Wesley Diniz Ferreira - PESQUISA NO ENSINO DE ARTE ... · fotográfica digital Sansung S630 de 6.0...
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OFICINA DE ANIMAÇÃO: UMA EXPERIÊNCIA NA ESCOLA MUNICIPAL PROFESSORA IRENE MONTEIRO JORGE
Wesley Diniz Ferreira
Universidade Federal de Uberlândia
Programa de Pós-Graduação em Educação
Mestrando em Educação
Comunicação – Relato de Experiência
RESUMO: Este relato parte da minha experiência como professor de Oficina
Pedagógica na E. M. Profª Irene Monteiro Jorge no ano de 2010. Em dezembro de 2009, ao
assistir um vídeo de animação chamado “Fábulas Malucas”, fiquei fascinado pela criatividade
e originalidade do mesmo. O vídeo utiliza legumes, materiais recicláveis e outros elementos
para recontar os contos clássicos da Literatura. Ao perceber que o processo de construção
desta animação era algo possível de ser feito, fiz alguns experimentos e o resultado foi muito
positivo. Procurei a direção para descrever as minhas expectativas, após constatar as inúmeras
possibilidades que esta experiência poderia proporcionar como importante recurso
pedagógico, surgia naquele momento a “Oficina de Animação”. No ano de 2010, esta Oficina
produziu dois vídeos, o primeiro foi a “A Aranha Perneta” voltado para crianças de 6 a 9
anos, o segundo vídeo foi: “Zumbi dos Palmares” uma animação pensada para crianças de 9 a
11 anos. A Oficina atendia um grupo de 30 alunos com idade entre 07 e 10 anos, que
permaneciam na escola em período integral. As animações foram produzidas por meio da
ferramenta Windows Movie Maker, as imagens e vídeos capturados a partir de uma máquina
fotográfica digital de 6.0 Mega Pixels e os sons capturados através da ferramenta Audacity.
Os personagens dos desenhos foram confeccionados com materiais recicláveis e os alunos
participavam de toda elaboração, produção e conclusão dos desenhos, inclusive no momento
de inserir os vídeos, vozes e imagens no computador.
Palavras-chave: Oficina Pedagógica. Desenho Animado. Educação.
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Este relato apresenta minha experiência como professor da Oficina Pedagógica:
“Oficina de Animação” no ano de 2010, e a rica experiência que foi vivenciá-la com alunos e
professores. A mesma fazia parte das onze Oficinas Pedagógicas oferecidas pela Escola
Municipal Professora Irene Monteiro Jorge, em Uberlândia/MG.
A Escola Municipal Professora Irene Monteiro Jorge se localiza na periferia da cidade
e atende uma clientela de baixa renda familiar. A comunidade é carente de atendimentos no
que se refere ao baixo rendimento escolar, violência física, psicológica, abuso sexual,
negligência familiar, alimentação, saúde, higiene e outros.
Minha experiência profissional com estes alunos começou em fevereiro de 2008, como
professor de Oficina Pedagógica. Desde então tem sido uma preocupação não só minha como
também do corpo docente da escola, a busca incessante em atender as reais necessidades
destas crianças, no que tange os conteúdos curriculares, baixa autoestima e valores morais.
Acredito que as Oficinas Pedagógicas tenham como uma das principais características
a socialização, por permitir o confronto das relações interpessoais que se constituem neste
ambiente, de maneira muito próxima e que para Vygotsky (1996), fazem dele um ser
“biológico, histórico e social”.
Para que haja uma maior qualidade no ensino e um melhor aproveitamento, é
fundamental que o educador problematize situações em sala de aula, e sempre que possível na
perspectiva de aproximar a realidade do aluno com os conteúdos ministrados. Dessa forma, a
oficina de Animação surge como uma possibilidade de se trabalhar diversos assuntos e
conteúdos dentro de uma dinâmica lúdica e envolvente, pois une linguagens artísticas, tais
como a literatura, as artes visuais, a música e a mídia, no processo de construção do
conhecimento.
Em dezembro de 2009 tive a oportunidade de conhecer o vídeo de animação chamado
“Fábulas Malucas”, uma produção francesa, ganhadora do prêmio Family Price no Festival de
Roma. O vídeo utiliza legumes, materiais recicláveis e outros elementos para recontar os
contos clássicos da literatura.
Após assistir este DVD que é composto por 10 histórias e com aproximadamente 50
minutos de duração, percebi que o processo pelo qual foi construída esta animação era algo
possível de ser feito com os recursos que eu dispunha, e para isso, experimentei inicialmente a
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ferramenta do Windows Movie Maker, e o resultado foi muito positivo. Fiquei estimulado
com a possibilidade de trazer para os alunos(as) algo novo e desafiador, uma atividade que
pudesse proporcionar a todos sonhar e trabalhar, divertir e aprender, uma proposta criativa e
estimulante, conforme Brasil (1997),
Apenas um ensino criador, que favoreça a integração entre aprendizagem racional e estética dos alunos, poderá contribuir para o exercício conjunto complementar da razão e do sonho, no qual conhecer é também maravilhar-se, divertir-se brincar com o desconhecido, arriscar hipóteses ousadas, trabalhar duro, esforçar-se e alegrar-se com descobertas. (p. 35)
Com o intuito de oportunizar um ensino criador, comecei a elaborar este novo projeto,
surgindo a partir daí a Oficina de Animação, que no ano de 2010 produziu dois vídeos, o
primeiro foi a “A Aranha Perneta” voltado para crianças de 6 a 9 anos de idade, com
aproximadamente 16 minutos de duração e levou em média três meses para elaboração e
conclusão. O segundo vídeo foi: “Zumbi dos Palmares” uma animação pensada para crianças
de 9 a 11 anos de idade, mas também possível de ser trabalhado com crianças maiores, o
tempo gasto para a elaboração e conclusão deste vídeo foi de quatro meses.
Em 2010, a Oficina atendia um grupo de 32 alunos, com idade entre 07 e 10 anos que
permaneciam na escola em período integral. As animações foram produzidas por meio da
ferramenta Windows Movie Maker, as imagens e vídeos capturados a partir de uma máquina
fotográfica digital Sansung S630 de 6.0 Mega Pixels e os sons capturados através da
ferramenta Audacity.
Os personagens dos desenhos foram confeccionados com materiais recicláveis e as
filmagens aconteciam no âmbito da unidade escolar. Os alunos participavam de toda
elaboração, produção e conclusão dos desenhos, inclusive no momento de inserir os vídeos,
vozes e imagens no computador.
Inseridos num contexto marcado pelas Novas Tecnologias da Informação e
Comunicação, concordamos com Martins (1998) quando afirma que, “vivemos em um mundo
de imagens que estamos permanentemente produzindo, lendo e decodificando (p.54)”. Isso ao
perceber que nossos alunos, ainda que desprovidos de recursos financeiros, tem tido maior
acesso às novas tecnologias, é que idealizei uma proposta que contemplasse ao mesmo tempo,
recursos tecnológicos com educação, que fosse algo estimulador e que também oportunizasse
aos alunos (as) aquisição de novos saberes.
Segundo Ferraz (1999), “De um modo geral, as crianças apropriam-se das imagens,
sons e gestos contidos nas mensagens veiculadas pelas mídias, reelaborando-os e reutilizando-
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os na maioria das vezes de uma maneira pessoal (p.44).” Por essa razão, penso que ao
trabalhar conteúdos curriculares, valores e noções de cidadania nos desenhos, seja uma outra
forma de contribuir na melhoria de atitudes e comportamentos dos alunos(as). E sob a ótica da
alfabetização digital, a Oficina de Animação, além de pretender incentivar a criação e o uso
de vídeos temáticos para as várias disciplinas, também propunha criar um espaço que
oportunizasse os alunos aprender a utilizar o computador, a máquina digital fotográfica como
filmadora, baixar arquivos da Internet, editar textos, imagens e inserir sons.
A partir do momento que constatei a viabilidade do projeto, e já com a autorização
concedida pela Direção da Escola para iniciar a formatação e elaboração da “Oficina de
Animação”, tomei como primeira medida fazer uma reflexão sobre as maiores necessidades
apresentada pelos alunos durante as nossas aulas, posteriormente, levei esta reflexão para a
coordenadora das Oficinas Pedagógicas que também concordou com a minha análise, de que
os conflitos de relacionamento, indisciplina e a baixa auto-estima têm sido um dos aspectos
que mais precisam ser trabalhados.
Com essa informação, idealizei o roteiro para a história da “Aranha Perneta”, que
visava principalmente discutir esses e outros assuntos que penso também poder contribuir
para o desenvolvimento da aprendizagem, aquisição de valores e possibilitar aos alunos
refletir sobre seus comportamentos.
Acredito que não seria esta atividade que elevaria a auto-estima dos alunos, nem
mesmo seria esta atividade que iria discipliná-los, tão pouco resolveria as dificuldades de
relacionamento apresentadas por eles. Para isso, penso que seja preciso somar ações entre as
várias disciplinas e conteúdos, além dos cuidados da família.
Possibilitar aos educandos perceber suas dificuldades sem que para isso seja preciso
confrontá-los de forma rude, punitiva ou constrangedora é algo que desejei alcançar. Creio
que acompanhar o aluno diante das suas dificuldades e limitações, mostrando a ele que há
novas possibilidades e horizontes, seja uma metodologia mais humanizada.
Nesta atividade, a metodologia adotada perpassou três pilares, que foram: a
sensibilização, a conscientização e a mobilização. Num primeiro momento, tanto eu quanto os
alunos fomos conduzidos a refletir sobre o meio a qual pertencemos, sobre as nossas
dificuldades e limitações, sobre a forma de nos relacionarmos e interagirmos com as outras
pessoas e com o mundo que nos cerca, dessa forma, nos sensibilizamos tanto para com o “eu”
como para com o “outro”. Num segundo momento, propus aos alunos refletirmos sobre tais
questões e assim possibilitar momentos que pudesse desencadear em cada sujeito uma maior
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consciência sobre as questões levantadas. E como mobilização, desenvolvemos
conjuntamente o desenho da “Aranha Perneta”.
Penso que antes de se preocupar em desenvolver a consciência dos alunos em relação
ao meio ambiente, seja preciso trabalhar os valores. No contrário, como vou “tocar” o
indivíduo para que ele entenda que a preservação ambiental não seja apenas a árvore pela
árvore, o rio pelo rio ou o animal pelo animal. Primeiramente, acredito ter que trabalhar o
interior do indivíduo, o seu “eu”.
Não adianta querer construir um ambiente equilibrado, se a estrutura da sociedade, por
outro lado, está em grande parte em desarmonia. A escola passa a ser uma mini-sociedade
para o aluno, e com o desenho da Aranha Perneta, desejei retratar a vida da natureza, uma
sociedade paralela, uma sociedade que esta sendo desarticulada pela ação do homem, onde
este é o agente destruidor. Tal situação oportunizou desenvolver com a turma várias reflexões
sobre as várias intervenções do homem junto à natureza, nos seus vários aspectos positivos e
negativos.
No final do ano, todos os alunos da Oficina de Animação ganharam uma cópia do
desenho “A Aranha Perneta”. Esta animação também foi apresentada numa reunião de
Diretores Escolares no CEMEPE (Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais
Julieta Diniz), onde os mesmos também receberam uma cópia do desenho para levar para suas
escolas. Este vídeo foi inscrito no Prêmio Alexandrino Garcia, tendo chegado até a fase
semifinal do concurso, ficando entre os 10 melhores trabalhos da região sudeste, e entre os
cinco melhores trabalhos apresentados da cidade de Uberlândia.
A grande maioria dos alunos da Escola Municipal Professora Irene Monteiro Jorge são
negros ou mestiços, e por perceber falas preconceituosas por parte de alguns alunos e atitudes
que demonstravam baixa autoestima por parte de outros é que idealizamos a segunda
animação, cujo tema seria a Consciência Negra, daí a inspiração de estudarmos e
trabalharmos a vida e a luta de Zumbi dos Palmares, transpondo na medida do possível essa
história para um desenho animado.
A temática da “Consciência Negra” já fazia parte da minha prática pedagógica, não
por determinação de uma lei ou por exigência de uma Secretaria ou Direção, mas por entender
a necessidade e relevância do assunto.
O desenho animado “Zumbi dos Palmares” foi apresentado para toda comunidade
escolar no dia 20 de novembro de 2010, num sábado letivo, onde contou com a presença da
comunidade escolar e convidados. Foi uma tarde importante para todos os presentes, pois,
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além de refletirmos sobre a heróica história de Zumbi, juntos, tivemos a oportunidade de nos
sensibilizarmos em relação ao racismo e suas conseqüências.
O processo avaliativo da Oficina de Animação se deu durante toda construção das
atividades, por meio de diálogos individuais e coletivos. No qual cada cena idealizada e
filmada, foi socializada com todos, onde podíamos naquele momento refleti-la, e ao mesmo
tempo transpô-la para a nossa realidade. O que foi muito positivo, pois oportunizou aos
alunos relatar suas próprias experiências individuais e familiares e ao mesmo tempo
possibilitou-me também conhecê-los um pouco mais.
Em relação a minha auto-avaliação, acredito ter sido positiva, pois tomei esta
atividade como um grande desafio. Foi preciso pesquisar e estudar mais sobre a ferramenta a
ser utilizada, também procurei ajuda com a professora do laboratório de informática da escola
que deu uma significativa contribuição na construção destes vídeos. Busquei orientação
pedagógica com a minha esposa que é Mestre em Educação, além das trocas de informações
com outros professores das Oficinas Pedagógicas.
Encontrar caminhos e soluções para as dificuldades que iam surgindo durante o
processo foi algo constante durante todo o processo de construção da animação. O melhor foi
que as conquistas e respostas foram encontradas de forma coletiva e coletivamente também
foi à vibração por cada minuto gravado. Enfim, o conhecimento perpassou o sonho de
acreditar que era possível, o desejo e a satisfação de fazer, e a alegria de ver o imaginário se
concretizar na tela da televisão.
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FOTOS:
Foto 1: Desenho: “A Aranha Perneta” Foto 2: Desenho: “A Aranha Perneta”
Gravação de uma cena na parte externa da escola Gravação de uma cena na sala da Oficina
Foto 3: Desenho: “Zumbi dos Palmares” Foto 4: Desenho: “Zumbi dos Palmares”
Momento da escolha de imagens da internet Gravação de uma cena na sala da Oficina
REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. parâmetros curriculares nacionais: arte/ Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1997. 130p.
FERRAZ, Maria Heloísa Corrêa de Toledo. Metodologia do ensino de arte / Maria Heloísa C. de T. Ferraz, Maria F. de Rezende e Fusari. – São Paulo : Cortez, 1999. 2.ed. – (Coleção magistério. 2° grau. Série formação do professor)
MARTINS, Mirian Celeste Ferreira Dias. Didática do ensino de arte: a língua do mundo : poetizar, fruir e conhecer arte / Mirian Celeste Martins, Gisa Picosque, M. Terezinha Telles Guerra. – São Paulo : FTD, 1998.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1996.