UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY
COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
DOUTORADO EM ENFERMAGEM
A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E O ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO
NOVO: A EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO EM SETORES ESPECIALIZADOS
GLAUCIA VALENTE VALADARES
RIO DE JANEIRO
JULHO/ 2006
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY
DOUTORADO EM ENFERMAGEM
A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E O ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO
NOVO: A EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO EM SETORES ESPECIALIZADOS
GLAUCIA VALENTE VALADARES
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem, Escola de
Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do Título de Doutor.
Orientadora: Profa. Dra. Ligia de Oliveira Viana
RIO DE JANEIRO
JULHO/ 2006
VALADARES, Glaucia Valente. A formação profissional e o enfrentamento do conhecimento novo: a experiência do enfermeiro em setores especializados/ Glaucia Valente Valadares. Rio de Janeiro: UFRJ/ EEAN, 2006. xx, 290f.
Orientadora: Ligia de Oliveira Viana. Tese (Doutorado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem Anna Nery – EEAN/ Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Enfermagem, 2006. Referências Bibliográficas: f.
1. Educação em Enfermagem. 2. Educação Continuada em Enfermagem. 3.
Pesquisa em Educação de Enfermagem. I. Viana, Ligia de Oliveira. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Enfermagem Anna Nery, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. III. Título.
CDD610.73
iii
A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E O ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO
NOVO: A EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO EM SETORES ESPECIALIZADOS
GLAUCIA VALENTE VALADARES
Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem, da Escola de Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Doutor
em Enfermagem.
APROVADO POR:
____________________________________________________
Presidente: Profa. Dra. Ligia de Oliveira Viana – Orientadora.
____________________________________________________
1ª . Examinadora: Profa. Dra. Vivina Lanzarine de Carvalho.
____________________________________________________
2ª . Examinadora: Profa. Dra. Nalva Pereira Caldas.
____________________________________________________
3ª . Examinadora: Profa. Dra. Neiva Maria Picinini Santos.
____________________________________________________
4ª . Examinadora: Profa. Dra. Joséte Luiza Leite.
____________________________________________________
1ª . Suplente: Profa. Dra. Ann Mary Machado Tinoco Feitosa Rosas.
____________________________________________________
2ª . Suplente: Profa. Dra. Eliane Brandão Salles.
RIO DE JANEIRO
JULHO/ 2006
iv
DEDICATÓRIA
A Deus, que acredito e amo sobre todas as coisas.
v
Tu és Fiel Senhor, Meu Pai Celeste pleno poder.
Aos Teus filhos Darás. Nunca Mudaste, Tu nunca Faltaste tal como Eras, Tu sempre Serás.
Tu és fiel Senhor, Tu és fiel Senhor
dia após dia com bênçãos sem fim. Tua mercê me sustenta e me guarda.
Tu és Fiel Senhor, Fiel a mim.
Flores e frutos, montanhas e mares,
sol, lua, estrela no céu a brilhar. Tudo Criaste na terra e no ares. Todo o universo vem Te louvar.
Tu és fiel Senhor, Tu és fiel Senhor,
dia após dia, com bênçãos sem fim. Tua mercê me sustenta e me guarda. Tu és Fiel Senhor,
Fiel a mim.
Pleno perdão, Tu dás. Paz, segurança...
Cada momento me guias, Senhor. E no porvir?
Oh! Que doce esperança Desfrutarei do Teu rico favor!
William Marion Runyan
vi
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Ao meu pai, Sérgio
“Pai, eu cresci e não houve outro jeito, quero só recostar no teu peito, Para pedir pra você ir lá em casa e brincar de vovô com meu filho,
No tapete da sala de estar Pai, você foi meu herói meu bandido, hoje é mais, muito mais que um amigo.
Nem você, nem ninguém está sozinho, Você faz parte desse caminho, que hoje eu sigo em paz”.
(FÁBIO JR.)
A minha mãe Maria Creuza
“Eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras não sei dizer Como é grande o meu amor por você.
E não há nada pra comparar, para poder lhe explicar Como é grande o meu amor por você...”
(ROBERTO CARLOS E ERASMO CARLOS)
Ao meu grande amor Valadares
“Existirmos: a que será que se destina? Pois quando tu me deste a rosa pequenina,
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina Do menino infeliz não se nos ilumina,
Tampouco turva-se a lágrima nordestina. Apenas a matéria vida era tão fina,
E éramos olharmo-nos intacta retina A cajuína cristalina em Teresina”.
(CAETANO VELOSO)
A minha filhinha Jade
“Os sonhos mais lindos sonhei. De quimeras mil um castelo ergui.
E no teu olhar, tonto de emoção Com sofreguidão, mil venturas previ.
O teu corpo é luz, sedução, Poema divino cheio de esplendor.
Teu sorriso prende, inebria, entontece. És fascinação, amor “.
(ARMANDO LOUZADA)
vii
A minha orientadora, Professora Doutora Ligia de Oliveira Viana
Quero aprender sua lição que faz tão bem para mim. Agradecer de coração por você ser assim.
Legal ter você aqui, um amigo em que eu posso acreditar.
Queria tanto te abraçar...
Para mostrar que eu não esqueço mais essa lição. Amigo, eu ofereço essa canção.
Ao mestre com carinho. (BIAFRA/COSTA NETTO)
viii
AGRADECIMENTOS
A minha querida avó Laura Félix Ribeiro, que respeito e amo muito.
Aos meus avós paternos, que foram exemplos de vida e de dignidade.
A todos os meus familiares: tias, tios, primas e primos, por participarem de toda a
minha vida.
Aos familiares de meu marido, que não deixaram de torcer, apesar da distância.
Aos Professores da Pós-Graduação da Escola de Enfermagem Anna Nery, por todas
as trocas durante as aulas.
À Professora Doutora Margareth Angelo, Titular da Escola de Enfermagem da
Universidade de São Paulo, que oportunizou a minha participação como aluna
especial na disciplina: Seminário de Teoria Fundamentada nos Dados.
Aos Professores que participaram das bancas de defesa de projeto, qualificação e
defesa final, por todo carinho demonstrado na condução do trabalho avaliativo.
A todos os membros do Núcleo de Pesquisa em Educação, Gerência e Exercício
Profissional da Enfermagem (NUPEGEPEn), pelo incentivo no sentido da realização
do estudo.
A Turma de Doutorado e Mestrado ano de entrada 2003.2, pela amizade e
contribuições produtivas no decorrer da pesquisa.
Ao Departamento Fundamental de Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna
Nery, por prestar-me apoio na reta final de elaboração da Tese.
Aos Enfermeiros e Auxiliares de enfermagem da Nefrologia do Hospital Universitário
Pedro Ernesto, que participaram de uma fase tão importante em minha vida e,
certamente, nunca serão esquecidos.
ix
Aos muitos amigos do Hospital Municipal Souza Aguiar, que abriram as portas
quando do meu retorno e sentiram quando da minha partida.
Aos amigos do Estado do Piauí, que estão sempre muito presentes.
As minhas amigas Coordenadoras do Curso de Enfermagem, da Universidade
Estácio de Sá, por terem dividido comigo momentos tão especiais.
Aos inesquecíveis amigos do Campus Barra da Universidade Estácio de Sá, pela
vivência feliz no ambiente de trabalho.
As amigas Miriam Garcia Leoni, Luciana Guimarães Assad, Lúcia de Fátima
Andrade, Mara Amantea e Marta Enokibara, pela escuta ativa as minhas
inquietações pessoais.
A minha amiga Andréa Rabello Netto, por ter oportunizado a continuidade de um
trabalho, que realizava com muito carinho.
A minha amiga Cristiane da Silva Couto, por ter continuadamente ouvido meus
muitos desabafos.
A minha nova amiga Adriana, Professora Substituta da Escola de Enfermagem Anna
Nery, muito querida e fiel.
Aos estudantes do Curso de Enfermagem, da Universidade Estácio de Sá, por terem
sido amigos e compreensivos durante todo o processo referente ao Doutorado.
Aos estudantes de enfermagem do Curso de Graduação da Escola de Enfermagem
Anna Nery, pelo sincero incentivo.
As minhas amigas Joana Angélica e Lúcia Palmeira, pela leitura cuidadosa do texto.
Aos muitos amigos que fiz nessa vida e, que ora sinceramente agradeço.
x
"É essa a imagem que se forma ao redor
de minha paixão pela educação: estou semeando as sementes da minha mais alta esperança. Não busco discípulos para comunicar-lhes saberes. Os saberes estão soltos por aí, para quem quiser. Busco discípulos para neles plantar minhas esperanças, e quando os sonhos assumem forma concreta, surge a beleza e minha paixão pela educação” (ALVES, 2001, p. 11).
xi
RESUMO
VALADARES, G.V. A formação profissional e o enfrentamento do conhecimento novo: a experiência do enfermeiro em setores especializados. Rio de Janeiro, 2006. Tese de Doutorado – Escola de Enfermagem Anna Nery, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006. Orientadora: Profa. Dra. Ligia de Oliveira Viana.
A presente Tese de Doutorado encontra-se inserida no Núcleo de Pesquisa em Educação, Gerência e Exercício Profissional da Enfermagem, tendo como objeto: o significado da formação profissional do enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo no contexto de setores especializados. Tem por objetivos: descrever expressões, atitudes, comportamentos, manifestações e sentimentos que permeiam a experiência do enfermeiro em setores especializados; identificar os elementos significativos apreendidos na experiência do enfermeiro, no enfrentamento do conhecimento novo; discutir, a partir do mundo experiencial, como interage o enfermeiro e o conhecimento novo, em setores especializados; e propor uma teoria explicativa substantiva, relacionando a formação profissional do enfermeiro com o enfrentamento do conhecimento novo em setores especializados. Como referencial teórico, optou-se pelo interacionismo simbólico. A abordagem metodológica escolhida foi à pesquisa qualitativa sob orientação dos conceitos da Teoria Fundamentada nos Dados (TFD). O cenário do estudo foi um Hospital Universitário do Rio de Janeiro. Os participantes da pesquisa foram enfermeiros que atuam em especialidades. Foram utilizados múltiplos instrumentos de coleta de dados: observação participante assistemática e entrevista semi-estruturada em profundidade. As informações foram analisadas, considerando os procedimentos pertinentes a TFD: codificação aberta, codificação axial, codificação seletiva e elaboração da categoria central. Assim, foi proposta a Tese: o enfermeiro apreende conhecimento novo em uma dada especialidade, em um movimento rumo ao infinito, vivendo o processo de formação, a partir da experiência do enfrentamento na própria realidade vivenciada.
Palavras-Chave: Educação em Enfermagem. Educação Continuada em Enfermagem. Pesquisa em Educação de Enfermagem.
xii
ABSTRACT
VALADARES, G.V. The professional formation and the confrontation of the new knowledge: the experience of the nurse in specialized sectors. Rio de Janeiro, 2006. Doctoral Thesis - School of Nursing Anna Nery, Center of Sciences of the Health, Federal University of Rio de Janeiro, 2006. Person who orientates: Teacher Ligia de Oliveira Viana. The present Doctoral Thesis meets inserted in the Nucleus of Research in Education, Management and Professional Exercise of the Nursing, having as object: the meaning of the professional formation of the nurse in the confrontation of the new knowledge in the context of specialized sectors. It has for objectives: to describe expressions, attitudes, behaviors, manifestations and feelings that they are in the experience of the nurse in specialized sectors; to identify the apprehended significant elements in the experience of the nurse, the confrontation of the new knowledge; to argue, from the of the experience, as it interacts the nurse and the new knowledge, in specialized sectors; e to consider a substantive theory, relating the professional formation of the nurse with the confrontation of the new knowledge in specialized sectors. The theoretical base, it was opted to the symbolic interactionism. The chosen methodology was the qualitative research under orientation of the concepts of the Theory Based on Dados (TFD). The scene of the study was a University Hospital of Rio De Janeiro. The participants of the research had been nurses who act in specialties. Multiple instruments of collection of data had been used: assistemática participant comment and interview half-structuralized in depth. The information had been analyzed considering the pertinent procedures the TFD: opened codification, axial codification, selective codification e, elaboration of the central category. Thus, the Thesis was proposal: the nurse apprehends new knowledge in one given specialty, in a movement route to the infinite, living the formation process, from the experience of the confrontation in the proper lived deeply reality. Words Keys: Education in Nursing. Education Continued in Nursing. Research in Education of Nursing.
xiii
RESUMÉ
VALADARES, G.V. La formation professionnelle et la confrontation des nouvelles connaissances: l'expérience de l'infirmière dans les secteurs spécialisés. Rio de Janeiro, 2006. Thèse doctorale - école des soins Anna Nery, centre des sciences de la santé, université fédérale de Rio de Janeiro, 2006. Personne qui oriente: Docteur Ligia de Oliveira Viana.
Les rassemblements doctoraux actuels de thèse insérés au noyau de la recherche dans l'exercice d'éducation, de gestion et de professionnel des soins, ayant comme objet: la signification de la formation professionnelle de l'infirmière dans la confrontation des nouvelles connaissances dans le contexte des secteurs spécialisés. Il a pour des objectifs: pour décrire des expressions, des attitudes, des comportements, des manifestations et des sentiments qu'ils sont dans l'expérience de l'infirmière dans les secteurs spécialisés; pour identifier les éléments significatifs appréhendés dans l'expérience de l'infirmière, la confrontation des nouvelles connaissances; pour discuter, du de l'expérience, comme elle agit l'un sur l'autre l'infirmière et les nouvelles connaissances, des secteurs spécialisés; e pour considérer une théorie substantive, reliant la formation professionnelle de l'infirmière avec la confrontation des nouvelles connaissances dans les secteurs spécialisés. La base théorique, elles ont été choisies à l'interactionism symbolique. La méthodologie choisie était la recherche qualitative sous l'orientation des concepts de la théorie basée sur Dados (TFD). La scène de l'étude était un hôpital d'université de Rio de Janeiro. Les participantes de la recherche avaient été des infirmières qui agissent dans les spécialités. Des instruments multiples de la collecte des données avaient été utilisés: commentaire de participant d'assistemática et moitié-structuralized d'entrevue détaillée. L'information avait été analysée considérant les procédures convenables le TFD: codification ouverte, codification axiale, codification sélective e, élaboration de la catégorie centrale. Ainsi, la thèse était proposition : l'infirmière appréhende de nouvelles connaissances dans une donnée la spécialité, dans un itinéraire de mouvement à l'infini, vie le processus de formation, de l'expérience de la confrontation en profondément vécue réalité appropriée. Clefs de mots : Éducation dans les soins. L'éducation a continué dans les soins. Recherche dans l'éducation des soins.
xiv
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ......................................................................................................... iv
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS ............................................................................ vi
AGRADECIMENTOS ............................................................................................... viii
EPÍGRAFE ................................................................................................................. x
RESUMO.................................................................................................................... xi
ABSTRACT .............................................................................................................. xii
RESUMÉ .................................................................................................................. xiii
APRESENTAÇÃO
• REVELANDO A MINHA HISTÓRIA NA ENFERMAGEM ....................................... 1
CAPÍTULO I - CONSTRUINDO AS BASES DO ESTUDO ....................................... 5
• DELINEANDO O OBJETO DE ESTUDO ............................................................ 25 • APRESENTANDO AS QUESTÕES NORTEADORAS ......................................... 25
• DEFININDO OS OBJETIVOS DO ESTUDO ....................................................... 26
• JUSTIFICANDO O ESTUDO ............................................................................. 27
CAPÍTULO II – APRESENTANDO O ENFOQUE TEÓRICO
• O INTERACIONISMO SIMBÓLICO ................................................................... 35
CAPÍTULO III - TRILHANDO NOVOS CAMINHOS METODOLÓGICOS
• A TEORIA FUNDAMENTADA NOS DADOS ...................................................... 47
CAPÍTULO IV – REFLETINDO SOBRE O CONTEXTO
• O HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO ........................................... 64
CAPÍTULO V – COLETANDO OS DADOS: OS ENFERMEIROS INFORMANTES, A
COLETA PROPRIAMENTE DITA E O PROCESSO DE ANÁLISE........................ 75
xv
CAPÍTULO VI– COMPREENDENDO O SIGNIFICADO DA EXPERIÊNCIA DO
ENFERMEIRO A PARTIR DO ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO NOVO
EM SETORES ESPECIALIZADOS
• VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: A INSERÇÃO DO ENFERMEIRO NA
ESPECIALIDADE ......................................................................................................92
• EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA SER CONHECIDO .......................... 115
• SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA NA ESPECIALIDADE ........................... 129
• (RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA
ESPECIALIDADE.....................................................................................................153
• CONVIVENDO COM A REALIDADE NA ESPECIALIDADE .................................. 169
CAPÍTULO VII– INTER-RELACIONANDO OS FENÔMENOS DESENVOLVIDOS E
APRESENTANDO O MODELO TEÓRICO REPRESENTATIVO DA EXPERIÊNCIA
DO ENFERMEIRO NO ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO NOVO ..........185
CAPÍTULO VIII – DIALOGANDO COM AUTORES A PARTIR DO FENÔMENO
CENTRAL .............................................................................................................. 204
CAPÍTULO IX – VALIDANDO A TEORIA SUBSTANTIVA ................................... 216
CAPÌ TULO X – TECENDO ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES................................................................................................. 224
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 237
APÊNDICES .......................................................................................................... 244
ANEXOS ................................................................................................................ 270
xvi
LISTA DE DIAGRAMAS
DIAGRAMA 1. FENÔMENO: VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: A
INSERÇÃO DO ENFERMEIRO NA ESPECIALIDADE
DIAGRAMA 2. CATEGORIA: DESCOBRINDO A ESPECIALIDADE: O CONTATO
INICIAL
DIAGRAMA 3. CATEGORIA: RELACIONANDO O ENFRENTAMENTO COM O
ACOLHIMENTO
DIAGRAMA 4. FENÕMENO: EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA SER
COMPREENDIDO
DIAGRAMA 5. CATEGORIA: CONHECENDO OS RECURSOS FÍSICOS E
MATERIAIS
DIAGRAMA 6. CATEGORIA: CONHECENDO AS PESSOAS
DIAGRAMA 7. FENÔMENO: SENTINDO A FALTA DA EXPERIÊNCIA NA
ESPECIALIDADE
DIAGRAMA 8. CATEGORIA: HESITANDO EM DESENVOLVER O TRABALHO NA
ESPECIALIDADE
DIAGRAMA 9. CATEGORIA: SENTINDO O PESO DA RESPONSABILIDADE
DIAGRAMA 10. CATEGORIA: SENTINDO-SE CONSTRANGIDO POR NÃO TER
CONHECIMENTOS E HABILIDADES ESPECÍFICOS
DIAGRAMA 11. FENÔMENO: (RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO PROFISSIONAL
NA ESPECIALIDADE
DIAGRAMA 12. CATEGORIA: BUSCANDO A COMPREENSÃO DA
ESPECIALIDADE.
DIAGRAMA 13. CATEGORIA: COMEÇANDO, ATUANDO E APRENDENDO NA
ESPECIALIDADE
95
113
114
118
127
128
132
150
151
152
155
166
167
xvii
DIAGRAMA 14. CATEGORIA: CORRENDO CONTRA O TEMPO
DIAGRAMA 15. FENÔMENO: CONVIVENDO COM A REALIDADE NA
ESPECIALIDADE
DIAGRAMA 16. CATEGORIA: SENTINDO-SE BEM NA ESPECIALIDADE
DIAGRAMA 17. CATEGORIA: NÃO SE ADAPTANDO A ESPECIALIDADE:
VIVENDO A CRISE INTERIOR
DIAGRAMA 18. ARTICULAÇÃO DO MODELO PARADIGMÁTICO (CONDIÇÕES
CAUSAIS, CONTEXTO, CONDIÇÕES INTERVENIENTES, ESTRATÉGIAS E
CONSEQÜÊNCIAS) COM OS FENÔMENOS DO ESTUDO.
DIAGRAMA 19. ARTICULAÇÃO DO MODELO PARADIGMÁTICO
COM OS SIGNIFICADOS DOS FENÔMENOS DO ESTUDO.
DIAGRAMA 20. MODELO TEÓRICO: VIVENDO O PROCESSO DE FORMAÇÃO
NA ESPECIALIDADE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO ENFRENTAMENTO DO
CONHECIMENTO NOVO.
168
173
182
183
187
188
202
xviii
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1.
CATEGORIA: DESCOBRINDO A ESPECIALIDADE: O CONTATO INICIAL
QUADRO 2.
CATEGORIA: RELACIONANDO O ENFRENTAMENTO DO NOVO COM O
ACOLHIMENTO
QUADRO 3.
CATEGORIA: CONHECENDO OS RECURSOS FÍSICOS E MATERIAIS
QUADRO 4.
CATEGORIA: CONHECENDO AS PESSOAS
QUADRO 5.
CATEGORIA: HESITANDO EM DESENVOLVER O TRABALHO
QUADRO 6.
CATEGORIA: SENTINDO O PESO DA RESPONSABILIDADE
QUADRO 7.
CATEGORIA: SENTINDO-SE CONSTRANGIDO POR NÃO TER CONHECIMENTOS
E HABILIDADES ESPECÍFICAS
QUADRO 8.
CATEGORIA: BUSCANDO A COMPREENSÃO DA REALIDADE
QUADRO 9
CATEGORIA: COMEÇANDO, ATUANDO E APRENDENDO NA ESPECIALIDADE
QUADRO 10.
CATEGORIA: CORRENDO CONTRA O TEMPO
QUADRO 11.
CATEGORIA: SENTINDO-SE BEM NA ESPECIALIDADE
QUADRO 12.
CATEGORIA: NÃO SE ADAPTANDO À ESPECIALIDADE: VIVENDO A CRISE
INTERIOR
96
105
119
122
133
139
147
156
159
164
174
178
xix
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1.
APRESENTANDO A MINHA HISTÓRIA
FIGURA 2.
VIVENDO NOVOS DESAFIOS
FIGURA 3.
REVELANDO A INSTITUIÇÃO ESTUDADA
FIGURA 4.
REALIZANDO A PESQUISA
FIGURA 5.
VIVENDO A DESCOBERTA NA ANÁLISE
FIGURA 6.
DESCOBRINDO O FENÔMENO CENTRAL
FIGURA 7.
POSSIBILITANDO A DISCUSSÃO ACERCA DOS RESULTADOS
FIGURA 8.
PERCEBENDO QUE O FIM REPRESENTA UM NOVO COMEÇO
20
34
63
74
85
184
203
223
xx
APRESENTANDO A MINHA HISTÓRIA
1
REVELANDO A MINHA HISTÓRIA NA ENFERMAGEM
Ando devagar porque já tive pressa levo esse sorriso porque já
chorei demais. Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe, só levo a certeza de que muito pouco eu sei, eu nada sei. Almir Sater
.
Trata este estudo de Tese de Doutorado, inserida no Núcleo de Pesquisa
em Educação, Gerência e Exercício Profissional da Enfermagem (NUPEGEPEn), do
Departamento de Metodologia da Enfermagem, da Escola de Enfermagem Anna
Nery, com enfoque na formação do enfermeiro diante o enfrentamento do
conhecimento novo em setores especializados. A temática emergiu da minha
atuação profissional, a partir de reflexões durante a prática assistencial.
Para melhor compreensão das razões que me impulsionaram a realização
deste estudo, se faz necessário uma síntese das atividades que venho
desenvolvendo na enfermagem desde a colação de grau em fevereiro de 1997,
depois de ter concluído o Curso de Enfermagem e Obstetrícia da Escola de
Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Iniciei as minhas atividades profissionais em um Serviço de Hemoterapia
na Cidade do Rio de Janeiro, onde estive atuando por aproximadamente três anos.
Nesse contexto, algumas situações causaram me inquietações importantes, levando
a realização da minha dissertação de mestrado, apresentada e aprovada na Escola
de Enfermagem Anna Nery, em dezembro de 2001, intitulada: “O Trabalho da
Enfermeira em Hemoterapia: Uma Prática Especialista”.
A pesquisa realizada no Mestrado propôs uma discussão contextualizada
sobre a Enfermagem e a Hemoterapia, considerando o Trabalho da Enfermeira na
Triagem Clínica de Doadores, o Trabalho da Enfermeira na Coleta de Sangue de
2
Doadores e o Trabalho da Enfermeira nas Transfusões de Sangue, Componentes e
Hemoderivados, me conduzindo para um olhar crítico acerca da prática especialista.
Ainda sobre a minha caminhada profissional, acrescento que desenvolvi
atividades como responsável pelo Setor de Educação Continuada de Enfermagem e
fui membro da equipe responsável pela Direção do Centro de Estudos de um
importante Hospital Municipal de Emergência, referência no atendimento ao cliente
crítico, que presta assistência a uma parcela significativa da população no Estado do
Rio de Janeiro, tendo sido uma experiência de extrema relevância na minha vida,
levando-me a pensar sobre a prática na área da saúde e, em especial, no que tange
à enfermagem.
Também desenvolvi atividades durante dois anos em outro Estado do
Brasil, no Piauí, em uma cidade chamada Parnaíba. Nesse local, fui responsável
pelo Centro de Hemoterapia – HEMOPI e Coordenadora do Curso de Enfermagem
da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. Além disso, participei do Programa de
Saúde da Família, em uma unidade rural, atuando a partir de seus princípios e
diretrizes.
Nos três últimos anos, trabalhei no Setor de Nefrologia do Hospital
Universitário Pedro Ernesto e no Hospital Municipal Souza Aguiar, tendo reassumido
a Educação Continuada deste último, após um período considerável, em que fiquei
de licença. Também atuei na Universidade Estácio de Sá como Coordenadora e
Professora do Curso de Enfermagem.
Mais recentemente prestei concurso público para o cargo de professora
assistente da Escola de Enfermagem Anna Nery, Departamento Fundamental de
Enfermagem, obtendo aprovação e, hoje me encontro desenvolvendo atividades
neste tão sonhado cenário. Dessa maneira, mais uma vez, atualmente, vivo a
3
experiência do novo, em um momento bastante especial, em que me proponho a
aprender dia após dia.
Senti a necessidade de revelar alguns aspectos de minha trajetória,
principalmente no que se refere às atividades em outro Estado, que não o Rio de
Janeiro, para que o leitor deste estudo pudesse refletir sobre minha própria natureza
de ser, considerando meu gosto por mudanças e propostas desafiadoras.
De tal modo, minha vivência e caminhada em busca do aprimoramento
profissional levaram-me ao Curso de Doutorado, no sentido de responder as
indagações emergentes da prática profissional, através da reflexão sobre a
formação, com ênfase ao enfrentamento de conhecimentos novos em setores
especializados, fazendo um contraponto com o conhecimento teórico e prático.
Por esta razão, vários aspectos relacionados à formação do enfermeiro
são apontados para o leitor, tendo sido elaborado em capítulos, incluindo: Capítulo I
- Construindo as bases do estudo; Capítulo II - Apresentando o enfoque teórico;
Capítulo III - Trilhando novos caminhos metodológicos; Capítulo IV - Refletindo sobre
o contexto; Capítulo V - Coletando os dados: os enfermeiros informantes, a coleta
propriamente dita e o processo de análise; Capítulo VI - Compreendendo o
significado da experiência do enfermeiro a partir do enfrentamento do conhecimento
novo em setores especializados; Capítulo VII – Inter-relacionando os fenômenos
desenvolvidos e apresentando o Modelo Teórico representativo da experiência do
enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo; Capítulo VIII – Dialogando com
autores a partir do fenômeno central; Capítulo IX – Validando a Teoria Substantiva; e
Capítulo X –Tecendo algumas considerações finais.
Saliento que considero o estudo oportuno, por se tratar de uma discussão
bastante atual e necessária sobre o enfrentamento do conhecimento novo em
4
setores especializados. Dessa maneira, convido o leitor a refletir sobre esse saber,
incitando-o a partilhar da inquietação acerca dos desafios que nos são apresentados
no exercício do trabalho profissional de enfermagem, em especial do enfermeiro, no
que se refere à formação, que aqui é discutida, como um processo contínuo e, não
obstante a isso, como algo que não tem começo, meio e fim; à luz de um referencial
simbólico, norteada por uma instigante abordagem metodológica.
5
CAPÍTULO I
CONSTRUINDO AS BASES DO ESTUDO
O próprio objeto, ao contrário, não pode ser nem verdadeiro
nem falso. De certo modo, ele está para além da verdade e da inverdade. (HESSEN, 2003, p. 23).
A dissertação de mestrado, que concluí em dezembro de 2001, com o
objetivo de discutir o trabalho do enfermeiro em hemoterapia, enquanto uma prática
especialista, apresentou resultados que me levaram a reflexões importantes acerca
do trabalho especializado na enfermagem, por ser uma área da saúde complexa,
constituída de conhecimentos teóricos e práticos específicos, que associada às
singularidades da clientela, revelou-se como bastante diferenciada.
Nesse sentido, houve a constatação, a partir dos dados coletados no
estudo, de que o trabalho em hemoterapia realizado pelos enfermeiros pode ser
considerado como uma prática especialista, já que os mesmos dedicam-se a um
campo específico de atuação, têm o domínio de múltiplas funções exigidas,
conhecem a teoria relacionada à atividade prática, flexibilizam todos os tipos de
conhecimentos frente à realidade vivenciada e às necessidades do cliente, operando
com o máximo de entendimento da situação e capacidade rápida de resolução de
problemas.
É importante pontuar que os resultados da dissertação de mestrado foram
interpretados, tendo como referencial as idéias de Patrícia Benner1, pesquisadora
norte-americana, docente da Escola de Enfermagem da Universidade da Califórnia,
considerando suas reflexões teóricas a respeito de estágios por que passam os
enfermeiros para adquirirem habilidades: de novato a especialista.
1Autora do livro: From novice to expert (1984).
6
A dissertação de mestrado levou-me também, a posteriori, a inquietações
mais amadurecidas, voltadas para o outro lado da realidade, considerando que, se
por um lado a dissertação destacou o trabalho especializado, por outro lado,
despertou questões e situações ligadas ao enfermeiro novato, de fato,
especializando-se na prática.
Meus pensamentos, decorrentes desse estudo, foram então associados a
minha própria vivência profissional, principalmente, quando da minha inserção em
uma Instituição Hospitalar Universitária. Entre muitos outros aspectos, passei pela
experiência de ter que atuar em um setor específico, em uma área considerada
especializada, a nefrologia, na qual não havia tido nenhum contato em minha
trajetória, desenvolvendo atividades como: a hemodiálise, a diálise peritoneal e o
acompanhamento ao cliente submetido ao transplante renal (doador cadáver e
doador vivo). Logo, apesar do conhecimento acumulado em hemoterapia, passei a
ter como desafio o novo, representado pela nefrologia.
Assumi a posição de enfermeira iniciante na área de nefrologia, após seis
anos de atividades assistenciais na enfermagem, acompanhada do desafio de atuar
frente a uma clientela bastante singular e diferenciada. Essa vivência possibilitou-me
muitas transformações no âmbito da minha atuação, constituindo um marco em
minha vida, não apenas no que tange à enfermagem, mas também no sentido
mesmo do ser humano que sou, pensando na construção e reconstrução a qual
estamos, constantemente, submetidos.
Percebi também que essa realidade não cabia apenas a este hospital e
me aproximei de uma outra discussão, a de que na Profissão de Enfermagem,
mesmo sendo o enfermeiro um especialista, não existe nenhuma segurança de que
o mesmo desenvolverá atividades na especialidade de escolha, considerando a sua
7
experiência prévia ou cursos que tenha formalmente realizado, já que a maioria dos
concursos disponibilizam, de uma maneira geral, suas vagas sem divisão por
especialidades. O profissional, portanto, é levado a uma busca contínua de novos
conhecimentos, na tentativa de adequar-se à nova realidade, desejada ou não.
Esses pensamentos também foram somados e aguçados por outros focos
de reflexões, em que pese o fato de que venho desenvolvendo estudos sobre a
globalização e o impacto da mesma na organização do trabalho no mundo, na saúde
e na enfermagem. Por conseguinte, não poderia dissociar os acontecimentos da
saúde de tal fenômeno, levando em consideração os novos significados sociais que
emergem dia após dia com implicações para a vida de todas as pessoas.
Corroborando com o exposto, não poderia deixar de pontuar, que a
globalização é uma tendência impregnada de avanços tecnológicos, tendo como
marca a nunca antes vista velocidade das informações, além de situações que
desumanizam, coisificam o ser humano, conferindo um certo privilégio ao
individualismo, à descrença de valores e à competitividade.
Para Ianni (1997. p 7), a globalização marca uma nova forma de
expansão do capitalismo, um verdadeiro modo de civilização de alcance mundial. O
desenvolvimento de um modo de produção, que adquire força, considerando o
aumento e o avanço da tecnologia, acarretando mudanças significativas no processo
produtivo e, conseqüentemente, em termos de trabalho e qualificação profissional. A
implantação da microeletrônica suscitou a formação de um novo paradigma técnico-
econômico, cujas principais características se expressam pela produção flexível.
Na mesma escala que o mundo apresenta grandes transformações,
verificam-se também significativas mudanças no âmbito do trabalho, isto é, novas
formas e novos significados no seu próprio entendimento, tanto no que se refere à
8
materialidade quanto na própria subjetividade, apontando para a exigência de um
trabalhador mais qualificado, multifuncional e polivalente; dotado de maior realização
no espaço do tempo e do trabalho. Um trabalhador com considerável e comprovada
competência teórica e prática.
Foi impressionante o avanço tecnológico, com ênfase na discussão da
crescente complexidade, da produtividade e da flexibilização das atividades.
Destaca-se a especialização dos profissionais, gerando questões acerca do
conhecimento, que envolve em essência o processo de formação.
O progresso e o uso intensivo de tecnologia trouxeram e acarretaram
alterações drásticas na produção e na organização do trabalho no mundo, nas
relações sociais e, especialmente, em termos de exigência na qualificação
profissional. Esses avanços rápidos e globais impulsionaram os profissionais a
atualizarem-se com todas as mudanças nos diferentes aspectos de sua prática,
incluindo os profissionais da saúde, que foram levados a priorizar a busca pelo
conhecimento adequando-se ao seu trabalho.
Nesse sentido, Valadares (2001, p.64) aponta que é exigido do
trabalhador um amplo conhecimento teórico e prático, com aprofundamento
específico no que tange a uma dada área de atuação e ao processo de trabalho,
sem a perda da totalidade. Além disso, um saber empírico proveniente da
experiência profissional, tratando-se de uma especialização dotada de polivalência.
De acordo com Silva (1987, p.410), a especialização pode ser
considerada como a divisão do trabalho ou de áreas territoriais de uma comunidade
ou sociedade, em determinado número de funções especializadas e, por
conseguinte, inter-relacionadas.
9
O autor (op.cit) ainda destaca que a especialização aumenta a eficiência
do trabalhador e a quantidade-qualidade do trabalho realizado. Além disso, a
tendência à especialização, como uma forma de aumentar a eficiência, não se dá
apenas nas organizações de produção, mas trata-se de um traço atual e marcante
de nossa cultura. Entretanto, enfatiza o perigo da especialização no que se refere à
alienação do homem, considerando a fragmentação que a mesma pode supor.
Pires (1998, p.86) afirma que uma vez concentrando-se as atividades em
um mesmo espaço, trata-se a assistência à saúde como um processo coletivo.
Assim, as profissões nesta área também se especializam, a partir do entendimento
da especialidade como áreas de conhecimento. Contudo, a divisão do trabalho,
entre especialistas, não implica, necessariamente, em perda de controle do
processo.
Pensando que a realidade possui muitas possibilidades, Machado (1995,
p.5), refere que o trabalho especializado aumenta o domínio e a competência num
determinado campo de atuação, promovendo a qualidade nos serviços prestados;
entretanto, em uma outra ótica, preocupada com a totalidade do ser humano, o
processo também deflagrado de super-especialização pode levar cada vez mais à
fragmentação do conhecimento e do processo de trabalho.
Assim, o mercado altamente competitivo, a globalização e as estatísticas,
cada vez maiores e mais ameaçadoras de desemprego, levam as pessoas a
vivenciarem diferentes momentos de vida. Muitas vezes, este fato implica em um
grande desgaste psicológico e, dependendo da visão de mundo de cada um, esses
momentos podem culminar com satisfatório e rápido amadurecimento, ou em um
mecanismo totalmente antagônico, revelando o descontentamento e a frustração
profissional. Tudo isso dependerá de como ocorre o enfrentamento de tal realidade.
10
Diante de toda essa realidade, penso que o enfermeiro quando inicia suas
atividades em um setor especializado, e uma vez ainda, não conhecedor das
especificidades relacionadas, ainda em uma condição de iniciante, tem por desafio
alcançar, em serviço, um rápido nível de entendimento teórico/ prático, compatível
com as necessidades da clientela, para que ocorra uma assistência de enfermagem
com qualidade, eficácia e livre de riscos.
Sublinho neste estudo a definição de Benner (1984, p.20), entendendo o
iniciante, ou ainda, novato, como sendo qualquer enfermeiro que entra em um
campo de atuação, no qual não tem experiência prévia com a clientela,
considerando a sua especificidade e todo conhecimento necessário para o
desenvolvimento do cuidado de enfermagem. Assim, os iniciantes ou novatos têm
um comportamento guiado por regras que é limitado e inflexível.
O ponto chave, em termos de dificuldade, reside no fato de que os
novatos não têm experiência e a eles são dados os passos para que os mesmos
sigam no desempenho de suas atividades, com a finalidade de servir como uma
espécie de guia e facilitar o desempenho. Porém, esses mesmos passos podem agir
contra o desempenho, já que regras não podem especificar quais são as tomadas
de decisão mais adequadas frente a uma situação real, na maioria das vezes não
previstas anteriormente.
Os estudantes de enfermagem entram no cenário profissional como
iniciantes ou novatos, tendo pouco ou nenhum conhecimento prático, tentando
alguma segurança a partir dos conhecimentos teóricos adquiridos durante a
graduação, esses ainda recentemente instruídos. Mas os estudantes não são os
únicos novatos, sabendo-se que, o enfermeiro que vivencia um campo de
atuação, no qual não tem experiência prévia com a clientela, sem o domínio
11
das ferramentas necessárias para o cuidado, pode ser apontado também como
iniciante ou novato, mesmo que tenha experiência em outra área2.
Não poderia deixar de enfatizar aqui, após discorrer sobre as idéias de
Benner (1984), meu entendimento sobre a experiência, em concordância com Rudio
(1986, p. 9-10), quando diz que se trata do conhecimento que nos é transmitido
pelos sentidos e pela consciência. Fala-se, portanto, da experiência externa para
indicar aquilo que conhecemos por meio dos sentidos corpóreos, enquanto que a
experiência interna indica o conhecimento de estados e processos interiores que
obtemos através de nossa consciência.
Dessa forma, a minha preocupação e reflexões foram direcionadas para o
fenômeno relacionado ao enfrentamento do conhecimento novo, em que pese o
paralelo com as idéias de Benner (1984). De tal modo, mesmo o enfermeiro
especialista quando passa a desenvolver atividade em uma área diferente da sua
especialidade, pode se tornar um iniciante ou novato, como por exemplo: o
especialista em nefrologia, que é transferido para a unidade de terapia intensiva
infantil. Logo, este modelo de aquisição de habilidades leva em consideração a
situação do profissional, em lugar de uma característica ou modelo de talento.
Nesta acepção, também entendo que, na enfermagem, os concursos
públicos, mesmo que indiretamente, reafirmam a importância da busca pela
formação no próprio ambiente de trabalho, já que raros são aqueles planejados
respeitando-se as especializações em enfermagem. Portanto, entendo que os
profissionais são veladamente, ou ainda claramente, passíveis de atuar em qualquer
área e, com isso, de acordo com a necessidade do serviço, vivenciando um contínuo
de novas e desafiadoras experiências.
A este ponto, destaca-se a inquietação vivenciada por Viana (1995, p.4): 2 Grifo da autora.
12
Como supervisora na unidade de internações clínicas, muitas vezes tive dificuldade para trabalhar no setor de Hemodiálise, pois não bastava aproximar-me do cliente para identificar suas necessidades, mas também era preciso ter habilidades e conhecimentos apropriados para manusear as ‘máquinas’, responsáveis pela filtração de sangue.
Esse trecho faz-me pensar sobre os meus momentos iniciais na
nefrologia, em que observava as máquinas de hemodiálise e apenas a presença
destas levavam-me a uma tempestade de idéias e de sentimentos, pois enquanto
por um lado eu não me projetava para um futuro promissor na manipulação e
contato com aquela tecnologia, por outro entendia que não poderia recuar e desistir
de um concurso público bastante concorrido. Dessa maneira, apesar de muitas
dificuldades de aceitação, teria que aprender e trabalhar dentro daquela realidade.
Assim, partindo de inquietações derivadas do cenário de nefrologia, com o
qual não havia tido nenhum contato em minha trajetória profissional, tendo que de
alguma forma enfrentar o conhecimento novo, reconheci que outros enfermeiros
poderiam estar vivenciando situações semelhantes em outros setores, chegando ao
seguinte problema:
Como se dá a formação profissional do enfermeiro no enfrentamento do
conhecimento novo em setores especializados?3
Para o entendimento da problemática apresentada é interessante uma
contextualização prévia sobre a formação e um reconhecer do significado da própria
palavra, no sentido que este estudo propõe.
Início pelo significado de formação4, termo por vezes dotado de uma certa
ambigüidade e de discordâncias conceituais, considerando que no cotidiano da
enfermagem, inclusive entre os profissionais enfermeiros, tende a ser empregado de
3 Destaque da autora. 4 Destaque da autora.
13
forma restrita à graduação, não sendo, portanto, enfatizada a idéia, que considero
imprescindível, de algo que é contínuo e permanente ao ser humano.
De acordo com Andrade (2002, p.5), na realização de seu estudo de
mestrado, a mesma encontrou dificuldades para conceituar a palavra formação, pois
o seu sentido, no meio cotidiano, é o de fôrma e molde, cujo entendimento
comumente encontra-se associado ao período de graduação.
Em consonância ainda com esta autora, penso que se trata de um ponto
que precisa ser discutido profundamente pela enfermagem e, assim, o seu
entendimento apresentado em uma perspectiva de melhor compreensão, podendo
significar a reconstrução da idéia tradicional de profissional pronto. Desse modo, o
conceito de formação que é adotado neste estudo baseia-se na abordagem em que
o homem está livre de uma materialização moldada, que desconsidera
singularidades e subjetividades.
Reforço essa proposta apoiando-me em Assad (2003, p.8), que diz tratar-
se a formação de um processo de desenvolvimento integral do indivíduo, ao longo
de toda a sua vida, com a finalidade de alcançar o seu amadurecimento profissional
e emocional. Por sua própria natureza e devido a essas características, é um
processo inacabado que de forma alguma se limita à formalidade dos estudos e
demais atividades realizadas no âmbito das instituições escolares. A formação
expande-se para além da visão de escola, uma vez que o ser humano, também em
sua dimensão profissional, está em permanente processo educativo.
É pertinente lembrar, de acordo com a mesma autora (op cit, p.45), que
não há um único modelo de educação, tampouco a escola é o único e restrito lugar
onde ocorre o processo educativo. A educação escolar não esgota as
possibilidades das práticas educacionais, nem o professor constitui o único
14
profissional-educador. A educação extrapola os bancos escolares, não sendo,
portanto, finita, pois abarca toda a vida das pessoas.
Sobre a idéia de processo, para Demo (1997, p.28), a formação geral é
sempre mais importante que o treinamento, estágio ou exercício. Por isso, a
formação deve ser compreendida como a capacidade de saber pensar e de
aprender a aprender, isto é, o modo humano de internalizar o conhecimento,
construindo-o de forma contínua.
O mesmo autor refere (2000, p. 147):
Esse pano de fundo da incerteza e da fragilidade das coisas é o ambiente natural do conhecimento e da aprendizagem. Somos facilmente tentados pela arrogância, quando buscamos a tudo questionar e devassar, a armar a consciência completa de tudo, a produzir provas definitivas. Entretanto, quanto mais o conhecimento avança, em vez de localizar um ponto de chegada, cada vez mais próximo, divisa horizontes mais abertos, que convida a não desistir de aprender permanentemente.
É interessante resgatar também, o que diz Arroyo (1995, p.77), no que se
refere à diferença entre educação vista como instrução e como formação. A partir
das idéias desse autor, que é um estudioso da área, a educação como instrução se
limita a treinar o homem para o trabalho e funciona como instrumento de repressão
do regime capitalista, sendo esse o movimento educativo ainda dominante na nossa
sociedade. Enquanto isso, no segundo modelo, a educação, como formação, busca
formar o homem, no sentido de estimulá-lo a agir em conjunto com o pensar,
condição essa indispensável para a formação de sujeitos autônomos, eficientes e
criativos. Logo, reconhece-se a formação5 como processo.
É importante enfocar que a filosofia da instituição influencia na formação
de seus funcionários, na medida em que valoriza a educação como processo,
entendendo a sua natureza contínua e, portanto, preocupando-se em oferecer
5 Grifo da autora.
15
condições de trabalho adequadas; gerenciar considerando o perfil de funcionários e
definir o modelo assistencial que pretende desenvolver.
No que se refere à questão da especialização, trata-se de um fenômeno
bastante importante na enfermagem. Estudos científicos já vinham sendo feitos,
propondo o melhor entendimento e um aprofundamento sobre a questão das
especializações e das especialidades. Tem-se como exemplo disso, a Tese de
Doutorado de Viana (1995). Além disso, Resoluções foram definidas pelo Conselho
Federal de Enfermagem (COFEN) no sentido de melhorar o acompanhamento desse
processo, como a Resolução COFEN-1006, e mais adiante, a Resolução COFEN -
1737.
Mais recentemente, a Resolução no. COFEN - nº 2908 foi deliberada com
objetivo de fixar as especialidades na enfermagem: Assistência ao Adolescente;
Aeroespacial; Atendimento Pré-Hospitalar; Banco de Leite Humano; Cardiovascular;
Central de Material e Esterilização; Centro Cirúrgico; Clínica Cirúrgica; Clínica
Médica; Dermatologia; Diagnóstico por Imagem; Doenças Infecciosas; Educação em
Enfermagem; Emergência; Endocrinologia; Endoscopia; Estomaterapia; Ética e
Bioética; Gerenciamento de Serviços de Saúde; Gerontologia e Geriatria;
Ginecologia; Hemodinâmica; Homecare; Infecção Hospitalar; Informática; Nefrologia;
Neonatologia; Nutrição Parenteral; Obstetrícia; Oftalmologia; Oncologia;
Otorrinolaringologia; Pediatria; Perícia e Auditoria; Psiquiatria e Saúde Mental;
Saúde Coletiva; Saúde da Família; Sexologia Humana; Trabalho; Traumato-
Ortopedia; Terapia Intensiva; Terapias Naturais/Tradicionais e Complementares/Não
Convencionais. Um total de quarenta e duas especializações.
6 Revogada em 22 de abril de 1988. 7 Revogada em 21 de junho de 1994. 8 Revogada em 24 de março de 2004.
16
Nesse caminho, dia após dia, a área da saúde passa por um importante
progresso que necessita de acompanhamento e estudo pormenorizado por todos os
profissionais. O mercado demanda naturalmente alguns aspectos como:
ponderação, seriedade, competência, habilidade, profissionalismo, interesse e, no
mínimo, um olhar especializado para algum campo peculiar. Penso que seja preciso
compreender o todo, porém, também, dominar a parte, em uma espécie de
flexibilização do conhecimento, isto é, um movimento reflexivo do todo para a parte e
da parte para o todo, com vistas à adequação da realidade.
Partindo da compreensão desses delineamentos, acredito na enfermagem
como uma das profissões que apresenta consideráveis perspectivas de crescimento
e valorização no mercado de trabalho, apesar da grande crise de desemprego que
assola o país e o mundo na atualidade. Do mesmo modo, os enfermeiros vêm
apropriando-se de espaços distintos e se firmando nas diversas áreas de atuação,
sobretudo naquelas onde permanece o investimento em sua capacitação
profissional, aumentando seus conhecimentos e buscando a especialização para
aproveitar as chances de empregos que surgem no mercado de trabalho.
Agora, cabe enfocar, que de acordo com as Diretrizes Curriculares
Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem9, do Conselho Nacional de
Educação, a proposta é de uma formação generalista, crítica e reflexiva na qual o
profissional seja capaz de conhecer e intervir sobre os problemas e situações de
saúde-doença mais prevalentes no perfil epidemiológico nacional, com ênfase na
sua região de atuação, identificando as dimensões bio-psico-sociais dos seus
determinantes. Este bacharel deve possuir competências técnico-científicas, éticas,
políticas e sócio-educativas.
9 Resolução CNE / CES No. 3, de 7 de novembro de 2001.
17
Sobre esse aspecto, enfatizo que a graduação não poderia ser diferente,
em virtude da proposta de uma formação holística pautada no olhar o mais
abrangente possível, em que seja despertado o real interesse em aprender. Por
conseguinte, as possibilidades para a titulação de especialista em enfermagem são:
a partir da Pós-Graduação, Lato Sensu e Stricto Sensu, considerando um processo
formal de apreensão de conhecimentos; ou ainda, das provas realizadas pelas
Sociedades de Especialistas em Enfermagem, que tomam como base a prática
especialista, a partir do desenvolvimento de atividades específicas durante um
determinado tempo.
Nessa perspectiva de discussão, também considero essencial aprofundar
as reflexões sobre o próprio conhecimento10, considerando a associação que se
pretende entre o enfrentamento do novo e o conhecimento. Logo, sublinho Hessen
(2003, p.97), quando refere que “conhecer significa apreender espiritualmente um
objeto. Essa apreensão, via de regra, não é um ato simples, mas consiste numa
multiplicidade de atos”.
Para o autor (op. cit.), no conhecimento encontram-se, frente a frente à
consciência e o objeto, o sujeito e o objeto. O conhecimento apresenta-se como uma
relação entre estes dois elementos, que nela permeiam eternamente separados um
do outro. A relação entre os dois elementos é, ao mesmo tempo, uma correlação. O
sujeito só é sujeito para um objeto e o objeto para um sujeito. Ambos só são o que
são para o outro. Mas esta correlação não é reversível. Ser sujeito é algo
completamente distinto de ser objeto. A função do sujeito consiste em apreender o
objeto, a do objeto em ser apreendido pelo sujeito.
Segundo Garcia (2002), conhecer significa, portanto, nascer com. No
conhecimento o sujeito e o objeto nascem um para o outro, um pelo outro. Ocorre 10 Grifo da autora.
18
que para essa relação aparentemente simples, mas extremamente complexa, há
todo um trabalho de elaboração mental que constrói e reconstrói o conhecimento
que, quando revelado, pode ser facilmente repetido e manipulado, embora quem o
repita e o manipule, não alcance a mesma maturidade daquele que o elaborou.
A autora (op. cit.) relata que uma máquina processadora pode,
atualmente, dar conta do uso e da manipulação dos dados de um determinado
problema, que a ela apresentamos, obedecendo com maior precisão a toda uma
pura cadeia de raciocínio, disposto em etapas. O conhecimento, como elaboração,
só tem sentido no momento mesmo do ato criador que o produz. Depois, pode ser
processado autônoma e automaticamente, dispensando, até mesmo, a capacidade
humana.
No entanto, ainda em consonância com a autora (op. cit), pensando na
criação do conhecimento, é preciso observar que este nascimento não é
espontâneo. O conhecimento como construção precisa ser entendido como um
processo. Não podemos confundir a apreensão e o seu uso com a construção e
elaboração. Todo conhecimento é construído, inventado, dentro das possibilidades
de seu determinante, em um espaço histórico-sócio-cultural.
Também enfoca que o trabalho do técnico é uma atuação de uso do
conhecimento. A técnica é importante tendo em vista que pode facilitar a atuação e a
ação-interação do homem com a realidade. A questão que marca o nosso tempo, é
que chegamos a um determinado estado, em que o técnico domina nossa vida. A
complexidade do estudo e do trabalho técnico chega a um ponto tal que a técnica
não mais é o alívio tendo em vista a ocupação do aspecto humano, mas passa a ser
uma necessidade. Logo, o profissional técnico necessita hoje de uma preparação
aprofundada e precisa, não podendo ficar todo o tempo preocupado com o
19
conhecimento de uso, impossibilitando, por vezes, o desenvolvimento do que é
especificamente humano, nesse sentido, do aspecto reflexivo.
Percebendo a dualidade do conhecimento expresso em Hessen (2003),
apoio-me também em Polanyi (1958), para referir que o conhecimento não é
somente público, mas também pessoal, já que é construído pelos indivíduos,
englobando as suas emoções e paixões.
Ao sustentar que o conhecimento não é privado, mas sim, social, o autor
(op. cit.) pretende enfatizar que este é socialmente construído e se funda sobre a
experiência pessoal da realidade. Em outras palavras, só é possível adquirir
conhecimento quando o indivíduo se encontra em contato direto com situações que
propiciam novas experiências, que são sempre assimiladas a partir dos conceitos de
que o indivíduo já dispõe.
A experiência individual permite adaptar esses conceitos e reinterpretar a
linguagem utilizada. Quando novas palavras ou conceitos são inseridos num sistema
de linguagem previamente existente, eles se influenciam mutuamente, na medida
em que o próprio sistema enriquece os novos conceitos introduzidos.
Para Polanyi (1958), o conhecimento comporta dimensões distintas, tais
como: a técnica, que inclui as competências pessoais e se relaciona com um tipo de
conhecimento profundamente enraizado na ação, bem como, no empenho de um
indivíduo para com um contexto específico, uma arte ou profissão, uma determinada
tecnologia ou um determinado mercado, ou mesmo as atividades de um grupo ou
equipe de trabalho; e a cognitiva que inclui elementos como as intuições, emoções,
esquemas, valores, crenças, atitudes e competências.
Estes elementos, que podemos designar por estruturas cognitivas,
encontram-se incorporados nos indivíduos que os encaram como dados adquiridos,
20
definindo a forma como agem e se comportam, constituindo o filtro através do qual
percebemos a realidade. Difícil de articular por palavras, a dimensão cognitiva molda
a forma como percebemos o mundo.
Assim, o filósofo Polanyi (1958), explicitou dois conhecimentos: o saber
que (know that) e o saber como (know how), sendo proposta a imagem do
conhecimento como um iceberg. Segundo ele, existem dois aspectos a serem
considerados: o tácito e o explícito. A parte tácita do conhecimento é a de maior
volume, correspondendo à parte submersa do iceberg. A parte explícita,
conseqüentemente, corresponde à parte exposta, cujo volume é muito menor.
O primeiro também pode ser reconhecido como sendo o conhecimento
teórico e, geralmente, está associado com a mente. Em contrapartida, o segundo
está vinculado, comumente, ao corpo e se reconhece como conhecimento prático.
Dentro desta cultura dualista, considerou-se, por muito tempo, que o “saber que” é a
forma mais importante do conhecimento. Uma rápida análise nos currículos
escolares tradicionais mostra como a teoria foi e, em alguns momentos ainda é,
considerada como o conhecimento primordial na humanidade.
Entretanto, ainda que diferentes, nenhuma forma de conhecimento é
menos importante do que a outra, já que ambas são de natureza intelectual. Isso
leva à reflexão de que existem diferentes maneiras de chegar ao conhecimento.
Nesse caminho, o saber, de uma maneira geral, pode ser entendido como aquisição
pessoal de significado, pertinente a um segmento da realidade. Simplificando,
conhecer seria estar alerta e consciente de algo ou de alguma coisa. Sendo assim,
os seres humanos chegam ao conhecimento no transcurso, como conseqüência de
vivenciar qualitativamente a experiência.
21
Corroborando com o autor (op. cit.), o “saber que” também é conhecido
como explícito, objetivo, teórico e impessoal. Enfatiza a capacidade de estruturar a
experiência por meio de conceitos, causas, efeitos, razões e, finalmente, em
conseqüência, leis científicas universais. Uma de suas características principais é a
objetividade. Este tipo não requer validação por meio da experiência pessoal.
Enquanto isso, o “saber como” pode ser reconhecido sob diferentes
denominações. Pode ser entendido como tácito, subjetivo, prático ou pessoal. É
associado à performance em termos de competência. É reconhecer-se como
possuidor da habilidade de executar uma ação, isto é, é um conhecimento que os
indivíduos não podem explicitar por meio de descrições verbais. Assim, o
conhecimento tácito é conhecimento vivido, em que os indivíduos têm acesso
qualitativo daquilo que estão realizando.
Para o filósofo (op. cit.), a experiência é um processo ativo e, também,
contínuo, que pressupõe um sujeito que experimenta e, por conseguinte, um objeto
experimentado. Sob esta concepção a experiência é em si o ato de conhecer, não é
a interação de entidades separadas, senão uma transação em que ambos aspectos
se constituem em uma nova totalidade. O conhecer, então, é um processo ativo e
consciente, através do qual se busca uma nova unidade de significado. Assim, o
conhecimento é apenas uma possibilidade que surge em um tempo e espaço
específico, sendo histórico e perspectivo. Deve-se enfatizar uma característica a
mais, o conhecimento é falível, não sendo absoluto ou final.
O conhecimento tácito é complexo, desenvolvido e interiorizado durante
longos períodos de tempo, sendo quase impossível de ser reproduzido em um
documento ou em uma base de dados. É precisamente este tipo de conhecimento
que medeia o dia-a-dia dos indivíduos, contendo uma aprendizagem tão pessoal que
22
as suas regras podem ser dificilmente separáveis da forma como cada indivíduo
age. Por esta razão, sendo experiencial, pessoal, específico e ligado a um dado
contexto, o conhecimento tácito é, pois, mais difícil de formalizar, comunicar e
partilhar com os outros.
Assim, deve-se entender que o pensamento humano acontece dentro da
existência. Para abarcar o significado temos que interiorizar as coisas externas, ou
entrarmos nelas. O significado surge reunindo indícios em nosso próprio corpo ou
fora dele. Não podemos aprender a subir em uma bicicleta memorizando as leis da
física que governam seu equilíbrio.
As leis têm que ser feitas significativamente, tomando-se a bicicleta e
tentando-se as diferentes ações que a mantêm na vertical e que a encaminham para
a direção que queremos. A linguagem da física é menos necessária para a bicicleta
andar do que uma compreensão do equilíbrio, a qual é aprendida fisicamente e
socialmente ao mesmo tempo.
Polanyi (1958) ilustra a necessidade e a insuficiência da linguagem para o
significado com um exemplo sobre como aprendemos a descobrir uma doença
pulmonar através de radiografias. À medida que o estudante presta atenção durante
algumas semanas, examinando casos diferentes, um rico panorama de detalhes
significantes de variações fisiológicas, mudanças patológicas de cicatrizes e sinais
de doença aguda serão gradualmente reveladas. As radiografias começam a fazer
sentido.
No mesmo momento em que ele aprendeu a linguagem da radiologia
pulmonar, também terá aprendido a ver, significativamente, as radiografias. A
23
experiência imediata do significado da radiografia é coincidente, mas não idêntica à
sua consciência focal que está presente em pensamento. Conhecimento é
consciência focal, aquilo de que estamos conscientes e de que podemos falar. A
compreensão é a integração tácita do conhecimento. Passamos do conhecimento à
compreensão, sem esforço.
Para o autor (op. cit), não podemos formular leis rígidas derivando leis
gerais de experiências individuais, porque cada instância de uma lei diferirá, em
cada particular, de cada outra instância sua. Para formar conceitos de classe
essenciais ao significado, temos que presumir aquele processo indeterminado e
global de compreensão tácita.
Ainda comenta (op. cit.) que, a compreensão tácita não pode ser reduzida
à sua articulação explícita, porque ela pode ser articulada por um número
indeterminado de sistemas de linguagem. Quando o estudante olha uma radiografia,
pode focá-la com a visão de um artista e vê-la em formas de luz e sombras, ou como
um psicólogo, ele pode transformá-la em um borrão. Suas experiências médicas são
parte da compreensão subsidiária que informará o seu foco sobre ela como sendo
uma radiografia.
Cabe apontar as dimensões do conhecimento, em que a epistemologia se
refere à natureza própria do conhecimento. Por exemplo, a diferença explicitada por
Polanyi (1958) entre conhecimento prático e conhecimento teórico. Sendo o
conhecimento prático pessoal, ligado a um contexto particular e, portanto, difícil de
formalizar e comunicar, ao contrário, o conhecimento teórico pode ser formalizado,
sistematizado na linguagem.
24
Enquanto isso, na dimensão ontológica tem-se que as pessoas são
essenciais para o conhecimento. As organizações não podem conhecer senão pelos
indivíduos. Podem até criar, possibilitar e aumentar as condições necessárias para
que as pessoas criem e inovem conhecimentos que ajudem nos processos, produtos
ou serviços de uma maneira geral.
Como discutido, as sociedades orientadas sob a ótica dualista têm
relacionado o pensar, apenas considerando o conhecimento explícito. Termos tais
como as capacidades intelectuais, as habilidades cognitivas, o processo intelectual,
são alguns exemplos do critério restrito e mentalista aplicado à inteligência. A
verbalização da percepção do mundo constitui, aparentemente, a manifestação
pragmática da inteligência.
O pensamento se reduz e se limita à mente. O intelecto forma idéias e a
capacidade de transmiti-las é reconhecida como a medida da existência positiva de
uma inteligência genuína. Muitas pessoas são capazes de descrever a patinação no
gelo, sem ter executado, em algum momento, a ação de patinar.
Da mesma maneira, muitos indivíduos entendem os princípios que
sustentam uma correta execução do golfe, por exemplo, porém desconhecem como
realizar a tarefa de jogar. Tem-se que, o pensamento é altamente valorizado quando
permite ao indivíduo uma mera descrição de uma ação, e não o fato deste indivíduo
realmente tê-la realizado. Então, lamentavelmente, é o conhecimento explícito e não
o tácito que se favorece em grande parte das situações.
Corroborando com a discussão, é importante enfocar que o homem dispõe
dos sentidos externos, dos sentidos internos e da inteligência. Todas estas
faculdades são qualidades que aperfeiçoam a substância humana; são poderes de
25
agir, potências ativas, que no início da nossa existência são, na ordem do
conhecimento, puras potências.
Esta abordagem leva a compreender que, mais do que apenas dominar
conteúdos, é preciso aprender a se relacionar com o conhecimento de forma ativa,
construtiva e criadora. Trata-se, portanto, de discutir a relação entre conteúdo e
método, a partir das novas formas de relação entre homem, conhecimento e
trabalho.
Desta forma, associando as reflexões apresentadas ao enfrentamento do
conhecimento novo, o estudo foi desenvolvido a partir da questão norteadora,
ampliada e reformulada, em face de contínuos avanços em termos de dados
coletados e realidades observadas:
Como o enfermeiro, a partir do mundo experiencial, interage com o
conhecimento novo, no contexto de setores especializados?
Em vista a este questionamento, o objeto da presente investigação foi:
O significado da formação profissional do enfermeiro no enfrentamento do
conhecimento novo no contexto de setores especializados.
Com tantas inquietações que surgiram a partir das reflexões traçadas, foi
necessário estabelecer e esclarecer o que realmente considero importante
pesquisar, enquanto pessoa comprometida com a formação em enfermagem. Logo,
procurei definir os objetivos do estudo:
26
• Descrever expressões, atitudes, comportamentos, manifestações e
sentimentos que permeiam a experiência do enfermeiro, em setores
especializados.
• Identificar os elementos significativos apreendidos na experiência do
enfermeiro, no enfrentamento do conhecimento novo.
• Discutir, a partir do mundo experiencial, como interage o enfermeiro e o
conhecimento novo, em setores especializados.
• Propor uma teoria explicativa substantiva, relacionando a formação
profissional do enfermeiro com o enfrentamento do conhecimento
novo, em setores especializados.
É importante pontuar, que fui percebendo algumas facetas do estudo, que
precisavam estar elucidadas, como:
- Mesmo sabendo que os aspectos relacionados à experiência do
enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo poderiam estar presentes no
cuidar em enfermagem em qualquer situação, tendo em vista o processo saúde-
doença, restringi os objetivos aos setores especializados, porque esse contexto
propicia um aprofundamento da questão, considerando o conhecimento dotado de
especificidade;
- Ao focalizar o estudo, foi preciso pensar sobre o que acredito e
corroboro, em termos do entendimento sobre a formação e o conhecimento, haja
vista a multiplicidade de explicações e definições a estas palavras associadas, pois,
27
saliento que a pesquisa como uma atividade social carreia valores, compreensões,
preferências e visões de mundo, que orientam o pesquisador, sendo, portanto,
inocente pensar em total neutralidade científica;
- Também percebi a singular importância da compreensão sobre o
significado da Teoria, principalmente, pensando no último objetivo apresentado para
o estudo, para que o fenômeno, mais abstrato do que tangível, pudesse ser
explicado, de uma forma sistemática, a partir da realidade. Entendendo a realidade
como tudo que existe, em oposição ao que é mera possibilidade. Assim, ficou claro
que as informações oferecidas pelos participantes seria o ponto inicial, a partir do
qual emergiria conceitos, buscando a explicação do fenômeno, à medida que
ocorresse, não como uma forma e uma situação pré-concebida.
Neste ponto, enfatizo que o desejo, a motivação e o anseio que justificam
este estudo tiveram origem em questões que emergiram da minha prática
profissional. Tal situação, em consonância com estudos desenvolvidos na área,
motivou o despertar para o interesse de melhor compreender a relação do
conhecimento com a formação e, ainda, em um contexto que envolve a formação
especializada.
A pesquisa também subsidia um incremento na discussão sobre a
temática formação, possibilitando a ampliação do conhecimento na área de
Educação em Enfermagem11, considerando o número bastante reduzido de estudos
no Brasil. Isso pode ser constatado, a partir de uma pesquisa bibliográfica, realizada
em 2004, apresentada no Congresso Brasileiro de Enfermagem, em Gramado, no
Estado do Rio Grande do Sul.
Do ponto de vista metodológico, privilegiou-se, naquele momento, a
pesquisa quantitativa. De tal modo que, para a coleta de dados foram utilizadas 11 Grifo da Autora.
28
informações fornecidas pelos Programas de Pós-Graduação em Enfermagem à
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. As fontes
primárias foram resumos de dissertações e teses, defendidas de 1993 a 2003 e,
ainda, as contidas no Catálogo “Informações sobre Pesquisa e Pesquisadores na
Enfermagem”, da Associação Brasileira de Enfermagem - ABEn/CEPEn, neste
mesmo recorte temporal, a partir dos descritores: educação, educação na
enfermagem, formação e formação na enfermagem.
O universo do estudo constou de 216 resumos, sendo a amostra
populacional constituída de 27 resumos. Os procedimentos adotados incluíram a
leitura analítica dos mesmos e construção de gráficos, a partir de variáveis pré-
definidas.
Os dados dessa pesquisa bibliográfica sugeriram que o assunto vem
sendo estudado na enfermagem, ainda de forma discreta, já que em 216 estudos,
apenas 27 realmente referiam-se, de fato, à formação em enfermagem, definindo um
percentual de 11%. Os demais estudos, um percentual de 89%, apesar de estarem
ligados aos mesmos descritores, não abordavam a temática.
Posteriormente ao estudo exploratório mencionado, devido a uma
solicitação da disciplina “Seminário de Teoria Fundamentada nos Dados”, realizada
como aluna especial do Doutorado, na Universidade de São Paulo (USP), foram
levantados os dados acerca de estudos publicados nos Estados Unidos. Estes
tiveram como objeto: os estudos com enfoque na formação na enfermagem. Foi
também necessário situá-los de 1993 a 2003.
Privilegiou-se também a pesquisa quantitativa. Para a coleta de dados
foram utilizadas as informações fornecidas pela Biblioteca Virtual em Saúde
29
(BIREME, OPAS e OMS) sobre resumos de teses e dissertações, respeitando o
recorte temporal mencionado.
As informações obtidas foram analisadas e os resultados apresentados
sugerem que a temática formação vem sendo pouco estudada também nos Estados
Unidos, considerando que foram analisados 108 resumos e, apenas 17 destes
relacionavam-se, de fato, com a discussão, considerando o assunto proposto. Ainda,
dos 17 estudos encontrados, 12 referiam-se ao enfermeiro recém-formado.
Cabe ainda destacar que os estudos que discutiam a formação como um
processo mais totalizante, no que se refere às habilidades e competências do
enfermeiro, utilizaram como referencial teórico às idéias propostas pela autora norte-
americana Patricia Benner, que desenvolve proposições teóricas relacionadas com
aquisição de habilidades desde 1984, discorrendo sobre os enfermeiros novatos,
novatos avançados, competentes, proficientes e especialistas, ainda assim,
pensando a questão com ênfase em seu modelo e na realidade do seu país.
Por conseguinte, o estudo proposto para o Doutoramento mostra-se
dotado de significativa originalidade, já que enfermeiros, ainda que não apenas
recém-formados, podem experienciar o conhecimento novo em uma condição de
iniciante ou novato.
A este ponto, não poderia deixar de mencionar, segundo Delors (1999, p.
89-90), a necessidade de uma aprendizagem ao longo de toda a vida, fundamentada
em quatro pilares, que são, concomitantemente, do conhecimento e da formação
contínua. Assim, o objeto da Tese também se preocupa com o processo de
desenvolvimento das aprendizagens fundamentais que, são de algum modo para
cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, isto é adquirir os
instrumentos da compreensão; aprender a fazer, no sentido de agir sobre o meio
30
envolvente; aprender a viver juntos e aprender a viver com os outros, a fim de
manter uma participação e um desenvolvimento coletivo; aprender a ser, que integra
os três precedentes. Esses relatados a seguir:
Aprender a conhecer, Delors (op. cit, p. 90-92), revela a aprendizagem que
visa não somente um conjunto de saberes codificados, mas por assim dizer, o
domínio dos próprios instrumentos do conhecimento, que pode ser compreendido
como um meio e como uma finalidade da vida humana. Nessa perspectiva, meio por
que se deseja que cada um aprenda a compreender o mundo que o cerca, pelo
menos à medida que isso seja necessário para a vivência digna, para desenvolver
as suas capacidades profissionais e para estabelecer a comunicação. Enquanto
que, também é finalidade, pois o seu fundamento é o prazer de compreender, de
conhecer e de descobrir.
Desse modo, o aumento dos saberes que propicia a compreensão do
ambiente, sob seus diversos aspectos, favorece o despertar da curiosidade
intelectual, estimula o senso crítico e permite compreender o real, tendo em vista a
aquisição de autonomia para poder discernir.
Aprender a fazer, Delors (op.cit, p. 93-96), aprender a conhecer e
aprender a fazer são, em larga medida, inseparáveis. No entanto, a segunda
aprendizagem está mais associada à questão da formação profissional. Aprender a
fazer não pode continuar a ter o significado singelo de preparar alguma pessoa para
a realização de uma tarefa material bem determinada.
De tal modo, as aprendizagens devem evoluir e, não podem mais ser
consideradas como simples transmissão de práticas mais ou menos rotineiras,
31
apesar destas conterem um valor formativo que não se pode desprezar. Nesse
contexto, qualidades como a capacidade de comunicar, de trabalhar com os outros,
de gerir e resolver conflitos são cada vez mais importantes.
Aprender a viver juntos, Delors (op.cit, p. 96-98) representa atualmente um
dos mais significativos desafios da educação, já que o mundo atual é,
repetidamente, um mundo de violência que faz oposição à esperança cultivada por
alguns na humanidade. Parece que a educação deve utilizar duas vias
complementares: a descoberta progressiva do outro e a participação em projetos
comuns.
Portanto, tendo como missão desenvolver conhecimentos sobre a
diversidade da espécie humana, levar as pessoas a tomar consciência das
semelhanças e da interdependência entre todos os seres humanos do planeta. De
fato, passando à descoberta do outro, necessariamente, pela descoberta de si
mesmo. Aliás, uma nova forma de identificação nasce dessa visão de mundo, no
sentido de ultrapassar as rotinas individuais em prol da valorização daquilo que é
comum e, não as diferenças.
Aprender a ser, Delors (op.cit, 99-100), exprime o temor acerca de um
mundo desumano relacionado à evolução técnica. Portanto, essa aprendizagem
preocupa-se com a realização completa do homem, no que concerne a sua riqueza
e a complexidade das suas expressões e dos seus compromissos: indivíduo,
cidadão, membro de uma família e de uma coletividade, dentre muitos aspectos.
Este desenvolvimento do ser humano, que acontece desde o nascimento
até à morte, é um processo dialético que se inicia através do conhecimento de si
32
mesmo para se abrir, em um segundo momento, à relação com o outro. Não
obstante a isso, a educação é uma busca interior, que corresponde ao
amadurecimento contínuo da personalidade.
De tal modo, de acordo com Delors (op. cit, p. 92):
O processo de aprendizagem do conhecimento nunca está acabado, e pode enriquecer-se com qualquer experiência. Neste sentido, liga-se cada vez mais à experiência do trabalho, à medida que este se torna menos rotineiro. A educação primária pode ser considerada bem-sucedida se conseguir transmitir às pessoas o impulso e as bases que façam com que continuem a aprender ao longo de toda a vida, mas também fora dele.
De fato, pilares que não podem dissociar-se, constituindo-se em uma
complexa interação, com a finalidade de uma formação holística do indivíduo. Com
base nessa visão, é possível prever grandes conseqüências no processo da
formação, que por muito tempo esteve voltada apenas para a absorção formal de
conhecimento. Nesse sentido, caberá um entendimento mais abrangente, dando
lugar a ensinar a pensar, a ter boa comunicação, a desenvolver a pesquisa, a ter
raciocínio lógico, a fazer sínteses, a desenvolver elaborações teóricas, enfim a ser
socialmente competente.
Meu intuito, portanto, é que o resultado da Tese de Doutorado seja uma
proposta teórica pertinente à formação do enfermeiro em setores especializados,
baseada na experiência singular e real desses profissionais. Além disso,
conhecendo os significados dos enfermeiros, é possível definir uma linha de
pensamento, à luz das interpretações, para a construção de uma teoria que possa
contribuir, para o rol de conhecimento na enfermagem, em que se pense
cuidadosamente no conceito de formação.
33
Também almejo, ao término deste estudo, contribuir para o fortalecimento
do Núcleo de Pesquisa em Educação, Gerência e Exercício profissional em
Enfermagem (NUPEGEPEn) e para o fortalecimento da Linha de Pesquisa
Educação em Enfermagem, a partir da apresentação da Tese e dos constructos que
possam desta emergir.
Pensando sobre isso, Trentini (1987, p. 136) refere:
... conceitos que não podem ser claramente observados direta nem indiretamente, mas podem ser inferidos a partir de conceitos observáveis, como por exemplo, sentimento, são classificados dentro do mais alto nível de abstração e são chamados de constructos.
A explicitação deste tipo de formação poderá levar a descobertas
importantes tanto para o cenário em estudo, quanto para outras instituições, no
sentido de uma apreciação sobre a interação dos enfermeiros com o conhecimento
novo em setores especializados. O entendimento sobre formação destaca a
capacidade de saber pensar e de aprender a aprender. Trata-se da formação como
um processo de desenvolvimento integral do indivíduo, ao longo de toda a sua vida.
Em consonância com os delineamentos acima, o estudo propõe uma
aproximação com o mundo experiencial dos enfermeiros, no seu próprio cotidiano,
compreendendo as suas expressões, atitudes, comportamentos, manifestações e
sentimentos, tendo a possibilidade de avançar em termos de pesquisa, extrapolando
o que até então, foi exteriorizado.
34
VIVENDO NOVOS DESAFIOS
35
CAPÍTULO II
APRESENTANDO O ENFOQUE TEÓRICO
O saber teórico é o saber puro, desinteressado, sem a preocupação de uma aplicação prática ou imediata (JAPIASSÚ & MARCONDES, 1996, p.260).
Neste capítulo apresento de forma geral os principais conceitos da
perspectiva teórica interacionista simbólica. A escolha dessa abordagem se deu
devido a minha busca pelo entendimento do significado do fenômeno,12 a partir da
compreensão do aspecto intersubjetivo da experiência dos enfermeiros iniciantes,
inseridos em um mundo social.
De acordo com Coulon (1995, p.19), o Interacionismo Simbólico teve uma
profunda influência na Sociologia de Chicago. As suas raízes filosóficas encontram-
se no pragmatismo de John Dewey, iniciado por Charles Peirce e William James,
mas foi desenvolvido principalmente por George Mead. Como refere o nome, o
interacionismo simbólico sublinhou a natureza simbólica da vida social.
Para o mesmo autor (op. cit, p. 20), George Mead é considerado como o
inspirador do interacionismo simbólico, apesar da expressão só ter sido usada pela
primeira vez em 1937, por Herbert Blumer. Dessa forma, desejando realizar a
síntese entre a abordagem individual e a macrossociológica, acreditou que a noção
de ‘si’ podia cumprir esse papel, contanto que o ‘si’ fosse entendido como a
interiorização do processo social pelo qual os grupos de indivíduos interagem com
outros.
Ainda menciona (op. cit, p.20) que o agente aprende a construir o seu ‘si’ e
o dos demais, graças à interação. Pode a ação individual ser considerada como a
12 Destaque da autora.
36
criação mútua de vários ‘si’ em interação. Dessa forma, os ‘si’ adquirem um
significado social, tornam-se fenômenos sociológicos, constituindo a vida social. O
estudo sociológico deste mundo social deve analisar os processos pelos quais os
agentes determinam suas condutas, com base nas interpretações do mundo que os
rodeia.
Cabe salientar, tendo em vista Bazili et al (1998, p.48), que Mead
escreveu, no período de 1894 a 1931, aproximadamente sessenta artigos, em
muitas áreas, como: física, psicologia, sociologia, filosofia e outras. Já seus livros
somente foram publicados após a sua morte, fruto das anotações de seus ex-alunos,
particularmente, Charles Morris, editando e prefaciando: Mind, Self and Society,
considerada a sua principal obra. É nela que podem ser encontrados os
fundamentos das idéias propostas por Mead.
De acordo com Blumer (1969, p. 2), em última análise, o interacionismo
simbólico possui três premissas básicas: a primeira premissa é que o ser humano
age com relação às coisas a partir do sentido que essas mesmas coisas têm para
ele e, incluem: seres humanos, objetos, instituições e outras situações encontradas
na vida cotidiana; a segunda premissa é que o significado de cada coisa é derivado,
ou surge, da interação social que alguém estabelece com os seus companheiros; a
terceira premissa é que esses significados são manipulados e modificados tendo em
vista um processo interpretativo usado pela pessoa ao tratar das coisas com que ela
se depara.
O autor (op. cit, p. 3) ainda comenta que ao contrário do encontrado em
outras abordagens, o interacionismo simbólico dá uma importância fundamental ao
sentido que as coisas têm para o comportamento humano. Além disso, também se
37
diferencia por entender o sentido como emergindo do processo de interação entre as
pessoas.
É importante ter em mente que o interacionismo simbólico dá lugar teórico
ao agente social, colocando-o como intérprete do mundo que o rodeia e, por
conseguinte, pondo em prática métodos de pesquisa, priorizando os pontos de vista
dos agentes. O objetivo do emprego desse referencial é levantar as significações
que os agentes definem na prática para a construção de seu mundo social.
Compreendo dessa forma, que esses conceitos levam ao entendimento do
que seja interação social, isto é, as pessoas são vistas como agentes sociais que se
relacionam e se interpretam um ao outro. A interação social é marcada pela ação
social. As pessoas agem de acordo com a forma de sua interpretação da situação. A
interação simbólica envolve a interpretação e a comunicação, ocorrendo entre as
pessoas envolvidas.
Nessa discussão, pensando agora em alguns aspectos importantes para a
compreensão do interacionismo simbólico, de acordo com Blumer (1969, p.6), a
sociedade humana é representada por pessoas que interagem. Assim, os grupos
humanos existem em ação e, por conseguinte, devem ser vistos em termos de ação.
A vida do grupo implica em interação entre os membros do grupo, isto é, a
sociedade consiste em indivíduos interagindo uns com os outros.
Para Mead (1962, p.230), o organismo social se fundamenta na atividade
cooperativa. Ocorre a associação humana quando cada ator individual percebe a
intenção das atitudes dos outros e, então constrói a sua própria resposta, tendo em
vista a intenção percebida. Para ocorrer cooperação entre os seres humanos, é
necessário que alguns mecanismos estejam de fato presentes, de forma que cada
38
agente social possa compreender as ações dos outros; e assim, direcionar o seu
próprio comportamento a partir dessas linhas de ações.
Considerando Bazilli et al (1998, p. 33-34), a sociedade pode ser
compreendida como um tecido de comunicação. Na perspectiva da interação
simbólica não é possível entender o homem sem a sociedade e vice-versa. Os dois
nascem da unidade simbólica da interação. Isso significa a impossibilidade de
explicar um sem a existência do outro. Ao mesmo tempo, marca a necessidade da
busca pelo entendimento de ambos, mediante a interação e as resultantes
simbólicas.
Em consonância, Blumer (1969, p.82) refere que a sociedade humana é
composta de indivíduos que têm selfs (eles fazem indicações para si mesmos). A
ação individual é construída. A ação grupal ou coletiva consiste no alinhamento de
ações individuais, a partir das interpretações que os indivíduos fazem com relação
às ações dos outros. A sociedade deve ser compreendida como versando de
pessoas em ação, por conseguinte, a vida da sociedade como sendo caracterizada
por suas ações. As unidades atuantes podem ser indivíduos separados, ou ainda, a
coletividade, tendo em vista a ação conjunta de seus membros.
O autor (op. cit, p. 85) também aponta que a ação comum ocorre de
acordo com o lugar e com a situação. Toda unidade de ação: indivíduo, família,
instituição, entre outros, é realizada tendo em vista uma situação específica. A ação
é construída através da interpretação da situação, consistindo na vida grupal de
unidades de ação, haja vista o desenvolvimento de ações para enfrentar a realidade
a qual estão inseridas.
Sobre a concepção do homem, Bazilli et al (1998, p. 34-35) afirmam que,
no interacionismo simbólico, permanece uma concepção otimista de homem ativo e,
39
também, mentalizado. Um homem cognoscente, pensante, que mantém uma
conversa interna e externa, por meio de símbolos. Em geral, a idéia de homem
estaria pautada nas seguintes características: possui uma mente que pode escolher
o curso de ação na tentativa de resolução dos problemas; o conteúdo das escolhas
pauta-se na experiência subjetiva da pessoa; o comportamento do homem mantém
um grau de indeterminação, não sendo possível definir e predizer totalmente como
ocorrerá no decorrer da interação; o homem constrói a interação social no próprio
processo da interação; a experiência subjetiva integra o comportamento.
No que se refere à mente, Mead (1962, p. 47-48) afirma que se trata de
um processo o qual se manifesta quando o indivíduo interage consigo mesmo,
usando símbolos significantes. O autor considera fundamental a questão fisiológica
do organismo, para o desenvolvimento da mente. É através dela que a gênese da
mente torna-se possível, tendo em vista os processos sociais de experiência e
comportamentos, a partir de interações e relações sociais.
Ainda para o autor (op. cit, p. 49-50), a significância ou sentido tem origem
social. A mente é social tanto em sua origem como em sua função, pois surge do
processo de comunicação. Assim, o organismo humano seleciona os estímulos que
são relevantes para as suas necessidades e para os seus desejos, rejeitando outros
que ele considera irrelevantes. Todo comportamento associa-se em uma percepção
seletiva de situações. Sendo assim, a percepção não pode ser concebida como uma
mera impressão de alguma coisa exterior ao indivíduo.
No que se refere à interação social, para Bazilli et al (1998, p. 35):
A interação é o espaço, a unidade que possibilita o self e a sociedade, por meio da interação e da simbolização, se gerem ambos, se mantenham ou mudem permanentemente. A interação social é, pois, o que possibilita uma ‘realidade negociada’, um dos postulados básicos do interacionismo simbólico.
40
A respeito do processo de socialização, os autores (op. cit, p. 36) dizem
que, quando fazemos parte de um grupo novo, de alguma forma de organização de
caráter social, de novos padrões de interação, bem como quando é desejada
alguma forma de transformação ou mudança social, inicia-se um processo de
socialização para criar e delimitar os símbolos dessa interação. Assim, uma pessoa
é considerada socializada, em parte, pelo fato de responder às expectativas das
outras pessoas e na experimentação de papéis no processo geral da interação,
portanto, tratando-se de um processo de socialização. Esta socialização é um
processo contínuo que ocorre ao longo de toda a vida.
No que se refere ao conceito de significado, esses mesmos autores (op.
cit, p. 37-38) enfocam que é, de fato, um entendimento fundamental na conceituação
do interacionismo simbólico. Logo, para o interacionismo, o significado é produto da
interação social, sendo direcionado e modelado por ela. Ao mesmo tempo, também
é entendido como sendo uma entidade independente, modelando o curso da
interação. Quer dizer, o significado está diretamente associado ao ato, que se dá na
interação.
Continuando a discussão, concordo com os autores (op. cit, p. 38) quando
dizem que é preciso refletir sobre os símbolos e os significantes, já que estes
permeiam o processo de interação, podendo ser compreendidos como produto da
forma como as pessoas reagem aos símbolos considerando os seus significados,
que elas entendem como possibilidades para o seu próprio comportamento, e
também, para o comportamento dos outros.
Sobre o self, é importante apresentar que, de acordo com Mead (1962,
p.194-196), ele representa um processo social no interior do indivíduo envolvendo
41
duas fases: o eu e o mim13. Dessa maneira, o mim é representado pelo outro
presente no indivíduo, compreendendo o conjunto organizado de atitudes comuns
ao grupo. O mim, portanto, sendo entendido como o outro generalizado. Enquanto
que, o eu é a tendência espontânea e desorganizada da experiência.
Em consonância, Blumer (1969, p.12) discorre que, para ser capaz de
interagir, o ser humano conta com o self. Não responde apenas aos outros, mas a si
mesmo, ou seja, o ser humano como objeto de suas próprias ações. Com o intuito
de tornar-se um objeto, a pessoa deve ver-se a si mesmo de fora, colocando-se no
papel dos outros.
Bazilli et al (op. cit, p. 40-41) refere o self como sendo uma entidade
social, gerada e mantida, considerando o processo interativo; auto-reflexiva,
associada ao pensamento, voltada para a resolução de problemas; a partir de uma
realidade fenomênica, sem localização física ou biológica; como opções múltiplas de
aparecer na interação social; e ainda, composta de duas fases que são o eu e o
mim.
Haguette apud Mead (1999, p. 29), refere que:
Ao afirmar que o ser humano possui um self, Mead quer, enfatizar que, da mesma forma que o individuo age socialmente com relação a outras pessoas, ele interage socialmente consigo mesmo. Ele pode tornar-se o objeto de suas próprias ações. O self, assim como outros objetos, é formado através das ‘definições’ feitas por outros que servirão de referencial para que ele possa ver-se a si mesmo.
Retomando as reflexões de Bazilli et al (1998, p.60), a comunicação
proporciona a expressão de parte do self. A comunicação permite a representação
do pensamento e do sentimento, porém não em sua totalidade. Algumas vezes, a
atenção volta-se para essa totalidade, num tipo de conversa interna, que é então,
13 Grifos da autora.
42
traduzida em uma conversa externa, quando se elucida o que, de fato, se deseja e
se quer.
Para esclarecer a diferença entre self e os objetos do meio e do próprio
corpo, os autores (op. cit, p.60-61) com base em Mead (1972), acrescentam que a
consciência pode ser dividida em consciência da experiência imediata e consciência
da experiência reflexiva, associada à forma com que o indivíduo organiza a sua
própria experiência.
Ainda para os autores (op. cit, p. 61-62), a maior parte das reações
habituais do organismo está baseada na experiência imediata, isto é, essas
experiências relacionam-se às atividades que não exigem o pensamento complexo,
como, por exemplo, tomar banho e trocar de roupa. Já o processo envolvido na
consciência reflexiva, pode ser compreendido como um movimento do particular
organizado e reorganizado, a partir do coletivo. Da mesma forma que o indivíduo é
transformado, também tem o potencial de transformar o outro e a sociedade como
um todo. Está então associada à natureza social do self, bem como a noção de
subjetividade.
Para Charon (1989), quando o indivíduo volta-se para a compreensão da
razão para a ação dos outros e alinha a sua razão àquela identificada, reitera o fluxo
da ação humana, porque um ato desencadeia outro, tendo como baliza as decisões
tomadas. Esse fluxo permite interpretar o que o ser humano é, pelo que faz, já que a
definição da situação encaminha o curso da ação. A tomada de consciência tendo
em vista as interações é uma qualidade interdependente da capacidade de assumir
o papel do outro. Atividade esta muito importante para a mente, no sentido de viver a
sua própria perspectiva e assumir a perspectiva do outro.
43
Ainda para esse mesmo autor (op. cit.), os conceitos para o interacionismo
simbólico surgem da interação, são parte dela e permitem o entendimento de sua
natureza, isto é, quando interagimos somos objetos sociais uns para os outros.
Usamos símbolos, direcionamos o self, tomamos decisões, visualizamos
possibilidades e perspectivas, definimos realidades e assumimos o papel do outro.
À luz do mesmo autor (op. cit.), quatro aspectos decorrentes dessa
abordagem precisam ser enfatizados: o interacionismo simbólico possibilita uma
imagem mais ativa do ser humano e não sublinha a imagem deste como um ser de
passividade; os indivíduos interagem e a sociedade se destaca, exatamente por ser
definida no bojo dessa interação; o ser humano é compreendido como ser que se
manifesta no presente, não somente baseado em experiências passadas, mas
também considerando o que está acontecendo no agora. A interação acontece
nesse momento.
A interação não é apenas o que acontece entre as pessoas, haja vista que
também é representada por aquilo que acontece dentro das pessoas. Embora as
situações possam ser definidas e influenciadas por aqueles com quem interagimos,
ela é também resultado de nossa própria interação, isto é, considerando uma
consciência auto-reflexiva, pois, para o interacionismo, o ser humano é livre naquilo
que faz e em suas escolhas, bem como, pode participar da definição do mundo
social, envolvendo: o escolher consciente, a direção tomada frente às situações
vividas, a identificação de ações e o redirecionamento destas.
Corroborando com o apresentado, a partir das idéias expressas por
Haguette (1999, p.57-58), destaco do interacionismo simbólico que:
- A sociedade é entendida como uma entidade composta de indivíduos,
tendo como fundamento o compartilhar de sentidos, a partir de expectativas e
44
compreensões comuns; o processo de interação é dinâmico, variando tendo em
vista as diferentes realidades enfrentadas pelos indivíduos; a sociedade é, portanto,
constituída de pessoas em ação; é através do processo interativo que se estabelece
à vida em grupo, em que pese à criação de regras, que podem ser mantidas ou
modificadas.
- A ação grupal ou coletiva compreende unidades de ação, no que se
refere ao enfrentamento de situações na qual estão inseridas. Estas, percebidas de
forma seletiva, a partir dos sentidos que as coisas fazem para aquela unidade de
ação, e que são conseqüência da interação. A vida em grupo representa um
processo de formação, sustentação e transformação dos objetos, os quais se
modificam através da interação, interferindo no mundo das pessoas.
- O ser humano age com relação às coisas tendo como base os sentidos
que elas têm para o mesmo. Os sentidos são manipulados tendo em vista a
interpretação, onde existe a interação dos indivíduos consigo próprios usando os
símbolos significantes. Para compreender o sentido das ações das pessoas, é
importante que exista interação entre as partes. Da mesma forma, os indivíduos se
percebem a partir da forma como os outros o vêem, elaborando as suas próprias
definições da situação, que vão permear e influenciar a forma como conduz a sua
vida.
- A realidade existe apenas na experiência humana, isto é, são os
aspectos objetivos e subjetivos observáveis que compõem a realidade concreta. Ela
aparece a partir da forma como os seres humanos vêem o mundo.
45
Portanto, na perspectiva interacionista14, foi possível refletir sobre a
situação estudada, associando o referencial teórico ao objeto proposto na tese, em
que se destaque:
O enfermeiro iniciante ou novato age, em relação ao enfrentamento do
conhecimento novo, em setores especializados, baseado-se no significado do que o
novo, nessa situação, tem para ele;
O significado dado ao conhecimento novo pelo enfermeiro, é
conseqüência da interação com os elementos significativos da experiência
fenomênica na situação vivenciada;
O significado atribuído ao conhecimento novo também sofre a influência
da consciência reflexiva, na qual o enfermeiro utiliza um processo interno de auto-
reflexão para interpretar as suas ações e as ações das outras pessoas,
relacionando-as nas interações que vão sendo estabelecidas;
O enfermeiro carrega consigo expressões, valores, crenças e
sentimentos, que influenciam na trajetória dos significados das interações para todos
os envolvidos, tendo em vista a situação do enfrentamento do conhecimento novo;
Os atributos relacionados ao enfrentamento do conhecimento novo são
simbólicos, interferindo na forma de posicionamento frente à realidade.
14 Grifo da autora, para enfatizar que as reflexões estão ancoradas nas proposições interacionistas. A manutenção do destaque da autora nos itens relacionados faz referência direta às expressões marcantes do interacionismo simbólico.
46
O interacionismo é, por conseguinte ao delineado, uma ferramenta teórica
que permite o entendimento do fenômeno de uma forma mais abrangente, revelando
o significado que os enfermeiros atribuem para o enfrentamento do conhecimento
novo.
Assim, em busca de fornecer apoio teórico para a Teoria Fundamentada
nos Dados15, o Interacionismo Simbólico, a partir de suas idéias, vem ajudando na
compreensão da simbologia expressa pelos agentes sociais, no que tange à
proposição da Teoria ao final do estudo.
15 Será com detalhes abordada no capítulo que segue.
47
CAPÍTULO III
TRILHANDO NOVOS CAMINHOS METODOLÓGICOS
Ao introduzir a questão do método, costumamos lembrar que a
palavra deriva do latim methodus, significando caminho através do qual se procura chegar a algo ou um modo de fazer algo (TURATO, 2003, p. 149).
A escolha por um referencial metodológico foi um dos mais importantes
desafios deste estudo, haja vista a busca por uma proposta inovadora que
valorizasse, ao máximo, a experiência do enfermeiro, no enfrentamento do
conhecimento novo. Assim sendo, optei pela abordagem qualitativa, tendo como
método à “Grounded Theory”, em português, traduzida como Teoria Fundamentada
nos Dados (TFD).
Além disso, após refletir sobre muitos métodos de pesquisa e, portanto,
diferentes possibilidades metodológicas, pensei que a abordagem da TFD poderia
ser bastante apropriada para este estudo, porque busca entender com profundidade,
através de uma análise sistemática, os processos nos quais estão acontecendo os
fenômenos.
Segundo Strauss e Corbin (1990, p.24), a TFD é uma pesquisa qualitativa
que utiliza um método sistemático, com a finalidade de construir uma Teoria, com
base nos dados investigados, para elucidar um determinado fenômeno presente na
realidade. Foi desenvolvida por dois sociólogos, Barney G. Glaser e Anselm L.
Strauss.
De acordo com os autores (op.cit, p.24-25), Anselm Strauss tem a sua
origem na Escola de Chicago, marcada por uma importante tradição em pesquisa
qualitativa e, não obstante isso, também tendo sido fortemente influenciado pelo
48
Interacionismo Simbólico16. Strauss foi inspirado por estudiosos como: Robert E.
Park, W. I. Thomas, John Dewey, G. H. Mead, Everett Hughes, e Herbert Blumer.
Enquanto que Glaser tem a sua origem na Universidade de Columbia, tendo sido
influenciado por Paul Lazarsfeld, estudioso de métodos quantitativos. Ambas
Chicago e Columbia trabalhavam para o desenvolvimento de pesquisas qualitativas
voltadas para o desenvolvimento de teorias, por essa razão, muito dos escritos da
TFD emergiram da colaboração entre Glaser e Strauss, incluindo a monografia
original.
Corroborando com o exposto, Polit, Beck e Hungler (2004, p.208-209),
referem que a TFD foi desenvolvida por volta de 1960, com raízes teóricas no
Interacionismo Simbólico, que se preocupa com o estudo dos processos e estruturas
sociais, bem como a maneira pela qual as pessoas dão sentido às interações sociais
e às interpretações que atribuem aos símbolos sociais. O enfoque é a evolução da
experiência social. A finalidade essencial é gerar explicações abrangentes dos
fenômenos fundamentadas na realidade.
De acordo com Cassiani, Caliri e Pelá (1996, p.76), a TFD poderia ser
compreendida como uma variante dentro do interacionismo simbólico que também
poderia incluir a etnografia. Dessa maneira, ficam elucidadas, as suas raízes,
voltadas, segundo a perspectiva do interacionismo simbólico, em face da
importância dada ao conhecimento acerca da percepção ou do significado que estão
determinados na situação estudada.
Ainda sobre as origens da TFD, Santos e Nóbrega (2002, p. 576)
afirmam que:
...Strauss foi influenciado pelo interacionismo simbólico e pelos trabalhos de W. I. Thomas, G. H. Mead e Herbert Blumer. Glaser, a partir de uma perspectiva mais teórico-quantitativa,
16 Apresentado no capítulo anterior.
49
desenvolveu uma apreciação para o pensamento reflexivo, métodos sistemáticos de categorização e generalizações teóricas. Nesse aspecto, recebeu a influência do interacionismo simbólico na compreensão da realidade social.
Sobre a questão da construção de uma teoria, Cassiani, Caliri e Pelá
(1996, p.78), descrevem que conhecida como uma abordagem, ou ainda, como um
método, trata a TFD de um modo característico e peculiar de construir uma teoria a
partir dos dados. Isso através da análise qualitativa podendo trazer conhecimentos
novos para a área do fenômeno.
Assim, a TFD é uma metodologia qualitativa eminentemente de campo,
que tem como finalidade gerar constructos teóricos que explicam uma dada ação
contextualizada socialmente. O investigador procura processos que estão
acontecendo na cena social, considerando a importância dos agentes sociais,
partindo de uma gama de possibilidades em termos de hipóteses que, unidas e
articuladas, podem explicar o fenômeno.
Penso que seja interessante acrescentar, ainda à luz dos pensamentos de
Cassiani, Caliri e Pelá (1996, p.79) que a TFD está assentada nos dados, conforme
referido anteriormente, não em um corpo dado de teoria, embora possa abarcar
outras teorias, não se propondo a questionar, mas sim acrescentar novas
possibilidades teóricas, que possam ajudar na compreensão da realidade estudada.
Reafirmo o exposto, em consonância com Santos e Nóbrega (2002, p.
576), que referem:
O propósito da grounded theory é a construção de uma teoria com base nos dados investigados em um determinado objeto da realidade que são obtidos de maneira indutiva e dedutiva. Em seguida, esses dados são firmados em categorias conceituais que, ao serem estabelecidas, podem explicar o fenômeno. Os comportamentos são estudados ao nível simbólico e interacional e devem ser observados no ambiente, tendo em vista que os significados são derivados da interação social.
50
Bettinelli (2002, p. 34) acrescenta que as teorias geradas podem ser
consideradas formais ou substantivas, sendo que estas são desenvolvidas em áreas
de pesquisa empírica. As formais existem no nível conceitual de interrogação,
explicando um dado processo que transcende e deriva de várias teorias
substantivas.
Ainda para melhor entendimento do que seja Teoria, Trentini (987, p.135-
136), diz:
Em situações diárias, o termo teoria é, geralmente, usado para designar uma crença ou uma idéia. Teoria é também um termo popularmente usado para denominar o oposto à prática. (...) O termo teoria tem também uma outra conotação a qual designa a teoria como sendo um componente do conhecimento científico. Dentro desta concepção, teoria é caracterizada pela sua construção, a qual requer o uso de um método próprio.
A mesma autora (op. cit, p. 138) discorre sobre os níveis de teoria,
destacando que existem diferenças entre elas. O primeiro nível de teoria seria a
meta-teoria, que trata de assuntos filosóficos e metodológicos. Na enfermagem,
consistiriam em teorias em torno da enfermagem enquanto ciência e da necessidade
e estratégias de desenvolvimento de teorias de enfermagem. O segundo nível de
teoria seria aquela considerada de grande porte. Esta apresenta maneiras globais de
entender um fenômeno e oferece perspectivas para a prática de um modo
abrangente. O terceiro nível seria a teoria de médio porte, que é mais limitada
considerando a sua abrangência do que as teorias de grande porte. O quarto nível
consiste na teoria de pequeno porte, menos ainda abrangente.
Trentini (op. cit.) também suscita que:
Uma teoria de grande porte como, por exemplo, a teoria de enfermagem de Roy, descreve e explica o fenômeno de enfermagem, e como o conceito de enfermagem é amplo, esta teoria pode ser aplicada a qualquer sub-área da enfermagem e para qualquer assistência de enfermagem. Uma teoria de médio porte, como, por exemplo, à teoria do stress de Selye, é menos abrangente do que a teoria da enfermagem de Roy, isto porque só é aplicada à situação de stress.
51
Além disso, sobre os mecanismos de indução e de dedução, de acordo
com Rudio (1986, p.12-13): a indução consiste em uma operação mental em que a
partir de fatos observados na realidade empírica, chega-se a uma proposição geral,
que é uma condensação de conhecimento, determinando como os fatos acontecem
e são regidos. Enquanto que a dedução é uma forma de raciocínio em que se parte
dos princípios para conseqüências lógicas, ou seja, do geral para o menos geral ou
particular.
Para Santos e Nóbrega (2002, p. 576) a Grounded Theory fornece
explicações de como os eventos ocorrem e, dessa maneira, ajudam os enfermeiros
a explorarem os dados com maior riqueza e em contextos relativamente
desconhecidos, permitindo o entendimento interpretativo do que estão fazendo.
No que tange à epistemologia do saber da enfermagem, cabe enfocar
considerando as autoras (op. cit.), que o saber requer o entendimento da prática, já
que a enfermagem baseia-se nela, de tal forma, que o conhecimento deve alcançar
desde a vivência do enfermeiro até uma construção sistemática do conhecimento.
Desse modo, surge assim a reflexão, de que a Grounded Theory estaria voltada
para o conhecimento da percepção ou do significado que um objeto tem para o
outro, portanto, trata-se de um modo de pesquisa interpretativa.
A teoria, tendo em vista os lineamentos de Reiners (1998, p. 371), é
construída “a partir de conceitos indicados pelos dados (categorias) e através de
relações hipotéticas feitas entre eles”. Sendo assim, as categorias são reveladas a
partir da visão real dos sujeitos envolvidos no estudo, não sendo baseadas em
questões preestabelecidas e fechadas.
Para tanto, na TFD é necessário que o pesquisador esteja sensível aos
dados, evitando o que é considerado óbvio, aberto a novas possibilidades,
52
considerando a compreensão da realidade, dando margem a movimentos de
perspicácia, imaginação e criatividade, não perdendo o cuidado com a manutenção
do rigor metodológico, a despeito disso, a cientificidade, que é então exigida.
Strauss e Corbin (1990, p. 41-42) referem que a TFD exige sensibilidade
teórica, ou seja, uma qualidade pessoal do pesquisador, que pode ser desenvolvida
durante o próprio processo de pesquisa. Pode ser entendida como uma capacidade
do pesquisador em ter idéias, que os mesmos chamam de “insight”, dando
significado aos dados. Além disso, destaque para a capacidade de entendimento,
separando o que é pertinente, daquilo que não é. O pesquisador consegue, portanto,
a partir de uma profunda análise dos dados, compreender aquilo que existe na
realidade, com base na experiência dos pesquisados.
Para os mesmos autores (op. cit, p. 42-43), a sensibilidade teórica é
desenvolvida considerando alguns aspectos, como: o conhecimento de literaturas,
que inclui teorias, pesquisas e diversos outros tipos de documentos, propiciando
uma visão mais abrangente das coisas, o que chamam de ”backgrounded”; a
experiência profissional, em que pese o conhecimento adquirido e apreendido
relacionado a esta; e ainda, a experiência pessoal, como sendo também uma
importante fonte de sensibilidade.
Quanto à amostragem teórica, de acordo com Glaser e Strauss (1967,
p.35), é o tipo de coleta de dados utilizada na TFD. Nela o investigador coleta,
codifica e analisa os dados, decidindo quais deverão coletar a seguir, assim como,
onde encontrá-los. A intenção desse tipo de amostragem é selecionar incidentes
que possam ajudar no desenvolvimento das categorias, haja vista a manifestação
através dos dados. Os autores explicam que, o procedimento de amostragem
53
teórica deve ter um caráter contínuo, até que os dados comecem a se repetir, ao
que denominam de saturação teórica.
No que se refere à coleta de dados empíricos17 na TFD, optei como
instrumentos para apreensão dos fenômenos: a observação, que considero ser vital,
corroborando com as premissas levantadas pelo interacionismo simbólico; e a
entrevista semi-estruturada, a partir de uma proposta de interação em profundidade.
De acordo com Lacerda (2000, p.38), na TFD, os dados:
Podem ser coletados segundo técnicas de entrevistas e métodos observacionais. Dados adicionais podem advir de documentos e publicações e são examinados e analisados conforme um sistema de constante e exaustiva comparação.
A respeito da observação, optei pela participante assistemática, já que
possibilita, consideravelmente, a compreensão da realidade através do contato
pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, bem como, a
exaustiva busca de informações, o que representa uma série de vantagens para a
pesquisa, até mesmo quando da necessidade de compreensão de informações
resultantes das entrevistas.
De acordo com Mazzotti & Gewandsznajder (2002, p.166-167), uma das
formas de excelência utilizada na pesquisa qualitativa é a observação participante.
Nela o pesquisador se torna uma parte da situação observada, interagindo com os
agentes sociais, por um longo tempo, com a finalidade de partilhar o seu cotidiano,
para sentir o que significa estar naquela realidade. Existe, portanto, uma valorização
do instrumental humano e, por isso, é comum a afirmação, de que o pesquisador
deve buscar na sua própria pessoa, o instrumento mais confiável, em termos da:
observação, seleção e, como não poderia ser, a interpretação da realidade.
Para as mesmas autoras (op.cit, p.164):
17 A coleta em si será apresentada no Capítulo: Realizando a Pesquisa.
54
As seguintes vantagens costumam ser atribuídas à
observação: a) independe do nível de conhecimento ou da capacidade verbal dos sujeitos; b)permite, ‘checar’ na prática, a sinceridade de certas respostas que, às vezes, são dadas só para ‘causar boa impressão’; c) permite identificar comportamentos não-intencionais ou inconscientes e explorar tópicos que os informantes não se sentem à vontade para discutir; e d) permite o registro do comportamento sem seu contexto temporal-espacial.
Entendo que a razão da utilização da observação na perspectiva
interacionistas, diz respeito, que toda organização da sociedade está assentada nos
sentidos, nas definições e nas ações que os indivíduos elaboram durante a interação
simbólica. Existe uma busca pela aproximação, não apenas considerando o que é
externalizado, mas percebendo os processos subjetivos.
É preciso destacar que foi utilizado como instrumento básico da
observação participante, o diário de campo, subsidiando as anotações de campo.
Logo, todas as vezes que realizo a observação participante assistemática, no
mesmo dia descrevo os achados, com a finalidade de contemplar a realidade de
forma mais abrangente possível.
No que tange às anotações de campo, segundo Polit; Beck; Hungler
(2004, p.268):
As anotações de campo podem ser categorizadas de acordo com sua finalidade. As anotações são descrições objetivas de eventos e conversas; as informações como o tempo, o lugar, a atividade e o diálogo são registrados de maneira tão completa quanto possível.
Essas definições revelam que as anotações de campo consistem,
fundamentalmente, na descrição, por escrito, de todas as manifestações (verbais,
corporais, ações, atitudes, entre outras) que o pesquisador observa. Além de
descrever, também, as circunstâncias físicas que se considerem necessárias e que
rodeiam os agentes sociais.
Sobre a entrevista, corroborando com Cassiani, Caliri e Pelá (1996, p.79):
55
Na entrevista não estruturada, não padronizada ou não estandardizada o entrevistador nem sempre tenta obter o mesmo tipo de resposta usando o mesmo tipo de pergunta. Tem sido referida como entrevista em profundidade, intensiva ou então denominada entrevista qualitativa. O propósito é obter as informações com as próprias palavras dos respondentes, obter descrição das situações e elucidar os detalhes.
Dessa forma, de acordo com Lüdke & André (1986, p.33), a entrevista
representa um dos instrumentos básicos para a coleta de dados. Ainda destacam
que, mais do que outros instrumentos de pesquisa, que em geral estabelecem uma
relação hierárquica entre o pesquisador e o pesquisado, como na aplicação de
questionários ou de técnicas projetivas, na entrevista a relação que se firma é de
interação, havendo uma atmosfera de influência recíproca entre o pesquisador e o
informante.
Triviños (1981, p.146) refere que:
...é aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses que interessam à pesquisa e que em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante.
Tem-se, portanto, um instrumento de coleta com grande margem de
flexibilidade, no que diz respeito aos dados a recolher, pelo que são basicamente
qualitativos. Os entrevistados são assim encorajados a expressar as suas opiniões e
sentimentos, sobre o assunto em investigação. A entrevista em profundidade
também pode ser definida como uma entrevista pessoal, no qual se investiga, de
uma forma exaustiva, numa única pessoa, sentimentos ou opiniões detalhadas sobre
um determinado assunto, permitindo também avaliar os comportamentos e/ou as
reações pessoais do inquirido.
Quanto aos procedimentos de codificação, Strauss e Corbin (1990, p.62)
dizem tratar-se do procedimento através do qual os dados são divididos,
examinados e comparados tendo em vista similaridades e diferenças, a partir das
56
questões de pesquisa acerca do fenômeno. Dois processos de análise são básicos
para a codificação na TFD: o primeiro associado às comparações constantes,
“making of comparisons”; e o outro relacionado ao processo de perguntas aos
achados, “asking of questions”. De fato, a TFD, freqüentemente, tem sido referida na
literatura, como sendo um método de análise que envolve a comparação constante
dos dados, “the constant comparative method of analysis”.
Corroborando com o apresentado, Santos e Nóbrega (2002, p.576)
referem que na TFD a coleta e análise dos dados são realizadas simultaneamente. A
pesquisa possui uma dinâmica, na qual durante o estudo existe uma preocupação
com a revisão dos questionamentos e com a busca de situações que estão
ocorrendo no cenário social. É importante suscitar que a comparação é contínua até
a saturação, ou seja, quando a coleta de dados já não tem como resultado novas
informações.
Durante a coleta de dados, é iniciado o processo de codificação. De
acordo com Strauss e Corbin (1990, p. 63), inicia-se então a codificação aberta, que
consiste em comparações constantes, haja vista incidentes com incidentes. Ocorre a
codificação de cada dado ou evento, com uma busca de diferenças e similaridades,
que possam ser representativos do fenômeno. Nesta fase, são codificados muitos
dados, que recebem especificações considerando os seus significados. Algumas
perguntas são então realizadas: O que é isso? O que representa?
Para os autores (op. cit, p. 77), devem ser realizadas perguntas pelo
pesquisador para melhor compreensão dos dados. Certas questões gerais podem
ser então bem empregadas, estimulando uma série de outras questões mais
específicas, as quais conduzem ao desenvolvimento de categorias, propriedades e,
por conseguinte, a melhor apreensão de suas dimensões. Logo, as questões
57
básicas são: O quê? Quando? Quem? Onde? Como? De que forma? Quanto?
Dentre outras possibilidades.
São apontados pelos autores (op.cit, p.76-77) alguns cuidados para a
garantia na confiabilidade dos dados, como: estimular processos dedutivos e
indutivos; permitir o esclarecimento dos significados a partir das pessoas que geram
e aparecem nos dados; ingadar os dados, percebendo as respostas provisórias,
assim, permitindo compreensões frutíferas, ainda que, sejam posteriormente
substituídas; permitir a elucidação de possíveis conceitos a partir das experiências
dos pesquisados; dentre outros aspectos.
O rigor e a criatividade são fatores singulares para esta teoria, já que os
procedimentos analíticos foram criados para garantir o primeiro, e a criatividade é
imprescindível para fazer emergir novas possibilidades teóricas, a partir de dados
empíricos, desde que o pesquisador tenha sensibilidade para realizar perguntas
pertinentes aos dados e extrair novos insigths do fenômeno e novas formulações
teóricas.
É necessário manter um equilíbrio entre estes dois elementos, o que
requer: questionar continuamente os dados empíricos para certificar-se que são
informações adequadas para pensar o fenômeno e não percepções particulares,
preconcebidas; manter uma atitude cética, garantindo o caráter provisório das
análises e conclusões, não aceitando os dados como um fato; alternar
constantemente coleta de dados com análise, o que possibilita a verificação
freqüente das hipóteses de trabalho, na medida em que vão se desenvolvendo.
Cassiani, Caliri e Pelá (1996, p. 80) afirmam:
O investigador codifica os incidentes em tantas categorias quanto possível. Todos os dados são passíveis, neste momento, de uma codificação. A codificação é o processo em que os dados são codificados, comparados com outros dados e designados em categorias.
58
Segundo Strauss e Corbin (1990, p.67-68), um nome abstrato é escolhido
para representar os agrupamentos de dados, que tenham alguma semelhança. À
medida que são interpretados, os dados podem ser entendidos como categorias.
Ocorre, portanto uma redução significativa do número de unidades de análise. As
categorias podem sofrer alteração em seus nomes, a partir das observações e das
entrevistas que são realizadas, considerando as comparações contínuas. Sendo
assim, quando é percebido um nome mais adequado e representativo da
experiência, pode ocorrer à alteração.
Strauss e Corbin (1990, p. 198) referem que podem ser gerados alguns
memorandos (ou memos), uma forma especializada de registro, que contém os
produtos da análise contínua do pesquisador. São entendidos como o registro das
abstrações com relação aos achados nos dados, permitindo maior reflexão sobre o
fenômeno e favorecendo a compreensão aprofundada do estudo. Além disso, os
autores comentam que existem vários tipos de memorandos.
Em consonância, Santos e Nóbrega discorrem (2002, p. 577):
Assim, as informações devem ser registradas em pequenas anotações ou memorandos, frases, palavras, gestos. Isso ocorre até mesmo com a impressão demonstrada pelo entrevistado no momento em que acontece a entrevista. Todos os registros são organizados obedecendo às recomendações metodológicas propostas por Schatzman e Strauss (1973), constituindo de notas de observação (NO), notas metodológicas (NM) e notas teóricas (NT).
Entendendo os memorandos, Polit, Beck e Hungler (2003, p. 367) afirmam
que, ao longo da codificação e do processo analítico, os investigadores buscam a
documentação de suas idéias sobre os dados e as possíveis articulações. Os
memorandos fazem a manutenção de idéias, que inicialmente poderiam parecer não
produtivas e descoladas do estudo, mas que com o desenvolvimento da pesquisa,
59
tornam-se valiosas. De fato, encorajam o pesquisador a refletir sobre os dados,
pensando a relação entre eles.
De acordo com Strauss e Corbin (1990, p. 97), segue então a codificação
axial, em que são estabelecidas as conexões entre categorias e subcategorias,
tendo em vista os dados coletados, considerando o chamado modelo paradigma,
com o intuito de aprofundar a emergente teoria. Tal paradigma estabelece uma
relação entre as categorias, envolvendo, respectivamente: causa, fenômeno,
contexto, condições intervenientes, estratégias de ação-interação e conseqüências.
Essas são denominadas de conexões teóricas.
Trezza (2002, p.28) refere, que a codificação axial é realizada através dos
seguintes procedimentos: redução, momento em que são comparadas as várias
categorias, com a finalidade de identificar correlações e os elos entre elas,
tomando-se como base os novos dados que estão chegando; busca-se, então,
descobrir aquelas categorias que, de fato, são mais significativas, resultando na
redução do número de categorias; segue-se, à amostragem seletiva de dados, a
procura de dados complementares, coletados intencionalmente, com o intuito de
tornar densa a teoria, expandindo, dimensionando e limitando as propriedades das
principais categorias; e, finalmente, a amostragem seletiva da literatura, marcado
pelo processo de revisar a literatura haja vista os conceitos derivados da
categorização.
Assim, à luz de Strauss e Corbin (1990, p. 99-107), na TFD os
procedimentos de coleta e análise dos dados são desenvolvidos considerando “o
modelo paradigma”. Segue a sua estrutura: condições causais, termo que se refere
aos eventos ou incidentes que levam à ocorrência ou desenvolvimento de um dado
fenômeno; fenômeno ou idéia central, para os quais as interações são dirigidas;
60
contexto, que apresenta as especificidades pertencentes ao fenômeno, que
identificam a sua dimensão; condições intervenientes, as quais influenciam a ação-
interação e que pertencem ao fenômeno; estratégias de ação-interação, indicação
de como as pessoas reagem às condições causais, em um determinado contexto;
conseqüências, identificadas como resultados da ação-interação tendo em vista um
determinado fenômeno.
Cassiani, Caliri e Pelá (1996, p. 81) enfocam,
Nesse estágio um referencial conceitual tentativo é gerado usando os dados como referência. O investigador tenta descobrir o principal problema na cena social, do ponto de vista dos atores e participantes do estudo e como eles lidam com o problema. (...) A redução, procedimento realizado a seguir, é o processo indutivo de agrupamento dos códigos em categorias. Nele, as categorias já formadas são analisadas comparativamente, à luz dos novos dados que estão chegando, com o intuito de tentar identificar naquelas referentes as mais significativas. Esse processo reduz o número de categorias, pois estas se tornam mais organizadas.
Segue a próxima fase da TFD, em que as categorias são ainda mais
refinadas, sendo chamadas, por Strauss e Corbin (1990, p.116-119), de codificação
seletiva, isto é, a integração entre as categorias e as subcategorias, até a definição
da categoria central, que deve estar presente na maioria dos relatos. A categoria
central mantém coesa a Teoria. Nesse momento, um referencial conceitual será
proposto utilizando os achados.
Santos e Nóbrega (2002, p.578) suscitam que, quando essa etapa é então
atingida, busca-se inter-relacionar os fenômenos com as categorias representativas
e, a partir disso, desenvolver um modelo teórico representativo dessa experiência.
Trata-se de uma atividade de pura reflexão, em que pese à importância da
subjetividade do pesquisador, que precisa ir além dos dados, para descobrir os
pontos de ligação entre os diversos achados, possibilitando dessa maneira, uma
integração.
61
Sobre isso, Cassiani, Caliri e Pelá (1996, p. 83) complementam:
As colocações apresentadas evidenciam que a teoria fundamentada nos dados é um método de pesquisa qualitativa que utiliza alguns procedimentos para desenvolver indutivamente uma teoria derivada dos dados. Não pode ser considerado um processo simples para aqueles que iniciam seu estudo, entretanto é um referencial metodológico que fornece aos investigadores procedimentos para analisar os dados e o desenvolvimento de teorias ou referências teóricas úteis em várias disciplinas.
Nesse momento, cabe ainda destacar que, para melhor compreensão dos
dados, foram elaborados diagramas que, de acordo com Santos e Nóbrega (2002,
p.577), são representações gráficas utilizadas na TFD com intuito de visualizar as
relações entre os conceitos, que foram estabelecidos até esse momento. São, de
fato, mensagens visuais que pretendem facilitar o entendimento da realidade
investigada.
As precauções foram sendo tomadas para assegurar credibilidade ao
estudo, sendo isso muito enfatizado, no processo de orientação, em que pese à
importância de analisar os dados rigorosamente a partir das concepções da TFD,
tornando-os mais densos e integrados. Dessa forma, tenho efetivamente me
empenhado em manter a veracidade e validade dos dados, sendo essa uma grande
preocupação no desenvolvimento do estudo.
Foram respeitados os preceitos das Diretrizes e Normas
Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos, do Conselho
Nacional de Saúde, tendo em vista a Resolução n° 196/96. Esta incorpora, sob a
ótica do indivíduo e das coletividades, quatro referenciais básicos da bioética:
autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, entre outros, e visa assegurar
os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da
pesquisa e ao Estado. Ênfase no Consentimento livre e esclarecido, isto é, anuência
do sujeito da pesquisa, livre de vícios (simulação, fraude ou erro), dependência,
62
subordinação ou intimidação, após explicação completa e pormenorizada sobre a
natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais
riscos e o incômodo que esta possa acarretar, formulada em um termo de
consentimento, autorizando sua participação voluntária na pesquisa.
Considerando todos os aspectos apresentados, com base nos
pressupostos do interacionismo simbólico, compreendi que por meio da pesquisa
qualitativa, em uma abordagem peculiarmente interpretativa, especialmente marcada
pelo processo que envolve e direciona a TFD, seria possível alcançar os meus
objetivos. Isso, também, por ser o meu objeto de estudo bastante dinâmico, não
podendo ser investigado em uma condição estática e de isolamento do mundo
social. Além disso, preocupei-me no momento de minha escolha metodológica, em
optar por um caminho que propiciasse uma construção pautada na real experiência
do enfermeiro, no processo diário do desenvolvimento do seu trabalho, para que
pudesse entender o fenômeno proposto.
63
REVELANDO A INSTITUIÇÃO ESTUDADA
64
CAPÍTULO IV
REFLETINDO SOBRE O CONTEXTO:
O HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO E AS SUAS
ESPECIALIDADES
O contexto apresenta as especificidades das condições causais e do fenômeno (STRAUSS E CORBIN, 1990, p.101).
Neste capítulo, delinearei os aspectos expressivos do Hospital
Universitário Pedro Ernesto – HUPE, com destaque para as especialidades, por
conseguinte, levando à reflexão sobre os setores especializados, a partir dos dados
disponibilizados no Manual do Servidor de Enfermagem e no Site da Instituição18.
A escolha está pautada tendo em vista tratar-se de uma Instituição
pertencente à Universidade Estadual do Rio de Janeiro, referência em todo o
Estado, no que tange à formação na área de saúde e, que tem como missão: prestar
assistência integrada, humanizada e de excelência à saúde, sendo agente
transformador da sociedade através do ensino, pesquisa e extensão.
O Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) está localizado na
Cidade do Rio de Janeiro, mais especificamente no bairro da Vila Isabel, tendo sido
construído nos anos 30, século passado. A iniciativa foi do Médico Pedro Ernesto
Rego Batista, justificando o nome da instituição, que era interventor da antiga capital
da República (1931-1936), nomeado pelo então Presidente Getúlio Vargas. A
inauguração ocorreu somente vinte anos após a Secretaria de Saúde do Distrito
Federal, na gestão do Presidente da República o General Eurico Gaspar Dutra.
18 http://www.hupe.uerj.br
65
Onze anos após a sua inauguração passou a ser o Hospital Escola da
Faculdade de Ciências Médicas, através da Lei de No. 93, incorporado à
Universidade do Estado da Guanabara, atualmente, Universidade do Estado do Rio
de Janeiro - UERJ, tendo o nome de Hospital das Clínicas da Faculdade de Ciências
Médicas, integrando o Centro Biomédico da Universidade do Estado da Guanabara.
Destaca-se como marco da Instituição o ano de 1974, quando fixou
convênio com a Previdência Social. Essa iniciativa foi pioneira, em que a parceria
com o Ministério da Educação e Previdência Social (MEC-MPAS) trouxe grandes
mudanças de orientação docente-assistencial.
Esse convênio apresentava, entre outros aspectos, o objetivo de
ultrapassar as dificuldades financeiras do hospital, além de fomentar o ritmo de suas
atividades, visando atingir a realidade sanitária da população. Cabe salientar que,
antes desse convênio, o hospital funcionava em condições insuficientes, com poucos
leitos e limitadas possibilidades de consultas ambulatoriais. O tempo de internação
do cliente era amplo, até mesmo para atender a interesses acadêmicos.
Nesse momento, há um significativo incremento de atividades, com um
crescimento de duzentos e cinqüenta leitos de internação e cinco mil consultas
ambulatoriais por mês para setecentos leitos de internação e mil consultas
ambulatoriais por dia, aproximadamente. De cerca de oitocentos servidores, passou
a um quadro de três mil e setecentas profissionais, entre professores e funcionários.
Verificou-se a hipertrofia de alguns setores, em detrimento de outros,
sem que se contemplasse adequação necessária em termos da infra-estrutura de
apoio e uma perspectiva de continuidade sustentada em bases sólidas. Instalou-se a
divisão em segmentos, o corporativismo e a divisão entre os grupos.
66
Tornou-se o Hospital-Escola da Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade do Estado da Guanabara (UEG), atual Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ). Foi incorporado à UEG como Hospital das Clínicas, já que suas
atividades privilegiavam as questões acadêmicas de ensino e pesquisa, com o
acompanhamento e estudo de raridades clínicas e doenças em estágio final de
evolução.
Com 44000m2 de área, funcionam aproximadamente 600 leitos e 16 salas
cirúrgicas, com mais de 60 especialidades e sub-especialidades. Incluindo assim,
procedimentos e tecnologias sofisticadas, como: a Cirurgia Cardíaca, o Transplante
Renal e o Transplante de Coração.
Cabe ainda suscitar que, no seu prédio de ambulatórios, com 3000m2 de
área, estão localizados 150 consultórios que concentram o atendimento ambulatorial
de todas as especialidades. O HUPE é um hospital de grande porte, com cobertura
assistencial estimada de 1.000.000 (um milhão) de habitantes, considerado Centro
de Excelência e Referência para o Estado do Rio de Janeiro na área de Ensino e
Saúde.
O Hospital Universitário tem o ensino e a pesquisa inseridos na sua rotina,
favorecendo a funcionar como um pólo de descobertas e inovações, que contribuem
para a melhoria da qualidade do atendimento oferecido pelas instituições de saúde.
O HUPE inaugurou em 29 de janeiro de 1975, a Enfermaria de
Adolescentes Prof. Aloysio Amâncio, primeira do gênero no Brasil a oferecer
atendimento especializado ao adolescente. O objetivo é oferecer um atendimento
integral que acompanhe o adolescente nas mudanças de natureza física e
emocional.
67
Também seguindo uma filosofia de inovação, o HUPE criou o Núcleo de
Atenção ao Idoso (NAI) no ano de 1991, para atendimento integral ao idoso,
englobando aspectos físicos, sociais, psicológicos, fisioterápicos e educacionais. O
HUPE inaugurou no Estado do Rio de Janeiro, a primeira Clínica da Dor, em 1980,
local em que os profissionais de diversas áreas de conhecimento desenvolvem e
aplicam técnicas de combate e eliminação de dores crônicas, das mais diversas
origens.
Ainda tiveram início em 1980, as atividades da Clínica de Hipertensão do
Laboratório de Fisiopatologia Clínica e Experimental (CLINEX) que atende
hipertensos, obesos, diabéticos e dislipidêmicos, com enfoque interdisciplinar. A
CLINEX visa o diagnóstico precoce dessas doenças e suas conseqüências
cardiovasculares.
Desde o ano de 1983, O Serviço de Cardiologia do HUPE desenvolve o
projeto "Família de Bom Coração", vencedor de vários prêmios científicos nacionais
e internacionais. Considerando a avaliação da pressão arterial (PA) de crianças e de
adolescentes, foram constituídas curvas de normalidade de PA e identificados
indivíduos com maior chance de desenvolverem doenças cardiovasculares.
Já o Hospital-dia Ricardo Montalban, que foi implantado pelo Serviço de
Psiquiatria em 1993, baseado em uma nova concepção de tratamento, em que pese
à expressão artística, corporal e da participação ativa da família, visa integrar o
paciente psiquiátrico na sociedade.
O HUPE é o maior hospital público em funcionamento no Estado do Rio de
Janeiro, além de ser referência em inúmeras especialidades médicas. O Núcleo de
Estudos da Saúde do Adolescente (NESA) é centro de referência nacional para o
atendimento ao adolescente e, em especial, cardiopatas e nefropatas crônicos, já
68
que o HUPE dispõe dos serviços de Cirurgia Cardíaca e Transplante Renal. Além
disso, é centro coordenador sub-regional de uma rede de informações sobre
adolescência, coordenada pela Bireme/OPAS/OMS e é centro cooperante do Projeto
Mundial sobre Residência, sob coordenação da Civitan/OPAS/OMS.
A este ponto, destaco que o Serviço de Nefrologia é referência na área no
Estado do Rio de Janeiro, bem como, o Serviço de Cardiologia, que também é
responsável por uma grande parte das cirurgias e a sua equipe tem reconhecimento
científico internacional.
O Serviço de Obstetrícia do hospital é especializado no atendimento de
gestantes de alto risco. Em total sintonia com o Ministério da Saúde, 61% dos partos
realizados pelo Serviço são sem intervenção cirúrgica. Chega a atender
mensalmente cerca de 150 pacientes na emergência, realizando na média mensal
70 partos. 650 consultas são feitas, por mês, nos ambulatórios de pré e pós-natal e
Medicina Fetal e, em 1998, o HUPE recebeu o título "Hospital Amigo da Criança".
Além disso, cabe relatar que está para ser inaugurado no hospital o Pólo de
Atendimento Integral à Mulher e à Criança.
O Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ inaugurou, no dia
22 de setembro de 2004, a Unidade de Transplante de Medula Óssea Pró-Vita,
inicialmente pronta para realizar transplantes autólogos, em que o doador da medula
é o próprio paciente. O transplante de medula óssea é um tipo de tratamento
proposto para algumas doenças malignas que afetam as células do sangue. A
Unidade foi equipada com a ajuda da Associação Pró-Vita, que é uma instituição
voltada a apoiar unidades de saúde que realizem ou tenham possibilidade de
realizar transplantes de medula óssea no Rio de Janeiro. O Centro de Transplantes
69
de Medula Óssea (CEMO) do INCA, o HEMORIO e o Hospital do Fundão já são
beneficiados pelo Pró-Vita.
O HUPE possui muitas especialidades, como: Angiologia, Cardiologia,
Clínica de Hipertensão (CLINEX), Clínica Médica, Cirurgia Geral, Cirurgia Torácica,
Cirurgia Vascular, Dermatologia, Diabetes e Metabologia, Doenças Infecto
Parasitárias, Endocrinologia, Fisiatria, Gastroenterologia, Ginecologia, Hematologia,
Laboratório de Cirurgia Experimental (LCE), Medicina de Adolescente (NESA),
Medicina Integral l, Nefrologia, Neurocirurgia, Neurologia, Obstetrícia, Oftalmologia,
Ortopedia e Traumatologia, Otorrinolaringologia, Pediatria e Puericultura,
Propedêutica Médica, Proctologia, Psicologia Médica, Psiquiatria, Reumatologia,
Tisiologia e Pneumologia e Urologia.
Enquanto Hospital Universitário, o HUPE serve como campo de
aprendizado para o ensino de graduação na área de saúde e de aperfeiçoamento
dos conhecimentos para graduados. Anualmente passam pelo HUPE 1500 alunos
de graduação e de pós-graduação e cerca de 350 docentes exercem suas atividades
nas diversas unidades de ensino da UERJ.
À Coordenadoria de Desenvolvimento Acadêmico (CDA) compete orientar
e implementar as atividades educacionais do hospital, harmonizando-as com as
ações assistenciais. Cabe a CDA o gerenciamento de diversos programas.
A Residência em áreas de saúde é oferecida a graduado que receberá
treinamento em serviço, sob a orientação de profissionais de elevada qualificação
ética e profissional e formação humanizada. Áreas oferecidas para Residência:
enfermagem, fisioterapia, fonoaudiologia, nutrição, odontologia, psicologia médica,
psicologia e serviço social.
70
O Estágio é oferecido unicamente a estudantes, quando integrante ou
necessário para a complementação do respectivo currículo de graduação, sendo
concedido preferencialmente a alunos matriculados nos cursos ministrados pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com área de atuação no hospital.
O Treinamento Profissional (TP) é concedido a graduado que
acompanhará as atividades desempenhadas por integrantes do corpo clínico do
HUPE ou outro profissional de nível superior, com vistas ao aprimoramento técnico
na competência específica. O Treinamento Profissional em serviços clínicos,
cirúrgicos ou auxiliares que ofereçam Residência Médica só é permitido a
profissional com tempo de formado superior a dois anos.
No que se refere à parte administrativa do HUPE, a instituição conta com
profissionais compromissados, distribuídos em diferentes cargos: Diretoria Geral do
HUPE, Coordenação de Assistência Médica, Coordenadoria de Comunicação Social,
Coordenadoria de Controle de Infecção Hospitalar, Coordenadoria de
Desenvolvimento Acadêmico, Coordenação de Enfermagem, Coordenadoria de
Sistemas de Informações, Coordenação de Serviços Técnicos, Departamento de
Administração, Divisão de Controle e Apoio Técnico, Seção de Preparo de Licitação,
Comissão Permanente de Licitação, Divisão de Nutrição e Comissão Científica do
Pedro Ernesto.
O organograma da enfermagem tem uma estrutura vertical, sendo a
Coordenação o órgão mais importante da profissão, sob o ponto de vista da política
institucional. A estrutura organizacional da enfermagem conta com o apoio de:
Serviço de Enfermagem Clínica; Serviço de Enfermagem Médica e de Pacientes
Externos; Serviço de Enfermagem Cirúrgica; Serviço de Enfermagem da Mulher e da
71
Criança e Serviço de Treinamento e Avaliação de Enfermagem. É importante
enfocar que, desde 1991, o acesso aos cargos da coordenadoria e chefia dos
demais Serviços é promovido através de processo eleitoral.
Essa estrutura organizacional busca uma gerência descentralizada,
possibilitando maior autonomia para a enfermagem. O Regimento Interno da
Coordenadoria de Enfermagem, aprovado no Ato Executivo 026/ 96, atribui as
seguintes competências a essa instância: planejar, organizar, coordenar,
supervisionar e avaliar as atividades desenvolvidas pelos Serviços que a integram,
no sentido de assegurar elevado padrão técnico e rigor profissional; colaborar
continuamente na integração ensino-assistência de enfermagem; elaborar,
implementar, coordenar e avaliar programas de orientação e capacitação de pessoal
em enfermagem; planejar e desenvolver pesquisas de interesse para a instituição;
apoiar as demais Coordenadorias nos exames clínicos, tratamentos e execuções de
prescrições terapêuticas; promover medidas ao atendimento de enfermagem com
qualidade, dentre outros aspectos.
A este ponto, não poderia deixar de enfocar o Serviço de Treinamento do
HUPE. Este tem como missão: “Desenvolver ensino e pesquisa para uma
assistência de qualidade com saber, humanização e ética, através da integração e
participação dos membros da equipe de enfermagem, buscando educação
permanente”. Além disso, apresenta como visão: “Servir de Referência de
Qualidade para Treinamento e Aperfeiçoamento na Área de Enfermagem”.
Atualmente o Serviço de Treinamento conta em seu quadro permanente
com três enfermeiras, uma secretária e uma funcionária readaptada. Esta última, em
período de experiência. Todos trabalhando em conjunto em prol do desenvolvimento
72
de quatro grandes programas: residência em enfermagem, treinamento profissional,
educação permanente e qualidade de vida no ambiente de trabalho.
Sobre o Programa de Residência em Enfermagem, o Serviço de
Treinamento tem como meta a ser alcançada a inserção do Projeto Pedagógico da
Residência enquanto um Curso de Pós-Graduação “lato sensu”. Entendendo a
residência como uma modalidade de especialização, que se caracteriza por
treinamento em serviço. Isso vem sendo construído, a partir de um grupo de trabalho
colaborativo constituído por diferentes representantes da enfermagem: Chefes de
Departamentos e Direção da Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual
do Rio de Janeiro - UERJ; Chefes de Serviço e Coordenadoria do HUPE; e Direção
do Centro Biomédico.
Já o Programa de Treinamento Profissional visa oportunizar o
aprimoramento prático de pessoas que buscam o HUPE como referência para a
aprendizagem. Tem como critério básico: a participação de profissionais
regularmente registrados no Conselho Federal de Enfermagem. Sejam esses:
enfermeiros, técnicos ou auxiliares de enfermagem. Devido à demanda, bastante
significativa e, que tem aumentado continuamente, o Serviço de Treinamento tem
realizado seleção para definição dos seus participantes. Além da elaboração de um
cronograma especificando as datas de inserção, de permanência e de término da
atividade.
Quanto ao Programa de Educação Permanente, o Serviço de Treinamento
mostra-se interessado em desenvolver projetos futuros voltados para a atualização
continuada em enfermagem. Nessa acepção, tem-se como meta trabalhar temas
gerais, que possam contemplar as diferentes áreas de atuação do hospital, bem
como, as diferentes categorias funcionais. Do mesmo modo, esse programa também
73
pretende desenvolver cursos de capacitação e qualificação profissional em prol da
melhoria na qualidade da assistência nas diversas unidades do HUPE. Cabe
pontuar, que existe uma preocupação real em dar mais dinamismo a educação
permanente, atualmente, comprometida, considerando o momento por que passa a
instituição.
Outro programa que vem sendo planejado, ainda com algumas limitações,
relaciona-se com a Qualidade de Vida no Ambiente do Trabalho, já que quanto mais
saudáveis estiverem sendo estabelecidas as relações, mais viável o cuidado
humanizado. Partindo da premissa, que antes de cuidar do outro, é preciso cuidar de
si mesmo. Para tal, o Serviço vem fazendo parcerias com vários departamentos da
UERJ, com vistas à implementação de um Projeto denominado de Arte Terapia, para
que possa estar contemplando as necessidades e os desejos dos funcionários.
Com base no exposto, a fim de elucidar em síntese o contexto, de acordo
com o Ato Executivo Nº 26 de 1995, o HUPE tem por finalidade: servir ao
aperfeiçoamento dos profissionais de saúde dos programas de residência e de
cursos de pós-graduação – “lato sensu” e “stricto sensu”; prestar assistência à
população, por meio de aplicação de medidas de proteção e recuperação da saúde;
servir de campo de aprendizado para o ensino de graduação dos profissionais da
área de saúde e nas demais áreas no que couber; desenvolver atividades de
investigação científica e tecnológica no campo das ciências da saúde e contribuir
para a realização de estudos e pesquisas sobre os principais problemas de saúde da
população; desenvolver atividades de extensão articulando nos diversos meios de
atenção à saúde.
74
REALIZANDO A PESQUISA
75
CAPÍTULO V
COLETANDO OS DADOS: OS ENFERMEIROS INFORMANTES, A COLETA DE
DADOS PROPRIAMENTE DITA E O PROCESSO DE
ANÁLISE DE DADOS
Para obter até mesmo uma solução parcial, o cientista deve coletar os fatos não ordenados disponíveis e fazê-los coerentes e compreensíveis por pensamentos criativos (EISNTEIN & INFELD, 1966).
Os dados da pesquisa foram coletados nas Unidades de Internação do
Hospital Universitário Pedro Ernesto19, em setores considerados pela Instituição
como especializados, no período de novembro de 2004 até abril de 2006, sendo
realizada validação de março a junho de 2006.
Buscando a definição da amostra teórica e pensando no fenômeno
estudado, trabalhei no primeiro momento com os enfermeiros que foram lotados sem
experiência prévia em setores, entendidos no próprio hospital como especializados.
Todos do último concurso, realizado pelo hospital.
Esta idéia e, por conseguinte, a tomada de decisão, foi baseada no fato
de que uma vez tentando compreender o enfrentamento do novo, os enfermeiros
tendo vivenciado recentemente, ou ainda, vivenciando a situação no setor
especializado poderiam propiciar uma rápida aproximação com o fenômeno. Dessa
maneira, procurei em primeira instância privilegiar os agentes sociais que detinham
possibilidades que pretendia conhecer.
O primeiro grupo amostral foi composto por doze enfermeiros
considerados iniciantes ou novatos nos setores especializados, que receberam os
19 Detalhado no capítulo sobre o cenário.
76
pseudônimos relacionados à natureza: Mar, Céu, Vento, Montanha, Folha, Sol, Raio,
Tempestade, Nuvem, Trovão, Arco-íris e Flor.
A definição desses enfermeiros se deu com a ajuda de funcionários da
Coordenação de Enfermagem, que fizeram um levantamento, providenciando uma
lista com um total de trinta e dois enfermeiros. Desses, foi relatado que,
aproximadamente, dezesseis não tinham experiência no setor de lotação. Isso vem
sendo confirmado durante as entrevistas, a partir dos dados referentes à própria
trajetória profissional dos mesmos.
As entrevistas ocorreram no ambiente de atividade dos enfermeiros, onde
pude elaborar meus primeiros memorandos a respeito do fenômeno. Além disso, foi
a partir das primeiras entrevistas que iniciei minhas codificações, que foram então,
estendidas e associadas, considerando os dados obtidos dos demais participantes.
À medida que foram sendo formadas as categorias e, bem como,
ampliando as discussões sobre a coleta de dados, propiciados a partir do Seminário
sobre a Teoria Fundamentada nos Dados20, fui refletindo sobre pontos obscuros que
poderiam estar acontecendo, já que os enfermeiros entrevistados poderiam estar
ainda muito abalados emocionalmente.
Entretanto, desde o início das discussões para a fase de coleta, intuía que
seriam necessários outros grupos amostrais, para a melhor compreensão dos
dados, tendo em vista que apesar de não estarem vivenciando a experiência do
enfrentamento do novo, também passaram por isso em um outro momento. Esse
pensamento esteve ainda associado ao fato, de que o amadurecimento desses
profissionais poderia dar um tom diferente à análise de dados, pois esses não
estariam tão envolvidos na questão.
20 Destaque da autora.
77
Assim, começou a ser um pensamento mais consistente a idéia de
entrevistar outros enfermeiros, ainda do mesmo concurso, que não estivessem a
rigor passando pela experiência de iniciantes ou novatos, embora em algum
momento na profissão de enfermagem tivessem vivenciado tal situação, justificando
a idéia do segundo grupo amostral, representado nesta fase por três entrevistados:
Terra, Fogo e Lua.
Nesse momento, sofri um súbito medo, quando de fato percebi a
grandiosidade da pesquisa e, como não poderia deixar de ser, a quantidade de
dados que a mesma iria gerar. Isso porque, para cada entrevista eram gerados
inúmeros códigos, aproximadamente duzentos e cinqüenta códigos, portanto, tive a
exata noção de quanto trabalho eu teria até o término do estudo. Foi então, que as
conversas com a professora orientadora na EEAN e a professora da disciplina da
USP fez-me pensar que precisaria estar muito sensível aos dados para compreendê-
los.
No que se refere à coleta em si, considerando o Interacionismo Simbólico
e a perspectiva da Teoria Fundamentada nos Dados e, ainda, preocupando-me com
o enquadramento do estudo, optei, como mencionado, pela observação participante
assistemática e pela entrevista semi-estruturada, buscando profundidade. Esclareço,
que não foi estabelecida ordem para a utilização dos métodos citados, porém, na
maioria dos casos, a observação foi anterior à entrevista.
As anotações de campo foram realizadas utilizando a reflexão. Isto é,
cada fato, cada comportamento, cada atitude, cada diálogo, que observei
relacionado aos atores sociais, pode sugerir uma idéia e até mesmo a necessidade
de fazer algumas reformulações.
78
A observação foi utilizada, principalmente, com as enfermeiras do primeiro
grupo amostral, num total doze horas. Esta técnica possibilitou ter uma visão geral
do contexto das enfermeiras, tendo como premissa básica o olhar sobre as
especialidades e, por conseguinte, as peculiaridades relacionadas.
No que tange às entrevistas, foram realizadas buscando compreender a
experiência dos entrevistados sob a perspectiva da realidade vivida. As entrevistas
foram iniciadas com questões tidas como geradoras, tendo o máximo cuidado para
que realmente ocorresse uma interação, objetivando que os enfermeiros pudessem
expor as suas experiências relacionadas ao enfrentamento do novo, a partir do seu
próprio caminhar na enfermagem.
É importante destacar que o Seminário, que realizei em São Paulo, foi
especialmente marcante nesse momento, pois pude formular as questões da
entrevista, apoiada por uma ampla discussão em grupo, considerando a
necessidade de dar uma amplitude, no sentido de liberdade dos entrevistados. Para
explorar cada uma das experiências, evitando perguntas muito diretivas e, com isso,
tive a possibilidade de apreensão dos fenômenos relacionados, já que a abordagem
na TFD pressupõe que não estão determinadas as variáveis do estudo e os
questionamentos devem ser orientados para a ação e para a idéia de processo.
De fato, não poderia deixar de relatar que foi um exercício contínuo fazer
a análise de cada entrevista. Isto significou uma aprendizagem muito expressiva e
bastante reveladora em termos de pesquisa científica, principalmente, considerando
o respeito para que os dados não sejam de modo algum alterados, comprometendo
a validade do estudo.
As entrevistas foram agendadas e realizadas no local de trabalho,
buscando-se um clima de diálogo, com duração média de uma hora e meia.
79
Também atentei, durante a coleta de dados, para sinais não-verbais e todas as falas
foram gravadas em fitas magnéticas, com a permissão, após leitura e assinatura do
consentimento livre e esclarecido, como previsto pela Resolução 196/96 sobre
Pesquisa Envolvendo Seres Humanos.
Foram observados os princípios éticos na pesquisa, de acordo com o
descrito em Gauthier (1998, p.281), retomando a importância do consentimento livre
e esclarecido21 dos indivíduos-informantes. Além disso, com o intuito de manter a
privacidade das pessoas envolvidas, não utilizei informações que pudessem
provocar prejuízos a qualquer pessoa ou a instituição e, também, respeitei o sigilo
dos depoentes.
A despeito disso, informo que não foi apresentada uma relação dos
pseudônimos dos enfermeiros, com os setores especializados, onde os mesmos
atuam, para que efetivamente fosse mantido o anonimato, caso contrário qualquer
pessoa que conhecesse a realidade do hospital, utilizando a lógica, poderia
identificar os participantes.
Um outro ponto relevante, com a finalidade de elucidar a situação dos
enfermeiros entrevistados, refere-se ao fato de que todos possuem, minimamente,
mais de cinco anos de atuação profissional na enfermagem. Não foram
entrevistados recém-formados.
Tendo como base à análise comparativa dos dados e, considerando o
caminhar natural da própria TFD, as entrevistas puderam ser submetidas a análises
cada vez mais profundas, derivando novas reflexões, que foram então novamente
investigadas em prol da teoria em formação.
Sinto a necessidade de pontuar que a observação participante
assistemática foi registrada como nota de observação, tendo o cuidado com a 21 A disposição para consulta no Apêndice.
80
apreensão dos dados tidos como importantes para o estudo, como o cenário e/ ou
evidência para a experiência registrada.
A respeito das notas teóricas, não posso deixar de expressar o
enriquecimento cognitivo para o próprio pesquisador, principalmente considerando a
maturidade desejada no sentido da busca pela sensibilidade teórica, que
continuamente se almejava atingir.
Quanto às notas metodológicas, principalmente nos primeiros momentos
e movimentos da coleta de dados, estiveram mais aguçadas nas minhas reflexões
sobre a pesquisa, em que se destaque instruções com a finalidade de pensar
estratégias e caminhos a fim de melhorar até mesmo a tomada de decisão, no
encaminhamento metodológico do estudo.
Sobre a análise, a mesma foi iniciada com uma codificação linha a linha,
utilizando a própria fala dos entrevistados, com uma preocupação constante em
respeitar e não perder dados que pudessem, através de seus detalhamentos,
explorar de fato a experiência dos participantes. Nesse processo existiu uma
preocupação constante em comparar incidente com incidente, tentando responder
questões que aparecem nas minhas reflexões, em busca de uma preliminar
organização conceitual.
O processo de análise inicial foi a codificação aberta, em que as falas
foram trabalhadas em detalhes. Com respeito ao conteúdo, após a digitação das
gravações e a organização na impressão, objetivei que a entrevista ficasse do lado
esquerdo e os códigos do lado direito. Destaco que, na codificação foram utilizados
verbos no gerúndio para manter a idéia de movimento e dinamicidade, próprios da
metodologia.
81
Enfatizo que utilizei a organização denominada de Distribuição Vertical do
Discurso22. Em consonância com o exposto: Vargens (1997), Lacerda (2000),
Bettinelli (2002) e Strauss; Corbin (2002) referem, que cada frase ou parágrafo é
disposto imediatamente, após o anterior, permitindo a então análise linha a linha.
Também, numerei as partes da entrevista que possuíam sentido completo,
derivando um código, que entendi como unidade de análise. A numeração a partir de
então, funcionou como facilitador para levantamento de similaridades e diferenças
na mesma entrevista, ou ainda, comparando com outras entrevistas que, a cada
momento, eram realizadas.
Não utilizei software para análise. Além disso, não poderia deixar de
mencionar que as Teses de Trezza (2003) e de Matheus (2002) ajudaram-me
significativamente na direção e no entendimento do processo.
Conforme mencionado, a codificação é o processo central do
desenvolvimento da TFD. Ocorreu, assim o desmembramento dos dados,
comparação e categorização. A codificação aberta foi o primeiro passo no processo
de separação, exame e comparação dos achados, partindo de dados brutos para
dados codificados. Dessa maneira, os códigos representaram, de fato,
agrupamentos por similaridades, assim como, por diferenças.
A utilização da TFD foi bastante reveladora, já que redescobri a pesquisa
e as suas singularidades, com um especial respeito pelos dados, destacando a real
importância da pesquisa qualitativa e todos os princípios que a norteiam e, a qual se
propõe, discordando de toda e qualquer forma de banalização desse tipo de estudo.
22 O exemplo encontra-se no apêndice.
82
Após esta fase bastante trabalhosa, iniciei a fase denominada axial, em
que foram agrupados os códigos, com a formação das categorias e subcategorias23.
A partir da compreensão e utilização conceitual do modelo paradigma, foram
possíveis as primeiras reflexões acerca da Teoria. As categorias receberam
denominações de cunho mais abstrato do que os códigos, anteriormente formados.
Essa etapa analítica promove a retomada dos dados, quando são
analisados de uma nova forma, realizando conexões entre uma categoria e suas
subcategorias. Este é o nível intermediário do sistema de procedimentos propostos,
ou seja, etapa em que as categorias ainda estão em desenvolvimento e o objetivo é
avançar para além das propriedades e dimensões, visando chegar a uma das muitas
categorias analíticas que possibilitarão, ao final do trabalho, uma formulação teórica
mais geral.
É importante retomar que criar categorias significa agrupar os conceitos
por semelhança, ou seja, classificá-los por representarem uma mesma classe de
fenômeno, possibilitando o trabalho analítico que demanda abstrações cada vez
maiores. As categorias têm um grande poder conceitual porque elas são capazes de
abrigar outros grupos de conceitos ou subcategorias.
Acrescento que as categorias sofreram modificações durante o processo
de coleta e análise, com base nos achados, no sentido de chegar ao mais adequado
para representar o significado do enfrentamento do conhecimento novo, a partir da
experiência das pessoas envolvidas no estudo.
Assim, passei para a articulação das duas etapas apresentadas, isto é, a
relação das subcategorias com as categorias, associando ao modelo paradigmático.
Este modelo possibilitou o pensar sistemático sobre os dados, bem como, relacioná-
los de maneira complexa, buscando densidade e precisão. 23 Podem ser verificados no Apêndice III, quadros relacionando os códigos as subcategorias.
83
Primeiro, procurei estabelecer a relação hipotética das subcategorias com
a categoria por meio dos elementos que denotam a natureza do relacionamento
entre elas e o fenômeno (condição causal, contexto, condições intervenientes,
estratégias de ação/ interação e conseqüências).
Segundo, verifiquei aquelas hipóteses junto às situações concretas,
retornando continuamente aos dados empíricos e confrontando-os, em prol de
evidências, que as afirmassem, complementassem, ou ainda, refutassem.
Terceiro, continuei buscando as propriedades das categorias,
subcategorias e a localização dimensional dos dados que foram codificados, em
função compreender padrões e variações e, por último, a exploração inicial das
variações no fenômeno, pela comparação de cada categoria e suas subcategorias,
através dos diferentes padrões descobertos na localização dimensional dos dados.
É interessante enfocar que o objetivo da teoria fundamentada é integrar os
diversos níveis da análise dos dados empíricos, de maneira que, a cada nível, a
integração analítica se torne mais e mais abstrata, chegando ao nível da teoria, sua
principal finalidade. Nesse caminho, foi fundamental a retroalimentação constante
entre as análises e os dados empíricos no sentido de ir desenvolvendo
simultaneamente as categorias analíticas e as novas hipóteses de trabalho.
Conforme o processo de análise, caminhei para a codificação seletiva que
refinou e integrou todos os resultados, possibilitando a identificação da categoria
central. Cabe a ênfase, que a Grounded Theory se preocupa principalmente com a
explicação de como determinado grupo resolve problemas em situações específicas,
tal como pode ser constatado nos trabalhos publicados em Strauss e Corbin (1997).
Essa explicação é fornecida por meio de proposições sobre quando e como
determinadas ações são implementadas.
84
Tais proposições são organizadas em torno de uma categoria central, que
representa um processo social relevante para os envolvidos. É por essa capacidade
de abstração e pela sistematização da variabilidade encontrada nos dados que uma
teoria substantiva adquire poder explicativo e não pelo número de casos
investigados, sejam eles indivíduos ou organizações (Strauss e Corbin, 1998).
Assim, o estudo chegou à Teoria Substantiva, que difere da Teoria Formal,
considerando que a última é mais geral e se aplica a espectro maior de problemas,
enquanto a primeira é específica para determinado grupo ou situação. (Glaser e
Strauss, 1967; Strauss e Corbin, 1998).
85
VIVENDO A DESCOBERTA NA ANÁLISE DE DADOS
86
CAPÍTULO VI
COMPREENDENDO O SIGNIFICADO DA EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO A
PARTIR DO ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO NOVO EM SETORES
ESPECIALIZADOS
Não é no objeto, mas no sujeito que algo foi alterado pela função cognoscitiva. Surge no sujeito uma figura, que contêm as determinações do objeto, uma imagem do objeto. (HESSEN, 2003, p.20)
O referencial teórico e a metodologia possibilitaram a compreensão da
experiência do enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo em setores
especializados. A análise realizada possibilita o entendimento da trajetória do
enfermeiro, considerando a formação profissional, frente aos desafios da prática,
revelando os significados presentes nessa vivência, a despeito do que sentem,
como percebem, como definem, como agem, como reagem, como interpretam e
como atuam no dia-a-dia relacionado ao trabalho da enfermagem.
Cabe a reflexão que o símbolo é o aspecto central do interacionismo
simbólico, já que a partir dele os seres humanos interagem uns com os outros. Os
símbolos são objetos utilizados pelos atores sociais para representação e
comunicação. A representação simbólica é uma interpretação da realidade presente
em todo ser humano, que busca a apreensão do mundo que o circunda para nele
poder se relacionar.
O comportamento humano tem sua base naquilo que ele conhece da
realidade como sendo a interpretação atribuída à realidade. O imaginário é uma das
formas de interpretação simbólica do mundo, apesar de não ser a única, haja vista a
existência da representação cognitiva. O imaginário possibilita uma construção que
87
pode não corresponder a todos os aspectos da realidade, embora tenha conexão
com ela.
Por ser uma representação simbólica, o imaginário trabalha com a
construção de símbolos, que é a atribuição de significados, a idéia representativa de
um dado da realidade. Os significantes de que são dotados os símbolos formam
uma rede que une as construções dos estereótipos e das identidades, conceitos
fundamentais para este trabalho.
Os símbolos evocam diferentes olhares e diferentes compreensões, pois
mobiliza a subjetividade das emoções. Os símbolos, portanto, podem ser
considerados polivalentes, aparando-se no referencial significante que lhes propicia
o sentido, os quais contêm significações afetivas e são mobilizadores de
comportamentos sociais.
Desse modo, apresento os fenômenos do estudo propiciando uma visão
ampliada das categorias, as conexões e as interpretações da realidade; que
enfatizo, foi o resultado de uma análise sistemática e contínua, marcado por um
trabalho intenso de leitura e releitura dos dados pertinente ao processo de
codificação da Teoria Fundamentada nos Dados.
O processo de utilização dessa abordagem metodológica, confesso, não
foi uma tarefa fácil, porém revelou-se prazeroso e motivador, já que os dados foram
fazendo um sentido: real, rico e estimulante; destacando as interações e relações
vividas pelos enfermeiros. Aliás, a abordagem da Teoria Fundamentada nos Dados
mostrou-se apropriada para este estudo, porque procurou investigar os processos
nos quais ocorriam os fenômenos, propiciando uma fundamentação detalhada para
a realização da análise, até que pudesse emergir a teoria, a partir da comparação
sistemática e constante dos dados.
88
A partir das premissas do Interacionismo Simbólico foi possível perceber
que o significado de enfrentar o conhecimento novo é modificado pelo profissional a
partir de um processo interpretativo, ao lidar com as vivências do dia-a-dia. Esse
significado resultante da interação do enfermeiro com o seu meio social, pelo qual
estabelece as suas relações, portanto, revelando o resultado das suas experiências,
dos seus comportamentos e das suas relações que desenvolve com outros
indivíduos presentes nas situações do seu cotidiano.
De tal modo, a história que agora começa a ser contada corresponde ao
processo de revelar a experiência do enfermeiro, na perspectiva que o iniciante ou
novato age e reage aos enfrentamentos e aos desafios que estão relacionados e
permeiam o conhecimento novo na tentativa de adequar-se em um movimento de
retomada, de afirmação do domínio da situação e de ajuste a realidade.
Não poderia deixar de comentar sobre as diferentes visões de mundo
encontradas quando da abordagem durante a coleta de dados e análise dos
achados. A vivência de cada enfermeiro na situação estudada possibilitou a
construção de uma percepção comum, demonstrando que a experiência,
notoriamente, se constrói numa esfera singular, que pode ser representada por um
todo, tendo em vista a relação do enfermeiro consigo e com os outros.
Portanto, a compreensão da experiência do enfermeiro foi facilitada com a
aplicação do modelo de paradigma de Strauss e Corbin (1990, p.99), ou seja:
condições causais, contexto, condições intervenientes, estratégias e conseqüências;
e a interpretação à luz do Interacionismo Simbólico. Logo, sinto a necessidade de
ilustrar a esse ponto, uma síntese do referido modelo para a compreensão dos
movimentos e das reflexões realizadas na pesquisa.
89
Condições causais
Estratégias ação-
interação
Levam à ocorrência ou
desenvolvimento de um fenômeno.
Idéia central para o qual as
estratégias de ação-interação são dirigidas.
Especificidades da condição
causal.
Apontam as condições
estruturais que se apóiam nas estratégias e que pertencem ao
fenômeno.
Apontam como as pessoas respondem às condições
causais.
Conseqüências
São identificadas como os
resultados ou expectativas da ação-interação em relação a um
determinado fenômeno.
Fenômeno
Contexto
Condições
intervenientes
90
Dessa maneira, para a compreensão do significado do enfrentamento do
conhecimento novo em setores especializados, foi possível a apreensão de cinco
fenômenos, em consonância com as concepções teóricas do Interacionismo
Simbólico e a dinâmica da Teoria Fundamentada nos Dados, que assim foram
organizados e são apresentados:
• VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: A INSERÇÃO DO
ENFERMEIRO NA ESPECIALIDADE
• EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA SER
COMPREENDIDO
• SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA NA ESPECIALIDADE
• (RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA
ESPECIALIDADE
• CONVIVENDO COM A REALIDADE NA ESPECIALIDADE
91
A história é marcada por um início, em que um enfermeiro está frente a
frente com o conhecimento novo pertinente a especialidade, com o novo papel,
caracterizando uma fase de inquietações, medos, inseguranças e, não obstante tudo
isso, partindo do princípio de que o cuidar do corpo humano exige um olhar para a
dimensão total do ser, inclusive de sua essência existencial, compreendida como
dimensão ontológica, daqueles que precisam de cuidados de enfermagem para se
sentirem mais confortados. Por conseguinte, torna-se um grande desafio cuidar no
espaço da especialidade, sendo o enfrentamento do novo uma fase de grandes
descobertas e de reveladoras experiências.
Se por um lado a vivência no conhecido reforça uma atuação
independente, a vivência no desconhecido apresenta um jogo de tensões e de
angústias, exigindo respostas em tempo hábil. Essa situação aponta para um
processo adaptativo marcado por fragilidades, posturas apreensivas, busca de
forças interiores e até mesmo, comportamentos surpreendentes, no enfrentamento
dos dilemas instituídos, porém compromissados com o valor essencial da profissão,
em que se destaque a realização do cuidado digno e de qualidade, em qualquer que
seja a circunstância.
92
VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE:
A INSERÇÃO DO ENFERMEIRO NA ESPECIALIDADE
Este fenômeno representa como o enfermeiro vivencia a realidade no
setor especializado, no que tange à experiência de deparar-se com muitas variáveis
que lhe são desconhecidas, estando em um momento que os seus próprios
sentimentos permeiam a interpretação da situação.
Tal momento representa um período inicial de transição de um mundo
social conhecido para aquele que precisará ser desvendado. Caracteriza-se por uma
fase de inquietação, de mudança brusca, com repercussões generalizadas. Nessa
fase, o enfermeiro sente o peso de estar despreparado para uma atuação mais
específica, sentindo a discrepância entre o que sabe e faz, para o que deverá saber
e fazer.
Existe, portanto, uma preocupação em termos do conhecimento
reconhecido com o exigido em dada realidade. Essa desarmonia inicial não significa
uma desvalorização do profissional, mas uma situação circunstancial que deixa o
enfermeiro em choque, uma vez diante ao novo, fazendo-o pensar e pensar,
tentando encontrar algumas saídas para um encorajamento, ou ainda, para uma
precoce e imediata desistência.
O enfermeiro reconhece nessa fase inicial, apesar da pouca familiaridade
e da distância com os esquemas operacionais específicos da área, aspectos
positivos relacionados ao novo e também emerge a representação de que tal
vivência poderá ser interessante para a sua carreira na enfermagem, acrescentando
novas possibilidades ao seu conhecimento, construído ao longo da sua trajetória
profissional.
93
Tem-se uma espécie de embate, já que à primeira vista as novas e
específicas exigências não são coincidentes com as experiências anteriores, que lhe
garantem uma bagagem, tanto em termos de conhecimento teórico quanto
considerando o conhecimento prático. Logo, o novo é percebido como um desafio.
Essa fase requer do enfermeiro maturidade para uma busca na compreensão dos
seus próprios sentimentos, angústias e dúvidas, que emergem quando da
aproximação com a especialidade.
Tudo passa a ser vivido de uma maneira intensa e singular, com extremos
de sentimentos e valores, atitudes e comportamentos, pensamentos e práticas, que
podem variar, desde os mais felizes e tranqüilizadores até àqueles marcados pela
raiva e a revolta. A eclosão de variados sentimentos pode ser compreendida, já que
o enfrentamento do novo irremediavelmente produz angústia de não saber,
ansiedade, desamparo e desassossego. Isso porque, simbolicamente há todo um
tecido social, onde a cada agente corresponde um lugar e, a cada lugar, um agente.
Por conta disso, o diferente fica fora de determinados espaços, fica excluído deles e,
portanto, em uma situação compatível com o estado de estranhamento.
Percebe-se assim, uma inicial resistência à mudança que pode provocar
verdadeiros suicídios diários no processo de aprendizagem e de apreensão do
conhecimento. Obviamente, que viver em uma zona de conforto, sem riscos, sem
ameaças, é por demais cômodo, mas pode limitar para somente aquilo que já se
sabe e já se conhece. Através da mudança é que se propicia o desafio e, neste
sentido, a exposição às oportunidades, levando a diferentes possibilidades em um
novo cenário.
O enfermeiro, mesmo sem experiência na especialidade, precisa assumir
papéis, desempenhar funções, adotar atitudes e práticas, constituindo no momento
94
inicial um peso, que eu diria, em uma leitura pautada na abstração, o peso da
realidade. Esse peso impregnado de expectativas, tanto do profissional que espera
o progresso e o contentamento, quanto do setor especializado, que precisa do
trabalhador atuante e disposto a desenvolver ações, que efetivamente representem
resultados.
Nessa fase, bem representada pelo fenômeno e por suas categorias, tem-
se o choque, a caracterização da própria perplexidade em que se encontra o
enfermeiro que na situação do novo, não consegue vislumbrar claramente o melhor
caminho a seguir, a melhor escolha a ser feita. Fica então o profissional em um
estado de paralisação, aguardando e observando os acontecimentos, tímido à
própria realidade, ao mesmo tempo em que sente um turbilhão de sentimentos, que
ora nem consegue ser detalhadamente explicado.
O fenômeno VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: A INSERÇÃO DO
ENFERMEIRO NA ESPECIALIDADE pode então tomar a configuração e começar a
ser compreendido, a partir da experiência do enfermeiro no enfrentamento do novo,
considerando o aprofundamento relacionado às categorias que o compõem:
DESCOBRINDO A ESPECIALIDADE: O CONTATO INICIAL e RELACIONANDO O
ENFRENTAMENTO DO NOVO COM O ACOLHIMENTO.
95
DIAGRAMA 1 – FENÔMENO: VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: A
INSERÇÃO DO ENFERMEIRO NA ESPECIALIDADE.
Relacionando o enfrentamento com o acolhimento
Aproximando-se do
trabalho na especialidade
Vivendo o choque da realidade: a inserção do enfermeiro na especialidade
Encorajando-se
Ficando desmotivado
para o enfrentamento da
realidade
Relacionando o enfrentamento
do novo com o acolhimento
Sendo bem recebido
Passando por capacitação específica
Descobrindo a especialidade:
o contato inicial
Vivendo um momento
de conflito
Percebendo sentimentos
Sendo o
acolhimento favorável
Sendo o Acolhimento desfavorável
muitos
96
A categoria DESCOBRINDO A ESPECIALIDADE: O CONTATO INICIAL
se expressa a partir da associação das subcategorias: APROXIMANDO-SE DO
TRABALHO NA ESPECIALIDADE, PERCEBENDO SENTIMENTOS E VIVENDO
UM MOMENTO DE CONFLITO.
QUADRO 1. DESCOBRINDO A ESPECIALIDADE: O CONTATO INICIAL.
Categoria Subcategorias
Descobrindo a especialidade: o contato inicial
1.1 Aproximando-se do trabalho na especialidade
1.2. Percebendo sentimentos
1.3. Vivendo um momento de conflito
Em APROXIMANDO-SE DO TRABALHO NA ESPECIALIDADE, o
enfermeiro vive o encontro com o novo, podendo ter diferentes reações. Destaque-
se o fato, de que os dois lados não são conhecidos: sendo o enfermeiro um estranho
para o novo, bem como o novo um estranho para o enfermeiro. Entendendo-se por
novo, considerando a experiência dos enfermeiros, mudança, movimento, sair da
rotina, sair do lugar e transformar.
97
“O novo? Eu sou viciada. Eu tenho esse problema, muito pelo
contrário, é o vício pessoal, é uma personalidade”. Raio
“Então, o enfrentamento do novo, é um enfrentamento pessoal
frente a uma situação, em que todo dia você tem o trabalho de pensar, com
você mesmo, se vale à pena...” Tempestade.
O enfermeiro tem a sua frente um desafio de cunho pessoal, que exige um
período de adaptação, já que o cuidado de enfermagem, na especialidade, encontra-
se mergulhado em peculiaridades e singularidades. Também vive um momento forte
de apreensão de conhecimentos, em que o enfermeiro parte realmente para o
desconhecido, tendo que retomar a situação de aprendiz.
“Quando você tem noção já é difícil entrar em um lugar e se
adaptar, quando você não tem tudo é muito mais difícil”. Fogo
“O iniciante não tem noção do que se passa dentro de uma
determinada especialidade”. Fogo
“Não precisa ser recém formado, porque eu não sou recém
formada e estou caindo numa clínica específica e, me dão um exame, que
eu digo: Minha gente o que é isso?”. Raio
O capítulo que se institui na vida do enfermeiro é o vamos aprender,
deixando no aguarde, nesse primeiro momento, o capítulo vamos ensinar. Ao
assumir esse papel, existe uma inversão e transformação na natureza das
interações, em se tratando do caráter simbólico em que o enfermeiro sai de uma
situação de domínio, indo para uma outra, onde precisará ser amparado, tanto em
98
termos de recursos teóricos e técnicos, quanto inclusive considerando as questões
emocionais. Isto não é um movimento fácil, porque fica claro uma condição de
despreparo, e em consonância com essa idéia, o enfermeiro sente a falta de
proteção, que legitimamente é obtida quando se conhece o que se faz.
“Cansei de chorar porque às vezes acontecia alguma coisa, e não
sabia resolver”. Flor
“Não conhecer é terrível... Sensação de incompetência”. Raio
Muitos são os pensamentos do enfermeiro que faz um resgate de sua
vida, de fato, PERCEBENDO SENTIMENTOS, que se misturam e se confundem,
podendo sair da mais absoluta felicidade até a obstinada negação. A negação
constitui uma situação importante, podendo interferir tanto, a ponto do enfermeiro
não desejar nenhum tipo de aprendizado. Sendo um processo de atordoamento,
entorpecimento e descrença, no qual não se quer participar de nenhuma realidade
inovadora.
“A minha vontade era apenas saber o básico, para não fazer
errado. Eu acho que eu mesmo me limitei. Eu não consegui me projetar. Eu
pensava, quero o básico. Agora, para trabalhar o dia a dia eu tinha que
aprender o básico”. Céu
“Eu pegava os livros e acontecia o que acontecia na faculdade.
Você começa a dormir, você começa a estudar e dá sono, dá vontade de ir
ao banheiro, dá vontade de beber água, tudo para despistar a sua atenção.
Porque realmente você não quer aquilo dali”. Flor
99
“Eu tenho que aprender uma coisa que eu não quero. Eu
preciso aprender uma coisa que eu não sei fazer, mas eu também não
quero aprender”. Flor
A experiência do enfermeiro frente ao novo revela que o desapontamento e
a frustração que acompanham essa atitude podem gerar impulsos de agressividade e
raiva, que são voltados para tentativas de sair da especialidade antes mesmo de
começar. Além disso, uma outra forma de expressar a raiva são os sentimentos de
autopiedade, quando o enfermeiro se sente à vítima da instituição, que o inseriu em
tal situação.
“Outra coisa que me revolta, é como um hospital com tantos
mestres e doutores em gerência pode lançar mão da linha tapar buraco,
inserindo pessoas sem nenhuma proximidade, não considerando as suas
experiências anteriores, tendo profissionais com perfil delineado, com
experiência trazida de outro lugar”. Céu
“Me senti impotente a minha própria realidade. Passei no
concurso, e sendo nova na Instituição, não cabia ficar insistentemente,
reclamando. Apesar disso, tentei algumas vezes falar com a Chefia sobre o
assunto”. Tempestade
Destaque para uma emoção natural associada ao contato próximo do
enfermeiro com o conhecimento novo, que agora fará parte do seu dia-a-dia. Assim,
ele percebe diferentes e conflitantes sentimentos, como: a alegria, a tristeza, o
aborrecimento, dentre muitos outros.
100
Em consonância com o exposto, os dados também apontam que
dependendo do sentimento, este servirá como uma mola propulsora para a
motivação, impulsionando satisfatoriamente o enfermeiro, que pode ser até
exagerado, levando ao estado de euforia. Em contrapartida, quando o sentimento é
pessimista, pode gerar dificuldades no controle das emoções, se convertendo num
estado de revolta, podendo chegar a um quadro de depressão.
“Tanto chocolate que eu comi, para melhorar o meu nível de
serotonina, porque era muita tristeza que eu sentia”. Mar
“O novo aparece como algo desafiador, inquiridor, algo
instigante, com um certo fascínio. Não vejo como ameaçador. Ao contrário de
mim, eu vejo as pessoas com muita cautela diante ao novo. Eu sou louco por
coisas novas. Isso faz parte de mim ”. Nuvem
“Eu enfrentei, enfrentando. Assim mesmo, encarando. É novo,
mas aquele novo é o que eu quero naquele momento, então o que posso
fazer para naquele momento o novo se transformar numa coisa mais
conhecida para mim?” Sol
Diante do conhecimento novo, a partir da vivência do enfermeiro, o medo
é inevitável, podendo levar à paralisação, diante do futuro. Entretanto o medo,
quando bem administrado, pode até ser um componente importante, já que mantém
o enfermeiro alerta, com relação ao desconhecido. Agora, também pode significar
um estado dominado pela ansiedade, com desenvolvimento de ameaças que podem
existir ou não, alterando o conteúdo do pensamento, interferindo em todos os
processos interativos.
101
“O que fazer agora... Pensei comigo... Não sei... Fiquei sem
saber o que fazer...”. Flor
“Eu tive problema dermatológico por ansiedade. Me sentia
durante um tempo muito infeliz. Não conseguia me adaptar”. Céu
Para o enfermeiro a ansiedade aparece muito forte e marcante, como um
estado de ameaça, gerando mais insegurança quanto à capacidade de lidar com o
desconhecido. No entanto, os dados revelam que também é este sentimento que
impulsiona o enfermeiro a agir sobre o mundo social, que não lhe é familiar, e que,
portanto, não é tão evidente e claro. Um mundo que não está sob o seu domínio,
mas que precisa ser seguido, sem saber ao certo o que o espera e aonde vai
chegar. É, sob essa ótica, a ansiedade pode ser saudável e natural, pois, por
excelência, o ser humano é ansioso.
O enfermeiro se engana quando tenta disfarçar a sua ansiedade, gerando
comportamentos que não são peculiares para o momento de enfrentamento de uma
nova realidade, demonstrando atitudes como o excesso de praticidade e
objetividade, buscando se livrar daquela agonia e da sensação de desconforto que a
ansiedade gera, até mesmo com a finalidade de defender-se.
A ansiedade faz o enfermeiro sentir a expressão e o impacto da realidade,
não podendo ser negada ou temida. Sentir nesse caso, apesar de relacionado com o
conhecimento novo, não significa uma fragilidade pessoal, e sim, numa situação de
conhecer, reconhecer sensações, lidar com o emocional, sem se enganar. O sentir
como um movimento que aguça a possibilidade do pensar, por conseguinte,
podendo levar a um agir reflexivo.
102
Cabe ainda relatar que no dia-a-dia na especialidade, o enfermeiro
procura guardar a sua ansiedade tentando minimizá-la. Às vezes, recorre a
psicoterapias e medicamentos, quando a ansiedade se apresenta incontrolável e
altamente prejudicial. Porém, de uma forma geral, é capaz de enfrentá-la, utilizando
como impulso ou como freio, para o enfrentamento do próprio cotidiano.
“O novo é complicado. Em qualquer situação o novo é
complicado. (...) Tudo que é novo gera um certo nervosismo, uma
ansiedade. Então eu vim para cá achando que eu poderia trabalhar em
uma coisa que eu gostasse. E aí desde a faculdade eu nunca gostei dessa
especialidade”. Flor
“Nossa mãe, coisa assim, eu era muito bicuda. Eu vivia
bicuda, bicuda o tempo todo. (...) Coisa assim absurda. Procurei florais
também, não sei se você conhece o trabalho com florais... É um tipo de
abordagem que trabalha com as emoções e os sentimentos. Então
comecei a usar florais e fui bem”. Mar
A experiência do enfermeiro revela que a expressiva mudança exige do
mesmo uma grande capacidade de adaptação física, mental e social. A grande
exigência imposta implica em um estado de conflito, ansiedade, angústia e
desestabilização emocional. O estresse surge como uma conseqüência direta dos
persistentes esforços adaptativos da pessoa à sua situação existencial, que tem seu
momento de impacto, VIVENDO UM MOMENTO DE CONFLITO.
Surge o questionamento, colocando em cheque, até que ponto esse novo
será bom. Não somente pensando sob a perspectiva da manutenção do trabalho e
do conhecimento, mas sob a ótica do momento de vida de cada pessoa e a
disposição para mudar e enfrentar o desafio, e tudo que possa estar relacionado.
103
Cabe pontuar também que se trata de um conflito intransferível, que tem relação
com as características pessoais de cada indivíduo, e nesse contexto, apenas o
enfermeiro é capaz de responder, pensar e mobilizar-se para uma estratégia em
busca de uma adaptação, ou não.
“Às vezes as mudanças são para melhor, e às vezes não... É
preciso ter a oportunidade de discutir isso. O novo pode ser ou não o
melhor. É preciso ir devagar nesse novo”. Terra
“Não gosto do setor. Mas preciso do emprego. Não querem me
tirar. Tenho que ficar... Vou tentar resolver isso amanhã”. Montanha
“No início foi muito complicado. Ficava confusa aqui. Não sabia
o que realmente queria da minha vida. Sabia que aprender coisas novas
era bom, mas não tinha certeza de nada. Uma hora queria ficar, na outra
queria sumir...” Trovão
É importante salientar que existe uma relação entre a receptividade do
enfermeiro no momento de inserção e lotação no setor especializado com o
enfrentamento do conhecimento novo. Quanto mais próximo do seu desejo pessoal,
quanto mais condizente com um acordo, mas existe a possibilidade de aceitação e,
por conseguinte, diluição das questões conflitantes. Ao passo que, quanto mais
forçada tenha sido a situação de inserção, sem respeito às preferências individuais,
sem escuta ativa aos problemas pessoais, mais existirá a repulsa, culminando com
os significativos conflitos interiores.
104
“Vim para o setor que desejava. Estou aprendendo muito”. Sol
“Inicialmente iam me colocar lá por que eu reclamei... Logo
depois, minutos depois, eu vi que não... Não estavam vendo a minha vida,
estavam vendo a vida do setor. A enfermeira me disse: não tem jeito, a
prioridade é para os antigos. Não falei mais”. Céu
“Ninguém me deu chance de dizer não quero trabalhar nesse
setor. Não gosto disso. Eu tive que literalmente engolir. Isso foi revoltante”.
Montanha
“Eu queria vir para esse novo. Então, tive que agüentar as
situações difíceis do dia-a-dia. Foi minha escolha, por isso acho que ficou
mais fácil enfrentar o novo”. Arco-íris
O enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo percebe o quanto é
fundamental perseverar para que a fase inicial passe, em que pese à aproximação
com a especialidade, à percepção de sentimentos e os conflitos interiores.
Entretanto, é importante refletir também, partindo da experiência estudada, que à
medida que a pessoa não tem confiança em suas capacitações, inerente a situação
de vivenciar o desconhecido, ela pode apresentar dificuldade em apostar naquilo
que lhe é novo.
Pensando sob a perspectiva da fase de choque, com ênfase também para
a questão emocional, o enfermeiro desperta para como de fato foi recebido na
unidade, RELACIONANDO O ENFRENTAMENTO DO NOVO COM O
ACOLHIMENTO, sendo essa categoria, bem representada a partir das
105
subcategorias: SENDO O ACOLHIMENTO FAVORÁVEL; SENDO BEM
RECEBIDO; PASSANDO POR CAPACITAÇÃO ESPECÍFICA; ENCORAJANDO-
SE; SENDO O ACOLHIMENTO DESFAVORÁVEL e FICANDO DESMOTIVADO
PARA O ENFRENTAMENTO DA REALIDADE.
QUADRO 2. RELACIONANDO O ENFRENTAMENTO DO NOVO COM O
ACOLHIMENTO.
Categoria Subcategorias
Relacionando o enfrentamento do novo
com o acolhimento
2.1 Sendo o acolhimento favorável
2.2 Sendo bem recebido
2.3 Passando por capacitação específica
2.4 Encorajando-se
3.5 Sendo o acolhimento desfavorável
3.6 Ficando desmotivado para o enfrentamento da
realidade
O enfermeiro, mediante a situação de enfrentamento do conhecimento
novo, valoriza como se dá o ambiente da sua inserção no setor especializado e
associa isso à própria possibilidade de adaptação. Portanto, SENDO O
ACOLHIMENTO FAVORÁVEL, demonstra a influência do contexto para o
106
entendimento do fenômeno, considerando a preocupação do profissional com um
local de trabalho que permita o seu crescimento.
Dependendo da forma como a especialidade está estruturada e
organizada internamente, os profissionais terão melhores ou piores percepções do
trabalho, possibilitando ou não o desempenho intelectual e manual; acesso a
recursos e hierarquias institucionais; relacionamento e intercâmbio interpessoal;
percepção sobre si e sobre os outros, influência e importância do mesmo para a
comunidade interna e externa; níveis de satisfação e desgaste, entre outros.
Além disso, a busca por uma unidade agradável tanto no que se refere à
estrutura quanto à funcionalidade, no sentido de um processo de trabalho prazeroso,
eficaz e de qualidade, como também tendo como base o respeito às diferenças.
Desse modo, o acolhimento positivo imprime uma expressão otimista para o
enfermeiro, ajudando no processo de enfrentamento da situação nova.
“Achando que o enfrentamento do novo tem relação com a
recepção no setor, quanto melhor, mais fácil”. Vento
“Percebi logo que a coisa era confusa. Não sei se foi o jeito
como fui recebida... Ou se realmente tinha relação com minha total
indisposição de ficar ali”. Montanha
É importante pensar também que o trabalho faz parte da vida das
pessoas, sendo um meio para o progresso e participação através de uma construção
em prol do bem social. O ambiente de trabalho precisa ser estimulante, descontraído
e alegre, onde as pessoas possam desenvolver atividades de interesse geral,
107
benéficas para outros indivíduos, não somente na perspectiva da clientela, mas
também, considerando os trabalhadores envolvidos.
A valorização do enfermeiro por um ambiente de trabalho saudável, onde
não seja cultivado o medo, e sim, seja caracterizado por um clima de verdade e de
abertura. Além disso, um ambiente de trabalho sadio proporciona saúde às pessoas,
em contrapartida, a um ambiente de trabalho agressivo, que pode levar ao
surgimento de doenças profissionais e, conseqüente, à perda ou desistência da
capacidade laborativa, o que é péssimo para alguém que está iniciando, acentuando
o momento de crise.
Nessa premissa, o enfermeiro SENDO BEM RECEBIDO no setor
especializado, pode ser positivamente sensibilizado. A relação do setor
especializado com este profissional é de extrema significância em todo o processo
de aproximação com o conhecimento novo, considerando que quanto mais
agradável for o ambiente melhor o enfermeiro se sentirá acolhido. Nesse caso, o
sucesso do acolhimento está associado à empatia, significando menos quantidade
ou qualidade de informação e mais harmonia interativa. A empatia, como uma
ferramenta de quilate, apoiando o iniciante no enfrentamento do desafio. Dessa
maneira, tê-la ou não vai fazer, para todo o processo, muita diferença.
Ser sensível àquela pessoa que está abalada, estendendo a mão e
oferecendo-lhe ajuda, pode funcionar como uma espécie de porto seguro. Alegrar
um ambiente, motivar quem está ao seu redor, trazer humor e carinho aos outros
são provas de empatia. Compartilhar conhecimento e sabedoria é um gesto de
preocupação com o processo no qual vive o enfermeiro.
108
Quanto mais bem recebido e ouvido, com respeito as suas demandas
profissionais e pessoais, mais fácil poderá ser a sua aproximação com a
especialidade, considerando a sua posição de iniciante e a importância dada ao seu
momento, que sem dúvida é especial, podendo até mesmo ser compreendido como
um movimento de solidariedade da equipe que o recebe.
Entretanto, e não obstante, o enfermeiro vai ENCORAJANDO-SE, bem
como, ganhando forças para continuar tentando manter-se na especialidade. Desse
jeito, com maior ímpeto para decidir sobre si mesmo, tendo coragem para dizer sim
e até para dizer não. Além disso, tendo coragem para confessar que não sabe
alguma coisa e que pode precisar da ajuda de pessoas mais experientes. Assim,
cabe a reflexão, que o acolhimento satisfatório funciona como uma ferramenta de
apoio ao enfrentamento da nova realidade. Ousaria, corroborando com o exposto,
em chamá-lo de acolhimento empático.
“Foi muito bom termos sido recebido com uma reunião de
apresentação. Pudemos conhecer as pessoas logo. Isso foi bom para eu
sentir que não estava tão sozinho”. Lua
“Graças a Deus, eu fiquei em uma equipe que eu acho fez
parceria comigo. Eu passei por outros plantões, mas o que fico ouvindo
dizerem, é que fiquei com as meninas mais flexíveis. Acho que elas até
sabem o quanto eu não gosto disso aqui, e, tentam amenizar o meu
sofrimento”. Flor
“Era tudo tão organizado. Fui logo recebendo as rotinas.
Confesso que me animei. Fiquei imaginando eu dominando a situação.
Passou até pela minha cabeça ser uma especialista na área”. Sol
109
Nesse caminho, os dados apontam que são observações favoráveis com
relação ao acolhimento do enfermeiro na especialidade: a escuta ampliada às suas
dúvidas e inquietações pessoais; a preocupação com as suas necessidades a partir
da situação circunstancial; o encaminhamento de seus problemas quer sejam eles
objetivos ou subjetivos; a preocupação com a capacitação profissional. Esta última
representada na subcategoria, PASSANDO POR CAPACITAÇÃO ESPECÍFICA,
em função da busca pela qualificação e apreensão do conhecimento específico,
dentre outros aspectos.
Entendendo capacitação específica como um processo de qualificação,
aperfeiçoamento e aprimoramento profissional. Não somente voltada para o
exercício de determinadas ações, mas também, com o objetivo de permitir uma
compreensão global da especialidade, uma vez que a pessoa precisa estar
preparada, com atitudes e práticas condizentes às exigências desse campo de
atuação.
O processo de capacitação possibilita que se trabalhem as habilidades
específicas da especialidade, ou seja, o enfermeiro recebe estímulo para exercitar
suas competências básicas, com ênfase na valorização: da auto-estima, da
comunicação, dos relacionamentos interpessoais; além da capacidade de se
autogerir, tomar decisões, participar de trabalho em equipe, bem como o
amadurecimento do seu processo de desenvolvimento no trabalho.
“Acho até que eles tiveram boa intenção para nos receber.
Preparando uma carga horária teórica. Uma tentativa de nos acalmar,
dando bom ânimo”. Céu
110
“Treinamento para mim, é ter um profissional ao meu lado,
ajudando a resolver minhas dúvidas. Essa coisa, só de teoria é bastante
complicado. Ainda mais, sendo muito corrido”. Fogo
Antagonicamente ao apresentado, quando o contexto demonstra ser
pouco ou nada acolhedor, por conseguinte, SENDO O ACOLHIMENTO
DESFAVORÁVEL, de fato, com relações complicadas, desrespeitosas e não
profissionais, o afastamento do enfermeiro também é bastante favorecido.
Seguem alguns problemas que causam o desânimo do enfermeiro novato:
ambiente físico impróprio para os procedimentos realizados; falta de autonomia do
enfermeiro; falta de curiosidade para implantação de melhorias por parte dos
gestores; falta de informação; falta de perspectiva de desenvolvimento e de
crescimento; falta de tempo e ambientes apropriados para a reflexão coletiva; falta
de visão compartilhada; hierarquias rígidas; imposição de modelos padrão
desatualizados; ausência dos planejamentos participativos de atividades;
burocracias excessivas; controles excessivos, que exigem um trabalho
desnecessário do enfermeiro; estímulo a julgamentos prematuros; mesmice e
repetição; pessoas sem visão (que matam suas próprias idéias e/ou as dos outros);
pressões; restrição de escolhas ou opções; rigidez de horários e compromissos;
rotina massacrante; forte vigilância das pessoas; falta de reconhecimento do
trabalho realizado pelo enfermeiro, entre outros aspectos.
A desorganização do setor especializado aparece como um fator que pode
não contribuir no processo de adaptação do enfermeiro, estimulando para a não
participação, FICANDO DESMOTIVADO PARA O ENFRENTAMENTO DA
111
REALIDADE. Desse modo, muito mais por suas conseqüências, a falta de
motivação, de entusiasmo e de estímulos são fortes inimigos do conhecimento novo,
já que sem esses é bastante complicado desenvolver um movimento em prol do
aprendizado. Quando predominam fatores que desmotivam e desestimulam, a
possibilidade é desastrosa para o conhecimento.
É importante pensar que o grande responsável pelo fracasso ou sucesso
da motivação são as pessoas. Com isso, a principal ação contra a desmotivação é a
pessoa sensível, de altíssima qualidade, devidamente orientada e qualificada para
agir em benefício da motivação, acolhendo de uma maneira empática o enfermeiro
recém chegado à especialidade, contribuindo para o processo de adaptação.
“O pior é vir para cá, sabendo os problemas de falta de
material. Sabendo que vou ter que correr a toda hora o hospital para ver
onde tem as coisas. Isso desestimula qualquer cidadão”. Montanha
“Todo mundo sabe como está a saúde, falta tudo, pessoas
trabalhando insatisfeitas... Essa realidade é muito ruim para quem quer
começar alguma coisa. Não favorece em nada uma adaptação”. Nuvem
“Se fosse um local agradável de se trabalhar, a gente passa
por crises, problemas por falta desde falta de seringa, falta de agulha, isso
parece até que aquece o problema que já existe comigo, de não gostar
disso aqui, faltava isso, faltava aquilo...” Flor
“As coisas aqui eram confusas. E isso dificultava a
aproximação com a especialidade. Não que a culpa estivesse totalmente
na unidade, mas a falta de um planejamento para receber os enfermeiros
112
sem experiência, gerava um estado de maior agonia... Poderia ser bem
diferente”. Trovão
Pude perceber durante a entrevista, que várias coisas faltam
no setor e que o enfermeiro tem um papel intenso, desempenhando muitas
funções e sendo responsável por muitas coisas. Fomos interrompidos
diversas vezes, por situações variadas, que necessariamente não exigiam
a figura do enfermeiro. Pude perceber também, por parte do profissional
enfermeiro, uma expressão facial de total descontentamento, a cada vez
que alguém solicitava algo, que poderia ser resolvido, caso existisse uma
maior definição de papéis na especialidade. (Anotações de Campo).
Afinal, um acolhimento respeitoso e flexível às diferenças, preocupado
com o estabelecimento de uma relação empática que seja compatível com as
necessidades do enfermeiro iniciante, com base no planejamento prévio que reúna
esforços de toda coletividade, expresso por atitudes dos já envolvidos na
especialidade, pode funcionar como estímulo motivacional para o agir do enfermeiro
mediante a nova realidade, influenciando diretamente no enfrentamento do
conhecimento novo.
113
DIAGRAMA 2 – CATEGORIA: DESCOBRINDO A ESPECIALIDADE: O CONTATO
INICIAL24.
24 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice IV.
Descobrindo a especialidade: o contato inicial
Aproximando-se do trabalho na especialidade
-Não tendo oportunidade anterior de trabalhar nessa área -Tendo a oportunidade de conhecer algo novo
-Não estando ali para atrapalhar -Achando que as coisas acontecem no seu tempo -Sendo o novo o que eu quero naquele momento
-Sendo inserida sem experiência prévia -Entrando devido à necessidade do serviço
-Querendo viver o novo
Vivendo um momento de conflito
-Tendo que aprender uma coisa que eu
não desejava; -Não sabendo o que fazer;
-Indo para o trabalho pensando o que fazer;
-Dizendo a todos o seu problema; -Pensando que o sofrimento é válido
para aprender coisas novas; -Pensando que o novo pode ser ou não
o melhor; -Podendo ser o novo melhor ou não; -Sendo as mudanças para melhor ou
não; -Vivendo situações completamente
diferentes; -Precisando aprender o que não sabe,
sem querer; -Sabendo que precisa atender as
expectativas, mas não conseguindo dar o ponta pé inicial.
Percebendo sentimentos
-Não tendo medo ou pavor; -Não tendo temor para prosseguir; -Não deixando o medo obstruir o
caminho; -Sendo no primeiro momento terrível e
frustrante; -Tendo sido marcada pelo sentimento de
impotência; -Achando que tudo que é novo gera um certo nervosismo, uma certa ansiedade;
-Estando aberta aos desafios; -Sendo bastante tolerante;
-Entrando com a cara e com a coragem;-Não estando preparado para aquilo; -Sentindo-se agredida por fazer aquilo
que não quer; -Não gostando da especialidade, mas
amando a enfermagem; -Sendo corajosa diante ao novo.
114
DIAGRAMA 3 – CATEGORIA: RELACIONANDO O ENFRENTAMENTO COM O
ACOLHIMENTO25.
EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA SER COMPREENDIDO
EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA SER COMPREENDIDO
25Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice V.
Encorajando-se
-Ganhando forças para trabalhar com a ajuda da equipe
-Sendo incentivado a ficar na especialidade
-Dando bom ânimo -Pensando que vai conseguir enfrentar o
novo -Sendo ajudado por todos os envolvidos na
especialidade -Começando a querer ficar
Ficando desmotivado para o enfrentamento da realidade
-Pensando em sair, devidos aos muitos
problemas do setor; - Piorando por não ter sido recebido; - Achando que a falta de treinamento
complicou muito a situação; -Não tendo grandes motivações; -Não conseguindo dar tudo de si;
-Se limitando; -Não querendo aprender nada em um lugar
tão complicado.
Relacionando o enfrentamento com o acolhimento
Passando por capacitação específica -Recebendo
treinamento teórico -Sendo acompanhado
na prática -Ficando um mês em
treinamento -Sendo acompanhado
por enfermeiro especialista
Sendo bem recebido
-Percebendo que todos aguardavam a
chegada dos enfermeiros
-Sendo bem tratado pelos auxiliares -Gostando do
ambiente de trabalho -Percebendo alegria
no rosto das pessoas
Sendo o acolhimento desfavorável
-Percebendo dificuldade na comunicação das pessoas
-Não recebendo uma rotina organizada -Reconhecendo coisas que precisam de
mudanças imediatas -Percebendo que na estrutura existem
problemas para o reconhecimento do papel do enfermeiro
-Percebendo dificuldade na interação do grupo de trabalho
Sendo o acolhimento Favorável
-Tendo uma boa relação com a equipe -Participando de dinâmica com a Chefia
quando da apresentação do grupo -Tendo espaço para conversar com a equipe-Tendo ajuda no começo até dos auxiliares
de enfermagem -Recebendo suporte da equipe para trabalhar
-Percebendo uma equipe entrosada
115
Esse fenômeno se caracteriza por uma singular complexidade, possuindo
muitos desdobramentos, que para adequada compreensão precisa ser estudado
considerando muitos aspectos e diferentes facetas. Assim, o ambiente de trabalho
aparece no estudo como uma composição não só caracterizada pela infra-estrutura
física e técnica, mas também, sobretudo, pelas pessoas que o utilizam. São as
pessoas que fazem a diferença, que contribuem ou não para um ambiente saudável
e desejado. As suas atitudes são vitais para a mudança de um ambiente
organizacional.
A partir dos dados, pode-se compreender como ambiente aquilo que está
ao redor e que permeia a especialidade, também fazendo parte os agentes sociais,
com suas diferentes crenças, culturas, valores, entre outros aspectos. No ambiente o
enfermeiro desenvolve as suas atividades, interage, relaciona-se, aprende,
desempenhando nele o seu papel social.
Por outro lado, não poderia deixar de mencionar que o trabalho em saúde
é marcado pela coletividade e, assim como o ambiente, também apresenta
diferentes faces, nuances, possibilidades, formas de ser percebido e compreendido
enquanto espaço de atuação dos profissionais da saúde. Desse modo, à luz dos
dados, o enfermeiro percebe o trabalho como um espaço de interação, de
relacionamento e comunicação entre pessoas, em prol de um bem comum, que
dignifique o saber/ fazer em enfermagem.
Partindo dessas acepções, o ambiente apresenta-se como espaço vivo de
interação, um tecido macrossocial, que envolve aspectos físicos, psicológicos,
culturais, éticos, sociais e relacionais, entre os profissionais de saúde e os clientes,
considerando que cada trabalhador possui um papel específico e precisa interagir
116
continuamente com outros seres humanos, sejam esses também trabalhadores da
saúde, ou ainda, usuários. Explicita-se pelo compartilhar de objetivos comuns, em
busca da restauração, da recuperação, do tratamento e da reabilitação de pessoas,
com base no direito à saúde, na atenção digna e humana.
Ainda em consonância com os dados, o enfermeiro reconhece, que a
organização do trabalho, e isto inclui a situação da vivência na especialidade, é
marcada pela divisão técnica e social. Existe em todo o processo a hierarquização
institucional, a distribuição de atividades entre os trabalhadores de acordo com a
qualificação profissional, diferenciando os níveis de sociabilidade e de comunicação
estabelecidas na organização, bem como a natureza das interações sociais entre as
pessoas.
Cabe também pontuar, que a clientela atendida na especialidade também
possui singularidades inerentes ao conhecimento específico, constituindo um grande
desafio para o enfermeiro iniciante ou novato, já que o mesmo precisa flexibilizar
diferentes tipos de conhecimentos e até àqueles relacionados às experiências
anteriores para desenvolver o cuidar na especialidade. Isso sem perder de vista a
complexidade do ser humano, considerando as diferentes possibilidades e esferas
possíveis e necessárias a sua compreensão, em destaque: a física, a psicológica, a
social, a cultural, a espiritual, a ética e a estética.
É importante enfocar também, que além das diferentes pessoas
envolvidas no espaço macrossocial da especialidade, existem muitas peculiaridades
associadas a crescente tecnologia em saúde, no que se refere à presença de
materiais e de equipamentos de cunho específico e especializado, bem como
manuais e rotinas de utilização dos mesmos, que do mesmo modo representam uma
117
grande e significativa novidade para o enfermeiro no enfrentamento do
conhecimento novo.
Dessa maneira, o fenômeno, EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA
SER COMPREENDIDO toma a configuração para ser compreendido, a partir das
conexões entre as categorias: CONHECENDO OS RECURSOS FÍSICOS E
MATERIAIS e CONHECENDO AS PESSOAS.
118
DIAGRAMA 4 – FENÔMENO: EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA SER
COMPREENDIDO
Existindo um contexto que precisa ser compreendido
Conhecendo as pessoas
Conhecendo os recursos físicos e materiais
Conhecendo o Espaço Físico
Conhecendo os Equipamentos
Conhecendo a Equipe Multiprofissional
Conhecendo a Clientela
119
Nem todas as características, considerando qualidades e defeitos, estão
mutuamente apresentadas. Existe um processo de desconhecimento do contexto em
si e, por conseguinte, um movimento na tentativa de conhecer as facetas
relacionadas ao ambiente, com destaque: CONHECENDO OS RECURSOS
FÍSICOS E MATERIAIS, que se expressa pelas subcategorias: CONHECENDO O
ESPAÇO FÍSICO E CONHECENDO OS EQUIPAMENTOS.
QUADRO 3. CONHECENDO OS RECURSOS FÍSICOS E MATERIAIS
Categoria Subcategorias
Conhecendo os recursos físicos e materiais
3.1 Conhecendo o espaço físico
3.2. Conhecendo os equipamentos
Surge uma grande e significativa curiosidade pela dimensão física, a
natureza dos equipamentos utilizados, as rotinas planejadas e executadas; enfim
uma ânsia por uma caracterização detalhada da unidade especializada, com a
finalidade de tornar o conhecimento novo o mais familiar possível, o mais próximo da
compreensão.
“Pegando os manuais para ler e estudar em casa. Tendo essa
preocupação. Tenho que saber manipular o maquinário”. Montanha
120
“O que mais fiquei preocupada foi com os manuais das
máquinas, me deu até pânico, em pensar que algo poderia acontecer, sem
que eu soubesse resolver... Sabe como é tecnologia...” Flor
CONHECENDO O ESPAÇO FÍSICO, o enfermeiro procura compreender a
especialidade com ênfase naqueles locais pertinentes as ações da enfermagem, já
que lhe interessa nesse primeiro momento entender a atuação profissional que lhe
cabe e, que conseqüentemente, será por natureza própria, a expectativa de todos os
envolvidos na cena social.
“Me interessei de cara pelos locais em que efetivamente eu iria
trabalhar. Pois diante ao tamanho do espaço físico reservado para a
especialidade, tinha que usar de objetividade”. Mar
Muitos equipamentos causam um estranhamento por parte do enfermeiro,
que dentro do seu mundo experiencial precisa incorporar novos significados. Essa
apreensão ocorre ao longo da realização do trabalho, por conseguinte, do próprio
enfrentamento do conhecimento novo, em que o enfermeiro vai se apropriando do
saber/ fazer em se tratando da utilização do arsenal tecnológico presente na
especialidade, CONHECENDO OS EQUIPAMENTOS.
“Fiquei perplexa quando vi aquela máquina. Não sabia nada
sobre ela. Apenas, que teria de manipulá-la durante o trabalho. Uma
sensação de desamparo”. Vento
Em consonância com a busca pelo conhecimento e modo de utilização
dos equipamentos, da mesma forma o enfermeiro demonstra ânsia pela apreensão e
efetiva memorização das rotinas específicas no contexto da especialidade. O
121
enfermeiro através de uma procura direcionada tenta recuperar o domínio da nova
situação.
“Levei as rotinas par casa e passei a ler sempre que podia. Os
manuais, eu fiz questão de guardar a localização dos mesmos nos
armários, pois se precisasse teria que achá-los com facilidade”. Montanha
É importante enfatizar que o enfermeiro depara-se com um trabalho que o
leva a uma conduta especializada segundo rotinas pré-estabelecidas dotadas de
especificidades; sendo esperado que o mesmo cumpra normas e regulamentos
instituídos, sem perder de vista a hierarquia de autoridade existente.
“Precisei conhecer a Chefia e entender toda uma situação
política do setor. Isso me ajudava quando do trabalho na especialidade. No
fazer do dia-a-dia, precisava definir pessoas para contar nas horas de
maior dificuldade, assim como, a convivência cotidiana me mostrava
àquelas que não poderia contar, de jeito algum. Isso foi norteando a minha
prática e conduzindo minhas atitudes e ações”. Mar
Agora, cabe salientar, a partir da análise dos dados, que o ambiente é
composto, não só da sua infra-estrutura física e técnica, mas por pessoas que o
utilizam. Desse modo, emerge como demanda importante para apreensão do
enfermeiro na especialidade não somente conhecer o espaço físico e conhecer os
equipamentos, mas, sobretudo, conhecer a equipe multiprofissional e conhecer a
clientela. Logo, a organização do trabalho precisa ser entendida, antes de qualquer
coisa, como uma relação socialmente construída e, não apenas, na sua dimensão
estritamente tecnológica ou física.
122
Refletindo que as pessoas fazem substancial diferença quando da análise
do ambiente, emerge a categoria: CONHECENDO AS PESSOAS, que se expressa
pelas subcategorias: CONHECENDO OS CLIENTES E CONHECENDO A EQUIPE
MULTIPROFISSIONAL.
QUADRO 4. CONHECENDO AS PESSOAS
Categoria Subcategorias
Conhecendo as pessoas
4.1 Conhecendo os clientes
4.2. Conhecendo a equipe multiprofissional
O enfermeiro sente a necessidade de conhecer o contexto da
especialidade, com ênfase nas diferentes pessoas que trabalham e são cuidadas no
setor, com destaque: os relacionamentos, as posturas e as interações; sejam
profissionais, sociais e/ ou políticas.
“Procurando conhecer toda a unidade. Olhando mesmo.
Observando tudo. Acho ser importante conhecer a rotina, o local, a
integração entre as pessoas e o relacionamento interpessoal”. Vento
CONHECENDO OS CLIENTES revela a preocupação do enfermeiro com
o cuidado de enfermagem ao ser humano considerando a atuação profissional no
123
contexto do setor especializado. Essa prática orientada pela compreensão do
processo saúde-doença vivido pelo cliente, que inclui as necessidades específicas
pertinentes à especialidade.
“A clientela era muito diferente daquela que eu estava
acostumada. Era bastante difícil prestar o cuidado sem ter o domínio do
conhecimento tido como específico para área. Tinha que fazer uma força
muito grande para não passar isso para o cliente. Afinal! Ele não tinha
culpa...” Flor
Em consonância com o exposto, estão implícitas algumas atitudes por
parte do enfermeiro no sentido de não ser simplesmente um mero executor de
tarefas direcionadas por outrem, ou ainda, um reprodutor de ações sem o exercício
da reflexão. Assim, no enfrentamento do conhecimento novo na especialidade, o
enfermeiro assume uma postura crítica considerando as suas funções e o seu papel
social, ajustando princípios e medidas adotadas na especialidade à solução de
problemas específicos.
“Apesar de não estar bem adaptada à realidade, eu sabia que
precisava prestar um cuidado livre de riscos para o cliente. Eu não era o
melhor da especialidade. Mas fazia o meu melhor”. Montanha
Para tanto, ele precisa de muita criatividade para o planejamento de ações
de enfermagem, na tomada de decisões, adequando os recursos humanos e
materiais à implementação do cuidado planejado e desejado, já que por não dominar
o conhecimento pertinente às temáticas da especialidade, precisa lidar com a
inexperiência sem comprometer a qualidade da assistência prestada.
124
“Eu aproveitava o diálogo com os pacientes para me aproximar
ainda mais da especialidade. Por serem crônicos, eles viviam há muito
tempo à patologia, por conseguinte, os tratamentos associados. Assim,
para planejar as ações eu pensava: naquilo que tinha lido, nas trocas com
a equipe de enfermagem e nas falas dos pacientes”. Mar
Os dados apontam para uma prática do enfermeiro criadora, já que apesar
das dificuldades relacionadas à inexperiência, o mesmo procura enfrentar as novas
necessidades e as situações presentes na especialidade, com base nos valores da
profissão, buscando a apreensão de conhecimentos e, preocupando-se com o fazer
competente, em prol de uma assistência qualificada ao ser humano, considerando
os aspectos filosóficos e práticos da enfermagem. Nesse contexto, por meio da ação
crítica e reflexiva, integra questões éticas no seu agir.
“Eu vivia me cobrando. Apesar de ser nova aqui, preciso
conhecer a clientela e ajudar no que puder. Somar realmente, buscando o
melhor para o paciente. Até porque, o paciente tem o direito de receber
uma assistência digna”. Vento
No ambiente da especialidade, mesmo com o enfrentamento do novo, a
experiência revela que o enfermeiro preocupa-se com a manutenção da
credibilidade e garantia aos direitos dos clientes, assumindo quando necessário a
sua condição de iniciante e de aprendiz, consciente do seu papel e de seus limites,
além de suas responsabilidades frente ao bem-estar do cliente.
“Não escondia dos clientes minha condição de aprendendo as
coisas do trabalho. Isso porque eu demorava mais do que os colegas
experientes. Dessa maneira, pensava que era um direito deles saber o
porquê da demora”. Montanha
125
Independente de viver o novo, é o enfermeiro o responsável pela
implementação do cuidado de enfermagem a cada cliente, de maneira singular, em
caráter individual. Portanto, o enfermeiro precisa ampliar e aprimorar a sua
capacidade de interação, já que a equipe multidisciplinar representa o contexto
macrossocial na qual o mesmo encontra-se inserido, assim: CONHECENDO A
EQUIPE MULTIPROFISSIONAL.
Do mesmo modo, os dados revelam que o enfermeiro busca uma
aproximação satisfatória, no sentido do estabelecimento de interações positivas com
a equipe multiprofissional, dando importância a cada participante no rol de
conhecimentos da especialidade, valorizando possíveis trocas futuras.
“Fui buscando conhecer os membros da equipe multidisciplinar
para uma boa relação, valorizando a todos. Precisava contar com o apoio
deles. Precisava aprender rápido, e para tal, a equipe poderia me ajudar”.
Fogo
“Fui logo tentando compreender como se comportava a equipe
de trabalho. Equipe de enfermagem e equipe médica. Fui tentando interagir
de uma forma agradável. Acho que foi um pouco mais fácil para mim, em
virtude de ser uma pessoa extrovertida”. Arco-íris
Assim, o trabalho em equipe para o enfermeiro no enfrentamento do novo
não foge a realidade vivida no âmbito da saúde, levando-se em consideração que a
troca de informações e opiniões entre seus diferentes componentes torna o cuidado
muito mais eficaz. Embora, em alguns casos, a ação terapêutica possa se efetivar
através de um único tipo de intervenção, via de regra o atendimento múltiplo,
realizado por uma equipe contribui para a consolidação do tratamento como um
todo.
126
Os dados apontam também, que quando as atitudes das pessoas
somam-se aos esforços efetivos das suas Instituições, o melhor ambiente de
trabalho pode ser formado, possibilitando parcerias de sucesso, favorecendo a
adaptação.
Desse modo, o ambiente possui uma parcela significativa no sucesso das
pessoas no enfrentamento do conhecimento novo, em se tratando dos recursos
materiais, da definição das políticas de recursos humanos, daquilo que pode ou
não ser realizado, da promoção de condições físicas satisfatórias e, não obstante
a tudo isso, pelo estímulo freqüente à integração dos diferentes agentes sociais,
profissionais e clientes. Além disso, enfatiza a importância na clareza de metas e
objetivos, na transparência incondicional no que se refere às comunicações e nas
tomadas de decisões na especialidade.
Da mesma forma, um contexto propício para o bem-estar acaba por
incentivar ainda mais o surgimento de regras de convivência que nada mais são
do que a concordância em prol de um local agradável, motivando as pessoas
envolvidas no trabalho. Por outro lado, um contexto gerador de tensão e stress
pode influenciar negativamente no enfrentamento do conhecimento novo, com
manifestações emocionais compatíveis a um estado de desarmonia, no que se
refere às interações com os socialmente próximos.
127
DIAGRAMA 5 – CATEGORIA: CONHECENDO OS RECURSOS FÍSICOS E MATERIAIS26.
SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA NA ESPECIALIDADE
26 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice VII.
Conhecendo os recursos físicos e materiais
Conhecendo o espaço físico
-Indo de lá para cá para conhecer tudo -Pedindo para conhecer os locais da
especialidade -Abrindo as portas do setor
-Olhando tudo mesmo -Querendo saber os locais de trabalho da
enfermagem -Acompanhando a apresentação do
espaço físico do setor -Perguntando sobre a utilização das salas
do setor -Abrindo os armários do setor
-Querendo conhecer o contexto da especialidade
-Tendo que conhecer o local de trabalho
Conhecendo os equipamentos
-Pedindo manuais das máquinas para ler
-Pegando nos equipamento - Pedindo para montar e desmontar
-Olhando para as máquinas com máximo detalhe
-Tocando nos equipamentos para perder o medo
-Achando manipular a máquina bastante difícil
-Pensando que seria muito complicado utilizar isso
-Sofrendo somente de olhar a máquina -Tendo medo de utilizar a máquina
-sabendo que precisaria manipular a máquina
128
DIAGRAMA 6 – CATEGORIA: CONHECENDO AS PESSOAS27.
27 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice VI.
Conhecendo as pessoas
Conhecendo a clientela
-Sabendo que essa clientela é diferente
daquela que estava acostumada -Pensando que teria que aprender muito
sobre os pacientes -Achando que esse tipo de paciente me
assusta -Pensando que na especialidade os menos
terríveis são os pacientes -Tendo dificuldade de interação com os
pacientes na especialidade -Não sabendo reconhecer aspectos
pertinentes a especialidade nos pacientes-Sabendo que precisaria cuidar dos
pacientes crônicos
-
Conhecendo a equipe
multiprofissional
-Procurando interagir com todos -Puxando conversa com a equipe de
enfermagem -Conversando sobre minhas dificuldades com
o médico de plantão -Reconhecendo a importância da equipe na
minha situação -Querendo conhecer os enfermeiros que
trabalham na especialidade -Pensando como seriam os médicos
-Aproximando-se dos técnicos e auxiliares de enfermagem devagar e sempre
-Tendo medo de ficar com uma equipe ruim e de difícil relacionamento
-
129
SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA NA ESPECIALIDADE
A história do enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo continua
a ser contada, no entanto agora, a expressão fenomênica recai sobre a questão da
experiência. De fato, nessa situação, o mesmo não a possui, já que vivencia pela
primeira vez a especialidade. Como toda experiência humana estrutura-se tendo por
referência as dimensões do espaço e do tempo, não poderia ser diferente com a
inexperiência, e é em torno dela, que as interações se desenvolvem constituindo os
núcleos simbólicos da situação estudada.
Compreender essa dimensão e torná-la significante, nos faz refletir sobre
os aspectos subjetivos, associados aos sentimentos, às idéias e aos projetos de vida
de cada pessoa, às subjetividades individuais; subjetividade aqui entendida, não em
termos psicológicos, mas na produção de formas específicas de sociabilidade, que
participam da construção presente e futura dos agentes sociais.
É na prática que o enfermeiro deixa a sua marca coletiva, dando forma e
sentido ao mundo real, uma vez que implica em relações entre pessoas, construindo
através de sua própria experiência, sua singularidade e identidade profissional. Esta
atividade não se faz de qualquer forma, mas obedece a uma seqüência, realiza-se
dentro de uma ordem, de uma duração, segue regras, desenvolve-se dentro de um
tempo determinado.
Assim como o tempo, a dinâmica do espaço se faz pelo movimento das
pessoas, por suas relações, interações e circulação. Através da experiência
concebida, como uma quase coreografia, pela qual os movimentos se efetuam no
130
espaço produtivo, e neste, os agentes sociais marcam sua presença no mundo e em
suas relações com os outros.
Ao recuperar as significações que o enfermeiro atribui a sua experiência
no espaço produtivo, e que antagonicamente, também é atribuído à falta de
experiência, evidencia-se que age na representação da realidade, contribuindo,
intervindo e moldando-a materialmente.
Surge como marcante para o enfermeiro uma intensa preocupação com a
sua atividade laboral, a qual não tem o domínio necessário para uma atuação
profissional segura, já que ainda não se conhece totalmente, aquilo que deve ser
feito nas diferentes e desafiadoras situações da prática.
Existe, portanto, a influência direta de uma lógica, que insiste: se não sei,
não devo, não posso atuar. O enfermeiro que vive essas dificuldades percebe-se
embotado em si mesmo, com problemas de projeção, ou ainda, dentro de uma
perplexidade que o detém para atitudes mais empreendedoras.
Entretanto, ao mesmo tempo em que a inexperiência pode provocar o
medo da exposição, pode ocorrer uma inversão dessa situação e utilização a favor
do processo. È interessante salientar a esse respeito que, isso dependerá da
percepção do enfermeiro sobre as possibilidades de aprendizagem que se abrem,
ainda assim, para tal é preciso se expor, de alguma maneira.
Pelas questões apresentadas, essa fase diz respeito a uma condição da
falta de domínio real da situação, SENTINDO-SE CONSTRANGIDO POR NÃO TER
CONHECIMENTOS E HABILIDADES ESPECÍFICOS, com destaque para uma
acentuada fragilidade pessoal e profissional, considerando a ausência de referências
131
anteriores e a necessidade veemente de ajuda, corroborando com o
comportamento, HESITANDO EM DESENVOLVER O TRABALHO.
Além disso, ocorre uma percepção pessimista do seu próprio eu, a ponto
de ocorrer questionamentos interiores, no que se refere a sua competência técnica
para lidar com o conhecimento novo, SENTINDO O PESO DA
RESPONSABILIDADE, com um absoluto receio de exposições e danos, que
possam advir do enfrentamento.
132
DIAGRAMA 7 – FENÔMENO: SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA NA
ESPECIALIDADE.
VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: O ENFRENTAMENTO DO
CONHECIMENTO NOVO NA ESPECIALIDADE.
Sentindo a falta
de experiência na especialidade
Hesitando em desenvolver o
trabalho
Sentindo o peso da responsabilidade
Precisando dizer:
não sei
Sentindo-se
constrangido por não ter conhecimentos e
habilidades específicos
Tendo
insegurança
Sentindo
Taquicardia
Fazendo guiado
Tendo dificuldade
para dominar a situação
Sabendo que precisa fazer
Tendo que
tomar decisões
Tendo o
medo do erro
Precisando ser o líder da equipe
133
Diante a categoria, HESITANDO EM DESENVOLVER O TRABALHO,
emerge as subcategorias: TENDO INSEGURANÇA, SENTINDO TAQUICARDIA,
FAZENDO GUIADO POR REGRAS, TENDO DIFICULDADE DE DOMINAR A
SITUAÇÃO.
QUADRO 5. HESITANDO EM DESENVOLVER O TRABALHO.
Categoria Subcategorias
Hesitando em desenvolver o trabalho
5.1 Tendo insegurança
5.2. Sentindo taquicardia
5.3. Fazendo guiado
5.4 Tendo dificuldade de dominar a situação
É natural surgir hesitação e insegurança por parte do enfermeiro quando
do enfrentamento da experiência do novo. E justamente nesse momento, TENDO
INSEGURANÇA, é que se torna fundamental abrir-se de maneira receptiva para a
conquista de novos conhecimentos, com o intuito de incrementar valores a bagagem
pessoal e profissional. Além disso, a insegurança é fundamental para que o
enfermeiro tome decisões cuidadosas e seguras, pois o obriga a pensar
intensamente nos prós, contras e conseqüências de suas escolhas.
134
“No início instalar os doentes na máquina é bastante
complicado, mas depois vai melhorando. Eu tinha um grande cuidado para
puncionar os doentes. Mas depois fui melhorando”. Vento
“Primeira sensação que bate na gente é otimismo. Segunda
motivação. (...) Não sou pessimista. É claro que bate uma insegurança sim.
Tem horas que você para e pensa se vai valer a pena. Será que eu vou
dominar?”. Nuvem
“Então eu fiquei muito insegura. Eu tinha muito medo de
enfrentar. Porque aqui tem tudo. Isso aqui é uma enfermaria, uma
emergência, um pronto-socorro, um CTI... É tudo ao mesmo tempo e
atualizado. Eu tinha muita insegurança”. Flor
“À distância entre um novato e um especialista é muito grande.
O novato não tem noção do que se passa dentro de uma determinada
especialidade. (...) A gente é muito preparado para fazer tudo, para
conhecer tudo, mas a realidade não é essa, (...) Quando você chega em
uma especialidade, você encontra dificuldade, ainda mais quando, essa
especialidade não é aquela que você conviveu no tempo de graduação. (...)
Você sai de uma coisa geral para uma coisa muito específica. (...) Você
encontra inúmeras dificuldades. Não está preparado para aquilo”. Fogo
A insegurança ocorre por inúmeras causas e os seus sintomas dependem
das características de cada pessoa. De tal modo, na situação do novo vivenciada
pelo enfermeiro, a insegurança encontra-se diretamente relacionada a uma condição
de pressão psicológica, de ter que fazer algo que ainda não se sabe, ou ainda, não
se conhece o bastante. Manifesta-se quando o enfermeiro é apresentado a um fato
novo, em que é literalmente exigido o enfrentamento, tendo que encarar uma
situação forte, de desafio pessoal, haja vista metas e objetivos que precisam ser
135
atingidos, ou ainda, tendo o desafio de mostrar todo o seu potencial, com
possibilidades de juízos outros, voltados para o seu desenvolvimento profissional.
“Porque eu não conhecia. Conhecia uma parte, mas não
conhecia a outra. Disse: Muito prazer! Eu sou Fogo. Eu não tinha nenhuma
noção disso. (...) Foi uma experiência nova e foi difícil, por que eu não
queria”. Fogo
“Eu já estava enfrentando várias coisas novas. Novo hospital,
novo pessoal, nova vida... E ainda ter que enfrentar uma nova
especialidade... E me sair bem...”. Montanha
Pensando sobre isso, o corpo não mente, e por assim dizer, demonstra o
que as palavras, às vezes, não conseguem expressar. Em algumas pessoas pode
existir manifestação intensa e em outras de forma menos agressiva. Dessa maneira,
alguns sinais, sintomas, atitudes e comportamentos expressam o quão difícil está
sendo viver o enfrentamento do conhecimento novo, como por exemplo: as mãos
trêmulas, as pernas irrequietas, a voz embargada, a voz exaltada, o frio na
espinha28, de fato: SENTINDO TAQUICARDIA.
No início da entrevista, já percebi que a enfermeira mostrava-
se bastante sensível. Fui desenvolvendo a interação, e no momento que
perguntei sobre a sua vivência no setor especializado, foi o bastante. Pediu
desculpas, e começou a chorar. Chorou bastante. Até recomeçar a
entrevista, foi preciso que a mesma fosse a banheiro e também bebesse
água. (Anotações de Campo)
“Nos dias de folga, eu ficava pensando no próximo dia de
trabalhar... Sentia até taquicardia”. Céu
28 Grifo para diferenciar uso de termo popular.
136
“Quando fiquei sabendo do meu primeiro plantão, somente
pensei em sair correndo. Senti meu coração na boca. Foi uma coisa. Mas,
tive que vencer o medo...”. Montanha
“A primeira vez que fui para o plantão parecia que meu coração
ia explodir... Fiquei super tensa, já que tudo era novo, e eu não tinha o
domínio necessário”. Trovão
“Claro, dá medo. Você tem taquicardia, assim na hora, mas
você respira fundo...”. Mar
Tudo isso está relacionado à contradição entre o que o enfermeiro sabe
fazer e o que esperam que ele faça, com exigências para além de suas
possibilidades, em uma prática dotada de conhecimentos diferenciados e
específicos, que exigem conhecimento teórico e prático aprofundados.
Conseqüentemente, ocorre um grande dispêndio de energia, tendo em vista
esforços contínuos para uma rápida apreensão desses referidos conhecimentos.
“Eu tinha uma culpa muito grande por não resolver os
problemas do mundo e do hospital, hoje em dia eu já sou mais calma. (...)
Eu descobri que essa ansiedade, não ajuda só piora. Só deixa todo mundo
nervoso, só deixa todo mundo insatisfeito”. Raio
A discrepância quando supervalorizada dificulta qualquer forma de busca
por harmonia, pois impede que o enfermeiro vislumbre suas possibilidades de
conhecimento na especialidade, tornando o desconhecimento, em uma situação de
franco desespero. Contrariamente a isso, quando entendida como uma condição
momentânea, o enfermeiro acaba aprendendo a conviver com este sentimento, e
sobrevivendo, apesar das diferentes situações da prática, mesmo TENDO
DIFICULDADE DE DOMINAR A SITUAÇÃO.
137
“O sentimento que mais me marcou naquela época foi de
impotência, de não dominar ainda a situação, e por conseqüência, ainda
não conseguir dar tudo de si”. Vento
“O cara fica perdido, não sabe o que vai fazer, não sabe
resolver a situação, e aí acabam acontecendo coisas, que é sopa no mel
para quem já é cascudo. É um grande desgaste para o enfermeiro. Isso
porque você é colocado sem estar preparado”. Fogo
Um recurso utilizado para minimizar o efeito da insegurança na vida desse
profissional, que passa pela condição de iniciante, é a busca por um amparo de
caráter técnico, FAZENDO GUIADO, seja baseado em rotinas relacionadas aos
procedimentos, ou ainda, acompanhado de perto por um enfermeiro experiente.
Como não poderia ser diferente, o amparo técnico funciona também como amparo
emocional, oportunizando ao profissional aprender de uma forma mais agradável, eu
ousaria dizer, menos traumática.
“Além disso, o enfermeiro (...) foi passando o conhecimento
teórico, e após, o conhecimento prático. Um certo fazer com
supervisão”.Vento
“A gente tinha o acompanhamento de outros enfermeiros que
já tinham aquela prática, que nos treinavam, que nos passavam as
informações, e nos auxiliavam para a assistência naquele primeiro
momento. Depois, seguia caminhando sozinho”. Sol
“Seguia passo a passo à rotina para então desenvolver aquele
procedimento. Isso também porque era algo totalmente novo, cheio de
138
detalhes, e que confesso, também na era algo de minha máxima
preferência. Eu tinha que fazer, e isso era o fato”. Montanha
“Para fazer as coisas aqui no começo e recorria muito aos
protocolos de assistência. Acho que para quem não conhece um dado tipo
de trabalho, essa pode ser uma boa estratégia...” Arco-íris
Alguns comportamentos demonstram essa disposição para aprender, a
partir de uma tentativa de fazer o melhor com aquilo que possui. Entretanto, persiste
o estado de dúvida, sobre o que realmente o enfermeiro deseja e, para a elucidação
disso, apenas as variadas circunstâncias do dia-a-dia podem contribuir. Do mesmo
modo, como não poderia deixar de ser relatado, é preciso que o enfermeiro esteja
consciente de sua condição de aprendiz, pois uma vez orientado quanto a isso, seu
entendimento será mais satisfatório e elucidativo, quando da situação de
constatação da inexperiência.
139
Continuando a análise do fenômeno, SENTINDO A FALTA DE
EXPERIÊNCIA NA ESPECIALIDADE, emerge como categoria a ser destacada,
SENTINDO O PESO DA RESPONSABILIDADE, que tem conexão com as
subcategorias: TENDO MEDO DO ERRO, PRECISANDO SER O LÍDER,
SABENDO QUE PRECISA FAZER E TENDO QUE TOMAR DECISÃO.
QUADRO 6. SENTINDO O PESO DA RESPONSABILIDADE.
Categoria Subcategorias
Sentindo o peso da responsabilidade
6.1 Sabendo que precisa fazer
6.2 Tendo que tomar decisão
6.3 Precisando ser o líder
6.4 Tendo medo do erro
O trabalho pode ser compreendido como fundamental na construção do
próprio agente social, apresentando-se em uma situação de mediação o campo
social e a consciência reflexiva, o coletivo e o particular, incrementado por
investimentos subjetivos, que implicam na própria construção da história e
identidade do mesmo. Logo, a atuação do enfermeiro tem uma representação que
permite uma apreensão concreta do trabalho, sendo indesejado o trabalho
improdutivo e desqualificado, ao mesmo tempo que, desejado o trabalho eficiente.
140
Sem deter o domínio do processo e da organização do trabalho, portanto,
SENTINDO O PESO DA RESPONSABILIDADE, tanto em termos teóricos quanto
práticos, no que concerne à especificidade do setor especializado, o enfermeiro
reconhece a sua condição de não perito, com máxima preocupação em não causar
qualquer problema como resultado de sua inexperiência.
Também se submete a uma restrição em termos de autonomia
profissional, tendo problemas para dar significado, no que se refere às atividades
realizadas, que não entende como dotadas de perícia. Por conseguinte, também,
sentindo-se menos qualificado, com comprometimentos para a sua própria
identidade profissional, principalmente, no reconhecimento frente à equipe de
enfermagem.
“Eu aprendi montando, olhando, estudando e fazendo junto.
Não era irresponsável. Se eu suspeitasse que poderia trazer malefício, eu
não fazia”. Nuvem
Por assim dizer, a atividade de trabalho do enfermeiro iniciante pressupõe
uma carga de investimento físico, cognitivo e psíquico acentuado que SABENDO
QUE PRECISA FAZER entende a importância do seu empenho para garantir um
cuidado livre de riscos.
“Tentei fazer o melhor enquanto profissional, pois o paciente
não tem nada com isso. Eu sei que tinha que dar de mim para aquelas
pessoas que precisavam tanto”. Céu
“Eu tinha que dar conta. Precisava fazer a coisa de uma forma
correta. Me empenhava muito para isso. Hoje eu vejo o desgaste em todos
os sentidos que eu tive. Principalmente, nos primeiros momentos de
enfrentamento das situações novas”. Trovão
141
No que se refere à carga cognitiva, o enfermeiro percebe um aumento de
exigência, na perspectiva das funções perceptivas e mentais, direcionadas para uso
da memória, dos mecanismos de atenção, do desenvolvimento do raciocínio,
especialmente associadas à execução das atividades especializadas. Inclui-se a
essa demanda, a importância do processo decisório, em que cada enfermeiro
iniciante se encontra pelo exercício profissional da enfermagem envolvido, e nesse
momento, como não poderia ser diferente, TENDO QUE TOMAR DECISÃO.
“Me sentia totalmente exaurido. Além de ter que aprender
coisas novas. Em meio a tudo. Tinha que ser o enfermeiro do plantão. Eu
pedia forças para agüentar. Para não falhar. Tinha muito cuidado com as
coisas que decidia. Quando tinha dúvida, procurava ajuda. Foi difícil”.
Montanha
“Como decidir sem saber? É muito complicado, né? Não sei
como eu consegui isso... Mas se estou aqui é porque consegui”. Folha
“Foi um dos meus primeiros plantões, eu não tinha nem
intimidade com ninguém, nem com os auxiliares, para falar: fulano pega
isso. Eu nem sabia onde estavam as coisas. Tinha coisas para lavar, que
eu precisava utilizar”. Flor
Cabe pontuar que, a tomada de decisão entendida como um processo que
envolve tanto fenômenos individuais quanto de caráter coletivo, que se fundamenta
em fatos e valores, conhecimento teórico, prático e conhecimento tácito; que envolve
a seleção de comportamento, considerando uma ou mais possibilidades, com o
intuito de alcançar uma finalidade. Aliás, sendo representado por uma série de
processos associados, destacando-se o uso da lógica e de fatores concernentes à
inteligência emocional.
142
A despeito da complexidade das decisões, é importante pensar que
decisões mais simples ocorrem quase que em um processo de condicionamento, a
partir da experiência do cotidiano. Enquanto isso, aquelas de maior complexidade,
compatíveis com as decisões exigidas ao enfermeiro iniciante diante a uma situação
da prática específica, precisam ser cuidadosamente pensadas em função de
resultados esperados.
Sob a ótica da carga psíquica, por conseguinte, o significado atribuído pelo
enfermeiro ao conhecimento novo, à especialidade em si e ao setor especializado,
esta tem uma importância ímpar no enfrentamento da realidade, definindo o grau de
realização no trabalho ou até mesmo de sofrimento psíquico.
Neste sentido, enfrentar o novo é um significativo investimento, que pode
levar ou não o enfermeiro a uma sobrecarga, dependendo de muitos fatores, como a
sua história de vida, a relação com a sua profissão, a bagagem de experiências
anteriores, a empatia e a afinidade com o trabalho, entre outros aspectos.
“Busquei força em minha própria história de vida. Quando tinha
vontade de desistir, olhava para meu passado, e pensava, quantos
problemas tive que vencer para chegar até ali... Algo me impulsionava a
continuar tentando me adaptar”. Montanha
“Acho que só o tempo. Só o dia-a-dia. Foi muito sofrimento. Às
vezes no começo, eu falava: Para que eu fui escolher vir para cá? Eu tive a
oportunidade de escolher outros setores. Eu sofria com aquilo. Mas, depois
eu descobri que gostava e que era aquilo que eu queria fazer”. Lua
Diante dessas considerações, muitas são as preocupações do profissional
que, ainda PRECISANDO SER O LÍDER, encontra-se em uma situação na qual é
143
necessária a manutenção do processo de influência grupal, em paralelo com a visão
direcionada para os seus objetivos de aprendizagem.
“Você está perdida na especialidade. Mas, você é um
profissional. Para os residentes é uma situação mais cômoda. De certa
forma, o responsável é o enfermeiro do setor. O residente está aqui para
aprender, e eu estou aqui para responder... É diferente”. Fogo
“Eu estava no plantão. Não tinha jeito, tinha que liderar o grupo
de auxiliares. Busquei forças, me agarrei aos conhecimentos que possua
até ali, e fui adiante. A cada plantão pedindo... Para dar tudo certo”. Folha
Cabe destacar que em se tratando de um corpo de trabalhadores também
desconhecido para o enfermeiro, o mesmo precisa utilizar a comunicação como uma
ferramenta básica. Assim, procurando manter uma aproximação tendo em vista os
envolvidos na especialidade, com ênfase aos enfermeiros experientes, técnicos e
auxiliares de enfermagem, em prol da formação de alianças, parcerias e interações
que possam dar conta desse momento.
“Acho que você tem que compartilhar com a sua equipe. Você
tem muito para dar a sua equipe, mas eles também têm muito para dar
para você. (...) Lembro que não tinha tanta habilidade técnica, mas tinha
teoria para oferecer. Então eu acho que quando descobri isso foi uma troca
mútua. É o que sempre falo, tudo tem que ser uma troca”. Lua
É importante também pontuar que liderar tem uma conotação que implica
inclusive em ter capacidade diante os problemas do grupo liderado, que precisa
144
sentir segurança no líder. Esse líder, por sua vez, deve ser firme, decidido e capaz
de transmitir confiança aos seus subordinados.
A experiência revela ser isso um exercício bastante difícil, não obstante,
até conflituoso, marcado pela fragilidade do não saber sobre a especialidade, ou
seja, o desconhecimento de saberes e práticas dotadas de especificidades, em
contrapartida a uma necessidade exigida pelo próprio papel do enfermeiro, que não
pode, de jeito algum, ser desconsiderado.
O enfermeiro líder, mais do que nunca, quando na condição de iniciante,
precisa encaminhar a liderança para um processo responsável de ampla
participação, sem perder a lógica do seu papel social. Dessa forma, possibilitando
que todos os envolvidos sintam-se prestigiados e comprometidos com o bem
comum. Isso minimiza os problemas relacionados com a falta do conhecimento
específico, já que ocorre naturalmente uma maior compreensão da equipe de
enfermagem, por conseguinte, cobranças menos ameaçadoras.
“Recordo que não sabia os detalhes do setor... A auxiliar é que
na hora, começou apontar como era a rotina. Fomos fazendo juntas.
Depois fui ler e pensar sobre as coisas”. Fogo
O enfermeiro iniciante, por assim dizer, ao exercer a atividade de liderança
na especialidade, mediante a experiência do conhecimento novo, enfrenta desafios
diferentes diariamente, vivendo uma luta constante voltada para a manutenção de
uma prática de qualidade, a partir da superação das suas próprias dificuldades, na
busca pela manutenção de um estado de tolerância e bom ânimo.
145
Pude notar, durante a entrevista de Céu, que existia um
distanciamento entre a equipe médica e os profissionais de enfermagem.
Isso quando da escolha do próprio lugar para a realização da entrevista.
Percebi também na cena social, que a enfermeira não se sentia satisfeita
com tal situação, quando do seu comentário com relação ao
relacionamento no setor. Mas do mesmo modo que comentou, como em
um mecanismo de auto-convencimento, ela também explicou a situação,
dando um tom diferente, e por assim dizer, circunstancialmente mais
satisfatório. (Anotações de Campo)
Retomando a idéia de ameaça, o enfermeiro vive um momento de auto-
supervisão, no que se refere às implicações para o seu futuro profissional na
especialidade, como também na instituição, mediante ao que uma atitude ou um ato
mal concebido podem ocasionar, por conseguinte, TENDO MEDO DO ERRO e,
portanto, trabalhando com máxima atenção às atividades realizadas na
especialidade, em um movimento de conferir repetidamente os procedimentos
desenvolvidos.
“Tecnicamente, eu procurava atuar sempre dentro daquilo que
eu considerava correto, que eu sabia ser correto pelas teorias. Eu buscava
fazer as coisas perfeitas, certas. Busca acertar. Procurando o melhor
caminho, o caminho, mais correto, para as coisas”. Tempestade
“Eu tinha um grande cuidado para fazer as coisas na
especialidade. Não tinha segurança, por isso redobrava a minha atenção”.
Folha
Um pouco antes da entrevista de Montanha, pude acompanhar
um procedimento sendo realizado por ela. Percebi que a mesma o
146
preparava cuidadosamente e que sua atenção voltava-se para o
procedimento. Percebi, também, que ela conferia com um papel que estava
logo a sua frente. Como se estivesse checando tudo que fazia. A cada
ação uma conferência. O procedimento ia acontecendo passo a passo.
Tratava-se de um procedimento especializado, que apesar de sua
desenvoltura, percebi também que não se tratava de uma prática já tão
conhecida. (Anotações de Campo).
Todo esse movimento de tentar fazer com qualidade e eficácia algo que
não se tem conhecimento, ou ainda, que se encontra em um estágio de
aproximação e aprendizagem, não é nada fácil. Existe uma exposição natural
inerente à condição de iniciante na especialidade, já que todos os envolvidos no
trabalho sabem disso e, simbolicamente, isso impregna as interações no agir das
pessoas e no reagir do próprio enfermeiro.
É importante salientar que existe uma bagagem de conhecimentos
acumulados pelo enfermeiro, ao longo de sua trajetória, que o ajuda e o norteia em
outras experiências. Assim, não se trata de um ponto de partida nulo, onde não
exista nenhuma experiência que possibilite referências.
147
Apesar disso, o enfermeiro tem a sua frente um grande desafio, com
inúmeras situações de aprendizado, tendo que lidar com o real, até mesmo,
SENTINDO-SE CONSTRANGIDO POR NÃO TER CONHECIMENTOS E
HABILIDADES. Essa categoria demonstra no seu cerne de análise, que o
enfermeiro sente todo esse processo, com destaque para um significativo desgaste
emocional e uma importante sobrecarga psíquica.
QUADRO 7. SENTINDO-SE CONSTRANGIDO POR NÃO TER
HABILIDADES E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Categoria Subcategorias
Sentindo-se constrangido por não ter habilidades e
conhecimentos específicos
7.1 Precisando dizer não sei
Em meio às angústias vividas, ele tem que ser o profissional enfermeiro do
setor e combinar isso com sua posição de aprendiz, que não consegue ser
mascarada. Dessa maneira, em muitas situações, até mesmo PRECISANDO
DIZER: NÃO SEI, seja para um membro da equipe de enfermagem, para um
trabalhador da equipe de saúde, ou ainda, para o cliente.
148
“Isso eu aprendi com o auxiliar. (...) O colocar a mão e fazer
foram eles. Não teve enfermeiro comigo neste momento. Foi um auxiliar de
enfermagem. Eu precisei dizer não sei nada, não sei a prática...” Céu
“Precisei aprender ali... Na frente de todo mundo do setor. E
detalhe... Um pouco com cada um... Meio complicado não acha? Porque
depois era eu a liderar o grupo, tendo aprendido com eles”. Céu
“O auxiliar disse para mim: Não é assim... Pegue de outra
forma, que dá mais certo. Não estou dizendo que o enfermeiro não possa
aprender com o auxiliar, mas é uma situação difícil. Não é?” Folha
“Se eu não sei, eu não sei. Se eu tenho oportunidade de
buscar na mesma hora, eu busco. Se eu não tenho, eu busco em casa e
trago depois. Eu sempre tentei fazer assim. Se foi correto, eu não sei”.
Tempestade
Portanto, o enfermeiro tem que aprender e desempenhar ao mesmo
tempo o seu cabível e intransferível papel de líder. Um exercício, eu diria, de “jogo
de cintura”, para que a sua imagem não seja deturpada e seu espaço profissional
mantenha-se respeitado por todos os membros da equipe, no também “jogo de
poder” implícito nas relações sociais, com ênfase àquele ligado ao domínio do
conhecimento.
Nessa premissa, o papel do enfermeiro requer a confiança dos liderados,
técnicos e auxiliares de enfermagem, que vêem no líder uma referência, observada
na prática diária na especialidade. Entretanto, cabe a reflexão, de que líder não é
infalível, principalmente quando na condição de iniciante.
149
É importante salientar que o sistema rotula o enfermeiro quando na
condição de iniciante na especialidade, podendo menosprezar a sua existência e,
por vezes, demonstrando um comportamento em que fica nítida a distinção entre o
enfermeiro experiente e aquele na situação de aprendiz. Existe uma velada
desconfiança da competência mesma do enfermeiro iniciante.
Por mais que o enfermeiro não queira confirmar e fuja à realidade, ele não
tem experiência no assunto e, é apenas no desenvolvimento das atividades
cotidianas, com o passar do tempo, que as oportunidades de aprendizagem vão
possibilitar a aquisição de habilidades concernentes à prática específica, tornando-o
mais amadurecido e seguro quanto a sua atuação profissional.
Outro ponto de destaque emerge da constatação de que nem todos os
enfermeiros conseguem efetivamente dizer não sei. Isso depende de características
pessoais, pois quanto mais orgulhoso mais difícil é expressar o desconhecimento
acerca de alguma coisa. Do mesmo modo, a dificuldade é bastante acentuada para
profissionais arrogantes. Assim, o exercício da humildade é consideravelmente
importante nesse contexto, facilitando a interação e permitindo a exteriorização de
limitações pertinentes a experiência do novo.
150
DIAGRAMA 8 – CATEGORIA: HESITANDO EM DESENVOLVER O TRABALHO29.
29 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice VIII.
Hesitando em desenvolver o trabalho na especialidade
Fazendo guiado
-Utilizando os manuais para guiar a ação
-Decorando os passos para lidar com a máquina
-Anotando tudo que vê e que escuta para seguir na hora de algum aperto -Tirando cópia de “Check List” para
não esquecer nada importante -Seguindo o preconizado durante o
treinamento -Não fazendo grandes inovações
-Tendo o cuidado para não dar um passo fora do definido pelo setor
-Gostando de passo a passo para ajudar na realização de procedimentos
específicos
Sentindo Taquicardia
-Sentindo-se trêmula
-Tendo taquicardia na hora -Passando mal ao ir para o trabalho
-Perdendo a cor, quando precisa fazer algo muito específico que não
se sente preparado -Ficando nitidamente alterado
-Gerando uma questão psicossomática
-Tendo que recorrer aos florais -Perdendo a calma e o controle -Sentindo-se como um recém-
formado
Tendo insegurança
-Pensando muito antes de fazer qualquer coisa
-Checando antes de fazer algo na rotina do serviço
-Tendo que conferir com outros enfermeiros alguns itens das
atividades realizadas -Fazendo com medo
-Sentindo-se totalmente insegura com a situação instalada
-Evitando alguns procedimentos -Não fazendo procedimentos
específicos que exigem destreza manual
Tendo dificuldade para dominar a situação
-Não tendo enfermeiro para manusear
junto ao equipamento -Não tendo o domínio da técnica
-Não tendo o preparo mínimo para dominar a situação
-Ficando parado -Vendo os iniciantes aflitos,
angustiados e desestimulados, por não dominarem, e não ter ninguém
para apoiá-los -Não sabendo nem por onde começar
-Vendo o iniciante com vontade de largar tudo, quando começam as
cobranças, sem respostas -Sendo jogado na especialidade
-Não existindo um real prepara para dominar as situações mais complexas
na especialidade
151
DIAGRAMA 9 – CATEGORIA: SENTINDO O PESO DA RESPONSABILIDADE NA
ATUAÇÃO NA ESPECIALIDADE30.
30 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice IX.
Sentindo o peso da responsabilidade
Sabendo que precisa fazer
-Tendo uma visão imediata do que precisa ser feito
-Tentando fazer o melhor enquanto profissional para preservar o cliente
-Sabendo que não poderia ficar alienada-Sendo uma estratégia manter um bom
relacionamento -Investindo na equipe para ajudar na
adaptação -Dando para a equipe o suporte teórico
que eles não tinham -Tendo a oportunidade de buscar
-Tendo vontade de aprender
Tendo o medo do erro
-Procurando acertar mesmo tendo consciência de algumas dificuldades
-Sabendo do seu papel enquanto enfermeiro
-Não desejando que erros aconteçam -Não fazendo procedimentos na dúvida
para não cair em erros -Tendo medo de surpresas ligadas ao conhecimento específico que implique
em erro -Pedindo ajuda para não cometer erros -Tendo noção de que não pode cometer
nenhuma coisa que possa ser considerado erro
Tendo que tomar decisões
- Acontecendo alguma coisa, não podendo ter dúvida de como agir
-Tendo que decidir sozinho -Sendo o profissional enfermeiro de
plantão -Tendo que pensar atividades para a
equipe de enfermagem sem compreender as especificidades do setor
-Precisando encaminhar alguns procedimentos e algumas escolhas -Sendo necessário decidir o cuidado
baseando-se em experiências anteriores-Precisando assumir o papel do enfermeiro tendo muitas dúvidas
Precisando ser o líder da equipe
-Sendo um grande aprendizado como
líder -Tendo que dar conta da liderança
-Não sabendo como um líder não sabe algo
-Sofrendo por ser um líder que desconhece muitas coisas específicas
do setor -Pensando na fase de treinamento,
quando for o líder -Tendo que liderar uma situação tão
diferenciada sem experiência -Não sabendo o que fazer e a quem
recorrer
152
DIAGRAMA 10 – CATEGORIA: SENTINDO-SE CONSTRANGIDO POR NÃO TER
CONHECIMENTOS E HABILIDADES ESPECÍFICAS31.
31 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e a sua subcategoria, poderão ser observados no Apêndice X.
Sentindo-se constrangido por não ter conhecimentos e habilidades específicos
Precisando dizer não sei
-Não ficando sozinho na prática específica da especialidade-Tendo que falar que não se sabe a prática disso
-Tendo que esclarecer que não sabe como fazer diante de toda a equipe
-Precisando ser claro sobre a inexperiência -Tendo que verbalizar o desconhecimento do assunto, na
frente das pessoas lideradas -Tendo os auxiliares a prática que eu não tinha
-Achando-se totalmente perdido -Não tendo noção do trabalho com este tipo de especialidade-Achando que o iniciante não tem noção do que se passa
dentro da especialidade
153
(RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA ESPECIALIDADE
A enfermagem vem sendo considerada uma ciência e uma arte que tem
as bases em um corpo de conhecimentos e práticas, abrangendo desde o estado de
saúde ao estado de doença, considerando atitudes pessoais, profissionais,
científicas, éticas e políticas do cuidar de seres humanos. Entendendo cuidar como
uma atitude humana que se caracteriza por uma forma especial de ser e de
compreender o mundo, que envolve a solidariedade, as emoções, a sensibilidade, o
conhecimento, entre muitos outros aspectos.
Desse modo, pensando a partir da atuação do profissional enfermeiro, no
exercício de sua profissão, este possui a capacidade de conhecer e intervir sobre os
problemas e situações no que se refere ao processo saúde-doença, identificando as
multidimensões dos seus determinantes. A respeito disso, é importante pontuar que
o cuidado de enfermagem, enquanto uma ciência humana, precisa abarcar
comportamentos, atitudes e práticas que expressem a preocupação com o caráter
holístico e complexo do ser humano.
O enfermeiro precisa mostrar-se capacitado para atuar com senso de
responsabilidade social e compromisso com a cidadania, baseado na Lei do
Exercício Profissional32, como promotor da saúde integral do ser humano, a partir do
entendimento da saúde como um direito, um despertar das pessoas para uma certa
compreensão de dignidade, com isso o despertar de uma consciência ingênua para
uma consciência crítica, incluindo a luta por melhores condições de vida.
É de conhecimento público, através dessa mesma lei, que o enfermeiro
exerce todas as atividades de enfermagem, cabendo-lhe privativamente, dentre
muitas outras atribuições: organizar e dirigir os serviços de enfermagem e suas 32 Lei nº 7.498, de 25/06/86, regulamentada pelo Decreto nº 94.406, de 08/06/87.
154
atividades técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras desses serviços; planejar,
organizar, coordenar, executar e avaliar os serviços de assistência de enfermagem;
realizar consulta de enfermagem e a prescrição da assistência de enfermagem;
prestar cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com risco de vida;
prestar cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam
conhecimentos de base científica.
Além disso, também realiza prevenção e controle sistemático de danos
que possam ser causados à clientela durante a assistência de enfermagem e realiza
a educação para a saúde, visando a melhoria de saúde da população. Assim, em
meio a tudo isso, trata-se de uma atuação que precisa dar conta de subjetividades e
de singularidades individuais, baseada em uma relação respeitosa, que permita até
mesmo o encontro de subjetividades, ou ainda, um entendimento do cuidado de
enfermagem como a própria expressão da ética, materializada e objetivada para e
com o outro.
Considerando essas prerrogativas, o enfermeiro precisa reunir toda a sua
força para compreender o mundo social que se abre a sua frente, que apesar de
diferente de uma atuação anterior, é possível ser apreendido e ser desenvolvido,
enquanto um cuidado digno, por conseguinte, (RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO
PROFISSIONAL NA ESPECIALIDADE.
Por assim dizer um movimento, COMEÇANDO, ATUANDO E
APRENDENDO NA ESPECIALIDADE, que envolve muitas estratégias de
enfrentamento do conhecimento novo na especialidade, além de atitudes e
comportamentos, BUSCANDO A COMPREENSÃO DA ESPECIALIDADE, ainda
que, CORRENDO CONTRA O TEMPO, com o objetivo de alcançar, rapidamente,
uma posição mais confortável, representada pelo domínio da situação.
155
DIAGRAMA 11 – FENÔMENO: (RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO
PROFISSIONAL NA ESPECIALIDADE.
‘
Retomando a história que vem sendo contada a partir da experiência do
enfermeiro que vive a condição de iniciante na especialidade, em que pese à análise
Perguntando a quem sabe
Colando de quem sabe
Segurando na
teoria
Mobilizando recursos teóricos e práticos de vivências
Buscando leituras para
situação específica
Recebendo manuais do
hospital, para ler e se
apropriar
Observando as rotinas do
serviço
Começando,
atuando e aprendendo na especialidade
Buscando a
compreensão da especialidade
Aprendendo a
destreza técnica no trabalho
Correndo contra o tempo
(Re) conhecendo a atuação profissional na especialidade
Fazendo, ao mesmo
tempo, que tem que se tornar apto
Tendo que aprender
156
da categoria, BUSCANDO A COMPREENSÃO DA ESPECIALIDADE, cabem
algumas reflexões acerca do mundo macrossocial com o qual o enfermeiro se
depara.
QUADRO 8. BUSCANDO A COMPREENSÃO DA ESPECIALIDADE.
Categoria Subcategorias
Buscando a compreensão da especialidade
8.1 Observando as rotinas do serviço
8.2 Recebendo manuais do hospital para ler e se apropriar
A especialidade representa uma área na Instituição onde é desenvolvido
um trabalho dotado de grande especificidade, com muitos equipamentos especiais,
sofisticados e de alta tecnologia. Nesse caminho, aponta para a necessidade de um
profissional capacitado, em função da garantia de um atendimento de qualidade.
É exatamente nesse cenário, que o enfermeiro na condição de iniciante é
desafiado. Dotado de ações limitadas, ele precisa desenvolver estratégias de
enfrentamento. Logo, seguir guias de ação aparece como uma das estratégias, já
que o enfermeiro OBSERVANDO AS ROTINAS DO SERVIÇO encontra uma forma
para desenvolver o seu trabalho. Essas rotinas ajudam e facilitam a atuação do
enfermeiro, embora possam também constituir risco, uma vez que sem elas, o
comportamento do profissional iniciante pode ficar confuso e desgovernado.
157
“Fiquei ligada nas rotinas, pensando que poderia desenvolver o
trabalho, atenta a elas. Realmente ajudou muito. Mas não responde tudo.
Além do mais, para a técnica, não resolve”. Folha
“Ficamos um tempo em treinamento até pegar as rotinas”.
Vento
“Peguei as rotinas para ler. Levei para casa e tudo. Fiquei
mesmo tentando fixar passo a passo o que era feito”. Mar
O enfermeiro aceita nesse momento as rotinas como as mesmas são para
ele apresentadas. Já que não se sente ainda apto o bastante para contestação e
proposição de uma nova ordem no contexto da unidade. Aliás, romper com a rotina
traria repercussões para o desenvolvimento das atividades de todos os envolvidos
na especialidade, o que naturalmente implicaria em um desgaste ainda maior do que
o já vivenciado.
Em destaque nesse âmbito de discussão o apoio dado pelos Chefes de
Unidades, no que concerne ao repasse do material para o enfermeiro: RECEBENDO
MANUAIS DO HOSPITAL, PARA LER E SE APROPRIAR. Esses manuais vão
sendo criteriosamente copiados e levados para casa, local em que são
exaustivamente lidos em uma tentativa desesperada de memorização.
“Fui lendo tudo que me davam. Queria saber como fazer.
Queria um ponto de apoio qualquer. Precisava de fontes. Muitas fontes.
Sempre gostei muito de ler e isso me ajudou bastante. Não era um
problema chegar em casa e ficar estudando”. Tempestade
158
“Eu recebi uma quantidade importante de coisas para ler e me
apropriar. Quanto mais recebia mais queria. Também andei comprando
materiais acerca de temáticas voltadas para a especialidade. Agora, apesar
de tudo isso... Confesso, que não aproveitei tanto quanto deveria. Mas, a
equipe que me recebeu preocupou-se muito com temáticas específicas da
especialidade. Não posso negar que os enfermeiros não mediram esforços
em ceder material para leitura. Manuais de tudo que era coisa do setor.
Muita coisa mesmo!”. Montanha
O saber específico que se revela no setor especializado é complexo, exige
rigor técnico-científico de todos os profissionais envolvidos, em face de uma
satisfatória associação da teoria com a prática, com o domínio de múltiplas funções,
operando com agilidade e destreza, mediante as várias situações da realidade.
Além disso, a especialidade exige um profissional que tenha um nível de
julgamento clínico bastante apurado, capaz de preencher as competências
nucleares determinadas pelo serviço, mesmo na ausência de linhas de orientação,
mantendo a credibilidade do serviço oferecido à clientela.
Portanto, o desafio é bastante significativo, levando o enfermeiro a
desenvolver muitas estratégias voltadas para a apreensão do conhecimento novo. É
preciso apreender conhecimento específico. Urge a necessidade de um saber/ fazer
específico. De tal modo, a busca pelo conhecimento pretende alcançar uma melhor
compreensão da especialidade, que permita uma atuação profissional satisfatória
adequada às necessidades e exigências do cliente.
Continuando a reflexão tendo como premissa os movimentos em busca da
aprendizagem, emerge a categoria COMEÇANDO, ATUANDO E APRENDENDO
NA ESPECIALIDADE, com desdobramentos, em termos de aprofundamento, nas
159
subcategorias em conexão: APRENDENDO A DESTREZA TÉCNICA NO
TRABALHO, PERGUNTANDO A QUEM SABE, COLANDO DE QUEM SABE,
SEGURANDO NA TEORIA, MOBILIZANDO RECURSOS TEÓRICOS E PRÁTICOS
DE VIVÊNCIAS ANTERIORES E BUSCANDO LEITURAS.
QUADRO 9. COMEÇANDO, ATUANDO E APRENDENDO NA
ESPECIALIDADE.
Categoria Subcategorias
Começando, atuando e aprendendo na especialidade
9.1 Aprendendo a destreza técnica no trabalho
9.2 Perguntando a quem sabe
9.3 Colando de quem sabe
9.4 Segurando na teoria
9.5 Mobilizando recursos teóricos e práticos de
vivências anteriores
9.6 Buscando leituras para situação específica
Muitos são os fatores iniciais que permeiam a experiência do enfermeiro
no enfrentamento do conhecimento novo e no desenvolvimento da capacidade de
aprender. Um bastante significativo é à vontade de querer aprender. Tal
comportamento exige uma série de atitudes como interesse, motivação, atenção,
compreensão, participação e expectativa de aprender a conhecer, a fazer, a conviver
e a ser na especialidade. Outro fator tem relação com competências e habilidades,
160
podendo ser compreendida como a capacidade para o desenvolvimento de aptidões
cognitivas e procedimentais.
Para atuar com presteza, o enfermeiro se vê, APRENDENDO A
DESTREZA TÉCNICA NO TRABALHO. Para tal, desenvolve estratégias de ação
que facilitem este processo, a partir disso percebe que precisa reunir e utilizar meios
que o coloque frente a frente com o conhecimento novo, privilegiando momentos de
aprendizagem, sem que isso possa significar riscos ou danos para quem quer que
seja.
“Fundamentalmente, o novo nunca me aterrorizou. Essa
confiança, ou excesso de confiança, sempre dissipou esse medo. E me
ajudou nos enfrentamentos. Mesmo na vida pessoal. Primeiro eu ia
olhando, depois eu ia perguntando, e depois eu ia estudando, e depois eu
ia me aproximando, quando dava por mim, eu estava fazendo. Não tive
dificuldade”. Nuvem
“Todo dia você acaba aprendendo. Mesmo que não leia, não
pegue no livro. Devido às experiências do dia a dia, você acaba
aprendendo”. Flor
“Olha... Eu aprendi na carga teórica, e outras pela própria
vivência. Experiências que eu ia vendo, que iam acontecendo, que eu não
conhecia, não sabia...”. Céu
A experiência aponta, que durante a realização de procedimentos
específicos é quase certa a presença curiosa do enfermeiro iniciante. Curiosidade
que às vezes mostra-se bastante clara, em contrapartida a situações em que se
apresenta disfarçada, para evitar ao máximo uma exposição que possa revelar a
falta de conhecimento sobre um dado cuidado.
161
Quando a relação é respeitosa e empática, com o entendimento da
equipe, já que a aprendizagem do enfermeiro iniciante é de natureza processual, o
mesmo sente-se mais tranqüilo, literalmente, PERGUNTANDO A QUEM SABE, sem
medo ou receio de retalhação. De tal modo, quanto mais proximidade existir entre a
equipe, mais perguntas são realizadas, podendo até mesmo, não estarem
associadas a um procedimento tão complexo. Ao passo que, quando a interação é
dominada pelas discordâncias e afirmação do poder, as perguntas vão ficando, cada
vez mais, uma estratégia distante.
“Eu ficava perguntando o tempo todo. Eu fui muito chata.
Ficava perguntando o tempo todo. Eu achei que fui até chata demais.
Como é que faz isso? Isso aqui por quê? O que é comum em uma higiene,
em uma sonda,... Eu não precisava. Agora quando chegava a parte da
rotina, eu tinha que ficar perguntando o tempo todo”. Flor
“Colava de quem sabia. Os médicos sempre foram muitos
abertos no setor”. Céu
“A equipe era difícil de trabalhar. Não me sentia à vontade para
perguntar nada. Ficava totalmente isolada nas minhas dúvidas”. Fogo
Outra estratégia é a observação constante dos trabalhos desenvolvidos na
especialidade, COLANDO DE QUEM SABE. De fato, no primeiro momento
copiando passo a passo às ações que não lhe são familiares e repetindo do mesmo
jeito, em situações posteriores. Já no segundo momento, podendo ocorrer um
movimento de reflexão acerca do procedimento observado, com variadas
indagações do que efetivamente é correto, buscando um aprofundamento que
permita uma atuação mais eficaz.
162
“Eu sempre fui uma pessoa de colar muito nas outras, eu
tentava sugar tudo o que a outra sabia mais, e que podia me dar. Se
tivesse errado, depois eu ia ver, ia aprender, ia ler e tal... Depois corrigir.
Mas eu sugava e sugo ainda. Com isso eu vou deslanchado (...) Sempre
usei essa tática, colei sempre na pessoa que sabia aquilo”. Fogo
“Fui perguntando até aos próprios auxiliares de enfermagem,
que algumas vezes esclareciam... As medicações, algumas, eu perguntei
aos enfermeiros que já sabiam...” Céu
Esse aprofundamento, como não poderia deixar de ser, baseia-se na
busca pela teorização sobre o assunto. Logo, SEGURANDO NA TEORIA o
enfermeiro procura se apropriar de literaturas, BUSCANDO LEITURAS PARA
SITUAÇÕES ESPECÍFICAS, que possam norteá-lo e direcioná-lo, quando vivendo o
momento do desconhecido. Destaque para o estado de inquietude, onde tudo
parece pouco para responder as suas inquietações, recorrendo a um grande número
de materiais, sem que ocorra a leitura de todos.
Por outro lado, quando o enfermeiro não está interessado em aprender a
especialidade, com a mesma intensidade da busca ocorre a repulsa e, mesmo que
exista o material teórico disponível a sua consulta, não existe o investimento pessoal
necessário. Dessa maneira, o enfermeiro reproduz o que assiste na prática, sem
contrabalançar com o conhecimento teórico existente. Apenas faz.
“Para aprender eu vou muito sozinha. Eu gosto muito de ler.
Ler o que eu quero. Agora, não me manda ler um negócio.... Eu sou quem
busco. (...) Buscando pela curiosidade. (...) Era aprender, aprender e
aprender. Como um guloso que come, come e come”. Terra
“Eu pedi indicação de leitura para estudar sobre a
especialidade. Comprei livros e comecei a ler. Uma loucura. Lia com
163
máxima atenção. Era como se eu desejasse que todo conhecimento
possível entrasse na minha cabeça”. Montanha
“... Outras fui lendo. Mesmo não gostando, eu fui procurando
estudar, eu sabia que não poderia ficar alienada”. Céu
É claro, que existe um conhecimento acumulado, portanto, uma bagagem
adquirida ao longo da vida. Assim, o enfermeiro é iniciante ali, na especialidade.
Não, em tudo. Por conseguinte, sua aprendizagem também parte dos seus próprios
conhecimentos, MOBILIZANDO RECURSOS TEÓRICOS E PRÁTICOS DE
VIVÊNCIAS ANTERIORES.
“Para desenvolver algumas práticas, o jeito foi eu lembrar de
coisas que eu já havia vivenciado, e que tinha alguma correlação, mesmo
que pequena. Penso que para um recém formado seja bem pior, pensando
sobre a prática”. Folha
“Você se reporta à graduação. Você tenta transportar o que já
vivenciou para aquela situação nova. E procura realizar”. Mar
O movimento de apreensão do conhecimento não parte, por assim dizer,
de um ponto nulo. Ele leva em consideração toda possibilidade de conhecimento
anterior e, é a partir desse, que avança, cria e recria novas formas de interpretação
da realidade.
O tempo não poderia deixar de ser mencionado e, deste modo, emerge
como uma importante categoria relacionada com o reconhecer da atuação na
especialidade, CORRENDO CONTRA O TEMPO que encontra explicação nas
164
subcategorias: FAZENDO, AO MESMO TEMPO, QUE TEM QUE SE TORNAR
APTO E TENDO QUE APRENDER.
QUADRO 10. CORRENDO CONTRA O TEMPO.
Categoria Subcategorias
Correndo contra o tempo
10.1 Fazendo, ao mesmo tempo, que tem que se
tornar apto
10.2 Tendo que aprender
A combinação do tempo, com a repetição e a reflexão das atividades
práticas produzem no enfermeiro um amadurecimento no que se refere ao
desenvolvimento de ações relacionadas ao conhecimento dotado de especificidade,
FAZENDO, AO MESMO TEMPO, QUE TEM QUE SE TORNAR APTO.
“Como tinha uma necessidade de ocupar plantão, eu tinha
muita pressa em aprender. Corria contra o tempo, por que não queria ser
colocada na prática sozinha, sem ter passado por algumas experiências”.
Montanha
“Aprender rápido. Olhar e fazer. Depois ler. O tempo corria.
Tinha que ser safo”. Sol
Outro ponto de relevância a ser considerado, é que existe uma
necessidade de serviço e, foi exatamente para suprir tal necessidade, que o
165
enfermeiro mesmo sem experiência foi lotado na especialidade. Isso tem
implicações práticas, pois tão logo possa, ele deve assumir o papel para o qual foi
encaminhado, tendo que desempenhar as suas funções seja no serviço de rotina, ou
ainda, no plantão. Não obstante a tudo isso, TENDO QUE APRENDER.
“Você precisa trabalhar. Então gostando ou não. Tem que
aprender. E quanto mais rápido melhor. A demora pode causar ainda mais
ansiedade”. Nuvem
“... Eu precisava aprender. Se você não faz, se você não
aprende aquilo, você não pode liderar eles. Então eu tinha que aprender,
pelo menos o básico”. Flor
“A coisa que eu mais me falava: tenho que aprender isso...
Sentia que precisava me empenhar em prol do meu aprendizado. Eu tinha
essa consciência ”. Raio
Assim, o passar do tempo é primordial para o desenvolvimento da
maturidade e o crescimento profissional. Entretanto, esse mesmo tempo, que ajuda
e anuncia um futuro menos ameaçador e mais conhecido, é objetivado como motivo
de angústia e aflição, já que nem todos os indivíduos aprendem no mesmo tempo e
uma demora pode dar margem a sentimentos de incapacidade, dificultando o
enfrentamento da realidade.
166
DIAGRAMA 12 – CATEGORIA: BUSCANDO A COMPREENSÃO DA
ESPECIALIDADE33.
33 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice XI.
Observando as rotinas do serviço
-Atuando tendo em vista as rotinas do serviço
-Tendo atenção a rotina instituída -Tendo as rotinas como guia para desenvolver algumas atividades
-Precisando seguir as rotinas da unidade -Achando bom o setor ter bem definido as rotinas de atuação frente a essa clientela -Tendo muitas dúvidas quanto a rotina do
serviço -Precisando receber as rotinas para utilizar
durante a prática diária -Entendendo ser de suma importância o
conhecimento das rotinas
Recebendo manuais do hospital, para ler e se
apropriar
-Precisando ler os manuais referentes às máquinas utilizadas no setor
-Levando os manuais para casa -Tirando até cópia dos manuais
-Sentindo-se mais segura de posse dos manuais dos equipamentos específicos do
setor -Querendo saber onde estão os manuais -Percebendo que o setor não tem todos os
manuais -Buscando alguma segurança com a leitura
dos manuais -Querendo compreender o funcionamento
das coisas através dos manuais
Buscando a compreensão da especialidade
167
DIAGRAMA 13 – CATEGORIA: COMEÇANDO, ATUANDO E APRENDENDO NA
ESPECIALIDADE34.
0
34 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice XII.
Começando, atuando e aprendendo na especialidade
Buscando leituras para situações
imediatas
-Precisando ler sobre as medicações típicas da
especialidade -Tentando ler todos os dias
sobre alguma coisa da especialidade
-Comprando livros relacionados à especialidade para se apropriar de alguma
coisa -Procurando coisas para ler
acerca da especialidade
Mobilizando recursos teóricos e
práticos de vivências anteriores
-Reportando a assuntos da
graduação -Pensando em vivências
anteriores -Achando importante
aproveitar a experiência trazida como bagagem
-Recorrendo às experiências vividas em outros locais de
trabalho -Tendo que pensar sobre as
experiências anteriores
Segurando na teoria
-Ajudando, para dar o “ponta pé” inicial
-Precisando estudar mesmo não gostando
-Comprando livros na área para estudar sobre o assunto
-Querendo estudar a área para melhorar a assistência
-Utilizando a teoria como porto seguro
-Procurando saber teoricamente as coisas
-Percebendo a importância da teoria no contexto da
prática
Colando de quem sabe
-Aprendendo olhando de
quem sabe -Vendo os procedimentos e comparando com a teoria
-Observando o fazer de quem domina
-Olhando para Auxiliares de Enfermagem que fazem
muito bem o procedimento -Lembrando de como o
enfermeiro especialista do setor faz
-Vendo coisas que iam acontecendo
-Colando, literalmente, de quem sabia fazer as coisas.
Perguntando a quem sabe
-Tendo sempre curiosidade; -Querendo sempre aprender; -Procurando e perguntando;
-Não tendo vergonha de perguntar;
-Perguntando pela curiosidade e pela necessidade;
-Perguntando sem vergonha; -Perguntando aos próprios
auxiliares; -Perguntando sobre algumas
medicações para os enfermeiros;
-Tentando sugar tudo que o outro sabia
Aprendendo a destreza técnica no
trabalho
-Aprendendo no trabalho no finalzinho
-Sendo o aprendizado um desafio
-Sendo muito gratificante aprender no trabalho
-Trabalhando junto com a equipe
-Tendo sempre que aprender -Aprendendo com o tempo a
destreza para o trabalho -Precisando ir devagar nesse
novo para aprender -Pegando prática
-Aprendendo a fazer coisas que duvidava
168
DIAGRAMA 14 – CATEGORIA: CORRENDO CONTRA O TEMPO35.
35 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice XIII.
Fazendo, ao mesmo tempo, que tem que se tornar apto
-Já está sendo aguardada devido à necessidade do serviço
-Tendo que assumir plantão logo -Achando que o bom era se adaptar
rápido -Aprendendo com a prática na
especialidade -Pegando para fazer o trabalho na
especialidade -Tempo que aprender rápido para dar conta de todo o serviço do enfermeiro
-Sabendo que precisa aprender no menor tempo possível
Achando difícil ter que aprender e ser o responsável pela atuação na
especialidade
Tendo que aprender
-Convivendo contra o tempo para aprender
-Aprendendo tudo correndo -Sendo inserido, desenvolvendo
habilidades técnicas, sem tempo para aprender o que é necessário
desenvolver -Precisando aprender para uma prática
com segurança -Buscando a aprendizagem no contexto
da especialidade -Querendo aprender para fazer tudo
direitinho -Percebendo a importância da
aprendizagem de coisas específicas a especialidade
Correndo contra o tempo
169
CONVIVENDO COM A REALIDADE NA ESPECIALIDADE
Este fenômeno apresenta a relação do enfermeiro com o espaço de
convivência, pensando na especialidade e todo o contexto que a rodeia. A
adaptação aparece como sendo um estado de harmonia no espaço de
convivência, de satisfação e bem-estar com aquilo que se faz, relacionando o ser
que conhece com o conhecimento novo que se permite ser conhecido,
dependente da consciência sobre a natureza real das coisas e os universos
significativos que possam estar associados.
A adaptação ao trabalho desenvolvido na especialidade, no que tange ao
enfrentamento do novo, envolve a relação do enfermeiro com o conhecimento
teórico e prático especializado, bem como a interação com os socialmente
próximos, trabalhadores e clientes. O enfermeiro adota novas formas de
trabalhar, utilizando os conhecimentos apreendidos de forma flexível para criar e
recriar o processo de trabalho na especialidade, mostrando disponibilidade para
melhorar os níveis de desempenho.
Ainda pensando a adaptação, os dados revelam uma capacidade de
manter as atividades laborais em um estado de harmonia, situação em que o
enfermeiro melhora o seu posicionamento enquanto sujeito da ação, procurando por
meios próprios desenvolver o seu papel social em cumprimento às suas
responsabilidades, na busca pelo domínio da especialidade, mesmo considerando
dificuldades associadas às várias percepções decorrentes da interpretação dos
agentes sociais.
170
Também, desenvolve a habilidade de agir sobre determinada situação
com base em informações obtidas através do processo de aprendizagem, ao mesmo
tempo, em que se torna apto para decidir sobre o que fazer com essas informações.
Aliás, passa a ter a capacidade de selecionar de um repertório de informações
disponíveis aquela que é relevante para uma determinada tomada de decisão.
Corroborando com o exposto, o enfermeiro compartilha informações,
participando em função do estabelecimento de uma atmosfera de receptividade ao
conhecimento novo, preocupando-se com o aperfeiçoamento profissional, investindo
na sua própria formação e, continuamente, mantendo-se preocupado com a
atualização de conhecimentos para a melhoria do seu desempenho.
É importante salientar que o enfermeiro adaptado inicia um processo de
saber como gerir e articular as diferentes variáveis de mudança relacionadas ao
conhecimento novo, implementando ações especificas e, até mesmo, levando
soluções para os problemas enfrentados no dia-a-dia. Além disso, também melhora
a sua capacidade para lidar com situações de conflito, incluindo os seus próprios
conflitos interiores, adotando uma atitude mais dialogante, com superação de
diferenças e dificuldades individuais em função da valorização do coletivo na
especialidade.
De tal modo, o enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo pode
deparar-se com uma situação compatível com suas necessidades e desejos, já
que poderá desenvolver o gosto pela atividade no espaço de convivência da
especialidade, percebendo afinidades pelo novo trabalho, o que funcionará como
mola propulsora para o seu crescimento profissional.
Uma vez tendo uma experiência considerada positiva, não somente
devido às possibilidades de conhecimentos novos adquiridos que permeiam a
171
especialidade, mas a partir de uma proposta de crescimento profissional
inovadora, quando comparada àquelas relacionadas às experiências anteriores.
Tem-se, por conseguinte, a disposição para aceitar a mudança, desenvolvendo
um processo otimista de enfrentamento da realidade, analisando e antecipando
situações, assumindo a iniciativa de agir perante as possibilidades que emergem
da prática.
Logo, o enfermeiro assume a responsabilidade pelas suas ações e
decisões, contribuindo efetivamente para o trabalho, muito mais participativo do que
reativo ao contexto, sendo o sujeito da aprendizagem, colaborando ativamente com
o grupo onde está integrado, permanente ou temporariamente, mantendo uma
atitude cooperativa, de partilha e de abertura à crítica. Inclui, a propósito, a
capacidade de acrescentar valor ao trabalho comum, assim como aderir às decisões
da equipe.
Agora, é importante compreender a diferença entre o conformismo e
adaptação para a leitura da realidade proposta pelo enfermeiro. Aceitar com
marasmo a situação presente, não estando satisfeito com a especialidade, sem
energia para procurar mudanças é, como não poderia deixar de ser mencionado,
estar conformado. Aliás, deprimir-se e adoecer devido às circunstâncias
relacionadas a esse trabalho é, não apenas estar inconformado, mas, do mesmo
modo, estar totalmente desadaptado.
Portanto, essas situações acima contextualizadas, emergentes dos dados,
podem ser representadas a partir do fenômeno CONVIVENDO COM A REALIDADE
NA ESPECIALIDADE, representado no diagrama que se segue, que toma a sua
configuração e pode ser compreendido considerando os significados das categorias
172
que o compõe: SENTINDO-SE BEM NA ESPECIALIDADE e VIVENDO A CRISE
INTERIOR.
A primeira categoria relaciona-se as subcategorias: PROJETANDO-SE
PARA UM FUTURO NA ESPECIALIDADE, PODENDO SER FELIZ NO
TRABALHO, PREOCUPANDO-SE COM A EDUCAÇÃO CONTINUADA,
BUSCANDO A ESPECIALIZAÇÃO e ALMEJANDO CRESCER NA
ESPECIALIDADE. Enquanto que, a segunda faz associações com as subcategorias:
NÃO CONSEGUINDO SE PROJETAR NA ESPECIALIDADE, SENTINDO-SE
INSATISFEITO POR NÃO ESTAR EM SUA ÁREA, FICANDO DEPRIMIDO;
SAINDO DA ESPECIALIDADE E SOFRENDO NA ESPECIALIDADE.
173
DIAGRAMA 15 – FENÔMENO: CONVIVENDO COM A REALIDADE NA
ESPECIALIDADE.
Sentindo-se bem na especialidade
Chorando antes, durante e depois
do trabalho
Projetando-se para
um futuro na especialidade
Ficando deprimido
Convivendo com a realidade na especialidade em busca da adaptação
Vivendo a crise interior
Saindo da
especialidade
Sofrendo na
especialidade
Almejando crescer na
especialidade
Buscando a
especialização formal
Preocupando-se com a Educação
Continuada
Podendo ser feliz
no trabalho
Não conseguindo se
projetar na especialidade
Sentido-se insatisfeita por
não estar em sua área
174
Acolher a especialidade como uma atividade profissional possível para si
aparece como principal significado do enfermeiro, no que se refere à categoria
SENTINDO-SE BEM NA ESPECIALIDADE. De fato, à medida que o tempo vai
passando e, com isso, as experiências vão se repetindo no cotidiano do trabalho na
especialidade, o novo passa a ser menos ameaçador e permite agora uma real
aproximação do enfermeiro, PROJETANDO-SE PARA UM FUTURO NA
ESPECIALIDADE, PODENDO SER FELIZ NO TRABALHO, PREOCUPANDO-SE
COM A EDUCAÇÃO CONTINUADA, BUSCANDO A ESPECIALIZAÇÃO FORMAL
e ALMEJANDO CRESCER NA ESPECIALIDADE.
QUADRO 11. SENTINDO-SE BEM NA ESPECIALIDADE
Categoria
Subcategorias
Sentindo-se bem na
especialidade
11.1 Projetando-se para um futuro na
especialidade
11.2 Podendo ser feliz no trabalho
11.3 Preocupando-se com a educação continuada
11.4 Buscando a especialização formal
11.5 Almejando crescer na especialidade
Livre de tantos medos o enfermeiro tem a oportunidade de sentir-se mais
tranqüilo em termos de expectativas e perspectivas, PROJETANDO-SE PARA UM
FUTURO NA ESPECIALIDADE. Agora ele consegue elaborar mentalmente projetos
175
relacionados a sua permanência e crescimento no âmbito da especialidade. Esses
funcionam como motivação contínua no sentido da vivência satisfatória do processo
de aprendizagem.
“Passei a não me sentir tão perdida. Gradativamente fui
ganhando autoconfiança e isso foi me ajudando com a especialidade. As
experiências foram acontecendo e fui abandonando meus medos”. Raio
“À medida que ia aprendendo eu ia também querendo fazer
mais coisas. Conhecer mais. Como se me sentisse impulsionada a ir à
frente. Quanto mais aprendia, mais queria aprender. Isso foi me
empurrando para frente”. Fogo
Pude perceber durante o processo de entrevista em
profundidade que o enfermeiro apesar de ser novato mostrava-se, bastante
ambientado e participativo ao setor especializado. Inclusive, pude também
perceber, que no seu linguajar já apareciam expressões características da
especialidade. (Anotações de Campo)
O maior controle da emoção propicia uma apreciação mais cuidadosa e
menos preconceituosa da realidade, não mais impregnada de tantos sentimentos
conflitantes e, conseqüentemente, variadas distorções de interpretação baseadas na
rejeição.
“Fazer aquele procedimento no início era tudo de péssimo.
Demorava horas e sentia muito medo de errar e causar um problema para
o cliente. Mas, fui fazendo e me tornando mais apto para o procedimento.
Em um segundo momento, já não me assustava tanto...” Vento
176
O conhecer começa a fazer parte da atividade profissional do enfermeiro,
que aos poucos também vai abandonando a sensação de apenas desconhecer a
especialidade. No bojo desse movimento de apreensão do conhecimento, o
enfermeiro é então capaz de perceber-se mais seguro, tendo uma resposta
comportamental mais agradável mediante ao enfrentamento das situações,
PODENDO SER FELIZ NO TRABALHO.
“Faço o que tenho que fazer e tento que seja da melhor
maneira. Não penso naquilo que sou incapaz, e sim, penso no que sou
capaz de fazer. E assim, tenho trabalhado de bem comigo mesmo”. Nuvem
Corroborando com esse estado de sentir as coisas, uma vez
compreendendo a importância do seu papel social nesse novo contexto, o
enfermeiro sente a necessidade de qualificar-se, PREOCUPANDO-SE COM A
EDUCAÇÃO CONTINUADA, considerando o conhecimento teórico marcado pela
singularidade e especificidade de um trabalho especializado, quanto em termos do
conhecimento prático, destacando-se o desenvolvimento de destreza e de
habilidade para um futuro fazer perito na especialidade.
“Uma vez desejando ficar, minha preocupação passou a ser
aprender mais. Tudo o quanto era curso, eu ia fazendo para me aprimorar.
Tenho essa característica. Vou a luta para aprender. Temos que estar
buscando sempre o conhecimento”. Tempestade
O conhecer apenas a partir do fazer na prática passa a ser uma
preocupação do enfermeiro, que deseja um olhar mais aprofundado acerca das
coisas na especialidade, por assim dizer, BUSCANDO A ESPECIALIZAÇÃO
177
FORMAL. Começa a existir o interesse pela realização de cursos formais ligados à
área da especialidade, destaque para àqueles referentes à pós-graduação “lato
sensu”.
“Gostei tanto que penso em me especializar. Não parar
somente na prática. Buscar teoria... Sabe né?” Nuvem
O que era naturalmente complicado parece tomar a conformação de algo
tangível e muitas possibilidades se abrem para o futuro, já que estando o enfermeiro
adaptado à especialidade, ou ainda em vias de uma adaptação, ocorre uma relação
mais harmoniosa e satisfatória com o contexto, surgindo inclusive interesse por
melhores posições no espaço do trabalho especializado, ALMEJANDO CRESCER
NA ESPECIALIDADE, com o despertar para uma certa ambição positiva,
considerando até mesmo a ocupação de cargos na área.
178
Enquanto isso, em um movimento antagônico, reafirmando que na
vivência do fenômeno é possível diferentes olhares sobre a mesma realidade, tem-
se a categoria VIVENDO A CRISE INTERIOR representada pelas subcategorias:
NÃO CONSEGUINDO SE PROJETAR NA ESPECIALIDADE, SENTINDO-SE
INSATISFEITA POR NÃO ESTAR EM SUA ÁREA; CHORANDO ANTES,
DURANTE E DEPOIS DO TRABALHO; FICANDO DEPRIMIDO; SAINDO DA
ESPECIALIDADE; e SOFRENDO NA ESPECIALIDADE.
QUADRO 12. VIVENDO A CRISE INTERIOR
Categorias Subcategorias
VIVENDO A CRISE INTERIOR
11.1 Não conseguindo se projetar na
especialidade
11.2 Sentindo-se insatisfeito por não estar em
sua área
11.3 Chorando antes, durante e depois do
trabalho
11.4 Ficando deprimido
11.5 Saindo da especialidade
11.6 Sofrendo na especialidade
A rejeição é a tônica principal representativa da categoria VIVENDO A
CRISE INTERIOR, em que o enfermeiro não aceita a especialidade como sendo a
179
sua nova realidade. Seus pensamentos, majoritariamente negativos, não vislumbram
possibilidades e perspectivas futuras de crescimento profissional considerando o
trabalho especializado, logo: NÃO CONSEGUINDO SE PROJETAR NA
ESPECIALIDADE.
“... mas dizer que quero ficar aqui, não. Me incomoda toda
essa dor. Não quero ficar, não é o tipo de trabalho que me gratifica. Acho
que depois de um certo tempo você consegue identificar em que você
trabalha bem, produz melhor. Acho importante que as gerências, que as
novas gerências tenham essa visão”. Mar
O enfermeiro lamenta continuamente, SENTINDO-SE INSATISFEITO
POR NÃO ESTAR EM SUA ÁREA, em uma absoluta e triste nostalgia resultante do
afastamento do seu desejado espaço de trabalho, o qual refere como prazeroso e
agradável, compatível com o seu conhecimento e afinidade.
“Na minha área me sentiria muito mais alegre. Lá os momentos
alegres eram muito maiores que os momentos tristes. Aqui não existe essa
balança. Os momentos ruins são bem maiores”. Céu
A tristeza aparece como resposta emocional proporcional aos eventos
frustrantes da relação não afetuosa com a especialidade, ou ainda, associada à
perda de algo que considerava importante. Nessa situação, um dos agravantes é a
limitação que o meio social submete as pessoas tendo em vista às manifestações de
suas angústias, frustrações e emoções. O enfermeiro sente-se prisioneiro em si
mesmo, CHORANDO ANTES, DURANTE E DEPOIS DO TRABALHO; muitas
vezes aparentando um comportamento emocional incongruente com seus reais
sentimentos de insatisfação.
180
“Eu chorava para ir para o trabalho. Ficava pensando: amanhã
tem plantão... Era uma coisa muito sofrida. Nem eu entendia porque sofria
tanto. No trabalho qualquer coisa me tirava do sério e, lá ia eu chorar...”
Céu
Em um estágio mais avançado de descontentamento com a especialidade,
o enfermeiro desenvolve sentimentos de apatia, indiferença, desesperança, falta de
perspectivas ou prazer pelo trabalho, FICANDO DEPRIMIDO. Além disso, a
depressão provoca sintomas como desânimo e falta de interesse por qualquer
atividade, prejudicando ainda mais o funcionamento psicológico e social.
“Me sinto insatisfeita aqui. Venho aqui fazer o meu papel e
pronto. Mas não estou feliz. Já pedi para sair, porém não é tão fácil. Tenho
que aguardar uma oportunidade interessante para o serviço. Me sinto
cansada de tudo isso”. Montanha
A experiência revela que a chance do enfermeiro em mudar a sua
condição pauta-se na expressão clara de sua insatisfação, solicitando ajuda,
pedindo nova chance de inserção, SAINDO DA ESPECIALIDADE. Isso, a rigor, está
diretamente ligado à situação gerencial da especialidade, totalmente dependente da
permissão da Chefia, não sendo facilmente concedido, considerando a conjuntural
escassez de recursos humanos comum nos espaços de trabalho em saúde.
“Pedi para sair em várias vezes. Com a Chefia imediata. Fui
até o Coordenador geral. Não me senti bem e não queria ficar. Fui
insistindo, até que finalmente eu consegui. Me deram uma oportunidade.
Hoje estou bem melhor aqui. Gostando do que estou fazendo”. Vento
181
A realidade fenomênica associada à contínua dificuldade de adaptação do
enfermeiro a nova especialidade revela um importante ponto de reflexão no que
tange ao trabalho em enfermagem, considerando que não saindo da especialidade e
ficando deprimido com o trabalho especializado, tem-se uma marcante implicação,
em destaque: SOFRENDO NA ESPECIALIDADE.
Durante uma entrevista referente ao primeiro grupo amostral,
ao perguntar como a pessoa sentia-se na especialidade, a enfermeira fez
um silêncio importante... E ao contar a sua experiência, começou a chorar
copiosamente. Tive que parar a entrevista e oferecer-lhe um copo de água.
Mas minha impressão foi de significativo sofrimento.
Essa subcategoria encontrada vai totalmente de encontro a qualquer
proposta sustentada por valores que preservem a dignidade humana. De tal modo,
cabe a reflexão, que à vontade de apreender conhecimento específico é condição
básica para o crescimento profissional do enfermeiro na especialidade, não sendo
justificável a insistência de alguém em um contexto, o qual não deseja e não quer.
Além disso, o trabalhar em estado de sofrimento não tem repercussões
apenas para aquele que sofre, mas também compromete o desenvolvimento do
trabalho coletivo, considerando as ações e as reações do enfermeiro e dos demais
agentes sociais. Aliás, é completamente contraditório pensar, que o profissional
sofrendo poderá realizar o cuidado de enfermagem, pois para cuidar do outro é
essencial o cuidar do próprio eu.
182
DIAGRAMA 16 – CATEGORIA: SENTINDO-SE BEM NA ESPECIALIDADE36.
36 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice XIV.
Sentindo-se bem na especialidade
Projetando-se para um futuro na especialidade
-Resolvendo ficar e mudar
-Descobrindo que o novo pode agradar -Adaptando-se e pensando o que vai fazer na especialidade
-Amando o que aprendeu na especialidade -Querendo crescer no contexto da especialidade
-Reconhecendo-se na especialidade e pensando em melhorar a atuação profissional
-Querendo fazer alguma coisa na especialidade para desenvolver mais habilidades
-Pensando em um futuro nessa área -Achando que continuar na especialidade é uma boa possibilidade futura
Buscando a Especialização
-Fazendo o curso de especialização
-Fazendo outro curso de especialização para ajudar mais a clientela
-Querendo fazer especialização -Estando agora
preocupada em fazer o curso de
especialização nessa área
Almejando crescer na
especialidade
-Crescendo profissionalmente
apesar do enfrentamento do
conhecimento novo -Achando que foi
importante estar aqui para crescer enquanto
profissional -Não querendo mais sair da especialidade
Preocupando-se com a
Educação Continuada
-Fazendo cursos de
aprimoramento e atualização na área -Começando a ir a
Congressos e eventos da área
-Querendo que o hospital faça curso
disso -Elaborando projetos
voltados para a educação continuada
Podendo ser feliz no trabalho
-Trabalhando
minimizando a dor do outro
-Sendo agora mais feliz
-Reconhecendo que foi bom
-Tendo um encantamento pela
área -Sentindo-se bem e
tranqüila com a minha opção
183
DIAGRAMA 17 – CATEGORIA: VIVENDO A CRISE INTERIOR37.
37 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice XV .
Saindo da especialidade
-Querendo sair o mais rápido possível daqui-Pedindo a Chefia para ir para outro local -Desejando trabalhar em outro local mais
próximo da experiência anterior -Percebendo que precisava de uma
oportunidade em outro local
Sofrendo na especialidade
-Sendo os momentos ruins muito maiores que qualquer outra coisa
-Indo para lá sofrida -Saindo de lá sofrida
-Ficando no dia de folga pensando no próximo dia de trabalhar
Sentido-se insatisfeita por não estar em sua área
-Não tendo a menor vontade de se especializar -Não querendo ficar nessa área
-Lembrando de como era feliz com o que fazia -Não se adaptando até com essa clientela -Achando tudo difícil e por demais complexo
Não conseguindo se projetar na especialidade -Identificando que não produz bem com a clientela específica
relacionada à especialidade -Não se identificando
-Vendo a situação de uma forma muito preocupante -Não procurando nada
Chorando antes, durante e depois do trabalho
-Ficando com depressão por não conseguir fazer -Chorando em casa desesperadamente
-Chorando todos os dias -Chorando na noite anterior a vir para o plantão
Não se adaptando a especialidade: vivendo a
crise interior
Ficando deprimido -Vivendo bicuda na especialidade
-Trabalhando mal humorado -Perdendo até a vontade de falar sobre isso
-Não querendo aprender nada de novo
184
Descobrindo o
Fenômeno Central
185
CAPÍTULO VII
INTER-RELACIONANDO OS FENÔMENOS DESENVOLVIDOS E
APRESENTANDO O MODELO TEÓRICO REPRESENTATIVO DA EXPERIÊNCIA
DOS ENFERMEIROS NO ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO NOVO
A Teoria Fundamentada nos Dados permite a geração de teorias a partir dos dados obtidos, analisados e comparados, de maneira sistemática e concomitante. (...) É um processo de análise e interpretação de dados bastante complexo, que requer envolvimento constante e consome tempo e energia do investigador (BETTINELLI, 2002, p.34).
Ao desenvolver o Modelo Teórico representativo da experiência dos
enfermeiros no enfrentamento do conhecimento novo, através dos códigos,
categorias e subcategorias, as reflexões realizadas em busca do cimento condutor,
basearam-se no modelo paradigma, em destaque: as condições causais, fenômeno
central, as condições intervenientes, o contexto, as estratégias ação /interação e a
conseqüência.
Nesse momento da pesquisa ocorreram muitos questionamentos que
foram à base de reflexão para a descoberta do fenômeno central, por conseguinte, a
construção do Modelo Teórico, em destaque: Qual ou quais situações aparecem
como causa para que ocorra o enfrentamento do conhecimento novo na
especialidade? Onde acontece esse enfrentamento? Existem situações
facilitadoras, ou ainda, àquelas que dificultam o enfrentamento do conhecimento
novo na especialidade? Que estratégias são utilizadas pelo enfermeiro nessa
situação? Qual o resultado de viver essa experiência?
Assim, o Modelo Teórico construído propõe a conexão e interconexão
entre os fenômenos anteriormente apresentados: VIVENDO O CHOQUE DA
186
REALIDADE: A INSERÇÃO DO ENFERMEIRO SEM EXPERIÊNCIA PRÉVIA NA
ESPECIALIDADE – Condições Causais; EXISTINDO UM ENTORNO QUE
PRECISA SER CONHECIDO – Contexto; SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA
NA ESPECIALIDADE – Condições Intervenientes; (RE) CONHECENDO A
ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA ESPECIALIDADE – Estratégias de Ação/
Interação; CONVIVENDO COM A REALIDADE NA ESPECIALIDADE –
Conseqüências.
O próprio objeto de estudo da Tese também constitui um fenômeno, para
os quais todos os fenômenos desenvolvidos na análise dirigem-se e estão
diretamente relacionados. Dessa maneira, VIVENDO O PROCESSO DE
FORMAÇÃO NA ESPECIALIDADE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO
ENFRENTAMENTO DO NOVO é o fenômeno central identificado no estudo38.
38 Grifo da autora.
187
DIAGRAMAS 18 - ARTICULAÇÃO DO MODELO PARADIGMÁTICO (CONDIÇÕES
CAUSAIS, CONTEXTO, CONDIÇÕES INTERVENIENTES, ESTRATÉGIAS E
CONSEQÜÊNCIAS) COM OS FENÔMENOS DO ESTUDO.
O significado da formação profissional do enfermeiro no
enfrentamento do conhecimento novo no
contexto de setores especializados.
Existindo um entorno que precisa ser compreendido
Sentindo a falta da
experiência na especialidade
(Re) Conhecendo a atuação profissional na especialidade
Convivendo com a realidade
na especialidade
Condições Causais
Condições
intervenientes
Vivendo o choque da
realidade: a inserção do enfermeiro na especialidade
Fenômeno
Contexto
Estratégias ação-
interação
Conseqüências
188
DIAGRAMAS 19 - ARTICULAÇÃO DO MODELO PARADIGMÁTICO
COM OS SIGNIFICADOS DOS FENÔMENOS DO ESTUDO.
O objeto de estudo
O contexto interno e externo no qual o enfermeiro desenvolve as
suas atividades, interage, relaciona-se, aprende,
desempenhando nele o seu papel social.
A inexperiência marca as interações que se desenvolvem
constituindo os núcleos simbólicos da situação estudada.
Compreensão e desenvolvimento de estratégias de enfrentamento do novo, considerando o mundo social
que se abre a sua frente, que apesar de diferente de uma
atuação anterior, é possível de ser apreendido.
A relação do enfermeiro com o espaço de convivência na
especialidade, tendo em vista o vigente e as perspectivas futuras.
Condições Causais
Condições
intervenientes
Momento de aproximação com a
realidade em que o enfermeiro vive a iniciação na especialidade.
Fenômeno
Contexto
Estratégias ação-
interação
Conseqüências
189
MODELO TEÓRICO
VIVENDO O PROCESSO DE FORMAÇÃO NA ESPECIALIDADE A PARTIR DA
EXPERIÊNCIA DO ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO NOVO
Visto a partir do objeto, o conhecimento aparece como um alastramento, no sujeito, das determinações do objeto. Há uma transcendência do objeto na esfera do sujeito correspondendo à transcendência do sujeito na esfera do objeto. Ambos são apenas aspectos diferentes do mesmo ato (HESSEN, 2003, p.20-21).
O fenômeno VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: A INSERÇÃO DO
ENFERMEIRO NA ESPECIALIDADE representa a condição causal39 do evento que
leva a ocorrência do enfrentamento do conhecimento novo, tendo como ponto de
partida a situação de caos e de conflito interior, em que o enfermeiro vive a
mudança, a inquietação, a incerteza e o medo. Percebe-se despreparado para uma
atuação específica na especialidade, estando em um verdadeiro choque, em estado
de paralisação. Muitas dúvidas o acompanham, tendo ainda o peso da pressão
social, que espera, o mais rápido possível, a sua adaptação.
O choque tem relação com a inevitável vivência da mudança. Uma
excursão rumo ao desconhecido em que os acontecimentos futuros são dotados de
imprevisibilidade, provocando muitas inquietações. Trata-se de um momento
marcado pela dúvida quanto à possibilidade de uma adaptação e uma inserção
simbolicamente e socialmente satisfatória. Um processo de repensar o caminho que
então deverá ser percorrido a partir da interpretação não só objetiva, mas também,
subjetiva da realidade.
Por assim dizer, existe um descompasso entre a realidade do que é
conhecido em contrapartida àquilo que é novidade e, como não poderia ser 39 Grifo da autora.
190
diferente, carregado de incertezas. Uma relação marcada por um duelo entre o
conhecido e o desconhecido, ou ainda, entre a experiência e a inexperiência, que
envolve um saber/ fazer em enfermagem complexo, que não se dá em matéria morta
e, sim, junto ao ser humano.
O enfermeiro vivendo o enfrentamento do novo se desvela e mostra a sua
personalidade, o seu “eu” interior, que interage com os outros, permitindo o
afloramento de muitos sentimentos, sendo o grande desafio: aceitar o conhecimento
novo, aceitar a si mesmo no bojo dessa situação e também aceitar ao outro, com
suas divergências ou contradições, já que cada ser é único e esta individualidade é
o que preserva a autonomia e a transcendência. Cabe enfocar, a compreensão do
ser humano como uma corrente de relações, que interage em um determinado
espaço físico e em um universo de inúmeras possibilidades.
São muitos os extremos de sentimentos vividos mediante o enfrentamento
do novo, tratando se de um desafio pessoal, que ainda assim, mesmo em face às
dificuldades, existe a necessidade do enfermeiro em assumir o seu papel social. Isso
no que se refere à adoção de atitudes e condutas que sejam compatíveis com o
esperado no ambiente da especialidade. Essas experiências funcionam como mola
propulsora para o processo de formação na prática, já que vivendo a dificuldade o
enfermeiro é impelido, cabendo a reação a todos esses acontecimentos.
O seu acolhimento é vital em termos de percepção inicial da
especialidade, quando bem recebido na especialidade, ou seja, quando o enfermeiro
percebe que a sua chegada traz uma conotação positiva, sente-se mais amparado
para enfrentar as dificuldades representadas pelo desconhecido. Ao passo que, a
percepção imediata de dificuldades presentes no ambiente da especialidade podem
funcionar negativamente, desencorajando o enfermeiro para a vivência da nova
191
situação. Esse desencorajamento inicial poderá então ser a primeira grande barreira
e fator limitante para o avanço do profissional no processo de formação.
Em EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA SER COMPREENDIDO,
emerge a importância do contexto40, um dos elementos do modelo, no qual as
estratégias de ação e interação são tomadas. Nesse fenômeno o enfermeiro revela o
quanto de ansiedade existe associado ao que está ao seu redor e permeando toda a
especialidade. O enfermeiro precisa dar conta de conhecer o espaço físico, os
recursos materiais e tecnológicos, a equipe multiprofisional e, especialmente
intrigante, a clientela a qual prestará os cuidados de enfermagem.
A troca de experiências e o compartilhar de saberes no enfrentamento do
conhecimento novo, firmam espaços de formação mútua, nos quais cada enfermeiro
é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando.
Nessa acepção, o trabalho em equipe na especialidade se revela fundamental para
o aprendizado do enfermeiro, já que as tomadas de decisões quando definidas em
conjunto, tendem a desfavorecer a resistência às mudanças e todos passam a ser
os responsáveis pelo sucesso da coletividade.
Aliás, o trabalho em equipe evita que o enfermeiro inexperiente conduza
as suas atividades de maneira isolada, corroborando com a premissa, que a
produção de práticas educativas eficazes emergem de uma reflexão da experiência
partilhada. Portanto, o processo de formação do enfermeiro está diretamente
associado ao seu próprio local de trabalho, considerando o seu espaço de atuação
profissional e, isso, inclui o enfermeiro frente ao desconhecido na especialidade.
Nessa linha de raciocínio, é importante entender a equipe de trabalho
como uma forma especial de organização, que visa, principalmente, a ajuda mútua
entre profissionais inseridos em um mesmo contexto, podendo ser compreendido 40 Grifo da autora.
192
como um conjunto ou grupo de pessoas que se dedicam a realizar uma tarefa ou um
determinado trabalho.
De tal modo, cabe a valorização de cada indivíduo, permitindo que todos
façam parte de uma mesma ação. Logo, o trabalho em equipe possibilita dar e
receber, por parte de cada um de seus membros, afeição, aceitação e sentimento de
importância, isto permite que o indivíduo amadureça, tornando o trabalho
determinante, pois o objetivo a ser alcançado depende, exclusivamente, da
satisfação psicológica do indivíduo, como também, das relações humanas.
O compartilhar de experiências permite o estabelecimento do diálogo
produtivo, em que aprender no trabalho significa viver positivamente o contato com o
conhecimento novo, no qual são enfrentadas as dificuldades, as situações de
conflito, possibilitando a proposta de ouvir e ser ouvido, de se colocar na posição do
outro, de se permitir o desconhecimento sobre algo ou alguma coisa, de respeitar os
diversos tipos de contribuições, tendo uma atitude solidária e postura compatível
com o espírito aberto.
É no estabelecimento das relações, no que tange o exercício real da ação
solidária, que o enfermeiro enfrentando, e não obstante, vivendo o desafio do
conhecimento novo, tem deflagrado o processo de compreensão das regras
representativas do tecido social, as leis que regem uma sucessão de fatos e
ocorrências, e ainda, os símbolos e os significados das coisas presentes na
especialidade.
Do mesmo modo o respeito à prática interativa permite a cada um dos
participantes interagir livremente com todos os outros e vice-versa, sem necessária
hierarquização, levando-se em conta que cada participação, além de trazer para o
193
ambiente contribuições, estimula continuamente a apreensão de conhecimentos
novos e o desenvolvimento profissional.
A valorização de capacidades cognitivas individuais, valores pessoais e
habilidades que favoreçam o trabalho em grupo assumem fundamental importância,
na formação de enfermeiros atuantes em seu entorno social, mesmo quando na
condição de inexperientes. Para tanto, é preciso trabalhar o conhecimento como um
todo, em um processo baseado nas interações do sujeito com outros sujeitos e com
o meio, em respeito às singularidades de cada um.
Nesse caminho, no fenômeno SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA
NA ESPECIALIDADE aparecem as condições intervenientes41, considerando que
podem as mesmas facilitar, dificultar ou restringir as estratégias de ação/ interação
no contexto da especialidade. Portanto, existe a constatação da ausência de
conhecimento sobre a área especializada, já que o enfermeiro vivencia pela primeira
vez a especialidade. De fato, aparece como propulsora do fenômeno a inexperiência
e, é em torno dela, que ocorrem todas às interações.
Entretanto, nem sempre o enfermeiro está disposto a contatar a novidade.
Isso depende de fronteiras que determinaram e, que sinalizam, até onde o
enfermeiro quer e pode avançar. Estas fronteiras resultam de suas experiências
anteriores de vida, bem como, de suas capacidades internas para a assimilação da
experiência nova, incluindo uma certa disponibilidade para correr riscos.
A falta de previsibilidade dos resultados é fator de dificuldade para que
muitos enfermeiros busquem, ou ainda, se permitam à proximidade com o novo e,
por conseguinte, também pode funcionar como impeditivo para a ampliação de 41 Grifo da autora.
194
fronteiras pessoais. Assim, o enfermeiro quando norteado por fronteiras bastante
rígidas mostra-se em um estado marcado pelo intenso medo de expansão, sentindo-
se ansioso e ameaçado sempre que se aproxima do novo. Por assim dizer, para que
ocorra o movimento de apreensão da novidade é necessário que o enfermeiro
administre o seu medo, que passa então a funcionar como um componente
importante na manutenção do estado de alerta com relação ao desconhecido.
Não poderia deixar de mencionar, os significativos momentos de
constrangimento, em que o enfermeiro tendo que ser o líder da equipe, precisa dizer
que não sabe algo ou alguma coisa. Obviamente, variando segundo as
características pessoais de cada profissional, pois ainda sim, existe a possibilidade
do enfermeiro mesmo sem saber, não conseguir expressar, vivendo solitariamente a
inexperiência.
Partindo da idéia que muitos aspectos permeiam a experiência do
enfrentamento do novo, o desejável é que se possa criar uma atmosfera de
interesse no que se refere ao contato com o conhecimento novo, de forma criativa e
saudável, ampliando a gama de experiências, de recursos internos e enriquecendo o
repertório de respostas pessoais.
É interessante enfocar a importância do pensamento crítico, da autocrítica
e do controle emocional para o processo de formação no enfrentamento do
conhecimento novo, já que o enfermeiro pode melhorar cada vez mais a sua
atuação profissional vencendo as suas dificuldades interiores e ampliando as suas
fronteiras pessoais, buscando o equilíbrio emocional, tão necessário em qualquer
situação de mudança.
Esses aspectos relacionam-se diretamente com o desenvolvimento da
maturidade profissional, já que o enfermeiro precisa gerenciar imparcialmente o seu
195
próprio percurso profissional, refletindo sobre a sua trajetória e experiências, as
quais possam estar relacionadas, avaliando continuamente até que ponto vem
ocorrendo uma aprendizagem satisfatória e, em uma análise mais aprofundada, até
que ponto vem se permitindo aprender no espaço de atuação da especialidade.
No que se refere ao controle emocional, este se associa a muitas
habilidades tidas como especiais e que permeiam o cotidiano da atividade
profissional, em destaque: motivar a si mesmo continuamente, persistir mediante
frustrações vividas, controlar impulsos e atitudes precipitadas, canalizar emoções
para situações apropriadas em função da aprendizagem, motivar pessoas parceiras,
motivar àquelas que apresentam comportamento refratário à interação, ajudar as
pessoas a liberarem seus melhores talentos e conseguir seu engajamento a
objetivos de interesses comuns.
Um princípio básico para o desenvolvimento do controle emocional no
contexto da especialidade é o respeito mútuo pelos sentimentos dos outros e, para
tanto, é necessário que o enfermeiro saiba como se sente. Aliás, ele precisa
desenvolver a capacidade de comunicação, no sentido de expressar abertamente
suas sensações e seus sentimentos. O enfermeiro não deveria negar suas emoções
negativas e, sim, ser capaz de expressá-las de modo saudável, dividindo as
dificuldades. Agora, isso não significa ter uma atitude de supervalorização das
dificuldades, o que poderia funcionar como obstáculo para o enfrentamento da
situação nova.
A experiência estudada também aponta, para a importância do processo
de análise crítica do enfermeiro para com os seus próprios atos, principalmente,
considerando os erros que eventualmente possa ter cometido e suas perspectivas
de aprimoramento. Indubitavelmente, o exercício contínuo da autocrítica contribui
196
fortemente para o processo de formação do enfermeiro no enfrentamento do
conhecimento novo, em que o mesmo pode redirecionar as suas ações na tentativa
de obter melhores resultados.
Cabe ainda destacar, que a mudança é um processo natural da vida,
embora possa associar-se a sofrimentos ou grandes dores. Negá-la pode ser uma
forma de sabotagem pessoal e de resistência à evolução. A resistência à mudança
pode provocar uma recusa contínua quando do processo de formação, pois viver em
uma situação totalmente conhecida e dominada é por demais cômodo e agradável,
porém pode funcionar como um confinamento, limitando ao que já se sabe. Por meio
da mudança é que se propicia o desafio, permitindo através da exposição,
inovadoras possibilidades em um novo cenário.
Assim, o enfermeiro busca estratégias de ação/ interação42 na tentativa de
sair do quadro de perplexidade em busca de um certo dinamismo, (RE)
CONHECENDO A ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA ESPECIALIDADE, em função
da compreensão do mundo social presente na especialidade, considerando
dificuldades e possibilidades. Essas estratégias são planejadas e implementadas
com o intuito de ajudar o enfermeiro na condução do saber/ fazer na especialidade,
a partir de um conjunto de situações percebidas. De fato, pensando no Modelo
Teórico, trata-se de ações baseadas na reflexão estratégica e tática voltadas para o
enfrentamento do conhecimento novo.
Muitos são os fatores que influenciam no processo de formação do
enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo, com destaque: a definição de
prioridades, o ajuste de metas e objetivos, o comportamento otimista, o exercício da
criatividade, a participação contínua, a perseverança mediante ao desafio, a visão
de futuro, o senso crítico e o estar aberto a mudanças. Todas essas acepções 42 Grifo da autora.
197
podem fazer grande diferença quando da vivência do conhecimento novo,
permitindo ações baseadas na reflexão.
O enfermeiro precisa ser capaz de refletir continuamente sobre a sua
prática na especialidade, ainda que na situação de aprendiz, estando disposto a dar
e receber, direcionando sua busca para estratégias de enfrentamento, em
consonância com a realidade em que atua, priorizando os interesses e os objetivos
do bem comum, estando atento às oportunidades que se fazem presentes.
No movimento de sobrevivência, inerente ao enfrentamento do
conhecimento novo, o enfermeiro precisa atuar e cumprir o seu papel social,
buscando atender as necessidades reais da especialidade, tendo ainda o desafio
paralelo de atingir o reconhecimento profissional nesse novo contexto. Desta
maneira, o enfermeiro sobrevive ao conhecimento novo à medida que realmente se
permite assimilar as situações tidas como novas, inclusive admitindo para si e para
os outros membros da equipe o não saber sobre algo ou sobre alguma coisa, o que
implica em um saber lidar com a situação, que apesar de bastante desconfortável,
acaba sendo inevitável.
Além disso, é importante a reflexão que no enfrentamento do
conhecimento novo existe uma tendência em repetir posturas ou estratégias que já
foram utilizadas na solução de dificuldades anteriores. Embora, isso precise ser
cuidadosamente estudado, pois cada situação possui a sua singularidade e o olhar
padronizado poderá implicar em problemas de interpretação, comprometendo as
ações e os resultados. Logo, é necessário no processo de formação mais do que a
mera repetição, mas uma atitude flexível, em que o conhecimento acumulado
funcione muito mais como apoio do que como guia.
198
De fato, esse fenômeno é marcado pelo atuar mesmo, na expressão
paradoxal que nesse momento a palavra atuação possa significar, já que o
enfermeiro precisa fazer aquilo que ainda precisa aprender e, ainda sim, o mais
rápido possível. Portanto, o enfermeiro se lança ao desconhecido, mesmo que não
perceba isso, à medida que pergunta para quem acredita conhecer a especialidade,
lê temáticas da especialidade para resolução de problemas específicos, observa
pessoas mais experientes e com conhecimento acumulado na área, mobiliza
conhecimentos de experiências anteriores, recorre a manuais da especialidade,
procura conhecer as rotinas, dentre outras situações estratégicas.
Não poderia deixar de mencionar o tempo, como um fator marcante nesse
fenômeno, já que o enfermeiro precisa apreender conhecimento o quanto antes, já
que precisa atuar e assumir o seu papel social e, não obstante a tudo isso, precisa
dominar a situação para um cuidar mais seguro, ainda que esteja vivendo muitas e
significativas dificuldades. Contudo, o tempo que apressa a aprendizagem e causa
temor, também funciona como um acalento, a partir consciência que a tão desejada
maturidade somente chega para o enfermeiro com esse mesmo tempo.
CONVIVENDO COM A REALIDADE NA ESPECIALIDADE elucida as
conseqüências43 e resultados atuais ou potenciais das estratégias de ação/
interação utilizadas pelo enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo. A este
ponto, cada enfermeiro irá reagir segundo a construção que tenha realizado e, isso
dependerá de símbolos e significados atribuídos ao enfrentamento do novo,
podendo ter como resultado o processo satisfatório de adaptação à especialidade,
com uma contínua busca pela apreensão de conhecimentos novos, ou ainda, a
rejeição parcial ou total da especialidade, sendo o enfermeiro bem mais reativo a
apreensão desses mesmos conhecimentos. 43 Grifo da autora.
199
Muitas são as possibilidades no curso do enfrentamento do conhecimento
novo, podendo ser representada por uma convivência feliz e proveitosa para o
crescimento profissional, com destaque a sensação de sentir-se feliz naquilo que se
faz, conseqüentemente, sendo um grande e importante diferencial para uma
vivência agradável e criativa do processo de formação na especialidade.
Contudo, o inverso também se mostrou possível, considerando que a
convivência na especialidade poderá ser extremamente difícil, comprometendo o
processo de formação, podendo até estar associado à tristeza e ao sofrimento. Isso
levanta a reflexão, de que é necessário que o enfermeiro realmente queira viver e
conhecer o novo na especialidade, pois o processo de formação vivido
forçadamente é inoportuno, já que tem como base a insistência de algo que não se
deseja.
Em virtude do exposto, a partir do Modelo Teórico construído nesse
estudo, VIVENDO O PROCESSO DE FORMAÇÃO NA ESPECIALIDADE A
PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO NOVO,
apresento a formação do enfermeiro na especialidade como um movimento ao
infinito, que tem como ponto de partida o choque da inserção do enfermeiro na
especialidade.
Esse é marcado pela desordenada e imediata representação do todo
desconhecido, e como ponto de chegada, às abstratas conceituações desenvolvidas
a partir de símbolos e significados associados à experiência do enfrentamento do
conhecimento novo, no contexto do setor especializado, que retornam
continuamente e realimentam o ponto de partida, como prenúncio de novas
realidades, levando a novas buscas e formulações, que articule o já conhecido ao
presente e anuncie o futuro.
200
Não poderia deixar de enfocar que o movimento tem relação com o
processo de desenvolvimento do conhecimento, como idealização de um projeto de
crescer profissionalmente a partir da experiência do conhecimento novo. Assim,
destacam-se: a busca das informações, as definições de situações inquietantes da
prática na especialidade, a execução das atividades, a depuração do vivido e, a
avaliação do que foi construído, em comparação ao momento de aproximação à
especialidade, tido como inicial e propulsor do fenômeno, retroagindo continuamente
sobre os aspectos significativos da realidade.
De acordo com as possibilidades diagramáticas possíveis a partir da
abordagem metodológica escolhida para o estudo, como forma de elucidação gráfica
do Modelo Teórico, tem-se como resultado de: VIVENDO O PROCESSO DE
FORMAÇÃO NA ESPECIALIDADE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO
ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO NOVO, a representação esquemática
resultante do movimento envolvendo todos os fenômenos e a categoria central: uma
helicoidal aberta, rumo ao infinito.
A escolha44 diagramática da helicoidal aberta rumo ao infinito pretende,
portanto, afirmar que o processo de formação se dá através de movimento, em que
não se pode conhecer tudo. A visão de algo ou de alguma coisa dependerá do
conhecimento apreendido a respeito e, mesmo assim, será apenas uma
possibilidade de explicação sobre a realidade, que jamais terá um caráter absoluto e
definitivo.
De fato, estar com o espírito aberto ao processo de formação poderá
permitir o movimento de subida da helicoidal, possibilitando a vivência em termos de
amadurecimento pessoal e profissional, no que se refere à abrangência de como as
44 Grifo da autora.
201
coisas são interpretadas e percebidas. Do mesmo modo, manter-se continuamente
em estado de perplexidade, reativo a apreensão de conhecimento, com valorização
de limitações, pode significar uma paralisação, quando da reflexão a partir do
movimento representado pela helicoidal.
Assim, em consonância com o Modelo Teórico proposto apresento a
Tese de Doutorado: O ENFERMEIRO APREENDE CONHECIMENTO NOVO EM
UMA DADA ESPECIALIDADE, EM UM MOVIMENTO RUMO AO INFINITO,
VIVENDO O PROCESSO DE FORMAÇÃO, A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO
ENFRENTAMENTO NA PRÓPRIA REALIDADE VIVENCIADA.
202
DIAGRAMA 20 – MODELO TEÓRICO: VIVENDO O PROCESSO DE FORMAÇÃO
NA ESPECIALIDADE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO ENFRENTAMENTO DO
CONHECIMENTO NOVO.
Sentindo a falta de experiência na especialidade
(Condições Intervenientes)
Vivendo o choque da realidade: a inserção do enfermeiro na
especialidade (Condição Causal)
(Re) conhecendo a atuação profissional na especialidade (Estratégias de Ação / Interação)
Existindo um contexto que precisa ser compreendido
(O Contexto)
Convivendo com a realidade na especialidade em busca da
adaptação (Conseqüências)
Vivendo o processo de formação na especialidade a partir da experiência
do enfrentamento do novo.
203
Possibilitando a discussão
acerca dos resultados
204
CAPÍTULO VIII
DIALOGANDO COM AUTORES A PARTIR DO FENÔMENO CENTRAL
“O rigor metodológico foi uma meta perseguida com muita tenacidade, e o considero um ponto significativo de todo o trabalho científico... (BETTINELLI, 2002, p.48).
Esse capítulo propõe um diálogo a partir da descoberta do fenômeno
central: VIVENDO O PROCESSO DE FORMAÇÃO NA ESPECIALIDADE A
PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO NOVO,
confrontando as idéias apresentadas, as considerações teóricas de autores
estudiosos do Interacionismo Simbólico, assim como, àqueles envolvidos com
pesquisas sobre Formação.
Contextualizar o processo de desenvolvimento profissional do enfermeiro
no enfrentamento do conhecimento novo decorre do entendimento de que a
formação se processa como algo dinâmico e progressivo, como um movimento,
dotado de complexidade, que vai além dos componentes teóricos, técnicos e
operativos, partindo da compreensão de que apenas esses não abarcam toda a
dimensão coletiva do trabalho de enfermagem e as situações reais enfrentadas na
prática cotidiana.
Segundo Perrenoud (2001, p.30), falar de complexidade significa falar de
si mesmo e dos outros mediante a realidade. Abarca as inquietações acerca de
nossa representação e nosso controle do mundo, principalmente no que se refere ao
mundo social. Significa verificar quais são as nossas ferramentas de compreensão,
de antecipação e de ação.
Ainda sobre isso, Andrade (2002, p.13) afirma que:
205
O ser humano é complexo e sua existência e de não acomodação, isto é, embora um dia pareça ser igual ao outro, estamos sempre em movimento, e nosso corpo e mente em constante mudança. No entanto, nossa existência é de natureza não acomodativa: ordem-desordem-organização é um fato do nosso dia-a-dia, e isto acontece tanto com o cliente como com os membros da equipe de saúde, o que torna o cuidado de enfermagem uma ação de alta complexidade e o nosso compromisso com o cliente e sua família uma grande responsabilidade. A enfermeira precisa desenvolver a inteligência para lidar com situações complexas e imprevisíveis.
A autora (op. cit, p.41) também comenta, que o conhecimento está
espontaneamente unido à vida, fazendo parte da existência humana. A ação de
conhecer está presente, simultaneamente, nas ações biológicas, cerebrais,
espirituais, culturais, lingüísticas, sociais, políticas, históricas e, por isto, o ser
condiciona o conhecer, que ao mesmo tempo condiciona o ser.
No processo de formação e apreensão do conhecimento, as informações
devem ser consideradas nas muitas modalidades em que possam ser
desenvolvidas, uma vez que existem diferenças de decodificação de uma para outra
modalidade. A decodificação de informações tem como premissa às referências
construídas ao longo do tempo, sendo condição fundamental para que se consiga
resolver problemas da prática.
Essa decodificação estará relacionada à visão de mundo do enfermeiro,
passando também pelas suas características pessoais, que ainda sim, podem fazer
grande diferença na compreensão da realidade vivenciada. Portanto, possuindo
maior quantidade de símbolos, mais conceitos podem explicar as coisas, sendo
melhor a relação com as diferentes circunstâncias que se apresentam no cotidiano.
Nesse sentido, Bazilli et al (1998, p. 38) referem que:
No interacionismo simbólico, os símbolos significantes são produto da forma como as pessoas reagem aos símbolos, em termos de significados que elas levam como preditores do seu próprio comportamento e o comportamento de outros. Nesse sentido, o papel dos símbolos
206
significantes é ajudar a organizar o comportamento e permitir que atos se completem no curso da interação, num contexto social específico.
Essa acepção abre a ponderação, que ter acesso às informações
referentes à especialidade não é o bastante. É necessário compreendê-las,
aprofundá-las, decodificá-las, utilizando a inteligência, para então desenvolver a
síntese do que realmente interessa em termos de utilidade, em face da vivência
problematizadora do novo, com ênfase as relações que podem ser estabelecidas
visando à aprendizagem. Logo, não adianta ter um acúmulo desnecessário de
materiais e recursos, sem saber o que fazer com eles, em face das diferentes
situações cotidianas.
Os mesmos autores (op. cit, p.39) acrescentam que:
O conceito de situação é proposto pelo interacionismo simbólico para referir-se aos produtos do processo de simbolização, na medida em que toda situação de interação social deve ser simbolizada, antes de gerar cursos de ação, comportamentos decisões, etc.
No que se refere à inteligência, Demo (2002, p.44) relaciona a capacidade
de resolução de situações complexas. De tal modo, envolve o saber andar por linhas
tortas, sem ter necessariamente que acertar as linhas. Assim, o saber pensar não é
apenas ver a lógica das coisas, mas superá-la. Isso através do pensar flexível, com
o intuito de decifrar o que é ambíguo e contraditório, além de encontrar similaridades
e diferenças, formulando perspectivas inovadoras.
Por conseguinte, é dando significado a seleção e a síntese desse mundo
novo de informações que o enfermeiro permite o avançar no processo de construção
e reconstrução do conhecimento. A busca do enfermeiro pela significação e
ressignificação na especialidade estabelece uma relação de troca permanente de
informações.
207
É interessante salientar, que o enfermeiro no processo de formação na
especialidade precisa deixar a resignação e adequar-se ao movimento de apreensão
do conhecimento novo, no sentido de assumir uma postura de construção positiva,
indo ao encontro de novas percepções, ampliando a sua capacidade de
decodificação. O mundo-objeto da especialidade é, portanto, agente dessa nova e
intensa subjetividade.
A respeito disso, Bettinelli (2002, p.30) discorre que:
No processo interpretativo da interação social, primeiramente há um momento em que a pessoa interage consigo mesma, indicando para si as coisas significativas. No processo formativo, a pessoa seleciona, suspende, reagrupa e transforma esses significados utilizados como guias de ação, à luz da situação que está colocada.
Nessa acepção, o enfrentamento do novo exige que o enfermeiro também
possua significativa capacidade de comunicação, fundamentalmente, uma
importante capacidade interativa. Sem abertura para a interação o enfermeiro torna-
se cada vez mais propenso ao entendimento apenas dos seus próprios valores,
limitando o seu crescimento profissional na especialidade, tendo uma atitude
fechada, com dificuldades de ser flexível nas situações diversas do cotidiano,
comprometendo o processo de formação.
Para o mesmo autor (op. cit, p. 164), os valores guiam a ação e o modo de
ser das pessoas no convívio social e na auto-realização. O valor encontra-se na
interconexão da objetividade das coisas com a subjetividade humana. Trata-se esse
do ponto de encontro determinante do valor, relacionado com o pensamento, o
comportamento e as atitudes de cada um, no espaço de convivência. Portanto, os
valores humanos têm uma importante identificação pessoal, contudo, também, na
convivência social.
O autor também complementa (op. cit) que:
Os valores são objetivos, pois cada ser humano tem alguma coisa que lhe é inerente, e exprimem uma realidade concreta que vale por
208
si mesma, independente de qualquer avaliação da pessoa (valor ontológico). Relativamente ao aspecto subjetivo, o valor consiste na avaliação que cada pessoa faz da coisa em si e da visão da realidade individual e social, de fatores histórico-culturais.
É essencial que o enfermeiro perceba que uma mesma coisa pode ser
vista de diferentes perspectivas, sem perder as suas características. O novo
aparentemente tão desconhecido pode tomar a conformação de algo mais familiar, à
medida que o enfermeiro vai dando significado, ou ainda ressignificando, o seu
saber/ fazer na especialidade, permitindo-se avançar e desafiar o desconhecido.
Ainda no processo de formação e no desenvolvimento da aprendizagem, a
auto-estima tem singular influência no sentido da opinião e do sentimento que cada
um tem por si mesmo. É importante a consciência do enfermeiro acerca de seu real
valor pessoal, acreditando, respeitando e confiando em si. Quando a auto-estima
está baixa o enfermeiro sente-se inseguro, com dúvidas sobre sua atuação,
experimentando até mesmo o sentimento de não ser capaz, desistindo antes mesmo
de começar.
Tem-se que, a habilidade de se localizar espacialmente no contexto da
especialidade tem grande importância para a representação mental das pessoas. O
enfermeiro que não consegue representar mentalmente o papel que vai executar,
dificilmente o fará dentro da qualidade necessária. Além disso, a dificuldade de
representação poderá comprometer o processo de socialização.
Sobre isso, Bazilli et al (1998, p.36) afirmam que:
Sob este enfoque, a pessoa é socializada, em parte, pelo fato de responder às expectativas dos outros e na experimentação de papéis no processo geral de interação, que é em si mesmo uma experiência de socialização.
209
Não poderia deixar de relatar, que o processo de formação envolve
aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos, sociais, culturais e éticos, sendo
resultante do desenvolvimento de aptidões e da abertura ao conhecimento,
diretamente influenciado pela motivação.
A vivência do novo e a superação de obstáculos são estímulos à atividade
cognitiva, em que o desafio cognitivo faz o enfermeiro mobilizar-se. À luz de uma
aprendizagem significativa, uma das premissas é a de favorecer continuamente a
confrontação entre os significados pessoais do enfermeiro com àqueles dos agentes
sociais envolvidos no contexto da especialidade, em uma ambiente de formação,
estruturado para dinamizar as diferentes possibilidades de interações, com respeito
às subjetividades e a produção intelectual.
A este ponto cabe reforçar, que a aprendizagem também é processual e
ocorre no interior do sujeito, estando relacionada às possibilidades de troca, que
esse mesmo sujeito, estabelece com o seu meio. Não obstante, na situação do
enfrentamento do novo, é essencial que o enfermeiro tenha motivos para apropriar-
se do conhecimento na especialidade. Portanto, tem-se como condição ímpar, que o
enfermeiro almeje efetivamente aprender.
Além disso, é importante no processo de formação que o enfermeiro
perceba a sua autonomia, no sentido de assumir a responsabilidade por sua própria
aprendizagem, desenvolvendo habilidades para formular perguntas, que promovam
uma contínua busca, possibilitando o trânsito entre a teoria formal codificada e a
prática em si, refletindo com profundidade acerca dos conhecimentos que embasam
seu atual modo de agir.
A esse respeito, Santo (2003, p.224-225) discorre que existe por parte do
enfermeiro o desejo de construir uma identidade profissional identificando e
210
demarcando um saber específico, no sentido de contribuir para o estabelecimento
de uma maior autonomia e garantia de decisões frente ao grupo. Ainda refere, que
na prática cotidiana o profissional precisa articular o conhecimento teórico com o
conhecimento prático para conquistar e manter liderança.
Cabe a ênfase ao entendimento de aprender como uma totalidade,
envolvendo o corpo e a mente, canalizando as emoções e os sentimentos vividos a
partir do enfrentamento do novo em prol do processo de aprendizagem. A esse
respeito, é preciso que o enfermeiro seja capaz de lidar com os problemas dos quais
ainda não tem total domínio, incluindo o inesperado e a incerteza. Além disso, é
preciso a compreensão no sentido da importância tanto do conhecimento teórico
quanto do conhecimento prático para o enfrentamento das situações cotidianas.
A propósito, considerando a mesma autora (2003, p. 231):
Atualmente, o conhecimento precisa ser compreendido numa perspectiva de integralidade e dinamicidade, pois seu desenvolvimento possui uma estreita relação com a evolução humana na sociedade a qual envolve ainda, a motivação, o prazer e o empenho das pessoas em querer saber mais, em questionar e refletir sobre o que fazem e como desenvolvem suas ações no dia-a-dia.
Neste contexto, salientam-se muitas competências importantes para a
sobrevivência em um novo tempo, dentre elas: a habilidade para planejar, trabalhar
e decidir em grupo; a habilidade para acionar e utilizar informações acumuladas; a
habilidade para manter-se ininterruptamente em busca de novas experiências
significativas para a construção do conhecimento.
Em consonância com o exposto, Perrenoud (2001, p.1) diz que a
competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos para
solucionar com adequação e eficácia uma série de situações. Prende-se a fatores
culturais, sociais, políticos, dentre outros aspectos. Os seres humanos são
singulares, imersos em um contexto que lhe é próprio, portanto desenvolve
211
competência segundo o seu mundo. Além disso, para descrever uma competência é
preciso a evocação de três elementos complementares: os tipos de situações; os
recursos que são mobilizados; e natureza dos esquemas de pensamento, que
permitem a solicitação dos recursos em situação complexa e em tempo real.
Do mesmo modo, considerando Assad (2003, p.14):
Para que o conhecimento gere competências, é necessário que os saberes dos profissionais sejam mobilizados através de seus esquemas de ações, decorrentes de esquemas de percepções, avaliação de decisão, desenvolvidos na prática.
Sobre isso, é importante atentar que as pessoas recebem, processam e
apresentam as informações de maneiras diferentes, de acordo com seus estilos
próprios de aprendizagem, seus símbolos e seus significados. O enfermeiro
enquanto sujeito da aprendizagem precisa organizar espaços voltados para
apreensão de conhecimentos que levem em conta o seu próprio estilo, participando
e tomando para si a responsabilidade pelo êxito nesse processo. A concepção de
enfermeiro aprendiz deverá contemplar as qualidades relativas a alguém que deseja
e quer, de fato, aprender.
É preciso interagir para a resolução de problemas em prol de uma
atmosfera que reúna pessoas dispostas em trocar conhecimentos, em função de
objetivos comuns. A valorização individual permite a articulação dos potenciais de
cada pessoa com vistas ao crescimento profissional da equipe e, nesse caminho,
cria-se um espaço harmonioso para o processo de aprendizagem, com destaque a
busca do desenvolvimento da inteligência de forma coletiva, a partir das vivências do
grupo, a qual o enfermeiro inexperiente está inserido.
É pertinente assinalar à luz de Bettinelli (2002, p. 87):
O trabalho em equipe multiprofissional não é somente mais um implemento nas ações do cuidado. Ele é importante, por complementar o atendimento às pessoas, uma vez que vários profissionais, cada um no seu espaço, nem sempre bem definido, atuam com sua parcela de contribuição.
212
Além disso, no trabalho multiprofissional, as reuniões funcionam até como terapia de ajuda mútua e de espaços para o exercício da solidariedade entre os próprios membros da equipe.
É importante também pontuar que a utilização de múltiplos recursos não
define a performance intelectual dos indivíduos, já que os processos de natureza
cognitiva são construídos de forma gradativa, no decorrer de toda uma trajetória.
Assim, tem-se que a experiência do novo propicia a apreensão de conhecimentos,
considerando a quantidade significativa de estímulos que chega para o enfermeiro
aprendiz. Assim, o profissional vivendo o processo de formação precisa movimentar
e transformar esses estímulos, em percepções criativas, compreendendo novos
conceitos, refletindo acerca deles e, por conseguinte, dando as situações, novos
significados.
O autor (op. cit, p.143) ainda comenta que:
A vida do enfermeiro é um constante tornar-se, pois a sua identidade vai-se construindo diariamente, pela bagagem de conhecimentos que adquire a cada experiência vivida. Além disso, está sempre em busca do aperfeiçoamento como profissional, para proporcionar um cuidado de qualidade e efetivar a sua autonomia e valorização.
Agora, é importante pontuar, que o enfermeiro mesmo na condição de
inexperiente precisa assumir o papel de responsável pela construção do seu
conhecimento, desfavorecendo a crença que o conhecimento é transmitido de uma
pessoa para outra, e sim, reafirmando a idéia do conhecimento construído mediante
a atuação do próprio indivíduo sobre o que deve ser conhecido.
Essa atuação baseada em atitudes, muito mais do que apenas em atos
isolados, com destaque as capacidades de: observar, explorar, identificar,
caracterizar, comparar, relacionar, discriminar, levantar hipóteses e questões,
analisar, discutir e posicionar-se, entre muitos outros aspectos. Partindo do
pressuposto que, o enfermeiro já vivenciou e já conhece algo sobre determinado
213
conteúdo, estabelecendo metas que resultem em uma ampliação de seu
conhecimento inicial.
Ainda sublinhando as idéias propostas por Santo (2003, p. 232):
Portanto, o conhecimento está intimamente ligado às experiências, circunstâncias e pessoas com quem compartilhamos momentos, idéias, leituras e discussão das quais poderão emergir muitas questões ou elas podem ser retomadas à medida em que as (os) enfermeiras (os) envolvam-se cada vez mais, nas questões da profissão, aprofundando seus saberes, abrindo debates e não os fechando.
Desse modo, ao observar a realidade na especialidade, o enfermeiro
vivendo o processo de formação precisa detectar informações, estabelecendo
relações e possibilidades interpretativas, que dêem conta, preliminarmente, de
concepções básicas, porém com uma proposta de maior aprofundamento e
complexidade, para que possam desenvolver e crescer profissionalmente.
Não poderia deixar de ser mencionado, como um contraponto, no que se
refere ao enfrentamento do conhecimento novo, a ótica, por vezes vigente, que
dissocia o pensar do fazer, criando uma importante e significativa dicotomia, tendo
como resultado: profissionais eminentemente teóricos, ou ainda, profissionais
eminentemente práticos.
Isso considerando a ênfase aos mecanismos de aprendizagem apenas
baseados no mecanicismo, na fragmentação e na repetição, com uma separação
totalmente imprópria do conhecimento teórico e do conhecimento prático,
desestimulando o pensar reflexivo, com vistas à construção de um conhecimento
mais global, ou seja, representativo do todo.
Aliás, a valorização de ações mecanicistas, fragmentadoras e repetitivas
favorecem e produzem atitudes e posturas profissionais que dificultam a construção
do conhecimento, em que pese às dificuldades causadas pelo isolamento social e
pela agressiva competição, não sendo, portanto, cabível no processo de formação,
214
já que as experiências são representativas de um todo dinâmico, demandando o
pensamento crítico pessoal e coletivo, de modo a produzir ações baseadas na
reflexão contínua, criando novas possibilidades de enfrentamento do então mundo
social desconhecido.
É pertinente salientar, o reconhecimento do trabalho como exercício de um
saber/ fazer significativo, pelo qual existe a possibilidade da atitude interativa, em
uma relação dinâmica com a realidade, contínua no que tange a reflexão e a ação,
em função da construção da nova experiência, que a partir da vivência em si
mesma, seja capaz de desenvolver conhecimentos que possibilitem a busca pela
correção de rumos, considerando a socialização da experiência e dos
conhecimentos apreendidos, em função da aplicação de idéias.
O processo de formação, em face da aprendizagem e da construção do
conhecimento, associa-se diretamente a experiência no trabalho, constituindo-se em
uma relação entre o enfermeiro e a realidade. Desse modo, o profissional vivendo o
processo de formação, considerando o Modelo Teórico e a Tese desse estudo,
desenvolve o conhecimento a partir do cotidiano, considerando a experiência do
enfrentamento do conhecimento novo.
O enfermeiro vivendo a situação do novo, busca a compreensão da
especialidade em contraponto o mundo de significados que cria, no sentido do
pensar acerca do que faz, bem como, dos resultados obtidos, incluindo a perspectiva
do si mesmo, que também compõem a realidade. O trabalho na especialidade é
socialmente construído a partir da ação dos diferentes agentes sociais sobre o
ambiente. O enfermeiro pelo trabalho e no trabalho contribui na construção da
215
realidade, em consonância com as células sociais a qual participa e, tem papel
também no desvelar do conhecimento novo.
216
CAPÍTULO IX
VALIDANDO A TEORIA SUBSTANTIVA
A validação é um critério imprescindível para consolidar a pesquisa e imprimir-lhe rigor científico (BETTINELLI, 2002, p. 46).
A partir da descoberta do fenômeno central, passou a ser uma importante
preocupação a validação da pesquisa. Desse modo, foi estabelecido um terceiro
grupo amostral para esse fim, constituído de enfermeiros sem experiência prévia,
que também foram lotados em setores especializados. Contudo, priorizei os
profissionais mais recém chegados ao hospital, quando comparados àqueles
presentes nos outros grupos amostrais. Não considerei os enfermeiros convocados
para atividades no Núcleo Perinatal, em virtude de ser uma unidade inaugurada em
dois de junho de 2006, não estando ainda em pleno funcionamento.
Para elucidar a questão, no que se refere à natureza desse terceiro grupo
amostral, cabe pontuar, que o último concurso realizado na instituição deixou um
banco de enfermeiros classificados. De tal modo, partindo da necessidade do
Serviço, à medida que recebe autorização de instâncias administrativas superiores,
o hospital pode chamar enfermeiros para iniciar atividades assistenciais. Isso,
esporadicamente, vem acontecendo.
Nesse sentido, a intenção de conferir validação ao estudo, partiu da
necessidade de aprimorar ainda mais o conhecimento estruturado, em face da
responsabilidade que o Modelo Teórico representa para o rol de noções e
conhecimentos na enfermagem. Então, após discussões valiosas com a orientadora,
definiu-se o retorno ao campo de pesquisa, considerando o cenário e os agentes
sociais, para o reconhecimento das percepções dos enfermeiros mediante a
apresentação dos fenômenos e resultados encontrados no estudo.
217
Para tal, foi elaborado um instrumento semi-estruturado45, com perguntas
geradoras, visando a realização de entrevistas individuais que motivassem a
participação dos enfermeiros no sentido da confirmação, negação ou
complementação dos achados levantados na pesquisa.
Num primeiro momento, ocorreu uma explanação acerca do
desenvolvimento da pesquisa, desde a coleta, no tocante às categorias e as
subcategorias e, não obstante a tudo isso, a descoberta do fenômeno central. No
segundo momento, antes da realização das perguntas, os diagramas
representativos dos fenômenos foram apresentados, bem como os resultados do
estudo.
Do mesmo modo que para os demais grupos amostrais, as entrevistas
foram realizadas individualmente, gravadas, transcritas na íntegra, tendo duração
média de uma hora e trinta minutos. Durante o processo de coleta de dados foram
respeitadas as premissas acerca da Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, com
garantia de sigilo e anonimato dos depoentes. Também, durante as entrevistas,
procurei manter-me em estado de cuidadosa observação, para captar sentimentos,
expressões, comportamentos e práticas que sinalizassem algo de importante.
Nesse caminho, foram entrevistados quatro enfermeiros, que para efeito
de dar continuidade aos pseudônimos empregados no estudo, considerando nomes
pertinentes à natureza, foram chamados de: brisa, lagoa, duna, e cachoeira. Nesse
contexto, não posso deixar de mencionar que a validação representou uma fase da
pesquisa bastante especial, pois propiciou discussões relevantes, no sentido da
troca de informações, para o aprimoramento dos fenômenos.
A riqueza das contribuições foi uma grata surpresa e, por assim dizer,
também a confirmação dos achados da pesquisa. Os enfermeiros relataram que os 45 Pode ser visualizado no Apêndice.
218
fenômenos, VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: A INSERÇÃO DO
ENFERMEIRO SEM EXPERIÊNCIA PRÉVIA NA ESPECIALIDADE, EXISTINDO
UM ENTORNO QUE PRECISA SER CONHECIDO, SENTINDO A FALTA DE
EXPERIÊNCIA NA ESPECIALIDADE, (RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO
PROFISSIONAL NA ESPECIALIDADE e CONVIVENDO COM A REALIDADE NA
ESPECIALIDADE apresentavam de forma clara e elucidativa as suas experiências,
indo ao encontro das suas percepções quanto à situação vivenciada na prática.
“É assim mesmo... Fui colocada na especialidade e tive que
enfrentar. Não adiantava reclamar. No início fiquei bastante chateada.
Queria ir para outro lugar. Sentia a falta de experiência e trabalhava com
muita insegurança. Medo mesmo de fazer algo errado. Mas, o tempo foi
passando e as coisas foram ficando bem mais acessíveis. Procurei me
defender como pude. E também precisei dar tudo de mim. Me esforçar
mesmo. Hoje, já não me sinto tão assustada. Se eu quero ficar aqui?
Confesso que não estou certa disso ainda. Mas, agora consigo me ver
nesse espaço. Consigo atuar e me sentir mais à vontade”. Lagoa
“Para receber o novo deveria ter uma organização prévia.
Concordo com a história do acolhimento. E isso aí... Quando você chega e
as coisas estão planejadas para apoiar você e, muito mais fácil. Ao passo,
que a confusão desanima e torna tudo muito mais difícil. Também acho que
o treinamento tem um importante papel no recebimento do novo. Não uma
coisa só para constar, mas algo que dê subsídios para a atuação do
profissional. Deveria ter um treinamento teórico e, depois um
acompanhamento na prática”. Duna
“Para recomeçar em uma área nova, eu utilizo a princípio a
observação. Preciso sentir o ambiente, a cultura organizacional, as
pessoas envolvidas... Sempre tentando estar participando. Dando o melhor
de mim, para me entrosar com a equipe. Falando sempre com todo mundo
e buscando ter humildade para aprender com as pessoas. Busco os
219
protocolos, as rotinas, os manuais e a experiência mesma com os nossos
colegas”. Brisa
Também, pude perceber em expressões verbais e não verbais as reações
dos enfermeiros mediante aos resultados. Não poderia deixar de relatar, que os
diagramas utilizados para desenvolver a parte gráfica dos fenômenos, ajudaram
significativamente no momento da validação, pois, ao olhar os desenhos
representativos dos fenômenos, antes mesmo das explicações a respeito deles, os
enfermeiros mostravam compreensão. Posso até ousar a dizer, que pareciam que os
fenômenos falavam por si mesmos.
Durante a entrevista de cachoeira, a mesma mostrava-se
falante e bastante participativa, ainda na fase de apresentação dos
fenômenos. Contudo, quando apresentei o fenômeno: “convivendo com a
realidade na especialidade”, em particular, “a crise interior”, pude perceber
que seus olhos ficaram cheios de lágrimas, como se tivesse existido, um
imediato reconhecimento, quando comparado com a situação vivida na
especialidade. (Anotações de Campo)
“Como esses desenhos ficam interessantes? Eu olho e me
vem à realidade. Essa metodologia é muito legal, nê? Não conhecia. Você
tem apresentar isso aqui no hospital... Quero ver a reação das pessoas.
Quero ver...” Brisa
Contudo, os enfermeiros apresentaram sugestões sutis concernentes às
nomenclaturas empregadas para a representação das abstrações tendo em vista
principalmente os nomes dados as subcategorias. Dessa maneira, reconheceram
palavras que puderam dar um tom especial, ou seja, um rigor em termos de
refinamento a partir da experiência. Todas as sugestões foram cuidadosamente
220
analisadas. Assim, após orientação, essas palavras puderam ser empregadas no
estudo.
“Posso dar uma sugestão. Penso que no fenômeno (Re)
Conhecendo a atuação profissional na especialidade, quando aparece
buscando leituras; ficaria mais claro, se você intitulasse: buscando leituras
para situação específica. Sabe porque? Como o tempo corre e precisamos
aprender o quanto antes, não dar para sair lendo tudo. Entendeu?”.
Cachoeira
“Penso que entorno é mais esclarecedor do que ambiente,
para nomear o segundo fenômeno. Ambiente pode remeter para uma
dimensão de espaço... Eu não entendo assim, mas um leitor desavisado
pode cometer essa restrição no pensamento. Já o entorno fica, meio que
subentendido, tudo ao redor, tudo que permeia, o que pode equivaler o
espaço, os equipamentos... Até as pessoas”. Duna
Sobre o Modelo Teórico, VIVENDO O PROCESSO DE FORMAÇÃO NA
ESPECIALIDADE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO ENFRENTAMENTO DO
CONHECIMENTO NOVO, os enfermeiros mostraram singular interesse, relatando
concordar com a idéia defendida, mencionando que satisfaz as suas percepções
quanto ao vivido na especialidade. De fato, pude perceber durante a apresentação
do fenômeno, que o mesmo estimulou a fala dos entrevistados, já que começaram a
relatar variados exemplos de situações práticas reafirmando a concepção de
processo e movimento na apreensão de conhecimentos novos.
Quanto ao diagrama representativo do Modelo Teórico, o desenho
esquemático tendo como base uma helicoidal aberta foi compreendido
satisfatoriamente pelos enfermeiros. Além disso, dois enfermeiros relataram o quão
são pressionados pelo sistema e por eles mesmos no sentido de subir na helicoidal.
Logo, para minha absoluta surpresa, o modelo ora apresentado, já estava sendo
incorporado, quando da própria fala do enfermeiro.
221
“É um movimento mesmo, nê? Estou sempre crescendo seja
com alegria ou através do sofrimento... Aqui, eu percebo que estou sempre
atuando, tentando trabalhar a minha visão do todo. Trabalhar com a
equipe. Faço junto com eles as coisas. Estou na busca pelo
aperfeiçoamento. Com o tempo, vou aprendendo mais sobre as coisas
daqui e vou dando conta do trabalho. Gosto de fazer os cuidados. E com
isso, vou aprendendo na prática coisas específicas a esse lugar” Brisa
“Esse desenho esquemático ficou muito claro, viu? Acho que
quando a gente chega e tem um desafio, o que acontece é uma tentativa
de subir rápido essa helicoidal... Aí vem a maturidade para perceber que
tudo demanda um tempo e, não é bem assim que as coisas acontecem,
apesar da pressão do meio e da nossa própria pressão”. Lagoa
Um outro ponto de destaque durante a validação, foi à ponderação por
parte dos entrevistados, que os fenômenos poderiam explicar outras realidades que
não apenas àquela da instituição, cenário do estudo. Assim, foi comentário de todos
os enfermeiros a contribuição do Modelo Teórico para o aprofundamento de
questões presentes na enfermagem.
“Esses fenômenos servem para explicar outras situações na
enfermagem, que não apenas no contexto do HUPE, nê? Estou aqui
imaginando, que na minha trajetória profissional, já me deparei com esses
fenômenos em outras ocasiões. Acho que enfrentar o conhecimento novo
causa esse fluxo mesmo de acontecimentos. Depois de defender a Tese,
você pode continuar nessa linha, nê?” Cachoeira
“Esse estudo vai ser muito útil aqui. Claro, dependendo da
disposição das pessoas, em ouvir os seus achados. Você pretende
apresentar no hospital? Quero estar presente... Mas, me parece que ele
cabe também para outras realidades... Você já pensou nisso? Essa Teoria
que você chegou ela gera muitas reflexões. Até me estimulou pensar mais
na possibilidade de buscar o Doutorado. Você sem querer meio que
quebrou um estigma que dificultava a minha busca... Porque eu gostaria de
realizar algo que pudesse ser efetivamente utilizado. Sei lá... Não queria
algo para ficar na gaveta”.Lagoa
222
A validação possibilitou o encontro dos achados do estudo com a
experiência mesma dos enfermeiros no enfrentamento do conhecimento novo, tendo
sido uma excelente estratégia para o amadurecimento científico do pesquisador e
para a manutenção do rigor metodológico necessário quando da utilização da TFD.
Ficou, por assim dizer, o desejo de continuar em um outro momento, revelando e
refinando os fenômenos.
Continuar é a proposta, já que não pretendo dar um caráter definitivo aos
achados, entendo que futuras investigações poderão complementar e ampliar ainda
mais a percepção sobre as coisas. Desse modo, os conceitos suscitados pelo
estudo são passíveis de motivar o surgimento de outras inquietações levando os
enfermeiros a novas reflexões e a novas pesquisas, que partam do mesmo contexto,
ou ainda, considerando outras realidades.
Os enfermeiros mostraram-se bastante interessados pelo Modelo Teórico,
estimulando a minha reflexão sobre todas as fases da realização da pesquisa, desde
os dados brutos até o fenômeno central. Fiquei com a sensação tranqüilizadora que,
de fato, o modelo desenvolvido conseguiu explicitar o significado do enfrentamento
do conhecimento novo em setores especializados. Do mesmo modo, não poderia
deixar de relatar, que essa construção foi possível tendo em vista a utilização de
referencial teórico-metodológico harmônico à proposta do estudo.
223
Percebendo que o fim
representa um novo começo
224
CAPÍTULO X
TECENDO ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Um conhecimento é verdadeiro na medida em que seu
conteúdo concorda com o objeto intencionado. Conseqüentemente, é um conceito relacional.(...) O próprio objeto, ao contrário, não pode ser nem verdadeiro nem falso. De certo modo, ele está para além da verdade e da inverdade (HESSEN, 2003, p.23).
O Modelo Teórico: VIVENDO O PROCESSO DE FORMAÇÃO NA
ESPECIALIDADE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO ENFRENTAMENTO DO
NOVO representa a Teoria Substantiva que emergiu dos dados a partir da
experiência do enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo no contexto da
especialidade.
Trata-se de uma organizada abstração fundamentada nos dados
composta de estruturas que descrevem, explicam e, pretendem predizer a realidade
estudada, a partir de conceitos específicos integrados dentro de uma configuração
relacionada a um todo, que projeta a visão do fenômeno de modo sistemático,
direcionado e estruturado.
O estudo alcançou os propósitos que deram razão à pesquisa,
considerando que pode através dos fenômenos apresentados, chegar ao alcance
dos objetivos traçados. Contudo, não tem intenção de se esgotar em si mesmo,
apenas tendo sentido apontar a Teoria, se a mesma puder ser utilizada em
pesquisas, possibilitando estudos variados, considerando a contribuição com o a
enfermagem.
A Teoria Fundamentada nos Dados e o Interacionismo Simbólico
mostraram-se adequados ao desenvolvimento do estudo, contribuindo para uma
nova forma de buscar a compreensão das coisas no mundo cotidiano, dando ênfase
225
à experiência de cada pessoa, em respeito às particularidades e as singularidades
do ser humano. O enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo revela
significados que lhe são próprios. Esses significados são simbólicos, sendo a base
para o posicionamento frente situações cotidianas.
Junto aos dados emergiu um lado oculto que se revelou essencial e
interessante para o avanço de minhas percepções acerca do saber/ fazer em
enfermagem. De tal modo, pude constatar que o enfermeiro carrega consigo
expressões, atitudes, comportamentos, manifestações e sentimentos que permeiam
a sua experiência no enfrentamento do conhecimento novo, em setores
especializados.
Muitas foram os esforços pessoais para que a Abordagem Teórico-
Metodológica46 sublinhada no estudo fosse empregada com rigor científico
necessário na condução da pesquisa. Esses mesmos esforços me motivaram ainda
mais no aprofundamento dos dados, com respeito à experiência do enfermeiro. Pude
também refletir o quanto é importante à busca pelo amadurecimento científico, que
não pode ter uma expressão que denote a noção de terminalidade, sendo
necessário o exercício contínuo da humildade para que o espírito do pesquisador
esteja aberto e voltado efetivamente para aprender.
Percebo com os achados que a Tese pode ajudar na produção de
conhecimento do Núcleo de Pesquisa em Educação, Gerência e Exercício
Profissional da Enfermagem (NUPEGEPEn), e no fortalecimento da Linha de
Pesquisa Educação em Enfermagem, a partir da apresentação do Modelo Teórico e
Concepções Teóricas relacionadas. Isso, compatível com o desejo delineado
quando das possíveis contribuições da pesquisa.
46 Grifo da Autora.
226
Assim, os dados apontaram para uma evidente importância no sentido de
uma filosofia de acolhimento que esteja atenta à inserção do enfermeiro sem
experiência na especialidade, oferecendo um sentido de orientação e apoio para o
desenvolvimento de sua prática, por conseguinte, encorajamento para o
enfrentamento de situações associadas aquilo que é novidade e precisa ser
apreendido.
Para tal, é imprescindível a valorização do enfermeiro que vive a
experiência do enfrentamento do conhecimento novo, no que se refere ao
planejamento em termos de contribuições e suportes necessários a prática na
especialidade. Esse precisa perceber quando de sua inserção uma atmosfera
adequada para o processo de apreensão de conhecimentos, sem que o peso da
inexperiência funcione como um fator limitante e intransponível.
Em outras palavras, o enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo
no contexto da especialidade precisa de acompanhamento de enfermeiros com
maior experiência para a implementação do processo assistencial, além de auxílio
para as situações em que se faz necessário à tomada de decisão.
Esse acompanhamento não pode ter um cunho coercitivo e fiscalizatório,
ou ainda, o impacto de relações marcadas pelo poder e pelo exercício da
autoridade, porém deve anunciar uma preocupação veemente de todos os
envolvidos na especialidade com a aprendizagem do enfermeiro iniciante. E isso,
precisa estar no âmbito das discussões gerenciais das instituições de saúde, quando
da inserção de enfermeiros em especialidades, com destaque a consciência da
problemática que envolve o fenômeno.
Não poderia deixar de mencionar, que é preciso respeitar as
individualidades do enfermeiro, considerando que a pessoa que deseja e quer
227
produz mecanismos de enfrentamento que são motivadores para a superação das
dificuldades relacionadas ao novo, enquanto que a não observância do não querer
iniciar ou continuar na especialidade, poderá comprometer o desenvolvimento da
aprendizagem, além de gerar sentimentos incompatíveis com o processo de
formação.
É preciso compreender a necessidade da pessoa certa no lugar certo.
Para efeito de reafirmar a interpretação das coisas, a pessoa certa é aquela que
mostra interesse na apreensão de conhecimentos na especialidade, já que o
processo de formação na especialidade exige o comprometimento do enfermeiro
com a sua própria aprendizagem, estando o profissional frente ao desafio de
priorizar o seu crescimento profissional, podendo incluir o pessoal.
O alicerce a apreensão do conhecimento tem base na confiança mútua
que permeia a experiência de quem aprende e daquele que se propõe a ensinar.
Alguns aspectos aparecem como importantes, como a flexibilidade, a integração e a
convergência em termos de objetivos em prol de uma prática voltada para o bem
comum.
Desse modo, é fundamental o estabelecimento de parcerias, ampliando os
relacionamentos horizontais e não verticais, no sentido da interação, com definição
clara de papéis de cada profissional na especialidade, já que cada papel poderá
trazer uma contribuição diferente e significativa para a obtenção de resultados, em
que pese à apreensão do conhecimento, possibilitando uma interpretação mais
abrangente do mundo social no contexto da especialidade.
Não se pode esquecer que o enfrentamento do conhecimento novo gera
muitas inquietações, com ênfase para o afloramento de muitos sentimentos e, até
mesmo, a vivência de um momento de conflito. Essa situação pode ter um caráter
228
construtivo, ou ainda, provocar paralisação, fechamento ou desenvolvimento de
muitas defesas aquilo considerado novo. Também, a aparente ausência de
ansiedade frente à situação nova pode estar revelando desinteresse ou mascarando
um enorme e incontrolável medo que ainda não encontrou forma de expressão.
Cabe resgatar que o ambiente de trabalho é composto não só da sua
infra-estrutura física e técnica, mas por pessoas que o utilizam. Emerge como
demanda importante para apreensão do enfermeiro na especialidade: conhecer o
espaço físico, conhecer os equipamentos, conhecer a equipe multiprofissional e
conhecer a clientela. A organização do trabalho precisa ser entendida, antes de
qualquer coisa, como uma relação socialmente construída e não somente em sua
dimensão estritamente tecnológica, cognitiva ou física.
O contexto possui uma parcela significativa no sucesso das pessoas, em
se tratando da definição das políticas de recursos humanos, daquilo que pode ou
não ser realizado, da promoção de condições físicas satisfatórias e, não obstante a
tudo isso, pelo estímulo freqüente à integração dos profissionais e equipes, pela
clareza nas metas e objetivos e pela transparência incondicional no que se refere às
comunicações e tomadas de decisões.
A aprendizagem na prática é dotada de peculiar complexidade,
abrangendo múltiplos aspectos da realidade, sendo necessário uma visão ampliada
sobre as coisas, em que pese à busca pelo equilíbrio emocional e a valorização da
convivência humana, partindo da premissa que o conhecimento é construído e
reconstruído coletivamente. As pessoas fazem grande diferença, considerando que
podem contribuir ou não para um ambiente saudável, já que as suas atitudes são
importantes e vitais no ambiente institucional.
229
O enfermeiro iniciante precisa sentir-se valorizado e respeitado no
desenvolvimento de todos os processos associados à apreensão de conhecimentos
novos, inclusive, e não obstante, o processo de trabalho em si. É através da
interação que o enfermeiro participa do mundo social na especialidade. Nesse
sentido, os saberes são construídos a partir das experiências de vida de cada
pessoa, com ênfase a atuação em um contexto social, a partir dos desafios
apresentados no dia-a-dia.
Logo, o espaço de convivência na especialidade visando à apreensão de
conhecimentos novos precisa ser um ambiente voltado para o desenvolvimento do
trabalho digno, de qualidade, de ações e discursos compatíveis com a proposta da
profissão de enfermagem, com ênfase ao exercício profissional do enfermeiro,
atuando com arte, conciliando a dimensão teórica a dimensão prática, e
especialmente, como não poderia deixar de ser, a dimensão humana.
Os dados revelaram que à medida que o trabalho na especialidade vai
sendo desenvolvido, o enfermeiro tenta repensar os seus conceitos, as suas
atitudes, os seus comportamentos e as suas práticas, agora não mais como detentor
do conhecimento, mas em uma quase que forçada situação de aprendiz.
Passa a ter que viver uma situação de repetição do passado,
considerando o seu momento de vida enquanto recém-formado, o qual imaginava
não mais retornar, mesmo, que se percebendo diferente do recém-formado, ou seja,
com uma bagagem adquirida ao longo da sua trajetória profissional, portanto, mais
fortalecido do que quando naquela fase.
Emerge após o choque a possibilidade de adaptação, em uma construção
diária do conhecimento, na tentativa de projetar-se para a ampliação do saber/ fazer
230
na especialidade, adequando-se a realidade sem perder a identidade profissional.
Contudo, é necessária a reflexão de que a prática assistencial apresenta situações
ricas para a aprendizagem que não podem ser compreendidas em sua totalidade, de
uma maneira absoluta.
Os enfermeiros no enfrentamento do conhecimento novo desenvolvem
estratégias de enfrentamento, que inclui: perguntar a quem sabe, colar de quem
sabe, buscar leituras, mobilizar recursos teóricos e práticos de vivências anteriores,
dentre muitos outros aspectos apontados pelo fenômeno. De fato, o enfermeiro
percebe a necessidade de sair do estado de perplexidade e passar a existir para
uma atuação sóbria na especialidade.
Com o passar do tempo e, a gradativa apreensão de conhecimentos, o
enfermeiro tende a sentir-se menos exposto, desenvolvendo de forma mais segura
as atividades propostas, a partir de uma prática cotidiana mais assimilável,
reconhecendo elementos específicos da especialidade.
Por conseguinte, tem-se que o enfermeiro pensa a sua relação com a
especialidade, produzindo variadas interpretações de sua condição de aprendiz,
socializando simbolicamente em atos intersubjetivos, reagindo e organizando-se
mentalmente, afetiva e fisicamente, em função de suas interpretações.
A experiência do enfermeiro revelou que a convivência na especialidade
pode ser totalmente infrutífera para o conhecimento, sendo marcada pela crise
interior, com a não projeção do enfermeiro na especialidade, a insatisfação no
trabalho, podendo até chegar a um estado de depressão. Dessa maneira, o
enfermeiro vive o desejo de sair da especialidade, na tentativa de desenvolver-se
melhor considerando outras oportunidades.
231
Em contrapartida, a experiência do enfermeiro também elucidou que o
enfermeiro pode experimentar uma agradável sensação de bem-estar na
especialidade, vislumbrando projeção profissional na área, no sentido da
preocupação com as atividades de aprimoramento, em alguns casos até buscando a
especialização formal. Portanto, nesse contexto de enfrentamento o enfermeiro
percebe sentimentos compatíveis com o estado de felicidade no trabalho e,
conseqüentemente, almeja continuar e crescer na especialidade.
Em função dos achados da pesquisa, é importante enfocar, que a atuação
na especialidade exige conhecimento teórico e prático específico, que exige o
processo de formação a partir do enfrentamento do conhecimento novo. Então,
tendo como base à formação no espaço cotidiano da especialidade, o saber do
enfermeiro não pode ser considerado acabado e pronto. É um movimento diário de
apreensão, que amplia cada vez mais, a capacidade interpretativa das situações e,
realimenta o ponto de partida para novas inquietações.
O conhecer não tem caráter finito, é importante manter uma contínua
busca pelo amadurecimento profissional, através de uma postura compromissada
em fazer o melhor no espaço de atuação da especialidade, que amplio para o
compromisso com a própria profissão de enfermagem. Portanto, o enfermeiro
precisa empregar uma atitude de contínuo estudo, que inclui desde a leitura
aprofundada sobre as coisas e, com especial destaque, a troca de experiência
possível durante a prática profissional.
O tempo mostrou-se importante para o processo de formação, à medida
que funciona como mola propulsora, já que o enfermeiro na especialidade precisa
aprender o quanto antes para dar conta do seu próprio trabalho. Com o passar do
tempo, vai ocorrendo à apreensão de conhecimentos específicos, permitindo ao
232
enfermeiro maior segurança para a realização do cuidado, com isso, o mesmo vai
gradativamente abandonando o medo e a ansiedade.
De tal modo, é vital na inserção do enfermeiro sem experiência na
especialidade um planejamento acerca do tempo necessário para uma vivência
menos conflituosa das situações relacionadas à prática assistencial. Não poderia
deixar de mencionar, a singular importância que a gestão tem acerca desse
planejamento, pois pode elaborar junto à equipe da especialidade um conjunto de
ações voltadas para o amparo e apoio do enfermeiro iniciante, abarcando inclusive a
questão do tempo. Esse planejamento constitui também estratégias de
enfrentamento, partindo de um esforço da coletividade.
Outro ponto que preciso retomar, em respeito aos dados levantados,
refere-se ao fato que não adianta insistir na manutenção de pessoas na
especialidade que não estejam abertas para o aprender nesse contexto, pois isso
traz repercussões negativas não somente para o enfermeiro quanto para toda a
equipe, considerando o sofrimento diário que é trabalhar naquilo que não se gosta,
ou ainda, não se tem afinidades necessárias a uma prática assistencial, que acima
de tudo, precisa estar carregada de motivação pessoal.
A especialidade exige o uso de diferentes aptidões, habilidades e talento.
A pessoa precisa se identificar com o trabalho. Quanto maior o significado da
atuação profissional, maior será a satisfação experimentada pelo indivíduo e,
conseqüentemente, maior a possibilidade de ampliação da interdependência. Muitos
são os requisitos necessários para a atuação na especialidade, envolvendo
aspectos, como: mentais, físicos, responsabilidades da função, condições de
trabalho, dentre outros aspectos.
233
Desse modo, cabe a reflexão acerca do perfil profissional compatível com
o papel a ser desenvolvido na especialidade, no que tange as características
necessárias ao desempenho da função. Para tal, será necessário reconhecer
indicadores imprescindíveis ao saber/ fazer na especialidade.
Em continuidade, algumas características também foram suscitadas pelos
dados como importantes no enfrentamento do conhecimento novo, em destaque:
saber trabalhar em equipe, ter postura para liderança, resistir à frustração, ter
disposição para a comunicação, ter capacidade de contextualização e integração de
informações pertinentes, ser ético em suas atitudes, ser colaborativo, aceitar
desafios, ser criativo, buscar a automotivação, preocupar-se com o relacionamento
interpessoal, integrar conhecimento teórico e prático, ter pensamento crítico e
flexibilizar ações e conhecimentos mediante as situações da realidade, com objetivo
de prestar cuidado seguro.
De fato, o ser humano pode desenvolver-se, como salientado
graficamente através do Modelo Teórico, partindo da idéia expressa através da
helicoidal. O desenvolvimento sendo compreendido como capacidade de apreender
novas habilidades e novos conhecimentos, modificando comportamentos. Assim, o
incremento de ações no sentido de motivar o desenvolvimento traz benefícios para
toda a instituição.
Apesar do desenvolvimento estar diretamente ligado a pessoa e, na
organização que o mesmo se dá de forma mais abrangente. É preciso uma visão
focada no crescimento da pessoa na especialidade, fornecendo meios que
promovam o aprendizado. Com isso, a mudança de comportamento decorrente da
apreensão desses novos conhecimentos, em que pese conceitos e formas de
perceber a realidade.
234
Transpondo essas idéias em termos de contribuições da Tese, é
interessante que o enfermeiro sem experiência prévia quando inserido em uma
especialidade seja cuidadosamente acompanhado, no que se refere a um conjunto
de atitudes em prol de uma vivência solidária ao enfrentamento do conhecimento
novo. Penso que, a gestão institucional tem responsabilidade direta pela elaboração
e execução desse acompanhamento, que precisa acontecer com respeito ao sujeito
que aprende, em consonância com as necessidades da própria especialidade.
Vários aspectos precisam compor as discussões iniciais para a inserção
do enfermeiro sem experiência na especialidade, salientando o fato do processo de
formação ocorrer para o sujeito da aprendizagem, não obstante a tudo isso, é
preciso afinar às escutas as inquietações do enfermeiro iniciante, tendo como
preocupação o planejamento de ações que sejam facilitadoras desse processo.
É conveniente retomar que, o planejamento deve abarcar as necessidades
psicológicas, teóricas e práticas do enfermeiro. Portanto, as estratégias voltadas
para a melhor vivência do processo de formação podem incluir: a preocupação com
o acolhimento empático, a realização de dinâmicas para interação com a equipe, a
promoção de discussões teóricas e de demonstrações práticas.
Não poderia deixar de pontuar que em face às ações do cotidiano, no
fazer na especialidade, é importante que o enfermeiro iniciante sinta abertura e
espaço para expressar as suas reais dificuldades. Aliás, no sentido de estabelecer
um sistema de apoio, no desenvolvimento das atividades diárias, o enfermeiro
iniciante precisa ter o acompanhamento de enfermeiros mais experientes, até que
atinja o amadurecimento profissional necessário para uma prática segura na
especialidade.
235
Diante dessas reflexões, compreender o Modelo Teórico VIVENDO O
PROCESSO DE FORMAÇÃO NA ESPECIALIDADE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA
DO ENFRENTAMENTO DO NOVO implica em aceitar o trabalho como um espaço
de formação profissional capaz de construir conhecimento, esquemas de
mobilização dos conhecimentos e mecanismos de ação, em face ao significado
individual e coletivo da atuação de enfermagem na especialidade.
O enfermeiro é a pessoa essencial ao processo, já que o seu
enfrentamento fará total diferença para a apreensão dos conhecimentos novos e o
curso do fenômeno na especialidade. Esse enfrentamento não pode ser comparado
ou analisado a partir de uma perspectiva reducionista. De fato, pressupõe uma
compreensão que respeite as suas individualidades, singularidades e complexidade.
Assim, o estudo enfatiza a compreensão de que o processo de formação é
muito mais amplo do que qualquer formalização da educação. Cabe agora pensar a
formação, a partir de todas as concepções apresentadas nesse estudo, como uma
eterna busca por conhecimentos, na tentativa de sobrevivência as diferentes
situações vividas no mundo e, não obstante a tudo isso, aquelas vividas entorno e
no âmago do próprio eu.
Assim, permito-me deixar no estudo, dentre muitos outros aspectos, a
seguinte reflexão47:
Segue a vida.
No fluxo dos acontecimentos.
Histórias se vão e outras se iniciam.
Algumas coisas aparentemente intangíveis mostram-se tão perto.
Outras, que até são familiares, causam grande estranhamento.
O eu desconhecido busca o seu próprio entendimento. 47 Trata-se de reflexão da própria autora do estudo.
236
O mundo preocupado em tornar-se ainda mais poderoso explode em
individualidades vazias.
O tempo urge.
As coisas estão permeadas por um intensa e agressiva competição.
As pessoas possuem uma chance.
A chance de se sensibilizarem com o conhecimento.
Conhecimento que é infinito.
Assim, nada está terminado.
Tudo contínua em processo de formação.
Tudo está em movimento.
O enfermeiro, o leitor, a orientadora e eu...
237
REFERÊNCIAS
ALCANTARA, Leila Milman. A enfermagem militar operativa gerenciando o cuidado em situações de guerra. 2005, 288f. Tese (Doutorado em Enfermagem), Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. ALMEIDA, M.C.P; ROCHA, J.S.Y. O saber de enfermagem e sua dimensão prática. São Paulo: Cortez, 1989. 126p. ALVES, R. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. 5. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001. AMÂNCIO FILHO, Antenor (Org). Saúde, trabalho e formação profissional. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1997. 125 p. ANDRADE, Lúcia de Fátima Silva de. A complexidade do cuidado de enfermagem no CETIP/HSE e a necessidade da formação especializada das enfermeiras. 1999, 150f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem), Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1999. ______ . A marca da complexidade e da (im) previsibilidade no dia-a-dia das enfermeiras que atuam na terapia intensiva pediátrica: um ensaio sobre a sua formação. 2002, 123f. Tese (Doutorado em Enfermagem), Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002.
ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003. 174p.
ANGELO, M. Vivendo uma prova de fogo: as experiências iniciais da aluna de enfermagem. 1989. 133f. Tese (Doutorado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1989. ANGELO, M. Com a família em tempos difíceis: uma perspectiva de enfermagem. 1997. Tese (Livre Docência) - Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997.
238
ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho. São Paulo: Boitempo. 2. ed., 2000. 258p.
ARROYO, Miguel. O direito do trabalhador à educação. In: GOMES, Carlos Minayo et al. Trabalho e conhecimento: dilemas na educação do trabalhador. São Paulo: Cortez, 1995.
ASSAD, Luciana Guimarães. O Hospital Universitário Pedro Ernesto: cenário de aprendizagem para o enfermeiro na prática assistencial. 2003, 163f. Tese (Doutorado em Enfermagem) - Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.
BARRETO, José Anchieta Esmeraldo. A decisão de saturno: filosofia, teorias de enfermagem e cuidado humano. Fortaleza: Casa de José de Alencar: 2000. 240p.
______ . A outra margem: filosofia, teorias de enfermagem e cuidado humano. Fortaleza: Casa de José de Alencar: 2001. 240p.
BAUER, M. W. et al. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002. 516 p.
BAZILLI, Chirley et al. Interacionismo simbólico e a teoria dos papéis: uma aproximação para a psicologia social. São Paulo: EDUC, 1998. 230p
BENNER, P. From novice to expert: excellent and power in clinical nursing practice. California: Addison Wesley, 1984. 307 p.
BETTINELLI, Luiz Antônio. A solidariedade no cuidado: dimensão e sentido da vida. Florianópolis: UFSC, 2002. 200p.
BLUMER, H. Symbolic interactionism: perspective and method. Englewood Cliffs, NJ, Prentice-Hall, 1969, 208p. BORK, Anna Margherita Toldi. Enfermagem de excelência: da visão à ação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. 201p.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução No. 3, de 7 de novembro de 2001. Diretrizes curriculares do curso de graduação em enfermagem.
239
CARVALHO, V. Sobre construtos epistemológicos nas ciências: uma contribuição para a enfermagem. Rev. Latino-am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v.11, n.4, p.420-8, jul./ago. 2003. CARVALHO, Vilma de. Questões epistemológicas da construção do conhecimento na enfermagem: do ensino à prática de cuidar. Revista da Escola de Enfermagem Anna Nery, v.7, n.2, p. 156-166, ago. 2003. CASSIANI, S. de B.; CALIRI, M. H. L.; PELÁ, N.T.R. A teoria fundamentada nos dados como abordagem da pesquisa interpretativa. Rev. Latino-am. Enfermagem, v.4, n.3, p.75-88, dezembro, 1996.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12. ed. São Paulo: Editora Ática, 2002. 440p.
CHARON, J. M. Symbolic Interactionism: an introduction, an interpretation, an integration. 3.ed. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1989. CHENITZ, W. C. From practice to grounded theory: qualitative research in nursing. California: 1986. 249p.
CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução COFEN Nº 290 de 24 março de 2004. Fixa as especialidades de enfermagem. Resoluções do Conselho Federal de Enfermagem.
COULON, Alain. A escola de Chicago. Campinas: Papirus, 1995. 133p.
DANTAS, Claudia de Carvalho. A enfermeira gerenciando o cuidado de cliente com HIV/ AIDS: o não dito pelo feito visando um cuidado igualitário independente da patologia. 2005, 253f. Tese de (Doutorado em Enfermagem), Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. DELORS, Jacques et. Al. Educação um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. São Paulo: Cortez, Brasília: MEC, UNESCO, 1999. DELUIZ, Neize. Formação do trabalhador: produtividade & cidadania. Rio de Janeiro: Shape, 1995. 212p.
DEMO, Pedro. Conhecer & aprender: sabedoria dos limites e desafios. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. 152 p. ______. Pesquisa e informação qualitativa. Campinas: Papirus, 2001.
240
______. Complexidade e aprendizagem: a dinâmica não-linear do conhecimento. São Paulo: Atlas, 2002. EINSTEIN, A. & INFELD, L. The evolution of physics: from early concepts to relativity and quanta. New York, Simon & Shuster. GARCIA, A. M. A experiência do conhecimento. Disponível: www.sapereaudare.hpg.ig.com.br/ciencia/texto13.html. Acesso em: 22 jun. 2005. GAUTHIER, Jacques Henri Maurice.; CABRAL, Ivone Evangelista.; SANTOS, Iraci dos; TAVARES, Mara de Melo. Pesquisa em enfermagem: novas metodologias aplicadas. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1998. 296 p.
GLASER, B. G.; STRAUSS, A. L. The discovery of grounded theory: strategies for qualitative research. New York: Aldine Publishing, 1967.
HAGUETTE, Teresa Maria Frota. Metodologias qualitativas na sociologia. Petrópolis: Vozes, 1999. HESSEN, Joannes. Teoria do conhecimento. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 177p. IANNI, Octávio. A era do globalismo. 3. ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997. 303p. JAPIASSÚ, Hilton. Introdução ao pensamento epistemológico. 7ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1992. JAPIASSÚ, Hilton. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. 296p. KONDER, Leandro. O que é dialética. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1999. 87p.
KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1975. LACERDA, M. R. Tornando-se profissional no contexto domiciliar: vivência do cuidado da enfermeira. 2000. 222f. Tese de (Doutorado em Enfermagem) – Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2000. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 4.ed. São Paulo: Atlas, 1992. 214p.
241
LIMA, Maria José de. O que é enfermagem. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. 103p.
MACHADO, Maria Helena. Perfil dos médicos no Brasil: análise preliminar. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1996. MATHEUS, M. C. C. A obstinação como mediadora entre a idealização e a concretude do cuidado instituído: a experiência da enfermeira recém-formada. São Paulo: 2002. Tese (Doutorado em enfermagem), Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. MAZZOTTI, A. J. A; GEWANDSZNAJDER, F. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo : Pioneira, 1998.
MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. 323p.
MEAD, G. H. Mind, self, and society. Chicago: University of Chicago Press, 1962. 401p. MELO, Cristina. Divisão social do trabalho e enfermagem. São Paulo: Cortez, 1989. 88p. MENGA, Lüdke; MARLI, E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. 99p. MINAYO, Maria Cecília de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 2. ed. São Paulo - Rio de Janeiro: Hucitec - Abraseo, 1993.
______ . Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, Rio de Janeiro, Vozes, 1994. 80p.
NÓBREGA, Maria Miriam Lima da; SANTOS, Sérgio Ribeiro dos. A grounded theory como alternativa metodológica para a pesquisa na enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, v.55, n.5, p.575-579, set. out, 2002.
PERRENOUD, P; et. al. Formando professores profissionais. Quais estratégias? Quais competências? 2.ed. Porto Alegre: Artmed editora, 2001. 224 p.
PIRES, Denise. Reestruturação produtiva e trabalho em saúde no Brasil. São Paulo: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social – CUT/Annablume, 1998.
242
POLANYI, Michael. Personal knowledge. Towards a post-critical philosophy. N.Y: Harper Torch Books, 1958.
POLANYI. M. The tacit dimension. Londres: Routledgs & Kegan Paul, 1966.
POLIT, D. F; BECK, C. T; HUNGLER, B. P. Fundamentos de pesquisa em enfermagem. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
RICHARDSON, Roberto Jarry et al. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999. 334p.
REINERS, A. A. O. Grounded Theory: opção metodológica para a enfermagem. Rev. Enf. UERJ, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, p. 370-376, dez., 1998.
RUDIO, Franz Victor. Introdução ao projeto de pesquisa. Petrópolis: Vozes, 1986. 144p.
SANTO, Fátima Helena do Espírito. Saberes e fazeres de enfermeiras (os) novatas (os) e veteranas (os) sobre o cuidado de enfermagem no cenário hospitalar. 2003, 314f. Tese de (Doutorado em Enfermagem), Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.
SANTOS, S. dos; NÓBREGA, M.M.L. da. A grounded theory como alternativa metodológica para a pesquisa em enfermagem. Rev. Bras. Enferm. Brasília, v.55, n.5, p.575-579, set./out. 2002
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 22. ed. São Paulo: Cortez, 2002. 335p.
SILVA, B. Dicionário de ciências sociais. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1987.
SILVA, G. B. Enfermagem profissional: análise crítica. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1989. 136p. STRAUSS, Anselm. Basics of qualitative research: grounded theory produceres and techniques. United States of América, 1990. STRAUSS, A.; CORBIN, J. Basics of qualitative research: grounded theory procedures and techniques. California: Sage Publications, 1991.
243
TRENTINI, M. Relação entre teoria, pesquisa e prática. Revista Escola de Enfermagem da Universidade São Paulo, São Paulo, v.21, n.2, p.135-143, ago. 1987. TREZZA, Maria Cristina Soares Figueiredo. Construindo através do câncer as possibilidades de sua libertação para outra forma de viver: uma contribuição de enfermagem. Rio de Janeiro, 2002. Tese de (Doutorado em Enfermagem), Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002.
TRIVINÕS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. 174p.
TURATO, Egberto Ribeiro. Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa: construção teórico-epistemiológica, discussão comparada e aplicação nas áreas da saúde humanas. Rio de Janeiro: Vozes, 2003. 685p.
VALADARES, Glaucia Valente. O trabalho da enfermeira em hemoterapia: uma prática especialista. Rio de Janeiro, 2001, 228. Dissertação de (Mestrado em Enfermagem), Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001. VARGENS, O. M. C. Tentando descobrir um modo de fazer enfermagem sem ser enfermeiro: os conflitos do estudante na construção da imagem da profissão. Rio de Janeiro: Ed. do Autor, 1997. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 1997. 90p.
VIANA, Ligia de Oliveira. A formação do enfermeiro no Brasil e as especialidades: 1920-1970. Rio de Janeiro, 1995, 168p. Tese de (Doutorado apresentada a Escola de Enfermagem Anna Nery).
244
APÊNDICE I
ROTEIRO DE ENTREVISTA48
1. Quem é você?
2. Gostaria de acrescentar alguma coisa em termos de experiência pessoal?
3. Fale-me sobre a sua história profissional.
4. Vamos conversar sobre você e as suas experiências? Conte-me como foi
começar a trabalhar neste setor. (Pergunta Geradora).
48 Na Grouded Theory as perguntas podem ser aprofundadas durante a entrevista, para a melhor coleta de dados possível (roteiro semi-estruturado). Além disso, esse roteiro foi elaborado, em busca de uma interação significativa, com máxima preocupação, em não deixar o participante em uma situação de pessoa argüida, sobre alguma coisa.
245
APÊNDICE II
ROTEIRO DE VALIDAÇÃO49
1- Como percebe os fenômenos apresentados (pergunta geradora)?
2- Teria algo para afirmar, negar, ou ainda, complementar?
3- Na sua opinião, o estudo apresenta contribuições para aplicação na
realidade? Quais?
4- Gostaria de acrescentar algum comentário?
49 Durante esse processo os enfermeiros recebiam os diagramas dos fenômenos para acompanhar a explicação dos resultados.
246
APÊNDICE III
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Prezado Participante
Trata-se este de Tese de Doutorado para o Curso de Pós-Graduação da
Escola de Enfermagem Anna Nery. Tem como o objeto de investigação: A formação
profissional do enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo: a experiência
dos enfermeiros em setores especializados.
Procurei definir o objetivo geral do estudo: Compreender a partir do mundo
experiencial, como interage o enfermeiro e o conhecimento novo, em setores
especializados. Para alcançar este objetivo, foram estabelecidos os seguintes
objetivos específicos: Identificar expressões, atitudes, comportamentos,
manifestações e sentimentos que permeiam a experiência do enfermeiro nessa
situação; Conhecer os elementos significativos apreendidos na experiência do
enfrentamento do conhecimento novo; Propor uma teoria explicativa substantiva
relacionando a formação profissional do enfermeiro com o enfrentamento do
conhecimento novo em setores especializados.
Para viabilizar a pesquisa, foi escolhida como abordagem metodológica, a
teoria fundamentada em dados. Optou-se, como instrumento de coleta de dados, a
entrevista em profundidade. As informações obtidas serão gravadas e a seguir
transcritas na íntegra.
É importante que, ao participar, você saiba que nos comprometemos
atender a Resolução 196/96 sobre pesquisa envolvendo seres humanos no que se
refere:
247
n Garantir sigilo que assegure a privacidade dos participantes quanto aos
dados confidenciais envolvidos na pesquisa.
n Zelar pela integridade e o bem-estar dos participantes da pesquisa.
n Respeitar os valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, bem
como os hábitos e costumes dos participantes.
n Assegurar ao participante da pesquisa os benefícios resultantes do
estudo, em termos de retorno social, ou ainda, acesso aos procedimentos,
condições de acompanhamento e produção de dados.
n Dar liberdade ao participante de se recusar a participar ou retirar seu
consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma e sem
prejuízo. Além disso, é importante destacar que, esse consentimento autoriza, os
pesquisadores no que se refere à divulgação dos resultados parciais e/ou totais do
estudo em eventos científicos.
Atenciosamente,
________________________________________
Pesquisador
_________________________________________
Orientador
_________________________________________
Participante da Pesquisa
Rio de Janeiro, _______de ___________ de 200___.
248
APÊNDICE IV
FENÔMENO: VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: O ENFRENTAMENTO DO
CONHECIMENTO NOVO.
QUADRO 13. CATEGORIA: DESCOBRINDO A ESPECIALIDADE: O CONTATO
INICIAL.
CÓDIGOS
SUBCATEGORIAS
-Não tendo oportunidade anterior de trabalhar nessa área; -Tendo a oportunidade de conhecer algo novo; -Não estando ali para atrapalhar; -Achando que as coisas acontecem no seu tempo; -Sendo o novo o que eu quero naquele momento; -Sendo inserida sem experiência prévia; -Entrando em uma circunstância nova; -Sendo o novo muito complicado; -Nunca tendo se interessado antes por esta área; -Tentando enfrentar os desafios; -Sendo muito difícil começar; -Não estando acostumado com a especialidade; -Tratando-se de um trabalho que exige muito; -Sendo uma experiência, no início, difícil; -Buscando outra área de conhecimento; -Percebendo que viverá uma nova situação na vida; -Sendo inserido, quando da chegada no hospital em uma área especializada; -Pensando que viver um momento novo, será interessante para esse momento; -Chegando na especialidade para trabalhar; -Aproximando-se de algo novo considerando minha trajetória profissional.
-Sendo uma experiência, no início, difícil; -Buscando outra área de conhecimento; -Começando algo novo devido à necessidade do hospital; -Existindo um período de adaptação; -Não tendo nenhuma identificação com a clientela; -Pensando que a vida é como um baú, que você vai colocando todas as vivências e experiências; -Sendo a assistência muito complexa; -Sendo um momento de grande dificuldade e aprendizado; -Esperando que venha a aceitação, apesar da inexperiência; -Vendo que é importante para o hospital pensar na inserção de enfermeiros no setor; -Enfrentando o desafio; -Caindo na especialidade e se encontrando em dificuldade; -Saindo de uma coisa muito geral para uma coisa muito específica; -Indo ao encontro de novas experiências a partir da inserção em um local totalmente desconhecido. -Começando na especialidade repleta de inquietações acerca do novo; -Indo para o trabalho na especialidade; -Querendo começar a trabalhar na especialidade.
Iniciando o trabalho na especialidade
249
-Não tendo medo ou pavor; -Não tendo temor para prosseguir; -Não deixando o medo obstruir o caminho; -Sendo no primeiro momento terrível e frustrante; -Tendo sido marcada pelo sentimento de impotência; -Achando que tudo que é novo gera um certo nervosismo, uma certa ansiedade; -Agradando o novo naquele momento; -Estando aberta aos desafios; -Sendo bastante tolerante; -Achando que o enfrentamento do novo tem ligação com características pessoais; -Entrando com a cara e com a coragem; -Não estando preparado para aquilo; -Sentindo-se agredida por fazer aquilo que não quer; -Não gostando da especialidade, mas amando a enfermagem; -Sendo corajosa diante do novo; -Sendo sensível à situação; -Sentindo-se insegura; -Sentido primeiro otimismo, e depois, motivação; -Sentindo que vai se dar bem; -Percebendo uma série de inquietações relacionadas à nova experiência; -Tendo medo de sentir-se impotente quando da chegada a especialidade; -Conversando sobre sentimentos de impotência com meus amigos; -Tendo muitos sentimentos juntos; -Não conseguindo compreender direito as emoções; -Sendo muitas as emoções presentes na situação de vivenciar o novo; -Tendo medo de encarar a nova situação; -Sentindo uma grande ansiedade relacionada a querer conhecer a especialidade; -Percebendo que o novo exacerbou muitos sentimentos; -Sentindo-se muito contente por se colocada em lugar especializado; -Sentindo-se bastante feliz por estar nesse novo;
-Não sendo pessimista; -Sentindo o peso de ter que aprender alguma coisa que não quer; -Não tendo medo de fazer as coisas; -Pensando que vai ser legal; -Não se sentindo atemorizado com o novo; -Sentindo o novo como desafiador, inquiridor, como algo instigante, com um certo fascínio; -Chegando em casa chorando; -Não sentindo o novo como ameaçador; -Sendo horrível, horrível e horrível; -Ficando insegura e com muito medo de enfrentar; -Percebendo-se mal humorado; -Sentindo muita tristeza por não estar na área de escolha; -Tendo dificuldade de aceitação da situação instalada; -Sentindo-se incomodado; -Sentindo-se aberto para aprender coisas novas; -Dando medo a vivência aqui; -Indo com o sofrimento dos outros para casa. -Utilizando o medo para avançar e conhecer as coisas da especialidade; -Tendo que dominar a ansiedade para chegar e atuar na especialidade; - Percebendo a importância de todos para ultrapassar e vencer o medo relacionado ao novo; -Achando que o otimismo poderá ajudar na vivência do novo; -Tendo que ser corajosa para começar e atuar na especialidade, mesmo sem saber direito fazer as coisas; -Tendo uma percepção de que vai dar certo, a inserção no setor especializado; -Não agradando o novo; -Sentindo um medo danado; -Tendo medo de não se adaptar a situação nova; -Tendo medo de não corresponder às expectativas das pessoas;
Percebendo sentimentos
250
-Tendo que aprender uma coisa que eu não desejava; -Ficando em um conflito infeliz; -Não sabendo o que fazer; -Indo para o trabalho pensando no que fazer; -Dizendo a todos o seu problema; -Pensando que o sofrimento é válido para aprender coisas novas; -Pensando que o novo pode ser ou não o melhor; -Podendo ser o novo melhor ou não; -Sendo as mudanças para melhor ou não; -Vivendo situações completamente diferentes; -Sendo o cuidado muito diferente; -Precisando aprender o que não sabe, sem querer; -Sabendo o quanto não gosto disso, e tentando amenizar o meu sofrimento; -Alugando os ouvidos dos amigos; -Comendo chocolate para melhorar meu nível de serotonina, porque estava muito triste; -Engordando cinco quilos de ansiedade; -Parando e pensando: o que está acontecendo? -Tendo que falar com os amigos sobre esse momento de dificuldade; -Pensando muito sobre as coisas nesse momento de chegada no hospital; -Sendo um momento bastante difícil e conflituoso: a entrada e início de atividades nesse hospital; -Tendo dúvidas se esse setor realmente será o melhor para mim aqui; -Pensando até que ponto é bom eu ir para lá; -Ficando na dúvida entre trabalhar naquilo que conhece e o novo; -Tendo aflições por não conhecer a especialidade a qual fui inserida; -Ficando em dúvida se deveria reclamar por não estar em minha área de atuação;
-Sabendo que precisa atender às expectativas, mas não conseguindo dar o ponta pé inicial; -Tentando estudar, mas não conseguindo; -Piorando a crise pessoal com a entrada na especialidade; -Indagando se é necessário passar por isso; -Pensando o que faria naquele setor; -Achando que não deveria ter saído do outro emprego, mesmo sendo este, nesta unidade, um emprego público com remuneração maior; -Achando que não vai agüentar a pressão de ter que aprender sem vontade nenhuma; -Vivendo um estado de aflição, entre o que queria, e onde foi inserida; -Tendo dúvida se consegue se adaptar; -Não sabendo se vai ou não à Chefia reclamar da situação; -Tendo dúvida se não é melhor ficar e tentar gostar; -Vindo e reforçando a crise pessoal; -Conversando, conversando e conversando; -Tendo dúvidas sobre até que ponto o novo trará benefícios para a carreira profissional; -Gerando um conflito interno cuidar desse tipo de clientela; -Achando difícil decidir se esse local vai ser bom para a minha vida profissional, além da minha vida pessoal; -Chegando em casa cansada de tanto pensar na situação no hospital; -Tendo dúvidas se o novo vai ser legal; -Sentindo muitas inquietações, considerando tantas novidades que será preciso aprender; -Vivendo um conflito relacionado a não saber se deveria ir para o lugar onde tinha experiência; -Tendo muitos conflitos relacionados à chegada do novo.
Vivendo um momento de
conflito
251
APÊNDICE V
FENÔMENO: VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: O ENFRENTAMENTO DO
CONHECIMENTO NOVO.
QUADRO 14. CATEGORIA: RELACIONANDO O ENFRENTAMENTO DO NOVO
COM ACOLHIMENTO.
CÓDIGOS
SUBCATEGORIAS
-Tendo sorte de cair em uma equipe esplêndida; -Trabalhando de forma unida; -Tendo uma boa relação com a equipe; -Participando de dinâmica com a Chefia quando da apresentação do grupo; -Tendo sorte de ter uma boa equipe; -Achando que o enfrentamento do novo tem relação com a recepção no setor; -Sendo a recepção melhor, mais fácil o enfrentamento; -Quando o ambiente ajuda, fica mais fácil; -Tendo sorte de ter uma boa equipe;
-Tendo espaço para conversar com a Chefia; -Recebendo ajuda da equipe de enfermagem; -Tendo ajuda até dos auxiliares; -Recebendo suporte da equipe. -Participando de dinâmica com a Chefia, quando da apresentação do grupo; -Tendo sorte de ter uma boa equipe; -Tendo uma equipe que me deu sorte; -Sendo a interação enfermagem e equipe médica favorável; -Participando de dinâmica com a Chefia quando da apresentação do grupo;
Sendo o acolhimento
favorável
-Ganhando forças com a ajuda da equipe; -Sendo incentivado a ficar; -Dando bom ânimo; -Pensando que vai conseguir enfrentar; -Sendo ajudado por todos; -Começando a querer ficar; -Decidindo-se dar uma oportunidade; -Querendo apostar; -Tentando um acalmar o outro; -Mobilizando coragem; -Sendo persistente; -Sendo perseverante;
-Tentando fazer as coisas; -Tentando ficar alegre no trabalho; -Ganhando forças para trabalhar; -Pensando que pode mudar, por isso empurrando-se para frente; -Pensando ser importante pensar positivo; -Saindo de casa e fazendo pensamento positivo que o plantão vai ser ótimo, que as coisas vão transcorrer bem, e que nada vai dar errado; -Tentando resistir e ir em frente; -Falando para si mesmo: vai conseguir; -Achando que ganhei força após conhecer as pessoas.
Encorajando-se
252
-Ficando no turno desejado; -Tendo o trabalho realizado em uma equipe multiprofissional; -Caindo em uma equipe muito boa; -Não conseguindo ter rotinas bem efetuadas; -Não tendo manutenção de equipamentos; -Buscando um local onde o compromisso é geral; -Tendo uma boa interação com toda a equipe de enfermagem; -Sendo preparado para uma carga horária teórica; -Tendo a oportunidade de conhecer as pessoas do setor;
-Percebendo que a equipe preocupa-se em amenizar o sofrimento inicial; -Sendo importante a chegada para o setor; -Existindo ações de recepção da Chefia; -Conhecendo os enfermeiros envolvidos na especialidade; -Percebendo uma preocupação da equipe de enfermagem com a recepção inicial; -Tendo reuniões para explicar o setor; -Escolhendo, na medida do possível, o plantão de trabalho; -Sendo ajudada pela Enfermeira Chefe para uma boa adaptação.
Sendo bem recebido
-Percebendo a importância do treinamento para amenizar a ansiedade; -Indo rigorosamente todo dia para participar do treinamento promovido pelo setor; -Recebendo treinamento teórico; -Sendo acompanhado na prática; -Ficando um mês em treinamento; -Ficando dois meses em treinamento; -Precisando muito mais do que o dado no treinamento; -Sendo o treinamento o pontapé inicial; -Começando a estudar o assunto com o treinamento; -Aprendendo na carga teórica; -Procurando estudar mesmo não gostando; -Sentindo maior força com o treinamento; -Aprendendo no treinamento o básico para atuar na especialidade; -Sentindo mais segura quando a atividade foi ensinada por um enfermeiro; -Sendo um pouco mais dirigível; -Fazendo repetir a atividade muitas vezes para fixação; -Recebendo um treinamento de aproximadamente um mês;
-Achando ser essencial o apoio de uma pessoa, de um profissional, que acompanhe a pessoa; -Fazendo com supervisão; -Recebendo treinamento teórico dos enfermeiros; -Não tendo experiência e nem enfermeiro para treinar; -Recebendo suporte da equipe para realização da prática específica; -Recebendo suporte da equipe que entende que não tenho domínio; -Achando ser muito importante o treinamento inicial para o enfermeiro que não conhece os detalhes da especialidade; -Não tendo problemas para falar das suas inseguranças durante o processo de treinamento; -Achando que é preciso alguém do lado dizendo o que vai ser feito; -Tendo que ler alguma coisa para acompanhar o treinamento; -Ficando um tempo em treinamento até pegar as rotinas; -Tendo sido respeitado o tempo de treinamento; -Recebendo treinamento teórico, e depois, no local de trabalho; -Ficando dois meses com uma enfermeira à noite para treinar; -Passando um bom tempo realizando capacitação.
Passando por capacitação específica
253
-Reconhecendo coisas que precisam ser mudadas; -Percebendo que na estrutura existem problemas para o reconhecimento do papel do enfermeiro; -Faltando muitos materiais para trabalhar, aumentando minhas angústias; -Tendo problemas sérios de relacionamento no setor; -Percebendo que o enfermeiro é bastante sobrecarregado de atividades, nem sempre compatíveis com o seu papel; -Tendo que procurar materiais no hospital inteiro para suprir as necessidades da unidade, dificultando a vontade de querer ficar; -Sendo a relação auxiliar enfermeira bastante difícil e conflituosa; -Tendo que passar por cima dos problemas do setor para tentar se adaptar;
-Não conseguindo trabalhar sem organização; -Sentindo-se saturado porque gostaria de um setor organizado; -Reforçando a crise pessoal; -Piorando muito com a falta de recursos humanos e recursos materiais; -Encarando vários aspectos negativos no setor; -Passando por problemas de toda ordem no setor; -Aquecendo o problema que já existe para enfrentar a realidade; -Querendo os recursos humanos bater boca comigo; -Não recebendo uma rotina organizada; -Não recebendo um acompanhamento favorável; -Ficando sozinha para montar coisas muito específicas; -Chegando num ponto que o setor apresenta problemas que você não suporta mais; -Fui chegando e sendo inserida, sem nenhum treinamento específico; -Sendo treinada por pouco tempo.
Sendo desfavorável o acolhimento
-Não conseguindo se acostumar e fazendo o que pode; -Pensando em sair, devidos aos muitos problemas; -Não tendo a menor pretensão de trabalhar nisso; -Não tendo grandes motivações; -Não conseguindo dar tudo de si; -Se limitando; -Querendo pular fora; -Não querendo aprender nada em um lugar tão complicado; -Saindo do trabalho soluçando de tanto chorar; -Não agüentando mais lidar com essa situação; -Pedindo ajuda aos amigos para tentar continuar; -Sentindo-se esgotado emocionalmente; -Não tendo a menor vontade de ir para o trabalho;
-Tendo aquecido a rejeição interior com a vivência de tantos problemas na unidade; -Não conseguindo se interessar; -Não sendo bom para trabalhar na unidade; -Não querendo nada além do básico; -Desejando sair para um outro setor do hospital; -Aguardando a entrada de enfermeiro para pedir a saída do setor; -Não se interessando saber sobre os exames específicos da unidade; -Não se interessando, por achar que não ficar aqui; -Não estando disposta em aprender; -Não tendo vontade de melhorar; -Não querendo ler absolutamente nada sobre a especialidade; -Não querendo continuar aqui; -Não desejando ficar nessa especialidade.
Ficando desmotivado para o
enfrentamento
254
APÊNDICE VI
FENÔMENO: EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA SER COMPREENDIDO.
QUADRO 15. CATEGORIA: CONHECENDO AS PESSOAS
CÓDIGOS
SUBCATEGORIAS
-Sendo apresentado aos enfermeiros e auxiliares de enfermagem; -Percebendo a relação interpessoal da equipe multiprofissional; -Entendo o relacionamento médico enfermeiro na unidade; -Conhecendo a Chefia da Unidade; -Interagindo com residentes de enfermagem; -Tendo a preocupação de estabelecer vínculo com a equipe de enfermagem; -Percebendo as atitudes da Chefia imediata; -Tendo medo de não interagir bem com a equipe de enfermagem; -Querendo falar com os enfermeiros experientes; - Tendo receio de não fazer uma boa relação com a equipe multiprofissional; -Achando muito difícil o lidar com a equipe de enfermagem; -Tendo que conhecer pessoas;
-Tendo que conhecer pessoas novas na unidade; -Observando a interação entre os funcionários da unidade; -Buscando ter uma boa relação com a equipe; - Tentando uma aproximação com a equipe; -Procurando conhecer a equipe de trabalho na especialidade; -Buscando a compreensão do agir das pessoas da equipe; -Vendo as diferentes atitudes das pessoas nas ações cotidianas; -Tendo que saber lidas com as pessoas da especialidade; -Achando os auxiliares de enfermagem um pouco revoltados; -Preocupando-se com o trabalho junto ao residente de enfermagem; -Achando bom conhecer a equipe médica; -Achando que deveria conhecer as pessoas da unidade especializada; -Sentindo falta de conhecer as pessoas do Hospital.
Conhecendo a equipe
multiprofissional
-Percebendo uma clientela bastante diferenciada; -Não estando acostumada em lidar com essa clientela; -Achando ótimo o tipo de clientela presente na especialidade; -Tendo muita dificuldade de lidar com o paciente na especialidade; -Percebendo as necessidades dos clientes com o passar do tempo; -Entendendo o paciente com certa dificuldade; -Tendo que conhecer os problemas mais comuns ligados ao paciente;
-Buscando a compreensão da clientela e de seus problemas específicos a especialidade; -Tendo muitas dificuldades de lidar com esse tipo de paciente; -Conhecendo os pacientes a qual desenvolverei os cuidados; -Achando difícil trabalhar com o cliente crônico; -Ficando deprimido com esse tipo de paciente; -Sendo necessário conhecer os pacientes e as suas patologias; -Achando os clientes bastante especiais.
Conhecendo a clientela
255
APÊNDICE VII
FENÔMENO: EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA SER COMPREENDIDO.
QUADRO 15. CATEGORIA: CONHECENDO OS RECURSOS FÍSICOS E
MATERIAIS
-Tendo uma questão do conhecimento da rotina; -Tendo uma questão do conhecimento local; -Visitando todos os espaços da unidade; -Percebendo dificuldades de material; -Tendo que conhecer máquinas utilizadas na unidade; -Pegando manuais para se inteirar; -Lendo as rotinas; -Perguntando sobre as rotinas; -Entrando nas salas para conhecer a unidade; -Achando o espaço interessante e organizado; -Percebendo que a unidade é bem cuidada pela Chefia; -Olhando todo o local; -Pensando que o espaço é bom para o trabalho;
-Recebendo muitas informações no momento inicial acerca das rotinas; -Achando a rotina pesada; -Percebendo que o enfermeiro desempenha muitos papéis na unidade através da rotina; -Consultando a rotina do procedimento; -Achando que é importante conhecer com detalhes o espaço físico da unidade; -Procurando saber onde estão as coisas na unidade, para não ficar perdido; -Tendo uma boa impressão do ambiente; -Sentindo que o espaço é organizado e planejado; -Achando o espaço físico confuso e desorganizado; -Achando àquelas salas estranhas para atuar.
Conhecendo o espaço físico
-Tendo que se apropriar dos equipamentos; -Percebendo a importância da tecnologia para a especialidade; -Tendo que aprender a manipular as máquinas; -Tendo que pegar para aprender a manipular os equipamentos; -Pegando o equipamento para tentar entender o seu funcionamento; -Tendo que me atualizar nos equipamentos da unidade;
-Achando os respiradores diferentes daqueles da minha prática anterior; -Comparando os equipamentos com os manuais para aprender; -Achando difícil trabalhar com esse equipamento; -percebendo que precisa de muito treinamento para atuar com segurança naquele equipamento; -Chegando perto da máquina para tentar aprender; -Achando muito complicado manipular a máquina desse setor.
Conhecendo os equipamentos
256
APÊNDICE VIII
FENÔMENO: SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA NA ESPECIALIDADE.
QUADRO 16. CATEGORIA: HESITANDO EM DESENVOLVER O TRABALHO.
CÓDIGOS
SUBCATEGORIAS
-Pensando muito antes de fazer qualquer coisa; -Checando antes de fazer algo na rotina do serviço; -Tendo que conferir com outros enfermeiros alguns itens das atividades realizadas; -Fazendo com medo; -Sentindo-se totalmente insegura com a situação instalada; -Evitando alguns procedimentos;
-Não fazendo procedimentos específicos que exigem destreza manual; -Repassando para outros, com maior experiência, alguns procedimentos específicos; -Tendo um grande receio de puncionar fístulas no início; -Ficando insegura e com muito receio de fazer as coisas na especialidade; -Tendo medo fazer aquilo que não sabe; -Ficando muito inseguro para aprender o novo.
Tendo insegurança
-Sentindo-se trêmula; -Tendo taquicardia na hora; -Passando mal para ir para o trabalho; -Perdendo a cor quando precisa fazer algo muito específico que não se sente preparado; -Ficando nitidamente alterado; -Gerando uma questão psicossomática mesmo; -Tendo que recorrer aos florais; -Ficando louca de fato; -Perdendo a calma e o controle;
-Sentindo-me como um recém-formado; -Precisando de ajuda para continuar o procedimento; -Tendo taquicardia, assim na hora, mas respirando; -Sentindo o coração na boca; -Tendo dor física; -Começando usar florais e indo bem; -Sentindo-se muito cansada e frágil; -Procurando florais; -Estando com os nervos à flor da pele; -Sentindo no corpo o impacto de enfrentar o novo.
Sentindo taquicardia
257
-Utilizando os manuais para guiar a ação; -Decorando os passos para lidar com a máquina; -Anotando tudo que vê e que escuta para seguir na hora de algum aperto; -Tirando cópia de “Check List” para não esquecer nada importante; -Seguindo o preconizado durante o treinamento; -Não fazendo grandes inovações; -Pegando os manuais e as rotinas para realizar as atividades específicas na especialidade;
-Tendo o cuidado para não dar um passo fora do definido pelo setor; -Gostando de passo a passo para ajudar na realização de procedimentos específicos; -Estando atento aos enfermeiros experientes; -Reconhecendo que tem pouca experiência e que precisa ser guiada; -Não tendo guia o iniciante fica perdido; -Fazendo com ajuda dos enfermeiros experientes; -Sendo ajudado durante os procedimentos mais específicos por pessoas mais experientes; -Seguindo as rotinas.
Fazendo guiado
-Não existindo um real prepara para dominar as situações mais complexas na especialidade; -Achando que mesmo com uma noção é muito difícil dominar a situação; -Vendo pessoas que não saem e também que não se movimentam, ficam paralisadas; -Chorando quando acontece alguma coisa que não sabe como resolver; -Discutindo com a residente de enfermagem; -Tendo dificuldades de relacionamento com a equipe de enfermagem.
-Não tendo enfermeiro para manusear junto à máquina; -Não tendo o domínio da técnica; -Não tendo o preparo mínimo para dominar a situação; -Ficando parado; -Vendo os iniciantes aflitos, angustiados e desestimulados, por não dominarem, e não ter ninguém para apoiar; -Não sabendo nem por onde começar; -Vendo o iniciante com vontade de largar tudo, quando começam as cobranças, sem respostas; -Sendo jogado na especialidade; -Achando muito complicado atuar sem o domínio da situação; -Percebendo muitas dificuldades em segurar a situação.
Tendo dificuldade para dominar a
situação
258
APÊNDICE IX
FENÔMENO: SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA NA ESPECIALIDADE.
QUADRO 17. CATEGORIA: SENTINDO O PESO DA RESPONSABILIDADE.
CÓDIGOS
SUBCATEGORIAS
-Procurando acertar mesmo tendo consciência de algumas dificuldades; -Sabendo do seu papel enquanto enfermeiro; -Não desejando que erros aconteçam; -Não fazendo procedimentos na dúvida para não cair em erros; -Tendo medo se surpresas ligadas ao conhecimento específico que implique em erro; -Pedindo ajuda para não cometer erros; -Tendo noção que não pode cometer nenhuma coisa que possa ser considerado erro; -Tendo que estudar com medo de errar na prática diária; -Buscando acertar; -Procurando estudar para não errar; -Pensando que existem coisas muitos minuciosas que podem levar ao erro; -Pedindo ajuda para não cometer erros na prática.
-Buscando conhecimento para ter respaldo; -Não sendo suficiente apenas o conhecimento teórico para garantir uma assistência sem erro; -Achando que o medo está em não saber assistir na especialidade; -Tendo medo de errar; -Tendo medo de não ter apoio; -Quando estava errado, ia ler para corrigir; -Errando devido à inexperiência, não sendo grave, mas um erro de rotina; -Não fazendo quando suspeitava que poderia trazer malefício; -Buscando acertar; -Procurando o melhor caminho para fazer as coisas; -Repetindo as coisas bem devagar para na hora de fazer não errar; -Preocupando-se em não fazer com dúvida; -Estudando em casa para não errar na hora do plantão; -Tendo consciência de que não pode errar com o cliente.
Tendo o medo do erro
-Tendo uma boa relação para ser ajudada; -Sendo um grande aprendizado como líder; -Tendo que dar conta da liderança; -Não sabendo como um líder não sabe algo; -Sofrendo por ser um líder que desconhece muitas coisas específicas do setor; -Pensando na fase de treinamento, quando for o líder; -Tendo que liderar uma situação tão diferenciada sem experiência; -Tendo muitas dificuldades para liderar a equipe de auxiliares de enfermagem sem ter o conhecimento da prática;
-Não sabendo o que fazer e a quem recorrer; -Sendo à noite o enfermeiro um sozinho, exceto pela supervisão; -Sendo difícil viver um papel de líder sem experiência; -Não sendo uma pessoa de liderar sem saber fazer; -Não gostando de ser o líder sem saber os assuntos; -Tendo que dar conta de uma liderança, sem saber nada da prática específica; -Sabendo que mesmo sem segurança terá que ser o líder do plantão; -Fazendo de tudo para ser um bom líder;
Precisando ser o líder da equipe
259
-Sabendo que não está sendo bom líder; -Achando de ser um absurdo já ter que ir para o plantão como líder; -Pensando muito positivamente para dar tudo certo no plantão; -Não sabendo como liderar nessa condição, mas liderando; -Buscando bom relacionamento com a equipe para conseguir liderar; -Pensando que tem que ser aceito como líder, mesmo sem saber ainda sobre as coisas da especialidade;
-Pegando junto com os auxiliares para facilitar na liderança; -Achando difícil ser líder sem saber das coisas específicas; -Precisando mandar sem conhecer as pessoas; -Tendo que ser líder do plantão sem se quer saber onde estão as coisas; -Precisando ter o domínio emocional para liderar sem conhecer totalmente a realidade; -Sendo humilde para conseguir liderar as pessoas na unidade; - Vivendo um momento de liderança difícil, de confusão mesmo.
-Tendo uma visão imediata do que precisa ser feito; -tendo que sentir-se segura por ser a enfermeira do plantão; -Tentando fazer o melhor enquanto profissional para preservar o cliente; -Sabendo que não poderia ficar alienada; -Sendo uma estratégia manter um bom relacionamento; -Investindo na equipe para ajudar na adaptação;
-Dando para a equipe o suporte teórico que eles não tinham; -Tendo a oportunidade de buscar; -Tendo vontade de aprender; -Gostando de fazer com os outros, o que deseja para si; -Querendo saber para fazer; -Querendo saber o que essa clientela necessita; -Tentando fazer o melhor mesmo sem ser expert; -Tendo que se sentir segura; -Tendo que atuar como enfermeiro e pronto;
Sabendo que precisa
fazer
-Sendo necessário decidir o cuidado baseando-se em experiências anteriores; -Precisando assumir o papel do enfermeiro tendo muitas dúvidas; -Tendo em dificuldade até para pedir as coisas nos primeiros plantões; -Precisando encaminhar alguns procedimentos e algumas escolhas;
-Acontecendo alguma coisa, não podendo ter dúvida de como agir; -Tendo que decidir sozinho; -Sendo o profissional enfermeiro de plantão; -Tendo que pensar atividades para a equipe de enfermagem sem compreender, de fato, as especificidades do setor.
Tendo que tomar decisões
260
APÊNDICE X
FENÔMENO: SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA NA ESPECIALIDADE.
QUADRO 18. CATEGORIA: SENTINDO-SE CONSTRANGIDO POR NÃO TER
CONHECIMENTOS E HABILIDADES ESPECÍFICAS.
CÓDIGOS
SUBCATEGORIAS
-Sabendo muito pouco para oferecer; -Tendo alguma teoria, mas não tendo a prática; -Pensando que situação mais estranha, ter que, dizer a toda hora, não sei, para os auxiliares de enfermagem; -Tendo que ser humilde para reconhecer que não sabe o assunto; -Precisando falar não sei e ser claro com a equipe sobre algum procedimento; -Correndo atrás da ajuda de enfermeiros experientes e dizendo não sei fazer determinado procedimento; -Precisando dizer não sei isso, pelo telefone, durante o plantão; -Encontrando muita dificuldade para dizer que não posso fazer algo, porque não sei; -Sendo objetiva, dizendo claramente, não sei fazer isso;
-Não ficando sozinho na prática específica da especialidade; -Tendo que falar que não se sabe a prática disso; -Tendo que esclarecer que não sabe como fazer diante de toda a equipe; -Precisando ser claro sobre a inexperiência; -Tendo que verbalizar o desconhecimento do assunto, na frente das pessoas lideradas; -Tendo os auxiliares a prática que eu não tinha; -Não sabendo se fez direito; -Não sabendo as coisas muito específicas da especialidade; -Achando-se totalmente perdida; -Não tendo noção do trabalho com este tipo de especialidade; -Achando que o iniciante não tem noção do que se passa dentro da especialidade; -Sendo uma coisa nova para mim; -Não sabendo se a pergunta for específica.
Precisando dizer não
sei
261
APÊNDICE XI
FENÔMENO: (RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA
ESPECIALIDADE.
QUADRO 19. CATEGORIA: BUSCANDO A COMPREENSÃO DA REALIDADE.
CÓDIGOS
SUBCATEGORIAS
-Precisando receber as rotinas para utilizar durante a prática diária; -Entendendo ser de suma importância o conhecimento das rotinas; -Tendo uma questão do conhecimento da rotina, do local, da integração e do relacionamento interpessoal; -Atuando de acordo com as rotinas;
-Atuando tendo em vista as rotinas do serviço; -Tendo atenção a rotina instituída; -Tendo as rotinas como guia para desenvolver algumas atividades; -Precisando seguir as rotinas da unidade; -Achando bom o setor ter bem definido as rotinas de atuação frente a essa clientela; -Tendo muitas dúvidas quanto à rotina do serviço.
Observando as rotinas
-Localizando de primeiro os manuais e deixando por perto; -Recorrendo ao manual da máquina no momento da crise; -Utilizando o manual para ligar e programar a máquina, apesar de sido dado o treinamento; -Recebendo manuais para ler e se inteirar; -Adequando-se aos padrões do hospital. -Querendo compreender o funcionamento das coisas através dos manuais;
-Precisando ler os manuais referentes às máquinas utilizadas no setor; -Levando os manuais para casa; -Tirando até cópia dos manuais; -Sentindo-se mais segura de posse dos manuais dos equipamentos específicos do setor; -Querendo saber onde estão os manuais; -Percebendo que o setor não tem todos os manuais; -Buscando alguma segurança com a leitura dos manuais.
Recebendo manuais do hospital para ler e
se inteirar
262
APÊNDICE XII
FENÔMENO: (RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA
ESPECIALIDADE.
QUADRO 20. CATEGORIA: COMEÇANDO, ATUANDO E APRENDENDO NA
ESPECIALIDADE.
CÓDIGOS
SUBCATEGORIAS
-Sendo inserido e tentando desenvolver atividades práticas; -Pedindo ajuda dos auxiliares em termos de informações, de funcionamento do local, da rotina, e até mesmo, cuidados específicos; -Aprendendo a fazer coisas que duvidava; -Pensando que poderia se adaptar; -Tentando permanecer na especialidade; -Aprendendo a partir da própria vivência; -Não tendo nenhuma prática sobre isso; -Pensando que a repetição de casos ajuda no aprendizado diário -Tendo conhecimento teórico, mas a aplicação na prática sendo muito diferente; -Sendo inserido e desenvolvendo habilidades técnicas específicas; -Aprendendo no local de trabalho; -Aprendendo com os auxiliares aqui;
-Ficando sozinha para fazer a prática específica -Aprendendo no trabalho no finalzinho; -Sendo o aprendizado um desafio; -Sendo muito gratificante aprender no trabalho; -Trabalhando junto com a equipe; -Tendo sempre que aprender; -Aprendendo com o tempo a destreza para o trabalho; -Precisando ir devagar nesse novo para aprender; -Pegando prática; -Fazendo e tornando-se mais apto; -Tendo o conhecimento teórico, mas destacando que a aplicação na prática é muito mais complicado; -Sendo o primeiro procedimento um marco; -Sendo ajudada na prática; -Não sendo fácil, em termos de habilidade, rapidez e precisão; -Ficando morta de exausta de tanto carregar essas coisas para lá e para cá; -Percebendo que, com o tempo, vai fazendo melhor.
Aprendendo a destreza técnica no
trabalho
263
-Pegando livro emprestado para ler sobre os temas pertinentes ao local de trabalho; -Lendo mesmo sem querer; -Recorrendo a literaturas; -Segurando nas teorias iniciais; -Lendo bula de medicação específica; -Engolindo livros; -Lendo o que estou afim; -Lendo os artigos que ele me dá, sempre dá uma ajudada; -Ficando louca de tanto pensar que tem que ler; -Começando a querer ler, depois de um tempo de grande dificuldade; -Achando as literaturas a respeito muito médicas;
-Tendo que ler as rotinas do serviço especializado; -Precisando ler manuais das máquinas específicas do setor; -Precisando ler sobre as medicações típicas da especialidade; -Tentando ler todos os dias sobre alguma coisa da especialidade; -Comprando livros relacionados à especialidade para se apropriar de alguma coisa; -Sendo meio que obrigada a ler; -Lendo muito sobre os assuntos da especialidade; -Tentando engolir os livros da especialidade.
Buscando leituras
-Achando difícil perguntar, mas perguntando; -Perguntando o procedimento passo-a-passo; -Sendo chata de tanto perguntar. -Tendo discussões muito interessantes; -Perguntando o tempo todo; -Sendo chata de tanto perguntar; -Se apegando a alguém que pode ajudar; -Tendo que perguntar tudo sobre a rotina; -Perguntando sem medo de ser feliz;
-Tendo sempre curiosidade; -Querendo sempre aprender; -Procurando e perguntando; -Não tendo vergonha de perguntar; -Perguntando pela curiosidade e pela necessidade; -Perguntando sem vergonha; -Perguntando aos próprios auxiliares; -Perguntando sobre algumas medicações para os enfermeiros; -Tentando sugar tudo que o outro sabia mais e podia me dar.
Perguntando a quem sabe
-Colando sempre da pessoa que saca aquilo; -Colando muito dos outros; -Observando o que as pessoas fazem; -Olhando mesmo, sem ter vergonha; -Repetindo o que foi feito pelo enfermeiro experiente, igualzinho; -Colando, discretamente, dos auxiliares de enfermagem; -Permitindo que eu a acompanhasse para olhar.
-Aprendendo olhando de quem sabe; -Vendo os procedimentos e comparando com a teoria; -Observando o fazer de quem domina; -Olhando para Auxiliares de Enfermagem que fazem muito bem o procedimento; -Lembrando de como o enfermeiro especialista do setor faz; -Vendo coisas que iam acontecendo; -Colando, literalmente, de quem sabia fazer.
Colando de quem sabe
264
-Ajudando, para dar o “pontapé” inicial; -Precisando estudar mesmo não gostando; -Comprando livros na área para estudar muito sobre o assunto; -Querendo estudar a área; -Tendo alguma teoria que os auxiliares não têm; -Buscando através do estudo do assunto;
-Tendo que ter teoria para justificar as práticas realizadas na unidade; -Tendo o livro em casa para tirar dúvidas; -Querendo comprar livros para estudar; -Tentando ler alguns artigos sobre a especialidade; -Tendo que ter teoria; -Dando o suporte teórico em contrapartida.
Segurando na teoria
-Lembrando como fazia isso lá na graduação; -Reportando-se a graduação; -Sabendo que não sou uma recém-formada; -Tendo que recorrer as minhas atuações anteriores para conseguir ter forças para fazer; -Tendo consciência de que minha experiência de vida ajuda nos momentos de aflição;
-Tentando transportar o que já vivenciou para aquela situação nova; -Achando importante aproveitar a experiência trazida como bagagem; -Pedindo ajuda para pensar como sair disso; -Sabendo que mesmo diferente, minha experiência lá ajuda em alguma coisa.
Mobilizando recursos
teóricos e práticos de vivências anteriores
265
APÊNDICE XIII
FENÔMENO: (RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA
ESPECIALIDADE.
QUADRO 21. CATEGORIA: CORRENDO CONTRA O TEMPO.
CÓDIGOS
SUBCATEGORIAS
-Achando que o que qualifica é a dedicação a uma área; -Buscando conhecimentos; -Fazendo no tempo que precisava ser feito; -Enfrentando as situações problemas para aprender; -Olhando, perguntando, estudando, e depois, fazendo; -Dando por fim, fazendo; -Montando, olhando, estudando, e fazendo junto; -Fazendo para aprender; -Procurando fazer para que o novo se torne mais familiar; -Transformando o novo em algo mais familiar; -Repetindo, repetindo e repetindo a atividade; -Montando várias vezes a máquina para aprender; -Pegando para fazer e aprendendo; -Entendendo que tem que fazer para aprender o negócio;
-Convivendo contra o tempo para aprender; -Fazendo e tornando-se mais apto; -Aprendendo tudo correndo; -Sendo inserido, desenvolvendo habilidades técnicas, sem tempo para aprender o que é necessário desenvolver; -Já está sendo aguardada devido à necessidade do serviço; -Tendo que aprender; -Tendo que assumir plantão logo; -Achando que o bom era se adaptar rápido; -Aprendendo com o dia-a-dia, mesmo não pegando nos livros e nem lendo; -Puncionando, instalando e conseguindo; -Fazendo direito o básico; -Tendo que aprender o básico no dia-a-dia; -Percebendo a importância de realizar a tarefa e não somente mandar fazer.
Fazendo, ao mesmo tempo, que tem que
se tornar apto
-Não me colocando como sei tudo; -Aprendendo com os Auxiliares de Enfermagem; -Aprendendo com o conviver com a equipe; -Achando importante manter uma boa relação com a equipe para aprender; -Discutindo muitas coisas para prender; -Aprendendo a lidar melhor com a situação; -Não tendo tempo de aprender o que é necessário desenvolver;
-Transferindo a nossa formação técnica para a vida diária; -Sentindo que é necessário aprender; -Não sendo arrogante; -Descobrindo que é importante uma troca mútua; -Recebendo muitas informações da equipe de saúde; -Tendo que compartilhar com a equipe de enfermagem; -Sendo ajudado por Auxiliares no que pode.
Tendo que aprender
266
APÊNDICE XIV
FENÔMENO: CONVIVENDO COM A REALIDADE NA ESPECIALIDADE EM
BUSCA DA ADAPTAÇÃO.
QUADRO 22. CATEGORIA: SENTINDO-SE BEM NA ESPECIALIDADE.
CÓDIGOS
SUBCATEGORIAS
-Resolvendo mudar; -Descobrindo que o novo pode agradar; -Sentindo-se bem na especialidade; -Mudando a visão da especialidade, a partir das vivências e do tempo; -Percebendo que amadureceu; -Adaptando-se e pensando o que vai fazer na especialidade; -Amando o que aprendeu na especialidade; -Não retrucando mais; -Aprendendo muito com toda essa experiência;
-Atuando na área e se interessando; -Mudando com o conhecimento; -Mudando a forma de olhar o mundo e a realidade; -Encarando o novo; -Mudando a forma de olhar as coisas; -Querendo permanecer no novo, é o que quero naquele momento; -Transformando o novo em algo mais conhecido; -Transformando o novo em familiar; -Superando através do conhecimento; -Tendo vontade de melhorar.
Projetando-se para um futuro na especialidade
-Conseguindo ter tranqüilidade; -Trabalhando minimizando a dor do outro; -Sendo agora mais feliz; -Reconhecendo que foi bom; -Tendo um encantamento pela área;
-Sentindo-se bem e tranqüila com a minha opção; -Achando interiormente que estava bem; -Ficando em uma área que me encanta;
Sendo feliz no trabalho
-Achando que para os novos enfermeiros é preciso outro tipo de treinamento;
-Fazendo cursos de aprimoramento e atualização na área; -Começando a ir a Congressos e eventos da área; -Querendo que o hospital faça curso de aprimoramento.
Preocupando-se com a Educação Contínua
-Querendo fazer especialização; -Lendo sobre a Sociedade de Especialista; -Pensando em fazer algo na área.
-Fazendo o curso de especialização; -Fazendo outro curso de especialização para ajudar mais a clientela;
Buscando a
especialização
-Indo a Congressos em São Paulo para estar por dentro; -Pensando que poderia ficar fazendo aquilo e me dar bem.
-Crescendo profissionalmente, apesar do conhecimento novo; -Achando que foi importante estar aqui para crescer enquanto profissional;
Almejando crescer na especialidade
267
APÊNDICE XV
FENÔMENO: CONVIVENDO COM A REALIDADE NA ESPECIALIDADE EM
BUSCA DA ADAPTAÇÃO.
QUADRO 23. CATEGORIA: VIVENDO A CRISE INTERIOR.
CÓDIGOS
SUBCATEGORIAS
-Não gostando da especialidade, nem no tempo da faculdade; -Tentando estudar, dormindo, bebendo água, indo ao banheiro, tudo para perder a atenção; -Não gostando de estudar esse assunto; -Não querendo trabalhar com essa especialidade, de jeito algum; -Dormindo quando tenta estudar o assunto; -Repercutindo em minha vida pessoal a falta de perspectivas; -Querendo sair se puder; -Não sendo o tipo de trabalho que me gratifica; -Não querendo ficar aqui, não; -Não querendo permanecer na especialidade;
-Identificando que não produz bem com a clientela específica relacionada à especialidade; -Não se identificando; -Vendo a situação de uma forma muito preocupante; -Sendo colocada para substituir um enfermeiro que saiu do setor, mas não desejando ficar; -Não procurando nada; -Não sendo o que desejava; -Não tendo a menor pretensão de trabalhar nisso; -Achando que seria temporário; -Achando que em breve sairia dali; -Não se vendo fazendo parte desse contexto; -Achando que precisa trabalhar em algo que gosta;
Não conseguindo se projetar na
especialidade
-Não tendo vontade em outra área que não a sua; -Não conseguindo atuar na especialidade; -Sendo novo e difícil, por não desejar; -Não tendo perspectiva de continuar na área; -Vivendo bicuda, mas bicuda o tempo todo; -Sendo muito bicuda. -Não tendo vontade de ir a fundo; -Fazendo o básico, para não colocar ninguém em risco; -Não procurando mais do que aquilo;
-Não tendo a menor vontade de se especializar; -Não querendo ficar nessa área; -Lembrando de como era feliz com o que fazia; -Não se adaptando até a clientela; -Achando tudo difícil e por demais complexo; -Pensando como seria bom se estivesse em outro setor; -Indo conhecer o setor que
realmente gostaria de trabalhar para
ficar só com água na boca;
-Querendo voltar a trabalhar naquilo que de verdade gosto.
Sentindo-se insatisfeita por não estar em sua área
268
-Chorando em casa desesperadamente; -Chorando todos os dias; -Chorando na noite anterior ao plantão; -Chorando quando chega em casa; -Sentindo-se insatisfeita em estar em uma área que não gosta; -Sentindo-se angustiada, por ter que continuar; -Gerando um desgaste muito grande, inclusive para as pessoas que estão à volta; -Sentindo-se desamparada, por não ter apoio da Chefia; Ficando com depressão por não conseguir fazer; -Saindo de lá também com sofrimento;
-Vendo o colega chorar e passar muito mal, porque está forçando uma barra na especialidade; -Chegando em casa chorando, após os plantões; Gerando uma crise comigo; -Não vendo interesse em nada; -Alugando os amigos para falar do trabalho negativamente; -Vivendo bicuda na especialidade; -Trabalhando mal humorado; -Sofrendo com tudo que ocorre na especialidade; -Não querendo aprender nada de novo; -Querendo apenas fazer o básico, e só; -Resistindo à mudança; -Sentindo-se muito triste por ter que continuar em local que não tenho afinidade.
Trabalhando deprimido
-Desejando trabalhar em outro local mais próximo da experiência anterior; -Querendo que os próximos enfermeiros, a serem chamados, o substitua, para sair fora da especialidade;
-Querendo sair o mais rápido possível; -Pedindo à Chefia para ir para outro local; -Pensando em ir falar com a Chefia sobre a saída do setor; -Lutando para sair; -Insistindo e saindo da especialidade.
Saindo da especialidade
-Vivendo reclamando das coisas; Vendo a vida de uma situação que não quer; -Sendo os momentos ruins muito maiores que qualquer outra coisa; -Indo para lá sofrida; -Saindo de lá sofrida; -Ficando no dia de folga pensando no próximo dia de trabalhar; -Pensando o tempo todo em sair; -Se limitando ao máximo.
-Tendo que se controlar para não chorar; -Não tendo estrutura para trabalhar com essa clientela; Querendo viver bem plenamente e não sofrendo; -Sendo a experiência na especialidade muito ruim; -Engordando de tanta ansiedade; -Sentindo-se frustrada; -Não adiantando dizer que não quer.
Sofrendo na especialidade
269
APÊNDICE XVI
DISTRIBUIÇÃO VERTICAL DO DISCURSO
TRECHO DE ENTREVISTA REALIZADA
Realizada: 01/05/05 Duração: 1h e 35 min
1- Quem é você?
Sou de uma família de mais cinco
pessoas.
Eu tenho uma característica que às
vezes pode ser como uma qualidade ou
como um defeito, eu sou muito
persistente.
Às vezes isso, se transforma em
teimosia, mas eu me considero bem
organizada.
Aprendi muito na minha própria
formação fazer um trabalho
sistematizado, e isso, até me ajudou
como pessoa mesmo.
A gente acaba transferindo a nossa
formação técnica para a nossa vida
pessoal.
Apesar de eu não ser tão organizada
como pessoa. Digo mesmo, em termos
de planejamento, organização.
Sendo de uma família de mais de cinco pessoas. Tendo uma característica que pode ser uma qualidade, ou ainda, um defeito. Transformando-se, às vezes, em teimosia. Sendo bem organizada. Aprendendo muito na própria formação a fazer um trabalho sistematizado. Ajudando, o trabalho sistematizado, enquanto pessoa mesmo. Transferindo a formação técnica para a nossa vida pessoal. Não sendo tão organizada como pessoa, em termos de planejamento.
270
ANEXO I
Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas
Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo
Top Related