MARCOS MATOS DA SILVA
A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE
NA CONSCIENTIZAÇÃO CORPORAL DE
ADOLESCENTES
Rio de Janeiro
2009
UNIVERIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE
NA CONSCIENTIZAÇÃO CORPORAL
DE ADOLESCENTES
Monografia apresentada à banca examinadora da Universidade Candido Mendes, como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-graduação “Lato Sensu” em Psicomotricidade.
Professora Orientadora: Fabiane Muniz
Rio de Janeiro 2009
RESUMO
Este estudo expõe como primeiro tópico o conceito de
psicomotricidade, como sendo o relacionar-se através da
ação, como um meio de tomada de consciência que une o
ser corpo, o ser mente, o ser espírito, o ser natureza e o
ser sociedade. Em seguida fala da importância da
conscientização corporal para o adolescente, inclusive na
perspectiva da Educação Física através da visão de vários
autores. Logo após, tratamos o adolescente com um ser
inacabado que precisa relacionar-se com o meio externo
para se desenvolver. Como tópico final, abordamos sobre a
influência da Educação Física através da Educação
Psicomotora na formação do Adolescente em idade escolar
tratando sobre as várias possibilidades que pode ser
trabalhado o esporte.
METODOLOGIA
Foi utilizada para a execução deste trabalho, uma
pesquisa de fundo bibliográfico, de onde foram coletados e
filtrados dados relevantes do tema tratado. Os fins da
pesquisa foram investigados e descritos, com o propósito
de demonstrar a Importância da Psicomotricidade na
Conscientização Corporal do Adolescente.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
A Psicomotricidade
CAPÍTULO II
A Importância da Conscientização Corporal
CAPÍTULO III
Adolescente, um Ser em Construção
CAPÍTULO IV
A Educação Física através da Educação Psicomotora na
formação do Adolescente em idade escolar
Conclusão
Bibliografia
Índice
INTRODUÇÃO
Esse estudo vai procurar através da visão de vários autores mostrar que
a psicomotricidade é de total relevância no período da adolescência e que
somente devido a ela, esse período de construção do indivíduo será oportuno
para se trabalhar a conscientização corporal para que haja um
desenvolvimento com qualidade e para toda a vida.
Tendo em vista a diferença de desenvolvimento Psicomotor que é
apresentada nos dias de hoje pelos adolescentes,faz-se necessário um estudo
mais específico sobre esse assunto. Essa fase é uma das mais importantes
para qualquer indivíduo porque nela é que deverão ser consolidadas muitas
experiências já vividas.
Compreendendo o ser humano como um ser inacabado, sabemos que a
cada momento novas informações são recebidas e processadas, mas alguns
possuem certa dificuldade em compreender “o novo” e isso pode ser por causa
do ambiente onde está se desenvolvendo, pela pouca liberdade dada pelos
responsáveis para que o indivíduo vivencie novas experiências, pelo bloqueio
que tem em se relacionar com outras pessoas ou por outras questões que
serão abordados nesse texto. Esse último aspecto é muito importante para o
desenvolvimento e que deve ser muito bem trabalhado, pois se ele não se
relaciona, não há nenhuma “troca” de informações, contato com o outro e a
afetividade fica comprometida a ponto daquele indivíduo se retrair e ter sérias
complicações na sua vida, mais específico na coordenação motora,
lateralidade, equilíbrio e outras, ou seja, ele perde a oportunidade de vivenciar
as inúmeras possibilidades que seu corpo tem de se movimentar, uma vez que
não o conhece e sendo assim até mesmo as atividades consideradas mais
simples pela maioria das pessoas, serão complicadas para ele.
CAPÍTULO I
A PSICOMOTRICIDADE
1.1 O que é Psicomotricidade?
A psicomotricidade, nos seus primórdios, compreendia o corpo
nos seus aspectos neurofisiológicos, anatômicos e locomotores, coordenando-
se e sincronizando-se no espaço e no tempo, para emitir e receber
significados. Hoje, a psicomotricidade é o relacionar-se através da ação, como
um meio de tomada de consciência que une o ser corpo, o ser mente, o ser
espírito, o ser natureza e o ser sociedade. A psicomotricidade está associada à
afetividade e à personalidade, porque o indivíduo utiliza seu corpo para
demonstrar o que sente, e uma pessoa com problemas motores passa a
apresentar problemas de expressão. A psicomotricidade conquistou, assim,
uma expressão significativa, já que se traduz em solidariedade profunda e
original entre o pensamento e a atividade motora. Vítor da Fonseca (1988)
comenta que a psicomotricidade é atualmente concebida como a integração
superior da motricidade, produto de uma relação inteligível entre a criança e o
meio. É um instrumento privilegiado através do qual a consciência se forma e
se materializa.
1.1.a Conceitos de Psicomotricidade
Diversos autores apresentam conceitos relacionados à
psicomotricidade. Para Pierre Vayer (1986), a educação psicomotora é uma
ação pedagógica e psicológica que utiliza os meios da educação física com o
fim de normalizar ou melhorar o comportamento da criança.
Segundo Jean Claude Coste (1978), é a ciência encruzilhada, onde se
cruzam e se encontram múltiplos pontos de vista biológicos, psicológicos,
psicanalísticos, sociológicos e lingüísticos.
Para Jean de Ajuriaguerra (1970), é a ciência do pensamento através do
corpo preciso, econômico e harmonioso.
E Sidirley de Jesus Barreto (2000) afirma que é a integração do
indivíduo, utilizando para isso, o movimento e levando em consideração os
aspectos relacionais ou afetivos, cognitivos e motrizes. É a educação pelo
movimento consciente, visando melhorar a eficiência e diminuir o gasto
energético.
1.1.b Educação do movimento
Mesmo em meio a tantos conceitos, pode-se dizer que existe uma
coerência na ciência. No momento em que a psicomotricidade educa o
movimento, ela ao mesmo tempo coloca em jogo as funções da inteligência. A
partir dessa posição, observa-se a relação profunda das funções motoras
cognitivas e que, também pela afetividade, encaminha o movimento.
Fonseca (1988) comenta que “O movimento humano é construído em
função de um objetivo. A partir de uma intenção como expressividade íntima, o
movimento transforma-se em comportamento significante”. O movimento é a
parte mais ampla e significativa do comportamento do ser humano. É obtido
através de três fatores básicos: os músculos, a emoção e os nervos, formados
por um sistema de sinalizações que lhes permite atuar de forma coordenada. O
cérebro e a medula espinhal enviam aos músculos pelos seus mecanismos
cerebrais ordens para o controle da contínua atividade de movimento com
específica finalidade e dentro das condições ambientais. Essas ordens sofrem
as influências do meio e do estado emocional do ser humano (BARROS;
NEDIALCOVA, 1999).
A unidade básica do movimento, que abrange a capacidade de equilíbrio
e assegura as posições estáticas, são as estruturas psicomotoras.
As estruturas psicomotoras definidas como básicas são: locomoção,
manipulação e tônus corporal, que interagem com a organização espaço-
temporal, as coordenações finas e amplas, coordenação óculo-segmentar, o
equilíbrio, a lateralidade, o ritmo e o relaxamento. Elas são traduzidas pelos
esquemas posturais e de movimentos como: andar, correr, saltar, lançar, rolar,
rastejar, engatinhar, trepar e outras consideradas superiores, como estender,
elevar, abaixar, flexionar, rolar, oscilar, suspender, inclinar, e outros
movimentos que se relacionam com os movimentos da cabeça, pescoço, mão
e pé. Esses movimentos são conhecidos na educação física como movimentos
naturais e espontâneos da criança. Baseiam-se nos diversos estágios do
desenvolvimento psicomotor, assumindo características qualitativas e
quantitativas diversas (BARROS, 1972).
O movimento refere-se, geralmente, ao deslocamento do corpo como
um todo ou dos membros, produzindo como uma conseqüência do padrão
espacial e temporal da contração muscular. Movimento é o deslocamento de
qualquer objeto e na psicomotricidade o importante não é o movimento do
corpo como o de qualquer outro objeto, mas a ação corporal em si, a unidade
biopsicomotora em ação.
Os movimentos podem ser voluntários ou involuntários. Movimentos
involuntários são atos reflexos, comandados pela substância cinzenta da
medula, antes de os impulsos nervosos chegarem ao cérebro. Os movimentos
involuntários são os elementares inatos e adquiridos. Os inatos são aqueles
com os quais nascemos e são representados pelos reflexos, que são respostas
caracterizadas pela invariabilidade qualitativa de sua produção e execução.
Movimentos e expressões involuntárias, muitas vezes, estão presentes
em determinadas ações sem que o executante os perceba. Esses movimentos
são desencadeados e manifestados pelo corpo no momento em que realiza
determinados atos voluntários.
Os automatismos adquiridos são os reflexos condicionados, que
ocorrem devido à aprendizagem e que formam os hábitos, os quais, quando
bons, poupam tempo e esforço, porém, se exagerados, eliminam a criatividade.
Os hábitos podem ser passivos (adaptação biológica ao seu
ecossistema) ou ativos (comer, andar, tocar instrumentos). Os reflexos
condicionados são produzidos desde as primeiras semanas de vida. Esses
reflexos condicionados geralmente começam como atividade voluntária e,
depois de aprendidos, são mecanizados.
Para a execução do ato voluntário exige-se certo grau de consciência e
de reflexão sobre finalidades, entretanto, a maior parte dos atos executados na
vida diária é relativamente automática. Para a atividade voluntária cotidiana, faz
parte uma série de reflexos automáticos e instintivos os quais, na prática, não
podem ser bem diferenciados. A freqüente repetição de atitudes voluntárias
acaba por transformar-se em atos automáticos.
1.2 Psicomotricidade e Afetividade
Associada à psicomotricidade, está a afetividade. A criança utiliza
seu corpo para demonstrar o que sente. Desde o nascimento, a criança passa
por diferentes fases nas quais adquire conhecimentos e passa por diversas
experiências até então chegar a sua vida adulta. As primeiras reações afetivas
da criança envolvem a satisfação de suas necessidades e o equilíbrio
fisiológico.
Segundo Lapierre e Aucouturier (1984), “Durante o seu
desenvolvimento, aparecem os fantasmas corporais que limitam suas
expressões devido à falta de contato corporal dos pais com os filhos. A
afetividade é indispensável para o desenvolvimento da criança e ao equilíbrio
psicossomático”. Como esse contato corporal tende a diminuir com o passar do
tempo, cria-se um grande problema para o desenvolvimento do indivíduo.
É recomendado aos pais que mantenham o contato corporal através do
toque durante toda vida (CHICON, 1999), pois isso certamente levará a uma
evolução psicomotora e cognitiva da criança. É necessário que toda criança
passe por todas as etapas em seu desenvolvimento.
Henri Wallon (1971) diz que o movimento humano surge das emoções,
que a criança é pura emoção durante uma longa fase de sua vida.
A afetividade compreende o estado de ânimo ou humor, os sentimentos,
as emoções, as paixões, e reflete sempre a capacidade de experimentar
sentimentos e emoções. É ela quem determina a atitude geral da pessoa diante
de qualquer experiência vivencial, perceber os fatos de maneira agradável ou
sofrível, confere uma disposição indiferente ou entusiasmada e determina
sentimentos que oscilam entre dois pólos, a depressão e a euforia. O modo de
relação do indivíduo com a vida se dá através da tonalidade e de ânimo em
que a pessoa perceberá o mundo e a realidade. Direta ou indiretamente, a
afetividade exerce profunda influência sobre o pensamento e sobre toda a
conduta do indivíduo.
CAPÍTULO II
A IMPORTÂNCIA DA CONSCIENTIZAÇÃO
CORPORAL
Neste capítulo abordaremos sobre a importância de se conhecer o
próprio corpo, para tal deve-se ter uma noção da “imagem corporal” e do
“esquema corporal”, passando a ser bastante relevante a prática de atividade
física, pois juntos sendo bem trabalhados trarão grandes benefícios para o
desenvolvimento do indivíduo por toda a sua vida fazendo parte desse
processo.
2.1 A evolução das idéias sobre a noção de “Esquema
Corporal”:
O corpo, matéria corruptível, foi muitas vezes posto em segundo plano
nas preocupações de estudo dos fisiologistas e dos psicólogos. Ele interessou
apenas nos aspectos descritivos, independentemente da designação
antropológica do homem ser fundamentalmente corpo. Desde Aristóteles,
passando pelo cristianismo, o corpo é considerado objeto do homem e justifica-
o na sua existência. Só depois de Descartes, nos habituamos a separar um
corpo assimilado a um objeto, (porque ele constitui um fragmento do espaço
visível e mensurável) de um EU, ”sujeito conhecedor”, reduzido ao pensamento
consciente.
Alguns autores começaram por relacionar o conhecimento do corpo em
função das experiências passadas, experiências essas tanto visuais, táteis e
quinestésicas, como vestibulares, que se agrupam em síntese num modelo
plástico cuja sede se situa no córtex parietal.
A noção de esquema corporal traduz um processo psicofisiológico que
tem origem nos dados sensoriais, que são enviados e fornecidos pelas
estruturas motoras, resultante do movimento realizado pelo sujeito.
Como defende Schilder, a noção não se encontra unicamente
dependente da atividade motora, também se encontra relacionada com os
aspectos emocionais e com as necessidades biológicas.
A corporalidade encarada na sua totalidade aparece imediatamente,
como a abertura ao mundo. O corpo é o eixo de percepção existencial, é o
agente do sujeito na percepção do mundo que o envolve. “Dois seres humanos
em diálogo, não são mais do que dois corpos em comunicação. O corpo
escolhe a palavra, existe como expressão verbal para o outro e pelo outro.”
(Sartre)
2.2 Gênese da noção do Corpo:
A elaboração da noção do corpo estrutura-se nas suas linhas gerais ao
longo da infância, e, projeta-se numa permanente evolução dialética
inacabada, durante toda a existência do indivíduo.
A importância do “outro” no desenvolvimento da noção do corpo é
fundamental. Preyer e Baldwin (1887) são concordantes quando defendem
que a consciência de si, se constrói pouco a pouco, e elabora-se
posteriormente à consciência do outro. O “tu” é primeiro que o “eu”. A ação do
indivíduo é antes a ação do outro, ambas são vividas como atitudes inerentes a
uma mesma totalidade.
A gênese da noção do corpo reflete uma multiplicidade de aspectos que
lhe dão uma complexidade, cujo esclarecimento não pode ser atingido por
aproximações reducionistas e formalizadas.
Desde os fenômenos emocionais, em que o corpo é simultaneamente
receptor e emissor, até a criação dos afetos, após o rompimento do bloqueio
espacial inicial e da imposição bio-rítmica, o corpo nunca perde a sua
dimensão expressiva e fundamentalmente criativa e personalística.
A consciência do corpo sofre evolução paralela à evolução da aquisição
do espaço, ambas se encontram abertas uma na outra, conceber uma sem a
outra, é cair numa justaposição superficial. Não há espaço sem corpo, assim
como não há corpo que não seja espaço e que não ocupe um espaço. O corpo
é o meio pelo qual o corpo pode mover-se. O corpo (aqui) é ponto em torno do
qual se organiza o espaço exterior (ali).
2.3 A Consciência Corporal na Perspectiva da Educação
Física:
A Educação Física influenciada pelo paradigma cartesiano, que domina
tanto a ciência como a Educação nestes últimos séculos, teve e tem, em sua
caminhada, especialmente nas duas últimas décadas, movimentos e
momentos que caracterizam sua evolução.
Surgiram nesse período, renomados teóricos, divulgando seus trabalhos,
que, com certeza trouxeram contribuições para esta área.
Entre esses estudiosos podemos citar, à partir da década de 1970, a
contribuição do francês Jean Le Boulch, com a teoria da Psicocinética; na
década de 1980, do português Manuel Sérgio, com a teoria da Motricidade
Humana, entre outros. No Brasil, e de forma mais densa, a partir dos anos
1990, e com ênfase maior na Educação Física Escolar, surgem obras que terão
grande valor para o desenvolvimento da área.
Embora alguns avanços tenham sido conquistados na Educação Física,
muitas pesquisas realizadas no cotidiano escolar ainda revelam uma
predominância de uma Educação Física Tradicional na qual as práticas
pedagógicas se reduzem exclusivamente ao ensino de técnicas e regras
desportivas predeterminadas através de metodologias diretivas. Nesta
perspectiva, o aluno é tratado como um mero repetidor ( autômato, robô) de
habilidades, consideradas importantes ou não pelo professor, que neste caso
tem total autoridade no processo de ensino-aprendizagem.Com certeza esta
Educação Física não serve mais.
A maioria dos professores de Educação Física percebe a necessidade
de encarar a Educação Física numa perspectiva mais abrangente,
especialmente no que diz respeito ao tratamento dado ao aluno, que não pode
ser considerado como sujeito-objeto, mas sim, um sujeito-próprio, que possui
uma identidade, capacidades e limitações e, principalmente, dotado de
intencionalidade. Um ser capaz de sentir, pensar e agir, nas palavras de
Gonçalves (1994)
Moreira (1995b: 101) propõe para a Educação Física uma visão de
valores, em que: “O corpo-objeto da Educação Física ceda lugar para o corpo-
sujeito da Educação Motora; o ato mecânico no trabalho corporal da Educação
Física ceda lugar para o ato da corporeidade consciente da Educação Motora:
a busca frenética do rendimento da Educação Física ceda lugar para a prática
prazerosa e lúdica da Educação Motora; a participação elitista que reduz o
número de envolvidos nas atividades esportivas da Educação Física ceda lugar
a um esporte participativo com grande número de seres humanos festejando e
se comunicando na Educação Motora; o ritmo padronizado e uníssono da
prática de atividades físicas na Educação Física ceda lugar ao respeito ao ritmo
próprio executado pelos participantes da Educação Motora.”
E é exatamente pensando neste aluno (sujeito-próprio) que devemos
reformular diversas questões do processo ensino-aprendizagem na Educação
Física. Uma das alternativas propostas, ou melhor, investigadas neste trabalho,
é tentar dar maior autonomia aos alunos nas práticas motoras. Este processo
estará sendo favorecido pela tomada de consciência. Consciência esta que é
corporal,portanto, propõe trabalhar nas aulas de Educação Física a consciência
corporal.
Certamente este é um tema bastante amplo e que “invade” diversas
áreas e diferentes perspectivas. Por isso nos delimitaremos aos seguintes
objetivos:
a) Apresentar a abordagem Filosófica da Consciência Corporal;
b) Relacionar Consciência Corporal com a Educação Física.
2.4 Abordagem Filosófica da Consciência Corporal
A Educação Física, em busca de uma identificação como área de
conhecimento, esteve e ainda está muito vinculada à área biológica. A
dimensão do movimento humano, ou do corpo humano, dentro de uma visão
unitária de homem é bem maior. Portanto, ao tratar do tema Consciência
Corporal, houve a necessidade de visualizar também esta abordagem.
Alguns autores, como Moreira, Freire, Medina, Gonçalves e outros
exprimem em suas obras a necessidade de essa área, que é do corpo em
movimento, incorporar e buscar subsídios além das áreas biológicas
(anatomia, fisiologia, cinesiologia e, mais recentemente, na psicologia), e
acreditam que também a filosofia possa trazer contribuições para a Educação
Física, especialmente no que diz respeito à concepção de corpo.
Conforme Moreira (1995:22), ”olhar sensivelmente os corpos que
passam pela aula de Educação Motora é ir buscar não mais a disciplina, mas a
consciência corporal, mesmo porque o ato de conhecer não é mental; ele é,
antes de tudo, corpóreo.”.
Para Oliver (1995), todo conhecimento inclusive o de si mesmo passa
pelo corpo. Merleau Ponty, apud Oliver (1995:72), escreve que: “ O homem é
um ser encarnado: é consciente de ter um corpo e todos os seus atos de
autoconsciência são filtrados através do corpo”. Este mesmo autor, ao abordar
a relação consciência e corpo, afirma: “... toda consciência é consciência
perceptiva, mesmo a consciência de nós mesmos” (p.73)
Castellani, apud Oliver (1995:22), conceitua consciência corporal como:
“sua compreensão a respeito dos signos tatuados em seu corpo pelos
aspectos socioculturais de momentos históricos determinados. É fazê-lo
sabedor de que seu corpo sempre estará expressando o discurso hegemônico
de uma época e que a compreensão do significado desse’discurso’, bem como
de seus determinantes, é condição para que ele possa vir a participar do
processo de construção de seu tempo e, por conseguinte, da elaboração dos
signos a serem gravados em seu corpo”.
Olivier (1995) entende que a consciência do corpo, em seus
determinantes psicológicos, sócio-históricos, biológicos os quais não são
distintos e nem distinguíveis na práxis humana, é condição fundamental à
liberdade.
A visão que Régis de Moraes (1992) nos passa sobre consciência
corporal é um tanto quanto diferente daquela que nós já nos reportamos. Este
autor, primeiro diferencia o corpo delineado em laboratórios em suas estruturas
anatômicas e fisiológicas (necessário para estudos objetivos) dos corpos que
somos e vivenciamos no complexo horizonte da existencialização. Após,
demonstra as duas facetas do corpo, ou seja, corpo-problema (desafio na
condição de sujeito cognoscente, possível de equacionamento, e eventual
solução); e corpo-mistério (envolve, carrega o mistério da vida que escapa aos
argumentos médicos). Ambos abrangem o corpo do homem. A seguir, o autor
demonstra o dualismo que distingue o corpo da consciência, o organismo físico
da alma. Já nesta visão, ele associa a consciência à inteligência que
obviamente não se resume no córtex cerebral.
Discordando da posição dualista, embora ciente de que nossa
linguagem não possui argumentos que expliquem a unidade do homem, o autor
coloca que somos (e não temos) um corpo. Somos um corpo como forma de
presença mais apropriadamente vinculada ao nosso comportamento, torna-se
inverídica ou, no mínimo inacessível no vivente a dicotomia consciência e
corpo.
“Veremos que o corpo é consciente e, por isso, devemos falar em
corpo/consciência; afinal, já não é lícito reduzirmos a noção de consciência à
de raciocínio, uma vez que o corpo apresenta claramente uma consciência e
uma sabedoria que não precisam de raciocínios. Inexiste qualquer atitude
humana que seja puramente interior ou da subjetividade puramente pensante;
toda atitude do ser humano é atitude corporal. Podemos dizer que, mediante
nossas reações neuromusculares, é que nos damos conta (pensamento) de
nossos conteúdos pessoais até aqui chamados “interioridade”. Depressão,
angústia, medo, como também euforia, otimismo e tranqüilidade, são todos
esses sentimentos detonados na estrutura corporal e então captados por nossa
interioridade.” (Régis de Moraes, 1992:79)
Para fazer a relação de consciência corporal do ponto de vista filosófico
com a Educação Física, retomaremos as palavras de Olivier (1995) “A
consciência do corpo, em seus determinantes psicológicos, sociológicos, sócio-
históricos, biológicos os quais não são distintos e nem distinguíveis na práxis
humana é condição fundamental à liberdade”.
Podemos através do assunto abordado, fazer algumas reflexões muito
importantes:
Do ponto de vista da Educação Psicomotora, os conceitos de Esquema
Corporal e Imagem Corporal deixam muito a desejar se tomarmos estes como
sinônimos de Consciência Corporal. Mas se os estendermos como parte do
processo, eles são extremamente importantes. Esses ”conteúdos” (da
psicomotricidade) são indispensáveis ao processo de desenvolvimento da
criança e a Educação Física, dentro de uma nova perspectiva, poderá
contribuir para o desenvolvimento dos mesmos.
A Consciência Corporal, de um ponto de vista mais abrangente, não se
resume em conhecer, ou mesmo “dominar” o próprio corpo, mas ter a
consciência de que “ somos um corpo” e que toda a atitude do ser humano é
corporal.
Portanto, para dar maior autonomia às práticas motoras, através do
estímulo à Consciência Corporal, acreditamos que, ao encarar a Educação
Física dentro de uma nova perspectiva em que o aluno é tratado como ser-
sujeito e não como “objeto”, ou melhor, um ser que pensa, sente e age, com
certeza estaremos respeitando-o como ser humano, portanto, ser livre.
CAPÍTULO III
ADOLESCENTE, UM SER EM CONSTRUÇÃO
Durante toda vida, o ser humano passa por um processo de
aprendizagem, reciclagem e momentos de decisões nos mais diferentes
âmbitos, mas é na adolescência que essas mudanças se tornam mais forte,
pois nesse momento deverão ser tomadas atitudes que serão muito
importantes durante toda a vida.
Adolescência, momento da vida onde se pode sentir tormentos e fortes
emoções bem como freqüentes confrontos entre as gerações jovens e a dos
adultos.
As mudanças físicas aparecem a partir dos dez ou onze anos nas
mulheres e um pouco depois nos homens. Devido à velocidade da
transformação do corpo, muitos adolescentes estão preocupados por
sua aparência e precisam ser tranqüilizados.
Todo este crescimento utiliza grande quantidade de energia, o qual
poderia ter a ver com a necessidade que têm de dormir mais. O levantar-se
tarde dos adolescentes irrita aos pais, mas não é produto da preguiça
de seus filhos, senão de causas hormonais e físicas.
É importante ter em conta que cada sujeito se desenvolve a um ritmo
diferente.
Além do rápido desenvolvimento físico, produzem-se grandes mudanças
emocionais que ainda que sejam positivas, às vezes podem ser confusas e
incômodas para os adultos e para o próprio sujeito.
Para construir uma nova forma de ser no mundo atual, os
adolescentes devem sair de suas casas.
O grupo de amigos é o mais importante neste momento da vida, e é o lugar
onde eles vão construir sua nova subjetividade. Os pais se fazem menos
imprescindíveis.
Os jovens passam muito tempo se falando por telefone, à frente do
computador, escutando música ou fora de casa, o que irrita aos pais e produz
conflitos.
Os conflitos e discussões, ainda que sejam freqüentes, não têm a ver
com a personalidade dos pais nem com a deles. Não é que não nos apreciem
ou não nos queiram mais, senão que está relacionado com a
necessidade dos adolescentes de se tornarem independentes e
construírem seu próprio projeto de vida.
Ao mesmo tempo em que se esforçam para serem mais independentes,
tentam novos caminhos; mas os enfrentam com dificuldades, costumam
enfurecer-se, ficar mal humorados e perder a confiança em si mesmos;
o que os leva a refugiar-se em suas famílias.
BARROS (1993) Diz que os problemas mais freqüentes que podem
atravessar os adolescentes são:
3.1 PROBLEMAS EMOCIONAIS
Que adolescente não se sentiu tão triste que chorou e desejou se afastar
de tudo e de todos; pensando que a vida não vale a pena.
Estes sentimentos podem dar lugar a um estado depressivo que pode
esconder-se sob excessos alimentícios, problemas para dormir e preocupações
excessivas sobre sua aparência física. Também podem expressar-se estes
transtornos em forma de medos ou ataques de pânico.
3.2 PROBLEMAS DE CONDUTA
Por um lado os adolescentes desejam que seus pais sejam claros e lhes
forneçam limites precisos, mas quando isto se realiza, eles sentem que lhe
tiram a liberdade e não lhe permitem tomar suas próprias decisões.
Produzem-se desacordos e muitas vezes os pais perdem o controle não
sabendo o que está passando com seus filhos, nem onde estão.
Portanto, é importante que os pais perguntem e conheçam onde seus filhos
freqüentam com quem estão e aonde vão. E os filhos informem a seus pais.
3.3 PROBLEMAS ESCOLARES
Muitas vezes os adolescentes recusam ir à escola, expressando assim
uma dificuldade em separar-se de seus pais. Isto se pode expressar
em forma de dores "de cabeça" ou "estômago”.
Outros problemas pode ser a dificuldade de integração ao grupo de
pares ou conflitos com algum aluno, pode estar sendo acossado por
algum colega. Todas estas situações podem fazer com que ir ao
colégio se converta numa experiência solitária e ameaçadora.
Outros problemas podem estar associados a estados depressivos, ansiosos e
à falta de confiança em si mesmo para encarar os desafios da
aprendizagem escolar e o de fazer amigos.
Estes problemas emocionais afetam ao rendimento escolar, pois é difícil
concentrar-se na tarefa quando se está preocupado consigo mesmo, com os
problemas familiares ou com as amizades.
3.4 PROBLEMAS DE RELACIONAMENTO
Às vezes os adolescentes são tímidos e estão preocupados com seu
físico e isto leva a que não façam perguntas a respeito do sexo a seus pais. Em
outras oportunidades podem receber informação errônea de seus amigos e
parceiros.
Em outras ocasiões, pode ocorrer que suas experiências sexuais sejam
realizadas em situações de risco de gravidezes não desejadas ou de
possíveis contágios de doenças sexualmente transmissíveis.
A atividade de situações de risco pode indicar problemas emocionais
ou refletir uma necessidade de viver ao limite.
Para prevenir tais problemas sexuais é importante que os pais,
docentes, médicos de cabeceira ou centros de orientação familiar, ofereçam
aos nossos jovens a adequada informação e orientação sexual.
3.5 PROBLEMAS DE ALIMENTAÇÃO
Podem sofrer de anorexia ou bulimia nervosa. Com respeito à
primeira doença, o adolescente se nega a comer e se vê com
sobrepeso ainda que realmente esteja muito magro.
Com respeito à bulimia podem ter sobrepeso ou não, mas eles
canalizam seus problemas através da ingestão inadequada de alimentos, isto
os deprime e faz com que desejem superar este estado de ânimo
através da comida produzindo-se um círculo vicioso difícil de controlar
se não passam por algum tratamento.
. 3.5.a Hábitos alimentares na adolescência
O período da adolescência é caracterizado por crescimento físico e
desenvolvimento rápidos, com aumento da necessidade de nutrientes.
Além destas, características como a crescente independência,
alterações psicológicas, busca de autonomia, definição da própria identidade,
influência de amigos, demandas escolares e de trabalho, pressões e
modificação das preferências alimentares, rebeldia contra os padrões familiares
fazem deste um grupo de risco nutricional. Devemos também considerar os
fatores de risco para a saúde do adolescente, como o tabagismo, uso de
álcool, sedentarismo, excesso de esportes, uso de drogas, hábito de fazer
dieta, problemas familiares, como separação ou morte dos pais, gravidez e
comportamento alimentar inadequado.
A preocupação, neste período, com a prevenção da saúde relacionada a estes
fatores de risco praticamente não existe, devido ao senso de invencibilidade e
indestrutibilidade do adolescente.
A supervalorização da imagem corporal e a preferência da nossa
sociedade por mulheres magras podem resultar em padrões alimentares
restritivos e ingestão inadequada de nutrientes e energia. A busca frenética por
padrões de beleza e imagens idealizadas, reforçada pela mídia, pode
desencadear transtornos alimentares.
Algumas patologias que antes só se manifestavam em adultos ou idosos
vêm sendo encontradas em adolescentes, como o diabetes do tipo II, doenças
cardiovasculares, osteoporose e outras. Isto ocorre, principalmente, por causa
da alimentação e do estilo de vida inadequados. Estas doenças podem ser
prevenidas precocemente, se houver intervenção dos profissionais de saúde
junto aos grupos de risco. (FONSECA,1998)
Portanto, é importante que os adolescentes, especialmente aqueles com
risco nutricional, sejam acompanhados e orientados para modificação dos
hábitos alimentares e estilo de vida.
3.5.b Comportamento alimentar dos adolescentes
A formação dos hábitos alimentares é influenciada por uma série de
fatores: fisiológicos, psicológicos, socioculturais e econômicos.
A aquisição dos hábitos ocorre à medida que a criança cresce, até o momento
em que a própria escolherá os alimentos que farão parte da sua dieta. Quando
pequena, seu universo se restringe, geralmente, aos pais e cabe a eles
determinar que alimentos lhes serão ofertados.
À medida que a criança passa a freqüentar a escola e a conviver com outras
crianças, ela conhecerá outros alimentos, preparações e hábitos. Os adultos
são modelos, delineando as preferências alimentares das crianças. Os vínculos
afetivos poderão influenciar positiva ou negativamente na fixação dos padrões
de consumo alimentar. É grande a influência da televisão na formação dos
hábitos alimentares.
É claro que cada um possui preferências e rejeições diferentes, mas o
acesso e a possibilidade de experimentar mais de uma vez determinado
alimento permitem uma mudança de hábito. São comuns alguns preconceitos,
tabus alimentares e atitudes que levam a erros alimentares e prejuízos à
saúde, como os pais ou educadores "obrigarem" as crianças a comer
determinado alimento em troca de presentes, passeios etc., o que pode resultar
em traumas definitivos. A supervalorização dos doces também pode ocorrer,
quando estes são premiações para o bom comportamento da criança.
Sabe-se que os adolescentes costumam pular refeições, especialmente
o café da manhã, o que pode levar a um menor rendimento escolar. No Brasil
há estudos que demonstram que o almoço e o jantar são substituídos por
lanches, principalmente quando este é o hábito familiar. Os lanches e refeições
rápidas geralmente são alimentos mais ricos em gorduras e carboidratos e
pobres em vitaminas, sais minerais e fibras.
O consumo excessivo de refrigerantes, balas e doces é um problema comum
em todo o mundo. Excessos e restrições são comuns, quer em relação a um
alimento em si (por exemplo, carne ou leite) ou à alimentação como um todo.
(GAMBARDELLA,1995)
O adolescente é normalmente "preguiçoso", não gosta de muitos
esforços, o que acarreta uma alimentação facilitada, com excesso de comidas
prontas, sanduíches, salgadinhos e bolachas (é só abrir e comer!!). Além disso,
muitos adolescentes não fazem nenhum tipo de atividade física, restringindo o
seu lazer à televisão, ao videogame ou ao computador.
Muitos adolescentes, apesar de terem um bom conhecimento sobre os
princípios de uma alimentação equilibrada, têm atitudes que não correspondem
a este conhecimento: uma grande porcentagem ingere regularmente
"salgadinhos" e outros alimentos ricos em gordura e açúcares simples entre as
refeições, em desacordo às recomendações nutricionais. Ocorre alta
porcentagem de preferência por bolachas, batata frita, pizza, refrigerantes e
chocolates como lanche escolar, apesar da disponibilidade de outros alimentos
saudáveis.
A dieta costuma ser pobre em fibras, vitaminas e minerais. O caso do
cálcio é preocupante, pois esse é um período associado à formação de massa
óssea. No entanto, a maioria dos adolescentes não atinge sequer dois terço
das recomendações diárias para o cálcio. O ferro é especialmente importante
para as meninas, devido às perdas menstruais e para os meninos devido ao
aumento da massa magra e do volume sanguíneo.
O hábito de fazer dieta, especialmente entre as meninas, muitas vezes
está associado ao uso de medicamentos para emagrecer ou a "técnicas menos
convencionais", como recorrer a vômito e laxantes. (BARROS, 1993)
3.6 PROBLEMAS DE ÁLCOOL E DROGAS
O álcool é a droga que em maior freqüência causa problemas nos
adolescentes. Os pais devem estar atentos a qualquer mudança
repentina e grave de conduta de seus filhos.
A maioria das dificuldades na adolescência não é nem grave nem
duradoura, mas o adolescente tem que passar por alguma delas para
constituir-se num ser livre e independente com um projeto de vida
Segundo Sigmund Freud, é nesse período da puberdade entre 11 e 12
anos que é aflorada a sexualidade, onde ocorre o retorno dos prazeres sexuais
da fase fálica. Nesse mesmo período ocorre a mudança corporal do indivíduo
onde o seu corpo que outrora era de criança, hoje está mais desenvolvido,
então ele começa a identificar as semelhanças com o corpo dos pais causando
estranheza, outra coisa é a percepção de que seu corpo passa a ser alvo de
desejo do outro e que também deseja outros objetos de amor sem ser aqueles
primordiais (pai e mãe). Assim surge o “conflito” muito comum nessa fase.
Os questionamentos são outra marca dessa fase, pois o adolescente
que antes via seu pai e sua mãe como donos da verdade, começa a
desenvolver o senso crítico, e muitas vezes questiona o caráter e põe em
xeque a visão maternal e paternal, isso também acaba sendo transferido para
os educadores, que deixam de ser vistos como protetores e passando a ser
questionados pelo sentido e veracidade do que ensinam.
Esse período também é marcado pelo “Eu” que terá de decidir se agrada
o “ID” votando-se para o lado do desejo, libido, inconsciente ou se dará lugar
ao “SUPEREGO” que privilegia a razão, moral, regras.
Para Jean Piaget é nesta fase que ocorre a transição do pensamento
operatório-concreto para o operatório-formal situado entre os 11 anos até cerca
dos 15/16 anos.
Aquilo que antes só era possível resolver de forma visível, concreta e
palpável, agora já ocorre um avanço para a resolução de forma também
abstrata, pois o pensamento estende-se ao infinito e o desenvolvimento
cognitivo atinge o grau mais complexo e detalhista.
Piaget acredita na maturação, fator biológico onde a aprendizagem deve
ocorrer somente no momento em que o indivíduo está preparado e a partir de
então ocorre mudança de comportamento.
A fase da adolescência é onde o indivíduo trará toda a bagagem de
conhecimento adquirido na infância sendo influenciado pelo ambiente. Nela ele
se torna mais capaz de pensar sobre o que é possível sem limitar o seu
pensamento sobre o que é real, move-se mais facilmente entre o específico e
o abstrato, gera sistematicamente possibilidades alternativas e explicações,
exercita idéias no campo do possível e formula hipóteses.
O pensamento passa a revelar uma natureza auto reflexiva. Com estas
capacidades começa a definir conceitos e valores.
Para Piaget é nessa fase que se discute e aprende em sala de aula as
regras sociais; como e de que maneira, varia de acordo com a forma pela qual
o professor concebe o desenvolvimento humano e a proposta pedagógica de
cada escola.
“Pesquisando crianças de cinco a doze anos, Piaget descobriu que a
gênese do juízo moral infantil passa por duas grandes fases. Na primeira, o
universo da moralidade confunde-se com o universo físico: as normas morais
são entendidas como leis heterônomas, provenientes da ordem das coisas, e
por isso intocáveis, não-modificáveis, sagradas. A essa concepção das normas
corresponde um nível rudimentar de compreensão destas: os imperativos são
interpretados ao pé da letra, e não no seu espírito...
Na fase posterior, as normas passam a ser entendidas como normas
sociais cujo objetivo é regular as relações entre os homens. Assim, em torno de
dez, onze anos, a criança passa a conceber a si mesma como possível agente
no universo moral, capaz de, mediante relações de reciprocidade com outrem,
estabelecer e defender novas regras.”
Já Erik Erikson diz que essa é a fase onde ocorre a “crise de identidade”,
ou seja, é o período em que ocorre a tomada de consciência de um novo
espaço no mundo, a entrada em uma nova realidade produzindo confusão de
conceitos e perda de certas referências. A busca do “eu” nos outros na
tentativa de obter uma identidade para o seu ego acarretando angustias,
passividade ou revolta, dificuldades de relacionamento inter e intrapessoal,
além de conflitos de valores é o que o autor chamou de crise.
A construção da identidade é pessoal e social, acontecendo de forma
interativa, através de trocas entre o indivíduo e o meio em que está inserido,
ela não deve ser vista como algo estático e imutável, como se fosse uma
armadura para a personalidade, mas como algo em constante
desenvolvimento.
É no período da adolescência que o indivíduo vai colocar em questão as
construções dos períodos anteriores, próprios da infância. Assim, o jovem
assediado por transformações fisiológicas próprias da puberdade precisa rever
suas posições infantis frente à incerteza dos papéis adultos que se apresentam
a ele.
A crise de identidade é marcada também, por uma confusão de
identidade, que desencadeará um processo de identificações com pessoas,
grupos e ideologias que se tornarão uma espécie de identidade provisória ou
coletiva, no caso dos grupos, até que a crise em questão seja resolvida e uma
identidade autônoma seja construída.
Com o tempo, algumas atitudes são internalizadas, outras não, algumas
são construídas e o adolescente, paulatinamente, percebe-se portador de uma
identidade que, sem dúvida, foi social e pessoalmente construída.
Quer seja a sexualidade explorada por Freud, as etapas psicogenéticas
de Piaget ou a crise de Erikson. Todos falam do adolescente como um ser
inacabado que depende da interação com o mundo que o cerca para construir
a sua personalidade.
CAPÍTULO IV
A EDUCAÇÃO FÍSICA ATRAVÉS DA
EDUCAÇÃO PSICOMOTORA NA FORMAÇÃO DO
ADOLESCENTE EM IDADE ESCOLAR
Tendo em vista que o adolescente ainda se encontra num processo de
formação, o trabalho da educação psicomotora deve prever a formação de
base indispensável em seu desenvolvimento motor, afetivo e psicológico,
dando oportunidade para que por meio de jogos, de atividades lúdicas, se
conscientize sobre seu corpo. Através da educação física, o indivíduo
desenvolve suas aptidões perceptivas como meio de ajustamento do
comportamento psicomotor. Para que ele desenvolva o controle mental de sua
expressão motora, a educação física deverá realizar atividades considerando
seus níveis de maturação biológica. A educação física, na sua parte recreativa,
proporciona a aprendizagem das crianças em várias atividades esportivas que
ajudam na conservação da saúde física, mental e no equilíbrio socioafetivo.
A educação física escolar não deve ser totalmente dissociada do
esporte, já que um de seus objetivos consiste em promover a socialização e a
interação entre seus alunos, proporcionadas reconhecidamente pelo esporte.
O grande questionamento que se faz a respeito do esporte na escola é
que ele muitas vezes transfere para o aluno uma carga de responsabilidade
alta em relação à obtenção de resultados, o que afeta o adolescente
psicologicamente de uma forma negativa.
Por isso, as atividades recreativas e rítmicas poderiam ser consideradas
como meios mais eficazes para promover essa socialização dos alunos que a
educação física escolar tanto apregoa, uma vez que normalmente são
realizadas em grupos, os quais obedecem ao princípio da cooperação entre
seus componentes, estimulando assim o adolescente em sua apreciação do
comportamento social, domínio de si mesmo, autocontrole e respeito ao
próximo.
Segundo Barreto (2000), “ O desenvolvimento psicomotor é de suma
importância na prevenção de problemas da aprendizagem e na reeducação do
tônus, da postura, da direcional idade, da lateralidade e do ritmo”.
A educação do adolescente deve evidenciar a relação através do
movimento de seu próprio corpo, levando em consideração sua idade, a cultura
corporal e os seus interesses. Essa abordagem constitui o interesse da
educação psicomotora. A educação psicomotora para ser trabalhada necessita
que sejam utilizadas as funções motoras, cognitivas, perceptivas, afetivas e
sociomotoras.
A educação física pode ser definida como ação psicomotora exercida
pela cultura sobre a natureza e o comportamento do ser humano. Ela
diversifica-se em função das relações sociais, das idéias morais, das
capacidades e da maneira de ser de cada um, além de seus valores. É um
fenômeno cultural que consiste em ações psicomotoras exercidas sobre o ser
humano de maneira a favorecer determinados comportamentos, permitindo,
assim, as transformações.
A diversificação das condições sociais em cada nível escolar e o
respeito à individualidade das crianças em cada processo de aprendizagem de
gestos e movimentos estão sujeitos ao ritmo de aprendizagem e às
peculiaridades das relações sociais que existem entre os integrantes de cada
grupo ou classe escolar.
As bases das formas de aprendizagem das atividades físicas de forma
consciente, intencional e sensível são estabelecidas e solidificadas na
educação física. Essas atividades acompanham o ser humano de maneira
contínua, atuando, sobretudo, nos níveis psicomotor, afetivo e no
aprimoramento do rendimento nos estágios de desenvolvimento subseqüentes.
A educação física escolar está baseada nas necessidades da criança. Tem
como objetivo principal, por meio da educação psicomotora, incentivar a prática
do movimento em todas as etapas de sua vida.
Falar da importância da educação física para o adolescente é o mesmo
que falar da importância de ele se alimentar, dormir, brincar, ou seja, suprir
todas as suas necessidades básicas. O desenvolvimento global do adolescente
se dá através do movimento, da ação, da experiência e da criatividade,
levando-a a conseguir plena consciência de si mesma; da sua realidade
corporal que sente, pensa, movimenta-se no espaço, encontra-se com os
objetos e gradativamente distingue suas formas, e que se conscientiza das
relações de si mesma com o espaço e o tempo, interiorizando, assim, a
realidade.
Segundo Staes e De Meur (1984), o intelecto se constrói a partir da
atividade física. As funções motoras (movimento) não podem ser separadas do
desenvolvimento intelectual (memória, atenção, raciocínio) nem da afetividade
(emoções e sentimentos).
Educação Psicomotora é a educação do indivíduo através de seu próprio
corpo e de seu movimento. Ele é visto em sua totalidade e nas possibilidades
que apresenta em relação ao seu meio-ambiente.
Assim, a educação física e a psicomotricidade completam-se, pois o
adolescente ao praticar qualquer atividade usa o seu todo; mesmo sendo
regido, predominantemente pelo intelecto. A educação psicomotora atinge o
indivíduo na sua totalidade.
Relacionar-se com o outro na escola, através do ensino, é fundamental.
Esse relacionamento deve ser bem proporcionado para que haja uma relação
entre professor-aluno, aluno-aluno e aluno-professor.
Nesse aspecto as atividades psicomotoras proporcionam para o
indivíduo uma vivência com espontaneidade das experiências corporais,
criando uma simbiose afetiva entre professor-aluno, aluno-aluno e aluno-
professor, afastando os tabus e preconceitos que influenciam negativamente as
relações interpessoais.
O desenvolvimento psicomotor caracteriza-se por uma maturação que
integra o movimento, o ritmo, a construção espacial; e, também, o
reconhecimento dos objetos, das posições, da imagem e do esquema corporal.
As atividades propostas na educação física através da educação psicomotora
devem ocorrer com espontaneidade. Elas devem ser bem elaboradas e
pensadas, pois quando envolvem o toque de um com o outro, não é tão fácil
executá-las, até porque muitos educadores têm dificuldades de tocar alguém
ou de deixar-se tocar.
Bons exemplos de atividades físicas são aquelas de caráter recreativo,
que favorecem a consolidação de hábitos higiênicos, o desenvolvimento
corporal e mental, a melhoria da aptidão física, a sociabilização, a criatividade;
tudo isso visando à formação da sua personalidade.
Diante desses aspectos, entende-se que a educação física é
imprescindível principalmente no ensino pré-escolar e no ensino fundamental,
uma vez que nessa fase o indivíduo começa a sistematizar os seus
conhecimentos, e a educação física, com suas atividades diferenciadas,
diminui dificuldades, diferenças de ritmo de aprendizagem.
CONCLUSÃO
A fase da adolescência é marcada por muitas transformações (corporais,
emocionais, sexuais) além das crises de identidade, de relacionamento com os
pais etc...
Para que todas ocorram de modo satisfatório, é necessário que o
indivíduo esteja preparado ou preparando-se para recebê-las. Essa preparação
deverá iniciar-se na infância., onde a exploração dos objetos , do mundo, do
movimento começa a ser estimulado.
É importante também que o adolescente saiba que não é somente um
corpo no espaço, mas que esse corpo tem presença marcante no mundo á
partir do momento em que fala, se expressa e se comunica de forma
consciente e atuante.
A educação física é muito importante durante todo esse
desenvolvimento do ser humano em questão, pois ela que será o “carro chefe”
estimulador do indivíduo.
A educação Física e a psicomotricidade são metodologias
contextualizadas, perceptivas, em que o desenvolvimento dos aspectos motor,
social, emocional e lúdico da personalidade e a destreza dos movimentos
corporais são vivenciados, através de atividades motoras organizadas e
seqüenciais, desenvolvidas individualmente e em grupo.
Pode-se afirmar, então, que a educação física, através de atividades
afetivas, psicomotoras e sociopsicomotoras, constitui-se num fator de equilíbrio
na vida das pessoas, expresso na interação entre o espírito e o corpo, a
afetividade e a energia, o indivíduo e o grupo, promovendo a totalidade do ser
humano. Possui também um impacto positivo no pensamento, no
conhecimento e ação, nos domínios cognitivos, na vida de crianças e
adolescentes. E crianças e adolescentes fisicamente educados vão para uma
vida ativa, saudável e produtiva, criando uma integração segura e adequado
desenvolvimento de corpo, mente e espírito.
É de suma importância não esquecermos de que os pais e professores
são muito importantes no desenvolvimento do indivíduo, por isso devem estar
sempre atentos aos comportamentos dos seus adolescentes e estando sempre
dispostos a conversar e a ouvi-los.
Se o acompanhamento for feito por todas as esferas responsáveis, o
desenvolvimento do adolescente bem satisfatório e poderá desfrutar de seus
benefícios por toda a sua vida.
Assim, a educação física, pelas possibilidades de desenvolver a
dimensão psicomotora das pessoas, principalmente em crianças e
adolescentes, conjuntamente com os domínios cognitivos e sociais, é de
grande importância no ensino pré-escolar e ensino fundamental.
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