1 Universidade
Estadual de Londrina
LUIZ GUILHERME COLENCI SAHADE
LONDRINA – PARANÁ
2016
ALTERAÇÃO DE FORMA EM DENTES
ANTERIORES PERMANENTES – INVAGINAÇÃO E
EVAGINAÇÃO
REVISÃO DE LITERATURA E RELATOS DE CASO
LUIZ GUILHERME COLENCI SAHADE
ALTERAÇÃO DE FORMA EM DENTES
ANTERIORES PERMANENTES – INVAGINAÇÃO
E EVAGINAÇÃO
REVISÃO DE LITERATURA E RELATO DE CASO
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao curso de
Odontologia da Universidade
Estadual de Londrina, como requisito
parcial à obtenção do título de
cirurgião dentista.
Orientadora: Prof.ª Dra. Wanda
Terezinha Garbelini Frossard.
COMISSÃO EXAMINADORA
______________________________________
Profa. Dra. Wanda Terezinha Garbelini Frossard
Universidade Estadual de Londrina
______________________________________
Profa. Dra. Beatriz Brandão Scarpelli
Universidade Estadual de Londrina
Londrina, ____ de____________ de 2016.
v
AGRADECIMENTOS
Agradecimento em especial a minha professora e orientadora Wanda
Terezinha Garbelini Frossard pelo auxílio e dedicação a este trabalho,
disponibilizando seu tempo e conhecimentos referentes ao assunto.
Aos meus pais, Michel e Stella, que sempre me apoiaram, sendo fundamentais
para a conclusão de mais esta estapa.
Aos meus avós (Malvina e Michel), tios (Ana Helena e Lilson) pelos conselhos
e orações.
Ao meu irmão, e amigo de hoje e sempre, Pedro Henrique.
A minha namorada (Inaiane) pela paciência e companheirismo nos momentos
bons e ruins.
Aos meus amigos, peças indispensáveis ao longo desses anos, parceiros para
a vida.
A minha cidade Ipaussu, ao acolhimento de Londrina, a Universidade Estadual
de Londrina, ao Curso de Odontologia e a Olodonto, bateria do curso, a qual
me proporcionou muitas alegrias.
A todos que colaboraram direta e indiretamente para a realização deste
trabalho e conclusão deste curso.
vi
SAHADE, L. G. C. Alteração de forma em dentes anteriores permanentes:
invaginação e evaginação - Revisão de literatura e relato de caso. 2016. 26
folhas. Trabalho de Conclusão de Curso de Odontologia - Universidade
Estadual de Londrina, Londrina, 2016.
RESUMO
A dentição humana pode sofrer alterações no desenvolvimento de suas
estruturas sendo determinadas geneticamente ou combinada com fatores
ambientais. Ambas as dentições, decídua e permanente, podem ser atingidas
por essas alterações, relacionadas com a cor, forma, tamanho, número,
posição e constituição dos dentes. O objetivo deste trabalho foi apresentar dois
casos clínicos de alteração de forma, em dentes permanentes, do tipo dens
evaginatus e o tratamento clínico. A prevalência dessa alteração varia de 1% a
4%, é observado com distribuição bilateral, simétrica e com ligeira predileção
para o gênero feminino. O exame radiográfico revela duas linhas radiopacas
delgadas em forma de ‘V’ na coroa dental, que convergem da porção cervical
em direção à margem incisal, sobrepondo-se à coroa do dente e pode ser
confundida com odontoma, mesiodens e dens in dente. Os casos apresentados
são de pacientes que frequentaram a Bebe Clínica e ao Centro Odontológico
Universitário da UEL. No primeiro caso, relatamos a presença do dens
evaginatus no incisivo central superior esquerdo permanente, de uma paciente
com Síndrome de Down, 7 anos de idade, do gênero feminino. O segundo caso
foi de um paciente do gênero masculino, 9 anos de idade, com a presença da
alteração no incisivo central inferior esquerdo permanente. Em ambos os
casos, após exame clínico, não foi constatado alteração na oclusão, sendo
realizado o tratamento conservador e preventivo, com aplicação de selante e
flúor tópico. Conclui-se que o diagnóstico precoce desta condição é importante
porque previne a cárie dental e também o trauma oclusal. Sendo assim, o
estudo e o conhecimento das anormalidades dentárias são de significativa
importância, uma vez que a detecção precoce pode alterar o prognóstico da
dentição afetada.
Palavras-chave: Anormalidades dentárias; Dens in dente; Odontoma.
vii
SAHADE, L. G. C. Form of change in permanent front teeth: invagination and
evagination - LITERATURE REVIEW AND CASE REPORT. 2016. 26 folhas.
Dental Work Course Conclusion. State University of Londrina, 2016.
ABSTRACT
Human teeth may change in the development of its structures being genetically
determined or combined with environmental factors. Both the dentition,
deciduous and permanent, can be affected by these changes, related to the
color, shape, size, number, position and constitution of teeth. The objective of
this study was to present two cases of shape change in permanent teeth, dens
evaginatus type and clinical treatment. The prevalence of this change varies
from 1% to 4%, is observed with bilateral distribution, symmetrical and with a
slight predilection for females. Radiographic examination reveals two thin
radiopac lines in a 'V' in the dental crown, which converge the cervical portion
toward the incisal edge, overlapping the crown of the tooth and can be confused
with odontoma, mesiodens and dens in dente. The reported cases are patients
who attended by Bebê Clínica\UEL. In the first case we have the presence of
dens evaginatus in maxillary central incisor permanent left in a patient with
Down syndrome, 7 years old, female. The second case was a male patient, 9
years old, with the presence of the change in the lower central incisor
permanent left. In both cases, after clinical examination, it was found not
change in occlusion being held conservative and preventive treatment with
sealant and topical fluoride application. We conclude that early diagnosis of this
condition is important because it prevents tooth decay and also the occlusal
trauma. The study and understanding of dental abnormalities are of significant
importance, since the early detection may change the outcome of affected
teeth.
Key Words: Dental Abnormalities; Dens in dente; Odontoma.
viii
LISTA DE SIGLAS, ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
%: Porcentagem;
DE: Dente evaginado;
DI Dente invaginado;
Mm: milímetros;
jCE: Junção Cemento Esmalte.
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Vista incisal dos incisivos centrais superiores permanentes. Note o
elemento 21 com alteração de forma;
Figura 2 – Imagem radiográfica do incisivo central superior esquerdo;
Figura 3 – Vista incisal dos incisivos inferiores permanentes;
Figura 4 – Imagem radiográfica do incisivo central inferior esquerdo;
Figura 5 – Vista lingual da evaginação do incisivo inferior esquerdo com
alteração de forma: evaginação
Figura 6 – Vista vestibular dos incisivos inferiores permanentes;
Figura 7 – Vista incisal da evaginação do incisivo inferior esquerdo com
alteração de forma: evaginação.
x
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11
2 RELATO DE CASO ............................................................................................ 16
3 DISCUSSÃO ...................................................................................................... 21
4 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 23
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 25
11
1 INTRODUÇÃO
A dentição humana, durante o desenvolvimento ou crescimento de suas
estruturas pode sofrer distúrbios, apresentando como resultado final um
elemento dentário diferente do normal. Ambas as dentições, decídua e
permanente, podem ser atingidas por essas alterações, relacionadas com a
cor, forma, tamanho, número, posição e constituição dos dentes. Essas
variações podem ser exclusivamente determinadas geneticamente,
ocasionadas por fatores ambientais que atuam local ou sistemicamente ou,
possivelmente, a partir de uma combinação de fatores tanto genéticos como
ambientais (CRAWFORD, P.J.M.; ALDRED. M.J, 2007).
Dentro do universo de alterações, destacamos as de forma onde
encontramos a microdontia e macrodontia, a geminação e fusão, a
concrescência, o dens in dente (dens invaginatus e dens evaginatus),
hipoplasia de esmalte, amelogênese imperfeita, displasia dentária,
dentinogênese imperfeita, dentes de Hucthinson, dilaceração, taurodontismo,
entre outras (VAJRABHAYA, L., 1989). Destacamos entre elas o dens in dente
(dens invaginatus e dens evaginatus) buscando na literatura embasamento
para descrever os casos clínicos aqui relatados.
A partir de sua terminologia, dens in dente, também denominado dens
invaginatus, é utilizado para definir um defeito na formação dentária resultante
da invaginação dos tecidos coronários antes da calcificação tecidual (KULID,
W. et al., 1989).
O dens in dente é um distúrbio ou anormalidade da odontogênese em
que o desenvolvimento do órgão do esmalte é defeituoso, resultando numa
morfodiferenciação alterada (SERRANO, et al., 1991) levando ao
aprofundamento do epitélio do órgão do esmalte na papila dentária e que
quando atinge a porção radicular, parece ser o resultado do envolvimento do
epitélio desta região (SUCHINA et al., 1989). Geralmente, a ocorrência de dens
in dente é bilateral, mas não necessariamente simétrica (CRAWFORD, A. et
al., 2007). Há casos relatados de associação com outras anomalias como
12
geminação, dentes supranumerários, microdontia e taurodontismo, segundo
TAVANO, A. et al., 1994.
Em 1957, OEHLERS, F.A. et al., classificou dens in dente em três
categorias de acordo com a profundidade de penetração e de comunicação
com os tecidos periodontais, de ligamento ou periapical. O Tipo 1 é uma
cavidade de esmalte alinhado e confinado à coroa; não ultrapassa a junção
cemento esmalte. O Tipo 2 é uma cavidade de esmalte alinhado, estendendo-
se para a raiz e sem haver comunicação com polpa. O Tipo 3 é uma
invaginação, estendendo-se além da junção cemento esmalte perfurando
apicalmente ou lateralmente em um forame e, geralmente, não há nenhuma
comunicação com a polpa.
Entre os diferentes tipos de dentes invaginados, o Tipo III é,
relativamente, raro com apenas 5% em comparação com o Tipo I (79%) e Tipo
II (15%). (RIDELL, K.; MEJÀRE, I; MATSSON, L., 2011).
A prevalência de dens in dente pode variar de 0,04 a 12% (COSTA et
al., 1990). As formas mais leves como os tipos I e II de Oehlers têm ocorrência
mais frequente, enquanto que a forma severa, tipo III de Oehlers é rara
(KIRZIOGLU, C., 2009). Geralmente, os homens são mais atingidos que as
mulheres numa proporção de 2:1 e pode variar nos diferentes grupos raciais,
sendo os chineses os mais atingidos segundo CRAWFORD, M.J.et al., 2007.
Entretanto, HOVLAND, E.J. et al., em 1977, afirmaram que entre todas as
anomalias do desenvolvimento que ocorrem com os dentes permanentes, os
dens invaginatus representam uma forma rara de anomalia acometendo 0,04 a
10% no sexo feminino e na proporção de 3:1 para o sexo masculino. Já
KARACA ,S. et al., em 1992 sugerem que a aparência clínica do dente
invaginado, também conhecido como dens in dente, varia consideravelmente,
tendo predileção pelo sexo feminino e ocorrendo, principalmente, em incisivos
superiores permanentes.
Radiograficamente, o dens invaginatus é visto como um defeito em
forma de pêra ou laço, revestido por uma linha radiopaca com densidade igual
a do esmalte, que se assemelha a um dente dentro de um dente. Em formas
graves de invaginação, a coroa é malformada e o ápice aberto. (SHAFER,
W.G., 1983), (BENENATI, F.W., 2004).
13
Segundo BISHOP, K.,(2008) ainda que os métodos radiográficos
convencionais podem ser suficiente para o diagnóstico, a natureza
tridimensional da anomalia pode requerer o uso de uma segunda radiografia
com uma mudança de 1º na angulação horizontal do feixe, com uma colocação
mais mesial do tubo. Na análise radiográfica pode-se notar a presença de uma
fissura radiotransparente simples, alinhado com o esmalte radiopaco ou pode
haver uma fenda alinhada com o esmalte, de comprimento variável,
percorrendo todo o caminho até o ligamento periodontal lateralmente ou
apicalmente, dando a aparência de uma “pseudo canal” (GONCALVES, A. et
al., 2005).
Clinicamente, o dens invaginatus aparece como uma depressão,na face
lingual e, nesses casos, é suscetível à cárie. Muitas vezes há apenas uma fina
camada de esmalte e dentina cobrindo a polpa, tornando-a assim suscetível a
problemas pulpares e periapicais. O paciente geralmente desconhece essa
condição que pode ser detectada por acaso com a ajuda da radiografia intra
oralperiapical. (YULU, S. et al., 1999), (HARN, W.M. et al., 1998).
Em 1993, PECORA, J.D. et al. afirmaram que o tratamento endodôntico
pode ser desafiador devido à morfologia anormal pulpar, tanto para o dens
invaginatus quanto para o dens evaginatus e PIATELLI, A., (1993) mostrou
que a histologia também pode ser irregular
CELENK, P.O., em 2008, notou que o risco de necrose pulpar e pulpite
também são elevados nos pacientes com dens invaginatus. A presença de
comunicação devido à abertura do tubérculo pode contribuir para abrigar
microorganismos mais virulentos que conseguem colonizar o canal e, assim,
resistir ao tratamento, segundo SIQUEIRA, J. F., (2011).
A segunda anomalia de forma a ser descrita é o Dens Evaginatus que
possui etiologia desconhecida e denominação variada. PÉCORA, J.D. (1991) e
COLEMAN, G.C. (1996) denominam tal anomalia de Dens Evaginatus;
PÉCORA, J.D. (1991) ainda chama de Cúspide de Talão; REGEZI, J.A. et al.,
(1991) e SHAFER, W.G. (1987), assim como COLEMAN, G.C.(1996), referem-
se a esta anomalia como Dente Evaginado. SHAFER, W.G., 1987, ainda
denomina de Pré-molar com tubérculo oclusal, pré-molar de Leong, Odontoma
Evaginado, ou ainda, Pérola de Esmalte. TOMMASI, A.F. (1982), denomina
14
essa anomalia de forma de pá (para incisivos e caninos), e forma de barril.
ALVARES, L.C.; TAVANO, O., 1988, chamam de cúspides supranumerárias.
Caracteriza-se por um desenvolvimento anormal do dente, que surge
durante a morfodiferenciação. A causa está relacionada com a proliferação
anormal do epitélio interno do esmalte para o retículo estrelado do orgão do
esmalte (TRATMAN, E.K., 1949) com um núcleo de dentina em torno de uma
extensão do tecido pulpar, projetando-se como um tubérculo (GALLAGHER,
F.J. et al., 1988)..
Esta anomalia apresenta um tubérculo coberto de esmalte sobre a
superfície oclusal, entre as cúspides, vestibular e linguais, dos dentes
posteriores podendo ocorrer de forma unilateral ou bilateral. Ela ocorre
principalmente em pré-molares permanentes, mas também foi relatado, embora
raramente, em molares, caninos, e incisivos (LAU, T.C., 1955), (ALLWRIGHT,
W.C., 1958).
A prevalência de dens evaginatus estudada em várias populações varia
de 1% a 4% (HILL, F. et al., 1984) e, a prevalência foi encontrada em cerca de
2% da população Asiática (JEROME, C. E., 2007). Taxas mais elevadas de
ocorrência foram notificados entre a população chinesa, de 1,29% a 3,6% por
KOCSIS, G. S. et al., (2002). É geralmente observado com distribuição
bilateral, simétrica e com ligeira predileção para mulheres.
A incidência é calculada entre 1 a 2% em muitas comunidades asiáticas
(SHAY, J.C., 1984) e entre de 3 a 4 % em esquimós e índios norte-americanos
(CURZON, M.E., 1970). Existem poucos relatos desta anomalia em
caucasianos (NGEOW, W.C., 1998). Dankner E. et al., 1997, num estudo
radiográfico de 15.000 dentes, descobriram que dens evaginatus estava
presente em 1% dos casos, sendo mais frequentemente encontrado na maxila,
particularmente no incisivo lateral permanente.
Essa má formação, pode ser evidenciada até mesmo antes da erupção
do dente através de exame radiográfico, o que é importante, uma vez que pode
dificultar a irrupção e confundir com dente supra-numerário (DASH, J.K. et al.,
2004). A imagem radiográfica do dens evaginatus revela duas linhas
radiopacas delgadas em forma de ‘V’ na coroa dental, composta por esmalte e
dentina normal, que convergem da porção cervical em direção à margem
incisal, sobrepondo-se à coroa do dente (HATTAB, F.N. et al., 1996).
15
Radiograficamente a anomalia pode ser confundida com odontoma,
mesiodens, dens in dens, (ZHU, J.F. et al., (1997). Quando o dente está
parcialmente irrompido, a cúspide pode simular um dente supranumerário e o
conhecimento do profissional desta condição evitará uma intervenção cirúrgica
desnecessária, segundo DAVIS, P.J. et al., (1986).
O Dens evaginatus é uma anomalia de grande significado clínico, muitas vezes
causando interferências oclusais. Manter a área limpa entre a evaginação e o
dente é difícil o que possibilita a instalação da cárie dentária. Há grandes
possibilidades de exposição pulpar durante as fases iniciais de
desenvolvimento radicular, resultando em necrose pulpar e rizogênese
incompleta.(CERQUEIRA, R.C.O. et al., (2002).
.
16
Figura 1 – Vista incisal dos incisivos superiores permanentes. Note o elemento 21 com alteração de forma.
2 RELATO DE CASO
PACIENTE I
Paciente J.B.T, leucoderma, gênero feminino, 7 anos de idade, procurou
a Bebê Clínica/ UEL para tratamento odontológico. Na anamnese, observou-se
que a paciente apresentava Síndrome de Down. Após exame clínico foi
constatado a presença de anomalia de forma no incisivo central superior
esquerdo (Figura 1).
17
A fim de comprovar a hipótese diagnóstica foi realizado exame
radiográfico que mostrou a presença de tubérculo acessório na face lingual do
dente compatível com dens evaginatus (Figura 2).
Na análise da oclusão, observou-se que a paciente apresentava padrão
classe III, característica da Síndrome de Down e que não havia interferência
oclusal da porção evaginada com o dente antagonista, sendo desnecessário o
desgaste da porção palatina.
Considerando a difícil higienização da região devido à profundidade do
sulco formado entre as superfícies evaginada e palatina, foi realizada aplicação
tópica de flúor e selante na região.
Figura 2 – Imagem radiográfica do incisivo central superior esquerdo
18
Figura 3 – Vista incisal dos incisivos inferiores permanentes
PACIENTE II
Paciente J.F.S.C., leucoderma, gênero masculino, 9 anos de idade,
procurou a COU-UEL para tratamento odontológico. Na anamnese, o paciente
apresentou-se sem relato de doenças sistêmicas, livre de cárie dental e
colaborador na higienização oral. Após análise baseada nos exames clínico e
radiográfico, constatou-se a presença da anomalia de forma no incisivo central
inferior esquerdo compatível com dens evaginatus (Figura 3 e 4).
19
Figura 5 – Vista lingual do incisivo inferior esquerdo com alteração de forma – evaginação
Na análise da oclusão, foi constatado que não havia contato oclusal
prematuro da porção evaginada com o dente antagonista sendo desnecessário
o desgaste da porção lingual.
Figura 4 – Imagem radiográfica do incisivo central superior esquerdo
20
Figura 6 – Vista vestibular dos incisivos inferiores permanentes
Figura 7 – Vista lingual do incisivo inferior esquerdo com alteração de forma – evaginação
A presença da evaginação também não comprometeu o sorriso do paciente,
quando vista por vestibular descartando assim o desgaste do tubérculo por
finalidade estética.
Com a presença da evaginação, notou-se a distribuição das cúspides
sugerindo o formato anatômico semelhante à de um pré molar com a face
incisal assumindo uma forma oclusal (Figura 7).
21
Considerando a difícil higienização da região devido à profundidade do
sulco formado entre as superfícies evaginada e lingual, foi realizada aplicação
tópica de flúor e selante na região.
3 DISCUSSÃO
O dente invaginado e o dente evaginado são anomalias do
desenvolvimento dentário que ocorrem durante a fase da odontogênese
resultando em uma morfodiferenciação alterada (SERRANO, et al., 1991;
KARACA, T., 1992).
O dente invaginado (dens in dente) ocorre como consequência da
desorganização do órgão do esmalte, caracterizada por invaginação dentro do
dente e limitada por esmalte, segundo ATKINSON, S.R., 1943; ESTRELA, C.,
2009. Desta forma, ocorreria devido ao aprofundamento do epitélio do órgão do
esmalte para dentro da papila dentária. Quando atinge a porção radicular,
parece ser o resultado de um envolvimento do epitélio desta região, afirmam
SUCHINA, et al., 1989; COSTA, et al., 1990.
A origem do dens invaginatus é controversa e algumas teorias têm
sugerido alterações na pressão tecidual, traumatismos ou infecções, como
principais causas. Outras sugerem a presença do componente etiológico
familiar ou hereditário, como salientou KITCHIN, P.C., 1949.
Clinicamente a profundidade da invaginação pode variar de um ligeiro
aumento da fosseta do cíngulo a um profundo sulco que se estende ao ápice
dentário, NEVILLE, B.W., et al., 2004. Histologicamente, o dente invaginado
pode ser definido como um aprofundamento do órgão do esmalte na papila
dentária durante o processo de formação do dente. Este processo, que ocorre
antes da calcificação dos tecidos dentários, inicia-se por meio da coroa
podendo estender-se a toda a raiz dentária, PECORA, J.D., et al., 1991;
STEFFEN, H., et al., 2005. No aspecto radiográfico, o esmalte aparece bem
delineado dando a impressão de um pequeno dente dentro de outro, afirmam
22
COSTA, et al., 1990; CRINCOLI, et al., 2010. Esses dentes apresentam forma
conóide e forame com fundo cego, DECURCIO, D.A., 2011.
O tratamento do dens in dente inclui diferentes procedimentos clínicos.
Em dentes hígidos, recomenda-se a aplicação de selante de fóssulas e fissuras
para proteção física da invaginação do tecido dentário. Na presença de tecido
cariado, sem exposição pulpar, deve-se realizar o tratamento restaurador.
Quando ocorrer exposição pulpar, a abordagem pode variar de um tratamento
mais conservador (capeamento pulpar direto ou pulpotomia) à endodontia,
dependendo do grau de comprometimento do tecido. O tratamento endodôntico
pode ser com ou sem apicetomia associado à obturação retrógrada, afirmaram
TAVANO, et al., 1994; SCHLINDWEIN, S., 2002; AZAMBUJA, et al., 2002;
KANNAN, et al., 2003; NUNES, et al., 2006; CANGER, et al., 2009. Desta
forma, o tratamento clínico do dens in dente inclui diferentes manobras, desde
as mais simples, podendo chegar à extração dentária, SUCHINA, et al., 1989;
TAVANO, et al., 1994.
O dens evaginatus é de origem multifatorial e pode estar associado a
fatores genéticos e ambientais, como afirmou DAVIS, P.J., em 1986. Assim
sendo, esta anomalia de forma pode resultar da hiperatividade da lâmina
dentária e de distúrbios durante a morfodiferenciação. GALLAGHER, F.J., et
al., 1988, definiu dens evaginatus como um núcleo de dentina em torno de uma
extensão do tecido pulpar, projetando-se como um tubérculo. Para SHAFER,
W.G., et al., 1987, a evaginação é descrita como uma protuberância ou
tubérculo em forma de cone cilíndrico, bico ou gota que, em muitos casos,
desgasta-se ou fratura-se dificultando o diagnóstico. Segundo RANTANEM,
A.V., 1971, alterações endócrinas podem alterar o tamanho e a formação dos
dentes, bem como formar cúspides adicionais com estruturas normais de
esmalte, dentina e até com tecido pulpar.
Segundo OEHLERS, F.A.C., 1957, o dens evaginatus é uma anomalia
do desenvolvimento que ocorre com maior freqüência em pré-molares
inferiores. Os casos descritos são de incisivos anteriores o que vai ao encontro
dos resultados de Hattab F.N., Yassin O.M., et al., 1996, onde 92% dos casos
relatados eram de dentes anteriores da maxila, sendo 1/5 dos casos bilaterais.
Para LEE, C.K., KING, N.M., et al., 2006, tanto os dentes permanentes como
os decíduos podem apresentar esta anomalia.
23
Clinicamente e histologicamente esta anomalia é morfologicamente bem
definida e apresenta estrutura dental composta de esmalte e dentina normais,
contendo ou não tecido pulpar, afirma HATTAB, F.N., et al., 1996 e LLENA-
PUY, M.C., et al., 2005. Radiograficamente, a anomalia pode ser confundida
com odontoma e dens in dente, o que poderia acarretar num ato cirúrgico
desnecessário, segundo ZHU, J.F., et al., 1997. Para DAVIS, P. J., et al., 1986,
quando o dente está parcialmente erupcionado, a cúspide pode simular um
dente supranumerário, e o conhecimento do profissional desta condição evitará
uma intervenção cirúrgica desnecessária. Apesar dos casos relatados os
dentes se encontrarem erupcionados, não havendo possibilidade de ser
confundido com extra numerário, quando se analisa somente as imagens
radiográficas (Figuras 2 e 4) essa possibilidade existe.
Várias são as opções de tratamentos para esta anomalia relatados na
literatura. Deve-se observar se a evaginação está acumulando biofilme,
provocando lesões cariosas ou trauma oclusal. Considerando que os casos
apresentados não mostravam nenhum tipo de alteração, os mesmos foram
mantidos, controlados com medidas preventivas e acompanhados, assim como
relataram HATTAB, F.N., et al., 1996; ZHU, J.F., et al., 1997.
YASSIN, O.M., et al., 1996, encontraram um caso de dens evaginatus
que promovia irritação lingual e interferência oclusal. Indicou o desgaste
periódico da evaginação sem expor a polpa, permitindo assim a deposição de
dentina reparadora com o objetivo de não expor tecidos pulpares.
Na presença de trauma oclusal promovido pela evaginação, deve-se
planejar a remoção total da mesma. Nesses casos é comum o
comprometimento pulpar, afirma SIM, T.P., 1996.
Felizmente, ambos os casos apresentados, não apresentaram
comprometimento oclusal e o tratamento clínico constou, apenas, do controle
de placa dentária, selamento da superfície e aplicação de flúor tópico.
4 CONCLUSÃO
A dentição humana pode apresentar alterações e o estudo e o
conhecimento dessas anomalias dentárias é de significativa importância, uma
25
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Crawford PJM, Aldred MJ.Anomalias da erupção e formação dentária. In:
Welbury R, Duggal M, Hosey MT. Odontopediatria. 3. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2007. 293-316.
Vajrabhaya, L. "Nonsurgical endodontic treatment of a tooth with double dens in
dente." J Endod. 1989; 15(7): 323-5.
Kulid JC, Weller RN. Treatment considerations in dens invaginatus. J Endod
1989; 15(8):381–4.
Serrano J. Triple dens invaginatus in a mesiodens. Oral Surg Oral Med Oral
Pathol 1994; 71(5):648–9.
Suchina JA, Ludington JR Jr, Madden RM. Dens invaginatus of a maxillary
lateral incisor: endodontic treatment. Oral Surg Oral Med Oral Pathol 1989;
68(4):467-71.
Tavano SM, De Sousa SM, Bramante CM. Dens invaginatus in first
mandibulars premolars. Endod Dent Traumatol 1994; 10(1):27-9.
Oehlers FA. Dens invaginatus (dilated composite odontome). I.Variations of the
invagination process and associated anterior crown forms. Oral Surg Oral Med
Oral Pathol 1957; 10(11):1204-18.
Ridell K, Meja`re I, Matsson L (2001) Dens invaginatus: a retrospective study of
prophylactic invagination treatment. International Journal of Paediatric Dentistry
11, 92–7.
Costa WF, Sousa Neto MD, Pécora JD. Upper molar dens in dente. Case
report. Braz Dent J 1990; 1(1): 45-9
26
Kirzioglu Z, Ceyhan D. The prevalence of anterior teeth wuth dens invaginatus
in the western Mediterranean region of Turkey. Int Endod J 2009; 42(8):727-34.
Karaca I, Toller MO. Multiple bilateral dens in dente involving all the premolars.
Case report. Aust Dent J 1992; 37 (6) 449-52
Hovland EJ, Block RM (1977) Nonrecognition and subsequent endodontic
treatment of dens invaginatus. Journal of Endodontics 3, 360–2.
Shafer WG (1953) Dens in dente. The New York Dental Journal 19, 220–5.
Benenati FW. Mandibular second molar with C-shaped canal morphology and
five canals: report of a case. Gen Dent 2004; 52: 253-4
Cerqueira RCO, Castro AVLCP, Gusmão RHP, Scavuzzi AI, Farias JG.
Cúspide em garra: uma proposta de tratamento Cirúrgicorestaurador. JBP.
2002: 16.
Top Related