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Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social
v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
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A IMPORTÂNCIA DA LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
REFLEXÕES SOBRE AS VIVÊNCIAS NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO
Edison Vieira da Silva - UNEB/Campus XII. [email protected]
Ney Ângela Vieira da Silva - UNEB/Campus XII. [email protected]
Sandra Alves de Oliveira - Professora do Campus XII/UNEB. Pesquisadora do NEPE.
Linhas de Pesquisa: Linguagens e Práticas Pedagógicas; Formação Docente, Currículo e
Diversidade. Coordenadora de área do PIBID/UNEB/Campus XII. Professora da
Educação Básica do Colégio Municipal Aurelino José de Oliveira (Candiba-BA).
Maria de Fátima Pereira Carvalho - Professora do Campus XII/UNEB. Pesquisadora do
NEPE. Linhas de Pesquisa: Educação do Campo, Educação Popular e Movimentos
Sociais;
Linguagens e Práticas Pedagógicas. Coordenadora de área do PIBID/UNEB/Campus
XII. Coordenadora pedagógica da rede municipal de ensino de Guanambi-BA.
RESUMO
Este relato de experiência tem o intuito de compartilhar as experiências do estágio na
educação infantil, problematizar e discutir a importância do brincar no processo de
ensino e aprendizagem. É resultado de uma pesquisa bibliográfica, das vivências do
estágio supervisionado na educação infantil e do Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência (PIBID). Tem em seu bojo contribuições de alguns autores, tais
como: Brasil, Kishimoto, Maluf, Micarello, Silva e Winnicott. Conclui-se que, o brincar
não é uma atividade sem valor, muito pelo contrário, é um direito garantido por lei.
Visto isso, temos um rico referencial teórico que valoriza a importância do brincar na
educação infantil e uma legislação que garante a presença do brincar. Todavia, esse
instrumento pelo qual a criança concebe o mundo e resolve seus conflitos só terá sua
efetivação com professores comprometidos com o conteúdo e a ludicidade, como os que
tivemos a satisfação de aprender nesse estágio.
Palavras-chave: Ludicidade. Criança. Direito. Brincar. Aprendizagem.
1 Introdução
Este relato de experiência é resultado de uma pesquisa bibliográfica, das vivências do
estágio supervisionado na educação infantil e do Programa Institucional de Bolsa de
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Iniciação à Docência (PIBID). Tem em seu bojo contribuições de alguns autores,
tais como: Brasil (2016), Kishimoto (2011), Maluf (2009), Micarello (2013), Silva
(2013) e Winnicott (1982). Neste trabalho, temos o intuito de problematizar e discutir a
importância do brincar no processo de ensino e aprendizagem.
A instituição observada foi a Escola Municipal Maria Regina Freitas, localizada à Rua
Francisco Candido Xavier, no Bairro Beija Flor, na cidade de Guanambi-BA. Oferece a
educação infantil, ensino fundamental e no noturno a Educação de Jovens e Adultos
(EJA).
Por meio de textos existentes na instituição descobrimos que sua trajetória é iniciada
como uma unidade de ensino do governo estadual no ano de 1974. Surge com a missão
de unificar as escolas isoladas da cidade de Guanambi-BA. Seu funcionamento era nos
três turnos e atendia da primeira à quarta série. Aos alunos de idade mais elevada era
reservado prioritariamente o horário da noite.
Durante 20 anos a escola não teve uma instalação própria e mudou de endereço por
várias vezes. No ano de 2004, por meio da Resolução 009/2004 do Conselho Municipal
de Educação de Guanambi-BA e homologado em 30 de julho de 2004, a instituição
passa a ser de responsabilidade do município e atende a demanda do ensino
fundamental.
Por meio desses dados percebemos que a unidade de ensino tem uma trajetória longeva
em prestação de serviços relevantes para a educação do município.
Neste aspecto, no decorrer das duas semanas de observações do estágio supervisionado
na educação infantil, tivemos a oportunidade de ver a preocupação das educadoras com
o conteúdo do módulo do 5º período a ser utilizado na sala de aula. Elas são
comprometidas e têm larga experiência com a educação.
Levando em consideração o período de observação na turma do 5º período da educação
infantil, elaboramos nossa proposta de intervenção focando o contexto da ludicidade nas
atividades planejadas e construídas, para proporcionar aos alunos dizer de si mesmo e
participar do processo de ensino e aprendizagem.
Neste trabalho, compartilhamos momentos experienciados no estágio supervisionado na
educação infantil, buscando refletir sobre o brincar na perspectiva teórica e prática, por
meio da intervenção de estágio com o desenvolvimento de atividades prazerosas para a
construção de saberes da criança pequena.
2 O brincar na perspectiva teórica em contraponto com a observação na escola
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Historicamente a criança tem sido invisibilizada e suas vozes pouco têm ecoado, isso se
agrava quando o infante é oriundo de camadas populares. Todavia, esse fato se dá em
detrimento aos documentos legais que reconhecem “as crianças como sujeitos sociais,
históricos, produtos e produtoras de cultura”. (MICARELLO, 2013, p. 23). Assim, na
escola, espaço por excelência de construção de saberes, ambiente em que esses sujeitos
de direitos deveriam ser ouvidos e suas necessidades de brincar atendidas, infelizmente
isso não acontece. Desta forma, o distanciamento entre as legislações que tratam dos
pequenos e sua efetivação em âmbito escolar, é enorme.
Posto isso, a priori partiremos da Lei 8.069/90 - Estatuto da criança e do adolescente
(ECA), especificamente do Art. 16, inciso IV, o qual estabelece, dentre outras coisas,
que a criança tem o direito de brincar. Além do brincar ser um direito legal, é uma
necessidade para a criança. Neste aspecto, “apesar dos debates acerca da relevância da
utilização de atividades prazerosas na Educação Infantil serem muito intensos nos
últimos anos, percebe-se que no ambiente escolar nem sempre elas se fazem presentes”.
(SILVA; COSTA; OLIVEIRA, 2013, p.167).
Estes autores refletem sobre as “atividades prazerosas” e não sobre o jogo infantil. Isso
nos faz questionar: Estamos brincando com as crianças da educação infantil? Para
Kishimoto (2011) o jogo infantil só pode receber essa denominação se o objetivo da
criança for apenas brincar, sem outros fins. Desta forma, podemos perceber que Silva,
Costa e Oliveira (2013) nos relatam acerca de atividades prazerosas, pois, o brincar na
educação infantil é algo que está cada vez mais distante dos pequenos.
Assim sendo, devemos garantir ao menos que estar na escola seja prazeroso, pois, pela
lente de Kishimoto (2011), o que podemos ver nas instituições de ensino são atividades
com fins pedagógicos que trazem como objetivo maior o conteúdo. O que é uma perda
para as relações sociais da criança, visto que é por meio do brincar que os pequenos
entendem as relações intrapessoais/interpessoais.
Não estamos dizendo que o conteúdo seja irrelevante. Em nossa formação docente,
estamos vivenciando a Pedagogia Libertadora de Freire e a Crítico-Social dos
Conteúdos que tem como grande representante no Brasil, Dermeval Saviani. Logo,
damos igual valor a apropriação dos saberes historicamente construídos e a pessoa
humana de forma integral.
O que nos preocupa é que “tal como as personalidades dos adultos se desenvolvem
através de suas experiências da vida, assim as das crianças evoluem por intermédio de
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suas próprias brincadeiras e das invenções de brincadeiras feitas por outras
crianças e por adultos”. (WINNICOTT, 1982, p.163). O brincar tem especial relevância
na formação da identidade e da personalidade da criança. Quando esse brincar não
acontece, temos um déficit relevante na vida da criança pequena.
É justamente por isso que “o professor precisa perceber o lúdico enquanto uma
manifestação que proporciona o desenvolvimento da criança em diversos aspectos”.
(SILVA; COSTA; OLIVEIRA, 2013, p.170). Ou seja, a valorização do lúdico, em
especial no ambiente escolar, tem o valor holístico na formação do aprendente para a
vida.
Assim, brincar é “comunicação e expressão, associando pensamento e ação; um ato
instintivo voluntário; uma atividade exploratória; ajuda às crianças no seu
desenvolvimento físico; mental, emocional e social; um meio de aprender a viver e não
um mero passatempo”. (MALUF, 2009, p.17). Nesta vertente, por meio das leituras
acerca da importância da ludicidade na escola e das observações como pibidiano e no
estágio na educação infantil, constatamos o posicionamento acertado da autora. Desta
forma, levamos em consideração na elaboração da proposta de intervenção, os
referenciais teóricos que relatam a importância da ludicidade no processo da construção
de conhecimentos do aprendente.
O jogo é importante nas atividades propostas às crianças da educação infantil. Mas, o
que é jogo? Kishimoto (2011) relata a dificuldade de conceituar o jogo, uma vez que é
uma denominação usada quando se está falando de uma variedade de fenômenos como
jogos políticos, amarelinha, xadrez, dentre outros. Tem-se ainda o agravante de que uma
atividade considerada jogo em uma sociedade, não o ser em outra. A compreensão do
conceito de jogo é essencial para o professor que exerce seu ofício na educação infantil,
pois, o jogo na sala de aula torna a atividade pedagógica mais próxima da linguagem do
aprendente.
Ao depender da época, da região geográfica, uma atividade pode ser considerada jogo
ou não. Vai depender do valor social que a comunidade atribui a atividade. Deve-se
considerar também que é uma atividade cultural e histórica, mas não genético. Assim
sendo, é transmitida pelos mais velhos aos mais jovens.
Um exemplo disso é uma criança da cidade em uma atividade de atirar flechas ser
considerado jogo e uma criança de comunidade indígena não ser (KISHIMOTO, 2011).
Isso se justifica devido aos usos sociais dessa atividade, no segundo caso, está na
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verdade fazendo um treinamento importante para a sobrevivência da comunidade,
pois, a caça é um meio de subsistência. Já no primeiro caso é uma atividade lúdica.
Assim, dependendo da região geográfica, da cultura e da época os jogos assumem
significações distintas.
Outro conceito muito importante ao professor de crianças pequenas é o conceito de
brinquedo. Para Kishimoto (2011), pode ser um objeto que substitui o objeto real e que
ao contrário do jogo não tem uma regra rígida. Está intimamente ligada à criança e pode
ser também uma história infantil.
Nesse sentido, durante a observação do estágio supervisionado na educação infantil,
houve intervalo na instituição. Todavia, como a escola não é adaptada para atender a
educação infantil, pois, para isso deveria ter brinquedos no pátio, simplesmente a
existência do intervalo, não garante o direito do brincar para a criança. A ausência de
um ambiente lúdico no pátio da escola e o recreio para toda escola em um mesmo
horário, dificulta que a criança pequena se motive a brincar e dessa forma, consiga
relacionar-se melhor com o mundo que a cerca.
Visto isso, a escola não tem uma organização física para atender a educação infantil,
mas, tanto professoras quanto alunos se adaptam como podem. No tocante a professora,
ela pediu brinquedos a amigos e conhecidos e montou uma caixa de brinquedos na sala
de aula. Já os alunos, ressignificam brincadeiras como o pega-pega.
Durante a observação pudemos olhar com mais atenção como as crianças brincam no
recreio e notamos, em meio a uma bagunça aparente, que na verdade tinha uma
organização para elas, percebemos que brincavam de pega-pega. Ao invés de ser apenas
uma criança como pega tinham duas e até três. Como tinham muitos alunos maiores que
eles, delimitaram uma parte do pátio em que os estagiários estavam sob uma sombra de
árvore e ficaram brincando.
Pelo fato de não terem brinquedos no pátio, brincavam com o próprio corpo. O que não
raro, levava a situações de briga, tanto entre os maiores quanto os maiores com os da
educação infantil.
Para tentar solucionar esse problema, optamos por levar uma corda e brincar de pular
cordas com eles. Deu certo em parte, visto que, não tínhamos cordas para todos. No
outro dia resolvemos brincar de roda. Funcionou melhor, pois o alcance era maior.
Tivemos o cuidado de não pedagogizar o intervalo, assim sendo, convidávamos para
brincar, se aceitassem ou não, estava bem.
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Ao pensar na corda que levávamos para o intervalo na escola, surge uma questão:
A corda era brinquedo ou brincadeira? Kishimoto (2011) nos ajudou a dar uma resposta,
ela afirma que brinquedo é o que estimula a imaginação e faz com que a criança entenda
sua relação consigo mesma e sua posição no contexto social em que vive e a brincadeira
é a ação que a criança desempenha com o brinquedo. Ou seja, brinquedo é o objeto
usado pela criança, assim, a corda era o brinquedo.
Pode-se dizer que brincadeira é o lúdico em ação. Neste aspecto, levando-se em
consideração a relevância do brinquedo e da brincadeira, podemos perceber que a escola
ao valorizar o conteúdo escolarizado em detrimento à necessidade da criança brincar,
pode estar fragilizando o processo cognitivo e social do aprendente pequeno. Entretanto,
por meio das observações constatamos que na sala de aula em que vivenciamos a
docência, a professora divide tempos de ludicidade e jogos com fins pedagógicos,
procurando garantir o conteúdo de forma prazerosa para a criança pequena.
3 Intervenção de estágio: um compromisso com atividades prazerosas para a
construção de saberes da criança pequena
Terminado o período de observação coparticipativa, elaboramos o projeto de
intervenção do estágio, buscando oferecer às crianças atividades que proporcionassem
momentos prazerosos no processo de ensino e aprendizado.
No período de regência, 9 a 23 de maio de 2016, procuramos respeitar a rotina da sala
de aula, a organização que as professoras já faziam quanto aos tempos e espaços.
Assim, toda aula iniciava com a recepção das crianças no pátio da escola. Após chegar
praticamente todas as crianças, deslocávamos para a sala de aula. Em seguida,
cantávamos algumas músicas como: “Boa tarde coleguinha como vai?”
Na sequência, prosseguia-se com a oração. Nesta parte da rotina, por conhecermos a
diversidade cultural e religiosa da nossa região, tivemos o cuidado de não fazermos a
oração do Pai Nosso ou invocar qualquer símbolo que se refere a uma única religião.
Posto que, em se tratando do Pai Nosso, muitos educadores supõem ser esta uma oração
universal, todavia, ela assume essa condição, apenas, dentre as religiões de tradição
cristã. Assim sendo, a oração foi feita de maneira espontânea.
No sétimo dia de regência, uma criança sentada na primeira mesa, questiona: “Por que
você não reza o Pai Nosso?”. Essa pergunta demonstra o grau de criticidade da criança
pequena. Ela mostrou que pensa e constrói hipóteses acerca de um problema. Isso é
relevante, pois nos indica que devemos, em nossas práticas pedagógicas, criar condições
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para que essa criticidade e raciocínio estejam em constante desenvolvimento.
A pergunta do aprendente foi respondida prontamente: “Na sala de aula temos crianças
católicas, protestantes e candomblecistas, a oração do Pai Nosso, representa apenas o
catolicismo, o protestantismo e outras religiões cristãs, o candomblé, por exemplo, não
faz essa oração”. A aluna se deu por satisfeita e não levantou essa questão outra vez.
Durante a chamadinha, buscávamos proporcionar aos aprendentes possibilidades de
reconhecer o próprio nome e o nome dos colegas. Usamos a chamadinha por meio da
amarelinha que procedia da seguinte forma: montamos uma amarelinha de
emborrachado e no céu da amarelinha estavam as fichas com os nomes das crianças.
Este jogo acontecia da seguinte maneira: o aluno pula a amarelinha, chega ao céu,
reconhece e pega a ficha com o nome, volta pulando e a coloca dentro do bolso que está
o primeiro nome em um painel confeccionado de feltro que fica dependurado no quadro.
Em cada nome pego, trabalhamos: letra inicial, letra final, quantidade de consoantes e
vogais. Nesses momentos questionávamos: Tem outro aluno que inicia com a mesma
letra de seu nome? Qual o nome que tem mais letras? Quantas vogais têm seu nome? Há
mais vogais ou consoantes no seu nome? Por meio dessa atividade, ao término do
estágio, as crianças identificavam o próprio nome e o dos colegas.
Para dinamizar a chamadinha usamos mais dois tipos de atividades: A música “O
Barquinho” e a música: Esse nome de quem é? Em ambos os instrumentos tínhamos os
objetivos da chamadinha da amarelinha com o acréscimo da intencionalidade de dar voz
às crianças.
Com esse pensamento, na música do barquinho, fazíamos uma roda e os nomes eram
postos no meio. Cantávamos a música (Quadro 1), a seguir:
Quadro 1 – Dinamização da música: O barquinho no momento da chamada
Autor desconhecido.
Fonte: Acervo do projeto de intervenção
Enquanto cantávamos, um barquinho de papel ia girando na roda, o aprendente que seu
nome era cantado na música deveria pegar o nome e tinha o direito de falar tudo o que
O BARQUINHO VAI LEVANDO
O SEU NOME COM CARINHO
A (O)_____________ TAMBÉM VAI
NAVEGAR NESTE BARQUINHO.
(Ritmo: Ciranda, cirandinha)
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desejasse. Na outra música “Esse nome de quem é?” (Quadro 2), a organização e
o objetivo eram os mesmos.
Quadro 2 – Dinamização da música: Esse nome de quem é? no momento da
chamada
Fonte: Acervo do projeto de intervenção
Por meio dessa chamadinha e a do barquinho, damos voz às crianças e com isso
conseguimos conquistar sua confiança e diminuíram os eventos de violência.
Nesse caminho, com a intenção de valorizar a criança e estimular a responsabilidade
delas, escolhíamos todos os dias três ajudantes. Eles recebiam um colete e todos os
aplaudiam. Tinham o compromisso de colaborar em todas as atividades que
solicitássemos. Eles perguntavam todos os dias quem seria o ajudante, demonstrando
que apreciaram a vivência com a responsabilidade colaborativa. Essa atividade
pedagógica enalteceu os alunos. Eles se sentiam valorizados, pois, ajudavam a entregar
e recolher livros, atividades escritas, desenhos, lápis e outros materiais. Tomamos o
cuidado de não repetir o ajudante do dia, com a intenção de tratar todos como iguais em
suas diferenças.
Para dinamizar a aula, pedimos que cada dupla pegasse um cartão com questões
problematizadoras com imagens a respeito do tema “Minha cidade”: Qual o nome da
minha cidade? O que você sabe do campo? Na minha cidade tem feira livre? Na minha
cidade tem supermercado? Na minha cidade tem igreja? Na minha cidade tem rádio? Na
minha cidade tem escola? Na minha cidade tem hospital? Na minha cidade tem padaria?
Na minha cidade tem praça? Na minha cidade tem prefeitura? Os cartões foram
inspirados nas fichas com temas geradores de Freire.
As duplas foram para suas cadeiras e fizeram uma leitura de imagens dos cartões. Feita
essa leitura, problematizamos, geramos conflitos e depois lemos juntos as perguntas e
discutimos sobre cada uma delas. Desta forma, eles se sentiram instigados a expor de
forma oral suas ideias sobre o assunto.
Esse nome de quem é?... ______
Eu gosto muito... de ter amigos
Agora você me diz:
Esse nome de quem é? ______
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Assim, após vencermos essa etapa, entregamos para cada dupla revistas, tesouras,
colas e um papel metro para colarem imagens que representassem a cidade deles. Todo
o conteúdo trabalhado, eles expuseram no cartaz produzido na ótica deles. Com essa
atividade fizemos uma avaliação do assunto dado, ainda que o aluno não soubesse disso,
pois, a avaliação é processual. Neste sentido, aprenderam a trabalhar em dupla,
questionaram entre eles sobre qual imagem escolher e trabalharam coordenação motora
fina. Garantimos ainda o conteúdo de forma prazerosa.
Outra relevante atividade nesse estágio foi a contação de histórias por meio do teatro de
fantoches, construído com canos de PVC e tecido. Tem aproximadamente a altura de
1,65 cm, 1,50 cm de largura e 1,30 cm de comprimento. A história contada foi “As
aventuras do curupira em Guanambi”, de autoria de um dos estagiários.
Com essa história trabalhamos meio ambiente. Ao invés de montarmos o teatrinho na
sala de aulas, fizemos em uma sala que só tem aulas pela manhã e após a recepção das
crianças, levamos para ver a peça de teatro. Na formatação, a apresentação era composta
por três personagens, o curupira e dois caçadores. Um dos estagiários ficou à frente do
teatrinho e dialogou com os personagens e as crianças. Com isso conseguimos
dinamismo na contação da história e as crianças se viam mais próximas dos
personagens.
Terminada a apresentação do teatro, voltamos à sala de aula e levantamos os seguintes
questionamentos: Qual o título da história? Qual a parte da história você mais gostou?
O Curupira era aventureiro? Qual a função do Curupira na história? Devemos proteger a
natureza? Como fazer isso?
Após esses questionamentos, foi feito o registro pictográfico da história e do que
entenderam da discussão. As produções foram expostas por meio de um cartaz que eles
fizeram com papel metro. Na sequência aconteceu o bingo da floresta, em que cada
criança recebeu uma cartela com imagens de personagens da história e animais da
floresta. As peças eram sorteadas e todos ganharam, o que era nossa intenção. Após o
bingo, trabalhamos os sons dos animais da floresta.
Para mostrarmos aos alunos que ler é divertido, contamos a história “Um amor de
confusão de Dulce Rangel”. O livro tem texturas, como penas de galinha e casca de
ovos. Fizemos uma roda com as crianças e contamos a história com o livro, eles
manusearam o livro e tiveram a oportunidade de perceber as diferentes texturas. Foi
uma atividade que gostaram muito. Após a leitura, levantamos questionamentos a
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respeito da história e iniciamos uma atividade de matemática e de coordenação
motora fina, com foco na história.
Para fazer a atividade entregamos aos alunos uma folha com a imagem de uma galinha
pontilhada e um ninho vazio. Eles cobriram os pontilhados, pintaram e colaram no
ninho os ovos que recortaram da folha. Fizeram a contagem e anotaram o número
referente à quantidade de ovos. Essa foi uma atividade muito rica no que se refere ao
aprendizado global.
Com o intuito de motivar a curiosidade e prazer das crianças referentes à leitura,
contamos algumas histórias por deleite, dentre elas: “A revolta dos números”, da autora
Odette de Barros Mott.
Outra atividade que propomos foi o jogo do boliche: dividimos a turma em duas equipes
e um representante de cada equipe, por vez, arremessou a bola nos pinos por duas vezes.
Cada peça do boliche que caia era representada por canudinhos e o resultado foi anotado
no quadro por meio do grafema numérico. Fomentamos as discussões por meio de
questionamentos como: Que número é esse? Esse número representa quantos canudos?
Quantos pinos não caíram? Quantos caíram? Com esse jogo, as crianças podem
compreender a relação de quantidade com o símbolo escrito do número.
Fizeram também uma atividade relacionada ao jogo, em que procuraram, encontraram,
pintaram e contaram os pinos que estavam em uma imagem de parque de praça.
No momento do estágio de regência, passeamos com as crianças pela cidade em uma
espécie de trenzinho. Um carro que puxa um reboque com cadeiras, grades de proteção
e músicas infantis. As crianças gostaram muito e os professores e colaboradores da
escola também. O momento foi rico em vivência coletiva e ludicidade, o brincar pelo
brincar.
A chamadinha por meio do circuito foi uma experiência maravilhosa, por ser uma
atividade importante para estimular o movimento dos alunos. Assim, um dia antes da
aula, organizamos e buscamos os materiais necessários.
A professora do outro 5º período solicitou que a turma dela participasse da atividade.
Prontamente concordamos. O circuito foi organizado da seguinte maneira: O primeiro
obstáculo foram dois bambolês de meia lua, em que o aprendente deveria passar por
baixo. O segundo são seis bambolês postos no chão de forma que a criança passe
pisando em cada um.
O terceiro, uma corda colocada no chão em formato de curvas, em que o aluno deve
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caminhar sobre ela, evitando pisar no chão. O quarto, cinco cones postos em
linha, com distância de dois passos entre um e outro. O aluno deve passar entre eles
pulando em um pé só. O quinto, quatro colchonetes de academia, nos quais o
aprendente deve dar uma cambalhota. O sexto um triângulo de madeira de
aproximadamente 60 cm de base por 70 cm altura, o aluno deve passar por dentro. O
sétimo é um obstáculo de 15 cm de altura que deve ser pulado. O oitavo é um quadrado
de aproximadamente 70 cm por 70 cm, que se deve passar por dentro. O nono é um
obstáculo de aproximadamente 20 cm de altura que deve ser pulado. O décimo é um
círculo de aproximadamente 70 cm de circunferência, que se deve passar por dentro.
Por fim, a amarelinha que deve ser pulada e no céu pegar a ficha com o nome e colocar
no fichário amarrado no alambrado da quadra de esporte.
Essa não foi a primeira vez que os autores desse relato vivenciaram a experiência de ter
duas turmas sob sua responsabilidade. Em um momento em que houve a ausência
justificada, de uma docente do 4º período, estes vieram para a nossa turma. Foram
experiências de valor inestimável, posto que, a quantidade exagerada de alunos em uma
classe é um desafio para o educador.
As músicas estiveram constantemente presentes na prática docentes dos autores deste
trabalho. Talvez contradizendo estudiosos da área. A música “A Coruja” (Quadro 3),
que usamos em momentos de barulhos excessivos, funcionou magnificamente. Ao
cantarmos todos acompanhavam e o barulho cessava, pois, íamos diminuindo a voz e
eles se aquietavam. Imediatamente mudávamos a abordagem do trabalho.
Quadro 3 – Dinamização da música: A Coruja
Fonte: Acervo do projeto de intervenção
Quanto à avaliação, fizemos de forma processual e contínua. Durante toda a aula
estávamos analisando como as atividades estavam contribuindo para que os aprendentes
construíssem seus saberes. Nesta vertente, no final de toda aula, inspirados na
A coruja...a coruja,
faz chi, faz chi.
Todos em silêncio
Como a coruja
Que faz chi, que faz chi.
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Pedagogia Freinet, usamos a correspondência entre escolas para compreender
qual caminho trilhar para mediar a aula e auxiliar os discentes na produção de seus
próprios saberes. Sentávamos-nos em roda e questionávamos: Alguém sabe para que
serve uma carta? O que aprendemos hoje? O que gostou da aula? O que não gostou? A
merenda estava gostosa?
Cada pergunta dava espaço para muitas respostas. Desta forma, a carta era produzida
coletivamente e um dos estagiários assumia a condição de escriba. A carta era trocada
com a escola parceira, que tinha estagiárias e era lida no dia seguinte. As cartas eram
portadoras de selos e endereços. Essa rotina trabalhou as questões de respeito à fala do
outro e discussão de como resolver problemas e conflitos.
4 Considerações finais
Em suma, as aprendizagens produzidas nos componentes curriculares, no decorrer do
semestre, nos instrumentalizaram para o desenvolvimento de um estágio com
responsabilidade e comprometimento com a infância e suas especificidades.
Tivemos no percurso formativo um rico referencial teórico que valoriza a importância
do brincar na educação infantil e uma legislação que garante a presença do brincar.
Todavia, esse instrumento pelo qual a criança concebe o mundo e resolve seus conflitos
só terá sua efetivação, com professores comprometidos com o conteúdo e a ludicidade,
como os que tivemos a satisfação de aprender nesse estágio. Neste aspecto, essa etapa
do estágio contribuiu de forma significante para nossa formação docente e
aprendizagem da docência.
Referências
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Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social
v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
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