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Texto de Celeste Brissos1 e Ana Sofia Branco2
[1. DIRETORA DA UNIDADE DE EMERGÊNCIA_SCML; 2. DIRETORA DO CENTRO DE APOIO SOCIAL DOS ANJOS DA UNIDADE DE EMERGÊNCIA_SCML]
O novo modelo de atendimento social da Unidade de Emergência da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa pressupõe um novo paradigma de atuação que, ao consensualizar a resposta, potencia os recursos existentes, evitando a duplicação ou sobreposição de respostas e aumentando a sua qualidade e eficiência. Procura-se que esta intervenção possibilite a prevenção das situações de sem-abrigo e promova a integração social de todos.
A TRIAGEM E O ACOMPANHAMENTO SOCIAL
A Unidade de Emergência implemen-tou, desde outubro de 2013, um novo modelo de atendimento e intervenção social para a população a que se diri-
ge: “a pessoa (em situação) sem-abrigo que, inde-pendentemente da sua nacionalidade, idade, sexo, condição socioeconómica e condição de saúde
A UNIDADE DE EMERGÊNCIA DA MISERICÓRDIA DE LISBOANovo modelo de atendimento e intervenção social
física e mental, se encontre: sem teto, vivendo no espaço público, alojada em abrigo de emergência ou com paradeiro em local precário; sem casa, en-contrando-se em alojamento temporário destinado para o efeito” (ESTRATÉGIA, 2009:16), ou a viver uma situação de emergência social.
O novo modelo da Unidade de Emergência visa promover a acessibilidade imediata e sem marca-
ção ao atendimento social, através da constituição de equipas de triagem, compostas por um técnico superior de serviço social e um psicólogo.
Quando recorrem ao atendimento social na Uni-dade de Emergência, na maior parte dos casos, as pessoas não têm asseguradas as suas necessidades de subsistência, encontrando-se numa situação que poderá ser caraterizada como de crise individual e social. Assim, é necessário serem atendidas de ime-diato, procurando a equipa construir um pré-diag-nóstico mais qualificado, que permita uma análise da situação social vivida pela pessoa e/ou família e, em simultâneo, elencar e acionar os recursos neces-sários para interromper a situação de vulnerabilida-de mais emergente diagnosticada. Esta intervenção
as redes formais e informais, de forma a evitar pro-cessos de desafiliação social com as estruturas das comunidades de origem. No atendimento, privile-gia-se a articulação com as redes locais, com recur-so a metodologias de mediação social, promovendo a ligação com os serviços sociais locais, para que a pessoa possa ter atendimento social assegurado nos serviços da sua comunidade de origem aquando do encaminhamento.
Assegurar as necessidades básicas das pes-soas atendidas é a primeira intervenção realizada
INTERIORES da Casa de Apoio Maria Lamas, equipamento de acolhimento a mulheres vítimas de violência
é sustentada por um apoio psicossocial que visa o restabelecimento do equilíbrio emocional do indi-víduo e/ou família, necessário para que este possa aderir a um plano de inserção (PAYNE, 1995:138).
A Unidade de Emergência responde às pessoas em situação de sem-abrigo ou de emergência social na cidade de Lisboa. De salientar que, nas situações de emergência, a pessoa e/ou família são sempre atendidas pela equipa de triagem e avaliadas. É feita a reconstrução, dentro do possível, das trajetórias de vida da pessoa, apurando-se as ligações com todas
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pela equipa de triagem. Proporcionar ao sujeito as condições mínimas de segurança contribui para a promoção de sentimentos mais securizantes. Neste sentido, a resolução dos problemas espe-cíficos possibilita ao utente a diminuição de senti-mentos de tensão e ansiedade.
No novo modelo de atendimento e interven-ção social, o enfoque é a pessoa e o conjunto de problemas que apresenta – falta de aloja-mento, problemas familiares, sociais, económi-cos, de desemprego ou doença mental –, pro-curando uma estratégia de intervenção integra-da. Assim, numa primeira fase, o utente vê de imediato as suas necessidades de subsistência asseguradas – através do recurso a respos-tas de emergência. Num segundo momento, em reunião de equipa alargada, são avaliadas e discutidas todas as situações atendidas no decorrer da semana, de forma a ser atribuído o gestor de caso para cada pessoa, de acordo com a problemática predominante identificada
(dependência; saúde mental; empregabilidade; ilegais; famílias, idosos e saúde física). Saben-do que a vulnerabilidade social das pessoas é, muitas vezes, multiproblemática, na reunião semanal de atribuição e estudo de caso deve-rá ser determinado qual o problema dominante de cada indivíduo atendido, com vista ao en-caminhamento e acompanhamento adequado.
Após a atribuição de um gestor de caso, este técnico deverá aprofundar o diagnóstico efetuado. Para tal, deve marcar o atendimento do utente o mais rápido possível e efetuar todas as diligências necessárias ao acompanhamento da situação, identificando os recursos a acionar para prepara-ção do plano individual de inserção.
O novo modelo de atendimento e intervenção social aplica-se a todos os casos que sejam aten-didos na Unidade de Emergência e que requeiram intervenção especializada. O novo modelo é apli-cado durante o tempo necessário, até que seja en-contrada e promovida a autonomização.
A QUALIDADE DA INTERVENÇÃO E A MULTIDIMENSIONALIDADE ASSOCIADA À SITUAÇÃO DA PESSOA SEM-ABRIGOA qualidade de intervenção está diretamente rela-cionada com a formação dos técnicos envolvidos. A multidimensionalidade dos problemas associa-dos à situação de sem-abrigo requer um domínio de conhecimentos específicos e um tipo de abor-dagem próprio. Neste sentido, o novo modelo de atendimento e intervenção social partiu de um reconhecimento conjunto da complexidade dos processos e situações que afetam as pessoas sem--abrigo, identificando necessidades, oportunidades e obstáculos, de natureza transversal ou específica, a que urge responder de forma concertada (ES-TRATÉGIA, 2009:9).
A população a que a Unidade de Emergência responde encontra-se numa situação de fragilida-de social, que se traduz em más condições de vida, podendo as mesmas coexistir há vários anos ou assumirem uma vivência recente. Na maioria dos casos, trata-se de uma população que vive uma situação de “privação múltipla, isto é, em diversos domínios das necessidades básicas: alimentação, vestuário, condições habitacionais, transportes,
comunicações, condições de trabalho, saúde e cui-dados de saúde, educação, formação profissional, cultural, participação na vida social e política, etc.” (COSTA, 1998:27).
Não raras vezes, face à multiplicidade destas carências, constata-se que a privação num destes domínios pode originar o agravamento da situação social vivida. Assim, assiste-se ao que Robert Cas-tel chama de desafiliação, conceito proposto pelo autor para se referir a novas situações de exclusão social, entendida na necessidade de conjugação de dois eixos: o eixo correspondente ao “aumento do desemprego e da precariedade do trabalho que pode transformar-se em ‘inempregabilidade’ per-manente” e o eixo que diz respeito à “fragilização dos suportes tradicionais, das formas tradicionais de socialização, conducentes muitas vezes ao iso-lamento social” (CASTEL, 2000:26). Segundo este autor, ao utilizar o termo excluídos “corre-se [...] o risco de esquecer que a sociedade continua a ter um centro e que é a partir deste centro que se pro-duz a exclusão” (CASTEL, 2000:33).
O conceito de desafiliação designa o proces-so em que os utentes, nos seus percursos de vida, verificam perdas sucessivas e ruturas face
INSTALAÇÕES da Casa de Transição,
estrutura residencial de utilização temporária
para o apoio da população ex-reclusa
em processo de reinserção social
O NOVO MODELO VISA PROMOVER A ACESSIBILIDADE
IMEDIATA E SEM MARCAÇÃO AO ATENDIMENTO SOCIAL,
ATRAVÉS DA CONSTITUIÇÃO DE EQUIPAS DE TRIAGEM
COZINHA do refeitório do Centro de Apoio Social de São Bento
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à sociedade. Estão aqui contempladas as popu-lações atendidas na Unidade de Emergência que, não inseridas no mercado de trabalho, vivem uma situação de falta de recursos e perderam também o suporte das redes sociais e familiares. Vivem não só numa situação de pobreza como também de desafiliação, ou seja, quebraram os vínculos com a sociedade. Recorrem ao atendimento quando as suas capacidades para responder às exigências diárias estão esgotadas e a resolução dos seus problemas parece-lhes inatingível, faltando-lhes motivação e meios para fazer face às adversida-des do seu quotidiano.
Os públicos que recorrem à Unidade de Emer-gência vivem um processo de desqualificação so-cial, entendido como um movimento de espiral ne-gativa que diz respeito à perda progressiva de uma identidade positiva. Este processo pode levar as pessoas, em último caso, à rutura com a sociedade em geral (PAUGAM, 2000).
Partindo da conceção de que a exclusão está re-lacionada com a ausência de ligações à sociedade, esta deve ser entendida na relação dialética com o seu oposto: a inclusão/inserção/integração. Neste sentido, reverter a exclusão social passa necessa-riamente pelo exercício da cidadania, que implica o acesso aos sistemas sociais básicos (social, eco-nómico, institucional, territorial e o das referências simbólicas) (COSTA, 1998:13).
O PERFIL DA PESSOA SEM-ABRIGO – VARIÁVEL E HETEROGÉNEOEm termos de percursos de vida, no perfil dos pú-blicos atendidos na Unidade de Emergência, des-taca-se que a maioria destes indivíduos viveu num sistema familiar multiproblemático. “A miséria e a precariedade em que vive a maioria destas famílias
são um espelho fiel da desorganização relacional e da amálgama emocional em que vivem os seus elementos” (ALARCÃO, 2000:325).
Esta sociabilização reflete-se nos modos de vida destas pessoas, através de comportamentos de grande instabilidade afetiva que se manifestam na relação que estabelecem com o meio social envol-vente. As relações familiares “escondem muitas vezes socializações conturbadas [...] cujo período de socialização primária – desde a infância até à entrada na vida adulta – foi passada em contex-tos desfavorecidos [...], quer em termos de capital económico, como ao nível dos capitais simbólico,
cultural e social” (PEREIRA e SILVA, 1999:19). Esta cadeia de negatividade acaba por se traduzir nos percursos de vida e, nalguns casos, pode culminar em situações de utentes identificados com pertur-bações mentais ou patologias psiquiátricas.
Na população atendida na Unidade de Emergên-cia encontramos ainda pessoas que apresentam comportamentos aditivos (álcool e estupefacien-tes), sendo principalmente notórios o consumo excessivo e a dependência do álcool, os compor-tamentos de fuga e evitamento, os comportamen-tos de alienação e “anestesia” do confronto com o seu sofrimento interior, com as suas perdas, com as frustrações decorrentes do seu percurso de vida. Comportamentos que revelam a baixa autoestima, a falta de autoconfiança, a elevada insegurança sentida no mundo (interior e exterior). Como con-sequência, desenvolvem sentimentos de hostilida-de, sentimentos de desconfiança e suspeição na relação com o outro.
A estes grupos somam-se os “novos” sem--abrigo, cuja emergência surge associada às novas questões sociais, desencadeadas por fenómenos recentes que resultam em profundas transforma-
ções económicas, sociais e familiares. Os efeitos sociais que a crise económica e financeira tem ori-ginado são o fenómeno do desemprego maciço, a falta de perspetivas de emprego para os jovens que desejam entrar na vida ativa – e não encontram oportunidades de emprego adequado às respetivas qualificações –, a precariedade dos vínculos labo-rais e, de modo geral, a desvalorização do trabalho humano, a que acresce a diminuição dos rendimen-tos do trabalho, o agravamento das desigualdades e a acentuação da pobreza.
QUALIFICAR A INTERVENÇÃO – VANTAGENS DA ESPECIALIZAÇÃOMas intervir junto de um dos públicos mais vulne-ráveis, os sem-abrigo, passa por entender que não se é sem-abrigo. Não é um estado de vida, é uma situação que decorre de um processo que se assu-me muito heterogéneo nas suas origens. Podemos referir que existe uma multiplicidade de situações que conduzem uma pessoa a estar sem-abrigo. En-tender os processos de exclusão como dinâmicos é pensar que a intervenção concertada e acessível a todos pode contribuir para se contrariar e reverter
a situação de exclusão social a que estas pessoas ficaram sujeitas.
Assim, a metodologia de intervenção e acom-panhamento integrado às pessoas sem-abrigo pressupõe a articulação entre os diferentes servi-ços locais, rentabilizando os recursos existentes na comunidade com base no estabelecimento de relações formais e informais privilegiadas. A es-pecialização da intervenção por problemáticas (dependência; saúde mental; empregabilidade; ile-gais; famílias, idosos e saúde física) permite, a cada equipa de técnicos que assegura o atendimento, o estabelecimento de parcerias e contactos privile-giados com as redes e estruturas públicas e priva-das locais, fomentando a mobilização de recursos em prol do utente.
O gestor de caso defende os interesses do uten-te em todas as situações, preparando em conjunto com a pessoa as ações a serem desenvolvidas no âmbito do seu processo de inserção. A criação da figura do gestor de caso é considerada uma das grandes inovações do novo modelo de intervenção integrada, permitindo explorar a possibilidade de beneficiar a população com um acompanhamento
A MULTIDIMENSIONALIDADE DOS PROBLEMAS
ASSOCIADOS À SITUAÇÃO DE SEM-ABRIGO REQUER UM
DOMÍNIO DE CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS E UM TIPO
DE ABORDAGEM PRÓPRIO
PRODUTOS realizados pelos utentes do Centro de Apoio Social de São Bento
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mais personalizado em função das necessidades (ESTRATÉGIA, 2009).
Entendeu-se que o sucesso das intervenções é viável face à prestação de um serviço baseado em princípios humanistas, com uma componente técnica reconhecida – ao nível teórico e operacio-nal –, que confira confiança e promova a adesão dos utentes aos seus projetos de intervenção. A qualidade da intervenção e a adequação às ne-cessidades estão associadas a um diagnóstico psicossocial do utente, encarado como um todo e com necessidades diversas que carecem de uma resposta multidimensional e de uma abordagem integrada. Procurou-se fomentar as sinergias lo-cais facilitadoras do sucesso do processo em cur-so, mediando a relação entre o utente e os siste-mas sociais envolvidos.
No âmbito do novo modelo de intervenção so-cial foi constituída uma equipa multidisciplinar, composta por um assistente social da Unidade de Emergência e um enfermeiro da Unidade de Acompanhamento Terapêutico. Esta equipa rea-liza a avaliação e encaminhamento de situações vulneráveis, em termos sociais e de saúde, garan-tindo a complementaridade, rentabilidade e ade-
quação às necessidades dos indivíduos em situa-ção de risco social grave.
Neste sentido, o objetivo da intervenção junto desta população contém em si a prevenção ou o restabelecimento do equilíbrio funcional. Assim, a intervenção da Unidade de Emergência da Dire-ção de Intervenção com os Públicos Vulneráveis da SCML mobiliza recursos e serviços em ordem das necessidades destes indivíduos, de forma a evitar situações de rutura, procurando que as pessoas afetadas por problemas sociais se pos-sam enquadrar e participar na vida em sociedade, exercendo uma cidadania plena.
OS EQUIPAMENTOS SOCIAIS – QUALIFICAR E AJUSTAR AOS PROBLEMAS EMERGENTESA Unidade de Emergência coloca ao dispor dos públicos mais vulneráveis um conjunto de equi-pamentos sociais que dependem diretamente desta Unidade. Ao longo dos tempos, a SCML procurou qualificar a intervenção destas respos-tas sociais – Centro de Alojamento Temporário Mãe d´Água e Extensão; Casa de Apoio Maria Lamas; Centro de Apoio Social dos Anjos; Centro de Apoio Social de São Bento; Casa de Transição
e Centro de Apoio Social de Lisboa –, criando e reformulando os objetivos de algumas e ajustan-do-os às necessidades dos públicos junto dos quais intervém.
Centro de Alojamento Temporário Mãe d´Água e ExtensãoO Centro de Alojamento Temporário Mãe d’Água (CATMA) tem capacidade para acolher 36 uten-tes, seis em alojamento de emergência (três ho-mens e três mulheres) e os restantes trinta uten-tes em alojamento temporário (21 homens e nove mulheres). O CATMA - Extensão tem capacidade para acolher 16 utentes, num total de seis famílias, cinco das quais em alojamento temporário e uma em alojamento de emergência. No total, o CATMA tem capacidade para acolher 52 pessoas.
Desde 2012, a equipa técnica do CATMA assu-miu a gestão e acompanhamento dos casos que acolhe, constituindo-se como gestores de caso. Junto dos seus utentes, a equipa desenvolve um trabalho de promoção, integração, formação e desenvolvimento pessoal, na perspectiva da me-lhoria da qualidade de vida e da inserção integral nos diversos sistemas sociais, conduzindo a um exercício pleno de cidadania. Assim, é promovida a aquisição de competências pessoais e sociais, dinamizando-se ações com vista à autonomia dos seus utentes.
Casa de Acolhimento a Mulheres Vítimas de Violência A Casa de Apoio Maria Lamas (CAML) visa pro-porcionar acolhimento temporário e/ou de emer-gência a mulheres vítimas de violência doméstica, com ou sem filhos, que se encontrem numa situa-ção de vitimação e de risco. Este estabelecimento, que acolhe oito mulheres e 14 crianças, assegura a
O CONCEITO DE DESAFILIAÇÃO DESIGNA O PROCESSO
EM QUE OS UTENTES, NOS SEUS PERCURSOS DE VIDA,
VERIFICAM PERDAS SUCESSIVAS E RUTURAS FACE
À SOCIEDADE
ATIVIDADE partilhada entre equipamentos
organizada e realizada no Centro de Apoio
Social dos Anjos
proteção física e psicológica das vítimas. Na CAML é promovida a aquisição de competências pes-soais, profissionais e sociais, com vista à criação das condições necessárias para a reorganização das vidas das utentes acolhidas, através da integra-ção familiar, social, profissional e habitacional.
No seguimento do trabalho iniciado em 2012 – com a reestruturação do modelo de intervenção, que passou a ser sustentado na transdisciplina-ridade, isto é, na responsabilidade partilhada de todos os elementos da equipa, quer na tomada de decisão quer na avaliação dos resultados –, a CAML criou/implementou novas metodologias e instrumentos de trabalho.
Centro de Apoio Social dos AnjosO Centro de Apoio Social dos Anjos (CASA) asse-gura aos seus utilizadores as seguintes respostas so-ciais: o apoio alimentar à população mais carenciada da cidade de Lisboa (Refeitório Social); o ateliê e o Espaço de Inclusão Digital (ambos estruturados em atividades ocupacionais e terapêuticas dedicadas à população em situação de exclusão social grave); a prestação de cuidados de higiene (balneário, lavan-daria e banco de roupa) e o acolhimento residencial de pessoas sem-abrigo em processo de acompa-nhamento social. Com o objetivo de reorganizar e melhorar os processos internos e externos, foram concretizadas várias ações ao longo do ano de 2012.
No que respeita ao refeitório – e no sentido de se responder ao aumento dos utentes que recorre-ram ao atendimento social da SCML a necessitar e que necessitam de apoio alimentar –, foi proposto o acréscimo do número de refeições fornecidas dia-riamente pelo CASA, o que foi autorizado na De-liberação de Mesa nº 1218, de 1 de junho de 2012.
O Centro de Acolhimento do CASA dá resposta a
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BIBLIOGRAFIA15 pessoas. Tendo em conta as necessidades sociais mais prementes, passou a funcionar 24 horas/dia, 365 dias/ano, constituindo-se como uma resposta mais centrada no processo de acompanhamento de utentes que apresentam necessidades de apoio e supervisão, quer noturna quer diurna, na satisfação das necessidades alimentares, de higiene e de con-forto e no acesso e garantia do acesso a cuidados de saúde.
No que respeita à gestão e acompanhamento dos processos sociais dos utentes do Centro de Alojamento do CASA, cumpre referir que a equipa multidisciplinar do CASA passou a assumir a fun-ção de gestor de caso, tendo-se procedido à trans-ferência dos processos sociais para a assistente so-cial do CASA. Esta situação permitiu desenvolver uma intervenção mais ajustada às necessidades individuais dos utentes, com um acompanhamento mais sistemático.
Casa de Transição A Casa de Transição é uma estrutura residencial, de utilização temporária, destinada a acolher utentes em processo de reinserção social. Desenvolve um apoio efetivo aos seus residentes, promovendo o seu potencial de autonomia, valorizando o desenvol-vimento das suas competências pessoais, sociais e profissionais, de acordo com os planos individuais de inserção definidos, com vista à sua integração social.
Durante o ano de 2013 pretendeu manter-se uma estrutura residencial para o apoio de população ex--reclusa, sem enquadramento habitacional nem rede
de suporte efetivo, enquanto resposta social facilita-dora da sua reintegração e permitindo uma transição apoiada do meio prisional para o meio livre.
No segundo trimestre do ano de 2012, reestrutu-rou-se a resposta, passando a existir dois espaços habitacionais distintos, que denominámos de Casa I e Casa II. A Casa I acolhe oito indivíduos do sexo masculino, em condições de poder beneficiar de
liberdade condicional e em termo de pena. Aco-lhe preferencialmente os ex-reclusos provenientes dos Estabelecimentos Prisionais da área da Grande Lisboa, que não tenham enquadramento residen-cial nem sociofamiliar e que, no período anterior à detenção, tenham residido na cidade de Lisboa ou aí queiram residir após o cumprimento da pena. A Casa II acolhe nove indivíduos do sexo masculino, jovens dos 18 aos 25 anos, com um percurso longo de institucionalização – preferencialmente em lares residenciais da Santa Casa da Misericórdia de Lis-boa. Acolhe jovens que se encontrem em situação de vulnerabilidade socioeconómica, de exclusão so-cial e de ausência de rede de suporte efetivo e, even-tualmente, em situação de marginalidade e rutura com os apoios já anteriormente disponibilizados.
Centro de Apoio Social de São Bento A metodologia de intervenção adotada pelo Centro de Apoio Social de São Bento (CASSB) centra-se no indivíduo, sendo orientada para o desenvolvimen-to de aspetos relacionais/ocupacionais, através de uma abordagem multidisciplinar, integrada e articu-lada de forma sistemática com entidades/serviços da comunidade envolvente.
Nos três ateliês existentes são desenvolvidas ati-vidades ocupacionais, estruturadas de acordo com os objetivos delineados para cada utente, segundo o projeto de vida definido com o mesmo. Neste senti-do, são desenvolvidas atividades de vida diária, tra-balhos e atividades produtivas, prestação de servi-ços à comunidade, atividades complementares (for-
mação social e humana; atividades socioculturais, recreativas e de lazer; banco de roupa e biblioteca), e reuniões semanais, por ateliê, de avaliação, estudo de casos e planeamento das atividades.
Alargou-se o âmbito de intervenção do CASSB no refeitório existente – que respondia exclusiva-mente ao utentes internos do ateliê –, que passou a constituir-se como uma resposta às situações mais vulneráveis da Unidade de Emergência, que neces-sitam de uma resposta alimentar num espaço mais contentor e protetor.
Centro de Apoio Social de Lisboa Em janeiro de 2011, o Centro de Apoio Social de Lisboa (CASL) foi integrado na SCML através do regime legal de cedência dos estabelecimentos in-tegrados do Instituto de Segurança Social, IP, como consta do Decreto-Lei nº 16/ 2011 de 25 de janeiro. O CASL procura honrar os compromissos assumi-dos na missão da Santa Casa, promovendo a me-lhoria da qualidade de vida dos idosos residentes, respeitando os valores de compromisso, ética, rigor e integridade. Foi criado o grupo de trabalho Amigos e Críticos da Mitra, que visa validar vários projetos absolutamente inovadores.
NÚCLEOS DE PLANEAMENTO E INTERVENÇÃO SEM-ABRIGO (NPISA)Todas estas mudanças que têm vindo a ocorrer na Unidade de Emergência assentam nos pressupostos para aplicação do modelo de intervenção integrada, previstos na Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas Sem-Abrigo (2009-2015) (ENIPSA). Estas transformações permitem a preparação para o desafio que nos propomos assumir, em conjunto com os parceiros que intervêm na cidade de Lisboa com a pessoa sem-abrigo. Um desafio que passa pela constituição do Núcleo de Planeamento e In-tervenção Sem-Abrigo (NPISA), no âmbito da Rede Social de Lisboa. Nessa medida, a Santa Casa da Misericórdia assinou um protocolo com a Câma-ra Municipal de Lisboa, que cedeu um espaço no Cais do Sodré onde irá funcionar a nova Unidade de Atendimento.
O NPISA é constituído por uma rede de parceiros que alocam recursos e que, trabalhando em conjun-to de forma integrada, respondem a uma necessida-
A CANTORA Alexandra no Centro de Apoio Social de Lisboa, antiga Mitra, no âmbito
do projeto Encontros com Vida
A CASA DE TRANSIÇÃO É UMA ESTRUTURA RESIDENCIAL,
DE UTILIZAÇÃO TEMPORÁRIA, DESTINADA A ACOLHER
UTENTES EM PROCESSO DE REINSERÇÃO SOCIAL
de de organização setorial que estruture a diversida-de de instituições, adotando os princípios comuns e respeitando a identidade e culturas institucionais, assim como as boas práticas já existentes, reco-nhecidas como mais-valias fundamentais. Partindo do pressuposto de que, por um lado, as sinergias resultantes da integração do trabalho interinstitu-cional representarão um benefício maior do que a mera soma das suas intervenções fragmentadas e, por outro lado, que aquilo que se faz bem ao nível da intervenção deve ser conservado, através da sua ins-crição formal, no modelo de intervenção integrada a ser contratualizado.
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