Download - A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

Transcript

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 1/41

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 2/41

Este a r t igo toma como ob jec to de aná l i se a o rgan ização no stodo , desde a sua ins t i tu ição (1933) a té à sua d i sso lução como coo rgân i co ( 1974 ) , ap r e sen t ando a l guns m ar cos que ba l i za r am a h i s tó r i a . A fo rmulação de h ipó teses de t r aba lho e a de tecção de p ide inves t igação , no quadro da r enovação da h i s to r iogra f i a soc iare l ig iosa por tuguesa , é o p r inc ipa l ob jec t ivo do t ex to , que se insnum p r o j ec t o de i nves t i gação m a i s a l a rgado 2.

Do pon to de v i s t a metodo lóg ico , há que sub l inhar as d i f i cu ldaex i s t en tes nes te t ipo de es tudos , quer as r esu l t an tes de r edu toper spe c t iva s de aná l i se a inda do m ina n te s \ que r as d i f i cu lda de s pven ien tes da inex i s t ênc ia de a rqu ivos o rgan izados e acess íve i s rt ivos aos d iver sos o rgan i smos que in tegra ram a Acção Ca tó l i ca e só rgãos cen t r a i s 4.

Ass i m , p r ocede r em os po r ap r ox i m ações sucess i va s , em f un çãoa l guns nú c l eos t em á t i cos , que e sco l hem os ap r e sen t a r : a Acção Cató-lica Portuguesa no qua d r o do ca t o l i c i sm o con t em por âne o ; a sua p r esença na soc i edade po r t uguesa ; c a r ac t e r i zação do m ode l o e e s t r uda nova o rgan ização de apos to lado ; d inâmica da Acção Ca tó l i capr inc ipa i s e t apas na v ida da A CP . Em je i to de con c lus ão , r e to m area lg um as h ipó tes es in te rp re ta t iv as , a exp lora r em fu tu r os t r aba lho

1. A Acção Católica Portuguesa e o c a t o l i c i s m o c o n t e m p o r â n e o

A i n s t i t uc i ona l i zação da Acção Católica Portuguesa a 16 de N o-ve m br o de 1933 , com a pu b l i c açã o das suas Bases Orgânicas \ ins -

2 Tr a t a - s e d o p r o j e c t o « I g r e j a e M o v i m e n t o s S o c i a i s : a s O r g a n i z a ç õ e s C al i ca s em Po r tu g a l , n o sécu lo XX» , em cu r so n o âm b i to d o Cen t ro d e Es tu d o sH i s t ó r i a R e l i g i o s a ( C E H R ) .

3 N o s e u e s t u d o s o b r e a A c ç ã o C a t ó l i c a , A n t ó n i o M a t o s F e r r e i r a c a r a c t e ra s l e i tu r a s s im p l i f i c ad o ra s , d e v id as à f a l t a d e r ec u o c r í t i co d a an á l i se h i s tó r i c a ,s e g u i n t e s t e r m o s : « D e s d e u m a c e r t a « l e n d a d e o u r o » q u a s e r e d u z i n d o a a c t u a ç ãI g r e j a c a t ó l i c a e d o s c a t ó l i c o s à a c ç ã o d e s t a o rg a n i z a ç ã o a t é à c o m p r e e n s ã o dc o m o u m a s i m p l e s ' c o r r e i a d e t r a n s m i s s ã o ' d a h i e r a r q u i a c a t ó l i c a , e , p o r c o n s e qc i a , 's u s t e n t á c u l o d o r e g i m e ' , o c o n h e c i m e n t o d a c o m p l e x i d a d e d a c o n s t i t u i ç ã oe v o l u ç ã o d a A C P é a i n d a m u i t o e s c a s s o » (op. cit., p . 28 1) .

4 O l e v a n t a m e n t o d e d a d o s e c a r a c t e r i z a ç ã o da a c t u a l s i t u a ç ã o n o q u e s ef e r e à c o n s e r v a ç ã o d e d o c u m e n t a ç ã o , e x i s t ê n c i a e o rg a n i z a ç ã o d e a r q u i v o s , éd o s o b j e c t i v o s d o p r o j e c t o d e i n v e s t i g a ç ã o e m c u r s o .

5 BASES da Acção Ca tólica Portuguesa. B o l e t i m d a A c ç ã o C a t ó l i c a P o r -t u g u e s a , L i s b o a , 1 9 3 4 , l , p . 1 2 - 1 5 . C f . D U R Ã O , P a u l o — Bases da Acção CatólicaPortuguesa. Bro té r i a . L i sb o a , 1 9 3 3 , 1 7 , p . 3 2 5 -3 3 2 .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 3/41

c r eve - se no quad r o de r ecom p os i ção do ca t o l i c i sm o e de r ee s t r u t u -ração da Ig re ja em Por tuga l , cu jo marco mais s ign i f i ca t ivo fo ra a r ea -l i zação do Conc í l io P lenár io Por tuguês em 1926 . A par da o rga-n i zação e r egu l am en t ação da p r á t i c a sac r am en t a l , d a p r egação e dai m por t ânc i a da r eo rgan i zação dos sem i ná r i o s pa r a a f o r m ação doc l e r o , o Conc í l i o P l ená r i o r eve l ou i gua l m en t e g r ande p r eocupaçãope l a d i ve r s i dad e e r en ova ção dos agen t e s pa s t o r a i s no âm b i t o da e s t r u -tu ração in te rna da Ig re ja . Par t i cu la r r ea lce fo i dado à «d i sc ip l ina dosle igos» , à necess idade de «educação c r i s t ã da mocidade» , a pa r dor e c o n h e c i m e n t o d a n e c e s s i d a d e d a « A c ç ã o C a t ó l i c a » 6.

A s i t uação po r t uguesa ca r ac t e r i zava - se en t ão pe l a s epa r ação dasIgre jas do Es tad o e pe la s r e l açõe s o ra co nf l i tuo sas , o ra t ensas com oE s t ado r epub l i cano , a pa r de um sen t i m en t o gene r a l i z ado de f r ag i l i -dade i n t e r na e co r r e sp ond en t e vo n t ad e de r eno vaç ão do ca t o l i c i sm o ,que se faz ia sent i r desde os f inais do século XIX 7 . Por out ro lado,Por tuga l v iv ia o impac to da d inâmica in te rnac iona l da Ig re ja ca tó l i ca ,m ar cada pe l a p r opo s t a de « r e s t au r ação c r i s t ã da soc i edade» .

Desde o in íc io do seu pon t i f i cado em 1922 , que P io XI def in i r aco m r edob r ado v i go r o p r o j ec t o de r e s t au r ação da o r dem soc i a l c r i s -tã 8. Pa r a t a l , f e z da ide ia de «acç ão ca tó l i ca » uma nov a p rop os ta deap os t o l ado que p r og r e s s i vam en t e se i n s t i t uc i ona l i za nos pa í se s det radição cató l ica : em 1923, na I tá l ia ; em 1925, na Polónia ; em 1926,na Es pan ha ; em 1927 , na Jug os lá v ia e Ch ec os lov áq u ia ; e em 1928 , naÁust r i a .

No en ta n to , a ide ia da ne ce ss id ad e de um a acção católica c o m oi ns t r um en t o de regeneração da soc ied ad e não surg ia i so lad a . Insc re -ve - se , pe l o con t r á r i o , no con t ex t o do cham ado «ca t o l i c i sm o i n t e -g r al », e m r e n o v a d a a f i r m a ç ã o c o m o c a t o l i c i s m o s o c i a l9 . Mas o con-

6 C f . CONCÍLIO Plenário Português. ( E d . p o r t . o f i c i a l ) L i s b o a : U n i ã o G r á -f i c a , 1 9 3 1 . C o n c l u s õ e s n .0 1 143 e 147 .

1 C f . F E R R E I R A , A . M a t o s — A Igreja na Monarqu ia constitucional: Ocomportam ento da Igreja em face da liquidação do Antigo Regime. I n H I S T Ó R I AContemp orânea de Portugal. D i r. d e Jo ão M ed in a . Vo l . 2 . L i sb o a : M u l t i l a r , 1 9 9 0 ,p . 4 5 - 8 1 ; R O D R I G U E S , M a n u e l A u g u s t o — Problemática religiosa em Portugalno século XIX. no contexto europeu. A n á l i s e So c ia l . L i s b o a . 1 9 8 0 , 1 6 (6 1 -6 2 ) ,p . 4 0 7 -4 2 8 .

8 C f . E n c í c l i c a Ubi Arcano (d e 2 3 d e D ez em b r o d e 1 9 2 2 ) .' C f . P O U L A T, É m i l e — Église contre bourgeoisie. Introduction au devenir

du catholicisme actuei. To u r n a i : C a s t e r m a n , 1 9 7 7 , p . 1 0 9 - 1 3 4 .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 4/41

t ex to dos « loucos anos 20» , marcados pe lo f ina l da Grande Guerpe la desor ien tação dos sec to res d i r igen tes e in te lec tua i s , são e lem

tos que def inem um con tex to mais p rop íc io à fo rmulação de nop r opo s t a s soc i a i s , o que t am bém acon t eceu em P o r t uga l 1 0.O p ro jec to de r es tauração c r i s t ã da soc iedade encon t ra expres

s im ból ic a na f es ta do Cr i s to - Re i , ins t i tu ída em 1925 para s ign i fa ideia da «realeza socia l de Cr is to». O projecto de ins taurar e d i lo reinado de Cristo — a rea l iza r pela ac çã o de tod os os f ié is ca tó l ic ossob a o r i en tação da h ie ra rqu ia ec les ia l — va lo r i za o t e r r eno socomo pon to de par t ida para a r ec r i s t i an ização e t em como re fe rêa p o s t e r i o r m e n t e d e n o m i n a d a doutrina social da Igreja n .

A p roc lamação de Cr i s to -Rei e a a f i rmação da sua soberan iasegundo P io XI , cond ição para a sa lvaguarda e o es tabe lec imentopaz a n íve l mundia l . Pax Christi in Regno Christi fo i o lem a do seupont i f i cado . Cr i t i cando-se o «excesso de l a i c i smo» , o que es tá causa é a i nda a ques t ão de de f i n i ção da o r dem soc i a l au t on om amt e à o r dem d i v i na e , con sequ en t e m e n t e , a f u nd am en t aç ão d o pode rper spec t iva do ca to l i c i smo in tegra l , c r i t i ca - se a noção de separado Es tado e da Ig re ja , l imi ta - se a au tonomia das r ea l idades t empoe a f i r m a- se a necess i dade de um a «m e l ho r com pr e en são dos d i r e

da Ig re ja» na soc iedade po l í t i ca l 3 .Es ta per spec t iva encon t ra eco na obra de in te lec tua i s como

co l a s Be r d i ae f f 1 4 e J acqu es M ar i t a i n pen sado r e s com c r e sc en t e

1 0 C f . F R A N Ç A , J o s é - A u g u s t o — Sondagem nos anos 20 - cultura, socie-dade. cidade. A n á l i s e S o c i a l , 1 98 3 , 19 ( 7 7 - 7 9 ) , p . 8 2 3 - 8 4 4 ; M A R Q U E S , A . H . O l i v e i r a — Os anos vinte em Portugal. I n M A R Q U E S , A . H . d e O l i v e i r a — Ensaiosde história da 1 República portuguesa. L i s b o a : L i v r o s H o r i z o n t e , 1 9 8 8 , p . 6 3 - 8 7 .

C f . E n c í c l i c a Quas Primas d e 11 d e D ez em b r o d e 1 9 2 5 , n o f in a l d o An o

S a n t o d e c e l e b r a ç ã o d o X V Io C e n t e n á r i o d o C o n c í l i o d e N i c e i a , q u e l e v o u a R o m am i lh a r e s d e c r i s t ão s .

1 2 C f . F O N T E S , P a u l o — A Doutrina Social d a Igreja num a perspectiva his-tórica, c o m u n i c a ç ã o a p r e s e n t a d a n u m c o l ó q u i o o r g a n i z a d o p e l o C e n t r o d e E s t uS ó c i o - P a s t o r a i s d a U C P, e m 1 9 9 3 ( n o p r e l o ) .

1 3 C f . Quas Primas. § 15 , 16 , 17 , 22 , 32 . e 33 (E di çã o em Pet r op ó l i s : Ed . Voz e s , 1 9 5 7 . C o l . D o c u m e n t o s p o n t i f í c i o s , n . ° 2 0 )

1 4 N i c o l a s B e r d i a e f f ( 1 8 7 4 - 1 9 4 8 ) f o i u m f i l ó s o f o r u s s o , q u e s e i m p ô s m u n d o i n t e i r o p e l o s e u p e n s a m e n t o d o s t o i e v s k i a n o , e n r a i z a d o n a t r a d i ç ã o o r t oe n a m ís t i ca o c id en ta l . Um a v as t a o b ra q u e t em co m o t em a cen t r a l a l i b e rd ad e

A d v e r s á r i o d o c z a r i s m o , a d e p t o d o s o c i a l i s m o , r e c u s o u o m a r x i s m o c oe x p l i c a ç ã o t o t a l , e m b o r a t e n h a i n i c i a l m e n t e a c e i t e a e x p e r i ê n c i a r e v o l u c i o n á r ii n t e r i o r d a q u a l p r o c u r o u t e s t e m u n h a r u m c r i s t i a n i s m o d a p e s s o a e d a l i b e r d

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 5/41

i n f l uê n c i a no m o v i m en t o ca t ó l i co e na s nova s ge r açõe s . As suas ob r a sco n t r i bu í r am dec i s i vam en t e pa r a a a f i r m ação da i de i a de que a crise

da civilização moderna — ev i d enc i ada pe l a Gr a nde Gue r r a e quepa r ec i a a r r a s t a r a «des i n t eg r ação da c i v i l i z ação oc i den t a l » 1 6 — i m -p l i ca va a em erg ên c ia de um a «nov a bar bár ie» , a que se im pu nh a opo rum a « nova c r i s t andade» .

O idea l h i s tó r i co concre to de uma nova cristandade 1 7, p ropos to eteor izado por Jacques Mar i t a in , não s ign i f i cava o r e to rno a um mo-de l o do pas sa do , m as a a f i r m aç ão r enov ada da nece ss i dad e do p r i m a-do do esp i r i tua l sobre o t empora l . Es ta ide ia encon t ra - se j á expressaem 1927 na sua obra Primauté du spirituel18, na qua l pre cisa as con -

d ições de uma au tên t i ca restauração cristã. E m con t r apa r t i da à a f i r -

P r o f e s s o r d a U n i v e r s i d a d e d e M o s c o v o , e m 1 9 2 2 a c a b a p o r s e r e x p u l s o , c o n s i d e -r a d o « a d v e r s á r i o i d e o l ó g i c o d o c o m u n i s m o » . É j á e m B e r l i m q u e , e m 1 9 2 4 , p u b l i c aa o b r a q u e l h e t ra z g r a n d e a u d i ê n c i a : Uma Nova Idade Média.

1 5 J a c q u e s M a r i t a i n ( 1 8 8 2 - 1 9 7 3 ) , f i l h o d o l a i c i s m o r e p u b l i c a n o d a « b e l l e é p o -q u e » , c o n v e r t e - s e a o c a t o l i c i s m o e m 1 9 0 6 , c o n j u n t a m e n t e c o m s u a f u t u r a m u l h e r( R a ï s s a ) , p o r i n f l u ê n c i a d e L é o n B i o y e d o P e . H u m b e r t C l e r i s s a c . F i l ó s o f o f r a n c ê s ,e x e r c e u a m a i o r p a r t e d o s e u m a g i s t é r i o c o m o p r o f e s s o r u n i v e r s i t á r i o n o s E s t a d o sU n i d o s . E m b o r a c o n h e c e d o r d e B e rg s o n , B l o n d e l e d o P e . L a b e r t h o n i è r e , f i x a - s e n af i l o s o f i a t o m i s t a , f a c t o q u e o t o r n o u s u s p e i t o a m u i t o s d o s s e u s c o n t e m p o r â n e o s n o -m e a d a m e n t e p e l o s e u antimodernismo — t í tu lo d e u m a o b ra d e 1 9 2 2 .

P e n s a d o r d e g r a n d e i n f l u ê n c i a n o c a t o l i c i s m o c o n t e m p o r â n e o , n o m e a d a -m e n t e a t r a v é s d a s u a o b r a Hum anisme intégral. Problèmes temporels et spirituelsd une nouvelle chrétienté, cu ja p r i m e i r a ed içã o é d e 1 9 3 6 , em b o ra o t ex to se j a or e s u l t a d o d e s e i s c o n f e r ê n c i a s p r o f e r i d a s n a U n i v e r s i d a d e d e Ve r ã o d e S a n t a n d e r e m1 9 3 4 . O f ac to d o Pap a Pa u lo VI o t e r e sc o lh id o p a r a , n a se ssã o so len e d e en ce r r a -m e n t o d o C o n c í l i o , l h e e n t r e g a r p e s s o a l m e n t e a m e n s a g e m d i r i g i d a a o s h o m e n s d acu l tu r a , i l u s t r a b em o lu g a r q u e o cu p o u en t r e a intelligentsia c a t ó l i c a .

S o b r e a s u a i n f l u ê n c i a e m P o r t u g a l , V. G O M E S , J . P i n h a r a n d a — Jacques

Maritain e o pensamento político português. S e p a r a t a d e D e m o c r a c i a e L i b e r d a d e .Lisboa . 1982 , 25 , 20 p .1 6 É e s t a a p e r c e p ç ã o d a g e r a ç ã o i n t e l e c t u a l m a r c a d a p e l a G r a n d e G u e r r a e q u e

Pau l Va lé ry a ss im ex p r im ia em 1 9 2 0 ( in La crise de l Esprit)-. « N o u s a u t r e s c i v i l i -s a t i o n s n o u s s a v o n s m a i n t e n a n t q u e n o u s s o m m e s m o r t e l l e s » . E s t e g r i t o e n c o n t r a m o -- l o d e s e n v o l v i d o e m v á r i a s l i n h a s d e r e f l e x ã o : n a p r o c u r a d o « N e w H u m a n i s m » e mq u e T. S . E l l i o t ( 1 8 8 8 - 1 9 6 5 ) o u We r n e r J a e g e r ( 1 8 8 8 - 1 9 6 1 ) s e i n s c r e v e m ; n o t o ma r r e b a t a d o e p r o f é t i c o d e O s w a l d S p e n g l e r ( 1 8 8 0 - 1 9 3 6 ) ; o u a i n d a n u m a p e r s p e c t i v ah i s t ó r i c a s o c i o l o g i z a n t e c o m o a d e A r n o l d J . To y n b e e ( 1 8 8 9 - 1 9 7 5 ) e m A Study ofHistory.

1 7 P a r a u m a a v a l i a ç ã o c r í t i c a d e s t e p r o j e c t o , c f . S C O P P O L A , P i e t r o — La«Nuova Cristianità» perduta. R o m a : E d i z i o n i S t u d i u m , 1 9 8 5 .

1 8 C f . M A R I TA I N , J a c q u e s — Primauté du spirituel. Pa r i s : P io n , 1 9 2 7 .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 6/41

m ação m aur a s s i ana do politique d abord, a sua cr í t ic a da ins t ru -m en t a l i z ação p o l í t i c a da r e l i g i ão — nom eadam en t e du r an t e a G

ra Civ i l de Espanha — e a r eapropr iação do p r inc ip io da religiond abord, pe r m i t em e s t ab e l ece r a f i l i a ç ão com o m ov i m en t o ca t ó ldo sécu lo XIX l 9.

M as , pa ra le lam en te à ex per iên c ia da gue r ra , um ou t ro f ac to ves t imula r e f avorecer a l e i tu ra da r ea l idade soc ia l f e i t a pe la Igca tó l i c a . Tra ta - se da c r i se ec on óm ica , in ic iad a com o c rash da Bde Nova York em 1929 que se r epercu te por ondas sucess ivas na nom i a m un d i a l e, pa r t i cu l a r m en t e , na eu r ope i a .

Ass i m , é no con t ex t o da Gr ande Dep r e s são ( 1929 - 1933 ) que ac í c l i c a Quadragésimo Anno, de 15 de M aio de 1931 , de ve ser ana l i sa -da . Co m em or a nd o o 40° an i ve r sá r i o da Rerum Novarum, Pio XI ap on -tava os fundamentos e va lo res mora i s com que se dever ia cons t ru«nova o r dem soc i a l » , a s sen t e num a concepção o rgân i ca e co r po r ada soc iedade . E — segundo a enc íc l i ca — se « ( . . . ) e s t a r es taurasoc ia l , t ão a rden temente dese jada , não se pode ob te r sem prév ia rvação do esp í r i to c r i s t ão» , «o mesmo in ten to se consegu i rá t an to seg u r am en t e quan t o m a i o r f o r a con t r i bu i ção das com pe t ê nc i a s t écas , p ro f i s s io na i s e soc ia i s , e ma i s a inda da dou t r ina e p rá t i c a dos p

c íp ios ca tó l i cos por par t e , não da Acção Ca tó l i ca (que não p re tedese nvo l ve r ac t i v i d ade p r op r i am en t e s i nd i ca l ou po l í t ic a ) , m as d al e s ( . .. ) a quem a Ac ção Ca t ó l i ca adm i r av e l m en t e f o r m a naq ue l e s pc íp ios e para o apos to lado sob a o r i en tação e magis té r io da Ig re ja 2 0.

E m sum a , doutrina social ( da r e sp ons ab i l i d ade do m a g i s t é r i o daI g r e j a ) , ciência social católica 2 1 e acção católica — este s os t rês d is-pos i t ivo s que f ac i l i t a m e en qu ad ra m a d in âm ica soc ia l da Ig re jal o ngo do sécu l o XX. O t r aba l ho desenvo l v i do pe l a nova o rgan i za

1 9 M a r i t a i n é d o s p r i m e i r o s a d e m a r c a r - s e d a s p e r s p e c t i v a s m a u r a s s i a n a s a c e i t a r a c o n d e n a ç ã o d a Action Française, f e i t a p o r P io XI , em D ez em b r o d e 1 9 2 6 .É , a l i á s , n o q u ad ro d o m o d e rn i sm o p o l í t i co q u e o seu p e r cu r so e a su a o b ra ds e r a v a l i a d o s . ( C f . T R A N V O U E Z , Yv o n — Catholiques d abord. Approches du mou-vement catholique en France (XIXe- XXe siècle). Pa r i s : Les Ed . O u v r i è r e s , 1 9 8 8 ) .

2 0 C f . Quadragésimo Anno § 1 2 6 e 9 7 . As c i t aç õ e s fo r am f e i t a s a p a r t i r d at r a d u ç ã o p o r t u g u e s a d o t e x t o c o m p i l a d o in CAMINH OS da Justiça e da Paz. Dou-trina social da Igreja. Docum entos de 1891 a 1987. C o o r d . d e P e t e r S t i l w e l l . 2e d i ç ã o . L i s b o a : R e i d o s L i v r o s , 1 9 8 9 . P a r a u m a a n á l i s e m a i s a p r o f u n d a d aD o u t r i n a S o c i a l da I g r e j a e d a s u a e v o l u ç ã o , V. C A M A C H O , I l d e f o n s o — DoctrinaSocial de la Iglesia: una aproximación histórica. M a d r i d : E d . P a u l i n a s , 1 9 9 1 .

2 1 Ibidem, § 20 .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 7/41

de apo s t o l ad o to r nou - se a s s im num dos i n s t r um en t o s p r i v i l eg i ad aspe la Ig re ja na sua es t r a tég ia de « reconqui s ta c r i s t ã da soc iedade» 2 2.

Es ta a missão que t ambém em Por tuga l se a t r ibu iu à o rgan izaçãor ecé m - con s t i t u í da . E m a f i r m açõ es que f az ao c l e r o em 1933 , o C a r dea lPa t r i a rca de L i sboa , de f in ia o ob jec t ivo dessa «nova c ruzada de r e -conqui s ta c r i s t ã de Por tuga l» 2 3:

« ( . . . ) T r a t a - s e d e l e v a n t a r e m t o d a a p a r t e o e x é r c i t o d e D e u s .U n i r , o r g a n i z a r e m o b i l i z a r t o d o s o s q u e a c r e d i t a m q u e D e u sf a l o u p o r C r i s t o e C r i s t o f a l a p e l a I g r e j a a o s h o m e n s — a f i m d ee s t e n d e r n o m u n d o o r e i n a d o s o c i a l d e N o s s o S e n h o r .E s t a u n i ã o m i l i t a n t e f o r m a - s e e m v o l t a d o s b á c u l o s p a s t o r a i s d o sc h e f e s e s c o l h i d o s p o r C r i s t o : o s b i s p o s . N ã o h á o u t r o s n a I g r e j ac r i s t ã c o m p l e n o p o d e r d e d i r i g i r e g o v e r n a r . U n i ã o t ã o a m p l a c o -m o a I g r e j a : a b r a ç a o u n i v e r s o i n t e i r o . T o d o s o s i n t e r e s s e s d eD e u s c a b e m n e l a .

U n i ã o s o b u m c o m a n d o n a c i o n a l s u p r e m o . P e l a c o o p e r a ç ã o d et o d o s m u l t i p l i c a - s e o t r a b a l h o d e c a d a u m .E x é r c i t o a p o s t ó l i c o p a r a q u ê ? P a r a t o m a r a ofensiva d a r e c o n q u i s -t a c r i s t ã . » 2 4

S u b j ac en t e a e s t e p r o j ec t o pa s t o r a l , enc on t r a - se um a con cep çãot eo l óg i ca que cons i d e r a a acçã o o rgan i z ada dos l e i gos co m o um aexte nsã o , o «b raç o es te nd ido » da h ie ra rq u ia , pa ra chegar a zon as o ndeo c le r o e ra inca paz por s i p ró pr io de che gar. D a í a de f in içã o de A cç ãoCató l i ca dada por P io XI : «par t i c ipação dos l e igos no apos to lado h ie -rá rq u ic o da Ig r e ja » , sob a d i r e cç ão dos b i spo s , de qu em rece be «m an -da t o» . E m s ín t e se : a A cçã o Ca t ó l i ca , enqua n t o o rga n i za ção de apos t o -l ado r ecebe um mandato da Hi e ra rqu ia , e l a p róp r ia m an da tad a porCr i s t o pa r a evange l i za r 2 5.

2 2 C f . P I R O T T E — Reconquérir la société. L attrait du modèle de chrétientémédiévale dans la pensée catholique (fin du 19 - début du 20 siècle). I n RO S A RT ,Fran ço i se e t ZELIS , Gu y (So u s l a d i r ec t io n d e ) — Le monde catholique et la questionsociale (1891-1950). B r u x e l l e s : E d . O u v r i è r e s , 1 9 9 2 .

2 1 C f . I n t r o d u ç ã o p e l o C a r d e a l C e r e j e i r a a o Boletim da Acção Católica Por-tuguesa. L i sb oa , 1933 , 1 .

2 4 C f . C E R E J E I R A , M a n u e l G o n ç a l v e s ( C a r d e a l - P a t r i a r c a d e L i s b o a ) — ObrasPastorais. L i s b o a : U n iã o G rá f i ca , 1 9 3 6 , v o l . 1 , p . 1 0 2 - 1 0 3 .

2 5 E s t a s e x p r e s s õ e s e n c o n t r a m - s e e m m ú l t i p l o s d o c u m e n t o s p o n t i f í c i o s d e P i oX I , n o m e a d a m e n t e n a q u e l e s q u e s ã o c o n s i d e r a d o s o s t r ê s p r i n c i p a i s t e x t o s s o b r e aA c ç ã o C a t ó l i c a : Quae Nobis ( C a r t a a o C a r d e a l A d o l f o B e l t r a m , 1 9 2 8 ) ; Laetus sarre

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 8/41

Só a t r avés de um longo p rocesso , que cu lminou com o Conc í lVat i cano I I , a ide ia do apos to lado l a i ca l amadurecer ia no in te r io r

Igre ja ca tó l ica . Mas, ta l só fo i possível no quadro de uma nova ecs i o l og i a que , tend o aba ndo nad o a co nce pçã o da I g r e j a co m o societasperfecta, se de sen vo lve u a par t i r da dou t r ina pau l ina do corpo místicode Cristo. Es ta dou t r ina a f i rm ou -se p re c i s am en te a par t i r dos ano20/3 0 , pese em bo ra a pe rm an ên c ia de ce r t a ide ia «h ie ra rc o lóg ica»I g r e j a , en t end i da com o «soc i edade des i gua l » 2 6. Ent re a obra de dou-t r inação dos anos 30 e a r e f l exão t eo lóg ica do Pe . Yves Congar década de c i nquen t a 2 7, a Acção Ca tó l i ca v iveu um percur so não i sen-t o d e am b i gu i dades e t en sões , con t r i bu i ndo pa r a um a evo l ução c

cep t ua l e p r o t agon i zando s i gn i f i c a t i va s m udanças a n í ve l do aposlado la ica l .Reg i s t e - se a evo l ução na de f i n i ção da Acção Ca t ó l i ca oco r r i

duran te os pon t i f i cados de P io XI I a Pau lo VI , no sen t ido dr econhec i m en t o da e spec i f i c i dade do apos t o l ado l a i ca l e do l ugprópr io da Acção Ca tó l i ca no con jun to des te apos to lado : de ixa- sefa la r de «par t i c ipação no apos to lado h ie rá rqu ico» para se f a la r «co l abo r ação com o apos t o l ado h i e r á r qu i co» , o que é um m odo d i r ec to de r econhecer a espec i f i c idade do apos to lado l a i ca l ; e quaa ide ia de um apos to lado dos l e igos se a f i rma com n i t idez e de ma l a rgado , ab r a nge ndo um a m u l t i p l i c i dade de f o r m as o rga n i za t i vr e se r va - se à Acção Ca t ó l i ca um l uga r pa r t i cu l a r, de f i n i ndo - a comforma «of ic ia l» do apos to lado dos l e igos . Es ta evo lução fo i aco

nuntius (Ca r t a ao Ca rd e a l Se g u ra , 1 9 2 9 ) e Quam uvis Nosira ( C a r t a a o C a r d e a l L e m e ,1935) .

2 6 Ta l e r a a co n ce p ç ão d e P io X , q u e co n s id e r a q u e a « Ig r e j a é p o r e s s ên c ia us o c i e d a d e desigual, i s t o é , u m a s o c i e d a d e q u e a b r a n g e d u a s c a t e g o r i a s d e p e s s o a s

o s p as to r e s e o r eb an h o , o s q u e o cu p am u m a p o s i ção n o s d i f e r en te s g r au s h i e r a r q u i a e a m u l t i d ã o d o s f i é i s . » ( C f . E n c í c l i c a Vehem enter Nos, d e 11 d e Fe v e r e i rod e 1 9 0 6 . P e t r o p ó l i s : E d . Vo z e s , 1 9 5 7 . D o c u m e n t o s p o n t i f í c i o s n ° 2 3 ) .

P a r a u m m a i o r d e s e n v o l v i m e n t o d e s t a q u e s t ã o : A N T O N , A n g e l —E l mis-tério de la Iglesia. Evolución histórica de las ideas eclesiologicas. M a d r i d / To l e d o :L a E d . C a t o l i c a / E s t . Te o l . S t o . I l d e f o n s o , 1 9 8 7 , 2 v o l u m e s ; e P E R E I R A , T e rM a r t i n h o — A identidade laical à luz do Concílio. L i sb o a : Ed . Re i d o s L iv ro s , 1 9 9 0 .U n i v e r s i d a d e C a t ó l i c a P o r t u g u e s a . C o l e c ç ã o N o v a S p e s .

A t ít u l o d e e x e m p l o d a p r o d u ç ã o i n t e l e c t u a l d a é p o c a , v. T R O M P, S e b atian, S. J . — O Corpo Místico de Cristo e a Acção Católica. Pe t r o p ó l i s : Vo zes , 1 9 4 6 .

2 7 V. g . G L O R I E U X , P a u l — Pour la formation réligieuse de nos militantes.Au centre de notre enseignemen t. Corps mystique et apostolat. Pa r i s : Les Ed . O u -v r i è r e s , 1 9 3 4 .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 9/41

panhada e consag r ada pe l o s Cong r e s sos Mund i a i s pa r a o Apos t o l ad odos Leigos, rea l izados em 1951, 1957 e 1967.

Di to de ou t ro modo , a exper iênc ia da Acção Ca tó l i ca ao con t r i -bu i r pa ra o r econhec imento do p leno va lo r do apos to lado dos l e igos ,con t r i bu i u s i m u l t an ea m en t e pa ra a d i v e r s i f i c a ção das f o r m as dein ic ia t iv a l a i ca l no âm bi to da Ig re ja ca tó l i ca . D a í a d i f i cu lda de e v i -den c i ada no co n t ex t o pós - c onc i l i a r : com o co n j u ga r a i de i a do «m an-da t o» h i e r á r qu i co com a nov a ec l e s i o l og i a p r op os t a pe l o Va t i ca no I I ?A tensão não fo i apenas t eór i ca e ocupou a r e f l exão de ass i s t en tes ,d i r ig en te s e b i sp os em P or tug a l e no m un do . A t í tu lo de ex em plo , c i t e -se a r e f l exão p roduz ida em 1965 , no quadro de um exame sé r io eprofundo sobre a sua s i tuação da ACP :

« E q u a n d o , p a s s a d o a n o e m e i o , a C o n s t i t u i ç ã o C o n c i l i a r LúmenGentium a p r e s e n t a c o m o u m a d a s f o r m a s d e a p o s t o l a d o d o s l e i -g o s , a c o l a b o r a ç ã o d e s t e s c o m o a p o s t o l a d o d a h i e r a r q u i a , n ã o ét e m e r á r i o ou l e v i a n d a d e e n t e n d e r q u e a í s e s i t u a a A c ç ã o C a t ó -l i c a , q u e n o d i z e r d e P a u l o V I « p e r m a n e c e c o m o c o n c e i t o , c o m op r o g r a m a , c o m o d e v e r , c o m o v o c a ç ã o o f e r e c i d a a o s l e i g o s , p a r ap a s s a r e m d o c o n c e i t o i n e r t e e p a s s i v o d a v i d a c r i s t ã p a r a oc o n s c i e n t e e a c t i v o ( . . . ) » .

Permanece como conceito: a q u e l e c o n c e i t o , e x p r e s s o p o r P i o X I ,d u m a f o r m a c o n d e n s a d a (participação) e e x p l i c i t a d o p o r P i o X I I(colaboração), c o n t i n u a a s e r o m e s m o c o n c e i t o a f i r m a d o p o rP a u l o V I ( . . . )A A c ç ã o C a t ó l i c a p e r m a n e c e c o m o c o n c e i t o , m a s t a m b é m c o m oprograma, i s t o é : c o m o a l g o q u e e x i s t e n ã o s ó p a r a s e r p e n s a d o ea c a d e m i c a m e n t e a p r o f u n d a d o , m a s p a r a s e r f e i t o , p a r a r e a l i z a r -- s e , p a r a m u l t i p l i c a r - s e e m a c t o s , q u e p r o s s i g a m o b j e c t i v o s d e -f i n i d o s . ( . . . )

P e r m a n e c e c o m o c o n c e i t o , c o m o p r o g r a m a , e p e r m a n e c e t a m b é mcomo dever... d e v e r p a r a q u e m t e m a r e s p o n s a b i l i d a d e d e p r o m o v e ra e d u c a ç ã o d o s l e i g o s p a r a a a c t i v i d a d e a p o s t ó l i c a d a I g r e j a . ( . . .)M a s a A c ç ã o C a t ó l i c a p e r m a n e c e a i n d a como vocação oferecidaaos leigos, « v i a m e s t r a » , n o d i z e r d e P a u l o V I , p a r a p r o f e s s a r aa d e s ã o à I g r e j a , p a r a a u m e n t a r e m si m e s m o s a p l e n i t u d e d o s e us i g n i f i c a d o , o sensus ecclesiae (...). 28

2 8 C f . C O N G A R , P e . Yv e s — Jalons pour une théologie du laicat. Pa r i s ,1 9 5 2 . Tr a t a - s e e f e c t i v a m e n t e d a p r i m e i r a r e f l e x ã o s i g n i f i c a t i v a s o b r e a t e o l o g i a d ol a i c a d o .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 10/41

Esta long a c i t aç ão r eve la ex ac tam en te o sen t ido e a ne cess idasen t ida em se r edef in i r a na tu reza e o âmbi to da Acção Ca tó l i canovo quad r o ec l e s i a l da época , m ar cado pe l a p l u r a l i dade d e canhos apos tó l i cos o fe rec idos ao con jun to dos ca tó l i cos .

A par des ta l inha de r e f l ex ão , e a ind a no do m ín io t eo lóg ic o , ouq u e s t ã o d e v e s e r c o n s i d e r a d a : o a p r o f u n d a m e n t o da d e n o m i n a d a «log ia da acção» . Sempre que se fo rmulava a ide ia de acção católicaex i s t i a a p re oc up aç ão de não l imi ta r a de f in içã o do ap os t o la doqua l que r f o r m a de acção temporal29, m esm o se de f i n i da com o acçãosocial cristã 3 0. Toda a acção en r a í za num pensamento, exp r i m e um aespiritualidade 3 I, numa re fe rênc ia cen t ra l à pessoa de Cr i s to . Pos-t e r io rmente , j á na década de c inquen ta , a r e f l exão sobre o va lo r acção encon t r ou nov o f ô l ego , num con t ex t o sóc i o - ec l e s i a l d i s t i n t o 3 2.

Por ou t ro l ado , es t a acçã o v i sava um du p lo ob je c t ivo : «a conq uiin te r io r e ex te r io r» . Só o au to -domín io e a educação dos ind iv íduo conhec i m en t o dos seus sen t i m en t o s e pa i xões , a f o r m ação do ca r ác t e r, p e r m i t i r i am r ea l i za r a m o r a l i zaç ão de com por t am en t oa t i tudes segundo os p r inc íp ios c r i s t ãos , t an to no p lano pessoa l quano da v ida em soc iedade . Fo i pe la mobi l i zação , enquadramento e ção dos seus me m bro s qu e a A CP procu rou as seg ura r a sua p res ena soc i edade : f o r m ação de élites e in f lu ênc ia na massa são dois pó losind i ssoc iáve i s no seu t r aba lho de r ec r i s t i an ização da soc iedade .

2 . A p r e s e n ç a d a A c ç ã o C a t ó l i c a n a s o c i e d a d e p o r t u g u e s a

A 10 de N ov em br o de 1933, na car ta Ex Officiosis Litteris — en -de r eç ada ao Ca r dea l - P a t r i a r ca de L i sboa , D . M anue l Go nça l ves r e je i r a —, o papa P io XI cons idera que «en t re as múl t ip las fo rmas

apos to lado que es tão à mão de todos , e ce r t amente benemér i t as toe las da Ig re ja , a Acção Ca tó l i ca é a que mais e e f i cazmente ocor r

2 9 V. g . S O R A S , A l f r e d — Action catholique et action temporelle. Pa r i s :Sp es , 1 9 3 8 .

, 0 P a r a o c a s o p o r t u g u ê s , V. G O M E S , J . P i n h a r a n d a — Política e acção socialcristãs em Portugal (1830-1980). S e p a r a t a d e D e m o c r a c i a e L i b e r d a d e , n ° 3 7 - 3 8 .L i sb o a , 1 9 8 6 .

3 1 B a s t a l e m b r a r - n o s d a p o l é m i c a q u e a t e s e d e M . B l o n d e l (L Action) s u s c i -t o u e m 1 8 9 3 e t o d o o d e b a t e s e g u i n t e s o b r e a s d i v e r s a s f o r m a s d e m o d e r n i s m o

1 2 V. g . L E B R E T , L . - J . —A c t i o n . marche vers Dieu. Pa r i s : Les Ed . O u v r i è r e s ,1949 .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 11/41

r em ede i a a s n ova s nec ess i d ade s dos nos sos t em p os , tão a t i ng i d os pe l am or t í f e r a i n f l uênc i a do l a i c i sm o»

O d iagnós t i co que a Ig re ja en tão f az ia da r e lação do ca to l i c i smoc o m a s o c i e d a d e p o d e r e s u m i r - s e em d u a s p a l a v r a s - c h a v e : des-cristianização, de v id o nã o só à in f luê nc ia do l a i c i sm o, ma s t am bé m aoi nd i f e r en t i sm o r e l i g i o so de m u i t o s s ec t o r e s da soc i edade ; e desuniãoou d i v i são dos ca t ó l i co s , con s i de r ada r e sponsáve l pe l a p r og r e s s i v aperd a de pe r t in ên c ia do ca to l i c i s m o e pes o da Ig re ja na soc ied ad e . M a-r i ano P inho na sua obra de apresen tação e comentá r io ao t ex to de P ioXI , co ns i de rad o a «car t a ma gna da A cç ão Ca tó l i ca » , não pod ia se rmais c laro:

« M a s n ã o s ã o , n a m a i o r i a , o s p o r t u g u e s e s , f i l h o s l e g í t i m o s d aS a n t a I g r e j a ? N ã o h a j a i l u s õ e s : o s e c t o r d e s c r i s t i a n i z a d o é e n o r m ee p o d e r o s o ; a l é m d i s s o , d o s m u i t o s q u e n a s e s t a t í s t i c a s p o d e r i a mf i g u r a r c o m o c a t ó l i c o s , p o r q u e s ã o b a p t i z a d o s e n ã o r e n e g a r a mf o r m a l m e n t e a C r i s t o , s ã o i m e n s o s o s q u e p o u c o p e r c e b e m , em e n o s p r a t i c a m d o C a t o l i c i s m o q u e p r o f e s s a m . E f i n a l m e n t e , n ã oé o número que f az a fo r ça , mas a união, e i s so é co i sa que P o r tu -g a l n ão co n h ece : a união dos católicos tem s ido um a das m aisá r d u a s e m p r e s a s e m u m a p á t r i a , c o m g r a n d e g á u d i o e p r o v e i t o d o sa d v e r s á r i o s , q u e s e r e g a l a m d e a s s i s t i r à s n o s s a s d e s a v e n ç a s d ef a m í l i a » 3 4.

O ag r u p am en t o dos ca t ó l i co s l e i gos num a ún i ca o rgan i zaçãonac i ona l , de t i po p r edom i nan t em en t e r e l i g i o so , não só con f e r i a um am ai o r v i s i b i l i dade ao ca t o l i c i sm o e m a i o r f o r ça ao apo s t o l ad o dese n -vo lv ido pe la Ig re ja no se io da so c ie da de , co m o perm i t i a a fo rm aç ão deuma el i te , um «escol» — como se d iz na g í r ia da época — que asse-gura r i a a d i fusão e pene t ração dos «pr inc íp ios c r i s t ãos» no se io dos

d iver sos sec to res da v ida em soc iedade . Es ta concepção es tá bem pa-ten te nos d iver sos documentos e d i r ec t r i zes de P io XI sobre a AcçãoCa t ó l i ca 3 5 e na e s t r u t u r a adop t ada pe l a o rgan i zação po r t uguesa 3 6.

Cf . § 3 d o r e f e r id o l ex to , ed i t a d o in SOBRE A Acção Católica. P e t r o p ó l i s :E d . Vo z e s , 1 9 5 6 ( 2 ' e d . ) . D o c u m e n t o s p o n t i f í c i o s n ° 5 7 .

' 4 P I N H O , M a r i a n o — Carta M agna da Acção Católica Portuguesa. B r a g a :A p o s t o l a d o da O r a ç ã o , 1 9 3 9 , p . 1 2 5 .

A l i t e r a t u r a s o b r e o t e m a é a b u n d a n t e . P a r a u m a p e r s p e c t i v a h i s t ó r i c a g e r a l ,V. A U B E RT , R o g e r — Pastorale et Action catholique. In NOU VELLE Histoire del Eglise. T. V: L Eglise dans le monde moderne ( 1848 à nos jours). Pa r i s : Seu i l , 1 9 7 5 .p . 1 4 1 - 1 5 5 . A d o c u m e n t a ç ã o p o n t i f í c i a e n c o n t r a - s e r e c o l h i d a e c o m e n t a d a e m d i v e r -

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 12/41

Tr a t a - se de um a f o r m a de o rgan i zação do apos t o l ado cu j o s o b jt ivos se concre t i zam a do i s n íve i s : a « fo rmação in tegra l» dos sass oc iad os no p la no ind iv idua l , que deve cond uz i r a um a ac ção inc idênc ia a n íve l soc ia l , t an to no campo fami l i a r, quan to na vpúb l i ca .

No en tan to , em função dos ob jec t ivos que lhe são comet idos eâm b i t o do ca t o l i c i sm o soc i a l , dom i nan t e de sde f i na i s do sécu l o psado a ins t i tu iç ão da A cçã o Ca tó l i c a ob r iga va a um a sub a l tn ização da ac t iv idade po l í t i ca . É a inda da mesma carta magna o se-gu in te t r echo :

« P o r i s s o , a n a t u r e z a d a A c ç ã o C a t ó l i c a , c o m o a d a I g r e j a , e x i gq u e s e c o n s e r v e a l h e i a à a c t i v i d a d e d o s p a r t i d o s p o l í t i c o s , u mv e z q u e e s t a i n s t i t u i ç ã o d e c a t ó l i c o s m i l i t a n t e s , d e q u e f a l a m ot e m e m v i s t a n ã o j á p a t r o c i n a r i n t e r e s s e s p a r t i c u l a r e s d e g r u p om a s p r o c u r a r o v e r d a d e i r o b e m d a s a l m a s , d i l a t a n d o c a d a v em a i s o r e i n o d e J e s u s C r i s t o n a v i d a p a r t i c u l a r d o s h o m e n s , nr e m a n s o d o m é s t i c o e n a v i d a p ú b l i c a d o s c i d a d ã o s . ( . . . ) I s t ot o d a v i a , n ã o p r o í b e q u e o s c a t ó l i c o s , i n d i v i d u a l m e n t e , p e r t e n ç a

s a s c o l e c t â n e a s , e n t r e a s q u a i s : A R C H A M B A U LT , J . - P . — L Action Catholiqued après les directives pontificales. M o n t r é a l : E c o l e S o c i a l e P o p u l a i r e , 1 9 3 8 ;C I V A R D I , L u i g i — Manual de Acção Católica, 2 v o l u m e s , t r a d u ç ã o d e A i r e s F e r -r e i r a. L i s b o a : U n i ã o G r á f i c a , 1 9 3 4 ; G A R R O N E , M g r. G a b r i e l — 4 Acção Católica.Sua história, sua doutrina, seu panorama , seu destino. S . Pau lo : L iv. Ed . F la m -b o y a n t , 1 9 6 0 ; L E L O T T E S .J . , F e r n a n d o — Para realizar a Acção Católica. Prin-cípios e métodos. L i s b o a : S .E .T. , 1 9 4 9 ( a 1* ed içã o em l ín g u a f r a n c es a é d e 1 9 3 7L I M A , A l c e u A m o r o s o ( c o m o p s e u d ó n i m o d e Tr i s t ã o d e A t h a y d e ) — Pela AcçãoCatólica. R io d e Jan e i ro : Ed . d a Bib . A n c h ie t a , 1 9 3 5 ; e R IC H A R D , M g r. Pau l Notions somm aires sur l Action Catholique. Pa r is : Ed . Sp es , 1937 (2* ed . ) .

1 6 P a r a P o r t u g a l , a p a r d e M a r i a n o P i n h o (op. cit.), c f . F E L I X , M a r i a J o s é —

A Acção Católica. Nascimento e primeiros passos. Vi l a N o v a d e F a m a l i c ã o : G r a n -d e s A t e l i e r s G r á f i c o s M i n e r v a , 1 9 3 7 .

3 7 A t e n t e - s e n a d e f i n i ç ã o d e « c a t o l i c i s m o s o c i a l » , p r o p o s t a p o r u m d o s se x p o e n t e s i n t e l e c t u a i s e m P o r t u g a l , o P r o f e s s o r S e d a s N u n e s : « A e v o l u ç ã o d a sc i e d a d e s m o d e r n a s te m s i d o a c o m p a n h a d a p e l o a p a r e c i m e n t o d e p r o b l e m a s s om u i t o g r a v e s . A r e s o l u ç ã o d e t a i s p r o b l e m a s e x i g i u , e e x i g e a i n d a , o p ç õ e s d on á r i a s e p o l í t i c a s o n d e c o m f r e q u ê n c i a s ã o p o s t o s e m c a u s a o s f u n d a m e n t a i s v a lh u m a n o s . C o m p r e e n d e - s e , a s s i m , q u e p e n s a d o r e s c a t ó l i c o s , a t e n t o s e e m p e n hn a p r o b l e m á t i c a d o s e u t e m p o , h a j a m t e n t a d o e n f r e n t á - l o s , s i t u a n d o - o s e v a l o r a- o s d e n t r o d e u m a p e r s p e c t i v a c r i s t ã e p r o c u r a n d o o r i e n t a ç õ e s c o e r e n t e s c o m ep e r s p e c t i v a s . D e s t e m o v i m e n t o in t e l e c t u a l s u rg i u a c o r r e n t e d e i d e i a s , d e c o n t om a l d e f i n i d o s e v á r i a s r a m i f i c a ç õ e s , d e s i g n a d a v u l g a r m e n t e p o r Catolicismo Social.(In Princípios de Doutrina Social. L i sb o a : Lo g o s , 1 9 5 8 , p . 15 ) .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 13/41

a a g r e m i a ç õ e s p o l í t i c a s , c o n t a n t o q u e e l a s o f e r e ç a m g a r a n t i a s d eem nada a t en t a r con t r a o s d i r e i t o s de Deus e da Ig re j a» 3 8.

Esta p ropos ta de a r t i c u laç ão dos ca tó l i cos com a po l í t i ca , inse re -- se numa es t r a tég ia pas to ra l mai s ampla , de f in ida pe la Ig re ja desde opon t i f i cado de Leão XI I I . Ta l es t r a tég ia v i sava secundar iza r tudoaqu i lo que e ra campo de d iv i são dos ca tó l i cos , inc lu indo a v ida po-l í ti c a , e s i m u l t an eam en t e p r ocu r av a sa l vagu a r da r a s con d i çõe s quega r an t i s sem a p r e sen ça au t ón om a da I g r e j a no m u ndo m ode r no . Aau t onom i a de pensam en t o e acção que a I g r e j a p r ocu r ava se r i a ga r an -t ida pe la u t i l i zação con jugada de d iver sos meios que , pa ra os p r i -m e i r o s t r ê s qua r t o s do sécu l o XX po r t uguês , podem se r e sque -m a t i c a m e n t e e n u n c i a d o s d o s e g u i n t e m o d o 3 9:

a ) l ibe rdade de cu l to e o rgan ização in te rna da Ig re ja , nomeada-m en t e pe l a f o r m ação , e l e i ção e enquad r am en t o dos seus p r i n -c ipa i s agen tes pas to ra i s ;

b ) ca tequese e ens ino da r e l ig ião e mora l ca tó l i cas nas esco las el i be r dade de ens i no t eo l óg i co ;

c ) c r i ação e u t i l i zação de meios de comunicação soc ia l p rópr ios ;

d ) e , por ú l t imo , desenvo lv imento e a r t i cu lação de d iver sas fo r-m as d e a s soc i a t i v i sm o ca t ó l i co no cam po sóc i o - r e l i g i o so .

Tendo com o r e f e r ênc i a e s t e quad r o g l oba l , a de t e r m i nação nacr iação da Acção Ca tó l i ca Por tuguesa não pode , no en tan to , se r des-l igada do con tex to po l í t i co - re l ig ioso em que se insc reve . O Es tadoNovo , em cu j a i n s t i t u c i ona l i zação e t eo r i zação se em penha r am pa r t edas é l i t e s ca tó l i cas 4 0, v e i o consag r a r um novo r e l ac i onam en t o doE s t ado com a I g r e j a 4 1 e pe r m i t i r o r ec on he c im en to de um es ta tu to

3 8 Ex Officiosis Litteris, § 9 e 10.3 9 R e s u m i m o s a q u i a l g u n s d o s e l e m e n t o s d e r e f l e x ã o q u e t i v e m o s o p o r t u n i -

d a d e d e a p r e s e n t a r n u m a e x p o s i ç ã o p ú b l i c a , s u b o r d i n a d a a o t e m a « M o d e l o s d e o rg a -n i z a ç ã o e f o r m a s d e p r e s e n ç a d a I g r e j a n a s o c i e d a d e n o s é c u l o X X » ( U n i v e r s i d a d eC a t ó l i c a P o r t u g u e s a , 3 d e J u l h o d e 19 9 3 . R e s u m o d i s p o n í v e l n o C E H R ) .

4 0 C f . C R U Z , M a n u e l B r a g a d a — As élites católicas nos primórdios do sala-

zarismo. A n á l i s e S o c i a l . L i s b o a , 1 9 9 2 , 2 7 ( 2 - 3 ) , p . 5 4 7 - 5 7 4 .4 1 F a l a m o s e x p r e s s a m e n t e d e consagração, n a m e d i d a e m q u e a s m u d a n ç a s d er e l a ç ã o e n t r e o E s t a d o e a I g r e j a f o r a m s e n d o p r o g r e s s i v a m e n t e d e f i n i d a s . E m r e l a -

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 14/41

ju r íd ic o p rópr io , que a Co nc ord a ta de 1940 t r aduz iu num a cor dd i r e i t o i n t e r nac i ona l 4 2, assente na valor ização do peso socia l doca t o l i c i sm o . E s t a evo l ução e r a conve rgen t e com os e s f o r ços Ig re ja no sen t ido de o r i en ta r a sua acção p redominan temente os domín ios soc ia l e r e l ig ioso , em de t r imento da es fe ra de acpo l í t i ca 4 3. Expressão d i sso mesmo fo i a desac t ivação do Cen tCatól ico , a par t i r de 1934 4 4.

Ne s te cap í tu lo , a r egra da AC P é ex pre ssa nas suas Bases Orgâni-cas de fo rma l ap idar : «A Acção Ca tó l i ca Por tuguesa ac tuará fo rac ima de todas as cor ren tes po l í t i cas , sem de ixar de r e iv ind icade f ende r a s l i be r dades da I g r e j a» 4 S. Es ta f r ase se r i a ex au s t iv am en te

çã o ao s p r im e i ro s an o s d a Re p ú b l i ca , e s sa m u d an ça é v i s ív e l p e lo m e n o s a p a r1 9 1 8 ( C f . F E R R E I R A , A . M a t o s — Aspectos da acção da Igreja no contexto da Ia

República. In HISTÓ RIA Contemp orânea de Portugal - Primeira República, to m o I ,c o o r d . p o r J o ã o M e d i n a . L i s b o a : A m i g o s d o L i v r o . 1 9 8 5 , p . 2 0 7 - 2 1 8 ) e s o f r er a ç õ e s i n s t i t u c i o n a i s s i g n i f i c a t i v a s d u r a n t e a D i t a d u r a M i l i t a r , n o m e a d a m e n t ea d e f i n i ç ã o d o A c o r d o M i s s i o n á r i o d e 1 9 2 8 e a a u t o r i z a ç ã o d o r e g r e s s o d a s or e l ig io sa s ex p u l sa s , em 1 9 2 9 .

4 2 D e e n t r e a s v á r i a s e d i ç õ e s d i s p o n í v e i s : CONCO RDATA e Acordo Missio-nário de 7 de Maio de 1940. L i s b o a : E d . d a I m p r e n s a N a c i o n a l , 1 9 4 3 . D a b i b l i o g r a fs o b r e e s t e t e m a , q u e é v a s t a , r e f i r a - s e o s e s t u d o s p o r t u g u e s e s m a i s r e c e n t e ACONCO RDATA de 1940. Portugal-Santa Sé. L i s b o a : E d . D i d a s k a l i a , 1 9 9 3 ; C R U Z ,M. Brag a d a — A Concordata com a Santa Sé e A Concordata com a Santa Sé quenta anos depois. C o m m u n i o . R e v i s t a I n t e r n a c i o n a l C a t ó l i c a . L i s b o a : 1 99 1 ,(3 e 4 ), p . 2 7 2 -2 8 0 ; p . 3 7 2 -3 7 9 .

4 3 C f . F E R R E I R A , A . M a t o s — Le Christianisme dans l Europe II: La Pénin-sule ibérique entre 1914 et 1958. In HISTO IRE du Christianisme. Vo l . 12 : Guerresmondiales et totalitarisme (1914-1958), c o o r d . d e J . - M . M a y e u r. P a r i s : D e s c l é e ;F a y a r d , 1 9 9 0 , p . 4 0 2 - 4 5 0 .

4 4

C f . C E R Q U E I R A , S i l a s — L Église catholique et la dictature corporatisteportugaise. Rev u e Fra n ça i se d e Sc ien ce Po l i t i q u e . 1 9 7 3 , 2 3 (3 ) , p . 4 7 3 -5 1 3 . Pae s t u d o m a i s a m p l o d a r e l a ç ã o d o s c a t ó l i c o s c o m a p o l í t i c a , n e s t e p e r í o d o , V. CM. Braga da — Ms origens da Dem ocracia Cristã e o Salazarismo. L i s b o a : E d .P r e s e n ç a / G I S , 1 9 8 0 .

4 5 Ba se IV . 1 c i t ad a in GU IA da Acção Católica Portuguesa. V o l . 1 : Bases,Estatuto e Regulam ento Geral. L i s b o a : U n i ã o G r á f i c a , 1 9 5 4 . O D i r e c t o r N a c i o n ad a A C P, d e s e n v o l v e r á r e p e t i d a m e n t e e s t a c o n c e p ç ã o n a s u a o b r a d e p r e g a çd o u t r i n a ç ã o , d e q u e s e d e s t a c a : C E R E J E I R A , M a n u e l G o n ç a l v e s , b i s p o — A Ac-ção Católica - Presença da Igreja (seu significado e razão de ser). In Obras Pas-torais. v o l . I V. L i s b o a : U n i ã o G r á f i c a , 1 9 5 4 , p . 2 8 5 - 2 9 2 ; natureza da AcçãoCatólica. In Obras Pastorais, v o l . I V. L i s b o a : U n i ã o G r á f i c a , 1 9 6 0 , p . 2 8 9 - 2 9 6Acção Católica e Acção Cristã. In Ibidem, p . 3 2 7 -3 4 2 .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 15/41

r epe t ida , r e tomada e g losada para se au to - l imi ta r o pape l da ACP oude qu a lqu er um dos seus ó rg ãos em in ic ia t ivas e de ba t es com inc id ên-c ia po l í t i ca . Al iás , o en tend imento do que se en tende por política e dar e l aç ão da I g r e j a com es t a , j u s t i f i c ou pos i c i o nam en t o s d i ve r so s po rpar te dos p r inc ipa i s p ro tagon i s t as e cons t i tu iu um dos e lementos ded i f e r en c i aç ão no i n t e r i o r do ca t o l i c i sm o po r t ug uês , a n í ve l do pensa -mento , ao longo das décadas de t r in ta a se ten ta 4 6.

Por ou t ro l ado , não de ixa de se r s ign i f i ca t ivo o f ac to da AcçãoCató l i ca não f igura r no t ex to da Concorda ta de 1940 , apesar de t e rs ido ob jec to de negoc iações e de se t e r chegado a f a la r na e laboraçãode um pro toco lo ad ic iona l espec í f i co , que nunca chegou a se r es t a -b e l e c i d o 4 7. Ao não se lhe r econhecer per sona l idade ju r íd ica p rópr ia ,a sua ex i s t ênc ia e ac tuação f i cou cond ic ionada às boas r e lações en t r eo E s t ad o e a I g r e j a4 8. Num Es tado por na tu reza au to r i t á r io 4 9, es te fac-to fo i , em s i mesmo, f ac to r de conf l i to — umas vezes l a t en te , ou t r asexpresso — e a rma de a r r emesso nas r e lações do poder po l í t i co paracom a Ig re ja ca tó l i ca .

4 6 S e v á r i o s ' c a s o s ' p e s s o a i s o i l u s t r a m , d e v e r - s e - i a , c o m p r o p r i e d a d e , f a l a r d ec o r r e n t e s d e p e n s a m e n t o n o i n t e r i o r d a I g r e j a e d o c a t o l i c i s m o e s u a e v o l u ç ã o ( V . od e b a t e g e r a d o e m t o r n o d a p u b l i c a ç ã o d e Um Século de Cultura Católica em Por-tugal. L i s b o a : E d . L a y k o s , 1 9 8 4 : Artes d e ser católico português. Um texto e cincoleituras. R e f l e x ã o C r i s t ã . 1 9 8 5 , 4 6 / 4 7 ) . N o e n t a n t o , e c o m o e s t a h i s t ó r i a s e e n c o n t r ap o r f a z e r , r e g i s t e m - s e a l g u n s t e s t e m u n h o s d i s p o n í v e i s r e l a t i v o s a a l g u n s a c o n -t e c i m e n t o s e p e r s o n a g e n s : A L P I A R Ç A , M a n u e l — Os organismos operários da AcçãoCatólica no início dos anos 60. I n R e f l e x ã o C r i s t ã . 1 9 8 7 , 5 3 , p . 6 5 - 7 2 ; B I D A R R A ,M a n u e l — O i católicos e o poder. A Ca p i t a l . 2 9 d e A g o s to d e 1 9 7 9 e s s . ; CO ST A ,J o ã o B é n a r d d a C o s t a - Meus tempos, meus modos. D i á r i o d e N o t í c i a s . 9 d e N o v e m -b r o d e 1 9 8 3 ; F R E I R E , J o s é G e r a l d e s — Resistência católica ao salazarismo-mar-

celismo. P o r t o : Te l o s . 1 9 7 6 ; L I M A , A . C a r l o s — Caso do bispo da Beira. Docu-mentos introdução e notas, s .l .: L i v. C i v i l i z a ç ã o E d ., 1 9 9 0 ; R O D R I G U E S , D o m i n -gos — Abel Varzim. Apóstolo português da justiça social. Pelo 25. ° aniversário doseu falecimento. L i s b o a : R e i d o s L i v r o s , 1 9 9 0 ; S O U S A , A n t ó n i o G o m e s d e — PadreJoaquim Alves Correia, um lutador de Liberdade. Po r to , 1978 , 15 p .

4 ? C f . S A N T O S , A . — op. cit.. p. 13.4 8 Ta l f a c t o é t a n t o m a i s r e l e v a n t e q u a n t o a a s s i n a t u r a d a C o n c o r d a t a d e 1 9 4 0

s e v e r i f i c a d e p o i s d a s g r a v e s t e n s õ e s v e r i f i c a d a s e m I t á l ia , n o m e a d a m e n t e c o m ac r i s e d e 1 9 3 1 . ( C f . P O L L A R D . J o h n — The Vatican and Italian fascism 1929-32.C a m b r i d g e : C a m b r i d g e U n i v e r s i t y P r e s s , 1 9 8 5 ) .

4 9 S e g u i m o s a t e r m i n o l o g i a h o j e c o n s a g r a d a p e l o s e s p e c i a l i s t a s d o a s s u n t o :Cf . CRUZ, M. Brag a d a — O Partido e o Estado no Salazarismo. L i s b o a : E d . P r e -sen ça , 1 9 8 8 .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 16/41

Em resumo: t ambém em Por tuga l e à semelhança do que acoceu nou t ros pa í ses 5 0, a pa r da Conc ord a ta e s tab e lec ida en t r e a San tSé e o Es tado , a ins t i tuc iona l i zação da Acção Ca tó l i ca c r iou umins t rumentos p r iv i l eg iados de acção da Ig re ja con t ra as t en tato ta l i t á r i as do Es tado moderno , ass im como a p r inc ipa l fo rma deb i l i za ção e o rg an i zaç ão dos ca tó l i cos para o p r o je c to de r e s tau rc r i s t ã da soc iedade por tuguesa .

Nã o cabe aqu i f azer o h i s to r i a l des te percu r so , ma s ape nas ana la r o modo como a c r i ação da ACP fo i um con t r ibu to dec i s ivd e f i n i ção e i m p l em en t ação de r enovada f o r m a de p r e sença da Ina soc iedade por tuguesa no sécu lo XX e , s imul taneamente , insesua ac t uação no desenvo l v i m en t o do «m ov i m en t o ca t ó l i co » co npo râ ne o. No que a es t e se ref ere , in te ress a sub l inh ar que as suaszes se encon t ram já na p r imei ra metade do sécu lo XIX, conduz in«m i l i t ânc ia ca tó l i ca» v igen te de en tão para cá e cu jas p r inc ipa ir ac t e r í s t i c a s a s s i m f o r am r ecen t em en t e de f i n i da s : «a con sc i ênc id i s t inção en t r e a Ig re ja e a soc iedade e o concomi tan te ape lo ev ang e l i z açã o des ta ; a im po r tân c ia c re sce n te da par t i c ipaç ão lnessa t a re fa ; a au ton om iza çã o dos ob jec t ivo s r e l ig io sos em re laos po l í t i co - pa r t i dá r i o s . » S l .

Nes te apos to lado do i s sec to res concen t ra ram en tão a par t i ca tenç ão da Ig re ja : o op era r i ad o e a juv en tud e , f en óm en os soc ia isu l t an t e s da i ndus t r i a l i z ação m ode r na . Ass i m acon t eceu t am bémPor tuga l , onde se desenvo lveram vár ios es fo rços e in ic ia t ivas , not i do de i m p l em en t a r novas f o r m as de a s soc i a t i v i sm o pa r a co r r eder às necess idades soc ia i s de tec tadas e às p ropos tas r e l ig iosager idas . En t re e l as , des tacam-se r espec t ivamente os Círculos Católicosde Operários 5 2 e as Juventudes Católicas, f e de rad as no seu p r im ei ro

Congresso em 1912 , a Juventude Católica Feminina, cr iad a em 1924

5 0 C f . M I N N E R AT H , R o l a n d — UEglise et les Etats concordataires (1846--1981): La souverainete spirituelle. Pa r i s : Ce r f , 1 9 8 3 .

5 1 C L E M E N T E , M a n u e l J o s é M . N . — Nas origens do apostolado contempo-râneo em Portugal. A Sociedade Católica (1843-1853). B r a g a : U n i v e r s i d a d e C a t ó -l i ca Po r tu g u esa , 1 9 9 3 , p . 1 9 . V. t am b é m d o m es m o au to r : Laicização da sociedadee afirmação do laicado em Portugal (1820-1840). Lu s i t an ia Sac r a . L i sb o a . 1 9 9 1 , 3 ,p . 111 -1 5 4 .

5 2 C f . P O L I C A R P O , J . d e A l m e i d a — O pensamento social do grupo católico

de «/I Palavra» (1872-1913), 2 v o l u m e s . C o i m b r a , 1 9 7 7 e L i s b o a : I N I C , 1 9 9 2 : I D— Os Círculos Católicos de Operários. Sentido e fontes de inspiração. C u l t u r a .H i s tó r i a e F i lo s o f i a . 1 9 8 6 , 5 , p . 3 6 5 -3 8 4 .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 17/41

no âmbi to da Liga de Acção Social Cristã, ou os Centros Académicosda Democracia Cristã, t end o o de C oim bra pe rd ura do a té 1971 5 3.

É a inda o «papa da Acção Ca tó l i ca» que na ca r t a ao Cardea lCere je i r a se r e fe re de modo par t i cu la r ao opera r i ado , nos segu in teste rmos:

« H o j e , e n t ã o , e l a [ a I g r e j a ] m o s t r a e s p e c i a l í s s i m o c u i d a d o p e l a sm u l t i d õ e s d e h u m i l d e s t r a b a l h a d o r e s , p a r a q u e p o s s a m n ã o s óa l c a n ç a r e d i s f r u t a r o s b e n s q u e l h e s p e r t e n c e m p o r d i r e i t o d ej u s t i ç a , m a s a i n d a , p a r a o s a r r e b a t a r à e n g a n o s a e p e s t í f e r ai n f l u ê n c i a d o c o m u n i s m o , o q u a l , a o m e s m o t e m p o q u e , c o md i a b ó l i c a p e r f í d i a , s e e s f o r ç a p o r a p a g a r n o m u n d o a l u z d a r e -l i g i ão que os l i be r tou , expõe a um pe r igo ce r to de ca í r em, um d i a ,n a a n t i g a e v e r g o n h o s a e s c r a v i d ã o , d e q u e t i n h a m s i d o l i b e r t a d o sc o m t a n to t r a b a l h o . »5 4 .

Assim, quando se l ançam as bases da nova o rgan ização do apos-t o l ado , g r ande a t en ção é dada aque l a s que são cons i de r adas a l gum asdas «n ec ess i da des m a i s i m p or t an t e s e co m uns » : «a a s s i s t ênc i a ao soperá r ios , não só no que se r e fe re aos in te resses esp i r i tua i s ( . . . ) mastambém da v ida p resen te» ; «o ens ino da dou t r ina c r i s t ã» às c r i anças eaos jov en s ; e «a boa im pre nsa » , «aq ue la que nã o só não a taqu e are l ig ião e os bons cos tumes , mas a que , como a rau to , p roc lama e i lus -t ra os pr incíp ios da fé e as regras da moral» 5 S. Por out ro lado, f ica emaber to a poss ib i l idade da nova ins t i tu ição agrupar a s i o rgan izações j áex i s t e n tes ou , em co n t ra pa r t ida , v ir a c r i á - l as , qu an to mais não fo ssecomo «obras aux i l i a res» ou se rv iços de apo io à ACP. Tudo em nomeda necessá r i a «un ião de fo rças» .

3 . M o d e l o e e s t r u t u r a d a A C P

A de t e r m i naç ão do m ode l o de o rg an i z açã o da Ac ção Ca t ó l i caP o r t ug uesa ( ACP ) é um a das m a i s i m por t an t e s e con t r ove r sa s ques -

C f . C R U Z , M . B r a g a d a —A s origens da Democracia Cristã e o Salazaris-mo. L i s b o a : E d . P r e s e n ç a / G I S , 1 9 80 e S E A B R A , J o r g e ; A M A R O , A n t ó n i o R a f a e l ;N U N E S , J o ã o P a u l o Av e l ã s — O CADC de Coimbra, a Democracia Cristã e osinícios do Estado Novo 190 5-1934. C o i m b r a : F a c u l d a d e d e L e t r a s , 1 9 9 3 .

5 4 C f . § 14.C f. § 12 e 13.

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 18/41

tões , desde o in íc io e ao longo da sua h is tór ia . Dela se ocupoE p i sc o pad o po r t u guê s na s r eun i ões p r epa r a t ó r i a s do l anç am en t

no va o rg an i zaç ão , em Co nfe rên c ia p len ár ia , r ea l i zad as em 6 e Abr i l de 1932, de 16 a 18 de Feverei ro de 1933 e , f inalmente , emvembro de 1933 , quando reso lveu aprovar apenas as Bases da ACP,de ixando para mais t a rde a def in ição dos Es ta tu tos .

Do i s p r i nc í p i o s no r t ea r am a e s t r u t u r ação qu e p r o g r e s s i v a mf o i dando co r po à nova o rgan i zação : unidade e especialização. A sBases de 1933 , de f in em -n os do segu in te mo do :

« A A C P t e m c o m o p r i n c í p i o d e o rg a n i z a ç ã o o s s e g u i n t e s p o

t u l a d o s :a ) C o o r d e n a ç ã o e c o o p e r a ç ã o d e t o d a s a s a s s o c i a ç õ e s e o b r

c a t ó l i c a s n u m p l a n o nacional único, e m o r d e m à e f e c t i v a ç ã o d au n i ã o c a t ó l i c a p a r a a r e s t a u r a ç ã o c r i s t ã d a s o c i e d a d e

b ) e s p e c i a l i z a ç ã o d a s o rg a n i z a ç õ e s e s s e n c i a i s d a A . C . P. sg u n d o o s e x o , a i d a d e e a p r o f i s s ã o . »5 6

«A un ião das o rgan izações do l a i cado ca tó l i co por tuguês»ob jec t ivo expresso logo na p r imei ra base da o rgan ização , não de

d e co l oca r d i f i cu l dades no r e l ac i onam en t o com f o r m as d e a s st i v i sm o e spec í f i c a s e j á com t r ad i ção a r r e i gad a . Ass i m : um a s pr i am a sua au tonomia para se incorpora rem na nova ins t i tu ição , a con t eceu com os g r upos e a s soc i ações da F ede r ação das Juv en tCa tó l i ca s Po r tug ues as ( ex i s t en te desde 1913) e a Ju ve n tu de Ca tF em i n i na ( f un da da em 192 4 ) ; ou t r a s , m an t e n d o em b o r a nomes t ru tu ra p rópr ia , v i r i am a ocupar um lugar no in te r io r da o rgâda Acção Ca t ó l i ca , com o acon t eceu com o CADC de Co i m b r aAssoc i ação dos E s t udan t e s Ca t ó l i co s do P o r t o que f o r am , naq u

cen t r o s un i ve r s i t á r i o s , o co r r e s p ond en t e d a Ju v en t u de Un i v e r s iCa tó l i ca ( JUC ) a n íve l na c ion a l ; e , f in a lm en te , a lgun s a inda mr iam a sua o rgan ização p rópr ia , como acon teceu com o Apos toda Oração , as Conferênc ias de S . Vicen te de Pau lo ou o Corpoc iona l de Escu tas ( fundado em 1923) , passando quase todas acon s ide rad as «obra s aux i l i a res» da A CP . A pr im ei ra a se r r ec ocida como ta l fo i a P ia União dos Cruzados de Fát ima.

5 6 C f . Bases da ACP, 193 4. § B (In Boletim da Acção Católica Portuguesa.193 4, I (1) , p . 12) .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 19/41

Foi ass im que, em 1944, se publ icou o d ip loma que cr iava o Se-c r e t a r i ado das Obr a s Aux i l i a r e s da Acção Ca t ó l i ca pa r a «p r om ove r a

[ sua] ad esã o à A C », «c oo rde nar a sua ac t iv id ad e com a da A C» , « de l i -m i t a r o s r e spec t i vos cam pos e p r og r am as de acção pa r a ev i t a r con f l i -t o s, dup l i caçõ es e con co r r ê nc i a s» e , f i na l m en t e , pa r a « r egu l a r o u sode s ina i s ex t e r i o r e s » 5 7. Mas , apesar des tes es fo rços , a s t ensões susc i -t adas pe l a von t ade de un i dade , sob r e t udo quando con f und i da comun i f o r m i zação e e sp í r i t o de cen t r a l i z ação , não de i xa r am de cons t i t u i rum dos pó los de conf l i to no in te r io r da ACP e da Ig re ja por tuguesa .

No que se r e fe re à espec ia l i zação , es t a f ez - se segundo o sexo , aidade e a p ro f i ssão , a t r avés da c r i ação de qua t ro g randes «organiza-ções» e de m úl t ip los «organismos especializados» da AC P. A Liga dosHomens da Acção Católica ( L H A C ) , a Liga das Mulheres da AcçãoCatólica ( L M A C F ) , a Juventude Católica (JC ) e a Juventude CatólicaFeminina ( JCF ) , f o r am a s qua t r o organizações c r i ad as . Cad a um a t i-nha «Di r ecção Nac i ona l » p r ó p r i a , em bor a t odas f o s sem h i e r a r qu i ca -m en t e dep enden t e s da « Jun t a Cen t r a l » da Acção Ca t ó l i ca , ó rgão d i -r ec t ivo super io r. Só no in te r io r de cada organização se c r i a r am or-ganismos especializados, de ac or do com a de f in içã o de c inco sec to -res socia is — agrário, escolar, independente, operário e universitá-rio — , u t i l i za ndo -se a to ta l id ade das c in co vog a i s do ab ece dá r io p a-ra a cr iação de s ig las própr ias : JAC (J u v e n t u d e Agrária Católica),J A C F (J u v e n tu d e Agrária Católica Feminina), L A C (Liga AgráriaCatólica), L A C F (L ig a Agrícola Católica Feminina) e ass im suc es-s i v a m e n t e . C a d a organismo d i spun ha de um a «D i r ecçã o Ge r a l » , quese encon t r ava h i e r a r qu i cam en t e subo r d i nada à r e spec t i va organi-zação f ede r a t i va .

As s i m sendo , a A C P i nc l u í a o rg an i ca m en t e v i n t e e s t r u t u r a sau t ó no m as de âm b i t o nac i on a l , a l ém de ou t r o s s e r v i ços e o rgan i zaçõ esa e la asso c iad os . Es ta es t ru tu ra r epe t i a - se esc a lo na da m en te a n íve ld ioc esa no e paroq u ia l ou n íve l a f im, co m o as esco la s e as un iv er s ida des ,no caso dos organismos escolares e universitários. A níve l loca l , ca dad i r ecção de secção e organismo e n c o n t r a v a - s e s u b o r d i n a d a à d i r e c -ção da organização r esp ec t iv a (pa roq u ia l e d io ce san a) que , por suavez , in tegrava o r espec t ivo ó rgão cen t ra l de d i r ecção , a «Jun ta pa-roqu ia l» e a «Jun ta d iocesana» da Acção Ca tó l i ca , a pa r da con t inuada

N o t a a s s i n a d a p e l o P r e s i d e n t e d a J u n t a C e n t r a l d a A C P , c i t . p o r S A N TO S ,A . — op. cit., p. 14.

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 20/41

r e laç ão fu nc ion a l com a es t r u tu ra p rópr ia de cad a organismo. Ou se ja ,cada secção l oca l o u pa r oqu i a l depend i a h i e r a r qu i cam en t e da e

tu ra d i r ec t iva da Acção Ca tó l i ca ao n íve l r espec t ivo e a r t i cu lavf un c i o na l m en t e com a e s t r u t u r a do organismo que i n t eg r ava 5 S.

E s t e m ode l o , f ede r a t i vo e cen t r a l i z ado r, r e su l t a da com b i nade duas t radições: a Acção Catól ica gera l , de or igem i ta l iana; e a de apo s to la do es pe c ia l i zad o , que t eve a sua gé ne se com a JO CCard j in na Bé lg ica , segundo o p r inc ip io in ic ia l de que «os p r imeapós to los dos operá r ios são os operá r ios» . Tra ta - se de um mom is to que v i sava in tegra r a to ta l id ade das in ic ia t iva s e o rga n izado l a i cado ca tó l i co por tuguês e garan t i r uma acção e f i caz nos d

sos g rupos e meios soc ia i s . «Cor unum et anima una» é o lema daACP, que bem t r aduz a sua p reocupação un i t á r i a .

E m P o r t uga l a i de i a da e spec i a l i z ação f o i de f end i da nom eam en t e pe l o s P ad r e s Abe l Va r z i m e Manue l Rocha , f o r m ados n aco la soc io lóg ica de Lova ina 5 9. Su b ja ce n te a es t a p ro pos ta e nco n t ra --se a noção de meio soc i a l , en t end i do não apenas com o cond i c i on ando apos t o l ado pes soa l , m as com o r ea l i dade ca r ac t e r i zada po r etu ras p rópr ias que dever iam se r t ambém ob jec to de c r i s t i an izaçã

Se do pon to de v i s t a concep tua l es t e mode lo su rge como idmente cor rec to , j á ao n íve l da sua ap l i cação os seus d i r igen tes dr a r a m c o m v á r ia s d i f i c u l d a d e s e o b s t á c u l o s6 0. A par da relação com as

5 8 P a r a u m a m e l h o r c o m p r e e n s ã o d a e s t r u t u r a d a A C P, a p r e s e n t a - s e o o rg a n i g r a m a , ta l q u a l s e e n c o n t r a r e p r o d u z i d o n u m a e d i ç ã o d a s B a s e s O r g â n i cA C P d e 1 9 5 0 : L I G A C AT Ó L I C A — Acção Católica Portugesa, L i s b o a : O f i c i n a sG r á f i c a s d a « R á d i o R e n a s c e n ç a » , 1 9 5 0 .

C f : S A N T O S , A . — op. cit., p . 2 3 : e R O D R I G U E S , D . — op. cit., p . 138--1 4 5 , q u e r e f e r e f o r t e p o lém ica q u e ag i t a o s se rv iço s cen t r a i s d a ACP n o an

1941 . Le ia - se a in d a o r e l a to q u e é f e i to , em 1 9 3 5 , p e l o Ass i s t en t e Gera l d a p o r t u g u e s a , p r e s e n t e n u m a S e m a n a d e E s t u d o s I n t e r n a c i o n a l : « ( . . .) 2 . D I F I C UD U E S A L A T R A D I T I O N : o n n e c o m p r e n d p a s bi e n la S P E C I A L I S AT I O N . q u e l q u e s a n n é e s , i l n ' e x i s t a i t p a s a u P o r t u g a l q u e d e s o e u v r e s g r o u p a n t d e s jd e to u s l e s m i l i e u x : ce q u i im p o r t e su r to u t , c ' e s t d e fo rm er d es j e u n es m i l i t a nla c l a s se o u v r i è r e . ( . . . ) » ( I n Comp te-rendu de la Semaine d Etudes Internationale dla Jeunesse Ouvrière Chrétienne. Bru x e l l e s : 1 9 3 5 , p . 3 6 8 ) .

6 0 A l i t e r a tu r a d a Acção Católica Portuguesa a p r e s e n t a d i v e r s o s e x e m p l o sd e s s a s d i f i c u l d a d e s e o b s t á c u l o s a o l o n g o d o t e m p o . R e l a t i v a m e n t e à s i t u a ç ãr a n t e o p r i m e i r o d e c é n i o , l e i a - s e o d i a g n ó s t i c o d o S e c r e t á r i o - G e r a l d a A C P : Ç A LV E S , Av e l i n o — Dez anos de Acção Católica. L i sb o a : 1 9 4 5 , p . 4 9 - 5 3 . Pa r a os e g u n d o d e c é n i o , c f . D U A RT E , A r n a l d o — Posição actual da Acção Católica

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 21/41

o rg a n i zaç ões p r é - ex i s t en t e s à i n s t i t uc i ona l i zaçã o da AC P, ou t r a sques tões se encon t ram no seu percur so : em pr imei ro lugar, a s t ensões

resu l t an te s do d i f í c i l equ i l íb r io en t r e a au ton om ia de cad a o r ga n i s m oesp ec ia l i z ad o e a p ro cura da un ida de de in ic ia t iv a e acç ão ; em seg un dolugar, a a r t i cu lação en t r e os vár ios n íve i s o rgan iza t ivos de uma es t ru -tu ra que , sendo nac iona l , deve enra iza r na d inâmica d iocesana daIgre ja ; e por ú l t imo , a p rogress iva con tes tação do p r inc íp io de su -bo r d i naçã o do l a i cado ca t ó l i co às d i r ec t r i z e s da h i e r a r q u i a , sob r e t udoà m ed i da que a p r óp r i a Acção Ca t ó l i ca va i f om en t ando o p r o t ago -n i smo dos seus mi l i t an tes e fo rmando c r i s t ãos adu l tos na v ida e na f é .

A subo r d i naç ão d a d i r ecç ão e o r i en t açã o da A CP à s d i r ec t r i z e s doE p i scop ado p o r t uguês e r a ga r an t i da a t r avés de um t r i p l o m ecan i sm o :in te rvenção na e le ição dos p r inc ipa i s r esponsáve i s l e igos , a t r avés dasua nom eação ou hom o l ogação ; nom eação de um Ass i s t en t e ec l e s i á s -t i co pa r a acom panha r e supe r v i s i ona r cada ó rgão de d i r ecção ; ep r e sença d i r ec t a de a l guns p r e l ados no desem penho de ca rgos dedi r ecç ão . É ass im que , des de 1933 e a té 197 1, o D ire cto r N ac ion al daACP se r i a , po r i nd i cação do E p i scopado , o Ca r dea l - P a t r i a r ca deL i sb oa . Tam bém o ca rgo de P r e s i den t e da Jun t a Cen t r a l e r a a s segu -rado por um bispo: D. Ernesto Sena de Ol ivei ra (de 1933 a 1941) ;

D. Manue l Tr indade Sa lgue i ro (de 1941 a 1955) e D. José Pedro daSi lva (a par t i r de 195 6) . Até 1966, o ca rg o de Se cr e tá r io -G er al fo ide sem penhado po r um m em br o da h i e r a r qu i a , no ca so um p r e sb í t e r o :Có n . Dr. A ve l ino de Jes us G on ça lve s (de 1934 a 1947) ; Pe . D om ing osd ' Apr e sen t ação F e r nandes ( de 1948 a 1953 ) ; P e . S ez i nando de O l i -vei ra Rosa (de 1954 a 1965) . O Eng. S idónio de Frei tas Branco Paisé o p r imei ro l e igo a ocupar o lugar de Secre tá r io -Gera l , passando aJun ta Cen t ra l a se r in tegra lmente cons t i tu ída por l e igos e apenas ase r d i r ec tamente acompanhado por um Ass i s t en te Gera l , no caso , o

Pe . Dr. Or lando Le i t ão .

Portuguesa. L i s b o a : E d . A . C . P. , s . d . , p . 2 9 - 4 0 . N a s c e l e b r a ç õ e s d o X X V a n i v e r s á r i od a A C P, t a m b é m s e e n c o n t r a m e c o s d e s s a s d i f i c u l d a d e s : v. g . L E I T Ã O , O r l a n d oA n d r a d e M a r t i n s — Acção Católica e Coordenação dos Movim entos Católicos.« N o v e l l a e O l i v a r u m » . N ú m e r o e s p e c i a l , 1 9 5 9, 1 6 ( 1 6 3 ) , p . 2 3 3 - 2 3 8 ; G O M E S ,J o a q u i m F e r r e i r a — Nos vinte e cinco anos da Acção Católica Portuguesa. S e p a r a t ad e Estudos, 3 6 ( 8 ) . C o i m b r a : 1 9 5 8 . E m 1 9 6 5 e n c o n t r a m - s e n o v a s r e f e r ê n c i a s à sd i f i c u l d a d e s d e f u n c i o n a m e n t o e c o n c r e t i z a ç ã o d o m o d e l o d a A C P e x p r e s s a s n ar e u n i ã o d e A s s i s t e n t e s e c l e s i á s t i c o s : V. APOSTOLA DO dos leigos e acção católica.L i s b o a : L o g o s , 1 9 6 5 .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 22/41

A esco lha dos r esponsáve i s l e igos e ra assegurada segundo umdo i s p r oce ssos : nom eaç ão d i r ec t a , no ca so dos r e spo nsáv e i s m á x i

dos r es tan tes ó rgãos d i r ec t ivos — regra gera l , P res iden tes nac iongera i s , d ioc esan os , pa roq u ia i s e de secç ão ; e ho m olo ga çã o das esc ofe i t as para os ou t ros ca rgos — Secre tá r ios , Tesoure i ros e Voga i s

Por ou t ro l ado , o As s i s t en te ec les iá s t i co , f ig ura ju r íd ica p reseem todos os n íve i s da es t ru tu ra o rgan iza t iva , desempenhava um pde g rande r e levo na v ida da o rgan ização . Por ine rênc ia da funçãseg un d o a con cep ção ec l e s i o l ó g i ca dom i nan t e at é ao Con c í l i o Vcano I I , e l e e ra o e lo de l igação permanen te com o Epi scopado ga r an t e da ec l e s i a l i dade em cada secção, sector, organismo ou orga-

nização em que se inse re . O Es ta tu to das O rga n iz aç õe s e dos Ogan i sm os Esp ec i a l i z ad os de 1945 def ine ass im a sua m issão :

« A r t . 9 6 ° - O A s s i s t e n t e E c l e s i á s t i c o é o D e l e g a d o d a H i e r a r q uq u e , j u n t o d a A c ç ã o C a t ó l i c a , t e r á p o r m i s s ã o :a ) m an te r e de fe nd e r a i n t eg r id ade da f é , da mo ra l e da d i s c ip l ida Ig re j a ;b ) f o r m a r, a s s i s t i r e a n i m a r o s a s s o c i a d o s d a m e s m a A c ç ã o Ct ó l i c a e m o r d e m a o s e u a p o s t o l a d o » 6 1.

N o enq ua d r a m en t o dos seus m em br o s l e i gos , a e s t r u t u r açãoAcção Ca tó l i ca assen tava em d iver sos n íve i s de per t ença , segung r au de com pr om e t i m en t o com os ob j ec t i vos da o rgan i zação e o rn h e c i m e n t o s o c i a l d a c o n f o r m i d a d e d o c o m p o r t a m e n t o i n d i v icom d ef in ido s c r i t é r ios de v ida c r i s t ã : aspirantes, efectivos, militantese , f i na l m en t e , o s dirigentes. No t r aba lho com o co n j un to dos seusm e m b r os , a A CP u t i li zou va r i ad í s s i m os m e i os em o r dem à f o r mde élites e à ac çã o de massas: r eun i ões de g r up o , con f e r ê nc i a s , cu r so s ,pa l e s t r a s , i nqué r i t o s , c am pan has de ano , pe r e g r i na ções , r e t i r o s , pcaçõ es (bo le t ins , jo r na i s e r ev i s t as ) , f es t as , con gre sso s , e t c . A me tlogia dos « inquér i tos» e da «revisão de v ida» — com a sua célt r i logia do ver, julgar e agir — fo i in ic ia lm ent e u t i l i zada ape nas pora l g u n s organismos, n o m e a d a m e n t e o p e r á r i o s , m a s g e n e r a l i z o u - sp r og r e s s i vam en t e ao con j un t o da o rgan i zação , f ac i l i t ando o con te i n t e r venção d i r ec t a na r ea l i dade quo t i d i ana 6 2.

6 1 C f . GUIA da Acção Católica Portuguesa, vo l . I , L i sb oa : 1954 , p . 50 .6 2 E n t r e a d i v e r s i f i c a d a p r o d u ç ã o b i b l i o g r á f i c a q u e a b o r d a o t e m a d a m

d o l o g i a , c i t e - s e s o b r e a i m p o r t â n c i a d a « o p i n i ã o p ú b l i c a » p a r a o a p o s t o l

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 23/41

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 24/41

cem subs t anc i a l m en t e i dên t i ca s , t endo - se un i f o r m i zado a l gu m ass i g n a ç õ e s 6 4; ap rova- se um novo e ún ico Es ta tu to das Organ izações

dos Or gan i sm os E sp ec i a l i z a dos , r e su m i ndo - se a s d i spos i ç ões etu tá r i as a t é en tão d i sper sas por numerosos d ip lomas ; e de f ine- seRegu l am en t o Ge r a l pa r a t oda a o rgan i zação . Nes t e p r ocesso c l acou - s e o l ug a r dos S ec r e t a r i ados e spe c i a l i z ad os , com a f un ção der ig i r ou coordenar as Obras Auxi l i a res da ACP: Secre ta r i ado Enóm i co - S oc i a l ; S ec r e t a r i ado de Cu l t u r a , P r opaganda e I m pr eS ec r e t a r i ado do C i ne m a e da Rád i o ; S ec r e t a r i ado de Co or de naç ãoObras Auxi l i a res . Em 1953 , ve r i f i cou- se novo p rocesso de r evdas Bases Gera i s que p rocurou i r ao encon t ro do d inamismo

Acção Ca t ó l i ca .Só um es tud o ju r íd i co apu rad o per m i t i r á de tec ta r as osc i l aç õ

p r og r e s s i va s m udanças nos m ecan i sm os j u r í d i cos da ACP. Há ,en tan to , a lgumas l inhas de fo rça que só o Conc í l io Vat i cano I I va l t e r a r de m odo m a i s p r o f undo . E f ec t i vam en t e , f o i p r ec i so e sppe la d in âm ica con c i l i a r pa ra se «es tuda r a op or tu n id ad e e os p rosos de ac t u a l i za ção da Ac ção Ca t ó l i ca P o r t u gue sa , com a cons equrev i são das Bas es , Es ta tu tos e Re gu lam en tos , em ordem a um a c i ênc i a m a i o r de s se p r ov i denc i a l Mov i m en t o apos t ó l i co» — sedo os t e rmos do Di rec to r Nac iona l da ACP, Cardea l -Pa t r i a rcaL i s b o a 6 S. Fo i um longo e p rofundo p rocesso de adap tação às d i r et r i zes do V at i c an o I I e à nova d im en são do apo s to la do l a i ca l , d ecoen t re 1965 e 1971, que cu lm ino u com a ap ro va çã o de um textoPr inc íp ios Bás icos , mas de ixando em aber to o p rocesso de e laborde um E s t a t u t o o rgân i co e novo s Re gu l a m en t o s que nunca cheg aa se r e l aborados .

A renovação da Acção Católica Portuguesa e ra o ob jec t ivo ex-p r e s so pe l o E p i scop ado po r t uguês na Ca r t a pa s t o r a l que aco m paa pub l i cação do novo t ex to ju r íd ico . Os b i spos marcaram en tãoper íodo de 5 anos para que a Acção Ca tó l i ca se r eorgan izasse e

6 4 A u n i f o r m i z a ç ã o f e z - s e s o b e r t u d o a o n í v e l d a d e s i g n a ç ã o d o s d i v e ro rg ão s , t a l q u a l f i co u a t r á s d e sc r i to . As organizações d e ad u l t o s v eêm o seu n o m ea l t e r a d o : a L i g a d e A c ç ã o C a t ó l i c a F e m i n i n a p a s s a a d e s i g n a r - s e p o r L i g a C aF e m i n i n a ( L . C . F. ) ; e a L i g a d o s H o m e n s d a A c ç ã o C a t ó l i c a p a s s a a d e s i g n a r - s e s i m p l e s m e n t e p o r L i g a C a t ó l i c a ( L . C . ) . É , n o e n t a n t o , p o s s í v e l e n c o n t r ad e s i g n a ç õ e s a n t e r i o r e s r e f e r i d a s e m p u b l i c a ç õ e s p o s t e r i o r e s a e s t a d a t a .

6 5 Cf . A renovação da Acção Católica Portuguesa. Carta Pastoral do Epicopado da Metrópole e Princípios Básicos, s. 1. : Ed . L og os , s. d. , p. 3.

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 25/41

v i t a l i z a s se , de ve nd o a Co m i s são E p i sc opa l pa r a o Ap os t o l a do dosLeigos acompanhar es te p rocesso . E ra o in íc io do f im. A procura deeq u i l í b r i o en t r e «a i n d i spe nsá ve l u n i d ad e da A CP e a l eg í t i m aau t on om i a dos M ov i m e n t os apos t ó l i co s que a i n t eg r a m » 6 6d i f i c i l m e n -te se r i a consegu ida no novo quadro ec les ia l e soc ia l .

Ass im se compreende que a 22 de Novembro de 1974 a EquipaE x e cu t i va da A C P t en ha ap r e sen t ado «o ped i do de su spe nsão das suasf un çõe s , de i x and o aos m ov i m en t o s a i n i c i a t i va de se co o r d ena r em ,caso e les s in tam necess idade d i sso , em ordem a uma rev i são de v idaque en f r en t e o s r ea i s p r ob l e m a s g l oba i s da soc i e dad e po r t ugu esa» —nos t e r m os da ca r t a ende r eçad a ao P r e s i den t e da Conf e r ênc i a E p i s -c o p a l 6 7. A t e r m i no l og i a u sada ev i denc i a um a evo l ução que se ve r i -f i co u m ar c ada m en t e de sde a déca da de c i nqu en t a : a t r an s f o r m aç ão dosorganismos e spe c i a l i z a dos da AC P em movimentos ec l e s i a i s au t ó no -m o s 6 S. Pa ra t a l con t r ibu iu a aprox imação e pos te r io r fusão en t r e osorganismos m ascu l i nos e f em i n i no s con gén e r e s , m o b i l i z ad os po rc r e scen t e s p r eo cu p açõ es so c i a is , p a r t i c u l a r m en t e nos sec t o r e s ope -rá r io e un iver s i t á r io .

4 . D i n â m i c a d a Acção Católica Portuguesa

A d i nâm i ca da Acção Católica Portuguesa não se co n f u nd e coma evo lução da sua es t ru tu ra , por mais de te rminan te que t enha s ido oseu pape l . E na a r t i cu lação da Ig re ja com a soc iedade por tuguesa e naevo lução do ca to l i c i smo que se encon t ram os p r inc ipa i s c r i t é r ios quede te rm inar am um pe rcu r so e per m i tem ava l i a r o seu im pac to . Nai m poss i b i l i dade de ana l i s a r m o s a sucessão de con j un t u r a s h i s t ó -

6 6 Ibidem, p. 56 7 C a r t a d a E q u i p a N a c i o n a l E x e c u t i v a d a A c ç ã o C a t ó l i c a P o r t u g u e s a a o

P r e s i d e n t e d a C o n f e r ê n c i a E p i s c o p a l , d a t a d a d e L i s b o a , 22 d e N o v e m b r o d e 1 9 7 4 ,R e P. 4 9 / 7 4 ( A r q u i v o d a J u n t a C e n t r a l d a A C P, Pasta 1973 /74 - Arquivo Geral).

6 8 E s t a q u e s t ã o e x i g i r i a m a i o r d e s e n v o l v i m e n t o , q u e n ã o é c o m p a t í v e l c o m ae c o n o m i a d e s t e t r a b a l h o . E x i s t e v a s t a b i b l i o g r a f i a r e l a t i v a a o e s t u d o d o a s s o c i a -t i v i s m o r e l i g i o s o a n í v e l i n t e r n a c i o n a l , d e q u e se p o d e m r e g i s t a r a l g u n s e x e m p l o s :C H O LV Y, G é r a r d — Mouvem ents de jeunesse chrétiens et juifs: Sociabilité juvé-nile dans un cadre européen 1799-1968. P a r i s : C e r f , 1 9 8 5 ; FA V A L E , A g o s t i n i ( Acura d i ) — Movim enti ecclesiali contemporane i: Dimensioni storiche teologico--spirituali ed apostoliche. Ro m a: C A S, 1 9 8 2 (2 .* ed . r ev. e au m en tad a ) .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 26/41

r i cas , cons ideremos , a t í tu lo de h ipó tese , a lgumas das p r inc id i n â m i c a s 6 9.

No quad r o do ca t o l i c i sm o so c i a l , a A CP dese nvo l v eu um co n jde in ic ia t ivas com grande impac to : as Semanas Soc ia i s no decénquaren ta ; os Congressos que se lhe segu i ram a té meados da décadc i nqu en t a ; e a s S em ana s de E s t u do sob r e dom í n i o s bem con c r e t or ea l i da de po r t ugue sa . A sequên c i a de s t a s f o r m as o rga n i za t i va s ssó por s i , um es tudo reve lador do desenvo lv imento do seu p ro jt an to a n íve l do t ipo de soc iab i l idade que po tenc iou , quan to dat en c i ona l i dade e capac i dade de p r om ove r i n i c i a t i va s com m a i om en or inc id ênc ia no t ec id o soc ia l .

As Semanas Soc ia i s — uma ide ia que nou t ros pa í ses europeumonta ao sécu lo XIX — foram apresen tadas ao pa í s como uma esde ' Un i ve r s i d ade am bu l an t e ' , a p r i m e i r a Un i ve r s i da de ca t ó l i c a t a a toda a gen te . Ti nh am p or ob je c t iv o fo rm ar «um esco l de ca tópre pa ran do -os para bem or ien ta rem e cu m pr i r em o seu dev erpos tos que na v ida c iv i l ocupam, e a f i rmam peran te as demais r en tes de pensamento e op in ião as ide ias e so luções p rá t i cas con i zadas e de f end i das pe l o s ca t ó l i co s» 7 0. Foram qua t ro as SemanasSoc ia i s r ea l i zadas em Por tuga l : o p r imei ro cur so r ea l i zou- seL isboa , em 1940 , subord inado ao t ema Aspectos fundamentais daDoutrina Social Cristã; o seg un do cur s o , r ea l i za do em Co im br a , em1943 — num momento em que o domín io de Hi t l e r sobre a Eupro voc ara n ão só a u rg ên c ia de r e f l ex ão sobre os p ro jec tos de sdad e , m as se de f i n i am j á o s f un da m en t os da o r dem m un d i a l do -guer ra — teve por t ema Bases Cristãs duma Ordem Nova; o t e rc e i rocu r so r ea l i zou - se no Por to , j á em 1949 , sobre o t em a O problema dotrabalho; f in a lm en te , em 1952 e em Bra ga , r ea l i zo u- s e o qua r tú l t i m o cu r so , subo r d i nado ao t em a O problema da educação 7 I .

6 9 A p a r t i r d a g r a n d e d i v e r s i d a d e d e i n f o r m a ç õ e s e f o n t e s h i s t ó r i c a s d in í v e i s , a p e n a s s e r e f e r e m a s m a i s r e l e v a n t e s . P a r a u m a i n f o r m a ç ã o g e r a l s o bp r i n c i p a i s i n i c i a t i v a s c a t ó l i c a s r e a l i z a d a s a o l o n g o d o s é c u l o X X : G O M EP i n h a r a n d a — Os congressos católicos em Portugal. L i s b o a : S N A L - S e c r e t a r i a d oN a c i o n a l p a r a o A p o s t o l a d o d o s L e i g o s , 1 9 8 4 .

7 0 C f . ACÇÃO Católica Portuguesa. B o l e t i m O f i c i a l , 1 9 5 4 ( 2 4 0 - 2 4 1 ) , p . 3 8 --3 9 .

7 1 C f . : S E M A N A S S o c i a i s P o r t u g u e s a s — Aspectos fundamentais da doutrinasocial cristã. L i s b o a : ed . AC P, 1 9 4 1 ; ID . — Bases cristãs duma ordem nova. C o i m -b ra : Ca sa d o Ca s te lo Ed . , 1 9 4 3 ; 1 D. — O problema do trabalho, L i s b o a . Ti p . « U n i ã o

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 27/41

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 28/41

s i n t on i a com a d i nâm i ca i n t e r nac i ona l da P ax Rom ana 7 5. Sob apres idênc ia de Adér i to Sedas Nunes e Mar ia de Lourdes P in tass ia sua r ea l i zação fo i expressão de uma nova geração de ca tó l isoc ia i s , que en tão emerg ia 7 6.

Por ú l t imo , em 1955 , r eu n iu - se o I Co ng res so da Juv en tuO perá r i a Ca tó l i ca , um a in ic ia t iv a da JO C e JO CF , para ce le bra reX Xo an ive r sá r io da sua fu nd aç ão em Por tu ga l . O eve n to deco r reu Lisboa, no Inst i tu to Super ior Técnico , onde de 12 a 16 de Abr i lr ea l i zo u um a Se m ana de Es tu do s com a pa r t i c ip açã o de 1 00 0 jotas , r epresen tando todas as d ioceses da met rópo le e das p rov ínu l t r am ar i nas , pa r a l e l am en t e à r ea l i z a ção de um a S em an a de E s t upara Ass i s t en tes ec les iás t i cos , que se r ea l i zou no Seminár io dos va i s . A in ic ia t iva t e rminou com uma concen t ração de 40 000 jovem Fá t ima . De rea lça r o f ac to do Congresso t e r t ido a par t i c ipaçãM o n s . C a r d j i n , f u n d a d o r e A s s i s t e n t e G e r al da J O C I n t e r n a c i o n7 7.A von t ade da JOC- JOCF a s sum i r a s suas r e sponsab i l i dades soc i an í ve l da edu caçã o e «de sp r o l e t a r i zaçã o» da j uv en t ud e t r aba l hadbem ass i m com o o seu en t e nd i m en t o em a f i r m ar- s e co m o «cor ep r e sen t a t i vo » dos j ov en s t r aba l had o r e s l evan t ou - l he vá r i a s dcu ldades . A Censura p ro ib iu um Jogo Cén ico , que dever ia r ea l i za

no P av i l hão dos Despo r t o s , e a s Conc l u sões do Congr e s so não ga r am a se r pu b l i cadas 7 8.

A r ea l i z ação dos sucess i vos Cong r e s sos p r ovocou f o r t e s t en sen t re a Ig re ja e o Es tado : o I I Congresso dos Homens Ca tó l i cos , v is to para 1954, nu nca che go u a rea l iza r-s e ; a lgu ns dos votoconc l u sões do Congr e s so j uc i s t a su sc i t a r am descon f i anças e

7 5 I C O N G R E S S O N A C I O N A L D A J U V E N T U D E U N I V E R S I T Á R I A

T Ó L I C A — O pensamento católico e a universidade, 2 vo ls . L isb oa : Ed . das Dir,Ge ra i s d a JU C e JU CF , 1 9 5 3 e 1 9 5 4 .

7 6 C f . F O N T E S , P a u l o — As organizações estudantis católicas e a criseacadémica de 1956-1957. In C O N G R E S S O H I S T Ó R I A D A U N I V E R S I D A D E 7.C E N T E N Á R I O — Universidade(s). História. Mem ória. Perspectivas: Actas 5C o i m b r a , 1 9 9 1 , p . 4 5 7 - 4 8 0 .

7 7 I C O N G R E S S O N A C I O N A L J O C I S TA — Manua l do Congressista. L i s -boa : 1955; ID. — Peregrinação nacional d a juventude trabalhadora a Fá tima.L i s b o a : J O C - J O C F. 1 9 5 5 ; I CONG RESSO NACIONAL DA JOC/JOCF. Lisboa-Fátima. 12/17 de Abril 1955. [ Á l b u m f o t o g r á f i c o ] L i s b o a : E d . d a s D i r. G e r a i s d aJ O C / J C O F. s . d .

7 8 C f . R O D R I G U E S , N a r c i s o — A JOC na década de 50. R e f l e x ã o C r i s t ã ,1987 , 53 , p . 51-64 .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 29/41

nece r a m nov o qua d r o de r e f e r ênc i a pa r a a r en ova ção da acção dosjovens un iver s i t á r ios ; e , a cu lminar, os inc iden tes gerados em to rno doCo ngr e s so j oc i s t a ob r i ga r am a um a i n t e r v enç ão d i r ec t a do Ca r d ea lCe r e j e i r a , q ue no seu d i scu r so na se s são de ence r r am en t o a f i r m avacom veemênc ia : « tocar em vós é f e r i - l a [ à Ig re ja ] naqu i lo que e la t emde mais ín t imo, no que e la tem de mais g lor ioso» 7 9. Sub jacen te a es t ast ensões encon t r a - se não só a a f i r m ação da au t onom i a de o rgan i zaçãodos ca tó l i cos , mas a ques tão da l eg i t imidade da sua acção e de l imi -t ação da su a e s f e r a de i n t e r venção na soc i edade po r t uguesa : ondeacaba o sóc io - re l ig ioso e começa o sóc io -po l í t i co? No in te r io r da«S i t uaçã o» po r t ug uesa su rg i a o f an t a sm a da D em ocr ac i a c r i s t ã .

Na i m p oss i b i l i dade dos Co ngr e s sos p r o s seg u i r em , su rg i r am en t ãoco m g r and e v i go r ou t r a s f o r m as de o rga n i za ção e i n t e r v enç ão daI g r e j a t a i s com o Jo r nadas , E ncon t r o s e S em anas de E s t udo , p r om o-v idas pe la Acção Católica Portuguesa: são as I e I I Jo rn ad as Ca tól i -cas de Di re i to , p romovidas pe la JUC, em 1956 e 1957 ; são os Cursosde Deo n t o l og i a Ag r onóm i ca , em 1954 , de Deon t o l og i a U l t r am ar i na ,em 1957 , 1958 , 1959 e 1960 , o rgan izados por secções loca i s da JUC;os Cursos de Soc io log ia Rura l , o Io r e a l i z ado em 1954 8 0 e o 11° em

1959 , por in ic ia t iva das secções da JUC de Agronomia ; é o Cic lo deE s t u do s M i ss i on á r i o s e U l t r am ar i no s , o rgan i za do pe l o C A D C deCoimbra em 1959 , ou a Semana de Es tudos Miss ionár ios ou de For-m ação Mi ss i oná r i a , s egu ndo t e r m i no l og i a d i ve r sa , r e a l i z adas r egu -la rmente no âmbi to da ACP, desde 1959 ; são os Encon t ros Ca tó l i cosde E s t ud os C i n em a t og r á f i c o s , r e a l i z ados anu a l m en t e de sde 1955 eque p r og r e s s i vam en t e ganh a r i am au t onom i a ; s ão a s S em anas de E s t u -dos Rurais , a Ia rea l izada em 1957 e a I Ia em 1962 8 I; é a Ia S em ana deP as t o r a l Ope r á r i a , r e a l i z ad a em F á t i m a , pe l o co n j u n t o dos organismos

operários da A CP , em 1960; é a Se m an a N ac io na l de Es tu dos do sE sco l a r e s Ca t ó l i co s , o rgan i zada pe l a L E C e L E CF em F á t i m a , em1961 ; é a S em ana Na c i ona l de E s t u dos dos Or gan i sm os I nde pen den -tes da Acção Ca tó l i ca , r ea l i zada t ambém em Fá t ima , em 1962 8 2; são

C f . S A N T O S , A . — op. cit., p. 18.8 0 J U V E N T U D E U N I V E R S I T Á R I A C AT Ó L I C A — I Curso de Sociologia

Rural: Instituto Superior de Agronom ia. 6, 8, 13, 16 de Março. L i s b o a : 1 9 5 6 .8 1 ALGUN S problemas do meio rural. G o u v e i a : G r á f i c a d e G o u v e i a , s . d .8 2 SEMANA Nacional de Estudos dos Organismos da A.C. do Meio Inde-

pendente. Fátima, de 25 a 29 de Abril de 1962. s . 1. : L o go s, 19 62 .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 30/41

as Se m an as de Es tu do da A CP e dos Ass i s t en tes Ec les iá s t i co sACP, que se sucedem a par t i r das ce lebrações do XXVo an iver sá r io ,em 1959 8 3; são o Io e I Io E ncon t r o de D i p l om ad os Ca t ó l i co s , o rga n i -zad o pe la LU C e pe la LU C F de L i s boa , em 1961 e 1963 8 4; é o Io E n -con t ro Nac iona l sobre P rob lemas da Adolescênc ia , em 1962; sãI o e I Io S impós io Nac iona l da União Ca tó l i ca dos Indus t r i a i s e Dgen tes do Traba lho , r ea l i zados em 1962 e 1963 ; e , f ina lmenteaco l h i m en t o em P o r t uga l de va r i ados Congr e s sos ca t ó l i co s de âmi n t e r nac i ona l .

Com ef e i to , a c res cen te d inâ mic a in te rn ac ion a l do ca to l i c i st eve , de um modo gera l , g rande impac to na evo lução da Acção Cl ica e da Ig re ja em Por tuga l . Esse impac to não é d i f í c i l de comprder no quadro da s i tuação per i f é r i ca da cu l tu ra e do ca to l i c i spor tugu ês . E le fo i t an to ma ior quan to se i a ve r i f i c and o um de sfas ament re a m od ern iza çã o p ro gre ss iv a da soc ied ad e e o a rc a í sm o dotema po l í t i co por tuguês , ge rando-se ass im tensões que só de mconf l i t ua l pude r am se r en f r en t adas . P ense - se no t ão f am oso «casbispo do Por to»: mais do que um caso, e le fo i expressão de ucor ren te de pensamento e acção no in te r io r da Ig re ja em Por tuga

O i m pac t o de s t a d i nâm i ca i n t e r nac i ona l da I g r e j a po de sumr iamente se r ca rac te r i zada , segundo t r ês l inhas de fo rça 8 5:

— a m u l t i p l i c ação de enco n t r o s , cong r e s sos e pe r e g r i n a çõ esâm bi to in te rnac iona l ( europ eu e m und ia l ) ve io f ac i l i t a r a c r i aç ãuma rede de con tac tos pessoa i s en t r e d i r igen tes e ass i s t en tes , a scom o a c r i ação de um a d i nâm i ca i n s t i t uc i ona l sup r a - nac i on a l i n f l ue n c i o u dec i s i vam en t e a evo l uçã o das organizações e organismosd a Acção Católica Portuguesa, pa r t i c u l a r m en t e nos sec t o r e s j uv en i se nos meios operá r io e un iver s i t á r io ;

— a r ea l i z açã o do s Co ngr e s so s M u nd i a i s pa r a o A po s t o l ado Le igos ( em 1951 , 1957 e 1967) o fe receu aos sec to res mais d inâmda Ig re ja em Por tuga l a opor tun idade de um con tac to d i r ec to

8 3 A p r i m e i r a s e m a n a d a t a e x a c t a m e n t e d o a n o d a s c e l e b r a ç õ e s . V. A C ÇC AT Ó L I C A P O RT U G U E S A — Problemas de Espiritualidade. L i s b o a : E d . L o g o s ,1960 .

8 4 A A W s . — Perspectivas cristãs do desenvolvimento económ ico. L i s b o a :D i r. G e r a i s d a L U C e L U C F , 1 9 6 3 .

8 5 O i m p a c t o d a d i n â m i c a i n t e r n a c i o n a l da I g r e j a c o n s t i t u i u m d o s e i x o si n v e s t i g a ç ã o s o b r e o q u a l c o n t i n u a m o s a t r a b a l h a r. O q u e a q u i s e a p r e s e n t a s ã oc l u s õ e s p r o v i s ó r i a s , a e x i g i r m a i o r d e s e n v o l v i m e n t o .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 31/41

ou t r a s expe r i ênc i a s de I g r e j a e com a l gum as das exp r e s sões m a i sf e c u n d a s d o p e n s a m e n t o t e o l ó g i c o c o n t e m p o r â n e o , p r o p o r c i o n a n d onovo s r e f e r enc i a i s pa r a a com pr e ens ão e ava l i aç ão c r í ti c a da r ea l i dad epo r t uguesa ;

— a d imensão de ca to l i c idade da Ig re ja , r e f l ec t ida e v ivenc iadapelas é l i tes ca tó l icas — at ravés da le i tura de l ivros e revis tas , dosco n t ac t o s p r o t agon i zados pe l a s g r andes cong r egações r e l i g i o sa s , d ad i nâm i ca d a s Organ i zaçõ es I n t e r nac i ona i s Ca t ó l i ca s , do aco l h i m en t odas r e f l exões e p ropos tas f e i t as pe los sucess ivos Papas , en t r e ou t ras— con t r i bu í r am pa r a um a ab e r t u r a da Acção Católica Portuguesa aos

g r and es d i nam i sm os da I g r e j a un i ve r sa l , com o acon t eceu na p r o -b l em á t i ca m i s s i oná r i a 8 6.

En t re as múl t ip las in ic ia t ivas que u rge inven ta r i a r e es tudar,r eg i s t e - se a in f luênc ia que , desde o in íc io , Card j in e a JOC be lga ein te rnac iona l t ive ram na ide ia de especialização segu ndo o meiosoc ia l , t a l qua l fo i cons ignado pe lo mode lo o rgan iza t ivo e pe la h i s -tó r i a da A CP . Inv er s am ente , ana l i se - s e o pap e l que a lgun s m ovi -m e n t os e ca t ó l i co s po r t u gue ses f o r am ch am ad os a de s em pen ha r nar e f e r i da d i nâ m i ca i n t e r nac i ona l , com o , po r exe m p l o , a p r e se nça daJUCF po r t ugu esa na P ax Rom ana , de que Mar i a de L ou r des P i n t a s -s i lgo fo i P res iden te In te rnac iona l , en t r e 1956 e 1958 8 7. Re f i r a - set am bém a r ea l i z açã o de a l gun s eve n t o s i n t e r na c i ona i s que t i ve r am po rpa lco Por tuga l , em par t i cu la r L i sboa e Fá t ima: o VI I Congresso In -t e r nac i ona l dos Méd i cos Ca t ó l i co s , em 1947 8 8; r eun ião do Conse lhoGera l da Union Mondiale des Oeuvres Féminines Catholiques, em1954; o VI I Congresso In te rnac iona l do Bureau International Ca-tholique de L Enfance, em 1959 ; o Co ng r e s s o I n t e r nac i ona l da s Asso -c iaç ões Pa t r ona i s Ca tó l i ca s , em 1960; a A sse m ble ia mun dia l do Mo -

v i m en t o I n t e r nac i ona l de E s t udan t e s Ca t ó l i co s — Pax Romana, em196 0 ; a XVI I I Con f e r ênc i a I n t e r nac i ona l de E scu t i sm o , em 1961 ; o ua i nda , o VI I Co ng r e s so I n t e r nac i ona l de F a r m acê u t i co s Ca t ó l i co s ,em 1963.

8 6 C f . F O N T E S , P a u l o — A A c ç ã o C a t ó l i c a P o r t u g u e s a e a problemáticamissionária ...

C f . U N D , Vo n U r s A l t e r m a t t ; S U G R A N Y E S D E F R A N C E , R a y m o n d —Pax Rom ana. 1921-1981. Fondation et développem ent. F r i b o u rg : E d . U n i v e r s i -

ta i res , 1981 .8 8 ACTAS DO 111 CONGRESSO INTERNACIONAL DOS MÉDICOS CATÓ-LICOS EM LISBOA (PORTUG AL). A cç ão M éd ica . 1 9 4 7 , 1 2 (4 5 a 4 8 ) .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 32/41

A n í ve l dos m em br os da ACP, ve r i f i c a - se um c r e scendo con t í naté 1956. Os dados d isponíveis revelam que ent re 1940 e 1956, o m er o d e a s soc i a dos dup l i cou , u l t r apa ssan do a cen t ena de m i l ha r 8 9.Em 1959 , da ta das ce le bra çõ es do X X V an iver sá r io , ve r i f i c a - s e j á l ige i r a quebra dos seus e fec t ivos , con tando 94 885 assoc iados . ou t ro lado , a ob ser va ção dos núm ero s d i spo n íve i s r eve la t am bém dcons tan tes s ign i f i ca t ivas : a maior ia dos assoc iados da ACP são sexo f em i n i no — co ns t an t e a f i na l do ca t o l i c i sm o po r t uguês con tporâneo , quando se t r a t a de ava l i a r o envo lv imento pessoa l dos cl icos na v ida da Igre ja ; em segundo lugar, as organizações juv en i s sãoaque las que con tam maior número de assoc iados , pa ra o per íore fe r ido . A aná l i se da evo lução da curva dos assoc iados , da sua t r ibu içã o pe las vár i as d ioc eses do pa í s , a ss im com o dos ind icad oreadesão por g rupos ( segundo os c r i t é r ios e t á r ios , de sexo e p rof i ssnecess i t a se r r ea l i zada de modo s i s t emát ico .

No en ta n to , a pa r dos nú m ero s , há que r e fe r i r um a m uda nça ql i t a t iva na def in ição de per t ença à Ig re ja ca tó l i ca . Conjugadamecom o bap t i smo e a par t i c ipação mais ou menos r egu la r na v ida c r am en t a l da I g r e j a ( com a co r r e spo nde n t e poss i b i l i dade de qut i f i cação de missa l i zan tes ou de ce lebração de mat r imónios ca tó l ien t r e ou t ros ind icad ore s) a Ac çã o Ca tó l i ca con t r ib u iu para impoassoc ia t iv i smo sóc io - re l ig ioso como um novo c r i t é r io na ava l i açãon íve i s de iden t i f i cação e per t ença r e la t ivamente à Ig re ja ca tó l i ca 9 0.Por ou t ro l ado , a es t ru tu ra o rga n iz a t iv a , a s m etod o lo g ia s de t r abadese n v o l v i d as e a d i nâm i ca pa r t i c i pa t i va ge r ada pe l a Ac ção Cal ica , con t r i b u í r am d ec i s i vam en t e pa r a o apa r ec i m en t o de um nt ipo de cr i s tão: o militante católico.

5 . P r i n c i p a i s e t a p a s n a v i d a d a A C P

Num a pe r sp ec t i va g l oba l de de senvo l v i m en t o , podem co ns ir a r- se qua t ro g ran des e tapas na h i s tó r i a da A CP . A pr im ei ra

8 , 1 O s d a d o s a q u i r e f e r i d o s e n c o n t r a m - s e n a s e d i ç õ e s d o Anuário Católico dePortugal ( an o s d e 1 9 3 1 , 1 9 3 3 , 1 9 4 1 , 1 9 4 7 , 1 9 5 3 e 1 9 5 7 ) e f o r am co m p i l ad o s R E Z O L A , I n á c i a , op. cit., p . 2 3 8 . Pa r a o an o ju b i l a r d e 1 9 5 9 , ex i s t e u m ex c e le n tee s t u d o d e FA L C Ã O , M . F. — Expansão da A. C. Portuguesa nas diversas diocesese sectores sociais. Bo le t im d e In fo rm aç ão Pa s to r a l , 1 9 5 9 , 1 ( 5 ) , p . 1 6 -2 2 .

C f . A N T U N E S , M . L . M a r i n h o — Notas sobre a organização e meios deintervenção da Igreja católica em Portugal: 1950-80. An á l i se So c ia l . 1 9 8 2 , 7 2 -7 4 ,p . 1 4 1 -11 6 4 .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 33/41

cor re da fundação à r ea l i zação da I Decena l da Acção Ca tó l i ca , em1944 , e co r r e spo nde ao l an çam en t o e i m p l an t aç ão da nova o rgan i -

zação de apos t o l ado 9 1. A f o r m ação do cristão integral é a r e f e rê nc iacen t ra l no p ro jec to de c r i s t i an ização da f amí l i a 9 2, da prof issão e dav ida púb l i ca . A n íve l dou t r ina l , e s t a e t apa é marcada pe la conde-nação do to ta l i t a r i smo, pe la a f i rmação de uma v i são c r i s t ã do cor-po r a t i v i sm o e pe l a p r ocu r a de um a nova o r d em soc i a l , no m e ada -mente pe la p reparação da paz .

A segu nda e tap a , qu e en tão se in ic ia , cu lm ina com a ce leb raç ão doXXV an i ve r sá r i o da ACP, em 1958 / 1959 9 3. Do ponto de v is ta da dou-t r ina soc ia l , co loca- se a tón ica na necess idade de r e fo rma das ins t i -tu ições e p r om ov em -se in ic ia t iva s (os inq uér i tos , os co ng res sos , a ssem anas de e s t udo ) com g r ande r epe r cussão na soc i edade . P a r a l e -l am ent e , do pon to de v i s t a o rg an iza t iv o , aum enta a im po r tân c ia dop r i nc í p i o de e spec i a l i z ação segundo o m e i o soc i a l9 4 . Os impasses do

A p a r d a o b r a d e M o n s . Av e l i n o G o n ç a l v e s , j á r e f e r i d a , c f . p u b l i c a ç õ e s d aP R I M E I R A D E C E N A L D A A C Ç Ã O C A T Ó L I C A P O R T U G U E S A : v o l. I - CristãoIntegral. Co im b ra : 1 9 4 6 ; v o l . I I - Apóstolos dos nossos dias. Co im b ra : 1 9 4 6 ; v o l . I I I- Os problemas sociais à luz da fé. C o i m b r a : C a s a d o C a s t e l o E d . , 1 9 5 2 .

n N o d o m í n i o d a f a m í l i a , r e f i r a - s e o p l a n o d e d e f e s a d a f a m í l i a e m 1 9 3 6 , q u el e v o u à f u n d a ç ã o d a Associação dos Chefes de Família e à Campanha da Família, n oa n o s o c i a l d e 1 9 3 8 - 1 9 3 9 , q u e m o b i l i z o u n u m e r o s o s m e i o s e i m p l i c o u d i v e r s a s r e a -l i zaçõ es em to d o o p a í s .

C f . Carta pastoral do Episcopado Português e Mensagem do Papa. E s t u -d o s , 1 95 9 , 3 7 3 e 3 7 6 , p . 3 - 1 2 e 1 9 5 - 1 9 6 ; S E M A N A N A C I O N A L D E E S T U D O S D AA C Ç Ã O C AT Ó L IC A P O R T U G U E S A — Esquem as das sessões parciais e elementosbibliográficos. L i sb o a : Tip . U n i ão G rá f i ca , s . d . ; ID . — XXV Aniversário da ACP.Resultados dos inquéritos (apuramento provisório). Ca sca i s : Tip . Ca rd i m , s . d . Dab i b l i o g r a f i a d i s p o n í v e l , r e g i s t e - s e : G O M E S , J o a q u i m F e r r e i r a — op. cit.-, 2 5 A N O S

D A A C Ç Ã O C A T Ó L I C A P O R T U G U E S A . N ú m e r o e s p e c ia l d a R e v i s t a NovellaeOlivarum. 195 9 , 16 (16 3) .9 4 A e s t e p r o p ó s i t o , r e g i s t e - s e a o p i n i ã o a u t o r i z a d a d o e n t ã o P e. M a n u e l F r a n -

c o F a l c ã o , n u m a r t i g o d e 1 9 6 0 : « É p a r t i c u l a r m e n t e d i f í c i l d e c o m p r e e n d e r t o d o os e n t i d o e i m p o r t â n c i a d o a p o s t o l a d o d o m e i o , e s p e c í f i c o d a A . C . e s p e c i a l i z a d a . S óp o d e r á se r c o m p r e e n d i d a n a m e d i d a e m q u e s e t i v e r n o ç ã o e x a c t a da p r e o c u p a ç ã od o m i n a n t e d a I g r e j a n e s t e m o m e n t o h i s t ó r i c o e m q u e u m m u n d o n o v o e s t á a s u rg i r :a d e e s t a r p r e s e n t e a o r á p i d o e v o l u i r d a s v e l h a s i n s t i t u i ç õ e s s o c i a i s o u d o a p a r e c i -m e n t o d e n o v a s , p a r a q u e a c i v i l i z a ç ã o f u t u r a v e n h a a e s t r u t u r a r - s e e m m o l d e sc r i s t ã o s ; e s s a p r e s e n ç a r e a l i z a - a a I g r e j a p r i n c i p a l m e n t e p e l a A . C . e s p e c i a l i z a d a , aq u e m c o n f i o u o d i f í c i l e n c a rg o d e t r a n s f o r m a r n u m s e n t i d o c r i s t ã o a m e n t a l i d a d ec o l e c t i v a d o s d i v e r s o s m e i o s , d e c r i s t i a n i z a r a s e s t r u t u r a s e a s i n f l u ê n c i a s e d ef o r m a r l e i g o s q u e v e n h a m a a n u n c i a r , c o m p l e n a c o n s c i ê n c i a d a s s u a s r e s p o n -

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 34/41

ca to l i c i smo soc ia l r eve lam-se na c rescen te t ensão e conf l i tos quever i f i cam en t re ce r tos sec to res ca tó l i cos e o r eg ime po l í t i co v ige

v i s íve l a pa r t i r de meados da década de c inquen ta 9 5.As ce l eb r açõ es do j ub i l eu pe r m i t i r am ex p r e s sa r a l gum as d

p r eocupações que v i nham em erg i ndo no i n t e r i o r do ca t o l i c i spo r t ugu ês : « o m agno p r ob l em a da evange l i zação da Áf r i ca» e , cc re tamente , a s i tuação do Ul t r amar por tuguês é ob jec to de um s im pó s ios que se r ea l i zam du ran te a a Se m an a N ac io na l de E s tudo ou t ro é ded icado ao t ema «O apos to lado da Ig re ja na per spec t ivevo l ução da soc i edade po r t uguesa» . As conc l u sões do even t o r et am a l gum as des sa s evo l uções e suas consequênc i a s pa r a o s d i ve r

sec t o r e s da o rgan i zação 9 6: a s mudanças nos p rocessos fo rmat ivos daj uven t ude que d e i xa r am de se r i n f l uenc i ados exc l u s i vam en t e pees t ru tu ra s t r ad ic iona i s ( f am í l i a e esc o la ) ; a nec ess ida de u rgen tepre pa raç ão para um a pres enç a e ac tua çã o c r i s t ã da m ulhe r no m ua im por tân c ia da ac t iv idad e p rof i ss io na l e a ne ce ss id ad e de um a

s a b i l i d a d e s c r i s t ã s , o s m a i s d i v e r s o s e n c a rg o s d a v i d a p ú b l i c a ( . . . ) . F a z ê - l o cp r e e n d e r é d o s m a i s d i f í c e i s p r o b l e m a s q u e a A . C . d e v e p r o c u r a r r e s o l v e r. » (P r o -blemas actuais da Acção Católica Portuguesa. B o l e t i m d e I n f o r m a ç ã o P a s t o r a l .1960 , 2 (7 ) , p . 12-1 3) .

9 5 A e v o l u ç ã o q u e e n t ã o s e v e r i f i c a g a n h a e x p r e s s ã o p ú b l i c a n a s t o m a d a sp o s i ç ã o d e d e s t a c a d o s m i l i t a n t e s c a t ó l i c o s , e n t r e o s q u a i s d i r i g e n t e s o u e x - d i r i gd a A .C.P. , em to rn o d as e l e i çõ es l eg i s l a t iv a s d e 1 9 5 7 e p r e s id en c ia i s d e 1 9 5 8 . Om e i r o d o c u m e n t o , d a t a d o d e 1 9 5 9 , é u m a c a r ta s u b s c r i t a p o r 2 8 c a t ó l i c o s , i n c l ud i r ig en te s d a JOC e d a JUC, d i r ig id a ao d i á r io ca tó l i co Novidades, p r o t e s t a n d o c o n t r aa p a r c i a l i d a d e d o j o r n a l e m f a c e d a s e l e i ç õ e s p r e s i d e n c i a i s . E m F e v e r e i r o d e 1j á d e p o i s d a f a m o s a c a r t a d o b i s p o d o P o r to , s u rg e n o v o d o c u m e n t o d e c a r á c t e r d o u t r in a l , su b sc r i to p o r 4 3 ca tó l i co s so b re « As r e l açõ es en t r e a I g r e j a e o Es t aa l i b e rd a d e d o s ca t ó l i c o s» , a p ro p ó s i to d a acu saç ão q u e Sa laz a r f i ze r a à I g r e j a d

r o m p i d o a « f r e n t e n a c i o n a l » . E m 1 d e M a r ç o d e 1 9 5 9 s u rg e n o v o d o c u m e n t o , v ez , n u m a « C ar t a a Sa l aza r so b re o s se rv iço s d e r ep re ss ão d o r eg im e» , su b sc r i t a4 5 « c i d a d ã o s c r i s t ã o s » . ( D o c u m e n t o s c o l i g i d o s i n A L V E S , J o s é d a F e l i c i d a d e e A p r e s e n t a ç ã o ) — Católicos e política: De Hum berto Delgado a Marcelo Caetano2 .* ed içã o . L i sbo a : Tip . Lea nd ro , s. d . ) .

S o b r e e s t a q u e s t ã o , M . B r a g a d a C r u z r e f e r e o d e s e n v o l v i m e n t o d e u« l i n h a c a t ó l i c o - d e m o c r á t i c a » d e o p o s i ç ã o a o s a l a z a r i s m o , e m q u e i n c l u i o s cl i co s so c ia i s d o s an o s 5 0 : « In ic i a lm en te m a i s democratas-cristãos, a c a b a r i a mp o r é m p o r p r e v a l e c e r n e s t e s e c t o r , n o s f i n a i s d o r e g i m e , a s p e r s p e c t i v a s s o c itas .» ( In Monárquicos e Republicanos no Estado Novo . L i s b o a : P u b . D . Q u i x o t e ,1 9 8 6 , p . 1 7 7 -1 8 0 ) .

9 6 D eclaração final da Semana Nacional de Estudos. A c ç ã o C a t ó l i c a P o r -t u g u e s a . B o l e t i m O f i c i a l . 1 9 5 9 , 2 9 8 , p. 3 1 8 - 3 2 0 .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 35/41

ção c r i s t i an i zado r a dos cen t r o s de i n f l uênc i a da soc i edade ; o r eco -nhec imento do pape l r e l evan te que os t empos l iv res t êm na r ea l i zação

da pes soa e que o s m o de r n os m e i os de co m un i ca çã o soc ia l d e sem -penham na v i da soc i a l , ap r e sen t ados com o desa f i o s à e l abo r ação ed i fu sã o de um a cu l t u ra c r i s t ã .

A t e rce i r a e t apa decor re sob o s igno da p reparação e r ea l i zaçãodo Conc í l i o Va t i can o I I , num con t ex t o de p r o f unda m u t ação r e l i -g i o sa . O b l o qu ea m en t o da ev o l uç ão po l í ti c a na soc i e dad e po r t u gue saco n t r i bu i u pa r a d i f i cu l t a r a r ed e f i n i ç ão da AC P, condu z i nd o p r o -gress ivamente a nova rup tu ra no p ro jec to de un ião dos ca tó l i cos . Ast ensões e con f l i t o s , qu e se ve r i f i c a vam i n t e r n am en t e , ga nha r am ex -

p r e s sã o púb l i ca , ve r i f i c a nd o - se a p r eva l ênc i a da co m pon en t e nac i o -na l i s t a d o ca t o l i c i sm o po r t uguês .

A h i s tó r i a de D. Antón io Fer re i r a Gomes , b i spo do Por to , é em-b lemát ica de vár ios pon tos de v i s t a : em pr imei ro lugar, a sua r e f l e -x ã o e p o s i c i o n a m e n t o p o l í t ic o — e x p r e s s o n o m e a d a m e n t e n u m acar ta a Salazar a 13 de Julho de 1958 9 7 — , f o r a m d e s e n v o l v i d o s n asua con d i çã o de m em br o da h i e r a r qu i a ca t ó l ic a e a l i c e r çav am - se que rna dou t r ina soc ia l da Ig re ja qu er no seu t r ab a lho pas to ra l ; em seg un dolugar, a sua in ic ia t iva não era um acto i so lado, mas deve ser conside-rada co m o a ex pre ssã o púb l i c a de ce r t a co r ren te do ca to l i c i sm osoc i a l que gen e r i c am en t e pode se r de s i gn ada de dem ocr a t a - c r i s t ã ; po rú l t im o , o jog o de acç õe s e om issõ es que se es tab e lec eu no in te r io r daIgr e ja re l a t i va m en te à s i tu aç ão de ex í l io a qu e o b isp o do Po r to se v iuf o r çado , ev i denc i a a s f r ag i l i d ades de s sa m esm a co r r en t e e o pe so daco m ponen t e nac i ona l i s t a no i n t e r i o r do ca t o l i c i sm o po r t uguês 9 8. Parae s sa evo l uçã o te r á con t r i bu í d o dec i s i va m en t e o ec l od i r da gue r r aco l on i a l em Af r i ca .

Por ou t ro l ado , a d iver s i f i cação de fo rmas e o rgan izações de apos-to lado dos l e igos é v i s íve l no aparec imento de novas assoc iações ca -tó l i cas em Por tuga l : os Curs i lhos de Cr i s t andade , o Graa l , o Movi -m en t o po r um Mundo Me l ho r ou o s m ov i m en t os de ca sa i s , s ãoe x e m p l o d i s s o m e s m o . C o m p l e m e n t a r m e n t e , v e r i f i c a - s e a a f i r m a -

C i t . i n A LV ES , J . d a Fe l i c id a d e — op. cit., p . 3 1 - 6 4 .9 8 A h i s t ó r i a d e to d o o p ro ces so n ão fo i a in d a e sc r i t a , p e l o q u e t e r em o s q u e n o s

a t e r a o s t e s t e m u n h o s p e s s o a i s e à v i s ã o g e r a l d a é p o c a . D . A n t ó n i o F e r r e i r a G o m e sn a r r o u a v e r s ã o p e s s o a l d o s a c o n t e c i m e n t o s n a s u a ú l t i m a o b r a : Cartas ao Papa.P o r t o : F i g u e i r i n h a s , [ 1 9 8 7 ] , p . 2 0 3 - 2 1 6 .

9 9 C f . S E C R E T A R I A D O N A C I O N A L D O A P O S T O L A D O D O S L E I G O S —

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 36/41

ção e au ton om ia de in ic ia t iva de ca tó l i c os que , ind iv id ua lm en tnessa cond ição , tom am pos içã o púb l i ca e in te rv êm nos ma is var i a

cam pos da soc i edade , o rgan i zando e p r om ovendo i n i c i a t i va s : o Ct ro de Cul tu ra Operá r io (1963) , a pub l i cação da r ev i s t a O Tempo e oModo ( 1963 ) , o l ançam en t o da P r ag m a - Co ope r a t i va de D i f u são Ctura l e Acção Comuni tá r i a (1964) são expressões dessa mudançaa t i tude . En t re as pos ições púb l i cas , r eg i s t em-se duas : o p ro tes tocerca de duas cen tenas de in te lec tua i s ca tó l i cos e mi l i t an tes da ACa tó l i ca con t ra a a t i tude de Sa laz ar r e l a t iv am en te à v iag em de PVI a Bo m ba im , em 1964 l 0° ; ou a ind a na m esm a oca siã o , a Ca r ta d i r i -g ida à Conferênc ia dos b i spos por tugueses , subscr i t a por 97 d

gen tes e ex-d i r igen tes da ACP, em Jane i ro de 1965 1 0 1.A quar ta e ú l t im a e tapa in ic ia - se em 1965 e co r res po nd e à r e

f in ição do pape l da ACP, que es teve na o r igem e ap l i cação dos noPr inc íp ios Gera i s de 1971 . A a tenção à r ea l idade soc ia l — apo ina nova teologia dos «sinais dos tempos» e nos cr i tér ios de le i tp ropos tos pe lo magis té r io pon t i f í c io de João XXII I e Pau lo VIt r aduz- se na aná l i se c r í t i ca , necessa r i amente mais «po l i t i zada» ,soc i e dad e po r t ug uesa . A r e f l ex ão sob r e o sen t i do da so l i da r i eda deape lo a um a «re fo rm a da soc ieda de» , a p ro pó s i to da «gr ave s i tuacr i ada pe lo g rande t em pora l que asso lou a r eg ião de L i sb oa» , 1967 , cons t i tu i um bom exemplo 1 0 2.

P o r ou t r o l ado , o ap r o f undam en t o da r e f l exão t eo l óg i ca e s t i mlou a d i f e renc iação de n íve i s de in te rvenção da Ig re ja e dos ca tó lna soc iedade , conduz indo à va lo r i zação da ide ia de c idadan ia p rogress iva ace i t ação do p lu ra l i smo no in te r io r do ca to l i c i smopub l i cação da Carta pastoral no décimo aniversário da «Pacem inTerris», pe l a Co n f e r ên c i a E p i scop a l , em 1973 l 0 \ conf i rma essaevo l ução .

Duran te es te per íodo ev idenc ia - se , mai s uma vez , a impor tânque a d inâmica in te rnac iona l da Ig re ja t eve na r ecompos ição

Perfil dos movim entos e obras d o apostolado dos leigos em Portugal. C a s c a i s :Ti p . C a r d i m , s . d . C o l e c ç ã o « S e p a r a t a s L a y k o s » , I .

1 0 , 1 C f . C E R Q U E I R A , S i l a s — op. cit., p . 4 8 9 .1 0 1 I n A LV E S , J . d a F e l i c i d a d e — op. cit., p . 2 8 7 -2 9 7 .1 0 2 I n Bo le t im Acção Católica Portuguesa. 1968 , 36 8 . p . 66 -6 9 .» C O N F E R Ê N C I A E P I S C O PA L D A M E T R Ó P O L E — Carta pastoral no

décimo aniversário da «Pacem in Terris». L i s b o a : E d . d o S e c r e t a r i a d o G e r a l d oEp i sco p ad o , M a io d e 1 9 7 3 .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 37/41

ca t o l i c i sm o , t an t o no que se r e f e r e à p r o b l em á t i ca m i s s i oná r i a , qua n t ono que se p rende com o en tend imento do lugar dos l e igos e o pape l da

Acção Ca tó l i ca , em gera l . A t í tu lo de exemplo , r eg i s t e - se o impac toque as r e f l exões do I I I Congresso Mundia l pa ra o Apos to lado dosLeigos (1967) t ive ram nos d iver sos sec to res da op in ião púb l i ca ca tó -l i ca , ge ran do a po lém ica púb l i ca da Jun ta Cen t ra l da A C P com oj o r n a l Novidades e com o r esp on sáv e l por um pro gra m a re l ig ioso naEmissora Nac iona l , o Pe . Vide i r a P i r es 1 0 4.

A desag r egação da ACP com o co r po o rgân i co , em 1974 , exp l i ca -- se não t an to pe lo novo quadro po l í t i co , quan to pe la imposs ib i l idaded e r e f o r m u l a ç ã o d a Acção Católica Portuguesa num con t ex t o r e l i -

g ioso e quadro pas to ra l d iver so daque le que lhe dera o r igem. Nasc idasob o s igno da «un ião» ca tó l i ca , a ACP não sobrev ive ao p lu ra l i smore l ig ioso , cu l tu ra l e po l í t i co da soc iedade por tuguesa que e la a judaraa f o r j a r. Desde en t ão con t i n ua r am a ex i s t i r organismos ou movimen-tos ca t ó l i co s na t r ad i ção da A cçã o Ca t ó l i ca , m as o pa r a d i gm a apos -tó l i co que e la consubs tanc iou , esse perdura apenas pe la h i s tó r i a l 0 5.

A l g u m a s c o n c l u s õ e s

Ret om ando i de i a s de senvo l v i das ou suge r i da s ao l ongo do t r a -ba lho , cab e aqu i , em je i to de co nc lus ão , apres en ta r a lgum as h ipó-teses in te rp re ta t ivas r e la t ivas ao pape l da ACP na evo lução do ca to -l i c is m o c o n t e m p o r â n e o . E s q u e m a t i c a m e n t e , e n u n c i a m o - l a s s e g u n d ose t e a f i r m ações :

I o ) a h i s tó r i a da A CP , par t e in te gra n te do «m ov im en to ca tó l i co» ,é r eve ladora da evo lução e a jus te do p ro jec to pas to ra l da Ig re ja na suaes t r a t ég i a de « r econqu i s t a c r i s t ã» da soc i edade m ode r na , a s s i m com oum dos p r inc ipa i s pó los de t ensão nessa r e lação ;

1 0 4 C f . B o l e t i m Acção Católica Portuguesa. 1 9 6 8 , 3 6 8 , p . 4 4 -6 3 e 7 0 - 7 7 .1 0 5 E m A b r i l d e 1 9 7 8 , e m r e u n i ã o d a C o n f e r ê n c i a E p i s c o p a l P o r t u g u e s a , o s

b i s p o s a p e n a s r e c o n h e c e r a m , c o m o A c ç ã o C a t ó l i c a , o s s e g u i n t e s m o v i m e n t o s :J U C — J u v e n t u d e U n i v e r s i t á r i a C a t ó l i c a ; L U C — L i g a U n i v e r s i t á r i a C a t ó l i c a ;M E C — M o v i m e n t o d o s E d u c a d o r e s C a t ó l i c o s . À J O C f o i n e g a d a a p o s s i b i l i d a d e d eu t i l i z a r t a l d e s i g n a ç ã o e p a r a o s o u t r o s m o v i m e n t o s e x i s t e n t e s ( J A C , J E C e L O C )f o i e s t a b e l e c i d o n o v o p e r í o d o d e d i á l o g o , d a d o s e c o n s i d e r a r q u e o s s e u s e s t a t u t o s

e p r á t i c a n ã o c o r r e s p o n d i a m i n t e g r a l m e n t e a o s r e q u i s i to s f i x a d o s p e l a C o n f e r ê n c i aE p i s c o p a l .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 38/41

2° ) s imul taneamente , pe lo lugar cen t ra l que ocupou na acpas t o r a l , a A C P f un c i on ou com o age n t e e ca t a l i s ado r de m u dan ça

se io da Ig re ja ca tó l i ca , to rnando-se em ob jec to de conf l i tuos idin te rna ao ca to l i c i smo;

3 o ) nes te p roce sso , a A C P é ex pre ssã o da em erg ên c ia nã o da jin ic ia t iva dos l e igos , mas do moderno «apos to lado dos l e igos» , sum a das suas p r i nc i pa i s f o r m as de conc r e t i z ação a t é ao ConcVat icano I I ;

4 o ) a d i v e r s i f i c aç ão na d i nâ m i ca do ap os t o l ado l a i ca l e a csequen t e r e f l exão t eo l óg i ca — v i s í ve l na m udança concep t ua l q

passagem t e r m i no l óg i ca de « f i e l » a « l e i go» ev i denc i a — aca r rd i f i cu l dades e r eno vadas t en sões , nom eadam en t e no que se r e f eco m pr e ens ão da t eo l og i a do «m and a t o» ;

5 o ) ao p r ocu r a r com ba t e r m u i t a s da s r ea l i z ações e concepçõesm und o m ode r no , a A CP con t r i bu i u pa r a dox a l , m a s i ne xo r ave l mpa r a po t enc i a r novas d i nâm i cas e com por t am en t os no i n t e r i o rc a t o l i c i s m o , f u n c i o n a n d o c o m o in s t â n c i a d e aggiornamento da Igre-j a em Por tuga l ;

6 o ) ao a f i rmar «a acção» como uma das p r inc ipa i s mediações a p r e sença evange l i zado r a da I g r e j a no p r ocesso de secu l a r i zaçãcur so na soc iedade , a ACP con t r ibu iu para r ecupera r e va lo r i za r t ivamente , no in te r io r do ca to l i c i smo, ce r t as fo rmas de l a i c idade

7 o ) pe l o t r aba l h o desenvo l v i do , a ACP f om en t ou o apa r ec i m ede uma nova d inâmica assoc ia t iva no in te r io r do ca to l i c i smo e , tpe la in ic ia t iva ins t i tuc iona l quan to pe lo envo lv imento pessoa l s eus m em br os , con t r i bu i u pa r a a génese de a l guns dos «m o v i m es o c i a i s » c o n t e m p o r â n e o s .

Para uma ava l i ação da Acção Católica Portuguesa e um a aná l i seh i s tó r i ca do seu pape l , u rge es tudar de ta lhadamente as mudançasua o rgân ica ; es t abe lecer as curvas de evo lução dos seus e fec t ia l a rga r a c r on o l og i a dos even t o s que p r o t ag on i z ou ; de t e r m i n a r,s u c e s s i v a s c o n j u n t u r a s , o m o d o c o m o m a r c o u a c o n t e c i m e n t oin f luenc iou a v ida da Ig re ja e a r e l ação des ta com a soc iedadegera l . Mas a inda ass im es ta remos den t ro de um quadro ins t i tuc inecessa r i am en t e r edu t o r.

Pe la na tu reza e t ipo de t r aba lho desenvo lv ido , a ACP fo i uverdade i ra esco la de pensamento e acção de novas é l i t e s ca tó l i

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 39/41

l e igos e ec le s iás t i c os , jo ve ns e adu l tos , hom en s e m ulh er es de d ive r so sm e i os sóc i o - p r o f i s s i on a i s , ne l a s e i n i c i a r a m na «m i l i t ânc i a ca t ó l i c a»

ao l on go de sucess i va s ge r ações . P e l a pe r spec t i va de « f o r m açãoi n t eg r a l » dos seus m em br os , pe l a r enovada d i nâm i ca de i n t e r acção daIgre ja com «o mundo» , pe las suas p ropos tas nos var i ados campos deorgan ização da v ida , a Acção Ca tó l i ca fo i uma fo rça soc ia l incon tes -t áve l e as suas in ic ia t ivas t ive ram impac to para a lém das suas f ron-te i r as . Pe lo sua cen t ra l idade na es t ru tu ra da Ig re ja , e s t a o rgan izaçãodo apo s t o l ad o f un c i o no u co m o l abo r a t ó r i o de i no vaç ão ec l e s i a l ,no m ea da m en te aos n íve i s t eo ló g ico , l i tú rg ic o e pas to ra l . Pe la su ad i nâ m i c a , a Ac ção Ca t ó l i ca p r epa r o u m u i t a s da s r e f l ex ões e an t ec i po u

a l gum as das p r opos t a s do Co nc í l i o E cum én i co Va t i cano I I .E se a ide ia de «cr i se» a t r av esso u e ac om pa nh ou a A C P pra t i -

ca m en t e de sde o s s eus p r i m ór d i o s , f o i po r que m u i t o te r á c on t r i bu í d opa r a e s sa r enov ada co m pr e en são e r e l açã o da I g r e j a com o m und om ode r no . A h i s t ó r i a da s r ea l i z ações , d i f i cu l dades e i m passe s daAcção Católica Portuguesa é , em m ui to , a h is tór ia da Ig re ja em Po r-tuga l e ex pre ssa , em cer t a m ed ida , a h i s tó r i a dos ava nço s e im pa sse sda soc iedade por tuguesa ao longo do meio sécu lo da sua ex i s t ênc ia .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 40/41

V n

a

GR

C

D

OR

A

Z

D

ACP•

JUNTA CEN

T

AL

DA

ACÇÃO CAT

ÓLCA

JUNTA DIOCE

ANA

DA

ACÇÃO CAT

ÓLCA

JUNTA PARO

QUIAL

DA

ACÇÃO CAT

ÓLCA

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

http://slidepdf.com/reader/full/a-accao-catolica-portuguesa-1933-1974-e-a-presenca-da-igreja-na-sociedade 41/41

E r r a t a

das notas das págs. 68 e 69:

- Deve sup r i m i r - se o núm er o 2 7 , devendo o t ex to emcausa en tender- se como con t inuação da no ta 26 .

-Onde se lê nota 2 8 deve passar e ler-se nota 27.

- Deve ac r e scen t a r - se a no t a 28 : C f . APOSTOLADOdos leigos e acção católica, L i sb oa : Lo gos . p . 79-8 4 .