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Notícias
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Espaço de opinião
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Entrevista Madalena Marques (técnica do projeto)
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Entrevista Mais Além Professora Paula Saraiva (EB1 JI da Bela Vista)
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Contactos
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Consórcio
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Equipa
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“O futuro não nos traz, nem nos dá nada.
Nós é que, para construi-lo, devemos dar-lhe tudo.
Vem construir connosco.”
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Sessões de terapia da
fala promovem as
competências
comunicacionais dos
adolescentes
No âmbito de um estágio curricular do curso de terapia da fala, do Instituto Politécnico de Setúbal, três jovens finalistas, Mariana Alface, Susana Azevedo e Marisa Viegas estão a promover um projeto, com o propósito de desenvolver competências comunicativas e de interacção social dos jovens do bairro da Bela Vista, de Setúbal. As estudantes criaram um projeto novo, nomeado “Bel’(In)Vista em Comunicação e Interacção”, que procura complementar o trabalho que é desenvolvido no Pro Infinito e Mais Além – E5G, mas direcionado para a terapia da fala, principalmente na área da comunicação. As jovens têm trabalhado com adolescentes entre os 14 e os 18 anos, o público-alvo em quem identificaram um maior défice de competências comunicativas. As atividades desenvolvidas em forma de encenações, conversações, reflexões e
desenvolvimento da escrita vão ao encontro das necessidades e preferências dos jovens, de forma a participarem e retirarem as aprendizagens necessárias para o quotidiano, e para o futuro. As estudantes estagiárias pretendem transmitir-lhes a importância do uso correto da fala e das suas regras, através do convívio que estabelecem durante as sessões, para que os jovens possam assim resolver problemas, obterem informações de forma positiva, ordenada e educada. Além da fala existem outras caraterísticas nas quais se debruçam, como a linguagem, a voz, a motricidade orofacial, deglutição, fluências e comunicação, área trabalhada em destaque no Pro Infinito e Mais Além – E5G.
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Pro Infinito e Mais Além – E5G apoia os participantes
no estudo
O projeto desenvolve durante o ano letivo a atividade de apoio ao estudo, a partir da qual as crianças e jovens participantes com a ajuda do dinamizador comunitário, esclarecem dúvidas, realizam trabalhos para casa e trabalhos de grupo, ou estudam para testes, com o objetivo de conseguirem alcançar uma avaliação escolar positiva. O dinamizador comunitário, Ruben Moreira, revela que “a preparação para o acompanhamento e orientação em métodos e técnicas de estudo é feito a partir de metodologias psicopedagógicas testadas e ajustadas a cada criança e jovem”, ou ainda com o auxílio de livros e a Internet, nomeadamente o recurso à Escola Virtual, que é feito no espaço CID@FORMA, juntamente com a monitora Susana Fernandes.
Para além disso, o dinamizador
trabalha a motivação e atenção dos
participantes mais distraídos e com
pouco interesse pelo estudo,
através de técnicas de
compensação, promovendo,
posteriormente, a realização de
atividades de acordo com os gostos
pessoais de cada um.
A par do apoio há um processo de
organização das notas dos testes e,
da avaliação por período letivo dos
participantes diretos do projeto, o
que permite à equipa técnica obter
informações de como estão a
decorrer os diversos percursos
escolares ao longo do ano letivo.
O acompanhamento e orientação
em métodos e técnicas de estudo
procura fomentar o sucesso escolar
das crianças e jovens, e estes
momentos decorrem no espaço do
projeto, durante a semana, entre as
14 e as 18 horas
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“Vou-te escolher a ti!” para promover o poder de
decisão dos mais novos
As crianças do primeiro ano da
EB1/JI da Bela Vista participaram
na dinâmica “Vou-te escolher a
ti!”, organizada pela técnica do
projeto Pro Infinito e Mais Além
– E5G, cujo propósito era
estimular o poder de decisão.
No âmbito do programa de
formação em competências
pessoais e sociais, designado
“Lançar Sementes”, a técnica
está a desenvolver com a turma
43, um conjunto de sessões
semanais com atividades. A
parceria entre o projeto e a
escola baseia-se num
acompanhamento por parte da
técnica do projeto, que realiza
uma série de sessões, onde é
pretendido capacitar as crianças
participantes nas atividades, de
um conjunto de competências
na área pessoal, social e
académica.
As crianças reuniram-se numa
roda, onde todos se conseguiam
ver uns aos outros. A atividade
consistia na utilização de cartões
com tarefas, e um cartão era
escolhido por cada criança, que
posteriormente indicava outro
colega para as realizar. As
tarefas consistiam em cantar,
dançar, responder a adivinhas
sobre o corpo humano, entre
outras perguntas de
conhecimento geral adequadas
à faixa etária.
No final, a turma participou na
parte refletiva da atividade, que
consistiu na partilha de opinião
sobre a dificuldade das tarefas,
do gosto pela atividade, ao que
responderam a tudo de uma
forma positiva.
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“Mediação de
professores” promove
articulação entre
projeto e docentes das
escolas do bairro da
Bela Vista
O Pro Infinito e Mais Além – E5G
dinamiza mensalmente uma
atividade denominada
“Mediação de Professores”,
com o propósito de formalizar a
articulação com os professores
das escolas do bairro da Bela
Vista, de Setúbal. Esta
articulação pretende promover a
reflexão, identificação de
metodologias e práticas
interventivas necessárias para
trabalhar com as crianças e
jovens.
A parceria consistente e efetiva
existente com as escolas
permite com regularidade, haver
uma articulação com os
docentes, sobre os alunos e
respetivas famílias. O objetivo é
promover o aumento do sucesso
escolar, e melhorar as
aprendizagens escolares,
minimizando situações de
absentismo e abandono escolar.
A articulação passa inclusive pela
interação com outras entidades
parceiras, como a CPCJ de
Setúbal e equipas de RSI, que
acompanham os agregados
familiares, permitindo uma
transmissão de informações,
através de uma comunicação
fluída entre todos os que
intervêm junto da população
escolar.
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“Caminhando para ir
mais além” com turmas
de 4º ano da EB1/JI da
Bela Vista
O Programa de Formação em
Competências Pessoais e Sociais,
designado por “Caminhando
para ir Mais Além”, dinamizado
pela técnica do projeto Pro
Infinito e Mais Além – E5G, visa
trabalhar com as crianças entre
os 08 e os 12 anos de idade, que
estão numa fase de transição do
1º ciclo para o 2º ciclo a ocorrer
no próximo ano letivo.
As atividades ao nível da
educação não-formal
desenvolvidas com 3 turmas do
4º ano, em parceria com a
escola, nomeadamente com as
professoras titulares, procuram
minimizar situações de exclusão
escolar e social, trabalhar com as
crianças questões relacionadas
com os valores, as mudanças
corporais, a abertura de
perspetivas, a exploração e
diversidade cultural…
O programa assenta em três
áreas formativas, que são: a
educação para a cidadania, a
educação para a saúde, e a
educação para os afetos. A par
destes tópicos abordados, a
técnica trabalha também com as
crianças a transição do 4º para o
5º ano escolar.
As dinâmicas realizadas são
lúdicas e interativas, de forma a
captar a atenção dos alunos,
promovendo o trabalho em
contexto de grupo, inclusive a
nível individual com reflexões
que vão sendo feitas por cada
um no final de cada atividade.
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Aprende-se espanhol e
polaco no Pro Infinito e
Mais Além – E5G
O projeto proporciona desde o
mês de fevereiro a oportunidade
das crianças e jovens, alunos do
2º e 3º ciclo, aprenderem as
línguas estrangeiras, espanhol e
polaco, através da parceria com
a Fundação Escola Profissional
de Setúbal, que está a
desenvolver o projeto Programa
Aprendizagem ao Longo da Vida
– Comenius, até Julho de 2014,
com a assistente comenius,
Marta Jaroszewska, de
nacionalidade polaca.
O objetivo desta atividade, a
decorrer no projeto, é permitir
aos participantes uma abertura
de perspetivas, sensibilizando-os
para a diversidade de culturas e
línguas, e adquirirem novas
competências a nível linguístico,
às quais não podem aceder em
contexto escolar, devido à
carência deste tipo de resposta
mais específica, como as línguas
espanhola e polaca.
A assistente criou uma página na
rede social Facebook, a fim de
poder partilhar atividades,
experiências e promover
concursos sobre o mundo
hispânico e do país natal de
Marta, a Polónia.
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Semana da Internet
Segura informa sobre os
cuidados e perigos do
mundo digital
O dinamizador comunitário do
Pro Infinito e Mais Além – E5G
planeou a semana relacionada
com a temática “Internet Segura”,
no mês de fevereiro, em resposta
ao desafio lançado pelo Programa
Escolhas, com recursos a diversos
materiais, como apresentações,
vídeos, jogos online e um jogo
“quantos-queres”.
O objetivo do desafio consistia
em sensibilizar as crianças e
jovens sobre o tema, e foram
abordadas questões como os
cuidados e perigos a ter em
atenção nas redes sociais, no
fornecimento de dados pessoais,
ou passwords de e-mails ou
outras contas online, proteger os
computadores contra vírus da
internet, por exemplo.
O Pro Infinito e Mais Além – E5G
em parceria com o projeto
CLPManteigadas – E5G organizou
também uma formação sobre o
tema, e inclusive o dinamizador
comunitário estendeu esta acção
à turma de 4º ano da EB1/JI da
Bela Vista, abrangendo um total
de 80 crianças e jovens, que
participaram nesta semana
preventiva.
Os jovens deram a sua opinião
sobre esta semana, afirmando a
importância do trabalho
desenvolvido, e que as atividades
foram pertinentes e
interessantes. Além disso
possibilitou a aprendizagem sobre
questões, como o spam, e
técnicas para descobrir se quem
está do outro lado do ecrã é real
ou fictício, se é perigoso ou nã
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Jessica Lopes, 10 anos
Estou no 5º ano da EB 2/3 da Bela Vista. Gosto muito da escola, e para mim
“escola” significa “estudar”. É importante ir à escola, porque é um lugar que
nos ajuda a estudar, a fazer trabalhos e a conhecer amigos. A minha disciplina
preferida é Português, a menos preferida é História. A minha mãe e tia ajudam-
me a estudar, o Ruben e a professora Susana do Pro Infinito e Mais Além – E5G
também, com a Escola Virtual. No futuro quero terminar os estudos e ser
enfermeira, porque acho uma profissão fixe.
João Paulino, 11 anos
Estou no 5º ano da EB 2/3 da Bela Vista. A “escola” significa “trabalhar”. A
minha disciplina preferida é Matemática, a menos preferida é Música. Se não
existisse a escola não poderia ir trabalhar, e lá aprendo coisas novas, faço
novos amigos. A minha família ajuda-me com os trabalhos, e no projeto é o
Ruben e a professora Susana. Quero terminar a escola, e gostava de poder vir a
ser mecânico.
Miguel Balão, 16 anos
A escola para mim é a minha terceira casa, pois é onde eu estudo e aprendo.
Passei a maior parte da minha vida na escola, por vezes fico cansado, mas o que
seria de cada um de nós sem a escola? Andávamos por aí, sem fazer nada. O
que seriamos sem saber ler e escrever? Era como se fossemos cegos e mudos.
No meu caso, a equipa do projeto ajuda-me imenso com os trabalhos da escola,
através da Internet, e a Escola Virtual. O meu objetivo é terminar o 9º ano de
escolaridade e gostava de arranjar um trabalho na AutoEuropa, por exemplo,
desde que fosse um trabalho fixo era muito bom.
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A técnica do Pro Infinito e Mais Além – E5G, Madalena Marques, foi
entrevistada sobre o trabalho que tem vindo a desenvolver dentro e
fora do projeto com as crianças e jovens do bairro da Bela Vista.
1. O projeto tem uma parceria
com a EB1/JI da Bela Vista, qual o
objetivo desta parceria onde a
Madalena dinamiza as atividades
com os alunos do 1º ciclo?
As atividades que eu dinamizo com as turmas de primeiro e quarto ano fazem parte do “Programa de Formação em Competências Pessoais e Sociais”, designadas de “Lançar Sementes” e “Caminhando para ir Mais Além”, respetivamente.
O programa decorre semanalmente na escola, e as dinâmicas têm por objetivo trabalhar tanto as competências ao nível pessoal, como a nível social, com a ajuda da professora titular, que é um membro muito importante nas dinâmicas. Mas além disto, realizamos formações com entidades exteriores - que também são nossas parceiras - como por exemplo, formações com as famílias, passeios ao exterior.
2.O que se pretende que estas crianças
e jovens sejam ou façam com estas
atividades?
Acima de tudo é prepará-los. Estamos a falar de um contexto complicado, no bairro da Bela Vista existe muita multiculturalidade, e estas crianças podem vir a desenvolver comportamentos menos adequados, atitudes menos assertivas, porque efetivamente também culturalmente e mesmo pelo meio envolvente, não têm grandes noções do que supostamente será mais correto.
Nós não pretendemos modificar ou alterar as suas
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crenças, valores, o que é pretendido é trabalhá-los e capacitá-los para uma visão diferente do mundo, queremos que eles tenham uma perceção de que existem outras culturas para além do contexto de bairro.
Inclusive procuramos que adquiram competências escolares, motivá-los e estimulá-los cognitivamente, para adquirirem novos conceitos, novo vocabulário. E ajudar as famílias que se mostram disponíveis, o que não é fácil, pois nós queremos chegar até elas, mas elas não quererem a nossa ajuda, e não estamos numa posição de exigir, e então tentamos mediar e mostrar a nossa disponibilidade sempre que queiram adquirir outro tipo de comportamentos, e envolvê-los acima de tudo na vida académica dos filhos. 3.Quais são as principais áreas
trabalhadas com os jovens no
“Programa de Formação em
Competências Pessoais e Sociais”?
Neste programa trabalhamos a questão do “eu”, as emoções, os afetos, nota-se a dificuldade que eles têm na interação com o outro, no toque, também trabalha-se o desenvolvimento cognitivo, como a atenção, concentração. Todas as atividades promovem exatamente isso, o saber que determinados jogos têm regras e que têm de ser
cumpridas, porque se não cumprirem têm que sair do jogo, portanto de alguma forma, simbolicamente, que eles percebam e consigam levar isso para o exterior, para outras situações, e vivências na rua ou em casa. O treino da atenção é importante, porque eles têm muita dificuldade em conseguirem estar concentrados, o esperar pela vez deles, e ao nível da memória.
Cada dinâmica tem objetivos definidos, determinados conteúdos, e no final, um momento de reflexão, que pretende fazê-los saber que a opinião deles importa. 4.A educação para os afetos é uma área
explorada no projeto com os jovens
participantes, inclusive com as turmas
de 4º ano, qual a importância de
trabalhar a educação sexual?
A atividade “Educação para os Afetos” é trabalhada com os jovens adolescentes do projeto. Esta temática também está englobada na “Formação em Competências Pessoais e Sociais”, e chamamos “afetos” invés de “sexual”, porque temos que ir até à essência, que são os afetos, por isso nós demos esse nome.
É importante abordarmos a questão dos afetos, a importância das emoções, como é que nos sentimos em determinadas situações, como é que o nosso corpo reage quando nos estamos
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a sentir contentes, tristes, com raiva, zangados. Posteriormente, falamos sobre a sexualidade, a puberdade e a adolescência, as diferenças e o desenvolvimento do corpo masculino e do feminino, e a importância da higiene.
Estes jovens não têm facilidade em abordar estes temas em casa, ou a família não lhes passa esta informação, e eles têm curiosidade em perceber, mas ao mesmo tempo têm vergonha. Por isso, tenta-se criar dinâmicas de forma a eles ouvirem, intervirem, nunca obrigados. Há dinâmicas no sentido de eles poderem colocar algumas questões sem se expor, quer perante mim, quer perante a turma, por exemplo escrever num papel, colocar numa caixa, para depois lermos, e eu responder, ou então eu levo questões formuladas e com respostas, sendo que assim todos recebem informação e ninguém se sente exposto.
Os professores abordam esta temática ao nível do órgão reprodutor masculino e feminino, portanto perde-se a questão dos afetos, das emoções. “Eu reajo assim porquê?”, “Porque é que tenho comportamentos que são vistos pelo adulto enquanto negativos e eu acho que não são”, são algumas questões, e importa eles perceberem que não é assim tão estranho e errado, por vezes têm um determinado
comportamento, porque faz parte da adolescência. 5.No que consiste o acompanhamento
psicológico? Que questões são
abordadas?
O acompanhamento psicológico decorre no espaço do projeto, com as crianças e jovens participantes, e de forma individualizada. No acompanhamento, dependendo do caso, não se trabalha apenas a questão psicológica, mas também questões cognitivas. Quando eu percebo que aquela criança ou jovem precisa de uma estimulação diferente, pode acontecer sentir-se a necessidade de fazer uma avaliação psicológica, para percebermos qual é o problema. Se o problema, por exemplo, traduz-se em maus resultados na escola, será um problema cognitivo? Será que precisa de necessidades educativas permanentes? Será apenas uma questão emocional? Há essa necessidade de fazer um despiste, e eu espero que eles também tenham a iniciativa de se precisarem de falar, de aconselhamento perante determinada situação venham ter comigo, mas quando isso não acontece, trabalha-se as questões de estimulação cognitiva, porque muitos precisam dessa área trabalhada.
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Há jovens que têm hora marcada e comparecem, pois efetivamente está marcado, depois há aqueles jovens que perguntam, “posso falar um bocadinho consigo?”. Se for necessário, ainda inserido nesta componente do apoio em psicologia, falo com os pais ou com o encarregado de educação, tento articular com outros técnicos para tentarmos perceber junto com os professores, diretores de turma, ajustar algum tipo de medidas. Por vezes fala-se que “têm mau comportamento, não têm competências académicas ou cognitivas para um bom desempenho académico” só que isso não é totalmente verdade, e aí há necessidade de se fazer um despiste para percebermos “é uma questão cognitiva? Ou uma questão emocional?”. 6.Quais são as estratégias que a
Madalena adota para se aproximar dos
participantes?
Eu já conheço mais ou menos os jovens, no entanto aqueles que aparecem pela primeira vez, a nossa estratégia é aproximarmo-nos deles, o que é muito normal e humano, uma relação normal interpessoal. Tentamos de alguma forma “falar” a linguagem deles, percebê-los, não mostrarmos uma atitude negativa, nem agressiva,
porque o próprio contexto em si exige que assim seja.
Há uns anos, quando eu cheguei ao projeto, não foi fácil, era um contexto diferente daquilo a que eu estava habituada, e tive que desenvolver estratégias, nomeadamente adequar as dinâmicas, por exemplo no “Programa de Formação de Competências Pessoais e Sociais” eu tinha algum treino em fazer este trabalho, mas tive que fazer uma readaptação total, o que eu tinha não me servia para aplicar neste contexto. Tive que me adequar, aprender a falar a “língua” deles, a ser mais tolerante, perceber os problemas de cada um deles. Percebi que era eu que tinha que me adaptar ao contexto deles, pois era eu que estava ali para trabalhar com eles.
As estratégias vão surgindo automaticamente, ser tolerante é a palavra-chave, quando alguém tem um comportamento desadequado nós temos que adequar também o nosso comportamento, e perceber toda a dinâmica envolvente. 7.A nível comportamental, a que
evoluções tem assistido?
Com os jovens com quem eu trabalho diretamente, penso que houve muitas evoluções, mas também houve uma adaptação da minha parte.
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Os laços afetivos que se vão estabelecendo ajuda na evolução, o saber que podem contar com o
projeto. Estes jovens funcionam muito pela questão da afetividade, o poder contar com alguém, invés de estarem no bairro, poderem estar no projeto. Efetivamente tem-se assistido a uma evolução bastante positiva.
Se falarmos de turmas que acompanhamos com regularidade, ou que se acompanham 2 anos seguidos, à nossa presença os comportamentos foram alterados de uma forma muito positiva. 8.Na perspetiva da Madalena, como é
que as estratégias de orientação em
métodos e técnicas de estudo
desenvolvidas pela equipa valorizam as
aprendizagens escolares?
Não podemos falar de uma forma absolutamente global, porque temos de perceber que todos são diferentes, e respeitar a diferença, os limites, os momentos de mais e menos atenção e concentração de cada um, por isso não podemos utilizar as mesmas estratégias com todos.
Costumamos perguntar quando chegam, incluindo uma coisa básica como “tens trabalhos de casa?”, vamos lembrando-os, funciona quase como uma rotina, ou sentarmo-nos ao lado deles e tentarmos ajudar na leitura ou no exercício, no qual eles demonstrem dificuldades. Temos de perceber se determinado jovem ou criança tem uma necessidade de mais atenção, e nós devemos dar-lha. 9.Quais os principais problemas e
desafios que encontra na população
juvenil que acompanha?
Em contexto de bairro, os problemas de forma geral são comuns, devido à multiculturalidade, às vezes é difícil respeitarem-se, perceberem a importância de regras, rotinas, comportamentos adequados e ajustados a diferentes contextos.
O grande desafio não é alterarmos o comportamento, crenças ou atitudes deles, mas sim tentarmos de alguma forma modelá-los, para que eles tenham consciência e perceção de que
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para além deste contexto de bairro existe mais, e que temos de respeitar todos, que não podemos nos fazer respeitar sem respeitar os outros. É de facto um desafio tentar modelar de alguma forma estas crianças que têm comportamentos tão vincados, e acham que aquelas são unicamente corretas, e isto o também é promovido pelos pais.
À semelhança de todos os jovens existem problemas comuns, e importa trabalhar com eles, na fase da adolescência, questões relacionadas com a higiene, sexualidade, a importância dos afetos. Nas crianças, o trabalho que estamos a desenvolver a nível da formação é todo um desafio, porque é uma etapa nova na vida deles, e muito boa, pois é a fase das aprendizagens de tudo, e para nós é importante podermos ensinar o que temos para partilhar com eles, e vice-versa. No meu caso, eu aprendo imensas coisas com eles, não só em termos culturais, crenças, mas também por exemplo, o vocabulário que utilizam. Eu acredito que eles conseguem de alguma forma tomar consciência do que lhes é ensinado e transportar isto para o próximo ano, e inclusive para casa e o meio social que os envolve.
10.Para os participantes mais velhos
existe a atividade de “Orientação e
Esclarecimento Formativo e
Profissional. O que a Madalena
desenvolve com eles?
A atividade está direcionada, principalmente, para jovens que estão a frequentar o 9º ano, que pretendem prosseguir estudos ou querem tirar um curso profissional.
Trabalho com os jovens dois tipos de baterias, que são apenas momentos de avaliação. A bateria de provas de raciocínio diferencial (BPRD), que se refere aos raciocínios, são testes psicométricos que medem a capacidade, composto por 5 subtestes, nos quais se avalia a aptidão numérica, o raciocínio verbal, a aptidão espacial, o raciocínio abstrato e mecânico. A partir daí, percebe-se quais são os pontos fortes e fracos, quais são os níveis onde eles atingem melhores e menos bons resultados, cada um desses níveis está para determinada área profissional.
Ainda outra bateria de testes que faço com os jovens é o IPP (teste de interesse e profissões), que depois de analisado podemos concluir quais os pontos mais fortes e mais fracos em determinada atividade e profissão, no entanto torna-se difícil, porque eles têm um vocabulário muito reduzido e dificuldades na compreensão, e perceção do que é que se faz em determinada profissão. Portanto é um teste que
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está mais relacionado com as preferências deles e a capacidade na compreensão, na consciência da atividade e da profissão.
Durante a atividade há um momento de conversação, em que faço a devolução dos resultados e, o encaminhamento formativo para
alguns jovens que não se enquadram propriamente na área de orientação vocacional, mas sim na necessidade de encontrarem uma resposta formativa para concluírem o 6º ano ou o 9º ano escolar.
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A professora Paula Saraiva, que trabalha com a turma 43, do 1º ano,
da EB1/JI da Bela Vista de Setúbal, foi entrevistada na edição deste
boletim, sublinhando a importância da parceria entre a escola e o
projeto.
1. Qual o objetivo da parceria entre
o projeto Pro Infinito e Mais Além
– E5G com a turma 43?
Em princípio, seria uma experiência, acompanhar uma turma que iniciasse o primeiro ano e auxilia-los neste tipo de atividade, até ao 4º ano. O objetivo é investir e monitorizar o benefício das atividades desenvolvidas com esta turma, de modo a perceber a evolução dos alunos, quer na parte académica, quer enquanto seres sociais.
2. Qual a opinião da professora sobre a
parceria entre a escola e o projeto?
Eu penso que é uma mais-valia para a turma. Pretende-se trabalhar e munir estes alunos de capacidades e aptidões que provavelmente levariam mais tempo a ganhar se não tivessem esta parceria, nomeadamente ao nível da atenção, da concentração, do saber estar, do saber relacionar-se com os outros.
Esta parceria vai muito além da parte académica, é um todo que é importante e benéfico, porque
eles estão a crescer e estão a crescer como um todo. Proporcionar-lhes este tipo de oportunidade é muito bom.
3. Qual a opinião da professora sobre o
trabalho que está a ser desenvolvido
pelos técnicos do projeto com a
turma?
Tenho a agradecer todo o trabalho que está a ser desenvolvido, penso que o facto de eu só ter a agradecer responde àquilo que eu penso. As oportunidades que eles têm, como saírem do espaço do bairro, terem outro tipo de vivências, conhecerem outros locais… É ótimo, pois muitos deles não têm
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este tipo de oportunidade, não conhecem nada fora do bairro.
O acompanhamento que eles têm com a técnica do projeto é muito bom, assim como com outros técnicos. Penso que o empenho destas pessoas é louvável, acredito que vamos atingir resultados positivos.
4. Desde que o “Programa em
Competências Pessoais e Sociais” iniciou, tem notado alguma evolução nos alunos? E em que aspetos?
Esta turma é uma turma
particularmente difícil, os alunos são muito agitados. Não é fácil lidar e fazer avançar uma tarefa ou atividade do princípio ao fim, sem estar constantemente a chamar a atenção, ou a pedir mais calma. Aquilo que eu noto neste momento, é que em determinadas situações de grupo, eles já são capazes de realizar uma tarefa, sem necessitar da intervenção do adulto. Dou-lhe um exemplo, uma das capacidades que a Madalena tem estado a tentar melhorar desde o início é a organização, eles serem capazes de se organizarem sozinhos, fazerem uma roda, por exemplo. Parece uma tarefa simples, imediata, no entanto nós pedíamos para eles fazerem e eles não conseguiam. Neste momento, não fazem facilmente, mas organizam-se, vão respeitando a
opinião uns dos outros, portanto aos poucos vai-se notando.
Posso dar ainda outro exemplo, nós fizemos duas saídas, uma em Setúbal, e outra em Lisboa. Da primeira visita que nós fizemos para a segunda, reparei que houve menos conflitos. Acho que eles aos poucos estão a aproveitar as oportunidades que estão a ter.
5. Como carateriza as crianças desta
turma?
A turma é composta por crianças com muitas dificuldades de atenção, concentração, em criar hábitos de trabalho, aspetos fundamentais para um bom desenvolvimento académico. Nós temos um programa escolar para cumprir, e não tem sido fácil trabalhar com estas crianças, pois temos muitas dificuldades em relação às famílias. Estas crianças, o que fazem a nível académico só o fazem na escola, não há um acompanhamento escolar em casa, o que dificulta muito também o próprio processo de evolução de cada um deles.
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6. Há dois alunos de ensino especial nesta turma, que acompanhamento é realizado nestes casos?
Um está a tempo inteiro na sala, só sai quando tem o apoio da educação especial, e outro aluno está integrado na Unidade Multideficiência, e devido à problemática relacional só está na sala apenas em alguns momentos do dia, e beneficia de todo um conjunto de terapias que têm que ser dadas num local apropriado, como na Unidade Multideficiência.
A unidade está integrada na escola, porque há crianças com deficiência grave ou profunda, e que têm todo um acompanhamento, não só das docentes que estão destacadas na unidade, como também dos técnicos, e ainda temos uma parceria com a APPACDM de Setúbal, que tem sido uma mais-valia e uma resposta ao nível das fisioterapias, terapia da fala, que eles beneficiam.
7. Quais são as maiores
dificuldades destes alunos de 1º
ano?
As maiores dificuldades são sobretudo ao nível da atenção, concentração, eles não têm uma memória trabalhada ainda, esquecem-se facilmente. E inclusive temos um grande problema com a pouca valorização de toda uma comunidade de pais, encarregados de educação em
relação à escola. Uma das outras dificuldades com que nos debatemos é o número excessivo de faltas que os alunos têm, é muito difícil nós termos uma semana seguida com os alunos todos. Estamos a falar de um primeiro ano, que está a fazer uma aquisição de leitura, escrita, cálculo… É muito complicado, e nesse aspeto a família deveria ter um papel fundamental, porém não há investimento.
8. Nesta turma, que desafios tem
encontrado ao longo do ano
letivo corrente? O que faz para
os ultrapassar?
No dia-a-dia há todo um trabalho que teve que ser completamente reajustado à turma. Isso é fundamental. Tem que se conhecer as necessidades, os ritmos, dar uma resposta a uns sem prejudicar outros. Temos aqui vários níveis de ritmos e aprendizagens de trabalho, tem que se tentar conjugar, o que é um desafio. Sendo um primeiro ano, importa dar-lhes regras de funcionamento de sala de aula, e escola, que acabam por ser sociais, pois eles têm que saber comportar-se, saber estar em contextos diferentes.
É outro desafio tentar fazer os pais perceber a importância da escola, nesse âmbito o projeto também está aos poucos a tentar
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trabalhar os encarregados de educação.
Outra dificuldade é a gestão do conflito, eles têm muitos conflitos entre eles, ultrapassa-se essa questão implementando estratégias, umas dão resultados positivos, outras não, vai-se experimentado, e mudando. Vive-se um dia de cada vez. Por vezes, nem é um dia, é minuto a minuto, e faz-se o melhor que se pode.
9. Há quanto tempo leciona na
EB1/JI da Bela Vista de Setúbal?
Leciono há 11 anos e, gosto de trabalhar na escola. Já passei por muitas escolas, de contextos diferentes. Tenho 23 anos de serviço. Experimentei um pouco de cada realidade, embora isto seja muito subjetivo, porque só quando nós estamos nas situações é que sabemos ou não lidar com elas.
10. Considera pertinente a aplicação
deste programa numa turma de
1º ano? Porquê?
Se não achasse pertinente, nunca tinha aceitado. Quando me foi apresentado, percebi e entendi que era uma oportunidade muito boa para estas crianças. Espero que o projeto os possa acompanhar no mesmo tipo de trabalho durante os 4 anos, porque só aí é que nós vamos aferir, vamos aos poucos vendo a evolução. É necessário ver o que está a falhar, ver o que está a ser bom, manter, reformular, e no final dos 4 anos tentarmos tirar elações. Não estou nada arrependida, pelo contrário, acho que foi uma oportunidade que me foi dada enquanto docente, também para crescer, porque eu própria passo a ter perspetivas, e interajudas. Uma parceria destas é ótimo, e tenho pena que nem toda a gente tenha oportunidade de passar por uma situação destas, porque é muito bom.
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MORADA:
Rua da Figueira Grande, loja 27 - E 2910-000 Setúbal TELEFONE:
+351 265 741 406 E-MAIL:
Coordenação [email protected] SITE: http://proinfinitoemaisalem.wix.com/proinfinitoemaisalem
FACEBOOK:
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ISSUU:
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HORÁRIO:
Segunda a Sexta
09h30-13h00 14h00-19h30
Sábado
14h00-17h00
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A equipa que integra o projeto Pro Infinito e Mais Além – E5G:
MARGARIDA VIEIRA
(Coordenadora do Projeto)
MADALENA MARQUES
(Técnica do Projeto)
RUBEN MOREIRA
(Dinamizador Comunitário)
SUSANA FERNANDES
(Monitora CID@FORMA)
NATACHA SOUSA
(Técnica de Comunicação)