A Agricultura e a Globalização: Desafios e Perspectivas
Uma abordagem a partir de Milton Santos
Coletivo Casa Verde
Histórico da Agricultura
• 11.000 a 8.000 a.C.: Domínio da palavra, da escrita e do fogo. Surgimento da idéia de plantar sementes para o uso de seus frutos já conhecidos.
• Aprimoramento e domesticação de sementes e animais: o homem se torna sedentário, surgindo os primeiros sistemas de agriculturas.
Cultura – do latim colere: Culto, cultura
Agri + cultura = cultura do campo
Aqui a agricultura estava ligado a segurança alimentar, sem relação com a atual visão mercantilista.
• Expansão Marítima: o avanço do capitalismo, procura por novas terras e expansão do catolicismo. Inicialmente para o Oriente.
• 1492: avanço sobre o Ocidente: Colonialismo e Implantação da Moderno Colonialidade (Porto Gonçalves, 2006) – 1º período da globalização.
• Novo modelo de agricultura (Plantation): Monocultura, latifúndio, exportação, mão-de-obra africana ou indígena (escravidão).
• A agricultura não mais voltada para a produção de alimento, mas para obtenção do capital: racionalidade capitalista mercantilista.
• Revolução Industrial, séc. XVIII: Capitalismo Fossilista Imperialista (CWPG,2006): busca por novos combustíveis, mercado consumidor.
• Duas Grandes Guerras: economias em crise e fome.
Imagem: agricultura pré-histórica (domesticação das espécies)
A Análise do Discurso: Uma abordagem a partir de
Milton Santos
A globalização da Agricultura como Fábula
• Revolução Verde: década 60/70.• Discurso da produção de alimentos em grande escala,
de forma padronizada, mundializada e industrializada.• Utilização de técnicas desenvolvidas nos períodos de
guerras: herbicidas, corretivos químicos, agrotóxicos, hormônios, fungicidas e maquinários.
• Crescimento do rendimento por hectare: desenvolvidos meios de produção, transnacionais e sua produção descentralizada.
• Facilidade para consumo a nível global e de forma rápida.
• Desenvolvimento das ciências agrárias: pacotes verdes.
“A produção dos 15 principais produtos cultivados no Brasil cresceu 16,8% entre 1964 e 1979”
Maquinário Agrícola
A globalização da Agricultura como Perversidade
(tal como ela é)
• Termo Revolução Verde: criado para contrapor a agricultura da idéia comunista. Verde subentendido como questão ambiental.
• Padronização dos meios de produção e universalização das técnicas: necessidade de consumo na Europa e não no resto do mundo. O problema europeu foi territorializado para países “subdesenvolvidos” sob discurso da agricultura moderna.
• Armas Químicas, como o Agente Laranja, com efeitos tóxicos sobre vegetações: hoje é utilizado com o nome Roundup.
• Troca Unilateral - os avanços tecnológicos da indústria à agricultura: Os agricultores não se tornam empresários, mas os empresários se convertem em latifundiários.
ROUNDUP
Empresas agrícolas
• Agricultores endividados pelas aquisições dos pacotes verdes: venda de suas terras, expulsão pela lógica do capital, mão-de-obra para o Agronegócio.
• Processo da industrialização globalizada da agricultura: a terra transformada em mercadoria. Divisão Internacional do Trabalho ao campo, mais-valia mundializada, indústrias no espaço agrário.
• Agroindústria: aplicação de capital de diversos setores industriais, competitiva, alta lucratividade, inserida na economia de mercado, consumo de massa globalizado.
Monocultura
Outdoor em Aracruz. 2006 (Conflito no campo)
Variação da produção no campo 1990 - 2007
1990 2007
Arroz (t) 15.454 8.049
Feijão (t) 29.507 16.577
Mandioca (t) 532.217 295.676
Cana (t) 2.772.757 4.436.412
Madeira em tora (m³) 1.735.446 5.206.337
Fonte: IBGE
• Globalização Técnico-Científico: aumento do êxodo rural, diminuição da produção de alimentos, produtos agrícolas em commodities – perda da autonomia da agricultura e do campesinato nos setores da economia.
• Ponto de vista ambiental: latifundiarismo monocultor, com uso dos pacotes verdes. Riscos à biodiversidade dos ecossistemas (solo, vegetação, água e fauna).
Eucalipto Pasto
Tipos 1964-1979Herbicidas 5414,20%Fertilizantes Químicos 124,30%Inseticidas 233,60%Fungicidas 584,50%Máquinário 389,10%
Aumento do uso de "Pacotes Verdes"
Avião Pulverizador
Plantação de soja no Mato Grosso. Fotos tiradas em 2008
• Solos expostos aos agroquímicos e monocultivos: padronização de uma só espécie de bactéria, perdendo seu controle natural biológico.
• Uso intensivo de agrotóxico: quebra da cadeia alimentar de bactérias, larvas e insetos – agro-ecossistemas dependentes, perdendo sua fertilidade natural: absorção dos mesmos nutrientes, sem reposição de matéria orgânica e ciclagem de nutrientes – salinização e acidificação,
• Francis Chabousson: Teoria da Trofobiose.• Recursos Hídricos: escoamento de venenos –
contaminação das espécies alimentícias, prejudicando a fauna e a flora (incluindo os humanos). Tais recursos também são usados indiscriminadamente pela agroindústria para irrigação das monoculturas
Pivô Central (Maquinário de alto investimento, que requer grande disponibilidade de água).
• Patentes
• Final de 1980: engenheiro da General Eletric manipulou uma bactéria e pediu uma patente – foi negado. Recorreu ao Tribunal Supremo e foi concedido com a famosa frase:
“Tudo que esteja de baixo do solo e tenha sido tocado peça mão do homem pode ser patenteado”.
• Privatização dos recursos naturais e portas abertas aos OGMs.
• Consequências: o agricultor não podem conservar uma parte da colheita para o ano seguinte, deve comprar as sementes anualmente. E os transgênicos se tornam um meio das megas-corporações se apoderarem das sementes, que é o primeiro elo da cadeia alimentar.
“Se és o proprietário das sementes, és o proprietário da alimentação do mundo”
• Mercantilização da natureza: A natureza submissa a perspectiva econômica. As sementes tornaram-se mercadorias.
• Megas-corporações respaldadas pela Lei das Patentes: que até permitiu a criação e venda das sementes Terminators, pela Monsanto: Agricultor dependente das indústrias genéticas.
• Complexo sistemas de logística: sistema Rodoviário símbolo do desenvolvimento rural – expansão de redes de transportes bancadas por empresas do agronegócio.
Produção de madeira em tora para celulose. Foto tirada em 2007
A Agricultura como deveria ser: O campo pede por uma outra
globalização
Confissões do LatifúndioPor onde passei,
planteia cerca farpada,
plantei a queimada.Por onde passei,
planteia morte matada.Por onde passei,
mateia tribo calada,a roça suada,
a terra esperada...Por onde passei,tendo tudo em lei,eu plantei o nada.Pedro Casaldáliga
(Bispo retirado de São Felix do araguaia, MT)
• Alternativa ao modelo de agricultura convencional: (re)surgimento da agroecologia.
• Agricultura socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável.
• Relacionamento com a natureza: protege a vida toda e por toda a vida.
• Abandono de uma moral utilitarista e promoção da justiça e da solidariedade.
• A agroecologia não enfoca apenas a produção, mas também a sustentabilidade ecológica do sistema de produção: agricultura - sistema vivo e complexo.
• Ramificações e especializações: Agricultura biodinâmica, ecológica, natural, orgânica, sistemas agro-florestais, permacultura, etc...
• Fortalecimento da agroecologia: agricultura familiar, economia solidária, educação do campo, mulheres e jovens no campo, etc...
• Relação Agricultores/Movimentos Sociais: rede de ralações.
• (Re)valorização dos saberes e sabores tradicionais.
• Sementes crioulas e ciclo natural.
• Camponeses e camponesas: principais responsáveis pela manutenção da biodiversidade de cultivos.
• Ciclo Construtivo:– Produção de Alimentos Saudáveis;– Valorização da Cultura Local;– Geração de Renda;– Fortalecimento da Juventude Rural e
Manutenção do Homem no Campo;– Igualdade de Gênero;– Equilíbrio Ecológico;– Renovação Natural do Solo– Aumento da Fertilidade– Aumento da Produtividade.
• Diante dessa leitura histórica e geográfica da agricultura, acreditamos que a agricultura deve ser vista sobre todas suas perspectivas, e não somente a econômica.
• Que a globalização seja para todas as culturas, e que possa preservar todos os saberes e sabores, daqueles que realmente colhem o bom e saudável alimento nosso de cada dia.
OBRIGADO!
Coletivo Casa Verde
Referências Bibliográficas
• ALTIERI, Miguel. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável. Guaíba: Agropecuária, 2002. 592 p.
• MARTIN, Paulo San. Agricultura Suicída: um retrato do modelo brasileiro. São Paulo: Ícone, 1985. 124 p.
• ROBIN, Marie-monique. Os venenos da Monsanto. abril/2009 Sumaré: Caros Amigosrevista, 2009. 04 p.
• ABRAMOVAY, Ricardo. Paradigmas do Capitalismo Agrário em Questão. São Paulo - Rio de Janeiro – Campinas: Hucitec – Anpocs – Editora da UNICAMP, 1992. 209 – 247p.
• ELIAS, Denise. Globalização e Agricultura: A região de Ribeirão Preto –SP. São Paulo: Edusp. 59 – 111p.
• PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. A globalização da natureza e a natureza da globalização. Rio de Janeiro: Editora Popular. 2006.
• Santos, Milton. Por uma outra globalização. São Paulo: Edusp. 2001.
FIM
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