INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA – IBRATISOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA – SOBRATIMESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA
SUELLEN OLIVEIRA LEOPOLDO FEITOSA LIMA
INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
TERESINA – PI2016
SUELLEN OLIVEIRA LEOPOLDO FEITOSA LIMA
INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Terapia Intensiva, do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva, servindo como um dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva.
Orientador: Prof. Dr. Edilson Gomes de Oliveira
TERESINA – PI2016
SUELLEN OLIVEIRA LEOPOLDO FEITOSA LIMA
INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Terapia Intensiva, do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva, servindo como um dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva.
Orientador: Prof. Dr. Edilson Gomes de Oliveira
Aprovada em 10 de setembro de 2016
BANCA EXAMINADORA
Prof.º Dr. Edilson Gomes de OliveiraInstituto Brasileiro em Terapia Intensiva – IBRATI
Presidente (Orientador)
Prof.º Dr. Douglas FerrariInstituto Brasileiro em Terapia Intensiva – IBRATI
Examinador
Prof.º Dr. Marttem Costa de SantanaMembro Externo - Universidade Federal do Piauí – UFPI
Examinador
Prof.ª M.a Vicença Maria Azevedo de Carvalho GomesInstituto Brasileiro em Terapia Intensiva – IBRATI
Examinadora
RESUMO
Na Unidade de Terapia Intensiva, pacientes estão constantemente expostos ao risco
de infecção hospitalar. Infecção do Trato Urinário é um dos mais comuns tipos de
infecção nosocomial. Com o objetivo de analisar os procedimentos causadores
deste tipo de infecção e descrever as intervenções preventivas, realizou-se uma
revisão bibliográfica em que foram utilizados referenciais teóricos buscados em
bases de dados eletrônicos publicados no período de janeiro de 2007 a junho de
2015. Artigos mostraram que o cateterismo vesical de demora associado a fatores
como sexo, idade, doenças de base e resistência a antibioticoterapia tornam o
paciente vulnerável a infecção urinária. Atos como a lavagem das mãos, manuseio
correto do cateter vesical de demora, adoção de protocolo padronizado, educação
continuada e atuação da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar são
significantes para uma assistência qualificada.
Palavras-chave: Infecção Hospitalar; Cateter; Assepsia; Unidade de Terapia
Intensiva; Trato Urinário.
ABSTRACT
In the Intensive Care Unit, patients are constantly exposed to the risk of Hospital
Infection. Urinary Tract Infection is one of the most common types of hospital
infection. Aiming to analyze the procedures that cause this type of infection and
describe the preventive nursing interventions, a literature review was carried out
where used theoretical references searched in electronic databases published from
January 2007 to Jun 2015. Articles revealed that delay vesical catheterization
associated with factors such as gender, age, underlying diseases and antibiotic
resistance makes the patient vulnerable to urinary infection. Such acts as hand
washing, proper handling of delay vesical catheters and adoption of standardized
protocol, continued education and actions of the Commission of Hospital Infection
Control are significant for skilled assistance.
key words: Hospital Infections; Catheter; Asepsis; Nursing Care; Intensive Care Unit; Urinary Tract.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................07
1.1Objetivos...............................................................................................................07 .2 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................09
3 METODOLOGIA....................................................................................................11
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................12
4.1 Procedimentos invasivos.....................................................................................124.2 Sexo e Idade........................................................................................................12 4.3 Doenças de Base.................................................................................................13 4.4 Tempo de cateterização e permanência em Unidade de Terapia Intensiva........14 4.5 Resistencia bacteriana.........................................................................................15 4.6 Higienização das mãos........................................................................................15 4.7 Atuação Interdisciplinar........................................................................................164.8 Controle e vigilância epidemiológica....................................................................18
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................20
REFERÊNCIAS
1 INTRODUÇÃO
O Ministério da Saúde na Portaria nº 2.616 de 12/05/1998 define Infecção
Hospitalar (IH) como aquela adquirida após a admissão do paciente e que se
manifesta durante a internação ou após a alta, quando a mesma puder ser
relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares. Qualquer pessoa que
necessite de internação hospitalar já se torna mais susceptível a contrair uma
infecção.
A partir do momento em que uma pessoa necessita dos cuidados de uma
equipe médica e monitorização em uma Unidade de Terapia Intensiva, os riscos de
infecção aumentam consideravelmente, pois, apesar de uma UTI possuir um maior
suporte de atendimento, apresenta também um maior número de bactérias
multirresistentes que se aproveitam da baixa imunidade do paciente. Assim, os
cuidados prestados nesse período devem ser criteriosos em todos os procedimentos
realizados.
A infecção do trato urinário é uma consequência bastante comum da
realização inadequada de procedimentos invasivos em UTI. Pensando nos
pressupostos acima, pretende-se realizar um estudo mais aprofundado com a
finalidade de se obter um conhecimento maior sobre este tipo de infecção. Observar
seus fatores predisponentes, as pessoas mais acometidas e as intervenções da
equipe interdisciplinar que previnem esta problemática.
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo Geral
Essa pesquisa teve como objetivo analisar a produção científica acerca do
cuidado prestado pela equipe em unidade de terapia intensiva ao doente portador de
infecção do trato urinário, em artigos, periódicos e demais publicações durante o
período de 2007 a 2015.
1.1.2 Objetivos Específicos
- Realizar levantamento e apreciação de publicações sobre os fatores de risco
de ITU em pacientes de Unidade de Terapia Intensiva.
- Analisar os procedimentos que mais provocam ITU e descrever as ações
que previnem este evento.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
As infecções associadas aos cuidados de saúde afetam um grande número de
indivíduos, causando consequências negativas para os doentes, familiares e
sistemas de saúde (PINA et al., 2010).
Dentre as infecções hospitalares, a infecção do trato urinário constitui um grave
problema por sua incidência, complexidade, morbidade e mortalidade. Pode ser
causada pelo cateterismo vesical, onde há o risco de introduzir o germe na
colocação do material contaminado ou má técnica asséptica, ou ainda pelo uso
prolongado do cateter facilitando a infecção (CYRINO; STUCHI, 2015).
Segundo Oliveira, Kvoner e Silva (2010) são consideradas Infecções
Hospitalares (IH), todas aquelas notificadas após 48 horas da admissão do paciente
ou até 48 horas após a alta do mesmo. Dentre elas, a infecção urinária pode ser
considerada hospitalar se iniciada até sete dias após a alta e se estiver associada ao
cateterismo vesical de demora.
Souza et al. (2007) relata que dentre todas as infecções hospitalares, a
Infecção do Trato Urinário (ITU) é a mais frequentemente associada a
procedimentos invasivos e também a mais prevenível.
Dentro do hospital, as infecções do trato urinário estão quase sempre
associadas ao cateterismo vesical, um procedimento invasivo utilizado
rotineiramente. Aproximadamente, 10% dos pacientes internados têm necessidades
de instrumentação do trato urinário. Pelo fato de que 40% de todas as infecções
hospitalares serão urinárias, o cateterismo deve ser evitado (LIMA et al., 2007).
Pacientes internados em instituições de saúde também ficam constantemente
expostos a uma ampla variedade de microrganismos patogênicos, principalmente
em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde o uso de antibióticos potentes e de
largo espectro é considerado regra devido às patologias mais graves. A própria
infecção urinária já é a segunda razão mais comum para a prescrição de antibióticos
no mundo ocidental (MOURA et al., 2007; SCHOLLUM; WALKER, 2012).
De acordo com Lima et al. (2007) as ITUs acometem o sexo masculino e
feminino em qualquer faixa etária, sendo que os grupos mais comprometidos são
recém-nascidos do sexo masculino, meninas em idade pré-escolar, mulheres jovens
sexualmente ativas, homens com hiperplasia prostática e idosos de ambos os sexos.
Como a UTI é um setor hospitalar onde existem patologias complexas e com
alto nível de dependência, há uma maior demanda de pacientes restritos ao leito,
aumentando também a necessidade de cuidados. O Profissional tem o papel de
desempenhar assistência integral, aplicando ações de promoção da saúde nas quais
o profissional desenvolve processos de educação e atua promovendo o balanço
hídrico adequado, prevenindo ITU e promovendo cuidados importantes como a
higiene (CONTERNO; LOBO; MASSOM, 2011; MAZZO et al., 2011).
A realização e o acompanhamento do cateterismo urinário são parte do
trabalho da equipe de saúde, fator de manutenção da segurança e garantia de
qualidade da assistência prestada ao cliente. Na execução do cateterismo vesical,
em relação à atuação da equipe de saúde, faz-se necessária a implementação de
medidas pela gerência da UTI. Essas medidas objetivam minimizar a incidência e os
riscos dessas infecções, prevenindo-as pelo aprimoramento técnico-cientifico e
buscando um equilíbrio entre a segurança do paciente e o custo-benefício (MAZZO
et al., 2011; VIEIRA, 2009).
3 METODOLOGIA
. Para Vieira (2007), o estudo bibliográfico é aquele desenvolvido
exclusivamente a partir de fontes já elaboradas, livros, artigos científicos e
publicações periódicas. Tem como vantagem cobrir uma gama de fenômenos que o
pesquisador não poderia contemplar diretamente.
De acordo com Marconi e Lakatos (2009), a finalidade de um estudo
bibliográfico é colocar o pesquisador em contato direto com tudo que foi escrito, dito
ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates
que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas, quer gravadas.
A pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito
sobre certo assunto, como diz Marconi e Lakatos (2009), mas propicia o exame de
um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras.
Trata-se de uma revisão de bibliografia sistemática que foi realizada através
de uma busca em base de dados virtuais em saúde, especificamente na Biblioteca
Virtual de Saúde – BIREME. Utilizou-se publicações apresentadas no Sistema
Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências de Saúde (LILACS),
National Library of Medicine (MEDLINE), Bancos de Dados em Enfermagem
(BDENF) e Scientific Electronic Library (Scielo), no período de janeiro de 2007 a
junho de 2015, caracterizando assim o estudo retrospectivo, buscando nas fontes
virtuais, os anos, os periódicos, os métodos e os resultados comuns.
Empregou-se a estratégia de cruzamento dos seguintes descritores: infecção
hospitalar; cateter; assepsia; unidade de terapia intensiva; e trato urinário.
Inicialmente, pesquisou-se 81 publicações. Após uma análise, foram excluídas 12
publicações e fichadas 69 periódicos. Dentre os periódicos fichados, utilizou-se 21
publicações no estudo.
A análise dos resultados foi categorizada com os seguintes títulos:
Procedimento invasivo; Sexo e idade; Doenças de base; Tempo de cateterização e
permanência em unidade de terapia intensiva; Antibioticoterapia; Higienização das
mãos; Controle e vigilância epidemiológica.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apesar da Infecção do Trato Urinário ser preocupante, a evolução clínica dos
pacientes com essa infecção corresponde à transferência, cura e, em pequena
parcela, ao óbito. Tal fato pode se relacionar ao quadro desenvolvido pela maioria
dos casos clínicos de ITU. Pode-se observar esse evento nas evoluções dos casos
analisados no Hospital da Universidade Federal do Maranhão na pesquisa realizada
por Oliveira e Silva (2010), em que 55,6% foram transferidos, 22,2% obtiveram alta e
22,2% foram a óbito.
Moura et al. (2007), afirma que em Unidade de Terapia Intensiva os fatores
propícios para o desenvolvimento de IH podem ser diversos e dentre eles estão: o
tempo de permanência prolongado na unidade, a frequência de procedimentos
invasivos, a susceptibilidade dos pacientes, idade, sexo, uso de imunossupressores
e doenças de base.
4.1 PROCEDIMENTOS INVASIVOS
Diante dos artigos pesquisados na literatura pertinente, observou-se que o
cateterismo vesical de demora é considerado o principal procedimento invasivo
causador de infecção do trato urinário em pacientes de UTI.
A utilização do cateter vesical de demora é uma prática constante e se faz
pela debilidade do paciente, para o controle de diurese e também pela retenção
urinária causada pela raquianestesia utilizada em alguns dos procedimentos
cirúrgicos (HINRICHSEN et al., 2009).
Muitas vezes, a solicitação do cateter vesical de demora também ocorre para
resolver a incontinência urinária, evitando a necessidade de troca de roupas de
cama e fraldas, além de aliviar o trabalho e os cuidados junto ao leito. Porém, deve-
se levar em conta os riscos e benefícios de tal procedimento (CONTERNO; LOBO;
MASSON, 2011).
Essas informações são confirmadas por uma pesquisa realizada em um
Hospital Universitário de Minas Gerais. Do total de 1.889 pacientes internados em
UTI, 1.407 (74,6%) utilizaram procedimentos invasivos e, dentro os quais, 68,5% era
cateterismo vesical de demora (OLIVEIRA; KOVNER; SILVA, 2010).
Outra pesquisa corrobora com essa afirmação, em que dos 590 pacientes
internados em UTI geral de um Hospital Universitário de Presidente Dutra, 81,3%
submeteram-se ao cateterismo vesical de demora (OLIVEIRA; SILVA, 2010)
4.2 SEXO E IDADE
Com 77,8% das uroculturas positivas, pessoas do sexo feminino possuem
maior probabilidade de adquirir ITU devido a vários fatores, dentre eles: alterações
anátomo - funcionais da bexiga; menopausa; infecções recorrentes; e o
comprimento da uretra e sua proximidade da abertura anal. Em homens, pode-se
deduzir uma menor frequência, uma vez que possuem a uretra longa e a ação
antibacteriana do líquido prostático. Assim, quando ocorre em homens, a ITU pode
estar associada à obstrução da próstata, cálculo vesicular, cateterismo e diabetes,
que são problemas mais sérios (OLIVEIRA; SILVA, 2010).
A ITU prevalece entre as mulheres, principalmente naquelas maiores de 40
anos, pois existem poucos métodos não invasivos para substituir o cateterismo
vesical de demora. Já os homens têm um índice menor de infecção pela existência
de alternativas não invasivas que possam substituir o cateterismo, como os
“condons”, também conhecidos como cateteres externos (LIMA et al., 2012).
No estudo realizado em uma UTI geral do Hospital Universitário de Presidente
Dutra, 88,9% dos pesquisados com urocultura positiva das uretras possuíam mais
de 40 anos de idade, comprovando a importância desse fator de risco (OLIVEIRA;
SILVA, 2010).
No estudo realizado por Cyrino e Stuchi (2015), 83,3% dos pacientes com
ITU, eram idosos, justificando as alterações fisiológicas próprias do envelhecimento
e o declínio da resposta imunológica, principalmente quando exposto a um
procedimento invasivo.
4.3 DOENÇAS DE BASE
Pacientes portadores de doenças crônicas, como Diabetes Melittus e
Cardiopatia Isquêmica, são mais fragilizados, o que aumenta o risco de infecção
hospitalar em sete vezes. A infecção do trato urinário ocorre com maior gravidade
em pacientes com Diabetes Melittus e fatores como a idade, controle metabólico e
alterações do sistema imune podem aumentar o risco à ITU. Uma das complicações
adquirida pelo paciente, em longo prazo, é a nefropatia (LISBOA et al., 2007;
FUNFSTUCK et al., 2012).
Pacientes oncológicos também podem apresentar diversas complicações,
devido à infecção urinária associada ao cateter, pois as infecções relacionadas a
esse procedimento afetam diretamente o tratamento do câncer (WADA; KUMON,
2012).
Complicações comuns à ITU, principalmente se o paciente já for debilitado,
são as seguintes: cistite; prostatite; e bacteremia secundária/sepse (PINA et al.,
2010).
A presença de patologias de base e doenças crônicas, como diabetes, causam
alterações na resposta imune o que favorece a proliferação de microorganismos e a
instalação de infecções (CYRINO; STUCHI, 2015).
4.4 TEMPO DE CATETERIZAÇÃO E PERMANÊNCIA EM UNIDADE DE TERAPIA
INTENSIVA
Outro fator de risco de grande relevância é a duração do tempo em que o
cateter está inserido no paciente, em consequência de um grande tempo de
internação, aumentando o risco de desenvolvimento de complicações (BERNARD;
HUNTER; MOORE, 2012).
No resultado da pesquisa realizada em um Hospital Universitário de Minas
Gerais, dos 151 pacientes que ficaram internados por mais de quatro dias, 114
(77%) desenvolveram IH, comprovando que o tempo prolongado de internação é um
fator bastante influente (OLIVEIRA; KOVNER; SILVA, 2010).
Confirmando o grau de importância desses fatores, pode-se observar em uma
pesquisa realizada na UTI de um Hospital Público de Recife que, dos 38 pacientes
internados, o uso e a permanência de cateter vesical de demora variou
aproximadamente entre 5 e 20 dias, em 25 pacientes. E destes, 14 apresentaram
ITU após dez dias de permanência do cateter (CONTERNO; LOBO; MASSOM,
2011).
Um período de cateterismo relativamente curto, utilizado em média de 3,5
dias, não ocasionou ITU em um Hospital Universitário de Taubaté. Assim, o cateter
vesical de demora deve ser utilizado por um menor período de tempo possível, no
entanto é um desafio encontrar métodos que drenem a bexiga e que conservem o
seu mecanismo de defesa (SOUZA et al., 2008).
No estudo realizado por Cyrino e Stuchi (2015) pode-se observar a nítida
relação entre a duração do cateter vesical de demora e o desenvolvimento da ITU,
quando observou-se que nas enfermarias clinicas a incidência foi maior do que nas
enfermarias cirúrgicas onde os pacientes passam menos tempo sondados.
4.5 RESISTÊNCIA BACTERIANA
Um fator também bastante comum em UTI é a troca constante de antibióticos
em um mesmo paciente, o que possibilita uma multirresistência antimicrobiana. Essa
troca ocorre em decorrência da falta de medicamento na instituição ou até mesmo
devido ao aparecimento de novas patologias (CONTERNO; LOBO; MASSOM,
2011).
Uma estratégia adequada de ação no tratamento de infecção com
antibioticoterapia consiste na identificação do foco infeccioso, no exame
microbiológico para especificar o patógeno e no início rápido da terapêutica em
doses adequadas, evitando assim, o uso desnecessário de antimicrobianos que é o
fator primordial para a resistência bacteriana. Uma revisão diária com testes de
sensibilidade dos agentes isolados é fundamental para uma suspensão ou
adequação da terapêutica com antibióticos (PINA et al., 2010).
4.6 HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
Uma estratégia simples e necessária para evitar infecção é a higienização das
mãos. Porém, essa prática ainda é pouco realizada pelos profissionais, uma vez que
possuem uma baixa percepção da importância dessa ação.
Foi observado em uma pesquisa realizada em um hospital de Minas Gerais
que, apesar da disponibilidade de equipamentos, produtos e cartazes explicativos
para a lavagem adequada das mãos, os profissionais não realizaram a prática de
acordo com o informe técnico. O principal obstáculo citado pelos profissionais é de
que o grande volume de atividades nas unidades de saúde torna comum uma
técnica de lavagem das mãos rápida e desatenta que, associada a não retirada dos
adornos, aumenta o risco de infecção, principalmente em pacientes mais vulneráveis
como aqueles que se encontram nas UTIs (SOUZA et al., 2008).
Por ser um procedimento largamente utilizado em UTIs e o que mais
proporciona riscos de infecção do trato urinário, o cateterismo vesical de demora
deve ser realizado criteriosamente. Os profissionais devem seguir técnicas rigorosas
de antissepsia e manuseio durante o procedimento, porém nem sempre é o que
ocorre.
A técnica adequada de lavagem das mãos não deve ser enfatizada apenas no
momento de inserção do cateter vesical de demora. Durante a manutenção do
cateter, a lavagem das mãos também deve ser cuidadosamente realizada.
Entretanto, de acordo com os artigos analisados, esse procedimento não acontece
sempre.
Em uma pesquisa realizada em seis hospitais do município de Goiânia-GO,
dados mostraram que apenas em 2 (3,7%) das 54 manutenções de cateter vesical
de demora houve higienização prévia das mãos e em 17 (31,5%) houve a
higienização após o procedimento. Na mesma pesquisa, das 54 manutenções
observadas, 16 (29,6%) utilizaram luvas e 17 (31,5%) utilizaram recipientes limpos e
exclusivos para desprezar o conteúdo da bolsa coletora. Esses cuidados assépticos
durante a manutenção se tornam um desafio, pois a permanência do cateter vesical,
que é um corpo estranho inserido em um meio antes estéril, torna-se uma porta de
entrada para os microrganismos (SOUZA et al., 2007).
Vale ressaltar que é de extrema importância que toda a equipe esteja em
sintonia com as suas atitudes. Se não ocorrer o envolvimento de todos os
profissionais, o trabalho que a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH)
preconiza não terá valor usual (Souza et al, 2008).
4.7 INTERVENÇÕES DA EQUIPE INTERDISCIPLINAR
Embora algumas infecções possam ser inevitáveis, o que é um preço a se
pagar pelos avanços das técnicas realizadas, um número significativo de infecções é
passível de prevenção (PINA et al., 2010).
A ITU por cateterismo vesical de demora pode ser considerada um indicador
clínico da qualidade de assistência, justamente por existirem medidas efetivas e
conhecidas para evitar este tipo de infecção (CONTERNO; LOBO; MASSOM, 2011).
A utilização das intervenções de saúde podem reduzir o tempo de
cateterização e, consequentemente, a incidência de infecção urinária associada ao
cateter (BERNARD; HUNTER; MOORE, 2012).
A formação profissional é o momento propício para o aprendizado sobre o
controle de IH, construindo uma conduta baseada em uma técnica consistente,
fazendo com que o profissional adquira práticas futuras mais seguras e
competentes. A assistência de saúde deixou de ser exercida por práticos e passou a
ser desenvolvida por profissionais devidamente qualificados. Porém, o conhecimento
necessário dos profissionais de saúde para prevenir a ampliação de IH não
acompanha os avanços das técnicas de forma eficaz (SOUSA et al., 2009).
A participação da equipe interdisciplinar vem no sentido de minimizar as
consequências do cateterismo vesical de demora, pois esse profissional é
responsável pela coordenação da equipe de enfermagem, implantação das normas
e rotinas, além de aperfeiçoar os cuidados prestados através de uma formação
continuada. Mediante esse contexto, não se pode deixar de enfatizar o papel
gerencial do enfermeiro, visto que ele atua efetivamente na prevenção de infecção
do trato urinário em UTI (SOUZA et al., 2007; VIEIRA, 2009).
O papel gerencial de uma equipe interdisciplinar pode ser observado na
pesquisa realizada em hospitais do interior de São Paulo, onde o planejamento e
adoção de protocolos de cateterismo urinário foram realizados por enfermeiros
sendo que 44,4% eram enfermeiros do Serviço de Educação Continuada, 22,2%
eram enfermeiros da UTI, 2,22% eram enfermeiros do Serviço de Controle de
Infecção Hospitalar e 11,1% eram enfermeiros da Clínica de Internação (MAZZO et
al., 2011).
Estudos têm demonstrado que o uso de protocolos específicos por parte dos
enfermeiros para a realização de cateterismo vesical reduz a incidência de ITU
(SCHNEIDER, 2012).
O acompanhamento de protocolos criado pela instituição é um ponto
necessário para a redução de ITUs, porém, alguns profissionais relatam dificuldade
em segui-los, uma vez que trabalham em vários locais e nem sempre adotam a
padronização de uma das instituições. Isso ocorre por sentirem insegurança, devido
as diferentes maneiras como as técnicas do procedimento são descritas (MAZZO et
al., 2011).
Os protocolos padronizados para a realização do processo de cateterização
vesical configuram-se como ferramentas úteis na redução de infecção hospitalar,
uma vez que permitem avaliações sistemáticas das intervenções e,
consequentemente, proposições de estratégias educativas direcionadas e melhor
estruturadas (MENEGUETI, 2012).
O registro nos prontuários dos procedimentos realizados também é uma
atividade valiosa na sistematização da assistência, visto que toda a equipe
multiprofissional dará uma continuidade adequada dos cuidados ao paciente. Porém,
em uma pesquisa realizada em um hospital de São Paulo, dos 23,3% dos pacientes
que usaram o cateter vesical de demora, o procedimento não foi registrado. Essa
mesma problemática também é notória em nove instituições de saúde do interior de
São Paulo, pois apenas cinco instituições relatam o registro em prontuários (MAZZO
et al., 2011; CONTERNO; LOBO; MASSOM, 2011).
A educação continuada da equipe em UTI consiste tanto na realização dos
procedimentos, como também no registro adequado das técnicas utilizadas, para
que assim, possa orientar toda a equipe multidisciplinar. O registro no prontuário
deve ser de forma clara e objetiva, quando da inserção ou retirada do cateter vesical
de demora pela equipe (OLIVEIRA; SILVA, 2010).
A importância da cateterização intermitente, uma consideração rigorosa das
indicações clínicas e promoção de remoção precoce do cateter são intervenções
que devem ser incorporadas na prática diária da equipe (PINA et al., 2010).
4.8CONTROLE E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
Um controle de IH bem desenvolvido, associado com vigilância
epidemiológica, precaução padrão (definida pelos protocolos da instituição),
materiais e equipamentos adequados, higienização de ambiente, identificação de
bactérias multirresistentes e antibioticoterapia adequada, pode interferir causando
uma redução das taxas de Infecção Hospitalar (MOURA et al., 2007; SCHNEIDER,
2012).
Para haver o conhecimento da frequência e o controle dessa infecção, faz-se
necessária uma vigilância permanente por parte da CCIH para que seja realizada
uma prevenção adequada e efetiva. A eficácia das intervenções para a prevenção e
controle das infecções dependem de como são definidos e implementados os
programas da CCIH, devendo haver uma abordagem prioritária, sistemática e
contínua nas instituições de saúde (PINA et al., 2010).
Entre as medidas profiláticas pode ser acrescentado o incentivo à substituição
da cateterização vesical pelo uso de “condom” pela população masculina e a
substituição por fraldões com reforço da higiene perineal. Pode-se, ainda, medir o
risco diário de ITU em pacientes com cateterização vesical para iniciar, se
necessário, o tratamento rapidamente, identificando a presença de bactérias e
monitorando-as para verificar se a utilização de Antibioticoterapia estaria
funcionando (LIMA et al., 2012).
A auditoria às práticas de higiene das mãos também funciona como uma
escolha para intervir na ITU, pois determina as taxas de adesão, cria indicadores de
qualidade, avalia a condição de desempenho dos procedimentos, além de alertar os
profissionais para a importância do ato conseguindo um efeito de promoção da
técnica adequada de lavagem das mãos e prevenção de infecção do trato urinário.
Prevenir a utilização do cateter vesical de demora ainda é considerado a
medida mais eficiente para evitar ITU e, consequentemente, a morbidade e
mortalidade. Porém, se a sua utilização não puder ser evitada, o profissional deve
conhecer as características e indicações do cateterismo vesical de demora, tendo
por base uma análise de custo-efetividade e de custo-benefício (OLIVEIRA; SILVA,
2010; PINA et al., 2010).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A infecção hospitalar é observada constantemente em Unidade de Terapia
Intensiva, pois é um setor onde permanecem pacientes imunologicamente
comprometidos.
A infecção do trato urinário é uma das mais comuns infecções dentre as que
ocorrem em UTI, devido a diversos fatores como: ambiente; resistência bacteriana;
sexo; idade; constante realização de procedimentos invasivos; doenças de base; e
assistência inadequada.
O cateterismo vesical de demora foi o procedimento mais citado como
causador de ITU em UTI, pois seu uso é contínuo, uma vez que os pacientes de
Unidade de Terapia Intensiva estão debilitados e necessitam de avaliação constante
do débito urinário. A permanência e técnica de inserção do cateter foram pontos
relevantes observados na prevenção de ITU.
As intervenções existentes para prevenir ou reduzir os índices de ITU são
simples e de grande importância. Ações triviais como lavagem das mãos,
planejamento e adoção de protocolos nas instituições, conhecimento da
sensibilidade dos agentes infecciosos do setor, registro em prontuários, substituição
do cateter vesical de demora por procedimentos não invasivos e uma educação
continuada baseada na conscientização da prática de uma assistência qualificada
foram algumas medidas encontradas que podem reduzir e, até mesmo, resolver o
problema de infecção do trato urinário em Unidade de Terapia Intensiva. Vale
ressaltar que estas ações não dependem apenas da equipe em UTI, apesar dela
estar envolvida diretamente, mas sim, de toda a equipe multiprofissional.
REFERÊNCIAS
ALVES, M. Como escrever teses e monografia. Um roteiro passo a passo. 2 ed. Rio de Janeiro: Campos, 2007.
BERNARD, M.S.; HUNTER, K.F.; MOORE, R.N. A review of strategies to decrease the duration of indwelling urethral catheters and potentially reduce the incidence of catheter-associated urinary tract infections. Source Urologic Nursing, v. 32, n. 1, p. 29-37, jan. /feb., 2012.
CYRINO, A.C.T; STUCHI, R.A.G. Infecção do trato urinário em um hospital de uma cidade no interior de Minas Gerais. Revista de Enfermagem da Universidade Federal Juiz de Fora, v. 1, n. 1, p. 39-44, jan./jun., 2015
CONTERNO, L. de O.; LOBO, J.A.; MASSON, W. Uso excessivo do cateter vesical em pacientes internados em enfermarias de hospital universitário. Revista da Escola de Enfermagem- USP, v. 45, n. 5, p.1089-96. 2011. FUNFSTUCK, R. et al. Urinary tractinfection in patients with diabetes mellitus. SourceClinical Nephrology, v.77, n.1, p.40-48, jan., 2012.
HINRICHSEN, S.C.A. et al. Fatores associados à bacteriúria após sondagem vesical na cirurgia ginecológica. Revista da Associação Medica Brasileira, v. 55, n. 2, p.181-7. 2009.
LIMA, L.S. et al. Infecções do trato urinário em pacientes com Sonda vesical de demora internados em uma Unidade de terapia intensiva do recife (Pe), brasil. Revista Enfermería Global, Recife, n. 11, nov. 2007.
LISBOA, T. et al. Prevalência de Infecção Nosocomial em Unidades de Terapia Intensiva do Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v. 19, n. 4, p. 414-420, out. /dez. 2007.
MAZZO, A. et al. Cateterismo urinário: facilidades e dificuldades relacionadas à sua padronização. Revista Texto & Contexto e Enfermagem, Florianópolis, v. 20, n.2, p. 333-9, Abr. /Jun. 2011 .
MARCONI, M.A.; LAKATOS, M,E. Fundamentos de Metodologia Ciêntífica. 6. ed. -7. reimpr. São Paulo: Atlas, 2009. 315 p.
MENEGUETI, M.G. et al. Infecção urinária em unidade de terapia intensiva: um indicador de processo para prevenção. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste. v. 13, n. 3, p. 632-638, abr. 2012.
MOURA, M.E.B. et al. Infecção Hospitalar: estudo de prevalência em um hospital público de ensino. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 60, n. 4, p. 416-21, jul/ago. 2007.
OLIVEIRA, A.C; KOVNER, C.T; SILVA, R.S. Infecção hospitalar em unidade de tratamento intensivo de um hospital universitário brasileiro. Revista Latino-Americana Enfermagem, v. 18, n. 2, p. 97-104, mar./abr., 2010.
OLIVEIRA, A.C.C.; SILVA, A.C.O. Prevalência de infecção do trato urinário relacionando ao cateter vesical de demora em pacientes em UTI. Revista Pesquisa Saúde, v. 11, n. 1, p. 27-31, jan. /abr. 2010. PINA, E. et al. Infecções associadas aos cuidados de saúde e segurança do doente. Revista Portuguesa Saúde Pública, v. 10, p.27-39., 2010.
SANTOS, F.M.; GONÇALVES, V.M. da S. Lavagem das mãos no controle da infecção hospitalar: um estudo sobre a execução da técnica. Revista Enfermagem Integrada, v. 2, n. 1. Jul./Ago., 2009.
SCHNEIDER, M.A. et al. Prevention of catheter-associated urinary tract infctions in patients with hip fractures through education of nurses to epecific catheter protocols. SouceeOrthopaedic Nursing, v.31, n.1, p.12-18, jan. /feb. 2012.
SCHOLLUM J.B.; WALKER R.J. Adult urinary tract infection. Br J Hosp Med (Lond), v. 73, n. 4, p. 218-223, apr. 2012.
SOUSA, C. M. M de. et al. Responsabilidade civil dos profissionais de enfermagem nos procedimentos invasivos. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 65, n. 5, p. 717-722, set./out. 2009.
SOUZA NETO, J.L. et al. Infecção do trato urinário relacionada com a utilização do cateter vesical de demora: resultados da bacteriúria e da microbiota estudadas. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, v. 35, n. 1, jan./fev. 2008.
SOUZA, A.C.S. et al. Cateterismo urinário: conhecimento e adesão ao controle de infecção pelos profissionais de enfermagem. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 9, n. 3, p. 724-735, set./dez. 2007.
VIEIRA, F.A. Ações de enfermagem para prevenção de infecção do trato urinário relacionada ao cateter vesical de demora. Revista Einstein. v. 7, n. 3, p. 372-375, maio./jul. 2009.
WADA, K; KUMON, H. Managements of urinary catheterization and urinary tract infection in cancer patients. SourceGan to Kagaku Ryoho, v. 39, n. 2, p. 169-173, feb., 2012.
Top Related