UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DEPARTAMENTO DE PESQUISA
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA –
PIBIC: CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT,
PADRC E FAPESPA
RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO
Período: 08 / 2016 a 01 / 2017
(X) PARCIAL
( ) FINAL
Identificação do Projeto
TÍTULO DO PROJETO DE PESQUISA:
A clínica de Cuidados paliativos e o luto numa perspectiva fenomenológica-existencial: os
sentidos do sofrimento.
Nome do Orientador: Airle Miranda de Souza
Titulação do Orientador: Doutora
Faculdade: Psicologia
Departamento: Psicologia Social e Escolar
Instituto/Núcleo: IFCH – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
TÍTULO DO PLANO DE TRABALHO:
Estudos sobre o luto na abordagem gestáltica (2005-2015): revisão integrativa da literatura
Área: Ciências Humanas
Nome do Bolsista: Gessica Lima dos Santos
Tipo de Bolsa: PIBIC / UFPA
INTRODUÇÃO
A morte e as perdas, de modo geral, fazem parte da vida e são muitas vezes inevitáveis
e necessárias ao desenvolvimento humano. A experiência da morte pode diferir em cada
sociedade, pois seus significados são diversos e sua vivência é específica de acordo com os
grupos. Desse modo, a morte é influenciada pela cultura, correspondendo aos diferentes
contextos em que ela ocorre (MARTINS; LIMA, 2014; RODRIGUES; ZAGO, 2012).
Com o estabelecimento de laços afetivos, o apego torna-se algo natural para todo
indivíduo, e quando esses laços significativos são rompidos, ocorre um grande abalo
emocional. Nesse sentido, toda perda significativa pressupõe o luto, que pode ser
compreendido como um processo de ajustamento mediante as perdas. Sua intensidade pode
ser variável, dependendo do nível de apego estabelecido pela pessoa enlutada (MARTINS;
LIMA, 2014).
O luto identifica-se como um conjunto de reações frente às perdas, configurando-se
como um processo, e não como um estado. Sua vivência expressa os sentimentos mais
profundos e particulares da existência, onde o indivíduo percorre um caminho de duas vias: a
busca pela preservação da lembrança e a abertura para a criação de novos laços afetivos
(MARTINS; LIMA, 2014).
De acordo com Parkes (2010) o luto é o preço que pagamos pelo compromisso, sendo
a expressão dos vínculos que as pessoas estabelecem umas com as outras (PARKES,1998).
Em hospitais gerais, o luto incide em pelo menos quatro situações (Solano, 2006): (1) luto do
paciente quando recebe a notícia de estar com alguma doença incurável, ou percebe a
progressão inexorável de suas limitações e vê que a morte se aproxima; (2) luto da família ao
acompanhar o declínio funcional de seu ente querido; (3) luto dos sobreviventes (familiares e
amigos) após a morte do paciente; (4) luto da equipe saúde.
Por sua vez, a Gestalt-Terapia é uma terapia Humanista, Existencial e Fenomenológica
fundada por Fritz Perls e sua esposa Laura Perls, na década de 1940. Em seu aporte teórico e
prático, ela ensina a terapeutas e clientes o método fenomenológico de awereness,que consiste
em perceber, sentir e atuar, buscando ultrapassar as explicações e interpretações e estabelecer
um diálogo efetivo entre terapeuta e cliente (YONTEF, 1993).
Atualmente, a Gestalt-Terapia é praticada em diversos contextos e possui objetivos
diversos: psicoterapia individual, psicoterapia infantil, terapia de casais, terapia familiar,
grupos de desenvolvimento pessoal, entre outros. Destina-se a quem esteja buscando
desabrochar seus potenciais latentes, através da tomada de consciência global do
funcionamento e da integração das experiências no presente. Assim, a Abordagem Gestáltica
enfatiza a formação e plenitude do potencial humano, fomentando novas formas de ser no
mundo (GINGER, 1995).
Neste estudo, por meio de uma pesquisa bibliográfica, nosso objetivo é investigar os
estudos que ocuparam-se em discutir a experiência do luto sob a luz da abordagem gestáltica
no período compreendido entre 2005-2015. Assim, estamos interessados em responder: quais
os estudos desenvolvidos? Quais os objetivos e os métodos utilizados? Quais os
colaboradores dos estudos e os tipos de perdas foco da atenção? Como o luto vem sendo
abordado de acordo com esse referencial? Quais os resultados obtidos e suas contribuições à
clínica do luto?
JUSTIFICATIVA
O luto compreende um conjunto de reações emocionais, físicas, comportamentais e
sociais que aparecem como resposta a uma perda - seja uma perda real ou fantasiosa (perda de
um ideal, de uma expectativa, medo de perder), seja uma perda por morte ou pela
cessação/diminuição de uma função, possibilidade ou oportunidade (PARKES, 1998).
É compreendido como uma experiência normal, sendo que a maioria dos enlutados
elaboram a perda e retomam suas atividades habituais, adaptando-se a ausência da pessoa
amada. Contudo, em alguns casos pode ocorrer um desvio nesse processo, resultando em
intenso sofrimento e limitações no viver, culminando na vivência de um luto complicado.
Como destaca Franco (2015), pesquisar sobre o luto não é prerrogativa de um único
campo de saber. O fenômeno, como ressalta essa autora, se presta a diversos olhares, como os
da psiquiatria, da psicanálise, da psicologia, entre outras. Cabe então responder como o luto
vem sendo abordado sob a luz da abordagem gestáltica.
Portanto, este estudo para além de uma compreensão psicopatológica e medicalizante
sobre o luto, propõem-se abordá-lo como uma experiência significativa e singular, promotora
de desenvolvimento humano, chamando atenção sobre os estudos desenvolvidos e suas
contribuições sobre a clínica do luto.
OBJETIVOS
Objetivo geral
Investigar os estudos que ocuparam-se em discutir a experiência do luto tendo como
base a Abordagem Gestáltica no período compreendido entre 2005-2015.
Objetivos específicos
- Identificar os objetivos dos estudos e os métodos utilizados;
- Investigar os colaboradores e os tipos de perdas abordadas;
- Identificar como o luto vem sendo abordado segundo esse referencial;
- Identificar os resultados obtidos e suas contribuições à clínica do luto.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para a construção do presente estudo foi realizado levantamento bibliográfico
sistemático nas seguintes bases de dados: 1- SciELO – Scientific Electronic Library Online
(http://www.scielo.org/php/index.php); 2 – LILACS – Literatura Latino-Americana e do
Caribe em Ciências da Saúde (http://lilacs.bvsalud.org/); 3 – PEPSIC – Periódicos Eletrônicos
em Psicologia (http://pepsic.bvsalud.org/); 4 – Banco de Teses Brasileiras da Capes
(http://bancodeteses.capes.gov.br/banco-teses/#/); 5 – Google Acadêmico
(https://scholar.google.com.br/), incluindo livros produzidos na área. Os critérios de inclusão
foram: estar inserido no período que abrange 2005 a 2015; abordar a temática do luto; ter
como referencial teórico a Abordagem Gestáltica.
Foram utilizados nas bases os seguintes descritores: Luto, Gestalt, Gestalt-Terapia e
Abordagem Gestáltica, considerando os últimos 10 anos. Quanto às categorias de análise,
foram trabalhadas neste relatório: 1 – Levantamento bibliográfico: resultados 2- objetivos dos
estudos; 3- Métodos; 4 – Perdas significativas e população foco dos estudos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
1 – Levantamento bibliográfico: resultados
Na presente revisão integrativa, foram selecionados e analisados cinco materiais que
atenderam aos critérios de inclusão pré-estabelecidos. Foram encontrados diversos artigos que
abordavam a temática do luto, entretanto, alguns não preenchiam o critério de tempo e outros
eram fundamentados a partir de outros referenciais teóricos que não o proposto: Psicanálise,
Teologia, Abordagem Sistêmica, Abordagem Fenomenológica, Antropologia Médica e Teoria
do Apego. A saber, a maioria dos artigos encontrados era embasada na Teoria do Apego de
Bowlby.
Com a combinação dos descritores Luto x Gestalt, foi encontrado 1 resultado no
Lilacs, mas foi descartado por não se encaixar no critério de tempo. No Scielo, não foi
encontrado nenhum resultado. Na base Pepsic, foram encontrados 2 resultados e selecionado
1 artigo. No Banco de Teses Brasileiras da Capes, foram encontrados 864 resultados, e dentre
estes, selecionados apenas 2 materiais. No Google Acadêmico, foram encontrados 939
resultados, mas nenhum material foi selecionado.
Com a combinação dos descritores Luto x Gestalt-Terapia foi encontrado 1 resultado
no Pepsic, mas este já havia sido coletado em outra base. No Lilacs, foi encontrado 1
resultado, mas não foi selecionado por não atender aos critérios de inclusão. No Banco de
Teses, foram encontrados 44 resultados, mas nenhum material foi selecionado. No Scielo não
foram encontrados resultados, e no Google Acadêmico, foram encontrados 240 resultados,
onde foram selecionados 2 artigos.
Com a combinação dos descritores Luto x Abordagem Gestáltica, não foram
encontrados resultados no Pepsic, Lilacs e Scielo. No Banco de Teses, foram encontrados 184
resultados e no Google Acadêmico, 317. Entretanto, não foi selecionado nenhum material. No
quadro 1 identificamos o número de materiais selecionados nas bases de dados por descritor:
Quadro 1 – Número de materiais selecionados nas bases de dados por descritor
Descritores/ Bases de dados Scielo Pepsic Lilacs Banco De Teses Google
AcadêmicoLuto x Gestalt --- 1 --- 2 ---Luto x Gestalt-
Terapia --- --- --- --- 2
Luto x Abordagem Gestáltica
--- --- --- --- ---
Fonte: A autora da pesquisa, 2016.
Dos materiais selecionados, temos: três artigos científicos publicados em periódico,
uma tese de doutorado e uma dissertação de mestrado. Dois artigos consistem em estudos
teóricos e um é de natureza qualitativa, desenvolvido em consultório clínico a partir de
sessões de psicoterapia. A tese de doutorado foi desenvolvida através de entrevistas em
diferentes locais e a dissertação de mestrado foi desenvolvida no contexto hospitalar. Quanto
ao tipo de revista, os três artigos científicos foram publicados em revistas nacionais de
psicologia, voltadas predominantemente para trabalhos em Gestalt-Terapia. No quadro 2
podemos visualizar a identificação dos artigos quanto ao título, autor, ano, periódico,
descritores e tipo de estudo:
Quadro 2 - Dados de identificação dos materiais selecionados
TÍTULO AUTOR ANOPERIÓDICO/ORIGEM DA
PUBLICAÇÃODESCRITORES TIPO DE
ESTUDO OBJETIVO
A dor da perda amorosa e a
Gestalt-TerapiaSarah Lima 2008 IGT na Rede
Relação Amorosa; Separação
Amorosa; Perda; Dor.
Estudo teórico
Este estudo teve como objetivo compreender,
através do olhar da Gestalt-terapia, a dor
sentida pelo indivíduo acometido
pelo fim de seu relacionamento
amoroso.
Contribuições da Gestalt-Terapia
para os enfrentamentos
dasperdas e da morte
Marize Martins;
Patrícia Lima;2014 IGT na Rede
Psicologia; perdas; Morte; Luto; Gestalt-
Terapia
Estudo Teórico
O presente trabalho tem como objetivo principal estudar as
contribuições daAbordagem
Gestáltica no enfrentamento de
situações que envolvam perdas e
morte.
Viuvez e Luto Sob a Luz da
gestalt-terapia:experiências de perdas e ganhos
Lívia Ferreira;
Nara Leão;Celana
Andrade
2008 Revista de Abordagem Gestáltica
Luto; Viuvez; Método
Fenomenológico; Terapia Gestalt;
Psicoterapia.
Abordagem qualitativa
fenomenológica
O objetivo deste artigo é abordar as
experiências vividas pela pessoa que enfrenta o luto,
especificamente pela morte do cônjuge.
Além disso, intenciona-se investigar se a
pessoa viúva pode obter benefícios com
um acompanhamento
psicoterapêutico na abordagem gestáltica.
O processo de luto do filho da
pessoa que cometeu suicídio
(Tese de doutorado)
Karina Fukumitsu 2013 Universidade de São
Paulo
Suicídio; Luto (estado
emocional); Prevenção do
suicídio; Comportamento autodestrutivo; Suicidologia.
Abordagem qualitativa
Este estudo teve como objetivo a compreensão do
processo de luto do (a) filho (a) a pessoa
que cometeu suicídio.
Psicoterapia breve gestaltica
para homens comhiv/aids em contexto de
clinica ampliada (Dissertação de
Mestrado)
Warlington Lobo 2013 Universidade Federal do
Pará
Psicoterapia breve;
HIV/AIDS; Gestalt-Terapia;
Clínica Ampliada.
Abordagem clínico-
qualitativa, utilização do
método fenomenológico,
referencial teórico da
Gestalt-Terapia.
O presente trabalho visou investigar qual
a importância da Psicoterapia em
homens doentes de aids marcados pela proximidade com a morte ou a finitude
existencial internados em uma
enfermaria hospitalar.
Fonte: A autora da pesquisa, 2016.
Todos os materiais selecionados foram produzidos no Brasil. Os temas abordados
correlacionam o luto e a Gestalt-Terapia dentro de diferentes contextos, tais como o
rompimento amoroso, suicídio, viuvez e hospitalização por doença crônica. Com a finalidade
de facilitar a leitura deste relatório, os estudos serão classificados como: Estudo 1 (A dor da
perda amorosa e a Gestalt-Terapia, 2008); Estudo 2 (Contribuições da Gestalt-Terapia para os
enfrentamentos das perdas e da morte, 2014); Estudo 3 (Viuvez e luto sob a luz da Gestalt-
Terapia: experiências de perdas e ganhos, 2008); Estudo 4 (O processo de luto do filho da
pessoa que cometeu suicídio, 2013) e Estudo 5 (Psicoterapia breve gestáltica para homens
com HIV/AIDS, 2013).
2 – Objetivos dos estudos
O Estudo 1 teve como objetivo compreender, através do olhar da Gestalt-Terapia, a dor
sentida pelo indivíduo acometido pelo fim de seu relacionamento amoroso. De acordo com
autora, a construção do estudo constitui-se como importante mediante a prática clínica,
possibilitando maior compreensão sobre a experiência da perda amorosa enquanto demanda
contemporânea.
O Estudo 2 teve como objetivo principal estudar as contribuições da Abordagem
Gestáltica no enfrentamento de situações que envolvem perdas e mortes. Ao contrário do
estudo anterior que é voltado para uma perda específica (rompimento amoroso), esse estudo
pretendeu refletir sobre a morte e o luto de modo amplo. Além de abordar a morte e o morrer,
as autoras tratam sobre a origem e fundamentos da Gestalt-terapia, bem como os aspectos
teóricos mais relevantes da abordagem. Desse modo, o artigo trabalha os seguintes capítulos:
1 - Considerações sobre perdas e mortes (Contexto sócio-histórico do homem diante da morte;
A morte na contemporaneidade) 2 – Perdas e vivência do luto (O processo do luto;
Determinantes do luto; Luto patológico); 3 – Gestalt-Terapia (Bases filosóficas da Gestalt-
Terapia; Aspectos teóricos relevantes da Gestalt-Terapia; Sobre a neurose; Mecanismos
neuróticos; Contribuições da Gestalt-Terapia no enfrentamento das perdas e da morte; O
processo de vinculação-contato (formação de gestalten em situações de perdas e morte); O
processo de vinculação-afastamento (fechamento de gestalten em situação de perdas e
morte)).
O Estudo 3 teve como objetivo abordar as experiências vividas pela pessoa que
enfrenta o luto, especificamente pela morte do cônjuge, bem como investigar se a pessoa
viúva pode obter benefícios com um acompanhamento psicoterapêutico na Abordagem
Gestáltica. Essa pesquisa teve como base a seguinte reflexão central: quando morre um dos
membros do casal, o que acontece com aquele que fica? O Artigo aborda as seguintes
categorias: viuvez e luto, psicoterapia com o enlutado na Abordagem Gestáltica, a vivência do
casamento, a morte do cônjuge, resolução, processo psicoterapêutico e benefícios obtidos com
a psicoterapia.
O Estudo 4 teve como objetivo a compreensão do processo de luto do (a) filho (a) da
pessoa que cometeu suicídio. Trata-se de uma tese de doutorado, a qual abordou os seguintes
tópicos: prevenção e posvenção do suicídio, atualização do enlutamento, “quem mata quem
quando acontece o suicídio?”, o luto por suicídio e o processo de luto do filho da pessoa que
cometeu o suicídio. Além disso, é apresentado o percurso metodológico da pesquisa bem
como as entrevistas que embasaram o trabalho.
Por sua vez, o Estudo 5 teve como objetivo investigar qual a importância da
psicoterapia em homens doentes de HIV/AIDS marcados pela proximidade com a morte ou a
finitude existencial, internados em uma enfermaria hospitalar. O trabalho também teve como
objetivo incentivar os participantes da pesquisa a vivenciar a atenção à própria saúde
reconhecendo-a enquanto um direito de cidadania básico a todos os homens. Foram abordados
os seguintes tópicos: HIV/AIDS: uma leitura das ressonâncias a saúde dos homens no Brasil;
vulnerabilidade, homens e AIDS; breve histórico da psicologia clínica; a psicologia clínica
moderna e a clínica ampliada; psicoterapia breve gestáltica; adesão do indivíduo ao
tratamento. Além disso, é apresentada a metodologia da pesquisa e as entrevistas que
construíram o estudo.
3 – Métodos dos estudos
Conforme pode ser verificado no Quadro 2, os trabalhos utilizados na construção
dessa pesquisa são classificados, de acordo com a sua natureza e método utilizado: Estudos 1
e 2 (estudos teóricos, utilizando o método da revisão de literatura); Estudos 3 e 4 (de
abordagem qualitativa, utilizando o método fenomenológico) e Estudo 5 (de natureza clínico-
qualitativa, utilizando também o método fenomenológico).
O Estudo 1 apresenta reflexão teórica com base no método da revisão de literatura,
embora a mesma não tenha sido feita de modo sistemático. Não há a presença de quadros,
figuras ou tabelas, o conteúdo é estritamente narrativo e é debatido de modo reflexivo.
O Estudo 2 também consiste em um trabalho de reflexão teórica construído através de
uma revisão de literatura, e tal como o estudo anterior, não é sistemática. Não há a presença
de quadros, figuras ou tabelas ao longo do texto, onde o mesmo é estritamente de natureza
reflexiva e narrativa.
O Estudo 3 é de abordagem qualitativa tendo como método o fenomenológico,
seguindo o modelo de Giorgi. De acordo com os autores da pesquisa, o modelo de Giorgi
possui quatro passos: no primeiro, é realizada uma leitura geral da descrição da experiência,
objetivando obter o senso geral da fala. Tendo compreendido, é realizado o segundo passo,
onde é feita uma releitura buscando discriminar as unidades de sentido a partir de uma
perspectiva psicológica e com foco no fenômeno que está sendo investigado. No terceiro,
volta-se a todas as unidades de sentido e se expressa a seu respeito uma percepção
psicológica. É o momento mais revelador do fenômeno estudado, pois se realiza uma leitura
deste. No quarto e último passo, o pesquisador sintetiza as unidades de sentido em categorias
de análise, na busca de traduzir de um modo mais amplo o que elas pareciam transmitir.
Assim, no Estudo 3 foi realizada uma entrevista em consultório psicológico com uma
mulher viúva e que fazia psicoterapia na Abordagem Gestáltica. No primeiro momento da
entrevista, foi apresentada para a colaboradora a proposta da pesquisa e assim foi obtido o
consentimento para a participação e divulgação dos dados, mediante a assinatura do TCLE
(Termo de Consentimento Livre e Esclarecido). Os dados foram coletados através de
entrevista semiaberta, tendo como norte as seguintes questões: 1) Como foi a vivência do seu
casamento? 2) Quais as experiências vividas com a viuvez? (positivas e negativas) 3) Em que
momento buscou a psicoterapia? 4) Como a psicoterapia auxiliou nas experiências advindas
da morte do cônjuge?. Esse instrumento foi escolhido por possibilitar um diálogo aberto e
livre de focos rígidos, respeitando os pressupostos da pesquisa qualitativa fenomenológica. A
entrevista foi gravada para preservar a fidedignidade dos dados, onde o conteúdo foi transcrito
na íntegra. As categorias emergentes foram: a vivência do casamento; a morte do cônjuge;
resolução; processo terapêutico e benefícios obtidos com a psicoterapia.
O Estudo 4 trata-se de uma pesquisa qualitativa baseada no método fenomenológico
proposto por Edmund Husserl e adaptado por Clark Moustakas. O método fenomenológico
foi escolhido para que fosse realizada uma maior e melhor compreensão dos significados
atribuídos pelos colaboradores e a maneira que cada um percebeu a vivência (processo de luto
do (da) filho (a) da pessoa que cometeu suicídio). O referencial teórico utilizado partiu da
conjunção entre a epistemologia fenomenológica e a abordagem da Gestalt-Terapia,
encontrada nos trabalhos de Moustakas (1994), Perls, Hefferline & Goodman (1997).
A pesquisadora entrou em contato com pessoas de sua rede de relacionamentos para
encontrar possíveis colaboradores. Ela divulgou o projeto e escreveu para a rede de Gestalt-
terapeutas (acesso da internet GT-BR). Posteriormente, foi realizado contato com os
colaboradores (filhos de pessoas que cometeram suicídio), onde foi feito o convite para a
entrevista e apresentação da pesquisa e objetivos, bem como o agendamento dos encontros em
local conveniente ao entrevistado. As entrevistas foram agendadas previamente, os horários
foram respeitados de acordo com a disponibilidade do participante e o mesmo teve a liberdade
de se retirar da pesquisa quando achasse conveniente.
Não houve definição prévia do número de colaboradores, a participação dependeu do
interesse na pesquisa que ocorreu entre o período de 2011 a 2012. Sobre os critérios de
inclusão e exclusão, foi definido: ser filho de pessoa que cometeu suicídio; ter dezoito anos ou
mais; o suicídio não deveria ser recente (pelo menos há mais de dois anos), haja a vista o risco
de mobilização e sofrimento psicológico. Antes de cada entrevista, foi realizada a assinatura
do TCLE, onde foi explicado que o sigilo da identidade do participante seria mantido em
qualquer circunstância.
Quanto às entrevistas, os depoimentos foram gravados com a autorização dos
entrevistados. Foi realizada uma entrevista para coleta de depoimento, com aproximadamente
3 horas de duração, e dois contatos por email: um para enviar a transcrição das entrevistas e
outro para compartilhar com o participante, após a análise dos dados, a compreensão da
entrevistadora.
O Estudo 5 trata-se de uma pesquisa de perspectiva qualitativa com enfoque
descritivo e interpretativo, utilizando o embasamento teórico da Gestalt-Terapia. Após a
aprovação do projeto no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Instituto de Ciências da
Saúde da Universidade Federal do Pará (UFPa), a pesquisa foi enfim realizada na Clínica de
Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP), que é referência regional no tratamento de pacientes
com HIV/AIDS. Primeiramente, realizou-se uma pesquisa documental dos relatórios e
documentos elaborados pelos profissionais que trabalham na DIP, tais como prontuários e
fichas de identificação. Após a realização da identificação dos informantes que atendiam aos
critérios de inclusão da pesquisa, os pacientes foram contatados para a realização do estudo.
Os atendimentos dos clientes ocorreram de fevereiro a junho de 2012, totalizando 4
homens que deveriam atender aos seguintes critérios de inclusão: ser portador de HIV/AIDS;
Estar na faixa etária dos 18 aos 49 anos; aceitar participar da pesquisa assinando o TCLE. Os
atendimentos foram realizados na enfermaria masculina, onde foram tomados todos os
cuidados e procedimentos de bioética no ambiente hospitalar.
4 – Perdas significativas e população foco dos estudos
No Estudo 1, a população foco da pesquisa são os indivíduos acometidos pelo fim de
seu relacionamento amoroso, onde toda a discussão é realizada de modo teórico. De acordo
com a autora, a separação amorosa é um acontecimento frequente e configura-se como uma
das experiências mais dolorosas da vida humana, sendo comparada a uma mutilação.
Dependendo da história de vida do indivíduo, o rompimento pode suscitar sentimentos de
conformação ou rebeldia, ocasionando um estado de confusão mental muito similar ao de
quem está perdido. Coloca-se a pessoa amada em um “pedestal” amoroso, mitificando-a e
enxergando-a além de suas dimensões reais (LIMA, 2008).
Em negação, o parceiro deixado passa a se esforçar a todo custo, na tentativa de trazer
de volta o seu objeto de amor, que quer partir ou já partiu. Ocorre uma espécie de martírio por
parte do mesmo, que busca de modo incessante os motivos que levaram ao rompimento.
Nessa busca, ele procura em si mesmo erros e falhas que justifiquem o término, onde a culpa
passa a ser um sentimento inevitável. Nesse movimento, sentir-se culpado é mais tolerável
que sentir-se rejeitado, haja vista que ser desejado por alguém é referência de saúde
emocional nas pessoas (LIMA, 2008).
Frente a essa rejeição, o individuo fica ferido narcisicamente, instaurando-se em si um
doer desmedido que se configura em uma orfandade amorosa. De acordo com Caruso (1989),
autor citado pela autora da pesquisa, estudar o rompimento amoroso é estudar a morte na vida,
é a vivência da morte do outro na consciência de quem sofre e a vivência da própria morte na
consciência do outro que partiu. Após um tempo, quando se é ultrapassado o momento crítico
da dor, pode ocorrer uma constatação prática: as perdas não são apenas perdas, mas condições
para ganhos que não seriam possíveis e nem perceptíveis sem a sua vivência. Assim, há
conquistas que nunca ocorrerão se não forem antecedidas por perdas (LIMA, 2008).
No Estudo 2, não há uma população foco, pois o mesmo visa apresentar de maneira
reflexiva e abrangente as contribuições da Gestalt-Terapia no enfrentamento das perdas e da
morte. Nesse sentido, ele aborda os aspectos históricos da morte e o morrer, aspectos teóricos
sobre o luto e as fundamentações teóricas da Gestalt-Terapia no que concerne a essa temática.
No Estudo 3, A população foco são os indivíduos que vivem o processo de viuvez,
onde buscou-se compreender as experiências da pessoa que enfrenta o luto pela morte do
cônjuge. Os dados do estudo são referentes aos relatos de uma das colaboradoras da pesquisa,
Tereza (nome fictício), onde são apresentados trechos de sua fala. Segundo as autoras, no
casamento um cônjuge conta com o outro no que se refere ao suporte emocional e pessoal.
Quando ocorre a morte de uma das partes, aquele que fica passa a viver com a sensação de
que pertence a uma unidade que já não mais existe. Em viúvas, é comum reações como
insônia, perda de apetite e peso, dores de cabeça, distúrbios digestivos, palpitações, dores
musculares, irritação, ansiedade, tensão, entre outras (FERREIRA; LEÃO; ANDRADE,
2008).
A perda do marido pode representar a perda de um confidente, amigo, parceiro sexual
e fonte de renda, dependendo das expectativas e tarefas atribuídas ao cônjuge. Com isso,
surge a necessidade de aprendizado de novos papéis, sem o apoio da pessoa com que se
costumava contar. Com o passar do tempo, as necessidades do cotidiano e as demandas
domésticas se tornam o foco da vida do parceiro sobrevivente, onde novas atividades e
interesses começam a surgir. Essa redescoberta emerge com a resolução do luto, resultando
em maior energia para viver e investir mais intensamente em novos papéis (FERREIRA;
LEÃO; ANDRADE, 2008).
Tereza, a colaboradora do Estudo 3, tinha 54 anos no período da pesquisa e foi casada
durante 33 anos com seu parceiro, que faleceu devido a um Acidente Vascular Cerebral
(AVC). Ela relata que a relação deles era boa, e que ela era muito dependente dele. Após o
falecimento do esposo, Tereza tentou a todo custo camuflar suas emoções, de modo a não
querer preocupar suas filhas e irmãs. Entretanto, o sofrimento foi intenso e não foi mais
possível esconder, resultando em sua busca por psicoterapia.
Após a morte do cônjuge, a colaboradora relata ter tido dificuldade em aceitar o
falecimento do mesmo, entrando em conflitos espirituais. Essa dificuldade de ajustamento à
perda deveu-se ao fato da relação ter sido boa e construtiva, o que culminou, após o óbito, em
sentimentos negativos, sintomas depressivos, sintomas psicossomáticos e alterações na saúde.
Por outro lado, ocorreram ganhos pessoais, proporcionando experiências de crescimento a
Tereza. Ela passou a ter mais confiança em sua capacidade de resolver as demandas do
cotidiano, tendo em vista que a opinião de seu marido era fundamental para que ela pudesse
tomar decisões. A psicoterapia também acrescentou aspectos positivos a esse processo, onde a
participante recuperou a autonomia, a vontade de viver e o interesse pela vida.
No Estudo 4, a população 'foco são os filhos de pessoas que cometeram suicídio.
Foram entrevistados 9 “sobreviventes” (identificação atribuída pela autora). O primeiro
colaborador é do sexo masculino, psicólogo e professor de idiomas, tinha 42 anos no período
da pesquisa (2012) e seu pai suicidou-se com choque elétrico quando o participante tinha 17
anos. Na entrevista, emergiram temas como culpa, situações inacabadas, dúvidas, dor e
vergonha, onde ele relata que como consequência do ocorrido, passou a relacionar-se somente
com pessoas “salváveis”. Como exemplo disso, a maioria de seus relacionamentos amorosos
foi com mulheres drogadas e prostituídas, sendo que sua ex-mulher era psicótica e sofria de
transtorno bipolar.
O segundo colaborador é do sexo feminino, estudante de psicologia, casada e sem
filhos, e contava com 34 anos de idade no período da pesquisa. Sua mãe suicidou-se quando a
participante tinha 9 anos de idade, utilizando como método um corte na jugular. Na entrevista,
emergiram temas como revolta, culpa, as responsabilidades que ela teve de assumir desde
criança, medos: medo de ir ao banheiro sozinha à noite, pois foi o local onde sua mãe se
matou, medo das repetições do ato suicida e medo de ter filhos. A colaboradora ressalta o
receio de não saber se será uma boa mãe, por não ter tido referências de maternidade em sua
vida.
O terceiro colaborador é do sexo feminino, casada e sem filhos, e contava com 36 anos
de idade no período da pesquisa. Seu pai suicidou-se quando ela tinha 24 anos de idade,
utilizando como método o enforcamento. Os temas que emergiram na entrevista foram:
situações inacabadas, busca de explicações para o ato, o silêncio da família sobre o ocorrido,
lembranças, preocupação e admiração pela mãe, culpa e medo de ter filhos. A colaboradora
realiza muitos questionamentos durante a entrevista, e ainda hoje, através de atendimento
psiquiátrico, busca entender a morte do pai.
O quarto colaborador é do sexo masculino, casado e com filhos, formado em História
e estudante de Pedagogia, contava com 39 anos no período da pesquisa. Seu pai suicidou-se
quando o participante tinha 14 anos, utilizando como método o enforcamento com fios
elétricos. Os temas que emergiram ao longo da entrevista foram: estresse anterior ao suicídio,
pois seu pai sofria de esquizofrenia, alívio após o suicídio, perdas e ganhos, resiliência,
identificação com pessoas resilientes, falta de referências, situações inacabadas, a escolha da
profissão como forma de manejo do luto, preocupação com a mãe e recordações. De todos os
participantes até aqui, este foi o que pareceu ter melhor elaborado o processo de enlutamento,
conseguindo simbolizar e ressignificar seus vividos.
O quinto colaborador é do sexo feminino, estudante de psicologia e contava com 27
anos do período da pesquisa. Sua avó (que a cuidou como mãe) suicidou-se quando a
participante tinha 15 anos, utilizando como método a ingestão excessiva de medicamentos.
Durante a entrevista, emergiram os temas: a superproteção da avó, estresse anterior e posterior
ao suicídio, alívio, culpa, morte interdita e o silêncio, amadurecimento advindo da experiência
e enfrentamento. A participante relata que fora criada pela sua avó desde criança, pois seus
pais trabalhavam. A avó sofria de alguns distúrbios psicológicos e eles só pioraram quando o
seu filho, pai da participante, foi assassinado por traficantes quando ela tinha 11 anos. Desde
então, ela passou a afirmar que se mataria quando a filha-neta completasse 15 anos, e
utilizava-se desse discurso todas as vezes que entrava em conflito com a mesma. A
colaboradora relatou ter vivido em constante estresse e angústia mediante essas ameaças, e
quando a avó concretizou o ato, uma semana após ela ter completado 15 anos, sentiu alívio
seguido de culpa.
O sexto colaborador é do sexo feminino, psicóloga, e contava com 29 anos no período
da pesquisa. Sua mãe suicidou-se quando a participante tinha 7 anos e 6 meses, jogando-se de
um edifício. Os temas que emergiram na entrevista foram: ausência de referências, função
materna, incertezas e lacunas, busca de compreensão e sentido, medo de ser igual à mãe,
emancipação e cuidado com os outros, alívio pela morte da mãe e sentimentos ambivalentes,
estresse antes e depois do suicídio, culpa e raiva, a escolha da profissão e o resgate em
psicoterapia. De acordo com a participante, sua mãe fazia parte da alta sociedade e fora criada
para ser uma princesa: seu objetivo de vida era ser sempre bonita, casar com um homem rico
e ter filhos. Ela apresentava alguns problemas psicológicos, que foram se acentuando com o
passar do tempo e resultaram no suicídio. Com isso, a colaboradora teve que assumir várias
responsabilidades desde criança, e ao longo de sua vida, teve várias figuras maternas, como
tias, avó e mães de amigas.
O sétimo colaborador é do sexo masculino, solteiro, estudante de psicologia, e contava
com 63 anos no período da pesquisa. Sua mãe suicidou-se quando o participante tinha entre
12 e 13 anos de idade, utilizando como método o enforcamento com fio de ferro de passar
roupas. O colaborador foi o primeiro a encontrar o corpo da mãe, no banheiro das empregadas
de sua casa. Sua mãe apresentava, segundo ele, “neurose do parto”, e por conta disso, realizou
várias tentativas de fuga. Para ele, o suicídio representou a “fuga definitiva”. Os temas que
emergiram durante a entrevista foram: impacto do suicídio e busca de compreensão,
lembranças, “segurar as barras” da vida, estresse anterior e posterior ao suicídio, dúvidas,
estigma e tabu, relações interpessoais, a escolha da profissão como manejo do luto e culpa.
O oitavo colaborador é do sexo feminino, casada e proprietária de uma lavanderia,
contando com 30 anos de idade no período da pesquisa. Seu pai suicidou-se com um tiro na
cabeça, quando a participante tinha apenas 15 dias de vida. Os temas emergentes na entrevista
foram: a perda de alguém que nunca teve, busca da identidade, responsabilidade e
preocupação com outras pessoas, silêncio perante o suicídio do pai, compreendendo o
suicídio, a mãe, religião e psicoterapia no manejo do luto e o marido que também é como um
pai.
Por fim, o nono e último colaborador é do sexo feminino, estudante de arquitetura,
solteira e sem filhos, contando com 23 anos de idade no período da pesquisa. Sua mãe
suicidou-se ao se jogar do décimo andar do edifício onde moravam, quando a participante
tinha três anos e seis meses. Os temas que emergiram na entrevista foram: luto e a falta de
compreensão com relação à morte da mãe, lembranças e esquecimentos, a falta de referências,
similaridades com a mãe, o medo dela e dos outros de ser igual à mãe, a necessidade de saber
quem era a mãe, a morte interdita e o silêncio e a arquitetura como estratégia para o processo
de luto.
Vale ressaltar que alguns temas foram quase unânimes nas entrevistas: a presença do
sentimento de culpa, o estresse antes e depois do suicídio, o medo de também cometer
suicídio tal como seu genitor (a) e o receio em ter filhos. A grande maioria dos participantes,
no período da entrevista, ainda se encontrava em elaboração do processo do luto. São muitos
questionamentos, dúvidas e lacunas que permeiam os vividos dos colaboradores, e na maioria
dos casos, reconstruir a própria história como em um “quebra-cabeça” e fator de destaque.
No Estudo 5, a população foco são homens adultos portadores do HIV/AIDS,
internados em um hospital especializado. Foram atendidos 4 homens, com os respectivos
nomes fictícios: Felipe, Carlos, Fernando e Pedro Henrique. Felipe contava com 47 anos de
idade no período da pesquisa, solteiro, homossexual, artista plástico e design. Contraiu
HIV/AIDS e não procurou tratamento de imediato, levando sua vida normalmente. Ao abusar
do uso de álcool e drogas ilícitas, teve uma recaída e foi hospitalizado, onde relatou para o
pesquisador que gostaria de ter feito tudo diferente em sua vida: estudar e se aproximar mais
da igreja que frequentava. Apresentava conflitos frequentes com a irmã, que o obrigava a
aderir à sua religião (evangélica). Em sua fala, foi perceptível o sentimento de culpa e o
reflexo dos estigmas e preconceitos da sociedade com relação à sua doença e sexualidade. Os
encontros do terapeuta/pesquisador com Felipe totalizaram 10 sessões.
O segundo participante, Carlos, contava com 39 anos de idade no período da pesquisa
e era cabeleireiro, o qual constantemente se queixava por estar internado e não poder assumir
seu trabalho. Carlos sofreu um AVC e estava sem o movimento dos membros superiores e
inferiores do lado direito de seu corpo, necessitando de auxílio constante para ir ao banheiro.
Assim como o primeiro colaborador, Carlos descobriu ser portador de HIV/AIDS e não
procurou realizar tratamento, levando uma vida normal. Porém, devido aos excessos de
bebida alcoólica, sofreu um AVC e foi hospitalizado, e então não foi mais possível esconder a
doença. Nas últimas sessões, o paciente apresentou profundo sofrimento pelo abandono de
sua família, dizendo que morreria só. Antes da penúltima sessão, Carlos veio a óbito.
O terceiro participante, Fernando, contava com 35 anos de idade no período da
entrevista, era casado e tinha 2 filhos. Fernando contraiu HIV/AIDS ao se relacionar extra
conjugalmente sem preservativo com uma mulher de sua rua, que era portadora do vírus.
Nesse processo, Fernando também transmitiu o vírus à sua esposa, que realizava
acompanhamentos de controle da carga viral. Fernando definia-se como um homem que
gostava de orgias e bebedeiras e nunca buscava realizar ações de autocuidado, negligenciando
sua integridade e saúde. Assim, a hospitalização estava sendo extremamente desconfortável
para ele, desconforto que só era amenizado pela presença de pessoas amigas. Fernando
converteu-se à religião evangélica e acreditava em uma cura milagrosa, entretanto, veio a
óbito.
O quarto participante, Pedro Henrique, contava com 25 anos no período da pesquisa e
era casado e pai de uma filha, fruto do seu primeiro casamento. Pedro contraiu HIV/AIDS de
sua primeira esposa, que já era falecida. Ele relata que a mesma casou-se com ele sem contar
que era portadora da doença, afirmando que a mesma já era conhecedora de seu diagnóstico.
Do mesmo modo, Pedro Henrique mantinha em segredo sua enfermidade, inclusive da atual
esposa. O paciente hospitalizou-se por conta de um episódio de pneumonia, e relatou ao
terapeuta/pesquisador que assim que se recuperasse, retornaria à sua rotina e continuaria sem
revelar que era portador de HIVAIDS.
5 - Atividades a serem desenvolvidas nos próximos meses
Para o próximo período, visando aprofundar e ampliar as análises, serão realizadas as
seguintes atividades:
- Desenvolvimento das categorias de análise: 4) Luto: sobre seus significados; 5)
Contribuições à clínica do luto;
- Participação nas supervisões e no grupo de estudos do luto, bem como palestras e eventos
voltados ao tema;
- Coleta de outros instrumentos, artigos e materiais que venham a contribuir para ampliação
da pesquisa;
- Aprofundamento da discussão e considerações finais;
- Elaboração do relatório final em formato de artigo para submissão em periódico científico.
- Apresentação oral dos resultados da pesquisa no Seminário de Iniciação Científica.
CONCLUSÃO
Nessa etapa da pesquisa, foi possível obter um panorama geral sobre as perdas
específicas que são trabalhadas em cada material selecionado, sendo evidenciados seus
principais objetivos, métodos, perdas significativas e população foco. Destaca-se a escassez
de materiais que abordam a temática do luto na Abordagem Gestáltica, onde foram
selecionados apenas cinco para este estudo. Na próxima etapa, serão trabalhados os
significados do luto e as contribuições para a clínica, sugerindo-se maior ênfase nas relações
entre o enlutamento e a teoria Gestáltica.
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MARTINS, Marize; LIMA, Patrícia Valle de Albuquerque. Contribuições da Gestalt-Terapia para os enfrentamentos das perdas e da morte. Revista IGT na Rede, v.11, nº 20, 2014, p. 3 - 39. Disponível em http://www.igt.psc.br/ojs. Acesso em: 16.02.2017.
PARKES, C. M. Estudos sobre a Perda na Vida Adulta. São Paulo:Summus Editorial, 1998.
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YONTEF, Gary M. Processo, Diálogo e Awareness. São Paulo: Summus, 1993.
DIFICULDADES
De modo geral, não ocorreram dificuldades quanto ao desenvolvimento do estudo. Contudo,
destaca-se que houve necessidade de muita disciplina e planejamento para que as mesmas
fossem realizadas concomitantemente com outras atividades acadêmicas da graduação, tais
como, trabalhos escritos, seminários, visitas técnicas, etc.
PARECER DO ORIENTADOR
A bolsista desenvolveu as atividades como previstas no cronograma, mostrando-se motivada
para o desenvolvimento do estudo como um todo. Foram identificadas assiduidade, disciplina
e outras habilidades para a pesquisa, conduta ética e abertura para o diálogo com profissionais
de áreas afins. Portanto, avalio como EXCELENTE, sendo o parecer favorável à aprovação
do referido relatório parcial e continuidade da bolsa.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
Todas inclusas anteriormente.
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ASSINATURA DO ORIENTADOR
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ASSINATURA DO ALUNO
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