposição. Quanto a isso, explica Brandão

(1888, pp.138-139):

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(BRANDÃO, 1888, p.138-139).

Por meio dos exemplos, a ausência desse complemento, ao contrário do

Complemento Necessário do Verbo Relativo, não altera a compreensão da

proposição por não ter nenhuma relação com o verbo, por isso, chamado de

Complemento Acidental Circunstancial.

Em relação ao uso do Complemento Acidental Circunstancial, por um lado,

Brandão (1888, p.139) esclarece que, em cada um desses exemplos, “o

complemento accidental exprime circumstancia differente, e em nenhum d’elles está

separado por virgula, por não ser necessário. Por outro lado, adverte que “em alguns

casos, porém, difíceis de especificar, costuma-se separar por virgula esta espécie de

complemento, normalmente sendo extenso”, exemplifica Brandão:

(BRANDÃO, 1888, p.139).

Com base nisso, o autor esclarece os casos quando o Complemento

Acidental Circunstancial vem separado por vírgula e quando é facultativo. No

primeiro caso, afirma Brandão (1888, p.139) que acontece “quando denota

circumstancia de tempo em que ou de logar onde, regida da preposição em ou a,

pode-se collocar no principio, no meio ou no fim da proposição”. Além disso, afirma

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que “collocado no principio, separa-se ordinariamente por vírgula”, exemplifica

Brandão (1888, p.139-140):

(BRANDÃO, 1888, p.139-140).

Diante dos exemplos, diz Brandão (1888, p.140) que “esta regra não é

constantemente observada” e “sendo, porém, extenso o complemento, deve-se

sempre empregar vírgula depois d’elle”. Exemplifica Brandão: “«Em cincoenta

paginas de prosa do mesmo manuscripto, descobri o segredo dos versos»”. Além

disso, afirma que “posto no meio da proposição e não sendo extenso, é facultativo

collocalo-o ou não entre vírgulas”, exemplifica:

(BRANDÃO, 1888, p.140).

Quanto ao complemento posto no final da oração, adverte Brandão (1888,

p.140) que “raras vezes se separa por virgula”, exemplificando:

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(BRANDÃO, 1888, p.140).

Assim, podemos observar que o Complemento Acidental Circunstancial, rara

vezes, é separado por vírgula quando é colocado no final da proposição.

É de suma importância mencionar que havia autores contemporâneos que

estavam em continuidade com Brandão. Destacamos, portanto, Ribeiro6 (1915,

p.154) ao afirmar que:

"Os verbos podem ter varios complementos: directo, attributivo, indirecto, circumstancial. [...] O Complemento Circunstancial é o que indica circumstancia de tempo, modo, logar, etc”. Exemplos: "Logar – Passou pela Italia. Tempo – Há chuvas no verão. Companhia – Saiu com outros. Causa – Desmoronou com a chuva. (RIBEIRO, 1915, p.154).

Assim como Brandão (1888), Ribeiro (1915) considera o advérbio como

complemento na proposição, denominando-o de Complemento Circunstancial. Ora,

essa concepção adverbial não foi apresentada por Brandão apenas, mas também

por outros autores de sua época, dentre eles, o ilustre gramático João Ribeiro,

privilegiado por viver o período de transição do século XIX para o século XX.

Por fim, foi privilegiado, neste capítulo, o princípio da Imanência, por meio dos

três aspectos de análise selecionados nesta pesquisa. Em seguida, focalizaremos o

princípio da Adequação, com a obra de estudo Novas Lições de Análise Sintática, de

Kury (1999), da segunda metade do século XX.

6 A primeira edição da obra de João Ribeiro ocorreu em 1887, mas usamos a 17ª edição, publicada

em 1915.

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3.2 Adequação

Na Adequação, faremos uma análise comparativa da obra de Brandão (1888)

e de Kury (1999), considerando o que esses autores têm de continuidade e

descontinuidade acerca da sintaxe da Língua Portuguesa, sobretudo, da Função do

Advérbio.

A obra Novas Lições de Análise Sintática,7 de Adriano da Gama Kury, foi

publicada em 1999, pela editora Ática em São Paulo, e contém 207 páginas.

Salientamos que a ortografia do período era de acordo com a Reforma Ortográfica

do Brasil de 1990.

Além da obra Novas Lições de Análise Sintática (1999), Kury publicou outras

obras, a saber:

1. Em 1959, a Pequena Gramática: para a explicação da nova

nomenclatura gramatical, pela Editora Agir, Rio de Janeiro.

2. Em 1960, o livro Português Básico, pela Editora Agir; hoje na Nova

Fronteira, Rio de Janeiro.

3. Em 1961, o livro Lições de Análise Sintática, pela Editora Fundo de

Cultura, Rio de Janeiro; depois, pela Editora Lisa, São Paulo; hoje,

pela Nova Fronteira, Rio de Janeiro.

4. Em 1965, o livro Ortografia, pela Universidade de Brasília, Brasília.

5. Em 1968, publica o livro Manual Prático de Ortografia, pela Livraria Agir

Editora, Rio de janeiro.

6. Em 1971, publica o livro Meu Livro de Português. 4 volumes, pela

Editora Lisa, São Paulo.

7. Em 1972, a Gramática Fundamental da Língua Portuguesa do Brasil,

pela Editora Lisa, São Paulo.

8. Em 1974, o livro Curso Supletivo “João da Silva”, 5 volumes, pelo MEC,

Rio de Janeiro.

9. Em 1976, a Gramática Objetiva, 2 volumes. Em colaboração, pela

Editora Rio, Rio de Janeiro.

7 A obra teve sua primeira edição em 1985, porém utilizamos a 8ª edição, publicada em 1999,

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10. Em 1982, o livro Ortografia, Pontuação, Crase, pela FENAME, Rio de

Janeiro; hoje, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro.

11. Em 1987, o livro Elaboração e Editoração de Trabalhos de Nível

Universitário (especialmente na área humanística), com colaboração

de Maximiano de Carvalho e Silva e Irene de Menezes Dória, pela

Fundação Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro.

12. Em 1989, o livro 1000 Perguntas de Português. Em colaboração, pela

Editora Rio, Rio de Janeiro.

13. Em 2001, o Minidicionário Gama Kury da Língua Portuguesa, pela

Editora FTD, São Paulo.

Cabe mencionar os acordos ortográficos no Brasil, para, assim, entendermos

o acordo que influenciou a obra de Kury nesta pesquisa. Moreira; Smith; Bocchese

(2009, p.31) afirmam que a Academia Brasileira de Letras, em 1907, “cogitou adotar

uma ortografia de cunho claramente simplificador, influenciada pelo pensamento de

Gonçalves Viana”. De tal modo, esclarecem que “inaugurava-se, com isso, no Brasil,

um período reformista ou de tentativa de reformulação ortográfica”. Vale ressaltar

que isso aconteceu antes mesmo dos trabalhos feitos pela comissão de filólogos

portugueses, que culminaram na reforma em Portugal.

Para tanto, em 1915, afirmam Moreira; Smith; Bocchese que a “Academia

brasileira aprovou o projeto de Silva Ramos, que ajustou a grafia brasileira aos

padrões lusitanos”. Porquanto, expõem Moreira; Smith; Bocchese (2009, p. 32) que,

em 1919, “a mesma academia voltou atrás, à era do th, do ph, por sugestão do

acadêmico Osório Duque Estrada”. Por meio disso, deu-se início à necessidade de

se obter acordos ortográficos no Brasil, a saber: O Acordo de 1931; o Acordo de

1945; o Acordo de 1990 e o último Acordo de 2009.

De acordo com Moreira; Smith; Bocchese (2009, p.32), o Acordo de 1931

trata do Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro, negociado pela Academia das Ciências

de Lisboa e pela Academia Brasileira de Letras. Em virtude disso, esse Acordo foi

necessário para publicações tanto em Portugal quanto no Brasil, uma vez que se

deu, em Portugal, com o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (1940); no

Brasil, com o Formulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que deu origem ao

Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (1943).

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Em relação ao Acordo de 1945, Moreira; Smith; Bocchese (2009, p.33)

esclarecem que ele surgiu pelas divergências do Acordo de 1943. Tendo em vista a

expansão da Língua Portuguesa no mundo e a regulação do sistema ortográfico,

houve a unificação Ortográfica da Língua Portuguesa em 1945, consequentemente,

não se admitia grafia dupla ou facultativa em Brasil e Portugal.

Quanto ao Acordo de 1990, dizem Moreira; Smith; Bocchese (2009, p. 37):

É um tratado internacional, assinado em Lisboa, em 1990, pelos representantes legais dos países em que o português é língua oficial (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe) com a adesão posterior de Timor Leste. (MOREIRA; SMITH; BOCCHESE, 2009, p.37).

Esse tratado internacional de 1990 “é resultante de um longo trabalho

desenvolvido pela Academia de Letras e pela Academia das Ciências de Lisboa

desde, pelo menos, 1931”, dizem Moreira; Smith; Bocchese (2009, p.37). Por um

lado, o Acordo de 1990 tem “por objetivo dotar a língua portuguesa de um padrão

ortográfico único, visando à defesa de sua unidade essencial”. Por outro lado,

complementam que foram duas as normas ortográficas em vigor: “a brasileira, do

Formulário Ortográfico de 1943, e a lusitana (e dos demais países, que seguem

essa norma), do Acordo de 1945”.

Segundo Moreira; Smith; Bocchese (2009, p.37), o Acordo de 1990 teve como

objetivo principal “promover e salvaguardar a unidade ortográfica (e não simplificar a

grafia, embora resulte em simplificação)”. Acrescenta-se, ainda mais, que esse

Acordo buscou projetar a Língua Portuguesa internacionalmente. Diante disso, o

Acordo não trouxe grandes mudanças em termos de escrita ao Brasil, de modo que,

aproximadamente, só 0,6% do nosso vocabulário muda, enquanto, em Portugal,

1,6%. Com efeito, a fonologia, a fonética, a pronúncia, a morfologia, a sintaxe e o

léxico ficaram inalterados.

E, por último, o Acordo Ortográfico de 2009, que surgiu na tentativa de

unificação da Língua Portuguesa de cerca 98% do vocábulo geral da Língua, de

modo que, em especial, fosse escrita a mesma língua, segundo Moreira; Smith;

Bocchese (2009, p.120). Porquanto, essa tentativa de unificar a língua ocorreu uma

vez que, ortograficamente, esses 98% estavam desunificados.

É importante salientar que a questão de continuidade e descontinuidade em

relação à obra gramática tradicional de Port-Royal (1660) será abordada nesta

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análise. Para tanto, esclarecemos que essa gramática torna-se relevante por

influenciar muitos trabalhos produzidos no século XIX, em especial, a obra de estudo

Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza, de Brandão (1888).

Porquanto, convém mencionar a divisão da obra de Port-Royal (1660) que,

assim como a obra de Brandão (1888), está dividida em duas partes, as quais tratam

dos signos linguísticos. A primeira parte aborda o que se fala das letras e dos

caracteres da escrita. Focaliza, pois, o estudo das letras e dos sons. A segunda

parte trata os diversos princípios e motivos em que se baseiam os modos da

significação das palavras. Assim, aborda, em especial, a Morfologia, uma vez que

faz uso, apenas, do capítulo XXIV para a Sintaxe e outro Apêndice para as Figuras

de Linguagem.

Desse modo, focalizaremos os quatro aspectos de análise, a saber: Prefácio;

concepções de Língua, Linguagem e Gramática; Organização da Obra e

Função do Advérbio, da obra de estudo Novas Lições de Análise Sintática, de

Adriano da Gama Kury (1999). Iniciaremos pelo primeiro aspecto.

3.2.1 Primeiro aspecto: Prefácio

Na Advertência da obra Novas Lições de Análise Sintática, de Kury (1999,

p.5), o autor justifica o porquê de republicar a sua obra ao afirmar:

Ao receber da Editora Ática o convite para republicar minhas Lições de Análise Sintática, há vários anos esgotados (e não reeditadas, a despeito da vontade do autor), não hesitei quanto ao caminho a seguir: decidi manter, no seu cerne, a estrutura desse trabalho, que tão útil se revelou nas sucessivas edições, e que vinha sendo em vão procurado, especialmente por estudantes de Letras, convidados a comparar um método pejorativamente rotulado de “tradicional” com as novidades da moda. (KURY, 1999, p.5)

Nesse sentido, o autor refere-se à 8ª edição (1999), sendo que a primeira

ocorreu em 1985 e a última, que é a 9ª edição, foi publicada em 2008. Ressalta-se

que Kury (1999) volta a sua obra, especificamente, aos estudantes de Letras,

convidando-os a compararem um método tradicional com as novidades da moda.

Quanto ao estudo sintático da Língua Portuguesa, o autor faz referência ao

estudo tradicional de Saussure ao tratar da análise estrutural da frase, afirma Kury

(1999, p.5):

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Apesar desse epíteto de tradicional que se tem dado à análise estrutural, saussuriana, da frase, ela se tem revelado, no curso dos anos, sólida e consistente. Resistiu incólume às novidades em voga na década de 70, e mantém-se como o método mais adequado ao exame da estrutura da frase. (KURY, 1999, p.5).

A análise estrutural da frase de Saussure tornou-se resistente na década de

70 e perpetua até o início do século XXI. Diante disso, Kury (1999) afirma que, para

o exame da frase, essa forma de análise estrutural é mantida como o método mais

apropriado.

No que diz respeito à terminologia gramatical, Kury (1999, p.5-6) faz

considerações ousadas e desafiadoras à Nomenclatura Gramatical Brasileira e

assevera:

Quanto à terminologia, coincide, grosso modo, com a Nomenclatura Gramatical Brasileira, que, velha embora de 25 anos, e necessita de reforma, ainda se presta razoavelmente, no seu conjunto, ao uso prático. (KURY, 1999, p. 5-6).

De modo que a Nomenclatura Gramatical Brasileira, de acordo com Kury

(1999, p.5-6), está ultrapassada quanto aos conceitos gramaticais, de tal maneira

que precisa fazer uma reforma, acompanhando, assim, as mudanças ocorridas no

ensino da Língua Portuguesa ao decorrer do tempo.

Vale destacar que a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) surgiu em um

ofício do Estado brasileiro para instituir uma terminologia única às gramáticas,

segundo Moreira; Smith; Bocchese (2009, p.61). Assim sendo, foi publicada em

1959, pelo ministério da Educação.

Assim como Brandão (1888), Kury (1999) é um autor que confronta seus

colegas e, em vista disso, ambos autores apresentam esse desafio na Advertência

de suas obras, afirma Kury (1999, p.6):

Se dela por vezes me afasto, nisso não vai indisciplina nem sede de originalidade, mas a convicção doutrinária , da qual não abdico, e a necessidade mesma da exposição. [...] Espero, de bom grado, a crítica dos colegas e dos usuários, responsável pelo reexame a que procedi de muitos pontos controversos desse campo movediço da análise sintática. (KURY, 1999, p.6).

Com base nisso, o autor não abre mão de suas advertências sobre a sintaxe

e está aberto às críticas de outros estudiosos da gramática, assim como dos

usuários de sua obra.

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Assim sendo, após o primeiro aspecto, passaremos ao segundo, Concepções

de Língua, Linguagem e Gramática.

3.2.2 Segundo aspecto: Concepções de Língua, Linguagem e Gramática

A língua é citada pelo autor em sua observação a respeito dos verbos

transitivos direto, assevera Kury (1999, p.35) que:

Nem todos os verbos transitivos diretos, entretanto, podem constituir-se na voz passiva analítica. Alguns, porque já possuem sentido passivo (agüentar, sofrer, etc.); outros, pelo uso da língua, que não obedece a normas fixas (ter, conter, querer, poder, crer, etc.). (KURY, 1999, p.35, grifo nosso).

Nesse sentido, destaca-se a língua escrita, nesse caso, a portuguesa. Essa

ideia é ressaltada por Kury (1999, p.35) ao explicar a voz passiva pronominal (ou

sintética) que ocorre quando:

[...] numa oração na voz ativa com verbo transitivo direto, o agente (sujeito) é indeterminado, e o paciente (objeto direto) é um ser inanimado, incapaz de praticar a ação expressa pelo verbo, nossa língua admite, além da voz passiva composta, com auxiliar, outra construção, sintética, em que à forma do verbo na voz ativa se acrescenta, para indicar passividade, o pronome se. (KURY, 1999, p.35, grifo nosso).

Mais uma vez, temos a língua escrita abordada como idioma de uma

comunidade que obedece regras gramaticais fundamentais à análise sintática da

língua portuguesa.

A linguagem pode ser escrita ou oral. Dessa maneira, afirma Kury (1999,

p.13) que:

Frase é a unidade de comunicação entre falante e ouvinte, entre escritor e leitor. Na linguagem oral, cada frase possui uma melodia, um ritmo, uma entoação peculiar que a escrita procura sugerir por meio dos sinais em que é proferida ou escrita. (KURY, 1999, p.13, grifo nosso).

Os vocábulos (falante e ouvinte, escritor e leitor) confirmam o uso da

linguagem oral e escrita. O autor faz esse jogo de palavras para explicar a diferença

entre a oralidade e a escrita. A primeira ocorre por meio da entonação a cada frase

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proferida pelo falante, isso se dá pelo ritmo das palavras faladas. Já a segunda tenta

mostrar a melodia das frases orais por meio dos sinais de pontuação.

Enfatiza-se, também, a linguagem literária, explica Kury (1999, p.38):

O uso vulgar estende esse emprego até aos verbos transitivos diretos sem objeto preposicionado (“Conserta-se relógios.”, “Aluga-se apartamentos”.), construções que contrariam a norma vigente na boa linguagem literária. Apesar disso, já se encontram exemplos literários, como este de Aluísio Azevedo: “Como que se sentia ainda na indolência da neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente...”. (KURY, 1999, p.38).

Diante disso, fica explícito também o uso da linguagem formal e da informal.

Como prova disso, o autor usa a expressão “vulgar” que remete ao uso coloquial

(informal) da língua, bem como construções que contrariam a norma da boa

linguagem literária.

Quanto ao aspecto da gramática, Kury (1999), tal qual Brandão (1888), não

deixa explícito o conceito de gramática, pois a sua obra não é uma gramática, mas

um estudo dela, de forma que opta, apenas, pela parte sintática. No entanto, é

possível perceber seu aprofundado conhecimento gramatical, uma vez que o autor

escreveu dois volumes de sua obra a Gramática Objetiva (1976), bem como a

Pequena Gramática (1959) para explicar a nova nomenclatura gramatical. Nessa

perspectiva, o autor deixa claro, na advertência de sua obra Novas Lições de

Análise Sintática (1999), a indignação para com algumas questões sintáticas da

NGB, assevera Kury (1999, p.5) que “coincide, grosso modo, que, velha embora 25

anos, e necessitando de reforma, ainda se presta razoavelmente, no seu conjunto,

ao uso prático”.

Acrescenta-se a gramática latina, citada pelo autor, ao falar do aposto de

especificação, explicita Kury (1999, p.58) que é:

Um substantivo de sentido genérico pode ser imediatamente seguido, sem pausa, de um termo, preposicionado às vezes, que o especifica e o individualiza. É o que se chama dentro da gramática latina (“urbs Roma”), APOSTO DE ESPECIFICAÇÃO: Cidade de Roma, mar mediterrâneo. (KURY, 1999, p.58).

Segundo Kury (1999, p.58), a gramática latina foi citada para justificar o fato

de que escritores modernos da língua portuguesa utilizam uma forma de aposição

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parecida, para indicar a ocupação habitual ou a profissão, ex.: “Mestre Gaudêncio

curandeiro gingava”.

Diante disso, vale destacar que Kury (1999), assim como Brandão (1888),

apresenta concepções sintáticas contrárias à gramática tradicional da língua

portuguesa, pois ambos citam, na advertência de suas obras, que pretendem

preencher lacunas no que diz respeito à análise sintática.

Portanto, terminados os aspectos da língua, linguagem e gramática, e dando

continuidade ao princípio da imanência, passaremos agora à análise da organização

da obra selecionada.

3.2.3 Terceiro aspecto: Organização da Obra

Percebemos que a obra analisada, nesta pesquisa, tem forma singular na

organização dos conteúdos que são apresentados. Vale mencionar que elaboramos

uma apresentação diversa do Índice da obra Novas Lições de Análise Sintática, de

Kury (1999) com o propósito de termos objetividade no estudo, tendo o cuidado para

sermos fiéis ao conteúdo. Salienta-se que o original encontra-se nos ANEXOS 15 a

20 (pp.127-132).

Faz-se necessário ressaltar que a obra contém 207 páginas e quatro

capítulos. É preciso enfatizar que Kury (1999) não apresenta o Prefácio em sua

obra. Diante disso, levamos em consideração a Advertência.

A organização da Obra de Kury:

SUMÁRIO

Advertência 4. Problemas e fatos sintáticos de interesse para a análise

Epígrafes Apêndices 1. Modelos de análise sintática 2. Quadros sinópticos 3. Exercícios de verificação 4. Textos para exercícios de

revisão

1. Noções básicas preliminares Livros usados (e respectivas siglas)

2. A oração independente absoluta

Termos essências: sujeito e predicado

Termos integrantes da oração Termos acessórios da oração O vocativo

Índice analítico

3. O período composto Índice geral

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Composição do período Tipos de oração Orações independestes

coordenadas entre s Orações ou período interferentes Orações subordinadas

O autor começa o primeiro capítulo com o Sintagma, diferente de Brandão

(1888) que não apresenta esse assunto em sua obra, porque foi tratado com

Saussure a partir do século XX. Afirma Kury (1999, p.9):

SINTAGMA é a palavra criada por F. de Saussure para designar dois elementos consecutivos, um dos quais é o DETERMINADO (principal) e o outro DETERMINANTE (subordinado). Há, portanto, uma relação necessária de subordinação entre os dois. (KURY, 1999, p.9).

Por conseguinte, partindo desse conceito anterior, adverte Kury (1999, p.9)

que “[...] embora Saussure estenda o conceito de sintagma à Morfologia (reler, por

exemplo, forma-se do determinado ler e do determinado re-), aqui só o empregamos

no campo da sintaxe”. Assim sendo, o presente autor usa o sintagma de uma forma

diferente, uma vez que é trabalhado morfologicamente por Saussure, mas Kury

adequa o sintagma ao estudo sintático. Com base nisso, Kury (1999, p.9) faz uma

advertência ao afirmar que “estendem muitos, hoje em dia, na esteira de Noam

Chomsky, o uso do termo sintagma, que aqui só de utiliza no sentido saussuriano”.

Além do Sintagma, a “Seqüência”, também, é trabalhada, diz Camara Júnior

(apud KURY, 1999, p.9) que “[...] quando a combinação cria uma mera

COORDENAÇÃO entre os elementos, tem-se, ao contrário, uma SEQÜÊNCIA”.

Tendo em vista que nem todos os termos consecutivos têm uma relação

sintagmática e subordinativa. Em vista disso, afirma o autor que, nesse caso, ocorre

uma sequência.

Kury (1999, p.12-13), assim como Brandão, conceitua a análise sintática:

ANÁLISE (do substantivo grego analysi, cognato do verbo analyein, “desatar, desprender, soltar”, composto do prefixo ana-, “para cima”, + lyein, “soltar”) é a decomposição de um todo em seus elementos componentes. A ANÁLISE SINTÁTICA decompõe os elementos componentes (sintagmas) da “frase”, examina a sua estrutura: divide um “período” nas “orações” que o compõem, e cada oração nos seus termos (essenciais, integrantes e acessórios). (KURY, 1999, p.12-13).

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Nessa perspectiva, o conceito de Kury (1999) para a análise sintática difere

do de Brandão (1888), apenas, por apresentar a terminologia da palavra “análise”.

Em virtude disso, Brandão (1888) apresenta, somente, a sua função da análise

sintática.

Acrescentando ao estudo sintático, como se não bastasse conceituá-lo, Kury

(1999) mostra, ainda, a sua finalidade e Melo; Gotardelo (apud KURY, 1999, p.13)

afirmam:

A análise sintática serve para tornar “claras e racionalmente perceptíveis as relações entre os membros da frase” (sua concordância, sua regência, sua colocação); serve, mais, como elemento de verificação da boa construção de uma frase: “a análise lhe revelará o ponto fraco, a estrutura mal urdida”; permite, ainda, racionalizar a pontuação. ((MELO; GOTARDELO apud KURY, 1999, p.13).

Desse modo, a análise sintática vai além de estudar a função dos termos na

oração, uma vez que, por meio dela, percebe-se a estrutura mal colocada na oração.

Paralelamente, a sintaxe é complexa, uma vez que estudar sintaticamente as

orações permite fazer bom uso da pontuação.

Vale ressaltar que Kury (1999) cita a diferença entre frase, oração e período

assim como Brandão, porém há algumas diferenças de nomenclatura, mas, o

sentido é o mesmo.

Em questão à frase, Kury (1999, p.13) conceitua:

Frase é a unidade de comunicação entre falante e ouvinte, entre escritor e leitor. Na linguagem oral, cada frase possui uma melodia, um ritmo, uma entoação peculiar que a escrita procura sugerir por meio dos sinais de pontuação e que lhe empresta sentido completo na situação em que é preferida ou escrita. É a entoação a alma da frase. Um simples fonema, uma única sílaba, um vocábulo, podem, graças a ela, ascender ao nível da frase. (KURY, 1999, p.13).

Em virtude disso, ressalta-se que a frase obtém um sentido completo, e isso

se dá pela entoação na linguagem oral por meio dos sinais de pontuação à escrita.

Dessa forma, uma única palavra ou fonema pode se tornar uma frase.

A esse respeito, Brandão (1888, p. 225) não conceitua frase em sua obra,

mas, é apenas citada:

Essas diferentes collocações, que muito concorrem para a clareza e harmonia da phrase, constituem o que em gramática se denomina construcção, a qual se define: a clara e hamornica disposição das palavras na proposição e das proposições no período. (BRANDÃO, 1888, p.225).

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Diante disso, Brandão trata da frase na segunda parte do seu livro: a

Construção da Língua Portuguesa. Essa parte diz respeito à clareza e harmonia da

frase, bem como à harmonia das palavras na proposição. Com base nisso, conclui-

se que o autor já fazia uma distinção entre frase e proposição.

Sobre a oração, justifica Kury (1999, p.13-15):

O tipo mais comum de frase é a ORAÇÃO, sintagma formado de Sujeito e Predicado, e como tal estruturada em torno de um verbo; o verbo, explícito ou não, é a característica do predicado, indispensável à existência da oração [...]. A frase não-oracional, por não ter estrutura linguística elaborada, não se presta a análise sintática; só a frase oração, pela sua estrutura, admite análise sintática completa. (KURY, 1999, p.13-15).

Brandão (1888, p.3), por sua vez, chama oração de proposição, ao afirmar:

Por isso definimos a proposição: o conjuncto de duas ou mais palavras com que enunciamos uma cousa attribuida ou negada a um ser qualquer. Dizemos conjucto de duas ou mais palavras, porque a proposição em caso algum tem menos de duas partes, e pode ter independentemente mais de duas. (BRANDÃO, 1888, p.3).

Como podemos perceber, Brandão (1888) diferencia o vocábulo oração,

chamado de “proposição”, mas, o sentido é o mesmo. E chama-nos a atenção pelo

fato de Brandão (1888) assemelhar-se de Kury (1999) em seus estudos sintáticos,

pois, cento e nove anos separam esses estudiosos.

Quanto à classificação das orações, diz Kury (1999, p.16-17):

Se todas as orações de um período têm sentido completo (isto é, se são orações-frases), recebem o nome de ORAÇÕES INDEPENDENTES [...]. Havendo num período orações sintaticamente dependentes de outra, ou de um vocábulo, e que nela ou nele exercem uma função, elas se dizem subordinadas [...]. (KURY, 1999, p.16-17).

Diante disso, as orações são classificadas em Independentes e

Subordinadas. A Primeira acontece quando as orações possuem sentido completo.

A segunda é quando as orações dependem uma da outra.

Assim sendo, da classificação das proposições, afirma Brandão (1888, p. 93):

Proposição independente é a que não tendo relação necessaria com outra, exprime um sentido perfeitamente comprehensivel. Proposição subordinada

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é a que exprime um sentido dependente de outro com que tem relação necessaria. (BRANDÃO, 1888, p.93).

Ambos autores seguem a mesma linha de pensamento, com uma única

diferença apenas de vocábulo. Enquanto Kury (1999) denomina “orações

independentes” e “orações subordinadas”, Brandão (1888, p.93), de “proposições

independentes” e “proposições subordinadas”.

No segundo capítulo, o autor trabalha os termos essenciais da oração: Sujeito

e Predicado. Quanto ao Sujeito, afirma Kury (1999, p.21) que “em contrapartida, é o

termo que exprime o ser de quem se diz alguma coisa.” Para tanto, diz Brandão

(1888, p.4) que é a palavra ou palavras que exprimem o ser a que attribuimos ou

negamos alguma cousa”. Em vista disso, vale destacar que Kury(1999) e

Brandão(1888) apresentam a mesma função ao Sujeito, porém, a diferença está na

nomenclatura dos termos da oração.

Diante disso, Brandão (1888, p.2) chama oração de proposição e não é

apenas isso, mas também não chama de termos essenciais da oração, todavia, de

partes essenciais da proposição, que são três. Esse autor afirma que “[...] sendo a

proposição o enunciado do mesmo, é claro que deve ella constar também de três

partes essenciaes, a saber: o sujeito, o verbo ou nexo e attributo ou predicado”.

No que diz respeito à classificação do Sujeito, por um lado, classifica-se, de

acordo com Kury (1999, p.22-24), em: “Sujeito Simples, Sujeito Composto, Sujeito

Oculto, Sujeito Indeterminado e Oração sem Sujeito”. Por outro lado, Brandão (1888,

p11) classifica, também, o Sujeito de duas maneiras, em “sujeito simples e sujeito

composto”, e explica: “Sujeito simples é o que exprime um só ser ou seres

considerados em collectividade. Sujeito composto é que exprime seres distinctos”.

Dessa maneira, Kury (1999) classifica o Sujeito contrário a Brandão, pois este só o

apresenta com dois tipos, enquanto Kury, com cinco tipos.

Outro termo essencial da oração é o Predicado, diz Kury (1999, p.27):

Chama-se PREDICADO à palavra ou locução de natureza nominal ou pronominal que constitui: a) o núcleo de pronome nominal [...] e b) o elemento nominal de um predicado verbonominal [...]. O predicado pode referir determinado atributo ou a um “sujeito” ou a um “objeto”, donde a sua classificação em PREDICATIVO DO SUJEITO E PREDICATIVO DO OBJETO. (KURY, 1999, p.27).

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Com base nisso, o predicado pode referir-se ao atributo, ao sujeito ou ao

objeto. Além disso, refere-se ao elemento verbal.

Em relação ao Predicado, afirma Brandão (1888, p.2-4) que “sendo a

proposição o enunciado do mesmo, é claro que deve ella constar também de três

partes essenciaes, a saber: o sujeito, o verbo ou nexo e attributo ou predicado.”

Dessa maneira, o autor nomeia o predicado de “attributo”, usando essas duas

formas, todavia, para o autor, é preferível a segunda, de tal modo que conceitua

como sendo “a palavra ou palavras que exprimem a cousa attribuida ou negada ao

sujeito”.

Com base no exposto, o conceito de predicado (attributo), apresentado por

Brandão (1888), diferencia de Kury (1999), pois para esse autor, predicado é uma

característica dada ao sujeito, porém, para Kury (1999), é chamado de predicativo

do sujeito. Com base nisso, o predicado seria o verbo para Brandão (1888, p. 4),

pois afirma que “verbo é a palavra que com variações de modos, tempos, numeros e

pessoas liga um attibuto ao sujeito ou exprime a existência, uma acção, estado ou

relação que lhe é attribuida ou negada”.

Diante de tais conceitos, quanto ao predicado, Kury (1999) e Brandão (1888)

mostram algumas divergências de nomenclatura das palavras. Prova disso, é que o

conceito dos mesmos para o Predicado se aproxima, porém, a diferença é que o

primeiro define como Predicado e, o segundo, como Verbo. Porquanto, Brandão

(1888) não está distante de Kury (1999), de tal modo que não existe predicado sem

verbo.

Enfatiza-se, por um lado, que Brandão (1888) acrescenta mais uma parte

essencial à proposição, que é o verbo. Por outro lado, Kury (1999) faz uso de

apenas dois termos essenciais da oração: Sujeito e Predicado. Tais quais outros

gramáticos, dentre eles, o ilustre Bechara (2009) em sua obra Gramática Moderna

da Língua Portuguesa. Isso se deu pelo fato desses pesquisadores da Língua

Portuguesa agregarem o verbo ao predicado, de tal modo que o verbo é o núcleo do

Predicado verbal, caso não seja, será o predicativo, chamado de predicado nominal.

Em vista disso, Brandão (1888) não classifica o predicado dessa maneira, por isso,

há essa separação entre “attributo” (predicado) e o verbo.

O capítulo dois apresenta nformações importantes à nossa pesquisa, uma vez

que nosso estudo trata da sintaxe, mais especificamente, da Função do Advérbio.

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Ao analisar esse capítulo observamos que Kury (1999, p.28-31) argumenta sobre a

predicação verbal, começa discorrendo sobre os verbos Intransitivos, depois, sobre

os transitivos diretos, transitivos indiretos, verbos transitivos diretos e indiretos

simultaneamente, verbos transitivos adverbiais e verbos de ligação.

Em relação aos verbos Intransitivos, diz Kury (1999, p.28) que “são verbos

que podem conter entre si toda a significação do predicado sem acréscimo de

complemento”. Ressalta-se que Brandão (1888, p.18), por sua vez, não faz uso do

termo verbo intransitivo em sua obra, ele trabalha essa função sintática, porém, é

trabalhado no capítulo III “dos Complementos”, chamado de Complemento acidental

do apelativo.

Sobre os verbos transitivos, expõe Kury (1999, p.29):

TRANSITIVOS são os verbos que requerem o acréscimo de um COMPLEMENTO que integre o sentido do predicado. Classificam-se em TRANSITIVOS DIRETOS, TRANSITIVOS INDIRETOS, TRANSITIVOS DIRETOS E INDIRETOS ao mesmo tempo e TRANSITIVOS ADVERBIAIS. (KURY, 1999, p.29).

Em virtude disso, verbos transitivos são os que não possuem sentido

completo na oração, de tal modo que precisam de um complemento para ter

sentindo completo.

A respeito dos Verbos Transitivos, Brandão (1888, p.23) não conceitua como

Kury, pois identificamos que ele aborda diretamente dos complementos desse verbo

ao dizer:

O complemento necessario do verbo d’esta espécie de verbo exprime sempre o objecto de uma acção, e não é acompanhado de preposição, salvo em alguns casos em que é regido de a. Exemplos: A modéstia doura os talentos / Pedro feriu Paulo. (BRANDÃO, 1888, p.23).

Assim sendo, Brandão (1888), em oposição a Kury (1999), não conceitua os

verbos transitivos, mas, tal qual Kury, mostra o complemento desses verbos.

Quanto aos Termos Integrantes da oração, Kury (1999, p.44-54) apresenta-

nos da seguinte forma:

1. OS COMPLEMENTOS VERBAIS: Objeto direto, objeto direto preposicionado, objeto direto pleonástico, objeto indireto, duplo objeto indireto e objeto indireto pleonástico. 2. O COMPLEMENTO ADVERBIAL.

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3. AGENTE DA PASSIVA. 4. COMPLEMENTO NOMINAL. (1999, p.44-54).

Dessa maneira, salienta-se o Complemento Adverbial que está inserido nos

Termos Integrantes da Oração, porém trataremos desse assunto em um aspecto

separado.

Quanto ao complemento verbal, ressalta-se o objeto direto e Kury (1999,

p.44-45) esclarece:

Chama-se OBJETO DIRETO ao termo da oração que integra o sentido de um verbo transitivo direto, exprimindo, pois, o ser pelo qual se dirige a ação [...]. O objeto direto pode exprimir-se por meio de: a) substantivo (ou palavra substantivada) não regido de preposição obrigatória. (KURY, p.44-45).

No que se refere ao objeto direto, Brandão (1888, p.23) não denomina dessa

maneira, porém trata do “Complemento necessario do verbo de acção transitiva”

com a mesma função do “Objeto direto” apresentado por Kury (1999). De tal modo,

ambos estudiosos, mais uma vez, entram em oposição só na nomenclatura.

Quanto ao objeto indireto, Kury (1999) e Brandão (1888) apresentam da

mesma forma, todavia, mudam apenas o nome, mas, o sentido é igual. Objeto

indireto, explica Kury (1999, p.47), “é o termo da oração que, sem caracterização

perfeitamente definida [...], vem regido de preposição.” Tal qual Brandão (1888,

p.22) ao explicitar:

O complemento necessario do verbo relativo exprime também relações differentes, e é acompanhado de diversas preposições, sendo as mais frequentes a, de e para. E acompanhado da preposição a, quando refere-se a verbos cuja significação encerra Idea de obediência, direcção a um termo, etc. (BRANDÃO, 1888, p.22)

De tal forma, Brandão (1888) tinha conhecimento do Objeto indireto, só não o

denominava dessa maneira, como percebemos, ele chama de “complemento

necessário do verbo relativo”, uma vez que o verbo precisa vir acompanhado por

preposição. Porquanto, Brandão (1888) e Kury (1999) entram em contradição

apenas na terminologia da palavra, pois, a linha de pensamento se aproxima muito

em seus estudos.

Convém ressaltar o Agente da Passiva que, “como o próprio nome o diz, o

termo da oração que exprime, na voz passiva como auxiliar, o ser que exerce a ação

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que o sujeito paciente recebe ou sofre”, conforme conceitua Kury (1999, p.50). Em

contrapartida, Brandão (1888, p.77) desconhece essa nomenclatura, não obstante,

denomina que “é passiva a fórma da proposição, quando o sujeito é que recebe a

acção do verbo, praticada por um agente diverso, que póde estar occulto.” Diante

disso, enquanto Kury nomeia de Agente da Passiva, Brandão, de Forma passiva.

Em relação ao Complemento Nominal, afirma Kury (1999, p.51) que “é o

complemento dessas palavras transitivas (nomes e advérbios), obrigatoriamente

preposicionado, que recebe o nome de COMPLEMENTO NOMINAL”. Com base

nisso, tal qual define Brandão (1888, p.18-19), entretanto, ao invés de usar o termo

Complemento Nominal, ele denomina de Complemento Necessário do Apelativo,

porquanto, o significado é o mesmo.

Ao final do segundo capítulo, apresentam-se os Termos Acessórios da

Oração: O Adjunto Adnominal, Adjunto Adverbial, Aposto e o Vocativo. Ao tratar do

Adjunto Adnominal, Kury (1999, p.54), autor da obra Novas Lições de Análise

Sintática, explica:

Em qualquer função sintática que possa ter como núcleo um substantivo, este pode vir acompanhado de palavras ou locuções de valor ou função adjetiva que lhe delimitam o sentido geral: Os TEUS olhos NEGROS são como DUAS flores DO MAL. Essas palavras ou locuções que gravitam em torno do núcleo substantivo são os ADJUNTOS ADNOMINAIS. (KURY, 1999, p.54).

Sendo assim, Brandão (1888) não aborda o Adjunto Adnominal, inclusive,

porque Brandão (1888) não trata do núcleo da oração, de tal modo que o Adjunto

Adnominal está, intrinsecamente, ligado ao núcleo do Substantivo.

Em relação ao Adjunto Adverbial, há uma descontinuidade entre Kury e

Brandão. Em vista disso, Kury (1999, p.55) afirma que “advérbio ou locuções

adverbiais, que, na frase, acrescentam circunstâncias a verbos, ou intensificam a

ideia expressa por verbo, adjetivo ou advérbio, recebem o nome de ADJUNTOS

ADVERBIAIS”. Acrescenta Melo (apud KURY, 1999, p.55) ser, pois, “modificadores

(cantar bem) ou intensificadores (“automóvel bastante estragado”, “riram muito”,

“cantar muito mal”)”.

A concepção de Brandão (1888, p.139), ao Adjunto Adverbial merece ênfase,

uma vez que o autor não trabalha com essa nomenclatura sintática, porém

denomina-o de “Complemento Accidental Circumstancial”.

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Quanto ao Aposto, diz Kury (1999, p.57):

Uma idéia fundamental contida num termo de valor substantivo, em qualquer função sintática, pode ser continuada, explicada (inclusive por comparação), desenvolvida ou resumida num termo acessório, seu equivalente ou adjunto, também necessariamente substantivo, APOSTO. (KURY, 1999, p. 57).

Dessa maneira, o aposto tem o valor de um substantivo seja qual for a função

sintática. Tal qual explica Brandão (1888, p.141) que o “substantivo continuado ou

apposto, venha antes ou depois da palavra a que se refere, é sempre separado

d´ella por meio de virgula”. Por conseguinte, o conceito de ambos autores é o

mesmo para o Aposto, entretanto, Brandão (1888, p.141) além de denominá-lo de

“substantivo apposto”, também, o denomina de “substantivo continuado”. Quanto a

isso, Kury (1999) diferencia-se por classificar o Aposto da seguinte maneira, a saber:

1. Aposto explicativo e enumerativo. 2. Aposto de oração. 3. Aposto de

especificação e 4. Aposto aparente. Em contra posição, Brandão não classifica o

Aposto.

No que diz respeito ao Vocativo, afirma Kury (1999, p.61) que é “parte tanto

do sujeito como do predicado, pode ocorrer na oração um termo com que se

interpela o ouvinte – o VOCATIVO.” Observa, também, que “um vocativo pode

subordinar-se a uma oração: Ó Deus, [que estás no Céu], tem piedade de mim!”.

Diante disso, Kury (1999, p. 63) acrescenta:

O período se diz COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO quando haja nele uma oração PRINCIPAL e uma ou mais SUBORDINADAS, isto é, dependentes dela. Pode também haver orações subordinadas não a uma principal, mas a um VOCATIVO. (KURY, 1999, p.63).

Por conseguinte, o autor afirma que a oração subordinada pode estar ligada

não só à oração principal, mas também, ao vocativo. Paralelamente, Brandão (1888,

p. 142) apresenta o vocativo em sua obra, entretanto, mudando apenas o nome e

diz que “palavras em apostrophe podem ser collocadas no principio, no meio ou no

fim da proposição [...]. Exemplo: Senhor, escutáe a voz dos opprimidos”.

O terceiro capítulo da obra faz a abordagem sobre o período composto e Kury

(1999, p.62) conceitua que se diz composto quando o período “é formado de mais

de uma oração, e que as orações que o compõem podem ser de três tipos:

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INDEPENDENTES, PRINCIPAIS E SUBORDINADAS”. Semelhantemente, diz

Brandão (1888, p.86-93) que a oração é dividida “em independente e subordinada”,

assim sendo, ao tratar a divisão do período composto, afirma que “póde constar de

dous, tres e quatro membros, e denomina-se então dicólis, tricólis e tetracólis, ou

bimembre, trimembre e quadrimembre” Diante disso, a única diferença de Brandão

para Kury, quanto ao período composto, é que o primeiro chama de proposições

independentes e subordinadas, enquanto Kury chama oração independente e

oração subordinada.

Em relação à classificação do período composto por coordenação, afirma

Kury (1999, p.62) que “todas as orações de um período são independentes, isto é,

têm sentido por si mesmas, e poderiam, por isso, constituir cada uma um período, o

período se diz COMPOSTO POR COORDENAÇÃO”. Com algumas diferenças, diz

Brandão (1888, p.131) que a coordenação está ligada, “conforme as preposições

empregadas, divide-se em consecutiva, correlativa, exclusiva, alternativa e

adversativa.”

Assim sendo, Kury (1999) classifica as orações coordenadas tal como

Brandão (1888), porém, com duas contradições, a saber: na primeira, Brandão

aborda a oração consecutiva ao invés da conclusiva, apresentada por Kury(1999)

somente nas orações subordinadas adverbais. Em seguida, na segunda,

Brandão(1888) nomeia de coordenação correlativa a que Kury (1999) denomina

aditiva, mas, modificam, apenas, a nomenclatura, pois têm a mesma explicação.

Quanto às orações subordinadas, diz Kury (1999, p.70) que “é

SUBORDINADA a oração que depende de um termo da frase (como um vocativo),

ou de uma oração principal, nele ou nela exercendo uma função sintática”. Sendo

assim, as orações subordinadas são classificadas em Substantivas, Adjetivas e

Adverbiais, pois Kury (1999, p.71) explica:

Qualquer oração subordinada se classificará, primeiramente, conforme a sua função oração principal, em: 1) SUBSTANTIVA, quando exerce função própria de substantivo (sujeito, objeto, predicativo, complemento nominal, aposto, agente da passiva); 2) ADJETIVA, quando exerce a função de adjunto adnominal; 3) ADVERBIAL, quando exerce a função adjunto adnominal. (KURY, 1999, p. 71).

Em descontinuidade, diz Brandão (1888, p. 93) que “subordinada é a que

exprime um sentido dependente de outro com que tem relação necessaria.” De tal

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modo que o conceito é semelhante, contudo, classifica Brandão (1888, p.93-101) em

Proposição Elementar, Proposição Complementar, Proposição Circunstancial e

Proposição Apositiva.

O último capítulo da obra trata dos problemas e fatos sintáticos de interesse

para a análise, a saber: Haplologia, pleonasmo e anacoluto, silepse e termos e

substitutivos ou vicários. É preciso enfatizar que Brandão (1888) não aborda isso em

sua obra.

A obra encerra com Apêndices por meio de modelos de análise sintática,

quadros sinópticos, exercícios de verificação e textos para exercício de revisão.

Assim como Brandão (1888), que também encerra com Apêndice, a diferença é que

não apresenta exercícios.

Em face do término da análise do terceiro aspecto, focalizaremos o aspecto

que trata da Função do Advérbio.

3.2.4 Quarto aspecto: Função do Advérbio

A Função do Advérbio está inserida nos termos acessórios da oração, e

explicita Kury (1999, p.55) que:

Advérbios ou locuções adverbiais, que, na frase, acrescentam circunstâncias a verbos ou intensificam a idéia expressa pelo por verbo, adjetivo ou advérbio, recebem o nome de ADJUNTOS ADVERBIAIS. Podem ser, pois, modificadores (‘cantar bem’) ou intensificadores (‘automóvel bastante estragado’, ‘riram muito’, ‘cantar muito mal’). (KURY, 1999, p.55).

Como mencionado pelo autor, os adjuntos adverbiais podem ser

modificadores ou intensificadores. Analisemos os exemplos apresentados: 1.

“Cantar bem”. O termo bem modifica o verbo cantar, dando-lhe uma circunstância de

que a pessoa canta e bem, por isso, chamado de Adjunto Adverbial Modificador. 2.

“Automóvel bastante estragado”/ “riram muito”. No primeiro exemplo, o termo

bastante intensifica o verbo estragado, de modo que a oração poderia ser

“automóvel estragado”, mas veja que uma circunstância foi acrescentada à oração,

pois o automóvel não só está estragado, como está e bastante, intensificando,

assim, a ação verbal. No segundo exemplo, o termo muito, também, traz

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intensificação ao verbo, uma vez que pessoas não só riram, mas riram muito. Sendo

assim, nesses dois casos, ocorrem Adjuntos Adverbiais intensificadores.

Assim como Brandão (1888), Kury (1999) apresenta os tipos da sintaxe do

advérbio, e diz que é muito difícil citar todo adjunto adverbial, dentre eles, destacam-

se os de: acréscimo, assunto, causa, companhia, comparação, concessão,

condição, conformidade, direção, dúvida, favor ou interesse, fim, frequência,

instrumento, intensidade, limite, matéria, meio, modo, preço, substituição ou troca,

tempo.

O autor trata, também, desse assunto, em sua Gramática Objetiva, vol.II, ao

afirmar que Adjunto adverbial “é a função expressa pelo advérbio, locução adverbial

ou qualquer expressão que revele circunstância”, Kury; Oliveira (1986, p.38). Essa

explicação é mais suscita e simples do que a anterior.

Com base nesses conceitos, Kury (1999) enfatiza que o Adjunto Adverbial é a

função do Advérbio na oração, isso é argumentado nas obras Novas Lições de

Análise Sintática, de Kury (1999) e na Gramática Objetiva, de Kury e Oliveira (1986).

Em virtude disso, percebe-se que Kury (1999) abrange seu conceito ao decorrer dos

anos, em vista de tratá-los de uma forma menos abrangente em sua gramática, ao

contrário da segunda obra, em que o autor, além de dizer que a função do advérbio

expressa uma circunstância, acrescenta a informação de que modifica o verbo,

adjetivo ou o próprio advérbio.

Diante disso, vale salientar que Brandão (1888, p.138) opõe-se quanto à

nomenclatura, pois, denomina o Adjunto Adverbial de Complemento Acidental

Circunstancial, entretanto à função sintática é a mesma abordada por Kury (1999),

de forma que, nesses casos, a sintaxe do advérbio não é necessária para o

entendimento da oração, por isso, inclusiva nos termos acessórios da oração.

Convém ressaltar uma nova concepção apresentada por Kury (1999, p.32) ao

Adjunto Adverbial, quando afirma:

Certos verbos de movimento ou de situação (como chegar, ir, partir, seguir, vir, voltar; estar, ficar, morar, etc.), quando pedem um COMPLEMENTO ADVERBIAL DE LUGAR que lhes integre o sentido, embora tradicionalmente classificados como intransitivos, devem ser considerados transitivos, desde que se entenda por TRANSITIVIDADE a necessidade de um complemento “que vem acabar uma idéia insuficiente em si mesma.” (KURY, 1999, p.32).

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Assim sendo, Kury (1999) considera que o Adjunto Adverbial ultrapassa o

conceito básico de ter apenas o valor do advérbio ou locução adverbial que, com ou

sem preposição, modifica o verbo, adjetivo e até o próprio advérbio.

Consequentemente, percebe-se que o termo é mais abrangente do que os conceitos

apresentados, por isso, em alguns casos, será uma informação necessária, sendo

assim, não pode ser desconsiderado ao sentido da oração.

Diante disso, mais do que um verbo intransitivo, há a necessidade de um

complemento adverbial para completar a predicação de alguns verbos transitivos

adverbiais de movimentação ou situação, uma vez que transitividade precisa de um

complemento para dar sentido ao verbo que, por si mesmo, é insuficiente. Convém

ressaltar que o autor não aborda isso em sua Gramática, contudo, exclusivamente,

nesta obra de estudo de sintaxe da Língua Portuguesa.

Nessa perspectiva, avança-se muito em relação ao conceito do Adjunto

Adverbial, de forma que outros autores seguem essa mesma linha de análise,

esclarece Kury (1999, p.33):

Levando em conta esse fato, vários autores têm incluído esses verbos entre os transitivos: José Oiticica os denomina “Verbos adverbiados”; Rocha Lima lhes chama “transitivos circunstanciais”; Evanildo Bechara sugere o nome “transitivos adverbiais”, observando que, numa oração como “Irei à cidade.”, à cidade é COMPLEMENTO, e não ADJUNTO. Antenor Nascentes, embora os inclua entre intransitivos, adverte: “Tratando-se de verbos intransitivos de movimento, o complemento de direção não pode ser considerado elemento meramente acessório. Considerando esses motivos, incluímos entre os verbos transitivos os ADVERBIAIS. Exemplos: “[..] Moro na China.”; “O presidente voltou da China”. (KURY, 1999, p.33).

Para tanto, esses estudiosos, dentre eles, os ilustres Evanildo Bechara (2009)

e Rocha Lima (1956), procedem à mesma percepção de Kury(1999) quanto ao

Adjunto Adverbial.

No que se refere ao Verbo Transitivo Adverbial, explica Bechara (1976, p.44):

Diante de expressões do tipo: Irei à cidade, Voltei do trabalho, tínhamos rigor de falar em verbos transitivos adverbiais, isto é, os que pedem como complemento uma expressão adverbial. Contra o conceito de complemento, a Nomenclatura Gramatical Brasileira arrola tais casos entre os adjuntos adverbiais. A incongruência se torna mais patente quando classificamos em: Ida à cidade, Volta ao trabalho, à cidade e ao trabalho como complementos nominais. (BECHARA, 1976, p.44).

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A partir dessa citação, podemos perceber que Bechara (1976) favorece o

estudo acerca dos verbos transitivos adverbiais, de tal forma que critica a

Nomenclatura Gramatical Brasileira que deveria rever a sintaxe do advérbio. Diante

disso, assim como Kury (1999), o autor sugere o nome de verbos transitivos

adverbiais.

A respeito dessa abordagem, acrescenta-se, também, Infante (2005, p.26)

que afirma:

[...] em construções como: Estamos no mesmo lugar. Chegamos à velha casa de nossa infância. Permaneceremos ao pé da porta. Voltou à terra natal. Viemos de Poços de Caldas. Nesses casos, seria questionável dizer que os verbos não necessitam de um termo que os complemente. Esse termo, no entanto, não é objeto indireto, pois tem nítido valor adverbial [...]. Alguns gramáticos propõem a denominação complemento circunstancial de lugar ou complemento adverbial locativo para esses termos. (INFANTE, p.25, 2005, grifo nosso).

Mais um autor, tal qual Kury (1999), discorre do adjunto adverbial como

complemento na oração.

Nesse sentido, Kury (1999, p.33) assevera que inclui entre os verbos

transitivos os ADVERBAIS, a exemplo de:“Ela IA à igreja todas as manhãs.”; “MORO

no Rio de Janeiro”. e “O presidente VOLTOU da china”. Diante disso, por um lado

Kury (1999) afirma que não se tem um verbo intransitivo, mas, um verbo transitivo

adverbial, uma vez que precisa de um complemento para se entender o enunciado.

Por outro lado, esse complemento não será Adjunto Adverbial de lugar, pois, nesses

casos, especificamente, não é um termo apenas acessório. É relevante, contudo, ao

sentido da oração e, por isso, denomina “Complemento Adverbial”, incluindo, dessa

maneira, nos termos integrantes da oração.

Diante do exposto, para melhor esclarecimento da sintaxe do Advérbio, faz-se

necessário fazer um resumo do assunto trabalhado por meio de um quadro

comparativo entre Brandão (1888) e Kury (1999), apresentando-o da seguinte forma:

Brandão (1888) Kury (1999)

Complemento Acidental

Circunstancial: quando, incidentemente,

se referir a um verbo, adjetivo ou

Adjunto Adverbial: acrescenta

circunstâncias a verbos ou intensificam a

ideia expressa pelo por verbo, adjetivo

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advérbio, sem exigir a significação da

proposição. É regido por preposição

sempre, exprimindo uma circunstância.

ou advérbio. Está inserido nos termos

acessórios da oração, pois a ausência

do Adjunto Adverbial não altera o sentido

da oração.

Tipos de Complemento Acidental

Circunstancial:

Tipos de Adjunto Adverbial:

Causa: Condemnados por culpa e por

feitos vergonhosos.

Causa: Não saí por preocupação.

Companhia: O tal negocio foi tão quente

que entraram os mouros com elles dentro

d’agua.

Companhia: Sairei contigo.

Fim: Para banhos há muitas casas

grandes e capazes.

Fim: Vive para o estudo.

Instrumento: Na cabeça não criam

cabello, senão o que rapam cada dia á

navalha.

Instrumento: Preferia pintar a óleo (ou

com guache).

Matéria: Fez a imagem de ouro. Matéria: O telhado foi construído de

zinco.

Meio: Alcançou por intercessão de Davi

que podesse entrar em o Sancta

Sanctorum.

Meio: Ganharam por fraude.

Modo (segundo, conforme): Procedeu

segundo ou conforme a lei.

Conformidade: Pagar dízimo segundo o

costume.

Modo: Ia fugindo à rédea solta.

Modo: O barco vogava à mercê do

vento.

Preço: Resgatou este filho d’el-rei com

toda a sua família por treze mil miticaes.

Preço: Cobrava cada fruta a cem

cruzeiro.

Substituição: Por armas têm adargas e

terçados.

Substituição: Deu um automóvel por um

terreno.

Tempo: De noite se passaram todos á

terra.

Tempo: Durante as férias, li três

romances.

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É importante o fato de que, mesmo em século diferente, há continuidade entre

os autores. Aqui, a Função do Advérbio é tratada por Kury (1999) como termo,

meramente, acessório, chamado de Adjunto Adverbial, e por Brandão, de

Complemento Acidental Circunstancial, pois não tem relação necessária com o

verbo, adjetivo ou com o próprio advérbio. Dessa forma, os autores só estão em

descontinuidade com a nomenclatura apenas, mas o sentido é o mesmo, prova

disso, as circunstâncias apresentadas são iguais.

Por meio do quadro apresentado, vale destacar a circunstância de lugar,

porque, em alguns casos, há descontinuidade entre os autores, por isso, não a

incluímos nesse quadro, uma vez que selecionamos, aqui, os pontos em comum.

Essa descontinuidade será abordada a seguir, uma vez que, para melhor

compreensão, convém explicá-la após o segundo quadro a respeito da concepção

da sintaxe do advérbio.

Agora, apresentaremos o segundo quadro comparativo entre os autores por

abordarem outra concepção sobre a Função do Advérbio, a saber:

Brandão (1888) Kury (1999)

Complemento Necessário do Verbo

Relativo: É o que é exigido pela

significação do verbo (antecedente),

exprime relações, e é empregado

sempre com um complemento regido de

preposição.

Complemento Adverbial:

Certos verbos de movimento ou de

situação (como chegar, ir, partir, seguir,

vir, voltar; estar, ficar, morar etc.),

quando pedem um COMPLEMENTO

ADVERBIAL DE LUGAR que lhes

integre o sentido, embora

tradicionalmente classificados com

Intransitivos, devem ser considerados

transitivos, desde que se entenda por

TRANSITIVIDADE a necessidade de um

complemento que vem acabar uma idéia

insuficiente em si mesma. Considerando

esses motivos, incluímos entre os verbos

transitivos os ADVERBIAIS.

Tipo de Complemento Necessário do Tipos de Complemento Adverbial:

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Verbo Relativo:

Direção: E’ regido de para, se refere a

um verbo cuja significação contenha

uma Idea de direcção para algum termo,

etc.

Exemplo:

«Vieram para o Brazil».

Lugar aonde (direção): Voltou à casa

paterna.

Lugar donde (origem): Venho da

cidade.

Lugar para onde (situação): Vive no

deserto.

Lugar para onde (direção): Embarcou

para a Europa.

Lugar por onde (passagem):

Voltaremos pelo túnel.

Tal quadro comparativo, podemos perceber o ápice desta pesquisa por

trabalhar uma nova concepção da Função do Advérbio, que é tratado,

sintaticamente, como Complemento relevante na oração, chamado por Brandão

(1888) de Complemento Necessário do Verbo Relativo, e o Verbo, de Antecedente,

já Kury (1999) o denomina de Complemento do Advérbio e Verbo Transitivo

Adverbial, mudando a nomenclatura, mas a função sintática é a mesma.

Mediante essas colocações, destacamos que há uma descontinuidade com a

circunstância de lugar da Função do Advérbio. O quadro explicitará essa

divergência:

Brandão (1888) Kury (1999)

Complemento Acidental

Circunstancial:

Exemplo:

Voltará para o anno.

Complemento Adverbial:

Exemplos:

Voltou à casa paterna.

O presidente voltou da China.

Como apresentado, em alguns casos, Brandão (1888, p.33) considera a

circunstância de lugar como Complemento Acidental Circunstancial ao contrário de

Kury (1999, p.32) que considera Complemento do Advérbio sempre.

Tendo em vista essa descontinuidade entre os autores, consideramos que,

para a circunstância de lugar da Função do Advérbio ser complemento significativo

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na oração, dependerá do contexto ou do ponto de vista, assim, partindo do exemplo

de Kury (1999, p.33) “O presidente voltou da China”, esse termo da China, segundo

o autor é indispensável para o entendimento da oração, mas, para Brandão (1888),

nesse caso, não é relevante para a compreensão da proposição. Ora, isso ocorre,

porque a oração está sendo analisada por ângulos diferentes. Brandão (1888) a

analisa da seguinte forma: “O presidente viajou para China, mas ele voltou”. Veja

que, nesse caso, o verbo voltar não precisa mais de um complemento, pois já foi

citado anteriormente, de tal maneira que se sabe de onde a pessoa voltou, todavia

essa colocação só é cabível se o receptor souber para onde a pessoa viajou, por

isso, dependerá do contexto, e é nesse sentido que Kury analisa a oração, levando

em conta que o receptor não sabe para onde o indivíduo viajou.

Portanto, podemos concluir que ambos os autores estão corretos quanto a

essa Função do Advérbio que dependerá do contexto para ser ou não complemento

necessário na oração. Assim, finalizada a análise das obras, passaremos às

Considerações Finais deste trabalho.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de implementação acerca do estudo da sintaxe no século XIX

mereceu destaque, pois, nesse período, foram constatadas novas concepções sobre

a sintaxe do advérbio. Nessa época, as obras optaram pela continuidade da forma

latina, algumas, pela tradição, e outras, pelo movimento de descontinuidade.

Refletimos sobre o percurso historiográfico linguístico no Brasil que nos ajudou a

definir o problema desta pesquisa: como seu deu o estudo da sintaxe, sobretudo, da

Função do Advérbio, para o processo de implementação da Língua Portuguesa, na

segunda metade do século XIX, nos estudos de gramática de Thomaz da Silva

Brandão (1888) e de Adriano da Gama Kury (1999), do século XX?

Assim sendo, para solucionar tal problema, fundamentamo-nos na

Historiografia Linguística, particularmente, com Konrad Koerner (1996) e Pierre

Swiggers (1991), além dos pesquisadores brasileiros Cristina Altman (1999), Neusa

Bastos (2004) e Ronaldo Batista (2012). Desses, destacamos os três princípios de

Koerner (1996): o da contextualização, que levou em conta o contexto em que as

obras foram escritas; o da imanência, que estabeleceu uma compreensão completa,

tanto do ponto de vista histórico quanto crítico, da obra trabalhada, nesse caso,

selecionamos como corpus Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza, de

Thomaz da Silva Brandão (1888), do século XIX, e, por último, o da adequação, que

fez aproximações modernas do vocabulário técnico, usamos, assim, a obra Novas

Lições de Análise Sintática, de Adriano da Gama Kury (1999), da segunda metade

do século XX.

A nossa pesquisa abarcou quatro aspectos de análise das obras: os

Prefácios; as concepções de Língua, Linguagem e Gramática; a Organização

das Obras e a Função do Advérbio. Em vista disso, alcançamos o objetivo geral

deste trabalho, pois conseguimos explicar como seu deu o estudo da sintaxe,

sobretudo, da Função do Advérbio, para o processo de implementação da Língua

Portuguesa, na segunda metade do século XIX, nos estudos de gramática de

Thomaz da Silva Brandão (1888) e de Adriano da Gama Kury (1999), do século XX,

que se deu por meio de novas concepções apresentadas acerca da sintaxe do

advérbio, bem como explicitamos o processo de implantação de uma política

linguística em uma abordagem historiográfica. Atingimos, também, os objetivos

específicos, uma vez que pesquisamos o processo de implementação da sintaxe da

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segunda metade do século XIX; verificamos o estudo da sintaxe da Língua

Portuguesa, particularmente, da Função do Advérbio, levando em conta os aspectos

políticos, filosóficos, econômicos, sociais, intelectuais e culturais; apresentamos

discussões teóricas sobre a sintaxe da Língua Portuguesa, especificamente, da

Função do Advérbio e, por último, analisamos as obras de Thomaz da Silva Brandão

(1888), do século XIX, e de Adriano da Gama Kury (1999), do século XX,

considerando o que os autores tinham de continuidade e descontinuidade no que diz

respeito ao estudo da sintaxe do advérbio da Língua Portuguesa.

Dessa forma, para explicarmos melhor a concepção desses autores quanto à

Função do Advérbio, destaca-se a significação verbal que se divide em duas partes

na gramática tradicional, a saber: Verbo Transitivo (direto; indireto e direto e indireto)

e Verbo Intransitivo. Visto que o primeiro precisa de um complemento para dar

sentido à oração e, ao contrário disso, o segundo já tem um sentido completo. Cabe

enfatizar que, dentro da sintaxe, há o complemento verbal que completa a

predicação do verbo e o nominal que completa o nome. Diante disso, em uma

análise gramatical, percebem-se muitas incoerências à classificação desses

elementos, uma vez que não são cabíveis na oração.

Assim, selecionamos a obra de Brandão (1888) com o intuito de voltarmos às

origens do ensino da sintaxe. O autor discorreu de dois tipos de Complemento: o

Necessário e o Acidental. Os nomes desses complementos já são capazes de

conceituá-los, desse modo, o primeiro ocorre quando é necessário ao entendimento

da oração, ao contrário do segundo que acontece quando é posto, acidentalmente,

na oração; não influenciando a compreensão do enunciado.

Mediante esses conceitos mencionados pelo autor, constatamos dois pontos

relevantes à sintaxe do advérbio: 1. Ao nomeá-lo de Complemento Necessário do

Verbo Relativo quando houver ideia de direção, ex.: Vieram para o Brasil. Desse

modo, o termo para o Brasil é considerado Complemento, pois, quando tiver a ideia

de direção, é indispensável para a clareza da oração, uma vez que esse

complemento tem relação necessária com o verbo, por isso chamado de

Complemento Necessário do Verbo Relativo. Essa percepção vai de confronto à

gramática tradicional que considera esse termo um Adjunto Adverbial – acessório

apenas –. Brandão (1888), portanto, traz uma nova função sintática para o advérbio

de direção; isso comprova tratar-se de um autor muito à frente de sua época, em

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virtude de perceber, em pleno século XIX, algumas lacunas no ensino sintático da

Língua Portuguesa. 2. Ao nomeá-lo de Complemento Acidental Circunstancial,

quando a Função do Advérbio têm circunstâncias inseridas na oração

acidentalmente, assim, as suas ausências não alterariam o sentido da oração, por

isso denominado de Complemento Acidental Circunstancial. Aqui, Brandão trata da

sintaxe do Advérbio como termo acessório, assim como a gramática tradicional, mas

não o chama de adjunto adverbial, pelo fato de nessa época não existir essa

nomenclatura, todavia já se trabalhava tal concepção.

Nesse mesmo sentido, mencionamos Ribeiro (1915), gramático

contemporâneo, que está em continuidade com Brandão (1888), por apresentar,

sintaticamente, o Advérbio como Complemento na oração, chamando-o, também, de

Complemento Circunstancial, o que indica circunstância de tempo, modo, lugar.

Quanto a esse conceito, merece destaque a questão de que o autor, em

descontinuidade, não faz divisão de Complemento Necessário e Circunstancial,

ficando subtendido que esse Complemento já possui as duas dimensões tratadas

por Brandão, podendo referir-se tanto a um quanto a outro.

Para a Adequação, escolhemos a obra Novas Lições de análise Sintática, de

Kury (1999), que, tal qual Brandão (1888), trouxe reflexões importantes sobre a

Função do Advérbio, chamado por Kury (1999), segundo a gramática tradicional, de

Adjunto Adverbial, que está inserido nos termos acessórios da oração, porém, em

alguns casos de movimentação e situação, o autor o inclui nos Termos integrantes

da Oração, ex.: Moro na China. Conforme a gramática da Língua Portuguesa, na

China é adjunto adverbial, um termo acessório apenas, tendo em vista que o verbo é

intransitivo, mas esta pesquisa identificou um novo estudo sintático em uma

perspectiva da Historiografia Linguística, mostrando que, em alguns casos, o verbo

não é intransitivo, pois precisa do complemento para a oração ser compreendida,

por isso, a sintaxe do advérbio não pode passar despercebida, uma vez que possui

significações relevantes ao sentido verbal; significações essas indispensáveis para o

entendimento da enunciação.

Com base nisso, outros estudiosos da Língua Portuguesa ampliaram o estudo

sobre o complemento verbal, dentre eles: Bechara (2009), Rocha Lima (1956),

Ulisses Infante (2005), dentre outros que, em continuidade com Brandão e Kury,

consideram o fato de existirem alguns verbos que não podem ser deixados de lado

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quanto à sua função, consequentemente, os verbos de movimentação e situação

não podem ser intransitivos, porque a informação após o verbo é de suma

importância para o sentido da oração. Nessa abordagem, Rocha Lima sugeriu

Verbos Adverbiais e Complemento Adverbial, Bechara, Transitivos Adverbiais e

Complemento Adverbial, e Infante não apresentou nomenclatura para o Verbo, ele

só afirmou que há Verbo que necessita de um termo que os complete, que será

Complemento Circunstancial de Lugar ou Complemento adverbial locativo. Nesses

casos, os autores estão em comum acordo, embora mudem a nomenclatura apenas,

de que esse complemento não deve ser considerado um termo acessório, uma vez

que tem uma função relevante na oração.

Diante das discussões apresentadas acerca da Função do Advérbio, é

inquestionável afirmar que esses verbos não necessitem de um complemento, por

isso, inserimos o Complemento Adverbial nos termos integrantes da oração, de tal

forma que a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) deverá refazer algumas

concepções da sintaxe da Língua Portuguesa, fazendo, assim, uma revisão em sua

gramática a respeito do Adjunto Adverbial de movimentação e de situação, vindo

após o verbo intransitivo que não precisa de um complemento, mas fica difícil não

exigir um complemento à oração, uma vez que o verbo sozinho não possui sentido

completo, como efeito, será Verbo Transitivo Adverbial que exigirá um Complemento

Adverbial. Em vista disso, propomos que, revisada a gramática da Língua

Portuguesa, fosse inserida essa concepção da Função do Advérbio no livro didático

das escolas.

Portanto, partindo de uma perspectiva historiográfica da Língua Portuguesa, a

gramática tem se modificado no decorrer do tempo, fator esse relevante e

significativo, visto que a língua é mutável, de modo que está sempre em processo de

transformação. Prova disso, constatamos, em nosso trabalho, que a Sintaxe do

Advérbio não possui a função, apenas, de termo acessório, em que Brandão (1888)

chama de Complemento Acidental Circunstancial, e Kury, de Adjunto Adverbial (a

mesma apresentada pela gramática tradicional), entretanto percebemos que há

outra função, nos casos de advérbio de movimentação e situação – os que têm ideia

de direção –, que completará o sentido verbal, por isso, indispensável para

entendimento da oração, chamada por Brandão de Complemento Necessário do

Verbo Relativo e, por Kury, de Complemento Adverbial. Com base nisso, a

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Linguística tem contribuído de forma extraordinária com o estudo gramatical em

todos os aspectos (fonéticos – fonológicos, morfossintático, semântico e léxico),

particularmente, sintático. Esta pesquisa tratou de algumas concepções

concernentes à Função do Advérbio, ocasionando reflexões acerca do estudo

gramatical, abrangendo, dessa forma, o conhecimento linguístico.

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ANEXOS

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ANEXO 1: Capa da obra de Brandão (1888).

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ANEXO 2: Contracapa da obra de Brandão (1888).

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ANEXO 3: Índice da obra de Brandão (1888).

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ANEXO 4: Cont. do índice da obra de Brandão (1888).

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ANEXO 5: Cont. do índice da obra de Brandão (1888).

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ANEXO 6: Cont. do índice da obra de Brandão (1888).

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ANEXO 7: Cont. do índice da obra de Brandão (1888).

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ANEXO 8: Cont. do índice da obra de Brandão (1888).

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ANEXO 9: Cont. do índice da obra de Brandão (1888).

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ANEXO 10: Apêndice da obra de Brandão (1888).

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ANEXO 11: Cont. do apêndice da obra de Brandão (1888).

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ANEXO 12: capa da obra de Kury (1999).

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125

ANEXO 13: Ficha catalográfica da obra de Kury (1999).

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ANEXO 14: Sumário da obra de kury (1999).

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ANEXO 15: Índice geral da obra de Kury (1999).

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ANEXO 16: Cont. do índice geral da obra de Kury (1999).

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ANEXO 17: Cont. do índice geral da obra de Kury (1999).

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ANEXO 18: Cont. do índice geral da obra de Kury (1999).

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ANEXO 19: Cont. do índice geral da obra de Kury (1999).

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ANEXO 20: Cont. do índice geral da obra de Kury (1999).