Wild Cards - O comeco de tudo

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15 de setembro de 1945. Neste livro, você testemunhará um dos maiores acontecimentos que a história da humanidade já presenciou. As cortinas da Segunda Guerra Mundial acabaram de se fechar e outro conflito já se instala: não estamos falando de lutas de capa e espada, mas sim de poderes extraordinários e deformidades sem tamanho. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, a Terra é salva, por pouco, de um meteoro alienígena. Porém, o vírus que a bomba espacial carrega cai em Nova York e, gradativamente, espalha-se pelo mundo, contaminando parte da população e dotando muitos sobreviventes com poderes especiais. Alguns foram chamados de ases, pois receberam habilidades mentais e físicas, e outros, amaldiçoados com alguma deficiência bizarra, foram batizados de curingas.

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WILD CARDS

livro 1O COMEÇO DE TUDO

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Tradução: Alexandre Martins

Edmundo Pedreira Barreiros Peterso Rissatti

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livro 1O COMEÇO DE TUDO

MartiNGEORGE R.R.ESCRITO E EDITADO POR

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Copyright © 1986 by George R. R. MartinCopyright © 2010 edição estendida by George R. R. Martin and the Wild Cards TrustCopyright © 2013 Texto Editores Ltda.

“Prólogo”, “O jogo da carapaça” e “Interlúdios” copyright © 1986 by George R. R. Martin.“Trinta minutos sobre a Broadway!” copyright © 1986 by Howard Waldrop.“O Dorminhoco” copyright © 1986 by The Amber Corporation."Testemunha" copyright © 1986 by Walter Jon Willians.“Ritos de degradação” copyright © 1986 by Melinda M. Snodgrass.“Capitão Cátodo e o Ás secreto” copyright © 2010 by Michael Cassutt“Powers” copyright © 2010 by David D. Levine“A noite longa e obscura de Fortunato” e “Epílogo: Terceira geração” copyright © 1986 by Lewis Shiner.“Transfigurações” e “A ciência do vírus carta selvagem: excertos da literatura” copyright © 1986 by Victor Milán.“Bem fundo” copyright © 1986 by Edward Bryant and Leanne C. Harper.“Fios” copyright © 1986 Stephen Leigh.“A Garota Fantasma conquista Manhattan” copyright © 2010 Carrie Vaughn.“Chega o caçador” copyright © 1986 by John J. Miller.

Todos os direitos reservados.

Diretor editorial: Pascoal SotoEditora executiva: Tainã BispoCurador: Raphael DracconEditora assistente: Ana Carolina GasonatoAssistentes editoriais: Fernanda S. Ohosaku, Renata Alves e Maitê ZickuhrCopidesque: Fernanda MelloRevisão: Natalia Klussmann, Lilia Zanetti e Andréa BrunoProjeto gráfico e capa: Rico BacellarIlustração de capa: Marc SimonettiDiagramação: Abreu's System

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Angélica Ilacqua CRB–8/7057

Martin, George R. R.

Wild Cards: o começo de tudo / George R. R. Martin; tradução de Alexandre Martins, Edmundo Barreiros, Peterso Rissatti. – São Paulo : LeYa, 2013.

480 p. (Wild Cards, 1)

ISBN 978-85-8044-510-7Título original: Wild Cards – The Book that started it all

1. Ficção fantástica americana. I. Martin, George R. R., 1948-. II. Martins, Alexandre. III. Barreiros, Edmundo. IV. Rissatti, Peterso. V. Série.

13-0206. CDD: 813

Índices para catálogo sistemático:1. Ficcão fantástica americana

2013TEXTO EDITORES LTDA. Uma editora do Grupo LeYaRua Desembargador Paulo Passaláqua, 86 01248-010 – Pacaembu – São Paulo – SP www.leya.com

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Para Ken Keller, que brotou das mesmas matrizes a quatro cores que eu

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SUMÁRIO

Prólogo, Studs Terkel 11

Trinta minutos sobre a Broadway!, Howard Waldrop 19

O dorminhoco, Roger Zelazny 55

Testemunha, Walter Jon Williams 95

Ritos de degradação, Melinda M. Snodgrass 140

Interlúdio Um 178

Capitão Cátodo e o ás secreto, Michael Cassutt 182

Powers, David D. Levine 208

O jogo da carapaça, George R. R. Martin 240

Interlúdio Dois 285

A noite longa e obscura de Fortunato, Lewis Shiner 287

Transfigurações, Victor Milán 306

Interlúdio Três 332

Bem fundo, Edward Bryant e Leanne C. Harper 337

Interlúdio Quatro 373

Fios, Stephen Leigh 377

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Interlúdio Cinco 413

A garota fantasma conquista Manhattan, Carrie Vaughn 416

Chega o caçador, John J. Miller 444

Epílogo: Terceira Geração, Lewis Shiner 464

Apêndice

A ciência do vírus carta selvagem 469

Excertos da Ata da Conferência da Sociedade Metabiológica Americana sobre Capacidades Meta-humanas 475

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Nota do editor

Wild Cards é uma obra de ficção ambientada em um mundo completamente ima-ginário cuja história corre paralelamente à nossa. Os nomes, personagens, lugares e acontecimentos retratados em Wild Cards são ficcionais ou usados de modo ficcio-nal. Qualquer semelhança com fatos, locais ou pessoas reais, vivas ou mortas, é pura coincidência. Por exemplo, os ensaios, artigos e outros textos incluídos nesta antologia são inteiramente ficcionais, e não há qualquer intenção de retratar auto-res reais ou insinuar que qualquer pessoa possa realmente ter escrito, publicado ou contribuído com os ensaios, artigos e outros textos ficcionais aqui incluídos.

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Prólogo

DE TEMPOS SELVAGENS: UMA HISTÓRIA ORAL DOS ANOS DO PÓS-GUERRA

Studs Terke l (Pantheon, 1979)

Herbert L. Cranston

Anos depois, quando vi Michael Rennie sair daquele disco voador em O dia em que a Terra parou, recostei-me em minha esposa e disse: “É assim que um emissário alienígena deveria parecer”. Sempre suspeitei que foi a chegada de Tachyon que lhes deu a ideia do filme, mas você sabe como Hollywood modifica as coisas. Eu estava lá, então sei como realmente foi. Para começar, ele desceu em White Sands, não em Washington. Ele não tinha um robô, e não atiramos nele. Considerando o que aconteceu, talvez devêssemos, não é?

Sua nave, bem, certamente não era um disco voador e não parecia droga ne-nhuma com os nossos V-2 capturados ou mesmo com os foguetes lunares na pran-cheta de Werner. Violava qualquer lei conhecida da aerodinâmica e também a re-latividade de Einstein.

Ele veio à noite, a nave toda coberta de luzes, a coisa mais bonita que já vi. Pousou com um baque no meio do campo de testes, sem foguetes, hélices, rotores ou qualquer meio de propulsão visível. A superfície externa parecia coral, ou algum tipo de rocha porosa, coberta com espirais e esporões, como alguma coisa que você poderia encontrar em uma caverna de calcário ou ver durante um mergulho no fundo do mar.

Eu estava no primeiro jipe a alcançá-la. Quando cheguei, Tach já estava do lado de fora. Michael Rennie tinha ficado bem naquele traje espacial azul-prateado, mas Tachyon parecia o cruzamento de um dos três mosqueteiros com um artista de circo. Não me importo de dizer que todos nós estávamos com bastante medo de ir até lá, tanto os garotos dos foguetes e os sabichões quanto os soldados. Lembro-me daquela transmissão do Mercury Theater em 1939, quando Orson Welles fez todo

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mundo pensar que os marcianos estavam invadindo Nova Jersey, e eu não conse-guia deixar de pensar que talvez daquela vez estivesse acontecendo de verdade. Mas assim que os holofotes bateram nele, ali, de pé na frente da nave, nós relaxamos. Ele simplesmente não era assustador.

Era baixo, talvez 1,58, 1,60m, e, para falar a verdade, parecia mais assustado do que nós. Estava vestindo meias-calças verdes com botas embutidas, e uma camisa alaranjada com babados de rendinha afeminados nos pulsos e no colarinho, e uma espécie de colete de brocados prateados, bem apertado. O casaco era uma coisa amarelo-limão, com uma capa verde sacudindo ao vento atrás dele e chegando até o tornozelo. Tinha no alto da cabeça um chapéu de aba larga com uma comprida pluma vermelha se projetando, mas, quando me aproximei, vi que na verdade era alguma estranha pena pontuda. O cabelo caía sobre os ombros; de início, achei que era uma garota. Também era um tipo de cabelo peculiar, vermelho e brilhante, como fios de cobre finos.

Eu não sabia o que pensar, mas me lembro de um de nossos alemães comentan-do que ele parecia um francês.

Assim que chegamos ele foi caminhando lentamente até o jipe, destemido – caso prefira assim –, se arrastando pela areia com uma grande bolsa enfiada sob o braço. Começou a nos dizer seu nome, e ainda estava dizendo quando outros quatro jipes chegaram. Falava inglês melhor do que a maioria dos nossos alemães, apesar de ter aquele sotaque esquisito, mas no começo foi difícil ter certeza quando passou dez minutos nos dizendo seu nome.

Fui o primeiro ser humano a falar com ele. Por Deus que é verdade, e não me interessa o que qualquer outra pessoa lhe diga, fui eu. Saí do jipe, estendi a mão e disse: “Bem-vindo aos Estados Unidos”. Comecei a me apresentar, mas ele me interrompeu antes que eu conseguisse falar.

– Herb Cranston, de Cape May, Nova Jersey – disse ele. – Cientista de foguetes. Excelente. Também sou um cientista.

Ele não se parecia com nenhum cientista que eu tivesse conhecido, mas fiz uma concessão, já que vinha do espaço sideral. Estava mais preocupado sobre como sabia meu nome. Perguntei.

Ele agitou os babados no ar, impaciente.– Eu leio sua mente. Isso não é importante. O tempo é curto, Cranston. A nave

deles quebrou.Achei que ele parecia mais do que um pouco estranho quando disse aquilo;

triste, sabe?, sofrido, mas também assustado. E cansado, muito cansado. Então co-meçou a falar sobre o tal globo. Era o globo com o vírus carta selvagem, claro, todo mundo sabe disso agora, mas na época eu não tinha ideia de que droga ele estava falando. Disse que isso estava perdido, precisava pegá-lo de volta e esperava, para o bem de todos nós, que estivesse intacto. Ele queria falar com nossos líderes. Deve

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13Prólogo

ter lido seus nomes na minha mente, porque citou Werner, Einstein e o presidente, embora o tenha chamado de “esse seu presidente Harry S. Truman”. Então subiu na traseira do jipe e se sentou.

– Leve-me até eles – disse. – Imediatamente.

Professor Lyle Crawford Kent

Em certo sentido fui eu quem cunhou seu nome. Seu verdadeiro nome, claro, o patronímico alienígena, era absurdamente comprido. Lembro que vários de nós tentaram reduzi-lo, usando este ou aquele pedaço durante nossas conferências, mas evidentemente esse era algum tipo de quebra de etiqueta em seu mundo natal, Takis. Ele sempre nos corrigia, de forma bastante arrogante, devo dizer, como um idoso petulante dando uma lição em um bando de colegiais. Bem, precisávamos chamá-lo de algo. O título veio primeiro. Poderíamos tê-lo chamado de “Sua Ma-jestade”, ou algo assim, já que alegava ser um príncipe, mas os norte- americanos não ficam à vontade com esse tipo de reverência. Ele também disse ser médico, embora não em nosso sentido da palavra, e é preciso admitir que parecia saber bastante de genética e bioquímica, que parecia ser sua especialidade. A maior par-te de nossa equipe tinha pós-graduações, e nos dirigíamos uns aos outros devi-damente, de modo que parecia natural que passássemos a chamá-lo de “doutor” também.

Os cientistas de foguetes estavam obcecados com a nave de nosso visitante, particularmente com a teoria de seu sistema de propulsão mais rápida do que a luz. Infelizmente, nosso amigo takisiano havia queimado o impulso interestelar da nave em sua pressa para chegar aqui antes de seus parentes e, além disso, se recusou categoricamente a permitir que qualquer um de nós, civil ou militar, inspecionasse o interior de sua nave. Werner e os alemães ficaram limitados a questionar o alie-nígena sobre o impulso, de forma bastante obsessiva, achei. Pelo que eu entendia, a física teórica e a tecnologia da viagem espacial não eram disciplinas em que nosso visitante fosse particularmente especializado, então as respostas que lhes deu não eram muito claras, mas compreendemos que o impulso fazia uso de uma partícula até então desconhecida que viajava mais rápido do que a luz.

O alienígena tinha um termo para a partícula, tão impronunciável quanto seu próprio nome. Bem, eu tinha algum conhecimento de grego clássico, como todos os homens instruídos, e um talento para nomenclatura, se é que posso dizer isso. Fui eu que cunhei o termo “tachyon”. De alguma forma os soldados confundiram as coisas e começaram a se referir ao nosso visitante como “aquele sujeito tachyon”. O nome pegou, e daí foi um pulo para doutor Tachyon, o nome pelo qual ficou conhecido na imprensa.

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Coronel Edward Reid, Serviço de Informações do Exército dos EUA (Aposent.)

Você quer que eu diga, certo? Todo maldito repórter que fala comigo quer que eu diga. Tudo bem, aí vai. Cometemos um erro. E também pagamos por ele. Sabe que depois eles chegaram muito perto de mandar todos nós para a corte marcial, toda a equipe de interrogatório? Isso é um fato.

O inferno é que não sei como é que se poderia esperar que fizéssemos as coisas de forma diferente da que fizemos. Eu estava encarregado desse interrogatório. Eu deveria saber.

O que realmente sabíamos sobre ele? Nada além do que ele mesmo nos disse. Os sabichões o tratavam como o Menino Jesus, mas os militares têm de ser um pouco mais cautelosos. Se você quer entender, se coloque no nosso lugar e se lembre de como era na época. A história dele era completamente absurda, e ele não podia provar porcaria nenhuma.

Certo, ele havia aterrissado naquele avião-foguete de aparência engraçada, só que não tinha foguetes. Isso foi impressionante. Talvez aquele avião tivesse vindo do espaço sideral, como ele disse. Mas talvez não tivesse. Talvez fosse um daque-les projetos secretos em que os nazistas trabalhavam, sobras da guerra. Você sabe que no final eles tinham jatos e aqueles V-2, e estavam até mesmo trabalhando na bomba atômica. Talvez fosse russo. Eu não sabia. Se pelo menos Tachyon tivesse nos deixado examinar a nave, nossos rapazes poderiam ter descoberto de onde ela vinha, tenho certeza. Mas ele não deixou ninguém entrar na maldita coisa, o que me pareceu bastante suspeito. O que ele estava tentando esconder?

Ele disse que vinha do planeta Takis. Bem, nunca ouvi falar em nenhum mal-dito planeta Takis. Marte, Vênus, Júpiter, certamente. Até mesmo Mongo e Bar-soom. Mas Takis? Liguei para 12 astrônomos renomados de todo o país, até mesmo para um cara na Inglaterra. Perguntei: onde fica o planeta Takis? Não existe planeta Takis, responderam.

Ele devia ser um alienígena, certo? Nós o examinamos. Exame físico completo, raios X, uma bateria de testes psicológicos, tudo. O resultado foi humano. Não im-portava como o virávamos, o resultado era humano. Nada de órgãos extras, nada de sangue verde; cinco dedos nas mãos, cinco dedos nos pés, duas bolas e um pau. O desgraçado não era diferente de você ou de mim. Falava inglês, por Deus. Mas olha isto: também falava alemão. E russo, e francês, e algumas outras línguas que esqueci. Fiz gravações de duas das minhas sessões com ele e mostrei-as a um lin-guista, que disse que o sotaque era da Europa Central.

E os psiquiatras, uau, você deveria ouvir seus relatos. Paranoico clássico, disse-ram. Megalomania, disseram. Esquizo, disseram. Todo tipo de coisa. Quero dizer, esse cara alegava ser um príncipe do espaço sideral com malditos poderes mágicos,

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15Prólogo

que tinha vindo para cá sozinho a fim de salvar nosso maldito planeta. Isso soa razoável a você?

E deixe-me dizer uma coisa sobre seus malditos poderes mágicos. Tenho de admitir, mas era a coisa que mais me incomodava. Quero dizer, Tachyon podia não apenas dizer o que você estava pensando, mas olhar engraçado e fazer você pular em cima da mesa e baixar as calças, quisesse você ou não. Passei horas com ele todos os dias e ele me convenceu. A coisa é que meus relatos não convenceram os figurões na Costa Leste. Algum tipo de truque, pensaram, estava nos hipnotizan-do, lendo nossa postura corporal, usando psicologia para nos fazer pensar que lê mentes. Mandariam um hipnotizador de palco para descobrir como fazia isso, mas a merda bateu no ventilador antes que conseguissem.

Ele não pedia muito. Tudo o que queria era um encontro com o presidente para que pudesse mobilizar todas as forças armadas norte-americanas a fim de procurar uma nave espacial acidentada. Tachyon estaria no comando, claro, ninguém mais era qualificado. Nossos principais cientistas seriam seus ajudantes. Ele queria ra-dar, jatos, submarinos, cães farejadores e máquinas esquisitas das quais ninguém havia ouvido falar. Diga o nome de alguma coisa, e ele também iria querer. E tam-bém não queria ter de consultar ninguém. Se você quer saber a verdade, aquele cara se vestia como uma cabeleireira bichinha, mas pelo modo como dava ordens você pensaria que tinha pelo menos três estrelas.

E por quê? Ah, sim, sua história, isso certamente era ótimo. Disse que no seu planeta Takis duas dúzias de grandes famílias comandam tudo, como a realeza, só que todas têm poderes mágicos e mandavam em todos os outros que não tinham poderes mágicos. Essas famílias passavam a maior parte do tempo em rixa, como os Hartfield e os McCoy. Seu grupo, em particular, tinha uma arma secreta na qual estavam trabalhando havia dois séculos. Um vírus artificial feito sob medida, pro-jetado para interagir com a composição genética do organismo hospedeiro, disse. Ele havia participado do grupo de pesquisa.

Bem, eu estava lhe dando corda. Perguntei o que aquele germe fazia. E olha só: ele fazia tudo.

Segundo Tachyon, o que ele devia fazer era acelerar os poderes mentais deles, talvez até mesmo lhes dar novos poderes, transformá-los em semideuses, o que certamente lhes daria uma vantagem sobre os outros. Mas nem sempre funcionava assim. Algumas vezes, sim. Mas com maior frequência matava as cobaias. Ficou falando em como aquela coisa era mortal e conseguiu me dar arrepios. Quais eram os sintomas?, perguntei. Sabíamos sobre armas biológicas desde 1946; só para o caso de estar dizendo a verdade, queria saber o que procurar.

Ele não conseguiu me dizer os sintomas. Havia todo tipo de sintoma. Todos tinham sintomas diferentes, cada pessoa. Já ouviu falar de um germe que funcione assim? Eu não.

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Então Tachyon disse que algumas vezes transformava as pessoas em aberra-ções em vez de matá-las. Que tipo de aberrações?, perguntei. Todos os tipos, disse ele. Admiti que isso parecia muito ruim e perguntei por que o pessoal dele não ha-via usado essa coisa nas outras famílias. Porque algumas vezes o vírus funcionava, falou; refazia as vítimas, lhes dava poderes. Que tipos de poder? Todos os tipos de poderes, naturalmente.

Então eles tinham essa coisa. Não queriam usá-la nos inimigos e talvez lhes dar poder. Não queriam usar neles mesmos e matar metade da família. Não queriam esquecer a coisa toda. Decidiram testar em nós. Por que nós? Porque éramos gene-ticamente idênticos aos takisianos, disse, a única raça da qual tinham conhecimen-to, e o vírus era projetado para funcionar no genótipo takisiano. Por que tínhamos tanta sorte? Alguns deles achavam que era evolução paralela, outros acreditavam que a Terra era uma colônia takisiana perdida – ele não sabia e não se importava.

Ele se importava com a experiência. Achava que era “ignóbil”. Ele protestou, disse, mas o ignoraram. A nave partiu. E Tachyon decidiu detê-los sozinho. Veio atrás deles em uma nave menor, queimou o maldito impulso tachyon para chegar antes deles. Embora fosse da família, mandaram que sumisse quando os intercep-tou e houve uma espécie de batalha espacial. A nave dele foi danificada, a deles, incapacitada, então caíram. Em algum lugar a leste, disse. Ele os perdeu por causa dos danos em sua nave. Então aterrissou em White Sands, onde achou que poderia conseguir ajuda.

Registrei a história toda em meu gravador. Depois o Serviço de Informações do Exército entrou em contato com todo tipo de especialista: bioquímicos, médicos, pessoal de guerra bacteriológica, tudo em que você pensar. Um vírus alienígena, dissemos a eles, sintomas totalmente aleatórios e imprevisíveis. Impossível, disse-ram. Totalmente absurdo. Um deles me deu uma aula sobre como germes da Ter-ra nunca poderiam afetar marcianos como naquele livro de H.G. Wells, e germes marcianos também não podiam nos afetar. Todos concordaram em que essa coisa de sintomas aleatórios era risível. Então, o que deveríamos fazer? Todos fizemos piada sobre a gripe marciana e a febre do espaçonauta. Alguém, não lembro quem, chamou-o de vírus carta selvagem em um relatório e o restante de nós passou a usar o nome, mas ninguém acreditou nisso por um segundo.

Era uma situação ruim e Tachyon só a tornou pior quando tentou fugir. Ele quase conseguiu, mas, como meu velho sempre me dizia, “quase” só vale para fer-raduras e granadas. O Pentágono havia mandado seu próprio homem para inter-rogá-lo, um coronel da Aeronáutica chamado Wayne, e Tachyon enfim se cansou, acho. Ele assumiu o controle do coronel Wayne e simplesmente saíram marchando juntos do prédio. Sempre que eram barrados, Wayne ordenava que os deixassem passar, e a patente tem seus privilégios. O disfarce era que Wayne tinha ordem de escoltar Tachyon de volta a Washington. Requisitaram um jipe e foram até a espa-

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17Prólogo

çonave, mas nesse momento uma das sentinelas havia verificado comigo, e meus homens esperavam por eles com ordens diretas de ignorar qualquer coisa que o co-ronel Wayne dissesse. Nós o levamos de volta sob custódia e o mantivemos lá, sob guarda reforçada. Apesar de todos os poderes mágicos, não havia muito que pudes-se fazer. Podia obrigar uma pessoa a realizar o que queria, talvez três ou quatro, se realmente se esforçasse, mas não todos nós, e já estávamos atentos aos seus truques.

Talvez tenha sido uma manobra idiota, mas a tentativa de fuga conseguiu para ele o encontro que pedia com Einstein. O Pentágono continuava nos dizendo que ele era o maior hipnotizador do mundo, mas eu não estava mais engolindo aquilo, e você deveria ter ouvido o que o coronel Wayne pensava da teoria. Os sabichões também estavam ficando agitados. De qualquer forma, Wayne e eu conseguimos arrancar uma autorização para levar o prisioneiro de avião a Princeton. Imaginei que uma conversa com Einstein não poderia fazer mal e, quem sabe, pudesse ser algo bom. A nave dele estava sob custódia e já havíamos arrancado do homem tudo o que podíamos. Einstein supostamente era o maior cérebro do mundo, então tal-vez conseguisse descobrir qual era a do sujeito, certo?

Ainda há aqueles que dizem que os militares são culpados por tudo o que acon-teceu, mas isso não é verdade. É fácil ser esperto retrospectivamente, mas eu estava lá e vou afirmar até morrer que os passos que demos foram racionais e prudentes.

A coisa que realmente me irrita é quando falam que não fizemos nada para rastrear aquele maldito globo com os esporos do carta selvagem. Talvez tenha-mos cometido um equívoco, certo, mas não éramos idiotas, estávamos protegendo nossos traseiros. Cada maldita instalação militar do país recebeu a ordem de ficar atenta a uma espaçonave caída que parecesse algo como uma concha com luzes de navegação. É culpa minha que nenhuma delas tenha levado isso a sério, droga?

Pelo menos me dê o crédito de uma coisa. Quando o inferno começou, colo-quei Tachyon em um jato para Nova York em duas horas. Estava na poltrona atrás dele. O ruivo covarde chorou metade da maldita viagem através do país. Já eu, rezei por Jetboy.

nothing to track down that damned globe with the wild card spores.Maybe we made a mistake, yeah, but we weren’t stupid, we were coveringour asses. Every damned military installation in the country got a directiveto be on the lookout for a crashed spaceship that looked something like aseashell with running lights. Is it my fucking fault that none of them tookit seriously?

Give me credit for one thing, at least. When all hell broke loose, I hadTachyon jetting back toward New York within two hours. I was in the seatbehind him. The redheaded wimp cried half the fucking way across thecountry. Me, I prayed for Jetboy.

20 W I L D C A R D S I

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THE

LOTTS AGENCY - 13

BRAZIL

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Trinta minutos sobre a Broadway!

A ÚLTIMA AVENTURA DE JETBOY!

Howard Waldrop

O Campo de Aviação Bonham, em Shantak, Nova Jersey, estava fechado em razão do mau tempo. O pequeno holofote na torre mal expulsava a escuridão no nevoeiro rodopiante.

Houve o som de pneus de carro no piso molhado em frente ao hangar 23. Uma porta de carro se abriu, um momento depois se fechou. Passos alcançaram a porta de serviço. Ela se abriu. Scoop Swanson entrou, carregando sua Kodak Autograph Mark II e uma bolsa de lâmpadas de flash e filmes.

Lincoln Traynor se ergueu do motor do P-40 excedente, que estava reformando para um piloto de linha aérea que o comprou em um leilão por 293 dólares. A julgar pela forma do motor, devia ter sido pilotado pelos Tigres Voadores, em 1940. O rádio na bancada de trabalho transmitia um jogo. Linc diminuiu o som.

– Oi, Linc – disse Scoop.– Oi.– Nada ainda?– Não, estou esperando. O telegrama que ele mandou ontem disse que chegaria

esta noite. É o suficiente para mim.Scoop acendeu um Camel com uma caixa de fósforos Three Torches que pegou

na bancada. Soprou fumaça na direção da placa de “Absolutamente Proibido Fu-mar” nos fundos do hangar.

– Ei, o que é isso? – Ele caminhou até os fundos. Ainda em suas embalagens, havia duas extensões de asa vermelhas e dois tanques de cerca de mil litros em for-ma de gota para instalar sob as asas.

– A Força Aérea enviou ontem de São Francisco. Chegou outro telegrama para ele hoje. Você deveria ler, é quem está escrevendo a história.

Linc lhe deu as ordens do Departamento de Guerra.

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PARA: Jetboy (Tomlin, Robert NMI)ORIGEM: Campo de Aviação BonhamHangar 23Shantak, Nova Jersey

1. Efetivo esta data 1.200 horas Zulu, 12 de agosto de 1946, você não está mais em serviço ativo, Força Aérea do Exército dos Estados Unidos.

2. Sua aeronave (modelo experimental – no serv. JB-1) está por meio deste retirada da ativa, Força Aérea do Exército dos Estados Unidos, e repassada a você como aeronave particular. Material de apoio da FAEUA ou do De-partamento de Guerra não será mais enviado.

3. Registros, comendas e prêmios repassados em envio separado.4. Nossos registros mostram que Tomlin, Robert NMI não obteve brevê. Por

favor, entre em contato com CAB para cursos e certificação.5. Céu limpo e de vento em popa.

Por Arnold, H.H. CEM, FAEUA

ref: Ordem executiva #2, 8 de dezembro de 1941

– O que é essa coisa de ele não ter brevê? – perguntou o jornalista. – Vasculhei o arquivo sobre ele; tem trinta centímetros de espessura. Droga, ele deve ter voado mais rápido e mais longe, derrubado mais aviões que qualquer um... quinhentos aviões, cinquenta navios! Ele fez isso sem um brevê?

Linc limpou gordura do bigode.– É. Aquele era o garoto mais louco por aviões que eu já vi. Em 1939, não podia

ter mais de 12 anos, ouviu falar que havia um emprego aqui. Apareceu às quatro da manhã; fugiu do orfanato para fazer isso. Vieram pegá-lo. Mas é claro que o professor Silverberg o contratou, acertou isso com eles.

– Silverberg, o que os nazistas mataram friamente? O cara que fez o jato?– É. Anos à frente de todo mundo, mas esquisito. Montei o avião para ele,

Bobby e eu fizemos isso à mão. Mas Silverberg fez os jatos; os motores mais des-graçados que já vi. Os nazistas e os italianos, e Whittle, na Inglaterra, haviam começado os deles. Mas os alemães descobriram que alguma coisa estava aconte-cendo aqui.

– Como o garoto aprendeu a voar?– Acho que ele sempre soube – disse Lincoln. – Um dia ele está aqui me ajudan-

do a dobrar metal. No dia seguinte, ele e o professor estão voando a 650 quilôme-tros por hora. No escuro, com aqueles primeiros motores.

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– Como eles mantiveram o segredo?– Não muito bem, os espiões vieram atrás de Silverberg; queriam ele e o avião.

Bobby tinha saído com ele. Acho que ele e o professor sabiam que havia alguma coisa. Silverberg lutou tanto que os nazistas o mataram. Depois foi o escândalo di-plomático. Na época o JB-1 só tinha seis armas calibre .30, e não sei onde o profes-sor as arrumou. Mas o garoto cuidou do carro cheio de espiões com isso, e aquela lancha no Hudson cheia de gente da embaixada. Todos com vistos diplomáticos.

– Só um segundo – Linc se interrompeu. – Fim de uma rodada dupla em Cle-veland. Na Blue Network.

Ele aumentou o volume do rádio Philco de metal que estava acima do quadro de ferramentas.

“... Sanders para Papenfuss, para Volstad, uma jogada dupla. É isso. Então o Sox perdeu dois para o Cleveland. Voltaremos...”

Linc desligou.– Lá se vão cinco pratas – disse ele. – Onde eu estava?– Os alemães mataram Silverberg e Jetboy se vingou. Ele foi para o Canadá,

certo?– Se juntou à Força Aérea canadense extraoficialmente. Lutou na Batalha da

Grã-Bretanha, foi para a China com os Tigres contra os japas, estava de volta à Grã--Bretanha para Pearl Harbor.

– E Roosevelt o colocou no serviço ativo?– Mais ou menos. Sabe, tem uma coisa engraçada sobre a carreira dele. Ele luta

a guerra inteira, mais que qualquer outro norte-americano, do final de 1939 até 1945, e então, bem no final, desaparece no Pacífico. Durante um ano todos acha-mos que estava morto. Então eles o acham naquela ilha deserta mês passado e agora está voltando para casa.

Houve um zumbido alto e fino, como um avião a hélice em um mergulho. Vi-nha do céu nebuloso do lado de fora. Scoop pegou o terceiro Camel.

– Como ele consegue pousar nesta sopa?– Tem um radar para todos os climas, tirou de um caça noturno alemão em

1943. Poderia pousar aquele avião na lona de um circo à meia-noite.Eles foram até a porta. Duas luzes de aterrissagem, girando, perfuraram a ne-

blina. Elas baixaram até a extremidade oposta da pista, se viraram e voltaram pela pista de taxiar.

A fuselagem vermelha brilhava à luz envolta em cinza da pista de pouso. O bimotor de asa alta virou na direção deles e deslizou até parar.

Linc Traynor colocou um conjunto de travas duplas sob cada um dos dois trens de pouso traseiros de três rodas. Metade do nariz de vidro do avião se levantou e deslizou para trás. O avião tinha três projeções de canhões de 20 mm na base das

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asas entre os motores e uma abertura para 75 mm abaixo e à esquerda da borda da cabine.

Tinha um leme alto e fino e os profundores traseiros tinham a forma da cauda de uma truta de rio. Sob cada profundor havia a abertura para um cano de metra-lhadora voltado para trás. As únicas marcas no avião eram quatro estrelas fora do padrão da FAEUA em um medalhão negro e o número de série JB-1 no alto da asa traseira direita e no fundo da esquerda, e abaixo do leme.

As antenas de radar no nariz pareciam algo em que se podia grelhar salsichas.Um garoto vestindo calças vermelhas, camisa branca, capacete azul e óculos

saiu da cabine e pisou na escada deslizante do lado esquerdo.Tinha 19, talvez 20. Tirou capacete e óculos. Tinha cabelos castanho-claros

encaracolados, olhos castanhos e era baixo e corpulento.– Linc – disse ele. Abraçou o homem gorducho, dando tapinhas em suas costas

durante um minuto inteiro. Scoop tirou uma foto.– Ótimo ter você de volta, Bobby – exclamou Linc.– Ninguém me chama assim há anos. É realmente bom ouvir isso de novo.– Este é Scoop Swanson – disse Linc. – Ele vai te fazer famoso novamente.– Eu preferia dormir – comentei, apertando a mão do repórter. – Há algum

lugar por aqui onde possamos comer ovos com presunto?

O barco se dirigiu à doca em meio ao nevoeiro. No porto, um navio terminou de limpar os porões e estava se virando para seguir rumo ao sul.

Havia três homens na amarração: Fred, Ed e Filmore. Um homem saiu do bar-co com uma maleta nas mãos. Filmore se inclinou e deu uma nota de cinco e duas de vinte ao cara no leme do barco. Depois ajudou o sujeito com a maleta.

– Bem-vindo ao lar, Dr. Tod.– É bom estar de volta, Filmore. – Tod vestia um terno folgado e um sobretudo,

embora fosse agosto. Levava o chapéu baixado sobre o rosto, e deste um brilho metálico refletia as luzes fracas de um armazém.

– Este é Fred e este é Ed – disse Filmore. – Eles estão aqui apenas para a noite.– Oi – disse Fred.– Oi – disse Ed.Caminharam de volta até o carro, um Merc 46 que parecia um submarino.

Entraram, com Fred e Ed vigiando os becos enevoados dos dois lados. Depois Fred foi para trás do volante e Ed, para o banco do carona. Com uma escopeta calibre dez.

– Ninguém está esperando por mim. Ninguém se importa – disse o Dr. Tod. – Todos que tinham algo contra mim estão mortos ou se tornaram respeitáveis

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durante a guerra e fizeram fortuna. Sou um homem velho e cansado. Vou para o interior criar abelhas, apostar em cavalos e investir na bolsa.

– Não está planejando nada, chefe?– Absolutamente nada.Ele virou a cabeça quando passaram por um poste de luz. Metade de seu rosto

havia desaparecido e uma placa lisa ia do queixo até a linha do chapéu, da narina à orelha esquerda.

– Para começar, não consigo mais atirar. Minha noção de profundidade não é como costumava ser.

– Não surpreende – disse Filmore. – Ouvimos dizer que alguma coisa aconte-ceu em 1943.

– Eu estava em uma operação um tanto lucrativa fora do Egito, enquanto o Afrika Korps desmoronava. Levando pessoas de um lado para o outro por uma taxa, em aviões supostamente neutros. Só uma atividade paralela. Então dei de cara com aquele aviador metido.

– Quem?– O garoto com o avião a jato, antes de os alemães terem um.– Vou lhe dizer a verdade, chefe, não acompanhei muito a guerra. Fico pensan-

do nos efeitos a longo prazo de conflitos puramente territoriais.– Como eu deveria ter feito – disse o Dr. Tod. – Estávamos saindo da Tunísia.

Havia umas pessoas importantes conosco naquela viagem. O piloto gritou. Hou-ve uma tremenda explosão. O que me lembro é de acordar na manhã seguinte e éramos eu e outra pessoa em um bote salva-vidas no meio do Mediterrâneo. Meu rosto doendo. Eu me levantei. Alguma coisa caiu no fundo do bote. Era meu olho esquerdo. Estava olhando para mim. Eu sabia que estava com problemas.

– Disse que era um garoto com um avião a jato? – indagou Ed.– Sim. Descobrimos depois que decifraram nosso código e ele havia voado

quase mil quilômetros para nos interceptar.– Quer se vingar? – perguntou Filmore.– Não. Foi há tanto tempo que mal me lembro daquele lado do meu rosto.

Isso só me ensinou a ser um pouco mais cuidadoso. Encarei como construção do caráter.

– Então nada de planos, né?– Nem mesmo um – afirmou o Dr. Tod.– Vai ser bom, pra variar – disse Filmore.Eles viram as luzes da cidade passando.

Ele bateu na porta, desconfortável em seu novo terno marrom com colete.

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