Veterinaria.com.pt 2009; Vol. 1 Nº 1: e10(publicação inicial em Março de 2008)
Disponível em http://www.veterinaria.com.pt/media//DIR_27001/VCP1-1-e10.pdf
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2008
(Baseada em Série didáctica – Ciências aplicadas. SDE-UTAD, Vila Real, 2004)
www.veterinaria.com.pt
DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO E DE PATOLOGIAS
UTERINAS POR ECOGRAFIA EM RUMINANTES, EQUINOS E
SUÍNOS
Fundamentos teórico-práticos
JOÃO SIMÕES
PAULO FONTES
JOSÉ CARLOS ALMEIDA
Veterinaria.com.pt 2009; Vol. 1 Nº 1: e10
I
ÍNDICE
NOTA PRÉVIA (primeira versão)…………………………...…….………………… III
NOTA PRÉVIA (versão online)…...…………………………………….…………… IV
1. INTRODUÇÃO …………………………………………………………………... 1
2. ECOGRAFIA: FUNDAMENTOS, OBTENÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE
SONOGRAMAS …………………………………………………………………
3
2.1. Princípios básicos da ecografia ………………………………………………….. 3
2.2. Manuseamento do ecógrafo e dos animais ……………………………………… 5
2.3. Planos seccionais e acessibilidade fetal ………………………………………… 9
2.4. Terminologia utilizada em ultra-sonografia e interpretação da imagem ………... 12
3. BOVINOS ………………………………………………………………………… 17
3.1. Diagnóstico de gestação precoce ………………………………………………... 17
3.2. Anexos placentários ……………………………………………………………... 21
3.3. Cabeça …………………………………………………………………………… 22
3.4. Coluna vertebral …………………………………………………………………. 24
3.5. Pescoço …………………………………………………………………………... 24
3.6. Tórax e órgãos internos da caixa torácica ……………………………………….. 24
3.7. Abdómen e órgãos abdominais internos ………………………………………… 26
3.8. Membros anteriores, cintura pélvica e membros posteriores ……………………. 28
3.9. Escroto e glândulas mamárias …………………………………………………… 29
3.10. Exactidão da técnica ……………………………………………………………. 30
4. OVINOS E CAPRINOS ………………………………………………….……… 33
4.1. Diagnóstico de gestação precoce ………………………………………………... 33
4.2. Fetometria ……………………………………………………………………….. 35
4.3. Exactidão da técnica ……………………………………………………………... 38
5. EQUINOS ………………………………………………………………………… 41
5.1 Diagnóstico e monitorização da gestação entre o 10º e o 60º dia de gestação …... 41
6. SUÍNOS …………………………………………………………………………… 45
6.1. Diagnóstico de gestação precoce ………………………………………………... 45
6.2. Exactidão da técnica ……………………………………………………………... 47
7. PATOLOGIAS UTERINAS …………………………………………………….. 49
7.1. Endometrite ……………………………………………………………………… 49
II
7.2. Piómetra …………………………………………………………………………. 50
7.3. Morte embrionária tardia ou fetal precoce ………………………………………. 51
7.3.1. Considerações gerais …………………………………………………………... 51
7.3.2. Caracterização ecográfica ……………………………………………………... 53
7.4. Mucómetra ………………………………………………………………………. 54
7.5. Hidrómetra ou pseudogestação ………………………………………………….. 54
7.6. Outras patologias ………………………………………………………………… 55
7.6.1. Maceração fetal ………………………………………………………………... 55
7.6.2. Mumificação fetal ……………………………………………………………... 55
8. ECOTEXTURA DO ÚTERO EM PERÍODO DE ESTRO …………………… 57
8.1. Período de estro ………………………………………………………………….. 57
9. BIBLIOGRAFIA ……………………………..…………………………………... 59
III
NOTA PRÉVIA (primeira versão)
Esta publicação representa a compilação de quase uma década de trabalhos de índole
diversa, por nós efectuados, e dedicados à questão do maneio reprodutivo nas principais
espécies animais explorados na região de Trás-os-Montes e nos quais o diagnóstico de
gestação precoce assumiu uma das intervenções essenciais. A inclusão, pelo primeiro autor,
do capítulo de diagnósticos ecográficos de patologias uterinas complementa e é indissociável
dessas intervenções.
Optámos por dividir este tema em dois volumes; o primeiro respeitante aos
fundamentos teórico-práticos e um segundo onde se apresentam as imagens ecográficas que
entretanto fomos arquivando. De facto, o suporte digital deste último permite, além de uma
perda mínima de qualidade das imagens e um baixo custo de apresentação, a utilização de
vídeo essencial à avaliação ultra-sonográfica de alguns parâmetros (ex.: batimentos cardíacos)
e a uma melhor identificação topográfica das estruturas. A escolha do formato super vídeo
CD (SVCD) deveu-se aos factos de o armazenamento original destes vídeos, ao longo destes
anos, ter sido o sistema VHS e da duração total dos vídeos ser de aproximadamente 23
minutos. Com o primeiro volume, mais do que comentar os sonogramas, pretendemos
fundamentar o atlas com os conceitos teórico-práticos que permitam uma boa interpretação.
Por esse motivo, existe um paralelismo na estruturação dos dois volumes. Ao primeiro, ainda
adicionámos um capítulo sobre os princípios básicos da ecografia, da obtenção e da
interpretação geral das imagens.
Não podemos deixar de salientar o impacto que a ecografia teve na nossa formação e
nos nossos trabalhos nesta área específica. Assim cumpra, esta publicação, o seu principal
objectivo de contribuir para a formação de quem se pretenda inserir neste tema. Deve, no
entanto, ser acompanhada por muitas horas de experimentação, até porque a experiência do
operador é um dos principais factores de variação da correcta obtenção e interpretação dos
sonogramas.
IV
NOTA PRÉVIA (versão online)
Após 4 anos da sua primeira edição, durante os quais esta série pedagógica (volumes I
e II- Série didáctica – Ciências aplicadas. SDE-UTAD, Vila Real, nº 258, ISBN:972-669-614-
8) foi reimpressa e serviu de bibliografia base em dois workshops sobre diagnóstico de
gestação, temos a sensação do dever cumprido.
Por este motivo, e considerando a evolução célere das novas tecnologias com acesso a
cada vez mais banda larga, é lançada em 2008, uma versão online (volume I) em acesso livre,
de modo a que todos lhe possam aceder.
Na continuação deste espírito de partilha de informação, é permitida a reprodução total
ou parcial desde que mencionado o endereço www.veterinaria.com.pt.
Também neste endereço, é possível encontrar algumas imagens (sonogramas) e vídeos
que completam os fundamentos teórico-práticos descritos neste trabalho.
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
1
1. INTRODUÇÃO
O diagnóstico de gestação precoce é um instrumento fundamental a nível da gestão
técnico-económica nos diversos tipos de explorações animais, quer de espécies com activi-
dade reprodutiva contínua (bovinos, suínos) quer daquelas que se apresentam com índole
sazonal (ovinos, caprinos e equinos).
Os principais métodos de diagnóstico, para além da ultra-sonografia em tempo real
(UTR), são (Arthur et al., 1996; El Amiri et al., 2003a,b): (1) doseamento de progesterona no
leite ou no plasma; (2) Pesquisa da proteína B especifica da gestação ou de proteínas
associadas à gestação; (3) doseamento do sulfato de oestrona no sangue ou leite e; (4)
palpação transrectal do útero e do conteúdo uterino (bovinos e equinos). Esta última técnica é,
actualmente bastante usada, principalmente em efectivos leiteiros. Embora seja um método de
carácter subjectivo e traumático, apresenta como principais vantagens o seu baixo custo, a sua
elevada fiabilidade (dependente da experiência) e os resultados imediatos. De salientar, ainda,
a possibilidade de realizar, em pequenos ruminantes, palpações recto-abdominais (El Amiri et
al., 2003a).
A UTR foi introduzida em reprodução animal para efectuar diagnósticos de gestação
em equinos e felinos, tendo-se expandido rapidamente a outras espécies de mamíferos
domésticos (Kähn, 1992) das quais destacamos os bovinos, ovinos, suínos e canídeos. A esta
expansão, não foram alheias as principais vantagens desta técnica: não é invasiva e os seus
resultados são obtidos em tempo real, é de fácil utilização, possiblita outros diagnósticos, tem
baixos custos de manutenção e é um método de elevada fiabilidade. De facto, a partir dos
últimos anos da década de 70 (Peter et al., 1992) foi desenvolvida a aplicação da UTR ao
tracto reprodutivo feminino dos bovinos quer no controlo de fertilidade dos efectivos quer na
sua vertente clínica, tornando-se comum a sua utilização em efectivos leiteiros (Hill et al.,
1998).
No campo da reprodução, uma das suas principais utilizações é o diagnóstico de
gestação através da observação do útero gestante, o qual inclui o embrião ou feto assim como
os seus anexos. São exequíveis as avaliações ultra-sonográficas da viabilidade e desenvolvi-
mento normal intra-uterino durante a fase embrionária, a partir do momento da detecção eco-
gráfica do embrião e dos seus batimentos cardíacos, assim como durante a fase fetal. Outras
vantagens atribuídas à UTR, são a detecção de gestações gemelares, permitindo desta forma
adequar o maneio nutricional aos animais gestantes, a estimativa da determinação da idade
fetal, calculada a partir da distância crânio-caudal (Hughes and Davies, 1989) e ainda o
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2
diagnóstico diferencial de patologias uterinas caracterizadas pela acumulação de fluidos no
lúmen uterino. No entanto, a monitorização fetal está limitada quer pelo pequeno campo de
exploração dos feixes de ultra-sons, tanto em largura como em profundidade, quer pela
diminuição da acessibilidade fetal, principalmente a partir dos 4 meses de gestação.
Esta técnica imagiológica não invasiva não tem efeitos biológicos adversos conheci-
dos tanto para o animal como para o operador (Rajamahendran et al., 1994). De facto, Baxter
e Ward (1997) não encontraram diferenças estatisticamente significativas relativamente às
diferenças de perdas fetais normais em explorações de bovinos leiteiros (grupo testemunha) e
nas que utilizaram a UTR como método de diagnóstico de gestação, independentemente da
idade da fêmea e do tempo de gestação.
A ecografia, efectuada por via transrectal ou transabdominal, tanto pode substituir
com vantagem outras técnicas directas ou indirectas de diagnóstico de gestação como comple-
mentá-las quando a utilização destas últimas não permita a emissão de diagnósticos
definitivos ou quando a gestação não evolui de forma normal.
O diagnóstico de gestação positivo, por UTR, baseia-se na identificação do
embrião/feto e respectivos anexos, localizados no lúmen uterino. Por vezes, quando os
batimentos cardíacos do embrião ou os movimentos fetais não são detectados, pode o
conteúdo uterino ser confundido com patologias caracterizadas pela presença significativa de
fluido intrauterino.
O diagnóstico negativo é obtido pela ausência de qualquer destes sinais, após locali-
zação do útero sem conteúdo evidente de fluidos no seu lúmen. De realçar, no caso de
diagnóstico de não gestação, 2 aspectos importantes: (a) este diagnóstico fundamenta-se na
não detecção de qualquer estrutura embrionária ou fetal e é confirmado pela visualização do
útero não gestante que (b) nem sempre possui contornos facilmente identificáveis,
principalmente quando a abordagem é efectuada por via transabdominal.
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
3
2. ECOGRAFIA: FUNDAMENTOS, OBTENÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE
SONOGRAMAS
2.1. Princípios básicos da ecografia
A ecografia ou ultra-sonografia em modo B (brilho) é uma técnica que se baseia na
emissão de impulsos sonoros de alta-frequência que após interagirem com tecidos ou órgãos
são reflectidos (ecos) para poderem ser processados num conjunto de pontos de brilho de
diferentes intensidades formando uma imagem bidimensional ou sonograma. Esta imagem
ecográfica representa um plano tomográfico da morfologia e anatomia dos tecidos ou órgãos
explorados. Actualmente os transdutores emitem feixes sequenciais ou segmentares de ultra-
sons obtendo-se no mesmo instante a imagem correspondente aos seus ecos. Nestas condições
denomina-se modo B em tempo real.
De referir a existência de outros modos de imagem ou sistemas de ultra-sons: modo A
ou modo de amplitude e Modo M (movimento) também denominado modo TM “tempo –
movimento” e mais recentemente o modo V (volume) com imagem tridimensional. A ultra-
sonografia por efeito doppler foi (em alguns locais, ainda é) bastante utilizada, principalmente
em suínos mas também em pequenos ruminantes. Baseia-se na detecção dos movimentos
cardíacos fetais, movimento dos fetos ou ainda nos fluxos sanguíneos das artérias placentárias
(El Amiri et al., 2003a).
Em medicina veterinária, para efeitos de diagnóstico da conformação e das alterações
dos órgãos e tecidos moles internos, utilizam-se transdutores com frequências entre 1 e 10
MHz (Cartee et al., 1993; Nyland et al., 1995). No entanto, para a generalidade dos exames
de rotina do foro reprodutivo, as frequências entre os 3,5 e os 7,5 MHz são as mais
adequadas.
O transdutor (sonda ecográfica) é constituído por cristais que, por deformação, podem
receber as ondas reflectidas e transformá-las em energia eléctrica. Esta capacidade de trans-
formação de energia eléctrica em energia radiante mecânica e vice-versa denomina-se efeito
piezoeléctrico.
É emitido um conjunto de 3 a 6 ciclos de ultra-sons em menos de 1 milésimo de
segundo, sendo os ecos recebidos antes de uma nova emissão (figura 1) (Goddard, 1995).
Estes impulsos direccionados são designados por feixes de ultra-sons (Rantanen and Ewing,
1981). Geralmente, os cristais emitem ultra-sons em 1/1000 do tempo do seu funcionamento e
recebem os ecos durante 999/1000 do tempo restante (Feeney et al., 1991; Herring and
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4
Bjornton, 1989). Nos tecidos orgânicos a velocidade média de propagação dos ultra-sons é
aproximadamente de 1540 m/s (Goddard, 1995, Herring and Bjornton, 1989).
Os ultra-sons são recebidos pelos mesmos cristais que os emitiram. Após detecção, os
impulsos são transformados em corrente eléctrica proporcional à sua intensidade. Estes sinais
eléctricos são amplificados e processados para posterior visualização (Stroud, 1994).
Legenda: No momento 0 é emitida uma onda de US, por vibração dos cristais, após estimulação eléctrica. No momento 1 é recebido o eco. Ambos os tempos controlados pelo temporizador permitem juntamente com a velocidade pré-determinada calcular a distância. Este sinal eléctrico é posteriormente amplificado e processado. O corpo do ecógrafo e a sonda (transdutor onde estão dispostos os cristais com efeito piezoeléctrico) constituem a unidade funcional que permite a exploração ultra-sonográfica.
Figura 1. Emissão e recepção dos ultra-sons (adaptado de Pierson et al., 1988).
Quanto maior for a frequência (a resolução acústica aumenta com o aumento da
frequência), menor será a sua capacidade de penetração nos meios de propagação. Por este
motivo utilizam-se frequências iguais ou menores que 5 MHz para efectuar diagnósticos
ecográficos em tecidos ou órgãos localizados mais profundamente em relação à superfície do
animal (Fish, 1990). A atenuação é pois a principal limitação do uso da ecografia em tecidos
ou órgãos profundos.
Os tecidos orgânicos oferecem resistência à propagação dos ultra-sons. Essa resistên-
cia é denominada impedância acústica e é proporcional à velocidade de propagação e à den-
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
5
sidade desses tecidos (Rantanen and Ewing, 1981). Uma vez que a velocidade de propagação
nos tecidos moles sofre variações pouco significativas, a impedância acústica depende princi-
palmente da densidade dos tecidos. São as diferenças de impedância acústica entre dois meios
adjacentes que determinam os graus de intensidade da transmissão e da reflexão dos ultra-
sons (Cartee, 1995). Quanto maior for esta diferença, maior será a intensidade das ondas
reflectidas, diminuindo a possibilidade de propagação dos ultra-sons aos tecidos situados dis-
talmente em relação à interface. Nos tecidos moles, a interface têm pequenas diferenças
acústicas, o que permite o retorno de ecos de intensidade variável, constituindo estas
interfaces boas fontes de informação (Nyland et al., 1995).
As interfaces em que um dos meios tem elevada impedância acústica (por exemplo as
constituídas entre tecidos moles e tecido ósseo ou mineralizado) ou baixa impedância acústica
(geralmente entre tecidos moles e gases), apresentam uma intensidade de reflexão extrema-
mente elevada bloqueando a progressão dos ultra-sons aos tecidos situados distalmente em
relação a estas estruturas (Feeney et al., 1991). Estas interfaces constituem uma importante
limitação à exploração ultra-sonográfica desses tecidos.
2.2. Manuseamento do ecógrafo e dos animais
Nos bovinos, a totalidade do útero das fêmeas gestantes encontra-se, geralmente,
posicionado na cavidade pélvica durante os primeiros 4 meses de gestação. Neste período,
tanto o corpo como os cornos uterinos estão posicionados imediatamente abaixo da ampola
rectal. Esta relação topográfica, aliada à pequena espessura da ampola rectal, torna esta via
como a mais adequada para a colocação do transdutor durante a exploração ecográfica
(Chevalier, 1988).
O ecógrafo deve ser acomodado numa zona protegida e com baixa luminosidade
ambiente, permitindo, deste modo, um maior contraste na visualização da imagem no moni-
tor.
Os animais a serem observados devem estar devidamente contidos em posição de
estação. A sonda deve ser protegida por uma luva adequada para o efeito, prevenindo-se
assim o seu contacto directo com as fezes dos animais em observação. A aplicação de gel
acústico, entre o transdutor e a luva permite um bom contacto com esta, sendo um óptimo
meio de propagação de ultra-sons e não provocando interferências significativas.
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As fezes devem ser removidas da ampola rectal, permitindo assim um melhor contacto
entre o transdutor e a mucosa rectal dos animais. A prévia prospecção manual por palpação
transrectal do aparelho reprodutivo
permite a avaliação do tamanho e
conformação do útero.
Após a sua introdução na ampola
rectal, o transdutor deve ser correc-
tamente justaposto à mucosa (figura
2), formando uma intimidade de
contacto suficiente para evitar a
reflexão de ultra-sons devido à pre-
sença de bolsas de ar. A sonda deve
ser posicionada sobre o corno ute-
rino gestante sem provocar sobre
este compressão excessiva.
A exploração ecográfica
deve ser efectuada de forma a
visualizar vários planos ultra-sonográficos com o objectivo de obter imagens mais represen-
tativas das estruturas embrionárias ou fetais (figura 3).
Figura 3. Esquema da relação entre a colocação intrarectal do transdutor e o corno uterino gestante com
um feto bovino de 48 dias de idade. Adaptado de Pierson et al. (1988).
Figura 2. Esquematização do posicionamento do trans-
dutor na ampola rectal de bovinos (Kähn
1994).
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
7
Nos pequenos ruminantes, embora se possa usar a via transrectal, o diagnóstico de
gestação é mais frequentemente efectuado por via transabdominal (figura 4), com a utilização
de sondas com 5 ou 3,5 MHz de frequência.
Figura 4. Exploração ecográfica por via transabdominal em pequenos ruminantes (adaptado
de González de Bulnes et al., 1999).
Tanto na cabra como na ovelha, os exames são efectuados com os animais contidos
em posição de estação. O local de colocação da sonda é a região inguinal do lado direito, uma
vez que o rúmen ocupa grande parte do lado esquerdo. Dependendo da raça, os animais
devem ou não ser parcialmente depilados (tricotomia) na região inguinal. O gel acústico deve
ser sempre utilizado para uma boa transmissão dos ultra-sons entre o transdutor e a pele.
Eventualmente os animais podem ser submetidos a um prévio jejum de 24 horas de forma a
evitar um excesso de conteúdo ruminal e intestinal (Gonzalez de Bulnes et al., 1999).
A sonda (e, consequentemente os feixes de ultra-sons) deve ser orientada para a região
pélvica (junto ao úbere), realizando-se em seguida o varrimento tanto caudal e superior como
craneal e inferior (Gonzalez de Bulnes et al., 1999).
Os exames podem ser efectuados, por via transrectal, até cerca dos 90 dias de gestação
após os quais o útero se torna menos acessível por essa via. As fezes devem ser removidas da
ampola rectal de modo a ser permitido o seu contacto íntimo com a sonda. No entanto, é
possível (e mais prático) inserir a sonda na ampola rectal com o transdutor virado para cima.
Após inserir a sonda cerca de 15 cm, esta é rodada 180º emitindo os feixes para baixo
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8
(Simões et al., 2004). Desta forma, a bexiga urinária e o útero são facilmente localizados sem
a necessidade de remover as fezes da ampola rectal.
Embora se possam estabelecer similaridades entre a técnica ecográfica de obtenção de
imagens com os bovinos, incluindo a exploração por via transrectal (figura 5), existem algu-
mas particularidades a respeitar nos equinos. Anatomicamente é necessário referir que ao
contrário dos bovinos, os ovários dos equinos encontram-se suspensos (dorsalmente) e não se
observa, também, a forma espiralada dos cornos uterinos.
Na figura 6 encontra-se descrita a metodologia para a exploração ecográfica das
diferentes partes do útero. O exame metódico de todo o útero dos equinos durante a primeira
quinzena de gestação tem especial importância devido à fase de mobilidade do embrião
conforme o referenciado no respectivo capítulo. Convém relembrar que, nos equinos, a
palpação transrectal deve ser efectuada com especial cuidado de modo a evitar desgarros da
parede da ampola rectal.
Legenda: L- Corno uterino esquerdo; R - Corno uterino direito; B – Corpo do útero; A – Parte anterior; M – Parte medial; P – Parte poste-rior. A direcção das setas indica o trajecto efectuado pela sonda durante os exames ecográficos. Ginther (1986) cit. por Berfelt et al. (1998).
Figura 5. Representação esquemática do procedi-
mento para a obtenção de sonogramas do
útero e do seu conteúdo em equinos
(Pipers et al., 1984).
Figura 6. Representação esquemática da vista dorsal do
útero de equino e método de exploração eco-
gráfica.
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
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Nos suínos, para efectuar os exames ecográficos por via transabdominal, após a
colocação de gel acústico, a sonda deve ser colocada num plano paralelo à 1ª, 2ª ou mesmo 3ª
glândula mamária (figura 7), entre as coxas, e o mais alto possível (Martinat-Botte et al.,
1988). Seguidamente, a sonda é deslocada cranialmente.
Figura 7. Representação esquemática da exploração ecográfica do útero por via transabdomi-
nal em suínos (Botero et al., 1984).
2.3. Planos seccionais e acessibilidade fetal
Devido ao diâmetro relativamente pequeno da ampola rectal e ao facto de se usar um
transdutor linear posicionado ao longo do eixo longitudinal da ampola, a deslocação do
transdutor fica limitada a rotações e pequenos movimentos. Por outro lado, os diversos planos
ecográficos que se podem obter dependem também da acessibilidade do feto (ou do conteúdo
uterino).
A nomenclatura utilizada para descrever os diferentes planos ultra-sonográficos, é
baseada num modelo fetal de apresentação normal (o eixo longitudinal da coluna vertebral do
feto é paralelo ao eixo longitudinal da mãe) dentro do útero (Kähn, 1994). Esta nomenclatura
deve ser utilizada, da mesma forma, para caracterizar outras estruturas uterinas.
São definidos os seguintes planos (figura 8):
1 - Planos longitudinais ou sagitais;
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1.1 - Plano mediano: plano ultra-sonográfico posicionado exactamente entre a
linha branca e a espinhal medula;
1.2 - Plano paramediano: secções paralelas ao plano anterior;
2 - Plano horizontal: secção latero-lateral do feto.
3 - Plano transversal: secção perpendicular ao plano mediano (vertical ao eixo do
corpo);
Figura 8. Planos seccionais. Adaptado de Kähn (1994).
A acessibilidade dos vários órgãos e partes do corpo fetal depende do tempo de gesta-
ção, da orientação do feto relativamente ao transdutor e da espécie animal em questão
(animais de grande porte versus animais de pequeno tamanho).
Entre o 2º e 4º mês, em bovinos, a totalidade do feto está ao alcance do campo ultra-
sonográfico, sendo geralmente visualizadas todas as suas regiões. Entre o 5º e 7º mês, a
acessibilidade do tórax, abdómen e região pélvica diminui acentuadamente, sendo o feto difi-
cilmente visualizado após esta data (figura 9-A).
A) Plano longitudinal B) Plano horizontal
C) Plano transversal
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
11
A diminuição da acessibilidade é justificada pelo aumento do volume e peso do feto e
dos anexos placentários provocando, a partir do 4º mês, a descida do útero para a cavidade
abdominal, o que impede a sua
visualização ecográfica por via
transrectal.
Embora se possa efectuar a
abordagem por via transabdominal,
na região ventral entre a glândula
mamária e o apêndice xifóide, a
qualidade de imagem é inferior à
obtida por via transrectal e é
necessário proceder à tricotomia da
zona de contacto entre a pele e o
transdutor.
As apresentações fetais clas-
sificam-se em anteriores, posteriores
e transversais. Nas duas primeiras, o
eixo longitudinal da coluna vertebral
do feto é paralelo ao da mãe sendo
denominada de anterior ou posterior
consoante respectivamente a extre-
midade anterior ou posterior do
corpo fetal estejam direccionados
para a cavidade pélvica da mãe. A
apresentação transversal é definida
quando o eixo da coluna vertebral do
feto está em posição transversal
relativamente ao da mãe.
Estas apresentações são
importantes para a acessibilidade dos
diversos órgãos fetais, uma vez que
o transdutor só pode ser colocado na
parte inicial dos cornos uterinos. As
Meses de gestação
Legenda: A) Frequências relativas das várias partes do corpo fetal que são acessíveis ao exame ultra-sonográfico por via transrectal em relação ao mês de gestação (485 exames em 19 fetos entre o 2º e 10º mês). B) Frequências relativas das apresentações fetais intra-uterinas durante os diferentes meses de gestação. C) Frequência das alterações de apresentações durante 2 exames ecográficos consecutivos com um intervalo de um ou mais dias.
Figura 9. Acessibilidade fetal. Adaptado de Kähn (1989).
C)
A)
B)
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alterações das apresentações fetais durante a gestação são maiores nos primeiros meses,
decrescendo à medida que o feto aumenta de volume (figuras 9-B e 9-C).
2.4. Terminologia utilizada em ultra-sonografia e interpretação da imagem
Os tecidos ou órgãos são constituídos por múltiplas interfaces acústicas. A capacidade
de reflectirem em maior ou menor grau os ultra-sons denomina-se de ecogenicidade. Um
meio onde se propagam os ultra-sons sem haver reflexão, como ocorre com os fluidos,
designa-se por anecogénico sendo os pontos apresentados a preto.
A designação da ecogenicidade dos tecidos ou órgãos é relativa às diferenças de inten-
sidade dos meios adjacentes (Cartee et al., 1993). Assim estes tecidos ou órgãos podem ser
designados por:
1) Hipoecogénicos – quando a intensidade dos ecos é menor que a dos tecidos adja-
centes;
2) Hiperecogénicos – quando a intensidade dos ecos é maior que a dos tecidos
adjacentes;
3) Isoecogénicos – quando a intensidade dos ecos é igual à dos tecidos adjacentes.
As interfaces acústicas constituídas por um dos meios mais denso, tais como o tecido
ósseo, tecido mineralizado ou gases, apresentam-se hiperecogénicos, logo com maior brilho (a
branco). São os ecos das interfaces acústicas com uma diferença de intensidade baixa, de 1%
ou menos, aqueles que maior informação fornecem (Bru, 1994).
Os ecógrafos actuais possuem a capacidade de controlo da variação de intensidade dos
ultra-sons reflectidos. Esta característica, denominada ganho geral (gain), permite diminuir ou
aumentar a intensidade geral dos ecos visualizados, optimizando o contraste entre os diversos
pontos. Estes aparelhos apresentam ainda a possibilidade de controlar a variação de
intensidade proximal ou distal denominando-se ganho proximal (near gain) ou ganho distal
(far gain) respectivamente. Esta compensação é particularmente útil para corrigir as
diferenças de intensidade de estruturas isoecogénicas situadas a diferentes profundidades pois,
normalmente, os ecos provenientes de estruturas mais profundas são de menor intensidade
devido ao efeito de atenuação da maior distância do meio percorrido (Rantanen and Ewing,
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
13
1981). O controlo dos ganhos torna-se importante na minimização da confusão entre as
estruturas reais e os artefactos.
Uma vez que os pontos de brilho representam a ecogenicidade e o posicionamento
relativo das interfaces acústicas torna-se possível a avaliação das seguintes características dos
tecidos e órgãos explorados (figura 10): o tamanho, a conformação, a posição e a
arquitectura ou textura ecogénica (Burk and Ackerman, 1996). Enquanto as três primeiras
podem ser avaliadas através da mensuração e da observação do contorno dos limites dos
tecidos ou órgãos, a avaliação da ecotextura é de natureza subjectiva. A arquitectura
ecogénica é constituída pelos ecos provenientes de reflexões especulares (o ângulo de
reflexão é igual ao ângulo de incidência) e não especulares (restantes reflexões) embora não
se conheça bem o processo da sua formação (Nyland et al., 1995). A sua avaliação depende
da apreciação da homogeneidade, granulação ou irregularidade das interfaces acústicas (Burk
and Ackerman, 1996), ou seja, do tamanho, espaçamento e regularidade dos pontos. Um
exemplo da importância da ecotextura é o caso dos tumores ováricos em bovinos onde existe
um aumento de granulação (Kähn, 1994).
Legenda: A figura 10-A) representa um plano ultra-sonográfico de um ovário obtido por aplicação de uma sonda com transdutor linear. A escala lateral está dividida por traços. Cada traço corresponde a 10 mm. A parte superior corresponde à localização do transdutor e a direcção da seta no canto superior esquerdo à parte distal do transdutor. A frequência utilizada e a intensidade dos ganhos (geral, proximal e distal) estão definidos na parte inferior. Neste corte ecográfico não é possível visualizar os pequenos folículos que surgem no ovário (figura 10-B).
Figura 10. Representação e interpretação de uma imagem ultra-sonográfica em modo B (Simões, 1998).
Folicu lo
O vário
Estrom a
ovárico
Pequenos
fo lícu los
B)
10 mm
Escala de
níveis de
cinzentos
5.0 M : Mhz da sonda
G69 : Ganho Geral
17 N : Ganho proximal
Osso Púbico
Líquido
folicular
Artefacto :
Reverberação
Estroma
ovárico
A)
F 1.9 : Ganho distal
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14
A medição das estruturas exploradas é efectuada pelo “software” incorporado no
aparelho. O tamanho assim como a conformação dos órgãos podem surgir distorcidos na
imagem ecográfica. Estas distorções são geralmente devidas à obtenção de planos ultra-
sonográficos inadequados (órgãos demasiado grandes para a área de exploração do transdutor)
ou, ainda, causadas por demasiada pressão deste sobre as estruturas exploradas (Burk and
Ackerman, 1996).
Outro ponto importante na interpretação da imagem ecográfica é a avaliação dos
denominados artefactos acústicos. Podemos definir por artefacto acústico qualquer alteração
da imagem ecográfica que não corresponde a uma verdadeira representação da estrutura
examinada (Carniel, 1987). A sua ocorrência é devida à visualização de ecos que retornam ao
transdutor de forma errónea ou, simplesmente, à ausência do seu retorno (Wrigley, 1998).
Embora a maioria dos artefactos possam ser devidos à interacção física dos ultra-sons
com os tecidos, nem todos possuem aqui a sua origem. Algumas interferências na imagem
resultam de radiações electromagnéticas provenientes de aparelhos eléctricos situados na
proximidade. Outros artefactos são induzidos pelo próprio utilizador: o mau contacto do
transdutor com a superfície do animal provoca bloqueio dos ultra-sons; o uso de baixas
frequências em tecidos proximais diminui a resolução; a compensação incorrecta dos ganhos
(intensidades) provoca alterações de imagens (Kirberger, 1995). Esta última adquire um
relevo importante podendo passar imperceptível ao utilizador durante todo o exame
ecográfico.
Os ganhos proximais excessivos podem mascarar estruturas hipoecogénicas
superficiais, enquanto baixos ganhos podem originar áreas anecogénicas ou hipoecogénicas
adventícias.
Durante os exames ecográficos os artefactos são constantemente visualizados
dificultando, muitas vezes, a distinção das estruturas e, consequentemente, o diagnóstico
ecográfico. Bru (1994) estima que os artefactos podem representar 30 a 90 % dos ecos
observados. No entanto, alguns deles (reverberação, sombras acústicas e reforço posterior),
são fonte de informações de valor diagnóstico (Herring and Bjornton, 1989; Cartee, 1995;
Wrigley, 1998). Por ambos os motivos é necessário proceder ao seu reconhecimento,
determinar se possuem algum valor diagnóstico e, quando possível, minimizá-los. A
minimização dos artefactos pode-se conseguir através do reajustamento dos controlos do
aparelho ou do direccionamento dos feixes de ultra-sons.
Entre os mais importantes e frequentemente observados em reprodução, podem ser
referidos:
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
15
Reverberação acústica
Denomina-se por reverberação acústica a produção de falsos ecos devido à presença
de duas ou mais superfícies reflectoras no trajecto de propagação dos ultra-sons (Penninck,
1995). Ocorre quando os ecos de alta intensidade, ao retornarem ao transdutor ou a uma
superfície reflectora mais proximal, são reflectidos por estes, voltando a propagar-se aos
tecidos e sendo finalmente reflectidos em direcção ao transdutor (figura 11). O sinal eléctrico
é processado como tendo feito um único percurso, apresentando o dobro da distância
relativamente à das interfaces originais (Kirberger, 1995).
TRANSDUTOR TRANSDUTOR
1ª interface Pele (Pele/transdutor) 1ª interface
2ª interface 2ª interface
A) Reverberações externas B) Reverberações internas
Figura 11. Representação esquemática de reverberações acústicas.
Sombra acústica
A sombra acústica é originada pela redução
(Herring and Bjornton, 1989) ou bloqueio completo
da transmissão de feixes acústicos, para além das
interfaces acústicas altamente reflectoras ou estruturas
atenuantes (figura 12) (Park et al., 1981).
Os ossos e outras estruturas mineralizadas,
formam uma sombra acústica devido à reflexão de 20
a 30% dos ultra-sons, absorvendo a maioria dos
restantes. Este facto resulta numa sombra bem
definida, totalmente anecogénica, atrás da superfície
hiperecogénica (Kirberger, 1995).
Sombra acústica
Interface
TRANSDUTOR
Figura 12. Representação esque-
mática da sombra
acústica.
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16
A interface constituída pelos tecidos moles / gás reflecte 99 % dos ultra-sons. Esta
interface é, geralmente, acompanhada por reverberações ou por ecos difusos indistintos
formando uma sombra acústica não homogénea: “dirty shadowing”.
Sombra lateral
Pode ocorrer uma sombra acústica distalmente, nas margens de estruturas redondas ou
ovais cheias de líquidos, sendo designada por sombra lateral (Kirberger, 1995). Este artefacto
resulta da interacção dos ultra-sons com as interfaces curvas dessas estruturas: uma parte
destes é reflectida para os tecidos adjacentes e a restante sofre refracção (Nyland et al., 1995)
impedindo, desta forma, que regressem ao transdutor.
Reforço posterior
O reforço posterior surge distalmente a uma estrutura com fraca atenuação (líquido),
aparecendo um aumento distal de intensidade (figura 19) (Peter et al., 1992). Esta
hiperecogenicidade é devida aos ultra-sons de maior intensidade que atingem as zonas distais,
após se terem propagado por meios de menor atenuação do que os ultra-sons propagados nos
tecidos adjacentes situados à mesma profundidade, os quais se tornam menos intensos.
Este artefacto é especialmente comum em imagens de folículos e vesículas
embrionárias (Pierson et al., 1988) e contribui para a diferenciação de estruturas quísticas de
massas sólidas hipoecogénicas tais como corpos lúteos e estruturas foliculares (Penninck,
1995) apresentando, por isso, valor diagnóstico.
Artefacto das “seis e doze horas”
Alguns feixes de ultra-sons ao incidirem perpendicularmente nas superfícies proximal
e distal de estruturas esféricas com conteúdo líquido podem produzir reflexões especulares.
Estes ecos hiperecogénicos estão situados em ambas as superfícies às 6 e 12 horas, daí a sua
denominação.
Em algumas situações este artefacto tem utilidade na elaboração de diagnósticos
podendo citar-se, como exemplo, a identificação precoce das vesículas embrionárias (3 a 6
mm) em equinos (Peter et al., 1992).
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
17
3. BOVINOS
3.1. Diagnóstico de gestação precoce
O diagnóstico de gestação através de ulta-sonografia baseia-se, durante os estádios
iniciais, na detecção da vesícula embrionária, por visualização do fluido alantóide e,
ocasionalmente do embrião (Badtram et al., 1991) no lúmen do corno uterino ipsilateral
(Boyd et al., 1988) ao ovário que possui o corpo lúteo de gestação (Boyd, 1995).
Considerando o dia 0 como o dia da ovulação, a vesícula embrionária pode ser
inicialmente detectada, no corno uterino ipsilateral com uma sonda de 5 MHz de frequência, a
partir do 10º dia. Nesse momento, apresenta uma conformação esférica com um diâmetro de
2,8 ± 0.2 mm (figura 13) ou alongada com uma altura entre 2,0 ± 0,0 e 4,5 ± 1.0 mm (Curran
et al., 1986a). Esta detecção fundamenta-se na visualização de uma área anecogénica
(Kastelic et al., 1988) que representa o fluido da vesícula.
Boyd et al., (1988 e 1990) utilizando uma sonda de maior resolução (7,5 MHz de
frequência) visualizaram no 9º dia após a ovulação a vesícula embrionária no corno uterino
ipsilateral com uma altura de 1,75 mm.
A altura da vesícula não manifesta crescimento significativo até cerca do dia 18,
ocupando a totalidade do lúmen do corno uterino ipsilateral no dia 16,9 ± 0,6 e do
contralateral no dia 19,6 ± 0,9 (Curran et al., 1986a).
Figura 13. Altura média da vesícula embrionária na zona do embrião entre o 20º e o 60º dia de
gestação (ovulação = dia 0; n=15). Adaptado de Curran et al. (1986b).
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18
A partir do 19º dia de gestação observa-se um aumento acentuado do diâmetro da
vesícula (Kastelic et al., 1988), indicando a formação da membrana amniótica, que, no
entanto, só é visualizada a partir do 28º dia (Boyd et al., 1988), atingindo cerca de 60 mm de
altura por volta do 60º dia.
O embrião pode ser visualizado pela 1ª vez entre o 19º e 24º dia e com o tamanho
inicial de, aproximadamente, 3,5 mm tendo a forma de uma pequena linha hiperecogénica,
ligeiramente protuberante na parede da vesícula (Curran et al., 1986b). Kastelic et al. (1991b)
detectaram-no pela 1ª vez ao 22º dia (n=104). A sua taxa de crescimento é exponencial,
observando-se um incremento a partir do 50º dia (figura 14) e atingindo cerca de 66 mm de
comprimento ao 60º dia de gestação (Curran et al., 1986b; Kastelic et al., 1988).
Figura 14. Curva de evolução do comprimento do embrião e idade média à 1ª detecção de algumas das suas
características identificáveis por ultra-sonografia em novilhas (ovulação = dia 0). Adaptado de
Kastelic et al. (1988).
Os batimentos cardíacos do embrião podem ser detectados, em alguns casos, no
mesmo dia ou um a dois dias após a detecção do embrião vivo. A frequência cardíaca é de
cerca de 170 batimentos por minuto no 20º dia, decrescendo para cerca de 150 ao 26º dia,
continuando a manter esta frequência até ao 60º dia. Estes movimentos auxiliam o operador
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
19
na identificação do embrião. Ocasionalmente, a frequência pode apresentar-se irregular sendo,
eventualmente, um artefacto causado pela dificuldade de manter os feixes de ultra-sons num
plano capaz de envolver o coração do embrião (Curran et al., 1986b).
Entre o 22º e o 30º dia o embrião adquire uma conformação predominantemente em
C. Esta forma é resultante das curvaturas cefálica e caudal e da curvatura dorsal geral. Entre o
29º e o 39º dia o pescoço endireita-se e a cabeça eleva-se dando ao embrião uma forma em L.
Os botões dos membros anteriores tornam-se visíveis, ao nível do coração, entre o 28º e 31º
dia surgindo os membros posteriores dois dias depois. Com o aumento do comprimento do
feto, a partir do 60º dia, torna-se difícil a sua visualização como um todo (Curran et al.,
1986b; Kastelic et al., 1988).
A partir da altura em que se começa a observar a diferenciação do embrião é possível
proceder à mensuração de diversas partes e, consequentemente, estimar o tempo de gestação.
O comprimento e diâmetro do feto podem ser mensurados por ultra-sonografia desde a sua
detecção até cerca dos 3 a 6 meses (figura 15). A partir destas datas o tamanho do feto torna-
se demasiadamente grande para o campo de exploração dos feixes de ultra-sons.
Legenda:
C-r – Comprimento crânio-caudal; hl – Comprimento da cabeça (focinho-occipital); n – Comprimento do focinho; C – Diâmetro torácico, hd – Diâmetro da cabeça (diâmetro biparietal); cd – Diâmetro torácico.
Figura 15. Principais mensurações que podem ser realizadas em fetos (Bingham et al., 1990).
A taxa média de crescimento diário do comprimento do feto sofre um incremento de
1,4 mm a 2,2 mm durante o 2º mês de gestação e, entre 2,5 e 3mm no 3º mês. Por volta dos 90
dias, a distância entre a cabeça e a 1ª vértebra coccígea ultrapassa os 12 cm (figura 16). O
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20
diâmetro médio do tronco fetal é de 20 a 30 mm entre o 60º e o 70º dia, aumentando 0,9 mm
por dia até atingir 10 cm ao 150º dia e ultrapassar os 12 cm ao 6º mês. De todas as estruturas
fetais, o comprimento do feto é o parâmetro que sofre menos variações (com melhor
estimativa) e que tem uma correlação mais elevada com a idade fetal (Kähn, 1989).
Legenda: A) Relação entre a distância crânio-caudal e o tempo de gestação dos fetos bovinos (●). A curva de regressão (—)
está indicada. B) Relação entre o diâmetro maior do tronco fetal e o tempo de gestação dos fetos bovinos (plano transversal). São
indicadas as médias da curva de regressão (▬ ) do desvio padrão (----) e de 2x o desvio padrão (—).
Figura 16. Relações entre o comprimento ou o diâmetro fetal e o tempo de gestação. Adaptado de Kähn (1989).
Actualmente, estas mensurações são utilizadas para caracterizar os fetos originados
por transferência embrionária ou produção de embriões in vitro (Bertolini et al., 2002;
Breukelman et al., 2004). De facto, a produção in vitro de embriões bovinos (e ovinos) levou
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
21
ao aparecimento de uma nova síndrome designada na literatura por “ large calf síndrome”
(Bertolini et al., 2002) ou „large Offspring Syndrome‟ (Breukelman et al., 2004). Esta
síndrome é caracterizada, quando comparada com fetos produzidos através de cobrição,
inseminação artificial ou consequentes a tratamentos de superovulação seguidos de
transferência embrionária, por um maior peso à nascença acompanhado de um conjunto de
anomalias que interferem com o desenvolvimento do embrião, do feto e da placenta, não
estando ainda clarificados os factores que causam esta síndrome (van Wagtendonk-de Leeuw
et al., 2000; Bertolini et al., 2002; Breukelman et al., 2004).
3.2. Anexos placentários
Nos bovinos, a implantação da vesícula embrionária ocorre, por norma, no corno
uterino ipsilateral ao ovário que ovulou. Ainda durante a fase inicial do seu desenvolvimento
(por volta do 20º dia de gestação) as membranas e fluido vesiculares acabam por ocupar
também a totalidade do corno uterino contralateral (Curran et al., 1986a). Devido à sua
acumulação progressiva durante a gestação, os fluidos fetais atingem em média 5 litros ao 5º
mês e 20 litros no seu termo (Arthur et al., 1996). Durante a exploração ecográfica os ultra-
sons têm de se propagar através destes fluidos e das membranas placentárias até poderem
alcançar o feto (figura 17).
A membrana amniótica e o fluido alantóide podem ser observados a partir do 30º dia,
enquanto que os placentomas só são visualizados, um pouco mais tarde, a partir do 35º dia. Os
placentomas, que se encontram adjacentes à parede uterina, são representados por áreas
ecogénicas de conformação circular ou oval. Embora a membrana alantóide possa ser
detectada por volta do 27º dia torna-se, rapidamente, indistinta. A membrana amniótica,
representada por uma linha hiperecogénica flutuante, delimita a sua cavidade com um fluido
inicialmente anecogénico que por volta do final do 2º mês apresenta reflexões ecogénicas que
se tornam proeminentes no final do 3º mês. Estas reflexões são originadas pelo incremento do
conteúdo celular no líquido amniótico. Podem também ser detectadas no fluido alantóide a
partir do 6º mês, permanecendo este fluido hipoecogénico até então (Kähn, 1990).
O cordão umbilical pode ser precocemente visualizado durante o 2º mês de gestação,
numa posição dorsal ao embrião, dirigindo-se para a parede uterina. Ao 3º mês tem um
diâmetro médio entre os 5 e 10 mm. É constituído por dois pares de artérias, onde pode ser
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22
detectada a sua pulsação, e veias dispostos em posição quadrilateral quando visualizados em
planos ultra-sonográficos transversais. Em planos longitudinais só é possível visualizar
simultaneamente 2 vasos. Ao 7º mês atinge cerca de 50 mm de diâmetro deixando de ser
detectável a partir desta data (Kähn, 1989).
Figura 17. Esquema dos anexos fetais na vaca. Adaptado de Barone (1990).
3.3. Cabeça
Os globos oculares são os órgãos mais facilmente visualizados durante a gestação. Por
volta do 40º dia é possível identificar a cavidade orbitária e o seu conteúdo anecogénico. Num
plano transversal o globo ocular surge perfeitamente esférico, alterando-se a sua conformação
para oval quando o corte é paramediano. O seu diâmetro maior aumenta dos cerca de 4 mm ao
60º dia para 10 mm ao 90º dia, e para mais de 30 mm no final da gestação, decrescendo a sua
taxa de crescimento à medida que o tempo de gestação aumenta (Kähn, 1989). O corpo vítreo
permanece hipoecogénico durante toda a gestação. Por volta do 70º dia surgem as superfícies
anterior e posterior da lente, representadas por reflexões ténues em forma de linhas curvas. O
pestanejar das pálpebras é observável a partir do 6º mês (Kähn, 1994).
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
23
No final do 2º mês surgem áreas
hiperecogénicas representando os centros
de ossificação localizados entre os ossos
do crânio. No entanto, as primeiras
estruturas compridas, fortemente
ecogénicas (maxilares superior e inferior)
aparecem adjacentes à cavidade bucal
sendo reconhecidos através da sua
conformação. Os ossos da caixa craniana
têm uma conformação oval
hiperecogénica sendo visualizados a partir
do 50º a 60º dia. O seu interior é
hipoecogénico sendo identificáveis
algumas linhas ecogénicas internas que
representam os ventrículos, o “Falx
cerebri” (dividindo o cérebro em 2 hemisférios; figura 18) e o plexo coróideu (Kähn, 1990).
No final do 3º mês, os ossos da cabeça podem ser identificados. Nesta altura é possível
visualizar, em planos transversais, a cavidade bucal, as narinas, o palato duro e os dentes em
desenvolvimento nas maxilas. Nas regiões caudais a estas estruturas, mas craniais aos globos
oculares, situam-se os cornetos nasais, sendo distinguíveis a sua região dorso-nasal e as
maxilas. Além do pestanejar é possível, por esta altura, observar os movimentos da língua e
do focinho em planos paramedianos. Em planos sagitais e transversais, surge a cavidade oval
da caixa craniana com um curto eixo dorso-basicraneal e um diâmetro mais comprido fronto-
occipital ou parieto-parietal, respectivamente (Kähn, 1990). No plano sagital, o diâmetro
interno maior (distância delimitada pelo bordo do cérebro e o bordo interno dos ossos
cranianos) e o diâmetro externo maior (distância delimitada pela superfície externa dos ossos)
medem, respectivamente, cerca de 10 e 17 mm ao 60º dia, apresentando um crescimento
linear médio que oscila entre 63 e 76 mm e os 80 e 96 mm, respectivamente, entre o 180º e o
210º dia (Kähn, 1989). Nos últimos 2 meses de gestação não é possível visualizar a totalidade
da caixa craniana devido à atenuação da intensidade dos ultra-sons pelos ossos e ao facto do
seu tamanho ultrapassar o campo de exploração.
3.4. Coluna vertebral
Legenda: Corte horizontal da cabeça de um feto (77 dias). 1- Falx cerebri; 2- Ossos do crânio; 3- Focinho; 4- Líquido amniótico; 5- Linha perpendicular ao Falx cerebri (medição do diâmetro biparietal).
Figura 18. Caixa craniana e diâmetro biparietal.
Adaptado de Breukelman et al. (2004).
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24
A coluna vertebral é visualizada a partir, aproximadamente, do 35º dia sendo
representada por uma linha ecogénica ao longo da região dorsal do feto. Por volta do 56º dia
surgem três centros de ossificação em cada vértebra, um no seu corpo e dois no arco. Em
planos transversais, podem ser visualizados os três centros simultaneamente, enquanto que,
em planos medianos só é possível observar um centro de ossificação e em planos
paramedianos dois centros estando um dos quais no corpo e outro no arco. Nos planos
horizontais surgem também dois centros, mas neste caso ambos pertencem ao arco. Nestes
últimos planos e nas vértebras lombares, por vezes, é possível visualizar áreas
hiperecogénicas em forma de bandas curvas, que representam os processos transversos. À
medida que a ossificação prossegue, o fenómeno de sombra acústica localizado atrás de cada
vértebra tende a tornar-se mais intenso (Kähn, 1990).
O comprimento de cada vértebra cervical e do espaço intervertebral tem em média 2 a
4 mm no 3º mês e aumenta até aos 25 mm no 8º mês (Kähn, 1989). Embora as outras
vértebras e costelas possam ser visualizadas precocemente, é difícil a sua mensuração devido
ao surgimento de numerosas superfícies reflectoras.
3.5. Pescoço
Além das vértebras, a traqueia é a estrutura mais proeminente na imagem ecográfica
da região cervical. Num plano longitudinal a traqueia é representada por duas fileiras de áreas
ecogénicas que constituem a parte superior e inferior de um conjunto de anéis adjacentes
formando um tubo curvo com um lúmen anecogénico. O seu diâmetro varia
consideravelmente embora seja mais largo que os vasos sanguíneos situados na vizinhança. O
seu diâmetro interno aumenta dos cerca de 4 mm ao 100º dia para os 10 mm por volta do 180º
dia (Kähn, 1989).
3.6. Tórax e órgãos internos da caixa torácica
As vértebras cervicais, costelas e esternebras são caracterizadas por áreas
hiperecogénicas. Em planos horizontais, o tórax é visualizado com uma conformação de duas
fileiras hiperecogénicas em forma de cone estriado, representando cortes das costelas, com o
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
25
seu vértice dirigido para a região cervical. Enquanto que a ossificação das costelas começa
entre o 55º e o 60º dia, a das esternebras ocorre por volta do 66º ao 70º dia (Kähn, 1990).
Em cortes longitudinais, a caixa torácica encontra-se obscurecida por fileiras paralelas
de ecos de intensidade ténue. Com o avanço da gestação, os ultra-sons são absorvidos em
maior quantidade pelas costelas dificultando a visualização dos órgãos internos situados
dentro da caixa torácica, o que torna necessário projectar os ultra-sons entre os espaços
intercostais.
O coração está situado na porção cranial (ápice) da caixa torácica, sendo facilmente
identificável através das suas pronunciadas pulsações e caracteres anatómicos que se
diferenciam entre a 4ª e a 7ª semana. Os movimentos cardíacos são visualizados pela 1ª vez
por volta do 20º dia, com uma frequência entre os 170 e 200 batimentos por minuto (Curran et
al., 1986b), decrescendo para cerca de 150 no 25º dia, mantendo-se relativamente constantes
até ao 60º dia (figura 19). A partir desta data e até ao final da gestação registam-se entre 130 a
140 batimentos por minuto (figura 20) (Kähn, 1989). A observação da frequência cardíaca do
feto é essencial para a avaliação da sua viabilidade.
Batimentos / minuto
Legenda: Frequência cardíaca média de embriões (n=50) em diferentes dias de gestação. A frequência cardíaca tende a diferir (P<0,1) entre os 2 operadores no 20º e 21º dia e é diferente (P<0,05) entre o 44º ao 52º e o 54º ao 60º dia.
Figura 19. Frequência cardíaca entre o 20º e 60º dia de gestação. Adaptado de Curran et al. (1986b).
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26
Legenda:
Relação entre a frequência cardíaca e o tempo de gestação de fetos bovinos (). A curva de regressão (—) está indicada.
Figura 20. Relação entre a frequência cardíaca e o tempo de gestação entre os 60 dias e o final da gestação.
Adaptado de Kähn (1989).
Os músculos ecogénicos (miocárdio) rodeiam o seu lúmen subdividido por linhas
ecogénicas visualizando-se o septo e as válvulas em acção. O coração é melhor visualizado
quando o feto está numa posição tal que permita ao transdutor emitir feixes perto dos
membros anteriores sendo os mesmos projectados entre as costelas. Em condições óptimas é
possível obter imagens seccionais das 4 câmaras simultaneamente.
Os pulmões aparecem com uma matriz ecogénica granular, semelhante à do fígado
que lhes está caudalmente adjacente, embora este último tenha uma ecotextura mais densa. O
diafragma, apesar de não ser ecogénico, identifica-se devido à presença de um bordo regular
entre o pulmão e o fígado (Kähn, 1990).
3.7. Abdómen e órgãos abdominais internos
O fígado e o estômago ocupam a região dorsal da caixa torácica. O fígado é
caracterizado por possuir uma ecotextura granular e cinzenta, com representações
anecogénicas de um elevado número de vasos sanguíneos passando no seu centro. O
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
27
estômago é caracterizado por uma área anecogénica que representa o conteúdo estomacal
(figura 21). Por volta dos 2 meses, o seu diâmetro longitudinal mede cerca de 8 mm e
aumenta linearmente com o avanço da gestação, até atingir os 10 cm por volta do 210º dia
(Kähn, 1989).
Legenda: 1- Cordão umbilical; 2- Reflexões especulares da parede abdominal; 3- Abomaso; 4- Intestinos e fígado; 5- Líquido amniótico; 6- Parede uterina.
Figura 21. Corte tranversal do feto (90 dias) junto à inserção do cordão umbilical Adaptado
de Breukelman et al. (2004).
Durante as fases precoces de gestação, a área anecogénica do estômago está
subdividida por bandas ecogénicas representativas dos diversos compartimentos gástricos que
caracterizam os ruminantes. Nas áreas anecogénicas surgem reflexões derivadas de partículas
em suspensão no conteúdo estomacal que se tornam bem evidentes por volta do 5º mês
observando-se nas imagens em movimento a turbulência do líquido (Kähn, 1994).
Num plano mediano, a aorta pode ser visualizada como uma banda hipoecogénica
com uma parede hiperecogénica, situada imediatamente abaixo das reflexões hiperecogénicas
provocadas pela coluna vertebral.
A visualização dos rins, que se encontram situados entre o ílium e a última costela,
torna-se possível por volta do 4º mês quando se aplica um plano horizontal. São representados
por uma zona medular hipoecogénica em relação à sua região cortical, sendo possível
Versão online
28
identificar os lobos renais que possuem uma ecogenicidade intermédia à das 2 zonas (Kähn,
1990).
A bexiga, detectada pelo seu conteúdo líquido, é difícil de visualizar durante toda a
gestação a não ser que o feto esteja numa posição favorável. Isto deve-se por um lado às
significativas variações do seu diâmetro intraluminal e, por outro lado, ao facto de este não
ser maior que o das artérias umbilicais adjacentes. O seu diâmetro longitudinal interno varia
entre 3 e 10 mm no 3º mês e entre 20 a 30 mm no 7º mês (Kähn, 1989). O conteúdo da bexiga
é esvaziado ritmicamente entre cada 1 a 3 horas.
3.8. Membros anteriores, cintura pélvica e membros posteriores
Os ossos longos dos membros anteriores (úmero, rádio, cúbito e metacarpos) são
identificados por volta das 10 a 12 semanas de gestação. Na figura 22 podemos observar a
evolução do comprimento do úmero durante o 2º mês.
Figura 22. Comprimento da diáfise umeral durante o 2º mês em fetos produzidos in vivo e in vitro. Adaptado de
Bertolini et al. (2002).
A ossificação avança até um grau em que se visualizam estruturas ecogénicas em
forma de bastonetes ao longo da diáfise, estando completa por volta do 4º mês. A escápula
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
29
encontra-se ossificada entre o 71º e o 80º dia, e as falanges entre o 81º e o 85º dia. As
estruturas cartilaginosas (unhas, incluindo as rudimentares) podem ser visualizadas por volta
do 4º mês, sendo possível a diferenciação entre a cartilagem e os ossos nos meses seguintes
(Kähn, 1990).
Próximo do final do 2º mês, surgem centros de ossificação na área da cintura pélvica.
O ílium e o ísquium podem ser reconhecidos em planos horizontais em ambos os lados da
cintura. Surgem com a conformação de 4 bastonetes hiperecogénicos em que o ísquium é
mais curto que o ílium (Kähn, 1994).
Os membros posteriores sofrem uma evolução e apresentação ecográfica semelhante
aos anteriores. Os ossos longos de todos os membros têm comprimentos e taxas de
crescimento similares. O comprimento médio de cada um destes ossos oscila entre os 12 e os
16 mm ao 90º dia, aumentando de forma exponencial até atingir os 55 a 65 mm ao 180º dia
(Kähn, 1989).
3.9. Escroto e glândulas mamárias
Nos machos, o escroto é representado como uma estrutura de poucos milímetros, oval
e ecogénica, podendo ser observado pela 1ª vez entre o 50º e o 60º dia, embora seja a partir do
60º dia que se encontra melhor definido. A sua visualização pode ser efectuada tanto em
planos medianos como em cortes transversais ou horizontais. O seu diâmetro transversal é
maior que o longitudinal (crânio-caudal), medindo menos de 5 mm no 60º dia e atingindo
cerca de 30 mm no 7º mês após um crescimento linear (Kähn, 1989).
A descida dos testículos em direcção ao escroto inicia-se durante o 3º mês e completa-
se no 5º mês de gestação. As estruturas testiculares podem ser detectadas pela visualização de
áreas hipoecogénicas em relação ao escroto, que as rodeia, por volta do 4º mês. Por vezes, a
visualização em cortes tangenciais das paredes dos vasos sanguíneos origina uma imagem
sólida (ecogénica), que pode ser confundida com o escroto. A identificação do escroto permite
a determinação do sexo masculino (Kähn, 1990).
Nas fêmeas, os tetos da glândula mamária são representados por 4 pontos
hiperecogénicos dispostos em posição quadrilateral, sendo melhor visualizados num plano
horizontal. No entanto, a sua semelhança com outras estruturas visualizadas como, por
exemplo, as partes ossificadas dos ossos pélvicos, pode dificultar a sua identificação
ecográfica.
Versão online
30
3.10. Exactidão da técnica
Boyd et al. (1990), determinaram uma precisão de 100 % (n=22) no diagnóstico de
gestação positivo quando executado no 17º dia, descendo para 25 % quando realizado entre o
11º e 16º dia. Neste trabalho, foi utilizado um transdutor de 7,5 MHz de frequência, que
devido à sua maior resolução quando comparado com um de 5 MHz, torna a detecção mais
fiável e precoce. Foram obtidos resultados semelhantes por Kastelic et al. (1991a) com 50 %
de precisão nos diagnósticos efectuados antes do 16º dia.
Kastelic et al. (1989), utilizando uma sonda de 5 MHz de frequência, referem uma
precisão de 100 % tanto em animais gestantes como não gestantes, quando esta técnica de
diagnóstico é executada entre o 20º e o 22º dia, embora diminua para os 50 % se efectuada
antes do 18º dia.
Este momento coincide com o retorno ao estro em animais não gestantes pelo que a
presença dos sinais ecográficos característicos do período de estro podem contribuir para a
determinação do diagnóstico (Pierson and Ginther, 1984). De facto, o corpo lúteo de animais
não gestantes difere ecograficamente do dos animais gestantes a partir do 17º dia (Boyd et al.,
1988) e no período de estro não existe um corpo lúteo maduro (Pierson and Ginther, 1984)
podendo estes factos facilitar o diagnóstico. No entanto, é por vezes difícil distinguir entre o
fluido alantóide e o fluido uterino acumulado entre o 18º e 21º dia, isto é, durante os períodos
de proestro e de estro (Fissore et al., 1986; Kastelic et al., 1989). As patologias uterinas que
se apresentam com acumulações de fluidos intra-luminais, sendo as mais frequentes as
endometrites e piómetras, são outras ocorrências que podem ser confundidas com os fluidos
da vesícula (Kastelic et al., 1988).
Taverne et al. (1985) avaliaram a precisão da técnica ultra-sonográfica ao diagnóstico
de gestação (n=201) entre o 21º e 70º dia utilizando uma sonda de 3 MHz de frequência,
obtendo uma sensibilidade de 94,8 %, uma especificidade de 95,3%, o valor previsível
positivo de 97,7 % e um valor previsível negativo de 89,8 %. Embora o período da aplicação
da técnica seja alargado, os resultados demonstram uma exactidão elevada.
De referir que a sensibilidade [positivos / (positivos + falsos negativos) x 100] de um
método é a proporção dos resultados verdadeiros positivos que são detectados pelo método e a
especificidade [negativos / (negativos + falsos positivos) x 100] é a proporção dos verdadeiros
negativos. O valor previsível positivo [positivos / (positivos + falsos positivos) x 100] e o
valor previsível negativo [negativos / (negativos + falsos negativos) x 100] representam a
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
31
probabilidade dos animais positivos ou negativos, respectivamente, determinados por um
método realmente o serem.
Piertese et al. (1990), usando uma sonda de 5 MHz de frequência, procederam à
determinação da exactidão da técnica em tempos diferentes: entre o 21º e o 25º dia (n=63) e o
26º e o 33º dia (n=85). Os valores encontrados para ambos os grupos foram, respectivamente,
de: 1) sensibilidade: 44,8 versus 97,7; 2) especificidade: 82,3 versus 87,8; 3) valor previsível
positivo: 68,4 versus 99,6; 4) valor previsível negativo: 63,6 versus 97,2. Além da elevada
exactidão observada entre o 26º e 33º dia, estes valores demonstram que entre o 21º e 25º dia,
surge um elevado número de falsos negativos.
Em condições de campo, utilizando uma sonda de 5 MHz, o diagnóstico de gestação
torna-se mais fiável a partir do 30º dia (Badtram et al., 1991). É a partir desta data que a
técnica oferece maior eficiência, isto é, maior rapidez e precisão (Scenzi et al., 1995 e 1998;
Boyd, 1995; Taverne et al., 1985; Fissore et al., 1986; Chaffaux et al., 1986), estando o facto
relacionado com a possibilidade de identificação do embrião (Beal et al., 1992) e dos
batimentos cardíacos (Kastelic et al., 1989). São estes últimos que, de facto, determinam o
diagnóstico definitivo de gestação em fases precoces.
A posição do útero, situado mais cranialmente na cavidade pélvica, pode aumentar
significativamente a incidência de diagnósticos incorrectos nos animais não gestantes (Scenzi
et al., 1995). Por este motivo, durante a exploração ecográfica do útero, deve-se proceder à
sua retracção para a cavidade pélvica, quando necessário, e obter planos ultra-sonográficos
sagitais, transversais e/ou oblíquos com o objectivo de explorar toda a área dos cornos
uterinos (Stroud, 1994).
A UTR é também um método viável para a identificação de gestações múltiplas
(Isaike et al., 1991). Num estudo recente em bovinos leiteiros com gestações gemelares
(n=211), foi observado que em 40,8 % dos animais os gémeos estavam localizados
bilateralmente nos cornos uterinos e 59,2 % presentes unilateralmente (López-Gatius and
Hunter, 2004).
O melhor momento para a sua determinação é durante o 2º mês pois, por essa altura,
os embriões já são claramente identificáveis, mas ainda são suficientemente pequenos para se
visualizarem conjuntamente diminuindo a possibilidade de diagnosticar erroneamente partes
de um único feto pertencentes a fetos diferentes (Kähn, 1994).
A redução natural do número de embriões (de dois para um) parece ocorrer
maioritariamente entre o 35º e o 40º dia de gestação (López-Gatius and Hunter, 2004).
Versão online
32
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
33
4. OVINOS E CAPRINOS
4.1. Diagnóstico de gestação precoce
Nos ovinos e caprinos, a gestação pode ser diagnosticada precocemente, através da
presença de áreas anecogénicas (vesículas embrionárias) a partir do 20º dia ou mesmo alguns
dias antes, quando utilizada a via transrectal e uma sonda de 5 MHz de frequência (Garcia et
al., 1993; Gonzalez de Bulnes et al., 1998). No entanto, só a partir do 26º dia é possível
detectar o embrião (Buckrell et al., 1986; Simões e Potes, 2000).
Na figura 23 podemos verificar, pelos trabalhos de Martinez et al. (1998), que o tama-
nho das áreas anecogénicas (vesículas embrionárias) das cabras gestantes atinge os 4 mm por
volta do 19º dia de gestação, enquanto que em cabras não gestantes estas áreas (que neste caso
correspondem a fluido livre no lúmen uterino) são de apenas 1,5 mm (P<0,01). Estes
trabalhos indicam ser possível o diagnóstico das vesículas embrionárias a partir deste dia.
Figura 23. Diâmetros médios (± erro da média) das áreas anecogénicas observadas no lúmen uterino de cabras.
Adaptado de Martinez et al. (1998).
Nos ovinos é possível detectar a partir do 19º dia, tanto em gestações simples como
gemelares, os batimentos cardíacos dos embriões (Gonzalez de Bulnes et al., 1998). De igual
modo, nos caprinos os batimentos cardíacos dos embriões são detectados pela primeira vez
Versão online
34
aos 20,7 dias, com um intervalo de variação que vai desde o 19º até ao 23º dia (Martinez et
al., 1998). É a partir desta detecção que se estabelece o diagnóstico definitivo de gestação e a
identificação inequívoca dos embriões. Entre o 21º e o 40º dia ocorrem, em média, entre 158 e
168 batimentos cardíacos por minuto (figura 24).
Figura 24. Batimentos cardíacos (média ± erro da média) de 20 embriões de cabras (Martinez et al., 1998).
Desde o primeiro dia em que os embriões são detectados (com cerca de 5,3 mm de
comprimento) e até ao 40º dia
(34,2 mm), o comprimento
crânio-caudal pode ser estimado
pela idade do embrião através da
seguinte equação de regressão:
Y=-2,23 + 0,13X (r2=0,94;
P<0,01; figura 25) (Martinez et
al., 1998). De notar que embora a
equação de regressão seja linear e
que noutras espécies o
crescimento do embrião é,
geralmente, apresentado de forma
exponencial, é necessário ter em
consideração que neste caso
respeita um espaço de tempo reduzido.
Figura 25. Comprimento do embrião (distância crânio-caudal;
r2=0,94) de caprinos, entre os dias 19 e 38
(Martinez et al., 1998).
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
35
4.2. Fetometria
O estudo das medidas ecográficas das diversas partes do feto de ovinos foi efectuado
por Gonzalez de Bulnes et al. (1998) para os primeiros 90 dias de gestação. Nas figuras 26, 27
e 28 e na tabela 1 podemos encontrar descritas as relações entre essas medidas e a estimativa
da idade do feto. De notar que o número de fetos por gestação não influenciou estes
resultados.
Figura 26. Curva de regressão entre o comprimento crânio-caudal e a idade fetal em ovinos (Gonzalez de
Bulnes et al., 1998).
Figura 27. Curva de regressão entre o diâmetro torácico e a idade fetal em ovinos (Gonzalez de Bulnes et al.,
1998).
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36
Figura 28. Recta de regressão entre o diâmetro biparietal e a idade fetal em ovinos (Gonzalez de Bulnes et al.,
1998).
Tabela 1. Correlações entre medidas ultra-sonográficas e a duração de gestação em ovinos (Gonzalez de Bulnes
et al., 1998).
Medida Equação Intercepção Coeficiente
de regressão
Coeficiente de
correlação
Intervalo (dias)
n
Vesícula embrionária Linear -3,71 0,84 0,76 12–29 17
Diâmetro biparietal Linear -12,69 0,57 0,96 32–90 85
Comprimento focinho-occipital
Linear -22,16 0,98 0,95 38–91 61
Comprimento crânio-caudal
Exponential 1,27 0,08 0,94 19–48 62
Vértebras cervicais Linear -7,02 0,30 0,71 50–91 26
Vértebras toracicas Linear -6,74 0,25 0,79 50–90 41
Vértebras lombares Linear -10,32 0,33 0,90 50–90 36
Vértebras coccígeas Linear -11,49 0,30 0,96 57–90 13
Diâmetro da órbita Potential 0,00 2,41 0,92 36–90 70
Comprimento do femur Exponential 3,76 0,02 0,78 61–90 26
Costelas Linear -6,37 0,26 0,77 57–90 31
Cordão umbilical Exponential 4,23 0,01 0,72 47–91 40
Rim Linear -9,92 0,34 0,82 50–90 26
Estômago Linear -25,00 0,66 0,84 50–90 35
Diâmetro torácico Linear -9,59 0,59 0,96 23–62 97
Exponential 4,89 0,02 0,96 62–90 25
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
37
Os placentomas dos ovinos e caprinos podem ser visualizados pela primeira vez, por
via transrectal, por volta do 26º e 28º dia (Buckrell et al., 1986) ou do 30º dia (Doizé et al.,
1997). O tamanho máximo dos placentomas é atingido ao 74º dia na ovelha e ao 91º dia na
cabra. A partir desta altura (90 dias), a medição dos placentomas não é possível devido à
variabilidade e dificuldade em obter imagens do útero distendido (Doizé et al., 1997), mesmo
que os exames sejam efectuados por via transabdominal (Haibel, 1990).
Os placentomas são visualizados como nódulos pequenos na superfície do endométrio,
os quais aumentam de tamanho, em poucos dias, até atingirem uma conformação de semi-lua.
A conformação anatómica é diferente nos ovinos e nos caprinos. Enquanto que nos primeiros
se apresentam com uma conformação quase semi-esférica, nas cabras os placentomas
apresentam uma forma discóide. Ao contrário dos ovinos, os placentomas dos caprinos
apresentam bordos pouco espessos e uma parte central de maior espessura (Doizé et al.,
1997).
A mensurarão dos placentomas deve ser efectuada quando estes apresentam uma
conformação circular (em planos longitudinais) ou conformação em C (em planos tranversais)
(Doizé et al., 1997). Na figura 29 podemos observar a correlação entre o tamanho dos
placentomas e a duração da gestação com a seguinte equação: Idade (dias) = 28,74 + 1,80 PL
(mm) + e (residual) (r2=0,70; F=339,2; P=0,0001).
Figura 29. Correlação entre o tamanho dos placentomas e a duração de gestação em 169 cabras (Doizé
et al., 1997).
Versão online
38
Estes mesmos investigadores observaram, noutro ensaio, que em 66 % das cabras
examinadas, a idade da gestação foi correctamente prevista com um erro de ±7 dias e que em
96 % o erro foi de ±14 dias.
Nos ovinos a determinação da idade através dos placentomas é menos precisa (Doizé
et al., 1997; Gonzalez de Bulnes et al., 1998).
4.3. Exactidão da técnica
Pela tabela 2 podemos verificar que, em ovinos, o diagnóstico de gestação precoce
efectuado entre o 18º e o 50º dia, por via transrectal com sondas de 5 MHz de frequência, é
exacto, apresentando como principal inconveniente o elevado número de falsos negativos que
podem surgir entre 18º e o 24º dia (Karen et al., 2004). É necessário considerar que nesta
altura, as vesículas são de pequeno tamanho pelo que podem facilmente passar despercebidas.
Tabela 2. Exactidão da UTR no diagnóstico de gestação por via transrectal em ovinos de diversas idades
(adapatado de Karen et al., 2004).
Legenda: S: Sensibilidade; E: Especificidade; VP+: Valor previsível positivo; VP-: Valor previsível negativo.
Dias de gestação Idade (anos) n S E VP + VP -
18 - 24
0,7 - 2 14 30,0 75,0 75,0 30,0
>2 - 10 99 50,0 93,2 83,3 73,3
25 - 30
0,7 - 2 49 96,2 86,3 89,6 95,0
>2 - 10 179 91,2 95,9 94,8 93,1
31 - 40
0,7 - 2 32 95,0 91,6 95,0 91,6
>2 - 10 216 91,8 94,9 93,7 93,6
41 - 50
0,7 - 2 38 96,8 66,6 93,9 80,0
>2 - 10 137 96,8 85,7 93,8 92,3
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
39
A existência de um período de jejum prévio de 12 horas associado à elevação do
abdómen durante os exames ecográficos aumenta, significativamente, a precisão da técnica no
diagnóstico precoce de gestação em ovinos (Karen et al., 2004).
Do mesmo modo, durante a fase inicial de gestação da cabra (entre o 20º e o 22º dia),
o diagnóstico por via transrectal com sondas de 7,5 MHz de frequência apresenta numerosos
falsos negativos (tabela 3).
Tabela 3. Precisão da UTR no diagnóstico de gestação por via transrectal em caprinos (González et al., 2004).
Dias após cobrição Sensibilidade (%) Especificidade (%) Precisão (%)
20 11,4 100 55,7
22 44,3 100 72,2
24 78,5 100 89,3
26 98,7 100 99,4
De referir que a utilização da via transabdominal em pequenos ruminantes (a mais
utilizada) também apresenta uma elevada exactidão (tabela 4) embora a sua utilização inicial
seja ligeiramente mais tardia relativamente à via transrectal.
Tabela 4. Exactidão do diagnóstico de gestação em ovinos, usando a via transabdominal (adaptado de EL Amiri
et al., 2003a).
Dias de gestação MHz Sensibilidade (%) Especificidade (%) Referências
32 a 34 (n=91) 5 85 98 Garcia et al., 1993
51 a 75 (n=26) 5 100 100 Gearhart et al., 1988
46 a 106 (n=5530) 3,5 99 100 Fowler, 1984
46 a 93 (n=554) 3,5 100 100 White et al., 1984
50 a 100 (n=516) 3,5 99 100 Davey, 1986
29 a 89 (n=724) 3 99 98 Taverne et al., 1985
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40
A precisão da determinação do número de fetos depende em grande parte do estádio
da gestação, do tipo de equipamento (frequência da sonda) e da experiência do operador
(Haibel, 1990). Na prática, este exame deve ser efectuado entre os 35 a 40 dias (podendo ir
até aos 75 dias). Num ensaio preliminar, em que utilizámos cabras da raça Serrana,
conseguimos detectar 83,3 % (5/6) das gestações gemelares ao 35º dia de gestação (Simões e
Potes, 2001).
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
41
5. EQUINOS
5.1 Diagnóstico e monitorização da gestação entre o 10º e o 60º dia de gestação
Os exames ecográficos para o diagnóstico de gestação precoce em equinos podem ser
efectuados durante a fase (tardia) de mobilidade do embrião, entre o 13º e o 15º dia (a
fixação da vesícula ao útero ocorre ao 15º ou 16º dia), quando o útero apresenta uma
tonicidade característica (Peter et al., 1992). A ocorrência desta fase de mobilidade, que se
inicia por volta do 6º dia, obriga a que se deva explorar completamente o útero (figura 30).
Legenda: Vista dorsal do útero. Corpo do útero (E); segmentos caudais (B,D) e craneais (A,C) dos cornos uterinos direito e esquerdo. A seta (→) representa o trajecto efectuado pela sonda durante os exames ecográficos, os quais foram efectuados em asininos (burra).
Figura 30. Frequência das observações das vesículas embrionárias entre o 11º e o 15º dia de gestação
(Meira et al., 1998).
A vesícula embrionária pode ser observada pela primeira vez entre o 9º ou o 10º dia e
o 16º dia (Berfelt et al., 1998), apresentando-se como uma área esférica, onde se observa
invariavelmente o artefacto das “seis e doze” horas (ecos especulares). A evolução da vesícula
embrionária (blastocisto) encontra-se esquematizada na figura 31 e descrita na tabela 5.
Versão online
42
Legenda: Do lado direito encontra-se representado o embrião e os seus anexos. No lado esquerdo esquematiza-se um plano ecográfico da mesma vesícula (Ginther citado por Berfelt et al., 1998).
Figura 31. Representação esquemática da evolução da vesícula embrionária durante as fases precoces de
gestação na égua.
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
43
Tabela 5. Desenvolvimento da vesícula embrionária durante os estádios precoces de gestação (Berfelt et al.,
1998).
Dia da gestação Evento
9 -11 A vesícula embrionária é detectada pela primeira vez
11 - 14 Migração extensiva trans-uterina
15 - 16 Cessação da mobilidade até à porção caudal do corno uterino
17 - 19 Perda da conformação esférica
19 - 22 O embrião propriamente dito é detectado pela primeira vez no pólo
ventral, assim como os batimentos cardíacos
22 - 24 O embrião e o âmnios começam a ascender até ao pólo dorsal
25 - 27 Saco alantóide: 25 %; Saco vitelino: 75 %
28 - 30 Saco alantóide: 50 %; Saco vitelino: 50 %
31 - 33 Saco alantóide: 75 %; Saco vitelino: 25 %
34 - 36 Ascensão completa e formação do cordão umbilical no pólo dorsal
40 - 50 Alongamento do cordão umbilical e descida do feto e da membrana
amniótica para o pólo ventral
Na figura 32, resumida a partir dos trabalhos de Pipers et al., (1984), podemos
observar as correlações entre o tamanho do blastocito (vesícula embrionária), medido por
ecografia e em diferentes condições, e a sua idade. De um modo geral, no dia 10º dia da
gestação é possível observar o diâmetro do blastocisto com cerca de 10 mm. Após um
crescimento linear, no 40º dia pode medir entre os 50 e os 60 mm. De destacar que estes
investigadores, como não encontraram diferenças significativas entre os diâmetros horizontal
e vertical, indicam que a medição de um destes diâmetros não apresenta qualquer vantagem
relativamente ao outro.
A evolução da gestação, quando comparada entre o 10º e 60º dia, não apresenta
diferenças entre a égua e a burra (Meira et al., 1998) (figura 33).
Embora não seja abordado a questão específica da gestação gemelar em equinos,
convém registar a sua importância, principalmente devido aos abortos, reabsorções,
nascimento de poldros de crescimento retardatário e pouco viáveis e ainda devido aos
problemas que causa nas éguas (McKinnon and Rantanen, 1998). A UTR, além de permitir o
diagnóstico deste tipo de situações, pode contribuir como instrumento da sua resolução
através da possível provocação da morte de um dos embriões.
Versão online
44
Ensaio (condições de
medição) Equação de regressão
Coeficiente de correlação (r)
Erro padrão
Postmortem Y=0,19 x - 1,25 0,91 1,22
Horizontal Y=0,15 x - 0,55 0,79 1,03
Exames seriados * Y=0,15 x - 0,41 0,86 0,91
Vertical Y=0,14 x - 0,10 0,86 0,74
Estudos anteriores Y=0,14 x - 0,80 0,94 0,79
Gémeos Y=0,13 x – 0,37 0,78 0,70 * Exames consecutivos da mesma vesícula embrionária efectuados cada 4 ou 5 dias, entre o 14º e 36º dia de
gestação.
Figura 28. Regressões lineares entre a idade e o diâmetro da vesícula embrionária medido por UTR (adaptado
de Pipers et al., 1984).
Figura 29. Diâmetro (média ± desvio padrão) da vesícula embrionária e do comprimento crânio-caudal fetal em
burras (Meira et al., 1998).
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
45
6. SUÍNOS
6.1. Diagnóstico de gestação precoce
São normalmente utilizadas sondas de 3 ou 5 MHz de frequência por via
transabdominal (Martinat-Botte et al., 1988). A via transrectal também pode ser usada, sendo
os diagnósticos mais precisos, quando os exames são efectuados antes do 22º dia de gestação
(Miller et al., 2003). De qualquer forma, os diagnósticos efectuados por via transabdominal
antes do 24º dia requerem mais tempo para serem efectuados do que os realizados após esta
data (Miller et al., 2003).
Em suínos, a detecção da
vesícula embrionária é possível a
partir do 18º dia quando apresenta um
diâmetro de quase 10 mm (figura 30).
A partir desta data cresce
rapidamente, até atingir cerca de 40
mm entre o 27º e o 30º dia (Martinat-
Botte et al., 1988). No entanto, a
vesícula pode ser detectada entre o
15º e o 18º dia (De Resnis et al.,
2000), embora a sua detecção seja
mais difícil e morosa.
Os embriões são visualizados
por volta do 21º dia de gestação.
Sofrem um crescimento linear nas
fases mais iniciais (figura 31), sendo
o seu comprimento crânio-caudal
subestimado quando medido por UTR
(Martinat-Botte et al., 1988).
Na tabela 6 encontra-se descrito o aparecimento das diversas estruturas fetais,
observadas por UTR, em função do estádio da gestação.
Na maior parte das situações os embriões são observados em cortes transversais (ou
próximos a este plano) (Martinat-Botte et al., 1988).
Figura 30. Evolução do diâmetro vertical (média ±
desvio padrão) da vesícula embrionária
em suínos (Martinat-Botte et al., 1988).
Versão online
46
Figura 31. Crescimento dos embriões de suínos medidos em planos transversais e longitudinais, por UTR, nas
fases iniciais da gestação (Martinat-Botte et al., 1988).
Tabela 6. Evolução das imagens ecográficas durante a gestação (Martinat-Botte et al., 1988).
Dias de gestação
Imagens ecográficas de:
Vesículas embrionárias Embriões e fetos
19 - 22 Áreas negras ±
esféricas Aumento do tamanho
Não visíveis
23 - 28 Crescimento rápido Embriões: áreas hiperecogénicas,
visualizadas perto da parede uterina ou aí justapostas
29 - 34 Tamanhos variáveis
Aparentemente, o crescimento cessa
Crescimento rápido
Morfologia não identificável (observação dos batimentos cardíacos aos 30 dias)
35 -39
Distinção da cabeça e tronco
Os pontos de ossificação são visualizados ao nível da cabeça e da coluna vertebral
40 dias ou mais Fetos ossificados: crânio e caixa
torácica visíveis
Observação dos movimentos fetais
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
47
6.2. Exactidão da técnica
No 18º dia a exactidão da UTR no diagnóstico de gestação (presença ou ausência da
vesícula embrionária) é de cerca de 90 % diminuindo para 83 % se efectuada nos 3 dias
anteriores (De Resnis et al., 2000). Kauffold et al. (1997) observaram que entre os dias 20 e
23 após cobrição ou inseminação a exactidão dos diagnósticos positivos foi 99,5 %
(3336/3352), e enquanto que entre os dias 20 e 28 a exactidão dos diagnósticos negativos foi
de 97 % (3145/3243). Entre o 22º e o 32º dia foi observada uma exactidão de 99,3 % para os
animais gestantes e 92,5 % para os animais não gestantes (5 MHz; Vos et al., 1999). Na
tabela 7 observamos a exactidão da técnica tendo em consideração a raça e o número de
partos.
Tabela 7. Variação da exactidão do diagnóstico de gestação por UTR em função da raça e da paridade, entre os
18 e 100 dias após inseminação (Martinat-Botte et al., 1988).
Parâmetros
Exactidão (nº de diagnósticos exactos /n x 100)
DG + (%) (n) DG – (%) (n)
Raça
Large White 97,0 (1067) 88,6 (140) (P<0,001)
Large White X Landrace
97,1 (2057) 93,3 (327)
Cruzados 97,3 (1746) 95,8 (189)
Paridade
Nulíparas 97,0 (1403) 95,2 (208)
Primíparas 97,7 (829) 93,9 (115)
Multíparas 98,0 (2258) 89,9 (267) (P<0,001)
Versão online
48
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
49
7. PATOLOGIAS UTERINAS
Existe um conjunto de alterações patológicas que pode dificultar o diagnóstico de
gestação, uma vez que as suas imagens ecográficas podem ser interpretadas como um (falso)
diagnóstico de gestação positivo. Além deste importante aspecto, a UTR permite uma
avaliação complementar objectiva e fiável do diagnóstico de processos patológicos do útero,
podendo ser coadjuvado ou não com outros exames permitindo, também, o acompanhamento
da evolução dos tratamentos efectuados.
Desenvolveremos, neste capítulo, os casos ocorridos em bovinos (a maioria dos quais
podem ser extensíveis às outras espécies) e ainda o caso específico da pseudogestação em
pequenos ruminantes, principalmente na cabra. Os processos nosológicos que surgem mais
frequentemente são: endometrites, piómetras, mucómetras, fetos mumificados e fetos
macerados (Fissore et al., 1986). A UTR não é, no entanto, uma técnica suficientemente
apurada para detectar a maioria das anomalias celulares da parede uterina, sendo mais
facilmente detectadas as patologias que apresentam acumulações de fluidos no lúmen uterino
(Chevalier, 1988). No entanto, a sua aplicabilidade engloba também outras patologias uterinas
tais como abcessos uterinos, neoplasias e aderências útero-ováricas (Peter et al., 1992),
baseando-se a sua identificação ecográfica, fundamentalmente, na detecção da espessura e
natureza (áreas ecogénicas representando tecido conjuntivo denso ou flutuações de partículas
ecogénicas representando detritos purulentos) das massas formadas por essas patologias.
7.1. Endometrite
As endometrites são inflamações do endométrio, de etiologia geralmente infecciosa,
caracterizadas clinicamente pela presença de descargas vulvares mucopurulentas, ocorrendo
21 ou mais dias após o parto (Sheldon and Noakes, 1998). Por vezes torna-se difícil o seu
diagnóstico através de um exame físico devido à dificuldade na detecção do fluido intra-
uterino por palpação transrectal, principalmente se esse conteúdo for menor que 100 ml
(McKinnon, 1998) e não for acompanhado de descargas vulvares (Stroud, 1994).
Além do exame físico por palpação transrectal e por inspecção através de um espéculo
vaginal, existe um conjunto de exames complementares que podem ser utilizados no seu
diagnóstico (McKinnon, 1998), nomeadamente: 1) citologia do conteúdo uterino; 2) biópsia
Versão online
50
do endométrio e exame histopatológico; 3) cultura microbiológica do conteúdo do útero; e 4)
UTR.
O diagnóstico ecográfico das endometrites baseia-se em grande parte na detecção da
acumulação de fluidos no útero. Estes são visualizados como áreas anecogénicas contendo
pequenas partículas ecogénicas em suspensão (Stroud, 1994). Estas partículas representam
material purulento e tornam o fluido facilmente distinguível do fluido anecogénico produzido
durante o período de estro, o que permite ser interpretado como sinal de endometrite (Fissore
et al., 1986).
Observando uma sequência de imagem é possível, através dos movimentos das
partículas em suspensão, detectar a turbulência do fluido (Kähn, 1994).
Além destes sinais, em muitos animais podem ser identificadas paredes uterinas com
aumento de espessura (Fissore et al., 1986) provocado pela inflamação do endométrio.
7.2. Piómetra
As piómetras podem ser consideradas como uma forma específica de endometrite
crónica. São representadas pela acumulação, no lúmen uterino, de um exsudado
mucopurulento, que pode variar de 200 ml a 20 litros, distendendo consideravelmente o útero
e, estão associadas à persistência de um corpo lúteo.
A persistência do corpo lúteo é devida à acumulação anormal do fluido no útero que
interrompe a luteólise, continuando este sob influência da progesterona (Youngquist and
Braun, 1993).
Apresentam como características ultra-sonográficas, partículas ecogénicas difusas e
suspensas (pús), distribuídas no fluido do útero distendido (Fissore et al., 1986). A espessura
das paredes uterinas pode variar consideravelmente, encontrando-se espessadas ou estreitadas.
A gestação é um diagnóstico diferencial a ter em consideração com as endometrites
devido à presença do fluido placentário (Kähn, 1994). Durante a gestação observam-se partes
do feto em movimento e as membranas das estruturas placentárias (Chevalier, 1988). Por
outro lado, embora o fluido amniótico apresente aumento de células a partir do 60º dia, o
líquido alantóide continua anecogénico até cerca dos 6 meses (Kähn, 1990) diferenciando-se,
desta forma, das partículas ecogénicas em suspensão nas endometrites.
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
51
7.3. Morte embrionária tardia ou fetal precoce
7.3.1. Considerações gerais
A seguir à inseminação, a morte embrionária / fetal é reconhecida como sendo a causa
mais importante de falhas reprodutivas resultando na diminuição do número de vitelos
nascidos e na atenuação do progresso genético, tendo como consequência elevadas perdas
financeiras para as explorações bovinas (Dune et al., 2000). Estão relatadas taxas de perdas
embrionárias e fetais na ordem dos 5,5% (Baxter and Ward, 1997), 6% entre o 27º a 90º dia
de gestação (Stroud, 1994) havendo mesmo referências de 11,6% até ao 60º dia (Chaffaux et
al., 1988). Beal et al. (1992), em exames efectuados a 138 animais, referem uma taxa de 6,5%
entre o 25º e o 45º dia e de 1,5% entre o 45º e o 60º dia. No entanto, com o advento da UTR e
de outros métodos tornou o diagnóstico de gestação mais precoce podendo-se avaliar com
maior precisão o momento e a extensão da morte embrionária tardia e fetal precoce em
diversos tipos de efectivos bovinos (tabela 8). Na figura 32 podemos observar a percentagem
de perdas em períodos específcos entre o 28º e o 84º dia de gestação.
Tabela 8. Morte embrionária e morte fetal precoce em bovinos (adaptado de Santos et al., 2004).
Dias do diagnóstico de gestação
Nº de gestações
totais * 1º 2º
Intervalo (dias)
Gestação Perdas (%)
Perdas de gestação
(% por dia)
Bo
vin
os
leit
eir
os
Morte embrionária
tardia 4870 27–31 38–50 ~15
12.8 (3,2–42,7)
0.85 (0,23–2,67)
Morte embrionária e
fetal tardia em animais em lactação
6195 25–70 56 -
termo 28–250 10.7 -
Morte embrionária e
fetal tardia em novilhas
3333 28–58 75 -
termo 45–250
2.52 (1,5–10,2)
-
Bo
vin
os
de
carn
e Morte embrionária e
fetal tardia em novilhas
525 30–35 60–90 30–60 4.2
(4,0–4,8) 0.09
(0,07–0,13)
Versão online
52
* Estes dados foram compilados a partir de numerosos trabalhos publicados, dos quais são o somatório.
Figura 32. Morte embrionária em vacas leiteiras e novilhas entre o 28º e o 84º dia de gestação
(Silke et al., 2002).
A morte embrionária e a morte fetal precoce podem ser clinicamente suspeitadas
quando existem aumentos irregulares dos intervalos entre os estros. A ocorrência da morte
embrionária precoce verifica-se antes do 15º dia após a concepção em bovinos de carne e com
maior frequência a partir do 19º dia nas novilhas de leite (Arthur et al., 1996). Esta
interrupção da gestação é seguida da reabsorção de todas as estruturas, antes do início da
ossificação, ou da sua expulsão através do canal cervical. No entanto, segundo Kastelic et al.
(1991b) estas estruturas são preferencialmente eliminadas em detrimento da reabsorção.
Quando a morte embrionária ocorre antes do reconhecimento maternal da gestação,
que tem lugar entre o 16º e o 17º dia, o ciclo éstrico não se prolonga, mantendo-se regular
(Arthur et al., 1996). A precocidade com que estas ocorrências sucedem torna muitas vezes
difícil o seu diagnóstico. Kastelic et al. (1991b) não notaram diferenças no intervalo entre
ovulações e no dia da regressão do corpo lúteo em nulíparas não inseminadas (n=135) e
inseminadas mas não gestantes (n=40), nas quais diagnosticaram a morte embrionária por
ausência de visualização ultra-sonográfica dos batimentos cardíacos. O intervalo entre
ovulações foi, em média, de 20,6 e 20,9 dias e a ocorrência do início da regressão do corpo
lúteo de 17,6 e 17,9 dias, respectivamente.
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
53
Kastelic e Ginther (1989), após induzirem a luteólise com prostaglandina F2, em
nulíparas no 28º dia de gestação (grupo 1; n=10) e no 42º dia (grupo 2; n=10), detectaram o
momento da morte embrionária após 2,3 ± 0,2 dias no grupo 1 e 2,6 ± 0,2 dias no grupo 2,
ocorrendo nova ovulação 2,4 ± 0,3 (grupo 1) e 2,7 ± 0,2 (grupo 2) dias após esta data,
respectivamente.
Lulai et al. (1994) ao induziram a luteólise no 15º dia de gestação a 2 grupos de
nulíparas, observaram que, após 12 horas, a concentração plasmática de progesterona e a área
(mm2) do tecido luteínico do corpo lúteo decresceram para níveis significativamente mais
baixos em ambos os grupos. Num dos grupos aplicaram progestagénios às 24 horas após
indução da luteólise, enquanto no outro esta aplicação ocorreu às 36 horas. As taxas de
gestação foram de 45% no 1º grupo e de 13% no 2º enquanto no grupo de controlo a taxa foi
de 84%.
Os resultados destes estudos demonstram que uma proporção significativa de
embriões pode sobreviver 24 horas após o início da regressão do corpo lúteo.
7.3.2. Caracterização ecográfica
A UTR permite a detecção do momento da morte embrionária e a monitorização dos
eventos físicos que a antecedem, assim como aqueles que ocorrem posteriormente (Kastelic et
al., 1988). O momento da morte do embrião só pode ser diagnosticado quando cessam os seus
batimentos cardíacos (Kastelic et al., 1988; Kähn, 1994). A visualização dos batimentos é
detectável, nas imagens em movimento, entre o 19º e o 27º dia. As mortes embrionárias que
ocorrem antes destes dias, apesar de representarem uma parte significativa, são difíceis de
determinar. Após a detecção dos batimentos cardíacos a determinação do momento da morte
embrionária está limitada à frequência dos exames ecográficos (Kastelic et al., 1988 e 1991b).
Existem, no entanto, outros sinais ecográficos de valor diagnóstico no reconhecimento
da morte embrionária. O crescimento do embrião é aparentemente retardado, tornando-se de
menor tamanho e deformado com uma redução acentuada do fluido circundante (Kähn, 1994).
As membranas vesiculares separam-se do endométrio e o fluido torna-se ecogénico com
partículas de tecido morto em suspensão (Kähn, 1994; Stroud, 1994). Kastelic et al. (1988)
relataram ainda um caso onde foi detectada uma diminuição da frequência cardíaca
precedente à morte embrionária.
Versão online
54
Kastelic et al. (1988 e 1991b) e Kastelic e Ginther (1989) descreveram evoluções
físicas diferentes consoante a morte embrionária ocorra em consequência de luteolíse do
corpo lúteo ou por uma causa primária. Na 1ª situação ocorre uma perda embrionária rápida,
com um mínimo de degenerescência das estruturas. No 2º caso surge uma degenerescência
extensiva com uma retenção mais prolongada da vesícula e manutenção do corpo lúteo.
Semambo et al. (1992) inocularam uma cultura pura de Actinomyces pyogenes no
lúmen do corno uterino ipsilateral em novilhas gestantes entre o 27º e o 50º dia. A infecção
foi caracterizada inicialmente pela separação da membrana alantóide do endométrio.
Detectaram ainda sinais ecográficos de reacção inflamatória em ambas as estruturas e
partículas em suspensão (pús) no líquido vesícular.
Todos estes sinais ecográficos contribuem para a determinação do diagnóstico de
morte embrionária, embora a determinação do momento em que ocorre dependa da detecção
da cessação dos movimentos cardíacos do embrião.
7.4. Mucómetra
As mucómetras consistem na acumulação de fluidos de consistência variável. Podem
ocorrer secundariamente a hímen imperfurado, uterus unicornis, aplasia segmentar, entre
outras alterações do desenvolvimento do útero, cérvix ou vagina e em casos prolongados de
quistos ováricos que por sua vez causam degenerescência da parede uterina. Na maioria
destas alterações a parede uterina torna-se mais delgada. As imagens ecográficas revelam um
útero de paredes finas, com conteúdo líquido e numerosas partículas ecogénicas em suspensão
(Fissore et al., 1986). De referir neste casos a inexistência de contaminação bacteriana.
7.5. Hidrómetra ou pseudogestação
A hidrómetra, também denominada de pseudogestação, é uma importante causa de
infertilidade temporária em caprinos, com um substancial prolongamento do intervalo entre
partos (Taverne et al., 2000). Estão relatadas em efectivos caprinos leiteiros, incidências
anuais bastante variáveis desta patologia, na ordem dos 2,1 e 2,9 % em França (Duquesnel et
al., 1992) ou mesmo de 20,8 % na Holanda (Hesselink, 1993). Esta patologia, caracteriza-se
pela acumulação de fluido asséptico no lúmen uterino, com a presença de pelo menos um
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
55
corpo lúteo persistente. Quando vista a silhueta do animal, este pode apresentar um
abaulamento do abdómen direito quando as quantidades de líquido são muito grandes.
Os sinais ecográficos obtidos, que constituem diagnóstico, formam uma imagem
anecogénica, que corresponde à acumulação de líquido no lúmen uterino. Estas áreas estão
delimitadas por reflexões ecogénicas que representam as paredes dos cornos uterinos, pouco
espessas (distendidas) e dobradas sobre si mesmo (trabéculas) (Simões, 2001). É também
característica a presença de partículas ecogénicas em suspensão, que formam em tempo real
uma aparência de “tempestade de neve”. Estas partículas correspondem a células de
descamação da mucosa uterina.
A pseudogestação deve ser diferenciada, além de endometrites e de piómetras
(Duquesnel et al., 1992), com a gestação a partir dos 40 dias (Pieterse and Taverne, 1986),
onde surgem neste último caso, o(s) feto(s), placentomas e membranas placentárias .
7.6. Outras patologias
7.6.1. Maceração fetal
Em situações de fetos macerados as paredes uterinas encontram-se espessadas e os
fragmentos ósseos são visualizados como áreas hiperecogénicas, originando sombras
acústicas. Nas áreas adjacentes, e entre estes pedaços ósseos, existe fluido purulento, com a
aparência típica de áreas anecogénicas, contendo partículas ecogénicas em suspensão
(Rajamahendran et al., 1994). O fluido alantóide possui uma ecogenicidade bastante distinta
do fluido amniótico. Enquanto o 1º surge anecogénico, o 2º aparece hiperecogénico devido ao
aumento do teor celular do seu conteúdo proveniente da desintegração fetal (Kähn, 1994).
7.6.2. Mumificação fetal
A mumificação fetal pode ocorrer por morte do feto entre o 3 e os 8 meses de gestação
(após o inicio do processo de ossificação). É clinicamente caracterizada por: (1) falha de
expulsão do feto; (2) ausência de estro ou parto; (3) absorção dos fluidos fetais; (4)
membranas placentárias enrugadas e secas; (4) regressão dos placentomas; (5) contracção do
Versão online
56
útero e aumento de espessura das paredes uterinas e (6) consistência firme do feto. As
mumificações podem apresentar-se sob a forma “papirácea”, com as características anteriores
ou sob forma “hemática”, mais frequente nos bovinos, e que se diferencia da anterior pela
cobertura do feto e das membranas por um material viscoso de cor acastanhada que resulta
dos pigmentos derivados das hemácias por hemorragia das carúnculas (Arthur et al., 1996).
Os fetos mumificados são representados ecográficamente por áreas ecogénicas mal
definidas encontrando-se os fluidos das bolsas placentárias ausentes, não surgindo áreas de
fluidos anecogénicas (Fissore et al., 1986; Rajamahendran et al., 1994).
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
57
8. ECOTEXTURA DO ÚTERO EM PERÍODO DE ESTRO
Durante o ciclo éstrico, o útero sofre um conjunto da alterações morfológicas externas
e internas que permitem diferenciar, principalmente, as fases de diestro e de estro dos animais
observados. Nesta fase de estro, o conteúdo dos cornos uterinos pode ser confundidos com o
fluido dos anexos embrionários, principalmente, em estádios iniciais de gestação, quando os
batimentos cardíacos do embrião são, muitas vezes, difíceis de detectar.
8.1. Período de estro
Em bovinos, no período de estro existe um aumento de tonicidade do útero que altera
a sua conformação (figura 33), tornando-o menos enrolado (Pierson and Ginther, 1987). A
tonicidade resulta das contracções do miométrio que se opõem à turgescência do endométrio
sendo esta devida à expansão do edema que ocorre nesta fase e surge no período peri-
ovulatório (Bonafos et al., 1995). O aumento da tonicidade é detectado, subjectivamente,
através da palpação transrectal. No entanto, a diminuição acentuada do número de espirais
tem como consequência dificuldades acentuadas na visualização ecográfica de planos
transversais dos cornos uterinos (Pierson and Ginther, 1987).
Legenda: 1- Conformação durante o período de estro; 2 e 3- Conformações em estádios intermédios; 4- Conformação em período de diestro. Adaptado de Pierson e Ginther (1987).
Figura 33. Conformações uterinas durante o ciclo éstrico.
Além das alterações de conformação dos cornos uterinos, surgem outras ocasionadas
pela hipertrofia do endométrio e do edema consequente ao aumento da vascularização. Estas
Versão online
58
alterações ecográficas são características, e envolvem diversos parâmetros: aumento de
espessura e alteração da conformação interna das paredes uterinas, sinais ecográficos de
edema e acumulação de fluidos intra-uterinos e vaginais (Pierson and Ginther, 1987 e 1988).
A espessura das paredes uterinas aumenta nos 3 a 4 dias antes da ovulação e decresce
aproximadamente entre o dia anterior ao da ovulação e 3 dias após a ovulação. A extensão
deste aumento é semelhante tanto nas paredes ventrais como nas paredes dorsais do útero
(Pierson and Ginther, 1987).
Neste período, ocorre também um aumento acentuado da expansão das pregas do
endométrio. Estas são caracterizadas por áreas hipoecogénicas alternadas, que representam o
edema das porções externas e por áreas hiperecogénicas atribuídas ao tecido conjuntivo denso
(Griffin and Ginther, 1992). Esta alternância origina uma imagem com uma ecotextura
bastante heterogénea, que se começa a notar 4 ou 5 dias antes da ovulação, atingindo o seu
máximo no dia anterior, decrescendo depois até se tornar novamente homogénea por volta do
dia 6 pós-ovulação (Pierson and Ginther, 1987).
Outro sinal ecográfico importante é a apresentação anecogénica do lúmen uterino,
devido à presença de secreções uterinas, embora esta anecogenicidade nem sempre seja
visualizada (Fissore et al., 1986). O aumento dos fluidos ocorre por volta do 17º ou 18º dia do
ciclo éstrico, atingindo o seu máximo no dia anterior à ovulação, após o qual decresce
acentuadamente até ao 3º dia após a ovulação (Pierson and Ginther, 1987). Este incremento
ocorre associado à regressão do corpo lúteo e é visualizado por áreas anecogénicas alongadas,
representando a acumulação uniforme das secreções no lúmen uterino (Kastelic et al., 1991b).
Em equinos observa-se também, por UTR, um aumento da heterogenicidade do útero
com o aumento da visualização de pregas uterinas, devido ao edema que ocorre por acção dos
estrogéneos. O padrão ecográfico faz lembrar um corte (dos gomos) de uma laranja. As
pregas uterinas são visíveis no final do período de diestro, tornando-se mais proeminentes
com a progressão do estro e diminuem ou desaparecem nas 24 horas antes da ovulação
(McKinnon, 1998).
Diagnóstico de gestação e de patologias uterinas por ecografia em ruminantes, equinos e suínos
59
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