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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP
WEMYLLA DE JESUS ALMEIDA
LÍNGUA PORTUGUESA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: Sintaxe do
Advérbio em uma perspectiva historiográfica
MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA
São Paulo 2014
WEMYLLA DE JESUS ALMEIDA
LÍNGUA PORTUGUESA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: Sintaxe do
Advérbio em uma perspectiva historiográfica
MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como
exigência parcial para obtenção do título de MESTRE
em Língua Portuguesa, sob orientação da Prof.ª Dr.ª
Neusa Maria Oliveira Barbosa Bastos.
São Paulo 2014
ERRATA
ALMEIDA, W. J. LÍNGUA PORTUGUESA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: Sintaxe do Advérbio em uma perspectiva historiográfica. São Paulo: PUC/SP, 2015. Dissertação de Mestrado.
Folha Linha Onde se lê Leia-se 4 25ª As queridas professoras
doutoras
Às queridas professoras
doutoras
5 10ª vocabulário técnico,
passando à análise
vocabulário técnico
8 5ª no ensino da Língua
Portuguesa
do ensino da Língua
Portuguesa
8 8ª e, o da adequação e o da adequação
9
2ª por meio da Historiografia
Linguística, que juntamente
com a escola, possa
por meio da Historiografia
Linguística, para que
juntamente com a escola,
possa
12 1ª a diferença entre História e
Historiografia
a diferença entre História,
Historiografia e
Historiografia Linguística
12 10ª Historiografia tem como
objetivo principal o registro
escrito desses fatos
Historiografia tem como
objetivo principal o registro
desses fatos
13 26ª durante o final o final da
década de 70
durante o final da década
de 70
26 1ª aconteceu por meio do
grande apoio da camada do
café
aconteceu por meio do
grande apoio da classe
menos favorecida
26 7ª o monárquico D. Pedro II o monarca D. Pedro II
29 4ª há palavras que sozinhas
não tem um significado
há palavras que sozinhas
não têm um significado
37 3ª por meio do tempo através do tempo
37 23ª Em virtude isso Em virtude disso
38 3ª ideias de darwinistas ideias darwinistas
41 7ª Desse modo o que era Desse modo, o que era
46 1ª as linguagem e sociedade linguagem e sociedade
55 16ª Língua, Linguagem e
Gramática
Concepções de Língua,
Linguagem e Gramática
57 4ª usá-las para usá-las
59 1ª o autor inclui a sintaxe na
parte figurada
o autor inclui a parte
figurada na sintaxe
59 6ª do termo “espécie” dos termos “seres de
espécie ou natureza”
59 10ª é apresentada a palavra
“espécie”
são apresentadas as
palavras “seres de espécie
ou natureza”
59 16ª análise dos aspectos análise das concepções
77 12ª três aspectos de análise Quatro aspectos de análise
83 4ª dos verbos transitivos direto dos verbos transitivos
diretos
88 10ª cento e nove anos separam
esses estudiosos
cento e onze anos
separam esses estudiosos
90 32ª apresenta nformações apresenta informações
108 1ª a Linguística tem contribuído a Historiografia Linguística
tem contribuído
BANCA EXAMINADORA
_________________________
_________________________
_________________________
DEDICATÓRIA
A Deus;
Ao meu esposo Elismarques;
Aos meus pais Lourival e Orismar;
Ao meu irmão Wenneson.
AGRADECIMENTOS
A Deus, autor da minha história, por me dar o conhecimento necessário para eu
alcançar mais um sonho acadêmico;
Ao meu amado esposo Elismarques, pelo amor e apoio incondicionais, por
compreender a minha ausência em momentos tão importantes de nossas vidas e
pelas palavras motivadoras, que foram fundamentais à conclusão deste mestrado;
Ao meu pai Lourival e à minha mãe Orismar, pelo imensurável amor, apoio, incentivo
e por me ensinarem, desde a infância, a relevância dos estudos;
Ao meu irmão Wenneson, pelo amor fraternal e apoio;
À queridíssima orientadora Dr.ª Neusa Bastos, pela grande orientação e incentivo,
fazendo-me sentir uma pesquisadora ativa no grupo de pesquisa Historiografia da
Língua Portuguesa do IP-PUC/SP, e aumentando, em mim, o anseio de prosseguir,
incansavelmente, nessa área do Saber, além disso, sou grata pela amizade valiosa,
paciência e pelas palavras sábias e motivadoras, que foram essenciais, também, ao
meu amadurecimento e crescimento pessoal;
À amiga-mãe Sônia, pela amizade peculiar, como também pelo apoio e troca de
conhecimento, que foram primordiais ao meu ingresso no mestrado;
Às amigas-irmãs Sueila, Francisca e Mônica, pela rica amizade e apoio;
À amada amiga Anna, pela imensurável amizade, hospitalidade, incentivo e pela
tradução do livro em francês;
À amada secretária e amiga Lourdes, pela preciosa amizade, incentivo e presteza;
À querida amiga Jaqueline, pela grande amizade e apoio;
Ao grande amigo Victor, pela amizade e apoio;
Às queridas professoras e amigas Cleude e Izabel, pelas aulas cativantes de Língua
Portuguesa no Ensino Fundamental que me despertaram a paixão por Letras;
As queridas professoras doutoras Sônia Nogueira e Nancy Casagrande, por
aceitarem o convite de participar da minha banca de mestrado e pelas fundamentais
considerações feitas no exame de qualificação;
A todos os professores doutores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
especialmente, à Dieli Palma, pelas aulas inspiradoras que contribuíram muito para
o meu conhecimento linguístico e gramatical;
A todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para a concretização desta
pesquisa.
RESUMO
Esta pesquisa reflete sobre o processo de ensino da sintaxe da Língua Portuguesa,
em especial, da Função do Advérbio, no Brasil, na segunda metade do século XIX.
Buscamos traçar o percurso historiográfico no ensino, tomando como corpus a obra
de estudo Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz da Silva
Brandão (1888). Nessa perspectiva, o embasamento teórico do nosso trabalho é o
da Historiografia Linguística (HL), especificamente, com Koerner (1996), partindo
dos seus três princípios: contextualização, que traça o clima de opinião, o espírito de
época, imanência, que estabelece um quadro geral da teoria e da terminologia
usada nas obras e, adequação, que introduz aproximações modernas do
vocabulário técnico, passando à análise. Assim sendo, para a adequação, utilizamos
a obra de estudo Novas lições de análise sintática, de Adriano da Gama Kury
(1999), a fim de contribuir com o desenvolvimento do ensino de Língua Portuguesa
no Ensino Fundamental. Dessa forma, os nossos principais objetivos consistem em
explicar como seu deu o estudo da sintaxe, sobretudo, da Função do Advérbio, para
o processo de implementação da Língua Portuguesa, na segunda metade do século
XIX, nos estudos de gramática de Thomaz da Silva Brandão (1888) e de Adriano da
Gama Kury (1999), do século XX, além disso, explicitar o processo de implantação
de uma política linguística em uma abordagem historiográfica. Como resultado de
nossa pesquisa, constamos que as obras analisadas contribuíram muito para a
implementação da sintaxe do advérbio da Língua Portuguesa, uma vez que há
lacunas no ensino da Função do Advérbio que precisam ser preenchidas.
PALAVRAS-CHAVE: Língua Portuguesa, Sintaxe do Advérbio, Historiografia
Linguística, Ensino.
ABSTRACT
This research reflects on the syntax of the teaching process of the Portuguese
language, in particular, the adverb function in Brazil in the second half of the
nineteenth century. We seek to trace the historiographical paths in learning, taking as
corpus Syntax study work and construction of the Portuguese Language, Thomaz da
Silva Brandão (1888). In this perspective, the theoretical foundation of our work is the
Historiography Language (HL), specifically, Koerner (1996), based on its three
principles: context, mapping the climate of opinion, the spirit of the time, immanence
establishing an overview of the theory and terminology used in the works and,
fitness, introducing modern approaches of technical vocabulary, from the analysis.
Therefore, for the adjustment, use the work of New study lessons of syntactic
analysis, Adriano da Gama Kury (1999) in order to contribute to the development of
the Portuguese language teaching in elementary school. Thus, our main objectives
are to explain how his gave the study of syntax, especially, the adverb function to the
implementation process of the Portuguese language in the second half of the
nineteenth century, in Thomaz grammar studies da Silva Brandão (1888) and
Adriano da Gama Kury (1999), the twentieth century also explain the deployment
process of a language policy in a historiographical approach. As a result of our
research, we also noticed that the works analyzed contributed greatly to the
implementation of the syntax of the words of the Portuguese language, since there
are gaps in the teaching of adverb function that need to be filled.
KEYWORDS: Portuguese Language, Adverb Syntax, Linguistic Historiography,
Teaching.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................08
1. CONCEITOS BASILARES HISTORIOGRÁFICOS...............................................12
1.1 Considerações Iniciais.......................................................................................12
1.2 História e Historiografia...............................................................................................12
1.3 Historiografia Linguística..................................................................................13
2 ASPECTOS EDUCACIONAIS E LINGUÍSTICOS NO BRASIL, NA SEGUNDA
METADE DO SÉCULO XIX E XX..................................................................................22
2.1 Considerações Iniciais.......................................................................................22
2.2 Século XIX: aspectos educacionais, políticos e linguísticos no Brasil........22
2.2.1 Aspectos educacionais e políticos................................................................22
2.2.2 Aspectos linguísticos.....................................................................................28
2.2.2.1 Sintaxe nos séculos XVI, XVII e XVIII..........................................................28
2.2.2.2 Sintaxe no século XIX..................................................................................36
2.3 Século XX: aspectos educacionais, políticos e linguísticos no Brasil.........42
2.3.1 Aspectos educacionais e políticos................................................................42
2.3.2 Aspectos linguísticos.....................................................................................45
3. ANÁLISE DAS OBRAS.........................................................................................51
3.1 Syntaxe e Construcção da Lingua Portuguesa, de Thomaz da Silva Brandão
(1888).........................................................................................................................51
3.1.1 Primeiro aspecto: Prefácio.............................................................................53
3.1.2 Segundo aspecto: Concepções de Língua, Linguagem e Gramática........55
3.1.3 Terceiro aspecto: Organização......................................................................59
3.1.4 Quarto aspecto: Função do advérbio............................................................63
3.2 Adequação..........................................................................................................78
3.2.1 Primeiro aspecto: Prefácio.............................................................................81
3.2.2 Segundo aspecto: Concepções de Língua, Linguagem e Gramática........83
3.2.3 Terceiro aspecto: Organização......................................................................85
3.2.4 Quarto aspecto: Função do advérbio............................................................96
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................104
REFERÊNCIAS........................................................................................................109
ANEXOS..................................................................................................................112
8
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa surgiu da necessidade de fazer uma reflexão sobre o ensino de
Língua Portuguesa, no Brasil, na segunda metade do século XIX. Para tanto,
tomamos como corpus a obra de estudos Syntaxe e construcção da Lingua
Portugueza, de Thomaz da Silva Brandão (1888), traçando o percurso historiográfico
no ensino da Língua Portuguesa. Embasamos nosso estudo em Historiografia
Linguística, seguindo, particularmente, os três princípios de Koerner (1996): o da
contextualização, que trata do clima de opinião da época, o da imanência, que
estabelece um conhecimento tanto histórico quanto crítico do trabalho em estudo, e,
o da adequação, que traz uma aproximação do vocábulo técnico das obras
selecionadas. Assim sendo, para a adequação, adotaremos a obra de estudo Novas
Lições de Análise Sintática1, de Adriano da Gama Kury (1999), em virtude de
contribuir com o ensino de Língua Portuguesa.
Convém ressaltar que, nas análises das obras, buscaremos verificar o estudo
da sintaxe da segunda metade do século XIX na obra de Brandão (1888), em
especial, a Função do Advérbio, considerando suas abordagens e concepções sobre
esse assunto, a metodologia aplicada, bem como seu interesse em produzir a obra.
Dessa maneira, faremos a Adequação com a obra de Kury (1999), da segunda
metade do século XX. Por conseguinte, o percurso historiográfico linguístico do
Brasil ajuda-nos a definir o problema desta pesquisa: como seu deu o estudo da
sintaxe, sobretudo, da Função do Advérbio, para o processo de implementação da
Língua Portuguesa, na segunda metade do século XIX, nos estudos de gramática de
Thomaz da Silva Brandão (1888) e de Adriano da Gama Kury (1999), do século XX?
Apontamos que há escassez de material em estudo de sintaxe, com
perspectiva historiográfica, e isso nos direcionou à escolha do corpus. Esta pesquisa
pretende contribuir, além de suscitar reflexões, com o ensino de sintaxe da Língua
Portuguesa no Brasil.
Diante disso, temos observado, por meio do nosso estudo, inúmeras críticas
sobre o estudo da sintaxe da Língua Portuguesa, pois existem algumas lacunas a
serem preenchidas, todavia pouco se tem feito para resolver a situação.
1 A obra Novas Lições de Análise Sintática utilizada por nós é a 8ª edição, de 1999, mas a 1ª edição
se deu em 1985. (Cf. ANEXOS 12 e 13, pp.124-125).
9
A presente pesquisa permite levar novos conhecimentos gramaticais à sala
de aula, por meio da Historiografia Linguística, que, juntamente com a escola, possa
realizar um trabalho de troca de conhecimento. Possibilitando, assim, ao professor e
ao aluno, um aprofundamento no ensino da sintaxe da Língua Portuguesa, a fim de
formar profissionais mais críticos na construção do conhecimento Linguístico.
Partindo da necessidade de aprofundar estudos de sintaxe da Língua
Portuguesa, centramos nossa pesquisa na obra Syntaxe e construcção da Lingua
Portugueza, de Thomaz da Silva Brandão (1888). Este estudo justifica-se na medida
em que a discussão teórica acerca de estudos da sintaxe se faz relevante na área
de estudos de Língua Portuguesa.
Assim sendo, o objetivo geral do nosso trabalho é explicar como seu deu o
estudo da sintaxe, sobretudo, da Função do Advérbio, para o processo de
implementação da Língua Portuguesa, na segunda metade do século XIX, nos
estudos de gramática de Thomaz da Silva Brandão (1888) e de Adriano da Gama
Kury (1999), do século XX, além disso, explicitar o processo de implantação de uma
política linguística em uma abordagem historiográfica.
Os objetivos específicos tratam de:
Pesquisar acerca do processo de implementação da sintaxe da
segunda metade do século XIX, e identificando o que contribuiu para o
processo de implementação do estudo da função sintática do Advérbio da
Língua Portuguesa;
Verificar, na história, o estudo da sintaxe da Língua Portuguesa,
sobretudo, da Função do Advérbio, por meio dos aspectos políticos,
filosóficos, econômicos, sociais, intelectuais e culturais;
Apresentar discussões teóricas sobre a sintaxe da Língua Portuguesa,
especificamente, da Função do Advérbio;
Analisar os documentos representativos do século XIX, de Thomaz da
Silva Brandão (1888) e, do século XX, de Adriano da Gama Kury (1999),
com o intuito de fazer aproximações modernas do vocabulário técnico,
estabelecendo um entendimento tanto histórico, quanto crítico do texto
trabalhado.
Elencamos, desse modo, quatro aspectos de análise das obras, em virtude de
se tratar de um trabalho qualitativo, como forma de reconstruir como a prática do
10
ensino de Língua Portuguesa ocorreu no período elegido pelos documentos. O
primeiro aspecto trata do Prefácio; o segundo, das concepções de Língua,
Linguagem e Gramática, o terceiro, da Organização das Obras, e o quarto, da
Função do Advérbio. Tais aspectos possibilitam a identificação dos momentos de
continuidade e descontinuidade do modelo de gramática greco-latino.
As obras apresentam traços relevantes no Prefácio e, além disso, os
conceitos de Língua, Linguagem e Gramática são o estofo para se entender essas
obras. Quanto à organização, identificamos o conteúdo proposto pelos autores que
conseguiam, por meio da linearidade, explicá-lo. Por último, a análise da Função do
Advérbio, uma das partes que merece destaque pelos estudiosos da segunda
metade dos séculos XIX e XX, devido à preocupação de se discutir a sintaxe da
Língua Portuguesa, visto que propiciará uma relação maior entre os envolvidos no
ensino.
Apresentaremos teorias historiográficas, incluindo conceitos ligados à
História, Historiografia e Historiografia Linguística, os quais fundamentaram a análise
do corpus escolhido. Porquanto, faremos aproximação com o século XX por meio da
obra Novas Lições de Análise Sintática, de Adriano da Gama Kury (1999), com o
intuito de verificar como se deu o processo de implementação do ensino da sintaxe
da Língua Portuguesa do século XIX.
Os quatro capítulos deste trabalho estão organizados da seguinte forma:
No primeiro, abordamos os conceitos basilares da historiografia,
apresentando a diferença entre História, Historiografia e Historiografia
Linguística, trazendo as discussões da HL.
No segundo, descrevemos o contexto educacional e linguístico no
Brasil, na segunda metade dos séculos XIX e XX, levando em
consideração o espírito de opinião dessa época. Assim, traçamos os
principais fatores educacionais que ocorreram com a sociedade
brasileira. Enfatizamos, também, o fio condutor de teorias e correntes
filosóficas que norteou o processo de ensino-aprendizagem da Língua
Portuguesa. Além disso, visamos expor as teorias linguísticas que
predominaram nesses períodos, uma vez que tais questões linguísticas
influenciaram a elaboração do corpus selecionado;
11
No terceiro, apresentamos o princípio da Imanência que se esforça
para estabelecer um entendimento tanto histórico quanto crítico da
obra selecionada, assim como o princípio de Adequação que faz
aproximações modernas do vocabulário técnico do trabalho em estudo.
Diante disso, passamos à análise baseada nos quatro aspectos
elegidos (Prefácio; Concepções de Língua, Linguagem e Gramática;
Organização das Obras e Função do Advérbio), tendo como corpus a
obra de estudo Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza, de
Thomaz da Silva Brandão (1888), do século XIX. Além disso, ao
princípio da adequação, usamos a obra Novas Lições de Análise
Sintática, de Adriano da Gama Kury (1999), em uma perspectiva
historiográfica.
Na conclusão, retomamos a pesquisa e apresentamos os resultados
obtidos no decorrer do estudo por meio da análise das obras.
Para finalizar, indicamos as referências bibliográficas e anexos que se
referem às Capas, assim como os Sumários e Índices das obras
analisadas.
A seguir, apresentamos o primeiro capítulo que discorre sobre as relações
entre História, Historiografia e Historiografia Linguística.
12
1 CONCEITOS BASILARES HISTORIOGRÁFICOS
1.1 Considerações iniciais
Este capítulo apresenta a diferença entre História e Historiografia, traçando
seus conceitos e objetivos, como também definindo o campo de estudo. O segundo
item trata da Historiografia Linguística, em que fundamentamos a teoria desta
pesquisa.
1.2 História e Historiografia
História e Historiografia estabelecem relações entre si, porém não podem ser
confundidas, uma vez que têm conceitos distintos.
Com relação à história, conceitua Le Goff (2003, p.29) que “[...] a história
define-se em relação a uma realidade que não é observada e nem construída, mas
sim indagada e testemunhada”. Em virtude disso, a história, como toda Ciência,
deve explicar e generalizar o fato ocorrido.
Ressalta-se que a história é a narração dos acontecimentos no decorrer do
tempo, entrelaçando o presente com o passado; o homem é o seu objeto de estudo.
Enfatiza-se que, enquanto a história narra, apenas, os fatos ocorridos, a
Historiografia tem como objetivo principal o registro escrito desses fatos sem a
preocupação de indagá-los.
A Historiografia, por sua vez, nasceu na França, e está, intrinsecamente,
ligada à história. Faz-se necessário salientar a contribuição significativa de Lucien
Febvre e Marc Bloch à historiografia “[...] no início do século XX, com a fundação da
revista Annales, cujo objetivo maior era o de promover um novo tipo de história e,
certamente, de historiografia”, afirmam Bastos; Palma (2004, p.16). Nessa
perspectiva, acrescentam Fávero; Molina (2006, p.19) que essa nova história
“esforça-se em aproximar a História de outras disciplinas, debruçando-se menos nas
narrativas dos acontecimentos e mais na análise de suas estruturas”, de tal modo
que “defende uma história total, ou seja, capaz de estudar, simultaneamente, o
econômico, o social e o cultural”.
Em consequência disso, percebe-se a interdisciplinaridade presente na
Historiografia, de tal maneira que há necessidade de “amplitude de abrangência e
13
profundidade de aprendizado, exigindo um conhecimento quase enciclopédico, por
parte do pesquisador, dada a natureza quase interdisciplinar dessa atividade”, afirma
Koerner (1996, p.12, grifo nosso). Dessa forma, a Historiografia está vinculada a
outras disciplinas, a fim de registrar a plenitude dos feitos humanos, a saber:
Sociologia, Psicologia, Economia, Linguística, Geografia, dentre outras.
Finalizados os conceitos de História e de Historiografia, trataremos da
Historiografia Linguística, em que focamos o nosso trabalho.
1.3 Historiografia Linguística
A Historiografia Linguística (HL) começou na Europa, nos anos 70, e está
ligada aos estudos históricos e, de acordo Bastos; Palma (2004, p.10), “[...] é o
modo de escrever a história do saber linguístico, tendo como objetivo
descrever/explicar como se desenvolveu tal saber em um determinado contexto”.
Dessa maneira, diz Altman (1999, p.22) que a HL descreve e explica “a história das
ciências da linguagem”. Nesse sentido, a HL vai além de analisar um escrito
acabado em um determinado tempo, de tal modo que examina as circunstâncias de
produção e percepção do conhecimento que se constrói acerca da linguagem e das
línguas.
A HL tem sido alvo de muitos pesquisadores que pretenderam resgatar os
fatos mais relevantes do passado linguístico. Já no início dos anos de 1970, diz
Koerner (1996, p.12) que vários estudiosos com interesse na história da linguística,
como uma especialidade acadêmica, “esforçaram-se em propor orientações para a
condução adequada da pesquisa historiográfica (Hymes 1974; Simone 1975;
Koerner 1976)”. Esse interesse teve um impacto considerado no debate por meio do
livro de Kuhn (1962), tal discussão focalizou até que ponto a morfologia das
revoluções científicas de Kuhn forneceriam uma direção favorável ao historiador da
linguística, porém essa discussão parece ter diminuído pelo possível trabalho de
Percival (1976) durante o final o final da década de 70, uma vez que este era
contrário à busca de paradigmas em linguística sem oferecer qualquer caminho
alternativo.
Nos anos de 1980, afirma Koerner (1996, p.13) que os estudiosos assistiram
a uma “variedade de estudos oferecendo linhas opcionais de conduta historiográfica,
entrando no debate sobre a abordagem apropriada à história da lingüística (Bahner
14
1981; Bokadorova 1986; Christmann 1987)”, porém, nos anos 90, não havia sido
“estabelecida uma base comum, a respeito de como se proceder relativamente à
historiografia lingüística e há indicações de que o debate continuará por algum
tempo”. Com efeito, algumas das propostas levantadas por muitos autores, fora da
linguística e de sua história, são analisadas antes que uma variedade de
considerações seja apresentada, de tal maneira que uma pesquisa na história das
ciências da linguagem deveria ser realizada, como também deveriam ser
apresentados seus desenvolvimentos no campo.
A HL, fora do Brasil, tem seu campo definido há mais de três décadas,
todavia, no país, a sua institucionalização ocorre em reuniões da Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística – ANPOLL, e, como
disciplina, surge em 1994, no programa de Pós-Graduação em Linguística da
Universidade de São Paulo, conforme Altman (1998, p.21). Sendo assim, temos a
contribuição significativa de vários pesquisadores, como a Prof.ª Dr.ª Maria Cristina
Salles Altman, da USP, a grande precursora da HL; a Prof.ª Dr.ª Neusa Maria
Oliveira Barbosa Bastos, líder do Grupo de Pesquisa de Historiografia da Língua
Portuguesa (GPeHLP – IP-PUC – SP) e o Prof. Dr. Ronaldo de Oliveira Batista, da
UPM.
A atividade de escrever a história da língua, segundo Altman (1999, p.29),
presume, pois:
a tarefa de reconstrução dos “fatos” a partir dos quais o historiógrafo constrói seu sistema de referências, mas pressupõe também a tarefa de selecionar e interpretar como os problemas linguísticos se constituíram, se formularam e reformularam através do tempo. (ALTMAN, 1999, p.29).
Dessa forma, se pressupõe que uma atividade baseada em princípios,
rigorosamente bem definidos, não pode ser comparada, apenas, à própria
linguística, mas também aos questionamentos e polêmicas levantados através do
tempo. Com efeito, explicita Altman (1999, p.29) que o trabalho do historiógrafo das
ciências da linguagem não deve focalizar apenas a “dimensão interna” – cognitiva do
desenvolvimento da disciplina –, mas também a “dimensão externa” que leva em
consideração o contexto social em que o estudo se desenvolveu. Temos, dessa
forma, de acordo com Bastos; Batista (2012, p.5), uma Historiografia ligada ao
estudo interpretativo do aspecto interno a respeito dos estudos da linguagem e seu
15
desenvolvimento no estudo da história, fazendo, assim, relação com o aspecto
externo.
Assim, segundo Bastos; Batista (2012, p.2), a reconstrução historiográfica
deve estar:
acompanhada de argumentos que recuperem práticas de tratamento linguístico, sempre tendo em vista a observação analítica, e não apenas registros que fazem paráfrases de outras obras, e, assim, não vão além de recontar o que um autor fez, deixando de lado a contribuição essencial da historiografia: um olhar interpretativo que procura entender as razões de determinado trabalho apresentar as características que o definem. (BASTOS; BATISTA, 2012, p.2).
Tal perspectiva ressalta a necessidade de que a HL não é somente análise de
documentos linguísticos, mas leva em conta a “análise, explicação e hierarquização
de dados, fatos, teorias e métodos que constituem os estudos sobre linguagem ao
longo do tempo”, afirmam Bastos; Batista (2012, p.2).
Quanto à definição de campo, segundo Swiggers (2010, p.2), a HL “faz
perguntas linguisticamente relevantes sobre as práticas historicamente relacionadas
à linguagem”, instaurando-se a HL como “o estudo interdisciplinar do curso evolutivo
do conhecimento linguístico”. Isso ocorre, porque a HL engloba a descrição e a
explicação, considerando os fatores intradisciplinares e extradisciplinares, “de como
o conhecimento linguístico, ou mais genericamente, o know-how linguístico foi obtido
e implementado”, esclarece o autor.
Vale enfatizar, também, o objeto de estudo da HL, afirma Swiggers (1983, p.
61) que:
se caracteriza como uma disciplina científica que tem por objetivo estruturar seu objeto de estudo (que são as teorias e práticas de análise lingüísticas) numa série de relações sistemáticas, levando também em conta observações derivadas das abordagens da metodologia da lingüística e da história das ideias. Conforme a essa definição do estatuto e do objeto, há a reflexão a respeito da natureza desse objeto e da constituição dessa historiografia como uma metaciência, isto é, como um posicionamento que interpreta práticas de uma ciência ou área de saber. (SWIGGERS, 1983, p.61, trad. nossa).
Sendo assim, o objeto de estudo da HL são as teorias e práticas de análise
linguísticas. Nesse sentido, afirma Altman (1999, p.22) que a HL tem como objeto “a
história dos processos de produção e de recepção das ideias linguísticas e das
práticas delas decorrentes”, uma vez que “geraram novas ideias e novas práticas,
em um processo de continuidade e descontinuidade, de avanços e de retomadas,
16
inerentes à busca de conhecimento”. Dessa maneira, acrescentam Bastos; Palma
(2004, p.18-19) que:
[...] É fato importante ressaltarmos que correspondências, cartas, rascunhos ou qualquer documento pessoal produzido por uma comunidade científica será objeto da HL, constituindo-se como fonte primária de pesquisa. É nesse aspecto que se evidencia a importância do estudo historiográfico, pois, para reconstruir as práticas lingüísticas passadas, é preciso explorar a dimensão pessoal. (BASTOS; PALMA, 2004, pp.18-19).
Nessa perspectiva, podemos mencionar que qualquer documento escrito
pode se tornar objeto de estudo da HL, uma vez que a concepção da HL não
considera importante, apenas, o enfoque científico, mas também o aspecto social.
Com base nisso, além de mencionar o objeto de estudo da HL, convém
destacar a tarefa do historiógrafo, que tem início com a discussão de Koerner (1996,
p.47), por meio de seu campo de investigação, cujos vieses deveriam consistir em:
[...] favorecer o restabelecimento dos fatos mais importantes do nosso passado linguístico ‘sine ira et Studio’e explicar, tanto quanto possível, as razões da mudança de orientação e de ênfase e a possível descontinuidade que delas se pode observar, sua prática requer, ainda, capacidade de síntese, isto é, a faculdade de destilar o essencial da massa dos fatos empíricos coligidos a partir de fontes primárias. (KOERNER, 1996, p.47).
Diante disso, o historiógrafo precisa restabelecer os fatos mais relevantes do
passado linguístico, bem como dar ênfase às possíveis descontinuidades a partir
das fontes primárias. Por meio desses fatos, constituem-se princípios que norteiam o
historiador, contribuindo, assim, para a instauração da HL como disciplina. Nesse
aspecto, temos adotado os três princípios de Koerner (1996): Contextualização,
Imanência e Adequação. Desse modo, saímos do fator histórico linguístico,
centrando-nos no princípio científico, assim sendo, a HL passa a ser vista como uma
disciplina.
O princípio da contextualização, afirma Koerner (1996, p.60):
O primeiro princípio para a apresentação de teorias lingüísticas propostas em períodos mais antigos diz respeito ao estabelecimento do “clima de opinião” geral do período em que as teorias se desenvolveram. As idéias lingüísticas nunca se desenvolveram independentemente de outras correntes intelectuais do período; o “espírito de época” [zeitgeist] sempre deixou suas marcas no pensamento lingüístico. (KOERNER, 1996, p.60).
17
A partir dessa afirmação, o primeiro princípio trata do clima de opinião,
traçando o contexto dos escritos dos documentos, uma vez que aborda os aspectos
intelectuais, socioeconômicos, políticos e culturais, levando em conta o clima de
intelectualidade da época.
No que se refere ao princípio de Imanência, diz Koerner (1996, p.60) que:
É desnecessário dizer que o historiógrafo deve afastar-se tanto quanto possível de sua formação lingüística que lhe são contemporâneos, o quadro geral da teoria sob investigação, assim como a terminologia usada no texto, devem ser definidos internamente, e não em referência à doutrina lingüística moderna. (KOERNER, 1996, p.60).
Esse princípio esforça-se em estabelecer um entendimento tanto histórico
quanto crítico, se necessário filológico, do texto em apreciação. Assim sendo, o
princípio da imanência refere-se, pois, “[...] ao esforço do historiógrafo de entender o
texto lingüístico produzido nos séculos enfocados de forma completa, histórica e
criticamente, e filologicamente se possível”, explicam Bastos; Palma (2004, p.11).
Nesse sentido, afirma Koerner (2014, p.59) que “o quadro geral da teoria a ser
investigada, assim como a terminologia usada no texto, devem ser definidos
internamente e não em referência à doutrina linguística moderna”.
Segundo o autor, só depois de serem seguidos, rigorosamente, os dois
princípios, de modo que a manifestação linguística tenha sido compreendida no seu
contexto histórico original, “o historiógrafo pode aventurar-se a introduzir
aproximações modernas do vocabulário técnico e do quadro conceptual apresentado
na obra em questão”.
Sobre o princípio da adequação, por sua vez, afirma Koerner (1996, p.60)
que:
[...] pode o historiógrafo aventurar-se a introduzir, ainda que muito cuidadosamente e colocando seu procedimento de forma explícita, aproximações modernas do vocabulário técnico em um quadro conceptual de trabalho que permita uma melhor apreciação de um determinado trabalho, conceito, ou teoria. (KOERNER, 1996, p.60).
A partir dessa afirmação, o princípio da adequação faz aproximações
modernas do vocabulário técnico do trabalho em estudo, mas é preciso que o
historiógrafo da linguística alerte o leitor sobre as aproximações terminológicas,
sendo assim, explícito naquilo que está fazendo.
18
Em face aos princípios, Koerner (2014, pp.57-58) faz menção a respeito da
metalinguagem, que é “a linguagem empregue para descrever ideias do passado
sobre a linguagem” e adverte que:
Nenhum escritor consegue escapar à questão ao discutir teorias de períodos passados, na medida em que deve tentar, ao mesmo tempo, torná-las acessíveis ao leitor do presente, ao passo que tenta não distorcer a intenção e significado originais. A menos que o único objetivo do historiógrafo seja antiquário, isto é, ver conceitos desenvolvidos há muitos anos apenas nos próprios termos utilizados, será tentado a usar um vocabulário técnico moderno na sua análise. Este procedimento ‘modernizante’, porém, tem levado a inúmeras e sérias distorções na história da linguística, e qualquer historiógrafo perspicaz deve perceber as armadilhas e voltar-se para este problema potencial do uso da ‘metalinguagem’. (KOERNER, 2014, pp.57-58).
Essa advertência é de suma importância ao historiógrafo que precisa tomar
cuidado quando discutir teorias do passado, uma vez que deve torná-las
compreendidas ao leitor moderno, pois a falta de cuidado pode distorcer os
significados originais, causando, assim, um grande problema, por consequência do
mau uso da metalinguagem. Para solucionar tal problema, o autor sugere a adoção
dos três princípios.
Nesse sentido, segundo Bastos; Palma (2004, p.12), acrescenta-se que, além
dos princípios de Koerner (1996), outro ponto metodológico utilizado é a questão das
fontes que podem ser primárias e secundárias. As primárias são os documentos
originais, “para delas extrair elementos que nos permitiram dar, seguramente, os
passos investigativos”. Em relação às fontes primárias, esclarece Koerner (1996,
p.47) que há necessidade de se respeitar:
[...] a faculdade de destilar o essencial da massa dos fatos empíricos coligidos a partir de fontes primárias. Em outras palavras e para usar uma distinção contemporânea, a historiografia da lingüística tem que ser ‘teoricamente orientada’ [theory oriented] e ‘não orientada para os dados’ [data oriented], embora não haja dúvida de que muita leitura das fontes originais ainda tenha que ser feita, a fim de estabelecer adequadamente os fatos básicos no desenvolvimento da disciplina. (KOERNER, 1996, p.47).
Nesse aspecto, o historiógrafo precisa fazer uma síntese das fontes primárias,
extraindo, assim, a essência da quantidade dos fatos empíricos que, aos poucos,
pode ser agregada das fontes originais (primárias). Depois desse processo, fazemos
uso das fontes secundárias, “aquelas que (às vezes escassas) permitiram verificar o
19
que já fora estudado sobre os documentos que tínhamos em mãos”, afirmam
Bastos; Palma (2004, p.12).
É de grande importância ressaltar, também, que fundamentamos a nossa
pesquisa nos passos investigativos de Swiggers (1983), que “abrangem quatro
momentos: seleção, ordenação, reconstrução e interpretação”. No primeiro passo,
será feita a seleção dos documentos gramaticais a serem estudados , elegendo,
assim, os mais relevantes para o estudo da sintaxe da Língua Portuguesa,
sobretudo, da Função do Advérbio, na segunda metade do século XIX e na primeira
metade do século XX. No segundo, usaremos um critério abrangente no estudo da
sintaxe nos dois períodos abordados, para estabelecer um percurso dos estudos de
gramática da Língua Portuguesa, em uma perspectiva historiográfica, enfocando as
implicações socioculturais em uma ordem cronológica. Dando continuidade,
buscaremos reconstruir o conhecimento linguístico dos recortes temporais
selecionados e, por fim, interpretar, criticamente, cada material escolhido, a partir do
clima de opinião de épocas delineadas.
Na busca de seus próprios caminhos, de acordo com De Clerq & Swiggers
(1991), o historiógrafo requer cinco tipos de motivações que seriam fundamentais ao
longo da história da HL, a saber: 1. como sujeito enciclopédico, como “ramo” de uma
enciclopédia do saber; 2. como ilustração do progresso de conhecimentos; 3. como
objetivo de defender, difundir ou promover um modelo linguístico particular em
detrimento de outros; 4. como descrição e explicação de conteúdos de doutrina,
inserida em um contexto histórico e científico e, por último, 5. como testemunha
exterior sobre uma realidade social, “colorida” pelas concepções e práticas
linguísticas. Assim sendo, centramos a nossa pesquisa nesse último tipo de
motivação.
Diante de tais motivações, relatam Bastos; Palma (2004, p.23) que “cabe-nos
refletir acerca delas a fim de buscar um método historiográfico capaz de debruçar-se
sobre o estatuto científico da HL, bem como sobre a prática historiográfica”. Diante
disso, segundo De Clerq & Swiggers (1991), ao historiógrafo, “cabe a tarefa de
transcender na prática, nas reflexões e nas situações linguísticas”.
Vistas tais motivações, cabe-nos mencionar o método da HL, quando afirma
Koerner (2014, p.47) que:
20
[...] em última análise, os historiadores da ciência da lingüística terão que desenvolver o seu próprio quadro de trabalho, tanto o metodológico, quanto o filosófico. Para isto, um conhecimento meticuloso da teoria e da prática em outros campos revelam-se verdadeiramente muito úteis, mesmo se o resultado for negativo, isto é, se o historiador da lingüística descobrir se este ou aquele campo de investigação histórica tem de fato pouco a oferecer em matéria de método historiográfico. (KOERNER, 1996, p. 56-57).
Diante disso, pode-se concluir que não existe, ainda, um método constituído
totalmente, por isso, cabe ao historiógrafo buscar o seu próprio caminho, de modo a
levar em conta o conhecimento minucioso da teoria e da prática de outras disciplinas
ao desenvolvimento da HL.
A respeito da HL não ter, ainda, um método constituído, convém destacar que
essa questão está amadurecendo, prova disso, tem aumentado o número de
pesquisadores que começam a se interessar pelo método da HL, mas, “enquanto
isso não acontece, é legítimo que o historiógrafo procure diretrizes e modelos a
imitar para além do seu próprio campo”, afirma Koerner (2014, p.46).
Swiggers (2005, pp.8-10), portanto, apresenta-nos alguns métodos que
podem ser seguidos, por meio de três níveis: heurístico, interpretativo e
reconstrutivo-sistemático. O primeiro refere-se às fontes valiosas, que são chamadas
de marginais e que ilumina as questões ideológicas de um autor; são de caráter
informal, podendo ser escritas (cartas, manuscritos de comitês científicos ou
qualquer documento escrito) ou orais (entrevistas, aulas, dentre outras formas). O
segundo está relacionado ao olhar interpretativo do historiógrafo para com as fontes
trabalhadas. Quanto a isso, afirma o autor que, para a metodologia heurística e
interpretativa, é importante estudar a terminologia utilizada nas fontes, pois, no nível
interpretativo, por exemplo, faz-se necessário considerar o respeito para com o
significado original encontrado nos documentos, para, depois, fazer a reconstrução
sistemática dirigida aos leitores modernos, chegando, assim, ao terceiro nível de
reconstrutiva-sistemática. Nesse último nível, enfatiza-se a necessidade de
categorização, de maneira que o historiador não pode encontrar a sua tarefa
historiográfica sem recorrer às categorias.
Portanto, a Historiografia Linguística torna-se fundamental à nossa pesquisa,
uma vez que levamos em consideração o percurso histórico no que diz respeito ao
ensino da sintaxe da Língua Portuguesa, sobretudo, da Função do Advérbio. Para
21
tanto, estando explícita a base teórica desta pesquisa, abordaremos as questões
educacionais, para entendermos o espírito de época no Brasil.
22
2 ASPECTOS EDUCACIONAIS E LINGUÍSTICOS NO BRASIL, NA SEGUNDA
METADE DOS SÉCULOS XIX E XX
2.1 Considerações Iniciais
Este capítulo apresenta o princípio da contextualização que trata do clima de
opinião das épocas, traçando o contexto educacional, político e linguístico dos
séculos XIX e XX. Assim, levamos em conta esse contexto para que possamos
entender a contribuição dessas correntes à elaboração das obras Syntaxe e
construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz da Silva Brandão (1888), e Novas
Lições de Análise Sintática, de Adriano da Gama Kury (1984).
Na linguística, abordamos diversos autores, tais como: do século XIX, Franz
Bopp, irmãos Grimm, Max Müller , Shleicher, Von Humboldt; do século XX,
Saussure, Chomsky, Roman Jakobson, Bakhtin, dentre outros. Assim sendo, esses
estudiosos não podem ser desprezados pelos pesquisadores, sobretudo, pelo
historiógrafo, uma vez que suas teorias se tornaram fundamentais ao estudo da
língua.
2.2 Século XIX: aspectos educacionais, políticos e linguísticos no Brasil
2.2.1 Aspectos educacionais e políticos
A segunda metade do século XIX foi um período de grandes mudanças
políticas, educacionais, socioeconômicas, culturais e filosóficas. Esta última foi de
suma importância, uma vez que o Positivismo influenciou muito a sociedade da
época, tendo como seus principais idealizadores Augusto Conte e John Stuart Mill.
Desses, destaca-se Augusto Conte, considerado o criador da corrente filosófica
positivista.
Segundo Valentim (2010, p.4), o positivismo surgiu na França, no começo do
século XIX, e ganhou mais força na Europa, na segunda metade do século XIX e
início do século XX, período em que chegou ao Brasil. O método geral do
Positivismo de Augusto Comte baseia-se na observação geral dos fenômenos, de tal
maneira que se opõe ao racionalismo e ao idealismo ou a qualquer aspecto
23
teológico ou metafísico. Nessa perspectiva, substitui a teologia e metafísica pelo
culto à ciência; o mundo espiritual, pelo mundo humano; o espírito, pela matéria.
Diante disso, essa corrente filosófica defende a ideia de que o conhecimento
científico é o único considerado verdadeiro, desprezando, assim, qualquer
conhecimento ligado às crenças ou supertições.
Convém enfatizar que Comte, em sua obra Apelo aos conservadores (1855),
definiu a palavra "positivo" com sete acepções: real, útil, certo, preciso, relativo,
orgânico e simpático. Dessas palavras, ressalta-se “orgânico” que apresenta a
predominância do Evolucionismo na segunda metade do século XIX, sobretudo, na
Gramática Portugueza, de Júlio Ribeiro (1881), seguidor das ideias de Darwin
(Naturalismo). Prova disso, Ribeiro considera a língua um ser vivo – um organismo
que nasce, cresce e morre – . Dessa maneira, faz uso dos métodos de estudos das
ciências naturais, uma vez que o autor se utiliza do aspecto evolucionista do ser.
Com efeito, destacamos Júlio Ribeiro, porque o mesmo teve forte influência nas
gramáticas da segunda metade do século XIX, especificamente, na obra de estudo
gramatical de Brandão (1888), corpus da nossa pesquisa.
Faz-se necessário mencionar o período racionalista (de 1802 a 1881) e o
científico (de 1881 a 1941). O primeiro sofreu forte influência da Gramática de Port-
Royal (1660) sobre o pensamento linguístico, sendo, ainda, muito predominante no
século XIX. Quanto a isso, afirma Cavaliere (2002, p.110) que:
O período racionalista deixou marcas profundas do ensino no português do século XIX, constituindo sem dúvida, o primeiro modelo de produção gramatical que perdurou por mais de uma geração dos estudiosos da língua vernácula. A principal crítica que se lhe impõe, decerto, reside na pouca ou mesmo nenhuma importância que então se dedicava ao estudo do português brasileiro, de tal sorte que nossas gramáticas mais se resumiam a copiar regras e dispositivos dos compêndios congêneres lusitanos. (CAVALIERE, 2002, p.110).
Sendo assim, o ensino de língua portuguesa sofreu grandes marcas do
período racionalista, que levava em conta a língua vernácula, porém os estudos de
gramática da segunda metade do século XIX, tendo como grande precursor Júlio
Ribeiro, vieram da forte oposição à Gramática Filosófica, cujos estudos históricos e
descrição da língua vernácula quase não eram levados em conta.
Quanto ao Positivismo no Brasil, de acordo com Valentim (2010, p.14), é
importante salientar, também, a sua grande ascendência, tendo como representação
24
máxima o emprego da frase positivista “Ordem e Progresso”: “o amor por princípio, a
ordem por base, o progresso por fim", em plena bandeira brasileira. Além disso, teve
influência na literatura, por meio de escritores naturalistas, sobretudo, Raul Pompeia
e Aluísio de Azevedo. Salienta-se, também, o coronel Benjamin Constant, professor
de matemática da Escola Militar do Rio de Janeiro, o mais influente positivista
brasileiro. Outros positivistas foram importantes para o Brasil, tais como: Nísia
Floresta Augusta (a primeira feminista brasileira e discípula direta de Auguste
Comte), Miguel Lemos, Euclides da Cunha, Luís Pereira Barreto, o marechal
Cândido Rondon, Júlio de Castilhos, dentre outros.
A partir da segunda metade do século XIX, as ideias de Augusto Comte
permearam o pensamento de muitos políticos, militares, mestres, escritores, poetas,
professores e alunos. Em vista disso, essa corrente estimulou inúmeros movimentos,
especificamente, os de caráter republicano e abolicionista, opondo-se à monarquia e
ao escravismo dominante no Brasil e à Proclamação da República, ocorrida por
meio de um golpe militar.
Em relação à economia brasileira, por volta de 1850, o Império já tinha
condições de solidificar-se por meio do domínio da monarquia sobre os senhores
que estavam ligados à atividade de exportações. Quanto à melhoria do país na
economia, ressalta Ribeiro (2000, p.64) que:
Comparando-se as porcentagens referentes a 1839-44 e 1870-75, nota-se o crescimento de 1,0% para 3,5% da importação do carvão, que de 17º lugar passa a 8º, e de 0,2% para 2,9% da importação de máquinas, que passa de 25º para 11º lugar [...]. (RIBEIRO, 2000, p.64).
Nessa perspectiva, percebemos certo crescimento significativo nas atividades
industriais. Esse crescimento vai influenciar outros aspectos, especialmente, o
intelectual, esclarece Reis Filho (1974, p.1):
A consolidação desse desenvolvimento econômico manifesta-se de imediato com o contato mais intenso com a Europa, fonte fornecedora não só de novos maquinários e instrumentos, que importávamos, mas também das novas idéias que passaram a circular ao acanhado meio intelectual dos meados do século XIX brasileiro. (REIS FILHO, 1974, p.1).
25
Esse desenvolvimento acelerado se deu pelo processo de modernização da
sociedade. Dessa forma, além de ter um crescimento econômico, surgia, também, o
consumo das “novas ideias”, quando começou o Positivismo no Brasil.
Com base nisso, segundo Reis Filho (1974, p.1), em 1868, ocorreu o
manifesto liberal, início de um enorme movimento que vai marcar o final e o início da
República. Partindo disso, liberais e cientistas começaram a estabelecer pontos
comuns, a saber: separação da Igreja do Estado; abolição dos privilégios
aristocráticos e da escravidão; liberdade à mulher para exercer seu papel de esposa
e mãe; crença na educação e instituição do casamento e registro civil. Enfatiza-se
que essa tal modernização se deu pela mudança da base da sociedade exportadora
brasileira de rural-agrícola para urbano-comercial.
Em virtude desse desenvolvimento econômico, ocorreu a organização da
escola, que não se deu, apenas, pelas críticas dadas à sua ineficácia, mas também
pela decretação de reforma. Prova disso é a reforma de Leôncio de Carvalho em 19
de abril de 1879, não obstante, alguns de seus princípios ficaram dependendo da
aprovação do Legislativo, que acabaram não acontecendo, mesmo assim, poucos
foram aprovados, afirma Ribeiro (2000, p.67) que dentre eles estão:
a) Liberdade de ensino, isto é, a possibilidade de todos os que se sentissem capacitados esporem suas idéias segundo o método que lhes parecesse mais adequado. b) O exercício do magistério era incompatível com o de cargos públicos e administrativos. c) Liberdade de frequência, ou seja, dar liberdade para os alunos dos cursos secundário e superior estudarem como e com quem entendessem. À escola caberia, especificamente, ser severa nos exames. Isto implicava, também, a organização do curso por matéria e não mais por anos, possibilitando ao aluno escolher as matérias e o tempo para cumprir toda a série estimulada. (RIBEIRO, 2000, p.67).
Como consequência disso, a Reforma Leôncio de Carvalho foi de suma
importância para o desenvolvimento educacional, pois começava a liberdade no
ensino, de modo que todos podiam ter acesso à escola. Assim, no final do século
XIX, houve “o aparecimento do ensino feminino em nível secundário, como resultado
da iniciativa particular”, de acordo com Ribeiro (2000, p.67).
Segundo Ribeiro (2000, pp.71-70), o crescimento da classe média e sua
participação nas questões públicas (por meio dos serviços intelectuais, religiosos e
militares no Estado) influenciaram a proclamação da República em 1889. Isso
26
aconteceu por meio do grande apoio da camada do café e com a omissão da grande
parte da população. É por esse motivo que se instalou a organização escolar da
Primeira República, pela Constituição em 1891. Porquanto, apesar do crescimento e
descontentamento da classe média, essa classe não tinha força suficiente para
modificar o regime político, e isso explica o porquê do regime não se tornar um setor
relevante à população no final do século XIX.
Em relação à política, o monárquico D. Pedro II não correspondia mais aos
desejos da sociedade, a qual exigia mais liberdade econômica, menos autoritarismo
e mais democracia. Assim sendo, no dia 15 de Novembro de 1889 na capital Rio de
Janeiro, o Marechal Deodoro da Fonseca liderou um golpe militar que derrubou o
reinado de D. Pedro II, e instaurou a República Federativa e presidencialista no
Brasil. Nesse mesmo dia, foi criado o governo provisório, em que o próprio Marechal
assumiu a presidência, tendo como Vice-presidente Floriano Peixoto, que depois se
tornou presidente quando Marechal renunciou o cargo em 1891.
Com base nisso, existiram várias divergências no governo, sendo marcadas,
até 1894, como o período da “Crise da República”. Nesse sentindo, diz Ribeiro
(2000, p.72) que “o Governo de Floriano Peixoto (1891-1984), que passa para a
História como o “Marechal de Ferro”, retrata esta situação”. Porquanto, aconteceu,
nesse período, uma tentativa de mudança na área econômica e na escolar.
Tendo em vista esses fatos, em 1891, devido à falta de domínio e interesse
dos fatores internos (senhores agrícolas) e externos (burguesia), o incentivo das
atividades voltadas ao mercado nacional chega ao fracasso. Assim sendo, surge a
primeira tentativa de solucionar esse problema, afirma Prado Júnior (1969, p.218):
Sob a ação deste jorro emissor, não tardará que da citada ativação dos negócios se passe rapidamente para a especulação pura. Começam a surgir em grande número novas empresas de toda ordem e finalidade. Eram bancos, firmas comerciais, companhias industriais, de estrada de ferro, toda sorte de negócios possíveis e impossíveis. (PRADO JÚNIOR, 1969, p.218).
A partir dessa afirmação, surgiram muitas empresas em diversas áreas,
consequentemente, foi a primeira tentativa de fazer do governo um instrumento de
diversificação das atividades econômicas, mesmo que em grande parte frustrada.
Convém mencionar, também, a influência positivista à educação nacional,
devido às transformações políticas. Em vista disso, o positivismo tentava fixar ideias
por meio da educação escolarizada, que foi decretada em 1890 e colocada com a
27
Reforma Benjamim Constant (1891). Em relação à Reforma, explica Ribeiro (2000,
p.73) que “tinha como objetivo orientar a liberdade e laicidade do ensino e a
gratuidade da escola primária”, em vista disso, apresenta-se:
REFORMA BENJAMIM CONSTANT (1891)
1) Escola Primária
Duas Categorias Faixa Etária
1º GRAU 7 a 13 anos
2º GRAU 13 a 15 anos
2) Escola Secundária durava sete anos
3) Nível Superior chamado de Politécnico – atingiu o ensino de Direito, Medicina e Militar
4) Exame de Madureza – verificava se o aluno tinha a capacidade intelectual necessária ao término do curso
Com base nesse quadro, a escola primária era organizada em duas
categorias: a de 1º grau (para crianças de 7 a 13 anos) e a de 2º grau (para crianças
de 13 a 15 anos). Além disso, foi criado o exame de madureza que verificava se o
aluno tinha a capacidade intelectual necessária ao término do curso, de tal forma
que, a partir do 3º ano, se introduzia tempo para a revisão de matemática e, no 7º
ano, se dedicaria a maior parte do tempo para tal finalidade.
Outro objetivo educacional, de acordo com Ribeiro (2000, p.73), era romper
com a tradição humanista clássica que prevalecia no ensino brasileiro. Diante disso,
a predominância literária deveria ser substituída pela científica (matemática,
astronomia, física, química, biologia, sociologia e moral), de acordo com a
ordenação positivista.
Destaca-se que essa decisão foi alvo de grandes críticas, desse modo, foram
acrescentadas matérias científicas às tradicionais, formando o ensino enciclopédico.
Em virtude disso, em 1893, ocorreu uma modificação que visava uma proporção
mais justa na distribuição das matérias do Ginásio Nacional, com o aumento da
matéria Literária.
Diante do exposto, o Brasil passou por grandes transformações políticas,
socioeconômicas e filosóficas na segunda metade do século XIX. Com base nisso,
esses fatores influenciaram a educação brasileira por meio de Leis e Reformas,
algumas tiveram suas eficácias, outras, não. Quanto ao estudo gramatical da Língua
Portuguesa no Brasil, sobretudo, da sintaxe, percebemos a predominância e
28
contribuição da corrente positivista, sendo de suma relevância aos gramáticos desse
período.
2.2.2 Aspectos linguísticos
2.2.2.1 Sintaxe nos séculos XVI, XVII E XVIII
Faz-se necessário destacar o percurso da sintaxe desde a origem até a sua
predominância nos séculos XVI, XVII e XVIII para que, dessa forma, possamos
entender melhor a sintaxe do século XIX, em que baseamos a nossa pesquisa.
Segundo Chevalier (1968, p.27), a história da sintaxe começa seus primeiros
estudos por meio da Gramática de Priscien, no ocidente, século V, baseado na
filosofia, destacando, assim, Aristóteles e Platão. Prova disso, Priscien cita, em sua
gramática, exemplos consagrados dos livros de lógica de Platão. Com efeito, um dos
primeiros tratados, que deve reter Priscien e seus contemporâneos, está relacionado
à gramática bilíngue, destinada a jogar um ponto entre latim e grego, sendo assim,
explicita o autor que:
Um dos primeiros tratados relevantes que deve reter Priscien e seus contemporâneos é esse que diz respeito a uma gramática bilíngue, destinada a jogar um ponto entre latim e grego: Já Macrobe segue P. Courcelle, quem tinha tentado pelo modelo de Apollonyus Dyscole escrever um tratado de gramática comparada greco-latina [...]. Julien, Consul e Patrice influenciam a grammairien latin da Constantinopla, de Prinscien, uma gramática que resume e adapta ao latim os ensinamentos das gramáticas gregas [...], Priscien não pretende nada mais do que colocar em latim seus preceitos, é o que há de indispensável dentro das artes dos gramáticos latinos. (CHEVALIER, 1968, p.27, trad. nossa).
Nesse sentido, Priscien insere os ensinamentos das gramáticas gregas no
latim, com o intuito de transformar seus conceitos em latim.
Quanto à noção de oração perfeita, de acordo com Chevalier (1968, p.29,
trad. nossa), Priscien diz que a ordem dos elementos é um dos pontos
determinantes da sintaxe, uma vez que o sentido e a ordem das palavras na oração
precisam estar ligados para que não resultem em muitos equívocos – noção lógica –
, porém, adverte “que, para as formas de estudo da sintaxe, é necessário fazer um
apêndice da morfologia”, afirma o autor. Diante disso, é necessário compreender
que a caminhada do presente gramático é fundada na noção formal e analógica.
29
Com base nisso, acrescenta Chevalier (1968, p.30) que:
[...] para Priscien, dentro da estruturação da frase, as palavras não têm o
mesmo valor de um ponto de vista sintático: mesmo que as vogais possam
ser pronunciadas separadamente, as consoantes não podem ser separadas
das suas vogais, assim, há palavras que nós podemos empregar sozinhas,
como os nomes, os imperativos, os advérbios; e outras que têm
necessidades de outras partes da oração, e sozinhas não podem ter um
sentido perfeito, tendo, assim, necessidade de serem completadas, como as
preposições e suas conjunções. O seu significado varia de acordo com a
essência das palavras que a acompanham, elas não são significantes;
ainda não têm o mesmo significado de acordo com o acusativo e o ablativo.
(CHEVALIER, 1968, p.30, trad. nossa).
Desse modo, Priscien, por um lado, considera certas palavras (nomes,
verbos, advérbios) independentes na oração, de tal modo que tem um sentido
completo. Por outro lado, há palavras que sozinhas não tem um significado, uma vez
que dependem de outras para que haja sentido na oração.
Segundo Kristeva (1969, p.207), os princípios do século XVI são marcados
por algumas obras gramáticas, tais como: “Vives (1492-1540), discípulo de Erasmo,
De disciplinis libri XII; Despautère, Syntaxis (1513); Erasmo, De octo orationis
partium Constructione (1521)”. Diante disso, a língua francesa torna-se objeto
privilegiado dos gramáticos. Salienta-se que as gramáticas desse período eram
empiristas, e tinham como principal aspecto: a morfologia. Dessa forma, os
gramáticos estudavam os termos da proposição (nome, verbo...). Com efeito,
observa Chevalier (1968, p.371) que as palavras eram estudadas em situação, de tal
modo que a gramática acabou estabelecendo as coordenadas formais dessa
situação. Nesse sentido, a ordem das palavras, como também “as relações de
recção (termo regido, termo rector, recção única, recção dupla etc)” favoreceram as
estruturas frásticas, preocupando-se, dessa forma, com as relações lógicas.
Enfatiza-se, também, Scaliger, que marca profundamente a segunda metade
do século XVI, por meio de sua obra Causis lingue latinae (1540). A presente obra
diz respeito à língua latina apenas, mas acaba ultrapassando a sua época, “e
escreve-se entre os mais belos exemplos de rigor linguístico do seu tempo”, afirma
Kristeva (1969, p.209).
30
Conforme Chevalier (1968, p.178), Scaliger defende a culta gramática
renascentista, o autor afirma que a gramática é a ciência falada de acordo com o
uso. Nessa perspectiva, acrescenta Kristeva (1969, p.210) que:
Scaliger também insiste no facto de que ainda que o gramático dê importância ao significado [significatum] que é uma espécie de forma [forma], não o faz por sua própria conta, mas para transmitir o resultado àquele cujo ofício é procurar a verdade. Trata-se efectivamente do lógico e do filosófico, e compreende-se que, para Scaliger como para toda a tradição gramatical, o estudo da língua não é um fim em si, e não tem autonomia, mas faz parte de uma teoria do conhecimento à qual está subordinado. (KRISTEVA, 1969, p.2010).
Todavia, Scaliger tenta limitar o campo da gramática ao tratá-la como ciência,
desprezando, totalmente, o fato de ser considerada arte. Sendo assim, o autor
insere a gramática na ciência lógica, eliminando, assim, a ciência de juízo.
Consoante, é construída uma gramática normativa, a qual apresenta duas partes: a
morfologia (dos elementos componentes) e a sintaxe (da sua organização).
Conforme Chevalier (1968, p.179), há três tipos de explicações [rationes] na
gramática de Scaliger: a primeira diz respeito à forma, a segunda, à significação, e a
terceira, à construção.
Scaliger divide os elementos linguísticos em categorias: 1. Os que compõem
a palavra; 2. A unidade discursiva, que é superior à palavra, frase e os seus
subconjuntos, para diferenciar no interior da unidade superior (nomes e verbos).
Nesse aspecto, Scaliger desconsidera as partes do discurso, e as diferencia
conforme o seu alcance lógico (chamado universal). Além disso, afirma que a
gramática não pode, como muitos autores fazem, ser reduzida a quatro partes: letra,
sílaba, palavra, oração, explica Chevalier (1968, p.179). Essas concepções de
Scaliger acerca da gramática foram significativas, porque abriram espaço ao estudo
sintático subjacente à morfologia.
A gramática francesa é marcada, também, pelas obras de Meigret, Estienne,
Cauchie, Pillot, Garnier, até chegar a Ramus, com a produção de Dialectique (1556)
e Gramere (1562), que trouxeram grandiosas teorias ao estudo da linguagem.
Na análise gramatical, Ramus apresenta os princípios formais e as distinções
formais nas partes do discurso, acreditando que, “além das marcas morfológicas, é a
ordem que define os termos”; e isso mostra que o “Francês tem uma certa ordem na
sua oração, que nunca se pode mudar”. Assim, “depois das marcas morfológicas e a
31
da ordem, é a preposição que se torna objecto de estudo como elemento sintáctico
importante”, esclarece Kristeva (1969, p.218). Quanto à gramática de Ramus,
adverte Kristeva (1969, p.219) que:
É evidente que a gramática de Ramus, ganhando um avanço considerável de ordenação e de rigor lógico, de sistematização e de formalização, pára no limiar da análise sintáctica por não poder definir as relações que funcionam entre as marcas formais e que dispõem o enunciado numa ordem estrita. (KRISTEVA, 1969, p.219, grifo nosso).
Nesse sentido, acrescenta Chevalier (1968, p.305) que a gramática de Ramus
foi a primeira tentativa de uma gramática formal, mas por conta de não prosseguir na
análise sintática definindo as relações que funcionassem nas marcas formais e por
restringir a ordem do enunciado, acabou fracassando.
Depois das obras de Scaliger e Ramus, os estudiosos da língua, do final do
século XVI até o início do século XVII, deram prioridade ao aspecto pedagógico que
não trouxe nenhuma teoria nova, mas foi importante, porque simplificaram as regras
da língua para que os alunos a compreendessem melhor. Segundo Kristeva (1969,
p.223), um ponto positivo é que o número das línguas ensinadas aumentou, e isso
tornou as gramáticas polilinguísticas. Com efeito, as línguas inglesa, francesa,
alemã, italiano foram confrontadas, tornando os quadros aplicados pelo latim com
menos credibilidade.
Ora, mesmo com as limitações das gramáticas formais do renascimento,
século XVI, sobretudo, de Scaliger e de Ramus, podemos concluir que foram de
suma importância ao estudo da linguagem, uma vez que seus princípios
beneficiaram a gramática de Port-Royal no século XVII, que partiu do aspecto da
morfologia para a sintaxe.
No século XVII, prevalecia, na França, a perfeição dos falares clássicos por
meio da regularização e sistematização da língua. Consequentemente, a arte do
bem falar torna-se assunto principal desse período, e as pessoas da corte
aprendiam por meio da obra Remarques sur de la langue française (1647), de
Vaugelas, quem seguia Scaliger. Desse modo, o objetivo primordial das obras dessa
época era “adaptar as propriedades de uma língua moderna, o francês, à velha
máquina latina, baseada no par nome-verbo: é preciso inserir nela os artigos, as
preposições, os auxiliares, etc”, assim, é demonstrada que “uma expressão com
preposição em francês é igual a uma expressão com genitivo ou dativo em latim”, diz
32
Kristeva (1969, p.224). Faz-se necessário mencionar que Vaugelas faz observações
importantes quando discorre sobre a expressão nominativa, genitiva, bem como
sobre existência da ablativa em suas análises gramaticais.
A gramática formal do século XVI tinha comprovado que as construções
linguísticas latinas eram lógicas, naturais. Nesse aspecto, os estudos da língua
moderna só tinham que dar continuidade a essas concepções gramaticais. Com
base nisso, surge a gramática de Port-Royal (1660), de Lancelot e Anauld,
fundamentada em Descartes, para solucionar as limitações dos estudos acerca da
língua do século XVI.
Quanto à gramática de Port-Royal, acrescenta Kristeva que (1969, p.226):
À primeira vista, a gramática de Port-Royal não se distingue sensivelmente das que a precederam, as gramáticas formais do Renascimento, excepto sem dúvida pela sua clareza e pela sua concisão. Com efeito, encontramos nela as mesmas correspondências entre os casos latinos e as construções da língua francesa. Ora, há duas inovações metodológicas fundamentais que renovam completamente a visão da língua proposta pelos Solitários de Port-Royal. (KRISTEVA, 1969, p.226).
Diante disso, a Grammaire générale de Port-Royal definia um espaço comum
a todas as línguas por meio da ciência do raciocínio, mas não previa a ciência da
língua como objeto específico, e sim geral. Por conseguinte, esse método favoreceu
o surgimento de um enfoque científico da linguagem. Convém destacar, também,
que a língua não é uma justaposição de termos, mas um organismo.
Na Grammaire génerale, vale destacar, também, as declarações de F. Brunot
(apud CHEVALIER, 1968, p.483, trad. nossa) ao afirmar que “a gramática de Port-
Royal marca, portanto, um marco na história da língua francesa, porque dela
Arnauld aplica, em primeiro lugar, à nossa língua, o método filosófico”. Dessa
maneira, Chevalier (1968, p.483) confirma com o autor ao dizer que:
F. Brunot tem razão de dizer que a Grammaire générale apresenta a história da língua. Essas Gramáticas em francês certamente não perderam um século; trabalhos como os de Ramus que são um peso considerável foram escritas em francês, mas esta é a primeira vez que um livro de doutrina abraçando as línguas conhecidas foi escrito na nossa língua [...]. (CHEVALIER, 1968, p.483, trad. nossa).
Assim, percebe-se o avanço que a gramática de Port-Royal trouxe ao ensino
de sua época, influenciando bastante os estudiosos da linguagem.
33
Deve-se enfatizar a sintaxe na Grammaire générale, de Port-Royal, adverte
Kristeva (1969, p.233) que:
A lógica aristotélica propunha uma hierarquia das partes do discurso em que o nome e o verbo tinham posições iguais. Ora, seguindo a criação do juízo e do raciocínio, a Grammaire générale conseguiu distinguir por um lado as partes do discurso que são os signos dos «objectos do nosso pensamento» (a conceber): nome, artigo, pronome, particípio, preposição, advérbio; e por outro lado «a forma ou a matéria do nosso pensamento»: verbo, conjunção, interjeição. As partes do discurso são portanto encaradas como se participassem numa operação, num processo. É assim que desde as primeiras páginas, e contrariamente ao que se afirmou, a Grammaire anuncia o seu projecto de elaborar uma construcção: sobre um fundo lógico orientado para a descrição do sistema de sentindo que (para o Renascimento) subtende a reunião arbitrária das palavras, os Solitários servem-se da alavanca do signo para proporem uma sintaxe. (KRISTEVA, 1969, pp.233-234).
Diante disso, ocorre o avanço do estudo sintático por meio dessa gramática.
A sintaxe lógica abre espaço a uma sintaxe linguística, uma vez que a proposição se
torna base da reflexão gramatical, e os termos já não são mais estudados
isoladamente, forma-se um estudo complexo na relação nome/verbo que passa para
sujeito/predicado: um de quem se afirma ou se nega (sujeito); o outro, que se afirma
ou se nega (atributo ou predicado).
Em relação à concepção lógica da Grammaire génerale, de Port-Royal, diz
Kristeva (1969, p.237) que:
Os quadros do raciocínio linguístico alargam-se primeiro para além dos termos para encontrarem a proposição; depois os segmentos analisados tornam-se maiores do que a simples proposição, e a análise ocupa-se das relações interfrásticas; por fim a noção de complementaridade dos termos parece acrescentar-se à de subordinação, de tal modo que a linguagem já não é uma oratio, conjunto formal de termos, mas um sistema cujo núcleo principal é a proposição subtendida pela afirmação de um juízo. (1969, p.237).
Por meio da complexidade lógica dos termos de Port-Royal, a sua gramática
foi culminante para o estudo da linguagem, que será aperfeiçoado no século XVIII.
Conforme Kristeva (1969, p.241-242), o século XVIII foi influenciado pela
concepção racionalista tratada pelos Solitários de Port-Royal e os seus sucessores:
a linguagem apresentada como diversos idiomas que têm regras lógicas,
constituindo, dessa forma, a natureza humana. Assim, o número das línguas
ensinadas nas escolas aumenta bastante, e isso favorece os estudos
34
epistemológicos. Como consequência disso, os gramáticos e filósofos propiciaram
os esclarecimentos das particularidades de cada objeto (língua), distanciando-o
cada vez mais do latim – da dependência lógica –, mas não desprezando o aspecto
universal, que passou a ser chamado de lógico para natural, o que ocasionou uma
descrição sintática das relações frásticas e interfrásticas – a gramática Enciclopédia
–, que foi a primeira a explicar, com clareza, o esforço de se fazer uma sintaxe
comum a todos os gramáticos desse período.
É preciso salientar que o estudo da linguagem do século XVIII não foge do
espírito de classificação e de sistematização que perpetuava nas ciências da época
que tinham como modelo a seguir a geometria. Prova disso, é o fato de que todas as
ciências, inclusive a gramática, “são susceptíveis de uma demonstração tão evidente
como a da geometria”, afirma Buffier (apud KRISTEVA, 1969, p.245).
Destaca-se, também, James Harris, que publicou a obra Hermes or a
Philosophical Inquiry concerning Universal Grammar (1751), em que abordou os
princípios universais e racionais da gramática geral, que era acessível a todas as
línguas. Nesse sentido, a linguagem surge como estudo mecânico, de forma que as
regras podiam ser estudadas como qualquer outro objeto físico, causando
aproximações e tipologias que favoreceram o comparatismo do século XIX. Convém
mencionar o ilustre William Jones (1746-1794), que “inaugura sem dúvida de uma
forma decisiva a futura linguística comparada quando descobre as correspondências
entre o sâncrito, o persa, o grego, o latim, o gótico e o céltico”, declara Kristeva
(1969, p.246, grifo nosso).
Além desses autores, enfatiza-se Locke (1632-1704), gramático que se
destaca pela teoria do signo ao afirmar que as palavras “são signos das ideias que
também se encontram nos outros homens com quem se fala” (apud KRISTEVA,
1969, p.246). Quanto aos estudos gramaticais de Locke, acrescenta Kristeva (1969,
p.247) que o autor:
supõe a relação arbitrária entre aquilo a que se chamará «referente» e aquilo a que se chamará «significante-significado»: «As palavras significam apenas as ideias particulares dos homens, e isto por uma instituição totalmente arbitrária». (ensaio sobre o entendimento humano, livro III: As palavras). Note-se que, embora Locke considere as palavras como signos e estude a sua diversidade (termos gerais, nomes de ideias simples, nomes de ideias mistas, etc.), não se detém nelas, mas considera o conjunto do discurso como uma construção, e estuda o papel das partículas, por exemplo, para ligarem as ideias entre si, para mostrarem a sua relação, para servirem de signos de uma «acção do espírito». (KRISTEVA, 1969, p.247).
35
Essa concepção do funcionamento da linguagem de Locke trouxe grandes
contribuições à gramática, pois conseguiu construir um enfoque sintático da língua.
Convém enfatizar, também, Diderot (1713-1784), que influenciou as obras dos
gramáticos da Enciclopédia. Com base nisso, explicita Chevalier (1968, p.650) que:
A tentativa de formalizar a gramática atribuída aos princípios gerais será o trabalho de muitos gramáticos, escrevendo em um período de intensa atividade intelectual, por volta de 1750, atividade que marcará pela publicação de novos métodos quanto ao ensino do latim, como os de Pluche ou Chompre, e os métodos de funcionamento e Fremy, um dos mais fiéis seguidores de Du Marsais; atividade que, no Plano de teoria, giram em torno da Enciclopédia. [...] E depois da morte de Du Marsais em 1756, [...] sucedem: Douchet e Beauzée. (CHEVALIER, 1968, p.650, trad. nossa).
Em relação aos estudos desses gramáticos, explicita Kristeva (1969, p.262)
que a “ideia dominante é indubitavelmente a da língua natural: cada língua possui
uma ordem natural, ardo naturalis, quando se aproxima dos modelos do
pensamento”.
Kristeva (1969, p.262-263) faz considerações relevantes sobre Du Marsais ao
dizer que:
Du Mursais vai servir-se da admirável síntese do abade Girard que conseguiu juntar Port-Royal aos gramáticos formalistas para destacar uma análise das funções e das formas que as exprimem. [...] A inovação de Girard consiste na introdução de um maior rigor lógico para apreciar o conteúdo do termo complemento e para estabelecer a diferença entre concordância e regime. [...] A gramática ocupa-se «da disposição das palavras no discurso», e a sintaxe vai abordar as leis constantes dessa disposição, sem se fechar nos quadros estreitos da afirmação lógica, mas encarando qualquer enunciado afirmativo ou negativo tal como a enunciação de «certos pontos de vista do espírito». (KRISTEVA, 1969, p.263).
Diante disso, enfatiza-se que a natureza do complemento tornou-se a base da
sintaxe. Isso se deu por meio da distinção identidade/determinação: a primeira
ocorre pela relação do nome e do adjetivo; a segunda, pela relação de determinação
que regula a construção das palavras.
Outros aspectos gramaticais que também merecem ser mencionados são as
abordagens acerca da sintaxe e a da construção apresentados na gramática de
Beauzée. Quanto a isso, explica Chevalier (1968, p.672-673) que:
36
Ele irá incluir os elementos do Voux à oração, apresentando os diversos tipos de Proposição: «simples, compostas, complexas e incomplexas», nas proposições aborda as: necessárias e acidentais para explicar os complementos », [..] também trata do atributo. [...] Ele apresenta a diferença entre Sintaxe e construção. A sintaxe preocupa-se com as «relações das palavras na oração, submetendo às relações de concordância a partir do princípio de identidade, e dos princípios de determinação» [...]. Quanto à Construção, ela: investiga os modos das palavras na proposição; a construção pode ser analógica ou inversa: a construção analógica possui modos fixos que devem ser ordenados; são as ordens diretas das palavras que regem a análise da oração. Já a construção inversa ocorre de dois tipos: de um modo geral, que é decorrente da análise da proposição, de um modo particular, que depende somente do uso particular de cada língua. (CHEVALIER, 1968, p.672-673, trad. nossa).
Diante disso, Beauzée, baseado em Voix, trata da sintaxe e da construção.
Por um lado, a sintaxe estuda as diversas partes da proposição. Por outro lado, a
construção preocupa-se com os diversos modos (a ordem) em que as palavras são
colocadas na proposição para torná-la mais clara. Esses modos dependerão das
particularidades de cada língua.
Diante do exposto, é inquestionável a contribuição dos estudos gramaticais
dos séculos XVI, XVII e XVIII ao estudo da sintaxe, especificamente, da gramática
de Port-Royal, a qual partiu da morfologia para a sintaxe, rompendo com análise das
palavras isoladas na proposição, cujas relações nome/verbo passaram para
sujeito/sintaxe. Sem dúvidas, este foi um grande avanço sintático em pleno século
XVII que influenciou os séculos vindouros, sobretudo, o XIX.
2.2.2.2 Sintaxe no século XIX
A palavra linguística “começou a ser utilizada em meados do século XIX para
enfatizar a diferença entre uma abordagem mais inovadora do estudo da língua, que
estava se desenvolvendo na época”, afirma Weedwood (2002, p.9). Além disso, a
Linguística é a área do estudo científico que estuda a língua(gem), tornando-se
abrangente por “incluir todos os tipos de exame dos fenômenos da linguagem,
inclusive os estudos gramaticais tradicionais e a filologia”, diz Weedwood (2002,
p.10).
Diante disso, destaca-se a diferença entre o filólogo e o linguista. O primeiro,
por um lado, se preocupa, especificamente, com o crescimento histórico das línguas,
37
pelas manifestações feitas por meio de textos escritos. O linguista, por outro lado,
mesmo que venha a se interessar por textos escritos e pelo desenvolvimento da
língua por meio do tempo, dá prioridade às línguas faladas (oralidade) e estuda seus
problemas em um determinado período de tempo.
É de suma importância salientar que poucas sociedades se preocuparam com
a investigação linguística, embora, as culturas chinesa, mesopotâmica e árabe
tenham se preocupado com a gramática, todavia seus estudos estiveram muito
aprofundados nos seus próprios idiomas, de tal modo que a Europa os desconheceu
durante muito tempo. Destaca-se que os interesses linguísticos dos chineses
elevam-se há mais de 2.000 anos, ressaltando a fonética, a ortografia e a
lexicografia, particularmente, ligados ao estudo da lógica. Nesse sentido, é que a
tradição gramatical não ocidental da Índia torna-se mais original, independente e
relevante, considerada a mais remonta aproximadamente 2.500 anos, baseada na
gramática de Panini, século V a.C, que estudava o sânscrito, língua sagrada da
Índia.
Nessa perspectiva, foram três as formas principais de impacto da língua
sânscrita à ciência linguística moderna: a primeira deu-se pela eclosão incontida da
gramática comparativa indo-europeia, lançando as bases a todo edifício da filologia
comparativa e da linguística histórica do século XIX. A segunda, porque a doutrina
gramatical da Índia não desempenhou papel algum influente, diz Weedwood (2000,
p.14), pois “[...] os estudiosos do século XIX, porém, reconheceram que a tradição
fonética da Índia antiga era amplamente superior ao conhecimento ocidental neste
campo”. Em virtude isso, tiveram, no Ocidente, decorrências relevantes ao
desenvolvimento da ciência fonética, e, por último, existe uma descrição da
gramática sânscrita nas regras (sutras) de Panini.
De acordo com Kristeva (1969, p.271), o fim do século XVIII foi marcante pela
mudança ocorrida na ideologia, tal como na filosofia e nas ciências que serão
desenvolvidas no século XIX, de maneira que, “à descrição dos mecanismos
(incluindo o da língua) e à sistematização dos tipos (incluindo os das diversas
línguas), sucede-se a concepção evolucionista, histórica”. Assim, o historicismo será
a questão essencial do século XIX.
Para entendermos melhor a predominância evolucionista (histórica) na
linguística do século XIX, convém citar Schleicher (botânico e grande admirador de
38
Darwin), que publicou, em 1863, a obra “Die darwinische Theorie und die
Sprachwissenschaft e, em 1865, Ueber die Bedeutung der Sprache für die
Natürgeschichte des Menschen”. O admirador das ideias de darwinistas destacou-
se, na história da linguística, pelo seu trabalho ao estudar a evolução das línguas.
Em relação a isso, explica Kristeva (1969, p.291) que Scheleicher:
Propõe uma forma hipotética de uma língua indo-europeia que estaria na origem de todas as outras. As línguas procederiam assim uma das outras segundo uma árvore genealógica; teoria sedutora, que foi geralmente admitida, antes de ser refutada e substituída pela de Johann Schmidt que propôs um outro esquema , o esquema dito das «ondas linguísticas». É neste último esquema que se vai basear na dialectologia indo-europeia. (KRISTEVA, 1969, p.291).
No entanto, Schleicher acreditava de fato que existia a língua indo-europeia
primitiva. Para chegar a essa conclusão, o autor baseou-se nas ideias evolucionistas
de Darwin, demonstrando, assim, que a evolução da linguagem apresentava dois
estágios: 1. ascedente (pré-histórico), que conduz às línguas flexionais, e o 2.
descendente (decadente ou histórico), caracterizado pela desagregação do sistema
flexional. Diante dessas informações, para Schleicher, o sânscrito já não é a primeira
língua, como pensado no início da época comparatista. Este pensamento linguístico
de Schleicher que tratava a língua como organismo fez dele um dos pioneiros da
linguística geral que se sucedeu à linguística histórica. O linguista alemão queria
chamar esta disciplina de Glottik, com o intuito de fundar as leis análogas em leis
biológicas. No entanto, acrescenta Kristeva (1969, p.293) que:
[...] este positivismo, transposto mecanicamente das ciências naturais para a ciência da significação, só podia ser idealista, pois não tinha em conta a especificidade do objecto estudado: a língua como sistema de significação e como produto social. Aliás encontrou imediatamente o seu complemento, aparentemente oposto mas profundamente necessário, o seu correlato ideológico para o domínio do estudo da sociedade, no hegelianismo que se apresenta como consciência histórica da expansão do modo de produção burguês. (KRISTEVA, 1969, p.293).
Diante disso, o final do século XIX teve forte predominância do pensamento
positivista por meio do Cours de philosophie positive (1830-1842), de Auguste
Comte (1789-1857). Nesse período, o desenvolvimento da ciência não contribuiu
com as investigações linguísticas apenas (distanciando-se da gramática filosófica
geral), mas também com o surgimento de uma linguística, verdadeiramente,
39
autônoma, baseada na gramática e na filologia. Enfatiza-se, de acordo com Kristeva
(1969, p.295), que “o momento marcante desta mutação do historicismo para
positivismo foi, como o assinalou Meillet, o trabalho dos neogramáticos Brugmann
(1849-1919) e Osthoff (1847-1907)”.
No que se refere à Linguística Histórica, afirmam Mussalim; Bentes (2011,
p.77), que esta “estuda os processos de mudança das Línguas no tempo”. Nesse
sentido, “os estudos históricos, principalmente os desenvolvidos a partir do século
XIX com o latim, o grego e o sânscrito, são tão importantes em linguística, que a
própria disciplina, a Linguística, afirmou-se como ciência a partir deles”.
Convém mencionar que a Linguística começou a ser considerada uma
disciplina diferente dos estudos de linguagem dominantes do século XIX na
perspectiva pós-saussuriana – a filologia comparativa e a histórica –, diz Weedwood
(2002, p.18). Dessa maneira, a Linguística estuda a linguagem em todos os seus
aspectos, sendo assim, a história da linguística deve fazer abordagens passadas do
estudo da linguagem, em quaisquer métodos usados e resultados adquiridos. Vale
lembrar o surgimento de uma nova disciplina – a epistemologia histórica – que
estuda as diferentes maneiras de pensamento que distinguem diferentes povos e
épocas. Essa disciplina tem contribuído bastante para a história da Linguística, uma
vez que historiadores têm dado, cada vez mais, importância ao estudo do passado.
A Linguística iluminava os grandes estudiosos do século XIX, em especial,
Franz Bopp, irmãos Grimm e Max Müller. Desse modo, começou a ser entendida
como ciência, pois seus fatos poderiam ser descritos, analisados e comprovados.
Desde então, foi inquestionável seu imenso crescimento, aprimorada na estrutura de
Saussure, acrescentam Fávero; Molina (2006, p. 17) que o “elemento facilitador
desse rápido caminhar repousa num constante jogo de oposições: é no momento de
crise, de contradição, de clivagem, que se fazem as mudanças”. Por isso, “o
comparativismo surgiu em oposição às teorias especulativas; o estruturalismo, ao
comparativismo; a gerativo-transformacional, ao estruturalismo; e contra os estudos
circunscritos no limite da frase vieram as teorias do texto”.
É necessário destacar que a Linguística e a História têm caminhos paralelos,
porém Fávero; Molina (2006, p.18) esclarecem o fato “de a História sempre ter se
valido da linguagem para registrar suas mudanças e desenvolvimentos”, todavia
acrescentam que “os estudos da linguagem até o século XIX pouco se serviram da
40
História”. Dessa maneira, com o surgimento dos estudos histórico-comparativos, em
pleno século XIX, a Linguística começou a ser compreendida como ciência. Com
base nisso, de um modo geral, considera-se o método comparativo um efeito de
suma importância, afirma Weedwood (2002, p.103) que:
[...] resultou num conjunto de princípios pelos quais as línguas poderiam ser sistematicamente comparadas no tocante a seus sistemas fonéticos, estrutura gramatical e vocabulário, de modo a demonstrar que eram “genealogicamente” aparentadas. (WEEDWOOD, 2002, p. 103).
Nessa perspectiva, genealogicamente, o italiano, o francês, o português se
originaram do latim, de tal forma o latim, o sânscrito, o grego e as outras línguas
célticas, eslavas e várias outras da Ásia e da Europa – conhecidas como indo-
europeu ou protoindo-europeu – se originaram de alguma língua mais antiga ainda.
Consequentemente, a genealogia linguística indo-européia foi apresentada, pela
primeira vez, pelos filólogos comparativistas no século XIX.
Com base nisso, de acordo com Mussalim; Bentes (2011, p.80), é ressaltada
a relevância dos “estudos comparativos com as línguas indo-européias, nos séculos
XVIII e XIX”. Em vista disso, contribuíram de forma fundamental “para o nascimento
e progresso da lingüística Histórica e para o próprio estabelecimento da Lingüística
como ciência”.
Segundo Weewood (2002, pp. 107-108), faz-se necessário mencionar o
erudito e diplomata alemão Wilhelm Von Humboldt (1767-1835), um dos linguísticas
que mais marcou todo o século XIX. Ressalta-se que seus interesses linguísticos
não eram, especificamente, históricos, baseado no filósofo alemão Johann Gottfried
(1744-1803), tornando-se contrário da grande parte de seus contemporâneos.
Diante disso, Von Humboldt deu ênfase aos estudos ligados às línguas
nacionais – característica normal do movimento romântico –. Destacou-se pela
teoria Humboldt da forma externa e interna. A primeira está relacionada aos sons
(matéria bruta), em que as diversificadas línguas são moldadas. A segunda é que
diferencia uma língua da outra por meio da estrutura de gramática, que era atribuída
sobre os sons. Essa abordagem da estrutura da língua prevaleceu, em meados do
século XIX, nos estudos linguísticos, e, mais que isso, a diferença da forma interna e
externa pode ser percebida em Ferdinand Saussure (1857-1913). Porquanto, essa
41
concepção só foi entendida no século XX, por meio do linguista americano Noam
Chomsky, como noções básicas da gramática gerativa.
No século XIX, houve mudanças na fonética, sintática e semântica, dessas,
interessa-nos a sintaxe, em que propiciamos a nossa pesquisa. A língua pode
perder uma distinção gramatical em sua forma verbal, apresentando o presente e o
passado do modo subjuntivo, explica Weedwood (2002, p. 113):
[...] no português popular do Brasil, o presente do indicativo substituindo o subjuntivo (“você quer que eu faço isso?”), ao passo que em Portugal o futuro do pretérito é muitas vezes expresso pelo imperfeito do indicativo (“eu gostava de morar aqui”, no lugar de gostaria), fenômeno que também acontece no Brasil (“se eu tivesse dinheiro, comprava um carro novo”)”. (WEEDWOOD, 2002, p. 113).
Desse modo o que era apresentado por meio de um elemento gramatical
pode ser apresentado por outro. Já nas línguas indo-europeias mais antigas, a
função sintática dos nomes e dos sintagmas nominais em uma oração ocorria,
particularmente, por meio das terminações de caso, assim como a antiga forma
latina: ROSA, ROSAM, ROSAE, ROSIS, ROSARUM...). Essas funções sintáticas
são mostradas, na maioria das modernas línguas indo-europeias, por meio da ordem
das palavras na frase e pelo uso de preposições (Por exemplo: ROSA vem do latim
ROSAE).
Diante do exposto, grande parte das várias modificações sintáticas é imposta
na ação da analogia. Sobre a analogia, conceitua Crystal (2008, p.27):
Termo usado em LINGÜÍSTICA HISTÓRICA e COMPARADA e em AQUISIÇÃO da linguagem com referência a um processo de regularização que afeta as formas excepcionais da GRAMÁTICA de uma língua. As formas verbais irregulares do português, por exemplo, são tratadas, nos primeiros ENUNCIADOS infantis, com base nos paradigmas da conjunção verbal regular, como eu fazi, ele cabeu: as crianças produzem tais formas “em analogia com” os padrões regulares. [...] Os processos de “criação analógica” constituem uma das principais tendências da história das línguas, como foi o caso dos VERBOS que tinham passado irregular no inglês antigo e vieram a se tornar regulares modernamente (Ex.: help – helped). (CRYSTAL, 2008, p.27).
Assim, quando Weedwood (2002, pp.113-114) discorre das modificações
sintáticas baseadas na ação da analogia, a autora diz que são transformações
sintáticas que aconteceram em uma língua, deixando sua estrutura profunda sem
nenhuma alteração e destinando-se a mudar os modos (seja, morfologicamente,
42
pela frase, preposição, verbos auxiliares, dentre outros), sem modificar as próprias
funções e distinções.
2.3 Século XX: aspectos educacionais, políticos e linguísticos no Brasil
2.3.1 Aspectos educacionais e políticos
Refletir acerca da sintaxe da Língua Portuguesa na segunda metade do
século XX leva-nos a considerar os fatores políticos, educacionais e filosóficos que
influenciaram bastante o ensino de Língua Portuguesa desse período.
Conforme Ribeiro (2000, pp.197-198), na passagem do século XIX para o
século XX, encontramos o fenômeno de urbanização, que se dá no final do século
XIX, formando, assim, uma nação “para assumir as responsabilidades dos aspectos
internos das atividades de comercialização das mercadorias produzidas para o
mercado externo”. Nesse sentido, a partir das primeiras décadas do século XX,
começa-se a desenvolver, também, uma sociedade com “base industrial, para
substituir as importações de produtos simples a serem comercializados
internamente”.
Esse processo de urbanização que teve início no final do século XIX foi muito
pertinente à nação brasileira, porque trouxe transformações econômicas que
provocaram “o aparecimento de “novas” forças sociais, como a fração “moderna” da
classe dominante proprietária de terra – os “barões do café” – também chamada de
burguesia agrária e urbana”, como também “a ampliação e a diversificação dos
setores médios”, esclarece Ribeiro (2000, p.198). Diante disso, essas “novas” forças
causaram mudanças à política, de tal modo que houve alteração do regime
monárquico de governo, para o republicano. Nesse sentindo, o crescimento
econômico do país – que teve grande contribuição por meio da urbanização, cujos
trabalhadores mudaram de categoria rural para urbana –, influenciou, também, a
questão educacional, defendo, assim, um ideário de exercício, de modo que a
alfabetização e a escolarização regular passaram a ser dever do estado.
Quanto ao ensino, acrescentam Palma; Turazza (2014, p.122) que:
Em 1942, o ministro Gustavo Capanema reformou o ensino através da promulgação de decretos-Leis – Leis Orgânicas do Ensino. A composição
43
do ensino passou a ser: cinco anos de Curso Primário, quatro de Curso Ginásio e três de Colegial, este último podendo ser na modalidade clássico ou científico. O Ensino Colegial perdeu o seu caráter propedêutico, de preparatório para o Ensino Superior e passou a preocupar-se mais com a formação geral. (PALMA; TURAZZA, 2014, p.122).
Em virtude disso, segundo Piletti (1997, p.52), foi implantada a Lei Orgânica
do Ensino Industrial, como também o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(SENAI). Dessa maneira, de acordo com Palma; Turazza (2014, pp.122-123), a
Portaria Ministerial de 11 de Junho de 1942 abordou os Programas do Ensino
Secundário, visando, assim, “as finalidades e os objetivos de cada série e os
conteúdos do ensino de gramática, leitura, exercícios e livros”. As leis aprovadas
eram centradas na capital (Rio de Janeiro), pela Portaria n.º 966, de 2 de outubro de
1951, de tal modo que os programas dos cursos Ginasial e Colegial, feitos pela
Congregação do Colégio Pedro II, “expedindo os planos mínimos de
desenvolvimento do Ensino Secundário e respectivas instruções metodológicas”.
É nesse período de pressões políticas e sociais que acontecem mudanças
significativas na educação brasileira. Assim, afirmam Henriques; Simões (2005,
p.130) que, a partir de 1964, poucos recursos eram oferecidos à pesquisa. Além
disso, era um período de mudanças nas escolas, uma vez que se iniciava o
processo de democratização, possibilitando o ensino às classes mais pobres. Com
efeito, a escola precisava atender a variante popular, tendo, dessa maneira, outra
forma de ensino gramatical, pois a gramática normativa já não atendia mais o novo
público. Surgia, então, a preocupação dos pesquisadores para com os “problemas
pedalingüísticos”, com o intuito de solucioná-los, fosse “voltada para o
funcionamento sincrônico e descritivo da modalidade oral da língua”, fosse “voltada
para a teoria da gramática gerativa que se apresentava como revoluncionária”, ou
“para a lingüística aplicada buscando uma “ponte” entre a teoria lingüística e sua
aplicação no ensino de língua”.
Considerando as alterações ocorridas na educação, é preciso destacar que,
em 1961 apenas, a palavra “currículo” surge em documentos oficiais (Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 4024/61). Diante disso, explicitam
Henriques; Simões (2005, p.130) que o “artigo 64 prevê a possibilidade de escolas
organizadas com modelo pedagógico diferente do estabelecido pela própria
legislação”. Lamentavelmente, estes resultados não atingiram as expectativas da
educação que, por volta de 1934, deveria ser para todos, diz Piletti (1997, p.211)
44
que continua analfabetos 25, 94% da população (com a idade de 15 anos ou mais).
Como forma de solucionar o problema, o governo propunha outra reforma, criando
em 1996, sem que haja discussão na sociedade, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) – Lei 5692/71) – tendo como objetivos a realização do
ensino de 1º e 2º graus, como também a preparação para trabalho e para o
exercício consciente da cidadania. Em relação à LDB, esclarecem Cavalcanti;
Bortoni-Ricardo (2007, p.240) que:
[...] aprovada em 1996, estabeleceu que o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, que hoje em dia vem sendo ampliado de 8 para 9 anos nos sistemas estaduais de ensino, visa a desenvolver a capacidade de aprender por meio do pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo, o que significa introduzir o educando na cultura de letramento, à qual têm acesso, historicamente, parcelas restritas da população brasileira. (CAVALCANTI; BORTONI-RICARDO, 2007, p.240).
Nesse sentido, segundo Cavalcanti; Bortoni-Ricardo (2007, p.240), convém
salientar a tabela de analfabetismo no ano de 1998:
TABELA2
Diante da tabela, percebe-se que caiu muito a taxa de analfabetismo de 15
anos ou mais da década de 1930 à década de 1990.
De acordo com Henriques; Simões (2005, p.130), na década de 1970 e nos
primeiros anos da de 1980, houve uma lacuna em relação ao ensino de gramática,
isso por causa da LDB (particularmente dos dois momentos ocorridos em 1961 e em
1934, como mostrado anteriormente), de todo o processo histórico, das novas
ideologias do governo militar, bem como da questão linguística, fator fundamental
2 Fonte: IBGE – PNAD’s (Cf. CAVALCANTI; BORTONI-RICARDO, 2007, p.240).
Ano Faixa etária de anos
15
a
19
20
a
24
25
a
29
30 a
39
40 a
49
50 ou mais
4,8 6,2 7,7 10,1 14,0 29,8
45
para que houvesse mudança no ensino de Língua Portuguesa. Nesse sentido, a
língua começou a ser um instrumento ao desenvolvimento social, sendo sua
denominação mudada para “Comunicação e Expressão nas séries iniciais do 1º
grau, Comunicação em Língua Portuguesa, nas séries finais do 1º grau”, afirma
Soares (apud Henriques; Simões, 2005, p.131). Salienta-se, também, a influência
dos meios eletrônicos de comunicação ao ensino da língua, sobretudo, do hiato, em
que o ensino de gramática é reduzido, privilegiando, assim, o texto das práticas
sociais, o texto não-verbal e a linguagem oral. Em relação à década de 1970,
acrescenta Valente (2007, p.60) que esse período:
[...] promoveu a chamada democratização do ensino público nacional, cujas condições de aprendizagem se mostraram quase que assustadoras para os docentes. Desde a ignorância das regras básicas de trato social até uma prática linguageira muito distante do uso dito culto, caracterizam a nova clientela. A formação complexa do alunado tornou-se um problema na prática didática, pois os oriundos da antiga classe média (que dominava o uso culto da língua e tinha acesso à leitura) permaneceram e tinham de dividir o espaço escolar com as classes populares. (VALENTE, 2007, p.60).
Diante disso, faz-se necessário destacar que uma escola, mesmo treinada
para trabalhar com a norma culta da língua, não sabia como lidar com a variação
dialetal do grande número de alunos na escola pública. Nessa perspectiva, a década
de 80 foi o período em que se abriu espaço para a democratização, de tal modo que
a sociedade espera discutir sobre diversos setores sociais, especificamente, a
educação. Quanto ao ensino de Língua Portuguesa, as pesquisas linguísticas
começam a repercutir na disciplina, prevalecendo, dessa maneira, os estudos de
descrição da língua portuguesa – a Sociolinguística –, que mostrou as diferentes
variantes linguísticas. Como consequência disso, os estudos de Descrição da língua
Portuguesa trouxeram novas concepções de gramática confrontando à prescrição,
além disso, a Linguística textual tratou da necessidade de abranger o estudo de
gramática do texto, afirmam Henriques; Simões (2005, pp.131-132).
2.3.2 Aspectos linguísticos
A Linguística do século XX focou a relação entre linguagem e sociedade, de
tal maneira que teve um papel decisivo, uma vez que ambas estão entrelaçadas.
46
Diante disso, as linguagem e sociedade não podem ser desconsideradas reflexões
acerca do fenômeno linguístico.
Segundo Mussalim; Bentes (2011, p.23), a relação linguagem-sociedade
encarrega-se “de excluir toda consideração de natureza social, histórica e cultural na
observação, descrição, análise e interpretação do fenômeno linguístico”, referindo-se
“à constituição da tradição estruturalista, iniciada por Saussure em seu Curso de
Lingüística geral, em 1916, quem define a língua, por oposição à fala, como objeto
central da Lingüística”.
Ao conceituar a língua, Saussure3 (2012, p.41) afirma que:
[...] não se confunde com a linguagem; é somente uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade de indivíduos. (SAUSSURE, 2012, p.41).
É necessário perceber que, para Saussure, a língua é um produto social, que
é adotado pelos indivíduos no convívio social. Por conseguinte, não se pode
confundi-la com a linguagem. Por um lado, esta é a faculdade, dada pela natureza,
que possibilita ao homem constituir uma língua e, por outro lado, a língua é um
produto social da faculdade da linguagem.
Convém enfatizar que Saussure (2012, pp.55-56) destaca o aspecto formal e
estrutural do fenômeno linguístico, mesmo reconhecendo que há relações entre a
língua e a história política. De acordo com ele, “o estudo dos fenômenos linguísticos
é muito frutuoso; mas é falso dizer que, sem eles, não seria possível conhecer o
organismo linguístico interno”. Desse modo, o autor privilegia a linguística interna,
uma vez que, com esta:
[...] as coisas se passam de modo diferente: ela não admite uma disposição qualquer; a língua é um sistema que conhece somente sua ordem própria. Uma comparação com o jogo xadrez fará compreendê-lo melhor. Nesse jogo, é relativamente fácil distinguir o externo do interno; o fato de ele ter passado da Pérsia para a Europa é de ordem externa, interno, ao contrário, é tudo quanto concerne ao sistema e às regras. (SAUSSURE, 2012, pp.55-56).
3 A 1ª edição deu-se em 1916, mas a utilizada por nós foi a 28ª edição, de 2012.
47
Por meio do jogo de xadrez de Saussure, são apresentadas, de modo claro,
as diferenças entre a linguística interna e externa. Foi essa dicotomia que dividiu o
campo dos estudos linguísticos atuais, “em que orientações formais se opõem a
orientações contextuais, sendo que estas últimas estão fragmentadas sob o rótulo
das muitas interdisciplinas: Sociolingüística, Etnolingüística, Psicolingüística etc”,
explicitam Mussalim; Bentes (2011, p. 24).
Vale ressaltar, segundo Maingueneau (1997, p.48), que, na concepção
estruturalista da linguagem, cujo representante mais forte é Saussure, a língua é
vista como um sistema que precisa preservar a identidade de suas unidades, tendo
como principal função comunicar informações do modo mais reduzido.
Salienta-se a língua como sistema de signos, abordada por Saussure (2012,
p.107). O signo linguístico é definido como uma unidade psíquica de duas faces: o
significante (imagem acústica) e o significado (conceito).
O linguista abordou a diferença entre linguística sincrônica e diacrônica no
seu Curso, e sustentou que “a linguística sincrônica devia lidar com a estrutura do
sistema de uma língua num ponto específico”; enquanto isso, “a linguística
diacrônica devia se preocupar com o desenvolvimento histórico de elementos
isolados – devia ser atomística”, esclarece Weedwood (2002, p.128). Com efeito,
essa teoria foi rejeitada por muitos estudiosos que começaram a empregar o estudo
diacrônico das línguas ao estruturalismo.
Saussure (2012, pp.171-172) criou, também, a palavra sintagma que:
[...] se compõe sempre de duas ou mais unidades” consecutivas (por exemplo: re-ler, contra todos; a vida humana; Deus é bom; se fizer bom tempo, sairemos etc.). Colocado num sintagma, um termo só adquire seu valor porque se opõe ao que precede ou ao que o segue, ou a ambos. (SAUSSURE, 2012, pp.171-172).
Sendo assim, entende-se por sintagma o conjunto de palavras; as unidades
complexas.
Diante das teorias de Saussure, Maingueneau (1997, p.50) assevera que o
estruturalismo linguístico sofreu muitas críticas por ter definido a língua como
sistema de diferenças entre signos, uma vez que “reduziu a diversidade das
propriedades das línguas naturais e, na ausência de uma teoria da frase, não foi
capaz de elaborar uma verdadeira sintaxe”, pois, a língua estudada por si mesma,
48
não levando em conta qualquer outra consideração além das relações entre
unidades, é excluir do campo da linguística o sujeito da enunciação e do contexto.
Diante disso, era preciso “abster-se de tratar um grande número de fenômenos
linguísticos que se destacavam presentemente no domínio da enunciação e, mais
amplamente, da pragmática”. Foi, especificamente, a teoria generativa do linguista
americano Chomsky que trouxe uma nova concepção da linguística, tendo em vista
ultrapassar os limites do estruturalismo.
Na teoria generativa de Chomsky (1957), a dicotomia língua/fala de Saussure
foi substituída pela competência/performance de Chomsky. Segundo Kristeva (1969,
p.353-354), a teoria do linguista americano foi apresentada por meio do seu livro
Syntactic Strutures que revolucionou a linguística do século XX, propondo uma
abordagem original da geração das estruturas sintáticas. Como prova disso,
Chomsky propõe, no lugar do enfoque analítico das estruturas, uma descrição
sintética que “já não se trata de decompor a frase em componentes imediatos, mas
de seguir o processo de síntese que leva esses componentes a uma estrutura
sintagmática, ou que transforma essa estrutura numa outra”.
Nesse contexto, conforme Weewood (2002, p.144), vale esclarecer que
muitos linguistas da segunda metade do século XX rejeitaram a estrutura abstrata da
língua tratada por Saussure (por usar a langue) e por Chomsky (por usar a
competência), uma vez que, para estes, o objeto da linguística é determinado como
elemento abstrato, universalista, sistêmico, formal. Como consequência disso, os
críticos se dedicaram à perspectiva funcionalista e às questões pragmáticas do uso
dos falantes da língua, utilizando-a como uma atividade social ligada aos aspectos
ideológicos.
O estruturalismo linguístico, conforme Maingueneau (1997, p.50), sofreu
diversas críticas. Dentre elas, por ter definido a língua como sistema de diferenças
entre signos que, na falta de uma teoria de frase, não conseguiu criar uma sintaxe
verdadeira. Assim, estudar a língua em si mesma, sem levar em conta os outros
aspectos, além das relações entre as unidades, significa eliminar o sujeito da
enunciação e o contexto do campo linguístico. Diante disso, surge um campo mais
abrangente: o da pragmática.
Sobre a pragmática, conceitua Maingueneau (1997, p.56) que “diz respeito ao
conjunto das ciências humanas. Mais do que uma doutrina, ela define-se por uma
49
certa maneira de aprender a comunicação verbal, ou mesmo a comunicação”. Além
disso, o autor apresenta, em matéria de reflexão sobre a linguagem, as diversas
correntes, destacando as principais, a saber: a) as problemáticas da enunciação; b)
a teoria dos atos da linguagem; c) o implícito; d) a argumentação da linguística.
Nesse sentindo, há, também, as correntes interacionistas, ligadas às questões
pragmáticas, que são: a) a interação verbal; b) o verbal e o não-verbal; c) a
dimensão psicossocióloga.
Dessa forma, ligada, na maioria das vezes, às correntes interacionistas,
surgiu a análise do discurso (AD) nos finais dos anos 60. Por se tratar de um campo
ativo, com inúmeras problemáticas, a AD é alvo de muitas discussões até hoje.
Partindo dessa perspectiva, vale ressaltar, de acordo com Mussalim; Bentes
(2011, p.166), que, nos de 1970, predominava o “padrão” da Gramática
Transformacional, em que não se abordava a sintaxe de uma língua “fora de seus
parâmetros de investigação, ainda que para muitos pesquisadores chamava a
atenção o enfoque excessivamente formalista dessa tendência. Como resultado, a
desvalorização da teoria gerativa por aspectos discursivos foi, aos poucos,
provocando diversas tendências, como: a Sociolinguística, a Linguística Textual, a
Análise do Discurso, a Análise da Conversação, a Semântica, a Psicolinguística,
dentre outras. Com efeito, todas essas disciplinas são alvos de grandes estudos
revolucionários a serem desenvolvidos no futuro.
Além dessas disciplinas, a teoria funcionalista é, também, uma das
tendências da desvalorização da teoria gerativa, mas, ao contrário das outras, não é
tão atual assim, uma vez que o enfoque funcional é uma ostentação do enfoque
formal de Saussure (estruturalismo). Segundo Mussalim; Bentes (2011, pp.166-167),
o funcionalismo pode ser visto, também, na Escola Linguística de Praga desde o seu
início nos anos 20 até hoje, tendo Roman Jakobson, como principal pesquisador
desse período e pioneiro da teoria funcionalista, que ampliou o entendimento de
função da linguagem (limitada à teoria estruturalista apenas) a outras que
consideram “os participantes da interação, como a emotiva, a conativa e a fática, e
outros fatores da comunicação, como a mensagem (função poética) e o próprio
código (função metalinguística)”.
Além dos linguistas apresentados, não poderíamos deixar de citar o russo
Mikhail Bakhtin (1895-1975). Segundo Weedwood (2002, p.148-149), Bakhtin teve
50
muitas obras publicadas em nome de amigos devido a questões políticas, dentre
essas obras, o livro Marxismo e filosofia da linguagem, que foi publicado na Rússia,
em 1929, com o nome de V. Voloshinov; tendo sua obra desconhecida pelos
estudiosos ocidentais durante muitas décadas. Por conseguinte, apareceram as
primeiras traduções europeias na década de 1970, desde então, as teorias de
Bakhtin são conhecidas até os dias de hoje e seu reconhecimento é inquestionável.
Dentre uma de suas principais contribuições ao conhecimento linguístico moderno,
destaca-se a sua crítica às duas grandes concepções de língua e linguagem, de tal
modo que sempre dominaram os estudos filológicos, gramaticais e linguísticos
desde o seu período. Tais concepções se relacionam com o que chamamos, hoje,
de tendências universal e particular do enfoque dos fenômenos linguísticos.
Bakhtin, assim como os outros linguistas, teve forte influência ao campo da
Linguística. O estudioso russo criticou a concepção da língua como um sistema
homogêneo e, ao contrário disso, aplicou um entendimento mais complexo da língua
que não seja capaz de desconsiderar os fatores do enunciado linguístico, de modo
que o pesquisador não se limite às partes tradicionais da gramática: fonologia,
morfologia, sintaxe e semântica.
Terminados, por fim, os aspectos educacionais, políticos e linguísticos,
faremos a análise das obras de Brandão e Kury, pois a nossa pesquisa está voltada
à compreensão do ensino de Língua Portuguesa do final do século XIX, sobretudo, à
sintaxe, tomando como corpus a obra Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza,
de Thomas da Silva Brandão (1888). Assim sendo, para a adequação, utilizaremos a
obra de estudo Novas lições de análise sintática, de Adriano da Gama Kury (1999),
a fim de contribuir para o ensino de Língua Portuguesa no Brasil.
51
3. ANÁLISE DAS OBRAS
Este capítulo apresenta o estudo da sintaxe da Língua Portuguesa,
especificamente, da Função do Advérbio, nos finais dos séculos XIX e XX, a partir
da obra de estudo Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza4, de Thomaz da
Silva Brandão, publicada em 1888, e da obra Novas Lições de Análise Sintática 5, de
Adriano da Gama Kury (1999). Esta pesquisa mostra a relevância e as influências
das presentes obras ao ensino de sintaxe da Língua Portuguesa no Brasil.
Convém ressaltar que enfatizamos dois dos princípios de Koerner (1996)
neste capítulo, o da Imanência, que implica o estudo da obra por si mesma,
estabelecendo um entendimento histórico, crítico e filológico. Privilegiamos, também,
o princípio da Adequação, que fará aproximações modernas do vocabulário técnico
da obra em estudo, tomando como parâmetro a obra Novas Lições de Análise
Sintática, publicada em 1999, de Adriano da Gama Kury.
Dessa maneira, consideramos quatro aspectos para a análise das obras, a
saber: o primeiro aborda o Prefácio; o segundo, as concepções de Língua,
Linguagem e Gramática; o terceiro, a Organização da Obra e, o quarto, a Função
do Advérbio.
Assim sendo, apresentaremos a análise da obra de estudo da Gramática
Syntaxe e Construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz da Silva Brandão (1888).
3.1 Syntaxe e Construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz da Silva Brandão
(1888)
A obra de estudo Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz
da Silva Brandão, foi publicada pela editora Typ. De Antonio José Gomes Brandão
em 1888, e contém 319 páginas.
Além da obra Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza (1888), Brandão
publicou outras, tais como:
4 (Cf. ANEXO 1, p.113).
5 (Cf. ANEXO 12, p.124).
52
1. Em 1889, a Revista escolar, anno I, nº. 3 e 4.
2. Em 1896, a Revista da Faculdade Livre de Direito do Estado de Minas
Gerais, pela editora Typographya do Fórum Ouro Preto.
3. Em 1932, Marília de Dirceu, pela editora Typographya Guimarães, Belo
Horizonte.
Convém ressaltar que, no Brasil, a ortografia do século XIX era mista, pois
não existia uma ortografia oficial nesse período. Sendo assim, Nogueira (2005,
p.121) explica que era notável “a propagação de ortografias pessoais,
idiossincráticas, que resultaram no denominado sistema usual, de caráter habitual”,
além disso, a autora acrescenta que “essa grafia predominava tanto nas publicações
oficiais e na imprensa, quanto nas páginas dos compêndios em geral”, contribuindo,
assim, para “um período de grafia mista com predominância da vertente
etimológica”, esclarece Cavaliere (2000, p.197). Diante disso, a obra Syntaxe e
construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz da Silva Brandão (1888), apresenta
uma ortografia mista, pelo fato de não existir, naquela época, uma oficialização da
escrita, por isso, ora a palavra é escrita com uma letra, ora com outra, como
mostram os exemplos:
(BRANDÃO, 1888, p.102).
(BRANDÃO, 1888, p.109).
(BRANDÃO, 1888, p.84).
(BRANDÃO, 1888, p.89).
53
Assim, temos a palavra Brasil ora escrita com s, ora escrita com z, e a palavra
época escrita, às vezes, com h, outras vezes, sem h. Esses são, apenas, alguns dos
vários exemplos da obra de Brandão (1888) que comprovam a predominância da
ortografia mista nas obras do século XIX.
3.1.1 Primeiro aspecto: Prefácio
O autor apresenta a Advertência e a Introdução em sua obra. Dessa maneira,
a obra Syntaxe e Construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz da Silva Brandão,
apresenta, na Advertencia, a constatação da necessidade de estudos acerca da
sintaxe da Língua Portuguesa, diz Brandão (1888, p.VI):
(BRANDÃO, 1888, p.VI).
Com base nisso, a obra de estudo de Brandão (1888) torna-se relevante uma
vez que pretende preecher a lacuna do ensino de Língua Portuguesa no Brasil, que
foi abandonado pelos estudiosos da época.
A obra Syntaxe e Construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz da Silva
Brandão (1888), inicia a Introducção abordando a syntaxe e construcção, dois
aspectos necessários à análise da expressão culta da língua. Desse modo,
esclarece Brandão (1888, p. VII):
(BRANDÃO, 1888, p.VII).
54
Diante disso, o autor considera a sintaxe e a construção relevantes ao seu
trabalho, tendo em vista que essas duas divisões serão necessárias para o
entendimento gramatical. Além disso, Brandão (1888), também, acrescenta que
adotará outros assuntos que achar necessários.
Quanto à sintaxe, explica Brandão (1888, p. VII) que:
(BRANDÃO, 1888, p.VII).
É preciso salientar que o autor conceitua período como carateres diferentes
na formação das proposições. Por isso, estas tornaram-se estudo da sintaxe,
classificando-as de acordo com a função que exercem quanto ao modo de expressar
os pensamentos.
Em relação à construção, Brandão (1888, p. VII) afirma:
(BRANDÃO, 1888, p.VII).
Nesse sentido, a construção, por um lado, se importa com o sentido das
palavras na proposição, enquanto a sintaxe, por outro lado, se preocupa com o
papel que cada uma exerce na proposição.
Quanto à sintaxe, complementa Brandão (1888, p.VII) que ela é “de regencia
ou de concordancia”, isso é determinado por meio da relação em que as palavras
têm entre si. Sendo assim, a sintaxe de regência ensina a agrupar corretamente os
complementos exigidos nas palavras pelo sentido e a empregar as preposições que
55
devem ligar os complementos aos antecedentes, de acordo com as relações que as
preposições exprimem. Além disso, a sintaxe de concordância ensina a formar a
concordância de gênero e número dos substantivos com as desinências dos
adjetivos e pronomes, assim como ajustar as flexões dos verbos ao número e
pessoa dos seus sujeitos.
É pertinente enfatizar que Brandão (1888, p.VIII) faz uso da sintaxe regular e
irregular, porque a proposição podia expressar ou ocultar todas as suas partes. A
sintaxe regular é quando a regência e a concordância se fazem sem ser necessário
subentender as palavras. A sintaxe irregular ou figurada, ao contrário, acontece
mentalmente.
No último parágrafo da Introducção, Brandão (1888, p.VIII) critica os autores
modernos por não fazerem uso da sintaxe figurada, pertencente à teoria do estilo.
Dessa maneira, Brandão, a considera relevante ao seu estudo, em virtude de não
tratar, apenas, da locução correta, mas também, da ornada, uma vez que esse
conhecimento é fundamental à análise da linguagem. Porquanto, terminada a
análise do primeiro aspecto, apresentaremos o segundo aspecto: Língua,
Linguagem e Gramática.
3.1.2 Segundo aspecto: Concepções de Língua, Linguagem e Gramática
Brandão apresenta, na advertência de sua obra, a necessidade de se
preencher a lacuna existente no estudo da língua pátria, partindo das regras da
sintaxe e da construção. Dessa maneira, o autor valoriza a língua pátria em seus
estudos, tendo em vista que “para a expressão correcta e analyse do pensamento
têm todas as línguas cultas uma syntaxe e construcção”, afirma Brandão (1888,
p.VII).
Ao conceituar o aspecto da construção, explicita Brandão (1888, p.VII) que “a
contrucção investiga os diversos modos de collocar as palavras, determinados pela
indole da lingua, e os vários meios de tornar a phrase clara, harmonica e concisa”.
Diante disso, o autor esclarece que, na construção, os diversos modos de colocar a
palavra serão determinados pela índole (tendência) particular de cada língua que se
divide em construção direta, inversa e interpolada. Dessa forma, afirma Brandão
(1888, p.225-226) que, na francesa, predomina a direta; na portuguesa, a inversa,
56
na latina, a interpolada, e, em uma mesma língua, deve ocorrer uma das três
formas, de acordo com o estilo trabalhado, o assunto abordado, bem como o jeito de
escrever de cada autor.
No apêndice, o autor começa tratando das virtudes das palavras, que são
três: propriedade, conveniência e pureza. Destas, interessa-nos a pureza, pois
Brandão (1888, p.284) diz que “chamam-se puras as palavras da propria lingua,
auctorisadas pelo uso dos que bem falam, e empregadas em accepção vernácula”.
Nesta citação, ocorre a valorização da língua pátria, que teve forte influência nas
gramáticas do século XIX.
Sobre os conceitos de língua, convém enfatizar que Brandão (1888) dá
ênfase à língua escrita apenas. Fator este que predominava nos estudos da época,
pois a ênfase à língua oral deu-se a partir do século XX.
Quanto à linguagem, esta é apresentada, pela primeira vez, quando o autor
apresenta a parte figurada na Introdução de sua obra, explica Brandão (1888, p.VIII)
que:
(BRANDÃO, 1888, p. VIII).
Consequentemente, esta ideia é ressaltada quando Brandão (1888, p.308)
discorre sobre as figuras de palavras no apêndice de sua obra. É importante
destacar que o autor opta por não chamar “figuras de linguagem”, mas ao conceituar
a prosopopeia, ele faz uso do termo “linguagem”, como é mostrado no exemplo
abaixo:
57
(BRANDÃO, 1888, p. 308).
Nesse contexto, a linguagem também é citada pelo autor ao discorrer da
construção interpolada entre a proposição apositiva e seu antecedente, dentre os
vários exemplos das interpolações, exemplifica Brandão (1888, p.244) que costuma
usá-las para:
(BRANDÃO, 1888, p. VIII).
Neste caso, a linguagem está relacionada à capacidade da pessoa expressar
o seu sentimento, que pode ser demonstrado por meio de imagens, que estão nos
pensamentos, para serem exprimidas com o calor da paixão.
Ora, diante das considerações do autor, percebemos, mais uma vez, a
linguagem tratada como expressão de sentimento. Sendo assim, para Brandão
(1888), a linguagem é capacidade natural que os indivíduos têm para transmitirem
suas emoções, pensamentos.
Além dessas considerações acerca da linguagem, o autor apresenta também
os vícios de linguagem, esclarece Brandão (1888, p.309) que:
58
(BRANDÃO, 1888, p309).
Esta explicação não se distancia das outras mostradas pelo autor, uma vez
que entende como linguagem a forma natural de os indivíduos se expressarem. Os
vícios de linguagem comprovam a forma espontânea (sem pensar) de comunicação.
Quanto ao aspecto da gramática, convém salientar que a obra de Brandão
(1888) não é uma gramática, mas uma obra de estudo gramatical. Dessa maneira,
Brandão (1888, p.VII) afirma que:
(BRANDÃO, 1888, p.VII).
Desse modo, a sua obra é dividida em duas partes: Sintaxe e Construção. A
primeira, por um lado, estuda as muitas partes que formam a proposição, a função
que cada uma exerce dentro da oração, como também as suas relações de
dependência e concordância, podendo, assim, constituir “um todo” chamado de
período. A segunda, por outro lado, preocupa-se em investigar as diversas maneiras
de as palavras serem colocadas com o intuito de tornarem as palavras mais claras e
harmônicas, mas isso dependerá das particularidades de cada língua.
Quanto à divisão de sua obra, Brandão (1888, p.VIII) afirma que:
(BRANDÃO, 1888, p.VIII).
59
Desse modo, o autor inclui a sintaxe na parte figurada, uma vez que a
considera indispensável à análise da linguagem. Isso acontece pelo fato de que a
figura preocupa-se com o adorno da frase.
A segunda parte do apêndice que trata das virtudes e das suas diversas
espécies merece destaque, porque, ao conceituar diversas palavras, o autor faz uso
do termo “espécie”, como afirma Brandão (1888, p.293):
(BRANDÃO, 1888, p.293).
Além dessa afirmação, Brandão (1888, p.303) declara que “há diversas
especies de synedoche”, que é o “tropo que dá a entender mais ou menos do que as
palavras significam no seu sentido próprio”. Assim, nestas e em muitas outras
ocasiões, é apresentada a palavra “espécie”. Fato este relevante, uma vez que as
gramáticas do século XIX tiveram forte influência do Positivismo, particularmente,
das ideias darwinistas sobre diversos gramáticos da época. Destes, salienta-se
Ribeiro, que considera a língua um ser vivo – um organismo que nasce, cresce e
morre –, utilizando, assim, os métodos de estudos das ciências naturais: do aspecto
evolucionista do ser.
Portanto, terminamos a análise dos aspectos de língua, linguagem e
gramática na obra de Brandão, mantendo-nos fiéis aos conceitos tratados pelo
autor. Assim, passaremos ao terceiro aspecto: Organização da Obra.
3.1.3 Terceiro aspecto: Organização da Obra
A obra analisada, neste trabalho, tem forma singular na organização dos
conteúdos apresentados. Cabe esclarecer que elaboramos uma apresentação
diversificada do Índice da obra Syntaxe e Construcção da Lingua Portugueza, de
Thomaz da Silva Brandão (1888), com o intuito de termos objetividade no estudo,
60
tendo o cuidado necessário para mantermos o conteúdo. O original encontra-se nos
ANEXOS 3 a 9 (pp.115-121).
A organização da obra de Brandão (1888):
INDICE
INTRODUCÇÃO Noções preliminares
PARTE PRIMEIRA CAPITULO I
Das proposições e suas partes essenciaes CAPITULO II
Da natureza do sujeito, do attributo e da proposição
CAPITULO III Dos complementos
CAPITULO IV Das relações das preposições
CAPITULO V Da concordancia das palavras
CAPITULO VI Da fórma activa e passiva da proposição
CAPITULO VII Do período
CAPITULO VIII
Da classificação das proposições CAPITULO IX
Das transformações das proposições CAPITULO X
Do emprego dos modos e tempos dos verbos CAPITULO XI
Da coordenação das proposições e dos membros do periodo
CAPITULO XII Da separação das partes do discurso
CAPITULO XIII Do uso syntactico de algumas palavras
PARTE SEGUNDA Preliminares
CAPITULO I Da construcção directa
CAPITULO II Da construcção inversa
CAPITULO III Da construcção interpolada
CAPITULO IV Da collocação dos complementos e proposições appositivas
CAPITULO V Das figuras de palavras
APPENDICE I
Das virtudes das palavras
II
Do estylo e das suas diversas especies
A obra contém 319 páginas, o índice é dividido em duas partes e apêndice. A
primeira contém XIII capítulos, apresentando as proposições e suas partes
essenciais sujeito e verbo, os complementos, a concordância das palavras, do
verbo, do período e a coordenação das proposições. A segunda parte aborda a
construção direta, a construção inversa, a construção interpolada, a colocação dos
complementos e preposições apositivas e as figuras de palavras. Por fim, o
apêndice que mostra as virtudes das palavras, o estilo e as suas diversas espécies.
O primeiro capítulo aborda a proposição e suas partes essenciais e Brandão
(1888, p.2,4) as divide em três: o sujeito, o verbo ou nexo e atributo. Dessa maneira,
conceitua sujeito como “aquilo de que se affirma ou nega alguma cousa”. Por sua
vez, em relação ao verbo, afirma o autor que é “a palavra que com variações de
61
modos, tempos, números e pessoas liga um attributo ao sujeito ou exprime a
existência, uma acção, estado ou relação que lhe é atribuída ou negada”. Além
disso, diz que o atributo é “a palavra ou palavras que exprimem a cousa attribuida ou
negada ao sujeito”.
No que diz respeito aos Complementos, Brandão (1888, p.18) refere-se a um
apelativo, adjetivo qualificativo, verbo, particípio ou advérbio. Em virtude disso,
afirma que palavra a que se refere o complemento chama-se antecedente, porque
“coloca-se ordinariamente antes d’elle”.
Quanto aos modos verbais, de acordo com Brandão (1888, p.112-118), são
divididos em cinco, a saber: indicativo, subjuntivo, condicional, imperativo e infinitivo.
A segunda parte do livro diz respeito à construção, uma vez que a primeira
trabalhou a sintaxe, estudando, assim, a proposição sob vários aspectos, das
diferentes colocações e das partes do período. Sobre a construção, Brandão explica
(1888, p.225):
(BRANDÃO, 1888, p.225).
Assim, a construção é a parte da gramática que se preocupa com a clareza e
harmonia das palavras e proposições, de tal maneira que uma suceda à outra para
não ocorrer falta de sentido. Por conseguinte, o autor mostra que, além do domínio
gramatical, é preciso harmonizar as palavras e proposições para que haja sentido no
período.
A construção divide-se em direta, inversa e interpolada. De acordo com
Brandão (1888, p.225-226), cada uma predomina conforme as particularidades de
cada língua. Sendo assim, a construção direta predomina na francesa; a inversa, na
portuguesa e a interpolada, na latina.
Em relação à construção direta, define Brandão (1888, p.226):
62
(BRANDÃO, 1888, p.226).
Em virtude disso, o autor denomina direta a construção quando ocorre a
subordinação nas palavras e proposições, de tal forma que essas dependem uma da
outra.
Quanto à construção inversa, Brandão (1888, p.230-231) diz:
(BRANDÃO, 1888, p.230-231).
A partir dessa afirmação, Brandão (1888, p.230-231) define que a construção
inversa ocorre quando as palavras ou proposições não seguem uma ordem direta,
podendo o sujeito vir depois do verbo e as proposições subordinadas antes
daquelas de que dependem.
No que diz respeito à construção interpolada, explica Brandão (1888, p.240)
que acontece “quando se separam, ficando outras em meio, palavras que têm entre
si relação intima e necessária”. Destaca-se que essa construção acontece mais na
língua latina.
63
Vale enfatizar que Brandão (1888, p.267) trata da elipse ao dizer que “é a
suppressão de uma ou mais palavras que se subentendem facilmente pelo sentido”.
Desse modo, acontece a elipse do sujeito, do verbo, do advérbio e do relativo.
Sendo assim, o autor termina a sua obra com o Apêndice, apresentando o
estilo e as suas diversas espécies, os vícios de linguagem e as figuras de
linguagem. Além disso, mostra os conceitos de algumas palavras.
Portanto, podemos constatar a relevância da obra de Brandão ao estudo
sintático da Língua Portuguesa, tanto à sua época, quanto à época vindoura. Assim
sendo, abordaremos o quarto aspecto em que focalizamos a nossa pesquisa:
Função do advérbio.
3.1.4 Quarto aspecto: Função do advérbio
Este aspecto trabalha a Função do Advérbio de acordo com Brandão (1888),
em sua obra “Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza”. Em virtude disso,
ressaltaremos a contribuição do seu estudo, do século XIX, para o ensino de Língua
Portuguesa.
Brandão (1888. p.15) cita a Função do advérbio na obra Syntaxe e
Construcção da Lingua Portugueza quando discorre sobre proposição, pois quanto à
natureza de suas partes essenciais, diz que são divididas em “proposição complexa
e incomplexa”. Acrescenta que a proposição complexa “[...] é a que tem o sujeito ou
attributo acompanhado de acessório, ou verbo modificado por complemento.” Em
relação à proposição incomplexa, explica ser “[..] aquella cujas partes essenciaes
não têm modificação alguma”. É nesse sentido que o autor apresenta o advérbio à
proposição, diz Brandão (1888, p.16):
(BRANDÃO, 1888, p.16).
64
Em vista disso, a proposição torna-se complexa quando tem um advérbio,
desde que esse modifique o seu verbo ou atributo. Diante do conceito de advérbio
apresentado pelo autor, vale mencionar, também, um fato bastante significativo a
esta pesquisa quando Brandão afirma que os advérbios equivalem a complementos.
Quanto ao complemento, conceitua Brandão (1888, p.18) que pode “referir-se
a um appellativo, adjectivo qualificativo, verbo, participio ou adverbio, a palavra a
que se refere o complemento chama-se antecedente, porque colloca-se
ordinariamente antes d’elle”. Acrescenta, também, que o “complemento divide-se em
necessario e accidental”. Nesse aspecto, de acordo com o autor, o complemento é
necessário, porque é exigido pela significação do verbo, uma vez que o verbo
precisa do complemento para dar sentido à proposição. Por sua vez, o complemento
é acidental porque não é exigido pela significação do verbo, de modo que a
proposição, sem o complemento, tem sentido completo.
Diante dos conceitos de complemento, o autor apresenta-nos os diversos
tipos de Complementos Necessários e de Complementos Acidentais. Para que haja
uma melhor explicação, como também organização, começaremos pelos
Necessários, que são: Complemento Necessário do Apelativo, Complemento
Necessário do Adjetivo Qualificativo, Complemento Necessário do Verbo Relativo,
Complemento Necessário do Verbo de Ação Transitiva, Complementos Necessários
do Verbo Relativo de Ação Transitiva, Complemento Necessário dos Particípios e
Complemento Necessário do Advérbio. Desses, não abordaremos o Complemento
Necessário do Adjetivo Qualificativo, o Complemento Necessário do Verbo de Ação
Transitiva, os Complementos Necessários do Verbo Relativo de Ação Transitiva e o
Complemento Necessário dos Particípios, uma vez que não há nenhuma relação
deles com o Advérbio, todavia iremos mencionar todos os casos do advérbio como
complemento.
Sobre o Complemento Necessário do Apelativo, conceitua Brandão (1888,
pp.18-19) que “variadissimas são as relações em que o complemento necessario
póde estar para com o appellativo, e, por isso, differentes as preposições
empregagas em sua ligação”, e exemplifica: «O seu ingresso na academia realisou-
se com a maior selemnidade». Assim, na academia é o complemento do substantivo
ingresso, que exprime uma circunstância de lugar (onde).
65
Em relação ao Complemento Necessário do Verbo Relativo, explicita Brandão
(1888, p.22) “exprime relações differentes, e é acompanhado de diversas
preposições, sendo as mais frequentes a, de e para”.
Seguido da preposição a, ocorre quando os verbos têm significações que
encerram ideia de obediência, direção a um termo. Ex.: Os soldados obedecem às
ordens do general. Salienta-se que, nesse caso, não temos o advérbio como
complemento, mas o mencionamos para compreendermos melhor os casos das três
preposições.
Acompanhado pela preposição de, quando se tem por antecedente algum
verbo que exprima ideia de dependência, necessidade, procedência. Ex.: O mostro
saiu do rio.
Por último, regido pela preposição para, que acontece quando o verbo tem
significação que apresentem uma ideia de préstimo para algum fim, direção para
algum termo. Ex.: Vieram para o Brasil.
Brandão (1888, p.31) trata, também, do Complemento Necessário do
Advérbio que ocorre de duas formas. A primeira acontece quando afirma que “os
adverbios formados de adjectivos qualificativos ou participios passivos e o sufixo
mente, costumam empregar-se com os mesmos que estes”. A outra forma ocorre
com os advérbios aquém, além, atrás, diante, debaixo, dentro, fora, perto, longe,
antes, depois, mais e menos. Em virtude disso, o autor faz considerações relevantes
aos advérbios, partindo de dois exemplos: “Nada lucraram relativamente ao capital
empregado” e “Não tomava resolução alguma independentemente de seus aios”.
Com base nisso, Brandão (1888, p.31) explica que, “no primeiro exemplo, o
adverbio relativamente tem um complemento regido da preposição a, porque o
adjectivo relativo, de que é formado, pede também um complemento acompanhado
da mesma preposição”. No segundo exemplo, diz que “o adverbio
independentemente está empregado com um complemento precedido da preposição
de, porque o adjectivo independente é usado também com um complemento regido
de de”. Diante disso, o autor chega à conclusão de que os advérbios terminados em
mente exigem a preposição, os outros citados anteriormente, também, exigem
preposição, porém se encontram ocultas em grande parte.
Diante dessas concepções de Brandão, informações inovadoras nos são
apresentadas, pois esses complementos se tornam significativos à proposição,
66
como por exemplo, na frase Vieram “para o Brasil”, a parte entre aspas, segundo o
autor, é necessária para a compreensão da proposição, isso se dá pelo fato de esse
complemento ter relação com o verbo, por isso, chamado de Complemento
Necessário do Verbo Relativo. Assim, Brandão (1888, p.22) faz uma abordagem
relevante quanto à Função do Advérbio, pois o considera Complemento Necessário
do Verbo Relativo.
Agora, trataremos dos Complementos Acidentais, são eles: Complemento
Acidental do Apelativo e Complemento Acidental do Adjetivo Qualificativo, Verbo e
Particípio Passivo.
O Complemento Acidental do Apelativo, conforme Brandão (1888, p.19),
exprime:
(BRANDÃO, 1888, p.19).
Quando apresenta ideia de posse, matéria, qualidade, fim ou objeto, é regido
pela preposição de. Ex.: Deu-lhe um anel de ouro. O complemento de ouro
representa a matéria de que é feito o anel.
Acompanhado pela preposição sem, ocorre a ideia de carência ou falta. Ex.:
O exército sem união é despojo. O complemento sem união significa a falta do
exército.
Regido pela preposição com, exprime a ideia de junção ou companhia. Ex.:
Traze-me uma caneta com pena. Aqui, o complemento com pena refere-se a uma
junção da caneta.
Exige-se a preposição em quando se denota estado ou modo. Ex.: Do alto do
monte descortinava-se uma casa em ruínas. O complemento em ruínas indica o
estado/modo em que a casa se encontra.
67
Quando indica circulação, é acompanhado das locuções prepositivas ao redor
de, em torno de. Ex.: Fizemos um passeio ao redor da praia. O complemento ao
redor da praia indica a circulação feita pelo passeio.
Algumas observações são feitas por Brandão (1888, p.20) acerca do
Complemento Acidental do Apelativo, dentre elas: 1. É possível converter, em
muitos casos, o referido complemento em adjetivo qualificativo ou particípio. Ex.:
anel de ouro ou áureo; exército sem união ou desunido; casa em ruína, ruinosa ou
arruinada. Assim, esses complementos que são advérbios, segundo o autor, podem
ser tornar em adjetivo ou particípio (verbo). 2. O Apelativo pode ter um
Complemento Acidental e outro Necessário. Ex.: a inclinação de Pedro às armas. O
complemento de Pedro seria o Acidental, às armas, o Necessário. 3. A um nome
próprio, une-se, às vezes, um complemento acompanhado da preposição com
representando companhia. Ex.: Paulo com seu companheiro. Nesse caso, a
preposição com pode se tornar na conjunção e, como: Paulo e seu companheiro.
Ressalta-se, também, o Complemento Acidental do Adjetivo Qualificativo,
Verbo e Particípio Passivo, afirma e exemplifica Brandão (1888, p.32) que:
(BRANDÃO, 1888, p.32)
Nesse exemplo, o adjetivo falto, além de ter o Complemento Necessário “de
recurso”, tem o Acidental, “em quadra tão escassa”, que significa circunstância de
tempo; o verbo “realisar”, além de ter o Complemento Necessário “aquelle projecto”,
tem o Acidental, “segundo seu desejo”, que apresenta circunstância de modo, e o
particípio passivo “estudado”, além do Complemento Necessário submetido depois
dele, tem o Acidental, “durante tantos annos”, que exprime circunstância de espaço,
de tempo. Quanto a isso, assevera Brandão (1888, p.32) o fato de que:
68
(BRANDÃO, 1888, p.32).
Dessas circunstâncias, as mais usadas são as de tempo e lugar, pois o fato
ocorre no tempo e no espaço, depois, seguem as outras: de causa, meio,
instrumento, matéria, origem, preço, medida, companhia, oposição, ordem, exclusão
e substituição. Salienta-se, como apresentaremos a seguir, que cada circunstância
pode ter preposições diferentes.
A circunstância de tempo pode ser: em que, durante o qual, desde que,
depois do qual. A circunstância de tempo em que é acompanhada pelas preposições
a, de, entre, para, por, sob, sobre. Exemplifica Brandão (1888, p.33):
(BRANDÃO, 1888, p.33).
Por meio dos exemplos, percebe-se que, para a circunstância de tempo, há
várias preposições. Brandão (1888, p.34) destaca, também, o espaço de tempo que
há entre duas épocas ou acontecimentos que podem ser regidos por dois nomes: o
primeiro, pela preposição de, e o segundo, pela preposição a e, às vezes, pela para.
Ex.: “De D. João I a D. Manoel, o Venturoso, os portuguezes fizeram grandes
69
descobertas”. Além disso, pode-se usar a preposição entre ou desde antes do
primeiro nome, e a preposição até, antes do segundo. Ex.: “entre D. João I e D.
Manoel ou desde D. João I até D. Manoel”.
A circunstância de lugar pode ser onde, d’onde, por onde, aonde e para onde.
Conforme Brandão (1888, p.35), os exemplos são:
(BRANDÃO, 1888, p.35).
Por meio da citação do autor, destaca-se que, no lugar de ante, sob e sobre,
são empregadas, também, as locuções prepositivas “deante, embaixo de ou debaixo
de e em cima de”.
A circunstância de causa, segundo Brandão (1888, p.37), pode ser precedida
pelas preposições de e por. Exemplos: “«De bruteza e preguiça, padecem andarem
vestidos geralmente de pelles por cortir»/«Condemnados por culpas».
A circunstância de fim é acompanhada pelas preposições a, em, para ou por.
Exemplifica Brandão (1888, p.37):
(BRANDÃO, 1888, p.37).
70
Esses exemplos apresentam a importância das preposições, para os
complementos adverbiais, na proposição.
A circunstância de modo, segundo Brandão (1888, pp.37-38), é seguida de a,
com, de, em, por, segundo ou conforme. Exemplos:
(BRANDÃO, 1888, pp.37-38).
Como exemplificado, essa circunstância é precedida ou não pela preposição
e diz como algo acontece, aconteceu ou acontecerá.
A circunstância de meio é regida pelas preposições a, com, de e por ou per.
Como apresenta Brandão (1888, p.38):
(BRANDÃO, 1888, p.38).
71
Essa circunstância mostra-nos o meio em que algo ocorre, ocorreu ou ocorrerá.
A circunstância de instrumento é acompanhada pelas preposições a e com.
Exemplifica Brandão (1888, p.39):
(BRANDÃO, 1888, p.39).
Conforme abordado, essa circunstância tem, apenas, dois tipos de preposição
para apresentar o instrumento utilizado na ação praticada.
A circunstância de matéria, de acordo com Brandão (1888, p.39), é regida
pelas preposições com e de. Exemplos: “«Construiu com pedras as paredes do
edificio» / «Fez imagem de ouro»”. O autor, portanto, faz uma advertência quanto
aos tipos de preposição, pois, se a matéria for virtual, as preposições podem ser de,
em e sobre, exemplifica:
(BRANDÃO, 1888, p.39).
Tendo vista a preposição sobre, o autor destaca que pode ser substituída
pelas locuções a respeito de e acerca de.
72
A circunstância de origem é precedida pela preposição de. Exemplifica
Brandão (1888, p.40): “«Contente com a pena que de tão bellos olhos procedia»”.
Essa circunstância mostra-nos de onde veio alguma coisa.
A circunstância de distância e espaço são acompanhadas pelas preposições
a, de e por. Exemplifica Brandão (1888, p.40):
(BRANDÃO, 1888, p.40).
Essa circunstância mostra-nos a distância e o espaço em que ocorreram os
fatos mencionados.
A circunstância de preço, conforme Brandão (1888, p.40), é regida pelas
preposições a e por. Exemplos:
(BRANDÃO, 1888, p.40).
Essa circunstância apresenta-nos o modo como foi pago alguma coisa, e é
seguida por poucas preposições.
A circunstância de medida é precedida pelas preposições a e de. Conforme
exemplifica Brandão (1888, p.41): “«A dividiram entre si às barcas»/«O qual idolo é
de oitenta palmos»”. Assim, o Complemento circunstancial “às barcas” mostra-nos a
73
medida em que algo foi medido, como também o de oitenta palmos, a medida do
ídolo.
A circunstância de companhia é regida pela preposição com. Exemplifica
Brandão (1888, p.41): “«O tal negocio foi tão quente que entraram os mouros com
elles dentro d’agua»”. O complemento circunstancial com elles apresenta-nos a
companhia dos mouros para O tal negocio.
A circunstância de oposição é acompanhada pelas preposições a, contra, em,
por e sobre. Exemplifica Brandão (1888, p.41):
(BRANDÃO, 1888, p.41).
Esse Complemento Circunstancial apresenta-nos a oposição de algo ou
alguém para com outro elemento mencionado na proposição.
A circunstância de ordem, de acordo com Brandão (1888, p.42), é precedida
pelas locuções prepositivas “antes de, adeante de, atraz de, depois de e apóz”.
Exemplos:
(BRANDÃO, 1888, p.42).
74
Esses exemplos apresentam-nos a ordem em que determinado alguém ou
algo é colocado na proposição.
A circunstância de exclusão, segundo Brandão (1888, p.42), é precedida por
“sem, à excepção de e afóra”. Exemplos:
(BRANDÃO, 1888, p.42).
O Complemento Circunstancial de exclusão mostra-nos a exclusão de alguém
ou de algo.
E, por último, a circunstância de substituição que é acompanhada pela
preposição por. Exemplifica Brandão (1888, p.42): “«Por armas têm adargas e
terçados»”. Nesse caso, o Complemento Circunstancial substitui um objeto pelo
outro.
Vale mencionar que todas as circunstâncias apresentadas são tipos de
Advérbio chamado pelo autor de Complemento Acidental Circunstancial.
Denominados, assim, porque, ao contrário do Complemento Necessário, não é
significativo para o entendimento da proposição. Quanto a isso, explica Brandão
(1888, pp.138-139):
75
(BRANDÃO, 1888, p.138-139).
Por meio dos exemplos, a ausência desse complemento, ao contrário do
Complemento Necessário do Verbo Relativo, não altera a compreensão da
proposição por não ter nenhuma relação com o verbo, por isso, chamado de
Complemento Acidental Circunstancial.
Em relação ao uso do Complemento Acidental Circunstancial, por um lado,
Brandão (1888, p.139) esclarece que, em cada um desses exemplos, “o
complemento accidental exprime circumstancia differente, e em nenhum d’elles está
separado por virgula, por não ser necessário. Por outro lado, adverte que “em alguns
casos, porém, difíceis de especificar, costuma-se separar por virgula esta espécie de
complemento, normalmente sendo extenso”, exemplifica Brandão:
(BRANDÃO, 1888, p.139).
Com base nisso, o autor esclarece os casos quando o Complemento
Acidental Circunstancial vem separado por vírgula e quando é facultativo. No
primeiro caso, afirma Brandão (1888, p.139) que acontece “quando denota
circumstancia de tempo em que ou de logar onde, regida da preposição em ou a,
pode-se collocar no principio, no meio ou no fim da proposição”. Além disso, afirma
76
que “collocado no principio, separa-se ordinariamente por vírgula”, exemplifica
Brandão (1888, p.139-140):
(BRANDÃO, 1888, p.139-140).
Diante dos exemplos, diz Brandão (1888, p.140) que “esta regra não é
constantemente observada” e “sendo, porém, extenso o complemento, deve-se
sempre empregar vírgula depois d’elle”. Exemplifica Brandão: “«Em cincoenta
paginas de prosa do mesmo manuscripto, descobri o segredo dos versos»”. Além
disso, afirma que “posto no meio da proposição e não sendo extenso, é facultativo
collocalo-o ou não entre vírgulas”, exemplifica:
(BRANDÃO, 1888, p.140).
Quanto ao complemento posto no final da oração, adverte Brandão (1888,
p.140) que “raras vezes se separa por virgula”, exemplificando:
77
(BRANDÃO, 1888, p.140).
Assim, podemos observar que o Complemento Acidental Circunstancial, rara
vezes, é separado por vírgula quando é colocado no final da proposição.
É de suma importância mencionar que havia autores contemporâneos que
estavam em continuidade com Brandão. Destacamos, portanto, Ribeiro6 (1915,
p.154) ao afirmar que:
"Os verbos podem ter varios complementos: directo, attributivo, indirecto, circumstancial. [...] O Complemento Circunstancial é o que indica circumstancia de tempo, modo, logar, etc”. Exemplos: "Logar – Passou pela Italia. Tempo – Há chuvas no verão. Companhia – Saiu com outros. Causa – Desmoronou com a chuva. (RIBEIRO, 1915, p.154).
Assim como Brandão (1888), Ribeiro (1915) considera o advérbio como
complemento na proposição, denominando-o de Complemento Circunstancial. Ora,
essa concepção adverbial não foi apresentada por Brandão apenas, mas também
por outros autores de sua época, dentre eles, o ilustre gramático João Ribeiro,
privilegiado por viver o período de transição do século XIX para o século XX.
Por fim, foi privilegiado, neste capítulo, o princípio da Imanência, por meio dos
três aspectos de análise selecionados nesta pesquisa. Em seguida, focalizaremos o
princípio da Adequação, com a obra de estudo Novas Lições de Análise Sintática, de
Kury (1999), da segunda metade do século XX.
6 A primeira edição da obra de João Ribeiro ocorreu em 1887, mas usamos a 17ª edição, publicada
em 1915.
78
3.2 Adequação
Na Adequação, faremos uma análise comparativa da obra de Brandão (1888)
e de Kury (1999), considerando o que esses autores têm de continuidade e
descontinuidade acerca da sintaxe da Língua Portuguesa, sobretudo, da Função do
Advérbio.
A obra Novas Lições de Análise Sintática,7 de Adriano da Gama Kury, foi
publicada em 1999, pela editora Ática em São Paulo, e contém 207 páginas.
Salientamos que a ortografia do período era de acordo com a Reforma Ortográfica
do Brasil de 1990.
Além da obra Novas Lições de Análise Sintática (1999), Kury publicou outras
obras, a saber:
1. Em 1959, a Pequena Gramática: para a explicação da nova
nomenclatura gramatical, pela Editora Agir, Rio de Janeiro.
2. Em 1960, o livro Português Básico, pela Editora Agir; hoje na Nova
Fronteira, Rio de Janeiro.
3. Em 1961, o livro Lições de Análise Sintática, pela Editora Fundo de
Cultura, Rio de Janeiro; depois, pela Editora Lisa, São Paulo; hoje,
pela Nova Fronteira, Rio de Janeiro.
4. Em 1965, o livro Ortografia, pela Universidade de Brasília, Brasília.
5. Em 1968, publica o livro Manual Prático de Ortografia, pela Livraria Agir
Editora, Rio de janeiro.
6. Em 1971, publica o livro Meu Livro de Português. 4 volumes, pela
Editora Lisa, São Paulo.
7. Em 1972, a Gramática Fundamental da Língua Portuguesa do Brasil,
pela Editora Lisa, São Paulo.
8. Em 1974, o livro Curso Supletivo “João da Silva”, 5 volumes, pelo MEC,
Rio de Janeiro.
9. Em 1976, a Gramática Objetiva, 2 volumes. Em colaboração, pela
Editora Rio, Rio de Janeiro.
7 A obra teve sua primeira edição em 1985, porém utilizamos a 8ª edição, publicada em 1999,
79
10. Em 1982, o livro Ortografia, Pontuação, Crase, pela FENAME, Rio de
Janeiro; hoje, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro.
11. Em 1987, o livro Elaboração e Editoração de Trabalhos de Nível
Universitário (especialmente na área humanística), com colaboração
de Maximiano de Carvalho e Silva e Irene de Menezes Dória, pela
Fundação Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro.
12. Em 1989, o livro 1000 Perguntas de Português. Em colaboração, pela
Editora Rio, Rio de Janeiro.
13. Em 2001, o Minidicionário Gama Kury da Língua Portuguesa, pela
Editora FTD, São Paulo.
Cabe mencionar os acordos ortográficos no Brasil, para, assim, entendermos
o acordo que influenciou a obra de Kury nesta pesquisa. Moreira; Smith; Bocchese
(2009, p.31) afirmam que a Academia Brasileira de Letras, em 1907, “cogitou adotar
uma ortografia de cunho claramente simplificador, influenciada pelo pensamento de
Gonçalves Viana”. De tal modo, esclarecem que “inaugurava-se, com isso, no Brasil,
um período reformista ou de tentativa de reformulação ortográfica”. Vale ressaltar
que isso aconteceu antes mesmo dos trabalhos feitos pela comissão de filólogos
portugueses, que culminaram na reforma em Portugal.
Para tanto, em 1915, afirmam Moreira; Smith; Bocchese que a “Academia
brasileira aprovou o projeto de Silva Ramos, que ajustou a grafia brasileira aos
padrões lusitanos”. Porquanto, expõem Moreira; Smith; Bocchese (2009, p. 32) que,
em 1919, “a mesma academia voltou atrás, à era do th, do ph, por sugestão do
acadêmico Osório Duque Estrada”. Por meio disso, deu-se início à necessidade de
se obter acordos ortográficos no Brasil, a saber: O Acordo de 1931; o Acordo de
1945; o Acordo de 1990 e o último Acordo de 2009.
De acordo com Moreira; Smith; Bocchese (2009, p.32), o Acordo de 1931
trata do Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro, negociado pela Academia das Ciências
de Lisboa e pela Academia Brasileira de Letras. Em virtude disso, esse Acordo foi
necessário para publicações tanto em Portugal quanto no Brasil, uma vez que se
deu, em Portugal, com o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (1940); no
Brasil, com o Formulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que deu origem ao
Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (1943).
80
Em relação ao Acordo de 1945, Moreira; Smith; Bocchese (2009, p.33)
esclarecem que ele surgiu pelas divergências do Acordo de 1943. Tendo em vista a
expansão da Língua Portuguesa no mundo e a regulação do sistema ortográfico,
houve a unificação Ortográfica da Língua Portuguesa em 1945, consequentemente,
não se admitia grafia dupla ou facultativa em Brasil e Portugal.
Quanto ao Acordo de 1990, dizem Moreira; Smith; Bocchese (2009, p. 37):
É um tratado internacional, assinado em Lisboa, em 1990, pelos representantes legais dos países em que o português é língua oficial (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe) com a adesão posterior de Timor Leste. (MOREIRA; SMITH; BOCCHESE, 2009, p.37).
Esse tratado internacional de 1990 “é resultante de um longo trabalho
desenvolvido pela Academia de Letras e pela Academia das Ciências de Lisboa
desde, pelo menos, 1931”, dizem Moreira; Smith; Bocchese (2009, p.37). Por um
lado, o Acordo de 1990 tem “por objetivo dotar a língua portuguesa de um padrão
ortográfico único, visando à defesa de sua unidade essencial”. Por outro lado,
complementam que foram duas as normas ortográficas em vigor: “a brasileira, do
Formulário Ortográfico de 1943, e a lusitana (e dos demais países, que seguem
essa norma), do Acordo de 1945”.
Segundo Moreira; Smith; Bocchese (2009, p.37), o Acordo de 1990 teve como
objetivo principal “promover e salvaguardar a unidade ortográfica (e não simplificar a
grafia, embora resulte em simplificação)”. Acrescenta-se, ainda mais, que esse
Acordo buscou projetar a Língua Portuguesa internacionalmente. Diante disso, o
Acordo não trouxe grandes mudanças em termos de escrita ao Brasil, de modo que,
aproximadamente, só 0,6% do nosso vocabulário muda, enquanto, em Portugal,
1,6%. Com efeito, a fonologia, a fonética, a pronúncia, a morfologia, a sintaxe e o
léxico ficaram inalterados.
E, por último, o Acordo Ortográfico de 2009, que surgiu na tentativa de
unificação da Língua Portuguesa de cerca 98% do vocábulo geral da Língua, de
modo que, em especial, fosse escrita a mesma língua, segundo Moreira; Smith;
Bocchese (2009, p.120). Porquanto, essa tentativa de unificar a língua ocorreu uma
vez que, ortograficamente, esses 98% estavam desunificados.
É importante salientar que a questão de continuidade e descontinuidade em
relação à obra gramática tradicional de Port-Royal (1660) será abordada nesta
81
análise. Para tanto, esclarecemos que essa gramática torna-se relevante por
influenciar muitos trabalhos produzidos no século XIX, em especial, a obra de estudo
Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza, de Brandão (1888).
Porquanto, convém mencionar a divisão da obra de Port-Royal (1660) que,
assim como a obra de Brandão (1888), está dividida em duas partes, as quais tratam
dos signos linguísticos. A primeira parte aborda o que se fala das letras e dos
caracteres da escrita. Focaliza, pois, o estudo das letras e dos sons. A segunda
parte trata os diversos princípios e motivos em que se baseiam os modos da
significação das palavras. Assim, aborda, em especial, a Morfologia, uma vez que
faz uso, apenas, do capítulo XXIV para a Sintaxe e outro Apêndice para as Figuras
de Linguagem.
Desse modo, focalizaremos os quatro aspectos de análise, a saber: Prefácio;
concepções de Língua, Linguagem e Gramática; Organização da Obra e
Função do Advérbio, da obra de estudo Novas Lições de Análise Sintática, de
Adriano da Gama Kury (1999). Iniciaremos pelo primeiro aspecto.
3.2.1 Primeiro aspecto: Prefácio
Na Advertência da obra Novas Lições de Análise Sintática, de Kury (1999,
p.5), o autor justifica o porquê de republicar a sua obra ao afirmar:
Ao receber da Editora Ática o convite para republicar minhas Lições de Análise Sintática, há vários anos esgotados (e não reeditadas, a despeito da vontade do autor), não hesitei quanto ao caminho a seguir: decidi manter, no seu cerne, a estrutura desse trabalho, que tão útil se revelou nas sucessivas edições, e que vinha sendo em vão procurado, especialmente por estudantes de Letras, convidados a comparar um método pejorativamente rotulado de “tradicional” com as novidades da moda. (KURY, 1999, p.5)
Nesse sentido, o autor refere-se à 8ª edição (1999), sendo que a primeira
ocorreu em 1985 e a última, que é a 9ª edição, foi publicada em 2008. Ressalta-se
que Kury (1999) volta a sua obra, especificamente, aos estudantes de Letras,
convidando-os a compararem um método tradicional com as novidades da moda.
Quanto ao estudo sintático da Língua Portuguesa, o autor faz referência ao
estudo tradicional de Saussure ao tratar da análise estrutural da frase, afirma Kury
(1999, p.5):
82
Apesar desse epíteto de tradicional que se tem dado à análise estrutural, saussuriana, da frase, ela se tem revelado, no curso dos anos, sólida e consistente. Resistiu incólume às novidades em voga na década de 70, e mantém-se como o método mais adequado ao exame da estrutura da frase. (KURY, 1999, p.5).
A análise estrutural da frase de Saussure tornou-se resistente na década de
70 e perpetua até o início do século XXI. Diante disso, Kury (1999) afirma que, para
o exame da frase, essa forma de análise estrutural é mantida como o método mais
apropriado.
No que diz respeito à terminologia gramatical, Kury (1999, p.5-6) faz
considerações ousadas e desafiadoras à Nomenclatura Gramatical Brasileira e
assevera:
Quanto à terminologia, coincide, grosso modo, com a Nomenclatura Gramatical Brasileira, que, velha embora de 25 anos, e necessita de reforma, ainda se presta razoavelmente, no seu conjunto, ao uso prático. (KURY, 1999, p. 5-6).
De modo que a Nomenclatura Gramatical Brasileira, de acordo com Kury
(1999, p.5-6), está ultrapassada quanto aos conceitos gramaticais, de tal maneira
que precisa fazer uma reforma, acompanhando, assim, as mudanças ocorridas no
ensino da Língua Portuguesa ao decorrer do tempo.
Vale destacar que a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) surgiu em um
ofício do Estado brasileiro para instituir uma terminologia única às gramáticas,
segundo Moreira; Smith; Bocchese (2009, p.61). Assim sendo, foi publicada em
1959, pelo ministério da Educação.
Assim como Brandão (1888), Kury (1999) é um autor que confronta seus
colegas e, em vista disso, ambos autores apresentam esse desafio na Advertência
de suas obras, afirma Kury (1999, p.6):
Se dela por vezes me afasto, nisso não vai indisciplina nem sede de originalidade, mas a convicção doutrinária , da qual não abdico, e a necessidade mesma da exposição. [...] Espero, de bom grado, a crítica dos colegas e dos usuários, responsável pelo reexame a que procedi de muitos pontos controversos desse campo movediço da análise sintática. (KURY, 1999, p.6).
Com base nisso, o autor não abre mão de suas advertências sobre a sintaxe
e está aberto às críticas de outros estudiosos da gramática, assim como dos
usuários de sua obra.
83
Assim sendo, após o primeiro aspecto, passaremos ao segundo, Concepções
de Língua, Linguagem e Gramática.
3.2.2 Segundo aspecto: Concepções de Língua, Linguagem e Gramática
A língua é citada pelo autor em sua observação a respeito dos verbos
transitivos direto, assevera Kury (1999, p.35) que:
Nem todos os verbos transitivos diretos, entretanto, podem constituir-se na voz passiva analítica. Alguns, porque já possuem sentido passivo (agüentar, sofrer, etc.); outros, pelo uso da língua, que não obedece a normas fixas (ter, conter, querer, poder, crer, etc.). (KURY, 1999, p.35, grifo nosso).
Nesse sentido, destaca-se a língua escrita, nesse caso, a portuguesa. Essa
ideia é ressaltada por Kury (1999, p.35) ao explicar a voz passiva pronominal (ou
sintética) que ocorre quando:
[...] numa oração na voz ativa com verbo transitivo direto, o agente (sujeito) é indeterminado, e o paciente (objeto direto) é um ser inanimado, incapaz de praticar a ação expressa pelo verbo, nossa língua admite, além da voz passiva composta, com auxiliar, outra construção, sintética, em que à forma do verbo na voz ativa se acrescenta, para indicar passividade, o pronome se. (KURY, 1999, p.35, grifo nosso).
Mais uma vez, temos a língua escrita abordada como idioma de uma
comunidade que obedece regras gramaticais fundamentais à análise sintática da
língua portuguesa.
A linguagem pode ser escrita ou oral. Dessa maneira, afirma Kury (1999,
p.13) que:
Frase é a unidade de comunicação entre falante e ouvinte, entre escritor e leitor. Na linguagem oral, cada frase possui uma melodia, um ritmo, uma entoação peculiar que a escrita procura sugerir por meio dos sinais em que é proferida ou escrita. (KURY, 1999, p.13, grifo nosso).
Os vocábulos (falante e ouvinte, escritor e leitor) confirmam o uso da
linguagem oral e escrita. O autor faz esse jogo de palavras para explicar a diferença
entre a oralidade e a escrita. A primeira ocorre por meio da entonação a cada frase
84
proferida pelo falante, isso se dá pelo ritmo das palavras faladas. Já a segunda tenta
mostrar a melodia das frases orais por meio dos sinais de pontuação.
Enfatiza-se, também, a linguagem literária, explica Kury (1999, p.38):
O uso vulgar estende esse emprego até aos verbos transitivos diretos sem objeto preposicionado (“Conserta-se relógios.”, “Aluga-se apartamentos”.), construções que contrariam a norma vigente na boa linguagem literária. Apesar disso, já se encontram exemplos literários, como este de Aluísio Azevedo: “Como que se sentia ainda na indolência da neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente...”. (KURY, 1999, p.38).
Diante disso, fica explícito também o uso da linguagem formal e da informal.
Como prova disso, o autor usa a expressão “vulgar” que remete ao uso coloquial
(informal) da língua, bem como construções que contrariam a norma da boa
linguagem literária.
Quanto ao aspecto da gramática, Kury (1999), tal qual Brandão (1888), não
deixa explícito o conceito de gramática, pois a sua obra não é uma gramática, mas
um estudo dela, de forma que opta, apenas, pela parte sintática. No entanto, é
possível perceber seu aprofundado conhecimento gramatical, uma vez que o autor
escreveu dois volumes de sua obra a Gramática Objetiva (1976), bem como a
Pequena Gramática (1959) para explicar a nova nomenclatura gramatical. Nessa
perspectiva, o autor deixa claro, na advertência de sua obra Novas Lições de
Análise Sintática (1999), a indignação para com algumas questões sintáticas da
NGB, assevera Kury (1999, p.5) que “coincide, grosso modo, que, velha embora 25
anos, e necessitando de reforma, ainda se presta razoavelmente, no seu conjunto,
ao uso prático”.
Acrescenta-se a gramática latina, citada pelo autor, ao falar do aposto de
especificação, explicita Kury (1999, p.58) que é:
Um substantivo de sentido genérico pode ser imediatamente seguido, sem pausa, de um termo, preposicionado às vezes, que o especifica e o individualiza. É o que se chama dentro da gramática latina (“urbs Roma”), APOSTO DE ESPECIFICAÇÃO: Cidade de Roma, mar mediterrâneo. (KURY, 1999, p.58).
Segundo Kury (1999, p.58), a gramática latina foi citada para justificar o fato
de que escritores modernos da língua portuguesa utilizam uma forma de aposição
85
parecida, para indicar a ocupação habitual ou a profissão, ex.: “Mestre Gaudêncio
curandeiro gingava”.
Diante disso, vale destacar que Kury (1999), assim como Brandão (1888),
apresenta concepções sintáticas contrárias à gramática tradicional da língua
portuguesa, pois ambos citam, na advertência de suas obras, que pretendem
preencher lacunas no que diz respeito à análise sintática.
Portanto, terminados os aspectos da língua, linguagem e gramática, e dando
continuidade ao princípio da imanência, passaremos agora à análise da organização
da obra selecionada.
3.2.3 Terceiro aspecto: Organização da Obra
Percebemos que a obra analisada, nesta pesquisa, tem forma singular na
organização dos conteúdos que são apresentados. Vale mencionar que elaboramos
uma apresentação diversa do Índice da obra Novas Lições de Análise Sintática, de
Kury (1999) com o propósito de termos objetividade no estudo, tendo o cuidado para
sermos fiéis ao conteúdo. Salienta-se que o original encontra-se nos ANEXOS 15 a
20 (pp.127-132).
Faz-se necessário ressaltar que a obra contém 207 páginas e quatro
capítulos. É preciso enfatizar que Kury (1999) não apresenta o Prefácio em sua
obra. Diante disso, levamos em consideração a Advertência.
A organização da Obra de Kury:
SUMÁRIO
Advertência 4. Problemas e fatos sintáticos de interesse para a análise
Epígrafes Apêndices 1. Modelos de análise sintática 2. Quadros sinópticos 3. Exercícios de verificação 4. Textos para exercícios de
revisão
1. Noções básicas preliminares Livros usados (e respectivas siglas)
2. A oração independente absoluta
Termos essências: sujeito e predicado
Termos integrantes da oração Termos acessórios da oração O vocativo
Índice analítico
3. O período composto Índice geral
86
Composição do período Tipos de oração Orações independestes
coordenadas entre s Orações ou período interferentes Orações subordinadas
O autor começa o primeiro capítulo com o Sintagma, diferente de Brandão
(1888) que não apresenta esse assunto em sua obra, porque foi tratado com
Saussure a partir do século XX. Afirma Kury (1999, p.9):
SINTAGMA é a palavra criada por F. de Saussure para designar dois elementos consecutivos, um dos quais é o DETERMINADO (principal) e o outro DETERMINANTE (subordinado). Há, portanto, uma relação necessária de subordinação entre os dois. (KURY, 1999, p.9).
Por conseguinte, partindo desse conceito anterior, adverte Kury (1999, p.9)
que “[...] embora Saussure estenda o conceito de sintagma à Morfologia (reler, por
exemplo, forma-se do determinado ler e do determinado re-), aqui só o empregamos
no campo da sintaxe”. Assim sendo, o presente autor usa o sintagma de uma forma
diferente, uma vez que é trabalhado morfologicamente por Saussure, mas Kury
adequa o sintagma ao estudo sintático. Com base nisso, Kury (1999, p.9) faz uma
advertência ao afirmar que “estendem muitos, hoje em dia, na esteira de Noam
Chomsky, o uso do termo sintagma, que aqui só de utiliza no sentido saussuriano”.
Além do Sintagma, a “Seqüência”, também, é trabalhada, diz Camara Júnior
(apud KURY, 1999, p.9) que “[...] quando a combinação cria uma mera
COORDENAÇÃO entre os elementos, tem-se, ao contrário, uma SEQÜÊNCIA”.
Tendo em vista que nem todos os termos consecutivos têm uma relação
sintagmática e subordinativa. Em vista disso, afirma o autor que, nesse caso, ocorre
uma sequência.
Kury (1999, p.12-13), assim como Brandão, conceitua a análise sintática:
ANÁLISE (do substantivo grego analysi, cognato do verbo analyein, “desatar, desprender, soltar”, composto do prefixo ana-, “para cima”, + lyein, “soltar”) é a decomposição de um todo em seus elementos componentes. A ANÁLISE SINTÁTICA decompõe os elementos componentes (sintagmas) da “frase”, examina a sua estrutura: divide um “período” nas “orações” que o compõem, e cada oração nos seus termos (essenciais, integrantes e acessórios). (KURY, 1999, p.12-13).
87
Nessa perspectiva, o conceito de Kury (1999) para a análise sintática difere
do de Brandão (1888), apenas, por apresentar a terminologia da palavra “análise”.
Em virtude disso, Brandão (1888) apresenta, somente, a sua função da análise
sintática.
Acrescentando ao estudo sintático, como se não bastasse conceituá-lo, Kury
(1999) mostra, ainda, a sua finalidade e Melo; Gotardelo (apud KURY, 1999, p.13)
afirmam:
A análise sintática serve para tornar “claras e racionalmente perceptíveis as relações entre os membros da frase” (sua concordância, sua regência, sua colocação); serve, mais, como elemento de verificação da boa construção de uma frase: “a análise lhe revelará o ponto fraco, a estrutura mal urdida”; permite, ainda, racionalizar a pontuação. ((MELO; GOTARDELO apud KURY, 1999, p.13).
Desse modo, a análise sintática vai além de estudar a função dos termos na
oração, uma vez que, por meio dela, percebe-se a estrutura mal colocada na oração.
Paralelamente, a sintaxe é complexa, uma vez que estudar sintaticamente as
orações permite fazer bom uso da pontuação.
Vale ressaltar que Kury (1999) cita a diferença entre frase, oração e período
assim como Brandão, porém há algumas diferenças de nomenclatura, mas, o
sentido é o mesmo.
Em questão à frase, Kury (1999, p.13) conceitua:
Frase é a unidade de comunicação entre falante e ouvinte, entre escritor e leitor. Na linguagem oral, cada frase possui uma melodia, um ritmo, uma entoação peculiar que a escrita procura sugerir por meio dos sinais de pontuação e que lhe empresta sentido completo na situação em que é preferida ou escrita. É a entoação a alma da frase. Um simples fonema, uma única sílaba, um vocábulo, podem, graças a ela, ascender ao nível da frase. (KURY, 1999, p.13).
Em virtude disso, ressalta-se que a frase obtém um sentido completo, e isso
se dá pela entoação na linguagem oral por meio dos sinais de pontuação à escrita.
Dessa forma, uma única palavra ou fonema pode se tornar uma frase.
A esse respeito, Brandão (1888, p. 225) não conceitua frase em sua obra,
mas, é apenas citada:
Essas diferentes collocações, que muito concorrem para a clareza e harmonia da phrase, constituem o que em gramática se denomina construcção, a qual se define: a clara e hamornica disposição das palavras na proposição e das proposições no período. (BRANDÃO, 1888, p.225).
88
Diante disso, Brandão trata da frase na segunda parte do seu livro: a
Construção da Língua Portuguesa. Essa parte diz respeito à clareza e harmonia da
frase, bem como à harmonia das palavras na proposição. Com base nisso, conclui-
se que o autor já fazia uma distinção entre frase e proposição.
Sobre a oração, justifica Kury (1999, p.13-15):
O tipo mais comum de frase é a ORAÇÃO, sintagma formado de Sujeito e Predicado, e como tal estruturada em torno de um verbo; o verbo, explícito ou não, é a característica do predicado, indispensável à existência da oração [...]. A frase não-oracional, por não ter estrutura linguística elaborada, não se presta a análise sintática; só a frase oração, pela sua estrutura, admite análise sintática completa. (KURY, 1999, p.13-15).
Brandão (1888, p.3), por sua vez, chama oração de proposição, ao afirmar:
Por isso definimos a proposição: o conjuncto de duas ou mais palavras com que enunciamos uma cousa attribuida ou negada a um ser qualquer. Dizemos conjucto de duas ou mais palavras, porque a proposição em caso algum tem menos de duas partes, e pode ter independentemente mais de duas. (BRANDÃO, 1888, p.3).
Como podemos perceber, Brandão (1888) diferencia o vocábulo oração,
chamado de “proposição”, mas, o sentido é o mesmo. E chama-nos a atenção pelo
fato de Brandão (1888) assemelhar-se de Kury (1999) em seus estudos sintáticos,
pois, cento e nove anos separam esses estudiosos.
Quanto à classificação das orações, diz Kury (1999, p.16-17):
Se todas as orações de um período têm sentido completo (isto é, se são orações-frases), recebem o nome de ORAÇÕES INDEPENDENTES [...]. Havendo num período orações sintaticamente dependentes de outra, ou de um vocábulo, e que nela ou nele exercem uma função, elas se dizem subordinadas [...]. (KURY, 1999, p.16-17).
Diante disso, as orações são classificadas em Independentes e
Subordinadas. A Primeira acontece quando as orações possuem sentido completo.
A segunda é quando as orações dependem uma da outra.
Assim sendo, da classificação das proposições, afirma Brandão (1888, p. 93):
Proposição independente é a que não tendo relação necessaria com outra, exprime um sentido perfeitamente comprehensivel. Proposição subordinada
89
é a que exprime um sentido dependente de outro com que tem relação necessaria. (BRANDÃO, 1888, p.93).
Ambos autores seguem a mesma linha de pensamento, com uma única
diferença apenas de vocábulo. Enquanto Kury (1999) denomina “orações
independentes” e “orações subordinadas”, Brandão (1888, p.93), de “proposições
independentes” e “proposições subordinadas”.
No segundo capítulo, o autor trabalha os termos essenciais da oração: Sujeito
e Predicado. Quanto ao Sujeito, afirma Kury (1999, p.21) que “em contrapartida, é o
termo que exprime o ser de quem se diz alguma coisa.” Para tanto, diz Brandão
(1888, p.4) que é a palavra ou palavras que exprimem o ser a que attribuimos ou
negamos alguma cousa”. Em vista disso, vale destacar que Kury(1999) e
Brandão(1888) apresentam a mesma função ao Sujeito, porém, a diferença está na
nomenclatura dos termos da oração.
Diante disso, Brandão (1888, p.2) chama oração de proposição e não é
apenas isso, mas também não chama de termos essenciais da oração, todavia, de
partes essenciais da proposição, que são três. Esse autor afirma que “[...] sendo a
proposição o enunciado do mesmo, é claro que deve ella constar também de três
partes essenciaes, a saber: o sujeito, o verbo ou nexo e attributo ou predicado”.
No que diz respeito à classificação do Sujeito, por um lado, classifica-se, de
acordo com Kury (1999, p.22-24), em: “Sujeito Simples, Sujeito Composto, Sujeito
Oculto, Sujeito Indeterminado e Oração sem Sujeito”. Por outro lado, Brandão (1888,
p11) classifica, também, o Sujeito de duas maneiras, em “sujeito simples e sujeito
composto”, e explica: “Sujeito simples é o que exprime um só ser ou seres
considerados em collectividade. Sujeito composto é que exprime seres distinctos”.
Dessa maneira, Kury (1999) classifica o Sujeito contrário a Brandão, pois este só o
apresenta com dois tipos, enquanto Kury, com cinco tipos.
Outro termo essencial da oração é o Predicado, diz Kury (1999, p.27):
Chama-se PREDICADO à palavra ou locução de natureza nominal ou pronominal que constitui: a) o núcleo de pronome nominal [...] e b) o elemento nominal de um predicado verbonominal [...]. O predicado pode referir determinado atributo ou a um “sujeito” ou a um “objeto”, donde a sua classificação em PREDICATIVO DO SUJEITO E PREDICATIVO DO OBJETO. (KURY, 1999, p.27).
90
Com base nisso, o predicado pode referir-se ao atributo, ao sujeito ou ao
objeto. Além disso, refere-se ao elemento verbal.
Em relação ao Predicado, afirma Brandão (1888, p.2-4) que “sendo a
proposição o enunciado do mesmo, é claro que deve ella constar também de três
partes essenciaes, a saber: o sujeito, o verbo ou nexo e attributo ou predicado.”
Dessa maneira, o autor nomeia o predicado de “attributo”, usando essas duas
formas, todavia, para o autor, é preferível a segunda, de tal modo que conceitua
como sendo “a palavra ou palavras que exprimem a cousa attribuida ou negada ao
sujeito”.
Com base no exposto, o conceito de predicado (attributo), apresentado por
Brandão (1888), diferencia de Kury (1999), pois para esse autor, predicado é uma
característica dada ao sujeito, porém, para Kury (1999), é chamado de predicativo
do sujeito. Com base nisso, o predicado seria o verbo para Brandão (1888, p. 4),
pois afirma que “verbo é a palavra que com variações de modos, tempos, numeros e
pessoas liga um attibuto ao sujeito ou exprime a existência, uma acção, estado ou
relação que lhe é attribuida ou negada”.
Diante de tais conceitos, quanto ao predicado, Kury (1999) e Brandão (1888)
mostram algumas divergências de nomenclatura das palavras. Prova disso, é que o
conceito dos mesmos para o Predicado se aproxima, porém, a diferença é que o
primeiro define como Predicado e, o segundo, como Verbo. Porquanto, Brandão
(1888) não está distante de Kury (1999), de tal modo que não existe predicado sem
verbo.
Enfatiza-se, por um lado, que Brandão (1888) acrescenta mais uma parte
essencial à proposição, que é o verbo. Por outro lado, Kury (1999) faz uso de
apenas dois termos essenciais da oração: Sujeito e Predicado. Tais quais outros
gramáticos, dentre eles, o ilustre Bechara (2009) em sua obra Gramática Moderna
da Língua Portuguesa. Isso se deu pelo fato desses pesquisadores da Língua
Portuguesa agregarem o verbo ao predicado, de tal modo que o verbo é o núcleo do
Predicado verbal, caso não seja, será o predicativo, chamado de predicado nominal.
Em vista disso, Brandão (1888) não classifica o predicado dessa maneira, por isso,
há essa separação entre “attributo” (predicado) e o verbo.
O capítulo dois apresenta nformações importantes à nossa pesquisa, uma vez
que nosso estudo trata da sintaxe, mais especificamente, da Função do Advérbio.
91
Ao analisar esse capítulo observamos que Kury (1999, p.28-31) argumenta sobre a
predicação verbal, começa discorrendo sobre os verbos Intransitivos, depois, sobre
os transitivos diretos, transitivos indiretos, verbos transitivos diretos e indiretos
simultaneamente, verbos transitivos adverbiais e verbos de ligação.
Em relação aos verbos Intransitivos, diz Kury (1999, p.28) que “são verbos
que podem conter entre si toda a significação do predicado sem acréscimo de
complemento”. Ressalta-se que Brandão (1888, p.18), por sua vez, não faz uso do
termo verbo intransitivo em sua obra, ele trabalha essa função sintática, porém, é
trabalhado no capítulo III “dos Complementos”, chamado de Complemento acidental
do apelativo.
Sobre os verbos transitivos, expõe Kury (1999, p.29):
TRANSITIVOS são os verbos que requerem o acréscimo de um COMPLEMENTO que integre o sentido do predicado. Classificam-se em TRANSITIVOS DIRETOS, TRANSITIVOS INDIRETOS, TRANSITIVOS DIRETOS E INDIRETOS ao mesmo tempo e TRANSITIVOS ADVERBIAIS. (KURY, 1999, p.29).
Em virtude disso, verbos transitivos são os que não possuem sentido
completo na oração, de tal modo que precisam de um complemento para ter
sentindo completo.
A respeito dos Verbos Transitivos, Brandão (1888, p.23) não conceitua como
Kury, pois identificamos que ele aborda diretamente dos complementos desse verbo
ao dizer:
O complemento necessario do verbo d’esta espécie de verbo exprime sempre o objecto de uma acção, e não é acompanhado de preposição, salvo em alguns casos em que é regido de a. Exemplos: A modéstia doura os talentos / Pedro feriu Paulo. (BRANDÃO, 1888, p.23).
Assim sendo, Brandão (1888), em oposição a Kury (1999), não conceitua os
verbos transitivos, mas, tal qual Kury, mostra o complemento desses verbos.
Quanto aos Termos Integrantes da oração, Kury (1999, p.44-54) apresenta-
nos da seguinte forma:
1. OS COMPLEMENTOS VERBAIS: Objeto direto, objeto direto preposicionado, objeto direto pleonástico, objeto indireto, duplo objeto indireto e objeto indireto pleonástico. 2. O COMPLEMENTO ADVERBIAL.
92
3. AGENTE DA PASSIVA. 4. COMPLEMENTO NOMINAL. (1999, p.44-54).
Dessa maneira, salienta-se o Complemento Adverbial que está inserido nos
Termos Integrantes da Oração, porém trataremos desse assunto em um aspecto
separado.
Quanto ao complemento verbal, ressalta-se o objeto direto e Kury (1999,
p.44-45) esclarece:
Chama-se OBJETO DIRETO ao termo da oração que integra o sentido de um verbo transitivo direto, exprimindo, pois, o ser pelo qual se dirige a ação [...]. O objeto direto pode exprimir-se por meio de: a) substantivo (ou palavra substantivada) não regido de preposição obrigatória. (KURY, p.44-45).
No que se refere ao objeto direto, Brandão (1888, p.23) não denomina dessa
maneira, porém trata do “Complemento necessario do verbo de acção transitiva”
com a mesma função do “Objeto direto” apresentado por Kury (1999). De tal modo,
ambos estudiosos, mais uma vez, entram em oposição só na nomenclatura.
Quanto ao objeto indireto, Kury (1999) e Brandão (1888) apresentam da
mesma forma, todavia, mudam apenas o nome, mas, o sentido é igual. Objeto
indireto, explica Kury (1999, p.47), “é o termo da oração que, sem caracterização
perfeitamente definida [...], vem regido de preposição.” Tal qual Brandão (1888,
p.22) ao explicitar:
O complemento necessario do verbo relativo exprime também relações differentes, e é acompanhado de diversas preposições, sendo as mais frequentes a, de e para. E acompanhado da preposição a, quando refere-se a verbos cuja significação encerra Idea de obediência, direcção a um termo, etc. (BRANDÃO, 1888, p.22)
De tal forma, Brandão (1888) tinha conhecimento do Objeto indireto, só não o
denominava dessa maneira, como percebemos, ele chama de “complemento
necessário do verbo relativo”, uma vez que o verbo precisa vir acompanhado por
preposição. Porquanto, Brandão (1888) e Kury (1999) entram em contradição
apenas na terminologia da palavra, pois, a linha de pensamento se aproxima muito
em seus estudos.
Convém ressaltar o Agente da Passiva que, “como o próprio nome o diz, o
termo da oração que exprime, na voz passiva como auxiliar, o ser que exerce a ação
93
que o sujeito paciente recebe ou sofre”, conforme conceitua Kury (1999, p.50). Em
contrapartida, Brandão (1888, p.77) desconhece essa nomenclatura, não obstante,
denomina que “é passiva a fórma da proposição, quando o sujeito é que recebe a
acção do verbo, praticada por um agente diverso, que póde estar occulto.” Diante
disso, enquanto Kury nomeia de Agente da Passiva, Brandão, de Forma passiva.
Em relação ao Complemento Nominal, afirma Kury (1999, p.51) que “é o
complemento dessas palavras transitivas (nomes e advérbios), obrigatoriamente
preposicionado, que recebe o nome de COMPLEMENTO NOMINAL”. Com base
nisso, tal qual define Brandão (1888, p.18-19), entretanto, ao invés de usar o termo
Complemento Nominal, ele denomina de Complemento Necessário do Apelativo,
porquanto, o significado é o mesmo.
Ao final do segundo capítulo, apresentam-se os Termos Acessórios da
Oração: O Adjunto Adnominal, Adjunto Adverbial, Aposto e o Vocativo. Ao tratar do
Adjunto Adnominal, Kury (1999, p.54), autor da obra Novas Lições de Análise
Sintática, explica:
Em qualquer função sintática que possa ter como núcleo um substantivo, este pode vir acompanhado de palavras ou locuções de valor ou função adjetiva que lhe delimitam o sentido geral: Os TEUS olhos NEGROS são como DUAS flores DO MAL. Essas palavras ou locuções que gravitam em torno do núcleo substantivo são os ADJUNTOS ADNOMINAIS. (KURY, 1999, p.54).
Sendo assim, Brandão (1888) não aborda o Adjunto Adnominal, inclusive,
porque Brandão (1888) não trata do núcleo da oração, de tal modo que o Adjunto
Adnominal está, intrinsecamente, ligado ao núcleo do Substantivo.
Em relação ao Adjunto Adverbial, há uma descontinuidade entre Kury e
Brandão. Em vista disso, Kury (1999, p.55) afirma que “advérbio ou locuções
adverbiais, que, na frase, acrescentam circunstâncias a verbos, ou intensificam a
ideia expressa por verbo, adjetivo ou advérbio, recebem o nome de ADJUNTOS
ADVERBIAIS”. Acrescenta Melo (apud KURY, 1999, p.55) ser, pois, “modificadores
(cantar bem) ou intensificadores (“automóvel bastante estragado”, “riram muito”,
“cantar muito mal”)”.
A concepção de Brandão (1888, p.139), ao Adjunto Adverbial merece ênfase,
uma vez que o autor não trabalha com essa nomenclatura sintática, porém
denomina-o de “Complemento Accidental Circumstancial”.
94
Quanto ao Aposto, diz Kury (1999, p.57):
Uma idéia fundamental contida num termo de valor substantivo, em qualquer função sintática, pode ser continuada, explicada (inclusive por comparação), desenvolvida ou resumida num termo acessório, seu equivalente ou adjunto, também necessariamente substantivo, APOSTO. (KURY, 1999, p. 57).
Dessa maneira, o aposto tem o valor de um substantivo seja qual for a função
sintática. Tal qual explica Brandão (1888, p.141) que o “substantivo continuado ou
apposto, venha antes ou depois da palavra a que se refere, é sempre separado
d´ella por meio de virgula”. Por conseguinte, o conceito de ambos autores é o
mesmo para o Aposto, entretanto, Brandão (1888, p.141) além de denominá-lo de
“substantivo apposto”, também, o denomina de “substantivo continuado”. Quanto a
isso, Kury (1999) diferencia-se por classificar o Aposto da seguinte maneira, a saber:
1. Aposto explicativo e enumerativo. 2. Aposto de oração. 3. Aposto de
especificação e 4. Aposto aparente. Em contra posição, Brandão não classifica o
Aposto.
No que diz respeito ao Vocativo, afirma Kury (1999, p.61) que é “parte tanto
do sujeito como do predicado, pode ocorrer na oração um termo com que se
interpela o ouvinte – o VOCATIVO.” Observa, também, que “um vocativo pode
subordinar-se a uma oração: Ó Deus, [que estás no Céu], tem piedade de mim!”.
Diante disso, Kury (1999, p. 63) acrescenta:
O período se diz COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO quando haja nele uma oração PRINCIPAL e uma ou mais SUBORDINADAS, isto é, dependentes dela. Pode também haver orações subordinadas não a uma principal, mas a um VOCATIVO. (KURY, 1999, p.63).
Por conseguinte, o autor afirma que a oração subordinada pode estar ligada
não só à oração principal, mas também, ao vocativo. Paralelamente, Brandão (1888,
p. 142) apresenta o vocativo em sua obra, entretanto, mudando apenas o nome e
diz que “palavras em apostrophe podem ser collocadas no principio, no meio ou no
fim da proposição [...]. Exemplo: Senhor, escutáe a voz dos opprimidos”.
O terceiro capítulo da obra faz a abordagem sobre o período composto e Kury
(1999, p.62) conceitua que se diz composto quando o período “é formado de mais
de uma oração, e que as orações que o compõem podem ser de três tipos:
95
INDEPENDENTES, PRINCIPAIS E SUBORDINADAS”. Semelhantemente, diz
Brandão (1888, p.86-93) que a oração é dividida “em independente e subordinada”,
assim sendo, ao tratar a divisão do período composto, afirma que “póde constar de
dous, tres e quatro membros, e denomina-se então dicólis, tricólis e tetracólis, ou
bimembre, trimembre e quadrimembre” Diante disso, a única diferença de Brandão
para Kury, quanto ao período composto, é que o primeiro chama de proposições
independentes e subordinadas, enquanto Kury chama oração independente e
oração subordinada.
Em relação à classificação do período composto por coordenação, afirma
Kury (1999, p.62) que “todas as orações de um período são independentes, isto é,
têm sentido por si mesmas, e poderiam, por isso, constituir cada uma um período, o
período se diz COMPOSTO POR COORDENAÇÃO”. Com algumas diferenças, diz
Brandão (1888, p.131) que a coordenação está ligada, “conforme as preposições
empregadas, divide-se em consecutiva, correlativa, exclusiva, alternativa e
adversativa.”
Assim sendo, Kury (1999) classifica as orações coordenadas tal como
Brandão (1888), porém, com duas contradições, a saber: na primeira, Brandão
aborda a oração consecutiva ao invés da conclusiva, apresentada por Kury(1999)
somente nas orações subordinadas adverbais. Em seguida, na segunda,
Brandão(1888) nomeia de coordenação correlativa a que Kury (1999) denomina
aditiva, mas, modificam, apenas, a nomenclatura, pois têm a mesma explicação.
Quanto às orações subordinadas, diz Kury (1999, p.70) que “é
SUBORDINADA a oração que depende de um termo da frase (como um vocativo),
ou de uma oração principal, nele ou nela exercendo uma função sintática”. Sendo
assim, as orações subordinadas são classificadas em Substantivas, Adjetivas e
Adverbiais, pois Kury (1999, p.71) explica:
Qualquer oração subordinada se classificará, primeiramente, conforme a sua função oração principal, em: 1) SUBSTANTIVA, quando exerce função própria de substantivo (sujeito, objeto, predicativo, complemento nominal, aposto, agente da passiva); 2) ADJETIVA, quando exerce a função de adjunto adnominal; 3) ADVERBIAL, quando exerce a função adjunto adnominal. (KURY, 1999, p. 71).
Em descontinuidade, diz Brandão (1888, p. 93) que “subordinada é a que
exprime um sentido dependente de outro com que tem relação necessaria.” De tal
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modo que o conceito é semelhante, contudo, classifica Brandão (1888, p.93-101) em
Proposição Elementar, Proposição Complementar, Proposição Circunstancial e
Proposição Apositiva.
O último capítulo da obra trata dos problemas e fatos sintáticos de interesse
para a análise, a saber: Haplologia, pleonasmo e anacoluto, silepse e termos e
substitutivos ou vicários. É preciso enfatizar que Brandão (1888) não aborda isso em
sua obra.
A obra encerra com Apêndices por meio de modelos de análise sintática,
quadros sinópticos, exercícios de verificação e textos para exercício de revisão.
Assim como Brandão (1888), que também encerra com Apêndice, a diferença é que
não apresenta exercícios.
Em face do término da análise do terceiro aspecto, focalizaremos o aspecto
que trata da Função do Advérbio.
3.2.4 Quarto aspecto: Função do Advérbio
A Função do Advérbio está inserida nos termos acessórios da oração, e
explicita Kury (1999, p.55) que:
Advérbios ou locuções adverbiais, que, na frase, acrescentam circunstâncias a verbos ou intensificam a idéia expressa pelo por verbo, adjetivo ou advérbio, recebem o nome de ADJUNTOS ADVERBIAIS. Podem ser, pois, modificadores (‘cantar bem’) ou intensificadores (‘automóvel bastante estragado’, ‘riram muito’, ‘cantar muito mal’). (KURY, 1999, p.55).
Como mencionado pelo autor, os adjuntos adverbiais podem ser
modificadores ou intensificadores. Analisemos os exemplos apresentados: 1.
“Cantar bem”. O termo bem modifica o verbo cantar, dando-lhe uma circunstância de
que a pessoa canta e bem, por isso, chamado de Adjunto Adverbial Modificador. 2.
“Automóvel bastante estragado”/ “riram muito”. No primeiro exemplo, o termo
bastante intensifica o verbo estragado, de modo que a oração poderia ser
“automóvel estragado”, mas veja que uma circunstância foi acrescentada à oração,
pois o automóvel não só está estragado, como está e bastante, intensificando,
assim, a ação verbal. No segundo exemplo, o termo muito, também, traz
97
intensificação ao verbo, uma vez que pessoas não só riram, mas riram muito. Sendo
assim, nesses dois casos, ocorrem Adjuntos Adverbiais intensificadores.
Assim como Brandão (1888), Kury (1999) apresenta os tipos da sintaxe do
advérbio, e diz que é muito difícil citar todo adjunto adverbial, dentre eles, destacam-
se os de: acréscimo, assunto, causa, companhia, comparação, concessão,
condição, conformidade, direção, dúvida, favor ou interesse, fim, frequência,
instrumento, intensidade, limite, matéria, meio, modo, preço, substituição ou troca,
tempo.
O autor trata, também, desse assunto, em sua Gramática Objetiva, vol.II, ao
afirmar que Adjunto adverbial “é a função expressa pelo advérbio, locução adverbial
ou qualquer expressão que revele circunstância”, Kury; Oliveira (1986, p.38). Essa
explicação é mais suscita e simples do que a anterior.
Com base nesses conceitos, Kury (1999) enfatiza que o Adjunto Adverbial é a
função do Advérbio na oração, isso é argumentado nas obras Novas Lições de
Análise Sintática, de Kury (1999) e na Gramática Objetiva, de Kury e Oliveira (1986).
Em virtude disso, percebe-se que Kury (1999) abrange seu conceito ao decorrer dos
anos, em vista de tratá-los de uma forma menos abrangente em sua gramática, ao
contrário da segunda obra, em que o autor, além de dizer que a função do advérbio
expressa uma circunstância, acrescenta a informação de que modifica o verbo,
adjetivo ou o próprio advérbio.
Diante disso, vale salientar que Brandão (1888, p.138) opõe-se quanto à
nomenclatura, pois, denomina o Adjunto Adverbial de Complemento Acidental
Circunstancial, entretanto à função sintática é a mesma abordada por Kury (1999),
de forma que, nesses casos, a sintaxe do advérbio não é necessária para o
entendimento da oração, por isso, inclusiva nos termos acessórios da oração.
Convém ressaltar uma nova concepção apresentada por Kury (1999, p.32) ao
Adjunto Adverbial, quando afirma:
Certos verbos de movimento ou de situação (como chegar, ir, partir, seguir, vir, voltar; estar, ficar, morar, etc.), quando pedem um COMPLEMENTO ADVERBIAL DE LUGAR que lhes integre o sentido, embora tradicionalmente classificados como intransitivos, devem ser considerados transitivos, desde que se entenda por TRANSITIVIDADE a necessidade de um complemento “que vem acabar uma idéia insuficiente em si mesma.” (KURY, 1999, p.32).
98
Assim sendo, Kury (1999) considera que o Adjunto Adverbial ultrapassa o
conceito básico de ter apenas o valor do advérbio ou locução adverbial que, com ou
sem preposição, modifica o verbo, adjetivo e até o próprio advérbio.
Consequentemente, percebe-se que o termo é mais abrangente do que os conceitos
apresentados, por isso, em alguns casos, será uma informação necessária, sendo
assim, não pode ser desconsiderado ao sentido da oração.
Diante disso, mais do que um verbo intransitivo, há a necessidade de um
complemento adverbial para completar a predicação de alguns verbos transitivos
adverbiais de movimentação ou situação, uma vez que transitividade precisa de um
complemento para dar sentido ao verbo que, por si mesmo, é insuficiente. Convém
ressaltar que o autor não aborda isso em sua Gramática, contudo, exclusivamente,
nesta obra de estudo de sintaxe da Língua Portuguesa.
Nessa perspectiva, avança-se muito em relação ao conceito do Adjunto
Adverbial, de forma que outros autores seguem essa mesma linha de análise,
esclarece Kury (1999, p.33):
Levando em conta esse fato, vários autores têm incluído esses verbos entre os transitivos: José Oiticica os denomina “Verbos adverbiados”; Rocha Lima lhes chama “transitivos circunstanciais”; Evanildo Bechara sugere o nome “transitivos adverbiais”, observando que, numa oração como “Irei à cidade.”, à cidade é COMPLEMENTO, e não ADJUNTO. Antenor Nascentes, embora os inclua entre intransitivos, adverte: “Tratando-se de verbos intransitivos de movimento, o complemento de direção não pode ser considerado elemento meramente acessório. Considerando esses motivos, incluímos entre os verbos transitivos os ADVERBIAIS. Exemplos: “[..] Moro na China.”; “O presidente voltou da China”. (KURY, 1999, p.33).
Para tanto, esses estudiosos, dentre eles, os ilustres Evanildo Bechara (2009)
e Rocha Lima (1956), procedem à mesma percepção de Kury(1999) quanto ao
Adjunto Adverbial.
No que se refere ao Verbo Transitivo Adverbial, explica Bechara (1976, p.44):
Diante de expressões do tipo: Irei à cidade, Voltei do trabalho, tínhamos rigor de falar em verbos transitivos adverbiais, isto é, os que pedem como complemento uma expressão adverbial. Contra o conceito de complemento, a Nomenclatura Gramatical Brasileira arrola tais casos entre os adjuntos adverbiais. A incongruência se torna mais patente quando classificamos em: Ida à cidade, Volta ao trabalho, à cidade e ao trabalho como complementos nominais. (BECHARA, 1976, p.44).
99
A partir dessa citação, podemos perceber que Bechara (1976) favorece o
estudo acerca dos verbos transitivos adverbiais, de tal forma que critica a
Nomenclatura Gramatical Brasileira que deveria rever a sintaxe do advérbio. Diante
disso, assim como Kury (1999), o autor sugere o nome de verbos transitivos
adverbiais.
A respeito dessa abordagem, acrescenta-se, também, Infante (2005, p.26)
que afirma:
[...] em construções como: Estamos no mesmo lugar. Chegamos à velha casa de nossa infância. Permaneceremos ao pé da porta. Voltou à terra natal. Viemos de Poços de Caldas. Nesses casos, seria questionável dizer que os verbos não necessitam de um termo que os complemente. Esse termo, no entanto, não é objeto indireto, pois tem nítido valor adverbial [...]. Alguns gramáticos propõem a denominação complemento circunstancial de lugar ou complemento adverbial locativo para esses termos. (INFANTE, p.25, 2005, grifo nosso).
Mais um autor, tal qual Kury (1999), discorre do adjunto adverbial como
complemento na oração.
Nesse sentido, Kury (1999, p.33) assevera que inclui entre os verbos
transitivos os ADVERBAIS, a exemplo de:“Ela IA à igreja todas as manhãs.”; “MORO
no Rio de Janeiro”. e “O presidente VOLTOU da china”. Diante disso, por um lado
Kury (1999) afirma que não se tem um verbo intransitivo, mas, um verbo transitivo
adverbial, uma vez que precisa de um complemento para se entender o enunciado.
Por outro lado, esse complemento não será Adjunto Adverbial de lugar, pois, nesses
casos, especificamente, não é um termo apenas acessório. É relevante, contudo, ao
sentido da oração e, por isso, denomina “Complemento Adverbial”, incluindo, dessa
maneira, nos termos integrantes da oração.
Diante do exposto, para melhor esclarecimento da sintaxe do Advérbio, faz-se
necessário fazer um resumo do assunto trabalhado por meio de um quadro
comparativo entre Brandão (1888) e Kury (1999), apresentando-o da seguinte forma:
Brandão (1888) Kury (1999)
Complemento Acidental
Circunstancial: quando, incidentemente,
se referir a um verbo, adjetivo ou
Adjunto Adverbial: acrescenta
circunstâncias a verbos ou intensificam a
ideia expressa pelo por verbo, adjetivo
100
advérbio, sem exigir a significação da
proposição. É regido por preposição
sempre, exprimindo uma circunstância.
ou advérbio. Está inserido nos termos
acessórios da oração, pois a ausência
do Adjunto Adverbial não altera o sentido
da oração.
Tipos de Complemento Acidental
Circunstancial:
Tipos de Adjunto Adverbial:
Causa: Condemnados por culpa e por
feitos vergonhosos.
Causa: Não saí por preocupação.
Companhia: O tal negocio foi tão quente
que entraram os mouros com elles dentro
d’agua.
Companhia: Sairei contigo.
Fim: Para banhos há muitas casas
grandes e capazes.
Fim: Vive para o estudo.
Instrumento: Na cabeça não criam
cabello, senão o que rapam cada dia á
navalha.
Instrumento: Preferia pintar a óleo (ou
com guache).
Matéria: Fez a imagem de ouro. Matéria: O telhado foi construído de
zinco.
Meio: Alcançou por intercessão de Davi
que podesse entrar em o Sancta
Sanctorum.
Meio: Ganharam por fraude.
Modo (segundo, conforme): Procedeu
segundo ou conforme a lei.
Conformidade: Pagar dízimo segundo o
costume.
Modo: Ia fugindo à rédea solta.
Modo: O barco vogava à mercê do
vento.
Preço: Resgatou este filho d’el-rei com
toda a sua família por treze mil miticaes.
Preço: Cobrava cada fruta a cem
cruzeiro.
Substituição: Por armas têm adargas e
terçados.
Substituição: Deu um automóvel por um
terreno.
Tempo: De noite se passaram todos á
terra.
Tempo: Durante as férias, li três
romances.
101
É importante o fato de que, mesmo em século diferente, há continuidade entre
os autores. Aqui, a Função do Advérbio é tratada por Kury (1999) como termo,
meramente, acessório, chamado de Adjunto Adverbial, e por Brandão, de
Complemento Acidental Circunstancial, pois não tem relação necessária com o
verbo, adjetivo ou com o próprio advérbio. Dessa forma, os autores só estão em
descontinuidade com a nomenclatura apenas, mas o sentido é o mesmo, prova
disso, as circunstâncias apresentadas são iguais.
Por meio do quadro apresentado, vale destacar a circunstância de lugar,
porque, em alguns casos, há descontinuidade entre os autores, por isso, não a
incluímos nesse quadro, uma vez que selecionamos, aqui, os pontos em comum.
Essa descontinuidade será abordada a seguir, uma vez que, para melhor
compreensão, convém explicá-la após o segundo quadro a respeito da concepção
da sintaxe do advérbio.
Agora, apresentaremos o segundo quadro comparativo entre os autores por
abordarem outra concepção sobre a Função do Advérbio, a saber:
Brandão (1888) Kury (1999)
Complemento Necessário do Verbo
Relativo: É o que é exigido pela
significação do verbo (antecedente),
exprime relações, e é empregado
sempre com um complemento regido de
preposição.
Complemento Adverbial:
Certos verbos de movimento ou de
situação (como chegar, ir, partir, seguir,
vir, voltar; estar, ficar, morar etc.),
quando pedem um COMPLEMENTO
ADVERBIAL DE LUGAR que lhes
integre o sentido, embora
tradicionalmente classificados com
Intransitivos, devem ser considerados
transitivos, desde que se entenda por
TRANSITIVIDADE a necessidade de um
complemento que vem acabar uma idéia
insuficiente em si mesma. Considerando
esses motivos, incluímos entre os verbos
transitivos os ADVERBIAIS.
Tipo de Complemento Necessário do Tipos de Complemento Adverbial:
102
Verbo Relativo:
Direção: E’ regido de para, se refere a
um verbo cuja significação contenha
uma Idea de direcção para algum termo,
etc.
Exemplo:
«Vieram para o Brazil».
Lugar aonde (direção): Voltou à casa
paterna.
Lugar donde (origem): Venho da
cidade.
Lugar para onde (situação): Vive no
deserto.
Lugar para onde (direção): Embarcou
para a Europa.
Lugar por onde (passagem):
Voltaremos pelo túnel.
Tal quadro comparativo, podemos perceber o ápice desta pesquisa por
trabalhar uma nova concepção da Função do Advérbio, que é tratado,
sintaticamente, como Complemento relevante na oração, chamado por Brandão
(1888) de Complemento Necessário do Verbo Relativo, e o Verbo, de Antecedente,
já Kury (1999) o denomina de Complemento do Advérbio e Verbo Transitivo
Adverbial, mudando a nomenclatura, mas a função sintática é a mesma.
Mediante essas colocações, destacamos que há uma descontinuidade com a
circunstância de lugar da Função do Advérbio. O quadro explicitará essa
divergência:
Brandão (1888) Kury (1999)
Complemento Acidental
Circunstancial:
Exemplo:
Voltará para o anno.
Complemento Adverbial:
Exemplos:
Voltou à casa paterna.
O presidente voltou da China.
Como apresentado, em alguns casos, Brandão (1888, p.33) considera a
circunstância de lugar como Complemento Acidental Circunstancial ao contrário de
Kury (1999, p.32) que considera Complemento do Advérbio sempre.
Tendo em vista essa descontinuidade entre os autores, consideramos que,
para a circunstância de lugar da Função do Advérbio ser complemento significativo
103
na oração, dependerá do contexto ou do ponto de vista, assim, partindo do exemplo
de Kury (1999, p.33) “O presidente voltou da China”, esse termo da China, segundo
o autor é indispensável para o entendimento da oração, mas, para Brandão (1888),
nesse caso, não é relevante para a compreensão da proposição. Ora, isso ocorre,
porque a oração está sendo analisada por ângulos diferentes. Brandão (1888) a
analisa da seguinte forma: “O presidente viajou para China, mas ele voltou”. Veja
que, nesse caso, o verbo voltar não precisa mais de um complemento, pois já foi
citado anteriormente, de tal maneira que se sabe de onde a pessoa voltou, todavia
essa colocação só é cabível se o receptor souber para onde a pessoa viajou, por
isso, dependerá do contexto, e é nesse sentido que Kury analisa a oração, levando
em conta que o receptor não sabe para onde o indivíduo viajou.
Portanto, podemos concluir que ambos os autores estão corretos quanto a
essa Função do Advérbio que dependerá do contexto para ser ou não complemento
necessário na oração. Assim, finalizada a análise das obras, passaremos às
Considerações Finais deste trabalho.
104
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de implementação acerca do estudo da sintaxe no século XIX
mereceu destaque, pois, nesse período, foram constatadas novas concepções sobre
a sintaxe do advérbio. Nessa época, as obras optaram pela continuidade da forma
latina, algumas, pela tradição, e outras, pelo movimento de descontinuidade.
Refletimos sobre o percurso historiográfico linguístico no Brasil que nos ajudou a
definir o problema desta pesquisa: como seu deu o estudo da sintaxe, sobretudo, da
Função do Advérbio, para o processo de implementação da Língua Portuguesa, na
segunda metade do século XIX, nos estudos de gramática de Thomaz da Silva
Brandão (1888) e de Adriano da Gama Kury (1999), do século XX?
Assim sendo, para solucionar tal problema, fundamentamo-nos na
Historiografia Linguística, particularmente, com Konrad Koerner (1996) e Pierre
Swiggers (1991), além dos pesquisadores brasileiros Cristina Altman (1999), Neusa
Bastos (2004) e Ronaldo Batista (2012). Desses, destacamos os três princípios de
Koerner (1996): o da contextualização, que levou em conta o contexto em que as
obras foram escritas; o da imanência, que estabeleceu uma compreensão completa,
tanto do ponto de vista histórico quanto crítico, da obra trabalhada, nesse caso,
selecionamos como corpus Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza, de
Thomaz da Silva Brandão (1888), do século XIX, e, por último, o da adequação, que
fez aproximações modernas do vocabulário técnico, usamos, assim, a obra Novas
Lições de Análise Sintática, de Adriano da Gama Kury (1999), da segunda metade
do século XX.
A nossa pesquisa abarcou quatro aspectos de análise das obras: os
Prefácios; as concepções de Língua, Linguagem e Gramática; a Organização
das Obras e a Função do Advérbio. Em vista disso, alcançamos o objetivo geral
deste trabalho, pois conseguimos explicar como seu deu o estudo da sintaxe,
sobretudo, da Função do Advérbio, para o processo de implementação da Língua
Portuguesa, na segunda metade do século XIX, nos estudos de gramática de
Thomaz da Silva Brandão (1888) e de Adriano da Gama Kury (1999), do século XX,
que se deu por meio de novas concepções apresentadas acerca da sintaxe do
advérbio, bem como explicitamos o processo de implantação de uma política
linguística em uma abordagem historiográfica. Atingimos, também, os objetivos
específicos, uma vez que pesquisamos o processo de implementação da sintaxe da
105
segunda metade do século XIX; verificamos o estudo da sintaxe da Língua
Portuguesa, particularmente, da Função do Advérbio, levando em conta os aspectos
políticos, filosóficos, econômicos, sociais, intelectuais e culturais; apresentamos
discussões teóricas sobre a sintaxe da Língua Portuguesa, especificamente, da
Função do Advérbio e, por último, analisamos as obras de Thomaz da Silva Brandão
(1888), do século XIX, e de Adriano da Gama Kury (1999), do século XX,
considerando o que os autores tinham de continuidade e descontinuidade no que diz
respeito ao estudo da sintaxe do advérbio da Língua Portuguesa.
Dessa forma, para explicarmos melhor a concepção desses autores quanto à
Função do Advérbio, destaca-se a significação verbal que se divide em duas partes
na gramática tradicional, a saber: Verbo Transitivo (direto; indireto e direto e indireto)
e Verbo Intransitivo. Visto que o primeiro precisa de um complemento para dar
sentido à oração e, ao contrário disso, o segundo já tem um sentido completo. Cabe
enfatizar que, dentro da sintaxe, há o complemento verbal que completa a
predicação do verbo e o nominal que completa o nome. Diante disso, em uma
análise gramatical, percebem-se muitas incoerências à classificação desses
elementos, uma vez que não são cabíveis na oração.
Assim, selecionamos a obra de Brandão (1888) com o intuito de voltarmos às
origens do ensino da sintaxe. O autor discorreu de dois tipos de Complemento: o
Necessário e o Acidental. Os nomes desses complementos já são capazes de
conceituá-los, desse modo, o primeiro ocorre quando é necessário ao entendimento
da oração, ao contrário do segundo que acontece quando é posto, acidentalmente,
na oração; não influenciando a compreensão do enunciado.
Mediante esses conceitos mencionados pelo autor, constatamos dois pontos
relevantes à sintaxe do advérbio: 1. Ao nomeá-lo de Complemento Necessário do
Verbo Relativo quando houver ideia de direção, ex.: Vieram para o Brasil. Desse
modo, o termo para o Brasil é considerado Complemento, pois, quando tiver a ideia
de direção, é indispensável para a clareza da oração, uma vez que esse
complemento tem relação necessária com o verbo, por isso chamado de
Complemento Necessário do Verbo Relativo. Essa percepção vai de confronto à
gramática tradicional que considera esse termo um Adjunto Adverbial – acessório
apenas –. Brandão (1888), portanto, traz uma nova função sintática para o advérbio
de direção; isso comprova tratar-se de um autor muito à frente de sua época, em
106
virtude de perceber, em pleno século XIX, algumas lacunas no ensino sintático da
Língua Portuguesa. 2. Ao nomeá-lo de Complemento Acidental Circunstancial,
quando a Função do Advérbio têm circunstâncias inseridas na oração
acidentalmente, assim, as suas ausências não alterariam o sentido da oração, por
isso denominado de Complemento Acidental Circunstancial. Aqui, Brandão trata da
sintaxe do Advérbio como termo acessório, assim como a gramática tradicional, mas
não o chama de adjunto adverbial, pelo fato de nessa época não existir essa
nomenclatura, todavia já se trabalhava tal concepção.
Nesse mesmo sentido, mencionamos Ribeiro (1915), gramático
contemporâneo, que está em continuidade com Brandão (1888), por apresentar,
sintaticamente, o Advérbio como Complemento na oração, chamando-o, também, de
Complemento Circunstancial, o que indica circunstância de tempo, modo, lugar.
Quanto a esse conceito, merece destaque a questão de que o autor, em
descontinuidade, não faz divisão de Complemento Necessário e Circunstancial,
ficando subtendido que esse Complemento já possui as duas dimensões tratadas
por Brandão, podendo referir-se tanto a um quanto a outro.
Para a Adequação, escolhemos a obra Novas Lições de análise Sintática, de
Kury (1999), que, tal qual Brandão (1888), trouxe reflexões importantes sobre a
Função do Advérbio, chamado por Kury (1999), segundo a gramática tradicional, de
Adjunto Adverbial, que está inserido nos termos acessórios da oração, porém, em
alguns casos de movimentação e situação, o autor o inclui nos Termos integrantes
da Oração, ex.: Moro na China. Conforme a gramática da Língua Portuguesa, na
China é adjunto adverbial, um termo acessório apenas, tendo em vista que o verbo é
intransitivo, mas esta pesquisa identificou um novo estudo sintático em uma
perspectiva da Historiografia Linguística, mostrando que, em alguns casos, o verbo
não é intransitivo, pois precisa do complemento para a oração ser compreendida,
por isso, a sintaxe do advérbio não pode passar despercebida, uma vez que possui
significações relevantes ao sentido verbal; significações essas indispensáveis para o
entendimento da enunciação.
Com base nisso, outros estudiosos da Língua Portuguesa ampliaram o estudo
sobre o complemento verbal, dentre eles: Bechara (2009), Rocha Lima (1956),
Ulisses Infante (2005), dentre outros que, em continuidade com Brandão e Kury,
consideram o fato de existirem alguns verbos que não podem ser deixados de lado
107
quanto à sua função, consequentemente, os verbos de movimentação e situação
não podem ser intransitivos, porque a informação após o verbo é de suma
importância para o sentido da oração. Nessa abordagem, Rocha Lima sugeriu
Verbos Adverbiais e Complemento Adverbial, Bechara, Transitivos Adverbiais e
Complemento Adverbial, e Infante não apresentou nomenclatura para o Verbo, ele
só afirmou que há Verbo que necessita de um termo que os complete, que será
Complemento Circunstancial de Lugar ou Complemento adverbial locativo. Nesses
casos, os autores estão em comum acordo, embora mudem a nomenclatura apenas,
de que esse complemento não deve ser considerado um termo acessório, uma vez
que tem uma função relevante na oração.
Diante das discussões apresentadas acerca da Função do Advérbio, é
inquestionável afirmar que esses verbos não necessitem de um complemento, por
isso, inserimos o Complemento Adverbial nos termos integrantes da oração, de tal
forma que a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) deverá refazer algumas
concepções da sintaxe da Língua Portuguesa, fazendo, assim, uma revisão em sua
gramática a respeito do Adjunto Adverbial de movimentação e de situação, vindo
após o verbo intransitivo que não precisa de um complemento, mas fica difícil não
exigir um complemento à oração, uma vez que o verbo sozinho não possui sentido
completo, como efeito, será Verbo Transitivo Adverbial que exigirá um Complemento
Adverbial. Em vista disso, propomos que, revisada a gramática da Língua
Portuguesa, fosse inserida essa concepção da Função do Advérbio no livro didático
das escolas.
Portanto, partindo de uma perspectiva historiográfica da Língua Portuguesa, a
gramática tem se modificado no decorrer do tempo, fator esse relevante e
significativo, visto que a língua é mutável, de modo que está sempre em processo de
transformação. Prova disso, constatamos, em nosso trabalho, que a Sintaxe do
Advérbio não possui a função, apenas, de termo acessório, em que Brandão (1888)
chama de Complemento Acidental Circunstancial, e Kury, de Adjunto Adverbial (a
mesma apresentada pela gramática tradicional), entretanto percebemos que há
outra função, nos casos de advérbio de movimentação e situação – os que têm ideia
de direção –, que completará o sentido verbal, por isso, indispensável para
entendimento da oração, chamada por Brandão de Complemento Necessário do
Verbo Relativo e, por Kury, de Complemento Adverbial. Com base nisso, a
108
Linguística tem contribuído de forma extraordinária com o estudo gramatical em
todos os aspectos (fonéticos – fonológicos, morfossintático, semântico e léxico),
particularmente, sintático. Esta pesquisa tratou de algumas concepções
concernentes à Função do Advérbio, ocasionando reflexões acerca do estudo
gramatical, abrangendo, dessa forma, o conhecimento linguístico.
109
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112
ANEXOS
113
ANEXO 1: Capa da obra de Brandão (1888).
114
ANEXO 2: Contracapa da obra de Brandão (1888).
115
ANEXO 3: Índice da obra de Brandão (1888).
116
ANEXO 4: Cont. do índice da obra de Brandão (1888).
117
ANEXO 5: Cont. do índice da obra de Brandão (1888).
118
ANEXO 6: Cont. do índice da obra de Brandão (1888).
119
ANEXO 7: Cont. do índice da obra de Brandão (1888).
120
ANEXO 8: Cont. do índice da obra de Brandão (1888).
121
ANEXO 9: Cont. do índice da obra de Brandão (1888).
122
ANEXO 10: Apêndice da obra de Brandão (1888).
123
ANEXO 11: Cont. do apêndice da obra de Brandão (1888).
124
ANEXO 12: capa da obra de Kury (1999).
125
ANEXO 13: Ficha catalográfica da obra de Kury (1999).
126
ANEXO 14: Sumário da obra de kury (1999).
127
ANEXO 15: Índice geral da obra de Kury (1999).
128
ANEXO 16: Cont. do índice geral da obra de Kury (1999).
129
ANEXO 17: Cont. do índice geral da obra de Kury (1999).
130
ANEXO 18: Cont. do índice geral da obra de Kury (1999).
131
ANEXO 19: Cont. do índice geral da obra de Kury (1999).
132
ANEXO 20: Cont. do índice geral da obra de Kury (1999).