XII SEMINÁRIO NACION NACIONAL O UNO E O DIVERSO … · Apostar em uma formação de sujeitos...

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Univ Programa Linha de Grupo de Estudo III CONG PSICOPE ISSN: 21 versidade Federal de Uberlândia-UFU Faculdade de Educação- FACED ma de Pós-Graduação em Educação- PPGED e Pesquisa : Saberes e Práticas Educativas o e Pesquisa Sobre Psicopedagogia Escolar-G XII SEMINÁRIO NACI O UNO E O DIVERSO EDUCAÇAO ESCOL ISSN: 2236-1383 GRESSO DE EDAGOGIA 179-7978 [email protected] WWW.UNOPSICO.FACED.UFU.BR 2013 GEPPE IONAL O NA LAR 3

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Grupo de Estudo e

III CONG

PSICOPED

ISSN: 21

Universidade Federal de Uberlândia-UFU

Faculdade de Educação- FACED

grama de Pós-Graduação em Educação- PPGED

ha de Pesquisa : Saberes e Práticas Educativas

Estudo e Pesquisa Sobre Psicopedagogia Escolar-GEP

XII SEMINÁRIO NACION

O UNO E O DIVERSO

EDUCAÇAO ESCOLAR

ISSN: 2236-1383

ONGRESSO DE

COPEDAGOGIA

N: 2179-7978

[email protected] WWW.UNOPSICO.FACED.UFU.BR

2013

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Apresentação do evento

O Seminário O Uno e o Diverso na Educação Escolar e o Congresso de

Psicopedagogia são eventos científicos realizados periodicamente como

atividade acadêmica da Linha de Pesquisa “Saberes e Práticas Educativas”.

Promover os eventos simultaneamente se justifica na intenção de articular

pesquisadores e estudiosos de áreas correlatas, assim como favorecer a

reflexão, a troca de experiências e a divulgação de pesquisas científicas,

realizadas por diferentes pesquisadores das diversas instituições

brasileiras, tendo como foco os saberes e as práticas educativas na

educação escolar. A metodologia do evento privilegia a divulgação e

discussão das pesquisas, ampliando os canais de difusão e interlocução entre

diferentes segmentos da comunidade científica, acadêmica e educacional do

Brasil.

Objetivos

• Estimular a discussão sobre saberes e práticas educativas com

profissionais da educação e docentes e discentes dos Cursos de

graduação e de Pós-Graduação em Educação.

• Promover um espaço de troca de experiências sobre o exercício da

docência e da pesquisa, seus desafios e suas possibilidades.

• Contribuir para o processo de formação inicial e continuada de

profissionais da educação e áreas afins.

• Consolidar os grupos de pesquisa do PPGED e o intercâmbio científico

com os outros grupos da UFU e dos demais Programas de Pós-

Graduação do país, fortalecendo a interdisciplinaridade e

incentivando a formação de redes e grupos interinstitucionais.

Eixos Temáticos:

1. Currículo, Linguagens e Culturas. 2. Educação Popular. 3. Educação Inclusiva e Diversidade. 4. Didática, Metodologias de Ensino e Avaliação. 5. Formação de Professores. 6. Psicopedagogia e Psicologia da Educação.

Coordenação Geral

Profa. Dra. Maria Irene Miranda – UFU/FACED

Profa. Dra.. Arlete A. Bertoldo Miranda – UFU/FACED

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Prof.a Ms. Alaurinda Cristiani de Carvalho Barros Prof.a Ms. Waldilena Silva Campos Araújo

Escola M. professor Ladário Teixeira" Prefeitura de Uberlândia [email protected] [email protected]

Este trabalho apresenta uma experiência de trabalhos realizados nas aulas de Artes e Ensino Religioso desenvolvidos na Escola Municipal Professor Ladário Teixeira, com alunos dos 1º, 3º, 4º e 5º Anos do Ensino Fundamental. Enfatizamos a temática Africanidade, cujo foco destaca"se a Diversidade Cultural. Mais do que atender a obrigatoriedade da Lei Nº. 11.645/2008 buscou construir novos conhecimentos estéticos, culturais, étnicos e respeito às diferentes culturas e valores. Para tanto, faz"se necessário compreender que as culturas, sejam elas, indígenas e/ou africanas se constituem por diversidades e especificidades e, por isso, referir"se a culturas e não cultura. As próximas linhas são dedicadas a tais experiências – a qual nos possibilitou aventurar por trilhas contingenciais tateando esse complexo campo cultural que entrelaça aspectos sociais, históricos, artístico, político, econômico e de sobrevivência.

Anunciando a Temática

Durante todo século XX e início do século XXI, a temática de inclusão social

ocupou lugar de destaque nos debates nacionais e internacionais. As lutas eram pela

igualdade de gênero, etnia, orientação sexual, raça e respeito pela Diversidade.

Um dos pontos centrais do nosso trabalho foi desenvolver debates e análises

sobre diferentes culturas. A classe hegemônica determinou quais culturas deveriam ser

incluídas e quais deveriam, ser marginalizadas. A cultura Afro ao longo do nosso

processo histórico, por ter sido escravizada e dominada, também o foi excluída. Sempre

houve diversidade cultural, no entanto, com a dominação do poder ocidental, o processo

de colonização tanto do continente Africano, Asiático e Americano, imputaram uma

ordem de dominação no que tange os aspectos econômicos, políticos e sobretudo

culturais. No mundo moderno e pós"moderno, o aspecto da religiosidade e das artes, se

configurou na desvalorização e supressão das culturas religiosas e artísiticas afro e de

outras culturas.

Com o intuito de somatizar esforços na sistematização desses estudos e

experiências didático"pedagógicas que contemplam a Diversidade Cultural, visando

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assim, atender a obrigatoriedade instituída pela Lei Nº. 11.645/20081, é que várias

encontros dialógicos foram feitos para a concretização deste trabalho. No entanto, a

busca não tem sido de mero cumprimento da referida Lei, mas sim, em empreender

estudos e experiência com compreensão crítica, teórica, reflexiva e com ações

interventivas. Os aspectos culturais são aqui entendidos como um campo complexo de

lutas políticas, históricas, disputas axiológicas, sociais e geográficas. Conforme Veiga"

Neto (2003, p. 3) “a desnaturalização dos fenômenos sociais – ou seja, tomá"los não

como algo desde sempre dado, mas como algo historicamente construído – é um

primeiro e necessário passo para intervir nesses fenômenos”. Daí o intento de caminhar

por trilhas as quais venham cortar, atravessar o campo cultural e educacional, pois, de

acordo com o autor acima citado, por mais que já se tenha dito sobre o binômio cultura

e educação,

[...] continua aí a nos desafiar, com suas mais de mil e uma faces, com as

suas infinitas possibilidades. Isso decorre em parte da própria complexidade e

múltiplos sentidos dos dois termos do binômio; uma rápida consulta a algum

manual de antropologia ou de pedagogia revelará a notável polissemia dessas

duas palavras e até mesmo fortes desacordos entre aqueles que falam delas. E

quantas não vêm sendo as suas ressignificações ao longo da história... Tais

ressignificações vêm proliferando especialmente nas últimas décadas. Como

em nenhum outro momento, parecem tornar"se cada vez mais visíveis as

diferenças culturais. Igualmente, mais do que nunca, têm sido frequentes e

fortes tanto os embates sobre a ��������� e entre os ��������, quanto a

opressão de alguns sobre os outros, seja na busca da exploração econômica e

material, seja nas práticas de dominação e imposição de valores, significados

e sistemas simbólicos de um grupo sobre os demais. (VEIGA"NETO, 2003,

p. 02).

1 “Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e

privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. § 1o. O conteúdo

programático a que se refere esse artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que

caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo

da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e

indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas

contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2o. Os conteúdos

referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no

âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história

brasileira.” (NR).

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Além desse emaranhado de questões, não se podem desconsiderar as

intervenções da política de globalização cultural. No entanto, ainda que nos pareça

muito tênue, há as singularidades culturais, pois cada nação cada região tem suas

particularidades, resistências e dinâmicas. Tomemos como exemplo, a nossa

brasilidade, nossa História a qual se constitui tecida por uma diversidade cultural, étnica

e racial: indígena, portuguesa, africana, espanhola, francesa entre outras. Contudo, as

políticas culturais e educacionais, até então, têm sobreposto a cultura europeia,

impondo"a como sendo referência única, superior, um distintivo social. Veiga"Neto

afirma que, “a partir do texto kantiano �� ��� �� ����������, a articulação entre a

Educação e [Cultura] funcionou no sentido de abstrair e idealizar os modos de vida,

valores e produções culturais alemães da época como um grande modelo a ser imitado

por toda e qualquer sociedade” (����, 2003, p. 01).

Tais questões nos desafiam a uma urgente e necessária reeducação dos nossos

valores, de nossos olhares, nos provocando inquietações teóricas e práticas. Isso, se nos

dispusermos a nos comprometer com a construção de uma perspectiva social e cultural

que vise à dignidade humana, respeito aos vários credos, gêneros, etnias entre outros.

Apostar em uma formação de sujeitos éticos, “autônomos, críticos, reflexivos, criativos,

transformadores sociais, políticos e culturais em defesa da construção de uma vida mais

humana, justa, solidária, cooperativa, na construção de um mundo melhor”.

(UBERLÂNDIA, 2011, p. 16). E ainda,

[...] a educação não pode ser considerada apenas um simples veículo

transmissor, mas também um instrumento de crítica dos valores herdados e

dos novos valores que estão sendo [constantemente] propostos. A educação

[deve abrir] espaço para que seja possível a reflexão crítica da cultura. [...]

Nos tempos que vivemos hoje, algumas tarefas urgentes se impõem. A

principal delas é que tenhamos força suficiente para tornar nossa sociedade

mais justa e menos seletiva. [...] A educação deve instrumentalizar o homem

como um ser capaz de agir sobre o mundo e, ao mesmo, tempo, compreender

a ação exercida. A escola não é transmissora de um saber acabado e

definitivo, não devendo separar teoria e prática, educação e vida. (ARANHA,

1996, p. 52).

2 Cf. KANT, Immanuel, (1996). �� ��� �� ���������. 2. ed. Tradução de Francisco Cock Fontanella. Piracicaba: Editora. Unimep, 1999. (Nota da autora do texto).

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É forçoso registrar que a pluralidade étnico"racial, tem como foco a produção de

novos conhecimentos, atitudes, posturas e valores que eduquem nossos alunos e a nós

mesmos, tornando"nos capazes de interagir e sobretudo de valorizar a alteridade e a

identidade. Neste ínterim, a história e cultura dos afro"brasileiros, tendem ao

reconhecimento e igualdade de valorização não somente dos povos africanos como

também das nações indígenas, europeias, asiáticas e americanas.

Assim então, algumas questões se colocam: ? Qual caminho do conhecimento

percorrer? Como atuar nessa perspectiva? Quanto a diversidade, como se processa a

mesma e quais são suas diversidades? O que problematizar? A que referências recorrer?

Que estratégias e recursos utilizar?

Cabe ressaltar que as questões acima tratam de problematizações consideradas

pertinentes, e jamais expressão de um desejo de apresentar respostas definitivas, nem

sequer considero como hipótese a apresentação de “boas” respostas. Busco apenas

compartilhar trilhas trilhadas em momentos específicos. Sobretudo defendo a

autonomia docente, condições e estímulos para construção das mais diversas

proposições pedagógicas, levando em conta o seu espaço, momento de trabalho e corpo

discente. Contudo, aposto na perspectiva formadora crítica, criativa e ética.

As próximas linhas serão dedicadas à descrição das experiências com enfoque na

����������� �������: destacando a Cultura(s) Africana que teve como mote as

Máscaras Africanas, da qual também resultaram ������� ���������� e ��������.�

Também iniciamos nosso trabalho estudando a diversidade do continente africano, sua

localização geográfica.

Delimitando a temática

- Ensino das Artes- Máscaras Africanas, Modelagem e Aquarela;

- Ensino Religioso- um diálogo entre o conviver e o aprender.

As “Máscaras” também resultaram dos exercícios de modelagem e

experimentações matéricas e das ����� ��� ������: ������������������.O trabalho,

tanto com as temáticas de diversidade cultural quanto com outras temáticas, tem sido

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processado por duas “vias”, a saber, via do ��������������� compreendido pelo fazer,

por experimentações diversas e; ����� ��� ������ as quais abarcam também leituras

diversas, tendo como horizonte constituir ��������������� conforme nos ensina Freire

(2008)4 e� Ricardo de Azevedo5 conforme mencionado anteriormente. No entanto,

ambas as “vias” se cruzam, entrelaçam, têm momentos e movimentos de “ir e vir”.

Retornando aos caminhos da África...

Iniciamos a viagem com o livro �� ���!� (com e por meio do livro), que durou

aproximadamente um mês, com a qual buscamos oportunizar uma leitura, inicialmente

individual e minuciosa de todas as informações impressas: letras, palavras, imagens,

cores, detalhes... desde a primeira capa até a última. Um primeiro desafio aos alunos(a)

era não abrir o livro e nem folhear sem antes fazer a leitura da capa. Após uma leitura

minuciosa da capa seguiu"se à leitura da contra"capa incluindo ficha catalográfica,

dedicatória. Em um segundo momento o texto escrito (do livro) foi lido em conjunto.

“Nossa viagem” prosseguiu com outras leituras utilizando o recurso virtual/digital nas

aulas no laboratório de informática visitando �� e utilizando de aulas “guias”

elaboradas em "�#���"���$�Essas aulas “guias” foram apresentadas e vivenciadas com

o recurso do sistema de ���%��#� conduzidas por ���� compostos por letra e áudio

da música &���'�(, fragmentos de textos do livro ��������'���)��com����* para vídeos

e imagens. Abaixo, dois desses ���� de uma das aulas “guias”:

3 Esse eixo se constitui imbricado por uma “advertência” feita por Antônio Joaquim Severino: “Tudo indica que continuamos insistindo nas atividades de ensino e aprendizagem da escola básica e superior na ideia de que a transmissão dos produtos do conhecimento prevalece sobre a apropriação dos processos de produção do conhecimento” (SEVERINO apud GUIDO, H. A arte de aprender: metodologia do trabalho escolar para a Educação Básica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008). 4 �������+�'����������������5 ��������������.

6 CASTANHA, Marilda. O Mapa. Belo Horizonte: Editora Dimensão, 1997. Cabe ressaltar que a

direção da escola adquiriu trinta exemplares do livro Mapa a pedido da equipe de professoras de Arte, o

que possibilitou e facilitou o trabalho com o referido livro. 7 Palavra Cantada (Sandra Peres e Paulo Tatit).

8 FEIST, Hildegard. Arte Africana. São Paulo: Moderna, 2010.

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Slides de uma das aulas “guias” acima citadas

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Também para essas aulas elaborei material impresso, o qual foi reproduzido e

distribuído para os(as) alunos(as). O material continha fragmentos dos textos dos ����,

com textos dos áudios dos vídeos. No entanto, retirei várias palavras dos textos

impressos, exigindo dos alunos atenção, escuta e observação, pois precisavam ver, ler

ouvir e escrever as palavras que estavam faltando em seu caderno. A primeira aula foi

bem difícil porque os alunos não estavam habituados com a dinâmica, mas as aulas

seguintes foram fruídas, os alunos(as) aderiram ao desafio de ouvir e saber qual seria a

palavra que completaria o texto.

Conforme antes destacado, todas as aulas de leituras e a “viagem para a África”

foram conduzidas com material específico preparado por mim.

A metodologia teve a mesma perspectiva do trabalho anteriormente descrito.

Procurei destacar – sempre – que a diversidade e as especificidades culturais também

dão origem a uma arte diversa, não sendo possível generalização. “[...] A arte africana é

também, em muitos aspectos, essencial para a manutenção do equilíbrio entre o mundo

material e o sobrenatural” (MUSEU AFROBRASIL " vídeo), sendo um dos aspectos

que diferencia da relação que costumeiramente nós brasileiros estabelecemos com a

arte.

Sobre as obras de arte, Feist afirma que, mesmo sendo criadas por povos

diferentes ao longo de séculos,

as obras de arte tradicionais da África negra têm algumas coisas em comum.

Elas geralmente foram concebidas por artistas anônimos, estão relacionadas

com as crenças religiosas, os mitos, os fatos históricos ou os costumes da

comunidade. Com materiais tão diversos: argila, metal, madeira, marfim, os

escultores africanos fizeram e continuam fazendo estátuas, placas, portas,

instrumentos musicais, máscaras, objetos rituais, peças de mobiliário e

também utensílios domésticos. (FEIST, 2010, p. 06).

Em relação às máscaras, para muitos povos africanos elas têm uma função quase

sagrada, vistas como intermediárias entre o mundo dos vivos e o mundo dos deuses e

dos mortos (����, p. 24). Tratam"se de valores totalmente diferentes do uso que

fazemos das máscaras que costumeiramente são associadas a fantasias para carnaval,

festas, espetáculo teatral ou disfarce usado por “bandidos”.

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Contudo, “muitos brasileiros de hoje descendem de povos africanos, e por isso,

conhecer a História da África nos faz conhecer melhor nossa própria História”.9 Por

fim, após transitar por territórios geográficos e culturais os alunos(as) foram desafiados a

colocar “a mão na massa” para elaboração de máscaras referendadas visualmente pelas

máscaras africanas. Como não foi possível realizar essas experimentações com todas as três

turmas de 5ºs Anos, em função de tempo e espaço, os alunos(as) que tiveram disponibilidade

para aulas extra-turno elaboraram suas máscaras com a massa de papel sulfite reaproveitado,

e os outros as elaboraram com pintura aquarelada em papel Paraná.

A avaliação também aconteceu conforme a experiência antes

relatada, processual e com culminância na exposição de trabalhos apresentados na IX

Mostra de Arte da Escola Ladário Teixeira. O registro das aulas e seu respectivo

desencadeamento no caderno de desenho constituíram parte fundamental do processo de

avaliação. Além das avaliações orais e comparações visuais das várias elaborações

plásticas, registrou"se aula por aula em caderno específico – o �����������,���-���, o

qual circulava pelas mãos dos alunos(as); a cada semana um aluno(a) assumia a

responsabilidade de registro da aula e também da avaliação individual.

Com relação ao Ensino Religioso, este se tornouum dos temas mais discutidos

nas últimas décadas, quer na literatura especializada ou em debates escolares. O dorso

das discussões é sem sombra de dúvida, a relevância de estar no currículo a disciplina

de Ensino Religioso (E.R).

Este fato se deve pelo mesmo estar inserido em artigos de Leis e emendas do

país. Em julho de 1997, houve uma modificação da lei em que se pode ler:

"O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da

formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais

9 Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=S5WX03BWnSo&feature=related%20"> Acesso em: 18 nov.2010.

Máscara

modela com

papel seco.

Aquarela sobre

papel Paraná

5º Anos/Máscaras – Aquarela sobr papel Paraná

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das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à

diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de

proselitismo.

O ensino religioso tornou"se parte do currículo do Ensino Fundamental, a partir

da Lei 9.475 no artigo de número 33 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação

brasileira. Destarte o Ensino Religioso passou a ser visto sob a ótica pedagógica e não

mais de cunho teológico, tendo então a responsabilidade de fazer a releitura da

diversidade cultural e da religiosidade de nosso país.

Nota"se que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação sofreu avanços em relação

a valorização do Ensino Religioso nas escolas. Esta defende que o ER faz parte da

formação da integridade dos alunos, visto que temáticas como: Bullyng, meio

Ambiente, defesa da vida, solidariedade, diversidade cultural, alteridade, fazem parte da

reflexão no contexto escolar. Por acreditar que a escola é um espaço de formação da

consciência crítica e criativa, o ��������������� justifica"se à medida que faz parte da

elaboração do conhecimento necessário e concomitante com os pilares da educação que

tem em seu foco: aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser, torna"se de substancial

importância para o desenvolvimento humano. Também nos permite andar pelos

caminhos da cultura e da diversidade.

Também os Parâmetros Curriculares Nacionais defende que “ ...o ensino

religioso necessita cultivar a reverência, ressaltando pela alteridade que todos são

irmãos. Só então a sociedade irá se conscientizando de que atingirá seus objetivos

desarmando o espírito e se empenhando, com determinação, pelo entendimento mútuo”.

É errôneo afirmar que o Ensino religioso se caracteriza como uma Catequese ou

Educação na Fé. Este, tornou"se uma área de conhecimento, todavia ainda é lacunar o

seu reconhecimento. Este fato se deve a forma como a disciplina era tratada:

proselitismo10 e catecismo nas escolas, o que é proibido, pois se torna uma violência

simbólica a todos que se divergem as suas idéias.

O princípio de inclusão social teve sua origem nos Estados Unidos em 1975 e

demarcou a chamada escola inclusiva que seria um marco para o impulso nos anos 90 o

princípio orientador das políticas sociais e educacionais. Somente em 1990, na 10 O ������������ (do latim eclesiástico ���.�/�, que por sua vez provém do grego προσήλυτος) é o

intento, zelo, diligência, empenho ativista de converter uma ou várias pessoas a uma determinada causa, ideia ou religião (������������������). Site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Proselitismo

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Tailândia, durante a Conferência Mundial dos Direitos Humanos para Todos é que se

ganha maior relevância da temática Pluralidade Cultural.

O primeiro passo do nosso trabalho foi o de refutar o proselitismo das aulas de

Ensino religioso. Dando sequência, a busca do respeito a religiosidade e o outro ponto

defendido. Colocou"se em xeque com os alunos por meio de debates, filmes, material de

pesquisa, letras de música, a desconstrução filosoficamente dos tradicionais conceitos

pré concebidos da religião afro. Tais pré"conceitos e práticas estão arraigadas na

estrutura de atitudes e convenções sociais discriminatórias que ferem princípios éticos

de respeitos aos direitos humanos, pois permite que a discriminação seja posto como

comportamento normal.

Então, assim finalizou nossa viagem. Acredito ter acrescido à bagagem cultural

dos alunos outros conhecimentos e outras experiências. Finalizo este relato reafirmando

que, mais do que cumprir com um estudo por exigência legal, buscamos ampliar

conhecimentos estéticos, culturais, étnicos e éticos a diferentes culturas e valores, não

somente dos discentes e docentes, mas também, da comunidade escolar. Trata"se de

uma temática complexa, desafiadora, que nos impõem construções e desconstruções de

conhecimentos e valores, e requer, portanto, experimentações e contínua avaliação.

Mesmo dentro de tantas restrições, percebo o espaço escolar, a educação, o

ensino de Arte como sendo um espaço de possibilidades, de experimentações e de tantas

outras viagens e trilhas; viagens curtas ou longas, trilhas entrecruzadas, de muitas

paradas e de retomadas. No entanto, a aposta, o horizonte almejado com esse trilhar

deve ser a edificação humana, promoção dos povos, das pessoas. A construção de um

mundo melhor, mais justo, solidário e ético, uma alta aposta que demanda tempo

histórico, investimento pessoal, professoral, sonho, desejo... Mas, conforme Gandhi " o�

��������������0���������������1�������������.

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ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. �������� $ �$%� &'�. 2. ed. São Paulo; Moderna,

1996.

FEIST, Hildegar. ��������� � . São Paulo: Moderna, 2010.

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VEIGA"NETO, Alfredo. Cultura, culturas e educação.���(��� !� ������ $��$%� &'�

[������]. 2003, n. 23, p. 5"15. ISSN 1413"2478.

���)��*+�������������������*� )�,��-���,����

�����)*+���.������)����)�����������

Flávia Pimenta de Souza Carcanholo

Eseba/UFU

[email protected]

Marielle Marra

UFU

[email protected]

Maressa Caroline Marques

UFU

[email protected]

Este trabalho é fruto de experiências relativas ao uso de histórias infantis como um meio

fomentar valores/competências que desencadeiem atitudes para um consumo consciente

e saudável. Origina"se de um projeto elaborado com uma turma de 18 crianças entre 5 e

6 anos de idade, da Escola de Educação Básica/ESEBA" UFU na qual tem a

participação da professora regente e duas estagiárias do curso de pedagogia/Ufu, como

alunas colaboradoras. O trabalho tinha o objetivo de integrar valores no cotidiano das

crianças; proporcionar instrumentos para que possam responder com equilíbrio às

distintas situações que irão confrontar em sua vida; favorecer situações que

potencializem a tomarem atitudes mais seguras, autônomas, sabendo lidar com

frustrações e ansiedade; possibilitar discussões que as ajudem a tomarem suas próprias

decisões; promover conversas em que o consumo saudável seja abordado e envolver a

família nas discussões deste trabalho como uma parceira para o desenvolvimento da

criança. O intuito de se trabalhar este tema da educação financeira desde a infância é em

decorrência de uma preocupação com o comportamento das crianças cada vez mais

manipulado pela mídia do consumo e estas perdendo os valores reais da vida. Estes

permitem responsabilizar"nos por nossas ações, tomar decisões com coerência, resolver

conflitos pessoais, não se subordinar a imposições alheias das quais nem temos

consciência, ser autênticos, autoconfiante e críticos às diversas situações vividas,

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atitudes necessárias para uma educação financeira voltada para o consumo consciente.

Utilizamos as histórias infantis como uma maneira de entrar em sintonia com as

crianças, abordando temas complexos, como responsabilidade, planejamento,

diferenciação entre desejo e necessidade, qual o valor do dinheiro, entre outros, mas

possíveis de serem compreendidos e vividos por elas e que dão suporte a questão da

educação financeira hoje e no futuro. Como este trabalho trata de uma mudança

comportamental, os resultados obtidos podem ser avaliados por meio da observação

contínua dos alunos, bem como registro de falas, intervenções, reações, uma avaliação

processual. Esperamos que este trabalho possa contribuir para um novo olhar da

educação financeira na infância.

Palavras"chave: Educação financeira infantil. Construção de valores. Educação infantil

1 "Introdução

Ao abordar o tema educação financeira, as pessoas podem se remeter, a priori, ao

dinheiro, isto é a finança propriamente dita. Talvez pensem até ser um tema estritamente

para adultos, diante da complexidade do conteúdo que ele contém e até mesmo pela

relação de poder que ele proporciona. Porém a cultura do uso do dinheiro, bem como do

consumo, tem se tornado cada vez mais próxima do mundo infantil. Os pais, muitas

vezes, conflituosos quanto à educação de seus filhos, se apropriam das sugestões de

consumo, como brinquedos, vestimentas e guloseimas para compensar alguma falta

afetiva. Como justifica Schor (2009):

As famílias, premidas pela escassez de tempo dos pais, submetidos a longas jornadas de

trabalho, tornaram"se presa fácil para os marqueteiros, cujas pesquisas mostravam que

os pais que passavam menos tempo com os filhos eram os que mais gastavam com eles.

(Schor, 2009, p. 20)

Antes mesmo de pensar na infância e sua relação com o consumo é preciso

primeiramente compreendê"la de maneira primária. Durante a infância as crianças

necessitam de cuidados, amparo e assistência integral para o seu desenvolvimento

físico, psíquico, cognitivo e emocional. Além disso, nesta etapa de vida a criança está

em pleno processo de construção de sua personalidade, constituindo"se como pessoa

dentro de um contexto social, adquirindo valores e se apropriando deles. Segundo

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DeVries e Zan (1998, p. 62) “a interação com companheiros, bem como entre adulto e

criança, oferece o material bruto do qual a criança forma sua própria personalidade.”

Porém, o conceito de infância e de como as pessoas têm se relacionado com esta faixa

etária tem sofrido transformações significativas influenciando a formação as crianças

como seres sociais. A criança passou a ter mais vez e voz dentro do âmbito familiar e

social, adquirindo poder de decisão nas aquisições da família. As crianças estão cada

vez mais expostas à televisão e à Internet entre outros meios de comunicação e ficaram

ainda mais vulneráveis e subordinadas às regras ditadas por empresas que se utilizam

destes meios. Neste sentido, Schor alerta:

Crianças e produtos estão alinhados em um mundo grandioso e alegre, enquanto

professores, pais e adultos habitam um mundo de opressão, banal, monótono, insípido e

triste. A lição para as crianças é a de que os produtos, e não seus pais, são quem de fato

estão ao seu lado. (Schor, 2009, p. 51)

Essa exposição excessiva aos valores materiais tem influenciado bastante no

comportamento das crianças, podendo deixá"las com baixa autoestima, inseguras,

depressivas, competitivas e ansiosas. Mais uma vez Schor (2009, p. 32 ) considera que

“os psicólogos apontam que estimular valores materialistas às crianças compromete o

bem"estar, além de tornar os indivíduos ansiosos, deprimidos, com menor vitalidade e

pior saúde física. Conhecer o que consumir e ter uma consciência e um discernimento

entre a necessidade ou o desejo, é algo complicado para uma criança em que as marcas

de roupas e brinquedos determinam quem será bem"sucedido, quem está “por dentro”,

quem terá amigos, se são pessoas legais ou espertas.

O que fazer diante desse perverso cenário? O que será dessas crianças, em meio

a toda essa nova cultura do consumo quando forem adultas?

Uma maneira para que futuramente essas crianças ao se tornarem adultas tenham

consciência do valor do dinheiro, bem como não percam de vista a formação de valores

humanos, é pensarmos na educação dessas crianças hoje, como forma de prevenção.

Proporcionar um ambiente crítico diante das imposições da mídia do consumo e

trabalhar valores que sustentem a autoestima, a autoconfiança, autenticidade entre

outros valores é um caminho. São formas de colaborar para o uso do dinheiro de forma

responsável quando se tornarem adultos.

O lidar com as frustrações e saber esperar também é outro ponto importante para ser

trabalhado já que, atualmente, o imediatismo tem sido um grande inimigo da tolerância.

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As pessoas estão cada vez mais acostumadas em não precisar mais esperar, planejar por

certo tempo para conseguir algo. Tudo está sempre à mão, a começar pelos fastfood,

fotografia digital, correspondência eletrônica, cujas respostas para tudo são imediatas.

Ferreira (2007, p. 18) aponta que “investigadores acreditam que haveria uma única

decisão primordial em nosso modo de operar, seja em que terreno for: se aguentarmos

encarar situações frustrantes, ou se preferirmos fazer de conta que elas não existem”.

Um trabalho educacional interessante para amenizar isso seria relacionado a valores e

competências.

Os valores nos permitem encontrar sentido no que fazemos. Responsabilizar"nos por

nossas ações, tomar decisões com coerência, resolver conflitos pessoais, não se

subordinar a imposições alheias das quais nem temos consciência, ser autênticos,

autoconfiante e críticos às diversas situações vividas. O discernimento dos valores é um

processo individual e só quando a pessoa vivencia um valor é que este de fato existe

para ela. Este trabalho com formação de valores pode ocorrer em diferentes ambientes

nos quais a criança se desenvolve: família, escola e comunidade. A família é ou deveria

ser a melhor escola da vida, porque transmite na intimidade do lar, por contágio. Cabe a

ela as funções educativas desde o nascimento por meio de exemplos vivos na

construção de caráter e valores, configurando o “tornar"se pessoa” de cada filho.

Mas como nem sempre isso é possível de acontecer por diversos fatores que não

cabe aqui discorrer, a família precisa e pode contar com outra parceria na educação de

seus filhos: a escola. O ambiente escolar é o espaço social que vem após a experiência

familiar. A escola é a grande parceira da família, querendo ou não, visto que as crianças

passam grande parte do seu dia nela. Ela tem uma função socializadora, cabe"lhe a

explorar e trabalhar não apenas conhecimentos adquiridos pela sociedade ao longo dos

anos, mas também, valores e competências nos quais são inerentes ao convívio e às

vivências que ocorrem na escola.

Para que esses conceitos não fiquem “soltos” apenas diante das conversas e que sejam

vivenciados com criticidade, é importante criar uma estratégia de ensino de forma que

garanta o trabalho por todos os professores que estão envolvidos diretamente com os

alunos. Uma estratégia interessante e que atinge as crianças mais profundamente é a

Contação de histórias. Elas têm um caráter lúdico e, de forma gostosa e envolvente,

pode trabalhar diversos temas importantes e de fácil compreensão pelas crianças.

Por meio das histórias é possível entrar em sintonia com a criança, e de acordo com as

palavras de Bettelheim (2007) a história para enriquecer sua vida, deve estimular"lhe a

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imaginação: ajuda"la a desenvolver seu intelecto e tornar clara suas emoções, estar

harmonizada com suas ansiedades e aspirações, reconhecer plenamente suas

dificuldades e ao mesmo tempo sugerir soluções para os problemas que a perturbam.

Como nos contos os personagens não têm nomes próprios, isso facilita as projeções e

identificações, são chamados de irmão, irmã, pai, rei, madrasta... Dessa forma a criança

pode atribuir uma compreensão e transposição das histórias para sua vida real. A criança

confia no que o conto de fada diz porque a visão de mundo aí representada está de

acordo com a sua. O conto de fada sugere respostas, soluções. Deixa a fantasia da

criança o modo de aplicar a ela mesma o que história revela sobre a vida e a natureza

humana. Ele ajuda a consolar a criança melhor que um adulto.

2 "Problemas e questões

Diante deste tema abordado uma questão chave norteia este trabalho: Qual a

contribuição que as histórias infantis podem ter no trabalho da construção de valores

para um consumo saudável e educação financeira com crianças? Além desta questão

outras são necessárias para dar suporte ao trabalho, como: É possível realizar um

trabalho de educação financeira com crianças? Como este trabalho pode ser realizado?

Existe uma estreita relação entre valores e educação financeira?

3 "Objetivos

Os objetivos gerais deste trabalho visa proporcionar por meio das histórias um

ambiente crítico diante de situações próprias da vida real, atrelado as suas vivências

cotidianas. Ao mesmo tempo, temos o objetivo de trabalhar histórias com conteúdos

ligados a valores e competências. Estes darão suporte a discussões que sustentem temas

como: a autoestima, a autoconfiança, autenticidade, lidar com frustrações, ansiedade

entre outros valores que estão intimamente ligados ao trabalho de consumo consciente e

educação financeira, abordados anteriormente.

3.1 "Objetivos específicos:

• Integrar valores no cotidiano das crianças;

• Proporcionar às crianças instrumentos para que possam responder com equilíbrio

às distintas situações que irão confrontar em sua vida;

• Favorecer situações que potencializem as crianças a tomarem atitudes mais

seguras, autônomas, sabendo lidar com frustrações e ansiedade;

• Possibilitar discussões que ajudem as crianças a tomarem suas próprias decisões.

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• Promover conversas em que o consumo saudável seja abordado;

• Envolver a família nas discussões deste trabalho como uma parceira para o

desenvolvimento da criança.

4 " Metodologia

Este relato é fruto de um projeto realizado com uma turma de 18 crianças, entre

5 e 6 anos de idade, do 2º. Período da Educação Infantil, da Escola de Educação

Básica/Ufu. Ele conta com a participação da professora e de duas estagiárias do curso

de pedagogia, como alunas colaboradoras do projeto. Este está vinculado ao

Sisgrad/Ufu, no IV " Subprograma Educação Básica e Profissional.

Utilizamos como estratégias para coleta de dados a observação participante,

entrevista com crianças e grupo focal com os pais dos alunos. No caso da observação

participante, consideramos sua importância devido ao vínculo da professora/

idealizadora do projeto com os alunos, sendo algo significativo.

De acordo com Viana (2007, p. 50) “uma das vantagens da observação participante é a

de que, com seu próprio comportamento, é possível ao pesquisador testar suas hipóteses

por intermédio da criação de situações que normalmente não ocorreriam”. Este mesmo

autor (2007, p. 55) ainda reforça a importância sobre a observação participante ao dizer

que:

O pesquisador precisa saber ouvir para, por intermédio das crenças expressas, dos

pensamentos apresentados, dos sentimentos demonstrados e dos valores revelados,

compreender a lógica subjacente aos conteúdos das percepções (Viana, 2007, p. 55)

Sendo assim, as observações foram realizadas tanto para que fosse possível

realizar um diagnóstico inicial que evidenciassem as atitudes dos alunos diante de uma

atividade de intervenção, quanto no transcorrer das aulas, em diversas situações. Dessa

forma, inicialmente realizamos um diagnóstico para conhecer um pouco do

comportamento dos alunos em relação a ansiedade, a tolerância e a lidar com frustração

aplicando atividades individuais e coletivas. Estes comportamentos estão diretamente

relacionados ao modo como a pessoa lida com o consumo, como já relatado na

introdução deste trabalho, foco deste estudo.

Todas as atividades foram registradas em forma de notas de campo pela

pesquisadora e estagiárias (alunas colaboradoras) de forma a analisar como cada criança

reagiu com relação a ansiedade, paciência, tolerância, lidar com frustração, persistência,

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iniciativa entre outros aspectos que são inerentes ao comportamento. Foi possível

perceber uma heterogeneidade de comportamentos entre as crianças e que estes de certa

forma, compactuavam com suas atitudes em outras situações.

A partir dessas atividades, conhecendo um pouco mais o grupo de alunos dos

quais estávamos lidando, realizamos entrevistas com grupos pequenos de crianças sobre

seu comportamento consumidor, seu conhecimento sobre os produtos no mercado e

produtos naturais (utilizando gravuras) e quais eram seus sonhos e vontades. Esta

entrevista foi realizada como uma roda de conversa, na qual todos poderiam falar,

garantindo a participação de todos. Procuramos organizar grupos menores entre 5 e 6

crianças, para que a conversa não ficasse cansativa e nem perdesse o foco.

Após esta entrevista, percebemos que decidir entre comprar ou brincar, uma das

perguntas realizadas, era algo que dividia a turma, informação esta que nos surpreendeu.

Outro ponto relevante foi observar como os produtos do mercado, industrializados e

suas marcas são bem mais familiares para as crianças em vista das frutas, legumes e

verduras (produtos naturais). Os sonhos (pedidos) que elas disseram ter estavam sempre

aliados a algum bem de consumo, como brinquedos e justificavam sua necessidade pelo

simples fato de não terem.

Para complementar o trabalho, realizamos um Grupo focal com as famílias, de

modo que esclarecesse sobre o projeto desenvolvido e fosse possível ouvir os

responsáveis pelas crianças sobre este assunto. De acordo com Gatti (2005) com o

grupo focal:

É possível reunir informações e opiniões sobre um tópico em particular, com certo

detalhamento e profundidade, não havendo necessidade de preparação prévia dos

participantes quanto ao assunto, pois o que se quer é levantar aspectos da questão em

pauta considerados relevantes, social ou individualmente, ou fazer emergir questões

inéditas sobre o tópico particular, em função das trocas efetuadas (Gatti, 2005, p. 13)

A professora elaborou uma apresentação do tema, utilizando fotos, textos,

vídeos e imagens de propaganda que aguçassem sobre a temática. Foram feitas

discussões que clareassem as ideias sobre o assunto para as famílias e alguns pais

mostraram"se surpresos diante da problemática que tem sido o comportamento dos seus

filhos, de maneira submissa a indústria do consumo desenfreado e manipulador.

Terminada esta etapa, iniciamos o trabalho com atividades de intervenção com as

crianças para suscitar discussões acerca dos valores/competências atrelados ao

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comportamento consumidor. Estas atividades consistiam em histórias que provocavam

temas para serem abordados com as crianças.

Foram histórias que desencadearam discussões sobre a diferenciação entre ter e

ser; a cooperação e o planejar para conseguir algo, como paciência, organização, saber

esperar...e valores como cooperação, amizade, simplicidade, entre outros. Em todas elas

realizamos atividades de registro em sala e com a família para que compartilhassem este

assunto em casa também. Algumas histórias contadas são de domínio público, como as

fábulas e outras de algum autor específico o qual consta em nossas referências, tais

como: “O príncipe sem sonhos; O leão e o ratinho; Os três porquinhos; A cigarra e a

formiga; Filme: Lorax, em busca da Trúfula perdida; A árvore de Beto; Como se fosse

dinheiro; No tempo em que a televisão mandava no Carlinhos; Combustível para o

corpo – conversando sobre alimentação e O dono da bola”

Além da questão dos valores diretamente relacionados ao consumo consciente e

educação financeira, a partir destas histórias outras frentes de trabalho foram

desencadeadas complementando as demais, como: construção de brinquedos de sucata e

bonecas de pano, elaboração e funcionamento de um mercadinho, pesquisa sobre

alimentos saudáveis e confecção de cartazes/propagandas para divulgar na escola o

consumo destes alimentos, pesquisa com as famílias sobre brinquedos e brincadeiras

que tinham quando eram crianças e análise de propagandas enganosas.

Após as atividades de intervenção, fizemos novos diagnósticos para observar

possíveis alterações no comportamento dos alunos quanto a ansiedade, lidar com

frustrações, saber esperar, tolerância entre outros valores/competências que acharmos

pertinentes. Porém algumas ressalvas sobre a avaliação deste trabalho são necessárias, e

serão esclarecidas a seguir.

5 "Resultados

Por este projeto se tratar de uma mudança comportamental, na construção de

valores que possam influenciar no comportamento consumidor infantil, a avaliação

precisa considerar as diversas variáveis presentes neste grupo de crianças.

As variáveis estão presentes na heterogeneidade da classe social dos alunos, na

diferença de gênero, na idade das crianças que estão em pleno processo de

desenvolvimento e sofrem influências do contexto social em que estão inseridas a todo

o momento, no envolvimento dos pais e do grau de credibilidade que darão às

atividades sugeridas, entre outras variantes que possam surgir. Afirmar que houve

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mudança de comportamento ou desenvolvimento por conta exclusivamente do projeto é

prematuro e leviano. É de conhecimento das pessoas envolvidas neste trabalho, que a

aprendizagem, bem como o desenvolvimento da criança acontece em decorrência a

diversos fatores existentes no contexto em que vive, podendo sofrer influência deste

projeto de diversas maneiras, algumas com mais intensidade e significado e outras com

menos.

Por este motivo os resultados deste projeto podem ser obtidos por meio da

observação contínua dos alunos, bem como registro de falas, intervenções, reações, na

medida em que o projeto foi acontecendo, uma avaliação processual.

Um nível de medida considerado é a quantidade de horas de trabalho

direcionado ao projeto, uma vez por semana. Por se tratar de uma sala de aula, em que a

própria professora é a mentora do projeto, é destinado algumas horas por mês para sua

execução. Porém é válido considerar que os valores a serem trabalhados, não precisam e

nem podem ser discutidos somente no momento da execução das atividades, isto é, eles

surgem em diversos momentos no cotidiano escolar. São valores para a vida e serão

sempre levados em consideração em diversas situações que eles manifestarem o

interesse, sendo parte de um trabalho interdisciplinar.

Através de brincadeiras, intervenções, perguntas, simulação de situações do

cotidiano, é possível avaliar uma mudança de comportamento, como o aumento ou não

da ansiedade, insistência, tolerância a frustração... comparando suas reações no início

do projeto e no final, após as atividades realizadas. A participação da família é algo

relevante, à medida que compreendem o intuito do projeto e reavaliam o

comportamento consumidor da família, incluindo os filhos nas conversas, sobre valores

morais, atitudes conscientes, sendo coautoras do projeto.

Em algumas situações são vistos resultados do nosso trabalho, como por

exemplo: as crianças comentaram formas de mostrar que gostam de alguém fazendo

algo por ela, em vez de comprar um presente (dia das mães); disseram que precisam

planejar para construir uma casa se referindo na história dos Três Porquinhos;

argumentaram o que poderiam fazer para conseguir realizar seus sonhos e de sua

família. Também surgiram falas do tipo: mesmo se não conseguir vou tentar novamente;

tenho o sonho de ter muitos amigos; mesmo sendo pequenos podemos ajudar...

Quando brincamos de mercadinho, também fizemos uma avaliação, visto que

algumas crianças planejaram o que comprar, outras gastaram todo o dinheiro de uma só

vez mas se sentiram satisfeitas e algumas crianças queriam comprar outras coisas mas o

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dinheiro havia acabado. Reflexões nesse sentido, procurando fazer uma ponte com o

cotidiano delas e suas famílias, foram riquíssimas a ponto de reverem muitos conceitos.

Um deles é de que para ir às compras ao supermercado é necessário antes fazer uma

lista de produtos que acabaram em casa ao longo da semana, para que saiba o que

realmente precisam comprar e não gastar o dinheiro todo com compras de impulso,

faltando para os produtos mais importantes e realmente necessários. Por conta desta

reflexão, as crianças juntamente com suas famílias realizaram esta lista de compras em

suas casas e a levaram ao supermercado no dia das compras. Elas relataram que foi algo

novo e importante pois conseguiram organizar melhor o dinheiro e os produtos, isto é,

saber diferenciar o desejo da necessidade.

Sabemos que alguns valores e competências construídos na infância estão

correlacionados com comportamentos adultos no futuro. Assim uma criança que

aprende a honrar compromissos como acontece na fábula A cigarra e a formiga e

discute sobre essa atitude atrelando a vivências reais, pode se tornar um adulto que paga

suas dívidas em dia. Da mesma maneira quando se trabalha a autenticidade e a

autonomia moral para não ser influenciado passivamente pelas decisões dos outros,

poderá ser um adulto que não se submeta a propagandas e compras por impulso.

Podemos concluir que esta experiência, pode ter um impacto no

desenvolvimento da criança a longo prazo, ao pensar que atitudes e comportamentos

construídos desde a infância, pode influenciar positivamente no futuro em um adulto

que sabe se comportar adequadamente para um consumo saudável.

7"Referências

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Trad. D. Batista. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

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__________. Como se fosse dinheiro. São Paulo: Moderna, 2010.

__________ . No tempo em que a televisão mandava no Carlinhos... São Paulo:

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SCHOR, J. B. Nascidos para comprar: uma leitura essencial pra orientarmos nossas

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SOUZA, S. Eu preciso tanto! São Paulo: Escala Educacional, 2009.

VASSALO, M. O príncipe sem sonhos. São Paulo: Brinque"Book, 1999.

VIANNA, Heraldo Marelim. Pesquisa em educação: a observação. Brasília: Liber Livro

editora, 2007.

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Rafael Duarte Oliveira Venancio

Universidade Federal de Uberlândia

[email protected]

Resumo:

O presente artigo pretende discutir a questão do papel dos laboratórios didáticos de

prática noticiosa dentro da formação superior do jornalista, ou seja, nos cursos de

Graduação de Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo. Inserido em um

arcabouço teórico posto pela Filosofia Analítica da Linguagem – especialmente as

ideias da Escola de Cambridge (centradas em Ludwig Wittgenstein e suas Investigações

Filosóficas) e da Escola de Oxford (centradas nas ideias fundantes de J. L. Austin) – e

por sua influência no pensamento sociológico de Pierre Bourdieu, o debate aqui

engendrado se centra na problemática de que a formação prática do jornalista pode e

deve ser feita dentro da dinâmica didática dos cursos superiores de Jornalismo, com

particular atenção para os laboratórios que buscam desenvolver as práticas noticiosas

dos alunos, sendo eles tanto calcados na ideia do impresso (jornais e revistas), como na

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ideia do audiovisual (rádio e televisão), como na ideia do digital (Internet e Mídias

Sociais) ou mesmo em uma exploração do transmídia. É através desses laboratórios

didáticos que se inicia o processo de formação do aluno enquanto jornalista, fazendo"o

incorporar o habitus da profissão. Para isso, deve se colocar o habitus jornalístico

enquanto uma capacidade de compartilhamento, domínio e reconhecimento da

linguagem do Jornalismo bem como de sua deontologia. Assim, o Jornalismo não seria

apenas um uso da língua natural, mas sim um uso de um protocolo de linguagem (i.e.

jogo de linguagem), socialmente compartilhado e regulado pelo habitus. Com isso, os

laboratórios didáticos de Jornalismo, a iniciar pela figura do professor responsável, seria

o primeiro passo de inserção do aluno nesse jogo de linguagem e nesse habitus,

elementos cruciais para sua formação e prática futura enquanto jornalista.

O HABITUS E AS NOTÍCIAS: QUESTÕES ANALÍTICAS ACERCA DA

FORMAÇÃO PRÁTICA"LABORATORIAL DO JORNALISTA

Em uma afirmação, similar a muitas outras que são feitas em trabalhos centrados na

ideia de habitus, podemos dizer que ninguém nasce jornalista, mas sim se torna

jornalista. Considerando tal máxima, o presente trabalho busca pensar nessa formação

do jornalista enquanto um processo inserido nos estatutos didáticos de um Bacharelado,

de uma formação superior.

Com isso, deve se ressaltar não apenas a ordem teórica necessária para formar tal

habitus, mas também na ordem prática. Ordem prática essa, tão cara para a Sociologia

de Pierre Bourdieu, que em uma graduação em Jornalismo é representada pelas aulas de

laboratório noticioso.

O objetivo do presente trabalho é reforçar a importância curricular das aulas de

laboratório noticioso em um curso superior de Jornalismo. Importância que não seria da

ordem da simulação da prática noticiosa do mercado, mas sim da inserção do aluno na

ação linguística do jornalismo e em sua deonotologia. Além disso, tanto ação linguística

como deontologia seria reguladas pelo habitus, cujo primeiro contato dos alunos com

ele seria em tais aulas laboratoriais.

Para tal empreitada, primeiro iremos entender a influência da Filosofia Analítica da

Linguagem, representada aqui por Ludwig Wittgenstein e J. L. Austin, e sua visão da

linguagem enquanto uma práxis social na ideia de habitus. A seguir, partiremos para

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uma descrição do habitus jornalístico para verificar o papel do laboratório didático em

sua iniciação discente. A ideia aqui é reforçar o papel do professor nesse processo,

valorizando a formação superior nessa prática midiática.

Wittgenstein, Austin e a linguagem como prática social

É notório que, para compreendermos a ideia de habitus de Pierre Bourdieu e suas

implicações no estudo dos processos sociais de compartilhamento de linguagens e

práticas (que, no nosso caso, é a linguagem da prática midiática denominada

Jornalismo), precisamos recapitular sua dívida teórica com a chamada Filosofia

Analítica da Linguagem, especialmente com suas duas escolas centrais: Cambridge

(iniciada por Bertrand Russell e popularizada por Ludwig Wittgenstein) e Oxford

(centrada na figura de J. L. Austin). O que une o pensamento linguístico de Cambridge

ao pensamento de Oxford é a presença de dois conceitos acerca da linguagem dentro do

escopo analítico: a comunicabilidade e o psicologismo fraco.

O princípio da comunicabilidade, apesar de não ser o grande tema das Investigações

Filosóficas, é considerado o principal legado de Wittgenstein porque, através dele, a

chamada Filosofia da Linguagem Ordinária (conhecida também como Escola de

Oxford), da qual Austin é um afiliado, pode se consolidar. O termo comunicabilidade

em si não é usado nem por wittgensteinianos nem pelos membros da linguagem

ordinária, mas sim dentro de um contexto pragmático da analítica francesa. Dois pontos

do pensamento de Wittgenstein compõem esse conceito:

(1) não há, de um lado, o pensamento e, de outro, a linguagem: indissociáveis, eles

geram um ao outro, simultaneamente; (2) já não há mais linguagem própria do

indivíduo, “linguagem privada”, posteriormente traduzida em linguagem pública: a

linguagem é constitutivamente pública. Falar é seguir regras, e só é possível seguir uma

regra como atividade publicamente controlada, no exercício da comunicação.

Wittgenstein é, portanto, aquele que substitui o paradigma da expressividade pelo da

comunicabilidade (ARMENGAUD, 2006, p. 36).

Se, em linhas gerais, tal visão parece fluida, ela entra em mecanismos truncados quando

é pensada em relação aos argumentos de um Kripke (1982) ou mesmo nas críticas que

Austin faz das Investigações, se afiliando mais diretamente ao pensamento de G. E.

Moore, por exemplo (GRAYLING, 1988, p. 114). Dessa forma, é mais interessante não

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se referir, de maneira “seca”, ao rule"following, tirando"o de seu paradoxo para fazê"lo

enquanto base da comunicabilidade.

Norman Malcolm bem define esse paradoxo estando tanto na letra wittgensteiniana

como nos estudos acerca dela:

Uma situação paradoxal existe no estudo de Wittgenstein. Há um dissenso agudo na

interpretação de seu pensamento acerca do seu conceito de seguir uma regra [following

a rule]. De acordo com um grupo de filósofos, a posição de Wittgenstein é que esse

conceito pressupõe uma comunidade humana no qual há acordo se fazer tal e tal coisa é

ou não é seguir uma regra particular. Um segundo grupo de filósofos afirma que essa

interpretação de Wittgenstein não é apenas errada, mas é uma caricatura do pensamento

de Wittgenstein: quando Wittgenstein diz que seguir uma regra é uma “prática” ele não

quer dizer que é uma prática social, ele não invoca uma comunidade de seguidores de

regra, mas, no lugar, ele enfatiza que seguir uma regra pressupõe uma regularidade, uma

repetida ou recorrente forma de agir, que pode ser exemplificada na vida de uma pessoa

solitária. Para a primeira interpretação, não haveria sentido supor que um ser humano

que cresceu em total isolamento do resto da humanidade poderia seguir regras. Para a

segunda interpretação, tal isolamento seria irrelevante (MALCOLM, 1989, p. 5).

O paradoxo se centra no ponto já mencionado pelo presente trabalho, ou seja, o quanto

do jogo de linguagem wittgensteiniano está a serviço das sentenças, não importando se

são sentenças de suas regras como sentenças de suas atividades. É a grande constatação

posta pelo parágrafo 202 das Investigações: “eis porque ‘seguir a regra’ é uma práxis. E

acreditar seguir a regra não é seguir a regra. E daí não podermos seguir a regra

‘privadamente’; porque, senão, acreditar seguir a regra seria o mesmo que seguir a

regra” (IF, §202).

As duas interpretações parecem, concomitantemente, certas em um determinado grau já

que elas calcam suas soluções em mudanças mínimas. A primeira, defendida

principalmente por Malcolm (1989), afirma que a práxis é compartilhada [shared]. Já a

segunda, defendida principalmente por Baker e Hacker (2009), afirma que a práxis é

compartilhável [sharable}.

Ora, além de ver o jogo de linguagem através de funções, as regras permitem à

investigação wittgensteiniana ver que existência, uso e cumprimento das regras são

coincidentes ao jogar do jogo de linguagem. Essa distinção entre atitudes de regra não

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deve ser feita, especialmente quando pensamos nos enunciados que compõem dado

jogo.

Dois pontos são dignos de nota: (i) o conceito de regra se interpenetra com os conceitos

de ser guiado por uma regra, de justificar e criticar ações em referência a uma regra,

com ensinar técnicas, com descrever comportamentos nos termos de regras que os

define e com dar explicações de comportamento em termos de razões, objetivos e

propósitos. (ii) A relação entre uma regra e um ato que entra em acordo com ela é

interna. A própria regra determina o que entra em acordo e o que entra em conflito com

ela. Entender uma regra é saber o que entra de acordo com ela. Esse é o corolário desses

dois pontos que o conceito de agir de acordo com a regra não deve ser pensado

enquanto logicamente anterior ao conceito de seguir uma regra. Na ausência de

atividades organizadoras e normativas distintas das práticas de seguir regras, não

haveria tal coisa como regras (e, assim, sem possibilidades de acordar ou conflitar com

regras) (BAKER & HACKER, 2009, p. 136).

Só que o uso de uma dada linguagem só pode ser pensado enquanto regra? Interessante

lembrar aqui, enquanto provocação, que Wittgenstein em Gramática Filosófica definiu

claramente que a gramática de uma dada linguagem é a indicação de seus usos, ou seja,

compartilhada pelo seu uso. A ideia de ser apenas compartilhável é um contrassenso que

implica, no limite, a uma essência da linguagem.

Ora, se o projeto wittgensteiniano está aí contra a essência e pela visualização dos

processos de estruturação das práticas pela linguagem, o compartilhável seria da ordem

de aceitar uma metafísica, da ontologia, minando, no limite, a necessidade lógica e o

projeto analítico. Basta analisar os exemplos que agem a favor do compartilhável. Por

exemplo, Robinson Crusoé possui linguagem? Sim, claro, porque ele não foi um

solitário pela totalidade da sua vida e, como bem Malcolm (1989, p. 17) nota, nos

também temos nossos momentos de solidão e nem por isso perdemos nossa linguagem

ou estamos fora do jugo da práxis social da linguagem.

Então vamos pensar em exemplos mais radicais, tais como de Mogli, Tarzan, ou

mesmo, Kaspar Hauser. O primeiro, especialmente no desenho animado, possui um

exagero: ele está fora da comunidade humana, mas está dentro de uma comunidade de

animais antropomorfizados e anglófonos, assim seu uso da linguagem é análogo aos dos

humanos. Já Tarzan vive entre macacos que falam uma determinada língua e se torna

um autodidata em inglês, com os livros e com a presença da expedição norte"americana,

indicando novamente a presença de (duas, no caso) comunidade.

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Já a lenda de Kaspar Hauser é o mais radical de todos, o menino que foi trancado em

um porão nos 17 primeiros anos de sua vida. Se acreditarmos na fabulação que nos é

transmitida desde o livro de von Feuerbach (pai do filósofo jovem hegeliano), a

aquisição de linguagem por Kaspar vai indo em um crescente quando aumenta sua

sociabilização. Das sensações e primeiras palavras aprendidas com o homem do porão,

para as primeiras explicações na cidade e, até mesmo, aquisição de outras linguagens

(desenho, por exemplo) e uma educação formal.

Assim, a lenda de Kaspar Hauser pode nos dar uma resposta possível para uma

provocação de Norman Malcolm (1989, p. 17) direcionada a Baker e Hacker: “O

problema filosófico acerca de “seguidores solitários de regra” pode ser a questão se

alguém que cresceu em total isolamento dos outros seres humanos pode criar uma

linguagem para seu próprio uso?”. Nisso, a vida de Kaspar, segunda a lenda, responde

que não, indicando 17 anos praticamente alinguísticos, vivenciados apenas com

sensações que posteriormente foram interpretadas.

Dessa forma, não podemos acreditar que seja dispensável a questão da presença de uma

comunidade linguística. Como bem está escrito no Zettel, “o nosso jogo de linguagem

só funciona, evidentemente, se prevalecer uma certa concordância, mas o conceito de

concordância não entra no jogo de linguagem. Se a concordância fosse universal, o seu

conceito poderia ser"nos completamente desconhecido” (Z, §430).

Eis aqui uma dupla impossibilidade: a de negar a comunidade linguística como

dispensável (tal como colocam Baker e Hacker), mas também a de confirmar

plenamente a comunicabilidade, mantendo apenas a ação linguística como base para

todo o pensamento analítico. O paradoxo do rule"following pensado em sua

fenomenologia sempre retorna ao ponto inicial.

Com isso, para sair do paradoxo do rule"following, devemos pensar na própria

constituição lógico"relacional da linguagem. Ou seja, não devemos considerá"lo

enquanto um tema pragmático, da ação linguística (tal como o princípio da

comunicabilidade o coloca), mas sim um tema lógico, vinculado às relações entre

linguagem e mundo, linguagem e realidade, pensamento e realidade.

Entra aqui, novamente, a questão do psicologismo fraco. Quando estuda a questão do

psicologismo na lógica, Susan Haack nota três posturas: o antipsicologismo (de Frege),

o psicologismo forte (de Boole) e a posição intermediária do psicologismo fraco. Cada

uma delas pode ser definida com uma posição:

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(i) a lógica é descritiva em relação aos processos mentais (ela descreve como nós

pensamos, ou talvez como nós devemos pensar); (ii) a lógica é prescritiva em relação

aos processos mentais (ela prescreve como nós deveríamos pensar); (iii) a lógica não

tem nada a ver com processos mentais; Pode"se chamar estas posições de psicologismo

forte, psicologismo fraco e antipsicologismo, respectivamente. Exemplos: Kant

sustentou algo como (i); Peirce, uma versão de (ii); Frege, (iii) (HAACK, 2002, p. 310).

Com isso, Peirce, estando entre Boole e Frege, proporciona um importante framework

para a compreensão da totalidade dos conceitos wittgensteinianos em coerência. E isso

desemboca no parágrafo 292 das Investigações: “Não creia sempre que você lê suas

palavras nos fatos; você os reproduz em palavras, segundo regras! Pois, na verdade,

você precisaria aplicar a regra num caso especial, sem guia” (IF, §292).

Nesse parágrafo, há um ataque tanto ao antipsicologismo que, de certa maneira, implica

um solipsismo lógico como em um psicologismo forte que levaria a um behavorismo da

linguagem. Wittgenstein nos coloca que não há antipsicologismo porque o domínio da

linguagem é um domínio compartilhado através das regras dos jogos de linguagem e

que não há psicologismo forte porque não há um ideal metafísico a ser seguido (uma

guia), apenas as regras de interação.

É por essa exploração da interação pressuposta em um psicologismo fraco que

encontramos o caminho de ligação entre Wittgenstein e Austin, entre o pensamento de

Cambridge e o de Oxford. O jogo de linguagem dita as regras, as configurações de uma

dada linguagem. No entanto, essa linguagem só é posta em movimento pelo uso, pela

interação, ou seja, pela performatividade descrita por Austin (1975). Performatividade

essa que está no cerne do habitus do jornalismo e que deve ser desenvolvida durante a

formação superior dessa profissão.

Habitus e Linguagem

Ora, tal como Bourdieu (2000) e Wacquant (2011) afirmam, o habitus é a fonte de

produção de práticas individuais e coletivas. É uma fonte histórica cujos esquemas

práticos são engendrados pela presença ativa das experiências passadas, depositadas em

cada organismo em forma de esquemas de pensamento e ação, pondo regras formais e

normas explícitas para garantir a conformidade das práticas e sua constância durante o

tempo.

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Wacquant (2011, p. 85"6) vai além e delimita quatro propriedades do habitus: (1) o

habitus é um conjunto adquirido de disposições; (2) na dimensão do habitus, a expertise

prática opera abaixo do nível de consciência e discurso; (3) o habitus varia pela

localização social e trajetória e; (4) o habitus é um resultado de um trabalho pedagógico.

Assim, o habitus se torna o bilhete de ingresso e de permanência em um determinado

campo, conceito igualmente bourdiano. Ele é a dimensão prática dentro do escopo

teórico posto pelo último. O habitus é a performatividade, a ação linguística, a práxis

social. Ele é o resultado da atuação de uma linguagem específica enquanto ferramenta

social, consideração essa que Bourdieu compartilha tanto com Chomsky como com

Wittgenstein.

O jornalismo, muitas vezes pensado meramente enquanto campo desde os tempos de

Otto Groth, possui em seu habitus a face mais desejada e busca por alguém que quer ser

jornalista. O aluno, o futuro jornalista, precisa adquiri"lo para conseguir incorporar sua

profissão almejada.

Com isso, um currículo de graduação em jornalismo não pode apenas referenciar o

campo com suas disciplinas teórico"reflexivas. Há necessidade de introduzir o habitus

nas salas universitárias e o lugar para isso é o laboratório didático em Jornalismo.

Habitus e o papel do laboratório didático na Graduação em Jornalismo

Na proposta das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Jornalismo (Portaria

nº 203/2009, de 12 de fevereiro de 2009), quatro dos seis alicerces da estrutura da

Graduação em Jornalismo pressupõem a presença de laboratórios didáticos de ordem

noticiosa. São eles: alicerce III (promoção da integração entre teoria e prática), alicerce

IV (inserção precoce do aluno em atividades didáticas relevantes para a sua futura vida

profissional), alicerce V (utilização de cenários de vivência) e alicerce VI (promoção da

interação do aluno com fontes, profissionais e públicos do jornalismo).

Com isso, tais colocações reforçam que o currículo precisa valorizar o “eixo de prática

laboratorial”, dedicando espaço e carga horária de igual importância perante os demais.

Para tal medida se concretizar, os currículos precisariam contar, idealmente, com uma

disciplina que contemple o laboratório didático em todo semestre, além de incentivar a

realização de Trabalhos de Conclusão de Curso duais, que contemplem tanto uma

exploração teórica, de ordem monográfica, como um produto jornalístico concebido,

realizado e veiculado pelo aluno.

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Essa valorização recente do laboratório didático é, no limite, é uma reação histórica ao

antigo preceito de que o curso de Jornalismo não poderia fornecer uma iniciação na

prática da profissão, devendo ele fornecer apenas os mecanismos teóricos e contextuais,

deixando o estágio profissional, mesmo não sendo obrigatório, fornecer os mecanismos

práticos da linguagem do jornalismo.

Com isso, o laboratório de redação seria apenas um simulacro incompleto da prática,

uma condição mais lúdica do que formativa, um exercício descompromissado com a

realidade posta pela linguagem e pela deontologia jornalísticas. O advento dessa reação

reforça a valorização, no âmbito brasileiro, do curso de Jornalismo, mesmo em tempos

onde a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão é posta em xeque sob o

solo jurídico da liberdade de expressão.

Nessa reorganização acerca da formação desta prática midiática, a valorização do

laboratório didático não é sem propósito. Afinal, podemos pensar o laboratório didático

enquanto lugar ideal do desenvolvimento do habitus do jornalismo. Lembrando do

trabalho de Wacquant (2006) sobre o habitus do boxe, não se nasce boxeador, se torna.

Não se torna boxeador lutando na rua ou direto em um ringue profissional, mas sim se

submetendo a processo social de se tornar boxeador ao frequentar academias

especializadas e seu processo de treinamento.

O mesmo acontece com os jornalistas: é nos bancos escolares que nos tornamos

jornalistas. E, sem dúvida, são nos laboratórios didáticos noticiosos que vemos

claramente a relação do aluno com o habitus do Jornalismo e suas quatro propriedades.

Em primeiro lugar, é no laboratório didático que o aluno entra em contato com o

conjunto adquirido de disposições que compõe o habitus jornalístico. É nele que o

discente desenvolve suas capacidades pragmáticas e se confronta com as questões

deontológicas da profissão.

Uma segunda colocação é que o laboratório didático é, dentro de uma Graduação em

Jornalismo, o locus da expertise prática. Nele, não basta criticar ou observar a atividade

jornalística, deve exercê"la. Não é apenas uma formação da mente do jornalista, mas

também do exercício da profissão no seu corpo. É necessário ir além do escrever e falar,

ou mesmo do filmar, gravar e registrar. É preciso correr atrás de fontes, fazer

entrevistas, debater com os colegas de redação, vivenciar prazos.

No terceiro ponto, se reforça a condição dos laboratórios sempre estarem relacionados

com o exterior da Instituição de Ensino Superior. Cada parte do país, cada parte de um

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Estado, cada parte de uma cidade, não só fornece jornalistas diferentes, mas também

preocupações factuais – que se tornarão notícias – diferentes.

Por fim, o laboratório didático se coloca enquanto componente do curso de Jornalismo

na busca de seu trabalho pedagógico. O laboratório é, dentro do currículo da Graduação

em Jornalismo, o contraponto ao mundo das redações e seu engessamento. Junto com os

eixos da ordem do teórico, a dimensão prática da formação acadêmica do jornalista se

coloca em verdadeira oportunidade de refletir a profissão ao mesmo tempo em que a

inicia, proporcionando a tão desejada experimentação que proporcionará a inovação nos

estatutos sociais postos por essa linguagem midiática seja no campo dos modos de fazer

jornalismo seja no papel do jornalista com a sociedade.

Bibliografia

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AUSTIN, J. L. How to do Things with Words. Cambridge: HUP, 1975.

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MALCOLM, N. “Wittgenstein on Language and Rules”. Philosophy. vol. 64, nº 247,

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WITTGENSTEIN, L. Investigações Filosóficas. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

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Mauricio dos Reis Brasão

Universidade Presidente Antônio Carlos " UNIPAC

[email protected]

Marco Aurélio Martins Rodrigues

Universidade Federal de Uberlândia " UFU

[email protected]

Resumo

O artigo nasce de um longo navegar à noção da neutralidade da tecnologia e educação.

O processo de estender a democracia à tecnologia começou com o movimento

trabalhista, em que demandas em torno da saúde e segurança no trabalho e a extensão da

jornada de trabalho foram uma primeira intervenção pública na tecnologia. Os

socialistas generalizaram esses desafios e chamaram a atenção para a contradição entre

a ideologia democrática e a tirania das fábricas. Essa foi a primeira expressão de uma

política de tecnologia num tempo em que a mediação técnica ainda estava confinada a

um setor isolado da sociedade. Mais tarde, tais questões como segurança alimentar e

poluição ambiental passaram a indicar o círculo crescente dos públicos afetados. As

preocupações acerca de privacidade e da liberdade de expressão na Internet são as

últimas manifestações da aspiração à democracia no domínio tecnológico. A

neutralidade geralmente se refere à indiferença de meios específicos para uma escala de

objetivos dos quais se é escravo. Se nós supusermos que essa tecnologia como nós a

conhecemos hoje é indiferente em relação aos fins humanas de modo geral, então

certamente nós a neutralizamos e a colocamos além da controvérsia possível.

Alternativamente, pode"se discutir que se a tecnologia é neutra em relação a todos os

fins que podem ser tecnicamente ser servidas. Mas nenhumas destas posições fazem o

sentido. Hoje nós empregamos tecnologia específica com limitações que são devidas

não somente ao estado de nosso conhecimento, mas também às estruturas do poder que

balizam este conhecimento e suas aplicações. De abordagem qualitativa, é um estudo

bibliográfico. Como resultados, pudemos constatar que a maior implicação desta

abordagem é trabalhar com os limites éticos dos códigos técnicos elaborados sob a regra

da autonomia operacional. O mesmo processo desatou os capitalistas e os tecnocratas

para tomar decisões técnicas sem levar em consideração as necessidades dos

trabalhadores e das comunidades e gerou uma riqueza de “valores novos,” demandas

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éticas forçadas a procurar a voz discursivamente. O mais fundamental, a

democratização da tecnologia é encontrar maneiras novas de privilegiar estes valores

excluídos e de realizá"los em arranjos técnicos novos. Esta tecnologia existente favorece

extremidades específicas e obstrui outras.

Palavras"chave: Educação. Tecnologia. Cultura. TDICs. Filosofia.

Introdução

Na atualidade, o discurso capitalista posiciona as pessoas para a busca individual do

sucesso, muitas vezes à custa de outrem, e para a aceitação passiva do fracasso, como se

este fosse uma decorrência natural e inevitável das mudanças econômicas e sociais.

Feenberg (2013) nos ensina que,

a sociedade do consumo trouxe à tona, de outra forma, a questão da identidade, [...], a

tecnologia significa a espécie de seres que somos, [...], em suma, você é o que você faz.

Feenberg (2013) analisa que as tecnologias modernas são percebidas como puramente

instrumentais e desvinculadas de passado, do ambiente em que funcionam, e de

operador, e que ocultam separações aparentes como aspectos essenciais da tecnologia,

que alteram mudanças no significado de nosso mundo e mudanças em nossa própria

identidade.

A sociedade de consumo trouxe à tona, de outra forma, a questão da identidade, e que as

tecnologias que usamos na vida cotidiana, faz com que signifiquemos a espécie de seres

que nos tornamos, ou seja, somos o que fazemos e o que usamos. Questiona"se então se

nós controlamos o mundo por meio da tecnologia, mas será que nos controlamos a nós

próprios? A falta de controle se mostra como a condição de tentar romper limites

naturais, numa vasta gama de problemas tecnológicos.

Na verdade, o conhecimento técnico e a experiência mais se complementam do que se

opõe, e esse saber técnico é incompleto sem o insumo da experiência que, por sua vez,

corrige os equívocos e suas simplificações. As manifestações públicas, de forma

indireta, revelam involuntariamente as complicações causadas por aqueles pontos

obscuros, os aspectos da natureza e da vida social até então negligenciadas pelos

especialistas. Essas manifestações edificam valores e prioridades, e demandas de áreas

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como segurança, saúde, trabalho especializado, diversão, cidades esteticamente

agradáveis, atestam para a insuficiência, o insucesso, o fracasso da tecnologia ao

incorporar de forma adequada, todas as limitações de ambiente. Eventualmente, aqueles

valores serão incorporados em designs técnicos aprimorados e o conflito entre o público

e especialistas será atenuado. Mesmo assim, os valores não podem adentrar a

tecnologia sem serem traduzidos em linguagem tecnológica. Durante o processo de

produção de novas versões de tecnologias contestadas, que reaja mais positivamente

num contexto, os valores são transformados em fatos técnicos e a tecnologia se ajusta

mais facilmente a seu nicho.

A estrutura desse processo é uma consequência de uma tecnologia rompida em tempos

modernos, a partir da experiência daqueles que vivem com ela e a utilizam. Mas a

experiência de usuários e de vítimas da tecnologia eventualmente influencia os códigos

técnicos que designamos design. Então, tais interações estão se tornando rotina, e

novos grupos frequentemente emergem, à medida que os “mundos” se transformam em

resposta à transformação tecnológica. Essa dinâmica abrangente de mudança

tecnológica fecha o círculo descrito no paradoxo da ação: tudo o que sobe, desce.

Então, poderíamos dizer que os valores são os fatos do futuro. Os valores não são o

contrário dos fatos, desejos subjetivos sem nenhuma base na realidade, e sim,

expressam aspectos da realidade que ainda não foram incorporados ao ambiente técnico

dado por certo. Esse ambiente foi desenvolvido pelos valores que determinam sua

criação. As tecnologias são a expressão cristalizada desses valores, que se abre a

designs estabelecidos para revisão.

Assistimos nos anos 80 algo completamente diferente, observamos a emergência das

novas práticas comunicativas das comunidades online. Subsequentemente, nós vimos

críticos culturais, inspirados pela teoria da modernidade retomar a antiga abordagem

para esta nova aplicação, denunciando, por exemplo, a suposta deterioração de uma

comunicação humana na Internet. Abreviamos que as redes de computador globaliza a

pessoa, reduzindo seres humanos a um fluxo de dados que o usuário nem sempre pode

facilmente controlar, pois está sujeito às extremidades das infovias. Basicamente um

monstro a social apesar da aparente interação online, mas essa crítica pressupõe que os

computadores são realmente um meio de comunicação, talvez inferior, mas não menos

intencional.

Muito recentemente, o debate sobre a computação tem apontado para o ensino superior,

onde as propostas para o ensino online se deparam com certa resistência em nome de

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valores humanos. Enquanto isso, a educação a distância está emergindo como um tipo

novo de prática comunicativa (FEENBERG, 2013).

Houve um tempo, não muito distante que a condenação da tecnologia pareceu plausível

a muitos críticos sociais. A atitude tarda e inspira desdéns arrogantes para a tecnologia

entre os intelectuais que não obstante, os empregam constantemente em suas vidas

diárias. Cada vez mais, entretanto, o criticismo social dirigiu"se para estudar e advogar

possíveis reconfigurações e transformações da tecnologia para acomodá"la aos valores

excluídos do design inicial das redes. Esta aproximação emergiu primeiramente no

movimento ambiental que era bem sucedido em modificar o design das tecnologias

através da regulamentação e da discussão. Hoje a aproximação continua nas propostas

para transformar as biotecnologias e a informática " a teoria da instrumentalização

sugere um balanço geral das estratégias empregadas em tais movimentos.

A instrumentalização primária envolve a descontextualização, que quebra arranjos

naturais pré"existentes, frequentemente de grande complexidade. Naturalmente

nenhuma descontextualização pode ser absoluta. O processo é sempre condicionado

pelas instrumentalizações secundárias que oferecem uma recontextualização parcial do

objeto em termos de exigências técnicas e sociais diversificadas. Em cada caso os

objetos são retirados de suas conexões naturais, novas conexões técnicas e sociais estão

implícitas na maneira mesma de suas reduções e simplificações na medida em que será

aplicado tecnicamente.

O criticismo construtivo da tecnologia aponta precisamente para as deficiências no

processo da recontextualização, pois ele é aqui o direcionamento do design que está

sendo introduzido. Isto é particularmente claro sob o capitalismo, onde as estratégias de

negócio bem sucedidas envolvem frequentemente a quebra livre de vários grupos

sociais na encalço dos lucros.

As controvérsias éticas do mundo real, que envolvem a tecnologia, giram

frequentemente sobre a suposta oposição de padrões atuais de eficiência e de valores

técnicos. Mas esta oposição é fictícia; os métodos ou os padrões técnicos atuais foram

formulados discursivamente como valores e em algum tempo no passado foram

traduzidos nos códigos técnicos que nós examinamos hoje. Este ponto é bastante

importante para responder às objeções práticas, chamadas usuais, aos argumentos éticos

para a reforma social e tecnológica.

Quando nos deparamos com o avanço da tecnologia e com o discurso que repercute a

instabilidade no mundo do trabalho, podemos imaginar que a concepção de que tudo se

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altera tenha sido aceita desde sempre. É fácil observar esse raciocínio sendo feito por

pessoas que não frequentam ambientes acadêmicos, mas não é raro encontrá"lo em

nossos alunos, também naqueles que se preparam para o magistério (BRASÃO, 2011).

1 Feenberg e a tecnologia

O que faz a ação técnica diferente de outras relações com a realidade? Esta questão é

frequentemente respondida em termos de noções como eficiência ou controle interno

dessas ações, diante de uma aproximação com o mundo técnico. Para julgar uma ação

como mais ou mais menos eficiente é preciso determinar o que é ser técnico e

consequentemente um objeto apropriado para tal julgamento. Assim também, o conceito

de controle implicado na técnica é “técnico” e não apenas um critério qualquer.

Há uma tradição na filosofia da tecnologia que resolve este problema por meio do

chamado conceito “de dominação impessoal” encontrado primeiramente no capitalismo

de Marx. Esta tradição, associada a Heidegger e à escola de Frankfurt, permanece

demasiado abstrata para nos satisfazer atualmente, mas identifica uma característica

extraordinária da ação técnica (FEENBERG, 2004). Formulamos esta característica em

termos de sistemas teóricos, distinguindo a situação de um ator finito da de um ator

infinito hipotético capaz de “fazer do nada”. O último pode agir sobre seu objeto sem

reciprocidade. Deus cria o mundo sem sofrer nenhuma represália daquilo que cria, nem

mesmo sofre efeitos colaterais. Esta é a hierarquia prática final que estabelece uma

relação de sentido único entre o ator e o objeto. Mas nós não somos deuses. Os seres

humanos somente podem agir num sistema a que eles mesmos pertencem. Este é o

significado prático da incorporação.

Consequentemente, cada uma de nossas intervenções nos retorna de alguma forma

como um feedback de nossos objetos. Isto é tão óbvio como na comunicação cotidiana

onde a raiva evoca geralmente a raiva, a bondade a bondade e assim por diante.

A ação técnica representa um escape parcial da condição humana. Nós chamamos uma

ação de “técnica” quando o impacto do ator sobre o objeto está fora de toda proporção

de se obter um retorno que afete o ator. Nós temos duas toneladas de metal abaixo de

nós numa autoestrada, enquanto nos sentamos no conforto de nossos automóveis e

ouvimos música. Num desenho maior das coisas, o motorista numa autoestrada pode

estar em quietude em seu carro, mas a cidade em que mora com milhões de outros

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motoristas é seu ambiente de vida urbana, formatada para automóveis e tem impactos

sobre ele.

Assim o assunto técnica não escapa da lógica da finitude apesar de tudo. Mas a

reciprocidade da ação finita é dissipada ou adiada de tal maneira de tal forma que crie o

espaço de uma necessária ilusão de transcendência. Heidegger compreende esta ilusão

como a estrutura da experiência moderna. De acordo com a História do Ser de

Heidegger, " a revelação moderna " é balizada por uma tendência de tomarmos cada

objeto como um material em potencial para a ação técnica. Os objetos penetram na

nossa experiência somente, enquanto percebermos, muito vagamente, utilidade no

sistema tecnológico. Livres desta forma de experiência pode emergir um novo modo de

revelação, mas Heidegger não tem nenhuma ideia de como essas revelações vêm e vão.

A tecnologia é um fenômeno de dois lados: de um o operador, de outro o objeto, onde

ambos, operador e objeto são seres humanos; a ação técnica é um exercício de poder.

Aliás, a sociedade é organizada ao redor da tecnologia, o poder tecnológico é a fonte de

poder desta sociedade. Isto fica claro nos designs de equipamentos tecnológicos que

estreitam a escala dos interesses e preocupações que podem ser representados pelo

funcionamento normal da tecnologia e das instituições que dependem dela. Este

estreitamento distorce a estrutura da experiência e causa consternação aos seres

humanos e danos ao ambiente natural.

2 Teoria da Instrumentalização

Muito do que a filosofia da tecnologia oferece é abstrato e não apresenta aspectos

históricos da essência da tecnologia. Estes aspectos parecem dolorosos comparados à

rica complexidade revelada em estudos sociais da tecnologia. O dilema divide os

estudos da tecnologia em dois caminhos opostos. A maioria dos essencialistas em

filosofia da tecnologia faz críticas à modernidade, enquanto outros pesquisadores

empiristas da tecnologia ignoram o grande resultado da modernidade e isso se

assemelha a algo não crítico, até mesmo conformista, para crítica social (FEENBERG,

2013).

Estas linhas separam claramente a crítica substantivista da tecnologia, como nós a

encontramos em Heidegger, do construtivismo de muitos historiadores e sociólogos

contemporâneos. Estas duas abordagens são vistas geralmente como totalmente opostas.

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Não obstante, há algo obviamente correto em ambas. Combinamos suas introspeções

em uma estrutura comum chamada de “teoria da instrumentalização”.

A teoria da Instrumentalização nos conduz a uma análise da tecnologia em dois níveis:

no nível de nossa relação funcional original com a realidade e no nível do design e da

implementação da tecnologia. No primeiro nível, procuramos e encontramos

dispositivos que podem ser mobilizados nos equipamentos e nos sistemas pela

descontextualização dos objetos da experiência e reduzindo"os a suas propriedades

utilitárias.

3 Determinismo da tecnologia

Para partidários do determinismo e do instrumentalismo da tecnologia, a eficiência

serve como único princípio da seleção entre iniciativas técnicas bem sucedidas e

fracassadas. Sobre estes termos, a tecnologia parece emprestar as virtudes geralmente

atribuídas ao racionalismo científico. A filosofia da tecnologia desmistifica estes

clamores à necessidade e à universalidade de decisões técnicas. Nos anos 80, o turno

construtivista em estudos da tecnologia ofereceu uma aproximação metodologicamente

frutífera para demonstrá"la em uma larga escala de casos concretos. Os construtivistas

demonstraram que muitas configurações possíveis de recursos podem render um

equipamento tecnológico que trabalhe de forma eficiente ao cumprir sua função.

Os diferentes interesses dos vários atores envolvidos no projeto e no design de um

equipamento se refletem em níveis diferenciados de função e de preferências. As

escolhas sociais intervêm na seleção da definição do problema assim como na sua

solução. A eficiência não é assim decisiva para explicar o sucesso ou o fracasso de

diversas alternativas de designs, uma vez que diversas opções, que sejam viáveis,

competem geralmente na concepção de uma linha de desenvolvimento, de produção. A

tecnologia é “não determinada” pelo critério da eficiência e responde aos vários

interesses e ideologias particulares selecionados entre estas opções. A tecnologia não é

“racional” no sentido antigo do termo positivista, mas socialmente relativa; o resultado

de escolhas técnicas é um mundo que dê sustentação à maneira de vida de um ou outro

grupo social influente. Nestes termos as tendências tecnocráticas das sociedades

modernas poderiam ser interpretadas como um efeito de limitar os grupos que intervêm

nos projetos desde os peritos técnicos até às elites corporativas e políticas às quais essas

tendências servem.

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4 Marx e a tecnologia

Para muitos críticos da sociedade tecnológica, Marx é agora irrelevante, e uma crítica

defasada da economia capitalista. Marx teve importantes vislumbres para a filosofia da

tecnologia. Ele se concentrou exclusivamente na economia porque a produção era o

domínio principal da aplicação da tecnologia em seu tempo. Com a penetração da

mediação técnica na esfera da vida social, as contradições e os potenciais que ele

identificou na tecnologia continuam atuais.

Em Marx o capitalismo é distinguido, não mais pela posse da riqueza, mas pelo controle

das condições de trabalho. O proprietário não tem meramente um interesse econômico

com o qual segue com sua fábrica, mas sim por um interesse tecnológico. Pela

reorganização do processo de trabalho, ele pode aumentar a produção e os lucros. O

controle do processo do trabalho, por sua vez, conduz a novas ideias na implementação

de novas máquinas e à aceleração da mecanização da indústria que, por sua vez acelera

os processos de produção. Isto nos leva ao tempo da invenção de um tipo específico de

equipamentos que desabilitam os trabalhadores e requerem gerência. O controle

gerencial age tecnicamente sobre pessoas, estendendo a hierarquia dos sujeitos e dos

objetos técnicos para relações humanas na perseguição da eficiência. Eventualmente os

gerentes profissionais representam, e em algum sentido substituem os proprietários no

controle das organizações industriais novas. Marx chama isto de dominação impessoal

inerente ao capitalismo em contra distinção à dominação pessoal características das

primeiras formações sociais.

É uma dominação incorporada no design de ferramentas e de organização da produção.

Sendo assim, o que Marx não antecipou, é que as técnicas de gerência e de organização

e que tipos de tecnologia seriam aplicados, primeiramente, ao setor privado são

exportadas para o setor público onde influenciam campos tais como a administração, a

medicina, e a educação públicas.

Percebemos que o desenvolvimento inteiro de sociedades modernas está marcado, pelo

paradigma de controle não qualificado sobre o processo de trabalho sobre o qual o

industrialismo capitalista descansa. Este controle orienta o desenvolvimento técnico

para destituição do poder dos trabalhadores e para a massificação do público.

A tendência tecnocrática das sociedades modernas representa um caminho possível do

desenvolvimento, um trajeto que seja peculiarmente truncado pelas demandas do poder.

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A tecnologia tem outros potenciais benéficos que são suprimidos sob o socialismo do

capitalismo e do estado que poderia emergir ao longo de um trajeto desenvolvimentista

distinto. Ao sujeitar seres humanos ao controle técnico à custa de modelos tradicionais

de vida, na medida em que impede a sua participação no design das tecnologias, a

tecnocracia perpetua as estruturas do poder das elites herdadas do passado de forma

tecnicamente racional. Neste processo mutilam"se, não só seres humanos e a natureza,

mas a própria tecnologia. Uma diferente estrutura de poder criaria uma tecnologia

diferente com consequências diferentes.

Uma realização mais plena da tecnologia é possível e necessária. Nós somos alertados

muito frequentemente para esta necessidade pelos efeitos colaterais ameaçadores do

avanço tecnológico. A tecnologia “morde para trás” com a temível consequência do

distanciamento dos retornos que juntam o sujeito e o objeto técnico os quais se tornam,

cada vez mais obstruídos. O sucesso da tecnologia modificando a natureza assegura que

estes laços crescerão mais curtos na medida em que perturbamos mais violentamente a

natureza na medida em que tentamos controlá"la. Em uma sociedade tal como a nossa,

que está completamente organizada em torno da tecnologia, a ameaça à sobrevivência

fica bastante clara.

Considerações

A filosofia da tecnologia delineou um longo caminho desde Heidegger em que o

capitalismo sobreviveu a várias crises e agora organiza o globo inteiro numa teia de

conexões com consequências contraditórias.

Construir um retrato integrado e unificado de nosso mundo tornou mais difícil na

medida em que os avanços técnicos quebram as barreiras entre as esferas da atividade

dentro das quais a divisão entre disciplinas permanece. Vislumbramos que a teoria

crítica da tecnologia oferece uma plataforma para reconciliar muitos conflitos

aparentemente opostos à reflexão sobre a tecnologia. Somente com uma abordagem que

seja composta pela crítica e empiricamente orientada é possível fazer sentido de que

está acontecendo ao nosso redor. A primeira geração dos teóricos críticos atentou para

tal síntese de abordagens teóricas e empíricas.

A teoria crítica foi, sobretudo, dedicada à interpretação do mundo à luz de suas

potencialidades, as quais têm se caracterizado como um estudo sério que é. A pesquisa

empírica pode assim ser mais do que um mero recolhimento dos fatos e pode nos dar

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um argumento de nossa época. A filosofia da tecnologia pode juntar dois extremos "

potencialidade e realidade " normas e fatos " de certa forma nenhuma outra disciplina

pode concorrer. Devemos desafiar os preconceitos disciplinares, que confinam a

pesquisa e a estudam nas estreitas canaletas, e abrirmos as perspectivas para o futuro.

Isto é uma longa viagem de volta à noção da neutralidade da tecnologia? Não nos

identificamos com tal, mesmo sendo tecnófilos. A neutralidade geralmente se refere à

indiferença de meios específicos para uma escala de objetivos dos quais se é escravo. Se

nós supusermos que essa tecnologia como nós a conhecemos hoje é indiferente em

relação aos fins humanas de modo geral, então certamente nós a neutralizamos e a

colocamos além da controvérsia possível.

Pudemos constatar que a maior implicação desta abordagem é trabalhar com os limites

éticos dos códigos técnicos elaborados sob a regra da autonomia operacional. O mesmo

processo libertou os capitalistas e os tecnocratas para tomar decisões técnicas sem levar

em consideração as necessidades dos trabalhadores e das comunidades e gerou uma

riqueza de “valores novos,” demandas éticas forçadas a procurar a voz discursivamente.

O mais fundamental, a democratização da tecnologia é encontrar maneiras novas de

privilegiar estes valores excluídos e de realizá"los em arranjos técnicos novos. Esta

tecnologia contemporânea realmente existente favorece extremidades específicas e

obstrui outras.

Referências

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IDENTIDADE DOCENTE NO CURSO DE PEDAGOGIA DA FACULDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA.

Jaqueline da Silva Nascimento

Universidade Federal de Uberlândia – UFU – Campus Santa Mônica

e-mail: [email protected]

Orientadora-Geovana Ferreira Melo Teixeira

Universidade Federal de Uberlândia – UFU – Campus Santa Mônica

e-mail: [email protected]

O presente estudo tem a finalidade de apresentar as contribuições da formação inicial para o

processo de construção da identidade docente. O estudo se baseia em reflexões sistemáticas

com o intuito de aprimorar o conhecimento sobre a visão do aluno ao iniciar um curso de

formação de professores, o como eles esperam construir sua identidade, como futuros

docentes. A pesquisa baseou-se em um amplo acervo de fontes bibliográficas, além da análise

das opiniões dos alunos que estão regularmente matriculados no Curso de Pedagogia da

Universidade Federal de Uberlândia, no novo currículo em vigor desde 2006. Os objetivos

propostos para a pesquisa foram: compreender o processo de construção e desenvolvimento

da identidade do docente e como é produzida essa identidade no Curso; mapear as principais

práticas formativas que contribuem para o desenvolvimento da identidade docente e analisar

as concepções dos alunos referentes ao desenvolvimento da identidade profissional. O

procedimento metodológico escolhido baseia-se nos pressupostos da abordagem qualitativa

de pesquisa, a partir da identificação de estudos já realizados sobre o tema, ou seja, o ponto

de partida foi o desenvolvimento da pesquisa bibliográfica, além da realização de

questionários com os alunos. Desta maneira, a pesquisa demonstrou a importância da

formação inicial no desenvolvimento da identidade docente, no sentido de haver práticas

formativas que trabalhem nessa vertente, sendo que, segundo os alunos, o Estágio destaca-se

como a principal prática formativa. O estudo aponta desafios a serem superados,

principalmente, no que se refere ao desenvolvimento da identidade profissional. É importante

que haja uma reflexão aprofundada no Projeto Político Pedagógico do Curso de Pedagogia, no

sentido de buscar uma melhor sistematização de práticas formativas diversificadas capazes de

promover uma sólida formação teórica pautadas, principalmente, em demandas que a

realidade escolar nos impõe. É essencial focar em uma formação de qualidade preocupada

com a construção social do professor, das possibilidade de reflexões sobre sua trajetória de

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vida, ressaltando suas dificuldades durante esse processo histórico, seus méritos e

gratificações durante suas práticas.

Palavras-chave: formação inicial; curso de Pedagogia; identidade docente.

Introdução

O presente trabalho é parte de um trabalho monográfico que aborda o tema a contribuição da

formação e da prática pedagógica desenvolvida na formação inicial, com relação à construção

da identidade docente. Este campo de estudo é amplo e conquista espaço em várias pesquisas

e, cada vez com novas questões a serem aprofundadas sobre a necessidade de que os cursos

de formação de professores passem a considerar a importância destes saberes no processo

formativo, principalmente nos cursos de formação inicial, em que os licenciandos começam a

ter os primeiros contatos com a profissão.

Se os professores não se identificam com o saber educativo, se não são eles quem produzem

esse saber, se não o percebem como essencial para o desempenho de sua função docente,

este parece ser mais um dos desafios a serem enfrentados pelos cursos de formação de

professores: atribuir sentido aos conteúdos pedagógicos, ou seja, romper com a visão simplista

de que duas ou três disciplinas do currículo são o bastante para preparar o professor para

assumir sua tarefa bastante complexa (MELO, 2007, p. 42.).

Este estudo, então, se baseia nessas reflexões sistemáticas com o intuito de aprimorar o

conhecimento sobre a visão do aluno ao iniciar um curso de formação de professores, o como

eles esperam construir sua identidade, como futuros docentes. O procedimento metodológico

escolhido baseia-se nos pressupostos da abordagem qualitativa de pesquisa, a partir da

identificação de estudos já realizados sobre o tema, ou seja, o ponto de partida foi o

desenvolvimento da pesquisa bibliográfica,

Nesse contexto surgem várias idéias a respeito dessa investigação, estas que já se

tornaram de certa forma um senso comum como o valor das práticas educativas e do saber da

experiência no desenvolvimento da identidade docente, um campo carregado de ideologias e

submetido ao contexto social. Esperamos que um curso de formação de professores lhes

proporcione embasamento para que possam construir seus saberes docentes a fim de auxiliá-

los nos desafios e problemáticas do ensino que só surgem, mais intensamente, a partir de sua

inserção na realidade em que irão atuar profissionalmente.

1.1. A construção da identidade docente na visão de alguns autores

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A identidade docente é produzida ao longo do tempo, segundo diferentes significados e

representações. A construção da identidade é sempre um processo bastante complexo, que

necessita de tempo. "Um tempo para refazer identidades, para acomodar inovações, para

assimilar mudanças" (NÓVOA 1995, p. 16). Além disso, a identidade não é um produto e por

isso, não é simples o tornar-se professor e identificar-se com uma profissão cuja imagem é

bastante desgastada. Assim, uma das tarefas que os cursos de formação inicial precisam

assumir é, longe de camuflar essas dificuldades inerentes ao exercício da profissão docente,

trazê-las para a discussão, no sentido de possibilitar aos licenciandos o conhecimento da real

dimensão das dificuldades, mas, também, as possibilidades de superação e a necessidade de

desenvolver o estímulo à adesão profissional.

Segundo Silva (2000), a identidade é a atribuição de significados cultural e social. É através da

atribuição desses significados, que damos sentido aquilo que somos. Desta forma, a identidade

é aquilo que representa a subjetividade do indivíduo, ou seja, representa o sentimento, os

pensamentos, o caráter que constitui o sujeito. Identidade também implica em

reconhecimento, compreensão e aceitação “eu” em suas multidimensões.

Nessa perspectiva, ser professor não é apenas tornar-se um reprodutor de conhecimentos,

mas sim um sujeito que assume, em sua prática os significados que ele mesmo atribui ao seu

trabalho, além de ser um profissional que possui conhecimentos os quais ele tem a autonomia

e competência de um saber-fazer que são provenientes de sua prática advinda da formação

inicial e experiência do trabalho docente. Ressaltamos a importância das pesquisas referentes

ao professor, sendo respeitado em suas opções, além de se considerar sua subjetividade como

sujeito em ação, tais aspectos, ao serem considerados, podem contribuir para elucidar

diferentes questionamentos com relação ao ser professor e ao fazer docente e podem, ainda,

convergir para o desenvolvimento da identidade profissional.

Por isso, ao refletir sobre a identidade do professor supõe pensá-lo primeiramente como um

ser humano, em suas múltiplas dimensões: ética, estética, cultural, social e histórica,

compreendendo-o a partir de uma concepção holística de homem, que considera todos os

aspectos que constituem o ser humano. Para Nóvoa:

A identidade não é dado adquirido, não é uma propriedade, não é um produto. A identidade é

um lugar de lutas e conflitos, é um espaço de construção de maneiras de ser e de estar na

profissão. Por isso, é mais adequado falar em processo identitário, realçando a mescla

dinâmica que caracteriza a maneira como cada um se sente e se diz professor (NÓVOA, 2000,

p.16).

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A compreensão do conceito de identidade é essencial para saber como o futuro docente irá

construí-la, no sentido de compreender que a identidade profissional é um processo que

precisa de tempo para estabelecer suas identidades, inovações e transformações. Nesse

sentido, destacamos o contexto histórico em que se desenvolve o trabalho docente, as

técnicas aprendidas e desenvolvidas em seu cotidiano escolar, estas que funcionam como uma

artilharia para o professor.

Frente ao exposto, surge à necessidade de reavaliar os saberes que são importantes na

formação dos professores, no sentido de construir outra perspectiva que promova uma

formação de professores pautada nos diferentes conhecimentos para que estes possam, ao

longo de sua formação e prática, construir e desenvolver sua identidade docente. O que ocorre

é que muitas vezes vemos que nos cursos de licenciatura, principalmente, nos primeiros anos

de formação, os “futuros professores” não se identificam com a profissão e com o saber

educativo, e, conseqüentemente não percebem tais saberes como essenciais para o

desempenho de sua função docente. Este parece ser mais um dos desafios a serem

enfrentados pelos cursos de formação de professores, principalmente pelo curso de

Pedagogia, nosso foco de estudo.

Destacamos, assim, o papel da formação inicial no processo da construção da identidade

docente para que os futuros professores compreendam a importância do trabalho pedagógico,

pois o desenvolvimento dessa tarefa requer a mobilização de diferentes saberes, ações,

tomadas de decisões de um sujeito mediador de múltiplos elementos que condicionam o

ensino. São esses saberes que na prática podem ser articulados pelo docente nos mais

variados contextos e nas situações dos processos complexos que são os de ensino-

aprendizagem. É nesse momento, de enfrentamento da realidade de trabalho, que o professor

demonstra o desenvolvimento de sua identidade, ajustando seus conhecimentos teóricos

adquiridos ao longo de sua formação inicial, incluindo suas experiências com estágio e

atividades desenvolvidas no curso de formação inicial, além das experiências adquiridas na sua

trajetória como docente.

1.2. A formação do professor e a relação teoria-prática: desafios a superar

A formação de profissionais que trabalham na educação tem sido analisada em diferentes

pesquisas e sinalizam para diferentes desafios, como por exemplo: construção dos saberes,

transposição didática, identidade profissional, relação teoria-prática, dentre outros.

Destacamos a relação teoria-prática para aprofundarmos nossa reflexão, por entendermos que

essa relação vincula-se diretamente com as questões referentes ao desenvolvimento da

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identidade profissional, uma vez que o futuro pedagogo deverá ter a capacidade de

compreender a realidade de atuação a partir das “lentes” da teoria.

Assim, a partir da significação pessoal e social da profissão, da análise constante desse

significado, da reafirmação e confronto entre teoria e prática constrói-se o significado de cada

professor enquanto ator e autor de seu próprio conhecimento (PIMENTA, 2000). Nesse

sentido, o contexto social que o professor está inserido é visto como fator crucial de influência

em sua prática até mesmo porque o processo de ensino-aprendizagem se desenvolve em um

conjunto entre tempo e espaço. O que observamos é que hoje os cursos de formação não se

preocupam em desenvolver conceitos teóricos compatíveis com a realidade que os futuros

professores vão enfrentar, isto é, há claramente um distanciamento entre a formação

acadêmica e a prática pedagógica desenvolvida no interior das escolas, deixando assim a

impressão de um inacabável recomeçar o que gera desconforto aos alunos em processo de

formação e, conseqüentemente, a crise na construção de sua identidade docente.

Esse desafio com relação aos processos formativos de professores refere-se ao distanciamento

do curso de formação inicial com a realidade profissional que o licenciando irá atuar, no caso,

a escola. De acordo com Bélair (2001, p.65):

O oficio de professores é adquirido em uma articulação entre as situações vividas (fictícias ou

reais) e as teorias que tentam explicá-las através de uma generalização de processos. As

formações que têm como eixo conceitos teóricos não apoiados verdadeiramente na realidade

fazem com o futuro professor não possa retornar tais conceitos posteriormente quando ele se

situa em sua prática.

É complexa a abordagem da formação profissional, pois, ao mesmo tempo em que existe uma

teoria associada à prática e uma prática pautada na teoria, há uma relação direta entre

elaboração de conhecimentos teórico-práticos com o desenvolvimento da identidade.

Portanto, há uma vinculação muito próxima entre os conhecimentos construídos na formação

inicial com os conhecimentos adquiridos na prática, durante o estágio curricular, por exemplo.

No que diz respeito à formação vemos a necessidade de repensar a organização curricular dos

cursos de licenciatura na busca de superar a chamada dicotomia entre prática e teoria, em que

é reafirmada a separação entre ensino e pesquisa que está sempre presente nas universidades

e, sobremaneira, nos cursos de licenciatura.

Segundo Pimenta (2000), o saber docente não é formado apenas da prática, sendo também

nutrido pelas teorias da educação. Por isso, a teoria tem importância fundamental na

formação de professores, já que há diversos sujeitos com pontos de vista diferentes e a

formação deve direcioná-los para uma ação contextualizada, oferecendo perspectivas de

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análise para que os professores abranjam os contextos históricos, sociais, culturais,

organizacionais e de si próprios como profissionais.

Em reflexão a questão teoria e prática de acordo com Charlot (2002) não existe um problema

de diálogo entre teoria e prática e sim uma dificuldade no diálogo entre dois tipos de teoria:

uma teoria enviesada nas práticas e uma teoria que se desenvolve na área da pesquisa e das

idéias dos pesquisadores. O problema consiste em saber se essas idéias fazem sentido fora da

teoria, pois vimos que quando se fala da prática e de situações do cotidiano, os professores se

interessam, só que quando é sobre uma teoria que diz respeito a outros pesquisadores e a

outras teorias os professores não se interessam. O que geralmente ocorre é uma descrença

generalizada entre a maioria dos professores, uma vez que, diretamente, essas teorias não

poderão ser “aplicadas” na prática cotidiana desenvolvida nas escolas de educação básica.

Essa distância entre conteúdos de formação e realidade prática tem a ver com a histórica

discussão referente à relação teoria e prática. O desafio dos cursos de formação de

professores consiste em profunda mudança nos conteúdos e na forma, para que os estudantes

- futuros professores – tenham a oportunidade de construir os diferentes saberes. Portanto,

será necessário um contexto propício e fértil para a elaboração, interpretação e compreensão

dos saberes que configuram a prática pedagógica, o que permitirá ampliar cada vez mais os

saberes que já estão construídos e estão sempre em movimento. Nessa direção, Carr e

Kemmis (1988, p. 61) consideram que,

O saber do professor proporciona um ponto de partida para a reflexão crítica. Simplesmente,

não pode dar-se por pronto ou sistematizado na teoria, nem tornar-se definitivo na prática. E

isto não ocorre porque o saber do professor é menos exigente que o de outros, senão porque

os atos educativos são atos sociais, e portanto, reflexivos, historicamente localizados, e

abstraídos de contextos intelectuais e sociais concretos. De tal maneira que a educação deve

estar de acordo com as circunstâncias históricas, os contextos sociais e os diversos

entendimentos dos protagonistas durante o encontro educativo .

Esse posicionamento dos autores nos faz compreender a prática pedagógica como uma

verdadeira praxis , ou seja, momento em que teoria e prática são absolutamente

indissociáveis. Polarizar na formação de professores hora a ênfase na teoria, hora na prática

seria cometer um equívoco. É importante manter, durante todo o curso de formação,

momentos em que teoria e prática se harmonizem, se completem, se concluam, permitindo

aos estudantes compreender seu processo formativo enquanto espaço fecundo de produção e

apropriação de saberes de diferentes ordens.

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Gauthier (1998, p. 28) nos alerta para o fato de que a formação de professores deve ser

concebida como o espaço para a mobilização de vários saberes que formam uma espécie de

reservatório no qual o professor se abastece para responder às exigências específicas de sua

situação concreta de ensino.

Além disso, é preciso considerar nas demais disciplinas do currículo de formação, que prática e

teoria não se dissociam. Veiga (2002, p. 77) afirma que “a unidade teoria e prática implica ao

mesmo tempo oposição e autonomia relativas. A construção do conhecimento não se dá de

forma linear e imediata, só na prática como também só na teoria”. O entendimento da relação

indissociável entre teoria e prática na formação de professores é fundamental para assegurar a

construção dos diferentes saberes docente e o desenvolvimento da identidade profissional.

Assim, ao compreendermos o ensino como prática reflexiva é possível estabelecer uma

valorização dos processos de produção do saber docente a partir das práticas formativas e dos

saberes docente, constituídos na prática.

Desta maneira, a formação inicial deverá proporcionar a aproximação dos futuros professores

com a realidade que vão enfrentar no decorrer da profissão, considerando as experiências

vividas no ambiente escolar. Além disso, deverá ser o espaço para trabalhar os conhecimentos

específicos da formação de maneira integrada, contribuindo, assim, para o desenvolvimento

da identidade do professor. Nesta perspectiva, a formação do professor se torna essencial

para o desenvolvimento da identidade docente.

Para isso, um curso de formação inicial poderá contribuir não apenas colocando à disposição

dos alunos as pesquisas sobre a atividade docente escolar (configurando a pesquisa como

princípio cognitivo de compreensão da realidade), mas procurando desenvolver com eles

pesquisas da realidade escolar, com objetivo de instrumentalizá-los para a atitude de

pesquisar nas suas atividades docentes. Ou seja, trabalhando a pesquisa como princípio

formativo na docência (PIMENTA, 2000. p. 28).

Diante dessa proposta, apresentada pela autora, o futuro profissional da educação terá uma

formação pautada pelo exercício crítico da busca do conhecimento, que tem como

pressuposto básico a problematização da realidade, a elaboração de questionamentos a serem

respondidos, objetivos a serem alcançados, além do contato com amplo referencial teórico

que irá iluminar o exercício da pesquisa. O professor, nessa perspectiva, somente poderá

refletir sobre sua prática e, sobretudo sobre seu saber educativo, a partir de referenciais

teóricos e de tal maneira compreender e entender seus significados e, além disso, se

identificar como profissional docente. O que torna a identidade docente um processo contínuo

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de construções de saberes a partir de suas práticas educativas baseadas na realidade e em

suas experiências e também como sujeito ativo na construção histórica e social.

Segundo Tardif & Lessard (2005) atualmente, a docência é um trabalho socialmente

reconhecido, realizado por um grupo de profissionais específicos, que possuem uma formação

longa e especializada e que atuam num território profissional relativamente protegido: não em

ensina quem quer; é necessária uma permissão, um credenciamento, uma formação.

Por isso, coloca-se em destaque a formação inicial para a realização do trabalho docente que

pode ser abordado como uma prática fundamentada em saberes educativos que refletem

sobre a identidade profissional, produto de uma prática sistematizada. Esse processo, que se

manifesta em ações na sala de aula, aponta uma compreensão no que diz respeito à formação

inicial do professor baseada em uma reflexão crítica, em que o espaço de aprendizagem é o

processo da pesquisa como princípio educativo e científico. Desta forma o professor deve ser

formado para ser um bom profissional em sala de aula e também como um permanente

pesquisador de sua prática.

O processo de formação deve assegurar o desenvolvimento dos hábitos de um

autodisciplinamento que proporciona ao aprendi docente ser um sujeito reflexivo, produtor

consciente dos saberes de sua prática, ou seja, um sujeito reflexivo que domina a

complexidade do seu trabalho por meio da pesquisa como princípio científico e educativo

(THERRIEN, 2002, p.103).

A trajetória da formação deve resultar em como formar um profissional preocupado e

comprometido com seu próprio processo formativo, no sentido de desenvolver a capacidade

de compreender suas próprias necessidades formativas e tentar superá-las, ou seja,

desenvolver a autonomia intelectual dos alunos. O professor tem que se preocupar com sua

formação inicial para construir sua identidade pautada na certeza de que o seu trabalho será

significativo para que tenha condições de compreender a complexidade do processo educativo

e buscar alternativas mais justas para formar um cidadão crítico e ciente dos problemas da

sociedade, o que requer um profissional que tenha compromisso ético com a educação e com

sua profissão.

Desta forma, o melhor programa de formação de professores seria aquele que contemplasse

melhor, no currículo e na metodologia, os princípios e processos de aprendizagem válidos para

os alunos das escolas comuns. Em outras palavras, os mesmos processos e resultados que

devêssemos esperar da formação geral dos alunos das escolas regulares deveriam ser

conteúdos da formação do professor.

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Algumas considerações

O presente estudo teve como objetivo abordar as possíveis contribuições do curso de

formação inicial para o desenvolvimento da identidade profissional, e desta maneira baseou-se

em autores que abordam a formação do professor, a construção dos seus saberes docentes e

no desenvolvimento da identidade docente. A partir do estudo podemos pensar e repensar

como são fundamentais as práticas formativas na construção do trabalho docente e

conseqüentemente no processo de desenvolvimento da identidade profissional. Nesse

contexto, busca-se conhecer como o professor é formado nas instituições de ensino, no

sentido de contemplar sua formação inicial e sua prática pedagógica no estágio.

O diálogo dos autores sobre as diversas temáticas que abrangem a formação do professor

como a relação teoria e prática e como acontece o desenvolvimento da identidade docente

nos cursos curso de formação inicial, como olhar focado no Curso de Pedagogia da UFU, nos

faz confirmar a concepção de que não podemos acreditar que o “ser professor” é um produto

que será formado apenas na formação ou na prática, mas sim como algo em contínua

transformação que vem sendo trabalhada desde nossa Educação Básica até a nossa atuação

como professores.

Ainda podemos refletir sobre os desafios que temos que superar sobre a relação entre teoria e

prática nos cursos de formação inicial em que os processos formativos se distanciam dos

espaços de formação inicial e de prática profissional vivenciada pelos professores. Nesse

sentido, ressaltamos a importância do estágio curricular na formação de professores, uma vez

que nessa prática formativa há a possibilidade de aproximação sistematizada e orientada dos

alunos a diferentes práticas educativas escolares.

Contudo, podemos falar em uma formação de qualidade preocupada com o

desenvolvimento de saberes que tenham nos currículos a construção social do professor, a

possibilidade de reflexões sobre sua trajetória de vida, suas dificuldades e suas expectativas

com relação à profissão que escolheu e não só ressaltando suas dificuldades durante esse

processo histórico, mas também seus méritos e gratificações durante suas práticas.

Com base na complexidade do tema estudado, surge a necessidade da constante

reflexão sobre o desenvolvimento da identidade profissional, já que certamente há diversos

modos de pensar, olhar e analisar as questões referentes ao “ser professor”. A temática se

constitui em oportunidades de se refletir de diferentes formas a constituição da identidade

docente em várias etapas da carreira docente, oportunidade esta que será desenvolvida em

outros momentos de nossa formação profissional.

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CURRÍCULO ESCOLAR: OBJETIVO E SENTIDO SOCIAL DO GRUPO ESCOLAR PROFESSORA ALICE

PAES (1965-1971) UBERLÂNDIA- MINAS GERAIS

Ms. Angélica Pinho Martins Rocha

Prefeitura Municipal de Uberlândia

[email protected]

RESUMO: Trata-se de uma pesquisa de mestrado, que teve como problemática a investigação

do sentido e objetivo social do grupo escolar Professora Alice Paes, em Uberlândia- Minas

Gerais, nos anos de 1965-1971. A delimitação do período inicial ocorreu em função da escola

ter sido criada mediante o Decreto-Lei nº 8176 de 22 de fevereiro de 1965 e finda em 1971,

pelo fato da modalidade de ensino grupo escolar ter sido extinta em ato no referido ano. Os

objetivos específicos presentes na investigação foram: identificar quais as motivações para a

construção do grupo escolar num local periférico da cidade; delinear o perfil sócioeconômico

do público atendido pela escola no recorte temporal, analisar as práticas escolares

empreendidas na instituição escolar.

PALAVRAS CHAVE: Sentido Social; Objetivo Social; Grupo Escolar; Alice Paes.

ABSTRACT: This study is an investigation related to the search of social reason and objective of

the Elementary School Professora Alice Paes, in Uberlândia- Minas Gerais, from 1965 to1971.

Limiting the study to the initial years was due to its creation by the Decree 8176 from February

22, 1965, and ended in 1971, when the Elementary School, with that conception, was

extinguished. The specific objectives of the study were: to indentify the motivation for building

an elementary school in a peri-urban of the city; to delineate the social-economic profile of the

public served by the school at that time; to analyze the teaching practices at the school.

KEYWORDS: Social Reason; Social Objective; Elementary School; Alice Pae

1.0 . GRUPO ESCOLAR PROFESSORA ALICE PAES: OBJETIVO E SENTIDO SOCIAL

Esse artigo tem como finalidade comunicar o resultado da dissertação de mestrado,

empreendida no âmbito da Pós Graduação, da Universidade Federal de Uberlândia. A temática

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analisada foi o currículo escolar do Grupo Escolar Professora Alice Paes, cujo objetivo geral era

identificar qual o sentido e a finalidade dessa instituição escolar num bairro periférico da

cidade de Uberlândia- Minas gerais, no período de 1965-1971.

O grupo escolar Professora Alice Paes, analisado neste estudo: era localizado na rua Rua

Morrinhos, nº 309, no bairro das Tabocas . Esse bairro era habitado por uma população

desprovida de recursos financeiros e nele não havia energia elétrica, calçamento nas ruas,

saneamento, encanamento, dentre outros recursos necessários, para tornar o local salubre à

habitação. Segundo depoimento de uma moradora, coletado por Calvo (2001), o bairro era

uma favela as pessoas desprovidas de qualquer condição financeira alojavam no setor.

Viver na Taboca era viver na periferia, mas esta noção não vem tanto da distância ao que era

considerado o centro da cidade. O que dá a idéia de distância é o próprio significado de morar

ali nos anos 1960, de estar no lugar deserto, ou próximo do mato. Essa é a idéia de isolamento

que as condições lhe colocavam (CALVO, 2001, p. 300).

Contrapondo-se a esse subdesenvolvimento, nesse mesmo bairro, passava no início do século

XX o principal símbolo do progresso e desenvolvimento do capitalismo ocidental: os trilhos do

trem de ferro da Companhia Mogiana.

Conforme Machado (1990), as estradas de ferro constituíram no primeiro projeto político

consistente que direcionava a inserção de Uberlândia no mercado nacional. Sob a interferência

do Coronel José Teófilo Carneiro, conseguiu-se que os trilhos da Companhia Mogiana seriam

desviados para Uberabinha, sendo inaugurada a estação ferroviária em 1896.

Esse novo pulsar do capitalismo regional_ movido pelas ferrovias, pela crescente urbanização

sob variados aspectos, pela disseminação da imprensa local, pelo comércio, pela economia

agrícola [...] promoverá um novo alento à escolarização, conferindo-lhe uma impulsão ímpar

até então: primeiramente através dos grupos escolares e, associadamente, através da

disseminação das escolas normais pela região (ARAÚJO, 2009, p. 11).

O bairro das Tabocas, por diversas vezes, foi manchete dos principais jornais da cidade. Cita-se

como exemplo a matéria veiculada no Jornal Correio de Uberlândia em 1955, aquela aborda o

bairro como “a cidade dos párias ”, pois é o local onde a “pobreza, as doenças (a vadiagem e a

mendicância faz em footing, numa procissão lúgubre de gente largada) Tabocas, terra de

martírio” .

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A matéria descreve a violência que há no bairro, o temor dos habitantes da cidade de passear

à noite no local, visto que apenas “alguém muito corajoso (ou bem armado) arrisca-se a

percorrer as ruas (?) do subúrbio das Tabocas, durante a noite” .

Essas características do bairro despertaram meu interesse em compreender o porquê de

construir ali um grupo escolar. Essa foi a problematização inicial: quais as motivações para a

construção de um grupo escolar, numa região caracterizada como a “terra dos párias”? Sendo

inegável o status dessa modalidade de ensino, em geral destinada aos grupos sociais

dominantes, caberia compreender inicialmente a função social desse grupo naquela região.

Criada e organizada pelo homem, para atender as necessidades sociais permanentes, a

instituição “apresenta-se como uma estrutura material que é constituída para atender a uma

determinada necessidade humana, mas não qualquer necessidade. Trata-se da necessidade de

caráter permanente. Por isso, a instituição é criada para permanecer” (SAVIANI, 2007, p. 4).

A instituição educacional torna-se o lócus privilegiado para a escolarização do indivíduo, pois,

“antes de ser uma exigência escolar, a escolarização é uma exigência de caráter sócio-cultural

[...]” (ARAÚJO, 2009, p. 1). É no meio educacional que o indivíduo obterá a sistematização dos

conhecimentos acumulados pela humanidade no decorrer dos séculos, e durante o seu

percurso escolar poderá socializar, transmitir e assimilar hábitos, valores, condutas presentes

no contexto educacional.

Essas finalidades foram identificadas no projeto educacional mais amplo ou na filosofia

educacional de cada estabelecimento de ensino. Essas ações nortearam as ideias pedagógicas

presentes no currículo, nas metodologias de ensino, no processo de avaliação, na seleção dos

alunos, efetivadas de modo implícito no cotidiano escolar, através da transmissão de valores,

ideais, crenças, posturas, o valor afetivo e social que os diversos atores possuíam sobre a

escola e a educação. Assim se constitui o currículo da instituição escolar.

Para Silva (2004, p. 15), a etimologia da palavra “currículo” vem do latim curriculum, que

significa pista de corrida. “Podemos dizer que é no curso dessa corrida que é o currículo que

acabamos por nos tornar o que somos”. Portanto, os conhecimentos e saberes que permeiam

o currículo estão diretamente relacionados com a formação humana e profissional do sujeito.

Para Goodson, “a educação institucionalizada representa uma espécie de condensação do

social em cima da qual os diferentes grupos sociais refletem e projetam suas visões e

expectativas” (GOODSON, 1995, p. 8).

Dessa forma, o currículo é constituído de conhecimentos considerados socialmente válidos. A

apreensão destes conhecimentos possibilitará ao indivíduo, a uma determinada trajetória

profissional que o conduzirá à ascensão social ou à constituição da massa trabalhadora.

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Antes de ser uma exigência escolar, a escolarização é uma exigência de caráter sócio cultural.

Nesse sentido, as relações entre escola e sociedade - traduzidas pelas finalidades sociais

projetadas e ou exigidas, pelas demandas sociais que se constituem na trama da história, pela

capacidade, potencialidade e efetividade das políticas públicas, pelo enfrentamento da

escolarização da sociedade, pelas conexões com a sociedade a que serve - por vezes ficam

secundadas (ARAÚJO, 2009, p. 1).

Inspirado em Nosella e Buffa (2009), delimitou-se o objetivo desse estudo, a saber: quais eram

os objetivos e o sentido social do Grupo Escolar Professora Alice Paes no período de 1965-

1971, na cidade de Uberlândia - Minas Gerais? O recorte cronológico definido para a pesquisa

decorreu do ano de inauguração da escola ter sido em 1965 e a extinção da modalidade de

ensino Grupo Escolar ter ocorrido em 1971 com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional 5692/71.

Para compreender o objetivo proposto nesta pesquisa foi preciso “indagar a origem social e o

destino profissional dos atores de uma instituição escolar, para se definir o sentido social da

mesma: assim como é essencial analisar os currículos aí utilizados para se compreender seus

objetivos sociais” (NOSSELA; BUFFA, 2009, p. 83).

Portanto, o sentido social do grupo escolar professora Alice Paes foi identificado mediante a

verificação da origem social dos ex-alunos da instituição primária e a trajetória profissional dos

mesmos. E o objetivo social do grupo escolar desvelado, pela análise do currículo educacional

nele instituído. Cabe ressaltar que:

O estudo de trajetórias escolares e profissionais é um recurso metodológico importante para

se compreender as necessidades que a sociedade, em uma dada época, tem de determinados

profissionais como, também, a própria inserção desses profissionais na sociedade. Somente

dessa forma é possível avaliar o significado social da escola (NOSELLA; BUFFA, 2009, p. 68).

Souza afirma que

[...] investigações sobre a história curricular permitem penetrar numa parte fundamental da

escolarização que são processos internos da escola. Além disso, possibilitam uma

compreensão mais clara sobre como as matérias escolares, os métodos e os cursos contribuem

para designar e diferenciar os estudantes, elas também oferecem pistas para analisar as

complexas relações entre escola e sociedade e, não menos importante, iluminam dimensões

pouco conhecidas sobre a profissionalização docente e o papel dos professores na construção

social do conhecimento. Nesse sentido é relevante considerar tanto o modo como o

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conhecimento foi organizado no passado quanto a dinâmica social que moldou uma dada

seleção cultural para as escolas (SOUZA, 2008, p.11).

.

Definiu-se como objetivo geral desse trabalho a compreensão do(s) objetivo(s) e do sentido

social do Grupo Escolar Professora Alice Paes no período compreendido entre 1965-1971, na

cidade de Uberlândia.

Os objetivos específicos propostos foram: identificar as motivações para a construção do

grupo escolar num local periférico da cidade; identificar a clientela da escola nos anos de 1965-

1971, analisar as práticas escolares empreendidas na instituição, identificar a representação

social da escola para os diversos sujeitos (imprensa, família, alunos, poder público) no

contexto histórico delimitado.

A construção do prédio do grupo escolar professora Alice Paes , conforme documentação

arquivada no próprio estabelecimento de ensino iniciou com o Plano Nacional de Educação no

ano de 1963 e foi concluída em 1964, sendo fruto de um convênio entre o Ministério da

Educação e da Cultura; e governo do estado de Minas Gerais. O presidente da República era

Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco.

Ao longo da pesquisa foram levantadas algumas hipóteses em torno dos objetivos específicos.

Acreditava-se que as motivações para a construção de um grupo escolar numa região

periférica estavam circunscritas na necessidade de atender ao compromisso do Estado

Moderno, no qual termos como: igualdade, fraternidade, justiça, progresso econômico e social

dentre outros, eram presentes na base da modernidade política, ideológica, econômica e

cultural do país.

A construção de uma escola gratuita voltada para uma clientela pobre, estaria vinculada a

ideia de formar indivíduos trabalhadores, aptos a integrar a sociedade urbano industrial que se

formava na época, propiciando uma educação rápida e eficaz à esses sujeitos.

Acreditava-se que as práticas escolares empreendidas na instituição centravam-se em torno

de atividades que exigiam a memorização, conteúdos escolares desconectados da realidade

sob as quais as crianças estavam inseridas. Infere-se que a representação da construção de um

grupo escolar, num local periférico suburbano da cidade de Uberlândia; para o Estado e a

imprensa teriam a mesma denotação: a preocupação do Poder Público em civilizar a camada

popular, para que a noção de Brasil Potência fosse finalmente concretizada, esse ideal de

civilização, só poderia ser efetivado por intermédio da escolarização dos menores.

Para a família desses menores, estudar numa instituição escolar, seria motivo de “luxo” que

muitos pais, quando menores não puderam usufruir, a escolarização era um projeto de vida

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alcançado por poucos. E a construção da escola possibilitaria fornecer aos filhos o que os

progenitores não tiveram: acesso à aprendizagem escolar. Cabe vislumbrar que possivelmente

um progresso social no futuro seria possível, pois o poder Público não estaria construindo uma

simples instituição escolar, mas um grupo escolar na região periférica da cidade de

Uberlândia. O sonho da ascensão social familiar florescia, à medida que os pais poderiam

idealizar que a mesma educação fornecida aos ricos por intermédio do grupo escolar, seria

transmitida aos pobres. Afinal de contas era no grupo escolar que se concentrava o ensino

culto, erudito, e os melhores professores da cidade e região. Finalmente o sonho das crianças

terem uma mobilidade social havia chegado ao bairro das Tabocas.

Nesse trabalho empregou-se a noção de cultura escolar, como categoria de análise acerca das

representações que os sujeitos (comunidade, alunos, Poder Público) tiveram sobre as

finalidades da instituição educativa: Grupo Escolar Professora Alice Paes. Essa ideia se

relaciona à “à difusão do ensino primário para as camadas populares, via grupo escolar, e ao

projeto político implantado na cidade” (LIMA; FERREIRA, 2008, p. 2).

Essa perspectiva metodológica,“vista de baixo”, possibilitou a compreensão das relações

sociais e de poder apresentadas na esfera local (microssocial) estruturadas pelas relações de

poder e sociais estabelecidas em nível nacional (macrossocial).

O grupo escolar professora Alice Paes surgiu em decorrência de uma política compensatória na

área educacional instaurada em todo o país. Essa política foi materializada no Plano Nacional

de Educação, este documento estabelecia um conjunto de princípios e metas a serem

cumpridos pela União, Estados e Municípios.

Dentre esses princípios estava estabelecido o aumento de número de vagas para o ensino

primário, pois havia milhões de brasileiros em idade escolar, que não conseguiam vagas nas

escolas públicas. Um desses casos era a população que residia no bairro das Tabocas, cerca de

1.000 crianças em idade escolar estavam fora da escola.A inserção de um grupo escolar num

contexto periférico era a maneira simples, eficaz e prática, que o Estado obteve para

escolarizar o maior número de crianças possível, num curto espaço de tempo.

Ao possibilitar a camada popular o acesso a educação, o Estado teve como finalidade cumprir

o processo civilizatório no contexto urbano, mediante a escolarização dos sujeitos,tão

importante quanto o ensinar a ler e escrever, seria incutir valores morais e cívicos, visando a

apreensão de valores, sentimentos, ideais pertencentes ao grupo social que esses alunos do

grupo escolar Alice Paes faziam parte.

2.0- SABERES E PRÁTICAS ESCOLARES

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A finalidade da instituição escolar pesquisada era formar sujeitos aptos ao trabalho, dotados

de iniciativa, amantes da Pátria e da religião católica, asseados e disciplinados. Esse foi o

objetivo da escola Professora Alice Paes nos anos de 1965-1971. Para cumprir tal objetivo a

escola lançou mão de práticas escolares que visavam a memorização, passeios em indústrias,

empresas de grande porte, para que os alunos iniciassem o processo de familiarização em

relação ao funcionamento de uma indústria, possivelmente posto de trabalho para muitos

alunos que naquela escola estudaram; festividades civis e religiosas, visando a valorização e

amor incondicional a Pátria, e a religião católica.

As classes eram distribuídas de modo a contemplar que os melhores discentes se

concentrassem numa sala, e os piores fossem distribuídos em outras salas, preferencialmente

que concentrasse todos os repetentes numa única turma. Os quadros registrados ao longo do

trabalham, apontam que à medida que os anos escolares avançam, o número de turmas

declina. Embora não haja uma consideração pontual sobre o porquê disso, suspeita-se que

diversos alunos abandonaram o estudo, ou por falta de estímulo da família, ou por

necessidade em trabalhar, ou por não haver na escola nenhum projeto que fornecesse um

suporte pedagógico para que o aluno aprendesse, e não fosse reprovado constantemente, ou

porque a escola não era um referencial atrativo para muitos, por ser um ambiente punitivo,

vigilante e opressor.

As práticas de repreensão eram instauradas a todos aqueles que não conseguiam decorar os

exercícios, não iam para a escola limpos, que transgredia as normas sociais, ao correr com um

garoto na hora do recreio, por exemplo, ou que constantemente “matavam” aula e não se

interessavam nem um pouco pela aula ministrada.

3.0-CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desse modo conclui-se que houve a possibilidade da camada popular ter acesso a um direito já

legitimado e usufruído pela elite, no entanto, a inclusão a esse direito percebeu-se nesse

trabalho foi diferenciada em relação a educação escolar propiciada ao grupo social dominante.

O público que frequentava a instituição escolar, são pessoas oriundas da massa populacional,

filhos de feirante, costureira, chapeiro, doceiro, comerciante, dentre outras funções laborais.

Muitas dessas crianças não possuíam uma família nos moldes sociais vigente, a maioria

conforme consta na ficha de matrícula não convivia com os pais, ora convivia apenas com a

mãe, ou com o pai, ou com os tios e avós. Dessa forma, constata-se que o padrão família

instituído há muito tempo não é seguido pelos pobres, no entanto, muitos professores ou

profissionais ligados a educação, por desconhecerem a história da educação, em especial a

história da educação da camada popular, infere-se que os moldes familiares foram dissolvidos

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apenas no século XXI, desconsiderando que esse processo pôde ter iniciado ao longo dos

séculos.

Para cada segmento social a construção do grupo escolar professora Alice Paes no contexto do

bairro Bom Jesus, teve uma representação; um significado social. Para o Estado e a imprensa,

seria uma forma de legitimar as bases e função de um Estado moderno, como a elite brasileira

desejara, pois por intermédio da escolarização o Estado estaria comprometido em civilizar

toda a população e finalmente ter o “status quo” necessário para que vigorasse a ideia de

Brasil Potência no mundo ocidental.

Além disso, seria uma forma de transmitir valores ideológicos e civis semelhantes à massa

populacional, mediante a unidade ideológica na ação e formação dos indivíduos, no processo

de civilização dos sujeitos, e, por conseguinte, o controle do que se ensinava, do que se fazia e

do que se aprendia, por intermédio do processo escolar, além de possibilitar “ares” mais

modernos do contexto da periferia urbana.

FONTES Arquivo Escola Estadual Professora Alice Paes. Imagem da visita da patrona escolar e demais autoridades. 1966. Portfólio. História da cidade de Uberlândia. 1967. Homenagem à diretora Helena Jorge. Boletim de Frequência Diária e Resumo Mensal. 1970. Ficha Escolar Cumulativa. 1970. MANUAL da professora primária. Rio de Janeiro: Guanabara, 1967. OLIVEIRA, Carolina Rennó Ribeiro de. Educação moral e cívica: 3ª série primária. Fontes Impressas - Jornais Correio de Uberlândia, 2 dez. 1951. Correio de Uberlândia, 21 jul. 1955. Correio de Uberlândia, 8 fev. 1958. Correio de Uberlândia, 7 dez. 1961. Correio de Uberlândia, 12 mar. 1961. Correio de Uberlândia, 10 mar. 1965.

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Correio de Uberlândia, 6 jul. 1967. Correio de Uberlândia, 14 abr. 1970. REFERÊNCIAS

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OS RECURSOS MIDIÁTICOS - O CINEMA EM FOCO

KATO, Marly Nunes de Castro

Mestranda em Educação

Universidade Federal de Uberlândia/ UFU

[email protected]

SILVA, Natália Luiza

Mestranda em Educação

Universidade Federal de Uberlândia/ UFU

[email protected]

BEZERRA, Paloma Oliveira

Mestranda em Educação

Universidade Federal de Uberlândia/UFU

[email protected]

Bolsista CAPES

DIAS, Marlei José de Souza

Mestranda em Educação

Universidade Federal de Uberlândia/ UFU

[email protected]

Resumo: Este estudo faz uma análise acerca do acesso à informação pelo viés da tecnologia no

contexto escolar, mostrando a relevância dos recursos midiáticos para a educação, bem como

para sociedade. O uso dos recursos midiáticos, em especial o cinema, inegavelmente

possibilita o despertar da criatividade à medida que estimula a construção de aprendizados

múltiplos, em consonância com a exploração da sensibilidade e das emoções dos alunos, além

de contextualizar conteúdos variados. A utilização da tecnologia na sala de aula tanto

possibilita a inovação na prática de ensino e aprendizagem como viabiliza a circulação de

informações de forma atrativa. A partir desse conjunto de possibilidades, o educador pode

conduzir o educando a aprendizados significativos que fomentem princípios de cidadania e de

ética. Entretanto, de um modo geral, os meios educacionais ainda vêem o audiovisual como

um recurso adicional e secundário em relação ao processo ensino-aprendizagem. Os livros são

assumidos pelos educadores como o recurso fundamental para a educação e os filmes

raramente são tidos em conta. Além disso, não são empenhados os devidos esforços em

defender o direito de acesso ao cinema, mesmo porque é um dos mais caros do mundo. Há

que se ir em busca de estímulos e compreender a pedagogia do cinema. Num contexto

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escolar, a dimensão pedagógica do cinema é vasta, repleta de questões, conceitos e reflexões

que permitem o debate e a produção de conhecimentos, além de constituir estratégia que,

dependendo dos objetivos, orienta a escolha dos conteúdos com os quais se deseja trabalhar.

Como procedimento metodológico adotou-se o paradigma qualitativo, através da pesquisa

bibliográfica. Levantaremos com este estudo os elementos conceituais do cinema, os caminhos

que levam à escolha de um filme, os significados do cinema e principalmente o porquê de se

estudar a relação cinema/educação.

Palavras-chave: cinema; recursos midiáticos; educação.

ELEMENTOS CONCEITUAIS

Iniciaremos este estudo nos remetendo à relevância dos recursos midiáticos para a

sociedade. Neste sentido, escreve Marilena Chauí (2006, p. 75):

O rádio, a televisão, o cinema, os jornais e as revistas de divulgação tornam viáveis sistemas de

representação que seriam impossíveis sem eles. Com efeito, para que a ideologia possa ganhar

generalidade suficiente para homogeneizar a sociedade no seu todo, é preciso que a mídia

cumpra seu papel de veicular a informação não de um pólo particular a outro pólo particular,

mas de um foco central circunscrito que se dirige ao todo indeterminado da sociedade.

Entretanto, de um modo geral, no meio educacional ainda se vê o audiovisual como um

recurso adicional e secundário no processo de ensino-aprendizagem. Os livros são assumidos

pelos educadores como o recurso fundamental para a educação e os filmes raramente são

tidos em conta. Além disso, não são empenhados os devidos esforços em se defender o

direito de acesso ao cinema, mesmo porque este é um dos mais caros do mundo. Há que se ir

em busca de estímulos e compreender a pedagogia do cinema.

Num contexto acadêmico, a dimensão pedagógica do cinema é vasta, repleta de questões,

conceitos e reflexões que permitem o debate e a produção de conhecimentos. Além disso,

permite a construção de estratégias que, dependendo dos objetivos, orientam a escolha dos

conteúdos com os quais se deseja trabalhar.

O caráter pedagógico inserido nos filmes é constituído pela produção de identidades e

pela transmissão de valores éticos e morais. Por conta desse caráter pedagógico, há situações

em que algumas pessoas abandonam sua identidade cultural para adorar comportamentos de

personagens fictícios. Diante disso, nosso desafio é também compreender quais os

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mecanismos sociais, culturais e psicológicos que permeiam este processo, pois na

contemporaneidade a mídia exerce sobre a população uma vigorosa ação pedagógica.

Há, segundo Xavier (2008), uma relação direta entre educação e cinema, pois ele “faz pensar

não somente sobre o cinema em si mesmo, mas igualmente, sobre as mais variadas

experiências e questões que ele coloca em foco”. Acrescenta ainda que o cinema incorpora

aquela dimensão formadora própria às várias formas de arte que cumprem um papel decisivo

de educação (informal cotidiana).

Além da dimensão formadora do cinema, vista por ele como arte e entretenimento, a

dimensão educativa, entendida no sentido de formação (valores, visão de mundo,

conhecimento, ampliação de repertório), permeia toda a experiência do cinema e está, ainda

que de modo implícito, presente nos debates sobre os filmes. Mesmo a reivindicação mais

radical de um cinéfilo pela “autonomia” do campo e seus rituais específicos já pode ser vista

como expressão de um tipo muito particular de formação, em que o cinema fica reduzido à

educação para o próprio cinema e seu imaginário.

Outra autora que destaca o cinema e toda a sua filmografia com objetivo de estudos

produtivos para a educação é Fabris (2006). Para ela, os filmes podem ser tomados como

textos culturais que ensinam, que nos ajudam a olhar e a conhecer a sociedade em que

vivemos e contribuem na produção de significados sociais. Entretanto, é preciso entender a

educação como um processo cultural amplo que ultrapassa os limites da escola.

Ao descortinar os meandros do cinema, acentua-se a importância dele como uma instância

pedagógica, o que nos leva a querer entender com profundidade o papel que ele desempenha

junto aos sujeitos no ambiente escolar. Duarte (2002, p. 83) afirma que, enquanto educadores,

“Temos muito mais a ganhar se assumirmos a prática de ver filmes como parceira na

transmissão de conhecimentos do que como rival das atividades que definimos como

verdadeiramente educativas”. Mesmo porque os filmes são inesgotáveis de oportunidades de

aprendizagem, se constituem também como uma porta de acesso a conhecimentos e

informações. Estes, por sua vez, são repletos de elementos de reflexão sobre a própria vida e a

sociedade em que se vive. Nesta perspectiva, também aguçam o interesse por questões que

muitas vezes sequer seriam consideradas e avaliadas, sejam elas diferenças sociais¸ sexuais,

raciais, físicas etc., cujo ângulo de evidência o educador pode despertar.

Fica, assim, demonstrado que o cinema não é só entretenimento, mas uma linguagem

mobilizadora e desestabilizadora de nossas certezas. Em sua relação com a escola, ele tem

uma história de muitas décadas de parceria na formação das pessoas. Nele, frequentemente

encontramos sinais articulados das atribuições que a sociedade lhe confere. Aí se torna

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importante compreender seu conceito para penetrar um pouco mais neste importante recurso

midiático. Assim,

O cinema é um complexo de sistemas significadores e seus significados são o produto da

combinação daqueles. A combinação pode ser realizada com sistemas complementares ou

conflitantes entre si, mas nenhum por si só é responsável pelo efeito total do filme. (Turner

1997 p. 69)

Para Fabris (2008), assistir a um filme, seja para entreter-se com ele, seja para analisá-lo,

pressupõe aprendizagens específicas. Os filmes são produções em que a imagem em

movimento aliada às múltiplas técnicas de filmagem, montagem, ao próprio processo de

produção e ao elenco selecionado, cria um sistema de significações.

Nesta condição, o cinema proporciona o deslocamento para o passado, para o presente e para

o futuro na mesma velocidade das imagens que são apresentadas na tela, embora vivendo em

um tempo presente. Com essa perspectiva, vamos enriquecendo a nossa história e a dos

demais. Para Duarte (2002, p. 10),

É preciso conhecer um pouco de história do cinema, ver os filmes consagrados, saber falar de

técnica cinematográfica usando vocabulário adequado, identificar os diretores, as tendências,

os movimentos; em suma, é preciso saber quem é quem e, sobretudo, aprender a gostar do

que é para ser gostado e a detestar o que é detestável.

Assim, o homem do século XX jamais seria o que é se não tivesse entrado em contato com a

imagem em movimento. Pois, com o cinema acabamos interagindo na produção de novos

conhecimentos ou, até mesmo, preconceitos e visões de mundo de um grande universo de

representações sociais. É um universo cultural em imagens, uma complexa tralha mecânica e

química que impressiona pelos movimentos contínuos com aparência de reais ou de

reprodução do real, que atinge um público ilimitado e também amplia em muito a

possibilidade de divulgação de ideologias.

Ver o cinema como uma produção cultural é, segundo Fabris (2008), não apenas inventar

histórias, mas, na complexidade da produção de sentidos, ir criando, substituindo, limitando,

incluindo e excluindo realidades. Assim, se justifica porque os indivíduos, ao assumirem essa

ou aquela identidade, são interpelados por discursos e, ao mesmo tempo, transformam-se de

acordo com suas histórias de vida. Mesmo assim, a posição de sujeito deve ser sempre

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questionadora, pois o desafio é olhar para os filmes não apenas como espectador, mas como

alguém que busca entender e captar respostas às questões que requerem ser investigadas.

OS CAMINHOS PARA ESCOLHA DE UM FILME

Tal como nos livros e outras produções culturais, os filmes são obras marcadas pelas épocas,

pela história de seus diretores, roteiristas e outros profissionais envolvidos e pelo formato final

da história, que nos encanta ou decepciona quando exibida nas telas do cinema. Mesmo

porque, no entender de Bernardet (1985, p. 80) o cinema:

[...] entra na vida como um dos elementos que compõem a sua relação com o mundo, o

cinema não determina completamente essa relação. No ato de ver e assimilar um filme, o

público transforma-o, interpreta-o, em função de suas vivências, inquietações, aspirações, etc.

Neste sentido, é importante reconhecer que trabalhar com cinema exige do educador uma

seleção prévia e também que não perca de vista o objetivo a ser alcançado, pois os filmes

descrevem, formam, informam e não constituem simplesmente um recurso extra. Nesse

sentido, a pesquisadora Fabris (2008) elaborou fichas e tabelas para auxiliar no registro de

procedimentos de decupagem e de análise de filmes. Estas fichas técnicas podem ser

utilizadas como fonte de informação sobre a obra.

Neste caminho metodológico, a autora desenvolveu estratégias que envolvem os seguintes

elementos: 1) Filmografia para análise - os filmes são selecionados a partir da problematização

proposta, são assistidos várias vezes e aí acontece um processo de “alfabetização” na

filmografia em questão; 2) Filmografia complementar - são filmes utilizados para fazer relações

e podem servir como exemplos no auxílio à argumentação; 3) Fichas técnicas - usadas para

localizar, selecionar e caracterizar o processo de produção e distribuição do filme a ser

analisado; 4) Tabela de linguagem cinematográfica - descreve os significados da linguagem

cinematográfica, todos os tipos de ângulos, planos e outras técnicas utilizadas na linguagem

cinematográfica; 5) Ficha dos critérios de seleção dos filmes - eles devem garantir abrangência,

legitimidade e que o material seja representativo da temática pesquisada; 6) Ficha de

decupagem (vem do francês découper, que significa cortar em pedaços): decupagem na

linguagem cinematográfica é o processo em que o filme é produzido, em que ele começa a

ganhar sua forma, indicações de diálogos, som, música, etc. Assemelha-se a um processo de

“desmanche do material”, que Fischer (200 1b) nos convida a fazer quando analisamos o

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material empírico nas pesquisas com produtos da mídia. É preciso dizer, ainda, que as imagens

têm força na produção do significado.

DESCOBRINDO OS SIGNIFICADOS DO CINEMA

Os significados que atribuímos aos filmes estão ligado às impressões que eles nos causaram,

ao que aprendemos com eles e até mesmo aos diferentes momentos de nossas vidas, a partir

das experiências que vivemos e dos saberes que fomos acumulando. Considera-se que o

significado de um filme é o todo, o conjunto, é a amálgama de um aglomerado de partes

pequenas, em que cada uma não é suficiente para explicá-lo, todas são necessárias e cada uma

só tem significação plena em relação a todas as outras (ALMEIDA, 1994, p. 29).

Já na expressão de Fabris (2008), o cinema como um produto criado culturalmente traz:

[...] as marcas, as inscrições das culturas na sua forma de expressão, nas representações que

produz. Há uma materialidade fílmica criada pela linguagem própria desse artefato, como

movimento e posição da câmera, abertura ou fechamento de cena e outros efeitos utilizados

na operação de transformar as imagens em histórias que nos capturam e seduzem. (p. 126)

Ao analisar filmes, Fabris (2008) identifica que a escola está viva no cinema e passa a ver os

filmes como sistemas de significação. Eles não apenas divertem como também, ao fazerem

isso, desenvolvem uma pedagogia, ensinam modos de vida. Ver o cinema como uma produção

cultural é, no entender de Fabris (2008), não apenas inventar histórias, mas, na complexidade

da produção de sentidos, ir criando, substituindo, limitando, incluindo e excluindo realidades.

Podemos inferir que a linguagem cinematográfica possui uma gramática e significados

específicos. Neste sentido, identificamos o espaço, a música e os sons tanto no aumento como

no sentido da realidade, reforçando ou revelando as emoções e sentimentos. Segundo

Bernardet (1985, p. 37):

A linguagem cinematográfica é uma sucessão de seleções, de escolhas: escolhe-se filmar o ator

de perto ou de longe, em movimento ou não [...] é um processo de manipulação que vale não

só para a ficção como também para o documentário, e que torna ingênua qualquer

interpretação do cinema como reprodução do real.

Daí se infere que compreender o processo que envolve a linguagem cinematográfica é um

caminho de desafios e descobertas que elaboram todos os significados de uma filmagem. A

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música, por exemplo, que participa intrinsicamente da configuração do ambiente emocional

do filme e interfere no modo como o espectador percebe os diferentes momentos da história

que estão sendo apresentados, tais como perigo, amor, suspense etc. Para Rosália Duarte

(2002), “O modo como atribuímos significados a narrativas em imagem, som, é produto de um

esquema muito complexo, cuja estrutura de base é formada pela articulação entre

informações e saberes constituídos em nossa experiência com artefatos audiovisuais”. (p. 72).

O espaço também visto como um elemento importante da trama que envolve o filme. Para

Martin (2011),

O cinema é a primeira arte em que a dominação do espaço pôde se realizar de forma plena [...]

pois trata o espaço de dois modos: ou se contenta em reproduzi-lo [...] ou então o produz ao

criar um espaço global, sintético, percebido pelo espectador como único [....] que pode

resultar não da montagem ideológica, mas da coexistência no mesmo plano de dois elementos

com o mesmo coeficiente de realidade figurativa, sem que tenham igual coeficiente de

existência dramática. (p. 220 e 221).

Ainda temos o tempo. Martin (2011) também retoma a questão do tempo:

Diante desse sistema de referência fugaz e evanescente, mas ao mesmo tempo tirânico, que é

o tempo, o homem dispõe pela primeira vez de um instrumento capaz de dominá-lo: a câmera

pode, com efeito, tanto acelerar quanto retardar, inverter ou deter o movimento e,

consequentemente, o tempo. ( p.238).

A imagem também é importante na composição dos significados de um filme. Ela reproduz a

percepção natural das pessoas e atribui à linguagem um caráter de naturalidade. Ela a matéria-

prima fílmica. Sua gênese é marcada por uma ambivalência profunda e em dois níveis de

realidade. Uma realidade material, que tem um valor figurativo, e uma realidade estética, que

tem valor afetivo. Em relação à realidade material, a imagem fílmica restitui exata e

inteiramente o que é oferecido à câmara e o registro que ela faz da realidade constitui, por

definição, uma percepção objetiva. Ela é antes de tudo realista, ou seja, dotada de todas as

aparências (ou quase todas) da realidade. O movimento é certamente o caráter mais

específico. A imagem fílmica suscita, portanto, no espectador, um sentimento de realidade

bastante forte. Ela é primeiro uma representação unívoca, por seu realismo instintivo, e

segundo está sempre no presente. Assim, o principal trabalho da memória reside na

localização precisa, no tempo e no espaço, dos esquemas dinâmicos que são as lembranças.

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Em relação à realidade estética, o cinema nos oferece uma imagem artística da realidade e

reconstruída em função daquilo que o diretor pretende exprimir. O cinema dispõe de uma

prodigiosa possibilidade de adensamento do real, que constitui, sem dúvida, sua força

específica e o segredo da fascinação que exerce. A imagem fílmica proporciona, portanto, uma

reprodução do real cujo realismo aparente é, na verdade, dinamizado pela visão artística do

diretor. A percepção do espectador torna-se aos poucos afetiva, na medida em que o cinema

lhe oferece uma imagem subjetiva, densa e, portanto, passional da realidade.

Além disso, sabemos que tudo que é mostrado na tela tem um sentido e uma segunda

significação que vão aparecendo à medida que nos dispomos a entendê-las. Esse esforço por

entendê-las passa pelo conhecimento das metáforas nele contidas. As metáforas podem ser

plásticas, que baseiam-se numa analogia de estrutura ou tonalidade psicológica presente no

conteúdo puramente representativo; dramáticas, que desempenham um papel mais direto na

ação, proporcionando um elemento explicativo útil para a condução e a compreensão do

enredo, ou ideológicas.

POR QUE ESTUDAR A RELAÇÃO CINEMA/EDUCAÇÃO?

Fischmann (2002) desenvolve um interessante inventário de âmbito internacional de

algumas pesquisas no campo educacional que investigam questões referentes à cultura visual

e à educação por meio de análise de filmes, televisão, anúncios, fotografias, cultura popular ou

outros artefatos que produzem imagens. Ele considera que há pontos obscuros que ainda não

conseguimos detectar, cujo esclarecimento se torna necessário. Ele cita dois motivos para a

resistência: um seria econômico, pois trabalhar com imagens exige recursos mais

dispendiosos; o outro seria causado pelos próprios editores de publicações, que exigem,

muitas vezes, que as investigações sejam traduzidas em palavras e números.

Na concepção de Fabris (2008), o contexto histórico entre cinema, pesquisa e educação em

nosso país tem uma aproximação recente. Mesmo porque o cinema é formado por um

complexo sistema de linguagens que nos desafia permanentemente no processo de

compreendê-lo e rompe a fronteira que separa a comunicação e a educação.

Outra pesquisadora que reforça esta importância é Duarte (2002). Ela mostra que cada vez

mais pesquisadores vêm considerando o cinema como campo de estudos, embora reconheça a

defasagem do cinema frente a outras temáticas de investigação. Segun do ela,

O reconhecimento da importância social do cinema ainda não se reflete, de forma significativa

nas pesquisas que desenvolvemos na área da educação. A discreta publicação de artigos sobre

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o tema em nossos periódicos sugere que os pesquisadores dessa área ainda dão pouca

atenção aos filmes como objeto de estudo (2002 p.97)

Todavia, o cinema, além de ser um rico campo de estudo e pesquisas, é também fonte de

investigação de interesse para a escola, pois é um produto cultural e está repleto de

significações que podem ser interpretadas e compreendidas de diversas maneiras. É uma

produção que combina elementos variados que refletem e veiculam valores e crenças das

sociedades em que estão imersos, ou seja, o contexto social em que originou sua produção e

veiculação.

Concordamos com Xavier (2009), ao afirmar que

Precisamos articular mais a pesquisa do cinema com os processos concomitantes, trocando

mais nossas referências com os pesquisadores que trabalham o teatro, a música, as artes

visuais e a literatura. Quando você fala na ausência de bases sólidas para a pesquisa histórca,

vejo mais esta combinação de escassez de material e de escassez de pesquisadores, quando

comparamos com outros centros, o que não impede que muita coisa tenha sido feita e que a

nova geração encontre um solo a partir do qual trabalhar, inclusive em conexão com uma re-

visão crítica (p. 291).

Necessitamos, entretanto, ficar alertas para os efeitos da mídia na produção de

representações mais globais e menos locais, para que a questão pedagógica possa ter cada vez

maior relevo e significado. O desafio está lançado no sentido de intensificar as pesquisas no

campo da relação do cinema com a educação.

CONSIDERAÇÕS FINAIS

Em síntese, retomamos que o cinema não é só entretenimento, mas uma linguagem

mobilizadora e desestabilizadora de nossas certezas. Enfim, consideramos que os indivíduos,

ao assumirem essa ou aquela identidade, são interpelados por discursos e, ao mesmo tempo,

transformam-nos de acordo com suas histórias de vida. Mesmo assim, a posição de sujeito

deve ser sempre questionadora, pois o desafio é olhar para os filmes não apenas como

espectador, mas como alguém que busca entender e captar respostas às questões que requer

serem investigadas.

Concluímos que cinema e escola precisam de políticas públicas que os defina como parceiros

na formação intelectual das pessoas. O cinema não deve ser só diversão e entretenimento. E

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os educadores, em sua prática pedagógica, não devem utilizá-lo somente para ilustrar de

forma lúdica e atraente um tema de estudo, mas sim como fonte fundamental de

conhecimentos.

REFERÊNCIAS:

BERNARDET, J-C. O Que é Cinema. São Paulo: Nova Cultural Brasiliense, 1985. Coleção primeiros passos. 120 p. CHAUI, M. Simulacro e poder Uma análise da mídia. São Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo, 2006. p. 75. DUARTE, P. E. A Gramática do Cinema. Lisboa: Edições Texto & Gráfica Ltda, 2011. p. 312-319. DUARTE, R. Cinema & Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. 126 p. FABRIS, E. H. Cinema e Educação: um caminho metodológico. Revista Educação & Realidade, 2008, v.33, n.1. p.117-134. FISCHMANN, G. Reflexões sobre Imagens, Cultura Visual e Pesquisa Educacional. In: Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), 25. Anais... Caxambu (MG), 2002. MARTIN, M. A Linguagem Cinematográfica. São Paulo: Ed. Brasiliense, 2011. 284 p. ROSENSTONE, R. A. A História nos filmes, os filmes na história. Tradução Marcello Lino. São Paulo: Paz e Terra. 2010. 262 p. TURNER, G. Cinema como prática social. São Paulo: Summus, 1997. 174 p. XAVIER, I. Um cinema que (nos) faz pensar. Entrevista. Educação & Realidade, 2008, v. 33, n.1, p. 13-20. ______________. Encontros. (org). MENDES, Adilson. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2009.

A INFÂNCIA E O BRINCAR: FORMAÇÃO, CONCEPÇÃO E DESENVOLVIMENTO.

Marcella Genaro Marques Universidade Federal de Uberlândia

[email protected] Ana Maria Moreira

Universidade Federal de Uberlândia [email protected]

Diva Souza Silva Universidade Federal de Uberlândia

[email protected]

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Resumo O presente artigo faz parte de uma pesquisa em desenvolvimento sobre as práticas do brincar na Educação Infantil, projeto institucional de graduação da Universidade Federal de Uberlândia. O projeto integra o Programa de Apoio a Laboratórios Interdisciplinares de Formação de Educadores – Life/CAPES, que através de núcleos interdisciplinares, constitui espaços de uso comum das licenciaturas em instituições públicas, destinados a promover a interação entre diferentes cursos de formação de professores e o desenvolvimento de metodologias e práticas pedagógicas. Um dos projetos que envolvem o curso de Pedagogia trata da importância do brincar no desenvolvimento da criança. Para esse artigo trazemos a discussão teórica sobre a infância e seu desenvolvimento a partir da história da Educação Infantil percorrendo o caminho da concepção de infância no Brasil ocorrida por volta de 1532 e suas modificações até os dias atuais. Sob a luz da análise documental foi possível relatar os aspectos legais que amparam a criança em sua formação enquanto ator social, que modifica o meio em que está inserida e é modificada por ele. Fazem parte desses aspectos legais o ECA (Estatuto da criança e do Adolescente), a LDB 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) e os PCN’S (Parâmetros Curriculares Nacionais), que além de orientarem e legislarem a educação, tem o poder de certificar e garantir à criança seu direito à educação de forma correta e digna. Entretanto, muitas instituições escolares hoje não tem se preocupado com o brincar na educação infantil e sim com a oferta de conteúdos formais, não se importando com as etapas de seu desenvolvimento que são fundamentais para sua formação. Acredita-se que os resultados da presente investigação possam contribuir para uma melhor qualificação na educação, sabendo que a função lúdica atrelada à brincadeira traz o despertar da criança para o aprendizado, pois é uma forma natural de experimentação e de construção de conhecimento. Outro aspecto é que possibilita expressar suas dificuldades e desafios através dessas atividades. O brinquedo é a essência da criança e a brincadeira é sua linguagem natural, então busca-se despertar com esse projeto todos os aspectos importantes da etapa educacional da criança, com o foco na aprendizagem não somente em contexto escolar, mas em contexto social. Palavras-chave: Educação Infantil, Brincar, Criança. Introdução O presente artigo faz parte de uma pesquisa em desenvolvimento sobre as práticas do brincar na Educação Infantil, projeto institucional de graduação da Universidade Federal de Uberlândia. Para esse artigo trazemos a discussão teórica sobre a infância e seu desenvolvimento e o quanto é importante refletir sobre as práticas que envolvem a educação infantil, buscando ter um olhar sobre a relação das crianças de hoje e as leis que as amparam. O texto está organizado com esta seção inicial, em seguida abordaremos a concepção de infância no Brasil, posteriormente a legislação de amparo, logo depois a realidade local e suas configurações. Espera-se que esta reflexão inicial contribua para os estudos no âmbito da Didática e suas metodologias de ensino buscando auxiliar as práticas utilizadas por professores, visando sempre o respeito quanto à singularidade das crianças e seu desenvolvimento. Infância e a educação brasileira A infância no Brasil é entrelaçada por mudanças de concepções e significados ao longo da história e sofre influências em sua constituição. É importante ressaltar que a criança foi reconhecida no seu espaço a partir das diferentes configurações demandadas pelas sociedades das suas respectivas épocas. Destacaremos alguns tópicos da trajetória histórica e suas implicações no cenário da infância hoje.

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Na sociedade medieval não existia o sentimento de infância, porém não podemos afirmar que as crianças não eram cuidadas ou, simplesmente eram deixadas de lado. “O sentimento de infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. Essa consciência não existia.” (ARIÈS, 1981, p.156). Sendo assim, logo que a criança se tornava um pouco mais autônoma e não dependia integralmente de sua mãe ou até mesmo da ama de leite, ingressava na sociedade dos adultos, e já não havia distinção entre elas e eles. Durante este período a taxa de mortalidade infantil era altíssima, e esse fato era visto como algo comum. Nesse cenário surgiu um novo sentimento de infância, devido ao comportamento das crianças que eram amorosas, ingênuas, gentis, e se tornaram uma fonte de distração para os adultos. A maneira de ser das crianças deve ter sempre parecido encantadora às mães e às amas, mas esse sentimento pertencia ao vasto domínio dos sentimentos não expressos. De agora em diante, porém as pessoas não hesitariam mais em admitir o prazer provocado pelas maneiras das crianças pequenas, o prazer que sentiam em “paparicá-las”. (ARIÈS, 1981, p. 158). No decorrer das mudanças desta sociedade, já no século XVII com a presença de moralistas e educadores, delineou-se um segundo sentimento de infância que foi denominado “moralização” que incentivou todos os aspectos ligados à educação até o século XX. “O apego à infância e à sua particularidade não se exprimia mais através da distração e da brincadeira, mas através do interesse psicológico e da preocupação moral” (ARIÈS, 1981, p.162). As visões sobre a criança foram sendo alteradas e, a partir de então, passou a ter um status mais definido na sociedade dos séculos XVII e XVII. Destacamos que Ariès (1981) com seu trabalho sobre a história social da família e da criança nos traz a ideia de rompimento da concepção de que só existe uma única concepção de infância. No Brasil, com o povoamento feito pelos portugueses em 1532, houve o recrutamento de crianças para viajarem nas embarcações e isso já incidia na exploração de mão de obra e da vida infantil. As crianças indígenas também não eram poupadas do trabalho, entre os seis e sete anos já acompanhavam seus pais no trabalho. Com a chegada dos jesuítas em 1549 iniciou-se a educação dessas crianças indígenas, sendo que o trabalho dos jesuítas era voltado para a educação e colonização. Destacamos que, num primeiro momento a intenção dos jesuítas era a propagação da fé católica entre os pequenos indígenas, porem quando a Ratio Studiorum foi inserida a educação passou a ser vista concomitantemente como uma ferramenta de interferência política. Nos períodos subsequentes pouco se discutiu efetivamente a infância no Brasil. O período chamado de Escolanovista (década de 30) foi um movimento que renovou o ensino, onde os seus pioneiros acreditavam que a educação é o único meio ao qual poderá se alcançar a verdadeira democracia, buscando assim o respeito às diferenças do sujeito e suas individualidades além de buscar também uma educação ativa e autônoma. Nesse momento o centro de interesse dos alunos era o foco do processo de ensino-aprendizagem, mas ainda sem considerar especificidades do desenvolvimento infantil. Os problemas que envolvem a criança e o adolescente passam a ter importância social após o Golpe Militar de 1.964. Foram criadas algumas fundações com o intuito de ‘proteger’ os jovens brasileiros, entretanto, na verdade, a real função destas fundações era a de conter esses jovens. Em 1988 é promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil, um marco democrático da maior relevância. O Art. 227 afirma que: é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988).

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Outro marco significativo da infância brasileira foi a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, instituído pela Lei n° 8.069 no dia 13 de julho de 1.990. Ela regulamenta os direitos das crianças e dos adolescentes inspirado pelas diretrizes fornecidas pela Constituição federal de 1988. Observamos a importância da preservação dos direitos da criança e do adolescente nas “Disposições Preliminares” da Lei: Art. 3° A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Art. 4° é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 2010, p.12). Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9394/96) o Título III – Do Direito à Educação e do Dever de Educar, Art.4, Inciso II assegura - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos de idade; conforme redação dada pela Lei no. 12.796, de 2013. Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (BRASIL,1996, p.13) No ano de 1998 foram divulgados os Referenciais Curriculares Nacionais divididos em três volumes que contem orientações e referencias que visam auxiliar na melhoria das práticas pedagógicas, buscando uma educação de qualidade. Sua função é contribuir com as políticas e programas de educação infantil, socializando informações, discussões e pesquisas, subsidiando o trabalho educativo de técnicos, professores e demais profissionais da educação infantil e apoiando os sistemas de ensino estaduais e municipais. (BRASIL, 1998, p. 15) Com a resolução Nº 5, de 17 dezembro de 2009 são fixadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, esse documento possui 13 artigos, dentre os quais destacamos: Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil articulam-se com as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica e reúnem princípios, fundamentos e procedimentos definidos pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, para orientar as políticas públicas na área e a elaboração, planejamento, execução e avaliação de propostas pedagógicas e curriculares. Art. 3º O currículo da Educação Infantil é concebido como um conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade. Art. 5º A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, é oferecida em creches e pré-escolas, as quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social. (BRASIL, 2009, p.1)

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Diante disso percebemos uma preocupação real com o desenvolvimento pleno da criança de 0 a 5 anos, visando trazer práticas que articulem suas vivências e os saberes necessários para seu aprendizado. Cria-se também uma preocupação com os espaços onde ocorre o ensino, que agora não deverão ser mais domésticos e devem ser regulamentados e supervisionados por órgãos competentes. Em termos de financiamento e programas governamentais, no governo FHC em 2001 criou-se o bolsa escola que ajudava financeiramente famílias com baixa renda e possuía como quesito fundamental que as crianças tivessem 85% de frequência escolar. No governo Lula o bolsa escola foi incorporado ao programa bolsa família destinado às famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, e uma de suas condições é que a criança esteja matriculada e frequente na escola para que possa receber o beneficio. Esse programa permanece no governo Dilma e trouxe muitas mudanças. A visão da criança nos dias atuais vem modificando significativamente. Deparamos facilmente com crianças adultizadas. Mas ao mesmo tempo encontramos um paradoxo quando em dados momentos essas mesmas crianças são tratadas como seres indefesos e incapazes de opinar sobre algo, em outros casos crianças trabalham nas ruas e tem responsabilidade de ajudar no sustento da casa e da família. Isso nos leva a refletir, pois no Brasil a criança é protegida e amparada por leis, pelo próprio Estatuto da Criança e do Adolescente, mas na verdade existe uma distância entre a regulamentação, a formação e o que realmente acontece. Atualmente as crianças querem, ou são levadas, a se vestirem como seus pais, serem como as personagens de novela, terem inúmeras responsabilidades e, tudo isso, tende para que elas de alguma maneira percam sua própria identidade. Kodama (2007) afirma: a imagem infantil passa a ter um forte apelo publicitário, mas é também no uso da infância, para ampliar cada vez mais o mercado, que meninas e meninos são apresentados como adultos e esse estereótipo do adulto passa a ser o ideal e referência da estética infantil: as bonecas Susy e Barbie são um bom exemplo da penetração do ideário feminino adulto e transplantado para o universo infantil; da mesma forma acontece com os brinquedos e jogos dos meninos: ferraris, aviões, motos, bonecos que pedem acessórios para cada atividade como mergulhar, dirigir, pilotar e jogos de guerras; ou como banco imobiliário que transportam o menino para o mundo adulto do consumo. (p. 8) Assim diante dessas informações a configuração da nossa sociedade faz com que as crianças tenham sua concepção de infância deturpada, onde elas adquirem certas responsabilidades que não estão ligadas aos aspectos legais que as amparam. O que elas precisam é ter seus direitos garantidos e seu desenvolvimento pleno, como na presente pesquisa, considerando o Brincar uma possibilidade real que contribua com sua formação. Enxergar a criança como um sujeito histórico e que tem direito a processos de apropriação de conhecimento e aprendizagens, além do direto à saúde, alimentação, à brincadeira, sociabilidade e interação. A Educação Infantil hoje e suas implicações no exercício da docência O exercício da docência na Educação Infantil está articulado a uma série de saberes mobilizados para o desenvolvimento da criança. A presente pesquisa, a partir do Life, pretende trazer à discussão as contribuições de diferentes áreas de conhecimento dialoguem sobre projetos de formação continuada, análises didáticas, metodologias diferenciadas e outras reflexões sobre a prática pedagógica. O Plano Nacional de Educação (PNE) Lei nº 10.172/2001, meta 2 do Ensino Fundamental discorre sobre implantar progressivamente o Ensino Fundamental de nove anos, pela inclusão das crianças de seis anos de idade, e isso a partir de duas intenções: “Oferecer maiores oportunidades de aprendizagem no período da escolarização obrigatória e assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças prossigam nos estudos, alcançando maior nível de escolaridade”. (BRASIL, 2004, p.14)

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Temos essa mudança implantada, mas será que esse acesso tem respeitado também o desenvolvimento da criança? O papel da educação infantil é garantir autonomia, aprendizado, conhecimento, e preparar a criança para uma vida escolar coerente com tudo àquilo que está regulamentado e é de direito. O papel do professor na etapa da Educação Infantil é cuidar da criança em relação a diferentes aspectos. É necessário também que ele tenha uma formação ampla, pois além de entender sobre os preceitos do cuidar, ele deve ter conhecimento sobre as áreas específicas dos saberes que as crianças aprenderão, lembrando que, é preciso fazer a articulação dos saberes com as vivências trazidas pelas crianças. Os eixos como: Identidade e Autonomia, Movimento, Música, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade, e Matemática possibilitam o processo de ensinar e aprender em suas diferentes vertentes de formação. A pesquisa em desenvolvimento tem por um dos objetivos o desenvolvimento de um projeto sobre Brinquedos e Brincadeiras com duas instituições de Educação Infantil da cidade de Uberlândia, que é o que passamos a situar. A Educação Infantil em Uberlândia/MG. De acordo com dados da Prefeitura Municipal de Uberlândia (2013) a Secretaria Municipal de Educação tem como principais atribuições formular e coordenar a política municipal de educação e supervisionar sua execução nas instituições que compõem sua área de competência. Também faz parte de suas atribuições garantir igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola, assegurar aos alunos da zona rural do Município a gratuidade e obrigatoriedade do transporte escolar e estabelecer mecanismos que garantam a qualidade do ensino público municipal. Além disso, valorizar os profissionais da educação, garantindo-lhes planos de carreira específicos dentro do serviço público municipal. As “EMEIs” (Escola Municipal de Educação Infantil) tiveram início no ano de 1991. Atualmente a prefeitura de Uberlândia possui 62 EMEI’s, que oferecem atendimento às crianças de 0 a 5 anos e tem o compromisso de assegurar seus direitos e cumprir seu papel de instituição formadora de conhecimentos e também de lugar de constituição humana. A escola é de muita importância na vida de uma criança, pois ela é além de um campo de troca de conhecimento, um espaço de muita de convivência. O projeto “Brinquedos e brincadeiras” com crianças de quatro e cinco anos da rede Municipal de Uberlândia têm por objetivo desenvolver diferentes interações através de brincadeiras, utilizando-as como meios facilitadores para a aprendizagem contemplando também o desenvolvimento infantil. Os objetivos específicos do projeto são: - Estimular a criação e experimentações de metodologias diversas que contribuam para o exercício docente na educação básica; Permitir o aprendizado, a socialização e o desenvolvimento coletivo de práticas e metodologias considerando o conhecimento de diferentes disciplinas; Dialogar com os diferentes níveis da Educação Básica e contribuir para experiências educativas dos estudantes dos cursos de Pedagogia e Licenciaturas; Fomentar experiências metodológicas e práticas docentes de caráter inovador, inclusive com a inserção de tecnologias da informação e da comunicação nos processos de ensino e aprendizagem dos futuros docentes e para os docentes das escolas parceiras da UFU. (PBG, 2013, p.6) As Diretrizes Curriculares Nacionais de 2009 indicam que “as práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e as brincadeira, as quais devem ser observadas, registradas e avaliadas” (BRASIL, 2012, p.15). O projeto está em desenvolvimento e tem como etapas subsequentes convidar as EMEIs em que as alunas desenvolvem o estágio do 3º ano do curso de Pedagogia para conhecerem o projeto e ajudarem a estruturá-lo; dialogar com as diferentes licenciaturas para o desenvolvimento de oficinas temáticas que fomentem os estudos e as análises de

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experiências; e a criação e experimentações de metodologias diversas inclusive com a inserção de tecnologias da informação e da comunicação nos processos de ensino e aprendizagem. Espera-se que o projeto possibilite uma reflexão da práxis do professor da educação básica, dos conceitos sobre infância, formação e desenvolvimento, articulando diferentes saberes com as práticas do brincar na Educação Infantil. Bibliografia ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. 2ª edição, Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1981. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil / Secretaria de Educação Básica. – Brasília: MEC, SEB, 2010. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Brinquedos e brincadeira de creches: manual de orientação pedagógica / Brasília: MEC, SEB, 2012. BRASIL. Ensino Fundamental de nove anos: orientações gerais. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Departamento de políticas de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Coordenação geral do ensino fundamenta. Brasília: MEC, SEB, 2004. BRASIL. Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=2298&Itemid> Acessado em: 22 agosto 2013. BRASIL. [Estatuto da Criança e do Adolescente (1990)]. Estatuto da criança e do adolescente. – 7. ed. – Brasília : Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2010. Disponível em:< http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/785/estatuto_crianca_adolescente_7ed.pdf> Acessado em: 20 agosto 2013 BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/lein9394.pdf>. Acessado em: 22 agosto 2013. BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de pessoal de nível superior/CAPES. Projeto LIFE. Disponível em: < HTTP://www.capes.gov.br/educacao-basica/programa-de-apoio-a-laboratorios-interdisciplinares-de-formacao-de-educadores-life. Acessado em: 05 abr.2013. KODAMA, Katia Maria Roberto de Oliveira. A representação imagética da criança nos vários processos históricos sociais e sua identidade ameaçada pela cultura globalizada. In: Fórum da diversidade e igualdade: cultura, educação e mídia. Bauru, SP: Diversidade e igualdade na comunicação, 2007. Prefeitura de Uberlândia. Disponível em: <http://www.uberlandia.mg.gov.br>. Acessado em: 26 agosto 2013. UFU. Universidade Federal de Uberlândia. Projeto do Programa de Bolsas de Graduação – DIREN/PROGRAD/2013 – 2014. EDITAL Nº 001/2013 PROGRAD/DIREN, 2013.

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DEVIR-ETERNO: ERAM OS DEUSES MOLECULARES? – PARA ALÉM DE UMA ÚNICA CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO

Claudio Gonçalves Prado

Faculdades de Ciências Integradas do Pontal – UFU [email protected]

Resumo Este trabalho estabelece uma reflexão sobre o significado de educação e de escola para além de suas definições por convenção e institucionalização, procurando criticar a visão de processo educativo como algo que se limita a tradições regulamentadas. A partir da proposta deleuziana, estabelece as lembranças fundamentais: de um beatlemaníaco, de um existencialista, de um interacionista, de um romântico e de um revolucionário, e as confissões de um cientista. O referencial teórico buscou abranger desde autores de prestígio e reconhecimento intelectual nas áreas de filosofia, sociologia, história, psicologia e pedagogia (Aristóteles, Platão, Nietzsche, Morin, Marx, Sartre, Adorno, Horkheimer, Deleuze, Guattari, Lévi, Durkheim, Bourdieu, Hobsbawn, Freud, Skinner, Piaget, Vygotsky, Leontiev, Luria, Rogers, Freire, Castaneda, Barthes), assim como a cultura pop de artistas e pensadores contemporâneos de um cenário extra-acadêmico (John Lennon, Paul McCartney, Renato Russo, Roger Waters, Jerome David Salinger, Milan Kundera). São discutidos conceitos fundamentais no campo das ciências humanas da modernidade e da pós-modernidade como molar, molecular, territorialização, espaço de mercado, consumismo, liberdade e angústia, potência, entre outros, relacionando-os ao cenário educacional em espaços escolares e não-escolares. Nesse sentido, é possível pensar situações de cunho educativo para além do âmbito dos conteúdos programáticos, como em disciplinas escolares e acadêmicas, como a Psicologia da Educação, refletindo sobre a vivência em nível molecular e imperceptível do cotidiano escolar e a possibilidade real de transdisciplinariedade. Ao final, propõe-se uma escola baseada na arte molecular aceita pelos membros da comunidade acadêmica, na liberdade existencial reconhecida como algo demasiadamente humano, na interação entre ensino e aprendizagem em que nunca prepondere a hierarquização de quaisquer tipos de saberes, nas expressões da emoção em qualquer espaço escolar ou não-escolar, na auto-revolução desterritorializada e estimulada constantemente por todos os profissionais da Educação e na auto-realização humana e não o contrário, originando a nova escola molecular. Palavras-chave: Psicologia da Educação; desterritorialização; transdisciplinariedade. Introdução O que é Educação? Para responder é preciso considerar que a inteligência coletiva é possível em uma sociedade democrática. E as contribuições wiki no campo tecnológico das redes virtuais, porém ainda no nível molar, e não molecular, podem significar algumas possibilidades. Wikipedia apresenta: “Educação engloba os processos de ensinar e aprender”.¹ (www.etc...). Os processos de ensinar e aprender remetem a inúmeras teorias. Durkheim (1978) destaca a associação entre educar e socializar. A escola é responsável e necessária para a socialização das crianças a partir do momento em que as ensina que a sociedade é estruturada por normas, sem as quais, não seria possível viver em coletividade. Mas Paulo Freire (2003) ressalta a educação como processo político e crítico que permite a conquista da libertação, mais que a liberdade. Então, as próprias regras que incluem o indivíduo como parte de um corpo social, devem ser passíveis de críticas, porque senão se tornam opressão. Se é possível transdisciplinarizar para além da escola formal, a cultura pop poderia acrescentar algo mais: “we don´t need no education”2 (WATERS, 1979) . Roger Waters3 reage, com a ajuda de seus companheiros de Pink Floyd4, em relação à educação como algo que sustenta a opressão, tanto individual como institucional, e que inibe a criatividade da criança. Mas é possível educar

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para além do ensino regular e formal da escola? Vygotsky (2001) estudou e escreveu a respeito dessas particularidades e diferenças. E será abordado mais adiante. Lembranças de um beatlemaníaco – Quando se afirma all you need is Love5, John Winston Lennon6, depois seria John Winston Ono Lennon, poderia estar evocando conhecimentos de cunho psicológico e ainda não escolar: não diriam os psicanalistas que os seres humanos são movidos pelo desejo? Freud (1987) o diria no início do século passado, o século das paixões libidinosas. Todos sabem que o mundo não foi mais o mesmo após a teoria do nobre médico vienense, nascido na antiga Tchecoslováquia. Mas outros diriam que o mundo musical, pelo menos o das canções populares, também não fora mais o mesmo após o aparecimento da obra dos rapazes de Liverpool. Então, o século XX, a era dos extremos de Hobsbawn (1997), envolvendo duas guerras quentes, e ainda uma terceira, fria, também teve sua contradição: a luta daqueles que queriam o amor. Seria uma tentativa de desterritorialização, preconizados por Deleuze e Guattari (1997)? Seria uma alusão sobre o que falta às escolas? Há algo psicológico no mundo quando as canções envolvem ainda o sagrado, pois “ainda que eu falasse a língua dos homens, que eu falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria”7 (RUSSO, 1989)? Nossa Legião, a Urbana8, e não a Celeste, dos Anjos, acreditava no mesmo amor da beatlemania. Mas um amor que precisa ser devir e evocar o imperceptível nas pessoas, influenciando-as não no campo molar, mas molecular. Pois as canções não penetram no íntimo das pessoas através de ondas sonoras oriundas de instrumentos e tecnologias molares. A força de all you need is Love assim como Let it be9 existe em um nível que afeta o afeto (abusando do jogo de palavras). Por isso, George Harrison10 disse na Antologia11: “as pessoas deram seu dinheiro e seus gritos, mas os Beatles deram seus sistemas nervosos” (HARRISON, 1996). Dinheiro e consumismo, próprios do mundo da indústria cultural criticada por Adorno e Horkheimer (1986), assim como a terra, o território e o espaço do mercado, analisados por Pierre Lévy (1998), pertencem a uma dimensão importante de um processo cultural deflagrado pela rebeldia, mas apoderado pelo mundo da mercadoria, e não pelo campo educacional, o espaço do saber. Mas Lennon não tentará sucessivamente a desterritorialização, tentando romper com os padrões culturais de uma sociedade de mercado através do psicodelismo de algumas canções, como Strawberry fields forever12, Tomorrow never knows13 e I am the walrus14? E mais adiante, tentando aproveitar a experiência da maturidade e a busca da “felicidade familiar”, não tentará criar um hino acima de todos os hinos nacionais dos diversos povos por meio de Imagine15? Um hino que pudesse ser cantado pelas crianças nas manhãs de todas as sextas-feiras? Johnny convencerá muitos? Sim, “you may say I´m a dreamer, but I’m not the only one”16 (LENNON, 1971). Porém não convenceu Mark Chapman17, que escreve o vigésimo sétimo capítulo de “O Apanhador...”18 de Salinger (1999) . Para Chapman, parecia claro: quem defende um mundo sem posses e de fraternidade entre os homens, não pode aparecer em revistas de celebridades e riquezas e morar no Dakota de N. Y. City. E o atirador tem problemas com sua identidade/essência. Era devir? Quem alcançou linhas de fuga? Ídolo e fã, vítima e acusado, profeta e seguidor? Não seria o jovem Holden Caufield19, personagem que só queria trabalhar no campo do centeio, apanhando criancinhas, o verdadeiro devir-criança, devir-imperceptível, devir-animal, passando através de Salinger, Lennon e Chapman? Mas tentar explicar o inexplicável pode parecer improcedente. Por isso, Paul20 ficará lembrado ao afirmar que se soubessem o segredo do sucesso, contratariam quatro rapazes cabeludos e seriam seus empresários. E se indagassem Morin, talvez ele dissesse: vocês não vão abandonar de vez essa tendência reducionista? Não percebem a complexidade de todo esse movimento cultural, e, por que não, educacional? Por favor, aprendam a conviver com a incerteza! Lembranças de um existencialista – a linearidade pode ser uma armadilha. E a metafísica mais perigosa ainda, porque impõe a necessidade de uma essência. Se o mundo pode ser devir, não

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há lugar para seres essenciais, apenas diferenciados por seus acidentes. E com todo respeito a Aristóteles (2012). Mas, passar a vida inteira buscando a atualização de potências, invejando o ato puro, seja celeste ou não, almejando incansavelmente a perfeição, pode ser doentio. Os psicólogos de plantão alertarão: “você pode ser um caso de TOC21!”. Para alguns, melhor neurose que psicose... Assim a possível salvação, porém ainda pessimista, pode ser vislumbrada com os ensinamentos do Sr. Sartre (1978), tantas vezes visto nos boulevards franceses. O homem não é nada mais do que faz de si mesmo, ao realizar-se enquanto seu próprio projeto, “ser-para-si”, assumindo a liberdade da qual não pode escapar. “Claro”, ressaltariam os pessimistas céticos e chatos, “mas a angústia é inevitável!” E qual o problema em angustiarmos? Carlos Castaneda (2006), através de seu Don Juan22, ensinará que o que pode ser visto como um mal, a ansiedade, pode ser amiga ao avisarmos sobre um perigo. Ameaça que nem precisa ser real, apenas ilusória, imaginária, mas que poderia nos fazer sofrer. E, se avisados, é possível agir diferente, com criatividade e coragem. “Viver é arriscar-se”, afirma o tão pouco valorizado Carl Rogers (1987), e que tem mais presença no cenário da educação que na prática clínica dos psicólogos. Na verdade, um homem que, após a morte, deve ter longas discussões no Olimpo, respeitado mais por Zeus, Apolo e Atenas, que pelos próprios mortais na terra. Rogers absorve a relevância da liberdade existencial evocada por Sartre. E escreve um livro: Liberdade para aprender. Não há educação verdadeira no mundo autoritário, criticado por Freire e pelo Pink Floyd. Assim, ser livre é ser devir-molecular e devir-imperceptível, em que os afetos são empáticos, em que a expressão é congruente, e a aceitação do outro é incondicional. O outro como o outro, na verdadeira alteridade, para além do universo que o “Eu” egocêntrico criou. Um egocentrismo não superado, mas que deveria sê-lo, como esperava Piaget (1976-78). Ser livre é “acreditar por um instante em tudo que existe”, não esperando um mundo perfeito, mas em que todas as pessoas “poderiam” ser felizes23 (Legião e Renato Russo novamente). Mas a educação preconizada por Rogers é não-diretiva, o que não combina com Durkheim, nem com o espaço das mercadorias, do consumismo. Uma proposta de ensino não-diretivo exige uma desterritorialização constante, quase obrigatória, em contradição com o próprio não-diretivo – eis a dialética! O devir de Heráclito (1980), Deleuze e Guattari, ganham potência (e não poder, jamais o poder, por favor) por meio da afirmação rogeriana: “a vida, no que tem de melhor, é um processo que flui, que se altera e onde nada está fixado” (ROGERS, 1987, p.38). Se fosse Nietzsche (2005), seria um pouco mais assustador: “o homem é uma corda atada entre o animal e o além-do-homem: uma corda sobre um abismo” (s/p) . Mas com abismos ou não, o homem precisa passar por essa corda e atingir sua potência. Sua potência de liberdade. Ser individual na coletividade, e coletivo em sua individualidade. Lembranças de um interacionista – A Psicologia da Educação é disciplina obrigatória nos cursos de licenciatura, em que se formam professores. Na hierarquia das disciplinas, ainda difícil é a precisão de sua relevância em relação aos outros conteúdos. Mas não se ensina psicologia no campo educacional sem o reconhecimento da necessidade de compreender a interação do indivíduo e seu ambiente social no processo de ensino e aprendizagem, sugerido como ponto inicial deste trabalho. O próprio Rogers havia adotado uma postura inatista, confirmando, intencionalmente ou não, a proposta do Emílio rousseauniano. Mas os ambientalistas ganham muita força com Watson e Skinner (1974), a proposta behaviorista. Os Sobre o behaviorismo e O Mito da Liberdade (tradução equivocada do título original) de Skinner destroem montanhas de críticas, e levam junto, os críticos que habitavam no cume. E Walden II é clássico obrigatório para qualquer sociólogo, apesar de não lerem Skinner por puro preconceito. Assim, Lennon, Einstein e Pelé - a criatividade na música, na ciência e no esporte – nasceram com talento ou são consequências de um ambiente favorável ao desenvolvimento das aprendizagens específicas? Os interacionistas vão tentar resolver este dilema, dialético e paradoxal. Piaget, Vygotsky e Wallon (1989) vão admitir uma interação constante entre o biológico e o social. Piaget, inspirado em Kant (1984), será o terceiro maior teórico da psicologia em toda a história (só superado por Freud e Skinner, óbvio), e portanto, dispensa apresentações. Mas Vygotsky,

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sob inspiração do materialismo histórico-dialético será, sem forçadas associações, um revolucionário. Porque identifica a importância de um nível de desenvolvimento que supera o alcançado. Em Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem, com a colaboração de Leontiev e Luria, chamou a atenção para o nível de desenvolvimento potencial. Novamente, a potência. Em consonância à própria potência de Lévy, o Pierre, e ao devir dos franceses; não seria devir-potência? Um pouco diferente da potência de Nietzsche, mas não em contradição. Há um nível de conhecimento que está para brotar, pois é rizoma, e o psicólogo russo chama a atenção para a participação da mediação e do outro. O outro, a existência do outro, novamente, defendido há tempos24 por Rogers e toda a antropologia relativista, a da alteridade. Interação. O saber precisa de interatividade. Eis a Inteligência Coletiva de Pierre Lévy. Os coletivos inteligentes no espaço do saber. Vygotsky já o sabia, mesmo morrendo precocemente, aos 37 anos, três a menos em relação a Lennon. Porém, não assassinado por um súdito. Mas desconhecido por um bom tempo por pressões políticas, fruto do exagero de violência do socialismo stalinista, totalitário, brutal, e nada coletivamente inteligente. A educação de Vygotsky contempla as condições materiais concretas, vividas, experienciadas pelas crianças, até mesmo em jogos e brincadeiras. Em Leontiev, o sentido da atividade principal acontece na brincadeira do pré-escolar, no estudo dos jovens e no trabalho dos adultos. A educação de Vygotsky sugere uma potência imanente, presente, em estado latente, mas prestes a se manifestar. Uma manifestação que depende do outro. Na escola, quem tem este papel é o professor. No geral, aquele que desperta a potência de cada indivíduo em seu próprio devir. Quem foi o outro que despertou Einstein? Quem despertou Pelé? Quem despertou Lennon? Resposta: o outro de Vygotsky, em nível molecular e imperceptível. Lembranças de um romântico – Fazer serestas à noite! Mas agora o som é eletrônico, e o violão não se ouve mais na cidade petrificada. É preciso plugar o instrumento e usar microfone. Como o rapaz mostrará à moça a força do seu desejo, que evoca de seu coração, de sua alma, de suas entranhas? A força do desejo. Ninguém se atreverá a condenar o Dr. Freud por esta descoberta. A não ser os invejosos, incapazes de escrever vinte e quatro volumes. O imperceptível percebido por Freud. Apenas a mente brilhante do médico vienense poderia realizar este feito. Colocar a humanidade em estado de perplexidade. Tirou-nos de uma zona de conforto narcísica e lançou nossa espécie para a incerteza do sentir. Freud nos ensinou a amar por amar e a perdoar o próprio ódio. A partir de sua obra, o ser humano deveria aprender a não ter culpa por amar quem ama. Pois, a escolha não é racional, posto que o desejo é irracional. Abelardo não teve culpa por amar Heloisa, e Lennon também não, por se apaixonar por Yoko. “Hey Jude, don´t make it bad, take a sad song, and make it better”25 (LENNON/McCARTNEY, 1970). Paul escreveu para Julian, e seria July, pois não o queria triste. Mas seu pai, J.L., também não tinha culpa por não amar Cinthia Powell. Dizia Barthes (1977): “Encontro pela vida milhões de corpos; desses milhões posso desejar centenas; mas dessas centenas, amo apenas um. O outro pelo qual estou apaixonado me designa a especialidade do meu desejo”. Todas as ações do mundo movidas pelo desejo. Um desejo que a educação não consegue originar, explorar, dominar – tenta-se sublimar! Eis a participação novamente do médico de Viena. Qualquer sistema educacional, escolar ou não-escolar, de nível básico ou superior, precisa reconhecer os seres de desejo. A escola deve abrigar os entes desejantes e permitir que aprendam com emoção. “Don´t let me down”, escola, “don´t let me down”26! É preciso rir, e haverá choro também; mas “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, em cooperação com os outros: “I get by with a little help from my friends”27. Escolas criam tensão quando deveriam educar preventivamente, evitando o conflito destrutivo. O devir-conflito é aceitável quando é construtivo, dialético, estimulante. A educação preventiva consiste em um processo ensino-aprendizagem em que os afetos positivos preponderam nas relações humanas para evitar a moral ressentida, de má-fé e com sentimento de culpa, tudo o que Nietzsche repudiava. O sim à vida nietzschiano torna-se sim ao amor, na relação molecular entre os envolvidos no ensino escolar e não-escolar. Esse modelo associa-se na proposta de Educação após Auschwitz de Adorno. Só uma escola que

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permita a existência e manifestação de sentimentos verdadeiros pode assumir a formação de uma pessoa para a vida. Não só de uma criança ou de um jovem, mas de adultos e idosos também. A nova escola sugerirá: “Entre com seus sentimentos verdadeiros, e não tenha receio de manifestá-los, pois a vida é emoção”. Lembranças de um revolucionário - A compreensão da história pode ser mal-interpretada. E principalmente a luta de classes enquanto fenômeno do século XXI. Inverte-se os dígitos: século XIX. Ninguém ousaria esperar o socialismo nos dias atuais, a não ser os próprios marxistas. Quantos destes não seriam stalinistas pró-totalitarismo! Fazendo-se de bons moços, “disfarçados andando ao redor”, como diria Gil. E o artista baiano estava denunciando o outro grupo. Mas Milan Kundera (1988) alertou para este cuidado em “A Brincadeira”. A injustiça contra Marx (1987) consiste em atribuir os instintos primitivos de morte, anunciados por Freud, dos comandantes do socialismo real à sua teoria. O próprio Marx gostava da máxima de Terêncio, sábio da antiguidade: “nada de humano me é estranho”. O risco surgiu dos homens maus. Daqueles que preferiram o lado sombrio de sua psiquê. A vida é emoção. Mas existem emoções positivas e emoções negativas. A Universidade deve formar educadores para os bons sentimentos. Para a auto-realização, defendida pelo psicólogo Rogers, e para a superação da desigualdade social, proposta pelo economista Marx. Este filósofo alemão desejava mudança, movida pelo desejo, sempre o desejo, de superação do grande desnível social, grande responsável pela fome das crianças. Não é necessário superar o materialismo histórico-dialético, mas aproveitar o que ele produziu de bom. Vygotsky partiu dele, e foi exímio ao mostrar a quantidade de aprendizagem trazida pela criança para a escola. Pena que a escola não sabe o que fazer diante deste potencial. Talvez Marx, Vygotsky, Leontiev e Luria soubessem... Eram os deuses moleculares? Vygotsky não conseguiu medir a Zona de Desenvolvimento Proximal. Não mediu, não mensurou, não quantificou estatisticamente, porque era molecular, imperceptível. Aproximação deleuziana do pesquisador russo. A Academia agüenta? Não, porque a Academia é racional e insiste no lado hard do marxismo. Infra determinando Super. O concreto esmagando o que há de mais puro na subjetividade, no devir-criança. “When I was young, it seemed that life was so wonderful, a miracle, oh it was beautiful, magical”28. Então, qual seria a revolução realmente revolucionária? A social ou a interior? Ou ambas, numa perspectiva interacionista? Confissões de um cientista - Cuidado com o senso comum! Diante das bancas examinadoras, mais do que em relação à própria vida, cuidado com o senso comum! A academia é para os acadêmicos, pois consiste em seu campo cultural, bem analisado por Bourdieu (2005). Assim, siga rigorosamente o método, proposto por Descartes (1996) em pleno século XVII (evidência, análise, síntese e enumeração). A imposição do método para a excelência científica: objetividade, linguagem clara e precisa, definição de conceitos, generalização, comprovação empírica. Eis as “novas regras do método cartesiano”, para além da Matemática: título, resumo, introdução, revisão de literatura, metodologia, discussão, conclusão, referências. E não esqueça os anexos! Mas então surge a pergunta: onde encaixar a música molecular dos deuses de Liverpool? Como objetivar a angústia existencialista de Sartre, assim como sua liberdade, a mesma de Rogers e por que não, de Paulo Freire? Como explorar o interacionismo coletivamente inteligente se as referências são a humanidade? Como discutir o amor e toda a força das paixões avassaladoras do inconsciente imperceptível freudiano? Como apresentar a revolução em linguagem clara e precisa se o ideal revolucionário é auto-revolucionante? A Psicologia para os psicólogos e pedagogos, a Física apenas para os engenheiros e a Ciências Biológicas apenas para os médicos: o conhecimento como propriedade dos aristocratas do saber! Eis um erro de Platão e sua sofocracia. A ciência se tornou dogmatismo por estar independente de sua mãe desde a Era Moderna, e até se proclamou superior através do positivismo de Comte ao final do século XIX. Mas se tornou mercadoria, assim como Marx identificara. O espaço do saber confundindo-se com o espaço das mercadorias. O método esmagou a criatividade e se apossou da inteligência. Não há mais espaço para a inteligência, seja de Binet, Spearman, Thurstone, Gardner, Guilford, Cattel, Sternberg... A Psicologia sabe o

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que fazer então, pois agora é pura racionalidade científica. No final, a despeito do significado das descobertas científicas, só o método prepondera. Que criemos um método para as serestas então! Com todas as variáveis controladas e correlacionadas segundo a abordagem quantitativa ou o registro das emissões sonoras submetidas à análise do discurso segundo a abordagem qualitativa! Pois, no final, o que teremos garantido é a nossa vaga no rol da fama da comunidade acadêmica. Que destino cruel e desejado! Apenas Nietzsche nos socorre através de um alerta que nos faz respirar novamente: “o que se tornou perfeito, inteiramente maduro, quer morrer.” Educação em um mundo de devir: à guisa de conclusão – As produções científicas tornam-se os conhecimentos verdadeiros a serem professados em nosso sistema educacional, em nossas escolas, para nossos alunos. Que sua importância seja preservada no campo das ciências naturais! Mas que um novo modelo de educação, acima da mera escolaridade, emirja para além de tudo que a sociedade instituiu. Se as regras são condição sine qua non para o processo de socialização, sua transvaloração deve crescer enquanto rizoma no seio da Inteligência Coletiva. E nossas crianças e jovens precisam aprender a se aceitarem enquanto devir. Não uma identidade fixa, rígida e planejada por todo um sistema educacional submetido a um sistema maior e onipresente, o espaço das mercadorias. Haverá um mundo melhor, em que as crianças visitarão a escola espontaneamente em período de férias; que os professores terminarão a aula, lamentando pelo pouco tempo ao lado dos alunos naquele dia; que os pais passarão na escola por um breve momento para conhecer o professor admirado por seu filho; que os profissionais da educação servirão ao próximo e não ao sistema de dominação vigente. Esse tempo chegará a partir desse novo modelo educacional: - A arte molecular existirá espontaneamente sem imposição de uma disciplina regularizada pelo Estado, mas aceita pelos membros da comunidade acadêmica; - A liberdade existencial será reconhecida como algo demasiadamente humano e a angústia será compreendida como possibilidade de crescimento pessoal; - A interação será incentivada em todos os processos de ensino-aprendizagem, em que nunca prepondere a hierarquização de quaisquer tipos de saberes, pois todo saber será coletivamente inteligente; - As emoções serão reconhecidas como expressões humanas da mesma relevância que a utilização dos processos cognitivos racionais, e a alegria e a tristeza terão o mesmo respeito que o raciocínio e a memória em qualquer espaço escolar ou não-escolar; - O ideal revolucionário acontecerá a partir de uma auto-revolução desterritorializada e estimulada constantemente por todos os profissionais da Educação; - O método científico estará subordinado à auto-realização humana e não o contrário. Eis a nova escola molecular! Notas 1 – Definição encontrada no site www.wikipedia.com.br para o conceito de Educação. 2 – Verso da canção “Another brick in the wall”, da Banda inglesa Pink Floyd, lançada no LP “The Wall” de 1979. 3 – George Roger Waters (1943): compositor, baixista e líder da Banda Pink Floyd, do final dos anos sessenta até a década de oitenta. 4 – Banda de rock inglesa, formada por Roger Waters, David Gilmour, Rick Wright e Nick Mason, com início de formação em 1965 e fim definitivo no final dos anos noventa. 5 – Título de uma canção da Banda inglesa The Beatles, lançada em 1967, em um programa de TV ao vivo, e assistida por cerca de 350 milhões de pessoas. Sua gravação aparece no álbum “Yellow Submarine”.

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6 – John Winston Lennon (1940-1980): compositor, guitarrista e um dos líderes dos Beatles, ao lado de Paul McCartney. John Lennon modificou seu nome após se casar com Yoko Ono (1933). 7 – Versos da canção “Monte Castelo” da Banda brasileira “Legião Urbana” lançada em 1989 no álbum “Quatro estações”. Os versos utilizados pelo compositor foram extraídos do capítulo 13 de Coríntios, livro da Bíblia. 8 – Banda de rock brasileira, formada por Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, atuando entre 1982 e 1996. 9 – Título de uma canção da Banda inglesa The Beatles, lançada em 1970 no álbum homônimo. 10 – George Harrison (1943-2001): foi guitarrista-solo e membro dos Beatles. 11 – The Beatles Anthology (1996) consiste em um documentário pela TV, uma coletânia de DVDs a respeito da história dos Beatles. 12 – Título de uma canção dos Beatles, lançada em 1966 no álbum “Revolver”. 13 – Título de uma canção dos Beatles, lançada em 1967 no álbum “Magical Mystery Tour”. 14 – Título de uma canção dos Beatles, lançada também em 1967 no álbum “Magical Mystery Tour”. 15 – Título de uma canção de John Lennon, lançada também em 1971 em álbum homônimo. 16 – Verso da canção “Imagine” de 1971. 17 – Mark David Chapman (1955) é um prisioneiro americano acusado de ter atirado e assassinado o beatle John Lennon. 18 – Abreviação do título do livro “O Apanhador no Campo do Centeio” (1951) de J. D. Salinger. 19 – Holden Caulfield é o nome do personagem principal da obra de Salinger. 20 – James Paul McCartney (1942): músico multi-instrumentista e um dos líderes dos Beatles, ao lado de John Lennon. 21 – TOC é a abreviação de um transtorno neurótico chamado “Transtorno Obsessivo-Compulsivo” (F42 no CID-10), caracterizado por idéias obsessivas ou comportamentos compulsivos, tornando rituais compulsivos, devido a representações ou impulsos que interferem na consciência do sujeito. 22 – Don Juan Matus é um personagem indígena presente na maioria das obras de Carlos Castaneda. Segundo Castaneda, ele teria nascido em 1891 e vivido até, aproximadamente, 1974. 23 – Alusão à canção “Índios” da Banda brasileira “Legião Urbana” lançada em 1986 no álbum “Dois”. 24 – Alusão à canção “Há tempos” da Banda brasileira “Legião Urbana” lançada em 1989 no álbum “As Quatro Estações”. 25 – Verso da canção “Hey Jude” de 1968. 26 – Verso da canção “Don´t let me down” de 1969. 27 – Verso da canção “With a little help from my friends” de 1967. 28 – Verso da canção “The logical song” de 1979, da banda Supertramp. Referências ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986. ARISTÓTELES. Metafísica. 2ª ed. São Paulo: Edipro, 2012. BARTHES, R. Fragmentos de um discurso amoroso. 3ª ed. Rio de Janeiro: F. Alves, 1977. BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. 6ª ed. São Paulo: Perspectivas, 2005. CASTANEDA, C. Viagem à Ixtlan. 18ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2006.

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DELEUZE, G.; GUATTARI, F. 1730 – Devir-intenso, devir-animal, devir-imperceptível. Tradução de Suely Rolnik. In: ______. Mil Platôs; capitalismo e esquizofrenia 2. v. 4. São Paulo: Editora 34, 1997. DESCARTES, R. Discurso do Método. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. DURKHEIM, E. Educação e Sociologia. Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1978. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003a. FREUD, S. Cinco lições de Psicanálise. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. 2ª ed. Rio de Janeiro: Imago, 1987, v.11. GIL, G. No woman no cry (não chores mais) Disponível em: http://www.cifraclub.com.br/ gilberto-gil/no-woman-no-cry-nao-chores-mais/ Acesso em: 23 julho 2013. HERÁCLITO. Fragmentos: origem do pensamento. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 1980. HOBSBAWN, E. A era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. HOODGSON, R. The Logical Song. Disponível em: http://www.cifraclub.com.br/ supertramp/the-logical-song/ Acesso em: 23 julho 2013. KANT, I. Crítica da Razão Pura. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultura, 1984. KUNDERA, M. A Brincadeira. São Paulo: Círculo do Livro, 1988. LENNON, J. Imagine. Disponível em: http://www.cifraclub.com.br/john-lennon/imagine/ Acesso em: 23 julho 2013. LENNON, J.; MCCARTNEY, P. Don´t let me down. Disponível em: http://www.cifraclub.com.br/the-beatles/dont-let-me-down/ Acesso em: 23 julho 2013. __________________Hey Jude. Disponível em: http://www.cifraclub.com.br/the-beatles/hey-jude/ Acesso em: 23 julho 2013. __________________With a little help from my friends. Disponível em: http://www.cifraclub.com.br/the-beatles/ With-a-little-help-from-my-friends / Acesso em: 23 julho 2013. LÉVY, P. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. Tradução de Luiz Paulo Rouanet, 1998. MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. 6ª ed. São Paulo: Global, 1987. MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, Brasília, DF: UNESCO, 2001. NIETZSCHE, F. W. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Rideel, 2005. PIAGET, J. Seis estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense, 1976-78. PLATÃO. Diálogos: A República. 3ª ed. Belém: EDUFPA, 2000. ROGERS, C. R. Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1987 RUSSO, R. Monte Castelo. Disponível em: http://www.cifraclub.com.br/ legiao-urbana/monte-castelo / Acesso em: 23 julho 2013. SALINGER, J. D. O apanhador no campo do centeio. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1999. SARTRE, J. P. O existencialismo é um humanismo. 4ª ed. Lisboa: Presença, 1978. SKINNER, B. F. Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix, 1974. VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. Trad. Maria da Penha Villalobos - 9ª. ed. São Paulo: Editora Ícone, 2001. WALLON, H. As origens do pensamento na criança. São Paulo: Manole, 1989. WATERS, R. Another brick in the wall – part two. Disponível em: http://www.cifraclub.com.br/ pink-floyd/another-brick-in-the-wall-part-2/ Acesso em: 23 julho 2013.

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JOHN DEWEY E A EDUCAÇÃO BRASILEIRA ATUAL

Márcia Guimarães de Freitas Aluna Especial do Mestrado na Universidade Federal de Uberlândia

[email protected] RESUMO Este artigo objetiva apresentar alguns dos fundamentos filosóficos do pensamento de John Dewey e verificar sua influência na educação brasileira, especialmente por meio da atuação de Anísio Teixeira, um de seus principais expoentes. Para Teixeira, o ato de aprender depende de uma situação real de experiência em que se podem praticar as reações que devemos aprender tal como acontece na vida. O presente artigo tem como objetivo estudar os fundamentos filosóficos do pensamento de John Dewey (1859-1952) e verificar sua influência na educação brasileira, especialmente por meio da atuação de um de seus principais expoentes Anísio Teixeira (1900-1971). O referido educador brasileiro foi aluno de Dewey na Universidade de Columbia (Nova Iorque) sendo também responsável pela tradução para a língua portuguesa de suas principais obras e pela difusão de suas ideias na educação brasileira. Estudiosos da vida de Anísio Teixeira concordam em afirmar a atualidade de suas ideias, pois seu pensamento se aplica às questões defrontadas pela educação brasileira nos dias atuais como valorização de professores, autonomia universitária, desafios da escola pública dentre outros. A leitura de John Dewey, no início em que Anísio Teixeira iniciava sua vida pública proporcionou-lhe a possibilidade de encontrar respostas pragmáticas para as questões educacionais com as quais estava lidando, elaborar uma síntese para uma nova visão de mundo, além de abrir a possibilidade de operacionalizar uma política para educação e criar a pesquisa educacional no país. REFERÊNCIAS A JOHN DEWEY John Dewey foi um dos filósofos norte-americanos mais influentes da primeira metade do século XX. Suas ideias influenciaram a educação norte-americana estendendo-se por várias partes do mundo. A família de John Dewey chegou aos Estados Unidos em 1630, proveniente da Inglaterra e professando a fé congregacionalista. Dewey nasceu em Burlington (Vermont), em 1859. Filho de comerciante, graduou-se na Universidade de Vermont, aos vinte anos. De acordo com Cunha (1998), a infância de Dewey foi marcada por uma escolarização desestimulante, porém, fora dos limites estreitos da escola, sua família cultivara o hábito de atribuir pequenas tarefas às crianças, com o objetivo de despertar-lhes o senso de responsabilidade. Quanto à influência religiosa, Dewey vivenciou uma experiência democrática e igualitária em sua comunidade em que os congregacionalistas defendiam a autonomia dos membros de suas igrejas não havendo ordem hierárquica para nortear as relações dos fiéis, os ministros eram eleitos e havia um espírito de igualdade. Assim, após um breve período como professor na Pensilvânia e em Vermont, Dewey continuou seus estudos no Departamento de Filosofia da Universidade John Hopkins sofrendo a influência de George S. Morris, um idealista neo-hegeliano. Em 1884, obteve o título de doutor com uma tese sobre a psicologia de Kant. Já em 1889, acompanhou Morris à Universidade de Michigan, onde o sucedeu na direção do Departamento de Filosofia.

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Na época que vivia em Michigan, Dewey conheceu a futura esposa, Alice Chipman, uma de suas estudantes. Westbrook (2010) afirma que Alice chegara à universidade depois de vários anos como professora em escolas de Michigan e influenciou, mais do que ninguém, a direção que os interesses do marido tomariam no final da década de 1880. Quando se casou, Dewey começou a interessar-se ativamente pelo ensino público e foi membro fundador do Clube de Doutores de Michigan, que fomentou a cooperação entre docentes de ensino médio e de ensino superior do estado. Quando o presidente da recém-fundada Universidade de Chicago, William Rainey Harper, o convidou para a nova instituição, Dewey insistiu para que sua nomeação incluísse a direção de um novo departamento de Pedagogia, conseguindo que se criasse uma “escola experimental” para pôr suas ideias à prova. (WESTBROOK, 2010, p.13) Sendo assim, Dewey reconhecera que sua esposa Alice havia dado “sentido e conteúdo” a seu trabalho e que teve importante influência na formação de suas ideias pedagógicas (DEWEY, JANE, 1951, p. 21, apud WESTBROOK, 2010, p.13). A década de 1890 foi caracterizada pelo intenso avanço das ciências do século XIX, destacando-se as teses evolucionistas de Charles Darwin e o pensamento pragmatista de William James. Em decorrência disso, Dewey passou a orientar-se pelo Instrumentalismo – termo cunhado por ele próprio para diferenciar-se das diferentes versões de pragmatismos existentes em sua época. Ele iniciou, então, o desenvolvimento de uma teoria do conhecimento que questionava os dualismos que opõem mente e mundo, pensamento e ação. De acordo com Barbosa (2003), a versão do pragmatismo deweyano, enfatiza que os pensamentos são instrumentos para trabalharmos os problemas: a verdade é uma coisa relativa que é exercitada pela experiência, pela vida. Destarte, na década de 1890, Dewey se propôs a elaborar uma Pedagogia baseada em seu próprio instrumentalismo e fundamentalismo. Seus trabalhos sobre educação tinham por finalidade, sobretudo, estudar as consequências de seu instrumentalismo para a pedagogia e comprovar sua validade mediante experimentação. Assim, a experiência concreta da vida se apresentava diante de problemas que a educação poderia ajudar a resolver. Ainda para Dewey, o ensino deveria ocorrer pela ação (“learning by doing”) e não pela instrução; a educação ininterruptamente deveria reconstruir a experiência concreta, ativa, produtiva de cada um. Dewey considerava que “a ideia fundamental da filosofia da educação mais nova e que lhe dá unidade é a de haver relação íntima e necessária entre os processos de nossa experiência e a educação”. (DEWEY, 1971 apud GADOTTI, 1994, p.150). Portanto, a educação era considerada como um processo e não um produto; um processo de reconstrução e reconstituição da experiência, um processo de melhoria da eficiência individual em que a educação se confundiria com o próprio processo de viver. Através de observações do crescimento de seus filhos, Dewey concluiu que não havia nenhuma diferença na dinâmica da experiência de crianças e de adultos. Ambos aprendem “mediante o enfrentamento de situações problemáticas que surgem no curso das atividades que merecerem seu interesse. O pensamento constitui, para todos, instrumento destinado a resolver os problemas da experiência e o conhecimento é a acumulação de sabedoria que gera a resolução desses problemas”. (WESTBROOK, 2010, p.15). Ainda, para Dewey as crianças não chegavam à escola como lousa limpa na qual os professores poderiam escrever as lições sobre a civilização. Quando a criança chega à classe, já é intensamente ativa e a incumbência da educação consiste em assumir a atividade e orientá-la. Quando a criança inicia sua escolaridade, leva em si quatro impulsos inatos – o de comunicar, o de construir, o de indagar e o de expressar-se de forma mais precisa – que constituem “os recursos naturais, o capital para investir, de cujo exercício depende o crescimento ativo da criança. A criança também leva consigo interesses e atividades de seu lar e do entorno em que vive, cabendo ao

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educador a tarefa de usar a “matéria-prima”, orientando as atividades para “resultados positivos”. (DEWEY, 1899, p. 25, apud WESTBROOK, 2010, p. 15) De acordo com Dewey, as pessoas conseguem realizar-se, utilizando seus talentos peculiares, a fim de contribuir para o bem-estar de sua comunidade. Dessa forma, a função principal da educação em toda a sociedade é a de ajudar as crianças a desenvolver um “caráter” – conjunto de hábitos e virtudes que lhes permitam realizar-se plenamente. Nesse contexto, uma educação eficaz requer que o educador explore as tendências e os interesses para orientar o educando até o ápice em todas as matérias, sejam elas científicas, históricas ou artísticas. “Na realidade, os interesses não são senão atitudes a respeito de possíveis experiências; não são conquistas; seu valor reside na força que proporcionam, não no sucesso que representam” (DEWEY, 1902, p. 280 apud, WESTBROOK, 2010, p. 17). Assim, para que a escola ofereça uma educação para a democracia é necessário que essa escola se converta em “uma instituição que seja, provisoriamente, um lugar de vida para a criança, em que ela seja um membro da sociedade, tenha consciência de seu pertencimento e para a qual contribua” (DEWEY, 1895, p. 224, apud WESTBROOK, 2010, p. 20). No Brasil, as ideias pedagógicas de John Dewey tiveram importante influência sobre a educação brasileira, especialmente na década de 1932 com o Movimento dos Pioneiros da Escola Nova na tentativa de formação de uma escola pública e laica para o país. Desse modo, passaremos a analisar esse período da educação brasileira por meio da atuação de Anísio Teixeira, defensor do ideal deweyano na educação brasileira. A INFLUÊNCIA DE ANÍSIO TEIXEIRA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA No final do século XIX, o Brasil passou por significativas mudanças econômicas, políticas e sociais, consequentes dos impactos da Guerra do Paraguai, da abolição da escravatura, da queda do Império e do advento da República. A gradual influência das forças armadas na vida política do País, o crescimento da população, a intensificação do processo de urbanização e industrialização, as transformações econômicas e sociais verificadas no campo e nas cidades foram relevantes modificações ocorridas nesse período, sendo aceleradas ainda mais pela ocorrência da Primeira Grande Guerra Mundial. No campo educacional, o Brasil era um país de analfabetos. As poucas escolas públicas existentes nas cidades eram frequentadas pelos filhos das famílias de classe média. Os ricos contratavam preceptores que ministravam aos filhos o ensino em casa, ou os mandavam aos poucos colégios particulares, em regime de internato ou semi-internato. No interior do País, havia precárias escolas rurais para atender às populações diversas em grandes áreas, cujas aulas eram ministradas, em sua maioria, por professores sem qualquer formação profissional. No entanto, ao terminar a Primeira Guerra Mundial; essa precária estrutura de educação no País entrou em um processo de transformação acelerado. O desenvolvimento da indústria, a chegada de grandes contingentes de imigrantes estrangeiros com uma educação mais aprimorada, acarretava como consequência a necessidade de uma melhor preparação de mão de obra, com reflexos na quantidade de escolas e na qualidade do ensino. Essas transformações econômicas, políticas e sociais que ocorriam desde o final do século XIX e com o advento da República intensificaram-se ainda mais a partir dos anos de 1920. Essas rápidas mudanças no País repercutiram nos setores educacionais envolvendo os educadores brasileiros que se engajaram na crítica à nossa precária organização escolar e aos atrasados métodos e processos de ensino. As ideias e diretrizes que procuravam a concretização das reformas pretendidas foram impulsionadas pelas já citadas transformações econômicas, políticas e sociais e por um conjunto de ideias chegadas da Europa que pregavam a renovação dos métodos e processos

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de ensino. Esse movimento de renovação escolar ficou conhecido como “Escola Nova” ou “Escola Ativa” e baseava-se nos progressos recentes da psicologia infantil, que reivindicava uma maior liberdade para a criança, o respeito às características da personalidade de cada uma, nas várias fases do seu desenvolvimento, colocando o “interesse” como o principal motor de aprendizagem. Era o que John Dewey, considerado o maior filósofo norte-americano, pregava como uma verdadeira revolução. (LEME, 2005, p. 167) O pensamento filosófico de Jonh Dewey foi um dos responsáveis pelo movimento na educação brasileira de renovação das ideias e práticas pedagógicas conhecidas como Escola Nova ou Escola Progressista. No Brasil, o maior representante do pensamento deweyano é Anísio Teixeira. Integrante do grupo de educadores que produziram o célebre “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, de 1932, Anísio Teixeira entendia não haver outra prioridade a ser enfrentada dentre os problemas nacionais do início do século XX que não fosse o grave problema da educação. Especificamente sobre a Escola Nova, pode-se dizer que essas ideias apresentam uma ideologia democrática, progressista de cunho liberal, ligadas a uma concepção fortemente individualista (individualizante) do sujeito humano, focada na autonomia e na possibilidade pessoal de escolha, fato que, para Dewey, traduzia a verdadeira liberdade. Lourenço Filho, parceiro e colaborador importante do movimento da escola progressiva, enfatiza que a marca deweyana no pensamento anisiano, se traduz em três princípios básicos: • não pode haver nenhuma separação entre vida e educação, ou seja, não se acredita numa ideia de escola com função preparatória à vida. Ela própria é quem atua na escola. Sendo assim, os fins da educação não são fins idealizados, para serem cumpridos num tempo futuro, mas fins práticos, realizáveis pela experiência compartilhada na vida social em miniatura que deve ser a escola; • não há outro fim para a educação que não seja mais educação, e “mais educação” “significa maior capacidade de pensar, comparar e decidir com acerto e íntima convicção”, diz Lourenço Filho (p. 9). Neste sentido, a afirmação cruza com o entendimento de John Dewey (1976, p. 44) sobre o que seja liberdade, que para ele é “a capacidade de formar propósitos e levar a efeito.” • A escola deve assumir a feição de uma comunidade em miniatura, pois desta prática imediata resultaria uma melhor conexão com a vida social em geral. Nesta convicção, desenvolvem-se situações de comunicação e de cooperação entre as pessoas e da própria escola com as demais instituições como a família, organizações públicas e privadas, civis e religiosas, visando propósitos comuns e afirmando-se como situação concreta de vivência do modelo de democracia que pretende desenvolver através do trabalho escolar. (FILHO, 1978, p. 7, apud LIMA, p.229) Em suma, a ideia fundamental da filosofia de educação que Dewey sustenta, e da qual Anísio Teixeira é herdeiro e desenvolvedor, “é a de haver relação íntima e necessária entre os processos de nossa experiência real e educação,” (DEWEY, 1976, p. 8). No entanto, embora seguindo Dewey, Anísio Teixeira estava atento às condições brasileiras e não transplantava, simplesmente, o sistema americano. Por isso, diferentemente da experiência americana, advogou em nosso país a organização de serviços centralizados de apoio ao ensino. Em outros termos: se Dewey nunca se preocupou com o sistema nacional de ensino e também nunca procurou construir instrumentos de aferição da aprendizagem e do rendimento escolar, Anísio Teixeira tinha essa preocupação e procurou, a partir das condições brasileiras, encaminhar a questão da escola pública na direção de um sistema articulado. (SAVIANI, 2000, p.173)

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Portanto, Anísio Teixeira idealiza um sistema educativo articulado nas três esferas municipal, estadual e federal em que o poder público atuaria em diferentes níveis de escolarização havendo ações de assistência técnica e financeira das estâncias superiores sobre as inferiores. O modelo educacional por ele idealizado possui como unidade vital o pragmatismo em que Anísio Teixeira, em consonância com as ideias deweyanas, investe na forma democrática, na educabilidade humana e se orienta por uma formação equilibrada das oportunidades sociais. Anísio acredita que a escola deva ser uma réplica da sociedade e que o ato de aprender deva se dar em uma situação real de experiência. O conhecimento geral deve ser oferecido pela educação comum organizada em uma prática singular, localizada, inserida na comunidade local. Ou seja, Anísio afirma que a “escola deve ser uma parte integrada da própria vida, ligando as suas experiências às experiências de fora da escola” (TEIXEIRA, 2000, p. 64). Sendo assim, a experiência, como diz Anísio Teixeira, é “um modo de existência” em que situação e indivíduo se transformam. A atividade educativa, portanto, promove a reorganização da experiência e investe na formação de processos conscientes, que não podem ocorrer sem controle, sem intervenção. Dewey ao mostrar a educação como necessidade da vida social se posiciona em relação à questão da democracia, pois defende e almeja uma sociedade planejada constantemente de seu próprio interior. A esse respeito, Anísio Teixeira acredita que democracia é essencialmente um modo de vida em que cada indivíduo conta como pessoa. Democracia, para Anísio é acima de tudo “uma expressão ética da vida em que o homem, provavelmente, nunca se encontrará satisfeito com alguma forma de vida social que negue essencialmente a democracia” (BARBOSA, p. 68). Dessa maneira, o modelo de educação proposto por Anísio Teixeira trabalha com a consciência de se viver em um mundo em vital transformação e que a democracia ainda é um processo em igual transformação, “essencialmente progressiva e livre, necessitando de homens conscientes, informados e capazes de resolver os seus próprios problemas, para o exercício dessa forma social” (TEIXEIRA, 2000). Assim, a escola teria como finalidade contribuir para que a juventude inserida num meio social liberal encontrasse soluções para seus problemas morais e humanos. CONSIDERAÇÕES FINAIS No final dos anos 20 do século passado, Anísio Teixeira passou a adotar novos conceitos educacionais em decorrência de seu contato com as ideias de John Dewey. O pragmatismo Deweyano foi para ele uma resposta às inquietações provocadas pelos velhos valores do catolicismo jesuíta que adotava desde a infância. Conhecer Dewey foi uma libertação, pois o pragmatismo Deweyano deu a ele as respostas que procurava, motivando seu rompimento com todas as formas de dogmatismos (NUNES, 2000). O momento histórico vivido pelo mundo e pelo Brasil, no final da década de 1920 e início de 1930 em que os regimes totalitários, o facismo e o comunismo, ganhavam força em vários países, exigia dos intelectuais uma tomada de posição, favorecendo a transformação no modo de pensar de Anísio Teixeira. Dessa maneira, Anísio Teixeira foi influenciado pela pedagogia de Dewey, a qual propunha o permanente contato entre a teoria e a prática e destacava a atividade do aluno como elemento central da aprendizagem. Anísio Teixeira compreendeu que a pedagogia Deweyana tinha bases em uma filosofia que assumia papel ativo na vida social e política e buscava assumir a responsabilidade de contribuir para o desenvolvimento da democracia e para a formação de cidadãos dotados de uma mentalidade moderna e científica, aberta à mudança e à cooperação.

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Teixeira (2000, p. 67) acredita que a Educação deve ter relação com a nova sociedade brasileira que está surgindo; deve adotar um programa de estudos baseado em “experiências e atividades”, considerando a vida cotidiana como o principal motor desse programa. Assim, Anísio Teixeira ressalta que com a reformulação do programa de estudos, a escola se aproxima da vida e elimina o ambiente artificial que vigora na escola tradicional, que é artificial porque não prepara nem para o futuro nem para as mudanças que a nova civilização já vem trazendo. Para Teixeira (2000, p. 45), “o ato de aprender depende profundamente de uma situação real de experiência onde se possam praticar, tal qual na vida, as reações que devemos aprender”. O que torna, portanto, a trajetória de Anísio Teixeira admirável é sua persistência na defesa da democracia e da educação para a democracia, que constituiu o motivo central de devotamento da sua vida. REFERÊNCIAS BARBOSA, Ana Mac. John Dewey e o Ensino da Arte no Brasil. São Paulo: Cortez, 2002. CUNHA, M. V. John Dewey e o pensamento educacional brasileiro: a centralidade da noção de movimento. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 17, p. 86-99, maio/ago, 2001. GADOTTI, M. História das Idéias Pedagógicas. São Paulo: Ática, 1994. LEMME, P. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova e suas repercussões na realidade educacional brasileira. Revista brasileira Estudos pedagógicos, Brasília, v. 86, n. 212, p. 163-178, jan./abr. 2005. LIMA, J. F. L. Educar para a democracia como fundamento da educação no Brasil. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 39, p. 225-239, jan./abr. 2011. Editora UFPR. NUNES, Clarice. Anísio Teixeira: a poesia da ação. São Paulo: EDUSF, 2000. SAVIANI, Demerval. Sobre a Atualidade de Anísio Teixeira. In: SMOLOKA, Ana L.B. & MENEZES, Maria C. (orgs.). Anísio Teixeira 1900-1971 (Provocações em Educação), Campinas: Autores Associados; Bragança Paulista: Universidade São Francisco, 2000. TEIXEIRA, Anísio. A Pedagogia de Dewey (Esboço da teoria de educação de John Dewey). In: DEWEY, John. Vida e Educação. 10 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1978. TEIXEIRA, Anísio. Pequena introdução à filosofia da educação: a escola progressiva ou a transformação da escola. 6. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. WESTBROOK, Robert B. John Dewey / Robert B. Westbrook; Anísio Teixeira, José Eustáquio Romão, Verone Lane Rodrigues (org.). – Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. 136 p.: il. – (Coleção Educadores).

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UMA ANÁLISE SOBRE O CONSUMO DOS MEIOS MIDIÁTICOS VIRTUAIS PELOS JOVENS E A RELAÇÃO DISSO COM SUA FORMAÇÃO ESCOLAR:

pistas para (re)pensar o ensino de História

RESUMO:

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UMA ANÁLISE SOBRE O CONSUMO DOS MEIOS MIDIÁTICOS VIRTUAIS PELOS JOVENS E A RELAÇÃO DISSO COM SUA FORMAÇÃO ESCOLAR:

pistas para (re)pensar o ensino de História

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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�PROXIMANDO ARTE E CIÊNCIA PELA CRIAÇÃO DE UM OBJETO

EXPOSITIVO EM UM MUSEU DE CIÊNCIAS

Gustavo Lopes Ferreira Professor de Ciências e Mestrando em Educação

Programa de Pós-graduação em Educação – PPGED/FACED/UFU [email protected]

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APROXIMANDO ARTE E CIÊNCIA PELA CRIAÇÃO DE UM OBJETO

EXPOSITIVO EM UM MUSEU DE CIÊNCIAS

Gustavo Lopes Ferreira Professor de Ciências e Mestrando em Educação

Programa de Pós-graduação em Educação – PPGED/FACED/UFU [email protected]

1- Introdução

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2- O processo de criação do artefato interativo

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5- Pensando a interatividade por meio do artefato expositivo criado

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5- Considerações finais

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Page 244: XII SEMINÁRIO NACION NACIONAL O UNO E O DIVERSO … · Apostar em uma formação de sujeitos éticos, “autônomos, críticos, reflexivos, criativos, transformadores sociais, políticos

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