Renalle Ruana Pessoa Ramos
A FAMÍLIA ASTERACEAE BERCHT. & J. PRESL EM
AFLORAMENTOS ROCHOSOS DA CAATINGA PARAIBANA:
MORFOLOGIA, RIQUEZA E DISTRIBUIÇÃO
Campina Grande – PB Fevereiro de 2011
Renalle Ruana Pessoa Ramos
A FAMÍLIA ASTERACEAE BERCHT. & J. PRESL EM AFLORAMENTOS ROCHOSOS
DA CAATINGA PARAIBANA: MORFOLOGIA, RIQUEZA E DISTRIBUIÇÃO
Trabalho de Conclusão de Curso
desenvolvido na área de Sistemática e
Taxonomia de Fanerógamas apresentado à
Universidade Estadual da Paraíba como
exigência para a obtenção do grau de
Bacharel em Ciências Biológicas.
Orientador: José Iranildo Miranda de Melo
Campina Grande – PB Fevereiro de 2011
F ICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL – UEPB
R175f Ramos, Renalle Ruana Pessoa.
A Família Asteraceae Bercht. & J. Presl em afloramentos rochosos da caatinga paraibana [manuscrito]: riqueza, morfologia e distribuição. / Renalle Ruana Pessoa Ramos. – 2011.
141 f.: il. color.
Digitado. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Ciências Biológicas) – Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, 2011.
“Orientação: Prof. Dr. José Iranildo Miranda de Melo, Departamento de Biologia”.
1. Biologia Vegetal. 2. Flora Paraibana. 3. Botânica. 4. Morfologia floral. I. Título.
21. ed. 581.7
Renalle Ruana Pessoa Ramos
A Família Asteraceae Bercht. & J. Presl em Afloramentos Rochosos da Caatinga Paraibana:
Morfologia, Riqueza e Distribuição
Trabalho de Conclusão de Curso
desenvolvido na área de Sistemática e
Taxonomia de Fanerógamas apresentado à
Universidade Estadual da Paraíba como
exigência para a obtenção do grau de
Bacharel em Ciências Biológicas.
Aprovada em 10 de Fevereiro de 2011
Banca Examinadora:
Débora Coelho Moura, Doutora
_________________________________________________ Universidade Federal de Campina Grande
Maria de Fátima de Araújo Lucena, Doutora
_________________________________________________ Universidade Federal de Campina Grande
José Iranildo Miranda de Melo, Doutor
_________________________________________________ Universidade Estadual da Paraíba
– Orientador –
À todos que contribuíram para minha formação pessoal e profissional,
especialmente minha mãe e minha avó (in memorian), dedico
Agradecimentos
Ao grande mistério, que alguns chamam de Deus, por sempre ter orientado meus
passos e criado todo o contexto para a construção deste trabalho;
À natureza, ...;
À Ivani Pessoa, minha melhor amiga e mãe, pelo eterno apoio e paciência em mais uma
etapa da minha vida;
À professora Thelma Dias, uma pessoa muito especial e um grande exemplo para mim,
pelo imenso apoio moral e instrumental, sem o qual o presente trabalho não poderia ter
sido desenvolvido da forma como foi realizado;
À Isa de Melo (in memorian), minha avó, por todo o carinho e pela grande segunda mãe
que ela foi para mim durante todo o tempo em que estivemos juntas;
À todos da minha família que sempre estiveram presentes, dispondo-se a ajudar no que
fosse necessário, pelo auxílio e grande apoio;
À todos que facilitaram de algum modo meu acesso ao conhecimento ou me
permitiram acompanhá-los aos afloramentos rochosos, contribuindo para o saldo final de
amostragem, Hermes, Emerson e Acácia, especialmente Elizabeth e Juliana, por conseguirem
o tão citado Bremer (1994), que embasou grande parte deste trabalho;
À todos os funcionários da Universidade Estadual da Paraíba que contribuíram direta ou
indiretamente para a realização deste trabalho;
Aos pesquisadores que dedicaram sua vida a aprimorar o conhecimento humano,
especialmente com relação às Asteraceae, compartilhando seus achados de modo
especialmente voltado para a continuidade da construção do conhecimento e direcionaram
de alguma forma meu olhar;
Especialmente ao meu orientador, por ter aceitado engajar-se na presente empreitada,
apesar de todas as dificuldades, pela grande confiança, paciência e apoio e por ter me
proporcionado um grande crescimento enquanto pesquisadora;
À todos que auxiliaram de algum modo na construção do presente trabalho,
Meus mais sinceros agradecimentos!
“O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano”
Isaac Newton
Poder estudar e apreciar a vida em toda a sua complexidade é uma das grandes
satisfações da minha existência. O presente trabalho é apenas o resultado de
mais um esforço para compreendê-la.
Resumo
O presente estudo foi o resultado de um levantamento efetuado em quatro conjuntos
de afloramentos rochosos situados em quatro municípios do Estado da Paraíba, dois deles
bastante conhecidos (Pedra do Touro e Pedra de Santo Antônio), caracterizados como
representativos da vegetação de Caatinga: Boa Vista, Fagundes, Puxinanã e Queimadas.
Foram amostrados indivíduos de todas as espécies pertencentes à família Asteraceae
encontrados nas áreas estudadas, culminando na identificação de 18 espécies distribuídas
em 17 gêneros: Ageratum conyzoides L., Bidens pilosa L., Centratherum punctatum Cass.,
Conocliniopsis prasiifolia (DC.) R.M. King & H. Rob., Conyza bonariensis (L.) Cronquist, Delilia
biflora (L.) Kuntze, Emilia fosbergii Nicolson, Emilia sonchifolia (L.) DC., Galinsoga parviflora
Cav., Melanthera latifolia (Gardner) Cabrera, Parthenium hysterophorus L., Pithecoseris
pacourinoides Mart. ex DC., Sonchus oleraceus L., Sphagneticola trilobata (L.) Pruski, Tagetes
erecta L., Tilesia baccata (L.) Pruski e Tridax procumbens L., e uma provável nova espécie
enquadrada no gênero Platypodanthera R.M. King & H. Rob. Os resultados obtidos
contribuíram para um melhor conhecimento da flora local e, especialmente, dos
afloramentos rochosos e da família Asteraceae, com Conyza bonariensis e Parthenium
hysterophorus referidas pela primeira vez para a flora do Estado. São fornecidas descrições,
dados de distribuição geográfica, registros fotográficos e ilustrações, bem como a chave para
a separação taxonômica das espécies encontradas nos afloramentos estudados.
Palavras-chave: Asteraceae; flora; afloramentos rochosos; Paraíba; Caatinga.
Abstract
This work represents the result of a floristic survey developed on four rock outcrops sets
located in four cities of Paraíba State, two of them well-known (Pedra do Touro and Pedra
de Santo Antônio), caracterized as representative areas of the vegetation of Caatinga biome:
Boa Vista, Fagundes, Puxinanã, and Queimadas. All the species that belongs to the
Asteraceae family found on the studied areas were sampled, resulting on the identification
of 18 species distributed in 17 genus: Ageratum conyzoides L., Bidens pilosa L., Centratherum
punctatum Cass., Conocliniopsis prasiifolia (DC.) R.M. King & H. Rob., Conyza bonariensis (L.)
Cronquist, Delilia biflora (L.) Kuntze, Emilia fosbergii Nicolson, Emilia sonchifolia (L.) DC.,
Galinsoga parviflora Cav., Melanthera latifolia (Gardner) Cabrera, Parthenium hysterophorus
L., Pithecoseris pacourinoides Mart. ex DC., Sonchus oleraceus L., Sphagneticola trilobata (L.)
Pruski, Tagetes erecta L., Tilesia baccata (L.) Pruski, and Tridax procumbens L., and a
probable new species that was classified in the genus Platypodanthera R.M. King & H. Rob.
The outcomes contributed to a better understanding of the local flora and, specially, to the
rock outcrops and the family Asteraceae, with Conyza bonariensis and Parthenium
hysterophorus registered as new occurrences to the flora of the Paraíba State. Descriptions,
distribution data, photos and illustrations as well as a key for taxonomic separation of the
species found at the studied areas are presented.
Keywords: Asteraceae; flora; rock outcrops; Paraíba State; Caatinga biome.
Lista de Abreviaturas e Siglas
1 Obra princeps dos gêneros e espécies Bull. Sci. Soc. Philom. Paris: Bulletin des Sciences, par la Société Philomathique de Paris Bull. Torrey Bot. Club: Bulletin of the Torrey Botanical Club Contr. Bot. India: Contributions to the Botany of India Fl. Peruv. Prodr.: Florae Peruvianae, et Chilensis Prodomus London J. Bot.: London Journal of Botany Mem. New York Bot. Gard.: Memoirs of the New York Botanical Garden Notizbl. Königl. Bot. Gart. Berlin: Notizblatt des Königlichen botanischen Gartens und Museums zu Berlin Pl. Surin.: Plantae Surinamenses Prim. Fl. Esseq.: Primitiae Florae Essequeboensis Prodr.: Prodromus Systematis Naturalis Regni Vegetabilis Revis. Gen. Pl.: Revisio Generum Plantarum Sp. Pl.: Species Plantarum Syn. Gen. Compos.: Synopsis Generum Compositarum Syst. Nat.: Systema Naturae Syst. Veg. Fl. Peruv. Chil.: Systema Vegetabilium Florae Peruvianae et Chilensis Skr. Naturhist.-Selsk.: Skrifter af Naturhistorie-Selskabet
2 Autores dos táxons A. Gray: Asa Gray B.L. Turner: Billie Lee Turner Baker: John Gilbert Baker Benth.: George Bentham Bercht.: Friedrich von Berchtold Blume: Carl Ludwig Blume C. Jeffrey: C. Jeffrey Cass.: Alexandre Henri Gabriel de Cassini Cav.: Antonio José Cavanilles Cabrera: Ángel Lulio Cabrera Cronquist: Arthur John Cronquist DC.: Augustin Pyramo de Candolle D.J.N. Hind: David John Nicolas Hind Dumort.: Barthélemy Charles Joseph Dumortier Elmer: Elmer Drew Merrill
G. Mey: Georg Friedrich Wilhelm Meyer G.M. Barroso.: Graziela Maciel Barroso Gardner: George Gardner Hook. f.: Joseph Dalton Hooker H. Rob.: Harold Ernest Robinson J. Presl: Jan Svatopluk Presl K. Kirkman: L. Katherine Kirkman K. Bremer: Kare Bremer Kuntze: Carl Ernst Otto Kuntze Kunth.: Karl Sigismund Kunth L.: Carl von Linné Lam.: Jean-Baptiste de Lamarck Less.: Christian Friedrich Lessing Lindl.: John Lindley Mart.: Carl Friedrich Philipp von Martius
Mattfeld: Joh. Mattfeld Mill.: Philip Miller Nicolson: Dan H. Nicolson O. Hoffm.: = Karl August Otto Hoffmann Panero: José L. Panero Pruski: John Francis Pruski R.M. King: Robert Merril King Retz.: Anders Jahan Retzius Ruiz: Hipólito Ruiz López Sch. Bip.: Carl Heinrich Schultz Bipontinus Small: John Kunkel Small Spreng.: Kurt Sprengel Vell.: José Mariano da Conceição Velloso M.F. Johnson: Miles F. Johnson Wight: Robert Wight
3 Herbários ACAM: Manoel de Arruda Câmara 4 Órgãos nacionais e estaduais AESA: Agência Executiva de Gestão das Águas no Estado da Paraíba IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Sumário
1 Introdução ...................................................................................................... 14
2 Objetivos ........................................................................................................... 17
2.1 Geral ................................................................................................................. 18
2.2 Específicos ................................................................................................... 18
3 Fundamentação Teórica ............................................................ 20
4 Metodologia ................................................................................................. 34
4.1 Caracterização da área de estudo ............................................ 35
4.2 Procedimentos de campo e de laboratório ...................... 39
4.3 Estudos taxonômicos ......................................................................... 40
4.4 Parâmetros ................................................................................................. 42
5 Resultados e Discussão .................................................................. 45
5.1 Riqueza total ............................................................................................. 46
5.2 Caracterização da flora por área de estudo ..................... 47
5.3 Variação morfológica observada .............................................. 50
5.4 Tratamento taxonômico .................................................................. 51
5.5 Dados morfométricos ...................................................................... 105
6 Considerações Finais ..................................................................... 112
Referências ..................................................................................................... 114
Apêndices ......................................................................................................... 131
Índice das Espécies
1.1 Ageratum conyzoides L. ........................................................................................... 57
2.1 Bidens pilosa ............................................................................................................... 59
3.1 Centratherum punctatum ........................................................................................ 62
4.1 Conocliniopsis prasiifolia ......................................................................................... 65
5.1 Conyza bonariensis .................................................................................................... 67
6.1 Delilia biflora ............................................................................................................... 69
7.1 Emilia fosbergii ........................................................................................................... 71
7.2 Emilia sonchifolia ....................................................................................................... 72
8.1 Galinsoga parviflora ................................................................................................. 75
9.1 Melanthera latifolia .................................................................................................. 77
10.1 Parthenium hysterophorus ................................................................................... 79
11.1 Pithecoseris pacourinoides .................................................................................. 81
12.1 Platypodanthera sp. ............................................................................................... 84
13.1 Sonchus oleraceus .................................................................................................. 87
14.1 Sphagneticola trilobata ......................................................................................... 89
15.1 Tagetes erecta .......................................................................................................... 91
16.1 Tilesia baccata .......................................................................................................... 94
17.1 Tridax procumbens ................................................................................................ 96
Introdução
15
1 Introdução
Segundo Giuletti et al (2005) embora o interesse pela flora do Brasil seja datada de
antes do século XVI, a botânica taxonômica no Brasil é relativamente recente, uma vez que a
mesma apenas começou a estabelecer-se aqui por volta de 1970, de modo que o Brasil
possui pelo menos quatro séculos de registro da flora, sendo que apenas cerca de 40 anos
desta história tiveram a participação de botânicos formados no país, até então as
contribuições eram dadas por botânicos europeus que vinham estudar a flora e as paisagens
brasileiras. Ao longo desta história, prioridades de investigação foram conferidas a
ambientes aparentemente exuberantes em termos de diversidade florística e alguns foram
subestimados pelas suas condições austeras que, aparentemente, não suportariam uma
grande carga biológica e, portanto, teriam uma menor relevância para tais estudos. Este foi
o caso do bioma Caatinga, como Rodal et al (2008) mencionam, das províncias
biogeográficas presentes no território brasileiro, o domínio da Caatinga é um dos maiores e
mais desconhecidos.
O bioma Caatinga localiza-se na região sem-iárida, que compreende parte dos estados
de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, quase
que a totalidade dos estados da região Nordeste do Brasil, e também o estado do Maranhão
e o norte de Minas Gerais, situados na região Sudeste do Brasil. A região semi-árida do Brasil
é bastante populosa, contrastando com outras regiões semi-áridas pelo mundo, abrigando
quase que 19% da população brasileira, todavia, para sobreviver a condições desfavoráveis
seus habitantes desenvolveram uma estrutura sócio-cultural peculiar e um forte
relacionamento com os recursos naturais disponíveis na região, que conduziram a mais de
400 anos de utilização da terra inadequada e descontroladamente, de modo que a região
exibe uma intensa degradação ambiental, em parte consequência da também falta de
conhecimento científico sobre a caracterização e funcionamento da biota e dos recursos
hídricos, associado com a proposição de modelos de desenvolvimento inadequados para a
região (GIULIETTI e QUEIROZ, 2006).
Diante do presente contexto de perda da biodiversidade mundial, a Caatinga é um
bioma único, de grande importância, que reflete os resultados da intensa exploração
16
antrópica, que, por sua vez tem conduzido progressivamente a perda da biodiversidade pela
destruição do seu hábitat. Segundo Townsend et al (2006) a perda de hábitats é a principal
responsável pela extinção dentre as ameaças atuais, que envolvem também sobre-
exploração e introdução de espécies. Uma vez que a Caatinga ainda é um bioma em muito
desconhecido, uma considerável parte das informações provenientes das espécies pode
estar sendo perdida, sem que sequer possamos avaliar concretamente a magnitude de tal
perda. Segundo Forzza et al (2010) apenas em termos de angiospermas, a Caatinga
apresenta uma riqueza de 4.320 espécies, das quais 744 seriam endêmicas da região.
A família Asteraceae é uma família de angiospermas considerada especialmente bem
sucedida e de vasta aplicação em vários campos de interesse humano com
representatividade significativa na Caatinga. Entretanto, estudos taxonômicos para o grupo
bem como para outros presentes na região ainda permanecem insipientes, principalmente
no estado da Paraíba, onde os estudos são ainda mais escassos em comparação com outros
estados onde o bioma se faz presente, ademais, comparado aos demais espaços semi-áridos
do Nordeste, o da Paraíba é um dos mais afetados pela degradação ambiental (AESA,
2011b). O presente trabalho representou um esforço de contribuição neste sentido, numa
tentativa de que este se constituísse enquanto um instrumento para um melhor
conhecimento do bioma e da sua biodiversidade, a fim de auxiliar na conservação destes,
bem como um aporte teórico sólido em termos de conhecimento biológico que pudesse
subsidiar investigações posteriores em diversas áreas afins.
Objetivos
18
2 Objetivos
2.1 Geral:
Caracterizar a família Asteraceae em afloramentos rochosos da Caatinga
Paraibana quanto à morfologia, riqueza e distribuição geográfica.
2.2 Específicos:
Evidenciar a ocorrência e prováveis endemismos da flora de Asteraceae de
afloramentos rochosos da Caatinga paraibana;
Atualizar a distribuição geográfica das espécies registradas neste estudo;
Comparar a riqueza de gêneros e espécies de Asteraceae entre as áreas deste
estudo com a de diferentes afloramentos do bioma Caatinga;
Identificar, descrever e elaborar uma chave para separação taxonômica, bem
como fornecer ilustrações para as espécies encontradas;
Contribuir para o conhecimento da flora da Caatinga, sobremaneira, para os
afloramentos rochosos e a família Asteraceae.
Fundamentação
Teórica
20
2 Fundamentação Teórica
A família Asteraceae foi estabelecida há mais de 200 anos, em 1792, por Giseke sob a
denominação de Compositae, e, em 1822, Dumortier propôs a terminologia Asteraceae para
a família (KATINAS et al, 2007), sendo ambas as terminologias amplamente empregadas na
literatura. Constitui um grupo sólido, sendo comprovadamente monofilética sob qualquer
forma de análise (FUNK et al, 2009), o que parece nunca ter sido questionado, já que
mesmo o mais antigo dos trabalhos acerca da classificação das plantas reconheciam as
asteráceas como um grupo em algum nível (FUNK et al, 2005). Segundo Katinas et al (2007)
o primeiro reconhecimento das asteráceas deu-se há pelo menos 300 a. C. por Teofrasto.
Para Funk et al (2009) Asteraceae é considerada a maior família de angiospermas e,
assumindo que existem entre 250.000 e 350.000 espécies de angiospermas, pelo menos
uma entre oito a 12 espécies é uma asterácea, de modo que, cerca de 10% da riqueza de
angiospermas pertence a esta família, um número relativamente alto, considerando-se,
inclusive, que, o APG I (1998) reconheceu 462 famílias de angiospermas. Segundo Taylor et
al (2009) a família Asteraceae é bem sucedida não apenas em número de espécies, mas na
conquista de hábitats também, exibindo uma ampla distribuição global e ocorrendo em
praticamente todos os tipos de ambientes, todavia representantes da família são mais
frequentemente encontrados em ambientes abertos e semi-abertos, do que em florestas
fechadas (CRONQUIST, 1981).
Inferências sobre a origem da família são difíceis, uma vez que, segundo Anderberg et al
(2007), o registro fóssil de Asteraceae é esparso e, em sua maioria, constituído de grãos de
pólen que se dispersaram. No entanto, Funk et al (2005) aponta que as Asteraceae teriam
possivelmente se originado no sudeste da América do Sul há cerca de 50 milhões de anos e
sua diversificação basal ocorreu na mesma área, havendo, depois da radiação, uma explosão
do grupo na África, que daí partiu para colonizar o resto do mundo.
As flores geralmente são bastante pequenas, agregadas e envolvidas por brácteas
involucrais, aliado a isso, as flores podem ser diferenciadas e mais vistosas na região
periférica da inflorescência, podendo ser descritas como tendo a corola hipertrofiada
(SOUZA e LORENZI, 2008) e que exercem um importante papel, uma vez que, segundo
21
Nielsen et al (2002), enquanto que em uma flor simples as partes florais periféricas
funcionam como atrativos para a polinização, na família tais flores são funcionalmente
análogas às pétalas na atração para o polinizador, mesmo férteis ou estéreis, sua função é
aumentar a atratividade para a inflorescência compacta, provavelmente resultando em uma
maior frequência de visitação. Sendo assim, na visão do conjunto, a aparência é de uma
única flor e este é o modo com que frequentemente as inflorescências de representantes da
família são retratadas em ilustrações convencionais, sem cunho científico. No entanto, um
exame mais minucioso revela um minúsculo universo, fascinante e complexo. Cada flor
geralmente possui todos os verticilos, no entanto, apresenta um tamanho extremamente
reduzido, sendo então individualmente denominadas de flósculos ou floretes, como um
diminutivo da palavra flor (ROQUE e BAUTISTA, 2008; GONÇALVES e LORENZI, 2007). A
denominação de flósculo ou florete é mais utilizada em publicações estrangeiras em inglês,
onde as flores são referidas como florets em vez de flowers (ANDERBERG et al, 2007), no
entanto, seguindo a tradição dos trabalhos básicos de morfologia da família, a denominação
de flósculo será a adotada pelo presente trabalho a partir de agora para referir-se a cada
uma das flores dos capítulos das Asteraceae.
Os flósculos da família são bastante característicos e considerados entre os mais
especializados das angiospermas (RAVEN et al, 2007). Usualmente encontram-se conectados
ao eixo do receptáculo que sustenta a inflorescência por uma estrutura denominada de
carpopódio. Esta se encontra na região mais basal do ovário, que é nitidamente ínfero e, em
sua porção apical, porta a corola e o cálice, sendo este último modificado em uma estrutura
denominada de pápus, que circunda a corola. A corola apresenta em seu interior o estilete
ramificado e os estames, cujas anteras são concrescidas e exibem uma condição de
sinanteria, daí a designação de sinanterólogo aos estudiosos da família, sendo unidas ou
soldadas entre si por seus bordos laterais e formam um tubo que envolve o estilete. Quando
o ovário é fecundado, desenvolve-se em um fruto, a cipsela, frequentemente referido como
aquênio, usualmente portando o pápus na região apical com importante elemento para a
dispersão do fruto, que segundo Heiden et al (2007), ocorre principalmente por anemocoria
e a zoocoria e inclusive a eficiência desta dispersão confere às Asteraceae extrema
importância no conhecimento da recuperação de áreas degradadas, uma vez que atuam
como pioneiras sucessionais na colonização de ambientes, ocorrendo em clareiras e bordas
de mata.
22
Embora a denominação de aquênio também seja utilizada para o fruto, esta é
questionada por Roque e Bautista (2008), para quem a denominação de aquênio não deve
ser considerada sinônima de cispela, uma vez que o aquênio é um fruto sincárpico,
unilocular e monospérmico proveniente de ovário súpero e a cipsela, embora seja um fruto
similarmente sincárpico, unilocular e monospérmico, é proveniente de um ovário ínfero e
ainda existem outros aspectos a serem considerados, de modo que a designação mais
apropriada para o fruto das Asteraceae é cipsela.
Particularmente para Cronquist (1981), o sucesso evolutivo da família pode ser
atribuído muito mais em termos de fitoquímica do que de morfologia. Ele acredita que o
sucesso inicial da família cresceu a partir da descoberta de uma eficiência defensiva
resultante da combinação de poliacetilenos e lactonas sesquiterpênicas, antes que estas
pudessem ser exploradas por outras famílias, e sua continuada expansão teria sido
impulsionada pela sua labilidade química revolucionária, permitindo a família desenvolver-se
e explorar outros repelentes.
Segundo Funk et al (2009) embora a família seja bem caracterizada pela presença de
flores arranjadas sobre um receptáculo em capítulos de desenvolvimento centrípeto
envolvidos por brácteas, anteras fusionadas em um anel, de modo que o pólen é empurrado
ou varrido para fora pelo estilete, e pela presença de cipselas, geralmente portando um
pápus em seu ápice, existe uma grande variação nos caracteres entre seus membros. Nesse
sentido, Perveen (1997) observa que, a variação é bastante expressiva especialmente de
caracteres florais e reprodutivos, de modo que muitos sistemas de classificação têm sido
propostos para agrupar seus membros, baseadas em diferentes observações da variação dos
caracteres morfológicos enquanto ferramentas diagnósticas em termos taxonômicos.
Devido à riqueza, complexidade e elevada variação morfológica na família, muitos
caracteres morfológicos de interesse taxonômico tem sido propostos e empregados na
sinanterologia, na tentativa de melhor caracterizar espécies e seus respectivos
agrupamentos em diversos níveis. Nesse contexto, dois tipos de caracteres têm sido
frequentemente confrontados: caracteres morfológicos tradicionais e caracteres
micromorfológicos. De acordo com Esteves (2001) tal controvérsia teria surgido a partir da
introdução de caracteres micromorfológicos, especialmente anatômicos, por King e
Robinson, em 1970, que propuseram a utilização de novos caracteres em substituição a
caracteres morfológicos tradicionais empregados no estudo das tribos, que teriam sido
23
considerados fontes de características diagnósticas pouco consistentes, todavia a proposição
dos autores tem sido adotada para alguns grupos e outros não, sendo ainda objeto de
discussão em vários aspectos, inclusive pelo critério de separação proposto, aparentemente
inconsistente, dos caracteres morfológicos com relação aos micromorfológicos.
Praticamente a maior parte da variação morfológica observada na família foi e continua
sendo empregada na circunscrição de agrupamentos, neste sentido uma ampla gama de
estados de caracteres apresentam importância para taxonomia da família; em caráter
exemplificativo podemos citar o pápus, considerado um elemento de fundamental
importância na separação de grupos (BREMER, 1994); as páleas, que auxiliam na
determinação de relações entre táxons (STUESSY e SPOONER, 1988); a pigmentação das
anteras, característica e diagnóstica de grupos (ROQUE e BAUTISTA, 2008); a morfologia do
estilete, que tem sido o caracter mais importante para a delimitação tribal (BREMER, 1994);
a variação no número de costelas, constrição no ápice e na base e o carpopódio da cipsela
figuram como importantes caracteres taxonômicos (ROQUE e BAUTISTA, 2008), assim como
a venação e a disposição das folhas, que também tem sido utilizada em nível tribal e
genérico (BREMER, 1994). Ademais, o indumento de estruturas tem sido apontado como um
importante instrumento para a taxonomia, devido a sua grande variação e exclusividade
(ANDERBERG et al, 2007; BREMER, 1994).
Uma vez que o emprego de caracteres morfológicos para a taxonomia foi considerado
de várias formas ao longo da história da família, puderam ser observados tanto sistemas que
prezaram por um agrupamento mais natural possível, bem como sistemas com
circunscrições artificiais. Atualmente, na taxonomia de uma forma geral, preconiza-se a
utilização de caráteres morfológicos consistentes que expressem relações o mais natural
possível entre os grupos.
Em nível suprafamiliar, a família Asteraceae tem sido enquadrada com base em dois
sistemas de classificação para as angiospermas: o sistema de Cronquist e o sistema APG. O
sistema de Cronquist baseia-se na monofilia das angiospermas, procurando refletir, da
melhor forma possível, as relações evolutivas entre os grupos a partir de caracteres
morfológicos clássicos. Sua proposição inicial foi feita em 1968, no livro intitulado “The
Evolution and Classification of Flowering Plants” (TAKHTAJAN, 1996). Cronquist (1981) divide
as angiospermas em dois grandes grupos, a classe Magnoliopsida (dicotiledôneas), com 64
ordens e 318 famílias, e a classe Liliopsida (monocotiledôneas), com 19 ordens e 65 famílias.
24
Asteraceae sensu Cronquist (1981) é a uma família de dicotiledôneas que compõe sozinha a
ordem Asterales, sendo esta uma das 11 ordens e 49 famílias que compõem a subclasse
Asteridae, e, apesar de modificações posteriores no sistema, a família permaneceu com o
enquadramento inicial. O sistema proposto por Cronquist foi amplamente aceito e utilizado
durante muito tempo como referencial e apenas recentemente tal perspectiva tem sido
remodelada por um grupo intitulado “The Angiosperm Phylogeny Group” ou simplesmente,
APG.
Segundo APG (1998) os sistemas de classificação das angiospermas desde 1970
pareciam ser bastante estáveis e demonstravam uma substancial concordância, no entanto
esta começou a ser abalada quando novos tipos de dados e novos métodos de análise de
dados convencionais começaram a se estabelecer. Muitas das ordens reconhecidas por
antigos autores se revelaram não monofiléticas, e sistemas de classificação como o de
Cronquist, por exemplo, embora ainda fosse muito utilizado, tornou-se ultrapassado. Neste
sentido, o APG I (1998) foi proposto baseado no sistema de classificação de Bremer e outros
autores, publicado em 1996, que, por sua vez, teria sido apoiado em resultados de diversos
trabalhos que tiveram como base de análise dados moleculares, buscando definir os grupos
da forma mais natural possível. As ordens de angiospermas foram divididas
fundamentalmente no clado das monocotiledôneas e no clado das eudicotiledôneas, que,
segundo Simpson (2006), compreendem a grande maioria das angiospermas em termos de
número de espécies, perfazendo 97% do total, com cerca de 22% e 75% das espécies,
respectivamente. Foram reconhecidas 462 famílias e 40 ordens de angiospermas,
contrastando com a proposta tradicional de Cronquist, com 321 famílias e 64 ordens. A
amplamente reconhecida subclasse Asteridae formou basicamente o clado das asterídeas,
sendo composto por 10 ordens, inclusive Asterales, estas divididas nas euasterideas I e II,
que juntas formam um grupo.
Com o advento do APG I (1998), as Asteraceae começaram a ser reconhecidas como
eudicotiledôneas euasterídeas II e, uma vez que ordens com uma única família foram
evitadas, Asteraceae sensu APG I é incluída em Asterales, juntamente com mais 13 famílias:
Alseuosmiaceae, Argophyllaceae, Calyceraceae, Campanulaceae (incluindo Lobeliaceae),
Carpodetaceae, Donatiaceae, Goodeniaceae, Menyanthaceae, Pentaphragmataceae,
Phellinaceae, Rousseaceae e Stylidiaceae.
25
No APG II (2003), devido a fusão da família Carpodetaceae com Rousseaceae, a ordem
passou a englobar 12 famílias e embora a relação entre as famílias dentro de Asterales seja
ainda incerta, existem dados que fortemente sustentam monofiletismo para a ordem, além
disso, Asteraceae, Calyceraceae e Goodeniaceae juntamente com seu grupo-irmão,
Menyanthaceae, formam um grupo monofilético bem suportado (APG, 2003).
No APG III (2009), a ordem Asterales não sofreu grandes alterações com relação aos
tratamentos anteriores, sendo confirmado o suporte da expansão de Campanulaceae
(incluindo Lobeliaceae) e Stylidiaceae (incluindo Donatiaceae), em lugar da divisão que foi
preconizada no APG II (2003) entre Campanulaceae e Lobeliaceae e atualmente o grupo
anteriormente reconhecido como euasterideas II se apresenta sob a denominação de
campanulideas (APG III, 2009). Segundo Kadereit (2007) pela circunscrição da APG II, que foi
essencialmente mantida no APG III (2009), a ordem Asterales contém cerca de 26.300
espécies e 1720 gêneros, cuja grande maioria pertence às famílias Compositae e
Campanulaceae.
Em nível infrafamiliar, segundo Bringel-Júnior (2007), os táxons são reestruturados com
tal frequência que não há um modelo estável que seja bem definido e amplamente aceito na
comunidade científica. Algumas categorias são mais antigas e outras, recentes, e na família a
classificação em tribos é antiga, enquanto que a classificação em subfamílias é relativamente
recente (ROQUE e BAUTISTA, 2008).
As primeiras tentativas de classificar a diversidade da família resultaram na proposição
de sistemas tribais e o primeiro a propor um sistema tribal de classificação foi o botânico
francês Henri Cassini, a quem, segundo Bremer (1994), ainda deve ser atribuída a primeira
iniciativa de proposição de um sistema de classificação para a família. Além disso, as
contribuições mais importantes para a família começaram com ele, que publicou, de 1812 a
1831, uma série de trabalhos incluindo descrições morfológicas bastante detalhadas da
família (KATINAS et al, 2007), de modo que, atualmente, Cassini é apropriadamente
reconhecido como pai da sinanterologia (ESTEVES, 2001).
Na verdade, apesar de ser reconhecido pela proposição do seu sistema tribal de
classificação, o primeiro sistema de classificação proposto por Cassini (1813) não dividia a
família em tribos, nem sequer reconhecia o grupo enquanto família, mas sim como uma
classe por ele mencionada como Synanthérie, dividindo-a em duas ordens: Monostigmatie,
com três seções (échinopsidées, carduacées [= cynarocepháles] e liatridées), e Distigmatie,
26
com duas seções, (corymbiféres [= astérées] e chicoracées [=lactucées]), baseando-se na
integridade da área estigmática, que no caso da primeira ordem seria indivisa e no caso da
segunda seria bipartida, fato que ainda hoje auxilia a separar os grandes grupos da família
(Bremer, 1994). Além disso, Cassini dividiu as astérées em nove seções: vernonies,
hélianthes, eupatoires, solidages, inules, chrysanthèmes, tussilages, arctoides e hétérogynes
(CASSINI, 1813).
Todavia, o que parece ter sido mais fundamental para a proposição do sistema tribal,
foram as novas observações de caracteres morfológicos desenvolvidas por ele. Cassini
(1816) com base nas suas observações da corola, estilete, estigma e antera propôs um
sistema de classificação diferente do anterior, no qual divide o grupo, agora reconhecido
enquanto família, em 17 tribos naturais (tabela 1, página 29). Esse mesmo autor ainda
menciona uma 18ª tribo, artificial, que incluíra todos os gêneros que ele não teria
conseguido agrupar de modo natural. Posteriormente, o autor modificou a divisão tribal
inicialmente proposta, suprimindo algumas tribos e propondo outras; seu sistema clássico,
expresso por um diagrama amplamente citado pelos autores, inclui 19 tribos (CASSINI,
1826).
Segundo Bremer (1994) como Cassini publicava seus trabalhos em revistas e dicionários
franceses, o impacto dos mesmos foi severamente reduzido. Todavia, muitas das
circunscrições propostas por ele são usadas até hoje. Além disso, segundo Robinson (1981),
o trabalho de Cassini trouxe pela primeira vez os caracteres básicos que foram utilizados na
construção das classificações posteriores para a família, inclusive pelos trabalhos de
Bentham (1873) e Hoffmann (1890). O autor ainda menciona que outro aspecto importante
do trabalho de Cassini que foi perdido pelos trabalhos imediatamente subseqüentes, reside
no reconhecimento de grupos naturais para a maioria das tribos da família. Para Bremer
(1994) as classificações propostas por Lessing (1832) e De Candolle (1836) apresentavam
circunscrições artificiais e, o primeiro trabalho que representou um retorno ao trabalho de
Cassini foi o de Bentham (1873).
Bentham (1873) propôs um sistema tribal incluindo 13 tribos e Hoffmann (1890),
segundo Bremer (1994), essencialmente repetiu sua classificação (tabela 1, página 15), com
pequenas modificações nas circunscrições e esta foi utilizada como uma referência
fundamental por mais de 100 anos.
27
Desde os estudos de Cassini até o sistema proposto por Hoffmann, observa-se que a
classificação da família foi baseada principalmente em caracteres morfológicos para refletir
afinidades naturais, todavia com a emergência de novas possibilidades de dados que
poderiam refletir também tais afinidades, estudos com novas perspectivas começaram a
desenvolver-se e revelar sistemas de classificação muitas vezes conflituosos com sistemas
baseados apenas em dados morfológicos. Para a família Asteraceae houve sistemas
baseados em dados morfológicos, moleculares e inclusive fitoquímicos (EMERENCIANO et al,
2007). Todavia, segundo Bremer (1994) sistemas que combinam dados morfológicos e
moleculares têm sido mais aceitos.
Segundo Roque e Bautista (2008) os estudos filogenéticos moleculares tem provido
importantes resultados na evolução e radiação da família e um claro exemplo de tal
contribuição é o trabalho de Jansen e Palmer (1987) que identificaram uma inversão no DNA
do cloroplasto que conduziu a elevação da subtribo Barnadesiinae da tribo Mutisieae ao
status de subfamília por Bremer e Jansen (1992), e a proposição mais aceita passou a incluir
três subfamílias: Asteroideae, Cichorioideae e Barnadesioideae.
Em 1994, Bremer publicou uma obra baseada na nova proposição e, nesta, o autor traz
uma descrição das 17 tribos e suas respectivas circunscrições em subfamílias (tabela 1,
página 29), subtribos e gêneros, incluindo breves descrições destes.
Segundo Esteves (2001), 11 das tribos propostas por Bremer já haviam sido
estabelecidas por Cassini. Este trabalho rompeu definitivamente com a utilização do
trabalho de Hoffmann como sistema de classificação de referência. No entanto, o próprio
Bremer (1994) não visualiza seu trabalho como definitivo, uma vez que afirma que as
subfamílias Asteroideae e Barnadesioideae são monofiléticas, bem suportadas e, no entanto,
a subfamília Cichorioideae é parafilética, e, portanto, necessitaria de maiores estudos para a
proposição de um sistema natural mais sólido.
Desde o trabalho de Bremer (1994), diferentes estudos foram desenvolvidos na
tentativa de elucidar pontos de conflito no sistema de classificação de Asteraceae. Segundo
Roque e Bautista (2008), Kim e Jasen publicaram um dos mais importantes trabalhos
moleculares, identificando os maiores clados da família e provendo evidencias para o
parafiletismo de Cichorioideae, reconhecendo três principais grupos para a subfamília:
Mutisieae, Cardueae e um grupo formado por Cichorieae, Vernonieae e Arctoteae,
formando um grupo-irmão para Asteroideae. Ainda segundo as autoras, Panero e Funk, em
28
2002, na tentativa de elucidar as relações filogenéticas em Mutisieae sensu lato e a
circunscrição de Cichorioideae, apresentaram uma filogenia, admitindo 11 subfamílias e 35
tribos. Anderberg et al (2007) apresentaram uma extensa compilação de informações sobre
a família propondo um sistema de classificação como o resultado das recentes inferências
moleculares. Neste trabalho, os autores apresentam um sistema que reconhece cinco
subfamílias e 36 tribos e dividem a família em dois clados monofiléticos: a subfamília
Banadesioideae e o clado não-Barnadesioideae (tabela 1, página 29). Um aspecto
interessante deste sistema é a proposição para Heliantheae sensu lato de uma série de
supersubtribos.
Segundo Panero (2007a) na classificação de Karis e Ryding (1994b), embora incorpore o
trabalho de Robinson (1981) pro parte, Heliantheae é considerada como provavelmente
monofilética, Helenieae parafilética e Eupatorieae enquanto grupo-irmão de ambas, no
entanto, estudos moleculares desenvolvidos desde então, revelaram que Eupatorieae não
poderia ser mais mantida como uma tribo, devendo esta ser incorporada à linhagem
Heliantheae-Helenieae, todavia, a tribo é historicamente tão bem estabelecida que, para
manter seu reconhecimento e uso em uma classificação que reconhece apenas grupos
monofiléticos, foi necessário o reconhecimento de outros grupos dentro da linhagem, por
vários autores, que foram então circunscritos à Heliantheae Alliance ou Heliantheae sensu
lato. Tais grupos são referidos como tribos, no entanto, a tribo propriamente dita é
Heliantheae s.l. e Anderberg et al (2007) enquadrou estes grupos como supersubtribos.
Mais recentemente, Funk et al (2009) publicaram uma obra propondo um sistema de
classificação mais sólido que o sistema proposto por Andenberg et al (2007). O mesmo ainda
apresenta propostas nomenclaturais que necessitam revisão e, reconhece a Heliantheae
Alliance, que inclui muitas das supersubtribos de Anderberg et al (2007), e 43 tribos (tabela
1, página 29). No Brasil, a maioria dos trabalhos adota o sistema de Bremer (1994) (MORAES,
1997; TELES e BAUTISTA, 2006), amplamente reconhecido e o mais aceito. Apenas alguns
poucos trabalhos utilizam o sistema de Anderberg et al (2007).
Embora diferentes estudos em Asteraceae tenham sido desenvolvidos no Brasil, parte
significativa destes é desenvolvida em nível específico, a fim de comprovar efeitos ou
propriedades de interesse para diversas finalidades humanas e poucas se apresentam de
cunho taxonômico real. Apesar de tais estudos terem uma importância indiscutível,
igualmente é indiscutível o fato de que estudos de cunho florístico-taxonômico os
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sustentam, no entanto, investigações sob este aspecto ainda são escassas, considerando o
potencial biológico do país e comparado ao de outros países. Segundo Nakajima e Semir
(2001) apesar do Brasil concentrar grande parte da diversidade de Asteraceae, o trabalho de
Baker (1873-1884) foi o último tratamento formal para a família.
Se há uma grande necessidade de maiores investigações sobre a flora do Brasil como
um todo, há especialmente para a Caatinga, não só com relação às asteráceas, mas para a
flora do bioma como um todo, cuja diversidade foi durante muito tempo subestimada e,
portanto, foi secundariamente investigada em termos de potencial biológico.
Segundo Santana e Souto (2006) além da imensa falta de conhecimento sobre o bioma,
a Caatinga vem sendo sistematicamente devastada, uma vez que há muitos séculos o
homem vem usando a área recoberta pela caatinga para pecuária extensiva agricultura nas
partes mais úmidas, retirada de lenha, madeira e outros para fins de menor interesse
socioeconômico, uma forma de exploração que, sob um ambiente tão pouco conhecido e
complexo, poderá levar o mesmo a um processo irreversível de degradação.
O mapeamento do IBGE (2004) revelou que o bioma Caatinga ocupa 9,92% do território
brasileiro, o que corresponde a uma área de 844.453 km2 e, segundo Queiroz (2006), a
vegetação da Caatinga ocupa a maioria dos 900 mil km2 de semi-árido na região Nordeste,
uma área ímpar em todo o globo que abriga em seu interior grande parte de uma
biodiversidade igualmente única, ainda em muito desconhecida.
Segundo Giulietti e Queiroz (2006) o bioma apresenta os reflexos de um clima semi-
árido com uma média pluviométrica anual entre 500-800 mm, as chuvas se distribuem de
forma irregular, ocorrendo anos chuvosos e outros onde ocorrem de seis a nove meses de
seca e o tipo de vegetação predominante é constituído por diferentes padrões de Caatingas,
que variam desde a estrutura de uma floresta, constituída de árvores de 6 até 10 metros de
altura, às vezes espinhosas; semi a caducifólia, com subosque de arbustos caducifólios e
ervas anuais, onde predominam especialmente as leguminosas; até Caatinga semi-arbustivas
com predominância de cactáceas, euforbiáceas e bromeliáceas. Ainda segundo os autores,
grande parte das espécies encontradas possuem adaptações especiais que incluem desde a
floração precoce, logo após as primeiras chuvas, até estruturas especiais para conservação
da água.
O estado da Paraíba ocupa 56.439,838 km2 do território nacional, que compreende
8.514.876,599 km2, correspondendo a menos de 1% da área territorial do Brasil (IBGE,
31
2002). Todavia, apesar de possuir a quinta menor área territorial do país, o Estado
representa uma importante contribuição para o cenário nacional e mundial da
biodiversidade por apresentar a maior parte do seu território coberta pelo bioma Caatinga
(92%). Em termos de cobertura relativa é o terceiro estado com maior cobertura de
Caatinga, perdendo apenas para o estado do Ceará (100%) e do Rio Grande do Norte (95%)
(IBGE, 2004). Isso significa, em termos percentuais, que pouco mais de 6% de um bioma
único no planeta encontra-se concentrado na Paraíba, todavia muito da flora paraibana
ainda permanece desconhecida, e, especificamente para a família Asteraceae, existe apenas
um trabalho (AGRA e BARBOSA, 1996) e este não teve seu foco na Caatinga, mas abrangeu a
flora de Asteraceae como um todo. Além disso, para o Estado, também não há registro de
estudos direcionados para a flora de Asteraceae em afloramentos rochosos, a família integra
estudos de afloramentos na Paraíba como parte de um estudo maior voltado para
desenvolver um levantamento florístico nestes ambientes, sendo, inclusive, apontada como
uma das mais expressivas em número de espécies, não apenas em afloramentos da Caatinga
Paraibana (ARAÚJO et al, 2008; PORTO et al, 2008), mas também em outros estados onde o
bioma se faz presente (GOMES e ALVES, 2010).
Segundo Press et al (2006) afloramento rochoso é uma designação geral para áreas em
que a rocha subjacente aos materiais soltos na superfície, que podem conjuntamente ser
denominados de substrato rochoso, se encontram expostos. Estes elementos da paisagem
podem ser encontrados em diversas regiões no globo e em diferentes biomas no Brasil,
como a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica (SCARANO, 2007), e são especialmente
frequentes na Caatinga (GIULLIETI e QUEIROZ, 2006). Exibem uma litologia variável e,
dependendo da forma como o relevo é moldado, podem apresentar um aspecto
diferenciado no conjunto, que lhes confere uma denominação específica, como é o caso dos
inselbergs (RIBEIRO et al, 2010).
Os afloramentos rochosos e as características de sua vegetação vêm sendo foco
considerável de investigações, uma vez que estudos desenvolvidos em tais tipos de
ambiente têm conduzido à impressão de que estes funcionam como microambientes dentro
de uma paisagem, com condições mais austeras que a do ambiente em seu entorno e,
portanto, constituem uma barreira à colonização por determinadas espécies, bem como
propiciam o surgimento de uma flora típica, inclusive de espécies endêmicas. Ademais, os
afloramentos possuem variados microhábitats que conduzem a uma distribuição peculiar
32
das espécies sobre os mesmos (POREMBSKI et al, 1997; SHURE, 1999). Desse modo,
afloramentos rochosos têm se revelado ambientes bastante promissores em termos de
biodiversidade.
Para o Brasil, os estudos neste sentido ainda são escassos, no entanto, já tem
propiciado uma melhor apreciação de determinados aspectos referentes à vegetação
encontrada nestes ambientes, principalmente com relação às angiospermas, de modo que,
além dos estudos que objetivam desenvolver levantamentos florísticos das angiospermas
ocorrentes de modo geral (CAIAFA e SILVA, 2007; CONCEIÇÃO et al, 2007; ESGARIO et al,
2009; MEIRELLES et al, 1999; MORAES et al, 2007; OLIVEIRA e GODOY, 2007; PITREZ, 2006;
SANTOS et al, 2010), já foram desenvolvidos estudos focados em famílias que se revelaram
especialmente ricas em tais ambientes (ALMEIDA et al, 2007a; ALMEIDA et al 2007b; SADDI,
2008).
Segundo França et al (1997), assim como a Caatinga, a flora de afloramentos rochosos
encontra-se continuamente ameaçada e destruída pela atividade humana, a exemplo do
pastoreamento extensivo e a extração de rochas para a pavimentação pública. Além disso,
Ribeiro et al (2010) apontam que a retirada da cobertura vegetal natural destes ambientes
tende a acelerar os processos morfogênicos desencadeados pelo clima, principalmente a
erosão, resultando em uma degradação mais rápida e, consequentemente, na perda de uma
microambiente em potencial para muitas espécies.
Visando um maior conhecimento da flora de Asteraceae da Paraíba, Agra e Barbosa
(1996) elaboraram uma checklist referenciando a distribuição das espécies nas diferentes
microrregiões do Estado com base na divisão proposta por Moreira (1985). Segundo as
autoras, antes deste levantamento, o conhecimento sobre as asteráceas da Paraíba se
resumia a algumas poucas citações em inventários florísticos. Todavia, desde então, não
houve estudos posteriores, mais focados em aspectos florístico-taxonômicos da flora do
Estado.
No que concerne à elaboração de checklists, uma nova lista foi publicada recentemente
por Nakajima et al (2010) como parte de um trabalho mais amplo que se propôs a elaborar
uma lista de espécies de plantas e fungos para o Brasil. Todavia, existem diferenças notáveis
entre ambos trabalhos em termos de espécies referidas.
Segundo o levantamento de Nakajima et al (2010) na Paraíba ocorrem 55 espécies
divididas em 43 gêneros e ainda uma subespécie e quatro variedades. De acordo com Agra e
33
Barbosa (1996) para a Paraíba foram registradas 90 espécies distribuídas em 67 gêneros,
com estimativas das próprias autoras de que sua lista compila cerca de 90% da flora de
Asteraceae do Estado. Das espécies citadas na lista de Agra e Barbosa (1996), 30 espécies se
encontram listadas no trabalho de Nakajima et al (2010), e na lista de Nakajima et al, 25
espécies citadas não são citadas pelo trabalho de Agra e Barbosa (op. cit.), isso também
significa que 37 espécies citadas por Agra e Barbosa (op. cit.) não se encontram incluídas na
lista de Nakajima et al (op. cit.).
Diante do exposto, o presente trabalhou representa uma atualização das informações
acerca da flora de Asteraceae para o estado da Paraíba e, especialmente, para a ocorrente
em afloramentos rochosos da Caatinga.
Metodologia
35
4 Metodologia
4.1 Caracterização da área de estudo
A Paraíba é um estado situado no extremo Nordeste do território brasileiro e contem
223 municípios, dividido em quatro mesorregiões (Mata Paraibana, Agreste Paraibano,
Borborema e Sertão Paraibano), que, por sua vez, são subdivididas em 23 microrregiões,
com base nos aspectos econômicos, sociais e políticos (AESA, 2011b; IBGE, 2002)
A área amostrada compreendeu conjuntos de afloramentos rochosos, bastante
frequentes na Caatinga (GIULLIETI e QUEIROZ, 2006), situados em quatro municípios da
mesorregião do Agreste e microrregião de Campina Grande: Boa Vista, Fagundes, Puxinanã e
Queimadas (figura 1, página 36), todos geomorfologicamente caracterizados como Planalto
da Borborema com formas tabulares e convexas (AESA, 2011a).
Segundo a AESA (2009), uma vez que a Paraíba encontra-se localizada na faixa
intertropical, recebendo uma elevada incidência de radiação solar com um grande número
de horas de insolação, resultando em clima quente, com temperatura média anual de 26 °C,
pouca variação intra-anual e uma distribuição espacial da temperatura bastante dependente
do relevo, de modo que, seguindo a classificação climática de Köeppen, observa-se, na faixa
litorânea e na porção ocidental, a ocorrência de uma região tropical úmida, enquanto que na
porção central do Estado, que compreende as mesorregiões do Agreste e da Borborema
juntamente com a porção noroeste, ocorre um clima tropical seco, onde também se observa
a presença de clima tropical quente e seco.
O estado da Paraíba possui basicamente dois períodos chuvosos intercalados. O
primeiro ocorre entre os meses de fevereiro a maio, abrangendo praticamente todo o setor
centro-oeste, com os valores médios oscilando entre 700 mm e 900 mm no setor oeste, e
entre 450 mm e 700 mm no setor central, com alta variabilidade espacial e temporal das
chuvas e a presença de veranicos, caracterizados como a falta de chuva por mais de dez dias
consecutivos dentro do período chuvoso. O segundo ocorre entre os meses de abril e julho e
36
abrange o setor leste do estado, com os valores médios oscilando entre 600 mm a 1800 mm
na região litorânea (AESA, op. cit.).
Figura 1: Mapa do Estado da Paraíba com os limites municipais e a divisão em meso e microrregiões. A microrregião de Campina Grande, onde se localizam as áreas de estudo está em vermelho. Os municípios onde se concentraram as coletas encontram-se em destaque à direita. O apêndice A (pagina 132) apresenta a relação de muncípios por microrregião. Modificado de AESA (2011a).
Silva et al (2004) dividiu o Estado em microrregiões homogêneas com base na
pluviometria (I-Litoral, II-Brejo, III-Agreste, IV- Cariri/Curimataú, V-Sertão e VI-Alto Sertão),
segundo tal divisão, dentre as áreas de coleta, o município de Boa Vista pertence a
microrregião do Cariri/Curimataú, com o período chuvoso compreendido entre fevereiro e
maio e uma média pluviométrica anual de 484,0 mm, diferenciando-se das demais áreas de
estudo (Fagundes, Puxinanã e Queimadas), que pertencem à região do Agreste, tendo o
período chuvoso compreendido entre os meses de abril a junho, com uma média
pluviométrica anual de 762,1 mm.
Os fatores climáticos característicos da Paraíba condicionam a ocorrência de quatro
unidades ambientais naturais principais: Planícies Litorâneas e Planícies de Floresta
Pluviometria Média (mm)
200-400
401-600
601-800
1.001-1.200
801-1.000
Mesorregiões
(I) Mata Paraibana (II) Agreste Paraibano (III) Borborema (IV) Sertão Paraibano
BOA VISTA
QUEIMADAS
PUXINANÃ
FAGUNDES
Ceará
Rio Grande do Norte
Pernambuco
OC
EAN
O A
TLÂ
NT
ICO
Microrregiões
Campina Grande (1) Litoral Norte (2) João Pessoa (3) Litoral Sul (4) Sapé (5) Itabaiana (6) Umbuzeiro
(15) Seridó Ocidental Paraibano (16) Patos (17) Serra do Teixeira (18) Itaporanga (19) Piancó (20) Cajazeiras (21) Sousa (22) Catolé do Rocha
(7) Brejo Paraibano (8) Guarabira (9) Curimataú Oriental (10) Esperança (11) Curimataú Ocidental (12) Seridó Oriental (13) Cariri Oriental Paraibano (14) Cariri Ocidental
1
3
I
II
III
IV 4
22
8
5
9
7 10
6
11
13 14
12
15
16
17 18
19
21
2
20
6º 30’
7º 0’
7º 30’
35º 30’ 36º 0’ 36º 30’ 35º 0’ 37º 0’ 37º 30’ 38º 0’ 38º 30’
N
37
(mesorregião da Mata), Planícies de Áreas em Transição (mesorregião do Agreste, com
exceção das microrregiões do Curimataú Ocidental e do Curimataú Oriental) e as Planícies de
Caatinga (mesorregião da Borborema, incluindo as microrregiões do Curimataú Ocidental e
do Curimataú Oriental) (AESA, 2010).
Segundo o IBGE (2004) ocorrem dois biomas no Estado: a Mata Atlântica,
essencialmente delimitada como a ocorrente na mesorregião da Mata, contendo as Planícies
Litorâneas e de Floresta, e a Caatinga, ocorrendo nas demais mesorregiões e contendo as
Planícies de Áreas em Transição e de Caatinga. Deste modo, a vegetação ocorrente nas áreas
estudadas pode ser caracterizada como típica do bioma Caatinga.
Os conjuntos de afloramentos onde foram realizadas as amostragens podem ser
essencialmente caracterizados por um afloramento central, maior, recebendo ou não uma
denominação especial, e micro-afloramentos periféricos. Uma vez que nem todos os
afloramentos possuem uma designação e que o local de coleta abrangeu uma área maior
que os afloramentos reconhecidos por alguma denominação, optou-se por atribuir aos
conjuntos de afloramentos as denominações área I, área II, área III e área IV, que se
encontram caracterizadas a seguir (tabela 2, abaixo).
Tabela 2: Caracterização das áreas de estudo.
Área de estudo
Município Área relativa ocupada
pelo município no estado Amplitude em coordenadas
geográficas Altitude média
em metros
ÁREA I Boa Vista 0,84% S 07°20.685’ - 07°21.945’
497,5 W 035°47.841’ - 036°14. 802’
ÁREA II Fagundes 0,29% S 07°20.621’ - 07°20.686’
714,0 W 035°47.842’ - 035°47.910’
ÁREA III Puxinanã 0,13% S 07°08.632’ - 07°08.684’
691,5 W 035°58.275’ - 035°58.316’
ÁREA IV Queimadas 0,72% S 07°20.874’ - 07°21.236’
483,0 W 035°53.934 - 035°54.121’
As altitudes podem representar valores poucos precisos, devido à interferência dos afloramentos.
A área I compreendeu um conjunto de afloramentos situado no interior de uma área
protegida, a APA (Área de Proteção Ambiental) do Cariri, sob pouca influência antrópica,
uma área mais afastada, não sendo observadas edificações nas regiões circunvizinhas. A área
II foi delimitada como a região periférica ao afloramento popularmente conhecido como
38
Pedra de Santo Antônio, alvo de intensa visitação turística, especialmente no período da
ocasião das coletas, sendo observada uma grande influência antrópica sobre a região. A área
III localiza-se no interior de uma propriedade privada, e consistiu especialmente da área de
entorno de dois extensos afloramentos, constantemente devastada para plantio. A coleta
concentrou-se especialmente no entorno do afloramento mais elevado, onde foi observada
a presença de residências e várias outras sendo construídas próximo aos afloramentos. A
área IV abrangeu o entorno do afloramento rochoso popularmente conhecido como Pedra
do Touro, devido a marcações na rocha que lembram o aspecto deste animal, região
também sobre grande influência antrópica, com muitas habitações próximas ao
afloramento, que também é frequentado por alpinistas (figura 2, abaixo).
Figura 2: Áreas estudadas. a. Área I em Boa Vista: visão panorâmica do entorno dos afloramentos rochosos; b. Área III em Puxinanã: maior afloramento do conjunto; c. Área II em Fagundes: afloramento principal, conhecido como Pedra de Santo Antônio; d. Área IV em Queimadas: visão panorâmica da Pedra do Touro; e. Área II: afloramentos rochosos periféricos à Pedra de Santo Antônio.
a b
d
c e
Fotos: Renalle Pessoa (2010)
39
Segundo a AESA (2010b) os impactos ambientais nos ecossistemas naturais do Estado
têm conduzido a sérias modificações dos recursos, especialmente do solo e da água, da
fauna e da flora. Especificamente nas Planícies de Áreas em Transição, os problemas
observados são resultantes principalmente da devastação da cobertura vegeta natural, o
desmatamento tem avançado em direção ao topo das elevações, a fim de expandir a cana-
de-açúcar e a pecuária extensiva, acelerando o processo erosivo e aumentado a evaporação,
ocasionando alterações climáticas, comumente denominadas de agrestização do Brejo, e
assoreamento das várzeas.
4.2. Procedimentos de campo e de laboratório
Os procedimentos de campo envolveram coletas nas áreas de estudo durante o período
compreendido entre os meses de fevereiro a setembro de 2010, perfazendo uma razão de
0,75 coletas/mês; a maioria sendo realizadas em áreas diferentes, abrangendo as estações
seca e chuvosa.
Foram realizadas amostragens de ramos floridos e/ou frutificados, às vezes, devido ao
seu diminuto tamanho, o indivíduo foi obtido por completo, de todas as espécies de
Asteraceae encontradas durante este estudo. A área de coleta foi delimitada por meio de
coordenadas geográficas com auxílio de um GPS (Global Positioning System), sendo as
mesmas aferidas sempre durante a coleta de um exemplar ou da ocorrência de um indivíduo
da família e, concomitantemente os dados referentes à altitude foram registrados.
Posteriormente, as coordenadas obtidas em uma área foram comparadas entre si e foi
determinado o ponto máximo e o mínimo. A altitude média da área de coleta foi obtida a
partir da média aritmética entre a menor e a maior altitude de coleta registrada.
Previamente a coleta de material, foi realizado um registro fotográfico dos capítulos,
bem como foram anotados dados referentes à altura do indivíduo, hábito e frequência de
ocorrência. Os espécimes coletados foram preservados por meio de herborização e
acondicionamento em álcool 70% para posterior análise.
40
A frequência de ocorrência das espécies foi determinada com base em uma contagem
dos indivíduos observados durante o caminhar aleatório pela área de estudo,
correspondente a área de coleta. A notação utilizada para indicar a mesma é fornecida na
seção parâmetros.
As amostras analisadas foram resultantes exclusivamente dos trabalhos de campo e,
todas as informações fornecidas no presente estudo baseiam-se no exame do material
coletado, complementadas, quando pertinente, pela literatura de referência consultada.
Os procedimentos de laboratório envolveram essencialmente a análise morfológica das
espécies e, para esta, foram utilizadas preferencialmente as amostras herborizadas, que
foram reidratadas com o auxílio de ebulidor. Os espécimes acondicionados em álcool 70%
foram preservados para a confecção de ilustrações e possíveis esclarecimentos necessários.
Os capítulos foram dissecados sob um estereomicroscópico com auxílio de bisturis, seringas
e pinças. Com auxílio do mesmo ainda foi observado o indumento das folhas e dos ramos. O
registro fotográfico revelou-se de fundamental importância para a identificação da
coloração das corolas e disposição dos ramos do estilete. Com base nestas análises, também
apoiadas na bibliografia especializada sobre a família, foram feitas as identificações no nível
específico além de elaboradas ilustrações para as espécies. Destas análises também
resultaram os dados referentes aos estados dos caracteres observados, que serão
apresentados sob a forma de descrições.
Foram realizadas também aferições de dados morfométricos, mensurados com auxílio
de um paquímetro para as folhas, resultando em uma escala centimétrica, e com auxílio de
papel milimetrado sob o estereomicrocópio para os elementos do capítulo, resultando em
uma escala milimétrica. Estes dados serão aqui apresentados sob a forma de tabelas, de
modo a possibilitar facilidade comparativa imediata.
4.3 Estudos taxonômicos
Diante da crescente necessidade da utilização de caracteres mais específicos da família
a fim de que possam ser definidas classificações mais precisas e melhor sustentadas
41
presente trabalho, foi dado um enfoque essencial a estes, em lugar dos caracteres mais
comumente adotados nas descrições taxonômicas de um modo geral e que muitas vezes
embasa os trabalhos desenvolvidos na família.
Os possíveis estados dos caracteres com relevância taxonômica foram selecionados
para análise, especialmente a partir dos trabalhos de Anderberg et al (2007), Bremer (1994)
e Robinson (1981), que embasaram também as descrições destes. Para caracteres mais
gerais foram utilizados os trabalhos de Gonçalves e Lorenzi (2007), Harris e Harris (1994) e
Radford et al (1974).
As espécies foram identificadas com auxílio de chaves de identificação e descrições
taxonômicas, guias ilustrados e na análise de exsicatas de herbários virtuais, inclusive typus.
O tratamento taxonômico inclui uma breve caracterização morfológica do gênero e
comentários acerca de sua circunscrição inclusive o posicionamento tribal seguido do
posicionamento subtribal, de acordo com o tratamento de Anderberg et al (2007) para a
família. O tratamento de Bremer (1994) é mais frequentemente adotado, no entanto, dado a
observação da circunscrição geral mais recente de Funk et al (2009) e os problemas de
redelimitação de gêneros e espécies, optou-se pelo tratamento de Anderberg et al (op. cit.).
Foram elaboradas descrições para os gêneros e espécies e uma chave para separação
taxonômica das espécies encontradas. A descrição da espécie, por vezes, é seguida de
comentários apoiados em aspectos morfológicos.
A distribuição geográfica é inicialmente apresentada em nível global, baseada
fundamentalmente na consulta à base de dados online do Missouri Botanical Garden (2010),
seguida da distribuição para o Brasil por região, com base na recente publicação da Flora do
Brasil (NAKAJIMA et al, 2010) e, por fim, é apresentada a ocorrência na Paraíba, baseada no
trabalho de Agra e Barbosa (1996). Uma vez que as autoras apresentam a ocorrência por
microrregiões e não por municípios, o apêndice B (página 134) apresenta a relação de
municípios por microregião segundo a divisão de Moreira (1985), adotada pelas autoras.
Como não foi possível ter acesso ao trabalho de Moreira (op. cit.) até a elaboração do
presente trabalho, os municípios por microregião foram identificados mediante
sobreposição do mapa fornecido pelas autoras com a divisão em microrregiões segundo o
autor e de um mapa com a divisão do Estado em municípios. Adições foram mencionadas
com base nos seguintes trabalhos: Alves e Kolbek, 2009; Araújo et al, 2008; Bringel-Júnior e
Cavalcanti, 2009; Britto et al, 1993; Cabrera e Dematteis (2009); Cabrera e Freire (2009);
42
Fernandes, 2006; Ferreira et al, 2009; Fevereiro e Fevereiro, 1980; Gomes e Alves, 2010;
Heiden et al, 2007; Lombardi e Gonçalves, 2000; Mendes e Castro, 2010; Oliveira et al, 2007;
Rodal e Sales, 2007; Silvia e Santos, 2010; Teles e Bautista, 2006; e Zickel et al, 2007. A
distribuição das espécies para o Brasil por estado é apresentada sob a forma de mapas,
construídos sobre um arquivo vetorial com as delimitações das federações fornecido pelo
IBGE em sua base de dados online (http://www.ibge.gov.br).
4.4 Parâmetros
Diante do fato de que alguns aspectos permaneceram pouco claros na literatura e da
necessidade de esclarecer o emprego de certas designações, será fornecida aqui a forma de
adoção de determinadas terminologias na descrição das espécies.
Bremer (1994) divide as corolas da família em tipos básicos, entre eles a corola ligulada,
definida como aquela que apresenta uma lígula abaxial 5-lobada e que seria exclusiva da
tribo Lactuceae, Cichorieae (ANDERBERG et al, 2007), no entanto, por vezes as corolas do
raio de outras tribos são encontradas descritas como liguladas na literatura, o presente
trabalho segue a classificação de Bremer (1994) para as corolas, uma vez que também
constatou-se claramente a diferença entre uma corola ligulada e uma corola com limbo
patente. Na primeira, o limbo aparenta ter sido formado a partir do tubo aberto e sua
porção mais alargada tem início próximo a região mediana, já na segunda, o limbo parece ter
sido encaixado sob o lobo, de modo que é possível observar a margem basal deste
ultrapassando a abertura do tubo, e, sendo assim, sua porção basal é a mais alargada.
Os termos curto, longo e muito longo, utilizados para referir-se ao comprimento dos
lobos da corola com relação ao limbo e ramos do estilete com relação ao estilete, bem como
ao comprimento relativo entre estruturas de um modo geral, seguem o padrão: curto,
quando bem menores que metade do comprimento da estrutura; longo, quando
aproximando-se da metade ou chegando a ultrapassar pouco mais da metade do
comprimento da estrutura; e muito longo, quando ultrapassam acentuadamente a metade
do comprimento da estrutura.
43
Com relação ao indumento, aqui foram adotados apenas três termos: piloso, referindo-
se a presença de tricomas tectores, independentemente de sua forma ou disposição;
glandular, referindo-se a presença de tricomas glandulares, também independente da sua
forma ou disposição; e glabro, para referir-se a ausência de ambos. Quando ambos
encontravam-se presentes foi utilizado o termo composto glandular-piloso.
O termo papiloso refere-se à presença de papilas, o que diz respeito mais
especificamente à textura da superfície da estrutura, de modo que o termo glabro não
significa ausência de papilas, quando as mesmas encontram-se necessariamente ausentes,
bem como os tricomas, é utilizado o termo liso, como uma tradução do inglês smooth,
apenas para descrever em conjunto a ausência de papilas e de tricomas, quando ocorre
apenas a ausência de papilas, a mesma não é descrita. Quando é empregado o termo “de
aspecto papiloso”, significa que não necessariamente a estrutura tem papilas, mas o formato
de suas células faz parecer que a mesma os possui. Ainda com relação à presença de papilas,
aqui não foi feita a distinção entre papiloso e mamiloso, cunhado por Robinson, conforme
referenciado por Esteves (2001), não significando que tal distinção não tenha sido
considerada válida, mas apenas devido à falta de maiores esclarecimentos quanto à
delimitação da utilização do mesmo, deste modo, os lobos aqui referidos como papilosos
podem ser referidos como mamilosos em outros trabalhos.
Na literatura consultada foi encontrada referencia a corolas descritas como
infundibuliformes ou como diferenciadas em tubo e limbo, no entanto, não foi encontrada
uma delimitação precisa para o termo, e como o mesmo foi considerado relativo,
considerando a forma das corolas infundibuliformes, para efeitos do presente trabalho,
corolas descritas como infundibuliformes foram as corolas onde não se observou alguma
conformação do tubo ou do limbo que pudesse diferenciar mais precisamente ambos, de
modo que, neste tipo de corola, observa-se que o tubo vai alargando-se progressivamente
em direção a base do limbo e o limbo daí se continua também alargando-se mais, e apenas
uma leve constrição confere o indicativo da separação dos mesmos. Nas corolas descritas
como diferenciadas em tubo e limbo, algum dos elementos confere o indicativo da transição
de ambos, e frequentemente o tubo apresenta uma largura constante ou o limbo abre-se
mais bruscamente após o tubo, por vezes mantendo uma largura relativamente constante.
Os receptáculo foram descritos como glabros quando não apresentaram tricomas ou
protuberâncias entre os pontos de inserção do carpopódio, já que na literatura o termo
44
glabro é frequentemente empregado inclusive para a ausência de páleas. Entretanto, dada a
importância do caráter, a ausência ou presença de páleas, descrito como paleáceo ou
epaleáceo, foi referido separadamente do termo glabro.
O emprego do termo “ligeiramente” em referência as extensões relativas do
comprimento e largura foi feito quando uma ou outra medida ultrapassa a outra em no
máximo 2 mm.
As filárias, quando da maturação dos frutos, podem cair em parte ou totalmente, no
entanto, se pelo menos em parte estas permanecem, são descritas como persistentes, não
sendo feita distinção entre total ou parcialmente persistentes.
Quanto às designações referentes à ocorrência de indivíduos, esta foi denominada rara
quando foram encontrados apenas 1 ou 2 indivíduos da espécie no local, frequente quando
foram encontrados entre 5 a 9 indivíduos e abundante quando foram encontrados a partir
de 10 indivíduos, independentemente do tipo de distribuição no ambiente, cujas
observações à respeito serão feitas posteriormente.
Resultados e
Discussão
46
5 Resultados e Discussão
5.1 Riqueza total
O levantamento da família Asteraceae para os quatro conjunto de afloramentos
resultou na identificação de 18 espécies, distribuídas em 17 gêneros, sendo Emilia o mais
representativo com duas espécies, enquanto para os demais gêneros foi encontrada apenas
uma espécie. Dos gêneros encontrados, o mais rico, em termos de espécies conhecidas, é
Bidens, Conocliniopsis, Pithecoseris e Platypodanthera são os menores gêneros, abrigando
uma única espécie cada.
Nas áreas estudadas, a família Asteraceae encontra-se representada pelas subfamílias
Cichorioideae (Juss.) Chev. e Asteroideae (Cass.) Lindl., de acordo com os tratamentos de
Anderberg et al (2007) e Bremer et al (1994). No entanto, no que diz respeito à riqueza
tribal, ocorrem diferenças importantes, reflexo principalmente da circunscrição da
“Heliantheae Alliance” (ANDERBERG, op. cit.).
De acordo com o tratamento tradicional de Bremer et al (1994), seriam encontradas
sete tribos nas áreas de estudo: Lactuceae e Vernonieae para a subfamília Cichorioideae e
Astereae, Eupatorieae, Heliantheae, Heleniae e Senecioneae. Para a subfamília Asteroideae.
No entanto, segundo o tratamento de Anderberg et al (2007), as espécies encontradas em
Eupatorieae e Helenieae seriam incorporadas à Heliantheae, sob a circunscrição de
Heliantheae s.l., que, por sua vez, poderia ser desmembrada em mais cinco tribos,
resultando em um total de 9 tribos (gráficos 1 e 2, página 47).
As espécies encontradas foram identificadas como pertencentes a 12 subtribos
(ANDERBERG et al, 2007): Ageratinae Less., Ambrosiinae Less., Centratherinae H. Rob., R. M.
King & Bohlmann, Chrestinae H. Rob., Conyzinae Horan., Coreopsidinae Cass. ex Dumort.,
Dyscritothamninae Panero, Ecliptinae Less., Galinsoginae Benth., Gyptidinae R. M. King & H.
Rob., Pectidinae Less. e Sonchinae K. Bremer, sendo Ecliptinae Less. a mais representativa
47
com quatro espécies e Gyptidinae R. M. King & H. Rob. a segunda mais representativa, com
duas espécies, para as demais subtribos foi encontrada uma única espécie.
5.2 Caracterização da flora por área de estudo
A seguir, encontram-se listadas as espécies pertencentes à família Asteraceae
encontradas nas áreas estudadas em ordem alfabética:
48
Ageratum conyzoides
Bidens pilosa
Centratherum punctatum
Conocliniopsis prasiifolia
Conyza bonariensis
Delilia biflora
Emilia fosbergii
Emilia sonchifolia
Galinsoga parviflora
Melanthera latifolia
Parthenium hysterophorus
Pithecoseris pacourinoides
Platypodanthera sp.
Sonchus oleraceus
Sphagneticola trilobata
Tagetes erecta
Tilesia baccata
Tridax procumbens
A área IV apresentou a maior riqueza, totalizando 10 espécies, enquanto a menor
riqueza foi observada igualmente para as áreas I e III, onde foram encontradas seis espécies,
e na área II foram registradas oito espécies (gráfico 3, página 49). As espécies com maior
frequência de ocorrência foram: Bidens pilosa L., Centratherum punctatum Cass. e
Conocliniopsis prasiifolia (DC) R.M. King & H. Rob., encontradas em todos os afloramentos
estudados.
Geralmente, as espécies foram encontradas no entorno dos afloramentos ou em áreas
completamente recobertas pelo solo como resultado do processo erosivo. Dificilmente foi
observada a ocorrência de espécies crescendo sobre a rocha exposta, as exceções foram
Pithecoseris pacourinoides Mart. ex DC. e Platypodanthera sp., a primeira conhecida por sua
ocorrência associada à ambientes rochosos. Outras espécies foram encontradas crescendo
49
apoiadas sobre rochas verticalmente grandes, porém estreitas, foi o caso de Tilesia baccata
(L.) Pruski e Melanthera latifolia (Gardner) Cabrera.
Quando foram encontradas mais de cinco espécies por afloramento, as herbáceas
geralmente apresentaram-se condensadas em um determinada trecho, mais raramente
ocorreram isoladamente, com um ou outro indivíduo distribuídos ao longo de todo o
afloramento, à exceção de Platypodanthera sp. e das espécies do afloramento de Puxinanã.
A tabela 39 (página 50) registra a ocorrência de indivíduos de uma determinada espécie por
afloramento.
Das espécies encontradas, sete são referidas como ruderais na literatura, associadas a
ambientes perturbados: Bidens pilosa, Conyza bonariensis, Emilia fosbergii, Galinsoga
parviflora, Parthenium hysterophorus, Sonchus oleraceus e Tridax procumbens (BERETTA et
al, 2008; BREMER et al, 1994; PEREIRA, 1989; LORENZI, 2000). Nas áreas II e IV foram
observadas populações expressivas de Bidens pilosa e Tridax procumbens, indicativo da
grande influência antrópica sobre as regiões. A área I revelou-se a menos impactada, pela
pequena quantidade de espécies ruderais e de indivíduos destas, conforme esperado por
estar situada no interior de uma Área de Proteção Ambiental. Por outro lado, foi encontrada
a espécie considerada endêmica da região Nordeste do país, Pithecoseris pacourinoides, que
reflete a necessidade de conferir maior atenção a tais ambientes e reforça a afirmação de
Funk et al (2005), de que, embora as Asteraceae muitas vezes sejam reconhecidas
principalmente através das plantas ruderais, abrange tal designação para a família é
50
inapropriado, haja vista que, embora muitas possam ser invasoras, outras necessitam de
condições específicas para desenvolver-se.
Tabela 3: Ocorrência de indivíduos das espécies encontradas por área de estudo.
ESPÉCIE ÁREA I ÁREA III ÁREA III ÁREA IV
Ageratum conyzoides Frequente Ausente Ausente Frequente
Bidens pilosa Rara Abundante Frequente Abundante
Centratherum punctatum Rara Abundante Frequente Rara
Conocliniopsis prasiifolia Rara Rara Frequente Frequente
Conyza bonariensis Ausente Ausente Frequente Ausente
Delilia biflora Ausente Ausente Ausente Frequente
Emilia fosbergii Ausente Rara Ausente Ausente
Emilia sonchifolia Frequente Ausente Ausente Ausente
Galinsoga parviflora Ausente Ausente Rara Ausente
Melanthera latifolia Ausente Ausente Ausente Rara
Parthenium hysterophorus Ausente Ausente Ausente Frequente
Pithecoseris pacourinoides Ausente Ausente Ausente Rara
Platypodanthera sp. Abundante Ausente Ausente Ausente
Sonchus oleraceus Ausente Ausente Ausente Frequente
Sphagneticola trilobata Ausente Frequente Ausente Ausente
Tagetes erecta Ausente Frequente Ausente Ausente
Tilesia baccata Ausente Rara Ausente Ausente
Tridax procumbens Ausente Frequente Frequente Abundante
5.3 Variação morfológica observada
De modo geral, as espécies encontradas nas áreas estudadas caracterizaram-se por
apresentar hábito herbáceo, subarbustivo a arbustivo, variando de alguns poucos
centímetros de altura a pouco mais de dois metros, sendo eretas a decumbentes. As folhas
são alternas ou opostas, longamente pecioladas a amplexicaules, dimórficas ou não, limbo
inteiro a lobado, mais frequentemente piloso ou glandular-piloso, raramente glabro.
Os capítulos apresentaram-se solitários ou agrupados, sésseis a longamente
pedunculados, com o pedúnculo alargando-se ou não na base do capítulo, homógamos ou
51
heterógamos, discóides, disciformes ou radiados, com 2 até ca. 400 flósculos por capítulo.
Invólucros formados por 2 até ca. 80 filárias, iguais a desiguais, livres entre si ou fusionadas,
geralmente verdes. Receptáculo côncavo a bastante cônico, tricomas sempre ausentes,
projeções escamiformes às vezes presentes, paleáceos ou epaleáceos, páleas planas ou
conduplicadas, hialinas ou coloridas. Flósculos pistilados, perfeitos ou funcionalmente
estaminados com corola infundibuliforme a diferenciada em tubo e limbo, profundamente
ou superficialmente lobada, lobos 4 a 5, lisos, pilosos, papilosos ou papiloso-pilosos. Os
estiletes apresentaram-se com haste glabra ou pilosa sempre no ápice, com ou sem
dilatações, ramos mais frequentemente 2, raramente ausentes, curtos a muito longos,
eretos a decumbentes-conduplicados, com apêndices distais reduzidos a muito longos, área
estigmática inteira a dividida, raramente ausente, estilopódio presente ou ausente. Estames
4 ou 5, anteras pálidas ou escuras, base prolongada ou não, caudada ou calcarada, apêndice
concolor ou discolor, ligeiramente mais largo que longo a bem mais longo que largo, laminar
ou cilíndrico, ereto a carenado, plano a côncavo, colar cilíndrico a complanado-côncavo,
sempre mais longo que largo, filete sempre glabro. Pápus ausente ou presente, com poucas
a numerosas unidades, escamiforme, coroniforme ou cerdoso, com cerdas capilares a
aristas, adorno antrorso, raramente retrorso.
As cipselas exibiram grande variação de forma, no entanto, geralmente apresentaram
fitomelanina, sendo glabras ou pilosas, às vezes rugosas. O carpopódio apresentou-se
discolor ou concolor, indistinto a grande, simétrico em anel a decorrente, glabro a piloso no
ápice. Pápus persistente a totalmente caduco.
5.4 Tratamento Taxonômico
Asteraceae Bercht. & J. Presl, Prir. Rostlin: 254. 1820.
Ervas anuais ou mais frequentemente perenes, subarbustos ou arbustos, raramente
árvores ou lianas; flores agrupadas em capítulos sendo denominadas de flósculos. Folhas
geralmente simples, podendo ser divididas ou lobadas, algumas vezes repetida e
52
profundamente, mais frequentemente alternas que opostas e em menor frequência
verticiladas ou formando uma roseta basal; sésseis ou pecioladas; venação comumente
trinérvea ou pinada. Capítulos solitários ou agrupados formando sinflorescências,
geralmente paniculiformes ou corimbiformes, de primeira até terceira ordem; homógamos
ou heterógamos; discoides, quando apenas um tipo de flósculo se encontra presente,
disciformes ou radiados, quando dois tipos de flósculos encontram-se presentes, o segundo
se diferencia do primeiro especialmente pela presença de flósculos do raio; pedunculados ou
sésseis; um a 1.000 flósculos por capítulo. Invólucro geralmente campanulado, hemisférico,
turbinado ou cilíndrico, uni a multisseriado, filárias livres, total ou parcialmente conatas,
foliáceas, escariosas a coriáceas. Receptáculo glabro ou com tricomas, escamas ou páleas;
côncavo a cônico. Flósculos gamopétalos, perfeitos, apresentando gineceu e androceu,
pistilados, funcionalmente estaminados ou neutros; corola geralmente pentâmera com
prefloração valvar; actinomorfa ou zigomorfa, diferenciada em tubo e limbo ou
infundibuliforme; estiletes ramificam-se no ápice em 2, raramente 3, ramos que portam em
seu interior as áreas estigmáticas, indivisas ou divididas em duas linhas marginais, dotadas
de papilas estigmáticas, com ou sem apêndices distais, base do estilete com disco
nectarífero presente ou ausente; ovário ínfero, bicarpelar, unilocular, um óvulo de
placentação basal; androceu isostêmone, estames sinânteros, com anteras conatas de
deiscência longitudinal formando um tubo ao redor do estilete de base prolongada ou não,
calcarada ou ecalcarada, caudada ou ecaudada, filetes glabros ou com tricomas, inseridos no
tubo da corola na região mais basal ou apical; apêndice da antera concolor ou discolor, ápice
agudo ou obtuso, mais largo que longo, tão largo quanto longo ou mais longo que largo;
cálice modificado em pápus, nunca verde ou herbáceo, heteromorfo ou isomorfo,
coroniforme ou formado por cerdas ou escamas em uma a muitas séries, às vezes ausente.
Fruto cipsela, com ou sem fitomelanina, que determina uma coloração escura para o fruto,
formatos variados, com ou sem estreitamento da base ou do ápice; carpopódio conspícuo
ou inconspícuo, simétrico ou assimétrico; pápus auxiliando na dispersão do fruto,
persistente ou decíduo, as séries mais internas ou as mais externas caducas ou todo o
conjunto. Indumento variável, tricomas unicelulares, multicelulares, ramificados, não-
ramificados, em forma de T, em forma de Y, estrelados e algumas formas glandulares;
presente em folhas, ramos, filárias, receptáculo, ovário, estilete, filete e corola.
53
A família Asteraceae possui o maior número de espécies descritas e aceitas com relação
a qualquer família de plantas, alcançando uma riqueza de cerca de 24.000 espécies e com
estimativas de até 30.000 (FUNK et al, 2009), distribuídas entre 1.600-1.700 gêneros (SOUZA
e LORENZI, 2008). Apresenta distribuição cosmopolita, sendo encontrada em regiões
tropicais, subtropicais e temperadas, desde o nível do mar até o da mais alta montanha, com
exceção da Antártica (FUNK et al, 2005; VERGAMINI e BARRERA, 2009), mais abundante em
regiões áridas do que em florestas tropicais úmidas (VERGAMINI e BARRERA, 2009). Para o
Brasil, foram registradas 1.966 espécies distribuídas em 271 gêneros, com 74 gêneros e 1289
espécies endêmicas (NAKAJIMA et al, 2010). Para a região Nordeste foram verificados 143
gêneros e 419 espécies (HIND et al, 2006).
Chave de Identificação para as Espécies Ocorrentes nos Afloramentos
Estudados
1. Capítulos discóides ou disciformes.
2. Capítulos disciformes; flósculos marginais pistilados, flósculos centrais perfeitos;
cipselas alvas, biconvexas, pilosas; carpopódio conspícuo, discolor, hialino e
assimétrico ............................................................................... 5.1 Conyza bonariensis
2’. Capítulos discóides; flósculos todos perfeitos; cipselas escuras, formato variável, se
biconvexas, então rugosas, glabras ou pilosas; carpopódio conspícuo ou indistinto, se
conspícuo, então concolor ou discolor, simétrico ou assimétrico.
3. Flósculos ligulados; corola amarela; anteras caudadas; cipselas rugosas
............................................................................................ 13.1 Sonchus oleraceus
3’. Flósculos tubulares; corola de outra coloração que não amarela; anteras
ecaudadas; cipselas costadas.
4. Folhas amplexicaules presentes; estilete com ramos curtos, truncados,
pilosos exclusivamente no ápice; invólucro de filárias fundidas, idênticas,
ápice livre.
5. Flósculos com corola rosa, receptáculo côncavo ..... 7.2 Emilia sonchifolia
5’. Flósculos com corola vermelha, receptáculo plano a levemente convexo
54
...................................................................................... 7.1 Emilia fosbergii
4’. Folhas pecioladas a sésseis, nunca amplexicaules; estilete com ramos longos
a muito longos, agudos a obtusos, nunca truncados, glabros ou pilosos em
toda sua extensão; filárias livres entre si, subiguais ou desiguais.
6. Folhas alternas; invólucro com filária desiguais, em gradação; estilete
piloso desde os ramos até o ápice da haste, ramos sem apêndices distais;
anteras calcaradas.
7. Folhas pinatissectas; capítulos paucifloros, sésseis, agrupados em
sinflorescências glomeruliformes; invólucro com oito filárias
semelhantes, exceto pelo tamanho, distribuídas em 3 séries; filete
com inserção na face adaxial na antera
............................................................ 11.1 Pithecoseris pacourinoides
7’. Folhas inteiras; capítulos com mais de 50 flósculos, geralmente
solitários, pedunculados; invólucro com mais de 50 filárias
distribuídas em várias séries, dimórficas, as mais internas
membranáceas, adpressas, as mais externas semelhantes a folhas,
patentes; filete com inserção na face abaxial na antera
............................................................... 3.1 Centratherum punctatum
6’. Folhas opostas, invólucro com filárias subiguais; estilete glabro, ramos
com apêndices distais longos, anteras ecalcaradas.
8. Anteras pálidas, apêndice concolor, longo, quase de comprimento
igual ao das tecas; pápus de 5 escamas aristadas
...................................................................... 1.1 Ageratum conyzoides
8’. Anteras escuras, apêndice discolor, relativamente pequeno; pápus
formado por numerosas cerdas;
9. Cerca de 30 flósculos por capítulo; receptáculo cônico; colar da
antera cilíndrico, cipsela não estipitada; carpopódio grande,
assimétrico ....................................... 4.1 Conocliniopsis prasiifolia
9’. Cerca de 100 flósculos por capítulo; receptáculo convexo; colar da
antera complanado e côncavo, bem mais alargado na base;
cipsela estipitada; carpopódio discreto, simétrico em anel
55
................................................................ 12.1 Platypodanthera sp.
1’. Capítulos radiados.
10. Receptáculo epaleáceo.
11. Capítulos solitários; flósculos por capítulo numerosos; corola do disco zigomorfa,
um lobo maior que os demais; invólucro cilíndrico, formado por mais de 5 filárias
lanceoladas, idênticas, fundidas em 1 série; cipselas resultantes dos flósculos do
raio e do disco, pápus formado por 5 escamas dimórficas
.................................................................................................. 15.1 Tagetes erecta
11’. Capítulos agrupados em cimas umbeliformes; flósculos por capítulo 2; corola do
disco actinomorfa; invólucro comprimido, formado por 2 filárias dimórficas, uma
com limbo orbicular, livres entre si; cipselas resultantes apenas do flósculo do
raio, pápus ausente ..................................................................... 6.1 Delilia biflora
10’. Receptáculo paleáceo.
12. Corola do raio branca e corola do disco amarela; limbo e tubo das corolas do raio
com comprimento semelhante; anteras pálidas, apêndice concolor.
13. Folhas com margem inteira a ondulada; capítulos curto-pedunculados; páleas
2- a 3-lobadas; pápus, nos flósculos do disco, bisseriado, de escamas
fimbriadas, nos flósculos do raio reduzido a algumas poucas cerdas curtas
.................................................................................... 8.1 Galinsoga parviflora
13’. Folhas com margem inciso-denteada; capítulos longo-pedunculados; páleas
inteiras; pápus idêntico nos flósculos do raio e do disco, unisseriado, de
numerosas cerdas plumosas ...................................... 17.1 Tridax procumbens
12’. Corola do raio amarela, se branca, então corola do disco também branca; tubo
das corolas do raio visivelmente mais curto que o limbo; anteras negras,
apêndice concolor ou discolor.
14. Folhas alternas; flósculos do disco funcionalmente estaminados; flósculos do
raio associados a 2 flósculos do disco e suas respectivas páleas; corola do raio
branca; anteras e lobos da corola do disco 4
........................................................................ 10.1 Parthenium hysterophorus
14’. Folhas opostas, flósculos do disco perfeitos; associação ausente; corola do
raio amarela; anteras e lobos da corola do disco 5.
56
15. Flósculos do raio neutros; páleas conduplicadas; pápus ausente ou, se
presente, caduco.
16. Pápus cerdoso; páleas com ápice atenuado, endurecido, terminando
em uma longa arista ...................................... 9.1 Melanthera latifolia
16’. Pápus ausente; páleas com ápice acuminado, endurecido, mas sem
terminar em uma longa arista .............................. 16.1 Tilesia baccata
15’. Flósculos do raio neutros ou pistilados; Páleas planas; pápus presente,
persistente.
17. Folhas trilobadas; capítulos aparentemente axiais; pápus coroniforme
................................................................ 14.1 Sphagneticola trilobata
17’. Folhas pinatilobadas; capítulos terminais; pápus aristado, aristas
mais frequentemente 3, 3-angulosas, barbadas, adorno retrorso
.................................................................................... 2.1 Bidens pilosa
1 Ageratum L., Sp. Pl. 2: 839. 1753.
Eupatorieae Cass. (Heliantheae s.l.); Ageratinae Less.
Ervas ou subarbustos, frequentemente decumbentes com raízes adventícias. Folhas
opostas, às vezes alternas, margem inteira ou denteada, grandes pontuações glandulares
presentes na face abaxial. Capítulos agrupados em sinflorescências cimóides-corimbiformes.
Invólucro eximbricado, filárias lanceoladas, endurecidas. Receptáculo cônico, paleáceo ou
epaleáceo. Flósculos com corola branca, azul ou lavanda, lobos papilosos, face abaxial às
vezes híspida; apêndices dos ramos do estilete papilosos; apêndices da antera grandes;
pápus coroniforme, formado por cinco a seis escamas, aristas ou ausente. Cipselas 4- ou 5-
costadas, glabras ou curto-pilosas nas elevações; carpopódio geralmente grande e
assimétrico (BREMER et al, 1994).
Hind e Robinson (2007) e Robinson et al (2009) seguiram a classificação subtribal
tradicional de Bremer et al (1994) para o gênero, os primeiros ressalvando que as análises
do próprio autor revelaram a subtribo como apenas parcialmente monofilética, como
57
indicativo de uma necessidade de revisão da circunscrição desta. As cerca de 40 espécies de
Ageratum concentram-se especialmente no México e na América Central, todavia duas
espécies são amplamente bem distribuídas, a ruderal A. conyzoides e a amplamente
cultivada, A. houstonianum Mill. e, segundo King e Robinson (1972a), é especialmente
através destas que o gênero é comumente conhecido.
Johnson (1971) publicou um extenso trabalho sobre o gênero, posteriormente revisado
por King e Robinson (1972a), que incluíram em Ageratum espécies do gênero Alomia Kunth.,
usualmente separado daquele com base, essencialmente, na ausência do pápus, afirmando
que tal separação não era natural, além disso, excluíram a espécie Ageratum domingense
Spreng., uma vez que a mesma já havia sido incluída no gênero do Oeste das Índias Phania
DC. por certos autores, um gênero considerado intimamente relacionado a Ageratum
Robinson et al (2009) apontam Conoclinium DC. também como gênero bastante afim a
Ageratum, com receptáculos igualmente cônicos, que, no entanto, pode ser diferenciado
pelo pápus de cerdas capilares.
Para o Brasil, Nakajima (2010) registrou a ocorrência de quatro espécies do gênero: A.
candidum G.M. Barroso, A. conyzoides, A. fastigiatum (Gardner) R.M. King & H. Rob. e A.
myriadenium (Sch. Bip. ex Baker) R. M. King & H. Rob, sendo a primeira e a última
endêmicas. Na Paraíba, Agra e Barbosa (1996) registraram a ocorrência apenas de A.
conyzoides, reforçada pelo presente levantamento.
1.1 Ageratum conyzoides L., Sp. Pl. 2: 839. 1753. [Figuras 5b; 6k; 7a]
Basônimo: Ageratum conyzoides L., Sp. Pl. 2: 839. 1753.
Ervas, ca. 8-35 cm alt., eretas. Ramos cilíndricos, vináceos em sua maior extensão,
estriados, pilosos. Folhas opostas; limbo inteiro, ovado a elíptico, membranáceo, margem
crenada a serreada, base aguda, ápice obtuso, face abaxial glandular-pilosa, face adaxial
pilosa, venação trinérvea, distintamente pecioladas, pecíolo piloso. Capítulos agrupados em
sinflorescências corimbiformes, terminais, homógamos, discoides, ca. 90 flósculos por
capítulo, pedunculados, pedúnculos pilosos, cilíndricos, alargando-se na base do capítulo, 2
brácteas presentes, geralmente na base. Invólucro eximbricado, levemente campanulado a
hemisférico, ecaliculado, ca. 30 filárias esverdeadas, livres entre si, distribuídas em três
séries, subiguais, sendo as mais externas mais largas, limbo lanceolado, membranáceo,
58
margem lacerada e ciliada, ápice atenuado, vináceo, face abaxial pilosa e face adaxial glabra,
persistentes. Receptáculo bastante cônico, glabro, epaleáceo. Flósculos perfeitos; corola
tubular, branca, diferenciada em tubo e limbo, tubo ligeiramente maior que o limbo,
glandular, limbo glabro, lobos 5, mais longos que largos, face abaxial papilosa-pilosa, face
adaxial papilosa, papilas restritas a região apical; estilete com haste glabra, sem dilatações,
ramos, dois, longos, eretos, lineares, ápice obtuso, apêndices distais presentes, recobertos
por papilas, áreas estigmáticas marginais, há a ocorrência de uma região, imediatamente
posterior a bifurcação do estilete, sem papilas estigmáticas que se estende por dois terços o
comprimento da área estigmática, estilopódio ausente; estames 5, anteras pálidas, base
aguda a cordada, apêndice concolor, mais longo que largo, laminar, plano, ereto, colar
cilíndrico, mais longo que largo, base ligeiramente mais larga com relação ao ápice, filete
glabro; pápus escamiforme, unisseriado, 5 escamas obovadas com ápice longamente
aristado, de tamanho variável, escamas com margem ligeiramente fimbriada, aristas
escabro-babeladas, adorno antrorso. Cipselas prismáticas, 5-curto-costadas, fitomelanina
presente, elevações mais escuras que o corpo do fruto, pilosas, às vezes glabras; carpopódio
discolor, grande, assimétrico, lateral, glabro, contorno irregularmente e ligeiramente
pentagonal; pápus persistente.
Segundo Johnson (1971), A. conyzoides assemelha-se morfologicamente a A.
houstonianum, sendo esta comumente confundida em herbários, jardins botânicos e no
campo, no entanto, para o Brasil, não não há registro da ocorrência desta ultima (NAKAJIMA,
2010).
Johnson (1971) reconhece duas subespécies para A. conyzoides, a subespécie típica,
Ageratum conyzoides L. subsp. conyzoides, e Ageratum conyzoides L. subsp. latifolium (Cav.)
M.F. Johnson, podendo ser diferenciadas a partir do pápus, cujas escamas na subespécie
típica medem de 1,5 a 3 mm e terminam, no ápice, em uma cerda escabrosa, pelo menos em
alguns capítulos, e em A. conyzoides subsp. latifolium, as escamas têm menos de 1 mm e o
ápice truncado a ligeiramente acuminado, nunca cerdosas, ademais, as diferenças dizem
respeito também ao nível de ploidia. Desse modo, os indivíduos amostrados de A.
conyzoides podem ser identificados como Ageratum conyzoides subsp. conyzoides,
considerada uma planta ruderal pantropical, nativa das Américas Central e do Sul, e é
59
considerada introduzida em outras localidades, sendo encontrada entre 20° de latitude
norte e sul, desde o nível do mar até 2.500 m de elevação.
Literatura de referência: Almeida (2008); Fernandes (2009); Ferreira et al (2009); Moraes
(1996); Pereira e Melo (2009); Souza (2007) e Teles e Bautista (2006).
Distribuição geográfica: A espécie tem ocorrência registrada para a África (África do Sul e
Madagascar), América do Norte (Estados Unidos e México), América Central (Belize, Caribe,
El Salvador, Honduras e Panamá), América do Sul (Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Equador,
Guatemala, Guiana, Guiana Francesa e Suriname) e Ásia (China e Índia). No Brasil, é
amplamente bem distribuída, ocorrendo em todos os estados e regiões (NAKAJIMA, 2010).
Para a Paraíba, Agra e Barbosa (1996) registraram sua ocorrência no Litoral, Piemonte da
Borborema, Brejo Paraibano, Depressão do Alto Piranhas e Cariris Velhos, o presente
trabalho acrescenta os municípios do Agreste da Borborema, atualmente na microrregião de
Campina Grande.
Material examinado: BRASIL: Paraíba: Boa Vista, Entorno de afloramento rochoso, 03/08/2010, R. R. Pessoa s/n (ACAM). Queimadas, Pedra do Touro, 14/09/2010, R. R. Pessoa s/n (ACAM).
2 Bidens L., Sp. Pl. 2: 831. 1753.
Coreopsideae Lindl. (Heliantheae s.l.); Coreopsidinae Cass. ex Dumort.
Ervas, raramente arbustos. Folhas opostas, raramente em roseta, simples, compostas
ou lobadas. Capítulos solitários, agrupados em sinflorescências corimbiformes ou
paniculiformes, radiados ou discoides. Flósculos do raio neutros ou pistilados; corola
geralmente amarela. Flósculos do disco perfeitos, raramente funcionalmente estaminados;
corola amarela ou laranja-amarronzada, lobos 4 ou 5. Cipselas linear-oblongas a elipsoides,
3- a 4-angulosas ou compressas, às vezes aladas; pápus de até 4 aristas barbadas, cerdas ou
ausente (KARIS e RYDING, 1994b).
60
O gênero é considerado cosmopolita, todavia, a maioria das espécies é encontrada na
América (PANERO, 2007b). Na proposição de Karis e Ryding (1994b), a subtribo que
incorpora o gênero, Coreopsidinae Less., é circunscrita na tribo Heliantheae, mas
atualmente, encontra-se circunscrita à tribo Coreopsideae, que possui ca. 550 espécies, mais
da metade concentrada no maior gênero, Bidens, com ca. 280 espécies. No entanto,
considerando o status de Heliantheae s.l. da tribo, Bidens permanece como um gênero
circunscrito a tribo Heliantheae, supertribo Coreopsidodinae (Lindl.) C. Jeffrey (ANDERBERG
et al, 2007).
No Brasil, segundo Mondin et al (2010) ocorrem 14 espécies do gênero, sendo B.
cynapiifolia Kunth, B. edentula G.M. Barroso, B. goiana B.L. Turner e B. graveolens Mart.
endêmicas. Para a Paraíba, Agra e Barbosa (1996) relatam a ocorrência de duas espécies: B.
bipinnata L. e B. pilosa, ambas consideradas subespontâneas (MONDIN et al, 2010).
2.1 Bidens pilosa L., Sp. Pl. 2: 832. 1753 [Figuras 3c; 3f; 5g; 7b]
Basônimo: Bidens pilosa L., Sp. Pl. 2: 832. 1753
Ervas, ca. 55 cm, eretas. Ramos tetragonais, pilosos, esverdeados a arroxeados,
estriados. Folhas opostas; limbo pinatipartido, imparipinado, lobos elípticos, margem
serreada, ciliada, base aguda, ápice acuminado, ambas as faces pilosas, venação pinada,
distintamente pecioladas, pecíolo piloso, lâmina decorrente. Capítulos agrupados em cimas
paniculiformes abertas, terminais, homógamos ou heterógamos, pauciradiados, ca. 55
flósculos por capítulo, 5 flósculos do raio, corolas do raio frequentemente ausentes, longo-
pedunculados, pedúnculos pilosos, cilíndricos. Invólucro campanulado, ecaliculado, ca. 16
filárias esverdeadas, livres entre si, distribuídas em 2 séries, faces adaxial glabra e abaxial
pilosa, dimórficas, as da série mais externa bastante afastadas, menores, limbo mais
carnoso, obovado, ápice agudo, margem ciliada, as da série mais interna paleáceas, limbo
ovado, ápice obtuso, margem hialina, ciliada apenas no ápice, persistentes. Receptáculo
plano, paleáceo, páleas adnatas aos flósculos, limbo elíptico, membranáceo, hialino,
margem inteira, ápice acuminado, textura membranácea, persistentes, caindo apenas
juntamente com os frutos. Flósculos do raio neutros ou pistilados; corola do raio 3-lobada,
amarela, diferenciada em tubo e limbo, ambos glabros de aspecto papiloso, lobos reduzidos,
61
ápice obtuso; pápus aristado, aristas, geralmente 3, a quarta, quando presente, visivelmente
atrofiada, 3-angulosas, tamanho variável, distribuídas em série única, adorno retrorso,
tricomas achatados, triangulares. Flósculos do disco perfeitos; corola tubular, amarela,
diferenciada em tubo e limbo, ambos pilosos, tubo curto, lobos 5, tão longo quanto largos,
ápice agudo, face abaxial pilosa, face adaxial papilosa na região marginal; estilete com haste
glabra, sem dilatações, porém alargando-se progressivamente em direção do ápice, ramos,
dois, curtos, elipsoides, externamente pilosos, ápice agudo, apêndices distais presentes,
porém reduzidos, curtos e delgados, áreas estigmáticas ocupando completamente a face
interna, divididas por uma linha central delgada, estilopódio presente, estilete com inserção
basal; estames 5, anteras escuras, base sagitada, apêndice concolor, tão longo quanto largo
ou ligeiramente mais longo que largo, ápice agudo, colar complanado, côncavo, mais longo
que largo, ápice ligeiramente menor que a base, filete glabro; pápus idêntico ao dos
flósculos do raio. Cipselas resultantes de ambos os tipos de flósculos, compressas, 3-
angulosas, fitomelanina presente, dimórficas, as do disco, longas e estreitas, fusiformes,
pilosas na região distal e nas arestas, as do disco mais curtas e largas, obovoides, rugosas,
protuberâncias de coloração mais clara, estas pilosas; carpopódio discolor, distinto,
decorrente nas arestas e linhas de deiscência, basal, ápice piloso, contorno oval; pápus
persistente.
Não foram observados flósculos do raio pistilados nos indivíduos amostrados de Bidens
pilosa L., sendo assim, os estiletes dos flósculos do raio não foram descritos. Por esta razão,
a presença dos estiletes foi considerada enquanto possibilidade, uma vez que foram
encontradas cipselas do raio em ramos frutificados.
Literatura de referência: Almeida (2008); Bringel-Júnior e Cavalcanti (2009); Fernandes
(2009); Ferreira (2006); Moraes (1996); Pereira (1989); Pereira e Melo (2009); Souza (2007).
Distribuição geográfica: África (África do Sul e Madagascar), América do Norte (Estados
Unidos e México), América Central (Belize, Caribe, El Salvador, Honduras e Panamá), América
do Sul (Brasil, Bolívia, Equador, Guatemala, Guiana, Guiana Francesa e Suriname), Ásia
(China). No Brasil, Mondin et al (2010) registraram-na apenas para o Sul do Brasil. Diferentes
trabalhos acrescentam-na para as regiões Sudeste, com os estado de Minas Gerais
62
(ALMEIDA, 2008; ALVES e KOLBEK, 2009; FERREIRA, 2006) e São Paulo (MORAES, 1997;
SOUZA, 2007); Centro-Oeste, com o estado de Góias (Bringel-Júnior e Cavalcanti, 2009); e
Nordeste, com os estado da Paraíba (AGRA e BARBOSA, 1996), Pernambuco (GOMES e
ALVES, 2010; PEREIRA, 1989; PEREIRA e MELO, 2009; ZICKEL et al, 2007) e Piauí (OLIVEIRA et
al, 2007). Para a Paraíba, Agra e Barbosa (1996) registraram a espécie no Litoral, Agro-
Pastoril do Baixo Paraíba e Agreste da Borborema.
Material examinado: BRASIL: Paraíba: Boa Vista, Entorno de afloramento rochoso, 03/08/2010, H. O. Machado-Filho & R. R. Pessoa s/n (ACAM). Fagundes, Entorno da Pedra de Santo Antônio, 11/06/2010, R. R. Pessoa s/n (ACAM). Puxinanã, Entorno de afloramento rochoso, 26/02/2010, J. I. M. Melo & R. R. Pessoa s/n (ACAM). Queimadas, Pedra do Touro, 14/09/2010, R. R. Pessoa s/n (ACAM).
3 Centratherum Cass., Bull. Sci. Soc. Philom. Paris 1817: 31. 1817.
Vernonieae Cass.; Centratherinae H. Rob., R. M. King & Bohlmann
Ervas ou arbustos. Folhas com limbo linear a lanceolado-ovado. Capítulos solitários ou
alguns poucos agrupados. Invólucro com filárias dimórficas, as mais externas foliáceas, as
mais internas membranáceas. Flósculos com corola arroxeada, glandular, tricomas
estipitados; pápus com cerdas escabras, facilmente destacáveis, às vezes ausente. Cipselas
oblongas a obovóides, 10-costadas, glabras (BREMER, 1994).
A subtribo Centratherina inclui apenas dois gêneros, Centratherum e Oiospermum Less.
(Robinson, 2007). Segundo Kirkman (1981), Centratherum já chegou a incluir 90 espécies
desde que foi inicialmente descrito e a autora realizou um tratamento taxonômico que
resultou em uma nova circunscrição para o gênero, onde parte das espécies circunscritas ao
mesmo foram transferidas para Phyllocephalum Blume. Desse modo, Centratherum engloba
apenas as espécies distribuídas na região tropical do Novo Mundo, Austrália e Filipinas,
restringindo-se a duas espécies: C. punctatum e C. confertum K. Kirkman.
No Brasil, segundo Nakajima (2000), são encontradas as duas espécies do gênero, sendo
C. confertum restrita a região Sul do Brasil, enquanto que C. punctatum ocorre no resto do
país e sua ocorrência para a Paraíba foi registrada por Agra e Barbosa (1996).
63
3.1 Centratherum punctatum Cass., Dict. des Sci. Nat. (ed. 2) 7: 384. 1817. [Figuras
3a; 5e; 7c]
Basônimo: Centratherum punctatum Cass., Dict. des Sci. Nat. (ed. 2) 7: 384. 1817.
Ervas, ca. 15-70 cm, eretas a prostradas, bastante ramificadas. Ramos vináceos,
cilíndricos, densamente glandular-pilosos. Folhas alternas, subsésseis; limbo inteiro, elíptico,
membranáceo, margem serreada, base atenuada, ápice agudo, ligeiramente mucronado,
venação pinada, ambas as faces glandular-pilosas. Capítulos solitários, terminais,
homógamos, discoides, mais de 60 flósculos por capítulo, pedunculados, pedúnculos
cilíndricos, glandular-pilosos, alargando-se na base do capítulo. Invólucro formado por
numerosas filárias distribuídas em sete séries, dimórficas; 5 séries de ca. 70 filárias
membranáceas, verde-claras, livres entre si, limbo ovado, ápice mucronado, arroxeado,
margem lacerada, ciliada no ápice, face adaxial glandular, face abaxial pilosa no ápice,
desiguais, em gradação, formam um invólucro imbricado, campanulado; duas séries mais
externas de ca. 10 filárias foliáceas patentes, verde-escuras, desiguais, limbo ovado de
margem denteada a obovado de margem inteira, ápice mucronado, agudo a obtuso, ambas
as faces glandular-pilosas, assemelham-se a uma roseta de folhas na base do capítulo,
persistentes. Receptáculo ligeiramente convexo, glabro, epaleáceo. Flósculos perfeitos;
corola tubular, violeta, diferenciada em tubo e limbo, tubo glandular, com tricomas
estipitados, menor que o limbo, limbo glabro, lobos 5, bem mais longo que largos, ocupam
pouco mais da metade do limbo, ápice agudo, glandulares, com tricomas sésseis e
estipitados; estilete com haste pilosa na região apical, sem dilatações, porém tornando-se
bruscamente espessa na região mediana e assim permanecendo até os ramos, ramos 2,
curtos, decumbentes, conduplicados, estreito-lanceolados, ápice agudo, externamente
pilosos, apêndices distais ausentes, área estigmática recobrindo completamente a face
interna, estilopódio ausente; estames 5, anteras pálidas, calcaradas, base prolongada-
truncada, apêndice concolor, ovado, ápice agudo, colar perfeitamente cilíndrico, mais longo
que largo, não ultrapassando o comprimento da base da antera, filete glabro; pápus
cerdoso, unisseriado, poucas cerdas barbeladas, adorno antrorso. Cipselas obovoides,
fitomelanina presente, 10-costadas, glabras; carpopódio indistinto, contorno oval; pápus
caduco.
64
Kirkman (1981) reconhece três subespécies para C. punctatum, a subespécie típica, C.
punctatum Cass. subsp. punctatum, que ocorre apenas no Novo Mundo, a subespécie C.
punctatum Cass. subsp. fruticosum (Elmer) K. Kirkman, ocorrendo nas Filipinas e C.
punctatum Cass. subsp. australianum K. Kirkman, na Austrália. Os indivíduos amostrados de
C. punctatum podem ser reconhecidos como C. punctatum subsp. punctatum, referida para
as Américas Central, incluindo Antilhas, e do Sul.
Literatura de referência: Melo (2005); Moraes (1997); Nakajima (2000); Pereira e Melo
(2009); Souza (2007) e Teles e Bautista (2006).
Distribuição geográfica: Espécie distribuída na América do Norte (México); América Central
(Panamá), América do Sul (Bolívia, Brasil, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru e
Venezuela), Ásia (Índia) e Oceania (Austrália, Filipinas), acrescenta-se aqui sua ocorrência no
Paraguai à América do Sul (CABRERA e DEMATTEIS, 2009). No Brasil, Almeida e Dematteis
(2010) registram a ocorrência da mesma em todas as regiões do Brasil. Para a Paraíba, Agra
e Barbosa (1996) registraram-na para o Litoral, Agreste da Borborema, Depressão do Alto
Piranhas e Cariris Velhos.
Material examinado: BRASIL: Paraíba: Boa Vista, Entorno de afloramento rochoso, 03/08/2010, H. O. Machado-Filho & R. R. Pessoa s/n (ACAM). Fagundes, Entorno da Pedra de Santo Antônio, 11/06/2010, R. R. Pessoa s/n (ACAM). Puxinanã, Entorno de afloramento rochoso, 26/02/2010, J. I. M. Melo & R. R. Pessoa s/n (ACAM). Queimadas, Pedra do Touro, 14/09/2010, R. R. Pessoa s/n (ACAM).
4 Conocliniopsis R.M. King & H. Rob., Phytologia 23(3): 308. 1972.
Eupatorieae Cass. (Heliantheae s.l.); Gyptidinae R.M. King & H. Rob.
Subarbustos ou arbustos. Folhas opostas a alternas; base truncada, margem
fortemente crenada. Capítulos agrupados em sinflorescências corimbiformes. Invólucro
eximbricado. Receptáculo fortemente cônico, foveolado. Flósculos com corola azul ou
lavanda, infundibuliforme, glandular, pápus formado por numerosas cerdas escabras.
Cipselas pilosas, carpopódio com ápice piloso (BREMER et al, 1994).
65
Segundo Hind e Robinson (2007) a subtribo Gyptidinae é polifilética necessitando de
revisão. Inclui 29 gêneros concentrados principalmente no Brasil, especialmente na região
Nordeste, ocorrendo em outros países da América do Sul mais raramente nos Andes, México
ou Estados Unidos (BREMER et al, 1994). O gênero é monoespecífico, incluindo apenas a
espécie C. prasiifolia, registrada para a Paraíba por Agra e Barbosa (1996).
4.1 Conocliniopsis prasiifolia (DC.) R.M. King & H. Rob., Phytologia 23(3): 308. 1972.
[Figuras 5a; 7d]
Basônimo: Conoclinium prasiifolium DC., Prodr. 5: 135. 1836.
Subarbustos a arbustos, ca. 1,5 m, eretos. Ramos cilíndricos, verdes a vináceos,
estriados, glandular-pilosos. Folhas mais frequentemente alternas, podendo as mais basais
serem opostas; limbo inteiro, deltóide, membranáceo, margem crenada, base truncada a
subcordada, ápice agudo a ligeiramente obtuso, face abaxial glandular-pilosa, face adaxial
pilosa, venação trinérvea, textura; distintamente pecioladas, pecíolo piloso, lâmina
decorrente. Capítulos agrupados em sinflorescências corimbiformes, terminais, homógamos,
discoides, ca. 30 flósculos por capítulo, curto-pedunculados, pedúnculos glandular-pilosos,
não alargados na base do capítulo, bráctea-1 na região mais distal. Invólucro eximbricado,
campanulado, ecaliculado, ca. 15 filárias esverdeadas, arroxeadas no ápice, membranáceas,
livres entre si, distribuídas em duas séries, as mais externas mais curtas e mais largas, com
limbo obovado, as mais internas com limbo oblanceolado, margem inteira, ápice acuminado,
face abaxial pilosa e face adaxial glabra, persistentes. Receptáculo bastante cônico, glabro,
epaleáceo. Flósculos perfeitos; corola tubular, rosa, estreitamente infundibuliforme, glabra,
lobos 5, curtos, mais longo que largos, agudos, margem e face abaxial papilosas na região
mediana-distal; estilete com haste glabra, sem dilatações, ramos 2, longos, eretos, lineares,
ápice obtuso, apêndices distais presentes, longos, ultrapassando a extensão da área
estigmática, recobertos por papilas, área estigmática marginal, seção do ramo externamente
glabra, estilopódio evidente, estilete com inserção basal; estames 5, anteras escuras, base
arredondada, apêndice discolor, tão largo quanto longo, ou ligeiramente mais longo que
largo, ápice obtuso, colar cilíndrico, canaliculado, mais longo que largo, filete glabro; pápus
cerdoso, ca. 35 cerdas de tamanho variável, distribuídas em duas séries, barbeladas, adorno
66
antrorso. Cipselas prismáticas, 5-costadas, fitomelanina presente, elevações mais escuras
que o corpo do fruto, pilosas, tricomas geminados; carpopódio distinto, discolor, grande,
assimétrico, lateral, piloso no ápice, contorno irregularmente e ligeiramente pentagonal;
pápus persistente.
Literatura de referência: Ferreira e Melo (2009) e Teles e Bautista (2006).
Distribuição geográfica: Restringe-se à América do Sul, ocorrendo no Brasil, Colômbia e
Venezuela (BREMER et al, 1994; HIND e ROBINSON, 2007). No Brasil, Ferreira (2010) registra
a espécie apenas para a região Nordeste, nos estados de Pernambuco, Bahia e Alag,oas. O
presente trabalho reforçado pelo levantamento de Agra e Barbosa (1996) acrescentam a
Paraíba e Lombardi e Gonçalves (2000), o Estado de Minas Gerais, na região Sudeste, à
distribuição da espécie. Para a Paraíba, Agra e Barbosa (1996) registraram sua ocorrência no
Litoral, Brejo e Depressão do Alto Piranhas, o presente trabalho acrescenta os municípios
atualmente delimitados na microrregião de Campina Grande.
Material examinado: BRASIL: Paraíba: Boa Vista, Entorno de afloramento rochoso, 03/08/2010, H. O. Machado-Filho & R. R. Pessoa s/n (ACAM). Fagundes, Entorno da Pedra de Santo Antônio, 11/06/2010, R. R. Pessoa s/n (ACAM). Puxinanã, Entorno de afloramento rochoso, 26/02/2010, J. I. M. Melo & R. R. Pessoa s/n (ACAM). Queimadas, Pedra do Touro, 14/09/2010, R. R. Pessoa s/n (ACAM).
5 Conyza Less., Syn. Gen. Compos. 203-204. 1832.
Astereae Cass.; Conyzinae Horan.
Ervas, raramente arbustos ou árvores. Folhas inteiras ou denteadas-pinatífidas.
Capítulos geralmente agrupados em sinflorescências corimbiformes ou paniculiformes,
raramente solitários, disciformes, raramente ligeiramente radiados. Flósculos marginais
pistilados, numerosos, distribuídas em algumas séries; corola tubular-filiforme, às vezes com
uma pequena lâmina, branca ou rosa-roxa. Flósculos centrais perfeitos ou, às vezes, em
parte funcionalmente estaminados, geralmente poucos; corola amarela ou branca;
apêndices dos ramos do estilete lanceolados a triangulares. Cipselas obovoide-oblongas, às
vezes compressas, a maioria pubescentes (BREMER, 1994).
67
O gênero foi colocado por Bremer (1994) na subtribo Asterinae (Cass.) Dumort., que é
mantida por Nesom e Robinson (2007). Entretanto, o gênero é circunscrito à tribo
Conyzinae, que reúne cerca de 60-100 espécies principalmente tropicais e subtropicais, com
algumas poucas ruderais e cosmopolitas, como C. bonariensis e C. canadensis (L.) Cronquist.
No Brasil, o gênero encontra-se representado por 12 espécies, sendo quatro delas
endêmicas: C. catharinensis Cabrera; C. glandulitecta Cabrera; C. reitziana Cabrera C.
retirensis Cabrera (TELES et al, 2010). Agra e Barbosa (1996) registraram a ocorrência de
duas espécies do gênero na Paraíba: C. chilensis Spreng. e C. sumatrensis (Retz.) E. Walker,
no entanto, no presente levantamento foi identificada a espécie nativa C. bonariensis (L.)
Cronquist, já referenciada para a Paraíba por Teles e Heiden (2010).
5.1 Conyza bonariensis (L.) Cronquist, Bull. Torrey Bot. Club 70(6): 632. 1943.
[Figuras 4e; 6a; 7e]
Basônimo: Erigeron bonariensis L. Sp. Pl. 2: 863. 1753.
Ervas, ca. 60 cm, eretas, densamente folhosas. Ramos trigonais, sulcados, verdes,
estriados, pilosos. Folhas alternas, sésseis; limbo inteiro, oblanceolado a aciculiforme,
margem inteira, ciliada, ápice agudo, ambas as faces pilosas, venação trinérvea. Capítulos
agrupados em sinflorescências paniculiformes, terminais, disciformes, ca. 400 flósculos por
capítulo, flósculos marginais em grande número, distribuídas em várias séries, flósculos
centrais muito poucos, pedunculados, pedúnculos verdes, trigonais, pilosos, alargando-se na
base do capítulo. Invólucro subimbricado, campanulado, c. 50 filárias esverdeadas, livres
entre si, distribuídas em 3 séries, desiguais, em gradação, as mais internas maiores, limbo
lanceolado, ápice agudo, face abaxial densamente pilosa e face adaxial glabra, as mais
externas com margem inteira, as mais internas com margem lacerada, hialina; persistentes.
Receptáculo levemente convexo, apresentando projeções semelhantes a escamas,
epaleáceo. Flósculos marginais pistilados; corola tubular-filiforme, branca, limbo pouco
desenvolvido, formado praticamente apenas pelos lobos reduzidos, frequentemente 2 e às
vezes 3, o terceiro adaxial, agudos, mais longo que largos, face abaxial pilosa, tubo
esparsamente piloso; estilete glabro, haste com base bulbiforme, ramos 2, eretos, curto-
lineares, ápice obtuso, apêndices distais ausentes, estilopódio ausente; pápus cerdoso, ca.
68
30 cerdas capilares barbeladas, adorno antrorso. Flósculos centrais perfeitos; corola tubular,
branca, diferenciada em tubo e limbo, tubo menor que o limbo, glabro, limbo piloso, exceto
os lobos, lobos, cinco, bem mais longos que largos, ápice agudo, face abaxial papilosa, face
adaxial glabra; estilete com haste glabra, base bulbiforme, ramos, dois, curtos, eretos,
apêndices distais ausentes, elípticos, ápice obtuso, externamente pilosos, especialmente na
região apical, área estigmática recobrindo completamente a face interna, dividida apenas
por um delgado sulco central, estilopódio ausente; estames 5, anteras pálidas, base
arredondada, mais alargadas na região basal, apêndice concolor, deltoide, laminar, plano,
pouco diferenciado das tecas, ápice agudo, colar perfeitamente cilíndrico, mais longo que
largo; pápus idêntico ao dos flósculos marginais. Cipselas alvas, fitomelanina ausente,
compressas, biconvexas, estreito-elípticas, pilosas; carpopódio distinto, discolor, hialino,
assimétrico, basal, contorno arredondado, ápice piloso; pápus persistente.
Literatura de referência: Almeida (2008); Ferreira et al (2009); Fernandes (2009); Moraes
(1997); Souza (2007).
Distribuição geográfica: Espécie distribuída na África (África do Sul), América do Norte
(Estados Unidos e México), América Central (Belize, Caribe, El Salvador, Honduras e Panamá)
e América do Sul (Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guatemala, Guiana,
Guiana Francesa, Suriname e Venezuela). No Brasil, Teles et al (2010) registraram sua
ocorrência em todos os estados e regiões. Para a Paraíba, não há ainda registro de
ocorrência por microrregião, de modo que o presente trabalho acrescenta a microrregião de
Campina Grande.
Material examinado: BRASIL: Paraíba: Puxinanã, Entorno de afloramento rochoso, 26/02/2010, J. I. M. Melo & R. R. Pessoa s/n (ACAM).
6 Delilia Spreng, Bull. Sci. Soc. Philom. Paris 1823: 54. 1823.
Heliantheae Cass. (Heliantheae s.l.); Ecliptinae Less.
69
Ervas. Folhas opostas; limbo inteiro. Capítulos achatados, radiados, 1 a 4 flósculos do
disco, 1 a 3 flósculos do raio. Invólucro formado por 2 a 4 filárias, uma externa, única,
grande, orbicular, as internas, 1 ou 2, em oposição à filária externa, menores. Flósculos do
raio pequenos; corola amarela, tubo longo e limbo pequeno, diminutamente 2-lobado;
pápus ausente. Flósculos do disco pequenos; corola amarela; pápus ausente. Cipselas
resultantes dos flósculos do raio, obovadas, pilosas (KARIS e RYDING, 1994b).
Karis e Ryding (1994b) não apresentam delimitação subtribal para Delilia, uma vez que
consideraram a circunscrição de Ecliptinae por Robinson (1981) confusa e a mesma foi
considerada pelas análises de Karis (1993) como polifilética. Panero (2007d) apresenta a
subtribo reestabelecida com 49 gêneros, entre eles Delilia, Melanthera, Sphagneticola e
Tilesia. Delilia, em sua atual circunscrição inclui apenas duas espécies: D. biflora,
amplamente distribuída pela América tropical, e D. repens (Hook. f.) Kuntze, endêmica do
arquipélago de Galápagos. O gênero já chegou a apresentar mais uma espécie, Delilia
inelegans (Hook. f.) Kuntze, igualmente endêmica de Galápagos, no entanto a mesma foi
considerada extinta (MOBOT, 2010).
Magenta (2010a) registrou a ocorrência de D. biflora para o Brasil, e Agra e Brabosa
(1996) referenciaram sua ocorrência para a Paraíba.
6.1 Delilia biflora (L.) Kuntze, Revis. Gen. Pl. 1: 333. 1891. [Figuras 5f; 6e; 7f]
Basônimo: Milleria biflora L., Sp. Pl. 2: 919. 1753.
Ervas, ca. 110 cm, eretas. Ramos arroxeados a vináceos, estriados, pilosos, cilíndricos,
fistulosos, ligeiramente sulcados. Folhas opostas; todas simples, limbo ovado,
membranáceo, margem inteira, base aguda, ápice agudo, ambas as faces pilosas, venação
trinérvea, pecioladas, pecíolo piloso. Capítulos agrupados em cimas umbeliformes, axiais e
terminais, heterógamos, radiados, 2 flósculos por capítulos, 1 flósculo do raio e 1 flósculo do
disco, pendunculados, pedúnculos delgados, pilosos, arroxeados, cilíndricos, alargando-se
discretamente na base do capítulo. Invólucro comprimido, assemelhando-se a um disco,
ecaliculado, duas filárias esverdeadas, livres entre si, ambas as faces pilosas, membranáceas,
dimórficas, uma maior, externa, com limbo orbicular, margem crenada, ciliada, base
Ageratum conyzoides
70
cordada, ápice retuso, levemente cuspidado, a menor, interna, com limbo obovado,
revoluto, com aspecto de duas filárias fundidas, margem ciliada, base auriculada, ápice
cuspidado, persistentes. Receptáculo plano, glabro, epaleáceo. Flósculos do raio pistilados;
corola tubular-filiforme, amarela, glabra, limbo bastante reduzido e formado quase que
completamente pelos lobos, lobos reduzidos, obtusos; estilete com haste pilosa, sem
dilatações, ramos 2, muito longos, decumbentes, conduplicados, ápice obtuso, apêndices
distais ausentes, áreas estigmáticas marginais, estilopódio ausente. Flósculos do disco
funcionalmente estaminados; corola tubular, amarela, diferenciada em tubo e limbo, tubo
longo em relação ao limbo, ambos glabro, lobos 5, tão longo quanto largos, ápice agudo,
face abaxial pilosa e face adaxial papilosa; estilete com haste glabra, sem dilatações, ramos
2, curtos, lineares, ápice obtuso, externamente pilosos, área estigmática ausente,
estilopódio ausente; estames 5, anteras escuras, base subcordada a auriculada, apêndice
concolor, tão largo quanto longo, triangular, ápice obtuso, colar cilíndrico, mais longo que
largo, canaliculado, filete glabro; pápus reduzido a pequenas protuberâncias laterais na
região apical do ovário, portando tricomas. Cipselas resultantes dos flósculos do raio,
compressas, tríquetas, contorno obcordiforme, fitomelanina presente, pilosas; carpopódio
discreto, discolor, simétrico em anel, basal, glabro.
Literatura de referência: Pereira (1989) e Pereira e Melo (2009).
Distribuição geográfica: Espécie ocorrente na América do Norte (México), América Central
(Belize, Caribe, Costa Rica, El Salvador e Honduras) e América do Sul (Argentina, Brasil,
Bolívia, Colômbia, Equador, Guatemala e Guiana). No Brasil, Magenta (2010a) registrou sua
ocorrência nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, este trabalho vem acrescentar a região
Nordeste com o estados do Ceará (ARAÚJO et al, 2008), Paraíba (AGRA e BARBOSA, 1996) e
Pernambuco (GOMES e ALVES, 2010; PEREIRA, 1989; PEREIRA e MELO, 2009; RODAL e
SALES, 2007). Para a Paraíba, Agra e Barbosa (1996) registraram sua ocorrência no Piemonte
da Borborema, Agreste da Borborema, Cariris Velhos e Brejo Paraibano.
Material examinado: BRASIL: Paraíba: Queimadas, Pedra do Touro, 14/09/2010, R. R. Pessoa s/n (ACAM).
71
7 Emilia Cass., Bull. Sci. Soc. Philom. Paris 1817: 68. 1817.
Senecioneae Cass.; Incerdae sedis
Ervas, a maioria glabras. Folhas com limbo inteiro ou variavelmente lobado; pecioladas,
amplexicaules ou com base auriculada. Capítulos geralmente agrupados em sinflorescências
corimbiformes, discóides, às vezes radiados. Invólucro ecaliculado. Flósculos com corola
laranja, vermelha, rosa, roxa, violeta ou branca, mais raramente amarela; ramos do estilete
truncados a obtusos, às vezes com apêndices de papilas fusionadas; pápus cerdoso, cerdas
capilares. Cipselas oblongas, a maioria costadas, glabras ou pubescentes (BREMER, 1994).
Bremer (1994) posicionou Emilia à subtribo Senecioninae Dumort., no entanto,
Nordenstam (2007) não propõe nenhuma classificação formal em nível subtribal, segundo o
autor muitas subtribos já foram propostas, mas a proposição mais frequente inclui apenas
duas subtribos, Blennospermatinae Rydb. e Senecioninae. Emilia é considerado tropical, com
a maioria das espécies distribuídas na África, e inclui aproximadamente 100 espécies, com
algumas ruderais dentre as dos trópicos.
Para o Brasil, Borges (2010) registra a ocorrência de duas espécies, ambas nativas: E.
fosbergii e E. sonchifolia, referidas para a Paraíba por Agra e Barbosa (1996) e também
registradas no presente levantamento.
7.1 Emilia fosbergii Nicolson, Phytologia 32(1): 34. 1975. [Figuras 4a;7g]
Basônimo: Emilia fosbergii Nicolson, Phytologia 32(1): 34. 1975.
Ervas, ca. 55 cm, eretas. Ramos cilíndricos, verdes, glabros a glabrescentes. Folhas
alternas, dimórficas; limbo mais frequentemente lanceolado, margem inciso-denteada, base
auriculada, ápice agudo, ambas as faces pilosas, face abaxial glandular, venação pinada,
amplexicaules. Capítulos agrupados em sinflorescências corimbiformes, terminais,
homógamos, discóides, ca. 60 flósculos por capítulo; pedunculados, pedúnculos longos,
cilíndricos, glabros, bráctea-1 na região mediana ou basal, alargando-se amplamente na base
do capítulo. Invólucro longo-campanulado, 11 filárias esverdeadas, fundidas em série única,
ápice livre, limbo lanceolado, margem hialina, ápice agudo, face abaxial pilosa, face adaxial
72
glabra, persistentes. Receptáculo plano a ligeiramente convexo, dotado de projeções
escamiformes, epaleáceo. Flósculos perfeitos; corola tubular, vermelha, diferenciada em
tubo e limbo, tubo ligeiramente menor que o limbo, ambos glabros, lobos 5, papilosos na
região apical de ambas as faces, bem mais longos que largos, ápice agudo; estilete com
haste glabra, base bulbiforme, ramos 2, curtos, eretos, lineares, externamente glabros,
exceto pelo ápice piloso, truncado, apêndices distais delgados e curtos, formando um tufo
de tricomas, áreas estigmáticas marginais, estilopódio ausente; estames 5, anteras pálidas,
base sagitada, apêndice concolor, lanceolado, ápice agudo, margem inteira, colar cilíndrico,
canaliculado, bem mais longo que largo, base mais larga em relação ao ápice, filete glabro;
pápus de numerosas cerdas capilares, subiguais, distribuídas em 2 séries, barbeladas, adorno
antrorso. Cipselas 5-costadas, cristas pilosas; carpopódio praticamente inconspícuo,
concolor, basal, simétrico em um anel delgado, piloso; pápus persistente.
Literatura de referência: Souza (2007) e Almeida (2008).
Distribuição geográfica: Espécie amplamente distribuída, com ocorrência registrada para a
América do Norte (Arquipélago do Havaí, Estados Unidos, Guam, Ilhas Marshall e México),
América Central (Belize, Caribe, Costa Rica, El Salvador e Panamá), América do Sul (Brasil,
Equador, Guatemala, Guiana, Guiana Francesa, Suriname e Venezuela,) e Oceania
(Arquipélago das Marquesas, Arquipélago da Sociedade, Arquipélago de Tuamotu e Fiji) e
Paraguai (CABRERA e FREIRE, 2009). No Brasil, Borges (2010) a refere para todos os estados
e regiões. Para a Paraíba, Agra e Barbosa (1996) referiram-na para o Litoral e Brejo, o
presente levantamento inclui os municípios atualmente delimitados na microrregião de
Campina Grande.
Material examinado: BRASIL: Paraíba: Fagundes, Entorno da Pedra de Santo Antônio, 11/06/2010, R. R. Pessoa s/n (ACAM).
7.2 Emilia sonchifolia (L.) DC., Contr. Bot. India 24. 1834. [Figuras 3g; 7h]
Basônimo: Cacalia sonchifolia L., Sp. Pl. 2: 835. 1753.
73
Ervas, ca. 20 cm, eretas. Ramos cilíndricos, verdes, glabros a glabrescentes. Folhas
alternas, dimórficas; as mais basais com limbo orbicular, margem inciso-denteada, base
aguda e distintamente pecioladas, limbo decorrente ao longo do pecíolo, as intermediárias
fortemente lirato-pinatipartidas e sésseis, as mais basais lanceoladas, ápice agudo e margem
inteira, venação pinada, ambas as faces pilosas. Capítulos agrupados em sinflorescências
corimbiformes, terminais, homógamos, discóides, ca. 30 flósculos por capítulo;
pedunculados, pedúnculos longos, cilíndricos, glabros, bráctea-1 na região mediana ou basal,
alargando-se amplamente na base do capítulo. Invólucro longo-campanulado, 6 filárias
esverdeadas, fundida em série única, ápice livre, limbo lanceolado, margem hialina, ápice
agudo, face abaxial pilosa, face adaxial glabra, persistentes. Receptáculo bastante côncavo,
dotado de projeções escamiformes, epaleáceo. Flósculos perfeitos; corola tubular, rosa,
diferenciada em tubo e limbo, tubo ligeiramente menor que o limbo, ambos glabros, lobos 5,
papilosos na região apical de ambas as faces, bem mais longos que largos, ápice agudo;
estilete com haste glabra, base bulbiforme, ramos 2, curtos, eretos, lineares, externamente
glabros, exceto pelo ápice piloso, truncado, apêndices distais delgados e curtos, formando
um tufo de tricomas, áreas estigmáticas marginais, estilopódio ausente; estames 5, anteras
pálidas, base sagitada, apêndice concolor, lanceolado, ápice agudo, margem inteira, colar
cilíndrico, canaliculado, bem mais longo que largo, base mais larga em relação ao ápice,
filete glabro; pápus de numerosas cerdas capilares, subiguais, distribuídas em 2 séries,
barbeladas, adorno antrorso. Cipselas 5-costadas, cristas pilosas; carpopódio praticamente
inconspícuo, concolor, basal, simétrico em um anel delgado, piloso; pápus persistente.
E. fosbergii e E. sonchifolia são morfologicamente bastante semelhantes, no entanto,
Nicolson (1975) diferenciou ambas pelo fato de que E. sonchifolia exibe corolas de
coloração lilás completamente encerradas no invólucro, as folhas basais liradas e os lobos da
corola curtos, enquanto que E. fosbergii apresenta as folhas basais pecioladas,
espatuliformes, com a corola excedendo o invólucro em cerca de 2-3 mm, vermelhas,
proporcionalmente o dobro do comprimento dos lobos com relação a E. sonchifolia.
Durante este estudo, observou-se que o comprimento relativo entre os flósculos e as
filárias ocorre em parte devido ao receptáculo; que em E. fosbergii apresentou-se plano a
levemente convexo, elevando mais os flósculos em relação ao invólucro enquanto que em E.
sonchifolia o receptáculo apresentou-se bastante côncavo.
74
Distribuição geográfica: Espécie amplamente distribuída, registrada para a África
(Madagascar, Quênia e Tanzânia), América do Norte (Arquipélago do Havaí, Estados Unidos,
Guam e México), América Central (Belize, Caribe, El Salvador, Honduras e Panamá), América
do Sul (Brasil, Equador, Guatemala, Guiana, Guiana Francesa, Suriname e Venezuela), Ásia
(China, Japão, Malásia, Sri Lanca, Taiwan e Vietnã) e Oceania (Arquipélago da Sociedade,
Austrália, Filipinas, Java, Papua Nova Guiné, Samoa Americana, Sumatra e Tonga). No Brasil,
Borges (2010) registrou sua ocorrência para as regiões Norte, Nordeste e Sudeste. No Estado
da Paraíba, Agra e Barbosa (1996) registraram sua ocorrência no Litoral e Brejo Paraibano, o
presente levantamento inclui os municípios atualmente delimitados na microrregião de
Campina Grande.
Material examinado: BRASIL: Paraíba: Boa Vista, Entorno de afloramento rochoso, 03/08/2010, H. O. Machado-Filho & R. R. Pessoa s/n (ACAM).
8 Galinsoga Ruiz & Pav., Fl. Peruv. Prodr. 110, pl. 24. 1794.
Millerieae Lindl. (Heliantheae s.l.); Galinsoginae Benth.
Ervas. Folhas opostas; limbo simples. Capítulos alguns poucos agrupados, pequenos,
radiados, raramente discóides. Invólucro com filárias distribuídas em 1 a 3 séries.
Receptáculo cônico, paleáceo, páleas estreitas. Flósculos do raio pistilados, pequenos;
corola mais frequentemente 3-lobada, raramente bilabiada, branca a vermelho arroxeado;
pápus frequentemente ausente. Flósculos do disco com corola amarela, raramente roxa;
pápus de escamas fimbriadas, aristadas ou lacinadas, raramente cerdas; anteras pálidas.
Cipselas resultantes de ambos os tipos de flósculo, as do raio obcônicas ou obpiramidais,
comumente compressas dorsoventralmente, encerradas por um grupo de filárias conatas e
páleas; as do disco obcônicas, obpiramidais ou subteretas, 4- a 5-angulosas (KARIS e RYDING,
1994b).
Segundo Panero (2007e), Millerieae foi reestruturada para acomodar gêneros
enquadrados por diversos autores, como Karis e Ryding (1994b), nas subtribos
75
Desmanthodiinae, Espeletiinae, Galinsoginae, Guardiolinae, Melampodiinae e Millerinae,
incluindo ca. 400 espécies distribuídas em 34 gêneros. A subtribo Galinsoginae nesta
circunscrição abriga nove gêneros, contrastando com os 14 da circunscrição de Karis e
Ryding (1994b). Galinsoga é neotropical e inclui 15 espécies, duas delas cosmopolitas,
G. parviflora e G. quadriradiata Ruiz & Pav., introduzidas.
Para o Brasil, Mondin (2010a) registrou as duas espécies cosmopolitas do gênero. Na
Paraíba, Agra e Barbosa (1996) registraram apenas a ocorrência de G. parviflora, reforçada
pelo presente levantamento.
8.1 Galinsoga parviflora Cav., Syst. Veg. Fl. Peruv. Chil. 1: 198. 1798. [Figuras 5d; 7i]
Basônimo: Galinsoga parviflora Cav., Syst. Veg. Fl. Peruv. Chil. 1: 198. 1798.
Ervas, ca. 70 cm, eretas. Ramos sulcados, tetragonais, verdes, estriados, pilosos. Folhas
opostas; limbo deltoide a ovado, membranáceo, margem inteira a ondulada, ciliada, base
truncada a obtusa, ápice atenuado, ambas as faces pilosas, venação trinérvea; distintamente
pecioladas, pecíolo piloso. Capítulos agrupados em sinflorescências axiais ou terminais,
paucirradiados, 40 flósculos por capítulo, 5 a 6 flósculos do raio; longo-pedunculados,
pedúnculos glandular-pilosos, alargando-se na base do capítulo. Invólucro eximbricado,
campanulado, ecaliculado, oito filárias esverdeadas, livres entre si, distribuídas em duas
séries, subiguais, as da série mais interna frequentemente ligeiramente maiores, limbo
ovado, ápice arredondado, margem fimbriada, ambas as faces glabras, membranáceo.
Receptáculo paleáceo, páleas adnatas aos flósculos, limbo anisotomo, membranáceo, 3-
lobadas ou 2-lobadas com um lobo atrofiado, lobo mediano maior e mais largo, hialinas,
ambas as faces glabras, margem fimbriada, planas, persistentes. Flósculos do raio pistilados;
corola do raio verdadeira, branca, diferenciada em tubo e limbo, limbo ligeiramente maior
que o tubo, limbo glabro de aspecto papiloso em ambas as faces, tubo piloso, lobos obtusos;
estilete com haste glabra, sem dilatações, ramos curtos, lineares, ápice agudo, apêndices
distais ausentes, estilopódio ausente; pápus presente, porém restrito a face adaxial, oito
cerdas, tamanho variável, série única, barbeladas, adorno antrorso. Flósculos do disco
perfeitos; corola amarela, tubular, ligeiramente diferenciada em tubo e limbo, ambos
pilosos, lobos 5, agudos, papilosos na região marginal de ambas as faces e pilosos na face
76
abaxial; estilete com haste glabra e base alargada, ramos 2, curtos, ovados, ápice agudo,
externamente papilosos, apêndices distais ausentes, estilopódio ausente; estames 5, anteras
pálidas, base sagitada e assimétrica, apêndice concolor, ligeiramente mais longo que largo,
ovado, ápice agudo, colar mais longo que largo, estreitando-se na porção apical, filete
glabro; pápus escamiforme, bisseriado, ca. 18 escamas fimbriadas, tamanho variável, setas
acroscópicas. Cipselas resultantes de ambos os tipos de flósculos, fitomelanina presente,
compressas, pilosas, dimórficas, as do raio obcônicas, as do disco prismáticas, 5-curto-
costadas; carpopódio discreto, discolor, simétrico, basal, contorno oval, glabro nas cipselas
do raio e piloso no ápice das do disco; pápus persistente.
Literatura de referência: Almeida (2008), Fernandes (2009); Ferreira (2006) e Pereira (1989).
Distribuição geográfica: Espécie com ocorrência registrada na África (África do Sul e
Madagascar), América do Norte (Canadá, Estados Unidos e México), América Central (El
Salvador e Honduras), América do Sul (Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador,
Peru e Venezuela) e Ásia (China). No Brasil, Mondin (2010a) registra sua ocorrência nas
regiões Sudeste e Sul, acrescentando-se aqui o estado de Minas Gerais (ALMEIDA, 2008;
FERREIRA, 2006) e a região Nordeste com os estados de Paraíba (Agra e Barbosa, 1996) e
Pernambuco (Pereira, 1989). Para a Paraíba, Agra e Barbosa (1996) registraram sua
ocorrência no Agreste da Borborema.
Material examinado: BRASIL: Paraíba: Puxinanã, Entorno de afloramento rochoso, 26/02/2010, J. I. M. Melo & R. R. Pessoa s/n (ACAM).
9 Melanthera Rohr, Skr. Naturhist.-Selsk. 2(1): 213-214. 1792.
Heliantheae Cass. (Heliantheae s.l.); Ecliptinae Less.
Ervas, subarbustos ou lianas. Folhas opostas; limbo simples ou hastado. Capítulos
solitários ou agrupados em cimas laxifloras, discóides ou radiados. Invólucro com filárias
distribuídas em 2 a 3 séries, as mais internas envolvendo os flósculos do raio. Receptáculo
paleáceo, páleas com ápice agudo a acuminado, endurecido. Flósculos do raio pistilados,
77
estéreis ou neutros; corola amarela, limbo diminutamente 2- a 3-lobado; pápus cerdoso ou
aristado. Flósculos do disco com corola amarela ou branca, pápus idêntico ao dos flósculos
do disco. Cipselas do disco obovadas ou obpiramidais, 3- a 4-angulosas, lateralmente
compressas, ápice usualmente truncado a côncavo; pápus caduco (KARIS e RYDING, 1994).
Melanthera é pantropical, incluindo 20 espécies (PANERO, 2007d). Para o Brasil,
Mondin (2010b) registrou duas espécies, ambas nativas: M. latifolia, ocorrendo em todo o
país, e M. nivea (L.) Small, distribuída apenas na região Norte. Agra e Barbosa (1996)
registraram a presença de M. latifolia (Gardner) Cabrera na Paraíba.
9.1 Melanthera latifolia (Gardner) Cabrera, Darwiniana 16: 411. 1970. [Figuras 4b;
6j; 8a]
Basônimo: Echinocephalum latifolia Gardner, London J. Bot. 7: 294. 1848.
Ervas, ca. 200 cm alt., eretas. Ramos tetragonais, 4-costados, vináceos, cilíndricos,
pilosos. Folhas opostas; todas inteiras, limbo ovado a estreito-elíptico, membranáceo,
margem denteada, base aguda, ápice atenuado, ambas as faces pilosas, venação trinérvea,
distintamente pecioladas, pecíolo piloso, lâmina decorrente. Capítulos agrupados em
sinflorescências cimóides laxifloras, terminais, heterógamos, radiados, ca. 100 flósculos por
capítulo, 9 flósculos do raio, longo-pedunculados, pedúnculo piloso, verde, alargando-se na
base do capítulo. Invólucro eximbricado, campanulado, ecaliculado, 14 filárias esverdeadas,
livres entre si, distribuídas em 2 séries, subiguais, limbo largo-lanceolado a ovado,
membranáceo, ápice agudo, face abaxial pilosa e face adaxial glabra, margem ciliada.
Receptáculo levemente convexo, paleáceo, páleas adnatas aos flósculos, conduplicadas,
amarelo-esverdeadas, limbo obovoide, membranáceo, ápice longamente cuspidado,
endurecido, ambas as faces pilosas, margem ciliada. Flósculos do raio neutros; corola do raio
verdadeira, amarela, diferenciada em tubo e limbo, tubo curto, glabro, limbo de aspecto
papiloso em ambas as faces, piloso na face abaxial, margem ciliada até os lobos, lobos
obtusos; ovário obcônico, piloso, ápice truncado a ligeiramente convexo; pápus cerdoso, 12-
16 cerdas barbeladas, de tamanho variável, em série única, adorno antrorso. Flósculos do
disco perfeitos; corola tubular, amarela, diferenciada em tubo e limbo, ambos glabros, tubo
curto, lobos 5, face abaxial pilosa, face adaxial papilosa, mais longo que largos, ápice agudo;
78
estilete com haste glabra, sem dilatações, ramos 2, longos, decumbentes, linear-
lanceolados, ápice agudo, apêndices distais ausentes, externamente pilosos, região apical
glabra, diferenciando-se e conferindo um aspecto de apêndice, áreas estigmáticas ocupando
a face interna, divididas por um sulco central, estilopódio presente, estilete com inserção
basal; estames 5, anteras escuras, mais alargada na região apical, base sagitada, apêndice
discolor, côncavo, deltoide, ápice agudo, colar cilíndrico, mais longo que largo, linear em sua
maior extensão, ápice estreitando-se bruscamente; pápus idêntico ao dos flósculos do raio.
Cipselas resultantes dos flósculos do disco, obcônicas, fitomelanina presente, pilosas, ápice
truncado a convexo; carpopódio concolor, contorno oval; pápus caduco, presente nos frutos,
mas facilmente destacável.
Literatura de referência: Ferreira (1989) e Silva e Santos (2010).
Distribuição geográfica: Ocorre apenas na América do Sul, na Bolívia e no Brasil, onde
Mondin (2010b) a refere para todas as regiões, acrescentando-se aqui o estado de
Pernambuco (Pereira, 1989). Para a Paraíba, Agra e Barbosa (1996) registraram-na para o
Litoral, Brejo e Agreste da Borborema.
Material examinado: BRASIL: Paraíba: Queimadas, pequenos afloramentos rochosos próximos à Pedra do Touro, 14/09/2010, R. R. Pessoa s/n (ACAM).
10 Parthenium L., Sp. Pl. 2: 988. 1753.
Heliantheae Cass. (Heliantheae s.l.); Ambrosiinae Less.
Arbustos ou ervas. Folhas alternas; limbo inteiro a pinatissecto. Capítulos agrupados
em sinflorescências paniculiformes, corimbiformes ou cimas laxilforas, pequenos, radiados, 5
flósculos do raio por capítulo, flósculos do disco numerosos. Invólucro com filárias
distribuídas em 2 séries, largas. Flósculos do raio com corola branca, diminutamente 2- a 3-
lobada. Flósculos do disco com corola esbranquiçada, todas exceto a série marginal
deiscentes como uma unidade; anteras conadas. Cipselas resultantes dos flósculos do raio,
obovadas, orbiculares ou largamente elípticas, pilosas, fortemente compressas, conatas as
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