Zika e microcefalia: por que não?

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Rev. CIF Brasil. 2015;3(3):50-51

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ZIKA E MICROCEFALIA: POR QUE NÃO? ZIKA AND MICROCEPHALY: WHY NOT?

Eduardo Santana de Araujo1

1. Ordem dos Hospitaleiros Ortodoxos

Resumo: Parece ainda muito precipitada a publicação da relação entre os casos de microcefalia e Zika no Brasil. Afinal, estudos de efeito e de associação ainda precisam ser desenvolvidos considerando outras variáveis possíveis, como a qualidade dos lotes da vacina contra a Rubéola e análise das fontes de água utilizadas durante a seca que ocorreu no mesmo período da suposta grande circulação do vírus Zika. Descritores: CIF, ZIKA, microcefalia

Os fatores ambientais cada vez mais ganham espaço no processo de entendimento e de intervenção em Saúde1,2,3.

O modelo biopsicossocial e espiritual, publicado na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), determina as diretrizes de relacionamento entre diferentes dimensões: biológica, patológica, social, ambiental e pessoal. Embora o modelo não aponte um ponto de partida, é sabido que os fatores determinantes estão muito presentes no contexto formado pelos fatores ambientais e pessoais4,5.

Ao final de 2015, os meios de comunicação estimularam a divulgação de estudos que suspeitavam haver ligação entre o vírus Zika e o aumento da incidência de microcefalia em recém-nascidos, especialmente no Estado de Pernambuco, nordeste do Brasil. Do ponto de vista epidemiológico, mesmo considerando a lógica da suspeita levantada por meios laboratoriais, é necessário um estudo mais aprofundado do fato, incluindo outras variáveis, por meio de estudos de efeito e associação6,7.

Tais estudos procuram identificar relações causais entre exposição e desfecho, ou seja, entre fatores de risco ou de proteção e doenças ou morte. As técnicas existentes trazem a ideia de efeito (ou de causa) ou de associação (concomitância). Como exemplo, dois grupos populacionais, um exposto e outro não exposto, poderiam ter suas taxas de incidência de microcefalia contrastadas. Porém, a suposta alta frequência de Zika no início de 2015 seria apenas uma das variáveis de exposição. As cidades de Pernambuco com mais casos de microcefalia receberam, por exemplo, os mesmos lotes de vacina contra a Rubéola (aplicada em todas as grávidas). Além disso, também foram cidades acometidas pela forte seca no mesmo período, sendo bastante provável que as pessoas precisaram ter contato com outras fontes de água, até aquele momento não usuais.

Ou seja, do ponto de vista epidemiológico, parece muito precipitado publicar em larga escala a informação de que o vírus Zika é o responsável pelo aumento do número de casos de microcefalia. Mesmo considerando que essa pode realmente ser uma possibilidade, do ponto de vista de intervenção, é necessário considerar outras

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variáveis, especialmente a vacina e a qualidade das fontes de água utilizadas no período da forte seca.

É recomendável que os pesquisadores levem em consideração o modelo publicado na CIF a fim de investigar, concluir e determinar ações de saúde referentes ao aumento da frequência de microcefalia no Brasil. Referências 1. World Health Organization. The WHO Family of International Classifications [Internet]. [acesso em 2014 Abr 10]. Disponível em: http://www.who.int/classifications/en. 2. Kostanjsek N. Use of The International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF) as a conceptual framework and common language for disability statistics and health information systems. BMC Public Health. [Internet]. 2011 Abr [acesso em Ago 14]; 11 Suppl.4:S1-S6. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3104216/ 3. Buchalla CA. Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Rev. Acta Fisiátr [Internet]. 2003 Abr [acesso em Abr 14]; 1(10):29-31. Disponível em: http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base=LILACS&lang=p&nextAction=lnk&exprSearch=414689&indexSearch=ID 4. World Health Organization. How to use the ICF: practical manual for using the international Classification of Functioning Disability and Health. [Internet]. Genebra: WHO; [acesso em 2014 Abr 28]. Disponível em: http://www.who.int/classifications/drafticfpracticalmanual.pdf. 5. Araújo ES, Neves SFP. CIF ou CIAP: o que falta classificar na atenção básica? Acta Fisiatr [Internet]. 2014 Març [acesso em Ago 14]; 21(1):46-48. Disponível em: http://www.actafisiatrica.org.br/detalhe_artigo.asp?id=537 6. Laurenti R. Pesquisas na área de classificação de doenças. Soc e Saúde. [Internet]. 1994 [acesso em Abr 14]; 3(2): 112-126. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v3n2/06.pdf. 7. Sampaio RF, Mancini MC, Gonçalves GGP, Bittencourt NFN, Miranda AD, Fonseca S. T. Aplicação da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) na prática clínica do fisioterapeuta. Rev. Bras de Fisiot [Internet]. 2005 Mai [acesso em Abr 14]; 9(2): 129-136. Disponível em: http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0CB0QFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.crefito3.com.br%2Frevista%2Frbf%2F05v9n2%2Fpdf%2F129_136_cif.pdf&ei=9217VMq-BcWagwTv44CYAg&usg=AFQjCNGTKIwGBoOLWVPiu7TlIWGM5oqJDw&sig2=dgJZfTJTyxck6SLBN3_YKA&bvm=bv.80642063,d.eXY.