MATÉRIA SOBRE PALEOTOCAS Concedemos entrevista sobre as
paleotocas para mais um jornalista, que está
editando a matéria para publicação futura.
Como será veiculada no Exterior, vai
contribuir para a divulgação das paleotocas
em países que nunca ouviram falar disso.
Quem sabe alguém localiza um toca lá?
PALEOTOCAS EM CONGRESSO Em agosto transcorre o 49º Congresso
Brasileiro de Geologia, desta vez no Rio de
Janeiro (www.49cbg.com.br). Vamos
apresentar um trabalho sobre paleotocas,
desta vez sobre duas novas ocorrências em
Taquara (RS). Os túneis são grandes (2,0 –
2,5 m) de largura, mostrando que são de
preguiças gigantes. Os comprimentos
originais calculamos em 40 e 60 metros,
respectivamente. Túneis enormes.
NÚMEROS NO YOUTUBE Após a publicação de matérias no Exterior
sobre paleotocas, teve gente que aproveitou
para fazer vídeos. O número de visualizações
impressiona: centenas de milhares. É
divulgação científica em outro nível. Um dos
vídeos pode ser encontrado aqui: https://www.youtube.com/watch?v=lqXtNCAMDX
44 – março de 2018
EDITORIAL Começamos 2018 com a
identificação de uma paleotoca
espetacular em Estância Velha. A
ocorrência está no meio da cidade, o que
mostra que é necessário acompanhar
escavações durante obras, implantações
de loteamentos, duplicações de estradas e
por outros motivos. Sempre podem
aparecer paleotocas. Pelo menos aqui no
Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
Nos outros estados brasileiros
aparentemente paleotocas são muito mais
raras.
Se você passar por uma escavação
e enxergar um túnel ou uma mancha
redonda de outra cor que aquela da rocha
– nos avise que vamos lá olhar.
A importância do cocô Se você é uma planta e quer que suas sementes sejam carregadas a grandes distâncias, o que
você faz? Produz um fruto grande com sementes grandes que sejam apetitosas para animais
grandes, que se deslocam por quilômetros e quilômetros. Os bichos comem as frutas com sementes
e tudo, se deslocam e, ao defecar, dezenas de horas mais tarde, vão espalhando as sementes por uma
área enorme. Bingo.
Pequi
Pois essa era a uma das funções da Megafauna que vivia aqui na América do Sul até 10.000
anos atrás. Elefantes, “rinocerontes” (Toxodon”), preguiças gigantes, ursos, gliptodontes e outros.
Certas plantas da flora, ao longo dos milhões de anos, programaram sua reprodução em cima desses
bichos grandes. Além disso, importantíssimo: o cocô e a urina dos bichos fertilizavam a região com
nitrogênio, fósforo e outros nutrientes. Na Bacia Amazônica a Megafauna era essencial ao bioma.
Onde há solos pobres que não recebem outra contribuição em termos de nutrientes, os excrementos
da Megafauna eram a única fonte de adubo.
Mas a Megafauna foi extinta.
Considerando o tempo geológico, essa extinção 10.000 anos atrás foi num piscar de olhos.
Subitamente o continente perdeu seus dispersores de sementes e seus adubadores naturais. Na Bacia
Amazônica, por exemplo, a dispersão de fósforo despencou 98%. Certas plantas perderam o
dispersor para o qual se programaram. Para outras plantas sobraram dispersores que se deslocam
muito menos. Uma anta se movimenta muito menos que um elefante. A importância dos dispersores
é avaliada por três fatores: o quanto de alimento, em média, as diversas espécies comem; quanto
tempo o alimento fica retido no sistema digestório e qual a distância percorrida pelo animal antes de
defecar as sementes.
A queda na distância de dispersão de sementes experimentada nos últimos 10 mil anos tem
várias consequências para a formação e diversidade de plantas nas matas e para a diversidade
genética das plantas. As maiores distâncias de dispersão de sementes da megafauna permitiam que
aumentasse a distribuição espacial das espécies de plantas. Sem os dispersores, as populações de
plantas não trocam material genético e essa separação entre indivíduos da mesma espécie resulta em
baixa variabilidade genética, o que pode diminuir as chances de sobrevivência dessas plantas em
longo prazo.
Matéria completa: http://agencia.fapesp.br/fim_da_megafauna_reduziu_a_distancia_de_dispersao_de_sementes_grandes/27284/
Novas Paleotocas 1 Alertados pelo biólogo Claiton Pens, fomos em janeiro para Estância Velha, onde um corte
expôs uma grande paleotoca aberta. Uma visita preliminar confirmou que o túnel ainda aberto tem
uns 30 metros de comprimento. Um resto de túnel ao lado possui 4 a 5 metros. Avaliando o
provável comprimento original mínimo do túnel, chegamos à conclusão que se situava ao redor de
100 metros. Provavelmente mais, porque esta distância foi medida em linha reta e os túneis sempre
são curvos.
A boa notícia é que a toca situa-se em área de preservação e que o empreendedor do
loteamento e a Prefeitura querem preservar a ocorrência. Foi realizada reunião na Prefeitura a
respeito, onde foram esclarecidos todos os aspectos que envolvem a preservação. Uma iniciativa a
ser seguida!
Novas Paleotocas 2 Estávamos indo para Flores da Cunha, investigar cavernas. Dia chuvoso, com neblina, Rota
do Sol, trânsito intenso. Ao dirigir, é proibido olhar para o celular. Mas não é proibido olhar os
cortes de estrada ao longo da rodovia! Apareceu um corte no perímetro urbano de Caxias do Sul.
Bingo! Paleotoca clássica. Integralmente preenchida com sedimentos que entraram depois.
Tem até uma pedra no “recheio” – provavelmente entrou por uma enxurrada ou algo assim. Corte
perpendicular ao eixo, por isso a seção da toca está bem redondinha.
Na imagem dá para perceber que a rocha acima dela está menos alterada e que o túnel foi
escavado num nível alterado da rocha vulcânica que ocorre na região. É como a gente vem dizendo
há anos: paleotoca só não ocorre em rocha magmática e metamórfica inalteradas. De resto, vale
qualquer material.
Novas Paleotocas 3 Investigação de grutas na região entre Bom Princípio e Montenegro. A gente sai
perguntando – principalmente aos mais velhos. Pergunta se não conhecem uma gruta ou caverna ou
um “Bugerfels” (Pedra dos Índios), como os descendentes de alemães chamam qualquer local com
pedras onde supõe que os índios habitaram.
Você nunca sabe o que vai achar. Pode ser qualquer coisa. Apenas um paredão, talvez um
abrigo sob rocha, pode ser uma rachadura na rocha ou uma caverna, pode ser uma paleotoca.
Também já apareceram escavações antropogênicas e pedras caídas.
Na região de Harmonia, recebi uma dica. “Tem uma caverna na propriedade do Fulano”. Me
perdi naquelas estradas de chão. Um emaranhado de estradinhas sem placa nem nada. Mas cheguei
lá. Uma propriedade grande, com aviários. Um guri me atendeu. Quando indago sobre a caverna,
ele diz: “sim, tem duas aqui”. Uma fica longe, mas a outra “logo ali no pasto”. Descemos até lá.
Uma baita paleotoca na encosta da colina. Um túnel redondo com mais de um metro de
diâmetro. Aberto. Saindo água de dentro. Tanta água que alguém fez um murinho na boca do túnel
e represou a água. Provavelmente a água abastecia a casa dos proprietários ou o gado antigamente.
Hoje o murinho não tem mais função. Posso demolir ele, drenar a água e investigar a toca.
Claro que essa toca é barra pesada. Toca raiz. Não tem nada de Nutella. Tem que entrar de
macacão de borracha e luvas até o cotovelo. Deve ter um palmo ou mais de lama no fundo. Não dá
para ficar de pé, tem que entrar de quatro. Com uma bacia boiando ao seu lado. Na bacia, trena a
laser, bússola, toalha, máquina fotográfica, lanterna reserva e tal. Na boca da toca, alguém para
ajudar, anotando na prancheta os números que você grita lá de dentro, sentado na lama e água.
Bem, nem foto tirei nessa primeira visita.
Onde essa toca vai “aparecer”? Num evento científico. Como banner ou em apresentação
oral. É a primeira paleotoca encontrada no município de Harmonia. Numa posição estratégica: na
primeira elevação depois da planície de inundação do rio Caí, que fica a 1 km de distância.
Obrigado pelo interesse e pela leitura
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