Análise Winnicott – Khan : um estudo preliminar da falência do uso
do objeto- texto integral
Masud Khan era um psicanalista, editor e autor que foi atendido em análise por mais de
15 anos por D.W. Winnicott, iniciando a mesma em 1951. Ele começou seu tratamento
dotado de um brilhantismo intelectual, de uma personalidade carismática, possuidor de
uma forma física evidente e com vantagens significativas de saúde e educação. Depois
de um período de um enorme sucesso profissional e de um nome renomado
mundialmente; depois de ter-se casado com uma mulher com a qual ele dizia ter amado
e formado uma intensa e gratificante amizade, Khan morreu em 1989, sozinho, cercado
apenas por seus criados e uns poucos escandalizados e chocados amigos. Ele havia
destruído sua carreira devido a escândalos e arruinado seu corpo através de décadas de
alcoolismo e de um fumar intenso. Winnicott, que é considerado o mais influente
teórico analítico desde Freud (Berman, 1996) e alguém sempre lembrado como um dos
maiores e amados clínicos, falhou ao tentar ajudar seu analisando a transpor sua
patologia para conseguir, assim, viver uma vida digna e “boa”.
Este artigo conta a história da análise de Khan por Winnicott. Não há duvida que a
análise tenha tido sucesso em certas áreas, e isso é aqui discutido. O foco, entretanto, é
naquilo que não funcionou como o esperado ou, como se diria , naquilo que deu errado
e no porquê disso ter ocorrido. A tese central desse artigo é que, apesar de Winnicott ter
escrito extensivamente e criativamente sobre a importância da análise do engajamento e
sobre a sobrevivência às experiências de ódio , ele não as aplicou efetivamente em seu
trabalho clínico com Khan.
A análise Winnicott-Khan é examinada pela ótica da relação (Aron, 1996), na qual o
analista e o analisando são considerados como dois separados centros de subjetividade,
mas em interação enquanto tal. Há muito mais questionamentos do que respostas sobre
o que aconteceu. As perguntas, elas mesmas, entretanto, estão fora de interesse, muito
no espírito dos próprios escritos de Khan, como em sua carta a R. Stoller, de maio de
19641.
1 Todas as cartas usadas no artigo vieram dos arquivos de Robert Stoller, departamento especial de coleções, da Univesidade da Califórnia, Los Angeles. O autor agradece Mr. Russell Johnson por usas ajuda ao acesso dos arquivos e a Mrs Sybill Stoller por sua poermissão em publicar as cartas.
1
“Eu sou totalmente a favor a artigos que definam o problema em relação a uma
pergunta significante que o inicie ou que apareça como questão do mesmo. Eu vejo
pouca utilidade em respostas reasseguradoras. Ninguém pode usar respostas, porém
nós podemos, todos, em nosso próprio caminho, evidenciar uma pergunta e ir fundo,
esquadrinhando-a ao longo do artigo”
Histórico
Mohammed Masud Khan (1924-1989) nasceu em Punjab, na área de “prepartition”, na
Índia. Viveu e trabalhou como analista durante toda a sua vida adulta em Londres. Ele
deu à Psicanálise uma grande contribuição sendo editor da International Psycho-
Analitical Library por mais de 20 anos, também como editor associado do International
Review of Psycho-Analysis e como editor estrangeiro do Nouvelle Revue de
Psychanalyse. Khan também ajudou a Winnicott a publicar sua obra desde o início dos
anos 50 até a morte de Winnicott, em 1971: Sutherland se refere a ele, Khan, como “o
principal discípulo de Winnicott” ( J. Scharff, 1994, p.315). Ele construiu uma
reputação internacional como um talentoso e produtivo escritor, tendo deixado como
legado 4 livros: The privacy of the self (1974), Alienation in perversions (1979a),
Hidden Selves (1983) e When spring comes (1988; publicado no Brasil com o nome
“Quando a primavera chegar”). Khan foi analisado e supervisionado pelos melhores
analistas ingleses. Sua analisa foi Ella Freeman Sharpe (1946-1947), John Rickman
(1947-1951) e D.W. Winnicott (1951-1966), e seus supervisores incluíram Clifford
Scott, Melanie Klein, Anna Freud, e Winnicott (para análise de crianças).
Khan levantou grandes controvérsias, tanto profissionais quanto pessoais, em seus
últimos 20 anos de vida. Seu primeiro livro foi e ainda é extremamente bem
referendado; Janet Malcm (1989) , sua revisora, resume este livro como um livro
sensato e “civilizado” , no qual, com seus ensaios reflexivos sobre a história da
psicanálise e teoria clínica assim como os humanos estudos de caso winnicottianos,
continuam sendo uma das melhores introduções à psicanálise na literatura
contemporânea. Em contraste, seu último livro denota e inspira, segundo as palavras de
Limentani (1992), um grau de hostilidade e crítica contundente mais do que justificado,
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sendo revoltoso, próprio da falta de respeito em relação aos preceitos standarts
analíticos ao relatar um caso no qual inclui-se marcas anti-semitas relacionadas como
parte do tratamento de Khan. Como conseqüência deste último livro, Khan foi expulso
da Sociedade Britânica de Psicanálise no último ano de sua vida. Pior que isso, em
1975, ele foi privado de seu status de analista didata devido a seus relacionamentos com
estudantes e analisandos.
Khan veio de uma família abastada, latifundiária, de uma região que hoje se chama
Paquistão e foi o filho favorito desta família. Nascido em 1924, ele era o segundo de
três crianças nascidas da quarta mulher de seu pai, Moslem. Apesar de ele ter um irmão
mais velho e muitos meio irmãos, ele era o único “em posição” frente a seu pai, através
da qual ele se sustentou em seus anos vividos em Londres. Khan veio para a Inglaterra
em 1946. Ele se qualificou como analista didata em 1959, tendo sido treinado em
moldes tradicionais, assim como em uma sub-especialização em análise infantil. Em
1959, casou-se com Svetlana Beriozova, uma primeira bailarina do Royal Ballet. Khan
e Beriozova tiveram uma vida social muito intensa. Entre seus melhores amigos
estavam incluídos artistas no cenário internacional, como Julie Andrews e seu primeiro
marido Tony Walton, Michael Redgrave, Mike Nichols, Rudolf Nureyev, e Henri
Cartier - Bresson. O casamento durou até 1974, apesar de ter havido muitos problemas
nos anos anteriores ao divórcio. Em 1974, a carreira de Beriozova havia declinado e ela
se tornou uma reclusa. Beriozova parece ter sido o grande amor da vida adulta de Khan,
e seu relacionamento nunca foi totalmente rígido ou convencional.
A saúde e as circunstâncias de vida de Khan se deterioraram rapidamente depois da
morte de Winnicott, em 1971, e depois de seu divórcio. Em 1974 foi diagnosticado
câncer em seu pulmão e este foi removido; em 1975 teve uma crise de fígado,
provavelmente causada pelo alcoolismo; em 1985 teve um sério caso de hepatite e foi
operado de catarata; e em 1987 teve o rim removido e perdeu sua laringe e depois sua
traquéia para o câncer. Através de todo o período de 1969 até 1989, Khan regularmente
lutou com crises de depressão. É possível que ele tenha tido um não-diagnóstico de
desordem bipolar, que exacerbou sua flutuação de humor, sua severa insônia, e seu
alcoolismo. A história médica de Khan é a de um homem severamente doente, com
diversas recorrências. Apesar disso, ele foi admirado por muitos por conseguir lidar com
suas doenças sem reclamar ou ter autopiedade..
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Algumas das características estranhas, diferentemente associadas a Khan, eram
arrogância, grandiosidade e carisma. Judy Cooper (1993) e Eric Rayner (em entrevista
pessoal, em 26 de novembro de 1996) se referem a Khan alternadamente como
encantador, angelical e demoníaco. Coloca-se aqui dois resumos sobre Khan feito por
pessoas que o conheceram como colega da Sociedade de Britânica de Psicanálise..
Khan era certamente uma figura impressionante, às vezes extravagante, e normalmente
parecia chegar a um encontro um pouco atrasado somente para ser notada sua
entrada. Comparado com muitos de nós, considerados simplórios, ele era quase teatral.
Ele era evidentemente muito inteligente e com muita cultura. Eu achava que seus
escritos eram extremamente interessantes - notáveis. Porém, em nenhum momento, eu
pensei indicar um paciente a ele. Por que? Eu nunca senti, de forma certa ou errada,
que ele tivesse um controle suficiente dele mesmo ou tivesse uma necessária reflexão e
conhecimento da contra-transferência. Como ele era certamente algo como um show-
off com seus colegas, é de se ficar imaginando como ele seria com seus pacientes! (R.
Gosling, carta ao autor, 27 de outubro de 1996)..
Meu primeiro encontro real com eles foi no meio da década de 60, quando eu me
juntei a um grupo de discussão no qual ele era o coordenador. Ele era um homem alto
mas em nada ameaçador , seja fisicamente ou mentalmente; não havia nem agressão
nem punição em seu tom de voz. Porém sua necessidade em preencher a sala, ou
ostensivamente ser o centro das atenções nunca o abandonou. O que ele tinha a dizer
obviamente tinha, importância; era sempre muito fascinante e sempre ia diretamente ao
ponto necessário; porém sua persistente arrogância inominável , primeiramente em tom
de reverência ,logo se transformava em um sussurro: "Oh cale a boca, Massud, você
está se tornando aborrecido, chato". Mesmo assim eu me lembro de sua generosidade e
seu encorajamento quando muitos analistas esquecem-se disso. (Rayner, introdução
para Cooper,1993, p. xi).
É interessante se pensar como Khan se deteriorou depois da morte de Winnicott em
1971. As informações prévias indicam que Khan não estava em “um bom padrão
psicológico” após a morte de Winnicott, e seus problemas se intensificaram depois de
1971. O alcoolismo de Khan era um problema desde 1960, porém se tornou
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extremamente pior apesar da sua tentativa periódica de abstinência. Seu comportamento
social inapropriado foi um problema ao longo da década de 60, porém seu
relacionamento sexual aberto com estudantes mulheres e analisandas não começou antes
da década de 70. Ele era, normalmente, arrogante e regularmente ofensivo, porém na
década de 60 teve alguns insight sobre seus problemas de personalidade, enquanto que
nos anos 70 ele parou de tentar, inclusive a ter controle sobre seu comportamento.
Khan se tornou provocativo ao extremo, evitado, e ameaçador. Apesar de seus
comentários anti-semíticos serem entendidos como uma parte “não imune” de sua
geral zombaria e de sua atitude gozadora, ao longo dos anos 60 e 70, em 1987, em seu
último livro, ele mostrou tal sordidez e seu anti-semitismo de forma que até o seu
amigo leal, Robert Stoller, rompeu seu relacionamento com ele. No final da vida de
Khan, a maior parte de seus amigos o tinham abandonado.Robert Stoller fornece a essas
reações à morte de Khan 2 cartas separadas aos amigos..
Khan morreu algumas semanas atrás. Ele tinha câncer por 13 anos e havia destruído
seu fígado por beber crônico , excessivo e sem fim. Sua morte foi uma bênção para ele.
(28 de junho de 1989)
Qualquer obituário que o tivesse escrito seria inaceitável. Eu teria pisado “up and
down” minha raiva em relação a mentira de Masud- não era somente psicose - ele
chamar-se assim mesmo de príncipe ,se auto-denominando D. Litt, sua total invenção
do material clínico em seu último livro... porém fazer isto teria sido impedir o leitor em
aceitar o que todos nós próximos a ele conhecíamos: que ele era realmente criativo,
artístico, maravilhosamente astuto quando circunstâncias se ajustavam a ele, tão vivo,
e - algumas vezes eu não podia sequer fazer idéia disso, porém sabia verdade - amável.
Vendo-o de fora - como estranhos podem - ele era muito mais do que maldoso: ele era
o vilão. A pior parte de sua vilania foi o que ele fez com ele mesmo. (7 de julho de
1989).
Comentários de outros analistas sobre a análise.
Não há discussão formal sobre análise de Khan com Winnicott em nível de literatura
acadêmica. Muitos analistas, entretanto, fizeram comentários, apontando que Winnicott
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o falhou em modificar o caráter narcisista patológico de Khan e deixou sua hostilidade
(raiva, ódio) sem análise. Cooper (1993) é o mais generoso desses com tentadores.
Parece que Winnicott dominou e atou Khan. Ele também deu a ele uma idéia sobre se
preocupar como clínico e outras coisas perspicazes e sutis. Realmente, mesmo que ele
tenha usado Khan para sua própria criatividade e promoção, isto possivelmente foi a
única constância libidinal que Khan conseguiu sustentar. Provavelmente ele somente se
responsabilizou pela realização do pai, sem ser capaz de permitir a dependência em se
responsabilizar (sponsored) pelo pai ele mesmo. (p. 20).
Em contraste, Marion Milner (entrevistada em 25 de novembro de 1996) sente que toda
a análise foi um fracasso. Winnicott não deu a eles uma análise com sucesso. Ele não
pode lidar com a destrutividade de Khan. Rayner aponta para a falta de aspectos
depressivos na personalidade de Khan e seu padrão sadomasoquista “realting” mais do
que uma preocupação genuína.
Khan era também, eu penso, tragicamente pobre na sua inabilidade para ser culpado
ou envergonhado, ou solicitar perdão aos outros. Ao mesmo tempo é que ele parecia
freqüentemente compelido somente a provocar os outros a puni-lo. Eu sôo como um
moralista medieval demodè falando isso - porém orgulhosa foi a sina de sua queda.
(introdução paraCooper,1993,p.xvi).
Finalmente,R. Stoller acredita que Khan apresentou a Winnicott um falso-self e muito
de sua fúria / raiva ficou não analisada.
Khan ficou escondido ( hid behind) . Por muitos anos eu o repreendia dizendo que
agora era tempo para ele ser, com respeitoàa sua identidade, visivelmente sustentado
em seus próprios papéis, por trás disso, deixando Winnicott (o Winnicott que havia
inventado) para descobrir, nele mesmo, idéias originais de alto nível que poderiam
sobreviver independente das conseqüências, como maravilhosamente bem ele poderia
escrever. Ele concordava benignamente; oh, como ele podia representar o papel de um
aristocrata benigno. Porém ele tinha muita raiva, mas não suficiente coragem. Tivesse
ele posto os dois juntos - raiva e coragem - ele teria realmente se quebrado(broken out)
. (carta a um amigo em 7 de julho de 1989).
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O consenso em relação a esses comentários é que a análise de Khan foi, no mínimo,
parcialmente falha. O que deu errado? Nem Khan nem Winnicott deram a nós um
relatório direto da análise. Então, para responder a esta pergunta, nós temos que olhar
para fragmentos espalhados. Quando os arquivos de Khan forem abertos em 2039,
haverá indubitavelmente muito a ser revelado sobre esta questão. Uma revisão sobre
material publicado, juntamente com as entrevistas e análise de correspondência não
publicada previamente, sugerem algumas tentativas de resposta.
A teoria de sobre a relevância clínica da agressão e do manejo da
hostilidade (ódio)
Já que o principal problema com a análise feita por Khan com Winnicott envolve o
manejo e a análise da hostilidade (ódio), é importante considerar a postura teórica de
Winnicott sobre o tema da agressividade no setting analítico . Winnicott estava
convencido da prevalência da hostilidade desta atividade na situação analítica e na vida
cotidiana. Seu artigo de 1947, "Ódio na contratransferência", foi um dos maiores artigos
analíticos sobre o ódio na relação mãe- bebê e no trabalho cotidiano da análise. Apesar
de ele desviar dos kleinianos em questionar a extensão na qual agressão é inata,
tendendo a vê-la como surgindo em resposta a uma inevitável falha do meio ambiente,
a agressão era a preocupação central de suas teorias sobre holding de uso do objeto
A descrição de Winnicott sobre o holding do meio ambiente tem sua origem no seu
entendimento do holding materno primário. A mãe protege o bebê em relação ao meio
ambiente que sustenta (“holds") o bebê, sobrevivendo à sua impiedade e ataques
agressivos. Similarmente, a função do holding na análise envolve a provisão do analista
em fornecer um espaço analítico seguro e o meio ambiente no qual o paciente pode
relatar para o analista todas as gamas de seus afetos. Se o bebê ou o paciente tem um
objeto que não sobrevive a certos sentimentos ou sensações, então ele (ou ela) irá
desenvolver um falso self e perderá a oportunidade de, gradualmente, desenvolver o
sentido do que seja real. Holding é um fundo silencioso em um trabalho interpretativo
analítico normal, porém em casos nos quais há uma patologia severa, o holding do meio
ambiente, ele mesmo, é curativo, e interpretações provavelmente serão de pouca valia.
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(Modell, 1988). Uma parte do holding é a provisão de um setting pelo analista, outro é a
manutenção do formato do setting, experimentada pelo paciente como um ato cheio de
raiva, de acordo com Winnicott (1947).
Em um conhecido artigo, "The use of an object and relating through identification",
escrito
perto do final de sua carreira,Winnicott (1968) veio a agressividade como algo para
além de uma reação à realidade.Winnicott aceita as concepções kleinianas de um
impulso para destruir o objeto a fim de proteger o self , e vai para além de Klein,
afirmando que o sujeito realmente destrói objeto (que sobrevive) no desenvolvimento
normal para o estágio do uso do objeto.
O sujeito diz ao objeto: "destruí você" e o objeto acha-se lá para receber a
comunicação. A partir daí, o sujeito diz: "alô, objeto!" "destruí você". "Amo você".
"Você tem valor para mim por sobreviver a minha destruição de você". "Enquanto
estou amando você, estou todo tempo destruindo você na fantasia" (inconsciente). (p.
174).
O uso do objeto, no qual o sujeito tem um senso de realidade subjetiva do outro, é
contrastado com a relação de objeto, na qual o outro é percebido através de projeções :
"o objeto, se é para ser usado, deve necessariamente ser real no sentido de fazer parte
de uma realidade compartilhada, não um feixe de projeções.” (p. 88).
Ghent (1990) assinala que o Winnicott utiliza a palavra extrema, "destruição", não
somente para descrever a energia agressiva do bebê (motilidade), mas também por
causa da reação do objeto, em que o objeto é mais sujeito a sobreviver. Ele acrescenta
que o “não sobreviver” possui muitas formas, incluindo retaliação, retiradas (abstinência
de afeto), falta de defesa de um qualquer forma, uma mudança total de atitude em uma
direção suspeitas com a diminuição da receptividade e, finalmente, um tipo
esmigalhamento/ despedaçamento, no sentido de perda da capacidade de alguém
funcionar adequadamente como mãe,e, no setting analítico, como analista. (p. 123).
A experiência do uso do objeto não necessita estar relacionada com entendimento da
mesma para que o analisando possa se beneficiar dela, segundo o ponto de vista de
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Winnicott (1967). Ele acreditava que o que era mais importante, era o paciente ter
experiências na relação terapêutica com as quais pudesse conseguir obter ou vivenciar o
sentimento de realidade: "nossos pacientes, mais e mais, “turn out to be” precisando
sentirem-se reais, e se eles não assim o sentem, então o entendimento acaba sendo de
uma importância extremamente secundária." (p. 582). Apesar de Winnicott ter
trabalhado interpretativamente através de quase toda sua carreira, ele se tornou cada vez
mais desilusionado com o poder das interpretações.
" eu estava me afastando da necessidade de uma interpretação verbal em sua forma
mais plena. Eu passei pelo longo processo de interpretar tudo que tinha possibilidade
de ver que pudesse ser interpretado, entendem, sentindo horrível se não pude encontrar
nada e pulando em cima de algo porque descobrira que podia colocá-la em palavras.
Passei por tudo isso e me dei conta de que, em certos casos, não adiantava nada,
juntamente com outras pessoas que conheço que fizeram a mesma coisa." (442).
Então, a última teoria de Winnicott coloca que (implies) o analisando deve desenvolver
sua capacidade de usar o objeto através de experiências de odiar o objeto que
"sobrevive", mesmo quando o analisando não possui um entendimento consciente desta
experiência.
Benjamin (1995) considera o artigo de Winnicott sobre o uso do objeto como sendo
"uma das mais radicais reformulações do pensamento psicanalítico nos últimos 100
anos".. Ela considera o movimento de relação de objeto até o uso do objeto e a
capacidade madura de funcionar nos dois modos como algo central para distinguir entre
um funcionamento intrapsíquico e o funcionamento intersubjetivo. Ela acredita que
mesmo que esses dois modos sejam incompatíveis, eles podem coexistir em uma única
pessoa operando seqüencialmente , não simultaneamente.
O modelo winnicottiano de uso do objeto verdadeiramente traz a questão da concepção
clássica de tela em branco (blanck-screen). Na teoria winnicottiana, o senso de
subjetividade do analista pelo paciente é necessário para a realização da verdadeira
mutualidade e intersubjetividade. O analista deve ser autêntico ao mesmo tempo em que
ele ou ela mantenha a posição analítica,para que desta forma paciente possa
experimentar esta autenticidade, e desenvolver a capacidade de usar o objeto. Esta idéia
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de que o analista como pessoa é central para o sucesso analítico foi uma nova
contribuição para a teoria psicanalítica.
O trabalho clínico de Winnicott com a destrutividade
Em preparação adicional para discussão da análise de Khan, esta seção apresenta três
exemplos de material clínico que demonstram como Winnicott teve uma tendência para
excluir a destrutibilidade, assim excluindo a possibilidade do uso do objeto se
desenvolver. Esses fatos mostram um padrão que Winnicott também repetiu na análise
de Khan.
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O menino órfão
No seu artigo "o ódio na contratransferência", Winnicott (1947) descreve a técnica de
controlar um menino órfão que sua primeira esposa tinha levado para casa em "três
meses, três meses de inferno" (p. 199). Há aqui a descrição da resposta de Winnicott ao
menino órfão em seu período de crise, quando este o provocou a sentir ódio.
"Bati nele? A resposta é não, nunca. Mas eu teria tido que bater nele se não soubesse
tudo a respeito do meu ódio, e se não fizesse saber também. Nas crises eu pegava com
toda a minha força física, sem raiva ou acusações, e o colocava para fora pela porta da
frente, fosse qual fosse o tempo que estivesse fazendo de dia ou à noite. Havia uma
campainha especial que ele podia tocar, e ele sabia que se atacasse nós o estaríamos
para dentro em nenhuma palavra seria dita sobre o que se passou. Ele tocava de
campainha, assim que o ataque maníaco amainava. O importante é que sempre que eu
ponha para fora eu lhe dizia algo. Eu lhe dizia que o que havia feito levou-me a sentir
ódio por ele. Isto era fácil porque era a pura verdade. A meu ver, essas palavras eram
importantes do ponto de vista do seu progresso, mas elas eram importantes
principalmente porque me permitiam tolerar a situação sem me diz controlar, sem
perder a cabeça e sem assassiná-lo de vez em quando.” (p. 284)
Winnicott descreve o modo peculiar de manejo do menino. Ele responde ao ódio
falando para menino que ele é odioso e o pondo para fora de casa, mais ele se certifica
que o comportamento dele não comunica "raiva ou acusações" e se preocupa em nunca
discutir o incidente novamente. Winnicott reconhece "ódio na contratransferência", mas
o exemplo dele é de retirada de envolvimento e compromisso emocional. Nenhuma mãe
dedicada comum ou pai fariam uso desta técnica, porque esta falha ao ensinar à criança
sobre as conseqüências de que um comportamento raivoso. É como se Winnicott
estivesse tão preocupado com a destrutividade de sua resposta, que se retira
emocionalmente, privando (deprivate) o menino de real encontro face para a face
( frente a frente) com esta destrutividade, na qual a hostilidade poderia ser trocada, com
as duas pessoas “sobrevivendo”. Talvez Winnicott visse a expressão emocional de ódio
como "vingança". Se esse for o caso, isso pode refletir o fato de que ele nunca teve suas
próprias crianças, e assim não teve de lidar com a constante (e odiosa) colocação de
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limites, que é necessária para se criar uma criança saudável. Winnicott parece estar
negando a própria experiência dele de raiva. O ato de colocar uma criança, a qualquer
hora, fora de casa, em qualquer tempo, é um ato agressivo, especialmente quando a
criança já é uma órfã. Até mesmo se raiva é mantida fora do tom de voz, a
metacomunicação (Wachtel,1993) é de ódio ou, pelo menos, de raiva. Como Frank
(1997) pontua, um analista que dá uma comunicação na qual o afeto e o conteúdo são
“unwittingly” e incompatíveis, exacerbando ansiedade do paciente e, nesta perspectiva,
a técnica de Winnicott de manejo da criança parece muito indesejável. O exemplo
parece demonstrar que o menino órfão "destruiu" Winnicott quando Winnicott se
retirou, de forma que a experiência estava mais para um “reencactment” do que uma
experiência maturacional.
Análise de Margareth Little - Winnicott
Margaret Little (1990) nos relata sobre seu encontro “de ódio” com Winnicott , em seus
primeiros momentos de sua análise com este, no qual ela nos mostra como Winnicott
manejou esta raiva/ódio nos idos de 1950.
"Em uma das primeiras sessões com D.W., me sinti totalmente desesperançada de faze-
lo entender qualquer coisa. Caminhei ao redor de sua sala, tentando encontrar um
caminho. Pensei em me atirar pela janela, mas achei que ele me impediria. Depois
pensei em jogar fora todos os seus livros, mas finalmente investi contra um grande vaso
cheio de lilases brancos, quebrando e pisando nele . D.W. precipitou-se para fora da
sala, mas voltou um momento antes do final do horário. Ao me encontrar limpando a
sujeira e ele disse: "eu poderia ter esperado que você fizesse isso (limpar, ou sujar?),
mas mais tarde." no dia seguinte, uma réplica exata havia substituído vaso e os lilases.
Alguns dias depois, ele explicou que o havia destruído uma coisa de que ele gostava.
Nenhum de nós e jamais se referiu de novo o incidente, que hoje me parece estranho,
mas acho que se ele tivesse ocorrido depois D.W. provavelmente teria reagido de outro
modo. Da forma como reagiu, e achei aquilo tão inútil quanto às minhas lutas com a
Srta. Sharpe ou com a minha mãe, e esqueci do ocorrido até recentemente. Vários anos
depois, muito depois do final da análise, quando pedi um conselho sobre um paciente
muito perturbado que me magoava intencional e repetidamente, falei sobre tê-lo
12
magoado. Ele concordou em que uma guarda, mas acrescentou que aquilo havia sido
"útil”.(p. 45)
Winnicott tratou o ato destrutivo como tendo valor simbólico. Através da recolocação
do vaso, ele tentou interpretar, por via da demonstração, que a raiva pode ser expressada
sem destruir o objeto. Mas como Jakobson (1997) enfatiza, a técnica de Winnicott
obscureceu o fato de que algo não simbólico e verdadeiramente destrutivo havia
acontecido: embora o vaso simbolizasse uma pessoa, além disso o próprio vaso tinha
sido despedaçado. É provável que o esquecimento de Little em relação ao evento reflita
a consciência dela de que ela verdadeiramente tinha sido destrutiva, e a percepção dela
de que Winnicott não teve a capacidade para lidar com sua destrutividade . Através
desse esquecimento, ela protegeu Winnicott de um problema na contratransferência.
Como no caso do menino órfão, a atitude de Winnicott de não demonstrar seus
sentimentos e de não discutir um incidente muito infeliz na vida real, beira o bizarro.
Em 1965, Winnicott descreveu dois tipos diferentes destruição:
"exemplificando: a pessoa anti-social que entra em uma galeria e retalia um quadro de
autoria de um velho mestre não está acionada pelo amor à pintura e, na realidade, não
está sendo tão destrutiva quanto amante da arte é quando preserva a pintura, acusa
plenamente e, na fantasia inconsciente, a distrai repetidas vezes. Apesar disso, o ato
isolado de vandalismo afeta a sociedade e que esta tem de proteger-se.” (p. 181)
Note a declaração de Winnicott de que o vandalismo, que ocorre no meio externo, é
menos destrutivo que a destruição que ocorre em fantasia no desenvolvimento, através
do uso do objeto. Ele enfatiza que a fantasia é uma força extremamente poderosa. Little
poderia ter ganhado através do incidente do vaso e se lembrar disso se Winnicott
tivesse admitido, na ocasião (como ele fez muito depois, embora sem emoção), que ela
teve a capacidade para ser uma pessoa verdadeiramente prejudicial, ambas em realidade
e fantasia.
Little foi grandemente ajudada pela sua análise com Winnicott mas, assim como Khan,
permaneceram as características de sua personalidade grandiosa depois que a análise
terminou. Newman (1995) assim descreve: "nós podemos ter um olhar para Margaret
13
Little - ela como psico-analista - como uma das pessoas mais imperiosas (imperious)
que eu já encontrei, isso depois sua análise".(p.165) Marion Millner (em entrevista, 25
de novembro,1996), que conheceu Little muito bem, concorda que Little tinha uma
personalidade difícil, mesmo depois de sua análise.
“Ela me aborrecia. Ela não tinha nenhum interesse filosófico, ela era enfadonha. Lia
romances, mas ela nunca especulava sobre as coisas; não tinha um tipo de mente
questionadora, exploradora. Ela sempre me passou a idéia e o sentimento de que eu
não sabia nada. Uma vez, quando estava conversando com ela, eu falei: "Margaret,
você é muito mais inteligente e esperta do que eu", e ela deixou aparecer (droped) seu
tom de superioridade finalmente... De fato Margaret não pode ser totalmente analisada
porque ela era muito grandiosa, ela não teve a humildade que seria necessária para
poder ser analisada.”
Mas somos deixados com a impressão de que Winnicott, se omitindo em relação à
hostilidade de Litte, fez a ela um desserviço. Seria possível que a destrutividade de
Little fosse verdadeiramente uma ameaça para ele e, dessa forma, ele teve a necessidade
de ficar longe disso? Mas teremos que reconsiderar e retomar esta pergunta na discussão
das análises de Harry Gruntrip e Masud Khan.
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A Análise de Harry Guntrip com Winnicott
Harry Guntrip esteve em tratamento analítico com Winnicott nos anos de 1964-1969,
para um total de cerca de 150 sessões, Embora a distância privasse-o de ter o
tratamento analítico standard de quatro a cinco sessões por semana, não obstante o
tratamento incluiu regressão, livre-associação, uso do divã, análise de sonhos e análise
da transferência e contratransferência. Guntrip tinha tido uma análise standard com W.
R. D. Fairbain nos anos cinqüenta, e as duas análises foram discutidas por muitos
autores, inclusive o próprio Guntrip (Markillie, 1996; Padel, 1996; Eigen, 1981; Landis,
1981; Glatzer & Evans, 1977; Guntrip, 1975).
Guntrip tinha querido que Fairbain lhe permitisse experimentar uma regressão em
análise para recuperar a memória da morte do irmão mais jovem quando ele tinha três
anos e meio. Porém, Fairbain era reservado e analista standard; acreditava que o
trabalho analítico era corretamente feito através da interpretação, e ele considerou a
demanda de Guntrip por uma regressão como sendo uma resistência à análise (Padel,
1996). Depois de uma troca de correspondência entre Winnicott e Guntrip, que haviam
sido colocados em contato por Fairbain, Guntrip foi ficando cada vez mais atraído pela
teoria winnicottiana da "mãe suficientemente boa”, em contraste com a "mãe "paterna"
ou "ruim” do estilo de Fairbain . Assim que terminou sua análise com Fairbain, ele
entrou em tratamento analítico com Winnicott.
Guntrip trabalhou com Winnicott ao nível de déficit materno primário(Hazell, 1991;
Guntrip, 1975), tendo sido muito ajudado. Guntrip experimentou Winnicott como uma
"mãe boa", que o libertou para um estar vivo e criativo." Nas palavras de Guntrip, "Ele
se tornou um seio bom, uma mãe de seio bom ao meu ego infantil dentro meu mais
profundo inconsciente, no ponto onde minha mãe real havia perdido a sua
materialidade, não podendo me sustentar como um bebê nunca mais" (pág. 750)”. Em
contraste, Fairbain tinha sempre sido emocionalmente bastante reservado e tinha sido
experienciado por Guntrip como "minha mãe dominantemente má, impondo
interpretações exatas."
Winnicott fez interpretações às vezes, mas Guntrip considerou que estas foram erros,
especialmente quando as interpretações eram sobre agressão. Guntrip declarou:
15
“Aqui afinal eu tive uma mãe que poderia avaliar ( value) sua criança , de forma que
eu poderia ( cope) com o que estava por vir. Ë difícil, e me parece ruim mencionar,
que o único ponto no qual eu me senti discordando de Winnicott foi quando ele falou
ocasionalmente sobre "chegar a seu sadismo primitivo, a desumanidade do bebê e
crueldade, sua agressão” de um modo que não sugeria minha briga ferrenha e zangada
por extrair uma resposta de minha mãe fria, porém falava-me sobre a teoria do instinto
de Freud e Klein, o Id , a agressão inata” (pág. 750)
Em contraste, Guntrip sentia-se profundamente entendido quando Winnicott enfatizava
a bondade dele em lugar da sua agressão . Ele cita Winnicott como se lhe falando,
"Você tem um peito bom também. Você sempre pôde dar mais que tirar. Eu sou bom
para você, mas você é bom para mim. Fazer sua análise é quase a coisa mais
tranqüilizadora que acontece a mim". (pág. 750).
Guntrip nunca acreditou que ele teve assuntos significantes para explorar relativos à
agressão. Landis (1981) dá uma ilustração deste ponto falando sobre uma conversação
com Guntrip que aconteceu depois da sua análise com Winnicott:
“depois de descrever o plano do escritório de Fairbain e a formalidade dura deste,
Guntrip disse que pensava que Fairbain poderia se apoiar na escrivaninha e golpeá-lo.
Quando eu sugeri que este era, talvez, um atributo das suas próprias intenções , Guntrip
ficou chocado (unimpressed). O ponto é que ele não acreditava que uma análise das
vicissitudes do sadismo ou da raiva era vital para a sua cura ” (pág. 114)
Um modo para avaliar o sucesso da análise de Guntrip-Winnicott é olhar para o
ajustamento da vida de Guntrip depois da análise. Por este critério, a análise foi somente
parcialmente bem feita. Por um lado,o próprio Guntrip estava bastante satisfeito com a
sua análise e seu sofrimento pessoal provavelmente foi aliviado grandemente. Por outro
lado, Guntrip ainda teve uma personalidade “hard drive” , onipotente e “off putting”
personalidade, e ainda era propenso a esgotamentos (Hazell, 1991, pág. 153). O seu
amigo e seu colega Ronald Markillie (1996) notou que, depois da análise, Guntrip teve
uma vida social extremamente restrita, não dava atenção à sua esposa, e sempre teve
uma grande necessidade de ter controle tanto em nível emocional quanto intelectual.
16
Como analista, ele constantemente apoiou seus pacientes contra os objetos ruins deles,
e com isso eles tenderam a ter, muito freqüentemente, regressões improdutivas e muitos
“breakdowns”, na opinião de Markillie.
A maioria dos comentaristas de análises (on the analisis) questiona o sucesso da
análise de Guntrip. Por exemplo, Markillie (1996) afirma que Guntrip
“nunca foi “ batizado” ( introduzido) em análise. Ele analisou em lugar de ter sido
analisado. Porém, muito do que se refletiu em sua personalidade não foi conseguido ou
atingido pelo uso da contratransferência que utiliza “o processo do encontro”. Eu não
acredito que ele sofreu a confusão e humilhação de uma neurose de transferência
minuciosa. ... Eu desejei sempre saber o que poderia ter acontecido se ele tivesse se
encontrado com uma das “duras”(rígidas) senhoras kleinianas .” (Pp. 767-768)
Padel (1996) concorda que a análise de Guntrip sofreu da evitação da negatividade. Ele
sugere que Winnicott teria evitado um trabalho em assuntos difíceis na transferência
"porque a terapia estava terminando e ele desejou que Guntrip se lembrasse dele como
um objeto bom" (pág. 759).
Eigen (1981) faz uma observação interessante: que Guntrip precisou, bem no início de
sua análise, da aproximação materna positiva de Winnicott e que ele não teria ido ver
Winnicott para ser tratado por este se isto não tivessse sido uma possibilidade - ele não
teria aceitado qualquer outro tipo de análise naquele momento. Eigen vai de encontro
ao que Padel pensa sobre esta análise: que o problema era que a análise não se
desenvolveu para além do materno, e que Winnicott não ajudou Guntrip a
experimentar e a entender outro material conflitual que estava emergindo, talvez
porque ele tendeu a favorecer a aproximação materna positiva em prática. Eigen dá
Winnicott crédito, talvez muito crédito, sugerindo que Winnicott teria levado Guntrip ao
próximo nível, se a análise tivesse continuado.”
“Eu acredito que se a terapia de Guntrip com Winnicott tivesse ido mais longe, por um
período maior , haveria tido espaço para “foundered, exploded or eventually broken
open”. A tensão gerada entre eles pela posição teórica de Winnicott sobre a validade
da raiva teria conduzido, provavelmente, a um crescimento para ambas as partes a partir
17
da luta que foi iniciada em seu início. Se eles levassem isso adiante, eles teriam tido
que enfrentar e dar conta do entendimento de que uma solução pré-edípica não era
suficiente.” (pág. 111
Se a análise poderia ou não ter tido resultados melhores com o passar do tempo, a
análise que aconteceu parece ter sido malsucedida na área da agressão. Ambos, Guntrip
e Winnicott, evitaram a análise do ódio de Guntrip. Assim, pelos critérios da própria
teoria de Winnicott, Guntrip não teve as experiências com a agressão que o teria
ajudado a desenvolver a capacidade verdadeira do uso de objeto. A agressão dele nunca
se tornou uma parte criativa e consciente de sua personalidade.
Como nos casos anteriores, nós somos deixados com perguntas. Será que Winnicott
sabia que ele tinha deixado inanalisável o ódio de Guntrip? Nesse caso, por que ele
assim o faz? Por que ele permitiu Guntrip encerrar sua análise? Estaria Winnicott muito
velho e doente para fazer o trabalho analítico? Estaria se sentindo também ameaçado?
Estaria ele atento ao fato de que sua teoria e sua prática clínica eram incongruentes?
Estas perguntas também são bastante pertinentes para serem indagadas em relação à
análise de Masud Khan.
A Análise Winnicott- Masud Khan
Masud Khan iniciou sua análise com Winnicott em 1951, depois de duas experiências
nas quais seu analista (primeiro John Rickman e depois Ella Freeman Sharpe) morreu
enquanto ele estava em tratamento. A análise continuou durante, pelo menos, quinze
anos, e um relacionamento íntimo continuou existindo até a morte de Winnicott em
1971. Durante os anos de seu relacionamento com Winnicott, Khan se tornou editor
proeminente, autor, e teórico. Khan editou os trabalhos de Winnicott, e já em 1953, os
dois homens fizeram uma publicação em comum. Winnicott era publicamente
encorajador de Khan nos anos 1955-1959, quando Khan aplicou para ser um analista
didata e foi preterido (“turned down”) três vezes antes de obter sucesso. Winnicott
indicou pacientes a Khan e colaborou com ele em alguns casos e, nos anos cinqüenta,
supervisionou Khan em análise de criança. A análise terminou em 1966.
Nem Winnicott nem Khan escreveram qualquer anotação da análise para publicação,
assim nós temos que nos conformar com uma reconstrução incompleta, baseada em
18
vários fragmentos de evidência. É bastante certo que a forma da análise era tradicional,
provavelmente com cinco sessões por semana; King (Cooper, 1993, pág. 20) disse que
Khan lhe falou que ele dormia freqüentemente nas sessões e que ele perdeu muitas
delas. Nós não sabemos por que a análise durou tanto ou como terminou. Parece que,
depois que a análise terminou, em 1966, Khan passou a ter uma colaboradora editorial
mais ativa com Winnicott, reunindo-se todos os domingos regularmente com ele e
ajudou a editar muito dos trabalhos principais de Winnicott. Winnicott agradeceu
publicamente a Khan por sua ajuda editorial . No testamento dele, porém, Winnicott deu
o papel de editor literário dos seus trabalhos à esposa, Clare , um evento que foi uma
surpresa e uma ferida narcísica profunda para Khan.
A admiração de Khan por Winnicott é óbvia ao longo dos seus escritos , e ele refere-se
freqüentemente a Winnicott como sendo um gênio. Além disso, Khan experimentou
Winnicott como um pai bom. Em uma carta para Stoller na ocasião da morte de
Winnicott, ele escreveu como se tivesse perdido um pai: "Eu desfrutei de uma infância
protegida com ele. Agora eu tenho que me recompor (juntar os meus cacos) e tenho que
me tornar um adulto" (14 de abril de 1971). Porém, Khan não idealizou o seu mentor
simplesmente. Em 6 de agosto de 1973, ele escreveu a Stoller "Quem não tem
(failings) ? DWW foi infestado com failings como uma pessoa desleixada que acaricie
um cachorro felpudo. Mas as virtudes dele eram igualmente grandes e sem igual. As
únicas pessoas que uma pessoa deve temer são aquelas que não têm nenhum failings
visível."
Na primeira parte de sua análise, Khan parecia precisar de uma experiência de
mothering corretiva principalmente. Nós não temos uma história detalhada da vida
inicial de Khan, embora nós podemos imaginar o impacto potencial das suas
circunstâncias particulares. Ele era filho de uma mãe de dezenove anos, uma cortesã , já
mãe de um filho ilegítimo e de um outro legítimo, que se converteu ao Islã abrindo mão
de suas raízes anteriores quando se casou com um próspero homem, mais velho do que
ela sessenta anos. Limentani (1992) escreveu que Khan experimentou um estado
"próximo ao mutismo" entre os quatro e sete anos devido a "uma discussão com sua
mãe" , mas nós não temos nenhum detalhe deste episódio. Khan comunicou que seus
estudos de francês foram feitos para que ele pudesse fugir da “incessante tagarelice da
voz de minha mãe em minha mente/ memória” (Carta para S. Stoller, 14 de maio de
19
1974). Os escritos teóricos de Khan repetidamente enfatizavam o dano feito a uma
criança pequena através de intrusão materna, assim como também através de
idealização, e é possível que ele estivesse escrevendo, em parte, a partir de suas próprias
experiências.
Winnicott estava particularmente qualificado a ajudar analisandos que tinha sofrido de
problemas com a experiência de uma maternagem falha precocemente. Khan (1971)
creditou seu analista de tê-lo ajudado enormemente nesta área.
“Uma das mais valiosas contribuições de D. W. W. foi que ele mudou uma ameaça
catastrófica de perda de objeto em ansiedade de separação, através de seu longo
cuidado protetor durante os últimos 20 anos de meu crescimento e desenvolvimento
como uma pessoa.” (Cooper, 1993, pág. 21)
O leitor dos trabalhos de Khan pode adquirir uma idéia de como ele experimentou o seu
analista lendo o seu trabalho na sua introdução para a publicação póstuma de Winnicott
do livro “Da Pediatria a psicanálise” (1975). Este ensaio é maravilhosamente escrito e
possui uma comovente descrição da prática clínica de Winnicott . Este inicia com uma
descrição sucinta.
“Quando olho para trás, para os quase vinte anos meu trabalho com Winnicott, o que
me surge vividamente é a sua postura corporal relaxada que a sua suave concentração.
Winnicott prestava atenção com um corpo todo, e tinha um olhar perspicaz e
respeitoso, que nos focalizava com um misto de dúvida e absoluta aceitação. Uma
espontaneidade de criança impregnar aos seus movimentos. Mais ele podia também
ficar muito quieto, e inteiramente controlado quieto. Jamais conheci outro analista que
fosse tão inevitavelmente ele mesmo. Essa característica de ser inviolável mente de
mesmo que lhe permitiu ser tantas pessoas diferentes para tanta gente. Cada um de nós
que conhecemos tinham seu próprio Winnicott, ele jamais atropelou a idéia que o outro
fazia dele pela afirmação de seu modo pessoal de ser. No entanto, permanecia
inexoravelmente Wnnicott. (xi de pág.)”
Talvez porque sua mãe tenha sido tão "faladora”, Khan avaliou particularmente a
habilidade de Winnicott para lhe dar um espaço quieto e aceitação . Ele apreciou aquele
Winnicott que permitia a cada paciente crescer dentro de seu próprio modo . "Ele teve
uma incapacidade militante para aceitar dogmas. Winnicott era um não-conformista
20
por princípio (by upbringing); nada era determinado e absoluto. Cada homem tinha de
achar e definir a sua própria verdade" (xi de pág.).
A técnica de Winnicott permite Khan achar e avaliar seu “unique self” ( verdadeiro
self). Khan (1977), então, aplicou esta técnica ao seu próprio estilo analítico e em sua
teoria do “lying fallow”
“Uma de minhas dívidas para com Winnicott é que ele me ensinou como permitir um
paciente, como pessoa, a achar sua própria capacidade de “lie fallow” , quando
precisava disso em usa situação analítica, sem sentir o silêncio de minha presença
como algo coercitivo, enchendo a sessão de escombros de fatos ( debris of facts) ,ou se
repreendendo por não associar livremente. Idioma e relacionamentos só são criativos
quando a pessoa fala deles para relaciona-los com ele mesmo, e assim se atualiza para
ele e para o outro. Para isto acontecer, a capacidade para “lie fallow” em um solidão
na presença do outro é uma condição prévia inevitável. (pág. 188)
No “fallow state”, uma pessoa se retira da atividade do mundo externo e restabelece sua
conexão para com o ego e para com a criatividade, da mesma maneira que uma planta
precisa ser revitalizada para um crescimento novo, depois de um período de hibernação
devido ao inverno . Uma pessoa em no estado de “fallow state”, porém. requer a
presença de pelo menos uma outra pessoa.
“Embora este humor decorrente do “fallow state” é essencialmente e inerentemente
privativo e pessoal, este precisa de um ambiente de companheirismo para ser segurado
e sustentado. Alguém- um amigo, uma esposa, um vizinho -sentando sem ser algo que
obstrua (unobtrusively) ao redor, garante que o processo psíquico não sairá de
controle, quer dizer, ficando mórbido, introspectivo ou “sullenly” doloroso.” (pág.
185)
Na ausência de outra pessoa, pode haver um fracasso do fallow mood”, havendo a perda
da conexão vital dessa pessoa para com o mundo. Um exemplo de tal um fracasso é
alcoolismo. (O alcoolismo de Khan é discutido depois.)
Khan era, por tudo já exposto, uma pessoa extremamente privada, embora sua
“persona” pública fosse bastante extravagante. Ele mesmo experimentou, regularmente,
períodos em sua vida nos quais ele avisava estar em “lying fallow” . Ele parece ter
experimentado Winnicott como uma conexão para vida; assim ele usa a palavra "luz
21
fraca" incomum, enquanto significando "jogando ligeiramente, chamejando, emitindo
um brilho macio", para descrever ambos, tanto Winnicott (Khan, 1975. xi de
pág.)quanto o estado de “lying fallow”(Khan, 1977. pág. 183). Isto sugere que enquanto
ele pode sentir a presença de Winnicott, ele pôde ser uma pessoa privada e ainda estar
conectado em mutualidade com os outros (with mutuallity). Quando Khan
experimentou sua relação com Winnicott como quebrada, desfeita ( tanto Poe ele
mesmo ou por Winnicott), ele tendia a ficar reservado e retraído, e havia um fracasso de
mutualidade assim como um fracasso do “fallow mood”.
Winnicott acreditava no valor de interpretar assim como também no holding e ele deve
ter feito muitas interpretações nos 15 anos de análise de Khan. Como Guntrip, porém,
Khan não gostava das interpretações de Winnicott. Em um artigo escrito depois da
morte de Winnicott, Khan (1977) escreveu que as “reconstruções genéticas”de
Winnicott poderiam danificar a tentativa do analisando em descobrir o seu potencial
criativo e sua "loucura" pessoal (pág. 182).
Khan (1975) enfaticamente preferia o estilo tardio de Winnicott em não interpretar. Ele
resumiu a troca no estilo de Winnicott como uma nova ênfase no potencial do paciente,
em lugar de sua doença: " Perto do final de sua vida, Winnicott direcionou-se cada vez
mais a uma compreensão, não somente do que faz os humanos doentes, mas do que os
faz “thrive in each other’s keeping, amidst the culture’s givens” (pág. i).
Até mesmo Khan elogiou Winnicott em sua mudança de técnica , ele também “longed”
(almejou) Winnicott a ser uma figura mais forte e mais paternal, que teria sido uma
aproximação (match) do seu pai idealizado . O pai de Khan era próspero e rico, tinha
um metro e noventa e cinco centímetros de altura, possuía uma saúde maravilhosa,
viveu até os 93 anos (Khan, 1987b) ou 96 anos (Cooper, 1993), teve quatro esposas, e
era pai de muitas crianças, incluindo, pelo menos, oito filhos. O próprio Khan era um
homem alto, aproximadamente um metro e oitenta e sete e altura e teve uma
identificação forte com seu pai . Em contraste, Winnicott não teve filhos, era de
pequena estatura e tinha uma voz alta que às vezes era tida (ou tomada) por ser de uma
mulher (Kahn, 1996). Winnicott é considerado um perito em maternagem, mas é
criticado freqüentemente em sua negligência em relaçãi aos pais. Em uma carta para R.
Stoller, depois da morte de Winnicott, Khan se refere à sua angústia sobre a passividade
22
de Winnicott e as dificuldades que Winnicott teve lidando com a intensidade (intensity)
de Khan.
“I aggravatede him and he traumatised me by his public Christian masochistic
humility: so phoney ant yet so him... And he suffered outraged agonies of despair vis à
vis my abrective and arrogant insolences of ego and instinct - quite often patently
foolish and bizarre, but always honorable by my cod of nurture and culture” (23 de
março de 1971)
Khan coloca que Winnicott sentia violentas agonias de desespero. Isso sugere que
Winnicott não “sobreviveu” aos ataques agressivos de Khan.
Khan ficou desapontado com sua análise e sentiu que Winnicott tinha sido um fracasso
como uma figura de pai. Assim, Limentani (1992), define no obituário de Khan,
“Entre outras coisas, ele não estava completamente satisfeito com sua análise pessoal,
a ponto de ficar bastante desiludido. Talvez ele estivesse esperando encontrar, de novo,
a figura de pai perdida que ele havia adorado (workshipped) e temido em sua primeira
infância , e seu analista sequer percebeu essa necessidade totalmente.” (pág. 156)
Khan dá apoio à interpretação de Limentani em uma observação feita a Winnicott: "Eu
lhe contei abruptamente uma razão por que eu havia falhado em usa-lo criativamente
durante todos esses anos de análise, era porque eu sempre era MAIOR como pessoa do
que ele e ele não pode sustentar isso . Ele concordou!” (Cooper, 1993, pág. 21). Se o
relato de Khan for preciso, então Winnicott cometeu um grande erro não confrontando a
grandiosidade Khan; se este relato foi uma invenção de Khan, ainda assim ilustra sua
inanalizável grandiosidade (grandiosity unanalyzed).
De forma interessante, Khan em seus próprios escritos enfatiza a importância da
experiência na análise. Em um artigo (1969) descrevendo paciente que sofre de trauma
cumulativo, ele declara:
“O que estes pacientes EXIGEM (demandam) é indulgência e serem adotados, mas isso
não é o que eles PRECISAM. O que eles PRECISAM é de certas experiências de "um
cuidado normal" o que a agressão reprimida e ódio de suas mães fizeram com que isso
se tornasse impossível para eles. O que eles PRECISAM é um encontro e uma
experiência agressiva experimentada na situação analítica através da qual eles
23
poderão validar sua própria agressão e ódio, como também em relação ao não-self do
analista(pág. 90) "
A citação anterior foi retirada de um artigo que era, originalmente, uma apresentação
feita em 1965, um ano antes que Khan terminasse sua análise com Winnicott. Khan está
recomendando uma técnica que não refletiu sua própria experiência com Winnicott
como analista, embora refletisse a técnica recomendada na teoria de Winnicott sobre o
uso do objeto. Khan conscientemente parece preferir a aceitação naõ interpretativa,
enquanto que, ao mesmo tempo, ele perde o respeito por Winnicott quando este pára sua
(odiosa) interpretação e confrontamento.
O último movimento de Winnicott para longe das interpretações e confrontação parece
estar em conflito com suas idéias sobre uso do objeto. O desenvolvimento da
capacidade para uso de objeto requer experiências nas quais analista e paciente
"sobrevivem" ao intercâmbio agressivo; mas a não interpretação é um apoio fora do
compromisso agressivo com o paciente. Sendo um amante de paradoxo, Winnicott não
teria se importado de ser contraditório. No contexto deste artigo, porém, parece-nos que
Winnicott estava desviando clinicamente de sua própria teoria . Considerando que
Winnicott estava no processo de alta com Khan, estaria também na hora de diminuir sua
posição de confronto interpretativo. Parece-nos provável que ele deixou Khan terminar
sua análise com setores significativos de sua personalidade inexplorada e não integrada
(unintegrated) - e com a capacidade para o uso do objeto pouco desenvolvido.
Isto nos traz a algumas perguntas muito básicas. Por que Khan e Winnicott terminaram
a análise em 1966, quando Khan ainda tinha problemas importantes com depressão,
com o alcoolismo, e possuía uma desordem de personalidade narcísica? Por que eles
deixaram de tentar ajudar Khan a ter uma vida melhor?
Certamente, em 1966 , a análise já estava em curso por muito tempo.O próprio
Winnicott tinha tido uma experiência pessoal longa com análise; ele viu James Strachey
durante dez anos, provavelmente seis dias por semana, e depois viu Joan Riviere em
análise durante uns cinco a dez anos adicionais. Porém,Winnicott não era defensor
destas análises extremamente longas. Ele advertia do perigo de continuar uma análise
quando a perturbação nuclear e central do paciente fosse escondida e, assim, não
acessível à modificação.
24
" Em casos desse tipo, o psicanalista pode entrar em conluio dutantes anos com a
necessidade que o paciente tem de ser psiconeurótico ( em oposição a louco) e ser
tratado como tal. A análise vai bem e todos estão satisfeitos. O único inconveniente é
que a análise nunca termina. Ela pode ser terminada e o paciente pode mesmo
mobilizar um falso self psiconeurótico para gins de término e expressão de gratidão.
Na realidade , porém, ele sabe que não houve mudança no estado subjacente
(psicótico) e que analista e paciente alcançaram êxito em entrar em conluio para
ocasionar um fracasso. (...). Embora escrevamos trabalhos sobre estes casos
fronteiriços, ficamos internamente perturbados quando a loucura que neles existe
permanece, sem ser descoberta e enfrentada. (Winnicott, 1994, pág. 172)
Poderia Winnicott ter considerado Khan um exemplo deste tipo de paciente cuja loucura
era não passível de ser descoberta e enfrentada ("undiscovered e unmet") ? Khan
mentiu e manteve segredos na sua vida privada e, provavelmente fez o mesmo em sua
análise . Khan “hints" sobre isto dizendo, as "Pessoas como eu são muito privadas para
serem analisadas" (carta para S. Stoller, 14 de outubro de 1974). É provável que
Winnicott soubesse ou sentisse que Khan possuía segredos e, mesmo assim, terminou
sua análise de qualquer maneira, porque ele teria percebido essas partes de Khan como
inanalisáveis (unanalyzalble). Neste caso, porém, Winnicott não teria visto a análise
como um desperdício.
“Mesmo este fracasso pode ter valor, se analista e paciente o reconhecerem. O
paciente está mais velho e as oportunidades de morte por acidente ou enfermidade
aumentaram, de maneira que o suicídio real pode ser evitado. Além disso, foi divertido
enquanto durou”(p.172)
Se Winnicott terminasse a análise de Khan com este senso de um resultado incompleto,
faria sentido ele ter continuado a ter uma relação com Khan para poder prover apoio a
ele. Khan (1972) descreveu um caso de uma análise de vinte anos que terminou com um
fracasso parcial, no qual Khan continuou vendo seu paciente uma vez por semana
depois de terminar a análise, porque este precisou deste contato para poder funcionar
otimamente. Khan conta que ele aprendeu esta técnica do seu próprio analista : "Eu
também aprendi de Winnicott que, se nós fracassarmos com nossos pacientes, nós não
devemos abandoná-los como pessoas. Isto é muito bem endossado por minha tradição
de criação." (pág. 299).
25
A esperança de Winnicott, e talvez a de Khan também, teria sido aquela que até mesmo
depois de uma análise incompleta, o paciente às vezes pode construir e ter uma vida
boa. O próprio Winnicott não se sentia completamente analisado por Strachey ou
Riviere , e ainda assim ele pôde ter uma vida muito completa e recompensadora, que
incluiu um segundo matrimônio muito feliz e um sucesso profissional enorme. Ele deve
ter desejado o mesmo para Khan. Aceitando uma colaboração editorial profissional, não
só ele pôde dar apoio a Khan emocionalmente, mas ele também conseguiu uma ajuda
especializada para editar seus próprios escritos, ajuda que ele precisou enormemente
porque estava doente e sua morte ocorreu depois de cinco anos dessa ajuda de Khan .
Como nós veremos na próxima seção, porém, a vontade de Winnicott para fazer uso de
Khan nesta relação extra-analítica pode ter limitado a eficácia da própria análise de
Khan.
26
Análise Winnicott-Khan: um estudo preliminar da falência do uso do objeto-Parte II
“D.W.Winnicott´s analysis of Masud Khan”, por Linda Hopkins
We all hope that our patients will finish with us and forget us, and that they will find living itself to be a yherapy that makes senseD. W. Winnicott, 1968
( Este material é uma continuação da tradução- preliminar- enviada anteriormente, até a pg. 26. É interessante que o leitor acompanhe com o texto em inglês, para eventuais correções )
The issue of the frame
É bem conhecido pelos analistas que o propósito de um frame é conter o intenso material do paciente, de tal maneira que todos os assuntos possam ser investigados, sem uma preocupação que eles possam vir a ser atuados depois. Este é o motivo pelo qual a quebra do frame é um assunto para preocupação: a área de ilusão ( área of illusion ) não pode ser ser livre ( free ) se a pessoa tem problemas, no momento, com atuações sexuais, agressão e coisas semelhantes. Além disso, é no espaço do frame que as experiências maturacionais do uso do objeto ocorrem. O analista, of course, é responsável pela manutenção do frame.Embora, Khan, eventualmente, tenha se tornado conhecido por violações do frame, nos anos 50, enquanto estava em treinamento, ele conservava o frame com pacientes que tinham habilidade para falar ( entrevista com Jimmy Hood. Nov., 1966 ). O início de Khan também incuiu muitos pacientes que não tinham a capacidade para usar a linguagem para se expressar por si mesmos, e ele, algumas vezes, se permitia desvios do classical frame para estes pacientes. Ele sempre tinha boas razões para prosseguir ( permitir ) estes desvios, entretanto ele set ( estabelecia ) limites estritos em torno destes desvios. Por exemplo, ele devolveu para uma livraria dois livros roubados por um paciente ( Khan, 1959 ); ele levou ( drove; tocar por diante, guardador de gado, ronda à noite das tropas ) um jovem paciente para casa e fez uma chamada telefônica para o pai do paciente a meia-noite; e se permitiu falar para uma paciente enquanto caminhava, ou a ficar de pé de forma a olhar penetrantemente ( glare ) para ela , até que ela fosse, finalmente, capaz de usar o divã ( Khan, 1969 ). Este tipo de ação controlada na análise de pacientes que não conseguiam falar ou responder à interpretação verbal era de particular interesse para Khan, e ele escreveu sobre isto extensivamente, terminando por acreditar que isto era freqüentemente necessário: “ Eu havia aprendido a aceitar que, freqüentemente, a self-experience na situação analítica poderia não ter meios de simbolizar e/ou atuar concretamente, se a motilidade é um tabu rígido” ( Khan, 1972 , p. 297 ). Ao mesmo tempo, Khan acreditava que a firmness ( firmeza, constância ) , em atitude, para estes difíceis pacientes era algo essencial, porque era através do encontro com a resistência ( resistence obstacle ) que eles poderiam adquirir uma estruturação do ego ( Khan, 1959, pg. 163 ). Os desvios iniciais de Khan do frame poderiam ser modelos para como tratar pacientes difícieis ou eles poderiam ser erros, mas o ponto aqui é que eles eram sempre feitos de uma forma controlada e para o objetivo de atender necessidades particulares ( como oposição aos desejos ) destes pacientes.
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Os desvios posteriores de Khan em relação ao frame eram não controlados; mais e mais eles eram para sua própria gratificação. Nos anos 70, e possivelmente antes, ele iniciou uma série de public affairs ( casos públicos ) com estudantes e, mesmo, com analisandos. Embora estes casos fossem seus desvios mais ruidosamente violentos ( outrageous; ultrajantes, ruidosos, violentos ) , Khan também prejudicava muitas outras pessoas com certos comportamentos, como uma socialização inapropriada com estudantes e pacientes, empréstimo de dinheiro e bebendo publicamente em momentos e locais inadequados. No último capítulo de seu ultimo livro, Khan ( 1987b ) fica orgulhoso descrevendo um caso em que ele vai ao hospital e induz o parente de uma paciente a um aborto ( discharge ) e, então, eles tornam-se “amigos afeiçoados” , visitando-a no Paquistão e hospedando-se na mansão da família, enquanto ela assistia o funeral de seu pai. Khan fala deste relacionamento, “ Nós nos esforçávamos juntos, ajudando um ao outro, quando a moral tornava-se baixa”. Khan tinha uma muito pouco convincente racionalização teórica: ele necessitava ensinar a paciente a amá-lo, só assim ela se tornaria capaz de ser capaz de amar a si mesma e então alguém mais.. Em um de seus primeiros livros, Khan ( 1979a ) escreveu sobre o valor da “gente” ( people; nação, gente, plebe ) na vida “real” das pessoas o que ajudava a análise do paciente pela provisão de objetos com quem o paciente pudesse ter novas experiências, que o analista não poderia prover; mas agora ele mesmo tornava-se parte “real” da vida do paciente. Khan declarava que ele sabia que seus colegas poderiam ser críticos de seu comportamento e poderiam dizer “ que isto tem mais a ver com o temperamento de Khan do que com as necessidades dos pacientes” ( 1987b, pg. 195 ). Khan declarava, entretanto, que ele não podia defender a si mesmo, porque ele estava trabalhando fora de sua própria teoria da cura: “Isto era meu programa audacioso e eu trabalhava. . Eu não recomendo isto a nenhum outro clínico “ (pg. 195 ). Os desvios de Khan do frame , finalmente destruíram sua carreira e sua reputação, e seus próprios problemas de personalidade foram a causa maior de sua conduta equivocada ( misconduct ).Alguns dos desvios de Winnicott eram similares aos de Khan, em que ele usava técnicas para lidar ( dealing; proceder, lidar ) com pacientes especialmente difíceis. Por exemplo, Little ( 1990 ) falou do comportamento protetor de Winnicott quando ela estava particularmente regredida; ele tomou o controle da chave de seu carro, pegou ( held ) sua mão, sugerindo a ela ficar só em uma sala após a sessão até ela se acalmar, e insistiu que ela permanecesse em um sanatório durante suas férias e a acompanhou até lá. Khan ( 1988 ) atribui a Winnicott a técnica de ir além de cinquenta minutos com certos tipos de pacientes e também de vê-los em horários não usuais. Por exemplo, Khan ( 1971 ) descreve que viu uma paciente “em um quente sábado de verão – que era a única possibilidade em minha agenda para ela. Eu aprendi com Winnicott que com este tipo de caso é necessário ver o paciente na demanda ou isto é inútil “ (pg. 237 ).Winnicott usou uma técnica não ortodoxa no inicio da análise de Khan. Em 1951 ou 1952, Khan teve um breve sacamento com uma popular musicista que era membro de uma respeitáavel família inglesa. Khan considerou o casamento sufocante e as coisas acabaram em divórcio. Segundo Marion Millner ( entrevista, nov. 1969 ), que ouviu a história por Winnicott, antes do divórcio, a esposa de Khan estava tão deprimida e com idéias suicidas, que Khan pediu a Winnicott para levá-la em seu lugar, temporariamente, na análise. Millner considerou que Winnicott cometeu um “terível engano” em concordar com o pedido. Em lugar de ter Khan em análise, Winnicott colocou-o a ajuda-lo em trabalhos editoriais. Após Khan retornou à análise, mas continuou com a colaboração editorial. Além disso, Winnicott e Khan fizeram uma publicação conjunta ( 1953 ) de uma importante revisão teórica, de cinco páginas, do livro de Fairbain ( 1953 )
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Psychonalytic Studies of the Personality. Segundo Khan ( 1987a ), “Cada trabalho de Winnicott, de 1950-1970 e cada livro dele foram editados por mim “ ( pg. Xviii ). Muitas questões emergem desta história. Por que Winnicott tomou a esposas de Khan para tratamento em lugar de dar à ela um encaminhamento? Por que Winnicott falou sobre seu analisando quando Milner, ela própria, era sua aluna e analisanda? E por que Winnicott aceitou uma publicação conjunta e uma colaboração editorial com seu novo analisando?No caso especial de uma análise de treinamento, o analista e o analisando, inevitavelmente, interagem profissionalmente fora do setting analítico ( Gabbard, 1995 ). Winnicott e Khan talvez não tivessem podido evitar esta complicação, e eles viram-se obrigados a freqüentar muitos meetings profissionais juntos. Há evidências, entretanto, que eles acted out assuntos analíticos em um caminho público que não era necessário e revelaram problemas na análise. Malcon Pines ( entrevista, nov, 25, 1996 ) relembrou suas inteirações nos meetings da Sociedade Psicanalítica, durante o período quando Winnicott foi pela primeira vez presidente da Sociedade, de 1956 a 1959.
Os membros seniors costumavam ficar na frente e os estudantes atrás. Masud
costumava sentar na metade da parte de trás da sala; algumas vezes ele costumava
sentar com Rycroft. Ele ( Masud ) era muito proeminente; ele costumava dizer sempre
alguma coisa ou perguntar alguma coisa e ele era sempre espirituoso e brilhante.
Quando Winnicott era presidente e dirigia os meetings, Khan costumava ser um pouco
rude com ele, arrogante e desafiador.
Pines reporta, indo além, que Winnicott, em sua maneira típica, nunca envolveu-se envolveu-se publicamente ou tentou fazer Khan parar com os ataques; ele apenas os ignorava.. Pines relembra:
Winnicott estava sempre dando às costas, algumas vezes ele chegava a dormir naqueles meetings. Como estudantes observando isso, nós sabíamos que Winnicott era pouco capaz de parar os ataques de Khan, mas nós nos aborrecíamos porque um analisando estava atacando seu analista. Nós não sabíamos o que pensar sobre isso.
Não somente Winnicott falhou em dar um retorno para Khan sobre seu inapropriado comportamento, mas ele falhou também com o grupo todo, que estava desconfortável com o que eles estavam observando. Khan revelava seus problemas controlando sua agressão e Winnicott revelava seus problemas manejando ( handling ) a agressão de Khan.. O padrão de inteiração de Winnicott é muito similar ao que envolvia o menino órfão, Margaret Little e Harry Guntrip.
O mix de trabalho profissional com sentimentos pessoais e assuntos de transferência e contratransferência tornaram-se um frande problema após a análise ter terminado e Khan e Winnicott começaram uma maior colaboração editorial. Estes dois homens trabalharam juntos, editando e publicando material, por mais de duas décadas, mas em 1967 eles começaram a se encontrar regularmente aos sábados de manhã, na casa de Winnicott, com o propósito de colocar os papéis de Winnicott em ordem, provavelmente sendo ambos pressionados pelo sentimento de uma fraqueza de Winnicott, causada por sua saúde muito abalada. Khan ( 1988 ) descreve a relação
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“real” em termos muito positivos e também faz agradecimentos ao repetitivo aspecto pai-filho do relacionamento.
DWW tem um senso de urgência este ano, 1970, reunindo tanto quanto possível de seus
“refugos”, , anotações não completas, etc., as editando, junto comigo. Eu tinha feito
isso uma vez antes, há aproximadamente 37 anos passados, ; para e com meu pai, Khan
Bahadur Raja Fazaldad Khan, durante o último ano de sua vida. Eu o ajudei
“elegantemente” ( tidily; com carinho ) a organizar suas vastas propriedades e
distribuí-las entre entre seus oito filhos e duas viúvas, como ele desejava. Ele tinha
conhecimento e tranqüilamente, prazenteiramente, aceitou o fato de que seu fim estava
chegando. Ele teve um bom tempo de viver por cerca de 93 anos. DWW viveu somente
70, mas ele esteve muito adoecido, por causa dos ataques cardíacos, desde 1950. Sim!
Ele era uma pessoa completa e realizada, assim como ele caminhou, airosamente e
galhardamente, seu trajeto para o fim. Isto doeu em cada um de todos nós que o
amávamos (pg. 50 ).
Na superfície a relação parecia bem: Khan procurava ser útil para seu querido mentor e Winnicott necessitava e valorizava a ajuda experiente de Khan. Considerando-se isto em um nível profundo, entretanto, parece claro que khan e Winnicott jogaram para o ar a análise de Khan e aceitaram isto no lugar da “real” relação que não pode ser analizada.Khan procurava uma relação pessoal com Winnicott e buscava ser de valor para Winnicott. Ele terminou sua relação com Winnicott muito antes de Guntrip, com a idéia de que Winnicott valorizava sua bondade e com desconhecimento da ambivalência e da agressão subjacente. Escrevendo para R. Stoller sobre a morte de Winnicott, Khan disse, “ Sim, meu bom amigo, eu não estaria me jactando ( boast ) se dissesse que ele se ancorou em mim, eu maximizei seus últimos anos” ( março 23, 1971 ). Cooper ( 1993 ) encontrou uma citação nos workbooks de Khan: “Uma longa carta de Winnicott, de Plymouth, datada de 17/8/70. Uma palpável angustia sobre sua própria fragilidade na vida agora... esta é sua terceira carta para mim. Sim, eu sou agora essencial para ele com a minha presença física e proximidade. Isto é uma grande benção para mim” ( p.21 ).O sábado de manhã editando tornou-se a maior parte da experiência de Khan com Winnicott. Entretanto, mesmo tendo estado os últimos quinze anos em análise, Khan fala com saudades os encontros de sábado, “ em cada encontro eu aprendia mais de Winnicott” ( pg. 26 ). Embora isto pareça um elogio, é, entretanto, um “cumprimento pelas costas”, porque sugere que a análise, ela mesma, foi de limitado valor. Se khan realmente obteve seu maior proveito da análise de seus encontros extra-analíticos com Winnicott, nós podemos especular que ele tenha tido uma necessidade de mais autenticidade de Winnicott dentro da análise ( Frank, 1997 ). Infelizmente, Winnicott estava limitado, tanto por seu treinamento clássico como por sua personalidade, como resultado isto afetou que ele pudesse se comunicar com Khan como uma analisando. Sendo assim, as experiências extra-analíticas com Winnicott repetiram as relações iniciais com seu pai, quando Khan era destacado como favorito entre muitos irmãos e ganhando bens familiares após a morte de seu pai. Baljeet Mehra pontua que a relação alterou o espaço analítico, fazendo com que uma análise completa se tornasse impossível: “Eu não estou seguro de quanto sucesso foi possível nesta relação analítica... Winnicott via khan como um filho e você não pode analisar seu filho” ( 1992, citado in Cooper, 1993, pg. 25 ).
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A própria teoria de Winnicott do desenvolvimento da capacidade para o uso do objeto fornece uma forte razão contra a maneira que Winnicott quebrou o frame com Khan. Como poderia Khan se confrontar com sua própria destrutividade se ele estava sendo bastante útil para seu analista ? E como poderiam Khan e Winnicott ter uma completa experiência da destrutividade de Khan, quando eles estavam tendo uma relação colaborativa entre as sessões e, depois, na pós-análise? A correspondência de Khan com R. Stoller fornece evidências diretas que durante o período pós-analítico, ele não adquiriu um adequado nível de conforto com sua própria agressividade. Em uma carta escrita do Paquistão para Stoller, em 10 de abril de 1970, Khan descreve os continuados problemas com sua esposa Svetlana e suas reações ao fato de que ela na estava indo bem.
Não é somente mortificante como desesperançoso, o vis à vis com aquele que se ama e
mesmo mais dilacerante é a convicção delineada em mim que, talvez, o real fator
patogênico na vida de Svetlana sou eu, eu mesmo. Esta é uma terrível verdade, ter o
conhecimento e aceitar que o remédio para isto é mesmo muito doloroso e aterrador.
Khan não revelou qual “remédio” ele tinha em mente, mas o que aparecia nesta época era que khan continuava com seu padrão de bebedor pesado e de affairs extra-conjugais. Após alguns poucos anos, ele e Svetlana estavam separados e se divorciaram. Estaria Khan pensando que ele estava prestando a Svetlana um favor ao deixá-la, por causa que ele era o maior fator patogênico em seus problemas? A carta de Khan mostra que ele não adquiriu o estágio do uso do objeto, onde a pessoa sabe que, ele ou ela, não destrói efetivamente o objeto da agressão.Mais ainda, uma outra complicação da relação editorial entre Khan e Winnicott foi o desenvolvimento de uma situação triangular, onde a hostilidade de Khan contra Winnicott estava deslocada para a segunda mulher de Winnicott, Clare, e ficou não analisada. Joel kanter ( 1997 ) acredita que havia uma significativa hostilidade entre Clare e Khan assim como eles competiam pela atenção de Winnicott, e Khan nos dava muitas insinuações desta competição em seus escritos. Por exemplo, Khan ( 1986a ) comentou que ele nunca era convidado para o almoço nos sábados ( pg. 26 ), e descrevendo um encontro, numa tarde de sábado quando ele veio para a consulta de sábado às 7:00 p.m., ele escreve, “A porta era aberta por sua irmã. Não se mostrando interessada por isto, Mrs. Winnicott nunca abriu a porta para mim” (pg. 33). Khan não se sentia particularmente bem-vindo na casa de Winnicott: “Eu não me sentia à vontade indo ver Winnicott pela tarde. Isto rompia sua vida privada, ou eu sempre sentia que era assim” ( pg. 39 ).Khan nunca fez comentários favoráveis sobre Clare em seus escritos sobre Winnicott. Algumas vezes ele deliberadamente ignorou sua presença, assim como quando ele escreveu sobre suas preocupações para Winnicott em um natal.
Mas muito mais importante que qualquer outra preocupação com ( pacientes ) era
minha resolução de que Winnicott deveria ter um pacífico natal com suas irmãs. DWW
era uma pessoa difícil de ajudar. Ele procurava não manter nenhuma relação de
“apoio” ( stand ) de dependência com ninguém; com exceção de suas irmãs” ( pg. 45 ).
Milner ( entrevista, nov., 25, 1996 ) fornece mais documentação sobre esta rivalidade.
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Khan era muito ciumento de Clare. Uma vez ele me disse:” Eu não posso suportar o que Clare disse para mim, uma vez mais, como ela fez Winnicott potente!”. E Clare disse-me que ela e Masud nunca poderiam ser amigos porque ele nunca a perdoou por ter casado com Donald”.
Assim como Khan era competitivo com Clare, ela também participava da rivalidade. Kanter ( 1997 ) acreditava que Winnicott removeu Khan de seu papel literário ( literaly role ) por solicitação de Clare.
Trabalhando literariamente com Winnicott em seus trabalhos até o dia antes de sua
morte, Khan acreditava que continuaria a desempenhar um papel central na edição dos
volumosos escritos de Winnicott após a sua morte. Até que Clare deliberadamente
excluiu Khan deste processo. Como o trabalho profissional de Khan com o material de
Winnicott estava muito entrosado, pareceu ser óbvio que a exclusão era altamente
pessoal ( pg. 52-53 ).
E. James Anthony ( carta ao autor, mars., 31, 1997 ) agrega.
Alguém poderá censurar Masud por ser insensível aos sentimentos de Clarre, porque Winnicott parecia desejoso em ter este tempo editorial junto com Khan. Quando ela teve sua própria chance, ela o excluiu, após a morte do marido, porque deveria estar muito aborrecida com Khan.
É certo que Clare conhecia as intenções de seu marido, enquanto que Khan não. Cooper ( 1993 ) refere-se à descoberta de Khan do conteúdo das intenções como um “esmagamento” e um “choque amargo”. Se Winnicott falhou em não dizer para Khan sobre suas intenções, então nos podemos perceber, ainda, outro exemplo da dificuldade de Winnicott em envolver-se diretamente na discussão de um agressivo, mas justificável ato pessoal. Winnicott pode ter escondido a verdade de Khan, para deixá-lo manejar a situação por si mesmo, depois que ele ( Winnicott ) tivesse morrido.
O resultado total da relação DWW-Clare-Masud é mais um elemento sobre a importância da manutenção do frame. Se Khan deslocou sua agressão para Clare e Clare atuou sua própria agressão contra Khan, com Winnicott envolvido intimamente com ambos, um de cada vez e não como um trio, então o que poderia ter ocorrido no espaço very privado da análise foi, ao invés disso, atuado na vida real.. A hostilidade de Winnicott, a hostilidade de sua esposa e a hostilidade de Khan eram óbvias para um observador externo, mas elas não foram exploradas no nível da fantasia, o que poderia promover a maturação e poupar todos os participantes de “danos” na realidade.
É uma ironia pensar que Winnicott e Khan estavam envolvidos em evitar assuntos relativos ao uso do objeto ao mesmo tempo que eles colaboravam no desenvolvimento e publicação de uma teoria do uso do objeto! Eles falharam juntos em colocar a teoria na prática. Nas próximas duas secções, maiores dados serão apresentados para explanar
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porque estes dois brilhantes homens tiveram problemas em aplicar sua teoria em seu próprio trabalho clínico
As condições cardíacas de Winnicott: Um tema da subjetividade do analista
Aron ( 1991 ) alerta que a vigilância ( awareness; acautelar-se ) do paciente com a realidade subjetiva do analista é um importante aspecto na compreensão da relação terapêutica. Um caminho que Winnicott revelou sua realidade subjetiva para Khan foi através de sua condição cardíaca – e esta realidade pode ter exercido uma influência maior na limitação do papel da análise.
Winnicott teve seu primeiro ataque no ano novo de 1948., o mesmo dia em que seu pai morreu ( Phillips, 1988, pg. 154 ). Quando Khan iniciou sua nálise em 1951, Winnicott tinha acabado de sobreviver a dois ataques cardíacos, e embora ele vivesse até 1971, ele sofreu periodicamente de angina e mais alguns ataques cardíacos antes de sua morte.
Khan havia acabado de perder seus dois primeiros analistas, Sharpe e Rickman, que morreram enquanto ele estava em análise. Esta preocupação com a saúde de Winnicott está bem documentada em seu último livro ( Khan, 1988 ). Por exemplo, ele relembrou uma noite de sábado, em 1970, quando foi ver Winnicott às 7:00 P.M. e encontrou-o em sua cama, com a estufa a gás “assobiando”. Winnicott costumava bebericar um malte de Whisky diluído, e Khan relata que Winnicott tomando o Whisky era um sinal seguro de que ele tinha dor, porque ele bebericava malte “somente quando as dores da angina estavam começando ou quando ele estava se recuperando de um ataque de angina” ( pg. 39 ). Khan descreve sua reação pessoal.
Eu estava mesmo mais nervoso agora. Qualquer sinal de perda de vigor em DWW tornava-me muito ansioso. Ele talvez tentasse esconder isto de mim e manter-me fora do que estava acontecendo. Este era um tolo ( silly; estúpido ) jogo inglês, que ele jogava melhor que eu. Ele havia nascido e crescido fazendo isto. Eu não ( pg. 33 ).
Num sábado, enquanto trabalhava com Khan, Winnicott deixou cair alguns papéis no chão., sua mente não conseguia focalizar e ele disse, “ Eu não estou me sentindo bem esta semana, Khan, eu estou realmente ficando velho”. Khan lembrou, “ Ele tem setenta anos de idade, eu pensei para mim mesmo. Ele teve três severos ataques cardíacos nos últimos vinte anos. De fato, era incrível a maneira como DWW ainda funcionava” (pg. 37 ).
A atitude protetora de Khan para com Winnicott é revelada em outra anedota. Uma vez Khan estava saindo da casa de Winnicott e preocupado com a saúde dele, eles tiveram uma engraçada mas séria “conversa”. Khan falou primeiro:
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Desta forma: “Este é o telefone que eu vou deixar disponivel no caso que você necessite me chamar”. “Para que, Khan?”. “Oh, sem preocupação ou cuidado, DWW”, “ Eu disse com calculada aspereza. Estes gracejos eram comuns entre nós”(pg. 34 ).
Peter Elder ( entrevista, june,7,1997 ) confirma estas anedotas lembrando que khan lhe disse que Winnicott ficava sonolento ( fell aslep ) durante suas sessões analíticas. Khan virava-se para se certificar de que seu analista ainda estava vivo.
Margaret Little, como Khan, estava em análise quando sua analista ( Ella Freeman Sharpe ) morreu de um ataque cardíaco, e como Khan, ela era muito sensível às condições cardíacas de Winnicott. Little ( 1985 ) conta que estava , nos anos 50, em tratamento quando Winnicott teve seu segundo problema coronário, comentando que ele tornou-se depressivo após a doença, e preocupado com recidivas.
Eu estava sempre preocupada que ele tivesse um terceiro problema coronário e morresse, o que poderia ser fatal para mim. Um dia quando eu fui para a minha sessão eu esperava que ele me dissesse que estava pronto. Várias vezes eu perguntei para o recepcionista( porteiro ) “ ele ainda não está aqui?”. Finalmente, após 45 minutos, eu entrei na sala esperando encontrá-lo doente ou morto e o encontrava dormindo no divã e não tendo ouvido a campainha.
Little disse que ela “sabia” que o segundo ataque coronário e a subseqüente depressão tinha sido conseqüência de depressão de Winnicott com o fim de seu primeiro casamento, mas isto não foi objeto de discussão. Ela sentia nele uma tensão entre a necessidade de sobreviver e a necessidade para uma profunda experiência depressiva, que ela sabia ser um esforço violento para Winnicott “in qualquer maneira – tempo, energia, ansiedade, emoção” ( pg.101 ). Uma ocasião, quando Winnicott estava saindo de férias e Little estava desesperada para que ele ficasse, ela experimentou a situação como uma crise extrema, “literalmente um assunto de vida ou morte, para ambos – eu e Winnicott. Se ele não sobrevivesse então eu também não poderia, fisicamente por fim”( pg. 101).
Nós podemos observar que os reports de Khan e de Lttle que eles relacionaram com a saaúde de Winnicott ficaram muito pouco discutidos, devido às necessidades de Winnicott ter a sua saúde como uma experiência privada. Little claramente acreditava que o stress emocional na vida privada de Winnicott e de seu trabalho também, poderia leva-lo a ter um outro ataque cardíaco, e ela acreditava estar certa. O primeiro problema coronário de Winnicott ocorreu no dia da morte de seu pai e o segundo ao mesmo tempo de um difícil divórcio, seguido logo de um segundo casamento. O ataque coronário que precedeu sua morte foi claramente determinado ( desencadeado ) por stress. Este ataque ocorreu apenas algumas horas depois que Winnicott apresentou seu paper “The use of na object” na New York Psychoanalytic Society, em 12 de novembro de 1968. Brett Kahr ( 1996 ) conta a estória como se segue.
Aparentemente ele recebeu uma resposta muito gélida de veneráveis analistas americanos... e parece que ele não se defendeu de nenhum modo de suas críticas
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ferinas. Após as críticas verbais... Winnicott murmurou que agora entendia porque os americanos haviam se atolado na guerra do Vietnã. Após o fim da palestra, ele retornou ao hotel e teve um ataque coronário maciço, que o manteve na cidade de New York por mais algum tempo... ( e depois desenvolveu um edema pulmonar, que se somou a uma gripe asiática, sendo hospitalizado e quase morrendo... Ele necessitou duas enfermeiras para acompanha-lo no vôo de volta de New York até Londres... Após seu retorno, Winnicott comentou com um colega mais jovem que “Um dia eles ainda me matam”. (pg.118-119 ).
É mais irônico que Winnicott tenha tido seu problema coronário após a apresentação de um paper que discutia a vital importância de objeto da agressão sobreviver ao ataque. Sua resposta passiva à agressão pode muito bem ilustrar os exemplos anteriores . A história é ainda mais evidente porquanto Winnicott tenha escrito papers inovadores sobre ódio, ele não conseguiu relacionar-se bem com aqueles que expressavam ódio e ele sofria as conseqüências disto pessoalmente..
Em 1957, Winnicott deu uma palestra em que discutia os fatores envolvidos na trombose coronária ( Winnicott, 1957, pg. 34-38 ). Ele enfatizou que os problemas coronários são psicossomáticos e que estão ligados ao stress emocional. Ele afirmou após que indivíduuos que são predispostos aos problemas cardíacos têm a responsabilidade de alterar seu “mode of life”, para que continuassem a viver não obstante que a vida sempre apresenta stress. Ele apresentou um modelo que mostrava o perigo da excitação que não é descarregada para um clímax satisfatório. Neste modelo o caminho para controlar o efeito destrutivo da excitação e congestão é limitar o nível de excitação. O conteúdo da palestra leva à uma questão óbvia: poderia Winnicott conscientemente tentar controlar sua congestão cardíaca pelo controle da excitação ou limitando a resposta à excitação em seu trabalho clínico? Seria por isto que ele deixava “de lado” relacionamentos com pacientes e colegas em que as trocas de hostilidade poderiam levar a perigosos níveis de tensão ( arousal; excitação )?
Parece óbvio que Winnicott e a maioria de seus pacientes estavam cientes que ele estava fisicamente vulnerável ao stress na situação analítica. Seus problemas de saúde eram um exemplo do que ocorre quando da emissão inadvertida de self-revelation do analista ( Frank, 1997 ), e não há concordância sobre quanto abertamente um analista deve dar conhecimento de um assunto deste tipo.. Parece claro, entretanto, que a reticência de Winnicott em discutir sua saúde não foi útil para Khan. Khan estava sempre preocupado com o estado físico de Winnicott, e como um homem que tinha uma enorme quantidade de agressão em sua personalidade, parece compreensível que ele era conivente com Winnicott para protege-lo, através do controle da quantidade de hostilidade expressada nas sessões; ambos temiam o potencial de Khan para a hostilidade e o dano físico que isto poderia causar para Winnicott. Devido à esta conivência khan foi deprivado ( deprived; desapossar, ou seja, teve “um pouco” ) da experiência de enganjamento na qual Khan poderia praticar a “destruição” de Winnicott. “Destruição” é útil somente se o analista sobrevive, e nem Khan nem Winnicott poderiam dar garantias da sobrevivência de Winnicott.
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A condição cardíaca de Winnicott era um fator subjetivo que indubitavelmente limitou o espaço potencial na análise de Khan. Saberia Kahn, ou Winnicott, ou ambos, o quanto a saúde de Winnicott e sua retic~encia em discutir sua saúde comrometeram a análise? Khan teria , em parte, deixado o tratamento para evitar a morte de outro analista enquanto ele estava em análise? Por que Winnicott não referiu Khan para outro analista que poderia manejar com a hostilidade de Khan e que poderia substituir Winnicott após sua morte.
O problema do alcoolismo
O fator final considerado aqui como contribuição ao limitado sucesso da análise de Khan é o assunto do alcoolismo. Alcoolismo era o maior problema de Khan, e a análise não o ajudou nesta área. Não há evidências, contudo, que Winnicott tenha referido ou tentado referir seu paciente para tratamento espcializado; de fato, Winnicott e Khan terminaram a análise na época em que Khan estava envolvido numa grande e malsucedida batalha contra a dependência do álcool .
Khan era inicialmente um bebedor social até a metade dos anos 60, quando a bebida tornou-se um problema para ele. Na metade dos anos 60 Khan passou a ficar regularmente ofensivo e hostil após beber, ao ponto que seus amigos freqüentemente recusavam ir a restaurantes com ele. Khan tentou tratar o alcoolismo por si mesmo; usualmente indo para o Paquistão e forçando abstinência por semanas e algumas vezes por meses, mas ele freqüentemente recaia. Em 1975 Khan teve um problema hepático que estava certamente ligado ao álcool. Nesta ocasião seus problemas hepáticos estavam associados a seus outros problemas de saúde, que incluíam câncer de língua, garganta e pulmões; catarata e hepatite e, possivelmente, mania e depressão. Khan estava sofrendo simultaneamente de desordens de caráter e depressão, e nós agora sabemos que há uma tremenda comorbidade destes distúrbios com alcoolismo. Infelizmente, se uma destas patologias não é tratada, poderá exacerbar as outras, assim o alcoolismo não tratado de Khan pode ter sido a chave ( key ) para a falência de sua análise em outras áreas.
Winnicott tinha treinamento como pediatra e depois como psicanalista; o tema do alcoolismo não foi uma parte significativa de sua formação. Em seus inúmeros artigos, não é dada atenção maior ao alcoolismo. Atentando para a teoria, encontramos referências às adições em geral como um exemplo da patologia do espaço transicional ( Winnicott, 1953 ). No material clínico, Winnicott ( 1963 ) menciona o alcoolismo em suas notas sobre o caso de um homem com um lado dissociado “feminino” que tinha inveja do pênis. Winnicott interpretou para o paciente que ele tinha ansiedade sobre desintegração, “despencar” (falling; cair ) e despersonalização e que ele bebia com o intuito de manter estes sintomas sobre seu próprio controle: “Eu interpretei isto como uma tentativa de sua parte de obter controle de todas as ansiedades de desintegração, através da utilização de uma antiga maneira e em um caminho bem conhecido que era a ação do álcool, que incluía restabelecer o estado alcoólico” ( pg. 188 ) Não há menções posteriores ao uso de álcool.
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Khan também escreveu muito pouco sobre alcoolismo. Em um de seus primeiros artigos, escrito antes que ele tivesse tido problemas com álcool , ele sugeriu que alcoolismo poderia tornar-se um problema se o ódio examinada suficientemente na análise. Ódio não analisado leva “ à compulsão através da rendição ao masoquismo “ para o ambiente, como no alcoolismo ( Khan, 1959 );pg 165 ). Em seu artigo “ On lying ( falso, frouxo, mentiroso, deitado ) fallow ( pálido, desocupado,em repouso ou abandono, sem cultivo ) “ ( 1977 ) ,Khan refere-se ao alcoolismo como a “falência do humor desocupado”, no qual a pessoa não tem esperança de dar um resposta criativa para o período desocupado proque, ele ou ela, está fora de sintonia com o ambiente e somente procura por uma experiência “exótica”. A teoria de Kahn do “período desocupado” é uma exptensão da teoria do espaço transicional, e, então, ele está basicamente concordando com Winnicott que há uma desordem do espaço transicional no alcoolimo. Como Winnicott, Khan ( 1972 ) relata apenas um caso de paciente com problemas de beber. Khan afirma que ele ajudou seu paciente rapidamente com este problema de muito tempo: “Eu o desmamei ( wean; desmamar, livrar de vício, desapegar ) da garrafa muit9o facilmente” (pg.299). Este relato de caso de Khan, como o de Winnicott, não é uma consideração séria do alcoolismo.
Os problemas de Khan com álcool tornaram-se evidentes em escritos nos quais ele faz referências crescentes à participação de uso de álcool com pacientes, em um caso onde ele estava realizando uma consulta, por solicitação de Winnicott, Khan (1986 a ) relata que ele foi visitar uma teenage em um sanatório, e a secretária perguntou para a moça o que ela gostaria para o almoço: “Peixe e uma ou duas taças de vinho branco gelado, seco se possível”. (pg.34). Após, enquanto recebia a moça e seu pai, em seu consultório, Khan pediu à secretaria para servi-los com champanhe gelada e três taças. Em outra situação, Khan (1986b ) deu o seguinte relato de um encontro social em seu consultório, logo após atender o filho de um paciente em consulta. “Lúcia perguntou: posso te dar uma xícara de chá ou talvez um sherry?´ Eu não sou inglês, Lúcia. Dê-me um longo whisky brando. Mas sem gelo, por favor” Lucia serviu-me um drink . Ela fez para si mesma um Bloody Mary. (pg.74 ). A maior surpresa, entretanto, acontece quando khan ( 1986a ) fala que Winnicott ofereceu álcool para ele. Khan relata que ele havia ido á casa de Winnicott para a sessão das 7:00 p.m. Winnicott ofereceu-lhe whisky, e Khan serviu-se “generosamente”. Um pouco depois, Winnicott sugeriu, “sirva-se de outro, Khan” (pg. 33 ) e Khan fez isto.
Of couse, o leitor não pode saber seguramente que estas situações de Khan bebendo álcool com seus pacientes ou com Winnicott sejam verdadeiras, porque Kahn era bem conhecido coom mentiroso. Se Winnicott realmente ofereceu álcool para este paciente, conhecido, sabendo que Khan estava muito atrapalhado com o alcoolismo, então seu comportamento deve ter sido inapropriado, mesmo pensando que ele possa ter sido socialmente correto. Winnicott tinha de saber que Kahn era alcoólatra.. Mesmo que Khan não discutisse álcool em sua análise, Winnicott inevitavelmente deveria ter ouvido muitas histórias dos ambientes que ambos freqüentavam sobre o alcoolismo de Khan.
A psicanálise pode ser usada para o tratamento do alcoolismo, mas o approach deve ir mais além ( beyond ) da técnica clássica. O uso que o paciente faz do álcool e o padrão de negligência consigo mesmo deve ser confrontado, mesmo se ele ou ela não traga o assunto, e a atmosfera analítica deve ser uma mistura de aceitação e confrontação
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(Khantzian, 1995 ). Winnicott deve ter se mantido nas instâncias da análise clássica e não confrontado Khan com seu conhecimento sobre o alcoolismo do paciente, se Khan não tivesse mencionado este fato. A atitude de não intrusão de Winnicott ajustou-se de todo com a tendência de Kahn em negar sua vulnerabilidade.
A habilidade de Khan de mostrar seu alcoolismo estava, certamente, compromissada com sua personalidade. Sua grandiosidade, seu orgulho, e sua “privacidade” o levaram a tentar tratar a si próprio, uma técnica que nunca é bem sucedida ( o primeiro passo dos Alcoólatra Anônimos é a “rendição”; Khan teve problema sem dar este primeiro passo ). Outro problema ´´e que Kahn tinha depressões severas periodicamente, e ele usava o álcool, certamente, como parte da auto-medicação para a depressão. Complicando mais ainda, Kahn taalvez tivesse uma doença bipolar não tratada, especialmente nas fases maníacas. Após um período de tempo, o abuso de álcool por Khan tornou-se uma dependência do álcool., assim suas tentativas de abstinência tornaram-se complicadas por uma dependência física.
Havia uma tendência em criticar Khan como ele tendo uma fraqueza ou um “problema” moral, não parando de beber por si próprio. Muitos de seus amigos relataram em entrevistas que eles percebiam que Khan estava, deliberadamente, destruindo a si mesmo e que sua adição era “sua própria derrota”., ainda que todos que lidam com adição sabe como é difícil quebrar este padrão.. Uma análise balanced inclue compaixão e respeito pelo poder das forças biológicas, em relação com a questão do por que o adito não pode fazer uso para a judar a si mesmo a recuperar-se. Infelizmente, não houve balance em analisar a adição de Kahn em seu tratamento, ainda que nós não saibamos que tipo de approach poderia ajuda-lo.
É sabido ( registrado ) que pessoas com uma adição freqüentemente tem outras adições. No trasncorrer de sua vida adulta, Khan foi adito ao cigarro, e ele não se sentia motivado a tentar deixar este hábito. Ao final foi o fumo, não o álcool, que matou Khan, quando ele desenvolveu câncer de pulmão que lentamente espraiou-se por seu corpo.
Conclusões
O tributo de Khan ( 1975 ) a Winnicott termina com a seguinte afirmação, que sumariza a relação entre eles: “Winnicott era uma daquelas pessoas que a gente só encontra uma vez na vida”. A afirmativa era acurada, para Khan que nunca encontrou um substituto para Winnicott, e ele nunca mais foi capaz de se “dirigir” sem Winnicott. A última não-sobrevivência do objeto ocorreu em 1971, quando Winnicott teve seu último ataque cardíaco. Alguém poderá especular como a vida de Khan poderia ter sido diferente, se Winnicott tivesse sobrevivido. Porque Winnicott era uma reverenciada figura parental, Khan poderia ter tido um melhor controle sobre seu comportamento se soubesse que ele poderia livrá-lo de seus insucessos ( mishapes; falta de sorte ).( Winnicott esperou que seu pai morresse para divorciar-se e casar-se de novo ). A pessoa Winnicott, enquanto era analista de Khan ou seu colaborador editorial, era , obviamente, uma pessoa que compreendia e gostava dele, e que então “realçou” ( enhanced ) a vida de Khan . Margaret Little contou que ela necessitava que Winnicott estivesse vivo durante sua
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análise, mas Khan usava Winnicott de forma diferente; Ele necessitava de Winnicott com vida mesmo após o término de sua análise.
Estava Khan condenado ( doomed; sentenciado, condenado à morte ) como Cooper ( 1993, pg 36 ) sugere, de maneira que sua “queda” ( downfall ) era uma tragédia que não podia ser detida ? Khan poderia discordar desta idéia. Ele acreditava que após uma boa analise, “fado” tornava-se “destino”, com o analisando obtendo algum controle sobre sua vida ( Khan, 1984 ). Por que então, após quinze anos de análise com Winnicott, Khan não obteve melhor controle de seu destino. Eleonor Galenso ( entrevista, abr., 27, 1997 ) sugere que Kahn poderia ter sido “um daqueles pacientes que simplesmente não podem ser ajudados”. Mas mesmo pensando que a análise não pode ajudar a todos, este artigo mostra que houve problemas na análise, envolvendo ambos, Khan e Winnicott, fraquezas em suas personalidades assim como outros fatores, que estavam alem das inevitáveis limitações da análise.
Porque Winnicott é considerado por muitos como um dos grandes analistas, é valioso considerar os caminhos em que ele pode ter falhado com Khan, Outro approach para analisar esta análise é olhar o balanço holding versus interpretação. É claro que Winnicott fez uso de ambos os approches em sua análise de Khan . Analistas que criticaram a técnica de Winnicott com a Guntrip, fornecem algum insight aqui, porque a situação é similar, de algum modo. Como Guntrip ( ( Eigen, 1981 ) Khan provavelmente escolheu Winnicott em parte por causa de seus soberbos meios no holding materno, e ele propiciou este tipo de holding. Eu acredito que ele não faria análise com uma pessoa que não oferecesse isto a ele . Por outro lado, Winnicott evitava a confrontação com Khan, como com Guntrip ( Markillie, 1996; Padel, 1996 ), podendo ter deprivado Khan de uma completa neurose de transferência e o deixado com falhas no caráter que poderiam ter sido modificadas, se a análise tivesse sido mais interpretativa. Em termos de Bromberg ( 1996 ), não houve suficiente “colisão de realidades” ou um enganjamento com partes “desordenadas” ( messy; atravancadas, falta de asseio, em desordem ) da relação analítica. Em lugar disto, Winnicott evitou os ataques de Khan, como descritos antes, e também aplacou Khan terminando a análise e intensificando a relação extra-analítica, em lugar de beneficiar mais Khan intensificando a análise.
É uma questão válida nos indagarmos se Khan seria ou não capaz de responder à confrontação. Esta questão é também posta em relevo com uma visão na análise de Guntrip ( Eigen, 1981 ). Guntrip, entretanto, fez sessões isoladas por alguns poucos anos, enquanto Khan teve cinco ou seis sessões por semana por quinze anos. Não somente isto; existem amplas evidências da vida pessoal de Khan de que quando ele era confrontado, ele podia modificar seu comportamento, até os anos sessenta. Por exemplo, S. Stoller ( entrevista, July, 24 ) relata que após ela ter se confrontado com Khan sobre o abuso de álcool por parte dele, na metade dos anos 60, , quando os Stoller visitaram Londres e quando Kahn foi à Califórnia. Outro amigo, Z. ( entrevista, nov. 23, 1996 ) contou que ela ajudou Khan a não fazer observações anti-semitas em sua casa, dando um “pontapé” ( kicking ) nele numa ocasião em que estas observações ofensivas começaram antes de um jantar, Sahabzaba Yaub-Khan, um distinto diplomata paquistanês, relatou ( entrevista, apr. 26, 1997 ) que durante os anos 60 ele viu Khan socialmente em muitas ocasiões, e Khan sempre controlava a bebida, provavelmente por
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sua estima com Yaub-Khan. Se Khan era capaz de responder a confrontação e aos limites do setting, então Winnicott falhou com ele por não fazer isto. Cedo na anáalise, Khan poderia ter sido um paciente seriamente perturbado que primariamente necessitava holding e interpretação como algo de contenção ( suporte ). Mas se isto era somente um aspecto ( ponto ) quando Khan começou a poder ter uma resposta construtiva á confrontação e aos limiutes do setting, então foi precisamente neste aspecto ( ponto ) que Winnicott começou a falhar com ele.
Talvez a melhor síntese da falência objetiva de Winnicott com Khan ( i..e., falência que poderia ter sido evitada ) faça uso da terminologia de Joyce Slochower ( 1996 ). Discutindo holding e interpretação na análise, ela dá uma nova perspectiva: “sendo” ( being ) vesus “fazendo” ( doing ). Estes termos, atualmente, são associados a Winnicott ( 1966 ) em associação com os papéis feminino e masculino. Slochower, entretanto, separa a questão da associação com gênero ( gender ) , e percebe estas instâncias como dois caminhos de atuação que estão presentes em todas as análise, mas em diferentes balances, de acordo com as teorias e os estilos pessoais do analista, assim como à uma resposta dada a um paciente em particular.
Eu relaciono a capacidade do analista à tolerância do trabalho psicanalítico para lidar com a dimensão do holding, à sua capacidade para “ser”. O papel do analista como mais mais relacional, interpretativo, ou ativo, limtando ( criando limites ) o setting, mais do que conter o objeto, é associado com o “fazer”, elemento da self-experience e relativamente diferente ( ausente ) do processo de holding.
.Mesmo que o “fazer” possa estar “relatively absent” do processo de holding na teoria de Slochower´, “fazer” é a maior parte do holding quando o paciente é especialmente “demandante” ou “atacante”. Para este tipo de paciente, holding inclui limite de setting, sobrevivência, não retaliação e reconhecimento verbal da intensidade da agressão do paciente. Em um artigo antigo, Slochower ( 1991 ) fala sobre o tipo de holding no tratamento analítico de dois pacientes difíceis e “raivosos”.
Qual foi a ação terapêutica de não-interpretação e não-empática “stance” neste dois tratamentos? Parece que uma extremamente firme, absolutamente não-intrusiva e algumas vezes um pouco “chata” stance analítica como ambiente de holding para estes pacientes. Que é: um tratamento que possa prover um setting em que estes pacientes possam testar e experimentar a possibilidade de sobrevivência, enquanto há vida “in”, uma relação de objeto. Estes pacientes necessitam experienciar, com certeza, o fato que eles não são capazes de me destruir ou se tornarem destruídos eles mesmos, mas que eles são, de fato, capazes de me “usar”.
Slochower estabelece, depois, que este tipo de analisando avança através do uso do objeto somente quando o analista apresenta uma firme e ativa stand ( sustentação, apresentação ).
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Isto contém o pedido que eu limite as efetivas demandas e ataques ( dos pacientes ) e que eu lide com a agressão encoberta e aberta com uma firme mas não retaliatória resposta, o que confirma minha vitalidade.
Para estes difíceis pacientes, é o holding analítico que é um fator curativo, e a interpretação não é efetiva. ( Modell, 1988 ). A descrição de Slochower do tratamento fornece um exemplo de como uma analise pode ajudar a um paciente difícil para o uso do objeto.
Considerando a análise de Khan, desde a perspectiva de Slochower, somos levados a uma conclusão muito irônica: Winnicott, “the master ´holder´” falhou com Khan na posição de holding! Ele falhou no “fazer”, aspecto de seu holding. Ele dava uma resposta de retraimento e de aplacar quqando Khan era hostil e sua confrontações dos acting-outs de Khan não eram feitas ou eram inefeetivas. Eventualmente, ele “falhou em sobreviver” pela morte. O desconforto pessoal de Winnicott com confrontação ( e o conluio com Khan em evitar a confrontação direta ) levarou, então, a um término incompleto da análise, com conseqüências desastrosas para Khan.
O desenvolvimento de uma capacidade para o uso do objeto requer que o analista engage com a hostilidade do paciente e “sobreviva”. O analista deve “conter” a hostilidade e responder de uma maneira que reflita o efeito da hostilidade do paciente e não sua destrutividade. Winnicott, entretanto, dava aos seus analisandos uma resposta “embotada” ( blunted ) acerca de suas hostilidades, o que não lhes permitia ter a experiência dos efeitos de sua força destrutiva ou como sobreviver às respostas dos objetos. Winnicott protegeu seus analisandos ( e a ele próprio ) de seus próprios sentimentos de raiva e, especialmente, em seu último trabalho clínico, da inerente resposta raivosa de interpretações. Sua brilhante teoria do uso do objeto , por fim, será discutida aqui.
Este artigo inevitavelmente levanta questões para as quais não há respostas óbvias. Algumas questões relacionadas a temas muito básicos: serão certos paciente intratáveis? Até que ponto ( se algum ) deve o analista evitar aceitar a confrontação? Qual é o papel da interpretação para pacientes com severas patologias de caráter? Como a relação extra-analítica de candidatos á análise com seu próprio analista afeta a análise, e como está complicação pode ser adequadamente manejada? Outras questões são mais específicas para personalidades particulares como Khan e Winnicott: estava Winnicott temeroso de Khan? Como a condição cardíaca de Winnicott contribuiu para sua limitada habilidade para engage em relaçaões fora do setting, durante análise? Winnicott sabia que teria falhado com Khan, e foi por isso que ele continuou a encontrar-se profissionalmente com ele após o final da análise? Por que Winnicott não encaminhou Khan se ele não pode ajuda-lo? Quando Khan e Winnicott estavam escrevendo e pensando sobre a importância da saudável integração agressiva levando ao uso do objeto, eles estavam evitando a técnica que eles mesmos estavam recomendando?
As questões vão e voltam. Quando os arquivos de Khan forem finalmente “descongelados” em 2039, e as relações de objeto analíticas avançarem nosso conhecimento de como combinar holding com confrontação para chegar ao uso do
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objeto , teremos certamente bem mais respostas, e mais questões, certamente, sobree este fascinante caso ( case ).
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