A ESCRITA DOS ARQUITETOS, AS PALAVRAS DA ARQUITETURA
TERESA FONSECA
Maria Teresa Pires da FonsecaFaculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Março 2018
A escrita dos Arquitectos, as palavras da Arquitectura
ESTRUTURA DA MATÉRIA DA UNIDADE CURRICULAR DE TEORIA 3
Análise urbana e projecto , A Cidade e os seus elementos
Definições de Arquitetura, Teoria, Prática, Opinião e Crítica
Espaço das instituições humanas.
O projecto urbano.
A objectividade crítica em arquitectura.
A Escrita dos arquitectos, as palavras da Arquitectura.
Arquitectónica dos espaços públicos (Espaço Público categoria arquitectónica)
Formas Significantes da História da Arquitectura.
Princípios da Arquitectura.
Argumentos de Arquitectura para o Espaço Público e Equipamentos.
Princípio, Regra, Modelo, Medida. Norma e Forma.
O dono da obra.
Distribuição e Proporção.
Da escala e da implantação.
Da resistência da obra.
Os monumentos (como conceito em construção).
PERSPECTIVAS DE ABORDAGEM DA MATÉRIA
OS
MÉT
ODO
S PA
RA F
AZER
TEO
RIA
DA A
RQU
ITEC
TURA
O O
BJEC
TO: E
SPAÇ
O P
ÚBL
ICO
E E
QU
IPAM
ENTO
S
Novas hipóteses teóricas
A arquitectura como instituição
As instituições humanas e a sua representação na
história
A cidade e o seu projecto
Observações Há alguma contradição ou mesmo paradoxos neste Livro sobre uma Lição
de Arquitetura se a estas duas palavras juntarmos a de Aula.
Vejamosquantosjáconseguiidentificar:
• Segundo Vitrúvio as ideias de Arquitetura fazem-se pelos desenhos e es-tamos aqui a escrever, procurando e juntando palavras;
• Osdesenhosfizeram-sedesdeostemposmais imemoriaisemsuportesfísicos,desdeochão (comosdedos,pausepedras),às rochasdegrutas (comoutrasrochas,paus,dedosetintas,atésechegaràspelesepapeis(eaosinstru-mentos riscadores respetivos)mas, estamos aqui perante a necessidade de osreproduzir e produzir eletronicamente;
• Osdesenhosmanuaissão ideiase representaçõesdelas feitosàveloci-dade do pensamento e da fala humana, mas estamos aqui perante enormíssimos consumos de tempo pela exigência de representar eletronicamente as mesmas ideias;
• AsideiasdeArquiteturaforamfeitasetransmitidasporartistasentreou-trosartistas,clientes,construtores,eaprendizesdestasartes,algumasvezesofe-recidasaimperadoresepríncipes,masestamosnumaáreacientífica,emensinode massas e sociedade da informação global.
• A formaçãodoarquitetocompleto,segundoosantigos, impunhasaberacima de tudo, o desenho, os materiais e instrumentos da construção e para que serviatudoissonaorganizaçãodoterritório,dacidadeedasedificaçõesdeto-dosostipos;depois,ternoçõesdesdeafilosofiaàgramática,damedicinaatéàoratória,mas, sobretudo,e segundoAlberti,aprudência,apaciência,enfim,asabedoriaeamodéstiaporquesóasobrasperfeitascobremdehonraoarquiteto.Entretanto,aquiestamosemlugaresestranhosàvocaçãoeformaçãodeumar-quiteto - a escrita e grande auditório - em nenhum deles se faz desenho.
• Aaula,porsuavez,éumdesempenhodocente“aovivo”,umaconteci-mentoqueenvolveparticipantes,osquaisrespiram,falam,ouvemeveem,quefazem movimentos corporais, manuseiam instrumentos tão variados como supor-tese riscadores,projetoreseamplificadoresde som, computadorese câmarasfotográficas.Éumfactodecomunicaçãoeinteraçãodeterminadopeloespaçoepelo tempo.
° If thefirst classroom, in Kahn’s view, consistedof “amanunder a treewhodidnotknowhewasateacherdiscussinghisrealizationwithafewwhodidnotknowtheywerestudents,”thenmoderneducationalinstitutions,despitetheirfargreatercomplexity,must somehow preserve the intimacy and the openness of that spontaneous encounter.SherriGeldin,“LouisI.Kahn:Compositions in a Fundamental Timbre”inBROWNLEEDavidB./DELONGDavidG.LouisI.Kahn,In therealmofArchitecture. Rizzoli,NewYork1991:16
Prefácio A escolha desta lição para as minhas provas de agregação em Arquitetura
temrazõesmuitoantigas,masquegostodelocalizarnaformaeconteúdosdopri-meirodocumentoconcretodaminhacarreiraacadémica,atesededoutoramentoapresentadaàFaculdadedeArquitecturadaUniversidadedoPortoem1996. Uma caixacomumafotografiaondeforaminstaladasaspalavrasA Arquitectura Ensi-na-se, incluiu3Volumes (oprimeirocorrespondenteàTesepropriamentedita,osegundocomosdocumentosrelativosaocasodoPolo3daUniversidadedoPortoeoterceirocomanexosrelativosatrabalhosconvergentesnatese).Comosíntese da forma, essa caixa simbolizou, a minha decisão de transformar o mani-festoanónimode“Arquitecturanãoseensina”pintadonummurocorderosadaantigaQuintadaPóvoa,numadeterminaçãoinversa,pessoal,mascategórica,decompromisso com a construção de uma Escola de Arquitetura nova cujas paredes vieram a ser brancas para oferecer a magia de uma realidade em constante recria-ção.
Muitaspráticasforamdesenvolvidasnessesentido,oranasmesasdeen-sino de projeto dos vários anos do curso, ora na aula de teoria da arquitetura dosúltimosdezasseis,etambémnainvestigaçãoedisseminaçãodossaberesquetenho procurado ampliar em diversos contextos, dos meios generalistas aos de es-pecialidade.Comoesforçodominantedestaspráticas,tenhosemprecolocado,ode síntese das ideias, clareza das formas, economia de meios materiais e expressi-vos,emúltimaestância,nasformasarquitetónicasquemefoidadoedificarenaspalavras que escrevi. Ocupar pouco espaço, apenas o indispensável, gastar pouca tintaepapel,apenasosrecursosqueaspalavrasessenciaistêmodireitodecon-sumir,cultivarosilêncioouodiscursobrevenomundoquereconheçoextenuadode estridência, têm sido as minhas principais regras de conduta.
Nas lições de teoria da arquitetura que iniciei em 2002-2003 tenho apren-dido a observar os tempos de atenção e distensão que as palavras e as imagens exigem para serem fecundas. Se a Arquitetura foi progressivamente evoluindo como domínio de dominante cultura visual, antes deste, foi de cultura material ou dospedreiros que, depois, aprenderam olatime,meditandoasideiasedificaramtratados,escreverammanifestos,deramcontinuidadeetambémrevolucionaramopensamentoquecriouasformasdoinfindávelromancedaorganizaçãodoespa-çohumano.Emprosaeempoesiaedificaram-secidades,fortificações,moradasde pessoas e de deuses – e em desenhos, números e palavras o seu conhecimento acompanhou os tempos históricos.
No estudo da Arquitetura que, por formação e temperamento, foi mais próximo da arqueologia do que da história, do presente, perscrutou o passado, sem o propósito nem a tentação de escrever esse passado, mas com a premente urgência de razões para o Projeto do próprio presente, fui descobrindo aqueles pontos de apoio intelectuais e formais – autores, palavras, exemplos - que per-mitem estruturar e autorizam o ensino de teoria da arquitetura com padrões de rigor,curiosidadeeatualizaçãodosaberquedefinemoconceitodeUniversidade.Olhando as cidades procurei os riscos que as desenharam, decalcando e colando plantas romanas descobri as sábias implantações de Aalto, Távora, Souto de Mou-rae,nassecçõesdeLouisKahneÁlvaroSizaaprendiaensinarquefirmitas dos
romanospodeser,afinal,a razãoprincipaldabelezaarquitetónica.Transcrevo,semprequeasencontro,aspalavrasdeautoresmodernoseantigos,busco in-cansavelmentebiografiasondehajaecodassuasvozesetentoimitá-las,escreverefalarcomoeles.Aospoucosfui-meapercebendodequetenho,também,vozprópriaepalavrasqueadquiremnovossignificadosporqueascolocoemcontex-tos ainda não explorados, convidando estudantes ou a comunidade a prosseguir investigaçãosobreelas,paraasvalidarmoscoletivamente.
Aspalavras,comoasobras,sãoobjetooufigura,comcontorno,massa,textura,ritmoeoutraspropriedades,mascujosignificadodependeabsolutamen-te do contexto segundo as quais são determinadas. A palavra significante emarquitetura,seráaquelaque,atravésdapersistêncianosmúltiploscontextosemquesejaevocadaalémdemanterassuaspropriedadesessenciais–letrasesíla-bas–alcançaacondiçãopolissémicados símbolos.
Inversamente,eporqueocontextoéimportanteemArquitetura,quandoàpalavracontextoéatribuídademasiadaoupoucoesclarecidapregnância,podeconduzir,senãonosagarrarmosamaisdoqueisso,aumaformadepobreza. A obrasignificantenãoéoresultadodetertomadoemconsideraçãodeformaex-clusiva,aplicada,rigorosa,absoluta,ascondicionantes,masdeastersuperado.ÉaíqueresideaautonomiadaArquitectura.1
Ora,dovocabulárioquedescreveaArquiteturadesdeoséculodeAugus-toatéaosnossosdiasnãoprescreveramaspalavrasrelativasàscoisascomocida-de,rua,casa,praça,templo,muro,teto,porta…nemasdasmaneirasdeasedificarcomoodesenhodelinhaseângulosmaisosnúmeros,meditadoseinventados,assimcomopermanecempor satisfazerasnecessidadesde solidez,utilidadeebeleza,porqueaevoluçãobiológicaecognitivadahumanidadealteraacadains-tante essas necessidades.
Aspalavrasessenciaisà formaçãodosarquitetos foram,umaporuma,pronunciadasporMiesvanderRoheemdiscursonoI.I.T.mas,tambémumaauma,pelaescritaediálogosdeLouisIsadoreKahn,abaladaspelaforçadainterrogaçãofilosófica,desconstruídasenquantoinstituiçõesestáveisoumortase,finalmente,restabelecidas como princípios de um Credo presidido pela instável mas sempre disponível ideia de Ordem.
Order,yousee,standsasakindofphilosophicalabstractionofthenatureofthespace(…)itistheseedelementofyourdesign…
OscaligramasdeKahn,apretoebranco,mastambémacores,materiali-zamconceitostranscendentesemarquiteturasdesejadasepossíveis:oraacidade,a rua, a casa, o laboratório, alcançam as dimensões da sociedade, da natureza, do mundoedaarteora,aoinvés,osconceitosdeescola,luzoumuseu,espetáculooumúsicaseconcretizamnasfigurasmais instintivaseelementaresdeárvore,sala,livro,baile,orelhaouviolino,porque,paraKahn:
Tohearasoundistoseeitsspace.
Finalmente, no meio do extraordinário afã individual de visibilidade que setornanecessáriaàsobrevivêncianosmercadosdaarquiteturaeentreasmaisvariadasformasdeediçãoanalógicaeeletrónicacapazesdereproduzirquantida-des astronómicas de escritos e façanhas arquitetónicas reais ou virtuais, fui subita-menteavassaladapeladescobertadeumaautobiografiaqueLeCorbusierescreveuparaPietroMariaBardi,numjantaremRoma,aos47anos:duaspáginasemaisumparágrafonaterceira.Esteúltimoéumprojetocompleto:
Lemondemeurtdecacophonie.Unmondeanciens’écoule.
IlfautapporterunenouvelleharmonieLemondeabesoind’harmonie
C’estunpostulatesthétique,finalementappuyésuruneéthiqueprofondémenthumaine.
12
13
O Tema e o Título Otítulo AEscritadosArquitetos,aspalavrasdosarquitetos, as intenções
e modalidades desta lição foram apresentados pela primeira vez de forma orga-nizada,mas sintéticanas páginas 60 a 64do volumeEspaçoPúblico e FormasdosEquipamentos (2017),nomequefoidadoaoRelatórioque integrouomeuprocesso de submissão a provas de Agregação no ramo do conhecimento em Ar-quitetura.Nessecontextoconstituemumdeapenasdezasseispontospormimeleitos como apoios sólidos, não só para o ensino de uma unidade curricular num cursodeumaescola,mascomocorpodematériacujanaturezacientíficaconside-ro essencial para o avanço do conhecimento disciplinar, quer na área do saber da Arquitetura, quer no aperfeiçoamento e progresso das suas materializações em obra construída.
Tenhoverificadoasuapertinência,atravésdaexperiênciaacumuladanaorientaçãoeparticipaçãoem júrisdeprovasacadémicasemváriasescolas,naavaliaçãodeproduçãocientíficanacionaleinternacional,mastambémnarevisãoda escrita produzida anualmente pelas centenas de estudantes portugueses e es-trangeiros que comigo interagem.
DemuitosladostenhovistosinaisdoreduzidocuidadoqueéprestadoàessencialidadedasPalavrasdaArquitetura,talvezporqueacríticaea arquitectura contemporâneatambémseafastouporvezesdarelaçãocomohumanobaralhan-doreferênciasgraçasàsquaisaspessoascompreendemounãooespaço.2
Sumário Ossumáriosdeliçõessãoformassucintasderesumirmatérias,exercícios
emétodosdetrabalhodesenvolvidosnumdeterminadotempodecontactopre-sencial entre professores e estudantes de um determinado curso. Apresentam-se ordenadoscronologicamentesegundoadatadoseuacontecimentoefetivo,re-portam a conteúdos constantes de um programa que estrutura o seu desenvol-vimento conforme a duração estabelecida para a totalidade do curso, tendo o docentealiberdadecientíficaeresponsabilidadepedagógicadagestãodotempoeespaçoqueestãoadstritosaesseprograma.Nasinstituiçõesdosváriosgrausdeensinodevemsercompatíveiscompublicaçãoregularemplataformasdeinfor-mação para servirem de apoio ao estudo do estudante e para a monitorização das práticaspedagógicasdodocentepelosórgãosdeadministração.
Aescritadosarquitetos,aspalavrasdaArquitetura,éumaliçãoqueseinscrevenafaseintermédiadoprimeirotrimestreletivodoProgramadaunidadecurriculardeTeoria3do4ºanodoCursodeMestradoIntegradoemArquitecturada Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.
Localiza-se numa fase em que já estão em curso exercícios propostos, quer deseleçãodebibliografia,querdeestudoexperimentaldeespaçosconcretos,oquecorrespondeaproximadamenteaoiníciodosegundotrimestredoanoletivo,paraformarasatitudesdesejáveisdedisciplinaridadeeobjetividadedasleiturase colaborar na organização de materiais já produzidos. O seu acontecimento du-rante e não antecedendo os exercícios, valoriza o capital humano dos estudantes
14
15
quefrequentam,nasuadiversidadeculturalegeográficaenadiferençadassuascompetências(gráficaseliterárias),respeitaaespontaneidadeepromoveacapa-cidade de decisão perante a oferta dos trabalhos a realizar. É necessário conceder tempo para que estas duas qualidades se manifestem, antes do exercício discipli-nado e metódico da escrita.
O sumário desta lição
1) AspalavrasdaArquiteturasãoaquelevocabuláriodisciplinarapartirdoqualepara o qual deve convergir a escrita dos arquitetos, enquanto tais, em revisão de literatura,nacrítica,naexperiênciaenoprojetodosespaços.
2) O que é Teoria e comoestasefazemarquitetura?
Fazerteoria trata-se apenasde“enunciação”deumfactooufenómeno(atravésdapalavraonúmeroouafiguracomologos), remetendo para outros (palavras e teorias),recebidasdeoutrem,àsquaissejuntamasquetraduzemaexperiênciapessoaldecasos(queverificam,acrescentamecorrigemasprimeiras).
3) Uma visita abreviada a trabalhos clássicos da Teoria da Arquitetura, dos tratados daantiguidadeaosnossosdias,mostraacontínuaatualizaçãoeesforçodeformu-laçãode“princípios”ouconceitosrelativamentegeraisaosquaisahistóriafoiatri-buindovaloresouméritostantodaarquiteturacomodaprofissãodearquiteto.Dos autores clássicos selecionamos termos que traduzimos para português atual, apartirdeediçõesmúltiplasdetratadosdeArquitetura.
4) Dosmestres da arquitetura contemporânea selecionamosdesenhos e palavrasqueanalisamos segundoos termos clássicos, apartirde literaturaoriginal nasmodalidadeslivro,revistadeespecialidade,mastambémdosnovosrecursosemredeinformática.
5) AformulaçãodaspalavrasdaArquitetura,dosprincípios,critérios,valoresousim-ples pontos apresenta-se como um trabalho em progresso.
6) AsReferênciasquenãoexcedem3títulos(*variáveisemcadaediçãodocurso):
ALBERTILeonBatista[1452].TheTenBooksofArchitecture-The1755LeoniEdi-tion. Dover.1986.
PERRAULTClaude[1684].Lesdix livresd’ArchitecturedeVitruvecorrigésettra-duits.PierreMardaga.Bruxelles1979
*FONSECATeresa.AConstruçãodoPolo3daUniversidadedoPorto. FAUP1996
*PFEIFFERBruceBrooks.FrankLloydWright.Letterstoapprentices.The Architec-turalPress.London1987
*SCHILDTGöran050.AlvarAaltoinhisownwords. RizzoliNewYork1997
*SIZAÁlvaro.Scrittidiarchitettura.Skiraeditore.1997
*VENTURI Robert. Iconography and electronics upon a generic architecture. Aviewfromthedraftingroom.MITPress1996.
16
17
Plano da lição
Trata-se da fórmula forte do programa, transversal a uma ou várias aulas (permanece implícitaaolongodeapresentaçõesgráficas,articulaçõesdepalavraefiguraparaconduziraleituradisciplinaredisciplinadadodesenhoedaobradearquitetura):
a) A Arquitetura como Forma de Organização de Espaço.
b) AArquiteturacomoenquadramentodavidaprivada,coletivaepública.
c) A Arquitetura como Construção Humana sujeita a economia de materiais e tra-balho.
d) AArquiteturacomoCriaçãoArtísticasujeitaaoprincípiodajustamedida.
Tópicos de apresentação
São poucas palavras, geralmente manuscritas e que cabem na mão de um orador.
18
19
1/
A escrita dosarquitectoséoesforçodeenunciaçãodoqueaarquiteturaé.
Aspalavrasdaarquiteturasão:
plantas, cortes e perspetivas (as mais antigas e permanentes),
linhaseângulos,
paralela,perpendicular*,
alinhamento,
fachada, porta, janela, chão e teto,
escada, rampa, (… elevador, escada rolante)
(… são relativamente poucas, mas concretas)
A escrita dos arquitectoséparaserviraarquitetura
AspalavrasdaArquitecturasãoparatodos**,
porqueaarquiteturaéparatodosvivermos.
2/
As palavras da Arquitectura têm sido escritas ao longo da História segundo diferentes pontos de vista,
umas vezes do lado de dentro dela,
Solidez
Utilidade
Beleza (Proporção Construção)
outras vezes do lado do seu fazer
outras vezes, ainda, dos valores humanos
culturais e sociais
Sempre fruto do seu tempo
Algumasvezesparaalémdoseutempo
TODAS PARA O NOSSO TEMPO.
ÉVitrúvio,Wright,Siza MiesvanderRohe
(sememoção) Sintéticos FORMA
É Alberti,NunoPortas Deveres …Obrigações
doarquitecto Analíticos NORMA
Ruskin,Barragán,Zunthor Távora
Aorevermososgrandesautoresaperfeiçoamosascategoriasedescobrimosqueosmaiorescombinamospontosdevista
“princípios” da
Arquitectura
“valores”éticose estéticos
doarquitecto doconstrutor
*FONSECATeresaPiresda,“Aconstrução da Nova Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto 1985-1998”.inÁLVAROSIZAet al., EdifíciodaFaculdadedeArquitecturadaUniversidadedoPorto.PercursosdoProjecto. Ed. Fauppublicações,Porto2003:43-56 ** FONSECA Teresa. Conferência “Arquitecturaparatodos.Architecture for all”,“Acolhimentoe integração dos novos estudantes na Universidade do Porto 2012/2013”AuditórioFernandoTávora, Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 18 de Setembro de 2012.
20
21
2A/
Há os teóricos:
Por dentro da Arquitectura
_Saber Ler (“projetos”) Gregotti1
enãosóo“saberveraarquitectura” Zevi
_Ter curiosidade sobre como se constroem as coisas
(é,muitasvezes,precisodesenharpara descobrir)
_Medir tudo
(com o corpo2, com o olhar,
passo, palmo! Siza, Távora
dominar as grandes medidas
e as pequenas
daRuaao“Degraudaintimidade” Kahn,Zumthor
_Conclusão, da experiência do espaço
não basta o sentir Rasmussen
éprecisoconvertê-lo em Saber
Há os intérpretes:
Unsdoladodefora
OutrosdoladodedentrodaArquitectura
Parajá,nestaliçãooobjetivoémostrarque
Quantomaispróximadascoisasseinstalarapalavraeaescritadoarquiteto
(observação atenta, curiosa e rigorosas)
Mais domínio se alcança (endurance) sobre o corpo e o pensamento próprio do arquiteto e, portanto
a liberdade de criação
1 GREGOTTI Vittorio. Sulle orme di Palladio, ragioni e pratica dell’architettura. Latterza 2000 2 FONSECA Teresa. “Ocorpoemviagem”ARCadernosFA/UTL/ArquitecturaeCosmologianº7-Julho
2010;“Misurareiltemponellospazio,Il corpo, Il sogno e le mani dell’architetto. “Università di Roma, La Sapienza, Narni, 2011;“Osdedosdaminhamão”CâmaradeMatosinhos,3dejulho de 2015
22
23
3/
Fazerteoriaésobretudodescrever
e nessa descrição
como processo
difícil
de
apuramento das
palavras
(da morfologia e
da sintaxe)
atéastornar
precisas e rigorosas
ocorre um processo muito
parecido com o do
desenho
(oesquemaseguintelê-sedebaixoparacima)
ao exprimirmos
criamos
finalmente são
OUTRAS E SINTÉTICAS
a seguir são MENOS E ORDENADAS
aosracionalizarmos
descobrimos
primeirosão:
MUITASEDESORDENADAS
mas Atentas e Instintivas
24
25
duas linhas
algumas linhas
muitas linhas
4/Osmateriaisdestalição
São, sobretudo, dois
4.1.Palavras/Imagem
4.2Imagem/Palavra
Ambas servem para cultivar
DuascoisasnecessáriasàArquitectura
Objetividade da cultura visual
Capacidade de síntese
Quernaleitura doslivrosàsobras
quer na escrita palavra e
desenho
(os desenhos seguinteslêem-sedebaixoparacima)
26
27
Desenvolvimentos do tema e materiais expositivos Destaco e defendo, como qualidades a observar na escrita do arquiteto, a
objetividade,asimplicidadeeaeconomiadaspalavras.Partindodaúltimaparaaprimeira,afirmoemprimeirolugar,que são poucasaquelasquesão,também,asindispensáveis.
Porsortedeinvestigadorprincipiante,porqueeminvestigaçãoétãoraraa descoberta de documentos absolutamente valiosos que o simples facto de se encontraremedaremaomundogranjeiamaquemospublicaoméritoincontor-nável da originalidade, depois de muitos errosmeus,máfortuna,amorardente… voltaaterlugarpertinentíssimonestaquestãodaspalavrasdaArquitetura,essedocumento(deÁlvaroSiza,1989)“RegrasdeImplantação–AnexoàFolhadaIm-plantação”quepubliqueinaíntegraem1996esobreoqualreelaboreiem2003,ou seja sete anos depois.
Um documento antigo
OedifíciodaFaculdadeimplantou-sesegundoumtraçadodenotávelclarezaeclassicismo.
Oarquitectoforneceuexpressamenteparaestaoperação,umaplantacotadanaescalade1/100eduasfolhasdactilografadascontendoregrasdeimplantação.
Sãodadas26instruções,localizando18pontosdaobra.Nestedocumentoéreferida27vezesapalavrafachada,18vezesalinhamento,
12vezesparalela,11vezesperpendicular.Asanálises,podemserimpercetíveise,muitasvezes,sóparaalgunsinstrutivas,mas
sempreserãonecessáriasàconfirmaçãodeumdiagnósticoprévio.Tudo,nestaobra,éeducativo-instrumentos,métodos,resultados.
Se,paraainstalaçãodegrandesquantidadesdaconstrução,quatroinstruçõesapenasforamnecessáriasesuficientes,jáasregrasexpressasparaaconcretizaçãodas
pequenaspartessãominuciosas.(FONSECA, 2003) 3
Sobreestedocumento,devoaMarioKrügerquando,nasuairrepreensí-velhonestidadeacadémica,mepediuparaousarquandotrabalhavaatraduçãodeAlberti,anotávelobservaçãodequeestaríamosperanteumautorrenascen-tistanosnossosdias.Constateique,efetivamente,nasua introduçãoaDa Arte EdificatóriaveioaestabelecernãosóasrelaçõesdediversaspráticasedificatóriasdeAlbertiaSiza(entreoutros)mastambémaobservaçãodasreelaboraçõesdopatrimóniotextualdopassado e até uma especial atenção à análisedapeçaHostisdeAlberti, realizadaporCardini (2004;2005)ecolocadana internet por Magrini e outros (2005) dizendo naqueletextode45linhasdispostasempoucomaisdeumapágina,são(…)citadostrêsvezesTitoLívio(…)cincovezesSéneca(…)eumavezPlutarco(…).(Krüger,2011)4
É, portanto, com satisfação pessoal que vemos não só os resultados da nossainvestigaçãocientíficaseremúteisàcomunidadeacadémica,mastambémosmétodoseatéosnossosestilostextuais.
28
29
Os livros antigos da Arquitetura, e outros menos antigos
Prefirochamaraestamatéria“UmJogopelostratadosdearquitetura”.Não sabe de cor, os Tratados, quem não os aprendeu como o TratadodeTordesi-lhas e os rios de Portugal aos 9, ou OsLusíadas aos 15 anos de idade. Os tratados nãofizerampartedoCursodeArquitecturadaEscoladeBelasArtesdoPortodadécadade1970a1980emqueocorreuaformaçãoescolar,estágioeobtençãodo Diploma de Arquitecto da geração a que pertencem os que agora temos entre 60e70anos.Achoque,entreos17eos23anosdeidadeacapacidadedanossamemória estava, não só amplamente disponível para armazenamento de dados comoemmelhorqualidade,masessaéumadeduçãopessoalerecente,desdeque me apercebi que agora, por tudo e nada, penso e falo em francês, língua queaminhamãe“pôsàmesa”enquantofuicriança.Naturalmente,aaplicaçãocríticadaquelesdados,jádependerádanecessidadeefrequênciadeevocaçãoedos contextos adequados ao seu desenvolvimento, regeneração e transformação crítica,masserãojá,novasproduçõesdedados.
Conhecimento e dados não são a mesma coisa.
Dados primordiais do conhecimento da Arquitetura, como os da fala num ou noutro idioma, contam-se pelos dedos da mão e representam as primeiras en-tidades,objetos,estadoseespaçosexistenciais.CristianNorberg-Schulzexplicoutudo isso, citando Piaget, em Existence,SpaceandArchitecturede1971,exata-menteumdosprimeiroslivrossugeridosnoprimeiroanodomeucursonaESBAPpeloprofessordeArquitecturaI,ArquitectoÁlvaroCameira.Nomesmoprimeiroano,1970-1971,oprofessordeTeoriadaArquitecturaI,foioArquitectoOctávioLixa Filgueiras, que ensinou LeModulor de Le Corbusier, o número de ouro de MatilaGhyka,ohabitatdasabelhas,emandoufazerumtrabalhodecampoqueentreguei sob a forma de um levantamento, arquitetónico e antropológico da al-deia de Castelo Rodrigo no distrito da Guarda, onde permaneci três meses. Em nenhum ano do meu curso de Arquitetura houve qualquer disciplina de História (nem de Construção) mas, sempre, as de Arquitetura e de Teoria.
O primeiro Tratado de Arquitetura que abri com as minhas mãos, foi PER-RAULTClaude[1684].Lesdixlivresd’ArchitecturedeVitruvecorrigésettraduits.(Pierre Mardaga. Bruxelles1979).CompradoemParis,duranteaprimeiravisitaàobradeLeCorbusier,em1980,temsidomuitosublinhado(porqueédeediçãoeconómica) ao contrário da oevre de Le Corbusier (completa, nos seus oito volu-mes luxuosamente encaixados, comprada naquele mesmo ano e paga a presta-ções durante dois anos). Só voltei a empreender um esforço económico igual em 2015, mas, agora, nos Atlas renascentistasdeMillereVazDouradoemediçõesfac-símile,promessasdeaventurapessoalpelosmaresdodesenhoe,(jáfindasas prestações), prazer guiado pelas mãos e saberes de Maria Helena Morais de Albuquerque.
DesdeaprimeiravezemquetivearesponsabilidadedadisciplinadeTeo-riadaArquitecturado4ºanodoCurso(2002-2003)elaboreiapartirdaquelelivrodeClaudePerraultsobreVitrúvio,edeALBERTILeonBatista[1452].TheTenBooksofArchitecture-The1755LeoniEdition(Dover.1986),umprimeiroléxico,básicoou“tosco”queveioatornar-seestruturantedomeuprojetonãosópedagógico,mastambémcientífico.Nomesmoanocomeceia traduzirdocatalãoPereHe-reuPayet,Teoriadel’arquitectura.L’ordreil’ornament.(Barcelona,EdicionsUPC1998),tãopaulatinaelivrementecomoofaçosobreosdoisprimeiros.
ParaestimularaleituradosTratados,menosparaotempodeumcursoe mais pela vida fora, construí dois pequenos índices dos dois primeiros com a
30
31
ajuda do terceiro e, deste, apresento o elenco de todos os nomes das liçons que s’imparteixenal’assignaturaComposicióIIdel’ETSABiConstitueixunrecorrutperlateoriadel’arquitecturaocidentalenelperíodecomprèsentreelRenaixementielcomençamentdelsegleXX (como consta da capa da edição de 1998). Desde 2011,passeiasublinharnoíndicedoslivrosdeAlbertipalavrascomoconcinitas e simetriaremetendopara,erecomendando,MárioKrügerqueaselaboraesclare-cidamente,emportuguês,naintroduçãoàArteEdificatória.
OS NOMES DOS MAIS ANTIGOS
32
33
VITRÚVIO
CORRIGIDOETRADUZIDOPORCLAUDEPERRAULT,eresumidoporHereuPayet
De Architectura
foi escrito no último quarteldoséculoIA.C.Compõe-se de 10 livros os quais, em traços largos,sepodemresumirdamaneiraseguinte:
LivroI.Consideraçõesgerais:Oquedevesaberoarquitecto.Conceitodeharmonia. O corpo humanocomoexemplo.QueéaArquitectura.
LivroII.Materiaiseoseuuso:OrigemdaArquitectura. Habitações primitivas. Materiais. Construção.
LivroIII.OrdemJónica:Relaçõesharmónicasdocorpohumano.Harmoniaecomposiçãodosedifícios jónicos. Tipos de templos. Ordem Jónica. Partes e modulação.
LivroIV.Ordenscoríntiaedórica:Astrêsordens(genus)decolunas.Assuasorigens.Arquitrave,friso,cornija(ornamentiscolumnarum).Colunacoríntia:Capitel.Colunadórica:Capitel.Composiçãodosedifíciosdóricos.Ordemtoscana.
LivroV.Edifíciospúblicos:Teatros.Harmonia,musica.
LivroVI.Edifíciosprivados:Localização,dependências(partes).
LivroVII.Materiaisetécnicasderevestimentoepintura.
LivroVIII.Águas.Descoberta, condução e uso da água. Banhos.
Livro IX. Medidadotempo.Mecânicaeharmoniaceleste.
Livro X. Máquinas. Proporção e harmonia nos objetos mecânicos.
Cadalivroéprecedidodumaintroduçãogeralmentemaisretóricadoqueexplicativa.
Tradução livre de Pere Hereu Payet, Teoriadel’arquitectura.L’ordreil’ornament.Barcelona,EdicionsUPC1998
34
35
LEONBATTISTAALBERTI
resumidoporHereuPayet
De Re Aedificatoria consta de um prologo e dez livros. A complexidade e riqueza da obra tornam impossível esquematizá-lo como se fez no caso de
Vitrúvio mas, podemosdizerqueseorganizadamaneiraseguinte:
Prólogo.Fazum“elogiodaarquitectura”euma apresentação da obra. Primeira distinção entre as actividades intelectuais e materiais que concorrem na arquitectura.
Livro I. Fala dos lineamenta (traçado, desenho) da origem da arquitectura, das operações de que se ocupa (ou partes que a constituem e àsquaishaverádereferir-seotraçado):escolha do local; determinação da implantação; divisão ou distribuição; realização dos elementosqueconstituemoedifício:paredes,coberturaeaberturas(queincluiascolunas como uma variante da parede e as escadas como elementos complementares). Faz uma definição do edifício como um organismo.
Livro II. Fala dos materiais, começando pelos que permitem a materialização do traçado (desenho e maqueta) continuando pelos materiais construtivos.
Livro III. Fala da execução da obra, da construção. Enceta o tema da conveniência, que continuará a tratar no livro V.
Livro IV. Faladosedifícios“decarácteruniversal”.Centra-se primeiro na cidade e nas suas diferentesclasseseseguecomosedifícios“paratodososcidadãos”oudeutilidadepública.
Livro V. Fala dos edifícios para os particulares; primeiro os dos particulares «eminentes» e depois os da gente comum.
Livro VI. Fala do ornamento e distingue entre beleza e ornamento; a possibilidade de determinarabelezasegundocritériosracionais(enãosegundoaopinião);amaneirade dotar de beleza o que se constrói.
Livro VII. Fala dos ornamentos nos edifícios religiosos; das plantas dos templos; dos pórticos; dos tipos de templos; neste capítuloéondesedescrevemasordens.
Livro VIII. Faladoornamentodosedifíciospúblicosprofanosefazumadescriçãodestaespéciede edifícios.
Livro XIX. Fala do ornamento dos edifícios privados. Volta a insistir no tema da beleza e no que a origina; define o que se entende por harmonia (concinitas) e como se manifesta. Descrevediferentesespéciesdeedifíciosprivados,nacidadeenocampo.
LivroX.Faladorestauroedamanutençãodosedifíciosedascircunstâncias que os degradam. Dá uma definição de como deve ser o arquitecto.
Tradução livre de Pere Hereu Payet, Teoriadel’arquitectura.L’ordreil’ornament.Barcelona,EdicionsUPC1998
36
37
Ao mesmo tempo que se apresenta o elenco daqueles 25 autores verda-deiramenteantigoséinstrutivomostrarquãocontrastantefoiocenáriodoséculoXXusandoapenasarecolhadeUlrichConradsque,sóaté1963,jácontavacom65entradas(deixandoaindadeforaoúltimoquartodaqueleséculo!)
Assim, cria-se a oportunidade de evidenciar a mudança de modalidades da escrita de palavras da Arquitetura que exprimem não só o surgimento de um MovimentoModerno,mastambémonascimentodeumaEradaComunicaçãoe,finalmente,asuaconquistaeinstalaçãonaSociedadedaInformaçãoGlobal.Ob-servam-sealgumasparticularidadesdestecenáriocomo,porexemplo,repetiçãode autores nominais ao longo do tempo, umas vezes com contribuições indivi-duaiseoutrasemequipa,háentradassobsiglasquerepresentamcoletivos,hádiversidadeeextensãogeográfica,entreoutros.
PROGRAMASEMANIFESTOSDAARQUITETURADOSÉCULOXX
ReunidosporUlrichConradsaté1963
38
39
As palavras da Arquitetura, puras e duras e, compósitas
As primeiras cinco, traduzidasdolivroPERRAULTClaude[1684].Lesdixlivresd’Ar-chitecturedeVitruvecorrigésettraduits.Pierre Mardaga. Bruxelles1979
Ordem taxis Vitrúvio Livro I – capítulo II
Éoquedáàspartesdoedifícioajustamedidarelativamenteaoseuuso-quersetratedas partes em separado quer se tenha em conta a proporção e simetria de toda a obra.
A“ordem”dependeda“quantidade”-dependedomóduloescolhidopararegulartodaaobraecadaumadaspartes.
Disposição diathesis Vitrúvio Livro I – capítulo II
É o arranjo conveniente de todas as partes.
Asrepresentaçõesou,parafalarcomoosgregos,asideiasdadisposiçãofazem-sedetrêsmaneiras-Iconografia(plantas),Ortografia(cortes)eCenografia(perspetivas).
Estastrêscoisasfazem-seporMeditação(éoesforçoquefazoespíritoparaconhecer)eporInvenção(éoefeito-resultadodesteesforço-quedáexplicaçãonovaàscoisasmaisobscuras)
Proporção eurithmia Vitrúvio Livro I – capítulo II
É a harmonia da ligação de todas as partes da obra que lhe dá o aspeto agradável, quando aalturarespondeà larguraea larguraaocomprimento,detudotendoa justamedida.
Aproporçãotambéméarelaçãodetodaaobracomaspartes,arelaçãoqueelastêmcomotodooucomamedidadumacertaparte
Talcomoocorpohumano,cadapartecontémemsiasrelaçõesdotodo.
Beleza thematismos Vitrúvio Livro I –capítulo II
É que faz com que o aspeto do edifício seja de tal modo correto que não há nada nele que não seja aprovado e fundado numa autoridade.
Porissoéprecisoterematenção:
oestadodaarteouthematismos,ocostume,anatureza.
Distribuição oeconomia Vitrúvio Livro I –capítulo II
É a atenção às faculdades do dono da obra e à comodidade do lugar, e a conduçãocuidadosa de uma e outra.
É ter em conta o uso a que se destina a construção, a beleza que se lhe quer dar, porque sãodiferentesosdesenhosdeumacasanocampoedumacasanacidade,seépara gente de negócios ou para gente curiosa e magnífica.
40
41
Como e porquê ler este Vitrúvio (Livro I – capítulo), corrigido e traduzido no século XVII, noséc.XXI
Porquetratadosinstrumentosdoprojeto,oumodosderepresentaçãodoespaço:
“Asrepresentaçõesou,parafalarcomoosgregos,asideiasdadisposiçãofazem-sede três maneiras - Iconografia (plantas), Ortografia (cortes) e Cenografia (perspe-tivas).”
(maistarde,norenascimento,jáhaveráquemfaçaequemfaledemaquetes-Bru-neleschi,Alberti)
Porqueexplicaoqueéoprojeto:
“Estastrêscoisas(plantas,corteseperspetivas)fazem-seporMeditação(éoes-forçoquefazoespíritoparaconhecer)eporInvenção(éoefeito-resultadodesteesforço-quedáexplicaçãonovaàscoisasmaisobscuras).”
GostoespecialmentedestaInvenção,consequênciaouprémiodoesforçoe não como princípio…
Gosto do nome Meditação para o trabalho de conhecer (observar, medir, comparar,rever,sistematizar-desenhandoplantas,corteseosoutrosmeiosderepresentarquehojeusamoscomosinstrumentostambémdehoje-computado-res, maquetes, etc).
Quandoosolhossecansameasrelaçõesparecemtodasfalsas,olhemsimplesmenteumdosobjetos.
«Masestecobreéamarelo!»Usemfrancamenteocreamarelo,porexemplonumpontoclaro,ecomecemdenovoapartirdaíparareconciliaraspartes.MATISSE5
Das cinco palavras antigasdestacadasatrás,sefixarmosapenasaprimeira,poderemosdesencadearaconstruçãodeteoria(objetivoquepresideaoprogramageraldadisciplina em que esta lição se inscreve, em nível avançado de formação do futuro arquitecto,istoé,emquartoanodeumCursodeMestrado):
Ordem:
Quandohojefalamosem“dimensionamento”e“distribuição”parasatis-fazemosrequisitosquantitativosdesteouaqueleespaço,seráqueosubmetemosaumaordemouregraessencialondesesituamasrazõesdosignificadodaobra?E mesmo quando as nossas decisões de projeto se tornam justas e claras, será que foi alcançada pela obra aquela Ordem(Kahn19606) intangível,(Siza20077); carác-ter, atmosferaZumthor20038), que ultrapassa o valor das partes e se liberta, na suahistoricidade,detodooesforçoinvestidonacriação?
E como chegaram aos dias de hoje?
Como já referimos, para despertar a curiosidade sobre as palavras essen-ciaiseoslivrosqueasdesenvolveramnaantiguidade,neménecessáriaaexausti-vidadenemtrazgrandesbenefíciosaseleçãoarbitráriade“alguns”.Pelocontrário,serámaisconstrutivaaexemplificaçãodeque,oprincípiodeumateoriaconsistenaobstinaçãoemapenasalgunstemas(centrarumtema,fazerumaescolhanointeriordaArquiteturaetentarresolversempreaqueleproblema.Éosinalmaisevidentedavalidadeecoerênciaautobiográficadeumartista.(Estaregraétãosimplesqueaesquecemosoupoucasvezesaaplicamos).Todosdeveríamospen-sar:comofizquefossemminhasasminhasarquiteturas?(AldoRossi1966)9
42
43
AartistaamericanaMorganO’Hara(n.1976),emconferênciade12deoutubrode2017,noauditórioFernandoTávora,mostrouos(muitosebelíssimos)frutosdessamesmadeterminaçãosobaexpressão:Beginwithanimportanteper-sonalquestion(em vez das questões dos outros e, quanto mais cedo, melhor).
Aseguir,apresentam-seexemplosdepalavrasquesãofrutodeumaobsti-nação que, embora nossa e pessoal, mas por ser velha, já incorpora algum tempo de sedimentação.
Implantação
Oprimeiroexemploéaimplantaçãodasobras,respeitosadopasseiopú-blico (Alinhada? Paralela? Perpendicular?) e bem relacionada com as construções vizinhas, obedecendo-lhes se são todas excelentes ou melhorando-as com a sua presença. Se, por acaso, não há vizinhos, mais responsabilidade há em quem pri-meiro marca o território, que seja segura e ponderada a posição para ser seguida nofuturo.Aimplantaçãovinculaumnovoedifícioàsregrasdaurbanidadequeoafetamdecondicionamentosespecíficostaiscomoosalinhamentos,asorienta-ções, as massas e escalas das construções envolventes cujo equilíbrio a nova obra transformará,retificando,emprimeirolugar,situaçõesproblemáticaseprotago-nizandooreforçodequalidadesespaciaisexistentesque,porseremparticulareseirrepetíveis,requeremsoluçõesparticularizadasesingulares.
Aimplantaçãonãoéumantecedentedaobra,masoresultadodacon-ceçãodoedifícioemtodaacomplexidadedasuadefiniçãoformaleconstrutiva.Nelasefixamdecisõescomexigênciasdeexatidãoequivalentesàdomenordosespaçosinterioresoudequalquerelementoconstrutivo,sublinhadaspelaintegraldas implicações de todos estes registos na cena urbana. Tenho defendido que o desenhodefinitivoda implantação sópode seroúltimodoprojeto,quando játudo foi escrupulosamente apurado, já nada pode ser reduzido nem acrescenta-do, porque só então o projeto alcançou o direito de se construir, implantar-se, e a obra de apresentar-se ao Espaço Público.
Outroaspeto,cadavezmaisurgentedasimplantações,éaquantidadedeterrenoqueaobraocupaeque,naturalmente,éobemmaispreciosononossopequenoplaneta,porissoconvémsempreocuparomínimo,construircadavezmenos,masmelhor.Reduzirapisadadaarquiteturaéurgente(tantocomoreduzirasuaestridênciaformalporqueessatambémcalcanoutrosentidoquenãocabeneste capítulo).
Distribuição
Adistribuiçãodoprogramaequivale,paraoespaçointernodoedifício,aoquefoiditoparaasquestõesdaurbanidade:éadecisãosobreosignificadodaspartesfuncionalmentediferenciadasnoconjunto.Acarretainvestigaçãoeexpres-sãodedistinçõeseespecializaçãodecadaumdosespaços,hierarquizaçãodasatividades,dascirculaçõesestabelecidasentreelaseharmonizaçãodoconjunto.Éclaro que a distribuição das partes e do todo não se pode fazer com esquemas de plantas(nempensar!),éprecisodistribuiremcorte,eemvolumeparadistribuiras alturas e a capacidade de ar que cada divisão precisa e geralmente são diferen-tes.
A organização da divisão interna tem que ser clara e ordenada. A sua co-municaçãoaoexterior,subtil,mastambémclara,desdelogo,noposicionamentoeidentificaçãodaportaprincipaldeumedifíciopúblico,simbólicaecómoda,logoseguida de átrios, corredores, rampas ou escadas e muitas outras portas para to-dososcompartimentosnecessários,precisadeserfeitacommedidasadequadas,
44
45
maiores para orientarem as pessoas de fora, ou menores, as de dentro da casa.
Porque“quase”sóemtamanhosãodiferentesascasasprivadas,osequi-pamentoscoletivoseosespaçospúblicos,porquehabitadospelosmesmoshuma-nos, se forem bem calibrados os corredores e átrios, passeios e praças, orientam perfeitamenteospercursosprincipaiseossecundários.Nãoéprecisoplacasparasinalizaçãodotrânsitodentrodascasascomo,durantemilharesdeanos,elatam-bémnãofoinecessárianasruas.Bastamalgunsmonumentosebelosportaisdeedifíciosouacúpuladealgumaigreja,umcruzamentoespecial,umjardimcomárvores frondosas, ou a praça que atravessamos para nos orientarmos na cidade se tudo for bem distribuído. Melhor ainda funciona a orientação na cidade se a maiorpartedasconstruçõesfizerregularidadeemalinhamentoecontinuidade,para se notarem aquelas exceções que a memória guarda. Na era digital, (do GPS emtelemóvel)podemesmoadmitir-separabreveaobsolescênciademuitasi-naléticaquedeixarádepoluiracidadesereciclar-se.
Proporção, e Justa medida
Podeterduplosentidoestapalavra,istoé,comocorretodimensionamen-to(quantitativo)dasencomendasedasobras,ecomodecisãoformal(qualitativa)quantoaosignificadodaobraeàsuaposiçãonocontextoarquitetónico,urbanoe natural em que se insere, ou devida proporção. Se no mundo dos arquitetos chegouaapelar-seaumadivinaproporção,geométricaoumatemática,masigual-mentedifícildedescobrir,seráinútilse,antesdela,nãohouverdomíniodamedi-da justa, conveniente, correta e adequada, que toda a gente compreende.
Em 1950, no seu Modulor, Le Corbusier que se apresentava como um ho-mem, “arquitetoepintor,praticanteháquarentaecincoanosdeumaarteondetudoémedida”,propôs-sedescobrirmedidasnovasquecompletassemossiste-masmétricoedepé-polegada,porqueometrotalveztivessedeslocadoouper-vertidoaarquiteturadoseufimqueé“conterohomem”enquantoopé-polegadaparecia ter atravessado o tempo “comalgumasegurançaeumacontinuidadese-dutora”.Aliás,comooVikingeramaiorqueoFenício,opé-polegadanórdiconãotinhanenhumanecessidadedeseraplicadoàmedidadoFenícioereciprocamen-te.Afinal,asreflexõesdeLeCorbusiernãoforammaisdoquearelativizaçãodonúmero abstrato perante “aordemeasleis,aunidadeeadiversidadeilimitada,adelicadeza,forçaeharmonia” – da natureza (a humana incluída).
Háalgunsanos,ÁlvaroSizaexplicouaestudantesqueosnúmerosegeo-metrias“deoiro”ou“divinos”nãoservemgeralmenteparaconceberumprojeto,eventualmente podem ajudar a apurar o desenho de algum corte ou alçado, a ve-rificaradistribuiçãodosvãosnumafachada,areproduziramemóriadeumaobravisitada e impressionante cujo volume e ordem são evocados pelo nosso projeto. Deste autor, entretanto, há muitos exemplos de primeiros desenhos rigorosos dos projetos, poucoestudados relativamente à consagração justíssimada clareza ebelezadosseusesquissos.Ora,integradosnosseuscadernosdedesenhoàmão,estãoquasesempreosiníciosdeplantasecortessistematicamentecotados,comasprimeirasdecisõesdamedidasingularourepetida,entreeixosestruturantesdoconjunto,umdesnívelouvariaçãoaltimétricaimportanteoudepé-direitodentrodoedifício.
Ao evocarmos estes dois autores pensamos quanto lhes devemos não só pelas obras que tantos têm habitado, mas pelo domínio dos números inteiros e decimais,desdeourbanismoparamilharesdepessoasatéaopequenoobjetoquecabe num bolso.
46
47
Resistência (éumadaspalavras“compósitas”quetínhamosemmentenestesubtítulo)
O conforto e a durabilidade da obra dependem exclusivamente das carac-terísticasfísicasdoedifício.Aresistênciadaobraéumconceitocomquegostamosde enfrentar os discursos ambíguos da adaptabilidade, da incompletude, do evo-lucionismocadavezmaisbiónicoemenoseconómicoporque,afinaltodasestascoisasexigemtrabalhoematerial(aocontráriodaobraflexível,quepodemudarde uso sem consumir recursos).
Firmitas,éa primeira palavralatinainvariavelmentecombinadacomou-tras duas - utilitas, venustas (na versão curta, talvez a original e mais popularizada como sendo a do próprio Vitrúvio, mas sem as certezas que a história da teoria sempreteveobrigaçãodediscutireporissoacumuloutantostradutoreseintér-pretesintrépidos).Emvezdefirmitas recriámos resistência como a categoria em quepodemosfazerrecair,nãosóaresistênciafísica,comaseleçãocriteriosademateriaisesistemasconstrutivos,mastambémaqualidadeplásticaeestéticadaforma.Porsinal,paracumprira“solidez”,desdeVitrúvio,jámuitasinstalaçõesderedesesofisticadosmateriaisetecnologiaseacrescentarame,mesmoassim,nãosobreviveramaoseutempo.Afinal,porqueresistemsóalgumasobrasaotempoeao uso?
A“materialidade” incluiperfeiçãodaexecuçãodecadapormenoredetodos os pormenores na sua harmonia. É o suporte do ilimitado encantamento e dainsistentecuriosidadequepromovemosentidodaapropriação,antídotoefi-cazcontraodesgastefísicoetemporaldaobra.Aplasticidadedoespaçonãotemvulgarmentecabimentonestaavaliação,remetendo-seemgeralparaoâmbitodaestética,eperdendo,comfrequência,aessênciaconstrutivaquelheéindissociá-vel em arquitetura.
Aresistênciaétambémumconceitoenraizadonoutrosdomínios,comoopolítico,porexemplo,onderemeteparamovimentoslibertários,comfrequêncialitigantes,contraforçaseregimesmaisoumenosarbitráriosdedominação.
Beleza
Repetindoosgestoseasinterrogaçõesqueahistóriadateoriatemfeito,tambémnosatrevemosafazê-loparaapalavravenustas.SeráaBeleza?Nãoé,quantoanós,nemumacategoria tãoabstrataque sónafilosofia (maisexata-mentenaEstética)tenhaasedeexclusivadeexploração(naturalmente,temláolugar privilegiado, mas, Theodor Adorno já ofereceu condições para recomeçar-mos a fazê-la nossa, desde que tenhamos a coragem e o esforço para o estudar10). Convém,portanto,simplesmenteconstatarqueateoriaecríticadaarquiteturacontemporânea,talvezpelagrandezadosfilósofosquetrataramaBeleza,paulati-namentefezdesaparecerdaescritaessapalavra(entreoutras).Em1980,LuizBar-ragán,voltouainstalá-lacategoricamentenaArquiteturaetambémcomeçamosaencontrá-lanaspublicaçõesdeescritoseentrevistasdeÁlvaroSizaqueocorreramsobretudodepoisde1992,anoemquerecebeuoprémioPritzkerdeArquiteturaque, ao mexicano, foi atribuído em 1980.
Emversãodelicada,masenviesada,PeterZumthorem2003,emAtmos-feras,surgecomograndeinterrogaçãodasuaprática,odesejodea forma bonita. Notei,emaularecente,queaté1992nuncaouseiproferirdiretaeclaramenteapalavra Beleza,massempreacoloqueiatravésdeautoresdereferênciaquecon-feriramautoridadeaomeudiscurso(AspalavrasdeBarragánforammatéria“obri-gatória”emsumáriosetestesnaFAUPdesde2002).Foidifícilencontrá-la,entreosautoresatuais;entreosvolumesenciclopédicosSMLXLdeOMA(1344páginas)
48
49
e InquietacionesTeóricasyestratégiasProyectualesenlaobradeochoarquitectoscontemporâneosdeMoneo(404páginas)sóencontreioseguinte:
Beauty.Andbybeautywemeansimplicity,largeness,andrenewedseverityofdiscipline;
wemeanareturntodetachmentandform. (OMA1998:22)
Ultimamente,assiste-seaoseusurgimento(nãoconfundircomrenasci-mento)deBeleza,commaisfrequência,ementrevistaseescritosdosarquitetosdasduasúltimasdécadas.
Beautility ©11 (éoutradaspalavras “compósitas”,mas,neste casopatenteadaporumartistaamericano).
Economicsgraballtheheadlinesbutbeautyisjustasimportant,andevenhasseriousfinancialramifications.Beautydoesserveafunction.Didn’tthewaythatcarsusedtolook–andnolongerdo–haveabigeffectonthefailureofDetroit?
Beautyismorethanskindeep.Beautyispowerful.Utilityisbeautifulandbeautyhasutility.Let’scallit“Beautility”forshort.
IhavecoinedthiswordBeautilitybecauseIwantpeopletorealizethateveninourmercenaryworld,beautyisnotjustaboutflowerdisplays.Beautilityisanew
wayofframingbeauty,assomethingthatservesafunction,thatelevatesittothebottomline.Whenthingshaveanameandpeoplecanpointatit,thenitwillbeeasierforthemtoappreciatethevalue. Designersarekeydriversinthebeau-
tybusiness.Thedesignprofession’sjobistocreateBeautility!(Tucker Viemeister)
Quebomserá,quandonoesforçodefazerteoriadaarquitetura,encon-trarmos, na FAUP, o momento de prazer capaz de gerar uma nova palavra, susce-tíveldemerecerserpatenteadae,sobretudo,inspiradora!
Depois desta meia dúzia das palavras (de dentro da Arte e Ciência) da Arquitetura,pensemosagoraemapenasduasou trêsdas suas concretizações.ImitareiaparcimóniadeLouisKahnquandodissequenão sabia o que era Arqui-tetura,masobrasdearquitetura.
A cidade
O que é cada cidade?Oque será?Quemdecide, quemmanda, quemgere, quem se atreve a desenhar cidade e a determinar o preço de construção de futuros sem números seguros, sem clientes, sem histórias, sem medida?
Nãoseibemoqueécidade.Comoarquitetostalvezpossamosconhecerefalardecidadesoupartesdelas,todasdiferentes.Seiqueàsvezes–ouquasesempre-éprecisorepararacoberturaquedeixaaáguaentrar,construirmuitopouco, sóoqueéurgentee indispensávelparamelhoraroquenãoestábem,parasubstituiroquenãotemqueocupar,paracriaroquefazfaltanãosóparaasaúde,mastambémparaafelicidadeprivadaecomum.Oindivíduodehojesenteumanecessidadeurgentedereconquistaraarquiteturacomofenómenoconcreto (Norberg-Schulz,1973)
Acidadeéoespaçoartificial,histórico,emqueumasociedade,umavezalcança-doosuficientegraudediferenciaçãorelativamenteàconfiguraçãosocialprece-
dente,tentaemcadaépoca,atravésdasuaautorrepresentaçãoemmonumentosarquitetónicos,umobjetivoimpossível:marcaressetempodeterminado,paraalémdasnecessidadesemotivoscontingentesaqueobedeceuoprocessode
construçãodosseusedifícios.(CarloAymonino,1975)
50
51
AcontribuiçãofundamentaldeRossi(1966)foienunciarqueadimensãoarquitetónicadacidadeéumacondiçãoimprescindívelparaacorretaformulaçãode uma teoria dos factos urbanos. A dimensão arquitetónica do urbano explica-se e complementa-se reciprocamente pela dimensão urbana da arquitetura. A consi-deraçãodaarquiteturacomodimensãoessencialdacidadefoipolémicanumcon-textoculturalurbanísticoemqueseacreditavaqueumdossucessosdefinitivosdaconceção do urbano era a consideração da supremacia da dimensão económica dacidaderelativamenteàsoutrasvariáveisurbanaspossíveis.(TarragóCid,1968).
Quasecinquentaanosdepois,oqueapenasseapontavacomofenómenoemergente,confirmou-senumaproduçãotrágicadequantidades insustentáveisde espaço, no desmantelamento dos delicados equilíbrios alcançados por longos temposdesedimentaçãodasformasqueconstituíramacidadehistórica,nocon-sumo exponencial de solo e recursos materiais conduzidos por
umurbanismoexercidocomooperativismooudeificaçãodaatividadepelaatividadeemsi,esquecidadoseuproduto:acidade,quedestemodosecoi-sificou.OcorpodohomemdeLeonardodaVincioudeLeCorbusierperdidasasproporçõesemedidasfoiconvertidonumnúmeroinfinitésimodejogosdeesta-
tísticaeprobabilidade.(TarragóCid,1968)
A questão de base para a valorização arquitetónica da cidade reside num entendimentodaarquiteturacomoobradearteedadimensãodoestéticonavidahumana.Todaaobradearterevelaumcarácterduploemunidadeindissolúvel:éexpressãodarealidade,mas,simultaneamente,criaarealidade,umarealidadequenãoexisteforadaobraouantesdaobra,masprecisamentesónaobra(Kosic,1967).Aconceçãodaartecomocriaçãoecomoexpressãosintetizaadmiravel-menteadimensãoessencialdoartístico.
A rua
Aruaéoferecidapeloproprietáriodecadacasaàcidadeemtrocadeser-viçoscomuns(LouisKahn)éumaafirmaçãocontrariadaporumagrandepartedos“programas”eminentementepúblicosdeinvestimentonãoparticipadoenãopar-ticipativo,derramadopelochãodosespaçospúblicosdas“polis”epelas“capitais”portuguesas de qualquer coisa, em vez de aplicado no saneamento económico da sociedadeerestabelecimentodasuacapacidadedeofertaderuasfelizesàcida-de.
Naatualidade,aruaéoferecidapelacidadeaosproprietáriosemtrocadeserviços que não são comuns.
Emespecialidadescientíficas(dasáreasdaarquiteturaeurbanismo)aruaéumdoselementosdamorfologiaurbanaou, (sobretudodageografiaurbanaeda engenharia doplaneamento) é umadas estruturas damobilidade. Se, naprimeiramodalidade,setrataaformaindependentedafunção,nasegundaéoinverso.MasLouisKahnsofria,jánoseutempo,comosefeitosdoespecialismo:
rua-Fala-sedaruacomolugardeencontro,comoumasaladereunião,massemteto;asparedesdeumasalasãosemelhantesàsfachadasdascasasdas
ruaseestassãodeterminadaspelascasasdacidade;hojejánãoháruas,sójáháavenidas,mornaseimpessoais.Paradevolvervidaàruaéprecisoanimá-la
(...)façamplanosconcisosedistribuamconvenientementeascasasjuntoàsruas,devolvam-lhesahumanidade.(LouisKahn.ConversascomestudantesemRice
[1968]1ªpublicação1969)
Uma breve composição com palavras, para um tempo longo
52
53
Odonodaobraéefémero,tantocomoousoquedela.Noentanto,aboaarquiteturasobreviveaambos,e,liberta-se,étantomaisflexívelquantomaisformoldada com gravidade e justa proporção. Como anunciamos no início do tra-balho, muitos teóricos têm revisto e atualizado os velhos princípios ou palavras--chavedaarquitetura,noseupapeldecriadoresoudecríticos,comtrês,cinco,ouquatropontosetambémcomsete(lâmpadasporexemplo).Serádestesqueaproveitoumanotaquepodeseroportunaparaonossotempo:
“Aslínguasdemoramséculosaconstruireassuasalteraçõessãolentas.Qual-quernovidadeparamaterializar-sedependeráabsolutamentedenecessidadesoudosinstintospopulareseosgrandescriadoresatribuem,quasesempre,as
suasinvençõesaumadescobertaacidental.Asgrandesmudançassãogeralmen-teinstrutivas,naturais,fáceis,eporvezesmaravilhosas,masnãoforamprocura-dasnemporseremnecessáriasàdignidadedoautornemàsuaindependência.Asliberdadesdosgrandescriadoresserãocomoaquelasqueumgrandeoradorfazcomasualíngua.Nãodesafiamasleisparasesingularizar,massãoconse-
quênciasinevitáveis,espontâneasebrilhantesdoesforçoparaexprimiremoquealíngua,semessainfração,nãoteriapodidoexprimirbem.” (Ruskin,1880)
Começos para uma teoria sobre palavras da Arquitetura
Identificamosalgumaspalavras,necessariamentepoucas,cujaapreensãoe aplicação cremos servir o propósito de facilitar o acesso e o debate público da Arquitetura. Ciclicamente, na história da arquitetura, encontramos autores teó-ricos epraticantes, que sepropuseramconstruir princípios emvezdenormas,critérios seguroseedificantesemvezde sistemas tãoambíguos comovoláteispara operar no território e nas cidades. Muitas vezes observamos que nova reda-çãofoidadaapalavrasorigináriasdogregooulatim,masprevaleceuosentidodeutilidade,solidez,beleza,proporçãodoqueseconstrói,assimcomoosdeordemeeconomia,respeitopelanaturezaepelotrabalhohumanoinvestidonaArquite-tura.
Acríticanosrecriminará,talvez,porqueomitimosoconceitodelingua-gemarquitetónica.Porqueétãoinfinitaquantoasuavariaçãoporépocas,autoreseatéobrasdeummesmoautor,écircunstancial. Intencionalmenteaevitamos,deixando-a a cargo dessamesma crítica, porque quemaqui escreve não é umcrítico,éapenasumarquitetoque,seporventurafazteoriaéparaserviraArquite-tura; Funcionalista, porque o espaço das obras tem que ser organizado com ordem e clareza para que as pessoas a possam usar livremente; Materialista, porque as intençõesdaarquiteturaseescrevematravésdageometriaquedeterminacomotodososmateriaisseorganizameserevelamcomaluz(queétambémmaterial);Artista,porquenadadistoacontecenemestesdoismeiossedesenvolvem,senãohouverumaprimeiraideia,umaimagem,evocativadealgumaformaemalgumsítiooutro.ParaLouisKahn,“beginnings”,ÁlvaroSiza“uncommencement”.
LuísBarragánescreveucomoutraspalavrasoqueéaarquitetura,maspreocupou-se,comoestadodascoisasdearquiteturaem1980dizendo:“Comtristeza, tenho notado que uma proporção alarmante de publicações dedicadas àarquiteturabaniudassuaspáginasaspalavrasbeleza,inspiração,magia,sorti-légio,encanto,assimcomoosconceitosdesilêncio,intimidadeeespanto.Todoseles têm permanecido na minha alma e, embora tenha consciência total de não lhesterfeitoplenajustiçanomeutrabalho,nuncadeixaramdeserasminhasli-nhasdeconduta”.Nãoparecemestarnaordemdodia,em2017,nemaobranemodiscursodoautormexicano,aprimeiraporqueficouperdidanumtemposemfo-tografiadigitaleosegundo,sobretudonaacademiaporquepredominaoensurde-cedor ruído de todas as ciências humanas cuja língua se faz mais complicada que
54
tempo
55
transcendente,obscura,científicatalvez,masnãoculta,sobretudodesumana.
Interessa-nosrefletirsobreosmodoscomocontinuamosumaculturaar-quitetónicaparaonossotempo,atravésdeumalínguaquesejapartilhávelesus-tentável, dentro e fora das relações entre arquitetos, servindo em primeiro lugar a justiçasocialeafelicidadehumana.Acreditamosnaarquiteturacomolínguaviva,sempre moderna porque renovada tanto nas suas composições locais quanto in-dispensávelcomocontribuiçãoparaumasociedadequeéglobal.Paraavivarmosanossamemória,FernandoTávoraexplicouque“amodernidadedeumfenóme-nomede-sepelarelaçãoqueelemantémcomascondiçõesdentrodasquaisserealiza;emArquiteturaeUrbanismomodernidadesignificaintegraçãoperfeitadetodososelementosquepodeminfluirnarealizaçãodequalquerobra,utilizandotodososmeiosquemelhorlevemàconcretizaçãodedeterminadofim.Amoder-nidademanifesta-senaqualidade,naexatidãodasrelaçõesentreaobraeavida”.
Um poema de Eugénio de Andrade
Nosentidodeumaabordagemespecificamentetextual,umaliçãodedi-cada ao assunto já se chamou as palavrasefoiiniciadapelapoesiadeEugéniodeAndrade12, com esse preciso título mas de um autor intencionalmente escolhido daliteratura,porseremospoetasosartíficesdasíntesenummenornúmerodepalavrase,também,porqueesteparticularpoetajuntaàescritaprimordialaor-ganização espacial da folha de papel, torna-a arquitetónica portanto.
as palavras 13
substantivos 12
adjetivos 9
verbos 24
diversos Sãocomoumcristal, cristal São como um
as palavras. palavras as
Algumas,umpunhal, punhal Algumas, um
umincêndio. incêndio um
Outras, Outras
orvalho apenas. orvalho apenas.
Secretasvêm,cheiasdememória.
memória Secretas, cheias vêm de
Insegurasnavegam: Inseguras navegam
barcosoubeijos,aságuasestremecem.
barcos beijos águas estremecem
ou as
Desamparadas,inocentes, Desamparadas inocentes
leves. leves
Tecidassãodeluz luz Tecidas são de
e são a noite. noite. são e a
Emesmopálidas pálidas E mesmo
verdesparaísoslembramainda.
paraísos verdes lembram ainda
Quemasescuta?Quem escuta QuemasQuem
asrecolhe,assim, recolhe, as assim
cruéis,desfeitas, cruéis,desfeitas
nassuasconchaspuras? conchas puras nas suas
Opoemaemsi,são58palavrasdasquais13sãosubstantivos,12adje-tivose9verbos.Restam24quesãoartigos,proposições,advérbios,pronomes.Ainda não contamos os sinais de pontuação e, portanto, recorrendo ao computa-
56
57
dor,obtivemosototalde320caracteres.
Em desenvolvimentos posteriores dessa lição, e em plena aula de Teoria, podem mostrar-se elaborações segundo este exemplo, ora sobre um texto ora sobreumaplantadeumapartedecidade(incluindoassociaçõescomfotosaéreasouapartirdochão,ouaindaesquissosdeumautor)emquecadaelementosetornasuscetíveldeseranalisadomorfologicamenteparasedemonstrarquenãohá dados negligenciáveis na arquitetura, porque o menor dos sinais, indevidamen-teaplicadopodealterarnegativaoupositivamenteumtexto,talcomoumarua.
Tambémocorrequecomarepetiçãodesteexercício,emvezdeenfadoou aborrecimento cresce a alegria e a clareza com que se alinham categorias, se contamossubstantivoseosverbos,secriamrotinasdedisciplina,concisãoeeco-nomiaparaque,instintivamentevenhamaaplicar-senumafuturacarta,contratoou memória de projeto.
Quando,em2009,ÁlvaroSizamededicou01Textos num jantar oferecido por Souto de Moura, porque o meu marido morreu, apercebi-me de que umtes-tamentopodetermuitasformaseproveniências,maséinvariavelmenteobjetivoedeconteúdopatrimonial,oquequerdizer,destinadoaserrentabilizado.Nes-te caso, passei a dirigir tempos deixadosvagos para aqueles textos escritos pelo arquiteto que sempre foi, em nossa casa, o mais querido amigo. Curiosamente, deixei de precisar da sua presença assídua, passei a estudar o livro e em 2010 criei ummétodoparaasuaanálisesistemáticaporestudantesdearquiteturaquejáconta com mais de quatro centenas de entradas em quatro línguas, e que se prevê publicávelsobotítulo153escritosacadémicossobre153textosdeÁlvaroSiza.
InvestigaçãosimilarfoidirigidaparaostextosdeLouisI.Kahncoleciona-dos por Alessandra Latour, Alvar Aalto inhisownwords, os escritos de Robert Ven-turi reunidos em Iconographyandelectronics(…)aviewfromthedraftingroom, entre outros. Destes, não tem sido especialmente prestada aquela atenção que aquiqueremossublinhar-ascaracterísticastextuais–divergindo,quaseinvaria-velmente,paraosconteúdostemáticos.
Aprende-se a escrever, lendo.
O livro de Jean Paul Sartre, Lesmots, apresenta duas palavras apenas para osdoisúnicoscapítulosquecontém.Ler e Escrevercom107páginasoprimeiroe98 o segundo13.Quandoseintegranestaauladearquiteturaconverte-senafór-mula“Lerpalavras+figuras”e“Escrever+Desenhar”porquedesenharéescreverarquiteturatambém.Aanálisemorfológica,paraalémdacompreensãoeemoçãoque a obra integral oferece, ou seja, Ler apresenta-se como base para a criação e precisaserintensamentepraticadaatésetornarinstintiva,eportanto,criadora.
ConvémesclarecerquenãoexorbitamosaevocaçãodeSartrenumcursodeArquitetura,comoonãofazemosparaEugéniodeAndrade,sobretudoporqueemtermospessoaisemmimressoacommaisforçaAlbertCamusqueafirmouca-tegoricamente nãoserfilósofoporquenãopensavasegundoasideias,massegun-doaspalavrasemetempermitidoafirmarque“nãosouescritora,masarquiteta,porque não penso segundo as palavras, mas segundo o desenho e as formas do espaço”.
A memória descritiva
Concentremo-nos,finalmente,namaisprosaicaescritadosarquitetosno
58arquitetura
59
âmbitodisciplinardapráticadaarquitetura,amemóriadescritiva.
ÉformativaaleiturasistemáticadediversasmemóriasdescritivasdeÁlva-roSizadispersasporpublicaçõesedeváriasépocasdasuacarreira.
MemóriadescritivadeBibliotecadaUniversidadedeAveiroMemóriadescritiva de Igreja de Santa Maria, Marco de CanavezesMemóriadescritivadeCentroGalegodeArteContemporânea
(Nãoprocedoaquiasuareproduçãoporque,senoespaçodaaulaéne-cessáriaelegítimaavisualizaçãodostextosintegraisquetranscrevoparafinsdi-dáticos,torna-setambémformativaanecessidadedefrequênciadasbibliotecasinstitucionaisouaaquisiçãopaulatinadelivrosdeArquitetura)
Dasuaanálisecrítica,destaca-seaOrdem,Estrutura,Teoria,DistribuiçãoeConstruçãodostextos:
(1) Aconstânciadaestruturadotextoempontos;(2) Aposiçãoocupadanessaestruturapelasmatérias;(3) Odestaque sistemáticodeumponto, apenas,mas variável, emcada casoque
denuncia o problema ou conceito dominante da obra;(4) Aobraé,sistematicamente,osujeitodasfrasesquesãoenunciadas;(5) Os verbos são conjugados no presente.
Memória de autor e texto crítico do autor e de outros
Nãosãotãoacessíveisasmemóriasdescritivasdeumdosmaisimportan-tesarquitetosportuguesesdoséculovinte,FernandoTávora,oraporquegrandepartedasuaobraocorreuantesdaaberturadaatividadeeditorialnacionalpós--revoluçãodeabrilde1974oraporque,aqueédedicadaàarquitetura,sóesta-beleceuestatutoedimensãopróprios jáno iníciodesteséculoeainda,porqueasestruturasnecessáriasàvalorizaçãodoespóliodosarquitetossãoumacriaçãocommenosdeduasdécadas.Coube,entretanto,enaturalmente,aoalargamentodonúmerodeescolasdearquiteturaeaoflorescimentodaatividadedeinvestiga-çãocientífica,opioneirismodavalorizaçãodessepatrimóniointelectualeartísti-co,bemassimcomoacriaçãodoestatutode“críticodearquitetura”geralmentedecorrentedeformaçãoavançada(nopaísounoestrangeiro)eméritoacadémicona especialidade.
Escolhemos de Fernando Távora e da obra do Mercado de Vila da Feira, a suamemóriadescritivaincluídanoanteprojetoedatadade1954.Paralelamente,analisamos o texto que o mesmo autor elaborou para um catálogo de exposição, nestecaso,pensoeu,noexemplarpapeldocrítico,rigoroso,agudoeculto,deArquitetura.
Mercado Municipal de Vila da FeiraAnte – ProjectoMEMÓRIA DESCRITIVA E JUSTIFICATIVA21
OMercadoMunicipaldeViladaFeiradestina-seaservir,alémdapopulaçãolocal(3.780habitantesem1950),adasfreguesiasvizinhas(concelho,70.532habitantesem
1950).
Oterrenodestinadoàsuainstalaçãoencontra-sepróximodocentrodaVilaepróximo,também,dolocalondeserealizamosmercadossemanaiseafeiramensal,mais
importante.
60
corte
61
Oterrenoéservidoporumarruamentorecentementeconstruído(TransversalA)que,passandoematerro,temumdeclivedecercade4%edescedeNparaS;orefe-ridoarruamentotem8,00mdelargura(2x1,50m45).OterrenoconsideradonopresenteAnte–Projectotemformaquadrada(52,00x52,00m=2.704,00m2)eé,
igualmente,inclinado,descendonosentidoNO-SE.
Quatrocorpos,trêsdedimensõessemelhantes(A,B,C)eumdemenoresdimensões(D),separadospormanchasdeverduraeligadospeloscaminhosdepeões,
constituemaparteedificadadoMercado;essescorposimplantam-seemduasplataformas(cotas121,05e119,35m),distribuindo-sedemodoalimitaremumespaçointeriorondeserácriadoumpequenolago.Emplanta,todooMercado,
edifícioseespaçoslivres,estáestruturadosegundoumamalhaquadradade1,00mdelado,aqual,alémdegarantiraindispensávelunidadedetodaacom-
posição,permite,pelasuadimensão,umafácilmediçãodeáreasparaadetermi-naçãodataxadealuguerdoterreno.
Umafaixacontínuadevegetação(2,00mdelargura)limitaportrêsladosoterrenodoMercadoeárvores,arbustos,relvadosefloresdesempenharãonoconjuntoum
notávelpapeldebelezaeutilidade.
Doisamplosacessos,acotasdiferentes,partindodaTransversalA,permitementradasseparadasdevendedoreserespectivosprodutosedecompradores.
Aorganizaçãodecadaumdoscorposcitadoséaseguinte:
CorpoA–Serviçosadministrativosedepessoal(fiscalização,veterinário,vestiárioeinstalaçõessanitáriasdopessoal);
arrecadação;onzeestabelecimentos,cincoàcota121,10meseisàcota119,40m,sendoosprimeirosfechados,comportaemontra(padaria,mercearia,confeitaria,bebidas,leiteequeijo,etc.)eossegundosabertos(carnesverdese
carnessecas);instalaçõessanitáriasparaopúblicoevendedores.
Áreacoberta–316,80m2.
CorpoB–Instalaçõesfrigoríficas(câmarasdepeixeedecarne,casadamáquina);arrecadação;vendadepeixe(12lugares);
vendadeanimaisdepenaedepêlo(12lugares).Áreacoberta–316,80m2.
Juntodestecorpoencontram-seespaçosdestinadosavendaseventuaisdosprodutoscitados.
CorpoC–Vendadehortaliçasedecereais.Áreacoberta–264,00m2.
Juntodestecorpoencontram-seespaçosdestinadosavendaseventuaisdosprodutoscitados.
CorpoD–Vendadefloresedefrutos.Áreacoberta–95,20m2.
DaanálisedoAnte–Projectosededuziráaformadecadaumdoscorposdescritos;osseuselementosresistentes(pilares,vigaselajes)serãoconstruídosembetão
armado,sendoalajedecoberturaimpermeabilizada,possivelmente,comtelha;asparedesdeenchimentoserãoemalvenariadetijoloeosmurosdesuportede
62
63
terrasemalvenariadegranito(rusticadaourebocada);ospavimentosindicadoscomumamalhaquadradaserãoconstruídosembetonilha,comjuntaabertae
osrestantesemsaibrosobrecaixadebrita.Deummodogeralserãousadosnosacabamentosmateriaisdefácilconservaçãoelimpeza,
simples,vivoseeconómicos.
Considerandoqueasuperfícieconstruídaéde992,80m2equeaoseucustodevemacrescentar-seobrasdecertovultoemmatériademurosdesuporte,escavações
eaterros,estima-seocustoderealizaçãodopresenteAnte–Projectoemnovecentosmilescudos.
Porto,8deSetembrode1954
F. Távora
Mercado Municipal de Vila da Feira. 1953-1959Texto de Catálogo
Numquadradode50x50metrosimplantarummercado.Ummódulo,tambémquadrado,de1a1metroscomandaacomposiçãoeintroduz-lheasuageome-tria.Corposvários,comsentidoprotectordistribuem-seformandopátio.Não
apenasumlugardetrocadecoisas,masdetrocadeideias,umconviteparaqueoshomenssereúnam.Umalinguagemaustera,sobaprotecçãotutelardoCas-telo.ApropósitodesteedifícioAldoVanEyck,noCongressodeOtterloo,sugeriuqueanoçãocorrentedeespaçoetempodeveriasersubstituídapeloconceito
maisvitaldelugareocasião.FernandoTávora14
Acomparaçãodetextosquesãoelaboradosporteóricosecríticossobreas mesmas obras, permite descobrir que não são escritos com as mesmas quali-dadesmascomníveisvariáveisdeobjetividadesendoFrampton15 o mais próximo da obra em si mesma, quer quando trata uma só, ou a obra completa de um autor. Dirige tão magistralmente as palavras com que descreve o estudo e a experiência da Arquitetura que não deixa o leitor perder-se, muito menos deambular por labi-rintos de sensibilidade que só a cada um pertencem.
Por esta razão temos proposto a sua leitura de Siza Opera Completa, onde articulamemóriasdescritivase textosdeSizacomosseuspróprios textospró-prios.TambémdeFramptonpropomosLeCorbusiere,destesugerimosaleituradaVilaSavoyecomparando-acomotexto“AVillaSavoyerevisitada”deÁlvaroSiza que, aqui, elabora sobre a obra de outro arquiteto.
As Cartas ou Correspondência
Pomposamente, as cartas ou correspondência, são agora categorizadas como“escritaepistolar”.Depoisdetertranscritomanualmentealgumascentenasdelasedescobertoalgumaspreciosasnoiníciodaminhacarreiradeinvestigaçãocientífica,dedicoparticularinteresseaoslivrosquereúnemacorrespondênciadearquitectoseartistasfundamentais(deCézanneaRothkoeMatisse,MiesvanderRohe,LeCorbusier,LouisKahnmas,oprimeiroquecomprei,foideFrankLloydWright).Traduzo-omuitoecorrijoaindamais.
AscartasqueFrankLloydWrightescreveuaosseus“aprentices”sãoexce-lentes exemplos da escrita não só de arquiteto para outros (arquitetos e colabora-dores)comosãopedagógicasemmuitossentidos,desdeaobservaçãoedesenho
64
65
rigorososàdelimitaçãodosassuntosquesepartilhamcomoclienteououtrosinterlocutores.Sentimentos,emoções,naturaisentrefamiliares,amigosecolegas,nãocabemnafrasequetratadearquitetura–estatomamodalidadetécnica,eco-nómica,precisa,instrutivaeinvariavelmenteconstrutiva.ConstatamosqueestesescritosdeWrightjánosinteressamhádécadas,tendocomeçadoatraduzi-losem1991.16
Nosentidodealargarmosestamodalidade(asbiografias)deculturaar-quitetónica (e não só da nossa disciplina) passámos a integrar Mies Umabiografiacrítica(Schulze,1985) e Aalto nassuasprópriaspalavras(Schildt,1997)continuan-doaremetertambémparaVenturi(1996)eSiza(2009).
O tom e o timbre das palavras
Outramodalidadededesenvolvimentodestamatéria17 pode ser poesia e prosaemarquitectura,expressãoliteralmenteescritaporZeviinNuce mas tam-bémexpressaporMiesvanderRohe(PeterCarterapudSPARETH,1985).Éclaroqueneste“modo”jáestamosnodomíniodaevoluçãoeatéeducaçãodalingua-gememenosnosentidorestritodaspalavras(puraseduras)daprimeiraversão.
Desenvolvem-se nesta segunda hipótese de trabalho, alguns textos de Le Corbusier(Modulor)ePeterZumthor(Atmosferas),unidospelamúsica,salientan-doumaespéciedesensibilidadematemáticanaescolhadapalavra.
UmafrasesobreamúsicadeIgorStravinskyestápresentenoescritóriodePeterZumthor:
“Escaladiatónicaradical,escaladarítmicapoderosaediferenciada,
evidênciadalinhamelódica,clarezaerudezadasharmonias,
umradiarcortantedastonalidades,porfimasimplicidadeetransparênciadotecidomusicaleasolidezdaconstrução”
AndréBoucourechliev 18
Outroexemplo,demúsicostambém,masagorareferidoaumautor(ouentredoisgrandesautores)éaapresentaçãocategórica,emsetelinhasemeia,definindoumautor,umlivroeaobra(ArnoldSchoenberg,LeStyleetL’idée), feita porPierreBoulez:
Pelaoriginalidadedoseuensinotalcomopelaacuidadedasuaconversa,Schoenbergsubjugouquemdeleseaproximou;reunidosnestelivro,assuasopiniões,osseuspontosdevista,assuasanálisesconstituemum
documentoexcecional,recriandoparanóstodoofascíniodeumespíritoqueorientouamúsicadoséculoXX
paraconceçõescompletamentenovas.PierreBoulez,Janeiro197719
Nãoseencontrafacilmentenoslivrosdearquiteturaequivalenteexatidãodevocabulário(umcódigoinstituídoepartilhadoou,vice-versa,cujousorigorosoepersistenteoinstitucionalize)talvezporqueatradiçãodahistoriografiadaartefavoreceuasartesplásticas,especialmenteapintura(Zevi,1960).
Sabe-sequeamaiorpartedosarquitetoscontemporâneosvêmdissemi-nandoasuateoriacadavezmaisatravésdasentrevistasemperiódicosdearqui-tetura, textos em catálogos20deexposiçãoou,atédevivavoz,emconferências
66
67
queagorajáestãoacessíveisporInternet.Porisso,interessa-nosestimularoseuestudo em paralelo com a publicação clássica em papel.
Em jeito de conclusão As lições não se concluem, são propostas de trabalho que se abrem. No
entanto,importareiterar,comopontodepartida,oestudodaqueletipoespecífi-codedocumentotécnico-Asmemóriasdescritivas-porqueanossaabordagemàTeoriaéadeumarquitetoquesemprequisserviraArquiteturaatravésdoseuprojeto e não a de quem usa a Arquitetura para escrever teorias e, mesmo quan-doensinareconheceoslimitesdoseuterritórioque,nestecaso,éodaformaçãobásicade“apenas”mestrearquiteto.
68
69
Um documento
70
71
Autobiografia de Le Corbusier
EscritaapedidodePietroMariaBardi,redigidaduranteumalmoçorealizadonumres-tauranteemRoma,em1934.22
1/
NéàlaChauxdeFonds.1887.
CaractèretrèsJoyeux.
Àl’écoleà4ans:“mauvaiscaractère”!
Quittél’écoleà13½ans.
Contratd’apprentissagedegraveurdemontres;jemerévolte,etfaisdel’orfèvrerie.
Unmaîtreintelligentem’arracheàcelaetm’orienteversl’architecture.Jeconstruisunemaison(“moderne”!)de171/2ansà19ans.
Père:passionnédenature
mère:musicienne
frère:musicien.
1907jeparsenItaliepuisvoyageenEurope.
ArriveàParis(1907);toutseul!
Étudié,seul,dansbibliothèques.
Jenepuismerésoudreàentrerdansuneécole:ennuyementetprogrammesnon-réels.
Voyages:folk-lors;Asiemineure,Grèce,Rome.
Architectedansungroupededécorateursdebâtiment:pierre,bronze,vitrail,mosaïqueetc.Jebrise!Mescamaradesmeblâment:«ingénieur!»Rupturecomplète.
Après-guerre:4annéesd’industrie(__d’unesociététechnique):financeetproduction.
Jefonde“L’Espritnouveau”1919:«Uneépoquenouvelleacommencé…»
Plustard1931:membreducomitédirecteurde“Plans”.
”1933:”””””“Préludes”.
_____________________
72
73
2/
Dèsl’enfance,obsédéparledessin.Jedessine,lesoir,ledimanche,horsdesheuresdemon autre travail.
En1932jemetsàlapeinturequejepratiquedésormaissansarrêt.
Jequittedéfinitivementles“salonsmondains”etlecénacled’artistes.Vieseule.Amis:FernandLégerlepeintre,BlaiseCendrars,l’écrivain.
De20à30ans,angoisse.Alarecherched’unmétier.Àlarecherched’uneraisondevie.Jeunessesévère.Toutl’édificedesconventionss’écoule.
Hainedel’argentetdesvanités.
Chezmoi,lesjeunesdetouslespays,viennenttravailler–visiteursquotidiensdesym-pathisantsdetouspays:jesuisrenseignésouslemouvementinternational.Lesjeunesm’appellent,enURSS,enAmérique,Espagne,Tchécoslovaquie,Algérie,Scandinavie,Gréce,Allemagne,Suisse,Italie.
_____________________
Sentimentcroissantdelanécessitéd’unegrandetransformation.Révisiondesvaleurs.Constructiond’unmondenouveauaniméd’espritnouveau.Lemondeestma-laded’unecrisedeconscience.Lacivilisationmachinisteestnée.Ilfautluirévé-ler sa conscience et lui donner un cadre.
Ilfautmettrel’hommeaucentredenotreconstruction.Retrouverlesrapportsnouveauxentre l’homme et la nature.
Lasociétémoderneacesséd’aimer.Ilfautluidonneruneraisond’aimer.Participeràlavie=individuslibresetactifsaumilieud’unecollectivitédisciplinéeetproduc-trice.
IlfautétablirlesPLANS.Lesplansdetoutel’activitéhumaine.Desplanslibres.Sichacun,danssonmétier,faitdesplansutiles,lestempsmodernesseréaliseront.
Lesplansrenseignerontl’autorité.
Eventuellement,lesplansmettrontl’autoritéaupieddumur:iln’yauraplusdedoutesurl’actionàentreprendre.
74
753/
Etsil’autoritéestdéfaillante,impuissanteàréaliserlesplans,lesplanssusciterontl’auto-rité.
Le monde meurt de cacophonie.
Unmondeanciens’écoule.
Il faut apporter une nouvelle harmonie
Le monde a besoin d’harmonie
C’estunpostulatesthétique,finalementappuyésuruneéthiqueprofondémenthu-maine.
Rome16Juin1934
Le Corbusier
76 ReferênciasdasfigurasSalvoasfontesseguintes,todasasoutrasfigurassãodeelabo-ração própria da autora.CapaePáginas70,72,74:BARDIPietroMaria(1900-1999).Lem-brançadeLeCorbusier:Atenas,Itália,Brasil. Nobel, São Paulo. 1984Páginas12e54:Arquivoparticular.FotosdeEmídioFonseca,1995 e 1992Página38:montagemprópriaapartirdeGIURGOLA,Romaldo,MEHTA,Jaimini.LouisI.Kahn.Artemis,Zürich,1975Página42:elaboraçãoprópriaapartirdeWOGENSCKYAndré.LeCorbusier’sHands.TheMITPress;1ªEdição2006Página58:CONRADSUlrich,ProgramasyManifiestosdelaar-quitecturadelsigloXX.Barcelona,EditorialLumen,1973Página 60: Fernando Távora em Cristiana Veiga de Mace-do Lamas, Mercado Municipal de Vila da Feira, EPFE - FAUP 2006/2007Páginas70,72,74:BARDIPietroMaria(1900-1999).LembrançadeLeCorbusier:Atenas,Itália,Brasil.Nobel,SãoPaulo.1984
77
Notas e Referências
1 ÁlvaroSizaemMACHABERT,D.,BEAUDOIN,L.ÁlvaroSiza,umaquestãodemedida.Calei-doscópio,2009:211
2 Idem,ibidem:214
3 TeresaPiresdaFonseca,“Aconstruçãodanovafaculdadedearquitecturadauniversidadedoporto1985-1998”emSIZAÁlvaroetalOEdifíciodaFaculdadedeArquitecturadaUni-versidadedoPorto-PercursosdoProjecto.EdiçõesFAUP2003:43-56.
4 ALBERTILeonBattista.Daarteedificatória.MárioKrüger,ArnaldodoEspíritoSanto.F.C.G.2011:117
5 MATISSE Henri. EscritosereflexõessobreArte. Texto e notas estabelecidos por Dominique Fourcade(Hermann,Paris1972);EditoraUlisseiaS/d:62
6 CONRADSUlrich[1964],ProgramaseManifestosdelaarquitecturadelsigloXX.Barcelona,EditorialLumen,1973:266
7 ÁlvaroSizaemSOMOZAManel.ÁlvaroSiza,ConversasnoObradoiro.Verlibros,Ourense2007:131
8 ZUMTHORPeter[2003].Atmosferas. Gustavo Gili 2009
9 AldoRossi“Umaarquitecturaparalosmuseus”emAA.VV.Teoriadellaproyettazionearchi-tettonica[DedaloLibri,Bari1968]GGBarcelona1971:202
10 ADORNOTheodorW.Adorno.Teoriaestética.Edições70,1982;FRADEPaulo.TópicosdaEstéticadeAdorno.EdiçãoPalavrasLidas2014
11 Tucker L Viemeister é um designer industrial americano, (n. 1948Ohio) vive emNovaIorque. https://pt.scribd.com/document/3325063/Beautility-Tucker-Viemeister acesso 04/03/2018
12 ANDRADEEugéniode,[1958?]Coraçãododia. MardeSetembroLimiar,1977:18-19
13 SARTREJeanPaul[1964Lesmots].As palavras.Bertrand,1979.
14 DepartamentoAutónomodeArquitecturadaUniversidadedoMinho,AssociaciónPrimei-roAndar–EscolaTécnicaSuperiordeArquitecturadeCoruña.Catálogo.FernandoTávora. ExposiçãoGuimarãesExposiçãoETSAC,ExposiçãoCGAC.2002:64
15 FRAMPTON,Keneth.“VillaSavoye,Poissy,France1928-31”.LeCorbusier,ArchitectofthetwentiethCentury.HarryAbrams,Inc.Publishers,NewYork.2002;4.38-4.53;COELHOAnaCarolina,ACornaobradeLeCorbusier, ed. de autor. FAUP 2008.
16 AuladeProjectoI(2ºAno),de23deMaiode1991emFONSECATeresa.OEnsinodePro-jectonaEscoladoPorto1981-2001.Apontamentos.FAUP2001:131-137;Tambémpublicá-mostraduçõesmelhoradasemPIRESDAFONSECATeresa.“Apaisagemcomoconstruçãomental–concepçãoeexpressãomaterialdoconceitodepaisageminterior”emARQUI-TECTURAYCONSTRUCCIÓN:ELPAISAJECOMOARGUMENTO.RamosCarranza,Amadeo,Añón Abajas, RosaMaría (dirs). Universidad Internacional de Andalucía (UNIA). Sevilla2009:94-112.
78
79
17 TeresaFonseca,Aula17deTeoria3,FAUP4demarço2013
18 AndréBoucourechlievapudZUMTHORPeter.Atmosferas. G.G.2006:21.
19 SCHOENBERGArnold(recolhaporLeonardStein)StyleandIdea, New York, Philosophical Library,1950,Ediçãofrancesa,EditionsBuchet/Chastel,Paris,1977.
20 FrankO.Gehrysobre“LoyolaLawSchool”GEHRY,Franketal.TheArchitectureofFrankGehry. WalkerArtCenter,RizzoliInternationalNY1986:168-175
21 FernandoTávoraemCristianaVeigadeMacedoLamas,MercadoMunicipaldeViladaFei-ra,EPFE-FAUP2006/2007.
22 BARDIPietroMaria(1900-1999).LembrançadeLeCorbusier:Atenas,Itália,Brasil. Nobel, SãoPaulo.1984:12-14.Transcriçãonossaemjaneirode201
Outras referências não incluídas no corpo do texto nem nas notas
AlvarAALTOemSCHILDTGöran.AlvarAaltoinhisownwords.RizzoliNewYork1997
FrankLloydWRIGHTemPFEIFFER,Bruce(selection&commentary)[1982].LetterstoApprentices.TheArchitecturalPress.London1987
LECORBUSIER[1948-1959].Lemodulor. Ed. L’Architecture d’Aujourd’hui 1983.
LouisI.KAHN.«CREDO»emArchitecturalDesign,5/1974
LuísBARRAGÁN[1980],«DiscursodeaceitaçãodoPrémioPritzkerdeArquitectura»emJUNTADEANDALUCIA, J. Alvarez Checa e M. Ramos Guerra (eds.), ObraConstruída,LuísBarragán,1902-1988, Sevilha 1991
MACHABERTD.,BEAUDOINL.ÁlvaroSiza.Umaquestãodemedida. Caleidoscópio, 2009
MONEO Rafael. Inquietudteóricayestrategiaproyectualenlaobradeochoarquitectoscontempo-ráneos.ACTARBarcelona,2004
NORBERG-SCHULZChristian.Existence,Space&Architecture.StudioVistaLondon1971;[1974].Architetturaoccidentale.Electa.Milano.1981
OMA,RemKoolhaas,BruceMau.S,M,L,XL. The Monacelli Press 1995
ROSSIAldo(1966):Laarquitecturadelaciudad.GustavoGili,Barcelona,1971
RUSKIN,John[1849,1880].LesSeptlampesdel’architecture.Denoël,1987
SIZA,Álvaro,01Textos, Civilização Editora, Porto 2009
TÁVORA,Fernando[1952],Aliçãodasconstantes, FAUP publicações 1993
VENTURI Robert. Iconographyandelectronicsuponagenericarchitecture.Aviewfromthedraftingroom.MITPress1996
Top Related