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Síndrome de Asperger 1
Título em cabeçalho: A SINDROME DE ASPERGER NAS PERTURBAÇÕES
GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO
Uma abordagem aos aspectos científicos da Síndrome de Asperger
Cristina Ribeiro 20086537, Inês Castro 20085005, Isaura Gomes 20080268, Rogério
Ramos 20084411
Turma: 3N2-Grupo1
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Psicologia Clínica e da Saúde
Docentes: Professor Doutor Edgar Pereira (Coordenador)
Ana Rita Lourenço
Faculdade de Psicologia
Maio de 2011
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Síndrome de Asperger 2
Uma abordagem aos aspectos científicos da Síndrome de Asperger
O objectivo do presente trabalho, no contexto da Unidade Curricular da
Psicologia Clínica e da Saúde, é explicar, dentro da temática seleccionada relativa àcomponente prática “Perturbações Globais do Desenvolvimento”, o que é a Síndrome
de Asperger, nomeadamente através de uma abordagem abrangente e científica. A
pertinência deste estudo dentro da Unidade Curricular prende-se com a aquisição de
conhecimentos e competências que são necessários para a intervenção do Psicólogo
Clínico, numa temática que vem contemplada nos instrumentos de diagnóstico que são
por si utilizados e que é matéria, num âmbito de avaliação, diagnostico e intervenção, da
Psicologia Clinica e da Saúde). Com esse propósito, foi escolhido o artigo “Síndrome de
Asperger: aspectos científicos e educacionais”, da autoria de Silvia Ester Orrú (2010),
pela relevância encontrada no seu conteúdo e como ponto de partida e alicerce deste
estudo.
Vygotski, na sua abordagem histórico-cultural, explica que desde muito cedo,
com o inicio do desenvolvimento da criança, existe num contexto de comportamentos
sociais um significado adequado das suas actividades. Estas actividades, são orientadas
para objectivos precisos e, conforme a perspectiva do ambiente da criança, irão mudar
de direcção. Pode-se afirmar que há sempre uma pessoa interposta entre o percurso da
criança até ao seu objecto e vice-versa, sendo esta organização complexa o resultado de
um processo de desenvolvimento, com raízes profundas entre a história individual e
social. O desenvolvimento do indivíduo é efectuado através das relações permanentes
que estabelece com o mundo que o rodeia, sendo que a participação dos outros nesta
relação, é posta em prática através de uma actuação mediadora (Vygotski citado por
Orrú, 2010). Na verdade, Vygotski aborda o desenvolvimento humano na perspectiva
do conceito de mediação a envolver o processo histórico-cultural ou histórico-social,
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querendo salientar a utilização de símbolos para a existência da invenção através da
representação mental. Assim, por exemplo, as representações simbólicas seriam
ajudadas com o acesso à linguagem. Já quanto aos processos psicológicos superiores
que só existem no ser humano, e segundo o autor são de origem sócio-cultural
emergindo de processos de estrutura orgânica, vão manifestar-se com o
desenvolvimento da generalização e da abstracção (Junior, 2008).
Assim, mesmo para um indivíduo que seja portador de alguma deficiência ou
problema, um ambiente excelente será aquele onde possam ocorrer as relações sociais, o
qual é sempre preferível e sem dúvida o mais adequado, razão pela qual ninguém deve
ser impedido de se relacionar com outras pessoas (Vygotski citado por Orrú, 2010). E,
basta pensarmos que para a aquisição da linguagem é necessária a existência de
interacção entre a criança e outras pessoas. Sendo assim que a criança vai desenvolver
em relação ao outro a capacidade para simbolizar o ambiente à sua volta, fazendo todo o
sentido o formas de interacção social, mas também porque a própria criança vai efectuar
um processo de internalização, permitindo o desenvolvimento das suas funções
psicológicas superiores (Orrú, 2010).
Na verdade, a representação simbólica ocorre nas realizações subjectivas através
de trocas de impressões, expressões, numa complexa teia com mediação constante entre
o meio ambiente e as sensações internas (Junior, 2008). Assim, são necessárias diversas
competências que vão permitir que o indivíduo consiga apreender o meio social que o
rodeia e interagir com os outros. Assim, o indivíduo precisa de entender os códigos
socialmente utilizados, os quais encontram-se em regras, normas, valores, na fala,
leitura e na escrita. Essas competências vão levar à compreensão dos símbolos ou
códigos sociais e, desenvolvem-se a partir da determinação de relações arbitrárias (o
símbolo, que é o nome, não tem qualquer similitude física com o referente, que é o
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Síndrome de Asperger 4
objecto) ou convencionais entre os símbolos e os referentes, mudando de acordo com as
convenções de cada comunidade linguística. Como é fácil de perceber, a aprendizagem
bem como a utilização no dia a dia das relações entre os símbolos e os seus referentes,
propicia as interacções sociais, e a utilização de objectos, permitindo muitas vezes a
autonomia do símbolo relativamente ao referente, ou seja, para que o individuo seja
compreendido pelo outro, não é necessário mostrar o objecto ou efectuar uma acção,
basta que fale ou mesmo que escreva para que haja essa compreensão (Gomes, Varella
& Souza 2010). A contribuição de Vygostski ajuda a perceber que a escola pode ser
uma condição indispensável para a vida dos indivíduos portadores de Perturbações
Globais do Desenvolvimento.
O conceito de Perturbações Globais do Desenvolvimento, resultante sobretudo
dos trabalhos desenvolvidos por Rutter, Kolvin e Cohen, surge no final dos anos 60.
Este conceito acabou por ser incluído no DSM-III e foi causa da mudança do titulo do
“Journal of Autism and Childhood Schizophrenia” para “Journal of Autism and
Development Disorders” no anos 70 (Mercadante, Van der Gaag & Schwartzman,
2006). Aos indivíduos com estas perturbações eram empregues termos como psicose e
esquizofrenia da infância, no entanto hoje sabe-se que são distintas das Perturbações
Globais do Desenvolvimento (APA, 2004). O Autismo, englobado nesta noção, é
descrito como um conjunto de perturbações qualitativas das funções abrangidas no
desenvolvimento humano (Júnior & Cunha, 2010). A nosografia mais recente assente na
fenomenologia descritiva, iniciou a sua aplicação com a publicação do DSM-III e do
CID-10 (Mercadante, Van der Gaag & Schwartzman, 2006).
As Perturbações Globais do Desenvolvimento são as mais frequentes dentro das
perturbações de desenvolvimento. Agrupam-se numa série de situações que apresentam
uma grande variação em termos clínicos. Essa variação encontra-se tanto ao nível dos
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sintomas como do seu grau de défice, mas acabam por ter em comum, o que justifica o
seu agrupamento, uma interrupção prematura dos modos de socialização. Podem-se
considerar perturbações do neuro-desenvolvimento, que compreendem mecanismos
primários e precoces de sociabilidade a nível cerebral, as quais vão interromper o
desenvolvimento regular em termos sociais, cognitivos e comunicacionais (Klin, 2006).
Dentro da realidade denominada Perturbações Globais do Desenvolvimento
incluem-se várias situações, como a Perturbação Austística, a Perturbação de Rett, a
Perturbação Desintegrativa da Segunda Infância, a Perturbação de Asperger e a
Perturbação Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação (APA, 2004), todas
compartilhando as funções do desenvolvimento que são afectadas qualitativamente
(Júnior & Cunha, 2010). As Perturbações Globais do Desenvolvimento apresentam
como características comuns um défice grave e global nas áreas de desenvolvimento,
como as competências sociais, de comunicação, bem como comportamentos,
actividades e interesses estereotipados. Também não existem dúvidas quanto a estes
défices qualitativos no que respeita ao seu desajustamento para o nível de
desenvolvimento ou para a idade mental do indivíduo. As Perturbações Globais do
Desenvolvimento podem às vezes estar presentes em distintas situações físicas como
infecções congénitas, anomalias de estrutura do sistema nervoso central e anomalias
cromossómicas (APA, 2004).
Actualmente, para além dos comportamentos que se podem observar nestas
perturbações, os investigadores, estão a efectuar pesquisas em busca de fenótipos
internos, que se podem designar por endofenótipos, compostos por medidas
neurofisiológicas, bioquímicas, neuropsicológicas e neuroanatómicas. Estes
endofenótipos têm possibilitado estudos de genes candidatos e podem ser relacionados
com os circuitos neuronais. Sendo que o progresso que se tem efectuado no campo das
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Perturbações Globais do Desenvolvimento deve-se sobretudo também ao avanço da
neurociência, sendo certo que a proposta de outros modelos de compreensão como a
noção de Perturbações do Espectro Autista foi muito relevante (Mercadante, Van der
Gaag & Schwartzman, 2006).
Assim, olhar e compreender as Perturbações Globais de Desenvolvimento
através das funções incluídas no desenvolvimento, faz com que seja possível adquirir
um maior conhecimento em relação ao desenvolvimento de todas as crianças e também
assinala novos horizontes nas áreas clínicas ou educacionais (Júnior & Cunha, 2010).
Merecem agora especial atenção a Perturbação Autística (daqui em diante
designada apenas por Autismo) e a Perturbação de Asperger ou Síndrome de Asperger
(denominação esta que se prefere utilizar, porque é a utilizada pela maioria dos autores
fundamentando a escolha devido às características inerentes que apresenta de conjunto
de sinais e sintomas) que são as perturbações mais conhecidas no âmbito das
Perturbações Globais do Desenvolvimento. O Autismo é conhecido e estudado há mais
tempo do que a Síndrome de Asperger e, enquanto não se questiona a validade do
diagnóstico do Autismo, já quanto à Síndrome de Asperger a validade do seu
diagnóstico permanece controversa, pelas razões que mais à frente serão explicadas,
mesmo decorrido tanto tempo após a sua integração no DMS-IV (Klin, 2006). Assim, é
oportuno fazer uma referência histórica a estas duas realidades, para posteriormente a
análise centrar-se no tema específico do trabalho que é a Síndrome de Asperger,
esclarecendo-se no entanto, que quando for pertinente irão ser efectuadas ao longo do
trabalho, referências a alguns aspectos sobre o Autismo.
Em 1943, Leo Kanner, um pedopsiquiatra austríaco mas radicado nos Estados
Unidos da América, descreveu alguns casos que denominou de “distúrbio autístico do
contacto afectivo”. Verificou nos casos estudados, que estes indivíduos desde bebés,
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possuíam uma incapacidade de relacionamento com os outros, tendo especialmente
enfatizado este défice de relacionamento social. Constatou igualmente que tinham
respostas invulgares ao ambiente como seja, alguns maneirismos, movimentos
estereotipados, oposição à mudança ou perseverança na monotonia. Ao nível da
comunicação, reconheceu que estes indivíduos apresentavam formas pouco usuais de se
exprimirem ao inverterem os pronomes e que ao nível da linguagem propendiam para o
eco (ecolália) (Orrú, 2010).
O Autismo tanto quanto se sabe sempre existiu ao longo dos tempos e nas
diversas culturas. O tipo clássico de Autismo envolve um baixo coeficiente de
inteligência, significativas dificuldades de aprendizagem, memória mecânica,
literalidade e uma rígida insistência em repetir as mesmas coisas. No entanto, nem todos
os indivíduos portadores de Autismo têm uma incapacidade tão elevada que não
conseguem fazer uma vida normal (James, 2006).
Cerca de um ano depois (1944), e sem ter conhecimento dos estudos de Leo
Kanner, um pediatra austríaco, de nome Hans Asperger, relatou que alguns dos seus
pacientes tinham uma forma de comunicação especial bem como uma deficiência de
adaptação social, demonstrando falta de empatia, olhar estranho, pobreza na expressão e
nos gestos, comportamentos excêntricos, falta de humor, sensibilidade e interesses
idiossincráticos (James, 2006). Interessado na educação especial, descreveu 4 crianças
com dificuldades em integrarem-se socialmente em grupos e designou esta condição
como “psicopatia autística” mencionando uma perturbação estável de personalidade
marcada pelo isolamento social (Klin, 2006). Segundo Asperger, esta disfunção,
provocaria graves dificuldades a nível da interacção social originando problemas de
índole social os quais iriam reflectir-se ao nível do desenvolvimento da criança. No
entanto, podiam aparecer situações já como simples problemas de índole social, os
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quais seriam equilibrados através do seu pensamento que continha um elevado grau de
originalidade (Orrú, 2010). Foi rejeitado por Asperger a possibilidade de uma origem
psicogenética desta condição, evidenciando a natureza familiar da mesma com a
hipótese de os traços de personalidade transmitirem-se para o sexo masculino (Klin,
2006), verificando-se a existência deste distúrbio principalmente no sexo masculino
(Tamanaha,Perissinoto & Chiari, 2008). Assim, a Síndrome de Asperger, embora com
outro nome, foi pela primeira vez reconhecida nesta época.
Em 1981, Lorna Wing, psiquiatra inglesa, ao ter publicado vários casos
manifestando sintomas similares aos anteriormente apontados por Asperger, tornou
conhecido no mundo anglófono o trabalho deste autor, o qual só tinha sido publicado
originalmente em alemão e, em sua homenagem, passou a utilizar o termo Sindroma de
Asperger. Wing (1998), sintetizou igualmente as características que Asperger tinha
encontrado no referido grupo de crianças da seguinte forma: as crianças eram estranhas
no contexto social, ingénuas e emocionalmente distantes dos outros, parecendo viver
num mundo à parte; o seu discurso era fluente, claro e pedante, usado em monólogos,
com aplicação da gramática de forma correcta e de um vocabulário extenso; a
comunicação não-verbal era bastante limitada e apresentavam uma peculiar e monótona
entoação verbal; os seus interesses restringiam-se a temas muito específicos, os quais
incluíam colecções de objectos ou qualquer assunto relacionado com tais interesses;
mesmo tendo uma inteligência média ou mesmo acima da média, demonstravam
dificuldades na aprendizagem de tarefas escolares convencionais, mas tinham aptidões e
ideias originais no que respeitava aos seus interesses específicos; normalmente,
apresentavam restrições ao nível da coordenação motora e organização do movimento,
embora alguns pudessem destacar-se em áreas de interesse específicas, como tocar um
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instrumento musical e, finalmente, estas crianças careciam de senso comum (Prudencio,
Comí, Navarro, Pérez, Díaz-Jorge, Pascual & Pallarés, 2007).
Cabe esclarecer, que desde a primeira vez que a Síndrome de Asperger foi
descrita na literatura alemã em 1994, houve várias tentativas efectuadas por diversos
investigadores para encontrar uma definição da sua categoria nos escritos de Asperger
mas só foi possível chegarem a uma definição consensual até ao aparecimento do CID-
10 – Classificação Internacional das Doenças (nome abreviado) publicada pela
Organização Mundial de Saúde (1993), recebendo assim uma aceitação oficial com a
publicação deste manual e posteriormente com a publicação do DSM-IV – Manual de
Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais pela Associação Psiquiátrica
Americana, 4ª edição (1994).
Para se chegar a um consenso entre os cientistas sobre a constituição dos
critérios de diagnóstico da Síndrome de Asperger, foram realizados muitos estudos
nesta área. E, embora nos manuais de classificação diagnóstica de perturbações mentais
(actualmente a ultima edição revista de 2004 do DSM-IV-TR e o CID-10), a Síndrome
de Asperger seja apresentada com um diagnóstico específico e independente dentro das
Perturbações Globais de Desenvolvimento, ainda não acabaram as discussões teóricas
para determinar se a Síndrome de Asperger deve ou não ser considerada uma
perturbação distinta do Autismo (Prudencio et al., 2007). Segundo Orrú (2010), hoje em
dia a Síndrome de Asperger é uma variante do Autismo no que respeita à característica
de alto funcionamento, ou seja, inteligência preservada, fazendo parte do chamado
espectro do autismo, havendo no entanto, também aqui, alguma polémica direccionada
para o facto de o diagnóstico ser muitas vezes confundido entre estas duas realidades,
Autismo de Alto Funcionamento e Síndrome de Asperger. No entanto, como os critérios
da CID-10 e do DSM-IV têm uma validade empírica reduzida, talvez com estudos
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novos e mais precisos que venham a surgir, a definição que hoje existe irá
provavelmente mudar (Klin, 2006).
Assim, alguns dos critérios para o diagnóstico da Síndrome de Asperger estão a
ser discutidos entre vários profissionais no campo da psiquiatria, psicologia e educação.
Sendo certo que, por não haver nenhum marcador biológico que nos permita detectar a
Síndrome de Asperger, o seu diagnóstico continua a ser de cariz clínico, baseado
essencialmente nos comportamentos observados, na anamnese, na história do
desenvolvimento do indivíduo e no seu perfil psicológico (Prudencio et al., 2007). De
acordo com Schwartzman, citado por Orrú (2010), podem-se juntar a este diagnóstico
clínico que é realizado tanto para o Autismo como para a Síndrome de Asperger,
exames laboratoriais que serão apenas efectuados se houver comorbidade. Perante este
cenário, o diagnostico é orientado pelo DSM-IV-TR e pelo CID-10.
Na prática, existem discrepâncias em alguns dos critérios e diagnósticos que
devem ser observados a nível clínico. De acordo com o CID-10 (F84.5), a Síndrome de
Asperger, apresenta uma validade nosológica incerta. Assim, tal como o Autismo, a
Síndrome de Asperger, descreve o mesmo tipo de alterações a nível qualificativo na
interacção social recíproca com a mesma lista de interesses e actividades restrito,
estereotipado e repetitivo. A única diferença em relação ao Autismo é de não existir
qualquer deficiência ou mesmo atraso geral ao nível da linguagem e do
desenvolvimento cognitivo do indivíduo. Geralmente na adolescência e idade adulta, os
indivíduos com Síndrome de Asperger, são desajeitados, apresentando comportamento
estereotipado, que no princípio da idade adulta pode ser ou não seguido de surtos
psicóticos (Orrú, 2010 & WHO, 1994).
No Manual Diagnóstico e Estatístico de Perturbações Mentais da Associação
Psiquiátrica Americana na sua revisão de 2000, os critérios que o DSM-IV-TR
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estabelece para o diagnóstico são: um défice qualitativo da interacção social
apresentando 4 características, a primeira, um défice no uso dos múltiplos
comportamentos não verbais (contacto olhos nos olhos, postura corporal e gestos
reguladores da interacção social), a segunda, uma incapacidade para desenvolver
relações com os pares, adequadas ao seu nível de desenvolvimento, a terceira, a falta da
tendência espontânea para partilhar objectivos, interesses ou prazeres com outras
pessoas (não mostrar, trazer ou indicar objectos de interesse) e a quarta, falta de
reciprocidade social e emocional, este critério é denominado critério A, e tem de
apresentar pelo menos duas das características indicadas; o outro critério apontado
como critério B, tem a ver com os padrões de comportamento, interesses e actividades
restritos, repetitivos e estereotipados, apresentando igualmente 4 características, a
primeira, uma preocupação absorvente por um ou mais padrões estereotipados e
restritos de interesses que resultam anormais quer na intensidade quer no objectivo, a
segunda, uma aparente e inflexível adesão a rotinas ou rituais específicos, não
funcionais, a terceira, maneirismos motores estereotipados e repetitivos (agitar ou rodar
a mãos ou dedos, movimentos complexos em todo o corpo) e a quarta, preocupação
persistente com partes de objectos, neste critério B tem de existir pelo menos uma
destas características mencionadas; no critério C, é necessário que a perturbação
produza um défice clinicamente significativo da actividade social, laboral ou de outras
áreas importantes do funcionamento. Esta é talvez a diferença mais importante que
existe em relação ao CID-10 que não contempla esta situação (Gillberg, 2002); como
critérios de exclusão, aparece o chamado critério D, onde se refere que não existe um
atraso geral da linguagem clinicamente significativo (aos 2 anos de idade uso de
palavras simples, aos 3 anos de idade existem frases comunicativas); no critério E, não
há atraso clinicamente significativo no desenvolvimento cognitivo ou no
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desenvolvimento das competências de auto-ajuda próprias da idade, no comportamento
adaptativo (é diferente da interacção social) e na curiosidade acerca do meio ambiente
durante a infância e, o ultimo critério, o critério F, refere que não pode preencher os
critérios para outra Perturbação Global do Desenvolvimento ou da Esquizofrenia
(Prudencio et al., 2007 & APA, 2004).
É importante referir que existem investigadores que apresentaram e publicaram
os seus próprios critérios para o diagnóstico da Síndrome de Asperger, os quais são
utilizados internacionalmente a par com os critérios de diagnóstico que nos são
transmitidos pelo DSM-IV-TR e pelo CID-10.
Em 1989, Gillberg e Gillberg ao apresentarem os seus próprios critérios para o
diagnóstico da Síndrome de Asperger (publicados em 1991), usaram como critério
relevante o diagnóstico de falta de destreza motora. Alguns dos seus critérios (seis) são
coincidentes com os constantes no DSM-IV-TR, mas existem algumas diferenças
importantes que convém realçar. O primeiro critério diz respeito aos défices na
interacção social, com 4 características: incapacidade para interagir com os seus pares,
desinteresse e falta de desejo para interagir com os seus pares, não reconhecimento de
pistas sociais e comportamento social e emocional inadequado para a situação, sendo
necessário que se verifiquem pelo menos duas destas características. O segundo critério,
aponta para os interesses restritos e absorventes e apresenta 3 características: exclusão
de outras actividades, adesão repetitiva e mais mecânicos em vez de significativos,
bastando verificar-se uma. O terceiro critério, diz respeito à imposição de rotinas e
interesses, e tem 2 características: sobre si mesmo em aspectos da vida e sobre os
outros, bastando igualmente a verificação de uma. O quarto critério, problemas da fala e
da linguagem, com 4 características: atraso inicial no desenvolvimento da linguagem,
linguagem expressiva e superficialmente perfeita, peculiaridades no ritmo, entoação e
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prosódia, dificuldades na compreensão, que incluem interpretação literal de expressões
ambíguas ou idiomáticas, têm de se verificar pelo menos 3 destas características. Aqui
existe uma diferença significativa com os critérios existentes no DSM-IV-TR, onde se
considerou que não existe atraso geral clinicamente significativo, ao contrário da
posição de Gillberg et al. onde é referido existir o atraso inicial no desenvolvimento da
linguagem. O quinto critério, dificuldades na comunicação não-verbal, apresenta 6
características: o uso limitado de gestos, linguagem corporal desajeitada, expressão
facial limitada, expressão inapropriada, olhar estranho, rígido, bastando verificar-se uma
destas características. O sexto e último critério, falta de destreza motora (individuo
desajeitado a nível da motricidade), que apresenta como única característica, o atraso
precoce na área motora ou alterações em testes de neurodesenvolvimento. Este critério
não existe no DSM-IV-TR, não tendo sido considerado um critério de diagnóstico
definidor. Outra diferença importante, diz respeito ao desenvolvimento cognitivo, o qual
é apontado no DSM-IV-TR, como critério de exclusão, que indica não haver do ponto
de vista clínico atrasos significativos no desenvolvimento cognitivo, enquanto Gillberg
et al., não mencionam em nenhum dos seus critérios de diagnóstico qualquer referência
ao coeficiente de inteligência (Prudencio et al., 2007). Quando estes critérios são
utilizados na investigação, todos os seis têm de ser preenchidos para que um diagnóstico
definitivo seja efectuado e também 9 dos 20 sintomas têm de ser cumpridos (Gillberg,
2002).
Gillberg (1989), afirma não existirem diferenças a níveis neurobiológico
implícitos no sindroma de Asperger e do Autismo, podendo mesmo, o primeiro ser
apelidado de “ menos grave” e se tornar mais adequado para alguns indivíduos
comparativamente ao segundo. Já o termo “autismo infantil” para este autor,
independentemente do diagnóstico, parecer ser mais apropriado para alguns indivíduos
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enquanto o termo Sindroma de Asperger será mais adequado para outros, não
significando no entanto que o termo Sindroma de Asperger não se inclua no espectro do
Autismo, nem que o seu diagnóstico invalide o mesmo (Steiner, citado por Orrú, 2010).
Para reforçar esta ideia, Gillberg efectuou uma avaliação em 23 crianças,
diagnosticadas com Sindroma de Asperger, comparando-as pelas características clínicas
com os Autistas clássicos. Foram encontradas alterações nas famílias dos indivíduos
com Síndrome de Asperger que era então comparada aos indivíduos autistas, tendo-se
destacado de entre essas alterações, pelo maior numero apresentado, os distúrbios de
relação mútua, onde os sintomas estão presentes no Autismo e na Síndrome de
Asperger. Parecendo evidenciar algumas alterações no desenvolvimento neurológico e
no comportamento dos familiares directos de autistas, o que poderá sugerir que as
mesmas se expressem a nível do fenotípo das Perturbações Globais do
Desenvolvimento. Na verdade, hoje sabe-se que pelo menos metade das crianças,
adolescentes e adultos com a Síndrome de Asperger, têm um familiar próximo (pais ou
irmãos) que apresentam características semelhantes, sendo certo que não apresentam
necessariamente os mesmos problemas. Estudos demonstraram que alguns indivíduos
que têm Síndrome de Asperger, têm filhos com as mesmas dificuldades ou pelo menos
dificuldade muito idênticas. No entanto, ainda não há consenso em explicar, como é que
tantos indivíduos com a Síndrome de Asperger são capazes de ter filhos portadores de
limitações funcionais semelhantes aos progenitores. (Gillberg, 2002).
Por sua vez, Peter Szatmari publicou os seus critérios em 1989, sendo bastante
idênticos aos de Gillberg et al. (1989). No entanto, o diagnóstico da Síndrome de
Asperger de Szatmari, só pode ser efectuado se o indivíduo não satisfizer os critérios
para o Autismo.
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Todas estas definições da Síndrome de Asperger estão actualmente a ser usadas
no estudo científico da Síndrome de Asperger. No entanto existem problemas com todas
elas.
Gillberg et al. (1989), em conformidade com o que Asperger divulgou,
prescrevem que haja a presença de interesses restritos, no entanto, alguns indivíduos,
principalmente do género feminino (crianças e mulheres) apresentam todos os outros
critérios mas não este critério dos interesses restritos. Também é exigido o critério da
falta de destreza motora para um diagnóstico definitivo. No entanto, alguns indivíduos
que possuem todos os sintomas da Síndrome de Asperger, têm excelentes habilidades
motoras. Assim, como devem estes indivíduos ser diagnosticados? Na prática clínica
este não é um problema grave, dado que dos 6 critérios “apenas” 5 devem ser satisfeitos
para que um diagnóstico deva ser efectuado. Os critérios de Szatmari (1989), excluem o
diagnóstico da Síndrome de Asperger, se os critérios do Autismos forem cumpridos. No
entanto, as realidades clínicas são tais que os indivíduos que apresentam o conjunto de
problemáticas descrito por Asperger, muitas vezes preenchem os critérios para o
Autismo ou tiveram estes critérios no passado. Estes problemas também dizem respeito
ao CID 10 e ao DSM-IV-TR. No entanto, estes manuais acabam por causar maiores
problemas ao incluírem o critério de um normal desenvolvimento nos primeiros 3 anos
de vida. Assim, segundo estudos efectuados, podem existir muito poucos casos de
sintomas clássicos de Síndrome de Asperger, que têm um desenvolvimento
praticamente normal a nível social, cognitivo e da linguagem. Também existe outro
problema, no que respeita à exigência de apenas 3 sintomas (num total de 8 itens) são
obrigatórios para o diagnóstico. Isto significa que do ponto de vista sintomático existe
muito pouco para que o diagnóstico possa ser efectuado, o que leva a que crianças, por
exemplo, com depressão, perturbação da conduta, timidez exagerada ou mutismo
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selectivo apresentem sintomas suficientes que se ajustam no diagnóstico dos critérios da
Síndrome de Asperger (Gillberg, 2002).
É pertinente focar também aqui o conceito de Espectro Autista, o qual tem a sua
origem num estudo efectuado por Lorna Wing e Judith Gould, em 1979, em Londres,
onde foi comprovado que os traços autistas estavam presentes não apenas nas pessoas
autistas como nos outros quadros das perturbações globais do desenvolvimento. Ao
procurarem deficiências importantes nas capacidades de relação social, aperceberam-se
que numa população estudada de 35.000 indivíduos menores de 15 anos, só existiam 4,8
por cada 10.000 com o chamado autismo clássico. Foi assim que se perceberam que as
crianças que apresentavam dificuldades na reciprocidade social, também manifestavam
os principais sintomas do autismo, sem serem autistas propriamente ditas. Logo o
referido Espectro Autista não é uma categoria única, sendo considerado um contínuo e
evidencia diferentes graus. Deste estudo retiraram assim importantes conclusões,
definido o autismo mais como um continuum do que como uma categoria de
diagnóstico, com um conjunto de sintomas que se pode associar a distintas perturbações
e níveis intelectuais, que em cerca de 75%, é acompanhada por atraso mental e que
existem outros quadros com atraso no desenvolvimento, não autistas, mas que
apresentam sintomatologia autista. Lorna Wing, criou a famosa “tríade de Wing” que
enumera as 3 dimensões principais alteradas no continuum autista: défice da
reciprocidade social, défice da comunicação verbal e não verbal, ausência da capacidade
simbólica e conduta imaginativa. Posteriormente acrescentou os padrões repetitivos de
actividades e interesses (Nicolás, 2004; Junior & Cunha, 2010).
O guarda-chuva que abarca o conceito Perturbações do Espectro Autista,
geralmente utilizado como sinónimo das Perturbações Globais do Desenvolvimento, é
composto pelo Autismo (que também pode ser denominado por Perturbação Autistica,
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Síndrome de Kanner, Autismo Infantil, Autismo Clássico), pela Sindrome de Asperger
(ou Perturbação de Asperger, às vezes para alguns autores Autismo de Alto
Funcionamento), Perturbações Desintegrativas da Infância, Outras Condições
Semelhantes ao Autismo, sendo que alguns autores ainda incluem problemáticas com
características autistas e o fenótipo mais amplo (menor variação) do Autismo (Gillberg,
2002). Devido a esta grande variedade de situações existentes, há muitos autores que
preferem falar neste espectro de condições autista.
Nos últimos anos, a Síndrome de Asperger está a tornar-se mais relevante e
estão a efectuar-se diagnósticos mais acertados de muitas pessoas que andavam de
consulta em consulta sem encontrarem nem o diagnóstico, nem a resposta educativa
mais adequada. No continuum autista se o Autismo Clássico poderia estar num extremo,
a Síndrome de Asperger poderia estar no outro. Assim, existem autores que identificam
a Síndrome de Asperger com Autismo de Alto Funcionamento, mas a opinião
maioritária é que se trata de uma realidade diferente, que apenas compartilha algumas
características do Autismo (Nicolás, 2004 & Schwartzman, citado por D´Antino , 2008).
Estes são alguns exemplos dos instrumentos que estão a ser utilizados
internacionalmente para o diagnóstico da Síndrome de Asperger e, que colocam em
evidência o longo caminho que ainda há para percorrer até que seja possível definir a
Síndrome de Asperger e responder a determinadas questões, tais como: a Síndrome de
Asperger é uma perturbação específica distinta do Autismo? é possível definir-se a
Síndrome de Asperger como o resultado de uma boa evolução do Autismo? é possível
definir subgrupos distintos na população de indivíduos com a Síndrome de Asperger?
(Prudencio et al., 2007).
Vão-se explicitar de forma mais pormenorizada as características da Sindrome
de Asperger. Na verdade, existem certas características evidentes que os indivíduos com
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a Síndrome de Asperger possuem as quais são descritas por alguns autores. Assim, o
aparecimento dos sintomas raramente é verificado antes dos 3 anos de idade sendo que
o diagnóstico normalmente sucede entre os 5 e os 6 anos de idade, apontando muitas
vezes para que seja uma criança sobredotada (Schwartzman, citado por Orrú, 2010).
Apesar destas crianças terem um desenvolvimento motor normal, passam aos outros a
imagem de uma aparência desajeitada, uma vez que são portadores de alguma
incapacidade psicomotora (Gilbert e Klin citados por Orrú, 2010). Klin (2006) esclarece
que a aquisição de capacidades motoras como andar de bicicleta, segurar uma bola,
movimentar-se nos baloiços, escorregas e outros objectos presentes em parques infantis,
etc, nos indivíduos com Síndrome de Asperger, podem ser apreendidas mais tarde do
que será o habitual. Como têm uma reduzida coordenação motora, podem apresentar
formas de andar arqueado ou aos pulos e uma postura estranha, o que lhes confere o tal
aspecto francamente desajeitado. Conforme Asperger referiu no seu estudo e é
igualmente referido no DSM-IV (1995), a percepção destes indivíduos é sempre
conduzida para o todo e possuem uma magnífica memória associada (Orrú, 2010).
Autores como Asperger (1994), Klin (2003) e Schwartzman (1992), afirmam que o
contacto visual, apesar de ser superficial, está sempre presente (Orrú, 2010). No que
respeita ao desenvolvimento social, dizem Klin (2003) e Schwartzman (1992 que estes
indivíduos, comunicam socialmente mas apenas de forma espontânea, precisando de
decorar as regras sociais (Orrú, 2010). Segundo Asperger (1944) e o que se encontra no
DSM-IV (1995), estas crianças desde o inicio do seu desenvolvimento, fazem uma
exploração adequada dos objectos, possuindo interesses específicos e pouco frequentes
(Orrú, 2010). Em termos neuropsicológicos, apresentam, geralmente de forma elevada,
competências auditivas e verbais e uma aprendizagem repetitiva, mas já possuem
défices nas competências visuo-motoras e visuo-perceptivas bem como na
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aprendizagem conceptual (Klin, 2006). Normalmente, não existe atraso no aparecimento
da linguagem, apresentando esta um padrão de criatividade, uma vez que as palavras
são utilizadas de uma maneira refinada adquirindo um estilo pretensioso, o que é pouco
usual nessa idade, no entanto, apresenta-se bem estruturada a nível gramatical mas
existem alterações pragmáticas (Martin, MacDonald e Pastorello, todos citados por
Orrú, 2010). Também têm interesses diferentes das crianças da sua idade, e mostram
aptidão para perceber determinados assuntos de um ângulo diferente provando
possuírem alguma maturidade (Orrú, 2010). Quanto ao desenvolvimento da leitura e da
escrita, numa grande parte dos casos, desde uma idade precoce existe um
desenvolvimento espontâneo (hiperlexia), segundo Schwartzman (1992) e Lopes-
Herrera (2005), ambos citados por Orrú (2010).
Desenvolvendo um pouco mais este tema da comunicação e linguagem, é
importante acrescentar que existe relevância clínica, segundo Klin (2006), em três
vertentes presentes na comunicação dos indivíduos com a Síndrome de Asperger
mesmo não sendo vulgares anomalias significativas na linguagem, uma vez que não
existem alterações fonológicas ou da sintaxe sendo assim correctas a pronuncia e a
gramática (Fernandes & Palha 2000). Na primeira vertente, pode-se referir a existência
de uma prosódia pobre na linguagem. Na verdade, manifestam pouca entoação que é
usada quase sem ligação na comunicação declarativa (afirmações, comentários bem-
humorados). A fala pode ter uma velocidade invulgar sendo muito rápida, ou falta a
fluência surgindo entrecortada, e muitas vezes a tonalidade do volume é desapropriada,
verificando-se uma voz elevada mesmo estando a pessoa próxima, o que demonstra a
inadequação ao ambiente social, por exemplo, numa biblioteca ou numa multidão
ruidosa. A segunda vertente, aponta para o facto superficial e circunstancial que a fala
pode apresentar, exibindo uma incoerência e uma lentidão de evocação de ideias, sendo
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certo que este quadro pode apontar num pequeno número de casos para uma possível
perturbação do pensamento. No entanto, a ausência de contingência na fala, é uma
consequência do tipo de conversa egocêntrica e em monólogo, de forma infatigável
sobre nomes, códigos, etc, bem como da incapacidade de proporcionar o inicio dos
comentários e definir de forma clara as mudanças de assunto e ainda a não eliminação
da produção vocal que segue os pensamentos introspectivos. A terceira e última
vertente, tem a ver com a admirável loquacidade que caracteriza a comunicação dos
indivíduos com a Síndrome de Asperger. Estes, podem falar incansavelmente sobre um
assunto que gostem sem que haja qualquer conexão com a outra pessoa no sentido de
esta estar interessada, envolvida, tentar fazer algum comentário, interromper ou mudar o
assunto. As tentativas da pessoa que escuta para efectuar perguntas ou mudar de assunto
são normalmente infrutíferas. E, estes monólogos apesar de prolixos, não significam
que o indivíduo seja capaz de atingir alguma parte do assunto ou mesmo chegar a uma
conclusão, que é o que normalmente acontece. Vão armazenando muita informação
sobre um ou mais assuntos do seu interesse e com grande intensidade, sendo certo que
são esses assuntos que são o foco das interacções sociais. Cabe realçar que os interesses
próprios destes indivíduos, seja qual for a sua idade, vão sendo cada vez mais insólitos e
de âmbito mais limitado (Klin, 2006).
Verificam-se assim alterações da pragmática, ou seja, a maneira como se usa a
linguagem num determinado contexto social, da semântica, uma vez que não é
percebido que uma palavra pode ter diversos significados e da prosódia, onde o ritmo,
entoação e o timbre não são comuns (Fernandes & Palha 2000; Dias, Silva , Pereira,
Perissinoto & Bergamini, 2009).
Porém, os indivíduos com Autismo e Síndrome de Asperger, apresentam
geralmente dificuldades em perceber os significados das palavras tanto na comunicação
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verbal como na não verbal. No entanto, outros meios de comunicação, como os gestos,
não são utilizados pelos indivíduos com Síndrome de Asperger que preferem a
comunicação verbal, sendo certo que têm dificuldade em comunicar com o olhar,
aparentemente porque não percebem as expressões faciais com quem estão a conversar.
Segundo Bowler (1992) haveria também omissões na explicação das conexões do
significado de estímulos verbais e não verbais em conjunção com omissões na
“recepção, discriminação, classificação e organização de estados mentais da outra
pessoa”.Por esta razão, aparecem dificuldades ou mesmo incapacidades cognitivas para
demonstrar desejos, intenções, sentimentos e crenças a outras pessoas e em relação a ele
próprio (Orrú, 2010).
Ao contrário do que acontece com o Autismo, os indivíduos com Síndrome de
Asperger defrontam-se com um isolamento social mas pode-se dizer que não são
normalmente inibidos na presença de outras pessoas. Assim, são capazes de se
aproximarem dos outros, mas de forma pouco apropriada e excêntrica e, por exemplo,
junto de um adulto, vão conversar em monólogo empregando uma linguagem
pretensiosa e prolixa sobre um assunto favorito, circunscrito e normalmente não usual.
Querem ter amigos mas, por um lado, devido à forma desajeitada com que se dirigem às
pessoas, e por outro lado, pela falta de sensibilidade que demonstram ter em relação aos
sentimentos, desejos e à forma não literal e implícita de comunicação que as pessoas
emitem (aborrecimento, pressa, privacidade, etc), acabam por não o conseguir e sentem-
se quase sempre frustradas pelos consecutivos fracassos. Na verdade, muitas vezes as
pessoas com a Síndrome de Asperger vão reagir de forma inapropriada não
compreendendo o significado do contexto da interacção afectiva demonstrando
insensibilidade, formalidade ou desrespeito pelas expressões emocionais dos outros.
Sabem cognitivamente e formalmente descrever as emoções, os desejos, as intenções e
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as convenções das outras pessoas de forma correcta, mas são incapazes de agir de uma
forma espontânea e intuitiva em conformidade com essas informações, pelo que fica
destruída a dinâmica da interacção. Uma intuição pobre, uma privação de adaptação
natural, uma inflexibilidade em relação às regras sociais e uma exagerada ligação às
regras formais do comportamento são componentes que causam frequentemente aos
outros a ideia de que estes indivíduos são portadores de uma ingenuidade social e de um
comportamento rígido (Klin, 2006).
As funções sensoriais apesar de não serem mencionadas em nenhuma das
classificações de diagnóstico estão presentes em cerca de 40% dos indivíduos com
Síndrome de Asperger, sendo as alterações da actividade sensorial mais frequentes a
hipersensibilidade sonora (ruídos súbitos, inesperados, contínuos, agudos, múltiplos e
aglomerados) e táctil (as áreas mais sensíveis são o couro cabeludo, palmas das mãos e
braços), e em sentido contrário, a hipossensibilidade térmica (temperatura) e álgica
(dor) (Fernandes & Palha 2000).
As classificações de Gillberg e Szatmari não contemplam a parte cognitiva,
estando a mesma abrangida como critério de exclusão no DSM-IV e ICD-10. É
importante referir que a inteligência na Síndrome de Asperger apresenta um coeficiente
normal ou acima do normal, há no entanto descrição de alguns casos com défice
cognitivo. Já a memória, é normalmente de longo prazo, sendo caracterizada como
fotográfica, impressionando pela sua capacidade (Fernandes & Palha 2000). Em termos
de memória verbal de eventos recentes, há um desempenho apropriado, ou seja, os
indivíduos com a Síndrome de Asperger conseguem recontar situações recentes mas que
não estejam relacionadas entre si, porque se esta mesma memória tiver por base
categorias semânticas, já se verifica a existência de um prejuízo (Lira,Tamanaha,
Perissinoto & Osborn, 2009). Pode-se apontar que no raciocínio dedutivo, onde existe
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uma diminuta flexibilidade de pensamento, é difícil de aprenderem com os erros que
cometem, mantendo assim os mesmos comportamentos sem os corrigirem (Fernandes &
Palha 2000).
Cada pessoa é afectada pela Síndrome de Asperger de forma diferente. Cada
caso apresenta pontos fortes e pontos fracos. Nos pontos fortes incluem-se a capacidade
de pensar de forma incomum e enriquecedora e a concentração numa única actividade
por longos períodos. Têm igualmente capacidade de dar atenção exclusiva a uma tarefa
e persistir nela, situação que não acontece com as outras pessoas, que não conseguem ir
tão longe nessa tarefa. Devido ao défice social que apresenta, eles são geralmente mais
bem sucedidos em áreas que não exigem um alto grau de compreensão social. Quanto
aos pontos fracos, estes incluem a dificuldade na compreensão e comunicação verbal e
não verbal, dificuldade em pensar e comportar-se de forma flexível assim como em
compreender o mundo social (James, 2006).
Verifica-se que desde sempre existiu e continua a existir um grande fascínio em
relação aos indivíduos com a Síndrome de Asperger, o qual é normalmente associado
aos interesses idiossincráticos que estes indivíduos têm, em áreas restritas e muito
específicas, sendo esta uma das características que se salientam nesta perturbação
(Bauer citado por Orrú, 2010). Na verdade, aqueles que têm a Síndrome de Asperger,
muitas vezes sentem-se como se estivessem no “planeta errado”, sendo certo no entanto
que muitos destes “estranhos na terra” têm ido muito longe. Mas, apenas uma pequena
minoria destes indivíduos têm estas capacidades e as oportunidades para se destacarem,
e serem mesmo considerados pessoas notáveis (James, 2006).
E, como se viu, a Síndrome de Asperger, é uma perturbação ao nível do
desenvolvimento, razão pela qual, há possibilidades de o indivíduo com esta
problemática conseguir, em menor ou maior grau, aperfeiçoar as suas competências ao
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nível social, da conversação e do entendimento dos sentimentos e pensamentos das
outras pessoas. Aponta-se que geralmente a mudança para uma socialização dita mais
convencional aparece quando a escolaridade termina (escola ou universidade). Nesse
momento, o individuo com a Síndrome de Asperger pode conseguir obter uma maior
autonomia e orientar melhor a sua rotina diária, a sua ocupação e os seus contactos
sociais. No género masculino este prognóstico não se mostra tão favorável como no
género feminino. Uma explicação verosímil para esta situação é os indivíduos do género
masculino com a Síndrome de Asperger, manifestarem mais os défices sociais e uma
maior tendência para exibirem comportamentos disruptivos ou agressivos,
nomeadamente em situações de frustração ou em que sejam obrigados a fazer algo que
os incomode (Fernandes & Palha 2000). Ainda em referência ao género, é interessante
referir que a maioria dos estudos epidemiológicos aponta para uma proporção de género
masculino e feminino na Síndrome de Asperger, na ordem dos 3 a 6 homens para cada
mulher, a qual é assim concebida muito acima da população em geral. No entanto, o
género feminino, conforme já foi referido, mostra às vezes, um ligeiro grupo de
sintomas diferentes do que é considerado como típico nos homens. Segundo Gillberg
(2002), é bastante crível que estes casos no género feminino, não tivessem sido
considerados e assim, não tivessem entrado nos estudos epidemiológicos. Pode-se
deduzir que a prevalência dos valores existentes nos actuais índices está subestimada
devendo considerar-se que a proporção do género feminino com a Síndrome de
Asperger é mais elevada do que tem sido divulgado.
Durante estes últimos anos houve um enorme aumento do conhecimento
relativo ao funcionamento do cérebro e disfunções cerebrais. Foi possível estudar os
mecanismos cerebrais que podem estar na base da Síndrome de Asperger.
Desenvolvimentos em campos próximos têm contribuído tanto para uma melhor
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compreensão da Síndrome de Asperger, como para perceber a sua maior complexidade
(Gillberg 2002).
Ora, as causas da Síndrome de Asperger ainda não foram definitivamente
determinadas. Em muitos casos não oferece dúvida que a contribuição genética tem
muita importância. Outros casos foram relacionados a lesões ou a deficiências do
desenvolvimento do cérebro vindas da vida fetal ou dos primeiros anos após o
nascimento. Em alguns casos pode haver uma combinação destas duas situações,
factores genéticos e factores que provocaram danos cerebrais. Por sua vez, os factores
psicossociais parece que não têm peso como causa da Síndrome de Asperger, mas já
podem ter importância quanto aos seus resultados (Gillberg, 2002).
Os resultados de uma significativa quantidade de testes neuropsicológicos e
neurofisiológicos, mostram que muitas das deficiências principais existentes na
Síndrome de Asperger, podem ser imputadas a um funcionamento incomum ou anormal
nos lobos frontais, ou em áreas vizinhas, nos lobos frontal e temporal. A redução das
chamadas funções executivas e das competências de mentalização, ou seja atribuir
estados mentais aos outros é muitas vezes, provavelmente originada, total ou
parcialmente, a uma deficiente capacidade do cérebro nessas mesmas áreas. Também
dos estudos efectuados sobre o funcionamento de indivíduos com autismo de alto
funcionamento, existe um apoio indirecto para que haja igualmente a disfunção de áreas
do chamado cérebro mais primitivo, incluindo o cerebelo e o tronco encefálico, nos
indivíduos com a Síndrome de Asperger (Gillberg, 2002).
A síndrome de Asperger, não é detectada a partir de um marcador biológico que
permita identificá-la. Só podem ser diagnosticados através do estudo dos
comportamentos, sendo essa uma das razões pela qual só é detectada mais tarde numa
idade considerada menos conveniente e, muitas vezes não é mesmo detectada.
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Normalmente na infância e na adolescência as vias normais de descobrir a
Síndrome de Asperger são através da família e na escola, sendo aqui que evidenciam as
suas características. Já durante a adolescência, os indivíduos podem-se sentir afectados
por não conseguirem estabelecer relações, não se conseguirem adaptar ao meio
ambiente e à aprendizagem das matérias escolares, razões que podem levar a despoletar
problemas de ansiedade e depressão, ou outras reacções de comportamentos agressivos,
o que vai ocasionar o envio ao Psicólogo, que detecta a Síndrome de Asperger. Na idade
adulta, pode ser encontrada se por exemplo, o indivíduo apresentar problemas de
comorbilidade como ansiedade ou depressão que o levam a pedir ajuda ao Psicólogo,
pode ter problemas relacionais ou querer melhorar as suas competências sociais para ter
amigos, situações que o levam a procurar uma consulta psicológica (Cererols, 2010).
Normalmente os pais estão certos quando manifestam preocupação sobre o
desenvolvimento do seu filho. Seja qual for a via a que se chegue ao diagnóstico, quanto
mais cedo este tiver lugar mais positivo será para evolução do indivíduo e para corrigir
os aspectos negativos da Síndrome de Asperger e evitar futuras complicações.
(Cererols, 2010).
É muito útil usar escalas de triagem com vista a detectar a Síndrome de
Asperger, sendo as mais utilizadas a ASSQ, Autism Spectrum Secreening
Questionnaire, de Ehlers, Gillberg y Wing 1999, aplicada a indivíduos dos 6 aos 16
anos de idade. É um questionário, que serve para ajudar a detectar indivíduos que
tenham uma capacidade intelectual elevada e uma perturbação social no espectro autista
e não para diferenciar o Autismo de Alto Funcionamento da Síndrome de Asperger. A
escala Australiana para a Síndrome de Asperger, The Australian Scale for Asperger´s
Syndrome, de Atwood, 1998, serve para identificar as competências sociais,
emocionais, cognitivas, motoras, a comunicação, os interesses específicos e outras
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características que podem ser indicadoras do Síndrome de Asperger em crianças nos
seus primeiros anos escolares. Visa obter informações sobre as crianças com mais de 6
anos com alto nível funcional. O CAST, Childhood Asperger Syndrome Test, de Scott,
Baron-Cohen, Bolton, Brayne, 2002, para aplicar a pais e professores, para obter
informação sobre crianças dos 4 aos 11 anos. Serve para avaliar áreas de socialização,
comunicação, jogo, interesses e padrões de conduta repetitivas (Caballero,2006 ;
Fernández, 2006) Apesar de nestes últimos anos terem sido criados vários instrumentos
para a detecção (e diagnóstico), ainda existe muito trabalho que tem de ser efectuado
nesta área, nomeadamente instrumentos precisos, com boa validade e fidelidade. Os
exames médicos ajudam a afastar outras causas, mas não existe de facto nenhuma
característica física evidente que descrimine a Síndrome de Asperger. O ensaio clínico
vai ser em definitivo o que vai determinar o diagnóstico do indivíduo (Fernández, 2006
Cererols, 2010).
Para efectuar um diagnóstico infantil, o Psicólogo deverá efectuar uma
abordagem pessoal, familiar e social. Quando se fizer a entrevista é necessário recolher
muitos pormenores sobre o desenvolvimento da criança. É necessário avaliar várias
dimensões, como o comportamento social, linguagem, cognição, interesses e funções
motoras e sensoriais (Caballero, 2006 ; Fernandes & Palha 2000). Na avaliação
psicológica, deve-se obter um índice da capacidade intelectual bem como, conseguir um
índice das competências da linguagem, obtendo informações sobre as competências
pragmáticas da comunicação. A seguir, é importante proceder à observação estruturada
na clínica e no ambiente natural, escola ou em casa. Pretendendo-se adquirir evidencia
empírica acerca das condutas diferentes da criança no seu ambiente natural. Por fim,
devem ser administradas diversas provas adicionais: testes da teoria da mente, testes da
função executiva e testes de competência motora.
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Quanto ao desenvolvimento cognitivo, a avaliação faz-se mediante a aplicação
de provas estandardizadas ou escalas de desenvolvimento, que trazem uma importante
informação quanto ao prognóstico do rendimento escolar. Para tal podem-se utilizar
diversos testes psicométricos : WIPPSI, WISC-III, K. ABC, Brunett-Lézine, Matrizes
Progressivas de Raven, Guía Portage, Escala McCarthy, Escala de Desenvolvimento de
Griffiths etc. Pode ser muito difícil a obtenção de informação através destas provas,
sendo a alternativa utilizar tarefas com o critério que o Psicólogo entender serem mais
apropriadas para aquele caso, o que vai permitir verificar o desenvolvimento de
competências, destreza, condutas, etc, que a criança possui em distintas áreas evolutivas
(Fernández,2006).
No entanto, existem igualmente vários instrumentos específicos construídos para
ajudar no diagnóstico da Síndrome de Asperger ou da Perturbação do Espectro Autista,
alguns dos quais se enunciam, como por exemplo: o ASDI, Asperger Syndrome
Diagnostic Interview, Gillberg y cols, 2001, questionário para recolher informação de
crianças com mais de 6 anos, baseado nos critérios de Gillberg, o CAST,Childhood
Asperger Syndrome Test, para aplicar a partir a crianças a partir dos 4 anos de idade.
Para adultos, um instrumento aplicado para a Síndrome de Asperger (ou outra
perturbação do Espectro Autista) é o AQ, Coeficiente de Espectro Autista, que é um
questionário de auto-avaliação e o AAA, Adult Asperger Assessment. Existem mais
escalas e questionários específicos para a avaliação e diagnóstico de Perturbações do
Espectro Autista, destacando-se: o ADOS-G., Autism Diagnostic Observation
Schedule, de Di Lavore, Lord, Rutter, escala de observação, desde crianças em idade
pré-escolar até adultos. Verifica a comunicação, a interacção social recíproca, o jogo e
as condutas estereotipadas, interesses restringidos outras condutas peculiares; o ADI-R -
Autism Diagnostic Interview-Revised, de Lord, Rutter, Le Couteur, 1994, que é uma
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entrevista semi-estruturada para pais. Verifica a ausência de vínculos sociais e
comunicação, condutas ritualizadas ou perseverantes; o CARS, Childhood Autism
Rating Scale, de Schopler, 1998, que é uma entrevista estruturada e instrumento de
observação dirigida a pais de crianças maiores de 24 meses; o I.D.E.A., Inventario de
Espectro Autista de Riviére, 1997, baseado no espectro autista, entende o autismo como
um continuum de diferentes dimensões e não como um uma categoria única; o DISCO,
Diagnostic Interview for Social and Communication Disorders, que é uma entrevista
para o diagnóstico de perturbações sociais e de comunicação (Fernández, 2006;
Cererols, 2010).
Como já foi referido, não existe consenso quanto aos critérios de diagnóstico na
Sindrome de Asperger, sendo certo que entre o DSM IV, o CID 10 e diversos autores
existem diferenças. Determinados critérios clínicos sobrepõem-se com outras
perturbações e síndromes, razão pela qual quando se tem de realizar o diagnostico de
um indivíduo com Síndrome de Asperger, é necessário que o Psicólogo deixe bem claro
qual é a referência e quais os critérios que está a utilizar (Fernández,2006).
Depois do efectuado o diagnóstico definitivo o passo seguinte será a
intervenção. Sendo certo que na Síndrome de Asperger, não se pode falar de cura, com
o sentido de eliminar a causa, porque isso implicaria mudar a organização cerebral do
indivíduo. A evolução, dotou o ser humano de uma enorme capacidade de adaptação e
sobrevivência, e assim, vai-se avançando na medida que se pode fazê-lo (Cererols,
2010). É importante realçar que todos os tratamentos associados à Síndrome de
Asperger, sejam em forma de programas de aprendizagem, terapias psicológicas ou
tratamentos farmacológicos são tratamentos sintomáticos e de apoio ao indivíduo e à
família mas não são curativos (Borreguero, 2005). Além disso, a Síndrome de Asperger
não só é de natureza complexa como também heterogénea, e assim vai afectar os
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indivíduos de forma diferente dependendo das variáveis como a idade, antecedentes
familiares, nível de desenvolvimento e personalidade de cada pessoa. Em consequência,
mesmo partilhando o mesmo diagnóstico de Síndrome de Asperger, apresentam
prioridades de tratamento e necessidades de intervenção muito divergentes entre si
(Borreguero, 2005). Os autores no entanto concordam que uma intervenção efectuada
precocemente mostra resultados eficazes.
A necessidade de apoio escolar e social vai aumentando ao longo da vida escolar
e, na adolescência, verifica-se que existem muitas vezes associados sintomas de
ansiedade e depressão. O apoio deve continuar a ser prestado aos adultos com a
Síndrome de Asperger para assegurar que possam ter uma vida produtiva. Os sintomas
podem ser trabalhados através de psicoterapia individual, no sentido de ajudar o
indivíduo a processar os seus sentimentos por causa do seu défice nas relações sociais.
Outras intervenções podem ser realizadas, com vista a que possam ser efectuadas
aprendizagens no campo da modificação comportamental, treino de competências
sociais, intervenções educativas e eventualmente medicação, devendo os pais também
serem ensinados a aprender a lidar com estes problemas (Turkington & Anan, 2007).
Têm sido utilizados em crianças e adultos com Síndrome de Asperger diversos
tipos de psicoterapia, mas quase não existem estudos publicados sobre este assunto.
Segundo Attwood (2007), a psicoterapia psicanalítica tradicional tem muito pouco a
oferecer a indivíduos com a Síndrome de Asperger. Os métodos de análise utilizados na
terapia psicanalítica tradicional são baseados numa concepção de desenvolvimento de
uma criança típica, mas as crianças com a Síndrome de Asperger percebem e
enquadram-se num mundo muito diferente. Uma psicoterapia adequada, a longo prazo,
pode ajudar um indivíduo com Síndrome de Asperger a compreender os pontos-chave
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da sua vida, e a lidar num mundo que nem sempre compreende a perspectiva e as
intenções de alguém com esta perturbação (Attwood, 2007).
No entanto, os tratamentos mais usados actualmente pertencem às terapias
cognitivo-comportamentais. Estas terapias têm tido uma longa experiência de êxito,
nomeadamente na solução de problemas como a depressão, ansiedade, stress, adições,
etc. Têm por base a relação existente entre os pensamentos, as emoções e o
comportamento. Os comportamentos habitualmente trabalhados, podem proporcionar
recursos específicos destinados a melhorar os défices. Na Síndrome de Asperger, estes
são em áreas de relações sociais, comunicação, percepção, regulação de emoções,
controle da atenção e auto-organização. No âmbito das terapias cognitivo-
comportamentais existem programas específicos que se podem aplicar, como por
exemplo, o ABA, Applied Behavior Analysis, com o qual se pretende ensinar
habilidades funcionais e reduzir comportamentos considerados problemáticos, sendo
muito importante o envolvimento pessoas próximas como a família e professores, são
utilizadas igualmente terapias musicais, artísticas, ocupacionais, etc . E, o TEACCH,
Treatment and Education of Autistic and Related Communication Handicapped
Children, que é uma rede de serviços que proporciona suporte, formação e programas de
investigação, para ajudar as crianças com Autismo e seus familiares (Cererols, 2010).
Seja qual for o plano escolhido há que ter sempre em conta que o tratamento
deve ser personalizado e adaptado às características e capacidades especificas a quem se
dirige, e que os familiares próximos e a escola tenham formação para acompanhar a
execução do processo de tratamento (Cererols, 2010).
Pretende-se com a intervenção reforçar a aquisição de regras sociais e estratégias
de flexibilidade, promover o desenvolvimento das competências sociais. Assim o
psicólogo irá trabalhar para melhorar as estratégias de flexibilidade, competência na
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comunicação, as capacidades positivas, a inter-relação e a troca de experiências. O seu
enfoque será na auto-regulação perante situações stressantes, na auto-estima e na
motivação para a aprendizagem, auto-direcção para favorecer a tomada de decisões
(Cruz & Martín, 2005).
Segundo Cruz e Martín (2005), a aprendizagem de competências sociais deve
ser intencional, prática e funcional, e abordar tanto a intervenção a nível individual
como sessões em pequenos grupos, com a finalidade de favorecer o funcionamento dos
principais mecanismos utilizados na aprendizagem do comportamento social, como
instrução verbal, acompanhada de recursos visuais se for necessário, exposição a
modelos significativos, quer sejam colegas, desenhos animados, vídeo, etc, experiência
directa e retorno interpessoal. Pretende-se assim compreender o outro, através de
competências relacionadas com empatia, linguagem não verbal, sentimentos, conhecer e
regular as emoções, trabalhando competências de auto-regulação e tolerância ao stress,
treinar novas condutas adaptativas para serem mais competentes socialmente.
A Síndrome de Asperger continua a ser assim uma patologia muito recente, com
um caminho ainda longo a ser explorado pela Psicologia e Psiquiatria. Existe todo o
interesse da comunidade científica em encontrar um tratamento, com a finalidade de
promover uma maior qualidade de vida aos sujeitos com a Síndrome de Asperger. No
inicio, os tratamentos irão implicar a sua realização a um nível psicoterapêutico,
educacional e social. Havendo ainda uma grande quantidade de adultos e crianças com
esta síndrome que não necessitam de intervenção farmacológica, no entanto, outros
necessitam dessa intervenção a nível somático. Cabe esclarecer, que não existindo
fármacos específicos, direccionados para a Síndrome de Asperger, é necessário o
recurso aos psicofármacos para o tratamento de crianças. Todavia, a maioria dos
psicofármacos existentes têm efeitos secundários gravíssimos e o risco de adição dos
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fármacos usados, pode pôr em risco todo o processo terapêutico, o que obriga a uma
vigilância apertada da terapêutica, sobretudo nas crianças, tornando-se imprescindível o
acompanhamento junto de um psiquiatra com conhecimentos e experiência no
tratamento da Síndrome de Asperger com psicotrópicos (Orrú, 2010).
Acredita-se que com o diagnóstico e o devido planeamento de intervenções de
carácter clínico, terapêutico, atendimento social e educacional, que vão ao encontro das
necessidades especiais e específicas de cada individuo e se as acções que lhes são
destinadas forem efectuadas a partir de um verdadeiro diálogo interdisciplinar, haverá
certamente uma possibilidade de melhoria da qualidade de vida desses indivíduos e suas
famílias (D`Antino, 2008).
Sendo certo que a Síndrome de Asperger pode originar incapacidades que
incidem no desempenho e na actividade funcional do indivíduo e que vão
necessariamente afectar a sua adaptação e interacção com a sociedade, é possível
minorar estas situações. Conseguir uma compensação com vista a alcançar um
desenvolvimento mais significativo do ponto de vista psicológico, nos casos de
deficiência, sendo que para isso é necessário haver relações sociais e mediações
semióticas para que seja exequível derrotar os défices. (Vigotsky citado por Orrú,
2010).
Pode-se concluir que a Síndrome de Asperger apesar de existir já há muito
tempo, ainda agora começou a dar os primeiros passos, o que é uma grande desafio para
os investigadores e todos os que trabalham e lidam com esta problemática. Devido ao
fascínio e ao interesse que continua a espalhar, a Síndrome de Asperger irá também ela
desenvolver-se e ganhar maturidade, uma vez que as descobertas e os estudos não irão
estagnar. O medo do desconhecido leva à exclusão, e conseguiu-se perceber pelos
estudos efectuados e aqui indicados, que quando há conhecimento das situações, tanto
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por parte do próprio como dos que lhes estão mais próximos e de todos os seres
humanos em geral, existe uma evolução em sentido positivo, sendo possível a inclusão
destas pessoas e um enorme progresso na sua problemática e qualidade de vida. O papel
dos psicólogos, em particular, será cada vez mais importante e o campo para poderem
trabalhar com estes indivíduos vislumbra-se que tem futuro. Vamos ver o que novas
descobertas científicas bem como as alterações que irão seguramente surgir com o novo
DSM-V nos irão trazer. Acreditamos que vão colocar a Síndrome de Asperger num
lugar mais visível, destituindo alguma da confusão que a tem acompanhado até hoje e,
se assim for, tudo o que for efectuado neste sentido será uma ajuda importante para os
psicólogos e outros profissionais. O beneficio maior irá de encontro a quem mais
precisa, que sãos os indivíduos com a Síndrome de Asperger, ou como eles gostam de
ser conhecidos, os Aspies.
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