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CENTRO UNIVERSITRIO BELAS ARTES DE SO PAULO
ARTES VISUAIS BACHARELADO EM PINTURA, ESCULTURA E GRAVURA
7 ELEFANTES:
VDEO-RETRATOS
LUIZ DANIEL CURRALO FALCO PIRES
So Paulo - 2009
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CENTRO UNIVERSITRIO BELAS ARTES DE SO PAULO
ARTES VISUAIS BACHARELADO EM PINTURA, ESCULTURA E GRAVURA
7 ELEFANTES:
VDEO-RETRATOS
LUIZ DANIEL CURRALO FALCO PIRES
So Paulo - 2009
Trabalho de concluso de curso apresentado
ao Bacharelado em Artes Visuais: Gravura,
Pintura e Escultura do Centro Universitrio
Belas Artes de So Paulo como parte dos
requisitos para a obteno de grau de
Bacharel, sob orientao do Prof. Me.
Luciano Mariussi.
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PIRES, Luiz Daniel Curralo Falco
7 Elefantes: Vdeo-Retratos/ Luiz Daniel Curralo Falco Pires. So Paulo: 2009
32f.
Orientador Prof. Me. Luciano Mariussi
Trabalho de concluso de curso (Bacharelado) Bacharelado em Artes Visuais: Gravura, Pintura e Escultura do Centro Universitrio Belas Artes de
So Paulo, 2009.
Inclui anexo e bibliografia.
1. Vdeo. 2. Retrato. 3. Fico. 4. Unheimlich.5. Arte I. Pires, Luiz
Daniel Curralo Falco. II. Bacharelado em Artes Visuais: Gravura, Pintura e
Escultura do Centro Universitrio Belas Artes de So Paulo III. 7 Elefantes:
Vdeo Retratos.
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10 de Dezembro de 2009
______________________________________
______________________________________
______________________________________
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AGRADECIMENTOS
- Ao orientador Prof. Me. Luciano Augusto Mariussi;
- Aos professores Augusto Sampaio, Rubens Zacharias, Bertoneto Souza, Paulo Angerami e
Juliana Morais, especialmente;
- Aos modelos de meus retratos ficcionais: Rafael Arajo de Castro, Paula Betereli, Diogo
Nogueira, Thiago Carvalho Leme, Tadeu Bruno da Costa Andrade, Cau Avelar Arantes Martins
e Rafael Veiga Giannini;
- Aos modelos cujos vdeos infelizmente no entraram para a verso final de 7 elefantes: Lucas
Viveiros Gabriele e Brenda Lane Fernandes Leo.
- Aos assitentes na reviso do artigo e nas captaes: Paula Betereli, Ana Carolina Teles, Diogo
Nogueira, Tadeu Bruno da Costa Andrade, Mariana Waechter, Cau Avelar Arantes Martins e
Pedro Rebucci de Melo;
- Ao Sensei Jorge Kishikawa, senpai Wenzel, senpai Sidharta Rezende, senpai Juliano Cuomo,
senpai Akira Nishisaka, senpai Adeval e a todo o Instituto Cultural Niten.
- Ao coletivo Fabulrio;
- ONG Confraria das Idias;
- A Wiliam Arajo Barreto e Jakeline Santana;
- A todos que comentaram e apoiaram a realizao deste trabalho por meio de idias e
comentrios sobre os vdeos.
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SUMRIO
RESUMO............................................................................................................................07
ABSTRACT...................................................................................................................... 08
INTRODUO................................................................................................................. 09
1. VDEO-RETRATO.......................................................................................................10
2. DESCONSTRUO DO CORPO-IMAGEM............................................................. 13
3. UNHEIMLICH E DISGUSTING ART.........................................................................15
4. FICO E ESTRATGIAS NARRATIVAS...............................................................17
5. DO PROCEDIMENTO E COMENTRIOS DOS RETRATOS..................................19
5.1. RETRATO 1 RAFAEL ARAJO...........................................................................20
5.2. RETRATO 2 PAULA B...........................................................................................20
5.3. RETRATO 3 BRUNO COSTA................................................................................21
5.4. RETRATO 4 TIAGO LEME...................................................................................21
5.5. RETRATO 5 NGUE..............................................................................................22
5.6. RETRATO 6 HENRIQUE, ANDR, PAULO E RAPHAEL VEIGA....................22
5.7. RETRATO 7 CAU ALVES...................................................................................22
FIGURAS...........................................................................................................................23
CONSIDERAES FINAIS.............................................................................................30
BIBLIOGRAFIA................................................................................................................31
WEBGRAFIA ................................................................................................................32
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RESUMO
O presente artigo trata do vdeo digital intitulado 7 elefantes, que consiste em sete retratos em
vdeo manipulados digitalmente. Neste trabalho, criaturas inexistentes, de base humana, so
retratadas linearmente, uma aps a outra. A partir do levantamento de trabalhos em vdeo-retrato
de diversos artistas, o artigo pretende discutir temas como a desconstruo do corpo, os processos
de narrativa empregados no vdeo e recursos metalngusticos. Aborda tambm os conceitos do
unheimlich freudiano e da disgusting art, detendo-se em sua aplicao ao trabalho e discorrendo
brevemente sobre os processos tcnicos empregados na construo dos retratos.
Palavras-chave: vdeo, retrato, fico, unheimlich, arte.
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ABSTRACT
The present article is about the digital video 7 elefantes which consists of seven video-portraits
that are digitally manipulated. In this work, inexistent creatures composed of human elements are
presented one at a time in a linear sequence. With the survey of works of video-portraits of
several artists, the article aims at discussing about themes such as body-fragmentation, the
narrative techniques employed in the video and the metalinguistic resources. It also approaches
the Freudian concept of unheimlich as well as the disgusting art, focusing on their appropriation
by 7 elefantes and briefly discussing about the technical processes employed in the portraits composition.
Keywords: video, portrait, fiction, unheimlich, art.
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INTRODUO
O presente trabalho consiste em 7 retratos em vdeo digital, com resoluo de 640 x 480px,
captados a partir do recurso de vdeo de uma cmera fotogrfica digital. Com aproximadamente 1
minuto cada e intercalado com letreiros (ttulo do trabalho e nomes dos personagens retratados),
esses retratos esto ordenados linearmente e exibidos em um nico monitor. A captao
manipulada digitalmente para criar personagens improvveis, anatomicamente impossveis.
As personagens fictcias retratadas tem deslocamentos de ordem fsica no corpo, como a boca no
lugar dos olhos (figura 1), simetria corporal vertical (figura 2), mos esquerda e direita trocadas
(figura 3), entre outros. Essas mudanas fsicas so realizadas, a princpio, unicamente a partir da
composio e edio de vdeo em um trabalho que no quer passar-se por real ou verista, no
quer enganar ou persuadir o espectador a tomar seu contedo como assertivo.
As criaturas propostas questionam nossa ideia de corpo de maneira agressiva. A princpio,
incomodam o espectador, causam-lhe a sensao de estranhamento. Depois, o trabalho segue no
sentido de desconstruir suas prprias estratgias constitutivas, revelando-as e exercendo ligeira
auto-ironia, desconstruindo a narrativa tensa que se formava em favor de um discurso
metalingustico.
O nome 7 elefantes refere-se a ideia associada a este animal, uma noo de excesso e de
incmodo, de um animal grande e feio, sem muita utilidade (ao menos para ns, ocidentais), que
ocupa muito espao e s vezes exibido com curiosidade. Um ttulo alternativo para o trabalho,
na verdade a grande sugesto imaginativa que motivou a sua realizao, 7 pessoas que voc
no iria querer encontrar, mas a opo por 7 Elefantes deu conta desta ideia e ainda manteve um
significado mais abrangente.
Os sete personagens apresentados neste vdeo foram escolhidos entre 11 filmagens de modelos
distintos, para a criao de 10 personagens diferentes. Estes dez vdeos captados, por sua vez,
foram selecionados a partir de uma listagem com cerca de 20 ideias para personagens (figuras 4,
5 e 6).
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1. Vdeo-retrato
possvel traar uma tradio do vdeo-retrato nas artes visuais a partir de uma srie realizada de
1964 a 1966 por Andy Warhol. Gravada em 16mm (e no em vdeo) e intitulada Screen Tests
(testes de tela) em referncias aos testes de elenco e de televiso. So retratos de annimos e
celebridades, com uma esttica muito prxima do cinema e da fotografia (figuras 7 e 8). Todos
em preto e branco e sem acompanhamento de som. Exibidos individualmente, estes retratos, e
tambm a srie de Warhol movie pictures, estiveram no MAM-SP em 2005. Warhol filmava
essas pessoas em tarefas simples como tomar refrigerante ou escovar os dentes, ou simplesmente
sem fazer nada de especial, sob uma iluminao especfica, por exemplo. No havia grande
trabalho na construo de cenrios ou personagens, pelo que pude entender por pesquisa.
A partir de 1975, a artista Marina Abramovic comeou tambm a fazer uma srie de retratos em
vdeo. Nestes auto-retratos, reunidos em So Paulo no trabalho Video Portrait Gallery para a 28
Bienal Internacional de So Paulo (figura 9), Abramovic aparece executando aes que desafiam
os limites do corpo (comer uma cebola, envolver-se em elo, em ossos, etc.). Isso confere um novo
sentido ao retrato, um sentido potico mais elaborado.
O artista americano Robert Wilson tambm tem uma srie significativa no campo do vdeo-
retrato. Os retratos desenvolvidos desde 2004 para o canal norte-americano de televiso em HD,
o Voom, trazem celebridades de diversos campos de atuao e animais retratados dentro do
universo de referncias do autor. Aqui, a composio do cenrio e dos personagens so o grande
diferencial da srie Voom portraits, resultando em imagens complexas e belssimas, fazendo
referncia no apenas histria da arte e do teatro (figuras 10 e 11), como caractersticas dos
prprios modelos. Dessa forma, Dita von Teese, artista burlesca, representada sobre um
trapzio, e o ator Brad Pitt (figura 12), famoso por suas atuaes em filmes de ao, aparece em
seu vdeo com uma arma na mo e narrao em off, apenas para citar alguns exemplos.
Ainda que no esteja no campo dos vdeo-retratos, o trabalho do norte-americano Matthew
Barney tambm vem dialogar e influenciar 7 elefantes, tanto pelas construes que o artista opera
ao redor do corpo, quanto por recursos empregados na construo de personagens. Para a sua
11
mais famosa srie, o Ciclo Cremaster, Barney elabora uma extensa gama de personagens para
suas estrias (figura 13). Esses personagens tm algo em comum com a construo empregada
por Wilson discutida nos pargrafos acima. So construes a partir do imaginrio e mitologia
pessoal do autor. Aqui eles no passam, ou passam pouco, pelas caractersticas especficas dos
modelos (como Aimee Mullins, que tem sua amputao usada como valor nas personagens
construdas para ela pelo artista (figura 14)).
Uma distino muito importante que fao entre esses dois ltimos artistas e os primeiros no
sentido de uma filiao ou paternidade. Enquanto os vdeos de Warhol e Abramovic aproximam-
se demasiado da esttica da fotografia, com suas representaes naturalistas, em certo sentido at
mesmo documentais, os retratos e personagens de Wilson e Barney parecem estar assim
relacionados com a pintura: seja pelo aspecto visual geral das obras, seja pela forma de
construo, composio e articulao dos valores na imagem. Isso foi uma preocupao para 7
elefantes, um ponto de bifurcao: em dado momento, tive que decidir, com vista nas pretenses
intelectuais do trabalho, se eu iria seguir por uma construo imagtica que se denunciasse
absolutamente construda ou por uma iluso de naturalismo fotogrfico (que no caso destes
vdeos que desenvolvo seria tambm absolutamente construdo).
Da observao desses artistas e obras, tambm surgiram para meu trabalho duas importantes
reflexes.
Primeiro, o tipo de retrato que, em comparao com a fotografia, poderia ser desenvolvido em
vdeo. Os Screen Tests de Warhol, e pelo menos grande parte dos Voom Portraits, assemelham-se
a fotografias em vdeo, isto , no acontece nenhuma mudana significativa: h pouca diferena
entre uma fotografia da bela mulher escovando os dentes e sua filmagem executando a ao por
alguns poucos segundos. H vdeos tambm de modelos simplesmente parados, cuja nica ao
mover ligeiramente a cabea ou piscar. Nos retratos de Marina Abramovic, no entanto, essa ao
e o prolongamento dela, sua durao alongada aumenta em muito essa distncia entre
fotografia e vdeo. Assim, ao elaborar os retratos de minhas criaturas para 7 elefantes, tive
sempre como ponto de partida essas duas dimenses da ao no vdeo. No primeiro retrato, por
exemplo, a ao de tirar os culos, tomar o contedo da xcara de caf e recoloc-los
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imprescindvel para a leitura e para a construo do retrato. J o quinto vdeo (figura 15), por
exemplo, h pouco dinamismo, pouca ao.
Em segundo lugar, a influncia que o modelo, seu histrico pessoal e caractersticas da
personalidade tem sobre a criao e composio dos retratos. Em 7 elefantes, isso aparece
sutilmente, em alguns deles. Mais na forma de emprstimos e coincidncias do que como uma
obrigatoriedade no processo criativo. Assim, o terceiro retrato, por exemplo, mostra um
estudioso, um acadmico rodeado por livros, com as mos invertidas. O modelo, neste caso, foi
referncia para o personagem: ele prprio um acadmico sempre rodeado por livros. Tambm
o caso do stimo e ltimo retrato (figura 16), onde o modelo escolhido para a construo dos
gmeos siameses tem irmos gmeos e os nomes desses irmos foram emprestados para as
duplicatas em vdeo. O mesmo no acontece, no entanto, no primeiro ou quinto retratos: no h
qualquer razo para a escolha daqueles modelos especficos. De um modo geral, esses pequenos
emprstimos (todos os nomes so cpias ou jogos com os nomes dos modelos, por exemplo) no
mudam significativamente 7 elefantes, mas ajudam a atribuir alguma veracidade, alguma
complexidade aos retratos, que ainda que oculta, transparece de alguma maneira.
O modo de exibio tambm foi pensado a partir da observao destes pares. Warhol e
Abramovic tem seus vdeos exibidos em monitores de tubo. Wilson, pela explorao da alta
definio das imagens, tem seus trabalhos televisionados (em corte horizontal) pelo canal Voom
ou exibidos (na vertical) em monitores LCD de alta definio, o que acaba gerando uma
identificao com os quadros e molduras dos retratos convencionais em pintura. A condio ideal
para a exibio dos filmes de Barney o cinema (porque, afinal, o cinema parte das discusso
do ciclo Cremaster), mas os retratos fotogrficos de seus personagens so exibidos em molduras,
como retratos convencionais. 7 elefantes precisava de uma exibio que favorecesse sua leitura e
fosse capaz de fortalecer seu conceito.
Em Arte do Vdeo (1989), Arlindo Machado fala sobre a televiso de tubo de raios catdicos:
A tela do vdeo [...] opaca, de modo que, ao contempl-la o espectador se defronta, antes de mais nada, com a sua materialidade, seus pontos e linhas de varredura, seus
lags, rabos de cometa e todos os demais traos identificadores de sua natureza
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reticulada. A inteligibilidade da imagem funo de um trabalho de decifrao/leitura
desses sinais elementares, sem o que a informao se perde na indiferenciao do mar de
retculas.
O vdeo, em decorrncia da sua natureza tecnolgica como meio de baixa definio,
opera com pequeno nmero de pontos de informao, numa malha de retculas que
possibilita poucas articulaes significantes [...].
[...] Assim que, se um espectador observa a informao luminosa que lhe dada pelo
iconoscpio de um aparelho receptor de tev, ele se defronta com um sistema
incompleto, cujas brechas precisam ser preenchidas para tornar perceptvel/inteligvel a imagem. No intervalo entre as retculas e no plano de separao das linhas de
varredura h uma fresta vazia onde a figura simplesmente no existe; a prpria figura
est, ela tambm, anotada de forma simplificada, com uma quantidade limitada de
pontos informacionais. Ver televiso significa, antes de mais nada, preencher os
intervalos que fraturam a figura e completar os dados que foram suprimidos na
enunciao, para poder dar consistncia a uma imagem que, do ponto de vista do seu
potencial informativo, no constitui seno uma virtualidade. E mais: preciso ainda
abstrair da imagem todas as distores, anomalias e rudos[...] (MACHADO, 1995, p. 58-60).
Os retratos que desenvolvo passam por um processo quase artesanal de ps-produo. Assim, o
acabamento est sem dvida muito abaixo do que estamos acostumados a ver nas produes
comerciais que envolvem tecnologia de ponta e altos investimentos. Independente disso, as
proposies visuais articuladas em cada retrato no correspondem realidade. Dessa forma, a
necessidade de preenchimento por parte do espectador para a qual Machado chama ateno
colabora para a leitura do trabalho. A baixa definio e a decomposio em pontos de luz
disfaram as imperfeies da construo da imagem, colaborando para uma leitura menos
resistente, mais verossmil, por assim dizer.
2. Desconstruo do Corpo-imagem
A psicanalista Maria Rita Khel, em texto para o catlogo da exposio Corpo, do Ita Cultural,
evidencia a construo, em nossa sociedade, daquilo que podemos chamar de corpo-imagem:
[...] o que mais se consome so imagens, porque a grande indstria em expanso na
sociedade de consumo contempornea a do espetculo, da imagem. Consumimos,
acima de tudo imagens que oferecem novos modelos de identificao e esforamos para
que nosso corpo se torne igual aos corpos exibidos. [...] Como a imagem a do corpo,
no existe imagem do eu [...]. A imagem sempre a do corpo, somos convidados cada
vez mais a viver no corpo, a definir o que somos pelo corpo que exibimos.
14
[...] O corpo contemporneo escravo da necessidade de ter o reconhecimento do outro
o tempo todo; [...] nosso corpo trabalha muito, sem descanso, para corresponder s
imagens que lhe oferecem como modelo. So modelos que prope uma lgica muito
cruel, a lgica de incluso/excluso. (KHEL, 2005. p. 133,114)
E mais adiante: Enquanto o corpo se adapta imagem demandada pelo outro, enquanto ele
sede do prazer das sensaes, tudo bem. Mas essa uma dimenso muito limitada do corpo.
(KHEL, 2005. p. 116).
Os corpos exibidos em 7 elefantes no correspondem a esses modelos de corpo. Alis, nem ao
modelo de bom corpo, nem ao de corpo saudvel. No correspondendo a nenhuma imagem
pr-determinada de corpo, nenhuma imagem aceita ou esperada, podemos dizer que so uma
agresso ao corpo-imagem que trazemos em nosso imaginrio e que esto fundados justamente
nessa agresso. As figuras hipotticas representadas nos vdeos esto posicionadas, neste jogo
mencionado por Khel, no territrio da excluso. Essa desconstruo e reordenao anatmica
proposta nos retratos incomoda o espectador. Se a identidade reconhecida no corpo, os retratos
questionam o observador sobre essa identidade.
No h, desde o incio, um mtodo empregado para a criao dos personagens de 7 elefantes.
Mas h uma relao de afinidades, coincidncias, sugestes, encontros e estmulos que identifico
entre uma srie de imagens com as quais me deparo navegando na internet ou folheando livros,
quadrinhos e catlogos de arte, em comentrios de amigos e exerccios simples de associao
realizados em uma folha de papel.
Essa srie de acasos, coletas e sedimentaes, tenho associado com alguns procedimentos
surrealistas. Renato Cohen diz, sobre a collage:
Collage seria a justaposio e colagem de imagens no originalmente prximas obtida atravs da seleo e picagem de imagens encontradas ao acaso em diversas fontes (COHEN, 2004. P. 60)
15
Em 7 elefantes, esse procedimento de collage empregado do corpo e para o corpo. Em geral,
no se trazem elementos externos para os corpos das personagens e as transformaes so
mostradas com crueza, sem estratgias de sugesto ou sutileza. Talvez por isso essas imagens
sejam to agressivas ao modelo de corpo mencionado por Khel, talvez por isso sejam to
incmodas e instigantes.
No mesmo catlogo, Corpo, um texto da curadoria pode ajudar a fechar essa compreenso:
Nas geraes recentes, a problemtica da identidade, ou melhor, de sua crise, manifesta-se na investigao da alternativas identidade convencional, utilitria e
indivisvel. Crise que talvez explique o declnio da presena fsica e sua substituio por
um corpo virtual crtico. So trabalhos hbridos, irnicos e abertos diferena, suscitada
com frequncia pela proliferao de imagens de fragmentos do corpo, que contribuem
para sua desmaterializao tecnolgica e colocam em suspenso os conceitos de real e
irreal. (COCCHIARALE, MATESCO, 2005.p. 65 )
3. Unheimlich e Disgusting Art
H um termo bastante empregado na literatura que pode ajudar a entender uma das dimenses
dos vdeos aqui apresentados e um de seus recursos narrativos/compositivos. O termo unheimlich
foi desenvolvido por Freud em 1919, em ensaio intitulado Das Unheimliche. o prprio Freud
que o associa a literatura de seu tempo, particularmente com o conto O Homem de Areia, de
E.T.A. Hoffman. O termo foi adotado tambm pela crtica literria, sendo usado largamente at
hoje.
Tem sido traduzido como estranho ou sinistro ao longo dos anos e das diversas tradues e
comentrios, mas muitos crticos e tericos optam por usar o termo original, evitando perder
sentido na traduo. O prprio Freud chega a debruar-se sobre sua etimologia e a escolha da
palavra unheimlich para designar o conceito observado, depois, outros tericos iriam se debruar
sobre esta etimologia. Heim a palavra alem para casa, lar. Heimlich familiar, domstico.
Acontece que na lngua alem, tambm a palavra para secreto, escondido, oculto. Un partcula
de negao. Desta forma, unheimlich ao mesmo tempo a negao daquilo que familiar, e
16
daquilo que secreto, desconhecido. Seria algo como o secreto que se revela em ambiente
familiar, aquilo que no deveria estar ali, mas est1.
Cito a interpretao do crtico e curador Teixeira Coelho:
Arte de inquietante aparncia no modo de classificao consagrado na histria da
arte. Mas expressa bem o que Freud descreveu como Unheimlich, aquilo que no
pertence a casa (em alemo heim, a casa, o lar, a casa paterna, ali onde se est bem;
heimat, a terra natal, a ptria). Unheimlich, aquilo que no familiar, que no pertence a
essa famlia. O que no pertence a esta casa, mas ali est e com o que haver que se conviver. (COELHO, 2006. p22)
Em 7 elefantes essa construo est evidente. Os cenrios no so compostos de forma extica ou
pitoresca. So muitas vezes lugares reconhecveis, comuns, familiares ao espectador. Casas ou
ambientes simples que no apresentam nada de estranho ou inovador, nenhuma curiosidade
especfica, nenhuma peculiaridade. Mas h, na composio singela de cada cena (muitas vezes,
nada foi alterado para a captao do vdeo, sendo usada a locao sem qualquer alterao,
arrumao ou remanejo) um elemento estranho e perturbador: a boca que aparece no lugar onde
deveriam estar os olhos, a simetria vertical, o buraco que transpassa o peito (figura 17), as mos
invertidas: um nico elemento que, tambm familiar, se revela em disposio errada. No poderia
estar ali, mas est.
Sobre a arte da inquietante aparncia, mencionada por Coelho e identificada por ele com o
unheimlich freudiano, podemos tambm associar ao que a crtica inglesa denominou disgusting
art. O termo est associado a uma arte que envolve o corpo, ele mesmo ou enquanto
representao, e foi usado para abarcar as obras expostas na importante exposio Sensation, de
1997. O pesquisador Ricardo Nascimento Fabbrini, em seu livro A Arte depois das Vanguardas,
faz a ponte entre o conceito e o ttulo da exposio:
Esse termo associado com frequncia [...] ao pintor, tambm ingls, Francis Bacon. Pois a pintura de Bacon abriu a via da sensao (sensation) o nervo de toque da disgusting art nova gerao ps-vanguardista de artistas ingleses. O termo acolhido,
1 Entrei em contato com o conceito de unheimlich pela primeira vez em um grupo de estudos de literatura fantstica
no qual atuei por trs anos, o coletivo Fabulrio, para o qual li e pesquisei largamente sobre o assunto, entre textos de
Brulio Tavares, Selma Calasans Rodrigues, Paula Rego, Bernardo Carvalho, Tzvetan Todorov, entre outros. A
traduo aqui sugerida resultado da consulta ao texto de Freud, a diversos dicionrios e amigos falantes da lngua
alem.
17
sensao, remete-nos tambm interpretao de Gilles Deleuze (1981) da obra de
Bacon. Deleuze afirma que h duas maneiras de superar a figurao, rumo a Forma abstrata, ou ento rumo a Figura. (op. cit. p.27). Figura, prossegue, a forma sensvel referida a sensao: ela age imediatamente sobre o sistema nervoso, que
carne; [...] a sensao uma face voltada para o sujeito (o sistema nervoso, o movimento vital, o instinto, o temperamento, todo um vocabulrio comum ao Naturalismo de Cezanne) e uma face voltada para o objeto (o fato, o lugar, o acontecimento); ou melhor, ela no tem face de modo algum, as duas coisas
indissoluvelmente, ser no mundo, como dizem os fenomenlogos: ao mesmo tempo eu
advenho na sensao e algo ocorre por meio da sensao [...] Eu, espectador, s sinto a
sensao entrando no quadro, acedendo unidade do que faz sentir e do sentido (ibidem). essa sensao, que advm dos quadros de Bacon, distantes da forma abstrata
das vanguardas tardias, minimalista, conceitualista ou pop (que agem por intermdio do crebro), que definiria, segundo essa crtica, a arte corporal inglesa das ltimas dcadas. [...] O grito rasgado das figuras solitrias de Bacon, engaioladas, confinadas em
cmodos ou solitrias, teria ecoado nos corpos cobertos de chagas e pus expostos em
fotos e gestos, como veremos, pelos artistas atuais. Eles compartilhariam um mesmo
imaginrio, composto de corpos em desintegrao, corrompidos, que oscilam entre a
envilecida carne sem defesa, submetida a extrema violncia e manifestao mais
radical da sensao a dor que estabelece um contato abrasivo com o pblico, pois unifica, como quer Deleuze, o que faz sentir e o sentido (op. cit. p28).
(FABBRINNI, 2002. p 182.) 2
Essa veia da sensao tocada, ao menos, nos dois primeiros retratos de 7 elefantes. A
revelao, no primeiro personagem, quando ele tira os culos asquerosa e perturbadora. Assim
como sinistra e inquietante a imagem prostrada de uma quase-mulher quadrpede (sem braos,
peito ou cabea) no segundo vdeo, com uma voz que dirige seus movimentos. O terceiro vdeo
tambm segue ligeiramente inquietante e aflitivo. A discusso prxima da disgusting art comea
a se dissipar da em diante, no mesmo ritmo em que se abandona a fico ilusionista em favor de
um discurso metalingustico. Muda a tnica dos retratos, entra no lugar disso o auto-humor e um
certo cinismo.
4. Fico e estratgias narrativas
H uma fico por trs do trabalho. Nesta fico, um sujeito encontra as anomalias e as convence
a se deixarem filmar por 1 minuto. No final, o resultado disso seria o vdeo 7 elefantes. O
contedo dessa fico comunicado gradualmente para o espectador ao longo do vdeo, atravs
de pistas nas falas do personagem retratado e do homem que supostamente est atrs da cmera,
2 Na verdade, Fabbrinni mistura os comentrios de Bacon e Deleuze presentes no livro Francis Bacon: lgica da
sensao de Gilles Deleuze , mas o sentido de sua exposio no se perde.
18
do qual s temos a voz. principalmente nesta voz que dirige os modelos que se pode ler os
elementos dessa pequena narrativa e, tambm, nos comentrios e perguntas dos
modelos/personagens.
Havia, no incio do projeto, uma preocupao com um carter ou aspecto documental ou caseiro
que intensionava-se implicar aos vdeos. Com o tempo e o avano das reflexes e da produo
ficou evidente que esta no era uma questo central para o trabalho. Pelo contrrio, o que eu
estava realizando, em oposio ao que acreditava, no era um falso documentrio: mas a proposta
de uma obra de fico dentro do territrio das artes visuais. H um flerte, evidentemente, com a
linguagem daquilo que estamos acostumados a entender como documentrio, mas esta impresso
paulatinamente desfeita ao longo do vdeo.
Nol Carrol, em ensaio intitulado Fico, no-fico e o cinema da assero pressuposta: uma
anlise conceitual, divide os discursos simblicos em dois tipos: fico e no-fico (deste
segundo grupo fariam parte as imagens caseiras e documentais). Para o autor, a diferena entre os
dois discursos no pode ser reconhecida por elementos visuais, lingusticos ou materiais presentes
na produo, mas por uma srie de relaes exteriores a obra, envolvendo produtor e receptores.
A ttulo de aprofundamento de anlise, ele continua destrinchando o assunto at chegar ao termo
assero pressuposta. Uma obra de no-fico, um documentrio, por exemplo, seria aquele no
qual devemos entreter o seu contedo proposicional como um pensamento assertivo
(CARROLL, 2005). Isto , o propositor o apresenta para o pblico como um pensamento
assertivo e o pblico tem conscincia de que o proponente assim o apresenta. No o caso de 7
elefantes. Aqui, pretende-se um aspecto naturalista e, mesmo com as dificuldades tcnicas
enfrentadas, um acabamento o mais convincente possvel. A inteno no confundir o
espectador sobre o carter ficcional ou no do vdeo. Evidentemente, no pretende-se subestimar
sua inteligncia, mas sim instig-la a partir dessas estratgias.
As pistas sobre a narrativa, que aparecem gradativamente, vo tambm se transfigurando num
discurso metalingustico no decorrer do vdeo. Dessa forma, a partir do quarto retrato, ouve-se a
voz de uma mulher (em volume baixo, mas ainda discernvel) comentando sobre vdeos
19
anteriores, durante a gravao. No final deste mesmo vdeo, o modelo sai do personagem,
brinca e d risada. Ainda que isso no denuncie absolutamente a farsa, podendo ser relevado do
ponto de vista narrativo, sugere uma quebra da narrativa, do ilusionismo, da representao.
A farsa confirmada, ou melhor dizendo, a fico desvelada, exposta e desmentida dentro de si
mesma, ainda que no se desfaa completamente, no sexto vdeo (figura 18), onde a voz
masculina em off diz ao modelo qual a fico que existe por trs dos retratos. O ltimo vdeo
bastante esttico em relao aos demais, no h dilogos, nem nenhuma ao que chame
demasiadamente a ateno do espectador. Este tempo necessrio para que o espectador digira e
entenda o que aconteceu nos vdeos anteriores, perceba as auto-referncias e admita a linha
metalingustica da narrativa (que um pouco inesperada, por no ser vista to comumente e por
no estar acompanhada de uma desconstruo equivalente das imagens apresentadas). Esta ltima
figura, que mexe apenas um olho, devolve o olhar ao espectador, de uma maneira debochada e
cmplice, como se confirmasse com esse gesto a leitura realizada. Assim, o vdeo revela suas
prprias estratgias de construo, no esconde sua linguagem ou inteno - e transfere parte
dessas coisas ao espectador.
5. Do procedimento e comentrios dos retratos
Para a composio de cada retrato foi sempre realizada mais de uma captao. As diversas
captaes so ento editadas, fundidas e sincronizadas em software de edio de vdeo adequado.
Eu no tinha, antes de iniciar os trabalhos com 7 elefantes, qualquer experincia na edio de
vdeo, ainda mais no tipo de efeito especial que eu comeara a investigar. Isso rendeu algumas
captaes frustradas e material perdido, entre os quais, vdeos que no foram utilizados (figuras
19, 20 e 21). As etapas iniciais de desenvolvimento consumiram um tempo excessivo, alm de
grande ateno e dedicao no campo tcnico, pois alm de articular a linguagem do vdeo,
prever e definir escolhas conceitualmente, estava aprendendo a lidar com as ferramentas
necessrias, com os mtodos e macetes de captao, fuso, acabamento, direo dos modelos, etc.
Para algumas das captaes, foram usados pontos de tracking (figura 22), mas em geral optou-se
pela construo de imagens onde haveriam pontos estticos de fuso. Durante as filmagens, com
20
auxlio de um monitor de televiso ou sobre o prprio monitor LCD da cmera, utilizou-se um
acetato sobreposto, onde foram feitos desenhos e anotaes (figuras 23, 24, 25 e 26). Assim, com
esse desenho como base, as prximas captaes eram feitas para encaixarem-se nele. Na ps-
produo, esses vdeos eram fundidos com os recursos de mscaras (figura 27) do programa e
em alguns casos, essas mscaras tiveram que ser animadas quadro a quadro.
Em seguida, comento aspectos tcnicos e narrativos empregados em cada vdeo.
5.1. Retrato 1 Rafael Arajo
O primeiro vdeo se inicia de forma aparentemente comum. Nos 20 primeiros segundos, o
espectador est diante de uma imagem sem intervenes, um homem de culos que toma o
contedo de uma xcara. Tudo familiar at aqui. E a primeira leitura de que se trata de um
retrato comum, talvez ele dir algo em seguida, como em uma entrevista ou documentrio.
Repentinamente, ele tira os culos e revela, em um susto, a deformidade: bocas no lugar dos
olhos, causando asco e/ou algum incmodo ao espectador. Esta revelao do elemento estranho
introduz o trabalho. O tempo do vdeo, para isso, imprescindvel, joga com a leitura do
espectador e confere sentido, dinamismo e dramaticidade ao trabalho.
A faixa de som aqui apenas um burburinho, parece haver uma msica ao fundo, sugere um local
de passagem, talvez um local movimentado. O cenrio no revela muito sobre este local, o que
acaba por contribuir para esse sensao de estranhamento.
5.2. Retrato 2 Paula B.
Inspirado pelo trabalho com bonecas do artista surrealista Hans Bellmer (figura 28), este vdeo
mostra um corpo feminino com simetria vertical prostrado sobre um colcho que est no cho, ao
lado de cabeamento, em baixa iluminao. O cenrio aqui bastante repressor e a imagem das
pernas se movendo, com sincronia absolutamente no-natural bastante perturbadora. Soma-se
isso a voz do diretor, que aqui aparece dando instrues para a modelo: mova a perna esquerda
um pouco para fora, que chega a ser absurda, pois h mais de uma perna esquerda. Nossa
personagem aqui est completamente submissa e manipulada, e o espectador passa a ser um
cmplice nessa situao bizarra.
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Aqui, a narrativa ainda est se formando, ainda h o forte tom de disgusting art, o incmodo, o
estranho, o perturbador ainda so o principal discurso proposto ao espectador.
5.3. Retrato 3 Bruno Costa
Aqui apresenta-se uma deformidade mais sutil, mais discreta, mas que ainda se acomoda ao lado
das anteriores no conceito de estranhamento freudiano (unheimlich). Este o primeiro vdeo onde
o modelo foi determinante para a construo do personagem: ambos so acadmicos e este
personagem aparece em uma mesa de estudos, rodeado por livros. Essa condio enfatiza a
deformao nas mos, instiga uma possvel curiosidade sobre a vida e o trabalho desse
personagem, que depende das mos para trabalhar, e de certa forma leva esta pergunta para os
outros vdeos: o que este corpo deformado fora do contexto do retrato? Se existisse, como seria
sua vida, seu comportamento, neste mundo feito para os corpos modelos? Com as mos
invertidas, o personagem manuseia o livro e demonstra diante da cmera alguns tiques nervosos:
o movimento igualmente dessincronizado, suscitando estranheza.
Aqui, h uma interao entre personagem e o cmera, que parece transparecer um certo
desconforto ou encbulo. Segue ento, na narrativa ficcional, abandonando um pouco o carter
muito perturbador ou sinistro apresentado nas imagens anteriores.
5.4. Retrato 4 Tiago Leme
Ao contrrio do efeito dramtico pretendido no primeiro retrato, aqui o personagem aparece se
despindo para revelar sua deformidade no no intuito de gerar surpresa ou susto, mas para
implicar dinamismo e dar uma certa iluso de veracidade, quebrando a monotonia dos retratos
mais estticos.
O buraco que apresenta no peito foi obtido atravs da filmagem de um prottipo de papelo e
ltex e a fuso foi realizada com auxlio de pontos de tracking, colados no peito do modelo. Os
movimentos de mo e camisa demandaram horas de trabalho com mscaras animadas.
22
a partir desse vdeo que os processos de narrativa comeam a ser revelados ao espectador. Uma
voz feminina comenta os dois primeiros vdeos do trabalho e, no final, o modelo sai do
personagem, quebrando o efeito ilusionista pretendido at ento nos outros retratos.
5.5. Retrato 5 Ngue
Trata-se de um retrato mais esttico e o nico que no se encontra em ambiente familiar. Aqui,
pela natureza da deformao, achei conveniente trazer uma imagem recorrente s aberraes, a
imagem dos bastidores de um circo sacolas pelo cho, cartazes na parede, um tecido preto
como outra parede, sugerindo instalaes mais precrias ou improvisadas. Tambm o nome do
personagem remete a um pseudnimo circense. A falta de movimento neste retrato tem dupla
funo: primeiro, facilitar a edio em vdeo dessas fuses complexas; segundo, ser
verdadeiramente uma pausa na narrativa, para que o espectador tenha tempo de ler e digerir o que
viu no ltimo retrato. um tempo tambm para refletir criticamente sobre os retratos anteriores.
5.6. Retrato 6 Henrique, Andr, Paulo e Raphael Veiga
Neste vdeo h outra curiosidade em relao ao modelo: ele prprio tem irmos gmeos, e como
j dito, seus nomes foram emprestados s duplicatas virtuais. Aqui, o cenrio volta a ser um
ambiente familiar, uma cama, com roupas postas na cabeceira. A sensao de asco ou
perturbao j foi deixada de lado tambm o olho e o crebro j se acostumaram a esta altura.
nesse momento preciso que o golpe final dado sobre a narrativa ficcional. A voz do diretor
por trs da cmera explica com todas as letras que se trata de uma fico, segundo a qual
algum encontrou essas pessoas e as convenceu a serem filmadas por um minuto. Como
comentado anteriormente, a imagem no se desfaz, ela continua sendo proposta e sugerida, mas
declarada a inteno ficcional, dentro da prpria fico que prossegue se desenvolvendo.
5.7. Retrato 7 Cau Alves
O ltimo retrato pretende uma limpeza em relao aos demais. Novamente, um tempo para
reflexo crtica. O personagem apenas l um livro e devolve, como j comentado, o olhar para o
espectador.
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FIGURAS
FIGURA 1 FIGURA 2
FIGURA 3
FIGURA 4
24
FIGURA 5
25
FIGURA 6
FIGURA 7 FIGURA 8
FIGURA 9
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FIGURA 10 FIGURA 11
FIGURA 12
FIGURA 13
27
FIGURA 14 FIGURA 15
FIGURA 16 FIGURA 17
FIGURA 18
28
FIGURA 19 FIGURA 20
FIGURA 21 FIGURA 22
FIGURA 23 FIGURA 24
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FIGURA 25
FIGURA 26
FIGURA 27 FIGURA 28
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CONSIDERAES FINAIS
Temas e inquietaes presentes desde o incio de meu processo artstico reapareceram neste
trabalho. So as transformaes articuladas sobre a anatomia humana, a inquietao em torno do
conceito do unheimlich freudiano, a tendncia monstruosidade e o flerte com o grotesco. Pela
primeira vez, assumi uma linha de investigao narrativa para um trabalho em artes-visuais,
compreendendo-a tambm como linguagem.
Da mesma forma, muitas potencialidades foram descobertas a partir da experincia com o vdeo e
a articulao da narrativa e do tempo. Estes seguem ainda como uma primeira experincia, uma
primeira incurso, mas abrem um novo campo que certamente ser desenvolvido daqui em
diante.
Assim, 7 elefantes se fecha como um exerccio narrativo, metalingustico, tcnico e como a
realizao de conceitos e objetivos que tenho esboado h anos.
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