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1 XII Mostra Científica FAMEZ & I Mostra Regional de Ciências Agrárias Campo Grande, MS, 2019 CARACTERÍSTICAS DE UTILIZAÇÃO DE SILAGENS DE CANA-DE-AÇUCAR PARA RUMINANTES, UMA REVISÃO. Iesa Pereira de Andrade¹, Pamela Kerlyane Tomaz², Vinicius Rôa Baerley³, Anderson Ramires Candido 4 , Juliana Oliveira Batistoti 5 , Victor Cerqueira Leite 6 1 Aluna do curso de Mestrado em Ciência Animal da FAMEZ/UFMS. E-mail: [email protected] 2 Aluna do Curso de Doutorado em Ciência animal da FAMEZ/UFMS. E-mail: [email protected] 3 Aluno do curso de Mestrado em Ciência Animal da FAMEZ/UFMS. E-mail: [email protected] 4 Aluno do Curso de Doutorado em Ciência animal da FAMEZ/UFMS. E-mail: andersonramirescandido@g mail.com 5 Aluna do Curso de Doutorado em Ciência animal da FAMEZ/UFMS. E-mail: [email protected] 6 Aluno do curso de Mestrado em Ciência Animal da FAMEZ/UFMS. E-mail: [email protected] Resumo: A produção animal visando a sustentabilidade e qualidade está intimamente relacionada ao aporte de nutrientes, em períodos secos do ano faz-se necessário o uso de fontes alternativas para a mantença dos rebanhos e suprir o déficit nutricional. A silagem de cana-de-açúcar possui atributos que favorecem a sua utilização quando houver escassez de forragem. Dessa maneira, o objetivo desta revisão foi reunir informações sobre o processo de ensilagem da cana bem como sua influência no desempenho animal. Palavras-chave: alternativa de alimento, desempenho animal, qualidade nutricional, MAIN ASPECTS ABOUT SUGARCANE SILAGE USAGE ON RUMINANTS, A REVIEW. Abstract: The management of livestock seeking sustaintability and prime quality is deeply related to the quality of the nutrients found in the soil during dry periods of the year, making the usage of alternative resources very necessary to keep the cattle alive and supply their nutritional deficit. The sugarcane silage enjoys attributes that deem its usage favorable when in need of alternative fodder. In this way, the main goal of this review is to aggregate informations about this silage process, while also shedding light on its influence in the animal’s performance. Keywords: food alternative, animal performance, nutritional quality INTRODUÇÃO A grande adoção da cana-de-açúcar como volumoso suplementar para a seca baseia-se na facilidade e na tradição de cultivo e, sobretudo, por consistir-se em opção competitiva, comparada a outras forrageiras. Em simulações de sistemas de produção animal, a cana vem surgindo como uma das opções mais interessantes para a minimização dos custos de rações para ruminantes e maximização da projeção da receita líquida da atividade ( REZENDE et al., 2011). Apesar do alto potencial produtivo como recurso forrageiro, a cana-de-açúcar possui algumas limitações do ponto de vista nutricional, tais como os baixos teores de proteínas e minerais. Além disso, as perdas fermentativas e a ocorrência da fermentação alcoólica constituem grande desafio para utilização da cana-de-açúcar na forma de silagem. Silagem de cana-de-açúcar apresenta padrão de fermentação caracterizado pela alta produção de etanol e elevado desaparecimento de carboidratos solúveis, o que pode ocasionar perdas de matéria seca, redução no valor nutritivo e elevada produção de efluente (CAVALI et al., 2010). Quando é realizada a ensilagem da cana, concentra-se a mão-de-obra em apenas um período. Outras vantagens de se colher toda a cana de uma vez são: a liberação da área antes do início das chuvas

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Campo Grande, MS, 2019

CARACTERÍSTICAS DE UTILIZAÇÃO DE SILAGENS DE CANA-DE-AÇUCAR PARA RUMINANTES, UMA REVISÃO.

Iesa Pereira de Andrade¹, Pamela Kerlyane Tomaz², Vinicius Rôa Baerley³, Anderson Ramires Candido4, Juliana Oliveira Batistoti 5, Victor Cerqueira Leite 6

1Aluna do curso de Mestrado em Ciência Animal da FAMEZ/UFMS. E-mail: [email protected] do Curso de Doutorado em Ciência animal da FAMEZ/UFMS. E-mail: [email protected] Aluno do curso de Mestrado em Ciência Animal da FAMEZ/UFMS. E-mail: [email protected] do Curso de Doutorado em Ciência animal da FAMEZ/UFMS. E-mail: [email protected] do Curso de Doutorado em Ciência animal da FAMEZ/UFMS. E-mail: [email protected] Aluno do curso de Mestrado em Ciência Animal da FAMEZ/UFMS. E-mail: [email protected]

Resumo: A produção animal visando a sustentabilidade e qualidade está intimamente relacionada ao aporte de nutrientes, em períodos secos do ano faz-se necessário o uso de fontes alternativas para a mantença dos rebanhos e suprir o déficit nutricional. A silagem de cana-de-açúcar possui atributos que favorecem a sua utilização quando houver escassez de forragem. Dessa maneira, o objetivo desta revisão foi reunir informações sobre o processo de ensilagem da cana bem como sua influência no desempenho animal.

Palavras-chave: alternativa de alimento, desempenho animal, qualidade nutricional,

MAIN ASPECTS ABOUT SUGARCANE SILAGE USAGE ON RUMINANTS, A REVIEW.

Abstract: The management of livestock seeking sustaintability and prime quality is deeply related to the quality of the nutrients found in the soil during dry periods of the year, making the usage of alternative resources very necessary to keep the cattle alive and supply their nutritional deficit. The sugarcane silage enjoys attributes that deem its usage favorable when in need of alternative fodder. In this way, the main goal of this review is to aggregate informations about this silage process, while also shedding light on its influence in the animal’s performance.

Keywords: food alternative, animal performance, nutritional quality

INTRODUÇÃO

A grande adoção da cana-de-açúcar como volumoso suplementar para a seca baseia-se na facilidade e na tradição de cultivo e, sobretudo, por consistir-se em opção competitiva, comparada a outras forrageiras. Em simulações de sistemas de produção animal, a cana vem surgindo como uma das opções mais interessantes para a minimização dos custos de rações para ruminantes e maximização da projeção da receita líquida da atividade ( REZENDE et al., 2011).

Apesar do alto potencial produtivo como recurso forrageiro, a cana-de-açúcar possui algumas limitações do ponto de vista nutricional, tais como os baixos teores de proteínas e minerais. Além disso, as perdas fermentativas e a ocorrência da fermentação alcoólica constituem grande desafio para utilização da cana-de-açúcar na forma de silagem. Silagem de cana-de-açúcar apresenta padrão de fermentação caracterizado pela alta produção de etanol e elevado desaparecimento de carboidratos solúveis, o que pode ocasionar perdas de matéria seca, redução no valor nutritivo e elevada produção de efluente (CAVALI et al., 2010).

Quando é realizada a ensilagem da cana, concentra-se a mão-de-obra em apenas um período. Outras vantagens de se colher toda a cana de uma vez são: a liberação da área antes do início das chuvas

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no Brasil central, possibilitando um crescimento mais uniforme da planta; o aproveitamento da cana no estádio de melhor valor nutritivo; a eliminação das sobras de cana que ficariam no campo pela falta de corte, tornando-se canas bisadas, de baixa qualidade e sujeitas ao acamamento, dificultando a colheita;possibilitar a aplicação de tratos culturais, como capina, adubações e controle com herbicidas e, ainda, em caso de incêndio acidental, poder-se-ia colher e ensilar toda a cana, evitando-se perdas no campo. Em todo Brasil, ocorre estacionalidade de produção de forragem, causa das baixas precipitações (seca), baixas temperaturas, ocorrências de geadas ou alagamentos temporários nas áreas ocupadas por pastagens. Assim, algumas estratégias que objetivam conservar as forragens, devem ser adotadas visando suprir a demanda dos animais no período de disponibilidade reduzida e por consequência, evitar prejuízos ao desempenho dos animais (NUSSIO et al., 2010). Dessa forma a presente revisão teve como objetivo a procura por informações sobre a confecção da silagem de cana-de-açúcar, bem como seus resultados no desempenho animal.

DESENVOLVIMENTO

Utilização da Silagem de cana-de-açúcar na alimentação de ruminantes

A utilização da cana-de-açúcar na alimentação animal fora do período de safra também sofre restrições porque a forragem apresenta menor valor nutritivo em virtude do baixo teor de sacarose (MATSUOCA & HOFFMANN, 1993). Além disso, durante a época das chuvas, a movimentação de máquinas no campo torna-se difícil, causando a morte de plantas e prejudicando a manutenção do “stand” nos talhões.

Existem várias vantagens da ensilagem cana de açúcar; entre eles está a concentração de trabalho em um único período, o que possibilita a colheita forragem de uma só vez e limpe a área antes da início da estação das chuvas para um uniforme crescimento da planta. Por esses motivos, tem sido grande a demanda de informações sobre a ensilagem de cana-de-açúcar, técnica que permite que grandes áreas sejam cortadas em um curto espaço de tempo, na época em que a cana apresenta seu melhor valor nutritivo e que é a estação do ano mais propícia à movimentação de máquinas no campo. No caso de incêndio acidental dos canaviais, e na ocorrência de geadas, a ensilagem da cana pode ser ainda a única forma de evitar a perda total da forragem (PEDROSO, 2003).

Entre as diversas vantagens da utilização da cana-de-açúcar na alimentação animal, ressalta-se o fato de ser esta espécie forrageira a de maior potencial de produção de MS e energia, por unidade de área, em um único corte, atingindo produções entre 15 a 20 t de nutrientes digestíveis totais (NDT) por hectare, em comparação com o milho, o sorgo e a mandioca que produzem cerca de 8 t de NDT/há (LIMA e MATOS, 1993).

Aspectos Nutricionais e fatores Limitantes

Apesar dos diversos benefícios encontrados na utilização da Cana-de-açúcar como estratégia e alternativa para suplementação durante a escassez gerada pela seca, ainda existem diversas limitações no aspecto nutricional dessa forrageira. Trata-se de uma cultura que possui uma baixa quantidade de nutrientes, como proteínas e minerais, principalmente o fósforo, baixo teor de lipídeos, alto teor de carboidratos de rápida fermentação no rúmen, ausência de amido e fibra de baixa digestibilidade que ocasiona um baixo consumo de matéria seca, sendo todos esses fatores determinantes no desempenho animal. A fração indegradável da FDN é um dos fatores limitantes da capacidade de ingestão de alimentos pelos ruminantes, portanto, as silagens com maior teor dessa fração podem limitar, em determinado grau, a ingestão e, consequentemente, a capacidade deste alimento em fornecer nutrientes para os animais. (FREITAS, et. al, 2006). Uma maior proporção de fração indegradável da FDN irá proporcionar baixa digestibilidade da fração fibrosa, o que afeta a repleção ruminal, de modo a impactar negativamente no consumo dessa, vale ressaltar que o teor de proteína é considerado um dos maiores empecilhos para a adoção da cana como alimento volumoso para ruminantes, em contra partida, o baixo teor de proteína proporciona uma maior facilidade de produção de MS, visto que a adubação de uma cultura com um teor maior do que os encontrados para a cana-de-açúcar, em média 2,4 %, inviabilizaria

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seu custo benefício, por se tratar de uma cultura de altíssima produção (SIQUEIRA, et. al, 2012; SANTOS, et. al, 2012).

Nos últimos anos a ensilagem da cana-de-açúcar tem sido um tema amplamente estudado com a finalidade de reduzir a perda no valor nutritivo durante o processo fermentativo, uma vez que a elevada concentração de carboidratos solúveis e a presença de leveduras epifíticas são os principais agravantes na conservação desta forrageira, e reduzir também a fermentação alcoólica (SANTOS, et. al, 2012). O uso de um ou mais aditivos combinados, adicionando ainda fontes de carboidratos afim de obter melhorias na qualidade do alimento, vem sendo utilizado (LOPES, et. al, 2010), uma vez que a adição de fontes de carboidratos induz a uma redução da exigência de carboidratos solúveis, garantindo processo fermentativo satisfatório, impedindo o desenvolvimento de microrganismos indesejáveis e tornando a silagem de gramíneas tropicais um alimento de valor nutricional adequado e de baixo custo de produção (BALSALOBRE, et. al, 2001).

Na confecção de silagem da cana sem o uso de aditivos, ou tratadas com 1% de cal virgem e 1% de calcário calcícitico, sendo esses aplicados na forma pulverulenta após a picagem e pesagem da forragem, pode se observar valor médio de PB de 3,4%, valores de MS variando de 32 a 35%, de FDN entre 48 e 52%, de hemicelulose entre 17 e 22% e de FDA entre 29 e 32% (AMARAL, et. al, 2009) e aproximadamente 11% de carboidratos solúveis no momento da ensilagem ao avaliarem silagens de cana-de-açúcar tratadas com aditivos químicos e microbianos ( SCHMIDT, et. al, 2007). Quando comparados a utilização de inoculantes microbianos, a silagem controle, sem nenhum aditivo, foi possível observar que nenhum dos tratamentos ou associações foi capaz de promover melhorias significativas no teor de fibra desse material, sendo 61,42 e 38,59% teores médios obtidos para FDN e FDA nas silagens (MORAES, et. al, 2017). Comparando o consumo de MS por vacas de cana fresca ao das silagens com aditivos microbianos, observa-se que o consumo de MS da cana fresca é superior ao das silagens de cana-de-açúcar com e sem L. buchneri, devido ao fato das silagens apresentaram teores de fibra em detergente neutro mais elevado, explicando, possivelmente, o menor consumo de matéria seca resultante para as silagens, obtendo uma elevação percentual das frações fibra em detergente neutro e fibra em detergente ácido em relação à cana fresca de 22,3 e 22,2%, respectivamente, reduzindo dessa forma, o consumo de matéria seca (kg/dia) em 21,15% da silagem vs cana fresca, provavelmente, em decorrência da perda fermentativa de carboidratos solúveis na ensilagem (SANTOS, et. al, 2012).

Em silagens tratadas com 1,0% de cal e 1,5% de calcário obteve-se um resultado interessante, com reduções marcantes observadas para as variáveis FDN e hemicelulose, esse efeito possivelmente é explicado pelo tratamento alcalino dos resíduos das culturas, que solubiliza um pouco de hemicelulose sem alterar o teor de celulose, quando comparado a forragem fresca com a silagem, pode-se observar um leve desaparecimento da fração de hemicelulose durante 90 dias de armazenamento, mostrando os efeitos do aditivo na solubilização dos componentes da fibra (SANTOS, et. al, 2009).

Na utilização de aditivos químicos e microbiológicos associados ou não, observou-se que os aditivos químicos Uréia e Cal induziram maior pH nas silagens sendo que não foi detectado efeito dos aditivos microbiológicos sobre esta variável, independente do tempo da abertura dos silos, já em relação ao processo fermentativo da sacarose, conduzido majoritariamente por leveduras, pode ocorrer perda acentuada de matéria seca e de valor nutritivo, devido à conversão de açúcares em etanol, CO2 e água (MIRANDA, et. al, 2011).

Desempenho de bovinos de leite, de corte e cordeiros alimentados com silagem de cana-de-açúcar

De acordo com Queiroz et al. (2008), o fornecimento de silagem de cana-de-açúcar inoculada com L. buchneri proporcionou resultados satisfatórios de composição de leite, principalmente gordura e proteína, se igualando aos resultados obtidos com a alimentação à base de cana-de-açúcar in natura e silagem de milho + cana-de-açúcar. Para os parâmetros consumo de matéria seca e estabilidade aeróbia, a silagem de cana apresentou os melhores resultados quando comparado aos outros volumosos. A produção de leite em kg/dia foi a menor dentre todos os volumosos avaliados, porém diferindo-se em apenas 1,1kg do alimento que demonstrou melhor resultado, silagem de milho. Esses resultados foram possíveis considerando que as rações foram corretamente balanceadas.

Já Santos et al. (2012) ao avaliarem o desempenho de vacas em lactação submetidas a alimentação com cana fresca, silagem de cana com e sem inoculante e silagem de cana queimada com e sem inoculante, observaram que os melhores resultados de produção de leite e proteína bruta, tanto em

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porcentagem quanto em g/dia, foram obtidos pelo fornecimento de cana fresca. Entretanto, os volumosos ensilados pouco se diferiram estatisticamente da cana in natura, sendo a silagem queimada com aditivo a segunda melhor dieta para obtenção desses resultados.

No sistema de produção de carne bovina em confinamento, comparando 5 tipos diferentes de ração, a silagem de cana-de-açúcar apresentou bons resultados. A dieta dos ruminantes, formada por silagem de milho com formulação fixa, silagem de milho com formulação variável, silagem de cana-de-açúcar com formulação fixa e também variável e silagem de cana com formulação variável na primeira metade do confinamento e silagem de milho com formulação variável na segunda metade do confinamento. Os melhores resultados tanto de rendimento de carcaça quente, peso de carcaça quente, espessura de gordura subcutânea e consumo de matéria seca foram oriundos das rações contendo silagem de milho. Os valores de peso final ao abate e rendimento de carcaça dos bovinos alimentados com silagem de cana se mostraram muito próximos aos melhores resultados, tornando-se viável a adoção dessa dieta, quando bem formulada, representando uma alternativa ao uso do milho na alimentação animal (ROMAN et al., 2011).

Em sistemas de pastejo, o uso da silagem de cana-de-açúcar pode ser interessante em períodos em que a disponibilidade de pastagem seja muito restrita, como por exemplo no inverno ou em períodos muito secos do ano; deve-se considerar também a taxa de lotação para a tomada de decisão e o fornecimento do alimento para os animais (PATE et al., 2002).

No desempenho de cordeiros, as silagens de cana-de-açúcar, tanto aditivada com Lactobacillus buchneri quanto a silagem sem aditivo, não apresentaram diferenças significativas quando comparadas ao consumo da cana in natura; Mendes et al. (2008) avaliaram o comportamento ingestivo e os parâmetros de carcaça de 30 cordeiros da raça Santa Inês e observaram que os valores de peso final, consumo de matéria seca em kg/dia, peso ao abate, peso da carcaça quente e peso da carcaça resfriada foram maiores para animais que receberam cana fresca picada. Quanto aos parâmetros de comportamento ingestivo, consumo médio diário de MS e de FDN, não houve diferença entre os tratamentos. Por outro lado, Magalhães et al. (2012) observaram que consumindo silagens aditivadas com óxido de cálcio até 2,4% ou ureia a 1,5%, cordeiros confinados apresentaram redução de mastigação e ruminação e aumento de ócio.

Ao compararem o desempenho de cordeiro sob três dietas à base de silagem de ponta de cana: silagem de ponta de cana 20% + 80% de concentrado, silagem de ponta de cana 20% + silagem de soja 30% + 50% de concentrado e silagem de ponta de cana 20% + 60% de silagem de soja + 20% de concentrado, Lima et al. (2013) obtiveram o seguintes resultados: diferenças significantes em ganho de peso total e ganho de peso diário para o tratamento com 30% de silagem de soja, porém maior conversão alimentar para o tratamento com 60% de silagem de soja.

Os atributos de produtividade da cana-de-açúcar como seu baixo custo de produção, quando comparado ao milho e ao sorgo, alto teor de matéria seca por hectare, valor nutritivo constante e sua máxima eficiência coincidente com os períodos de escassez de gramíneas forrageiras, atentam para o seu uso como uma forma de obter bons resultados de conversão alimentar em diferentes atividades de exploração zootécnica. O uso da ensilagem de cana-de-açúcar representa uma alternativa para a conservação da forrageira e seu aproveitamento em períodos nos quais haja carência de material volumoso, porém deve-se ponderar essa utilização levando em consideração que silagens produzidas unicamente de cana apresentam baixo valor nutritivo e também baixa palatabilidade, resultando em redução de consumo e do desempenho animal (NUSSIO et al., 2003).

O uso da silagem de cana-de-açúcar oferece bons resultados em produção animal quando balanceada a fim de suprir as exigências de cada categoria animal e o custo de produção é relativamente baixo em comparação a outras fontes de volumosos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização da silagem de cana-de-açúcar na alimentação de ruminantes é uma alternativa a ser considerada, no entanto existem alguns fatores que devem ser observados durante o processo de ensilagem a fim de garantir um produto de qualidade, o que justifica intensificar as pesquisas em alternativas complementares que possam melhorar a sua composição química e bromatológica.

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