WITHDRAWN: Dr. José Quinan: um exemplo profissional

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Como citar este artigo: Alves Neto O. Dr. José Quinan: um exemplo profissional. Rev Bras Anestesiol. 2014. http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2014.02.011 ARTICLE IN PRESS +Model BJAN-216; No. of Pages 3 Rev Bras Anestesiol. 2014;xxx(xx):xxx---xxx REVISTA BRASILEIRA DE ANESTESIOLOGIA Official Publication of the Brazilian Society of Anesthesiology www.sba.com.br EDITORIAL Dr. José Quinan: um exemplo profissional Faleceu em Goiânia (GO), em 2/9/2013, o doutor José Quinan (fig. 1), aos 80 anos, vítima de acidente vascular cerebral. Deixou um vazio que não terá ocupante dentre os anestesiologistas e médicos de destaque no Estado de Goiás. O doutor Quinan nasceu em 17/6/1933, em Anápolis (GO), e formou-se em 11/4/1960 pela Faculdade de Ciências Médicas do Rio de Janeiro. Era filho de Antônio José Quinan, um imigrante árabe, e Jandira Brettas, genuinamente goiana (como dizia), natural de Cristianópolis. Era o mais novo de uma família de dez irmãos. Seu pai foi comerciante em Aná- polis (dono de A Violeta, loja de eletrodomésticos que depois iria se transformar numa importante empresa, a Onogás). Casado com a professora Mariza Correa Quinan (fig. 2A), teve o filho Murilo, engenheiro mecânico, o seu ‘‘grande orgulho’’. De Murilo teve dois netos (fig. 2B), Fernanda (22 anos, cursa arquitetura na Pontifícia Universidade Católica de Goiás [PUC-GO]) e Daniel (20 anos, cursa odontologia na Universidade de Brasília [UnB]). A oportunidade de conviver com o doutor Quinan durante muitos anos, trabalhando num mesmo grupo de anestesistas, foi um prêmio e um aprendizado contínuo. Com ele aprendi técnicas de anestesia, como a ‘‘boa anestesia para cirurgias em oftalmologia’’, que não se aprende em escolas. Devo Figura 1 Dr. Quinan na homenagem do CREMEGO, em 2005. a ele o incentivo e o interesse pelo desenvolvimento da carreira acadêmica. Num registro que tive a oportunidade de fazer, na Soci- edade de Anestesiologia do Estado de Goiás (Saego), em 1993, com os primeiros anestesistas de Goiás, o doutor Qui- nan revelou que a sua vontade de estudar medicina viera da admirac ¸ão que tinha, desde crianc ¸a, pelo missionário e médico James Fanstone, de sua cidade natal. Também dizia que decidira fazer anestesia a partir do contato que tivera, no Rio de Janeiro, com o anestesista de uma cirurgia do seu pai, o doutor Alarico Alves da Costa, por meio do qual comec ¸ou a se ‘‘apaixonar’’ por anestesia. Depois de formado, o doutor Quinan foi trabalhar em Aná- polis, em 1961, no Hospital Evangélico. Lembrava que sua primeira anestesia foi para uma cirurgia de megacolo. Dizia- -me que em Anápolis tinha ótimas condic ¸ões de trabalho, porque o hospital tinha três aparelhos Marrett, e destacava a qualidade da enfermagem. No ano seguinte, convidado pelos doutores Jaci Rodrigues e Samir Helou, veio para Goi- ânia. Sua primeira anestesia, no recém-inaugurado Hospital Santa Lúcia, foi para uma paciente do obstetra Goianésio Ferreira Lucas, seu amigo. Estudioso que era, doutor Quinan dizia que a grande difi- culdade de se trabalhar em Goiânia era a ‘‘maldita maleta’’. Referia-se à maleta que cada um era obrigado a carregar para suprir as deficiências dos precários hospitais, o que os transformava em ‘‘mascates de anestesia’’, ‘‘verdadeiros macróbios’’. Em Goiânia comec ¸ou a formar a Clínica de Anestesia, com o doutor Jaci Rodrigues, e trabalhou por cerca de 10 anos no grupo chamado CEA. Em 1972 fundou a Equipe de Anestesia. Em 1961, por ocasião do Congresso Brasileiro de Anestesia em Goiânia, com o convidado internacional, o Dr. Philipp Bromage fazendo ‘‘demonstrac ¸ão’’ de anestesia peridural, o doutor Quinan ofereceu um churrasco de encerramento do congresso, em Anápolis. Considerava como seu maior título científico a conquista do Título de Especialista em Anestesiologia (TSA), após prova rigorosa da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA), que tinha à frente o doutor Zairo Vieira Garcia. Era um defensor incansável da SBA. Sempre se referia a seus ami- gos na anestesia brasileira, o próprio doutor Zairo (DF), e os doutores João Batista (RS), Carlos Parsloe (SP), Nocite 0034-7094/$ see front matter © 2014 Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2014.02.011

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Faleceu em Goiânia (GO), em 2/9/2013, o doutor JoséQuinan (fig. 1), aos 80 anos, vítima de acidente vascularcerebral. Deixou um vazio que não terá ocupante dentre osanestesiologistas e médicos de destaque no Estado de Goiás.

O doutor Quinan nasceu em 17/6/1933, em Anápolis(GO), e formou-se em 11/4/1960 pela Faculdade de CiênciasMédicas do Rio de Janeiro. Era filho de Antônio José Quinan,um imigrante árabe, e Jandira Brettas, genuinamente goiana(como dizia), natural de Cristianópolis. Era o mais novo deuma família de dez irmãos. Seu pai foi comerciante em Aná-polis (dono de A Violeta, loja de eletrodomésticos que depoisiria se transformar numa importante empresa, a Onogás).Casado com a professora Mariza Correa Quinan (fig. 2A),teve o filho Murilo, engenheiro mecânico, o seu ‘‘grandeorgulho’’. De Murilo teve dois netos (fig. 2B), Fernanda (22anos, cursa arquitetura na Pontifícia Universidade Católicade Goiás [PUC-GO]) e Daniel (20 anos, cursa odontologia naUniversidade de Brasília [UnB]).

A oportunidade de conviver com o doutor Quinan durantemuitos anos, trabalhando num mesmo grupo de anestesistas,

Como citar este artigo: Alves Neto O. Dr. José Quinan:

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foi um prêmio e um aprendizado contínuo. Com ele aprenditécnicas de anestesia, como a ‘‘boa anestesia para cirurgiasem oftalmologia’’, que não se aprende em escolas. Devo

Figura 1 Dr. Quinan na homenagem do CREMEGO, em 2005.

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ó a ele o incentivo e o interesse pelo desenvolvimento daarreira acadêmica.

Num registro que tive a oportunidade de fazer, na Soci-dade de Anestesiologia do Estado de Goiás (Saego), em993, com os primeiros anestesistas de Goiás, o doutor Qui-an revelou que a sua vontade de estudar medicina vieraa admiracão que tinha, desde crianca, pelo missionário eédico James Fanstone, de sua cidade natal. Também diziaue decidira fazer anestesia a partir do contato que tivera,o Rio de Janeiro, com o anestesista de uma cirurgia doeu pai, o doutor Alarico Alves da Costa, por meio do qualomecou a se ‘‘apaixonar’’ por anestesia.

Depois de formado, o doutor Quinan foi trabalhar em Aná-olis, em 1961, no Hospital Evangélico. Lembrava que suarimeira anestesia foi para uma cirurgia de megacolo. Dizia-me que em Anápolis tinha ótimas condicões de trabalho,orque o hospital tinha três aparelhos Marrett, e destacava

qualidade da enfermagem. No ano seguinte, convidadoelos doutores Jaci Rodrigues e Samir Helou, veio para Goi-nia. Sua primeira anestesia, no recém-inaugurado Hospitalanta Lúcia, foi para uma paciente do obstetra Goianésioerreira Lucas, seu amigo.

Estudioso que era, doutor Quinan dizia que a grande difi-uldade de se trabalhar em Goiânia era a ‘‘maldita maleta’’.eferia-se à maleta que cada um era obrigado a carregarara suprir as deficiências dos precários hospitais, o que osransformava em ‘‘mascates de anestesia’’, ‘‘verdadeirosacróbios’’.Em Goiânia comecou a formar a Clínica de Anestesia, com

doutor Jaci Rodrigues, e trabalhou por cerca de 10 anos norupo chamado CEA. Em 1972 fundou a Equipe de Anestesia.m 1961, por ocasião do Congresso Brasileiro de Anestesiam Goiânia, com o convidado internacional, o Dr. Philippromage fazendo ‘‘demonstracão’’ de anestesia peridural,

doutor Quinan ofereceu um churrasco de encerramento doongresso, em Anápolis.

Considerava como seu maior título científico a conquistao Título de Especialista em Anestesiologia (TSA), após provaigorosa da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA),

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ue tinha à frente o doutor Zairo Vieira Garcia. Era umefensor incansável da SBA. Sempre se referia a seus ami-os na anestesia brasileira, o próprio doutor Zairo (DF), es doutores João Batista (RS), Carlos Parsloe (SP), Nocite

ia. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.

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2 EDITORIAL

(B) Dr. Quinan e seu filho Murilo, em homenagem na UFG.

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Figura 3 Doutor Quinan com o doutor Joffre Marcondes deRF

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Figura 2 (A) Dr. Quinan e dua mulher, dona Mariza.

Ribeirão Preto, SP), e Armando Fortuna (Santos, SP), dentreutros.

O doutor Quinan foi presidente do Conselho Regional deedicina (CRM) de Goiás de 1983 a 1985 e em 2005 foi orimeiro a receber a comenda de Honra ao Mérito Profissio-al Médico da instituicão, destinada a homenagear médicosue são exemplo para toda a classe, por sua conduta ética erofissional. Foi presidente do Instituto de Previdência dosuncionários do Estado de Goiás (Ipasgo), vice-presidentea Associacão Médica Brasileira (AMB) e presidente da Soci-dade de Anestesiologia do Estado de Goiás, dentre outrosargos.

Como professor, primeiro de farmacologia e depois denestesiologia, da Universidade Federal de Goiás (UFG),empre mencionava como uma das coisas mais importantese sua vida a oportunidade que tivera de chefiar a Resi-ência de Anestesia no Hospital das Clínicas da UFG e orazer e a honra de ter participado da formacão de inúme-os profissionais. Destacava como seus melhores residentes

doutora Dione e os doutores Luiz Goiás, Edson Sardinha eário Eunides.

Trabalhador incansável, o doutor Quinan praticou anes-esia até o dia em que comecou a se sentir mal. Dizia sempreue o trabalho era a motivacão para mantê-lo vivo.

Numa entrevista que fiz com ele, respondeu que os prin-ipais não anestesiologistas que mais colaboraram para oeconhecimento da especialidade em Goiânia foram Joffrearcondes de Rezende (fig. 3), Milton Barbosa Lima, Julioernardes, Mário Reis, Darlan Rassi e Luiz Carlos Milazzo,ntre outros. Sempre dizia que ‘‘um bom médico valoriza eerece um bom anestesista, mas o mau médico não valoriza

bom especialista, embora precise de um bom anestesistam seu trabalho’’.

Convidado para dar ‘‘conselhos’’ aos novos, o doutoruinan sempre dizia que o anestesista deve ser um bom clí-ico antes de ser técnico em anestesia e que deve exercer,ternamente, a vigilância do seu paciente como condicãossencial para se praticar anestesia. Se tivesse de recomecarua vida, afirmava que faria, de novo, anestesia como espe-ialidade, mas que trabalharia unicamente em um hospital.

Como exemplo do profissional que o doutor Quinan era,

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doutor Flávio Paranhos publicou, em um jornal de Goi-nia, uma crônica em que conta a experiência que teveom o doutor Quinan, amigo da família. Desde crianca Flá-io tinha medo de médicos e de anestesistas e o doutor

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ezende, durante homenagem que receberam pelos 50 anos daaculdade de Medicina da UFG.

uinan ia à sua casa para ele se ‘‘acostumar’’ com sua ima-em e com os equipamentos da anestesia, para não ficarão ‘‘traumatizado’’ no hospital, o que demonstrava o serumano que era e o quanto zelava pela relacão médico-paciente.

Como o doutor Quinan tinha um irmão de nome Onofre, mesmo que o meu, e que era um político importante emoiás, frequentemente, nos hospitais, dizia para as pessoasrocurarem a mim para encaminhar pedidos de emprego eirurgias e sugeria que eu teria mais fácil acesso ao governa-or Onofre Quinan do que ele próprio. Por muitos tempos fuionsiderado membro da ‘‘família Quinan’’, por me chamarnofre e trabalhar com o doutor Quinan, o que muito meivertia e orgulhava.

O doutor Quinan foi fundador da Academia Goiana deedicina e ocupava a cadeira número 26, que tinha comoatrono o doutor James Fanstone, o seu ídolo de infância eue o motivou a estudar medicina, ainda jovem em Anápolis.

Atuante classista que era, por ocasião da eleicão dosovos conselheiros do CRM-GO, em agosto de 2013, eraresidente da Comissão Eleitoral. Numa roda de amigos seizia um homem realizado e que seu maior orgulho era

filho Murilo, especialmente depois que constituiu umarganizacão não governamental (ONG) --- Associacão Fábrica

um exemplo profissional. Rev Bras Anestesiol. 2014.

cão --- com a finalidade de promover cursos de capacitacãoe jovens abandonados, ensinar uma profissão para produ-ir e vender bens e servicos de qualidade, associacão que

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Goiás, Goiânia, GO, Brasild Membro da Academia Goiana de Medicina, Goiânia, GO,

ARTICLEBJAN-216; No. of Pages 3

EDITORIAL

tem como missão ‘‘levar pessoas a reencontrarem sua dig-nidade’’. Todos nós sentíamos a felicidade de realizacão dodoutor Quinan na pessoa do seu filho, Murilo.

Com a morte do doutor Quinan, uma lacuna se abre namedicina e na anestesia em Goiás. Junto com o doutor Phi-lemon Xavier de Oliveira, eu considerava ambos como meus‘‘pais e exemplos’’ na medicina e do doutor Quinan nuncame esquecerei do seu jeito paternal, brincalhão e, princi-palmente, como um trabalhador incansável que era, sempre

Como citar este artigo: Alves Neto O. Dr. José Quinan:

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disposto a incentivar os jovens.Tenho absoluta conviccão de que Deus tem o doutor Qui-

nan na ‘‘galeria’’ dos seus prediletos, merecedor que foi detodas as homenagens possíveis aqui na terra.

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Dr. José Quinan, após receber a comenda de Honra aoérito Profissional Médico do CRM-GO, em 2005.

Onofre Alves Netoa,b,c,d

a Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA)b Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, GO, Brasil

c Membro do Conselho Regional de Medicina (CRM) de

um exemplo profissional. Rev Bras Anestesiol. 2014.

Brasil

3 de fevereiro de 2014 4 de fevereiro de 2014