Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 1/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
A Epistemologia Política da Comunicação
The Epistemological Politics of Communication
Lucrécia D´Alessio Ferrara I
IDoutor, PUCSP. Contato: [email protected]
Resumo: Parte de pesquisa que se encontra em desenvolvimento, esse trabalho estuda aspolaridades dicotômicas que, emergindo da lingüística, atingiram a comunicação através devárias tendências epistemológicas dos anos 60 do último século até os anos 2000 do séculoatual. As profundas alterações tecnológicas que atingiram e transformaram a comunicação nosúltimos anos, obrigam-nos a uma revisão das suas bases epistemológicas. Nesse sentido,impõem-se rever os paradigmas que sedimentaram a produção de conhecimento e suastransformações. Esse trabalho se propõe a acompanhar, entre os índices do passado, os rastrosque podem sustentar essa revisão e propor uma comunicação interativa que, coletiva nos seuscomplexos processos de transindividuação, pode produzir as bases de uma epistemologiapolítica da comunicação.
Palavra chave: epistemologia, política, transindividuação, coletivo, cultura
Abstract: Inserted in a more comprehensive research sequence, the aim of this work is the studyof linguistic dichotomous polarities which affected communication through the epistemologicaltendencies ofthe sixties in the XX century up to the year two thousand of this century. Theprofound technological development that transformed our communication, impose the revisionof their epistemological bases. In this way, it is indispensable to review the paradigms whichhave consolidate the production of knowledge and their transformation. The aim of this work isto follow, among the past indexes , the traces which support that revision and to propose aninteractive communication , which being collective in their complex transindividualityprocesses, could produce the basis of a political epistemology of communication.
Keywords: epistemology, politics, transindividuality, collective, culture
“ A cultura é aquele dispositivo graças ao qual as informações adquiridas são
armazenadas para que possam ser acessadas. Tomara que vocês tenham percebido
imediatamente a malícia. Defini a cultura de tal forma que a comunicologia se torna
responsável por ela. A crítica é o ato graças ao qual um fenômeno é rompido para que se
veja o que está por trás dele.” (Flusser, 2014, p.45)
“La Cultura se há constituído en sistema de defensa contra las técnicas; ahora bien esta
defensa se presenta como uma defensa del hombre, suponiendo que los objetos técnicos no
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 2/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
contienen realidad humana. Querriamos mostrar que la cultura ignora em la realidad técnica
una realidad humana y que, para cumplir su rol completo, la cultura debe incorporar los
seres técnicos bajo la forma de conocimiento y de sentido de los valores.... La cultura se
comporta con el objeto técnico como el hombre con el extrangero cuando se deja llevar por
la xenofobia primitiva.” ( Simondon, 2007, p. 31)[1]
1.A Comunicação como dualidade
Que realidades estão escondidas sob a comunicação? Qual é a cultura que a
comunicação encobre? Que traços culturais a comunicação pode revelar? Que relações se
estabelecem entre comunicação, cultura e técnica? Esse trabalho procurará encontrar uma
possível resposta para essas perguntas, a fim de saber como a epistemologia, enquanto
crítica, poderá revelar escondidas, mas inequívocas dimensões culturais que a
comunicação encobre e guarda.
Em Nova York, em 15 de abril de 1960, Roman Jakobson apresentou ao Symposium
on Structure of Language and in Mathematics Aspects uma conferência de notória
contribuição para a Linguística e a Teoria da Comunicação. Em 1974 e em Milão por
ocasião do I Congresso da Associação Internacional de Semiótica, o renomado autor
apresentou outra célebre conferência sobre o desenvolvimento da semiótica. Nas duas
contribuições, surgem afirmações que nos parecem relevantes para encontrar possíveis
respostas para as questões introduzidas nesse trabalho, pois parecem desconsiderar
qualquer possibilidade que proponha à comunicação um território científico autônomo,
visto que se vincula à linguagem verbal como sua origem e matriz:
É fato que as coincidências e convergências são notáveis
entre as etapas mais recentes da análise lingüística e a abordagem
da linguagem na teoria matemática da comunicação; como cada
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 3/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
umas dessas duas disciplinas se ocupa, embora por vias diferentes
e assaz autônoma, do mesmo domínio da comunicação verbal,
um estreito contato entre elas revelou-se útil a ambas e não há
dúvida de que se tornará cada vez mais proveitoso. O fluxo da
linguagem falada, fisicamente contínuo, colocou em princípio a
teoria da comunicação diante de uma situação
“consideravelmente mais complicada” do que no caso de um
conjunto finito de elementos discretos que a linguagem escrita
apresentava. ( Jakobson, 1969, p. 73)
A afirmação de Jakobson parece indicar que para traçar qualquer limite para a
comunicação como ciência e, sobretudo, como crítica da ciência que produz, é necessário
começar por analisar aquela matriz que a vincula ao verbal. Na conferência apresentada em
Milão, Jakobson debruça-se sobre a necessidade de discriminar os elementos básicos que,
propostos por Saussure no célebre Curso de Lingúística Geral e, mais tarde, revistos e
solidificados por Hjelmslev, sugerem a necessidade de reconhecer, no verbal, elementos
que, entendidos como base universal e invariante, constituiriam sua dimensão científica.
Trata-se dos célebres pares: signo/sistema; língua/fala; significante/significado;
substância/forma; expressão/conteúdo. Nesses pares, os primeiros elementos são bases de
referência para o segundo, pois à maneira de um código, constituem um sistema de
invariantes coercitivas que se voltam para uma afirmação totalizante: “ a substância é a
manifestação da forma na matéria”(Ducrot, Todorov, 1972, p. 38), ou seja, retoma-se a
base aristotélica que confere à forma a única possibilidade cognitiva da matéria,
conferindo-lhe uma dimensão segura e sempre permanente de um sistema que, fechado,
conteria o arsenal de todos os signos verbais e não verbais e poderia ser diagramado como
um modelo lógico-formal que permitiria a reconstrução do próprio processo determinante
da forma do texto. A comunicação teria a missão de transmitir um conteúdo que, contido
em uma forma invariável, garantiria a manutenção do próprio sistema.
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 4/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
Nessa cadeia que se considera universal e invariante, surge o conceito de sentido para o qual Hjelmslev
propõe análoga dimensão, na medida em que o identifica com a matéria modelada pela forma. Desse
modo, propõe-se para sentido uma:
definição operatória, identificando-a com o “material”
primeiro, ou com o “suporte” graças ao qual qualquer semiótica,
enquanto forma se acha manifestada. Sentido torna-se, assim,
sinônimo de matéria, uma e outra são empregadas
indiferentemente, falando-se de dois “manifestantes”: o plano da
expressão e o plano do conteúdo. (Greimas e Courtés. 2008.
p.457)
Porém, no mesmo texto, Jakobson aponta que, sob a influência da Teoria Matemática
da Informação formulada por Shannon, a comunicação seria responsável pelo controle da
redundância, ou de modo mais explícito, equivaleria a um controle da entropia a fim de que
o sistema se mantivesse inalterável e a informação tenha seu território de transmissibilidade
resguardado. Desse modo, a comunicação seria uma coadjuvante da forma na manutenção
coerente do sentido, garantindo-lhe o reconhecimento de validade. Nessa interlocução
sistêmica entre a lingüística e a comunicação, constroem-se as figuras do emissor ou do
enunciador que se comunicam com enunciatários sob a forma de um contrato
comunicativo que:
implica a existência de dois sujeitos em relação de
intersubjetividade, a existência de convenções, de normas e de
acordos que regulamentam as trocas linguageiras, a existência de
saberes comuns que permitem que se estabeleça uma
inter-compreensão, o todo em uma certa situação de
comunicação. Isso explica que a comunicação seja bem sucedida
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 5/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
“não quando os ouvintes reconhecem o sentido lingüístico do
enunciado, mas quando inferem o “querer dizer” do locutor.(
Charaudeau e Maingueneau, 2004, p. 131)
Como coadjuvante da lingüística na manutenção coerente do sentido, a comunicação
assume a dimensão estratégica de um contrato seguro da sua transmissão, através da forma
que o configura e lhe permite reconhecimento. O estruturalismo que se desenvolveu na
Europa e, sobretudo na França, nos anos 50 e durante a década de 60 do século XX,
convocou a adoção da imanência da linguagem, através de uma gramática comum a todas
as atividades comunicativas. Enquanto sistema de coerções, a língua impôs-se à linguagem
e assumiu a dimensão de um conceito universal que tudo envolvia, inclusive a
comunicação. Entram em cena a linguagem como total imanência significante, a
semiologia como domínio de estudo da estrutura da língua, o controle que, ao disciplinar a
língua nas regras de um sistema, pretendia dar conta de todas as manifestações
comunicativas que utilizassem o verbal entendido como meio técnico de natureza
funcional.
Quase simultâneo a Saussure, Charles Sanders Peirce desenvolvia, nos Estados Unidos,
sua lógica da linguagem que denomina semiótica onde procura, não as constantes ou
invariantes do controle disciplinar da língua, mas o modo como aquela lógica, sem
fundamentos pré-determinados, constrói o mundo e lhe permite ser cognoscível. Em lugar
das certezas sistêmicas que construíram a semiologia, Peirce procura uma lógica sem
certezas, porque não se subtrai à indeterminação, mas a ela se expõe, para dela extrair uma
epistemologia feita de evolução e surpresa. Em lugar da gramática universal semiológica,
Peirce ( 1982-2000) propõe uma lógica que alia à semiótica, a estética, na estrita qualidade
da sua materialidade formal que tudo evidencia mas nada explica sobre a substancia a que
dá existência, e a ética atenta à imprevisível evolução e mudança.
Observar as diferenças entre semiologia e semiótica, constitui tarefa urgente e
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 6/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
necessária, se quisermos entender as possibilidades epistemológicas da comunicação que se
desenvolve no século XXI. Entretanto, para o desenvolvimento dessa tarefa é necessário
observar variáveis que interferem no modo como se conhece e desfazem a pretendida
certeza cognitiva. Essas variáveis abrem um leque de inferências que exigem outro olhar
sobre a segunda metade do século XX e suas consequências futuras.
Embora rigorosamente fenomenológica, a semiótica de Peirce não se deixa atingir pela
imanência de uma totalidade explicativa, ao contrário propõe uma epistemologia que não se
subtrai ao confronto com a experiência que, como dado duro, se representa no objeto que
desafia a experiência e a faz contínua e disponível à surpresa da alteridade( Ibri, 2015),
mantendo-se como um outro individual, coletivo e social, pronto aos estranhamentos
propostos pela própria singularidade da experiência. Sujeita à repetição e, talvez, à
redundância, a experiência transforma-se em generalidade que, insistente, é correlata a um
tempo, não imanente e cronológico, mas evolutivo. A passagem da experiência como
alteridade real para a regularidade daquilo que, tendendo à repetição, é mudança e
evolução, tem especial interesse para esse trabalho. .Nesse desafio, esse trabalho é levado a
perceber que a comunicação é experiência de alteridade, mas sujeita a um eterno devir
evolutivo que a torna complexa, na medida mesma em que a transforma e procura
esclarecer a interatividade da experiência que a agencia. Nessa operação, é evidente uma
proposta cognitiva que edifica uma epistemologia feita de exigente inteligibilidade dos
processos que agencia e das possibilidades que promete: uma semiose epistemológica com
condição de levar a pensar em possibilidades, sem necessidades.
Embora não divulgadas e quase desconhecidas no próprio território acadêmico
estado-unidense, as propostas de Peirce encontram amplo eco no final da primeira metade
do século XX e, sobretudo, nas primeiras décadas da sua segunda metade.
Nesse percurso surgem autores e conceitos fascinantes porque, subversivos à ordem da
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 7/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
língua e da estrutura, diluem a decantada procura de certezas sistêmicas e imanentes que
caracterizaram a semiologia. Esses ecos que parecem emanar da obra de Peirce, são
responsáveis por uma espécie de hipérbole expansiva do conhecimento que, ressonante,
constitui a grande herança do conhecimento que, produzido no século XX, vem impactar o
XXI. Entre esses autores que se situam nas primeiras décadas do século XX, mas são,
pouco a pouco, reconhecidas nas décadas que se seguiram ao final da Segunda Grande
Guerra, é necessário citar, a título de exemplo, nomes como Dewey (1985), Tarde(1895),
Backtin(1992), Bateson(2006) e Foucault( 2004).
Sob forte influência de Peirce e do seu pragmatismo, Dewey foi responsável por
instalar, no pensamento norte americano, uma definitiva desconfiança em relação a crenças
cognitivas dicotômicas que opunham razão e sentimento, lógica e empirismo, fatos e
valores, idealismo e realismo ( Calcaterra, 2014). Tarde, celebrado nas duas primeiras
décadas do século XX, permaneceu em absoluto esquecimento nos anos posteriores, para
ser redescoberto no século XXI através dos seus, hoje renomados, conceitos de público e
conversação, considerados motores da ação, da memória e, sobretudo, da imitação e da
herança social. Ao propor o conceito de dialogismo, Bakhtin reavalia a linguagem que,
ultrapassando o sistema lingüístico, surge preenchida pela presença do outro que a
completa, edifica e transforma. A Bateson se deve a necessidade de considerar que a
comunicação está sujeita à incomunicabilidade do duplo vínculo que, para ser ultrapassada,
exige o impacto metacontextual que leva a aprender a aprender; Foucault propõe, nas
famosas conferências do Collège de France, o conceito de biopolítica que se opõe ao
governo como poder exercido através de dispositivos sutis que povoam o contemporâneo.
Entre esses autores e seus conceitos, surge a exigência indispensável de superar a
língua como certeza expressiva, para encontrar a linguagem que, como discurso, não é
apenas aquilo que enuncia, mas aquilo que antecipa e preanuncia o mundo que decorre da
ação dos homens. No rastro dessa mudança, a comunicação não é um contrato, mas o risco
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 8/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
de produzir a interação que, fértil e sugestiva, se apresenta como motor daquela mudança.
A descoberta desse rastro corresponde ao apelo da primeira epígrafe desse trabalho mas,
para tanto, é necessário descobrir ou revisitar a epistemologia que desenvolve, no território
da comunicação, a proteção de uma cultura que insiste em ser infensa a mudanças.
2. Epistemologias protetoras
A epistemologia da comunicação só alcança seu objetivo se desenvolver a crítica que
lhe permitirá ver e entender a comunicação no seu processo e devir, a fim de ser possível
perceber as densidades culturais que pode encobrir ou patrocinar, ou seja, é necessário
verificar como as polaridades desenvolvidas pelo verbal como sistema de constrições,
atinge a comunicação e suas consequências epistemológicas.
Entendida como um contrato que emana dos processos emissivos para atingir o
receptor, a comunicação está presa à sua competência funcional, tendo em vista atingir o
contrato pretendido. Nesse sentido, a comunicação é instrumento, é meio técnico adequado
àquela função e, nesse sentido, exaurem-se a comunicação e a técnica porque, ambas,
surgem distantes daquela possibilidade de mudança que a comunicação contemporânea
parece permitir.
As decorrências epistemológicas dessa função técnica está contida na necessidade de
entender a produção científica como aplicação de teorias que, advindas de sistemas
filosóficos, são rapidamente aplicadas, a fim de explicar a natureza do fenômeno e
transformar aquela epistemologia em certeza balizada pela teoria e pelo método. Nesse
sentido, cada território científico desenvolve uma epistemologia que parece reflexo das
certezas estabelecidas:
Cada hipótese, cada problema, cada experiência, cada
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 9/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
equação reclamaria a sua filosofia. Deveríamos fundar uma
filosofia do pormenor epistemológico, uma filosofia científica
diferencial que estivesse em harmonia com a filosofia integral
dos filósofos. É esta filosofia diferencial que estaria encarregada
de medir o devir de um pensamento. De um modo geral, o
devir de um pensamento científico corresponderia a uma
normalização, à transformação da forma realista numa forma
racionalista (Bachelard, 1971, p. 28/29)
Embora seja imperioso considerar a relevância das reflexões epistemológicas de
Bachelard, não é possível desconsiderar que seu entendimento está apoiado na concepção
de um conhecimento que só pode ser considerado se estabelecer, na diferença, a harmonia
com o que foi previamente afirmado. No território dessa diferença harmônica, a
epistemologia de uma ciência é fiadora de um capital científico que, ao solidificar uma
área, estabelece os créditos de um saber reconhecido como tal, “ um capital científico
funciona como um capital simbólico de reconhecimento que vale, antes de mais, e por
vezes, exclusivamente nos limites do campo”( Bourdieu, 2001, 80) . Enquanto fiadora de
um capital científico, a epistemologia deve catalogar o valor do conhecimento para que
assim possa ser ratificado e entendido como “contributo distintivo”. Nesse sentido, a
epistemologia da comunicação tem sua atuação disciplinada pela funcionalidade que lhe
atribui seu próprio capital. Ao lado das duas tendências epistemológicas anteriores,
observa-se que o significante se vincula a uma imanência do sentido que confunde matéria
e forma e é responsável por outra tendência que protege a comunicação de todas as
possibilidades que, ao mudar seus paradigmas científicos, lhe possibilite descobrir outras
ações cognitivas. Nesse caso, proteção é manutenção da ordem e estabilidade de normas,
conceitos e valores. Naquela imanência do sentido, a comunicação é, sobretudo, “forma de
dizer” que esconde um sentido que só pode ser revelado/descoberto através dela. Surge
uma operação epistemológica que protege o contrato comunicativo, reservando-lhe o
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 10/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
sentido que precisa ser procurado através de uma genealogia hermenêutica. Articulam-se
sentido e texto mesmo que, para a ortodoxia das teorias do discurso, observe-se certa
disparidade entre a procura genealógica do sentido e a forma imanente ao texto. Para a
ortodoxia da análise do discurso, entende-se que as raízes genealógicas são entendidas
como extralingüísticas ou referências do texto, ou seja, são sentidos assimilados ao texto. O
exercício epistemológico que procura articulação entre aqueles sentidos e o texto, recebe o
nome de hermenêutica.
Como atuação epistemológica protetora do contrato comunicativo e, conforme alguns
epistemólogos famosos, a hermenêutica surge como método seguro de assunção do sentido
recluso sob as malhas formais do texto e desenvolve uma espécie de saneamento científico:
A reflexão hermenêutica cumpre-se desconstruindo os
objetos teóricos que a ciência constrói sobre si própria e,
consequentemente, as “imagens” teóricas que dá de si. Esta
desconstrução aprofunda o trabalho de desdogmatização da
ciência levado a cabo nas últimas décadas, mas para isso tem de
adaptar uma concepção da ciência que facilite a reflexão
hermenêutica. Tal concepção tem os seus fundamentos no
pragmatismo americano e, por não ser ainda uma concepção
dominante, a reflexão hermenêutica apresenta-se como pedagogia
de uma epistemologia pragmática ( Sousa Santos, 1989, p.
169/170)
Embora a primeira parte da citação esclareça o papel da hermenêutica para a definição
da ciência contemporânea, observa-se que a segunda parte da citação deixa evidente o
equívoco que confunde o sentido enclausurado nas formas do texto, com os interpretantes
sígnicos que caracteriza o pragmatismo norte-americano que, em evolução contínua,
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 11/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
produz uma semiose que não se estanca nas bases hermenêuticas do sentido comunicativo
que subjaz aos contextos receptivos. Ou seja, mais uma vez, torna-se evidente como a
clausura do sentido nas malhas da forma protege, mas limita as possibilidades
epistemológicas da comunicação.
Outra estratégia protetora da comunicação consolida-se no próprio conceito de meio
comunicativo que, à semelhança do sistema verbal, é entendido como instrumento apto a
comunicar, embora dócil às próprias exigências do meio. Nesse sentido, entende-se que o
meio é proteção do contrato comunicativo na medida em que se apresenta como
significante vazio ( Laclau e Mouffe, 2010, p. 239), disponível ao hegemônico poder
midiático que, não raro, reduz a comunicação à epistemologia das possibilidades de fruição
dos impactos da visualidade e do entretenimento que impregnam os meios comunicativos,
reduzidos ao simples recurso instrumental de um meio técnico. Nessa atmosfera, não se
estranha o profundo desconforto conceitual quando Mcluhan afirma “o meio é a
mensagem”, entendido como redução daquele sentido protetor do contrato comunicativo,
confundido com simples meio instrumental. Como o autor já observou em inúmeras
oportunidades, sentido epistemológico e cognitivo daquele conceito entende que os meios,
enquanto tecnologias, nada mudam no cenário comunicativo, mas atuam como origens de
ambientes complexos onde tudo e todos se comunicam, com os meios, através e apesar
deles:
Possivelmente, a definição mais elevada de imprensa criou a
expectativa de um significado mais inclusivo do que exclusivo.
Mas há apenas uma geração que o mundo literário foi
convulsionado pelas redes dos múltiplos níveis de expressão das
palavras e da sintaxe mais simples. À medida que nos
aprofundamos na Galáxia eletrônica, a pressão para reconfigurar
padrões antigos da galáxia alfabética e gutenberguiana torna-se
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 12/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
intolerável ( Mcluhan, 1980, p. 50)
Talvez o conceito citado e a influência de Mcluhan constituam elementos incisivos
para revisão de uma ciência que, sofrendo a consequência cognitiva dos meios, encontra-se
disposta e madura para dar outros passos epistemológicos. Superar os limites de uma
técnica alienada dos seus papeis humanos e alienante das suas possibilidades cognitivas
constitui a promessa, de claro viés político, de uma epistemologia da comunicação para o
século XXI.
3 Individuação e comunicação
Na Europa e à luz das vibrações científicas e sociais que sucederam o final da segunda
grande guerra, Gilbert Simondon publicou, em 1958, seu doutorado onde lança o complexo
e debatido conceito de individuação a partir das, não menos controversas, noções de forma
e informação.
Considerando o caráter transdisciplinar do primeiro conceito e, sobretudo, observando
que o viés aristotélico da noção de forma atingiu a comunicação como um contrato
coercitivo entre processos de emissão e recepção, parece propício considerar o modo como
a informação, enquanto processo de produção alternativo de experiências, pode atingir a
comunicação e alterar sua performance coercitiva e contratual. Para tanto, examinar o
conceito de individuação parece promissor e instigante.
Entretanto, considerar o indivíduo ou a comunicação como forma a partir da qual é
possível o conhecimento ontológico da matéria ou substância é admitir a individuação ou a
comunicação como entidades de natureza “a priori”, prontas a explicar o próprio caráter
existencial do indivíduo ou da comunicação que, enquanto instrumental, está apoiada em
recursos técnicos e tecnológicos:
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 13/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
Es dificultoso considerar las nociones de forma y de matéria como
ideas innatas. Sin embargo, en el momento en que estamos tentados de
asignarles un origen tecnológico, somos retenidos por la notable
capacidad de generalización que poseen esas nociones. No es
solamente la arcilla y el ladrillo, el mármol y la estatua los que pueden
ser pensados según el esquema hilemórfico, sino también un gran
número de hechos de formación, de génesis y de composición en el
mundo viviente y en el domínio psíquico. La fuerza lógica de esse
esquema es tal que Aristóteles ha podido utilizarlo para sostener un
sistema universal que se aplica a lo real tanto según la via lógica como
según la via física, asegurando el acuerdo entre ambos ordenes , y
autorizando el conocimiento inductivo. La própria relación entre el
alma y el cuerpo puede ser pensada según el esquema hilemórfico. (
Simondon, 2015, p. 27/28)[2]
Como vemos, Simondon quer construir o conceito de individuação superando uma ontologia
hilemórfica para “ situar el indivíduo en el sistema de realidad en el cual se produce la
individuación” ( idem, op, cit. p. 8). O esquema que subjaz à comunicação como um contrato
estabelecido “a priori” pelo sistema lingüístico e a transforma em simples enunciação de natureza
transmissiva e coercitiva, aproxima-se da observação de Simondon sobre o desenvolvimento de
um foco ontológico e/ou hilemórfico do indivíduo. Nos dois casos, observa-se uma natureza
substancialista e monológica daquilo que, na realidade, se manifesta de modo complexo e
desafia nossa percepção e compreensão:
La busqueda del principio de individuación se consuma después o
antes de la individuación, según que el modelo de la individuación sea
físico ( para el atomismo sustancialista) o tecnológico y vital ( para el
esquema hilemórfico) Pero en los dos casos existe una zona oscura
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 14/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
que recubre la operación de individuación. ( Simondon, 2015. p. 9)[3]
Operando com o contrato comunicativo, observa-se estreita analogia entre a transmissão
que se utiliza do verbal ou dos meios técnicos como performances, mais ou menos, estabelecidas
da comunicação, para desconsiderar a própria natureza complexa do comunicar que, interativo,
desconhece a monologia transmissiva, mas se processa como base essencial de todo gesto
comunicante:
Si supusiéramos, por el contrario, que la individuación no produce
solamente el indivíduo, no buscaríamos pasar de manera tan rápida a
través de la etapa de individuación para llegar a esta realidad última
que és el individuo: intentaríamos captar la ontogenesis en todo el
desarollo de sua realidad, y conocer al individuo a través de la
individuación antes que la individuación a partir del individuo.
Quisiéramos mostrar que es preciso operar una inversión en la
busqueda del principio de individuación a partir de la cual el individuo
llega a existir y cuyo desarollo, régimen y modalidades el refleja em
sus caracteres. El individuo sería captado entonces como una realidad
relativa, una cierta fase del ser que supone antes que ella una realidad
preindividual y que, aún despues de la individuación, no existe
completamente sola, pues la individuación no consume de golpe los
potencialidades de la realidad preindividual, y por outra parte, lo que la
individuación hace aparecer no es solamente el individuo sino la pareja
individuo-medio. ( Simondon. 2015. p. 9/10)[4]
Portanto e analogamente, a individuação e a comunicação surgem como possibilidades
relativas que jamais chegam a ser definitivas ou concluídas, porque o traço que as tornam
semelhantes está no fato de ambas estarem sempre acontecendo. Enquanto devir, o comunicar é
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 15/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
de natureza atemporal ou sempre presente que, nas dimensões constitutivas de um tempo
ausente ou sem marcas definitivas, se aproxima da falsa incomunicabilidade que subjaz à
ausência de sentido do célebre conceito de “duplo vínculo”:
Esa red de ideas fue fértil, no en el sentido de que diera nacimiento
a ideas separadas de ella misma, sino en el sentido de que hizo nacer
otras partes de si misma, pues la matriz fue algo que creció y se fue
haciendo cada vez más compleja, cada vez más amplia en su alcance y,
según creo, cada vez más fértil a medida que transcurria el tiempo. La
teoria del doble vínculo fue y es parte de esta epistemologia general, no
fue inducida ni deducida de ella.....la matriz es uma epistemologia y
especificamente es uma epistemologia recursiva; al mismo tiempo es
uma epistemologia de la recursividad . (Bateson, 2006, p. 256)[5]
Assim como a epistemologia do duplo vínculo supõe a necessidade de um salto
meta-contextual a fim de, através da recursividade, aprender a aprender e construir a diferença
que consolida o comunicar à medida em que supera a homogeneidade transmissiva, o conceito
de individuação exige uma metaestabilidade que supõe a energia potencial de um sistema,
sempre afeito à possibilidade de aumento da entropia. ( Simondon, 2015, p. 11). Ou seja, o
comunicar e a individuação convocam a informação que, por sua vez, sugere uma realidade, mais
insegura como devir, embora mais rica como possibilidade de experiência, recuperando a grande
contribuição científica e cultural da segunda lei da termodinâmica que se destaca no século XX e
constitui impacto primordial para o século XXI que se manifesta como arquiteto de ressonantes
relações entre conceitos, áreas científicas, homem, cultura, sociedade, vida. Nesse sentido e
recuperando Mcluhan (1988, p. 128) o comunicar é anterior à comunicação assim como o meio
precede a mensagem. Se a noção de informação utiliza a tecnologia como elemento que se
impõe, mas não a determina, o meio sustenta a mensagem, mas vai além dela, na medida em que
comunica o próprio modo como se processa e, como conseqüência, transforma a cultura e a
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 16/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
sociedade, evidenciando “os meios como extensões dfo homem” (Mcluhan, 1969)
4. A epistemologia trajetiva do comunicar
Assim como Bateson e Mcluhan, a grande contribuição de Simondon é nos fazer
entender que a epistemologia da comunicação exige a individuação do comunicar inerente à
informação e aos meios técnicos e culturais que preside e supõe considerar os modos interativos
que, recursivos ao comunicar, constituem um desdobramento do próprio processo atemporal que
engendra e, pelo qual são, sem cessar, relativizados. Essa observação nos faz considerar a
extraordinária complexidade que os meios digitais introduzem para a epistemologia que,
superando a exclusiva dimensão mediativa, se apresenta interativa, mas distante do simples
caráter instrumental do uso daquela tecnologia. Portanto, estabelece-se entre meios, interações e
comunicar um vital processo de tradução como trajetividade que, sem adições ou duplicações
apressadas, impede asserções transmissivas que justificariam ou assegurariam o trajeto
comunicativo que entre elas se estabelece. Como outra fase daquela ressonância conceitual que
se expande entre os séculos XX e XXI,o conceito de trnsindividuação e/ou trajetividade comum a
Simondon ( 2015. p. 298) e a Augustin Berque ( 2000, p. 89) supõe mobilidade daquilo que se
move, se altera, se transforma e evolui, criando uma trama relacional entre meio técnico,
interação e comunicar que associa sujeitos e objetos, meios e técnicas, cultura e sociedade,
ciência e epistemologia:
La trajection c´est ce double processus de projection technique et
d´introjection symbolique. C´est le va-et-vient, la pulsation
existentielle qui, animant la médiance, fait que le monde nous importe.
Il nous importe charnellement, parce qu´il est issu de notre chair sous
forme de techniques et qu´il y revient sous forme de symboles. C´est en
cela que nous sommes humains, en cela qu´existe l´écoumène, et c´est
pour cela que le monde fait sens. ( Berque, 2000, p. 129)[6]
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 17/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
Esse caráter simbólico da transindividuação trajetiva que não é diretamente salientada por
Simondon, mas indicada por Berque, é responsável pelo caráter coletivo e expansivo daquela
mobilidade feita, não tanto de deslocamentos topográficos, mas de contaminações ressonantes
que atravessam as individualidades e as comunicações, sem jamais limitá-las ou completá-las em
um sentido ou significação homogêneos ou monológicos, ou seja, a trajetividade de Berque e a
transindividuação de Simondon têm caráter ontológico (chora), afastando-se de qualquer vínculo
topográfico que, como ocorre com a cidade enquanto meio comunicativo, é território de uma
comunicação localizada (topoi), vinculada a territórios de poder, não só, político, mas sobretudo,
econômico-financeiro motivado por especulações comerciais com várias motivações. Os dois
autores chamam a atenção exatamente para essa diferença: Berque aponta a diferença
epistemológica que existe entre cora e topoi; Simondon avança na radicalidade das suas
observações:
Pour être tout à fait moderne, il manque au topos aristotélicien de
se situer dans un espace, notion que les grecs ne possédaient pas.
Cependant, il annonce deux caractéristiques fondamentales de la
pratique des lieux dans l´architecture moderne; a savoir d´y positionner
librement des objets qui sont là comme ils pourraient être ailleurs,
c´est à dire des objets séparables du lieu e possédant leur identité à
l´nintérieur de leur propre envelope locale; en somme, des objets sans
lieu ontologique avec leur entourage. La notion de chora implique
exactement le contraire, c´est à dire une archetecture engagée dans son
lieu, et que par cela même déploie un milieu humaun. (Berque, 2000,
p. 25)[7]
Simondon avança na radicalidade das suas observações:
Es al nivel de lo transindividual que las significaciones son
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 18/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
descubiertas, no al nível de lo interindividual o de lo social. El ser
individuado lleva consigo un porvenir possible de significaciones
relacionales a descubrir: es lo preindividual aquello que funda lo
espiritual en lo colectivo....Lo colectivo es uma individuación que
reúne las naturalezas que son transportadas por vários indivíduos, pero
no están contenidas en las individualidades ya constituídas de esos
indivíduos; por eso el descubrimiento de significación de lo colectivo
es a la vez trascendente e inmanente respecto al individuo anterior;
dicho descubrimiento es contemporâneo de la nueva personalidad de
grupo.....( Simondon, 2015. p. 388/389)[8]
Como dimensão coletiva do comunicar, a epistemologia apresenta uma dimensão política,
na medida em que se define pelo conhecimento que produz, ou seja, é nessa dimensão cognitiva
que se projeta aquela política. Não se consideram, portanto, dispositivos e interesses políticos
que utilizam técnicas, meios, imagens e visualidades como estratégias de persuasão de um
receptor incauto, ao contrário, trata-se de estudar a natureza política da comunicação enquanto
área científica voltada para o estudo das relações interativas que transformam a ordem social,
cultural e ambiental permitindo, à comunicação, superar dimensões lineares e utilitárias da
simples transmissão ou os dispositivos midiáticos que a caracterizam como forte instrumento de
poder. A epistemologia política da comunicação exige ser sensível às transformações sociais que
lhe permitem estar atenta à natureza política do comunicar e às características que, como
conseqüência, interferem sobre a ciência que desenvolve.
5. A epistemologia política da comunicação
Se a natureza coletiva não constitui escolha individual, mas é resultado de uma relação pela
qual os indivíduos se descobrem como participantes de uma unidade coletiva, observa-se que o
comunicar é, ao mesmo tempo, meio técnico e comunicativo daquela trajetividade comunicante
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 19/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
que, na sua inerente dimensão política, interessa a esse trabalho.
Enquanto conseqüência de uma relação que ocorre entre os seres e através deles, a interação
de um comunicar se expande no coletivo e se apresenta, em segunda instância, com a
complexidade de um grupo:
La reciprocidad, la resonancia interna es la condición del
advenimiento de lo colectivo.... La segunda individuación, la de lo
colectivo y lo espiritual, dá nacimiento a significaciones
transindividuales que no mueren con los indivíduos a través de los
cuales se han constituído....( Simondon, 2015. p. 396)[9]
No coletivo assim entendido, descobrem-se rastros que Gabriel Tarde conceituou como
público e opinião:
A opinião está para o público, nos tempos modernos, assim como
a alma está para o corpo, e o estudo de um nos conduz naturalmente ao
outro......na palavra opinião confundem-se habitualmente duas coisas,
que estão misturadas de fato, é verdade, mas que uma boa análise deve
distinguir: a opinião propriamente dita, conjunto de juízos e a vontade
geral, conjunto de desejos......Bem antes de ter uma opinião geral e
sentida como tal, os indivíduos que compõem uma nação têm
consciência de possuir uma tradição comum e submetem-se de bom
grado às decisões de uma razão julgada superior. Assim, desses três
ramos do espírito público, o último a se desenvolver, mas também o
mais apto a crescer a partir de um certo momento, é a opinião e ela
cresce à custa dos outros dois.” ( Tarde, 2005,p. 60/61)
Tradição, razão e opinião fazem parte da tríade construída por Tarde para explicar o público;
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 20/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
nessa mesma rede de idéias ressonantes, agrega-se Foucault com a percepção de população como
rastro de uma ação biopolítica de governo:
Esta nova arte de governar é, a meu ver, essencialmente
caracterizada pelo aparecimento de mecanismos internos, numerosos e
complexos, mas que têm por função – é isto que marca a diferença
relativamente à razão de Estado – não tanto assegurar o crescimento do
Estado em força, riqueza e poder, ou o crescimento infinito do Estado,
mas limitar do interior o exercício do poder de governar. (Foucault,
2004, p. 55)
Essa ação de governar como ação biopolítica se situa no próprio cerne da transindividuação
coletiva e se faz contagiante e ressonante entre ação e política, indivíduo e público, mediação,
técnica e interação comunicativa; governo, sociedade, cultura e desejo. A rede de ideias que se
desenvolveram no século XX e impacta o XXI, supõe uma relação política inerente à
comunicação. Distante do exercício do poder, deixa evidente um meio, tecnológico ou não, capaz
de criar um ambiente rico de informações potenciais, que só se atualizam através de uma relação
transindividual que, coletiva, seleciona e transforma a informação de partida em sentido
agregador de subjetividades de grupo, sempre incompleta na sua capacidade de ação. Essa
dinâmica nos faz entender que o comunicar é gerador de intensa subjetividade emotiva e aponta
para uma ativa epistemologia política, distante daquele sistema coercitivo que reduz a
comunicação a um contrato estabelecido que se repete e não se move.
Essa potencialidade do comunicar se evidencia quando, se distanciando do poder como
meio, tecnológico ou não, de exercício do poder, é capaz de se descobrir na viva abrangência
ambiental de realidades intersubjetivas e coletivas. Uma política que não se submete à invenção
de um Estado que a reduz a uma ação planejada, tendo em vista fins ou interesses a atingir;
nessa dimensão, uma epistemologia política da comunicação não se manifesta como visualidade
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 21/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
política, mas como imaginação que transforma as interações coletivas em modos de produzir
uma cognição comunicante, mais imaginada do que definida: uma atenção crescente à
trajetividade de um comunicar interativo criador de uma ontologia da comunicação ao
descobrir sua possibilidade epistemológica.
Notas
[1] “A cultura se constituiu em sistema de defesa contra as técnicas: porém, essa defesa se apresenta como uma defesado homem, supondo que os objetos técnicos não contem uma realidade humana e que para cumprir por completo seupapel, a cultura deve incorporar os seres técnicos sob a forma de conhecimento e sentido de valores... A cultura secomporta com o objeto técnico como o homem com o estrangeiro quando se deixa levar por uma xenofobia primitiva.”( Simondon, 2007, p. 31)
[2] “ É difícil considerar as noções de forma e matéria como ideias inatas. Entretanto, no momento em que estamostentados a apontar-lhes uma origem tecnológica, somo impedidos pela notável capacidade de generalização que essasnoções possuem. Não é somente a argila e o ladrilho, o mármore e a estátua que podem ser pensados segundo oesquema hilemórfico, mas também grande número de formações, de genesis e composição do mundo vivo e dodomínio psíquico. A força lógica desse esquema é tal que Aristóteles foi capaz de utiliza-lo para sustentar um sistemauniversal de classificação que se aplica ao real, tanto conforme a lógica, como com a física, assegurando a ordem entreambas e autorizando o conhecimento indutivo. A própria relação entre a alma e o corpo pode ser pensada conforme oesquema hilemórfico” (Simondon, 2015, p. 27/28)
[3]“ A busca do princípio de individuação se confirma antes ou depois da individuação, conforme o modelo deindividuação é físico ( para o atomismo substancialista), ou tecnológico e vital ( para o esquema hilemórfico). Mas, nosdois casos existe uma zona escura que encobre a operação de individuação” ( Simondon, 2015, p. 9)
[4] Se, ao contrário, supusermos que a individuação não produz apenas o individuo, não passaríamos de maneira tãorápida pela etapa de individuação para chegar a essa realidade última que é o indivíduo: tentaríamos captar aontogênese do desenvolvimento da realidade, e conhecer o indivíduo através da individuação, mais do que aindividuação a partir do indivíduo. Gostaríamos de mostrar que é preciso operar uma inversão na busca do princípio deindividuação, considerando como primordial a operação de individuação a partir da qual o indivíduo vem existir e cujodesenvolvimento, regime e modalidades são refletidos em suas características. O individuo passa a ser compreendidocomo realidade relativa, certa fase do ser que supõe, antes dela, uma realidade pré-individual que, depois daindividuação,não está completamente sozinha, pois a individuação não finaliza de uma só vez as potencialidades darealidade pré-individual, o que a individuação revela não é somente o indivíduo, mas o par indivíduo-meio.(Simondon, 2015. p. 9/10)
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 22/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
[5] Essa rede de ideias ou matriz foi fértil, não no sentido de dar nascimento a ideias separadas dela mesma, mas no sentido de que feznascer outras partes de si mesma, pois a matriz foi algo que cresceu e se foi tornando cada vez mais complexa, cada vez mais amplaem seu alcance e, segundo acredito, cada vez mais fértil à medida em que transcorria o tempo. A teoria do duplo vínculo foi e é partedessa epistemoloigia geral, não foi induzida ou deduzida dela ( Bateson, 2006, p. 256)
[6] A trajeção é esse duplo processo de projeção técnica e de introjeção simbólica. É esse ir e vir, a pulsaçãoexistencial que, animando a “médiance”, faz com que o mundo adquira sentido. Ele nos interessa de modo carnal,porque é tecido pela nossa carne sob a forma de técnicas e a ela retorna sob a forma de símbolos. Daí sermoshumanos naquilo que existe de ecumênico e, como consequência, constrói o sentido do mundo. ( Berque, 2000,p. 129)
[7] Para ser definitivamente moderno, falta ao topos aristotélico situar-se no espaço, noção que os gregos nãopossuíam. Entretanto, ele anuncia duas características fundamentais para a prática dos lugares na arquitetura moderna;a saber , posiciona livremente aí objetos que lá estão como poderiam estar em outro lugar, isso é, objetos separados dolugar e possuindo uma identidade que advém do interior da própria situação local, em suma, objetos sem relaçãoontológica com a situação que os envolve. A noção de chora é exatamente o contrário, isto é uma arquitetura engajadacom seu lugar e que por isso mesmo se desdobra no meio humano. ( Berque, 2000, p. 25)
[8] È no nível do transindividual que as significações espirituais são descobertas, não no nível do interindividual ou dosocial. O ser individuado leva consigo um possível futuro de significações relacionais para serem descobertas: é opré-invididual que situa o espiritual no coletivo......O coletivo é uma individuação que reúne as naturezas que sãotransportadas por vários indivíduos, mas não estão contidas nas individualidades desses indivíduos, em consequência ,o descobrimento de significação do coletivo é, ao mesmo tempo, transcendente e imanente tendo em vista o indivíduoanterior; essa descoberta é contemporânea à nova personalidade de grupo, da qual participa o indivíduo através dassignificações que descobre ( Simondon, 2015, p 388/389)
[9] A reciprocidade, a ressonância interna é a condição de assunção do coletivo.... A segundo individuação, aquela docoletivo e do espiritual, dá nascimento a significações transindividuais que não morrem com os indivíduos, através dosquais se constituiu ( Simondon, 2015, p. 396
Referências
Bachelard, Gaston. A Epistemologia. Lisboa: Ed. 70, 1971
Bakhtin, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2011 (6ºed)
Bateson, Gregory. Una Unidad Sagrada Pasos ulteriores hacia uma ecologia de la mente. Barcelona: Gedisa, 2006
Berque, Augustin. Écoumène Introduction à l´etude des milieux humains. Paris: Belin, 2000
Bourdieu, Pierre. Para uma sociologia da ciência. Lisboa: Ed.70, 2001
Calcaterra , Rosa Maria. John Dewey e democracia como ideal regulativo. In Cognitio, São Paulo, v.15, n.2 jul/dez,2014
Charaudeau, Patrick e Maingueneau, Dominique. Dicionário de Análise do Discurso. São Paulo: Contexto, 2004
Dewey, John. The Early works of John Dewey. Carbondale and Edwardsville: Southern Illinois University Press, 1972
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em ComunicaçãoXXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016
www.compos.org.br / page 23/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3
Ducrot, Oswald e Todorov, Tzvetan. Dictionnaire encyclopédique des sciences du langage. Paris: Seuil, 1972
Flusser, Vilém . Comunicologia reflexões sobre o futuro. São Paulo: Martins Fontes , 2014
Foucault, Michel. Nascimento da Biopolítica. Lisboa: Ed. 70, 2010
Greimas A.J. Courtés J. Dicionário de Semiótica. São Paulo: Contexto, 2008
Hjelmslev, Louis. Prolegomènes a une théorie du langage. Paris: Minuit,1943
Ibri, Ivo. Kósmos Noetós A arquitetura metafísica de Charles Sanders Peirce. São Paulo: Paulus, 2015 (2.ed)
Jakobson, Roman. “Linguística e Teoria da Comunicação” em Línguística e Comunicação. São Paulo: Cultrix, 1969
_______________ Lo sviluppo della semiótica. Milão: Bompiani, 1978
Laclau, Ernesto e Mouffe, Chantal. Hegemonia y Estrategia Socialista. Buenos Aires: Fondo de Cultura Econômica, 2010
Mcluhan, Marshall. Mcluhan por Mcluhan: conferências e entrevistas. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005
Mcluhan, Marshall e Eric. Laws of Media The New Science.Toronto: The University Toronto Press, 1988
Mcluhan, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 1969
Peirce, Charles Sanders. Writings of Caharles Sanders Peice. Chronological Edition 6 vols. Bloomington: Indiana UniversityPress, 1982-2000
Simondon, Gilbert. La individuación a la luz de las nociones de forma y información. Buenos Aires: Cactus, 2015
_________________El modo de existencia de los objetos técnicos. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2007
Sousa Santos, Boaventura de. Introdução a uma ciência pós-moderna. Porto: Afrontamento, 1989
Tarde, Gabriel. Monadologia e Sociologia. São Paulo: Cosac Naify, 2007
------------------- A Opinião e as Massas. São Paulo: Martins Fontes, 2005
Arquivo PDF gerado pela COMPÓS
Top Related